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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

DIRETORIA DE ENSINO A DISTÂNCIA


PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

Mateus Eduardo Ferreira

ERGONOMIA APLICADA NA PREVENÇÃO DE LOMBALGIAS EM ESCRITÓRIOS


DE TRABALHO

Belo Horizonte
2022
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1 INTRODUÇÃO

O trabalho realizado em escritório, que tem por ferramentas principais o


computador e alguns papéis, corresponde à totalidade do trabalho desenvolvido por
profissionais desse ramo, essa modalidade de trabalho, embora pacífica e de pouco
esforço físico, pode trazer ao longo do tempo algumas patologias aos seus adeptos,
uma dessas patologias do trabalho é a chamada lombalgia, ou como é comumente
conhecida, dor lombar, ou dor nas costas.
Freitas (2021) define a lombalgia como um sintoma, caracterizado pela dor na
parte inferior das costas, do final das costelas até o começo dos glúteos.
Segundo dados da Sociedade Brasileira de Reumatologia (2011), a lombalgia
ocupacional é aquela que surge ou se agrava em decorrência do ofício do indivíduo.
Esta acomete principalmente adultos jovens e é a maior causa isolada de
transtornos relacionados ao trabalho, tendo como algumas de suas consequências o
absenteísmo e a incapacidade total ou parcial para o desempenho da função.
De acordo com Mancin et. al. (2008), os fatores de risco que levam à
lombalgia são individuais, como a idade, sexo, condicionamento físico, altura,
obesidade, fatores psicológicos, dentre outros. No meio ocupacional os fatores de
risco mais comuns são o deslocar de objetos pesados, permanecer sentado por
longos períodos, expor-se por longos períodos à vibração, estresse ocupacional e o
sedentarismo.
Tendo em vista o que é a lombalgia, faz-se necessário citar a ciência que
norteia a segurança do trabalho na prevenção desse sintoma, denominada
ergonomia, que segundo a Academia Brasileira de Ergonomia (2020).

A palavra ergonomia - “a ciência do trabalho” deriva do grego ergon


(trabalho) e nomos (leis). Ergonomia (ou fatores humanos) é a disciplina
científica preocupada com a compreensão das interações entre humanos e
outros elementos de um sistema, e a profissão que aplica teoria, princípios,
dados e métodos para projetar a fim de otimizar o bem-estar humano e o
desempenho geral do sistema. (ACADEMIA BRASILEIRA DE
ERGONOMIA, 2020).

2 IDENTIFICAÇÃO DO RISCO E DESCRIÇÃO DOS OBJETIVOS

A lombalgia é um problema comum e silencioso que acomete as mais


variadas classes e faixas etárias de pessoas em todo o mundo, pessoas estas que
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atuam nos mais variados postos de trabalho, exemplarmente em escritórios,


recepções, ou em qualquer função que exija que as mesmas fiquem por horas
seguidas sentadas em frente a uma escrivaninha, como apresentado no presente
estudo de caso, que abordará o risco do surgimento desse problema entre esta
classe de trabalhadores.
É de conhecimento geral que a posição mais confortável para se trabalhar em
frente a um computador ou papéis é a posição sentada, mas até onde esse conforto
pode ir sem que se torne um problema? E, existem formas para mitigar esse
problema no ambiente laboral?
Para responder a estas perguntas e tomar conhecimento do tema, faz se
necessária a análise dos espectros desta problemática de forma científica, através
da pesquisa e revisão literária, como realizadas neste artigo.
O objetivo do presente estudo de caso, baseado em revisões literárias de
diversos autores e na legislação vigente tangível à essa questão, é promover uma
visão técnica sobre o risco de surgimento de lombalgias em escritórios como
ambientes de trabalho, bem como as formas para que este problema seja prevenido
e ora, resolvido.

3 REVISÃO DA LITERATURA

Segundo Marras (2000), lombalgias são a causa mais comum de problemas


musculoesqueléticos em locais de trabalho, estas afetam muitos trabalhadores e
estão associadas a altos custos para a indústria e para o indivíduo, influenciando
negativamente a saúde dos mesmos.
Para Plante et. al. (1997), cerca de 80% dos adultos vão eventualmente
experimentar algum tipo de dor nas costas durante a vida, e 4 a 5% da população
tem um episódio agudo de dor nas costas todos os anos.
Ainda de acordo com Marras (2000), a maioria dos estudos de riscos
epidemiológicos no âmbito da lombalgia tem relacionado essa patologia a fatores
como o trabalho pesado, movimentos de força ao içar uma carga, movimentos de
curvatura e torção, vibração de corpo inteiro, e posturas de trabalho estáticas.
De acordo com Barros et. al. (2011), um estudo da Sociedade Brasileira para
o Estudo da Dor, mostra que há de fato uma grande incidência de Lombalgias entre
pessoas que executam atividade de trabalho em posição sentada; E a manutenção
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dessa postura de trabalho por longos períodos de tempo pode levar à diminuição de
flexibilidade dos músculos e à redução do movimento das articulações, bem como à
fadigas nos músculos extensores da espinha, e com isso problemas na estabilidade
e no alinhamento da coluna vertebral. Estes problemas biomecânicos são
considerados importantes fatores para o surgimento de lombalgias.
Reis et. al. (2003), apresenta conclusões de que o permanecimento excessivo
em uma cadeira durante o trabalho está ligado ao encurtamento gradual da
musculatura da coxa, músculos isquiotibiais e iliopsoas, que geram uma gradual
imobilização da articulação do quadril, o que inclina para frente o segmento lombar
da coluna vertebral, aumentando a carga sobre a mesma e levando ao início de
lombalgias.
Ainda de acordo com Reis et. al. (2003), outro fator que leva ao surgimento de
lombalgias é o sedentarismo, que foi se desenvolvendo entre as revoluções
industriais e elevou cada vez mais os índices de pessoas que tendem a passar boa
parte do tempo sentadas, sobretudo no ambiente laboral.
Para Sacco et. al. (2009), permanecer nessa postura em questão, aliado à
ausência de atividades físicas, pode levar à alterações musculoesqueléticas, como a
diminuição da flexibilidade muscular, o que leva à diminuição da amplitude do
movimento e também ao decrescimento dos níveis de força física.

4 PROPOSTA DE MEDIDA DE SEGURANÇA E OPERACIONALIZAÇÃO

Para tratar do tema ‘lombalgia em escritórios de trabalho’, bem como em


quaisquer escritórios não laborais em que essa patologia do trabalho possa vir a
surgir, o foco inicial da segurança do trabalho deve se concentrar na prevenção do
problema, e para tal, como rege a legislação vigente, o caminho a ser seguido é a
aplicação da NR 17, que trata da ergonomia.

17.1.1 Esta Norma Regulamentadora - NR visa estabelecer as diretrizes e


os requisitos que permitam a adaptação das condições de trabalho às
características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar
conforto, segurança, saúde e desempenho eficiente no trabalho.
17.1.1.1 As condições de trabalho incluem aspectos relacionados ao
levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobiliário dos postos
de trabalho, ao trabalho com máquinas, equipamentos e ferramentas
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manuais, às condições de conforto no ambiente de trabalho e à própria


organização do trabalho. (NR 17 - ERGONOMIA, 2022).

Para se verificar se há quaisquer inconformidades com a legislação, a NR 17,


em seu texto, define que deverá ser realizada pela organização a AET - Análise
Ergonômica do Trabalho, sempre que for observada a necessidade de uma
avaliação aprofundada sobre qualquer situação de ordem de saúde e segurança no
trabalho, esta análise deve levar em conta aspectos como uma análise da demanda,
e formulação do problema, análise do funcionamento da organização, definição e
justificativa para a utilização de métodos de análise, definição de diagnósticos,
recomendações para a situação de trabalho analisada, bem como a colocação em
prática das soluções com posteriores revisões das intervenções efetuadas.

17.3.1 A organização deve realizar a avaliação ergonômica preliminar das


situações de trabalho que, em decorrência da natureza e conteúdo das
atividades requeridas, demandam adaptação às características
psicofisiológicas dos trabalhadores, a fim de subsidiar a implementação das
medidas de prevenção e adequações necessárias previstas nesta NR.
17.3.1.1 A avaliação ergonômica preliminar das situações de trabalho pode
ser realizada por meio de abordagens qualitativas, semiquantitativas,
quantitativas ou combinação dessas, dependendo do risco e dos requisitos
legais, a fim de identificar os perigos e produzir informações para o
planejamento das medidas de prevenção necessárias. (NR 17 -
ERGONOMIA, 2022)

Para ambientes laborais como escritórios, a NR 17 define regras para a


correta postura de operação, onde a mesma diz que o mobiliário do local de trabalho
deve ser ajustável às características antropométricas dos trabalhadores da
organização, requisito este que é a principal linha de frente na prevenção das
lombalgias. No item 3 de seu anexo II - Trabalho em
Teleatendimento/Telemarketing, esta norma traz as corretas dimensões de
mobiliários a serem utilizados em postos de trabalho que permitam variações
posturais onde haja a fácil movimentação e o conforto do trabalhador em trabalhos
que sejam executados de forma sentada ou em pé, estes requisitos são definidos no
quadro a seguir, que contém o texto original da norma:
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Fonte: NR 17 - ERGONOMIA, 2022.


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As imagem a seguir mostra a aplicação destes requisitos em uma mesa de


escritório de forma prática:

Fonte: Grandjean, 1983.

Para a correta operacionalização das medidas de segurança, além da


necessidade de se seguir o que a norma regulamentadora NR 17 define, é também
necessária uma cultura organizacional que leve o colaborador a se conscientizar dos
riscos físicos que o trabalho oferece, mesmo que estes não estejam tão aparentes,
como no caso de trabalhos em escritórios, e isto pode ser desenvolvido através de
políticas organizacionais dentro de cada organização, aumentando assim a
eficiência operacional da instituição e o cuidado com a saúde e segurança no
trabalho.

5 CONCLUSÃO

De acordo com Campos (2004), as condições trabalhistas incluem fatores


como a mobília, equipamentos e condições ambientais dos locais de trabalho, e
devem-se seguir as condições previstas na Norma Regulamentadora NR 17 em
casos de estudos ergonômicos, uma vez que quaisquer das condições acima
estiverem irregulares, isto pode gerar o aparecimento ou agravamento de lesões
musculoesqueléticas nos colaboradores.
Evangelista (2013) observa que a legislação brasileira tem sofrido forte
evolução no campo da segurança do trabalho e saúde ocupacional, fato que pode
ser evidenciado pelo crescente número de normas regulamentadoras apresentadas
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pelo ministério do trabalho e emprego, o autor também ressalta a forte aplicação dos
conceitos de ergonomia por empresas brasileiras, cuja responsabilidade social está
atrelada às exigências legais em prol da segurança e saúde ocupacional.
Com base nos autores acima, e em tudo que foi apresentado neste estudo de
caso, percebe-se que a lombalgia é um problema sério, e está fortemente ligado a
fatores trabalhistas dos mais variados tipos, desde o sedentarismo à questão física
do ambiente laboral, e conclui-se que com a correta aplicação da legislação vigente,
por meio da Norma Regulamentadora NR 17, e com políticas organizacionais que
evidenciem para o trabalhador todos os riscos envolvidos em cada tipo de trabalho,
é possível se prevenir e cuidar para que este problema seja extinto no ambiente
laboral, o que em termos de eficiência, boas práticas trabalhistas e saúde e
segurança do trabalho, se mostra como uma notória ferramenta de gestão e solução
prática eficiente no que tange ao objeto deste estudo.

REFERÊNCIAS

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