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CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO

SUPERIOR EM ERGONOMIA
(Pós-Graduação Lato Sensu - 540 hs)

APOSTILA
FUNDAÇÃO COPPETEC
GRUPO DE ERGONOMIA E NOVAS TECNOLOGIAS

FISIOLOGIA DO TRABALHO III


Profa. Helenice Gil Coury, D.Sc.

APOIOS
PROGRAMA DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO - COPPE/UFRJ
PROGRAMA DE ENGENHARIA MECÂNICA - COPPE
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA INDUSTRIAL - EE/UFRJ
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA - FAU/UFRJ
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ERGONOMIA - ABERGO
PETRÓLEO BRASILEIRO S/A - PETROBRAS
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Fisiologia do Trabalho
Profa. Helenice Gil Coury

FISIOLOGIA DO TRABALHO III1

Sumário

1 POSTURA..............................................................................................................................3

2 REGISTRO POSTURAL ......................................................................................................3


2.1 PORQUE REGISTRAR POSTURAS CORPORAIS? ..........................................................................3
2.2 QUAIS SÃO OS MEIOS DISPONÍVEIS PARA REGISTRAR AS POSTURAS CORPORAIS? ......................4
2.3 DISPOSITIVOS QUANTITATIVOS DE REGISTRO ........................................................................4
2.4 COMO REGISTRAR POSTURAS CORPORAIS UTILIZANDO PROTOCOLOS E MODELOS GRÁFICOS? ...7
2.5 REGISTROS POSTURAIS COMBINADOS E MÉTODOS DE ANÁLISE. .............................................11
2.6 O QUE PODE SER CONSIDERADA UMA AMOSTRA REPRESENTATIVA DA POSTURA? ..................17
2.7 COMO ESCOLHER UM MÉTODO DE REGISTRO POSTURAL? ......................................................17
3 REFERÊNCIAS E BIBLIOGRAFIA .................................................................................18

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CopyRight © Industrial and Occupational Ergonomics: Users Encyclopedia, 1999.

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1 POSTURA
Não há uma definição de postura que seja consensual na literatura ergonômica disponível.
Diferentes definições têm sido propostas em função de diferentes objetivos e situações nas quais as
definições são empregadas.
No geral, as definições de posturas tentam ressaltar elementos funcionais de uma situação de
trabalho ou descrever as posturas, enfatizando elementos anatômicos ou biomecânicos. Definições
descritivas são encontradas principalmente em livros de anatomia ou cinesiologia e dizem respeito a
configuração espacial do corpo. Uma definição desse tipo é, por exemplo: "postura é o arranjo
espacial dos segmentos corporais", ou, "postura é a orientação relativa dos segmentos corporais, uns
em relação aos outros". Este tipo de definição enfatiza elementos descritivos e permite a
recuperação de uma determinada postura de um modo relativamente preciso.
Um outro tipo de definição, são as de natureza mais funcional. Definições funcionais
enfatizam elementos do contexto ocupacional no qual as posturas acontecem. Dentro dessa
abordagem, postura é: "a posição adotada para ajustar o corpo ao mobiliário, ferramentas,
equipamentos ou à tarefa sendo realizada”. Outra definição seria: "a posição adotada por uma
pessoa durante a execução de uma tarefa específica, a qual é determinada pela relação entre as
dimensões dos segmentos de seu corpo e as características dos diferentes elementos no local de
trabalho".
Independentemente da abordagem adotada, é oportuno lembrar que em qualquer situação de
trabalho os elementos anatômicos, biomecânicos e funcionais, em conjunto, são essenciais para um
conceito mais abrangente de postura. Portanto, a definição de postura a ser escolhida em qualquer
projeto irá depender da ênfase e do objetivo do trabalho a ser realizado. Entretanto, na maioria dos
projetos, o objetivo, em última instância, é registrar e analisar as posturas de uma situação
ocupacional que venha apresentando problemas ergonômicos.

2 REGISTRO POSTURAL

2.1 Porque registrar posturas corporais?


O registro postural, tanto de configurações posturais isoladas como de uma seqüência delas,
tem sido de interesse em diferentes áreas de estudo. Geralmente, o objetivo é capturar e armazenar
as posturas para utilização posterior. Este capítulo procura apresentar algumas das situações que
podem se beneficiar do registro postural e alguns dos métodos mais utilizados para essa finalidade.
Aparentemente simples, o objetivo de reter e armazenar posturas tem sido buscado por
diferentes profissionais trabalhando em diversas situações, tais como desenhar uma ferramenta,
treinar um levantamento de peso, analisar os movimentos de um trabalhador para avaliar limites de
segurança, avaliar o mobiliário em escritórios e indústrias, ou comparar situações antes e após
intervenções ergonômicas. O interesse primordial em registrar posturas corporais no campo da
ergonomia está relacionado ao fato de que as posturas podem ser um importante parâmetro para a
avaliação do conforto, segurança e eficiência no local de trabalho.
A relação entre posturas "adequadas" e conforto tem sido reconhecida há muito tempo. Esta
relação tem motivado investigações para o estabelecimento de critérios e diretrizes com a finalidade
de alcançar posturas de trabalho seguras e confortáveis. Neste sentido, o estudo dos ângulos entre os
segmentos corporais tem sido utilizado como uma alternativa de quantificar a carga postural, pois
isto permite estimar os momentos de força presentes nas articulações, e as forças musculares
produzidas pelos músculos. Consequentemente, é possível predizer a carga nas estruturas corporais,
contráteis e passivas, as quais podem ser importantes elementos promotores de dor e desconforto.
Em vista disto, as posturas devem ser avaliadas sempre que o objetivo for aumentar o conforto ou
reduzir os sintomas músculo-esqueléticos em uma dada situação.

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As posturas são também estudadas com a finalidade de prevenir acidentes de trabalho. Uma
tarefa que envolva esforço excessivo, por exemplo, um manuseio de peso, pode envolver maiores
ou menores riscos para o sistema músculo-esquelético dependendo da postura adotada.
As posturas corporais são também associadas a melhores ou piores desempenhos no
trabalho. Estudos têm demonstrado que algumas posturas apresentam maiores vantagens
biomecânicas para a execução de determinadas tarefas do que outras. Nestes estudos, as posturas
são comparadas para identificar quais podem gerar maiores níveis de força muscular. Os estudos
que utilizam estes procedimentos geralmente comparam diferentes posturas, tais como diferentes
posições do punho, para identificar qual delas é mais vantajosa para a realização de força em um
movimento de preensão.
Portanto, os diferentes estudos que utilizam o registro postural são conduzidos para
identificar e controlar os riscos posturais. As informações fornecidas por estes estudos podem
permitir uma redução do esforço músculo-esquelético e dos desconfortos decorrentes e, aumentar a
eficiência dos movimentos dentro de limites seguros de amplitude articular. A motivação essencial
destes estudos pode ser expressa pelas questões: Porque não obter o melhor rendimento possível a
partir de um determinado esforço físico? Porque gastar mais energia ou expor o corpo a maiores
riscos ou desconfortos para obter o mesmo resultado?
Finalmente, após a identificação de uma postura, ela necessitará ser registrada para utilização
futura. Uma vez disponível, as posturas podem ser descritas, mensuradas, comparadas e avaliadas.

2.2 Quais são os meios disponíveis para registrar as posturas corporais?


As posturas podem ser registradas quantitativamente por dispositivos e equipamentos, por
meios audiovisuais ou por protocolos gráficos manuais. Os dispositivos de registro postural direto
incluem os potenciômetros e os eletrogoniômetros. Os meios audiovisuais principais são as
filmagens e as fotografias. Dentre os procedimentos gráficos estão diversos tipos de protocolos ou
roteiros e folhas de registro com itens a serem preenchidos por observadores treinados, que podem
registrar tanto pela observação direta no local de trabalho ou pela análise de videoteipes feitos
previamente.
A escolha de uma dessas formas de registro irá depender dos objetivos do estudo, das restrições
da situação a ser registrada (área física disponível, número de trabalhadores, características do
trabalho) e dos dispositivos e equipamentos disponíveis. Outro aspecto a ser considerado para a
escolha de um dos meios de registro postural é o grau de precisão ou abrangência que se pretende
para o estudo.

2.3 Dispositivos Quantitativos de Registro


Eletrogoniômetros são dispositivos desenvolvidos para o registro contínuo das posturas em
tempo real. Um desses dispositivos, desenvolvido comercialmente pela Biometrics Ltd. (Gwent,
UK), está ilustrado na Figura 1 e consiste em dois terminais plásticos leves separados por um arame
o qual é protegido por uma mola flexível. Os terminais são acoplados aos segmentos que se
pretende registrar. O ângulo entre os terminais é identificado por um conjunto de strain gauges,
montados ortogonalmente em quatro planos no arame. Os sensores são conectados a um dispositivo
– data logger - que capta e armazena os registros. Os goniômetros podem ser uni, bi ou até triaxiais,
sendo capazes de registrar mais de um movimento ao mesmo tempo. Um goniômetro biaxial de
punho para o registro da flexo-extensão e desvio radio-ulnar é ilustrado na Figura 1 (à esquerda).
Um outro tipo de goniômetro é o torsiômetro, que é capaz de registrar movimentos de torção, como
a prono-supinação do punho (Figura 1, direita).
Após o registro, os registros são transferidos para um computador onde são feitas as análises
dos dados armazenados. Uma amostra de um registro do movimento de flexo-extensão do punho é
apresentada na Figura 2.

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Figura 1. Eletrogoniômetros para o registro da articulação do punho.

Os eletrogoniômetros são especialmente úteis quando movimentos precisos e altamente


repetitivos necessitam ser registrados continuamente. Movimentos repetitivos ocorrem na maioria
das tarefas cíclicas executadas na indústria moderna. Apesar de serem muito úteis, os
eletrogoniômetros são apropriados apenas em situações nas quais poucas articulações precisam ser
registradas. Quando o objetivo é registrar diversas articulações, ou mesmo a postura corporal como
um todo, outros procedimentos serão necessários.

Figura 2. Exemplo de registro do movimento de flexo-extensão do punho.

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Os sistemas eletrônicos de imagem espacial são outro meio para o registro direto de posturas.
Através da utilização destes sistemas é possível registrar a posição de pontos de referência no
espaço pela filmagem de sensores reflexivos fixados ao corpo. Usualmente, duas câmeras são
utilizadas para registrar dois planos corporais diferentes e concomitantes. Um dispositivo especial
de sincronização de imagens é utilizado para integrar e processar os registros, que são transferidos
para um computador para a análise posterior. Estes sistemas óptico-eletrônicos computadorizados
são sofisticados. Costumam exigir um espaço físico considerável para a acomodação das câmeras e
requerem ângulos específicos para filmagem. Devido as características descritas, estes dispositivos
não são adequados para registro postural em contextos ocupacionais. Ainda, por serem precisos e
exigirem tempo para a análise dos dados, são mais indicados para pesquisas de laboratório.

Registro Audiovisual – as posturas registradas através de câmeras de vídeo também oferecem


vantagens e restrições. As principais vantagens são a simplicidade do procedimento, o seu baixo
custo e o fato de que os dados registrados podem ser acessados a qualquer momento. Entretanto, o
filme em si é apenas um meio de armazenar as informações. Procedimentos adicionais são
necessários para descrever e quantificar as posturas registradas, especialmente quando o objetivo é
comparar e avaliar posturas. Além disto, para que os resultados obtidos possam ser satisfatórios,
alguns cuidados devem ser considerados ao utilizar câmeras de vídeo.
Ao utilizar uma única câmera, o ângulo de filmagem deve ser escolhido de forma a permitir
a visualização do movimento de interesse. Pode também ser necessário filmar a mesma situação em
diferentes planos corporais (sagital, frontal, transversal e superior) para permitir a observação
adequada de um movimento complexo. Para obtenção de imagens estáveis é recomendado, sempre
que possível, a utilização de um tripé. Deve-se evitar também os reflexos e obscurecimento da
imagem, causados pela filmagem utilizando ângulos inadequados. A utilização do zoom pode
auxiliar na filmagem de movimentos específicos, enquanto que a sua abertura permite incluir mais
elementos de uma situação de interesse. No entanto, mudanças rápidas e frequentes entre ângulos de
filmagem fechados e abertos podem provocar cansaço visual ao assistir o filme e até perturbar a
análise das imagens. Quando o tempo for um elemento importante, pode ser uma boa idéia colocar
um relógio ou cronômetro dentro do campo de filmagem, principalmente quando uma análise
quadro a quadro será utilizada. O uso de um relógio também é aconselhado quando utilizar
amostragem de posturas em um período de tempo. Isso porque, após rebobinar o filme diversas
vezes é difícil reiniciá-lo em um determinado ponto exato.

Fotografias - O uso de fotos é um outro recurso útil para o registro de posturas, desde que não seja
necessário registrar movimentos ou muitas posturas. Distorções podem ocorrer, as quais podem ser
minimizadas quando o ângulo de registro for bem centrado no objeto e quando uma profundidade
adequada for garantida entre a câmera e o objeto. Os ângulos entre os segmentos podem ser
mensurados diretamente utilizando um transferidor. Alternativamente, se câmeras digitais forem
utilizadas, ou se as fotos forem transferidas para o computador através de um scanner, é possível
usar um software que calcule os ângulos entre linhas retas traçadas sobre os segmentos. Quando o
objetivo for registrar movimentos, ou posturas ao longo de um período longo de tempo, outros
meios mais apropriados devem ser utilizados.
Finalmente, o registro postural no local de trabalho por meio de fotos e videoteipes pode
interferir com a situação natural dos trabalhadores. Para reduzir este efeito e preservar a
naturalidade dos trabalhadores é aconselhável introduzir o equipamento de registro previamente no
local de trabalho, de forma que os trabalhadores se tornem familiarizados com ele antes de se iniciar
o registro.

Protocolos de Registro: como uma alternativa às formas anteriores, as posturas podem também ser
registradas através de protocolos previamente planejados para o registro de itens específicos. Nesse

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caso, as posturas observadas no local ou em videoteipes, são transcritas para os protocolos.


Usualmente, essa transcrição implica na descrição de posturas utilizando palavras, desenhos ou
códigos, que são feitos em folhas de registro ou inseridos em softwares de análise. Existem vários
modelos de registro disponíveis na literatura, os quais apresentam características diferentes,
dependendo das situações e objetivos a que se destinam. Apesar de algumas limitações esses
métodos, que são mais específicos ou abrangentes, não requerem nenhum equipamento ou
dispositivo especial. A seguir, é apresentada uma breve descrição de alguns deles.

2.4 Como registrar posturas corporais utilizando protocolos e modelos gráficos?


Em uma breve retrospectiva histórica, as posturas corporais têm sido registradas em
situações funcionais há muitos anos. Os primeiros registros gráficos do movimento humano foram
introduzidos no século XVII para o registro de coreografias de ballet. Mais tarde, o registro postural
foi utilizado pelas ciências espaciais e militares. Adaptações posteriores de modelos prévios, bem
como, novos modelos foram sendo propostos para o registro de posturas em situações clínicas e
ocupacionais.
Os primeiros modelos gráficos utilizavam símbolos que representavam os diferentes
movimentos do corpo. Estes modelos eram ou extremamente simples, o que limitava as
possibilidades de registro, ou muito detalhados, exigindo treino excessivo do observador. Ainda,
esses modelos não forneciam informações quantitativas que conferisse precisão aos registros.

No campo da ergonomia, modelos mais específicos foram propostos a partir da década de


1970. Em 1974 Victor Priel publicou seu modelo chamado "Posturegran" no jornal "Human
Factors" [16 (6): 576-584], o qual permitiu o registro numérico em um protocolo dividido em
quatro partes. A primeira continha espaço para registrar dados pessoais do observado e uma
representação gráfica da postura em registro. A segunda parte continha uma tabela para registrar os
ângulos dos segmentos em campos de múltipla escolha, assinalando-se uma amplitude angular de
acordo com a postura observada. A terceira permitia o registro preciso em graus dos ângulos de
cada articulação. Na última parte havia um espaço para uma breve descrição escrita da postura,
incluindo os pontos de apoio do corpo.
Apesar de ser o primeiro protocolo a permitir o registro de posturas de trabalho de forma
relativamente precisa, o procedimento consumia muito tempo. Além dos dados pessoais, da
descrição postural e da representação gráfica, cerca de quarenta itens tinham que ser registrados
para cada postura. Além disso, a acuracidade do registro dependia das técnicas adotadas pelo
analisador.

Durante os anos 70, vários métodos diferentes foram propostos. Alguns eram modelos mais
descritivos, que permitiam a recuperação da postura corporal completa. Outros eram mais curtos e
práticos, tentando focar a atenção em apenas alguns segmentos corporais. Entretanto, alguns destes
métodos introduziram contribuições que mudaram definitivamente os procedimentos de registro
postural em protocolos. Um destes foi o OWAS - Sistema de Análise das Posturas de Trabalho
Ovako - publicado na "Applied Ergonomics" por Karhu, O. et al. em 1977 [8(4):199-200].
Resumidamente, este método combina o registro e um procedimento de análise em um único
sistema. O sistema OWAS básico permite o registro das posturas corporais em “menus” com
alternativas de escolha para as posições de três diferentes segmentos do corpo, a saber, do tronco
(quatro posições), membros superiores (três posições) e membros inferiores (sete posições). Cada
posição possível tem um número que deve ser assinalado no "menu" da folha de registro. Após
completar o registro, cada postura pode ser classificada em uma das quatro categorias de análise, as
quais indicam a premência de intervenção daquela postura. Isto é, o nível a urgência de atenção
exigida por cada postura analisada. Essas categorias formam propostas com base na avaliação
subjetiva do desconforto percebido por trabalhadores, bem como, no efeito que as posturas

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registradas significavam para a saúde, avaliadas por um grupo de ergonomistas internacionais. Um


modelo posterior, e ampliado, do OWAS foi também foi proposto, incluindo mais segmentos e
opções de registro. Finalmente, uma versão computadorizada foi lançada, a qual permite ao usuário
inserir os códigos posturais diretamente em um software.

Um outro importante modelo foi proposto por N. Corlett et al. e publicado no "Ergonomics"
em 1979 [22 (3):357-366]. O modelo - "Posture Targeting" - introduziu a possibilidade de
registrar a posição dos segmentos corporais em faixas de amplitudes de movimento (em faixas de
ângulos), permitindo um registro graduado. O protocolo (folha de registro) apresenta um diagrama
corporal com uma série de círculos concêntricos segmentados, com aspecto similar ao de um alvo.
Cada “alvo” encontra-se posicionado adjacente a cada segmento corporal. A possibilidade de
registrar ângulos em faixas graduadas, com auxílio visual dos alvos, acabou também influenciando
outros métodos propostos posteriormente.

Figura 3. Folha de registro para posições dos membros superiores.2

Durante a década de 1980, houve uma clara mudança na ênfase dos métodos de registro
postural - de procedimentos mais genéricos, destinados ao registro de todo o corpo, para métodos
mais específicos, com ênfase principalmente no pescoço e membros superiores. A natureza e as
demandas físicas dos trabalhos mudou, o que exigiu modificações dos métodos de registro.
Um procedimento detalhado e útil para o registro das posturas dos membros superiores foi

2
Adaptado de Armstrong, T. et al., 1982. Reproduzido com autorização.

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publicado por T. Armstrong et al. no Jornal da Associação Americana de Higiene Industrial [43
(2):103-116] em 1982. Neste método, a postura dos membros superiores é registrada a partir de sua
posição ao redor dos eixos anatômicos de cada articulação. As articulações registradas pelo método
de Armstrong são: ombro, cotovelo, punho, mão, dedos e diferentes tipos de preensão e pinça. Uma
visão genérica da folha de registro é apresentada na Figura 3.

Neste protocolo de registro, alguns aspectos gerais sobre o trabalho e analista são
registrados no cabeçalho e no lado esquerdo da folha. Para a articulação do ombro, três diferentes
movimentos podem ser registrados, a saber: flexo-extensão, adução-abdução e rotação latero-
medial. Diferentes faixas de amplitudes de movimento estão disponíveis para serem assinaladas,
conforme a articulação em questão. Para o cotovelo os movimentos são: flexão, extensão, rotação
do antebraço e prono-supinação. Os movimentos do punho podem ser registrados em diferentes
faixas de amplitudes de flexão e extensão (45° de intervalo) e, de forma genérica, os desvios radial
e ulnar. A posição da mão é identificada pela posição dos dedos e a localização de cargas externas
presentes na mão. Cinco diferentes tipos de pinça e preensão podem ser escolhidos para o registro
de movimentos de pega.
Ainda dentro das abordagens descritivas, um modelo de registro denominado Protocolo
para Postura Sentada foi publicado por Gil et al. no periódico "Applied Ergonomics" [20(1):53-
57] em 1989, para o registro da postura sentada em situações funcionais. O protocolo de registro
possui um cabeçalho com informações tais como, data de registro, tempo, plano lateral observado e
número do sujeito. Cada folha permite o registro de várias posturas (Figura 4).

Figura 4. Protocolo para a Postura Sentada. 3

3
Adaptado de Gil, H.J.C. Applied Ergonomics, 20(1):53-57, 1989. Reproduzido com autorização.

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Para registrar os ângulos entre os segmentos deve-se assinalar o ângulo que corresponde
aproximadamente a cada segmento observado. Um intervalo de 15 graus foi estabelecido para o
registro das amplitudes de movimento, porque este foi o menor intervalo identificado visualmente
com segurança pelos observadores durante o treinamento. A ficha permite o registro de ângulos da
articulação do joelho (ângulo entre a perna e a coxa), do tronco (ângulo entre o próprio tronco e a
coxa, sendo que o tronco ereto corresponde a 900) e, do ombro (entre o braço e o tronco). A relação
dos segmentos entre si (por exemplo, a variação angular entre a coxa e o tronco) foi utilizada como
referência para o registro, porque na postura sentada o indivíduo muda constantemente sua postura
e, conseqüentemente, mudam também os apoios de seu corpo, inviabilizando o uso de apoios como
referência.
Para facilitar o registro de itens relacionados aos apoios e suportes, tais como, apoio plantar,
apoio de antebraços e apoio lombar, foram utilizadas algumas convenções; quando o segmento
encontrava-se apoiado usava-se o sinal (+), na ausência de apoio usava-se o sinal (-). Os segmentos
bilaterais, como pés e antebraços foram registrados, respectivamente, assinalando-se o lado de cada
palavra. A cabeça foi registrada utilizando as convenções (+) para flexão anterior, (-) para extensão,
e (=) para posição neutra. No registro das posições dos membros inferiores também foram
considerados os cruzamentos no nível de joelho e tornozelo. Um exemplo é apresentado na Figura5.

Figura 5. Exemplo de aplicação do Protocolo para a Postura Sentada.4

Vários outros modelos descritivos são descritos na literatura ergonômica. Eles foram
planejados para atender aos objetivos específicos das diferentes situações funcionais a que se
destinam. Entretanto, usualmente, registramos, analisamos e avaliamos as posturas corporais como
uma das etapas na resolução de problemas ergonômicos. Portanto, a análise postural é uma outra
preocupação importante dos profissionais interessados na promoção de conforto e redução de
disfunções músculo-esqueléticas relacionadas ao trabalho.

4
Desenho de Suely Paes de Barros.

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2.5 Registros posturais combinados e métodos de análise.


Para facilitar a análise das posturas registradas, alguns modelos apresentam um breve
protocolo de pesquisa para registrar e, concomitantemente, avaliar as posturas de trabalho. Para tal,
esses modelos usualmente fornecem um sistema de classificação para gerar categorias de ação, as
quais irão indicar a necessidade de intervenção para controlar o desconforto e os riscos de lesão.
O OWAS, método mencionado anteriormente, propicia um método de análise das posturas
de trabalho para todo o corpo. É um procedimento indicado para a análise do trabalho pesado, ou
seja, trabalhos que envolvam grandes amplitudes de movimento dos membros superiores, inferiores
e tronco e, manuseio de cargas. Por ser relativamente simples, é um modelo útil para a análise, e
triagem, de um grande número de posturas. Após essa primeira análise pode ser necessário re-
avaliar as posturas identificadas como críticas já que, apesar de identificá-las, ele não indica a
origem do problema.
Quando o objetivo é analisar principalmente a sobrecarga concentrada no pescoço e
membros superiores, usualmente presente no trabalho sedentário, o método mais indicado pode
ser o RULA (Avaliação Rápida do Membro Superior) publicado na "Applied Ergonomics"
[24(2):91-99] por McAtamney et al. em 1993. Este procedimento utiliza diagramas para facilitar a
identificação das possíveis amplitudes de movimento das articulações de interesse. As posições de
cada segmento são então são pontuadas e transpostas para três tabelas, dependendo da região do
corpo, para avaliar a exposição aos fatores de risco. Além das amplitudes de movimento, o método
também avalia o trabalho muscular estático e as forças exercidas pelos segmentos em análise.
Para facilitar o registro, o corpo foi dividido em segmentos formando dois grupos, A e B. O
membro superior, composto pelo braço, antebraço e punho compõe o grupo A. O grupo B é
composto pelo pescoço, tronco e pernas. O movimento de cada articulação a ser registrada foi
dividido em sessões numeradas, de forma que o número 1 representa o movimento ou postura que
apresenta risco mínimo, enquanto os números maiores, em ordem progressiva, representam maiores
chances de exposição das estruturas corporais a cargas músculo-esqueléticas. Os autores realizaram
uma extensa revisão literária para o estabelecimento de critérios para avaliar as posturas e pontuar
as amplitudes de movimento.
As pontuações das amplitudes de movimento do membro superior, do membro inferior, da
flexo-extensão e prono-supinação do punho, são apresentadas na Figura 6 (Grupo A).

Para cada articulação, existem condições que podem agravar ou atenuar o risco envolvido.
No caso dos braços, uma condição que agrava o risco é quando o ombro encontra-se elevado e/ou o
braço encontra-se abduzido. Nestes casos, um (1) ponto deve ser adicionado à pontuação obtida
para o segmento. Por outro lado, um ponto (1) deve ser subtraído quando o peso do braço esteja
sendo suportado, com atenuação da carga. Do mesmo modo, para os antebraços acrescenta-se 1
caso eles cruzem a linha média do corpo ou encontram-se afastados na lateral do corpo. A
pontuação também é acrescida de 1 quando o punho encontra-se em desvio radio-ulnar. Em relação
à prono-supinação, a pontuação é 1 se o ante-braço encontra-se, na maior parte do tempo, em
posição intermediária, e 2 se o ante-braço encontra-se em uma posição mais extrema.

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Figura 6. Faixas de amplitudes de movimento do membro superior e pontuações - Grupo A.5

As pontuações para as amplitudes de movimento do pescoço, tronco e pernas (Grupo B) são


apresentadas na Figura 7. Conforme ilustrado, o pescoço é pontuado progressivamente na medida
que sua flexão anterior aumenta. Uma pontuação máxima (4) é atingida quando o pescoço encontra-
se em extensão. Na presença de inclinação lateral e/ou rotação do pescoço, acrescenta-se 1.

5
Adaptado de McAtmney,L. et al., Applied Ergonomics, 24(2):91-99, 1993. Reproduzido com permissão.

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Figura 7. Faixas de amplitudes dos movimentos do pescoço e tronco e respectivas pontuações - Grupo B.6

Em relação ao tronco, a pontuação também aumenta com o aumento da flexão anterior. Na


presença de inclinação lateral e/ou rotação acrescenta-se 1. A pontuação é 1 para a postura sentada.
Para os membros inferiores, a pontuação será 1 quando houver bom apoio bilateral dos pés, e 2 na
ausência desse apoio.
Após observar as posturas e pontuar cada segmento, as pontuações são transcritas para as
respectivas caixas no lado esquerdo (coluna 1) do protocolo RULA (Figura 8). Quando todos os
segmentos dos grupos A e B tiverem sido registrados, a pontuação parcial A e B pode ser calculada
consultando-se as Tabelas 1 e 2, respectivamente.

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Coluna 1 Tarefa:

A Braço
Coluna 2 Coluna 3 Coluna 4
Antebraço
Use a tabela 1
Pont. Parcial A Pont. Final A
Punho Trab.Musc. Força
+ + =
Rotação do Use a Tab. 3
punho Pont Geral

B Pescoço
Use a tabela 2
Pont. Parcial B Pont. Final B
Tronco Trab.Musc. Força
+ + =
Membros
inferiores

Figura 8. Protocolo de Pontuação do RULA.7

Para calcular a pontuação parcial A (Coluna 1 na Figura 8), é necessário consultar a Tabela
1 conforme descrito a seguir. Primeiro identifique o número registrado para o braço no lado esquer-
do da Tabela 1. Então, identifique o número registrado para o antebraço na segunda coluna da Ta-
bela 1. Siga a linha da pontuação do antebraço até a mesma cruzar com o número que representa a
postura do punho, que pode ser 1, 2, 3 ou 4, em sua respectiva coluna. Finalmente, verifique a pon-
tuação obtida para a rotação do punho. Seguindo a coluna da rotação do punho será encontrado um
único valor para a combinação dos quatro elementos registrados para o Grupo A. Este valor é es-
crito na segunda coluna (Pontuação Parcial A) do Protocolo de Pontuação do RULA (Figura 8).
Em seguida, para preencher a coluna 3 do protocolo, deve-se avaliar o trabalho muscular e a
força exercida por este indivíduo. Com respeito ao trabalho muscular estático, atribuí-se 1 ponto se
a tarefa analisada envolver contrações musculares mantidas (por exemplo, apreensão de objetos,
pressionamento de botões etc) por períodos maiores que 1 minuto, e atribuí-se 0 ponto quando
envolver trabalhos musculares por tempos menores.

Para avaliar a força exercida utiliza-se o seguinte critério para pontuação:


0 = carga intermitente ou força menor que 2 Kg;
1 = carga intermitente ou força de 2 a 10 Kg;
2 = repetição ou carga estática e forças de 2 a 10 Kg;
2 = carga intermitente ou forças maiores que 10 Kg;
3 = repetição ou carga estática e forças maiores que 10 Kg;
3 = carga ou força de qualquer magnitude com aceleração do movimento ou ação de sacudir/dar
solavancos.

6
Adaptado de McAtmney,L. et al., Applied Ergonomics, 24(2):91-99, 1993.
7
Adaptado de McAtmney,L. et al., Applied Ergonomics, 24(2):91-99, 1993.

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Braço Antebraço
3 4
Punho
1 2
Rotação do punho Rotação do punho Rotação do punho Rotação do punho
1 2 1 2 1 2 1 2

1 1 1 2 2 2 2 3 3 3
2 2 2 2 2 3 3 3 3
3 2 3 3 3 3 3 4 4

2 1 2 3 3 3 3 4 4 4
2 3 3 3 3 3 4 4 4
3 3 4 4 4 4 4 5 5

3 1 3 3 4 4 4 4 5 5
2 3 4 4 4 4 4 5 5
3 4 4 4 4 4 5 5 5

4 1 4 4 4 4 4 5 5 5
2 4 4 4 4 4 5 5 5
3 4 4 4 5 5 5 6 6

5 1 5 5 5 5 5 6 6 7
2 5 6 6 6 6 7 7 7
3 6 6 6 7 7 7 7 8

6 1 7 7 7 7 7 8 8 9
2 8 8 8 8 8 9 9 9
3 9 9 9 9 9 9 9 9

Tabela 1. Possíveis valores atribuídos aos os segmentos do Grupo A para calcular a pontuação parcial A.8

Pescoço Tronco
1 2 3 4 5 6

MMII MMII MMII MMII MMII MMII


1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2

1 1 3 2 3 3 4 5 5 6 6 7 7

2 2 3 2 3 4 5 5 5 6 7 7 7

3 3 3 3 4 4 5 5 6 6 7 7 7

4 5 5 5 6 6 7 7 7 7 7 8 8

5 7 7 7 7 7 8 8 8 8 8 8 8

6 8 8 8 8 8 8 8 9 9 9 9 9

Tabela 2. Possíveis valores atribuídos aos os segmentos do Grupo B para calcular a pontuação parcial B.9

8
Adaptado de McAtmney,L. et al., Applied Ergonomics, 24(2): 91-99, 1993.
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Adaptado de McAtmney,L. et al., Applied Ergonomics, 24(2): 91-99, 1993.

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Deste modo a pontuação final A (Coluna 4, Figura 8) é obtida adicionando à pontuação


parcial A os valores musculares e de força. Um cálculo similar é feito para o Grupo B, utilizando a
Tabela 2, obtém-se a pontuação parcial B. Soma-se o trabalho muscular e as forças exercidas pelos
segmentos do Grupo B à pontuação parcial B, obtendo-se assim a respectiva pontuação final B
(Coluna 4, Figura 8).

Finalmente, as pontuações finais A e B são cruzadas na Tabela 3, que integra as


contribuições de todos os segmentos e modificantes, para fornecer a "Pontuação Geral". A Tabela 3
é consultada inserindo o valor obtido para a pontuação final B (em colunas) e pontuação final A
(em linhas). A pontuação final é então inserida no Protocolo de Pontuação do RULA (Figura 8), o
que permite a classificação da situação registrada, em uma das quatro possíveis categorias de ação.

Tabela 3. Possíveis pontuações finais dos Grupos para calcular a pontuação geral.10

De acordo com o valor obtido na pontuação geral, a situação analisada irá requerer
diferentes níveis de atenção para o controle de riscos, conforme segue:
Pontuação 1 ou 2 - a postura é aceitável se não mantida ou repetitiva;
Pontuação 3 ou 4 - requer investigação adicional, e medidas de controle podem ser necessárias;
Pontuação 5 ou 6- requer investigação adicional, e medidas de controle são necessárias brevemente;
Pontuação 7 – requer investigação e medidas de controle imediatamente.

O procedimento RULA foi cuidadosamente planejado para fornecer um sistema de


classificação útil para avaliar as posturas de trabalho rapidamente. O protocolo é aplicável quando
um grande número de posturas e situações precisam ser analisadas. Após identificar as posturas
mais críticas, pode ser necessária uma análise adicional dessas posturas, utilizando métodos mais
específicos. Conforme os autores enfatizam, o corpo humano é um sistema muito complexo e pode
10
Adaptado de McAtmney,L. et al., Applied Ergonomics, 24(2): 91-99,1993.

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ser influenciado por um grande número de variáveis, incluindo as respostas individuais. Como
consequência, os métodos como o RULA oferecem diretrizes úteis, apesar de genéricas, para
avaliação. O texto original descreve todos os preceitos, teóricos e práticos, necessários para a
proposição do método. Por estas razões, sugere-se ao leitor interessado em aplicar este método,
também a leitura do texto original.

A análise postural é uma tarefa complexa, que torna-se mais eficiente na medida em que um
maior número de riscos, presentes na situação analisada, sejam também incluídos na análise. Assim,
é necessário considerar não apenas as amplitudes de movimento, mas também as sobrecargas
músculo-esqueléticas internas e externas, a repetitividade do movimento, a natureza do trabalho
muscular (estático ou dinâmico), a duração das ações, os intervalos de repouso para a recuperação
funcional das estruturas envolvidas, aspectos individuais e organizacionais, condições físicas
presentes na situação, tais como, ferramentas, equipamentos de proteção individual utilizados; os
quais possam contribuir para o aumento do desconforto físico e lesão. Em geral, critérios utilizados
para análise postural são baseados em resultados de estudos, os quais permitem a proposição de
limites de segurança para a exposição das estruturas músculo-esqueléticas. Estes estudos utilizam
diferentes abordagens, como a epidemiológica, fisiológica (eletromiografia, gasto energético,
freqüência cardíaca), cinesiológica, biomecânica e psicofísica (escalas para registro da percepção de
esforços, desconfortos, etc). A ampla variedade de indicadores utilizados para avaliar as posturas
ilustra a complexidade dos aspectos envolvidos nestas análises. Portanto, apesar do registro de
movimento ser um importante elemento da análise postural, ele é apenas um dos elementos de
interesse para a análise. Outra questão comum que preocupa os analistas ao registrar posturas é:

2.6 O que pode ser considerada uma amostra representativa da postura?


Usualmente, a análise postural requer a avaliação de posturas por um período de tempo. Isso
é necessário para assegurar que as posturas observadas ou registradas sejam representativas do que
realmente ocorre na situação estudada. Ao utilizar uma filmadora, a duração do filme deve
assegurar um número representativo de posturas para a situação em análise. Naturalmente, o que é
considerado como uma amostra representativa irá depender do objetivo do estudo em questão. Em
alguns casos, apenas as posturas extremas são de interesse. Em outros, a amostra registrada deve
realmente representar as posturas médias que ocorrem em cada etapa do trabalho. Neste caso, o
trabalho necessita ser dividido em suas tarefas específicas.
Para trabalhos cíclicos, o tempo total dos ciclos (e sub-ciclos quando presentes) necessita ser
conhecido, e as posturas de cada tarefa devem ser registradas. A duração dos períodos de
registro depende da duração do ciclo de trabalho. Em alguns trabalhos, os ciclos duram apenas
alguns segundos, então sugere-se o registro de pelo menos três ciclos sucessivos. Nestes casos
recomenda-se uma análise quadro a quadro, utilizando-se um equipamento audio-visual de boa
qualidade. Finalmente, para trabalhos não cíclicos, as principais tarefas devem ser filmadas, com
seus tempos respectivos conhecidos. Para estas tarefas, um número proporcional de posturas deve
ser avaliado ao longo do tempo. Portanto, o principal objetivo de uma amostragem, é identificar a
freqüência de ocorrência de posturas de risco, como forma de conhecer a exposição real a aquele
tipo de risco (o tempo gasto naquela postura).

2.7 Como escolher um método de registro postural?


As posturas de trabalho são registradas no local de trabalho tanto diretamente por
observadores treinados ou através de filmagem, ou ainda usando-se dispositivos acoplados ao corpo
dos trabalhadores. A decisão sobre qual é a forma de registro mais indicada em uma determinada
situação depende de vários aspectos. Um deles é a disponibilidade de equipamentos. Outro é o
objetivo do projeto ergonômico em realização. O tipo da tarefa a ser avaliada é também outro fator

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a considerar. A seguir apresentamos alguns comentários breves sobre as vantagens e desvantagens


de cada forma de registro descrita anteriormente.
Os procedimentos que utilizam protocolos e observadores treinados tendem a ser de baixo
custo e não interferem muito com a situação natural de trabalho na qual são aplicados. Por outro
lado, o treinamento de observadores requer tempo e nem sempre é possível se alcançar grande
precisão nas informações registradas, pois estas dependem do julgamento visual dos observadores,
que é dependente da experiência prévia e está sujeito a erros. Eles podem relativamente acurados
somente quando as mesmas posturas são mantidas por longos períodos.
Problemas similares podem também ser relatados nos sistemas de classificação postural, os
quais também necessitam de observadores altamente treinados, mesmo quando o registro é feito por
filmagens. Também são limitados com relação à caracterização específica dos riscos. Apesar destes
pontos negativos, eles podem ser aprendidos facilmente, podendo ser submetidos a testes de
validação, intra e inter observadores, para melhorar sua precisão. São particularmente
recomendáveis quando é necessário avaliar um grande número de posturas.
Quanto mais abrangentes os protocolos de registro, maior é número de segmentos corporais
e elementos de uma situação de trabalho que eles permitem registrar. No entanto, esses modelos
acabam tornando-se genéricos demais. Por outro lado, modelos mais específicos, que permitem o
registro preciso de alguns segmentos, não propiciam uma visão genal da interação entre estes e
outros elementos posturais, ou com elementos da situação de trabalho.
Os métodos que utilizam análise espacial pelo acoplamento de sensores reflexivos ao corpo,
podem oferecer registro preciso dos movimentos dinâmicos de diversos segmentos corporais em
conjunto. As principais desvantagens são que sua calibração que consome tempo razoável, assim
como o conjunto de equipamentos necessário é caro e principalmente aplicáveis a situações
laboratoriais. Os eletrogoniômetros, e outros dispositivos que são fixados ao corpo, também
apresentam aspectos positivos e negativos. Eles propiciam medidas angulares precisas e replicáveis,
são fáceis de se utilizar e seus resultados são de fácil compreensão. Eles também permitem
mensurações em situações naturais, mesmo de movimentos complexos frequentemente difíceis de
se observar em filmagens ou observações. Para o registro de movimentos rápidos e repetitivos
podem ser um dos melhores métodos de registro. Entretanto, eles também apresentam
desvantagens. Eles apenas permitem o registro de algumas articulações ao mesmo tempo. Ao
registrar diferentes articulações próximas umas as outras, pode ocorrer interferência entre os sinais.
Quanto maior o número de articulações registradas, maior a interferência (cross-talk) gerada entre
os sensores. O alinhamento dos eixos dos sensores com os das articulações é outro ponto de
preocupação. O alinhamento deve ser realizado cuidadosamente para minimizar erros.

Portanto, com base nestes comentários, todo método de registro apresenta vantagens e
desvantagens a serem consideradas de acordo com o objetivo do estudo que se pretende realizar. O
número e a localização dos segmentos a serem registrados, a natureza do estudo (campo ou
laboratorial) e a abrangência ou precisão dos resultados que se pretende obter, são alguns dos
elementos que norteiam a escolha. Finalmente, os métodos não são mutuamente excludentes. Na
realidade, em algumas situações, eles podem ser combinados para melhor analisar uma situação
específica.*

3 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
GIL COURY, Helenice Jane Cote. Posture. In Industrial and Occupational Ergonomics: Users Encyclopedia. Cin-
cinatti, USA, 1999. ISBN 0-9654506-0-0 (in CD-ROM).Tradução: Edgar Ramos Vieira.

*
Gil Coury,H.J.C. Posture. Industrial and Occupational Ergonomics: Users Encyclopedia, 1999.

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