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A fachada ativa como ferramenta para uma realidade urbana mais dinâmica

Article · October 2019


DOI: 10.5935/FAU.20190061

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2 authors:

Fernando Zuin Camila Gregorio Atem


Universidade Estadual de Londrina Universidade Estadual de Londrina
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Doi:10.5935/FAU.20190061

A fachada ativa como ferramenta para uma realidade urbana mais


dinâmica

The Plinth as a tool for a more dynamic urban reality.

ZUIN, Fernando; ATEM, G. Camila


1 UNIFIL, Rolândia-PR/Rua dos Saveiros 76 – Brasil, fernandozuin@hotmail.com
2 UEL, Londrina-PR/Rodovia Celso Garcia Cid - Pr 445 Km 380 Cx. Postal 10.011 -
Campus Universitário – Brasil, camila.atem@uel.br

RESUMO
Este artigo parte da ideia que as pessoas deveriam ocupar mais e melhor o meio urbano (JACOBS, 2011; GEHL,
2013; KARSSENBERG et al, 2015). A forma eleita pelos autores é a discussão através das fachadas ativas, que
visam dar maior vitalidade à transição rua e lote. O objetivo deste artigo é compreender o uso da fachada ativa
na realidade urbana brasileira, especificamente, nas cidades de médio porte, e fomentar sua discussão como
uma ferramenta de projeto para a melhoria da dinâmica urbana. O estudo é acompanhado de análises visuais
que fazem a leitura do bairro da Gleba Palhano, na cidade de Londrina, Paraná, identificando potencialidades a
serem exploradas. Como metodologia se utiliza de Karssenberg et al (2015) que avalia a fachada ativa na rua,
no bairro e no contexto inserido. A conclusão de pesquisa mostra diretrizes para a aplicação da fachada ativa
de forma didática para futuras implantações, também apresenta um ensaio urbano para melhor compreender as
vantagens da ferramenta.
Palavras-chave: Fachada Ativa, Londrina, Desenho Urbano.

ABSTRACT
This article starts from the idea that people can occupy more and better the urban environment (JACOBS, 2011;
GEHL, 2013; KARSSENBERG et al, 2015). The form chosen by the authors is a discussion of the plinths, which
aim for greater vitality in the street and lot transition. The aim of this paper is to understand the use of the plinth
in the Brazilian urban reality, specifically in the medium-sized cities, and to promote its discussion as a project
tool to improve the urban economy. The study is accompanied by visual analyzes that read the Gleba Palhano
neighborhood, in the city of Londrina, Paraná, identifying the potentialities to be explored. As the methodology
used by Karssenberg et al (2015), which evaluated the plinth on the street, in the neighborhood and in the inserted
context. The conclusion of the research shows guidelines for the application of the plinth didactically for future
deployments, also presents an urban essay for better understanding as advantages of the tool.
Key-words: Plinth, Londrina, Desenho Urbano.

RESUMEN
Este artículo parte de la idea de que las personas pueden ocupar más y mejor la ciudad (JACOBS, 2011; GEHL,
2013; KARSSENBERG et al, 2015). La forma elegida por los autores es una discusión de fachadas activas, que
apuntan a una mayor vitalidad entre la calle y la transición de solares. El objetivo de este documento es com-
prender el uso de la fachada activa en la realidad urbana brasileña, específicamente en las ciudades medianas, y
promover su discusión como una herramienta de proyecto para mejorar la dinámica urbana. El estudio se acom-
paña de análisis visuales que leen el barrio de Gleba Palhano, en la ciudad de Londrina, Paraná, identificando
las potencialidades a explorar. Se utiliza de la metodología de Karssenberg et al (2015), que evaluó la fachada
activa en las escalas de la calle, del barrio y del contexto. La conclusión de la investigación muestra pautas para
la aplicación didáctica de la fachada activa para futuros planeamientos de la ciudad, también presenta un ensayo
urbano para una mejor comprensión como ventajas de la herramienta.
Palabras-clave: Fachada activa, Londrina, Diseño Urbano.

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1. INTRODUÇÃO

No Brasil, em meados da década de 70, houve uma forte tendência de implantação das edifica-
ções nos lotes que pode ser chamada de “enclave fortificado” (CALDEIRA, 2000). Essa tendência trata
de voltar todas as atividades do programa do edifício implantado para o interior do lote, sem criar ne-
nhum tipo de relação com a rua, a não ser o acesso. Caldeira (2000) ainda ressalta que os habitantes
da Metrópole passaram a demandar imóveis mais protegidos e pode-se perceber que este fenômeno
prolonga-se até os dias de hoje, concretizando-se pela falta de segurança das cidades.
Esta desconexão do edifício com a rua distancia o pedestre da vida urbana, não o convida a
vivenciar o espaço público. Torna-se difícil que usuário possa criar um vínculo importante e estabe-
lecer um elo relevante, seja social, cultural, econômico ou de transição, com os modelos construídos
(WAGNER, 2015).
Recentemente houve um incremento no interesse em investigar os efeitos sociais da morfologia
arquitetônica e sua contribuição sobre a vitalidade urbana (AGUIAR, 2010; NETTO et al, 2012; HO-
LANDA et al, 2012; GHEL, 2013; SPECK, 2016). Estas pesquisas ressaltam que existe uma estreita
relação entre o espaço urbano e sociedade, e que as qualidades do primeiro, modificariam os hábitos
dos usuários.
Esse artigo visa debater a utilização do pavimento térreo e sua relação com a calçada e o pedes-
tre em um bairro relativamente novo da cidade de Londrina, Paraná, com características de ‘enclaves
fortificados’ como a monotonia do espaço público e pouca vivência urbana dos moradores. A Gleba
Palhano é um bairro de edifícios multifamiliares de classe média alta, que cresceu da especulação
imobiliária, onde cada edifício forma sua própria ilha, com todas as comodidades para os moradores.
A rua é vazia de gente e cheia de carros estacionados. As calçadas são bonitas, mas sua serventia é
basicamente para que os cachorros façam seus passeios. Em melhores palavras um bairro típico de
qualquer cidade brasileira da atualidade, onde as pessoas têm medo da rua e se trancam em seus
portões.
A proposta é rediscutir o papel do andar térreo na dinâmica da cidade, fazendo a inserção de
atividades para que este se torne atrativo, interessante e consequentemente mais seguro para todos.
A estratégia utilizada é a fachada ativa, definida pelo seu tipo de ocupação e alinhamento ao passeio
público, isto é, pelo seu uso não residencial com acesso aberto à população e relação com o logradou-
ro público (PMSP, 2016). Seu objetivo é incentivar a implementação de usos dinâmicos dos passeios
públicos, possibilitando a interação com atividades instaladas nos térreos, o que estimula a vitalidade
dos espaços (CAMPAGNER, 2016).
A vitalidade urbana pode ser explicada como a capacidade de animação em função das rela-
ções sociais que acontecem em um lugar e está condicionada pelas características morfológicas do
ambiente e também pela percepção que seus usuários têm dele. Em uma espécie de analogia à vita-
lidade humana, a vitalidade de um espaço é entendida como elemento indispensável à saúde e à vida
da cidade, como uma linha intermediária entre a apatia e a excitação. (SANTANA E RAGAZZI, 2019).
Como salienta Speck (2016) “Apenas recentemente no Brasil começamos a entender a importância do
espaço público das ruas como elemento-chave de integração social e econômica.”
A partir deste entendimento este artigo coloca a vitalidade urbana como objetivo e a fachada
ativa como meio para atingi-la.

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2. MÉTODO

O desenvolvimento deste artigo divide-se em 3 etapas:


a) aprofundamento sobre o conceito de fachadas ativas, suas potencialidades para as cidades
brasileiras de médio porte;

b) diagnóstico urbano da região escolhida;

c) Proposição em forma de ensaio urbano do uso de fachada ativa em uma das ruas do bairro.

O primeiro passo da pesquisa foi o entendimento do conceito das fachadas ativas e de como
estas vem sendo utilizadas por arquitetos e urbanistas. Esse passo possibilitou um melhor entendi-
mento desta estratégia de projeto, de forma a gerar espaços públicos atrativos e dinâmicos para que
as pessoas voltem a ocupá-los. Buscou-se, tanto no âmbito nacional, como internacional, trabalhos
acadêmicos que discutissem o tema.
Em segundo lugar, foi desenvolvido o diagnóstico urbano do setor estudado, identificando as
potencialidades da área. Foram estudados:
- Lei de zoneamento local

- Uso do solo atual

- Tipos de vias

- Topografia

- Condições das calçadas

- Características das divisas e muros

- Características da interface edifício X calçada e calçada X rua.

- Observações do uso do espaço público pelos usuários

- Presença de ciclistas

- Relação automóveis X caminhabilidade

- Ocupação dos lotes, para implantação da proposta de ensaio urbano.

A metodologia que guia este estudo foi baseada no livro, de Hans Karssenberg et al, chamado
Cidade ao nível dos olhos: lições para os PLINTHS, que expõe o que seria uma fachada ativa de qua-
lidade (KARSSENBERG et al, 2015) . Alguns pontos analisados também levam em conta os conceitos
de Jacobs (2011) de olhos da rua e Gehl (2013) nos seus 12 critérios de qualidade com respeito à
paisagem do pedestre.
Karssenberg et al (2015) trabalham em três escalas: prédio/rua/contexto, identificando elemen-
tos qualificadores da vida urbana que estariam presentes na implantação e uso da fachada ativa.

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Quadro 01: Resumo das escalas de análise unindo, Karssenberg et al (2015), Jacobs (2011) e Gehl (2013):
Escala Variáveis O que aferir Como aferir
Contexto Conexões Como se conecta com o resto da Análise através de mapas viário
cidade, como a cidade pode usufruir da cidade
deste local.
Zoneamento Variedade de atividades. Estudo da Lei de zoneamento
e utilização da plataforma
Zoneamento Fácil (Prefeitura de
Londrina)
Rua Mobiliário e Variedade de atividades e presença Observações in loco, registro por
equipamentos e variedades de usuários, ausência fotografias
de obstáculos, proteção contra
intempéries.
Paisagismo e Conforto Ambiental, estética, presença Observações in loco, registro por
arborização e variedade de usuários. fotografias
Espaços Amenidades locais, possibilidade de Observações in loco, registro por
sentáveis sentar ou se encostar. fotografias
Prédio Uso do solo Diversidade de usos Análise comparativa da lei de
zoneamento com a situação
atual do bairro
Fronteiras Relação Público x Privado, presença Observações in loco, registro por
suaves de zonas de transição, atividades fotografias
existentes, sensação de segurança
(olhos da rua)
Organização dos autores

A partir da investigação de parâmetros e do diagnóstico realizado foi proposto um ensaio pro-


jetual, objetivando aplicar a fachada ativa de modo a contribuir com a qualidade do espaço urbano
da região estudada. Foi escolhida uma região, a partir dos estudos da etapa 2, com potencial para a
implantação e assim, realizado o ensaio.

3. O CONCEITO DE FACHADA ATIVA

O conceito de fachada ativa, ou Plinth, é definido pelos autores Hans Karssenberg et al (2015)
como rodapé em holandês, porém também é descrito como o andar térreo de um prédio. É a relação
dos alinhamentos do lote e o andar térreo de um edifício com a calçada, ou seja, é quando a esfera do
que é privado (edificação) e a esfera do que é público (rua e calçada) se entrelaçam, criando zonas hí-
bridas de interação. É a parte mais crucial do prédio para a cidade ao nível dos olhos (KARSSENBERG
et al, 2015). Uma linha ou espaço intermediário que divide os limites do edifício e da cidade, definindo
a porção que cabe a cada um (SCOPEL, 2017).
Jan Gehl (2013) trata dos locais onde a arquitetura encontra a rua como “espaços de transição
suave. ” O espaço de transição ao longo dos andares térreos, para o autor, é uma zona onde se locali-
zam as portas de entrada e os pontos de troca entre interior e exterior. Portanto, Gehl defende que as
transições proporcionam uma oportunidade para a vida, tanto dentro das edificações quanto logo em
frente a elas, de interagir com o restante da cidade.
Hans Karssenberg et al (2015) explicam que a cidade não é somente um entorno funcional, mas
também um entorno de experiência. Moradores urbanos vivenciam as suas cidades na ‘esfera pública’.
Há um significado maior do que somente ‘espaço público’; inclui fachadas de prédios e tudo que pode
ser visto ao nível dos olhos. Por esse motivo, as fachadas ativas são uma parte importante de prédios,

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zonas híbridas onde um edifício pode até não ter uma boa aparência, porém, com esta zona bem pro-
jetada e vibrante, a experiência pode ser positiva.
É notável a vantagem em utilizar a fachada ativa, e os interesses urbanos podem se aproveitar
dessa ferramenta para melhorar a autenticidade do comércio local, onde as prestações de serviço
rápidas e as transações podem acontecer no térreo, onde o fluxo de pessoas tende a ser mais fluído,
ou seja, é uma questão de a economia urbana aproveitar novas tendências de mercado.
Dentro dessas novas funções oferecidas pela fachada ativa, novos usos podem surgir esponta-
neamente: como bares que utilizam da calçada, co-working criativos temporários e até mesmo inserir
a habitação nesse contexto, para que ela volte a participar do nível da rua. É importante ressaltar que
a fachada-ativa depende da visão de atores chaves que atuam no espaço urbano: promotores imobi-
liários, proprietários, empreendedores, locatários e projetistas; esses devem se posicionar quanto ao
entendimento de que tudo que é implantado na cidade reflete na escala pública (KARSSENBERG et
al, 2015).
O objetivo das fachadas ativas é priorizar a interação do edifício com o pedestre, estimulando-o
visualmente e socialmente. Essa tipologia torna a passagem dos pedestres mais interessante, pois
permite que eles possam ver e ser vistos, portanto contribui para a relação entre os domínios (SCO-
PEL, 2017).
A fachada ativa não possui uma tipologia precisa, ela não parte de um padrão de projeto, mas
existem elementos básicos que são importantes para que seu efeito seja eficiente, tais como (KARS-
SENBERG et al, 2015):
• Aberturas são extremamente necessárias, pois é nesse meio que se cria o vínculo entre a cal-
çada e o lote;

• Acessos múltiplos deixam os planos menos segregados;

• Detalhes e desenhos na fachada quebram a monotonia visual;

• Planos translúcidos (não-opacos) melhoram a percepção dos acontecimentos na rua, conse-


quentemente melhoram a segurança;

• Transição livre do pedestre para dentro do térreo, sem elementos que criem barreiras;

• Possibilidade de ocupação espontânea, uma mistura do que acontece na calçada e no lote;

• Vitrines e mostruários;

• Proteção parcial contra intempéries para fomentar a caminhabilidade e estadia.

De acordo com Karssenberg et al (2015) existem critérios metodológicos para a aplicação de


uma fachada ativa de qualidade que se dividem em três níveis de importância. Resumidamente é pos-
sível qualificar a fachada ativa, nas três esferas:
a) Nível do contexto:
Uma escala maior que visa o entendimento urbano onde a fachada ativa deve acontecer com
coerência em uma boa posição no tecido urbano e nas rotas para pedestres e ciclistas, mantendo boa
relação com parques e praças. Onde o desenho urbano seja compatível com a proposta da fachada
ativa, pois esse carrega funções espaciais, econômicas, socioculturais e criativas e deve ser implanta-
do com necessidades respectivas a essas demandas.

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b) Nível da rua:
Avalia a qualidade e os aspectos compositivos para uma caminhabilidade fluída e prazerosa
quanto ao pedestre, onde o passeio é devidamente humanizado, com vegetação presente, mobiliário
e um conforto físico gerado por um bom emprego de materiais na calçada, rua e na variação dos pré-
dios. Uma rua compatível com a ideia da ferramenta da fachada ativa tem um começo e fim claramente
definido, com densidade proporcional ao uso e facilidade de estacionamento, tudo isso com uma com-
posição que apresente qualidade que capta o olho.
c) Nível do prédio:
Análise das pequenas escalas e suas respectivas funções variadas. Nessas escalas aparecem
aspectos visuais importantes para as relações mais íntimas e diretas dos usuários com o objeto do
lote, como: fachadas transparentes, riqueza do material, sinalização, flexibilidade de altura e o caráter
especial da arquitetura quanto volume. Além disso, o nível do prédio diz respeito ao bom funcionamen-
to da zona híbrida, pois é nela que se faz a transição do público para o privado.

4. DIAGNÓSTICO DA REGIÃO: GLEBA PALHANO

Segundo de Paula (2006), a Gleba Palhano localizada na região sudoeste da cidade de Londri-
na, consistia em uma área rural que, com a expansão da cidade para a região sul, sofreu especulação
imobiliária. A partir desta época e principalmente no início dos anos 2000 torna-se a região com a maior
concentração de edifícios residenciais verticais de alto padrão (Fig. 1).

Figura 1: Localização da área de estudo


Fonte: SIGLON (adaptada pelos autores)

A análise da região foi realizada nas três escalas de com Karssenberg et al (2015):

4.1. Escala do Contexto

Conexões: O contexto social, econômico e cultural da região possibilitaria a presença de fa-


chadas ativas, uma vez que o bairro concentra pessoas com poder aquisitivo para consumir, muitas
vezes propensas aos novos usos, como por exemplo coworking. O bairro está na região sudoeste,
conectando a região sul ao centro. A densidade do bairro é tão alta quanto a do centro, devido à sua
verticalização (SOCORRO,2017).
Zoneamento: observando a região nesta escala maior é possível verificar através de uma leitura
de seu zoneamento que as zonas são distribuídas em comercial e residencial (Fig. 5). Estas zonas são
bastante fixas e delimitadas. Nas vias arteriais e estruturais se localizam as zonas comerciais (ZC3) e
nas vias coletoras, as residenciais (ZR7), divisão bastante comum em vários planos diretores de cida-

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des, com separação clara de usos. Os terrenos que se localizam em frente à rodovia estão em uma
zona comercial (ZC5), que permite uso misto, comércio, serviço e indústria.

Figura 2: Delimitação da área, vias e zoneamento


Fonte: SIGLON (adaptada pelos autores)

É possível perceber que nas zonas comerciais, das vias arteriais e estruturais (Fig. 2), se permite
o uso misto, abrindo uma possibilidade de se utilizar comércio no térreo. Desta forma, portanto, não são
criadas oportunidades para intersecções importantes capazes de realizar mesclas nessas distribuições
que contribuem para uma dinâmica urbana mais compactada e com mais vitalidade.
Observando o uso do solo é possível identificar que a maior parte do uso é residencial, com
exceção da via estrutural Avenida Ayrton Senna e Avenida Madre Leônia Milito que têm concentração
comercial (Fig. 3).

Figura 3: Uso do solo e Mapa topográfico com rua escolhida para o estudo
Fonte: SIGLON (adaptada pelos autores)

Com a ideia de que as fachadas ativas devam estar em coerência com o tecido urbano, seus
usos, as rotas da pedestre, ciclistas, verifica-se a possibilidade de utilização na rua Ernani Lacerda de
Atayde (Fig. 3), pois esta ainda está em fase de ocupação com muitos lotes vazios, é uma via arterial
possibilitando uso misto, tem ruas largas e de mão dupla, onde os pedestres poderia circular e se po-
deria incorporar ciclovias. Esta rua possui uma topografia menos acidentada que outras arteriais da
região facilitando a caminhabilidade (Fig. 3).

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4.2. Escala da Rua:

Mobiliário e equipamentos: Quanto aos mobiliários e equipamentos, nota-se que existem somen-
te alguns pontos de ônibus no bairro, que não oferecem lugar para sentar, somente proteção contra
chuva e sol. As luminárias variam muito dependendo da construtora responsável pelo edifício, não
havendo padronização. Os moradores criaram uma associação que projetou uma identidade visual
para as placas indicativas de ruas.
Há somente uma praça, muito pequena no bairro, que é muito utilizada pela população de todas
as idades, isso evidencia que mesmo tendo todas as comodidades dentro de seus edifícios as pessoas
apreciam ir para os espaços públicos.
Os edifícios se conectam com a rua somente através de suas portarias restando um grande muro
divisório entre o edifício e a calçada (Fig. 4).

Figura 4: Interfazes rua, calçada e muros do bairro


Fonte: Autores

Paisagismo e arborização: neste nível pode-se notar que as calçadas são bem cuidadas, existe a
presença de vegetação em alguns edifícios, outros somente seus muros recuados, deixando canteiros
frontais sem composição. O paisagismo, algumas vezes apresenta riscos aos pedestres e as pessoas
com pouca visão devido à sua altura. O sombreamento ainda é incipiente devido ao bairro ser jovem.
Em termos de variedade de materiais na conexão com a calçada é possível verificar bons exem-
plos que mesmo oferecendo um muro divisório para a via, tentam amenizar através do uso de diver-
sificada vegetação. Muitas vezes, porém, é notável a pouca preocupação com quem passa pela rua,
oferecendo muros monocromáticos e altos.
Espaços sentáveis: Em alguns edifícios que ficam na esquina, há presença de um banco para
sentar. Não há outros locais nem para sentar, nem para encostar. Existem duas ciclovias na região,
ambas nas avenidas estruturais e são muito pouco utilizadas pelos ciclistas, seja por sua declividade
acentuada ou por não fazerem conexão com outras ciclovias.
Não há bicicletários, apesar da via comportar os mesmos, uma vez que tem mão dupla e canteiro
central. Na maioria das vias é permitido estacionar carros dos dois lados, verificando-se a prioridade
que se dá ao carro em detrimento do pedestre. Em alguns canteiros não existe guia rebaixada onde se
atravessa a rua. É importante salientar que este é um bairro novo já desenhado depois do surgimento
da norma de acessibilidade NBR 9050, não justificando a ausência de guias rebaixadas.
Quanto à diversidade de público, nota-se a presença predominante de famílias nas calçadas.
Muitas vezes a mesma é utilizada apenas para passeios com animais de estimação.

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4.3. Escala do Edifício

Uso do solo: Como comentado acima, o uso do solo é basicamente residencial com edifícios
multifamiliares, as vias estruturais são comerciais, coletoras e locais residenciais. O uso do solo é
bastante segregado.
Fronteiras suaves: Com relação à conexão rua e edifício, a maior parte se restringe à portaria, no
restante, apesar de possuírem vegetação para amenizar seus duros muros, não há nenhuma ligação
com a rua, o que faz com que haja segregação e monotonia; poucos edifícios possuem grades ou vidro
na sua divisa, quando o tem, sempre apresentam cerca viva para que o contato visual seja minimizado.
Sobre os aspectos visuais, os edifícios não oferecem atrativos a nível dos olhos, todos são altos
e não há conexão com quem passa pela calçada. Há ausência de escala humana.
Os planos opacos dos muros pioram a percepção dos acontecimentos na via, consequentemen-
te incidem na sensação de segurança.
Pelo fato dos edifícios ocuparem todo o lote no térreo, não existe espaço para ocupações ou
acontecimentos espontâneos, a ocupação é bastante rígida.
E por todas as características de uso do solo apresentados anteriormente observa-se que as
pessoas não têm muitos atrativos para ir às ruas, restringindo-se a seu próprio edifício.

5. DIRETRIZES PARA FUTURAS IMPLANTAÇÕES

A partir da leitura realizada é possível observar que existe a oportunidade de se debater o uso da
fachada ativa em Londrina, onde o propósito é melhorar a relação do térreo com a rua. A partir desse
entendimento pode-se fazer com que a fachada ativa se torne um instrumento eficiente sendo usado
tanto pelo projetista que vai atuar sob o lote, quanto pelo poder público que influencia nas práticas das
atividades urbanas.
Abaixo segue o ensaio urbano que tem o intuito de exemplificar a aplicação da ferramenta. Como
mostrado anteriormente a área escolhida é a da Rua Ernani Lacerda de Atayde. Desenhou-se o que
seria o uso da fachada ativa em duas esquinas.

Figura 5: Área do ensaio urbano


Fonte:Autores

Alguns problemas surgiriam como na lei de zoneamento, que deveria ser modificada para per-
mitir a fachada ativa como: recuos frontais, tamanho das calçadas e ocupação das mesmas com ati-
vidades. Além disso, o desenho urbano da área deveria corroborar com a ideia de tornar este espaço
mais atrativo, utilizando-se, por exemplo, da inserção de ciclovia, criação mobiliário urbano, parklets

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e sinalização que priorize os pedestres. Os estacionamentos de veículos deveriam diminuir em detri-


mento da atividade dos pedestres.
Percebendo as potentes relações da rua com os lotes nesse cenário, pode-se e rascunhar al-
guns apontamentos utilizando o raciocínio da fachada ativa, como o ensaio abaixo (Fig. 6):

Figura 6: Ensaio urbano volumétrico com fachada ativa da Rua Ernani Larcerda de Atayde
Fonte: Autores

1. Aumento do potencial construtivo: para construções que participam e contribuem para um


melhor cenário urbano, que se encaixam em critérios que podem ser estabelecidos pelo poder
público para o fomento da ferramenta (como o plano diretor de São Paulo);

2. Estímulo ao uso misto: como foi verificado, esta via permite o uso misto e isso deveria ser
utilizado nos projetos, variando o uso tanto na torre, quanto no térreo, mais uma vez o poder
municipal deveria dar incentivos a esta prática.

3. Vegetação mais presente; incentivar a criação de sombras nas calçadas para favorecer a
caminhabilidade, uma vez que a cidade de Londrina apresenta um clima com verões quentes e
úmidos, com incidência solar bastante alta. Este incentivo pode ser obtido através de bônus no
IPTU, como algumas cidades brasileiras já estão tentando implantar, como Jundiaí, Sorocaba,
Americana, São Carlos, entre outras prefeituras.

4. Proteção para os transeuntes e para os usuários de transporte público, visando criar zonas
protegidas e mesmo mais afetivas com este mobiliário urbano, as zonas de proteção podem
oferecer também serviços de internet para o usuário e serviço informativo.

5. Aberturas: vínculo no mínimo visual entre o público e privado “olhos da rua” (JACOBS, 2011).
Neste quesito o projeto arquitetônico do edifício deve ser sensível a esta dinâmica, obtendo
privacidade quando necessário, mas o importante contato entre o público e o privado, como já
enunciava Jane Jacobs em Morte e Vidas das grandes cidades, fazendo com que a rua seja
protegida pelos próprios usuários e cada vez mais as pessoas queiram fazer parte deste novo
espaço. A diversidades nos usos no térreo também auxiliaria neste quesito.

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6. Relação público privado cede espaço para dinamizar o desenho urbano; Espaços que se
interconectam fazem com que os limites do público e do privado de confundam, melhorando a
apropriação do espaço pelas pessoas.

7. Dinamismo dos detalhes nas faces para evitar monotonias na paisagem; é preciso investir em
bons projetos, que trabalhem com cores, texturas e materiais, procurando aguçar não somente a
visão, como o tato, e o olfato das pessoas. Assim, são criadas memórias relacionadas ao sentido
(ACKERMAN,1997), que podem auxiliar na construção de uma apropriação do espaço.

8. Ocupação do recuo frontal com mobiliário para fazer com que o público participe das zonas
híbridas: rua, calçada e lote. Este recurso, também tem como objetivo modificar a percepção do
espaço público através do seu uso. O local torna-se mais agradável e dinâmico, conforme vai
sendo ocupado.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através deste estudo foi possível entender que a fachada ativa pode fazer parte da realidade
urbana brasileira, como já está sendo debatida em algumas capitais. É importante salientar que o pa-
pel do poder público, como evidenciado nos pontos acima, principalmente na mudança de legislação
e criação de incentivos para que a fachada ativa possa ser efetivada. Esse é um ponto fundamental
nesta mudança de paradigma, isto é, do paradigma dos enclaves fortificados, para o paradigma da
cidade ao nível dos olhos ou a cidade para as pessoas. São formas diferentes de conceber e vivenciar
o espaço urbano e o privado. Todos os agentes devem estar envolvidos na busca de soluções locais
de cada bairro.
No caso do bairro estudado, que foi criado para que cada edifício fosse um paraíso próprio, o
desafio é grande, porém, possível. Percebe-se que os poucos espaços comuns existentes, como a
pequena praça Pé Vermelho, sufocada entre as torres, dão uma pista de que as pessoas gostam de
conviver nos espaços públicos, apesar do projeto do bairro e dos prédios dizerem o contrário. Esta
pequena praça abriga os mais variados públicos, desde crianças, idosos e adolescentes até pessoas
passeando com seus animais de estimação. É um pequeno oásis no mar de prédios. O esforço deve
ser conjunto na tentativa de fazer com que as pessoas se apropriem do espaço público tornando-o
melhor e mais seguro.

7. REFERÊNCIAS

ACKERMAN, James S. La villa: forma e ideología de las casas de campo. Madrid: Akal, 1997.

AGUIAR, Douglas. Alma Espacial: corpo e o movimento na arquitetura. Porto Alegre: Ed. UFRGS,
2010.

CALDEIRA, T. Cidade de muros: Crime, segregação e cidadania em São Paulo. São Paulo: Ed.
34; Edusp, 2000.

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DE PAULA, R. G. A verticalização na Gleba Palhano - Londrina - PR: uma análise da produção


e consumo da habitação. Monografia (Bacharelado em Geografia ao Departamento de Geociên-
cias) da Universidade Estadual de Londrina, UEL, 2006.

GEHL, Jan. Cidades para Pessoas. Ed. Perspectiva. São Paulo, 2013

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Evento preparatório: Apoio: Apoio Financeiro: Organização:


Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo
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