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CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO SUPERIOR

EM ERGONOMIA
(Pós-Graduação Lato Sensu - 540 hs)
FUNDAÇÃO COPPETEC
GRUPO DE ERGONOMIA E NOVAS TECNOLOGIAS

HIGIENE DO TRABALHO II - Ruído


Prof. Jules G. Slama, D.Sc.
e Marilda Duboc, M.Sc.

APOIOS
PROGRAMA DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO - COPPE/UFRJ
PROGRAMA DE ENGENHARIA MECÂNICA - COPPE
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA INDUSTRIAL - EE/UFRJ
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA - FAU/UFRJ
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ERGONOMIA - ABERGO
PETRÓLEO BRASILEIRO S/A - PETROBRAS
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Higiene do Trabalho II - Ruído
Profs. Jules Slama e Marilda Duboc

1 - INTRODUÇÃO

Neste trabalho estaremos apresentando informações sobre ruído no ambiente de trabalho também
chamado ruído ocupacional. As máquinas produzem ruídos, estes se propagam no local onde se
encontram os trabalhadores. O campo sonoro produzido no local vai depender da geometria do
mesmo, do lay-out, das qualidades acústicas dos revestimentos das superfícies, da existência de
barreiras, da localização das máquinas, e também das propriedades acústicas das próprias máqui-
nas.

Existem trabalhadores cujos postos de trabalho estão perto das máquinas que produzem o ruído, e
outros cujas atividades estão afastadas das fontes de ruído. O ruído no local vai produzir diversos
efeitos nefastos sobre o trabalhador, sendo o mais grave a perda de audição.

Som percepção
A percepção é realizada através de vários sentidos. A acústica está associada ao sentido da audição.
O som pode ser definido como uma sensação subjetiva produzida através do ouvido, resultante de
flutuações da pressão do ar.
A percepção do som é um fenômeno complexo. Diferente da visão, uma pessoa está mergulhada
num ambiente sonoro recebendo informações de todas as direções. As pessoas conseguem distin-
guir entre sons agudos e graves, sons fortes e fracos. Os sons permitem a comunicação entre seres
humanos e podem conter muitas informações. Um som muito forte pode prejudicar a audição, im-
pedir a realização de uma atividade, interferir na comunicação oral, perturbar o sono. Existem sons
que julgamos desagradáveis e outros agradáveis. Como podemos ver, o universo dos sons é muito
complexo.
Som fenômeno físico
Também podemos dizer que o som é uma perturbação produzida pelas vibrações de um corpo, uma
chapa metálica ou pelo escoamento de um fluido liquido ou gasoso (jato de ar), fenômenos comuns
em máquinas e equipamentos de uma fábrica. Ele se propaga num meio elástico (sólido, gasoso ou
líquido) através de pequenas flutuações de pressão, densidade e temperatura.
Quando uma onda sonora atravessa um meio, as partículas deste oscilam em torno da posição de
equilíbrio. O deslocamento máximo de uma partícula durante a passagem de uma onda sonora se-
noidal é conhecida como amplitude de vibração.
O ouvido humano
A audição se faz através do ouvido que relaciona o som fenômeno físico com o som fenômeno psi-
cológico.
Pressão acústica
A pressão acústica em qualquer ponto é a diferença entre a pressão existente num ponto na presença
do som e a pressão que deveria existir neste ponto, na ausência do som. A variação de pressão pro-
duzida quando uma onda sonora se propaga no ar é muito pequena se comparada à pressão atmosfé-
rica, que é de 10 Pa. A menor pressão sonora que pode ser percebida é de 0.00002 Pa (1 Pa = 1
N/m2 ).
Potências sonoras
Uma máquina é em geral uma fonte de ruído. Ela é caracterizada acusticamente pela sua potência
acústica em Watts e a sua diretividade (como ela distribui o som em cada direção). Esta potência
acústica depende do processo mecânico envolvido na máquina e da tecnologia empregada. A ten-
dência atual é fornecer a potência acústica da máquina junto com as outras especificações técnicas.

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A escolha de uma máquina deverá em princípio levar em conta a sua potência. A localização da
máquina deverá ser realizada de forma a contemplar não somente as restrições de ordem econômica
e operacionais como também acústicas.
Exemplos de potências sonoras:
Um sussurro humano envolve uma potência sonora de 10-10 Watts, um grito emite 10-5 Watts, uma
orquestra produz 10 Watts, e, um avião a jato decolando emite cerca de 105 Watts. Através destes
exemplos vemos que a energia sonora que pode ser percebida pelo ouvido humano, numa escala
linear, corresponde a uma faixa muito grande de valores.
O decibel
Gustavo Weber e Ernst Fechner, no séc. XIX, descobriram que, aproximadamente, as sensações
humanas são proporcionais ao logaritmo da intensidade do estímulo. A unidade Bel foi, então, pro-
posta para relacionar a intensidade do som a um nível de intensidade correspondente à sensação
humana, sendo utilizada a escala logarítmica. Desta forma, as potências sonoras citadas acima po-
dem ser expressas em decibeis (décima parte do Bel).

2 - DEFINIÇÕES
Freqüência
A freqüência no caso de uma onda sonora senoidal é o número de oscilações da onda acústica ocor-
rida num segundo, ou a taxa de repetição de um fenômeno periódico. A unidade de freqüência é o
Hertz (Hz), ou ciclo por segundo. A maioria dos sons, à exceção dos tons puros, contêm energia
numa faixa larga de freqüências.
Amplitude da vibração sonora
A amplitude corresponde à intensidade da vibração, pode-se dizer que quanto maior a amplitude
mais forte é o som.
Velocidade acústica
Quando uma onda sonora atravessa um meio, as partículas vão oscilar em torno de uma posição de
equilíbrio com uma certa velocidade (vetor). Esta velocidade é chamada velocidade acústica.
Comprimento de onda
λ: numa onda senoidal, é a distância que o som percorre durante um ciclo completo e também a
distância entre dois máximos sucessivos na onda. A relação entre comprimento de onda e velocida-
de do som é :

Fig.1 - representação senoidal da onda sonora

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c
λ=
f
onde: λ é o comprimento da onda, c é a velocidade do som no meio e f é a freqüência. Exemplo:
uma onda senoidal de freqüência 100 Hz terá um comprimento de onda de 3.4 m.

Espectro de freqüência
Da mesma forma que a luz pode ser decomposta em várias cores formando um espectro, o som
pode ser submetido à análise espectral pela Análise de Fourier. Através de uma integração matemá-
tica (Transformada de Fourier) o sinal sonoro passa da representação no tempo para a representação
em freqüência. Mostra-se assim que um ruído é uma mistura complexa de ondas acústicas de
freqüências diferentes. A análise espectral permite representar graficamente as amplitudes dos
diferentes componentes em freqüências. O aparelhos em que se pode realizar esta operação são
chamados analisadores espectrais.
O espectro do som apresenta as características da fonte que o emitiu como também do meio pelo
qual ele se propagou.
Por exemplo: quando um instrumento musical emite uma nota musical produz, além da freqüência
fundamental, uma série de tons, sobretons e harmônicos, adicionados à essa nota fundamental. Se
tomarmos o espectro em freqüência do som emitido por um instrumento musical veremos que além
do espectro apresentar energia (amplitude) na freqüência fundamental também apresenta energia em
outras freqüências. Esta série de tons e sobretons e harmônicos caracteriza o que chamamos de tim-
bre do instrumento.
Num local de trabalho, uma máquina emite sons que dependem da sua estrutura e das operações que
ela realiza. Ela pode ser considerada como uma fonte complexa de ruído constituída de várias fontes
elementares (escoamentos, chapas vibrando, choques). Uma analise espectral do som emitido pela
máquina pode permitir descobrir a origem do ruído. Isto pode ser utilizado para melhorar o dese-
nho da máquina para ela ser mais silenciosa ou detectar falhas no seu funcionamento.
A fala humana, além de abranger uma faixa grande de freqüências (de 100Hz a 8000Hz), também
produz estes harmônicos associados a cada freqüência, e isto faz com que distingamos as diferentes
vozes.
Ver exemplos de representação no tempo e em freqüência na fig. 2.

Faixas de freqüência:
O ouvido reage diferentemente para distintas freqüências, logo, o espectro em freqüência é um ele-
mento importante na caracterização do som. Baseado na resposta do ouvido humano e nas notas
musicais, o espectro foi dividido em faixas de oitavas. Cada faixa de freqüência é definida pela sua
freqüência central, freqüências mínimas e máximas, e pela sua extensão em oitavas.
A série de freqüências centrais das faixas de oitava normalizadas é dada por:

31.5 63 125 250 500 1000 2000 4000 8000 16000

Cada uma delas corresponde a um filtro passa-faixa.

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A freqüência central, f0 é:
f0 = f1f2
As freqüências máxima e mínima de uma faixa de oitava são obtidas como a seguir:
f0
f1 =
2
f2 = f0 2

f1 f0 f2 Hz

Fig.2 - representação do som no tempo e seu espectro em freqüência

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Análise por faixas de oitavas


Para a maioria dos problemas acústicos é suficiente representar um som especificando os níveis de
pressão sonora em cada faixa de oitava, como no exemplo abaixo:

freq. (Hz) 31.5 63 125 250 500 1000 2000 4000 8000
Nível (dB) 82 80 81 79 78 65 83 75 77
Assim, o som é representado por um conjunto de sons localizados na região da faixa central de cada
faixa de freqüência. O nível sonoro total vai ser a soma logarítmica dos níveis para cada faixa de
oitava.

Terças de oitavas

Para um trabalho mais preciso, cada oitava é dividida em três (terça de oitava - 1/3).As freqüências
máximas e mínimas das terças de oitava são calculadas por: f2 = 3 2 f1 . Aparelhos medidores de
pressão sonora podem medir a energia sonora por faixas de freqüência de oitava ou terça de oitavas
utilizando filtros eletrônicos ou numéricos.

Faixas de freqüências de interesse

Uma pessoa jovem pode ouvir sons de 20 Hz a 20 kHz e uma pessoa idosa, sons de 20 Hz a 4 kHz.

Os sons abaixo de 16 Hz são chamados de infra-sons e acima de 20.000 Hz, são os chamados ultra-
sons. Os dois não são captados pelo ouvido humano.

Faixa de freqüência da fala

A faixa de freqüência da fala se situa entre 125 Hz e 8 KHz, mas a faixa entre 1000 a 2500 Hz é
suficiente para a fala ser compreendida. Vale lembrar que ruído com composição incluindo fre-
qüências altas (3.000 a 6.000 Hz), em grande intensidade, em relação ao risco de dano auditivo, são
mais nocivos.

Janela de audição
A sensibilidade auditiva varia com a intensidade do som e responde de maneira diferenciada às vá-
rias freqüências. Duas curvas são características da audição: o limiar de audibilidade, da ordem de 2
10-5Pascals estando na escala de decibéis próximo ao zero dB, e o limiar de dor, da ordem de 2 108
Pascals, que está entre 130 e 140 dB.

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Fig 3 : Janela de Audição.

Nível de pressão sonora


O nível de pressão sonora (NPS) é definido por:

 p2  p
NPS(f ) = 10 log10  2  = 20 log10  
 p0   p0 
onde: p = pressão sonora medida
p0 = pressão sonora de referência
p0 = 2*10-5 pa
A menor mudança de nível de pressão sonora que o ouvido pode detectar é da ordem de 0.5 dB.

3 - MEDIÇÃO DO NÍVEL DE PRESSÃO SONORA


A medição do nível de pressão sonora é feita através de medidores de nível de pressão sonora, tam-
bém conhecidos como sonômetros ou “decíbelímetros”. É um equipamento constituído de microfo-
ne para captar a vibração sonora, amplificador, circuitos eletrônicos e indicador que, em geral, é um
mostrador com registrador gráfico.
O circuito de medição pode operar em duas velocidades: lenta (SLOW) ou rápida (FAST). A veloci-
dade de medição a ser utilizada depende do tipo de ruído que se deseja medir.

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A norma NR-15, que será vista a seguir, estabelece as condições para o uso de uma ou outra veloci-
dade. Os aparelhos, normalmente, ainda apresentam um circuito de resposta para medição de ruído
de impacto.

O microfone deve responder à uma faixa de áudio- freqüência, sem distorcer o sinal. Para isto a
resposta deve ser linear, em função da freqüência e da amplitude do sinal.
As normas IEC/UNO especificam os medidores comuns, que são lineares na faixa de 20 a 16.000
Hz, e os medidores de precisão, que são os lineares para a faixa de 6 a 20.000 Hz, nas R-123 e R-
127.
Portanto, os medidores de nível de pressão sonora medem o nível global, podendo a medição ser
linear (sem filtro), ou com filtros baseados nas curvas de compensação A, B, C, D.
Na medição linear obtemos as medições do nível de pressão sonora em dB. A medição ainda pode
ser feita por faixa de freqüência utilizando-se mais um filtro, por exemplo, um filtro para faixa de
oitava. As curvas de compensação A, B, C, D procuram simular a sensibilidade do ouvido humano
que é menos sensível para as freqüências mais baixas e mais altas.
Um nível de pressão sonora medido pela curva de compensação A é dado em dB(A).
Estes circuitos de compensação dos medidores recebem o sinal linear em função da freqüência, vin-
do do microfone, e atenuam algumas freqüências, originando uma resposta que é uma imagem es-
pecular das curvas de Fletcher e Munson.
As quatro curvas principais são a A, B, C e D, cada uma simulando a resposta do ouvido em deter-
minada situação. A curva D, por exemplo, é para ruídos aeronáuticos ;a curva A avalia de forma
simplificada o desconforto acústico, informando com razoável precisão os riscos de lesão auditiva.
Então para conforto acústico, normalmente utiliza-se a escala dB(A).
Para se fazer a conversão dos valores em dB para dB(A), dB(B), dB(C) ou dB(D) podemos utilizar
a tabela 1. Deve-se adicionar os valores da tabela 1 aos valores encontrados em dB, para cada faixa
de freqüência. Para se obter o Nível Global em dB(A) ou em qualquer outra curva, devemos somar
logaritmicamente os valores encontrados por banda de freqüência, como está descrito no item 4,
sub-item 4.2 desta apostila.

Linear (sem filtro)


MEDIÇÃO GLOBAL
dB (A) F
I
dB (B) L
T
dB (C) R
O
dB (D) S

fig. 5 – Curvas de Ponderação.

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Fig.4 - Medidor.

fig.4 - medidor de nível de pressão sonora

Fig.5 - Curvas de pressão sonora.

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Freqüência (Hz) Curva A - dB (A) Curva B - dB (B) Curva C - dB (C)

31.5 -39.4 -17.1 -3.0

63 -26.2 -9.3 -0.8

125 -16.1 -4.2 -0.2

250 -8.9 -1.3 0.0

500 -3.2 -0.3 0.0

1000 0.0 0.0 0.0

2000 1.2 -0.1 -0.2

4000 1.0 -0.7 -0.8

8000 -1.1 -2.9 -3.0

16000 -6.6 -8.4 -8.5

Tabela 1 - Tabela para conversão de NPS em dB para dB(A), dB(B) e dB(C)

4 - COMPOSIÇÃO DE NÍVEIS DE PRESSÃO SONORA


4.1 - Superposição de dois ruídos incoerentes
Para a superposição de dois ruídos incoerentes, sabendo que:
p 2T p 12 + p 22 NPS1 NPS 2
= = 10 10 + 10 10
p 20 p 20
então, o nível de pressão sonora total é dado por:

 p T2  NPS1 NPS 2
NPS T = 10 log 10  2  = 10 log 10 (10 10 + 10 10 )
 p0 

onde: NPST é o nível de pressão sonora total


NPS1 e NPS2 são os níveis de pressão sonora das fontes 1 e 2 respectivamente

4.2 - Nível de pressão sonora de n fontes


Se as n fontes têm um mesmo nível de pressão sonora M ,dados em dB,
temos nível de pressão sonora total (L) como:
Lp= M + 10 log (n)

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Podemos verificar, pelo exemplo abaixo, que no caso de um grande número de fontes o tratamento
pode não reduzir o ruído global significativamente:
Nível de ruído de 70 fontes de mesmo nível de pressão sonora 30 dB:
Lp= 30 + 10 log (70) = 49 dB
30 ⊗70=49
Nível de ruído de 30 fontes de mesmo nível de pressão sonora 30 dB:
Lp= 30 + 10 log (30)= 45 dB

Se as n fontes são de níveis de pressão sonora diferentes


temos o nível de pressão sonora( L p ) como:
T

 Ln

L pT = 10 log ∑ 10 10 
 
onde = L p T é o nível de pressão sonora das n fontes
Exemplo: calcular o nível de pressão sonora total de duas fonte sonoras emitindo, cada uma, 55 dB
e 52 dB.
 55 52 
Lt = 10 log 10 + 10 10  = 10 log(105.5 + 105.2 ) = 53 dB
10
 
obs: Lp , SPL (Sound Pressure level) e NPS (nível de pressão sonora) têm o mesmo significado.
No caso de ruídos incoerentes, as energias são aditivas e não as pressões sonoras. Já no caso de ruí-
dos coerentes, as pressões sonoras são aditivas.

Método simplificado para "adição" de decibéis


Podemos ainda calcular o nível de pressão sonora de n fontes utilizando as tabelas que veremos a
seguir.
Sejam NPS1 e NPS2 dois níveis a adicionar, em que NPS1 > NPS2. Calcula-se a diferença ∆ entre
NPS1 e NPS2. A cada valor de ∆ teremos, na tabela 2, um valor correspondente a N. Este valor N
encontrado deverá, então, ser adicionado ao nível mais alto.
Tabela 2 - Tabela para Adição de NPS
∆ 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
N 3 3 2 2 2 1 1 1 1 1 0
Ex: Se desejamos "adicionar" 75 dB a 72 dB.
Calcula-se a diferença : ∆ = 75 - 72 = 3dB
Encontra-se o valor de N na tabela : N = 2dB
O Nível resultante é : 75dB + 2 dB= 77 dB
Escrevemos: 75dB ⊕ 72 dB = 77dB

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Para adicionar um grande número de níveis de pressões sonoras, deve-se ordená-las em ordem
crescente, antes de combiná-las duas a duas.
Exemplo :
Adição dos níveis seguintes:
41dB ⊕ 48dB ⊕ 43dB ⊕ 49dB ⊕ 55dB ⊕ 51dB ⊕ 52dB ⊕ 49dB ⊕ 57dB
1- Ordenação:
41dB; 43dB; 48dB; 49dB; 49dB; 51dB; 52dB; 55dB; 57dB
2- Adição ordenada utilizando a tabela 2:
41dB ⊕ 43dB = 45dB
45dB ⊕ 48dB = 50dB
50dB ⊕ 49dB = 53dB
53dB ⊕ 49dB = 55dB
55dB ⊕ 51dB = 57dB
57dB ⊕ 52dB = 58 dB
58dB ⊕ 55dB = 60dB
60dB ⊕ 57dB = 62 dB
41dB ⊕ 48dB ⊕ 43dB ⊕ 49dB ⊕ 55dB ⊕ 51dB ⊕ 52dB ⊕ 49dB ⊕ 57dB = 62dB

4.3 - Subtração de energias sonoras


Os níveis de pressão sonoras podem também ser "subtraídos". Isso pode ser necessário caso quei-
ramos medir o nível de ruído produzido por uma máquina e não podemos cessar o ruído de fundo
proveniente das outras máquinas durante a medição. Deve-se realizar, então, as seguintes opera-
ções:
1- parar a máquina e medir o nível de ruído de fundo,(NPS1).
2- ligar a máquina e medir o nível de ruído total (máquina e ruído de fundo juntos),
(NPST).
Encontramos o nível de ruído da máquina (NPS2) calculando a diferença entre o nível de pressão
sonora do ruído total e o nível de ruído de fundo. Ou seja,
p 22 p 2T − p 12 NPS T NPS1
= = 10 10 - 10 10
p 20 p 20
Então o nível de pressão sonora da máquina (NPS2) é dado por:

 p22   NPS T NPS 1 


NPS2 = 10 log10  2  = 10 log1010 10 - 10 10 
 p0   
5 - RUÍDO
O ruído é uma mistura complexa de ondas acústicas de diferentes freqüências. Também poderíamos
defini-lo como toda sensação auditiva desagradável ou nociva. A duração e a variação do ruído no

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tempo nos permite classificá-lo como:


Ruído contínuo: ruído cujo NPS varia no tempo dentro de uma faixa de 3 dB, durante um período
longo, maior que 15 minutos (m) de observação Podemos citar como exemplo de ruído contínuo:
ruído produzido pelo ar condicionado, por um motor ligado, ou um ventilador.
Ruído descontínuo: ruído cuja variação do NPS no tempo é maior do que 3 dB e/ou a variação for
em períodos menores do que 15 m. O ruído descontínuo pode ser subdividido em:
Ruído intermitente: de duração menor que 15 m e superior a 0.2 s, com variações iguais ou maio-
res que 3 dB. Como exemplo de ruído intermitente podemos citar: um caminhão de lixo, um avião
passando, ruído da sirene de uma ambulância.
Ruído de impacto: de duração inferior a 1 s e em intervalos superiores a 1 s. Podemos citar como
exemplos: ruído de uma explosão, provocado por prensa ou uma torneira pingando.

A NR-15 - Anexo n0 1 estabelece como ruído contínuo ou intermitente, para fins de aplicação dos
limites de tolerância, o ruído que não seja de impacto.

6 - RISCOS INDIVIDUAIS CAUSADOS PELO RUÍDO


Apesar do ruído afetar de forma diferenciada os indivíduos podemos considerar os seguintes efeitos
da exposição à níveis elevados de ruído :
Deslocamento temporário do limiar da audição (dlt):
É uma queda temporária da sensibilidade auditiva (surdez temporária) causada pela exposição a
níveis sonoros intensos. Ao ser desligada a fonte sonora, a recuperação do DLT inicialmente é rápi-
da, mas se converte em assíntótica. Apesar da recuperação, em função dos níveis sonoros, do indi-
víduo exposto e da duração da exposição, uma pequena parcela dos elementos sensoriais da audição
pode sofrer dano. Uma forma de verificar o grau de lesão é medir o valor do DLT dois minutos após
haver cessado a exposição, conhecido como DLT2.
Na fig. 3 vemos, do lado esquerdo do gráfico, a mudança do limiar da audição (em dB) em função
do tempo de exposição aos níveis de ruído de 80 e 85 dB. Do lado direito do gráfico vemos o tempo
de recuperação a estes mesmos níveis de ruído em função do número de horas. Nota-se que o tempo
de recuperação é maior do que o tempo de exposição. A exposição ao ruído antes da recuperação
completa provoca perda permanente da audição.

Fig. 6 - Mudança do Limiar da audição em função do tempo de exposição e o tempo


de recuperação para o ruído de 80 e 85 dB.

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Surdez permanente - se origina da exposição repetida, durante longos períodos, a ruídos intensos.
A perda é irreversível porém não é sentida no início pois atinge inicialmente as freqüências mais
altas, acima da faixa de freqüência da fala. Com o passar do tempo as perdas progridem e atingem a
comunicação oral (500 a 2000 Hz).
A surdez profissional é a surdez permanente que aparece devido a exposição a intensidade superior
a 90 dB por 8 horas de trabalho. A surdez pode ser total ou parcial, em ambos ou ouvidos ou de
maneira diferenciada em cada ouvido (perda bilateral). A gravidade varia de uma pessoa para ou-
tra, mesmo quando expostas ao mesmo nível de ruído ao mesmo tempo.
Tratamento: Não existe forma de tratamento porém deve ser feito exame audiométrico periódico
como forma de controlar as condições do ambiente de trabalho. A NR-7 estabelece as condições dos
exames médicos.
Trauma acústico- É a perda repentina, causada pela exposição a um ruído repentino, de forte in-
tensidade, do tipo explosão ou impacto. Conforme o tipo e a extensão da lesão pode haver apenas
uma perda temporária ou esta ser permanente. Em alguns casos existe tratamento médico: vasodi-
latadores, oxigenoterapia hiperbárica, eventualmente cirurgia.

Outros Efeitos Adversos do Ruído


A exposição contínua a ruídos ainda ocasiona outros efeitos psicológicos e fisiológicos tais como o
stress, falta de concentração, irritabilidade, aumentando ainda, em indivíduos susceptíveis, a proba-
bilidade de infartos (em até 10%), gastrites, alergias e problemas de intestino.
Outro efeito causado pelo ruído é o mascaramento. O mascaramento é o efeito de encobrimento de
um som por outro. Em geral, o mascaramento é causado pelo ruído de fundo, fazendo com que não
entendamos claramente o som de interesse. O que ocorre é que o ruído de fundo se soma ao som
que se deseja ouvir, sendo, desta forma, necessária maior energia para que o som de interesse seja
entendido.
O mascaramento dificulta a comunicação, causando, no ambiente de trabalho, desconforto, riscos de
acidente e maior probabilidade de falhas. Porém, quando planejado e controlado (mascaramento
eletrônico) pode ser utilizado como instrumento para aumentar o conforto acústico do ambiente de
trabalho.
Critérios de interferência na comunicação verbal
A fala pode ser muito importante nos numerosos locais industriais, assim como nos locais de pro-
dução, nos escritórios de controle e nos escritórios de desenho, nos postos de vigilância, numa fá-
brica, etc. A fala não é só considerada como um fator social, mas também como um fator de eco-
nomia e de segurança; uma comunicação mal interpretada pode dar lugar a acidentes e a elevação
dos custos do trabalho.
Numa residência também a compreensão da fala, de uma comunicação telefônica, de uma emissão
de televisão é importante.
Embora o espectro da voz se estenda desde freqüências de valor inferior a 100 Hz até freqüências
superiores a 10000 Hz, consegue-se boa inteligibilidade com uma gama espectral muito mais redu-
zida.
Quase toda a informação necessária à comunicação verbal está compreendida entre as freqüências
de 200 Hz e 6 000 Hz.
Um dos resultados do mascaramento de um ruído pelo outro, é a interferência negativa na comuni-
cação verbal.

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O mascaramento eleva o limite de audibilidade de um indivíduo devido ao ruído de fundo e diminui


a inteligibilidade das mensagens orais.
Foram elaboradas diversas técnicas de avaliação da qualidade da comunicação na presença de ruído.
Mas para uso prático, uma simplificação foi introduzida para avaliar a qualidade de um local para
comunicação oral: O "NIC" (Nível de Interferência na Comunicação) ou "SIL" (Speech Interference
Level), calculado como a média aritmética dos níveis de pressão sonora por faixas de oitavas
L500, L1000, L2000, L4000.

L500 + L1000 + L2000 + L4000


SIL =
4

O NIC determinado no interior de um recinto, pode ser utilizado como índice para avaliar a possi-
bilidade de se estabelecer uma comunicação verbal, de se utilizar o telefone e, ainda, como ele-
mento para determinar qual a redução necessária do nível para tornar possível uma inteligibilidade
nas comunicações.

O quadro 4.2. e a figura 4.5. dão uma idéia da interpretação destes valores SIL.
QUADRO 4.2. INFLUÊNCIA DO RUÍDO SOBRE A COMUNICAÇÃO
SIL Distância limite para a conversa-
ção
40 5m
45 3m
50 2m
55 1m
60 0,5m

Dano auditivo
Pode haver perda da audição ou lesão auditiva.
Perda da audição: deslocamento positivo permanente do limiar da audição em relação ao limiar au-
diométrico normalizado.
Lesão auditiva: quando a média das perdas auditivas à 500, 1000 e 2000 Hz excede 25 dB.

Presbiacusia: diminuição natural da audição pela idade. A perda é mais acentuada nas freqüências
mais altas.
Sociacúsia: Alteração da sensibilidade auditiva das pessoas expostas ao ruído urbano.

7 - LEGISLAÇÃO E NORMAS
No Brasil temos as seguintes normalizações que tratam do ruído no ambiente de trabalho:
• LEI 6514 ( 22/12/97) - altera a CLT – CAP. V, TITULO II, relativo à SEGURANÇA E
MEDICINA DO TRABALHO.
• PORTARIA No 3.214 (08/06/78), aprova as Normas Regulamentadoras do capítulo V, Tit.II,
da CLT:

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NR -6 - Equipamentos de Proteção Individual


NR -7 - Exame Médico
NR-15 - Atividades e Operações Insalubres
NR-17 - Ergonomia
NR-28 - Fiscalização e Penalidades
Em relação à legislação ambiental e aos diversos tipos de ambiente, temos:
ABNT : NBR 10.151 e 10.152
IBAMA - Resolução CONAMA-001 e 002 de17/08/90 que estabelecem os níveis de con-
forto acústico para a comunidade.
As normas variam de país para país, porém existe uma tendência a unificação em torno da norma
ISO -Organização Internacional de Normalização. Onde destacamos a norma ISO 1999 que define o
método para o cálculo do Leq ,onde o Leq representa o nível contínuo-estacionário-equivalente em
dB(A) que tem o mesmo potencial de lesão auditiva que o nível variável considerado.
Existem medidores de doses de ruído que executam automaticamente estes cálculos.
Existem duas correntes científicas, adotadas pelas normas dos diversos países, para determinar o
tempo máximo de exposição ao nível de ruído em relação ao tempo de exposição. São elas: Princí-
pio de Igual Energia e Princípio de Equinocidade.
Princípio de Igual Energia considera que a perda da audição provocada pelo ruído é determinada
pela quantidade de energia sonora, em dB(A), recebida pelo ouvido. E estabelece que quando a in-
tensidade sonora é multiplicada por dois, o tempo de exposição ao ruído deve ser reduzido a meta-
de. Sabemos que multiplicar a intensidade por dois significa aumentar em 3 dB o nível sonoro.
Princípio da Equinocividade considera que o deslocamento temporário do limiar da audição, me-
dido ao fim da jornada diária, está relacionado com o deslocamento permanente do limiar da audi-
ção, causado por uma exposição ao longo de dez anos ou mais ao mesmo ruído. Estabelece que a
um aumento de 5 dB no nível sonoro devemos diminuir o tempo de exposição a metade.
A NR-15 adota o princípio da Equinocividade.

7.1 - NORMA NR-7 - Exame Médico


Teste audiométrico: feito em cabine audiométrica, por freqüência, onde é verificada a perda audi-
tiva comparando-a ao nível mínimo de referência audiométrica. Por exemplo: uma pessoa normal
percebe 70 dB à 30 Hz, 5 dB à1000 Hz , 25 dB à 8000 Hz , etc
A NR-7 regulamenta o exame admissional, periódico e demissional que é obrigatório quando os
níveis de ruído forem superiores aos previstos na NR-15 anexos 1 e 2. Deve ser feito pelo menos
para as freqüências de 500, 1000, 2000 e 4000 Hz.
É considerado dano à saúde:
Perda em grau médio para 1 ouvido: 8%
Perda em grau mínimo para os 2 ouvidos: 9%
que excedam os valores da perda auditiva dada pela idade. A fórmula de cálculo da perda pela idade
encontra-se na NR-7, anexo 1,ítem 2

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Cálculo da perda auditiva


Exemplo: após um exame audiométrico encontramos:

FREQÜÊNCIA PERDA AUDITIVA (dB) VALORES(%)


500 10 0,2
1000 05 0
2000 10 0,4
4000 10 0,1

estes valores percentuais são extraídos da Tabela de Fowler de acordo com a Perda auditiva ( NR-
7 ítem 1 anexo 1)
então: PERDA AUDITIVA = O,2 + 0,0 + 0,4 + 0,1 = 0,7%
O significado
Perda bilateral: perda da audição diferenciada em cada ouvido. A fórmula de cálculo encontra-se
na NR-7 anexo I, item 1

7.2 - NR-15 - Atividades e Operações Insalubres


São consideradas atividades ou operações insalubres as que se desenvolvem acima dos limites de
tolerância.
Limite de tolerância: a concentração ou intensidade máxima ou mínima, relacionada com a natu-
reza e o tempo de exposição ao agente, que não causara dano a saúde do trabalhador, durante sua
vida laboral.
Adicional por insalubridade: o trabalho sob condição de insalubridade assegura ao trabalhador
receber adicional sobre o salário mínimo da região, equivalente a:
40 %, para insalubridade de grau máximo;
20 %, para insalubridade de grau médio;
10 %, para insalubridade de grau mínimo;
Se houver incidência de mais de um fator de insalubridade, não poderá haver percepção cumulativa,
ou seja, o trabalhador não poderá receber mais de 1 adicional. Neste caso, prevalece o fator de in-
salubridade de grau mais elevado. O pagamento do adicional só é feito enquanto houver a condição
de insalubridade, esta cessando, ou sendo eliminada, cessa também o pagamento do adicional.
Eliminação da insalubridade: a eliminação deverá ocorrer com:
•a adoção de medidas que conservem o ambiente de trabalho dentro dos limites de
tolerância
•com a utilização de equipamento de proteção individual
É interessante observar que a simples utilização de equipamento de proteção individual pode elimi-
nar o pagamento do adicional por condição de insalubridade.
Comprovação da insalubridade: a comprovação é feita através de laudo técnico de engenheiro de

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segurança do trabalho ou médico do trabalho, devidamente habilitado.


Da competência: cabe à autoridade regional competente, em matéria de segurança e saúde do tra-
balhador, depois de comprovada a insalubridade, fixar adicional devido aos empregados expostos à
insalubridade quando impraticável sua eliminação ou neutralização.
A eliminação ou neutralização ficará caracterizada através de avaliação pericial por órgão compe-
tente, que comprove a inexistência de risco à saúde do trabalhador.
As empresas ou sindicatos também podem requerer ao Ministério do Trabalho, através das Delega-
cias Regionais do Trabalho, a realização de perícia, onde o perito do MTb indicará o adicional de-
vido.
Medição: as medições são feitas com medidores de nível de pressão sonora.
Nível de ruído contínuo ou intermitente:
•medidos em decibéis (dB);
•circuito de compensação “A” ;
•circuito de resposta lenta (SLOW);
Medição de níveis de ruído de impacto:
•avaliados em decibéis (dB);
•circuito linear;
•circuito de resposta para impacto;
•nos intervalos entre os picos, o ruído existente deverá ser avaliado como ruído contínuo;
•em caso de não se dispor de medidor de nível de pressão sonora com circuito de resposta
para impacto será válida a leitura feita no circuito de resposta rápida (FAST) e circuito de compen-
sação “C”.
Tanto para medição de ruído contínuo ou intermitente quanto para o de impacto, as leituras devem
ser feitas próximas ao ouvido do trabalhador. O perito descreverá no laudo a técnica e aparelhagem
utilizada.
Tempo de exposição e limites de tolerância
Os limites de tolerância são níveis de ruído aos quais o trabalhador só poderá ficar exposto por um
tempo determinado.
Para o ruído contínuo ou intermitente, os limites de tolerância estão contidos na tabela 3 (NR-15-
anexo 1).
Para o ruído de impacto os limites de tolerância são de 130 dB (linear). Se for utilizado circuito de
resposta rápida e compensação “C”, o limite de tolerância será de 120 dB(C).
Risco grave e eminente:
Não é permitido exposição a níveis de ruído acima de 115 dB(A) para indivíduos que não estejam
adequadamente protegidos. As atividades ou operações que exponham os trabalhadores a níveis de
ruído, contínuo ou intermitente, superiores a 115 dB(A), sem proteção adequada, oferecerão risco
grave e iminente. Também oferecerão risco grave e iminente, quando da exposição a níveis de ruído
de impacto superiores a 140 dB (linear), medidos no circuito de resposta para impacto, ou superio-
res a 130 dB(C), medidos no circuito de resposta rápida (FAST).

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Tabela 3: LIMITES DE TOLERÂNCIA PARA RUÍDO CONTÍNUO OU INTERMITENTE


NÍVEL DE RUÍDO Máxima exposição diária
dB (A) PERMISSÍVEL
85 8 horas
86 7 horas
87 6 horas
88 5 horas
89 4 horas e 30 minutos
90 4 horas
91 3 horas e 30 minutos
92 3 horas
93 2 horas e 40 minutos
94 2 horas e 15 minutos
95 2 horas
96 1 hora e 45 minutos
98 1 hora e 15 minutos
100 1 hora
102 45 minutos
104 35 minutos
105 30 minutos
106 25 minutos
108 20 minutos
110 15 minutos
112 10 minutos
114 8 minutos
115 7 minutos

Dose de ruído: a dose de ruído é um valor percentual obtido pela razão entre o tempo que o indiví-
duo fica exposto a um determinado nível de ruído e a máxima exposição diária permissível a este
nível. Então, um indivíduo exposto durante 3 horas a um nível de ruído de 90 dB, recebeu uma dose
de ruído de 75 %, ou seja:
tempo de exposição = 3 horas
máxima exposição diária permissível ao nível de 90 dB (tab. 3) = 4 horas
dose de ruído = 3 / 4 = 0.75

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Exposição a ruídos de diferentes níveis durante a jornada de trabalho: devemos medir o tempo
de exposição de cada diferente nível de ruído. Então, calculamos a soma das seguintes frações:
C1 C2 C 3 C
+ + +.....+ n
T1 T2 T3 Tn
onde: C1, C2, C3, ...Cn são os tempos totais que o trabalhador fica exposto a cada nível específico
que nos medimos, e T1, T2, T3, ...Tn indicam a máxima exposição diária permissível a cada nível
medido.
Se esta soma exceder a unidade, a exposição estará acima do limite de tolerância.
7.3 - NR-6 - EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL - EPI
O empregador deve fornecer aos trabalhadores o EPI para proteção auditiva, os protetores auricula-
res, para trabalhos realizados em locais em que o nível de ruído seja superior ao estabelecido na NR
15, Anexos I e II.
A recomendação ao empregador, quanto ao EPI adequado ao risco existente em determinada ativi-
dade é da competência:
a) do Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho - SESMT;
b) da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes - CIPA, nas empresas desobrigadas de manter o
SESMT.
Nas empresas desobrigadas de possuir CIPA, cabe ao empregador, mediante orientação técnica,
fornecer e determinar o uso do EPI.
7.1.1- Protetores Auditivos
Antes de se buscar utilizar o protetor auditivo deve-se procurar reduzir os níveis de ruído à 85,
dB(A) para 8 horas de exposição conforme a NR-15. De preferência deve-se buscar reduzir até 80
dB(A), que é um valor mais confiável para o não surgimento de surdez ocupacional. A norma NR-
17 traz as recomendações para o nível de conforto acústico do ambiente de trabalho, onde o nível de
ruído recomendado é de até 65 dB(A) e a curva de avaliação de ruído (NC) de valor não superior a
60 dB. Mas em muitos casos a redução de ruído para o limite de 85 dB(A) é custoso pois envolve
mudança de processos, substituição de máquinas. Nestes casos, para uma solução de uso imediato,
deve-se buscar o protetor auditivo de uso individual.
ATIVIDADES: em geral, podem utilizar protetores auditivos os trabalhadores das seguintes ativi-
dades: trabalho em ambiente industrial, aeroporto, pilotos, operadores de equipamentos pesados,
atiradores e caçadores, usuários de ferramentas manuais, músicos, técnicos de som, pilotos de corri-
da, pessoas com sono leve, portadores de hipoacusia com audição extremamente sensível, entre
outros.
PROBLEMAS: a utilização de protetores auditivos apresenta problemas como a higiene, o des-
conforto, dificuldade na comunicação verbal, perda do senso de localização da direção do som, a
não audição de sinal de alarmes e outros sinais.
T IPOS DE PROTETORES AURICULARES
São três os tipos de protetores auditivos: tipo tampão, tipo concha e tipos especiais.
Protetor tipo tampão: São introduzidos no canal externo do ouvido. São fabricados em vários ti-
pos como o descartável, pré-moldado, moldável, tampão expandido, moldável personalizado ou
semi-inserção (capa de canal de ouvido). Os do tipo descartável e moldável tomam a forma do canal
do ouvido, sendo que os moldáveis, quando bem colocados, têm atenuação comparável à dos pro-
tetores do tipo concha. São usados por cerca de 80% dos usuários. Apresentam as seguintes caracte-

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rísticas:
• proteção excelente quando colocados no ouvido externo;
• têm atenuação maior do que o tipo concha em baixas freqüências devido a boa vedação;
• considerados mais confortáveis,
• bons para ambientes quentes e úmidos;
• disponíveis em vários tamanhos;
• não interferem em outros equipamentos como capacete e óculos;
• baixos preços;
• o descartável fabricado em espuma polimerizada é bastante eficaz e confortável, porém como é
mais caro, em geral, conforme o caso, pode ser lavado e reutilizado. O de algodão parafinado é
considerado de baixa qualidade, se contamina rapidamente, apresenta pouca elasticidade não en-
caixando bem no canal auditivo. O de fibra de vidro é considerado o mais prático
• os pré-moldados são laváveis com água e sabão. Para serem eficientes devem ser colocados fir-
memente, o que pode torná-lo desconfortável. Além disso, as diferenças apresentadas entre os
canais de ouvido das pessoas pode dificultar a fixação. Têm vida limitada pois com as lavagens
periódicas perdem a elasticidade;
• os moldáveis são fabricados em borracha de silicone e tem sua forma final moldada no canal do
ouvido.
Protetor tipo concha: fabricado com material rígido, revestido com espuma circular, devendo co-
brir a orelha. Características:
• a atenuação depende da pressão que o protetor exerce sobre a cabeça;
• apresenta desconforto se a pressão não estiver bem distribuída nos dois lados da cabeça;
• apresenta maior proteção do que os outros tampões;
• fácil adaptação aos diversos tipos de ouvido;
• facilmente removíveis, sendo por esta característica recomendado para usuários que necessitem
circular entre zonas de trabalho silenciosas e ruidosas;
• higienizáveis, sendo recomendado para utilização em áreas não limpas.

Fig. 7 - Tipos de protetores auditivos

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Tipos especiais
São protetores com filtros acústicos (orifício) ou filtros eletrônicos, do tipo passa-baixo - que atenu-
am as freqüências inferiores a 2 kHz e permitem que as freqüências da fala passem - ou protetores
baseados no controle ativo de ruído. O cancelamento do som através do controle ativo é obtido pela
geração de um campo sonoro idêntico ao campo sonoro original mas com a fase invertida, de forma
a haver o cancelamento. Estes protetores também atenuam certas faixas de freqüência permitindo
que a faixa de freqüência da fala continue a ser ouvida. Estes protetores especiais são bem mais
caros do que os outros tipos e são indicados em locais onde a comunicação é importante e o número
de trabalhadores a utilizarem o protetor é pequeno, viabilizando seu custo, como o caso de cabinas
de avião e helicópteros.

Fig. 8 - Protetor auditivo de controle ativo

LIMITE MÁXIMO DE ATENUAÇÃO: o funcionamento de um protetor auditivo depende de


suas características de projeto e da fisiologia e anatomia do usuário. A energia sonora pode atingir o
ouvido interno, de um indivíduo utilizando um protetor auditivo, através de quatro caminhos:
1. pela transmissão em ossos e tecidos;
2. pelas vibrações do protetor ;
3. por transmissão através do material do protetor;
4. por vazamentos ocasionados no contato entre o protetor e a cabeça. Pode-se perder de 5 a 15 dB
de atenuação por vazamentos aéreos.
Mesmo buscando eliminar-se os vazamentos e a transmissão através do material, algum ruído atin-
girá o ouvido interno pelos caminhos dos itens 1 e 2. Desta forma, o limite máximo de atenuação
fornecido por qualquer protetor é em torno de 55 dB.
Para uma avaliação mais precisa da proteção proporcionada devemos analisar por faixa de oitava,
pois a proteção é diferenciada para cada freqüência. Em geral, os protetores atenuam menos nas
freqüências mais baixas.
No exemplo a seguir, retirado de Gerges (1992), mostraremos o método de cálculo e o nível de
pressão sonora com o uso do protetor auditivo. Consideremos as bandas de oitava, cujas freqüências
centrais, em HZ, são mostradas na tabela 4 .Os níveis de pressão sonora, em dB(A) (para cada uma
das bandas de oitava),a que está submetido o usuário sem o uso do protetor, estão mostrados na
tabela 4, linha1. A soma destes valores é 109 dB(A) e corresponde ao nível total a que o indivíduo
está submetido antes de colocar o protetor.

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Considera-se para bandas de oitava adotadas, as atenuações médias, em dB, do protetor utilizado e
os respectivos desvios padrão (dados fornecidos por fabricantes) mostrados na tabela 4 (ver linhas 2
e 3).Os valores em dB fornecidos pelo fabricante foram convertidos em dB(A). Determinam-se os
limites inferiores de atenuação do protetor, subtraindo-se um ou dois desvios padrão da atenuação
média, conforme já descrito anteriormente, para confiabilidades de 84% e 98% respectivamente (
ver linha 4 e 5 da tabela 4 ).
Subtraindo-se a linha (4) da linha (1) da tabela 4, em cada banda de oitava, tem-se os níveis de pres-
são sonora a que o indivíduo estará submetido com o uso de protetor, para cada banda de oitava (ver
linha 6). A soma destes valores é 84,1 dB(A) e corresponde ao nível de pressão sonora total a que o
indivíduo estará submetido após a colocação do protetor . A diferença entre os níveis totais obtidos
antes e após a colocação do protetor é 109 - 84,1 = 24,9 dB (A) e corresponde, para aquela específi-
ca situação analisada, a atenuação esperada do protetor utilizado, com confiança de 84%. Da mesma
forma, subtraindo (5) de (1) e seguindo-se o mesmo procedimento, verifica-se que o nível total é de
90,3 dB ( A ) e a atenuação esperada para o protetor é de 18,7 dB, com confiança de 98%.
Tabela 4 - Cálculo do nível de pressão sonora com o uso do protetor
Freqüências(Hz) 125 250 500 1k 2k 4k 8k
1 - NPS 83.9 93.4 101.8 106.0 102.2 97.0 88.9
2-Atenuação média 14 19 31 36 37 48 40
3-Desvio padrão 5 6 6 7 7 7 8
(σ)
4-Atenuação 9 13 25 29 30 41 32
5-Atenuação 4 7 19 22 23 34 24
6-NPS com prote- 74.9 80.4 76.8 77.0 72.2 56 56.9
tor 84% de confi-
ança (!-4)
7-NPS com prote- 79.9 86.4 82.8 94.0 79.2 63.0 64.9
tor 98% de confi-
ança (!-5)
obs: todos os níveis são em dB(A)

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Bibliografia:
Cordeiro, C. V. C., “Qualidade Acústica em Escritórios Panorâmicos: A Utilização de Sistemas
Eletrônicos de Mascaramento”. Tese de Mestrado FAU/UFRJ, Agosto 1996;
Dias, V. M., “Introdução à Concepção Arquitetônica de Lugar de Trabalho Industrial a Nível de
Ruído Reduzido”, Tese de Mestrado FAU/UFRJ, Maio 1995;
Dowling, A.P., Ffowcs Williams, J.E., “Sound and Sources of Sound”, Ellis Horwood Limited, N.
York, 1989;
Duboc, M., “Propagação do Som em Ambiente Panorâmico Caracterizando os Aspectos da Absor-
ção”, Tese de Mestrado, Coppe/UFRJ, Março 1998;
Gerges, S. N. Y., “Ruído: Fundamentos e Controle”, Florianópolis, 1992
Institut Universitaire de Médecine du travail de Rennes, “Affections Liées au Bruit”, Décembre
1997;
Morais, G., “Apostila: Higiene III-Riscos Físicos-Ruído”, Engenharia de Segurança do Trabalho,
UFF;
Normas Regulamentadoras do Ministério do trabalho
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NR-7 - Exame Médico
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