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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3

2 ERGONOMIA NO TRABALHO ................................................................... 4

2.1 Aspectos ergonômicos relativos à saúde do trabalhador ..................... 5

2.1.1 Aspectos ergonômicos físicos ........................................................ 6

2.1.2 Aspectos ergonômicos cognitivos .................................................. 6

2.1.3 Aspectos ergonômicos organizacionais ......................................... 7

2.2 Análise ergonômica do trabalho (AET) ................................................. 8

3 FATORES HUMANOS NO TRABALHO ................................................... 11

3.1 O design no ambiente de trabalho ..................................................... 14

3.2 Fatores envolvidos no projeto ergonômico dos ambientes................. 15

3.3 A ergonomia como mediadora da qualidade de vida associada ao


trabalho 18

4 ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NA SAÚDE ERGONÔMICA DO


TRABALHADOR ....................................................................................................... 20

4.1 Inserção da enfermagem na saúde do trabalhador ............................ 23

4.2 Ações de enfermagem para a promoção da saúde do trabalhador .... 25

5 NORMA REGULAMENTADORA Nº 17 .................................................... 27

5.1 Parâmetros de adaptação das condições de trabalho ....................... 29

5.2 Aplicabilidade da NR nº. 17 ................................................................ 30

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 33

2
1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante


ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável -
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum
é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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2 ERGONOMIA NO TRABALHO

Fonte: https://nucleohealthcare.com.br

O termo “ergonomia”, literalmente, significa “a ciência do trabalho” e deriva das


palavras gregas ergon (trabalho) e nomos (leis). Segundo a Associação Brasileira de
Ergonomia (Abergo), a ergonomia é a disciplina científica preocupada com a
compreensão das interações entre os seres humanos e outros elementos de um
sistema. Em termos específicos, é o conjunto de conhecimentos científicos relativos
ao ‘homem’ e necessários para a concepção de ferramentas, máquinas, estratégias e
dispositivos que possam ser utilizados com o máximo de conforto, segurança e
eficácia em um ambiente de trabalho (WISNER, 1987). Também pode se referir à
profissão que aplica teoria, os princípios, os dados e os métodos para projetar
estratégias a fim de otimizar o bem-estar humano e o desempenho geral de um
sistema considerado (ABERGO, 2021).
A ergonomia deve ser utilizada no cotidiano de trabalho de forma consciente,
visando a promover e garantir a segurança nas atividades laborativas de forma
contínua. De fato, o bem-estar do profissional no ambiente em que exerce as suas
atividades tem sido uma preocupação crescente na nossa sociedade. Inclusive, é
previsto pela Norma Regulamentadora (NR) nº 17, que visa a:

“[...] estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de


trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a

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proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente”
(BRASIL, 2021, documento on-line).

A importância dessa e de outras normas relativas à ergonomia se torna


evidente na medida em que viabilizam uma melhor compreensão acerca da atuação
da ergonomia como um mecanismo legítimo para a promoção da saúde e da defesa
de trabalhador dentro do seu ambiente laboral. Portanto, vamos estudar os principais
aspectos ergonômicos relacionados à saúde do trabalhador, como deve ser realizada
a análise ergonômica do trabalho (AET) e qual é o papel do enfermeiro na promoção
da saúde ergonômica dos profissionais.

2.1 Aspectos ergonômicos relativos à saúde do trabalhador

Atualmente, encontramos diversos estudos e pesquisas a respeito da


ergonomia. De forma geral, todos se baseiam na premissa de que o exercício das
atividades laborais precisa ser baseado na preservação da segurança e da saúde dos
trabalhadores. Os trabalhos teóricos a respeito da importância da ergonomia iniciaram
em 1857, quando o naturalista polonês Wojciech Jastrzębowski (1799-1882)
apresentou uma abordagem significativa sobre o tema, aprofundando a temática no
intuito de entender os aspectos do ambiente laboral que intrinsicamente envolvem o
trabalhador. A partir disso, estabeleceu-se que a compreensão dos processos de
trabalho e das condições adequadas para o trabalhador executar o seu ofício em
qualquer área laboral é determinante na vida das organizações e para o
desenvolvimento social. Nesse sentido, a intensificação da ergonomia nos seus
aspectos físicos, organizacional e cognitivo tornou-se um fator imprescindível nas
empresas.
A NR nº 17, originalmente editada pela Portaria nº 3.214, de 08 de junho de
1978, a fim de regulamentar os artigos 175, 176, 178, 198 e 199 da Consolidação das
Leis do Trabalho (CLT), afirma que “[...] as condições de trabalho incluem aspectos
relacionados ao levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobiliário dos
postos de trabalho, ao trabalho com máquinas, equipamentos e ferramentas manuais,
às condições de conforto no ambiente de trabalho e à própria organização do trabalho”
(BRASIL, 2021, documento on-line). Portanto, a seguir, veremos mais detalhes sobre
os aspectos ergonômicos físicos, cognitivos e organizacionais.

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2.1.1 Aspectos ergonômicos físicos

A ergonomia física estuda os desgastes consolidados e possíveis da estrutura


anatômica, fisiológica, identificando os riscos biomecânicos e buscando soluções em
caráter preventivo para evitar, atenuar ou erradicar esses riscos de desenvolvimento
de agravos.
Ao estudar o corpo humano no seu aspecto físico, sobretudo em relação ao
trabalho exercido por esse corpo, poderíamos falar de vários sistemas. Porém, aqui,
vamos exemplificar o trabalho do sistema muscular, responsável por todo o
movimento. Esse sistema exerce de duas formas a atividade:

O exemplo de trabalho muscular dinâmico é girar uma roda e o exemplo de


trabalho muscular estático é segurar um peso com o braço esticado. Estas
duas formas de trabalho podem ser descritas da seguinte forma: 1. O trabalho
dinâmico caracteriza-se pela alternância de contração e extensão, portanto,
por tensão e relaxamento. Há mudança no comprimento do músculo,
geralmente de forma rítmica. O trabalho estático, ao contrário, caracteriza-se
por um estado de contração prolongada da musculatura, o que geralmente
implica um trabalho de manutenção de postura (KROEMER; GRANDJEAN,
2007, p. 15).

Ainda segundo Kroemer e Grandjean (2007), em condições semelhantes, o


trabalho muscular estático, em comparação com o dinâmico, leva a um maior
consumo de energia, a frequências cardíacas mais altas e a necessidades de
períodos de repouso mais longos. Isso decorre do fato de que, no corpo parado, ocorre
uma falta de oxigênio, o que leva a uma menor liberação de energia, prejudicando,
assim, o trabalho muscular. Dessa forma, entende-se a causa da fadiga muscular e
de outros sintomas e agravos no trabalho estático.
Levando em consideração a NR nº 17, há vários fatores importantes
relacionados à ergonomia física. Veja, no Quadro 2, esses fatores e os respectivos
possíveis agravos a eles relacionados.

2.1.2 Aspectos ergonômicos cognitivos

Segundo Abrahão et al. (2009), a solução de problemas exige do trabalhador


estratégias operatórias que serão adotadas após a análise dos elementos envolvidos
na situação. Entre esses elementos, estão os objetivos da tarefa, os meios utilizados

6
para desenvolver o trabalho e o estado interno do indivíduo. Assim, podemos entender
que algumas situações exigem atenção, lógica, memorização, compreensão e síntese
para serem executadas, ou seja, competências e habilidades relacionadas à cognição.
No que diz respeito às atividades que demandam mais esforço cognitivo, as
soluções para que o trabalho seja realizado de forma menos exaustiva podem ser
encontradas por meio da ergonomia cognitiva. Os problemas ergonômicos cognitivos
estão envolvidos com os aspectos mentais e psicológicos, visto que o trabalhador se
preocupa em se ajustar às condições de trabalho. Entretanto, algumas condições
potencializam a fragilidade do trabalhador, como, por exemplo, elevada carga de
trabalho, configurando espaço para o surgimento de sentimento de impotência e de
incapacidade, entre outros. Assim, conforme prevê a NR nº 17:

[...] devem ser implementadas medidas de prevenção, a partir da avaliação


ergonômica preliminar ou da AET, que evitem que os trabalhadores, ao
realizar suas atividades, sejam obrigados a efetuar de forma contínua e
repetitiva: exigência cognitiva que possa comprometer a segurança e saúde
do trabalhador (BRASIL, 2021, documento on-line).

2.1.3 Aspectos ergonômicos organizacionais

A organização do ambiente de trabalho tende a buscar ações diferentes e


importantes para melhorar a qualidade de vida do trabalhador, uma vez que este vive
grande parte da sua vida em função da realização de atividades operacionais que, de
alguma forma, interferem no seu estado de saúde. Diante disso, a NR nº 17, ao
abordar organização do ambiente de trabalho, estabelece que as organizações devem
levar em conta (BRASIL, 2021):
• As normas de produção;
• O modo operatório, quando aplicável;
• A exigência de tempo;
• O ritmo de trabalho;
• O conteúdo das tarefas e os instrumentos e meios técnicos disponíveis;
• Os aspectos cognitivos que possam comprometer a segurança e a saúde
do trabalhador.
Assim, os aspectos organizacionais ergonômicos são fundamentais, pois
viabilizam uma melhor compreensão acerca da atuação da NR nº 17 como um

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mecanismo regulatório legítimo, abrangendo a relação do trabalhador com o ambiente
de trabalho.

2.2 Análise ergonômica do trabalho (AET)

A NR nº 17 estabelece, esclarece e orienta os aspectos a serem considerados


na elaboração de uma AET. Para isso, salienta que os objetivos principais da
realização dessa análise são a melhoria e o fortalecimento das situações de trabalho,
aumentando a margem de segurança dos atores envolvidos com eficácia e eficiência
(BRASIL, 2021). Entretanto, para que se tenha um processo mais adequado à
realidade, é necessária a participação dos trabalhadores no processo de elaboração
da AET. Assim, “[...] a organização deve garantir que os empregados sejam ouvidos
durante o processo da avaliação ergonômica preliminar e na AET” (BRASIL, 2021).
Nesse contexto, a AET não se caracteriza como um laudo, mas como um
documento no qual são estabelecidas as condições de trabalho e as repercussões
dessas condições na saúde dos profissionais.
É notório o quanto a legislação que trata da ergonomia avançou ao longo do
tempo, possibilitando a elaboração desse documento, de grande importância para as
organizações e os trabalhadores. A AET não se propõe a fornecer soluções para todas
as diferentes condições de trabalho existentes, mas caracteriza a ergonomia como
um importante instrumento na busca de adaptação dos seres humanos às suas
condições de trabalho. Assim:

A análise ergonômica do trabalho é um processo construtivo e participativo


para a resolução de um problema complexo que exige o conhecimento das
tarefas, da atividade desenvolvida para realizá-las e das dificuldades
enfrentadas para se atingirem o desempenho e a produtividade exigidos. A
análise começa por uma demanda que pode ter diversas origens. [...] Após a
reconstrução da demanda, o ergonomista apresentará um contrato de
trabalho em que se explicitarão as etapas da análise, bem como os
procedimentos a serem utilizados (BRASIL, 2002, p. 16–17).

Segundo a NR nº 17, as situações nas quais a organização deve realizar a AET


incluem as seguintes (BRASIL, 2021):
• Mediante observação da necessidade de uma avaliação mais detalhada e
aprofundada da situação;

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• Na presença de inadequações no ambiente de trabalho, onde os riscos se
encontram em uma fase latente, com enorme probabilidade de desencadear
acidentes ou danos, e na presença de uma insuficiência nas ações
adotadas;
• Quando for sugerida pelo acompanhamento de saúde dos trabalhadores,
nos termos do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional
(PCMSO) e da alínea c do subitem 1.5.5.1.1 da NR nº 1;
• Quando for indicada causa relacionada às condições de trabalho na análise
de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho, nos termos do Programa
de Gerenciamento de Riscos (PGR). Por exemplo, no caso de riscos
biológicos com elevada incidência de adoecimento dos trabalhadores.
Com relação às etapas, a AET se organiza da seguinte forma.
1. A análise da demanda, que consiste na descrição de um problema ou de
uma situação problemática, que justifica a necessidade de uma ação ergonômica e,
quando aplicável, a reformulação do problema.
2. A análise do funcionamento da organização, incluindo os seus processos e
as situações de trabalho e da atividade. Nessa etapa, são analisadas as tarefas
(descrição de cargos) e as possíveis discrepâncias entre as tarefas e atividades
prescritas e o que é executado (isto é, uma análise do comportamento do trabalhador
na realização das atividades).
3. Descrição e justificativa para a definição de métodos, técnicas e ferramentas
adequados para a análise e a sua aplicação, não estando subordinadas à utilização
de métodos, técnicas e ferramentas específicas.
4. Estabelecimento de diagnóstico, quando se procura descobrir as causas que
provocaram o problema descrito na demanda, isto é, evidenciar melhor os problemas.
5. Recomendações para as situações de trabalho analisadas. As
recomendações ergonômicas se referem às providências que deverão ser tomadas
para resolver o problema diagnosticado. São ações prescritas e necessárias para
resolver o problema.
6. Restituição dos resultados após implementação da proposta de intervenção,
com validação e revisão das intervenções efetuadas, quando necessárias, com a
participação dos trabalhadores.

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De acordo com o Ministério do Trabalho (BRASIL, 2002), a AET deverá conter,
minimamente, as seguintes etapas.
• Análise da demanda e do contexto: consiste na descrição de um problema,
na contextualização da situação problemática, deixando evidente a
necessidade de uma ação ergonômica. Pode ser solicitada pela direção da
empresa, pelos trabalhadores ou por organizações sindicais.
• Análise global da empresa: demanda a descrição da empresa em uma visão
geral dos principais aspectos do negócio, a sua posição no mercado, os
seus produtos e/ou serviços, a sua situação econômico-financeira, a sua
expectativa de crescimento, etc.
• Análise da população de trabalhadores, incluindo faixa etária, função atual,
tipos de contrato, experiência, nível de escolaridade, capacitação, estado
de saúde, etc. Consiste em entender quem é esse profissional e a qual
trabalho ele se destina.
• Descrição das tarefas: busca descobrir o que está prescrito, determinado
para o trabalhador cumprir. Isso se torna de fundamental relevância na
análise das possíveis inadequações, acerca do que realmente é para ser
realizado pelo trabalhador.
• Definição das situações de trabalho a serem estudadas: procura descobrir
as causas que originaram o problema descrito na demanda. Vários fatores
podem estar aí incluídos, como absenteísmo, rotatividade em vários
setores, acidentes, qualidade do serviço, produtividade, inadequação na
realização das tarefas, etc.
• Recomendações ergonômicas: especificam as medidas que deverão ser
adotadas para resolver o problema diagnosticado. As medidas devem ser
descritas em etapas detalhadas, com indicação de responsabilidades e
prazos para resolução.
Nesse contexto, entendemos, então, que a AET consiste no estudo do objeto e
do local de trabalho, a fim de fazer um levantamento completo para prevenir os riscos
laborais. O importante é que a descrição deixe claro, ao leitor do relatório, o que o
trabalhador deve fazer (a tarefa) e como proceder para atingir esse objetivo
(atividade), bem como as dificuldades que enfrenta. É a partir das interpretações dos
agentes a respeito de uma determinada situação que a sua percepção é formada.

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Conforme a NR nº 17:

Nas atividades que exijam sobrecarga muscular estática ou dinâmica do


tronco, do pescoço, da cabeça, dos membros superiores e dos membros
inferiores, devem ser adotadas medidas técnicas de engenharia,
organizacionais e/ou administrativas, com o objetivo de eliminar ou reduzir
essas sobrecargas, a partir da avaliação ergonômica preliminar ou da AET
(BRASIL, 2021, documento on-line).

Isto é, a partir da análise das condições técnicas, ambientais e organizacionais,


a AET propõe adequações, fomentando a saúde, a segurança e o desempenho
eficiente das pessoas envolvidas no processo, empresas e trabalhadores.

3 FATORES HUMANOS NO TRABALHO

Fonte: https://verate.com.br

O mundo do trabalho estabelece relações entre o ser humano e as máquinas


agenciadas pelas mais variadas atividades, nem sempre essas relações promovem o
bem-estar, a segurança dos trabalhadores e se orientam para conseguir a melhor
produtividade. Nas últimas décadas, os estudos centrados nas características
psicofísicas dos indivíduos e os processos de produção de forma sistêmica têm sido
aplicados e assimilados pelos gestores, com resultados positivos. A ergonomia atua
nesse campo multidisciplinar, implementando ferramentas para promover a
adequação das máquinas às capacidades humanas.
O ser humano sempre buscou adaptar ferramentas e utensílios para facilitar
seu cotidiano. De maneira artesanal, os instrumentos pré-históricos eram construídos
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para atender a uma necessidade básica: a sobrevivência do grupo. A relação homem–
máquina é mediada pelas tecnologias disponíveis, que avançaram proporcionalmente
às complexidades das demandas humanas. Historicamente, as adaptações
realizadas nas máquinas, nos instrumentos e nos utensílios vêm gradativamente
evidenciando os fatores humanos como fundamentais na concepção de novos
sistemas.
Moraes e Mont’Alvão (2000) destacam que as incompatibilidades entre o
humano e o tecnológico evidenciaram-se no período da Segunda Guerra Mundial e,
desde então, têm sido objeto de estudo da ergonomia. O ser humano como o
“operador das máquinas” é o agente que interpreta as informações; e as capacidades
humanas são as que permitem a realização eficiente das tarefas, quaisquer que sejam
elas.
O ser humano deve ser contemplado em todas as etapas do projeto de uma
máquina ou um equipamento, dos sistemas e de todos os ambientes, com especial
atenção aos locais de trabalho. Ida (2005, p. 19) inclui o ser humano como um dos
componentes do processo de projeto, destacando que “[...] as características desse
operador devem ser consideradas conjuntamente com as características ou restrições
das partes mecânicas, sistêmicas ou ambientais, para se ajustarem mutuamente
umas às outras [...]”. O autor defende a relevância da ergonomia e atribui a ela os
mais significativos estudos de métodos e técnicas de pesquisa consagrados
cientificamente, centrados no trabalhador enquanto este realiza a sua tarefa de
trabalho.
A Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO, 2019) pontua que, às várias
definições de ergonomia existentes, alguns aspectos são comuns mundialmente: a
natureza multidisciplinar; o fundamento nas ciências; e o principal objeto de estudo
como sendo a concepção do trabalho. A condição humana é o centro da área de
conhecimento da ergonomia, que, em algumas publicações, é designada como
“fatores humanos”, termo que mereceu um capítulo próprio na publicação referencial
do professor Iida (2005), “Ergonomia: projeto e produção”. Neste estudo, Iida (2005,
p. 341) examina as características do organismo humano que influem no desempenho
do trabalho:

“[...] a adaptação humana ao trabalho abrange as transformações que


ocorrem quando o organismo passa do estado de repouso para a atividade e

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também aquelas transformações de caráter mais duradouro, devido ao
treinamento [...]”.

O projeto de design articula os conhecimentos das condicionantes físicas e


psicológicas humanas à concepção de produtos, sistemas, interfaces e ambientes.
Todos os segmentos que realizam análise e projetos para o desenvolvimento do
trabalho humano devem considerar três aspectos muito importantes: a monotonia, a
fadiga e a motivação. “Monotonia e fadiga estão presentes em todos os trabalhos e
não podem ser totalmente eliminados, mas controlados e substituídos por ambientes
mais interessantes e motivadores [...]” (IIDA, 2005, p. 341).
Outras questões influem diretamente no desempenho do trabalho humano e
têm atraído a atenção dos pesquisadores, são as relativas a idade, sexo e deficiências
físicas dos trabalhadores. O paradigma do trabalhador tem se modificado, o padrão
do homem adulto com idade entre 20 e 30 anos torna-se cada vez menos real, uma
vez que a diversidade de segmentos da sociedade tem sido ampliada nas atividades
produtivas. Qualquer que sejam os fatores humanos envolvidos, a ergonomia visa a
garantir o conforto e a adaptação do homem interagindo com o ambiente, com o
artefato ou a ferramenta de trabalho (TILLEY, 2005).
Entendemos, portanto, que as condições de adaptação e conforto humano ao
trabalho são almejadas nas três especificações sugeridas pela International
Ergonomics Association (IEA, 2019): ergonomia física, ergonomia cognitiva e
ergonomia organizacional. A ergonomia física estuda os aspectos de postura,
segurança e saúde do trabalhador, área do conhecimento que enfatiza o corpo
humano e o ambiente físico onde se desenvolve a atividade laboral; a ergonomia
cognitiva centra-se na carga mental de trabalho, estudando as questões de memória,
raciocínio e percepção; a ergonomia organizacional foca seus esforços na melhoria
dos sistemas sociotécnicos que envolvem equipes, comunicação e gerenciamento de
recursos humanos.
As classificações da IEA (2019) contribuem na orientação dos projetos de
desenvolvimento de produtos na área do design. De acordo com Gomes (2013, p. 13),
“[...] esta classificação tem apenas finalidades didáticas para compreensão de
conceitos. Uma realidade de trabalho é um sistema complexo onde cada um dos
aspectos intervém a seu modo, porém de forma interdependente ou sistêmica [...]”.

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O conhecimento da aplicação do sistema homem–máquina–tarefa–ambiente
(SHIMTA) é condicionante para falarmos de ergonomia centrada nos fatores
humanos. Trata-se da organização dos componentes “homem” (operador ou usuário)
e “máquina” (qualquer objeto físico utilizado para a realização de uma atividade), de
forma a trabalharem em conjunto para alcançar um objetivo comum, estando
integrados por uma rede de comunicações (KROEMER; GRANDJEAN, 2005).
Moraes e Mont’Alvão (2000, p. 41) afirmam que “[...] um sistema homem-
máquina significa que o homem e a máquina têm uma relação recíproca um com outro
[...]”. Segundo os autores, os principais componentes desse sistema podem ser
resumidos em: interação com utensílios; evolução constante das tecnologias,
trazendo impactos aos operadores; forte presença dos aspectos cognitivos; são
planejados, construídos e operados pelo homem; as máquinas são caracterizadas
pela alta velocidade, precisão e força; e o homem é caracterizado pelo aspecto flexível
e adaptável.

3.1 O design no ambiente de trabalho

A forma como um indivíduo se relaciona com o ambiente que o envolve é


intermediada pelo projeto físico desse espaço. As condições do ambiente podem
contribuir favoravelmente para determinada execução de tarefas, ou prejudicar o nível
de produção, o conforto e a adaptação dos usuários ou trabalhadores. A aplicação
das prescrições advindas da área da ergonomia nos projetos de postos de trabalho é
fundamental para a qualidade espacial do ambiente construído, pois ultrapassam o
limite estritamente material do espaço, aprofundando a investigação na relação do
usuário com o meio (LELIS; FARIA; PASCHOARELLI, 2014).
Para estabelecer inter-relações harmônicas entre o ambiente projetado e seu
usuário, a arquitetura e o design adotam os estudos ergonômicos consolidados pela
bibliografia de referência. Esses estudos contemplam a ergonomia física, em
particular a antropometria, visto que incorporam as dimensões do corpo humano como
unidade de medida para o projeto de ambientes, mobiliário e equipamentos. Panero e
Zelnik (2008, p. 19) contribui significativamente com esse debate quando afirmam que
é preciso “[...] concentrar-se nos aspectos antropométricos da ergonomia e aplicar os
relativos dados ao projeto de espaços interiores [...]”.

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O domínio da escala humana é essencial para projetistas, e Neufert (2013, p.
27) defende que o arquiteto “[...] deve saber qual a melhor posição funcional do
mobiliário, permitindo assim ao homem a possibilidade de trabalhar com conforto tanto
em casa, como no escritório ou oficina, assim como de repousar adequadamente [...]”.
Reforçando a colocação, o autor destaca a importância de considerar os aspectos
comportamentais dos indivíduos, devendo-se respeitar as características do corpo
humano, seus sistemas sensorial e motor, além das suas condutas individuais e
sociais.
No que se refere aos ambientes construídos — com ênfase nos postos de
trabalho —, a ergonomia é a disciplina que centra seus estudos em reconhecer a
capacidade do ser humano para a realização do seu trabalho de forma confortável e
segura, a fim de aliar bem-estar e produtividade. Entendemos, então, que os
ambientes exercem influências sobre os usuários, devendo ser saudáveis, funcionais,
acessíveis e confortáveis. A ergonomia deve estar incorporada — desde as fases
iniciais — ao projeto dos ambientes de trabalho, pois as metodologias ergonômicas
dizem respeito às satisfações e às insatisfações dos usuários, buscando respostas
para contribuir com o processo projetual (BITENCOURT, 2011).

3.2 Fatores envolvidos no projeto ergonômico dos ambientes

Os estudos relacionados à ergonomia do ambiente construído levam em


consideração condições de conforto ambiental (lumínico, térmico e acústico),
percepção ambiental (aspectos cognitivos), adequação dos materiais (revestimentos
e acabamentos), cores e texturas, acessibilidade, medidas antropométricas (leiaute e
dimensionamento) e sustentabilidade (LELIS; FARIA; PASCHOARELLI, 2014;
MONT’ALVÃO; VILLAROUCO, 2011). É recomendável a utilização de metodologias
que permitam verificar a adequação ergonômica dos espaços construídos,
considerando os aspectos físicos e a identificação da percepção do usuário em
relação ao espaço. Conforme sugerem Mont’Alvão e Villarouco (2011, p. 30): “Faz-se
necessário uma abordagem sistêmica quando se trata de avaliar o ambiente sob a
ótica da ergonomia [...]”.
Em relação ao conforto ambiental nos espaços de trabalho, Slack et al. (1999,
p. 218) relatam que:

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O ambiente imediato no qual o trabalho acontece pode influenciar a forma
como ele é executado. As condições de trabalho que são muito quentes ou
frias, insuficientemente iluminadas, ou excessivamente claras, barulhentas
ou irritantemente silenciosas. Todas vão influenciar a forma como o trabalho
é levado avante [...].

No domínio do conforto ambiental, destacamos aspectos que influem fisiológica


e psicologicamente no desempenho dos trabalhadores. O primeiro aspecto é a
iluminação, cujo planejamento adequado pode ampliar a sensação de satisfação no
trabalho, reduzindo a fadiga e os acidentes e aumentando a produtividade (BOLETTI;
CORRÊA, 2015; IIDA, 2005). Aproveitar a luminosidade natural é a solução mais
adequada para ambientes de trabalho. Por exemplo, as mesas, quando colocadas
abaixo das janelas, proporcionam postos de trabalho com conforto visual e bom
desempenho ótico.
Em grande parte dos locais de trabalho, faz-se necessária a utilização de
iluminação artificial, e, nesses casos, há recomendações de posicionamento, de modo
a evitar ofuscamentos. Segundo Iida (2005, p. 473), as luminárias “[...] devem situar-
se acima de 30° em relação à linha de visão (horizontal) e, se possível, devem ser
colocadas lateralmente ou atrás do trabalhador, para evitar a luz direta ou refletida
nos seus olhos”. Devemos considerar que existem sistemas de iluminação diferentes
e que podem ser combinados. Os mais comuns são: iluminação geral, iluminação
localizada e iluminação combinada.
O estudo das cores e da sua aplicação nos ambientes também tem sido
frequente quando nos referimos à “humanização dos espaços”. Nos ambientes de
trabalho, as cores podem interferir no ânimo do trabalhador e na sua consequente
produtividade. Iida (2005, p. 483) aponta que: “em todas as épocas, as cores e formas
aparecem ligadas a diversos códigos e símbolos nas sociedades organizadas, sendo
frequente atribuir-lhes até um certo caráter mágico [...]”. Do ponto de vista da
percepção ambiental, há cores mais tranquilizantes (normalmente as cores frias) e
cores mais vibrantes, que remetem ao movimento (cores quentes).
As normas ISO padronizam a indicação para o uso das cores, considerando os
requisitos de segurança do trabalho; os códigos de cores são informados, de acordo
com Kroemer e Grandjean (2005).
Para garantir boa qualidade ambiental, a seleção dos materiais e das cores de
revestimentos de pisos, tetos, paredes e mobiliário é fundamental para controlar a
variação do nível de reflexão. Para o projeto de ambientes de trabalho, as
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recomendações para a escolha de cores são: selecionar cores de luminâncias
similares para as diferentes superfícies; evitar efeitos que chamem a atenção com
contrastes de preto e branco; dar preferência ao tratamento de superfícies não
polidas, inclusive para as cores (BOLETTI; CORRÊA, 2015).
Outros importantes requisitos para a adequação ambiental de um espaço de
trabalho são o controle do calor, dos ruídos e das vibrações. Iida (2005) alerta que
condições desfavoráveis geram tensão no trabalho, sendo fatores que acarretam
desconforto, riscos acentuados de acidentes e consequentes danos à saúde do
trabalhador. As diferentes configurações espaciais para o desempenho da atividade
laboral dificultam prescrições únicas ou totalizantes. Os ambientes voltados ao
trabalho administrativo (desenvolvido em escritórios) e os ambientes destinados às
atividades industriais, por exemplo, possuem programas arquitetônicos distintos e
dimensões e estruturas específicas. O design de ambientes para locais de trabalho
deve atender às normas técnicas, às resoluções legais e às orientações para projetos
fornecidas pela bibliografia de referência da área do conforto ambiental.
Os arranjos físicos podem otimizar as condições de trabalho, além de estimular
o bem-estar e a produtividade dos usuários. Esse é um aspecto que deve ser bem
observado pelos arquitetos e designers, uma vez que a distribuição física de um
determinado espaço comercial, institucional ou de serviços precisa atender
satisfatoriamente às necessidades dos usuários, tanto trabalhadores quanto clientes
ou público em geral (CURY, 2005).
Iida (2005) considera que, no quadro de objetivos de um bom arranjo físico
(layout), está incluída a redução da fadiga. Sabemos que a boa disposição e a escolha
do mobiliário e dos equipamentos, bem como o dimensionamento adequado das
circulações, proporciona melhor interação com o ambiente e resultam em maior
eficiência dos fluxos internos das atividades. O arranjo físico atua diretamente na
percepção que temos de um ambiente, pois, do ponto de vista psicológico, o estímulo
e o ânimo são potencializados em espaços criativos, contemporâneos e bem
organizados.
A iluminação natural, advinda das janelas nas duas faces do ambiente, é
apoiada pela iluminação artificial, locada sobre cada ilha de trabalho, sendo que a sala
também conta com iluminação geral. As circulações ocorrem de forma confortável por
entre os módulos de trabalho de forma simétrica e regular, facilitando a interação e o

17
movimento necessário no ambiente. As cores utilizadas definem áreas de trabalho
específicas, diferenciadas pelos anteparos sobre as mesas: verde (cor fria) e cor de
laranja (cor quente). As texturas do piso e do teto são contrastantes, com acabamento
polido no piso e acabamento rústico no teto, cujo aspecto bruto confere um ar mais
informal ao projeto de interiores.
Recomenda-se que o layout seja flexível, podendo ser alterado sempre que for
necessário, para atender às constantes mudanças ocorridas nas empresas globais.

3.3 A ergonomia como mediadora da qualidade de vida associada ao trabalho

O trabalho humano é identificado em muitos processos como um significativo


intermediário nos diferentes convívios sociais e na saúde humana. Os múltiplos
processos envolvidos na atividade laboral podem beneficiar ou prejudicar grupos ou
indivíduos de quaisquer modalidades de atividades produtivas.
Kroemer e Grandjean (2005, p. 149) afirmam que “várias pesquisas favorecem
a hipótese que há uma ligação entre a qualidade de vida no trabalho e a qualidade de
vida em geral [...]”.
Sob o olhar da ergonomia, a monotonia e a falta de motivação no trabalho são
os maiores estimuladores da fadiga no ambiente de trabalho. Embora nos
encontremos em um momento em que tendências alternativas e flexíveis se façam
presentes numa economia internacionalizada, ainda encontramos repetições de
velhas fórmulas e métodos prejudiciais à produtividade e ao trabalhador. As velhas
fórmulas e métodos são aquelas associadas ao taylorismo, que, segundo Kroemer e
Grandjean (2005), produzem tédio no trabalhador, uma vez que reduzem suas
habilidades mentais e físicas e desperdiçam seu potencial.
Iida (2005, p. 280) utiliza o exemplo da indústria para definir a monotonia,
identificando-a como:

“[...] a reação do organismo a um ambiente uniforme, pobre em estímulos ou


com pouca variação das excitações. Os sintomas mais indicativos da
monotonia são uma sensação de fadiga, sonolência, morosidade e uma
diminuição da atenção. As operações repetitivas na indústria e o tráfego
rotineiro são condições propícias à monotonia [...]”.

18
As tarefas repetidas tendem a promover a diminuição dos níveis de excitação
cerebral, podendo ocorrer saturação psíquica, que provoca ansiedades e tensões
(IIDA, 2005; WISNER, 1995).
Conforme Kroemer e Grandjean (2005), as condições que desencadeiam o
surgimento de estados de monotonia são: atividades repetitivas de longa duração e
tarefas de observação de longa duração com obrigação de atenção permanente. Em
ambos os casos, as atividades que apresentam mínimo grau de dificuldade ou
pobreza de estímulos são consideradas as mais monótonas. Via de regra, a
monotonia resulta em fadiga e falta de motivação (IIDA, 2005; KROEMER;
GRANDJEAN, 2005; WISNER, 1995).
Em relação à fadiga, Kroemer e Grandjean (2005) a relacionam com diminuição
da capacidade de produção e perda de motivação para desempenhar qualquer
atividade. A fadiga também pode estar relacionada aos fatores ambientais ou sociais.
Conforme Iida (2005, p. 284):

Fadiga é o efeito de um trabalho continuado, que provoca uma redução


reversível da capacidade do organismo e uma degradação qualitativa desse
trabalho. A fadiga é causada por um conjunto complexo de fatores, cujos
efeitos são cumulativos. Em primeiro lugar, estão os fatores fisiológicos,
relacionados com a intensidade e duração do trabalho físico e intelectual.
Depois, há uma série de fatores psicológicos, como a monotonia e a falta de
motivação e, por fim, os fatores ambientais e sociais, como a iluminação,
ruídos, temperaturas e o relacionamento social com a chefia e os colegas de
trabalho.

A motivação de um trabalhador pode ocorrer de diversas formas: desafios mais


enriquecedores, participação mais efetiva nos processos produtivos, novas
responsabilidades e reconhecimento profissional. A motivação, segundo Wisner
(1995), é uma necessidade humana que se refere aos valores da mente e do espírito,
portanto, é mais difícil de ser identificada pelos administradores.
A evolução da indústria tecnológica ressaltou a necessidade de conhecer as
capacidades e os limites humanos e, como resultado, promover o bem-estar do
trabalhador. A ergonomia atua especificamente neste quesito: na busca de segurança,
conforto e bem-estar, recuperando o sentido antropológico do trabalho. Como afirmam
Moraes e Mont’alvão (2000, p. 15):

A razão mais óbvia para estudar as relações entre seres humanos e artefatos
e ambientes que eles usam (além da simples curiosidade) é a intenção de
mudar as coisas para melhor – seja para incrementar o desempenho,

19
produtividade, saúde ou segurança do usuário, ou simplesmente para tornar
a experiência do usuário mais prazerosa e satisfatória.

A relevância da ergonomia como mediadora na promoção da qualidade de vida


do trabalhador é preconizada pela publicação da Norma Regulamentadora nº 17, que
visa a definir os melhores padrões para o trabalhador em seu posto de trabalho,
considerando suas características psicofisiológicas (BRASIL, 2009). Além da Norma
(NR 17), as definições e conceitos dos autores mencionados nos encaminham para a
compreensão da ergonomia enquanto um importante agente na busca da interação
do usuário com o ambiente, o mobiliário, os equipamentos e as tarefas dentro de um
sistema. Seria equivocado estudar e aplicar isoladamente estes elementos, pois eles
exercem influências entre si.
A ergonomia, portanto, visa a agenciar mudanças na qualidade do trabalho
humano, cujos procedimentos resultarão em benefícios não somente centrados no
bem-estar da força de trabalho, mas de toda a sociedade.

4 ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NA SAÚDE ERGONÔMICA DO TRABALHADOR

Fonte: https://www.enfermagemnovidade.com.br

O enfermeiro do trabalho possui um papel importante para a saúde dos


trabalhadores nas empresas. É o profissional responsável pela promoção da saúde,
da qualidade de vida e do trabalho em ambientes laborais. Por isso, a sua atuação
20
tem crescido nos últimos anos, também em decorrência do aumento do número de
empresas e das novas legislações direcionadas à saúde do trabalhador. Assim, o
enfermeiro do trabalho é o profissional com maior capacidade de atuar de forma
integral e individual com os trabalhadores. Por isso, devido às suas habilidades para
a promoção da saúde e do reconhecimento das necessidades individuais, essa
profissão tem chamado atenção nos últimos anos (CARVALHO, 2014).
Conforme o Ministério da Saúde (BRASIL, 2018, documento on-line):

São considerados riscos ergonômicos: esforço físico, levantamento de peso,


postura inadequada, controle rígido de produtividade, situação de estresse,
trabalhos em período noturno, jornada de trabalho prolongada, monotonia e
repetitividade, imposição de rotina intensa. Os riscos ergonômicos podem
gerar distúrbios psicológicos e fisiológicos e provocar sérios danos à saúde
do trabalhador porque produzem alterações no organismo e estado
emocional, comprometendo sua produtividade, saúde e segurança, tais
como: LER/DORT, cansaço físico, dores musculares, hipertensão arterial,
alteração do sono, diabetes, doenças nervosas, taquicardia, doenças do
aparelho digestivo (gastrite e úlcera), tensão, ansiedade, problemas de
coluna, etc.

Veremos as possíveis intervenções da enfermagem nos riscos ergonômicos


segundo as recomendações da NR nº 17:
• Levantamento de peso: orientar para levantar o peso dentro dos limites da
sua capacidade e para ter atenção à postura na execução dessa tarefa,
evitando que determinadas regiões da coluna sejam mais exigidas do que
outras;
• Ritmo excessivo de trabalho: orientar sobre a necessidade de pausas
frequentes, incentivando pequenos intervalos de atuação;
• Monotonia: orientar sobre alteração da forma de execução ou organização
da tarefa;
• Repetitividade: orientar sobre a necessidade de pausas frequentes,
incentivando pequenos intervalos de atuação;
• Postura inadequada: em ambientes onde é necessário trabalhar sentado,
por exemplo, é fundamental que a cadeira dê total sustentação à coluna,
além de garantir que as pernas fiquem em um ângulo de 90°. Os cotovelos
também devem ficar nessa posição, sendo apoiados corretamente na mesa
logo à frente;

21
• Iluminação inadequada: orientar para evitar iluminação intensa e direta. Ela
deve ser bem distribuída por todo o ambiente, evitando cantos escuros ou
que são excessivamente iluminados;
• Intensas jornadas de trabalho: promover atividades com teor educativo e
preventivo, incentivando os profissionais a adotarem novos hábitos.

A ergonomia tem direta relação com o gerenciamento da empresa, pois se


relaciona com pessoas, projetos de trabalho, cultura organizacional, forma de
comunicação, organização em rede, teletrabalho, gestão de qualidade, etc., tudo
interligado em um ambiente de trabalho. Assim, a ergonomia, como ciência, não se
constitui em sistema fechado, já que exige contínuos desenvolvimento, aplicação e
validação de dados. Ela pretende, nesse sentido, fomentar um ambiente livre de
adversidades para os seus frequentadores e para a empresa, ao passo que
proporciona diversos benefícios para todos envolvidos no processo.
A importância das boas práticas de ergonomia perpassa pelos empregadores
e empregados, envolvendo um grupo maior, o social, pois as ações executadas
podem levar a danos que, caso não recebam a devida atenção, talvez tenham
repercussões graves na saúde e na segurança de todos envolvidos. Portanto,
empresas com problemas ergonômicos tendem a apresentar baixa produtividade e
maiores taxas de ausência e desmotivação por parte dos empregados, considerando,
também, a exposição a um maior número de riscos às integridades física e mental.
Podemos dizer também que a ergonomia requer um grupo de especialistas
voltados para um trabalho mais assertivo e organizado, nada ao acaso, mas com base
em evidências e em planejamento estratégico. A empresa deve seguir as legislações
do trabalho, garantindo, como é estabelecido pela NR nº 17, conforto, segurança,
saúde e desempenho eficiente no trabalho. Assim, é necessário adequar
ergonomicamente, alocar o trabalhador em posto de trabalho compatível com as suas
condições físicas e mentais e oferecer ferramentas adequadas para a realização de
tarefas com o menor esforço, para que seja reduzido ao máximo o risco de acidentes
de trabalho e o trabalhador tenha uma melhor qualidade de vida.

22
4.1 Inserção da enfermagem na saúde do trabalhador

O trabalho do enfermeiro ocupacional está direcionado à promoção, à proteção


e ao restabelecimento da saúde dos trabalhadores no ambiente laboral, de modo a
promover um trabalho seguro e saudável. Por isso, a enfermagem do trabalho é
designada como uma ciência especializada. Historicamente, essa área de atuação
profissional iniciou-se na Inglaterra, no século XIX, onde era conhecida como
enfermagem laboral. Nessa época, os enfermeiros laborais ofereciam assistência na
prevenção e na saúde pública, com visitas domiciliares aos operários doentes e a seus
familiares (MORAIS, 2012).
No Brasil, a atenção à saúde do trabalhador para a tríade saúde–trabalho-
doença iniciou-se por meio da medicina do trabalho, por volta de 1830. Após esse
período, houve uma expansão dessa profissão no século XX, estruturada na figura do
médico do trabalho. Essa visão era mais centrada na ótica biológica da medicina do
corpo individual, com um enfoque na clínica-terapêutica, com a análise do
microambiente e da ação patogênica de alguns agentes presentes no ambiente
laboral.
Já a enfermagem do trabalho teve início no Brasil em 1950, com a atividade de
muitas enfermeiras atuando em indústria, no contexto da medicina industrial e
ocupacional. No entanto, essa atividade não tinha aparato legal na proteção dos
trabalhadores até 1959. A partir dessa data, a Organização Internacional do Trabalho
criou a obrigatoriedade da presença de profissionais de saúde ocupacional nos
ambientes laborais, por meio da Resolução 112 (MARZIALE; HONG, 2005).
De acordo com a Associação Nacional de Enfermeiros do Trabalho (ANENT)
(c2018) e a Classificação Brasileira de Ocupações do Ministério do Trabalho e
Emprego (c2017), os enfermeiros do trabalho exercem funções direcionadas a
higiene, segurança e medicina ocupacional. Além disso, participam de grupos de
pesquisa voltados para a saúde e segurança do trabalhador. Entre as
responsabilidades desses profissionais, estão as tarefas de prevenção de acidentes
e doenças do trabalho, assim como a promoção e valorização da saúde do trabalhador
no ambiente laboral.
Além das funções já mencionadas, outra competência do enfermeiro do
trabalho é analisar as condições de segurança e periculosidade nas empresas. O seu
papel é verificar as condições de trabalho nos ambientes laborais e analisá-las junto
23
à equipe multidisciplinar do Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e
Medicina do Trabalho (SESMT), a fim de identificar as necessidades de melhorias em
segurança e higiene do trabalho. Além disso, compete também ao enfermeiro do
trabalho organizar e executar ações e programas de proteção à saúde dos
trabalhadores, participar da organização de inquéritos sanitários, executar e avaliar
programas de prevenção de acidentes e doenças ocupacionais, e realizar
levantamentos de doenças profissionais e lesões traumáticas (ANENT, c2018).
Segundo o Código Internacional de Ética para os profissionais de saúde no
trabalho, os profissionais que promovem a saúde e a segurança do trabalhador no
ambiente laboral incluem médicos e enfermeiros do trabalho, técnicos de segurança,
especialistas em ergonomia, higienistas ocupacionais, psicólogos ocupacionais,
especialistas em reabilitação profissional e em prevenção de acidentes, e profissionais
que fazem pesquisas em saúde e segurança no trabalho (COMISSÃO
INTERNACIONAL DE SAÚDE NO TRABALHO — ICOH, 2016).
Nos Estados Unidos, os enfermeiros do trabalho são amparados pela
Associação Americana de Enfermeiros de Saúde Ocupacional (AAOHN), que atende
mais de 4.000 membros no país. É uma associação profissional de enfermeiros
licenciados envolvidos na prática de enfermagem de ocupação e saúde ambiental. A
AAOHN é composta por 100 organizações de capítulo, que são agências incorporadas
de acordo com os seus regulamentos estaduais.
No Brasil, a ANENT conta com associados e representantes estaduais em todo
o país. Essa associação de enfermeiros do trabalho tem a finalidade de definir
estatutos, realizar estudos na área da enfermagem do trabalho, estimular criação de
cursos de especialização, realizar intercâmbios com entidades nacionais e
internacionais, bem como promover e participar de atividades científicas relacionadas
à enfermagem do trabalho (ANENT, c2018).
O enfermeiro do trabalho tem executado uma função decisiva no planejamento
das ações de segurança e saúde nos ambientes de trabalho, onde é desenvolvida
uma profunda assistência com maior custo-benefício. Esse profissional deve possuir
conhecimento técnico-científico para atuar nas empresas, assim como uma visão
ampla, de modo a superar os horizontes da enfermagem.

24
4.2 Ações de enfermagem para a promoção da saúde do trabalhador

O enfermeiro do trabalho tem a capacidade de colocar em prática diversas


ações para a promoção da saúde dos trabalhadores. Essas ações podem ser de
caráter primário, secundário ou terciário. Entre as ações de prevenção primária, o
enfermeiro do trabalho pode realizar a consulta de enfermagem, com participação dos
demais profissionais para complementação dos exames, e fornecer instruções aos
trabalhadores sobre hábitos saudáveis, como alimentação, atividade física, repouso,
lazer, entre outros (CARVALHO, 2014).
Na prevenção secundária, o enfermeiro do trabalho realiza o diagnóstico
precoce do trabalhador, bem como um pronto atendimento com limitação de danos.
Desse modo, pode realizar adequações nas condições de trabalho, para que este seja
adequado ao trabalhador, por meio de visitas no ambiente laboral e educação
continuada para uma adaptação sem esforço físico e mental. Além disso, podem ser
realizados cuidados de emergência, em decorrência de agravos produzidos pelo
trabalho, por meio de consulta de enfermagem, solicitação de exames
complementares, assistência integral para evitar os agravos e doenças ocupacionais
que provoquem lesões. Já na prevenção terciária, o enfermeiro do trabalho auxilia na
reabilitação do trabalhador que sofreu alguma lesão com ou sem sequelas, por meio
de assistência contínua na sua reintegração.
Para ser possível determinar as ações que o enfermeiro do trabalho pode
realizar em um ambiente laboral, primeiramente é preciso compreender as suas
competências e atribuições. De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego
(c2017) e com a ANENT (c2018) as competências do enfermeiro do trabalho são:
realizar atividades direcionadas à higiene, medicina e segurança do trabalho e;
compor equipes de estudos para promover a preservação da saúde e a valorização
do trabalhador.
Já as atribuições do enfermeiro do trabalho são as seguintes (ANENT, c2018):

Pesquisar sobre condições de segurança e periculosidade da empresa, com


observações nos locais de trabalho, discutindo-as em equipe de forma a
identificar as necessidades no campo de segurança, higiene e melhoria do
trabalho;
Criar e realizar planos e programas para promoção e proteção à saúde dos
empregados, participando de grupos que realizam inquéritos sanitários,
estudam as causas de absenteísmo, fazem levantamentos de doenças
profissionais e lesões traumáticas, procedem a estudos epidemiológicos e
coletam dados estatísticos de morbidade e mortalidade de trabalhadores,
25
investigando possíveis relações com as atividades funcionais, de forma a
obter a continuidade operacional e o aumento da produtividade;
Realizar programas de prevenção de acidentes e de doenças profissionais e
não profissionais, fazendo análise de fadiga, dos fatores de insalubridade,
dos riscos e das condições de trabalho do menor e da mulher, para propiciar
a preservação da integridade física e mental do trabalhador;
Realizar primeiros socorros no local de trabalho, em caso de acidente ou
doença, fazendo curativos ou imobilizações especiais, administrando
medicamentos e tratamentos e providenciando o posterior atendimento
médico adequado, para atenuar consequências e proporcionar apoio e
conforto ao paciente;
Criar, realizar e avaliar as atividades de assistência de enfermagem aos
trabalhadores, proporcionando-lhes atendimento ambulatorial, no local de
trabalho, controlando sinais vitais, aplicando medicamentos prescritos,
curativos, inalações e testes, coletando material para exame laboratorial,
vacinações e outros tratamentos, de forma a reduzir o absenteísmo
profissional;
Organizar e administrar o setor de enfermagem da empresa, prevendo
pessoal e material necessários, treinando e supervisionando auxiliares de
enfermagem adequados às necessidades de saúde do trabalhador;
Promover o treinamento dos trabalhadores, instruindo-os sobre o uso de
roupas e material adequado ao tipo de trabalho, de modo a reduzir a
incidência de acidentes;
Planejar e colocar em prática programas de educação sanitária, divulgando
conhecimentos e estimulando a aquisição de hábitos sadios, para prevenir
doenças profissionais e melhorar as condições de saúde do trabalhador;
Promover o registro de dados estatísticos de acidentes e doenças
profissionais, mantendo cadastros atualizados, a fim de preparar informes
para subsídios processuais nos pedidos de indenização e orientar em
problemas de prevenção de doenças profissionais.

Ao compreender as atividades e as funções que o enfermeiro do trabalho pode


executar em uma empresa, torna-se possível e mais fácil planejar as ações que vão
promover a saúde e a segurança do trabalhador. Com isso, o enfermeiro do trabalho
tem mais subsídios para promover a qualidade de vida do trabalhador no ambiente
laboral.

26
5 NORMA REGULAMENTADORA Nº 17

Fonte: https://torresmoveis.com.br

A Norma Regulamentadora (NR) nº. 17, foi criada pelo então Ministério do
Trabalho e Emprego - MTE (atual Ministério do Trabalho e Previdência), com o escopo
de criar diretrizes para que haja condições de trabalho equilibradas entre indivíduos e
empresas (BRASIL, 2021).
Até 1943, as leis trabalhistas no Brasil eram poucas e os direitos dos
trabalhadores não eram devidamente regulamentados em um único código. Somente
a partir desse ano a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) unificou a legislação.
Uma das razões para a consolidação dessas leis foi a criação da Justiça do Trabalho;
por conta disso, a CLT tornou-se uma exigência constitucional.
Não obstante a publicação da CLT no ano de 1943, as normas de segurança e
medicina do trabalho não estavam regulamentadas, pois a responsabilidade de
estabelecer disposições complementares às normas da Consolidação, como as
normas de segurança e medicina do trabalho, ficou com o Ministério do Trabalho, de
acordo com o art. 200 da CLT (BRASIL, 1943). A falta de uma definição regulatória
dessas normas de segurança na legislação torna sua eficácia limitada. Os legisladores
só podem aplicar a força das normas legais por meio de regulamentos, ou seja, neste
caso, falta o elemento de aplicação do direito.

27
Com o escopo de sanar esse problema da regulamentação, a Lei nº. 6.514, de
22 de dezembro de 1977, alterou o capítulo V do Título II da CLT referente à
segurança e à medicina do trabalho, acrescentando ao art. 200 as peculiaridades e
as atividades nas quais o Ministério do Trabalho deveria regulamentar e estabelecer
disposições complementares ao texto da Lei. Esse artigo solicita ao Ministério do
Trabalho regulamentar especialmente as seguintes situações:

Art. 200 Cabe ao Ministério do Trabalho estabelecer disposições


complementares às normas de que trata este Capítulo, tendo em vista as
peculiaridades de cada atividade ou setor de trabalho, especialmente sobre:
I — medidas de prevenção de acidentes e os equipamentos de proteção
individual em obras de construção, demolição ou reparos;
II — depósitos, armazenagem e manuseio de combustíveis, inflamáveis e
explosivos, bem como trânsito e permanência nas áreas respectivas;
III — trabalhos em escavações, túneis, galerias, minas e pedreiras, sobretudo
quanto à prevenção de explosões, incêndios, desmoronamentos e
soterramentos, eliminação de poeiras, gases etc. e facilidades de rápida
saída de empregados;
IV — proteção contra incêndio em geral e as medidas preventivas adequadas,
com exigências ao especial revestimento de portas e paredes, construção de
paredes contrafogo, diques e outros anteparos, assim como garantia geral de
fácil circulação, corredores de acesso e saídas amplas e protegidas, com
suficiente sinalização;
V — proteção contra insolação, calor, frio, umidade e ventos, sobretudo no
trabalho a céu aberto, com provisão, quanto a este, de água potável,
alojamento e profilaxia de endemias;
VI — proteção do trabalhador exposto a substâncias químicas nocivas,
radiações ionizantes e não ionizantes, ruídos vibrações e trepidações ou
pressões anormais ao ambiente de trabalho, com especificação das medidas
cabíveis para eliminação, ou atenuação desses efeitos, limites máximos
quanto ao tempo de exposição, à intensidade da ação ou de seus efeitos
sobre o organismo do trabalhador, exames médicos obrigatórios, limites de
idade, controle permanente dos locais de trabalho e das demais exigências
que se façam necessárias;
VII — higiene nos locais de trabalho, com discriminação das exigências,
instalações sanitárias, com separação de sexos, chuveiros, lavatórios,
vestiários e armários individuais, refeitórios ou condições de conforto por
ocasião das refeições, fornecimento de água potável, condições de limpeza
dos locais de trabalho e modo de sua execução, tratamento de resíduos
industriais;
VIII — emprego das cores nos locais de trabalho, inclusive sinalizações de
perigo (BRASIL, 1977, documento on-line).

A Portaria nº. 3.214, de 8 de junho de 1978, aprovou as NRs do capítulo V da


Lei nº. 6.514/1977. As NRs preenchem lacunas na legislação trabalhista e
complementam o texto integral da CLT. Eles lidam com uma série de requisitos,
procedimentos e requisitos de execução relacionados à segurança e medicina do
trabalho.

28
De acordo com a NR nº. 1, as NRs são de observância obrigatória pelas
empresas privadas, públicas, pelos órgãos públicos da Administração direta e indireta,
bem como pelos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário que possuem
empregados regidos pela CLT e trabalhadores avulsos (BRASIL, 2009). Ou seja, deve
ser obrigatoriamente cumprida por todos.
Do ponto de vista da eficiência e sua relação com a segurança da produção,
destacamos que a produtividade de um empreendimento está relacionada a diversos
fatores, e os trabalhadores são um deles. Afinal, inovação é feita por pessoas. As
empresas precisam de novas ideias e muitas vezes precisam se reinventar e inovar.
Para isso, os funcionários devem se sentir parte da empresa e gostar de estar lá.
Além do ponto de vista da produtividade e da eficiência com base no conforto
do trabalhador, o investimento em segurança e medicina do trabalho pode reduzir
significativamente os custos operacionais. A prevenção de acidentes gera menos
custos com afastamento de funcionários, o que aumenta a produtividade. O ambiente
de trabalho seguro e protegido gera um ambiente saudável e propício a novas ideias;
as atividades tendem a ter mais qualidade e ser cumpridas nos prazos corretos. Isso
cria uma correlação de responsabilidade entre empresa e funcionário. Como
percepção de fator externo a esse investimento, podemos citar a credibilidade e a
visão da corporação como um todo, já que a preocupação com a segurança do
trabalhador é uma demonstração de responsabilidade social.

5.1 Parâmetros de adaptação das condições de trabalho

A NR nº. 17 foi criada pelo MTE para regular parâmetros que facilitem a
adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos
trabalhadores, com o objetivo de propiciar conforto, segurança e desempenho
eficiente (BRASIL, 2021).
Entende-se, por características psicofisiológicas dos trabalhadores os aspectos
diversos que formam sua condição enquanto seres existentes no mundo: são
características psicológicas, antropológicas, fisiológicas e uma série de outras que nos
envolvem, já que somos em nossa relação com o mundo circundante. São a esses
fatores que devem ser adaptadas as condições de trabalho, proporcionando conforto.
Contudo, a regulamentação de conforto não é uma ciência exata. Para ajudar nesse

29
quesito, a regulamentação estabelece alguns limites objetivos. Além disso, a
avaliação desses parâmetros depende da percepção do trabalhador, que é
responsável pela aprovação ou reprovação de soluções para atender a eventuais
questões de conforto ou requisitos para atender às necessidades.
A adaptação ao trabalho proposta pela NR nº. 17 inclui aspectos relacionados
ao levantamento, ao transporte e à descarga de materiais, ao mobiliário, aos
equipamentos e às condições ambientais do posto de trabalho e da própria
organização (BRASIL, 2021). A abrangência da NR é perfeitamente possível de se
observar e pode inclusive, exigir a modificação da organização do trabalho.
Limites e orientações são fornecidos na norma para cada situação
apresentada. Vale ressaltar a importância de observar cada situação e poder aplicar
os critérios adequadamente. Por exemplo, embora o transporte e a elevação sejam
permitidos por lei, eles não precisam ser exaustivos. As organizações podem facilitar
o trabalho e aumentar a receita.
Da mesma forma, em locais onde são realizadas atividades intelectuais, como
laboratórios, escritórios, salas de desenvolvimento, a norma recomenda valores para
nível de ruído, índice de temperatura, velocidade do ar, umidade relativa e iluminação.
Para cada um desses itens, a empresa deve atender às restrições e condições. De
posse dessas informações, é possível começar a pesquisar o ambiente de trabalho
de acordo com a NR nº. 17. Verifique os parâmetros de ação. Embora os limites e
faixas de valores sejam definidos e indicados na NR, a percepção e a pesquisa
contínua dos níveis de satisfação dos usuários são essenciais.

5.2 Aplicabilidade da NR nº. 17

De acordo com o que vimos, a NR nº. 17 é bastante abrangente e está


enquadrada em praticamente todas as atividades e até na organização do trabalho. A
necessidade de aplicação da norma surgiu principalmente após a introdução da
organização taylorista, quando os trabalhadores nunca eram consultados sobre as
condições de trabalho, as ferramentas, o mobiliário, o trabalho repetitivo, o tempo
alocado em cada atividade, etc.
Assim, a aplicação da ergonomia tem como função encaixar o trabalhador
internamente em uma conjuntura de transformação, incentivando o colaborador a ter

30
um papel de direção na efetuação de mudanças ergonômicas necessárias a
consolidação de sua existência no espaço laboral. Esses fatores transformadores não
são necessários somente para as empresas, mas também para o conjunto da
sociedade. Portanto, o interesse pela adequação ergonômica também deve ser social:
a sociedade deve focar na saúde financeira dos serviços sociais. Quanto menos
pessoas se afastarem e se aposentarem por invalidez, melhores serão os resultados
contábeis da Previdência Social. Há outro requisito interessante para a aplicabilidade
da NR nº 17 neste contexto: a saúde pública.
Para analisar o problema de adaptação, a análise ergonômica não pode ser
solicitada na forma de protocolo; isso só irá gerar uma análise superficial e grosseira
e provavelmente não contribuirá em nada para as condições de trabalho. O requisito
para uma análise ergonômica deve ser claramente definido e focado em um problema
específico. Deve-se mencionar qual é o problema a ser resolvido e por que a
solicitação é feita, por exemplo, a um ergonomista (BRASIL, 2021).
Para definir os requisitos, é necessária uma equipe multidisciplinar, pois o
problema deve ser mapeado. A solução envolve um acompanhamento completo do
que está acontecendo na empresa. Quando o número de afastamentos é alto, devem
ser analisados os fatores, tais como: onde o problema ocorre mais; o turno de
ocorrência; tarefas executadas; as repetições envolvidas; e outros itens que podem
ser necessários para a investigação. Esses dados suportam a análise dos
profissionais e permitem a resolução adequada dos problemas. Sem o envolvimento
e participação construtiva da equipe, os resultados serão insatisfatórios.
Segundo a NR 17, a análise ergonômica deve conter, no mínimo, as seguintes
etapas:

1. Análise da demanda e do contexto — situa o problema a ser analisado.


2. Análise global da empresa — grau de evolução técnica, posição no
mercado, situação econômico-financeira.
3. Análise da população de trabalhadores — política de pessoal, faixa etária,
evolução da pirâmide de idades.
4. Definição das situações de trabalho a serem estudadas — demanda de
trabalho, situações a serem estudadas.
5. Descrição das tarefas prescritas, das tarefas reais e das atividades
desenvolvidas para executá-las — dados referentes ao homem, às máquinas,
aos operadores e ao meio ambiente de trabalho.
6. Estabelecimento de um pré-diagnóstico — deve ser explicitado às várias
partes envolvidas e definido o que será validado ou abandonado como
hipótese explicativa para o problema.
7. Observação sistemática da atividade e dos meios disponíveis para realizar
a tarefa — constatação da posição de trabalho do colaborador.

31
8. Diagnóstico — em virtude das situações analisadas em detalhe, tem como
objetivo o conhecimento da situação de trabalho.
9. Validação do diagnóstico — a apresentação deve abranger todos os
autores envolvidos que podem confirmar a hipótese, rejeitar ou sugerir
alterações no diagnóstico apresentado. Somente os envolvidos no processo
de trabalho possuem a experiência e o conhecimento da realidade. Além
disso, são os maiores interessados nas modificações.
10. Projeto das modificações ou alterações — o profissional deve propor
soluções e melhorias das condições de trabalho no aspecto produtivo e na
saúde do trabalhador. Esse item é fundamental, pois a intervenção
ergonômica só vai ser completa quando o local de trabalho for transformado.
11. Cronograma de implementação das modificações ou alterações — o
cronograma é importante porque, dependendo do nível de modificação na
linha de produção ou no fluxo de trabalho, pode demandar reforma de
unidades e compra de equipamentos. Caso a solicitação seja de alguma
autoridade competente (auditor fiscal do trabalho) ou de sindicato, estes
devem ser informados sobre os prazos para serem regularizadas as
inconformidades.
12. Acompanhamento das modificações/alterações — o acompanhamento do
profissional contratado vai depender da forma de contratação. Para fechar o
ciclo de transformação ergonômica após a implementação das mudanças, é
preciso avaliar o impacto das modificações sobre os trabalhadores (BRASIL,
2021).

Todas essas etapas são essenciais para começar a transformar o ambiente de


trabalho, pois avaliam não apenas a unidade, mas também os funcionários
designados. Portanto, o contexto ressalta a necessidade de transformar
constantemente o local de trabalho.
Para que a aplicabilidade seja completa, as condições ambientais precisam ser
atendidas, conforme descrito no item 5 da NR nº. 17 (BRASIL, 2021). Neste projeto,
são listados o nível de ruído permitido, índice de temperatura, velocidade e umidade
relativa do ar. Os limites de tolerância variam de acordo com o local, atividades
envolvidas, condições climáticas e outros fatores relevantes para cada situação.
O cumprimento de todos esses requisitos de conforto, segurança, desempenho
eficiente e ergonomia faz com que a aplicação da NR nº. 17 em alguns casos, seja
bastante hermética, e isso requer um estudo aprofundado da situação específica
devido aos diferentes contextos e exigências que acompanham o contexto do litígio,
jurisprudência, bibliografias técnicas, artigos de pesquisa, normas e organizações
internacionais e outros documentos reconhecidos pela comunidade profissional. Só
assim é possível aplicar a melhor solução técnica disponível e adequada à situação
em estudo.

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