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Centro de Tecnologia
Departamento de Arquitetura
Curso de Arquitetura e Urbanismo
Natal/RN
2017
Aline Dantas de Medeiros
Natal/RN
2017
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco -
DARQ - -CT
Centro Intergeracional:
Sociabilidade e aprendizado para crianças e idosos.
BANCA EXAMINADORA:
___________________________
Rubenilson Brazão Teixeira
Professor orientador - UFRN
___________________________
José Jefferson de Souza
Professor – UFRN
___________________________
André Felipe Moura Alves
Arquiteto e urbanista convidado
Agradeço aos meus pais, que me apoiam em todas as minhas decisões e estão sempre
ao meu lado, vibrando e me amparando nos momentos necessários. Deles recebi amor e
educação, melhores ensinamentos para a vida. Ás minhas irmãs, pelo apoio e companheirismo
de sempre, e principalmente à Alice, minha consultora em psicologia para o desenvolvimento
deste TFG.
Agradeço a Diogo, por compreender as ausências e ajudar a me manter focada no
trabalho nos momentos mais difíceis. Seu amor e companheirismo foram e são indispensáveis
para a conclusão desse curso.
À minha família e à família Nelson, por me mostrarem o valor dos laços e encontros,
que tanto me ajudavam a desopilar e renovavam o ânimo para a longa jornada do curso. Foram
esses momentos que me inspiraram a desenvolver este trabalho.
Agradeço a minha avó Darcy e a minha sobrinha Marina por abrilhantarem este trabalho
com as pinturas que ilustram as capas.
Agradeço também aos meus amigos, por acreditarem em mim e me encorajarem nessa
nova graduação, todo incentivo foi importante.
A todos os mestres que contribuíram nessa trajetória acadêmica, em especial ao meu
orientador Rubenilson, pela disponibilidade e paciência em orientar este trabalho, além de todo
o conhecimento compartilhado.
Por fim, agradeço aquelas que serão minhas companheiras de profissão e que dividiram
alegrias, angústias e muitas noites fazendo trabalho durante os 5 anos de curso. Sem o apoio
mútuo, não chegaríamos até aqui. À Carol, Bruna, Ana Luísa, Priscilla e Monalisa, o meu muito
obrigada, vocês tornaram o curso mais leve.
“Há uma época na vida, infância ou velhice, em
que a felicidade está na caixa de bombons”.
O aumento da expectativa de vida torna o tema “envelhecimento da população” cada vez mais
atual, recebendo destaque as necessidades inerentes aos idosos. Diante disso, neste Trabalho
Final de Graduação (TFG) buscou-se privilegiar as relações pessoais, unindo duas parcelas da
população com idades diversas, mas que juntas podem contribuir para o bem-estar e
desenvolvimento uma da outra. São elas: idosos e crianças. Assim, buscou-se assistir a
população envelhecida de modo satisfatório, do ponto de vista arquitetônico e das relações
sociais, por meio do desenvolvimento de uma proposta arquitetônica, em nível de anteprojeto,
de um centro intergeracional que atendesse idosos funcionalmente independentes e crianças na
faixa etária de 3 a 12 anos, para compartilharem experiências e aprendizado em um espaço de
convivência harmônico e saudável. O centro intergeracional será localizado no bairro Cidade
Alta, em Natal/RN e terá como elemento norteador os princípios do desenho universal.
The increase in life expectancy makes the topic “ageing population” even more popular, calling
attention to the needs of the elderly. Because of that, this final graduate work (Trabalho Final de
Graduação) pursuits to join two portions of population with different ages that can contribute to
the well-being and development of each other. They are children and the elderly. In this way, this
paper looked to watch the aging population in a satisfactory way, from the architecture and social
relations points of views through the development of an architecture proposition. The architectural
project consists in an intergenerational center that attends seniors totally independents and
children from the age 3 to 12, to share experiences and learning at an harmonious and healthy
living space. The Intergenerational center will be located in Cidade Alta, Natal/RN and will have
the the principles of universal design as guide elements.
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Distribuição da população por sexo, segundo os grupos de idade. Brasil - 2000 ......19
Gráfico 2: Distribuição da população por sexo, segundo os grupos de idade. Brasil - 2010 ......19
Gráfico 3: Distribuição da população por sexo, segundo os grupos de idade. RN - 2000..........20
Gráfico 4: Distribuição da população por sexo, segundo os grupos de idade. RN - 2010..........20
Gráfico 5: Composição da população residente de Natal ..........................................................50
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................. 13
1. REFERENCIAL ........................................................................................................................................... 16
1.1 TEÓRICO ............................................................................................................................................ 16
1.1.1 Situação dos idosos e das crianças no Brasil e no Rio Grande do Norte ................................... 16
1.1.2 Relações intergeracionais .......................................................................................................... 21
1.1.3 Desenho Universal ..................................................................................................................... 24
1.2 EMPÍRICO – ESTUDOS DE REFERÊNCIA ............................................................................................. 30
1.2.1 Estudos Indiretos ....................................................................................................................... 31
1.2.2 Estudos Diretos .......................................................................................................................... 44
1.3 SÍNTESE DOS ESTUDOS DE REFERÊNCIA ........................................................................................... 47
2. CONDICIONANTES PARA O PROJETO ...................................................................................................... 49
2.1 CARACTERÍSTICAS PARA ESCOLHA DO TERRENO E SEU ENTORNO .................................................. 49
2.2 CONDICIONANTES FÍSICO-AMBIENTAIS............................................................................................ 53
2.3 CONDICIONANTES LEGAIS................................................................................................................. 55
2.4 CARACTERIZAÇÃO DA PROPOSTA E DO PÚBLICO-ALVO ................................................................... 66
2.5 PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ-DIMENSIONAMENTO ........................................................... 67
2.6 CONCEITO, PARTIDO ARQUITETÔNICO E EVOLUÇÃO DA PROPOSTA............................................... 69
2.6.1 Conceito do projeto ................................................................................................................... 69
2.6.2 Partido arquitetônico adotado .................................................................................................. 70
2.6.3 Evolução da proposta................................................................................................................. 70
3. A PROPOSTA............................................................................................................................................ 73
3.1 MEMORIAL DESCRITIVO E JUSTIFICATIVO ........................................................................................ 73
3.1.1 Implantação, acesso e estacionamento ..................................................................................... 73
3.1.2 Solução espacial: zoneamento e layout ..................................................................................... 75
3.1.3 Sistema construtivo, sistema predial e materiais ...................................................................... 76
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................................... 79
REFERÊNCIAS........................................................................................................................................... 80
13
INTRODUÇÃO
A relação entre as gerações pode trazer melhorias diretas para as faixas da população
envolvidas, além de ser prazerosa e enriquecedora para ambas, bem como para a sociedade de
maneira geral, pois os benefícios se refletem em toda a sociedade. Mesmo diante de benefícios,
deve-se ressaltar o fato de que existem experiências intergeracionais em outros países há
bastante tempo, no entanto, no Brasil ainda é um tema recente e menos difundido. No campo da
arquitetura, inclusive, é um assunto que deve ser mais discutido, para que o ambiente físico onde
essas relações acontecem seja adequado para as necessidades dos grupos envolvidos.
A pesquisa mostrou uma carência de espaços desenvolvidos para o convívio
intergeracional no Brasil, sendo comum a realização de programas intergeracionais em parques
e centros culturais, e não em edifícios projetados para essa finalidade. Optou-se, portanto, por
elaborar o anteprojeto de um centro intergeracional visando propiciar ambiente saudável para a
terceira idade e para as crianças, além de fomentar o desenvolvimento social.
Com esse intuito, será abordado o tema das relações entre gerações, buscando
compreender como elas podem contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população,
bem como elucidar o papel que a arquitetura pode ter nesse processo; buscar-se-á harmonizar
as necessidades de um edifício com funções educacionais e recreativas, proporcionando
ambientes lúdicos e confortáveis que permitam a interação desejada entre as gerações
atendidas; e, para isso, serão observados os preceitos do desenho universal para o
desenvolvimento de um edifício adequado aos usuários a que se destina.
A escolha do centro intergeracional como tema para o TFG foi guiada por preferências
pessoais, em função da oportunidade de observar de perto os benefícios da relação entre
avós/bisavós e seus netos, além do crescente aumento na expectativa de vida e interesse pelo
desenvolvimento da arquitetura com base em relações sociais envolvendo gerações distintas.
Durante o processo de definição do tema do TFG, foram realizadas pesquisas na
internet sobre “relações intergeracionais”, mas foram obtidos poucos resultados na área de
15
arquitetura. Apesar disso, um dos resultados das pesquisas chamou atenção: tratava-se de uma
reportagem acerca de um documentário sobre a relação entre as gerações. A matéria1 dizia que
o documentário havia sido filmado no centro de aprendizado intergeracional do Providence Mount
St. Vincent na cidade de Seattle, nos Estados Unidos. O trailer do projeto, disponibilizado online,
contribuiu para aumentar o interesse no assunto e definir o tema do trabalho.
Além disso, notou-se que o dinamismo da vida moderna faz com que idosos e crianças
passem a semana sem usufruir da presença dos seus familiares que estão trabalhando,
demonstrando a necessidade de companhia para essas faixas etárias. Observou-se assim a
carência de espaços que possam receber crianças em turno diferente do escolar, pois muitas
vezes os pais não têm com quem deixar os filhos. Da mesma maneira, um grande número de
idosos passa o dia sem companhia, sendo cada vez mais escassa a interação social, elemento
importante para esse grupo continuar inserido na sociedade e que pode ser incentivada com a
convivência oferecida pelo centro intergeracional.
O TFG consiste em dois volumes, sendo um da parte teórica e outro da parte gráfica. A
parte teórica corresponde ao primeiro volume e está organizada em três capítulos: o primeiro
compreende o referencial teórico, onde são abordados a relação entre gerações e os princípios
do desenho universal, e o referencial empírico, onde são apresentados os estudos de referência,
ainda que não tenham sido realizados em espaços voltados para a convivência intergeracional,
mas puderam contribuir para entender as necessidades dos usuários. O segundo capítulo
contém os condicionantes projetuais; e, por fim, o terceiro consiste na descrição e
desenvolvimento da proposta em si, trazendo memorial descritivo e justificativo do anteprojeto.
O segundo volume reúne a parte gráfica, com pranchas técnicas e perspectivas do edifício.
Convém lembrar que o centro intergeracional abrigará público de gerações diferentes,
no entanto, será dado enfoque maior às pessoas idosas, por constituírem uma parcela da
população em expansão e que, com o passar dos anos está se tornando cada vez mais
significativa e numerosa para o país, merecendo ter sua autonomia preservada através de
soluções arquitetônicas que permitam aos idosos manter sua independência.
1
CATRACA LIVRE. Centro que une escola e asilo inspira filme sobre relação entre gerações. 17/06/2015. Disponível
em: < https://catracalivre.com.br/geral/geracao-e/indicacao/centro-que-une-escola-e-asilo-inspira-filme-sobre-
relacao-entre-geracoes/>. Acesso em agosto de 2016.
16
1. REFERENCIAL
1.1 TEÓRICO
1.1.1 Situação dos idosos e das crianças no Brasil e no Rio Grande do Norte
2
Notícia do site da Organização Mundial de Saúde. Disponível em: <
http://www.who.int/mediacentre/news/releases/2016/health-inequalities-persist/en/>. Acesso em dezembro de
2016.
17
estar físico e psicológico dos idosos, que carecem do acolhimento e da segurança transmitida
pelas pessoas mais próximas. Uma forma de valorizar os idosos é incentivá-los a compartilharem
suas experiências e conhecimentos com os mais novos, de forma a continuarem se sentindo
úteis e terem vida ativa em sociedade.
De maneira semelhante, as crianças fazem parte de outra faixa etária que demanda
bastante cuidado, seja por ainda não terem domínio para realizarem atividades sozinhas, seja
por carecerem de atenção para o seu desenvolvimento de forma geral.
As crianças e adolescentes são amparados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA), Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, que visa a proteção integral desses sujeitos de
direito. Segundo o estatuto, são consideradas crianças as pessoas de até doze anos de idade
incompletos, sendo adolescentes aquelas com idade entre doze e dezoito anos. O ECA (1990)
determina em seu artigo 4º:
Logo, cabe não apenas à família, mas ao estado e a sociedade atuarem na proteção
dos direitos das crianças e adolescentes. Todavia, mesmo com a legislação protetiva, que
obviamente é necessária, mas não suficiente, muitas crianças e adolescentes ainda são vítimas
de práticas discriminatórias, violências e abusos, além de não terem acesso a direitos como
educação, esporte, saúde e lazer, demonstrando a necessidade de atenção para essa parcela
da população.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios3 (PNAD) 2013, do IBGE,
o Brasil possui uma população de 201,5 milhões de pessoas, dos quais 59,7 milhões têm menos
de 18 anos de idade4. Ao contrário da população idosa, o número de crianças e adolescentes
vem diminuindo, exatamente pela tendência de envelhecimento constatada no Brasil, reflexo da
diminuição das taxas de mortalidade e fecundidade. “De 1991 a 2010, a parcela de brasileiros
de até 19 anos caiu de 45% para 33%” (Censo Demográfico, 2010, apud Unicef, 2015).
3
“É uma pesquisa por amostra probabilística de domicílios, de abrangência nacional, planejada para atender a
diversos propósitos. Visa produzir informações básicas para o estudo do desenvolvimento socioeconômico do País
e permitir a investigação contínua de indicadores sobre trabalho e rendimento” (IBGE,2016). Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/pesquisas/pesquisa_resultados.php?id_pesquisa=149>. Acesso em
dezembro de 2016.
4
UNICEF BRASIL. Infância e adolescência no Brasil. Disponível em:
<https://www.unicef.org/brazil/pt/activities.html>. Acesso em dezembro de 2016.
19
Gráfico 1: Distribuição da população por sexo, segundo os grupos de idade. Brasil - 2000
Gráfico 2: Distribuição da população por sexo, segundo os grupos de idade. Brasil - 2010
Os dados dos censos são importantes pois mostram com clareza o perfil que a
população brasileira e do estado do RN vem adquirindo: o de uma sociedade com um número
cada vez maior de pessoas idosas e uma redução gradual, em termos percentuais, do número
de jovens e crianças.
Essas duas faixas da população - idosos e crianças - são protegidas por leis específicas
e demandam atenção tanto por parte do poder público quanto por parte da própria família e da
sociedade em geral, pois requerem mais cuidados e a lei lhes oferece tratamento diferenciado.
Outro ponto comum às crianças e aos idosos é a estreita ligação com a narrativa, sejam elas
lúdicas e educativas ou histórias de vida, pois as pessoas idosas apreciam a atenção que lhes é
dispensada quando contam histórias e as crianças gostam de ouvir contos.
Nesse sentido, existem estudos sobre a relação entre crianças e idosos, que por suas
complementaridades e semelhanças – considerando que são duas fases do desenvolvimento
humano que possuem necessidades parecidas – pode ser prazerosa e enriquecedora para
ambos. O objetivo do presente TFG, portanto, é a proposição de um espaço destinado à
convivência dessas duas gerações, objetivando contribuir com o desenvolvimento e bem-estar
de ambas.
O termo geração possui vários sentidos no campo das ciências humanas. Um deles
será adotado neste trabalho por se tratar de uma definição simples e objetiva. Citada por
Ferrigno, Attias-Donfut explica que o termo geração comporta ao menos cinco sentidos, dentre
os quais o de que “geração é usada algumas vezes para distinguir coortes, representando grupos
de pessoas nascidas em uma mesma época e que vivenciaram os mesmos acontecimentos, por
exemplo a geração da Segunda Grande Guerra”. (ATTIAS-DONFUT, 2-4, 2000, apud
FERRIGNO, p. 57, 2009).
Sendo assim, “definidas” em razão do período de nascimento e da época em que as
pessoas vivem, as gerações são facilmente identificadas na sociedade. No entanto, essa
definição é recente, faz parte da vida moderna. Segundo Ferrigno (2009, p. 61), “na Idade Média,
diferentemente de sociedades como a nossa, não havia divisão territorial e de atividades em
22
função da idade dos indivíduos. Nessa época, não havia um “sentimento de infância”, ou seja,
uma representação elaborada desse momento”.
Na Idade Média e até o início dos tempos modernos, e por mais tempo ainda nas
classes populares, as crianças misturavam-se aos adultos assim que eram
consideradas capazes de dispensar a ajuda das mães ou das amas, ou seja,
assim que prescindissem dos cuidados maternos de sobrevivência. A partir
aproximadamente de uns 7 anos de idade ingressavam na grande comunidade
dos homens, participando com jovens e velhos dos trabalhos, das festas e dos
jogos do dia a dia. Podemos supor que a vida na era pré-moderna era
relativamente igual para as diferentes idades, ou seja, não havia muitos estágios
e os que existiam não eram tão claramente demarcados, com exceção dos rituais
de iniciação para homens e mulheres na passagem da infância para a fase
adulta, durante o período que posteriormente foi nomeado como adolescência.
(FERRIGNO, 2009, p. 61)
Tratando da relação intermediada pela narração de histórias, temos o adulto idoso com
suas narrativas fundamentais em seu estágio de vida, e as crianças com suas histórias
permeadas de fantasia, estabelecendo uma situação interessante onde pode-se observar a
disponibilidade de tempo e atenção das duas faixas etárias envolvidas, além do interesse comum
entre as gerações. Os benefícios oriundos dessa interação devem ser buscados e valorizados
pela sociedade.
Dessa forma, além da narrativa, os estudos demonstram que o próprio contato entre
crianças e idosos é interessante para o desenvolvimento de ambos, pois trazem consequências
sociais e afetivas importantes. De acordo com as pesquisas desenvolvidas por Brandão et al
(2006, p.102):
Diante de tudo isso, verifica-se a importância da relação entre as gerações, que pode
trazer melhorias diretas para as faixas da população envolvidas e também para a sociedade. Em
sua tese, Ferrigno (2009, p. 89) destaca a exequibilidade de programas intergeracionais:
5
BRANDÃO, L. et al. Narrativas intergeracionais. Psicologia: Reflexão e Crítica (UFRGS. Impresso), Porto Alegre, v.
19, p. 98-105, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
79722006000100014#back>. Acesso em agosto de 2016.
24
O desenho universal vem se popularizando com o passar dos anos e ganhando cada
vez mais destaque nos projetos arquitetônicos, pois atendem satisfatoriamente a atual sociedade
25
plural, repleta de indivíduos que se diferenciam entre si. De acordo com a Norma Brasileira NBR
9050/2015, que trata da acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos
urbanos, desenho universal é definido como “concepção de produtos, ambientes, programas e
serviços a serem utilizados por todas as pessoas, sem necessidade de adaptação ou projeto
específico, incluindo os recursos de tecnologia assistiva” (ABNT, 2015, p. 4). Ademais, a norma
esclarece que o conceito de desenho universal
De acordo com Secudino e Patrícia Correia (2009 apud EMERECIANO, 2014, p.18), o
desenho universal pode ser definido “como um conjunto de preocupações, conhecimentos,
metodologias e práticas que visam a concepção de espaços, produtos e serviços, utilizáveis com
eficácia, segurança e conforto pelo maior número de pessoas possível, independentemente das
suas capacidades”.
Em seu livro Desenho Universal, Silvana Cambiaghi (2007, p. 16) explica que foi em
uma conferência internacional na Suécia, em 1961, que surgiram os primeiros esforços para
diminuição de barreiras arquitetônicas para pessoas com deficiência, tendo sido criada uma
comissão denominada Barrier-Free Design, em Washington, em 1963, para discutir o assunto.
Foi a partir dessa comissão sobre desenho livre de barreiras que os estudos evoluíram para o
desenho universal, assim denominado “por se destinar a qualquer pessoa e por ser fundamental
para tornar possível a realização das ações essenciais praticadas na vida cotidiana, o que na
verdade é uma consolidação dos pressupostos dos direitos humanos” (CAMBIAGHI, 2007, p.
16).
O termo desenho universal, no entanto, foi utilizado pela primeira vez em 1985, pelo
arquiteto Ron Mace, nos Estados Unidos. Para MACE (1991, apud SÃO PAULO, 2010, p. 14-
15), “o Desenho Universal aplicado a um projeto consiste na criação de ambientes e produtos
que possam ser usados por todas as pessoas, na sua máxima extensão possível”.
Cambiaghi (2007, p. 72) destaca que o desenho universal foi resultado das
reivindicações dos movimentos das pessoas com deficiência e da iniciativa de arquitetos,
urbanistas e designers, que pretendiam uma maior democratização dos valores e ampliação da
visão na concepção de projetos. Todavia, as soluções de desenho universal e
26
6
GUIMARÃES. Marcelo Pinto. Desenho universal é design universal: conceito ainda a ser seguido pela NBR 9050 e
pelo Decreto-Lei da Acessibilidade. Disponível em: <
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.096/141. Acesso em maio de 2017.
27
2) Uso Flexível: é a característica que faz com que o ambiente ou elemento espacial
atenda a uma grande parte das preferências e habilidades das pessoas. Para tal,
devem-se oferecer diferentes maneiras de uso, possibilitar o uso para destros e
canhotos, facilitar a precisão e destreza do usuário e possibilitar o uso de pessoas
com diferentes tempos de reação a estímulos; deve-se criar ambientes que
permitam adequações e transformações.
3) Uso Simples e Intuitivo: é a característica do ambiente ou elemento espacial que
possibilita que seu uso seja de fácil compreensão, dispensando, para tal,
experiência, conhecimento, habilidades linguísticas ou grande nível de concentração
por parte das pessoas;
7) Dimensão e Espaço para aproximação e uso: essa característica diz que o ambiente
ou elemento espacial deve ter dimensão e espaço apropriado para aproximação,
alcance, manipulação e uso, independentemente de tamanho de corpo, postura e
mobilidade do usuário. Desta forma, deve-se: implantar sinalização em elementos
importantes e tornar confortavelmente alcançáveis todos os componentes para
usuários sentados ou em pé, acomodar variações de mãos e empunhadura e, por
último, implantar espaços adequados para uso de tecnologias assistivas ou
assistentes pessoais.
Aos poucos o desenho universal vem se tornado parte do planejamento das edificações,
produtos e serviços, privilegiando a segurança e autonomia de todas as pessoas,
independentemente de suas características. Nesse sentido, o anteprojeto do centro
intergeracional busca observar os princípios do desenho universal para desenvolver um espaço
adequado para receber diferentes gerações.
30
O Providence Mount St. Vincent funciona como uma casa de repouso desde 1924 em
Seattle, nos Estados Unidos, e possui um centro de aprendizagem intergeracional em seu
interior. Conhecida como The Mount, a casa de repouso oferece 109 apartamentos, 6 conjuntos
de 23 quartos com cuidado 24 horas através de enfermarias, 58 leitos de transição – para
pacientes que voltaram de tratamentos em hospitais ou que necessitam de cuidado especial -, e
clínica de bem-estar oferecendo serviços de odontologia, massagens terapêuticas, acupuntura
entre outros, atendendo aproximadamente 400 idosos residentes.
O The Mount oferece atividades, programas e terapias para ajudar a manter os residentes
e pacientes física e mentalmente ativos, bem como incluídos na sociedade. Buscando ser uma
verdadeira casa para seus residentes, a instituição aceita até animais de estimação dos
funcionários e dos residentes, que atualmente têm uma média de idade de 92 anos.
O centro de aprendizagem intergeracional, que será chamado de escola, atende crianças
com idades que vão de 6 semanas a 5 anos, e tem como foco principal o desenvolvimento social
e emocional das crianças. A escola conta com 38 professores e 6 salas de aula, sendo uma
localizada numa ala de quartos com enfermaria da casa de repouso.
De acordo com as informações fornecidas pelo site do The Mount acerca do programa
intergeracional7, a ideia da escola surgiu ainda na década de 1980, mas somente em 1991 foi
colocada em prática, com uma turma de aproximadamente 12 alunos. Ao final do primeiro mês
de funcionamento o número de alunos subiu para 30, chegando a 54 alunos em 1993 e 125
crianças atualmente.
Segundo o site, os benefícios para as crianças são diversos, entre eles: possuir uma
imagem positiva e real do envelhecimento; perder o medo de idosos; ver o processo de
envelhecimento como algo natural; perder o medo de deficiências; ter uma variedade de
exemplos de vida; ganhar conhecimento sobre os mais velhos; ampliar a perspectiva da vida em
família; ter a oportunidade de doar-se e sentir-se necessário; ter amigos adultos e ajudar a
eliminar estereótipos. Para os idosos não é diferente, sendo elencados diversos benefícios como
7
PROVIDENCE MOUNT ST. VINCENT. Providence Mount St. Vincent & its Intergenerational Programming.
Disponível em:
<http://washington.providence.org/~/media/files/providence/senior%20care/mount%20st%20vincent/providence
mountstvincentintergenerationalprogramming2016.pdf/>. Acesso em setembro de 2016.
32
o de serem apontados como exemplos de vida para os mais novos; serem reintegrados à vida
familiar; ganhar novo propósito de vida; relembrar o tempo em que os filhos e netos eram
pequenos; sentir-se necessário; reacender o senso de humor e melhorar a integração.
Além dos idosos e das crianças, a própria comunidade é beneficiada com o projeto, pois
os laços de amizade são estreitados, são realizadas parcerias entre diferentes grupos e
organizações, as barreiras e estereótipos entre gerações são quebradas, as tradições e cultura
locais são promovidas, há um crescimento da rede de contatos e consequente aumento das
oportunidades profissionais, entre outras vantagens mencionadas no arquivo PDF
disponibilizado sobre o programa intergeracional no site do The Mount.
Por se tratar de uma instituição localizada em outro país, o estudo foi feito baseando-se
em documentos, informações e vídeos disponibilizados online sobre o local. Serão consideradas,
as orientações do guia sobre o projeto disponibilizado no site do The Mount (contém informações
básicas, atividades desenvolvidas e até uma espécie de passo a passo para implantar um
programa intergeracional) e observações através de fotos e vídeos, que possibilitam a
visualização do interior do edifício e do seu funcionamento.
As imagens apresentadas no tour virtual8 chamaram atenção para dois detalhes no
interior do edifício: amplas janelas de vidro nos ambientes escolares (Figura 6) e corrimão nos
corredores do prédio (Figura 7 e Figura 8).
Fonte: print screen do tour virtual do Providence Mount St. Vincent, 2017.
8
PROVIDENCE MOUNT ST. VINCENT. Virtual Tour. Disponível em: <http://www.vhct.co/0125/index.html#p=scene-
1>. Acesso em maio de 2017.
33
Fonte: print screen do tour virtual do Providence Mount St. Vincent, 2017
Fonte: print screen do tour virtual do Providence Mount St. Vincent, 2017
As janelas possibilitam uma integração ainda maior do ambiente escolar com o lar de
idosos, pois além de estarem no mesmo edifício, a escola “convida” os idosos a assistirem as
atividades desenvolvidas em sala de aula enquanto circulam pelo edifício (Figura 9). Da mesma
forma, os corrimãos estão dispostos ao longo dos corredores para dar segurança à caminhada
dos residentes e apoio para o caso dos idosos ficarem muito tempo em pé, bem como para
possibilitar que os usuários de cadeiras de rodas possam ter segurança para levantarem (quando
possível) e observar as crianças através das janelas.
34
Apesar de o site do The Mount não fornecer muitas informações sobre o edifício em si,
trata-se de uma instituição de grande porte, com mais de 90.000m² e com aproximadamente 500
colaboradores em sua equipe, além de 97 voluntários. Logo, o Providence Mount St. Vincent está
em uma escala maior do que o projeto a ser desenvolvido no TFG. No entanto, foi escolhido
como referência por ter sido o exemplo que motivou a escolha do tema do trabalho e oferecer
um exemplo prático de experiência intergeracional bem-sucedida.
Nas reportagens e materiais pesquisados online, foram apontadas diversas atividades
realizadas na instituição, retratando o dia-a-dia daqueles que moram e frequentam o centro,
sendo possível visualizar como a convivência intergeracional acontece e como ela é vista pelos
participantes que foram entrevistados nas reportagens. A escola realiza diversas atividades para
integrar as duas gerações atendidas, entre elas a contação de histórias, momentos de música e
dança, aulas de pintura (Figura 10), preparação de lanches para moradores de rua, visitas nas
alas dos residentes e o que é chamado de “show dos bebês”, quando os mais novos são a
atração do ambiente.
9
PBS NEWSHOUR. What happens when a nursing home and a day care center share a roof? Reportagem de Cat
Wise, em 10 de maio de 2016. Disponível em: <http://www.pbs.org/newshour/bb/what-happens-when-a-nursing-
home-and-a-day-care-center-share-a-roof/>. Acesso em maio de 2017.
35
Dessa forma, o estudo de referência do The Mount serviu para entender como as
interações entre os usuários acontecem – de forma programada ou natural –, possibilitando a
compreensão da funcionalidade dos espaços e contribuindo para a definição do programa de
necessidades, além de oferecer ideias que podem incentivar a convivência entre gerações.
O projeto em análise foi desenvolvido pelo escritório francês a-LTA no ano de 2012, em
Rennes, na França. É composto por um lar de idosos, uma creche, um restaurante e três níveis
de estacionamento subterrâneo, além de abarcar uma clínica já existente no norte do terreno.
Diferentemente do estudo anterior, este se detém ao edifício, não tendo sido encontradas
informações sobre o funcionamento das instalações.
36
10
Disponível em: <http://www.a-lta.fr/portfolios/ehpad-creche-rennes/>. Acesso em maio de2017.
37
O edifício busca se relacionar com o verde, sendo observada a presença de pátios, jardins
e uso de vegetação nas fachadas, propiciando vistas verdes aos residentes, reduzindo o impacto
da luz natural e oferecendo mais privacidade.
Com relação ao programa de necessidades e disposição dos ambientes, não há
informações e as plantas disponibilizadas são de difícil leitura, podendo ser identificados os
quartos e banheiros, mas sem indicação dos ambientes coletivos. A característica marcante da
planta (Figura 13) é a relação do edifício com áreas verdes, sendo possível observar a presença
de pátios e jardins, propiciando vistas verdes, locais de contemplação e de caminhada para os
residentes, além de reduzir o impacto da luz natural e oferecer mais privacidade ao edifício.
38
As áreas internas da casa de repouso se destacam pelo uso de cores fortes nas
paredes, contribuindo para a identificação dos diferentes espaços, visando facilitar a distinção
dos ambientes pelos pacientes com Alzheimer. Repete-se nesse estudo a presença dos
corrimãos nas paredes ao longo de todo o edifício, característica condizente com as
necessidades do público idoso.
11
Disponível em: <http://www.a-lta.fr/portfolios/ehpad-creche-rennes/>. Acesso em maio de2017.
39
Figura 14: Cor no interior do edifício Figura 15: Cor no interior do edifício 2
Fonte: Stéphane Chalmeau via ArchDaily, 2014. Fonte: Stéphane Chalmeau via ArchDaily, 2014.
12
PRIMEIROS PASSOS. Disponível em: <http://www.primeirospassosnet.com.br/>.Acesso em maio de 2017.
41
Araújo destaca que o edifício localizado na avenida Rodrigues Alves apresenta desnível
e que o acesso principal se dá por meio de uma rampa. Merece destaque, portanto, a questão
da acessibilidade, priorizada através do uso da rampa (Figura 18).
Do mesmo modo a unidade localizada na avenida Afonso Pena “apresenta aclive ainda
mais acentuado, de modo que, se torna dividida em dois planos, cujos acessos ocorrem por meio
de rampa e escada” (ARAÚJO, 2014, p. 57).
Um aspecto interessante é que a maioria das salas possui dois acessos, um para
a circulação e outro para o pátio central, promovendo a integração entre sala de
aula e áreas externas. Ainda assim, todas as salas de aula/atividades, e salas
administrativas são climatizadas com ar condicionado. Acredita-se que o
conforto ambiental é prejudicado devido ao grande número de edifícios verticais
no entorno da instituição, barrando parte da ventilação. No caso do pavimento
inferior da unidade I, devido à topografia, as aberturas ficaram limitadas, o que
justifica o uso de climatização e iluminação artificial. Além disso, alguns
ambientes como banheiros e pátios cobertos receberam iluminação zenital,
através do uso de pérgolas cobertas com telhas de policarbonato.
Apesar de verificada a utilização de rampas nos edifícios, Araújo (2014) observou que
há um acesso entre os pavimentos de uma unidade sem acessibilidade por meio de rampa,
apenas escadas, o que vai de encontro ao recomendado pela norma técnica de acessibilidade.
Mesmo tendo sido realizado indiretamente, o estudo permitiu conhecer melhor o
funcionamento de uma instituição de educação infantil, fornecendo subsídios para o
desenvolvimento do anteprojeto do TFG.
44
O estudo direto foi realizado no clube da melhor idade localizado na Avenida Deodoro
da Fonseca, bairro de Petrópolis, Natal. No local funciona a Associação de Clubes da Maior
Idade do Rio Grande do Norte, os clubes da melhor idade Caminhos de Vida e Novos Caminhos,
além de estar funcionando, atualmente, a Associação de Clubes da Melhor Idade Nacional, em
razão da presidente ser também presidente da associação de clubes do RN.
A visita foi interessante para entender o funcionamento dos clubes da melhor idade no
Brasil, pois foram fornecidos os dados sobre criação e manutenção dessas instituições. No
entanto, com relação ao espaço físico, como o prédio não é próprio dos clubes, não são
45
realizadas melhorias significativas, de forma que a visita foi importante para contribuir com a
definição do programa de necessidades do projeto.
A Associação Brasileira dos Clubes da Melhor Idade -ABCMI- foi criada através de um
projeto do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur) em 1985, e tinha como objetivo promover o
turismo sênior - oferecendo lazer aos idosos através de grupos de viagem – e movimentar a
cadeia de turismo na baixa estação. No Rio Grande do Norte a associação de clubes da maior
idade foi fundada em 1989. Na sequência, foram criados dois clubes em Natal: Caminhos de
Vida em 1991, e Novos Caminhos em 1995, ambos em atividade até hoje.
Além de viabilizar viagens, os clubes promovem a inclusão dos idosos através de
cursos, oficinas, encontros e atividades festivas, oferecendo lazer e cultura para seus
associados. De acordo com as informações obtidas na visita, a ABCMI RN é uma das únicas
associações que promove encontro semanal com seus associados. Trata-se de uma tarde festiva
que acontece toda quarta-feira e promove alegria e bem-estar aos idosos. Embora aconteça o
encontro semanal, atualmente o clube oferece poucas atividades para os seus associados, que
são o torneio de sinuca (bastante procurando pelos homens), aula de dança (o clube disponibiliza
apenas o espaço, as associadas contratam o professor por fora) e aula de informática (tem
disponibilidade, mas só acontece a aula sob demanda).
De acordo com o secretário da ABCMI Nacional, a situação dos clubes é bastante
delicada, pois eles são mantidos com as mensalidades dos associados (de valor pouco
representativo) e com a comissão de agências parceiras (que passam uma porcentagem do valor
dos pacotes de viagem vendidos). Explicou que na época que os clubes da melhor idade
surgiram havia subsídio financeiro do governo, de forma que eram oferecidos diversos cursos
como pintura, artesanato, idiomas, dança. Todavia, com o surgimento das universidades abertas
da terceira idade, a manutenção dos clubes tornou-se mais difícil, já que na época não havia
mais subsídio do governo e não tinha como concorrer com as universidades, que já tinham
estrutura pronta e adequada para o ensino.
Apesar das dificuldades, o clube é muito importante para seus associados, sendo para
muitos a única forma de lazer, independência e interação. Além disso, são os próprios idosos os
responsáveis pela administração dos clubes, fazendo parte de diretoria, conselho e presidência,
uma outra forma de se manterem ativos, trabalhando para a associação.
Tem-se, portanto, uma instituição de grande importância para seus associados, que
totalizam atualmente 120 idosos, 50 idosos de um clube e 70 de outro. Os benefícios para os
idosos participantes são diversos: participação em novas experiências turísticas, melhoria da
46
Neste capítulo são abordados os diversos fatores que influenciaram nas decisões
projetuais do Centro Intergeracional. São apresentados aspectos sobre o sítio onde o
equipamento arquitetônico foi implantado, com considerações sobre a definição do terreno, seu
entorno, dimensões e topografia do lote, bem como condicionantes físico-ambientais que
influenciaram no desenvolvimento do projeto. Também são analisadas as condicionantes legais
atribuídas à região de inserção do projeto e ao tipo de equipamento desenvolvido; além das
exigências dos usuários, programa de necessidades, pré-dimensionamento e o partido
arquitetônico adotado.
Além disso, Bestetti (2002, p. 56, apud MEDEIROS, 2008, p.61) cita aspectos
importantes a serem considerados na escolha do terreno para equipamentos que atendem o
público da terceira idade:
Para definição do terreno foi utilizado o Google Maps, buscando-se uma área em bairros
tradicionais da cidade e que atendesse as recomendações para equipamentos voltados para o
público idoso. Foi escolhido um terreno localizado na Rua Juvino Barreto, próximo ao cruzamento
com a avenida Deodoro da Fonseca, no limite dos bairros Cidade Alta, Ribeira e Petrópolis, todos
com população idosa expressiva e fácil acesso.
51
Em visita realizada ao terreno, foi constatado que o mesmo se encontra murado e sem
visibilidade do interior do lote, de forma que só puderam ser feitas fotografias da rua. Apesar
disso, pode-se confirmar que o desnível no terreno é pequeno.
A ventilação do lote foi analisada a partir da utilização da rosa dos ventos para a cidade
de Natal, disponibilizada pelo LabCon – Laboratório de Conforto Ambiental da UFRN e inserida
no terreno em estudo (Figura 31). Através dela pode-se constatar a predominância dos ventos
oriundos da direção sudeste, com velocidade variável no decorrer do dia. Deve-se buscar,
portanto, posicionar aberturas nas fachadas de maneira a aproveitar a ventilação predominante
do sudeste - na lateral esquerda do lote (quando visto de frente), tendo cuidado com a incidência
solar na fachada oeste (poente), localizada na lateral direita do terreno.
O desenvolvimento desse projeto foi permeado por legislações variadas, como o Plano
Diretor (2007) e o Código de Obras do Município de Natal (2004), o Código de Segurança e
Prevenção contra Incêndio e Pânico do Rio Grande do Norte (1975), instruções normativas do
Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo e a NBR 9050 (2015), que trata de acessibilidade
a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Segue-se, a partir de agora, as
implicações que essas legislações trazem para a proposta arquitetônica desenvolvida.
O Plano visa garantir uma adequada ocupação do solo, determinando prescrições com
relação aos limites de gabarito, recuos, taxas de ocupação e taxa de permeabilidade para as
construções no município. De acordo com o plano, o município de Natal é dividido em três tipos
de zonas no que diz respeito ao adensamento, isto é, com o grau de intensificação do uso e
ocupação do solo, de acordo com o seu Art. 6°, I. São elas: Zona de Zona de Adensamento
Básico; Zona Adensável e Zona de Proteção Ambiental.
56
O bairro da Cidade Alta, onde será implantado o projeto, classifica-se como zona
adensável, ou seja, “aquela onde as condições do meio físico, a disponibilidade de infraestrutura
e a necessidade de diversificação de uso, possibilitem um adensamento maior do que aquele
correspondente aos parâmetros básicos de coeficiente de aproveitamento” (art. 11).
O coeficiente de aproveitamento básico do município é 1,2, porém, de acordo com o
quadro 1 do anexo 1, do Plano, o bairro de Cidade Alta pode ter coeficiente máximo de
aproveitamento de 3,0, mediante pagamento de outorga onerosa13.
13
“A Outorga Onerosa do Direito de Construir, também conhecida como “solo criado”, refere-se à concessão
emitida pelo Município para que o proprietário de um imóvel edifique acima do limite estabelecido pelo
coeficiente de aproveitamento básico, mediante contrapartida financeira a ser prestada pelo beneficiário”.
SABOYA, Renato. Urbanidades: Urbanismo, Planejamento Urbano e Plano Diretor. Disponível em:
<http://urbanidades.arq.br/2008/03/outorga-onerosa-do-direito-de-construir/>. Acesso em maio de 2017.
57
➢ Nos locais públicos ou privados de uso coletivo deve ser reservado o número
de vagas às pessoas portadoras de deficiência física, conforme estabelecido na NBR específica
e demais normas da legislação em vigor, com a sinalização, rebaixamento de guias e localização
adequada (art. 125).
➢ Toda calçada deve possuir faixa de, no mínimo, um metro e vinte centímetros
(1,20m) de largura, para a circulação de pedestres - passeio - com piso contínuo sem
ressaltes ou depressões, antiderrapante, tátil, indicando limites e barreiras físicas (art. 126).
Além de todo o exposto, o Código orienta como devem ser as formas de acesso às
edificações e determina a quantidade de vagas de estacionamento de acordo com o tipo de
equipamento. O centro intergeracional será implantado na rua Juvino Barreto, identificada pela
legislação como uma via do tipo Coletora I (Anexo I – Sistema Viário Principal do Código de
Obras) e foi classificado como um equipamento do tipo “serviço de educação em geral, incluindo
escolas de artes, dança, idiomas, academias de ginástica e de esportes”, sendo recomendada
uma vaga a cada 50m², no caso de via coletora. Com relação a forma de acesso, o anexo II
(dimensionamento das formas de acesso) recomenda:
R=Q.T.H
R - reserva mínima (Litros)
Q - vazão (de acordo com a ocupação e risco) – Litros/minuto
T - tempo de utilização de hidrante, conforme inciso VIII, do art.24; - Minutos
H - número de hidrantes funcionando simultaneamente;
Figura 37: Um pedestre e uma pessoa em cadeira de rodas Figura 38: Duas pessoas em cadeira de rodas
A NBR 9050 determina que as áreas de qualquer espaço ou edificação de uso público
ou coletivo devem ser servidas de uma ou mais rotas acessíveis, no entanto, as áreas de uso
restrito como casas de máquinas, barriletes, passagem de uso técnico e outros com funções
similares, não necessitam atender às condições de acessibilidade. Entende-se por rota acessível
“um trajeto contínuo, desobstruído e sinalizado, que conecta os ambientes externos e internos
de espaços e edificações, e que pode ser utilizada de forma autônoma e segura por todas as
pessoas”. (ABNT, 2015, p. 54)
Além disso, nas edificações e equipamentos urbanos, todas as entradas, bem como as
rotas de interligação às funções do edifício, devem ser acessíveis.
64
A circulação pode ser horizontal e vertical, podendo ser esta última realizada por
escadas, rampas ou equipamentos eletromecânicos. Será considerada acessível a circulação
que atender no mínimo a duas formas de deslocamento vertical. Para as escadas, a largura
mínima para em rotas acessíveis é de 1,20m, devendo ser calculada de acordo com o fluxo de
pessoas.
Para garantir que uma rampa seja acessível, a norma define os limites máximos de
inclinação, os desníveis a serem vencidos e o número máximo de segmentos. A inclinação das
rampas deve ser calculada conforme a seguinte equação:
i = h x 100
c
exclusivamente por idosos. Já a Lei Federal 10.098, de 19/12/2000, que trata da promoção da
acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência e com dificuldade de locomoção,
estabelece em seu art. 7º a reserva de 2% das vagas para veículos que transportem pessoas
portadoras de deficiência.
Para os banheiros há a exigência de que 5% da quantidade de sanitários presentes em
espaços de uso comum sejam acessíveis. Eles devem possuir entrada independente, de modo
a possibilitar que a pessoa com deficiência possa utilizar a instalação sanitária acompanhada de
uma pessoa do sexo oposto. Recomenda-se também que nos conjuntos de sanitários seja
instalada uma bacia infantil para uso de pessoas com baixa estatura e de crianças.
A NBR 9050 determina que nos boxes comuns, as portas devem ter vão livre mínimo
de 0,80m e conter uma área livre com no mínimo 0,60m de diâmetro. De preferência as portas
devem ter abertura para fora, para facilitar o socorro à pessoa, se necessário.
Secretaria/Tesouraria 1 15 15 1 funcionário/12m²
Descanso funcionários 1 20 20 Ambiente com sofás, mesas
Banheiro funcionários 1 20 20 Incluir box para banho
feminino
Banheiro funcionários 1 20 20 Incluir box para banho
masculino
Depósito 1 6 6 Ambiente com prateleiras
Cozinha 1 35 35 Ambiente amplo para permitir a visita dos
alunos quando necessário
Despensa 1 5 5 Espaço com prateleiras para alimentos e
louças
DML 1 5 5 Área com lavanderia, armários e espaço
para carrinho de limpeza
TOTAL 676m²
Fonte: Acervo da autora, 2017.
69
A volumetria final (Figura 47) foi resultante dos estudos anteriores, sendo a principal
mudança a incorporação do pátio pelo edifício e a criação de um jogo de volumes na fachada
principal, onde o segundo pavimento foi reduzido para atribuir movimento à fachada frontal, e o
volume em dois pavimentos, também nesta fachada frontal, avançou em relação ao restante da
fachada, tudo isso no intuito de aperfeiçoar a volumetria do edifício. Dessa forma, o pátio central
ganhou destaque, aumentando a proximidade do prédio com a natureza e privilegiando a
ventilação e insolação naturais, refletindo ainda mais o conceito de oásis no edifício.
3. A PROPOSTA
na lateral esquerda da edificação para que possa ser feito o acesso do edifício (através de porta
localizada na cozinha) à casa de lixo localizada na calçada frontal, como pode ser visualizado na
Figura 48:
A disposição dos ambientes foi elaborada a partir do zoneamento inicial (Figura 32),
buscando-se concentrar ambientes de pouca permanência na fachada oeste e ambientes de
longa permanência nas fachadas leste e sul, com melhores orientações, privilegiando o conforto
térmico. Dessa forma, toda a circulação vertical foi concentrada na fachada voltada para oeste,
enquanto as salas de atividade e salões de convivência, de maior permanência, ficaram nas
fachadas leste e sul; as salas de TV e jogos, recepção e consultório encontram-se na fachada
nordeste (frontal).
O pátio foi o elemento central, servindo de espaço que integra todos os ambientes e é
voltado para a convivência, podendo ser visto praticamente de qualquer lugar do edifício e sendo
facilmente acessado. O posicionamento da recepção objetivou dar destaque a entrada do
edifício, centralizando-a, bem como integrá-la ao pátio, visto que da recepção se tem uma
visibilidade total do centro do edifício.
O pavimento térreo (ver pranchas 03 e 05) é composto pela recepção, consultório (que
não tem atendimento permanente, sendo utilizado mediante demanda), sala de TV, sala de
jogos, 3 salas de atividades, cozinha com despensa, salão de convivência, pátio, depósito, DML,
plataforma elevatória vertical, escadas, rampa e 2 banheiros masculinos e 2 femininos (sendo 1
de cada acessível e com acesso independente, como determina a NBR). Foram previstas três
formas de circulação vertical para atender o público da melhor forma possível, priorizando a
acessibilidade.
Com relação aos ambientes previstos, serão apresentados detalhes de alguns deles,
visando facilitar a compreensão do centro e seu funcionamento. A recepção possui um
funcionário e é a entrada do edifício, sendo o contato inicial do usuário/visitante com a instituição.
Possui mesa de atendimento para o funcionário e cadeiras de espera. Desse ambiente se tem a
visão do pátio, integrando o cômodo com o interior do edifício e convidando o visitante a entrar
no prédio. O consultório encontra-se ao lado da recepção e possui pequena área - não é de uso
permanente -, estando disponível para atendimentos com profissionais especializados que
prestem consultoria aos usuários do centro intergeracional.
A rampa que dá acesso ao segundo pavimento foi calculada em conformidade com as
recomendações da legislação, dividida em 6 segmentos com inclinação inferior a 8,33% em cada
um. Os banheiros possuem box com sanitário infantil e adulto, além de chuveiro (foi pensado no
público infantil, já que existe a possibilidade de a criança necessitar de um banho, sendo
respeitado seu conforto e bem-estar).
76
Sobre o sistema estrutural, é importante destacar que não foi realizado um projeto de
estrutura do edifício, apenas um pré-dimensionamento e sua distribuição espacial, com a
intenção de prever a localização dos pilares e vigas para que o projeto fosse exequível.
O sistema construtivo utilizado foi o convencional, escolhido em função da viabilidade
construtiva e econômica para o tipo de projeto elaborado, sendo formado por laje-viga-pilar em
concreto armado e vedação em alvenaria convencional. O vão médio a ser vencido é de 5,5m, e
os pilares possuem seção retangular. A solução da cobertura foi o uso da platibanda com telha
de fibrocimento e inclinação de 5%, com calhas impermeabilizadas para escoamento das águas.
77
O sistema hidráulico foi definido com uma área molhada comum aos dois pavimentos,
onde está concentrada a maioria dos banheiros do prédio (8 no total), e o reservatório de água,
facilitando a prumada das instalações. Para o cálculo do reservatório de água tem-se,
considerando um consumo diário de 50 litros por aluno, 60 alunos por turno e uma reserva técnica
para dois dias:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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