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1.

Introdução
2. Acústica de edifícios
A acústica como ciência estuda o som originado por vibrações elásticas nos gases e por
vibrações e ondas mecânicas nos meios não gasosos. Este estudo detalhado, principalmente
devido ao estudo da música, originou a definição de conceitos como Altura de um som, oitava.

A acústica é a ciência que estuda o som, a sua propagação tanto em meio fluido como sólido, e
as suas inter-relações com o ser humano numa perspectiva de efeitos causados, tenham eles
carácter de agradabilidade (música, voz) ou não (ruído). [Patrício, 2003] NUNO FERREIRA
SILVA Relatório de Estágio submetido para satisfação parcial dos requisitos do grau de Mestre
em Engenharia Civil – ramo de construções, Outubro, 2016.

O ruído pode ser considerado um som desagradável ou sem significado para o ouvinte. No
entanto, o que para uns é ruído, para outros pode ser um som apreciado ou com significado.
O som é o resultado de uma perturbação física ou de uma vibração provocada por uma variação
de pressão em relação à pressão atmosférica.

A acústica é a ciência que se dedica ao estudo e análise das ondas sonoras, embora a acústica de
edifícios como a conhecemos hoje só tenha aparecido no início do século XX pelo físico
americano W. C. Sabine.
A acústica de edifícios actual preocupa-se com duas questões fundamentais, nomeadamente:
 Isolamento sonoro, que consiste em “tratar” um compartimento no que respeita aos sons
provenientes de locais contíguos, do mesmo edifício ou de construções vizinhas, ou do exterior;
 Correcção acústica, que se preocupa em “corrigir” um compartimento, no que diz
respeito aos sons emitidos no seu interior.

2.1. Propagação do som


O som propaga-se somente nos meios físicos elásticos, razão pela qual a ausência destes meios
resulta na inexistência de som. Um exemplo desta ocorrência é a não existência de som no
vácuo.
A propagação nos vários meios existentes (sólido, líquido e gasoso) deve-se ao movimento
oscilatório das moléculas presentes nesse meio. Estas, ao serem excitadas, vibram e oscilam em
torno da sua posição de repouso permitindo assim a transferência de energia para as moléculas
vizinhas. Esta cadência de movimento resulta em zonas de compressão e zonas de
descompressão.

2.1.1. Transmissão do ruído em meio sólido


Em meio sólido, o ruído pode propagar-se através de ondas de vários tipos, sendo que as ondas
que mais contribuem para a transmissão da energia sonora são as ondas de flexão, que
correspondem, na realidade, à fusão das ondas longitudinais com as ondas transversais. No caso
de lajes, a velocidade das ondas longitudinais pode ser dada, em m/s, por

E
CL = √
p(1 − v 2 )

Onde:

E é o módulo de Elasticidade em Pa;

ρ é a massa volúmica, em kg/m3;

ν é o coeficiente de Poisson.
2.1.2. Frequência
A frequência (f) é o número de ciclos realizado por unidade de tempo.

2.1.3. Comprimento de onda


Num ciclo completo (ou oscilação), a distância entre dois picos consecutivos de pressão chama-
se comprimento de onda (λ).

2.1.4. Período
É o tempo necessário para efectuar esse ciclo chama-se período (T). Sendo que 1 ciclo por
segundo denomina-se 1 Hertz (Hz). É nesta unidade que se mede a frequência de um som.

Quando a pressão sonora varia do seu valor máximo, passando pelo mínimo e retornando ao
valor máximo, diz-se que efectuou um ciclo completo.
O ouvido humano é capaz de detectar uma extensa gama de frequências (20Hz a 20kHz), devido
a isto resolveu-se utilizar bandas de frequências para facilitar a classificação dos sons. Assim
sendo, a denominação das bandas refere-se ao valor de frequência central da banda. Estas bandas
podem ser de terços de oitava, ou de oitava.

2.2. Pressão sonora


A variação da pressão sonora devido às compressões e descompressões é normalmente medida
em Pascal (Pa). A esta variação é possível associar um modelo de movimento ondulatório.

Este movimento ondulatório apresenta características únicas como o comprimento de onda (λ), a
amplitude (A).

A pressão sonora é dada pela seguinte expressão:

P(t) = P(t) − P0

Onde:

P(t) é pressão sonora (Pa);

P(t) é pressão total resultante num determinado ponto (Pa);

P0 é pressão atmosférica (2x10-5 Pa).


Pressão sonora e pressão atmosférica(Fonte: NUNO FERREIRA SILVA Relatório de Estágio
submetido para satisfação parcial dos requisitos do grau de Mestre em Engenharia Civil – ramo
de construções, Outubro, 2016)

2.3. Decibel (dB) ou Nível de pressão sonora


Bel [Bel] é uma unidade logarítmica que indica a proporção de uma realidade física em relação a
um nível de referência. Esta relação é igual a 100 vezes o logaritmo (de base 10) do rácio entre
as duas quantidades físicas. O decibel (dB), por sua vez é um décimo de um Bel.

O Nível de pressão sonora pode ser expresso em decibéis de acordo com a equação abaixo.

Pf2
Lp = 10log10 ( )
Po2

Onde:
Pressão sonora de referência: (Po) = 2×10-5 [Pa]

2.4. Transmissão sonora entre espaços


Nos edificados ocorre transmissão de sons aéreos e de sons de percussão de um compartimento para
outro. Esta transmissão ocorre sempre por dois caminhos: o caminho directo e o caminho indirecto.
O caminho directo ocorre somente através do elemento separador entre o espaço emissor e o espaço
receptor. Os caminhos indirectos ou marginais consistem nos elementos envolventes dos
compartimentos.
A diminuição desta transmissão é conseguida pelo isolamento a sons aéreos e pelo isolamento a
sons de percussão.

3. Ensaios acústicos
Tal como mencionado anteriormente, os ensaios acústicos baseiam-se essencialmente na análise
dos sons de percussão e dos sons aéreos. Para essa análise, é necessário sempre ter uma fonte de
produção sonora e um receptor normalizados. Assim, existem vários tipos de aparelhos que
permitem fazer a avaliação acústica, fornecendo já os resultados que são posteriormente
introduzidos num software para o efeito, determinando a necessidade de alterar ou não o
isolamento sonoro entre os compartimentos ensaiados, por comparação dos resultados com os
valores limite estipulados no decreto-lei em vigor.

Para a execução dos ensaios usam-se os seguintes aparelhos que servem como receptores.

Sonómetro
Sonómetro(Sónia Marisa da Estágio CERTIFER – medições acústicas e Orientador: Professora
Ana Velosa Silva Anastácio tratamento de dados 2011)

Decímetro

Decímetro(Sónia Marisa da Estágio CERTIFER – medições acústicas e Orientador: Professora


Ana Velosa Silva Anastácio tratamento de dados 2011)
4. Acústica de salas, tempo de reverberação e absorção sonora
O projecto acústico, ainda que se proponha exclusivamente à análise do isolamento oferecido
pelos elementos de compartimentação, tem uma forte relação com acústica de salas. Quando o
som emitido por uma determinada fonte sonora intersecta um elemento construtivo, uma parte do
som é reflectida (e é sobre esta, essencialmente, que trata a acústica de salas), outra parte do som
é dissipada sobre a forma de calor, sendo ainda uma parte do som redireccionada para os
elementos adjacentes através das ligações, atravessando o restante som o elemento e sendo por
ele radiado (é essencialmente sobre estes fenómenos que trata a acústica de edifícios). Este
fenómeno é geralmente designado por absorção sonora.
O tempo de reverberação depende da frequência para o qual é calculado, do coeficiente de
absorção sonora (relação entre energia não reflectida e energia incidente) dos materiais da
envolvente, do volume do espaço e dos objectos existentes no espaço, e é definido como o tempo
necessário após o instante em que cessa o funcionamento da fonte sonora para que o nível de
pressão sonora decresça 60 dB.

Definição do tempo de reverberação de um espaço.


Para a determinação do tempo de reverberação é necessário utilizar a formula de Sabine que é
dada pela expressão seguinte:
𝟎, 𝟏𝟔𝟑𝐕
𝐓𝐑 =
𝐀 𝐞𝐪
Onde:
V é o volume da sala, em m3;
Aeq é a área de absorção sonora equivalente, para a frequência considerada, expressa em m2.

5. Isolamentos sonoros
Os isolamentos sonoros podem ser:

5.1. Isolamento a sons aéreos


O ruído aéreo é originado pela excitação directa do ar decorrente de fontes sonoras no exterior
ou no interior dos fogos (televisão, rádio). Como o próprio nome indica, o ruído aéreo propaga-
se pelo ar e pode ser transmitido através dos elementos de construção (paredes, janelas, portas).

Ilustração da transmissão de ruído aéreo através de elementos construtivos que fazem


separação entre compartimentos de um edifício (Fonte: Sónia Marisa da Estágio CERTIFER –
medições acústicas e Orientador: Professora Ana Velosa Silva Anastácio tratamento de dados,
2011)

O isolamento a sons aéreos (sons transmitidos através do elemento separador) depende das
características do elemento separador, nomeadamente da massa, da rigidez e do amortecimento
interno. A caracterização deste desempenho é feita pelo índice de isolamento a sons aéreos (Rw)
calculado.
O efeito isolante do elemento separador provoca uma perda de pressão sonora que varia
consoante a frequência do ruído em questão.

À apresentação gráfica deste conjunto de perdas de pressão sonora denomina-se curva de perda
de transmissão sonora. De modo a simplificar a utilização do conjunto destes valores, foi
estabelecido o índice Rw.
Este valor Rw é obtido pela ordenada da curva de referência para a frequência de 500Hz. Esta
curva de referência, é sobreposta à curva de perdas de transmissão, de modo a que o valor médio
do desvio em sentido desfavorável seja o mais elevado possível, não ultrapassando 2dB. Este
desvio no sentido desfavorável ocorre quando, numa determinada banda de frequências, o valor
da curva de perdas é inferior ao da curva de referência. Como tal, o desvio médio em sentido
desfavorável é calculado pela divisão do somatório dos desvios nesse sentido pelo número total
de bandas de frequência consideradas pela curva de perdas. Na Figura 4 apresenta-se esta
sobreposição e a determinação gráfica do valor de Rw.
Curva de referência de Rw (Fonte: Sónia Marisa da Estágio CERTIFER – medições acústicas e
Orientador: Professora Ana Velosa Silva Anastácio tratamento de dados, 2011)

5.2. Isolamento a sons de percussão


O ruído de impacto é originado nos elementos que formam a estrutura e a envolvente dos
edifícios por vibrações provocadas directamente por pessoas ou objectos actuando sobre
elementos construtivos do edifício. As fontes mais comuns deste tipo de ruído são a locomoção
humana, a queda de objectos e a vibração de equipamentos, tais como electrodomésticos, entre
outros. Este tipo de ruído é transportado pelos elementos de construção em vibração e é
transmitido aos compartimentos por radiação de paredes e pavimentos.

Ilustração da transmissão de ruído de percussão através de elementos construtivos (Fonte: Sónia


Marisa da Estágio CERTIFER – medições acústicas e Orientador: Professora Ana Velosa Silva
Anastácio tratamento de dados, 2011)

O isolamento a sons de percussão consiste na diminuição das ondas de choque transmitidas pelos
elementos sólidos dos compartimentos. Este isolamento pode ser caracterizado por um valor
único, o índice de isolamento a sons de percussão (Lw ou Ln,w).

A determinação deste índice é feito como na determinação do índice Rw, recorre à sobreposição
da curva de referência com a curva do espectro de recepção. Esta curva de referência é
sobreposta de modo a que o valor médio no sentido desfavorável seja o mais elevado sem
ultrapassar o valor de 2dB.
A metodologia de cálculo utilizada no cálculo do índice de redução sonora em paredes simples
era baseada no modelo de Ben Sharp (1973) adaptada por David Bies e Colin Hansen, e para
paredes duplas era baseada no modelo de Mathias Meisser (1973), adaptada por A. Thadeu e D.
Mateus.
Modelo de Sharp
O modelo de Sharp determina o índice de redução sonora em paredes simples, através de um
método gráfico que considera para além da massa e da frequência, o factor de perdas e a
frequência crítica do elemento.
Modelo de Meisser
Outro método para a obtenção do índice de redução sonora para paredes duplas é baseado no
modelo de Meisser, 1973. Neste método é possível introduzir factores, tais como, dimensão da
caixa de ar, ligações entre panos e material absorvente.
Segundo este modelo, determina-se a redução sonora para a frequência de 500 Hz, através da
seguinte expressão:
𝑅500𝐻𝑧 = 13,3 𝑙𝑜𝑔 (𝑚1 + 𝑚2) + 13,4 + 𝑘 (dB)

Onde:
m – massa dos elementos construtivos (Kg/m2)
K – varia com a espessura da caixa de ar e o material absorvente.

5.3. Classificação dos materiais isolantes


Os materiais podem ser classificados em três tipos:

 Materiais porosos ou fibrosos - absorvem melhor para frequências elevadas


compreendidas entre 1600Hz e 6400Hz;
 Membranas - melhor absorção para baixas frequências compreendidas entre 100Hz e
400Hz;
 Ressoadores - melhor absorção para médias frequências compreendidas entre 400Hz e
1600Hz.
Regulamento dos Requisitos Acústicos em Edifícios (RRAE)
Este regulamento, com a sua alteração de 2008, regula o conforto acústico da edificação com o
objectivo de melhorar as condições da qualidade acústica presente nestes edifícios.
O funcionamento do regulamento assenta no cumprimento de requisitos acústicos em
construções, reconstruções, ampliações ou alterações de edifícios habitacionais, comerciais ou
mistos, edifícios de uso escolar, hospitalar, desportivo, hoteleiro, auditórios e salas, estações de
passageiros e semelhantes. Os requisitos estabelecidos são implementados através da elaboração
de projectos de condicionamento acústico que cumpram o regulamento; da declaração do técnico
responsável pela execução da obra que ateste a observância das normas; e por fim de ensaios e
medições acústicas que comprovem o cumprimento dos requisitos acústicos regulamentares.
No segundo capítulo do regulamento estabelecem-se os requisitos acústicos a serem observados
pelos edifícios. Assim, desde o artigo 5.º ao 10.º, estabelecem-se os requisitos a serem cumpridos
por todos os edifícios objecto deste regulamento.
O presente regulamento estabelece limites para os índices regulamentares consoante o tipo de
edifício. Os índices regulamentares referem-se ao isolamento dos sons aéreos (D2m,nT,w;
DnT,w; DnT,oit.63Hz), ao isolamento dos sons de percussão (L’nT,w), aos ruídos de
equipamentos (LAr,nT; LAeq) e ao tempo de reverberação (T).
De um modo simplificado os limites regulamentares para edifícios habitacionais e mistos
encontram-se nas tabelas seguintes.
Referencias

António Xavier Gonçalves Frazão da Rocha Pinto Dissertação para Obtenção do Grau de Mestre
em ENGENHARIA CIVIL, Outubro, 2011.
NUNO FERREIRA SILVA Relatório de Estágio submetido para satisfação parcial dos requisitos
do grau de MESTRE EM ENGENHARIA CIVIL – RAMO DE CONSTRUÇÕES, Outubro,
2016.

Sónia Marisa da Estágio CERTIFER – medições acústicas e Orientador: Professora Ana Velosa
Silva Anastácio tratamento de dados, 2011.

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