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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

Centro de Tecnologia
Departamento de Arquitetura
Curso de Arquitetura e Urbanismo

Aline Dantas de Medeiros

Natal/RN
2017
Aline Dantas de Medeiros

Trabalho Final de Graduação apresentado ao


curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte como requisito
para obtenção do grau de Arquiteto e Urbanista.

Discente: Aline Dantas de Medeiros

Orientador: Prof. Dr. Rubenilson Brazão Teixeira

Natal/RN
2017
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco -
DARQ - -CT

Medeiros, Aline Dantas de.


Centro intergeracional: sociabilidade e aprendizado para
crianças e idosos / Aline Dantas de Medeiros. - Natal, 2017.
81f.: il.

Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do


Norte. Centro de Tecnologia. Departamento de Arquitetura e
Urbanismo.
Orientador: Rubenilson Brazão Teixeira.

1. Projeto arquitetônico - Monografia. 2. Centro


Intergeracional - Arquitetura - Monografia. 3. Desenho universal
- Monografia. 4. Idosos - Monografia. 5. Crianças - Monografia.
I. Teixeira, Rubenilson Brazão. II. Título.

RN/UF/BSE15 CDU 72.012.1


Aline Dantas de Medeiros

Centro Intergeracional:
Sociabilidade e aprendizado para crianças e idosos.

Trabalho Final de Graduação apresentado ao


Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte como requisito
para obtenção do grau de Arquiteto e Urbanista.

BANCA EXAMINADORA:

___________________________
Rubenilson Brazão Teixeira
Professor orientador - UFRN

___________________________
José Jefferson de Souza
Professor – UFRN

___________________________
André Felipe Moura Alves
Arquiteto e urbanista convidado

Natal, ____ de ______________ de ______.


AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais, que me apoiam em todas as minhas decisões e estão sempre
ao meu lado, vibrando e me amparando nos momentos necessários. Deles recebi amor e
educação, melhores ensinamentos para a vida. Ás minhas irmãs, pelo apoio e companheirismo
de sempre, e principalmente à Alice, minha consultora em psicologia para o desenvolvimento
deste TFG.
Agradeço a Diogo, por compreender as ausências e ajudar a me manter focada no
trabalho nos momentos mais difíceis. Seu amor e companheirismo foram e são indispensáveis
para a conclusão desse curso.
À minha família e à família Nelson, por me mostrarem o valor dos laços e encontros,
que tanto me ajudavam a desopilar e renovavam o ânimo para a longa jornada do curso. Foram
esses momentos que me inspiraram a desenvolver este trabalho.
Agradeço a minha avó Darcy e a minha sobrinha Marina por abrilhantarem este trabalho
com as pinturas que ilustram as capas.
Agradeço também aos meus amigos, por acreditarem em mim e me encorajarem nessa
nova graduação, todo incentivo foi importante.
A todos os mestres que contribuíram nessa trajetória acadêmica, em especial ao meu
orientador Rubenilson, pela disponibilidade e paciência em orientar este trabalho, além de todo
o conhecimento compartilhado.
Por fim, agradeço aquelas que serão minhas companheiras de profissão e que dividiram
alegrias, angústias e muitas noites fazendo trabalho durante os 5 anos de curso. Sem o apoio
mútuo, não chegaríamos até aqui. À Carol, Bruna, Ana Luísa, Priscilla e Monalisa, o meu muito
obrigada, vocês tornaram o curso mais leve.
“Há uma época na vida, infância ou velhice, em
que a felicidade está na caixa de bombons”.

(Carlos Drummond de Andrade)


RESUMO

O aumento da expectativa de vida torna o tema “envelhecimento da população” cada vez mais
atual, recebendo destaque as necessidades inerentes aos idosos. Diante disso, neste Trabalho
Final de Graduação (TFG) buscou-se privilegiar as relações pessoais, unindo duas parcelas da
população com idades diversas, mas que juntas podem contribuir para o bem-estar e
desenvolvimento uma da outra. São elas: idosos e crianças. Assim, buscou-se assistir a
população envelhecida de modo satisfatório, do ponto de vista arquitetônico e das relações
sociais, por meio do desenvolvimento de uma proposta arquitetônica, em nível de anteprojeto,
de um centro intergeracional que atendesse idosos funcionalmente independentes e crianças na
faixa etária de 3 a 12 anos, para compartilharem experiências e aprendizado em um espaço de
convivência harmônico e saudável. O centro intergeracional será localizado no bairro Cidade
Alta, em Natal/RN e terá como elemento norteador os princípios do desenho universal.

Palavras-chave: Intergeracional. Desenho universal. Idosos.


ABSTRACT

The increase in life expectancy makes the topic “ageing population” even more popular, calling
attention to the needs of the elderly. Because of that, this final graduate work (Trabalho Final de
Graduação) pursuits to join two portions of population with different ages that can contribute to
the well-being and development of each other. They are children and the elderly. In this way, this
paper looked to watch the aging population in a satisfactory way, from the architecture and social
relations points of views through the development of an architecture proposition. The architectural
project consists in an intergenerational center that attends seniors totally independents and
children from the age 3 to 12, to share experiences and learning at an harmonious and healthy
living space. The Intergenerational center will be located in Cidade Alta, Natal/RN and will have
the the principles of universal design as guide elements.

Key-words: Intergenerational. Universal design. Elderly.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Exemplo de uso equitativo - acesso ...........................................................................27


Figura 2: Uso simples e intuitivo do espaço ..............................................................................27
Figura 3: Corrimão duplo prolongado, piso tátil de alerta, faixas contrastantes .........................28
Figura 4: Exemplo de baixo esforço físico .................................................................................28
Figura 5: Mobiliário de uso abrangente .....................................................................................29
Figura 6: Sala de aula The Mount .............................................................................................32
Figura 7: Sala de aula e corredores The Mount ........................................................................33
Figura 8: Área comum The Mount .............................................................................................33
Figura 9: Senhora observando crianças em sala de aula ..........................................................34
Figura 10: Aula de pintura .........................................................................................................35
Figura 11: Imagem de satélite ...................................................................................................36
Figura 12: Fachada sul .............................................................................................................37
Figura 13: Planta do complexo (térreo) .....................................................................................38
Figura 14: Cor no interior do edifício .........................................................................................39
Figura 15: Cor no interior do edifício 2 ......................................................................................39
Figura 16: Espaço da creche ....................................................................................................39
Figura 17: Pátios descobertos Primeiros Passos ......................................................................41
Figura 18: Primeiros Passos - Fachada Rodrigues Alves ..........................................................41
Figura 19: Programa Unidade I - Rodrigues Alves ....................................................................42
Figura 20: Programa Unidade II - Afonso Pena .........................................................................42
Figura 21: Pátio com iluminação zenital ....................................................................................43
Figura 22: Localização do Clube da melhor idade.....................................................................44
Figura 23: Croqui e fotos do clube ............................................................................................46
Figura 24: Localização do terreno .............................................................................................51
Figura 25: Vista da Rua Juvino Barreto para a Av. Deodoro .....................................................51
Figura 26: Terreno escolhido ....................................................................................................52
Figura 27: Calçadas do terreno .................................................................................................52
Figura 28: Vista frontal do terreno .............................................................................................53
Figura 29: Zoneamento bioclimático brasileiro ..........................................................................53
Figura 30: Ventilação e insolação no terreno ............................................................................54
Figura 31: Rosa dos ventos inserida no terreno ........................................................................54
Figura 32: Zoneamento inicial ...................................................................................................55
Figura 33: Forma de acesso .....................................................................................................59
Figura 34: Pessoas em pé ........................................................................................................62
Figura 35: Pessoa em cadeira de rodas ....................................................................................62
Figura 36: Módulo de referência ...............................................................................................62
Figura 37: Um pedestre e uma pessoa em cadeira de rodas ....................................................63
Figura 38: Duas pessoas em cadeira de rodas .........................................................................63
Figura 39: Área para manobra de cadeiras de rodas sem deslocamento ..................................63
Figura 40: Medidas mínimas de um sanitário acessível ............................................................65
Figura 41: Boxe comum ............................................................................................................65
Figura 42: Estudos de forma .....................................................................................................71
Figura 43: Estudo volumétrico 1 ................................................................................................71
Figura 44: Estudo volumétrico 2 ................................................................................................71
Figura 45: Estudo volumétrico 3 ................................................................................................72
Figura 46: Estudo volumétrico 4................................................................................................72
Figura 47: Volumetria final ........................................................................................................72
Figura 48: Acessos da edificação .............................................................................................74
Figura 49: Janela com alcance visual adequado .......................................................................77
LISTA DE QUADROS

Quadro 1: O envelhecimento da população urbana: Brasil e RN ..............................................17


Quadro 2: Coeficientes máximos de aproveitamento – Região administrativa Leste .................56
Quadro 3: Prescrições urbanísticas ..........................................................................................56
Quadro 4: Recuos de zonas adensáveis ...................................................................................57
Quadro 5: Prescrições urbanísticas para o projeto ....................................................................57
Quadro 6: Dimensionamento de rampa ....................................................................................64
Quadro 7: Programa de necessidades ......................................................................................67
Quadro 8: Pré-dimensionamento do centro intergeracional.......................................................68

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Distribuição da população por sexo, segundo os grupos de idade. Brasil - 2000 ......19
Gráfico 2: Distribuição da população por sexo, segundo os grupos de idade. Brasil - 2010 ......19
Gráfico 3: Distribuição da população por sexo, segundo os grupos de idade. RN - 2000..........20
Gráfico 4: Distribuição da população por sexo, segundo os grupos de idade. RN - 2010..........20
Gráfico 5: Composição da população residente de Natal ..........................................................50
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABCMI - Associação Brasileira dos Clubes da Melhor Idade


ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
ART – Anotação de Responsabilidade Técnica
DML – Depósito de Material de Limpeza
CONTRAN – Conselho Nacional de Trânsito
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente
EMBRATUR – Instituto Brasileiro de Turismo (anteriormente Empresa Brasileira de Turismo)
EHPAD – Etablissement d'hébergement Pour Personnes Agées Dépendantes (casa de
repouso para idosos dependentes, em tradução livre)
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IT’s - Instruções Normativas
NBR – Norma Brasileira
OMS – Organização Mundial da Saúde
PCR - Pessoas em Cadeiras de Rodas
PDF – Portable Document Format (formato portátil de documento)
PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
SESC – Serviço Social do Comércio
SEMURB – Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo
TFG – Trabalho Final de Graduação
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................. 13
1. REFERENCIAL ........................................................................................................................................... 16
1.1 TEÓRICO ............................................................................................................................................ 16
1.1.1 Situação dos idosos e das crianças no Brasil e no Rio Grande do Norte ................................... 16
1.1.2 Relações intergeracionais .......................................................................................................... 21
1.1.3 Desenho Universal ..................................................................................................................... 24
1.2 EMPÍRICO – ESTUDOS DE REFERÊNCIA ............................................................................................. 30
1.2.1 Estudos Indiretos ....................................................................................................................... 31
1.2.2 Estudos Diretos .......................................................................................................................... 44
1.3 SÍNTESE DOS ESTUDOS DE REFERÊNCIA ........................................................................................... 47
2. CONDICIONANTES PARA O PROJETO ...................................................................................................... 49
2.1 CARACTERÍSTICAS PARA ESCOLHA DO TERRENO E SEU ENTORNO .................................................. 49
2.2 CONDICIONANTES FÍSICO-AMBIENTAIS............................................................................................ 53
2.3 CONDICIONANTES LEGAIS................................................................................................................. 55
2.4 CARACTERIZAÇÃO DA PROPOSTA E DO PÚBLICO-ALVO ................................................................... 66
2.5 PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ-DIMENSIONAMENTO ........................................................... 67
2.6 CONCEITO, PARTIDO ARQUITETÔNICO E EVOLUÇÃO DA PROPOSTA............................................... 69
2.6.1 Conceito do projeto ................................................................................................................... 69
2.6.2 Partido arquitetônico adotado .................................................................................................. 70
2.6.3 Evolução da proposta................................................................................................................. 70
3. A PROPOSTA............................................................................................................................................ 73
3.1 MEMORIAL DESCRITIVO E JUSTIFICATIVO ........................................................................................ 73
3.1.1 Implantação, acesso e estacionamento ..................................................................................... 73
3.1.2 Solução espacial: zoneamento e layout ..................................................................................... 75
3.1.3 Sistema construtivo, sistema predial e materiais ...................................................................... 76
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................................... 79
REFERÊNCIAS........................................................................................................................................... 80
13

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento da sociedade traz aspectos positivos como a popularização do


acesso à educação, avanço da medicina, incremento de inovações tecnológicas, aprimoramento
de questões legais, entre outros, que combinados levam ao aumento da expectativa de vida da
população, tornando o tema “envelhecimento da população” cada vez mais atual. Vem à tona,
com isso, diversos assuntos antes esquecidos, como a necessidade de atenção aos idosos, que
agora compõem uma parcela cada vez mais expressiva da sociedade.
Na arquitetura não tem sido diferente, e tem surgido com mais frequência estudos e
projetos de edificações destinados a adultos idosos, com peculiaridades condizentes com as
necessidades desse grupo etário. No presente trabalho busca-se privilegiar as relações
pessoais, unindo duas parcelas da população com idades diversas, mas que juntas podem
contribuir para o bem-estar e desenvolvimento uma da outra. São elas: idosos e crianças.
Dessa forma, alinhado com o pensamento atual, o Trabalho Final de Graduação (TFG)
busca assistir a população envelhecida de modo satisfatório, não só do ponto de vista
arquitetônico, mas também sob a ótica das relações pessoais, propondo a elaboração do
anteprojeto arquitetônico de um Centro intergeracional que contribua para oferecer sociabilidade
e aprendizado para crianças e idosos.
Entende-se por centro intergeracional o espaço desenvolvido para abrigar a convivência
entre pessoas de gerações diferentes, no caso crianças e idosos, onde serão oferecidas
atividades lúdicas, artísticas, culturais e de lazer que possam contribuir para a melhoria da
qualidade de vida dos participantes. O equipamento será localizado no bairro Cidade Alta, região
administrativa leste de Natal/RN, tendo como proposta atender idosos funcionalmente
independentes e crianças na faixa etária de 3 a 12 anos.
Objetivou-se unir duas faixas da população que demandam mais atenção da sociedade
e do governo. Elas recebem atenção especial da legislação brasileira para defesa dos seus
direitos, através do Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003) e do Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA - Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990); têm disponibilidade de
tempo pois não estão no mercado de trabalho, e valorizam a narrativa – sejam elas lúdicas ou
histórias de vida, aspectos em comum que facilitam a convivência intergeracional entre idosos e
crianças.
De acordo com José Carlos Ferrigno (2006, p.69) em seu artigo “A co-educação entre
gerações”, que tem como plano de fundo o programa SESC Gerações, do Serviço Social do
14

Comércio de São Paulo, as experiências intergeracionais são caracterizadas pelo aprendizado


mútuo e contribuem para o desenvolvimento da sociedade:

Esse processo produz benefícios para todos os participantes, benefícios que se


traduzem no desenvolvimento da compreensão, do conhecimento e do afeto
mútuos.
(...)
Esta reflexão se apóia na certeza de que o compartilhamento das experiências
de velhos e moços, ao combater o preconceito etário, pode efetivamente
contribuir para a edificação de uma sociedade mais justa, tolerante, democrática
e solidária.

A relação entre as gerações pode trazer melhorias diretas para as faixas da população
envolvidas, além de ser prazerosa e enriquecedora para ambas, bem como para a sociedade de
maneira geral, pois os benefícios se refletem em toda a sociedade. Mesmo diante de benefícios,
deve-se ressaltar o fato de que existem experiências intergeracionais em outros países há
bastante tempo, no entanto, no Brasil ainda é um tema recente e menos difundido. No campo da
arquitetura, inclusive, é um assunto que deve ser mais discutido, para que o ambiente físico onde
essas relações acontecem seja adequado para as necessidades dos grupos envolvidos.
A pesquisa mostrou uma carência de espaços desenvolvidos para o convívio
intergeracional no Brasil, sendo comum a realização de programas intergeracionais em parques
e centros culturais, e não em edifícios projetados para essa finalidade. Optou-se, portanto, por
elaborar o anteprojeto de um centro intergeracional visando propiciar ambiente saudável para a
terceira idade e para as crianças, além de fomentar o desenvolvimento social.
Com esse intuito, será abordado o tema das relações entre gerações, buscando
compreender como elas podem contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população,
bem como elucidar o papel que a arquitetura pode ter nesse processo; buscar-se-á harmonizar
as necessidades de um edifício com funções educacionais e recreativas, proporcionando
ambientes lúdicos e confortáveis que permitam a interação desejada entre as gerações
atendidas; e, para isso, serão observados os preceitos do desenho universal para o
desenvolvimento de um edifício adequado aos usuários a que se destina.
A escolha do centro intergeracional como tema para o TFG foi guiada por preferências
pessoais, em função da oportunidade de observar de perto os benefícios da relação entre
avós/bisavós e seus netos, além do crescente aumento na expectativa de vida e interesse pelo
desenvolvimento da arquitetura com base em relações sociais envolvendo gerações distintas.
Durante o processo de definição do tema do TFG, foram realizadas pesquisas na
internet sobre “relações intergeracionais”, mas foram obtidos poucos resultados na área de
15

arquitetura. Apesar disso, um dos resultados das pesquisas chamou atenção: tratava-se de uma
reportagem acerca de um documentário sobre a relação entre as gerações. A matéria1 dizia que
o documentário havia sido filmado no centro de aprendizado intergeracional do Providence Mount
St. Vincent na cidade de Seattle, nos Estados Unidos. O trailer do projeto, disponibilizado online,
contribuiu para aumentar o interesse no assunto e definir o tema do trabalho.
Além disso, notou-se que o dinamismo da vida moderna faz com que idosos e crianças
passem a semana sem usufruir da presença dos seus familiares que estão trabalhando,
demonstrando a necessidade de companhia para essas faixas etárias. Observou-se assim a
carência de espaços que possam receber crianças em turno diferente do escolar, pois muitas
vezes os pais não têm com quem deixar os filhos. Da mesma maneira, um grande número de
idosos passa o dia sem companhia, sendo cada vez mais escassa a interação social, elemento
importante para esse grupo continuar inserido na sociedade e que pode ser incentivada com a
convivência oferecida pelo centro intergeracional.
O TFG consiste em dois volumes, sendo um da parte teórica e outro da parte gráfica. A
parte teórica corresponde ao primeiro volume e está organizada em três capítulos: o primeiro
compreende o referencial teórico, onde são abordados a relação entre gerações e os princípios
do desenho universal, e o referencial empírico, onde são apresentados os estudos de referência,
ainda que não tenham sido realizados em espaços voltados para a convivência intergeracional,
mas puderam contribuir para entender as necessidades dos usuários. O segundo capítulo
contém os condicionantes projetuais; e, por fim, o terceiro consiste na descrição e
desenvolvimento da proposta em si, trazendo memorial descritivo e justificativo do anteprojeto.
O segundo volume reúne a parte gráfica, com pranchas técnicas e perspectivas do edifício.
Convém lembrar que o centro intergeracional abrigará público de gerações diferentes,
no entanto, será dado enfoque maior às pessoas idosas, por constituírem uma parcela da
população em expansão e que, com o passar dos anos está se tornando cada vez mais
significativa e numerosa para o país, merecendo ter sua autonomia preservada através de
soluções arquitetônicas que permitam aos idosos manter sua independência.

1
CATRACA LIVRE. Centro que une escola e asilo inspira filme sobre relação entre gerações. 17/06/2015. Disponível
em: < https://catracalivre.com.br/geral/geracao-e/indicacao/centro-que-une-escola-e-asilo-inspira-filme-sobre-
relacao-entre-geracoes/>. Acesso em agosto de 2016.
16

1. REFERENCIAL
1.1 TEÓRICO

1.1.1 Situação dos idosos e das crianças no Brasil e no Rio Grande do Norte

Em relatório divulgado em 2016 pela Organização Mundial de Saúde – OMS - sobre o


monitoramento da saúde no mundo, observa-se que a expectativa de vida aumentou 5 anos do
ano 2000 para 20152, significando uma alteração progressiva no quadro populacional mundial e
também do Brasil.
Essa alteração nos aspectos da população não é algo novo, tendo sido iniciada no
século passado em decorrência dos avanços médicos, da queda da mortalidade infantil, do
processo de urbanização das cidades, dos hábitos de alimentação mais saudáveis, dos avanços
tecnológicos, assim como em razão da melhoria da higienização da população. Com relação ao
Brasil, o aumento da expectativa de vida vem sendo revelado desde o final da Segunda Guerra,
evidenciado pelos avanços tecnológicos relacionados a área de saúde, como o uso de
antibióticos e vacinação, possibilitando a prevenção e cura de muitas doenças. Além disso, a
redução na taxa de fecundidade iniciada na década de 60 contribuiu para a mudança
demográfica, como explica Mendes et al (2005).
Esse aumento no índice de esperança de vida chama atenção para o crescimento
gradual da população idosa, que tem como consequência o incremento de despesas com
previdência social, saúde pública e assistência social. Observa-se, assim, que o país deve se
adaptar para acomodar de forma satisfatória as pessoas idosas.
Quando se fala em atender os idosos, deve-se entender que as mudanças não devem
ser apenas físicas e concretas, mas principalmente sociais, isto é, a sociedade deve se adaptar
objetivando se relacionar melhor com a população envelhecida, cada vez em maior quantidade.
O crescimento da população idosa no Brasil e no Rio Grande do Norte pode ser
observado através do quadro 01, elaborado por Teixeira (2017), com base nos dados estatísticos
fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o período de 2001 a
2015. Com o quadro pode-se notar o crescimento de 83,20% da população idosa no Brasil e de
93,82% no RN no referido período, contra um crescimento populacional total de 19,75% no país

2
Notícia do site da Organização Mundial de Saúde. Disponível em: <
http://www.who.int/mediacentre/news/releases/2016/health-inequalities-persist/en/>. Acesso em dezembro de
2016.
17

e de 19,9% no RN. Os dados estatísticos mostram um crescimento expressivo da população


idosa, confirmando o aumento da expectativa de vida apontado pelo relatório da OMS em 2016.

Quadro 1: O envelhecimento da população urbana: Brasil e RN


O ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO URBANA: BRASIL E RN
ÁREA GEOGRÁFICA PERÍODO AUMENTO (%)
2001 2015
BRASIL Total 144 938 000 173 566 000 19,75
Idosos 12 863 000 23 565 000 83,20
RN Total 2 220 000 2 662 000 19,9
Idosos 178 000 345 000 93,82
Fonte: Adaptação de dados retirados da Tabela 261 do IBGE: “População residente, por
situação, sexo e grupos de idade”.
FONTE: TEIXEIRA, 2017.

O envelhecimento da população é uma mudança bastante significativa, envolvendo


questões sociais, políticas e familiares. O Brasil infelizmente ainda não está preparado para essa
alteração populacional, sendo comum notícias de idosos sendo vítimas de abandono e de maus
tratos. Além disso, eventos como aposentadoria, perda de amigos, viuvez e a chamada
“síndrome do ninho vazio” (quando os filhos deixam de morar com os pais e a casa se esvazia)
podem contribuir para uma diminuição de atividades na vida dessas pessoas, levando-as a
reduzir as interações sociais. Ao invés de promoverem a saúde de seus entes mais velhos, os
familiares muitas vezes demonstram não ter disponibilidade e interesse, contribuindo para o
esquecimento e exclusão de pessoas nessa faixa etária da sociedade.
Esse quadro de exclusão social dos indivíduos da terceira idade aponta para uma
necessidade urgente de atenção a essa população, que merece continuar inserida na sociedade
de forma digna e plena. Um avanço no tratamento dos idosos no Brasil foi a promulgação do
Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, que regula os direitos assegurados
às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. Deve-se ponderar, contudo, que
apesar de a lei definir uma idade a partir da qual a pessoa é considerada idosa, esse é um
parâmetro relativo, na medida em que cada indivíduo tem suas particularidades em razão do
estilo de vida e de como foi vivenciado o processo natural de envelhecimento, relacionado com
fatores ambientais, sociais, psicológicos e financeiros.
Atualmente, percebe-se uma mudança no perfil das pessoas idosas, antes associadas
à fragilidade, dependência e decadência - o que muitas vezes não condiz com a realidade, pois
essas pessoas estão cada vez mais ativas, saudáveis, produtivas e independentes.
Além da atenção, as pessoas idosas precisam do interesse daqueles que os cercam,
pois, o mínimo de cuidado dispensado por alguém de sua confiança pode contribuir para o bem-
18

estar físico e psicológico dos idosos, que carecem do acolhimento e da segurança transmitida
pelas pessoas mais próximas. Uma forma de valorizar os idosos é incentivá-los a compartilharem
suas experiências e conhecimentos com os mais novos, de forma a continuarem se sentindo
úteis e terem vida ativa em sociedade.
De maneira semelhante, as crianças fazem parte de outra faixa etária que demanda
bastante cuidado, seja por ainda não terem domínio para realizarem atividades sozinhas, seja
por carecerem de atenção para o seu desenvolvimento de forma geral.
As crianças e adolescentes são amparados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA), Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, que visa a proteção integral desses sujeitos de
direito. Segundo o estatuto, são consideradas crianças as pessoas de até doze anos de idade
incompletos, sendo adolescentes aquelas com idade entre doze e dezoito anos. O ECA (1990)
determina em seu artigo 4º:

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder


público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes
à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária. (BRASIL, 1990)

Logo, cabe não apenas à família, mas ao estado e a sociedade atuarem na proteção
dos direitos das crianças e adolescentes. Todavia, mesmo com a legislação protetiva, que
obviamente é necessária, mas não suficiente, muitas crianças e adolescentes ainda são vítimas
de práticas discriminatórias, violências e abusos, além de não terem acesso a direitos como
educação, esporte, saúde e lazer, demonstrando a necessidade de atenção para essa parcela
da população.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios3 (PNAD) 2013, do IBGE,
o Brasil possui uma população de 201,5 milhões de pessoas, dos quais 59,7 milhões têm menos
de 18 anos de idade4. Ao contrário da população idosa, o número de crianças e adolescentes
vem diminuindo, exatamente pela tendência de envelhecimento constatada no Brasil, reflexo da
diminuição das taxas de mortalidade e fecundidade. “De 1991 a 2010, a parcela de brasileiros
de até 19 anos caiu de 45% para 33%” (Censo Demográfico, 2010, apud Unicef, 2015).

3
“É uma pesquisa por amostra probabilística de domicílios, de abrangência nacional, planejada para atender a
diversos propósitos. Visa produzir informações básicas para o estudo do desenvolvimento socioeconômico do País
e permitir a investigação contínua de indicadores sobre trabalho e rendimento” (IBGE,2016). Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/pesquisas/pesquisa_resultados.php?id_pesquisa=149>. Acesso em
dezembro de 2016.
4
UNICEF BRASIL. Infância e adolescência no Brasil. Disponível em:
<https://www.unicef.org/brazil/pt/activities.html>. Acesso em dezembro de 2016.
19

Gráfico 1: Distribuição da população por sexo, segundo os grupos de idade. Brasil - 2000

Fonte: IBGE, 2000.

Gráfico 2: Distribuição da população por sexo, segundo os grupos de idade. Brasil - 2010

Fonte: IBGE, 2010.

As pirâmides etárias resultantes dos censos demográficos de 2000 e de 2010, mostram


a alteração pela qual vem passando o quadro populacional do país, com um crescimento no
número de idosos e diminuição do número de crianças e adolescentes, transformando a
configuração da pirâmide etária do Brasil (Gráfico 1 e Gráfico 2).
20

Da mesma maneira essas alterações vêm sendo refletidas no quadro populacional do


Rio Grande do Norte, que apresentou diminuição na base da pirâmide do ano 2000 para 2010 e
inicia um gradual crescimento no topo do gráfico, ou seja, uma diminuição no número de crianças
e jovens de 0 a 19 anos, enquanto a população de adultos acima dos 40 anos apresenta
crescimento (Gráfico 3 e Gráfico 4).

Gráfico 3: Distribuição da população por sexo, segundo os grupos de idade. RN - 2000

Fonte: IBGE, 2000.

Gráfico 4: Distribuição da população por sexo, segundo os grupos de idade. RN - 2010

Fonte: IBGE, 2010.


21

Os dados dos censos são importantes pois mostram com clareza o perfil que a
população brasileira e do estado do RN vem adquirindo: o de uma sociedade com um número
cada vez maior de pessoas idosas e uma redução gradual, em termos percentuais, do número
de jovens e crianças.
Essas duas faixas da população - idosos e crianças - são protegidas por leis específicas
e demandam atenção tanto por parte do poder público quanto por parte da própria família e da
sociedade em geral, pois requerem mais cuidados e a lei lhes oferece tratamento diferenciado.
Outro ponto comum às crianças e aos idosos é a estreita ligação com a narrativa, sejam elas
lúdicas e educativas ou histórias de vida, pois as pessoas idosas apreciam a atenção que lhes é
dispensada quando contam histórias e as crianças gostam de ouvir contos.
Nesse sentido, existem estudos sobre a relação entre crianças e idosos, que por suas
complementaridades e semelhanças – considerando que são duas fases do desenvolvimento
humano que possuem necessidades parecidas – pode ser prazerosa e enriquecedora para
ambos. O objetivo do presente TFG, portanto, é a proposição de um espaço destinado à
convivência dessas duas gerações, objetivando contribuir com o desenvolvimento e bem-estar
de ambas.

1.1.2 Relações intergeracionais

O termo geração possui vários sentidos no campo das ciências humanas. Um deles
será adotado neste trabalho por se tratar de uma definição simples e objetiva. Citada por
Ferrigno, Attias-Donfut explica que o termo geração comporta ao menos cinco sentidos, dentre
os quais o de que “geração é usada algumas vezes para distinguir coortes, representando grupos
de pessoas nascidas em uma mesma época e que vivenciaram os mesmos acontecimentos, por
exemplo a geração da Segunda Grande Guerra”. (ATTIAS-DONFUT, 2-4, 2000, apud
FERRIGNO, p. 57, 2009).
Sendo assim, “definidas” em razão do período de nascimento e da época em que as
pessoas vivem, as gerações são facilmente identificadas na sociedade. No entanto, essa
definição é recente, faz parte da vida moderna. Segundo Ferrigno (2009, p. 61), “na Idade Média,
diferentemente de sociedades como a nossa, não havia divisão territorial e de atividades em
22

função da idade dos indivíduos. Nessa época, não havia um “sentimento de infância”, ou seja,
uma representação elaborada desse momento”.

Na Idade Média e até o início dos tempos modernos, e por mais tempo ainda nas
classes populares, as crianças misturavam-se aos adultos assim que eram
consideradas capazes de dispensar a ajuda das mães ou das amas, ou seja,
assim que prescindissem dos cuidados maternos de sobrevivência. A partir
aproximadamente de uns 7 anos de idade ingressavam na grande comunidade
dos homens, participando com jovens e velhos dos trabalhos, das festas e dos
jogos do dia a dia. Podemos supor que a vida na era pré-moderna era
relativamente igual para as diferentes idades, ou seja, não havia muitos estágios
e os que existiam não eram tão claramente demarcados, com exceção dos rituais
de iniciação para homens e mulheres na passagem da infância para a fase
adulta, durante o período que posteriormente foi nomeado como adolescência.
(FERRIGNO, 2009, p. 61)

A expressão intergeracional, por sua vez, refere-se às relações entre gerações. No


sentido de gerações que temos hoje, essas relações podem acontecer entre diferentes grupos
como bebês e adultos, crianças e adolescentes, adultos jovens e adultos idosos, bem como entre
crianças e idosos, foco do presente trabalho.
Na área das ciências humanas e sociais há diversos estudos apontando as
características das relações intergeracionais, os quais destacam os aspectos positivos dessa
troca, cujos benefícios ultrapassam as pessoas envolvidas, sendo refletidos na sociedade de
forma geral. “O convívio intergeracional é um dos mais valiosos instrumentos para a quebra de
preconceitos, para a passagem de conhecimentos, ajuda mútua, solidariedade e amizade”
(FRANÇA; SILVA; BARRETO, 2010, p. 523). Além dos mencionados, são comumente apontados
como benefícios das relações intergeracionais a solidariedade, entrosamento, afetividade e
reciprocidade entre as gerações envolvidas. Mais do que isso, “as práticas intergeracionais vêm
demonstrando que é possível efetuar uma mudança na mentalidade da comunidade em relação
à imagem do idoso e o resgate da memória de um povo através de seu patrimônio vivo”
(FRANÇA; SILVA; BARRETO, 2010, p. 529).
As relações intergeracionais podem ser intermediadas por diversas atividades como
música, dança, pintura, leitura ou simples visitas, contanto que integrem faixas etárias diferentes
em prol de um interesse comum. A “contação” de histórias consegue reunir crianças e idosos
sem precisar de muitos recursos e ainda é uma atividade apreciada pelas duas faixas etárias: as
pessoas idosas se sentem bem contando suas experiências e/ou narrativas lúdicas e as crianças
gostam de ouvi-las.
23

Lenisa Brandão et al (2006, p.99)5 em seu trabalho narrativas intergeracionais aponta


um aspecto importante da relação entre pessoas da terceira idade e crianças. Para essas
autoras,

Compreender melhor as características das narrativas de crianças e idosos pode


contribuir para a discussão sobre o desenvolvimento cognitivo num contexto
cultural, fundamentando propostas educacionais que utilizem a interação entre
idosos e crianças, não apenas numa concepção "filantrópica" de doação de
paciência e atenção de um lado ou do outro da díade, mas numa perspectiva de
amplos benefícios recíprocos que envolvam o desenvolvimento de
possibilidades específicas dessas faixas etárias.

Tratando da relação intermediada pela narração de histórias, temos o adulto idoso com
suas narrativas fundamentais em seu estágio de vida, e as crianças com suas histórias
permeadas de fantasia, estabelecendo uma situação interessante onde pode-se observar a
disponibilidade de tempo e atenção das duas faixas etárias envolvidas, além do interesse comum
entre as gerações. Os benefícios oriundos dessa interação devem ser buscados e valorizados
pela sociedade.
Dessa forma, além da narrativa, os estudos demonstram que o próprio contato entre
crianças e idosos é interessante para o desenvolvimento de ambos, pois trazem consequências
sociais e afetivas importantes. De acordo com as pesquisas desenvolvidas por Brandão et al
(2006, p.102):

Os estudos levantados parecem indicar o benefício de programas


intergeracionais que envolvem a entrada de crianças em espaços destinados a
idosos, e vice-versa, ou mesmo a criação de instituições que atendam às duas
faixas etárias, na medida em que estes possibilitam a interação continuada em
torno de atividades conjuntas.

Diante de tudo isso, verifica-se a importância da relação entre as gerações, que pode
trazer melhorias diretas para as faixas da população envolvidas e também para a sociedade. Em
sua tese, Ferrigno (2009, p. 89) destaca a exequibilidade de programas intergeracionais:

A viabilidade de um programa desse tipo é atestada, conforme vimos, pela


pertinência das atividades de lazer para a aproximação das gerações. As
possibilidades de atividades são muito amplas, exatamente porque tendem a ser
as mesmas que são oferecidas exclusivamente a esta ou àquela faixa etária e
que fazem parte da programação cultural permanente, como: música, teatro,
artes plásticas, literatura, turismo, esportes, educação ambiental etc.

5
BRANDÃO, L. et al. Narrativas intergeracionais. Psicologia: Reflexão e Crítica (UFRGS. Impresso), Porto Alegre, v.
19, p. 98-105, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
79722006000100014#back>. Acesso em agosto de 2016.
24

Trata-se, assim, de um programa com diversas possibilidades e de simples


implementação, visto que as atividades sugeridas são popularmente conhecidas, restando a
inovação apenas para a convivência intergeracional em si, ainda pouco explorada no Brasil.
Com as leituras pode-se verificar que as experiências intergeracionais não são recentes.
De acordo com Maier (2004 apud BRANDÃO et al 2006), esses programas vêm sendo
executados há mais de 50 anos nos Estados Unidos. No Brasil, porém, esse tipo de experiência
não tem muitos registros, sendo conhecidos programas desenvolvidos pelo Serviço Social do
Comércio – SESC de São Paulo que exploram relações entre gerações, mas que não chegam a
oferecer um programa contínuo como o modelo americano, onde pré-escolas e lar de idosos
dividem um mesmo edifício.
A literatura sobre relações intergeracionais está bastante difundida no campo da
psicologia e das ciências sociais. Contudo, no âmbito da arquitetura, não há, ao que parece,
muitos estudos que abordem a questão do ambiente físico onde essas relações devem ser
incentivadas e procuradas. É urgente que elas passem a fazer parte do interesse, pesquisas e
soluções no âmbito também arquitetônico.
Diferente do exemplo americano, o Brasil não possui espaços desenvolvidos para o
convívio entre gerações, tendo sido verificado que os poucos programas intergeracionais
encontrados acontecem em parques e/ou centros culturais. Diante disso, optou-se por elaborar
o anteprojeto de um centro intergeracional para atender crianças e idosos em um ambiente
saudável e adequado para a realização de atividades pelas duas gerações.
Nesse sentido, a arquitetura pode representar fator imprescindível para proporcionar
bem-estar à população, podendo contribuir inclusive, se fizer parte de uma política ampla de
governo, para a melhoria da qualidade de vida e para o aumento da expectativa de vida da
população do país. A concepção de cidades e edifícios preparados para atender às necessidades
de pessoas idosas e de crianças é um dos novos desafios lançados à arquitetura, que assim
como a sociedade, deve se desenvolver para acompanhar as necessidades do mundo moderno.

1.1.3 Desenho Universal

O desenho universal vem se popularizando com o passar dos anos e ganhando cada
vez mais destaque nos projetos arquitetônicos, pois atendem satisfatoriamente a atual sociedade
25

plural, repleta de indivíduos que se diferenciam entre si. De acordo com a Norma Brasileira NBR
9050/2015, que trata da acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos
urbanos, desenho universal é definido como “concepção de produtos, ambientes, programas e
serviços a serem utilizados por todas as pessoas, sem necessidade de adaptação ou projeto
específico, incluindo os recursos de tecnologia assistiva” (ABNT, 2015, p. 4). Ademais, a norma
esclarece que o conceito de desenho universal

propõe uma arquitetura e um design mais centrados no ser humano e na sua


diversidade. Estabelece critérios para que edificações, ambientes internos,
urbanos e produtos atendam a um maior número de usuários,
independentemente de suas características físicas, habilidades e faixa etária,
favorecendo a biodiversidade humana e proporcionando uma melhor ergonomia
para todos. (ABNT, 2015, p. 139)

De acordo com Secudino e Patrícia Correia (2009 apud EMERECIANO, 2014, p.18), o
desenho universal pode ser definido “como um conjunto de preocupações, conhecimentos,
metodologias e práticas que visam a concepção de espaços, produtos e serviços, utilizáveis com
eficácia, segurança e conforto pelo maior número de pessoas possível, independentemente das
suas capacidades”.
Em seu livro Desenho Universal, Silvana Cambiaghi (2007, p. 16) explica que foi em
uma conferência internacional na Suécia, em 1961, que surgiram os primeiros esforços para
diminuição de barreiras arquitetônicas para pessoas com deficiência, tendo sido criada uma
comissão denominada Barrier-Free Design, em Washington, em 1963, para discutir o assunto.
Foi a partir dessa comissão sobre desenho livre de barreiras que os estudos evoluíram para o
desenho universal, assim denominado “por se destinar a qualquer pessoa e por ser fundamental
para tornar possível a realização das ações essenciais praticadas na vida cotidiana, o que na
verdade é uma consolidação dos pressupostos dos direitos humanos” (CAMBIAGHI, 2007, p.
16).
O termo desenho universal, no entanto, foi utilizado pela primeira vez em 1985, pelo
arquiteto Ron Mace, nos Estados Unidos. Para MACE (1991, apud SÃO PAULO, 2010, p. 14-
15), “o Desenho Universal aplicado a um projeto consiste na criação de ambientes e produtos
que possam ser usados por todas as pessoas, na sua máxima extensão possível”.
Cambiaghi (2007, p. 72) destaca que o desenho universal foi resultado das
reivindicações dos movimentos das pessoas com deficiência e da iniciativa de arquitetos,
urbanistas e designers, que pretendiam uma maior democratização dos valores e ampliação da
visão na concepção de projetos. Todavia, as soluções de desenho universal e
26

as expressões eliminação de barreiras arquitetônicas e acessibilidade ao meio


físico são interpretadas por arquitetos e urbanistas como sinônimos da criação
de soluções ambientais voltadas principalmente para pessoas com deficiência,
deixando de considerar que elas abarcam a ideia de que os ambientes devem
ser inteligíveis e utilizáveis por todas as pessoas.
(CAMBIAGHI, 2007, p. 72-73)

Deve-se, portanto, compreender que apesar de relacionado às pessoas com deficiência,


o desenho universal vai além disso, “a essência do desenho universal está no propósito de
estabelecer acessibilidade integrada a todos, sejam ou não pessoas com deficiência”
(CAMBIAGHI, p. 73). Apesar disso, há corrente que questiona6 algumas diretrizes do desenho
universal, sob o argumento de que as normas apresentam falhas e inconsistências em seus
textos, defendendo situações contrárias ao desenho universal. Pode-se citar o exemplo das
cabines sanitárias com acesso independente, que ao mesmo tempo que atendem uma parcela
de usuários (como aqueles que necessitam da ajuda de pessoa do sexo oposto) priva o
convívio/acesso de outros usuários (que não precisariam do acesso independente) ao sanitário
convencional, uma vez que por atender a norma para o banheiro acessível com entrada
independente, o acesso dos outros sanitários deixa de ser acessível.
Tendo o ser humano e sua pluralidade como norteadores do design, um grupo de
arquitetos e defensores da diversidade se reuniu para elaborar critérios para edifícios e
ambientes urbanos, visando atender um maior número de usuários (SÃO PAULO, 2010, p. 14-
15). Dessa reunião em 1990, na Carolina do Norte, Estados Unidos, surgiram os sete princípios
do desenho universal, adotados mundialmente.
Esses princípios são amplamente debatidos e apresentados pelos autores nacionais,
recebendo destaque inclusive na NBR 9050 de 2015, que traz em seu anexo A os sete princípios
do desenho universal (reproduzidos na sequência), que devem ser adotados em planejamentos
e obras de acessibilidade:

1) Uso Equitativo: é a característica do ambiente ou elemento espacial que faz com


que ele possa ser usado por diversas pessoas, independentemente de idade ou
habilidade. Para ter o uso equitativo deve-se: propiciar o mesmo significado de uso
para todos; eliminar uma possível segregação e estigmatização; promover o uso

6
GUIMARÃES. Marcelo Pinto. Desenho universal é design universal: conceito ainda a ser seguido pela NBR 9050 e
pelo Decreto-Lei da Acessibilidade. Disponível em: <
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.096/141. Acesso em maio de 2017.
27

com privacidade, segurança e conforto, sem deixar de ser um ambiente atraente ao


usuário;
Figura 1: Exemplo de uso equitativo - acesso

Fonte: São Paulo, 2010.

2) Uso Flexível: é a característica que faz com que o ambiente ou elemento espacial
atenda a uma grande parte das preferências e habilidades das pessoas. Para tal,
devem-se oferecer diferentes maneiras de uso, possibilitar o uso para destros e
canhotos, facilitar a precisão e destreza do usuário e possibilitar o uso de pessoas
com diferentes tempos de reação a estímulos; deve-se criar ambientes que
permitam adequações e transformações.
3) Uso Simples e Intuitivo: é a característica do ambiente ou elemento espacial que
possibilita que seu uso seja de fácil compreensão, dispensando, para tal,
experiência, conhecimento, habilidades linguísticas ou grande nível de concentração
por parte das pessoas;

Figura 2: Uso simples e intuitivo do espaço

Fonte: São Paulo, 2010.

4) Informação de Fácil Percepção: essa característica do ambiente ou elemento


espacial faz com que seja redundante e legível quanto a apresentações de
informações vitais. Essas informações devem se apresentar em diferentes modos
28

(visuais, verbais, táteis), fazendo com que a legibilidade da informação seja


maximizada, sendo percebida por pessoas com diferentes habilidades (cegos,
surdos, analfabetos, entre outros);
5) Tolerância ao Erro: é uma característica que possibilita que se minimizem os riscos
e consequências adversas de ações acidentais ou não intencionais na utilização do
ambiente ou elemento espacial. Para tal, devem-se agrupar os elementos que
apresentam risco, isolando-os ou eliminando-os, empregar avisos de risco ou erro,
fornecer opções de minimizar as falhas e evitar ações inconscientes em tarefas que
requeiram vigilância;

Figura 3: Corrimão duplo prolongado, piso tátil de alerta, faixas contrastantes

Fonte: São Paulo, 2010.

6) Baixo Esforço Físico: nesse princípio, o ambiente ou elemento espacial deve


oferecer condições de ser usado de maneira eficiente e confortável, com o mínimo
de fadiga muscular do usuário. Para alcançar esse princípio deve-se: possibilitar que
os usuários mantenham o corpo em posição neutra, usar força de operação
razoável, minimizar ações repetidas e minimizar a sustentação do esforço físico;

Figura 4: Exemplo de baixo esforço físico

Fonte: São Paulo, 2010.


29

7) Dimensão e Espaço para aproximação e uso: essa característica diz que o ambiente
ou elemento espacial deve ter dimensão e espaço apropriado para aproximação,
alcance, manipulação e uso, independentemente de tamanho de corpo, postura e
mobilidade do usuário. Desta forma, deve-se: implantar sinalização em elementos
importantes e tornar confortavelmente alcançáveis todos os componentes para
usuários sentados ou em pé, acomodar variações de mãos e empunhadura e, por
último, implantar espaços adequados para uso de tecnologias assistivas ou
assistentes pessoais.

Figura 5: Mobiliário de uso abrangente

Fonte: Decoratrix apud Deficiente Ciente, 2011.

Aos poucos o desenho universal vem se tornado parte do planejamento das edificações,
produtos e serviços, privilegiando a segurança e autonomia de todas as pessoas,
independentemente de suas características. Nesse sentido, o anteprojeto do centro
intergeracional busca observar os princípios do desenho universal para desenvolver um espaço
adequado para receber diferentes gerações.
30

1.2 EMPÍRICO – ESTUDOS DE REFERÊNCIA

Nesse capítulo serão apresentados os estudos de referência realizados virtual e


pessoalmente, com intuito de fornecer informações que contribuam para o planejamento
arquitetônico, mostrando exemplos a serem seguidos bem como apontando elementos que
devem ser evitados no projeto.
Por se tratar de uma edificação voltada para o convívio entre gerações (crianças e
pessoas idosas), e, portanto, pouco comum, os exemplos de equipamentos com esse uso foram
encontrados somente fora do Brasil. Por conseguinte, como não há equipamento intergeracional
em Natal, foram realizados estudos de referência em espaços que tivessem alguma relação com
o tema, podendo ser uso similar ao pretendido no projeto ou voltado para o mesmo público alvo,
no caso, crianças e idosos separadamente.
Os estudos indiretos foram realizados com auxílio da internet, o que não mostra
necessariamente o edifício, mas apresenta as atividades desenvolvidas e que servirão de
referência para o trabalho, como é o caso do Providence Mount St. Vincent & its Intergenerational
Programming, sediado nos Estados Unidos, e um complexo com residência da terceira idade e
creche, localizado na França.
Além desses, foi realizado estudo indireto do Espaço Infantil Primeiros Passos,
localizado em Natal/RN, com suporte no TFG Flex Kids – Proposta para uma Instituição de
Educação Infantil Espacialmente Flexível, de Jéssica Medeiros Araújo, do ano de 2014. Esse
último estudo foi feito em uma escola que funciona como tempo integral, se assemelhando
parcialmente ao uso pretendido no centro intergeracional. Importante salientar que foram
encontradas dificuldades para realização de um estudo direto em ambiente escolar em Natal,
talvez por questões de segurança das crianças. Sendo assim, diante das barreiras, decidiu-se
utilizar um estudo bastante completo realizado para um TFG de 2014, que atende à parcela do
público infantil do projeto.
Com relação ao estudo direto, ele também foi realizado em espaço destinado a apenas
uma das gerações envolvidas, no caso as pessoas idosas. Para compreender melhor as
necessidades dessa faixa etária, visitou-se uma associação de clubes da melhor idade que
funciona em Natal e oferece atividades que se aproximam das pretendidas no centro
intergeracional.
31

1.2.1 Estudos Indiretos

1.2.1.1 Providence Mount St. Vincent & its Intergenerational Programming

O Providence Mount St. Vincent funciona como uma casa de repouso desde 1924 em
Seattle, nos Estados Unidos, e possui um centro de aprendizagem intergeracional em seu
interior. Conhecida como The Mount, a casa de repouso oferece 109 apartamentos, 6 conjuntos
de 23 quartos com cuidado 24 horas através de enfermarias, 58 leitos de transição – para
pacientes que voltaram de tratamentos em hospitais ou que necessitam de cuidado especial -, e
clínica de bem-estar oferecendo serviços de odontologia, massagens terapêuticas, acupuntura
entre outros, atendendo aproximadamente 400 idosos residentes.
O The Mount oferece atividades, programas e terapias para ajudar a manter os residentes
e pacientes física e mentalmente ativos, bem como incluídos na sociedade. Buscando ser uma
verdadeira casa para seus residentes, a instituição aceita até animais de estimação dos
funcionários e dos residentes, que atualmente têm uma média de idade de 92 anos.
O centro de aprendizagem intergeracional, que será chamado de escola, atende crianças
com idades que vão de 6 semanas a 5 anos, e tem como foco principal o desenvolvimento social
e emocional das crianças. A escola conta com 38 professores e 6 salas de aula, sendo uma
localizada numa ala de quartos com enfermaria da casa de repouso.
De acordo com as informações fornecidas pelo site do The Mount acerca do programa
intergeracional7, a ideia da escola surgiu ainda na década de 1980, mas somente em 1991 foi
colocada em prática, com uma turma de aproximadamente 12 alunos. Ao final do primeiro mês
de funcionamento o número de alunos subiu para 30, chegando a 54 alunos em 1993 e 125
crianças atualmente.
Segundo o site, os benefícios para as crianças são diversos, entre eles: possuir uma
imagem positiva e real do envelhecimento; perder o medo de idosos; ver o processo de
envelhecimento como algo natural; perder o medo de deficiências; ter uma variedade de
exemplos de vida; ganhar conhecimento sobre os mais velhos; ampliar a perspectiva da vida em
família; ter a oportunidade de doar-se e sentir-se necessário; ter amigos adultos e ajudar a
eliminar estereótipos. Para os idosos não é diferente, sendo elencados diversos benefícios como

7
PROVIDENCE MOUNT ST. VINCENT. Providence Mount St. Vincent & its Intergenerational Programming.
Disponível em:
<http://washington.providence.org/~/media/files/providence/senior%20care/mount%20st%20vincent/providence
mountstvincentintergenerationalprogramming2016.pdf/>. Acesso em setembro de 2016.
32

o de serem apontados como exemplos de vida para os mais novos; serem reintegrados à vida
familiar; ganhar novo propósito de vida; relembrar o tempo em que os filhos e netos eram
pequenos; sentir-se necessário; reacender o senso de humor e melhorar a integração.
Além dos idosos e das crianças, a própria comunidade é beneficiada com o projeto, pois
os laços de amizade são estreitados, são realizadas parcerias entre diferentes grupos e
organizações, as barreiras e estereótipos entre gerações são quebradas, as tradições e cultura
locais são promovidas, há um crescimento da rede de contatos e consequente aumento das
oportunidades profissionais, entre outras vantagens mencionadas no arquivo PDF
disponibilizado sobre o programa intergeracional no site do The Mount.
Por se tratar de uma instituição localizada em outro país, o estudo foi feito baseando-se
em documentos, informações e vídeos disponibilizados online sobre o local. Serão consideradas,
as orientações do guia sobre o projeto disponibilizado no site do The Mount (contém informações
básicas, atividades desenvolvidas e até uma espécie de passo a passo para implantar um
programa intergeracional) e observações através de fotos e vídeos, que possibilitam a
visualização do interior do edifício e do seu funcionamento.
As imagens apresentadas no tour virtual8 chamaram atenção para dois detalhes no
interior do edifício: amplas janelas de vidro nos ambientes escolares (Figura 6) e corrimão nos
corredores do prédio (Figura 7 e Figura 8).

Figura 6: Sala de aula The Mount

Fonte: print screen do tour virtual do Providence Mount St. Vincent, 2017.

8
PROVIDENCE MOUNT ST. VINCENT. Virtual Tour. Disponível em: <http://www.vhct.co/0125/index.html#p=scene-
1>. Acesso em maio de 2017.
33

Figura 7: Sala de aula e corredores The Mount

Fonte: print screen do tour virtual do Providence Mount St. Vincent, 2017

Figura 8: Área comum The Mount

Fonte: print screen do tour virtual do Providence Mount St. Vincent, 2017

As janelas possibilitam uma integração ainda maior do ambiente escolar com o lar de
idosos, pois além de estarem no mesmo edifício, a escola “convida” os idosos a assistirem as
atividades desenvolvidas em sala de aula enquanto circulam pelo edifício (Figura 9). Da mesma
forma, os corrimãos estão dispostos ao longo dos corredores para dar segurança à caminhada
dos residentes e apoio para o caso dos idosos ficarem muito tempo em pé, bem como para
possibilitar que os usuários de cadeiras de rodas possam ter segurança para levantarem (quando
possível) e observar as crianças através das janelas.
34

Figura 9: Senhora observando crianças em sala de aula

Fonte: print screen do vídeo de PBS Newshour, 20169.

Apesar de o site do The Mount não fornecer muitas informações sobre o edifício em si,
trata-se de uma instituição de grande porte, com mais de 90.000m² e com aproximadamente 500
colaboradores em sua equipe, além de 97 voluntários. Logo, o Providence Mount St. Vincent está
em uma escala maior do que o projeto a ser desenvolvido no TFG. No entanto, foi escolhido
como referência por ter sido o exemplo que motivou a escolha do tema do trabalho e oferecer
um exemplo prático de experiência intergeracional bem-sucedida.
Nas reportagens e materiais pesquisados online, foram apontadas diversas atividades
realizadas na instituição, retratando o dia-a-dia daqueles que moram e frequentam o centro,
sendo possível visualizar como a convivência intergeracional acontece e como ela é vista pelos
participantes que foram entrevistados nas reportagens. A escola realiza diversas atividades para
integrar as duas gerações atendidas, entre elas a contação de histórias, momentos de música e
dança, aulas de pintura (Figura 10), preparação de lanches para moradores de rua, visitas nas
alas dos residentes e o que é chamado de “show dos bebês”, quando os mais novos são a
atração do ambiente.

9
PBS NEWSHOUR. What happens when a nursing home and a day care center share a roof? Reportagem de Cat
Wise, em 10 de maio de 2016. Disponível em: <http://www.pbs.org/newshour/bb/what-happens-when-a-nursing-
home-and-a-day-care-center-share-a-roof/>. Acesso em maio de 2017.
35

Figura 10: Aula de pintura

Fonte: print screen do vídeo de PBS Newshour, 2016

Dessa forma, o estudo de referência do The Mount serviu para entender como as
interações entre os usuários acontecem – de forma programada ou natural –, possibilitando a
compreensão da funcionalidade dos espaços e contribuindo para a definição do programa de
necessidades, além de oferecer ideias que podem incentivar a convivência entre gerações.

1.2.1.2 Creche + Residência da Terceira Idade

O projeto em análise foi desenvolvido pelo escritório francês a-LTA no ano de 2012, em
Rennes, na França. É composto por um lar de idosos, uma creche, um restaurante e três níveis
de estacionamento subterrâneo, além de abarcar uma clínica já existente no norte do terreno.
Diferentemente do estudo anterior, este se detém ao edifício, não tendo sido encontradas
informações sobre o funcionamento das instalações.
36

Figura 11: Imagem de satélite

Fonte: a/LTA, 201710.

Na Figura 11 pode-se observar a localização da casa de repouso (EHPAD -Etablissement


d'hébergement Pour Personnes Agées Dépendantes, em tradução livre, casa de repouso para
idosos dependentes), com alas especiais para pacientes com Alzheimer, a creche e a clínica
previamente existente, implantada ao longo da rua Saint Hélier.
O complexo tem área útil de 5.000m², a casa de repouso possuindo 87 quartos,
atendendo idosos dependentes e com Alzheimer; e a creche oferece vagas para 25 crianças,
sendo uma opção para os filhos dos profissionais da saúde que trabalham na região e dos
funcionários das empresas do bairro, em pleno desenvolvimento. A faixa etária atendida pela
creche vai de 2 meses a 4 anos, e o horário de funcionamento vai das 6h às 21h30’.
A fachada sul do edifício dialoga com o seu entorno, mantendo o ritmo e o gabarito dos
edifícios adjacentes, no entanto, apresenta materiais que fazem com que o edifício fique em
evidência. O uso de vidros e estrutura metálica deu profundidade e transparência à fachada,
destacando-a dos prédios vizinhos (Figura 12).

10
Disponível em: <http://www.a-lta.fr/portfolios/ehpad-creche-rennes/>. Acesso em maio de2017.
37

Figura 12: Fachada sul

Fonte: Stéphane Chalmeau via ArchDaily, 2014.

O edifício busca se relacionar com o verde, sendo observada a presença de pátios, jardins
e uso de vegetação nas fachadas, propiciando vistas verdes aos residentes, reduzindo o impacto
da luz natural e oferecendo mais privacidade.
Com relação ao programa de necessidades e disposição dos ambientes, não há
informações e as plantas disponibilizadas são de difícil leitura, podendo ser identificados os
quartos e banheiros, mas sem indicação dos ambientes coletivos. A característica marcante da
planta (Figura 13) é a relação do edifício com áreas verdes, sendo possível observar a presença
de pátios e jardins, propiciando vistas verdes, locais de contemplação e de caminhada para os
residentes, além de reduzir o impacto da luz natural e oferecer mais privacidade ao edifício.
38

Figura 13: Planta do complexo (térreo)

Fonte: a/LTA, 201711.

As áreas internas da casa de repouso se destacam pelo uso de cores fortes nas
paredes, contribuindo para a identificação dos diferentes espaços, visando facilitar a distinção
dos ambientes pelos pacientes com Alzheimer. Repete-se nesse estudo a presença dos
corrimãos nas paredes ao longo de todo o edifício, característica condizente com as
necessidades do público idoso.

11
Disponível em: <http://www.a-lta.fr/portfolios/ehpad-creche-rennes/>. Acesso em maio de2017.
39

Figura 14: Cor no interior do edifício Figura 15: Cor no interior do edifício 2

Fonte: Stéphane Chalmeau via ArchDaily, 2014. Fonte: Stéphane Chalmeau via ArchDaily, 2014.

Com relação aos espaços da creche, não há informação disponível, sendo


disponibilizada apenas uma imagem (Figura 16), que mostra um ambiente amplo,
predominantemente branco, com grandes janelas permitindo a entrada de luz natural e uso de
mobiliário para caracterização do ambiente como creche.

Figura 16: Espaço da creche

Fonte: Stéphane Chalmeau via ArchDaily, 2014


40

1.2.1.3 Espaço Infantil Primeiros Passos

O Espaço Infantil Primeiros Passos está localizado no bairro do Tirol, em Natal/RN, e


possui duas unidades: uma na Avenida Rodrigues Alves e outra na Avenida Afonso Pena. De
acordo com Araújo (2014, p. 52), a escola oferece três opções de horários: “meio período (turno
normal de quatro horas com matutino e vespertino), semi-integral (turno de seis horas com
matutino e vespertino), e integral (turno de dez horas, das 7h30 às 17h30)”. Com relação ao
horário integral, o site12 da escola informa:

O horário integral é oferecido de segunda à sexta-feira aos alunos do Estágio


Mini da Educação Infantil ao 1º Ano do Ensino Fundamental. Desenvolvemos
uma rotina organizada, em que o aluno no turno matutino participa das aulas
curriculares direcionadas pela pedagogia de projetos e no turno vespertino,
participa de atividades diversificadas como: banho, repouso, aula de música,
almoço, artes, culinária, jogos pedagógicos, brincadeiras, judô e atividades de
casa para as turmas do Estágio IV e 1º Ano.
(PRIMEIROS PASSOS, 2017).

Sobre o programa do horário integral, percebe-se a semelhança com as atividades que


serão desenvolvidas no centro intergeracional, que receberá as crianças em horário diferente do
escolar para desenvolver atividades variadas como artes e jogos juntamente com idosos.
Em 2014, época de realização da visita, a escola atendia 222 crianças, na faixa etária
de quatro meses a sete anos, e contava com 50 funcionários na equipe – desde professores aos
funcionários da cozinha e da direção (ARAÚJO, 2014, p. 53).
De acordo com o estudo feito por Araújo (2014), as edificações encontram-se dispostas
no lote de maneira descentralizada, formando pátios descobertos que recebem tratamento
paisagístico e áreas para brincadeiras, como pode ser observado na Figura 17:

12
PRIMEIROS PASSOS. Disponível em: <http://www.primeirospassosnet.com.br/>.Acesso em maio de 2017.
41

Figura 17: Pátios descobertos Primeiros Passos

Fonte: Araújo, 2010.

Araújo destaca que o edifício localizado na avenida Rodrigues Alves apresenta desnível
e que o acesso principal se dá por meio de uma rampa. Merece destaque, portanto, a questão
da acessibilidade, priorizada através do uso da rampa (Figura 18).

Figura 18: Primeiros Passos - Fachada Rodrigues Alves

Fonte: Google Maps, 2015.


42

Do mesmo modo a unidade localizada na avenida Afonso Pena “apresenta aclive ainda
mais acentuado, de modo que, se torna dividida em dois planos, cujos acessos ocorrem por meio
de rampa e escada” (ARAÚJO, 2014, p. 57).

Tendo em vista as atividades oferecidas no Primeiros Passos, importante observar o


programa de necessidades da escola, aqui apresentado por Araújo (2010, p. 60,61) através das
legendas desenvolvidas para as plantas:

Figura 19: Programa Unidade I - Rodrigues Alves

Fonte: Adaptado de Araújo, 2014.

Figura 20: Programa Unidade II - Afonso Pena

Fonte: Adaptado de Araújo, 2014.

Dessa forma, pode-se notar o quão extenso é o programa de necessidades de uma


escola, principalmente no caso em apreço, onde são oferecidas atividades para crianças a partir
de um ano, que ainda requerem cuidados que demandam espaços específicos, como fraldário e
berçário.
Com relação aos revestimentos utilizados nos edifícios, Araújo observou que nos dois
prédios o piso é do tipo cerâmico antiderrapante e nas paredes das salas de aula há uma faixa
de revestimento impermeável de aproximadamente 1m de altura a partir do piso. Trata-se de
uma estratégia que facilita a limpeza e manutenção do edifício, pois ambientes que recebem
crianças normalmente demandam cuidado redobrado com limpeza, facilitada com o uso das
faixas de revestimento. Sobre o edifício de maneira geral, Araújo (2014, p. 59) aponta:
43

Um aspecto interessante é que a maioria das salas possui dois acessos, um para
a circulação e outro para o pátio central, promovendo a integração entre sala de
aula e áreas externas. Ainda assim, todas as salas de aula/atividades, e salas
administrativas são climatizadas com ar condicionado. Acredita-se que o
conforto ambiental é prejudicado devido ao grande número de edifícios verticais
no entorno da instituição, barrando parte da ventilação. No caso do pavimento
inferior da unidade I, devido à topografia, as aberturas ficaram limitadas, o que
justifica o uso de climatização e iluminação artificial. Além disso, alguns
ambientes como banheiros e pátios cobertos receberam iluminação zenital,
através do uso de pérgolas cobertas com telhas de policarbonato.

Figura 21: Pátio com iluminação zenital

Fonte: Araújo, 2010.

Apesar de verificada a utilização de rampas nos edifícios, Araújo (2014) observou que
há um acesso entre os pavimentos de uma unidade sem acessibilidade por meio de rampa,
apenas escadas, o que vai de encontro ao recomendado pela norma técnica de acessibilidade.
Mesmo tendo sido realizado indiretamente, o estudo permitiu conhecer melhor o
funcionamento de uma instituição de educação infantil, fornecendo subsídios para o
desenvolvimento do anteprojeto do TFG.
44

1.2.2 Estudos Diretos

1.2.2.1 Associação de Clubes da Melhor Idade

O estudo direto foi realizado no clube da melhor idade localizado na Avenida Deodoro
da Fonseca, bairro de Petrópolis, Natal. No local funciona a Associação de Clubes da Maior
Idade do Rio Grande do Norte, os clubes da melhor idade Caminhos de Vida e Novos Caminhos,
além de estar funcionando, atualmente, a Associação de Clubes da Melhor Idade Nacional, em
razão da presidente ser também presidente da associação de clubes do RN.

Figura 22: Localização do Clube da melhor idade

Fonte: Google Maps, 2017


Nota: Editado pela autora, 2017.

A visita foi interessante para entender o funcionamento dos clubes da melhor idade no
Brasil, pois foram fornecidos os dados sobre criação e manutenção dessas instituições. No
entanto, com relação ao espaço físico, como o prédio não é próprio dos clubes, não são
45

realizadas melhorias significativas, de forma que a visita foi importante para contribuir com a
definição do programa de necessidades do projeto.
A Associação Brasileira dos Clubes da Melhor Idade -ABCMI- foi criada através de um
projeto do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur) em 1985, e tinha como objetivo promover o
turismo sênior - oferecendo lazer aos idosos através de grupos de viagem – e movimentar a
cadeia de turismo na baixa estação. No Rio Grande do Norte a associação de clubes da maior
idade foi fundada em 1989. Na sequência, foram criados dois clubes em Natal: Caminhos de
Vida em 1991, e Novos Caminhos em 1995, ambos em atividade até hoje.
Além de viabilizar viagens, os clubes promovem a inclusão dos idosos através de
cursos, oficinas, encontros e atividades festivas, oferecendo lazer e cultura para seus
associados. De acordo com as informações obtidas na visita, a ABCMI RN é uma das únicas
associações que promove encontro semanal com seus associados. Trata-se de uma tarde festiva
que acontece toda quarta-feira e promove alegria e bem-estar aos idosos. Embora aconteça o
encontro semanal, atualmente o clube oferece poucas atividades para os seus associados, que
são o torneio de sinuca (bastante procurando pelos homens), aula de dança (o clube disponibiliza
apenas o espaço, as associadas contratam o professor por fora) e aula de informática (tem
disponibilidade, mas só acontece a aula sob demanda).
De acordo com o secretário da ABCMI Nacional, a situação dos clubes é bastante
delicada, pois eles são mantidos com as mensalidades dos associados (de valor pouco
representativo) e com a comissão de agências parceiras (que passam uma porcentagem do valor
dos pacotes de viagem vendidos). Explicou que na época que os clubes da melhor idade
surgiram havia subsídio financeiro do governo, de forma que eram oferecidos diversos cursos
como pintura, artesanato, idiomas, dança. Todavia, com o surgimento das universidades abertas
da terceira idade, a manutenção dos clubes tornou-se mais difícil, já que na época não havia
mais subsídio do governo e não tinha como concorrer com as universidades, que já tinham
estrutura pronta e adequada para o ensino.
Apesar das dificuldades, o clube é muito importante para seus associados, sendo para
muitos a única forma de lazer, independência e interação. Além disso, são os próprios idosos os
responsáveis pela administração dos clubes, fazendo parte de diretoria, conselho e presidência,
uma outra forma de se manterem ativos, trabalhando para a associação.
Tem-se, portanto, uma instituição de grande importância para seus associados, que
totalizam atualmente 120 idosos, 50 idosos de um clube e 70 de outro. Os benefícios para os
idosos participantes são diversos: participação em novas experiências turísticas, melhoria da
46

qualidade de vida, independência, interação através de encontros festivos, resgate de autonomia


entre outros.
Para facilitar a compreensão da disposição dos ambientes do clube, foi feito um croqui
da planta baixa do edifício (Figura 23 ).

Figura 23: Croqui e fotos do clube

Fonte: Acervo da autora, 2017.

O evento semanal é realizado no grande salão que se localiza logo na entrada do


edifício, sendo de fácil acesso a todos os associados e bastante amplo (possui aproximadamente
10m x 20m) para danças e festividades, possuindo banheiros para esse ambiente. Após o salão,
existe um corredor onde estão os acessos para todos os espaços dos clubes, sendo o primeiro
um banheiro “acessível”, de acordo com as informações recebidas. Trata-se de um banheiro que
foi reformado para receber rampa e barras, porém, não se enquadra nas recomendações da
NBR 9050 pela inclinação inadequada da rampa e pelas barras de apoio à bacia sanitária, que
não seguem o recomendado na norma.
47

Na sequência, encontra-se uma biblioteca do lado esquerdo do corredor que sai do


salão, que de acordo com uma associada, não é um ambiente utilizado pois o acervo é muito
antigo. Ao lado da biblioteca está uma sala considerada multiuso, pois é um local amplo onde
são realizadas aulas de dança, reuniões entre outros. Na sala multiuso existem dois banheiros.
Do lado direito do corredor temos o setor administrativo logo no início, com salas para
cada clube, para a associação, secretaria e banheiros. Em seguida, existe uma cozinha e, por
fim, uma área recreativa onde se encontra a sinuca. Alguns ambientes não foram registrados
pois estavam sendo utilizados no momento da visita.
O clube funciona no edifício há bastante tempo, no entanto não foi informado há quantos
anos ele foi cedido à ABCMI/RN. Por não ser prédio próprio, não foram feitas muitas melhorias,
constatando-se a presença de muitos batentes na mudança de ambientes e nenhuma rampa,
bem como a ausência de banheiros acessíveis de acordo com a norma, de forma que são
necessários reparos e adaptações para melhor atender seu público, composto inclusive por
cadeirantes (2 associados) e idosos com mobilidade reduzida (6 fazem uso de bengala ou
andajá). Apesar disso, ver a realidade de um ambiente voltado para a melhor idade, conhecer
um programa de necessidades em funcionamento e ter contato com os idosos contribuiu para
uma melhor compreensão do tema e para a definição do programa do TFG.

1.3 SÍNTESE DOS ESTUDOS DE REFERÊNCIA

Cada um dos estudos de referência contribuiu de alguma forma para o desenvolvimento


do projeto, principalmente do ponto de vista funcional, apresentando características a serem
reproduzidas ou evitadas no projeto, dentre as quais destacamos positivamente:
- Amplas janelas permitindo a visualização do interior dos ambientes (verificado no
Providence Mount St. Vincent – The Mount);
- Corrimão nos corredores para dar apoio às caminhadas de pessoas com dificuldade
de locomoção (visualizado no Providence Mount St. Vincent – The Mount e no EHPAD);
- Uso de cores no interior da edificação facilitando a percepção e identificação dos
espaços (obervado no Providence Mount St. Vincent – The Mount e no EHPAD);
- Presença de pátios e áreas verdes permeando as edificações, fornecendo espaço para
contemplação e caminhada (visualizado no EHPAD e no Espaço Infantil Primeiros Passos)
48

- Espaço multiuso possibilitando reunião de maior número de pessoas e realização de


atividades diversas (visto na Associação de Clubes da Melhor Idade).
Como aspecto negativo, pode-se observar a presença de batentes na transição dos
ambientes dos clubes da melhor idade, que devem ser evitados em um projeto que preza pela
acessibilidade e a inexistência de área verde, que contribui para a saúde dos idosos. Além disso,
não há banheiro acessível em um espaço voltado para pessoas idosas, que possuem mais
limitações de movimento. Observa-se, assim, que a NBR 9050 precisa ser considerada para a
elaboração de projetos arquitetônicos, principalmente com públicos que já possuem limitações
físicas.
Com base nos estudos de referência foi desenvolvido um pré-programa de
necessidades, apresentado na sequência:

Recepção Sala de apresentações/teatro


Grande salão (para reunir os idosos Administração
e crianças) Depósito/Almoxarifado
Sala de TV/cinema Copa/cozinha
Pátio (externo ou interno) com Despensa
parque infantil Sala de reuniões
Salão de jogos Banheiro funcionários
Brinquedoteca Descanso funcionários
Pequena biblioteca/espaço de leitura DML
Salas de atividades (culinária, artes, Sala para consultas (psicólogo,
música, teatro) pedagogo)
Banheiros Estacionamento
49

2. CONDICIONANTES PARA O PROJETO

Neste capítulo são abordados os diversos fatores que influenciaram nas decisões
projetuais do Centro Intergeracional. São apresentados aspectos sobre o sítio onde o
equipamento arquitetônico foi implantado, com considerações sobre a definição do terreno, seu
entorno, dimensões e topografia do lote, bem como condicionantes físico-ambientais que
influenciaram no desenvolvimento do projeto. Também são analisadas as condicionantes legais
atribuídas à região de inserção do projeto e ao tipo de equipamento desenvolvido; além das
exigências dos usuários, programa de necessidades, pré-dimensionamento e o partido
arquitetônico adotado.

2.1 CARACTERÍSTICAS PARA ESCOLHA DO TERRENO E SEU ENTORNO

A localização do centro intergeracional deve levar em consideração o público ao qual se


destina, no caso crianças e pessoas idosas. Como o idoso está sendo tratado como usuário
principal, é importante privilegiar um local de fácil acesso e de preferência familiar ao público
idoso, para que a experiência no centro intergeracional seja a mais proveitosa possível.
Pensando nisso, a escolha do bairro onde será implantada a proposta projetual foi
norteada pela faixa etária de sua população residente, através da análise de gráficos
desenvolvidos pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (SEMURB), com base
nos dados dos Censos demográficos de 2000 e 2010, e contagem populacional de 2007,
realizados e disponibilizados pelo IBGE.
A apreciação dos dados mostrou que a região administrativa leste de Natal, onde se
concentram os bairros que deram origem à cidade, é onde está concentrado o maior número de
idosos da cidade – público que recebe papel de destaque no projeto – pesquisando-se assim um
terreno localizado nessa zona.
50

Gráfico 5: Composição da população residente de Natal

Fonte: SEMURB, 2015.


Nota: Editado pela autora, 2017.

Além disso, Bestetti (2002, p. 56, apud MEDEIROS, 2008, p.61) cita aspectos
importantes a serem considerados na escolha do terreno para equipamentos que atendem o
público da terceira idade:

a) Proximidade com o comércio e serviços que atendam às suas principais


necessidades, como: supermercados, farmácias, papelarias, bancas de revista,
igreja, médicos, banco;
b) Proximidade com pontos de embarque e desembarque das linhas
regulares de transporte coletivo;
c) Proximidade de praças e outras áreas verdes que possibilitem banhos de
sol e caminhadas;
d) Boas condições das calçadas e meios-fios, assim como bom nível de
iluminação pública.

Para definição do terreno foi utilizado o Google Maps, buscando-se uma área em bairros
tradicionais da cidade e que atendesse as recomendações para equipamentos voltados para o
público idoso. Foi escolhido um terreno localizado na Rua Juvino Barreto, próximo ao cruzamento
com a avenida Deodoro da Fonseca, no limite dos bairros Cidade Alta, Ribeira e Petrópolis, todos
com população idosa expressiva e fácil acesso.
51

Figura 24: Localização do terreno

Fonte: SEMURB, 2015 e Google Maps, 2017


Nota: Editado pela autora, 2017

Figura 25: Vista da Rua Juvino Barreto para a Av. Deodoro

Fonte: Google Street View, 2016.

Dessa forma, a localização do terreno é adequada, está em uma área de comércio e


serviços tradicional da cidade e com pontos de ônibus na própria rua e nas proximidades, mesmo
que nem todas as condições para escolha do terreno mencionadas por Bestetti sejam atendidas,
como a existência de calçadas em boas condições (Figura 27) e áreas verdes.
52

O lote escolhido, de aproximadamente 1.650m² (Figura 26) e geometria irregular, possui


dimensões adequadas para atender o programa proposto neste projeto. A situação topográfica
do terreno apresenta pouca irregularidade, sendo necessária a realização de pequena
movimentação de terra para nivelamento do terreno.

Figura 26: Terreno escolhido

Fonte: SEMURB, 2005.


Nota: Editado pela autora, 2017.

Em visita realizada ao terreno, foi constatado que o mesmo se encontra murado e sem
visibilidade do interior do lote, de forma que só puderam ser feitas fotografias da rua. Apesar
disso, pode-se confirmar que o desnível no terreno é pequeno.

Figura 27: Calçadas do terreno

Fonte: Acervo da autora, 2017.


53

Figura 28: Vista frontal do terreno

Fonte: Acervo da autora, 2017.

2.2 CONDICIONANTES FÍSICO-AMBIENTAIS

As questões bioclimáticas relacionadas ao terreno e seu entorno influenciam


diretamente nas soluções projetuais a serem desenvolvidas, sendo importante considerar a
trajetória solar e aspectos de aproveitamento da iluminação e ventilação naturais objetivando o
conforto do usuário final da edificação.
Nesse sentido deve-se observar a NBR – 15220, que trata do desempenho térmico de
edificações, apresentando o zoneamento bioclimático brasileiro com orientações projetuais para
cada zona. Natal está localizada na zona bioclimática 08 (Figura 29), cujas diretrizes projetuais
são: grandes aberturas, que devem ser sempre sombreadas; uso de materiais leves e refletores
tanto nas paredes como nas coberturas; e uso da estratégia de condicionamento térmico passivo
da ventilação cruzada permanente.

Figura 29: Zoneamento bioclimático brasileiro

Fonte: ABNT, 2003.


54

Analisar a insolação e a ventilação no local de projeto é um procedimento indispensável


para fundamentar as definições projetuais, tendo influência direta no conforto do equipamento
bem como no desempenho energético do edifício.

Figura 30: Ventilação e insolação no terreno

Fonte: Google, 2017.


Nota: Adaptado pela autora, 2017.

A ventilação do lote foi analisada a partir da utilização da rosa dos ventos para a cidade
de Natal, disponibilizada pelo LabCon – Laboratório de Conforto Ambiental da UFRN e inserida
no terreno em estudo (Figura 31). Através dela pode-se constatar a predominância dos ventos
oriundos da direção sudeste, com velocidade variável no decorrer do dia. Deve-se buscar,
portanto, posicionar aberturas nas fachadas de maneira a aproveitar a ventilação predominante
do sudeste - na lateral esquerda do lote (quando visto de frente), tendo cuidado com a incidência
solar na fachada oeste (poente), localizada na lateral direita do terreno.

Figura 31: Rosa dos ventos inserida no terreno

Fonte: Google Maps, 2017; Labcon, 2009


Nota: Adaptado pela autora, 2017.
55

A observância da trajetória solar e da incidência dos ventos no terreno resultaram em


um zoneamento para melhor proveito das características ambientais do sítio, com
aproveitamento de iluminação e ventilação natural, bem como na utilização de elementos de
tratamento nas fachadas menos favorecidas (poente).

Figura 32: Zoneamento inicial

Fonte: Acervo da autora, 2017.

2.3 CONDICIONANTES LEGAIS

O desenvolvimento desse projeto foi permeado por legislações variadas, como o Plano
Diretor (2007) e o Código de Obras do Município de Natal (2004), o Código de Segurança e
Prevenção contra Incêndio e Pânico do Rio Grande do Norte (1975), instruções normativas do
Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo e a NBR 9050 (2015), que trata de acessibilidade
a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Segue-se, a partir de agora, as
implicações que essas legislações trazem para a proposta arquitetônica desenvolvida.

Plano Diretor (Lei Complementar nº 082, de 21 de junho de 2007)

O Plano visa garantir uma adequada ocupação do solo, determinando prescrições com
relação aos limites de gabarito, recuos, taxas de ocupação e taxa de permeabilidade para as
construções no município. De acordo com o plano, o município de Natal é dividido em três tipos
de zonas no que diz respeito ao adensamento, isto é, com o grau de intensificação do uso e
ocupação do solo, de acordo com o seu Art. 6°, I. São elas: Zona de Zona de Adensamento
Básico; Zona Adensável e Zona de Proteção Ambiental.
56

O bairro da Cidade Alta, onde será implantado o projeto, classifica-se como zona
adensável, ou seja, “aquela onde as condições do meio físico, a disponibilidade de infraestrutura
e a necessidade de diversificação de uso, possibilitem um adensamento maior do que aquele
correspondente aos parâmetros básicos de coeficiente de aproveitamento” (art. 11).
O coeficiente de aproveitamento básico do município é 1,2, porém, de acordo com o
quadro 1 do anexo 1, do Plano, o bairro de Cidade Alta pode ter coeficiente máximo de
aproveitamento de 3,0, mediante pagamento de outorga onerosa13.

Quadro 2: Coeficientes máximos de aproveitamento – Região administrativa Leste

Fonte: Natal, 2007.


Nota: Alterado pela autora, 2017.

Quanto a outras prescrições do plano diretor de Natal que incidem na proposta,


elas estão resumidas nos quadros 3 e 4 a seguir:

Quadro 3: Prescrições urbanísticas


Prescrições urbanísticas Limites permitidos
Taxa de ocupação 80% (subsolo, térreo e segundo pavimento)
Taxa de impermeabilização 80%
Gabarito 90m (zona adensável)
Fonte: Natal, 2007.
Nota: Elaborado pela autora, 2017.

13
“A Outorga Onerosa do Direito de Construir, também conhecida como “solo criado”, refere-se à concessão
emitida pelo Município para que o proprietário de um imóvel edifique acima do limite estabelecido pelo
coeficiente de aproveitamento básico, mediante contrapartida financeira a ser prestada pelo beneficiário”.
SABOYA, Renato. Urbanidades: Urbanismo, Planejamento Urbano e Plano Diretor. Disponível em:
<http://urbanidades.arq.br/2008/03/outorga-onerosa-do-direito-de-construir/>. Acesso em maio de 2017.
57

Quadro 4: Recuos de zonas adensáveis


Recuos FRONTAL LATERAL FUNDOS
Até o 2º pav. Térreo 2º pav. Térreo Até o 2º pav.
Zonas 3,0m Não 1,50m aplicável Não Não
adensáveis obrigatório em uma das obrigatório obrigatório
laterais do lote
Fonte: Natal, 2007.
Nota: Adaptado pela autora, 2017.

Aplicando-se as prescrições urbanísticas ao lote escolhido para o projeto, tem-se os


seguintes condicionantes:

Quadro 5: Prescrições urbanísticas para o projeto


TERRENO: 1.648,14m²
Prescrições urbanísticas Permitidas no terreno
Coeficiente de aproveitamento (3,0) 4.944,42m²
Taxa de ocupação (80%) 1.318,51m²
Taxa de impermeabilização (80%) 1.318,51m²
(Área permeável = 329,62m²)
Gabarito (90m) Limite 90m
Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

Código de Obras (Lei Complementar nº 055, de 27 de janeiro de 2004)

O Código de Obras complementa as diretrizes do Plano Diretor, trazendo normas


específicas para as edificações e sua relação com o ambiente urbano. Ele estabelece diretrizes
para garantir o mínimo de conforto ao usuário no ambiente construído, através de determinações
para dimensionamento mínimo dos ambientes, proporção de aberturas, condições de ventilação
e iluminação naturais entre outros.
O Título III trata das normas específicas das edificações, dentre as quais destacam-se
para aplicação no projeto:

➢ O fechamento dos terrenos deve ter altura máxima de 3,0m medido em


qualquer ponto da testada. Os muros de fundo e laterais devem ter altura máxima de 3,0m em
relação ao terreno natural, no entanto, em zonas adensáveis esse limite pode chegar a 6,0m
(arts. 103 e 104, §1º).
58

➢ Todo projeto deve prever áreas destinadas ao estacionamento ou à guarda de


veículos, cobertas ou não. Os projetos devem apresentar obrigatoriamente as indicações gráficas
da localização de cada vaga e o esquema de circulação e acesso dos veículos (art. 108, §2º).

➢ As dimensões mínimas admitidas para cada vaga de estacionamento são:


2,40m de largura por 4,50m de comprimento (§7º, art. 110).

➢ As áreas livres, resultantes de recuo frontal, podem ser consideradas para


efeito de cálculo de área de estacionamento ou guarda de veículos, desde que esse recuo seja
igual ou superior a cinco metros (5,00m), respeitados os espaços de passeio e as regras de
acesso ao lote (art. 112).

➢ A quantidade de vagas, necessárias para cada empreendimento, é variável em


função da hierarquização das vias e natureza do uso, em conformidade com os Anexos
I e III do Código (art. 115)

➢ Nos locais públicos ou privados de uso coletivo deve ser reservado o número
de vagas às pessoas portadoras de deficiência física, conforme estabelecido na NBR específica
e demais normas da legislação em vigor, com a sinalização, rebaixamento de guias e localização
adequada (art. 125).

➢ Toda calçada deve possuir faixa de, no mínimo, um metro e vinte centímetros
(1,20m) de largura, para a circulação de pedestres - passeio - com piso contínuo sem
ressaltes ou depressões, antiderrapante, tátil, indicando limites e barreiras físicas (art. 126).

➢ Para efeito de insolação, iluminação e ventilação, todos os compartimentos da


edificação devem dispor de abertura direta para logradouro, pátio ou recuo (art. 148).

➢ Corredores e halls com área menor que 5m², depósitos e despensas e


compartimentos que justifiquem a ausência das aberturas são dispensados de iluminação e
ventilação naturais (art. 151).
59

➢ Com relação à acessibilidade, o Código determina que as edificações públicas


ou privadas de uso coletivo devem garantir o acesso, circulação e utilização por pessoas
portadoras de deficiências ou com mobilidade reduzida, atendendo as condições dispostas no
próprio código e em conformidade com as normas da ABNT (art. 158)

➢ Nos espaços e edifícios públicos ou privados deve ser observado o acesso


através de rampas quando houver desnível maior que um centímetro e cinco milímetros (1,5cm),
observando as exigências da NBR específica e demais normas da legislação em vigor (art. 160).

➢ As portas de acesso aos edifícios públicos ou privados, inclusive as de


elevadores, devem ter um vão livre mínimo de oitenta centímetros (0,80m), e naquelas com mais
de uma folha, pelo menos urna delas deve atender a esta condição, de conformidade com o
estabelecido na NBR específica e demais normas da legislação em vigor (art. 162).

➢ A largura mínima para circulação interna e externa permitida pelo Código é de


um metro e vinte centímetros (1,20m) (art. 163).

Além de todo o exposto, o Código orienta como devem ser as formas de acesso às
edificações e determina a quantidade de vagas de estacionamento de acordo com o tipo de
equipamento. O centro intergeracional será implantado na rua Juvino Barreto, identificada pela
legislação como uma via do tipo Coletora I (Anexo I – Sistema Viário Principal do Código de
Obras) e foi classificado como um equipamento do tipo “serviço de educação em geral, incluindo
escolas de artes, dança, idiomas, academias de ginástica e de esportes”, sendo recomendada
uma vaga a cada 50m², no caso de via coletora. Com relação a forma de acesso, o anexo II
(dimensionamento das formas de acesso) recomenda:

Figura 33: Forma de acesso

Fonte: Natal, 2004.


60

Código de segurança e prevenção contra incêndio e pânico do estado do Rio Grande


do Norte, Decreto nº 6.576, de 03 de janeiro de 1975, e Instrução Técnica (IT) nº 14 do Corpo de
Bombeiros do Estado de São Paulo (2004)

O código tem como objetivo estabelecer critérios básicos indispensáveis à segurança


contra incêndio nas edificações de todo o RN, visando garantir, através de suas exigências, os
meios necessários de combate a incêndio, evitar ou minimizar a propagação do fogo, facilitar as
ações de socorro e assegurar a evacuação segura dos ocupantes das edificações. Para
completar as lacunas do código do RN, serão utilizadas IT’s de São Paulo, mais novas e
utilizadas pela doutrina.
De acordo com o artigo 6º do código do Rio Grande do Norte, o centro intergeracional
está classificado como edificação de ocupação do tipo reunião pública, categoria que engloba
edificações destinadas a “exposição, teatros, cinemas, auditórios, colégios, centros de cursos
diversos, salas de reunião, “boites”, salões de festa, bailes, casas noturnas, ginásios
poliesportivos, templos religiosos, restaurantes com “boite”, bingos, casas de show e similares”.
Para esse tipo de edificação são feitas algumas recomendações, entre elas o edifício:

III- deverá dispor de renovação de ar ambiente através de ventilação natural;


IV - deverá dispor de sistema de iluminação de emergência;
V - as portas de saída de emergência deverão ter abertura no sentido de saída
e destravamento por barra anti-pânico;
VI- é obrigatória a utilização de guarda-corpo nas sacadas, rampas e escadas,
em material resistente, evitando-se quedas acidentais; (art. 12)

Com relação à classificação de risco, atualmente utiliza-se a orientação da IT nº 11 de


SP; de acordo com ela, o centro intergeracional foi classificado como edifício do tipo escolas em
geral, cuja carga de incêndio é de 300MJ/m², considerado risco A, do tipo leve. Para essa
classificação de risco, o Código do RN recomenda para cada 250 m² ou pavimento, um jogo de
extintores para classes A, B e/ou C, colocados preferencialmente juntos, devendo-se ser
observada a distância máxima a ser percorrida pelo operador, que é de 20 m (art. 23, §4º, I).
Além disso, as edificações classificadas como ocupação de reunião pública devem
atender as exigências de dispositivos de proteção contra incêndio, de acordo com a área
construída e altura da edificação, conforme disposto no Art. 8º destas especificações.
Para o cálculo da altura da edificação, o inciso I do art. 17 esclarece que “a altura da
edificação será compreendida pela diferença de cota entre o nível do solo no acesso à edificação
61

e a laje do piso do último pavimento, diferenciando-se para a questão de edificação


predominantemente térrea”. Dessa forma, o edifício projetado neste trabalho tem altura menor
de 6m e área construída superior a 750m², devendo-se atender as seguintes exigências do art.
8º, inciso II:
a) prevenção fixa (hidrantes);
b) prevenção móvel (extintores de incêndio);
c) sinalização;
d) escada convencional;
e) instalação de hidrante público.

Para definição do cálculo para reserva de incêndio, deve-se observar o


disposto na seção VI do Código de segurança e prevenção contra incêndio e pânico do RN, que
trata do sistema de proteção por hidrantes. A partir do art. 24 são estabelecidos os critérios para
cálculo, execução e aspectos dos hidrantes, onde:

R=Q.T.H
R - reserva mínima (Litros)
Q - vazão (de acordo com a ocupação e risco) – Litros/minuto
T - tempo de utilização de hidrante, conforme inciso VIII, do art.24; - Minutos
H - número de hidrantes funcionando simultaneamente;

Dessa forma, de acordo com o recomendado, o reservatório de incêndio terá 10.800L


(R= 180 x 30 x 2 → R = 10.800L), tendo sido a vazão de 180 recomendada em função do risco
da edificação; os 30 minutos pois se trata de área construída de até 20.000m²; e por fim, foi
considerando o uso simultâneo de dois hidrantes para edificação do risco A.

NBR 9050 (2015): Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos


urbanos.

A norma estabelece critérios e parâmetros técnicos a serem observados quando do


projeto, construção, instalação e adaptação do meio e de edificações, às condições de
acessibilidade, proporcionar a utilização de maneira autônoma, independente e segura do
ambiente, edificações, mobiliário, equipamentos urbanos e elementos à maior quantidade
62

possível de pessoas, independentemente de idade, estatura ou limitação de mobilidade ou


percepção (ABNT, 2015, p.1).
Sendo assim busca-se destacar as principais recomendações que contribuirão para o
desenvolvimento dos estudos deste TFG. Como o centro intergeracional atenderá público idoso
e infantil, o edifício deverá estar preparado para acolher diversas possibilidades de locomoção:
pessoas andando com bengalas, com andadores, pessoas em cadeiras de rodas (PCR), pessoas
sem qualquer tipo de aparelho etc.

Figura 34: Pessoas em pé

Fonte: ABNT, 2015.


Nota: Adaptado pela autora, 2017.

Figura 35: Pessoa em cadeira de rodas

Fonte: ABNT, 2015.


Nota: Adaptado pela autora, 2017.

Deve-se considerar para o projeto o módulo de referência a projeção de 0,80m por


1,20m no piso, ocupada por uma pessoa utilizando cadeira de rodas motorizadas ou não (Figura
36), sendo importante destacar que esses parâmetros também se aplicam às crianças em
cadeiras de rodas infantis.

Figura 36: Módulo de referência

Fonte: ABNT, 2015.


63

Com relação à área de circulação, são estabelecidas medidas de referência para o


deslocamento em linha reta de pessoas em cadeiras de rodas (Figura 35, Figura 37 e Figura 38).

Figura 37: Um pedestre e uma pessoa em cadeira de rodas Figura 38: Duas pessoas em cadeira de rodas

Fonte: ABNT, 2015. Fonte: ABNT, 2015.

Para a realização de manobra em cadeiras de rodas sem deslocamento recomenda-se:


a) para rotação de 90° = 1,20 m × 1,20 m;
b) para rotação de 180° = 1,50 m × 1,20 m;
c) para rotação de 360° = círculo com diâmetro de 1,50 m.

Figura 39: Área para manobra de cadeiras de rodas sem deslocamento

Fonte: ABNT, 2015.

A NBR 9050 determina que as áreas de qualquer espaço ou edificação de uso público
ou coletivo devem ser servidas de uma ou mais rotas acessíveis, no entanto, as áreas de uso
restrito como casas de máquinas, barriletes, passagem de uso técnico e outros com funções
similares, não necessitam atender às condições de acessibilidade. Entende-se por rota acessível
“um trajeto contínuo, desobstruído e sinalizado, que conecta os ambientes externos e internos
de espaços e edificações, e que pode ser utilizada de forma autônoma e segura por todas as
pessoas”. (ABNT, 2015, p. 54)
Além disso, nas edificações e equipamentos urbanos, todas as entradas, bem como as
rotas de interligação às funções do edifício, devem ser acessíveis.
64

A circulação pode ser horizontal e vertical, podendo ser esta última realizada por
escadas, rampas ou equipamentos eletromecânicos. Será considerada acessível a circulação
que atender no mínimo a duas formas de deslocamento vertical. Para as escadas, a largura
mínima para em rotas acessíveis é de 1,20m, devendo ser calculada de acordo com o fluxo de
pessoas.
Para garantir que uma rampa seja acessível, a norma define os limites máximos de
inclinação, os desníveis a serem vencidos e o número máximo de segmentos. A inclinação das
rampas deve ser calculada conforme a seguinte equação:

i = h x 100
c

i → é a inclinação, expressa em porcentagem (%);


h → é a altura do desnível;
c → é o comprimento da projeção horizontal.

As rampas devem ter inclinação de acordo com os limites estabelecidos no Quadro 6:


Dimensionamento de rampa. Para inclinação entre 6,25 % e 8,33 %, é recomendado criar áreas de
descanso nos patamares, a cada 50 m de percurso.

Quadro 6: Dimensionamento de rampa

Fonte: ABNT, 2015.

Sobre a circulação interna a norma estabelece as larguras mínimas para corredores:

a) 0,90 m para corredores de uso comum com extensão até 4,00m;


b) 1,20 m para corredores de uso comum com extensão até 10,00m; e 1,50m
para corredores com extensão superior a 10,00m;
c) 1,50m para corredores de uso público;
d) maior que 1,50 m para grandes fluxos de pessoas, conforme aplicação da
equação apresentada em 6.12.6. (ABNT, 2015, p. 68)

Tratando-se do estacionamento, a NBR 9050/2015 menciona a Resolução 303, de


18/12/2008, do CONTRAM – Conselho Nacional de Trânsito, que determina a observância do
art. 41 do Estatuto do Idoso, que estabelece a destinação de 5% das vagas para serem utilizadas
65

exclusivamente por idosos. Já a Lei Federal 10.098, de 19/12/2000, que trata da promoção da
acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência e com dificuldade de locomoção,
estabelece em seu art. 7º a reserva de 2% das vagas para veículos que transportem pessoas
portadoras de deficiência.
Para os banheiros há a exigência de que 5% da quantidade de sanitários presentes em
espaços de uso comum sejam acessíveis. Eles devem possuir entrada independente, de modo
a possibilitar que a pessoa com deficiência possa utilizar a instalação sanitária acompanhada de
uma pessoa do sexo oposto. Recomenda-se também que nos conjuntos de sanitários seja
instalada uma bacia infantil para uso de pessoas com baixa estatura e de crianças.

Figura 40: Medidas mínimas de um sanitário acessível

Fonte: ABNT, 2015.

A NBR 9050 determina que nos boxes comuns, as portas devem ter vão livre mínimo
de 0,80m e conter uma área livre com no mínimo 0,60m de diâmetro. De preferência as portas
devem ter abertura para fora, para facilitar o socorro à pessoa, se necessário.

Figura 41: Boxe comum

Fonte: ABNT, 2015.


66

2.4 CARACTERIZAÇÃO DA PROPOSTA E DO PÚBLICO-ALVO

A proposta do TFG corresponde à elaboração de anteprojeto para um Centro


Intergeracional, de iniciativa privada. Trata-se de um equipamento voltado para crianças e idosos
funcionalmente independentes, ou seja, aqueles que conseguem desempenhar as atividades da
vida diária sem auxílio de outra pessoa.
Com relação ao horário de funcionamento, o centro funcionará das 07h30’ às 18h, sendo
o turno da manhã das 07h30’ às 12h e o da tarde das 13h30’ às 18h. Considerando que o público
infantil será de 03 a 12 anos, e o público idoso a partir dos 60, buscou-se através das pesquisas
e dos estudos de referência reunir atividades para integrar e agradar os dois públicos.
Por se tratar de um ambiente para socialização e aprendizado que visa a convivência
intergeracional, não há rigidez com relação às classes de atividades, sendo programadas
atividades a cada semana, buscando a melhor interação entre os participantes. Além disso, como
não se trata de ambiente escolar, não há necessariamente divisão em função da idade, apenas
devem ser observadas as necessidades de cada grupo etário para a execução da atividade
pretendida e a quantidade de participantes permitida.
Como exemplos de atividades que podem ser realizadas pelos usuários do centro, foram
pensadas aulas de pintura, jogos, leitura, oficinas de jardinagem, cultivo de horta, aulas de
artesanato, aulas de idiomas, dança, atividades para memória, ginástica, oficinas de arte etc.
Os grupos serão divididos em função das atividades, que poderão ser realizadas na
biblioteca, no jardim com horta, na brinquedoteca, no pátio, na sala de jogos, no salão de
convivência, na sala de TV, no espaço multiuso ou nas salas de atividades, de maneira a
aproveitar o espaço físico do equipamento ao máximo, incentivando a prática de atividades
lúdicas, corporais e cognitivas para estimular a saúde física e mental dos participantes.
Planeja-se atender um público de 60 usuários por período, sendo 30 idosos e 30 crianças,
divididos em 6 grupos de 10 pessoas, preferencialmente 5 de cada público alvo, que serão
assessorados por dois colaboradores.
Estima-se que por período o centro terá 12 colaboradores para monitorar a realização das
atividades, 3 funcionários do setor administrativo, 2 auxiliares de serviços gerais e 2 funcionários
da cozinha, totalizando uma equipe de 19 funcionários. Logo, serão atendidos 120 participantes
do projeto durante o dia, que serão assistidos por 19 funcionários.
67

2.5 PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ-DIMENSIONAMENTO

A definição do programa de necessidades teve influência direta dos estudos de


referência, que forneceram exemplos de atividades que agradam grupos etários diferentes,
favorecendo o convívio intergeracional. Além disso, por se tratar de um equipamento pouco
comum, sem exemplos conhecidos no Brasil e, portanto, sem literatura para orientar o
desenvolvimento do projeto, o programa de necessidades foi definido por analogia à escola e
clubes da melhor idade, já que atende os públicos dos mencionados equipamentos.
O programa de necessidades inicial não sofreu alterações no decorrer da elaboração
da proposta, apenas foi acrescentado um jardim na laje da fachada frontal, que não estava
previsto inicialmente, aumentando a quantidade de ambientes para convivência e realização de
atividades. As outras mudanças foram apenas na dimensão dos ambientes em função de uma
melhor adequação ao desenvolvimento das atividades ou ao espaço disponível para receber o
cômodo, resultado das tomadas de decisões durante a elaboração da planta baixa.

Quadro 7: Programa de necessidades


PROGRAMA DE NECESSIDADES
CONVÍVIO APOIO SERVIÇOS ADMINISTRAÇÃO
Salas de atividades (artes, Banheiros Cozinha Recepção
música, idiomas etc)
Grande salão Depósito Despensa Administração
Sala de TV/cinema DML Descanso Secretaria/Tesouraria
funcionários
Pátio interno e laje de Sala para consultas Banheiros
convivência (psicólogo, funcionários
pedagogo)
Sala de jogos Estacionamento
Sala multiuso
Biblioteca/espaço de leitura
Brinquedoteca
Parque infantil
Fonte: Acervo da autora, 2017.

Buscando antecipar as áreas dos ambientes do edifício para orientar o posicionamento


de cada setor no lote disponível e ter conhecimento preliminar da área construída do edifício, foi
feito o pré-dimensionamento da edificação. Para definição das áreas dos cômodos foram
utilizados diversos critérios, como o mobiliário destinado a cada espaço, a quantidade de
usuários de cada ambiente e as atividades que serão desenvolvidas no local, sempre prezando
68

pelo conforto do usuário e atendendo aos critérios de acessibilidade e desenho universal


previstos nas normas brasileiras.

Quadro 8: Pré-dimensionamento do centro intergeracional


CENTRO INTERGERACIONAL
AMBIENTE Quanti Área Área Observações
dade (m²) total

Recepção 1 20 20 Pequena área com cadeiras para espera

Consultório 1 15 15 Eventuais consultas com psicólogos,


pedagogos
Sala de atividades/aula 3 30 90 10 alunos por sala, média de 3m²/aluno

Biblioteca/sala de leitura 1 30 30 Espaço para leitura e “contação” de histórias

Espaço multiuso 1 80 80 Atividades como dança, ginástica,


brincadeiras, reuniões – sem mobiliário fixo
Sala de TV/cinema 1 25 25 Sofás e equipamento de vídeo

Sala de jogos 1 20 20 Espaço para sinuca e mesa para jogos

Salão de convivência 1 70 70 Ambiente com sofás e mesas para


convivência
Brinquedoteca 1 25 25 Espaço para crianças mais novas

Pátio 1 100 100 Aberto, com árvore para sombreamento

Banheiro acessível 4 5 20 Feminino e masculino, nos dois pavimentos

Banheiro feminino 2 10 20 3 boxes, sendo 1 sanitário infantil, 1 sanitário


adulto e 1 chuveiro
Banheiro masculino 2 10 20 3 boxes, sendo 1 sanitário infantil, 1 sanitário
adulto e 1 chuveiro
Administração 1 15 15 1 funcionário/12m²

Secretaria/Tesouraria 1 15 15 1 funcionário/12m²
Descanso funcionários 1 20 20 Ambiente com sofás, mesas
Banheiro funcionários 1 20 20 Incluir box para banho
feminino
Banheiro funcionários 1 20 20 Incluir box para banho
masculino
Depósito 1 6 6 Ambiente com prateleiras
Cozinha 1 35 35 Ambiente amplo para permitir a visita dos
alunos quando necessário
Despensa 1 5 5 Espaço com prateleiras para alimentos e
louças
DML 1 5 5 Área com lavanderia, armários e espaço
para carrinho de limpeza
TOTAL 676m²
Fonte: Acervo da autora, 2017.
69

A área total resultante do pré-dimensionamento inicial não previa a área de circulação,


referente à rampa, escada, corredores e plataforma elevatória vertical, todos representando
áreas consideráveis no projeto final, já que privilegiam a acessibilidade. Da mesma forma, a área
ocupada pelas paredes também não foi prevista, contribuindo para a diferença expressiva entre
a área resultante do pré-dimensionamento e a área do projeto final.
Apenas como referência, pode-se acrescentar 35% à área do pré-dimensionamento à
título de paredes e circulação, o que resultaria na área de 912,60m² (676m² + 35%),
aproximando-se da área final do projeto, que é de 930,32m².
Diante da área construída pode-se prever a quantidade de vagas de estacionamento do
centro intergeracional, que deve oferecer 1 vaga a cada 50m², chegando ao total de 19 vagas,
sendo 1 para pessoas com deficiência e outra para idoso.

2.6 CONCEITO, PARTIDO ARQUITETÔNICO E EVOLUÇÃO DA PROPOSTA

Neste tópico são expostos o conceito e o partido arquitetônico adotados na proposta,


além de apresentada a evolução das soluções volumétricas desenvolvidas durante o processo
de projeto.

2.6.1 Conceito do projeto

Para desdobramento da proposta foi pensado inicialmente no que o equipamento


deveria representar em seu contexto, chegando-se a ideia de oásis. O bairro da Cidade Alta,
onde o edifício será implantando, é constantemente associado a comércio, serviços, trânsito e
grande fluxo de pessoas, não representando, normalmente, um local aprazível e tranquilo para
grande parte da população. De outro modo, um oásis simboliza justamente o oposto: uma região
agradável, com água e vegetação no meio do deserto, um ambiente inóspito.
O conceito de oásis busca associar o edifício, tal qual projetado, a um local agradável,
de recarregar energias através do convívio intergeracional, que estimula a saúde física e mental
dos participantes para continuarem vivendo de forma saudável – da mesma forma, no oásis do
70

deserto as pessoas descansam de longas caminhas e se recuperam para continuar a jornada


mais preparadas, são locais de sobrevivência.
Dessa forma, pretende-se com o centro intergeracional oferecer um oásis no centro da
cidade, com área verde - pouco comum na região – e ambiente acolhedor para idosos e crianças,
proporcionando bem-estar e convivência no inesperado contexto urbano da região.

2.6.2 Partido arquitetônico adotado

O partido adotado, após a análise de todos os condicionantes anteriormente


mencionados, foi o de um edifício de formato levemente retangular, em dois pavimentos, em
torno de um pátio central e relativamente fechado para o exterior, objetivando refletir o conceito
de oásis ao edifício através do uso de vegetação e espaço aberto para o seu interior (ver Figura
47).
O pátio central é o ponto de destaque do projeto, onde haverá árvore e bancos,
possibilitando uma aproximação dos usuários do centro com a natureza, além de servir de
espaço central para convivência entre as gerações.

2.6.3 Evolução da proposta

O desenvolvimento da proposta foi feito a partir dos estudos de zoneamento e volume


do edifício, considerando o partido de pátio como determinante e observando as dimensões do
terreno. A partir disso e dos estudos de ventilação e insolação foram realizados estudos de
volumetria com foco no pátio, que a princípio não era centralizado no edifício, bem como
analisando a disposição das vagas de estacionamento, visto que as dimensões do terreno são
limitadas. Os primeiros estudos foram feitos com diferentes formatos de edifícios e disposição
das vagas de estacionamento (Figura 42). Além disso, na medida que foram realizados os estudos
formais também foram desenvolvidas análises funcionais, com a volumetria rebatida na planta
baixa.
71

Figura 42: Estudos de forma

Fonte: Acervo da autora, 2017.

Por se tratar de equipamento para público idoso e infantil, buscou-se desenvolver um


edifício de apenas 2 pavimentos, visando facilitar o acesso dos usuários a todos os ambientes.
A ideia inicial era que o edifício fosse apenas térreo, por uma questão de acessibilidade, mas o
programa de necessidades e as dimensões do terreno forçaram uma solução em dois
pavimentos.
Apesar de ser um prédio relativamente baixo, foi trabalhada a volumetria de maneira a
oferecer uma solução plástica harmoniosa, que tornasse o edifício atraente e confortável ao
mesmo tempo.
A primeira versão da volumetria (Figura 43) apresentava um volume alongado com
recorte na fachada frontal e pátio na parte posterior do edifício, não sendo suficiente para
acomodar os ambientes do programa de necessidades. Na sequência, o volume foi aumentado
e o pátio trazido para a lateral central do prédio (Figura 44), no entanto, a forma não estava
adequada sob o ponto de vista do conforto ambiental, pois alguns ambientes ficaram sem
ventilação e iluminação naturais.

Figura 43: Estudo volumétrico 1 Figura 44: Estudo volumétrico 2

Fonte: Acervo da autora, 2017. Fonte: Acervo da autora, 2017.


72

No terceiro estudo o edifício ganhou um volume alongado na fachada principal e abraçou


o pátio (Figura 45), porém o volume prolongado não adaptou satisfatoriamente o programa de
necessidades, já que criava um longo corredor e não favorecia a integração desejada entre os
ambientes. Em seguida, foi eliminado o trecho alongado e foram criados pequenos volumes
adjacentes ao volume principal, buscando conferir um pouco de movimento ao prédio, no
entanto, esse resultado não agradou esteticamente nem do ponto de vista funcional (Figura 46).

Figura 45: Estudo volumétrico 3 Figura 46: Estudo volumétrico 4

Fonte: Acervo da autora, 2017. Fonte: Acervo da autora, 2017.

A volumetria final (Figura 47) foi resultante dos estudos anteriores, sendo a principal
mudança a incorporação do pátio pelo edifício e a criação de um jogo de volumes na fachada
principal, onde o segundo pavimento foi reduzido para atribuir movimento à fachada frontal, e o
volume em dois pavimentos, também nesta fachada frontal, avançou em relação ao restante da
fachada, tudo isso no intuito de aperfeiçoar a volumetria do edifício. Dessa forma, o pátio central
ganhou destaque, aumentando a proximidade do prédio com a natureza e privilegiando a
ventilação e insolação naturais, refletindo ainda mais o conceito de oásis no edifício.

Figura 47: Volumetria final

Fonte: Acervo da autora, 2017.


73

3. A PROPOSTA

3.1 MEMORIAL DESCRITIVO E JUSTIFICATIVO

Este capítulo tem por objetivo descrever a proposta de anteprojeto arquitetônico


desenvolvida para o Centro Intergeracional, que oferecerá sociabilidade e aprendizado para
crianças e idosos através da convivência entre gerações. Serão apresentadas as principais
justificativas e especificações necessárias sobre as decisões projetuais para o edifício.
O partido arquitetônico privilegiou a criação de um pátio no interior do edifício, além de
atender o programa de necessidades utilizando princípios do desenho universal e respeitando
as recomendações da norma brasileira de acessibilidade, resultando em uma edificação
funcional e democrática.

3.1.1 Implantação, acesso e estacionamento

Para a implantação, as dimensões do terreno foram fundamentais para determinar o


posicionamento da edificação, visto que não se trata de lote com grandes dimensões. Sendo
assim, diante do pré-dimensionamento e estimativa de 19 vagas de estacionamento (estimativa
posteriormente confirmada), foram definidos o local de implantação do edifício e os locais das
vagas de estacionamento ao mesmo tempo.
Optou-se por deixar o estacionamento na frente do terreno para que o edifício se
distanciasse do tráfego de veículos da via e do ruído urbano, por questões de conforto ambiental
e de segurança, visto que o público é formado por crianças e idosos. Além disso, o afastamento
do edifício da testada do lote confere visibilidade e maior destaque à edificação, que pode ser
melhor contemplada e ganha destaque na paisagem.
A implantação do edifício levou em consideração as prescrições urbanísticas, como taxa
de ocupação, taxa de permeabilidade e recuos, bem como buscou a melhor orientação em
relação à ventilação e iluminação natural, privilegiando o conforto ambiental.
O acesso de veículos ao estacionamento é realizado pela frente do lote, no canto direito,
e a saída pelo canto esquerdo. A entrada de pedestres ocorre pela calçada, que se prolonga até
a entrada da recepção, centralizada na fachada principal (ver prancha 01). Ademais, há calçada
74

na lateral esquerda da edificação para que possa ser feito o acesso do edifício (através de porta
localizada na cozinha) à casa de lixo localizada na calçada frontal, como pode ser visualizado na
Figura 48:

Figura 48: Acessos da edificação

Fonte: Acervo da autora, 2017.


75

3.1.2 Solução espacial: zoneamento e layout

A disposição dos ambientes foi elaborada a partir do zoneamento inicial (Figura 32),
buscando-se concentrar ambientes de pouca permanência na fachada oeste e ambientes de
longa permanência nas fachadas leste e sul, com melhores orientações, privilegiando o conforto
térmico. Dessa forma, toda a circulação vertical foi concentrada na fachada voltada para oeste,
enquanto as salas de atividade e salões de convivência, de maior permanência, ficaram nas
fachadas leste e sul; as salas de TV e jogos, recepção e consultório encontram-se na fachada
nordeste (frontal).
O pátio foi o elemento central, servindo de espaço que integra todos os ambientes e é
voltado para a convivência, podendo ser visto praticamente de qualquer lugar do edifício e sendo
facilmente acessado. O posicionamento da recepção objetivou dar destaque a entrada do
edifício, centralizando-a, bem como integrá-la ao pátio, visto que da recepção se tem uma
visibilidade total do centro do edifício.
O pavimento térreo (ver pranchas 03 e 05) é composto pela recepção, consultório (que
não tem atendimento permanente, sendo utilizado mediante demanda), sala de TV, sala de
jogos, 3 salas de atividades, cozinha com despensa, salão de convivência, pátio, depósito, DML,
plataforma elevatória vertical, escadas, rampa e 2 banheiros masculinos e 2 femininos (sendo 1
de cada acessível e com acesso independente, como determina a NBR). Foram previstas três
formas de circulação vertical para atender o público da melhor forma possível, priorizando a
acessibilidade.
Com relação aos ambientes previstos, serão apresentados detalhes de alguns deles,
visando facilitar a compreensão do centro e seu funcionamento. A recepção possui um
funcionário e é a entrada do edifício, sendo o contato inicial do usuário/visitante com a instituição.
Possui mesa de atendimento para o funcionário e cadeiras de espera. Desse ambiente se tem a
visão do pátio, integrando o cômodo com o interior do edifício e convidando o visitante a entrar
no prédio. O consultório encontra-se ao lado da recepção e possui pequena área - não é de uso
permanente -, estando disponível para atendimentos com profissionais especializados que
prestem consultoria aos usuários do centro intergeracional.
A rampa que dá acesso ao segundo pavimento foi calculada em conformidade com as
recomendações da legislação, dividida em 6 segmentos com inclinação inferior a 8,33% em cada
um. Os banheiros possuem box com sanitário infantil e adulto, além de chuveiro (foi pensado no
público infantil, já que existe a possibilidade de a criança necessitar de um banho, sendo
respeitado seu conforto e bem-estar).
76

As 3 salas de atividade oferecem possibilidades diversas de uso, cada uma com


mobiliário diferente – uma com cadeiras “soltas” permitindo mudanças em sua configuração de
layout; outra com conjuntos de mesas com cadeiras; e a última com uma grande mesa e
bancadas de trabalho nas laterais, além de bancada com pias, permitindo o desenvolvimento de
atividades artísticas que necessitem de água/limpeza constante. A sala de jogos possui mesa de
sinuca e mesas para jogos variados, buscando atender o público dos dois sexos (ver planta de
layout na prancha 05).
Importante ressaltar que os corredores possuem largura de 1,70m, sendo suficiente
para a abertura das portas dos ambientes (que devem possuir abertura no sentido da saída) e a
circulação de pessoas ao mesmo tempo, sejam cadeirantes, pessoas com mobilidade reduzida
ou pessoas sem nenhum aparelho/restrição de movimento. Também foi considerado o vão livre
de passagem de 0,90m na maioria dos ambientes, com exceção da despensa. Além disso, os
corredores possuirão corrimãos para fornecer apoio aos usuários com dificuldade de locomoção.
O segundo pavimento apresenta a área administrativa, composta por uma sala de
secretaria/tesouraria e uma sala de administração; o mesmo bloco de banheiros do andar térreo
composto por 2 banheiros masculinos e 2 femininos, sendo 1 de cada acessível e com acesso
independente; espaço multiuso, biblioteca, brinquedoteca, banheiro com vestiário e descanso
para os funcionários. Além disso, sobre a laje de cobertura do pavimento térreo (onde foi
subtraído o volume do segundo pavimento) foi criado um espaço de convivência com jardim em
vasos.

3.1.3 Sistema construtivo, sistema predial e materiais

Sobre o sistema estrutural, é importante destacar que não foi realizado um projeto de
estrutura do edifício, apenas um pré-dimensionamento e sua distribuição espacial, com a
intenção de prever a localização dos pilares e vigas para que o projeto fosse exequível.
O sistema construtivo utilizado foi o convencional, escolhido em função da viabilidade
construtiva e econômica para o tipo de projeto elaborado, sendo formado por laje-viga-pilar em
concreto armado e vedação em alvenaria convencional. O vão médio a ser vencido é de 5,5m, e
os pilares possuem seção retangular. A solução da cobertura foi o uso da platibanda com telha
de fibrocimento e inclinação de 5%, com calhas impermeabilizadas para escoamento das águas.
77

O sistema hidráulico foi definido com uma área molhada comum aos dois pavimentos,
onde está concentrada a maioria dos banheiros do prédio (8 no total), e o reservatório de água,
facilitando a prumada das instalações. Para o cálculo do reservatório de água tem-se,
considerando um consumo diário de 50 litros por aluno, 60 alunos por turno e uma reserva técnica
para dois dias:

50L/dia por aluno → 50 x 60 = 3.000L/dia x 2 dias = 6.000L


+ Reserva técnica de incêndio (calculada no item 3.3) de 10.800L
→ 6.000L + 10.800L = 16.800L
Dessa forma, será feita caixa d’água de alvenaria.

Com relação aos materiais, por se tratar de um anteprojeto arquitetônico, serão


apontados apenas os materiais que exercem influência direta na edificação ou no seu propósito,
já que atenderá público variado e tem como premissa projetual o desenho universal.
Para as janelas utilizadas nos ambientes de atividades, sala de jogos, biblioteca e
brinquedoteca, voltadas para o interior do edifício, será dada atenção a área de visibilidade. Para
isso será utilizada uma faixa de vidro a 0,60m de altura do chão, com 0,35m de altura, permitindo
a visão do interior do ambiente por crianças pequenas e por PCR (Figura 49 e detalhe 02, prancha
03), bem como uma janela de alumínio com folhas de vidro com 1,0m de peitoril, possibilitando
a ventilação cruzada no ambiente, que terá abertura para o exterior e para o corredor interno,
voltado para o pátio aberto.
Nos corredores do edifício haverá corrimão em uma das laterais, para dar segurança as
pessoas com qualquer tipo de dificuldade de locomoção. No interior das salas haverá faixa de
revestimento cerâmico de 1m de altura a partir do piso, estratégia comumente utilizada em
ambientes escolares (verificada no estudo indireto) para facilitar a limpeza e manutenção do
edifício.
Figura 49: Janela com alcance visual adequado

Fonte: São Paulo, 2010.


78

A fachada de orientação oeste concentra ambientes de curta permanência como


banheiros, escada, e a rampa, que se estende praticamente por toda a extensão dessa face do
edifício. Nessa fachada foi utilizada uma parede de fechamento de elementos vazados, que
controlam a entrada de radiação solar direta na rampa ao mesmo tempo que permitem a
passagem da iluminação e ventilação natural para os ambientes de pouca permanência (ver
fachada oeste, prancha 09).
79

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A elaboração deste trabalho buscou o desenvolvimento do anteprojeto de um


equipamento que pudesse contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos idosos, tratados
aqui como usuários principais, bem como ajudasse no desenvolvimento das crianças.
O centro intergeracional, apesar de ser matéria constante nas ciências humanas, não é
um tema difundido na arquitetura, o que representou um desafio no desenvolvimento do projeto
em função da ausência de literatura sobre a matéria. O trabalho poderá, assim, subsidiar as
novas pesquisas sobre o tema das relações intergeracionais no campo da arquitetura.
O ritmo acelerado de crescimento da população idosa mostra a necessidade de atenção
para esses usuários, que em breve formarão uma das mais significativas parcelas da sociedade.
Esse quadro populacional ocasionará reflexos diretos à forma de projetar, que deverá valorizar
cada vez mais o público idoso e suas características físicas para um bom projeto arquitetônico.
Os estudos para o TFG possibilitaram conhecer mais sobre a realidade dos idosos e das
crianças, entendendo as necessidades dessas faixas etárias e possibilitando desenvolver um
equipamento adequado para os usuários.
No processo de elaboração do TFG foram encontradas dificuldades para adaptar o
programa de necessidades com suas especificidades de acessibilidade ao terreno escolhido,
devido à limitação espacial. No entanto, foi importante para o exercício pois se aproxima das
dificuldades práticas do dia-a-dia de um arquiteto.
Dessa forma, a proposta do anteprojeto do centro intergeracional aliou a compreensão
das necessidades dos idosos e das crianças aos princípios de desenho universal e
recomendações projetuais para a região, propondo um edifício funcional e acolhedor, que
proporcionará espaço saudável e estimulante para a troca entre as gerações.
Diante de todo o exposto, consideram-se alcançados os objetivos delineados no início
do desenvolvimento do trabalho, pois foi idealizado um edifício acessível que conseguiu
harmonizar as necessidades dos usuários adultos e crianças. Além disso, ao proporcionar
espaço para convivência intergeracional, a arquitetura desempenha papel importante
contribuindo para o desenvolvimento da sociedade.
80

REFERÊNCIAS

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