Você está na página 1de 162

Gestão Costeira

Integrada
Prof.ª Aline Pereira Costa
Prof.ª Marina Peres Portugal
Prof.ª Nubia Alves Mariano Teixeira Pires Gomides

Indaial – 2021
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2021

Elaboração:
Prof.ª Aline Pereira Costa
Prof.ª Marina Peres Portugal
Prof.ª Nubia Alves Mariano Teixeira Pires Gomides

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

C837g

Costa, Aline Pereira

Gestão costeira integrada. / Aline Pereira Costa; Marina Peres


Portugal; Nubia Alves Mariano Teixeira Pires Gomides. – Indaial:
UNIASSELVI, 2021.

154 p.; il.

ISBN 978-65-5663-835-5
ISBN Digital 978-65-5663-836-2

1. Socioeconomia costeira. - Brasil. I. Costa, Aline Pereira. II.


Portugal, Marina Peres. III. Gomides, Nubia Alves Mariano Teixeira
Pires. IV. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 380

Impresso por:
Apresentação
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático Gestão de Costeira
Integrada. Este é um livro dividido em três unidades, no qual iremos abordar
desde conceitos básicos do tema até aspectos como os impactos ambientais na
socioeconomia costeira.

Na Unidade 1, faremos uma introdução ao ambiente marinho


costeiro e sua organização. Desse modo, iremos estudar a importância
das Zonas Costeiras e como é feita a gestão costeira integrada. Também
aprenderemos as características do ambiente marinho costeiro, identifi-
cando os principais ambientes e discutindo sobre a situação atual desses
ecossistemas. Por fim, abordaremos o planejamento e gestão ambiental
dos sistemas marinhos e costeiros, estudando as pressões e impactos que
podem ameaçar a conservação desses sistemas, incluindo o turismo e as
áreas que protegem esses ecossistemas no Brasil.

Na Unidade 2, abordaremos os recursos marinhos e seu uso racional.


Num primeiro momento, faremos um diagnóstico dos principais recursos
econômicos e sociais, e falaremos das espécies ameaçadas de extinção. Em
seguida, iremos discutir sobre poluição marinha, seus impactos ao ambiente
costeiro e quais são os desafios da gestão integradas em relação à erosão
costeira. E finalizaremos falando sobre como mitigar impactos na região
litorânea, mais especificamente da pesca sustentável e educação ambiental
para conservação.

Na Unidade 3, vamos estudar as políticas públicas relacionadas


à governança marinha e costeira. Iniciaremos falando sobre impactos da
globalização na Zona Costeira, as disparidades que são geradas e como
promover a sustentabilidade de acordo com as agendas mundiais de
conservação do meio ambiente. Depois falaremos em mais detalhes sobre
Programa Nacional de Gerenciamento Costeiro e seus principais resultados.
Finalizaremos o estudo da gestão integrada das Zonas Costeiras falando
sobre governança marinha costeira, detalhando quais são os instrumentos
de planejamento e apoio aos Planos de Gestão Costeira.

Boa leitura e bons estudos!

Prof.ª Aline Pereira Costa


Prof.ª Marina Peres Portugal
Prof.ª Nubia Alves Mariano Teixeira Pires Gomides
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!
LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela


um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro


que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares,
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


Sumário
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO AMBIENTE MARINHO COSTEIRO
E SUA ORGANIZAÇÃO....................................................................................................1

TÓPICO 1 — ZONA COSTEIRA: HISTÓRICO E CARACTERIZAÇÃO.................................... 3


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 3
2 IMPORTÂNCIA DAS ZONAS COSTEIRAS ................................................................................ 4
2.1 IMPORTÂNCIA SOCIOECONÔMICA ...................................................................................... 5
2.2 IMPORTÂNCIA AMBIENTAL...................................................................................................... 7
3 GESTÃO COSTEIRA INTEGRADA................................................................................................ 8
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 12
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 13

TÓPICO 2 — DELIMITANDO A ZONA COSTEIRA.................................................................... 15


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 15
2 CLASSIFICAÇÃO DOS PRINCIPAIS SISTEMAS COSTEIROS............................................ 15
2.1 AMBIENTES DA ZONA COSTEIRA BRASILEIRA . .............................................................. 16
2.1.1 Principais ambientes terrestres........................................................................................... 16
2.1.2 Principais ambientes marinhos........................................................................................... 21
3 SITUAÇÃO ATUAL DAS ZONAS COSTEIRAS......................................................................... 26
3.1 AMBIENTES TERRESTRES DA ZONA COSTEIRA................................................................ 28
3.2 AMBIENTES MARINHOS DA ZONA COSTEIRA.................................................................. 28
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 30
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 31

TÓPICO 3 — PLANEJAMENTO E GESTÃO AMBIENTAL DE SISTEMAS


MARINHOS E COSTEIROS...................................................................................... 33
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 33
2 PRESSÕES E IMPACTOS................................................................................................................. 33
3 TURISMO EM ZONAS COSTEIRAS............................................................................................ 37
4 ÁREAS PROTEGIDAS...................................................................................................................... 39
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 43
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 46
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 47

REFERÊNCIAS....................................................................................................................................... 49

UNIDADE 2 — USO RACIONAL DOS RECURSOS MARINHOS COSTEIROS.................. 51

TÓPICO 1 — DIAGNÓSTICO DOS PRINCIPAIS RECURSOS ECONÔMICOS


E SOCIAIS...................................................................................................................... 53
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 53
2 RECURSOS ECONÔMICOS E SOCIAIS...................................................................................... 54
3 ESPÉCIES AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO................................................................................... 60
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 65
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 66

TÓPICO 2 — POLUIÇÃO MARINHA COSTEIRA........................................................................ 69


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 69
2 IMPACTOS AMBIENTAIS ASSOCIADOS AO AMBIENTE COSTEIRO............................. 70
3 DESAFIOS DA GESTÃO INTEGRADA FRENTE A EROSÃO COSTEIRA ........................ 75
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 80
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 81

TÓPICO 3 — MEDIDAS DE MITIGAÇÃO DOS IMPACTOS SOBRE


A REGIÃO COSTEIRA................................................................................................ 83
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 83
2 PESCA SUSTENTÁVEL ................................................................................................................... 84
3 EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA CONSERVAÇÃO ................................................................ 89
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 93
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 96
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 97

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 100

UNIDADE 3 — POLÍTICAS PÚBLICAS E GOVERNANÇA MARINHA E COSTEIRA............ 101

TÓPICO 1 — IMPACTOS DA GLOBALIZAÇÃO E SUAS DISPARIDADES........................ 103


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 103
2 SUSTENTABILIDADE NAS AGENDAS MUNDIAIS............................................................. 106
3 POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS ÀS ZONAS COSTEIRAS........................................... 109
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 114
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 115

TÓPICO 2 — PROGRAMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO


COSTEIRO (GERCO)................................................................................................. 117
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 117
2 PLANO NACIONAL DE GERENCIAMENTO COSTEIRO.................................................... 121
3 EVOLUÇÃO E PRINCIPAIS RESULTADOS DO PNGC......................................................... 124
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 135
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 136

TÓPICO 3 — GOVERNANÇA MARINHA COSTEIRA............................................................. 139


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 139
2 INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO.................................................................................. 140
3 INSTRUMENTOS DE APOIO AO PLANEJAMENTO NO ÂMBITO DO PEGC............... 141
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 145
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 152
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 153

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 155
UNIDADE 1 —

INTRODUÇÃO AO AMBIENTE MARINHO


COSTEIRO E SUA ORGANIZAÇÃO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer o que é a Zona Costeira e sua evolução ao longo do tempo;

• entender no que se caracteriza a Gestão Costeira Integrada;

• aprender os variados tipos de ambientes costeiros;

• analisar quais as pressões e impactos ambientais que as áreas costeiras


sofrem;

• entender como funciona o turismo nas Zonas Costeiras;

• conhecer quais são as áreas protegidas em Zonas Costeiras.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – ZONA COSTEIRA: HISTÓRICO E CARACTERIZAÇÃO

TÓPICO 2 – DELIMITANDO A ZONA COSTEIRA

TÓPICO 3 – PLANEJAMENTO E GESTÃO AMBIENTAL DE SISTEMAS


MARINHOS E COSTEIROS

1
CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

2
TÓPICO 1 —
UNIDADE 1

ZONA COSTEIRA: HISTÓRICO E CARACTERIZAÇÃO

1 INTRODUÇÃO

Ao longo dessa unidade, aprenderemos as características da Zona


Costeira, um breve histórico do Brasil para que possamos contextualizar porque
esses locais são importantes e sobre a gestão costeira integrada.

Antes de começarmos falando da importância das Zonas Costeiras, é


importante definirmos o que ela é. A Zona Costeira é um sistema que interliga o
ambiente terrestre e o ambiente marinho, incluindo também o ar.

Esses ambientes são explorados pelo homem desde sempre para


pescas, atividade portuária, extração de sal e na ocupação do território. Com a
globalização, que ampliou as trocas comerciais mundiais, o desenvolvimento
do turismo e a intensificação de várias atividades como aquicultura, exploração
de recursos mineiras, emissores submarinos, as Zonas Costeiras se tornaram
imprescindíveis para a sociedade moderna.

No Brasil, durante a época da colonização portuguesa, os recursos desses


ambientes foram explorados como se fossem inesgotáveis, incluindo recursos
madeireiros da Mata Atlântica, bioma que está inserido na Zona Costeira.

Depois da Independência do Brasil, a ocupação do território foi


intensificada, desmatando mais ainda a cobertura vegetal em regiões próximas
ao litoral do país. Além do comprometimento e degradação ambiental em várias
regiões devido ao desmatamento, outros recursos ambientais da Zona Costeira
têm sido muito explorados (BONETTI et al. 2012).

A Zona Costeira brasileira é banhada pelas águas do oceano Atlântico


e foi delimitada na parte terrestre de acordo com limites municipais e divisa
de bacias hidrográficas. Na parte marinha, a delimitação segue o limite do mar
territorial, que é determinado pela Convenção das Nações Unidas sobre o Direito
do Mar, ou seja, 22,2 km a partir da linha de base da costa (BONETTI et al. 2012).

No Brasil, a Zona Costeira possui 8.698 quilômetros de extensão, com


largura variável dependendo da região da costa e é considerada uma das maiores
do mundo. Ela possui áreas em 17 estados brasileiros, cerca de 400 municípios
e recobre cerca de 388.000 quilômetros quadrados. Em cada estado, a Zona
Costeira é dividida em setores de acordo com limites municipais e características
geográficas e socioeconômicas.
3
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO AMBIENTE MARINHO COSTEIRO E SUA ORGANIZAÇÃO

De acordo com o censo do ano 2000, cerca de 25% da população brasileira


mora em municípios da região costeira, o que corresponde a uma densidade
média de 121 habitantes por quilômetro quadrado, valor de cinco a seis vezes
superior à média nacional (GOUVEIA SOUZA, 2009).

Devido à atividade humana intensa, esses ambientes têm uma grande im-
portância econômica nas sociedades que habitam regiões litorâneas, mas também
tem uma relevância ambiental.

A exploração e a conservação de ambientes são estratégias aparentemente


antagônicas, mas a Gestão Costeira Integrada busca justamente equilibrar os inte-
resses de diferentes setores da sociedade para a execução de diferentes atividades
na região costeira, respeitando os limites da sustentação natural pelo meio ambiente.

Sabendo desses aspectos, iremos, então, estudar a importância das Zonas


Costeiras para a sociedade e o meio ambiente. Depois faremos a introdução do
que é a Gestão Costeira Integrada, tema principal dessa disciplina.

2 IMPORTÂNCIA DAS ZONAS COSTEIRAS


A Zona Costeira é definida mais especificamente na Lei nº 7.661/1988
(BRASIL, 1988a) como a região geográfica de ar, mar e ambiente terrestre, que
abrange tanto o espaço marinho como o terrestre. E inclui recursos renováveis e
não renováveis. No Brasil, a Zona Costeira é considerada patrimônio nacional na
Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988b).

FIGURA 1 – ZONA COSTEIRA BRASILEIRA

FONTE: Gouveia Souza (2009, p. 21)

4
TÓPICO 1 — ZONA COSTEIRA: HISTÓRICO E CARACTERIZAÇÃO

Devido à alta ocupação humana na Zona Costeira, ela se caracteriza como


uma das regiões mais ameaçadas do mundo e há uma grande preocupação com a
manutenção do equilíbrio ambiental nos ecossistemas marinhos e costeiros.

A Zona Costeira provê serviços oceânicos de regulação, serviços de


suporte, abastecimento ou provisão e culturais. Esses serviços são chamados de
ecossistêmicos ou ambientais dos ecossistemas, e podem ser até valorados. A
produção de itens alimentares, manutenção do regime de chuvas, controle do
clima, controle de pragas, são apenas alguns dos serviços que os ecossistemas
podem prover ao ser humano sem necessariamente cobrar um valor.

FIGURA 2 – AMBIENTE LITORÂNEO URBANO DA ZONA COSTEIRA

FONTE: <http://galeria.dtcom.com.br/picture.php?/8621/search/484>. Acesso em: 5 set. 2021.

O ser humano é capaz de produzir vários itens que auxiliam no dia a


dia, como este livro que você está estudando, e de gerir serviços, como a energia
elétrica que permite que você estude até durante o período da noite. Porém,
alguns serviços dependem parcialmente ou exclusivamente de espécies ou
sistemas naturais para serem produzidos.

Apesar dos serviços ecossistêmicos serem importantes socioeconomica-


mente e ambientalmente, nos próximos dois subtópicos vamos ressaltar os servi-
ços ecossistêmicos que estão mais relacionados à importância socioeconômica e à
importância ambiental dos recursos costeiros.

2.1 IMPORTÂNCIA SOCIOECONÔMICA


A Zona Costeira inclui tanto partes marinhas como terrestres e tem
grande importância para a sociedade, por oferecer exploração de recursos
naturais com valor econômico, como os recursos pesqueiros, mas também por
5
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO AMBIENTE MARINHO COSTEIRO E SUA ORGANIZAÇÃO

oferecer espaços de lazer, turismo e moradia de grandes populações urbanas. Os


principais serviços ecossistêmicos relacionados então seriam os serviços culturais
e os serviços de abastecimento.

Os serviços de abastecimento, ou de provisão, se caracterizam por


fornecer alimentos e outros bens à sociedade. Muitas pessoas que vivem em
regiões costeiras, também chamadas de caiçaras, dependem economicamente da
extração de alimentos do mar. Esses alimentos são compostos principalmente
por recursos pesqueiros, mas as macroalgas também são usadas como fonte de
alimento, iodo e vitamina C. Além de fornecer recursos para alimentação, os
oceanos são usados como meio de transporte para grande parte da carga que
circula no mundo (GERLING et al. 2016).

FIGURA 3 – ZONA COSTEIRA COMO SERVIÇO DE ABASTECIMENTO: RECURSOS PESQUEIROS

FONTE: <http://galeria.dtcom.com.br/picture.php?/6420/search/476>. Acesso em: 5 set. 2021.

Ainda dentro dos serviços ecossistêmicos de provisão, as regiões costeiras


podem prover também a geração de energia elétrica. Seja pela energia eólica,
instaladas em muitos locais próximos à costa devido à abundância de ventos,
mas também energia elétrica gerada a partir de alterações de nível das marés, ou
energia maremotriz (BONETTI et al., 2012).

Os serviços ecossistêmicos culturais oferecem lazer, diversão, esporte,


educação, turismo e espiritualidade às sociedades caiçaras. As praias, ilhas,
manguezais e o próprio oceano permitem uma grande interação entre ser humano
e natureza, com objetivos variados, como a recreação, contemplação, exploração
turística (GERLING et al., 2016).

6
TÓPICO 1 — ZONA COSTEIRA: HISTÓRICO E CARACTERIZAÇÃO

2.2 IMPORTÂNCIA AMBIENTAL


Os serviços ecossistêmicos oceânicos de regulação são extremamente
importantes para manutenção do clima da Terra. O planeta possui grande
parte da sua superfície recoberta pelos oceanos (aproximadamente 70%), ou
seja, há uma grande superfície de contato entre oceano e atmosfera. Essa su-
perfície tão extensa permite uma grande taxa de evaporação, principalmente
em zonas tropicais.

E justamente nas regiões oceânicas tropicais, que inclui grande parte


do litoral brasileiro, onde as temperaturas são mais altas, ocorre uma alta taxa
evaporação que é responsável pela maior parte das chuvas que ocorrem no
mundo. Além disso, as correntes oceânicas são as responsáveis por transportar
o calor dos trópicos para as regiões polares, mantendo o clima do planeta. No
aspecto local, o oceano também é importante para a temperatura e regime de
chuvas na faixa terrestre da Zona Costeira.

Outro tipo de serviço de regulação importante na Zona Costeira são
os mecanismos de autolimpeza. Os oceanos podem atuar diluindo poluentes
lançados na água ou até degradando-os biologicamente com auxílio de micro-
organismos aquáticos. Porém, é importante lembrar dos serviços realizados pelos
manguezais, áreas de transição entre rio e mar com vegetação característica,
que captam sedimentos e resíduos orgânicos e são fundamentais para regular a
qualidade da água nas regiões entre continente e mar.

Os serviços ecossistêmicos de suporte são realizados por organismos


que compõem o fitoplâncton, por algas e outros vegetais marinhos que realizam
fotossíntese. Além da produção de oxigênio, a ciclagem de nutrientes realizada
por esses seres-vivos, outros micro-organismos, também pode ser considerada
um serviço de suporte. Além disso, os manguezais, recifes de coral e bancos
de macroalgas são berçários importantes para invertebrados e peixes, sendo
extremamente importantes para sustentar a pescaria marinha em várias regiões
do mundo (GERLING et al. 2016).

Por último, é importante lembrar que os serviços ecossistêmicos culturais


também indicam a importância ambiental da Zona Costeira. O turismo ecológico
marinho reforça a necessidade de conservação da beleza cênica, mas também
da biodiversidade marinha, para que ele se mantenha como possibilidade de
renda para as comunidades costeiras. A preservação de várias formas de vida,
desde os bancos de corais até as populações de golfinhos e baleias migratórias,
é importante para a manutenção do potencial turístico de regiões de turismo
ecológico (GERLING et al. 2016).

7
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO AMBIENTE MARINHO COSTEIRO E SUA ORGANIZAÇÃO

FIGURA 4 – RECIFES DE CORAL: EXEMPLO DE SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS DE REGULAÇÃO E


DE SUPORTE

FONTE: <http://galeria.dtcom.com.br/picture.php?/1927/search/477>. Acesso em: 5 set. 2021.

3 GESTÃO COSTEIRA INTEGRADA


Gerenciar os impactos ambientais históricos e atuais, que incidem na
Zona Costeira, conciliando com as necessidades humanas é um grande desafio.
A Gestão Costeira Integrada (GCI) ou Gerenciamento Costeiro Integrado, é um
processo dinâmico e contínuo que auxilia na tomada de decisões relacionadas à
sustentabilidade e desenvolvimento na região costeira. Durante esse processo,
é elaborado um plano que visa à sustentabilidade da exploração dos recursos
costeiros e marinhos, desenvolvimento da sociedade e proteção dos ecossistemas
existentes nessa região.

A GCI foi incorporada no arcabouço legal brasileiro somente em 1987,


influenciada pelo cenário internacional. Nesse ano, o Programa Nacional de
Gerenciamento Costeiro, formulado pela Comissão Interministerial para recursos
do Mar, iniciou a incorporação da GCI na legislação brasileira. Em 1988, a Zona
Costeira foi incluída no artigo 225 da Constituição Brasileira como patrimônio
nacional da União e região de interesse especial.

Nesse mesmo ano, foi promulgada a Lei nº 7.661, que estabelece o Plano
Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC), como parte da Política Nacional
do Meio Ambiente (PNMA) e da Política Nacional de Recursos do Mar (PNRM).

8
TÓPICO 1 — ZONA COSTEIRA: HISTÓRICO E CARACTERIZAÇÃO

Essa lei dispõe sobre a utilização racional dos recursos da Zona Costeira para
aumentar a qualidade de vida das populações que habitam essa região e
para proteger o patrimônio dos recursos costeiros, que pode ser classificado
em natural, histórico, étnico e cultural (BRASIL, 1988b). Na década de 1990, a
Comissão Interministerial para os Recursos do Mar instituiu o Plano Nacional
de Gerenciamento Costeiro II, que subsidia a gestão da Zona Costeira brasileira
(CAVALCANTE, ALOUFA, 2018).

Na Unidade 3 veremos mais sobre as políticas públicas e governança


marinha e costeira, mas é importante compreendermos agora no início do estudo
que os instrumentos legais criados para auxiliar a gestão das Zonas Costeiras
são essenciais para embasar os planos específicos a serem elaborados em um
processo de GCI.

O Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro II prevê sete instrumentos


de gerenciamento nas margens brasileiras, dente eles o Plano de Gestão da
Zona Costeira. Ainda há outros planos que merecem ser destacados aqui, que
variam com relação à abrangência e objetivo, como Projeto de Gestão Integrada
da Orla Marítima, Plano Estadual ou Municipal de Gerenciamento Costeiro e o
Zoneamento ecológico-econômico da Zona Costeira.

Segundo Lima, Gonçalves e Schmidt (2017), o planejamento de gestão


costeira integrada normalmente é feito quando surge algum conflito na Zona
Costeira que pode estar relacionado:

• ao aumento da poluição, ameaçando a saúde pública ou outras atividades que


façam uso da água;
• à sobre-exploração ou esgotamento de recursos ambientais costeiros ou
marinhos;
• à busca por elevação dos benefícios econômicos relacionados à exploração de
algum serviço ecossistêmico de provisão ou de suporte da Zona Costeira;
• a atividades de aquicultura marinha;
• à extração de petróleo e outros recursos minerais no mar.

De acordo com o decálogo da gestão costeira, o gerenciamento integrado


deve conter dez princípios básicos, segundo Lima et al (2018):

• política pública para o litoral;


• estrutura normativa;
• competências;
• instituições públicas;
• instrumentos e estratégias;
• formação e capacitação;
• recursos econômicos;
• informação e conhecimento sobre a Zona Costeira;
• educação para a cidadania;
• participação social.

9
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO AMBIENTE MARINHO COSTEIRO E SUA ORGANIZAÇÃO

A política pública para o litoral é o primeiro indicador a analisarmos


quando estamos avaliando a gestão costeira de um local. Devemos buscar se existe
alguma política de gestão costeira integrada específica para a região, como um
Plano de Gestão da Zona Costeira, Projeto de Gestão Integrada da Orla Marítima,
Plano Municipal de Gerenciamento Costeiro, Zoneamento ecológico-econômico
da Zona Costeira. Podemos buscar também se a região é regida pelos planos mais
abrangentes, como Plano Nacional ou Estadual de Gerenciamento Costeiro. Além
disso, precisamos avaliar se é uma política explícita e de conhecimento público.
Depois devemos avaliar a estrutura normativa, ou seja, as leis que embasam e
regulamentam essas políticas no município ou estado.

Após as duas primeiras etapas, é fundamental compreender como são


distribuídas as responsabilidades públicas em relação à gestão de recursos e
espaços costeiros da região e estabelecer quais são as instituições públicas que estão
mais relacionadas às atividades da gestão costeira e marinha (CAVALCANTE,
ALOUFA, 2018). Em escala nacional existem:

• ministérios que estão relacionados a essas atividades, como os Ministérios do


Meio Ambiente, das Relações Exteriores, de Planejamento;
• secretarias, como a Secretaria de Patrimônio da União;
• autarquias, como o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade;
• agências reguladoras, como a Agência Nacional de Águas;
• associações municipais e estaduais;
• empresas, como a Petrobrás.

Sobre os instrumentos, é importante avaliar se a região possui algum


instrumento previsto pelo PNGC II, mas é possível também que existam outros
instrumentos ligados a políticas públicas estaduais e municipais específicas.

Além das normativas que regem o gerenciamento costeiro, é essencial


analisar como está a capacitação dos gestores e administradores públicos
envolvidos com a gestão costeira e a base econômico-financeira que sustente a
GCI. Isso permite avaliar se há recursos intelectuais e financeiros que permitem
a execução da GCI.

Por fim, relativo à população local, também é fundamental avaliar qual é


o nível de informação e educação da população sobre as características da Zona
Costeira (ambientais, econômicas, jurídicas e administrativas), verificar se há
iniciativas de educação voltadas para os habitantes da região e detectar se ocorre
participação cidadã na tomada de decisões relacionadas à GCI (LIMA et al. 2018).

Apesar do processo da GCI envolver interesses privados e públicos, ou


seja, unindo governo, comunidade, ciência e gestão, a participação social (dos
cidadãos) ainda é bem limitada.

10
TÓPICO 1 — ZONA COSTEIRA: HISTÓRICO E CARACTERIZAÇÃO

Após a elaboração do plano, é importante avaliar o quanto esse plano


está impactando positivamente naquela Zona Costeira. Ou seja, é importante
avaliar a eficácia do plano de acordo com aspectos relacionados à importância
das Zonas Costeiras.

QUADRO 1 – ASPECTOS QUE PODEM SER USADOS PARA AVALIAR EFICÁCIA DE UM PLANO DE
GESTÃO COSTEIRA INTEGRADA EM UM MUNICÍPIO

FONTE: Adaptado Lima, Gonçalves e Schmidt (2017)

O Quadro 1 mostra alguns aspectos que podem ser usados para avaliar
a eficácia do plano comparando seu ano de início com o momento atual,
ou intervalos de tempo definidos. Essas variáveis mostradas anteriormente
podem ser agrupadas em importâncias relacionadas ao mérito socioeconômico
e dimensão ambiental a serem abordadas no plano de GCI. Há inclusive um
modelo matemático, estudado por Lima, Gonçalves e Schmidt (2017), que usou
essas variáveis para comparar a eficácia da gestão costeira para o município da
Ilha de Itamaracá em um período de dez anos.

11
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A Zona Costeira interliga o ambiente terrestre e o ambiente marinho, incluindo


também a região atmosférica desses ambientes.

• A Zona Costeira começou a ser intensamente explorada no Brasil durante a


colonização portuguesa, e hoje é uma das regiões mais povoadas do país com
grande importância econômica.

• Os serviços ecossistêmicos da Zona Costeira podem estar relacionados à


importância socioeconômica e ambiental e são caracterizados principalmente
por serviços de abastecimento, serviços culturais, serviços de regulação e
serviços de suporte.

• A Gestão Costeira Integrada (GCI) é um processo dinâmico e contínuo que


auxilia na tomada de decisões relacionadas à sustentabilidade e desenvolvi-
mento na região costeira.

• Há dez princípios básicos que devem ser considerados ao avaliar a gestão


costeira de um local: política pública para o litoral, estrutura normativa,
competências, instituições públicas, instrumentos e estratégias, formação e
capacitação, recursos econômicos, informação e conhecimento sobre a Zona
Costeira, educação para a cidadania e participação social.

12
AUTOATIVIDADE

1 A Zona Costeira brasileira é definida na Lei nº 7.661/1988, além de ser


considerada patrimônio nacional na Constituição Federal de 1988. Sobre as
características da Zona Costeira brasileira, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As Zonas Costeiras são exploradas pelo homem para pesca, atividade


portuária, extração de sal e também na ocupação do território.
b) ( ) A Zona Costeira brasileira é uma região de densidade populacional
superior à média nacional e não é considerada ameaçada
ambientalmente.
c) ( ) A Zona Costeira é um sistema que inclui apenas o ambiente terrestre e
o ambiente marinho próximo à linha de base da costa brasileira.
d) ( ) A Zona Costeira provê serviços ecossistêmicos de importância
ambiental, mas que não se relacionam a atividades socieconômicas.

2 A gestão integrada da Zona Costeira (do inglês Integrated Coastal Zone


Management – ICZM) envolve uma abordagem integrada de elementos
naturais e antrópicos e deve ser organizada para minimizar os conflitos e
utilizar os recursos de forma sustentável (LIMA; GONÇALVES; SCHMIDT,
2017). Com base nos aspectos gerais da gestão integrada costeira, analise
as sentenças a seguir:

I- O planejamento de gestão costeira integrada deve ser feito quando surge


algum conflito, como o aumento da poluição das águas da Zona Costeira,
ameaçando aspectos sanitários da população local.  
II- Atividades de aquicultura marinha, como a produção de ostras, não
devem ser abordadas na gestão costeira integrada.
III- O gerenciamento costeiro pode ser abordado em diferentes instrumentos
no Brasil e em diferentes escalas do território, com a possibilidade de
planos nacionais, estaduais ou municipais.

Assinale a alternativa CORRETA:

FONTE: LIMA, J. P.; GONÇALVES, R. M.; SCHMIDT, M. A. R. Avaliação da eficácia do


gerenciamento costeiro Integrado utilizando AHP (analytic hierachy process) para a Ilha de
Itamaracá, Pernambuco, Brasil. Geociências, São Paulo, v. 36, n. 4, p. 743 - 753, 2017.

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

13
3 A Gestão Costeira Integrada (GCI) foi incorporada no arcabouço legal
brasileiro somente em 1987, influenciada pelo cenário internacional.
Em 1988, foi promulgada a Lei nº 7.661, que estabelece o Plano Nacional
de Gerenciamento Costeiro (PNGC). E na década de 1990, a Comissão
Interministerial para os Recursos do Mar instituiu o Plano Nacional de
Gerenciamento Costeiro II (CIRM 5/1997), que subsidia a gestão da Zona
Costeira brasileira. De acordo com as características da GCI, classifique V
para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) O processo da Gestão Costeira Integrada envolve interesses privados e


públicos.
( ) Diversas instituições públicas estão relacionadas à gestão de recursos
e espaços costeiros de uma região, desde ministérios até associações
municipais e estaduais.
( ) A população local não deve se envolver nas decisões do gerenciamento
costeiro da sua região, deixando todas as decisões a cargo dos gestores e
administradores públicos.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) V – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 A Gestão Costeira Integrada é um processo dinâmico e contínuo que auxilia


na tomada de decisões relacionadas à sustentabilidade e desenvolvimento
na região costeira. A Zona Costeira brasileira apresenta-se sob muito
impacto pela ação humana. Disserte sobre o histórico de ocupação da
Zona Costeira brasileira e a importância da gestão costeira para o litoral
brasileiro.

5 A Zona Costeira brasileira é uma das maiores do mundo e existem diversos


instrumentos que podem ser aplicados para um gerenciamento costeiro
eficiente no Brasil, previstos pelo Plano Nacional de Gerenciamento
Costeiro II. Plano de Gestão da Zona Costeira, Projeto de Gestão Integrada
da Orla Marítima, Plano Estadual ou Municipal de Gerenciamento Costeiro
são alguns desses instrumentos. Como a Zona Costeira de diferentes
estados ou municípios podem ter diferentes características ambientais e
socioeconômicas muito diferentes, cada região pode adotar o instrumento
que mais se adeque à sua realidade e necessidade. Neste contexto,
disserte sobre aspectos que podem ser usados para avaliar a eficácia do
gerenciamento costeiro em um município brasileiro.

14
TÓPICO 2 —
UNIDADE 1

DELIMITANDO A ZONA COSTEIRA

1 INTRODUÇÃO

Acadêmico, neste tópico iremos estudar quais são os principais ambientes


costeiros, quais suas características mais relevantes e a situação atual destas
localidades no Brasil e no mundo.

O gerenciamento costeiro inclui a gestão de recursos ambientais do


espaço geográfico coberto por terra e mar (BONETTI et al. 2012). Dessa maneira,
é importante que se saiba diferenciar os distintos ambientes, tanto marinhos
como terrestres, para poder realizar uma gestão costeira integrada que inclua os
principais ambientes dela a ser analisada em um plano.

Além de identificar corretamente os ambientes, iremos discutir como estão


esses locais nas Zonas Costeiras, atualmente, no Brasil e no mundo. Abordaremos
quais ambientes estão mais ameaçados pela presença humana e como isso pode
interferir nos serviços ecossistêmicos destas unidades territoriais.

2 CLASSIFICAÇÃO DOS PRINCIPAIS SISTEMAS COSTEIROS


A parte terrestre da Zona Costeira brasileira possui uma grande variedade
de paisagens naturais e é possível observar praias, dunas, falésias, ilhas, baías,
estuários, manguezais etc. A parte marinha também possui diferentes ambientes,
como recifes e costões rochosos, com uma vida mais abundante até uma
profundidade média de 100 metros (BIVAR; BITTENCOURT, 2011).

É importante lembrar que os ambientes destas unidades territoriais são


influenciados, de maneira geral, pelo regime das marés. O nível das águas do mar
é afetado por forças gravitacionais da Lua e do Sol combinadas à rotação da Terra.
Isso faz com que ocorram periódicas subidas e descidas do nível da água do mar,
quando observada a partir do mesmo ponto no litoral.

Os períodos de maré cheia normalmente ocorrem duas vezes ao dia,


quando a linha d’água do mar atinge o nível máximo de altura. Os períodos
de maré baixa também ocorrem normalmente duas vezes ao dia, quando linha
d’água do mar atinge nível mínimo de altura. Porém, como o alinhamento do
Sol e da Lua variam ao longo do ano, a periodicidade das marés e intensidade
também irão variar.

15
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO AMBIENTE MARINHO COSTEIRO E SUA ORGANIZAÇÃO

Longe da costa, as marés raramente sobem ou descem mais que um metro,


porém, mais próximo à costa a inclinação da rocha ou do terreno arenoso poderá
afunilar a maré e o fluxo de água levando a amplitudes maiores que um metro.
Há regiões do Brasil que possuem amplitude de maré acima de seis metros.

Nos subtópicos a seguir, falaremos dos biomas e paisagens naturais, que


também podem ser chamadas de ecossistemas da Zona Costeira brasileira e suas
principais características.

2.1 AMBIENTES DA ZONA COSTEIRA BRASILEIRA


Podemos identificar ambientes terrestres que fazem parte da região
costeira, mas também ambientes marinhos. Estes ambientes podem ser chamados
também de ecossistemas, por se tratar de um sistema, ou seja, um conjunto de
elementos interdependentes que inclui seres vivos e elementos abióticos da
paisagem, como a água, as rochas e o ar (TOWNSED; BEGON; HARPER, 2010).

Esses ambientes podem estar inseridos dentro de uma determinada região


que possui um tipo principal de vegetação, chamado de bioma (TOWNSED;
BEGON; HARPER, 20010).

2.1.1 Principais ambientes terrestres


A parte terrestre da Zona Costeira brasileira é muito extensa e com
ambientes variados. A coloração da água marinha, da água dos rios, a vegetação
e fauna variam bastante dependendo da região do litoral brasileiro.

É possível dividir o litoral brasileiro em amazônico, nordestino, sudeste


e sul. Os principais ambientes que podem ser encontrados na maioria dessas
divisões do litoral são praias, dunas, restingas, estuários e deltas e manguezais.

As praias brasileiras são a região do encontro da água dos oceanos com o


ambiente terrestre, coberta predominantemente por areia. Podemos falar também
que é uma área com predominância de substrato arenoso.

São regiões que apresentam baixa biodiversidade, ou seja, a fauna, as


espécies de animais, é pouco diversificada. Por serem lugares que sofrem a ação
dos ventos e das marés, há uma escassez de matéria orgânica no ambiente e não
permite a sobrevivência de muitas espécies (BONETTI et al. 2012).

A fauna das praias é composta principalmente por animais escavadores,


como os tatuís, que se alimentam filtrando sustento em suspensão na água. Esses
animais que se nutrem desta maneira são chamados de suspensívoros. Outras

16
TÓPICO 2 — DELIMITANDO A ZONA COSTEIRA

espécies de animais que habitam a região arenosa das praias são caranguejos,
como a maria-farinha, e moluscos que são utilizados na alimentação humana ou
como isca para a pesca. Tartarugas marinhas também utilizam a areia das praias
para depositar seus ovos durante a época reprodutiva (BONETTI et al. 2012).

A flora, espécies de plantas, também apresenta poucas variedades.


Macroalgas são os principais organismos que compõem a flora aquática das praias
arenosas. A flora terrestre é composta principalmente por espécies herbáceas
e rasteiras, que estão adaptadas à alta salinidade, grande exposição a ventos e
extremos de temperatura (GERLING et al. 2016).

FIGURA 5 – PRAIA ARENOSA

FONTE: <http://galeria.dtcom.com.br/picture.php?/7334/search/484>. Acesso em: 5 set. 2021.

As dunas costeiras são formadas por acúmulo de areia e se movimentam


por atividade dos ventos. É possível encontrá-las em diferentes regiões do litoral
brasileiro. Os Lençóis Maranhenses, ecossistema que se encontra sob a proteção
de um Parque Nacional no estado do Maranhão, apresentam uma das maiores
extensões de dunas da Zona Costeira (BONETTI et al. 2012).

Algumas dunas são recobertas por uma vegetação semelhante à das


restingas, que estudaremos a seguir.

17
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO AMBIENTE MARINHO COSTEIRO E SUA ORGANIZAÇÃO

FIGURA 6 – DUNA E VEGETAÇÃO ASSOCIADA EM ZONA COSTEIRA

FONTE: <https://shutr.bz/3CleQbd>. Acesso em: 5 set. 2021.

As restingas possuem mais de cinco mil quilômetros de extensão no


litoral brasileiro e ocupam quase 80% da costa. Possuem formações maiores no
litoral sudeste e nordeste. Sua área inclui as regiões com praias arenosas e dunas,
até o limite com a vegetação continental como a Mata Atlântica ou a Caatinga.

A flora das restingas é composta por vegetação herbácea, vegetação


inundável e uma mata seca. A vegetação herbácea ocorre em locais onde a água
do mar não alcança e é caracterizada por um emaranhado denso de ramos,
espinhos e folhas. A vegetação inundável é encontrada entre as dunas ou nas
bordas de lagoas.

A mata seca é normalmente a última faixa de vegetação que limita a


restinga com a vegetação continental. Ela apresenta espécies de árvores de um
porte maior, por ter um solo um pouco mais fértil e com mais água do que o solo
da região com vegetação herbácea.

Nas áreas cobertas por essas vegetações de restinga são encontradas mais
espécies de fauna do que as encontradas nas praias arenosas, com mais aves,
répteis e mamíferos (GERLING et al. 2016).

18
TÓPICO 2 — DELIMITANDO A ZONA COSTEIRA

FIGURA 7 – VEGETAÇÃO DE RESTINGA HERBÁCEA NA COSTA DO ESTADO DO PARANÁ

FONTE: <https://shutr.bz/3nulGVP>. Acesso em: 5 set. 2021.

Os estuários são áreas onde corpos de água, ou seja, rios costeiros fazem
conexão direta com o oceano aberto. A água salina é gradativamente diluída pela
água doce desses corpos de água, formando uma água que possui uma variação
no gradiente de salinidade, dependendo das condições de marés, chamada de
água salobra (GERLING et al. 2016).

NOTA

Os estuários são ambientes de grande importância econômica para a


comunidade que vive da pesca da Zona Costeira. O camarão-rosa, cujo nome científico
é Farfantepenaeus brasiliensis, precisa das áreas de estuário para que a sua reprodução
seja bem-sucedida. A região do estuário, com águas mais abrigadas, é essencial para o
crescimento dos indivíduos juvenis da espécie. Somente quando estão na fase pré-adulta,
os indivíduos de camarão-rosa retornam ao mar, onde então poderão crescer e ser
pescados na época apropriada.

Alguns estuários acabam depositando sedimentos nessa região de


encontro da água doce com a água do oceano e formam bancos de areia, onde é
possível ter também vegetação associada. Os principais deltas na Zona Costeira
brasileira estão nos rios Amazonas, Paraíba, São Francisco, Jequitinhonha e
Paraíba do Sul (BONETTI et al. 2012).

19
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO AMBIENTE MARINHO COSTEIRO E SUA ORGANIZAÇÃO

Os estuários são áreas ricas em matéria orgânica que são trazidas pelos
rios. Isso permite que seja uma área de alimentação e reprodução de muitas
espécies de animais marinhas, aquáticas e terrestres, caracterizando-se como
áreas de grande importância ecológica e econômica (GERLING et al. 2016).

FIGURA 8 – VISTA AÉREA DO DELTA DO RIO AMAZONAS

FONTE: <https://shutr.bz/3jHMDUZ>. Acesso em: 5 set. 2021.

Manguezais são ambientes com características especiais que ocorrem


nos estuários e em outros locais da costa. Os manguezais ocorrem somente na
zona tropical ou subtropical do mundo e o Brasil é o segundo país que possui
maior extensão de área de manguezais, aproximadamente 12.500 quilômetros
quadrados.

São poucas as espécies de árvores que conseguem sobreviver ao ambiente


dos manguezais, pois necessitam ter capacidade de filtrar o sal da água. Além
disso, as árvores necessitam de caules diferenciados para se sustentar no solo
argiloso e instável da maioria dos manguezais brasileiros.

Apesar da flora apresentar poucas espécies nesse ambiente, a fauna


apresenta uma grande diversidade. Os manguezais são áreas importantes
para populações de espécies de interesse econômico como caranguejos, ostras,
tainhas e robalos. Mas também são importantes para espécies relevantes para
a conservação, como para uma classe de peixe-boi que usa as águas calmas dos
manguezais para se reproduzir e buscar alimento (GERLING et al. 2016).

Manguezais também são importantes para proteger campos agricultáveis


em regiões próximas de enchentes e inundações, por fornecerem áreas mais
amplas para escoamento da água em época chuvosa (BONETTI et al. 2012).

20
TÓPICO 2 — DELIMITANDO A ZONA COSTEIRA

FIGURA 9 – ÁRVORES EM UM MANGUEZAL NA MARÉ BAIXA

FONTE: <https://shutr.bz/3mjFprG>. Acesso em: 5 set. 2021.

2.1.2 Principais ambientes marinhos


O bioma marinho do Brasil, segundo o Ministério do Meio Ambiente,
está sobre a Zona Marinha do Brasil que é correspondente à Plataforma
Continental Brasileira, que apresenta larguras e profundidades variáveis (BIVAR;
BITTENCOURT, 2011).

A Plataforma Continental é uma parte do fundo oceânico que acompanha


a linha da costa com uma inclinação suave e profundidade de até 500 metros
aproximadamente, delimitada pelo talude continental (GERLING et al. 2016).

FIGURA 10 – LOCALIZAÇÃO DA PLATAFORMA CONTINENTAL A PARTIR DA LINHA DE COSTA

FONTE: <http://www.zonacosteira.bio.ufba.br/plataf2.jpg>. Acesso em: 5 set. 2021.

21
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO AMBIENTE MARINHO COSTEIRO E SUA ORGANIZAÇÃO

O oceano que banha o bioma marinho brasileiro é o Oceano Atlântico.


Apesar de chamarmos a Zona Costeira pelo nome popular de mar, conceitualmente
não é possível dizer que há um mar no Brasil.

Oceanos e mares são diferenciados principalmente por extensão territorial


e profundidade. Os oceanos são mais profundos, com profundidade média de
3.300 metros e ocupam grandes extensões. Já os mares, possuem profundidade
média abaixo de 1.000 metros e são delimitados por continentes. Os principais
tipos de mares são os abertos, que tem ampla ligação com oceanos, os continentais,
que estão ligados ao oceano por faixas muito estreitas, e os fechados que precisam
de canais e rios para se ligar a águas oceânicas (GERLING et al. 2016).

Algumas praias no Brasil apresentam substrato predominantemente


rochoso. O costão rochoso é o ambiente que se localiza no encontro do mar com
as rochas. É um ambiente comum no litoral sul e sudeste do país.

O costão rochoso é habitado por espécies marinhas que se encontram


fixadas à rocha, em sua maioria. A fauna predominante é composta por espécies de
animais invertebrados fixados ao substrato, mas há outros animais como estrelas-
do-mar, que são encontrados também nos costões rochosos, mas são móveis. A
flora é composta por algas marinhas que se encontram fixas ao substrato rochoso.

Esse ambiente é especialmente afetado pelo regime das marés. Em


momentos de maré baixa, algumas regiões do costão rochoso ficam fora d’água
e tem que sobreviver por longos períodos diários fora d’água até o nível do mar
aumentar novamente, ou seja, na maré cheia. Em contraposição, durante a maré
cheia, regiões inferiores do costão rochoso ficam submersas por mais tempo e tem
menos iluminação. Isso define o limite para organismos fotossintetizantes, como
as algas marinhas, que dependem da luz para produzir seu próprio alimento.

O costão rochoso possui, então, diferentes zonas que são ocupadas por
organismos fixos à rocha, de acordo com as espécies que suportam mais tempo
fora d’água, as que necessitam estar sempre debaixo d’água e as que carecem de
luz para fotossíntese. Essa distribuição natural dos organismos no costão rochoso
é chamada de zonação.

A parte totalmente submersa é uma região que abriga muitas espécies


diferentes e com maior número de indivíduos, ou seja, há uma maior diversidade
e abundância de fauna marinha (TOWNSED; BEGON; HARPER, 2010). Em
costões rochosos é comum observar cracas, caranguejos pequenos, caramujos,
mariscos, ostras, algas marinhas, anêmonas, estrelas-do-mar e ouriços (GERLING
et al. 2016).

22
TÓPICO 2 — DELIMITANDO A ZONA COSTEIRA

FIGURA 11 – PARA COM COSTÃO ROCHOSO

FONTE: <https://shutr.bz/2Zo7MMH>. Acesso em: 5 set. 2021.

Os recifes de corais brasileiros se localizam, em sua maioria, no litoral


norte e nordeste. Eles podem estar junto à costa ou próximos a ilhas oceânicas,
com distribuição descontínua, variando na largura e extensão. Em muitos locais
os recifes atuam como uma barreira protetora à ação destrutiva das ondas do mar.

FIGURA 12 – ORGANIZAÇÃO DOS ORGANISMOS EM UM COSTÃO ROCHOSO DE ACORDO


COM OS LIMITES DAS ZONAS LITORÂNEAS

FONTE: Townsed, Begon e Harper (2010, p. 164)

23
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO AMBIENTE MARINHO COSTEIRO E SUA ORGANIZAÇÃO

Os recifes de corais tropicais apresentam a maior biodiversidade de todos


os ambientes marinho e são as maiores estruturas construídas por seres vivos
do planeta. Os recifes são uma formação calcária construída por corais, que são
animais cnidários.

Os recifes de corais são encontrados em águas quentes, com temperatura


acima de 22 °C, e águas rasas, com menos de 50 metros de profundidade. Os
corais necessitam de luz para sobreviver, pois fazem uma associação com algas
unicelulares chamadas zooxantelas, que realizam a fotossíntese e fornecem
alimento para o coral. Essa simbiose entre coral e alga faz com que os recifes de
corais só existam em zonas fóticas do ambiente marinho, que possuam luz e com
profundidade limitada.

Os corais secretam carbonato de cálcio para formar seu esqueleto e essa


estrutura permanece no ambiente marinho após a morte de um indivíduo. Ao
longo de milhares de anos, os corais vão crescendo e acumulando esses esqueletos
até formar a estrutura do recife, que se assemelha a uma plataforma elevada em
relação ao fundo do mar.

Muitas espécies de animais vertebrados e invertebrados vivem associadas


aos recifes, que funcionam também como um berçário natural para larvas e juvenis
de muitos organismos. Além disso, os recifes apresentam outros ambientes
associados como bancos de algas, bancos de gramas marinhas, banco de corais
flexíveis chamados gorgônias. Também podem ser encontrados recifes de corais
associados a manguezais (GERLING et al. 2016).

Já mencionamos anteriormente a importância dos recifes de corais como


um serviço ecossistêmico de suporte, por terem muitos organismos que realizam
fotossíntese. Porém, os recifes de corais são importantes para a sociedade também
no serviço ecossistêmico de provisão. Eles abrigam muitas espécies usadas na
alimentação humana, são importantes para a economia devido as atividades de
turismo e lazer, e são fonte de substâncias usadas na indústria farmacêutica e
cosmética (BONETTI et al. 2012).

E
IMPORTANT

Existem recifes que não são formados por corais. Em muitas praias do nordeste
são encontrados recifes ou arrecifes acompanhando a linha da costa formando uma linha
semelhante a uma barreira. Apesar do nome popular ser igual aos recifes formados por
corais, essas estruturas não são formadas por seres-vivos. Elas são formadas por grãos de
areia e o nome mais correto seria arenito de praia. Em relação à biodiversidade, os recifes
de arenito podem ser também extremamente diversos na composição de espécies de
fauna e flora (GERLING et al. 2016).

24
TÓPICO 2 — DELIMITANDO A ZONA COSTEIRA

O ambiente pelágico se localiza nas águas oceânicas abertas, ou seja, não


se posiciona em uma região que tem influência das marés. É uma região que não
depende dos fundos marinhos para a ocorrência de vida. Sua profundidade é
muito variada, desde dezenas de metros até águas muito profundas. Por ser um
ambiente que inclui águas mais profundas, ele pode ser divido em zona fótica,
que é a região onde a luz do sol consegue penetrar na água, e a zona afótica, que
é uma região que permanece escura independente do horário do dia.

A zona fótica é a região do ambiente que possui a maior biodiversidade.


Por ser uma região com incidência de luz, há um maior número de organismos
fotossintetizantes que fornecem alimento para outros alimentos sobreviverem na
mesma região. Nessa área são encontrados grandes cardumes de peixes e animais
solitários, como baleias. A zona afótica tem uma biodiversidade muito menor e
ela depende de matéria orgânica produzida na zona fótica, principalmente por
meio de cadáveres de animais (GERLING et al. 2016).

As ilhas oceânicas são aquelas que se localizam fora da plataforma


continental e não possuem ligação com o continente. Se fizermos um perfil da
base das ilhas oceânicas é possível ver que as que vemos são, na verdade, os topos
de cordilheiras e montanhas submarinas.

No Brasil, é possível encontrar ilhas oceânicas nos arquipélagos de


Fernando de Noronha, de São Pedro e São Paulo, de Martim Vaz, no Atol das
Rocas e na Ilha de Trindade. Apesar de distantes da costa, essas ilhas oceânicas
estão dentro da Zona Econômica Exclusiva (ZEE) do país junto com as Zonas
Costeiras do continente e o espaço marinho que os separa. Na área da ZEE o
Brasil possui o direito de explorar e analisar os recursos, mas precisa manter a
sustentabilidade e a preservação do ambiente (BONETTI et al. 2012).

FIGURA 13 – ILHA OCEÂNICA EM ANGRA DOS REIS

FONTE: <https://shutr.bz/3pGVFp8>. Acesso em: 5 set. 2021.

25
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO AMBIENTE MARINHO COSTEIRO E SUA ORGANIZAÇÃO

Devido à distância do continente, as ilhas oceânicas são ambientes isola-


dos e tem características únicas na composição da fauna e flora. É muito recorren-
te encontrar nessas ilhas espécies endêmicas, ou seja, espécies que só ocorrem lá
e em nenhum outro lugar do mundo. No arquipélago de Fernando de Noronha,
há uma espécie de lagarto, por exemplo, que só ocorre lá (GERLING et al. 2016).

ATENCAO

Só existe uma única ilha oceânica no Brasil que possui uma comunidade
humana: a ilha principal do arquipélago de Fernando de Noronha. É a única comunidade
insular oceânica do país, com ocupação inicial em 1503 (GERLING et al. 2016).

3 SITUAÇÃO ATUAL DAS ZONAS COSTEIRAS


A Zona Costeira, por ter uma ocupação histórica desde a colonização
das terras brasileiras pelos portugueses e por ser uma das regiões mais povoa-
das do país, está em um processo de intensa degradação dos recursos naturais.
Esse impacto negativo que os ecossistemas sofrem não são apenas uma ameaça
ao meio ambiente, mas também à sustentabilidade econômica e à qualidade
de vida das populações humanas (GOUVEIA SOUZA, 2009). Os serviços ecos-
sistêmicos, já discutidos no Tópico 1 dessa unidade, permitem correlacionar a
necessidade de conservação dos ambientes naturais para ter alguns serviços
essenciais à vida humana.

As diversas fontes de pressões antrópicas, como urbanização não-


planejada acelerada, invasões de áreas públicas e áreas de conservação, podem
levar a impactos na utilização dos recursos naturais e na qualidade ambiental
(GOUVEIA SOUZA, 2009). Os ecossistemas são capazes de se adaptar em um
certo nível a mudanças e de resistir a algumas ameaças. Porém, quando os
impactos negativos são acumulados, muitos ecossistemas não dão conta, levando
à morte de muitas espécies e à perda dos recursos ecossistêmicos associados ao
ambiente degradado (TOWNSED; BEGON; HARPER, 2010).

O “Atlas geográfico das Zonas Costeiras e oceânicas do Brasil” possui


um mapa que indica qual a urgência para implementar ações de conservação,
uso sustentável e biodiversidade na área marinha. Até o ano em que o atlas
foi pulicado, 2011, todo o litoral brasileiro possuía urgência alta, muito alta ou
extremamente alta para implementar ações (BIVAR; BITTENCOURT, 2011).

26
TÓPICO 2 — DELIMITANDO A ZONA COSTEIRA

Isso demonstra que, apesar de ainda existirem regiões da Zona Costeira


que são pouco impactadas e estão mais preservadas, há muitas regiões que já
estão impactadas ou na iminência de serem degradadas e necessitam de ações de
gerenciamento costeiro.

Estudaremos com mais detalhes as pressões antrópicas, os impactos


associados e áreas de proteção no próximo tópico desta unidade. Neste subtópico
iremos falar da situação atual de alguns dos ambientes da Zona Costeira.

FIGURA 14 – SITUAÇÃO DA ZONA COSTEIRA EM RELAÇÃO À NECESSIDADE DE IMPLEMENTAR


AÇÕES

FONTE: Bivar e Bittencourt (2011, p. 80)

27
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO AMBIENTE MARINHO COSTEIRO E SUA ORGANIZAÇÃO

3.1 AMBIENTES TERRESTRES DA ZONA COSTEIRA


Na Zona Costeira brasileira, é possível observar várias atividades extensi-
vas e intensivas como portos, áreas urbanas, aquicultura, exploração de petróleo,
pesca, turismo e até conservação ambiental. Todas elas já impactaram ou ainda
impactam os ambientes terrestres.

No litoral nordeste e sudeste do país, parte da Zona Costeira situa-se


dentro do bioma Mata Atlântica. Apesar da Mata Atlântica ter uma parte que
se adentra no continente brasileiro, sua maior parte está localizada na Zona
Costeira. Esse tipo de formação florestal recobria cerca de 15% do território
nacional. Historicamente, a Mata Atlântica foi o primeiro bioma a ser destruído
com a exploração portuguesa e continuou sendo degradada com o aumento da
população nas Zonas Costeiras e das atividades econômicas associadas.

Hoje é possível encontrar áreas com cobertura florestal de mata atlântica


em apenas 12,4% da sua extensão original. A SOS Mata Atlântica, em conjunto
com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), faz um monitoramento
do desflorestamento anual no bioma e a perda constante de grandes extensões
de vegetação nativa, mantém o bioma em elevado grau de risco e ameaça
(FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA, 2021).

Além da cobertura de vegetação, é importante estudarmos também sobre


a situação atual das praias arenosas. Ainda há várias praias preservadas no litoral
brasileiro, dentro e fora de unidades de conservação. Mas as mais próximas a
centros urbanos ou em regiões com turismo mais intenso, sofrem com vários pro-
blemas ambientais que também impactam a vida humana. A erosão costeira, por
exemplo, está presente em praias em todas as regiões do litoral brasileiro de Nor-
te a Sul. Seja por causas naturais ou antrópicas, inúmeras praias já necessitam de
medidas emergenciais, de contenção ou recuperação (GOUVEIA SOUZA, 2009).

3.2 AMBIENTES MARINHOS DA ZONA COSTEIRA


Quase todos os ambientes marinhos sofrem, direta ou indiretamente, com
a pesca acima do limite de reposição natural, turismo descontrolado, poluição
das águas, exploração de petróleo e mudanças no clima.

A fauna marinha ainda não é totalmente conhecida. Devido à extensão do


ambiente marinho e a dificuldade de exploração em muitos locais mais profundos,
estima-se que 33% a 90% de todas as espécies da fauna marinha ainda não foi
descoberta. O ritmo de descoberta de espécies atual é inferior à taxa de extinção
provocada pelo ser humano, então a maioria das espécies do ambiente marinho
deve desaparecer antes de ser conhecida (BRUSCA; MOORE; SHUSTER 2018).

28
TÓPICO 2 — DELIMITANDO A ZONA COSTEIRA

Como grande parte do ambiente marinho brasileiro está em águas tro-


picais e com muitas regiões com ocorrências de recifes de corais, é provável que
muitas das espécies marinhas ainda sejam desconhecidas. Um exemplo disso são
os corais na foz do rio Amazonas, que só foram descritos em 2017, mas possuem
aproximadamente 9.500 quilômetros quadrados de extensão (SILVEIRA, 2018).

FIGURA 15 – AMAPÁ: ESTADO AMAZÔNICO CUJA REGIÃO COSTEIRA PRÓXIMA À FOZ DO RIO
AMAZONAS TAMBÉM ABRIGA RECIFES DE CORAIS

FONTE: <https://shutr.bz/3vQuFV6>. Acesso em: 15 set. 2021.

Um outro aspecto importante a se lembrar da situação atual do ambiente


marinho brasileiro é a introdução de espécies exóticas. Variedades que não são
originárias do Brasil, quando introduzidas, podem se reproduzir rapidamente
tomando lugar de espécies nativas diminuindo suas populações. Além de outros
impactos ecológicos maiores nas comunidades.

No ambiente marinho, o mexilhão-dourado ou Limnoperna fortunei, mo-


lusco originário da Ásia, foi introduzido, provavelmente, de maneira acidental
no Brasil na água de lastro de navios. É uma espécie que praticamente não tem
predadores nas águas marinhas brasileiras e se reproduz com rapidez, causando
prejuízos ecológicos às outras espécies de moluscos nativos, mas também preju-
ízos econômicos à pesca e distribuição de água (MEXILHÃO-DOURADO, 2016).

Em ilhas oceânicas, a introdução de espécies exóticas também é uma gran-


de preocupação pois ilhas são ambientes frágeis, isolados e com várias espécies
que só ocorrem naquele local, chamadas de espécies endêmicas. No arquipélago
de Fernando de Noronha, foi registrada a ocorrência de um lagarto que antes
só tinha sido registrado no continente brasileiro. A preocupação principal é a
possível competição com o único lagarto nativo do arquipélago, a mabuia ou
Trachylepis atlântica. Pesquisadores estão acompanhando a ocorrência da espécie
exótica para evitar possíveis desequilíbrios ecológicos (MENEGASSI, 2020).
29
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• A Zona Costeira brasileira possui uma grande variedade de ambientes terres-


tres e marinhos, e parte deles sofre influência do regime das marés.

• Praias arenosas, dunas, restingas, estuários, deltas e manguezais são alguns


dos principais ambientes terrestres encontrados na Zona Costeira brasileira.

• O ambiente marinho brasileiro se localiza na Zona Marinha do Brasil que é


correspondente à Plataforma Continental Brasileira.

• Costões rochosos, recifes de corais tropicais, ambiente pelágico e ilhas oce-


ânicas são alguns dos principais ambientes marinhos encontrados na Zona
Costeira brasileira.

• A Zona Costeira brasileira possui regiões de intensa degradação dos recursos


naturais, com exemplos nos ambientes terrestres e marinhos.

30
AUTOATIVIDADE

1 A Zona Costeira brasileira possui uma parte terrestre muito extensa e com
ambientes variados. Com base nos principais ambientes da Zona Costeira
brasileira, analise as sentenças a seguir:

I- As praias brasileiras são encontradas na região do encontro da água dos


oceanos com o ambiente terrestre e possuem baixa biodiversidade devido
à escassez de matéria orgânica na areia da praia.
II- A restinga é composta por formações de vegetação herbácea, vegetação
inundável e mata seca.
III- Os estuários são áreas do encontro de rios e água do mar com baixa
biodiversidade devido à escassez de matéria orgânica.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

2 A Zona Costeira brasileira apresenta uma variedade de ambientes, sejam


eles terrestres ou marinhos. Sobre as características dos ambientes da Zona
Costeira brasileira, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As ilhas oceânicas, independente da distância do continente, não


fazem parte da Zona Costeira brasileira.
b) ( ) Os recifes de coral são ecossistemas marinhos de grande importân-
cia para o planeta, que oferecem habitat para diversos organismos
marinhos e só são encontrados em regiões tropicais ou subtropicais
do mundo.
c) ( ) Costão rochoso é um ambiente marinho que não sofre influência do
regime das marés.
d) ( ) A restinga se caracteriza apenas por áreas com vegetação seca
próxima às praias.

3 A zona litorânea é um ambiente sujeito ao regime das marés e, portanto,


sujeito a mudanças. A situação atual de aumento da ocupação humana
na Zona Costeira levanta o debate em relação aos impactos da erosão e
seus efeitos em questões econômicas e sociais. De acordo com erosão em
ambientes costeiros, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para
as falsas:

31
( ) A erosão costeira está presente em praias em todas as regiões do litoral
brasileiro.
( ) Não há nenhuma medida que possa ser tomada para evitar a erosão em
praias arenosas.
( ) Praias próximas a centros urbanos e regiões com turismo intenso já
sofrem com os efeitos da erosão costeira.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) V – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 O costão rochoso é um dos ambientes da Zona Costeira brasileira. É comum


encontrar ambientes como esse no litoral Sul e litoral do Sudeste do Brasil,
em regiões onde o mar encontra substratos rochosos. Disserte sobre a
influência das marés na ocupação dos organismos no costão rochoso.

5 A Mata Atlântica abrange cerca de 15% do território nacional, em 17


estados. É o lar de 72% dos brasileiros e concentra 70% do PIB nacional.
Dela dependem serviços essenciais como abastecimento de água, regulação
do clima, agricultura, pesca, energia elétrica e turismo. Hoje, restam apenas
12,4% da floresta que existia originalmente. Neste contexto, disserte sobre a
relação da Mata Atlântica com a Zona Costeira brasileira.

32
TÓPICO 3 —
UNIDADE 1

PLANEJAMENTO E GESTÃO AMBIENTAL DE SISTEMAS


MARINHOS E COSTEIROS

1 INTRODUÇÃO

Neste tópico, abordaremos aspectos relacionados aos impactos ambien-


tais, ao turismo e as áreas protegidas nas Zonas Costeiras brasileiras.

O êxito de um planejamento e gestão ambiental de sistemas marinhos e


costeiros necessita que os impactos ao meio ambiente sejam bem identificados.
Além disso, é preciso compreender quais são as formas de turismo que ocorrem
na região focal gerenciada.

Além de identificar os impactos e as atividades turísticas, é importante


conhecer as áreas protegidas e o que é permitido em cada categoria delas.
Estudaremos todos os tipos de áreas protegidas que ocorrem em alguma região
do Brasil dentro de Zonas Costeiras, e faremos a correlação de quais atividades
são permitidas dentro dos seus territórios.

2 PRESSÕES E IMPACTOS
As Zonas Costeiras sofrem diversas pressões que ameaçam a manutenção
dos ambientes costeiros e dos serviços ecossistêmicos proporcionados à sociedade.
De uma maneira geral, a poluição, pesca, gestão de recursos sólidos, ocupação da
Zona Costeira, espécies invasoras, mudanças climáticas e turismo estão entre as
pressões e impactos sofridos pela Zona Costeira.

Qualquer alteração que leve a um impacto negativo no equilíbrio em um


determinado ambiente, pode ser considerada poluição. E ela pode ocorrer de
diferentes formas, como poluição química, sonora, visual e por diferentes causas,
naturais ou artificiais (TOWNSED; BEGON; HARPER, 2010).

Uma substância já encontrada naturalmente no ambiente, como, por


exemplo, elementos tóxicos produzidos por micro-organismos aquáticos, pode
ser considerada poluição. Quando há uma elevação da concentração natural
dessa substância na água e ela excede a capacidade que o ecossistema pode
suportar, provavelmente levará a um impacto negativo no ecossistema. Os
poluentes artificiais são aqueles não encontrados naturalmente nos ambientes,
como agrotóxicos, plásticos, dejetos não tratados (GERLING et al. 2016).
33
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO AMBIENTE MARINHO COSTEIRO E SUA ORGANIZAÇÃO

A poluição, além de alterar o equilíbrio de ambientes costeiros, pode


prejudicar a pesca. Essa atividade faz parte da base da economia de muitas cidades
litorâneas e inúmeras famílias dependem financeiramente dela. A pesca pode ser
considerada poluidora quando há extração de peixes acima da capacidade do
ambiente. Porém, é importante lembrar que, se feita de maneira sustentável, pode
ser conciliada com a preservação ambiental (BONETTI et al. 2012).

FIGURA 16 – EXEMPLO DE PERDA DE RECURSOS PESQUEIROS DEVIDO À POLUIÇÃO DA ÁGUA

FONTE: <https://shutr.bz/3BmqIIH>. Acesso em: 26 de ago. 2021.

TUROS
ESTUDOS FU

Na Unidade 2 iremos falar mais detalhadamente sobre poluição e seus


impactos associados e sobre pesca sustentável.

Os resíduos sólidos que são separados e acondicionados de maneira


correta podem ser reciclados ou reutilizados, possuindo valor econômico. Porém,
quando o resíduo é descartado de maneira inadequada ele vira também uma
fonte poluidora. No ambiente marinho principalmente, pois o simples descarte
de um pedaço de plástico pode ser letal para algumas espécies, como tartarugas
marinhas, golfinhos etc. (GERLING et al. 2016).

34
TÓPICO 3 — PLANEJAMENTO E GESTÃO AMBIENTAL DE SISTEMAS MARINHOS E COSTEIROS

A ocupação da Zona Costeira é um assunto que estamos estudando desde


o início da Unidade 1, já que a ampla ocupação dela é um dos principais motivos
da necessidade de se manter uma gestão costeira eficiente. As atividades antrópi-
cas nessas localidades, mesmo que concentradas na parte continental, impactam
os ambientes costeiros e ambientes marinhos (CAVALCANTE, ALOUFA, 2018).

FIGURA 17 – PLATAFORMA DE PETRÓLEO: UMA DAS ATIVIDADES QUE CAUSAM IMPACTOS


AMBIENTAIS NA ZONA COSTEIRA

FONTE: <http://galeria.dtcom.com.br/picture.php?/4862/search/612>. Acesso em: 5 set. 2021.

No Quadro 2, podemos ver diversas atividades e relacionar quais são os


ambientes costeiros que são mais impactados por cada uma delas. Ao formular
diferentes instrumentos de gestão costeira, é importante lembrar dessa relação
entre as atividades e os principais ambientes que serão impactados para fazer um
plano que seja mais eficaz para a realidade local.

QUADRO 2 – PRINCIPAIS ATIVIDADES QUE CAUSAM IMPACTO NEGATIVO NOS AMBIENTES DA


ZONA COSTEIRA

35
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO AMBIENTE MARINHO COSTEIRO E SUA ORGANIZAÇÃO

FONTE: Adaptado de BONETTI et al. (2012, p. 262).

A inserção de espécies invasoras, que também é resultado de atividade


humana, pode causar vários impactos na conservação dos ecossistemas da Zona
Costeira e também nas atividades socioeconômicas da região. O mexilhão-
dourado é uma das espécies invasoras que vem causando diversos impactos
negativos na Zona Costeira brasileira, como:

• destruição de vegetação aquática marinha;


• competição por alimento com moluscos nativos, diminuindo os alimentos dos
peixes;
• impacto negativo na pesca, devido à diminuição dos moluscos que servem de
alimento;

36
TÓPICO 3 — PLANEJAMENTO E GESTÃO AMBIENTAL DE SISTEMAS MARINHOS E COSTEIROS

• entupimento de sistemas de canalização de água, esgoto e irrigação;


• impactos financeiros na navegação (MEXILHÃO-DOURADO, 2016).

Além dos impactos causados por atividade humana, a Zona Costeira


é muito susceptível as mudanças climáticas. As previsões globais de aumento
de temperatura para a próxima década podem levar a diversos impactos na
biodiversidade e na vida humana nas Zonas Costeiras, como, por exemplo,
inundações, deslizamentos, secas, oscilações extremas de temperatura, perda de
biodiversidade, alterações na disponibilidade de água, alimentos e energia. O
aumento das emissões de gases de efeito estufa na atmosfera mundial, desde a
Revolução Industrial, é um dos principais causadores dessas mudanças climáticas
observadas e previstas (GERLING et al. 2016).

O aumento da temperatura média mundial devido a mudanças climá-


ticas tem grande impacto na vida marinha, especialmente nos recifes de coral,
causando o branqueamento de corais. A sociedade também sofre impactos
negativos, como o aumento do nível médio relativo do mar em algumas regi-
ões da Zona Costeira, causado pelo derretimento de icebergs e calotas polares
(BONETTI et al. 2012).

3 TURISMO EM ZONAS COSTEIRAS


O turismo é considerado uma fonte de impacto nas Zonas Costeiras,
mas também é muito importante para a economia local. Junto com a pesca, o
turismo integra a base econômica de muitas famílias e cidades de áreas litorâneas
brasileira (BONETTI et al. 2012). O turismo é considerado uma atividade indutora
de desenvolvimento local e pode ser caracterizado por um fenômeno multisetorial
e multidisciplinar (PINHO; DANTAS; SANTOS, 2019).

O turismo intensificado em Zonas Costeiras pode estar relacionado a


representações de regiões tropicais construídas no mundo pós-guerra. Textos
de antigos viajantes que associavam a liberdade com o mar e litoral dos
trópicos, imagens de divulgação de agências turísticas como um local de sonho
e representações da Zona Costeira como uma localidade mais virgem e pouco
explorada, favoreceram o planejamento e urbanização de áreas costeiras voltadas
para o turismo.

No Brasil, no final do século XX, muitos governos de cidades do Nordeste


priorizaram políticas públicas voltadas ao turismo, construindo imagens positivas
em vários locais da Zona Costeira brasileira (PINHO; DANTAS; SANTOS, 2019).

37
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO AMBIENTE MARINHO COSTEIRO E SUA ORGANIZAÇÃO

FIGURA 18 – EXEMPLO DE ATIVIDADE TURÍSTICA EM ÁREA DE MANGUEZAL

FONTE: <https://shutr.bz/3nFO1bB>. Acesso em: 5 set. 2021.

Como o turismo nas Zonas Costeiras tem muitas atividades de interação


com a natureza, muitos ambientes podem ser impactados durante essas atividades.
Baías, deltas, estuários, costões rochosos, dunas e falésias, ilhas e arquipélagos,
lagoas e regiões alagadas de restingas, manguezais, planícies de rios e de marés,
praias arenosas e vegetações de restinga são os principais ambientes que sofrem
impactos negativos do turismo (BONETTI et al. 2012). A concentração de altos
fluxos de turistas em um mesmo local, chamada de massificação turística, pode
agravar os impactos a esses ambientes.

QUADRO 3 – IMPACTOS NEGATIVOS MAIS COMUNS ASSOCIADOS AO TURISMO EM


ZONAS COSTEIRAS

FONTE: Adaptado de Pinho, Dantas e Santos (2019)

Além dos impactos ao meio ambiente, a apropriação de espaço para


atividades turísticas pode levar a um deslocamento da população nativa para
regiões mais afastadas, aumento da especulação imobiliária, expansão de
empreendimentos turístico-hoteleiros e da área urbana (PINHO; DANTAS;
SANTOS, 2019).
38
TÓPICO 3 — PLANEJAMENTO E GESTÃO AMBIENTAL DE SISTEMAS MARINHOS E COSTEIROS

Como o clima e os recursos naturais são umas das principais atrações


turísticas na Zona Costeira, alterações no ambiente podem ameaçar a renda
econômica derivada do turismo.

A prática de ações sustentável é uma maneira de manter um certo fluxo


de turistas e, ao mesmo tempo, gerar retorno econômico para as comunidades da
Zona Costeira que dependem dessa atividade socioeconômica.

Segundo o Ministério do Turismo, o turismo sustentável é “a atividade


que satisfaz as necessidades dos visitantes e as necessidades socioeconômicas das
regiões receptoras, enquanto os aspectos culturais, a integridade dos ambientes
naturais e a diversidade biológica são mantidas para o futuro” (BRASIL, 2016, p.
7). O turismo sustentável ainda pode ser importante para a adaptação a mudanças
climáticas.

4 ÁREAS PROTEGIDAS
Todos os impactos citados aqui neste tópico demonstram que os ambientes
costeiros e marinhos estão sob ameaça. Além disso, na última década, estima-se
que a taxa de mortalidade de corais foi de 2% ao ano. Com relação aos recursos
pesqueiros, 80% das espécies marinhas estão sendo exploradas comercialmente
no limite da sustentabilidade ou além desse limite.

Essa mortalidade de corais e a sobrepesca são apenas alguns dos exemplos


de como o ambiente costeiro e marinho estão sendo degradados com maior
rapidez no último século, levando a uma perda alta de biodiversidade. E junto a
isso há perda de serviços ecossistêmicos, o que impacta também a vida humana.

FIGURA 19 – AMBIENTE DE DUNAS PROTEGIDO NO PARQUE NACIONAL DOS LENÇÓIS


MARANHENSES

FONTE: <https://shutr.bz/3CkgKZP>. Acesso em: 5 set. 2021.

39
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO AMBIENTE MARINHO COSTEIRO E SUA ORGANIZAÇÃO

Um dos caminhos para conservar esses serviços ecossistêmicos, prote-


gendo também a biodiversidade, é a criação e implantação de áreas protegidas
que, dependendo da sua categoria, de acordo com leis nacionais ou estaduais,
restringem o uso humano em algum nível, e assim permite a conservação de
ambientes, espécies e, consequentemente, de serviços ecossistêmicos.

Essa estratégia de conservar ecossistemas é reconhecida internacional-


mente. A Convenção sobre Diversidade Biológica, um acordo internacional na
área da conservação da biodiversidade, estabelece como meta que cada região
do mundo deveria ter pelo menos 10% de sua área efetivamente conservada
(GERLING et al. 2016).

No Brasil, existe o Sistema Nacional de Unidades de Conservação


(SNUC), por meio da Lei n° 9.985/2000 (BRASIL, 2000), que é coordenado pelo
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e pelo Ministério do
Meio Ambiente. O SNUC estabelece quais são as categorias de áreas protegidas,
também chamadas de Unidades de Conservação (UCs), e define quais são as
atividades permitidas dentro de cada categoria (ROCHA et al. 2020).

E
IMPORTANT

Há doze categorias de Unidades de Conservação no Brasil, elas são divididas


em dois grupos:
• unidades de Proteção Integral, são áreas que tem como principal objetivo preservar o am-
biente e a biodiversidade, permitindo apenas uso indireto dos recursos naturais. Elas estão
em ecossistemas mais frágeis e com particularidades. O turismo é um desses usos indiretos;
• unidades de Uso Sustentável, são áreas que tem como principal objetivo compatibilizar
o uso sustentável dos recursos naturais com a conservação da natureza. A pesca é uma
atividade permitida em várias UCs de Uso Sustentável, mas tem limites estabelecidos de
acordo com o plano de manejo (ROCHA et al. 2020).

Nos ambientes terrestres da Zona Costeira, podemos encontrar diversos


tipos de Unidades de Conservação. Os Parques Nacionais são a categoria mais
conhecida de Unidade de Conservação, que permite a visitação turística ao mesmo
tempo que protege parte da biodiversidade e da beleza cênica da paisagem. É
comum, inclusive, ter um plano de manejo que estabelece limites de visitação
para evitar o turismo em massa.

O objetivo normalmente é permitir uma visitação que cause um impacto


que possa ser suportado por aquele ambiente, mantendo suas características
naturais em grande parte da sua área. Além das áreas de proteção estabelecidas
em nível nacional, há muitas unidades de conservação estaduais e municipais.

40
TÓPICO 3 — PLANEJAMENTO E GESTÃO AMBIENTAL DE SISTEMAS MARINHOS E COSTEIROS

As áreas de proteção no ambiente marinho minimizam os efeitos


principalmente de alterações de habitat, pesca, tráfego náutico e poluição. Entre
as áreas de proteção específicas no ambiente marinho no Brasil, podemos citar
também os Parques Nacionais, Áreas de Exclusão de Pesca e as Áreas Marinhas
não aptas à Exploração e Produção de Petróleo.

FIGURA 20 – RECIFES DE CORAIS QUE ESTÃO PROTEGIDOS DENTRO DA ÁREA DO PARQUE


NACIONAL DE ABROLHOS

FONTE: <https://shutr.bz/2Zz2bmM>. Acesso em: 5 set. 2021.

As áreas de exclusão de pesca podem ser áreas delimitadas dentro de


Unidade de Conservação de Uso Sustentável, locais de resguardo a atividade
petroleira, áreas militares ou locais livres de pesca. São áreas que tem uma maior
restrição de uso e evitam fisicamente a captura de baleais e golfinhos, além de
serem importantes para a manutenção dos recursos pesqueiros.

41
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO AMBIENTE MARINHO COSTEIRO E SUA ORGANIZAÇÃO

FIGURA 21 – UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NO BRASIL

FONTE: <https://bit.ly/3pOtzrJ>. Acesso em: 5 set. 2021.

Áreas Marinhas não aptas à Exploração e Produção de Petróleo são regiões


que foram estudadas e demonstraram que a atividade de exploração de petróleo
não é compatível com a necessidade de conservação da biodiversidade marinha
(GERLING et al. 2016).

42
TÓPICO 3 — PLANEJAMENTO E GESTÃO AMBIENTAL DE SISTEMAS MARINHOS E COSTEIROS

LEITURA COMPLEMENTAR

ESTUDO INDICA ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA A CONSERVAÇÃO


MARINHA NO BRASIL

Carolina Lisboa

Em junho de 2020, uma equipe de onze pesquisadores de instituições


nacionais e internacionais liderada por Rafael Magris, oceanógrafo e analista
ambiental do ICMBio, publicou na revista Diversity and Distributions o mais
detalhado levantamento sobre a distribuição de ameaças à biodiversidade marinha
no Brasil, como a pesca industrial, as mudanças climáticas e a poluição. Intitulado
A blueprint for securing Brazil’s marine biodiversity and supporting the achievement of
global conservation goals (Um plano para proteger a biodiversidade marinha do
Brasil e apoiar o cumprimento das metas globais de conservação, em português),
o artigo combinou dados de distribuição de 143 espécies ameaçadas, 161 habitats
marinhos e 24 fatores de impacto humano para identificar áreas prioritárias para
a conservação, que somam 286 mil km2 ou 7,9% da Zona Econômica Exclusiva
(ZEE) do mar brasileiro.

O estudo concluiu que a criação de Unidades de Conservação (UCs) nessas


áreas é uma ação estratégica que pode auxiliar no alcance de metas internacionais
de conservação. ((o))eco tentou entrevistar o dr. Magris, mas o ICMBio não
respondeu à solicitação de autorização para a entrevista que, segundo o analista,
é uma das regras exigidas para divulgação de estudos. Assim, conversamos
com Micheli Costa, pesquisadora do Blue Carbon Lab da Deakin University na
Austrália e segunda autora do artigo.

((o)) eco: Nos últimos anos houve a criação de muitas UCs costeiras e
marinhas, que fez o percentual crescer de 1,5% para 26,3% do total de áreas
protegidas no Brasil, caracterizando um avanço significativo no cumprimento
das metas internacionais relacionadas ao tema. Na sua avaliação, a criação
dessas áreas foi suficiente ou ainda há muito o que proteger? As atuais UCs
estão efetivamente protegendo nossa biodiversidade marinha?

Micheli Costa: Ainda temos muito a fazer para garantir a proteção de


ambientes marinhos e costeiros na costa brasileira. É importante lembrar que
desses 26,3% de áreas protegidas alcançado nos últimos anos pelo Brasil, somente
2,5% da Zona Econômica Exclusiva (ZEE) brasileira está protegida por unidades
de conservação de proteção integral, dentre as quais a maior extensão espacial
encontra-se em área oceânica. Consequentemente, isso gera uma enorme lacuna
de proteção na Zona Costeira e de seus ambientes. Atualmente, a maior parte das
UCs marinhas são de uso sustentável, oferecendo proteção parcial.

43
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO AMBIENTE MARINHO COSTEIRO E SUA ORGANIZAÇÃO

De maneira geral, o processo de criação de UCs no Brasil ainda não leva


em consideração as ferramentas de planejamento sistemático, visando represen-
tar as diferentes espécies e habitats da nossa ZEE. Esse aumento no total de áreas
protegidas de 1,5% para 26,3% é um grande exemplo disso. Nesse caso, quatro
grandes UCs foram criadas em região oceânica, o que somente reforça a neces-
sidade de investirmos nossos esforços para a proteção de habitats e espécies em
toda a costa brasileira.

((o)) eco: Por que vocês consideram que a meta de Aichi de proteger
10% das áreas marinhas e costeiras pode falhar em manter a persistência da
biodiversidade a longo prazo?

A meta de Aichi de proteger 10% dos oceanos é controversa em alguns


aspectos. Primeiro, é que essa meta não especifica se os países devem considerar
somente áreas de proteção integral, ou se áreas de proteção parcial entram na
contagem. Isso leva a uma interpretação variada por várias partes. Por exemplo,
se considerarmos que o Brasil tem somente 2,5% de sua ZEE protegida por
UCs de proteção integral, o país ainda está muito aquém de atingir essa meta
internacional. Por outro lado, se considerarmos que a meta também inclui áreas
de proteção parcial, o país já teria ultrapassado a meta, em termos de área.

O segundo ponto, e talvez mais importante, é que a meta de Aichi 11


estabelece que as áreas protegidas sejam ‘manejadas efetivamente, ecologicamente
representativas e bem conectadas em um sistema de áreas protegidas’. Dessa
forma, se avaliarmos todo o sistema de Unidades de Conservação, podemos dizer
que o Brasil ainda está muito distante de formar uma rede conectada de UCs,
de forma representativa, e efetiva, o que certamente garantiria a persistência da
biodiversidade marinha a longo prazo.

((o)) eco: Com a metodologia utilizada vocês conseguiram mapear


algumas áreas prioritárias, que correspondem a 7,9% da Zona Econômica
Exclusiva (ZEE) do Brasil, e, dentre estas, algumas de prioridade “top”, que
correspondem a 2,3% da ZEE (83 mil km2), localizadas principalmente na região
Sudeste e no sul da Bahia onde, segundo o estudo, a sobreposição de fatores de
risco e biodiversidade são especialmente preocupantes. O que torna essas áreas
prioritárias para conservação e o que diferencia as áreas “top” das demais?

O mapa de áreas prioritárias que corresponde a 7,9% da ZEE considera


áreas que são mais impactadas ou que tem uma ‘insubstituibilidade’ alta (i.e., ou
seja, o quanto uma área é importante para garantir que todos os requerimentos
de conservação sejam alcançados). Com base nesse resultado, podemos refinar
ainda mais, e concentrar os esforços naquelas áreas onde temos uma alta ‘insubs-
tituibilidade’ E são também mais impactadas (i.e., áreas de prioridade máxima).

44
TÓPICO 3 — PLANEJAMENTO E GESTÃO AMBIENTAL DE SISTEMAS MARINHOS E COSTEIROS

((o)) eco: As áreas prioritárias do estudo incluem os recifes e bancos de


macroalgas na plataforma continental externa do Amazonas, áreas profundas
de montes submarinos na costa Nordeste, a região sul do banco dos Abrolhos
e áreas costeiras na costa leste, sudeste e sul do Brasil. Quão factível você
considera a criação de áreas protegidas nessas áreas para a próxima década?

Eu gostaria de acreditar que sim [é factível]. Recentemente, o Ministério


do Meio Ambiente revisou o sistema de áreas prioritárias, em 2018. Porém, o
processo de identificação de áreas prioritárias utilizado pelo MMA não leva
em conta determinados processos ecológicos (e.g., conectividade, mitigação de
impactos humanos) considerados pelo nosso estudo. Dessa maneira, os resultados
obtidos com nosso trabalho podem guiar futuras tomadas de decisão no âmbito
da conservação marinha no Brasil.

É importante lembrar também que 2021-2030 corresponde a Década dos


Oceanos para o Desenvolvimento Sustentável, a qual foi estabelecida pela ONU
e visa a conservação e o uso sustentável dos oceanos. Além disso, atualmente,
a Convenção para a Diversidade Biológica está revisando as metas para o
período pós-2020. Nesse caso, a criação de UCs marinhas de maneira sistemática,
representativa e se utilizando dos princípios do planejamento espacial marinho,
é essencial para a proteção da nossa biodiversidade a longo prazo e para o Brasil
atingir as atuais e futuras metas internacionais.

FONTE: LISBOA, C. Estudo indica áreas prioritárias para a conservação marinha no Brasil. O eco,
[s. l.], 18 nov. 2020. Disponível em: https://www.oeco.org.br/reportagens/estudo-indica-areas-
prioritarias-para-a-conservacao-marinha-no-brasil/. Acesso em: 15 set. 2021.

45
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Poluição, pesca, gestão de recursos sólidos, ocupação da Zona Costeira,


espécies invasoras, mudanças climáticas e turismo estão entre as pressões e
impactos sofridos pela Zona Costeira.

• Atividades podem impactar negativamente em diferentes ambientes e que


isso deve ser levado em consideração ao elaborar planos de gestão costeira.

• O turismo nas áreas de costa é uma fonte de impacto ao meio ambiente, mas
também uma atividade econômica muito importante em algumas localidades
e indutora de desenvolvimento.

• Áreas protegidas são uma estratégia de conservar ecossistemas e biodiversida-


de reconhecida internacionalmente.

• No Brasil, há 12 categorias de Unidades de Conservação no Brasil divididas


em Unidades de Proteção Integral e Unidades de Uso Sustentável.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

46
AUTOATIVIDADE

1 O mexilhão-dourado é uma espécie de molusco invasora nas águas brasi-


leiras. Ele é proveniente da Ásia e chegou no ambiente marinho brasileiro
provavelmente nas águas de lastro de navios vindos desta região. Sobre os
impactos negativos que o mexilhão-dourado pode causar na Zona Costeira
brasileira, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Entupimento de sistemas de canalização de água, esgoto e irrigação.


b) ( ) Aumento da biodiversidade marinha.
c) ( ) Assoreamento de rios e manguezais.
d) ( ) Aumento das emissões de gases de efeito estufa na atmosfera.

2 O turismo tem grande importância para a economia local das populações


da Zona Costeira. Porém, ele também é considerado uma fonte de impacto,
principalmente por incluir muitas atividades de interação com a natureza
no litoral. Com base nos impactos do turismo e seus respectivos efeitos nos
ambientes naturais costeiros, analise as sentenças a seguir:

I- Alto consumo de energia e água pode impactar no retorno econômico


do turismo caso leve a escassez ou falta desses recursos nas destinações
turísticas.
II- O uso e ocupação do solo feito de modo desordenado e sem planejamento
pode levar ao desmatamento de ambientes costeiros.
III- Emissões de gases do efeito estufa e poluição do ar e da água são
consideradas fontes de poluição e que causam impacto nas Zonas
Costeiras, mas não são ocasionadas pelo turismo.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 Os instrumentos de gestão costeira devem levar em consideração os


impactos que cada atividade socioeconômica terá nos ambientes costeiros.
De acordo com as atividades humanas que causam impacto negativo nos
ambientes da Zona Costeira, classifique V para as sentenças verdadeiras e
F para as falsas:

47
( ) Baías, deltas, estuários são impactados por derramamentos de petróleo,
emissão de efluentes, carcinocultura, aterros, entre outros. 
( ) Manguezais não são impactados por atividades de expansão urbana.
( ) Polos industriais e construções não afetam nenhum ambiente costeiro,
somente ambientes terrestres.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 As áreas protegidas já criadas no Brasil, seja na Zona Costeira ou no


ambiente marinho, fazem parte de uma estratégia mundial da Convenção
sobre Diversidade Biológica. Apesar do aumento recente de Unidades de
Conservação (UCs) costeiras e marinhas no país, a proteção dos ambientes
marinhos não está garantida. Cite quais são os tipos de áreas protegidas
que podem ser encontradas na Zona Costeira e marinha brasileira.

5 É importante lembrar que uma atividade humana que impacta um


ambiente, impacta a vegetação, os serviços ecossistêmicos e também os
organismos que ali vivem. Cite três exemplos de atividades que impactam
manguezais e quais possíveis efeitos sobre a biodiversidade.

48
REFERÊNCIAS
BIVAR, W.; BITTENCOURT, N. D. C. (org.). Atlas geográfico das Zonas Costeiras
e oceânicas do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2011.

BONETTI, J.; SCHERER, M.E.G.; ASMUS, M.; TAGLIANI, P.R.A; SILVA, T.S.
Capítulo X – Ecossistemas Costeiros. In: FERNANDES, L. P. da C. (org.). O Brasil
e o mar no século XXI. Niterói: Ed. BHMN, 2012. p. 251-274.

BRASIL. Lei n° 7.661, de 16 de maio de 1988. Institui o Plano Nacional de


Gerenciamento Costeiro e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da
República, [1988a]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
l7661.htm. Acesso em: 26 ago. 2021.

BRASIL [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil


de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [1988b]. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 26
ago. 2021.

BRASIL. Lei n° 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1o,


incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências. Brasília, DF:
Presidência da República, [2000]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/l9985.htm. Acesso em: 26 ago. 2021.

BRASIL. Ministério do Turismo. Turismo e sustentabilidade: orientações para


prestadores de serviços turísticos. Brasília: MTUR, 2016.

BRUSCA, R. C.; MOORE, W.; SHUSTER, S. M. Invertebrados. 3. ed. Rio de


Janeiro: Grupo GEN, 2018.

CAVALCANTE, J. DA S. I.; ALOUFA, M. A. I. Gerenciamento costeiro integrado


no Brasil: uma análise qualitativa do plano nacional de gerenciamento costeiro.
Desenvolvimento Regional em Debate, Canoinhas, v. 8, n. 2, p. 89-107, 2018.

FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA. Atlas dos remanescentes florestais


da Mata Atlântica: período 2019/2020, relatório técnico. São Paulo: Fundação
SOS Mata Atlântica, 2021. Disponível em: https://cms.sosma.org.br/wp-content/
uploads/2021/05/SOSMA_Atlas-da-Mata-Atlantica_2019-2020.pdf. Acesso em: 26
ago. 2021.

GERLING, C.; RANIERI, C.; FERNANDES, L.; GOUVEIA, M. T. J.; ROCHA, V.


(org.). Manual de ecossistemas: marinhos e costeiros para educadores. Santos,
SP: Editora Comunicar, 2016.

49
GOUVEIA SOUZA, C.R. A Erosão Costeira e os Desafios da Gestão Costeira no
Brasil. Revista de Gestão Costeira Integrada, Lisboa, v. 9, n. 1, p. 17-37, 2009.

LIMA, A. S. de; FIGUEIROA, A. C.; COELHO, V. G. Z. G.; VIEIRA, C. V.; VEIGA


LIMA, F. A.; SCHERER, M. E. G. Diagnóstico da gestão costeira e das políticas
públicas do Município de São Francisco do Sul, SC, Brasil. Revista Brasileira de
Geografia, Rio de Janeiro, v. 63, p. 141-155, 2018.

LIMA, J. P.; GONÇALVES, R. M.; SCHMIDT, M. A. R. Avaliação da eficácia do


gerenciamento costeiro Integrado utilizando AHP (analytic hierachy process) para
a Ilha de Itamaracá, Pernambuco, Brasil. Geociências, São Paulo, v. 36, n. 4, p.
743 - 753, 2017.

MENEGASSI, D. Espécie exótica de lagarto é registrada em Noronha e liga alerta


de biólogos, O eco, [s. l.], 6 abr. 2020. Disponível em: https://www.oeco.org.br/
noticias/especie-exotica-de-lagarto-e-registrada-em-noronha-e-liga-alerta-de-
biologos/. Acesso em: 26 ago. 2021.

MEXILHÃO-DOURADO. Ibama, Brasília, DF, 23 nov. 2016. Disponível em: http://


www.ibama.gov.br/especies-exoticas-invasoras/mexilhao-dourado. Acesso em:
26 ago. 2021.

PINHO, T. R. R.; DANTAS, E. W. C.; SANTOS, J. O. Turismo e sustentabilidade


em comunidades costeiras: reflexões sobre mudanças socioambientais em
Jericoacoara (CE) e Barreirinhas (MA). Revista Brasileira de Ecoturismo, São
Paulo, v. 12, n. 4, p. 531-562, ago./out. 2019.

ROCHA, M. M.; MARENZI, R. C.; JUNIOR, I. F. L.; AZEVEDO, M. Levantamento


das unidades de conservação marinhas e costeiras federais brasileiras. Brazilian
Journal Aquatic Science, Itajaí, v. 24, n. 2, p. 28-35, 2020.

SILVEIRA, E. O gigantesco – e ainda misterioso – recife de corais encontrado na


foz do rio Amazonas. BBC News, São Paulo, 6 maio 2018. Disponível em: https://
www.bbc.com/portuguese/geral-43970980. Acesso em: 23 ago. 2021.

TOWNSED, C. R.; BEGON, M.; HARPER, J. L. Fundamentos em ecologia. 3. ed.


Porto Alegre: Artmed, 2010.

50
UNIDADE 2 —

USO RACIONAL DOS RECURSOS


MARINHOS COSTEIROS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer quais são os principais recursos econômicos e sociais voltados


as Zonas Costeiras;

• aprender as espécies ameaçadas de extinção nestes ambientais e a sua


importância ecológica;

• entender como os impactos ambientais negativos comprometem a


integridade das Zonas Costeiras;

• identificar os principais desafios da gestão integrada com relação a erosão


costeira;

• apontar as medidas de prevenção e mitigação de impactos na região


costeira.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – DIAGNÓSTICO DOS PRINCIPAIS RECURSOS


ECONÔMICOS E SOCIAIS

TÓPICO 2 – POLUIÇÃO MARINHA COSTEIRA

TÓPICO 3 – MEDIDAS DE MITIGAÇÃO DOS IMPACTOS SOBRE


A REGIÃO COSTEIRA

51
CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

52
TÓPICO 1 —
UNIDADE 2

DIAGNÓSTICO DOS PRINCIPAIS RECURSOS


ECONÔMICOS E SOCIAIS

1 INTRODUÇÃO

A interação entre o homem e o mar é algo que ocorre desde muitas


décadas, o que torna as Zonas Costeiras o principal recurso marinho explorado
pelo ser humano. É a partir delas que ocorrem as trocas comerciais mundiais, a
produção de energia sustentável como, por exemplo, a energia eólica offshore, além
de atividades como aquicultura, exploração de recursos minerais, dessalinização,
dentre outros.

Como consequência, esta interação proporciona oportunidades no campo


econômico e social, mas também traz uma quantidade considerável de problemas
ambientais. Porém, para que essa interação seja benéfica para todos é necessário o
conhecimento dos processos oceânicos, bem como dos seus recursos de forma que
possa beneficiar os indivíduos das Zonas Costeiras sem trazer grandes prejuízos ao
ambiente e à sociedade.

Diante disso, na Unidade 2, abordaremos os principais recursos econô-


micos e sociais ofertados pelas Zonas Costeiras. Também iremos falar sobre a
biodiversidade desse ecossistema e quais as espécies ameaçadas de extinção.
Além disso, abordaremos a poluição marinha, bem como seus impactos na Zona
Costeira e os principais desafios da gestão costeira integrada. Ao final trataremos
sobre quais medidas mitigadoras podem ser adotadas para conservação das Zo-
nas Costeiras, bem como o uso da pesca sustentável e a educação ambiental como
ferramentas para conservação marinha.

O ecossistema marinho também é usufruído pela sociedade, o que torna


esse ambiente uma referência cultural. Com o crescimento das comunidades nas
regiões costeiras, essas passam a necessitar diretamente dos recursos marinhos
tornando esse ecossistema valoroso não só ambientalmente, mas principalmente
socioeconomicamente. As praias são essenciais ao lazer, o que faz com que
esse ambiente seja economicamente relevante devido ao turismo. Além disso, a
produção pesqueira também é um recurso importante não só economicamente,
mas também socialmente à comunidade residente em zonas litorâneas. A verdade
é que são muitos os recursos significativos para as populações tradicionais, quanto
para todo o território brasileiro.

53
UNIDADE 2 — USO RACIONAL DOS RECURSOS MARINHOS COSTEIROS

2 RECURSOS ECONÔMICOS E SOCIAIS


Os recursos econômicos podem ser definidos por meios materiais utiliza-
dos pela população para produzir bens e serviços. Pode-se dizer que os recursos
são as riquezas ou bens de uma pessoa ou país. Esses passam a ser a sustentação
de uma economia, sendo responsável pelo desenvolvimento financeiro. Assim
pode-se categorizar os recursos como:

• naturais, que provêm da natureza;


• humanos, constituído pela mão de obra humana;
• capital, que são os bens físicos criados pelo homem, contribuindo para
produção de outros bens.

ATENCAO

As principais atividades econômicas e sociais desenvolvidas em regiões


costeiras tem sido o petróleo, a mineração, o setor elétrico, o turismo, a pesca, a carcinicultura
e as regiões portuárias.

Atualmente, o petróleo é um produto de grande importância para a


sociedade, pois além de ser usado como fonte de energia é também matéria-
prima para a fabricação de diversos materiais, sendo responsável por cerca de
30% da energia primária consumida no país.

54
TÓPICO 1 — DIAGNÓSTICO DOS PRINCIPAIS RECURSOS ECONÔMICOS E SOCIAIS

FIGURA 1 – PLATAFORMA DE PETRÓLEO, UM DOS PRODUTOS DE MAIOR IMPORTÂNCIA PARA


A SOCIEDADE

FONTE: <https://bit.ly/3mpDIct>. Acesso em: 7 set. 2021.

O Brasil, em 2012, ocupava a 13ª posição entre os maiores produtores


de petróleo e, com a descoberta do pré-sal, o país passou a contribuir com
aproximadamente 15% da produção nacional. Com isso, a tendência é que o Brasil
invista mais nesse setor como forma de movimentar mais a economia do país.

Atualmente, a produção brasileira do petróleo e gás natural está presente


em 9.112 poços, sendo 793 marítimos e 8.319 terrestres. Além disso, a produção
desse recurso tem se deslocado para águas cada vez mais profundas, o que
significa a descoberta em áreas consideradas de nova fronteira exploratória.

O petróleo é uma mistura natural de hidrocarbonetos, originário de


matéria orgânica depositada no fundo das bacias sedimentares. Por ser um
recurso extremamente estratégico, o seu potencial petrolífero deve ter maior
precisão. Para que isso aconteça é necessário investimentos nas áreas de tecnologia
e aplicações de alto risco nas áreas ainda pouco exploradas.

A exploração do petróleo é uma atividade que requer maior cuidado, em


relação a preservação ambiental e, diante disso, procedimento e tecnologias são de-
senvolvidos como forma de evitar, detectar e minimizar danos ao meio ambiente.

55
UNIDADE 2 — USO RACIONAL DOS RECURSOS MARINHOS COSTEIROS

FIGURA 2 – PLATAFORMA DE EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO, UM DOS MAIS IMPORTANTES


RECURSOS ECONÔMICOS

FONTE: <https://shutr.bz/3jOSEz7>. Acesso em: 9 set. 2021.

A preocupação com o meio ambiente trouxe a busca por alternativas ener-


géticas que causassem menos impacto a este sistema. Diante dessa consideração,
o uso de recursos energéticos marinhos tem recebido atenção da comunidade
cientifica e de políticas governamentais. Assim, a costa brasileira abriga condi-
ções para o aproveitamento energético, podendo contribuir com a oferta de uma
eletricidade mais limpa.

A energia contida no mar deriva de uma fonte renovável limpa, sendo


que esta energia pode se propagar pelas formas de marés, ondas, ventos e cor-
rentes marítimas. A energia das ondas é uma forma de energia solar mais con-
centrada e isso ocorre porque elas são consequência da energia dos ventos ao
longo da superfície oceânica, esses ventos são causados pelos gradientes de pres-
são da superfície terrestre, ocasionados pelo aquecimento solar. Desta forma, a
energia das ondas ocorre pela transferência e acumulação do sol para o mar.

Já a energia das marés são movimentos oscilatórios do nível do mar


ocasionados pela gravidade da Lua e do Sol, mais a rotação da Terra. Ainda existe
a energia das correntes marítimas, que são os deslocamentos das águas oceânicas,
que se movem continuamente no mesmo sentido e direção.

56
TÓPICO 1 — DIAGNÓSTICO DOS PRINCIPAIS RECURSOS ECONÔMICOS E SOCIAIS

FIGURA 3 – PROTÓTIPO DE TURBINA EÓLICA OFFSHORE

FONTE: <https://shutr.bz/3pMdumx>. Acesso em: 9 set. 2021.

A costa brasileira possui recursos minerais de vários tipos, principalmente


por aqueles empregados na construção civil.

A região costeira é formada por planícies costeiras que se alterna com as


falésias e os costões rochosos sendo compostos por vários minerais, fornecendo
ao país importantes recursos minerais para seu desenvolvimento.

Apesar do Brasil possuir uma gama de bens minerais importantes para


a indústria, os oceanos são poucos aproveitados como fonte desses recursos.
Essa baixa demanda, provavelmente se deve pelo desconhecimento do potencial
desses minerais marinhos, pelo custo das pesquisas, a ausência de tecnologias
para extração dos bens minerais e o baixo valor de comercialização deles.

E
IMPORTANT

O Brasil abriga uma área com condições naturais favoráveis ao aproveitamento


de energia proveniente do mar. Já existem vários estudos e outros sendo desenvolvidos
a partir do uso da energia do mar. Podemos citar estudos de atuação da Coppe, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com desenvolvimento de uma planta piloto
que utiliza a conversão da energia das ondas em eletricidade. Tem ainda o Projeto EOndas-
RS conduzido pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG), utilizando tecnologias para
a conversão da energia das ondas em energia elétrica na costa do Rio Grande do Sul.

57
UNIDADE 2 — USO RACIONAL DOS RECURSOS MARINHOS COSTEIROS

A zona portuária brasileira movimenta mais de 730 milhões de toneladas/


ano, sendo que as cargas de granéis sólidos e líquidos representam cerca de 86%
da carga total, o problema é que esse tipo de carga possui baixo valor agregado,
sendo movimentados em portos ou terminais privativos.

O fato é que pouco tem sido feito quanto ao acesso terrestre a esses
terminais. Consequentemente, tem-se congestionamentos no fluxo viário
das cidades onde os terminais estão localizados, aumentando os custos da
armazenagem dos contêineres e as estadias de caminhões nos portos o que causa
prejuízo para o comércio exterior e reflexo na economia do país.

Atualmente, o transporte aquaviário é o mais barato e de menor reflexo


no custo das mercadorias, pois conseguem transportar grandes volumes com
consumo energético baixo e menor custo por quilômetro.

Nas últimas décadas, um recurso econômico que tem ganhado destaque


no Brasil é a aquicultura, que pode ser definida como a criação de organismos
aquáticos em condições controladas. Essa metodologia tem sido apontada como
um caminho para uma redução no déficit entre demanda e oferta do pescado
no mercado mundial, principalmente pelo fato da diminuição dos estoques
pesqueiros causados pela sobre-explotação.

O desenvolvimento da maricultura torna-se estratégico a partir da


necessidade de incrementar a produção do pescado nacional. No Brasil a
produção concentra-se na criação de camarões e molusco, porém, o país ainda se
encontra em desenvolvimento.

FIGURA 4 – AQUICULTURA EM SANTA CATARINA

FONTE: <https://shutr.bz/3jNqFzH>. Acesso em: 8 set. 2021.

58
TÓPICO 1 — DIAGNÓSTICO DOS PRINCIPAIS RECURSOS ECONÔMICOS E SOCIAIS

Mesmo com o incentivo da maricultura, a produção pesqueira ainda


não atingiu um resultado expressivo. Um fato que pode impedir o maior
desenvolvimento na área é a questão legal, pois, apesar de todo o incentivo à
atividade, ainda há dificuldades no licenciamento. Outra questão que impede
a evolução da maricultura, é o desenvolvimento de novas tecnologias, como
cultivo de camarões com maior biossegurança e moluscos bivalves long-lines,
além do avanço de tecnologias de cultivo de espécies nativas. Esses fatores são
importantes para que exista maior progresso nesse tipo de atividade.

As atividades turísticas nas Zonas Costeiras são divididas no turismo


da zona litorânea e na navegação costeira ou em alto mar, contribuindo para o
desenvolvimento econômico e social do país, por meio da geração de empregos,
melhorando o nível de vida das populações e utilizando os recursos naturais de
forma racional, assim, evitando a degradação do meio ambiente.

O turismo focado na navegação costeira abrange o chamado turismo


náutico de cruzeiro que pode ser classificado como:

• cruzeiro de cabotagem, no qual a viagem tem início e término em porto


nacional;
• cruzeiro internacional, no qual a viagem tem início em porto estrangeiro e
termina em um porto nacional ou o contrário;
• cruzeiro misto, quando inicia e termina em porto nacional, com o trânsito em
portos e pontos nacionais e portos estrangeiros;
• cruzeiro de longo curso, a viagem tem início e término em qualquer porto
estrangeiro.

O turismo de cruzeiro no Brasil, nos anos de 2007 a 2009, teve um aumento


de 32%, movimentando cerca de US$ 342 milhões, contribuindo para estruturação
e criação de novos portos turísticos.

Outra forma de turismo de navegação são os náuticos de recreio, esporte


e barcos conduzidos por seus proprietários. No primeiro caso, a navegação
ocorre por meio de barcos de pequeno e médio porte que podem ser alugados
ou próprios. Já nos casos de barcos conduzidos, estes podem ser do tipo veleiros,
lanchas ou iates. Além disso, existe os barcos alugados que podem ser encontrados
em estruturas como bases de charter (alugados para aventuras náutica em destino
escolhido) e os passeios organizados por agências, clubes e marinas.

O Brasil dispõe de um dos maiores potenciais de desenvolvimento turístico,


pois possui uma extensa Zona Costeira, localizada em uma região de clima
tropical e com lindas praias. Apesar do país apresentar variações nas diferentes
regiões litorâneas, a infraestrutura se apresenta equivalente entre os diferentes
territórios, apresentando oportunidades de desenvolvimento e diversidade
na atividade econômica do turismo. Dessa forma, o turismo desenvolvido em
determinadas regiões é capaz de se assegurar.

59
UNIDADE 2 — USO RACIONAL DOS RECURSOS MARINHOS COSTEIROS

A priorização do turismo segue por duas tendências, uma em que há


crescente demanda por viagens e turismo internacional, por outro lado tem-se a
expansão do turismo especializado em que há uma preocupação com a natureza,
a saúde e por ambientes preservados. E pensando nessa demanda especializada,
cresce a procura pelo chamado turismo sustentável, pois deve-se levar em
consideração a capacidade de mobilização nessas áreas, com o objetivo de limitar
o fluxo de turistas nos lugares visitados, impactando, assim, o mínimo possível
no ecossistema.

Até então, pensar no turismo em Zonas Costeiras era significado de que


estas áreas estariam livres de danos. Porém, a crescente demanda do setor mostrou
que esta atividade pode trazer impactos tantos positivos, quanto negativos.

Por isso, para que o turismo seja visto de forma efetivamente sustentável,
é necessário que haja investimentos públicos e privados com legislação efetiva,
zoneamento e proteção ambiental e, por fim, a educação dos visitantes, empresários
e prestadores de serviços. Pois é por meio da educação ambiental que se alcançará
a renovação e transformação comportamental dos usuários dessas áreas.

Um bom exemplo de atividade turística com foco na educação ambiental


tem sido o turismo de observação da fauna marinha, que tem por objetivo
sensibilizar o visitante das questões ambientais, além de ser uma das principais
atividades econômicas da faixa litorânea brasileira.

3 ESPÉCIES AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO


Região de característica tropical e subtropical, a costa brasileira apresenta
uma biodiversidade ainda pouco conhecida, sendo que muitos dos ecossistemas
existentes ao longo da costa ainda necessitam serem inventariados. Pouco ainda
se sabe sobre as espécies presente no litoral, dos invertebrados bentônicos
(principalmente micro e meiofauna), os estudos são insatisfatórios. As espécies de
peixes marinhos variam em torno de 600 a 1.209 espécies. Os números parecem
muitos, mas a questão é que para um ecossistema amplo e complexo, muito ainda
têm para se conhecer desse ambiente. Principalmente para as espécies de peixes
que habitam todas as profundidades dos oceanos.

60
TÓPICO 1 — DIAGNÓSTICO DOS PRINCIPAIS RECURSOS ECONÔMICOS E SOCIAIS

FIGURA 5 – BIODIVERSIDADE MARINHA

FONTE: <https://shutr.bz/3nFU28s> Acesso em: 9 set. 2021.

Considera-se uniforme a biodiversidade dos peixes demersais (espécies


que vivem maior parte do tempo associado ao substrato) e pelágicos (espécies
que nadam livremente nas colunas d’água) e o endemismo, para esse grupo é
considerado baixo e restrito às espécies recifais. Teleósteos demersais e estuari-
nos somam 617 espécies, de 26 ordens e 118 famílias. Dessas 617 espécies, apro-
ximadamente 337 pertencem à ordem Perciformes, seguido das ordens Pleuro-
nectiformes, Anguilliformes e Tetraodontiformes. Enquanto os pelágicos são
compostos por 151 espécies, considerados pequenos, distribuídos em 37 famílias.

Além disso, tem-se os elasmobrânquios com 82 espécies de tubarões e 45


raias descritas para o Brasil. Assim como os demais peixes, os elasmobrânquios
também podem ser classificados de acordo com a área que estão distribuídos
durante seu ciclo de vida, que são as costeiras (plataforma continental, incluindo
zonas estuarinas e formações recifais), pelágicos e os demersais do talude.

A fauna pelagial de moluscos e crustáceos também é pouco conhecida.


Sendo que Copepoda, Chaetognatha e Dendrobranchia são os táxons mais
estudados no Brasil. Estudos com plânctons se restringem a região da plataforma,
sendo ainda insuficientes se relacionado a grandeza da costa brasileira. Quanto
aos mamíferos marinhos são conhecidas 57 espécies, sendo 53 pertencentes
aos cetáceos (baleias e golfinhos) e duas espécies da ordem Sirenia (peixe-boi-
marinho).

Já as aves totalizam em torno de 100 espécies, sendo que algumas são


residentes e outras são migrantes. Dos répteis marinhos tem-se as tartarugas, que
no mundo são sete espécies, sendo que cinco dessas vivem em águas brasileiras,

61
UNIDADE 2 — USO RACIONAL DOS RECURSOS MARINHOS COSTEIROS

como o Dermochelys coriaea (tartaruga de couro), Eretmochelys imbricata (tartaruga


de pente), Caretta caretta (tartaruga cabeçuda), Lepidochelys olivacea (tartaruga
oliva) e Chelonia mydas (tartaruga verde). Além disso, o Brasil é o único país que
possui os recifes de coral do Atlântico Sul, sendo que das mais de 350 espécies de
recifes de coral do planeta, pelo menos 20 espécies foram registradas no país e
dessas, oito são endêmicas do nosso país.

Em território brasileiro, as principais ameaças a nossa biodiversidade são


a pesca insustentável, a aquicultura, a expansão de áreas urbanas, o turismo, a
poluição, destruição dos manguezais, redução dos recursos hídricos, as mudanças
climáticas e as espécies invasoras que chegam em águas brasileiras por meio da
água de lastro dos navios que chegam aos portos.

FIGURA 6 – EMBARCAÇÃO UTILIZADA PARA PESCA DE ARRASTO

FONTE: <https://shutr.bz/3Es9awR>. Acesso em: 7 set. 2021.

A falta de estudos populacionais e de monitoramento da fauna marinha


é que dificultam definir o estado de ameaça de algumas espécies, principalmente
dos invertebrados marinhos. Das espécies de invertebrados marinhos, 34 foram
consideradas ameaçadas de extinção e dez consideradas sobre-explotadas. Nos
casos desses invertebrados, a ameaça ocorre por causa da poluição e da captura
indiscriminada e excessiva.

Espécies de equinodermos (total de 19 espécies), como as classes


Asteroidea (estrelas-do-mar), Echinoidea (ouriços-do-mar) e Holothuroidea
(pepinos-do-mar) também já foram incluídas na lista de espécies ameaçadas. No
caso desses animais, a forma corporal fascina os turistas que acabam explorando-
os para comercialização ou como artefatos decorativos. Das espécies ameaçadas

62
TÓPICO 1 — DIAGNÓSTICO DOS PRINCIPAIS RECURSOS ECONÔMICOS E SOCIAIS

de cnidários, tem-se as anêmonas-do-mar, os corais-pétreos, os corais-de-fogo


e os gorgonáceos. Assim como os equinodermos, essas espécies acabam sendo
retiradas de seu ambiente pelos turistas ou comercializadas em lojas de aquários.

Os crustáceos, por muitos anos, foram utilizados como objeto de pesca


intensiva, consequentemente, houve uma contínua diminuição dos estoques
e redução do tamanho dos espécimes, como dos caranguejos de mangue
(Cardisoma guanhumi, o guaiamum e Ucides cordatus, o uçá), lagostas das espécies
Panulirus argus e P. laevicauda, camarões das espécies Farfantepenaeus brasiliensis,
F. paulensis e F. subtilis; Litopenaeus schmitti e Xyphopenaeus kroyeri e o siri da
espécie Callinectes sapidus.

As alterações morfológica e de comportamentos destas linhagens podem


estar relacionadas à sobrepesca e à captura seletiva e, para famílias que habitam
os manguezais podem ser, ainda, acentuadas por causa da destruição dessas.

As maiores ameaças aos elasmobrânquios são a atividade pesqueira, a


destruição de seus habitats, além da poluição do ambiente marinho. Na costa
brasileira, as principais espécies de elasmobrânquios ameaçadas de extinção
são a raia-viola (Rhinobatos horkelii), boca-de-velha-listrado (Mustelus fasciatus),
peixe-serra (Pristis spp.), mangona (Carcharias taurus), bico-de-cristal (Galeorhinus
galeus) e anjo (Squatina spp.). Além disso, considerando-se em risco as espécies
de tubarão-baleia (Rhincodon typus), tubarão-branco (Carcharodon carcharias),
tubarão-gigante (Cetorhinus maximus), cação-sebastião (Mustelus schmitti),
tubarão-martelo (Sphyrna lewini), manta-anã (Mobula hypostoma, M. rochebrunei)
e raia-manta (Manta birostris).

Das linhagens de cetáceos em estado de risco, tem-se a baleia franca, a


baleia jubarte, a toninha e o boto cinza. Da ordem Sirenia, o peixe-boi-marinho é o
mamífero aquático mais ameaçado de extinção. Das aves marinhas, as que vivem
e se reproduzem na região norte estão ameaçadas de extinção, além disso, tem-se
também o guará (ave típica nos manguezais).

Dos répteis, todas as cinco espécies de tartarugas marinhas estão


ameaçadas de extinção sendo os status entre as espécies: da Caretta caretta como
em perigo; da Eretmochelys imbricata como criticamente em perigo; da Dermochelys
coriacea como criticamente em perigo; da Chelonia mydas como em perigo; e da
Lepidochelys olivacea como em perigo.

63
UNIDADE 2 — USO RACIONAL DOS RECURSOS MARINHOS COSTEIROS

QUADRO 1 – NÚMERO DE ESPÉCIES MARINHAS DA COSTA BRASILEIRA EM ESTADO DE RISCO


OU AMEAÇA DE EXTINÇÃO

FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3BrPxmy>. Acesso em: 7 set. 2021.

Existem várias formas de preservar a biodiversidade, como, por exemplo,


as listas de espécies ameaçadas que têm por objetivo chamar à atenção dos
governos e sociedade para importância e o alto grau de ameaça daquela linhagem.
Essas listas podem ser determinadas por localidade, estado, país e mundialmente.
A listagem, sejam elas da fauna ou da flora, ocorrem quando suas populações
são menores que no passado e quando os fatores que levam a diminuição dessas
populações continuam ocorrendo.

O Programa Nacional de Conservação das Espécies Ameaçadas de


Extinção, tem como objetivo adotar ações de prevenção, conservação,
manejo e gestão, com vistas a minimizar as ameaças e o risco de
extinção de espécies. E o principal instrumento é a Lista Nacional
Oficial de Espécies Ameaçadas de Extinção, conduzido pelo Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Essa
lista segue a metodologia utilizada para avaliação do risco de
extinção das espécies pela União Internacional para Conservação
da Natureza – UICN. Essa metodologia categoriza as espécies
ameaçadas da seguinte forma: extinta na natureza (EW), extintas
(EX), regionalmente extintas (RE), criticamente em perigo (CR), em
Perigo (EN) e vulnerável (VU). Lembrando que para as espécies
nas categorias de risco de extinção temos algumas classificações
(GERLING, 2016, p. 56).

QUADRO 2 – DEFINIÇÕES PARA CATEGORIAS DE RISCO DE EXTINÇÃO

FONTE: Adaptado de Gerling (2016, p. 56)

64
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Existem vários recursos econômicos e sociais voltados as Zonas Costeiras.

• O ambiente marinho traz uma diversidade de recursos econômicos e sociais, não


apenas para as regiões costeiras, mas também para todo o país. Identificando
os vários recursos econômicos explorados nos oceanos.

• Além dos recursos econômicos e sociais, os oceanos apresentam uma vasta


biodiversidade, da qual ainda se conhece pouco. E que se faz necessário
conhecer essa biodiversidade para que se possa atuar na conservação das
espécies já conhecidas e das que ainda poderão vir a ser descobertas.

65
AUTOATIVIDADE

1 O ecossistema marinho brasileiro também é usufruído pela sociedade, o


que torna esse ambiente uma referência cultural. Com o crescimento da
comunidade nas regiões costeiras, estas passam a necessitar diretamente
dos recursos marinhos, tornando esse ecossistema não só importante
ambientalmente, mas principalmente socioeconomicamente. Com base
nos tipos de recursos econômicos das Zonas Costeiras, disserte sobre os
recursos da energia oferecido pelos oceanos:

2 Com o crescimento da comunidade nas regiões costeiras, estas passam a


necessitar diretamente dos recursos marinhos, tornando esse ecossistema
importante economicamente. Sobre os recursos econômicos das Zonas
Costeiras brasileira, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Os recursos econômicos passam a ser o suporte da comunidade, sendo


responsável pelo desenvolvimento sustentável.
b) ( ) As principais atividades econômicas e sociais desenvolvidas na região
costeira tem sido o petróleo, a mineração e o artesanato.
c) ( ) A energia das marés são movimentos oscilatórios do nível do mar
ocasionados pela gravidade da Lua e do Sol, mais a rotação da Terra.
d) ( ) Apesar do país possuir uma gama de bens minerais importantes
para a indústria, os oceanos são superexplorados para obtenção de
recursos minerais.

3 Por estar inserida em regiões tropicais e subtropicais, a costa brasileira


apresenta uma biodiversidade ainda pouco conhecida, o que significa que
mais inventários sobre a biodiversidade marinha sejam necessários, já que
o ambiente marinho é um ecossistema amplo e complexo. De acordo com a
biodiversidade da ictofauna marinha, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A biodiversidade dos peixes demersais e pelágicos e o endemismo


desse grupo é considerado alto e restrito às espécies demersais.
b) ( ) Os elasmobrânquios podem ser classificados de acordo com a área
que estão distribuídos durante seu ciclo de vida, sendo considerados
costeiros, pelágicos e demersais.
c) ( ) Os teleósteos demersais e estuarinos somam 617 espécies, de 26 ordens
e 118 famílias, enquanto os pelágicos são compostos por 151 espécies,
considerados pequenos pelágicos, distribuídos em 35 famílias.
d) ( ) Dos peixes teleósteos demersais aproximadamente 327 espécies
pertencem à ordem Perciformes, seguido das ordens Pleuronectiformes,
Anguilliformes e Tetraodontiformes.

66
4 Com a crescente urbanização da Zona Costeira no Brasil, as pressões
socioeconômicas dessas áreas têm proporcionado grande degradação
dos recursos naturais, consequentemente, a sustentabilidade econômica e
principalmente a qualidade de vida e ambiental acabam sendo ameaçadas.
Com relação às ameaças à biodiversidade marinha brasileira, classifique V
para as alternativas verdadeiras e F para as falsas:

( ) Em território brasileiro, as principais ameaças a nossa biodiversidade


são a pesca insustentável, a aquicultura, a expansão de áreas urbanas,
o turismo, a poluição, destruição dos manguezais, redução dos recursos
hídricos, as mudanças climáticas e as espécies invasoras.
( ) As principais ameaças aos cnidários são a pesca intensiva e a
comercialização desses animais como artefatos marinhos.
( ) A raia-viola (Rhinobatos horkelii), tubarão-branco (Carcharodon carcharias),
o peixe-serra (Ucides cordatus), tubarão-martelo (Sphyrna lewini) e raia-
manta (Manta birostris), são as espécies de elasmobrânquios mais
ameaçados pela atividade pesqueira.
( ) Atualmente, os riscos de extinção das tartarugas marinhas são: Caretta
caretta como em perigo; Eretmochelys imbricata como criticamente em
perigo; Dermochelys coriacea como criticamente em perigo; Chelonia mydas
como em perigo; e Lepidochelys olivacea como em perigo.

Assinale alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) F – F – V – V.
b) ( ) V – F – F – F.
c) ( ) V – F – F – V.
d) ( ) F – V – F – V.

5 Existem várias formas de preservação da biodiversidade marinha, uma


delas são as listas de espécies ameaçadas que têm por objetivo chamar
à atenção dos governos e da sociedade para a importância e o alto grau
de ameaça daquela espécie. Disserte as formas como essas listas são
determinadas, como elas ocorrem, quais seriam os objetivos do Programa
Nacional de Conservação das Espécies Ameaçadas de Extinção e quais são
as categorias das espécies ameaçadas de extinção.

67
68
TÓPICO 2 —
UNIDADE 2

POLUIÇÃO MARINHA COSTEIRA

1 INTRODUÇÃO

No Tópico 2, iremos abordar os principais impactos ambientais que


ocorrem nas regiões das Zonas Costeiras, conhecendo os principais desafios da
gestão nessas regiões com foco para a erosão e como o uso irracional dos recursos
marinhos provoca sérios impactos.

A erosão tem sido um dos maiores desafios da gestão integrada nos


ambientes costeiros, sendo essa gerência de responsabilidade das três esferas de
governo que atuam em conjunto com a sociedade. Pode ser definida a poluição
como uma alteração sofrida pelo meio ambiente que provoca desequilíbrio,
devido às ações diretas ou indiretas do homem. Já Fernandes (2012, p. 275) define
a poluição marinha como:

[...] introdução antrópica, direta ou indireta, de substâncias ou ener-


gia no meio marinho e nos estuários, sempre que provoquem ou pos-
sa a vir provocar efeitos nocivos. Entre esses efeitos destacam-se: os
danos aos recursos vivos, à vida marinha e à saúde humana; os entra-
ves às atividades marítimas, incluindo a pesca e as outras utilizações
legítimas do mar; as alterações da boa qualidade da água do mar.

E essa poluição pode ser ocasionada por dois tipos de substâncias:

• artificial, que são estranhas aos ecossistemas, podendo ser os agrotóxicos,


dejetos sem tratamentos e plásticos;
• natural, que pode ser estranha ao ecossistema onde está inserida ou em
concentração maior do que o ecossistema consegue suportar.

É necessário entender que grande parte da poluição marinha é proveniente


da ação humana no continente, que são carregadas para o mar por meio dos
rios ou pelo ar. Se pode citar as águas residuais das atividades domésticas que
carregam para o mar produtos químicos e matéria orgânica.

Além disso, os oceanos ainda sofrem com os poluentes lançados


indiretamente, como o plástico, os esgotos e o petróleo.

69
UNIDADE 2 — USO RACIONAL DOS RECURSOS MARINHOS COSTEIROS

FIGURA 7 – POLUIÇÃO PROVENIENTE DE AÇÃO ANTROPICA EM REGIÃO DE PRAIA

FONTE: <http://galeria.dtcom.com.br/picture.php?/2793/search/704>. Acesso em: 7 set. 2021.

O que é preciso compreender são as consequências da poluição marinha,


que resultam em efeitos negativos para a saúde do ser humano, tendo em vista
que todos fazem uso dos recursos marinhos, seja na realização de um passeio em
alguma praia ou quando cada indivíduo se alimenta de peixes ou frutos do mar
que possam estar contaminados.

2 IMPACTOS AMBIENTAIS ASSOCIADOS AO AMBIENTE


COSTEIRO
Os impactos que a poluição desempenha no ecossistema pode variar com
o tempo (agudo ou crônico) ou a intensidade/lugar (difuso, global ou pontual).
Além da poluição por petróleo ocasionadas por acidentes com navios petroleiros,
muitas são as outras fontes de poluição marinha que são notáveis no ambiente
marinho. A seguir, algumas fontes poluidoras são apresentadas na Figura 8.

70
TÓPICO 2 — POLUIÇÃO MARINHA COSTEIRA

FIGURA 8 – ESQUEMA DAS PRINCIPAIS FONTES DE POLUIÇÃO DO ECOSSISTEMA MARINHO

FONTE: Adaptado de Fernandes (2012, p. 301)

A poluição da água se torna um dos principais contaminantes diretos,


causando doenças graves de caráter epidêmico e, consequentemente, um
problema de saúde pública. Nesse caso, os problemas excedem apenas a questão
de implicação econômica, mas também interfere em outros setores como o uso da
água, o lazer, o turismo e a produção pesqueira.

A seguir, tem-se os contaminantes e as fontes de contaminação e outras


formas de poluição procedente do continente.

QUADRO 3 – CONTAMINANTES E FONTES DE CONTAMINAÇÃO DO AMBIENTE MARINHO

71
UNIDADE 2 — USO RACIONAL DOS RECURSOS MARINHOS COSTEIROS

FONTE: Adaptada de Fernandes (2012, p. 276-278)

Além dos contaminantes já mencionados, foram acrescentados à listagem


novos compostos orgânicos sintéticos (fármacos, retardantes de chama e
compostos perfluorados), as toxinas algais e os rejeitos hospitalares.

E
IMPORTANT

As atividades poluidoras, provenientes de transporte marítimo e da exploração


do petróleo podem se apresentar como os feitos negativos com derramamento de
hidrocarbonetos de petróleo e derivados; liberação dos compostos químicos; lançamento
de resíduos sólidos; descarga dos esgotos sanitários não tratados; liberação de biocidas
usados em pinturas antincrustantes ou pesticidas usados na agricultura; transferência de
organismos aquáticos indesejáveis e patogênicos; perda acidental de carga acondicionada
ou materiais irradiados; efeitos tóxicos letais e subletais à biota e ao ser humano.

Segundo Fernandes (2012), com o crescimento das cidades, em decor-


rência da concentração de empregos, o cenário das regiões costeiras no Brasil
tem se agravado e, consequentemente, há uma carência de infraestrutura para a
drenagem urbana, saneamento básico e gerenciamento adequado dos resíduos
sólidos, isso torna-se reflexo da ausência das políticas urbanas integrada às de-
mais políticas públicas.

As atividades altamente poluidoras têm relação com a expansão urbana


e necessitam de ações preventivas e corretivas, como o planejamento e a gestão
levando aos padrões de sustentabilidade.

72
TÓPICO 2 — POLUIÇÃO MARINHA COSTEIRA

As principais metrópoles próximas às regiões litorâneas ou estuarinas,


geralmente apresentam carências de serviços urbanos. No geral, essas cidades
abrigam complexos industriais responsáveis por um dos maiores impactos sobre
o ecossistema aquático.

De acordo com Fernandes (2012, p. 280) o aporte de matéria orgânica aca-


ba sendo um problema, pois, ao biodegradar o resultado e a liberação de com-
postos nitrogenados e fosfatados que favorecem as florações de cianobactérias,
consequentemente, a biodiversidade natural diminui e o ecossistema aquático
fica desequilibrado.

Esse processo é conhecido por eutrofização. Além disso, a produção de


lixo é outro fator de degradação ambiental e as Zonas Costeiras apresentam mais
de 70 milhões de habitantes com uma geração de 56 mil toneladas lixo/dia.

A avaliação da distribuição espacial da indústria na Zona Costeira utiliza


uma classificação, a partir dos grandes complexos industriais da economia
brasileira que são:

• complexo químico, que ocorre em vários segmentos do litoral e explora


matérias-primas (desde sal até o petróleo) e pode ser dividido em indústrias
de álcalis e cloroquímica, de adubos e fertilizantes, petróleo e gás natural e
petroquímica;
• complexo metalmecânico, que está presente em todo litoral brasileiro e
apresenta desde a fase de extração mineral até a indústria naval. Dentro
deste complexo, destaca-se a extração beneficiamento do carvão mineral,
beneficiamento e exportação de minério de ferro, beneficiamento e exportação
de não ferrosos e a construção naval;
• complexo agroindustrial, com seus impactos para a Zona Costeira aparecem
em diferentes segmentos, dentre eles a produção de açúcar e álcool, exportação
e importação e beneficiamento de grãos, fruticultura e fabricação de sucos
concentrados, beneficiamento do pescado e da pesca;
• complexo têxtil de vestuários e calçados;
• complexo de celulose, papel e gráfico;
• complexo da construção civil, em que as atividades nas Zonas Costeiras se
estendem desde a extração de areia até a produção de cimento e seus artefatos
(tijolos nas olarias).

Outro grande problema ambiental ocorre em função das atividades


portuárias como as operações de dragagens, nestes casos, quando ela for
indispensável, o ideal é que seja monitorada com a finalidade de ser gerenciada
e minimizado os impactos. O ideal é que a dragagem seja acompanhada de
monitoramento ambiental da água, dos sedimentos e da comunidade bentônica.

73
UNIDADE 2 — USO RACIONAL DOS RECURSOS MARINHOS COSTEIROS

ATENCAO

Outra preocupação é com o gerenciamento da água de lastro, pois os navios


trazem em suas águas espécies invasoras que, no litoral, brasileiro passam a competir por
alimento e espaço com as espécies nativas. Esses navios devem apresentar instalações com
estruturas de recepção da água de lastro e de alguns sedimentos, além da elaboração de
um plano de gestão para as águas de lastro nas regiões portuárias.

Dentre as categorias básicas de composição do conceito de risco


ambiental é o risco tecnológico, que envolve uma avaliação da
probabilidade dos eventos críticos de curta duração com amplas
consequências, como as explosões, vazamentos ou derramamentos
de produtos tóxicos. Além disso, há a avaliação da contaminação, em
longo prazo, dos sistemas naturais, por lançamento e deposição de
resíduos (FERNANDES, 2012, p. 291).

Existe ainda alguns agentes de poluição marinha do qual passam desa-


percebidos, como o caso dos xenobióticos, que são compostos químicos estranhos
à um organismo ou a um sistema biológico. Porém, no Brasil o conhecimento dos
efeitos desses produtos sobre a biota marinha ainda são poucos conhecidos.

Existe a presença de milhares de substâncias químicas nos oceanos que


são introduzidas pelo homem, porém os Poluentes Orgânicos Persistentes (POP)
são os mais perigosos, pois são resistentes à decomposição e possuem potencial
de acumulação nos tecidos de organismos vivos. Dentre os POP mais comuns,
tem-se o Dicloro-Difenil-Tricloroetano (DDT).

A aquicultura é apresentada como o futuro da indústria alimentícia


marinha, porém pode expor alterações do ecossistema e introduzir espécies
exóticas no ecossistema marinho. Atualmente, o cultivo do camarão tem sido
uma das atividades potencialmente destrutivas e insustentável, pois leva ao
desmatamento os manguezais e consequentemente a destruição da flora e fauna.

Para o controle da poluição da Zona Costeira é necessária uma gestão


ambiental efetiva juntamente com processo de decisão para o gerenciamento
dessas zonas, sendo importante o envolvimento da sociedade. Diante disso,
identificar as principais fontes poluentes e saber a forma como são lançados
é fundamental para que possa ser realizadas intervenções para controle do
problema, bem como formas de prevenção.

Nesse contexto, o papel da pesquisa tecno-científica é de suma importância,


pois apenas ela é capaz de fornecer informações para identificação da qualidade
ambiental dos ecossistemas costeiros marinhos e, atuando em parceria com esses

74
TÓPICO 2 — POLUIÇÃO MARINHA COSTEIRA

cientistas, os órgãos públicos ambientais precisam coibir as condutas que sejam


lesivas ao meio ambiente, contando com apoio da legislação ambiental, para que
ao final os objetivos de conservação e preservação do meio ambiente marinho
sejam alcançados.

3 DESAFIOS DA GESTÃO INTEGRADA FRENTE A EROSÃO


COSTEIRA
Atualmente as Zonas Costeiras retratam uma crescente degradação,
sendo considerado um dos ecossistemas mais ameaçados do mundo. Pode-se
dizer que esse desgaste é consequência da sobrepesca, poluição, dentre outros
impactos antrópicos que alteram e destroem esse habitat, acarretando alterações
que interferem na sua capacidade de fornecer bens e serviços.

Um estudo para avaliação do ecossistema costeiro, realizado pelo World


Resource Institute (WRI), mostrou que a atual capacidade de fornecer bens e
serviços está cada vez mais comprometida. A qualidade das águas costeiras
tem apresentado cada vez mais florações de algas tóxicas, o que significa que
o ecossistema litorâneo não tem mais capacidade de absorver os nutrientes e
poluentes recebidos.

Já, na produção de alimentos, o estudo mostrou que a produção de peixe


aumentou, se comparado com o ano de 1950, mas grande parte das capturas são
de espécies com baixo valor comercial.

Analisando a questão da biodiversidade, é possível observar que estas vêm


sofrendo com perda de habitats, incidência de novas doenças, além da ameaça de
espécies invasoras. Pode-se destacar, também, o aumento do branqueamento de
corais. Além disso, tem a questão do assoreamento, resultado do carregamento
de sedimentos e poluentes que chegam do continente.

Diante de tantos fatores, a erosão destaca-se como um dos principais


problemas das Zonas Costeiras. Pode-se definir erosão como processo de remoção
da superfície por agentes naturais que moldam o relevo, modificando a superfície
terrestre.

As consequências ambientais provocadas pela erosão, modificam não


somente as praias, mas também vários outros ambientes naturais. Esse processo
é responsável por:

• provocar redução na largura da praia ou o recuo da linha de costa;


• desaparecimento da zona de pós-praia;
• a perda e o desequilíbrio natural de ambientes (manguezais, restinga, dunas e
zona de praia), consequentemente, há um alto potencial de perda de espécies
nesses ambientes;

75
UNIDADE 2 — USO RACIONAL DOS RECURSOS MARINHOS COSTEIROS

• aumento na frequência das inundações costeiras, geralmente ocasionadas por


ressacas ou pelas marés de sizígia mais elevada;
• aumento da intrusão salina (ocorre quando a cunha da água salgada do mar
avança e se mistura com as águas doces continentais do aquífero) no aquífero
costeiro e nas drenagens superficiais da planície costeira;
• a perda de propriedades e bens públicos/privados;
• destruição de estruturas artificiais paralelas e transversais à linha de costa;
• perda do valor imobiliário das habitações e paisagístico das regiões costeiras;
• prejuízo para as atividades socioeconômicas;
• comprometimento do turismo na região costeira;
• artificialização da linha de costa devido à construção de obras;
• gastos altíssimos para a recuperação das praias e reconstrução da orla.

Os efeitos causados pela erosão litorânea, impacta não apenas nas


residências, mas também nas atividades antrópicas como a pesca, turismo, lazer,
aquicultura, as atividades portuárias, industriais e comerciais.

No Brasil, as principais causas da erosão costeira são os fatores ambientais


e as ações antrópicas.

FIGURA 9 – IMPACTO RESIDENCIAL CAUSADO PELA EROSÃO COSTEIRA

FONTE: <https://shutr.bz/3mrfOxp>. Acesso em: 7 set. 2021.

Para que se tenha uma gestão integrada da área litorânea é necessário


entender como a Zona Costeira reage quando submetida as pressões
socioeconômicas e ambientais. A partir disso, avaliar os riscos para que se possa
estimar os impactos provenientes das ações antrópicas e naturais.

76
TÓPICO 2 — POLUIÇÃO MARINHA COSTEIRA

O risco ambiental avaliado representa o prejuízo ou o dano causado a


pessoas devido a ocorrência de um perigo.

Para a análise e a caracterização do risco, são necessários verificar três


etapas:

• primeiro identifica-se o risco;


• avalia o grau de exposição ao perigo;
• depois avalia a resposta que pode depender da resistência e da resiliência.

De acordo com Souza (2009), existe uma classificação de risco levando em


conta essa avaliação da caracterização e condição do nível do mar, conforme o
Quadro 4.

QUADRO 4 – CLASSIFICAÇÃO DE RISCO PARA INDICATIVO DE EROSÃO EM ZONAS


COSTEIRAS

FONTE: Souza (2009, p. 26)

77
UNIDADE 2 — USO RACIONAL DOS RECURSOS MARINHOS COSTEIROS

A Gestão Integrada de Zonas Costeiras no Brasil divide as áreas litorâneas


em setores, que formam unidades menores para o gerenciamento. Essas são
compostas por um determinado número de municípios, sendo delimitadas
em função de características fisiográficas, geopolíticas e socioeconômica. A
coordenação é realizada pelas três esferas de governo, onde em nível federal o
Ministério do Meio Ambiente (MMA) comanda todas as ações e articula com
os estados costeiros, por meio dos respectivos órgãos ambientais. Os estados
possuem o papel de executores, buscando integrar suas ações com as dos
municípios. Já os municípios são responsáveis pela implementação dos Planos
Municipais de Gerenciamento Costeiro (PMGC), além da aplicação das metas e
diretrizes do PEG que devem ser incorporados aos Planos Diretores Municipais
de Uso do Solo (SOUZA, 2009, p. 28).

ATENCAO

A partir das políticas públicas executadas pelas três esferas de governo são ela-
boradas as leis, decretos e planos para um efetivo gerenciamento da Zona Costeira. Diante
desses levantamentos, para o conhecimento da erosão costeira, se torna possível identificar
as lacunas e necessidades de diretrizes e ações para uma gestão efetiva da orla marítima.

Os aspectos que podem ser relacionados ao fenômeno de erosão


costeira e sua inserção no Zoneamento Ecológico-Econômico da Zona Costeira
(ZEECs), são:

• a erosão costeira como tema importante nas instituições de pesquisa;


• aumento da sensibilidade ao tema, com divulgação do último Relatório do
Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas (IPCC);
• importância do uso do solo influenciando os processos de erosão costeira;
• os municípios são responsáveis por iniciativas de recuperação das praias, com
predomínio da construção de obras costeiras sem estudo prévio e análises de
impacto ambiental, além da falta de monitoramento após conclusão;
• lacunas nos instrumentos de gestão integrada da Zona Costeira.

Diante do nível de conhecimento a respeito da erosão costeira no Brasil e


a gestão integrada dessas Zonas Costeiras, os principais desafios e necessidades
são destacados a seguir, conforme Souza (2009, p. 33-34).

78
TÓPICO 2 — POLUIÇÃO MARINHA COSTEIRA

• realizar estudos para a identificação de indicadores de erosão costeira e


diante dos resultados estabelecer uma rede nacional de monitoramento;
• avaliar o risco de vulnerabilidade de pessoas/bens/ecossistemas à erosão
costeira, tanto em níveis estadual e municipal, de acordo com as diretrizes
estabelecidas no âmbito do GERCO;
• identificar quais são as praias críticas em relação à erosão costeira;
• realizar monitoramentos contínuos, principalmente nas praias considera-
das críticas;
• realizar medições e estabelecimento de redes de monitoramento contínuo
do clima de ondas nos 17 estados costeiros, em especial nas regiões com
praias em situação crítica;
• aprimoração monitoramento do nível do mar, aumento da rede maregrá-
fica nacional;
• realizar monitoramentos meteorológicos e climáticos nos estados, em esca-
la compatível com os estudos de erosão costeira;
• criar um banco de dados praiais (dados sedimentológicos, geomorfológicos,
clima de ondas), nacional e georreferenciado;
• criar banco de dados batimétricos, nacional e georreferenciado, a partir
da digitalização de cartas náuticas e folhas de bordo da Diretoria de
Hidrografia;
• criar um banco nacional georreferenciado de dados sedimentológicos da
plataforma continental interna, em escala compatível com os estudos de
erosão costeira;
• fomentar estudos sedimentológicos na plataforma continental interna em
áreas ainda desprovidas de dados;
• realizar estudos de balanço sedimentar da Zona Costeira, principalmente
nas regiões com praias críticas;
• realizar estudos de caso nas principais obras de engenharia costeira, já
implantadas no país, para identificação dos impactos gerados, dos sucessos
e insucessos;
• realizar estudos e estabelecimento de medidas efetivas que visem à
recuperação das praias críticas e/ou à mitigação da erosão costeira;
• identificar fontes de sedimentos para obras de alimentação artificial de
praias críticas, como medida de recuperação;
• realizar estudos visando o estabelecimento legal de zonas de proteção
da praia;
• estabelecer medidas de gestão da orla, com indicações de ações para
curto, médio e longo prazos, baseadas em estudos de erosão costeira e nas
previsões de elevação do nível do mar.

79
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Impactos ambientais negativos comprometem a integridade das Zonas


Costeiras.

• O uso irracional dos recursos marinhos, traz impactos para as Zonas Costeiras
e os impactos da poluição pode variar com o tempo ou a intensidade/lugar.
Conhecendo os principais impactos ambientais associados ao ambiente
costeiro.

• A erosão tem sido um dos maiores desafios da gestão integrada nos ambientes
costeiros, sendo essa de responsabilidade das três esferas de governo que
atuam em conjunto com a sociedade.

80
AUTOATIVIDADE

1 De acordo com Fernandes (2012, p. 275), poluição pode ser definida como
“introdução antrópica, direta ou indireta, de substâncias ou energia no meio
marinho e nos estuários, sempre que provoquem ou possam a vir provocar
efeitos nocivos. Entre esses efeitos destacam-se os danos aos recursos vivos,
à vida marinha e à saúde humana; os entraves às atividades marítimas,
incluindo a pesca e as outras utilizações legítimas do mar; as alterações da
boa qualidade da água do mar”. Com base na definição de poluição, analise
as sentenças a seguir:

I- A poluição pode ser ocasionada pelas substâncias artificiais e naturais.


II- A poluição marinha é proveniente da ação humana no continente, que são
carregadas para o mar por meio dos rios ou pelo ar.
III- São formas de poluição marinha, as águas residuais das atividades
domésticas, poluentes como o plástico, os esgotos e o petróleo.
IV- As consequências da poluição marinha, resultam em efeitos positivos
para a saúde, tendo em vista que o ser humano faz uso dos recursos
marinhos, seja quando realiza algum passeio em alguma praia ou quando
se alimenta de peixes ou frutos do mar que possam estar contaminados.

Assinale a alternativa CORRETA:

FONTE: FERNANDES, L. P. C. (coord.). O Brasil e o mar no século XXI: relatório aos tomadores
de decisão do País. 2. ed., rev. e ampl. Niterói: BHMN, 2012. Disponível em: https://bit.
ly/3vZH20V. Acesso em: 10 set. 2021.

a) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença IV está correta.
c) ( ) As sentenças II e IV estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

2 Os impactos que a poluição desempenha no ecossistema pode variar com


o tempo (agudo ou crônico) ou a intensidade/lugar (difuso, global ou pon-
tual). Além da poluição por petróleo, ocasionada por acidentes com navios
petroleiros, muitas são as outras fontes de poluição marinha que são notáveis
naquele ambiente. Com base nas várias fontes de poluição do ecossistema
marinho, disserte sobre as alternativas de controle dessas fontes de poluição.

3 Atualmente, as Zonas Costeiras retratam uma crescente degradação, sen-


do considerado um dos ecossistemas mais ameaçados do mundo. Pode-se
dizer que essa degradação é consequência da sobrepesca, poluição, dentre
outros impactos antrópicos que alteram e destroem esse habitat, acarretan-
do alterações que interferem na sua capacidade de fornecer bens e serviços.
Com base na situação das Zonas Costeiras, é CORRETO afirmar que:
81
a) ( ) A produção de peixe aumentou se comparado com o ano de 1950,
sendo grande parte das capturas de espécies com alto valor comercial.
b) ( ) De acordo com estudo para avaliação do ecossistema costeiro, realizado
pelo World Resorce Institute (WRI) em 2001, a atual capacidade de
fornecer bens e serviços está cada vez menos comprometida.
c) ( ) Com relação a biodiversidade, é impossível observar que elas estão
sofrendo com perda de habitats, incidência de novas doenças, além da
ameaça de espécies invasoras.
d) ( ) A qualidade das águas costeiras tem apresentado cada vez mais flo-
rações de algas tóxicas, o que significa que o ecossistema costeiro não
tem mais capacidade de absorver os nutrientes e poluentes recebidos.

4 A erosão é definida como processo de remoção da superfície por agentes


naturais que moldam o relevo, modificando a superfície terrestre. As
consequências ambientais provocadas por ela, modificam não somente as
praias, mas também vários outros ambientes naturais. De acordo com a
responsabilidade do processo de erosão, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Provocar redução na largura da praia ou o recuo da linha de costa e o


desaparecimento da zona de pós-praia.
b) ( ) Diminui a frequência das inundações costeiras, geralmente ocasionadas
por ressacas ou pelas marés de sizígia mais elevada.
c) ( ) Compromete turismo na região costeira, bem como o aumento do
valor imobiliário das habitações e paisagístico das regiões costeiras.
d) ( ) Diminuição da intrusão salina no aquífero costeiro e nas drenagens
superficiais da planície costeira.

5 A partir das políticas públicas executadas, as esferas de governo elaboram


as leis, decretos e planos para um efetivo gerenciamento da Zona Costeira.
Diante desse levantamento para o conhecimento da erosão costeira, se torna
possível identificar as lacunas e necessidades de diretrizes e ações para uma
gestão efetiva da orla marítima. Disserte sobre os aspectos relacionados
ao fenômeno de erosão costeira e sua inserção no zoneamento ecológico-
econômico da Zona Costeira (ZEECs).

82
TÓPICO 3 —
UNIDADE 2

MEDIDAS DE MITIGAÇÃO DOS IMPACTOS SOBRE A


REGIÃO COSTEIRA

1 INTRODUÇÃO

Acadêmico, neste tópico, iremos abordar as medidas de prevenção e mi-


tigação para os impactos causados nas regiões costeiras, como o planejamento
ambiental para o desenvolvimento de uma gestão ambiental integrada, o uso da
pesca sustentável como forma de evitar o comprometimento dos recursos cos-
teiros e a importância da educação ambiental junto à comunidade costeira para
conscientização e preservação do ambiente litorâneo.

Diante da crescente urbanização e atividades relacionadas ao ambiente


costeiro, o planejamento ambiental se faz necessário para o desenvolvimento de
uma gestão ambiental integrada, como forma de contribuir para solução e redução
dos problemas ambientais gerados. Esse sistema de gestão deve ser aplicado
como forma de minimização dos impactos negativos e para o desenvolvimento
dessas atividades de forma sustentável. Essa minimização dos impactos é o que
chamamos de medidas mitigadoras, que têm por objetivo minimizar ou eliminar
eventos adversos de potencial causador de prejuízos ambientais, físicos, bióticos
e antrópicos.

Portanto, para que se possa propor uma gestão efetiva, deve-se levar em
consideração os problemas gerados por essas atividades, a fim de atuar com
medidas eficazes e sustentáveis para cada problema ocasionado nas regiões
costeiras. As medidas mitigadoras podem ser classificadas como:

• preventiva, que tem por objetivo minimizar ou eliminar o evento adverso que
se apresenta como potencial causador de prejuízo. Geralmente, essa medida
antecede a ocorrência do impacto negativo;
• corretiva, com o objetivo de mitigar os efeitos de um impacto negativo
identificado, seja pelo restabelecimento da situação anterior ao evento, quer
seja por nova situação de equilíbrio entre os diversos parâmetros do item
ambiental. Neste caso, busca neutralizar o fator gerador do impacto;
• compensatória, é uma medida que busca repor bens socioambientais perdidos
em decorrência de ações diretas ou indiretas de um empreendimento.

83
UNIDADE 2 — USO RACIONAL DOS RECURSOS MARINHOS COSTEIROS

Com relação às medidas mitigadoras relacionadas à questão da erosão


costeira, no Brasil, elas podem ser diversas, mas o foco principal são as medidas
voltadas para se prevenir o impacto e a mitigação propriamente dita depois
que já se tem o impacto estabelecido. No caso das medidas mitigadoras, tem-
se as construções na linha da costa que podem ser obras de muro de proteção,
diques, quebra-mares, que objetivam a solução de um problema local. Mas frente
à uma mitigação mais ampla, tem-se se usado a recuperação das praias, a partir
do aumento do estoque de areia e o restabelecimento do equilíbrio ambiental
da praia que faz com que a energia das ondas de tempestade diminua, além da
recuperação do habitat.

2 PESCA SUSTENTÁVEL
O ato de pescar objetiva a retirada, extração ou a captura de qualquer
recurso pesqueiro em ambientes aquáticos com finalidade cientifica, amadora,
subsistência ou econômica. Podendo ser considerado uma importante atividade
mundial, pois gera emprego, alimento e renda.

No Brasil, no início dos anos 1960, a pesca era apenas artesanal, o que
significa que sua produção era comercializada na forma fresca ou refrigerada,
atendendo apenas o mercado interno. Porém, após os anos de 1960, o governo
passou a incentivar a pesca, desenvolvendo, assim, a pesca industrial que é voltada
para o mercado externo. Diante disso, o país passava a expandir os parques
industriais pesqueiros com capacidade para o processamento do pescado.

Com a expansão, a pesca que antes estava voltada para regiões demersais,
passa a ser intensificada também para as regiões pelágicas. Com isso, ao final da
década de 1970, a captura de espécies das regiões pelágicas dobrou se comparado
com a captura de espécies presentes nas regiões demersais. Além disso, a produção
do pescado entre os anos de 1900 e 1970, passou de quatro para 70 milhões de
toneladas anuais produzidas.

GRÁFICO 1 – PRODUÇÃO TOTAL PESCADO MARINHO NO BRASIL DE 1960 A 2006

FONTE: Fernandes (2012, p. 144)

84
TÓPICO 3 — MEDIDAS DE MITIGAÇÃO DOS IMPACTOS SOBRE A REGIÃO COSTEIRA

Consequentemente, diante do aumento da produção pesqueira, os princi-


pais estoques pesqueiros passaram a ficar comprometido, levando ao fenômeno
conhecido por sobre-explotação, que leva os principais recursos pesqueiros ao
seu limite máximo de sustentabilidade.

O principal impacto da pesca está associado à redução na abundância de


espécies-alvo. Com declínio de grandes predadores, o nível trófico médio das
capturas também é reduzido. A remoção destes predadores não significa neces-
sariamente um aumento na população das espécies-presa, mas pode ocasionar
incrementos populacionais de espécies de invertebrados sem interesse comercial.

Atualmente, a produção nacional do pescado divide-se em dois sistemas


produtivos, ou seja, a pesca extrativa (composta pela pesca artesanal e industrial)
e aquicultura (criação de organismos aquáticos em águas costeiras e continentais).
Considerando, aqui, a pesca extrativa, esta pode ser classificada como:

• pesca de subsistência, com fins de consumo doméstico, sem fins lucrativos e


utilizando objetos previstos na legislação específica;
• pesca artesanal, possui objetivo comercial, porém sem vínculo empregatício
com a indústria. Utiliza como meio de trabalho embarcações de pequeno e
médio porte (motorizado ou não), com operação próxima à costa. Possui 60%
no total de captura;
• pesca industrial costeira, realizada por embarcações capazes de operar em áreas
afastados da costa, efetuando a exploração de recursos pesqueiros. Esses barcos
dispõem de apetrechos de captura mecanizados, propulsão e motor a diesel;
• pesca industrial oceânica, é uma modalidade ainda insipiente no Brasil, usa-se
embarcações aptas a operar em ZZE, incluindo áreas mais distantes. São embar-
cações com equipamentos especializados de navegação e detecção de cardumes.

DICAS

Não deixe de ler o artigo “Populações tradicionais: pescadores artesanais”,


dos autores Lucas Rodrigues, Mariana P. Haueisen, Fernanda Cabral Jeronimo, Thais R.
Semprebom e Douglas F. Peiró. Disponível em: https://bit.ly/3lDJtCP.

Com a atividade pesqueira, os ecossistemas passam a ter sua biodiversi-


dade reduzida, consequentemente diminui a estabilidade e o potencial de recu-
peração dos estoques pesqueiros. Diante disso, o reconhecimento da inadequação
de técnicas tradicionais simplificadas, tem estimulado o princípio da precaução,
para que a longo prazo se atinja a sustentabilidade dos ecossistemas.

85
UNIDADE 2 — USO RACIONAL DOS RECURSOS MARINHOS COSTEIROS

Apesar dos recursos pesqueiros serem considerados renováveis, sua ca-


pacidade de renovação acaba sendo limitada, devido à genética das espécies e
por conta da dinâmica dos ecossistemas que habitam. Diante disso, o estabeleci-
mento de medidas efetivas para o uso sustentável desses recursos se torna difícil
de efetivar.

O Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNDUM), em


seu artigo 61, traz regras relativas à conservação e uso dos recursos pesqueiros.
Ficando definido que (BRASIL, 1995):

• fixação das capturas permissíveis dos recursos vivos na zona econômica exclusiva;
• com base em dados científicos, o Estado costeiro deve dispor e assegurar de
medidas apropriada para conservação e gestão, sendo que os recursos vivos
não sejam ameaçados pelo excesso de captura;
• as medidas estabelecidas, devem preservar ou reestabelecer a população de
espécies capturadas em níveis de produção com máximo rendimento. Os
níveis, são determinados a partir de fatores ecológicos e econômicos;
• a adoção dessas medidas deve levar em conta os efeitos sobre as espécies
associada às espécies capturadas ou delas dependentes, a fim de preservar ou
restabelecer as populações;
• periodicamente, deve-se comunicar ou trocar informações cientificas,
estatísticas de captura e de esforço de pesca e outros dados para conservação
das populações de peixes.

A partir do momento que as premissas anteriores são atendidas é neces-


sária a definição das formas de controle para restringir o livre acesso aos recursos
costeiros. O controle pode ser exercido de várias formas, como:

• limitação de licenças;
• esforço de pesca;
• a área ou a época da pesca;
• estabelecimento de cotas globais ou individuais;
• adoção de mecanismos da gestão participativa e autorregulação.

Uma medida adotada é a interdição de áreas e épocas de pesca, conhe-


cidas por defeso. O defeso é um mecanismo de contenção do esforço de pesca,
com objetivo de proteger os ecossistemas costeiros as áreas de criadouros e prin-
cipalmente o período de desova. Pode-se definir o defeso como uma medida não
quantificável quando se trata dos níveis de captura sustentável.

Ainda pode-se citar a captura total permissível, que é usada como meca-
nismo de controle em pescarias, porém essa medida tem dificuldades aos méto-
dos e conceitos científicos para determinação da biomassa e para ser estabelecida
as partes interessadas devem estar de acordo com tal medida. Outra pauta em
discussão tem sido as cotas individuais negociáveis para pescaria industrial e o
direito de uso territorial para pescarias artesanais.

86
TÓPICO 3 — MEDIDAS DE MITIGAÇÃO DOS IMPACTOS SOBRE A REGIÃO COSTEIRA

As cotas individuais são como a ideia de cotas globais, só que negociadas


livremente. Porém a transferência dessas cotas passou a ter função de peso
econômico, o que levou as indústrias adquirirem maiores quantidades, assim
eliminando o pescador tradicional. Além disso, outro fator negativo é o fato
dessas cotas serem aplicadas à pesca de determinada espécie, isso leva o sistema
induzir comportamentos danosos ao equilíbrio ambiental.

Em se tratando do direito de uso territorial, mesmo garantindo à comu-


nidade o acesso exclusivo às áreas de pesca, a imposição de formas de uso dos
recursos acaba sendo um ponto negativo.

O gerenciamento dos recursos pesqueiros é fundamentado nas políticas


de concessão de permissões, exemplo disso são restrições que ocorrem nas épocas
de defeso, principalmente para as pescarias industriais, e a proibição da utilização
de determinadas artes de pesca ao longo do litoral. As pescarias de recursos de
profundidade possuem regulamentação mais abrangente. Além disso, existem
os acordos de pesca, que são propostas especificas que devem reger a atividade
pesqueira em áreas geograficamente definidas.

De acordo com Fernandes (2012, p. 151):

[...] é necessário gerar conhecimento técnico-científico com objetivo


de propiciar técnicas e métodos adequados ao desenvolvimento de
uma pesca sustentável e responsável. Devem ser apoiadas, de forma
prioritária com pesquisas voltadas para a biologia das principais
espécies com ênfase em reprodução, idade, crescimento, distribuição
e abundância; (ii) estimativas do potencial de captura sustentável dos
diferentes estoques; (iii) modelos de gestão pesqueira que incluam, além
dos elementos de conservação das espécies-alvo, o enfoque ecossistêmico
das pescarias; (iv) a avaliação dos efeitos da variabilidade climática e
oceanográfica sobre distribuição, abundância e capturabilidade dos
principais recursos pesqueiros explotados; e (v) o desenvolvimento e
a difusão de novas tecnologias que permitam diminuir as capturas de
fauna acompanhante, entre outros temas de igual importância.

Atualmente, no Brasil, existem leis especificas para o ordenamento de


pesca e proteção dos peixes, o que auxilia no favorecimento do uso sustentável
dos estoques pesqueiros e diminuição dos impactos ambientais indesejados sobre
outras espécies animais, como aves marinhas, tartarugas marinhas, golfinhos e
outras espécies.

ATENCAO

De forma a minimizar esses impactos sobre outras espécies, tem sido adotado
na pesca industrial de espinhel (linha de pesca com 1500 anzóis) o uso de tecnologias para
reduzir a captura de aves marinhas como albatrozes e petréis.

87
UNIDADE 2 — USO RACIONAL DOS RECURSOS MARINHOS COSTEIROS

Uma das tecnologias utilizadas para minimizar o impacto da captura


das aves é o Toriline, que é um equipamento semelhante a uma rabiola de pipa,
sua função é espantar as aves que seguem a embarcação durante a atividade de
lançamento do espinhel. Dessa forma, diminui-se as chances dessas aves serem
capturadas acidentalmente.

FIGURA 10 – ANZOL COMUM

FONTE: <https://shutr.bz/3pPFkhR>. Acesso em: 10 set. 2021.

Outro método adotado é o regime de peso, que determina o peso ideal do


chumbo na linha de pesca e a sua distância ideal do anzol. Com o chumbo mais
pesado, ele afunda mais rápido, diante disso diminui-se as chances de uma ave
ser fisgada ao tentar pegar a isca. Também para a pescaria de espinhel, tem sido
adotado o uso de anzol circular. O uso desse tipo de anzol diminui as chances de
as tartarugas marinhas serem capturadas no anzol, pois esse formato dificulta a
tartaruga de engolir, reduzindo a chance de ser capturada incidentalmente, e sem
diminuir a chance de o peixe ser fisgado.

FIGURA 11 – ANZOL CIRCULAR, ADOTADO PARA MINIMIZAR CAPTURAS INCIDENTAIS DE


TARTARUGAS

FONTE: <https://shutr.bz/3Ezhdb4>. Acesso em: 10 set. 2021.

Por fim, no caso da pesca de arrasto, ou seja, grande rede em formato cônico
que é arrastada pelo barco, existe o TED chamado de Dispositivo de Exclusão
de Tartaruga. O TED é uma grade circular de metal na rede com uma pequena
abertura permitindo com que as tartarugas sejam capazes de sair, enquanto os
peixes ficam presos ao fundo O TED acaba sendo uma forma de excluir a pesca
de tartarugas que não são alvo da pescaria.

88
TÓPICO 3 — MEDIDAS DE MITIGAÇÃO DOS IMPACTOS SOBRE A REGIÃO COSTEIRA

FIGURA 12 – TED: DISPOSITIVO DE EXCLUSÃO DE TARTARUGA

FONTE: Adaptado de Gerling (2016, p. 54)

O fato é que o desenvolvimento da pesca sustentável acarreta a viabilidade


de diversos empreendimentos em todas as fases da cadeia produtiva, o que requer
uma qualidade e equidade social para garantir o uso da geração atual e futura.
Por isso, se faz necessário o estímulo da criação de projetos de qualidade de pesca
que favoreça a captura, gerenciamento e comercialização desses recursos.

3 EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA CONSERVAÇÃO


O aumento populacional em áreas costeiras é uma realidade da qual
demanda um aumento das atividades econômicas de exploração que vai desde a
pesca até o turismo nestas regiões. Consequentemente, o aumento dos impactos
antrópicos nessas áreas também aumenta, e com a degradação acelerada do
ecossistema, tem-se a perda de todos esses recursos que mantêm a sobrevivência
da população. Além disso, as Zonas Costeiras apresentam características únicas,
produzindo ecossistemas produtivos e de rara beleza, o que os tornam locais
ideais para o lazer e recreação, recebendo turistas das mais diversas camadas
sociais de grandes centros urbanos e mundial. Pensando nisso, é que se torna
necessária a adoção da educação ambiental como ferramenta de auxílio na
conservação desse ecossistema.

89
UNIDADE 2 — USO RACIONAL DOS RECURSOS MARINHOS COSTEIROS

FIGURA 13 – EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UM CONHECIMENTO QUE TRANSFORMA

FONTE: <https://shutr.bz/3mpofJn> Acesso em: 10 set. 2021.

A educação ambiental nada mais é que o conjunto de processos pelos


quais os indivíduos e a coletividade se apropriam dos conhecimentos necessários
sobre o espaço em que vivem e sobre os meios de melhorá-lo, assim preservan-
do-o para as futuras gerações (CAVALCANTI, 1995). Ela se torna uma vertente
da educação direcionada aos assuntos relacionados à interação do homem com
o ambiente, assim despertando uma consciência crítica sobre os problemas am-
bientais (CERQUEIRA, 2021).

FIGURA 14 – AÇÕES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

FONTE: <https://shutr.bz/3bo5C2a>. Acesso em: 10 set. 2021.

90
TÓPICO 3 — MEDIDAS DE MITIGAÇÃO DOS IMPACTOS SOBRE A REGIÃO COSTEIRA

Ações de educação ambiental junto à população que vive nesses espaços,


objetiva a mudança de atitude desses indivíduos em relação ao ambiente em
que vivem e contribui para a construção de novos conhecimentos e valores para
conservação da biodiversidade e do desenvolvimento socioambiental. Porém, a
participação da sociedade ainda é limitada, já que ela está relacionada como o
acesso à informação e com as diferentes visões de mundo.

A educação ambiental vem como forma de alcançar a conservação e o


manejo sustentável com a ajuda dessa população nessas áreas costeiras. Uma
forma de incentivo à participação da sociedade nos processos de gestão é usando
a percepção ambiental como estratégia de planejamento para o uso sustentável
dos recursos marinhos. Diante disso, a compreensão ambiental torna-se uma
importante ferramenta como auxílio da minimização dos impactos nessas
localidades e na gestão costeira integrada.

Uma das várias formas desse conhecimento chegar às comunidades


é por meio da transposição didática do conhecimento científico, que se dá das
universidades para o ensino nas escolas, porém, essa preocupação acaba sendo
ignorada ou pouco explorada nas salas de aula. Por isso, as universidades precisam
desempenhar importante papel, com perfis voltados para a Zona Costeira, onde
se destacam os cursos cuja formação é de natureza interdisciplinar. São várias
as iniciativas estimuladas a partir destes cursos que contribuem no processo de
educação e formação ambiental marinha.

FIGURA 15 – COMUNIDADES COSTEIRAS

FONTE: <https://shutr.bz/2Y0ITGl>. Acesso em: 10 set. 2021.

Tem-se também, a atuação dos projetos socioambientais nessas áreas que


se tornam importantes, pois suas ações educativas permeiam as tendências da
educação ambiental crítica junto a população dessas áreas.

91
UNIDADE 2 — USO RACIONAL DOS RECURSOS MARINHOS COSTEIROS

A educação ambiental crítica é direcionada para a transformação social,


pois ela trabalha a perspectiva para além da mudança ambiental, trabalhando
também a transição social e a atuação política. Pode-se dizer que a educação
ambiental crítica explora na sua pedagogia a reflexão sobre os sistemas sociais e
a relação deles com os sistemas naturais. Dessa forma, mostrar para a população
o papel dela diante ao sistema natural, principalmente nas áreas que elas vivem,
é reforçar a importância do papel da sociedade na preservação como forma de
manter este ambiente conservado, garantindo a sobrevivência não apenas da
biodiversidade local, mas também a nossa própria existência.

Além disso, questões ambientais são complexas, e para contornar essa


complexidade há a necessidade do diálogo de saberes na busca da complemen-
tariedade do conhecimento científico, com base no conhecimento popular das
comunidades tradicionais. Esses grupos são detentores de saberes antigos, re-
sultado da relação direta com o meio ambiente. Diante disso, se faz necessário
reconhecer a importância das comunidades locais como forma de evoluir para
uma sociedade sustentável e para conservação do meio ambiente.

92
TÓPICO 3 — MEDIDAS DE MITIGAÇÃO DOS IMPACTOS SOBRE A REGIÃO COSTEIRA

LEITURA COMPLEMENTAR

RESÍDUOS FARMACÊUTICOS: MAIS UMA AMEAÇA AOS OCEANOS

Aline Pereira Costa


Fernanda Cabral Jeronimo
Thais R. Semprebom
Mariana P. Haueisen
Douglas F. Peiró

Ouvimos muito sobre a degradação dos oceanos por diversos fatores,


sendo a poluição por microplásticos um dos mais mencionados na atualidade.
Porém, o que muitos ainda não têm conhecimento, é que nossos oceanos vêm
sofrendo com uma outra forma de contaminação: a poluição por resíduos
farmacêuticos.

O alto consumo de medicamentos por parte da população é algo


preocupante, pois os resíduos gerados por estes fármacos poluem as águas, sejam
de rios ou de mares. Esses resíduos são um sério problema, porque podem ser
biologicamente ativos, significando que podem agir sobre toda a biodiversidade
marinha. Além disso, a contaminação por esses resíduos pode afetar as cadeias
alimentares, afetando até nós, seres humanos.

COMO OCORRE ESSA CONTAMINAÇÃO?

A população humana aumentou sua expectativa de vida ao usar medica-


mentos para tratar doenças. No entanto, o alto consumo desses fármacos é um
fato preocupante. Além disso, muitas pessoas têm o hábito de se automedicar,
comprar medicamentos sem prescrição médica ou além do necessário.

Inicialmente a contaminação ocorre com a eliminação desses fármacos na


excreção e na evacuação. Quando consumimos um medicamento, ele não é to-
talmente absorvido pelo organismo, consequentemente, os resíduos (compostos
farmacêuticos ativos) ou os seus metabólitos (compostos farmacêuticos transfor-
mados), que não são metabolizados pelo organismo, são eliminados na urina ou
nas fezes.

Dessa forma, os compostos que não foram absorvidos pelo organismo têm
como destino o esgoto, assim como os medicamentos que não foram totalmente
consumidos. Ou então, aqueles que passaram do prazo de validade, acabam
sendo descartados de forma irregular no lixo ou em vasos sanitários.

93
UNIDADE 2 — USO RACIONAL DOS RECURSOS MARINHOS COSTEIROS

A partir disso, no meio ambiente, o resíduo farmacêutico passa por rotas


até chegar ao ecossistema marinho. Uma das principais rotas de contaminação
são as águas residuais (conhecidas por esgotos). Porém, a biodegradação
desses resíduos nas Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) não é eficiente,
consequentemente os resíduos presentes acabam sendo lançados nos oceanos.
Um exemplo é a cidade costeira de Los Angeles, que lança suas águas residuais
diretamente no ecossistema marinho.

Outra forma de contaminação marinha são as águas residuais provenien-


tes de navios, barcos e cruzeiros marítimos, lançadas diretamente nos oceanos,
muitas vezes sem tratamento.

A aquicultura e a criação de animais também são formas de contribuição


da contaminação dos oceanos por resíduos farmacêuticos. O uso de antibióticos
nessas práticas muitas vezes contamina o solo e, consequentemente, o lençol
freático, que levam esses contaminantes para o mar.

CONSEQUÊNCIAS DA CONTAMINAÇÃO MARINHA

Apesar dos estudos da contaminação marinha por esses resíduos serem


ainda muito escassos, os pesquisadores já conseguem estimar as consequências
de contaminação da biota marinha. Estudos disponíveis mostram que as
concentrações desses resíduos presentes no oceano são muito baixas, porém, a
carga persistente de eliminação e sua bioacumulação no meio ambiente é o que
torna o ecossistema marinho contaminado.

Um estudo em laboratório com caranguejos da espécie Hemigrapsus


oregonensis mostrou que indivíduos que são ativos à noite, quando expostos a
altas concentrações de fluoxetina (princípio ativo do medicamento Prozac,
utilizado no estudo), apresentaram comportamentos de atividade durante o dia,
além de um comportamento agressivo diante de seu predador (caranguejos da
espécie Cancer productus) e até mesmo intraespecificamente (entre indivíduos da
mesma espécie). A consequência dessa alteração no comportamento pode levar
ao aumento da predação e mortalidade de H. oregonensis, visto que os indivíduos
ficam mais vulneráveis ao predador.

Resíduos de antibióticos também são muito encontrados no ambiente ma-


rinho, causando grande preocupação. Foi demonstrado que este tipo de resíduo
tem afetado o crescimento das algas. A exposição à tilosina (antibiótico utilizado
em medicina veterinária) resultou na redução da biomassa da comunidade de mi-
croalgas bentônicas, além da sua produtividade primária. A exposição retardou o
crescimento de diatomáceas e exerceu baixo efeito na biomassa de cianobactérias.
Além disso, concentrações de resíduos de antibióticos podem desenvolver popu-
lações de bactérias resistentes presentes nos sedimentos marinhos.

94
TÓPICO 3 — MEDIDAS DE MITIGAÇÃO DOS IMPACTOS SOBRE A REGIÃO COSTEIRA

A contaminação marinha por resíduos farmacêuticos que atuam no siste-


ma endócrino (hormônios), como o caso dos contraceptivos e estrogênios, é outra
grande preocupação. Esses resíduos estão relacionados ao desenvolvimento de
anormalidades no sistema reprodutivo de alguns organismos, induzindo algu-
mas espécies ao hermafroditismo ou à feminilização completa. Fato observado
em indivíduos de peixes Oryzias latipes, que quando expostos ao estrogênio 17
β-estradiol (hormônio sexual feminino e esteróide), induziram a feminilização
dos machos.

Além disso, animais marinhos de níveis tróficos mais altos, como


tubarões, golfinhos e baleias, também têm apresentado concentrações de
resíduos farmacêuticos em seus organismos. Isto significa que a cadeia alimentar
marinha está sendo diretamente afetada pela bioacumulação desses resíduos
ou pode estar indiretamente perdendo espécies-chave. O fato é que não são
apenas os organismos marinhos que sofrem com a contaminação por resíduos
farmacêuticos, mas a saúde humana também está em risco, já que consumimos
muitas espécies marinhas e essa ingestão prolongada também pode ocasionar
alterações em nosso organismo.

O QUE FAZER PARA DIMINUIR A CONTAMINAÇÃO POR RESÍDUOS


FARMACÊUTICOS?

Diante do aumento da população, principalmente em áreas costeiras, a


tendência é um aumento do descarte irregular desses resíduos. Assim, é necessário
o uso de medidas mitigadoras com o intuito de diminuir a farmacopoluição
dos oceanos como a logística reversa como forma de amenizar os impactos da
poluição ambiental por resíduos farmacêuticos, assim reduzindo o descarte
irregular desses medicamentos, que receberiam um destino adequado, como a
incineração, como propõem alguns pesquisadores. Atualmente já existem pontos
de coleta, nos quais podemos descartar conscientemente esses medicamentos.
Ademais, precisamos ser conscientes e fazermos nossa parte, com o uso racional
de medicamentos, não adquirindo além do necessário e com prescrição médica.
O fato de ainda estarmos caminhando neste campo de pesquisa faz com que
mais estudos sejam necessários para um melhor monitoramento da concentração
desses resíduos no ecossistema marinho.

FONTE: COSTA, A. P.  et al. Resíduos farmacêuticos: mais uma ameaça aos oceanos.  Bioicos:
Biologia Marinha, Ubatuba, 7 jun. 2021. Disponível em: https://www.bioicos.org.br/post/residuos-
farmaceuticos-mais-uma-ameaca-aos-oceanos. Acesso em: 10 set. 2021.

95
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Diante do crescimento populacional das Zonas Costeiras o planejamento


ambiental se faz necessário para o desenvolvimento de uma gestão ambiental
integrada, como forma de mitigar os impactos ocasionados as regiões costeiras.

• O uso da pesca sustentável se faz necessário como forma de evitar o


comprometimento dos recursos costeiros.

• A importância da educação ambiental junto à comunidade costeira como


forma de conscientizar sobre a preservação do ambiente costeiro.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

96
AUTOATIVIDADE

1 Diante da crescente urbanização e atividades relacionadas ao ambiente


costeiro, o planejamento ambiental se faz necessário para o desenvolvimento
de uma gestão ambiental integrada, como forma de contribuir para solução
e redução dos problemas ambientais gerados. Esse sistema de gestão deve
ser aplicado como forma de minimizar os impactos negativos. Portanto,
para que se possa propor uma gestão efetiva, deve-se levar em consideração
os problemas gerados, a fim de atuar com medidas eficazes e sustentáveis
conhecidas por medidas mitigadoras. Disserte sobre a classificação das
medidas mitigadoras.

2 No início dos anos 1960, a pesca era apenas artesanal, o que significa que
sua produção era comercializada na forma fresca ou refrigerada, atendendo
apenas o mercado interno. Porém, após os anos de 1960, o governo passou
a incentivar a pesca, desenvolvendo, assim, a pesca industrial, a qual é
voltada para o mercado externo. Com base na questão da pesca, analise as
sentenças a seguir:

I- Ao final da década de 1970, a captura de espécies das regiões pelágicas


triplicou se comparado com a captura de espécies presentes nas regiões
demersais.
II- O principal impacto da pesca está associado à redução na abundância de
espécies-alvo.
III- Atualmente, a produção nacional do pescado divide-se em pesca artesanal
e industrial.
IV- A pesca pode ser considerada uma importante atividade mundial, pois
gera apenas emprego e alimento.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A sentença I está correta.


b) ( ) Somente as sentenças I e IV estão corretas.
c) ( ) A sentença IV está correta.
d) ( ) Somente a sentença II está correta.

3 Apesar dos recursos pesqueiros serem considerados renováveis, sua capa-


cidade de renovação acaba sendo limitada. Diante disso, o estabelecimento
de medidas efetivas para o uso sustentável desses recursos se torna difícil
de efetivar. O CNDUM, em seu artigo 61, traz regras relativas à conserva-
ção e uso dos recursos pesqueiros. Acerca dessas regras, classifique V para
as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

97
( ) Com base em dados científicos, o Estado costeiro deve dispor e assegurar
de medidas apropriada para conservação e gestão, sendo que os recursos
vivos não sejam ameaçados pelo excesso de captura. 
( ) A adoção de medidas deve levar em conta os efeitos sobre as espécies
associada às espécies capturadas ou delas dependentes, a fim de preservar
ou restabelecer as populações. 
( ) Periodicamente deve-se comunicar ou trocar informações cientificas,
estatísticas de captura e de esforço de pesca e outros dados para
conservação das populações de peixes. 
( ) Realizar estudos de caso nas principais obras de engenharia costeira,
já implantadas no país, para identificação dos impactos gerados, dos
sucessos e insucessos. 

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) F – F – V – V.
b) ( ) V – F – F – F.
c) ( ) V – F – F – V.
d) ( ) V – V – V – F.

4 Uma das medidas de conservação do ecossistema marinho, é o uso da


educação ambiental como forma de buscar a sustentabilidade socioambiental
dessas áreas. Sendo atualmente utilizado o método de educação ambiental
crítica. Disserte sobre a educação ambiental crítica que tem sido muito
empregada por projetos ambientais em regiões das Zonas Costeiras.

5 A necessidade da educação ambiental como ferramenta de educação é


importante, pois é uma forma direta de se levar conhecimento à população
acerca da importância de se conservar os ecossistemas. Com base na
importância da educação ambiental como ferramenta de conservação,
analise as sentenças a seguir:

I- É necessário a adoção da educação ambiental como ferramenta de auxílio


na conservação de ecossistemas, como por exemplo o marinho.
II- Ações de educação ambiental junto à população que vive nesses espaços
objetivam a mudança de atitude desses indivíduos em relação ao ambiente
que eles vivem, e contribui para a construção de valores para conservação
da biodiversidade.
III- Uma das formas de educação ambiental é através da transposição didática
do conhecimento científico das universidades para o ensino nas escolas.
IV- A atuação de projetos ambientais das áreas costeiras se torna importantes,
pois suas ações educativas permeiam as tendências da Educação Ambiental
Convencional.

98
Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.


b) ( ) As sentenças III e IV estão corretas.
c) ( ) As sentenças II e IV estão corretas.
d) ( ) Todas as sentenças estão corretas.

99
REFERÊNCIAS
BRASIL. Decreto nº 1.530, de 22 de junho de 1995. Declara a entrada em vigor
da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, concluída em Montego
Bay, Jamaica, em 10 de dezembro de 1982. Brasília, DF: Diário [da] República
Federativa do Brasil, 23 jun. 1995. Disponível em: http://www.iea.usp.br/noticias/
documentos/convencao-onu-mar. Acesso em: 10 set. 2021.

CAVALCANTI, C. (org.). Desenvolvimento e natureza: estudos para uma


sociedade sustentável. São Paulo: Cortez Editora, 1995.

CERQUEIRA, W. Educação ambiental. Mundo Educação, Goiânia, 10 set.


2021. Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/educacao-
ambiental.htm. Acesso em: 10 set. 2021.

FERNANDES, L. P. C. (coord.). O Brasil e o mar no século XXI: relatório aos


tomadores de decisão do País. 2. ed., rev. e ampl. Niterói: BHMN, 2012. Disponível
em: https://www.marinha.mil.br/secirm/sites/www.marinha.mil.br.secirm/files/
cembra-2a_ed.pdf. Acesso em: 10 set. 2021.

GERLING, C; et al. Manual de ecossistemas: marinhos e costeiros para educadores.


Santos, SP: Editora Comunicar, 2016.

SOUZA, C. R. G. A erosão costeira e os desafios da gestão costeira no Brasil.


Revista de Gestão Costeira Integrada, Lisboa, n. 9, v. 1, p. 17-37, 2009. Disponível
em: https://www.aprh.pt/rgci/pdf/RGCI9f1.pdf. Acesso em: 10 set. 2021.

100
UNIDADE 3 —

POLÍTICAS PÚBLICAS E GOVERNANÇA


MARINHA E COSTEIRA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• perceber os impactos oriundos da globalização;

• conhecer as políticas públicas voltadas às Zonas Costeiras;

• aprender sobre o Programa Nacional de Gerenciamento Costeiro;

• relacionar as ações que foram tomadas a partir do PNGC com os seus


resultados;

• aprender sobre a governança marinha costeira por meio dos instrumentos


de planejamento e dos instrumentos de apoio.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – IMPACTOS DA GLOBALIZAÇÃO E SUAS DISPARIDADES

TÓPICO 2 – PROGRAMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO


COSTEIRO (GERCO)

TÓPICO 3 – GOVERNANÇA MARINHA COSTEIRA

101
CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

102
TÓPICO 1 —
UNIDADE 3

IMPACTOS DA GLOBALIZAÇÃO E SUAS DISPARIDADES

1 INTRODUÇÃO

As economias mundiais são beneficiadas pela capacidade que os


ecossistemas naturais têm de oferecer bens e serviços como consequência o
desenvolvimento das nações sempre esteve focado no quanto é possível extrair
desses ecossistemas. Na maioria das vezes, isso ocorre sem nenhum plano de
avaliação dos impactos causados nesse processo, como foi o método de ocupação
do litoral brasileiro, como pode ser observado na Figura 1. Sendo assim, para que
ocorra uma gestão sustentável dos ecossistemas, é preciso um conjunto efetivo de
respostas que considerem a avaliação integrada dele e não apenas nas respostas
centradas para a espécie humana.

FIGURA 1 – OCUPAÇÃO DAS ZONAS COSTEIRAS BRASILEIRAS

FONTE: IBGE (2011, p. 16)

103
UNIDADE 3 — POLÍTICAS PÚBLICAS E GOVERNANÇA MARINHA E COSTEIRA

Há vários conceitos de Zonas Costeiras (ZC) baseados nos aspectos físicos,


demográficos, nas funções ecológicas. Sendo assim, a Comissão Interministerial de
Recursos do Mar (CIRM) adota a definição que ZC é o espaço geográfico onde há
a interação do ar, do mar da terra e dos recursos ambientais (GRUBER et al., 2003).

A ZC possui mais de oito mil quilômetros de faixa, compreendendo 395


municípios distribuídos em 17 estados litorâneos, como o Rio Grande do Sul,
Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Sergipe,
Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte, Ceará, Maranhão,
Pará e Amapá, conforme ilustra a Figura 2.

FIGURA 2 – ZONAS COSTERIAS DO BRASIL

FONTE: <https://shutr.bz/3bqrPg1>. Acesso em: 18 set. 2021.

Em relação às Zonas Costeiras, o panorama atual dos ecossistemas


mundiais é particularmente grave, pois existe pressão para manter os padrões
atuais de desenvolvimento mundial. Vale lembrar que cada vez mais se explora
intensamente os ecossistemas costeiros, colocando-os entre os mais ameaçados
do mundo, pois trata-se de zonas de alta produtividade primária, de fácil
acesso, com diversidade de recursos naturais, fornecendo, portanto, uma grande
variedade de bens e serviços, sendo atrativos para o turismo (BURKE et al., 2001).
104
TÓPICO 1 — IMPACTOS DA GLOBALIZAÇÃO E SUAS DISPARIDADES

NOTA

As Zonas Costeiras, além das atividades pesqueiras, têm importância portuária,


que mantém a movimentação de produtos ao longo do litoral nacional. Também é o local
onde encontram os principais pontos de exploração de petróleo e gás natural, facilitando a
logística e o transporte das produções (IBGE, 2011).

As políticas públicas e governança marinha e costeira têm sido


implementadas nos últimos 50 anos ao redor do mundo, de acordo com as
características políticas, econômicas, socioculturais e biofísicas das diferentes
nações. Para a subsistência dos ecossistemas costeiros é necessário a promoção
e desenvolvimento de estratégias de uso sustentável, além da consciência da
sociedade sobre os problemas existentes, com a intenção de manter o bem-estar
para espécie humana, bem como para a manutenção dos sistemas globais que dão
suporte a vida.

A globalização é um processo de integração de fluxos, sendo eles comér-


cio, capital, trabalho e informação, bem como das políticas que os regem, como,
por exemplo, a redução de barreiras ao comércio, fluxos financeiros e migração.
A sua intensificação gerou um acelerado processo de degradação ambiental, de
forma que foi necessária uma mudança de comportamento por parte da popula-
ção (BURKE et al., 2001).

Os impactos socioambientais provenientes da globalização variam


de acordo com as regiões. Países mais desenvolvidos, vendo a necessidade
de minimizar os impactos ambientais, aproveitaram a abertura das barreiras
comerciais e passaram parte ou o todo do processo produtivo para os países mais
pobres, em busca de mão de obra mais barata e de uma legislação ambiental
menos rigorosa (AGGARWAL, 2006).

As atividades econômicas, ao deixarem de estar limitadas pelo mercado


interno, ultrapassam os limites da capacidade do ecossistema de se recompor,
deixando-o à mercê do perigo da perda da diversidade. Esses problemas
ambientais e sociais são decorrentes de uma globalização consumista, de
sociedades industrializadas com foco na produtividade, desconsiderando a
avaliação da resiliência do ecossistema, tendo como consequência a diminuição
da qualidade de vida e o aumento da exclusão social e da pobreza.

É notório os benefícios econômicos da globalização, contudo, as conse-


quências ambientais geraram discussões que buscam um crescimento e produ-
ção que considerem o sistema homem-natureza como um todo (AGGARWAL,
2006).

105
UNIDADE 3 — POLÍTICAS PÚBLICAS E GOVERNANÇA MARINHA E COSTEIRA

Em relação aos ecossistemas costeiros, a constatação, pela sociedade,


das consequências da exploração intensa dos recursos naturais, ocasionou
discussões que retratam a importância de implantar medidas gerencias para
minimizar a degradação que aos poucos torna-se incontornável.

A globalização e a abertura dos mercados estrangeiros influenciam


significativamente o uso das Zonas Costeiras, permitindo mais mobilidade e
um maior acesso à informação e recursos, de forma que expõe esses locais a um
número maior de usuários.

Como consequência, tem-se mais poluição, perda de habitat, desterri-


torialização de comunidades locais com perdas de direitos levando-as à mar-
ginalização. Quanto maior o número de consumidores para os bens e serviços
advindos das Zonas Costeiras, maior é a pressão dos recursos naturais, gerando
sobre-exploração, e perda de habitat.

Programas de pesquisas sobre mudanças climáticas, aumento do nível do


mar, aquecimento atmosférico, possibilitaram prever cenários de erosão costeira,
demostrando as graves consequências socioeconômicas e ambientais para as
nações. Assim, conhecer os processos e a estrutura organizacional nas Zonas
Costeiras é fundamental para o desenvolvimento de programas específicos
de gestão que sejam capazes de alinhas estas mudanças no sistema do planeta
(BELCHIOR, 2008).

2 SUSTENTABILIDADE NAS AGENDAS MUNDIAIS


Visando o desenvolvimento sustentável costeiro, a gestão costeira
precisou de uma abordagem que lidasse com a diversidade do sistema dessas
regiões e das relações entre seus componentes. A gestão tradicional já não
respondia a essas questões, pois tinha uma visão setorialista e não sistêmica.
Assim, vários princípios presentes na Declaração do Rio (ONU, 1992) foram
adotados na implantação da nova Gestão Costeira (CGI). A Figura 3 retrata um
modelo de sustentabilidade aplicado a Zonas Costeiras.

106
TÓPICO 1 — IMPACTOS DA GLOBALIZAÇÃO E SUAS DISPARIDADES

FIGURA 3 – MODELO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM ZONAS COSTEIRAS

FONTE: <https://bit.ly/2Y0snGt>. Acesso em: 13 out. 2021.

Vários movimentos e eventos foram, ao longo dos anos, discutindo a neces-


sidade da implantação de medidas que minimizassem os problemas ambientais.

O primeiro alerta em relação ao modelo de crescimento globalizado foi


realizado pelo Clube de Roma (MEADOWS, 1972), que retratou, por meio do seu
livro Limites ao crescimento, que o desenvolvimento da população e o acelerado
aumento do consumo dos recursos naturais eram finitos e limitados. E, assim,
propuseram a discussão de um modelo de crescimento baseado no equilíbrio
global, respeitando a capacidade de carga da biosfera e a necessidade de um
sistema sustentável mundial (DIEGUES, 2001).

Foram surgindo vários debates e propostas de modelos alternativos de


crescimento, ressaltando a abordagem que o resultado das atividades humanas
sobre o ecossistema coloca em risco a sobrevivência da própria espécie humana.
O primeiro conceito a surgir diante das discussões foi o de ecodesenvolvimento,
de autoria de Sachs, em 1986, que abrangia um novo estilo de desenvolvimento
e planejamento baseado na satisfação das necessidades fundamentais das
populações, a prudência ecológica e a sustentabilidade econômica (REBOUÇAS;
FILARDI; VIEIRA, 2006).

107
UNIDADE 3 — POLÍTICAS PÚBLICAS E GOVERNANÇA MARINHA E COSTEIRA

A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento


(CMMAD) publicou o relatório “O nosso futuro comum”, em 1987, com a in-
tenção de alertar para a necessidade de um modelo de desenvolvimento que
ao mesmo tempo que satisfizesse as necessidades das presentes gerações, não
comprometesse os recursos para as futuras gerações. Além disso, também sa-
tisfizesse suas necessidades e expectativas, retratando, portanto, o conceito de
desenvolvimento sustentável (BELCHIOR, 2008).

Em relação ao desenvolvimento sustentável, a produtividade econômica


não é o único foco para o progresso das nações, é necessário que haja integridade
do ecossistema, da equidade social e da eficiência econômica.

O conceito de desenvolvimento sustentável foi adotado como princípio


orientador para o progresso das nações na Conferência das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), que ocorreu no Rio de Janeiro,
em 1992. Naquela oportunidade, foi criado também um plano de ação, por meio
da Agenda 21, que ressaltava a importância dos oceanos e das Zonas Costeiras
para a manutenção dos ecossistemas mundiais (BELCHIOR, 2008).

ATENCAO

A discussão sobre a sustentabilidade é a base para o desenvolvimento e,


portanto, está entremeada nas abordagens da globalização. Sendo assim, mundialmente
todas as agendas governamentais discutem os conceitos e a aplicação da sustentabilidade.

A Agenda 21 foi fundamental para implantar a gestão integrada, sendo,


portanto, uma meta global. Ela apresenta, em particular para as Zonas Costeiras,
a discussão de instrumentos para a promoção do desenvolvimento local
sustentável, retratando as seguintes temáticas, segundo Belchior (2008):

• Proteção dos Oceanos, de todos os tipos de mares, incluindo os fechados e


semifechados, e das Zonas Costeiras;
• Proteção, Uso Racional e Desenvolvimento dos recursos vivos.

Assim, o conteúdo da Gestão Costeira Integrada (GCI) foi retratado pela


primeira vez na Agenda 21, sendo que as novas abordagens para o gerenciamento
e desenvolvimento marinho e costeiro, devem ser integradas e utilizar a precaução
e antecipação para melhor gerir.

108
TÓPICO 1 — IMPACTOS DA GLOBALIZAÇÃO E SUAS DISPARIDADES

Na Conferência das Partes (COP21), em Paris, foi realizado um acordo com


o objetivo de incentivar a resposta global à ameaça da mudança do clima e reforçar
a capacidade dos países para promover alternativas contra os impactos decorren-
tes dessas mudanças. Com isso, o principal compromisso dos países envolvidos
foi o de reduzir as emissões de gases de efeito estufa, para limitar o aumento da
temperatura a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais (BELCHIOR, 2008).

3 POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS ÀS ZONAS COSTEIRAS


Para efetivar as capacidades nacionais, é necessário formular políticas
intersetoriais, pois as chances de sucesso de uma política são afetadas pelo
ambiente institucional a que pertence. Portanto, no Brasil, a cooperação entre
os órgãos federais é fundamental para a gestão dos processos ambientais, vale
ressaltar que o sucesso das iniciativas do governo federal depende da participação
dos municípios. É preciso avaliar a importância da ação descentralizada na política
ambiental e a importância do governo federal para garantir os compromissos
internacionais.

Adoção de políticas públicas orientadas por missão, nas quais muitos


departamentos trabalham em conjunto para atingir objetivos específicos definidos
pelo governo, que são descritos como projetos inovadores que atendem aos
interesses nacionais, baseados em políticas descentralizadas e distribuídas entre
múltiplos órgãos.

ATENCAO

A política mista é, portanto, uma combinação de diversos instrumentos da


política pública, considerando a emergência e a interação do processo e instrumentos.

As políticas públicas voltadas para as Zonas Costeiras podem ter


abordagens nas diferentes esferas (federal, estadual e municipal). As principais
legislações federais que incidem sobre as Zonas Costeiras e contribuem para a
Gestão Costeira Integrada veremos a seguir:

• a Constituição Federal do Meio Ambiente, presente na Constituição da


República Federativa do Brasil (BRASIL, 1988a), declara que todos têm direito
a usufruir de um meio ambiente ecologicamente equilibrado, item utilizado
pelas pessoas e essencial para a qualidade de vida, portanto, o governo e a
sociedade devem defendê-lo e protegê-lo para as gerações presentes e futuras;

109
UNIDADE 3 — POLÍTICAS PÚBLICAS E GOVERNANÇA MARINHA E COSTEIRA

• a Lei Federal de nº 6.938, de 1981, que trata da Política Nacional do Meio


Ambiente (BRASIL, 1981a), seus fins e mecanismos de formulação e aplicação;
• a Lei Federal de nº 7.735, de 1989, que cria o Instituto Brasileiro de Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (BRASIL, 1989);
• a Lei Federal de nº 6.902, de 1981, que aborda as Unidades de Conservação
e apresenta a criação de Estações Ecológicas e Áreas de Proteção Ambiental
(BRASIL, 1981b);
• a Lei Federal de nº 11.516, de 2007, cria o Instituto Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade (BRASIL, 2007);
• sobre as Unidades de Conservação ainda existe o Decreto Federal nº 1.992, de
1996, que fala sobre o reconhecimento das Reservas Particulares do Patrimônio
Natural (BRASIL, [1996]);
• também Decreto de nº 4.340 (BRASIL, 2002a), que regulamenta o Sistema
Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC). O SNUC é
um avanço nas diretrizes e procedimentos para a gestão de Unidades de
Conservação, ressalta-se que considera a importância da gestão participativa,
incluindo representantes de órgãos públicos, organizações da sociedade civil e
a população local;
• sobre a proibição de atividade em Área de Relevante Interesse Ecológico que afe-
tem o ecossistema existe a Resolução Conama nº 12, de 1989 (CONAMA, 1989);
• a instituição do Plano Estratégico Nacional de Áreas Protegidas (PNAP) foi
instaurado via Decreto de nº 5.758 (BRASIL, 2006);
• em relação ao Licenciamento Ambiental, existe a Resolução Conama de
nº 1, de 1986, que aborda os critérios básicos e diretrizes para avaliação do
impacto ambiental. Além disso, há a Resolução Conama de nº 237, de 1997, que
regulamenta os aspectos de licenciamento ambiental (CONAMA, 1986; 1997);
• a aprovação do texto debatido na Convenção sobre Diversidade Biológica, as-
sinado durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, no Rio
de Janeiro em 1992 está presente no Decreto Legislativo de nº 2 (BRASIL, 1994a);
• o Decreto Federal de nº 4.339 (BRASIL, 2002b) que institui princípios de
diretrizes para a implementação da Política Nacional de Biodiversidade;
• o Decreto Federal que define as regras para identificação de áreas prioritárias
para a conservação, utilização sustentável e repartição dos benefícios da
biodiversidade no âmbito das atribuições do Ministério do Meio Ambiente, de
nº 5.092 (BRASIL, 2004);
• em relação aos recursos hídricos temos Decreto Federal de nº 24.643 que dispõe
sobre o Código de Águas (BRASIL, 1934);
• a Lei Federal de nº 9.433 (BRASIL, 1997a) que Institui a Política Nacional de
Recursos Hídricos, cria também o Sistema Nacional de Gerenciamento de
Recursos Hídricos;
• Resolução Conama de nº 357, de 2005, que classifica em treze classes as águas
doces, salobras e salinas (CONAMA, 2005);
• Resolução Conama de nº 397, de 2008, que dispões sobre a classificação dos
corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, e sobre as
condições e padrões de lançamento de efluentes (CONAMA, 2008);

110
TÓPICO 1 — IMPACTOS DA GLOBALIZAÇÃO E SUAS DISPARIDADES

• sobre o Ordenamento Territorial existe a legislação federal de nº 7.661


(BRASIL, 1988b) que institui o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro II
(PNGCII), outra resolução aprovou o PNGCII, em 1997;
• sobre as regras de uso e ocupação da zona costeira e estabelecimento de critérios
de gestão da orla marítima existe o Decreto Federal de nº 5.300 (BRASIL, 2004);
• a transferência aos município litorêneos da gestão das praias marítimas urban-
as, inclusive áreas de uso comum com exploração econômica está descrito na
medida provisória de nº 691, de 2015;
• os Bens e Imóveis e Comunidades Tradicionais são regidos pela portaria de
nº 89, de 2010, que disciplina a utilização e o aproveitamento dos imóveis da
União em favor das comunidades tradicionais, para possibilitar a ordenação
do uso racional e sustentável dos recursos naturais disponíveis na orla
marítima e fluvial;
• em relação ao Ordenamento Marítimo, a Lei Federal de nº 8.617 (BRASIL, 1993)
aborda o mar territorial, zona contígua, zona econômica exclusiva e plataforma
continental do Brasil;
• a Lei Federal de nº 12.815 (BRASIL, 2013) determina o regime jurídico da
exploração dos portos e das instalações portuárias;
• o Decreto Federal de nº 96.000 (BRASIL, 1988c) que dispõe sobre a realização
de pesquisa e investigação científica na plataforma continental e em águas sob
jurisdição brasileira e sobre navios e aeronaves de pesquisa estrangeiros em
visita aos portos ou aeroportos nacionais;
• o Decreto Federal de nº 1.265 (BRASIL, 1994b) que aprova a Política Marítima
Nacional (PMN);
• o Decreto Federal de nº 1.530 (BRASIL, 1995) que declara a entrada em vigor da
Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar;
• o Decreto Federal de nº 9.432 (BRASIL, 1997b) que dispõe sobre a ordenação do
transporte aquaviário;
• o Decreto Federal de nº 9.537 (BRASIL, 1997c) que fala sobre a segurança do
tráfego aquaviário em águas sob jurisdição nacional;
• o Decreto Federal de nº 5.377 (BRASIL, 2005) que aprova a Política Nacional
para os Recursos do Mar;
• a respeito da poluição marinha, existe a Lei de nº 9.966 (BRASIL, 2000) que
dispõe sobre a prevenção, controle e fiscalização da poluição causada por
lançamento de óleo e outras substâncias nocivas ou perigosas em águas sob
jurisdição nacional.
• o Decreto Federal de nº 2.508 (BRASIL, 1998) que dispõe sobre a Convenção
Internacional para a Prevenção da Poluição causada por Navios;
• o Decreto de nº 4.136 (BRASIL, 2002c) que especifica sansões aplicáveis as
infrações, regras de prevenção, controle e fiscalização da poluição causada por
lançamento de óleo e outras substâncias sob jurisdição nacional.

111
UNIDADE 3 — POLÍTICAS PÚBLICAS E GOVERNANÇA MARINHA E COSTEIRA

FIGURA 4 – LEGISLAÇÕES FEDERAIS INCIDEM SOBRE AS ZONAS COSTEIRAS

FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/law-633750290>. Acesso em: 19 set. 2021.

Existem importantes normas que estabelecem quais as embarcações


podem ser empregadas na navegação em mar aberto, na navegação interior.
Normas para amadores, embarcações de esporte e ou recreio, clubes. Normas
para pesquisa, exploração, remoção e demolição de coisas e bens afundados,
submersos, encalhados e perdidos. Normas para atividades subaquáticas.

As respostas políticas são as ações integradas de gerenciamento e gestão,


que são planejadas para mitigar os impactos oriundos pelas mudanças ambientais,
e para minimizar as pressões e os efeitos sobre as Zonas Costeiras. Ressalta-se que
a participação da sociedade nesse processo é necessária e fundamental para se
expressar como agente de transformação, com a capacidade de nortear e efetivar
as ações políticas nesses locais.

FIGURA 5 – ORDENAMENTO MARÍTIMO BRASILEIRO

FONTE: IBGE (2011, p. 29)

112
TÓPICO 1 — IMPACTOS DA GLOBALIZAÇÃO E SUAS DISPARIDADES

Os programas governamentais possuem o propósito de utilizar e, ao


mesmo tempo, conservar o recurso costeiro para o uso do Gerenciamento Costeiro
Integrado (CGI), para que seja possível incluir todos os tipos de instituições
governamentais e a sociedade. Sendo assim, tem o objetivo de harmonizar as
atividades setoriais que afetam a ZC e os seus recursos (POLETTE; VIEIRA, 2005).

NOTA

O CGI está presente nas políticas públicas e o principal plano de gestão é o


PNGC, que também faz parte da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) e da Política
Nacional para os Recursos do Mar (PNRM), se conectando com diversas leis, diretrizes e
decretos, como, por exemplo, o SNUC (POLETTE; VIEIRA, 2005).

A Comissão Interamericana para os Recursos do Mar (CIRM) elaborou


a Política Nacional para os Recursos do Mar (PNRM), com o intuito de orientar
o desenvolvimento das atividades que utilizam, exploram e aproveitam
sustentavelmente os recursos vivos, minerais e energético do mar territorial, da
zona econômica exclusiva e da plataforma continental, seguindo os interesses
nacionais, para promover o desenvolvimento socioeconômico do país. O plano
foi desdobrado em outras categorias, conforme Polette e Vieira (2005):

• o Plano de Levantamento da Plataforma Continental Brasileira (LEPLAC);


• o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC);
• o Plano Setorial para os Recursos do Mar (PSRM).

O LEPLAC estabelece o limite exterior da plataforma continental brasileira,


o qual determina a área marítima, além das 200 milhas náuticas, tendo o Brasil
direitos de soberania para a exploração e o aproveitamento dos recursos naturais
do leito e subsolo marinhos. Suas atividades são desenvolvidas em conjunto com
a Marinha do Brasil, Petrobras e comunidades científicas brasileiras (POLETTE;
VIEIRA, 2005).

113
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A globalização é um processo de integração de fluxos, sendo eles comércio,


capital, trabalho e informação. Bem como das políticas que os regem, como, por
exemplo, a redução de barreiras ao comércio, fluxos financeiros e migração a
compreensão dos impactos que a globalização causa diante do uso e ocupação
do solo, ressaltando as atividades econômicas voltadas para as Zonas Costeiras.

• Para ocorrer o desenvolvimento sustentável costeiro, a gestão costeira precisa


de uma abordagem que compreenda a diversidade do sistema costeiro e das
relações entre seus componentes. Devem ser integradas e utilizar a precaução
e antecipação para garantir uma melhor gestão, assim, as agendas mundiais
inserem essa discussão nos eventos ambientais, principalmente sobre a gestão
integrada de Zonas Costeiras.

• Para a efetiva capacidade estatal, é necessária a geração de políticas


intersetoriais, sendo a cooperação entre os órgãos federativos vital para a
gestão dos processos ambientais, ressalta-se que o sucesso das iniciativas do
governo federal depende da adesão e participação dos estados e municípios.

• As respostas políticas de ações integradas de gerenciamento e gestão são


planejadas para mitigar os impactos oriundos pelas mudanças ambientais e
para minimizar as pressões e os efeitos sobre as Zonas Costeiras. Ressalta-se
que a participação da sociedade nesse processo é necessária para se expressar
como agente de transformação, com a capacidade de nortear e efetivar as ações
políticas nas Zonas Costeiras.

114
AUTOATIVIDADE

1 Com base no conteúdo estudado anteriormente, se observa que, com o


advento da globalização e, portanto, a liberação do comércio, as riquezas
brasileiras, em especial os recursos naturais, são escoadas por meio
de estradas e portos, com o crescente desenvolvimento das atividades
econômicas, destacando-se a atividade pesqueira, a extração de petróleo
e gás, polos petroquímicos e usinas nucleares. De acordo com o exposto,
assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A capacidade de resiliência dos sistemas naturais está intimamente


ligada à pressão antrópica, o que acarreta inúmeros impactos ambien-
tais extremamente significativos nas áreas costeiras.
b) ( ) O crescente desenvolvimento das atividades econômicas não afeta a
capacidade dos sistemas naturais.
c) ( ) O uso sustentável dos recursos naturais foi aplicado desde o início da
globalização para o uso dos recursos costeiros.
d) ( ) A globalização não contribui para o aumento do uso dos recursos costeiros.

2 Se considera que o panorama atual dos ecossistemas costeiros mundiais


é particularmente grave, pois a pressão é grande para manter essas
referências de desenvolvimento mundial, visto que exploram intensamente
os ecossistemas costeiros, colocando-os entre os mais ameaçados do mundo.
Com base no panorama atual, analise as sentenças a seguir:

I- As Zonas Costeiras são regiões onde houve uma maior ocupação


humana, tendo, portanto, uma grande concentração populacional, dessa
forma, são os lugares do mundo em maior risco à ocorrência de eventos
naturais mais intensos.
II- Para que ocorra uma gestão sustentável dos ecossistemas é preciso um
conjunto efetivo de respostas que considerem a avaliação integrada dele,
e não apenas nas respostas centradas para a espécie humana.
III- Não é necessário implantar medidas gerenciais para minimizar a
degradação das Zonas Costeiras, pois elas são área de pouco fluxo
populacional e baixa exploração comercial.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e III estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

115
3 A cooperação entre os órgãos federativos é vital para a gestão dos processos
ambientais aplicados à gestão das Zonas Costeiras. De acordo com as
políticas públicas adotadas para a gestão de Zonas Costeiras, classifique V
para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) As políticas públicas voltadas para as Zonas Costeiras podem ter


abordagem nas esferas federal, estadual e municipal.
( ) As políticas públicas aplicadas as Zonas Costeiras são responsabilidades
exclusiva do Governo Federal.
( ) As respostas políticas são as ações não integradas de gerenciamento
e gestão, que são planejadas para mitigar os impactos oriundos pelas
mudanças ambientais e para minimizar as pressões e os efeitos sobre as
Zonas Costeiras.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – V.
b) ( ) V – F – F.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 As políticas públicas voltadas para as Zonas Costeiras podem ter abordagem


nas esferas federal, estadual e municipal. As principais legislações federais
incidem sobre as Zonas Costeiras e contribuem para a Gestão Costeira
Integrada. A partir desse contexto, disserte sobre as principais legislações
que orientam o uso e ocupação das Zonas Costeiras.

5 Para ocorrer o desenvolvimento sustentável costeiro, a gestão costeira


precisa de uma abordagem que compreenda a diversidade do sistema da
região e das relações entre seus componentes, que devem ser integradas
e utilizar a precaução e antecipação para garantir uma melhor gestão.
De acordo com o exposto, disserte sobre como devem ser as respostas
governamentais frente à gestão costeira.

116
TÓPICO 2 —
UNIDADE 3

PROGRAMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO


COSTEIRO (GERCO)

1 INTRODUÇÃO

O Brasil criou a Secretaria Especial do Meio Ambiente da Presidência


da República somente no ano de 1973. No ano seguinte, 1974, foi instituída a
Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (BRASIL, 1974) para gerar
diretrizes e políticas para o setor. Porém, somente no ano de 1980 foi formulada
a Política Nacional de Recursos do Mar (PNRM), bem como, somente em 1981, a
Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA).

A Gestão Costeira no Brasil surgiu em 1987, ao formular o Programa


Nacional de Gerenciamento Costeiro (GERCO), com a intenção de planejar e
gerenciar, de maneira integrada, participativa e descentralizada as atividades
socioeconômicas na Zona Costeira, por meio do uso sustentável dos recursos e
ecossistemas costeiros, utilizando medidas de controle, preservação, proteção e
recuperação (POLETTE; VIEIRA, 2005). Como pode ser observado na Figura 6,
existem poucas áreas de preservação e uma significativa área antropizada nas ZC.

FIGURA 6 – DISTRIBUIÇÃO DA COBERTURA VEGETAL

FONTE: IBGE (2011, p. 79)

117
UNIDADE 3 — POLÍTICAS PÚBLICAS E GOVERNANÇA MARINHA E COSTEIRA

Em 1988 o processo de proteção das Zonas Costeiras foi impulsionado


pela publicação da Carta Constitucional, que considerava essas regiões como
parte do Patrimônio Nacional. No mesmo ano foi instituído o Plano Nacional
de Gerenciamento Costeiro e aprovada a Resolução CIRM de nº 1, de 1990, para
retratar a constituição do planejamento da Zona Costeira Brasileira. Em 1997 o
detalhamento e a operacionalização deste plano foram atualizados, e ele passou
a ser denominado de PNGCII, por meio da Resolução CIRM de nº 5, de 1997.
Contudo, somente em 2004 todas as ações do plano foram regulamentadas, as
quais estabeleceram as bases para a formulação de políticas, planos e programas
federais, estaduais e municipais (POLETTE; VIEIRA, 2005).

O Programa Nacional de Gerenciamento Costeiro (GERCO), tem como


objetivo primordial operacionalizar o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro
(PNGC) de forma descentralizada e participativa. Envolve os 17 estados litorâneos
por meio dos seus respectivos órgãos ambientais, que integram suas ações como
os municípios, tendo o Ministério do Meio Ambiente como órgão central, que
coordena todas as ações no nível federal (ASMUS; KITZMANN, 2004).

Para tanto, é necessário formular diretrizes comuns para a convergência


sistemática das políticas do setor costeiro da coalizão. Para que isso ocorra, foi
instituído o Grupo de Integração do Gerenciamento Costeiro (GI-GERCO)
fundado no âmbito da CIRM aprovado pela Resolução nº 5 de dezembro de 1997,
coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA).

O Gi-GERCO é um colegiado com atuação política e diretrizes que se


inserem no GERCO. Visa articular e integrar as ações federais dos diferentes
órgãos da União, possuindo representantes do comando da Marinha, do
Ministério das Relações Exteriores, Ministério do Transporte, Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e do Comércio Exterior, Ministério da Ciência
e Tecnologia, Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, Secretaria de
Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Secretaria do Patrimônio da
União, Instituto do Meio Ambiente e Recursos Naturais e Renováveis, Associação
Brasileira de Entidades do Meio Ambiente, Associação Nacional de Municípios
e Meio Ambiente, representante civil das organizações não governamentais
(ASMUS; KITZMANN, 2004).

As ações do GERCO possuem cinco objetivos, que são o controle de


ações impactantes; preservação e conservação de ecossistemas; desenvolvimento
de alternativas tecnológicas; fomento a atividades sustentáveis; mobilização e
organização social (POLETTE; VIEIRA, 2005).

Na Figura 7, é possível observar a urgência na implementação de ações


sustentáveis para ZC.

118
TÓPICO 2 — PROGRAMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO COSTEIRO (GERCO)

FIGURA 7 – IMPLEMENTAÇÃO DE AÇÕES NA ZONA MARINHA

FONTE: IBGE (2011, p. 80)

As ações referentes a ZC, previstas pelo GERCO, ocorrem por meio dos
Planos de Gestão da Zona Costeira, para orientar a execução do gerenciamento
costeiro com a participação efetiva da sociedade. Possui um enfoque transetorial,
coordenado pelo setor ambiental governamental (POLETTE; VIEIRA, 2005),
sendo composto por quatro etapas:

• a priorização dos problemas e causas;


• define-se os indicadores dos problemas;
• caracterização das diretrizes e objetivos da gestão,
• programação de ações, visando os prazos e recursos.

Sendo assim, as ações são voltadas para a solução dos problemas e é


definida a instituição que implantará.

O Ministério do Meio Ambiente dirige o GERCO em âmbito federal


e coordena, em ambiente estadual, ações como as atividades intersetoriais nas
regiões, conduzida pelo Grupo de Integração do Gerenciamento Costeiro (GI-
GERCO), que é composto por diversos setores federais, estaduais, locais e de
Organizações Não Governamentais (BELCHIOR, 2008).

119
UNIDADE 3 — POLÍTICAS PÚBLICAS E GOVERNANÇA MARINHA E COSTEIRA

FIGURA 8 – ORGANIZAÇÃO MARÍTIMA INTERNACIONAL (IMO)

FONTE: <https://shutr.bz/3jRkyuc>. Acesso em: 19 set. 2021.

A grupo de trabalho do CERCO, desde que iniciou no ano de 1996,


participar das reuniões da Organização Marítima Internacional (IMO) e foi
incorporando diversos assuntos, os quais destacam-se:

• controle do intercâmbio de espécies exóticas;


• combate a incidentes de poluição por óleo;
• controle da produção de resíduos por navios, portos, instalações portuárias e
plataformas offshore;
• controle e a redução de resíduos perigosos produzidos no continente e alijados
no mar.

Além das agendas de trabalhos, os colegiados costeiros encaminham e


discutem as políticas, planos, ações e programas à gestão costeira, eles são de
esferas estaduais e municipais (BELCHIOR, 2008).

São quatro os objetivos principais para a Gestão Integrada da Zona


Costeira:

• restaurar e manter a integridade ecológica dos ecossistemas;


• minimizar os conflitos de uso dos recursos naturais;
• garantir a saúde do meio ambiente;
• promover o desenvolvimento multisetorial preservando os valores humanos e
os recursos naturais.

Baseados nesses objetivos existem ainda seis princípios, segundo


Horovitz (2019):

• as ações da Gestão Integrada das Zonas Costeiras devem utilizar as informações


cientificas mais recentes para o entendimento das funções ecológicas dos
ecossistemas;

120
TÓPICO 2 — PROGRAMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO COSTEIRO (GERCO)

• devem refletir a qualidade ambiental e de saúde;


• é necessário avaliar comparativamente os cenários de riscos e opções de
gerenciamentos;
• utilizar as perspectivas transdisciplinares para a resolução de problemas;
• deve ser guiada pela Ciência e Engenharia;
• deve ser guiada também pelas expectativas públicas.

E
IMPORTANT

Para que a Gestão Integrada de Zonas Costeiras seja mais efetiva, é preciso
compreender o estado dessas regiões frente às pressões socioeconômicas e ambientais.
As avaliações de riscos são importantes instrumentos que dão suporte à gestão integrada e
podem ser utilizadas para estimar os impactos potenciais advindos das atividades antrópicas
e das pressões naturais.

2 PLANO NACIONAL DE GERENCIAMENTO COSTEIRO


O Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC), instituído pela
Lei nº 7.661, de 1998, (BRASIL, 1988b), visa orientar a utilização sustentável dos
recursos da zona costeira, para contribuir com a qualidade de vida da população
e com a proteção do patrimônio natural, histórico, cultural e étnico. O Instituto
Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais (IBAMA) foi responsável pela
supervisão do PNGC até 1992, a partir dessa data o Ministério do Meio Ambiente
assumiu as responsabilidades.

O escopo do PNGC contempla ações como:

• de urbanização, uso e ocupação do solo, subsolo e das águas;


• parcelamento do solo, sistema de produção, transmissão e distribuição de
energia;
• sistemas viários e de transporte;
• habitação e saneamento básico;
• lazer, recreação e turismo.

O PNGC dever ser integrado, de forma que todas as esferas (federal,


estadual e municipal), tenham suas responsabilidades. Ele se inicia com a
definição de ZC e descreve as complexidades, as características e a sua extensão,
as quais dão suporte as justificativas para a aplicação de uma gestão integrada e
diversificada das atividades antrópicas, ressaltando os conflitos de interesses e o
equacionamento com o meio ambiente.

121
UNIDADE 3 — POLÍTICAS PÚBLICAS E GOVERNANÇA MARINHA E COSTEIRA

E
IMPORTANT

As justificativas para aplicação do PNGC são a presença de ecossistemas


costeiros com atividades de maricultura e pesca, a concentração populacional urbana e
as consequências da expansão territorial com a intensidade turística, o desenvolvimento
econômico pautado nos portos e jazidas de petróleo, e a poluição do ecossistema costeiro.

O PNGC I introduz a reflexão sobre os desmatamentos, das agressões à


identidade cultural e paisagística, dos efeitos danosos ao ecossistema. Para tanto,
estabelece na esfera político-administrativas normas e diretrizes que ordenam o
espaço costeiro, com vistas à utilização racional dos recursos, mantendo a quali-
dade de vida da população e a proteção do patrimônio natural, histórico, étnico
e cultural. Há seis princípios, que norteiam o PNGCI, segundo Horovitz (2019):

• desenvolvido e implementado com base na PNMA e na PNRM;


• proteção;
• manutenção;
• racionalização;
• reabilitação dos ecossistemas e seus recursos;
• ampliação da capacidade produtiva pesqueira.

Segundo o mesmo autor, para o PNGCII esses princípios foram ampliados


para 12, sendo adicionadas a agregação dos compromissos internacionais, a gestão
integrada dos ambientes com a construção de mecanismos mais democráticos
de tomada de decisão, a visão de unidade natural dos ecossistemas e a não
fragmentação dos ecossistemas (HOROVITZ, 2019).

No Gráfico 1 é possível verificar a quantidade de habitantes da ZC por


município.

GRÁFICO 1 – MUNICÍPIOS DA ZONA COSTEIRA POR NÚMERO DE HABITANTES NO BRASIL

FONTE: IBGE (2011, p. 123)

122
TÓPICO 2 — PROGRAMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO COSTEIRO (GERCO)

Já o Gráfico 2 mostra a relação dos habitantes da ZC com o restante do


Brasil, indicando alta concentração populacional nessas regiões, o que demonstra
a importância da participação dos municípios no PNGC II.

GRÁFICO 2 – NÚMERO DE HABITANTES TOTAL DO BRASIL E DAS ZONAS COSTEIRAS

FONTE: IBGE (2011, p. 123)

Ambos os planos descrevem os instrumentos para sua implantação, a


diferença é que o PNGC I detalha mais sobre os princípios, premissas e requisitos
que devem ser utilizados para a elaboração do Zoneamento Econômico Ecológico
(ZEE), que gera os documentos do Macrozoneamento Costeiro, Macrodiagnóstico
e Monitoramento Costeiro (MOC). Já o PNGC II da ênfase a um novo dispositivo
do ZEE, que é o Zoneamento Econômico Ecológico Costeiro (ZEEC). Os dois
planos também retratam sobre o Sistema de Informações do Gerenciamento
Costeiro (SIGERCO) como parte integrante do Sistema de Informação sobre Meio
Ambiente (SINIMA) (HOROVITZ, 2019).

Para a Gestão Costeira são necessários instrumentos estabelecidos pelo


Decreto de nº 5.300, de 2004, conforme revela Horovitz (2019):

• o Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEEC);


• o Sistema de Informações do Gerenciamento Costeiro (SIGERCO);
• o Sistema de Monitoramento Ambiental da Zona Costeira (SMA_ZC);
• o Relatório de Qualidade Ambiental da Zona Costeira (PGZC);
• o Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro (PEGC);
• o Plano Municipal de Gerenciamento Costeiro (PMGC).

A gestão costeira é integrada, dessa forma, o Governo Federal define as


principais diretrizes e procedimento cooperativos inter-regionais, já o Governo
Estadual planeja o desenvolvimento do estado por meio de parcerias entre estados
vizinhos para atenuar e resolver problemas comuns, o governo local regula o uso
da terra, garantindo o desenvolvimento das comunidades e cidades.

123
UNIDADE 3 — POLÍTICAS PÚBLICAS E GOVERNANÇA MARINHA E COSTEIRA

Os modelos de Gestão Costeira Integrada são baseados, na sua maioria,


nos princípios ecológicos de pressão-mudança-impacto-resposta, os quais desta-
cam a interrelação entre as mudanças ambientais, impactos ambientais, gestão e
respostas políticas. Um dos principais resultados alcançados pelo PNGC I foi o
conceito de zoneamento, passando a ser uma atividade prioritária a ser articulada
aos demais instrumentos do gerenciamento, por meio do estabelecimento de uma
base legal do planejamento ambiental da zona costeira.

3 EVOLUÇÃO E PRINCIPAIS RESULTADOS DO PNGC


As ações descentralizadas e integradas do Plano Nacional do Zoneamento
Costeiro, são necessárias para prover recursos aos estados para a gestão e
viabilização das políticas públicas em nível estadual.

Os primeiros anos da implantação do PNGC foi marcado por problemas


metodológicos, por possuírem uma visão excessivamente tecnocrática e
voltada para a elaboração de material cartográfico, contribuindo pouco para o
gerenciamento efetivo das Zonas Costeiras. Como consequência, ele passou
por uma avaliação em 1992, o que levou a um aprimoramento das ações que
marcaram uma nova fase, mais dinâmica e produtiva. Houve, portanto, a
promoção de capacitação das equipes dos órgãos ambientais estaduais, com o
intuito de estabelecer parcerias e convênios para ações conjuntas e foi criada a
Câmara Técnica do Gerenciamento Costeiro no Conama.

Foram instituídos bancos de dados georreferenciado, para ter um sistema


centralizado com as informações do gerenciamento costeiro nacional.

ATENCAO

A atualização do PNGC foi realizada em 1997, pelo COGERCO, preparando


uma nova versão denominada de PNGC II, a qual foi aprovada pela Resolução CIRM de
nº 5. Essa nova versão objetivou incorporar as vivências decorrentes da implantação do
programa, incluindo as necessidades da sociedade e aperfeiçoando a forma de operação,
para assim diminuir os conflitos do uso da terra e dos recursos naturais, por meio de acordos
sustentáveis para o sistema costeiro.

A definição de Zona Costeira no PNGC II é um território demarcado por


limites políticos dos municípios litorâneos. As atribuições do Governo Federal
foram mais bem definidas, acentuando a responsabilidade da esfera federal,
estadual, municipal e da sociedade civil.

124
TÓPICO 2 — PROGRAMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO COSTEIRO (GERCO)

FIGURA 9 – LITORAL BRASILEIRO

FONTE: <https://shutr.bz/2Y7NNl6>. Acesso em: 19 set. 2021.

O PNGC II direcionou os processos de zoneamento e diagnóstico para ter


uma representação sintética e efetiva do espaço estudado. Reforçou-se, também,
a importância de estabelecer parcerias entre órgãos governamentais, por conta
disso foi implantado o GI-GERCO para promover a articulação destas parcerias,
como também para aprovar os Planos de Ação Federal (PAF).

Observando a evolução do programa, se verifica que ele está operacional


e conta com uma estrutura descentralizada, com as responsabilidades na esfera
federal, estadual e municipal bem definidas. Está implantado em todos os 17
estados costeiros, com articulações de ações de zoneamento e planos de gestão.

Um importante projeto realizado com a intenção de implantar a


descentralização é o Projeto Orla, para que as ações de planejamento de gestão
seja responsabilidade do município, facilitando a fiscalização da ocupação e uso
do solo indevido nos terrenos da União na Orla Marítima, potencializando o
papel do município na gestão costeira.

125
UNIDADE 3 — POLÍTICAS PÚBLICAS E GOVERNANÇA MARINHA E COSTEIRA

FIGURA 10 – PRINCIPAIS AEROPORTOS NO BRASIL

FONTE: IBGE (2011, p. 135)

A Figura 10 apresenta os principais aeroportos brasileiros e a Figura 11


os portos, demonstrando a importância das ZC para a abertura do comércio no
Brasil, e, assim, a relevância da gestão descentralizada para acompanhar de perto
a orla brasileira.

126
TÓPICO 2 — PROGRAMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO COSTEIRO (GERCO)

FIGURA 11 – PRINCIPAIS PORTOS NO BRASIL

FONTE: IBGE (2011, p. 146)

As principais ações e resultados do GERCO de acordo com o Ministério


de Meio Ambiente (2008) são:

127
UNIDADE 3 — POLÍTICAS PÚBLICAS E GOVERNANÇA MARINHA E COSTEIRA

QUADRO 1 – PRINCIPAIS AÇÕES E RESULTADOS DO GERCO

FONTE: Adaptado do Ministério de Meio Ambiente (2008)

A evolução do processo do gerenciamento costeiro integrado baseia-se no


Ciclo da Política do GCI, que pode ser observado na Figura 12 e ocorre em cinco
etapas, que são a análise e identificações de temas de interesse, a preparação de
planos, a adoção formal, o financiamento dos planos/programas, a implementação
e a avaliação (OLSEN, 2003).

FIGURA 12 – EVOLUÇÃO DO PNGC

FONTE: Adaptada de Olsen (2003)

128
TÓPICO 2 — PROGRAMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO COSTEIRO (GERCO)

De acordo com Olsen (2003), a primeira fase inicia-se a partir de 1990


com o a Resolução nº 1, da Comissão Interministerial para os Recursos do
Mar (CIRM), a qual detalha o primeiro Plano Nacional de Gerenciamento
Costeiro (PNGC). Nessa primeira fase, o ciclo não foi concluído, foi realizada
a análise dos temas de interesse para a Zona Costeira Brasileira, preparados
planos e programas por meio do GERCO, mas não foram implementados na
sua totalidade e nem avaliados. Dessa forma, a primeira fase destaca-se por
estabelecer a base legal do planejamento ambiental da zona costeira, e firmar
o zoneamento como uma atividade prioritária que deu a base para os demais
instrumentos e estabeleceu o Sistema de Informação do Gerenciamento Costeiro
(OLSEN, 2003).

Ainda sobre a primeira fase, segundo Olsen (2003), é possível destacar os


principais problemas para o sistema de gestão, são eles:

• má interpretação dos objetivos e finalidades dos planos;


• falta de definição das atividades nas diferentes esferas governamentais,
deixando a esfera federal sem função clara;
• falhas no sequenciamento das atividades para implantação dos planos de
gestão e no monitoramento do zoneamento;
• excessiva rigidez para as atividades de execução descentralizada;
• pouca preocupação com o armazenamento e uso racional da informação.

Em virtude das dificuldades apresentados pelo PNGC I, institui-se, em


1997, com a Resolução nº 5, da CIRM, segundo Plano Nacional de Gerenciamento
Costeiro (PNGCII), que busca planejar e acompanhar o processo de ocupação da
zona costeira. Ele ainda visa analisar de forma sistemática os efeitos positivos
e negativos da ocupação costeira. Esta nova fase, muda a visão sequencial em
relação aos instrumentos de sua implementação. O PNGCII também apresentou
problemas, não conseguiu implantar de forma substancial o processo de avaliação
(OLSEN, 2003).

129
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• O Programa Nacional de Gerenciamento Costeiro (GERCO) objetiva planejar


e gerenciar de maneira integrada, participativa e descentralizada as atividades
socioeconômicas na zona costeira, baseado no uso sustentável dos recursos e
ecossistemas costeiros, utilizando medidas de controle, preservação, proteção
e recuperação.

• O Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro I (PNGCI) introduz a reflexão


sobre os desmatamentos, agressões à identidade cultural e paisagística, efeitos
danosos ao ecossistema, para tanto, estabelece na esfera político-administrativa
normas e diretrizes que ordenam o espaço costeiro, para a utilização racional
dos recursos, mantendo a qualidade de vida da população e a proteção do
patrimônio natural, histórico, étnico e cultural.

• O PNGCI é baseado nos princípios do desenvolvido e implementação com base


na PNMA e na PNRM, proteção, manutenção, racionalização, reabilitação dos
ecossistemas e seus recursos e, ampliação da capacidade produtiva pesqueira.

• No PNGCII há a ampliação para 12 princípios, sendo adicionadas a agregação


dos compromissos internacionais, a gestão integrada dos ambientes com a
construção de mecanismos mais democráticos de tomada de decisão, visão de
unidade natural dos ecossistemas, não fragmentação dos ecossistemas.

• Os dois planos descrevem os instrumentos para sua implantação, a diferença é


que o PNGCI detalha mais sobre os princípios, premissas e requisitos que devem
ser utilizados para a elaboração do Zoneamento Econômico Ecológico (ZEE),
que gera os documentos do Macrozoneamento Costeiro, Macrodiagnóstico e
Monitoramento Costeiro (MOC). Já, o PNGCII dá ênfase a um novo dispositivo
que é o Zoneamento Econômico Ecológico Costeiro (ZEEC). Os dois planos re-
tratam sobre o Sistema de Informações do Gerenciamento Costeiro (SIGERCO),
como parte integrante do Sistema de Informações do Meio Ambiente.

• Na análise evolutiva da implantação dos planos, é possível destacar os princi-


pais problemas para o sistema de gestão, no PNGCI se trata da má interpreta-
ção dos objetivos e finalidades dos planos, a falta de definição das atividades
nas diferentes esferas governamentais, deixando a esfera federal sem função
clara, as falhas no sequenciamento das atividades para implantação dos pla-
nos de gestão e no monitoramento do zoneamento, a excessiva rigidez para as
atividades de execução descentralizada, e a pouca preocupação com o armaze-
namento e uso racional da informação.

• O problema ainda enfrentado pelo PNGC II é com o monitoramento avaliativo


das ações.
130
AUTOATIVIDADE

1 Com base no conteúdo estudado sobre o Plano Nacional de Gerenciamento


Costeiro e as regras referentes ao uso e ocupação da Zona Costeira, assinale
a alternativa CORRETA:

a) ( ) O Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC) é um conjunto


de diretrizes específicas para os municípios que possuem orla marí-
tima, sendo aplicáveis nas diferentes esferas de governo e escalas de
atuação, orientando o desenvolvimento sustentável da zona costeira.
b) ( ) A instalação de equipamentos e o uso de veículos automotores em
dunas móveis são proibidos, pois impactam negativamente a dinâmica
do sistema duna e afetam a utilização da área de bem de uso comum.
c) ( ) O PNGC deve ter um caráter centralizado, com ações definidas pela
esfera federal, não havendo integração nas demais esferas e socie-
dade civil.
d) ( ) O PNGC foi implantado para incentivar o uso e ocupação do solo, já
que as Zonas Costeiras são regiões com baixa concentração popula-
cional e de atividades comerciais.

2 A Gestão Costeira no Brasil surgiu em 1987 ao formular o Programa


Nacional de Gerenciamento Costeiro (GERCO), com a intenção de planejar
e gerenciar, de maneira integrada, participativa e descentralizada as
atividades socioeconômicas na região costeira, por meio do uso sustentável
dos recursos e ecossistemas locais, utilizando medidas de controle,
preservação, proteção e recuperação. Com base nas definições apontadas,
analise as sentenças a seguir:

I- As ações do GERCO possuem cinco objetivos, como o controle de


ações impactantes, a preservação e conservação de ecossistemas, o
desenvolvimento de alternativas tecnológicas, o fomento a atividades
sustentáveis, e a mobilização e organização social.
II- As ações referentes à Zona Costeira são previstas pelo GERCO que ocorram
por meio dos Planos de Gestão da Zona Costeira, para orientar a execução
do Gerenciamento Costeiro sem a participação efetiva da sociedade.
III- O Ministério do Meio Ambiente dirige o GERCO em âmbito federal, e
coordena em ambiente estadual ações como as atividades intersetoriais na
Zona Costeira, conduzida pelo Grupo de Integração do Gerenciamento
Costeiro (GI-GERCO), que é composto por diversos setores federais,
estaduais e locais, e de organizações não governamentais.

Assinale a alternativa CORRETA:

131
a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 Há quatro objetivos principais para a Gestão Integrada da Zona Costeira.


Sobre estes objetivos, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para
as falsas:

( ) Restaurar e manter a integridade ecológica dos ecossistemas.


( ) Incentivar os conflitos de uso dos recursos naturais.
( ) promover o desenvolvimento multisetorial preservando os valores
humanos e os recursos naturais.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 O Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC) foi instituído pela


Lei nº 7.661, de 1998, com o objetivo de orientar a utilização sustentável
dos recursos da zona costeira. A partir deste contexto, disserte sobre as
características do PNGC.

5 A atualização do PNGC foi realizada em 1997, pelo COGERCO, preparando


uma nova versão denominada de PNGCII, a qual foi aprovada pela
Resolução CIRM de nº 5. A partir deste contexto, disserte comparando
PNGC I e PNGC II.

132
TÓPICO 3 —
UNIDADE 3

GOVERNANÇA MARINHA COSTEIRA

1 INTRODUÇÃO

A governança dos recursos naturais é um ponto muito importante para


a análise das políticas públicas. Sendo assim, o termo recursos de propriedade
comum é utilizado sob três vertentes, como recurso de propriedade estatal, como
recurso sem propriedade definida e como recurso usado por uma comunidade
de usuários.

FIGURA 13 – SUSTENTABILIDADE

FONTE: <https://shutr.bz/3pUu1F5>. Acesso em: 19 set. 2021.

No início da implantação da gestão da governança marinha a centralização


em um órgão do governo ou a privatização era a gestão mais recomendada,
contudo, não foi eficiente, e assim foram propostas novas abordagens para uma
governança mais participativa e efetiva, com a intenção de limitar o uso dos
recursos naturais para garantir sua viabilidade econômica a longo prazo.

Para tanto, as políticas públicas ambientais são necessárias e


imprescindíveis para a sustentabilidade do desenvolvimento a longo prazo.
Sendo assim, a governança ambiental intervê, gerando processos regulatórios
e mecanismos que conseguem minimizar os riscos ambientais e obter melhores
resultados sobre o meio ambiente.

133
UNIDADE 3 — POLÍTICAS PÚBLICAS E GOVERNANÇA MARINHA E COSTEIRA

É uma governança complexa, pois os problemas ambientais são de multi-


escalas, ou seja, não são restritos a um determinado nível de governo, sendo assim
uma decisão em nível local, subnacional ou nacional, que pode gerar conflitos. É
recomendado, portanto, a adoção de mecanismos de governo transversais para
que não haja restrição a determinadas instituições (LEMOS; AGRAWAL, 2006).

2 INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO
A legislação para o Gerenciamento Costeiro do Brasil possui um conjunto
com nove instrumentos, que podem ser aplicados de forma integrada e articulada.

QUADRO 2 – INSTRUMENTOS PARA O GERENCIAMENTO COSTEIRO

FONTE: Horovitz (2019, p. 390)

Além dos nove instrumentos descritos no Quadro 2, existem dois projetos:


o Projeto Orla, que define um espaço de gestão específica com a intenção de
planejar, implementar ações nas áreas com maior demanda, para disciplinas o
uso e ocupação do território; e o Projeto Procosta, que objetiva promover a gestão
integrada da linha de costa, o conhecimento técnico-científico, as variações, os
eventos e mudanças climáticas, para a proteção dos ecossistemas marinhos e
costeiros (HOROVITZ, 2019).

134
TÓPICO 3 — GOVERNANÇA MARINHA COSTEIRA

3 INSTRUMENTOS DE APOIO AO PLANEJAMENTO NO


ÂMBITO DO PEGC
O Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro indica que os recursos
naturais protegidos na Zona Costeira e a elaboração de zoneamentos é atri-
buição exclusiva do Estado, de forma a melhorar a qualidade de vida da popu-
lação, a proteção do patrimônio natural, histórico, étnico e cultural (LEMOS;
AGRAWAL, 2006).

E
IMPORTANT

O Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro, instituído pela Lei nº 10.019/1998


tem como objetivos, diretrizes e meta, os instrumentos para sua elaboração, aprovação e
execução, com a intenção de disciplinar e racionalizar a utilização dos recursos naturais da
Zona Costeira (BRASIL, 2008).

A lei estadual define a tipologia das Zonas Costeiras, os usos permitidos,


as atividades proibidas e as penalidades a serem aplicadas no caso de infrações.

A legislação também estabelece que o licenciamento e a fiscalização devem


ser realizados com base nas normas e critérios estabelecidos no Zoneamento
Ecológico-Econômico, a ser instituído mediante decreto estadual, sem prejuízo
das demais normas estaduais, federais e municipais definidas pelos órgãos
competentes.

O Decreto de nº 5.300, de 2004, estabelece os limites, objetivos e instru-


mentos e competências para a gestão, bem como as regras para ocupar e usar as
Zonas Costeiras (LEMOS; AGRAWAL, 2006).

O Gerenciamento Costeiro no Brasil institucionaliza, a nível estadual,


o sistema complexo e dinâmico de controles de natureza política, econômica,
institucional, ecológica, administrativa e espacial. Possui os Conselhos Estaduais
de Meio Ambiente (CONSEMA), que possui as mesmas atribuições do Conselho
Federal tendo, portanto, resoluções de cunho ambiental no âmbito de cada estado
(HOROVITZ, 2019).

135
UNIDADE 3 — POLÍTICAS PÚBLICAS E GOVERNANÇA MARINHA E COSTEIRA

NOTA

Segundo Horovitz (2019), o Zoneamento Ecológico Econômico Costeiro


(ZEEC) é uma ferramenta que auxilia a estabelecer o limite sustentável para a ocupação
da ZC, segundo a fragilidade ambiental e o potencial socioeconômico de cada região. Ele
possui quatro etapas.

No nível estadual, os responsáveis pela coordenação e implementação da


política de meio ambiente são os Órgãos Estaduais de Meio Ambiente (OEMA).

Os colegiados costeiros são instituídos com a função de discutir e


encaminhar políticas, planos, programas e ações destinadas à gestão da zona
costeira. Por meio dos colegiados, almeja-se a facilitação do processo participativo,
possibilitando a mediação dos conflitos de interesse e a articulação das diretrizes
e ações de gestão regional (HOROVITZ, 2019).

No Quadro 3, apresentam-se as quatro etapas do Zoneamento Ecológico


Econômico Costeiro (ZEEC).

QUADRO 3 – ETAPAS DO ZONEAMENTO ECOLÓGICO ECONÔMICO COSTEIRO

FONTE: Horovitz (2019)

136
TÓPICO 3 — GOVERNANÇA MARINHA COSTEIRA

O Sistema de Informações do Gerenciamento Costeiro (SIGERCO) é


composto de aplicativos de geoprocessamento e tratamento digital de imagens
integrado numa base de dados relacional sendo, portanto, um banco de dados
do PNGC.

Esse é um instrumento básico de apoio, devendo propiciar suporte e


fluxo aos subsistemas estruturados/gerenciados pelos estados e municípios
(HOROVITZ, 2019).

FIGURA 14 – GERENCIAMENTO COSTEIRO

FONTE: <https://shutr.bz/3Ep3ALM>. Acesso em: 19 set. 2021.

O Sistema de Monitoramento Ambiental da Zona Costeira (SMA-ZC) tem


uma estrutura operacional para coletar dados e informações de forma contínua
e sistemática, com a intenção de acompanhar os indicadores de qualidade
socioambiental da zona costeira e propiciar o suporte permanente para avaliação
dos Planos de Gestão.

Ele também contribui para atualizar as informações constantes no


SIGERCO que, por sua vez, subsidia a atualização periódica do zoneamento. É
um instrumento fundamental no apoio à rotina dos órgãos de meio ambiente em
sua ação de fiscalização e licenciamento (HOROVITZ, 2019).

137
UNIDADE 3 — POLÍTICAS PÚBLICAS E GOVERNANÇA MARINHA E COSTEIRA

FIGURA 15 – EXEMPLO DE ATIVIDADE QUE CAUSA PROBLEMAS AMBIENTAIS NAS ZONAS


COSTEIRAS

FONTE: <https://shutr.bz/3GDGPWj>. Acesso em: 19 set. 2021.

O Relatório da Qualidade Ambiental da Zona Costeira (RQA-ZC)


consolida periodicamente os resultados obtidos no monitoramento ambiental,
geral e específico, sistematizados em relatório para avaliar a eficiência das
medidas e ações desenvolvidas e subsidiar o planejamento das ações futuras
(HOROVITZ, 2019).

138
TÓPICO 3 — GOVERNANÇA MARINHA COSTEIRA

LEITURA COMPLEMENTAR

A GOVERNANÇA INTERNACIONAL DE SISTEMAS


SOCIOECOLÓGICOS (SSE) MARINHOS: UM ESTUDO DE CASO DA
AMÉRICA DO SUL

Elia Elisa Cia Alves


Rodrigo Barros de Albuquerque
Andrea Quirino Steiner

[...]

DA LITERATURA À TEORIA: COMO ABORDAR A GOVERNANÇA DE


SISTEMAS MARINHOS SOB UMA ÓTICA SISTÊMICA?

O ambiente marinho tem uma série de usos sociais, o que acarreta pro-
blemas de degradação e demanda instrumentos que regulamentem sua uti-
lização. Como, portanto, abordar o tema da governança marinha de maneira
holística, buscando abranger simultaneamente elementos jurídico-normativos
e aspectos ambientais-ecológicos? A análise demanda um enquadramento teó-
rico-metodológico diferenciado que envolva, simultaneamente, fenômenos so-
ciais e biológicos. Por isso, esse trabalho aborda a interação social e ecológica,
a partir da análise do ambiente marinho como um SSE, que também engloba as
relações internacionais (OSTRÖM, 2009; 2010; MCGINNIS, 2011; MCGINNIS;
OSTRÖM, 2014).

A pesquisa sobre a governança de SSEs enfatiza os arranjos auto-


organizados, flexíveis e adaptativos para lidar com as incertezas. No entanto,
a governança adaptativa está inserida na política e, frequentemente, são os
processos políticos que determinam a mudança e a estabilidade na governança
(ORACH; SCHLÜTER, 2016). A literatura que aborda a governança internacional
ambiental do ambiente marinho, porém, é densa e multifacetada. Conta com
contribuições das mais diversas áreas do conhecimento e é trabalhada a partir de
diferentes óticas, como as biológicas (ver, por exemplo, Allison, 2001; Grip, 2017),
jurídicas (BIGAGLI, 2015; 2016) e/ou sociopolíticas (ORACH; SCHLÜTER, 2016),
com poucas contribuições de autores das relações internacionais (por exemplo,
VYLEGZHANIN et al., 2017; MORRIS, 2018; PETERSON et al., 2019).

Nesse sentido, essa seção é um esforço inicial de compreender conceitos


e mecanismos teóricos criados, a partir dessas perspectivas, a fim de lançar bases
para uma análise sistêmica da governança marinha. A seção está organizada
em três etapas. Primeiramente, apresenta o quadro analítico de sistemas
socioecológicos, a partir da análise de desenvolvimento institucional (IAD7)
delineada em McGinnis e Oström (2014), com elementos da revisão feita por
Orach e Schlüter (2016).

139
UNIDADE 3 — POLÍTICAS PÚBLICAS E GOVERNANÇA MARINHA E COSTEIRA

Em segundo lugar, examina a literatura que apresenta a sobreposição


de regimes internacionais como um problema relevante para a governança
internacional marinha. Finalmente, aborda os conceitos de Young (1999) sobre
vínculos institucionais, a fim de amparar a análise empírica sobre a governança
internacional marinha na América do Sul. Partimos de um arcabouço conceitual
que visa sistematizar a análise inferencial descritiva e prescritiva: a análise de
desenvolvimento institucional. McGinnis e Oström (2014) apresentam as camadas
de análise desse arcabouço.

As categorias da primeira camada constituem os quatro principais aspec-


tos que envolvem as situações de ação, na qual interações (I) entre sociedades e
meio-ambiente, através da interação de atores (A) geram resultados (O): sistemas
de recursos (RS), unidades de recursos (RU) e sistemas de governança (GS). Cada
uma dessas categorias é composta por múltiplas camadas inferiores, as quais não
serão apresentadas nesse contexto, por não ser o escopo da presente pesquisa.
Com o PIASES, ferramenta de mapeamento e diagnóstico de sistemas socioeco-
lógicos, o interesse pode ser tanto pela compreensão dos processos de uso, ma-
nutenção, regeneração ou destruição de recursos naturais, como também pela
infraestrutura política em torno da gestão desses recursos, objeto deste estudo.

Conforme Orach e Schlüter (2016), as interações entre pessoas e ecossiste-


mas em SSEs complexos são influenciadas por políticas, as quais raramente são
uma resposta linear simples a uma questão em jogo, ou têm como objetivo for-
necer a solução mais eficiente. Nesse sentido, o foco é identificar e mapear as
regras que regulam o uso do recurso (GS), no caso os oceanos, do ponto de vista
de atores nacionais (A).

Ao conduzir um esforço semelhante, observando o sistema de governança


global do meio ambiente marinho, Grip (2017) identifica organizações
governamentais (GS1) e não governamentais (GS2) globais e regionais que visam à
proteção e o desenvolvimento de mares regionais. O autor nota que a governança
marinha, tanto no nível nacional como no internacional, é predominantemente
guiada por abordagens setoriais que, no Quadro 1, são representados em RS1.
Ele aponta, ainda, que algumas iniciativas foram tomadas para melhorar a
cooperação, coordenação e integração, a fim de alcançar uma maior coerência
entre políticas e estratégias de diferentes organizações que lidam com a gestão
marítima, dentro e fora do sistema das Nações Unidas.

Porém, sugere-se que o sucesso de tais iniciativas é limitado. Segundo


o autor isso acontece, dentre vários motivos, como falhas de interação (I2 e I3,
no Quadro 1) devido à sobreposição institucional, com graves efeitos sobre a
governança marinha.

Em um exemplo de abordagem que aplica à perspectiva de SSE, Allison


(2001), ao analisar os diferentes tipos de respostas institucionais à crise pesqueira,
percebeu um enfraquecimento na regulamentação da pesca em águas territoriais

140
TÓPICO 3 — GOVERNANÇA MARINHA COSTEIRA

de Estados soberanos. O autor notou uma maior adoção de códigos de conduta


voluntários globais, incentivos de mercado e parcerias entre pescadores e
governos, no lugar de marcos jurídicos nacionais vinculantes.

Nesse sentido, o autor identifica que soluções locais e via mercado


estariam substituindo estratégias mais abrangentes de negociações via
acordos internacionais, fomentando um descolamento entre princípios e metas
estabelecidos por regimes internacionais sobre práticas locais.

Diante dessas constatações, como se dá a governança marinha na Amé-


rica do Sul? Será que o regime internacional também reflete essa fragmentação
setorial, apontada por Grip (2017) e resulta em falta de coordenação em torno
do uso do mar? Ou os mecanismos de regulamentação local e soluções esta-
belecidas via mercado estariam substituindo soluções negociadas internacio-
nalmente, conforme discute Allison (2001)? A fim de esclarecer essas questões
busca-se, em uma pesquisa exploratória, identificar e mapear o complexo de re-
gimes internacionais do ambiente marinho na América do Sul e contribuir para
a compreensão de como estão construídos os vínculos institucionais na região.

Ao desenvolver uma teoria de como avaliar as interações institucionais no


estudo dos regimes internacionais, Young (1999) identifica quatro possibilidades.
Primeiro, os arranjos podem ser incorporados, quando estão dentro de um
bojo mais amplo e abrangente de princípios e normas que influenciam regras
e procedimentos de tomada de decisão mais específicos. Segundo, podem ser
classificados como regimes aninhados, ao lidar com o mesmo objeto ou domínio
geográfico, mas em termos mais específicos do que os quadros institucionais
mais amplos ao qual estão ligados. Em terceiro lugar, quando predomina
o agrupamento, a referência remonta à aglomeração de diferentes arranjos
institucionais em um mesmo acordo, sem lógica funcional, mas ligados por um
tema comum. E, finalmente, quando se identifica a sobreposição de regimes; ou
seja, a intersecção descoordenada e não intencional entre o escopo funcional e
institucional de um conjunto de acordos (YOUNG, 1999).

Bigagli (2015; 2016) faz uma abordagem próxima à trabalhada aqui,


investigando o quadro jurídico internacional da governança marinha da União
Europeia e global, respectivamente. Entretanto, o autor não discute os possíveis
impactos da sobreposição de regras sobre a gestão do ecossistema. Além disso,
não identifica nenhum acordo regional que envolva grande parte da costa dos
países da América do Sul.

Diante disso, abrem-se algumas oportunidades de pesquisa quanto a


essas questões. Nesse sentido, as próximas seções versam sobre a metodologia
e os resultados de um estudo de caso da governança internacional do ambiente
marinho na América do Sul, a partir da abordagem SSE e sob a ótica do IAD.

141
UNIDADE 3 — POLÍTICAS PÚBLICAS E GOVERNANÇA MARINHA E COSTEIRA

METODOLOGIA

Os acordos internacionais são percebidos como definidores de metas.


Entre os acordos multilaterais globais ligados à conservação marinha temos,
por exemplo, a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora
e Fauna Selvagem em Perigo de Extinção (CITES) (nesse caso, as metas para o
ambiente marinho seriam relacionadas à proteção dos organismos ameaçados de
extinção); a Convenção sobre os Direitos do Mar (UNCLOS) (metas marinhas:
pesca sustentável; planejamento espacial marinho) e a Convenção da Diversidade
Biológica (conservação da biodiversidade marinha). Consequentemente, outros
componentes da governança dos oceanos, como regras informais, princípios
consuetudinários e práticas de instituições internacionais não serão o objetivo
principal da análise, sendo identificados quando possível.

Consultamos diferentes fontes para elaboração de um banco de dados


referente aos acordos e indicadores ambientais dos países da América do Sul. As
bases de dados de acordos ambientais utilizadas como fontes primárias para os
acordos internacionais são: i) o International Environmental Agreements Database,
da Universidade de Oregon; ii) o Environmental Treaties and Resources indicators
(ENTRI), da Universidade de Columbia; e iii) o Ecolex, um serviço de informação
em direito ambiental, operado em conjunto pela Organização das Nações
Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), pela União Internacional para a
Conservação da Natureza (IUCN) e pelo Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente (UNEP).

Dados sobre o acompanhamento dos ODS estão disponíveis no sítio da


ONU. Para selecionar acordos da primeira base de dados, lançamos buscas com os
termos oceans e pollution, enquanto na base ENTRI, selecionamos os temas: fisheries;
sea; wild species e ecosystems. A partir disso, analisamos os acordos que abordam
o ambiente marinho, eliminando registros duplicados e acordos que não são do
escopo geográfico e/ou temático da pesquisa. Cada acordo foi classificado por
número de países participantes (global ou regional) e por tópico (biodiversidade;
conservação; governança; pesca; poluição; transporte e mudanças climáticas),
com a relação de países onde cada acordo está em vigor. Para preencher tais
informações utilizamos a base de dados do Ecolex. O conteúdo dos acordos
selecionados foi analisado e avaliado conforme a abordagem SSE, e buscou-se
identificar pontos de sobreposição geográfica e temática, bem como os vínculos
institucionais entre os acordos estabelecidos.

RESULTADOS

Foram computados 82 acordos, dos quais 71 têm abrangência global,


um engloba todo o continente americano e apenas dez (10) que envolvem
somente países da América do Sul. Essa já pode ser uma primeira evidência que
corrobora a perspectiva apresentada por Bigagli (2016), sugerindo uma baixa
institucionalidade da governança marinha na região. Ressaltamos, porém, que não
é possível correlacionar, de maneira robusta, o nível de institucionalidade a partir

142
TÓPICO 3 — GOVERNANÇA MARINHA COSTEIRA

do número de acordos sem uma análise mais profunda do conteúdo deles. Araral
e Amri (2013, p. 130) apontam que o IAD foi concebido para analisar resultados
(em a forma de decisões coletivas) de interações entre atores (individuais ou
coletivos), observando o contexto de cada ator ou o insumo de cada interação, a
situação de ação e padrões de interação entre atores racionais limitados.

Nesse sentido, as etapas da presente análise consistem em descrição 1)


dos atores e seus atributos; 2) das interações entre sociedades e meio-ambiente; e
3) dos sistemas de governança.

Quanto à descrição dos atores e de seus atributos, o foco será o


levantamento: 1a) de países mais envolvidos em atos internacionais, por meio
de número de atos em vigor por país (A1); 1b) do Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) do país (2010) (A2); 1c) da localização (abrangência geográfica do
ato) (A4); 1d) liderança (A5); e 1e) da importância da pesca marinha para o país
(A8) (ver Quadro 2). Em relação ao número de atores envolvidos (A1), dos doze
países analisados, cinco se destacam como os países com maior número de acordos
em vigor na região: Chile, Brasil, Argentina, Uruguai e Peru. Considerando os
atributos socioeconômicos (A2).

Ao correlacionar o número de acordos em vigor com o IDH de cada país,


considerando valores de 2015, temos que o índice de correlação de Pearson é
de 82,62%, o que corrobora o argumento da Curva Ambiental de Kuznets. Tal
argumento sugere, por sua vez, que quanto mais rico o país, mais condições
têm de promover instrumentos de preservação ambiental. Ressalta-se, porém,
que a promoção ou mesmo a implementação de um acordo não garantem,
necessariamente, sua eficácia.

Fazendo um recorte da dimensão liderança, alguns autores sugerem que


Brasil e Venezuela se destacaram, na América do Sul, na primeira década do
século XXI ao se considerar uma liderança política mais geral, ou mesmo voltada
para a questão da integração regional (BARNABÉ, 2014; GRANATO, 2015;
CARVALHO; GONÇALVES, 2016). Porém, a participação dos países nos acordos
identificados aqui sugere que essa liderança não se reflete, necessariamente, na
seara ambiental. No caso da governança marinha, observa-se que apenas dois dos
dez acordos identificados estão em vigor na Venezuela.

Paralelamente, é possível observar que cinco desses acordos estão em


vigor tanto no Brasil quanto no Uruguai, países do Atlântico Sudoeste, e os
demais cinco acordos estão em vigor no Chile, Colômbia, Equador e Peru, países
do Pacífico Sudeste.

Underdal (2002) considera que a liderança internacional, no sentido de uma


liderança instrumental, é um dos fatores que influenciam a eficácia de um dado
acordo de meio ambiente no sentido de aumentar a capacidade de um país em
resolver determinado problema. Para este autor, tal liderança não precisa, necessa-
riamente, vir do governo de um país, mas pode ser originária de grupos ou redes
de grupos não governamentais ou de comunidades epistêmicas, por exemplo.
143
UNIDADE 3 — POLÍTICAS PÚBLICAS E GOVERNANÇA MARINHA E COSTEIRA

Por esta ótica, há pistas de que o Brasil tenha ocupado uma posição de
liderança internacional no escopo ambiental geral, em especial quanto ao tema
da biodiversidade, na primeira década do século XXI. Este país foi, por exemplo,
um dos articuladores do Grupo dos Países Megadiversos Afins (BRANDON et al.,
2005; STEINER, 2011). Também há indícios de liderança em décadas anteriores,
ao se observar sua atuação nas grandes conferências internacionais sobre meio
ambiente (LAGO, 2007).

Steiner (2011), porém, encontrou que essa liderança não é tão forte no
caso específico da biodiversidade marinha e destaca que as principais lideranças
internacionais nessa área advêm da Ásia e Oceania.

A despeito de também ser um país megadiverso, no que tange à


temática da governança marinha a Venezuela não parece se projetar como um
líder regional. É provável que esse espaço provavelmente seja ocupado pelo
Chile e Peru que, por terem economias predominantemente dependentes do
recurso marinho, acabam por ter uma maior projeção regional nesse tema. De
fato, em março de 2020 o governo chileno foi elogiado quanto ao seu sistema
de transparência relativo ao monitoramento pesqueiro e reconhecido pela sua
liderança na área pelo Global Fishing Watch.

A mesma organização reconheceu esforços similares por parte do Peru,


em 201820. Sobre o Peru, Wintersteen (2012) ressalta a liderança do país na
interface entre a gastronomia sustentável e a indústria pesqueira com impactos,
inclusive, no comércio com outros países.

Gutierrez et al. (2016) retomam a importância da corrente de Humboldt


para a produção pesqueira desses países, conhecidos por sua alta produtividade
e biodiversidade marinha, e mostram que problemas de sobrepesca e poluição
são compartilhados pelo Chile e o Peru, de modo que as soluções também passam
por iniciativas coordenadas entre os países.

No que tange ao levantamento da importância do recurso para cada


país, coletamos dados sobre a produção de pesca marinha. Similar ao que foi
discutido anteriormente quanto à liderança, nota-se que os países com maior
número de acordos são aqueles que têm alta dependência do recurso marinho.
Nesse caso, o índice de correlação de Pearson entre a média da produção
pesqueira de 1970 a 2010, com o número de acordos em vigor em que o país
é signatário, é de 42,98%. Considerando apenas acordos de âmbito regional, o
índice é ligeiramente maior: 44,21%.

Outro resultado, compatível com Grip (2017), refere-se aos temas cobertos
pelos acordos através de um recorte temporal. Nota-se que, até a década de 1990,
os regimes tratavam predominantemente de questões relacionadas à poluição.

144
TÓPICO 3 — GOVERNANÇA MARINHA COSTEIRA

Após a Conferência Rio, o tema da biodiversidade ganhou maior espaço na


agenda internacional. Outro aspecto interessante é o crescente número de acordos
promovidos ao longo do tempo. Em um horizonte temporal de 40 anos (1930-
1970), apenas 18 acordos haviam sido assinados. Ao longo dos 20 anos seguintes,
(1971-1990), esse número subiu para 33 acordos. Entre 1991 e 2010, foram 31
acordos assinados por países da região.

FONTE: ALVES; E. E. C.; ALBUQUERQUE, R. B. de; STEINER, A. Q. A governança internacional


de sistemas socioecológicos (SSE) marinhos: um estudo de caso da América do Sul. Revista de
Relações Internacionais da UFGD, Dourados, v. 9. n. 18, p. 461-484, jul./dez. 2020. Disponível em:
https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/moncoes/article/view/10485. Acesso em: 19 set. 2021.

145
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• As políticas públicas ambientais são necessárias e imprescindíveis para


a sustentabilidade do desenvolvimento a longo prazo, sendo assim, a
governança ambiental intervém gerando processos regulatórios e mecanismos
que conseguem minimizar os riscos ambientais, e obter melhores resultados
sobre o meio ambiente.

• O Gerenciamento Costeiro do Brasil possui um conjunto com nove instru-


mentos: Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC); Plano de Ação
Federal da Zona Costeira (PAF); Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro
(PEGC); Plano Municipal de Gerenciamento Costeiro (PMGC); Sistema de
Informações do Gerenciamento Costeiro (SIGERCO); Sistema de Monitora-
mento Ambiental da Zona Costeira (SMA); Relatório de Qualidade Ambiental
da Zona Costeira (RQA-ZC); Zoneamento Ecológico – Econômico Costeiro
(ZEEC); e Macrodiagnóstico da Zona Costeira.

• O Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro indica que os recursos naturais


protegidos na Zona Costeira e a elaboração de zoneamentos é atribuição
exclusiva do Estado, de forma a melhorar a qualidade de vida da população, a
proteção do patrimônio natural, histórico, étnico e cultural.

• O Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro (PEGC), instituído pela Lei nº


10.019, de 1998, tem como objetivos, diretrizes e meta, os instrumentos para sua
elaboração, aprovação e execução, com a intenção de disciplinar e racionalizar
a utilização dos recursos naturais da Zona Costeira.

• O PEGC utiliza vários instrumentos para apoiar as ações estaduais, são eles: o
Zoneamento Ecológico Econômico Costeiro (ZEEC); o Sistema de Informações
do Gerenciamento Costeiro (SIGERCO); o Sistema de Monitoramento
Ambiental da Zona Costeira (SMA-ZC) e o Relatório da Qualidade Ambiental
da Zona Costeira (RQA-ZC).

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

146
AUTOATIVIDADE

1 O Gerenciamento Costeiro do Brasil possui um conjunto com nove


instrumentos que podem ser aplicados de forma integrada e articulada. A
respeito do Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC), assinale a
alternativa CORRETA:

a) ( ) Conjunto de diretrizes aplicadas às diferentes esferas governamentais,


que orienta a implantação de políticas, planos e programas voltados
ao desenvolvimento sustentável da Zona Costeira.
b) ( ) Implementa a Política Estadual de Gerenciamento Costeiro e define as
responsabilidades e os procedimentos para a execução.
c) ( ) Implementa a Política Municipal de Gerenciamento Costeiro e define
as responsabilidades e dos procedimentos para sua execução baseados
nas outras esferas.
d) ( ) Define um espaço de gestão específica com a intenção de planejar e
implementar ações nas áreas com maior demanda, para disciplinas o
uso e ocupação do território.

2 As políticas públicas ambientais são necessárias e imprescindíveis para a


sustentabilidade do desenvolvimento das Zonas Costeiras a longo prazo.
Sendo assim, analise as sentenças a seguir:

I- A governança ambiental intercede gerando processos regulatórios e


mecanismos que conseguem minimizar os riscos ambientais, e obter
melhores resultados sobre o meio ambiente.
II- É recomendado a adoção de mecanismos de governa transversais, para
que não haja restrição à determinadas instituições.
III- A gestão da governança marinha centralizada em um órgão central do
governo é eficiente.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e III estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 Sobre o Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro, classifique V para as


sentenças verdadeiras e F para as falsas:

147
( ) O Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro, instituído pela Lei nº
10.019, de 1998, tem como objetivos, diretrizes e meta, os instrumentos
para sua elaboração, aprovação e execução, com a intenção de disciplinar
e racionalizar a utilização dos recursos naturais da Zona Costeira.
( ) A Lei Estadual não permite o licenciamento e a fiscalização estadual.
( ) A Lei Estadual define a tipologia das Zonas Costeiras, os usos permitidos,
as atividades proibidas e as penalidades a serem aplicadas no caso de
infrações.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 Em relação ao Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro, instituído


pela Lei nº 10.019, de 1998, disserte sobre os responsáveis pela coordenação
e implementação da política de meio ambiente no nível estadual.

5 O Zoneamento Ecológico Econômico Costeiro (ZEEC) é uma ferramenta


que auxilia a estabelecer o limite sustentável para a ocupação da ZC,
segundo a fragilidade ambiental e o potencial socioeconômico de cada
região. A partir deste contexto, disserte sobre as quatro etapas do ZEEC.

148
REFERÊNCIAS
AGGARWAL, R. M. Globalization, local ecosystems, and the rural poor. World
Development, [s. l.], v. 34, n. 8, p. 1405-1418, 2006.

ASMUS, M.; KITZMANN, D. Gestão costeira no Brasil: estado atual e


perspectivas. Ecoplata – Programa de apoyo a la gestion integrada en la zona
costera Uruguaya, Montevideo, 2004.

BELCHIOR, C. C. Gestão costeira integrada – estudo de caso do projeto


ECOMANAGE na região estuarina de Santos-São Vicente, SP. 2008. 121 f.
Dissertação (Mestrado em Ciência Ambiental) – Universidade de São Paulo, São
Paulo, 2008. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/90/90131/
tde-14042008-153444/publico/DissertacaoMestradoBelchior.pdf. Acesso em: 19
set. 2021.

BRASIL. Decreto nº 24.643, de 10 de julho de 1934. Decreta o Código de Águas.


Brasília, DF: Presidência da República, [1934]. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d24643compilado.htm. Acesso em: 19 set. 2021.

BRASIL. Decreto nº 74.557, de 12 de setembro de 1974. Cria a Comissão


Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM). Brasília, DF: Presidência da
República, [1974]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/
antigos/d74557.htm. Acesso em: 19 set. 2021.

BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional


do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação. Brasília,
DF: Presidência da República, [1981a]. Disponível em: http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/leis/l6938.htm. Acesso em: 19 set. 2021.

BRASIL. Lei nº 6.902, de 27 de abril de 1981. Dispõe sobre a criação de Estações


Ecológicas, Áreas de Proteção Ambiental e dá outras providências. Brasília, DF:
Presidência da República, [1981b]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/l6902.htm. Acesso em: 19 set. 2021.

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil.


Brasília, DF: Senado Federal, [1988a]. Disponível em: http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 19 set. 2021.

BRASIL. Lei nº 7.661, de 16 de maio de 1988. Institui o Plano Nacional de


Gerenciamento Costeiro. Brasília, DF: Presidência da República, [1988b].
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7661.htm. Acesso em:
19 set. 2021.

149
BRASIL. Decreto nº 96.000, de 2 de agosto de 1988. Dispõe sobre a realização
de pesquisa e investigação científica na plataforma continental e em águas sob
jurisdição brasileira, e sobre navios e aeronaves de pesquisa estrangeiros em
visita aos portos ou aeroportos nacionais, em trânsito nas águas jurisdicionais
brasileiras ou no espaço aéreo sobrejacente. Brasília, DF: Presidência da República,
[1988c]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1980-1989/
D96000.htm. Acesso em: 19 set. 2021.

BRASIL. Lei nº 7.735, de 22 de fevereiro de 1989. Dispõe sobre a extinção de


órgão e de entidade autárquica, cria o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis. Brasília, DF: Presidência da República, [1989].
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7735.htm. Acesso em:
19 set. 2021.

BRASIL. Lei nº 8.617, de 4 de janeiro de 1993. Dispõe sobre o mar territorial, a


zona contígua, a zona econômica exclusiva e a plataforma continental brasileiros.
Brasília, DF: Presidência da República, [1993]. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8617.htm. Acesso em: 19 set. 2021.

BRASIL. Decreto Legislativo nº 2, de 3 de fevereiro de 1994. Aprova o texto


do Convenção sobre Diversidade Biológica, assinada durante a Conferência
das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada na
Cidade do Rio de Janeiro, no período de 5 a 14 de junho de 1992. Brasília, DF,
[1994a]. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decleg/1994/
decretolegislativo-2-3-fevereiro-1994-358280-publicacaooriginal-1-pl.html.
Acesso em: 19 set. 2021.

BRASIL. Decreto nº 1.265, de 11 de outubro de 1994. Aprova a Política


Marítima Nacional (PMN). Brasília, DF, [1994b]. Disponível em: https://www.
icmbio.gov.br/cepsul/images/stories/legislacao/Decretos/1994/dec_1265_1994_
politicamaritimanacional.pdf. Acesso em: 19 set. 2021.

BRASIL. Decreto nº 1.530, de 22 de junho de 1995. Declara a entrada em vigor


da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, concluída em Montego
Bay, Jamaica, em 10 de dezembro de 1982. Brasília, DF, [1995]. Disponível em:
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1995/decreto-1530-22-junho-1995-
435606-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 19 set. 2021.

BRASIL. Decreto nº 1.992, de 5 de junho de 1996. Dispõe sobre o reconhecimento


das Reservas Particulares do Patrimônio Natural. Brasília, DF, [1996]. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/antigos/d1922.htm. Acesso
em: 19 set. 2021.

BRASIL. Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de


Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos. Brasília, DF: Presidência da República, [1997a]. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9433.htm. Acesso em: 19 set. 2021.

150
BRASIL. Decreto nº 9.432, de 8 de junho de 1997. Dispõe sobre a ordenação
do transporte aquaviário. Brasília, DF, [1997b]. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/decreto/D9537.htm#view. Acesso
em: 19 set. 2021.

BRASIL. Decreto nº 9.537, de 24 de outubro de 1997. Institui o regime especial


de industrialização de bens destinados à exploração, ao desenvolvimento e à
produção de petróleo, de gás natural e de outros hidrocarbonetos fluidos e dá
outras providências. Brasília, DF, [1997c]. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/leis/l9432.htm. Acesso em: 19 set. 2021.

BRASIL Decreto nº 2.508, de 4 de março de 1998. Promulga o Convenção


Internacional para a Prevenção da Poluição Causada por Navios, concluída em
Londres, em 2 de novembro de 1973. Brasília, DF, [1998]. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d2508.htm. Acesso em: 19 set. 2021.

BRASIL. Lei N° 9.966, de 28 de abril de 2000. Dispõe sobre a prevenção, o controle


e a fiscalização da poluição causada por lançamento de óleo e outras substâncias
nocivas ou perigosas em águas sob jurisdição nacional. Brasília, DF: Presidência
da República, [2000]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/leis/
L9966.htm. Acesso em: 19 set. 2021.

BRASIL. Decreto nº 4.340, de 22 de agosto de 2002. Regulamenta artigos da Lei no


9.985, de 18 de julho de 2000, que dispõe sobre o Sistema Nacional de Unidades
de Conservação da Natureza - SNUC. Brasília, DF, [2002a]. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/d4340.htm. Acesso em: 19 set. 2021.

BRASIL. Decreto nº 4.339, de 22 de agosto de 2002. Institui princípios e diretrizes


para a implementação da Política Nacional da Biodiversidade. Brasília, DF,
[2002b]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/
d4339.htm. Acesso em: 19 set. 2021.

BRASIL. Decreto nº 4.136, de 20 de fevereiro de 2002. Dispõe sobre a especificação


das sanções aplicáveis às infrações às regras de prevenção, controle e fiscalização
da poluição causada por lançamento de óleo e outras substâncias nocivas ou
perigosas em águas sob jurisdição nacional, prevista na Lei no 9.966, de 28 de
abril de 2000. Brasília, DF, [2002c]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/decreto/2002/d4136.htm. Acesso em: 19 set. 2021.

BRASIL. Decreto nº 5.092, de 21 de maio de 2004. Define regras para identificação


de áreas prioritárias para a conservação, utilização sustentável e repartição dos
benefícios da biodiversidade, no âmbito das atribuições do Ministério do Meio
Ambiente. Brasília, DF, [2004]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5092.htm. Acesso em: 19 set. 2021.

151
BRASIL. Decreto nº 5.377, de 23 de fevereiro de 2005. Aprova a Política Nacional
para os Recursos do Mar – PNRM. Brasília, DF, [2005]. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5377.htm. Acesso
em: 19 set. 2021.

BRASIL. Decreto nº 5.758, de 13 de abril de 2006. Institui o Plano Estratégico


Nacional de Áreas Protegidas – PNAP, seus princípios, diretrizes, objetivos e
estratégias. Brasília, DF, [2006]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2004-2006/2006/decreto/d5758.htm. Acesso em: 19 set. 2021.

BRASIL. Lei nº 11.516, de 28 de agosto de 2007. Dispõe sobre a criação do


Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - Instituto Chico
Mendes. Brasília, DF: Presidência da República, [2007]. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11516.htm. Acesso em:
19 set. 2021.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Macrodiagnóstico da Zona Costeira e


Marinha do Brasil, Brasília, DF: MMA, 2008.

BRASIL. Lei nº 12.815, de 5 de junho de 2013. Dispõe sobre a exploração direta


e indireta pela União de portos e instalações portuárias e sobre as atividades
desempenhadas pelos operadores portuários. Brasília, DF: Presidência da
República, [2013]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2013/lei/l12815.htm. Acesso em: 19 set. 2021.

BURKE, L. et al. Pilot analysis of global ecosystems: coastal ecosystems.


Washington, DC: Wolrd Resources Institute, 2001.

CONAMA – CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução


CONAMA nº 1, de 23 de janeiro de 1986. Dispõe sobre critérios básicos e diretrizes
gerais para a avaliação de impacto ambiental. Brasília, DF: Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, 17 fev. 1986. Disponível em: http://www.suape.
pe.gov.br/images/publicacoes/legislacao/3._CONAMA_01_1986.pdf. Acesso em:
19 set. 2021.

CONAMA – CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução


CONAMA nº 12, de 14 de setembro de 1989. Brasília, DF: Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, 18 dez. 1989. Disponível em: http://www2.cprh.
pe.gov.br/wp-content/uploads/2021/02/12de14desetembrode1989.pdf. Acesso
em: 19 set. 2021.

CONAMA – CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução


CONAMA nº 237, de 19 de dezembro de 1997. Dispõe sobre conceitos, sujeição,
e procedimento para obtenção de Licenciamento Ambiental, e dá outras
providências. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 19
dez. 1997. Disponível em: https://www.icmbio.gov.br/cecav/images/download/
CONAMA%20237_191297.pdf. Acesso em: 19 set. 2021.

152
CONAMA – CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução
CONAMA nº 357, de 17 de março de 2005. Dispõe sobre a classificação dos corpos
de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece
as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências.
Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 18 mar. 2005.
Disponível em: http://www.siam.mg.gov.br/sla/download.pdf?idNorma=2747.
Acesso em: 19 set. 2021.

CONAMA – CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução


CONAMA nº 397, de 3 de abril de 2008. Altera o inciso II do § 4º e a Tabela X do
§ 5º, ambos do art. 34 da Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente-
CONAMA no 357, de 2005, [...]. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, 7 abr. 2008. Disponível em: http://www.siam.mg.gov.br/sla/
download.pdf?idNorma=2747. Acesso em: 19 set. 2021.

DIEGUES, E. Desenvolvimento sustentável ou sociedades sustentáveis ou


sociedade sustentáveis: da crítica dos modelos aos novos paradigmas. In:
DIEGUES, A. E. Ecologia humana e planejamento costeiro. São Paulo: NUPAUB
– USP, 2001.

FERREIRA, M. I. P. et al. Thrivability appraisals: a tool for supporting decision-


making processes in integrated environmental management. The International
Journal of Sustainability Policyand Practice, [s. l.], n. 13, v. 3, p. 19-36, 2017.

GRUBER, N. L. S. et al. Geografia dos sistemas costeiros e oceanográficos: subsídios


para gestão integrada da zona costeira. Gravel, Porto Alegre, n. 1, p. 81-89, 2003.

HOROVITZ, G. A complexidade da implementação de Políticas Ambientais


para a gestão da zona costeira no Brasil. 2019. 86 f. Dissertação (Mestrado em
Políticas Públicas) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2019.

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Atlas


geográfico das zonas costeiras e oceânicas do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2011.

LEMOS, M. C. AGRAWAL, A. Environmental governance. Annual Review of


Environment and Resources, [s. l.], n. 31, p. 297-325, 2006.

MEADOWS, D. L. et al. Limites do crescimento. São Paulo: Perspectiva, 1972.

OLSEN, A. Coastal stewardship in the anthropocene. In: OLSEN, S. (ed.).


Crafting coastal governance in a changing world. Narragansett: CRC/USAID,
University of Rhode Island, 2003. p. 5-35.

ONU – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração do Rio sobre


meio ambiente e desenvolvimento. Rio de Janeiro: Conferência das Nações
Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD),1992.

153
POLETTE, M.; VIERA, P. A. R. A. Avaliação do processo de gerenciamento
costeiro no Brasil: bases para discussão. Florianópolis: UFSC, 2005.

REBOUÇAS, G. N.; FILARDI, A. C. L.; VIEIRA, L. F. Gestão Integrada e


participativa de pescas artesanal: potencialidades e obstáculos no litoral do estado
de Santa Catarina. Ambiente e Sociedade, São Paulo, v. 9, n. 2, p. 83-104, 2006.

154

Você também pode gostar