Você está na página 1de 4

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

AUH0156 - História e Teorias da Arquitetura IV (2022)

ALUNA: Melissa Aiko Basilio Myoshi N° USP: 11758931

ENTREGA 2.1
Fichamento Individual:
O Regionalismo para Kenneth Frampton
“História crítica da arquitetura moderna”
Kenneth Frampton

O texto aqui citado e analisado, escolhido para a confecção deste


fichamento, identificado como: “Regionalismo crítico: arquitetura moderna e
identidade cultural”, compreende o quinto capítulo do livro “História crítica da
arquitetura moderna” de autoria do arquiteto, historiador, crítico e professor de
arquitetura na "Graduate School of Architecture and Planning" da Universidade de
Columbia em Nova Iorque, Kenneth Frampton.
A “História crítica da arquitetura moderna”, publicada originalmente em 1980,
no contexto “pós-moderno”, é reconhecida como uma das grandes contribuições
para a historiografia recente da arquitetura moderna. Em sua obra, Frampton, autor
favorável ao pensamento da Escola de Frankfurt e crítico em relação ao que ele
define como lado obscuro da ilustração, dialoga a respeito da questão do
regionalismo e a arquitetura, apresentando a sua versão do regionalismo crítico, em
sete itens, caracterizadores deste movimento. Nesse sentido, essa importante
discussão, que ressurge na década de 80 e que tem dominado as pautas do mundo
da arquitetura, desde o século 18, ganhou força principalmente a partir das
proposições de Frampton.
O termo "Regionalismo Crítico" foi usado pela primeira vez pelos teóricos da
arquitetura Alexander Tzonis e Liane Lefaivre no início dos anos 1980 para
descrever uma mentalidade de oposição a uma arquitetura genérica e internacional,
o termo, nesse contexto, refere-se especificamente a essa metodologia proposta,
que é romântica em seu apoio à cultura local do ponto de vista estético ou técnico,
ao invés de historicista (em termos de agrupamento mecânico das partes que
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

compunham o vernáculo de vários locais). Contudo, de acordo com Kenneth


Frampton, há outra maneira de a arquitetura avançar além do modernismo sem
voltar à linguagem arquitetônica do passado. Ele discorda dessa interpretação
bastante mimética da história cultural.
Portanto, a crítica de Frampton ao regionalismo crítico primeiro, ancorada nas
ameaças do fenômeno da universalização e da destruição de culturas tradicionais,
visa não apenas o modernismo universalizante, mas também as soluções vistas
como "populistas" que remetem a uma história particular de caráter comercial e
ênfase na cultura de massa. Frampton vê a arquitetura pós-moderna como a
"personificação" desses princípios, que sugerem um retorno inquestionável ao
passado sem levar em conta a geografia, o contexto, a temperatura, a luz e a forma
tectônica, como um objeto kitsch - termo que surgiu na época da Revolução
Industrial, nos estudos de arte e estética com um significado pejorativo,
classificando objetos como de mau gosto, exagerados e até cafonas - ou
cenográfico. Assim, em seu livro, o autor visa caracterizar uma prática projetual
estruturalmente definida por uma arquitetura contemporânea para dado momento,
utilizando-se do processo de assimilação e reinterpretação, ao invés de ter como
objetivo crítico o projeto de revitalização contemporânea por um projeto de
característica estrutural que retrata um revivalismo vernacular, mas temporalmente
definido por uma arquitetura de referência.
Nesse sentido, o Regionalismo Crítico de Frampton não procura buscar e
reproduzir um regionalismo no sentido arquitetura propriamente vernacular do modo
como foi, outrora, produzida espontaneamente pela interação combinada de clima,
cultura, mito e artesanato, mas sim, analisar e estudar as regionalidades recentes,
procurando mediar entre as linguagens globais e locais da arquitetura.
De acordo com a proposta de Frampton, o regionalismo crítico deveria adotar
a arquitetura moderna, criticamente, por suas qualidades progressistas universais,
mas, ao mesmo tempo, o valor deveria ser colocado no contexto geográfico do
edifício. Assim, a ênfase, segundo o autor, deve estar no estudo da topografia, da
clima, da luz; da forma tectônica, em vez do mero enfoque cenográfico e deve
trabalhar não apenas o sentido visual, mas sim em conjunto com os outros aspectos
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

sensoriais. A abordagem de Frampton se aproxima mais de uma “via de meio”, na


qual é possível atrelar a civilização universal à cultura local.
Consequentemente, vemos claramente nas várias manifestações
regionalistas mais do que uma simples preocupação com a utilização de uma
variedade de elementos anteriormente utilizados em determinados locais, mas
também um uso crítico, uma afirmação através da releitura desses elementos, a
conformação espacial, de resgate cultural no reconhecimento de uma identidade, ou
mesmo o contrário (a busca da identidade através da arquitetura).
É, portanto, uma prática que não visa um retrocesso estético ou estilístico,
mas sim, uma retomada e referência a habilidades construtivas suprimidas ou
raramente executadas, alusões visuais à iconografia regional, bem como símbolos,
signos e arte geralmente associados a uma cultura específica. Prática que aspira
assimilar os avanços tecnológicos e participar de seu avanço sem se condenar pela
falta de vínculo com as manifestações culturais regionais. Segundo o autor, muitos
arquitetos regionalistas não necessariamente empregam considerações estéticas
como referência principal, mas sim físicas e topográficas, indicando a grande
importância da localização, a qual sempre determinou as obras a serem realizadas,
desde a luz natural até a paisagem.
Umas das maiores questões acerca da arquitetura regional é levantada no
momento em que discutindo a respeito das culturas regionais de raiz e moderna
‘universal’, Frampton menciona o filósofo Paul Ricoeur ao afirmar que “todas as
culturas, tanto antigas quanto modernas, parecem ter dependido, para seu
desenvolvimento intrínseco, de uma certa fertilização cruzada com outras culturas”,
além da dualidade no que concerne a universalização destas culturas, quando há a
necessidade de “voltar às raízes” e ao mesmo tempo “fazer parte da civilização
universal”, sendo isso a causa inevitavelmente o desligamento com suas raízes
culturais. Mas, esta participação da civilização moderna arquitetura, não implica um
entrave ou impasse à arquitetura regionalista, uma vez que, pelo contrário,
acompanhar os avanços tecnológicos sem se distanciar de suas raízes pode
contribuir muito positivamente ao regionalismo crítico, pensando em uma a
arquitetura que leve a uma prática capaz de resistir aos ditames unicamente da
tecnologia.
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Referências Bibliográficas:

COLIN, Silvio. Regionalismo Crítico. Coisas da Arquitetura. 29, mai. 2010.


Disponível em:
<https://coisasdaarquitetura.wordpress.com/2010/05/29/regionalismo-critico/>
Acesso em: 18, set. 2022

CUTIERU, Andreea. Reavaliando o regionalismo crítico: uma arquitetura do lugar.


Archdaily. 04, set. 2021. Disponível em:
<https://www.archdaily.com.br/br/966570/reavaliando-o-regionalismo-critico-uma-arq
uitetura-do-lugar> Acesso em: 16, set. 2022.

FRAMPTON, Kenneth. História crítica da arquitetura moderna. São Paulo:


Martins Fontes, 1997.

KENNETH Frampton publica "Towards a Critical Regionalism". Cronologia do


Pensamento Urbanístico. Disponível em:
<http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=1517>.
Acesso em: 17, set. 2022.

MOREIRA, Susanna. O que é regionalismo crítico?. Archdaily. 06, jan. 2002.


Disponível em:
<https://www.archdaily.com.br/br/930579/o-que-e-regionalismo-critico> Acesso em:
17, set. 2022.

ZAPPELLINI, Renata. Kitsch: entenda como a estética do “feio” pode tornar a casa
mais ousada e criativa. Vogue Brasil. 23, jun. 2019. Disponível em:
<https://vogue.globo.com/gente/noticia/2019/06/kitsch-entenda-como-estetica-do-fei
o-pode-tornar-casa-mais-ousada-e-criativa.ghtml> Acesso em: 18, set. 2022.

Você também pode gostar