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Edições FAPF
Participantes ao projecto de pesquisa
pesquisadores: Mohamad Arif, Luciano Cupelloni, Gian Piero Donin, Vicente Joaquim, Idálio Juvane, Maria Spina
levantadores: Mahomed António Narotamo, Fernando Manuel Nguenha, Munir Zahedali Mamodhai, Samsone Micheque Zicai
Ficha técnica
título: Bairro Militar de Nampula
coordenação: Vicente Joaquim, Maria Spina
registo legal: 4587/RLINLD/05
Documentos de levantamento
– a casa uni/bifamiliar 15
– a casa multifamiliar 39
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Recebi com muito prazer a cópia da publicação que a Faculdade de Arquitectura e Planeamento
Físico da Universidade Eduardo Mondlane dedicou ao Bairro Militar de Nampula. Através dos desenhos e
das fotografias é documentado um episódio importante da vida da cidade de Nampula e uma parte
fundamental da história deste País.
Agradeço aos estudantes e professores que contribuíram para o resultado durante muitas semanas
de trabalho no campo e agradeço também aos moradores do bairro que acolheram com amizade os partici-
pantes nas operações de levantamento e participaram com informações e lembranças na reconstrução da
história do próprio assentamento.
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MORADIAS NO CONTEXTO FORMAL DA CIDADE DE NAMPULA. O “Regionalismo nacionalista”, em
voga na casa civil, se afirma também nas casas do Bairro Militar que apresentam cober-
turas em telha de várias águas, beirais, varanda ou portal de entrada e chaminés
conspícuas.
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Apresentação
A presente publicação dedicada ao Bairro Militar da cidade de Nampula é a segunda deste tipo depois da que
foi dedicada ao Antigo Bairro Militar da cidade de Maputo. Ela resulta igualmente de uma feliz articulação entre
os imperativos da didáctica e as vantagens da ligação com os problemas da realidade concreta do país,
permitindo-se assim a integração das actividades de ensino, de investigação e de extensão. Esta integração
que, neste caso específico, foi feita no âmbito da leccionação da disciplina de levantamento arquitectónico e
urbano, só foi possível devido à generosa colaboração do Estado-Maior General, que é sem dúvida de louvar.
No contexto formal é interessante notar que muitos dos exemplares habitacionais levantados denotam um
posicionamento marcado pela tentativa de afirmação de um “regionalismo nacionalista”, em voga particu-
larmente no princípio do século passado em Portugal e realçado no período do Estado Novo. Nas moradias,
em particular, nota-se como que uma busca, nem sempre erudita como acontece nas casas de Raul Lino,
da representação formal de elementos da arquitectura popular portuguesa e de modismos de tipo mediter-
rânico, tão ao gosto de certas elites da época, na metrópole e nas colónias. Não se trata no entanto da casa
do tipo “casal de família” com “jardim floreiro e legumeiro” e com “indumentária e estética camponesa” como
preconizava Fialho de Almeida, no início do século passado, mas sim de exemplares de moradias – particu-
larmente em Maputo – que se socorrem de elementos tipológicos da casa tradicional à portuguesa, com
coberturas em telha de várias águas, beirais, varanda ou portal de entrada e chaminés conspícuas.
Júlio Carrilho
Maputo, 2 de Julho de 2005
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Nota histórica
1
Teixera BOTELHO, A História Militar e a Política dos Portugueses em Mocambique, vol. 1,
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O processo de levantamento
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MAPA DA CIDADE DE NAMPULA, ANTES DO 1970, ESCALA 1:5000. A dedicatória, à esquerda em cima, diz: “Oferecida ao AHM em 1970 pela
Câmara Municipal de Nampula. A implantação a cor de rosa figura o posto militar em 1910 e caminhos para o mato”.
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ANÁLISE DAS ALTERAÇÕES OCORRIDAS NOS
ANTE-PLANO GERAL DE URBANIZAÇÃO, 1940, ESCALA 1:5000. Detalhe (mapa 449, Arquivo
Arquitectónico, Direcção Provincial de Obras Públicas e Habitação de Nampula).
NAMPULA HOJE. A construção do Bairro Militar constitui uma importante ocasião para definir a estrutura da cidade. Algumas vias de aces-
so, que antigamente desenpenharam as funções esclusivamente de caracter militar, são ainda de particular importância na ligação com
outros pontos da Província.
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Equipa de trabalho
Auxiliares:
Mahari Tecle, Alberto Isabel Raúl da Costa, Salvador Raimundo Fernando
e os moradores do Bairro Militar
Agradecimentos
Ficam aqui expressos os nossos sinceros agradecimentos a todos aqueles que contribuiram directa ou indirectamente
para este trabalho. Pela sua disponibilidade, pelo interesse manifestado pelo trabalho e pelo apoio que nos proporciona-
ram registamos aqui, em especial, os nossos agradecimentos ao General Lagos Henrique Lidimu, Chefe do Estado Maior
General das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, e aos Oficiais abaixo descriminados:
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Documentos de levantamento:
a casa uni/bifamiliar
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Casas bifamiliares geminadas
Casas com dois quartos e sala de estar. Evidenciam-se igualmente as zonas de
cozinha, casa de banho exterior e arrecadação. Entre o muro de vedaçâo prin-
cipal e as casas existe um espaço de uso comun. Todas as cinco casas deste
grupo têm uma galeria/varanda em sua volta. A diferência reside apenas nos de-
talhes arquitectónicos: duas casas apresentam janelas com arcos, bases de pila-
grupo A
res decoradas, bem como corrimãos curvos nas escadas de acesso.
Vista axonométrica. Original em papel vegetal, desenho a tinta de china, escala 1:100.
Elaboração: Fernando Manuel Nguenha.
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Em cima, planta de piso. Original em papel vegetal, desenho a
tinta de china, escala 1:100.
Elaboração: Fernando Manuel Nguenha.
Ao lado, análise funcional. Desenho original colorido, escala
1:200. Elaboração: Fernando Manuel Nguenha.
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A partir de cima, alçado principal, alçado posterior e alçado late- Em baixo à esquerda, vista lateral do edifício sendo visivel a
ral esquerdo. Originais em papel vegetal, desenhos a tinta de entrada ao logradouro posterior (Arquivo Fapf).
china, escala 1:100. Em baixo à direita, vista do logradouro posterior, sendo visiveis
Elaboração: Fernando Manuel Nguenha. as entradas para a cozinha e arrecadação (Arquivo Fapf).
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Casas unifamiliares isoladas
Beneficiam-se de um jardim frontal junto à rua pública e possuem um pórtico de
acesso principal bem como uma varanda, localizada no lado poente da casa.
Esta tipologia é a unica que apresenta uma característica diferente na zona da
recepção. Ao contrario das outras tipologias, a zona de recepção prolonga-se
para o interior do edifício através de um pequeno corredor.
grupo B
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pág. 22 pág. 23
Em cima à esquerda, planta de piso. Original em papel vegetal, A partir de cima, alçados: principal, lateral esquerdo, posterior e
desenho a tinta de china, escala 1:100. Elaboração: Samsone lateral direito. Originais em papel vegetal, desenhos a tinta de
Micheque Zicai. Em cima à direita, vista frontal e lateral, sendo china, escala 1:100. Elaboração: Samsone Micheque Zicai.
visiveis o pórtico da entrada principal e a varanda do lado poen-
te. Em baixo, análise funcional. Desenho em ArchiCad, escala
1:200. Elaboração: Samsone Micheque Zicai.
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Casas unifamiliares isoladas de dois pisos
Estes edifícios beneficiam de uma área de jardim localizado de fronte de cada
um deles. O terreno onde estão construídos apresenta um declive considerável
e, como resultado, os jardins encontram-se a uma cota relativamente alta se
comparada com a cota do resto do pátio da casa. Em casas localizadas nos
grupo C lotes com pendência ainda maior foram construídas caves, servindo neste caso
como arrecadações ou garagens.
Ao lado, implantação. Original em papel vegetal, desenho a tinta de china, escala 1:400.
Elaboração: Mahomed António Narotamo
Em baixo, vista axonométrica. Original em papel vegetal, desenho a tinta de china, esca-
la 1:100. Elaboração: Mahomed António Narotamo
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pág. 26 pág. 27
A partir de cima, planta do rés-do-chão e do primeiro andar. A partir de cima: à direita, alçado principal e alçado posterior; à
Originais em papel vegetal, desenhos a tinta de china, escala esquerda, alçado lateral direito e alçado lateral esquerdo. Origi-
1:100. nais em papel vegetal, desenhos a tinta de china, escala 1:100.
Elaboração: Mahomed António Narotamo Elaboração: Mahomed António Narotamo
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Casas unifamiliares geminadas
Edifícios com três quartos, sala e ante sala, cozinha e casa de banho. Existe
também um espaço que serve de transição entre a sala e a cozinha. O acesso
à única varanda existente é feito pela sala comum.
Os edifícios, embora simples na sua forma e distribuição espacial, têm uma pre-
grupo D sença marcante devido ao aspecto rígido que transparece e pela sua repetição
ao longo da via.
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Em cima, alçado frontal; à esquerda, alçado lateral. Originais em
papel vegetal, desenhos a tinta de china, escala 1:100.
Elaboração: Samsone Micheque Zicai.
Em baixo, planta de piso. Original em papel vegetal, desenho a
tinta de china, escala 1:100.
Elaboração: Samsone Micheque Zicai.
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Em cima, alçado posterior. Original em papel vegetal, desenho
a tinta de china, escala 1:100.
Elaboração: Samsone Micheque Zicai.
Em baixo, vista de uma casa. Os edifícios são construídos em
alvenaria, com cobertura em lusalite, onde o chaminé aparece
como o elemento mais destacável.
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Casas unifamiliares geminadas
Casas compostas por dois quartos, uma sala de estar, casa de banho, cozinha,
arrecadação e varanda de entrada. Os seus logradouros frontal e posterior têm
dimensões relativamente pequenas. Como resultado do desnível do terreno, o
logradouro posterior se encontra a uma cota baixa se comparada ao nível da
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pág. 34 pág. 35
A partir de cima, alçados: principal, lateral esquerdo, lateral direi- Em cima, planta de piso. Original em papel vegetal, desenho a
to, posterior. Originais em papel vegetal, desenhos a tinta de tinta de china, escala 1:100.
china, escala 1:100. Elaboração: Munir Zahedhali Mamodhai.
Elaboração: Munir Zahedhali Mamodhai. Em baixo, vista da casa
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Casas unifamiliares geminadas
Casas com dois quartos, uma sala, cozinha (com a respectiva arrecadação) e
casa de banho. Dois espaços junto a sala servem de transição tanto para a
parte frontal da casa como para a zona de serviços. Esta situação faz com que
alguns vãos de janelas da sala não sejam abertos directamente para o exterior.
grupo F
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Em cima, planta de piso. Original em papel vegetal, desenho a No centro, alçado principal e posterior. Originais em papel vege-
tinta de china, escala 1:100. tal, desenhos a tinta de china, escala 1:100.
Elaboração: Samsone Micheque Zicai. Elaboração: Samsone Micheque Zicai.
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Documentos de levantamento:
a casa multifamiliar
I
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Predio G
Prédio de rés-do-chão mais treis andares com trinta e dois apartamentos Tipo 1 sendo oito apartamentos em cada piso.
O edifício dispõe de uma escada de acesso central, sendo a distribuição ao nível dos pisos feita por corredores longos
localizados na parte frontal. A parte posterior é reservada às varandas de serviço de cada um dos apartamentos.
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Em cima, alçado posterior; ao centro, planta de piso. Originais em papel vegetal, desenhos a tinta de china, escala
1:200. Elaboração: Fernando Manuel Nguenha. Em baixo, planta detalhe dos apartamentos. Original em papel vege-
tal, desenho a tinta de china, escala 1:100. Elaboração: Fernando Manuel Nguenha.
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Em cima à esquerda e em baixo, à esquerda e à direita, vistas sensação visual e estética diferente. Em cima à direita, alçado
do predio. Os parapeitos dos corredores de circulação e das lateral. Original em papel vegetal, desenho a tinta de china, esca-
varandas posteriores foram executados por forma a criar una la 1:100. Elaboração: Fernando Manuel Nguenha.
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Predio H
Prédio de rés-do-chão mais dois andares com vinte e quatro apartamentos Tipo 1 sendo oito apartamentos em cada piso.
O edifício dispõe de duas escadas de acesso laterais. A distribuição pelos apartamentos ao nivel de cada piso é feita por
um corredor longo localizado na parte frontal.
Vista axonométrica. Original em papel vegetal, desenho a tinta Esboço em perspectiva. Original em papel vegetal, desenho a
de china, escala 1:100. tinta de china.
Elaboração: Mahomed António Narotamo. Elaboração: Mahomed António Narotamo.
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pág. 46
A patir de cima:
Alçado frontal. Original em papel vegetal, desenho a tinta de
china, escala 1:100. Elaboração: Mahomed António Narotamo.
Planta de piso. Original em papel vegetal, desenho a tinta de
china, escala 1:200. Elaboração: Mahomed António Narotamo.
Análise funcional. Original em Archicad, escala 1:200.
Elaboração: Mahomed António Narotamo.
Planta detalhe dos apartamentos. Original em papel vegetal,
desenho a tinta de china, escala 1:100. Elaboração: Mahomed
António Narotamo.
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Á esquerda, alçado lateral esquerdo. Original em papel vegetal,
desenho a tinta de china, escala 1:100. Elaboração: Mahomed
António Narotamo.
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Predio I
Prédio de rés-do-chão mais dois andares com vinte e quatro apartamentos Tipo 1 sendo oito apartamentos em cada piso.
A comunicação vertical està garantida por meio de uma escada central e a distribuição pelos apartamentos por um cor-
redor longo localizado na parte frontal. Todos os apartamentos possuem uma varanda localizada na parte posterior.
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pág. 50 pág. 51
A partir de cima: Em cima à esquerda, alçado lateral direito. Original em papel
Alçado posterior. Original em papel vegetal, desenho a tinta de vegetal, desenho a tinta de china, escala 1:100. Elaboração:
china, escala 1:100. Elaboração: Munir Zahedali Mamodhai. Munir Zahedali Mamodhai.
Planta de piso. Original em papel vegetal, desenho a tinta de
china, escala 1:200. Elaboração: Munir Zahedali Mamodhai.
Planta detalhe dos apartamentos. Original em papel vegetal,
desenho a tinta de china, escala 1:100. Elaboração: Munir
Zahedali Mamodhai.
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De Nampula a Maputo: confrontando tipologias em
bairros militares
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As tipologias seguem mais ou menos o esquema experimentado pelos
portugueses em Maputo, evidenciando-se três tipos principais: (1) a
unifamiliar isolada, (2) a geminada bifamiliar e, (3) a multifamiliar de um
ou mais pisos.
As casas unifamiliares isoladas seguem um esquema de planta habitual:
entrada principal, destaca-se um pórtico de acesso principal, à cota signi-
ficativamente elevada, voltado para o pequeno jardim frontal junto à via
pública. Mais recolhido para o quintal maior, acedesse a entrada de ser-
viço ligando funções complementares de serviço como cozinha, higiene
pessoal. Os espaços de dormir e de estar e zona de serviços comunicam-
se entre si através das várias portas no mesmo compartimento principal.
Complementar às funções de serviço da casa, localiza-se uma pequena
edificação independente no fundo do grande quintal recolhido. A casa é
implantada centralmente, a volta do qual se desfruta de amplo espaço
livre privado também, complementar às vivências diárias de oficiais supe-
riores. Pórticos, varandas e janelas seguem as linhas de uma arquitectura
vernácula as quais são somados elementos como os enfáticos sistemas
de ventilação dos telhados e os planos horizontais, como o quebra-sol
nas janelas, prolongamentos curiosos das paredes externas para formar
falsas fachadas e outras “astúcias” decorativas.
Uma variação da tipologia habitacional unifamiliar isolada é a casa unifa-
miliar isolada de dois andares, certamente destinada aos oficiais de grau
superior. Verdadeira residência “patronal” articula os seus espaços em
dois pisos ligados por uma escada vagamente hollywodiana, situada no
hall entrada em dupla altura no qual um corredor distribui aos quartos no
primeiro andar. No piso térreo, a partir de uma varanda frontal acede-se
ao hall de distribuição em dupla altura, é o espaço-chave da casa. A sala
comum volta-se simultaneamente para o jardim frontal e posterior em
ventilação cruzada. A zona de serviços que inclui cozinha e sanitário para
visitas usufrui do pátio posterior mais amplo, de onde parte a escada de
serviço ligando o estacionamento de viaturas na cave. Pela topografia do
local a cave não é perceptível pela via pública. Os espaços de repouso e
respectivos sanitários distribuem-se ao longo de um corredor no piso
superior. Uma tipologia rica com volumes articulados e suspensos, com
projecções, entalhes, e uma sucessão de coberturas variadamente orien-
tadas.
Mais sóbrias e regulares as casas bifamiliar geminadas. O eixo de
simetria, que coincide com a parede de divisão entre as residências e o
talhão, constitui elemento dominante da composição e, representando-se
como um único elemento de negação da seu uso bifamiliar. Um caso par-
ticular, é a destacada por dois acessos laterais em pórticos simétricos,
confundindo-se como única residência, com um murro de vedação e de
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separação do lote baixo e subtil. A distribuição interna evidencia zonas
noite e dia, separados com um corredor central não iluminado natural-
mente. A linguagem é caracterizada por uma cobertura unificadora mar-
cando e identificando claramente os volumes mais salientes, elementos
de ventilação horizontalmente distribuídos sobre as janelas que repetem-
se, sem a mesma função, verticalmente nos pórticos de acesso lateral.
Outro caso interessante é a geminada bifamiliar com galeria/varanda em
sua volta. Aqui pelo contrário, a separação das casas é mais evidenciada
pelas entradas simetricamente implantadas lado a lado denunciando a
sua natureza bifamiliar do conjunto. A sua peculiar volumetria destaca três
componentes: (a) o quadrado onde funcionam os quartos e ambiente de
estar e refeições; (b) o rectângulo da zona de cozinha e banho e, (3) a ar-
recadação incorporada ao edifício voltada para o pátio posterior. Esta ti-
pologia, que é a mais antiga, exemplifica sua adaptação às condições
locais de clima e vivência. Com semelhantes características de distribui-
ção funcional, existe outra tipologia sem a galeria/varanda que caracteriza
a anterior tipologia, com uma volumetria que se assemelha a uma cruz.
Próximo a experiência racionalista da casa colectiva resulta a tipologia
multifamiliar em altura. Trata-se de um bloco habitacional com escadas de
acesso vertical nas extremidades laterais do edifício que servem a um
corredor comum de acesso aos oito apartamentos por piso, simétricas
duas a duas. Pelas suas características e dimensões visam servir jovens
e simples oficiais. As casas são constituídas por uma pequena sala
comum, um quarto com varanda e um quarto de banho. A tipologia é
caracterizada por um extenso corredor de acesso a casa, funcionando
também como elemento de protecção ambiental dos espaços interiores.
Os acessos simétricos aos apartamentos são destacados por volume sa-
liente, também evidenciado na correspondente fachada oposta, pelas
varandas. A linguagem manifesta claramente uma intenção de contenção
de custos de construção, com elementos construtivos simples, modulares
e repetitivos. Outra variante tipológica é aquela com apenas uma escada
de acesso vertical aos pisos superiores centralmente localizada.
Em geral, salvo qualquer excepção, manifesta-se evidente no Bairro Mili-
tar de Nampula menor qualidade linguística das construções. Os peque-
nos burgueses vernáculos exportados na colónia para reproduzir condi-
ções de vida consideradas desejáveis sem uma procura mais inovadora
da linguagem que decididamente produzem exemplos mais interessan-
tes, por exemplo, no Antigo Bairro Militar de Maputo. De facto aqui se
produziram exemplos mais interessantes, seja do ponto de vista mera-
mente projectual seja pelo esforço de adaptação que os racionalistas
enfrentaram ao implantar na região sub-sahariana.
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Confrontando tipologias: alguns exemplos
CASA UNIFAMILIAR COM UM ÚNICO PISO
Bairro Militar de Nampula Antigo Bairro Militar de Maputo Antigo Bairro Militar de Maputo
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CASA BIFAMILIAR GEMINADA
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Bairro Militare de Nampula. O mesmo tipo se encontra nos bairros militares de Maputo, Catembe e Boane
57
CASA MULTIFAMILIAR
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Nota sobre a conservação e reabilitação
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ca renunciar aos projectos e muito menos opor-se a qualquer transfor-
mação, ao contrário se pode identificar um particular âmbito profissional
que vê diferentes níveis de conservação/transformação. São várias de
facto as “orientações” de intervenção sobre o património contemporâneo,
e não é possível derivá-la esquematicamente de uma classificação
básica: da manutenção ordinária à requalificação arquitectónica, da rea-
bilitação estrutural a ambiental, é o projecto de arquitectura que define as
soluções mais correctas e viáveis. Seja no caso das obras dos mestres
do Movimento Moderno que dos testemunhos do período colonial, seja
em presença de estruturas de betão armado, de guisa ou ferro. E por
tudo isto é necessário dispor de consciência histórica e sensibilidade
projectual, de métodos e técnicas especializadas.
A conservação, restauro e reconstituição dizem respeito à intervenção no
edifício por meio de obras que visam a sua manutenção, mas, enquanto
que a conservação implica apenas pequenas reparações periódicas, o
restauro e a reconstituição envolvem uma intervenção mais profunda,
determinada por um estado mais adiantado de degradação. Na Carta de
Atenas, publicada por Le Corbusier, se refere que, embora a salvaguarda
de edifícios ou de conjuntos urbanísticos com valor cultural seja muito
importante, não se pode sacrificar a qualidade de vida das populações,
defendendo-se a necessidade de construir novas cidades que respon-
dessem aos direitos fundamentais do indivíduo.
Reabilitação, reutilização e revitalização de zonas urbanas: a reabilitação
é um processo integrado sobre uma área que se pretende manter ou
salvaguardar. Envolve o restauro ou conservação dos imóveis, a que por
vezes se considera de reabilitação física, e a dinamização do tecido eco-
nómico e social, chamada revitalização funcional (manutenção de um
bairro implica a conservação das suas características funcionais e o
aumento da sua capacidade de atracção, quer para as pessoas que lá
habitam quer para o exercício de actividades económicas e sociais com-
patíveis com a residência). A cidade e os seus edifícios representam tes-
temunhos vivos de épocas passadas. Os conceitos de património e de
métodos usados para com ele lidar têm vindo a ser alargados. Aos
valores culturais juntam-se também os sociais e os elementos naturais,
considerando não apenas o monumento isolado como também o conjun-
to com valor, que pode ser estético, cultural ou social.
A intervenção nestas áreas não se pode fazer sem a participação dos
habitantes e utilizadores, que devem ser beneficiados com o processo.
Página ao lado, a falta de manutenção
Para a programação e coordenação de operações na cidade, com ori-
ordinária, bem como de pequenas
reparações periódicas, é a causa princi-
gem nos mais variados sectores e agentes, torna-se necessário um
pal de degradação das casas do Bairro quadro de planeamento e programação municipal que verifique a coerên-
Militar de Nampula. cia dos objectivos e da delimitação das áreas de intervenção, permitindo
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avaliar os prováveis impactos de outros programas municipais –
transportes, equipamentos importantes conjuntos de habitação colectiva,
etc.
Não existe receita para estas intervenções, que têm de ser adequadas
às condições locais da cidade e do País, tendo em conta os instrumentos
legais e meios financeiros disponíveis. É preciso definir uma metodologia
de análise para intervir na cidade ou num determinado edifício ou monu-
mento, desde a fase de diagnóstico até a fase de projecto. Uma metodo-
logia que a partir da análise e levantamento do estado de facto do bem,
possa clarificar o seu papel na cidade e as suas relações, identificando o
estado de origem e de conservação para alcançar e definir o projecto de
requalificação.
Cada uma desta actividade contém competência e capacidade técnica,
para proceder ao levantamento ou às pesquisas sobre a consistência
material e seus fenómenos de envelhecimento e de degrado. Para avan-
çar na pesquisa histórica, arquivista e documental. Para escolher ou con-
firmar a utilização funcional, para efectuar a melhor adequação tecnológi-
ca, estrutural e construtiva. Se de facto o projecto de restauro e requalifi-
cação é projecto de arquitectura a pleno título, para lá da mesma especi-
ficidade de “restauro do Moderno”, ou talvez mesmo por esta razão da
complexidade da categoria, tal projecto não pode exprimir-se se não a
partir da compreensão profunda da obra, que é sempre interpretação
subjectiva através da qual a arquitectura como processo vive uma nova
estação. E portanto a mesma instrumentação para o projecto não pode
assumir-se univocamente mas é essa também cada vez objecto de pes-
quisa, a partir de uma metódica rigorosa: se não é dado o modelo de
intervenção semelhante não se pode generalizar ambientes e níveis de
análise. Ao contrário do arquivista, que tem apenas a neutra competência
de conservar os documentos na sua totalidade tendo o cuidado de dispo-
nibilizá-los materialmente de forma lógica, o arquitecto que tende a
delinear uma estratégia de intervenção pode e deve operar em termos
sensíveis e pragmáticos já nas primeiras actividades de documentação e
análises.
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Reprodução e encadernação: Académica, Lda - Maputo
Setembro de 2005