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ARQUI

REVISTA DA FAU UnB

Dezembro de 2015 - edição 1/2015 - no 04

faunb
ARQUI
REVISTA DA FAU UnB

Dezembro de 2015 - edição 1/2015 - no 04

faunb

Universidade de Brasília
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
LAGO PARANOÁ

entra por onde?

Nicolas Behr
editorial

E sta quarta edição da ARQUI foi produzida em


tempos de alta estiagem. A revista tematiza as cores
Programa foi encampado pelos alunos e agora já
tem muitos pés percorrendo esquinas de Brasília e
de Brasília nesta estação e, oportunamente, celebra estradas do Brasil. No 1º semestre de 2015, os encontros
o Lago Paranoá, cuja orla está em vias de se tornar científicos, de caráter internacional ou local, foram
mais pública. Celebramos também a consolidação de bastante variados nas temáticas – habitação, paisa-
nossa proposta editorial. gismo, África do Sul, poder, morfologia e até mesmo
Desde o número 2, quando retomamos a ideia da Brasília! A FAU-UnB ganhou prêmios e teve destaque
antiga Revista da FAU-UnB, dando-lhe o novo nome, na mídia. Como se vê, a produção de conhecimentos na
a ARQUI propôs documentar e divulgar, com ênfase universidade pode ter impactos e implicações sociais
na linguagem visual, trabalhos de alunos de gradu- diversos, dos mais imediatos àqueles perceptíveis
ação, palestras, prêmios, eventos e outras notícias do apenas no longo prazo, das intervenções concretas
semestre anterior. Neste número, a ARQUI mantém às discussões em sala de aula e publicações funda-
esta proposta, mas traz também algumas inovações. mentadas na pesquisa.
Como se pode ver na coluna ao lado e ao longo de Os trabalhos finais de curso surpreendem mais
nossas páginas, parte dos textos apresenta-se também uma vez pela criatividade na sua formulação e apre-
na versão em inglês. A intenção é alcançar uma divul- sentação. Nos Ensaios Teóricos, veem-se resultados de
gação mais ampla de nossos trabalhos, estimulando um esforço de pesquisa em nível de graduação, suge-
possibilidades de diálogo e intercâmbio. Outra novi- rindo possibilidades de desenvolvimentos na pós-gra-
dade é o minicurso de produção gráfica e editorial duação. E os trabalhos de Diplomação trazem tanto
oferecido a alunos e técnicos enquanto esta edição projetos pensados para sítios e limitações reais como
estava sendo elaborada. Buscou-se assim incentivar também propostas utópicas que, como se sabe, têm
o interesse por essa área na Faculdade e ampliar a sido da maior importância na construção da História
interação entre a Revista e a comunidade acadêmica. da Arquitetura e do Urbanismo.
As principais seções da revista permanecem. Este conjunto de trabalhos e iniciativas parece
É um indicativo da continuidade e regularidade das propício ao clima desta estação: apesar do risco de
iniciativas de ensino e extensão na Faculdade. Basta incêndios, é também o tempo de exuberantes flores-
ver, por exemplo, os desdobramentos do Programa cimentos.
Pé na Estrada. Iniciado por um grupo de professores
do Departamento de Teoria e História em 2010, o A equipe editorial
This fourth edition of ARQUI was produced in a time of now there are many who have set out to cover the city
severe drought. The journal uses the colors of Brasilia in blocks and venture along the roads in Brazil. In the first
this season as a theme and opportunely celebrates Lake semester of 2015, the scientific meetings, international or
Paranoá, whose shores are about to become more public. local, spanned a diversity of topics – housing, landscape
We also celebrate the consolidation of our editorial proposal. design, South Africa, power, morphology, and even Brasilia!
Since issue 2, when we took up again the idea of the FAU-UnB won prizes and featured prominently in the media.
old FAU-UnB Journal and renamed the journal, ARQUI has, As can be seen, knowledge production at the university
while emphasizing visual language, proposed to document may have diverse social impacts and implications, from
and publish the work produced by undergraduate students the most immediate to those only perceptible in the long
and to report the lectures, awards, events, and additional term, from concrete interventions to classroom debates
news from the previous semester. In this issue, ARQUI and research-based publications. The end-of-program
not only maintains the proposal, but also introduces a projects or papers again surprise us with their creativity
few innovations. in formulation and presentation. Theoretical Essays show
As can be seen throughout our pages, some of the the results of research efforts at the undergraduate level
texts are displayed in their English translation as well. The with the potential for further developments at the grad-
aim is to reach a wider readership of our work, encouraging uate level. The Graduation Projects include not only plans
greater dialogue and exchange. Also new is the graphic which consider real sites and limitations but also utopian
production and publishing minicourse offered to students proposals, which, as we all know, have been of the utmost
and technicians and announced when this issue was still in importance in the construction of the History of Architec-
the making. We have thus sought to stimulate an interest ture and Urbanism.
in this field in the school and broaden interaction between All of the works and initiatives seem to agree with
the journal and the academic community. this season’s climate: despite the risk of fires, this is also
The main sections of the journal remain. This is the time of exuberant flowering.
indicative of the continuity and constancy of initiatives
in teaching and continuing education in the school. Just
consider the developments of the “Programa Pé na Estrada”
(¨Hit the Road Program”), for one. Started by a group of
professors from the Department of Theory and History
in 2010, the program was taken over by the students and The editorial staff
sumário
9 PESQUISA

10 ensaio 21 sobre o conceito de arquitetura em


étienne-louis boullée a partir da filosofia
12 vivendas paraíso ana rein da representação jacqueline barbosa
14 o caso do programa minha casa minha 22 m.o.b. - manual de ocupação de brasília
vida entidades camila cardoso silva júlia solléro de paula
15 integridade e intervenção camila maia dias 23 de fora para dentro lara caldas silveira
16 brasília: o nome das coisas e dos lugares 24 arquitetura e urbanismo na era digital
na construção da memória marcelo braga
caroline albergaria 26 modernidade e paisagem
18 a metropolização no brasil maria fernanda farias
felipe cláudio ribeiro da silva 28 o pedestre em eixos monumentais
19 as casas usonianas de frank lloyd wright milena vincentini
fernanda mazzilli toscano de oliveira 30 arquitetura e isolamento: conceito,
20 ruas comércios lugares gloria lustosa pires elementos e programas vanessa costalonga

33 NOVOS ARQUITETOS

34 diplô 68 centro de retiro josefinos hernany dos reis


70 intervenção em patrimônio histórico
38 destaques ingrid beatriz siqueira
40 teleport city gabriela bílá 72 vem pro parque camila abrão
44 casa de brincar julia luna 73 permacultura urbana lucas parahyba
48 novo centro em montes claros 74 escola classe e jardim de infância
nágila ramos joão francisco walter
52 centro de tênis gustavo kuerten 76 mob. in. campus juliana vasconcelos
rodrigo rezende 78 [re]viva o centro julio paiva
80 espaço leitura biblioteca comunitária do
56 recuperação e intervenção do cine guará marcelo aquino
drive-in beatriz gomes 82 midiateca pública de brasília
58 espaço de trabalho compartilhado marcelo oliveira
bernardo vianna duque 84 intervenção no mab mariana leite
60 o avesso de brasília ao avesso eduarda aun 86 projeto participativo infantil marilia tuler
62 juntarq federica filippone, giulia filippone, 88 mosteiro de são bento matheus macedo
rachele sipione e salvatore cicero 90 centro de excelência esportiva
64 regeneração urbana da região do estrei- muhammad bazila
tamento do córrego jataí adauto melo 92 clube do servidor paulo silgueiro
65 revitalização w3 ana paula seraphim 94 novo autódromo de brasília
66 intervenções em espaço público tasso mendonça
gabriel ernesto
97 FAU PREMIADA 109 ENCONTROS
98 31ª quadrienal de praga caraíba 110 workshop de design
102 a nova arquitetura de brasília 2015 114 casas recebe III colóquio habitat e cidadania
106 prêmio anpur 2015 método e arte: urbani- 116 cidade e patrimônio a áfrica do sul e o
zação e formação de territórios na capitania cenário mundial
de são paulo, 1765-1811 118 na invenção de brasília
120 pnum
122 colóquio quapá-sel
124 poder e manipulação primeiro simpósio
internacional de estética

127 NA MÍDIA 137 NA RUA

128 intercâmbio em sustentabilidade 138 pé na estrada


129 estudante de arquitetura faz casa na 139 pé em mg um pé na cidade como prática
árvore na praça de ensino
130 estudantes e professores da unb discutem 142 pé na esquina bsb monumental
código de edificações 143 pé com pé ciclo de palestras
131 brasília pantone
132 thalija
134 pesquisa indica que prédios do noroeste
podem consumir mais energia
135 ruínas de uma loucura

145 GALERIA 161 HOMENAGEM

146 26ª festa da arquitetura natália castanho 162 lago


152 brasília pantone gabriela bílá e marilia alves
164 relatório de glaziou
166 brasília: olhai pro céu, olhai pro lago
sylvia ficher e eduardo pierrotti rossetti
168 nicolas behr
PES
QUISA
ensaio
Amável senhor que me ouviu, minha ideia confirmou: que
o Diabo não existe. Pois não? O senhor é homem soberano,
circunspecto. Amigos somos. Nonada. O diabo não há! É o
que eu digo, se for... Existe é homem humano. Travessia.

(Guimarães Rosa. Grande Sertão: Veredas)

...T ravessia: é muito conhecida a última


palavra do Grande Sertão: Veredas de João Guima-
A partir de um cronograma contido em um
semestre, em meio a um rol de outras atividades e
rães Rosa. Travessia é a palavra que parece sintetizar disciplinas, o Ensaio Teórico também é um momento
todo o processo existencial do personagem principal especial para o aluno da FAU estudar temas, assuntos
– Riobaldo Tatarana – e que define o tema construído e questões que podem lhe conduzir para novos cami-
ao longo de todo o livro. Travessia é a palavra que nhos, seja para testar seus interesses, seja para forjar
condensa o processo de deslocamento, enfrentamento a aproximação ou embasar a Diplomação, seja ainda
do meio e convívio com seus elementos. A travessia para desdobrar pesquisas futuras.
transforma o sentido das coisas e transforma aquele Os quatorze Ensaios Teóricos que serão apre-
que vê, narra e reconta as coisas. sentados a seguir foram selecionados a partir das 26
Tomada como metáfora, travessia também pode indicações realizadas pelas bancas, extraídos de um
bem servir para pensar sobre a importância do Ensaio total de 67 Ensaios. Agradeço o apoio fundamental
Teórico como uma etapa de um processo, que formal- das professoras Cláudia da Conceição Garcia e Maria
mente corresponde ao arremate das disciplinas do Cecília Gabriele, que compuseram comigo uma pequena
Departamento de Teoria e História da Arquitetura e comissão de seleção. Diante da diversidade de temas
Urbanismo da FAU. e assuntos que os Ensaios Teóricos especulam ficam
Trata-se de uma disciplina singular dentro de patentes o potencial de pesquisa e a riqueza latente
nosso currículo, que estimula e propicia ao aluno de enfrentamentos que foram construídos ao longo
pensar e enfrentar um assunto qualquer inscrito no de cada uma destas travessias.
domínio de especulação amplo e diverso que configura Fica então franqueado ao leitor o convite para
o campo da arquitetura e do urbanismo. Em prin- enveredar por estes Ensaios Teóricos, e realizar, por
cípio, refere-se ao enfrentamento de temas e assuntos assim dizer, a sua própria travessia...
que podem interessar ao aluno naquele momento,
revelando miríades de soluções, encaminhamentos
e procedimentos de pesquisas, novos autores e novas Eduardo Pierrotti Rossetti
leituras, possibilitando certas conclusões. Coordenador de Ensaio Teórico
“It was kind of you to have listened, and to have confirmed my In principle, it is about addressing the themes and issues that
belief: that the devil does not exist. Isn’t that so? You are a supe- might be of interest to the students at that particular moment
rior circumspect man. We are friends. It was nothing. There is no
and about coming up with a myriad of solutions, research
devil! What I say is, if he did… It is man who exists. The passage.”
lines and procedures, new authors and new interpretations,
(Guimarães Rosa. The Devil to Pay in the Backlands. Translation making it possible to reach certain conclusions.
by James L. Taylor and Harriet de Onis) Based on a timetable contained within a semester,
amidst a score of other activities and courses, the Theoretical
…The passage: is the well-known last phrase of João Essay is also a special moment for the architecture student
Guimarães Rosa’s Grande Sertão: Veredas (The Devil to to study topics, subjects, and issues possibly leading to new
Pay in the Backlands). The passage is the phrase that appears pathways, be it to test their interest, be it to get closer to
to synthesize all of the existential process of the main char- or provide a basis for the Graduation Project, be it also to
acter – Riobaldo Tatarana – and that defines the theme develop future research.
built up throughout the book. The passage is the phrase The 14 Theoretical Essays introduced below were
that condenses the process of relocating and coping with chosen from among 26 designated by the committees out of
the environment and learning to live with its elements. The a total of 67 essays. I am grateful to the crucial support given
passage transforms the sense of things and transforms the by Profs. Cláudia da Conceição Garcia and Maria Cecília
one who sees, narrates, and retells something. Gabriele, who joined me to form a small selection committee.
Taken as a metaphor, ‘passage’ might also be used to In view of the diversity of themes and subjects that the Theo-
think about the relevance of the Theoretical Essay as the last retical Essays speculate about, the research potential and
stage in a process, formally corresponding to the completion the latent richness of the approaches built throughout each
of the courses of the Department of Theory and History of one of the passages become obvious.
Architecture and Urbanism of the school. Readers are now free to accept the invitation to venture
It is a unique discipline in our curriculum, encouraging into the Theoretical Essays, and start their own passage,
and enabling the student to think about and deal with just any so to speak…
subject registered in a domain of wide and diverse speculation
which altogether shapes the field of architecture and urbanism. Eduardo Pierrotti Rossetti - Theoretical Essay coordinator
arqui #4

vivendas paraíso
impressões sobre o éden e casa
de condomínio
Led to observe the phenomenon of gated residential communities, suburban developments which rapidly expanded in
the area surrounding Brasilia, the author gave the single-family detached dwelling, the basic cells of such spaces, an
interpretation from the perspective of utopian writings, especially the ‘lost paradise’ of the Garden of Eden. Investigation
into such relationships enabled a variety of approaches to the house as a leap is taken from the image of paradise as a
pleasant garden to one of domesticated and artificial nature crystallized into the contemporary dwelling.

Ana Rein

Especulações sobre a localização da cabana primitiva de um passado e de um pequeno conjunto de entrevistas


geográfica do lendário Jardim do Éden remoto, damos um salto à casa de três com moradores de condomínios da região
motivaram entusiastas e pesquisadores suítes, cozinha, área de serviço, sala(s), do Grande Colorado, adjacente a Sobra-
a proporem teorias que determinam lavabo, área de lazer, piscina e garagem. dinho, constituiu-se um repertório de
localidades do Crescente Fértil ao Rio A visão do paraíso como lugar ameno imagens e ideias que, associadas em um
Orinoco. Quem tiver interesse em visitar o de um jardim se transmuta no espaço processo bastante livre, assumindo as
tão disputado sítio pode se dirigir a oeste doméstico e artificial. liberdades de um ensaio, deu forma aos
de Sobradinho, RA-V do Distrito Federal. Duas leituras foram importantes três principais capítulos do trabalho. Eles
Todavia, um aviso: será difícil adentrar na construção do trabalho: o artigo A abordam desde temas como a domesti-
o enclave, pois só atravessa a cancela Hermenêutica do Mito (1971) de Emma- cação da natureza na construção da casa,
do Condomínio Vivendas Paraíso aquele nuel Carneiro Leão e o capítulo inicial a oportunidade de se fazer um mundo “à
com convite de um de seus moradores. do livro Archaeologies of the Future: The sua imagem e semelhança” no lote vazio
O ensaio teve sua gênese na Desire Called Utopia and Other Science como tabula rasa, a casa como refúgio
vontade de observar os condomínios Fictions (2005) de Fredric Jameson. No de um mundo do trabalho “de esforços
residenciais horizontais de Brasília, primeiro o autor empreende uma exegese e penas”, até o desejo por continuidade
áreas urbanas substanciais da metrópole. do mito do Éden buscando desvelar ques- além da vida expresso na constituição
Alçando o viés do utópico na visão sobre tões existenciais expressas na estrutura do lar.
esse tema ao empreender uma leitura da narrativa, dentre as principais a cons- O percurso inaugurado pela casa de
paralela desse espaço com o “paraíso ciência do homem sobre sua mortali- condomínio levou a uma reflexão mais
perdido” do Jardim do Éden, o trabalho dade e seu desejo por transcendência. abrangente sobre o habitar e a cidade,
desenvolveu-se como uma exploração do No segundo Jameson faz um resumo em limitada em seu escopo e aprofunda-
habitar; o habitar como forma de edificar, linhas gerais do livro The Principle of mento pelo tempo de desenvolvimento
pela casa, o projeto de um espaço ideal. Hope (1959) de Ernst Bloch, que vê um do trabalho. As redes de ideias suscitadas
Partindo da tipologia da casa unifami- “impulso utópico” em toda a atividade pelas leituras e reflexões ficam abertas,
liar, base da urbanidade e modo de vida produtiva humana. Estabelecendo um revelando a profundidade de relações
do condomínio, foi estruturada uma diálogo entre os dois, temos tanto as centradas na casa que se dão além da
narrativa de associações que se inicia raízes profundas de uma inquietação arquitetura.
no momento em que a humanidade é humana de cunho utópico como a sensibi-
banida do paraíso no mito do Éden e lização para enxergar a utopia até mesmo
encara pela primeira vez a natureza nas atividades mais banais do cotidiano, Orientadora: Elane Ribeiro Peixoto
em sua forma hostil. Dos princípios de premissas para o início do ensaio. Banca: Carolina Pescatori e
culturação da paisagem natural na forma A partir dessas e de outras leituras Leandro de Sousa Cruz

14 1/2015
“Adam and Eve in the Garden of Eden” (1936)
Pintura de Charles Mahoney

15
arqui #4

o caso do programa
minha casa minha
vida entidades
With a view to improving the quality of public housing projects linked to the Minha Casa, Minha Vida (My House, My Life)
Program, the study is centered on the construction of a project assessment matrix for evaluating such items as popular
participation in housing development, flexibility and functionality, typological variety, accessibility, and urban insertion of
the undertakings. Two projects of the program were then assessed according to the matrix which was developed.

Camila Cardoso Silva

Projetar a habitação priorizando da cidade e, principalmente, deve ser de Dezembro) e outro por iniciativa
somente as necessidades da fase de cons- flexível, pois assim ele poderá se adaptar privada (Conjunto Residencial Parque
trução e da ocupação inicial sem levar às variadas conformações familiares e Saturno), ambos em Suzano, São Paulo,
em consideração as novas formações suas demandas. Tudo isso pode ser para ilustrar a diferença entre as formas
familiares, sua evolução e suas neces- alcançado mais facilmente incluindo os de planejar o ambiente e comportar
sidades, para, posteriormente, adequar a futuros moradores, no início do processo, mudanças ao longo do tempo. O resul-
residência segundo novas demandas de na elaboração do projeto arquitetônico. tado indicou que o modelo adotado pelo
seus usuários, resulta, com frequência, O objetivo da pesquisa é destacar PMCMV- Entidades é mais eficiente
em frustrações e custos adicionais aos a importância da participação da comu- em atender às necessidades básicas
financiados do Programa Minha Casa nidade no processo de projeto para e também às individuais dos futuros
Minha Vida. promover uma maior qualidade das moradores.
Para muitas famílias carentes, a habitações de interesse social, segundo Pretendeu-se, com isto, despertar
ajuda do governo na aquisição da casa os princípios acima citados. Com base os profissionais da área de habitação
própria é o maior incentivo para a supe- nos autores Brandão e Heineck (2003), quanto às práticas correntes de projeto
ração da pobreza ao longo de suas vidas. Palermo (2009), Finkelstein (2009), e produção dos empreendimentos de
Assim, um projeto de qualidade é essen- Brandão (2010), Amorim et al. (2015) e habitação de interesse social, visando
cial, para que a moradia não volte a ser Andrade e Lemos (2015), foi gerada uma reforçar a importância dos conceitos
um problema e seus esforços e investi- matriz de avaliação com critérios e parâ- de participação, habitação flexível e
mentos se concentrem em outras áreas. metros de projeto, com um conjunto de funcional, e reforçar a necessidade de
Este projeto deve ser funcional diretrizes para o processo projetual que gerar novos desenhos que permitam
para comportar as atividades essenciais evidenciem possibilidades de adaptação maior apropriação do espaço doméstico
que uma casa deve abrigar, deve ser aces- da moradia ao longo de sua vida útil. por seus ocupantes.
sível para usuários de todas as idades e A partir da matriz de avaliação
limitações, deve possuir elementos que o foi feita uma análise comparativa entre Orientadora: Liza Andrade
insiram corretamente na malha urbana, um projeto desenvolvido pelo PMCMV- Banca: Caio Frederico e Silva e Valério
como parte integrante e fundamental Entidades (Mutirões Tânia Mara e 5 Medeiros

16 1/2015
integridade e intervenção
ensaio sobre a intervenção no patrimônio
cultural com foco na reconstituição de sua
integridade: o caso da sede da fazenda
santa sofia
In order to consolidate a proposal for intervention in the Álvaro Coelho House, the author conducts a management
study of cultural heritage, first looking more deeply into the integrity concept as a communicative factor of cultural
significance and thus relevant to the relationship between property and society. This instance of abandonment pose
great challenges for the custodian; the work aims at mediating integrity and authenticity issues in the building.

Camila Maia Dias

Com o declínio da extração do propõe-se nesse estudo um olhar mais Lira, Patrimônio cultural e autenticidade:
ouro, a expansão da cultura cafeeira para aprofundado acerca do conceito de montagem de um sistema de indicadores
o oeste é motivada pelos estoques de integridade. Reconstituir a integridade para o monitoramento, onde se estudam
terra disponíveis, pela introdução da mão no patrimônio cultural visa recuperar a os atributos patrimoniais como indica-
de obra imigrante, pela tecnologia da capacidade de comunicar sua significância dores da capacidade do bem em transmitir
mecanização agrícola e pela construção cultural. Entende-se que a identificação e sua significância. A segunda é focada na
de estradas de ferro que davam acesso à recuperação dos atributos que conferem visão técnico-construtiva desenvolvida
região. Nesse contexto, Álvaro Antunes ao bem o status de patrimônio cultural, por Jorge Eduardo Lucena Tinoco para os
Coelho chega à região da Alta Soroca- analisados dentro da realidade vigente, estudos do Centro de Estudos Avançados
bana, adquirindo as terras da fazenda são essenciais para reconstruir sua da Conservação Integrada – CECI –, que
Santa Sofia, objeto de nosso estudo. imagem e seu vínculo com a sociedade. nos permite avaliar, através de “rastros
A atuação no patrimônio cultural O objetivo deste ensaio é a opera- materiais”, as alterações sofridas pelo
com vistas a reverter situações de aban- cionalização do conceito de integridade, patrimônio ao longo dos anos, bem
dono e esquecimento revela um grande através da identificação de atributos como o estado atual de seus atributos
desafio: o distanciamento entre a teoria patrimoniais e físico-materiais do bem patrimoniais. É através do cruzamento
e a prática. Desse impasse nascem inter- cultural, com vistas à aplicação no estudo dessas duas abordagens que se concretiza
venções que priorizam a recuperação de caso, o Casarão Álvaro Coelho, possi- a elaboração da proposta de intervenção
da dimensão estética como maneira de bilitando a construção de propostas de no Casarão Álvaro Coelho apresentada
promover a visibilidade local e turística, intervenção capazes de reconstituir sua ao final deste estudo.
gerando o esquecimento de sua dimensão integridade, com alterações mínimas de
histórica. sua autenticidade.
Buscando uma abordagem que Para isso, o estudo é estruturado em Orientadora: Flaviana Barreto Lira
fosse capaz de abranger amplamente duas abordagens. A primeira baseia-se na Banca: Maria Fernanda Derntl e Oscar
as diversas dimensões do patrimônio, tese de doutoramento de Flaviana Barreto Luís Ferreira

17
arqui #4

brasília: o nome das


coisas e dos lugares na
construção da memória
A photo survey of historical images and field research allowed the identification of a set of toponymic references and
graphic solutions to determine the most disseminated images and names in the Federal Capital and their role in local
urban memory and identity. Such names and images, with their frequent reference to the Monumental Scale, show, as
in the case of Brasilia, that the city’s memory is linked directly to its architecture and urbanism.

Caroline Albergaria

18 1/2015
Carrinho de sorvete com imagem da coluna do Palácio da Alvorada
Fonte: Arquivo Público do Distrito Federal
Gravação na TV Brasília com o desenho do Congresso
Nacional estampado na câmera
Fonte: Arquivo Público do Distrito Federal

Brasília possui um urbanismo como sua Meta-Síntese. Tal propósito e Família e Planalto. Essas palavras,
planejado e é constituída por formas carreou, no entanto, diversas opiniões quando atribuídas aos variados comércios
edificadas que representam as diversas contrárias, sendo necessário esforço do e serviços da cidade, funcionam como
características adquiridas no decorrer Governo para amenizá-las. De acordo adjetivos, pois qualificam e caracte-
dos anos. As memórias construídas com Gustavo Lins Ribeiro, em seu livro rizam o serviço conforme a identidade
num espaço e transformadas ao longo O capital da esperança (2008), utilizar o e a memória da toponímia.
do tempo são combinações subjetivas assunto da identidade brasileira foi, de Já as imagens mais difundidas
de uma população. Assim, as dimensões fato, o principal mecanismo para auxi- são: a Coluna do Palácio da Alvorada,
sociológica e afetiva são essenciais para liar na aceitação da construção da nova a Coluna do Palácio do Planalto, o
a permanência da memória e da iden- capital, além do esforço em recuperar Congresso Nacional, os Eixos Rodo-
tidade local. Em Brasília, essa memória a memória e trazer à tona a história viários, o Memorial JK e a Ponte JK. O
está diretamente ligada a sua arquitetura do Brasil. conjunto visual difundido forma a cidade
e seu urbanismo. Aos poucos uma identidade de análoga de Brasília, ou seja, os principais
O presente ensaio teórico objetiva Brasília foi sendo formada e a necessi- pontos e marcos que são estratificados
identificar um conjunto de referências dade de tomar posse daquela região era na memória coletiva. Analisando as
toponímicas de Brasília e suas soluções essencial para a busca da identidade local. imagens, quase todas fazem parte da
gráficas, por meio de levantamento foto- A partir de então, nasceram as toponímias arquitetura e do urbanismo modernos
gráfico de imagens históricas e pesquisa locais, que remetem ao nome da capital, criados por Oscar Niemeyer e Lucio Costa
de campo, a fim de apurar e conhecer as de seus palácios, do desenho urbano e da e estão inseridos na Escala Monumental
imagens e os nomes mais difundidos na arquitetura moderna da região. de Lucio Costa, constituindo o espaço
Capital Federal e como eles fazem parte Sob o ponto de vista das toponí- mais marcante da capital.
da memória urbana e identidade local. mias, constatou-se que os nomes mais
Juscelino Kubitschek, em sua difundidos são: Alvorada, Brasília, Brasi- Orientador: Eduardo Pierrotti Rossetti
campanha presidencial, designa Brasília liense, Candango, Capital, Distrital, JK Banca: Leandro de Sousa Cruz e Sergio Rizo

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arqui #4

a metropolização
no brasil
luziânia e a área metropolitana de brasília
The relationship between land use planning and actual development in Luziânia was investigated. The study shows the
absolute prevalence of the single-family detached dwelling in Luziânia; on the one hand, confirming its dependence on
Brasilia, and on the other, revealing a commercial consolidation process of the traditional town center. Such a scenario
raises the question of how to plan and manage a metropolitan city.

Felipe Cláudio Ribeiro da Silva

A pesquisa realizada relacionou-se quatro anos de pesquisa, baixo padrão que o predomínio de projetos aprovados
ao comportamento particular estabe- de crescimento, o que não permite de residências unifamiliares parte para o
lecido entre a metrópole de Brasília e maior independência do município. Há contrário, reforçando o caráter de cidade
sua região metropolitana. Na investi- o absoluto predomínio do uso residencial dormitório. Os modelos de planejamento,
gação sobre Brasília e Luziânia busca-se unifamiliar, expressando menor dinâmica planos diretores, projetos, normas urba-
compreender se o papel do ordenamento urbana com crescimento de moradias nísticas têm pouco domínio nas formas
proposto por este município é atendido de baixa qualidade arquitetônica e ruim do crescimento urbano sobre a dinâmica
pela demanda de crescimento real da implantação urbanística, além de pouca metropolitana encontrada.
cidade. Investiga-se a relação entre o presença de projetos de uso comercial, Tendo em vista esta relação de
ordenamento territorial de Luziânia e mistos e institucionais, intensificando o interdependência e intercambialidade
a dinâmica do desenvolvimento real. caráter de cidade dormitório de Brasília. entre área metropolitana e cidade-nú-
Procura-se compreender até que ponto No entanto, na parte histórica da cidade, cleo, faz-se necessário que os planos
a lei e a dinâmica imobiliária aliam-se é observado um processo de consolidação diretores, as normas, as diretrizes
e verificar como se comporta a ordem do centro tradicional que pode ser perce- urbanísticas e outros elementos sejam
imobiliária sobre o planejamento da bido como um gradual incremento de coordenados como instrumentos-ma-
cidade. Foram analisadas as bases urba- atividades de comércio e serviços que, triz do manejo social do uso dos solos,
nísticas e institucionais da cidade, subdi- caso ampliado, será catalisador de opor- potenciais construtivos, e instrumentos
vididas entre o ordenamento previsto tunidades de geração de emprego e renda, de política urbana em um planejamento
em lei (Plano Diretor de Luziânia) e a reduzindo a dependência do município e gestão metropolitana do território de
demanda do crescimento real aprovado e de parte de sua população. forma integrada.
pela Prefeitura do município. Para tanto, Na dinâmica metropolitana
vale-se do banco de dados dos alvarás encontrada, o predomínio de projetos
de construção emitidos entre os anos aprovados de atividades econômicas e Orientador: Benny Schvarsberg
de 2010 e 2013. institucionais tende a expressar maior Banca: Giselle Chalub Martins e
Luziânia apresentou, nos referidos dinâmica e autonomia urbana, ao passo Leandro de Sousa Cruz

20 1/2015
as casas usonianas de
frank lloyd wright
estudo de caso: penfied house
Usonian houses were in fact the American houses Frank Lloyd Wright sought throughout his career, for they were
accessible to the population and they exalted freedom and individualism, defined by him as “democratic.” The study
proposes an analysis of this housing typology and a case study of the Louis Penfield House (1955) in Cleveland based
on a bibliographic study complemented by a graphic analysis of the original blueprints.

Fernanda Mazzilli Toscano De Oliveira

O trabalho propôs a análise das elementos norteadores o seu baixo custo, demais de Wright, que buscam enfatizar
casas usonianas de Frank Lloyd Wright e modulação, amplas janelas, empenas a horizontalidade, reflete um impor-
a realização de um estudo de caso. Para cegas, entradas principais protegidas tante aspecto de seu cliente: a altura de
tal, foram realizados levantamentos e discretas, com carport, e uma relação Penfield. Wright, que por vezes espreme
bibliográficos da obra residencial do de negação da rua. Em seu interior, a verticalmente para ampliar a horizontal,
arquiteto com enfoque em suas resi- busca pela eliminação do supérfluo e uso faz neste caso o oposto: estreita hori-
dências usonianas. Desenvolveu-se, informal dos espaços resulta em casas zontalmente e amplia a altura.
ainda, um estudo de caso da residência com pequenas dimensões, pequenos O estudo de caso da Casa Penfield
Penfield, projetada por Frank Lloyd cômodos, especialmente os quartos, a permitiu extrair informações gráficas e
Wright em 1955, localizada em Willou- presença de um workspace e a eliminação compará-las às evidências textuais exis-
ghby Hills, subúrbio de Cleveland, na da sala de jantar, incorporando gravity tentes, revelando que diversos de seus
qual a autora morou com sua família. Por heat, um novo sistema de aquecimento. princípios orgânicos podem ser vislum-
fim, foi desenvolvida uma análise gráfica A casa Penfield é um exemplo de brados pelo desenho.
conforme o método de Tagliari (2009) residência usoniana que segue os prin- As casas usonianas, conforme o
através de desenhos técnicos originais cipais preceitos das casas desta fase. É próprio nome declara (United States
cedidos pela Carnegie Mellon University formada por uma grelha quadricular de of North América – USONA), seriam,
e redesenhados pela autora. quatro pés e quatro polegadas, presentes de fato, as casas americanas as quais
Frank Lloyd Wright (1867-1959) foi nas fachadas, pisos, tetos e paredes. Há Wright buscara ao longo de sua carreira,
um importante arquiteto americano da grandes planos de vidros nas fachadas definindo-as como Democráticas. Por
primeira metade do século XX. Sua vasta internas e janelas tipo clerestórios Democrática (aqui em maiúscula, como
obra residencial pode ser dividida em três voltadas para a rua. O carport e o novo o próprio arquiteto colocava) entende-se
momentos: Praire Houses, Textile Blocks sistema de aquecimento também estão uma arquitetura de edifícios que fossem
e Usonian Houses. As casas usonianas presentes. A concepção da casa é de adequados às suas instituições nacio-
foram a solução encontrada por Frank espaço aberto e fluido. Os ambientes nais, seus valores, suas tradições; que
Lloyd Wright ao problema das casas não são fechados, mas se conformam exaltassem a liberdade e o individua-
modestas, destinadas ao público de classe como continuidade do ambiente ante- lismo. Casas americanas e acessíveis à
média, no período pós-depressão de 1930. rior, o que é evidenciado pela presença sua população – Casas Usonianas.
Elas tendem a eliminar tudo aquilo consi- do workplace.
derado desnecessário e buscam sempre Quanto à estrutura, esta se baseia Orientadora: Sylvia Ficher
a simplificação, tanto das técnicas como no uso de blocos de concreto e painéis Banca: Eduardo Pierrotti Rossetti e
da lógica espacial. Destacam-se como de fibrocimento. A casa, diferente das Elane Ribeiro Peixoto

21
arqui #4

ruas comércios lugares


Commercial streets are truly potential ‘places’ in a town, bolstering social life and the economic prosperity of
businesses. However, this only happens when the streets are attractive to pedestrians. Investigating the factors which
determine the success of a commercial street, the study addresses concepts, issues, and solutions pertaining to the
business street, besides dealing with its components and dimensions, and encompasses a number of case studies as
input for the project.

Gloria Lustosa Pires

As ruas comerciais podem se tornar tornaram-se destino de atração por da visão humana. Também cinco das oito
verdadeiros lugares da cidade, mas para sua identidade e história. Todas elas já ruas têm edifícios com altura igual ou
isso a rua tem de favorecer a vida social, nasceram com o propósito comercial, maior que a largura da via. Ou seja, essas
e isso só é alcançado quando atende aos com integração favorável na malha ruas também são vias de passagem para
interesses do pedestre. urbana, mas só se tornaram um lugar à outras funções nos pavimentos supe-
O objetivo do ensaio foi inves- medida que foram adequadas ao uso do riores, o que garante o constante fluxo
tigar o que compõe uma rua comercial pedestre. E isso é um processo gradual de pessoas. Agregar funções e adensar
bem-sucedida, a fim de trazer repertório e que requer gestão. beneficia a atividade comercial.
que dê insumos para projeto. Para isso, o Essas ruas precisaram se adaptar Outro ponto em comum é que
tema foi dividido em três partes: a natu- aos anseios do pedestre por um simples todas as ruas reservam pelo menos 50%
reza (conceitos, problemas e soluções) da motivo: o ambiente urbano da rua da via para uso dos pedestres. Com isso,
rua comercial, a anatomia (componentes comercial tem impacto direto na prospe- a configuração espacial mostra que o
e dimensionamentos) e estudos de caso ridade econômica das lojas. As pessoas pedestre tem autonomia no espaço.
de ruas comerciais marcantes ao redor gostam de permanecer em lugares inte- Quando atende às necessidades do
do mundo. ressantes e seguros, e permanecendo pedestre, a rua comercial gera impactos
Os estudos de caso ilustram a ali consequentemente irão consumir positivos econômicos e sociais, propor-
aplicação dos conceitos e trazem os algo. Adequá-las ao pedestre é um inves- cionando o ambiente propício para a
dimensionamentos reais aplicados. timento que traz retorno financeiro à formação de uma verdadeira comuni-
Eles revelam quão diversas essas ruas comunidade circundante. dade urbana.
podem ser, mas mesmo assim garantir Elas apresentam características
o conforto do pedestre. comuns, como: cinco das oito ruas têm Orientadora: Gabriela de Souza Tenório
Além de serem importantes caixa viária com largura entre vinte e Banca: Giselle Chalub Martins e Monica
economicamente, as ruas estudadas trinta metros, conforme o alcance natural Fiuza Gondim

22 1/2015
sobre o conceito
de arquitetura em
étienne-louis boullée
a partir da filosofia da
representação
Counter to Vitruvius, who regarded architecture as the art of building, Étienne-Louis Boullée, an eighteenth century
architect and theorist, familiar with the philosophical context of Enlightenment, questions, “How to build before
conceiving?” He thus instigated reflections on the essence of architecture in representation. Based on Boullée’s work
and that of other authors who address the architecture theme as a representation, we are led to ponder over the
philosophical underpinnings of current architectural education.

Jacqueline Barbosa

A representação é fundamental Claude Perrault em Ordonnance des Cinq da possibilidade de seu uso sem limites
na arquitetura e o desenho é capaz de Espèces de Colonnes Selon la Méthode des que se chega à complexidade concreta
fazer entender o que o arquiteto quer Anciens, Emilia Stenzel em O conceiro de da ciência. E assim, Boullée, teórico e
transmitir. O que nós, arquitetos, “conce- sublime e sua recepção na arquitetura do arquiteto, começa a definir arquitetura
bemos” no nosso processo de formação século XVIII, Ernst Cassirer em A Filosofia de maneira a provocar uma reflexão
é um desenho. Assim, ao julgarem-nos do Iluminismo, e Vitruvius em Les Dix sobre sua essência, ao dizer que antes
capazes de sermos arquitetos por meio Livres D’Architecture de Vitruve. Preten- de executá-la (ciência) é preciso conce-
do que conseguimos como representação, deu-se, assim, dar continuidade ao estudo bê-la (imaginação).
justifica-se a importância de reconhe- da obra de Boullée, a fim de compreender Étienne-Louis Boullée não vê, pois,
cermos a arquitetura também como a maneira como o teórico conceituava e a arquitetura como arte de construir. Pelo
representação. ensinava arquitetura, fazer análises dos contrário, diz que essa conceituação trata
A liberdade de criação foi defen- estudos desses autores a respeito do de um erro grosseiro que toma o efeito
dida há muito por Étienne-Louis Boullée, questionamento da arquitetura como pela causa, ponto de partida para sua
arquiteto e teórico francês do século representação e das abrangências que crítica a Vitruvius, que considera o ato
XVIII, e está presente nos dias atuais esse tema sugere e, por fim, ao apoiar-se de construir mais importante que sua
em nosso processo de formação como nos pensamentos dos críticos e arquitetos concepção quando se tem de definir a
arquitetos. Aprendemos a fazer arqui- citados, ver a importância de Boullée nos arquitetura. No entanto, segundo a visão
tetura pela representação. dias atuais. de Boullée, como construir sem antes
O estudo do conceito de arquitetura No século XVIII, onde a razão conceber? É a partir desse contexto que
em Boullée explorado no ensaio, com base é tida como guia do homem, há uma Boullée em sua obra Architecture: Essai
nos pressupostos da filosofia da repre- busca constante em tentar analisar, sur L’Art de 1790, publicada pela primeira
sentação no contexto do Iluminismo, conceituar e compreender as “coisas”. vez em 1968 na edição de Montclos,
apoiou-se na leitura do livro Architecture: A razão torna-se o meio de atribuir o que define arquitetura.
Essai sur L’Art de Étienne-Louis Boullée, se deseja às “coisas”, sendo associada a
como também em críticos e arquitetos todo o momento à observação. Entre-
tais quais: Aldo Rossi em suas obras tanto não basta considerá-la apenas, Orientador: Miguel Gally
L’Architecture de la ville, Introducción a devendo atentar-se para o uso da imagi- Banca: Jaime Golçalves de Almeida e
Boullée e Architectura: Saggio sull’arte, nação, pois é a partir da imaginação e Maria Emília Stenzel

23
arqui #4

m.o.b. - manual de
ocupação de brasília
As an answer to the emptying of the ample public spaces of the modernist city, the Occupation Manual of Brasilia
(OMB) aims to reawaken in the city dwellers the interest in taking over and caring for such places. Like a tool kit of
urban intervention, OMB guides the reader from the legislation on public space occupation in the Federal District to do-
it-yourself manuals and provides ideas to inspire the inhabitants to rally for the changes they desire for their city.

Júlia Solléro de Paula

O MOB – Manual de Ocupação de de estar e tantos outros exemplos, é qualidade não somente para si, mas para
Brasília – é um suporte simples, prático sempre adiado e adiável. sua comunidade, os cidadãos passam a
e objetivo criado para atingir qualquer Os prazeres e as possibilidades que desenvolver uma relação mais próxima
tipo de cidadão brasiliense a tomar o espaço urbano pode trazer são incalculá- com a cidade, tornando-se menos alheios,
a frente das mudanças que ele deseja veis, mas tudo só pode começar a mudar a mais atentos e cuidadosos com o espaço
para a cidade. partir de uma nova consciência em relação público.
A ideia surgiu a partir da percepção aos vazios urbanos da cidade, principal- O MOB conta com quatro ferra-
de que existe uma cultura do carro extre- mente compreendendo suas origens e mentas básicas para atingir tal objetivo:
mamente enraizada em nossa socie- analisando tanto suas melhores quali- 1. Uma breve compilação ilustrada de
dade, apesar de podermos contar com dades quanto suas piores carências. E é legislações acerca da ocupação do espaço
espaços públicos de qualidade, arbori- aí que entra o MOB. Além de um convite, público no DF;
zados e amplos, que poucas cidades no ele é um instrutor e facilitador para tentar 2. Um Passo-a-Passo de dez itens simpli-
mundo se dão ao luxo de ter. Tal cultura atingir aqueles que amam e usam essa ficados para o planejamento e execução
atrelada a um estilo de vida cada vez cidade, são proativos e querem ver uma de ideias;
mais privatizado proporcionado por Brasília mais humana, ocupada por gente 3. Uma Matriz Gráfica de ícones-guias
smart-phones, internet, condomínios de todas as classes, cores e credos. que facilitam a compreensão visual das
fechados e shoppings centers e, claro, um Atualmente existe uma forma de soluções táticas apresentadas;
sistema de transporte público ineficiente “fazer cidade” muito alinhada com este 4. Por fim, manuais Faça Você Mesmo,
prejudica o desenvolvimento da função tipo de pensamento intitulado Urbanismo que visam inspirar e espalhar ideias
social da urbanidade. Tático. Baseando-se na premissa de que simples, rápidas e práticas.
Esse “esvaziamento” urbano gera aqueles que são os mais indicados para Interessou-se? Acesse www.face-
uma relação muito impessoal e superfi- identificar as deficiências da escala local book.com/manualdeocupacaodebrasilia,
cial da maioria dos seus habitantes com são os próprios habitantes e usuários, ou envie e-mail para manualmob@gmail.
sua cidade, o que consequentemente quebrando a lógica de intervenção na com. Contribua, inspire-se e, principal-
leva a um completo descaso de gover- cidade por meio de ações rápidas, baratas mente, execute a mudança que você quer
nantes, que limitam suas intervenções e pontuais e criando uma base de expe- ver em Brasília. Se não sabe por onde
à duplicação de vias asfálticas, viadutos, rimentação para mudanças mais subs- começar, o MOB já é uma das direções
elevados e ampliação de estaciona- tanciais, o urbanismo tático ganha força possíveis. Basta seguir em frente!
mentos, ao passo que o investimento hoje em dia no mundo todo e já conta
na manutenção e na qualificação dos com seguidores em Brasília.
espaços públicos, seja através de mobiliá- A partir do momento em que se Orientadora: Flaviana Barreto Lira
rios urbanos, da sinalização, de atrativos sentem capazes de intervir e contri- Banca: Elane Ribeiro Peixoto e Liza
de lazer, variedade de serviços, espaços buir para a construção de um espaço de Andrade

24 1/2015
de fora para dentro
o sistema e modelo penal, o espaço
arquitetônico penitenciário e a
reabilitação social
In exploring the formation of prison spaces, a comparison was made between the scenarios of Brazil and the United
Kingdom grounded in the typological evolution of the prisons concomitant with the adopted policies. The study points to
two facets of prison space: one related to the lack of quality of prison space as a problem of architectural design; the other
to overcrowding, in which case, the importance of alternative sentences is emphasized rather than the carceral paradigm.

Lara Caldas Silveira

A prisão é uma entidade parti- em quatro esferas: de natureza global, principais problemas estão a alta morta-
cular dentro do campo da arquitetura, arquitetônica, político-administrativa lidade por doenças infecciosas, causadas
por constituir o ápice das instituições e social. Comparou-se, então, o quadro pela insalubridade, e o índice de reinci-
totais. O usuário deste espaço não arquitetônico com o quadro social, pondo dência, por volta de 70%.
tem o poder de adaptá-lo, e por isso a as duas realidades lado a lado. No Reino Unido, os principais
responsabilidade do arquiteto é absoluta, Como escreve Suzann Cordeiro, problemas de ordem social são os altos
razão por que é crucial o amplo enten- em De perto e de dentro, de fato a arqui- índices de suicídio; a maior reincidência
dimento do papel e da realidade desse tetura penal tem evoluído de maneira da Europa, em 46%; e segundo a ONG
espaço. Tendo em vista essa problemá- cíclica. Falta embasamento em estudos Prison Trust, a perda de qualidade com
tica, objetivou-se explorar a formação e conceitos que determinem a evolução a atual tendência das superprisões, com
do espaço prisional a partir do Sistema tipológica no sentido da melhoria, de mais de 2.000 vagas.
e Modelo penal, buscando uma relação forma que erros se repetem ao longo Conclui-se que a crise prisional é
entre resultados de reabilitação social, da história. Um exemplo é o retorno do delicada e complexa, e uma solução vai
pela comparação dos cenários do Brasil Reino Unido ao modelo de prisão vito- além da arquitetura, sendo importante
e Reino Unido. riana, julgado insalubre e ineficiente mudar o paradigma do encarceramento
O método de trabalho foi buscar pelos relatores de 1950. como regra e valorizar penas alternativas
a história da prisão moderna em ambos Os dados colhidos também denun- ao cárcere.
os países, averiguando a sua evolução ciam a precariedade do sistema penal
tipológica em contrapartida com as brasileiro, agravada pelo seu gigantismo: Orientadora: Raquel Naves
políticas adotadas concomitantemente. a superlotação já alcança 200% da capa- Blumenschein
Foram levantadas as características mais cidade do sistema, segundo o Conselho Banca: Cláudia Garcia e Maria Cecília
marcantes de cada sistema penitenciário Nacional de Justiça. No Brasil, dentre os Gabriele

25
arqui #4

arquitetura e urbanismo
na era digital
Based on the view of technological development as the main factor in historical changes, a future field of architecture
and urbanism established on a digital revolution foundation is tentatively explored. Debates are held on information
technology, social media, augmented reality, and 3D printing to determine how the architect should incorporate such
changes and how these can modify the way we project, build, and live space.

Marcelo Braga

A partir da Segunda Guerra Steven Johnson, em seu livro Como mente, as tecnologias da informação e
Mundial tivemos grandes avanços – em chegamos até aqui (2015), diz que o comunicação (TIC), as mídias sociais, a
sua grande maioria para fins militares – desenvolvimento tecnológico é um fator realidade aumentada e a impressão 3D.
de tecnologias existentes até hoje. Anos de mudança histórica tão relevante que O propósito é tentar entender e verificar
depois com o advento do computador pode ser considerado mais importante como tudo isso pode alterar o modo de
pessoal e com surgimento da internet, que acontecimentos políticos, haja vista projetar, construir e viver a arquitetura.
ampliou-se a maneira de produção e de a enorme influência das inovações tecno- Também são apresentados alguns exem-
troca de informações, ajudando a romper lógicas nos diferentes setores da socie- plos de arquitetura que usam a tecnologia
distâncias e, além disso, simplificando dade. O questionamento que faço neste não apenas como ferramenta, mas como
diversos trabalhos na sociedade como estudo é se não caberia a nós, arquitetos um material de uso.
um todo. A arquitetura acompanhou esta e urbanistas, nos preocuparmos com essa Em um cenário de mudanças, a
revolução ao alterar seus métodos clás- realidade futura e, para isso, avaliarmos arquitetura e o urbanismo devem pensar
sicos projetuais, mediante a introdução as nossas expectativas das novas tecno- mais que nunca em inovação e interação
das novas ferramentas digitais. logias. Não devemos assimilar as tecno- e, além isso, incorporar as novas tecno-
O conceito de inteligência artificial logias disponíveis e aperfeiçoar processos logias e explorá-las. Para tanto, devem
ganha cada dia mais atenção e investi- que ajudem a construir espaços melhores proporcionar projetos interativos e dinâ-
mento. Nesse contexto contemporâneo que convirjam a um futuro melhor? E, micos acompanhando o mundo globali-
as cidades têm exigido importantes principalmente, como tecnologias podem zado, midiático, conectado e interligado
transformações e projetos na área de alterar e impactar na profissão do arqui- que vivemos atualmente.
arquitetura e urbanismo, que demandam teto e urbanista?
cada vez mais performance, sustenta- Com um caráter reflexivo sobre
bilidade e responsabilidade ambiental. a temática em questão, o trabalho se
Vive-se um dilúvio de novas informações divide em duas partes, contemplando um Orientadora: Cláudia Garcia
e de mudança em suas variáveis a cada panorama que relaciona a arquitetura e Banca: Maria Cecília Gabriele e Raquel
segundo. a revolução digital. Exploram-se, inicial- Naves Blumenschein

26 1/2015
Ilustração de Boyoun Kim

27
arqui #4

modernidade e
paisagem
os casos da casa eames e da casa lota de
macedo soares
A comparative analysis of two modern homes, the Eames House (1949, California) and the Lota Macedo Soares
House (1951, Rio de Janeiro) was drawn, rendering the following similarities explicit: the characteristics of modernist
architecture as a global movement, in terms of the construction material industry and new construction methods, in
parallel with the specificities of local manifestations, which were rooted in their respective landscapes, contexts, and
based on their architects’ sensibilities.

Maria Fernanda Farias

Casa Eames
28 1/2015 Fonte: ideasgn.com/wp-­content
Casa Lota
Fonte: bernardesarq.com.br

A habitação, campo fértil de indústria de construção nos Estados acompanhando a fileira de eucaliptos
estudos, é um dos principais meios de Unidos, o programa Case Study Houses de sua fachada principal. Sua relação com
divulgação de novos ideários. Com as desenvolveu protótipos habitacionais a natureza pode ser notada, também, de
transformações ocorridas nas cidades, unifamiliares de baixo custo, promo- dentro para fora, com seu interior traba-
indústrias, arte e cultura no século XX, vendo o desenvolvimento de uma arqui- lhado em madeira, pensado em mínimos
ligadas ao Movimento Moderno, a casa tetura residencial moderna mais aces- detalhes artesanais.
passou a ser explorada, em suas possibi- sível às famílias de classe média, de que Porém, na Casa Lota de Macedo
lidades formais e conceituais, tornando o participa a casa número 8, Eames House. Soares, a opção do partido volumé-
espaço, por ela configurado, o resultado No Brasil, as influências norte-ameri- trico dividido em alas horizontalizadas
de ações e discursos da sociedade. canas e também europeias contribuíram repousa a estrutura sobre o terreno.
O trabalho de Ensaio Teórico fez para a formação da própria identidade A incorporação de materiais naturais
uma análise comparativa entre duas modernista brasileira, patrocinada, em provenientes do local nas fachadas,
casas modernas, sendo uma norte-ame- sua maioria, pela elite carioca e paulista, como a madeira e as pedras, enfatizou
ricana, a Casa Eames (1949, Califórnia), naquele momento de maturidade, como a compatibilização dos conceitos de
e uma brasileira, a Casa Lota de Macedo foi o caso da Casa Lota de Macedo Soares. modernidade e tradição – artesanato e
Soares (1951, Rio de Janeiro). A análise Nesta comparação, pode ser obser- pré-fabricação –, afirmando a capacidade
está baseada em três tópicos principais: vado o partido de ambos os arquitetos, de formar um conjunto elegante, através
o método construtivo e escolha de mate- por estruturar as casas em aço, concreto, do jogo de contrastes.
riais compositivos; a espacialidade; e as e grandes aplicações de vidros. A Casa
visuais geradas na composição arquite- Eames, implantada semienterrada em Orientadora: Luciana Saboia
tura-paisagem. uma encosta, se desdobrou em formas Banca: Camila Sant’Anna e Giuliana de
Decorrente do crescimento da simples e compactas, verticalizadas, Brito Sousa

29
arqui #4

o pedestre em
eixos monumentais
A spatial analysis of the monument axes of Washington, Canberra, and Brasilia was used as a starting point to better
understand such a type of space from the standpoint of circulation, accessibility, mobility, and permanence. The
purpose was to reconcile on a larger scale the beauty and grandeur of monumental scale with what is comfortable for
and attractive to the pedestrian and visitor.

Milena Vincentini

Este ensaio teve como obje- um local completamente desconfortável desses elementos: atrativos no percurso,
tivo analisar características físicas de aos usuários, principalmente ao usuário acessibilidade, mobilidade, calçadas
eixos monumentais para compreender pedestre. adequadas, segurança nas travessias e
como funciona a escala monumental O estudo analisa a escala do homem cruzamentos, condições climáticas agra-
e como esta interfere no pedestre. em relação às proporções do espaço dáveis, áreas de descanso, tratamento
Foram estudados os eixos monumen- circundante e inclui aspectos perceptivos estético dos espaços, dentre outros
tais de Washington (Estados Unidos), provocados no pedestre. Nesse contexto, aspectos imprescindíveis para que tal
de Camberra (Austrália) e de Brasília analisam-se distâncias, acessibilidade, espaço seja funcional, planejado e apra-
(Brasil), selecionados por terem em segurança, conforto ambiental e ameni- zível ao pedestre.
comum a função institucional. Por meio dade, fatores que influenciam o modo Embora a monumentalidade seja o
de análises de diversos fatores de cada como o espaço é vivenciado. grande destaque desses eixos, conferin-
um desses eixos, buscou-se compreender Tendo como foco o deslocamento e do-lhes beleza e grandiosidade, tanto o
melhor esse tipo de espaço sob o ponto a interação do pedestre nesses espaços, pedestre que deles se utiliza diariamente
de vista da circulação, acessibilidade, sob o impacto da escala monumental, para deslocamento quanto o visitante
mobilidade e permanência em cada é necessária a inserção de diversos devem percebê-los como um espaço vivo,
uma dessas avenidas, e como ele pode elementos nesses eixos que possibilitam funcional e integrado à cidade.
se tornar bom ou ruim ao visitante. Fica a superação de algumas características
claro que todos os aspectos analisados físicas desconfortáveis ao usuário, trans-
estão relacionados entre si e ajudam a formando-os em um local agradável, Orientadora: Monica Fiuza Gondim
melhorar um espaço que, caso não seja seguro e atrativo. Banca: Flaviana Barreto Lira e Giselle
bem trabalhado, pode ser percebido como Resumidamente, são exemplos Chalub Martins

30 1/2015
Ministério dos Transportes

Museu Nacional
de História Natural
Edificação (edifícios em
altura de 10 pavimentos)

5
Edificação (predominância de Calçamento de concreto
casas com um pavimento)

23
Gramado arborizado

Cortes comparativos por Milena Vicentini


2
Calçamento de concreto Calçamento de concreto

29
Asfalto

20
Gramado
Edificação (predominância de
Calçamento de concreto casas com um pavimento)

13 2
Gramado

1
Calçamento de concreto

10
Asfalto
Gramado com poucas

16

20
Gramado arborizado
árvores espaçadas

9
Pedrisco de baixa gramatura
Calçamento de cimento

1,5

4
Calçamento de concreto

8
Asfalto

31
Gramado arborizado

42
Gramado arborizado

3
Calçamento em cimento

10
Gramado

13
Pedrisco de baixa gramatura

9
Asfalto

Nacional
Congresso

5
Calçamento

6
Canteiro

Calçamento em agregado Gramado

15
300
163

199
de resina e pedra natural

55
Gramado

276
6
Canteiro

5
Calçamento

9
Asfalto

Australiano
Memorial de Guerra

10
Gramado

Unidos da América
Calçamento em cimento

13
Pedrisco de baixa gramatura

Capitólio dos Estados


31
Gramado arborizado

Gramado arborizado

42
8
Asfalto
Calçamento de cimento
1,5

Gramado com pouca

4
Gramado arborizado
16

20
Calçamento de concreto
árvores espaçadas

9
Pedrisco de baixa gramatura
1

Calçamento de concreto

Corte Transversal
Camberra
Edificação (predominância de

10
Asfalto

*Medidas em metros
casas com um pavimento)
20

Asfalto
Gramado
Calçamento de concreto

2 31
Gramado
2

Calçamento de concreto

17
Calçamento de concreto

Gramado arborizado
23

7
Gramado arborizado
5

Edificação (predominância de Calçamento de concreto


casas com um pavimento)
Edificação (edifícios em
altura de 10 pavimentos)

Museu Nacional do Ar e Espaço


Washington
Corte Transversal

*Medidas em metros
Ministério da Saúde

31
Corte Transversal
Brasília

*Medidas em metros
arqui #4

o mundo bate do outro


lado de minha porta
arquitetura e isolamento: conceito,
elementos e programas
Derived from an analysis of the architectural elements essential to isolation in terms of their relations
and poetic meanings, a panorama was drawn of the development of programs and architectural
typologies of compulsory and mandatory isolation. Similarities were found among seemingly distinct
programs and their fundamental differences were made explicit.

32 1/2015
Colagens por Vanessa Costalonga

Vanessa Costalonga

Arquitetura, segundo Lucio Costa, e voluntário, de modo a criar um para- cada tipologia moldaram a forma com
em Considerações sobre arte contempo- lelo comparativo entre os dois grupos. que esses elementos foram utilizados e
rânea (1940), é construção concebida com Analisando o significado da palavra como eles transformaram-se, na medida
propósito primordial de ordenar espaço. isolamento, é possível derivá-lo em pala- em que os contextos histórico, político e
Pega-se um ambiente aparentemente vras-chaves: barreira, limite ou fronteira. social mudavam e os movimentos esti-
vazio e, com um simples elemento como Essas palavras podem, por sua vez, ser lísticos e as novas tecnologias surgiam.
um plano, podem-se criar inúmeras situ- associadas a elementos arquitetônicos: Buscou-se entender qual a conse-
ações espaciais. Todavia, essa organi- muro, janela, porta, implantação, célula quência que essas mudanças trouxeram
zação criadora tem em si um gesto de e controle. tanto para o significado poético desses
impor limites. Desde os primórdios da Na arquitetura, ou isola-se a si elementos quanto para a sua forma
primeira construção, a Arquitetura sepa- mesmo, ou isola-se ao outro. Com isso e utilização na organização espacial
rava o exterior do interior, o perigo do percebe-se a existência de dois grupos adotada. Foram encontradas semelhanças
protegido, fosse esse das intempéries de programas de isolamento, o volun- entre programas aparentemente distintos
ou do desconhecido. Seja pela criação tário e o compulsório, cujos exemplares e explicitadas as diferenças funda-
de elementos construtivos ou pelo uso mais expressivos são, respectivamente, mentais. A análise evidenciou o quão
oportunista de elementos preexistentes, mosteiros e condomínios, hospitais e complexa é a problemática do isolamento
como topografia e vegetação pode-se prisões. Analisando o histórico de cada na Arquitetura. Mais que atingir conclu-
dizer que o isolamento é um fenômeno programa, destacam- se as suas origens, sões absolutas procuraram-se possibilitar
intrínseco à Arquitetura. seu processo evolutivo e as principais novos questionamentos sobre o tema.
Este ensaio nasceu da curiosidade tipologias adotadas.
sobre esse caráter segregador, e seu Assim, traçou-se um paralelo entre
objetivo principal é analisar o compor- os elementos essenciais do isolamento e Orientadora: Raquel Naves
tamento e o significado poético dos o panorama histórico de cada programa Blumenschein
elementos arquitetônicos essenciais em analisado. Percebeu-se como as diretrizes Banca: Luciana Saboia e
programas de isolamento compulsório e os conceitos de projeto aplicados em Maria Cecília Gabriele

33
NOVOS
ARQUI
TETOS
diplô

N a fase final do curso de Arquitetura e Urba-


nismo o aluno deve desenvolver o Trabalho de
e representação; análise; diagnóstico e projeto. Os
membros das bancas devem atribuir notas para cada
Conclusão de Curso (TCC). Cabe a ele escolher um uma dessas áreas.
tema, um orientador e desenvolver, durante o último Com esta proposta buscou-se validar os trabalhos
semestre, um trabalho de síntese, onde pode mostrar com menção superior e verificar se realmente obteriam
todo o conhecimento teórico-prático adquirido ao esta classificação. Esta tese se confirmou: quarenta
longo dos quase cinco anos de capacitação para sua formandos defenderam seus TCCs e dentre eles trinta
vida profissional. Aos professores cabe avaliar o e quatro obtiveram menção superior, o que repre-
trabalho individualmente em uma banca composta senta 85%. Assim como nos dois semestres anteriores,
por professores e um membro externo. Na verdade, foram selecionados quatro TCCs como destaques para
precisam somente comprovar a eficácia do trabalho esta Revista. Esses trabalhos foram classificados por
interdisciplinar, desenvolvido em cinco anos, por uma comissão composta por três professores.
grande equipe, formada pelos próprios professores e Com relação aos temas verificamos que 45%
alunos que trabalham unidos com o compromisso de dos trabalhos são relacionados a projetos de arqui-
pensar a cidade e solucionar problemas relacionados a tetura, os outros 55% são projetos urbanos com vários
sua história, infraestrutura, sociedade, meio ambiente enfoques: revitalização, intervenção urbana, mobili-
etc. e de fazer uma arquitetura bela e bem- resolvida, dade, patrimônio histórico e cultural, assentamentos
a que produz povos felizes e desperta emoções, como rurais, permacultura urbana, entre outros. Esses temas
disse Le Corbusier, um de nossos grandes mestres. refletem sérios problemas atuais enfrentados por nossa
Neste último semestre as regras da Diplomação sociedade em vários âmbitos. Mostram que nossos
foram as mesmas: os alunos seguiram as orientações novos arquitetos entram no mercado de trabalho capa-
dispostas no Plano de Curso com relação aos obje- citados e dispostos a enfrentar os desafios urbanos
tivos, conteúdo mínimo, etapas, produtos a serem atuais das cidades brasileiras.
entregues e cronograma. Somente a avaliação foi Assim, apresento, com muita honra, por mais
alterada. Antes desta modificação, ao final da banca, este semestre, os Trabalhos de Conclusão de Curso
seus membros precisavam avaliar, através de uma do primeiro semestre de 2015.
única nota, os produtos finais – prancha, caderno do Agradeço a dedicação de sempre dos profes-
projeto, maquete física, além da apresentação oral. A sores e técnicos.
fim de criar maior rigor, o que incentiva a execução
de produtos com maior qualidade, e analisar indi-
vidualmente cada produto, foram criados critérios Paola Caliari Ferrari Martins
de avaliação divididos em três áreas: apresentação Coordenadora de Diplomação
Towards the end of the bachelor’s program of Architecture This proposal was meant to validate the top-mention
and Urbanism, the students have to carry out an end-of-pro- projects, to determine whether they would actually be clas-
gram project. It is up to them to choose a topic and an adviser sified as such in the new scoring system. The assumption
and to develop a work of synthesis during the last semester proved right: of the 40 graduating students who defended
to exhibit all of the theoretical and practical knowledge their Graduation Projects, 34 received the top mention, that
acquired throughout the nearly five years it takes to qualify is, 85% of them. As in the previous two semesters, four of
them for their professional life. It is up to each professor, as these were selected as outstanding. This distinction was
a member of a committee comprising in-house professors awarded by a committee of three professors.
and one from outside the school, to score every piece of A total of 45% of the projects were architectural
work. In fact, professors need only confirm the effectiveness projects, and 55% were urban projects focusing on varied
of the interdisciplinary work done over the course of five themes: revitalization, urban intervention, mobility, historic
years by a large team made up of professors and students. and cultural heritage, rural settlements, and urban permac-
Both are committed to working together to ponder the city, ulture, among others. These reflect serious problems our
solve the issues related to its history, infrastructure, society, society is currently facing in several spheres. They show that,
environment, etc., and produce a beautiful and well thought when our new architects enter the labor market, they are
out architecture, one that can make the peoples of this world capable and willing to take on the current urban challenges
happy and arouse emotions, as Corbusier, one of our great posed by Brazilian cities.
masters, said. I am thereby greatly honored to present once more
Last semester the rules for the Graduation Project the Graduation Projects of the first semester of 2015.
were the same as usual: the students followed the guidelines I am grateful to the professors and technicians for
in the Program Plan with respect to objectives, minimal their time-honored dedication.
content, stages, products to be delivered, and timetable. Only
evaluation underwent changes. Prior to the alterations, at
the end of the committee meeting, its members had to assess
the final products – presentation boards, drawings, physical
models, as well as an oral presentation, with just one score.
To become more rigorous, thus encouraging high-quality
execution of the products, and to analyze each product indi-
vidually, evaluation criteria were laid down to cover 3 areas:
presentation and representation; analysis; and diagnosis
and project. The committee members are now required to
give scores within each of these areas. Paola Caliari Ferrari Martins - Graduation Project Coordinator
arqui #4

regeneração urbana da revitalização w3 recuperação e


região do estreitamento intervenção do cine
do córrego jataí drive-in

e.t.c. espaço de vem pro parque intervenções no conic:


trabalho compartilhado o avesso de brasília ao
eqs 204/404 avesso

juntarq – pesquisa intervenções em teleport city


sobre os espaço público
assentamentos rurais

centro de retiro intervenção em


josefinos patrimônio cultural:
o caso da estação
bernardo sayão

escola classe e jardim casa de brincar


de infância – sqn 109

38 1/2015
mob.in.campus - requalificação permacultura urbana
projeto de mobilidade urbana da praça
e informação no da bandeira, em
campus dr. teresina- pi

espaço leitura midiateca pública de intervenção no museu


brasília de arte de brasília

projeto participativo mosteiro de são bento centro de excelência


infantil - urbanismo esportiva
para criança

novo centro em montes clube do servidor centro de tênis


claros gustavo kuerten

autódromo de brasília

39
destaques
teleport city
Aluna: Gabriela Bílá
Orientação: Elane Ribeiro Peixoto

Gabriela Bílá concebe um mundo a partir da hipótese uma vez que novas síndromes atormentam os contemporâneos
da invenção do teletransporte. A mais radical revolução no da era do teletransporte... O mundo de Bílá é um convite à
tempo e no espaço possibilita à humanidade diversas expe- fantasia e à reflexão sobre um futuro provável, ao qual somos
riências culturais: da visita aos monumentos aos exotismos conduzidos pelos caminhos venturosos da arte.
gastronômicos. Mas não se vive essa condição impunemente,

casa de brincar
Aluna: Julia Luna
Orientação: Liza Andrade

O projeto Casa de Brincar (creche e pré-escola) teve como Escolar e de Jason McLenam para o Planejamento Centrado na
objetivo criar um espaço centrado na criança que funcione como Criança, os princípios da Permacultura de Bill Molisson, além de
ferramenta de educação e dialogue com princípios e valores tentativas de processo participativo com professoras e pais de
de novas metodologias pedagógicas e ecológicas. Foi desen- uma creche existente na Cidade Estrutural no Distrito Federal.
volvida uma metodologia que contempla a aplicação de Uma Este projeto alcançou o primeiro lugar na V edição da Bienal de
Linguagem de Padrões (patterns) de Christopher Alexander, dos Sustentabilidade José Lutzenberger, realizado no EURO- ELECS
parâmetros projetuais de Doris Kowaltowski para Arquitetura em Portugal na cidade de Guimarães.

novo centro em montes claros


Aluna: Nágila Ramos
Orientação: Benny Schvarsberg

O trabalho possui características inovadoras de inter- em projeto urbanístico para Operação Urbana Consorciada,
venção urbana com projeto urbanístico transformador de uma numa parceria público-privada envolvendo shopping center,
região depreciada de Montes Claros, MG, cidade de porte médio prefeitura, moradores e empreendedores. Articula os modais
e polo regional. Com nova configuração edilícia e ambiental VLT, ônibus urbanos e interurbanos, automóveis, e enfatiza
no espaço público e privado, cria um novo centro dinâmico pedestres e ciclistas, renovando a Rodoviária intermunicipal
da cidade com intervenções no sistema viário, no sistema e criando um novo parque e centro de convenções. Assim,
de espaços livres, no parcelamento do solo e na volume- a proposta revela sensibilidade e ousadias relevantes para
tria. Tira partido da topografia e das perspectivas cênicas, a cidade e a região.

centro de tênis gustavo kuerten


Aluno: Rodrigo Rezende
Orientação: Bruno Capanema

Situado no Centro Poliesportivo Ayrton Senna, entre o mesmo nível do talude do Centro Aquático, define a edificação
Estádio Nacional e o Centro Aquático, o projeto implanta-se e a organização do programa. Dois outros elementos se distin-
como conector do seu entorno imediato. O partido se define guem sobre esse plano: uma grande cobertura plana e um
aproveitando as características existentes do terreno para domo; configuradores, respectivamente, de uma área social/
configurar a arquitetura, tornando os desníveis e a intenção cultural e da quadra central. A distribuição e setorização do
de reestabelecer o local dedicado ao Tênis no complexo deter- programa dividem e organizam os diferentes fluxos seguindo
minantes no processo. A criação de um grande plano em L, no uma das principais intenções de projeto: a permeabilidade.

41
arqui #4

teleport city
Incursion into a postteleportation world through speculation about its new cartographies, urban characteristics, cultural
practices, equipment, objects, and syndromes. The metaphor of instantaneous and unlimited mass transportation is an
invitation to fantasy and reflection on the role of the new technologies in reconfiguring new worlds.

Gabriela Bílá

42 1/2015
O homem cria a ferramenta. A ferramenta recria o homem.
Teleport City é uma série de hipóteses baseada na seguinte questão: e se o
transporte fosse perfeito? Assim, o teletransporte é uma metáfora de um trans-
porte de massa ilimitado e instantâneo.
Para responder a essa pergunta, foi criada uma série de imagens, produtos
e textos que, em forma de uma narrativa (conto arquitetônico), demonstram os
possíveis desfechos e formatos desse novo mundo surgido a partir de uma tecno-
logia inédita.

CIDADES
Colmeias ◊ A profusão do teletransporte significou a perda da utilidade
prática de toda a infraestrutura rodoviária existente. As ruas foram tomadas por
edificações, o que originou uma curiosa tipologia urbana chamada de “colmeias”.
É uma extrusão da malha das cidades.
Estantes ‡ Edifícios inteiros podem ser acoplados ou retirados dessas estru-
turas, estando lado a lado as mais diversas atividades, como comércio, moradias,
escolas etc. Os edifícios possuem a circulação interna tradicional, mas a externa
se dá pelo teletransporte. Assim, não existem ligações culturais, setorização de
funções ou ruas entre eles, o que distancia as estantes do conceito de “cidade”,
como até então conhecido.
Arquipélagos ≈A facilidade de ter um telepod particular possibilita que parcelas
da população se mudem para áreas remotas do mundo, longe da ocupação humana,
de onde podem sair quando necessário para a realização de suas atividades diárias.
Fortemente vinculados à natureza, a ocupação dos arquipélagos é sazonal, sendo
abandonados e repovoados ciclicamente.

Colagem de Gabriela Bílá, fotografia


original de Joana França

43
arqui #4

NOVA GEOGRAFIA tar-se por dias a fio sem dormir não faz se teleportam pelos fusos horários para
Representar o mundo por divisões bem à saúde. Com as Sleeping Corners, viverem exclusivamente no dia ou na
baseadas exclusivamente nas distâncias pontos de descanso para cochilos rápidos, noite. Em geral, são aqueles que temem
geográficas não faz mais sentido. O ninguém precisa voltar para casa tão o fim ou o começo.
planeta vive sua segunda pangeia. Nos cedo. Onde quer que se esteja, é só ver o Sala de espera ∫ A humanidade
novos mapas, os interesses culturais são símbolo dos olhinhos fechados, entrar, e sempre lidou com a espera, a situação de
sobrepostos à proximidade física. Por bons sonhos. *Keep healthy, stick to the 24*. estar “entre” a partida e a chegada. Com o
exemplo, a Esplanada dos Ministérios teletransporte, grande parte da espera pode
pode conectar-se diretamente à Champs OBJETOS ser abolida, mas não toda. Essa síndrome
Elysées, muito mais próxima agora do Tecido Térmico ◊ É o tecido desen- caracteriza-se pela sensação de extremo
que qualquer cidade-satélite de Brasília. volvido para driblar diferenças de tempe- incômodo provocado pela espera.
Agências começaram a fazer roteiros ratura para viajantes que pulam entre Mundo plano ∆ Enorme sentimento
baseados na posição dos telepods espa- zonas climáticas diversas vezes em um de vazio ao se exaurirem as possibili-
lhados no mundo inteiro. Colecionar o só dia. dades de explorar os quatro cantos do
que de mais exótico tem cada lugar é o Óculos de Fuso ∆ Criado para planeta. É a percepção de que o mundo
esporte favorito de muitos. amenizar a perda de noção temporal gerada é finito e a sensação de ser, dentro dele,
pelo pular entre fusos horários. O usuário um prisioneiro.
EQUIPAMENTOS pode programar os óculos de acordo com
TelePods | São as cabines públicas seu horário local, ajustando, a partir dessa
de teleportação. Dentro da cabine, é configuração, o mundo externo, para ser
possível escolher o destino por coor- percebido de forma natural. Orientadora: Elane Ribeiro Peixoto
denada, fuso, clima, atividade e muitas Banca: Carolina Pescatori, Eduardo
outras opções. SÍNDROMES Pierrotti Rossetti e Leandro de Sousa Cruz
Sleeping Corners ‡ Teletranspor- Noturnos/diurnos ≈ Pessoas que Convidado: Ricardo Theodoro

Ensaio fotográfico de produtos por Gabriela Bílá


e Marilia Alves

Fotografia das publicações do projeto e colagem


sobre foto de maquete por Gabriela Bílá

44 1/2015
45
arqui #4

casa de brincar
Daycare center and preschool. Punctuated by ludic elements developing around a central arena theater, the school
opens up to a shared street, also developed in the project. Space as an education tool dialogues with permaculture
principles as reflected in the use of compressed earth blocks for closing spaces and for structural solutions and in the
use of bamboo slats on facades.

Julia Luna

O projeto consiste em duas edificações: uma menor, onde ocorrem as funções


administrativas e serviços gerais, e a edificação maior, que é o prédio das crianças
e onde ficam as salas de atividades da pré-escola e os ambientes da creche. Entre
os edifícios há um teatro de arena, coberto por uma lona de circo, constituindo,
assim, um elemento lúdico, servindo para apresentações, reuniões e assembleias.
Para a segurança das crianças, é importante evitar o uso de quinas. Assim,
foi incorporado ao projeto, de uma forma particular, que todos os cantos e quinas
dos prédios sejam arredondados, o que resultou também na leveza dos espaços.
As salas de atividades da pré-escola não são alinhadas entre si, ou seja, elas se
deslocam um pouco para frente ou para trás em relação à próxima, de modo que
foi possível fazer uma brincadeira entre espaços positivos e negativos, que confere
ao pátio interno um certo ritmo. Espaços assim são de grande ajuda para o desen-
volvimento dos sentidos das crianças. As salas também não são separadas. Elas

46 1/2015
PR
EM
IAD
O
Projeto selecionado como vencedor em 1º lugar - Categoria Estu-
dante -  do Concurso de Ideias e Projetos - V Edição da Bienal de
Sustentabilidade José Lutzenberger, realizado no EUROELECS.

são interligadas e constituem, todas, um só espaço. Se preciso for, elas podem ser
separadas por divisórias móveis. Mas é importante que a criança possa circular
livremente e com segurança por todo o espaço da escola. Por essa razão evitou-se
o uso de elementos que pudessem apresentar qualquer barreira.
As paredes da escola são de bloco de terra compactada (BTC ou tijolo ecoló-
gico). Esse tijolo é resultado da mistura de barro e cimento e confere ao ambiente
maior conforto térmico. Ele pode ser usado em paredes estruturais, como é no
caso da Casa de Brincar, em que a armação passa por dentro dos tijolos. O tijolo
não aparece nas fachadas, pois estas são revestidas de ripas de bambu. Usadas
como elementos decorativos, essas ripas ora estão coladas nas paredes, ora estão
soltas. Assim fez-se um jogo com espaços cheios e vazios, luz e sombra. Os tetos
são feitos de painéis abobadados de ferrocimento, chamados de cascaje. Eles são
baratos, economizam material básico e podem ser feitos pelas pessoas da própria

47
arqui #4

Perspectivas internas e geral, renderizadas por


Julia Luna, Camila Abrahão e Mariana Hummel

comunidade. Por cima desses painéis vem mesma altura da calçada e, para priorizar
a laje de concreto armado. o pedestre, a divisão entre onde o carro
O pavimento superior é um terra- pode ou não passar será feita por baliza-
ço-jardim, que toda a comunidade dores. Foram projetados para a rua alguns
escolar poderá usufruir. Ele constitui jardins de chuva, para ajudar a evitar
um grande espaço para brincadeiras e alagamentos. Perto da entrada da escola
ócio. Elementos de sustentabilidade estão agora há uma minipraça com bancos e
espalhados por toda a escola, pois além brinquedos para as crianças. A intenção
das suas funções básicas eles também é que se estimulem o uso e a ocupação
têm uma função pedagógica: com sua da rua pelos moradores do entorno. Para
presença se aprende a importância fazer uma conexão maior entre a rua e
do cuidado com o meio ambiente. Há a escola, pensou-se numa paginação de
também brinquedos e elementos lúdicos piso que vem da rua e entra na escola.
por todo o espaço escolar, para que a O terreno da escola tem 3.285 m²
criança possa perceber que toda a escola e o projeto foi feito para acolher 162
é dela e cada espaço foi pensado para usuários diários, durante todo o dia, e
atender suas necessidades e desejos. tem 1.687 m² construídos ou 51% da
Realizou-se também uma inter- área total do terreno.
venção na rua que passa na frente da
escola. Fez-se dela uma rua comparti- Orientadora: Liza Andrade
lhada, onde poderão circular, sem qual- Banca: Bruno Capanema, Igor Campos
quer impedimento, pedestres, bicicletas e Márcio Buson
e carros. A área de asfalto agora está da Convidado: Sérgio Pamplona

48 1/2015
49
arqui #4

novo centro em
montes claros
Urban project for an Urban Operation Consortium in downtown Montes Claros, in the state of Minas Gerais. An
integrated proposal of new zoning aiming at increased population density and diversified utilization, street redesign and
an intermodal terminal, along with a plan for recovering the landscape with trees and street furniture and the creation of
a multiple-use park in the downtown.

Nágila Ramos

50 1/2015
Montes Claros, com 390 mil habitantes, é o centro da mesorregião Norte
de Minas Gerais e comanda as áreas e municípios do seu entorno que possuem
menor diversidade de funções.
A cidade, inaugurada em 1857, expandiu-se muito desde a década de 1970,
quando a SUDENE passou a atuar na região. Mais recentemente, vem tornado-se
polinucleada. O fortalecimento de subcentros é uma das diretrizes do Plano Diretor
Municipal ainda vigente e é importante para o descongestionamento do Centro
e desenvolvimento da cidade como um todo. Outra grande questão é a carência
de áreas verdes públicas. Estes foram motivos cruciais para a escolha da região
de intervenção.
A área de estudo é vital no panorama urbano e econômico de Montes Claros,
pela localização da Rodoviária e do maior shopping center da cidade, além do fácil
acesso desde outros bairros, inclusive por transporte público e pela proximidade
à linha de trem, futuro eixo de VLT. Em relação ao Centro e a demais subcentros,
encontra-se numa posição central e é uma área contígua ao núcleo de integração
sintático da cidade. Possui baixas densidades demográficas e é de ocupação recente.
Está subutilizada, pois há muitos lotes vagos e falta infraestrutura básica. Ou seja,
o redesenho da área não implicará grandes demolições ou reinvestimento finan-
ceiro por parte da administração municipal. Ademais, o Córrego Vargem Grande,
canalizado e poluído, corta o perímetro de estudo, numa área sujeita a alagamentos.

51
arqui #4

Dadas as oportunidades, propõe-se gração intermodal conectado à Rodovi-


uma Operação Urbana Consorciada (OUC) ária. Para promover o adensamento e a
que se caracteriza como uma parceria diversificação de usos, propõem-se um
entre poder público, iniciativa privada novo zoneamento, com redistribuição
e moradores, com os seguintes objetivos de áreas particulares, verdes e institu-
básicos: cionais, bem como novas volumetrias
1.consolidação do caráter central da área; com novos parâmetros urbanísticos. A
2.requalificação do ambiente natural e recuperação da paisagem conta com um
construído. plano paisagístico de arborização e mobi-
O principal produto é um projeto urba- liário urbano, além de um parque urbano,
nístico, base para a OUC, que engloba com variedade de opções de descanso e
três temas: lazer e um Centro de Eventos, urbanis-
1. Circulação/Mobilidade Urbana; ticamente articulado com o Shopping
2. Uso e Ocupação do Solo; Center e a Rodoviária.
3. Recuperação da Paisagem.
O redesenho viário visa à melhoria Orientador: Benny Schvarsberg
da legibilidade e a multimodalidade. São Banca: Carolina Pescatori, Giuliana de
propostas nova hierarquia viária, novas Brito Sousa e Monica Fiuza Gondim
geometrias e um terminal urbano de inte- Convidado: Luiz Alberto Gouvêa
7,4km
5,6km
4,5km

km
4,5
2,7km

1,8km

3,3km

1,4km
1,9km

Centro
Subcentros
Área de influência - pedestres 300 e 800m
Área de influência - ciclistas 1500 e 3000m
X km
Distâncias desde a Rodoviária

0 700m 2100m Vista geral, planta de localização e


relação com outras centralidades e
renderizações por Nágila Ramos.

52 1/2015
53
arqui #4

centro de tênis
gustavo kuerten
Tennis Center, Brasilia Monumental Axis. The physical and visual permeability of the architecture of Brasilia is used
as a basis for building a sports center where public courts take on the shape of a square – the sport for all. Taking
advantage of the existing slopes, the complex proposes, besides the outdoor courts, a training center with indoor
courts and a central court as well as athlete support programs.

Rodrigo Rezende

54 1/2015
INTENÇÃO
Inspirado nos valores possíveis de serem aprendidos com o esporte, o projeto
busca integrar seu entorno de forma acessível e visando garantir permeabilidade tanto
física como visual, característica dominante na arquitetura e no urbanismo brasilienses.
Dessa maneira o projeto tem como principal intenção possibilitar o acesso ao tênis
de forma igualitária, social e aberta para todo tipo de público, seja para jogar, assistir
ou apenas conhecer um pouco mais sobre o esporte.
Assim sendo, o Centro de Tênis Gustavo Kuerten é um equipamento público com
o objetivo de suprir a demanda da cidade por quadras públicas de tênis, fomentar a
prática do esporte, sediar grandes eventos do circuito internacional e formar tenistas
profissionais. Seu funcionamento se daria de forma semipública com quadras abertas,
centro de treinamento com quadras cobertas, a quadra central Maria Esther Bueno,
com capacidade de aproximadamente 4.000 pessoas, usos complementares visando
ao apoio de público e integração com os equipamentos vizinhos e estacionamento
subterrâneo com capacidade de quatrocentas vagas.

LUGAR
Situa-se no Complexo Poliesportivo Ayrton Senna, em um terreno com acesso
direto ao Eixo Monumental, configurando assim uma nobre e simbólica posição urbana.
Antes da construção do Estádio Nacional havia, no mesmo terreno onde foi
implantado o projeto, uma área com doze quadras públicas de tênis. O local era bastante
utilizado para ministrar aulas, organizar pequenos torneios da Barragem (pequena
associação de tenistas) e para jogos recreativos do público em geral. Dado o início
das obras, quatro quadras foram demolidas para a construção do canteiro. Em seus
estágios finais o restante das oito quadras também foi demolido, deixando o complexo
sem uma área para a prática do tênis e contribuindo para o déficit de quadras públicas
dessa modalidade na cidade.
O projeto de desenvolvimento do entorno do Estádio visa transformar toda a área
entre ele e o Autódromo Nelson Piquet em um grande estacionamento, sem levar em
consideração a possibilidade de desenvolverem-se ali outros equipamentos esportivos.
Tendo isso em vista, buscou-se de forma intencional e crítica o reestabelecimento,
no mesmo local, da presença de um equipamento voltado à prática do tênis. A forma
como vem a ser implantado demonstra respeito e sensibilidade à memória do lugar
bem como integração ao seu entorno. A intenção do projeto é de contribuir, da melhor
maneira possível, para a criação de um complexo poliesportivo mais conectado, coeso
e de qualidade, fazendo jus ao seu nome e à sua localização urbana.

55
arqui #4

Renderização interna, axonométrica


do programa e vista geral por
Rodrido Rezende

CONCEPÇÃO
O ponto de partida do processo do terreno para garantir a altura neces-
foi a intenção de reestabelecer, de forma sária à configuração das quadras cobertas,
particular e adequada ao projeto, o local não sendo necessário criar volumes altos
das quadras de tênis no Complexo Polies- e dissociados do conjunto.
portivo Ayrton Senna. O intuito foi criar O intento de integrar os equipa-
um espaço de quadras públicas que se mentos adjacentes teve como solução a
aproximasse a um pátio/praça, tornan- criação de dois níveis de acesso: o térreo
do-as um elemento central e regulador (N 0.00), em continuidade com o Estádio
da disposição do programa. Tirar partido Nacional, e o térreo superior (N +7.00),
do talude (com diferença de sete metros em continuidade com o Centro Aquá-
de altura entre o Centro Aquático e o tico. Peça-chave na composição, o térreo
terreno de projeto) e do caimento natural superior se torna um platô conector,
do terreno, que o divide ao meio em dois permeável e público, com diversas
platôs (com diferença de 3.50 metros de funções. Configura um espaço “urbano”
altura), foi a premissa para o desenvolvi- em escala ao oferecer usos mistos. São
mento do projeto. eles: restaurantes, lojas, Galeria do Tênis,
Observando-se essa situação além de acesso público e vistas superiores
e tendo o local das quadras públicas da quadra central Maria Esther Bueno.
previamente se definido pela memória O projeto, em suma, tem por fina-
do lugar, a implantação da quadra central lidade traduzir, por meio da arquitetura,
(elemento importante no programa e de seu desígnio maior de união entre perme-
grandes dimensões) foi definida à direita abilidade e universalidade. Assim como o
das quadras abertas, pelo cruzamento esporte, é para todos.
dos eixos do Estádio Nacional (vertical)
e do Centro Aquático (horizontal). Essa Orientador: Bruno Capanema
estratégia de ocupação configura uma Banca: Joe Rodrigues, Mário Eduardo
intervenção sensível, horizontalizada e P. Araújo e Oscar Luís Ferreira
fluida ao aproveitar o caimento natural Convidado: Eder Alencar

56 1/2015
57
arqui #4

recuperação e
intervenção do cine
drive-in
Recovery of and interventions in the Drive-In Movie Theater in Brasilia and transformation
of the surrounding area into a cultural center integrated with the building.

Beatriz Gomes

Brasília tem sofrido um recente públicos da cidade, não tenha sofrido ao como as piscinas do Centro Poliespor-
processo de alteração da ocupação longo dos anos qualquer intervenção de tivo Ayrton Senna (antigo DEFER), o
urbana que procura retomar os espaços conservação significativa. ginásio Nilson Nelson e o ginásio Cláudio
públicos através de atividades livres e Situado no centro de Brasília no Coutinho.
abertas. Já fazem parte do cotidiano da Setor de Recreação Pública Norte (SRPN), O projeto tem como objetivo
cidade as feiras, apresentações artísticas, dentro do Autódromo de Brasília, o Cine a desapropriação da área vizinha ao
festas e atividades esportivas que reúnem Drive-In encontra-se isolado, seja pela cinema, onde hoje se encontra um
um grande público, disposto a dividir o falta de transporte público, seja pela falta cartódromo, e a idealização de um centro
mesmo espaço, ainda que com objetivos de visibilidade e conhecimento. Além cultural integrado ao Cine Drive-in de
diversos. dele, toda a zona ao redor é desvalo- Brasília que estabeleça nova dinâmica
Esta redescoberta da rua, ainda rizada, pouco acessível e detentora de e traga movimento contínuo ao local
que bem-vinda, coloca em questão os poucos equipamentos que a tornem através da promoção da cultura e valo-
modos com os quais pode ser feita a atrativa. Com exceção do Estádio Mané rização do patrimônio moderno.
reapropriação de áreas que passaram Garrincha e do Autódromo, vizinhos
longo tempo em uso escasso, indevido diretos do Cine, que já possuem certa
ou até mesmo em abandono. O Cine estabilidade, todas as demais áreas são
Drive-In de Brasília é um desses locais hoje de uso limitado, porém possuem Orientador: Oscar Luís Ferreira
que vêm reconquistando o público, ainda potencial para tornar a região um refe- Banca: Cláudio Queiroz, Eduardo Pierrotti
que, assim como outros equipamentos rencial de entretenimento para a cidade, Rossetti e Leandro de Sousa Cruz

58 1/2015
Perspectivas por Beatriz Gomes

59
arqui #4

espaço de trabalho
compartilhado
entrequadra sul
204/404
Shared work space at the interblock 204/404 south in Brasilia: a new type of
public equipment that can be used for the superblocks.

Bernardo Vianna Duque

60 1/2015
Renderizações por Bernardo Duque

Com o intuito de despertar o olhar 300/100 e 200/400 têm seus usos restritos árvores, interligando espaços diversos
sobre o abandono das unidades de vizi- e uniformes, não atingindo o objetivo que dão suporte a variados tipos de ativi-
nhança, conceito fundamental ao plano de comportar equipamentos públicos dades. Com acessos ao nível do solo, as
piloto de Brasília e que muito influencia comunitários de apoio às unidades de marquises se projetam como extensões
nas dinâmicas sociais da cidade, o projeto vizinhança. do terreno logo abaixo, convidando o
procura trazer novas perspectivas sobre Dentre as várias entrequadras usuário a passear entre a copa das árvores
essas unidades. É proposto um novo tipo estudadas, o sítio escolhido para a inter- e contemplar novas perspectivas sobre
de equipamento público para aten- venção foi a EQS 204/404. A quadra foi estes espaços da cidade.
dimento das unidades de vizinhança escolhida por sua localização próxima Abaixo desses planos e marquises,
denominado ETC – Espaço de Trabalho ao centro da cidade, mas principalmente é configurado um espaço fluido onde se
Compartilhado –, um espaço de etecé- por já ter havido iniciativa da população instalam mobiliários urbanos de apoio
teras capaz de suportar atividades de para a ocupação desse espaço com uma como bancos e mesas, que funcionam
trabalho e propiciar o desenvolvimento bicicletaria. como estações de trabalho onde o
de atividades culturais e lazer, com flexi- Ao se apropriar de um sítio que usuário possui livre acesso à internet e
bilidade para comportar as mais diversas possui relação direta com as superqua- à rede elétrica do edifício. O vazio que
iniciativas de apropriação promovidas dras, embora pouco integrado às dinâ- permeia o conjunto edificado possibilita
pela população. micas socioespaciais, principalmente por sua apropriação para os mais diversos
A área sobre a qual este estudo se conta dos usos limitados hoje instalados fins, desde pequenas feiras e mercados
debruça se localiza entre as superquadras nessas áreas, o projeto proposto visa criar alternativos, a exposições e festejos em
300/100 e 200/400, onde a via é interrom- um equipamento público cujos usos e datas comemorativas.
pida em alguns pontos deixando grandes morfotipologia arquitetônica promovam A forma orgânica e curvilínea da
áreas livres que comportam um conjunto identidade e a integração desses espaços edificação é resultante de uma série de
de lotes, destinados a equipamentos ao contexto das superquadras, preser- análises realizadas no sítio. Estas análises
públicos comunitários, de atendimento vando o caráter flexível da proposta de levam em conta desde aspectos urbanos e
às unidades de vizinhança. Lucio Costa e apontando novas perspec- configuracionais, bem como vegetação e
Praticamente todas essas entrequa- tivas sobre o uso das unidades de vizi- fluxo de pedestres, estabelecendo, assim,
dras, tanto da Asa Sul como da Asa Norte, nhança, bem como dos outros espaços as condicionantes que nortearam a elabo-
já possuem seus lotes edificados e com e equipamentos públicos contidos nas ração da forma do edifício.
atividades como de agência de correios, superquadras.
biblioteca comunitária, escolas parti- O equipamento projetado, o ETC,
culares e academia de ginástica. Entre- constitui-se fundamentalmente como
tanto, boa parte dessas edificações está uma praça onde, a partir do nível do solo, Orientadora: Gabriela de Souza Tenório
subutilizada ou até mesmo abandonada. nascem diferentes planos e marquises Banca: Ana Paula Gurgel, Marcos
Com uma legislação datada da década em concreto armado, apoiadas sobre Thadeu Magalhães e Oscar Luís Ferreira
de 1960, esses lotes contidos nas EQ colunas que se misturam aos troncos das Convidado: Breno Rodrigues

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arqui #4

o avesso de brasília ao
avesso: intervenções
no conic
Intervention in the South entertainment Sector: from a pocket guide to CONIC to
the spatial rehabilitation of the building and its surroundings.

Eduarda Aun

Localizado no coração do Plano usam o espaço do Conic, considerado ficação das praças de acesso ao Conic,
Piloto, próximo à rodoviária, o Setor “marginalizado” por muitos. A partir do propor novos usos aos espaços que hoje
de Diversões Sul, mais conhecido como estudo da área, da sua relação com o apenas conectam o Conic aos demais
Conic, é um espaço singular na cidade. entorno, das suas características atuais e setores, refletindo aquilo que acontece no
O descaso e abandono pelas autoridades dos seus usuários, proponho um projeto interior do Conic: parque para skatistas,
locais não impedem que o setor ainda que reúna não só as características do cinema ao ar livre, espaço para shows e
pulse: o Conic é um espaço de eferves- plano original de Lucio Costa, mas prin- performances, mercado, hortas, bares,
cência cultural e ponto de encontro de cipalmente as características atuais, de arte urbana etc.
tribos diversas e de pessoas que procuram apropriação e heterogeneidade. Um entorno convidativo chamará
produtos e serviços especializados. É O projeto, portanto, não tem a as pessoas a desvendarem o interior do
curioso, entretanto, compreender por intenção de “arrumar” o Conic, mas Conic, que será uma enorme galeria a céu
que, embora o Conic tenha uma centra- de torná-lo mais atrativo a partir das aberto, com as empenas coloridas com
lidade global, a sua acessibilidade local qualidades que já possui. O Conic é hoje arte urbana e com diversas atividades
seja restrita; o que faz com que alguém um espaço de encontro, de criação artís- culturais. O interior do Conic recebe,
que passa pela plataforma rodoviária tica, de engajamento social e político e portanto, intervenções de caráter mais
percorra o seu espaço interno? É a de diversão e lazer. A ideia é transferir flexível, de forma a possibilitar a apro-
“invisibilidade do concreto”, marcada essas qualidades para fora, ou seja, virar priação, pelos mais diversos atores que
pela sua arquitetura, que não convida o Conic ao avesso, para que quem esteja fazem uso do seu espaço. Estruturas
um desconhecido a percorrer o desco- de fora queira desvendar o seu interior. móveis e multifuncionais poderão
nhecido? Ou é a imagem que se tem do As primeiras iniciativas seriam, então, a configurar diferentes espaços, incluindo
lugar, que o impede de explorar os seus conscientização dos lojistas, a elevação palcos, biblioteca, cinema, área para
labirintos? Labirintos estes que mantêm da autoestima do local e a divulgação do descanso e socialização etc.
justamente o convívio dos diferentes e que acontece ali dentro, por meio do Guia Vamos ocupar o Conic!
que formam a identidade do Conic, um de Bolso do Conic. Um guia que revele
espaço onde tudo se mistura. o que o Conic tem a oferecer, as lojas Orientadora: Liza Andrade
Por meio deste trabalho, proponho e serviços, as manifestações culturais Banca: Gabriela de Souza Tenório, Miguel
a reflexão da necessidade da regeneração existentes e a memória do que já foi. Gally e Reinaldo Guedes Machado
urbana e da valorização das pessoas que Em seguida, por meio da requali- Convidado: Vânia Loureiro

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Perpectivas por Eduarda Aun

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arqui #4

juntarq: pesquisa sobre


os assentamentos rurais
Development of prefabricated and self-build house models for rural settlements
in the Federal District based on a participatory process.

Federica Filippone, Giulia Filippone, Rachele Sipione e Salvatore Cicero

JuntARQ é uma iniciativa de quatro partir da participação e colaboração entre escolhida é de bottom-up, oposta à de
estudantes italianos de arquitetura do as comunidades e os técnicos profissio- top-down, usada pelo governo na elabo-
Politécnico de Turim que estão conclu­ nais, tenta-se identificar mais uma alter- ração do programa MCMV. A nossa abor-
indo a carreira acadêmica. nativa a ser utilizada em progra­mas habi- dagem é baseada na técnica de arquitetura
Este trabalho faz parte de resultados tacionais como o programa do governo participativa, que nos permite conhe­cer
de pesquisa do in­tercâmbio Brasil/Itália, Minha Casa Minha Vida Rural. Uma vez as ideias e as exigências dos moradores.
entre as Universidades de Brasília e o constatados os limites do programa, o 2° Fase: assentamentos e insti-
Politécnico de Turim. No ano de 2014, a objetivo é criar um modelo habitacional tuições. Dedicamos dois dias para a
partir do Programa de Extensão CASAS/ neutro que surge a partir das variáveis visita a cada assentamento: no 1° dia
FAU-UnB, os estudantes tiveram acesso à independentes en­contradas durante as houve entrevistas e levantamentos das
disciplina PEMAU (Prática de Escritório numerosas visitas. casas atuais; no 2° dia desenvolvemos
Modelo de Arquitetura e Urbanismo), que Este modelo vai se adaptar aos atividades coletivas, a fim de conhecer
tornou possível o conhecimento sobre a casos específicos de cada lugar a partir as perspectivas e os sonhos dos mora-
situação dos assentamentos ru­rais do DF de variáveis dependentes, inte­grando dores. Tivemos também a possibilidade
e sobre o Plano Nacional de Habitação pré-fabricação e autoconstrução, a fim de conversar com os representantes de
Rural, o Programa Minha Casa Minha de combinar as necessidades do governo varias institu­ições.
Vida Rural. As visitas orga­nizadas pelo com as exi­gências dos moradores. 3° Fase: projeto arquitetônico.
curso despertaram um forte envolvi- Em geral o objetivo principal do Através das infor­mações obtidas queremos
mento e interesse no tema ao ponto de trabalho é o de obter um produto final desenvolver um projeto habitacional que
influenciar os estudantes na escolha do que seja um método aplicável e adaptável seja mais próximo das necessi­dades dos
próprio percurso de tese. Após um período a muitos casos e, por isso, que poderia moradores e que respeite ao mesmo
de formulação da metodologia de desen- tornar-se num serviço oferecido pelo tempo as exigências do governo, desfru-
volvimento do trabalho com o apoio dos governo brasi­leiro. Foram apresentadas tando os princípios de pré-fabricação e
orientadores italianos, foram definidas as duas tipologias de projeto: uma de autoconstrução.
fases do projeto. madeira e uma de argamassa.
O trabalho consiste numa primeira
fase de estudo e le­vantamento in loco dos COMO AGIMOS Orientador: Márcio Buson
assentamentos informais rurais próximos 1° Fase: elaboração do plano de Banca: Caio Frederico e Silva, Ivan
a Brasília. trabalho. Duran­te o período inicial, elabo- Rezende do Valle e Liza Andrade
Na segunda fase, através de uma ramos o percurso lógico para o desen- Convidados: Andiara Campanhoni e
abordagem bottom-up, que se desenvolve a volvimento do trabalho. A abordagem Macos Thadeu Magalhães

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65
arqui #4

Implantação por Adauto Melo

regeneração urbana da
região do estreitamento
do córrego jataí
Urban regeneration of the area where Jataí Creek narrows, in the town of Jataí, in
the state of Goiás, based on principles of ecological urbanism.

Adauto Melo

Este trabalho se propõe a contri- Foi feito um estudo da problemá- 2014); e os do Desenho Sensível à Água
buir com estudos urbanísticos e ambien- tica causada pelo estreitamento e suas (WSUD), compilados por Andrade (2014).
tais para promover a regeneração urbana consequências. Além da segregação O projeto promove uma reforma
da área do Ribeirão Jataí, no município espacial promovida pela intervenção, a na infraestrutura urbana, propondo um
de Jataí/GO, que passou por processo de função ambiental do Ribeirão Jataí foi novo desenho de vias que favorece a axia-
estreitamento em 2007 por um projeto interrompida pela concretagem de seu lidade, o desenvolvimento sociológico
da Prefeitura Municipal. leito e encostas, bem como pela retirada e a opção de adensamento em pontos
Trabalhou-se na direção do urba- completa de sua mata ciliar circundante. estratégicos. O parque tem por obje-
nismo ecológico para o desenho de vias Assim, elaborou-se um diagnóstico tivo retomar as funções bioclimáticas,
que circundam o curso d’água, com uma que subsidiasse uma intervenção na ambientais e expressivo-simbólicas do
nova proposta de ocupação e infraestru- área. Além de materiais desenvolvidos curso d’água no meio urbano. O projeto
tura verde. Propôs-se também um parque por pesquisadores, serão levadas em valoriza a área através da criação de um
linear ao longo de toda a extensão que consideração as legislações das instân- ambiente que favoreça o convívio social
atualmente se encontra canalizada, como cias federal, estadual e municipal, para e incentive a apropriação da área pela
uma maneira de retomar as funções melhor adequação à realidade, bem como população, respeitando as preexistên-
ambientais do rio, bem como reesta- a participação da população por meio cias e os anseios populares colhidos em
belecer o convívio social por meio da de entrevistas. entrevistas.
configuração espacial que favoreça os Através da avaliação das dimensões
aspectos sociológicos, bioclimáticos, urbanas, foi possível se aplicar os padrões Orientadora: Liza Andrade
funcionais, econômicos, de identidade dos Princípios de Sustentabilidade de Banca: Carolina Pescatori, Giselle
e orientabilidade, bem como expressivos Andrade (2005) e Parâmetros Emergentes Chalub Martins e Giuliana de Brito Sousa
e simbólicos. do Urbanismo de Farr (apud Andrade, Convidada: Vânia Loureiro

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Perspectiva por Ana Paula Seraphim

revitalização da w3
Revitalization of South W3 Avenue in Brasilia: from changes in patterns of land
utilization to restructuring of public spaces.

Ana Paula Seraphim

A avenida W3 sul é uma das mais edificações lindeiras, densidade, presença de permanência, (5) valorização das
importantes avenidas de Brasília. Foi lá de comércio na SHIGS, periodicidade de unidades temáticas, (5) adequação da
que começou a ocupação habitacional e uso dos comércios e número de lojas morfologia e função dos lotes ao perfil
comercial da pequena Brasília de 1960 e, fechadas. Comparando esses trechos, que de uso misto e arterial da avenida e (6)
por isso, foi seu centro por muito tempo. estão em diferentes estágios de dete- preservação do patrimônio ambiental e
Entretanto, a partir da década de 1980, rioração, foi possível chegar às causas cultural. As diretrizes buscam atrair de
com o surgimento de novos centros do abandono. Adaptando o método de volta o fluxo de investimentos e pessoas
urbanos e estabelecimentos de novas Vargas & Castilho (2008), separaram-se e aproveitar a infraestrutura subutili-
áreas comerciais, a avenida começou a as causas externas (concorrência com zada para implantação de habitação de
decair. Hoje, encontra-se depredada, com novas estruturas) das causas internas baixo e médio custo no centro, provendo
alto número de lojas fechadas e lotes condicionantes (separação do uso comer- moradia para uma parte da população
ainda não construídos, não cumprindo cial e residencial em cada lado da via, que de outra forma não teria acesso a
sua função social, nem de via comercial fachadas comerciais pouco atrativas essa área. Em ordem para que isso ocorra
nem de via residencial. Mas por que a e inconformidade entre as estruturas através de operação consorciada e para
avenida não conseguiu sobreviver à lindeiras e o papel arterial da via) e das que a avenida assumisse seu caráter de
expansão da cidade, se é o principal causas internas não condicionantes uso misto, ocorreram mudanças morfoló-
eixo de transporte público da cidade e (excesso de estímulos visuais repetitivos, gicas. Tudo isso preservando ao máximo
se encontra em um bairro bem consoli- falta e inadequação de espaços que propi- a legibilidade global da via e da cidade
dado? Com base no referencial teórico e ciem a permanência e a comunidade e a tombada.
na análise dimensional (Holanda, 2013), dificuldade apresentada aos pedestres por
notou-se que a avenida não possui uma conta da prioridade dada aos carros). A
única unidade. Como se pode concluir partir daí foi possível traçar as seguintes
precipitadamente, ela é formada por diretrizes para a reabilitação: (1) aden- Orientadora: Ana Paula Gurgel
quatro trechos com características samento, (2) ocupação habitacional, Coorientadora: Giselle Chalub Martins
comuns entre si e que se diferenciam (3) priorização do transporte coletivo e Banca: Gabriela de Souza Tenório, Igor
dos outros pela tipologia, organização das de pedestres, (4) promoção de espaços Campos e Maria do Carmo Bezerra

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arqui #4

intervenções em
espaço público
Urban intervention in the South Commercial Sector in Brasilia: circulation restructuring
with priority for pedestrians and punctual interventions in public space.

Gabriel Ernesto

O Setor Comercial Sul possui uma projeto, assim como incentivo a ativi- possíveis empecilhos relativos à circu-
grande axialidade marcada pelo eixo que dades de uso noturno. A ideia é propor- lação de pedestres.
o corta no sentido Leste-Oeste. Ao redor cionar infraestrutura e equipamentos que As intervenções ocorrem de forma
desse eixo ocorrem a maioria das ativi- permitam que o lugar seja ocupado de pontual, em espaços como praças e eixos
dades e o maior fluxo de pedestres. O uma forma mais interessante não apenas de circulação. Para dar unidade ao projeto
objetivo do projeto é valorizar as áreas ao no horário comercial, mas também no há um desenho de piso que define as
redor desse eixo, permitindo que o setor período da noite, proporcionando utili- funções e conecta os espaços. A partir
seja ocupado de forma mais homogênea zação do espaço em tempo integral. desse desenho são definidos os pisos em
e proporcionando, assim, novos usos de As intervenções são feitas a partir pedra portuguesa e as áreas verdes.
áreas ociosas, valorização do pedestre e de uma estratégia chamada Bottom Up,
principalmente melhorando a qualidade ou seja, de baixo para cima, em que o
dos espaços das pessoas que frequentam ponto de vista do pedestre é o mais
o local diariamente. Apesar de propor relevante. Por isso as principais decisões Orientador: Bruno Capanema
uma descentralização das atividades, o foram as de diminuir a área de circu- Banca: Carolina Pescatori, Eduardo
eixo principal não perderá sua força, por lação de veículos e aumentar espaços Pierrotti Rossetti e Luiz Alberto Gouvêa
isso será, também, uma marca dentro do de permanência, além de diminuir os Convidado: Eder Alencar

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Perspectivas por Gabriel Ernesto
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arqui #4

centro de retiro
josefinos
Catholic retreat center on the island of São Vicente in the Cape Verde archipelago. Distant from the town, the building
results from a dialogue between religious principles and the natural landscape.

Hernany dos Reis

Em algum momento das nossas tetura de um retiro regido por princípios os espaços de espiritualidade devem se
vidas nós nos retiramos de sons, de católicos, um lugar de tranquilidade e lançar. A busca por um ethos (caráter)
problemas, da rotina, a fim de nos afastar, paz onde a pessoa, o retirante, possa se arquitetônico específico em meio a esta
de evitar, de melhorar, e na procura de hospedar e, retirado, refletir sobre o que questão fundamentou-se no tripé Vitru-
nos encontrar com o próprio eu, ou então quer deixar para trás, o que de si tirar. O viano e sua mediação do caráter estético,
com algo maior, podendo, posteriormente projeto foi desenvolvido para um terreno funcional e tecnológico da arquitetura.
renovado, voltar à rotina. A construção afastado do centro da cidade de Mindelo, O programa, de sete grandes áreas:
do espaço físico para retiro se materia- na Ilha de São Vicente, no Arquipélago alojamentos, coordenação, capela, refei-
liza desde a nossa própria residência, ou de Cabo Verde. tório, auditório, pátio (área reflexão e
nosso quarto, a hospitais, condomínios O projeto de arquitetura reli- lazer) e estacionamento, se desenvolveu
fechados, pousadas e centros de espiri- giosa é um programa interessante de a partir das seguintes premissas:
tualização. se trabalhar, por toda complexidade de Venusta/Estético, em que o produto
Retiro vem do latim retirare, “puxar, um espaço que deve atender adequada- arquitetônico, um símbolo de Fé, exige
tirar”, formado por re-, “para trás” e mente às questões funcionais de um lugar um cuidado e uma expressão simbó-
tirare, “puxar”. O projeto do Retiro Jose- de estadia prolongada como a questão lica peculiar, além de uma harmonia
fino visa ao desenvolvimento em arqui- da dimensão simbólica e estética a que funcional. Utilitas/Funcional, em que

Renderização por Marcelo Pimenta

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o projeto deve resolver espaços bem região, visam à produção de uma arqui-
diversos para usos variados: de oração tetura de menor impacto ambiental e
individual ou em grupo à contemplação adequação climática. Aliada a esses
da natureza, de espaços para recreação fatores, a estrutura em si, como expressão
como a capela, igreja, auditório, refei- tectônica de uma relação fenomenoló-
tório, às áreas de serviço, da casa dos gica com o lugar e a paisagem, determina
padres e religiosos da comunidade uma vivência espacial que se conjuga
Josefina aos dormitórios para os reti- à transcendência religiosa propiciada
rantes. Estes espaços devem ter acessos pelo programa.
bem-controlados, sendo essencial a orga-
nização dos fluxos. Firmitas/Tecnológico,
em que a proposta é trabalhar com pedra,
um elemento naturalmente abundante, Orientador: Cláudio Queiroz
junto à madeira, pois é própria dos Jose- Coorientador: Júlio Eustáquio de Melo
finos, religando ao Padroeiro do centro Banca: Liza Andrade, Maribel Aliaga
de retiro, São José, que era carpinteiro. Fuentes e Sergio Rizo
Os materiais, vários oriundos da própria Convidado: Antônio Carlos Alvetti

71
arqui #4

intervenção em
patrimônio histórico:
o caso da estação
bernardo sayão
Intervention in the Bernardo Sayão Station in the Núcleo Bandeirante, Federal
District: transformation of the railroad station for cultural purposes and
rehabilitation of its surroundings.

Ingrid Beatriz Siqueira

Com a Carta de Veneza lançada em fruto da então necessidade do governo cenário onde são notórias as dificuldades
1964, que aborda as principais teorias de se levar progresso ao interior do país, de mobilidade urbana e a carência de
acerca da intervenção no patrimônio, onde também se encontra a recém-inau- locais para atividades culturais e de
estabelece-se a ideia de que não apenas gurada capital. Além de ser considerada lazer?
obras que são consideradas “grandes cria- uma obra de infraestrutura de transporte Além de toda uma abordagem
ções” devem ser avaliadas como patri- e, portanto, patrimônio industrial, ela teórica feita sobre o tema, com análise
mônio cultural. Nesse sentindo, bens que ainda foi construída aos moldes do de estudos de caso e análise aprofun-
muitos consideram detentores de menor modernismo. Assim, a edificação detém dada da obra, fazem-se proposições de
valor artístico, como resíduos físicos de características que a qualificam como projeto nos edifícios do complexo e de
indústrias (galpões, oficinas) e obras um edifício de valor histórico e artís- todo o seu entorno, incluindo sistema
relacionadas ao sistema de transporte, tico, podendo, portanto, ser considerada viário, realocação de famílias, paisagismo
principalmente ao ferroviário, passam objeto de intervenção cuidadosa. No e requalificação da área. A intenção é
então a ser reconhecidos como deten- entanto, o descaso público é evidente revitalizar a área de modo que esta se
tores de valor artístico, histórico, memo- e, apesar de ainda existir uma linha torne atrativa aos moradores locais e
rial e simbólico, tornando-se passíveis esporádica de trem que carrega mate- a toda população do Distrito Federal,
de preservação. riais pesados, o prédio da estação está criando, assim, a noção de respeito ao
O patrimônio industrial, no entanto, desativado e encontra-se ocupado por patrimônio, que não só resgata o passado,
não foi e até hoje não é facilmente perce- quatro famílias, que a transformaram mas também o insere novamente na
bido como objeto a ser preservado. Por em residência. identidade da população.
esse motivo, ao longo da história existem Assim, este trabalho pretende
casos notórios de grandes obras que responder ao seguinte questionamento:
foram demolidas, deixadas ao descaso Quais usos seriam adequados para requa- Orientadora: Maria Cecília Gabriele
ou readaptadas. lificar a Estação, considerando-se que é Coorientadora: Flaviana Barreto Lira
No entorno de Brasília, encontra-se uma obra da arquitetura moderna indus- Banca: Ana Elisabete de Almeida
a estação de trem Bernardo Sayão, cons- trial brasileira, possui importante valor Medeiros e Monica Fiuza Gondim
truída na década de 1960. O prédio é histórico para o DF e encontra-se num Convidado: Euripedes Neto

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Renderização por Ingrid Beatriz
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arqui #4

Perpectivas por Camila Abrão

vem pro parque


Integration of the Dona Sarah Kubitschek City Park in Brasilia with adjacent
neighborhoods via circulation improvements and street rehabilitation.

Camila Abrão

Ao traçar o perfil evolutivo da o Jardim Botânico de Brasília. Em 1970, destinados aos veículos. Um acesso
história dos parques urbanos no mundo, algumas atividades de lazer já estavam voltado para o Eixo Monumental; um
percebe-se que sua evolução está atrelada se desenvolvendo nessa área. Por isso, para o bairro Sudoeste e quatro voltados
ao desenvolvimento da sociedade com o governador da época decidiu criar o para a Asa Sul. Como a área do Parque
suas transformações e renovações. Parque Municipal de Recreação neste hoje é cercada, o acesso dos pedestres é
Assim, ponderar qualidade de vida local. O projeto do Parque teve a parti- feito por aberturas na cerca. E a maioria
requer pensar em estratégias de proteção cipação de grandes nomes como Lucio destes acessos não possui a pavimentação,
e preservação de espaços potenciais para Costa, Oscar Niemeyer e o paisagista Burle sinalização e arborização adequadas.
conservação de suas características em Marx, sendo inaugurado em 1978. Considerando tais pressupostos, o
busca de um aperfeiçoamento. O Parque da Cidade Dona Sarah intuito deste trabalho é criar um Parque
Neste contexto, surgem os parques, Kubitschek de Brasília desempenha um mais integrado à cidade, potencializando
dotados de grande responsabilidade, papel de grande importância na estrutura o seu uso por meio da criação de novas
por assim dizer, diante da fragilidade urbana do Distrito Federal, em virtude do ciclovias e caminhos que atravessem a
do espaço e da necessidade dele voltada fluxo diário e também por fazer impor- área do parque de norte a sul, facilitando
à recreação e ao lazer, essencial à vida tantes conexões com o Eixo Monumental, o deslocamento dos usuários e garantindo
moderna dos habitantes e inserindo no o Setor de Indústrias Gráficas e os bairros as condições adequadas.
planejamento um olhar direto aos espaços da Asa Sul e do Sudoeste. A área de intervenção do projeto
públicos como estratégia para as cidades. Após analisar as condições atuais da consiste desde a W3 sul, passando pelo
Na atualidade, os parques têm a área do Parque da Cidade focando, prin- Parque da Cidade e indo até a Primeira
função social, estética e ecológica de cipalmente, nas suas conexões com os Avenida do bairro Sudoeste.
proporcionar um espaço onde os cida- bairros vizinhos, percebe-se que o maior
dãos possam gozar dos seus tempos livres, fluxo é no sentido longitudinal ao Parque,
o que é uma necessidade cada vez mais priorizando os acessos voltados para os Orientador: Bruno Capanema
evidente para a população urbana. veículos, em detrimento ao fluxo trans- Banca: Gabriela de Souza Tenório, Luana
Historicamente, a área que hoje é o versal voltado para os pedestres e ciclistas. Miranda Esper Kallas e Luciana Saboia
Parque da Cidade estava designada a ser Atualmente são seis os acessos Convidado: Stepan Krawctschuk

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Perpectiva por Alyssa Volpini

permacultura urbana
Cohousing for the elderly in the town of Eusébio, in the state of Ceará: project
based on permaculture principles for housing and social integration.

Lucas Parahyba

O crescente processo de industria- organização que possa ser benéfica para tem como objetivo desenvolver um
lização e urbanização vem progressiva- aqueles que moram no loteamento, assim projeto de um centro de integração social
mente alterando a natureza em beneficio como para a comunidade que o cerca? e de habitação com um novo modo de
dos interesses imediatos da sociedade. Como os condomínios podem morar no estilo cohousing para a terceira
A extração irresponsável dos recursos funcionar, segundo uma ideologia holís- idade na cidade de Eusébio no Ceará.
naturais, acompanhada do total desprezo tica e sustentável, como modificadores Busca uma estrutura mais sustentável
por comunidades locais, é medida sociais contribuindo para o bairro e ainda economicamente e ambientalmente,
comum para o mantimento dos níveis assim mantendo suas características além de propor uma contribuição para a
de produção e lucro. Hoje, caminhamos positivas? A fortificação de laços sociais sociedade. Forma-se, assim, um tripé para
para um cenário de total desequilíbrio do intra e extra “muros” tem diversos estí- uma sociedade mais justa, com cresci-
meio ambiente, enormes abismos sociais mulos diferentes, assim como produtos e mento econômico e pessoal e que possua
e economias vulneráveis. agentes influenciadores. Integrar o maior uma menor pegada ecológica. A intenção
Os chamados condomínios número de pessoas e garantir acessibili- é elaborar um anteprojeto para co-habi-
fechados são o reflexo e, ao mesmo dade a todos, sem discriminação. Cientes tação pensada para a terceira idade no
tempo, estruturas que consolidam de que o estímulo mental é vital para a município de Eusébio no estado do Ceará,
esse desperdício de recursos naturais manutenção de uma qualidade de vida Brasil, baseado nos princípios da perma-
e humanos e desequilíbrio. São quase e desconfortável com o gigante abismo cultura e no método Uma Linguagem
sempre constituídos de casas unifa- social existente na região, surge a ideia de Padrões, de Alexander et al. (1977).
miliares, com dimensões exageradas de montar um pequeno centro de inte-
e muros altos cercando o loteamento. gração social. Assim sendo, podem
Segregam espaços, pessoas e repassar seus conhecimentos para a
classes sociais. Matam o convívio dentro comunidade carente com aulas de infor- Orientadora: Liza Andrade
do bairro e geram locais com uma quali- mática, línguas e reforço escolar. Esta- Banca: Frederico Flósculo Barreto,
dade urbana baixa e insustentável. É belecer uma boa relação com o bairro é Maria Assunção Rodrigues e Oscar
possível repensar a forma de se fazer uma de suas prioridades. Luís Ferreira
um condomínio fechado? Uma nova Este trabalho final de graduação Convidado: Daniel Mangabeira

75
arqui #4

escola classe e jardim


de infância – sqn 109
School and Kindergarten for a Superblock in Brasilia: proposal based on
environmental impact mitigation strategies for a space of full-time learning.

João Francisco Walter

O projeto da Escola Classe da muito aprofundado foi o das condicio- apresentadas do projeto, as principais
Superquadra Norte – 109 segue os funda- nantes ambientais (ruído, insolação e foram a proposta de ambientes perme-
mentos do início de Brasília pensados ventos) e estudos de impactos ambien- áveis, com bastante vegetação e que
pelo educador Anísio Teixeira, que tais. Por meio dos desenhos, buscaram-se oferecessem aos alunos conforto não
buscando romper com as deficiências alternativas para melhorar o conforto só na sala de aula como nos ambientes
do ensino brasileiro queria idealizar um do usuário e minimizar o consumo de externos. Para complementar o programa
sistema educacional novo, de período água e energia por meio de estudos de de necessidades, houve a adição de uma
integral. Para cada quadra residencial, em insolação, ventilação, reaproveitamento sala multiuso, uma de estudos e uma
Brasília, foi prevista uma Escola Classe, de água pluvial e aquecimento solar da biblioteca e mediateca. Outro aspecto
para atender 480 alunos em dezesseis água. Assim, a escola projetada teria uma muito estudado foi a busca de uma
turmas de trinta alunos. A faixa etária proposta de aliar a estética do edifício linguagem arquitetônica que fosse
dos alunos seria entre 5 e 12 anos. Para com estratégias sustentáveis, adap- próxima à de Brasília. Por isso, foram
as crianças mais novas, houve a previsão tando-a para as necessidades atuais de utilizados elementos como brises, beirais,
de oito turmas de vinte crianças, para, em minimizar os danos ao meio ambiente. ritmo e formas simples como o retân-
dois turnos, atender a 320 estudantes. Analisando-se a Lei de Diretrizes e Bases gulo e, em alguns locais, a janela em fita.
Essa previsão da Escola Classe ainda está da Educação Nacional, 9.394/96, obser- Assim, a intenção do projeto da Escola
nas normas NGB 11/89 e no Memorial va-se que a tendência das escolas atuais Classe da SQN 109 seria a de oferecer
Descritivo (84/85) – “Superquadra Norte é de oferecer atividades aos alunos ao ambientes agradáveis e confortáveis,
109 e 110 – Distribuição das Projeções longo do período integral. que estimulassem a permanência dos
– Escola Classe e Jardim de Infância – A escola pode ser acessada por usuários desse centro de ensino.
Arruamento” do Código de Edificações bicicleta, por carro e a pé. Para isso,
de Brasília. foi pensado um sistema de ciclovias e Orientadora: Marta Romero
O terreno destinado pela escola a calçadas próximo à entrada da escola, Banca: Andrea Prado, Ivan do Valle e
ser construída é de 50 x 75,8 m, com uma de forma a melhorar a acessibilidade ao Maria Cecília Gabriele
área de 3.790 m². Além disso, um aspecto local. Dentro das soluções arquitetônicas Convidado: Eurípedes Neto

76 1/2015
Perspectiva geral e interna por João Walter

77
arqui #4

mob. in. campus


projeto de mobilidade e informação do
campus darcy ribeiro
Mobility project for the Darcy Ribeiro Campus of the University of Brasilia: from street restructuring to the
conception of information and modal integration stations.

Juliana Vasconcelos

78 1/2015
Implantação e perspectiva por Juliana Vasconcelos

O campus universitário é um de que é possível aprimorar a forma de encontro e atratividade para pedestres
espaço importante no que diz respeito ao locomoção no espaço, a partir do incen- e ciclistas.
desenvolvimento das atividades acadê- tivo do transporte sustentável de passa- A ideia de se organizar o sistema
micas de uma região e das suas interações geiros, ciclistas e motoristas visando à viário e o espaço público é justamente
sociais. Sendo assim, a configuração do redução dos impactos ambientais e do para garantir a orientabilidade e infor-
seu espaço é determinante para que esse carregamento viário. mação do usuário dentro do campus, para
espaço possa permitir a livre e espon- Adotando-se a estrutura viária e que ele se sinta motivado a caminhar e/
tânea circulação do usuário nas mais os percursos existentes, foram reali- ou pedalar por esse espaço. Para comple-
diversas áreas da universidade. A busca zadas análises da atual configuração mentar o desenho urbano proposto, são
pela valorização e otimização da mobi- do campus universitário, para que se criadas estações de mobilidade integrada,
lidade do estudante ou do trabalhador é diagnosticassem os principais pontos às quais são incorporados o ponto de
um interessante objeto de estudo para de conflitos entre os modos de trans- ônibus, o ponto de bicicleta compar-
que se possa atingir a integração dos portes e das zonas frágeis não estrutu- tilhada e o ponto de informação em
diversos espaços acadêmicos e manter radas. Com isso, o projeto visa delinear um único espaço, para que o projeto
a unidade do campus. soluções de desenho tanto para áreas que incorpore aspectos da microescala e da
Trazendo o conceito da mobilidade ainda não foram consolidadas quanto macroescala com uma unidade e mesma
para dentro da universidade e o discurso para áreas que necessitam de reestrutu- identidade dentro de todo o campus.
da necessidade de uma mudança de para- ração, que seria a região central conso-
digmas, é possível fazer do campus um lidada. Essas soluções visam, além da
lugar em que se coloquem em prática promoção do transporte não motorizado,
soluções e estratégias para incentivar a o “descortinamento” de fachadas a partir Orientadora: Monica Fiuza Gondim
mobilidade sustentável. O campus, por da transposição de estacionamentos Banca: Gabriela de Souza Tenório,
ser um lugar essencialmente acadê- para a fachada posterior e a liberação Giselle Chalub Martins e Marcos
mico, é uma importante ferramenta das fachadas de maior acesso e movi- Thadeu Magalhães
para conscientizar jovens estudantes mentação para que seja um espaço de Convidado: Breno Rodrigues

79
arqui #4

[re]viva o centro
projeto de requalificação urbanística da
praça da bandeira, em teresina
Urban rehabilitation of Bandeira Square and its surroundings in the capital city of Teresina, in the state of Piauí:
reconnection with memory, reconstitution of leisure space, and reintegration of the Parnaíba River with the town.

Júlio Paiva

80 1/2015
Perspectiva geral por Júlio Paiva

Durante toda a sua história, a Praça serve ao metrô. Desse modo, a desvalo- a permanência das pessoas durante o
da Bandeira e a população de Teresina rização econômica e paisagística da orla dia e a noite, além da valorização dos
construíram uma relação antitética de do Rio Parnaíba e da Praça da Bandeira percursos a pé e bicicleta, levam a um
valorização e desvalorização, memória é crescente, nos dias de hoje, trazendo contato maior com a cidade e os espaços
e esquecimento. Como local de surgi- prejuízos sociais. públicos, despertando, assim, um senti-
mento da cidade, a praça tem importância Logo à primeira vista, a Praça mento coletivo de proteção e pertenci-
fundamental tanto na estrutura urbana da Bandeira se mostra como um local mento àquele lugar. Enfim, pretende-se,
como na preservação da identidade local. carente de uma imagem positiva, e de por meio do projeto, a reconexão entre as
No entanto, nas últimas décadas, a área uma identidade que se adeque ao seu pessoas e a memória da cidade, através da
vem caindo em processo de deterioração, valor simbólico, relembrando suas valorização do patrimônio arquitetônico
perdendo seu papel de importante figura memórias e se abrindo ao futuro, como e do incentivo às manifestações cultu-
de praça com atividades de lazer e cultura um espaço público de referência na rais regionais no espaço; a reconexão da
para outro papel de plano de fundo, um cidade de Teresina. Acima de tudo, o população com o Rio Parnaíba, motivo do
simples local de passagem tomado por que se pretende com a intervenção não surgimento da cidade e recurso natural
atividades informais. No meio desse é uma nova imagem para o local, total- que até hoje contribui para a vida do
ciclo de vai e vem em sua dinâmica, o mente diferente da existente, mas que ele teresinense e, sobretudo, a reconexão
espaço perdeu, sobretudo, a importante seja valorizado, de forma que a beleza, entre as pessoas, de diferentes idades,
conexão da cidade com o Rio Parnaíba, a cultura e a produção do espaço sejam diferentes classes sociais, diferentes
motivo principal para sua implantação ressaltadas e abraçadas pela população histórias de vida.
naquele sítio. Grandes barreiras foram de Teresina como um todo. Aliada a isso,
impostas entre esses dois importantes a inserção de novos elementos paisagís- Orientadora: Gabriela de Souza Tenório
elementos simbólicos de Teresina: um ticos e de novo mobiliário, com vistas a Banca: Flaviana Barreto Lira, Giuliana
camelódromo, mais conhecido como melhorar a imagem do lugar; a implan- de Brito Sousa e Mônica Fiuza Gondim
Shopping da Cidade, e um viaduto que tação de novas atividades, incentivando Convidada: Vânia Loureiro

81
arqui #4

espaço leitura
biblioteca comunitária do guará
Guará II Community Library, Federal District: library articulated with public transportation and pedestrian paths. Its
square-shaped entrance creates a stage for the neighborhood’s cultural activities.

Marcelo Aquino

O Espaço Leitura: Biblioteca distantes como: Samambaia, Taguatinga ocorra a participação ativa dos moradores
Comunitária do Guará localiza-se no e Ceilândia por meio do metrô. Outro da região e atendendo às necessidades
Distrito Federal na região administra- fator importante na escolha do lote foi das escolas, com acervo destinado a livros
tiva do Guará II, Quadra QI 23, Lote 1, a grande quantidade de escolas que vão didáticos, acolhendo as atividades extra-
às margens da Avenida Contorno. O sítio da educação infantil até o ensino médio, curriculares. Como o foco do uso não é
no atual momento se encontra sem uso além de contar com algumas instituições apenas para a questão da leitura, o espaço
em uma zona central da região. Possui de ensino superior, mostrando uma visa ser um gerador de atividades cultu-
extensões norte e sul, com uma área de potencialidade para futuros usuários rais e que abrace as atividades existentes.
aproximadamente 7.600 m², além de do espaço. Portanto, o projeto justifica-se pelas suas
apresentar uma declividade bastante O Guará inicialmente foi imaginado dimensões sociais, estética e simbólica.
suave. Nas suas proximidades há um como uma vila de trabalhadores, o mais
comércio bastante ativo e consolidado, próximo possível do Plano Piloto, com CONCEPÇÃO, FORMA E ACESSOS
mesclado com edificações de uso misto. uma escala mais bucólica para edifícios Um dos conceitos geradores do
Na face leste do lote há a presença de de uso unifamiliar, com no máximo dois Espaço Leitura: Biblioteca Comunitária
residências unifamiliares e a oeste e sul, pavimentos. Atualmente vem passando do Guará foi a conexão dos eixos com os
edifícios em altura de uso residenciais. por uma verticalização, muitas vezes acessos influenciando na implantação do
Na face ao norte encontra-se a Estação justificado pela ascensão econômica edifício no sítio. Como na face norte do
Guará, junto à praça que se conecta com dos seus moradores. A área de projeto lote, há a presença da estação do metrô,
o Guará I. está em uma faixa de quadras com uma que é um grande gerador de fluxo de
A proximidade com o metrô e o grande quantidade de edifícios verticais, pessoas junto à parada de ônibus, com
grande fluxo de ônibus na região foram de cerca de sete pavimentos. Esse fator uma circulação intensa nas margens da
pontos fundamentais na escolha do influenciou na abordagem do projeto do Avenida Contorno, na Via Central e na
terreno, podendo tornar a escala do Espaço Leitura: Biblioteca Comunitária Via 1 próxima à quadra QE 24. Com isso
Espaço Leitura: Biblioteca Comunitária do Guará, buscando o desenvolvimento criaram-se três acessos. O principal fica na
do Guará muito maior, por abranger de um edifício com uma escala horizontal face norte do lote, a cerca de 1,70 m abaixo
regiões administrativas mais próximas e que valoriza o percurso do pedestre. do nível da calçada, sendo direcionado
como: a Candangolândia, Águas Claras e O intuito do projeto é de promover por três rampas, criando uma praça que
Núcleo Bandeirante, e até mesmo as mais a questão da leitura, fazendo com que leva às portas de vidro. Nas laterais do

82 1/2015
Perspectiva geral e frontal por Marcelo Aquino
e Helena Daher

edifício há um acesso secundário na face se dá em uma parte semienterrada. Nas criado um grande átrio, que permite a
leste, que é realizado por uma passarela laterais criaram-se taludes com incli- iluminação de todos os pavimentos. E
de concreto, e um acesso secundário, de nação semelhantes às das rampas, sendo para as fachadas, com plano de vedação
serviços, localizado na face oeste, feito que a locação do estacionamento na parte inclinado, se criou uma tela de proteção
por meio de uma passarela que leva a um posterior do edifício é uma tentativa de metálica, que minimiza os problemas de
nível de 1,70 m acima da calçada. valorização do pedestre. O acesso ao insolação. Na fachada norte, as estruturas
O acesso ao edifício ocorre por edifício é pela via coletora. das laterais e da cobertura avançam um
meio de transporte público, ônibus ou A forma do edifício se deu por módulo além do edifício, criando uma
metrô, de bicicleta ou a pé, em uma meio da modulação estrutural de 10 x grande casca protetora. Além disso, a
ciclovia e em percursos bem definidos 10 metros, mas nas laterais há a quebra tela de vidro dessa fachada conta com a
para pedestres, e veículo individual. Na da simetria, inclinando os planos de proteção de brises metálicos horizontais.
face sul do lote há um espaço destinado vedação do edifício. Na fachada oeste, Na fachada sul o desenho se repete, mas
para estacionamento. Nas margens da o plano inclinado vai até o solo, criando não há a necessidade de proteção na tela
Via 1 já existe um. Para recepcionar os um grande vazio na lateral do prédio. de vidro. Então criam-se varandas em
usuários, na frente do edifício foi locada Já na fachada leste há uma insistência diferentes níveis destinadas a espaços
a praça. Esta possui uma declividade com a assimetria, onde o plano de de leitura livre.
suave, que busca abraçar os transeuntes vedação quebra na altura do 2° pavi- A criação do átrio foi bastante
que circulam próximos às três vias que mento, inclinando-se para o sentido importante para o projeto, pois houve
contornam o lote, podendo se tornar contrário, criando um grande balanço o surgimento do partido, definindo as
em um espaço multiuso para atividades que passa uma sensação de flutuação, que características gerais, as atividades, os
distintas como: teatro, feiras, rodas musi- é reforçada com a escolha dos materiais. fluxos internos, a circulação vertical e a
cais, artesanato, entre outros. A grande vantagem dessa solução foi a iluminação natural do edifício, ambas se
A implantação do edifício foi criação de grandes massas de sombra, dando em função deste.
feita em função da criação da praça e importantes para as áreas de acervo.
da conexão dos eixos do projeto com os Mas, em contrapartida, se cria uma Orientador: Frederico Flósculo Barreto
acessos. Portanto, o edifício se desen- grande quantidade de espaços escuros Banca: Ivan do Valle, Luciana Saboia e
volve horizontalmente no mesmo eixo do e de aberturas mais expostas ao sol. Mário Eduardo de Araújo
lote, sendo que o nível do acesso principal Por isso, no eixo central do edifício foi Convidado: Eurípedes Neto

83
arqui #4

midiateca pública
de brasília
Brasilia Media Library in South W3: project featuring spatial fluidity as represented in its inner
patio and adaptability of its layout. A public space for information dissemination.

Marcelo Oliveira

A Midiateca é um espaço desti- e seus utilizadores. As trocas culturais local. Dessa maneira, foi preservado o
nado a reunir e abrigar coleções de são estimuladas e o acesso universal aos caminho que conecta as superquadras
informações tanto nos suportes tradi- múltiplos meios de difusão da informação e foi mantida a continuidade entre as
cionais quanto em outros suportes, como é garantido. áreas verdes vizinhas. O segundo nível da
imagem, som e vídeo. Resultado de uma As diferentes partes do programa Midiateca avança sobre essa passagem,
lógica aditiva de funções ao programa são definidas pelo mobiliário, adap- tornando-se sua cobertura. Este balanço
tradicional de uma biblioteca, ela deve, tado às especificidades das atividades, é sustentado por uma treliça metálica
além das atividades básicas de conservar, e por elementos móveis, como cortinas que estrutura todo o pavimento. Na W3
catalogar e emprestar suas coleções, e painéis. Uma guia vermelha no piso a fachada cega compõe o fechamento
acolher os cidadãos para difundir seus conduz o visitante desde a rua aos característico criado pelos edifícios da
acervos culturais e midiáticos. ambientes e pavimentos, compondo a avenida e protege os espaços internos.
A localização da atual Biblioteca identidade visual da Midiateca. Uma Nos lados sudeste e noroeste painéis
Pública de Brasília, na entrequadra passagem divide o edifício em duas metálicos perfurados compõem as
512/513 Sul, foi a base para a escolha partes, criando um pátio interno. fachadas. O lado sudoeste possui fecha-
do terreno. Apesar de sua importância, a Uma cobertura elevada, composta por mento em vidro, privilegiando a vista
Biblioteca funciona em condições precá- elementos de proteção solar, coroa o da cidade.
rias, o que motivou a intervenção na área. espaço. Este ambiente permanece reser-
As ideias de abertura, fluidez e inter- vado e protegido e, ao mesmo tempo,
disciplinaridade guiaram a concepção público, sendo um local de encontro e Orientadora: Elane Ribeiro Peixoto
do projeto. Os espaços internos livres descanso para onde o edifício se abre. Banca: Bruno Capanema, Igor Campos
de barreiras proporcionam o contato No nível da rua, o jardim de leitura e Maria Fernanda Derntl
entre as diversas atividades da Midiateca ocupa o lado voltado para o comércio Convidado: Matheus Seco

84 1/2015
Perspectiva geral, corte e perspectivas
internas por Marcelo Oliveira
85
arqui #4

intervenção no mab
Intervention in the Brasilia Art Museum – a modern legacy not yet legally listed as a heritage asset – for meeting the
requirements of a contemporary museum and for rehabilitating its surroundings and integrating them with Lake Paranoá.

Mariana Leite

O projeto de intervenção acontece cados no projeto seguem as teorias de então, a valorização da paisagem com
no MAB – Museu de Arte de Brasília –, Camilo Boito, ao diferenciar o original a determinação de praças e cami-
localizado no Setor de Hotéis e Turismo e o novo com a utilização de materiais nhos intuitivos entre os dois prédios
Norte, Trecho 2, nas proximidades da que evidenciam a contemporaneidade do conjunto cultural, e também um
Concha Acústica e do Brasília Palace Hotel. da intervenção. Em se tratando de uma percurso até as margens do Lago Paranoá,
O MAB, fundado em 1985, tem um intervenção de âmbito espacial, o novo propondo a relação direta entre o MAB
acervo formado por mais de 2 mil obras elemento formal tem perímetro de e ele. O programa arquitetônico do
brasileiras de arte moderna e contem- sua base igual à forma preexistente e prédio anexo foi pensado com o obje-
porânea caracterizadas por pinturas, o conjunto dos dois prédios caracteri- tivo de complementar as atividades já
gravuras, desenhos, fotografias, escul- za-se pela exclusão com a introdução existentes no plano original do MAB,
turas, objetos e instalações. Todo o de um “elemento nexo”, que pretende sugerindo novas atividades e formas
acervo, entretanto, foi transferido para constituir um conjunto arquitetônico de apropriação do espaço preexistente.
o Museu Nacional, em Brasília, em razão integrado (Gracia, 1992). Nesse sentido, adequou-se o MAB – de
da interdição do MAB em 2007. Assim, a proposta de intervenção caráter moderno – às exigências do
A intervenção no Museu foi no MAB pretende fazer a requalificação museu contemporâneo, tornando-o um
pensada dentro do contexto urbano do espaço urbano, ressaltando-se que o ponto de atração cultural e educativa.
em que ele está inserido e ela “equi- Museu é tido como patrimônio moderno
vale a uma interferência consciente no não tombado, mas inserido no conjunto
processo dinâmico da cidade” (Gracia, urbanístico protegido por lei, o que Orientadora: Ana Elisabete
1992, tradução da autora), respeitando reflete a necessidade de se retomar o Banca: Flaviana Barreto Lira, Leandro
os valores pertencentes ao prédio pree- caráter bucólico e recreativo do local. de Sousa Cruz e Maria Cecília Gabriele
xistente. Os critérios de intervenção apli- O conceito do projeto objetiva, Convidada: Ana Clara Giannecchini

86 1/2015
Perspectivas geral e internas por Mariana Leite
Vista aérea. Croqui: Mariana Leite

Perspectivas da vista oeste. Croqui: Mariana Leite

87
arqui #4

projeto participativo
infantil
requalificação urbana entre as qes 44 e
46 do guará ii
Urban rehabilitation of a street in Guará II, Federal District, through a children’s participatory process oriented towards
the autonomy of the new generations in the debates about the city.

88 1/2015
Foto dos participantes, perspectiva geral e nível do
observador por Marilia Tuler

Marilia Tuler

Tendo a rua entre a QE 44 e QE seria trabalhar com o processo de auto- foi utilizado como base para a execução
46 do Guará II como objeto de trabalho, nomia das novas gerações. da proposta de projeto de intervenção. O
compartilhamos o processo de projetação O projeto participativo com as olhar etnográfico e a cartografia da ação
com oito crianças entre 5 e 8 anos, discu- crianças possui, além de um objetivo nos permitiram contar histórias e estórias
tindo diversos aspectos do espaço urbano. projetual, também um foco de formação do lugar, descrever e mapear como as
A proposta surgiu da percepção pedagógica e política, não só das crianças pessoas se relacionam entre si e com o
de algumas dificuldades enfrentadas em de forma imediata, mas na estruturação espaço. A partir disso foi desenvolvida a
processos participativos acompanhados de comunidades capazes de construir proposta de desenho urbano que levou
ao longo do curso. A participação popular cidades melhores e mais adequadas em em consideração tanto as decisões diretas
é indispensável em todas as decisões um futuro próximo. As cidades, o espaço das crianças quanto as análises feitas
tomadas a respeito das cidades, mas a público principalmente, são de responsa- sobre a percepção delas sobre o espaço
falta de acesso à informação e o olhar bilidade de todos que nela vivem. Conhe- da cidade.
pouco crítico sobre a temática do espaço cê-la e debatê-la são parte importante
dificultam a autonomia da população no exercício da cidadania. Orientadora: Carolina Pescatori
diante das discussões sobre os espaços Nas atividades desenvolvidas Banca: Giuliana de Brito Sousa, Liza
urbanos. Por fim, entendeu-se que a foram discutidas as problemáticas e Andrade e Maria Cecília Gabriele
melhor forma de se quebrar essa lógica potencialidades do local. Esse material Convidado: Mateus Secco

89
arqui #4

mosteiro de são bento


Benedictine monastery in Brasilia: a dialogue between Lake Paranoá and an architecture of symbolic relations
developing from the consolidated typology of the monasteries.

Matheus Macedo

Fundada no século VI d.C., a Ordem próximo ao Lago Paranoá e está cercado que aberta à ventilação e à luz solar em
Beneditina é tida como a fundadora do por exuberante vegetação nativa. A praça, seus pátios internos.
movimento monacal ocidental. A Regra na sua condição de espaço público, Os revestimentos consistem em
escrita por São Bento de Núrsia (480 – estabelece uma relação aberta com pedras, alvenaria e concreto aparentes
543 d.C.), com seu lema ora et labora a paisagem e é intermediária entre a e esquadrias e pisos de madeira, promo-
(reza e trabalha), visa estabelecer uma recepção do mosteiro e o acesso à igreja. vendo sutis variações entre um ambiente
vivência comunitária inteiramente voltada O espelho d’água, onde estão a cúpula e outro, mas mantendo a sobriedade
ao serviço de Deus e ao acolhimento das da igreja, o campanário e uma escultura característica da instituição.
pessoas que se dirigem aos monges. de São Bento, assume um significado Os monges beneditinos, assim,
Os monges beneditinos chegaram a simbólico especial. encontrarão ali um lugar representativo,
Brasília em 1987. Em virtude das circuns- As funções privadas estão dispostas inserindo-se na paisagem brasiliense e
tâncias desta chegada, eles estão desde ao longo de uma mesma cota de nível fazendo-se, portanto, presentes, sem
então estabelecidos em local provisório (+1009 m), a fim de minimizar a movi- perder a simplicidade e a possibilidade
próximo à Ermida Dom Bosco, no Lago mentação de terras e de evitar percursos de exercer suas práticas diárias de reza
Sul. A construção de um novo mosteiro com escadas e elevadores. A única e trabalho com recolhimento e afinco.
no local tem como objetivo disponibi- mudança de nível significativa se dá entre
lizar um espaço maior, mais acolhedor e as áreas privadas do mosteiro e a igreja,
suficientemente representativo da ordem mas ela ocorre de forma suave por meio
beneditina, tomando como partido a de uma rampa de inclinação moderada. Orientadora: Cláudia Garcia
sabedoria tipológica dos mosteiros Cercada por muros de alvenaria, a área Banca: Bruno Capanema, Igor Campos
consolidada ao longo de séculos. privada é introspectiva, voltada ao reco- e Maria Cecília Gabriele
O mosteiro está posicionado lhimento, à oração e ao trabalho, ainda Convidado: Matheus Seco

90 1/2015
Perspectivas e corte por Mateus Macedo

91
arqui #4

Perspectiva aérea mostrando a fachada virada para a L1 norte.

centro de excelência
esportiva
A community sports center of excellence in entrequadra SQN 202/203 in Brasilia: permeability for the pedestrian
characteristic of a Residential Scale and a means of neighborhood integration.

Muhammad Bazila

92 1/2015
Perspectiva da Academia.

65

Perspectivas por Muhammad Bazila


centro de excelência esportiva
MUHAMMAD JUNIOR BRAGA BAZILA

O trabalho é uma forma de reforçar um exercício do indissociável raciocínio


alguns conhecimentos prévios sobre entre a imprescindível tecnologia que
instalações esportivas e tem como os equipamentos esportivos exigem, a
objetivo desenvolver as possibilidades flexibilização do centro esportivo de alto
do esporte como forma de lazer e como rendimento e do espaço de lazer público/
prática de alto rendimento espacialmente privado das entrequadras, as caracterís-
no projeto. A proposta de conjugar um ticas espaciais de Brasília e, mais que
centro de treinamento de alto rendi- tudo, o desafio da expressão simbólica
mento com um espaço comunitário nos essencial a essa harmonia, pensado desde
leva a soluções que aproximam o alto os momentos de concepção do projeto.
rendimento do grande público. As insta-
lações atendem em alto nível os esportes
olímpicos e paraolímpicos coletivos de Orientador: Cláudio Queiroz
quadra sem perder a escala comunitária Coorientador: Alexandre Chan Vianna
no qual está inserido. O projeto, por suas Banca: Carolina Pescatori e Maribel
próprias características programáticas, é Aliaga Fuentes

93
arqui #4

clube do servidor
Revitalization of the Clube do Servidor (Civil Servant’s Club) in Brasilia: an intervention in the original building and a project
for an extension and a new building organized around the shore sights and axes outlined by the preexisting elements.

Paulo Cavalcante

Tipologicamente, o conceito do de dois pontos fundamentais: as visuais, eixo de acesso, que compreende partes
projeto é de um centro de lazer poliva- tanto do lago quanto do clube; e os eixos, de convivência, esportivas, de lazer, de
lente, com áreas multiuso, para atendi- observados pelo terreno, edifício exis- serviços etc. A configuração de toda essa
mento tanto durante a semana quanto tente e vizinhos. área externa se dá através de elementos
durante o fim de semana. Estrutural- Assim, o clube é composto basica- paisagísticos, incluindo um pomar, um
mente, o conceito é de um equipamento mente de três núcleos: o Edifício Antigo, labirinto lúdico/sensorial, uma praça
de lazer integrado, no qual as instalações mantendo sua configuração original, com molhada, dentre outros.
componentes se harmonizam espacial, um pequeno acréscimo para valorizar
estética e funcionalmente, completan- seu acesso; o Edifício Novo, situado na
do-se no atendimento aos frequenta- lateral direita respeitando a linguagem e
dores. As instalações de apoio devem a visibilidade do Edifício Antigo, criando Orientadora: Maribel Aliaga Fuentes
ser projetadas para atender ao conjunto. novas opções de uso, e se utilizando da Banca: Carolina Pescatori, Cláudio
Levando as premissas de projeto, o bela vista do próprio clube e do Lago Queiroz e Maria Assunção
partido arquitetônico foi criado a partir Paranoá; e a Área Externa, dividida pelo Convidado: Daniel Mangabeira

94 1/2015
Renderizações por Paulo Silgueiro e Larissa Sudbrack

95
arqui #4

novo autódromo
de brasília
Restructuring of the Brasilia racetrack to bring it up to international standards, to ensure flexible uses, and to house the
Automobile Museum, integrating it with the urban tissue through the rehabilitation of its surroundings.

Tasso Mendonça

O Autódromo de Brasília, inaugu- No período em que não há corridas, o Com a redução da pista de compe-
rado em 1974, em uma cidade ainda em autódromo deve ter espaço e flexibilidade tição e, consequentemente, do perímetro
processo de implantação, não se cons- para receber outras possibilidades de ocupado no terreno, foi possível inserir
titui em um marco arquitetônico, como eventos. Nessa filosofia foram desenvol- uma praça entre a via de acesso ao SRPN
tradicionalmente outros equipamentos vidos os equipamentos fixos inseridos no Trecho 1 e as entradas das arquibancadas
públicos são referências no senso comum projeto, visando não apenas às corridas, fixas. Nesta mesma área, foi implantado
do brasiliense. É hoje um equipamento mas simultaneamente, a outras ativi- o Museu do Automóvel de Brasília,
subutilizado, no entanto, já consolidado dades de interesse público. que atualmente carece de instalações
em uma área que se tornou central. Na Como elemento fundamental próprias. Além disso, todo o perímetro foi
sua configuração atual, o autódromo da função de corrida, a pista foi alte- tratado de forma a ter uma calçada de 10
carece de integração com a cidade, não rada de forma a se adequar aos níveis m de largura com faixa arborizada para
conseguindo justificar a vasta área que de segurança exigidos pela Federação os percursos adjacentes. Tal mudança
ocupa. Urge, assim, que sejam prospec- Internacional de Automobilismo – FIA. tem como objetivo integrar o autódromo
tadas novas possibilidades de utilização Essa alteração foi determinante para ao tecido urbano. Buscou-se, ainda,
por um volume maior de público. a arquitetura, na medida em que cria reservar um espaço que acomodasse a
O propósito deste trabalho é apre- uma nova realidade de implantação dos aglomeração de pessoas compatível com
sentar um projeto de reforma e reestru- edifícios, e ainda implicou uma redução os eventos.
turação do Autódromo de Brasília, de da pista de 5.476 m para 4.560 m. Tal O edifício dos boxes, com um
modo a aperfeiçoar as funções de corrida, redução mantém ainda a extensão da pavimento atirantado livre de pilares e
permitindo competições de nível inter- pista dentro da média dos circuitos do divisões, que possibilita diversos usos, e
nacional, atividade-fim do equipamento. calendário da Fórmula 1. o vasto paddock compõem áreas técnicas

96 1/2015
Renderizações por Tasso Mendonça

do circuito. Estes foram locados em zação em caso de acidentes automobilís- capacidade em cerca de 50.000 pessoas.
posição semelhante aos equivalentes ticos. O espaço também possui subdivisão Do lado externo, haverá a possibilidade
anteriores, que foram demolidos. Dentro para atendimento ao público pagante de se organizar eventos sob as arquiban-
do anel do circuito, dispõe-se de estacio- durante eventos. cadas fixas, que possuem o pavimento
namento privativo para 350 veículos. Para As novas arquibancadas fixas térreo livre. Na praça, outros eventos
o público pagante, propõe-se a utilização comportam no total 20.000 pessoas, diversos poderão ser realizados.
dos grandes estacionamentos contíguos dividindo-se entre assentos cobertos Estima-se que, com essa proposta,
ao Estádio Nacional e ao Ginásio Nilson localizados na reta de largada com vista o Autódromo de Brasília possa ser
Nelson, ambos localizados em média de para os boxes e pódio de premiação, e também um espaço multiuso, inserido
dez minutos de caminhada, em ritmo outros 10.100 assentos estão localizados no circuito de lazer da cidade, atuando
leve, das entradas das arquibancadas. em posição com vista privilegiada para como alternativa para eventos de menor
Para o controle de prova, propõe-se um maior trecho de retas e curvas. porte, quando comparado com o Estádio
uma torre em posição estratégica com Como opção de acesso de menor custo Nacional, eliminando-se o caráter de
dois pavimentos e plena visibilidade de propõem-se as áreas de piquenique. De espaço privado que possui atualmente.
todo o circuito. Aproveita-se esse espaço, tais espaços será possível acompanhar
mandatório por necessidade técnica, para uma corrida a partir de um gramado
se instalar um mirante no pavimento inclinado, que aproveita os taludes de
inferior. contenção no perímetro do autódromo. Orientador: Cláudio Queiroz
Ainda nas funções de corrida, se Esse modelo também ocorre em outros Banca: Ivan do Valle, Leandro de Sousa
faz necessária a existência de um centro circuitos de Fórmula 1. Neste espaço, a Cruz e Oscar Luís Ferreira
médico com plena capacidade de utili- entrada é mais barata e estima-se sua Convidado: Antônio Alvetti

97
FAU
PREMI
ADA
arqui #4

31ª quadrienal
de praga
caraíba

Premiados: Bianca Álvarez, Gabriela Rocha, Raissa Moruzzi, Rhayssa


Ramalho, Valdinei de Sousa e Rafael Assis

100 1/2015
A UnB esteve presente na 31ª Quadrienal de Praga UnB was present at the 31st Prague Quadrennial of Perfor-
de Design Cênico com trabalhos expostos na mostra estu- mance Design and Space with works displayed at the student event.
dantil. Dentre os trabalhos estava o “Caraíba”, um projeto One of these was Caraíba, a scenography project for a puppet theater
de cenografia para teatro de bonecos que conta a história do that tells the story of an ipe tree and a cicada. Advised by Prof.
ipê e da cigarra. Orientado pela professora Sônia Paiva, do Sônia Paiva of the Department of Performance Design and Space,
departamento de Artes Cênicas, o grupo, de caráter interdis- the interdisciplinary group comprised the following students: Bianca
ciplinar, reuniu os alunos Bianca Álvarez, Gabriela Rocha, Álvarez, Gabriela Rocha, Raissa Moruzzi, Rhayssa Ramalho, Vald-
Raissa Moruzzi, Rhayssa Ramalho, Valdinei de Sousa, e Rafael inei de Sousa, and Rafael Assis from the School of Architecture
Assis, aluno da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB. and Urbanisnm.

101
arqui #4

SINOPSE poliuretano esculpido montados em um


Através de bonecos, projeções, tubo estrutural de aço suportado por
cenário e formas animadas, “Caraíba” pés treliçados que se escondem sobre
conta a estória da relação entre um ipê e o palco circular. Das raízes do ipê nascem
uma cigarra enquanto elas passam pela 3 outros tubos estruturais que suportam
metamorfose de seus ciclos, em um a passarela semi-circular por onde andam
formato versátil para apresentações em manipuladores e personagens.
locais abertos ou fechados tipo arena. Para as projeções e no scrim semi-
O espetáculo desperta um novo olhar -circular 2 projetores com capacidade de
para a maneira como nós percebemos 12000 lumens seriam usados, cada um
e tratamos o meio ambiente. deles girados 90 graus para se adaptar
ao formato da área a ser projetada.
CENÁRIO
A ideia de cenário para a história PROCESSO CRIATIVO
foi um ipê, que seria tanto personagem Ao longo de aproximadamente
como local da história, uma árvore que 2 meses e meio, a equipe reuniu-se
o público pudesse enxergar tanto sua sempre que possível - contornando a
parte que está na superficie quanto sua agenda pessoal de cada integrante do
parte que está embaixo da terra. Para grupo - para desenvolver o trabalho. A
representar as mudanças de fases do ipê primeira etapa, que envolvia pesquisa,
decidimoss aplicar projeções sobre uma brainstorming e rascunho das ideias
tela semitransparente que estaria entre iniciais foi a mais demorada. A etapa de
a árvore e o púbico. desenvolvimento projetual da cenografia
O ipê foi pensado não só como foi bastante trabalhosa, porém fluiu com
um personagem, mas também como mais facilidade, uma vez que as ideias
o local das ações. Como cenário físico, já haviam sido organizadas.
ele é composto por seções de blocos de

Perspectiva geral pelos autores

Esquema estrutural e caderno de croquis pelos autores

102 1/2015
103
arqui #4

a nova
arquitetura de
brasília
2015
A exposição teve como objetivo incentivar os arqui- The New Brasilia Architecture 2015, an event organized by
tetos que atuam no Distrito Federal e também os estudantes IAB-DF, selected through a contest 40 pieces of work done by archi-
formandos. A escolha dos trabalhos que compõem a mostra tects and graduating students from the Federal District and gave
foi feita através de concurso organizado pelo IAB-DF. O edital prizes to projects and publications. The aim was to map the new
provocava os participantes a responderem à seguintes questão: outstanding professionals and those who have been writing the
quem são aqueles que vêm escrevendo a recente história da recent architectural history of Brasilia.
arquitetura de Brasília?

1 2

3 4
Brasília 50+50: cidade, história e projeto

É da tradição da Faculdade de Arquitetura e


Urbanismo da Universidade de Brasília estudar a sua
cidade. Assim foi desde a sua criação, há meio século,
quando Brasília era algo quase inexistente.

Assim é, como neste Workshop Brasília 50+50,


realizado conjuntamente com o Instituto Politécnico
de Milão em setembro de 2011. O contexto,
a crescente metropolização do Distrito Federal;
o objetivo, o debate amplo sobre projeto urbano e
arquitetônico, sobre preservação e modernidade.
Problematizando a sua contemporaneidade, Brasília
foi apresentada em palestras e visitas guiadas, o que
frutificou em estudos específicos sobre diferentes
áreas da cidade.

Seus registros são agora divulgados para um público


mais amplo, sempre curioso por novas abordagens e
interpretações desta que não é uma utopia, um
não-lugar, uma fabricação da imaginação, porém
uma cidade. Como tal, cidade nada ideal, cidade com
história e mazelas. Cidade que agrega o planejado e
o informal, o permanente e o transitório.

E, também, cidade com qualidades próprias e


dinamismo ímpar. Com seus 50, disposta a enfrentar
+ 50.

Sylvia Ficher

org. Luciana Saboia e Mª Fernanda Derntl

squisa e Pó
Pe s
e
ISBN 978-85-230-1102-4
DPP
-G
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Decanato

uação

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Un

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i

9 788523 011024 dade de B

104 1/2015
categoria publicações
1° Prêmio / Cláudia Estrela Porto (org.) – Título: Olhares: visões sobre a obra de João Filgueiras Lima (1)
2º Prêmio / Anamaria de Aragão Costa Martins – Transformação Urbana: projetando novos bairros em antigas periferias
3º Prêmio empatados / Danilo Matoso Macedo – Título: Da matéria à invenção: as obras de Oscar Niemeyer em Minas
Gerais, 1938-1955 / Elcio Gomes da Silva – Título: Os palácios originais de Brasília (2)
Menções Honrosas / IPHAN e equipe da Ábaco – Arquitetura & Design Ambiental – Título: Inventário do Setor Tradicional de
Planaltina / Gabriela Bílá – Título: O novo guia de Brasília (3)
Selecionados para a exposição / Luciana Saboia e Maria Fernanda Derntl (orgs.) – Título: 50 + 50 cidade, história e projeto
(4) / Danilo Matoso Macedo; Fabiano José Arcádio Sobreira – Título: Forma estática – Forma estética / Autor: Suely Franco
N.Gonzales, Jorge Guilherme Francisconi, Aldo Paviani – Título: Planejamento e Urbanismo na atualidade brasileira / Sérgio
Roberto Parada – Título: 11+11 sonhos e realidade / Fabiano Sobreira – Título: Qualidade e sustentabilidade do ambiente
construído

categoria estudantes - mostra competitiva


1° Prêmio / Giselle Marie Cormier Chaim – Escola: FAU/UnB - Universidade de Brasília (UnB) – Título: Além da Concha: O
Espaço Cultural da Concha Acústica no Parque Urbano do Jaburu (5)
2° Prêmio / Daniel Simaan França – Escola: FAU/UnB - Universidade de Brasília – Título: Museu de Arquitetura de Brasília (6)
3° Prêmio / Louise Boeger Viana dos Santos – Escola: FAU/UnB - Universidade de Brasília – Título: Lago Para Todos - Lazer e
Mobilidade Urbana na Orla do Lago Paranoá (7)
Menção Honrosa / Bruno de Jesus Oliveira – Escola: Centro Universitário de Brasília - UNICEUB – Título: Complexo Cultural
de Ceilândia

categoria estudantes - mostra expositiva


Destaque / Laura Ribeiro de Toledo Camargo – Escola: FAU/UnB - Universidade de Brasília – Título: Estação da Dança (8)

categoria projetos - mostra competitiva


1° Prêmio / Eder Rodrigues de Alencar e André Velloso Ramos – Título: Casa Borges
2° Prêmio / ATRIA + Estúdio MRGB - Gabriela Muller, Gustavo Costa, Igor Campos – Título: Embaixada do Kuwait em Brasília
3° Prêmio / Eder Rodrigues de Alencar, André Velloso Ramos, Luciana Saboia – Título: Paróquia Sagrada Família Park Way
Menções Honrosas / Conceito Arquitetura – Título: Casa de Campo Experimental / Estúdio MRGB – Título: Residência JM

categoria projetos - mostra expositiva


Destaques / Eder Rodrigues de Alencar, Matheus Gorovitz, Cláudia Garcia, Ana Carolina Vaz – Título: Praça Magna da
Universidade De Brasília (9)
Selecionados para a Exposição / Camilo de Lannoy, Filipe Monte Serrat e Manuela Dantas – Título: Casa Treliça / Camilo de
Lannoy, Filipe Monte Serrat e Manuela Dantas – Título: Casa MJL

categoria obra concluída - mostra competitiva


1° Prêmio / ATRIA - Gustavo Costa – Título: Residência BLM
2° Prêmio / Pedro Grilo, Gabriel Nogueira e Guilherme Araujo – Título: Sede Fabrika Filmes
3° Prêmio / Estúdio MRGB – Título: Residência LK
Menções Honrosas / Fabiano José Arcádio Sobreira – Título: Casa da Copaíba / Diogo Gomes Ferreira Santos e Rodrigo
Fortes – Título: Casa Solar da Serra

categoria obra concluída - mostra expositiva


Destaques / BLOCO Arquitetos – Título: Edifício POSEAD IMP / Danilo Matoso Macedo, Elcio Gomes da Silva, Fabiano
José Arcádio Sobreira, Newton Silveira Godoy, Filipe Berutti Monte Serrat, Daniel de Castro Lacerda – Título: Fundação
Habitacional do Exército
Selecionados para a Exposição / BLOCO Arquitetos – Título: CASA MIGLIARI / Alberto Alves de Faria – Título: Fiocruz -
Fundação Oswaldo Cruz Brasília - Ceplan-UnB

105
arqui #4

Aspectos legais Construção do partido


O lote escolhido para o projeto não possui delimitação estabelecida por 01. O primeiro elemento estruturador do partido é uma 02. Um segundo eixo, curvo, tangencia a Praça do Cruzeiro 03. Um edifício se apoia no eixo reto e fica suspenso sobre 04. A cobertura funciona como terraço, permitindo tanto a
lei, e nem mesmo normas que definam afastamentos, taxas de ocupação e grande parede que, alinhada ao eixo da estátua de JK, e se abre para o cerrado nativo, criando uma marquise que o eixo curvo, abrigando a principal galeria do museu. O visualizacão da cidade, à leste, como do cerrado, à oeste.
gabaritos máximos. Assim, foi definido um terreno de 170 x 190m, cujas di- concentra a porção de terra que representa a cota mais abriga as funções públicas e configurando no nível inferior grande vão livre criado permite a visualização do horizonte A ocupação, centralizada no lote, cria eixos nos dois senti-
mensões têm como principal referência o terreno que abriga o Memorial JK. alta do Eixo Monumental. uma grande praça. e traz leveza ao conjunto. dos, e integra o edifício à paisagem.

Referências
A compreensão da arquitetura e urbanismo de Lúcio Costa, Oscar Niemeyer,
Burle Marx, bem como de outras características marcantes de Brasília, foi
ponto inicialsempre
Nem para definição do projeto.desempenhadas
as funções De Lúcio Costa, forampelos
destacados a
espaços
incorporação de elementos históricos, tais quais as perspectivas barrocas e

seções tipo
(novas vias)
de margens
os terraplenos de corpos
monumentais, d’água
além da e os
força dos tipos de configuração
macroelementos estrutura- A - Ciclovia entre lotes
dores (eixos). De Oscar Niemeyer, o grande exemplo esteve no projeto do B - Ciclovia + calçadão ao longo da orla
desses
Congresso espaços
Nacional, favorecem
que pertence a interação
simultanemante entre
a dois os(Esplana-
lugares cidadãos, C - Trilha ciclável
da dos Ministérios e Praça
promovendo dos Três e
encontro Poderes),
convívioconta com uma
social grande rampa a sua
e garantindo
que estimula a percepção visual e surpresa, e dedica atenção especial à

(em vias existentes)


proteção
acessibilidade ambiental.
e visibilidade, Em todoo o
minimizando Brasil,visual
bloqueio faixas de preservação
e esculpindo o D - Ciclovia no canteiro central
terreno. Outros elementos de referência, presentes e importantes no contex- E - Ciclovia no canteiro lateral
to daas margensforam de cursos d’água dosprevistas em leia forte
(APPs)
axia-tem

seções tipo
cidade, a grande dimensão espaços abertos, F - Ciclofaixa bilateral
lidade e a fácil legibilidade dos edifícios, além da presença predominante G - Acostamento ciclável
sido
de três desrespeitadas.
cores: o verde da vegetação onipresente, o branco da arquitetura H - Ciclovia/ciclofaixa em ponte ou barragem
moderna clássica brasileira, e o azul dos azulejos e espelhos d’água.
13,8 km
Em Brasília, embora Lucio Costa descreva sua visão para a
5 49,6 km
circuito cicloviário

ocupação futura da orla do Lago Paranoá por todos os ci-


Programa 1,7 km

ALÉM DA CONCHA
9,7 km
dadãos desde o projeto original da cidade, não foi prevista

por seção tipo


64,3 km
Assim como acontece em grande parte dos museus contemporâneos, os 2,6 km
destinação
museus legal
de arquitetura para as
passaram áreas de
a configurar suas culturais
espaços margens,e deresultando
lazer, 30,3 km

metas
comem projetos que visam
espaços à promenade
residuais dosarchitecturale
projetos de (criação de circulaçõesde se-
parcelamento 4,5 km
TOTAL= 176,5 km
que destaquem a arquitetura do museu), à experiência de caráter comercial
tores adjacentes,
e à presença obrigatória de favorecendo, assim,
iluminação controlada. a extensão
As atividades, das divisas
baseadas
em um tripé, estão relacionadas às temáticas de conservação, educação e
posteriores de clubes e terrenos residenciais de alto padrão
pesquisa, e isto está refletido diretamente nas funções que estes edifícios
até atualmente.
a beira d’água.
O Espaço Cultural da Concha Acústica“Ano Parque Urbano do Jaburu
abrigam Nas últimas três décadas, uma quarta seção passou
a ser agregada às demais atividades – a de funções públicas. Na proposta
para o MAB, cuja intenção primordial é a criação de um centro de informa-
breve discussão sobre conflitos de uso no Lago
ção e cultura focado na disseminação do conhecimento em arquitetura e Trecho 1 - Projeto Orla
urbanismo, o programa foi dividido em quatro seções: museu/exposição, Trecho 2 - Setor de Clubes Norte
Paranoá ilustra um possível papel de corpos d’água

rede cicloviária
ensino/pesquisa, funções públicas, e serviços. A primeira está concentrada Trecho 3 - Lago Norte
no volumeurbanos Trecho 4 - Mansões do Lago Norte
na reprodução
superior, apesar de uma galeriadetemporária
situações delocalizada
estar desigualda- no
A Península do Palácio da Alvorada, emGDFBrasilia, é uma área A orla do Lago Paranoá é caracterizada no contexto do Plano Piloto como

proposta
nível Lúcio Costa. A seção de ensino/pesquisa, assim como a de serviços, Trecho 5 - Lago Sul 18-32
projeto
de. Aoatrás
está concentrada definir usospainel,
do grande das margens do Lago
também no nível inferior.Paranoá
Por fim, a
Trecho 6 - Lago Sul 8-16 e Setor de Clubes Sul

sensível, sob o ponto de vista espacial e ambiental, e apresenta forte elemento constituidor da Escala Bucólica e dialoga diretamente com a
proposta
parte de funções públicas está localizada
que privilegiam populaçõessob a marquise
com faixacurva,
dee conta
renda com

por trecho - proposta


café, livraria, restaurante, além de um auditório capaz de receber grandes 21,9 km
destinações e usos bastante diversificados: ponto final da Escala paisagem natural e construída da cidade. Assim, se por um lado é necessário
eventos. elevadas, o planejamento cristalizou ainda mais uma 10,3 km
24,4 km
segregação socioespacial característica da estrutura
Monumental e no coração da Escala Bucólica, nela se localizam
urbana daacapital.
conter a exploração
Ao abster-se dos potenciais
de cumprir seu papel do Lago, por outro é importante garan-
13,8 km
16 km

metas
12,3 km
Concha Acústica de Oscar Niemeyer e o Museu de Arte defiscalizador, tir acesso
Brasília, o Estado universal
reforçou da população
a ocupação privada às áreas de lazer, cultura e apreciação do Plano Piloto TOTAL= 98,7 km

de espaços públicos, privilegiou a consecução de


palcos das primeiras manifestações culturais da nova objetivos
capital; oe interesses
Paranoá. de Neste contexto,
determinados o terreno
grupos e, da Concha Acústica parece ser o último Escala 8,7 km
8,6 km Eixo Monumental

por trecho - GDF


Monumental
13,7 km
testemunho do histórico da construção de Brasília e umassim,dos parece
pri- terponto de conexão
contribuído pública com
para reproduzir a do-o Lago Paranoá. E o Parque da Vila Planalto 10,6 km Concha
minação social.” (CIDADE in PAVIANI, 2010) Lago17,7 km
Paranoá Acústica
meiros acampamentos dos pioneiros - a Vila Planalto; e o grande desempenha importante papel para conter o avanço das ocupações irregu-

metas
18,5 km
Vila Planalto
Escala Bucólica TOTAL= 77,8 km
Pa
parque dos palácios da Alvorada e do Jaburu, a Reserva Nacional
Muitas lares em para
das áreas potenciais direção ao Palácio
destinação da Alvorada
de espaços pú- e para preservar e regenerar toda Brasília - DF Península
30,6 km do Lagoa do Jaburu Al
18,9 km

por trecho - total


do Jaburu, além de outros prédios históricos. uma área de cerrado antropizada.
blicos na orla hoje se limitam a terrenos cercados e inaces- Alvorada
38,1 km Reserva Ambiental
síveis à população, desvinculados do tecido urbano e, em
trechos de intervenção 24,4 km
Área do
33,7 km
Projeto

metas
alguns casos, em estágio de completo abandono. A infra-es- 30,8 km
uso do solo

ESC. 1:75.000

LAGOPARATODOS
TOTAL= 176,5 km
A lógica de ocupação do espaço foi, no entanto, desvirtuada. O No cenário de desafios, este projeto tem como objetivo regenerar o espaço
trutura de alguns espaços públicos existentes é precária.

que era destinado ao uso comum e à fruição da paisagem às mar- urbano da Península do Alvorada e resgatar seu caráter original por meio Eixo Monumental
Praça do

lazer e mo
gens do Lago Paranoá transformou-se em uma região que sofre da proposta do Parque Urbano do Jaburu e do Espaço Cultural da Concha Cruzeiro Torre de TV Esplanada dos
Rodoviária Ministérios Praça dos
com a especulação imobiliária e com o abandono: a interdição da Acústica, em que coexistam zonas de lazer, educação, cultura e arte. O acesso

na orla do
Três Poderes
Concha Acústica, o fechamento do Museu de Arte, a descaracter- público à orla do lago, livre e democrático, e a recuperação da paisagem são
ização da Vila Planalto, a proliferação de condomínios fechados e as principais diretrizes que nortearam o projeto. E a combinação entre arte e
a privatização da orla pública, além da fixação de uma ocupação natureza como elementos atuantes no processo de regeneração urbana, os
irregular em franca expansão no Parque de Usos Múltiplos da Vila princípios que determinaram o desenho.6
Articulação da área do projeto com a
Planalto, jamais projetado. Comercial
Educacional
Escala Monumental
Institucional
Misto
Religioso
Saúde Relação geométrica - Praça x Museu
pontos de interesse

uso do solo

Concha Espaço Cultural


Residências unifamiliares
Clubes particulares
Museu de
Poligonal do projeto Orla 1995
Acústica da Concha Arte de
Acústica Brasília
Estudantes
26 1 Parque das Garças 7 22
2 Complexo da Enseada 2012
3 25
Complexo Brasília Palace Museu de Arquitetura de Brasília
4 Parque do Cerrado
5 Marina do Paranoá24 1 Daniel Simaan França
6 Centro de Lazer Beira Lago 22 1
7 Parque de Ciência e Tecnologia 6 4
8 Centro Internacional 2 5 2
9 Parque Aquático 4 20
10 Parque das Nações
11 Centro Cultural Banco do Brasil 3 21
12 Palácio do Jaburu 23 8
Rodoviária Esplanada dos Ministérios Congresso Nacional
13 Palácio da Alvorada
14 Setor
Via RuínasdedaHotéis e Turismo
Escola Superior de Guerra
15 Centro Olímpico da UnB
16 Calçadão da Asa Norte
17 Parque Vivencial II do Lago Norte
9 9
18 Quadras Públicas do Varjão 9
19 Piscinão do Lago Norte
20 Mosteiro de São Bento 14
pontos de interesse

21 Parque Ecológico da Ermida Dom Bosco


22 Parque Vivencial do Anfiteatro Nat. do Lago Sul Palácio da
23 Parque Ecológico Península Sul 9 3
24 Pontão do Lago Sul 5 13 14 Alvorada
Via Planalto 11 Via Palácio Presidencial
na orla

25 Parque da QL 10
26 Praça dos Orixás (Prainha)
Vi 6 12
áreas de preservação

a L4 9
No A Parque das Garças - Decreto nº 23.316, 25/10/12
rte B Parque da Enseada - Decreto nº 27.472, 06/12/06
C Parque Morro do Careca - Lei Complementar nº 641, 14/08/02
D Res. Ecológica Lago Paranóa - Lei Distrital nº 1.612, 08/08/97
E
F
ARIE Paranoá Sul - Decreto nº 11.209, 17/08/88
7
ial
ARIE do Setor Hab. Dom Bosco - Decreto nº 21.224, 26/05/00
G P. Ecológico da Ermida D. Bosco - Decreto nº 19.292, 04/06/98 14 nc
H P. de Uso Múltiplo da Ermida D. Bosco ide
preservação ambiental

I Parque das Copaíbas - Lei nº 1.600, 25/07/97 res


J P. Ecológico e Vivencial Canjerana - Lei nº 1.262, 12/12/96
cioP
K
alá
O Parque Urbano do Jaburu
Parque Ecológio Garça Branca - Lei nº 1.594, 25/07/97
L P. Viv. do Anf. Nat. do Lago Sul - Lei Comp. nº 57, 14/01/98 aP 8 Lagoa do
15 9 strad
áreas de

M Parque Ecológico Península Sul - Decreto nº 24.214, 12/11/03


Jaburu
N ARIE do Bosque - Lei Complementar n° 407, 23/11/01
14 -E
tal Lago
en 7
es
13 14 Paranoá PENÍNSULA DO ALVORADA - SITUAÇÃO ORIGINAL
um
Unidades de Conservação - SNUC on 16
Áreas especialmente protegidas 9 oM 17 1 Concha Acústica 14 Bosque dos Inconfidentes
11 Eix
e 2 Museu de Arte de Brasília 15 Procuradoria Geral da República
* as áreas às margens dos cursos d’água (30 metros) são
Eixo definidas como Área de Preservação Permanente (APP)
Mon 3 Palácio da Alvorada 16 Setor de Clubes Sul
12 ume
ntal 10 9 4 Brasília Palace Hotel 17 Centro Cultural Banco do Brasil
da para a W3 sul, é a mais prejudicada por ação direta do
5 Área destinada ao Parque de 18 Clube de Golfe de Brasília
e11
um sistema de brises móveis independentes para atender
Usos Múltiplos da Vila Planalto 19 Clube de Caça e Pesca
ntes internos. 14 19 6 Vila Planalto 20 Brasília Tulip Alvorada Hotel
7 Palácio do Jaburu 21 Residencial Lake Side
consiste em 3 posições:
8 Lagoa do Jaburu 22 Residencial Ilhas do Lago
9 Reserva Ecológica 23 Clube da Aeronáutica
orta painel e trilho na horizontal.
10 Congresso Nacional 24 Residencial Life Resort
, porta painel e trilho inclinados.
11 Supremo Tribunal Federal 25 Residencial The Sun
a painel dobrado e trilho inclinado.
l 12 Praça dos Três Poderes 26 Clube de Fuzileiros Navais
15 Su
L4 13 Palácio do Planalto 27 Ponte JK
02 Via 03
ESPAÇO CULTURAL DA CONCHA ACÚSTICA (ECCA) / PARQUE URBANO DO JABUR
Vi
a S1 1 ECCA - Pavilhão Cultural 10 Módulos de Apoio (junto aos estac
18
2 ECCA - Pav. Arte em Exposição 11 Quadras poliesportivas
3 ECCA - Pav. Arte & Educação 12 Área de hortas e pomares
4 ECCA - Praça das Artes coletivos na antiga ocupação
5 ECCA - Praça do Museu 13 Lagoa do Parque
6 ECCA - Praça da Concha 14 Áreas de clareiras para piquenique
7 ECCA - Orla Arborizada 15 Novo Setor Habitacional da Vila
8 ECCA - Estacionamento 16 Passarelas elevadas / mirantes
106 1/2015 8 17
9 Acessos / Estacionamentos 17 Orla do Jaburu acessível

16 100m 200m 600m

1 : 15.000
AGNA DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

iva e vocação da
da consciência da
ência invariavelmente
A melhor forma de prever Ao olhar
9 para tr
ficável pela composição –
lidade significativa. é olhar para trás. - A Praça Magna como
- O espaço aberto com
(Lucio Costa) - A natureza como arre
mento de valores comuns ICC dos Três Poderes, perfi
oais e os afetivos. - O respeito à escala b
esses valores motiva a - O partido de Pedro P
privado é o princípio Machado Rezende par
o. Para Holderlin,
eza.
Descaminho
cívico reúne o Centro de Museu da
ões existentes: o Instituto Civilização Brasileira Presenciamos hoje um
O conjunto é coroado pela Reitoria cações esparsas sem n
is e dimensionada como sem caráter – um agre
tre as escalas coletivas – cenário, o Instituto Ce
miar entre a cidade e a Aula Magna nobre e digna intençã
o Plano Piloto para a Biblioteca Universidade de Brasíl
Praça Magna

Centro de Vivência

Praça Magna Figura 2. (1969) O espaço aberto é o protagonista da Praça Magna de Oscar Niemeyer. O Centro de Vivência, incorporado
dia Garcia, Ana Carolina
Faculdades Figura 1. (1962) No risco de Lucio Costa para a urbanização da Cidade Universi- posteriormente por Pedro Paulo de Mello Saraiva, Luiz Fisberg e Lorival Machado Rezende, preserva a permeabilidade da
mo, Cícero Portella, Gabriela
e Gabriela Nehme Institutos tária, a Praça Magna comparece como limiar entre a Cidade e o Campus. Praça.

As publicações e projetos apresentados nessa revista foram


selecionados com base no vínculo dos autores a graduação da
FAU-UnB. Para mais informações sobre os premiados acesse:
www.iabdfconcursos.com.br/nab2015

107
arqui #4

prêmio anpur
2015
menção honrosa – livro método e arte:
urbanização e formação de territórios na
capitania de são paulo, 1765-1811
In her book Método e Arte: urbanização e formação territorial na capitania de São Paulo, 1765-1811 (Method and art:
urbanization and territory development in the captaincy of São Paulo, 1765-1811), Maria Fernanda Derntl addresses the
process of territorial organization and urban development in that region. Aligned with an interpretation in harmony with
the paradigmatic metaphor of “O semeador e o ladrilhador” (“The sower and the tiler”) by Sérgio Buarque de Holanda,
the author acknowledges the more orderly strategies outlining the Portuguese territory in America. The book received
honorable mention at the award-giving ANPUR event in 2015.

Hugo Segawa Entre o semeador e o ladrilhador

O título deste livro, Método e arte, é mais uma pitada Buarque de Holanda dizia que “a rotina e não a razão
na polêmica sobre a paradigmática metáfora de “O semeador abstrata foi o princípio que norteou os portugueses, nesta
e o ladrilhador” que Sérgio Buarque de Holanda escreveu como em tantas outras expressões de sua atividade coloniza-
em seu Raízes do Brasil. “Nenhum rigor, nenhum método, dora. Preferiam agir por experiências sucessivas, nem sempre
nenhuma providência, sempre esse significativo abandono coordenadas umas às outras, a traçar de antemão um plano
que exprime a palavra ‘desleixo’...”, publicou ele em 1936, para segui-lo até o fim”. Posteriormente diversos estudiosos
sobre a ação colonizadora dos portugueses no Brasil. da urbanização no Brasil colonial mostraram que no século
Ao se debruçar sobre a organização territorial e a 18 os portugueses guardavam “um plano para segui-lo”.
formação urbana na capitania de São Paulo a partir de 1765, Todavia, todo ladrilhador também encontra o inesperado
Fernanda Derntl favorece as leituras que reconhecem uma em sua tarefa: não há “razão abstrata” que saiba contornar
estratégia mais ordenada que aquela apregoada por Buarque as vicissitudes. O governador da capitania, não obstante uma
de Holanda. “Para que com método e arte se tome este intento, renovada geopolítica da Metrópole para com seus territó-
devem-se dispor as cousas de modo, de antemão, e de longo rios meridionais, teve de lidar com incógnitas do território:
tempo, [para] que se possa fazer um bom uso de todos os práticas sociais, conflitos, tensões, contradições, negociações,
meios que oferece[m] a Monarquia e estes Estados”. É o que alianças, concessões, repressão.
sustentavam o então governador da capitania de São Paulo, Reconhecer e responder às dinâmicas locais decerto
Dom Luís António de Sousa Botelho Mourão, e o engenheiro conduziu àquilo que Buarque de Holanda chamou de “agir por
militar José Custódio de Sá e Faria em um plano datado de 1772. experiências sucessivas”. Na interpretação em Raízes do Brasil,
Como bem alerta a autora, as imagens do semeador e do essas “experiências sucessivas” eram falta de zelo, careciam
ladrilhador foram mais concepções de dois extremos de tipos do necessário cuidado emanado da racionalidade humana:
ideais que propriamente verificações conclusivas sobre as “a ordem que aceita não é a que compõem os homens com
diferentes atitudes de Portugal e Espanha diante da América. trabalho, mas a que fazem com desleixo e certa liberdade; a

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Capa do livro publicado pela editora Alameda com
apoio da FAPESP e da FAU-UnB

ordem do semeador, não a do ladrilhador. É também a ordem No complexo campo de forças que a autora escrutinou
em que estão postas as coisas divinas e naturais pois que, já o em São Paulo entre 1765 e 1811, ela questiona se a ênfase em
dizia Antônio Vieira, se as estrelas estão em ordem, ‘he ordem mecanismos e determinismos de planejamento como “razão
que faz influência, não he ordem que faça lavor. Não fez Deus abstrata” não obscureceu o cotejamento das representações
o Céu em xadrez de estrelas...’”. Numa carta de 1772 do 4º com a realidade empírica. A percepção das preexistências
Morgado de Mateus ao Marquês de Lavradio, o governador como contingências, os imperativos das circunstâncias, a
da capitania assumia sua porção ladrilhador: “Eu achei esta qualidade dos membros da alta administração portuguesa
capitania [de São Paulo] morta e ressuscitá-la é mais difícil como interpostos entre as determinações oficiais da Metrópole
do que criá-la de novo. O criar está na responsabilidade de e as dinâmicas locais, a amplitude das negociações foram
qualquer homem. O ressuscitar foi milagre reservado para parte dos procedimentos tramitados para a constituição e
Cristo. Para criar o mundo, bastou a Deus um Fiat, para o consolidação de núcleos urbanos – ou mesmo do seu fracasso.
restaurar depois de perdido, foi necessário humanar a sua O Morgado de Mateus e seus sucessores não foram casu-
Onipotência, gastar trinta anos e dar a vida”. Alusões que o ísticos semeadores, tampouco ortodoxos ladrilhadores. As
próprio Buarque de Holanda nos alumia ao chamar a atenção páginas que se seguem nos ajudarão a pensar o quanto de
da raiz no “velho naturalismo português” do pensamento do semeadores e de ladrilhadores desenharam o nosso território
padre Vieira, na distinção entre o pregar e o semear, presente no período colonial.
nos Sermões: “porque o semear é uma arte que tem mais de
natureza que de arte; caia onde cair”. Desbastando a rigidez Texto de apresentação do livro por Hugo Segawa, Professor
dos sentidos e certo tipo de anacronismo, a semeadura não é Titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
forçosamente um ato de puro acaso ou desleixo; a natureza, Universidade de São Paulo (FAU_USP)
em suas várias acepções, tem mais lógicas que muita criação Vitruvius – Resenhas Online
humana supõe ostentar. Publicado em: 13/11/2015

109
ENCON
TROS
arqui #4

workshop de
design
In the workshop put on by the ARQUI #2 and #3 publishers, Gabriela Bílá, Marilia alves e Luiz Eduardo Sarmento,
architects who graduated from FAU-UnB, and the guest professor Reinaldo Guedes Machado, with support of Ana
Rein, a debate was held over the close relationship architecture has with publications and graphic design, as well as
over the role of new prototyping tools in the production of graphic resources. The theoretical discussion was followed
by a hands-on typesetting exercise.

Marilia Alves

Sendo a arquitetura (e o urbanismo) construção, desenho e teoria, não é


surpresa que muitos arquitetos, antes mesmo do término de sua formação acadê-
mica, trabalhem no ramo do desenho gráfico, já que o conteúdo multidisciplinar da
arquitetura estimula a preocupação com a sua apresentação gráfica. Foi conside-
rando esse aspecto que o “minicurso de programação gráfica e produção editorial”
foi organizado junto com a terceira edição da revista ARQUI.
Em sua primeira edição, o curso foi organizado em dois módulos, de modo a
oferecer aos alunos um embasamento teórico sobre as várias maneiras como uma
programação gráfica pode ser executada, para depois poderem, em um exercício
prático, diagramar e criar parte da identidade visual de uma revista no formato
da ARQUI. Como o curso foi ministrado pelos próprios editores das ARQUI #2 e
#3, Gabriela Bílá, Luiz Eduardo Sarmento e Marilia Alves, arquitetos formados
pela FAU-UnB.
Junto com o professor convidado Reinaldo Guedes Machado, foi demonstrado
o eterno convívio entre a arquitetura e o desenho gráfico na forma de cartazes e
publicações de livros e revistas, e a possibilidade de criação de projetos gráficos
tridimensionais, com o auxílio de maquinários e fotografia. “O design está relacionado
aos produtos, serviços e sistemas concebidos com as ferramentas, organizações e
a lógica introduzidas pela industrialização. Assim, o design é uma atividade que
envolve um amplo espectro de profissões de que participam produtos, serviços,
gráficos, interiores e a arquitetura. Juntas, essas atividades devem realçar o valor
da vida.” (International Council of Societies of Industrial Design – ICSID)
O minicurso foi organizado pelo Laboratório de Produção Gráfica e Editorial
da FAU-UnB, coordenado pela professora Maria Fernada Derntl, com monitoria
da aluna Ana Rein.

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113
arqui #4

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Fotos por Marilia Alves

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arqui #4

casas recebe
III colóquio habitat e cidadania
Gathering participants from diverse segments, from social movements and Brazilian indigenous groups to the academic
community and government institutions, the “III Habitat and Citizenship Colloquium: Housing in the Country, in the
Waters, and in the Forests” promoted an exchange of experiences via debates and the presentation of studies of various
forms of dwellings and their community, social, economic, and environmental relationships, with a stress on rurality.

Caio Frederico e Silva, Liza Andrade, Ivan do Valle

O Grupo de Pesquisa em Habitação e Sustentabilidade (HABIS) do Instituto


de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (IAU/USP), em parceria
com o Centro de Ação Social em Arquitetura Sustentável (CASAS) da Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de Brasília (UnB), promoveu o
III Colóquio Habitat e Cidadania: Habitação no Campo, nas Águas e nas Florestas.
O colóquio ocorreu de 12 a 15 de maio no Centro de Excelência em Turismo
da Universidade de Brasília e abordou as diversas formas de moradia e suas relações
comunitárias, sociais, econômicas e ambientais. O evento teve inscrições gratuitas
e contou com cerca de duzentos participantes, dentre professores, estudantes,
pesquisadores, representantes do Governo, associações comunitárias, grupos
indígenas como os Xavantes, que abrilhantaram o evento.
Foram apresentados dezoito artigos científicos, e as discussões foram divi-
didas em três sessões de trabalho, com os temas: Políticas públicas habitacionais
para o campo, as águas e florestas; Projetos de habitat para o campo, as águas e
as florestas; Direito ao território e legislação fundiária; Participação, formação
e geração de trabalho e renda nos processos de projeto e produção habitacional;
Pesquisa e desenvolvimento de sistemas construtivos inovadores e tradicionais.
O eixo temático foi a habitação no campo, nas águas e nas florestas. Mais
que isso, o Colóquio provocou a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB
para um olhar menos urbano e mais rural, menos seco e mais ambiental. Foi um
grande prazer discutir visões de mundo tão distintas na luta por uma qualificação
do espaço de morar, que é mais que a moradia-casa, mas que se constrói no imagi-
nário do homem como habitat, como lugar, como casa-mundo.

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Fotos divulgação III Colóquio Habitat e Cidadania

Estiveram também presentes as pesquisadoras e os inte- orgânicos contratados pela Cooperativa Sabro Cerrado, do
grantes do Grupo de Estudos em Reforma Agrária e Habitat Assentamento Rural Colônia 1, localizado no município de
(GERAH DARQ/PPGAU/UFRN), a representação da Pró-Reitoria Padre Bernardes, GO.
de Cultura e Extensão Universitária da Universidade de São O evento foi transmitido ao vivo para todo o público
Paulo (PRCEU/USP) e o Pró-Reitor Adjunto, Prof. João Marcos da internet, trabalho que ficou sob a responsabilidade da
de A. Lopes, que apoiou financeiramente o evento, garantindo equipe do Fora do Eixo/Brasília. A sua expertise com os
a presença dos convidados estrangeiros. Contou-se também recursos audiovisuais contribuiu para a ampliação do fórum
com o apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvol- do congresso. É importante frisar que o evento foi cadastrado
vimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação regularmente como Evento de Extensão da FAU, sendo um
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). dos primeiros eventos a serem transmitidos on-line para o
A equipe organizadora de Brasília formada pelo CASAS público da internet.
teve o trabalho dedicado da estagiária de doutorado Vânia Este Colóquio aprofundou discussões realizadas nas
Loureiro, da arquiteta mestranda da UNICAMP Natália Lemos duas edições anteriores, ocorridas nos anos de 2006, em Natal,
e dos estudantes da FAU: Júlia Huff, Raul Maravalhas, Samuel RN, e 2011, em São Carlos, SP. Brasília foi escolhida como
Prates, Bruna Ruperto, Eduardo Dantas e Isabella Goulart. local para o evento, por naturalmente aproximar e conectar
A coordenação local ficou por conta dos professores Liza a sociedade e o Governo. Assim acredita-se que foi cumprido
Andrade, Ivan do Valle e Caio Frederico e Silva. Foi com grande o nosso principal objetivo, que foi dar voz às famílias do
motivação que recebemos a comissão organizadora formada campo, das águas e das florestas e fomentar trocas de experi-
pelos professores e pesquisadores Akemi Ino (HABIS/IAU/ ências e articulações entre movimentos sociais, professores,
USP), Amadja Borges (GERAH/PPGAU/UFRN), Rodolfo Sertori, pesquisadores, estudantes, profissionais e representantes de
Cecília Lenzi, Thiago Ferreira, Mariusa Henriquez, João Marcos instituições governamentais e não governamentais.
Lopes, Angel Castañeda e Anaïs Gueguen (HABIS/IAU/USP).
Os lanches do Colóquio contaram com os quitutes

117
arqui #4

cidade e
patrimônio
a áfrica do sul e o cenário mundial
In their lectures, Profs. Alan Mabin (University of Pretoria) and Cynthia Kros (Witwatersrand University, Johannesburg)
dealt with issues related to the historical development, cultural heritage, and recent challenges of intervention in
South African cities, marked by a long history of segregation and social inequality. Their presentations suggested that
comparative approaches involving Brazil and South Africa might lead to new interpretation paths and might encourage
further speculation about our methods and research procedures.

Maria Fernanda Derntl

Como intervir em cidades marcadas por uma longa história de segregação e


desigualdade social? Seria possível elaborar noções mais inclusivas de patrimônio
sem deixar de lado os conflitos e contradições que marcaram a construção da
memória das comunidades? Questões como essas, tão familiares ao universo de
problemas brasileiros, foram tema das palestras dos professores Alan Mabin e
Cynthia Kros sobre a África do Sul em 27 de maio de 2015.
A conflituosa formação das cidades sul-africanas e a discussão da atuação
de arquitetos e planejadores no sentido de reconfigurá-las são o principal objeto
dos estudos de Alan Mabin, professor da Universidade de Pretória e coordenador
do Projeto Capital Cities: Space, Justice and Belonging. Suas pesquisas e ativi-
dades cientificas indagam sobre as posturas teórico-metodológicas adequadas
para revisitar criticamente a história, mas sem perder de vista as exigências e
possibilidades de intervenção no presente. Em sua palestra, o professor percorreu
um amplo arco temporal para mostrar como práticas de segregação foram se
consolidando e reformulando na África do Sul desde os primórdios da coloni-
zação. Sua abordagem busca estabelecer nexos e comparações entre as cidades
daquele país e as expressões, em outros centros urbanos, de fenômenos como
a colonização, a expansão dos imperialismos e a globalização. Abrem-se assim
estimulantes possibilidades de compartilhar problemas e experiências. Na sua
visão, políticas urbanas alternativas podem surgir a partir da elaboração de uma
perspectiva “do sul”, isto é, buscando-se referências apropriadas às cidades ao sul
do globo, distintas daquelas elaboradas pela literatura proveniente “do norte”, a
europeia e norte-americana.
O desafio de lidar com o legado dos anos de colonialismo e apartheid foi
também o tema da palestra de Cynthia Kros (History Workshop, Universidade de
Witwatersrand, Johanesburgo). O mote de sua apresentação foram os acalorados
protestos recentes para retirada da estátua do colonizador britânico Cecil John
Rhodes do campus da Universidade do Cabo, onde esteve desde 1934. Os protestos
colocaram em evidência o debate sobre preservação, identidade e patrimônio
cultural na África do Sul. Cynthia Kros abordou vários exemplos de arte pública e
monumentos sul-africanos, mostrando conflitos e contradições na maneira como

118 1/2015
Cynthia Kros

Alan Mabin

foram concebidas ou na recepção que tiveram por diferentes grupos. A professora


não deixou de enfatizar o papel fundamental das obras de arte no sentido de
encorajar um pensamento crítico sobre o ambiente em que se vive. Mas, também
advertiu para os riscos, por um lado, de se deixar iludir por uma narrativa come-
morativa dos feitos dos colonizadores em prol de uma unificação nacional e, por
outro lado, de se recair numa história teleológica, que parte das origens africanas
em direção linear a uma suposta comunhão social.
Ao fim das palestras, a professora Antonádia Borges (Antropologia –UnB)
comentou a fala dos professores, estabelecendo paralelos com a discussão brasi-
leira a respeito de patrimônio e configuração urbana. Em seus trabalhos no campo
da Antropologia, Antonádia Borges também vem desenvolvendo perspectivas
comparadas com a África do Sul, o que envolve refletir sobre referências teóricas
e metodológicas para a pesquisa em regiões urbanas que ocupam lugares consi-
derados periféricos.
O evento é parte das atividades de cooperação entre a Universidade de Pretória
e a Universidade de Brasília. O convênio firmado entre as duas instituições facilita
iniciativas conjuntas para o desenvolvimento de pesquisas e cursos, realização de
eventos científicos e intercâmbio de pesquisadores. A participação da FAU-UnB
nas atividades de colaboração com a Universidade de Pretória vem propiciando
também discussões em torno da problemática específica das cidades-capitais.
Esse foi o tema da conferência internacional Changing Capital Cities in Latin
America, the Caribbean and Southern Africa, realizada em Pretória em maio de
2015, com apoio da embaixada brasileira naquela cidade. A historiografia sobre
Brasília e a formação das capitais brasileiras foram abordadas na palestra A Tale
of Three Capital-Cities. Salvador, Rio de Janeiro e Brasília (Maria Fernanda Derntl,
FAU-UnB). Já está prevista também participação no congresso do Urban Design
Institute of South Africa em 2016. Espera-se que outras iniciativas da parte de
alunos e professores possam dar continuidade a essa estimulante parceria.

coordenação: Maria Fernanda Derntl e Elane Ribeiro Peixoto


organização: LABEURBE (PPG-FAU-UnB) e LAVIVER (Antropologia - UnB)

119
arqui #4

na invenção
de brasília
In her lecture, Maria Manuel de Oliveira presented her research on the Brasilia Pilot Plan and the process of ‘grounding
the city.’ She revealed the opposition of the myth of landscape as a blank slate, a flat topography ready to receive
the new city, to the real valley existing there, showing the work done by the Brasilia idealizers in the process of urban
integration into the landscape.

Danilo Matoso Macedo

Nenhuma fotografia ou mapa revela suficientemente a gran- num vínculo causal em que boas obras de arquitetura provêm
diosidade e vastidão do local, que é cercado de três lados por necessariamente do labor exaustivo e específico, relacionado
correntes d’água e futuros lagos, nem dá um apanhado da a demandas reais e condições concretas. Brasília se lhe figu-
circunferência perfeita formada pelas colinas distantes. Do
rava como um esplêndido exemplo de integração urbana à
ponto de vista técnico, o aspecto mais favorável do local é
que o mesmo possui suficiente movimentação e diferença de paisagem. Qual teria sido o labor de seus idealizadores e
nível para evitar monotonia, sem contudo criar dificuldades de construtores nesse sentido? Quais os levantamentos, projetos,
engenharia ou altos custos de circulação, como no caso do Rio ajustes teriam levado àquele resultado? Para responder a esta
de Janeiro. pergunta, Maria Manuel esteve por três meses em Brasília
em 2013, conhecendo a cidade, seus edifícios, seus acervos
William Holford documentais, seus criadores e habitantes. Dessa experiência
Membro da Comissão Julgadora do Plano Piloto da Nova Capital do Brasil. surgiu o artigo que ela apresentou em sua palestra realizada
“Declaração individual”, em 1957. a convite do LabeUrbe na UnB em 25 de junho último: “(N)a
invenção de Brasília: ‘botar a cidade no chão’”.
Maria Manuel Oliveira é de um tipo especial de arquiteto. O percurso escolhido é cronológico: começa pelo mape-
Professora na Universidade do Minho, em Portugal, ela possui amento da “representação mental” do território, desde a
boas e numerosas experiências tanto de pesquisa histórica demarcação da área pela Missão Cruls até a década de 1950:
quanto de projeto. Desde seu trabalho com Fernando Távora, a construção do mito da tabula rasa, de uma suposta terra
passando por seu doutorado sobre arquitetura funerária em plana como “uma mesa de bilhar”, em oposição ao vale real
seu país até seu recente projeto de revitalização urbana dos ali existente, favorável ao represamento do rio Paranoá.
“Extramuros” da cidade medieval de Guimarães, ela desen- Determinado o local, o território passou a ser explorado
volveu uma lógica de trabalho própria que combina habil- como “representação gráfica”, em exaustiva cartografia encon-
mente a investigação à atividade de projeto e construção. Esta trada no Arquivo Público do Distrito Federal – informação
prudente “dúvida metodológica” atrela método e curiosidade bem documentada nos anexos do próprio edital do concurso

120 1/2015
Marco 0 em Brasília
Fonte: Fundo Novacap, ArPDF
Imagem da escavação em torno da estaca que assinala o centro
do cruzamento dos Eixos Monumental e Residencial

para o plano piloto: a Planta Aerofotogramétrica do Sítio da dos Três Poderes.


Nova Capital do Brasil, de 1955-1956. Cada um desses marcos tem suas versões projetadas e
O Plano Piloto de Lucio Costa aproveitou-se habilmente construídas comparadas, revelando-nos curiosas surpresas,
das sutilezas topográficas já levantadas: o desenho arqueado como a conservação da cota original de implantação da torre
das asas residenciais adéqua-se às curvas de nível do terreno, de TV, obtida à custa de um extenso aterro, ou a equivalência
e a Esplanada dos Ministérios situa-se precisamente sobre um da altura da mesma torre com a cumeada da serras circun-
espigão que avança mais alto na direção do lago – qualidades dantes. Embora desejáveis alguns destes ajustes geraram
louvadas pelo júri do concurso e graficamente evidentes. problemas ainda não resolvidos em nossa cidade. Tal é o
O mesmo júri sugeriu a aproximação da cidade ao Lago caso, por exemplo, da falta de integração, ainda deficiente,
Paranoá – primeira de muitas adaptações que “botar a cidade entre o Palácio do Congresso Nacional e a Praça dos Três
no chão” demandava. Se hoje já se conhece a importância de um Poderes, após a conformação da plataforma transversal à
Augusto Guimarães Filho (braço direito de Lucio Costa) nesse Esplanada – bloqueando a passagem e a vista.
processo, Maria Manuel apresenta-nos também a figura do Mais que uma boa e bem-vinda descrição de nossa cidade
topógrafo Jethro Bello Torres, responsável pela locação inicial (útil a todos os que buscam conhecê-la melhor) o trabalho
da cidade, e autor das Memórias de cálculo da Urbanização de de Maria Manuel apresenta uma atraente receita de pesquisa
Brasília. Entrevistas com Torres e Jayme Zettel acrescentam acadêmica e de atividade projetual, em que se misturam em
especial sabor de novidade à narrativa da pesquisadora. boas porções: a pesquisa bibliográfica e documental; o conhe-
Como boa projetista, ela toma então, como instrumento cimento da realidade e das pessoas envolvidas com seu objeto
“cognitivo” de sua empreitada, a realização de um corte do de estudo; o desenho e o texto como ferramentas cognitivas.
terreno ao longo do Eixo Monumental, levando-nos a um É uma simpática e efetiva contribuição, que certamente ajuda
percurso pelos principais pontos de sua extensão. De oeste na construção de outra “representação mental” de Brasília,
a leste: a estação ferroviária, o cruzeiro, a torre de TV, a útil e efetiva a todo arquiteto que aqui opera.
Plataforma Rodoviária, a Esplanada dos Ministérios, a Praça

121
arqui #4

pnum
Hosted at FAU-UnB, the “Fourth Conference of the Portuguese-Language Network of Urban Morphology” (PNUM,
in Portuguese) with the topic “Urban Configuration and the Challenges of Urbanism” gathered 181 studies across
30 Theme Sessions. This allowed a view of state of the art research on urban morphology in lusophone countries,
especially Brazil and Portugal.

Gabriela de Souza Tenorio

Nos dias 25 e 26 de junho de 2015, a FAU-UnB teve o metápole; 6. Espaços públicos na cidade contemporânea; 7.
prazer e o privilégio de sediar a Quarta Conferência Inter- Teorias, conceitos e técnicas morfológicas e 8. Configuração
nacional da Rede Lusófona de Morfologia Urbana/PNUM urbana e história das cidades.
(Portuguese-Language Network of Urban Morphology - pnum. A solenidade de abertura contou com o Reitor da UnB,
fe.up.pt/pt). A Rede Lusófona de Morfologia Urbana é um prof. Ivan Marques de Toledo Camargo; o Diretor da FAU,
grupo regional do International Seminar on Urban Form/ISUF prof. José Manoel Morales Sánchez, a presidente da Comissão
(www.urbanform.org), e foi criada em 2010 para promover e Organizadora, Gabriela de Souza Tenório, o presidente da
desenvolver o estudo da forma urbana nos países lusófonos, Comissão Científica, Frederico de Holanda, e o membro do
por meio da organização de reuniões, conferências e da publi- conselho científico PNUM, Vitor Oliveira.
cação da Revista de Morfologia Urbana. Foram palestrantes convidados: Vítor Oliveira (FEUP
A primeira edição da conferência, em Porto (2011), – Portugal); Frederico de Holanda (UnB), Paulo Afonso Rhein-
apresentou 60 trabalhos; a segunda, em Lisboa (2012), 96; a gantz (UFRJ/UFPEL), Maurício Polidori (UFPEL), Romulo Krafta
terceira, em Coimbra (2013), 153, tendo sido 55 de autores (UFRGS) e Silvio Soares de Macedo (USP). As trinta Sessões
brasileiros. Em função da grande e crescente participação de Temáticas ocorreram pela manhã e à tarde, ocupando o térreo
brasileiros na Rede, decidiu-se por trazer a quarta edição do e o subsolo da FAU. Houve uma integração da dinâmica da
evento para o Brasil, com algumas contribuições nossas à sua conferência às atividades regulares da escola, numa convi-
estrutura, como a exigência do envio de trabalhos completos vência interessante e harmônica que facilitou a participação
a partir da seleção dos resumos, e a apresentação de pôsteres. de estudantes e professores e mostrou que a FAU tem vocação
A conferência sediada em Brasília recebeu 317 resumos, para acolher eventos deste porte e natureza.
sendo 24 de Portugal, 1 da Espanha e 292 do Brasil. Dos A conferência permitiu vislumbrar o estado da arte
resumos brasileiros, 33 vieram do Centro-Oeste, 143 do nas pesquisas sobre morfologia urbana nos países lusófonos,
Sudeste, 47 do Sul, 50 do Nordeste e 19 do Norte. Os estados principalmente Brasil e Portugal; abriu oportunidades para
de Roraima, Acre, Sergipe e Mato Grosso do Sul não se fizeram colaborações e intercâmbios, facultando que profissionais e
presentes. pesquisadores ampliassem sua rede de contatos; fomentou a
Foram selecionados 203 resumos para desenvolvi- divulgação e o debate de achados de pesquisas, enriquecendo
mento e apresentação, tendo sido recebidos 156 trabalhos o campo de conhecimento. O formato utilizado, reservando
completos, e 56 resumos para exposição em pôster, dos quais trinta minutos de discussão ao final de cada sessão, foi bastante
25 foram enviados. Entre membros da comunidade interna aproveitado, cumprindo-se o que talvez seja um dos maiores
e participantes externos, recebemos um público da ordem objetivos de momentos como esse: o debate e o confronto de
de 250 pessoas. ideias face a face. Avaliamos o evento como de excelência,
Com o tema “Configuração urbana e os desafios da produtivo e, acima de tudo, caloroso e agradável.
urbanidade”, o evento agregou trabalhos relacionados aos Agradeço àqueles que fizeram este evento não só
temas: 1. Transformações urbanas recentes – novos impactos, possível, mas um sucesso. Em especial ao prof. Frederico de
novos desafios; 2. Desigualdade socioespacial das cidades; 3. Holanda, aos estudantes, professores e funcionários direta-
Configuração urbana e patrimônio cultural; 4. O legado da mente envolvidos na organização, à direção da FAU e à CAPES.
cidade moderna; 5. A urbanização total: tendências para a

122 1/2015
Comissão Organizadora
Presidente: Gabriela de Souza Tenório
Membros: Ana Paula Gurgel, Camila Sant’Anna, Cláudia Garcia, Frederico de Holanda, Giuliana de Brito Sousa, Liza Andrade,
Valério Medeiros
Estudantes: Bárbara Veras, Camila Barbosa, Camila Correia, Caroline Machado, Douglas Duarte, Érika Tibúrcio, Guilherme
Reis, Gustavo Leonel, Graziela Mendes, Hudson Fernandes, Izabela Brettas, Kamila Venâncio, Karoline Cunha, Maíra Boratto,
Marina Ribeiro, Marlon dos Santos, Millena Montefusco, Natália Rios, Olivia Nasser, Vânia Loureiro
Servidores Técnico-adminstrativos: Adriana Farias, Lilían da Silva, Marcus Vinicius Oliveira, Raimunda Gonçalves, Soemes de
Sousa, Valmor Pazos
Professores coordenadores de Sessões Temáticas: Ana Elisabete Medeiros, Ana Paula Gurgel, Benny Schvarsberg, Caio
Frederico e Silva, Camila Sant’Anna, Carolina Pescatori, Cláudia Amorim, Cláudia Garcia, Cristiane Guinâncio, Eduardo
Pierrotti Rossetti, Elane Ribeiro Peixoto, Flaviana Barreto Lira, Frederico de Holanda, Gabriel Dorfman, Giselle Chalub Martins,
Giuliana de Brito Sousa, Leandro de Sousa Cruz, Liza Andrade, Luciana Saboia, Maria Cecília Grabriele, Maria do Carmo
Bezerra, Maria Fernanda Derntl, MaribelAliaga, Marta Romero, Monica Fiuza Gondim, Rodrigo de Faria, Rômulo Ribeiro,
Valério Medeiros
Comissão Científica
Presidente: Frederico de Holanda
Membros: Celene Monteiro, Cristiana Gris, Décio Rigatti, Edja Trigueiro, Eneida Mendonça, Jorge Correia, José Júlio Lima,
Karin Meneguetti, Liza Andrade, Luiz Amorim, Maurício Polidori, Miguel Bandeira, Monica Fiuza Gondim, Nuno Norte Pinto,
Renato Saboya, Stael Costa, Teresa Marat-Mendes, Thereza Carvalho, Valério Medeiros, Vinicius Netto, Vítor Oliveira

123
arqui #4

colóquio
Ilustração por Silvio Macedo

quapá-sel
múltiplos olhares sobre sistemas de
espaços livres e a constituição da forma
urbana contemporânea no brasil
The tenth edition of the QUAPÁ-SEL Colloquium ensured continuity of the research project “Free Space Systems and
Constitution of the Urban Contemporary Form in Brazil.” This edition emphasized the debate not only of themes related
to urban form and its morphologic characteristics and the agents responsible for it, but also the topic of the open space
system and its appropriation.

Silvio Macedo, Eugenio Queiroga, Camila Sant’ Anna, Sidney Carvalho,


Giuliana de Brito Sousa e Maria Alice Sampaio

124 1/2015
A FAU-UnB sediou, durante os dias 23 e 24 de junho de dos SELs, foi possível compreender como, nos diferentes casos
2015, a décima edição do Colóquio QUAPÁ SEL, que integra apresentados, funciona a utilização dos espaços livres públicos,
o projeto temático de pesquisa Sistemas de Espaços Livres e suas particularidades e características comuns.
a Constituição da Forma Urbana Contemporânea no Brasil, Por fim, a título de síntese, o prof. Silvio Macedo, coor-
desenvolvido pela Rede Nacional de Pesquisa QUAPÁ-SEL, denador do Laboratório QUAPÁ, apresentou algumas questões
coordenado pelo Laboratório QUAPÁ da FAUUSP. sobre o perfil da cidade brasileira, enfatizando o seguinte:
No Colóquio foram debatidos os resultados já obtidos que esta é ainda caracterizadamente horizontal, em geral
pela pesquisa da Rede QUAPÁ-SEL, visando ampliar o conhe- densamente construída; com um crescimento expressivo
cimento da realidade urbana brasileira com foco em seus da verticalização no século XXI, em geral espraiando-se por
sistemas de espaços livres de edificação – públicos e privados todo o tecido urbano; com um crescimento ora continuo, ora
–, estes sempre associados a sua estrutura morfológica e fragmentado, com vastas áreas ocupadas por loteamentos e
funcional. Nesta edição, foi dada ênfase ao debate de três condomínios fechados; com o aumento da conservação de
dos seguintes tópicos fundamentais sobre o assunto: forma manchas lineares de vegetação e de florestas intraurbanas em
urbana e cidade: características morfológicas; processos e virtude da legislação de proteção ambiental, criando áreas de
agentes produtores da forma urbana e do sistema de espaços estoque significativas para futuros parques; e ainda o aumento
livres (SELs); e apropriação do sistema de espaços livres (SELs). do número de parques urbanos em cidades cuja malha urbana
Essa divisão teve o objetivo de continuar a construir tende a se congestionar em função do aumento do número
coletivamente bases conceituais e metodológicas que contri- de veículos automotores, e a inadequação das suas malhas
buam para o avanço da pesquisa temática da Rede Nacional viárias para recebê-la, apesar de alguns investimentos de porte
QUAPÁ-SEL, fortalecendo o conhecimento da rede a respeito no setor. Finalmente, percebeu-se que, apesar das questões
das cidades brasileiras, suas características distintivas e suas latentes de segurança, o espaço livre público tende a ser cada
similaridades. No debate sobre a forma urbana, foi possível vez mais apropriado pela população.
avaliar como as cidades brasileiras apresentadas pelos diversos Tudo isso não seria possível sem a colaboração daqueles
participantes estruturam seus espaços livres, como se dá a que, de forma direta e indireta, contribuíram para que essa
distribuição geral dos espaços livres, e sua relação com as décima edição do Colóquio ocorresse. Assim, gostaríamos de
estruturas construídas. Como síntese, teve-se uma ideia agradecer, em especial, o apoio conferido pelos coordenadores,
consistente da forma das cidades, dos principais fatores de Silvio Macedo, Eugenio Queiroga, Giuliana de Brito Sousa,
alteração desta forma, de seus principais agentes produtores Maria Alice Sampaio, Sidney Vieira Carvalho, Yara Regina
e da especificidade de cada cidade. Foi alcançado consenso de Oliveira, Maria da Assunção Pereira Rodrigues e Camila
sobre a existência de um conjunto expressivo de elementos Sant´Anna, pelo professor coordenador de extensão, Caio
comuns e específicos tanto na distribuição, constituição e Frederico e Silva, e pelo professor diretor José Manoel Sánchez.
características de seus sistemas de espaços livres como em E também aos funcionários, particularmente, Soemes, Josué,
sua forma urbana. Adriana, Marcos, Raimunda, Júnior e Valmor, e aos alunos da
No debate sobre processos e agentes, foi possível avaliar UNIP e da UnB, que formaram a base de apoio logístico: Marla
como os diferentes cidadãos, organizados ou não em grupos de Mendes, Raíssa Diniz, Marla Leite, Gabriela Maria, Karoline
interesses, produzem e consumem o espaço urbano. Tal debate Soares, Nathália Porto, Nathália Cirqueira, Charles Cardoso
foi importante para avaliar as características de funcionamento Pereira, Maria Carolina Ribeiro e Julia Rabelo Rodrigues.
das cidades no que diz respeito àqueles envolvidos em sua
produção e utilização. Já no debate a respeito da apropriação

125
arqui #4

poder e
manipulação
primeiro simpósio internacional de estética
Power and Manipulation was the topic of the first International Esthetics Symposium organized by the Esthetics,
Hermeneutics, and Semiotics Nucleus (Núcleo de Estética, Hermenêutica e Semiótica - NEHS) . Flávio Kothe
(coordinator of NEHS, UnB), Marco Carmignani (National University of Cordoba, Argentina), Tiago Carvalho (Coimbra
University, Portugal), and Luciana Saboia (UnB) delivered addresses about means of legitimizing and auratizing power
through architecture, urbanism, and literature.

Flávio Kothe

O Núcleo de Estética, Hermenêutica e Semiótica realizou, no dia 15 de junho


de 2015, o seu primeiro Simpósio Internacional de Estética, Hermenêutica e Semi-
ótica, tendo por tema a relação entre “Poder e Manipulação”. Contando com a
colaboração de professores e estudantes do Brasil, de Portugal, da Espanha e da
Argentina, o Simpósio deverá se desdobrar num segundo encontro, previsto para
novembro deste ano. As palestras e os debates foram realizados no auditório da
Pós-Graduação da FAU-UnB.
Ao propor o simpósio, o Núcleo de Estética, Hermenêutica e Semiótica,
dentro do viés interdisciplinar que o caracteriza, almejava agregar pontos de vista
diversificados sobre as relações entre o poder e as formas de linguagem, para
examinar como os signos são manipulados para legitimar e auratizar o poder, mas
também como podem ser utilizados para dar voz ao que não interessa ao poder
que esteja vigente em certo meio e lugar. Signos podem ser textos literários ou
filosóficos, imagens em altares ou quadros, esculturas ou obras de arquitetura,
músicas ou danças, e assim por diante. Aqueles que se dispõem a fazer constru-
ções no espaço para perdurar no tempo não são inocentes ao propor formas aos
ambientes: funcionam como partes educadoras e são competentes para manobrar,
libertar ou aprisionar o potencial do pensamento. Há espaços impregnados de
vetores estéticos que determinam a formação do homem e da sociedade. Quanto
menos consciente se estiver da manipulação feita sob o manto da arte, maior tende
a ser a eficácia desses agentes do poder que são chamados de artistas. O próprio
conceito de arte se torna um problema.
A vice-diretora da FAU abriu os trabalhos, que pela manhã foram coorde-
nados pelo Dr. Júlio César, da Secretaria de Educação do DF. A palestra inaugural
foi proferida pelo coordenador do NEHS, o prof. Flávio Kothe, sob o ambíguo
título “A manipulação da arte”. Como sintoma do perfil do simpósio, citamos o
início da palestra:

126 1/2015
Divulgação NEHS

“Tanto as artes são manipuladas quanto servem para peça de Eurípides, o mito propõe que, nas núpcias de Alceste
manipular: elas são manipuladas porque servem para mani- com Admeto, o noivo desagrada a deusa Ártemis e é por
pular. Um modo seguro e eficaz de manipular através de uma ela condenada à morte. Apolo propõe que Admeto poderia
obra é promovê-la à arte: isso gera um temor reverencial, como se salvar se alguém se dispusesse a morrer por ele. Nem os
se fosse algo sagrado, que impede que se questione aquilo que pais nem outros se dispõem a fazer isso. Apenas Alceste se
através dela é dito e sugerido. O modo mais visível de mani- dispõe a morrer para salvá-lo. O professor Marco examinou
pulação pela arte é através da arquitetura e urbanismo. Insere o desdobramento desse tema em diversos textos romanos de
as pessoas dentro da obra, fazendo com que elas cumpram o diferentes séculos e regiões do Império Romano. Nos debates
seu traçado, condicionando o seu modo de existir e de ser, os que se sucederam, os presentes se concentraram no desdo-
percursos que fazem a cada dia, o modo como se acomodam, bramento desse mitema na figura de Cristo, que se dispõe
aquilo que elas enxergam e lhes é impregnado doutrinaria- a morrer para salvar todos os homens, e na peça Romeu e
mente. Nesse sentido, o urbanismo, que tem ficado fora do Julieta, de Shakespeare, em que cada um deles não vê mais
sistema das artes na tradição filosófica, expande e radicaliza sentido para sua existência com a morte da pessoa amada.
a questão presente na arquitetura. Na parte vespertina do Simpósio, Tiago Carvalho, que
Nem sempre, nem por todos, a arquitetura tem sido está fazendo seu doutorado na Universidade de Coimbra,
considerada arte. Aliás, há um consenso de que a maior parte falou sobre o topos da “educação do príncipe”, que é marcado
das obras arquitetônicas não é arte: apenas espaço construído. pela ambiguidade de voltar a educação para a formação da
A dificuldade não está em definir o espaço construído, mas elite aristocrática, mas poderia servir para a formação de
em conseguir discernir aquele que pode ter a pretensão de ser um homem melhor. A seguir, a professora Luciana Saboia,
arte. Nem tudo o que comparece como arte é efetivamente professora da FAU e integrante do NEHS, fez uma exposição
artístico, os cânones são constituídos de acordo com conve- sobre hermenêutica e arquitetura. Assim como já havia se
niências políticas e de época, mas aparecem como padrões dado pela manhã, após as apresentações houve intenso debate
universais.” entre os especialistas presentes.
Logo a seguir, o professor Marco Carmignani, da Univer- O NEHS agradece à Direção da FAU, à coordenação da
sidad Nacional de Córdoba, Argentina, especialista em latim Pós-Graduação e a todos os que colaboraram no evento. Opor-
e grego, trouxe à baila um tema da Antiguidade que se tornou tunamente será divulgado o desdobramento desse Simpósio.
central no cristianismo: Alceste. Partindo grandemente da

127
NA

DIA
arqui #4

intercâmbio em
sustentabilidade
Strengthening an exchange partnership in sustainability in civil construction, the University of Brasilia met with two
representatives from a British institute for technological research on buildings, the Building Research Establishment
(BRE). At the meeting between Peter Bonfield and Orivaldo Barros from BRE and the vice-president of the university,
Sônia Báo, and the researchers from the Laboratory of Constructed Environment, Inclusion, and Sustainability
(Laboratório do Ambiente Construído, Inclusão e Sustentabilidade [Lacis]) at FAU-UnB, the activities carried out by the
Excellence Center of the BRE were reviewed. The Center, located at Lacis, is focused on the development of innovation
models and paradigm changes with a view to the consolidation of sustainability standards in construction.

publicado em 12/03/2015

A Universidade de Brasília recebeu, de pesquisa fruto do convênio entre as padrões de sustentabilidade construtiva.
nesta quarta-feira (11), dois represen- instituições e sediado no próprio labo- A avaliação do convênio UnB-BRE
tantes da Building Research Establish- ratório da FAU. foi positiva de ambas as partes, e as insti-
ment (BRE), instituição britânica que é “Qualquer parceria é muito impor- tuições vão continuar compartilhando
referência na pesquisa tecnológica em tante para a Universidade, mas uma que conhecimento na área, inclusive com o
edificações. O chefe executivo da BRE, visa à sustentabilidade é fundamental, intercâmbio de pesquisadores da Univer-
Peter Bonfield, e o diretor internacional, porque trabalha a questão da inclusão sidade que irão trabalhar no centro de
Orivaldo Barros, se reuniram com a vice- ambiental e social de forma mais clara”, pesquisas britânico.
-reitora, Sônia Báo, e com pesquisadores avaliou a vice-reitora Sônia Báo. Segundo Nesta quinta-feira (12), os repre-
do Laboratório do Ambiente Construído, ela, a discussão do tema é obrigatória. sentantes das duas instituições reali-
Inclusão e Sustentabilidade (Lacis/UnB), “Vivemos uma situação, no mundo zaram um workshop na Câmara Brasi-
da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo inteiro, em que há de se buscar essa leira da Indústria da Construção (CBIC),
(FAU), que mantém parceria com a BRE saída; buscar melhorias para a sociedade buscando apoio para a implantação de
na área de sustentabilidade voltada à como um todo”, completou. um parque de inovações tecnológicas
construção civil. O Centro de Excelência tem como sustentáveis que será construído na
Durante o encontro, brasileiros foco o desenvolvimento, teste e demons- Faculdade UnB Gama.
e britânicos fizeram um balanço das tração de modelos de inovação e mudança
atividades realizadas pelo Centro de de paradigmas, de processos de produção, Reportagem de Lucas Mazzola
Excelência da BRE na UnB: Comuni- organizações, comunidades e centros Comunicação Lacis/UnB
dades Integradas Sustentáveis, núcleo urbanos, visando à consolidação de www.unb.br/noticias/unbagencia

130 1/2015
estudante de
arquitetura faz casa na
árvore na praça
As the cherry on the cake of her Graduation Project, Marília Tuler Veloso, a student of the School of Architecture of the
University of Brasilia, coordinated the construction of a tree house on a square in Guará. The project, an urbanistic
proposal based on the relationship between children and public space, culminated with this intervention. Neighborhood
dwellers and children had also aided and participated in the project throughout its development process.

publicado em 15/05/2015

Quem nunca pensou em ter uma no meio do ano passado e ainda não na estrutura local. Mas ela conversou com
casa na árvore quando criança? Marilia terminou. Além de a casinha ainda os pais das crianças que participavam do
Tuler Veloso, estudante do último ano precisar de algumas finalizações, meu processo e realizou e divulgou o projeto
de arquitetura da UnB, resolveu realizar projeto só acaba no meio desse ano”, em alguns comércios da área. “Muitos dos
o sonho infantil e construir uma casa na conta Marília. moradores acompanharam todo trabalho
árvore, como etapa do seu projeto de com as crianças”, conta a jovem.
conclusão de curso. O tema do projeto é ESCOLHA DO MATERIAL O mutirão contou com o suporte
relacionado à criança no espaço público e A escolha do material para a técnico de uma engenheira civil, que
propõe a intervenção urbana na rua onde execução da casa na árvore foi discutida orientou sobre as questões de segurança
fica a casinha, incluindo na metodologia em uma das atividades com as crianças. e a estrutura da obra. Para Marilia, o
a participação ativa das crianças. A turma decidiu usar materiais de fácil mais importante é entender como esse
Até há pouco tempo a estudante acesso, baixo custo e que permitisse processo tem o poder de cativar a popu-
morava na QE 46, a quadra escolhida para uma grande variedade de soluções. O lação, mostrar às pessoas que elas são
a sede da casinha. Ela e a orientadora, destaque foi para a madeira e o pneu já capazes de melhorar o lugar onde vivem.
Carolina Pescatori, escolheram a quadra descartado. A maior parte desse material Ela completa dizendo que usou meto-
por causa do acesso direto à comuni- foi doada por moradores e clientes de dologia de mutirão do Instituto Elos, de
dade, principalmente das crianças. E lojas da quadra, e Marília completou o Santos, SP, que realiza projetos em todo
o segundo motivo é a localização da pouco que estava faltando. o Brasil.
quadra, próximo de um dos acessos da A estudante garante que nem
cidade. “Posso dizer que a casinha na precisou pedir uma autorização formal
árvore foi só a ‘cereja do bolo’ de um da Administração Regional do Guará Jornal do Guará
longo processo. O trabalho começou porque a proposta era de não interferir www.jornaldoguara.com/rafael

131
arqui #4

estudantes e
professores da unb
discutem código de
edificações
A debate over the Brasilia Building Code, coordinated by the Department of Territory and Housing Management
(Secretaria de Gestão do Território e Habitação [SEGETH]) brought together FAU professors and students for debates
and lectures pointing to issues related to urban fragmentation and access to public space. Other issues included
contemplation of the building user in the Building Code, sustainability related to the environmental comfort of urban
space, mechanisms related to energy efficiency, and the market value of enterprises.

publicado em 23/06/2015

Estudantes e professores de arqui- O estabelecimento de padrões de Além da oficina na UnB, a Segeth


tetura da Universidade Brasília (UnB) eficiência energética foi o tema apresen- já promoveu debates com o Sindicato
conheceram as propostas que estão tado pela Profa. Dra. Cláudia Amorim. da Indústria da Construção Civil do DF,
sendo discutidas e que farão parte do Na ocasião ela mostrou um comparativo Associação de Empresas do Mercado
novo Código de Edificações de Brasília. mundial dos países em que o índice é Imobiliário do DF, Conselho de Arqui-
O debate coordenado pela Secretaria de usado para agregar ou subtrair valor de tetura e Urbanismo do DF, Conselho
Gestão do Território e Habitação (Segeth) mercado nos empreendimentos. Durante Regional de Engenharia e Agronomia
ocorreu no último dia 19. os debates, a Profa. Dra. Marta Romero do DF, OAB-DF.
O secretário da Segeth, Thiago de mostrou como as construções no centro
Andrade, e técnicos da pasta estiveram de Brasília, como Setor Bancário, têm GRUPO DE TRABALHO
no auditório da Faculdade de Arquitetura interferido no conforto ambiental dos A Comissão Permanente de Moni-
e Urbanismo da UnB, onde professores cidadãos com a criação do que ela toramento do Código de Edificações
apresentaram diferentes visões, fizeram chamou de “verdadeiras ilhas de calor”, constituída pela Segeth tem trabalhado
novos questionamentos e proposições interferindo no bem-estar da população. na elaboração da minuta para o novo
para o documento. Ainda durante os debates na UnB, projeto de lei do código e já realizou este
Com o tema “Impactos na paisagem os participantes se reuniram em dois ano duas reuniões ordinárias regimen-
urbana”, a Profa. Dra. Luciana Saboia grupos temáticos para auxiliar na redação tais, uma extraordinária, e ainda estão
refletiu sobre a construção histórica de novos dispositivos para a minuta do previstos novos encontros. Quando a
da paisagem de Brasília. Ela apontou o novo Código de Edificações, que está minuta for concluída, o texto será dispo-
surgimento de “ilhas” que se formaram sendo construída desde abril e que se nibilizado no site da Secretaria, para que
no entorno do plano, sem diálogo com o pretende encaminhar à Câmara Legisla- todos possam acessar e colaborar com a
espaço público, que seria um dos pres- tiva do DF ainda em agosto. Em um dos proposição desse importante instrumento
supostos do plano inicial da cidade. Já o debates, foram apresentadas sugestões urbanístico.
Prof. Dr. Frederico Flósculo questionou para que o código contemple questões
os limites do COE sobre a “vida civil” das ambientais e de sustentabilidade. No
construções, e advogou por um instru- outro grupo, discussões sobre aspectos Ascom, SEGETH - Secretaria de Estado
mento urbano que também contemple arquitetônicos e urbanísticos do novo de Gestão do Território e Habitação
aqueles que fazem uso das construções. código foram apresentadas. www.segeth.df.gov.br

132 1/2015
brasília pantone
What color is Brasilia? The Brasilia Pantone is a photographic record of the city’s different chromatic scales
carried out by two alumni, Gabriela Bílá and Marilia Alves.

publicado em 13/08/2015

Imagem por Gabriela Bílá

"Brasília tem o seu destaque. Na poderia ser interessante fazer um registro Quanto tempo vocês levaram para fazer
arte, na beleza e na arquitetura”, já dizia em forma de fotos e vídeos dessas escalas o projeto?
o samba-enredo Aquarela brasileira, tema de cor nas diferentes partes de Brasília”, Foi um projeto relâmpago, fizemos
da escola de samba carioca Império explica Gabriela. tudo em aproximadamente um mês. A
Serrano no carnaval de 1964. É exata- ideia agora é fazer mais projetos como
mente a união desses três elementos que TABELA DE CORES esse, como pílulas de ideias legais que
levaram as jovens Gabriela Bílá e Marilia Em uma das imagens, a dupla valorizam Brasília.
Alves, ambas estudantes de arquitetura compara os diferentes tons desde a
da UnB, a criarem o projeto Brasília Catedral Rainha da Paz, no Eixo Monu- Por que lançar em e-book e não em versão
Pantone, que será lançado em e-book e mental, até as muretas da Universidade impressa?
exposto em uma mostra fotográfica no de Brasília. A seca de Brasília também Por ser um projeto rápido, ficaria
sábado, às 16h, na BSB Memo (303 Norte). se tornou objeto de estudo da dupla, em inviável fazer uma versão impressa.
Essa é a segunda iniciativa de uma escala que tem desde o azul do céu Fazendo um e-book, as pessoas poderão
Gabriela Bílá com foco em Brasília. até o tom marrom que a grama adquire ter acesso ao conteúdo de forma abran-
Ela é autora do livro O novo guia de nesse período. “Por exemplo, uma foto do gente e gratuita. Para quem quiser levar
Brasília, um manual com dicas sobre o Parque da Cidade feita em dezembro terá algo físico da exposição, algumas fotos
funcionamento da cidade, como onde tons de verde mais azulados, enquanto impressas estarão à venda e uma caixinha
fazer turismo e apreciar as tradições uma feita agora, estará com mais tons de com postais de algumas das inúmeras
brasilienses. amarelos”, completa a arquiteta. cores de Brasília.
Já a proposta do Brasília Pantone
consiste em um registro de fotos e vídeos BRASÍLIA PANTONE Pra vocês, qual é a importância de trazer
das diferentes escalas cromáticas da Em 15 de agosto (sábado), às 16h, mais um projeto que valorize Brasília
cidade — sejam elas projetadas ou cons- na BSB Memo (303 Norte, Bl. A, Lj. 20). artisticamente?
truídas pelo acaso — e como as diferentes Lançamento do e-book Brasília Pantone, Acreditamos que todo projeto que
paletas de cores urbanas transformam a que estará disponível para download procure ter um olhar sensível sobre a
experiência de viver na capital federal. gratuito, e exposição de fotos de Gabriela cidade é importante para esse momento
“A ideia surgiu há alguns anos, quando Bílá, Marilia Alves e imagens selecio- de formação de uma identidade brasi-
comecei a reparar em como as cores da nadas em workshop. Com discotecagem liense. Quem ama a sua cidade está mais
cidade mudam de acordo com a estação dos DJs El Roquer, Ahmed e Rami. A propenso a preservá-la.
do ano. E essas diferenças influenciam entrada é franca.
diretamente nas nossas sensações ao Reportagem de Adriana Izel
vivenciar a cidade. Por isso, achei que TRÊS PERGUNTAS // GABRIELA BÍLÁ Correio Braziliense

133
arqui #4

thalija
Using the modernist city as a theme, Prof. Frederico Flósculo, from the School of Architecture and Urbanism, brought
out a book of fiction written like the comics. With the title Thalija, the name of the girl who is the main character, the
narrative travels throughout the spaces and characters of the city’s history, its past and present. “The student becomes
a technician ever less creative. I realized that, in all of my years of teaching, neither I nor my students were drawing
anything. Passion is left behind,” he regretted. The project was the professor’s way of taking up drawing again.

publicado em 15/07/2015

O professor de arquitetura da de Flósculo: Thaís, Lívia e Jaina. uma revista semestral também sobre
Universidade de Brasília (UnB) Frede- Segundo Flósculo, criar as ilustra- o tema brasiliense. “Ela vai mostrar os
rico Flósculo lançou um livro de ficção, ções não deu trabalho. “Nunca precisei quadros urbanos e vai ser totalmente
em formato de história em quadrinho, sentar [de forma forçada] para dese- dedicada à sátira, ao sarcasmo que é viver
que revisita os monumentos da capital, nhar. Sempre foi na fila do banco, na em Brasília”.
por meio de uma garota em dúvida se fila do avião”, diz. “Foi sempre num ócio Também crê na possibilidade de
seguirá ou não a carreira de arquiteta. criativo, num momento que não era de acrescentar uma aula de ateliê em histó-
Com a ajuda de ninguém menos trabalho”. rias em quadrinhos entre as disciplinas
que Lucio Costa, a menina descobre Aos 56 anos, o professor relata que do curso de arquitetura e urbanismo da
segredos sobre os traços de cartões- o interesse pelos rascunhos vem desde Universidade de Brasília (UnB) em até
-postais de Brasília, como o Palácio da criança. Na infância, ele foi expulso duas dois anos. Flósculo é professor da insti-
Alvorada e os Eixos Rodoviários. Na vezes de um colégio religioso por fazer tuição há 24 anos.
aventura, ela chega a se transformar em caricatura dos professores. Flósculo Ele diz ter percebido o desejo dos
um legítimo calango do cerrado, teste- compara os episódios à falta de incentivo estudantes no lançamento do livro, na
munhando até uma briga entre Dilma que ele encontra no meio universitário. quarta-feira passada (8). O professor
Rousseff e Barack Obama. “A arte não é valorizada nem na afirma que os estudantes comparti-
Após um ano e meio se debru- carreira docente. O padrão Capes [que lham a mesma paixão pelo desenho, mas
çando sobre os desenhos, o professor cria diretrizes do Ministério da Educação deixam de desenvolver o gosto ao longo
se considera satisfeito com o resultado da para nível superior] não valoriza as artes. do curso. “O aluno vira um técnico cada
publicação. “Comecei fazendo uma cari- O professor-artista é uma esquisitice a vez menos criativo. Em todos os anos em
catura da minha filha nas manifestações ser eliminada da equipe”, critica. que ensinei, percebi que nem eu nem
de 2013 e isso virou uma historiazinha mais os alunos estávamos desenhando
que levou a outra. Terminei criando uma PRÓXIMOS PLANOS nada. A paixão é abandonada”, conta.
personagem adolescente de Brasília que Mal concluído o quadrinho Thalija
amava a cidade e queria conhecer a alma – com tiragem de 500 exemplares a R$
do local”, diz. A decisão de chamar o 30 –, o professor já trabalha em outro Reportagem de Gabriel Luiz
livro Thalija se deve ao nome das filhas projeto. Desta vez, ele pretende criar g1.globo.com/distrito-federal

134 1/2015
Ilustrações do autor

135
arqui #4

pesquisa indica que


prédios do noroeste
podem consumir mais
energia
A master’s thesis defended at FAU-UnB compared energy consumption in residential buildings recently constructed in
the northwest of the Pilot Plan with that of the superblock buildings proposed in the city’s initial plan. The architecture
of the buildings in the Northwest may lead to a greater consumption of energy than that of the buildings erected in the
early years of the capital.

publicado em 19/05/2015

Foram dois anos de pesquisa para Sob orientação da professora CERTIFICAÇÃO


a arquiteta Ana Ceres Belmont concluir Claudia Amorim, a dissertaçãoEficiência Além de medidas para economia de
que a arquitetura dos prédios do Noroeste energética de edificações residenciais água, Ana Ceres explica que a pesquisa
– um dos mais novos bairros residen- em Brasília: uma comparação entre as considera fatores como iluminação e
ciais de Brasília – pode levar a um maior Superquadras do Plano Piloto e o Setor ventilação natural. Outros aspectos
consumo de energia se comparada com Noroestefoi defendida no ano passado na observados são consumo de energia pelo
aquela construída nos primeiros anos Faculdade de Arquitetura e Urbanismo sistema de iluminação e por aparelhos
da capital. da Universidade de Brasília. de ar condicionado.
“Mesmo com a promessa de serem O trabalho, segundo a autora, “As edificações foram analisadas
sustentáveis, o que a gente viu foi que compara prédios residenciais do Noroeste segundo normas criadas em 2011. Até
os edifícios mais novos são menos com os das Superquadras do Plano Piloto.   então, apenas era avaliada a eficiência
eficientes”, diz a pesquisadora. Para Ana Ceres, a questão da efici- de eletrodomésticos”, diz a pesquisadora,
Entre os motivos, ela cita as ência energética não recebe a atenção em referência ao Selo Procel Edifica.
fachadas dos prédios e a divisão dos que deveria na hora de construir, mesmo
espaços internos. “Eles têm muito vidro com as recorrentes crises no setor.
e reúnem 4 a 6 apartamentos por andar. “A análise técnica pode mostrar
Por não serem vazados – com janelas dos como é possível economizar energia
dois lados –, os apartamentos perdem nas edificações sem perda do conforto Reportagem de Erika Suzuki
ventilação e iluminação natural.” ambiental”, destaca. Secretaria de Comunicação da UnB

136 1/2015
ruínas de uma loucura
Part of a research project aiming at mapping and systematizing information about the more than 200 new cities planned
and designed in the country in the last 120 years, the article “Operação Bananal, do domínio territorial ao balneário
esquecido de Brasília,” (“Bananal Operation, from territorial dominance to the forgotten water resort of Brasilia”) was
written by Prof. Ricardo Trevisan with the students Júlia Solléro, Caroline Nogueira, and Natália Bomtempo.

publicado em 07/05/2015

Das memórias de Juscelino sobre teira ocidental. Para que esse alvo fosse Composto de dezoito apartamentos
seus feitos memoráveis, sempre brotam atingido, seria necessário transformar com banheiras, ar-condicionado e escri-
referências entusiasmadas a certo empre- a ilha em parque nacional.” Juscelino tório privativo, o hotel tinha serviço de
endimento na Ilha do Bananal. Nunca queria fazer do lugar um logradouro talheres de prata e taças de cristal e louça
entendi, nem me dei ao trabalho de turístico. Para isso, teria de ocupar com o emblema JK-Ilha do Bananal. Há
pesquisar, do que se tratava. Até que um terras indígenas, o que ele considerava delas no Memorial JK. Contam os arqui-
grupo de arquitetos de Brasília (Ricardo positivo: “[…] levando em conta as primi- tetos que o Hotel JK ofereceu “jantares
Trevisan, Júlia Solléro de Paula, Caroline tivas condições de vida na região, resolvi, gloriosos, recepções, pescarias e caçadas
Cavalcante Nogueira Barreto e Natália simultaneamente, incorporar os índios feitas pela elite política do país e pelos
Bomtempo Magaldi) corrigiu a minha que ali habitavam à civilização brasi- chefes de Estado que visitavam o Brasil,
ignorância. leira, criando, para eles, serviços locais dentre eles os líderes da Rússia, da Itália,
Não haviam se passado nem de assistência imediata”. e de países vizinhos da América do Sul”.
quinze dias da inauguração de Brasília Uma pista de pouso foi cons- Com o fim do governo Juscelino,
e Juscelino já apontava a flecha do desejo truída ao ritmo Brasília. Oscar Niemeyer a eleição de Jânio e o golpe de 1964, o
para outra geografia: a Ilha do Bananal. projetou o Alvoradinha, residência projeto foi abandonado. Um hospital
Tal qual aconteceu na transferência presidencial de veraneio desenhada nos construído serviu por algum tempo aos
da capital, JK aproveitou a oportuni- moldes do Catetinho. Cinco semanas Karajás. Na ditadura, o hotel foi demo-
dade. Sabia que, nos anos 1940, Getúlio depois do anúncio do início das cons- lido. O que restou do Alvoradinha foi
havia empreendido um movimento de truções, Juscelino inaugurou o “rancho destruído num incêndio em 1990.
ocupação da maior ilha fluvial do mundo. pioneiro”, obra sobre pilotis. O fracasso do projeto teve um
Visitou os índios Karajás, donos da terra, Alguns meses mais tarde, foi inau- resultado positivo: o lugar foi transfor-
e ensaiou a construção de uma base gurado o Hotel JK, volume único suspenso mado em Parque Indígena do Araguaia.
militar. Não deu em nada. sobre colunas “com janelas debruçadas
Juscelino pegou o passarinho no sobre o (rio) Araguaia”, como escrevem os
voo e começou a construir mais um ninho autores do estudo denominado “Operação
de passinheiras utopias. “Tratava-se de Bananal: do domínio territorial ao balne- Blog da Conceição - Crônicas da Cidade
um impulso a mais na direção da fron- ário esquecido de Brasília”. Correio Braziliense

137
NA
RUA
arqui #4

pé na estrada
Based on the assumption that architecture should be experienced, the Hit the Road project (Programa Pé na Estrada)
was created in 2010 in order to take the students and professors from the school on field trips to Brazilian cities.
Besides previous lectures on the destinations, the trip encompassed guided tours, conversations with guests, activities
related to photo production, drawing, and writing, as well as urban intervention proposals. Back in Brasilia, an exhibition
and a manual of the cities which were visited were organized from the travelers’ standpoint.

Ana Paula Gurgel, Bárbara Gomes, Bárbara Morais, Brenda Oliveira,


Brenda Pamplona, Camila Sant’Anna, Frederico Maranhão, Isabella Rodrigues,
Maria Cecília Gabriele e Marina Rebelo

Partindo da premissa de que arquitetura precisa ser vivenciada além de ser


estudada em sala de aula ou pelas imagens dos livros, surgiu o projeto de extensão
Pé na estrada, a fim de levar a realidade das cidades brasileiras ao conhecimento
dos alunos de Arquitetura e Urbanismo, e ampliar seus repertórios com viagens.
O Projeto Pé na Estrada foi criado em 2010 pela professora Elane Ribeiro Peixoto
e “apadrinhado” pelo professor Ricardo Trevisan, com o intuito de visitar Goiânia.
Em 2013, o projeto foi retomado por alunos da graduação e teve como destino
Curitiba. O principal foco do programa e das viagens são estudos que permeiem a
questão urbana e arquitetônica para alunos a partir do 4º semestre da FAU-UnB.
Nesse sentido, viajar proporciona ao aluno uma experiência prática, revigorando
seu senso crítico acerca da produção arquitetônica, urbanística e paisagística, além
também da preocupação com as ações de preservação da memória das cidades
brasileiras.
O PROJETO É DIVIDIDO EM TRÊS FASES:
1. Os professores que acompanharão o grupo ministram uma aula expositiva antes
da viagem, fornecendo aos alunos uma preparação sobre o destino.
2. A viagem tem um roteiro pré-definido e cada professor fica responsável por
conduzir o grupo em alguns pontos específicos do roteiro, que pode incluir convi-
dados. São realizados também os Momentos Pé na Estrada, que consistem em uma
série de atividades e produções em momentos específicos da viagem, podendo
incluir desenhos urbanos, fotografias, propostas de intervenções urbanas etc.
3. Realização da exposição e elaboração do Manual da cidade visitada com um
olhar arquitetônico.

penaestradafaunb.wix.com/penaestrada
www.facebook.com/penaestrada.faunb
www.youtube.com/user/penaestrada.faunb
penaestrada.faunb@gmail.com
instagram @penaestrada.faunb
FAU-UnB - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - UnB
Campus Darcy Ribeiro - ICC Ala Norte, Sala 27 – Subsolo (ASS-477)
Brasília/DF - CEP:70.910-900

140 1/2015
Foto por Bárbara Gomes.

pé em mg
um pé na cidade como prática de ensino
The third edition of Hit the Road took the students to towns in the state of Minas Gerais. The choice of towns hinged on the
fact that they were, surprisingly, little explored by the students and that they also enabled encounters with varied and rich
landscapes and urban scenarios. The visit to the botanical garden and contemporary art center at the Inhotim Institute
was followed by a visit to the steep gradients of the colonial towns of Ouro Preto (UNESCO World Heritage) and Mariana,
and , finally, to the capital of the state, Belo Horizonte, with its relevant exemplars of modern and postmodern architecture.

Em sua terceira edição, optou-se por cidades de Minas Gerais, por se tratar
de um estado pouco explorado, inesperadamente, pela maior parte dos alunos.
Visitamos o Instituto Inhotim em Brumadinho e as cidades tombadas de Ouro
Preto, Mariana e Belo Horizonte. A colaboração das professoras- coordenadoras
Ana Paula Gurgel, Camila Sant’Anna e Maria Cecília Gabriele preconizava as
seguintes contribuições: auxílio na elaboração do roteiro da viagem juntamente
com os alunos da organização do projeto, aula introdutória sobre os locais de
destino, acompanhamento dos alunos participantes ao longo da viagem didática
e a contribuição no desenvolvimento da exposição.
A inclusão da visita ao Inhotim explora um parque-museu de 110 hectares,
incluindo o jardim botânico e o centro de arte contemporânea. O maior centro de
arte contemporânea a céu aberto da América Latina cria um diálogo com o entorno
composto por uma reserva particular do Patrimônio Natural de 145 hectares. O
percurso da viagem possibilitou a fruição estética de um espaço completamente
dedicado às artes. As galerias foram construídas para abrigar as obras dos artistas,
mas possuem uma sinergia importante com o paisagismo. A vivência de espaços
como estes ajuda a aguçar o olhar, bem como os sentidos de quem pretende intervir
na paisagem dos lugares. Passear por entre as galerias permite também apreciar

141
arqui #4

Foto por Lucas Feijão.

um panorama da arquitetura contem- como são chamadas pelos habitantes, para a cidade real, que existe além do
porânea brasileira. Os jardins, a arqui- vivenciando em seu traçado sinuoso um cartão postal, e para as dificuldades que
tetura e as obras de arte que compõem pouco das inspirações medievais e árabes os moradores têm para se apropriar de
o ambiente, suas diferentes linguagens do urbanismo colonial português. seu próprio patrimônio e preservá-lo.
e a imersão total no Instituto Inhotim, Em sua paisagem montanhosa são Na Praça Tiradentes ocorreu o
foram registradas no primeiro Momento marcantes as igrejas, que se escondiam segundo Momento do Pé na Estrada.
Pé na Estrada, em que os alunos expres- por vezes por trás de uma leve bruma. A Neste antigo espaço administrativo da
saram e registraram sua interpretação variedade de formas e a linguagem arqui- Vila limitado pela antiga Casa de Câmara
da experiência vivenciada através de tetônica das igrejas demonstram ainda e Cadeia (atual Museu da Inconfidência)
fotografias. a profusão de características intrínsecas e pelo Palácio dos Governadores (atual
A paisagem colonial das cidades ao Barroco mineiro, que o distingue das Museu de Ciência e Técnica da Escola
de Ouro Preto e Mariana é marcada pelo demais expressões do estilo no mundo, de Minas/UFOP) os alunos puderam,
jogo estabelecido entre a forma homo- numa cidade comandada por ordens e por meio de desenhos, registrar suas
gênea da arquitetura colonial, com suas irmandades religiosas. Visitaram-se impressões do lugar.
ruas estreitas e o contraste com as ocupa- diversas obras, cujos destaques são os Em seguida, tomamos um trem
ções de seu entorno. Ouro Preto é um trabalhos de cantaria em pedra-sabão e maria-fumaça, para visitar Mariana,
dos sítios coloniais mais preservados do os douramentos dos altares, que demons- cidade vizinha e antiga capital de Minas
Brasil, considerado monumento nacional tram a riqueza que existia naquela região durante o século XVIII. Durante o trajeto
em 1938 e o primeiro sítio brasileiro a na época da mineração. bucólico, pode-se observar a paisagem
ter o título de Patrimônio Mundial da Os desafios da preservação foram tomada por uma exuberante vegetação
UNESCO em 1980. Sua ocupação remonta expostos nas palestras de Simone que emoldurava uma bela cachoeira. Em
aos arraiais de mineração do século XVIII, Monteiro, historiadora do Escritório Mariana, muito mais fortemente do que
sendo hoje um local de turismo e uma Técnico do IPHAN e do professor da em Ouro Preto, foi possível perceber
cidade universitária. Durante a viagem Faculdade de Turismo da UFOP, Juca diversos estilos arquitetônicos além do
andamos por suas ladeiras, ou pirambas Vilaschi. Estas palestras abriram os olhos colonial, incluindo a linguagem eclética

142 1/2015
da estação ferroviária até o pós-moderno doze espaços e equipamentos de inte- viajantes a possibilidade de expor seus
da casa do Arcebispo. Trata-se de um resse cultural. pontos de vistas e ressignificar sua
projeto do arquiteto Éolo Maia que se Ao visitar o conjunto arquitetô- compreensão de mundo a partir do olhar
insere bem na paisagem da praça. nico da Pampulha foi possível perceber dos demais participantes. A viagem esta-
Por fim, foi-se a Belo Horizonte. as confluências do movimento moder- beleceu também um maior diálogo entre
Sua paisagem cultural é marcada pela nista brasileiro com a arquitetura colo- o conteúdo discutido em sala de aula e
imposição da forma de geometria regular nial, como uso extensivo de azulejos, o mundo, dando ênfase à importância
sobre as características morfológicas nas tradicionais cores de branco e azul, da atuação do arquiteto na construção
onduladas da Serra do Curral. A cidade além da preocupação com a adequação de uma cidade, em que todos tenham
foi projetada pelo engenheiro Aarão Reis, climática pelo uso dos cobogós, uma direito a um espaço mais justo.
entre 1894 e 1897, como nova sede admi- nova reinterpretação dos muxarabis. No O material produzido durante a
nistrativa de Minas em finais do século complexo da Pampulha observou-se a viagem pôde ser apreciado durante a
XIX, refletindo os ideais de embeleza- grande inventividade da obra de Oscar ExpoMG - Pé na Estrada, realizada entre
mento e higienismo. Visitamos a Praça Niemeyer: o Cassino tem influência de 22 de junho e 26 de junho na FAU, sob
da Liberdade, a partir de onde é possível Le Corbusier, a Igreja com inspiração a coordenação da professora Ana Suely
apreciar edifícios de diversos estilos barroca alia as técnicas construtivas do Zerbini. O projeto vivencia agora um
do século XX como: ecléticos – Centro concreto armado, e a Casa do Baile faz processo de institucionalização e de
Cultural do Banco do Brasil; modernistas uma alusão à brasilidade carioca, carna- aquisição de novas vertentes, como o
– Edifício Niemeyer; pós-modernistas valesca, em suas marquises curvas. Esse Pé na Esquina e o Pé com Pé, sem perder
– Rainha da Sucata e contemporâneos – conjunto foi o responsável pela transfor- de vista a próxima edição, que será no Rio
intervenção do Paulo Mendes da Rocha mação da imagem da arquitetura brasi- de Janeiro, com as professoras Monica
no Museu de Minas e Metal. A paisagem leira no mundo e por isso a Pampulha foi Fiuza Gondim, Luciana Saboia e Gabriela
da praça foi transformada, perdendo o escolhida como local para realização do de Souza Tenório. Venha juntar o seu pé
uso político-institucional, para se tornar terceiro Momento Pé na Estrada. com o nosso!
num potente complexo ambiente com Essa experiência permitiu aos

143
arqui #4

Foto por Bruno Castro.

pé na esquina
bsb monumental
As a development of the Hit the Road project, the Hit the Block project (Programa Pé na Esquina) aims at prompting the
students to experience spaces within the Federal District itself. With a walking tour of the Monumental Scale in Brasilia
launching the project, it was possible to instigate the participants’ desire to look around and to arouse their curiosity, also
fueled by dialogues between Eduardo Pierrotti Rossetti, the professor and mediator, and the students as they discussed
spatial, constructive, historical, and patrimonial issues of the Pilot Project.

Eduardo Pierrotti Rossetti

Dia 23 de maio, um sábado enso- discutir as múltiplas complexidades da mento, num diálogo dinâmico, franco
larado, o Pé na Estrada da FAU-UnB cidade-capital, pensando in loco sobre e prazeroso com os alunos. À primeira
realizou a primeira edição do Pé na questões de arquitetura e urbanismo. vista, aquilo que poderia parecer óbvio
Esquina. Trata-se de um dos desdobra- Ao longo de cinco horas – diante de trouxe surpresas. Ao se enfrentar a
mentos das atividades deste núcleo, um roteiro aparentemente elementar que Escala Monumental com percursos a pé,
realizando itinerários, percorrendo ou partia da Plataforma Rodoviária, passava foi possível instigar o olhar e a curiosi-
experimentando espaços que estejam, no pelo Conjunto Nacional, CONIC, Touring dade dos alunos, contribuindo para seu
máximo, dentro dos limites do próprio Club e incluía os espaços públicos da processo de formação e revigorando o
Distrito Federal. Este Pé na Esquina Esplanada dos Ministérios até a Praça interesse pela cidade.
BSB Monumental foi o primeiro de dos Três Poderes – foi possível explorar Como resultado, aqui está uma
uma série voltada para o Plano Piloto de seus espaços e discutir questões espa- pequena seleção das fotografias feitas
Brasília, que inclui ainda os roteiros: BSB ciais, aspectos construtivos, soluções do pelos alunos participantes. As demais
Gregária, BSB Residencial e BSB Bucólica. desenho urbano, questões da história fotos podem ser visualizadas no site do
Este conjunto de itinerários possibilita da cidade, da arquitetura e seu tomba- Pé na Estrada.

144 1/2015
pé com pé
ciclo de palestras
The first edition of Hit the Road with Hit the Block project resulted from the desire to consolidate the ties established on the
Hit the Road trips and to generate an exchange of ideas with other institutes. On that occasion, 150 students and professors
gathered for a series of lectures presented by professors Juca Villaschi, from Ouro Preto, and Frederico de Holanda and Ana
Paula Gurgel, from the University of Brasilia. The theme was The Real City x the Heritage City.

Bárbara Gomes, Bárbara Morais, Brenda Oliveira, Brenda Pamplona,


Frederico Maranhão, Isabella Rodrigues, Marina Rebelo

A primeira edição do Pé com Pé surgiu em função da terceira edição do Pé na


Estrada em Minas Gerais, quando tivemos o primeiro contato com o professor Juca
Villaschi. Em Ouro Preto o professor fez uma palestra sobre suas questões atuais e
deste encontro surgiu o convite para participar da primeira edição do Pé com Pé.
Isso possibilitou abrir a mais nova vertente do Pé na Estrada, com o intuito de gerar
uma rede de troca de conhecimentos e ideias com outras instituições, através de
palestras e outros eventos. Em 28 de maio foi inaugurado o Pé direito, contando
com a presença de mais de 150 participantes, entre eles alunos e professores de
arquitetura e turismo, assim como profissionais das áreas e professores da Secre-
taria de Educação. O tema dessa edição foi Cidade Real x Cidade Tombada. Além
do professor Juca Villaschi, contamos também com as presenças da professora
Ana Paula Gurgel e do professor Frederico de Holanda.
Esperamos continuar colocando o Pé com Pé e assim compartilhar mais
conhecimento!

AGRADECIMENTOS DO PÉ NA ESTRADA

Tudo isso não seria possível sem a colaboração daqueles que, de forma direta
ou indireta, colaboram para que o Pé na Estrada tome pé e prossiga seus cami-
nhos. Agradecemos o apoio das professoras coordenadoras da viagem, Ana Paula
Gurgel, Camila Sant’Anna e Maria Cecília Gabriele; aos palestrantes Juca Villaschi
e Simone Monteiro; ao professor coordenador de extensão Caio Frederico e Silva,
ao diretor José Manoel Sanchez, à professora coordenadora da exposição Ana Suely
Zerbini; ao professor Eduardo Pierrotti Rossetti, que coordenou o Pé na Esquina,
e a todos os funcionários, especialmente Soemes Barbosa.

145
GA
LE
RIA
arqui #4

26ª festa da
arquitetura

Fotos de Natália Castanho

148 1/2015
Kildery Reis, homenagem da fotógrafa.
arqui #4

brasília
pantone

Gabriela Bílá e Marilia Alves

Qual a cor de Brasília?


O projeto Brasília Pantone é um registro fotográfico
das diferentes escalas cromáticas da cidade (projetadas
ou construídas pelo acaso), que investiga como a paleta
de cores urbana transforma nossa experiência de viver
em Brasília.
Esta é uma seleção de pontos coloridos espalhados
por diferentes áreas e objetos urbanos de Brasília, com
seus correspondentes códigos no sistema de padronização
PANTONE. Todas as cores retratadas são emolduradas pela
paleta-base brasiliense: o azul celeste e o verde das árvores.
Este trabalho foi desenvolvido pela então aluna
Gabriela Bílá (concepção e projeto gráfico) e pela arquiteta
Marilia Alves (fotografia), sendo apresentado em exposição download do e-book
na galeria da BSB Memo e em livro digital. issuu.com/onovoguiadebrasilia

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Vermelho Barro

1665 C
Cinza Asfalto

424 C
PANTONE

383 C
HO
MENA
GEM
lago
This edition of ARQUI, which celebrates the Paranoá lake, renders also an homage to the urban
ensemble of Brasília, a world heritage site, and to the enchanting skies of central Brazil, that can now
be better admired from the public waterfront of the great mirrored surface of water, mythically leveled at
1000 meters of altitude.

O Lago Paranoá é um grande espelho colocado à ocupação pela população que busca desfrutar, na
artificialmente no Planalto Central cuja orla, nas cidade imaginada por Lucio Costa, do seu trecho que
palavras de Lucio Costa no Relatório do Plano Piloto deveria ser mais bucólico.
de Brasília, deveria ser “preservada intacta, tratada Porém, as cercas começaram a cair e o sonho
com bosques e campos de feição naturalista e rústica de uma orla pública pode estar mais próximo de ser
para os passeios e amenidades bucólicas de toda a realidade. Há algo de simbólico na desobstrução da orla.
população urbana”. Livre, a orla criaria a possibili- Em uma cidade em que trator só era visto derrubando
dade de reflexão e preservação do vazio necessária construções irregulares nos redutos da população mais
para contemplação da obra arquitetônica da cidade, empobrecida, a devolução da área nobre (invadida
característica compositiva tão cara aos modernistas. pelos ricos) à coletividade é uma ponta de esperança
Infortunadamente, apesar de estar em local de que a cidade será para todos.
central da metrópole, o lago é paisagem distante, pouco Esta edição, que celebra o Lago Paranoá, também
presente na vida da maioria da população metropo- homenageia o conjunto urbanístico, patrimônio da
litana que cresce às margens de sua bacia hidrográ- humanidade, e o deslumbrante céu do Brasil central
fica. As grandes distâncias do urbanismo moderno, que, com a orla pública, poderão ser melhor aprovei-
ao lado de uma lógica urbana que beneficia os mais tado no grande espelho d’água nivelado miticamente
ricos, transporte público deficitário e o descaso dos na altitude de mil metros.
governantes, tornou o lago espaço de lazer pouco
inserido no cotidiano dos brasilienses. Raros são os Texto de Luiz Eduardo Sarmento
pontos públicos da orla que não foram invadidos e Imagens das seções elaboradas por Ana Rein a partir
que apresentam equipamentos públicos necessários de fotos originais do Arquivo Brasília e do CEDOC/UnB
relatório de glaziou
“[...] A todas essas riquezas offere-
cidas ao homem laborioso, n’esse centro
do Planalto, juntam-se mais os recursos e
a vantagem que lhe proporcionarão ainda
abundantes aguas piscosas. Entre os dous
grandes chapadões, conhecidos na loca-
lidade pelos nomes de Gama e Parnaua,
existe imensa planicie em parte sujeita a
ser coberta pelas aguas da estação chuvosa;
outr’ora era um lago devido à juncção de
differentes cursos d’água formando o Rio
Parnaua; o excedente d’esse lago atraves-
sando uma depressão do chapadão acabou,
com o carrear dos saibros e mesmo das
pedras grossas, por abrir n’esse ponto uma
brecha funda, de paredes quasi verticaes,
pela qual precipitam-se hoje todas as aguas
d’essas alturas. É fácil compreender que,
fechando essa brecha com uma obra de arte
(dique ou tapagem provida de chapeletas
e cujo comprimento não exceda 500 a 600
metros, nem a elevação 20 a 25 metros),
forçosamente, a agua tornará ao seu logar
primitivo, e formará um lago navegavel em
todos os sentidos n’um comprimento de 20 a
25 kilometros sobre uma largura de 16 a 18.
Além da utilidade da navegação, a
abundancia do peixe, que não é de somenos
importancia, o cunho de aformoseamento
que essas bellas aguas correntes haviam
de dar à nova Capital, despertariam certa-
mente a admiração de todas as nações.
Como exemplo e ponto de comparação,
lembrarei a formosa bahia de Botafogo,
no Rio de Janeiro, o lago de Genebra, na
Suissa, que dá vida e frescura a essa grande
cidade; o mesmo se daria com o valle do
Rio Torto e do Gama, quando transformado
em lago. A vista panorâmica das collinas
circunvizinhas, posto que já de incompa-
ravel esplendor no seu raio de 30 kilome-
tros, sem a menor interrupção, prendendo
no mesmo logar o espectador maravilhado,
mais majestosa ainda se tornaria com tão
grande lençol d’água banhando-lhes a base,
vivificando todos os contornos e deleitando Fonte: Notícia sobre Botanica Applicada pelo
a vista. Accresce a isso a parte industrial Dr. A. Glaziou. In: COMISSÃO DE ESTUDOS DA
aproveitada, infallivelmente, pelos homens NOVA CAPITAL DA UNIÃO. Relatório parcial
intelligentes, quer quanto a iluminação apresentado ao Exm. Sr. Dr. Antônio Olyntho dos
electrica da cidade, quer quanto a mil outros Santos Pires. Rio de Janeiro: C. Schmidt, 1896.
interesses relativos à força motora.” F. 3-F.13.
brasília: olhai pro céu, olhai pro lago
“[...] olhe para o céu de Brasília, ele é espetacular! Muito se fala sobre a privatização do Paranoá. Apesar
Apanágio de uma geografia única, de fato o céu do da versão ingênua que coloca toda a culpa na ganância
Planalto Central é espetacular! Contudo, será que basta da especulação imobiliária, tal privatização é antiga. É
ficar olhando para as nuvens, contemplando alvoreceres fruto da implantação de bairros residenciais que reser-
ou fotografando o pôr-do-sol? varam as melhores localizações para as camadas mais
abastadas da população, nos quais a Novacap concedia
[...] É possível garantir a todos o desfrute desse firma- gratuitamente lotes para ministros, senadores, deputados
mento esplendoroso que as fadas madrinhas outorgaram e servidores públicos do alto escalão. E está concretizada
a Brasília? Há locais privilegiados para se curtir o céu no seu próprio traçado viário e parcelamento do solo,
de Brasília? E, muito importante do ponto de políticas criando lotes à beira-lago e neles permitindo edificações
urbanas, há como garantir a proteção das condições particulares. A previsão de estreitos corredores de acesso
particulares que tornam tais locais especialmente aptos a ao espelho d’água e de faixas non-aedificanti nos terrenos
garantir o prazer de comungarmos com o céu de Brasília? fronteiriços são meros recursos de retórica para camuflar a
Sim, é possível tombar o céu de Brasília. Nosso encontro apropriação indébita iniciada ainda antes da inauguração
com ele alcança sua plenitude às margens do Lago da cidade. [...]
Paranoá. Arriscando-se a fazer má poesia, o céu brasiliense
adora dar um mergulho no Paranoá.
A orla do Paranoá clama por cultura e lazer! Já existem uns
poucos exemplos para nos servir de inspiração. Veja-se a
prainha da Asa Sul, o piscinão do Lago Norte, o calçadão
da Asa Norte. Ou o pontão do Lago Sul; descontado seu
malfadado pastiche de arco do triunfo, lá se encontra
um excelente ambiente para se apreciar o firmamento
brasiliense. Sempre apinhados, estes locais são realmente
públicos e favoráveis à nossa fragilizada escala gregária.
Recebem democraticamente as mais diversas tribos, ao
mesmo tempo em que dão uma lição de como investi-
mentos tão baixos podem resultar em apropriação tão
intensa! Estão pedindo apenas um pouco de carinho das
autoridades. Ou seja: menos poluição das águas e mais
equipamentos, mais paisagismo, mais segurança e mais
acesso, seja por linhas de ônibus ou de barcos.”

Trecho de
Brasília: olhai pro céu, olhai pro chão
Sylvia Ficher e Eduardo Pierrotti Rossetti

Publicado no jornal Correio Braziliense em Maio de 2014


as águas do paranoá
não correm para o mar
viram nuvens
e ficam paradas no ar
Nicolas Behr
A772 Arqui / José Manoel Morales Sánchez, editor ; Maria Fernanda Derntl,
editora executiva. – n. 4 (dez. 2015). – Brasília : Universidade de
Brasília, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 2015.
172 p. ; 30 cm.

Semestral

ISSN 2358-5900

1. Arquitetura. 2. Urbanismo I. Morales Sánchez, José Manoel (ed.).


II. Derntl, Maria Fernanda (ed.).

CDU 72:911.375.5(05)
Universidade de Brasília

Reitor: Ivan Marques de Toledo Camargo


Vice-reitora: Sonia Báo
Decana de extensão: Thérèse Hofmann Gatti Rodrigues da Costa

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB

Diretor: José Manoel Morales Sánchez


Vice-diretora: Luciana Saboia Fonseca Cruz
Coordenador de pós-graduação: Marcos Thadeu Queiroz Magalhães

ARQUI é uma publicação semestral da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – UnB

EDITOR – José Manoel Morales Sánchez


EDITORA EXECUTIVA – Maria Fernanda Derntl
CONSELHO EDITORIAL – Andrey Rosenthal Schlee, Benny Schvarsberg, Cláudio José
Pinheiro Villar Queiroz, Elane Ribeiro Peixoto e Luiz Alberto Gouvêa
EQUIPE EDITORIAL DA REVISTA – Ana Rein, Caio Frederico e Silva, Eduardo Pierrotti
Rossetti (Coordenação de Ensaio Teórico), Gabriela Bílá, José Manoel Morales
Sánchez, Luiz Eduardo Sarmento, Maria Fernanda Derntl e Paola Caliari Ferrari Martins
(Coordenação de Diplomação)
COORDENAÇÃO EDITORIAL – Maria Fernanda Derntl
COMISSÃO DE DIPLOMAÇÃO – Bruno Capanema, Cláudia da Conceição Garcia,
Luciana Saboia Fonseca Cruz, Paola Caliari Ferrari Martins
COMISSÃO DE ENSAIO TEÓRICO – Cláudia da Conceição Garcia, Maria Cecília
Gabriele e Eduardo Pierrotti Rossetti
PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO – Gabriela Bílá (O Novo Estúdio de Brasília) e
Luiz Eduardo Sarmento
REVISÃO EDITORIAL – Ana Rein
REVISÃO ORTOGRÁFICA – Sueli Dunck
TRADUÇÃO INGLÊS – Maria Luisa Flynn

REFERÊNCIA IMAGENS DA CAPA E SEÇÕES


Imagens extraídas do livro KIM, Lina; WESELY, Michael. Arquivo Brasília. São Paulo:
Cosac Naify, 2010.
pág. 03: CEDOC/UnB
pág. 09: CEDOC/UnB (fotógrafo desconhecido)
pág. 33: CEDOC/UnB (fotógrafo desconhecido)
pág. 161: CEDOC/UnB (fotógrafo desconhecido)

IMPRESSÃO – Gráfica Brasil

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n° 04 1/2015

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