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1. Introdução:
Em 2010, deu-se o tombamento do centro histórico de Natal composto por parte
dos bairros da Cidade Alta e da Ribeira pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (IPHAN), em função de seu valor arquitetônico, urbanístico e
paisagístico. Essa ação reflete o entendimento geral, seja das instituições
governamentais ou dos grupos sociais, da necessidade de preservação de elementos
representativos do passado, como forma de manter a memória e identidade coletivas. A
conservação do patrimônio cultural coloca-se como uma resposta às imposições da
globalização, ao desconforto do presente e às dúvidas relativas ao futuro. Os bens
patrimoniais são reverenciados pelo seu valor de memória, isto é, enquanto portadores
de valores culturais de um passado, que se manifesta no presente, suscitando os
sentimentos de continuidade, coesão e pertencimento de um dado grupo social (ANICO,
2005). Em um tempo e espaço onde tudo é efêmero e fluido, o patrimônio cultural
apresenta-se como um valor constante e universal.
Contudo, a despeito do reconhecimento da importância da preservação
patrimonial, observou-se no processo de tombamento do centro histórico de Natal a
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Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, Curso de Tecnologia em
Produção Cultural. E-mail: andrea.costa@ifrn.edu.br.
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Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, Curso Subsequente em
Guia de Turismo. E-mail: patricia.amaral@ifrn.edu.br.
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Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte.
repetição de uma prática comum às políticas de preservação do patrimônio cultural
desenvolvidas no Brasil ao longo dos anos: as ações são realizadas nas esferas fechadas
dos órgãos governamentais de preservação, sem considerar aqueles em nome de quem
se faz a preservação. Assim, apesar do centro histórico de Natal receber o título de
patrimônio cultural brasileiro, na realidade, percebe-se que ele é pouco conhecido e
apropriado pela sua população. Esse distanciamento dos habitantes da cidade em relação
ao seu centro histórico já foi apontado por diversos autores (GOMES NETO, 2010;
TRIGUEIRO, 2005; VELOSO, 2010) e foi corroborado com o desenvolvimento das
atividades acadêmicas no Câmpus do IFRN – Cidade Alta4, quando se percebeu o
desconhecimento dos alunos e da comunidade externa sobre o bairro e o entorno em que
o câmpus estava inserido.
Frente a esse quadro propôs-se, a partir de 2009, diversas ações buscando
discutir o valor cultural desse conjunto tombado, bem como suas possibilidades
enquanto atividade de lazer para os natalenses e de visitação para os turistas. Foram
assim realizados cursos e ações de extensão, tais como Becos, praças e casarões:
conhecendo o centro histórico de Natal/RN (minicurso com 8h/a, 2009), Sítio histórico
de Natal (curso de extensão, 20h/a, 2010), Turismo Cultural no centro histórico de
Natal (projeto de extensão, 40h/a, 2011). Em 2012, visando trabalhar de forma mais
efetiva com a educação patrimonial, foi executado o projeto de extensão Educando para
o patrimônio cultural, em parceria com o IPHAN/RN.
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O citado campus foi instalado em 2009, no centro histórico da cidade do Natal/RN, em um prédio
centenário, tombado pela Fundação José Augusto (fundação de cultura do governo do Estado). Nele
funcionam os cursos de Tecnologia em Produção Cultural, Tecnologia em Gestão Desportiva e do Lazer e
Subsequente em Guia de Turismo, além de cursos de extensão voltados para a comunidade externa.
histórico e sua apropriação, reforçando sua identidade e contribuindo para sua
preservação.
Para alcançar esse fim, o projeto articulou ensino, pesquisa e extensão, sendo
realizado em duas grandes etapas: na primeira, houve a capacitação de alunos do IFRN
– Câmpus Natal Cidade Alta, por meio do Curso de Formação de Tutores em Educação
Patrimonial (80h/a), em que: foram levantadas informações sobre o centro histórico de
Natal/RN; construiu-se, coletivamente (coordenadores e participantes do projeto), dois
roteiros de visitação, um para a Cidade Alta e outro para a Ribeira; ao final dessa
primeira parte, houve diversas aulas de campo, com o objetivo de oferecer experiência
prática aos tutores. Na segunda e última etapa, o projeto foi aberto ao público, com a
divulgação e realização de oficinas de educação patrimonial e visitas no centro
histórico, com participação livre dos interessados, formando grupos heterogêneos com
estudantes, donas de casa, profissionais da área do turismo e do setor cultural, dentre
outros.
Fig. 01 – Aula de campo no centro Fig. 02 – Visita guiada pelos tutores no centro
histórico de Natal. histórico de Natal.
Foto: Erick Moisés, 2012. Foto: Patrícia Amaral, 2013.
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O speech é a fala daquele que está conduzindo o grupo, composta pelos cumprimentos aos participantes,
as informações a serem passadas sobre o objeto visitado, bem como recomendações relativas à visita.
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AMARAL, Patrícia Daliany Araújo do Amaral; GOMES, Fábio Henrique; NASCIMENTO, Isabella
Ludimilla, 2012.
o centro histórico ou algum edifício ali localizado e apenas 24% já haviam realizado
uma visita à Cidade Alta e Ribeira.
Outra pesquisa, desenvolvida também paralelamente a essa ação extensionista
em 2012, culminou com a elaboração do guia de visitação do centro histórico de Natal,
a ser publicado pela Editora do IFRN em 2013, em versão impressa e para tablet. Este
guia possibilitará ao visitante, seja ele turista ou morador da cidade, percorrer sozinho o
roteiro do centro histórico, a partir das informações disponibilizadas, funcionando
também como um instrumento de divulgação do patrimônio cultural edificado
natalense.
Entende-se que esta ação de extensão buscou efetivamente desenvolver um
processo educativo, científico e cultural, articulada ao ensino e à pesquisa, com o
objetivo de possibilitar uma ação transformadora na sociedade.
4. Considerações finais
Com a realização das atividades propostas nesse projeto, acredita-se que foram
gerados impactos positivos na sociedade, como o levantamento e divulgação de
informações acerca dos locais a serem conhecidos; a formação de agentes
multiplicadores sobre a importância da preservação do patrimônio cultural da cidade; e
a valorização do centro histórico de Natal e o desenvolvimento dos sentimentos de
apropriação, afetividade e pertencimento.
As perspectivas para a ampliação do alcance do projeto são animadoras: o
projeto de extensão foi aprovado para o ano de 2013, contando assim com apoio de 2
bolsistas e de recursos financeiros da instituição; ainda no primeiro semestre desse ano
será lançado o guia de visitação impresso e na versão para tablet; há possibilidade de
estabelecimento de parcerias com a UFRN7 e o IPHAN, no momento de formação com
os estudantes.
Considera-se essencial a realização de ações como essas, buscando possibilitar
aos moradores da cidade conhecerem seu centro histórico e, assim, se apropriarem dele,
contribuindo para sua preservação. Isso porque se entende que, sem a participação dos
habitantes que vivenciam diretamente a cidade, as medidas de preservação não são
sustentáveis a longo prazo, correndo o risco de grandes investimentos em restauração,
revitalização e reabilitação de áreas urbanas tornarem-se inócuos. Observa-se um
contexto complexo em se tratando de patrimônio cultural, que exige a problematização
de conceitos e de práticas preservacionistas.
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Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
O patrimônio cultural é algo que vai além da questão conceitual, necessitando de
novas abordagens, com novas formas de fomentar sua preservação e realizar sua
promoção, buscando envolver os mais diferentes atores. Para tal, é preciso que sejam
implementadas políticas públicas capazes de provocar um maior envolvimento da
sociedade com seus bens culturais, e, assim, possibilitar a preservação dos mesmos
(FONSECA, 2005).
É nesse sentido que se coloca o projeto de extensão Educando para o patrimônio
cultural. Ao invés de buscar “ensinar” o que é patrimônio cultural e que é preciso
preservá-lo, vem na perspectiva de realizar uma ação cultural, oferecendo à sociedade o
contato e o conhecimento sobre esses bens patrimoniais e, assim, possibilitar sua
apropriação, por meio da construção de uma relação de pertencimento com esses locais.
Referências
FONSECA, Maria Cecília Londres. Para além da pedra e cal: por uma concepção ampla
de patrimônio cultural. IN: ABREU, Regina; CHAGAS, Mário (Orgs.). Memória e
patrimônio: ensaios contemporâneos. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
GOMES NETO, João Maurício. Entre a ausência declarada e a presença reclamada:
a identidade potiguar em questão. Dissertação (Mestrado em História). Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes.
Programa de Pós-Graduação em História. Natal, 2010.