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RUÍDO OCUPACIONAL

Ficha Técnica

Título: E-Book – Ruído Ocupacional

Data: Março 2020

Edição: APO Partner Lda

Website: www.apopartner.pt

e-mail: info@apopartner.pt

“O ruído é intrínseco ao trabalho, sendo os problemas por ele


causados particularmente pertinentes na indústria. Apesar de
haver já um vasto conjunto de estudos e conhecimento em
torno desta problemática, as consequências associadas à
exposição aos níveis de pressão sonoras elevados continuam.”
In Otimização da proteção auditiva através do mapeamento e
análise de espetros da acústica envolvente; 2018

Ruído Ocupacional 2
O Ruído Ocupacional
O ruído ocupacional constitui uma causa de
incómodo para o trabalho e um obstáculo às
comunicações verbais e sonoras, podendo
provocar fadiga geral e, em casos extremos,
trauma acústico e alterações fisiológicas
extra-auditivas.

As ondas sonoras podem transmitir-se da


fonte até ao ouvido, tanto diretamente pelo ar,
como indiretamente por condução nos
materiais - estruturas sólidas, paredes,
pavimentos e tetos, que funcionam como
fontes secundárias. Quando o ruído atinge
determinados níveis, o aparelho auditivo
apresenta uma fadiga que, embora
inicialmente seja suscetível de recuperação,
pode, em casos de exposição prolongada a
ruído intenso, transformar-se em surdez
permanente devido a lesões irreversíveis do
ouvido interno.

Do ponto de vista físico, pode definir-se o


ruído como toda a vibração mecânica,
estatisticamente aleatória, de um meio
elástico. Do ponto de vista fisiológico, será
todo o fenómeno acústico que produz uma
sensação auditiva desagradável ou
incomodativa.

As suas características principais são: o nível


sonoro e a frequência (caso se trate de um som
puro) ou a composição ou espectro (caso se
trate de um som complexo).

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Análise do Ruído Avaliação da Exposição ao
Ocupacional Ruído
Em meio industrial, a maioria do ruído gerado
durante o processo é constituído por sons De modo a avaliar o nível de exposição pessoal
complexos, o que leva à necessidade de diária de um trabalhador ao ruído durante o
determinação do espectro para cada trabalho, necessitamos de saber qual é o
frequência de som, de modo a ter-se a noção período de tempo durante o qual o
exata da sua composição. trabalhador está exposto, ou seja, qual a dose
associada ao período de exposição deste.
Este tipo de análise designa-se por análise
espectral ou análise por frequência e costuma De facto, a definição do risco de trauma
ser representada, graficamente, num sistema acústico num dado trabalhador deve ter em
de eixos onde as frequências se situam no eixo conta o efeito danoso da exposição deste a um
das abcissas e os níveis sonoros no eixo das determinado nível sonoro, o qual depende do
ordenadas. produto deste nível pelo tempo de exposição.

Independentemente do tipo de ruído exposto, Porém, o cálculo simplificado deste produto


teremos sempre uma determinada intensidade só é válido se o ruído for estável e contínuo
das vibrações sonoras, ou seja a amplitude das durante o tempo em questão, o que não
vibrações, a qual toma a designação de nível acontece na generalidade dos casos. Durante o
de pressão sonora. período de trabalho de um dado indivíduo, o
habitual será o nível sonoro variar com o
tempo, sendo necessário explicitar uma
relação entre o nível e a sua duração.

Como veremos mais adiante, tal objetivo só


será conseguido através do nível sonoro
contínuo equivalente, que representa um nível
sonoro constante que, se estivesse presente
durante todo o tempo de exposição,
produziria os mesmos efeitos, em termos de
energia, que o nível variável.

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Parâmetros de descrição do som

Pressão
Em termos práticos, a geração de ruído é
causada pela variação da pressão (P) no meio
de propagação. Essa propagação pode ser
representada por uma série de compressões e
rarefações do meio. A figura seguinte
representa a variação da pressão atmosférica ao
longo do tempo.

Intensidade Potência sonora

A intensidade sonora (I) é a quantidade média A potência sonora (W) é uma característica da
de energia que atravessa, por segundo, numa fonte e não do estímulo criado por essa fonte
dada direção, uma área de 1 m2 e é expressa em num dado ponto ou direção, como era o caso
W.m-2. O Nível de Intensidade Sonora é da pressão e da intensidade. Caracteriza-se
expresso em decibéis e toma-se, como como sendo a energia total que num segundo
referência, I0=10-12 W.m-2. atravessa uma esfera fictícia, centrada na
fonte, e expressa-se em watt.

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Nível sonoro
As vibrações emitidas por uma fonte têm
valores variáveis, dependentes de fatores
externos, tais como a distância e a orientação
do recetor, as variações de temperatura e a
tipologia do local, entre outros.

De acordo com a norma portuguesa NP


1730:1996, o nível de pressão sonora, Lp, em
decibéis, é dado pela expressão:

em que:

P - Valor eficaz da pressão sonora, em pascal


(Pa)

P0 – Valor eficaz da pressão sonora de


referência (2 x 10-5 Pa)

De uma forma análoga, podemos exprimir potência sonora através da seguinte expressão:

em que:

W – valor da potência sonora

W0 – potência sonora de referência

Ou ainda

onde:

I - Valor eficaz da intensidade sonora em W.m-2


I0 - Valor eficaz da intensidade sonora de referência
(10-12 W.m-2)

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Frequência
O som criado por uma vibração sinusoidal é designado por som puro ou simples. O espectro
acústico representa a distribuição das pressões sonoras ou intensidades medidas em função da
frequência.

Nas figuras seguintes, podemos ver a representação de um som puro e de um som complexo, com a
pressão sonora em ordenadas e a frequência em abcissas.

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A frequência é uma das características mais importantes de um sinal sonoro. Quase todos os sons
contêm diferentes frequências e uma fonte sonora é muitas vezes diferenciável de outra pelas
frequências que emite.

A frequência mede-se em Hertz e representa a taxa de ocorrência das flutuações completas de


pressão por segundo.

Desta forma, pode fazer-se uma análise por frequência do som representando-o graficamente num
sistema de eixos

A escala de frequências é, usualmente, dividida em três grupos.

● Infrassons (<20 Hz)


● Gama de frequência audível (entre 20 Hz e 20 000Hz)
● Ultrassons (>20 000 Hz)

A figura seguinte apresenta a escala de frequências desde os infrassons aos ultrassons, com alguns
exemplos de frequências de sons na gama audível.

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A gama audível está dividida em 10 grupos de frequências, que se designam por oitavas. Conforme
ilustrado na figura seguinte, cada uma destas está dividida em 3 grupos de terços de oitava sendo
que a designação de cada oitava corresponde à sua frequência central. Esta é o dobro da frequência
central antecedente e a média geométrica da frequência limite.

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Comprimento de onda
Uma outra característica do som e das ondas sonoras é a respetiva extensão, denominada por
comprimento de onda (λ). Representa a distância entre dois pontos idênticos consecutivos da onda
periódica, por exemplo, entre dois máximos. É expresso em metros e pode ser relacionado com a
frequência do seguinte modo:

em que:

λ – Comprimento de onda (m)


c – Velocidade de propagação do som (m.s-1)
f – Frequência (Hz)

Absorção Sonora
O som representa a energia vibratória das partículas e a absorção sonora é a propriedade que
possuem certos materiais de poderem transformar parte da energia sonora, que neles incidem, em
outra qualquer modalidade de energia, geralmente térmica. A quantidade de calor gerada pela
absorção sonora é minúscula. Seria necessária a energia de milhões de pessoas a falar para aquecer
uma chávena de chá.

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Na figura seguinte, podem observar-se os vários
fenómenos que ocorrem na dissipação da energia
sonora de uma fonte S, emitida contra um muro
de blocos de cimento cobertos com um material
absorvente.

Ao viajar pelo ar, há, inicialmente, uma pequena


perda de calor, sendo esta mais significativa para
as maiores frequências. Quando a onda sonora
atinge uma parede, há uma componente A que é
refletida e volta para o ar. Parte da onda penetra
no material absorvente, representado a
sombreado na figura. O som é refratado porque
o material absorvente é mais denso do que o ar e
ocorre então uma perda de energia, F, que é
função da resistência que o material oferece à
vibração das partículas.
À medida que o som atinge a superfície da parede, acontecem duas coisas: a componente B é
refletida e ocorre novamente refração, uma vez que entra num meio muito mais denso e há a perda
de calor G dentro das paredes. Ao longo do percurso, ocorre a dissipação de energia até que atinge o
outro limite da estrutura. Aí sofre nova refração, C, e emerge com a energia perdida em todos os 3
meios (I, J e K). (Everest, 2009)

Podemos então definir um parâmetro dos materiais para quantificar a sua capacidade de absorção.
Designa-se por coeficiente de absorção sonora, α, a relação existente entre a quantidade de energia
sonora que é absorvida por um determinado material e a que incide sobre ele.

O coeficiente de absorção sonora varia, pois, entre 0 e 1. Um material muito refletor, como o
mármore polido, apresenta uma absorção quase nula, entre 0,01 e 0,02, enquanto que uma
abertura, janela ou porta aberta, absorve 100% do som que nela incide. Considera-se que os
materiais são absorventes quando apresentam um a superior a 0,5.

Este valor varia com o ângulo de incidência e com a frequência do som incidente. Quando no
referimos a um ângulo específico, α vem representado por αθº, em que θº é o ângulo de incidência.

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Na tabela seguinte são apresentados alguns valores de coeficiente de absorção sonora de alguns
materiais:

Frequência (Hz) 125 250 500 1k 2k 4k

Argamassa 0,14 0,1 0,06 0,05 0,04 0,03


Gesso cartonado, 2 Placas (32 mm) 0,28 0,12 0,10 0,17 0,13 0,09
Madeira com caixa-de-ar de 25 mm 0,19 0,14 0,09 0,06 0,06 0,05
Painéis de contraplacado fino 0,42 0,21 0,10 0,08 0,06 0,06
Blocos de betão com acabamento liso 0,11 0,08 0,07 0,06 0,05 0,05
Vidro espesso 0,18 0,06 0,04 0,03 0,02 0,02
Pavimento em betão 0,01 0,01 0,02 0,02 0,02 0,02
Pavimento em Betão armado revestido com mosaico ou
0,01 0,01 0,01 0,01 0,02 0,02
mármore
Teto de betão rebocado e estucado 0,03 0,03 0,03 0,03 0,04 0,05
Linóleo sobre betão 0,02 0,03 0,03 0,03 0,03 0,03
Soalho (parquet) de madeira sobre betão 0,04 0,04 0,07 0,06 0,06 0,07
Soalho sobre vigas de madeira com caixa-de-ar 0,15 0,20 0,10 0,10 0,10 0,10
Alcatifa densa colocada sobre betão 0,02 0,06 0,14 0,37 0,60 0,65
Alcatifa densa com base de borracha 0,08 0,24 0,57 0,69 0,71 0,73
Alcatifa leve colada sobre betão 0,02 0,04 0,08 0,20 0,35 0,40
Cortina leve 0,03 0,04 0,11 0,17 0,24 0,35
Cortina pesada 0,14 0,35 0,55 0,72 0,70 0,65
Espelho de água (piscina ou similar) 0,01 0,01 0,01 0,02 0,02 0,03
Audiência - Estofo espesso 0,76 0,83 0,88 0,91 0,91 0,89
Audiência - Estofo médio 0,68 0,75 0,82 0,85 0,86 0,86
Audiência - Estofo leve 0,56 0,68 0,79 0,83 0,86 0,86
Cadeiras vazias - Estofo espesso 0,72 0,79 0,83 0,84 0,83 0,79
Cadeiras vazias - Estofo médio 0,56 0,64 0,70 0,72 0,68 0,62
Cadeiras vazias - Estofo leve 0,35 0,45 0,57 0,61 0,59 0,55

A absorção proporcionada por um determinado material é dada através da multiplicação do


coeficiente de absorção do respetivo material pela respetiva área.

onde:

A – Capacidade de absorção (Unidades Sabine)

α – Coeficiente de absorção

S - Área

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Os materiais absorventes sonoros podem agrupar-se em 3 categorias, em função das suas
características básicas:

- Porosos e fibrosos;

- Ressoadores;

- Membrana.

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O mecanismo de absorção sonora dos materiais porosos e fibrosos baseia-se na existência de poros e
interstícios. Quando as ondas sonoras incidem nestes materiais fibrosos fazem transferir parte da
respetiva energia nos movimentos que lhe resistem. Se estão afastadas, haverá pouca energia perdida,
pelo contrário, se estiverem muito concentradas, não haverá muita penetração no material e o
movimento do ar não gerará uma fricção suficiente para ser eficaz. A eficiência dependerá da
respetiva densidade e espessura. Nos materiais porosos, a eficiência dependerá da capacidade de estes
dissiparem a energia nos respetivos poros minúsculos.

Um ressoador é um sistema formado por uma cavidade de paredes rígidas, tendo uma única
abertura estreita. O ar entra no gargalo e é colocado em vibração, entrando e saindo do mesmo da
mesma forma que uma mola de amortecimento em que a mola é o ar existente na cavidade. A sua
eficiência dependerá do volume da cavidade e das dimensões geométricas, podendo a respetiva
eficácia ser alargada pela inclusão, no interior, de um material absorvente, mas perdendo amplitude
de absorção.

No caso das membranas, estes sistemas absorvem as ondas sonoras através de perdas de energia por
fricção nas respetivas fibras, quando o material entra em flexão. O sistema absorve e dissipa energia
para a frequência do som incidente, que corresponde à respetiva frequência natural de vibração.

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Anatomia e fisiologia da audição
Aparelho auditivo humano
O ouvido, órgão de audição do homem, divide-se em três partes: ouvido externo, ouvido médio e
ouvido interno.

O ouvido externo é constituído pelo pavilhão auricular e pelo canal auditivo externo e tem cerca de
2,5 cm. Tem como função captar as ondas sonoras (energia sonora) que, entregues ao ouvido médio,
são transformadas em energia mecânica. O ouvido médio, ligação do ouvido externo ao interno, é
constituído pela membrana do tímpano, que é a parede de separação com o ouvido externo, e por
uma cavidade que tem três pequenos ossículos ligados entre si, martelo, bigorna e estribo. Contém
ainda dois músculos que operam no martelo e no estribo, contrariando-se nas respostas a níveis
sonoros elevados e cuja ação limita os movimentos dos ossículos e, por esta forma, a intensidade do
som transmitida ao ouvido interno. Está também ligado ao exterior, através de um canal para a
nasofaringe, que se chama trompa de Eustáquio, permitindo, desta forma, controlar o equilíbrio das
pressões nas duas faces do tímpano.

O ouvido interno encontra-se confinado numa cápsula óssea, comunicando com o ouvido médio
pelas janelas oval e redonda. É um sistema bastante complexo de canais cheios de um líquido
designado por perilinfa. É composto por dois subsistemas: um responsável pela audição, que é a
cóclea ou caracol e outro responsável pelo equilíbrio, onde se destacam os canais semicirculares. A
cóclea é o recetor de som e é nela que se encontra o órgão de Corti que contém as células ciliadas. A
inclinação dos cílios vai provocar um fenómeno eletroquímico e estes, por sua vez, convergem no
nervo acústico, através do qual, e sob a forma de vibrações elétricas, se transmitem as ondas sonoras
ao cérebro, onde se processa a sensação de som.

A membrana basilar reage a diferentes frequências ao longo dos seus 35 mm de comprimento,


atuando como um filtro seletivo ou como um analisador de frequências. A perceção de cada
frequência audível é feita em determinado ponto desta membrana, sendo que os estímulos de
frequências baixas fazem reagir cílios em todo o comprimento, embora com mais intensidade na
zona terminal, enquanto que as frequências altas fazem reagir só a zona inicial, próxima da janela
oval e, consequentemente, do ouvido médio.

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Na figura seguinte pode ver-se uma ilustração do aparelho auditivo humano.

O fenómeno da audição corresponde, assim, a uma série de transformações de formas de energia.


Esta energia mecânica é transformada, pelo ouvido interno, numa série de impulsos nervosos que
são transmitidos ao cérebro.

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Efeitos na saúde
O efeito mais óbvio da exposição ao ruído ocupacional é a alteração da sensibilidade do aparelho
auditivo. Quando estamos expostos a níveis elevados, os cílios perdem a sua capacidade de
recuperação e deterioram-se. Origina-se um processo de destruição das células ciliadas, começando
pelas internas e atingindo, posteriormente, as externas.

A diminuição da sensibilidade do ouvido poderá ter outras causas para além da exposição
ocupacional ao ruído como, por exemplo, uma explosão na vizinhança do ouvido, que pode lesar a
membrana do tímpano, danificar as células ciliadas ou deslocar a cadeia de ossículos.

O sistema auditivo pode, também, ser afetado por algumas doenças. O cerúmen e os corpos
estranhos podem causar uma perda auditiva por condução, pelo bloqueamento do canal auditivo ou
pela rutura da membrana do tímpano. Certas drogas ototóxicas, como o quinino, a estreptomicina
ou os salicilatos podem, também, causar alterações no ouvido interno.

Os ruídos de frequências mais baixas são considerados os menos perigosos. Para níveis superiores a
100 dB (A), atuam sobre os músculos e estômago, podendo provocar vómitos e até síncopes. Os
ruídos de médias frequências provocam os mesmos danos mas em maior grau e aos 80 dB (A) já
podem causar transtornos digestivos, aumentar a pressão arterial e a pulsação. Já os ruídos com
frequências altas são mais sensíveis para o Homem, causando fadiga nervosa e cansaço mental e
alterando o sistema neurovegetativo.

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O efeito nocivo para o aparelho auditivo pode caracterizar-se do seguinte modo:

● Perda de audição: Esta perda é função da frequência e da intensidade do ruído. É mais


evidente para os sons puros e para frequências elevadas.
● Fadiga auditiva: Trata-se de um abaixamento reversível da acuidade auditiva e caracteriza-se
pelo grau de perda da audição e pelo tempo que demora a retoma da audição normal.
Quando a exposição a ruído excessivo se mantém durante muito tempo, há uma perda
permanente da acuidade auditiva.
● Distorção dos sons: É um fenómeno que acompanha a perda das células ciliadas, responsáveis
pela audição.
● Aparecimento de tonalidades metálicas nos sons percecionados.
● Formação de escotomas (ou entalhes) nas altas frequências audíveis. Trata-se de uma
diminuição da área de audição em relação à área normal, que toma a forma do um U ou um V
nos audiogramas.
● Alargamento dos escotomas para as baixas frequências, atingindo a zona de perceção da
palavra.

Na figura seguinte, podem observar-se os resultados de um audiograma de um ouvido com perdas


acentuadas na zona de frequência dos 4kHz.

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A figura seguinte representa a evolução da surdez profissional, segundo Bell.

Tal como qualquer um dos outros sentidos ou faculdades humanas, mesmo sem acidentes o ser
humano vai perdendo audição com a idade. Esta perda de audição denomina-se presbiacusia.

A figura seguinte apresenta a evolução das perdas de sensibilidade auditiva com a idade, no Homem
e na Mulher, para diferentes frequências.

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Segundo a norma portuguesa NP 1733:1981, o risco de perda auditiva, em função dos anos de
exposição e do nível sonoro equivalente existente, é o da tabela seguinte:

Nível Sonoro Anos de Exposição


Contínuo
Equivalente (dBA) 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
80 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
85 0 1 3 5 6 7 8 9 10 7
90 0 4 10 14 16 16 10 20 21 15
95 0 7 17 24 28 29 31 32 29 23
100 0 12 29 37 42 43 44 44 41 33
105 0 18 42 53 58 60 62 61 54 41
110 0 26 55 71 78 78 77 72 62 45
115 0 36 71 83 87 84 81 75 64 47

Através de uma análise da tabela anterior, pode observar-se que apenas para valores de 80 dB (A) e
inferiores se pode considerar o risco de perda de audição desprezável.

Para além dos efeitos sobre o aparelho auditivo, o ruído ocupacional pode ter efeitos fisiológicos,
efeitos de natureza psicológica, e efeitos sociais e económicos.

Dos efeitos fisiológicos destacam-se: ● Aumento da produção hormonal da


● Lesão do aparelho auditivo; tiroide;
● Distúrbios gastrointestinais; ● Aumento da incidência de doenças
● Distúrbios relacionados com o sistema (constipações, afeções ginecológicas);
nervoso central - dificuldade em falar, ● Diminuição da barreira imunológica do
problemas sensoriais, diminuição da organismo;
memória; ● Dificuldade em distinguir cores;
● Aceleração do pulso; ● Vertigens;
● Elevação da pressão arterial; ● Diminuição da perceção visual;
● Contração dos vasos sanguíneos; ● Cansaço geral;
● Diminuição da resistência elétrica da pele; ● Cefaleias.

Ruído Ocupacional 20
Efeitos de natureza psicológica

Uma das consequências mais conhecidas do


ruído é a perturbação do bem estar psíquico,
levando a situações de:

● irritabilidade;
● apatia;
● mau humor;
● medo;
● insónias.

Efeitos Sociais e Económicos

Para além dos efeitos fisiológicos e das suas


consequências, o ruído também acarreta
efeitos sociais e económicos afetando de modo
direto:

● A produtividade, baixando-a;
● A ocorrência de acidentes,
aumentando-a;
● A gravidade dos acidentes,
aumentando-a;
● Os conflitos laborais, tornando-os mais
frequentes;
● As queixas individuais, aumentando-as;
● A inteligibilidade do discurso,
diminuindo-a.

Ruído Ocupacional 21
Enquadramento legal
A primeira referência legislativa relativa ao ruído surge com a Portaria n.º 53/71, de 3 de Fevereiro,
que aprova o Regulamento Geral de Segurança e Higiene do Trabalho nos Estabelecimentos
Industriais, alterada pela Portaria n.º 702/80, de 27 de Setembro. São de considerar as seguintes
disposições:

SECÇÃO IV - Ruído
Artigo 26.º (Proteção contra o ruído)

Nos locais de trabalho devem eliminar-se ou reduzir-se os ruídos e limitar-se a sua propagação pela
adoção de medidas técnicas apropriadas. Quando as medidas técnicas de proteção aplicáveis ao ruído
não forem suficientes, deve limitar-se o tempo de exposição ao ruído e os trabalhadores usarem
protetores adequados.”

Artigo 27.º (Nível sonoro admissível)

O nível sonoro nas oficinas e noutros locais de trabalho não deve ultrapassar o limite máximo
aconselhado pelas entidades competentes (Ministério da Economia, 1971).

Na Portaria n.º 702/80, de 22 de Setembro, estes artigos passam a ter a seguinte redação:

SECÇÃO IV - Ruído e vibrações


Artigo 26.º (Ruído e vibrações)

1 - Nos locais de trabalho devem eliminar-se ou reduzir-se os ruídos e vibrações prejudiciais ou


incómodos.

2 - Os critérios de avaliação do risco de trauma auditivo por exposição ao ruído, bem como o de
avaliação do risco devido à exposição a vibrações devem ser os previstos em normas portuguesas
específicas. Recomenda-se que os valores limites de exposição ao ruído e às vibrações não
ultrapassem os indicados em normas portuguesas.

Ruído Ocupacional 22
Artigo 27.º (Medidas de prevenção e proteção)

Nas situações em que haja riscos devidos ao ruído e às vibrações devem os mesmos ser eliminados ou
reduzidos através de medidas técnicas adequadas e ou pela adoção de medidas complementares de
organização do trabalho. Quando estas medidas não reduzirem o ruído e as vibrações até aos limites
recomendados, o empregador deve colocar à disposição dos trabalhadores os dispositivos de
proteção individual adequados. (Ministério da Agricultura e Pescas, 1980)

A primeira legislação específica sobre o ruído aparece com a transposição da Diretiva Comunitária
86/188/CEE, de 12 de Maio, que estabelecia o quadro geral de proteção dos trabalhadores contra os
riscos devidos à exposição ao ruído durante o trabalho pelo Decreto-Lei n.º 72/92, e regulamentada
pelo Decreto Regulamentar nº. 9/92, ambos de 28 de Abril.

À presente data, em matéria de exposição ocupacional ao ruído o quadro legislativo comunitário e


nacional é o seguinte:

Ruído Ocupacional 23
O Decreto-Lei n.º 182/2006, de 6 de Setembro, estabelece o valor limite de exposição e os valores de
ação de exposição superior e inferior e determina um conjunto de medidas a aplicar sempre que
sejam atingidos ou ultrapassados esses valores.

Este diploma é aplicável em todas as atividades dos sectores privado, cooperativo e social, da
administração pública central, regional e local, dos institutos públicos e das demais pessoas coletivas
de direito público bem como trabalhadores por conta própria.

Para efeitos de aplicação do Decreto-Lei são apresentados 3 níveis intervenção:

● Valores limite de exposição LEX,8h = 87 dB(A) e LCpico = 140 dB(C).


● Valores de ação superiores: LEX,8h = 85 dB(A) e LCpico = 137 dB(C);
● Valores de ação inferiores: LEX,8h = 80 dB(A) e LCpico = 135 dB(C);

Para a aplicação dos valores limite de exposição, na determinação da exposição efetiva do


trabalhador ao ruído, é tida em conta a atenuação do ruído proporcionada pelos protetores
auditivos. Para a aplicação dos valores de ação, na determinação da exposição do trabalhador ao
ruído não são tidos em conta os efeitos decorrentes da utilização de protetores auditivos (Ministério
do Trabalho e da Solidariedade Social, 2006).

Este diploma apresenta, na respetiva estrutura, um conjunto de medidas, informações ppe


obrigações desde a avaliação e medição (Artigos 4.º e 5.º e Anexos I, II e III), às medidas de redução
da exposição e de proteção individual (Artigos 6º e 7º e Anexos IV e V) à formação e consulta dos
trabalhadores (Artigos 9.º e 10.º), às questões da vigilância da saúde (Artigos 11.º e 12.º) e, ainda, ao
controlo, conservação de documentos e de registos. Este diploma apresenta ainda no seu Artigo 15.º
um campo referente às derrogações que podem ser aplicáveis desde que devidamente justificadas e
autorizadas por entidade competente (Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social, 2006).

Ruído Ocupacional 24
Instrumentação
As medições podem ser feitas utilizando vários equipamentos: sonómetros, dosímetros, registadores
gráficos e registadores em fita magnética, existindo diversos tipos e marcas destes equipamentos.
Contudo, a escolha do equipamento a utilizar para fazer uma avaliação do ruído laboral dependerá
do tipo de trabalho executado pelo trabalhador. Estes equipamentos devem possuir determinadas
características, que são referenciadas, quer na legislação portuguesa, quer nas normas específicas
(IEC 61672-1:2002).

Os equipamentos mais utilizados neste tipo de ensaios são os sonómetros. Dentro da enorme
variedade, podemos encontrar sonómetros que nos dão valores aproximados dos níveis sonoros,
sonómetros com filtros de ponderação (A, B, C, D), resposta a impulsos e até sonómetros que nos
indicam o nível sonoro contínuo equivalente.

Uma das exigências legais para estes equipamentos é a de que devem ser submetidos a verificações
periódicas em laboratórios competentes. O Decreto-Lei n.º 291/90, de 20 de Setembro, define a
verificação periódica como sendo “…. um conjunto de operações destinadas a constatar se os
instrumentos de medição mantêm a qualidade metrológica dentro das tolerâncias admissíveis
relativamente ao modelo respetivo …”. Estas verificações, são válidas até 31 de Dezembro do ano
seguinte ao da sua realização (Ministério da Indústria e Energia, 1990). A norma NP EN ISO 9612:
2011 “Acústica – Determinação da exposição ao ruído ocupacional. Método de Engenharia”, que
especifica um método de engenharia para a medição e cálculo da exposição pessoal diária ao ruído,
estabelece que a calibração dos equipamentos não deve ultrapassar 2 anos.

Quase todos os equipamentos apresentam várias constantes de tempo sendo as mais utilizadas as
seguintes:

● Slow (resposta lenta), com elevado amortecimento e um tempo de integração de


aproximadamente 1 s.
● Fast (resposta rápida), com um amortecimento pequeno e um tempo de integração de 125
ms.
● Impulse (impulso), com um tempo de subida muito rápido e um tempo amortecido de 35
ms.
● Peak (pico), com um tempo de subida muito rápido e sem tempo de descida.

Ruído Ocupacional 25
No que se refere aos sonómetros, a norma portuguesa NP-3496:1987 considera 4 classes de
sonómetros correspondentes a graus de precisão, sendo a classe 0 de maior precisão como padrão de
laboratório até a classe 3 de menor precisão para ações de fiscalização (Miguel, 2012).

Sonómetros
Os sonómetros são equipamentos utilizados, preferencialmente, para avaliar a exposição ao ruído
dos trabalhadores cujas tarefas são fixas num determinado local ou executam apenas uma única
tarefa. As medições devem ser feitas com o microfone posicionado no local onde normalmente se
encontra a cabeça do trabalhador durante a execução normal do seu trabalho ou das tarefas.

Preferencialmente, o microfone deve ser posicionado no plano central da cabeça do trabalhador,


alinhado com os olhos, com o seu eixo paralelo à visão do trabalhador e sem o trabalhador presente.
Caso o trabalhador tenha de estar presente, este deve ser posicionado, ou segurado, a uma distância
de 30 cm da orelha e do lado do ouvido mais exposto. Se não for possível manter a distância de, pelo
menos, 30 cm, não é recomendado o uso do sonómetro, optando-se, neste caso, pela utilização de
um dosímetro.

Ruído Ocupacional 26
Dosímetros
Os dosímetros são equipamentos de medição de ruído laboral que devem ser colocados no próprio
trabalhador que se pretende avaliar. Como equipamentos de amostragem pessoal, são normalmente
pequenos e leves e constituídos por um corpo e um microfone ligado a um cabo. Estas características
tornam-nos apropriados para efetuar medições de longa duração e em trabalhadores móveis com
tarefas complexas, tarefas imprevisíveis ou trabalhadores que desempenhem um grande número de
pequenas tarefas.

O microfone deve ser colocado no ombro do trabalhador, fixo no vestuário, a uma distância
aproximada de 10 cm da orelha do lado do ouvido mais exposto. Deve ter-se especial cuidado para
evitar a influência mecânica sobre o microfone a fim de evitar falsos resultados.

O colaborador, alvo da monitorização, deve ser informado sobre objetivo da medição e alertado para
que realize as suas tarefas normalmente, sem retirar ou mexer no equipamento de medição.

De acordo com o Decreto-Lei n.º 182/2006, de 6 de Setembro, “os instrumentos de medição devem
dispor das características temporais necessárias em função do tipo de ruído a medir e das
ponderações em frequência A e C e cumprir, no mínimo, os requisitos equivalentes aos da classe de
exatidão 2, de acordo com a normalização internacional, sendo preferível a utilização de sonómetros
da classe 1, para maior exatidão das medições.”

Ruído Ocupacional 27
Monitorização do Ruído Ocupacional
De acordo com o definido no artigo 4.º do Decreto-Lei n.º 182/2006, de 6 de Setembro, para
proteção da saúde dos trabalhadores, o empregador está obrigado a que, nas atividades suscetíveis de
apresentar riscos de perda auditiva para os trabalhadores expostos, se avalie e meçam os níveis de
pressão sonora.

Para tal, devem ser determinados os valores de exposição pessoal diária do trabalhador ao ruído
durante o trabalho, assim como do nível de pressão sonora de pico, para comparação com os valores
limite de exposição e valores de ação, definidos no diploma (Ministério do Trabalho e da
Solidariedade Social, 2006).

O artigo 4.º refere ainda que “os métodos e equipamentos de medição utilizados devem ser
adaptados às condições existentes, nomeadamente às características do ruído a medir, à duração da
exposição, aos fatores ambientais e às características dos equipamentos de medição” e que a avaliação
dos resultados das medições “deve ter em conta a incerteza da medição, determinada pela prática
metrológica, de acordo com a normalização em vigor ou eventuais especificações europeias
harmonizadas” (Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social, 2006).

A já citada norma NP EN ISO 9612:2011 apresenta 3 estratégias de medição possíveis: a Medição


Baseada na Tarefa (MBT), a Medição Baseada na Função (MBF) e a Medição de Dia-Inteiro (MDI).

O procedimento a adotar, na determinação da exposição ao ruído, passa pelas seguintes fases:

Ruído Ocupacional 28
Análise do trabalho – 1ª Fase
Esta fase contempla a recolha de dados e a
informação sobre o local e o tipo de atividades
desenvolvidas, bem como sobre os trabalhadores
em estudo, de forma a selecionar a estratégia de
medição mais adequada e definir o planeamento
da mesma.

Para isso é necessário:

● Descrever as atividades da empresa e a


função dos trabalhadores em estudo;
● Definir grupos homogéneos de exposição
ao ruído, se relevante;
● Determinar o dia nominal, ou dias, para
cada grupo de trabalhadores;
● Identificar tarefas que fazem parte da
função, se relevante;
● Identificar possíveis eventos ruidosos;
● Escolher a estratégia de medição;
● Estabelecer o plano de medição.

Seleção da estratégia de
medição – 2ª Fase
Após o levantamento da informação sobre as
condições de trabalho, como o número de
trabalhadores envolvidos, a duração efetiva do
dia de trabalho, o tempo disponível para a
medição, a finalidade das medições e a
complexidade do trabalho, é selecionada uma
das estratégias apresentadas na norma NP EN
ISO 9612:2011.

Ruído Ocupacional 29
A tabela seguinte fornece um guia de orientação para seleção da estratégia de medição dependendo
das atividades em questão.

Tabela 3 - Seleção da estratégia de medição em função do tipo de trabalho (Norma NP EN ISO 9612:2011).

Estratégia de Medição

Medição
Tipo de trabalho Medição Medição
Baseada
Baseada Dia
na
na Tarefa Inteiro
Função
Postos fixos - tarefas simples ou únicas √+ - -

Postos fixos – tarefas complexas ou variadas √+ √ √


Trabalhador móvel – atividades previsíveis –
√+ √ √
pequeno número de tarefas
Trabalhador móvel – atividades previsíveis –
grande número de tarefas ou atividades √ √ √+
complexas
Trabalhador móvel – atividades imprevistas - √ √+
Trabalhador móvel ou fixo – várias tarefas com
- √+ √
duração não especificadas
Trabalhador móvel ou fixo – sem tarefas
- √+ √
destinadas

√+ - Estratégia recomendada √ - Estratégia que pode ser usada

Medição Baseada na Tarefa (MBT)

A MBT e muito útil quando o trabalho pode ser dividido em tarefas bem definidas, com
determinada exposição ao ruído, e durante as quais se podem fazer medições. Contudo, deve ter-se o
cuidado de assegurar que todas as contribuições de ruído relevantes são incluídas no período de
medição, o qual requer conhecimento sobre os eventos, durante o dia, de pequena duração e elevada
exposição.

A estratégia é baseada numa análise do trabalho detalhada, de forma a ser possível conhecer e
compreender todas as tarefas levadas a cabo.

Ruído Ocupacional 30
Legenda:
▪ T - Período laboração
▪ T1 - Duração da tarefa 1
▪ T2 - Duração da tarefa 2
▪ T3 - Duração da tarefa 3
▪ t1 - Medição do tempo 1: Ruído quase constante
▪ t2 - Medição do tempo 2: Ruído de intensidade variável e periódica
▪ t3 - Medição do tempo 3: Ruído de intensidade aleatória

Esta estratégia fornece informação sobre a contribuição das diversas tarefas para a exposição diária
ao ruído, o que se revela vantajoso quando se pretende determinar prioridades para um programa de
controlo de ruído. Por outro lado, permite calcular a exposição diária para dias de trabalho
diferentes do dia de medição, consoante a distribuição e a duração das tarefas.

A adoção desta estratégia é, particularmente, vantajosa quando existem grandes grupos de


trabalhadores que executam tarefas idênticas em ambientes sonoros semelhantes. Por outro lado,
não é aconselhada caso a situação de trabalho seja complexa, pois torna-se demasiado trabalhosa.

Ruído Ocupacional 31
Medição Baseada na Função (MBF)

O princípio desta estratégia consiste na medição de várias amostras aleatórias do nível de pressão
sonora durante a execução de uma determinada função. Esta estratégia é muito útil quando o
trabalho e as tarefas são difíceis de descrever ou quando não é desejável, nem prático, realizar uma
análise de trabalho detalhada.

É desaconselhada a utilização desta estratégia se a função a analisar consistir em poucas tarefas


ruidosas. Apresenta a vantagem de não requerer um grande esforço para a análise do trabalho,
devendo ter-se em atenção a definição da função, por forma a assegurar que a exposição ao ruído de
qualquer trabalhador seja representativa.

Esta estratégia pode necessitar de muito tempo devido ao tempo necessário para a medição, mas
produzirá, em princípio, uma reduzida incerteza no resultado obtido. No caso de situações de
trabalho simples, esta estratégia pode requerer uma duração da medição longa.

Medição Dia Inteiro (MDI)

A MDI é recomendada quando a exposição a atividades ruidosas dos trabalhadores é desconhecida,


imprevisível ou complexa, pois não requer uma análise detalhada do trabalho. Por outro lado, se a
situação de trabalho for simples, esta estratégia pode necessitar de uma duração de medição longa,
quando comparada com as outras estratégias.

Esta estratégia também pode ser útil para garantir que todas as contribuições relevantes são
incluídas. Nesta estratégia, usa-se o dosímetro visto as medições serem de longa duração. Nestes
casos, existe uma alta probabilidade de as medições conterem alguns artifícios que não estão
relacionados com o trabalho, como por exemplo, impactos no microfone (deliberados ou não),
interferências deliberadas, tais como gritar ou cantar.

Ruído Ocupacional 32
Medição - 3º Fase

Após a seleção da estratégia, procede-se à medição do Lp,A,eqT e Lp,Cpico, consoante o descrito para a
referida estratégia.

Antes de iniciar as medições, é obrigatória a realização de uma calibração em “campo”


(procedimento distinto da calibração em laboratório). A calibração em campo consiste em aplicar o
calibrador, do respetivo equipamento, no microfone e registar o nível medido a uma ou várias
frequências, dentro da gama de frequência de interesse. Esta calibração deve ser efetuada antes e
depois de cada medição, ou série de medições, e num local silencioso. Se a leitura, a qualquer
frequência, no fim de uma série de medições, diferir 0,5 dB da leitura dessa frequência no início,
então essa série de medições deve ser eliminada.

Cálculos e apresentação dos resultados - 4ª Fase


Após as medições, calcula-se a exposição pessoal diária ao ruído, LEX,8h, e a respetiva incerteza, para
cada trabalhador ou grupo de trabalhadores.

O valor LEX,8h deve ser sempre apresentado com a respetiva incerteza, U, da seguinte forma: LEX,8h ±
U.

Conforme descrito no ponto 9 do artigo 4.º do Decreto-Lei n.º 182/2006 “a medição dos níveis do
ruído é objeto de registo, em documento conforme os modelos indicados no anexo 3”, pelo que com
os resultados obtidos deverá ser efetuada uma Ficha de Exposição Individual (FEI) ao ruído para
cada colaborador exposto.

Ruído Ocupacional 33
Realização dos ensaios
Equipamento
Para a realização de um ensaio de ruído, é necessário o seguinte material/equipamento:

● Sonómetro ou dosímetro
● Calibrador
● Certificado de verificação
● Software (para download de dados)
● Folha de cálculo Excel

Quando os níveis sonoros são contínuos e quando o trabalhador permanece estacionário no seu
posto de trabalho, durante o horário de laboração (posto fixo), a medição será efetuada com o
sonómetro. Quando os níveis sonoros são variáveis ou intermitentes, quando têm componentes
impulsivas e quando o trabalhador se movimenta entre vários postos de trabalho (posto móvel), é
preferível a utilização do dosímetro.

Procedimento de Ensaio
Antes e depois de cada série de ensaios, o sonómetro ou o dosímetro deve ser calibrado através da
comparação dos valores obtidos. Caso seja detetada uma diferença superior a 0,5 dB nos sonómetros
e de 1 dB nos dosímetros, entre a regulação inicial e final, os ensaios não são considerados válidos,
devendo ser analisada a causa da discrepância de valores encontrada.

Definição dos locais de medição


As medições devem ser realizadas no posto de trabalho, sempre que possível, na ausência do
trabalhador, com a colocação do microfone na posição em que se situaria a sua orelha mais exposta.

Quando a presença do trabalhador for necessária, o microfone deve ser colocado a uma distância
entre 0,10 m e 0,30 m, em frente à orelha mais exposta do trabalhador.

Ruído Ocupacional 34
Para a determinação da orelha mais exposta, efetua-se um despiste com o sonómetro em ambos os
ouvidos do trabalhador. A seleção da orelha mais exposta é feita mediante o maior valor de LAeq
obtido.

Os dosímetros são colocados no bolso do peito ou no cinto dos trabalhadores, ficando o microfone
preso no meio do ombro mais exposto, com o microfone orientado num plano paralelo ao ombro, a
uma distância de 10 a 30 cm em frente da orelha mais exposta. Os dosímetros, além de medirem o
LEX,8h e o LCpico, entre outros, indicam a dose, em percentagem, e o tempo de amostragem. A duração
da amostragem deve ser, no mínimo, de 120 minutos.

Período de Medição
O período de medição deve ser escolhido tendo em conta que o objetivo principal das medições é o
de permitir a decisão sobre o tipo de ação preventiva a empreender.

O período de medição não deve ser inferior a 5 minutos, duração aplicável no caso de ruídos
uniformes. Esta duração pode ser alargada, em função do tipo de ruído que se pretende caracterizar.
No limite, o período de medição pode coincidir com todo o período de exposição. Deverão ser
recolhidas, no mínimo, três amostras (no caso da sonometria).

Parâmetros a medir
Com o sonómetro:

▪ LAeq – nível sonoro contínuo equivalente, ponderado, A;


▪ LCpico – valor máximo da pressão sonora instantânea a que o trabalhador está exposto,
ponderado, C;
▪ LAeq,f – nível sonoro contínuo equivalente, ponderado, A, em cada banda de oitava;

A medição dos níveis sonoros, por banda de oitava, apenas se revela necessária quando os valores de
LAeq ultrapassam o nível de ação inferior, que é de 80 dB(A).

Ruído Ocupacional 35
Com o dosímetro:

▪ Tempo de amostragem - duração da amostragem (minutos);


▪ Dose em % - percentagem da dose máxima admissível;
▪ LEX,8h em dB(A) – exposição pessoal diária de um trabalhador ao ruído durante o
trabalho;
▪ LCpico (MaxLpico) em dB(C) - valor máximo da pressão sonora instantânea a que o
trabalhador está exposto, ponderado, C.

No caso da impossibilidade de o técnico não poder acompanhar integralmente a dosimetria, deverá


ser seguida a seguinte metodologia de validação dos resultados:

- No final da avaliação efetuar uma medição com o sonómetro a fim de comparar os valores
obtidos.

- Em caso de diferenças significativas deverá ser repetida a dosimetria com o


acompanhamento integral por parte do técnico.

Informação adicional
A fim de permitir efetuar o preenchimento das fichas Individuais de avaliação, torna-se necessário
obter da empresa um conjunto de dados, que devem ser obtidos no local ou solicitados à empresa
que os enviará posteriormente. Estes dados compreendem os dados individuais de cada trabalhador
e os dados relativos à respetiva distribuição pelos vários postos de trabalho eventualmente ocupados
pelo trabalhador. Deve também ser obtida informação sobre eventuais protetores auditivos já
disponibilizados aos trabalhadores, de modo a permitir verificar a respetiva adequabilidade às
situações encontradas, caso se verifique a existência de trabalhadores expostos.

Os dados a recolher são: Sexo

Local de medição Data de nascimento

Nome Data de admissão na empresa

Profissão Sistema de Segurança Social

Afetação por posto de trabalho Número de beneficiário

Ruído Ocupacional 36
Resultados
Nível de exposição ao ruído

Com os dados recolhidos, procede-se ao cálculo de LEX,8h para cada trabalhador.

Pode ser efetuado a partir da própria definição, de acordo com a expressão:

Onde:

representa o nível de pressão sonora contínuo equivalente, ponderado A, no intervalo de


tempo Te

Te representa a duração efetiva da exposição durante um dia de trabalho, expressa em horas

T0 representa a duração de referência, T0 = 8h

Nota 1: Caso a duração efetiva da exposição durante um dia de trabalho, Te seja igual a 8h então
LEX,8h será igual ao

Caso o trabalhador esteja exposto a n diferentes tipos de ruído, analisados separadamente, o valor da
exposição pessoal diária do trabalhador ao ruído durante o trabalho, LEX,8h pode ser estimado a
partir da expressão:

O valor de X é escolhido de acordo com a finalidade do cálculo do nível médio. Por exemplo, a
utilização de X = 5, corresponde ao cálculo de um nível de exposição diária, normalizado para uma
semana de 5 dias de trabalho, de 8h cada.

Ruído Ocupacional 37
Incerteza de medição

Fontes de incerteza
Na determinação do LEX,8h, é necessário ter em consideração as várias fontes de incerteza com o
objetivo de as minimizar. Estas incertezas podem ser causadas por erros e por alterações da
situação de trabalho.

As principais fontes de incerteza resultam de:

● Variações do dia de trabalho, das condições de operação, da amostragem, entre outras;


● Variações da instrumentação e da calibração;
● Variações da posição do microfone;
● Falsas contribuições, do vento, ou mesmo impactos no microfone;
● Falhas na análise do trabalho;
● Contribuições de fontes de ruído atípicas como: falar, música (rádio), sinais sonoros de
aviso e comportamento atípico.

Avaliação das incertezas da medição


As contribuições das várias fontes de incerteza são dadas pelo produto das incertezas individuais
pelo coeficiente de sensibilidade associado, sendo representadas na equação seguinte:

sendo i o nº de fontes de incerteza.

A incerteza expandida U é dada por U=ku, onde k é função do intervalo de confiança, que para 95%
tem o valor de 1,65.

Ruído Ocupacional 38
Determinação da incerteza expandida para medições baseadas na
tarefa
A expressão geral para a determinação do nível de exposição sonora, ponderado A, LEX,8h, utilizando
medições baseadas na tarefa, é:

Ruído Ocupacional 39
Cálculo da incerteza combinada, u, e da incerteza expandida, U

Considerando que as grandezas envolvidas não estão correlacionadas, a incerteza combinada relativa
ao nível de exposição sonora, ponderado A, LEX,8h, u(LEX,8h), deve ser calculada a partir dos valores
numéricos das contribuições individuais, cjuj, recorrendo à equação seguinte:

Onde:

u1a,m é a incerteza padrão relativa à amostragem do nível sonoro da tarefa m

u1a,m é a incerteza padrão relativa à duração estimada da tarefa m

u2,m é a incerteza padrão relativa ao equipamento utilizado na medição da tarefa m

u3 é a incerteza padrão relativa à localização do microfone

c1a,m e c1b,m são os correspondentes coeficientes de sensibilidade relativos à tarefa m

m é o número da tarefa

M é o número total de tarefas

A incerteza expandida é U = 1,65*u.

Contribuições para a incerteza da medição e respetivo cálculo

Para medições baseadas na tarefa, os coeficientes de sensibilidade são os seguintes:

Ruído Ocupacional 40
A incerteza padrão, u1a,m, relativa à amostragem do nível sonoro da tarefa m, é dada por:

A incerteza padrão, u1b, m, relativa à duração da tarefa m, pode ser calculada a partir de medições
independentes da duração da tarefa, recorrendo à equação seguinte:

Onde:

J é o número total de medições da duração da tarefa m

Nota: Se a duração da tarefa foi obtida através da análise do trabalho, a estimativa de u1b,m é 0,5*(Tmáx
– Tmín).

Ruído Ocupacional 41
Determinação da incerteza expandida para medições baseadas no
posto de trabalho
Relação f uncional para medições baseadas no posto de trabalho

A expressão geral para a determinação do nível de exposição ao ruído, ponderado A, LEX,8h,


utilizando medições baseadas no posto de trabalho, é:

Ruído Ocupacional 42
Cálculo da incerteza combinada, u, e da incerteza expandida, U

A incerteza combinada relativa ao nível de exposição sonora, ponderado A, LEX,8h, u(LEX,8h), deve ser
calculada a partir dos valores numéricos das contribuições individuais, ciui, recorrendo à equação
seguinte:

A incerteza expandida é U = 1,65*u.

Contribuições para a incerteza da medição e respetivo cálculo

Para medições baseadas no posto de trabalho:

A contribuição c1u1, relativa à amostragem do nível sonoro no posto de trabalho é a indicada no


Quadro seguinte em função do número de amostras do nível sonoro, N, da incerteza padrão, u1 e
dos valores Lp,A,eqT,n medidos;

Os coeficientes de sensibilidade, c2 e c3, referentes, respetivamente, à incerteza relativa ao


equipamento e à localização do microfone, são os seguintes:

c2 = 1

c3 = 1
Contribuição c1u1 dos valores medidos Lp,A,eqT,n
N dB
0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 5,5, 6
3 0,6 1,6 3,1 5,2 8,0 11,5 15,7 20,6 26,1 32,2 39,0 46,5
4 0,4 0,9 1,6 2,5 3,6 5,0 6,7 8,6 10,9 13,4 16,1 19,2
5 0,3 0,7 1,2 1,7 2,4 3,3 4,4 5,6 6,9 8,5 10,2 12,1
6 0,3 0,6 0,9 1,4 1,9 2,6 3,3 4,2 5,2 6,3 7,6 8,9
7 0,2 0,5 0,8 1,2 1,6 2,2 2,8 3,5 4,3 5,1 6,1 7,2
8 0,2 0,5 0,7 1,1 1,4 1,9 2,4 3,0 3,6 4,4 5,2 6,1
9 0,2 0,4 0,7 1,0 1,3 1,7 2,1 2,6 3,2 3,9 4,6 5,4
10 0,2 0,4 0,6 0,9 1,2 1,5 1,9 2,4 2,9 3,5 4,1 4,8
12 0,2 0,3 0,5 0,8 1,0 1,3 1,7 2,0 2,5 2,9 3,5 4,0
14 0,1 0,3 0,5 0,7 0,9 1,2 1,5 1,8 2,2 2,6 3,0 3,5
16 0,1 0,3 0,5 0,6 0,8 1,1 1,3 1,6 2,0 2,3 2,7 3,2
18 0,1 0,3 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,5 1,8 2,1 2,5 2,9
20 0,1 0,3 0,4 0,5 0,7 0,9 1,1 1,4 1,7 2,0 2,3 2,6
25 0,1 0,2 0,3 0,5 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,7 2,0 2,3
30 0,1 0,2 0,3 0,4 0,6 0,7 0,9 1,1 1,3 1,5 1,7 2,0

Quando o c1u1 obtido recorrendo ao Quadro anterior é superior a 3,5 dB (valores indicados a
negrito), é recomendável que o plano de medições seja revisto ou alterado por forma a reduzir u1.

Ruído Ocupacional 43
Determinação da incerteza expandida para medições baseadas no
dia completo
O procedimento de cálculo da incerteza expandida para medições baseadas no dia completo é o
mesmo que o descrito para o cálculo da incerteza para medições baseadas no posto de trabalho.

Incerteza padrão, u2, relativa ao equipamento utilizado


A incerteza padrão, u2 (ou u2,m para a tarefa m), relativa ao equipamento é a indicada na tabela
seguinte:

Tipo de equipamento Incerteza padrão u2 ou u2k

Sonómetro de Classe 1 0,7


Dosímetro 1,5
Sonómetro de Classe 2 1,5

Incerteza padrão, u3, relativa à localização do microfone


A incerteza padrão, u3, relativa à localização do microfone é 1,0 dB.

Informação a incluir no relatório


O relatório final das medições da exposição ao ruído, efetuadas em conformidade com a Norma NP
EN ISO 9612:2011, deve conter as seguintes informações:

A. Informações gerais:
1. nome do cliente (empresa, departamento, etc.),
2. identificação do(s) trabalhador(es) ou grupo(s) de trabalhadores (tal como o nome ou o
número do trabalhador), cuja exposição tenha sido determinada,
3. nome da(s) pessoa(s) e empresa ou instituição que realizou as medições e os respetivos
cálculos,
4. o objetivo da avaliação,
5. a referência à presente Norma Internacional e à estratégia de medição aplicada

Ruído Ocupacional 44
B. Análise do conteúdo de trabalho:
1. descrição das atividades ocupacionais analisadas,
2. tamanho e composição de grupos de exposição homogénea ao ruído, quando aplicável,
3. a descrição do(s) dia(s) analisado(s), incluindo as tarefas que compõem o dia nominal de
trabalho, quando se aplique uma estratégia de medição baseada em tarefas,
4. indicação da(s) estratégia(s) de medição aplicada(s), juntamente com uma referência à
abordagem estatística utilizada;

C. Equipamentos:
1. identificação e classe de exatidão dos equipamentos utilizados (fabricante, modelo, número
de série),
2. configuração do sistema, por exemplo, protetores de vento, cabos de extensão, etc.,
3. rastreabilidade das calibrações (data e resultado da mais recente verificação dos
componentes do sistema de medição),
4. documentação de evidência dos ajustes realizados antes e depois de cada medição;

D. Medições:
1. identificação do(s) trabalhador(es) cuja exposição ao ruído foi avaliada,
2. data e hora das medições,
3. equipamentos utilizados em cada medição (quando são utilizados vários equipamentos),
4. descrição do trabalho levado a cabo pelo trabalhador durante o decorrer das medições,
incluindo a duração da atividade profissional e, caso seja relevante, a duração dos eventos
cíclicos contidos em cada atividade laboral,
5. indicação de quaisquer desvios em relação às condições normais de trabalho ou ao
comportamento normal de trabalho, verificados durante as medições,
6. indicadores de produção relacionados com o trabalho levado a cabo, sempre que pertinente,
7. descrição das fontes de ruído que contribuem para a exposição ao ruído,
8. descrição de quaisquer sons irrelevantes que tenham sido incluídos ou excluídos das
medições,

Ruído Ocupacional 45
9. descrição de todos os eventos observados que possam ter influenciado as medições (por
exemplo, fluxos de ar, impactos mecânicos sobre o microfone, ruído impulsivo),
10. informações relevantes sobre as condições meteorológicas (por exemplo, vento, chuva,
temperatura),
11. posição e orientação do(s) microfone(s),
12. número de medições em cada posição,
13. duração de cada medição,
14. duração de cada tarefa em relação ao valor do dia nominal e da incerteza associada, quando
se utilize a estratégia de medição baseada em tarefas,
15. os resultados de cada medição, incluindo, pelo menos, o Lp,A,eqT e, opcionalmente, os
máximos valores do Lp,Cpico;

C. Equipamentos:
1. o nível de pressão sonora contínuo equivalente, ponderado A, Lp,A,eqT e, opcionalmente, o
nível de pressão sonora de pico, ponderado C, Lp,Cpico para cada tarefa/posto de trabalho,
2. quando se utilize a estratégia de medição baseada em tarefas, os valores do LEX,8h,m, para
cada tarefa, caso seja relevante
3. o nível de exposição diária, ponderado A, LEX,8h para o(s) dia(s) nominal(ais) e o valor mais
elevado do nível de pressão sonora de pico, ponderado C, Lp,Cpico caso tenha sido medido
durante todas as tarefas, arredondado para uma casa decimal,
4. incerteza associada ao LEX,8h e Lp,Cpico, se disponível, para o valor do(s) dia(s) nominal(ais),
arredondado para uma casa decimal (o nível de exposição ao ruído e a incerteza da medição
devem ser indicados separadamente).

Ruído Ocupacional 46
Medidas de prevenção e proteção
Quando o nível de ruído nos locais de trabalho ultrapassa os níveis considerados aceitáveis, deve
proceder-se a um controlo do mesmo a fim de o reduzir aos níveis pretendidos.

Um programa de controlo de ruído poderá admitir as seguintes soluções:

Medidas Organizacionais
As medidas administrativas ou organizacionais têm em vista a redução dos níveis sonoros ou do
tempo de exposição. As medidas mais comuns são as seguintes:

● Planeamento da produção com vista à eliminação dos postos de trabalho sujeitos a níveis de
ruído elevados
● Adoção de uma política de aquisição de equipamentos, na qual o fator nível de ruído seja
tido em conta
● Rotação periódica dos trabalhadores expostos, tendo em vista a redução da dose de ruído a
que estão sujeitos durante o seu período de trabalho
● Realização de trabalhos ruidosos em horários em que haja menor número de trabalhadores
expostos.

Ruído Ocupacional 47
Medidas Construtivas ou de Engenharia
Atuação sobre a fonte emissora de ruído

O método de controlo do ruído mais eficaz é, sem dúvida, a atuação sobre a fonte emissora de
ruído. De seguida, apresentam-se alguns exemplos:

ACÇÕES A EMPREENDER EXEMPLOS

Melhoria da manutenção efetuada a máquinas e/ou Ajustes e/ou substituição de partes de equipamento soltas e desequilibradas.
equipamentos de trabalho

Utilização de equipamentos acoplados às máquinas de Utilização de materiais amortecedores de choques e/ou vibrações.
modo a reduzir os níveis de ruído emitidos por estas Utilização de silenciadores na saída de jatos de ar ou gases.

Substituição das máquinas mais antigas por máquinas que tenham acompanhado a
evolução da técnica.

Alterações ao nível do processo e/ou das técnicas Substituição de rebitagem pneumática por soldadura.
produtivas Substituição de engrenagens metálicas por engrenagens plásticas (diminuição do
atrito).
Diminuição da velocidade de rotação de ventiladores.

Atuação sobre as vias de propagação

O controlo do ruído na fonte nem sempre é possível e, por vezes, apesar de serem tomadas
medidas nesse sentido, a redução obtida não é suficiente. Como tal, devem então ser considerado
outro tipo de medidas que visem controlar o ruído na sua trajetória de propagação, tais como:

ACÇÕES A EMPREENDER EXEMPLOS

A fim de diminuir a transmissão das vibrações produzidas por uma máquina através de elementos
Isolamento anti vibrátil sólidos adjacentes à fonte de ruído, podem ser utilizados suportes adequados (em borracha,
cortiça, resinas sintéticas).

O encapsulamento da fonte de ruído, quando realizável, pode constituir uma medida muito eficaz,
Encapsulamento
devendo conferir, simultaneamente, um bom isolamento e uma boa absorção sonora.

Estes painéis auxiliam o controlo da propagação do ruído numa determinada direção. Devem ser
Painéis Antirruído construídos com material isolante, revestido com material absorvente do lado em que se localiza a
fonte de ruído. Geralmente complementa-se o painel com um teto absorvente.

O tratamento acústico no interior de um ambiente de trabalho efetua-se através de revestimento


Tratamento Acústico das Superfícies
com materiais absorventes. As superfícies lisas e duras, que refletem o som, devem ser evitadas.

Estas cabinas, em vez de encapsular a fonte de ruído, protegem as pessoas expostas ao ruído. A
Cabinas respetiva aplicação ocorre sobretudo quando existem muitas fontes produtoras de ruído cuja
proteção seja inviável ou muito dispendiosa.

Ruído Ocupacional 48
Medidas de Proteção Individual
Quando o nível sonoro a que o trabalhador está submetido ultrapassa os valores admissíveis e não
é viável (técnica ou economicamente) qualquer das soluções anteriormente descritas ou o controlo
efetuado não se revela eficaz, terá então que se recorrer à proteção individual.

Assim, quando a exposição ao ruído exceder os valores de ação inferiores (80 dB(A) ou 135 dB(C),
de exposição diária e de nível de pressão sonora de pico, respetivamente), o empregador deverá
colocar protetores individuais auditivos à disposição dos trabalhadores e, quando tal exposição
igualar ou exceder os valores de ação superiores (85 dB(A) ou 137 dB(C)), deverão esses protetores
ser utilizados.

Os protetores individuais auditivos devem ser selecionados com vista a eliminar o risco de perda
audição ou a reduzi-lo ao mínimo.

A determinação da exposição efetiva do trabalhador ao ruído para a aplicação do valor limite de


exposição deve ter em conta a atenuação do ruído proporcionada pelos protetores individuais
auditivos.

Os valores de ação não devem ter em conta os efeitos decorrentes da utilização dos protetores.

Em determinadas circunstâncias, pode ser usado o nível de exposição semanal, em vez do diário,
desde que o valor limite de exposição de 87 dB(A) não seja excedido e sejam adotadas medidas
apropriadas para reduzir substancialmente o risco.

Os protetores auditivos podem ser de dois tipos: abafadores ou tampões auditivos, podendo estes
últimos ser descartáveis (destinados a uma única utilização) ou reutilizáveis (destinados várias
utilizações).

Esta é uma classificação segundo a forma ou modo de utilização.

Ruído Ocupacional 49
Segundo o modo de funcionamento, podem ser classificados como passivos, se conferem a
atenuação por meios passivos, ou seja, sem a utilização de quaisquer mecanismos adicionais, e
ativos, que incorporam componentes mecânicos ou eletrónicos. De entre estes, destacam-se os que
possuem:

● atenuação dependente do nível sonoro;


● restauração de som dependente do nível sonoro;
● atenuação uniforme (frequência linear);
● redução ativa de ruído (RAR),

e, ainda, os que integram equipamentos de comunicação.

Seguidamente, apresentam-se as principais vantagens e desvantagens de cada um dos tipos atrás


referidos, segundo a forma ou modo de utilização:

ABAFADORES

VANTAGENS

● Facilidade de uso e adaptação


● Facilidade em colocá-los e removê-los
● Mais visíveis e, por conseguinte, mais controláveis
● Melhor ajustamento em períodos de tempo longos
● Melhor atenuação nas altas frequências (em geral)

DESVANTAGENS

● Quentes
● Adaptação rígida à cabeça
● Dificuldade no uso com capacete, óculos ou qualquer
outro equipamento
● Desconfortáveis quando usados durante períodos longos

Ruído Ocupacional 50
TAMPÕES AUDITIVOS

VANTAGENS

● Facilidade de uso e adaptação


● Facilidade em colocá-los e removê-los
● Mais visíveis e, por conseguinte, mais controláveis
● Melhor ajustamento em períodos de tempo longos
● Melhor atenuação nas altas frequências (em geral)

DESVANTAGENS

● Quentes
● Adaptação rígida à cabeça
● Dificuldade no uso com capacete, óculos ou qualquer
outro equipamento
● Desconfortáveis quando usados durante períodos longos

Para uma escolha adequada da proteção individual poderão ser observadas algumas das
recomendações constantes da NP EN 458:2006, referidas no quadro seguinte.

NÍVEL DE EXPOSIÇÃO PESSOAL DIÁRIO EFETIVO


ESTIMATIVA DA PROTEÇÃO
LEX,8h,efect [em dB(A)]

> 80 Insuficiente

entre 80 e 75 Aceitável

entre 75 e 65 Satisfatório

entre 65 e 60 Aceitável

Excessiva
< 60 (sobreproteção)

Ruído Ocupacional 51
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