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de processos
INTRODUÇÃO
1
A gestão de processos é o tema central deste livro. O texto pretende
consolidar, organizar e fazer avançar o paradigma da gestão de
processos a fim de que seja possível desenvolver o conhecimento
disponível em direção a uma forma mais instrumental para seu uso
efetivo pelas organizações.
A contraposição entre uma alta demanda e uma baixa oferta de conceitos obje-
tivos de como gerenciar processos expõe a relevância do mote deste trabalho. Essa
motivação é reforçada pelo fato de a falta de definições conceituais consolidadas gera-
rem dificuldades para as organizações projetarem, gerirem no dia-a-dia e promoverem
aprendizado sobre o objeto “processos’’. O interesse em avançar na definição desse
tema foi despertado também pelo fato de haver três visões diferentes sobre as tarefas
necessárias à gestão de processos. Primeiro, os autores que escrevem sobre o tema
divergem razoavelmente sobre o que seja gestão de processos. Segundo, muitas vezes
há divergências entre o que os autores definem como gestão de processos e o que as
organizações efetivamente fazem para gerir seus processos. Por fim, as organizações
têm práticas para gerir seus processos que não convergem entre si. Essas diferenças
de entendimento, ainda que enriqueçam o debate com múltiplos pontos de vista,
também implicam dificuldades para estabilizar os limites do objeto de pesquisa e, por
conseguinte, definir e detalhar as tarefas de gestão de processos e fazer avançar na
teoria e na prática essa área de conhecimento.
Atualmente, uma das principais motivações para a gestão de processos tem sido
sua capacidade de contribuir para superar as limitações do modelo funcional de or-
ganização do trabalho. O modelo de gestão fundamentado na divisão do trabalho
funcional, centrada na especialização, tem limitações com relação à capacidade de
coordenação do trabalho. Esse modelo revela-se restritivo para lidar com a realidade
contemporânea, na qual a construção de organizações mais ágeis, integradas e flexí-
24 GESTÃO DE PROCESSOS: PENSAR, AGIR E APRENDER
veis passa a ser uma condição importante para a atuação que sustente e aprimore o
desempenho organizacional. Os mecanismos de coordenação baseados em processos,
dentro desse contexto, têm ampliado muito sua importância e repercussão.
Por fim, as dificuldades para a academia desenvolver estudos sobre um objeto
pouco definido ou definido de muitas diferentes formas e as dificuldades para as or-
ganizações incorporarem práticas e tecnologias motivam a busca pelo que é a gestão
de processos e pelo que efetivamente é necessário para fazê-lo.
participantes do estudo gastaram em 2005 entre 0 (zero) e 500 mil dólares e, que 5%
deles gastaram mais de 10 milhões de dólares em iniciativas de gestão de processos.
Outro2, com 72 participantes, mostra que nas iniciativas de gestão de processos não
houve retorno sobre investimento inferior a 10%, e a média de retorno ficou em 30%
com mediana em 44%. Esses números demonstram a intensidade da demanda e a
atratividade da gestão de processos por parte das organizações.
Melhorar processos é uma ação básica para as organizações responderem às mu-
danças que ocorrem constantemente em seu ambiente de atuação e para manter o
sistema produtivo competitivo. Pode-se dizer que esse movimento mais recente de
gestão de processos está fortemente associado à adoção da tecnologia da informação
– assim como o movimento anteriomente alardeado pela Reengenharia aderiu aos
sistemas transacionais tipo ERP. Contudo, ele enfoca os sistemas de informação para
a gestão de processos que induzem a realização da melhoria dos processos no dia-a-
dia das organizações, como softwares de modelagem de processos, ferramentas CASE,
plataformas de workflow, SOA, entre outros.
O espaço deixado pela academia sobre o tema “processos’’ devido à banalização
do mesmo na fase pós-Reengenharia criou uma oferta significativa de publicações que
relatam experiências obtidas em cados de prestação de serviços de consultoria que,
apesar de úteis como insumo, muitas as vezes carecem de rigor científico em suas
generalizações. Nesse contexto, como conseqüência, exacerbou-se a dificuldade de
consolidação de conceitos e práticas em gestão de processos. Ao buscar esclarecer,
especificar e detalhar a gestão de processos, este livro permite que as organizações
tenham maior facilidade para internalizar e incorporar conceitos e práticas para uma
gestão mais efetiva de seus processos.
Qualquer organização produtiva, seja pública, privada ou do terceiro setor, tem,
sem exceção, que coordenar o trabalho. Os mecanismos de coordenação do trabalho
estão intrinsecamente relacionados à forma como os recursos e as atividades estão
projetados, ao modo como essas atividades são geridas no dia-a-dia e aos meios pelos
quais a organização irá gerar o aprendizado e promover as melhorias nas operações e
na forma de coordenação do trabalho em si. Assim, gerir processos é útil para qual-
quer tipo de organização, já que a necessidade de coordenar deriva exatamente da
própria ação de dividir e organizar o trabaho em si.
Certamente, quanto maior a complexidade da coordenação do trabalho através
do sistema produtivo, maior a necessidade de se desenvolver a capacidade de gerir
processos. Essa capacidade tem sido vista atualmente como uma forma eficaz de pro-
mover integração, dinâmica, flexibilidade e inovação nas organizações, de certa forma
proporcionando paridade e/ou vantagem competitiva. Os resultados e benefícios que
vêm sendo obtidos já podem comprovar essa eficácia, como, por exemplo:
• Uniformização de entendimentos sobre a forma de trabalho através do uso dos
modelos de processo para a construção de uma visão homogênea do negócio.
26 GESTÃO DE PROCESSOS: PENSAR, AGIR E APRENDER
A gestão de processos também tem sido estudada e entendida como uma for-
ma de reduzir o tempo entre a identificação de um problema de desempenho nos
processos e a implementação das soluções necessárias. Contudo, para reduzir esse
tempo, as ações de modelagem e análise de processos devem estar bem estruturadas,
permitindo que os processos sejam rapidamente diagnosticados e as soluções sejam
mais facilmente identificadas o que permite por conseguinte, implantações no menor
intervalo de tempo e custo possíveis.
Freqüentemente, alguns autores reforçam que a integração promovida pelos
processos podem alinhar as visões de negócio e de tecnologia da informação e, as-
sim, reduzir o tempo e aumentar a eficácia da implantação de uma solução infor-
mática que dependa do entendimento de um requisito de negócio. Porém, as apli-
cações da gestão de processos têm uma amplitude significativamente maior que a
implantação de melhorias diretamente nos processos. A gestão de processos pode
ser utilizada para a uniformização de entendimentos; o benchmarking; o projeto de
Sistemas; o reprojeto organizacional; a definição de indicadores de desempenho
para uma organização por processos; o custeio por processos; a implantação de sis-
temas integrados; o desdobramento da estratégia; o projeto da cadeia de suprimen-
tos; a gestão de conhecimento; a definição e a implantação de workflow e a gestão
eletrônica de documentos, entre outras.
Outro aspecto fundamental da gestão de processos é entender as especifici-
dades que ela assume quando aplicada em diferentes setores da economia. Inequi-
INTRODUÇÃO 27
dia-a-dia das organizações. Para ser mais eficaz, essa nova postura, deve ser sistema-
tizada a partir de um conjunto predefinido de tarefas.
Este livro assume como pressuposto que, sem entender o que fazer para geren-
ciar seus processos, as organizações tem dificuldade de:
• incorporar práticas que melhorem seu desempenho ao longo do tempo;
• incorporar a orientação por processos em seu modelo de gestão;
• incorporar tecnologias – o que restringe o avanço tecnológico e as inovações;
• orientar o perfil dos recursos humanos que atuam nos processos.
A solução para atender o mais plenamente possível a esses dois grupos foi ela-
borar alguns capítulos com foco mais gerencial e conceitual e outros mais práticos e
operacionais. Essa relação está indicada na Tabela 1.4.
Cabe destacar que este livro pode ser de grande utilidade também para alunos
de cursos de graduação – mesmo não tendo exercícios, exemplos detalhados etc. – e
para pesquisadores e acadêmicos. Para esse público, sugere-se o acesso aos artigos,
dissertações e teses que estão disponíveis em www.gpi.ufrj.br.
INTRODUÇÃO 29
Para alcançar todos esses objetivos, gerais e específicos, foi adotado um método
de trabalho cuidadosamente concebido para conferir validade científica às descober-
tas e proposições apresentadas.
foram analisados para determinar se eles formavam idéias válidas ou não – foram
obtidas 61 respostas válidas. Em seguida, eles foram discutidos com especialistas da
Universidade de Carnegie Mellon e, por fim, foram realizadas análises de todo mate-
rial e os resultados da pesquisa foram sintetizados.
O primeiro instrumento de suporte ao método de pesquisa, portanto, foi iden-
tificar as tarefas a partir da geração de uma lista preliminar de tarefas para gestão
de processos. Essa lista foi produzida por duas ações principais. A primeira foi o
desdobramento crítico do conceito de gestão de processos em subtópicos, resultando
em uma ampliação dos conceitos de melhoria e controle para os conceitos de coor-
denação e aprendizado. A segunda envolveu a identificação, na literatura, de tarefas
prescritas para a gestão de processos. Após o levantamento, fez-se o agrupamento das
tarefas em projeto, gestão e promoção do aprendizado sobre processos. Por fim, hou-
ve uma classificação do nível de aprofundamento e de importância dos autores para
cada tarefa. Esses resultados estão na Tabela 1.1, que considera 3 como maior nível de
aprofundamento e 1 como menor aprofundamento.
O segundo instrumento de suporte ao método de pesquisa foi a realização de
pesquisa de campo feita com o apoio de questionários estruturados. A pesquisa foi
aplicada a profissionais que trabalham com processos em suas empresas. A popula-
ção foi de 110 participantes divididos em 3 turmas de 30, 35 e 45 pessoas cada. Todos
os participantes eram alunos de curso pós-graduação com foco na gestão de processos
e, antes de responderem à pesquisa, tiveram visão conceitual sobre os temas, foram
apresentados ao questionário e puderam tirar dúvidas sobre o instrumento.
INTRODUÇÃO 31
VVernadat (1996)11
Harmon (2003)4
Burlton (2001)6
SSalerno (1999)7
Hunt (1996)10
Tarefas para Gerenciamento de Processos
Projetar processos 3 3 3 3 2 2 2 2 2 2 2 2
Gerir processos 3 3 2 2 3 2 2 1 1 2 2 1
Promover aprendizado 3 3 3 2 2 2 2 2 2 1 2 2
Setor %
T
Tecnologia
l i de
d informação
i f ã 31%
Indústria 21%
Governo 1%
Educação 7%
Consultoria 6%
Finanças 6%
Telecomunicações 3%
Outros 20%
Cargos %
G
Gerentes
t e Coordenadores
C d d 57%
Analistas 30%
Gerentes Seniores 8%
Outros 5%
INTRODUÇÃO 33
vios relacionados deao tema. Esses trabalhos incluem atividades de ensino, pesquisa
e extensão dos autores e vários profissionais do Grupo de Produção Integrada (Escola
Politécnica e COPPE/UFRJ). Nos últimos 15 anos, houve produção de artigos cientí-
ficos, relatórios técnicos, projetos de gradução, dissertações de mestrado e teses de
doutorado em engenharia de produção, além de atividades de pesquisas sobre fer-
ramentas de modelagem, nível de informatização da indústria brasileira, escritório
de processos, gestão de processos, entre outros. Assim, este livro tem muitas marcas
desse contexto de trabalho no GPI.
Para os engenheiros de produção, o laboratório de experimentação, na maio-
ria dos casos, é a própria empresa viva, inserida em sua realidade complexa. Nesse
sentido, muitos foram os laboratórios utilizados para fins de pesquisa que resulta-
ram neste livro. A relação virtuosa entre ensino, pesquisa e extensão foi intensa-
mente praticada e demonstrou resultar em um diálogo mais produtivo entre teoria
e prática.
É válido ainda limitar ou delimitar as verdades e afirmativas deste livro. As li-
mitações da pesquisa podem ser entendidas como fatores que influenciam a validade
das proposições e da metodologia empregada para o seu desenvolvimento. As limita-
ções desta pesquisa estão associadas ao fato de este trabalho estar, sobretudo, baseado
em extensas revisões bibliográficas em contraposição a uma limitada capacidade para
validação empírica.
Desse modo, nossa pesquisa buscou mitigar essa limitação com a coleta de evi-
dências empíricas, que tem como principal vantagem a escolha de profissionais que
atuam com gestão de processos e podem dar respostas mais aderentes. Por outro lado,
dado que o grupo escolhido foi influenciado pelos conceitos apresentados no curso
de pós-graduação e que o tamanho da amostra não é tão expressivo, não se pode fazer
amplas generalizações. Cabe também ressaltar que as limitações da pesquisa survey
podem ser entendidas como, em parte, vantagens. Especificamente, como o grupo
já trabalhava com gestão de processos, as respostas foram mais aderentes. O mesmo
pode ser dito das entrevistas: visto que o tema gestão de processos é multidisciplinar,
então a escolha de especialistas fora da engenharia de produção pode ser entendida
como adequada para a pesquisa que resultou neste livro.
O que
entender