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James Miyamoto e Gilda Collet Bruna

Ecologia urbana: conceitos, pré-conceitos e pós-conceitos

Ecologia urbana: conceitos, pré-conceitos e


pós-conceitos
Urban ecology: Concepts, preconcepts and postconcepts

James Miyamoto* Gilda Collet Bruna**

*Professor-Associado da Fa- **Professora Associada Pleno


Resumo Abstract
culdade de Arquitetura e Ur- da Universidade Presbiteriana
A realidade torna-se cada vez mais complexa, a The world is becoming more and more complex
banismo, Universidade Fede- Mackenzie, tendo sido Coor-
partir da multidisciplinaridade crescente e dos en- in a predominantly urban reality, amid increasing
ral do Rio de Janeiro (FAU- denadora do Programa de
redamentos extremos, em um mundo predominan- multidisciplinary issues and particularly entan-
UFRJ), onde leciona desde Pós-Graduação em Arquitetu-
temente urbano, no qual já existem quase três de- gled challenges. Today there are already almost
1993, com vínculo com o De- ra e Urbanismo (2004-2008). zenas de cidades com mais de 10 milhões de ha- thirty cities with more than 10 million inhabitants.
partamento de Análise e Re- Foi Diretora da Faculdade de bitantes. Hoje, cerca de 54% da população vive Considering a world population of approximately
presentação da Forma Arquitetura e Urbanismo da em cidades, no contexto mundial de, aproximada- 7.5 billion people, about 54% of that total live in
(DARF) do qual foi Chefe de Universidade de São Paulo mente, 7,5 bilhões de pessoas. As cidades devem urban areas.Cities must be seen as ecological
Departamento (2014-2016). (FAUUSP, 1991-1994). Apo- ser vistas como entidades ecológicas, com forte entities, with a strong predominance of anthropic
Professor da Graduação da sentou-se como Professora predominância da ação antrópica. Aliás, muitos ci- action. In fact, many scientists claim that there is
FAU-UFRJ e do Programa de Titular da FAUUSP. Livre- entistas afirmam que, provavelmente, não existe probably no place on earth fully protected from
Pós-Graduação em Urbanis- docente FAUUSP (1980). lugar plenamente protegido da influência humana human influence. A clear understanding of the
mo (PROURB-FAU-UFRJ). Doutorado FAUUSP (1972). no planeta. A compreensão da distinção entre distinction between "ecology of the city” and
Foi representante dos Profes- Graduação FAUUSP (1968). “ecologia da cidade” e “ecologia na cidade” propi- "ecology in the city" provided more rigorous and
sores-Associados da FAU- Foi professora visitante na ciou visões mais rigorosas e reais do planeta. Os tangible views of the planet. There are many en-
UFRJ. Atualmente, é Diretor Universidade do Novo México problemas ambientais, biológicos e sociais são vironmental, biological and social problems and
Adjunto de Extensão da FAU- (1985). Foi Coordenadora do muitos e necessitam de análises específicas they require specific analyses (ecosystemic)
UFRJ. Curso de Arquitetura e Urba- (ecossistêmicas), alicerçadas em bases teóricas structured within a reliable theoretical basis.The
nismo da Universidade de consistentes. O presente trabalho traçará a evolu- present work will trace the evolution of the ex-
Mogi das Cruzes. ção da expressão “ecologia urbana” e discutirá pression “urban ecology” and will discuss topics,
questões consideradas fundamentais, relaciona- from various approaches and different points of
das aos conceitos, pré-conceitos e pós-conceitos view related to the proposed ideas of concepts,
propostos. preconcepts and postconcepts.

Palavras-chave: Ecossistemas urbanos. Ecolo- Keywords: Urban ecosystems. Ecology from the
gia da cidade. Ecologia na cidade. city. Ecology in the city.

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James Miyamoto e Gilda Collet Bruna
Ecologia urbana: conceitos, pré-conceitos e pós-conceitos

Introdução

A final, o que significa ecologia urbana? A inspi- 54% da população vive em cidades, em um univer-
piração para responder a essa indagação, ao so de aproximadamente 7,5 bilhões de pessoas.
longo deste trabalho, vem da asserção de Ro- Estima-se que em 2050 dois terços dos habitantes
bert Smith (1980, apud McINTOSH, 1985, p. 8): estarão concentrados em áreas urbanas. Já exis-
“o que constitui ecologia “moderna” depende do tem quase três dezenas de cidades com mais de 10
ecologista ou do grupo de ecologistas a quem a milhões de habitantes, estando o maior contingente
pergunta é feita”. em Tokyo, na casa dos 40 milhões de pessoas (Fi-
gura 1). Essa situação torna-se particularmente gra-
ve, pois, segundo o Banco Mundial, metade desse
Dados recorrentes, incluindo os do Painel Intergo-
contingente populacional vive em busca da satisfa-
vernamental de Mudanças Climáticas (Intergovern-
ção apenas de suas necessidades básicas.1
Figura 1. Tokyo, cidade com aproximadamente 40 milhões mental Panel on Climate Change (IPCC)), atestam
de pessoas. Autor: Yann Arthus-Bertrand. Fonte: <http:// que, desde os tempos pré-industriais, a temperatu-
www.yannarthusbertrand2.org/wp-content/uploads/
2019/02/001-jp0903n-0636.jpg>. Acesso em: 23 abr. 2019. ra da Terra elevou-se em média cerca de 1oC, O conceito de ecologia urbana tem se ampliado. As
com efeitos persistentes pelos próximos séculos ou complexidades do mundo contemporâneo têm trazi-
milênios. Atualmente, o aumento médio da tempe- do efeitos e consequências para as diferentes esca-
ratura tem sido de 0,2oC por década, a partir do las de cidades, em um universo de diversidade dis-
que se conclui que, em pouquíssimas décadas, en- ciplinar que envolve relevantes questões qualitativas
1. Aproximadamente 46% da popu- tre 2030 e 2052, a elevação terá atingido alarman- e quantitativas. É importante destacar que existem
lação (do mundo) vive com menos
tes 1,5oC acima do nível referencial. O impacto muitas publicações sobre ecossistemas urbanos —
de US$ 5,50/dia. Disponível em:
<https://www.worldbank.org/en/ pode ser verdadeiramente preocupante nos dife- a unidade funcional específica e prática —, mas há
news/press-release/2018/10/17/ne- rentes ecossistemas conforme a localização geo- relativamente poucos textos sobre ecologia urbana.
arly-half-the-world-lives-on-less-
gráfica, a infraestrutura instalada, a situação socio- A possível relevância deste trabalho é colaborar
than-550-a-day>. Acesso em: 23
abr. 2019. econômica e a capacidade de resiliência do lugar, para que haja uma discussão mais rica e aprofun-
dentre diversas outras situações. Hoje, perto de dada sobre o assunto, conformando uma bas

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degradação
base teórica original. degradação dos meios hídricos e atmosféricos, o
esgotamento (deplection) da camada de ozônio2, a
Contexto geral: alteração dos ciclos biogeoquímicos, as mudanças
nos padrões de precipitação pluviométrica, o aque-
cimento global, a impactante alteração dos fluxos de
Como introduzido anteriormente, no desafio invo-
energia e matéria, a perda de biodiversidade e a eu-
luntariamente proposto por Robert Smith, é lança-
trofização de lagoas são exemplos correntes que
do o objeto de referência desta pesquisa: afinal, o
destacam a necessidade de se pensar os meios ur-
que significa ecologia urbana? Para responder a
banos e naturais de forma sistêmica. Entretanto, a
esta pergunta é apresentada uma (inquietante)
pegada ecológica talvez seja um dos principais pro-
base contextual de questões ecológicas contempo-
blemas atuais. Algumas cidades, por exemplo, ne-
râneas nas cidades. A seguir, a partir de uma revi-
cessitam de dezenas de vezes de mais solo, além
são bibliográfica, são trazidos diferentes conceitos,
de seus limites territoriais, para prover seus recur-
definições e justificativas de importantes autores
sos materiais e energéticos e receber suas disposi-
relacionados ao tema em três momentos tempo-
ções residuais: “Atualmente, a humanidade necessi-
rais: na gênese do uso da expressão (pré-concei-
ta da capacidade regenerativa de 1,5 planetas Terra
to), no uso corrente da definição (conceito) e na
para prover os serviços e bens que são demanda-
análise crítica das ausências e presenças (pós-
dos a cada ano” (WWF, 2014, p. 32).
conceito). Assim, além da apresentação de um
certo compêndio teórico, são propostos alguns ar-
O mais recente relatório do Painel Intergoverna-
gumentos e raciocínios, de cunho (pretensamente)
mental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) que trata
inovador, com o objetivo de consolidar perspecti-
especificamente sobre aquecimento global, revisa-
vas e contribuir para que esse campo disciplinar se
2. O Protocolo de Montreal sobre do em janeiro/2019, alerta para o caso de núcleos
desenvolva.
“Substances that Deplete the Ozo- ou comunidades em situação de “risco desproporci-
ne Layer”, um importante e reco-
onalmente” maior, como populações desfavoreci-
nhecido avanço da política ambien-
tal, liderado pelas Nações Unidas, Segundo dados da Organização Mundial de Saúde das, indígenas, dependentes de recursos agrícolas
em 1987, identificou e condicionou (2014), em torno de 54% da população do mundo ou costeiros, além de regiões de risco como o Árti-
a utilização de substâncias, princi-
vive em áreas urbanas. As complexidades urbanas co, regiões insulares em desenvolvimento e países
palmente clorofluorcarbonetos, que
vinham exaurindo (depleting) a ca- aumentam no embalo de densidades demográficas menos desenvolvidos, em função do aumento de
mada de ozônio, de forma absolu- crescentes, da variedade de disciplinas e, princi- 1,5oC da temperatura média do planeta. Há forte
tamente descontrolada.
palmente, das possibilidades e interações combi- iminência do aumento de pobreza, além de maiores
natórias que ensejam. As resultantes são muitas: a riscos à saúde, subsistência, segurança alimentar,

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d tém,
3. Neste contexto, “práxis” significa provimento de água etc. (IPCC, 2018, p. 11), com “ecologia das cidades” e “ecologia nas cidades”:
a interação dialética entre teoria e
maiores efeitos nas cidades, principalmente de paí-
prática, no que concerne aos siste-
mas sociais, culturais etc. Trata-se, ses não desenvolvidos. Cidades são os principais contribuintes para o
em linhas gerais, de uma “prática aquecimento global. De acordo com o UN Habi-
pensada”. Em função dos objeti- tat, cidades consomem 78% da energia do mun-
vos do presente trabalho, parece Como destacado por Harvey Neo e C. P. Pow do e produzem 60% das emissões de gases do
não caber aqui, desenvolver uma (2015), alguns enxergam a expressão “cidade sus- efeito estufa. A despeito de ocuparem menos de
revisão bibliográfica do termo e 2% da superfície da Terra (NAÇÕES UNIDAS,
discorrer sobre a distinção entre
tentável” como um oximoro, pois, além dos deta-
2018).
práxis e poíesis, na obra de Aristó- lhes acima mencionados, são dependentes de re-
teles, ou do sentido desenvolvido giões externas (rurais) para produção de energia e
por Karl Marx que identifica a prá-
alimentos. Assim, o conceito de ecologia urbana Possivelmente, um dos autores mais emblemáticos
xis como uma ação humana de
transformação da realidade social. surge como um campo disciplinar adequado para dos primórdios da ecologia como ciência, em tem-
4. Lefebvre ao fazer esta distinção estudo de um quadro que envolve instabilidade, di- pos modernos, George Perkins Marsh, em seu livro
entre as expressões “cidade” e “ur-
versidade, dinamismo. As cidades possuem estru- Man and Nature (1864), publicado até hoje, “propu-
bano” procura destacar que as ci-
dades são produtos sociais (com turas abertas que se caracterizam pela necessida- nha que o mundo mantinha um estado de equilíbrio,
seus “elementos constituintes e de de adaptabilidade, interatividade e flexibilidade. exceto se alterado por ações do homem”. Em tal
sua história”), com características
Estes conceitos são menos rígidos e talvez mais publicação, o autor reconhece que o tema em ques-
bastante diversas (entre elas), e
que pressupõem a existência se- coalescentes com a práxis3 das intrincadas cida- tão – ecologia? – ainda não era uma disciplina for-
dentária de aglomerações de pes- des contemporâneas: mal (MARSH, 1864, p. 10), mas levantava questões
soas e estruturas (habitações, es-
em relação “às mudanças produzidas pela ação do
paços de trocas, circulações etc.),
ainda que alerte para a necessida- Talvez devêssemos introduzir aqui uma distin- homem nas condições da terra”. Destacava, por ex-
de de um cuidado com uma “redu- ção entre a cidade, realidade presente, imedia- emplo, que “a equação da vida de animais e vege-
ção-extrapolação particularmente ta, dado prático-sensível, arquitetônico – e por tais é um problema muito complicado para a inteli-
arbitrária e perigosa” da definição outro lado o “urbano”, realidade social composta
de cidade. Ou seja, um certo redu- gência humana resolver e nunca saberemos o quão
de relações a serem concebidas, construídas e
cionismo excessivo que enxerga a
reconstruídas pelo pensamento. Todavia, esta
largo será um círculo de interferência que produzire-
cidade como mero “centro de deci-
distinção se revela perigosa e a denominação mos na harmonia da natureza se jogarmos a menor
são e informação”: “leva ao urba-
nismo dos canos, da limpeza pú- proposta não é manejada sem riscos (LEFEB- pedra existente em um oceano de vida orgânica”
blica, dos medidores, que se pre- VRE4, 1968-2006, p. 49). (MARSH, 1864, p. 103).
tende impor em nome da ciência e
do rigor científico” (LEFEBVRE,
2006, p.43). Lefebvre compara a Emissões de poluentes não se restringem a delimi- Esta cisão entre natureza e homem desenha-se a
cidade com uma “escrita” na rela- tações políticas ou administrativas e se expandem partir do reconhecimento da “ideia de evolução: as
ção direta com “os fenômenos ur- formas naturais não tinham apenas constituição [fí-
por meio de fronteiras distantes, com impactos em
banos” e afirma: “não posso se-
pará-la nem daquilo que ela con- inúmeros ecossistemas, por isso a distinção entre sica] mas uma história” (WILLIAMS, 1980, p. 73).

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his
tém nem daquilo que a contém,
História possível de ser entendida somente a partir dade integrada de componentes físicos (abióticos) e
isolando-a como se fosse um sis-
tema completo” (Ibidem, p.48). das conclusões de Charles Darwin no século XIX. biológicos (biocenoses) em um dado meio específi-
Completa ainda: “a cidade teve a Esta dissociação ou distanciamento tão consolida- co. Admite-se que nem sempre o resultado das intri-
singular capacidade de se apode-
do, até então, passa a ser revisto: “(...) ao se falar cadas relações que podem advir desta convivência
rar de todas as significações a fim
de dizê-las, a fim de escrevê-las do homem “intervindo” nos processos naturais [era] biótica e abiótica resulta em justificativas rigidamen-
(estipulá-las e “significá-las”), inclu- de se supor que se [acreditava] que [era] possível te tangíveis. Acrescente-se que neste segmento fí-
sive as significações oriundas do
não fazê-lo ou decidir não fazê-lo” (WILLIAMS, sico-espacial, em definição de longa data, é prevista
campo, da vida imediata, da reli-
gião e da ideologia política” (Ibi- 1980, p. 75). Um outro mito, amplamente questio- a interatividade de processos de fluxos de matéria e
dem, p.56). Assim: “a cidade de- nado, mas, por vezes, ainda abordado nos meios energia. Contemporaneamente, com o avanço da
pende também e não menos es-
ecológicos é o da sucessão ecológica como um tecnologia da informática, não parece descabido
sencialmente das relações de ime-
diatice, das relações diretas entre processo determinista. Influenciado pelo reconheci- complementar a definição de ecologia, particular-
as pessoas e grupos que com- do botânico Frederic Clements (1874-1945), um mente do tipo urbano, com o acréscimo da ideia de
põem a sociedade (famílias, cor-
dos estudiosos pioneiros da ecologia, acreditou-se tráfego de comunicação e informação” (MIYAMO-
pos organizados, profissões e cor-
porações etc.); ela não se reduz durante muito tempo que aquele conceito significa- TO, 2018). Novos entes interdisciplinares desafiam
mais à organização dessas rela- va um desenvolvimento organizado e direcional a compreensão estrita do tema e demandam outras
ções imediatas e diretas, nem
que resultaria necessariamente em uma etapa final perspectivas analíticas.
suas metamorfoses se reduzem
às mudanças nessas relações. Ela e permanente, ou seja, um ecossistema estabiliza-
se situa num meio termo, a meio do (clímax). Hoje, esse pensamento não é válido
caminho entre aquilo que se cha-
O entendimento sobre o tema em si não é novo,
para os meios essencialmente naturais e nem tam-
ma de ordem próxima (relações mas a premência do quadro evidencia a importância
dos indivíduos em grupos mais ou pouco para os meios predominantemente urbanos.
de se privilegiarem os fatos e contextos provenien-
menos amplos, mais ou menos or-
ganizados e estruturados, relações
tes das zonas urbanas. Na realidade, desde a Re-
desses grupos entre eles) e a or- Há registros do uso pioneiro da expressão “ecolo- volução Industrial (considerada a pioneira), em me-
dem distante, a ordem da socieda- gia”, em 1800, pelo alemão Karl Friedrich Burdach ados do século XVIII, alicerçada no aperfeiçoamen-
de, regida por grandes e podero-
sas instituições (Igreja, Estado),
(BARON, 1966; COLEMAN, 1977; FARBER, 1982 to da máquina a vapor por James Watts e com ino-
por um código jurídico formalizado apud MCINTOSH, 1986, p. 2). Contudo, talvez o vadores métodos de produção e gerenciamento fa-
ou não, por uma “cultura” e por nome mais popular associado ao termo seja o do bril, há a compreensão histórica de que o mundo já
conjuntos significantes” (Ibidem,
p.46).
americano Henry David Thoreau, em 1858. Outros atravessou outras Revoluções Industriais. A Segun-
atribuem a Ernst Haeckel o uso do conceito, em da Revolução Industrial, por exemplo, foi baseada
1866. Mais adiante, Roy Clapham (1930) parece na eletricidade que possibilitou a invenção de inú-
dividir com Arthur George Tansley (1935) o uso pi- meros equipamentos e eletrodomésticos, ilumina-
oneiro da expressão “ecossistema”, como uma uni- ção pública mais eficiente etc. e, posteriormente,
dade com o
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çaõ
ção e o fluxo de energia e matéria (LIKENS,
como uso do petróleo e a produção industrial em
1992, apud McDONNELL, 2013, p. 6).
massa – principalmente dos automóveis, - transfor-
mou as paisagens urbanas. A Terceira Revolução
Evidentemente, os limites e abrangências do tema
Industrial, após a Segunda Guerra Mundial, foi fun-
da ecologia urbana devem ser tratados com ponde-
damentada na eletrônica, novas formas de teleco-
ração. Como todo assunto atinente aos sistemas
municação e automações industriais. Hoje, consi-
complexos, deve ser reconhecido como um proces-
dera-se que a Quarta Revolução Industrial funda-
so interativo e não um fim em si mesmo. Derivam
menta-se na inteligência artificial, na biotecnologia,
desse pensamento duas premissas importantes. A
na nanotecnologia, nas redes de comunicação e
primeira é que natureza e seres humanos não po-
nas transações globais, em novos padrões de
dem estar em trincheiras adversárias. A segunda é
comportamento de consumo, comportamento, ges-
que “as cidades, precisamente devido às densida-
tão etc.
des e diversidades de suas populações humanas,
são também lugares onde as soluções devem ser
Cada um desses momentos trouxe referências de desenvolvidas” (NIEMELÄ, 2011).
vivência, convívio, comunicação e gerenciamento
diferentes. As configurações das cidades foram se
Também é consensual que não parece haver mui-
modificando e novos tipos de interações foram na-
tos locais no planeta que não sofram (ou tenham
turalmente se flexibilizando e se adaptando às no-
sofrido) efeitos de cunho antrópico5. O amadureci-
vidades tecnológicas e urbanas. Por isso, entende-
mento do termo deu-se por algumas passagens im-
se por que a ecologia urbana assumiu diferentes
portantes, mas, certamente, baseado nos avanços
perspectivas e gradativa importância, ao longo de
5. Existem depressões em zonas (e possíveis retrocessos) inerentes às invenções e
tempos relativamente recentes, e consolida-se
de encontro entre placas tectôni- descobertas tecnológicas, a partir do século XVIII, e
cas, nas profundezas mais longín- como uma ciência presente em diversos segmen-
nos consequentes métodos e rigores da pesquisa
quas dos mares (cerca de 8.000 a tos. Derivada do campo disciplinar da biologia,
11.000 metros), as chamadas fos- científica. A visualização e o entendimento das ori-
ecologia era simplesmente descrita como “estudo
sas abissais ou oceânicas, onde gens da expressão devem ser buscados em diver-
se avalia que não exista ainda in- de organismos e seus habitats”. Uma disseminada
sos campos disciplinares, dentre os quais: “história
fluência antrópica. Embora, em conceituação sobre ecologia ainda é:
2017, já tenha sido constatada a da paisagem, história do meio ambiente, história da
presença de Poluentes Orgânicos geografia, arqueologia ambiental, história das flores-
Persistentes (POP) nas fossas O estudo científico de processos que influenci-
tas ou história da ecologia” (SZABÓ, 2014). Há ain-
abissais das Marianas e de Ker- am a distribuição e a abundância de organis-
madec (JAMIESON et al., 2017). mos, as relações entre organismos, e as intera- da referências à bionomia ou mesmo entendimen-
ções entre (estes) organismos e a transforma- tos de que a ecologia era um braço da fisiologia ou

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a
ainda da biologia: Conceitos:

A expressão ecologia e a emergência da ecolo- Endlicher define ecologia urbana de duas formas:
gia como uma ciência reconhecida são clara-
mente produtos do último terço do século XIX.
a) “no contexto das ciências naturais, ecologia
Diversos ecologistas e historiadores convergi-
urbana refere-se a padrões biológicos e proces-
ram para ecologia como uma lógica (...) conse-
sos ambientais associados em áreas urbanas,
quente do pensamento Darwiniano da evolução
como uma subdisciplina da biologia e da ecolo-
e [por considerar] Charles Darwin como o pri-
gia (...)”; b) “contudo, a segunda e complementar
meiro ecologista (MCINTOSH, 1985, p. 15).
definição implica na perspectiva antropocêntrica.
Aqui, ecologia urbana é entendida como uma
Cristopher Alexander publicou, na revista Architec- abordagem multidisciplinar para melhorar as con-
dições de vida da população das cidades, refe-
tural Forum, em 1965, o notório artigo Uma cidade
rentes às funções ecológicas dos habitats urba-
não é uma árvore. Nele, há um questionamento da nos ou ecossistemas para pessoas (...)” (SU-
concepção (extrema) do racionalismo modernista KOPP; WITTING, 1998, apud ENDLICHER et
relativo às cidades planejadas, justificada, quase al., 2007, p. 1).
paradoxalmente, por meio de diagramas e análises
combinatórias de cunho matemático. A relativa Ironicamente, pode-se afirmar que a cisão entre na-
simplicidade associada a uma árvore – “não uma tureza e sociedade (seres humanos) foi “amplamen-
verde e com folhas, [mas] (...) uma estrutura abs- te” superada. Ressalte-se, talvez por um perigoso
trata” - é confrontada com uma estrutura mais re- motivo. É praticamente impossível se estudar a na-
buscada, com conjuntos e subconjuntos, com dinâ- tureza plena sem que se considerem as causas e
micas cinéticas que possibilitam arranjos infinitos e efeitos (frequentemente nocivos e deletérios) de ca-
quase sempre imprevisíveis, chamadas de “semi- ráter antropogênico, mesmo nos recônditos mais
trama” ou “semi-retícula”. Segundo o autor, as ci- longínquos. Assim, essa variável impõe-se como
dades “artificiais” são mais próximas da árvore e as parte de uma equação, porém, a capacidade de o
“naturais” – construídas gradativamente pelas mui- ser humano em intervir no planeta expôs fragilida-
tas camadas interdisciplinares, temporais e multi- des latentes:
autorais - são mais próximas da “semi-trama”. As-
sim, é possível indagar: quais são as variáveis im- O homem interfere nos ecossistemas da Terra
portantes no universo da ecologia urbana? Que in- em níveis extraordinários através da conversão
terações existem entre elas? do solo e dos recursos de consumo, alteração de

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habitats e composição de espécies, desconti- Alberti et al. (2003) convida a uma reflexão sobre
nuidade de processos hidrológicos e modifica- como se apresentam os seres humanos e os pa-
ção do fluxo de energia e dos ciclos de nutrien-
drões ecológicos a partir da interação entre proces-
tes (ALBERTI, 2003).
sos socioeconômicos e biofísicos, já que a condição
urbana é multidimensional e altamente variável no
Dessa forma, em pesquisa, desenvolvida por Ri-
tempo e no espaço. Atualmente, admite-se que
chard Fuller e Katherine Irvine, dedicada às intera-
questões ambientais, climáticas, culturais, econômi-
ções entre homem e natureza, em que se constata
6. Para melhor compreensão do cas, etárias, estruturais, geográficas, históricas, ide-
que “apesar do evidente empobrecimento do ambi-
contexto do uso do conceito de ológicas, políticas, religiosas, sexuais, sociais etc.
mecanosfera, além da nota de ro- ente natural nos meios urbanos, ou talvez por cau-
entrelaçam-se e conferem nuanças específicas em
dapé no 8, específica sobre o sa disso, muitos habitantes das cidades buscam
tema, transcreve-se uma parte contextos urbanos variados (LEIS, 2004).
maior do texto: “O princípio parti-
interação com a natureza de alguma forma” (FUL-
cular à ecologia ambiental é o de LER; IRVINE, 2010, p. 134). Os pesquisadores
que tudo é possível tanto as piores chegam a uma interessante conclusão: a partir de Scarano, por exemplo, utiliza uma interessante es-
catástrofes quanto as evoluções tratégia de representação, por intermédio de uma
flexíveis. Cada vez mais, os equilí-
um questionário sobre visitas a parques urbanos, a
brios naturais dependerão das in- despeito de 59% dos consultados em Guangzhou, metáfora apoiada no filósofo Mario Bunge, para ex-
tervenções humanas. Um tempo China, terem respondido que os acessam “fre- plicar a questão da sustentabilidade em que desta-
virá em que será necessário em- ca as expressões: “emergência”, “submergência” e
preender imensos programas para
quentemente” ou “muito frequentemente” e, no
regular as relações entre o oxigê- Reino Unido, outros 92% terem afirmado frequên- “convergência” nas estruturas ecológicas. Segundo
nio, o ozônio e o gás carbônico na cia (aos parques urbanos), a urbanização tem iso- ele:
atmosfera terrestre. Poderíamos
perfeitamente requalificar a ecolo-
lado progressivamente pessoas do ambiente natu-
gia ambiental de ecologia maquí- ral, na medida em que as cidades crescem e tor- Sustentabilidade emerge como uma novidade a
nica já que, tanto do lado do cos- partir da convergência entre linhas independen-
nam-se mais densas (FULLER; IRVINE, 2010, p.
mos quanto das práxis humanas, tes de pesquisa, como sociologia, economia e
a questão é sempre a de máqui-
135). Em um alerta feito em 1990, em que desta- ecologia no corpo da ciência e a partir da tensão
nas - e eu ousaria até dizer de má- cava as “três ecologias” – a do meio ambiente, a entre ambientalismo e desenvolvimento como
quinas de guerra. Desde sempre a das relações sociais e a da subjetividade humana, movimentos sociais ou ideologias. Também é re-
"natureza" esteve em guerra con- lacionada com a emergência de uma nova ética
tra a vida! Mas a aceleração dos
— Guattari (1990, p. 25) dizia6:
baseada em uma justiça intergeracional. A con-
"progressos" técnico-científicos
vergência da sustentabilidade como ciência,
conjugada ao enorme crescimento
Mais do que nunca natureza não pode ser se- como política e como valor moral, por sua vez,
demográfico faz com que se deva
parada da cultura e precisamos aprender a pen- implica na submergência ou até mesmo o desa-
empreender, sem tardar, uma es-
pécie de corrida para dominar a
sar transversalmente as interações entre ecos- parecimento do antigo (SCARANO, 2018).
mecanosfera” (GUATTARI, 1990, sistemas, mecanosfera e universos de referên-
p.52). cias sociais e individuais.

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Ecologia urbana: conceitos, pré-conceitos e pós-conceitos

(1987)
Assim, há vários sentidos de “emergência” envolvi- (1987)— ambos de iniciativa das Nações Unidas —,
dos. A partir da questão ética, do entendimento de há essa preocupação com as gerações presentes e
sustentabilidade, da alternância de novos paradig- futuras (intergeracional) e a equidade nacional (ricos
mas de política e conceito etc. No sentido de “sub- e pobres) e internacional (países desenvolvidos/po-
mergência”, revela-se um embate entre a “tradicio- luidores e países subdesenvolvidos).
7. Hoje, as distinções entre meio
nal” e a “nova” ciência da conservação (preserva-
rural e meio urbano, - outrora sim-
plificadas pela dicotomia “agricultu- ção). De um lado e de outro há ressalvas e obje-
Deve-se compreender que, por muito tempo, um
ra” e “indústria” respectivamente, - ções sobre aspectos conceituais que significam a
demandam justificativas e defini-
cenário que ilustrava o embate entre os proprietári-
alternância de posturas. A princípio, o valor ético e
ções mais complexas. De um lado, os dos meios de produção e o proletariado serviu
há um meio rural com variadas ati- moral e a assunção da elevada valorização da na-
para justificar desigualdades da sociedade e até
vidades não agropecuárias (turis- tureza dos “tradicionalistas” cederiam lugar ao
mo rural e toda a estrutura que
mesmo a configuração espacial das cidades. Con-
bem-estar humano – antropocentrismo – conjuga-
propicia e demanda; artesanato; ceitos até certo ponto triviais 7, explicavam as cen-
indústria de alimentos; emergência do com uma ênfase relativa da proteção da biodi-
tralidades, as formas de ocupação geográfica, mi-
do setor terciário atrelado ao ensi- versidade como defendem os “novos conservacio-
no, administração etc.), mecaniza-
grações e muitas outras expressões atinentes ao
nistas”. Por fim, o significado de “convergência” im-
ção de alta tecnologia, produções âmbito do urbanismo. Contudo, “muitas outras con-
e operações baseadas em estu- plicaria na combinação de aproximações (aborda-
tradições transcendem esta lógica” (CUNHA, 2012),
dos científicos, valorização das gens) e dos diferentes campos disciplinares.
questões ecológicas e aumento de
em bases amplas e diversificadas, sejam concer-
fluxos de matérias e energias, por nentes a aspectos negativos, como em relação ao
exemplo. Por outro lado, as cres- Acrescente-se ainda a ideia de “divergência” (da preconceito, à intolerância, à leniência, à violência
centes fricções de cunho socioe-
conômico, os refugiados, os fluxos
fonte original formulada por Bunge) — não consi- etc., ou positivos, em relação a formas criativas de
migratórios, as alternativas con- derada por Scarano — que poderia ser entendida compartilhamento de usos e de bens, à otimização
temporâneas de moradias, as for- como a reorganização da energia e da matéria, de recursos tecnológicos, a novas formas de comu-
mas de ocupação periurbana e
mesmo o interesse pelos sistemas
causada pelo embate de posicionamentos antagô- nicação e prestação de serviços etc.
ecológicos, incluindo parques, po- nicos (ou não convergentes) que dessa forma po-
mares, florestas, reservas urbanas dem resultar em situações, muitas vezes positivas,
etc., resultam na configuração de Seria ingênuo não (tentar) enxergar grandes inte-
no tocante ao conceito de sustentabilidade.
um meio urbano também híbrido. resses obscuros quando se trata de um tema que
Sem deixar de lembrar que os flu-
pressupõe convivências e imbricações. Afinal, a pri-
xos crescentes de pessoas, bens
e serviços fazem parte da conexão O mesmo autor destaca a premissa de valor moral ori, o planeta é essencialmente desigual e plural. O
entre os dois meios (já não tão fa- no conceito de sustentabilidade. Vale lembrar que conceito de ecologia urbana política, na busca de
cilmente distinguíveis): no “conti-
desde a publicação de o Homem e a biosfera justiça ambiental e social, deve estar especialmente
nuum urbano-rural” (UN, 2016,
p.18). (1971), aperfeiçoada pelo “relatório Brundtland” baseado no “entendimento dos diferentes acessos

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Ecologia urbana: conceitos, pré-conceitos e pós-conceitos

aos mana
aos recursos e benefícios ambientais, assim como mana e mais dinâmico torna-se o cotidiano, porém
à forma como a degradação ambiental despropor- mais massacrante impõem-se as demandas e as
cionalmente afeta grupos sociais marginalizados” expectativas:
(NEO; POW, 2015).
Não haverá verdadeira resposta à crise ecológi-
ca a não ser em escala planetária e com a condi-
Guattari abordava questões que se mostram, hoje,
ção de que se opere uma autêntica revolução
fundamentais, pois considerava diversos segmen- política, social e cultural reorientando os objetivos
8. Quando Guattari menciona a
expressão ”mecanosfera” não ne- tos desafortunados da sociedade, relações esgar- da produção de bens materiais e imateriais. Essa
cessariamente ser refere a produ- çadas e ainda comentava: revolução deverá concernir, portanto, não só às
tos mecânicos, mas também a relações de forças visíveis em grande escala
questões sociais, comunitárias, mas também aos domínios moleculares de sen-
psicológicas, culturais e familiares, Cada vez mais, os equilíbrios naturais depende- sibilidade, de inteligência e de desejo. Uma finali-
dentre diversos outros temas, ati- rão das intervenções humanas. Um tempo virá dade do trabalho social regulada de maneira uní-
nentes a relações sociais e subjeti- em que será necessário empreender imensos voca por uma economia de lucro e por relações
vas do mundo contemporâneo. O programas para regular as relações entre o oxi- de poder só pode, no momento, levar a dramáti-
paralelo com uma máquina, no gênio, o ozônio e o gás carbônico na atmosfera cos impasses (...) (GUATTARI,1990, p. 9).
sentido mais simples e corrente do terrestre (GUATTARI, 1990, p. 52).
termo, - “um instrumento ou enge-
nho que transforma energia e/ou
Mohamed M. Mostafa desenvolveu estudo de parti-
utilizar essa transformação para O mesmo autor, em uma visão bastante abrangen-
produzir determinada ação ou efei- cular interesse, a partir de uma preocupação ambi-
te da sociedade e seus problemas ambientais, em
to”, - é porque peças (fragmentos), ental principal: o aquecimento global e suas resul-
quando reunidas e montadas, pas- um contexto complexo do mundo capitalista em
tantes. No trabalho, compara quarenta nações em
sam a fazer parte de algo mais sua fúria de produção e consumo, completa8:
complexo, adquirem uma articula- padrões relacionados à emissão de CO2, tendênci-
ção que pode transformar contex- as pós-materialistas, religiosidade, orientação políti-
tos, comportamentos, situações Desde sempre a “natureza” esteve em guerra ca e controle local. O autor destaca a inadequação
etc. A alta tecnologia, a inteligência contra a vida! Mas a aceleração dos “progres-
artificial, a biotecnologia, a nano- de pesquisas exclusivamente realizadas em países
sos” técnico-científicos conjugada ao enorme
tecnologia, os novos padrões de crescimento demográfico faz com que se deva com características tão díspares como EUA, Korea,
comunicação, os desafios da arte
empreender, sem tardar, uma espécie de corri- Turquia e Egito, por exemplo, e propõe o acesso a
e da cultura etc. acontecem em
da para dominar a mecanosfera (GUATTARI, características em âmbito individual – “porque a pre-
um mundo de desigualdades, ten-
1990, p. 52).
sões e fragmentações políticas ocupação ambiental é baseada nas motivações e
que proporá novas interpretações
cognições dos indivíduos de uma sociedade”, além
para campos disciplinares direta-
mente relacionados com identida-
Em síntese, é possível falar de uma crise identitária do nível dos países. Três hipóteses teóricas anco-
des, segurança, poder e liberdade de um planeta. Quanto mais evolui do ponto de ram o estudo: a) o novo paradigma político: maior
(social e individual). vista científico, mais longeva passa a ser a vida hu- preocupação ambiental dos cidadãos, na medida

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Ecologia urbana: conceitos, pré-conceitos e pós-conceitos

em social
em que determinados países tornam-se mais ricos; social e a formação e o funcionamento das ecologi-
b) o paradigma das condições objetivas: proble- as e das paisagens”, segundo Dianne Rocheleau
mas ambientais experimentados pelos indivíduos (apud PAULSON; GEZON, 2004, p. 17). Miranda
tornam previsíveis suas preocupações com o pro- utiliza conceitos desenvolvidos pelo sociólogo ale-
blema (ambiental); c) o paradigma baseado nos mão Norbert Elias para lidar com as relações de po-
valores: envolvimentos religiosos ou com o contro- der e interdependência social para “o entendimento
le do lugar podem impactar a consciência em rela- dos conflitos e processos de mudanças ambientais
ção a temas ambientais. ligados à apropriação do espaço e seus recursos”.
Ele conclui que “mudança ambiental e os processos
de territorialização são equivalentes, pois refletem
De acordo com as conclusões da investigação,
transformações nas relações entre sociedades e
Mostafa relata que o argumento – frequente e no-
naturezas” (MIRANDA, 2013, p. 143-144).
toriamente utilizado por Richard Inglehart, nos
anos 1980, dentre outros autores, – de que “países
ricos com altos níveis de valores pós-materialistas De forma a não estender excessivamente o tema,
tendem a se voltar mais para a qualidade ambien- toma-se de empréstimo a contribuição objetiva e di-
tal” não se sustenta, pois países menos desenvol- dática de Eduardo Gudynas (2014). O ambientalista
vidos possuem preocupações semelhantes. De uruguaio estabelece uma classificação importante,
acordo com o estudo, o paradigma objetivo das ex- após uma ampla revisão bibliográfica, na qual defi-
periências individuais não é suficiente para se afe- ne três campos, nos quais considera inclusive apor-
rir um compromisso com a causa ambiental, pois tes latino-americanos:
deve se levar em conta uma investigação mais am-
pla que inclui contextos diversos, múltiplos níveis
a) Interacionistas: corrente com raízes acadêmicas,
de análises e estudos de casos. Além disso, valo-
sobretudo aquelas manifestações originadas no he-
res religiosos podem ser positivos para a questão
misfério Norte. Surgem a partir das influências da
ecológica, pois lidam com questões éticas e cultu-
ecologia cultural, na década de 1970, e da antropo-
rais importantes que podem incentivar comporta-
logia ecológica desenvolvida na década de 1960.
mentos altruístas e ambientais.
Dedicam-se à análise das interações entre socieda-
de e meio ambiente, com distinção entre situações
A ecologia política, campo disciplinar surgido na contextuais diferentes.
década de 1970, por diferentes autores de origens
Guattarri é um dos pioneiros desta
múltiplas, propõe-se a lidar com “relações de poder
visão.

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gi
b) Normativistas: baseiam suas práticas no “con- giados são crianças e jovens (com menos de 18
junto de normas, objetivos, ações etc. entendidas anos) (UNHCR, 2017).
como uma agenda política orientada às questões
ambientais frequentemente voltadas para ideologi-
Outra perspectiva relacionada ao tema da ecologia
as políticas” e ações sociais, por meio de um parti-
urbana é relacionada à ecologia industrial. Na distin-
do verde, ONGs ou movimentos sociais, a partir
ção entre fontes móveis (veículos) e fontes fixas (fá-
dos quais se lançam ao debate público, à gestão
bricas), no que concerne à poluição atmosférica,
ambiental, ao planejamento territorial etc.
deve se levar em conta as indústrias, usinas termo-
elétricas e incineradores de resíduos como os maio-
c) Politólogos: analisam “atores, processos e impli- res contribuintes (dentre as fontes fixas). Os efluen-
cações das questões ambientais como parte das tes líquidos industriais, da mesma forma que os do-
chamadas ‘ciências políticas’”. Aferem “desempe- mésticos, devem ser tratados para que, a despeito
nhos dos partidos verdes, a postura dos partidos dos processos industriais, incluindo águas de refri-
políticos convencionais diante dos temas ambien- geração, águas pluviais e esgoto doméstico, sejam
tais”. Possuem preocupação também com a “parti- lançados nas redes com padrões biológicos, físico-
cipação e informação cidadã”, no ambiente demo- químicos etc. adequados. Além disso, os resíduos
crático. sólidos devem ser encarados sob o conceito da “ló-
gica reversa”:
No campo da ecologia política merece distinção
também a situação dos refugiados. Um problema Ao buscar uma semelhança com os ecossiste-
da mais alta gravidade que necessita ser enfrenta- mas naturais, a ecologia industrial propõe a mu-
do. Dados das Nações Unidas, em 2017, revelam dança do padrão linear para o padrão cíclico de
produção, em que as saídas dos sistemas produ-
que 68,5 milhões de pessoas (quase 1% da popu-
tivos não sejam descartadas, mas sejam entra-
lação do planeta), estão deslocadas de suas ori- das de outros processos produtivos. Admitem-se
gens, por força de guerras, violência e persegui- ainda sistemas intermediários que processem os
ções, em números que avançam na proporção de outputs em inputs para sistema seguinte da rede
(SOUSA, 2018, p. 163).
44,5 mil pessoas a cada dia. Aproximadamente
dois terços de todos os refugiados do mundo são
provenientes de apenas cinco países: Síria (6,3 mi- Também não é possível deixar de considerar, nesta
lhões), Afeganistão (2,6 milhões), Sudão do Sul revisão bibliográfica, o campo da ecologia da paisa-
(2,4 milhões), Myanmar (1,2 milhões) e Somália gem. Embora cunhado pelo geógrafo alemão Carl
(986 mil). Além disso, 52% do contingente de refu- Troll, em 1939, a expressão ganhou maior visibilida-

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de
de nos anos da década de 1980 e 1990, quando devem ser coibidas, em um estado democrático de
preocupações ambientais se transformaram em direito, sendo assegurados “os direitos e as liberda-
centralidades de pesquisa. Trata-se de uma ciên- des proclamados na (...) Declaração [Universal dos
cia que lida com a interação de padrões espaciais Direitos Humanos], sem distinção alguma, nomea-
— na realidade, mosaicos de paisagens9 — na re- damente de raça, de cor, de sexo, de língua, de reli-
lação direta com processos ecológicos que, por gião, de opinião política ou outra, de origem nacio-
considerarem diferentes escalas (física e temporal) nal ou social, de fortuna, de nascimento ou de qual-
e campos disciplinares, resultam em uma grande quer outra situação” (NU, Artigo 2º, 1948). Mas não
heterogeneidade espacial e temporal. Influenciada é isso que acontece em significativas partes do pla-
pela geografia, biologia e ciências sociais, pressu- neta.10
põe, evidentemente, a presença de fluxos de maté-
ria e energia:
Em convergência com a ideia de convivência, inte-
ratividade e solidariedade, vale destacar outro viés
A ecologia da paisagem moderna é caracteriza- do tema proposto, o da ecologia humana, direta-
9. (...) “mosaico de paisagens: mo- da por diferentes concepções do paradigma de
vimentos de água, nutrientes, pro- mente associada à construção do pensamento, da
“mosaico de retalhos” – patch mosaic – em rela-
págulos, animais e outros materi- ção à estrutura e à dinâmica da paisagem. Es- sociabilidade e do sentido crítico individual e coleti-
ais” (WU, Jianguo. Landscape sas perspectivas diferem largamente em como vo. Particularmente, para os fins deste trabalho,
Ecology. Disponível em: <https://
o habitat focal é percebido e representado em deve ser destacado tudo aquilo que, em diferentes
www.researchgate.net/publication/
relação a outros elementos da paisagem e se a
278708397_Landscape_Ecology> escalas (microssistema, messosistema, exossiste-
estrutura da paisagem é vista como estática
. Acesso em: 24 abr. 2019) ma e macrossistema), conforme proposto por Urie
10. Vale destacar também: Decla- (i.e., imutável) ou dinâmica (i.e., em constante
ração Universal dos Direitos Hu- mudança) (CUSHMAN; EVANS; MCGARIGAL, Bronfenbrenner, conduz ao desenvolvimento huma-
manos, artigo 25, 1948: “Todo o 2010, p. 68). no ao longo do tempo de sua existência e do tempo
homem tem direito a um padrão histórico de seu ambiente (cronossistema) e, por-
de vida capaz de assegurar a si e Pós-conceitos:
a sua família saúde e bem estar, tanto, mostra-se diretamente vinculado à educação
inclusive alimentação, vestuário, ambiental:
habitação, cuidados médicos e os Objetivamente, depois da recorrência a muitos ra-
serviços sociais indispensáveis, e
direito à segurança em caso de
ciocínios, conjecturas e citações, pretende-se con- Pode-se afirmar que a ecologia e a bioecologia
desemprego, doença, invalidez, tribuir com algumas considerações críticas. Duran- do desenvolvimento humano também propõe
viuvez, velhice ou outros casos de te as pesquisas, por poucas vezes, houve uma ex- uma educação que desloca o ser humano da po-
perda de meios de subsistência sição de onipotência antropocêntrica para inte-
em circunstâncias fora de seu con-
plícita referência a um campo disciplinar de extra-
grar a posição de componente do todo, configu-
trole”. ordinária relevância, no contexto da ecologia urba- rado como espaço psicológico ou espaço vital
na: a socioecologia. As dimensões discriminatórias pelos objetos, pessoas e acontecimentos aos

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Ecologia urbana: conceitos, pré-conceitos e pós-conceitos

quais vir
quais a pessoa atribui significado (YUNES; JU-
virtuosos ou viciosos com características, muitas ve-
LIANO, 2010, p. 368).
zes, profundas e longevas. A expressão pode ser
entendida em relação: aos vínculos funcionais ou
Aliás, deve ser destacado que, em publicações de-
afetivos; às percepções e interpretações individuais
dicadas à ecologia urbana no bojo dos fatos, con-
e coletivas; aos deslocamentos físicos pedonais ou
sequências e medidas preventivas, raramente há
veiculares; aos instrumentos de infraestrutura (insta-
menção ao tema da educação ambiental, exceto
lações e estrutura viária); às escalas de transição
em segmentos específicos – quase nunca conju-
das cidades (locais, regionais, metropolitanas, exur-
gada em um mesmo texto que aborde questões
banas) etc. Por espelhamento, é possível pensar
mais gerais como ecologia ou mais específicas
nos territórios como unidades funcionais fundamen-
como ecossistemas, por exemplo. Afinadas com o
tais da ecologia urbana: “o território é entendido
pensamento de Guattari, anteriormente exposto,
como substrato/palco para efetivação da vida huma-
na crítica aos objetivos da produção de bens mate-
na, sinônimo de solo/terra e outras condições natu-
riais e imateriais e da necessidade de comprometi-
rais, fundamentais a todos os povos” (SAQUET,
mento do ser humano com as questões ambien-
2007, p. 31). As relações dos sistemas sociais, por
tais, as autoras destacam:
meio das vertentes da cultura, política ou economia,
por exemplo, moldam estruturas de poder, no espa-
A educação ambiental compromete-se a res- ço geográfico, por intermédio da construção históri-
ponder a desequilíbrios e desacomodações,
ca e coletiva. Ou seja, são ecossistemas que vão se
pois visa criar uma lógica que abarque um mo-
delo de ser humano que supere o modelo de configurando, por meio de alianças e embates, por
desenvolvimento social e econômico vigente. meio de dinâmicas sociais. Nas cidades, diferente-
Trata-se de uma área de conhecimentos que mente dos contextos naturais, há certos componen-
propõe a formação de pessoas capazes de en-
tes materiais (bens), sociais e psicológicos que as
frentar criticamente a exploração desenfreada e
conseqüente degradação ambiental que englo- tornam particularmente complexas, como revela
ba a exploração e exaurimento da humanidade Saskia Sassen (2009): “[em cidades ou grandes so-
(YUNERS; JULIANO, 2010, p. 369). ciedades], elementos não-científicos são partes cru-
ciais do quadro: questões de poder, pobreza e dife-
Embora discutido ao longo do texto, talvez seja im- renças ideológicas e preferências culturais são par-
portante resgatar, com mais ênfase, outro sentido tes da pergunta e da resposta”.
de conexão nos meios urbanos. Essa é uma ex-
pressão que sugere vínculos e apropriações com
repercussões inclusive na forma urbana, em ciclos

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Ecologia urbana: conceitos, pré-conceitos e pós-conceitos

Mais específico ainda é considerar que: Considerações finais

São as forças produtivas e as relações de pro-


dução, na expansão do capitalismo, que confi-
Fatores biofísicos, normalmente, são determinantes
guram o território. Essa organização é mediada iniciais de apropriações, comportamentos, desloca-
por relações políticas, que envolvem os conflitos mentos, cerimônias festivas e religiosas, hábitos ali-
oriundos das relações capital-trabalho. O territó- mentares, engenhosidades técnicas etc. Além dis-
rio, num primeiro plano, é um produto social-
so, condições climáticas por demais severas podem
mente organizado e, num segundo, é condição
para a valorização do capital (SAQUET, 2007, inibir ocupações, assim como a presença de água,
p. 70). principalmente potável, pode incentivar assenta-
mentos. Evidentemente, cada um destes elementos
Por fim, é pouco provável que algumas visões de implica em um resultado de cunho antropológico ou
relevantes intelectuais alcancem realidades tão de- social diferente que pode resultar em uma confor-
siguais de países em desenvolvimento. Em tese, mação físico-espacial inesperada. Iniciativas históri-
Gregotti, por exemplo, estaria absolutamente cor- cas, com caráter ideológico, também são capazes
reto: de configurar fragmentos ou conjuntos peculiares,
seja pelas fricções previstas entre forças produtivas
A cidade induz o indivíduo a considerar-se cen- (produção, circulação, distribuição e consumo) de
tro de uma situação, protagonista, de certo níveis distintos que reverberam na espacialidade ur-
modo direto, de uma dinâmica de desenvolvi-
mento, e considerar-se (...) habitante de um
bana, seja pela indução do desenvolvimento local
ponto do território privilegiado e dono dos signifi- ou regional.
cados que representa para o grupo social
(GREGOTTI, 1975, p. 69).
Parece ser consensual que o planeta atravessa a
Quarta Revolução Industrial, baseada na inteligên-
A anomia presente em determinados lugares, do
cia artificial, nanotecnologia, criptografia, biotecnolo-
ponto de vista da ecologia urbana, para o bem ou
gia etc., com novas formas de operações, gestões e
para o mal, é geradora de variáveis que justificam
governanças digitais.
plenamente o conceito de ecologia, de acordo com
a pesquisa aqui desenvolvida. Contudo, poderes
paralelos, fragilidades institucionais, educação defi- Junto com o esgotamento da prevalência produtiva
ciente, infraestrutura precária, desequilíbrios socio- associada à indústria, novas matrizes tecnológicas
econômicos etc. criam instabilidades políticas e so- trouxeram formas inovadoras de gestão e, com
ciais graves. elas, outras opções de consumo e comportamento,

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Ecologia urbana: conceitos, pré-conceitos e pós-conceitos

pelo
pelo menos para uma (pequena) parcela da popu- mesmo tempo em que severos problemas sociais e
lação. Principalmente, em meio urbano, recursos ambientais vão surgindo e afetando a vida no plane-
computacionais poderão auxiliar na prevenção de ta, a população avoluma-se e adensa-se, a longevi-
sinistros, otimizar funcionamentos, agilizar proces- dade aumenta e as abrangências das ações huma-
sos e criar sinergias. Da mesma forma que no sé- nas estendem-se.
culo XVIII não existiam palavras como “indústria”,
“ferrovia” e “liberalismo”. Atualmente, “inteligência
Como visto, cada sistema dispõe de suas variáveis
artificial”, “time sharing” (“compartilhamento de
específicas com subsistemas particulares. Esses
tempo”) e “neoliberalismo” são expressões consoli-
sub
dadas, representantes de modelos de gestão e
subsistemas, ao se complexificarem e adquirirem
causa/efeito de complexidades contemporâneas.
relativa autonomia, transformam-se em novos siste-
mas. Que processos interativos serão possíveis?
Ao mesmo tempo, as Nações Unidas lançaram, Quais providências tornarão mais eficientes os flu-
em 2015, os Objetivos do Desenvolvimento Sus- xos de matéria, energia e informação? Quais medi-
tentável (ODS), em número de dezessete (objeti- das estancarão a geração de resíduos, a descarga
vos) replicados em 169 metas, que buscam a redu- de efluentes poluentes, a emissão atmosférica pre-
ção da pobreza, dos desequilíbrios, das injustiças judicial e a consequente destruição de vidas? Quais
etc. As contradições do mundo contemporâneo tal- sistemas tornarão os convívios mais inclusivos? En-
vez possam estar ilustradas pelos números tam- fim, fica a pergunta final: doravante, quais direciona-
bém fornecidos pelas Nações Unidas, em 2013, mentos e parâmetros nortearão a ecologia urbana,
que apontavam que 6 bilhões de pessoas tinham em um mundo tão complexo, instável e desigual?
acesso a celulares e apenas 4,5 bilhões tinham
acesso a banheiros em funcionamento. Assim, ao
d

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Ecologia urbana: conceitos, pré-conceitos e pós-conceitos

aaaa

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