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REVISTA DA FAU-UnB

ISSN 2358-5900

ARQUI N°03 | 2/2014

DIPLÔ ENSAIOS TEÓRICOS ESCALA 2014 CINEMA E ARQUITETURA


ARQUITETAS INVISÍVEIS LINA BO BARDI PREMIO ANPRAC PIBIC RANKING 2014
REVISTA DA FAU-UnB

ARQUI
faunb

Março de 2015 Universidade de Brasília


Edição: 2/2014 - No 03 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
A772 Arqui / José Manoel Morales Sánchez, editor ; Maria Fernanda Derntl,
editora executiva - n. 3 (mar. 2015)- Brasília : Universidade de Brasília,
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo , 2014- .
128 p. ; 29 cm.

Periodicidade semestral
Descrição baseada em: n. 3 (mar. 2015)
ISSN 2358-5900

1. Arquitetura. 2. Urbanismo. I. Morales Sánchez, José Manoel (ed.). II. Derntl,


Maria Fernanda (ed.).

CDU 72

Ficha Catalográfica

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo


Universidade de Brasília – UnB
Instituto Central de Ciências –
ICC Norte – Gleba A
Campus Universitário Darcy Ribeiro –
Asa Norte – Caixa Postal 04431
CEP: 70904-970 – Brasília / DF –
E-mail: fau-unb@unb.br
Fone: (+55) (61) 3107-6630 /
Fax: (+55) (61) 3107-7723
REVISTA DA FAU-UnB
Universidade de Brasília

ARQUI Reitor: Ivan Marques de Toledo Camargo


Vice-reitora: Sonia Báo
Decana de extensão: Thérèse Hofmann Gatti Rodrigues da Costa

Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da UnB

Diretor:
José Manoel Morales Sánchez
Vice-diretora:
Cláudia Naves David Amorim
Coordenador de pós-graduação:
Márcio Augusto Roma Buzar

ARQUI é uma publicação semestral da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - UnB.

EDITOR José Manoel Morales Sánchez

EDITORA EXECUTIVA Maria Fernanda Derntl

CONSELHO EDITORIAL Andrey Rosenthal Schlee, Benny Schvarsberg, Cláudio José


Pinheiro Villar Queiroz, Elane Ribeiro Peixoto e Luiz Alberto Gouvêa

EQUIPE EDITORIAL DA REVISTA Ana Elisabete de Almeida Medeiros (Coordenação


de Ensaio Teórico), Caio Frederico e Silva, Danilo Fleury, José Manoel Morales Sán-
chez, Maria Fernanda Derntl, Marilia Alves e Paola Caliari Ferrari Martins (Coorde-
nação de Diplomação)

COORDENAÇÃO EDITORIAL: Maria Fernanda Derntl

EDITORA DE IMAGENS Marilia Alves | GRUPO arquitetura etc

REVISÃO EDITORIAL Frederico Maranhão de Mattos

REVISÃO ORTOGRÁFICA Sueli Dunck

COMISSÃO DE DIPLOMAÇÃO Bruno Capanema, Cláudia da Conceição Garcia, Lucia-


na Saboia Fonseca Cruz e Raimundo Nonato Veloso Filho

COMISSÃO DE ENSAIO TEÓRICO Ana Elisabete de Almeida Medeiros e Oscar Luis


Ferreira

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Danilo Fleury e Marilia Alves | GRUPO arqui-


tetura etc | grupoarquiteturaetc@gmail.com

© Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - UnB


Universidade de Brasília, Instituto Central de Ciências – ICC Norte, Gleba A, Campus
Imagem da capa: composição Universitário Darcy Ribeiro, Asa Norte, Brasília DF, Brasil 70904-970
criada a partir das ilustrações tel. (+55) 61.3107.6630 fax. (+55) 61.3107.7723
originais de Ana Carolina Ma- http://www.fau.unb.br/
cedo Moreth e Gabriel Ernesto no 03 1/2014
Moura Solórzano
IMPRESSÃO Gráfica Coronário
Imagens das sessões: Ana Ca-
rolina Macedo Moreth e Gabriel As opiniões expressas nos artigos desta revista são de responsabilidade exclusiva
Ernesto Moura Solórzano dos autores.

www.facebook.com/arquirevistadafauunb | revistadafauunb@gmail.com
ARQUI

6 2/2014
editorial
Tal como as figuras que ilustram a capa e as seções desta edição da ARQUI, os co-
nhecimentos pertinentes à Arquitetura e Urbanismo são multifacetados e podem se
recombinar de infinitas maneiras, dando origem a soluções sempre renovadas. A se-
leção de trabalhos, eventos e iniciativas aqui reunidos expressa bem essa natureza
ampla e multidisciplinar da formação em nossa área. Mostra também um universo
de preocupações e rumos próprios da FAU-UnB.
No segundo semestre de 2014, nossos alunos, professores e pesquisadores tiveram
de se desdobrar para participar de tantas atividades: botaram o pé na estrada, dis-
cutiram cinema, questões de gênero e sustentabilidade, sentaram-se para conversar
com historiadores, geometrizaram, fotografaram, fizeram projetos, dedicaram-se a
pesquisas e, ufa!, publicaram.
A ARQUI buscou entrar nesse clima de colaboração e de expressão de vozes diversas.
Nesta edição, professores e alunos tiveram um envolvimento mais amplo, opinando
sobre a revista e produzindo textos e imagens inéditos especialmente feitos para
ela. O projeto gráfico também foi aprimorado e, como se pensou desde o início, man-
tém-se flexível para dar conta da variedade do material recolhido a cada semestre.
Em nossa página no Facebook, é possível fazer o download da versão digital da re-
vista, deixar mensagens e inteirar-se de novidades como o concurso para a seleção
de imagens.
Sabe-se que na universidade o processo de ensino-aprendizagem não deve aconte-
cer de modo encerrado, mas articulado com atividades diversas de pesquisa e ações
junto a uma comunidade mais ampla. As páginas seguintes apontam para reali-
zações nesse sentido, às vezes inusitadas, às vezes divertidas, mas de todo modo
instigando a reflexão.

A equipe editorial
SUMÁRIO

08 encontros
da fau 26 FAU
IMPRESSA 46 FAU
pesquisa
10 ARQUITETAS 28 ARQUI + DIDÁTICOS 48 ENSAIO TEÓRICO
INVISÍVEIS FAU lança revista Ana Elisabete Medeiros
Tirando a capa da acadêmica
invisibilidade Ádila Tavares
Faculdade de Arquitetura
Maribel Aliaga
e Urbanismo publica série
50 PERMACULTURA
URBANA PARA
de livros didáticos
Ádila Tavares CIDADES EM
13 ESCALA 2014 TRANSIÇÃO
Caio Frederico e Silva Lucas Parahyba
A super semana 32 OS PALÁCIOS
universitária ORIGINAIS DE
Frederico Flósculo
BRASÍLIA 51 POR TRILHO
CASAS na E (C)ASAS, O
Romullo Baratto
semana ESCALA
Liza Andrade FRAGMENTADO
ESPAÇO DO CANTO
33 URBANISMO
Stephanie Souza
ECOLÓGICO
18 GEOMETRIZANDO 8 Caio Frederico e Silva
Eliel Américo e
52 A ARQUITETURA

34
Neusa Cavalcante
FAU COMO OBJETO DE
MUSEU
21 CINEMA E
ARQUITETURA
NA RUA Ingrid Siqueira

Fernando Meirelles na
FAU 36 PÉ NA ESTRADA 54 HABITABILIDADE E
Eduardo Rossetti Pés em Curitiba CIDADES SENSÍVEIS
Ricardo Trevisan À ÁGUA
Regina C. Ribeiro Miranda

22 SHCU 38 VIAGEM DIDÁTICA


Tempos e escalas da
cidade e do urbanismo
AO RIO DE JANEIRO 55 PARTICIPAR É MAIS
Vivenciar a cidade como Pedro Ernesto Chaves
Sylvia Ficher proposta de ensino Barbosa
Camila Gomes

42 GALERIA 56 AS PRAÇAS E
FOTOGRÁFICA PARQUES DE
Brasília Monumental ANÁPOLIS
Eduardo Rossetti Lara Garcia
68
58 MOBILIDADE 102 ESTAÇÃO DA DANÇA
URBANA FAU Laura Camargo
Nágila Ramos
pREMIADA 106 CENTRO CULTURAL
25 DE OUTUBRO
59 DULCINA E
70 RANKING Matheus Maramaldo
BRASÍLIA
Diogo Lins
72 PRÊMIO ANPRAC 110 ANTI-UTOPIA
Projeto de habitação URBANA
60 MOBILIDADE autossuficiente Danilo Fleury
URBANA Lanna Santana
Bianca Rabelo
112 CASA DE RETIRO
74 PIBIC MENÇÃO RELIGIOSO
HONROSA Erick Welson Mendonça
As cidades: da
62 TRANSFORMANDO
industrialização à
O LUGAR estética relacional
Caroline Nogueira Danilo Fleury
114 COMPLEXO
CULTURAL EM
PLANALTINA

76
Fabrícia de Souza
63 MAPA PARA O
USO DO PARQUE HOMENAGEM Figueiredo

DA CIDADE
DONA SARAH
116 KARTÓDROMO DO
GUARÁ
KUBITSCHEK EM 78 LINA BO BARDI Hanna Augusta de
BRASÍLIA/DF 100 anos Andrade
Camila Abrão Eduardo Rossetti

80 GALERIA 118 CENTRO


64 MEMÓRIA E CIDADE ONCOLÓGICO
FOTOGRÁFICA Isabel Cabral Alencar
Viviane Moreira Sobre Lina Bo Bardi
Laura Camargo e
Luiz Eduardo Sarmento
120 INSTITUTO DE
65 A PERDA DE ARTES

86
EXEMPLARES NÃO Jana Cãndida Castro dos
EXCEPCIONAIS NOVOS Santos
PARA A
ARQUITETURA ARQUITETOS 122 NZEB EDIFÍCIO
MODERNA
Jéssica Gomes da Silva
DE BALANÇO
ENERGÉTICO NULO
88 DIPLÔ NA UNB
Paola Caliari Ferrari Martins Márcia Bocaccio Birk
66 MANUAL DE Catálogo de projetos
CICLISMO URBANO Projetos em destaque
José Henrique Freitas 124 ESPAÇO DE AÇÕES
94 CENTRO DE DE MELHOR IDADE
CULTURA ÁRABE Ninivy Caroliny Melo de
Ana Júlia Maluf Oliveira
67 O LUGAR DO
PEDESTRE
NO ESPAÇO 98 A NOVA 126 CENTRO DE
UNIVERSITÁRIO PLATA[FORMA] EDUCAÇÃO
Juliana Lopes DA RODÔ AMBIENTAL
Vasconcelos Gabriela Cascelli Farinasso Rubiana Lemos
en
con
tros
da
fau
+
ARQUI

ARQUI TETAS
I NV I S ÍVEIS
TIRANDO A CAPA DA INVISIBILIDADE
Maribel Aliaga

SE QUERO DEFINIR-ME, SOU OBRIGADA Em novembro de 2014, tivemos na FAU-UnB uma


semana intensa de atividades: oficinas, palestras, dis-
INICIALMENTE A DECLARAR: “SOU MULHER”. cussões, exposições. Dentre os vários grupos de alu-
ESSA VERDADE CONSTITUI O FUNDO SOBRE nos que internamente se organizaram para participar,
O QUAL SE ERGUERÁ QUALQUER OUTRA gostaria de destacar as Arquitetas Invisíveis, formado
inicialmente por um pequeno grupo de meninas, que
AFIRMAÇÃO. UM HOMEM NÃO COMEÇA NUNCA
ao longo de um ano promoveu grandes inquietações,
POR SE APRESENTAR COMO UM INDIVÍDUO com as suas descobertas e com seus questionamentos
DE DETERMINADO SEXO: QUE SEJA HOMEM É quanto à invisibilidade das mulheres na arquitetura.
NATURAL Comecei a tomar conhecimento dessas indaga-
ções ainda no fim de 2013, e as inquietações foram
(SIMONE DE BEAUVOIR) surgindo como um desabafo. Era necessário entender
um pouco mais sobre o assunto que envolvia o feminismo, era preciso identificar a
participação feminina na Arquitetura e Urbanismo ao longo do tempo, mas, sobretu-
do, era preciso entender a nós mesmas. Seria mesmo necessário que nos colocásse-
mos como “mulheres”?
Os diálogos cibernéticos foram tomando corpo, procuramos saber sobre a parti-
cipação feminina no mercado de trabalho, na historiografia da arquitetura. Depara-
mo-nos com questionamentos ainda maiores, que envolvem as minorias e as relações
de classes sociais.
Paralelamente, o grupo iniciou um trabalho de pesquisa e inventário das arqui-
tetas, para o desenvolvimento da página no Facebook. Enfim, a página saiu em me-
ados de março ainda sob o efeito das comemorações do dia internacional da mulher.
As meninas se organizaram para fazer ao menos uma postagem semanal. O

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ARQUI

trabalho procurou uma linguagem dinâmica, que atingisse não apenas os arquitetos.
A diagramação teve um trabalho delicado e meticuloso, as pesquisas dos verbetes
procuravam seguir com um mínimo de rigor.
A página #arquitetasinvisiveis crescia em conteúdo e em “curtidas”. Era neces-
sário criar condições para tirar a capa de invisibilidade que envolvia as arquitetas
e todas(os) que entusiasticamente participavam dos trabalhos. O trabalho transfor-
mou- se então em exposição, que propunha discutir a invisibilidade e o opacamento
das arquitetas em seu tempo e em nossas próprias disciplinas.
Às reuniões semanais juntaram-se muitas, e aos poucos os meninos também
foram chegando. Os grupos de trabalho se dividiam entre o planejamento, as pes-
quisas, a execução do projeto, os orçamentos. Agora não éramos sós, e já se pensava
em outras atividades, atreladas à semana universitária. Graduação e pós-graduação
trabalharam juntas, na excelente organização das palestras e debates.
O grande dia enfim chegou, a exposição mostrou a criatividade e a versatilidade
das arquitetas selecionadas, e do grupo.
O evento resumiu, nos mínimos detalhes, todas as inquietações iniciais – “so-
mos mulheres” e queremos o nosso reconhecimento acompanhado de flores, chita e
chá com bolinho. Porém, os trabalhos da semana estavam apenas começando. Vie-
ram as oficinas, as palestras e os debates. Sucederam-se discussões de gênero, colo-
cações instigantes sobre o feminino e plural, sobre o ensino de arquitetura e sobre a
atuação política das mulheres na profissão.
A afirmação “sou mulher” só faria sentido, ou melhor, perderia seu sentido de
afirmação, se começássemos a olhar para nós mesmas e fizéssemos a nossa parte
como profissionais que se preocupam com uma arquitetura detalhada, delicada e
fotografias por Daniel Melo inclusiva, que imaginam a cidade que também pertence às mulheres. E, principal-
mente, que querem ter, entre seus precedentes e suas
inspirações, o reconhecimento de tantas outras que
foram pioneiras em seu tempo.
A semana Arquitetas Invisíveis, creio eu, foi o
início de uma pequena revolução que terá desdobra-
mentos acadêmicos, dentro e fora da UnB. Já não so-
mos mais invisíveis, agora é tempo de refletir e ama-
durecer. T

Quem foram as cabeças do projeto?

Maribel Aliaga
Gabriela Cascelli
Luiza Dias
Lara Pita
Hana Augusta
Júlia Mazzutti

14 2/2014
ESCALA
2014
Caio Frederico e Silva

Entre os dias 3 e 8 de novembro de da recém-criada Secretaria de Apoio De-


2014 tivemos, na Universidade de Brasí- partamental e de Extensão (SADE), que
lia, a Semana Universitária. Neste ano, concentrou os sistemas de inscrição dos
contamos com uma grade adesão da Fa- participantes. O sistema da semana uni-
culdade de Arquitetura e Urbanismo versitária ainda possibilitará que este
(FAU), que tornou sua semana universi- ano os participantes recebam um certifi-
tária bastante frutífera. Foram mais de cado digital a ser enviado pelo DEX para
trinta atividades de extensão promovi- o e-mail cadastrado no site da Semana, o
das na FAU, desde palestras técnicas, que funcionou como um incentivo à par-
oficinas lúdicas, cursos e minicursos dos ticipação e a uma maior organização das
mais variados temas, como tecnologia da listas de frequência para as atividades.
construção, leiaute de pranchas e design Incentivo a extensão universitária:
de mobiliário, para citar alguns dos mais a Semana Universitária funciona como
concorridos. uma grande incentivadora das ativida-
Abrimos na FAU mais de três mil des extensionistas na UnB. É o momen-
vagas para as atividades ofertadas por to em que diversas ações continuadas
dezoito professores e conseguimos uma dão os seus primeiros passos. É também
adesão de quase 40% dos alunos, ou seja, a oportunidade para que professores da
mais de 1.200 vagas das atividades da Faculdade promovam atividades trans-
semana foram preenchidas. Recebemos disciplinares e que não possuam forma-
convidados de alguns estados do Brasil, to acadêmico no que tange à graduação.
e alunos de diferentes cursos da UnB pu- Prova disso é o sucesso do Curso de Mo-
deram desfrutar dos momentos que a Se- biliário, que possibilitou aos alunos in-
mana Escala proporcionou ao ambiente vestigar e dialogar com novas escalas de
acadêmico. trabalho e novas especialidades.
O sistema eletrônico ofertado pelo Troca de experiências: A palestra
Decanato de Extensão (DEX) permitiu da abertura da Semana Escala contou
que todas as atividades fossem cadas- com a presença do arquiteto paulista
tradas online utilizando a infraestrutu- Tomaz Lotufo. O foco de trabalho de To-
ra administrativa da própria Faculdade. maz é a bioarquitetura, assim como é a
Neste âmbito, contamos com a equipe abordagem do grupo CASAS – escritório

15
ARQUI

modelo da FAU. Na palestra, o convidado


pôde apresentar sua imersão em comu-
nidades de São Paulo, nas quais experi-
menta a autoconstrução e o uso de mate-
riais regionais na construção das casas.
Tomaz foi convidado pelo CASAS porque
tem trabalhado com a temática da Bio-
construção há muitos anos e no momen-
to está elaborando projeto de urbaniza-
ção para uma Ecoagrovila no entorno de
Brasília, comunidade rural na cidade de
Planaltina. Viu-se uma rica troca de ex-
periências promovida pela Semana Es-
cala. Com base na experiência paulista,
percebeu-se que a UnB participa de um
debate nacional acerca da contribuição
do escritório modelo como serviço de Ar-
quitetura e Urbanismo na promoção de
qualidade de vida.
O envolvimento dos professores e
alunos foi decisivo para o sucesso da Se-
mana Escala, nome que foi dado por um
grupo de alunos ainda em 2012, e que
tornamos como nome oficial da semana
universitária da FAU. O sucesso da Se-
mana deve-se ao empenho dos alunos da
comissão organizadora, no nome do es-
tudante e estagiário da Extensão Arthur
Moraes e das colegas Maribel Aliaga e
Liza Andrade que, com os grupos das Ar-
quitetas Invisíveis e o Escritório Modelo
CASAS, contribuíram para abrilhantar
ainda mais a nossa Semana Escala 2014.
T

A SUPER SEMANA UNIVERSITÁRIA


Frederico Flósculo

Não teve precedentes, de tão inten- cipações mais massivas.


sa e tão gostosa. Em geral, dizem as más Mais de uma vez divulguei as ativi-
línguas, metade da Universidade viaja dades que protagonizei como “canaval-a-
na Semana Universitária, e a outra me- cadêmico-fora-de-época”. Nesse carnaval,
tade fica em casa. Desta vez não: metade dirigido ao amplo público externo – à co-
da metade da metade, talvez metade dis- munidade moradora do Distrito Federal e
so, mas uma agitadíssima metade, fez a quem mais chegasse – uma ampla pauta
melhor semana universitária que a UnB de atividades foi oferecida. No conjunto
já teve. de cinco palestras que ofereci, três foram
Na FAU-UnB, graças aos esforços da dedicadas à cidade, ao debate de seus
Coordenação de Extensão – que desburo- problemas urbanos, centradas: (a) na
cratizou barbaramente os desencorajado- “ADVOCACIA URBANA” de interesses co-
res protocolos administrativos exigidos munitários, de soluções inovadoras para
ordinariamente –, uma boa “metade” dos problemas urbanos irresolvidos; (b) no
estudantes e professores entrou “de cabe- debate da LUOS – a polêmica Lei de Uso
ça” nas atividades. Ainda teremos parti- e Ocupação do Solo, que permite especu-

16 2/2014
Intervenção Sobreurbana
fotografia por Bruna Ruperto

fotografia por Caio Frederico e Silva

lação especialmente projetada, e; (c) na meio a um projeto institucional confuso, Nossas universidades desvalori-
apresentação de um importante grupo de que copia intensamente as experiências zam e desmerecem a arte, não entendem
defesa de Brasília, denominado NÓS QUE didáticas e institucionais, sem discuti o seu sentido libertador, pois são autori-
AMAMOS BRASÍLIA, que assumiu um -las decentemente. A palestra “Contos de tárias e intelectualmente limitadas pelo
protagonismo crucial nas redes sociais. Cartomantes: a imaginação de um profes- produtivismo acadêmico – que, parado-
Uma quarta atividade, voltada para sor desocupado” foi realmente autoral e xalmente, não gera boas e inovadoras
a apresentação e divulgação de livro di- crítica, e colocou aos estudantes tanto a tecnologias, nem gera ciência na propor-
dático de minha autoria, Metodologias obra pessoal, artística, de um professor ção de sua pretensão. Nesse processo, a
da projetação arquitetônica, também foi de arquitetura (seus desenhos, romances, universidade perde e desvaloriza as re-
associada ao debate urbano, com a exibi- contos, projetos de arquitetura e urbanis- ferências da arte, tornando-se sem ima-
ção de documentário Superquadras, dos mo), quanto os graves problemas dessas ginação e capacidade crítica, argentária
diretores Mário Salimon e Marcelo Feijó, universidades que se envolvem em pro- e cortesã. A Semana Universitária deve
da FAC/UnB. jetos “tecnologizantes” e “cientificistas” ser fomentada como essa grande reflexão
Finalmente, minha “grande pales- de caráter essencialmente burocrático. aberta, em que novas dimensões de nos-
tra” foi mesmo sobre a presença crítica Trata-se da necessidade da arte para que sas vidas intelectuais devem ser expos-
da arte numa universidade perdida em haja inteligência universitária. tas, debatidas, avaliadas. T

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ARQUI

CASAS NA SEMANA ESCALA


texto por Liza Andrade e estudantes EMAU/CASAS:
Luiz Felipe Machado, Samuel Prates, Bruna Ruperto Duarte e Sofia Portugal

Ofina de Jardim Agroflorestal


fotografia por Samuel Prates

A Semana Escala corresponde à da FAU interessados em oferecer cursos, importantes com a natureza. Na parte da
tradicional Semana da Arquitetura e Ur- oficinas e palestras abertas aos estu- noite, na palestra de abertura – Um novo
banismo da FAU, que acontece durante a dantes, o que permitiu aos participan- ensino para outra prática: contribuições
Semana Universitária da UnB; neste ano, tes apresentar suas pesquisas ou temas para o ensino de arquitetura no Brasil –,
ocorreu no início de novembro. O objeti- para debates. Cada grupo de pesquisa e com Tomaz Lotufo, debateu-se a necessi-
vo de organizar a Semana Escala partiu extensão, com seus projetos e programas, dade de trazer o canteiro experimental
do interesse dos estudantes em retomar promoveu atividades relacionadas ao para dentro das universidades, para que
a extensão universitária, envolvendo a seu tema. os estudantes experimentem a prática de
FAU como um todo. O Círculo Criativo CASAS proporcio- construção junto às comunidades mais
O Escritório Modelo CASAS (Centro nou aos estudantes uma roda de discus- carentes.
de Ação Social em Arquitetura Sustentá- são com os convidados, dividida em dois No decorrer da semana ocorreram
vel), como um programa de extensão da momentos: a conversa com as organiza- as seguintes oficinas: (1) UnBike Tour,
UnB, foi convidado para ajudar na orga- doras do Pé na Estrada e o debate com com o estudante José Henrique Freitas
nização do evento e para apresentar seus os estudantes que voltaram do Ciências (Ciclistas de Brasília), que promoveu um
trabalhos de 2014, por meio da exposição sem Fronteiras. O CASAS Convida pro- passeio de bicicleta entre as obras de ar-
Mostra CASAS, que trata das comunida- moveu atividades e cursos ligados à edu- quitetura do câmpus Darcy Ribeiro; (2)
des rurais dos assentamentos da reforma cação para a sustentabilidade, ao desen- Jardim Agroflorestal, com o estudante
agrária no DF. Outros grupos também fo- volvimento de projetos de arquitetura André Dantas, que propiciou a constru-
ram convidados, como o Pé na Estrada, sustentável e à função social do trabalho ção de um canteiro com a integração de
que expôs fotos e análises da viagem a do arquiteto. espécies agroecológicas aos estudantes;
Curitiba, e o grupo Arquitetas Invisíveis, No primeiro dia, na parte da manhã, (3) A permacultura como instrumento
que abordou a discussão da valorização ocorreu uma prática de tai chi chuan com para o desenvolvimento de arquitetura
de gênero dentro do exercício da arquite- a professora Monica Han, com o objetivo para um novo milênio, com a estudante
tura por meio de palestras, cursos e uma de demonstrar os benefícios da prática Ariel de Lima, que fez uma introdução
bela exposição. para a mente e para o processo de apren- sobre permacultura e, ao final, promo-
A Semana Escala também abriu um dizado, bem como para a saúde física, veu uma oficina com a construção de um
espaço para os professores e estudantes além da possibilidade de fazer conexões pergolado de bambu, que foi incorporado

18 2/2014
Oficina de Tear
fotografia por Victor Cruzeiro

Reforma da Pracinha e Oficina de Espaços


Subutilizados do Campus
fotografia por Bruna Ruperto

Palestra de Abertura do arquiteto Tomaz Lotufo


fotografia por Bruna Ruperto

nas obras da Pracinha do CA.


A Reforma da Pracinha também foi
organizada pelos estudantes do CASAS,
visando a intervenções no piso do jardim
com restos de madeira, bancos de pallet e
de restos de pneus. Um ponto importante
do evento foi a oficina Comunidade Pro-
move, na qual membros da Comunidade
Renascer proporcionaram um minicurso
de tear, ensinando aos estudantes e fun-
cionários como fazer tapetes, toalhas e
jogos americanos.
No último dia foram convidados os
arquitetos do Ministério das Cidades do
Programa Nacional de Habitação Rural e
o do Programa Minha Casa Minha Vida,
com foco no programa PMCMV- Entida-
des, para expor sobre a questão do proces-
so participativo nos projetos e aspectos
culturais das habitações na cidade e no
campo, além de discutir sobre importân-
cia da Lei da Assistência Técnica para
projetos de Arquitetura e Urbanismo.
Para encerrar, o CASAS convidou os
membros do Sobreurbana de Goiânia, que
trabalha com mobilização e sensibiliza-
ção de comunidades para a construção
de cidades mais acessíveis, sustentáveis
e humanas, por meio de processos parti-
cipativos, para ministrar uma palestra e
implantar a Oficina de Sombrinha – uma
instalação com sombrinhas no jardim/
praça do ICC, para chamar a atenção
quanto aos aspectos bioclimáticos e esté-
ticos da intervenção.
O resultado dos eventos foi positivo
no que tange à satisfação e ao envolvi-
mento das pessoas que deles participa-
ram, suscitando discussões sobre novas
formas pedagógicas para os cursos de ar-
quitetura e urbanismo que incluam pro-
cessos participativos e trocas de saberes
entre estudantes, professores e comuni-
dades. Porém, estamos longe de alcançar
o sucesso, tendo em vista o alto índice
de ausências de professores e estudantes
na Semana Universitária da UnB. T

19
ARQUI

GEOMETRIZANDO
8

20 2/2014
Eliel Américo e Neusa Cavalcante - organizadores da exposição

A mostra GEOMETRIZANDO 8 reuniu mais de 400 trabalhos produzidos entre


2011 e 2013 pelos alunos de Geometria Construtiva, disciplina que, sendo obrigatória
para o Curso de Arquitetura e Urbanismo, vem sendo oferecida também para estu-
dantes de outros cursos da Universidade de Brasília.
A ideia da realização do evento surgiu a partir da constatação de que a referida
disciplina vem produzindo, como resultado do desenvolvimento de seu conteúdo e de
sua metodologia didático-pedagógica, um expressivo material que merece ser divul-
gado além das fronteiras da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB.
A necessidade de manter o espírito de busca constante como força motriz da dis-
ciplina faz com que haja, ao longo dos semestres letivos, uma sucessão de exercícios
que possibilitam o repasse gradual e evolutivo do conteúdo programático específico.
Cada resultado parcial é, ao mesmo tempo, o experimento e o produto, configurando-
se uma estratégia pedagógica que tem no processo a possibilidade do erro e no pro-
duto a probabilidade do acerto.
Experimento e produto devem permitir a liberdade, mas
A BELEZA SUGERE MAIS DO QUE UMA
também acolher a ordem e a beleza. Não a ordem autoritária
ou burocrática, mas aquela que rege os seres, os animados, SIMPLES ORDENAÇÃO... ESPECIFICA
a natureza. Ritmo, equilíbrio, proporção e contraste são al- UM TIPO PARTICULAR DE ORDENAÇÃO.
guns dos princípios estudados, surgindo de seu aprendizado POSTULA A ORDEM COMPATÍVEL COM A
o amadurecimento necessário para avançar no campo das
variações, do inusitado e da liberdade plástica.
SINGULARIDADE. (PAUL WEISS)
Tida frequentemente como assunto de caráter herméti-
co, afeito a alguns poucos eleitos, a geometria transforma-se num instrumento pri-
vilegiado para a especulação lúdica, que se torna agradável ao olhar do cidadão
comum.
O caráter lúdico da disciplina é predominante tanto no processo de produção
como na forma em que os resultados concretos se apresentam. E o clima saudável

21
ARQUI

que reina no ateliê é garantido pela harmoniosa alternância A ARTE NÃO REPRODUZ O VISÍVEL, MAS
entre os momentos de concepção/criação – profundos e tensos
– e os momentos de elaboração/acabamento. O fazer manual
TORNA VISÍVEL. A ESSÊNCIA DA ARTE
acaba por propiciar uma situação de “relaxamento mental” GRÁFICA CONDUZ FACILMENTE, E COM
que, capaz de neutralizar a ebulição cerebral/intelectual do ato TODA RAZÃO, PARA A ABSTRAÇÃO.
criador, garante as condições e a motivação necessária para
enfrentar novos temas e desafios.
(PAUL KLEE)
As atividades desenvolvem-se de forma dinâmica e des-
contraída, sugerindo um verdadeiro espaço do brincar. Papéis, colas, fios diversos,
madeiras, tintas etc. contribuem para criar um espaço da invenção e do exercício, da
inspiração e da transpiração, do fazer e do refazer. A crítica construtiva e verdadeira,
exercida de forma plena e constante pelos professores e por toda a turma, faz com
que os alunos sejam motivados a lutar pela superação de suas próprias limitações.
A exposição foi organizada em dois grandes ambientes: o primeiro foi dedicado
às especulações formais em torno de padrões observados na Natureza; o segundo, so-
bre o tema Corpo e Movimento, às formas presentes na dança, no carnaval e no circo.
Enquanto os produtos derivados de padrões observados em elementos da natureza
expressaram predominantemente um abstracionismo de caráter geométrico, aqueles
resultantes do movimento privilegiaram um abstracionismo lírico, mais adequado ao
resgate do significado e do caráter simbólico de tais manifestações e de suas figuras/
personagens emblemáticas.
E é no cenário da fantasia de cada um que a produção da Geometria Construtiva
se traduziu no espetáculo para os mais curiosos e atentos. T

fotografias por Nonato Veloso

22 2/2014
CINEMA E
A R Q U I T E T UR A
fotografia por Eduardo Rossetti

FERNANDO MEIRELLES NA FAU


Eduardo Rossetti

Brasília sempre foi uma cidade com do Minhocão (ICC-UnB) foram utilizados
forte apelo visual para arquitetos, artis- para um episódio, em que também foram
tas plásticos, fotógrafos e cineastas. Des- explorados os espaços da FAU como ce-
de a construção da cidade há registros nário para situações de dramaturgia.
em diferentes suportes visuais, difun- Depois da divulgação da presença do di-
dindo imagens da cidade e construindo retor e de atores circulando pela FAU e
discursos sobre sua modernidade e sobre trabalhando nos espaços da faculdade,
sua intrínseca vocação para o futuro. Se Meirelles fez uma palestra e conversou
até Glauber Rocha já filmou a cidade, nas com alunos e com a curiosa plateia que
últimas décadas, entretanto, poucas ve- se formou ao redor dele na pracinha do
zes a cidade foi explorada pela televisão CAFAU.
de modo mais cotidiano, seja em novelas Tranquilamente sentado numa das
ou mesmo em propagandas, mantendo a cadeiras Eames que circulam entre os
imagem de Brasília numa aura política ateliês, Fernando Meirelles tratou da sin-
exclusiva, muitas vezes atrelada a es- gularidade e da potencialidade de filmar
cândalos diversos. De modo caricato, a em Brasília, respondeu a perguntas téc-
imagem da cidade se reduz às imagens nicas sobre cinema, sobre o trabalho com
da Esplanada e dos palácios enquadrada atores nacionais e estrangeiros, sobre
pelos telejornais. roteiros, futuros trabalhos, relação das
Recentemente, em outubro deste mídias com o cinema e a TV, processos
ano, o diretor de cinema Fernando Mei- de filmagens e sobre os filmes que com-
relles esteve em Brasília filmando a sé- põem sua profícua carreira de diretor.
rie Felizes para sempre, que explora es- Diante de uma conversa tão agradável
paços, paisagens e ambientes urbanos de e de um público tão interessado deixo o
Brasília para além do clichê Esplanada- convite para que ele volte à FAU numa
Congresso-Praça. Neste processo de am- próxima vez em que estiver em Brasília!
pliar a visão sobre a cidade, os espaços T

23
ARQUI

SHCU

24 2/2014
TEMPOS E ESCALAS DA CIDADE E DO URBANISMO
Sylvia Ficher

O 13º Seminário de História da Cida- que representou nosso evento, permito-


de e do Urbanismo, realizado de 9 a 12 de me uma breve referência às minhas pró-
setembro de 2014 na Assembleia Legisla- prias memórias. Dos seminários de histó-
tiva do Distrito Federal, foi mais um en- ria da cidade e do urbanismo participei
contro acadêmico de grande porte levado pela primeira vez em sua segunda edi-
a cabo com grande sucesso pela Faculda- ção, em Salvador, em 1993. Quiçá tives-
de de Arquitetura e Urbanismo da Uni- se participado da primeira edição, mas
versidade de Brasília. Novamente nossa na ocasião nem estava no Brasil. Depois
escola e seus professores estiveram à foram participações salteadas, cobrindo
altura da empreitada, com a competên- quase a metade dos treze seminários re-
cia que vêm demonstrando há décadas, alizados até hoje. Campinas em 1998, Ni-
desde os pioneiros Seminários de Dese- terói em 2004, São Paulo em 2006 e Por-
nho Urbano nos anos oitenta, passando to Alegre em 2012. O que é significativo
pelo congresso internacional do Docomo- para mim – falando mais como arquiteta
mo em 2000, até a sequência constituída do que historiadora ou socióloga, e sem
pelo encontro nacional do Docomomo em desprezar a contribuição dos encontros
2011, o Pluris em 2012 e o ENCAC/ELA- da Anpur – está na constatação de que,
CAC em 2013. finalmente, a partir de 1990 nossa área
Antes de discutir como se consti- de estudos urbanos passou a contar com
tuiu esse 13º Seminário, cabe uma nota um evento de cunho eminentemente
de tristeza, para lembrar alguns cole- acadêmico, um evento que não teve vida
gas que há pouco nos deixaram. Murillo efêmera, perdurando já por um quarto de
Marx, velho companheiro ainda dos tem- século. E por tal fato devemos agradecer
pos de graduação e cúmplice de longas a seus proponentes originais, a Ana Fer-
conversas, e Roberto Segre, que conheci nandes e o Marco Aurélio Gomes.
bem mais recentemente, para logo se Por outro lado, avaliar esses semi-
tornar um amigo dileto com cujo apoio nários já se tornou uma tradição: afinal,
contei em diversas ocasiões. Dor profun- historiadores, por ofício, gostam de his-
da nos deixou Ana Clara Torres Ribeiro, toriar. Além da Ana e do Marco, estou na
interlocutora privilegiada que tive e de insigne companhia de Maria Stella Bres-
quem somos todos nós órfãos. ciani, Milton Santos, Eloisa Petti, Mar-
Para iniciar uma apresentação do gareth Pereira, Beatriz Piccolotto, Sarah

135 COMUNICAÇÕES
28 MESAS
40 PÔSTERES

25
ARQUI

Feldman, entre outros. Todos estes estu- vão da formação do território nacional à assim, predominaram os estudos de caso.
diosos nos contemplaram com panora- habitação popular, passando pela dimen- Oportuna foi a ocasião para uma revisão
mas temporais amplos sobre temáticas, são ambiental, em especial pela questão histórica das raízes do planejamento ur-
enfoques e metodologias. das águas urbanas; pela economia e pela bano no Brasil na década de 1970.
Na edição de Brasília, tivemos uma urbanização; pela morfologia; pelos flu-
brilhante conferência de Carlos Sambri- xos e dinâmicas urbanas; e pelas ques- Representações
cio, três mesas-redondas sobre as escalas tões patrimoniais. O mesmo se verifica Em certo sentido, a escala das Re-
do Cotidiano, das Representações e do nos pôsteres, dos quais quase a metade presentações – pelo programa do Seminá-
Território, e reuniões de cinco grupos de se inclui nessa temática. rio referindo-se a “iconografia, literatura,
pesquisa. Como cerne, foram 135 comu- A presença dominante foi aquela cartografia, rituais, patrimônio histórico,
nicações apresentadas em 28 mesas, e de comunicações sobre a formação do e mais quaisquer objetos que possam ser
40 pôsteres. Numerologia que confirma a território nacional nos períodos colonial analisados sob sua ótica” – teve uma pre-
tendência, há muito constatada, do cres- e imperial. Essas investigações exigem sença menor que a esperada, se se con-
cente engajamento de pesquisadores no levantamentos mais dificultosos em ar- sideram, mais uma vez, o predomínio de
campo disciplinar da história urbana. quivos históricos e acervos iconográfi- arquitetos e sua facilidade de ofício no
Como memória e registro desse 13º cos dispersos, o que indica a ampliação trato de material visual.
Seminário, os textos dos conferencistas dos estudos pós-graduados em nível Pouco mais de 20% dos trabalhos
convidados foram reunidos em um livro. de doutorado, possibilitando pesquisas aceitos, as trinta comunicações dedica-
Quanto às comunicações, além de sua di- mais alongadas e com recursos financei- das a essa temática foram apresentadas
vulgação por meio do Caderno de Resu- ros mais avantajados. Mas também vem em seis mesas e versaram sobre os usos
mos e dos Anais online, a Comissão Cien- sendo incentivadas pela disponibilidade do espaço urbano; sua morfologia e pai-
tífica selecionou aquelas que considerou cada vez maior de material documental sagem; a presença da cidade na literatu-
as mais significativas, publicadas em na internet. ra e nas artes; e, insistindo, também as
número especial da Paranoá, revista do questões patrimoniais. Percentual se-
Programa de Pós-Graduação da FAU-UnB. Discurso profissional melhante caracterizou sua presença nos
Objeto de interesse mais recente, pôsteres.
Temáticas em parte pelo enfoque crescente na her- Desenhos e gravuras, mapas e plan-
Focando agora nesse conjunto de menêutica do métier do urbanista e pela tas, maquetes materiais ou virtuais são
135 trabalhos e 40 pôsteres, acredito que maior facilidade de acesso a suas fontes, objetos correntes no cotidiano dos arqui-
as quatro temáticas, ou melhor, as quatro o Discurso Profissional – pelo programa tetos, contudo foram pouco abordados nas
escalas propostas foram extremamente entendido como “todo tipo de produção de comunicações, indicando um potencial
felizes por serem, ao mesmo tempo, espe- conhecimento, seja ele analítico ou pro- a ser explorado mais sistematicamente.
cíficas e abrangentes. Vejamos como se positivo, na forma de textos, projetos ou Por outro lado, se quantitativamente pou-
deu a participação em cada uma delas. planos” – foi a escala seguinte em termos co representativa, as Representações fo-
quantitativos, representada em um quar- ram abordadas sob grande variedade de
Território to dos trabalhos. aspectos, o que igualmente recomenda
Conforme esclarece o programa do As 34 comunicações foram expos- seu potencial.
Seminário, a primeira escala, aquela do tas em sete mesas, abarcando teorias e
Território, aborda aspectos referentes à conceitos; tendências historiográficas; Cotidiano
“apropriação de espaços para estabele- ensino de urbanismo; legislações e proje- Por fim, comunicações sobre temáti-
cer efetivo domínio, mas também pode se tos urbanísticos; teoria, prática e história cas do Cotidiano – proposto no Seminário
referenciar numa construção simbólica, do planejamento no Brasil, além de ques-
expressiva de um determinado imagi- tões referentes novamente à habitação
nário temporalmente localizado”. Como popular e ao patrimônio. Nos pôsteres,
era de se esperar, dadas a participação sua presença foi ainda mais marcante, TERRITÓRIO
predominante de arquitetos e a tradição sendo o Discurso Profissional objeto de 56 COMUNICAÇÕES
de estudos na área, os trabalhos aqui en- cerca de um terço do conjunto.
quadrados foram em maior número, da Significativamente, tendo por obje-
12 MESAS
ordem de 40%. to o “discurso”, alguns trabalhos apoia-
As 56 comunicações, apresentadas ram-se em um caráter discursivo, ex- DISCURSO PROFISSIONAL
em doze mesas, trataram de assuntos que pondo posições e entendimentos; mesmo 34 COMUNICAÇÕES
7 MESAS

COTIDIANO
15 COMUNICAÇÕES
3 MESAS

26 2/2014
fotografias do evento por Proforme Photo

como enfocando a “perspectiva de quem trimoniais estão em alta, em especial Cadernos de resumos e programação do
vivencia o espaço citadino, suas memó- aquelas referentes à dimensão urbana XIII SHCU.
rias e vivências, de modo a se perceber do patrimônio – a despeito da pouca re- Organização : Elane Ribeiro Peixoto, Maria
Fernanda Derntl, Pedro Paulo Palazzo e
a cidade numa escala diferente daquela levância dada à indústria do turismo no Ricardo Trevisan.
do especialista” – foram em número bem Brasil, oportunidade mais uma vez per- Programação visual: Gabriela Bilá |
GRUPO arquitetura etc.
menor, agora confirmando as expectati- dida, como bem se pode observar com a fotografia por Marilia Alves
vas, uma vez que mais afeitas à sociolo- Copa do Mundo. Por um lado, tal fato é um
gia e à antropologia. bom indicador de felizes mudanças para-
Os quinze trabalhos, expostos em digmáticas, como a superação, ainda que
apenas três mesas, trataram a cidade do tardia entre nós, da renovação urbana
ponto de vista filosófico e político, e de pela requalificação urbana e a mudança em especial a habitação de cunho social,
seus bairros e logradouros. No caso dos de foco das obras de arquitetura, das edi- ocupou papel de destaque na pauta de ar-
pôsteres, a presença da escala do Cotidia- ficações propriamente, para seu contex- quitetos e urbanistas, seja em sua refle-
no foi ainda mais reduzida, não passan- to espacial. Por outro, reflete as próprias xão conceitual, seja na aplicação prática.
do de dois ou três exemplos. demandas do mercado de trabalho profis- Prioridade nas políticas públicas desde
Apesar de permitir uma grande sional, agora que os órgãos públicos de a República Velha, teve especial relevo
variedade de abordagens e de possibi- preservação têm atuação bem mais valo- durante o período da ditadura militar,
litar incontáveis estudos de caso, essa rizada e participam mais ativamente dos em virtude da ação do BNH. Contudo,
escala foi pouco explorada, indicando processos de planejamento urbano. Nesta restaurado o regime democrático, para-
uma potencialidade a ser incentivada. perspectiva a preservação, tanto arquite- doxalmente as ações governamentais
Mesmo assim, curiosamente, certos as- tônica como urbana, começa a constituir nessa área prescindiram e cada vez mais
suntos mais limitados continuam na um campo autônomo, contando com ins- prescindem da contribuição altamente
moda, como ocorre com o situacionismo, tâncias de formação especializada e mes- qualificada de arquitetos e urbanistas.
demonstrando mais uma vez a força e a mo fóruns próprios de debate, como é o Trinta anos de tal falta de apreço, de tal
sedução da palavra escrita. caso do Arquimemória e do Arquitetura e desmazelo e negligência – apesar dos
Documentação. rompantes populistas com que o assun-
Comentários finais Por sua vez, não é surpreendente to tem sido tratado –, e as consequências
Após percorrer a extensa contri- que a habitação, tradicional presença maléficas para as cidades brasileiras são
buição deste 13º Seminário de História nas pesquisas da área, tenha tido uma evidentes para todos.
da Cidade e do Urbanismo, duas proble- boa representação nas comunicações. O Mais uma vez, parabéns àqueles
máticas me parecem merecer especial que causa apreensão, isto sim, é o pro- que se empenharam na construção e su-
referência. Uma algo otimista, sobre o gressivo descompasso que se verifica cesso deste 13º Seminário de História da
patrimônio histórico, e outra, pelo oposto, entre a esfera acadêmica, a atuação pro- Cidade e do Urbanismo. E até o próximo,
pessimista, quanto à habitação social. fissional e as instâncias de governo. Por a realizar-se no Instituto de Arquitetura
Evidentemente, as questões pa- boa parte do século passado, a habitação, e Urbanismo da USP-São Carlos. T

27
FAU
IM
PRE
SSA
+
ARQUI

30 2/2014
arqui +
Didáticos
FAU LANÇA REVISTA ACADÊMICA
Ádila Tavares - Secretaria de Comunicação da UnB
publicação original do site da UnB

PERIÓDICO REÚNE A Faculdade de Arquitetura e Ur-


banismo (FAU) lançou nesta quarta-feira
FOTOS, PESQUISAS (22) [de outubro de 2014] a revista ARQUI.
E PROJETOS DOS O evento ocorreu no recém-inaugurado
ESTUDANTES DE auditório da faculdade. O periódico reúne
ARQUITETURA E projetos desenvolvidos na área e divulga
os trabalhos finais de curso que mais se
URBANISMO, ALÉM destacaram nas bancas avaliativas do úl-
DE PUBLICAÇÕES QUE timo semestre letivo.
SAÍRAM NA IMPRENSA A publicação terá periodicidade se-
mestral e pode ser acessada em formato
SOBRE A FACULDADE impresso ou virtualmente.
A revista ARQUI nasce com edição de
número 2, em referência ao primeiro periódico da faculdade, publicado há quin-
ze anos, em uma única edição. “Pensamos em homenagear a revista anterior e
criar esta linha na história”, explica o estudante Danilo Fleury, que participou
da produção gráfica.
A edição possui 111 páginas divididas em sete seções, nas quais são des-
tacados conteúdos comuns ao universo da Arquitetura, como fotos, pesquisas
e projetos arquitetônicos. “A revista é muito visual e tem uma força natural e
poderosa dos estudantes”, avalia o diretor da FAU, José Manoel Morales Sánchez.
A publicação apresenta também uma homenagem ao fundador da FAU e
professor emérito da UnB, João Filgueiras Lima, falecido em 21 de maio deste
ano [de 2014].
fotografia por Marilia Alves Idealização: A ARQUI surge com três responsabilidades definidas: “Docu-

31
ARQUI

mentar a história da FAU, servir de canal


para os ex-alunos e de estímulo pedagó-
gico aos graduandos”, aponta o diretor da
faculdade.
A documentação histórica é realiza-
da a partir da compilação e publicação
na revista dos textos divulgados na mí-
dia sobre a Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo.
O canal com o ex-aluno acontece
naturalmente, uma vez que a revista, em
sua publicação impressa e digital, apro-
xima o cotidiano da faculdade dos gra-
duados que estudaram na FAU. Para a
concretização do objetivo pedagógico do
periódico, os professores definiram publi-
car na revista os trabalhos de conclusão
de curso (TCC) avaliados com a nota má-
xima.
“Assim eles servem de estímulo
para os novos alunos a partir da compa-
ração dos futuros trabalhos com os reali-
zados e da expectativa de sair na revis-
ta”, explica Sánchez. Para o diretor, isso
deve colaborar para a melhoria da quali-
dade dos trabalhos acadêmicos. T
TAVARES, Ádila. FAU lança revista acadêmica. Dis-
ponível em: <http://www.unb.br/noticias/unbagencia/
unbagencia.php?id=9022>. Acessado em: 21 jan. 2015

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO


PUBLICA SÉRIE DE LIVROS DIDÁTICOS
Ádila Tavares - Secretaria de Comunicação da UnB
publicação original do site da UnB

INICIATIVA INÉDITA É Os professores e pesquisadores da


Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
COMPOSTA POR TRÊS da Universidade de Brasília (FAU/UnB)
COLEÇÕES INTITULADAS: ganharam um espaço inédito para divul-
TEORIA E HISTÓRIA, gação e consulta acadêmica. A FAU lan-
çou nesta semana a Série Didáticos, uma
PROJETO E TECNOLOGIA
publicação periódica composta por três
coleções de livros didáticos, divididas de
acordo com a linha dos departamentos
da faculdade: Teoria e História, Projeto e
Tecnologia.
“A publicação tem como objetivo
apresentar resultados de pesquisas e es-
tudos em formato acessível aos estudan-
tes de graduação e fornecer material de
apoio para as disciplinas da faculdade”,
aponta a editora executiva da FAU, pro-
fessora Maria Fernanda Derntl.
A Série Didáticos é mais uma inicia-

32 2/2014
Danilo Fleury e Luiz Eduardo Sarmento
expõem os conceitos das publicações
fotografia por Julia Seabra/UnB Agência

Lançamento da Revista ARQUI da FAU


fotografia por Julia Seabra/UnB Agência
tiva da Editora FAU/UnB, estruturada em Cidade, a obra possui dez textos escritos
2012. Neste período, houve a produção de por professores do departamento de Teo-
diversos trabalhos, como a revista ARQUI; ria e História (THA) da FAU. “Temas im-
o livro Cidade Rural, do professor Luiz portantes para a formação do arquiteto
Alberto Gouvêa; o CD Urbanismo no Rio são analisados em perspectivas que deri-
de Janeiro, organizado pelos professores vam das pesquisas originais dos profes-
Rodrigo de Farias e Vera F. Rezende; e pu- sores”, define Maria Fernanda Derntl. Ela
blicações derivadas do seminário Histó- e a professora Elane Ribeiro Peixoto divi-
ria da Cidade e do Urbanismo, organizado dem a organização desse primeiro livro.
pela FAU, neste ano. Os livros da editora da FAU-UnB são
Teoria e história: O primeiro volu- distribuídos gratuitamente a faculdades
me da Série Didáticos foi divulgado na de Arquitetura e Urbanismo de universi-
última quarta-feira (22) [de outubro de dades públicas e aos principais arquivos
2014]. O lançamento ocorreu durante a e bibliotecas do país. Também podem ser
cerimônia de inauguração do auditório encontrados na livraria do Chico, no ICC
da Faculdade de Arquitetura e Urbanis- Norte. A expectativa é de que, no ano que
mo. O livro faz parte da coleção Teoria e vem, sejam publicados mais dois volu- TAVARES, Ádila. Faculdade de Arquitetura e Urba-
nismo publica série de livros didátivos. Disponível
História. mes da Série Didáticos. T em: <http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unba-
Intitulada Arquitetura, Estética e gencia.php?id=9024>. Acessado em: 21 jan. 2015

33
ARQUI

OS PALÁCIOS
ORIGINAIS DE
BRASÍLIA
Romullo Baratto - ArchDaily Brasil
publicação original do site do ArchDaily Brasil

Em comemoração ao Dia do Arquite- ginais de Oscar Niemeyer e Joaquim Car-


to e Urbanista e ao aniversário do mestre dozo, produzidos entre 1956 e 1960, além
Oscar, a Câmara dos Deputados lançou de desenhos elaborados especialmente
o livro Os palácios originais de Brasília, para o livro. T
de autoria do arquiteto Elcio Gomes da
Silva. Trata-se do resultado de sua tese
de doutorado, em que o autor examinou BARATTO, Romullo. Livro “Os palácios
cuidadosamente os primeiros palácios originais de Brasília” disponível online.
construídos para a inauguração da nova Disponível em: <http://www.archdaily.
capital federal na década de 1960. com.br/br/759279/livro-os-palacios-ori-
Motivada pela necessidade de pre- ginais-de-brasilia-disponivel-online>.
servação do patrimônio, a tarefa teve por Acesso em: 21 jan. 2015.
base o estudo dos registros de arquitetu-
ra e de engenharia estrutural da época
para identificar nas obras construídas o
conjunto de valores declarados pelos au-
tores de projetos.
O livro descreve, ao longo de mais
de quatrocentas páginas, o processo de
concepção e construção dos Palácios
da Alvorada, do Congresso Nacional, do
Planalto e do Supremo Tribunal Federal,
acompanhados de um rico conjunto de
fotografias de maquetes e desenhos ori-

34 2/2014
URBANISMO
ECOLÓGICO

Caio Frederico e Silva Simpósio Internacional Urbanismo Ecológico em


São Paulo, 2014
fotografia pela Editora Gustavo Gili

No dia 16 de outubro tivemos uma


inauguração “fora de época” do novo
auditório da FAU. Foi lançado no Brasil
– em São Paulo no dia 15 e em Brasília
no dia 16 – o livro Urbanismo ecológico
organizado e coeditado pelos professores
Mohsen Mostafavi e Gareth Doherty da
Faculdade de Arquitetura da Paisagem
de Harvard University. O evento foi orga-
nizado pelos professores Caio Silva, Liza
Andrade e José Marcelo (Universidade
Federal do Amapá), contou com palestra
de abertura de ambos os professores e a
presença da Editora Gustavo Gili, que fez
a venda exclusiva dos primeiros exem-
plares do livro em sua versão portugue-
sa. O tema instigante das novas formas
de urbanização, levando em conta as
dimensões da sustentabilidade, atraiu
mais de 150 estudantes, que promoveram
um rico debate com os professores convi-
dados. Os professores Carolina Pescatori
Guarda do Palácio
e Daniel Sant’Ana contribuíram com as
fotografia
fotografia
porpor
Marilia
Marilia
Alves
Alves traduções no evento. T

35
FAU
NA
RUA
+
ARQUI

PÉ NA ESTRADA

Praça de Bolso do Ciclista


fotografia por Bárbara Gomes

PÉS EM CURITIBA Entre os dias 20 e 25 de agosto


ocorreu a segunda edição do projeto Pé
buições imprescindíveis das professoras
Gabriela Tenório, Giselle Chalub, Liza An-
Ricardo Trevisan na Estrada, dessa vez com destino à ci- drade e Mônica Gondim.
dade de Curitiba (PR), sob a coordenação O projeto Pé na Estrada, institucio-
dos docentes Caio Silva e Ricardo Trevi- nalizado pela professora Elane Ribeiro
san e organização das discentes Bárbara Peixoto em 2010 (SigProj), teve como pa-
Gomes e Brenda Pamplona. Cidade re- rada inaugural Goiânia (GO) em dezembro
conhecida dentro e fora do país por seu daquele ano. Surgiu com o objetivo de es-
planejamento urbano e modelo inovador timular a reflexão e a discussão sobre Ar-
de transporte público, a capital parana- quitetura e Urbanismo a partir da vivên-
ense foi a escolha para receber os pés de cia de diferentes localidades brasileiras,
quarenta curiosos estudantes e as contri- contribuindo para a formação de nossos

38 2/2014
Professora Mônica explicando sobre o sistema de Selfie da fofura das professoras no Jardim Botânico
transporte inovador de Curitiba fotografia por Bárbara Gomes
fotografia por Bárbara Gomes

alunos, revelando realidades distintas à urbanas e rurais por quais passamos. ridos em aulas, livros, sítios eletrônicos,
do Distrito Federal e, simultaneamente, Nos quatro dias em Curitiba, o ritmo foi vídeos etc. Ao fim, sabemos que cada
compartilhando os conhecimentos ad- intenso por conta da ampla agenda a participante é capaz de não apenas re-
quiridos por meio de ações in loco ou ex- cumprir – aos desavisados: o Pé não é petir rótulos como Curitiba sustentável
posição de trabalhos. Como ocorre desde uma mera viagem turística, mas aulas ou Curitiba marketing, mas de atribuir
a primeira versão, o Pé na Estrada estru- de campo intensivas! Caminhando ou julgamentos e apreciações fundamenta-
tura-se em três etapas: (1) Pré-viagem (es- valendo-nos do transporte coletivo, pude- das sobre a arquitetura, o urbanismo, o
colha do local, organização operacional, mos confrontar a imagem da cidade ide- planejamento e a urbanidade da capital
criação de roteiro, divulgação, inscrição, al, aquela promovida em palestras por paranaense.
seminário com temáticas específicas); (2) órgãos públicos e profissionais (URBS, Diante da importância e eficácia
Viagem (visitas, palestras com persona- Jaime Lerner etc.), com a realidade vi- desse instrumento na formação comple-
gens locais, ações pontuais, registros e venciada nas ruas (Centro Histórico, Rua mentar do futuro arquiteto-urbanista e
produção de material); e (3) Pós-viagem das Flores, Rua da Cidadania, Centro Cí- na contribuição pública para conheci-
(sistematização e exposição pública dos vico, Praça de Bolso do Ciclista, Largo da mento de nossas cidades, o projeto Pé na
produtos obtidos). Para essa jornada, o Pé Ordem), nos parques (Botânico, Tanguá Estrada pode adquirir status de regulari-
ganhou logomarca e qualidade operacio- e Tinguá) e nos equipamentos urbanos dade dentre as atividades acadêmicas e
nal, graças ao trabalho árduo de um gru- (Mercado Municipal, Universidade Livre de extensão da FAU-UnB. Fato é que sua
po de engajados alunos. do Meio Ambiente, Ópera de Arame, Mu- terceira edição foi lançada, com destino
Assim, partimos: do Planalto Cen- seu Oscar Niemeyer). Ao experimentar o a Minas Gerais, ao colonial de Ouro Preto,
tral ao Paranaense, dos ipês-amarelos às real – suas escalas, suas cores, seus chei- à modernidade de Belo Horizonte e à ex-
simbólicas araucárias, do Plano Piloto à ros, suas temperaturas, seu povo e seus pressividade artística e paisagística de
acupuntura urbana. As vinte e quatro costumes, sua cultura etc. –, reavaliamos Inhotim. Assim, pessoas, pé na estrada!
horas de viagem serviram para integrar (positiva ou negativamente) as expecta- T

o grupo e aproveitarmos das paisagens tivas geradas a partir de estudos adqui-

39
ARQUI

VIAGEM DIDÁTICA AO
RIO DE JANEIRO
VIVENCIAR A CIDADE COMO PROPOSTA DE ENSINO
Camila Gomes

A metrópole fluminense tem sido capital fluminense se deu por uma con- construção de um olhar crítico sobre a
pensada para seus habitantes? Foi den- junção de fatores que enriqueceriam a cidade, sua paisagem, sua dinâmica e
tro desta discussão que se inseriu a via- discussão do espaço urbano: a cidade, de sua mobilidade. Essa imersão cultural foi
gem didática “Vivenciando a cidade do 450 anos, possui marcas acumuladas de orientada em quatro eixos:
Rio de Janeiro”, realizada de 4 a 9 de no- vários períodos históricos e remodela- No eixo História, Formação Urbana
vembro de 2014, propondo-se a consoli- ções urbanas de diferentes épocas, além e Patrimônio Construído foram realiza-
dar os arcabouços teórico-práticos minis- de viver um momento de expressivas dos percursos pelo centro do Rio, expla-
trados nas disciplinas de Projeto Urbano intervenções urbanísticas por conta da nando-se sobre a evolução da cidade, os
1 e Projeto Paisagístico 2 pela professora Copa do Mundo e das Olimpíadas. morros desmontados e aterros realizados
Camila Gomes Sant’Anna. A atividade contou com colabora- sobre o mar. Também se observaram a in-
A interlocução entre as disciplinas ção e acompanhamento do Prof. Mateus serção e o papel na imagem urbana de
se faz fundamental para que os alunos Rosada, da FAAL (Faculdade de Adminis- edificações coloniais (Convento de San-
entendam a importância dos espaços tração e Artes de Limeira), que fez impor- to Antônio, Paço Imperial, Praça XV de
livres como nós articuladores de inter- tantes aportes sobre a história da cidade, Novembro), neoclássicas/ecléticas (edifí-
venções urbanas ocorridas ao longo do o patrimônio cultural e as reformas urba- cios da Cinelândia e da rua Uruguaiana,
desenvolvimento das cidades. Foram nas que o centro histórico sofreu, além Real Gabinete, comércio do Saara, CCBB,
analisados, em especial, os recentes pro- de estimular os alunos a desenhar e a fo- Casa França-Brasil) e do movimento mo-
jetos de mobilidade, de reestruturação tografar suas impressões sobre a cidade. derno (ABI, Palácio Capanema). No âmbi-
de áreas centrais, de reordenamento de Foi definido um itinerário que não to do Urbanismo, foi possível percorrer
assentamentos informais e de expansão só discutisse in situ o objeto estudado, algumas avenidas do Plano Pereira Pas-
urbana no Rio de Janeiro. A escolha da mas também permitisse aos alunos a sos e as que vieram após o Plano Agache,

40 2/2014
Palacio do Catete Palacio Capanema
fotografia por Mateus Rosada fotografia por Mateus Rosada

resultados das várias reformas estrutu- Artes, MAM, MAR e as obras do MIS e do ra. Promoveu-se um maior entrosamento
rais pelas quais a cidade passou. Museu do Amanhã). entre os alunos e destes com os professo-
Analisou-se também a Paisagem No eixo Intervenções e Projetos Ur- res, o que enriqueceu a participação no
Carioca, por meio do estudo de passeios banos, houve a visita e interlocução com desenvolvimento das disciplinas.
públicos, largos, praças e parques do o escritório Atelier Metropolitano, do ar- Para as próximas viagens, plane-
sistema de espaços livres da cidade, ar- quiteto Jorge Jauregui, especializado em jam-se parcerias com outras universida-
ticulando-a com áreas institucionais e reurbanização de favelas. Ainda dentro des, de modo a conhecer sua estrutura,
ambientais de grande relevância (Barra desse eixo, procurou-se compreender me- seu corpo docente e seu programa de
da Tijuca, Aterro do Flamengo, Parque lhor a operação urbana de remodelação curso. Torna-se interessante também a
Guinle e Jardim Botânico). da área portuária: os alunos percorreram promoção de um ciclo de palestras com
Dentro da tentativa de compre- a região, visitando a sala de exposições docentes de outras disciplinas para ins-
ender a inter-relação entre os edifícios do Projeto do Porto Maravilha, o que lhes tigar intercâmbios de conhecimento en-
institucionais e culturais e as áreas li- permitiu compreender a história do local tre os diferentes conteúdos do curso.
vres, insere-se o eixo das Grandes Obras e como ficará o redesenho da área. Por fim, gostaríamos de deixar o
Arquitetônicas, nos quais se observaram Ao final, percebemos que a viagem nosso agradecimento a todas as pessoas
os equipamentos de cultura existentes e didática instigou a exploração do ter- e instituições que prestaram inestimá-
em implementação, suas características ritório fora do ambiente universitário, vel apoio, em especial ao Prof. José Ma-
de cunho patrimonial existentes ou não, transformando a cidade em sala de aula, noel M. Sanchez e à Profa. Luciana M. B.
sua proposta de expografia e sua relação estabelecendo parcerias diversas e enri- Schenk (IAU-USP) e aos funcionários Jo-
estabelecida com o usuário e da obra ar- quecedoras com empresas privadas, pro- sué, Adriana e Soemes. T
quitetônica com o entorno (Cidade das fissionais liberais e territórios de cultu-

41
ARQUI

42 2/2014
IMS
fotografia por Ana de Abreu Altberg

MAM
fotografia por Mateus Rosada

Real Gabinete Português de Leitura


fotografia por Mateus Roasada

43
galeria
fotográfica

BRASÍLIA MONUMENTAL
POR EDUARDO ROSSETTI
45
ARQUI

46 2/2014
47
FAU
PES
QUI
SA
+
ARQUI

ENSAIO
TEÓRICO
diplomação

50 2/2014
A
rquitetura e Urbanismo são, ao o edifício isolado o objeto primordial de respectivamente. Caroline toma de em-
mesmo tempo, arte, estética, te- atenção do arquiteto urbanista, é a cida- préstimo a metáfora da cidade post-it,
oria, projeto, técnica, represen- de que em primeiro plano aparece. Uma de Giovanni de la Varra, e compara as
tação e também texto. Isto é, impressos, cidade que se questiona sob o ponto de ocupações dos espaços vazios de Brasí-
a Arquitetura e o Urbanismo por escrito vista da sustentabilidade, da mobilidade, lia à escrita temporária destes, ou seja,
constroem-se em linhas e entrelinhas e da acessibilidade, da participação popu- assim como os papéis adesivos e colori-
ora expressam, manifestam, discutem, lar, da apropriação dos espaços públicos, dos marcam páginas e desaparecem sem
debatem, apresentam e divulgam, ora das praças e parques e da memória mate- deixar vestígios, as ocupações pontuam
complementam, esclarecem, analisam rializada também em edifícios que nela a cidade e também se vão. Diego pensa a
ou acompanham ideias, conceitos e con- se inserem e da qual fazem parte, indis- reapropriação dos espaços a partir do Co-
teúdos de maneira bem mais acessível sociavelmente. nic e, especificamente, da Fundação Bra-
que a obra edificada. Sintam-se, portanto, convidados por sileira de Teatro, evocando, do passado,
A Arquitetura e o Urbanismo, ensaiados Bianca Rabelo e Nágila Ramos ao desa- Dulcina de Morais, numa aproximação
por escrito nas páginas que se seguem, fio de comparar, respectivamente, as ci- à questão da memória e da identidade,
revelam a riqueza e a complexidade do dades tradicionais de Paris e Budapeste, também exploradas por Ingrid Siqueira
campo profissional que definem. Trata- de um lado, com a cidade modernista de e Jéssica Gomes. De fato, tendo por objeto
se de Arquitetura e Urbanismo em pala- Brasília, do outro, sob o ponto de vista da de estudo de caso os museus a céu aberto,
vras, pausas, pontuação e significados mobilidade urbana. Também Juliana Lo- Ingrid discute o papel da autenticidade
que se edificam a partir de temas esco- pes Vasconcelos e José Henrique Freitas e sua relação com o território. Jéssica,
lhidos pelos próprios alunos, em momen- oferecem à leitura a questão da mobili- por sua vez, traz à tona o problema da
to de conclusão da cadeia de disciplinas dade urbana, cada um à sua maneira. À declaração de significância de bens mo-
do departamento de Teoria e História da Juliana interessa mostrar o pedestre, de dernistas sem reconhecimento oficial. E
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. uma maneira geral e, especificamente, o ainda: Lucas Parahyba e Regina Miranda
Entretanto, ao contrário do que se pode seu papel dentro do câmpus da Universi- oferecem à leitura a cidade a partir do
imaginar, os temas elencados não se res- dade de Brasília. A José Henrique impor- ponto de vista da sustentabilidade; Pedro
tringem à teoria e história da Arquitetu- ta o ciclista, ou melhor, a possibilidade Ernesto Barbosa enfoca o planejamento
ra e Urbanismo que, de fato, são apenas de metamorfosear ele mesmo, você ou urbano participativo a partir do estudo
o alicerce por meio do qual se desenvol- outros em ciclistas, a partir da definição de caso de dois bairros em Salvador, e
vem também questões de projeto e tecno- de um manual do ciclista urbano. A cida- Stephanie Souza lança um olhar por tri-
logia. de como espaço de vida pública, social- lhos e casas por meio e em meio ao uni-
Dos cinquenta e oito trabalhos apresen- mente justo, democraticamente acessível verso de Tu não te moves de ti, obra de
tados à disciplina Ensaio Teórico no se- é a preocupação que baliza o convite às Hilda Hilst. T
gundo semestre de 2014, quinze foram reflexões de Lara Garcia, Camila Abrão,
selecionados para compor esta pequena Caroline Nogueira e Diogo Lins. Lara e
amostra. Dentro deste universo, notam-se Camila pensam o espaço público a partir Assim, saibam que, aonde quer que as
uma preocupação e o interesse cada vez de áreas verdes, de praças e parques em páginas que se seguem os levem, vocês
maiores com o espaço urbano. Assim é Anápolis, ou da proposição de um mapa não se moverão de si mesmos. Boa via-
que, subvertendo a noção geral de que é de uso do Parque da Cidade, em Brasília, gem, boa leitura!

Ana Elisabete Medeiros


Coordenadora de Ensaio Teórico

51
ARQUI

Permacultura Urbana para


Cidades em Transição:
avaliando o programa
Incredible Edible de Todmorden
por Lucas Parahyba

Vários estudos de organismos in- Este trabalho procurou estudar


ternacionais alertam que nosso modo de quais princípios da permacultura urba-
vida é insustentável em termos socioe- na e do movimento Transition Towns
conômicos e ambientais, considerando podem ser identificados no programa de
uma população de 7,2 bilhões no plane- agricultura urbana denominado Incredi-
ta. Nossa principal matriz energética, o ble Edible da cidade de Todmorden na In-
petróleo, chegou ao seu pico e sua extra- glaterra, já expandido para o mundo todo.
ção vai ficar cada vez mais difícil e cara, Este programa tem como objetivo fortale-
levando ao declínio. É necessária uma cer a comunidade por meio de constru-
mudança radical no estilo de vida dos ção de hortas urbanas na forma de can-
moradores das cidades, uma vez que, em teiros e parques da cidade, que servem
2050, 70% da população mundial viverá como propaganda com a função de criar
nos centros urbanos. oportunidade de discutir sobre “comida”.
Diante desse cenário, alternativas Identificou-se que vários aspectos foram
para a construção de um modo vida mais estudados e trabalhados, como a ligação
sustentável vêm crescendo, como a per- com a terra, alimentação saudável, pro-
macultura, criada na década de 1970 dução local e senso de coletividade. Este
na Austrália por David Holmgren e Bill programa teve alta aceitação da comu-
Mollison. Inicialmente aplicada como so- nidade, o que possibilitou modificações
lução para agricultura com um sistema na matriz curricular de colégios locais e
integrado de espécies animais e vegetais criação de selos que autenticam produ-
perenes, foi ampliada para uma cultura tos locais.
sustentável de planejamento e aperfeiço- Concluiu-se que o programa respon-
amento de esforços realizados por indiví- de aos princípios permaculturais e o mo-
duos, familiares e comunidades (HOLM- vimento Transition Towns na busca de
GREN, 2002). uma sociedade mais resiliente e susten-
A fim de conseguir subsídios para tável. Além disso, é um exemplo prático
analisar técnicas ou ações sustentáveis de como a coesão de uma comunidade é
investigou-se sobre a ética da permacul- essencial para enfrentar crises econômi-
tura e os princípios de design. No âmbito cas, sociais e ambientais. Um programa
urbano, analisou-se o movimento “Tran- replicável e com características que per-
sition Towns”, iniciado na Inglaterra mitem sua implementação em cidades
como uma prática de mobilização para brasileiras. T
tornar as cidades resilientes, baseada em
princípios holísticos da permacultura Orientador: Liza Andrade
com foco no planejamento de adaptação Banca: Camila Sant´anna e Giuliana de
das cidades ao declínio do petróleo. Brito Sousa

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Por trilhos e (c)asas,
o fragmentado espaço do canto:
tu não te moves de ti, de HH
por Stephanie Souza

...SE ÉS POETA, ENTENDES. Por trilhos e (c)asas, o fragmentado produção) nos traz reflexões sobre o pró-
espaço do canto: tu não te moves de ti, prio arquétipo de casa proposto por Ba-
CASA É ILHA. de HH, é um trabalho dedicado a mapear chelard. Segundo ele, é necessária uma
E O TEU AMOR É SEMPRE e analisar as imagens poéticas relativas associação sistemática entre o ato da
TRAVESSIA. ao espaço na obra Tu não te moves de ti consciência criadora e a imagem poética
(1980) de Hilda Hilst (1930-2004), tendo para apreendermos a fenomenologia da
(HILDA HILST) por base as propostas de Gaston Bache- imaginação. A Casa do Sol, como as per-
lard (1884-1962) em A Poética do Espaço sonagens de Tu não te moves de ti (e o
(1989). Busco, por assim dizer, aproximações entre o espaço da espaço que as envolve), ascende, muda,
narrativa literária e o espaço vivencial da escritora (A Casa do transcende: como suas personagens, Hil-
Sol) na procura da experiência do espaço físico pelo espaço poé- da nutre carinho pelo canto, pela figuei-
tico (não de maneira refletida, tal como um espelho, mas amal- ra e pelo céu encerrado no pátio interno.
gamada, retorcida). A poética de Hilst – rica na construção de O perder-se pelas imagens, poéticas ou
imagens e símbolos – junta, e essencialmente, com a residência não, é quase simultâneo ao adentrarmos
que ela construiu e morou a partir de 1963, A Casa do Sol (ainda o mundo real, tão onírico, da Casa do Sol.
que nem sempre reconhecida como um ponto de partida da sua Este universo é capaz de nos transpor-
tar a tantos outros, inclusive o envolvido
pelo mantra: tu não te moves de ti. O mo-
vimento é espectro da casa. Bachelard,
ao colocar a poesia como fenomenologia
da alma, dá espaço para irmos além da
imagem poética, além da própria casa,
além da própria alma – o que faz dos con-
flitos das personagens na obra estudada
material de extrema importância para
absorver e recriar os universos espa-
ciais que as contêm. A casa, ainda que
por vezes esparsa e confundida a outros
elementos, é muito presente e essencial,
segundo Bachelard, para a representação
da experiência humana. Busco relacio-
nar (no sentido de pôr em relação) a poe-
sia da autora com a experiência humana
– infinita e inexplicável, embora sempre
provocativa, instigante e sedutora (como
os textos de Hilda; como a própria Hilda;
como a própria vida). T

Longo ao tempo Orientador: Elane Ribeiro Peixoto


Foto da autora
Banca: Alexandre Pilati e Miguel Gally

53
ARQUI

A arquitetura como objeto de museu:


O caso dos museus a céu a aberto
por Ingrid Siqueira

Processo de enumeração das partes do edifício, a fim


de ser transportado para o museu

54 2/2014
No desenvolvimento da Museologia circundante é também artefato museoló- Por meio da reconstrução de edifícios de
ao longo dos séculos, passa-se a questio- gico. variados locais e de diferentes épocas,
nar os princípios dos museus tradicio- Questiona-se, assim, se o con- consegue-se reafirmar o sentimento de
nais e a incitar a necessidade de estes ceito de museu a céu aberto põe ou não pertença de toda a população. Esses edi-
se tornarem objetos mais próximos da em risco a ideia de autenticidade estabe- fícios, sozinhos e espalhados em diferen-
sociedade. Assim, o museu passa por lecida no campo do patrimônio histórico. tes localidades, não teriam acesso a um
inúmeras transformações, que levam ao E até que ponto a noção da arquitetura público tão extenso. O ecomuseu, por sua
surgimento de tipos diversos de museus, deslocada com a autenticidade realmen- vez, reforça o sentimento de pertença de
em que dois serão, em diferentes medi- te importa. Introduz-se a noção de au- uma população específica, já que ape-
das, tratados neste trabalho. Ambos apre- tenticidade, uma vez que o processo de nas tal comunidade e seus edifícios se
sentam a arquitetura como objeto museal deslocamento do edifício da sua localiza- tornam museu. Assim, a autenticidade
e inovam na maneira de interagir com o ção original para o museu a céu aberto é quebrada no sentido da localização no
público. consiste, geralmente, no procedimento museu a céu aberto, mas entende-se que
O museu a céu aberto surge no caracterizado pela anastilose, ou seja, se faz um sacrifício em prol da cultura,
final do século XIX, como uma forma de desmonte e identificação das partes do uma vez que um maior número de pesso-
resgatar a cultura vernácula dos países edifício e em seguida a reconstrução. Tal as tem acesso à história de seu país. T
e passá-la a outras gerações. Além de método é bastante questionado por inú-
objetos que representavam a cultura da meros teóricos no campo do patrimônio Orientador: Ana Elisabete Medeiros
população, passou-se a deslocar edifícios histórico. Banca: Maria Cecília Gabriele e Eduardo
históricos inteiros para dentro do museu, Tal pergunta é respondida por Pierrotti Rossetti
expondo-se um ambiente reconstruído da meio da análise do estudo de caso, o mu-
história. O ecomuseu entra na discussão seu St. Fagans, localizado no sul do País
porque trata de forma diferenciada a de Gales, e também de um processo es-
relação da arquitetura com o território, pecífico de deslocamento de um dos edi-
uma vez que esta não é deslocada de sua fícios do museu. Apesar dos questiona- Dia 28/11/2014 às 16:00
localização original. Além de objetos, cos- mentos, este museu é bastante popular
tumes e a arquitetura, o próprio território não só no país, mas em toda a Europa.
Auditório da FAU - UnB
Fonte: Imagem retirada do site < eyeonwales.
wordpress.com>. Acessado dia 18/11/2014.

55
ARQUI

HABITABILIDADE E
CIDADES SENSÍVEIS À ÁGUA:
Uma avaliação dos espaços
públicos em Melbourne
por Regina C. Ribeiro Miranda

“Habitar”, lembrando Heidegger, vidades humanas e pela forma urbana,


significa “nosso modo de estar no mun- configurando importante indicador da
do”, constituindo-se, antes de tudo, num qualidade de vida que a cidade oferece
modo de relacionamento com o outro, aos seus cidadãos. (ANDRADE, 2014; DE
com o lugar, com a cultura. HAAN ET AL, 2012; GORSKI, 2010)
Na construção das cidades, esse Tendo como base a Teoria das ne-
habitar tem sido marcado por variadas cessidades humanas de Alderfer (1969)
formas de interação com as águas: de E.R.G. (Existence, Relatedness, Growth),
aproximação, no passado, ao afastamen- De Haan et al (2011) sugere uma cone-
to, no presente, seja pela fragmentação xão entre habitabilidade e água urbana,
da cidade, pelo modo produtivo do con- a partir de três categorias de necessida-
sumo e descarte de recursos, pela crença des sociais: Existência (física e material);
na tecnologia como solução para todos os Relacionamento (interação entre as pes-
problemas, numa visão de dominação e soas, e destas com seu ambiente); e Cres-
controle da natureza, com impactos na cimento (autoestima e realização social).
qualidade de vida da cidade e bem estar Estas categorias auxiliam na promoção
das pessoas. (CORNELL, 1998; HERZOG; da qualidade dos espaços da cidade como
2013; LOTUFO, 2011) um instrumento orientador do planeja-
Novas formas de habitar se tornam mento urbano nas escalas da cidade, da
possíveis quando se leva em considera- rua e do edifício.
ção os fluxos de água e o desenho urbano Este trabalho teve como objetivo
sensível à água, aliando tecnologia verde investigar se o programa australiano De-
às variadas necessidades e desejos das senho Urbano Sensível à Água (WSUD),
pessoas e comunidades. O ciclo da água, com foco na cidade de Melbourne, tem
como parte integrante dos processos e conseguido aplicar as categorias de ne- Orientador: Liza Andrade
fluxos da natureza e da cidade, é influen- cessidades sociais, além dos ganhos am- Banca: Camila Sant’Anna e Daniel
ciado pelos fatores climáticos, pelas ati- bientais nas soluções inovadoras. T Sant’Anna

56 2/2014
PARTICIPAR É MAIS:
um estudo sobre planejamento
urbano participativo e
autonomia nos planos de
bairro da saramandaia e dois
de julho em salvador
por Pedro Ernesto Chaves Barbosa

As transformações nas cidades ao maior sintonia com a ideia de “direito um levantamento de 57 modalidades
longo dos anos, tanto no Brasil como no a cidade” levantada por Lefebvre (1991). apresentadas pelo relatório português
resto do mundo, têm mostrado uma acen- Essa entrada das pessoas na luta pela 41/2013 DED/NAU (Participação da Comu-
tuada predominância da heteronomia. democratização do planejamento e ges- nidade em Processos de Desenho Urbano
Em outras palavras, técnicos, políticos e tão urbanos deve estar atenta a não re- e de Urbanismo).
empresários/empresas controlam a vida produção das relações heterônomas atra- O estudo dos modos de participar na
das pessoas e o lugar onde elas moram vés da garantia da autonomia coletiva construção da cidade mostra que o cami-
sem que as mesmas possam manifestar das populações. nho para que a população seja ouvida é
suas intenções, desejos e expectativas. O foco na autonomia segundo Souza longo e trabalhoso. Nesse sentido, as uni-
Com base em teóricos como Kapp et (2010) permite que a cidade seja de fato versidades devem estar mais envolvidas
al. (2012), Lefebvre (1991), Vainer (2000) uma construção coletiva na qual as pes- no processo de formação de profissionais
e Leite (2007) dividiu-se essa atuação no soas estão atentas aos problemas, pro- reflexivos e responsáveis e, por outro
espaço urbano em quatro modelos: i) da põem soluções coletivas e respeitam as lado, os governos devem aumentar os ca-
tecnocracia; ii) da manutenção da ordem; diferenças. Dessa forma, a participação nais de participação. “Participar é mais”
iii) da terra que vale ouro e iv) da gestão popular na construção do espaço urbano quando todos podem ter voz ativa, inde-
empresarial. Esses modos de fazer a cida- surge como uma forma de efetivar esse pendente das diferenças de cor de pele,
de não acontecem de forma isolada, são conceito, sendo necessário que planeja- gênero, idade, crença religiosa e política.
simultâneos e podem ser ilustrados com dores e gestores saibam aplicar metodo- T

exemplos que vão desde Pereira Passos logias e técnicas que de fato consigam
no Rio de Janeiro e Haussmann em Pa- dar voz à população. Orientador: Liza Andrade
ris, até às Operações Urbanas Consorcia- Para buscar um maior entendimen- Banca: Benny Schvarsberg e Carolina
das (OUC) que se alastram por todo o país. to das técnicas de participação comuni- Pescatori Candido da Silva
O estudo sobre os movimentos so- tária foi feito um estudo dos planos par-
ciais urbanos mostra que em contrapon- ticipativos dos bairros de Saramandaia e
to às “reformas urbanas” heterônomas, Dois de Julho em Salvador. A estes foi
há uma necessidade de ressignificar os aplicada uma matriz que quantificava
modos de fazer a cidade buscando uma a aplicação de técnicas com base em

57
ARQUI

As Praças e Parques de Anápolis:


Discussões sobre seus efeitos
na vida pública da cidade nos
últimos 8 anos
por Lara Garcia

Parque Ipiranga. Autor desconhecido.


Fonte: Acervo do Museu Histórico de Anápolis

58 2/2014
Os espaços públicos são elementos escondida pelos troncos contorcidos do o estudo macro. A primeira parte é com-
estruturantes da cidade e importantes cerrado, a cidade tem passado por fortes posta por uma leitura comparativa dos
na construção do espaço democrático, intervenções nos seus espaços públicos dois últimos Planos Diretores de Anápo-
pois são essencialmente todos os lugares de convivência. Desde 2009, cerca de lis, 1992 e 2006. A segunda parte é uma
a que qualquer um pode ter acesso, nos cinquenta praças e parques foram revi- análise panorâmica do desempenho da
quais todas as pessoas têm o direito de talizados ou construídos. Questiona-se expansão das áreas de praças e parques,
permanecer e são livres para se manifes- então: O modo de produção recente das a partir de parâmetros investigativos
tar e se expressar (TENORIO, 2012). Esse praças e parques de Anápolis tem promo- como o aumento de oferta, a democrática
ensaio enfoca as áreas de praças e par- vido a vida pública e a justiça social? distribuição territorial e a diversidade de
ques públicos, lugares que, por definição, A estrutura metodológica adotada atividades oferecidas. Por último, foram
oferecem ou deveriam oferecer ativida- para responder a esse questionamento divulgados resultados da pesquisa de
des, atrativos e elementos convidativos tentou conciliar conhecimentos teóricos uso e percepção realizada com 210 habi-
para as pessoas estarem ao ar livre, para e observação empírica como forma de tantes de Anápolis, expressando assim
permanecerem e, mais do que isso, demo- documentar e analisar os fatos presen- costumes, opiniões e demandas da popu-
rar-se. Áreas imprescindíveis para o uso tes. Para isso, primeiramente, fez-se um lação sobre essas áreas. T
contemporâneo dos espaços públicos. embasamento teórico discorrendo sobre
Anápolis, sítio do estudo, é uma ci- pensadores da urbanidade, como Jane Orientador: Gabriela Tenorio
dade brasileira de médio porte. Distante Jacobs, Jan Gehl e William Whyte, es- Banca: Leandro de Sousa Cruz e Monica
e desconhecida pelos mais importantes tabelecendo-se assim os princípios de Gondim
pensadores da urbanidade. Apesar de investigação. A análise em si é dividida
longe, localizada no interior do Brasil e em duas partes, o discurso da cidade e

59
ARQUI

MOBILIDADE URBANA:
CIDADE MODERNA VS
CIDADE TRADICIONAL,
OS CASOS DE BRASÍLIA E BUDAPESTE
por Nágila Ramos

São vários os aspectos que deter- Foram analisadas informações seja, o que a literatura consultada propõe
minam os deslocamentos das pessoas (compiladas e representadas em mapas, foi confirmado com os estudos de caso:
nas cidades: físicos, econômicos, sociais, tabelas e gráficos) relativas ao desenho mais uso misto, densidades urbanas
culturais e outros. Porém, a configuração urbano (através da sintaxe espacial), mais altas e menores distâncias entre
física e a distribuição das atividades no densidades, distribuição de usos, redes as atividades implicam menor necessi-
espaço urbano têm papel fundamental. de transporte público (focando em sua dade de transporte motorizado, incentivo
Objetivando compreender como a distribuição e cobertura espacial) e da- ao pedestre e ao ciclista, e, além disso,
configuração urbana influencia ou con- dos estatísticos (repartição modal, taxa o transporte público pode ser mais bem
diciona a mobilidade e a acessibilidade de motorização e evolução do uso de veí- distribuído, mais rápido e custar menos.
na cidade, foi desenvolvido um estudo culos privados). Concluiu-se que as metrópoles têm
em duas etapas: revisão da literatura so- Constatou-se que ambas as cidades um desafio: o planejamento permanente
bre o tema e comparação entre a cidade apresentam dificuldades à mobilidade. e integrado entre os sistemas de mobili-
moderna e a tradicional, através de dois Contudo, a configuração de Budapeste dade/transporte e de uso e ocupação do
estudos de caso, Brasília e Budapeste. (malha viária mais integrada e compac- solo, que busque costurar os diversos te-
Ambas são capitais nacionais, cercadas ta, diversidade de usos, centro mais den- cidos que compõem a malha urbana, pro-
por áreas metropolitanas com cerca de so e acessível) propicia melhores con- movendo melhores distribuições da ocu-
3,5 milhões de habitantes. À parte essas dições de mobilidade e acessibilidade pação urbana e conexões de seus usos no
semelhanças, possuem estruturas urba- urbana do que a configuração de Brasí- território. Dessa forma, é possível atingir
nas, contextos social, cultural, histórico lia, que decorre direta ou indiretamente níveis mais altos de sustentabilidade em
e de meio ambiente natural bastante dis- do seu desenho moderno (separação de relação à mobilidade urbana. T
tintos. Todavia, essa comparação pôde usos, baixas densidades, malha viária
exemplificar como diferentes configura- mais labiríntica, muito espaço para ve- Orientador: Benny Schvarsberg
ções urbanas geram padrões de mobili- ículos, longas distâncias entre os diver- Banca: Mônica Gondim e Gabriela Tenorio
dade diversos. sos bairros e entre funções diversas). Ou

60 2/2014
DULCINA E BRASÍLIA por Diogo Lins

Dulcina de Moraes nos anos 30.


Foto Acervo de Sérgio Viotti, retirada do livro
Dulcina e o Teatro de Seu Tempo

A FBT E O CONIC
É impossível contar a história do
Dulcina sem contar a do CONIC, que é
visto por muitos como uma mácula na
paisagem urbana da capital, por conta do
período em que foi uma região marcada
pelo tráfico de drogas, crime e prostitui-
ção. “É um caso raro de edifício tomba-
do que de tempos em tempos cogita-se
que seja demolido” (NUNES, 2009). O que
ocorre é que, embora o CONIC seja um
exemplar arquitetônico muito próprio de
Brasília, é o único local em que a cida-
de se parece com qualquer outra, onde a
cultura é acessível a tribos de realidades
completamente diferentes.
Recentemente, motivados a tornar
Brasília uma cidade viva, diversos gru-
pos independentes vêm criando eventos
que estimulam a população a ocupar o
espaço público. São eventos de cunhos
diversos: culturais, comerciais, festivos,
e acontecem em locais com pouca ou
nenhuma infraestrutura, provando que
Dulcina de Moraes nasceu em da em 21 de abril de 1980, com projeto mais importante que o espaço é a ativi-
1908, no Rio de Janeiro. É considerada a inicial de Oscar Niemeyer. É a primeira dade. Nunes acredita que esses jovens,
primeira dama do teatro brasileiro, por faculdade de Teatro do país. que não têm mais os antigos preconcei-
sua importância na luta pelo reconheci- Em 7 de dezembro de 2007, o Teatro tos das gerações anteriores, salvarão o
mento do Teatro como profissão e pela da FADM e todo o acervo da atriz foram CONIC. A FBT é muito compatível com
institucionalização do ensino dessa arte. reconhecidos pelo governo como Patri- esses movimentos, e talvez agora seja
No final da década 1960, motivada mônio Cultural do DF. A urgência atual um momento oportuno para ela própria
pela construção da nova capital, Dul- é assegurar a preservação desse patri- estimular esse tipo de uso naquele espa-
cina decide construir, em Brasília, a mônio. A situação da FBT é crítica. A ço, e beneficiar-se disso. A memória de
Fundação Brasileira de Teatro (FBT), no fundação mantém a faculdade, o teatro e Dulcina agradece. T
Setor de Diversões Sul, o CONIC. A FBT o acervo, e corre risco de falência, pelas
é a mantenedora da Faculdade Dulcina dívidas herdadas ainda do período da Orientador: Reinaldo Guedes Machado
de Moraes (FADM), tendo sido inaugura- construção. Banca: Eliel da Silva e Marcia Troncoso

61
ARQUI

mobilidade urbana:
Os Casos de Paris
e de Brasília
por Bianca Rabelo

Acessibilidade e mobilidade urbana Brasília, cujo plano urbanístico de Lu-


são assuntos atuais e cada vez mais dis- cio Costa buscou refletir a política im-
cutidos no contexto das cidades. O exces- plementada pelo presidente JK, é uma
so de carros e a má qualidade do trans- cidade modernista com um sistema de
porte público coletivo configuram um mobilidade pensado e voltado quase que
problema atual em Brasília e em grande exclusivamente para o automóvel. Já Pa-
parte das cidades brasileiras. Em todo o ris, cidade centenária de origem romana
mundo, as cidades vêm se renovando e e objeto de inúmeras expansões e refor-
tomando medidas para reduzir o tráfego mas ao longo dos anos, foi abordada a
de automóveis. Com o plano de mobili- partir da reforma do século XIX condu-
dade de 1998, Paris adotou medidas que, zida por Napoleão III e o prefeito Hauss-
em um período de dez anos, contribuíram mann, que fez desaparecer a imagem da
para uma redução de 24% do uso de auto- cidade antiga e insalubre, facilitando a
móvel e um aumento de 30% das viagens circulação a partir dos novos eixos e va-
de trem, 18% das de metrô e 10% do uso lorizando os monumentos.
de ônibus. No estudo de casos, os dados de mo-
O Ensaio Teórico teve como objetivo bilidade nas duas capitais foram anali-
a análise da mobilidade urbana em Paris sados e comparados nos subcapítulos
e em Brasília a fim de responder à se- “As cidades e o ciclista”’, “As cidades e o
guinte questão: Após meio século desde transporte coletivo”, “As cidades e o auto-
a sua inauguração, a cidade modernista móvel” e “As cidades e o pedestre”.
planejada para o automóvel realmente Com os dados obtidos, concluiu-se
alcançou seus objetivos de transformar que o objetivo do urbanismo modernista
os espaços da cidade em expressões má- de otimizar a fluidez e a velocidade na
ximas do conforto e da fluidez de pesso- cidade não se cumpriu. A capital apre-
as e bens quando comparada à cidade de senta grandes problemas de mobilidade,
origem medieval? que se intensificam em virtude do seu
Para tanto, definiu-se o conceito de transporte público ineficiente e do nú-
mobilidade urbana, abordando os meios mero cada vez maior de automóveis par-
de transporte, suas transformações ao ticulares. Problemas que não acontecem
longo da história, problemas e desafios somente por ter sido planejada segundo
da mobilidade no contexto atual das ci- a prática rodoviarista, mas sim por uma
dades. questão de gestão pública. T
Para melhor compreender os perí-
metros estudados, o Plano Piloto de Bra- Orientador: Ana Elisabete Medeiros
sília e os 20 arrondissements de Paris, Banca: Mônica Gondim e Giselle Chalub
foi feito um estudo dos seus históricos.

62 2/2014
Imagem produzida pela autora

63
ARQUI

Transformando o lugar:
a (re)descoberta dos
espaços públicos brasilienses
por Caroline Nogueira

Partindo da premissa do sociólogo agem como um dispositivo de funciona-


Anthony Giddens de que a sociedade mento da cidade contemporânea ligado
contemporânea está vivendo um mo- às dinâmicas da vida coletiva fora dos
mento de alta modernidade marcado pela canais convencionais. Revelando a habi-
efemeridade do “novo” e pela velocidade lidade de reconquistar o espaço público
das comunicações interpessoais, é pos- a partir de uma vontade da população, o
sível concluir que os espaços urbanos post-it se torna um sensor da qualidade
estão passando por mais um período de urbana latente de um espaço aberto a di-
mudança ocupacional. Estas transfor- nâmicas que garantem a diversidade de
mações geram novas demandas sociais, ideias e pessoas. Dadas a espontaneida-
e a forma como elas interagem entre si, de e a informalidade com que se dissemi-
ocupando, além de um espaço físico, um nam no espaço, La Varra considera essas
espaço virtual, influencia todo o espaço ocupações como formas de resistência à
urbano. normatização dos padrões de comporta-
mento público e ao consumismo da cida-
COMO UM TEXTO CHEIO DE POST-IT, A de.
Considerando apropriações ocor-
CIDADE CONTEMPORÂNEA ESTÁ OCUPADA ridas em Brasília, projetada com base
TEMPORARIAMENTE POR COMPORTAMENTOS nas ideias do urbanismo moderno, onde a
QUE NÃO DEIXAM RASTRO – COMO estrutura das ruas é completamente mo-
dificada, a análise de Transformando o
TAMPOUCO O DEIXAM OS POST-IT NOS lugar: a (re)descoberta dos espaços públi-
LIVROS – QUE APARECEM E DESAPARECEM cos brasilienses contrapõe estas ideias a
DE MODO RECORRENTE, QUE TÊM SUAS opostas como as da americana Jane Jaco-
bs, que acreditava que esta nova organi-
FORMAS DE COMUNICAÇÃO E DE ATRAÇÃO, zação resultaria em uma cidade sem pes-
MAS QUE CADA VEZ SÃO MAIS DIFÍCEIS DE soas nas ruas, mantendo-as em parques
IGNORAR. (LA VARRA) sem muitas possibilidades de mudança.
Entretanto, considerando a cidade como
um organismo dinâmico, essas novas
O arquiteto italiano Giovanni de la apropriações post-it dos espaços públi-
Varra foi o primeiro a utilizar o termo cos brasilienses se contrapõem também
Post-it City, metáfora que compara o com- à de Jacobs e podem ser uma resposta
portamento da cidade contemporânea tanto às demandas criadas pelo projeto
aos blocos adesivos usados para anotar urbanístico de Brasília quanto às novas
recados. A Post-it City seria a rede frag- demandas contemporâneas. T
mentada e temporária de estruturas fun-
cionais que ocupam os espaços públicos Orientador: Luciana Saboia Fonseca Cruz
vazios do tecido urbano e promovem a Banca: Ana Elisabete Medeiros e Miguel
escrita temporária deles. Esses modos Gally
temporais de ocupação do espaço público

64 2/2014
Mapa para o Uso do
Parque da Cidade
Dona Sarah Kubitschek
em Brasília/DF
por Camila Abrão

Ao traçar o perfil evolutivo da his- e contexto, tanto em relação aos seus es- linguagem universal de fácil compreen-
tória dos parques urbanos no mundo, per- paços físicos quanto ao modo como são são. Além disso, traz informações gerais
cebe-se que sua evolução está atrelada ao usados. sobre onde estão as estações de metrô
desenvolvimento da sociedade com suas Ao pensar em um espaço próximo a próximas ao Parque, os acessos voltados
transformações e renovações, e também mim e também sendo usuária dele, per- para o carro, para os pedestres, as esta-
ao crescimento rápido das cidades com cebe-se que o Parque da Cidade desem- ções de bicicleta do Itaú e os pontos de
seus problemas dele advindos. penha um papel de grande importância ónibus.
Assim, ponderar qualidade de vida na estrutura urbana do Distrito Federal. A parte do verso do mapa possui
requer pensar em estratégias de prote- Assim, estudar estratégias de uso de um algumas fotos para mostrar ao usuário
ção e preservação de espaços potenciais, parque urbano é fundamental para fo- o que acontece no Parque. Também traz
para conservação de suas características mentar o uso desse espaço livre público informações a respeito da localização do
em busca de um aperfeiçoamento. para o lazer. Parque na cidade de Brasília e quais são
Foi nesse contexto que surgiu a Com o intuito de potencializar e os principais meios que o usuário possui
ideia da criação de um Parque Recreativo estimular o uso do Parque foi elaborado para acessar a área. Além disso, faz re-
em Brasília, mais tarde chamado de Par- um mapa para uso do Parque da Cidade ferência às zonas do Parque do projeto
que da Cidade Dona Sarah Kubitschek, como um documento orientativo para original de Burle Marx.
em homenagem à mulher de Juscelino seus usuários, a fim de ressaltar as prin- Esse mapa foi pensado para fazer
Kubitschek, e inaugurado em outubro de cipais atividades e serviços existentes com que as pessoas tenham conheci-
1978. Nomes como o de Lucio Costa, Oscar na região, fazendo com que o Parque da mento das diversas opções de lazer que o
Niemeyer e Burle Marx participaram de Cidade seja um espaço mais presente Parque da Cidade oferece e também para
sua criação. no cotidiano tanto das pessoas que já o incentivá-las a usufruírem desse espaço.
O interesse em desenvolver um utilizam quanto para os que serão novos Acredito que o mapa deve ser divulgado
trabalho de Ensaio Teórico a respeito usuários. na Administração do Parque, na internet
do espaço público do Parque da Cidade Para desenvolver o mapa e fazer e nos jornais, pois com isso as pessoas
Dona Sarah Kubistchek em Brasília sur- com que os resultados sejam mais próxi- terão melhor conhecimento do que existe
giu após ter morado um ano na cidade mos da realidade, alguns procedimentos no Parque e este desempenhará seu pa-
de Paris na França pelo programa Ciên- metodológicos foram adotados como, por pel como um grande espaço público de
cias sem Fronteiras. Esse intercâmbio exemplo, visitas in loco, fotografias das lazer. T
universitário me possibilitou conhecer principais atividades, zoneamento das
diversos lugares novos, com culturas e áreas do Parque. Orientador: Caio Frederico e Silva
pessoas diferentes. E me permitiu per- No mapa, as atividades e os servi- Banca: Camila Sant´anna e Giuliana de
ceber e comparar como os espaços públi- ços existentes no Parque foram mostra- Brito Sousa
cos podem ser diferentes em cada local dos por meio de pictogramas, por ser uma

65
ARQUI

Memória e Cidade:
O caso do Touring Club
por Viviane Moreira

Touring Club 1967


Fonte: Revista Brasília

O projeto de Brasília nasce em 1957


de um concurso, onde Lucio Costa foi
vencedor. Primeiramente, no Relatório
do Plano Piloto, a cidade surge de duas
linhas formando o sinal da cruz e que le-
vemente se adaptam ao relevo local.
Desde seu surgimento, Brasília já
se destacava por ser uma cidade fruto do
movimento moderno, onde se vê as qua-
tro funções básicas da Carta de Atenas:
habitar, trabalhar, recrear e circular.
Em 1987, Brasília fica conhecida
pelo seu tombamento na UNESCO. Porém
a imagem que surge, é que ela seria uma
cidade “engessada”. Por ter sido plane-
jada, entende-se que a cidade já estava Cultural Sul. Descrito inicialmente no e entrevistas realizadas com arqui-
pronta antes mesmo de ser construída. como uma “casa de chá”, foi inaugura- tetos, ex-estudantes da Faculdade de
Todavia, Brasília foi construída e do em 1967 como o edifício sede do Tou- Arquitetura de Brasília, em que narram
apropriada, com isso construiu sua pró- ring Club em Brasília. Desde os ano 90, o suas memórias ao longo das 5 décadas
pria identidade, que não era “prescrita” mesmo já passou por diversos usos, mas de Plano Piloto afim de concluir: como o
no Relatório. A cidade foi construída nunca o de “casa de chá”. Entretanto, em edifício se construiu na paisagem do co-
em partes e cada um dos edifícios que a 2007, foi tombado em nível federal. tidiano da cidade e como isso se reflete
compõe contribuem para a formação des- Através da teoria dos valores patri- na memória das pessoas. T
sa identidade. Muitas das obras já eram moniais de Alois Riegl, pretende-se en-
previstas no Relatório do Plano Piloto, no tender que papel teve o Touring Club no Orientador: Luciana Saboia Fonseca Cruz
entanto, tomaram usos e apropriações dia-a-dia da cidade. Para isso será usado Banca: Luana Miranda Esper Kallas e
diferentes das idealizadas e contribuem o conceito de narrativa do filósofo Paul Maria Cecilia Filgueiras
para a caracterização da paisagem do co- Ricoeur, no intuito de entender como o
tidiano da cidade. edifício se reflete na memória da popu-
Entre os edifícios descritos no Re- lação e como ele se configurou na pai-
latório, encontra-se o chamado Touring sagem do cotidiano da cidade. Desenvol-
Club, localizado na região central de Bra- veu-se, então, a história do edifício e seu
sília, mais especificadamente no Setor entorno por meio de fontes documentais

66 2/2014
A perda de exemplares
não excepcionais para a
Arquitetura Moderna:
Estudo de Caso -
O Centro de Dança do DF
por Jéssica Gomes da Silva

Imagem do Teatro Nacional em construção com o


Centro de Dança ao fundo.
Fonte: Revista Brasília (21.04.1961)

salvaguarda. O tema Brasília é inserido


em seu contexto urbano e arquitetôni-
co, de forma a apoiar o entendimento do
movimento moderno e suas principais
características. Assim, é inserida a pro-
blemática específica dos exemplares
modernos que não são reconhecidos e
preservados. Após um panorama geral,
o Centro de Dança do DF é apresentado
com todo o seu histórico e memórias a
ele relacionadas, tentando juntar, desse
modo, todas as peças desse quebra-cabe-
ça. Fechando o Ensaio, a realidade do es-
Questões de preservação e reconhe- excepcionais da Arquitetura Moderna, e paço é retratada por meio de fotos e cro-
cimento dos bens edificados hoje são dis- como estudo de caso o Centro de Dança quis, demonstrando a situação atual da
cutidas com ênfase nas transformações do DF. Essa é uma edificação de cunho edificação, passando pelos valores que
pelas quais vem passando a sociedade unicamente cultural, voltado para a dan- ela possui, para propor uma Declaração
na forma como essa se relaciona com ça que, ao longo dos anos, desde a década de Significância. Como conclusão são te-
suas edificações. Mais ainda, hoje entra de 1960, quando construída, passou por cidos alguns comentários acerca de sua
em discussão a dificuldade de se preser- alguns diferentes usos e um longo pro- salvaguarda, não unicamente relaciona-
var bens que não possuem tombamento cesso de degradação que se estende até dos às memórias das pessoas, mas à sua
e que, portanto, não possuem o devido os dias atuais. O trabalho primeiro abor- história de fato. T
reconhecimento. Partindo desse tema da a questão de preservação do patrimô-
principal, surge o Ensaio Teórico que nio moderno, apresentando inicialmente Orientador: Cláudia da Conceição Garcia
tem por finalidade discutir exatamente as características dessa arquitetura, que Banca: Ana Elisabete Medeiros e Elane
a questão da valorização de bens não a tornam única, e as premissas de sua Ribeiro Peixoto

67
ARQUI

Manual de Ciclismo Urbano:


Como sofrer uma metamorfose?
por José Henrique Freitas

A VIDA É COMO ANDAR vida e dando dicas e conselhos sobre o


uso da bicicleta como meio de transporte.
DE BICICLETA. PARA Além disso, aumenta a conscientização
TER EQUILÍBRIO, É da necessidade da melhoria do transpor-
PRECISO MANTER-SE EM te no Distrito Federal, com propostas de
incentivos e campanhas, almejando-se
MOVIMENTO. novos modais de transporte, desacelera-
(ALBERT EINSTEIN) ção de vias, investimentos em infraes-
truturas e restrições ao uso do automóvel
individual. E esse roteiro somente pôde
ser desenvolvido a partir da vivência
da metamorfose, que permitiu ao autor
Este ensaio mostra e analisa, na te- caracterizar com clareza e precisão os
oria e na prática, a mudança na rotina de temas principais a serem abordados no
um cidadão comum na mobilidade urba- manual.
na, identificando os principais desafios Um dos motivos de se transformar
enfrentados pelo indivíduo que decide o trabalho teórico em prático ocorre pelo
mudar de padrão de mobilidade, transfor- fato de, muitas vezes, ao fazermos estu-
mando-se em um ciclista em sua cidade. dos sobre mobilidade ou urbanismo na
O processo é uma verdadeira metamorfo- faculdade, elaboramos planos de implan-
se ou alomorfia, termos de sentido bioló- tação de ciclovias, por exemplo, sem nun-
gico, que se referem a uma mudança na ca termos feito uso da bicicleta em nossa
forma ou na estrutura de um ser vivo no cidade ou saber como é a vivência do ci-
curso do desenvolvimento de sua vida. clista. O novo estilo de vida sobre duas
O autor coloca-se então como co- rodas parece desafiador, mas é também
baia de seu próprio estudo e tenta sofrer motivado por outras questões, como o
a metamorfose proposta. Seria possível, fato de se aliar a necessidade de desloca- Orientador: Carolina Pescatori
em Brasília, largar de vez ou pelo menos mento cotidiano à prática de atividade fí- Banca: Benny Schvarsberg e Maribel
um pouco o uso do automóvel e começar sica ou de economizar em combustível e Aliaga
a fazer uso da bicicleta como meio de manutenção do veículo. Adicionalmente,
transporte? Os desafios e obstáculos, re- traz diversos benefícios à cidade, desde O Ensaio completo pode ser acessado
gistrados e identificados durante a meta- a não emissão de poluentes no meio am- no portal Issuu, através do link: www.
morfose, foram trabalhados e detalhados, biente até a economia em infraestrutura issuu.com/josehenriquefreitas/docs/en-
formando o roteiro do conteúdo funda- urbana e uso de espaço público. A cidade saio_view
mental do “Manual do Ciclista Urbano”, carece desse tipo de vivência atualmen- As entrevistas podem ser acessadas na
um guia voltado especialmente às pes- te, em que o carro se tornou um anfitrião página de Facebook Ciclistas de Brasí-
soas que pretendem se metamorfosear, em Brasília e deixou o pedestre e o ciclis- lia, criada para o Ensaio, através do link:
apoiando novatos em ciclismo urbano, ta como figurantes da vida urbana. T www.facebook.com/ciclistasdebrasilia
tirando dúvidas sobre a nova forma de

68 2/2014
O Lugar do Pedestre
no Espaço Universitário
por Juliana Lopes Vasconcelos

Percurso longitudinal realizado

O trabalho se concentra em desco-


brir o real espaço dedicado ao pedestre
dentro do câmpus universitário. O câm-
pus é o lugar de importantes manifes-
tações culturais e acadêmicas dentro
de uma cidade. Sendo assim, compõe
uma importante área de estudo, abran-
gendo uma quantidade significativa de
pessoas que fazem o uso desse espaço
diariamente. A configuração espacial
dos edifícios no câmpus universitário
e os caminhos traçados a partir destes
são características fundamentais para o
entendimento da circulação do pedestre
na universidade. O estímulo do usuário
a caminhar e a valorização do pedestre
no espaço, na perspectiva atual da mobi-
lidade sustentável, são elementos essen-
ciais para começar a mudança de hábitos
e de paradigmas urbanos. Com isso, o pe-
destre se apresenta como a temática cen-
tral desse estudo, em que se depara com
o questionamento de como ele percorre
o espaço universitário. Esse espaço está
estruturado para o uso do pedestre? Qual zes para valorizar e estimular os percur- um diagnóstico do cenário das calçadas,
é o lugar do pedestre no câmpus? sos e caminhos e, consequentemente, o percursos e demais espaços dedicados a
Para responder a essas indagações, pedestre. Com isso, são atribuídas quatro esses pedestres dentro da universidade.
constrói-se, então, um panorama com a dimensões para definir critérios de análi- Os resultados obtidos evidenciam que a
composição dos primeiros campi universi- se desses percursos: (1) acessibilidade, (2) universidade foi perdendo a qualidade
tários do mundo até chegar à organização segurança e proteção, (3) conforto ambien- das edificações construídas no início de
obtida nos dias de hoje no Brasil e depois tal e (4) atratividade. sua construção, no que diz respeito à aces-
em Brasília, com a Universidade de Brasí- Com base nessas dimensões esta- sibilidade e à qualidade dos percursos,
lia. Tendo como objeto principal de estudo belecidas, tem-se a análise do espaço do para dar lugar a novas edificações que
o Câmpus Darcy Ribeiro, delineia-se sua pedestre na qual se busca compreender priorizam o sistema viário em detrimento
evolução histórica desde as suas primei- se o usuário utiliza ou não esse espaço do espaço do pedestre dentro do câmpus.
ras construções até a configuração das dedicado a ele, por meio da observação T

edificações em seu território atualmente. das condições que esses percursos se


Depois, parte-se para o entendimento das apresentam para o pedestre. Para isso, Orientador: Carolina Pescatori Candido
dimensões e conceitos que valorizam a utiliza-se o Câmpus Universitário Dar- da Silva
prática do caminhar na sociedade, isto é, cy Ribeiro como um estudo de caso para Banca: Benny Schvarsberg e Frederico
procura-se entender quais são as diretri- elucidar o método elaborado e para obter Flósculo

69
FAU
PRE
MIA
DA
+
ARQUI

>>

RANKING
72 2/2014
O jornal Folha de S. Paulo divulgou Confira abaixo os dez melhores cursos
a edição 2014 do Ranking Universitário de arquitetura e urbanismo na classifi-
Folha (RUF), publicação anual que elege cação geral:
as melhores universidades e cursos do
país a partir de quesitos como “Qualida-
de de Ensino” e “Avaliação do Mercado”. 1º Lugar – Universidade de São Paulo (USP)
Em arquitetura e urbanismo, a Universi- 2º Lugar – Universidade de Brasília (UnB)
dade de São Paulo (FAU-USP) encabeça 3º Lugar – Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
a lista, que abrange 239 instituições de 4º Lugar – Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
todos os estados brasileiros. 5º Lugar – Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Curiosamente, no ranking geral as 6º Lugar – Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
dez primeiras posições são ocupadas por 7º Lugar – Universidade Federal do Ceará (UFC)
instituições públicas, onde figuram a 8º Lugar – Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Universidade de Brasília (UnB) no segun- 9º Lugar – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
do lugar e a Universidade Federal de Mi- 10º Lugar – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP)
nas Gerais (UFMG) na terceira colocação.
Já entre as instituições privadas,
o top 10 destaca sete paulistas, tendo a Veja os dez melhores cursos de arquite-
Mackenzie no topo da lista. Nas duas tura e urbanismo no ranking de institui-
posições seguintes estão a Pontifícia ções privadas:
Universidade Católica de Campinas (PU-
C-Campinas) e o Centro Universitário Be-
las Artes de São Paulo. 1º Lugar – Universidade Presbiteriana Mackenzie – São Paulo, SP
A ordem de classificação ainda 2º Lugar – Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas)
pode variar de acordo com os quesitos 3º Lugar – Centro Universitário Belas Artes de São Paulo
selecionados. A FAU-USP tem a maior 4º Lugar – Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Alvares Penteado
pontuação nas categorias “Avaliadores (FAAP) – São Paulo, SP
do MEC” e “Avaliação do mercado” – ao 5º Lugar – Universidade Paulista (UNIP)
lado da Universidade Federal da Bahia 6º Lugar – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)
(UFBA) e da Mackenzie –, enquanto a 7º Lugar – Universidade Positivo (UP) – Curitiba, PR
UnB é a melhor em qualidade de ensino. 8º Lugar – Universidade Anhembi Morumbi (UAM) – São Paulo, SP
O RUF também engloba os seguin- 9º Lugar – Universidade Nove de Julho (UNINOVE) – São Paulo, SP
tes parâmetros: Doutorado e Mestrado; 10º Lugar – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO)
Nota no Exame Nacional de Desempenho
de Estudantes (Enade); e Professores com
dedicação integral e parcial.
Criado em 2012, o Ranking Univer-
sitário Folha é uma avaliação do ensino
superior brasileiro, que utiliza informa-
ções coletadas pelo veículo em bases de
patentes brasileiras e periódicos cientí-
ficos, dados do Ministério da Educação
(MEC) e pesquisas nacionais de opinião
feitas pelo Datafolha. T

RANKING 2014 dos melhores cursos de arquitetura do Brasil é divulgado. Disponível


em: <http://www.arqbacana.com.br/internal/arq!news/read/14189/ranking-2014-dos-me-
lhores-cursos-de-arquitetura-do-brasil-%C3%A9-divulgado>. Acesso em: 21 jan. 2015.

73
ARQUI

prêmio
AnPRAC
PROJETO DE HABITAÇÃO
AUTOSSUFICIENTE
Lanna Santana - Secretaria de Comunicação da UnB

IDEIA É CONSTRUIR UM Pesquisa da Universidade de Brasí-


lia (UnB) propõe um prédio experimental
ESPAÇO DE PESQUISA
que consuma a mesma energia que pro-
MULTIDISCIPLINAR duz ao longo de um ano, conhecido como
PARA OS CURSOS edifício com balanço energético nulo
DE ENGENHARIA E (nZEB). Por meio de simulações compu-
tacionais, os estudiosos calcularam o
ARQUITETURA, COM consumo de energia e a capacidade de
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA produção para um ano típico e demons-
POR FONTES RENOVÁVEIS traram o sucesso na meta de consumo
líquido nulo inicialmente proposto.
O estudo, intitulado “Proposta de
edificação experimental com balanço
energético nulo para a Universidade de
Brasília”, ganhou o prêmio ANPRAC de
melhor trabalho técnico apresentado no
9º Congresso Internacional de Ar Con-
dicionado, Refrigeração, Aquecimento e
Ventilação – MERCOFRIO 2014.
Idealizado em conjunto, o artigo de
Geraldo Pithon e João Pimenta, do De-
partamento de Engenharia Mecânica da

74 2/2014
Fachada Noroeste-oeste - evidencia-se a separação
clara entre o bloco de laboratórios (em amarelo) e o
público (em azul).
imagem por Gloria Lustosa Pires

Faculdade de Tecnologia (FT), foi feito ra, estamos criando um grupo de estudos diversos projetos envolvidos dependem
em parceria com Cláudia Naves Amorim vinculado à ASHRAE para reunir as áre- das condições climáticas do local.
e Márcia Birck, ambas da Faculdade de as da universidade e dar continuidade à MERCOFRIO – O evento que ocorreu
Arquitetura e Urbanismo (FAU). proposta” destaca Geraldo. de 25 a 27 de agosto em Porto Alegre (RS)
O projeto além de atender às ativi- Edifício de energia líquida zero, em trouxe 36 trabalhos de alta notoriedade
dades comuns de um edifício acadêmico, inglês net Zero Energy Building (nZEB), é na área. Cinco trabalhos da universida-
será uma plataforma de pesquisa com ca- a nomeação dada a projetos que possuem de foram apresentados, sendo um deles
ráter multidisciplinar para as engenha- alta eficiência energética para o mínimo premiado como melhor trabalho do con-
rias, além do uso por outras áreas como consumo possível aliada à produção de gresso.
a Arquitetura. Dessa maneira, a edifica- energia por fontes renováveis. Promovido pela Associação Sul Bra-
ção permitirá as mais diversas análises João Manoel Pimenta, professor de sileira de Refrigeração, Ar Condicionado,
de mecanismos de eficiência energética, Engenharia Mecânica da UnB, aponta Aquecimento e Ventilação (ASBRAV), o
qualidade do ar interior, produção de que no mundo já existem exemplos de Congresso MERCOFRIO acontece bianu-
energia por fontes renováveis e estudo edificações nZEB. “O intuito deste edifí- almente nas principais capitais da re-
de tecnologias prediais eficientes. cio experimental será um projeto pionei- gião Sul do país desde 1998.
“Um edifício nZEB só é possível ro”, conclui Pimenta. Na premiação é selecionado o me-
quando todas as áreas de projeto envol- No Brasil esse ainda é um assun- lhor trabalho no setor que visa aspectos
vidas caminham juntas desde a sua to restrito, mas em países da Europa e ambientais, interesses industriais e so-
concepção inicial, acompanhadas de fer- nos Estados Unidos há denso material cioeconômicos. T
ramentas de simulação confiáveis que de pesquisa e edifícios já comprovada-
SANTANA, Lanna. Projeto de habitação autossufi-
permitam análise do impacto de cada mente net zero. Cada país usa um tipo de ciente. Disponível em: <http://www.unb.br/noticias/
decisão de projeto tomada. Dessa manei- energia alternativa diferenciada, pois os unbagencia/unbagencia.php?id=8930>.

75
ARQUI

pibic
menção honrosa
AS CIDADES:
DA INDUSTRIALIZAÇÃO À ESTÉTICA RELACIONAL
Danilo Fleury

Pensar a respeito das cidades atu- espaço/tempo que engloba simultanea- no pensamento e nas práticas urbanís-
ais requer uma regressão analítica e crí- mente críticas, elogios e reinterpretações ticas, atualizando sua produção para as
tica das reflexões urbanas ocorridas na do passado. novas potencialidades da sociedade e da
história. Este trabalho apresenta, de ma- Por compreender que a arte é o vida contemporânea.
neira introdutória, um panorama do pen- anúncio pioneiro dos novos tempos, A pesquisa em questão teve impor-
samento urbano, desde a industrializa- apoiamo-nos nela, junto com o que se viu tantes resultados e repercussões. O tra-
ção até as últimas ideologias urbanas do nessa regressão à história do pensamen- balho “As cidades, da industrialização à
século XX (Internacional Situacionista), to urbano, para refletir sobre as cidades estética relacional” foi aceito como co-
que colabore para o entendimento acerca que estão por vir. Nos anos 90, Nicolas municação do XIII Seminário de História
da situação urbana na contemporanei- Bourriaud em seu livro “Estética Relacio- das Cidades e do Urbanismo realizado do
dade. As transformações que ocorreram nal” reflete sobre o lugar da arte na socie- dia 9 a 12 de setembro de 2014. A versão
durante esses séculos, permeadas por di- dade contemporânea e as interferências expandida do mesmo trabalho foi aceita
versas ideologias, construíram a comple- que o mercado e a cultura de consumo para publicação na Revista de Estética e
xa situação urbana das cidades atuais. produzem no ambiente social. A diminui- Semiótica (ISSN 2238-362X), no volume
Iniciamos um breve o passeio pelas ção progressiva de espaços de convívio e I de 2014. T
utopias dos primeiros urbanistas (e pré relação em prol de ambientes de consu-
-urbanistas), aqueles que se distinguiam mo é o contexto onde surge a produção
entre progressistas e culturalistas. Visi- artística que ele denomina de arte rela-
tamos então a imponente ideologia mo- cional. Por mais que sua reflexão esteja
derna e também as críticas urbanas pós- voltada para a arte contemporânea, ela é
modernas até chegar, por fim, aos dias de extrema relevância para o pensamen- Aluno: Danilo Fleury
atuais. Percebe-se nesse breve passeio to urbano. Agregar o valor da sensibilida- Orientador: Miguel Gally
que a história urbana se dá como um tra- de artística, suas potências sociais e po- Plano de Trabalho Pibic 2013/2014:
ço tortuoso que vai e vem, cheio de es- líticas, pode ser de grande importância “O corpo e a cidade: uma investigação
peranças e nostalgias, de revisões e con- para a reflexão urbana atual. Nossa pes- preliminar sobre as aproximações entre
tradições. Assim, a contemporaneidade quisa investiga se e em que medida tais arte visual e arquitetura a partir das in-
nos vem aos olhos como esse complexo ideias permitiriam uma virada de chave tervenções urbanas”

76 2/2014
Cidades utópicas
pós industrialização

Cidade Industrial de Tony Gardier

Le corbusier e suas
cidades utópicas

Plano Voisin de Le Corbusier

Críticas e utopias
da Internacional
Situacionista

Mapa psicogeográficos da Internacional Situacionista

Carta de Atenas e as
cidades modernas

construção de Brasília

Estética Relacional
de Nicolas Bourriaud

Documentation of 8 foot line tatooed on six remunerated people, 1999. Santiago Sierra

Arte contemporânea
e as intervenções
urbanas

77

Perca Tempo, intervenção urbana do Coletivo Poro


HO
ME
NA
GEM
+
ARQUI

LINA BO BARDI

80 2/2014
SESC POMPEIA 2013
fotografia por Eduardo Rossetti

LINA BO BARDI _ 100 ANOS


Eduardo Rossetti - organizador do evento

Dentre as diversas comemorações campo cultural brasileiro. Houve a exi-


sobre a obra de Lina Bo Bardi, que ocor- bição do filme Lina Bo Bardi (1993), se-
reram em 2014 em universidades e ins- guida de um debate com o diretor Aurélio
tituições – tanto no Brasil, como no ex- Michiles, que antes de se tornar cineas-
terior – por ocasião de seu centenário de ta estudou arquitetura na UnB nos anos
nascimento no dia 5 de dezembro, a FAU 1970. A Profa. Sylvia Ficher mediou o de-
-UnB organizou no dia 13 de novembro o bate com a plateia que prestigiou o even-
evento “Lina Bo Bardi _ 100 anos”. Tratou- to. Ainda no âmbito desta comemoração o
se de uma atividade singela voltada para jornalista e ensaísta Claudio Valentinet-
comunidade acadêmica, a fim de instigar ti – sobrinho da arquiteta – gravou um
reflexões sobre a trajetória, a atuação e depoimento para a TV UnB, que foi ao ar
o legado da obra da arquiteta dentro do do dia do centenário. T

81
galeria
fotográfica

SOBRE LINA BO BARDI


CAPA POR LAURA CAMARGO
GALERIA POR LUIZ SARMENTO
ARQUI

84 2/2014
NÃO PROCUREI BELEZA, MAS LIBERDADE.
OS INTELECTUAIS NÃO GOSTARAM, O POVO, SIM
(LINA BO BARDI)

85
ARQUI

86 2/2014
CAPA: exposição sobre a Lina Bo Bardi no Pavillion
de l’Arsenal, em Paris, por Laura Camargo

Trio de fotos: SESC POMPEIA, por Luiz Sarmento

Foto anterior: SESC POMPEIA, por Luiz Sarmento

Foto: MASP São Paulo, por Luiz Sarmento

87
NO
VOS
ARQUI
TETOS
+
DIPLÔ
diplomação
O
Trabalho de Conclusão de Curso arquiteto convidado. Estes avaliam o pro-
(TCC), segundo as Diretrizes Cur- duto final.
riculares Nacionais do curso de Sendo assim, apresento, com enor-
graduação em Arquitetura e Urbanismo me satisfação, os trabalhos deste último
estabelecidas na resolução no 2, de 17 semestre. Foram defendidos 29 projetos.
de junho de 2010, deve ser realizado ao Destes, 13 estão sendo expostos de forma
longo do último ano de estudos, centrado resumida e 4 ganharam maior destaque.
em determinada área teórico-prática ou Foram selecionados a partir de critério
de formação profissional, como atividade estabelecido por comissão composta para
de síntese e integração de conhecimento este fim. A comissão optou por publicar
e consolidação das técnicas de pesquisa. os trabalhos contemplados com menção
A FAU-UnB segue estes preceitos. superior (*).
Em nossa Instituição o trabalho é in- A produção apresentada a seguir
dividual, com tema de livre escolha do nos permite observar a diversidade de
aluno. É desenvolvido sob a supervisão temas. Estes refletem questões atuais
do professor orientador. O TCC é dividido relacionadas à estrutura da cidade, à
em duas partes: Introdução ao Trabalho sociedade, ao meio-ambiente. Mostram a
de Conclusão de Curso, realizado no pri- maturidade desta nova geração de arqui-
meiro semestre, e o Trabalho de Conclu- tetos -- seu engajamento e capacidade de
são de Curso, desenvolvido no segundo conceber, de forma consciente, através
semestre do ano letivo. No primeiro o alu- de projetos práticos, toda a teoria apre-
no deve apresentar como produto final o endida durante o curso. Resultado, além
anteprojeto de um objeto arquitetônico, do empenho do aluno, da qualidade do
na escala da edificação ou da cidade e corpo docente.
o TCC possui ênfase na continuidade e Diante do cenário atual de políti-
evolução do anteprojeto. cas públicas, estes novos arquitetos re-
A fim de sistematizar o trabalho presentam a perspectiva de uma cidade
deste último ano do curso, foi criado o melhor, com menos problemas sociais e
Plano de Curso da Diplomação. Neste são mais qualidade de vida.
estabelecidas regras, cronograma, con- Agradeço imensamente por mais
teúdo mínimo, formato de apresentação, este semestre, a disponibilidade e em-
avaliação, entre outros, que devem ser penho dos professores e arquitetos con-
seguidos pelos estudantes. vidados, na participação das bancas. Te-
A avaliação é feita por bancas. Es- mos a consciência de que é um trabalho
tas são compostas pelo orientador mais árduo mas extremamente importante e
dois professores. Os membros são fixos, gratificante. T
participam e avaliam todo o processo.
São acrescidos à banca final do TCC dois (*) Dezoito trabalhos obtiveram menção superior. Treze apre-
membros: um professor convidado e um sentaram resumo para publicação.

Paola Caliari Ferrari Martins


Coordenadora de Diplomação

91
ARQUI

CATÁLOGO DE PROJETOS >>

CENTRO DE CULTURA COMPLEXO REQUALIFICAÇÃO DA ANTI UTOPIA CENTRO INTEGRADO


ÁRABE ESPORTIVO AVENIDA COMERCIAL URBANA DE MODA DO GUARÁ
PARA O PEDESTRE

Ana Júlia Maluf Carolina Nascimento Daniela Quinaud Danilo Fleury Emanuelle Pereira
orientador: orientador: orientadora: orientadora: orientador:
Oscar Luis Ferreira Bruno Capanema Carolina Pescatori Elane Ribeiro Peixoto Oscar Ferreira

CASA DE RETIRO COMPLEXO CENTRO DE PRÁTICAS INTERVENÇÃO NA PROTÓTIPO PARA


RELIGIOSO CULTURAL EM INTEGRATIVAS EM RODÔ - O CORAÇÃO HABITAÇÃO DE
PLANALTINA SAÚDE DE BRASÍLIA INTERESSE SOCIAL
INDUSTRIALIZADA E
SUSTENTÁVEL.
Erick Welson Medonça Fabrícia Figueiredo Gabriela Emi Akaboci Gabriela Farinasso Guilherme Silva
orientador: orientador: orientadora: orientadora: orientadora:
Cláudio Queiroz Cláudio Queiroz Raquel Blumenschein Gabriela Tenorio Raquel Blumenschein

KARTÓDROMO DO SETOR COMERCIAL CENTRO ONCOLÓGICO INSTITUTO DE ARTES CENTRO PARA


GUARÁ SUL IDOSOS

Hana de Andrade Íngrid de Araújo Isabel Cabral Alencar Jana do Santos Júlia Piccolo Cinquini
orientadora: orientadora: orientador: orientador: orientador:
Elane Ribeiro Peixoto Gabriela Tenorio Cláudio Queiroz Cláudio Queiroz Frederico Flósculo

92 2/2014
CENTRO DE DANÇA ESTAÇÃO DA DANÇA CONJUNTOS ESCOLA INTEGRAL
HABITACIONAIS ESCOLA PARQUE COM ENSINO
DO GUARÁ II ESPECIAL

Kenji Nakakura Laura Camargo Leandro Aguiar Luiz Filipe de Souza Manuela Marcelino
orientador: orientador: orientadora: orientador: orientador:
Bruno Capanema Bruno Capanema Marta Romero Oscar Luiz Ferreira Frederico Flósculo

URBANISMO EDIFÍCIO DE IGREJA SÃO JOSÉ CENTRO CULTURAL HEMOCENTRO


BALANÇO 25 DE OUTUBRO REGIONAL DO GAMA
ENERGÉTICO NULO
(NZEB) NA UNB

Marcela Muniz Márcia Birck Mateus Costa Matheus Maramaldo Moira Neves
orientadora: orientadora: orientador: orientador: orientadora:
Gabriela Tenorio Cláudia Amorim Claudio Queiroz Jaime de Almeida Marta Romero

ESPAÇO DE AÇÕES CENTRO DE IGREJA CATÓLICA EMBAIXADA DE


DE MELHOR IDADE EDUCAÇÃO AMBIENTAL CABO VERDE EM
BRASÍLIA

Ninivy de Oliveira Rubiana Lemos Stella Junqueira Vander Delgado


orientador: orientadora: orientador: orientador:
Cláudio Queiroz Raquel Blumenschein Cláudio Queiroz Cláudio Queiroz
FAU-UnB
fotografia por Marilia Alves

93
ARQUI

projetos EM destaque >>

94 2/2014
CENTRO DE CULTURA ÁRABE ANA JÚLIA SAMPAIO MALUF
Oscar Luis Ferreira

O trabalho de conclusão de curso de Ana ética, o respeito aos colegas e a busca de tura brasileira, à cidade de Brasília onde
Júlia Sampaio Maluf, o Centro de Cultu- uma ideal de perfeição. Como, também, está implantada, marco da arquitetura e
ra Árabe, é, no meu entender, ao mesmo a abertura de um universo profissional do urbanismo modernos e patrimônio da
tempo o encerramento de um ciclo de de- vasto. A edificação proposta é o exemplo humanidade. Uma palavra traduz a bus-
dicação e sucesso de uma aluna sensí- desta afirmação, ao mesmo tempo em que ca constante e por que não dizer frenéti-
vel não apenas à arquitetura, profissão celebra uma outra cultura, a cultura dos ca empreendida por ela desde o início de
escolhida, mas a princípios pessoais de países cuja língua oficial é o árabe, res- nossas orientações: conhecimento!
origem familiar, que a fazem valorizar a peita, ao fazer referência clara à arquite-

A NOVA PLATA [FORMA] DA RODÔ GABRIELA CASCELLI FARINASSO


Gabriela Tenorio

A nova plata[forma] da Rodoviária, de diversidade, de possibilidades, a Rodovi- tervenção lúdica e cuidadosa, na qual o
Gabriela Cascelli Farinasso, é uma inter- ária do Plano Piloto é um edifício-cidade. homem – e não o automóvel – é a medida.
venção projetual no coração de Brasília. Com grande sensibilidade às questões de Espaços ociosos são ocupados, lugares de
Ponto nodal dos fluxos de automóveis e mobilidade sustentável e de preservação convivência são criados: uma nova [for-
pessoas, local de encontro e dispersão, de do patrimônio, Gabriela propõe uma in- ma] para a velha Rodô.

~
ESTAÇAO DA DANÇA LAURA CAMARGO
Bruno Capanema

O projeto da Estação da Dança se propõe ção de pessoas. que se dá na manutenção e valorização


a criar um centro de excelência para O partido adotado baseou-se no uso de dos caminhos existentes e na criação de
essa arte, bem como proporcionar um palavras-chave e conceitos relacionados novos trajetos, nos quais a arte se expres-
espaço cultural de permanência prolon- à dança e à representação volumétrica sa com força e dinamismo.
gada, aberto para a população em geral. e espacial de tais conceituações. Isso O Centro de Danças responde de maneira
A inserção na Avenida W3, com um par- se reflete no ritmo do volume das salas muito sutil e elegante ao desafio relativo
tido aberto e receptivo aos pedestres, tem de dança, bem como no equilíbrio entre a um projeto que alie força com leveza e
o intuito de contribuir para a revitaliza- cheios e vazios, força e leveza. beleza com técnica.
ção da região e de disseminar a arte da Outro conceito, presente de maneira bas-
dança, num local de grande movimenta- tante sensível, é o da permeabilidade,

CENTRO CULTURAL 25 DE OUTUBRO MATHEUS MARAMALDO


Maria Fernanda Derntl

Este Centro Cultural propôs-se num mo- nhos à mão livre dotados de grande for- Os espaços do centro cultural permitem
mento oportuno de discussão do período ça expressiva. A proposta estimula uma a exposição de documentos e artefatos de
de ditadura no Brasil. O projeto está fun- reflexão crítica sobre nossa história de naturezas diversas, explorando aspectos
damentado num estudo histórico escrito autoritarismos sem se limitar a uma vi- sensoriais e estimulando os encontros e
em tom original e apresenta-se em dese- são única ou encerrada daquele período. as discussões.

95
ARQUI

CENTRO DE
Aquilo que se considera civilização
árabe ou mulçumana surgiu na Penínsu-
la Arábica, formada por povos nômades
e comerciantes sem uma estrutura esta-
tal estabelecida. No século VI iniciam-se,
com o Profeta Maomé, a unificação e a

CULTURA
expansão do império. Os guerreiros islâ-
micos, imersos da rica tradição de comér-
cio, expandiram-se para além dos povos
persas e bizantinos. No auge do império,
os muçulmanos controlavam a Penínsu-
la Arábica, no norte da Índia, norte da
África e a Península Ibérica, chegando a

ÁRABE
Constantinopla.
Em vários aspectos, a civiliza-
ção mulçumana caracterizou-se por sua
tolerância na relação com outras cultu-
ras, resultado da extensão e da natureza
comercial do império. Com isso espalhou
cultura por toda a vastidão a que tinha
acesso, difundindo desde técnicas agrí-
colas, a métodos astronômicos e medici-
nais. Uma estimativa desta importância
pode ser mensurada com um exemplo na
matemática. O zero, arimetizado, como
o conhecemos e usamos, foi uma elabo-
ração de um matemático e astrônomo
do Observatório de Ujain, no século VI,
na Índia. Os árabes passaram a chamar
ANA JÚLIA MALUF este número de zifr (vazio), em seus tra-
tados de aritmética e análise numérica.

96 2/2014
Em Veneza, ponta da Rota da Seda para mulçumanos se justificava, pois estes árabe (dados do IBGE), constituindo-se na
entrada de especiarias orientais na Eu- consideravam judeus e cristãos como po- maior colônia fora dos países de origem.
ropa, zifr passou a ser chamado de cifra vos coirmãos – ‘’os povos do livro”, como Nessa população, a maioria é libanesa,
e zevero; e então “zero”. Vale ainda citar eram denominados. A deteriorização seguida dos sírios.
a disseminação da bússola e da pólvora, dessas relações radicalizou-se com dois O projeto proposto trata de
inventadas pelos chineses, e o cultivo marcos: o fim do Império Otamano, na um Centro de Cultura Árabe localiza-
de produtos agrícolas, como o café, cana- primeira Guerra Mundial, e a criação do do em Brasília, na entrequadra Norte,
de-açúcar, algodão, arroz, laranja, limão, estado de Israel, após a segunda Guerra EQN712/912. O Centro é privado e perten-
entre outros. Mundial. Esse processo tem origem com cente à Embaixada da Arábia Saudita.
Na arquitetura, perseguiram ca- o predatório processo de colonialismo e Contudo, em posse da embaixada, o edifí-
minhos únicos, por conta das imposições o neocolonialismo europeu nos séculos cio possui um caráter público, sendo, por-
das regras do Islã e das especificidades XIX e XX, com ocupações no norte da tanto, aberto à população. Seu objetivo é
das terras quentes onde viviam. Em com- África, Oriente Médio e todas as regiões a divulgação da cultura árabe na cidade.
plexos como as madrassas, as escolas da Ásia. No final do século XX, conduzido Por ser um centro cultural, o projeto pos-
do Islã, a partir dos elementos estéticos principalmente pela indústria da guerra sui uma função de abertura a diferentes
disponíveis e possíveis, a azulejaria, as articulada com o projeto neoliberal e o atividades de interesses artísticos.
estruturas geométricas, as composições fundamentalismo cristão, o Ocidente pro- A mesquita do Centro Islâmico do
de ocupação espacial, tanto para o estu- move em larga escala a propaganda de Brasil foi construída na década de 1960,
do como para a devoção, a iluminação e identificação dos povos árabes com par- com financiamento das embaixadas ára-
ambientação atingiram as formas mais celas fundamentalistas do Islã. O resul- bes. O Centro funcionou na 712/912 norte
requintadas e harmoniosas possíveis. tado é uma tentativa de demonização de até a década de 1980, quando foi incen-
Ainda hoje, é difícil a um viajante pela todos os povos mulçumanos e a desqua- diado e hoje está abandonado. De modo a
Península Ibérica ou a uma cidade islâ- lificação de sua vasta riqueza cultural. ocupar seu lugar, foi erguida, em terreno
mica, como Samarcanda, não se impres- Mas, a despeito dessa situação adjacente, a mesquita do Centro Islâmico
sionar ou se comover com tais edifica- atual, não é exagero quando Humberto do Brasil, localizada na 912 Norte, inau-
ções. Eco ou Jorge Luís Borges clamam que os gurada em 1990. Essa mesquita é a maior
Desde o início do Islã, a rela- árabes civilizaram a Europa; e por exten- da América Latina (com 2.800 m²) e foi
ção dos árabes com os povos cristãos e são os países das Américas, todos eles a única mesquita da cidade até a inau-
judeus foi pacífica. Vale citar a famosa ex-colônias europeias. No Brasil, como guração da Mussala Muhammad Al-Ras-
e respeitada comunidade judaica que interessante exemplo, cerca de 16 mi- sullah (Muhammad, “O mensageiro de
floresceu na Babilônia. Esta atitude dos lhões de pessoas possuem ascendência Deus”), na cidade satélite de Taguatinga.

97
ARQUI

A mesquita abandonada é hoje, d’água. As demais áreas são marcadas to que convida o pedestre a conhecer a
segundo o jornal Correio Braziliense e no chão com texturas (argila expandida). Mesquita do Centro Islâmico do Brasil.
outros jornais locais, uma área de risco. Parte dos arcos da mesquita é preserva- Alinhado com Meca, o painel se curva de
Tornou-se um ponto de consumo de en- da e faz a divisão do centro com o me- modo a lembrar uma reverência diante
torpecentes, abrigo para viciados em dro- morial. O desnível provoca uma queda de Deus, conforme a oração da Alvorada
gas e também está infestada de ratos e de d’água que passa pelos arcos da ruína. (principal oração Islã). Sua curvatura
outros animais transmissores de doença. O projeto arquitetônico do Centro tende a formar o arco otomano, seme-
Em decorrência dos danos causados pelo de Cultura Árabe é uma fusão dos esti- lhante ao arco utilizado na Mesquita. As
incêndio e do atual mau uso da mesqui- los moderno e árabe. O projeto tem um alturas das placas do painel crescem de
ta, os moradores dos prédios vizinhos e a caráter contemporâneo, com inúmeras modo que, ao se traçar uma linha imagi-
comunidade escolar reclamam da situa- referências a elementos tradicionais da nária da ponta da primeira placa à ponta
ção de abandono. arquitetura árabe. da mesquita, tem-se as demais alturas.
Com queixas frequentes, o go- O primeiro traço do projeto foi T

verno do Distrito Federal autorizou a ligar o principal fluxo de pedestre à Mes-


demolição da mesquita e deu um prazo quita. Ao longo desse percurso é possível
para a embaixada responsável tomar as enquadrar a Mesquita por meio de um Orientador: Oscar Luis Ferreira
devidas providências e resolver o que proposital espaço vazio conforme ima- Banca examinadora: Ana Suely Zerbini,
fazer com o terreno problemático. Até o gem. Bruno Capanema e Cláudio Queiroz
momento, a área continua abandonada e Todas as árvores do terreno são Arquiteto convidado: Ricardo Theodoro
a mesquita ainda não foi demolida. existentes, exceto as palmeiras (somente
Assim, o projeto contempla um sobre o seixo fino) que compõem o paisa-
memorial islã que registra traços da mes- gismo juntamente com o espelho d’água,
quita desativada mediante o desenho da lembrando um oásis. A marcação da tex-
planta baixa. A projeção da cúpula é des- tura de argila expandida está alinhada
tacada por um banco em forma de anel. com o terreno e com a Mesquita incen-
O salão principal (maior pé-direito) é re- diada. Já a marcação da textura do seixo
baixado, o que forma um mural expositor. fino está alinhada com o edifício, com a
Nele, há um revestimento em mármore Mesquita e com Meca. As duas texturas
Renderizações
que possui registros acerca da cultura reforçam a torção proposital do edifício imagens por Ana Júlia Maluf
mulçumana. O salão e a rampa de aces- com relação ao lote. Implantação
so são contornados por um fino espelho O painel é um marco do proje- imagem por Ana Júlia Maluf

98 2/2014
99
ARQUI

A NOVA
PLATA [FORMA]
DA RODÔ

GABRIELA CASCELLI FARINASSO

Por que a Rodô? A forma como a pacial reserva cerca de 65% de sua área gem de veículos particulares, criando-se
Plataforma conduz o sistema viário de para o tráfego de carros e 1.057 vagas de quatro novos eixos de circulação vertical
Brasília, concentrando o ponto nodal estacionamento. destinados a pedestres e ciclistas. Tanto
do transporte público no Plano Piloto e Com a intervenção proposta, che- na plataforma superior quanto na infe-
criando um imenso espaço suspenso e gou-se a mais que dobrar a área disponí- rior foram inseridas ciclofaixas com bar-
aberto que une os dois Setores de Diver- vel para pedestres, passando dos atuais reira física e reservou-se área para cerca
sões, ao mesmo tempo torna-a edifício e 36.061 m² para 75.809 m². de mil vagas em bicicletários. A qualifi-
espaço público central da vida urbana. cação do espaço público foi pensada para
Ela permite a vista desimpedida de toda O que muda? O projeto partiu da pre- propiciar ocupação e apropriação, com
a Esplanada, tanto no sentido do Con- missa de que o pedestre é o sujeito prin- valorização das visuais, inserção de pai-
gresso Nacional quanto no sentido da cipal do centro da cidade, e então a área sagismo e diversos elementos lúdicos.
Torre de TV. destinada aos automóveis foi convertida
Hoje a Rodoviária recebe todos os em espaços públicos. O sistema viário foi E o patrimônio? Fica claro, a partir
dias cerca de 630 mil usuários de trans- modificado para que, na plataforma su- das intenções projetuais de Lucio Costa,
porte público, mas sua configuração es- perior, não seja mais permitida a passa- que muito se perdeu ao longo dos anos.

100 2/2014
101
ARQUI

O Plano fala em trânsito local, praças acrescidas e suas fontes d´água e a ve-
com piso sobrelevado para travessia de getação existentes preservadas, uma vez
pedestres e ainda recomenda que não que elas têm importância simbólica para
se tenham estacionamentos, justamen- a história da consolidação das praças na
te o contrário do que ocorre hoje. Com plataforma superior. Sendo assim, o pre-
exceção das duas praças da plataforma sente trabalho respeita o tombamento da
superior, que foram preservadas e tom- Rodoviária, mantendo intactas as estru-
badas pelo IPHAN, a área de pedestres turas e a arquitetura original. T

ficou restrita a calçadas estreitas e irre-


gulares. E mesmo essas duas praças, que
deveriam servir ao livre convívio de pes- Orientador: Gabriela Tenório
soas, só são utilizadas em determinados Banca examinadora: Elane Ribeiro
horários e dias, sendo desconfortáveia e Peixoto, Giuliana de Brito Sousa e
desinteressantes a maior parte do tem- Mônica Godin
po. Por isso seus desenhos de piso foram Arquiteto convidado: Thiago Teixeira de
alterados, mas elas tiveram suas áreas Andrade

Esquema explodido
infográfico por Gabriela Farinasso

Sem título
imagem por Gabriela Farinasso

Módulo
imagem por Gabriela Farinasso

102 2/2014
103
ARQUI

ESTAÇÃO
DA
DANÇA
LAURA CAMARGO

104 2/2014
105
ARQUI

A Proposta: diante da demanda e da contexto urbano é uma forma de aumen- cia, estudo e descanso. Além da estrutura
falta de estrutura dedicada à dança em tar sua importância na cidade. Utilizan- interna, a edificação proporciona à cida-
Brasília, propõe-se a criação de um cen- do transparência, a edificação torna-se de um espaço público de qualidade, com
tro de excelência para essa arte. Surgiu uma vitrine. atividades diferenciadas, estimulando o
com os objetivos de proporcionar à popu- O ritmo está no misturar movimen- contato dos brasilienses com a dança. T
lação um fácil acesso à dança; deseliti- tos contrários em intervalos periódicos
zar a prática e a apreciação dessa arte; de tempo. A modulação diz respeito à
permitir a interação entre um maior nú- definição de um traçado regulador para Orientador: Bruno Capanema
mero de pessoas; e possibilitar o desen- disposição dos espaços, de forma a pos- Banca examinadora: Cláudia Garcia,
volvimento técnico dos bailarinos. sibilitar a flexibilização e adaptação dos Márcia Troncoso e Ana Suely Zerbini
A escolha do terreno na 512/513 sul, ambientes e dos usos, sem perder a uni- Arquiteto convidado: Ricardo Meira
na W3, foi automática, visto que a aveni- dade do conjunto.
da é o maior corredor de transporte públi- A disciplina refere-se à ordem e ao
co do Plano Piloto e necessita de urgente ato de manter os pés no chão, visando à
revitalização. Dentre as características valorização do pedestre. Acolhe o grande
do entorno estão a grande diversidade de fluxo de pessoas que transitam, incenti-
usos e o alto fluxo de pedestres. va a curiosidade, convida-as a entrar e
descobrir o edifício. A ousadia está no
O Partido: buscando palavras-cha- levantar voo, na criação de ambientes
ve relacionadas à dança, os conceitos internos que se relacionam com o espa-
se unem aos condicionantes do terreno ço externo. As salas de ensaio se tornam
para definir o partido. vitrines para os transeuntes de fora que
A força está expressa nos cheios. veem os bailarinos dançando e molduras
O ato de densificar uma parte do terre- para os bailarinos que dançam tendo o
no e criar uma fachada contínua com a céu de Brasília como cenário.
W3 fortalece a horizontalidade da via. A
leveza está nos vazios. A liberação da ou- O Programa: além de toda a estru-
tra parte faz a conexão com as superqua- tura necessária para a prática da dança,
dras, configurando uma praça entre elas. o edifício será composto pelo programa
A permeabilidade refere-se a deixar da atual Biblioteca Pública e acrescido
passar. Com uso de pilotis, a edificação de novos documentos voltados à dança,
permite a passagem, e ao incluir ativida- transformando-se em Midiateca. O es-
des no térreo incentiva a permanência. paço cultural complementa o espaço de
Aumentar a visibilidade da dança no dança, formado por espaços de convivên-

106 2/2014
Imagens renderizadas
por Laura Camargo com colaboração
de Filipe Berutti Monte Serrat

107
ARQUI

108 2/2014
CENTRO
CULTURAL
25 de OUTUBRO

MATHEUS MARAMALDO

Você conhece aquele sabor metáli- do passado e daqueles que insistem em


co inconfundível de ferro? Que se dilui reaparecer: “Deixe-me sair, senhor! Mos-
como chumbo através da garganta? Eu trar-lhe-ei os grilhões e cada farrapo sujo
não conheço. Contudo, parece-me fácil de rubro ou de escorbuto. Nada será como
falar como sendo sangue escorrido de ou- antes, poderei contar uma outra versão
tros. Como resistir? É o amargor de um dos arquivos mortos... estupidamente
anti-herói, de um esquecido prisioneiro. mortos...”.
Vão-se palavras toscas recém-vomita- Neste clima sanguíneo de balas
das... Sou mesmo um burguês escatoló- perdidas, rostos sem nome, avanços e
gico de versos samaritanos e de cons- falácias, foi instigada a criação de um
ciência pesada, que vê na loucura e no memorial que contasse uma narrativa de
nefasto sua perseguição, insistindo em tempos não tão distantes: as ditaduras
falar do que não viveu: Ditadura branda, no Brasil. Pensando nisso, o que viria a
Ditadura hostil, Ditadura dos pobres, Di- sê-lo? Uma tradução literal de todos os
tadura dos liceus... sussurros medonhos palavrões pichados nas latrinas dos pre-

109
ARQUI

sídios? Optou-se pelo mais ameno, a tra-


dução desse profundo medo e total exas-
peração conjugada ao alívio do brilho do
sol... já era um centro cultural.
Este espaço mais aberto para o di-
álogo do passado com o futuro, na 916
Norte de Brasília, não seria mais um
poço de lembranças, mas sim o ápice de
novos olhares e ultrapassagens, na qual
a perseverança paradoxal permitiu um
desenho bastante cenográfico para o vi-
sitante. O contínuo esforço originou am-
bientações de forte introspecção e exte-
riorização, em um grande jogo perceptivo
de luz e sombra, aura metafísica e cinza-
vermelho-sol, conferido pelas várias vi-
brações pixeladas rubras projetadas e as
visuais tão intensamente marcadas.
Tratando de forma lúdica e mani-
comial, espera-se que o visitante percor-
ra a obra com curiosidade, sempre com
mudanças de humor e visão a cada novo
passo. Seu esboço foi feito para mostrar
contrastes e discussões, estabelecendo-
se, assim, como uma grande plataforma
democrática, na qual o sol e o céu dão as
respostas, porque o que há em frente é o
puro clichê do esgotamento. T

Orientador: Jaime Gonçalves de Almeida


Banca examinadora: Aleixo Furtado,
Luciana Sabóia e Maria Fernanda Derntl
Arquiteto convidado: Ricardo Theodoro

Teatro de Arena
desenho por Matheus Maramaldo

Módulo
desenho por Matheus Maramaldo

110 2/2014
111
ARQUI

ANTI
UTOPIA URBANA
DANILO FLEURY

Idealizado para ser um oásis no Para comprar uma das mansões dentro
meio do cerrado brasiliense, o R$ tinha do condomínio, o cliente deveria entrar
uma proposta ousada e caríssima. Em em uma lista de espera que contava com
Vista do Verssailes Shopping Center-
uma área de 12,56km2, foi construído o nome de mais de 100 mil famílias. Os por Danilo Fleury
um gigantesco condomínio de luxo que candidatos a moradores eram analisados
abrigava cerca de 400 mansões mobilia- por uma comissão e se fossem contem-
das com o que havia de mais tecnológico plados, poderiam desfrutar do maior em-
na época. Entre suas atrações encontra- preendimento residencial e comercial da
vam-se: uma réplica fiel do extinto Jar- Era Pós-Moderna.
dim do Palácio de Versalhes; uma praia De 2016 a 2029, o R$ era aberto para
artificial com mais de 2 quilômetros de moradores e visitantes. Em sua inaugu-
extensão; uma pista de esqui no alto de ração, no dia 21 de abril de 2016, um
uma montanha nevada (também artifi- congestionamento de mais de 300 quilô-
cial); uma selva (artificial!) com espécies metros formou-se diante de seus portões.
de flora e fauna, hoje extintas, como por Eram consumidores curiosos para visi-
exemplo o rinoceronte asiático, a arara tar e conhecer o R$. A cúpula poderia ser
azul e o urso polar; universidade; clínica vista de muito longe, o local tornou-se
de estética e campos de golfe. Tudo cer- um ponto de turismo da região de Brasí-
cando uma belíssima reprodução de um lia. Não era permitida a entrada a pé e o
château francês que abrigava o maior único transporte coletivo era o que leva-
shopping center das Américas. No Ver- va e trazia os funcionários, uma grande
sailles Shopping Center, os moradores e caminhonete apelidada de “Camburão”.
visitantes podiam encontrar desde arti- Nesse período que permaneceu aberto, o
gos para o lar à concessionárias de carro. R$ tinha a maior concentração e a maior
O Condomínio Residential Shopping circulação de dinheiro do país. Porém,
era isolado do resto do mundo por uma com o Colapso de 29, mudanças urgentes
grande cúpula que, além de purificar o precisaram ser feitas... (to be continued)
ar, controlava o clima e a temperatura. T

Na época do Natal, fazia nevar; nos fins-


de-semana e feriados, um sol (filtrado) de Orientador: Elane Ribeiro Peixoto
rachar fazia a alegria de quem gostava de Banca examinadora: Carolina Pescatori,
praia -- uma tecnologia inédita em 2016. Pedro Paulo Palazzo e Leandro Cruz
Nenhum lugar do planeta abrigava um Arquiteta convidado: Cristina de Oliveira
projeto tão megalomaníaco como aquele.

112 2/2014
Centro de higienização subterrâneo
por Danilo Fleury
futuro apocalíptico
por Danilo Fleury

113
Acesso ao R$ Praia artificial
por Danilo Fleury por Danilo Fleury
ARQUI

CASA DE RETIRO
RELIGIOSO
ERICK WELSON MENDONÇA

O que se buscou foi a proposta de estadual (no caso, DF).


um projeto que atendesse a uma necessi- O edifício alto foi implantado na hi-
dade coletiva. Pensar um espaço edificá- potenusa do lote triangular-reto, por ser a
vel que expressasse o sagrado e que per- maior lateral e pela proteção a oeste que
mitisse condições eficazes ao serviço dos proporcionaria ao restante do lote. Pilotis
agentes da Igreja Católica. O programa + 2 andares + cobertura, com três caixas
de uma Casa de Retiro se assemelha a de escada e um de elevador, nele se con-
uma hospedaria, restaurante, vestiários, centram os dormitórios, e vestiários, se-
auditórios, oratórios, jardins e espaços parados por sexo e por funções, além do
livres – é uma escola. Os usuários desta refeitório com duas cozinhas e trezentos
edificação não são pessoas consagradas/ lugares no subsolo e salas de eventos no
ordenadas, ou seja, não são padres, frei- térreo. Nele está o conjunto de banheiros
ras, monges, e sim, o que a igreja chama de toda edificação. Na cobertura (3º ní-
de “leigas” (pessoas comuns da comuni- vel) há dois terraços que permitem visu-
dade, fiéis, que participam da Igreja e for- ais para o horizonte, além de configurar
mam grupos de atividades). mais um nível de área de interação além
As considerações de maiores desta- da plataforma.
ques que resultaram na “cara do projeto” Na parte de cima da plataforma,
foram: 1. as particularidades do progra- pousa o cone inclinadamente cortado,
ma de necessidades aliadas à compreen- por sobre o espelho d’água. De planta
são do tema; 2. a articulação dos espaços circular, é partido em cinco fatias, confi-
à capacidade máxima de usuários (425 gurando cinco espaços de oração, acessí-
pessoas, sendo 300 cursistas e 125 evan- veis pelo corredor que os envolvem, num
gelizadores); 3. a localização (área rural jogo de sombra e luz, a preparar a transi-
de Brazlândia/DF); 4. a topografia. ção do espaço comum ao sagrado.
O projeto possui a capacidade e fle- Exatamente abaixo das capelas,
xibilidade para a realização de cinco reti- e da plataforma, se instala o auditório,
ros simultaneamente, de forma que aten- também circular, fatiado em cinco, porém
desse à instituição EESA na sua escala com divisórias retráteis, por permitir fle-

114 2/2014
xibilidade. Escondido abaixo da platafor-
ma há o estacionamento para os carros
dos evangelizadores e os cinco ônibus
que transportam os cursistas (fretamen-
to particular é o único jeito de se acessar
a edificação, por estar em uma área mui-
to isolada, conforme o “retirar-se” pede).
Como elementos de ligação entre o
edifício e as capelas, lançam-se a mar-
quise e o teatro de arena, abrindo acesso
e fornecendo vento e luz à parte inferior
da plataforma, onde se encontram os au-
ditórios.
Apesar da complexidade do progra-
ma, buscaram-se a síntese e a leveza e
abertura para a paisagem. Diante da sua
conjuntura, configurou-se como um es-
paço dinâmico e simples que representa
a proposta da Escola de Evangelização. T

Orientador: Cláudio Queiroz


Banca examinadora: Ivan Manoel
Rezende do Valle, Raimundo Nonato
Veloso Filho e Ana Elisabete Medeiros
Arquiteto convidado: Antônio Carlos
Alvetti
Imagens renderizadas
por Erick Welson Medonça

115
ARQUI

COMPLEXO
CULTURAL
EM PLANALTINA
FABRÍCIA DE SOUZA FIGUEIREDO

116 2/2014
Planaltina tem por ela mesma uma provisórios como circos e Shows. enfim, foram propostos quatro edifícios
propensão histórica no DF. Por sua condi- Para desenvolver o programa de que integram a malha urbana preexis-
ção particular e por suas múltiplas ma- necessidades foi necessário analisar os tente. Eles Possuem alturas diferentes e
nifestações culturais existentes. eventos culturais e o cotidiano da cida- formam entre si trajetos e praças. Essas
Depois da inauguração de Brasília e de. Além disso, três projetos serviram volumetrias “fragmentadas” criam vários
como consequência, o aumento do contin- como diretrizes. São eles: o Centro Cultu- enquadramentos e ocupações diversas,
gente populacional, em 1966, foi elabora- ral Georges Pompidou por sua escala em ao mesmo tempo isoladas. Dessa forma
do um Plano de ocupação que garantisse relação ao espaço medieval envolvente, podem acontecer eventos simultâneos
a preservação da parte antiga da Cidade preexistente, e a flexibilidade horizontal no interior e no exterior dos edifícios.
– Setor Tradicional – e que permitisse a e vertical do edifício; o Centro Cultural Os espaços principais são: as praças, o
nova expansão, ser um bairro autônomo Jean Marie Tjibaou devido a sua implan- mirante, os salões de dança, o teatro, as
– Vila Buritis. Entre esses dois bairros tação, desfrutando da natureza paisagís- salas de música, a biblioteca e o museu.
foi planejada uma faixa de integração. tica e o simbolismo contido no caráter T

Nessa faixa se encontram os principais cultural dos “percursos étnicos” e por úl-
equipamentos urbanos da cidade como, timo o SESC Pompeia em São Paulo pela Orientador: Cláudio Queiroz
por exemplo, o Setor Administrativo e a relação com as velhas instalações res- Banca examinadora: Kristian Schiel,
Rodoviária. tauradas e reaproveitadas, mas em har- Maribel Aliaga e Raimundo Nonato
O terreno do Complexo Cultural foi monia com a parte nova, arrebatadora, Veloso Filho
estabelecido 20 anos após esse plano, re- mas igualmente harmoniosa, face a área Arquiteto convidado: Antônio Carlos
sultando da divisão do lote do Setor Ad- restaurada. No caso, trata-se da condição
ministrativo. A parte destinada à cons- do novo equipamento, diante da tradição
trução do Complexo Cultural encontra-se e da escala de Planaltina.
vazia até hoje e recebe alguns eventos Após muitos estudos volumétricos,

Imagens renderizadas
por Fabrícia Figueiredo

117
ARQUI

KARTÓDROMO DO
Em todas as categorias do automobi-
lismo, vê-se um denominador comum: to-
dos os seus pilotos iniciaram-se no mun-
do do esporte através do kart. O Brasil é
um exportador de pilotos para as catego-
rias internacionais, porém são poucos

GUARÁ
os espaços adequados à sua formação.
Como meio de garantir um espaço de trei-
namento de qualidade aos futuros cam-
peões brasilienses, escolhi no projeto de
diplomação propor uma reestruturação
do Kartódromo Ayrton Senna, de forma
que ele se torne uma referência nacional
em centro de treinamento de kart. Porém,
não se pode pensar no cartódromo sem
levar em conta o espaço no qual está in-
serido, o Centro Administrativo Viven-
cial e Esportivo do Guará (CAVE), que de-
mandava modificações urbanas.
HANA AUGUSTA DE ANDRADE A proposta desenvolvida para o
CAVE consistiu na criação de conexões

118 2/2014
Proposta para o CAVE
imagem por Hana de Almeida

imagens renderizadas por


Hana de Almeida

e ordenação espacial a partir das edifi- compondo a paisagem do parque.


cações existentes. As maiores alterações A edificação foi desenvolvida para
observadas foram o remanejamento do acompanhar a pista e suas curvas. Pen-
depósito da Administração e demolição sou-se em dois blocos: um que abranges-
das edificações obsoletas (antigo Rotary, se boxes e lojas (térreo, linear) e outro
antiga Casa da Cultura e Salão Multiuso), que reunisse toda a área administrativa
para a criação de novas áreas de lazer (bloco vertical).
para a população. Outra grande interven- A principal característica do pro-
ção foi feita na pista existente no meio jeto é a laje, que explora o espaço como
do CAVE. Ela foi transformada em uma uma fita. A laje, portanto, é o elemento de
grande promenade que conecta a área es- força da edificação, Toda sua volumetria
portiva às outras áreas do complexo. A e fechamento foram trabalhados para en-
nova pista iniciar-se-á ao lado da área de fatizar este elemento arquitetônico. T
cross, contornando o CAVE e se conectan-
do ao Guará I pela pista existente.
Com a reformulação do CAVE foi Orientador: Elane Ribeiro Peixoto
possível a expansão da área do cartó- Banca examinadora: Carolina Pescatori,
dromo. Com isso, a pista foi reformulada Oscar Luis Ferreira e Raimundo Nonato
para se adequar às exigências interna- Veloso Filho
cionais. As arquibancadas foram altera- Arquiteto convidado: Breno Rodrigues
das de forma a se inserirem no terreno,

119
ARQUI

CENTRO
ONCOLÓGICO

ISABEL CABRAL ALENCAR

Hospital do câncer de Brasília: uni- “figura do espaço urbano e do convívio permitindo o escoamento livre de
dade pública, instrumento facilitador na social”, “lar e possibilidade da intimida- águas pluviais e a permeabilidade do
recuperação e tratamento, destinado ao de” e, por último, “relação com a natureza solo. Os pavilhões são estruturados por
suprimento de demandas regionais. For- e a integração com obras de artes”, sendo vigas vierendeel, que geram fachadas
mulei esta proposta de projeto com intui- esta a que mais utilizei no projeto. ventiladas com pergolados.
to de investigar a potencialidade criati- Atenção Psiconeuroimunológica No programa arquitetônico, dei
va e de síntese da arquitetura visando aplicada à arquitetura: a psiconeuroimu- amplo espectro às funções exercidas no
contribuir nos processos terapêuticos e nologia estuda as relações entre emoções hospital, com áreas que permitam trata-
incentivar, indiretamente, o atendimento e doenças físicas e a associação às dis- mentos alternativos e atividades do coti-
a uma demanda existente no DF. funções imunológicas, como o câncer. Al- diano dos pacientes, como salas de aula
Estruturei o princípio do projeto guns autores apontam como o ambiente para pacientes em escolarização, cape-
como uma analogia ao lar, mas logo per- hospitalar pode auxiliar nos tratamen- las, salas para musicoterapia, artesana-
cebi o engano: poderia surtir efeito posi- tos, fazendo, por exemplo, bom uso da luz to, entre outras, além de suporte social às
tivo em crianças, mas não em adultos. (influencia o controle endócrino, humor famílias, por meio de hospedagem em si-
Nenhum hospital se compara a um lar. etc.) e utilizando-se das distrações positi- tuação de baixa renda, estação de ônibus
Busquei definições do que é a “humani- vas, como a boa relação exterior-interior. com apoio e proximidade com equipa-
zação” na arquitetura (o oposto seria “de- Partido: o uso de uma arquitetura mentos públicos de Paranoá (restaurante
sumanização”?) e creio ter encontrado horizontal e pavilhonar ajuda com a inte- comunitário, Hospital geral). T
soluções satisfatórias. gração exterior-interior, facilitando as vi-
A necessidade de se “humanizar” a suais da paisagem em vários pontos. Por
arquitetura e de aproximá-la às ações so- exemplo, as varandas nas extremidades Orientador: Cláudio Queiroz
ciais foi um dos fatores que me guiaram dos pavilhões; as sacadas na internação; Banca examinadora: Maribel Aliaga,
nas resoluções do projeto hospitalar. percurso no jardim pelo pomar, interli- Oscar Luis Ferreira e Reinaldo Guedes
As analogias mais usadas por ar- gando praças; estares em áreas comuns Machado
quitetos para a humanização da arquite- em corredores etc. Arquiteto convidado: Juan Carlos Guillén
tura hospitalar se resumem em “hotel”, O partido é suspenso no terreno, Salas

120 2/2014
s

imagem por Isabel Alencar

croquis por Isabel Alencar

121
ARQUI

INSTITUTO
DE ARTES
JANA CÂNDIDA CASTRO DOS SANTOS
Vista do Conjunto
imagem por Jana Santos

Praça das artes


imagem por Jana Santos

O Instituto das Artes contempla a É neste edifício que se realizam as gran-


necessidade de espaços para o ensino e des oficinas, em salas e anfiteatros para
traz para o câmpus universitário Darcy o ensino coletivo, permeável pelo pilotis
Ribeiro novos espaços de convivência e existente em toda sua extensão. O segun-
para encontro entre as pessoas, abrindo do, o bloco Apoio, coloca-se ao conjunto
lugar para apresentações, eventos e mos- no eixo de ligação com o Beijódromo e pa-
tras ao ar livre. ralelo ao IB, e também recepciona aque-
O “de”, de Instituto de Artes, pressu- les que chegam pelas principais vias de
põe todas as artes (Música, Dança, Pintu- acesso ao terreno. Abriga o centro de do-
ra, Escultura/Arquitetura, Teatro, Litera- cumentação, a biblioteca das artes junto
tura, Cinema); o “das” denota a integração com áreas de estudo, pós-graduação e es-
pretendida pelo projeto. Este conceito paços administrativos. O terceiro edifício
revela-se em cada intenção projetual, apresenta-se ao centro da grande praça,
na busca pela integração do conjunto ao abrigando o teatro, café, alas para exposi-
entorno e aos principais eixos de acesso ções, salas de aula e salas de ensaio.
e circulação, bem como sua integração à A praça das artes é um espaço de
paisagem construída. Mostra-se na busca circulação e passagem, ligando os edi-
por integrar os espaços, integrar a per- fícios de suas proximidades à via L4, e
manência e a passagem pelo edifício. fazendo ligação dos três edifícios no con-
O projeto se localiza na Gleba A, no junto. E também de encontro, pois nos
SS-12, próximo ao Memorial Darcy Ribei- convida a um espaço de convivência
ro e Instituto de Biologia, em unidade aberto a todos os alunos do instituto e da
com o conjunto cultural do câmpus. Com- universidade, onde o teatro integra-se a
põe-se por três edifícios dispostos em tor- sua cena exterior.
no da Praça das Artes. Sejam muito bem-vindos ao Institu-
O maior edifício molda-se à curva to das Artes! T
do terreno, respeitando e acompanhando
sua topografia. O mesmo desenho é tam-
bém acompanhado pela rampa que nos Orientador: Cláudio Queiroz
leva sinuosamente a sua entrada princi- Banca examinadora: Raimundo Nonato
pal. A grande abertura permite o enqua- Veloso Filho, Maria Cecília Gabriele e
dramento do teatro que se coloca logo ao Ségio Rizo Dutra
fundo e configura-se num espaço a ser Arquiteto convidado: Antônio Carlos
ocupado pelos alunos e suas atividades.

122 2/2014
123
ARQUI

NZEB EDIFÍCIO DE BALANÇO


ENERGÉTICO NULO NA UNB

MÁRCIA BOCACCIO BIRCK

Net Zero Energy Buildings (nZEB) extremo sul do Cãmpus Universitário Conceito: A função específica do nZEB da
são edifícios altamente eficientes (do Darcy Ribeiro, na Universidade de Brasí- UnB é dar estrutura para o desenvolvi-
ponto de vista energético) e capazes de lia (UnB), a sudeste do Centro de Desen- mento de estudos em áreas tecnológicas
produzir, no período mínimo de um ano, volvimento Tecnológico (CDT). O edifício da Universidade, conjugando laborató-
pelo menos a mesma quantidade de ener- proposto localiza-se dentro da área pre- rios relacionados à eficiência energética
gia que consomem. Combinam estraté- vista pelo projeto de urbanização da par- em edificações de várias áreas (Arqui-
gias de redução de consumo com aumen- te Sul e do Parque Científico e Tecnológi- tetura, Engenharia Mecânica, Elétrica e
to de eficiência energética e geração de co. O PCTecUnB tem como propósito ser Civil).
energia a partir de fontes renováveis. um mecanismo a mais de construção de Entende-se que o edifício deveria
novas relações institucionais entre uni- ter imagem coerente com a UnB, bem
Localização: O terreno situa-se no versidade, empresa, governo e sociedade. como com a função ao qual o edifício se

124 2/2014
Vista da cobertura - cobertura utilizada para
exposição da tecnologia experimental
imagem por Gloria Lustosa Pires
Fachada Sudeste-leste - parte dessa fachada é in-
terativa, permitindo-se que diferentes materiais
sejam testados
imagem por Gloria Lustosa Pires

Vista aérea - Vista aérea demonstrando a


implantação do edifício, bem como as placas
fotovoltaicas na cobertura
imagem por Gloria Lustosa Pires

propõe: testar tecnologias relativas à efi- próprio edifício é objeto de estudos e pes- ta-se um elemento que envolve os diver-
ciência energética em edificações. Sendo quisas sobre o desempenho das várias sos blocos e que também tem a função
assim, o projeto é regido pelos seguintes tecnologias nele empregadas. de proteção da radiação solar e da chuva.
princípios: A geometria simples dialoga com os pri-
•Integração ao Câmpus Darcy Ribei- O Projeto: As diferentes atividades meiros edifícios do Câmpus Darcy Ribei-
ro. realizadas no edifício, embora sejam em ro e a organização dos volumes auxilia o
•Racionalidade e tecnologia: otimi- áreas afins e que demandem certo nível usuário a se localizar. T
zação da construção e diminuição dos de integração, requerem uma separação
danos ambientais. física. Dessa maneira, divide-se o conteú-
•Aproveitamento das condicionan- do do programa de necessidades em três Orientador: Claudia Naves Amorim
tes climáticas e visuais: maximização volumes: um bloco destinado a escritó- Banca examinadora: Antônio Rodrigues
do potencial dos recursos naturais, para rios, que produz pouco ruído e demanda Filho, Daniel Sant’ana e Raquel
que, dessa maneira, a quantidade de silêncio; outro a laboratórios, que produz Blumenschein
energia demandada seja menor; aprovei- bastante ruído; e, por fim, um bloco pú- Examinador convidado: engenheiro João
tamento das melhores vistas. blico, contendo atividades diversas. Com M. Pimenta
•Caráter experimental do edifício: o o objetivo de integrar tais volumes, proje-

125
ARQUI

~
ESPAÇO DE AÇOES
O aumento do número de idosos no
cenário nacional é apresentado nos últi-
mos anos através de pesquisas estatísti-
cas. No Distrito Federal, esses dados são
ainda mais expressivos: os idosos repre-
sentam uma participação na população

DE MELHOR IDADE
total acima da média nacional, somando
pouco mais de 326 mil pessoas, o equiva-
lente a 12,8% da população total.
Mas o perfil desse grupo mudou.
Nos últimos anos o idoso dependente e
incapaz de seguir ativo na sociedade e
economia brasileira não é mais a maio-
ria. Os novos idosos apresentam boa dis-
posição física, independência em suas
atividades, expectativas de futuro e von-
tade de continuar atuando no mercado
de trabalho.
A análise crítica do perfil social
brasiliense foi inspiração para o proje-
to do Instituto de Integração entre Ge-
NÍNIVY CAROLINY MELO DE OLIVEIRA rações, elaborado a partir do projeto pe-
dagógico SENAI PARA MATURIDADE,

126 2/2014
Imagens renderizadas
por Nínivy de Oliveira

desenvolvido pelo Serviço Nacional de cia. análises anteriores ao projeto, é utiliza-


Aprendizado Industrial. O espaço promo- Ao Idealizar os primeiros traços do do tanto nas superquadras residenciais
verá cursos técnicos e profissionalizan- projeto, optou-se pelas rampas para inte- quanto no Câmpus Universitário como
tes, possibilitando ao idoso a integração grar as partes de maneira contínua e in- conector das diversas partes, tornando-a
com o público jovem. O espaço também clusiva. Deste modo, o projeto visa criar um conjunto.
proporcionará ao público jovem o co- acessíveis e confortáveis condições de O Edifício propõe a relação de inte-
nhecimento acerca de tradições trazidas uso para jovens e idosos. gração entre os grupos societários, pro-
pela experiente abordagem de quem já A rampa externa liga de maneira porcionando trocas, culturais, técnicas
viveu mais anos. sutil o público ao privado, possibilitando e temporais entre os distintos públicos.
A partir do gesto simples, inspirado assim a integração. Entrando no edifí- Entre, fique à vontade e nos ensine sobre
em uma fita, de dobrar e flexivelmente cio o usuário pode utilizar rampas para o seu tempo. T
envolver partes tornando-a um conjunto, atravessá-lo, ou ainda acessar as partes
nasceu o conceito para o edifício escolar: do edifício e suas funções nos diversos
integrar. pavimentos. Orientador: Cláudio Queiroz
Localizado no SGAN 606, o Institu- Os espaços funcionais dentro do Banca examinadora: Claudia Garcia,
to foi implantado no terreno que atual- edifício encontram-se organizados orto- Maria Cecília Gabriele e Raimundo
mente já exerce a função de integrar, já gonalmente e quase simetricamente, fa- Nonato Veloso Filho
que é utilizado como caminho, unindo a cilitando a compreensão do espaço, for- Arquiteto convidado: Breno Rodrigues
L2 Norte ao Câmpus Universitário Darcy malidade relevante para um edifício de
Ribeiro. Buscou-se no projeto valorizar ensino.
a atividade já existente no local, pois a Os espaços verdes internos também
partir da disposição de rampas e espaços se constituem como elemento integrador.
possibilita-se a travessia ou a permanên- O bucólico, conforme identificado nas

127
ARQUI

CENTRO ~DE
Educação ambiental: dentre as
contribuições dos vários atores sociais,
jurídico, científico, político e econômi-
co, o educacional traz um meio mais
interativo para contribuir para o desen-
volvimento de um Brasil sem pobreza,

EDUCAÇAO
buscando ensinar que o homem faz parte
do meio ambiente, e que desta forma um
equilíbrio entre natureza e cidade deve
ser alcançado, sem agressões e sim com
uma interação harmoniosa.
O parque e a cidade: o Parque Eco-
lógico Mata da Bica, localizado na cidade

AMBIENTAL
de Formosa-GO, a 75 km de Brasília, abri-
ga a nascente do Rio Preto, afluente da
Bacia do São Francisco. Rico de variada
flora e fauna, o parque é procurado por
instituições de ensino locais e do entor-
no, incluindo o Distrito Federal, para au-
las ao ar livre sobre botânica, biologia,
ciências naturais, zoologia etc.
Sendo um grande articulador mu-
nicipal de Formosa, o parque sobreviveu
ao crescimento não planejado da cidade
por muitos anos, hoje cercado por qua-
tro grandes bairros, incluindo o central.
O parque não tem a atenção que merece
da comunidade, daí então surgindo a ne-
cessidade de interagir os habitantes com
este bem natural que participa do dia a
dia do formosense sem que este lhe dê
RUBIANA LEMOS relevância. Seu entorno encontra-se mar-
ginalizado, em grande parte, sendo foco

128 2/2014
Imagem renderizada
por Rubiana Lemos

de insegurança para os transeuntes, que a presença de praças de convivência ao


evitam os arredores do parque. longo do edifício, que permitem também
A proposta do CEA não é uma novi- uma maior permeabilidade visual, bus-
dade para a legislação da cidade, sendo cando uma transição mais suave entre a
sua necessidade abordada desde a cria- cidade e a mata.
ção oficial do parque como área de pre- O Centro traz para o cenário cons-
servação em 2000, mas não concretizada. trutivo local materiais que buscam o
O CEA: Centro de Educação Am- equilíbrio ambiental, como o Bambu
biental seria implantado entre equipa- Laminado Colado (BLC), presente na es-
mentos urbanos que são foco de grande trutura, no piso e nos brises, o painel
circulação – a rodoviária, um hospital wallwood, feito de madeira sarrafeada e
e uma praça que está entre tais equipa- placas cimentícias, no contrapiso, e a co-
mentos. Abre-se para a cidade, buscando bertura com telhas Shingle, escolhidas
a interação com tais equipamentos e a por ser um material de fácil instalação e
curiosidade de quem transita pela re- porque sua origem é do que é descartado
gião. Ao entrar no Centro, o visitante tem do asfalto.
contato com a horta comunitária do lado O projeto também aborda a estru-
esquerdo, cenário de aulas práticas, e do turação de um plano mínimo de manejo
lado direito um jardim com flores típicas e zoneamento do parque, interagindo-o
do cerrado. O caminho principal leva ao com o CEA e com a cidade. T
acolhimento do Centro – uma cafeteria e
um Ponto de Informações/ Bilheteria –,
de onde o visitante pode se direcionar Orientador: Raquel Blumenschein
para os vários ambientes de interesse. Banca examinadora: Liza Andrade,
O CEA, organizado em dois pavi- Frederico Flósculo e Jaime de Almeida
mentos, conta, além dos espaços citados Arquiteto convidado: Stepan
acima, com biblioteca, galeria, depósitos, Krawctschuk
salas de aula, laboratório de informática,
administração, auditório, estufa/viveiro
de mudas e sanitários de uso convencio-
nal e o dito seco, com compostagem da
matéria orgânica para produção de adu-
bo. Estes ambientes são alternados com

129
sobre as ilustrações
(VENCEDORES DO CONCURSO DE ILUSTRAÇÃO PARA AS SESSÕES)

ANA CAROLINA MACEDO MORETH


GABRIEL ERNESTO MOURA SOLÓRZANO

carolinamoreth@hotmail.com
ernestgabriel@gmail.com

Quando soubemos do concurso para elaboração das ilustrações da revista ARQUI uma
palavra nos chamou a atenção: multifacetado. Não apenas por ser um caráter da essência
do arquiteto, mas também pela proposta que a revista apresenta, abordando as diversas
faces presentes na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Brasília.
Como não conheciamos o conteúdo decidimos usar como guia o arquiteto homenageado,
no caso, Lina Bo Bardi.
Agora que nós tinhamos esses dois conceitos buscamos junta-los de uma forma simples
e ao mesmo tempo simpática, sem enormes reflexões ou palavras difíceis. Depois de es-
tudar nossas possibilidades surgiu a ideia de trabalharmos com sólidos, principalmente
por trazer essas diferentes faces do arquiteto mas também pelo seu significado filosófico.
Os sólidos platônicos são importantes não apenas no campo da matemática, mas no da
filosofia. Cada um deles representa um elemento como a terra, o fogo, a água, e o ar. A es-
colha nos pareceu bem pertinente já que no livro “Sutis Substâncias da Arquitetura”, Lina
As ilustrações se encontram na Bo Bardi usa o termo substâncias ao invés de materiais para explicar de que estaria feita
capa e nas páginas 8, 26, 34, 46, a sua arquitetura. Assim, ela entende esses elementos como essenciais para a composição
68, 76 e 86. da sua obra.
REVISTA DA FAU-UnB

ARQUI
ARQUI DIGITAL EM HTTP://WWW.FAU.UNB.BR/

CONTATO: REVISTADAFAUUNB@GMAIL.COM
2/2014

faunb

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