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EXPERIÊNCIAS

APROFUNDE-SE

CAPÍTULO 5

REGIÃO
SUL
Sobre o
autor

Gabriel
Ruiz de Oliveira

Curitibano, engenheiro civil graduado pela UTFPR,


arquiteto e urbanista pela UFPR com mestrado na
área de História e Fundamentos da Arquitetura
e Urbanismo pela USP, pesquisador sobre a
preservação do patrimônio cultural. Atua como
coordenador do curso de engenharia civil da FAE,
Centro Universitário e como professor universitário
nas áreas de patrimônio cultural e de estabilidade
das construções.

Para conhecer o currículo detalhado acesse:


http://lattes.cnpq.br/2692920250928048

Para mais informações acesse:


https://www.linkedin.com/in/gabriel-ruiz-de-
oliveira-9ba95122/
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Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

5. PLANO DE GESTÃO DO PATRIMÔNIO TOMBADO NO


MUNICÍPIO DE ANTONINA, PARANÁ
Antonina-PR

5.1 PRINCIPAIS QUESTÕES ENFRENTADAS 20. FINGER, A. Parecer


Técnico 004/2011 -
O Município de Antonina foi uma das primeiras áreas coloniza- Tombamento do Conjunto
das na Região Sul do Brasil. Ele se desenvolveu lentamente até a Histórico e Paisagístico
de Antonina – PR. Brasília,
metade do século XIX, quando foram construídas a estrada car- 2011. In: BRASIL. Ministério
roçável da Graciosa e a ferrovia Curitiba-Paranaguá, conectan- das Cidades. IPHAN.
do o litoral do estado ao planalto curitibano. Isso possibilitou Processo de tombamento
do Conjunto Histórico e
um crescimento urbano e econômico da cidade, impulsionados Paisagístico de Antonina
pela atividade portuária em Antonina e Paranaguá. O assorea- - 1.609-T-2010. Curitiba,
mento da baía e a falta de investimentos levaram à gradual cri- 2010.

se econômica do município, que alcançou o seu auge no início 21. BATISTA, F. D. et al.
do século XX. Em 2012, o conjunto histórico e paisagístico de (Org.). Painel Observatório
Antonina foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico do Patrimônio Histórico
Cultural de Antonina.
e Artístico Nacional (IPHAN), por suas características urbanas Curitiba: CAOP-MAHU
diversificadas e sua relação com a Serra do Mar e com a Baía de MPPR: DAU UFPR: FAE
Paranaguá.20 Centro Universitário, 2019.
Relatório final.
O Ministério Público do Paraná (MPPR) apresentou
em 2017 uma parceria interinstitucional de extensão
universitária para subsidiar o monitoramento do pa-
trimônio edificado e sensibilizar a sociedade civil e as

5
PARA MAIS
lideranças públicas. Além disso, buscava acompanhar INFORMAÇÕES
a criação do plano de gestão do perímetro tombado SOBRE O TEMA
pelo IPHAN. Apresentamos o resumo dessa parceria VER TAMBÉM O
a seguir.21 MÓDULO 5.

5.2 PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS ADOTADAS


Foi estabelecida uma estratégia de levantamento a partir de 22. BRASIL. Ministério das
reunião realizada com técnicos da prefeitura em abril de 2018. Cidades. IPHAN. Inventário
de Antonina – Paraná.
Ela buscava verificar e atualizar o inventário de edificações do Curitiba: SIGC, 2009.
centro histórico realizado em 2009 pelo IPHAN.22

Seu objetivo também era identificar as mudanças no estado de


conservação dos imóveis entre 2009 e 2018, e desenvolver um
método para monitorar o patrimônio edificado que pudesse ser
mantido e atualizado pela comunidade local, consciente de seu
papel em relação à preservação do patrimônio.
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Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

Utilizou-se para isso uma Ficha de avaliação padrão dos imóveis, estruturada segundo os
critérios definidos no levantamento anterior, no parecer de tombamento e na demanda
do MPPR. A ficha indicou os seguintes valores:

• Integralidade do imóvel: referência arquitetônica, conservação dos elementos


que compõem a fachada original.
• Permanência: estado de conservação física.
• Habitabilidade: análise das condições de uso e ocupação.
• Conjunto urbano: análise do potencial do imóvel na paisagem visível e do estado
de conservação dos imóveis adjacentes.

Figura 11: Ficha de avaliação do estado de conservação: imóvel Q22_ID01


Fonte: BATISTA, Fábio D.; BERTOL, Laura E.; OLIVEIRA, Gabriel R.; PEDROZO, Alexandre; SAVI, Adriane C. (Org.)
Painel Observatório do Patrimônio Histórico Cultural de Antonina. Relatório final. Curitiba: CAOP-MAHU MPPR:
DAU UFPR: FAE Centro Universitário, 2019.

A ficha de avaliação padrão apresenta os dados da utilização do imóvel, da técnica cons-


trutiva utilizada, do risco oferecido pela área imediatamente ao redor e do estado de con-
servação da edificação. As fichas foram feitas em conjunto com estudantes de graduação
de arquitetura e urbanismo. O treinamento dos alunos e a validação do modelo de ficha
ocorreram em trechos do centro histórico de Curitiba antes das visitas a Antonina.

Os resultados foram resumidos em planilhas, gráficos e mapas temáticos, que se en-


contram nas referências bibliográficas. Eles permitem que a prefeitura e a comunidade
monitorem o estado de conservação do patrimônio. O material foi apresentado como
relatório pelas instituições de ensino à Promotoria do Ministério Público do Paraná e
às secretarias municipais de Meio Ambiente, Obras e Urbanismo, e Cultura, Turismo e
Patrimônio Histórico.
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Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

5.3 PRINCIPAIS RESULTADOS E IMPACTOS ESPERADOS


A análise das informações das fichas de avaliação padrão permitiu relacionar os fatos e
indicou cuidados necessários com as edificações estudadas. Concluiu-se que o aspecto
de integridade estrutural e o estado de conservação de acabamento dos imóveis ocupa-
dos estavam melhores do que os dos vazios e abandonados. A maior parte dos edifícios
bem conservados era de uso comercial. Ambientes amplos podem abrigar uma varieda-
de maior de estabelecimentos comerciais e isso pode explicar porque os imóveis maiores
são ocupados com mais frequência.

A técnica construtiva influencia a durabilidade do imóvel, pois alguns materiais e técni-


cas resistem mais à ação do tempo do que outros. Por exemplo, as alvenarias de pedra
são mais resistentes do que as de tijolo, particularmente nos imóveis desocupados.

A análise do estado de conservação permitiu criar um quadro de risco do imóvel. Itens


como rachaduras na estrutura ou a presença de vegetação e infiltrações receberam pon-
tuações específicas. Essas pontuações foram incluídas em um índice de risco e, assim, foi
possível estabelecer critérios comparativos para o nível de conservação de cada imóvel.

Mapa 5: Estado de conservação das edificações levantadas no perímetro do tombamento


Fonte: BATISTA, Fábio D.; BERTOL, Laura E.; OLIVEIRA, Gabriel R.; PEDROZO, Alexandre; SAVI, Adriane C. (Org.)
Painel Observatório do Patrimônio Histórico Cultural de Antonina. Relatório final. Curitiba: CAOP-MAHU MPPR:
DAU UFPR: FAE Centro Universitário, 2019.
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Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

As fichas estabelecem um retrato no tempo ao analisar o estado


de conservação do patrimônio histórico edificado. Dessa for-
ma, validam e promovem a consciência patrimonial, permitin-
do um olhar mais cuidadoso em relação aos imóveis analisados.
Contribuem também como método para monitorar a conserva-
ção dos edifícios e valorizar sua preservação feita pela comuni-
dade. Esse é um aspecto de grande valor no desenvolvimento e
na vida da cidade de Antonina.

5.4 IMPREVISTOS (RESULTADOS NÃO


ESPERADOS)
Constatou-se, durante a análise do estado de conservação in-
dividual dos imóveis, que a paisagem construída deve ser va-
lorizada em relação ao entorno natural, ao traçado colonial e
as diversas manifestações arquitetônicas no centro histórico.
Isso só seria possível por levantamentos fotográficos de faces
de quadras e visão serial de eixos de ruas.

Desse modo foi possível entender o conjunto edificado em seu


entorno e identificar ruídos e possibilidades das paisagens. Os
ruídos mais aparentes são edificações descuidadas e arruina-
das. A sua comunicação visual está desregulamentada, desca-
racterizando os edifícios. Além disso, há veículos estacionados
em vias com potencial peatonal (mobilidade a pé).

Assim, foram analisadas as quadras e mapeadas as regiões


com bom estado de conservação próximas à baía e o impac-
to negativo de imóveis arruinados e impenetráveis que inter-
rompem a paisagem.

Figura 12: Montagem – Quadra 11: face rua João Viana


Fonte: BATISTA, Fábio D.; BERTOL, Laura E.; OLIVEIRA, Gabriel R.; PEDROZO, Alexandre; SAVI, Adriane C. (Org.)
Painel Observatório do Patrimônio Histórico Cultural de Antonina. Relatório final. Curitiba: CAOP-MAHU MPPR:
DAU UFPR: FAE Centro Universitário, 2019.
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Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

Figura 13: Análise de ruídos na rua Antônio Prado. Vermelho: ruído permanente; amarelo: ruído temporário;
verde: potencialidade
Fonte: BATISTA, Fábio D.; BERTOL, Laura E.; OLIVEIRA, Gabriel R.; PEDROZO, Alexandre; SAVI, Adriane C. (Org.)
Painel Observatório do Patrimônio Histórico Cultural de Antonina. Relatório final. Curitiba: CAOP-MAHU MPPR:
DAU UFPR: FAE Centro Universitário, 2019.

O patrimônio tombado pelo IPHAN em Antonina foi analisado na escala micro (cada
edifício), intermediária (agrupamento de edifícios) e macro (conjunto paisagístico).
Esperava-se que a sobreposição dessas análises e escalas fundamentasse as políticas de
planejamento urbano e regional.

Antonina possui um grande potencial cultural, paisagístico e turístico. Esse projeto in-
terinstitucional gerou discussões e contribuiu para a criação do Conselho Municipal do
Patrimônio Cultural. Mesmo assim, o município precisa de políticas integradas de pre-
servação cultural e ambiental que dialoguem com os planos de desenvolvimento urbano
e regional. Observou-se durante as etapas de interação com as secretarias municipais
uma desarticulação das propostas de cada pasta com as diretrizes de tombamento pre-
vistas pelo IPHAN. O mesmo pode ser dito sobre os instrumentos urbanísticos detalha-
dos no Plano Diretor do município.
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Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

5.5 RESULTADOS NÃO ESPERADOS


A análise do estado de conservação do patrimônio edificado em Antonina incluiu o estu-
do do estado atual dos instrumentos legais urbanos relacionados espacialmente à área
tombada. Entre eles estão os Códigos de Obras, Tributário, e as Leis de Zoneamento e de
Sistema Viário. Esperava-se determinar de forma objetiva quais parâmetros deveriam
ser descritos nesses instrumentos para preservar o patrimônio cultural. Os meios jurí-
dicos e fiscais são ferramentas que podem realizar os objetivos do planejamento muni-
cipal. Entretanto, os instrumentos descritos no Plano Diretor de Antonina não dialogam
com a legislação de tombamento federal, sobrepondo áreas sujeitas a transferência de
potencial construtivo com o perímetro da envoltória. Além disso, destina ruas do centro
histórico com potencial peatonal para a função coletora.

A equipe do projeto mostrou aos órgãos competentes e à população antoninense a


importância do diálogo interinstitucional. Além da importância do fortalecimento do
Conselho Municipal de Patrimônio para fiscalizar e sugerir projetos estratégicos que de-
vem ser priorizados para o planejamento integrado do município. Esses projetos asso-
ciam mobilidade, conservação ambiental e participação popular, valorizando a relação
entre a paisagem construída e a natural.

Atualmente, o projeto busca continuar e ampliar as iniciativas em torno da preservação


do ambiente construído de Antonina. Trata-se de um resultado positivo do processo de
parceria entre a universidade e as instituições da administração pública.

5.6 PRINCIPAIS ATORES E


INSTITUIÇÕES ENVOLVIDOS
O projeto foi proposto em 2017 pelo Ministério

2
PARA MAIS
Público do Paraná (MPPR), por meio da 2ª Promotoria INFORMAÇÕES
de Justiça de Antonina e foi chamado de Painel do SOBRE O TEMA
Observatório do Patrimônio de Antonina. Foi coorde- VER TAMBÉM O
MÓDULO 2.
nado pelo Centro de Apoio das Promotorias de Justiça
de Proteção ao Meio Ambiente, Habitação e Urbanismo
(CAOP MAHU - MPPR). Ele esteve alinhado com as
estratégias da instituição de defender os interesses
difusos e coletivos, defender o regime democrático e
implementar políticas constitucionais, além da neces-
sária resolução extrajudicial de conflitos. Contou com
a parceria interinstitucional de extensão universitária
da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e da FAE
Centro Universitário (FAE). As duas instituições são de
Curitiba e os professores, pesquisadores e alunos dos
cursos de arquitetura e urbanismo participaram ativa-
mente do projeto.
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Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

O projeto contou com a consultoria do IPHAN, responsável pelo tombamento federal.


Contou também com o envolvimento das secretarias municipais de Meio Ambiente, de
Cultura e de Obras de Antonina e do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural. Desde
o início do projeto, as equipes de graduação diagnosticaram e criaram propostas para o
município. Isso mostra a importância de se integrar a gestão pública e as instituições de
ensino superior em projetos de desenvolvimento urbano sustentável.

A aproximação das instituições de ensino superior com as demandas públicas permi-


tiu que os estudantes conhecessem e trabalhassem com questões reais da sociedade
civil, cumprindo sua responsabilidade social de forma propositiva. Por outro lado, o
CAOP MAHU contou com um apoio consultivo especializado na área de preservação do
patrimônio.

REGIÃO Região Sul: plano de gestão do


SUL patrimônio tombado no Município de
Antonina, Paraná
MÓDULO 8
Apresentação de Gabriel Ruiz de
Oliveira, coordenador do curso
de engenharia civil da FAE Centro
Universitário.

APROFUNDE-SE
Enfrentamento da irregularidade fundiária no
Município de Rio Branco do Sul-PR
O trabalho estuda a produção da cidade informal no
Município de Rio Branco do Sul. A sua área urbana é formada
principalmente por loteamentos irregulares ou clandestinos.
Buscou-se entender como se estabelece a irregularidade e as
relações institucionais, burocráticas, legais e territoriais. Foram
considerados fatores comuns a outros municípios, inclusive nas
questões metropolitanas. Mas, também foi dada visibilidade às
particularidades, como a presença do Aquífero Karst.
Diante desse quadro, surgem possibilidades e instrumentos
trazidos pela nova Lei Federal nº 13.465, de 2017, conhecida
como REURB. Ela flexibiliza e desburocratiza o processo de
regularização fundiária.
FAYAD, K. A produção da cidade informal e o parcelamento do
solo urbano: o caso de Rio Branco do Sul - PR. 2018. Dissertação
(Mestrado) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2018.
Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=ATkMMjD1xfs ; https://acervodigital.ufpr.br/
handle/1884/58488?show=full
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Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

APROFUNDE-SE
Lei do Urbanizador Social em Porto Alegre-RS
A Lei 9.162/2003 (Lei do Urbanizador Social) foi editada
no marco da competência normativa urbanística do
município e regulamenta um importante instrumento
do PDDUA. Ele permite que o poder público atue
proativamente para ampliar a produção e a oferta de
Habitação de Interesse Social (HIS). O instrumento
oferece um conjunto de mecanismos que dão ao
município maior capacidade de gerir o solo urbano,
estabelecendo os procedimentos legais que possibilitam
ações em parceria com o setor privado. O objetivo
é ampliar a oferta de HIS e adequar a produção
habitacional à capacidade aquisitiva da população que
geralmente não é atendida pelo mercado.
Disponível em: http://lproweb.procempa.com.br/
pmpa/prefpoa/spm/usu_doc/31_urbanizador_
social_e_parceiro.pdf

VOCÊ SABIA ?
Iniciativa do projeto ANDUS em
São Nicolau/RS: mentoria em Biodesign
em Espaços Públicos
Assessoria para escolher soluções baseadas na natureza para
qualificar prédios e equipamentos públicos. Entre essas soluções
estão instalar coleta de água da chuva, trincheira de infiltração,
telhado verde e fossa de bananeira. As ações reverberaram em
novas parcerias e até na adequação da legislação de parcelamento
do solo para a realidade local. Elas incorporaram novas tecnologias
para o aproveitamento da água.
Rede de Desenvolvimento Urbano Sustentável (ReDUS):
iniciativa “Municípios-piloto ANDUS” e “Semana Nacional de
Desenvolvimento Urbano Sustentável”
Disponível em: https://www.redus.org.br/iniciativas/
semana-dus-2021/biblioteca/5e00091c-75ed-
4524-9c74-7c3af1595283

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