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EDUCANDO PARA O PATRIMÔNIO CULTURAL:

Relatos de uma experiência na cidade do Natal/RN

Andréa Virgínia Freire Costa1


Patrícia Daliany do Amaral2

Resumo: Esse artigo apresenta e discute uma iniciativa de educação patrimonial


realizada em 2012/13 no centro histórico de Natal/RN, na qual os moradores da cidade
visitavam seus bairros mais antigos – Cidade Alta e Ribeira – apropriando-se do
significado desses lugares. Essa atividade foi viabilizada por meio do projeto de
extensão do IFRN3 Educando para o patrimônio cultural, que teve como embasamento
os princípios da ação cultural, educação patrimonial e comunicação interpretativa. Aqui
serão abordadas as percepções das autoras e dos participantes, as dificuldades
encontradas na implementação do projeto e sugeridos caminhos para que efetivamente
seja possível o estabelecimento de relações entre os moradores da cidade do Natal e seu
centro histórico, contribuindo para a formulação de políticas públicas para a cultura.

Palavras-chave: centro histórico, patrimônio cultural, educação patrimonial,


comunicação interpretativa.

1. Introdução:
Em 2010, deu-se o tombamento do centro histórico de Natal composto por parte
dos bairros da Cidade Alta e da Ribeira pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (IPHAN), em função de seu valor arquitetônico, urbanístico e
paisagístico. Essa ação reflete o entendimento geral, seja das instituições
governamentais ou dos grupos sociais, da necessidade de preservação de elementos
representativos do passado, como forma de manter a memória e identidade coletivas. A
conservação do patrimônio cultural coloca-se como uma resposta às imposições da
globalização, ao desconforto do presente e às dúvidas relativas ao futuro. Os bens
patrimoniais são reverenciados pelo seu valor de memória, isto é, enquanto portadores
de valores culturais de um passado, que se manifesta no presente, suscitando os
sentimentos de continuidade, coesão e pertencimento de um dado grupo social (ANICO,
2005). Em um tempo e espaço onde tudo é efêmero e fluido, o patrimônio cultural
apresenta-se como um valor constante e universal.
Contudo, a despeito do reconhecimento da importância da preservação
patrimonial, observou-se no processo de tombamento do centro histórico de Natal a

1
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, Curso de Tecnologia em
Produção Cultural. E-mail: andrea.costa@ifrn.edu.br.
2
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, Curso Subsequente em
Guia de Turismo. E-mail: patricia.amaral@ifrn.edu.br.
3
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte.
repetição de uma prática comum às políticas de preservação do patrimônio cultural
desenvolvidas no Brasil ao longo dos anos: as ações são realizadas nas esferas fechadas
dos órgãos governamentais de preservação, sem considerar aqueles em nome de quem
se faz a preservação. Assim, apesar do centro histórico de Natal receber o título de
patrimônio cultural brasileiro, na realidade, percebe-se que ele é pouco conhecido e
apropriado pela sua população. Esse distanciamento dos habitantes da cidade em relação
ao seu centro histórico já foi apontado por diversos autores (GOMES NETO, 2010;
TRIGUEIRO, 2005; VELOSO, 2010) e foi corroborado com o desenvolvimento das
atividades acadêmicas no Câmpus do IFRN – Cidade Alta4, quando se percebeu o
desconhecimento dos alunos e da comunidade externa sobre o bairro e o entorno em que
o câmpus estava inserido.
Frente a esse quadro propôs-se, a partir de 2009, diversas ações buscando
discutir o valor cultural desse conjunto tombado, bem como suas possibilidades
enquanto atividade de lazer para os natalenses e de visitação para os turistas. Foram
assim realizados cursos e ações de extensão, tais como Becos, praças e casarões:
conhecendo o centro histórico de Natal/RN (minicurso com 8h/a, 2009), Sítio histórico
de Natal (curso de extensão, 20h/a, 2010), Turismo Cultural no centro histórico de
Natal (projeto de extensão, 40h/a, 2011). Em 2012, visando trabalhar de forma mais
efetiva com a educação patrimonial, foi executado o projeto de extensão Educando para
o patrimônio cultural, em parceria com o IPHAN/RN.

2. Educando para o patrimônio cultural: articulando ensino, pesquisa e


extensão
O projeto de extensão Educando para o patrimônio cultural surgiu em 2012, a
partir de uma demanda colocada pela Superintendência do IPHAN no RN, que
desenvolvia uma ação intitulada Redescobrindo o centro histórico de Natal, o qual
buscava promover e discutir a preservação da área com professores da rede pública de
ensino, comerciantes da região, moradores e profissionais da área de engenharia e
arquitetura e urbanismo. A ação articulada entre IFRN/IPHAN era voltada para seus
habitantes e tinha como objetivo principal possibilitar o conhecimento sobre seu centro

4
O citado campus foi instalado em 2009, no centro histórico da cidade do Natal/RN, em um prédio
centenário, tombado pela Fundação José Augusto (fundação de cultura do governo do Estado). Nele
funcionam os cursos de Tecnologia em Produção Cultural, Tecnologia em Gestão Desportiva e do Lazer e
Subsequente em Guia de Turismo, além de cursos de extensão voltados para a comunidade externa.
histórico e sua apropriação, reforçando sua identidade e contribuindo para sua
preservação.
Para alcançar esse fim, o projeto articulou ensino, pesquisa e extensão, sendo
realizado em duas grandes etapas: na primeira, houve a capacitação de alunos do IFRN
– Câmpus Natal Cidade Alta, por meio do Curso de Formação de Tutores em Educação
Patrimonial (80h/a), em que: foram levantadas informações sobre o centro histórico de
Natal/RN; construiu-se, coletivamente (coordenadores e participantes do projeto), dois
roteiros de visitação, um para a Cidade Alta e outro para a Ribeira; ao final dessa
primeira parte, houve diversas aulas de campo, com o objetivo de oferecer experiência
prática aos tutores. Na segunda e última etapa, o projeto foi aberto ao público, com a
divulgação e realização de oficinas de educação patrimonial e visitas no centro
histórico, com participação livre dos interessados, formando grupos heterogêneos com
estudantes, donas de casa, profissionais da área do turismo e do setor cultural, dentre
outros.

Fig. 01 – Aula de campo no centro Fig. 02 – Visita guiada pelos tutores no centro
histórico de Natal. histórico de Natal.
Foto: Erick Moisés, 2012. Foto: Patrícia Amaral, 2013.

O momento da oficina era conduzido pelas professoras/coordenadoras do projeto


e envolvia uma apresentação de cerca de quarenta e cinco minutos, onde se discutiam
questões relacionadas à cultura, patrimônio cultural, centro histórico e tombamento.
Apresentava-se ainda uma breve história dos bairros da Cidade Alta e da Ribeira e, ao
final da oficina, eram mostradas imagens antigas dos espaços que seriam visitados
posteriormente, estimulando os participantes a identificar as mudanças ocorridas. Após
a oficina, iniciavam-se as visitas, conduzidas pelos alunos formados no Curso de
Formação de Tutores em Educação Patrimonial. Cada um dos tutores era responsável
pela apresentação de alguns locais visitados e de conduzir os visitantes entre os espaços
selecionados no roteiro.
Fig. 03 – Oficina sobre o centro histórico de Natal. Fig. 04 – Visita no centro histórico de Natal.
Foto: Daniel Torres, 2013. Foto: Daniel Torres, 2013.

Entende-se que para uma real preservação do patrimônio, é preciso propiciar o


envolvimento e a apropriação dos bens patrimoniais pela população. Para o
desenvolvimento deste trabalho, entende-se a educação patrimonial como uma
ferramenta que desempenha um papel importante acerca do processo de preservação e
valorização do patrimônio cultural, indo além da sua divulgação. Aspectos como
promoção e difusão não são suficientes. Compreende-se a necessidade de atuar com
vistas à criação de relações de afetividade por parte da comunidade, trabalhando
sentimentos relacionados à diversidade cultural, identidade e pertencimento, assim
como uma construção coletiva do conhecimento (FLORÊNCIO, 2012)
Outro conceito utilizado foi o de ação cultural, que seria “uma intervenção
simultaneamente técnica, política, social e econômica, levada a efeito pelo poder
público ou por organismos particulares da sociedade civil, que concebe, coordena, gere
ou participa de programas, projetos e atividades [...]” (CUNHA, 2010, p.63),
abrangendo áreas como difusão de bens simbólicos, turismo social, preservação e
acesso ao patrimônio cultural e capacitação de agentes ou animadores culturais. Ainda
segundo o autor, a ação cultural provoca algumas consequências, tais como a
experimentação e o despertar de novos interesses, bem como a recuperação e a análise
de registros históricos.
Essas reflexões relativas à ação cultural e à educação patrimonial foram
utilizadas como fundamentação teórica do projeto, considerando-se seu conceito, as
diversas áreas de abrangência contempladas no projeto e os resultados pretendidos com
sua execução.
Como referencial metodológico da ação proposta, utilizou-se a comunicação
interpretativa, acreditando que para a verdadeira construção de conhecimentos, é
necessário mais do que simplesmente comunicar as informações, devendo-se
estabelecer significados e inter-relações (COSTA, 2009). Essa teoria foi elaborada por
Mills, na década de 1910, e depois complementada por Tilden (1957) e Beck e Cable
(século XXI), sendo baseada em 15 princípios (COSTA, 2009).
Esses princípios partem da premissa geral de que é preciso não apenas repassar
uma informação, mas também contextualizar, ilustrar, interpretar, encantar. Para isso,
algumas abordagens podem ser feitas, tais como: solicitar aos participantes que falem
sobre suas vivências nos locais visitados; utilizar exemplos, relações de causas e efeitos,
comparações, exageros, humor; adequar a interpretação aos diversos públicos; buscar
sempre o aprimoramento das técnicas de guiamento e comunicação. O objetivo maior é
proporcionar experiências positivas, despertando o entusiasmo nas pessoas e fazendo
com que elas pessoas se envolvam com o objeto trabalhado.
Esses princípios foram trabalhados de maneira teórica em sala de aula, bem
como os alunos deveriam seguir essas diretrizes na elaboração dos speechs5. Nas aulas
de campo, em que os alunos deveriam treinar a condução de grupos, a comunicação
interpretativa balizava as observações das professoras/coordenadoras do projeto, no
sentido de aperfeiçoar o trabalho dos alunos.
Paralelamente à ação de extensão, foram realizadas atividades de pesquisa, que
acabaram por contribuir com o projeto. Uma delas foi a pesquisa intitulada Estudando o
centro histórico de Natal/RN e suas possibilidades para o turismo 6, que buscava propor
alternativas para o desenvolvimento da atividade turísticas nesses espaços. Esse estudo
trouxe alguns resultados importantes:
 apesar de alguns prédios da Cidade Alta e Ribeira já estarem adequados
quanto às normas de acessibilidade, ainda existem inúmeros espaços onde não há
nenhum tipo de acessibilidade para a pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida;
 a visitação feita pelas agências de turismo receptivo é baseada em explanações
e descrições do local, de forma panorâmica, feita de dentro do ônibus de categoria
turística; entende-se que esse modelo de passeio turístico impede uma maior
proximidade com os prédios e a interação dos visitantes com o espaço;
 a quase totalidade dos 100 turistas pesquisados declararam que vieram a Natal
por causa das belezas naturais da cidade e do seu entorno; nenhum respondente indicou

5
O speech é a fala daquele que está conduzindo o grupo, composta pelos cumprimentos aos participantes,
as informações a serem passadas sobre o objeto visitado, bem como recomendações relativas à visita.
6
AMARAL, Patrícia Daliany Araújo do Amaral; GOMES, Fábio Henrique; NASCIMENTO, Isabella
Ludimilla, 2012.
o centro histórico ou algum edifício ali localizado e apenas 24% já haviam realizado
uma visita à Cidade Alta e Ribeira.
Outra pesquisa, desenvolvida também paralelamente a essa ação extensionista
em 2012, culminou com a elaboração do guia de visitação do centro histórico de Natal,
a ser publicado pela Editora do IFRN em 2013, em versão impressa e para tablet. Este
guia possibilitará ao visitante, seja ele turista ou morador da cidade, percorrer sozinho o
roteiro do centro histórico, a partir das informações disponibilizadas, funcionando
também como um instrumento de divulgação do patrimônio cultural edificado
natalense.
Entende-se que esta ação de extensão buscou efetivamente desenvolver um
processo educativo, científico e cultural, articulada ao ensino e à pesquisa, com o
objetivo de possibilitar uma ação transformadora na sociedade.

3. Reflexões sobre a experiência


A experiência vivenciada durante a realização do projeto Educando para o
patrimônio cultural trouxe uma série de questões que merecem ser compartilhadas.
Inicialmente, para divulgação das oficinas e visitas ao centro histórico (realizadas em
junho de 2012 e janeiro/fevereiro de 2013), o principal meio de divulgação foi a
internet, através da página institucional do IFRN e das redes sociais, como o Facebook
e o Twitter. Foi criado um banner virtual, e as inscrições foram realizadas por telefone
ou e-mail. O projeto teve boa repercussão na mídia, tendo sido realizadas entrevistas em
três emissoras e uma rádio local, publicação em jornal e em blogs, fato que ocasionou
uma maior busca pelas atividades ofertadas. A vontade da comunidade em participar do
projeto foi tão grande, que em um só dia foram recebidos mais de cem e-mails de
pessoas interessadas.
Em função dessa ampla divulgação, a coordenação do projeto foi muitas vezes
procurada para atender a demandas específicas, como grupos de estudantes de
instituições de ensino básico e superior de Natal e do interior do Rio Grande do Norte, e
até mesmo por pessoas que propunham a realização das visitas aos sábados, pois
gostariam de participar, mas não tinham outro dia da semana disponível.
Inicialmente, pensou-se em trabalhar com grupos de vinte pessoas, mas, em
função da demanda, resolveu-se inscrever quarenta participantes para cada dia de
atividade. Contudo, por se tratar de uma programação gratuita, não havia
comprometimento de alguns inscritos, que não compareceram nas datas previstas,
fazendo com que as oficinas e visitas tivessem de 20 a 25 participantes, em média,
totalizando cerca de 120 participantes.

Fig. 05 – Grupo de visitantes no centro Fig. 06 – Coordenadoras, bolsistas e


histórico de Natal. tutores voluntários do projeto.
Foto: Daniel Torres, 2013. Foto: Daniel Torres, 2013.

Nas visitas, ficaram claros alguns problemas de infraestrutura urbana: falta de


sinalização indicativa; presença de lixo nos espaços, muitas vezes chegando a impedir a
passagem dos pedestres; e existência de calçadas irregulares, o que dificulta a
caminhada e demonstra a impossibilidade de participação de cadeirantes, ou mesmo de
pessoas com mobilidade reduzida. Em função do tempo previsto para realização do
roteiro (2 horas), não era possível entrar nas edificações, mas os participantes eram
estimulados a voltar em outro momento para conhecê-los.
Ao final do roteiro proposto, era aplicado um questionário de avaliação da
atividade realizada junto aos participantes, contendo quatro perguntas objetivas e um
espaço para comentários livres (ver gráficos a seguir). Observa-se que a atividade foi
bem avaliada pelos participantes, com mais de 80% (91 pessoas) respondendo que a
oficina e a visita foram ótimas. Cabe ressaltar que nenhum respondente classificou
nenhuma das ações como ruim ou péssima.

Gráfico 01 – Opinião dos participantes Gráfico 02 – Opinião dos participantes


sobre a oficina. sobre a visita.
Fonte: dados da pesquisa, 2013. Fonte: dados da pesquisa, 2013.
Gráfico 03 – Opinião dos participantes
sobre o desempenho dos tutores.
Fonte: dados da pesquisa, 2013.

Quanto ao desempenho dos tutores, verifica-se que apesar da avaliação positiva


pelos participantes do projeto, com cerca de 55% considerando-o ótimo (61
respondentes), este item apresenta um índice maior de classificações regular e bom (50
pessoas) em detrimento as outras perguntas, equivalendo a 45% do total.
É importante apontar que, quanto aos estudantes que participaram da capacitação
e atuaram enquanto tutores de educação patrimonial, sua participação foi voluntária,
sendo surpreendente o nível de envolvimento dos mesmos, sempre dispostos a
participar das atividades propostas. Em avaliação feita pelos mesmos ao final do
projeto, vários deles relataram como a participação no projeto havia contribuído para
sua formação enquanto guia de turismo.
Contudo, apesar do engajamento dos mesmos, percebe-se que há uma série de
questões que precisam ser aprimoradas em questões futuras. Observa-se, por exemplo,
que alguns alunos tem deficiência no ensino básico, em áreas como história, geografia e
português, o que prejudica seu desempenho enquanto tutores. O conhecimento relativo
aos bens culturais natalenses, seja do ponto de vista histórico ou da própria
compreensão de patrimônio cultural, ainda precisa ser aprofundado. Do ponto de vista
da comunicação interpretativa, essa habilidade também deve ser continuamente
trabalhada.
A última pergunta do questionário (A atividade ajudou a perceber a importância
do nosso centro histórico? Por quê?) tinha como opções de resposta apenas sim e não.
Todos os participantes responderam que sim, complementando suas respostas com a
justificativa. Cabe destacar algumas delas:

“ [...] o contato ajuda muito na criação de laços com o lugar e descoberta do


papel histórico”;
“A oficina e a visita nos ajuda a andar pela Ribeira com outros olhares”;
“Pude avaliar melhor o valor histórico do bairro da Ribeira, por meio das
curiosidades dos prédios e ruas.”
“Eu já o achava importantíssimo para nosso estado (cidade), mas quase não o
conhecia, e só aumentou o meu interesse.”

A partir desta avaliação, acredita-se que os objetivos do projeto foram


alcançados, na medida em que as pessoas apontavam que as atividades ajudaram a
perceber a importância do centro histórico, pois eram levados a refletir sobre a
importância de preservar a cultura, conheciam mais sobre a sua própria história e
criavam laços com os espaços visitados. Cabe ainda ressaltar que no espaço destinado às
críticas, elogios ou sugestões, foram recorrente frases como “continuem com esse
projeto”, “precisa ser realizado mais vezes”, “é uma iniciativa que deve se perpetuar”, o
que demonstra o reconhecimento dos participantes da relevância do projeto.

4. Considerações finais
Com a realização das atividades propostas nesse projeto, acredita-se que foram
gerados impactos positivos na sociedade, como o levantamento e divulgação de
informações acerca dos locais a serem conhecidos; a formação de agentes
multiplicadores sobre a importância da preservação do patrimônio cultural da cidade; e
a valorização do centro histórico de Natal e o desenvolvimento dos sentimentos de
apropriação, afetividade e pertencimento.
As perspectivas para a ampliação do alcance do projeto são animadoras: o
projeto de extensão foi aprovado para o ano de 2013, contando assim com apoio de 2
bolsistas e de recursos financeiros da instituição; ainda no primeiro semestre desse ano
será lançado o guia de visitação impresso e na versão para tablet; há possibilidade de
estabelecimento de parcerias com a UFRN7 e o IPHAN, no momento de formação com
os estudantes.
Considera-se essencial a realização de ações como essas, buscando possibilitar
aos moradores da cidade conhecerem seu centro histórico e, assim, se apropriarem dele,
contribuindo para sua preservação. Isso porque se entende que, sem a participação dos
habitantes que vivenciam diretamente a cidade, as medidas de preservação não são
sustentáveis a longo prazo, correndo o risco de grandes investimentos em restauração,
revitalização e reabilitação de áreas urbanas tornarem-se inócuos. Observa-se um
contexto complexo em se tratando de patrimônio cultural, que exige a problematização
de conceitos e de práticas preservacionistas.

7
Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
O patrimônio cultural é algo que vai além da questão conceitual, necessitando de
novas abordagens, com novas formas de fomentar sua preservação e realizar sua
promoção, buscando envolver os mais diferentes atores. Para tal, é preciso que sejam
implementadas políticas públicas capazes de provocar um maior envolvimento da
sociedade com seus bens culturais, e, assim, possibilitar a preservação dos mesmos
(FONSECA, 2005).
É nesse sentido que se coloca o projeto de extensão Educando para o patrimônio
cultural. Ao invés de buscar “ensinar” o que é patrimônio cultural e que é preciso
preservá-lo, vem na perspectiva de realizar uma ação cultural, oferecendo à sociedade o
contato e o conhecimento sobre esses bens patrimoniais e, assim, possibilitar sua
apropriação, por meio da construção de uma relação de pertencimento com esses locais.

Referências

ANICO, Marta. A pós-modernização da cultura: patrimônio e museus na


contemporaneidade. In: Horizontes antropológicos. Vol. 11, n. 23, Porto Alegre,
Jan./Jun. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?
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COSTA, Flávia Roberta. Turismo e patrimônio cultural: interpretação e qualificação.


São Paulo: Editora SENAC, 2009.

CUNHA, Newton. Cultura e ação cultural: uma contribuição a sua história e


conceitos. São Paulo: Edições SESC/SP, 2010.

FLORÊNCIO, Sônia Regina Rampim. Educação Patrimonial: um processo de


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práticas. João Pessoa: Superintendência do Iphan na Paraíba, 2012.

FONSECA, Maria Cecília Londres. Para além da pedra e cal: por uma concepção ampla
de patrimônio cultural. IN: ABREU, Regina; CHAGAS, Mário (Orgs.). Memória e
patrimônio: ensaios contemporâneos. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
GOMES NETO, João Maurício. Entre a ausência declarada e a presença reclamada:
a identidade potiguar em questão. Dissertação (Mestrado em História). Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes.
Programa de Pós-Graduação em História. Natal, 2010.

TRIGUEIRO, E.; ELALI, G.; VELOSO, M. Urbanismo modernizador, consolidação


modernista, reuso pós-moderno: a dinâmica de transformação urbana em Natal e a
dilapidação de seu acervo arquitetônico. In: SEMINÁRIO DOCOMOMO BRASIL, 7,
2007. Anais .... Porto Alegre: Propar/UFRGS, 2007.

VELOSO, M. et al. Crônica de uma morte anunciada: Arquitetura moderna em Natal x


Copa de 2014. In: Seminário Docomomo Norte Nordeste, 3, 2010. Anais.... João
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