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Design Sustentável e Moda

SENAI – Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil – CETIQT

Administração Nacional do SENAI


Robson Braga de Andrade
Presidente do Conselho Nacional do SENAI

Rafael Lucchesi
Diretor Geral do Departamento Nacional do SENAI

Conselho Técnico-Administrativo do SENAI/CETIQT


Antonio Cesar Berenguer Bittencourt Gomes
Presidente

Conselheiros
Antonio Carlos Dias
Clóvis Gonçalves de Souza Júnior
Luiz Augusto Caldas Pereira
Maria Lúcia Alencar de Rezende
Maria Lúcia Paulino Telles
Oscar Augusto Rache Ferreira
Pierangelo Rossetti
Rolf Dieter Bückmann

Administração do SENAI/CETIQT
Alexandre Figueira Rodrigues
Diretor Geral

Renato Teixeira da Cunha


Diretor de Educação e Tecnologia

Dácio Lara de Lima


Diretor de Operações
Marcos H. Garamvolgyi e Silva
Pedro Zöhrer R. da Costa

Design Sustentável e Moda

SENAI/CETIQT
Rio de Janeiro, 2010

3
Copyright 2010. SENAI/CETIQT
Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico,
mecânico, por fotocópia e outros sem prévia autorização, por escrito, do SENAI/CETIQT e do(s) autor(es).

DET – Diretoria de Educação e Tecnologia


CA – Coordenação Acadêmica
CPPE – Coordenação de Pós Graduação, Pesquisa e Extensão
NEAD – Núcleo de Educação a Distância

Equipe Gestora
Simone Aguiar C. L. Maranhão
Coordenadora Acadêmica

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Coordenadora de Pós Graduação, Pesquisa e Extensão

Ana Paula Abreu-Fialho


Gerente do Núcleo de Educação a Distância

Equipe técnica
Coordenação Geral: Ana Paula Abreu-Fialho
Consultora técnica: Gláucia Centeno
Design Educacional: Flávia Busnardo
Revisão: Paulo Alves
Projeto Gráfico: Nobrasso Branding, design & web
Diagramação: Rejane Megale Figueiredo
Ilustrações e edição de imagens: José Carlos Garcia
Normalização: Biblioteca Alexandre Figueira Rodrigues – SENAI/CETIQT
Impressão e acabamento: MCE Gráfica

Apoio
Departamento Nacional do SENAI

Ficha catalográfica

Silva, Marcos H. Garamvolgyi e.


Design sustentável e moda / Marcos H. Garamvolgyi e Silva, Pedro Zöhrer R. da Costa. – Rio
de Janeiro: SENAI/CETIQT, 2010.
182 p.: il.
ISBN: 978-85-60447-36-7
Inclui bibliografia.
1. Moda. 2. Design sustentável. I. Costa, Pedro Zöhere R. da. II. Título.
CDU 391:658.5

SENAI/CETIQT
Rua Dr. Manuel Cotrim, 195 – Riachuelo
20960-040 – Rio de Janeiro – RJ
www.cetiqt.senai.br
Sumário |

Apresentação 7

Aula 1 9
O modelo de desenvolvimento econômico
e a evolução socioambiental
Aula 2 43
O ciclo de vida do sistema-produto
Aula 3 71
Materiais e processos de baixo impacto
Aula 4 97
Impactos do uso e descarte
Aula 5 125
Design sustentável
Aula 6 147
Ferramenta de estratégias do ecodesign
Apresentação |

Olá!
Seja bem-vindo à disciplina Design Sustentável e Moda, parte da grade
do curso de Pós-Graduação em Design de Moda.
O objetivo desta disciplina é apresentar aos alunos, em linhas bem ge-
rais, o impacto ambiental e social, atrelado à concepção de uma solução têxtil,
focado não só na fabricação, mas em todo ciclo de vida do produto, desde a
escolha da matéria-prima até seu descarte final, não nos esquecendo das fases
de uso e reutilização. Pretendemos, ainda, estimular os alunos a projetar, de
forma mais consciente, fazendo uso de uma ferramenta qualitativa que auxilia
designers a propor alternativas menos impactantes.
Começaremos nossa conversa na Aula 1, discutindo como o modelo de
desenvolvimento econômico influencia nossa sociedade e como os impactos
ambientais induzem-nos para evolução socioambiental. Na segunda aula, pas-
samos a evidenciar que um projeto novo deve envolver a análise de impacto
de todo seu ciclo de vida e quais as características de uma avaliação qualitativa
e quantitativa.
As terceira e quarta aulas são dedicadas a esclarecer alguns dos prin-
cipais impactos associados ao universo têxtil, sejam estes referentes ao tra-
dicional enfoque em materiais, processos e produtos ou também aos menos
abordados, como o uso e pós-uso.
A quinta aula mostra como o designer, de forma ampla, pode interferir
em prol de uma sociedade sustentável, levando em conta novas características
da profissão em um período pós-industrial.
Por fim, apresentamos uma ferramenta qualitativa que, junto com o co-
nhecimento adquirido durante o curso, irá auxiliar na avaliação e desenvolvi-
mento de soluções menos impactantes.
Acreditamos que um conhecimento mais holístico do que seja a vida útil
de uma peça têxtil enriquece seu trabalho como designer, contudo temos cer-
teza de que em pouco tempo, conceber soluções menos impactantes não será
um diferencial, mas sim um imperativo.
Esperamos que aproveite!

7
Aula
O modelo de desenvolvimento econômico
e a evolução socioambiental
1
Seus Objetivos:
Ao final desta aula, esperamos que você seja capaz de:
1. identificar fatores históricos que contribuíram para a
formação e fortalecimento de um estilo de vida industrial;
2. identificar qual ou quais mecanismos de obsolescência es-
tão estimulando o consumo de produtos;
3. reconhecer os principais tipos de impactos ambientais associa-
dos às atuais mudanças climáticas;
4. analisar como o designer atua dentro do sistema industrial.

2 horas de aula
Design Sustentável e Moda

1. Ação e Reação

Você já ouviu falar na seguinte afirmação: Toda ação induz uma reação.
Imagino que sim. Este é um princípio da Física, mas que é totalmente aplicável
à nossa disciplina Design Sustentável.
Nesta disciplina, veremos que ações individuais e em sociedade influenciam
através de diversos impactos ambientais, como o efeito estufa, a extinção de vá-
rias espécies da flora e da fauna mundial, etc. Ou seja, o impacto ambiental de
nossas decisões hoje afeta nossa própria geração e também as gerações futuras.

São principalmente as ações humanas, sejam individuais ou coletivas, que estão produzindo impactos no am-
biente do planeta.

O menino, o escritor e as estrelas do mar


Esse é o título de um conto que fala sobre um menino que ficava em uma praia,
devolvendo para a água as estrelas do mar que iam parar na areia, trazidas pelas
ondas. Um escritor, observando esta cena, falou com o menino que ele não conse-
guiria devolver todas aquelas estrelas para o mar. Quer saber como termina? Acesse
o site http://lunallena.spaceblog.com.br/537458/O-JOVEM-E-A-ESTRELA-DO-MAR/ e
leia o conto na íntegra.

11
Aula 1

Mas o que a ecologia e o desenvolvimento sustentável, hoje larga- Ecológico: O termo eco-
logia, cunhado pelo bió-
mente divulgados na mídia, têm haver com as variações climáticas e a famosa logo alemão Ernst Hae-
crise econômica mundial? Será que estas questões são uma preocupação só de ckel, em 1866, significa:
“Relação dos seres vivos
hoje? O que significam estes conceitos acima? com o habitat ou meio
Para entendermos melhor o porquê de estudarmos conceitos relaciona- ambiente natural”. Por-
tanto, não se pode falar
dos à interação do ser humano com o ambiente natural, precisamos voltar um em relação direta com a
Natureza, em um ambien-
pouco no tempo, a fim de identificarmos algumas de suas origens. Desde o
te urbano, criado e modi-
início das grandes civilizações, o homem ao se fixar na terra, tem alterado seu ficado pelo ser humano
com o uso de maquiná-
habitat para prover-lhe o sustento, transformando-o, sem pensar muito, nas
rios e alta tecnologia.
consequências de suas ações. Alguns historiadores relatam que muitas civili-
Sustentável: Conceito
zações podem ter desaparecido em função de mudanças climáticas locais ou apresentado pela primei-
globais que, afetando seus meios de produção e subsistência, como a agricul- ra vez em 1987, através
do Informe Bruntland
tura, e acabaram por afetar a economia local e, consequentemente, a estrutura da ONU (Organização
política, pondo fim a uma civilização. das Nações Unidas), que
definiu Desenvolvimento
Sustentável como “aque-
le que permite fazer uso
dos recursos naturais sem
esgotá-los, preservando-
os para as gerações fu-
turas”. Então, aplicando
A Ilha de Páscoa o mesmo conceito, a de-
O fim do povo que viveu na Ilha da Páscoa foi uma situação isolada e em es- finição mais correta para
o perfil moderno, urbano
cala reduzida, mas serve como indicativo de como a sobrevivência humana e industrial é de produtos
está sujeita ao seu relacionamento com a natureza. sustentáveis, construção
sustentável, obra susten-
Como alegado por Diamond (2005), evidências apontam que fatores políticos, sociais
tável e assim por diante.
e religiosos geraram competição entre clãs que habitavam a ilha. Os nativos passaram
a construir estátuas de pedra para demonstrar sua supremacia em relação aos rivais. O
gigantismo destas peças era o que determinava um maior status ao clã e também a razão
de um impacto ambiental mais profundo, provocado pelos novos hábitos dos nativos.
O desmatamento era justificado pela função secundária a que árvores da ilha foram
relegadas: suprir a crescente demanda por
madeira e cordas para construção e trans-
porte das estátuas. Desta forma, sem ter
uma consciência holística do sistema em
que habitavam, este povo desequilibrava o
ecossistema da ilha de tal forma, que elimi-
nava uma das maiores fontes de alimento,
tornando a vida no local insustentável.
Fonte: Flickr | Foto: p.lenedic

Com este exemplo, podemos aprender


que somos capazes de transformar o nos-
so habitat de forma errônea, quando não
discernimos corretamente quais são os
valores essenciais para nossa subsistência.

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Design Sustentável e Moda

Contudo, foi na era da revolução industrial que vimos um grande salto


ser dado em termos do que, ainda hoje, chamamos de crescimento ou desen-
volvimento em nossa sociedade.
A revolução industrial iniciada na Europa, mais especificamente na In-
glaterra do século XVIII, é frequentemente associada às ideias de progresso,
riqueza e crescimento, uma vez que proporciona produtos mais acessíveis, me-
lhorando a condição humana e sua qualidade de vida.
Curiosamente, um dos fatores que contribuiu para esta revolução foi
o surgimento da máquina a vapor, do tear mecânico e da máquina de fiar
e, consequentemente, o surgimento da indústria fabril. A indústria têxtil foi
umas das precursoras e impulsionou outros setores a se modernizar, como
os de abastecimento de matérias primas, dos transportes e da comunicação.
Surgem, então, a locomotiva, o barco a vapor, o telégrafo, o telefone, entre
outros.
O sistema produtivo artesanal rural endêmico (restrito à determinada
localidade) é substituído pelo industrial urbano e universal. Camponeses são
expulsos de suas terras e surgem os latifúndios e as grandes monoculturas,
acompanhados de uma migração para os centros urbanos e o consequente
crescimento das cidades.
A expansão da indústria acaba por levar vários países a disputar novos
mercados consumidores e fornecedores de matéria prima. Transformações téc-
nicas e econômicas levam a indústria a um crescimento rápido que acaba por
envolver vários outros setores da economia: a difusão do aço e a descobertas
de novas fontes de energia, como carvão e petróleo, impulsionaram o desen-
volvimento econômico a níveis sem precedentes na história humana. Muitas
mudanças políticas acontecem e isso acaba por culminar nos dois grandes con-
flitos da história humana: a I e II Guerras Mundiais, assim como todos os con-
flitos que se sucederam.
O pós-guerra traz consigo a insegurança sobre o futuro e estimula a pro-
paganda e o consumismo. As indústrias, que com a demanda urgente de guer-
ra acumularam experiência de aumento em produtividade e tecnologias sem
igual, em tempos de paz não mais seriam mais necessárias. Assim, a saída foi
investir em propaganda para que o consumo mantivesse a crescente produti-
vidade das fábricas.
Nossas ações do passado geraram resultados positivos, como por exem-
plo: o desenvolvimento da ciência e tecnologia aplicadas às mais diversas áre-
as como medicina, alimentos e vestuário, e outros confortos em geral no nosso
dia a dia. Entretanto, muita coisa também foi colocada em risco; nosso modo
de vida tão promissor nos colocou em xeque com a natureza, nossa principal

13
Aula 1

provedora e inspiradora de exemplo de harmonia, beleza, equilíbrio e modelo


para várias de nossas tecnologias.
Hoje, pressionados pelas alterações climáticas de nosso meio, estuda-
mos os efeitos colaterais das decisões tomadas no passado e também estabe-
lecemos novos parâmetros para promover um futuro mais harmônico. Nesta
aula, você vai aprender como as ações geradas pelo consumo excessivo afetam
o meio ambiente.

Atividade 1 – Objetivo 1

Identifique no texto apresentado até este momento da aula, três fatores


que viabilizaram ou estimularam o sistema econômico industrial.

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Resposta

• O Desenvolvimento de novas máquinas: o surgimento da máquina a


vapor, do tear mecânico e da máquina de fiar;
• A modernização do abastecimento de matérias primas, dos transpor-
tes e da comunicação;
• A migração do camponês para a cidade, o surgimento do latifúndio e
grandes monoculturas;
• A expansão dos mercados: fornecedores e consumidores mundiais;
• A difusão do aço e a descoberta de novas fontes de energia, como
carvão e petróleo;
• As duas grandes guerras mundiais que estimularam novas técnica e
maior produtividade;

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Design Sustentável e Moda

2. Poluição, consumo e descarte

Lixo, sujeira e, mais recentemente, poluição são palavras muito usadas


em nosso vocabulário e que geralmente se relacionam, mas não são sinônimos.
Compostagem: É um
Para os índios brasileiros, por exemplo, não existe a palavra lixo ou su-
processo biológico em
que microrganismos jeira com a mesma conotação que nós temos. Isso se deve, provavelmente, por
transformam a matéria
que sendo sua cultura mais envolta pelas relações com a natureza e sendo seus
orgânica, como estrume,
folhas, papel e restos de resíduos compostáveis ou degradáveis, a sujeira ou lixo são não são percebi-
comida, em um material
semelhante ao solo, cha-
dos como algo negativo ou não natural, como é para nós.
mado composto, e que Para um índio, andar descalço é uma vantagem na caça (não faz barulho)
pode ser utilizado como
adubo. e estar cheio de terra e lama não o caracterizaria como sujo afinal, tudo que o
cerca é da mãe natureza e não pode ter uma conotação negativa como de sujeira.
Outra curiosidade é que a palavra indígena Tygüera, que é o passado de
Tyba (haver, abundar, multidão, jazida), significa acabado, consumido, destruí-
do, assolado. Ou seja, para o índio, consumo e destruição estão na mesma raiz
linguística, assim como abundância. Isso também é outra grande diferença dos
índios para nós.
O descarte, numa tribo indígena, é em sua maioria de material que se
degrada naturalmente no meio ambiente. É por isso que, em escavações ar-
queológicas, só encontramos como rastros da cultura indígena suas cerâmicas
e outros materiais que têm um ciclo de vida mais longo de deteriorização.

Fonte: Wikimedia Commons | Foto: Valter Campanato/ABr

A cultura indígena tem outra visão sobre poluição, consumo e descarte, pois estão em contato com a natureza
e se reconhecem como parte dela.

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Aula 1

2.1. Poluição

Se algum dia a civilização humana atingir um nível máximo de desenvol-


vimento sustentável, teremos um tipo básico de rastros da civilização: aqueles
gerados pelos produtos de ciclo de vida longo, duráveis, como as construções
em pedra ou concreto, uma vez que os produtos biodegradáveis não deixarão
rastro visível.
Contudo, o que podemos observar da atual cultura de consumo humana
é o oposto: consumimos mais do que o necessário para nossa subsistência,
modificamos ambientes para nosso maior conforto e nos excluímos de qual-
quer cadeia natural. O resultado disto é que somos nossos próprios predado-
res, apoderamo-nos dos recursos que deveriam ser compartilhados por todas
as espécies, produzimos mais do que consumimos e descartamos em velocida-
de superior ao da decomposição dos materiais que utilizamos.
A poluição para as populações industriais é o resultado da deterioriza-
ção ou contaminação do meio ambiente por substâncias sintéticas, orgânicas
ou processos físicos que não são naturalmente absorvidos no ciclo natural pelo
ecossistema.
A poluição muito influenciada pelo Homem que introduz elementos ar-
tificiais inertes, ou seja, que não reagem com o ambiente, não se degradam
naturalmente ou têm um tempo de degeneração muito lento (plásticos, vidros,
concreto). Mesmo quando se trata de substâncias orgânicas, como o esgoto,
o volume produzido pelo Homem é muitas vezes superior ao limite tolerado
pelo sistema natural, tornando-se necessário um sistema paralelo de tratamen-
to para atender à demanda.
Intervenções físicas, como excesso de estímulos visuais e auditivos, tam-
bém são consideradas como poluição visual e sonora, respectivamente, pois
apesar de momentâneas, também geram malefícios à saúde humana e ao am-
biente que os cercam.

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Design Sustentável e Moda

As regiões de Gyro
O maior depósito de lixo do mundo não se localiza em terra firme. Está no
norte do Oceano Pacífico, numa imensa região do mar que começa a cerca
de 950 quilômetros da costa californiana e chega ao litoral havaiano - o Giro do Pacífico
Norte. Seu tamanho já se aproxima de 680 mil quilômetros quadrados, o equivalente
aos territórios de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo, somados e possui 10
metros de profundidade – e não para de crescer.

Este é apenas um dos cinco grandes giros oceânicos. Estas áreas acumulam lixos flu-
tuantes por serem regiões de correntes marítimas de baixa velocidade e de movimentos
circulares, mas que podem distribuir seu lixo caso ocorra uma inversão de correntes.
Cerca de 90% do lixo flutuante dos oceanos é composto de plástico.
A proporção de plástico encontrada nesta área é seis vezes maior do que a de plânc-
ton e isso causa sérios danos à fauna, à flora e a toda cadeia alimentar marinha.
Entulhos marinhos têm afetado mais de 86% das espécies de tartarugas marinhas
por ingestão, sufocamento, estrangulamento (por plásticos), infecção e fome. Ainda,
outros organismos também têm sido exterminados através da ingestão de partículas
de plástico degradado.

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Aula 1

2.2. Consumo

Se por um lado o consumo é visto como o motor que hoje mais acelera
o ciclo de vida, intensificando a extração, uso e descarte de produtos, elevando
enormemente o impacto ambiental, por outro lado, também é visto como fon-
te de empregos e desenvolvimento econômico e, culturalmente, é sinônimo
de bem-estar da população. Assim, se torna um objetivo básico das políticas Mecanismos de Obso-
lescência: Atuam como
econômicas e um desejo da sociedade em sua grande maioria. balizadores da desvalo-
Presentes em toda a história da humanidade, artefatos que represen- rização de um artefato
quanto ao mercado. Mui-
tam determinado valor atiçam uma cobiça natural de grupos por sua posse. tas vezes são característi-
Dentro da sociedade moderna, essa percepção de valor tem sido manipulada cas planejadas, imbutidas
no produto, de forma
de forma maciça, especialmente após a quebra da falsa noção de uma de- que este se preste à sua
função apenas por um
manda infinita para os produtos da era industrial. Esta “ambição consumista”
período predetermina-
inferior ao que o mercado poderia ofertar exige novas estratégias para man- do, diversas vezes muito
aquém do tempo que
ter a produção em ritmo crescente. Desde então, diversos mecanismos de
sua matéria o permitiria
obsolescência foram criados para estimular o consumo e continuam sendo durar.

praticados pelo mercado:

“Nos últimos 40 anos, o tamanho das famílias canadenses diminuiu em 50%, mas o ta-
manho das residências dobrou. (...) Cada pessoa usa quatro vezes mais espaço porque
nós compramos muitas coisas”. (SUZUKI, 2001 apud CAPRA, 2002)

A) Obsolescência tecnológica: Refere-se à substituição de um produto


por outro de desempenho superior. Apesar de eventuais prejuízos causados na
transição de uma tecnologia para outra, esta modalidade pode ser observada
como uma obsolescência de fundamentação justa, uma vez que a evolução das
tecnologias pode trazer uma melhora no bem-estar social, cultural, ambiental
em uma relação custo-benefício atraente.
Porém, é questionável a frequência com que estas alterações permeiam
o mercado e se a tecnologia inserida traz de fato uma vida mais plena para o
indivíduo ou para a sociedade.
Alguns profissionais no desenvolvimento de produtos alegam que gran-
des alterações, ou mesmo inovações no serviço, não são de fácil assimilação
pelo mercado. Esta afirmativa é materializada por Loewy, através do seu con-
ceito MAYA (Most Advanced Yet Acceptable), citado por Kazazian (2005). Base-
ado nesta concepção, o mercado adota a subdivisão de um salto tecnológico

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Design Sustentável e Moda

em diversos passos que geram uma gama de produtos intermediários que,


rapidamente, estarão sendo substituído em um esquema de “obsolescência
tecnológica planejada, pois estes aumentam a demanda e são de interesse da
indústria” (OLIVEIRA, 2000).

B) Obsolescência psicológica: Também chamada de obsolescência de


estilo, de desejo, de gosto ou cultural, esta modalidade de obsolescência tra-
balha com os aspectos subjetivos da percepção do usuário em relação à qua-
lidade do produto, contudo o termo obsolescência psicológica é mais amplo
do que obsolescência estilística, uma vez que outros fatores psicológicos que
sugerem modernidade podem ser considerados objetos de desejo sem, neces-
sariamente, representar uma mudança de estilo.
Nesta modalidade de obsolescência, o possuidor é levado a desconside-
rar o valor operacional do objeto, mesmo este estando com suas funções em
perfeito estado, e desejar outros produtos similares com signos que melhor
representam o contexto em que o usuário se encontra.
Efeito Cascata: Repre- Esta abordagem é mais eficaz do que a baseada na baixa qualida-
senta o trajeto de um
de, porque não altera a confiança na marca do produto, tampouco deixa
bem de consumo quan-
do tem seu ciclo de vida o consumidor insatisfeito. Em casos mais extremos, a expectativa da troca
estendido pela mudança
de dono. Geralmente,
já é contabilizada pelo próprio consumidor na compra de um produto, que
um produto em lança- desconsidera um valor diferencial por um objeto mais durável, tornando-
mento é comprado por
uma pessoa abastada se um aliado e colaborador da empresa na manutenção deste padrão de
que, após fazer uso, se consumo. Frequentemente, o designer está associado à este tipo de obso-
desfaz vendendo o bem
para outra pessoa de lescência, redesenhando novos modelos e estimulando novos padrões de
menos posses. Sequen- cultura material.
cialmente, este bem vai
mudando de mão, até O grande mercado de produtos usados em perfeito estado gerado por
seu descarte final.
essa prática tem seu impacto amenizado sob o pretexto social de distribui-
ção de riquezas, pois o Efeito Cascata
transfere o ônus da novidade para os
consumidores ricos e permite que pro-
dutos de tecnologia recente em boas
condições de conservação cheguem
com preços mais acessíveis às pessoas
Fonte: Flickr | Foto: BaylorBear78

menos abastadas.

Metáfora da cascata que representa a queda d'água divi-


dida em níveis.

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Aula 1

Recentemente, entretanto, a propaganda vem pregando um ritmo de


obsolescência em tal nível que, mesmo em países em desenvolvimento como
o Brasil, as classes média/baixa tentam ascender socialmente através da posse
de produtos de marcas e abdicando de ofertas de “segunda mão”, mesmo que
tenham de ser adquiridos através do uso de empréstimos financeiros com par-
celas que extrapolam a vida útil do aparelho.

C) Obsolescência de durabilidade de material: Esta categorização, tam-


bém conhecida como de qualidade, se dá quando o desuso do equipamento
ou produto é promovido por uma diretriz de projeto, a qual prevê a quebra ou
o desgaste de um item ou de todo o produto, de forma a reduzir a durabilida-
de do produto por questões mercadológicas. Esta forma de provocar o desuso
não pode ser comparada com as estratégias de um planejamento de objetos
descartáveis ou biodegradáveis, pois é justamente criticada por sua intenção
meramente financeira, aplicada com a finalidade de interromper o ciclo de vida
dos produtos e impor a aquisição de um novo produto mais atraente economi-
camente, uma vez que o que o preço de seu conserto é restritivo.
Por vezes, esta é a escolha de um mercado saturado onde ocorre uma
competição pautada no preço, onde optar pela utilização de um elemento
mais durável, com maior custo, pode eliminá-lo da concorrência, em detrimen-
to do preço final do produto. Contudo, estudos de empresas que procuram
diferenciais em seu produto dificilmente escolhem esta estratégia apesar de
economicamente viável, muitas vezes por seu público perceber este diferencial
como não desejável.
O limite físico de produtos e materiais poderia ser aumentado simultanea-
mente com novos desenvolvimentos tecnológicos. No entanto, em geral, obser-
va-se o oposto: produtos antigos apresentam duração muito superior aos novos
equipamentos. Com um discurso de rápida substituição tecnológica e baratea-
mento de produtos, empresas reduzem a qualidade dos materiais, afetando a
duração dos produtos e, consequentemente, desestimulando o efeito cascata.

D) Obsolescência Informacional e Funcional: Este item refere-se não à


informação em si, mas ao suporte desta, os meios físicos que veiculam as infor-
mações periódicas, como o jornal, revistas, propagandas e cartazes.
Desde a década de 80, o desenvolvimento de meios alternativos de di-
vulgação da informação, como televisões, rádios e computadores, vem sendo
base para que algumas previsões mais radicais vislumbrassem a decadência
da mídia tradicional em papel. Contudo, ao contrário das previsões, a evolu-
ção principalmente do computador, viabilizou uma maior facilidade de difusão

20
Design Sustentável e Moda

desse material impresso, permitindo que não só o profissional pudesse divul-


gar, mas também que qualquer amador pudesse publicar informações como
forma de expressão.
Recentemente, o desenvolvimento de aparatos tecnológicos como livros
virtuais, que buscam atingir uma leitura mais confortável, assim como câme-
ras, gravadores e celulares, procuram estimular de forma acessível a produção
de informação multimídia, buscam alcançar gradativamente uma maior aceita-
ção pelo meio virtual, substituindo meios materiais por mídias que não preci-
sam ser descartadas de imediato. Contudo, o acesso e a produção exponencial
desse tipo de informação pressupõem também o crescimento periódico da ca-
pacidade de seu armazenamento e isso tem causado um novo fenômeno: o de
acumulação de lixo virtual.
Com a democratização do fazer, também é permitida a divulgação do
saber, através de sistemas denominados “abertos”. A internet é um dos canais
expoentes na disseminação deste novo sistema. Dentre seus milhares de sites,
dois ilustram de forma exemplar esta nova liberdade de expressão:

• a Wikipedia é uma enciclopédia aberta a contribuições de todos os


que se dispuserem a acrescentar qualquer informação sobre os mais
diversos assuntos;
• o mundo virtual Second Life literalmente se propõe a criar um mundo pa-
ralelo, onde ambientes e criaturas são criados virtualmente sem limites.

Porém, por traz desta franca expansão, encontra-se a necessidade de


uma maior capacidade de processamento de dados, assim como maior espaço
de armazenamento, forçando novamente a substituição ou adição da capaci-
dade de processamento de informação por um suporte de maior potência.
Essa obsolescência funcional das máquinas alimenta uma indústria de
obsolescência tecnológica que já representa um dos maiores impactos de nos-
sa sociedade atual. Avalia-se que esta demanda gera a cada ano, no mundo,
40 milhões de toneladas de lixo tecnológico e, até 2020, o volume de resíduos
procedentes de computadores abandonados crescerá 500% na Índia em rela-
ção a 2007 e 400%, na China e África do Sul (ONU, 2010 apud PALOP, 2010).

E) Obsolescência Estratégica: Assim como a anterior está interligada com


a obsolescência tecnológica, esta é uma variação da vertente psicológica. A ca-
racterística que a destaca das demais é que esta geralmente está relacionada
às estratégias políticas. Obras públicas têm seu o tempo de vida útil atrelado a
favorecer aqueles que as implantaram, porém não devem enaltecer possíveis
sucessores. Neste contexto, alguns outros exemplos são citados por Oliveira

21
Aula 1

(2000), como: “(...) motivos político-econômicos: produtos agrícolas destruídos


para a regulação de preços, discos piratas apreendidos ou usinas nucleares que
foram construídas e não entraram em funcionamento”.
Uma das estratégias mais graves levantadas pelo mesmo autor é a da
indústria bélica que tem como comprador países que não utilizam as armas de
fato, mas adquirem esse arsenal no intuito de coibir ações de possíveis adver-
sários. Na corrida armamentista durante a Guerra-fria, cerca de um quarto do
PIB das duas maiores potências mundiais (EUA e União Soviética) foram gastos
neste fim, uma vez que, sempre que o adversário desenvolve uma arma mais
potente, todas as demais se tornam obsoletas.
Então, é notório que, apesar de termos capacidade tecnológica para ex-
pandir a durabilidade de produtos e virtualizar algumas operações, o sistema
econômico tem o aval de grande parte da atual sociedade para tornar acelera-
damente algumas soluções técnica ou culturalmente “inúteis”, o que tem de-
mandado que criemos novas alternativas para combater um novo mal: a falta
de estrutura para lidar ou reaproveitar os descartes prematuros.

Atividade 2 – Objetivo 2

Analise qual(is) mecanismo(s) de obsolescência estão envolvidos no co-


mércio de:
• Televisões ou monitores;
• Uma camisa estampada.

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Design Sustentável e Moda

Resposta

Televisores ou monitores:
Obsolescências tecnológica, psicológica e de durabilidade. Obsolescên-
cia tecnológica  o mercado de telas está relacionado às diversas tecnologias
de geração de imagem: minitubo, Plasma, LCD e LED, o que representa uma
sequência rápida de mudanças onde a indústria não estabelece um padrão de
mercado e lança modelos que serão brevemente substituídos por outros de
tecnologias superior capazes de render maior lucro.
Obsolescência psicológica  sua televisão ou tela serve perfeitamente
para ver seu programa, mas você é levado a trocá-la por um aparelho mais
fino simplesmente por se sentir ultrapassado, mesmo que espaço não seja um
problema para você.
Obsolescência de durabilidade  quando o aparelho der a primeira fa-
lha, você verá que o preço de reposição da peça que deu defeito é próximo do
valor de um novo aparelho e, como se trata de uma tecnologia que brevemen-
te será destituída, você optará por um modelo novo.

Camisa estampada:
Obsolescência de estilo  Algumas vezes, devido ao material emprega-
do, a peça de roupa pode ser considerada de durabilidade. Mas, usualmente,
a roupa estampada vai para o fundo do armário ou mesmo vira pano de chão
precocemente por refletir uma moda efêmera. Em contraponto, há peças que
são clássicas ou mesmo básicas, que transcendem a moda de uma época para
se tornarem eternas.

2.3. Descarte

Você já viu que os sistemas de depreciação do valor de um produto or-


denados pelo mercado são regidos por mecanismos de obsolescência que im-
primem e retiram o valor, fazendo com que a posse destes não represente a
importância antes embutida.
A sociedade mutante regida pelo modelo de bem-estar atual, de modo
geral, participa destes ciclos de vida cada vez mais curtos dos objetos, quase
forçosamente. Estes consumidores se mostram coniventes ou ávidos pelo mo-
dismo imposto por soluções cheias de símbolos.
Nesta ciranda de vaidade cultural, a cada “coleção” permite-se uma nova
chance de hierarquização, mas se a ascensão é uma possibilidade, manter o

23
Aula 1

status acaba tornando-se também uma obrigatoriedade, uma vez que uma
pessoa rebaixada, “mal colocada” ou ausente deste sistema, será naturalmente
tachada como de menor “valor”.
Essa corrida incessante por novidades deve ser bem avaliada, pois ainda
que ocasione uma melhora da performance de um produto, por outro lado
pode gerar um imenso impacto ambiental em consequência do maciço descar-
te do produto anterior.
Nesse contexto, apesar da prosperidade da indústria de reciclagem e da
conscientização ambiental do público, essa alternativa ainda não se mostra
suficiente para evitar futuros colapsos ambientais.
Segundo a CEMPRE (2007), associação empresarial dedicada à promoção
da reciclagem, o Brasil vem alcançando altas taxas de reciclagem, especial-
mente nas áreas de embalagem, porém contabilizando todo o montante a ser
reciclável, apenas 11% foi processado no ano de 2005.
Fonte: Stock Xchange | Foto: CRE-ART CUBATÃO

Numa sociedade, onde o descarte de resíduos aumenta em proporções elevadíssimas, é importante que o pro-
jeto de produto leve em consideração formas de retorno, reciclagem ou compostagem de todo o universo rela-
cionado ao produto.

3. Impactos ambientais e as crises sociais

A revolução industrial causou uma desarmonia sem precedentes entre o


Homem e a Natureza. O primeiro, que sempre dependeu das dádivas do segun-
do, colocou-se como proprietário de todos os recursos disponíveis, utilizando-
os sem moderação e zelo. O resultado desta atitude pode ser bastante previsí-
vel: sem cuidados, nada se mantém e hoje arcamos com a perda de qualidade
de nosso ambiente e com as restrições que nossas ações nos levaram.

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Design Sustentável e Moda

Muitos chamam a Terra de “nosso lar”. Esta analogia simples nos aju-
dará a refletir sobre nossos hábitos e indicar o esforço a que devemos nos
sujeitar para por esta casa em ordem novamente. Mesmo que recebamos uma
habitação nova, sabemos que devemos faxiná-la de tempos em tempos, não
devemos deixar migalhas no chão, pois aparecerão baratas. Se formos mais
desleixados e largarmos alimentos no chão, logo aparecerão ratos, a gordura
na parede se acumulará e, cada vez será mais difícil remover a crosta formada.
Pois bem, fizemos banquetes, a louça está acumulada, hora de arregaçar as
mangas para organizar a bagunça, antes que tenhamos de cozinhar em pane-
las sujas e correr o risco de pegarmos uma infecção.

3.1. Impactos Ambientais

A Natureza, em sua abundância, repõe o que dela é extraído. Porém, o


ciclo das “necessidades” humanas não está sendo compatível com o tempo de
renaturação ou resiliência – período que a Natureza necessita para repor ele-
mentos dela retirados sob forma de extrativismo ou para assimilar substâncias
despejadas.
O consumo excessivo, além de potencializar as emissões de poluentes
e promover a escassez de recursos não renováveis decorrentes dos processos
produtivos e dos gastos durante a fase de uso de um produto, resulta no acú-
mulo de grande quantidade de resíduo no pós-uso que, sem destinação apro-
priada, são lançados in natura em aterros, gerando a degradação do ambien-
te. Nesta equação desequilibrada, as consequências previstas são alarmantes,
uma vez que é inegável nossa dependência com a natureza, principalmente no
que tange à subsistência.
O atual patamar de recursos naturais não renováveis, usufruídos por
uma minoria global para manter o modelo de vida sob os padrões propagan-
deados pelo sistema, já não é comportado pela natureza. Em 1999, a WWF,
uma organização de conservação global, divulgou o primeiro relatório "Plane-
ta Vivo", correlacionando o consumo de recursos naturais pelo Homem e a ca-
pacidade biológica produtiva da Terra. O impacto produzido por esta equação
foi chamado de “Pegada Ecológica”.
Já no relatório “Planeta Vivo”, de 2002, o gasto do homem extrapolava
em 20% a capacidade de renovação dos recursos naturais da Terra; no relatório
de 2006, este percentual já excedeu os 25% e estima-se que, em 2050, seriam
necessários dois planetas Terra para sustentar esse padrão de bem-estar huma-
no (WWF, 2006).

25
Aula 1

Merece ser dito ainda, que este percentual é amenizado pela contabili-
zação dos impactos dos países em desenvolvimento, que não utilizam tantos
recursos naturais, “mas, aos poucos, o desenvolvimento industrial globaliza-se
e fere duramente os princípios que regem a biosfera (...) uma séria ameaça ao
futuro da espécie humana.” (KAZAZIAN, 2005).

WWF-Brasil
A missão desta organização é contribuir para que a sociedade brasileira conserve a na-
tureza, harmonizando a atividade humana com a conservação da biodiversidade e com
o uso racional dos recursos naturais para o benefício dos cidadãos de hoje e das futuras
gerações. Para mais informações acesse: http://www.wwf.org.br/

A sociedade vem consumindo mais rápido do que o ambiente pode repor. Daqui a alguns anos, segundo pes-
quisas, seriam necessários dois Planetas Terras para atender às demandas humanas. Esse é o atual tamanho da
pegada ecológica dos humanos.

Para cada ação humana há uma repercussão no ambiente de maior ou


menor grau. Independente dos recursos serem matérias primas renováveis ou
não, a sua exploração é geralmente acompanhada de vários tipos de emissões,
como agentes químicos ou físicos, substâncias ou ruídos liberados no ambiente.
Cada forma de impacto tem, portanto, na sua origem, uma troca de subs-
tâncias entre o ambiente e o sistema de produção e consumo. É esse sistema
de ações humanas que na sua complexidade acaba determinando a situação
de ser ou não sustentável. Esta carga e descarga para o meio ambiente, ou seja,
a extração dos recursos e liberação das várias emissões determina os impactos

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Design Sustentável e Moda

que não são absorvidos pelo ecossistema de uma forma que compromete o
equilíbrio de sobrevivência da flora, da fauna e também do próprio homem.
De um modo geral, os impactos podem ter os seus efeitos percebidos
geograficamente de três formas (níveis):

• local, onde os efeitos são percebidos no lugar de produção, na rua ou


num depósito urbano;
• regional, onde os efeitos se alargam além da área local, estendendo-
se às regiões vizinhas;
• global, efeitos recorrentes em diversas regiões do planeta, como por
exemplo as mudanças climáticas da terra.

Os principais efeitos no meio ambiente, determinados pelos processos


de extração e emissão de substâncias, são:

• esgotamento dos recursos naturais


• aquecimento do globo terrestre
• redução da camada de ozônio
• poluição fotoquímica
• acidificação
• eutrofia
• lançamentos de toxinas no ar, no mar e no solo
• lixos e descartes.

3.1.1. Esgotamento dos recursos naturais

O esgotamento dos recursos naturais põe em xeque os nossos modelos de


produção e consumo, e a consequente sustentabilidade do
sistema econômico.
Os recursos naturais disponíveis podem ser divididos
em duas categorias:
• os recursos não renováveis – são os recursos com
ciclo de reposição incompatível com o ritmo da demanda,
por exemplo: energia e materiais, como os combustíveis
Fonte: Flickr | Foto: Imagens Cristãs

fósseis, urânio e minérios cujas reservas levam mais tempo


para se recompor do que a sua utilização. Portanto, esses
tipos de recursos são considerados finitos ou esgotáveis.

O petróleo é um exemplo de combustível fóssil e, portanto, é um recurso não re-


novável.

27
Aula 1

• os recursos renováveis - são os recursos com ciclo de reposição com-


patível com a demanda, como a energia solar, eólica, hidrelétrica e
materiais cultiváveis (plantações e criações de animais). Contudo, há
uma falsa visão de que estes recursos são inesgotáveis. Estes recursos
são dependentes da disponibilidade equilibrada dos ciclos da nature-
za, portanto não se pode ignorar os impactos ambientais provenien-
tes da obtenção de papel, por exemplo, a partir de grandes florestas
de monoculturas, ou mesmo da inundação de áreas necessárias para
a construção de grandes hidrelétricas para obtenção de energia "lim-
pa", apenas para citar alguns.

Fonte: Wikimedia Commons | Foto: Sócrates Arantes/Eletronorte

Mesmo a água sendo um recurso natural renovável, o processo de construção de usinas hidrelétricas causa
grandes impactos ao ambiente.

3.1.2. Aquecimento Global

O aquecimento do globo terrestre é resultado de dois fatores básicos em


equilíbrio: as radiações capturadas do sol pelo planeta e as radiações refletidas.
Os gases atmosféricos, como dióxido de carbono (CO2), os clorofluro-
carbononetos (CFC), o metano (CH4), o bióxido e os óxidos de nitrogênio (N2O
e NOx), assim como o Ozônio (O3) são facilitadores da absorção das radiações
solares e também impedem que elas sejam refletidas de volta ao espaço. Com
isto, cria-se um efeito de elevação da temperatura global, chamado efeito
estufa.

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Design Sustentável e Moda

Uma boa comparação para entender o efeito estufa é a seguinte: um


carro deixado ao sol tem seu interior aquecido, pois os vidros permitem que a
radiação solar entre no carro, mas simultaneamente a impedem de sair. Isso é a
mesma coisa que acontece com o planeta: os gases permitem que as radiações
solares penetrem na atmosfera, mas, ao mesmo tempo, as impede de sair.

Influência de cada gás atmosférico no agravamento do efeito estufa.

Este efeito é benéfico ao planeta, pois permite uma temperatura compa-


tível com a vida na Terra. Porém, vários cientistas estão alertando que as ações
humanas vêm aumentando de forma preocupante a presença destes gases na
atmosfera, comprometendo o equilíbrio térmico do planeta.
O maior vilão até o momento – o CO2 - é proveniente da combustão de
petróleo, carvão e gás natural, sendo que 80% destes provêm de geração de
energia, 17% das produções industriais e 3% dos desmatamentos florestais,
resultante das queimadas (combustão) e indiretamente das derrubadas que
acabam reduzindo o número de árvores que participam da absorção de CO2
da atmosfera.
Na agricultura, também existem impactos provocados pelo uso de fertili-
zantes, que liberam óxidos de nitrogênio ou de azoto, como era chamado (N2O),
e na pecuária por emissões de CH4 (metano), gerados pela criação de gado.
Os riscos decorrentes de um aumento da temperatura por todo o globo
terrestre já podem ser percebidas hoje através:

• do derretimento dos gelos polares;


• do aumento do nível das águas dos rios e oceanos;
• da desertificação e
• da migração de agentes patogênicos das zonas tropicais para áreas
temperadas (pandemias).

29
Aula 1

3.1.3. Buraco na camada de ozônio

A camada de ôzonio é uma importantíssima barreira filtrante dos perigo-


sos raios solares UV (ultravioletas), nocivos à flora e à fauna, sendo o principal
causador de tumores de pele entre os humanos. No entanto, o uso dos gases
CFC e HCFC, foram contribuindo para a destruição da camada de ozônio. A des-
truição desta camada permite que os raios UV penetrem na atmosfera da Terra
com mais intensidade, o que intensifica os danos causados por esta incidên-
cia. A utilização destes gases foi vetada há alguns anos por intensa campanha
mundial, mas seus efeitos ainda serão sentidos por pelo menos 20 anos.
Na indústria, podemos citar como produtos que contribuem para emis-
sões desses gases, solventes à base de cloro, usados em lavagem a seco, ver-
nizes diluídos à base de solventes e os sistemas de refrigeração que usam gás
freon, assim como alguns produtos confeccionados em espuma. Recentemen-
te, também se verificou que os aviões supersônicos contribuem em média de 5
a 12% com a redução da camada de ozônio, através da emissão de NO.

3.1.4. Poluição fotoquímica

Dois tipos básicos de poluição fotoquímica (potencializada pela luz) são


conhecidos em função das estações do ano:

• A poluição de verão – é a névoa encontrada em cidades, como China e


Peroxiacetilinitratos
São Paulo, ausada pela excessiva descarga de hidrocarbonetos e óxido (PAN): São oxidantes fo-
toquímicos. Compostos
de nitrogênio (NOx) no ambiente, esta névoa bloqueia parcialmente a
gerados a partir de outros
luz do sol e provoca uma grande concentração de monóxido de carbo- poluentes (hidrocarbone-
tos e óxidos de nitrogê-
no (CO), ozônio (O3) peroxiacetilinitratos (PAN) e outros compostos nio), que foram lançados
orgânicos como aldeídos, hidrocarbonetos aromáticos, policítricos, à atmosfera por meio da
reação química entre es-
etc. nos extratos da camada de ozônio. ses compostos e catalisa-
dos pela radiação solar.
Esse tipo de poluição é nocivo à fauna, à flora e ao homem, criando
não só problemas de saúde, mas como efeitos devastadores nas plantações.
Uma das causas deste tipo de poluição é a utilização de máquinas que emi-
tem gases, como NOX e CXHY (hidrocarbonetos), o uso de fertilizantes, como o
N2O, assim como as atividades de indústria de refinarias e centrais elétricas e
claro, de maneira indireta, o consumo nas cidades, como: gás, energia elétrica
e combustíveis.

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Design Sustentável e Moda

• A poluição de inverno - altas concentrações de SPN (pequenas partes


dispersas) e de SO2 (dióxido de enxofre) que causam sérios problemas
respiratórios, podendo levar até a morte. Estas emissões são, sobre-
tudo, vindas de máquinas pela atividade das indústrias, refinarias e
centrais elétricas e consumo nas cidades.

3.1.5. Acidificação

A acidificação acontece na atmosfera quando os óxidos de nitrogênio


(NO2 e NOX) se transformam em ácido nítrico (HNO3) e os óxidos de enxofre
(SO2 e SOX) se transformam em ácido sulfúrico (H2SO4) ao se juntarem com a
água da chuva, tornando a chuva ácida. Este aumento de acidez no terreno e
nas águas urbanas:

• impede o crescimento das árvores tanto nas regiões urbanas quanto


nas regiões de florestas;
• aumenta a corrosão de monumentos e edifícios;
• contamina os lençóis freáticos;
• causa a morte da flora aquática;
• causa sérios danos à saúde do homem, como problemas respiratórios.

Agentes causadores dessa acidificação podem ser encontrados nas ativi-


dades agrícolas, como, por exemplo, o amoníaco proveniente do estrume, na
utilização de máquinas em atividades das indústrias e nos compostos orgâni-
cos voláteis (COV), que vêm de produtos de limpeza que contêm amônia, tintas
e adesivos à base de solventes.

Protocolos para o bem do meio ambiente:


Em 1980, foi sancionado o Protocolo de Helsinski que tinha como objetivo
reduzir as emissões dos óxidos de enxofre (SOX) em 30%. Com isto, houve
redução de enxofre nos combustíveis e a substituição por produtos derivados do petró-
leo. No entanto, a chuva ácida não foi contida com esta medida, já que a maior parte
dos problemas vem do óxido nitroso (NOX), cujo controle de emissões fora sancionado
no Protocolo de Sofia, em 1987, mas ficou longe dos objetivos a serem cumpridos.

31
Aula 1

3.1.6. Eutrofização

A Eutrofia é o resultado de um excessivo acúmulo de nutrientes numa


determinada área, causado pela hiperfertilização. Os ambientes mais sensíveis
a isto são os lagos e bacias artificiais, onde a lentidão da troca da água facilita o
acúmulo dos elementos poluentes. Isto acaba por gerar um grande crescimen-
to de algas que, por sua vez, matam a fauna aquática por consumirem todo o
oxigênio da água, poluindo as bacias que não mais servirão de fornecimento
hídrico e serão impróprias ao banho. Este fenômeno é comumente chamado
maré vermelha.
Em geral, no campo, esse fenômeno é decorrente do uso intenso de fer-
tilizantes à base de fosfatos ou nitratos na agricultura. Nas cidades, este fenô-
meno dá-se através do gás nitrogênio (N2), emitido por máquinas, e de esgoto
doméstico, lançados nos corpos d’água. Na agricultura, a eutrofia acaba favo-
recendo uma monocultura que elimina outras plantas que crescem em terrenos
mais pobres. Uma outra fonte de nitratos e fosfatos que provocam a hiperfer-
tilização eram os detergentes que hoje, felizmente, são minoria no comércio.

3.1.7. Lançamentos de toxinas no ar, no mar e no solo

Existem toxinas no ar, na água e no solo que podem ser perigosas ao


homem e contaminar direta ou indiretamente o ecossistema.
As toxinas podem ser:

• de origem natural, como chumbo, mercúrio, cádmio, níquel, arsênico,


zinco e selênio (metais pesados);
• de origem sintética, como os pesticidas clorados (DDT), substâncias
químicas, como policlorobifeniles (PCB) e o policlorotrifeniles (PCT).
A estes também se somam o petróleo e os óleos consumidos (de má-
quinas e de cozinha).

Como exemplos de contaminantes por fontes diretas, temos:

• metais pesados,
• petróleos e derivados,
• óleos e substâncias químicas, despejadas em esgotos urbanos e in-
dustriais,
• substâncias tóxicas, exaladas de depósitos de lixo,
• queimadas,
• CFC de aerosóis, amianto, entre outros.

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Design Sustentável e Moda

Dentre as possíveis fontes indiretas de toxina, temos bens descartáveis


como:

• brinquedos – cargas ou aditivos nos plásticos (cádmio) e tintas à base


Dormentes: São as ma-
deiras que ficam debaixo de chumbo;
do trilho do trem. Mui- • aparelhos domésticos que usem baterias de metais, como mercúrio,
tas vezes, as madeiras
usadas nestes dormen- cádmio, níquel;
tes não são de primeira
• isolantes de transformadores, condensadores, dormentes de trem de
qualidade (não nobres)
e, para não serem ata- madeira não nobre – óleo de ascarel ou PCB;
cadas são por insetos ou
• termômetros e lâmpadas fluorescentes - mercúrio
outros animais, devem
receber um tratamento
que é tóxico.

3.1.8. Lixos e descartes

Lixos e descartes configuram-se como uma falta de eficiência do sistema


como um todo: o produtivo gera elementos que não são consumidos em sua
totalidade; o consumidor não utiliza produtos e serviços em sua plenitude e
desfaz-se deles de forma descompromissada com o ambiente e a logística do fim
de vida não dá conta de encaminhar resíduos para os destinos mais proveitosos.
A composição do lixo domiciliar pode ser dividida em 3 grupos:

Rejeitos inertes: São


• Recicláveis (papel-papelão, plásticos, vidro e metal);
aqueles que não podem • Matéria Orgânica;
ser aproveitados ou reci-
clados, como isopor, fral- • Rejeitos (inertes, madeira, borracha, pano/trapo, couro e osso).
das descartáveis, papéis
higiênicos, etc. Sendo maioria absoluta em quantidade de lixo, os orgânicos hoje podem
ser aproveitados através de
compostagem (adubos, biogás
e ração) ou mesmo gerar ener-
Fonte: Paraná (Estado). Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos

gia em depósitos especialmen-


te equipados para aproveitar
os gases de sua decomposição.

Apesar da importância dada aos recicláveis,


historicamente, mais da metade do lixo
domiciliar é de orgânicos.

33
Aula 1

Contudo, a reciclagem, ainda que muito longe de atingir seu potencial


real, é um sistema economicamente mais interessante do que a compostagem.
Apesar do sensível avanço em infraestrutura para aumentar a capacidade de
processar materiais recicláveis, estes são cada vez mais presentes em nosso
cotidiano, uma vez que os ciclos de vida dos produtos são encurtados e mais
pessoas optam por trocar seus objetos por produtos novos, tornando objetos
prematuramente obsoletos.

Climate Change 2007


O quarto relatório de avaliação sobre mudanças climáticas, chamado de Cli-
mate Change 2007, publicado por um comitê de autoridades internacionais
no assunto, o IPCC – Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações
Unidas – é dividido em três grupos, a saber: Grupo de trabalho I avaliou os aspectos
científicos do sistema climático e de mudança do clima; o Grupo de Trabalho II pon-
derou a vulnerabilidade dos sistemas socioeconômicos e naturais diante da mudança
climática, assim como as possibilidades de adaptação a elas; e o último, Grupo III, ana-
lisou opções que permitiriam limitar as emissões de Gases do Efeito Estufa.
O segundo grupo de trabalho do IPCC acrescenta que o impacto ambiental não será
uniforme sobre o globo, assegurando que os países “pobres” serão os mais castigados
pelo aquecimento global. Este alerta divulga que chuvas e secas ameaçarão a lavoura e
afetarão a pesca, aumentarão a frequência de doenças tropicais, diminuirão a biodiversi-
dade, afetarão ou contaminarão o fornecimento de água potável desta maioria popula-
cional do globo, aumentando assim a desigualdade social entre os extremos econômicos.

Atividade 3 – Objetivo 3

Relacione o impacto ambiental com as suas consequências:


(1) efeito estufa
(2) acidificação
(3) Eutrofia
(4) Redução da camada de ozônio

( ) Falta de O2 em corpos d’água


( ) Maior incidência de raios UV
( ) Chuvas ácidas
( ) elevação da temperatura global

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Design Sustentável e Moda

Resposta

(3)
(4)
(2)
(1)

3.2. Impactos Sociais

A despeito de todas as previsões pessimistas que fazem com que a cons-


ciência ambiental ganhe importância internacional, alguns países em desen-
volvimento ainda têm seguido o mesmo modelo histórico, subvalorizando
questões ambientais ao ampliar o uso de fontes não renováveis de energia e
emissões de dióxido de carbono, em prol de sua escalada ao padrão de bem-
estar pregado pelos países desenvolvidos (baseado nos modelos americanos,
europeus e japoneses).
Estes o fazem, alegando que os países desenvolvidos deveriam arcar majo-
ritariamente com o ônus da despoluição, uma vez que estes são historicamente
Equidade Ambiental:
“O principio da Equidade e ainda na atualidade os maiores responsáveis pela poluição do planeta. Contu-
(...) afirma que, no qua- do, independente de culpa ou liderança, a postura desses países em desenvol-
dro da sustentabilidade,
cada pessoa (incluindo vimento deve ser reconsiderada, pois, assim como seus antecessores inadverti-
as gerações futuras) tem damente agiram, esta atitude desrespeita o princípio da equidade ambiental.
direito ao mesmo espa-
ço ambiental, isto é, a
mesma disponibilidade “(...) uma série de políticas, inclusive sobre mudança do clima, segurança
de recursos naturais do
globo terrestre” (MANZI-
energética e desenvolvimento sustentável, tem sido eficaz na redução das
NI; VEZZOLI, 2002). emissões de gases de efeito estufa em diferentes setores e em muitos pa-
íses, porém a escala dessas medidas, contudo, ainda não foi grande o su-
ficiente para fazer frente ao aumento das emissões globais” (IPCC, 2007)

Dentre algumas das propostas da citação anterior do IPCC, a conside-


rada pelo relatório como uma “conquista notável” é a resposta de combate
ao aquecimento global, denominada Protocolo de Kioto. Assinado em 1998 e
iniciado em 2005, este protocolo estipula uma redução dos níveis de emissões
de CO2 de pelo menos 5.2% até o ano 2012, tendo como base os dados de
1990. Apesar deste grande prazo e da redução não ser a necessária para cessar
o aquecimento, o protocolo não teve adesão total dos países. O principal país
poluidor, os Estados Unidos, negava-se a ratificá-lo até recentemente, tornan-
do-o menos eficaz do que o previsto.

35
Aula 1

Entretanto, na prática, para contornar a dificuldade da implementação


da redução destas taxas de emissões propostas pelo protocolo e ainda estimu-
lar investimentos no desenvolvimento de soluções menos impactantes, me-
canismos alternativos são criados. Como exemplo, podemos citar o Mercado
Internacional de Sequestro de Carbono que viabiliza que países cujas emissões
extrapolem as metas determinadas pelo Protocolo de Kioto possam saldar sua
dívida, comprando cotas de emissão não utilizadas por países que estão abaixo
do patamar estipulado. Este sistema permite que haja uma distribuição econô-
mica e tecnológica mais harmônica entre países poluidores e os menos desen-
volvidos, uma vez que os recursos obtidos com as cotas vendidas deverão ser
reinvestidos em iniciativas que promovam algum benefício ambiental.
Novos instrumentos de mensuração de abordagem politicoeconômica
que propõem valores mais sustentáveis são apresentados em indicadores como
o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e o ISA (índice de sustentabilidade
Ambiental), ampliando a abordagem do sistema mundial que ainda mede o
grau de desenvolvimento dos países pelo Produto Interno Bruto (PIB). Estes ín-
dices propõem a inserção das variáveis de desigualdades sociais e ambientais,
como recursos tão relevantes quanto à produção de bens e serviços, tornando
valores de equilíbrio sustentável dos países tão representativos quanto sua
produção comercial. Embora estas medições tenham sido exaltadas como re-
levantes pelo PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento),
ainda não foram incorporadas em sua avaliação anual.
O IDH, elaborado pelo Prêmio Nobel de Economia Amartya Sem Sur, traz
uma visão social mais realista e humana à economia e permite que “as múl-
tiplas facetas da pobreza fossem traduzidas em números” (MELO, 2007). Estes
valores são apresentados através de apontadores dos níveis de PIB per capta,
expectativa de vida ao nascer, taxa de alfabetização de adultos e matrículas no
ensino fundamental, médio e superior. Deste mesmo modo, o ISA pretende
apontar 76 variáveis ambientais, dentre elas a qualidade do ar, biodiversidade,
redução da poluição da água e diminuição do desperdício e do consumo.

4. Design e a sociedade industrial

Crítico da revolução industrial e do capitalismo, idealizador do movi-


mento Arts and Crafts, poeta romancista e editor inglês, Willian Morris (1934-
1986) dizia que a indústria favorece mais a produtividade que a qualidade e a
estética, gerando uma perda de controle do criador sobre a produção e desfi-
gurando os objetos cotidianos.

36
Design Sustentável e Moda

Morris critica a frieza e distanciamento do processo industrial em contra


ponto ao sistema artesanal. O artesão domina a criação de um artefato do
início ao fim, entende a noção do todo do objeto, enquanto em um processo
industrial, os operários têm acesso apenas a fragmentos do objeto, tornando-
os peritos em apenas uma parte de um processo. Esta junção de especialistas
em várias partes de um processo leva a uma percepção de riqueza do objeto
industrial mais como fruto de seus materiais e processos de fabricação do que
em função da riqueza estética e funcional de um produto da cultura material.
A profissão de projetista surge incentivada pela Revolução Industrial,
tendo como propósito transferir e adequar requisitos processuais, funcionais,
culturais e estéticos aos novos produtos industriais, ou seja, este designer é con-
tratado para planejar e detalhar o produto a ser executado por uma indústria.
Vale lembrar que William Morris é considerado um dos primeiros desig-
ners, ou seja, alguém que compreende um produto como um todo, ou seja,
não apenas materiais e processos, mas a relação do objeto com o indivíduo e
o seu entorno.
O designer tem o papel de planejar o produto para uma escala de con-
sumo em massa. Assim, seu cliente passa a ser não um indivíduo, mas um con-
junto de requerimentos feitos pelas empresas, que pretende atender ao maior
número de consumidores possível. O executor deste projeto é a indústria, que
apenas cumpre as diretrizes do produto, não propondo melhorias ao produto,
mas sim ao processo de confecção.
Já a produção do artesão, feita para pequena escala, geralmente é feita
por ele mesmo ou um aprendiz, permitindo que estes façam alterações duran-
te a execução para melhor se adequar as diretrizes que estabeleceram com o
cliente.
As técnicas fabris limitadas do início do período da Revolução Industrial
atrelam os projetos a um sistema de produção com uma gama reduzida de so-
luções. Ao contrário do trabalho artesão, que permite formas mais rebuscadas
a partir do uso e confecção de ferramentas próprias para atender a cada par-
ticularidade de projeto, a não personalização de soluções da indústria suscita
uma imposição de padrões ao mercado consumidor, o que não soluciona a
necessidade deste consumidor na íntegra.
Esta prática de gerar produtos genéricos que não atendem por completo
aos anseios de seus usuários colabora para que novas soluções estejam sendo
desenvolvidas para suprir esta deficiência. Este ciclo de lançamento de novas
soluções toma grande vulto com o início da prática de mecanismos de obso-
lescência, tornando em grande parte a atividade do designer comumente as-
sociada ao estilismo. O projetista perde o status de solucionador de problemas

37
Aula 1

e passa a ditar novas tendências, ou seja, propõe soluções para novos padrões
de questionamento.
Os assuntos incorporados à sociedade industrial ou modernista por de-
signers são frutos de questões e paradigmas de um profissional que muitas
vezes está preso ao universo produtivo ou de sua prancheta com pouco ou
nenhum contato com o universo do consumidor. Este grande abismo criado
entre a realidade daquele que foi estimulado a gerar cada vez mais opções de
consumo da necessidade de quem consumia hoje está sendo criticado.
Muitos dos problemas que contemplados no início da aula, relacionando
a economia, política, ética, preservação do ambiente e das culturas humanas,
poderiam ser minimizados caso não tivéssemos retirado a humanidade dos
processos produtivos.
Ainda que seja exigida uma grande responsabilidade e capacidade abs-
trata para criar novos padrões de conduta para a sociedade, o designer com
sua habilidade de síntese e materialização de conceitos pode contribuir, poten-
cializando soluções em consonância com esses novos conjuntos de valores cul-
turais, patrocinando a descontinuidade do sistema atual, através de “mudan-
ças gradativas lideradas por múltiplas sociedades sustentáveis completamente
diversas entre si”. (MANZINI e VEZZOLI, 2002)

Atividade 4 – Objetivo 4

Com base no texto apresentado na aula, comente as diferenças entre a


abordagem de planejamento dos artesãos e dos designers industriais:

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38
Design Sustentável e Moda

Resposta

A principal diferença desses trabalhos está na escala: o artesão faz pe-


quenas tiragens, enquanto a intenção do designer é fazer produtos de consu-
mo em massa.
• A produção do artesão geralmente é feita por ele mesmo ou um
aprendiz, permitindo que estes façam alterações durante a execução;
já o designer deve apresentar o projeto pronto para que terceiros o
produzam.
• O primeiro também é responsável por coletar as informações do seu
cliente, enquanto o segundo recebe dados sobre o produto para con-
ceber melhorias;
• As ferramentas utilizadas pelo artesão permitem formas mais rebus-
cadas, já a produção por máquinas, apesar de mais rápida, é mais
limitada quanto à forma do produto produzido.

Conclusão

O humano é um ser cultural e social, ou seja, influencia e é influenciado


por sua sociedade. Alguns progressos atingidos por alguns tornam-se a aspi-
ração de outros e neste ritmo vamos atingindo padrões de bem-estar comu-
nitários, que nos tornam mais adaptáveis às adversidades da vida, contudo
em nenhum momento da história das civilizações, houve uma sociedade que
impactasse tanto o ambiente como a atual.
A despeito de outras civilizações extintas pela falta de recursos naturais,
a geração industrial age globalmente e de forma muito intensa. Desde os anos
70, começamos a nos conscientizar que boa parte dos recursos naturais são
finitos e a partir do Sec. XX é que começamos a perceber o efeito colateral do
descaso com a natureza, em detrimento do progresso praticado por gerações
passadas.
O conceito de país desenvolvido está diretamente ligado ao poder aqui-
sitivo de sua população, mas a que preço se dá este desenvolvimento? O con-
sumo é visto, de forma geral, como uma opção desejável pelo sistema eco-
nômico, político e social. Porém, nem sempre foi assim. Esta cultura da posse
material é fruto de uma série de sistemas de obsolescência, estimulada pelo
mercado para manter a circulação de dinheiro.

39
Aula 1

Como nossos processos de obtenção de matérias primas, transformação,


produção, transporte, uso e descarte de produtos ainda são muito ineficientes,
a natureza é muito agredida. Como o homem depende dos recursos naturais
para sobreviver, vem sentindo grandes efeitos com a perda da qualidade de
seu ambiente, através do esgotamento dos recursos naturais, do aquecimento
global, poluição, lixos e descartes.
O designer, junto com outros desenvolvedores de produtos, tem a chan-
ce de atuar no início do ciclo de vida de produtos e serviços e, portanto, deve
assumir uma postura de compromisso com a redução do impacto ambiental
que nossos hábitos de consumo geram.

Para uma segunda olhada

O termo ecologia, cunhado pelo biólogo alemão Ernst Haeckel, em 1866,


significa “Relação dos seres vivos com o habitat ou meio ambiente natural”.
Sustentabilidade foi um conceito apresentado pela primeira vez em 1987,
através do Informe Bruntland da ONU (Organização das Nações Unidas), que
definiu Desenvolvimento Sustentável como “aquele que permite fazer uso dos
recursos naturais sem esgotá-los, preservando-os para as gerações futuras”.
A revolução industrial iniciada na Europa, mais especificamente na In-
glaterra do século XVIII, é frequentemente associada às ideias de progresso,
riqueza e crescimento, uma vez que proporciona produtos mais acessíveis, me-
lhorando a condição humana e sua qualidade de vida.
O desenvolvimento de novas máquinas; a modernização dos transpor-
tes, da comunicação, o êxodo rural, o aumento da disponibilidade de matéria
prima através dos latifúndios e monoculturas; expansão de mercados; novas
fontes de energia e as guerras mundiais; foram fatores que suportaram a mu-
dança do sistema feudal para um industrial.
A poluição para as populações industriais é o resultado da deterioriza-
ção ou contaminação do meio ambiente por substâncias sintéticas, orgânicas
ou processos físicos que não são naturalmente absorvidos no ciclo natural pelo
ecossistema.
O consumo é o que mais estimula o impacto ambiental. Por outro lado, é
visto como fonte de empregos e desenvolvimento econômico e, culturalmente,
é sinônimo de bem-estar da população.
Diversos mecanismos de obsolescência praticados pelo mercado estimu-
lam o aumento do consumo: obsolescência tecnológica; obsolescência psicoló-
gica, de estilo, de desejo, de gosto ou cultural; obsolescência de durabilidade

40
Design Sustentável e Moda

de material ou de qualidade; obsolescência informacional e funcional; obso-


lescência estratégica.
O descarte é caracterizado quando algum objeto é destituído de qual-
quer função, podendo rumar para processos de compostagem, reuso, recicla-
gem ou mesmo depositado em aterros sanitários.
Os impactos ambientais dão-se pela incompatibilidade entre o ciclo das
atuais “necessidades” humanas e o tempo de renaturação ou resiliência – pe-
ríodo que a Natureza necessita para repor elementos dela retirados sob forma
de extrativismo ou para assimilar substâncias despejadas.
Os impactos ambientais que podem ter os seus efeitos percebidos geo-
graficamente (local, regional ou global) e podem ser de diversas formas:
Esgotamento dos recursos naturais renováveis ou não: aquecimento do
globo terrestre – efeito Estufa; redução da camada de ozônio; poluição foto-
química de verão; acidificação; eutrofia; lançamentos de toxinas no ar, no mar
e no solo: toxinas naturais ou sintéticas lançadas no ambiente pela ação huma-
na; lixos e descartes: Recicláveis e rejeitos.
O princípio da Equidade Ambiental prega que cada pessoa (incluindo as
gerações futuras) tem direito à mesma disponibilidade de recursos naturais do
globo terrestre.
Assinado em 1998 e iniciado em 2005, o Protocolo de Kioto estipula uma
redução dos níveis de emissões de CO2 de pelo menos 5.2% até o ano 2012,
tendo como base os dados de 1990.
O Mercado internacional de Sequestro de Carbono permite que países
cujas emissões extrapolem as metas determinadas pelo Protocolo de Kioto
possam comprar cotas de emissão de países que estão abaixo do patamar es-
tipulado, estimulando nestes países iniciativas de menor impacto ambiental.
A atividade do designer é comumente associada ao estilismo, por que o
processo de solucionar problemas tornou-se uma imposição de novas tendên-
cias e com elas novos problemas.
Muitos dos problemas de economia, política, ética, preservação do am-
biente e das culturas humanas, poderiam ser minimizados caso não tivéssemos
criado este abismo entre o que a indústria oferece e o que o consumidor real-
mente precisa.
O designer com sua habilidade de síntese e materialização de conceitos
pode contribuir para criar novos padrões de conduta para a sociedade e de
valores culturais.

41
Aula 1

Referências

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Disponível em: <http://www.humanas.unisinos.br/info/antropos/sentido dascoisas>.
Acesso em: 27 nov. 2007.
DIAMOND, Jared. O colapso. Rio de Janeiro: Record, 2005.
KAZAZIAN, Thierry. Haverá a idade das coisas leves. São Paulo: Editora Senac, 2005.
MANZINI, Ezio; VEZZOLI, Carlo. O desenvolvimento de produtos sustentáveis. São
Paulo: Editora USP, 2002.
OLIVEIRA, Alfredo Jefferson de. Ecodesign e remanufatura: algumas contribuições
para o projeto de produtos eco-eficientes. Rio de Janeiro, 2000. 253p. Tese de Doutora-
do em Engenharia de Produção - COPPE/UFRJ.

Sites consultados
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Disponível em: http://www.cempre.org.br/cempre_informa.php?lnk=ci_2007-0102_
cenarios. php. Acesso em: 23 maio 2008.
FLICKR. Disponível em: <www.flickr.com>. Acesso em: 13 de maio de 2010.
(IPCC, 2007) Intergovernmental Panel on Climate Change. Quarto relatório de avalia-
ção: Mudança do Clima 2007 -Sumário para os Formadores de Políticas do Grupo I,
II e III. 2007. Disponível em: <http://www.mct.gov.br/index.php/content/view /50401.
html>. Acesso em: 05 jun. 2010.
MELO, Liana. No IDH ambiental, Brasil dá um salto. O Globo, Rio de Janeiro, 25 mar.
2007. Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/ nacional/selecao_
detalhe3.asp?ID_RESENHA=323058>. Acesso em: 21 jan. 2008.
PALOP, Juan. Geração de lixo eletrônico cresce a 40 mi de toneladas por ano, diz
ONU. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/ambiente/ult10007
u697099.shtml>. Acesso em: 23 maio 2010.
PARANÁ (Estado). Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Coordenadoria de
Resíduos Sólidos. Programa Desperdício Zero. Orgânico. Disponível em:
<http://www.meioambiente.pr.gov.br/arquivos/File/meioambiente/kit_res_5_organico.pdf>.
STOCK Xchange. Disponível em: <www.sxc.hu>. Acesso em: 13 maio 2010.
WIKIMEDIA Commons. Disponível em: <http://commons.wikimedia.org>. Acesso em:
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WWF-World Wildlife Fund. Relatório Planeta Vivo 2006 Glad, 2006. Disponível em:
<http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/meio_ambiente_brasil/agua/ agua_pub/
index.cfm?uNewsID=4420>. Acesso em: 26 jun. 2008.
<http://dorsetbooksonline.tbpcontrol.co.uk/tbp.direct/customeraccesscontrol/aboutus.
aspx?d=dorsetbooksonline&s=C&r=10000123&ui=0&bc=0>

42
Aula

O ciclo de vida do sistema-produto


2
Seus Objetivos:
Ao final desta aula, esperamos que você seja capaz de:
1. reconhecer que o projeto de um produto deve extra-
polar o momento de sua venda;
2. reconhecer as principais características e limitações de uma
Análise do Ciclo de Vida (ACV);
3. associar diferentes características de análise de ciclo de vida
(qualitativas e quantitativas) às diferentes fases do desenvolvimento
de um novo produto;
4. identificar que produtos distintos têm impactos em diferentes
fases do seu ciclo de vida.

4 horas de aula
Design Sustentável e Moda

1. Os anos passam... as atitudes mudam?

Na constante evolução da sociedade mundial, diversas práticas são subs-


tituídas por novas, na intenção de atender a requisitos e às demandas cada
vez mais específicos. No contexto da cultura material, novas soluções são ado-
tadas, sejam para acompanhar a acelerada marcha tecnológica, para suprir a
avidez por novos padrões de postura de uma sociedade em transição ou ainda
para atender à demanda de redução do impacto ambiental, proveniente dos
hábitos incorporados por nossa sociedade, durante o período da era industrial.
Uma nova postura mundial, o pós-industrialismo, incorpora uma série
de características comprometidas com as mudanças citadas. Na transição e ins-
tauração deste novo padrão, ocorrem diversas adaptações na estrutura das
empresas e, consequentemente, no ofício de seus colaboradores. Relaciona-
dos a este contexto, novos aspectos são incorporados na transição da tradicio-
nal estrutura industrial de vendas de produtos manufaturados para um sistema
no qual o valor da solução oferecida é ampliado pela concepção de um sistema
produto-serviço.
Apesar disso, ainda é muito presente no mercado mundial empresas que
estão exclusivamente voltadas para o momento da venda. Esta prática é coe-
rente com o indicador de eficiência econômica do mercado mundial (PIB – Pro-
duto Interno Bruto), que ainda é prioritariamente concentrado na produção e
comercialização de produtos. As empresas, por vezes, relutam em disponibili-
zar sistemas eficientes de atendimento pós-consumo e utilizam-se largamente
dos mecanismos de obsolescência em seus produtos, estimulando seu descar-
te em ciclos cada vez mais curtos. Estas estratégias são isentas de responsabili-
dade perante aos seus consumidores, à sociedade e à natureza.
Além disso, a prática do desenhista industrial ainda concebe o produto,
atentando minimamente para todo seu ciclo de vida. A participação deste pro-
fissional somente entre as etapas após o briefing e venda do produto é uma
herança da era industrial. Contudo, este campo de ação vem sendo estendido,
uma vez que o interesse pela fase de descarte começa a ser contemplada pelas
indústrias, porém a fase do uso – intermediária - ainda se foca no primeiro
contato do cliente com o produto.
Nesta aula, você vai conhecer com mais detalhes o que é o ciclo de vida
do sistema-produto, suas etapas, características, limitações e o porquê da im-
portância de estar atento a este ciclo de vida no processo de produção de um
produto.

45
Aula 2

2. O ciclo de vida do produto

O aumento da consciência do público quanto aos seus direitos, assim


como a acirrada concorrência do mercado estão pressionando para que as em-
presas ofereçam não só certificado de qualidade na produção de produtos,
mas também suporte no “pós-venda” e alternativas para um descarte de me-
nor impacto ambiental. As empresas já começaram a “despertar” para esta de-
manda e oferecem alguns serviços para as fases de uso e descarte do produto,
ainda de forma incipiente, mas já procurando englobar todo o ciclo de vida do
produto.
O ciclo de vida do sistema-produto, em termos gerais, significa o “nasci-
mento, vida e morte” de um produto.
Há várias questões relacionadas às diversas etapas do ciclo de vida dos
produtos que são relevantes para o desenvolvimento sustentável de produtos,
com efetiva redução de impactos ambientais e sociais.
Dentro de uma visão comprometida com a sociedade e o ambiente, todo
o ciclo de vida do produto deve ser uma só unidade, ou seja, o produto é um
conjunto de atividades e processos embutidos em seu sistema: fluxos de ma-
teriais, uso de fontes de energia, emissões de substâncias no ambiente e as
ineficiências do sistema como um todo (desde a extração de matérias primas
ao descarte final do produto). Enfim, o produto não deve ser considerado só
como o objeto presente no momento da compra ou uso, mas sim como todo
seu trajeto passado (histórico) e futuro.
O planejamento de todo o ciclo de vida do produto pela empresa produ-
tora engloba aplicações de conceitos:

• de maximização da eficiência da produção - utilização de menos re-


cursos e melhor planejamento de produção;
• do uso - intensificação do uso e manutenção regular do produto;
• do descarte - remanufatura, reaproveitamento de componentes, de-
sign para a desmontagem e identificação de materiais para a recicla-
gem e descarte próprios para materiais tóxicos ou perigosos.

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Design Sustentável e Moda

Atividade 1 – Objetivo 1

Que prática do industrialismo está sendo repensada pela indústria e que


tem consequências no trabalho do designer?
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Resposta

As empresas, embora por diversas vezes relutantes, estão ampliando seu


campo de atuação antes só concentrada na produção e comercialização de
produtos, uma vez que estão sendo pressionadas a oferecerem não só certi-
ficado de qualidade na produção de produtos, mas também suporte no “pós-
venda” e alternativas para um descarte de menor impacto ambiental, o que
impacta diretamente no trabalho do designer.

2.1. Etapas do ciclo de vida do produto

A despeito do grau de profundidade da análise do ciclo de vida de um


produto, consideram-se como etapas deste ciclo:

• Pré-produção;
• Produção;
• Distribuição;
• Uso;
• Descarte.

47
Aula 2

Recursos: Matérias pri-


mas e energia, utilizadas
na fabricação de algum
produto, sejam eles pri-
mários ou finais.

Pellets: Grãos de plásti-


co, fabricados para ser-
virem de matéria prima
para peças plásticas que
podem ser produzidas
Entradas (inputs) e saídas (outputs) de um ciclo de vida. por máquinas de injeção
de plástico, tal como ex-
trusão de chapas ou per-
A) Pré-produção fis plásticos.

Fase onde são produzidos os materiais (substratos, sendo convertidos em


Materiais Pré-consumo:
matérias primas semielaboradas) que mais tarde serão utilizados para a produ- São aqueles materiais
ção dos componentes (circuitos eletrônicos, carcaças, botões). Para efeito de provenientes de peças
acabadas, mas que não
contagem do impacto desta etapa, os seguintes processos devem ser relevados: saíram da fábrica. Geral-
mente, são refugos de
• Obtenção dos substratos (material bruto, como: petróleo, manganês, peças ou peças defeituo-
algodão, etc.); sas que são triturados e
misturados com material
• Transporte dos substratos ao local de pré-produção; virgem, retornando ao
processo produtivo como
• Transformação dos recursos em materiais (pellets de plástico; chapas
um novo material (me-
de aço; tecidos, etc) nos nobre do que o ma-
terial virgem) para pro-
Podemos classificar os materiais usados, quanto a sua origem: dução de componentes.

 Substratos primários ou virgens (obtidos a partir de:) Materiais Pós-consu-


mo: São materiais prove-
• Recursos primários renováveis; nientes de peças que já
• Recursos primários não renováveis. cumpriram sua função e
foram recolhidos por co-
 Substratos secundários ou reciclados (obtidos a partir de:) leta seletiva, resgate de
aterros sanitários ou fer-
• Descartes, refugos, resíduos de processos e atividades de consumo; ro velho e estarão retor-
• Materiais pré-consumo ou nando às fábricas para
serem desmanchados e
• Materiais pós-consumo. reutilizados como maté-
ria prima não virgem.

48
Design Sustentável e Moda

B) Produção
Etapa em que plásticos, tecidos e chapas tornam-se peças específicas
que por si só ou juntas compõem o novo produto. São processos desta fase:

• Transformação dos materiais (processos de injeção, estampo, corte de


moldes, etc);
• Montagem (encaixe, colagem, solda, costura, etc);
• Acabamento (envernizamento, polimento, pintura, bordado, etc).

C) Distribuição
Pallets /Paletização:
Nesta etapa, a logística está focada em abastecer o mercado de produ-
Pallets são estrados que
permitem arranjos e tos. A escolha por um ou outro meio de transporte, material da embalagem
superposição de emba-
e otimização espacial (buscando melhorar o desempenho de armazenagem,
lagens, estabelecendo
novos lotes de transpor- transporte, aproveitamento de pallets e espaçamento mais enxuto da embala-
te de produtos. Diz-se
paletização à capacida-
gem, sem comprometer a segurança do produto transportado) podem contri-
de de arranjar produtos buir para um melhor desempenho ambiental:
ou embalagens de forma
otimizada em pallets. • Embalagem (tamanho de lotes, embalagem individual, à granel, peso, etc)
• Transporte (sistemas de refrigeração, eficiência energética do tipo de
transporte, distâncias percorridas)
• Armazenagem (sistemas refrigerados, paletização apropriada)

D) Uso
Esta é considerada a etapa fim, pois o produto é produzido para atender
principalmente a esta fase. Deve-se levar em conta a necessidade de recursos
externos (como combustível e energia elétrica) para que o produto possa fun-
cionar e qual o impacto do produto e destes recursos externos no ambiente:

• Uso ou consumo (tempo de uso, uso compartilhado, unidades consu-


midas, etc);
• Serviço (suporte para o uso, manutenção do aparelho, material de re-
posição, distância entre fornecedor e usuário, infraestrutura de apoio).

E) Descarte
Fase em que o produto perde o valor funcional para seu usuário. Deve-se
atentar para a eliminação do produto, assim como da embalagem, potencial
total ou parcial de reciclagem do produto e das embalagens e presença de
elementos tóxicos nos produtos descartados.

49
Aula 2

• “Eliminação” do produto (através dos processos de compostagem, re-


ciclagem, depósito em aterros sanitários ou incineração, etc)

Atividade 2 – Objetivo 1

Cite em qual (quais) fase(s) do ciclo de vida de um produto o trabalho do


designer é executado.
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__________________________________________________________________
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Resposta

O designer atua especificamente na etapa da produção, contudo o fruto


de seu trabalho, o produto, deve contemplar diretamente todas as etapas do
ciclo de vida.

3. Design e o sistema-produto

Tendo em vista o cenário atual onde as indústrias estão buscando um


maior acompanhamento do ciclo de vida do produto, os desenvolvedores de
produtos – do qual os designers fazem parte - devem também planejar o de-
sempenho do produto desenvolvido nas demais fases. Porém, é durante a eta-
pa de produção, mencionada anteriormente, que outras atividades e processos
relacionados à concepção de um produto são executados. São eles:

• a pesquisa;
• o projeto;
• o desenvolvimento;
• os controles produtivos (PCP);
• a gestão da atividade.

Dentro desse escopo, o projeto de desenvolvimento de um produto é


uma etapa importantíssima do ciclo de vida “sistema-produto”. Tradicional-
mente, o processo do desenvolvimento de um produto é dividido em cinco
fases:

50
Design Sustentável e Moda

• Planejamento do produto (definição do problema);


• Projeto (design conceitual e detalhamento do produto);
• Testes e verificações;
• Produção;
• Marketing.

Pelo ponto de vista do mercado, um produto também possui um ciclo de


vida de cinco fases que determinam quando este deve ser revitalizado e quan-
do devem ser substituídos por outros modelos e produtos:

• Introdução: lançamento de um produto no mercado;


• Crescimento: reconhecimento do produto pelo o mercado e início de
seu consumo;
• Maturidade: amplo reconhecimento do produto pelo mercado;
• Saturação: leve queda do consumo do produto pelo mercado;
• Declínio: perda de interesse do mercado pelo produto determinando
a queda de vendas.
Volume de Vendas

Fonte: Portal do Marketing

Introdução Crescimento Maturidade Saturação Declínio

Tempo

Ciclo de vida mercadológico de um produto: lançamento, crescimento auge e declínio determinam a produção,
uso e descontinuidade do produto.

Você já viu na Aula 01 e também nesta aula que os produtos entram em


desuso e são descartados com muita rapidez, não é mesmo? E aí você pode
estar se perguntando: o que incentiva o lançamento de novos produtos? São
vários fatores que incentivam o lançamento de novos produtos:

• Objetivos financeiros: empresas que, por sua situação momentânea,


utilizam de estratégias mais radicais de mercado para obter mais re-

51
Aula 2

tornos financeiros. Lançam produtos efêmeros para agradar o consu-


midor e gerar lucros para a empresa;
• Crescimento de vendas: em períodos de muita procura, empresas lan-
çam produtos inacabados somente para aproveitar a situação;
• Competitividade no mercado: pesquisas e aplicação de novas tecno-
logias de produção são processos de inovações tecnológicas entre
empresas;
• Ciclo de vida mercadológico do produto próximo ao fim;
• Tecnologia: novos padrões de tecnologia no mercado promovem uma
corrida para lançamento de produtos;
• Regulamentação: novas leis instituem os padrões a serem adotados pe-
las empresas, levando a alterações ou novas concepções de produtos;
• Custos materiais: substituição por materiais que tragam benefícios fi-
nanceiros;
• Invenções: criação de uma necessidade que ainda não existia;
• Demanda do mercado consumidor: é a confirmação da necessidade
de um produto para consumo, solicitado pelo mercado.

Para entender um pouco mais como se dá este ciclo de vida dos produtos e o mercado,
assista ao vídeo “História das coisas” em:
<http://www.youtube.com/watch?v=3c88_Z0FF4k&feature=related>

Apesar do marketing ser massivamente responsável pelo contato da em-


presa e consumidor durante o ponto de venda (PDV), este também deve atuar
antes da fase de planejamento do produto, através de uma pesquisa para de-
terminar o mercado e o provável público alvo de um novo produto, além da
necessidade da existência deste produto. Por fim, é o marketing que abre e
fecha o ciclo de um produto.

52
Design Sustentável e Moda

O ciclo “paralelo” da Embalagem

Fonte: Stock Xchange | Foto: Marcelo Moura


A embalagem raramente é parte do funcionamento
ento do pro-
duto. Contudo, na maioria dos casos onde é usada,
ada, é im-
prescindível para que o artefato chegue ao seu destino de forma
funcional e sem danos. Além disto, a embalagem possuii a
função de comunicar ao consumidor os benefícios que o
produto embalado possui em relação a sua concorrên-
cia, assim como é ponto de atratividade em gôndolas de
mercados.
O aumento do consumo e da produção de produtos demanda, paralelamente, uma
ampliação do mercado de embalagens. Contudo, a durabilidade deste invólucro é di-
versas vezes bem menor que a do produto que este comporta, tornando o descarte
deste volume um problema ambiental. A proporção média de impacto para esta classe
de produtos é:
• Manufatura - 55%,
• Uso - 5% e
• Descarte - 40%.
Por outro lado, esse fluxo contínuo de materiais pós-consumo é o que mais motiva
o setor de reciclagem a investir em gerenciamento da destinação dos resíduos urbanos.
A utilização parcial deste recurso pode ser representada pelo gráfico a seguir:

RECICLAGEM DISPOSIÇÃO DO LIXO

PRODUÇÃO DISTRIBUIÇÃO

EMBALAGEM
DESCARTAVEL

PRODUTO MATERIAIS DE EMBALAGEM CONSUMO DO


EMBALAGEM RETORNÁVEL PRODUTO

EMBALAMENTO
EMBALAGEM CONSUMO
PRIMÁRIA

COLAGEM

EMBALAGEM DE
TRANSPORTE

UNIDADE DE CARGA

ARMAZENAGEM
ARMAZENAGEM DO NO DEPÓSITO DO
PRODUTO DISTRIBUIDOR

TRANSPORTE

53
Aula 2

4. Análise do Ciclo de Vida (ACV)

O desenvolvimento tecnológico e a crescente sofisticação dos processos


de produção possibilitaram a existência de diversas alternativas para produtos
ou serviços com finalidades semelhantes. Esta variedade levou ao questiona-
mento de como compará-los na hora de decidir qual adquirir.
Desde a primeira crise do petróleo (no início da década de 70), o mundo
intensificou a busca por formas alternativas de energia e pela melhoria dos
processos, buscando otimizar a utilização dos recursos naturais. A sociedade
foi atribuindo cada vez mais importância às questões ambientais no processo
decisório de compra. Desta ação, vem a necessidade de desenvolvimento de
abordagens e ferramentas de gestão que possibilitem às empresas, de uma
maneira mais geral, às diversas partes interessadas da sociedade, como gover-
no, institutos de pesquisas e outros, avaliar as consequências ambientais das
decisões adotadas em relação aos seus processos ou produtos.
Para tanto, foram desenvolvidas algumas técnicas para avaliação dos as-
pectos ambientais e dos impactos potenciais associados a um produto, compre-
endendo as etapas que vão, desde a retirada das matérias primas elementares
da natureza, que entram no processo produtivo, até a disposição do produto
final, abordando parâmetros, como:

• produção de energia;
• fluxograma das atividades;
• transporte;
• consumo de energia não renovável;
• impactos relacionados com o uso ou aproveitamento de subprodutos;
• reuso do produto;
• questões relacionadas à disposição, recuperação ou reciclagem de re-
síduos e embalagens.

E o que é a Análise do Ciclo de Vida de um produto? É um método que


estuda a complexa interação entre um produto e o ambiente, utilizando, para
tanto, a avaliação dos aspectos ambientais e dos impactos potenciais associa-
dos ao ciclo de vida do produto.
A análise do ciclo de vida do produto constitui-se como principal proce-
dimento na busca de sustentabilidade pelas empresas, normatizado pela ISO
14040. Este procedimento conduz à eficiência energética e à alta produtividade
dos locais de trabalho, sendo crucial para fabricação de produtos ambiental-
mente responsáveis que utilizem processos de produção limpos.

54
Design Sustentável e Moda

Série de Normas NBR ISO 14040


A fim de padronizar os estudos em ciclo de vida, a ISO (International Organi-
zation for Standardization) elaborou a ISSO 14040: 2006 – Gestão ambiental
– ACV Princípios e Estruturas, que é desmembrada em diversas normas:
• ISO 14041: Definições de escopo e Análise do Inventário;
• ISO 14042: Avaliação do Impacto do Ciclo de Vida;
• ISO 14043: Interpretação do Ciclo de vida;
• ABNT NBR ISO 14044: Requisitos e orientações (mais recente que substitui os textos
de 1401, 1402 e 1403);
• ISO 14048: Formato de apresentação dos dados.

4.1. Etapas da ACV

As principais fases da ACV de um produto são:


• a definição de objetivo e escopo;
• a análise do inventário;
Unidade Funcional: Re-
presenta a quantidade • a avaliação de impacto;
de vezes que uma função
• a interpretação.
deve ser cumprida pelo
produto ao longo de um
período determinado,
A seguir, você vai conhecer com mais detalhes cada uma dessas etapas.
como por exemplo: se
decidimos estudar uma
cafeteira que deve fazer A) Definição do objetivo e escopo
6 xícaras de café por dia Na etapa de definição de objetivo do trabalho, são consideradas as prin-
ao longo de 10 anos, isto
implica em uma unidade cipais razões para a realização do estudo e o seu público alvo.
funcional de 21.900 xíca- Nesta fase do estudo, deve-se considerar:
ras de cafés (10 anos x
365 dias x 6 cafezinhos • o sistema a ser estudado;
por dia).
• a definição dos limites do sistema (grau de profundidade do estudo);
Fluxo de referência: • o estabelecimento da unidade funcional e fluxo de referência do
Representa uma quan-
sistema;
tidade de produtos ne-
cessária para cumprir a • os procedimentos de alocação (definir se o ciclo estudado faz parte ou
unidade funcional e ser-
ve de parâmetro de com-
complementa outros ciclos para alocar os impactos ao ciclo correto);
paração entre duas ou • As categorias dos dados (predefinir que tipo de impactos se quer julgar);
mais soluções analisa-
das, como no exemplo: • As hipóteses de limitações (indicar possíveis erros que possam vir de
21.900 cafezinhos po- dados aproximados);
dem demandar 2 cafetei-
ras do modelo A e 3,3 do • A metodologia a ser adotada (modelos de avaliação: Ecoindicator,
modelo B, que demanda CML, EDIP ou TRACI);
também filtros de papel
para cumprir a unidade
funcional.

55
Aula 2

• Requisitos da qualidade dos dados (dados recentes; coerência com


a realidade estudada; relevância da época de análise, considerando
sazonalidades ou situações excepcionais);
• Suposições e limitações (indicar no relatório todas possíveis suposi-
ções que podem ter influenciado alguma escolha da ACV).
Inventário: São infor-
mações que descrevem
B) Análise do inventário os balanços de massa e
A segunda etapa da ACV é a análise do inventário, quando são efetua- energia, que sejam am-
bientalmente relevantes,
das a coleta e a quantificação de todas as variáveis envolvidas durante o ciclo dos pontos críticos de
um processo, possibili-
de vida do produto, processo ou atividade. Esta etapa também é responsável
tando uma visão dinâmi-
por relacionar os dados coletados à unidade funcional adotada. ca do processo produti-
vo como um todo.
Nesta fase, é importante considerar:

• a necessidade de uma estratégia cuidadosa na preparação para a co-


leta de dados;
• a coleta de dados;
• o refinamento dos limites do sistema;
• a determinação dos procedimentos de cálculo;
• os procedimentos de alocação.

C) Avaliação do Impacto do Ciclo de Vida (AICV)


A avaliação dos impactos ambientais visa determinar a intensidade com
que os aspectos ambientais alteram o meio ambiente. Estas avaliações podem
ser quantitativas ou qualitativas: as primeiras fazem o cruzamento de inven-
tários baseadas em banco de dados e são chamadas ferramentas de ecoindi-
cadores, já as segundas representam uma análise mais subjetiva, baseada em
conhecimentos dos técnicos envolvidos na análise.
A norma ISO 14042, que sugere procedimentos padrões para a execução
de uma AICV, propõe uma estrutura para o processo de avaliação, baseada em
três etapas básicas:

• Seleção e definição das categorias de impactos, indicadores destas ca-


tegorias e modelos de caracterização: estes dados devem ser estabe-
lecidas com base no conhecimento científico;
• Classificação: os dados sobre materiais e processos são classificados e
apurados nas diversas categorias selecionadas (correlação dos resul-
tados dos impactos do ciclo de vida);
• Caracterização: os dados são modelados por categoria de forma que
cada um possa ter o seu indicador numérico.

56
Design Sustentável e Moda

Até a etapa de caracterização, a análise apresenta dados quantitativos


grosseiros dos tipos de impactos que cada item do produto gera. Esta etapa
representa os dados coletados sem nenhum tipo de filtro sobre que tipo de im-
pacto é mais danoso ao ser humano, localmente ou globalmente. Já as etapas
de valoração (normalização, agrupamento, ponderação e análise da qualidade
dos dados) são consideradas como opcionais em virtude do grau de variação
e subjetividade envolvido. Em relatórios de AICV oficiais, deve-se minimizar
estas etapas consideradas tendenciosas; já para análises internas de empresas,
dados mais genéricos ajudam na tomada de decisão.

Gráfico demonstrando a caracterização da análise de duas soluções de tampas plásticas.

Nesta fase de valoração, as categorias de impacto são somadas de acor-


do com uma escala de importância previamente definida, obtendo-se valores
de desempenho ambiental para o produto:

• Normalização: nesta etapa, a caracterização do impacto é represen-


tada em uma escala específica. Por exemplo, compara o impacto do
sistema avaliado em relação ao impacto médio, produzido por um
europeu durante um ano, ou seja, o impacto avaliado é igual ao de
XX europeus em um ano, tornando-o mais fácil de ser compreendido;

57
Aula 2

Gráfico demonstrando a análise normalizada das duas tampas anteriores

• Ponderação: atribui uma escala de importância para as categorias de


impacto, pois muitas vezes estas não representam um mesmo grau
de risco;

Gráfico demonstrando a análise ponderada das tampas anteriores.

• Pontuação única: representação que facilita a visualização do impacto


de determinado produto ou serviço. Este estágio de avaliação é des-
considerado pela norma 14040 por ser uma redução de dados muito

58
Design Sustentável e Moda

radical, baseada em filtros selecionados arbitrariamente. Contudo,


o número apresentado por softwares de análises quantitativas é re-
presentativo de uma média ponderada do impacto de três perfis de
pessoas: igualitário, hierarquista e individualista, respectivamente, do
menos impactante ao mais impactante.

Gráfico demonstrando a pontuação única da análise das duas tampas.

D) Interpretação da ACV
Na última etapa da ACV, os resultados obtidos nas fases de inventário
e avaliação de impacto são analisados de acordo com o objetivo e o escopo
previamente definidos para o estudo.
As conclusões obtidas, após a análise dos resultados, possibilitam a
identificação de pontos críticos do ciclo de vida do produto que necessitam de
melhorias, permitindo a implementação de estratégias de produção, como a
substituição e recuperação de materiais, e a reformulação ou substituição de
processos, visando à preservação ambiental.
A interpretação dos resultados de ACV (ISO 14043) é uma das etapas
mais sensíveis, pois as hipóteses estabelecidas durante as fases anteriores, as-
sim como as adaptações que podem ter ocorrido em função de ajustes neces-
sários, podem afetar o resultado final do estudo.
Portanto, ainda que considerada pelas normas técnicas ISO 14.001 –
qualidade em sistemas de gestão ambiental – como a técnica existente para
mensurar o impacto ambiental de qualquer sistema ou produto, ainda hoje a
ACV enfrenta críticas sobre sua eficiência, uma vez que depende de escolhas
subjetivas para determinação do escopo do resultado.

59
Aula 2

OBJETIVO E
ESCOPO
I
N
T
E
R
ANÁLISE DO P
INVENTÁRIO R
E
T
A
Ç
Ã
O
AVALIAÇÃO
DE IMPACTO

Apesar de a ACV ser o procedimento mais aceito para levantar o impacto ambiental de um produto ou serviço, é
largamente dependente de critérios subjetivos de interpretação do especialista que o gera.

Cabe ressaltar que cada contexto a ser avaliado apresenta características


próprias decorrentes dos recursos naturais, culturais e sociais localmente dis-
poníveis. Isto quer dizer que soluções ambientalmente eficientes em uma par-
te do globo podem ser catastróficas em condições diferentes. Esta diversidade
de cenários dificulta o trabalho da criação de um banco de dados único que
permita a compatibilidade deste sistema às diversas realidades a serem anali-
sadas. Contudo, entidades trabalham para gerar dados coerentes com vários
contextos, para que esta ferramenta permita uma precisão maior na avaliação
de conformidade das práticas que contribuam eficientemente para a proteção
ambiental ou auxiliem a procura por alternativas menos impactantes.

Atividade 2 – Objetivo 2

Em um determinado caso, como o monitoramento de uma construção


de um condomínio de habitação unifamiliar, relacione os itens de uma ACV
com os descritivos abaixo:

(1) o objetivo;
(2) o escopo;
(3) a análise do inventário;
(4) a avaliação de impacto;
(5) a interpretação;
(6) o diagrama de fluxo do sistema.

60
Design Sustentável e Moda

( ) O material de alvenaria, utilizado na construção do condomínio, foi


proveniente de outras unidades produtivas externas, no caso de olarias, de
indústrias cimenteiras, de unidades de extração de areia e sistemas de abaste-
cimentos de água. Os resíduos resultantes do processo de construção da alve-
naria são destinados ao aterro de inertes do Depósito Municipal.
( ) A redução dos desperdícios no canteiro de obras acarreta em uma
diminuição na emissão de poluentes. Tal fato é obtido pela redução de insu-
mos adquiridos e transportados. Os impactos ambientais descritos neste estu-
do foram relativos a emissões atmosféricas, consumo excessivo de material,
desperdício de materiais, desperdício de água e desperdício de energia.
( ) Monitorar o impacto ambiental, provocado pela construção de um
condomínio horizontal.
( ) Para esta etapa do trabalho, foram efetuadas visitas a olarias com o
intuito de obter dados referentes a fabricação dos tijolos, incluindo perdas no
processo.
( ) Verificou-se que substâncias deste universo estão ligadas a seis im-
pactos ambientais: chuva ácida (CA), toxicidade ao ser humano (TH), aumento
dos níveis de nutrientes (ANN), efeito estufa (EE), ozônio a baixas altitudes
(OBA) e redução de energia (REN).
( )

Transporte
fluvial

Fonte: Centro de Produção Industrial Sustentável


Areia Cimento Água Energia Tijolos
elétrica

Transporte Transporte Transporte


rodoviário rodoviário rodoviário

Obra

Processo principal Transporte


rodoviário

Processos secundários

Aterro de inertes

Energia elétrica

Disposição dos resíduos


no aterro de inertes

61
Aula 2

Resposta

(2)
(5)
(1)
(3)
(4)
(6)

4.2. Tipo e formatos do relatório Selos verdes: Rótulos


que atestam, por meio
de uma marca colocada
O relatório de uma Análise do Ciclo de Vida tem como possíveis aplicações: voluntariamente pelo
fabricante, que determi-
• Usos internos às empresas – planejamento de estratégias ambientais, nados produtos são ade-
quados ao uso e apre-
desenvolvimento de produtos e processos, oportunidades de melho- sentam menor impacto
ramentos de serventias ambientais, suporte às decisões de compra, ambiental em relação a
outros similares. A dife-
auditorias ambientais e minimização de lixo. rença de rotulagem am-
• Usos externos – marketing, critérios para “selos verdes”, educação e biental para a Certifica-
ção de Sistema de Gestão
comunicações públicas, decisões no âmbito político, decisões sobre Ambiental é que o que
está sendo certificado é o
procedimentos de compra.
produto e não o seu pro-
cesso produtivo.
A estrutura para um relatório empresarial ou de uso interno à empresa
São selos verdes o Anjo
deve conter: Azul (Alemanha), Eco-
Mark (Japão), Cisne Bran-
• objetivo do estudo; co (países Nórdigos), Op-
ção ambiental (Canadá),
• escopo; Selo Verde (EUA) e Eco
• diagrama de fluxo; Label (União Europeia).

• metodologia;
• informações sobre os dados;
• tratamento de dados;
• nível de agregação dos dados;
• conclusões;
• implicações.

A estrutura de um relatório público ou relatório externo é mais simplifi-


cada e deve conter:

• objetivo do estudo;
• escopo;
• justificativa;
• diagrama de fluxo;

62
Design Sustentável e Moda

• principais resultados;
• conclusões;
• recomendações.

Tela inicial de um programa de Análise de Ciclo de Vida com campos de preenchimento do relatório.

4.3. Análises qualitativas

Enquanto as análises quantitativas são custosas e demandam muito


tempo para que os inventários específicos sejam levantados, as avaliações qua-
litativas permitem ponderar impactos durante o ciclo de vida de um produto
de forma mais intuitiva e rápida.
Durante as diversas fases de elaboração do produto, são necessários
diferentes tipos de avaliação. Portanto, é bastante razoável que um designer
utilize-se de ferramentas não tão complexas ou completas como um ecoindica-
dor para avaliar se um conceito é menos impactante do que o outro.
Para orientar o processo decisório do designer, diferentes níveis de infor-
mações ambientais são associados às etapas de definição do problema, design
conceitual e detalhamento do produto, apoiando tanto a geração como a ava-
liação de alternativas (SILVA, 2009):

• Na fase de definição do problema, o designer deve identificar quali-


tativamente as prioridades e os gargalos ambientais do produto que
está desenvolvendo e, a partir desta percepção, hierarquizar as estra-

63
Aula 2

tégias de sustentabilidade, uma vez que estas, por vezes, são antagô-
nicas entre si.
• Na fase de Design conceitual, com as estratégias já priorizadas, o de-
senvolvedor de produtos deve definir qualitativamente quais diretri-
zes de ecodesign estará utilizando, seguindo a ordem da estratégia
mais relevante até a menos relevante para seu produto.
• Na fase de detalhamento, o designer demandará informações mais
detalhadas. Nesta fase, o profissional toma decisões pontuais, como,
por exemplo, escolher entre dois ou mais materiais ou processos de
fabricação. Nesta fase, também realiza-se a especificação do produto
e toma-se decisões por sistemas de encaixe, mecanismos, componen-
tes, etc.

Em qualquer etapa do projeto, o designer pode sentir necessidade de


obter novas informações sobre o impacto ambiental dos detalhamentos do
produto, para saber quais das alternativas em desenvolvimento são mais ade-
quadas para o meio ambiente.

Planilha de uma ferramenta qualitativa de Análise de Ciclo de Vida.

Uma das avaliações mais relevantes para o início de um projeto que pre-
tende indicar caminhos alternativos para soluções menos nocivas ao ambiente
é avaliar em que fase da vida (extração, produção, uso ou descarte) o produto
ou o serviço agride mais a natureza.

64
Design Sustentável e Moda

Atividade 3 – Objetivo 3

Relacione as etapas do desenvolvimento de um produto, conforme o


tipo de informação necessária:
(1) Informação qualitativa
(2) Informação quantitativa

Etapas do Desenvolvimento do Produto


( ) definição do problema
( ) design conceitual
( ) detalhamento do produto

Resposta

(1)
(1)
(2)

Em décadas passadas, estas análises eram focadas apenas na fase da


produção, onde a poluição deveria ser contida através da eliminação das emis-
sões, geradas pelas produções industriais, evitando assim multas às empresas.
Na década de 80, o resultado obtido foi uma massiva instalação de filtros em
indústrias que permitiram a minimização dos problemas. Esta estratégia é co-
nhecida como solução de “final de tubo”.
Nas décadas seguintes, o empresariado percebeu que o excedente que
estava sendo filtrado poderia ser considerado como uma ineficiência do pro-
cesso fabril. A partir deste ponto, iniciou-se um investimento na eliminação
deste excedente na fonte ou na criação de formas de reutilizá-lo, mas ainda
assim, o foco continuava restrito ao campo da produção.
Somente com a conscientização do aumento de lixo, da pressão de leis
que responsabilizam os produtores pelo fim dado aos seus produtos e da va-
lorização de “selos verdes” pela sociedade, as empresas do século XXI adotam
um posicionamento que ficou conhecido como “do berço ao túmulo”, análise
que comporta todo o ciclo de vida de seu produto e avalia possíveis riscos
ambientais que deverão ser gerenciados no futuro com o descarte do produto.
Uma nova etapa desta evolução adotou a prática batizada de “do berço ao
berço”, que contempla a uma visão cíclica da vida útil de um objeto, onde, al-

65
Aula 2

ternativamente ao descarte, o objeto retorna à linha de produção para tomar


“nova vida”.
Somente com o conhecimento dos fluxos de gastos energéticos e de
resíduos gerados em cada fase da vida útil de um produto, é que foi possível
perceber a decrescente importância do impacto ambiental, representado pela
produção de alguns objetos em relação às demais fases do ciclo, ou seja, al-
guns produtos podem ser mais danosos ao ecossistema durante a extração de
sua matéria prima, seu uso ou descarte do que em sua produção.
Ramos (2001) atenta para a necessidade de identificar em que fase do ci-
clo de vida do produto os impactos ambientais são maiores. Uma das maneiras
citadas para esta determinação é a análise da classe do produto, na qual tipos
de produtos distintos apresentam impactos característicos de sua composição
e uso, como, por exemplo, é o caso de eletrodomésticos que apresentam maio-
res impactos durante a sua utilização, pois necessitam geralmente de energia
para o seu funcionamento.
Veículos são os maiores exemplos de produtos que impactam mais du-
rante o uso, pois necessitam de combustíveis ou recursos não renováveis para
funcionar, além da emissão de gases pela sua queima; outras classes que im-
pactam mais na fase do descarte são caracterizados como produtos que con-
tenham substâncias tóxicas ou radioativas que podem gerar enfermidades ou
contaminações do ambiente, caso eliminado sem o devido cuidado. Os pro-
dutos orgânicos decompõem com mais facilidade, mas podem ser bastante
impactantes durante sua manufatura, uma vez que necessitam de tratamentos
para serem comercializáveis, como é o caso do papel e de algumas fibras.
Após a Análise do Ciclo de Vida e a definição da potencialidade do im-
pacto ambiental de um produto, diversas estratégias podem ser assumidas
para proporcionar a redução da carga ambiental do objeto analisado. Para pro-
dutos com pouco impacto na fase de uso, sugere-se a extensão da durabilidade
do produto. Porém, como já visto, o próprio mercado encarrega-se de reduzir o
valor do objeto em cada vez menos tempo, aumentando o impacto da fase de
descarte de produtos como um todo.

Atividade 4 – objetivo 4

Identifique em quais etapas do ciclo de vida esses produtos têm maior


impacto;

(a) manufatura (b) uso (c) descarte

66
Design Sustentável e Moda

( ) embalagem de papelão
( ) aviões
( ) máquinas de Raio-X
( ) ferro de passar roupa
( ) camisetas de algodão
( ) latas de alumínio
( ) baterias de celular

Resposta

(a)
(b)
(c)
(b)
(a)
(a)
(c)

Conclusão

Cada solução concebida representa um impacto peculiar em cada siste-


ma. Para que estes sejam mais positivos do que negativos, diretrizes devem
indicar como equacioná-los, segundo cada contexto. Não podemos assumir
que haja uma regra geral para alcançar a ecoeficiência; cada situação permite
diversas combinações. Cabe ao público, sendo devidamente informado sobre
os benefícios e malefícios de cada variante, privilegiar as soluções mais otimi-
zadas para cada circunstância, para que possamos conduzir nossa sociedade a
um patamar mais sustentável.
A ACV é utilizada em diversas fases do desenvolvimento do produto,
com maior ou menor rigor, de acordo com as necessidades existentes. Ela que
pode conduzir ao estabelecimento de diretrizes, determinar se a solução esti-
pulada proporcionará resultados afins à estratégia da extensão do ciclo de vida
ou se outra abordagem que permita uma melhor relação recursos x impacto
deve ser adotada.

67
Aula 2

Para uma segunda olhada

Nesta aula, vimos que a conscientização do mercado e do governo sobre


questões ambientais induz as empresas a enxergar o ciclo de vida de um pro-
duto muito além das etapas de produção e distribuição deste. Primeiro, a fase
de descarte é relevada pela possibilidade de reaproveito de materiais através
de reciclagem; depois as empresas manufatureiras começam a atentar para
exploração da fase de uso, oferecendo atendimentos pós-vendas.
Sob o ponto de vista mercadológico, o ciclo de vida um produto apre-
senta cinco fases:

• Introdução: lançamento de um produto;


• Crescimento: reconhecimento e início do consumo pelo mercado;
• Maturidade: amplo reconhecimento;
• Saturação: leve queda do consumo;
• Declínio: perda de interesse do mercado e queda de vendas.

Já quando se avalia o ciclo de vida de um produto, o padrão é considerar


os impactos das seguintes etapas:

• Pré-produção (obtenção de matéria prima);


• Produção (transformação do material em produto);
• Distribuição (transporte do produto para o mercado);
• Uso (aquisição e consumo do produto);
• Descarte (eliminação do produto).

A análise dos impactos de um produto pode tender mais para soluções


quantitativas ou qualitativas.
A Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) de um produto é o principal procedi-
mento quantitativo na busca de sustentabilidade pelas empresas e é normati-
zado pela ISO 14040 - Gestão ambiental – ACV Princípios e Estruturas e ABNT
NBR ISO 14044 - Requisitos e orientações.
As principais fases da ACV são:

• a definição de objetivo e escopo (o que e com que profundidade es-


tudar);
• a análise do inventário (obtenção dos dados quantitativos dos impactos);
• a avaliação de impacto (cálculos dos impactos de acordo com o inven-
tário);
• a interpretação (conclusões sobre o resultado da avaliação).

68
Design Sustentável e Moda

Ao determinar um objetivo, apresenta-se a Unidade funcional, que é a


quantidade de vezes que uma função deve ser cumprida pelo produto ao lon-
go de um período determinado, e o fluxo de referência que é a quantidade de
produtos necessários para cumprir a Unidade funcional.
Os dados da análise podem ser caracterizados de formas diversas: das
mais gerais (normalizados) às mais tendenciosas (pontuação única), passando
por análises ponderadas.
O resultado pode ser apresentado de duas formas:

Mais complexa: Menos complexa:


Relatório Empresarial Relatório Público
• Objetivo do estudo; • Objetivo do estudo;
• Escopo; • Escopo;
• Diagrama de fluxo; • Justificativa;
• Metodologia; • Diagrama de fluxo;
• Informações sobre os dados; • Principais resultados;
• Tratamento de dados; • Conclusões;
• Nível de agregação dos dados; • Recomendações.
• Conclusões;
• Implicações.

As análises qualitativas são abordagens mais intuitivas e dependem mais


do conhecimento técnico do avaliador para que se torne uma análise mais re-
levante. Por ser uma análise mais rápida e menos custosa, esta se afina muito
com o perfil do designer, permitindo inclusive que o auxilie em diversas etapas
do desenvolvimento de produtos.
Análises mais detalhadas demonstraram que cada vez mais o setor pro-
dutivo tem reduzido o impacto de seus processos, aumentando a relevância
dos impactos em outras etapas do ciclo de vida, como no uso e no descarte
do produto. Isto induz ao estabelecimento de padrões de impacto, conforme
as classes de produto (tipos de produtos com características similaridades im-
pactam de forma parecida em várias fases do ciclo de vida. Ex: produtos que
demandam energia para funcionar tendem a ser mais impactantes na fase de
uso do produto)
Finalmente, empresas e projetistas mais conscientes sobre efeitos co-
laterais de suas criações, planejam o ciclo de vida de um produto por inteiro,
tentando reduzir seu impacto.

69
Aula 2

Referências

RAMOS, Jaime. Alternativas para o projeto ecológico de produtos. Florianópolis,


2001. 163 p. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) Programa de Pós-graduação
em Engenharia de Produção, UFSC, 2001.
MANO, Eloísa Biasotto; PACHECO, Élen B. A. V.; BONELLI, Cláudia M. C. Meio ambiente,
poluição e reciclagem. São Paulo: Edgard Blücher, 2005. 182 p. Capítulos 9 e 12 a 14.
MANZINI, Ezio; VEZZOLI, Carlo. O desenvolvimento de produtos sustentáveis: os
requisitos ambientais dos produtos sustentáveis. São Paulo. Ed. EDUSP, 2002. 367 p.
(Páginas 91-98 e Páginas 99-115) de 2008.
SILVA, Júlio. A. Ferramenta de ecodesign para apoio ao projeto de produtos. 2009.
234 f. Tese (Doutorado em Design) – Departamento de Artes & Design, PUC-Rio, Rio de
Janeiro, 2009.
STOCK Xchange. Disponível em: <http://www.sxc.hu>.

Sites consultados
CENTRO DE PRODUÇÃO INDUSTRIAL SUSTENTÁVEL. <http://www.cepis.org.pe/bvsaidis/
impactos/vi-036.pdf>.
PORTAL DO MARKETING. <http://www.portaldomarketing.com.br/Artigos/Ciclo%20
de%20Vida%20do%20Produto.htm>.

70
Aula

Materiais e processos de baixo impacto


3
Seus Objetivos:
Ao final desta aula, esperamos que você seja capaz de:
1. identificar os principais impactos de processos indus-
triais do universo têxtil em cada fase do sistema-produto;
2. reconhecer os prós e contras em materiais, quando o tema é
impacto ambiental, assim como perceber que materiais naturais
não são sinônimos de menores impactos.

Pré-requisito:
Para acompanhar bem esta aula, é interessante que você reveja,
no material da disciplina Análise e Reconhecimento de Mate-
riais Têxteis quais são os principais processos produtivos
envolvidos na obtenção de fibras, fios e tecidos na
indústria têxtil.

2 horas de aula
Design Sustentável e Moda

1. “Homem primata, capitalismo selvagem...”

Os grandes clássicos do cinema retratam o homem primata, fazendo uso


de peles de animais para se vestir. Esta prática também pode ser vista nos
povos esquimós. Já nossos índios, andavam nus ou com pequenas vestimen-
tas, como tapa sexo feitos de cascas de coco e enfeitavam-se com imponentes
cocares feitos com penas de aves exóticas. Em ambos os casos, nenhum am-
bientalista poderia criticar estes povos com culturas de subsistência, quanto
à depredação de recursos vegetais ou matança de animais, uma vez que suas
práticas aproveitavam a caça por completo (para comer, vestir, habitar, etc.), di-
ferente de como foi feito com os elefantes quando estes eram executados para
retirada exclusiva de seus marfins, ou mesmo não assumiam a escala de caça
predatória que punha uma espécie à beira da extinção, como quase aconteceu
com os jacarés por causa de seu couro.

Fonte: Wikimedia Commons | Foto: Valter Campanato/ABr


Fonte: Wikimedia Commons | Foto: George R. King

Os esquimós e os índios sempre “exploravam” recursos animais e vegetais nas suas vestimentas, mas de forma
sustentável.

Ainda hoje, com toda consciência ecológica aflorada, consideramos os


costumes destes grupos como natural, você sabe dizer o porquê? Por que,
quando o “homem branco” faz uso destes mesmos recursos, está prática é
considerada como insustentável?
Civilizações como a Grega, Egípcia, Asteca, tidas como mais desenvolvi-
das, já faziam uso de recursos ambientais de forma mais trabalhada, transfor-
mando peles e fibras vegetais em fios e tramando tecidos. Ainda que estas ves-
timentas apresentassem alguma pigmentação ou adornos em pedras preciosas
ou ouro, dificilmente estes processos seriam tachados de poluidores.

73
Aula 3

Então, o que mudou desses tempos até os dias atuais? Por que proces-
sos agrários (agricultura e pastoreio) voltados para servir o segmento têxtil e
processos de confecção de tingimento muito mais efetivos impactam tão mais
o ambiente? Nas páginas seguintes entenderemos o porquê desta contradição.

2. Processos, materiais e impactos do sistema de produção têxtil

Como vimos na Aula 1, as fábricas têxteis são precursoras da revolução


industrial na Inglaterra. Apesar de, ainda hoje, pequenas unidades produtivas
fazerem parte de um mercado competitivo, processos artesanais de confecção,
tingimento e acabamento tiveram de ser adaptados para o fluxo da nova Era.

2.1. O Processo de Fabricação Têxtil

A indústria têxtil tem inúmeros processos de fabricação, divididos em


cinco etapas de produção, cada qual com um produto final passível de ser
comercializado. Este fato torna cada uma das etapas independentes no pro-
cesso. As etapas básicas do processo de fabricação têxtil com seus respectivos
produtos são:
• Fiação: etapa de obtenção do fio a partir das fibras têxteis naturais
ou químicas com saídas para o beneficiamento ou diretamente para
tecelagens e malharias;
• Beneficiamento: fase de preparação dos fios para seu uso final ou não,
através de processos de tingimento, engomagem, retorção em linhas,
barbantes ou fios especiais, além de outros tratamentos especiais;
• Tecelagem e/ou Malharia: momento em que tecidos planos, tecidos
de malha circular ou retilínea são elaborados a partir dos fios têxteis;
• Enobrecimento: Fase de preparação, tingimento, estamparia e acaba-
mento de tecidos, malhas ou artigos confeccionados;
• Confecções: Aplicação de diversas tecnologias para os produtos têx-
teis, acrescida de acessórios incorporados nas peças.

2.2. Os Impactos Ambientais do Setor Têxtil

As matérias primas tradicionalmente são materiais de natureza vegetal


agrária e animal e, por isso, devem ser tratadas para eliminar resquícios de subs-

74
Design Sustentável e Moda

tâncias, provenientes de controle de pragas, assim como de doenças comuns


nestas culturas, que possam vir a agredir o consumidor final dos produtos.
Na Alemanha da década de 90, reportagens em jornais e na televisão
alertaram o público a respeito de um potencial nocivo das roupas para a saúde
humana. Alguns casos foram relatados por jornalistas, como:

• irritações na pele devido a tecidos que continham formaldeídos em


Amina: São compos-
excesso, provenientes da etapa de tingimento;
tos orgânicos definidos
como derivados da amô- • um vendedor teve seu sangue contaminado por um tipo de pesticida
nia (NH3). A amina mais
importante é a anilina,
pelo simples manuseio dos tecidos;
que é fundamental na • corantes carcinogênicos ou que apresentavam potencial carcinogêni-
indústria de corantes.
As aminas aromáticas co por produzir aminas após o início da decomposição do corante;
são produzidas pelos • compostos químicos têxteis que não foram avaliados toxicologica-
corantes Azo, que foram
banidos do setor têxtil mente.
desde 2003, por terem,
comprovadamente, po- Segundo Sewekow (apud COELHO, 1996), algumas das críticas, suposi-
tencial cancerígeno.
ções e acusações direcionadas contra os produtos têxteis incluem:

• sensibilidade (efeitos alérgicos), provenientes dos corantes sintéticos


Corantes Azo: Corantes
sintéticos, largamente uti-
tipo azo, formaldeídos, branqueadores óticos e amaciantes;
lizados na indústria têxtil. • resíduos tóxicos de pesticidas e agentes, como o pentaclorofenol,

Branqueadores óticos: para preservação do algodão e da lã;


Substâncias que absor- • corantes sintéticos;
vem luz na região próxi-
ma ao ultravioleta, o que • uso de pesticidas nas culturas de algodão, como o DDT, lindane e he-
dá a impressão de que xaclorociclohexano;
os produtos são menos
amarelados, mais bri- • uso de fertilizantes artificiais nas culturas de algodão;
lhantes e brancos.
• alto consumo de água e energia no processo produtivo;
• poluição dos corpos d’água, através dos despejos de efluentes dos
processos de tingimento e acabamento, incluindo corantes, fosfatos,
alvejantes, metais pesados e agentes de complexação.

O resultado encontrado para minimizar esses efeitos nocivos aos seres


humanos e ao meio ambiente foi a adoção de padrões de qualidade mais rí-
gidos pelas empresas têxteis, que passaram a oferecer produtos que fossem
produzidos de maneira ecológica e/ou que sua utilização fosse segura, não
provocando riscos à saúde.
Portanto, as empresas têm estabelecido procedimentos para quantificar
e controlar as interferências de suas atividades no ambiente, dividindo estes
aspectos em entradas e saídas:

75
Aula 3

• Entradas no sistema produtivo são produtos ou serviços que são con-


sumidos pela organização, tais como os insumos (água, formas de
energia e produtos químicos);
• Saídas do sistema produtivo não são apenas os produtos têxteis, mas
sim todos os itens produzidos pela atividade fabril. Estes devem ser
monitorados, a fim de determinar os impactos sobre o meio ambien-
te, como é o caso das poluições lançadas no ar, solo e água, conforme
mostra a tabela a seguir:

Tabela de impactos de entrada e saída de cada etapa da produção têxtil.

Etapas Entradas Saídas

• Energia elétrica
• Emissões de partículas no ar e solo
• Óleos minerais e vegetais
• Ruídos
• Ar comprimido
Fiação • Calor
• Fluido térmico
• Resíduos sólidos (cascas, fibras, fios,
• Ar climatizado
cones, etc.)
• Vapor

• Energia elétrica
• Gás Natural ou GLP • Emissões de gases de queima, ácido
• Óleo térmico acético, compostos orgânicos voláteis
• Água (para lavar e umedecer e vapores de solvente no ar
materiais, resfriamento de máquinas • Ruídos
e para processos, como: alvejamento, • Odores
merceirização, caustificação, • Calor
neutralização e estamparia) • Resíduos sólidos (fibras queimadas e
Beneficiamento
• Produtos químicos (álcalis, CO2, restos da purga, felpagem, lavagem,
tensoativos, agentes complexantes, acabamento, além de pastas de
polietileno e derivados de ácidos estampar, embalagens e telas)
graxos, solventes, pigmentos, • Efluentes líquidos (lavagem de
espessante, amaciante, ligante, materiais, máquinas, piso, além dos
uréia, redutores e oxidantes banhos residuais da purga e banhos
organofosforados e compostos a base alcalinos)
de bromo)

• Energia elétrica
• Emissões de partículas e compostos
• Ar climatizado
orgânicos voláteis no ar e solo
• Ar comprimido
• Ruídos
• Vapor
• Calor
• Óleo lubrificante e parafina
• Vibração de partículas do solo
• Água (para lavar máquinas, banho de
Tecimento • Resíduos sólidos (cones, restos de
goma e funcionamento do tear por
banho de goma, fibras, fios, tecidos,
jato de água)
embalagens etc.)
• Produtos químicos (amido, álcool
• Efluentes líquidos (lavagem de
polivinílico, acrilato, tensoativos,
máquinas e bacias, efluentes
biocidas carboximetilamido e
orgânicos)
carboximetilcelulose)

76
Design Sustentável e Moda

• Energia elétrica
• Emissões de gases de queima, ácido
• Gás Natural ou GLP
acético, substâncias odoríferas, cloro,
• Óleo térmico
compostos orgânicos voláteis.
• Vapor
• Ruídos
• Água (para a lavar e umedecer
• Odores
materiais, resfriamento máquinas e
• Calor
processos: alvejamento, merceirização,
• Vibração de partículas do solo
caustificação, desengomagem
• Resíduos sólidos (fibras queimadas
amaciagem, neutralização e
Enobrecimento e restos da felpagem, acabamento
estamparia)
lavagem, desengomagem,
• Produtos químicos (álcalis, CO2,
esmerilhagem, além de pastas de
tensoativos, agentes complexantes,
estampar, embalagens e telas)
polietileno e derivados de ácidos graxos,
• Efluentes líquidos (lavagem de
solventes, enzimas, sais pigmentos,
materiais, máquinas, piso, além
fluorcarbonos espessante, amaciante,
dos banhos residuais da purga
melaminaformol, resinas glioxálicas,
desengomagem, alvejamento e
ligante, uréia, redutores, compostos a
banhos alcalinos)
base de bromo e álcool polivinílico)

• Energia elétrica
• Ar climatizado
• Ar comprimido
• Vapor
• Calor
• Água (para lavar máquinas e
• Ruídos
materiais têxteis e para o processo de
• Resíduos sólidos (embalagens)
Tingimento tingimento)
• Efluentes líquidos (lavagem de
• Produtos químicos (formaldeidos,
materiais têxteis e máquinas, além dos
corantes, sais, tensoativos, resina
banhos residuais do tingimento)
catiônica, igualizantes, agentes
complexantes, álcalis, ureia, tensoativo,
oxidantes, redutores, retardantes,
dispersantes, Carrier, ácido)

• Energia elétrica
• Emissões no ar (climatizador interno).
• Combustível (caldeira) /vapor;
• Ruídos
• água (lavagem de peças);
• Calor da caldeira
Confecção • matéria prima (fios e tecidos);
• Vibração de partículas do solo
• produtos químicos (acabamento
• Resíduos sólidos (tecidos, embalagens)
de peças);
• Efluentes líquidos (lavagem de peças)
• Ar climatizado

Purga: Processo que


visa remover materiais
oleosos (graxos ou não)
e impurezas através de
saponificação, emulsão e
Cada etapa do processo industrial agrega ao produto impactos ambien-
solvência para proporcio- tais referentes às entradas. Ao fim do processo, além do produto final - a peça
nar hidrofilidade (afinida-
de à água) ao substrato. têxtil - também temos os diversos “efeitos colaterais” das saídas, que podem
ser percebidos através de alterações das propriedades físico-químicas e/ou bio-
Carrier: Substância que
possui uma ação expan- lógicas do meio ambiente, causadas pela ação humana. Veja, a seguir, um resu-
siva que facilita a pene- mo dos principais impactos ambientais provocados pelo processo de produção
tração do corante em
fibras sintéticas. industrial têxtil.

77
Aula 3

• Geração de efluente e cor: Os setores produtivos de tinturaria, estam- DBO (Demanda Bioquí-
mica de Oxigênio): Ter-
paria e engomagem/desengomagem são os principais geradores de mo utilizado por técnicos
efluentes com concentrações de carga orgânica por matéria prima ou que atuam no tratamen-
to de esgotos domésti-
produto. Esta característica gera efluentes com DBO alto. cos para indicar que um
corpo d’água apresenta
Cabe dizer ainda, que a toxicologia de corantes sintéticos não é mais grande quantidade de
matéria orgânica e baixa
impactante do que a dos corantes naturais. O fato dos corantes sintéticos pos- incidência de oxigênio.
suírem composição definida e uniforme, e terem sua toxidade testada antes de Quando isto acontece,
diz se que o DBO está
serem lançados no mercado faz com que seu uso possa ser mais controlado e alto e os organismos
planejado. dependentes do oxigê-
nio não conseguem so-
Os corantes naturais não liberam sua cor nas fibras sem que grande breviver. Por outro lado,
algumas matérias orgâ-
quantidade de sais minerais seja necessária para se obter o tingimento, o que
nicas vivas, como bac-
acarreta liberação de íons metálicos durante as fases de lavagem. O exemplo térias, transmissoras de
doenças para o homem,
mais clássico deste tipo de corante é o pau brasil, que tingia roupas de papas e
proliferam-se pela abun-
de reis durante a época do descobrimento do Brasil. dância de alimento; mas,
ao extinguir oxigênio da
Odor do óleo de enzimagem (ou “odor de rama”): estes óleos utilizados água, estes seres tam-
bém morrem, provocan-
para lubrificar os dois tipos de fios das fibras têxteis - naturais ou sintéticas – visam: do a morte deste corpo
d’água.
• evitar o acúmulo de cargas elétricas estáticas nas fibras (que podem
levar a quebra ou rompimento dos fios no processo);
Rama: Maquinário do
• facilitar o deslizamento dos fios nas guias da rama; processo de secagem da
• aumentar a união das fibras. fase de beneficiamento
que visa, principalmen-
te, aumentar a produção
Como o processo de fixação em rama é feito a quente (termofixação),
de acabamento e ter-
um forte odor da volatilização desta substância é lançado no ar, criando incô- mofixar os tecidos com
elastano, dando mais
modo à vizinhança. qualidade ao produto fi-
nal. O fluido quente usa-
Geração de resíduos: em toda a cadeia têxtil, há geração de resídu- do nesta maquina é que
os, desde a colheita e descaroçamento do algodão, até as confecções, com gera o mau odor desta
atividade.
os restos de fios e tecidos, variando em característica e quantidade. Alguns
resíduos de embalagem ou de produtos químicos, como a perda de pasta de
estampar, na estamparia, e a geração de lodos biológicos (biomassa composta
da proliferação de microorganismos em unidades de tratamento de efluentes
líquidos) são perigosos, quando descartados. Uma alternativa ao descarte do
lodo biológico é promover sua reutilização como substituto de combustível
em caldeiras de biomassa pelo fato dele possuir poder calorífico (gera calor).

 Ruído e Vibração: este tipo de poluição é proveniente de diversos


equipamentos, utilizados nas sucessivas etapas da cadeia têxtil. Estes ruídos
e vibrações devem ser controlados, pois geram incômodo à vizinhança das
indústrias.

78
Design Sustentável e Moda

Como você pode ver, a atividade produtiva têxtil tem um grande poten-
cial de poluição, somando todas as suas etapas. Este potencial de poluição
pode variar
à medida que a pesquisa e o desenvolvimento produzem novos proces-
sos, reagentes, maquinários, técnicas e também conforme a demanda do con-
sumidor por outros tipos de tecidos e cores. Existe um real empenho da indús-
tria têxtil no que diz respeito ao desenvolvimento de iniciativas que reduzam
ou controlem os impactos desta atividade.

2.3. Processo têxtil de baixo impacto

Cada país possui sua própria legislação ambiental, que permite que pro-
cessos mais ou menos impactantes sejam utilizados. Alguns países ainda im-
põem restrições de importação a produtos que não possuam certificados de
qualidade na produção. Independente da rigidez da legislação ambiental local,
há alguns processos peculiares executados com técnicas diversas que permi-
tem impactar mais ou menos o ambiente em determinadas regiões.
Como já vimos, alguns dos principais impactos da indústria têxtil são
efluentes, resíduos, odores, ruídos e vibrações. Boa parte destes impactos é
causada pelo modo de produção em larga escala e pelas máquinas que permi-
tem alto grau de produtividade.
Pense na seguinte questão: será que produções artesanais geram tanta
vibração, ruído ou mesmo odores desagradáveis? A resposta é não. Mesmo os
efluentes de cor, gerados pelo processo artesanal de tinturaria, não provocam
a morte de rios e lagos como acontece com o processo industrial. Isto porque,
no processo artesanal de produção, os efluentes são lançados em quantidades
muito menores.
As comunidades tradicionais que habitam a Mata Atlântica, por exemplo,
usualmente empregaram sistemas de apropriação de recursos naturais de baixo
impacto ambiental, incorporados ao seu modo de vida. Apesar de se configurar
como uma atividade de extração, ou seja, captação do recurso sem reposição,
estas comunidades o fazem de modo a não exaurir a fonte dos recursos, respei-
tando o tempo de reposição natural destes ecossistemas - isso é o que também
se denomina manejo sustentável. Para estas comunidades, a extinção ou perda
do controle sobre estes conhecimentos significa a própria extinção de sua socie-
dade. Um bom exemplo desta ideologia é o sistema de lavoura indígena, onde
as plantações são feitas de forma a preservar uma pluralidade de espécies de
plantas (alimentícias, medicinais e de recuperação do solo – ex.: capoeira) e a

79
Aula 3

diversidade genética (grande variedade de mandiocas, batatas-doces e inhames)


para evitar pragas, sendo bem mais complexo do que o sistema de plantio de-
senvolvido com intuito comercial que, geralmente, tende à monocultura.

Monocultura
Lavoura dedicada a suprir uma demanda em larga escala, onde são feitas
triagens ou modificação genética das plantas para que o resultado da co-
lheita seja padronizado. Estes plantios demandam extensas áreas de terra (latifúndios)
que substituem a diversidade da vegetação nativa por uma cultura única, espantando
também a fauna original que fazia uso daqueles recursos. Por serem geneticamente se-
melhantes, estas plantações estão mais suscetíveis a serem extintas em caso de ataques
de pragas e, para evitar isso, fazem uso de pesticidas. Por fim, a monocultura exaure
mais o solo, pois além de ser intensiva, desregula a disponibilidade de nutrientes, uma
vez que cada tipo de planta proporciona uma troca específica de substâncias com o solo.

Contudo, a demanda do mercado tem um apelo muito sedutor e, por


vezes, põe em perigo ou desestrutura a situação de equilíbrio alcançada por
estas comunidades da Mata Atlântica, como no caso da exploração do capim
dourado para o mercado de joias e bolsas. A exploração deste recurso
é uma demonstração de que muitas vezes a demanda do mercado não
espera o ciclo de reposição da natureza e força uma situação de exaustão
destes recursos ou pressiona a adoção da prática da monocultura.

Quem disse que o capim é só verde?


Fonte: Flickr | Foto: Julia Farani

O capim dourado é uma gramínea de cor dourada que existe apenas no


Brasil, nos estados de Goiás, Bahia, Maranhão, Piauí e Tocantins, onde
foi descoberto pelos Índios.
Os índios faziam uso destas fibras para trançar e costurar utensílios domés-
ticos, como cestos, bacias, tigelas, potes, usando espinhos como agulha. Estes
índios transmitiram a técnica aos Quilombolas, remanescentes dos escra-
vos, que também faziam suas peças e vários outros utensílios domésticos,
usando o Capim Dourado. Assim, a técnica foi passada de geração em
geração, desde a época dos índios até hoje.
Fonte: Flickr | Foto: souminha

Toda a região do Jalapão (TO) trabalha com o capim dourado, fazendo


deste artesanato a principal fonte de renda de suas famílias. Atualmente,
o grande desafio dos produtores é fazer extração controlada da planta,
que corre risco de desaparecer desta região, devido à super exploração
pelo aumento da demanda por produtos com esta matéria prima.

80
Design Sustentável e Moda

Atividade 1 – Objetivo 1

Relacione os impactos ambientais referentes à(s) etapa(s) da produção


industrial de um produto têxtil:

1- Fiação (..................) (a) Geração de efluente e cor


2- Beneficiamento (..................) (b) Odores
3- Tecelagem (..................) (c) Geração de resíduos
4- Enobrecimento (..................) (d) Ruídos e Vibração
5- Confecção (..................)

Resposta

1- c; d
2- a; b; c; d
3- a; c; d
4- a; b; c; d
5- a; c; d

3. Impactos de matérias primas típicas do meio têxtil

A monocultura especializada e intensiva, que fornece matéria prima para


a indústria, está tomando as terras de culturas tradicionais. Esta nova cultura é
frágil pelo rápido esgotamento do solo e porque cultiva pequena diversidade
de espécies, ficando mais vulnerável a pragas. Por isto, faz uso de grande me-
canização e pesticidas, buscando atender, com a maior rentabilidade possível,
a uma explosão do consumo.
Portanto, o aumento da demanda de produtos pode acarretar a super-
exploração e extinção de matérias primas. No entanto, este não é o único pro-
blema causado por um aumento da demanda de produtos, há outros como:
• Exploração do trabalho infantil nas lavouras;
• Ocorrência de muitos acidentes durante o processamento e produção
da matéria prima;
• Produção e descarte indevido de resíduos;
• Redução da Biodiversidade (monocultura);
• Degradação ambiental (emissões de partículas no ar, solo e água, ruí-
dos, etc) e por vias de acesso (uso, ocupação do solo, desmatamento).

81
Aula 3

Os efluentes gerados pela indústria são agrupados pela origem do subs-


trato, em três categorias principais: tecidos de algodão (vegetal), de lã (animal)
e sintéticos.

4. Classificações da cadeia produtiva têxtil

A cadeia produtiva têxtil pode ser inicialmente classificada em função


das fibras têxteis utilizadas. As fibras podem ser divididas em dois grupos:

• Fibras Naturais (origem vegetal, animal ou mineral);


• Fibras Manufaturadas ou fibras químicas (artificiais e sintéticas).

4.1. Fibras naturais

Os fios naturais são obtidos diretamente da natureza e os filamentos são


feitos a partir de processos mecânicos de torção, limpeza e acabamento. Como
já mencionado anteriormente, as fibras naturais podem ser de origem vegetal,
animal e mineral.

4.1.1. Fibras de origem vegetal

As fibras vegetais podem ser obtidas a partir de frutos, folhas, cascas e


tronco. Apesar da diversidade destas fibras, em especial as brasileiras, como
a Juta (usada para fazer cordas), o Sisal (fibra parecida com o linho) e o Rami
(também muito utilizado como o linho), as principais plantas têxteis são o Al-
godoeiro (fibra de algodão) e o Linho (caule com filamentos rígidos). Veja, a
seguir, imagens destas fibras, de produtos fabricados com elas e os motivos de
sua insustentabilidade.

A) Linho
O linho é um cultivo que utiliza alguma química, como herbicidas e fer-
tilizantes para controlar ervas daninhas, mas, se o clima da região for ligei-
ramente úmido, esta lavoura dependerá bem menos destas químicas, assim
como descartará irrigação extensiva.
Esta fibra não demanda terras férteis para seu cultivo, como é o caso da
produção de alimentos e ainda recupera solos poluídos com metais pesados.

82
Design Sustentável e Moda

O principal processo impactante desta fibra é a degomagem, que é feita pela


masseração de feixes de caules do linho em lagos e rios. Os nutrientes que são
gerados pelo apodrecimento dos feixes são altamente poluidores da água. Por
isto, técnicas de decomposição deste material no solo em condições controla-
das ou através de soluções enzimáticas em tanques são mais aconselháveis.
Hoje estão sendo desenvolvidos novos tratamentos mecânicos para pro-
cessar a fibra de linho, para que ela tenha propriedades físicas mais parecidas
com o algodão. Estes estudos são conduzidos com o intuito de permitir que
estas fibras possam ser processadas através de toda a infraestrutura produtiva,
voltada para o algodão, o que tornaria esta fibra altamente competitiva, sem
os impactos ambientais da fibra mais utilizada no mundo: o algodão.

Fonte: Wikimedia Commons | Foto: Hans Hillewaert

Fonte: Flickr | Foto: Tania Ho

Planta do linho (Linum usitatissimum) e vestido fabricado com esta fibra.

B) Algodão
As fibras de algodão são as mais populares e as mais importantes entre
as fibras usadas pela indústria internacional. Suas excelentes características de
absorção de tintura e o fato de serem agradáveis ao uso/toque da pele, alia-
das ao seu preço acessível, contribuem para que o seu mercado mantenha-se
estável.

83
Aula 3

A cotonicultura, como é chamada a lavra do algodão, é composta por


algodoeiros - arbustos de até sete metros que possuem folhas grandes. O algo-
dão é uma fibra felpuda que envolve a semente que, por sua vez, esta envolta
por um casulo, o chamado capulho. Existem diversas espécies de algodão cul-
tivado, as mais usadas na indústria têxtil são as brancas, contudo já começam a
ganhar espaço as fibras de algodão colorido (marrom, verde, safira, rubi, etc.).

(b)
(a)

Fonte: Flickr | Foto: Wonder Mike


Fonte: Flickr | Foto: Old Shoe Woman

(c)

Fonte: StockXchange | Foto: Tibor Fazakas

Algodão ainda no capulho (cápsula dentro da qual se forma o


algodão no algodoeiro) (a), fibra de algodão (b) e fios de algodão
colorido (c).

Aprendendo um pouco mais sobre a história do Algodão...


As primeiras referências históricas do algodão vêm de muitos séculos antes
de Cristo, descobertas através de escavações arqueológicas no Paquistão,
onde se encontrou vestígios de tela e cordão de algodão com mais de 5.000 anos.
No Brasil, pouco se sabe sobre a pré-história desta planta. Pela época do descobrimento
do nosso país, os indígenas já cultivavam o algodão e convertiam-no em fios e tecidos.
Hoje em dia, o algodão é a matéria prima de 45% do vestuário da humanidade: cerca de
21 milhões de toneladas anuais. É cultivado comercialmente em mais de 60 países. Atu-
almente, são plantados cerca de 34 milhões de hectares de algodão por ano no mundo.
Fonte: http://www.algodao.agr.br/cms/index.php?option=com_content&task=view&id=
77&Itemid=132

84
Design Sustentável e Moda

Na Aula 02, você viu que, ao avaliar um produto, deve-se contemplar


todo seu ciclo de vida que, no caso de um produto têxtil de algodão, por exem-
plo, tem início no plantio, colheita e aproveitamento do algodão, passando
pelo processo industrial, uso e indo até seu descarte. Contudo, nesta aula, ire-
mos analisar a fase antes do uso para que possamos contemplar mais detalha-
damente os impactos envolvidos na confecção do produto.
As operações de limpeza, tingimento e acabamento do algodão na in-
dústria têxtil dão origem a uma grande quantidade de efluentes. A recirculação
destes efluentes e recuperação de produtos químicos e subprodutos consti-
tuem os maiores desafios enfrentados pela indústria têxtil internacional, com
o fim de reduzir os custos com o tratamento de seus efluentes.
Contudo, este ainda não é o maior impacto verificado no ciclo de vida do
produto feito de algodão. Do ponto de vista ambiental, o ramo têxtil preza cada
vez mais pela origem das matérias primas empregadas, isto é, leva em conside-
ração a forma como o algodão é plantado, adubado, cultivado e colhido.
Segundo especialistas europeus, a maior parte dos produtores mundiais
emprega formas tradicionais de plantio, que incluem o amplo uso de agrotó-
xicos (pesticidas, fungicidas e inseticidas), com técnicas de adubação química
artificial e sintética. As lavouras de algodão não orgânico são as que mais utili-
zam agrotóxicos no mundo (cerca de três milhões de toneladas de agrotóxicos
anualmente), poluindo o ar, o solo e as fontes d’água e provocando, assim,
intoxicação e morte de milhares de agricultores, pássaros, peixes, insetos e
muitos outros animais.
A Organização Mundial para Saúde classifica estas químicas como mo-
destamente perigosas, quando aplicadas em países com leis severas de uso.
Mas como esta é uma planta cultivada em diversos países, alguns nos quais
os sistemas que regulam as práticas com estes produtos químicos são mais
brandas, a classificação passa a ser altamente perigosa, podendo contaminar
lençóis de água e afetar o sistema nervoso de pessoas.
Para obter uma melhor produtividade, o plantio deve ser fartamente ir-
rigado. Como exemplo de um caso mais extremo desa prática de irrigação,
associada à baixa eficiência da cultura de algumas regiões, foi o secamento do
mar de Aral, na Ásia Central, pelo desvio de dois rios que o abasteciam para
fazer a irrigação de colheitas de algodão.
Outro ponto importante, além da forma como o algodão é cultivado, é
a forma como ele é colhido. Existe uma tendência das empresas têxteis com
consciência ecológica darem prioridade para o algodão colhido manualmente,
uma vez que, quando colhido por máquinas, além de necessitar de combustí-
vel para fazer a máquina funcionar, utiliza-se processos com desfolhantes quí-

85
Aula 3

micos, que evitam que impurezas, como terra, sementes e resíduos da planta
sejam eliminados, como acontece na colheita manual.
Após ser colhido e antes de chegar à indústria têxtil para ingressar no pro-
cesso de fiação, o algodão é descaroçado para obtenção de dois insumos básicos:

• A fibra – separada e classificada por tipos (fibras médias, longas e ex-


tralongas) para a venda posterior às fiações;
• O caroço – é esmagado e dará origem ao óleo comestível refinado e
ao farelo. O primeiro produz uma borra que também serve para a fa-
bricação de gêneros alimentícios (margarinas, biscoitos, chocolates),
cosméticos, farmacêuticos, iluminação, lubrificação, sabões e graxas.
Já o segundo, por sua vez, será transformado em adubo orgânico e
ração para animais.

A fibra do algodão é recebida na indústria e é beneficiada em diversas


etapas nas quais diversos impactos ambientais ocorrem, tais como:

• Fiação: Os principais impactos ambientais, causados nessa etapa da


produção, são os níveis de ruído e calor, gerados pelas máquinas,
além do pó composto por partículas de algodão, resultantes dos pro-
cessos de fiação;
• Beneficiamento: área mais crítica em termos de poluição ambiental
por parte do setor têxtil. Os processos de alvejamento, tingimento,
acabamento e estamparia do algodão já fiado e tecido, empregam
grande quantidade de substâncias químicas, onde é gerada, principal-
mente, poluição na água e no ar;
• Malharia: os principais impactos da malharia são os níveis de ruído,
calor e pó, produzidos pelas máquinas;
• Estamparia: risco proveniente da utilização de produtos químicos com
grau de toxidade elevado, nocivos ao meio ambiente e à saúde humana;
• Confecção: O resíduo nesta etapa são pontas de linha, restos de teci-
dos e agulhas, além do óleo, utilizado para lubrificação das máquinas
e equipamentos presentes neste processo.

Navegando pelo universo do algodão!


Para conhecer um pouco mais sobre o algodão, sua história, cultura, cadeia têxtil, mer-
cado, tipos de algodão (colorido e transgênico) e subprodutos do algodão, acesse as
páginas: http://www.algodao.agr.br/cms/index.php e http://sistemasdeproducao.cnptia.
embrapa.br/FontesHTML/Algodao/AlgodaoAgriculturaFamiliar/subprodutos.htm.

86
Design Sustentável e Moda

4.1.2. Fibras de origem animal

As fibras de origem animal podem ser obtidas a partir de pelos de dife-


rentes calibres e comprimentos. As principais fibras têxteis deste tipo são a lã
e a seda.

A) Lã
A lã é a fibra natural que cobre os ovinos e pode ser separada por pelos
finos e grosseiros. Como exemplos de pelos finos, temos os pelos de alpaca,
lhama, vicunha, camelo e dromedário, iaque, cabra angorá (“mohair”), cabra
do Tibete, cabra de Cachemira ou semelhantes (exceto cabras comuns), coelho
(incluído o angorá), lebre, castor, ratão-do-banhado e rato-almiscarado.
| Foto: Valdas Zajanckauskas 5. Fonte: Stock Xchange | Foto: Carlo Sacripante
3. Fonte: Stock Xchange | Foto: Michal Zacharzewski 4. Fonte: Stock Xchange
1. Fonte: Stock Xchange| Foto: rsvstks 2. Fonte: Stock Xchange | Foto: getye1

6. Fonte: Stock Xchange | Foto: idette van sitteren

A lã não é proveniente apenas das ovelhas. Nas imagens, você pode ver alguns animais que fornecem fibras para
a produção de lã.

Pelos grosseiros são os pelos dos animais não mencionados anterior-


mente, excluídos os pelos e cerdas, utilizados na fabricação de pincéis, escovas
e semelhantes.

87
Aula 3

(a) (b)

Fonte: Stock Xchange | Foto: Andrea Kratzenberg

Fonte: Wikipédia | Foto: Ken Hammond


(c)

Foto: Jorge José de lima

A ovelha faz parte dos animais ovinos (a) e pode ter o corpo coberto pela lã de pelo fino ou grosseiro, dependen-
do da raça (b) A imagem (c) mostra fibras de lã.

Apesar da receptividade do mercado, criadores de ovinos têm como sua


principal atividade a venda da carne, tornando a lã um subproduto. Por isto,
raramente a qualidade do pelo é Premium, como o das ovelhas Merino, da
Austrália, o qual um único pelo pode produzir até 5kg de lã fina para produção Tosquia: Corte do pelo
bem rente ao corpo do
de vestuário (FLETCHER, 2008, p. 10). animal, especialmente
ovinos. Este processo
A lã pode ser classificada por sua proveniência: deve se dar anualmen-
• Velos/pelos: obtida por tosquia; te e o rebanho deve ser
encaminhado para esta
• Peles: retirada dos carneiros após abate; atividade previamente
• Recuperada (mungo ou shoddy): obtém-se por aproveitamento dos separado por idade e
cor, facilitando a classifi-
desperdícios de lã. cação da lã.

88
Design Sustentável e Moda

A lã pode ser comercializada de várias formas:


• Lã in natura: não cardada nem penteada;
• Lã cardada ou penteada: sob a forma de fio;
• Desperdícios de lã;
• Fiapos de lã;

Apesar de serem fibras de origem animal, a produção de lã também apre-


senta presença de pesticidas, embora em doses bem inferiores às das monocul-
turas. Estas químicas são injetadas ou misturadas ao banho das ovelhas para
evitar infecções de parasitas, o que prejudica demais a lã. A má administração
destes pesticidas gera efeitos prejudiciais à saúde humana e aos corpos d’água.
A limpeza da lã é feita por um processo de escovação a seco, utilizando
solventes, a retirada de terra e gordura é feita a temperaturas altas e a solução
resultante é altamente tóxica e contém partículas sólidas suspensas.

B) Fios e tecidos de crina


Cavalos, asnos, zebras e cabras fornecem fios provenientes do pescoço
e do rabo que são também utilizados na confecção de produtos, como bolsas,
carteiras, pincéis e a cashmere. Muitas vezes, estas fibras são misturadas com a
lã para fazerem fios longos.

Sericultura: Cultura de
obtenção dos fios de
C) Seda
seda a partir do desmon- Os tecidos de seda, além de suas qualidades de maciez e beleza, têm
te da crisálida (casulo)
do bicho da seda. A qua- boa condutividade térmica, o que faz com que quem esteja vestindo tenha a
lidade do material do ca- sensação do tecido quente no inverno e frio no verão.
sulo está associada à die-
ta do inseto, que é muito A sericultura deriva do bicho da seda, mariposa que se alimenta exclu-
sensível a pesticidas e só sivamente das folhas de amoreira.
consome folhas especial-
mente selecionadas, e à O casulo é um novelo de fio que atinge entre 700 e 1200 metros. Para
integridade do filamento
desfiá-lo, utiliza-se água quente a 60°C, a fim de dissolver a cola, chamada
de seda, que é garantida
pela morte da mariposa sericina. O fio então se solta, possibilitando que a ponta seja encontrada. Esta
antes de sair de seu.
solução de água e detergente pode ser eliminada sem maiores precauções
uma vez que ela possui baixo impacto ambiental.
A partir daí, coloca-se a ponta numa máquina que enrola o fio e faz a
meada. Juntando os fios de várias meadas, faz-se um fio mais grosso, que é
utilizado para a fabricação dos tecidos.

89
Aula 3

Foto: Lizander Augusto da Costa Lopes


Fonte: Flickr | Foto: Paul Bailey

Fonte: Stock Xchange | Foto: Zsuzsanna Kilian

Bicho-da-seda (lagarta) Bombix Mori, casulos e fios de seda e tecido de seda.

4.1.3. Fibras de origem mineral

As fibras de origem mineral podem ser obtidas a partir de rochas. A prin-


cipal fibra têxtil deste tipo é o amianto.

A) Amianto
O amianto ou abesto é uma fibra mineral extraída de rochas amiantífe-
ras do tipo anfibólio ou serpentina. Deste tipo de rocha, é extraído o amianto,
conhecido como crisotila ou “branco”, do qual o Brasil é um dos principais
produtores mundiais.
O amianto é um material nocivo à saúde. A população, em geral, está
exposta a ele devido à liberação de fibras de diversos produtos que o contêm,
como telhas de fibrocimento, revestimentos isolantes, roupas, materiais deco-
rativos, freios e outros. No entanto, trabalhadores, seus familiares e comunida-
des vizinhas aos tipos de indústria que utilizam este mineral correm mais risco
devido ao contato direto e constante.

90
Design Sustentável e Moda

O amianto é utilizado nos seguintes casos:


• na indústria da construção, para a fabricação de telhas, caixas d’água,
canalizações e elementos isolantes;
• na indústria têxtil, para a produção de roupas ou equipamentos de
proteção (EPI);
• nas indústrias de material plástico, para a fabricação de pisos vinílicos,
adesivos, tintas e impermeabilizantes;
• na indústria automobilística, na produção de sistemas de embreagem
e freio de veículos;
• demais indústrias que utilizam o amianto: indústria naval, indústria de
cloro-soda, indústria de vidros, indústria de papel e celulose, indústria pe-
troquímica, lavanderias industriais, mineração e transporte de amianto.

Fonte: Flickr | Foto: Asbestorama

Tecido de panos de prato, onde as manchas brancas são feixes de fibras de amianto crisotila no tecido têxtil de
algodão tingido.

Segundo conceituadas agências internacionais, como a NIOSH (National Institute for


Occupational Safety and Health dos EUA), IARC (International Agency for Research on
Cancer), ACGIH (American Conference of Governmental Industrial Hiygienists) e a Dire-
tiva de Substâncias Perigosas da União Europeia, todas as formas de amianto podem
causar câncer que, em geral, leva 20 anos para se manifestar.

4.2. Materiais produzidos pelo Homem

As fibras manufaturadas são basicamente sintetizadas a partir de subs-


tratos petroquímicos. É o caso do poliéster, do nylon e das fibras de acrílico.
Outros, como os bioplásticos, são compostos de lâminas de celulose e plástico,
onde se destaca principalmente a viscose.

91
Aula 3

A) Poliéster
Esta, como as demais fibras sintéticas, estão diretamente ligadas a toda a
cadeia de extração e distribuição do petróleo, assumindo, consequentemente,
todo o impacto ambiental que esta cadeia está associada.
O poliéster, especificamente, está associado à purificação do acido teref-
talato (TA) que demanda uma grande quantidade de energia, além de óleo cru
e gás natural que gerarão a fibra de poliéster. Contudo, sua demanda por água
no processo é bem menor do que as fibras naturais. Por outro lado, os impac-
tos de suas emissões para o ar e água são considerados de impacto médio para
alto, já que, se não tratadas, poderão emitir metais pesados, como óxido de
antimônio e dióxido de titânio.

B) Nylon
Mais um material proveniente da cadeia de substâncias petroquímicas.
Contudo, este plástico é uma combinação de dois elementos químicos que
geram um sal de poliamida que, sob calor e alta pressão, resulta no nylon. Am-
bientalmente, o processo de produção do nylon é intenso em energia e produz
o óxido nitroso, que é um potente gás do efeito estufa.

C) Acrílico
Plástico petroquímico, derivado de óleo mineral e outros hidrocarbo-
netos, que é a síntese de alcrilonitrila com outras químicas. Seu processo de
produção faz uso intenso de água quente para remover solventes e sais, assim
como para alcançar a força de suas fibras. Ainda como processo ambiental-
mente impactante deste produto, a fibra acrilica é imersa em tanques de ácido
para evitar a estática do material.
Comparado ao poliéster, o processo de obtenção da fibra acrílica usa em
torno de 30% mais energia. Além disto, diversas substâncias envolvidas neste
sistema, inclusive a acrilonitrila, têm grande potencial de impacto, caso despe-
jadas no ambiente sem tratamento.

D) Viscose
São fibras celulósicas, obtidas a partir da dissolução química de políme-
ros naturais a partir de um banho de soda cáustica, subprocessos de moagem
e sulfurização, até sua posterior extrusão contínua de filamentos.
As fibras provenientes de celulose são bem consideradas como neutras
em carbono, uma vez que as plantas que as geram já absorvem gás carbônico
antes de sua síntese, contudo a produção de viscose libera muito mais do CO2.
O processo de obtenção da viscose é considerada muito impactante por causa

92
Design Sustentável e Moda

de suas emissões de enxofre, óxidos nitrosos, dissulfetos de carbono e sulfetos


de hidrogênio no ar, e as emissões em água desta produção são tidas como
altamente tóxicas.

O Mito da fibra de bambu: Prós e contras.


O que chamam de tecido de fibra de bambu na realidade é o Rayon ou vis-
cose e pode ser obtido a partir de qualquer vegetal pelo processamento da
celulose (de qualquer origem) com o uso de produtos químicos que a transformam em
um material plástico que é extrudado (massa plástica transformada em fio por uma
máquina) e, posteriormente, tecido.

Contras:
• A viscose é decorrente de um processo altamente poluente;
• Os produtos químicos fortíssimos utilizados nesta prática não são mais permi-
tidos em países com leis ambientais mais rigorosas, contudo estes continuam
comprando a viscose de outros países;
• Estes produtos são fabricados em locais onde a mão de obra não possui mui-
tos direitos trabalhistas (semiescrava).

Prós:
• É um material feito a partir de uma fibra biodegradável, regenerada da celu-
lose de polpa de bambu, e não de origem petroquímica;
• O bambu é uma cultura nativa e abundante do local onde é produzido o fio e
tem um ciclo de natural de crescimento mais rápido (maturidade em 4 anos)
do que várias outras fontes de celulose;
• O tecido, confeccionado com esse material, possui maciez de toque, tem fun-
ção bactericida, é inibidora de odores,
tem a secagem rápida, é bem absor-
vente e protege contra os raios UVA e
UVB.
Fonte: Flickr | Foto: miss88keys

Fonte: imagem de divulgação


Fonte: Flickr | Foto: annieo76

93
Aula 3

Como você pode ver, o segmento produtor de fibras sintéticas é alta-


mente dependente de frequentes investimentos em pesquisa e moderniza-
ção de materiais e processos, como forma de aumentar a eficácia de suas
operações industriais, reduzir seus custos e assegurar a sua competitividade
internacional.

Conclusão

O processo têxtil é um dos mais antigos dominados pelo Homem. Diver-


sas técnicas foram desenvolvidas para que uma variedade de fios pudesse ser
utilizada. A revolução industrial não só se utilizou deste conhecimento, como
também desenvolveu novos processos.
Com a velocidade do desenvolvimento da sociedade industrial, os forne-
cedores de materiais tradicionais tiveram de se adaptar a nova demanda. Esta
grande demanda incentivou o cultivo por monoculturas e o largo uso de pesti-
cidas, inclusive nos animais que forneciam seus pelos e couros. A produção em
larga escala e o não conhecimento dos efeitos gerados pelos efluentes e partí-
culas lançadas ao ar, permitiu que este universo, desde a produção do substrato
até a produção do fio, se tornasse um dos mais poluentes processos industriais.
Com a consciência ambiental e leis de proteção, alguns processos indus-
triais foram banidos de alguns países, outros transformados em processos cada
vez menos impactantes. Contudo, a sustentabilidade destas soluções está dis-
tante, uma vez que ainda temos o uso de mão de obra semiescrava ou mesmo
infantil nestas práticas, uso desmesurado de químicos que contaminam o am-
biente, ou mesmo fazem uso de grandes quantidades de água, atingindo não
só as terras que são usadas nestas atividades, mas também causando poluição
e redução da biodiversidade em todo o seu entorno.

Para uma segunda olhada

Você viu nesta aula que, apesar do processo têxtil ser muito antigo e, em
muitos casos, fazer uso de tecnologias de ponta para fabricar fibras, linhas e
tecidos, este universo é responsável por grandes impactos ambientais.
Dentro dos processos fabris, são considerados os maiores impactos os
seguintes:
• geração de efluente e cor;
• o odor;

94
Design Sustentável e Moda

• geração de resíduos;
• ruído e Vibração.

As fibras são divididas em fibras vegetais, animais, minerais e sintéticas.


As principais fibras vegetais são o algodão e o linho, mas também configuram
nesta categoria o sisal, a juta e o rami, entre outros.
O linho é um cultivo que pode ter o uso de químicas como herbicidas
e fertilizante muito reduzido, caso o clima seja ligeiramente úmido. Depende
pouco de terras férteis, além de recuperar solos contaminados por metais pe-
sados, porém os nutrientes provenientes do processo de degomagem de sua
fibra são altamente tóxicos, quando lançados em corpos d’água.
O algodão é a matéria prima de 45% do vestuário da humanidade. Além
da fibra usada para tecido, o caroço do algodão fornece óleo comestível e fa-
relo, contudo o cultivo deste gênero é altamente atacado pelos seus principais
impactos o uso intensivo de água para irrigação e pesticidas. As operações de
limpeza, tingimento e acabamento do algodão na indústria têxtil dão origem
a uma grande quantidade de efluentes.
Além desses impactos, de modo geral, a lavoura dedicada a suprir a de-
manda têxtil é geralmente uma monocultura, o que por si só:

• reduz a biodiversidade (flora e fauna) nativa,


• faz uso de pesticidas em grandes quantidades, o que contamina o solo
e lençóis de água, além de intoxicar animais e humanos,
• degradação ambiental (emissões de partículas no ar, solo e água, ruí-
dos, etc) e por vias de acesso (uso, ocupação do solo, desmatamento),
• estimula a exploração de trabalho infantil,
• é responsável por muitos acidentes durante o processamento e produ-
ção da matéria prima.

As principais fibras de origem animal são a lã e a seda. As fibras de lã


podem ser obtidas de proveniência diversa: a partir de tosquia, peles pós-abate
e recuperada de desperdícios de lã. Poucos são os fios que possuem alta qua-
lidade. Banhos como pesticidas prejudicam o pelo. Além disto, a limpeza e
escovação da lã utiliza solventes secos em alta temperatura, o que resulta em
uma solução altamente tóxica e partículas suspensas.
No caso da seda, a pouca química utilizada para cultura do bicho-da-
seda e a mistura de água com detergente usada para dissolver a cola do casulo
são de baixo impacto ambiental.
A principal fibra mineral é o Amianto. O amianto é um material cance-
rígeno, por isto tem sido retirado da indústria mundial, apesar de ainda estar
presente em diversos tipos de roupas ou equipamentos de proteção.

95
Aula 3

Os principais fios sintéticos são o poliéster, o nylon e as fibras de acrí-


lico. Na categoria de bioplásticos, o principal é a viscose. Todos os sintéticos
incorporam em seu impacto ambiental a cadeia de extração e distribuição de
petróleo. Por outro lado, usam bem menos água do que as fibras naturais.
A viscose, apesar de utilizar fibras celulósicas que são consideradas neu-
tras em carbono, é considerada como altamente impactante pelas emissões de
enxofre, óxidos nitrosos, dissulfetos de carbono e sulfetos de hidrogênio no ar,
e as outras emissões em água.

Referências

COELHO, Christianne. A questão ambiental dentro das indústrias de Santa Catarina:


uma abordagem para o segmento industrial têxtil. UFSC, 1996.
FLETCHER, kate. Sustainable fashion & textiles: design journey. 2008.

Sites consultados
ALGODÃO brasileiro. Disponível em: <http://www.algodao.agr.br/cms/index.
php?option=com_content&task=view&id=77&Itemid=132>.
AMBIENTEBRASIL. Pesquisador da UNICAMP/SP desenvolve plástico biodegradável.
Disponível em: <http://noticias.ambientebrasil.com.br/noticia/?id=12394>. Acesso em:
16 jul. 2008.
BASTIAN, Elza Y. Onishi; ROCCO, Jorge Luiz Silva. Guia técnico ambiental da indústria
têxtil. São Paulo: CETESB : SINDITÊXTIL, 2009. (Série P+L). Participação de vários auto-
res colaboradores. Disponível em: <http://www.cetesb.sp.gov.br/Tecnologia/producao_
limpa/documentos/guia_textil.pdf>. Acesso em: 3 jul. 2010.
BOLSA DE MULHER. Disponível em: <http://www.bolsademulher.com>.
EMBRAPA. Disponível em: <http://www.cnpa.embrapa.br/>. Acesso em: 15 jul. 2010.
EMBRAPA. Cultura do algodão herbáceo na agricultura familiar. Subprodutos.
Disponível em: <http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Algodao/
AlgodaoAgriculturaFamiliar/subprodutos.htm>. Acesso em: 15 jul. 2010.
FIBRA DE BAMBU. Disponível em: <http://www.fashionbubbles.com/tecnologia-textil-
e-da-confeccao/fibra-de-bambu-pros-e-contras/>. Acesso em: 15 jul. 2010.
FLICKR. Disponível em: <www.flickr.com>. Acesso em: 10 jul. 2010.
SABESP. DBO. Disponível em: http://www.sabesp.com.br/CalandraWeb/CalandraRedire
ct/?temp=4&proj=sabesp&pub=T&db=&docid=024DB80450F368A2832571C7006C7874>.
Acesso em: 30 jun. 2010.
STOCK Xchange. Disponível em: <www.sxc.hu>. Acesso em: 10 jul. 2010.
WIKIMEDIA Commons. Disponível em: <http://commons.wikimedia.org/wiki/Main_
Page>. Acesso em: 10 jul. 2010.
WIKIPÉDIA. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/>.

96
Aula

Impactos do uso e descarte


4
Seus Objetivos:
Ao final desta aula, esperamos que você seja capaz de:
1. analisar quais hábitos constituem as principais fontes
de impactos ambientais, durante a fase de uso de um pro-
duto têxtil;
2. identificar os impactos do descarte de produtos, através do
reconhecimento das estratégias dos 4R`s (reciclar, reutilizar, reduzir
e repensar).

2 horas de aula
Design Sustentável e Moda

1. Pimenta nos olhos dos outros...

O ser humano e suas práticas impactam o ambiente natural de forma


exagerada. Embora tenhamos a tendência a não assumir esta responsabilidade
e ainda a jogar para outros, geralmente para os meios produtivos, todos nós
contribuímos de maior ou menor forma para a degradação da natureza.
Psicólogos e pedagogos dizem que a consciência do erro já é um primei-
ro passo para o caminho da mudança, mas a mudança em si depende de muito
empenho e dedicação para se tornar um fato.
Poucos são os que resistem comprar uma jaqueta, um sapato ou uma
camisa, mesmo tendo consciência de que estes itens não são necessários para
sua proteção, uma vez que já possuem roupas que fazem esta função. Alguns
colocam a culpa na indústria da moda, dizendo que esta se utiliza de artifícios
para persuadi-los a consumir cada vez mais, contudo podemos considerar este
mecanismo de forma reversa: a demanda dos consumidores é o que permite
que o fornecedor venda suas mercadorias.
Assuma parte da culpa do impacto ambiental resultante do consumismo
que cabe a cada um de nós. Agora, pasme: esta ainda não é nossa maior par-
ticipação no impacto total! Você e eu podemos ser os principais responsáveis
pelos impactos que as roupas causam ao planeta. Não acredita? Veja a seguir...

2. Impactos do uso

Na Aula 3, vimos os diversos impactos ambientais causados pela indús-


tria têxtil e pelas diversas culturas que são fornecedoras de fibras. Estes im-
pactos se dão por emissões em diversos níveis e modalidades (ruído, vibração,
emissão de toxinas e partículas em rios, ar e solo), que reduzem a biodiversi-
dade, poluem e secam corpos d’água.
Então, como pode a fase de uso do produto ser mais impactante do
que a fase de produção? Responderemos esta pergunta com outras perguntas:
você lava, seca e passa roupas?
Pois é, estas atividades são intensas em uso de energia e detergentes
que impactam o ambiente. Através de Análises do ciclo de vida (ACV’s) foi pos-
sível calcular que este impacto da fase de uso é composto por:

• 82% de energia elétrica;


• 66% de resíduos sólidos;
• mais de 50% de emissões no ar;

99
Aula 4

• grandes quantidades de efluentes líquidos provenientes das ações de


lavagem e secagem. (FLETCHER, 2008)

Fonte: Stock Xchange | Foto: David Jones


Fonte: Stock Xchange | Foto: sulaco229

Você tinha ideia que lavar e passar a roupa causava tantos impactos ambientais?

2.1. Impactos por tipos de processos e de produtos têxteis

Como já visto em outras aulas, não devemos generalizar conceitos,


quando o assunto é impacto ambiental. Apesar de classificarmos produtos por
grupos e de indicar comportamentos padrões a cerca de que fase do ciclo de
vida um produto é mais impactante, devemos estar atentos para a diversidade
de soluções e para os contextos onde estes estão sendo aplicados.
Por isso, podemos afirmar que nem todos os produtos têxteis têm seus
maiores impactos na fase de uso do produto. Ao analisar o principal fator impac-
tante deste ciclo de vida têxtil, podemos separar este universo em dois grupos:

• Tecidos que não são lavados com frequência: tapetes e capas de peças
de mobiliário;
• Tecidos lavados com frequência: roupas e tecidos de uso doméstico
(panos, lençóis e toalhas).

O primeiro grupo, além de fugir da intensidade de lavagens necessárias


às outras peças têxteis, quando são submetidos à limpeza, fazem uso de técni-
cas de lavagem a seco e secagem natural, distintas das técnicas tradicionais de
lavagem para roupas. Além disto, geralmente, estas lavagens são executadas por
especialistas que prestam este tipo de serviço, o que permite um processo mais
controlado e com menos desperdícios. Por isto, considera-se que o maior im-
pacto destes produtos são na fase de produção, seguidos pela fase de descarte.

100
Design Sustentável e Moda

Fonte: Stock Xchange | Foto: Valentina Jori


Tapetes e capas de almofadas são exemplos de tecidos que não são lavados com tanta frequência e que, por isso,
não causam tantos danos ambientais em sua fase de uso.

Como você deve imaginar, apesar de não ser tão impactante quanto à
lavagem “molhada”, o impacto do processo de lavagem a seco não é despre-
zível. Esta prática utiliza a aplicação de solventes líquidos e detergentes sobre
as roupas, que são agitadas e secas em uma grande máquina para remover
manchas, sujeiras e óleos. Esta tecnologia permite a reutilização do solvente
após sua purificação, mas o fluido mais utilizado neste processo é o Perc, uma
substância de uso controlado considerada poluidora do ar e que afeta o siste-
ma nervoso central e provoca danos ao rim, fígado e sistema reprodutivo, após
longo tempo de exposição.
O segundo grupo representa a grande maioria dos produtos do mercado
têxtil. Lembramos que o impacto na fase de uso não está em usar uma roupa,
mas sim nos processos de limpar e passar; portanto, o impacto está relaciona-
do à eficiência da:

• Máquina de lavar roupa – este aparelho depende de água, detergen-


tes e muita energia elétrica para ensaboar, torcer e enxaguar a roupa.
O grande volume de água utilizado é devolvido para as tubulações
públicas de água, acrescido de detergentes e restos de fios. Em alguns
casos, o impacto é agravado pelo uso de água quente para potenciali-
zar o processo de limpeza;
• Secadoras de roupa – máquina que consome muita energia elétrica
para aquecer o ar e, assim, permitir que a água evapore das roupas
lavadas. Esta é uma alternativa ao sistema natural de secagem atra-
vés de varal, muito utilizada em locais que não dispõem de ambiente
suficientemente quente, seco ou que não apresentam incidência de

101
Aula 4

sol ou vento, ou mesmo em sistemas que demandem velocidade de


produção, como em lavanderias e fábricas;
• Ferros de passar roupa – esta ferramenta que serve exclusivamente
para deixar o tecido com aspecto alisado, também consome muita
energia elétrica para convertê-la em térmica.

Hoje, os detergentes mais sofisticados permitem a redução do volume


de água necessário para lavagem “úmida” de um tecido. Por outro lado, um in-
grediente chave da composição destes novos detergentes é o surfactante - um
agente enzimático sintético, proveniente da indústria petroquímica, que reduz
a tensão superficial da água, facilitando a soltura da gordura da roupa -, que
interfere em sua capacidade de se degradar em condições naturais. Por isto,
reduzindo o surfactante, estes detergentes naturais estão novamente deman-
dando maior volume de água.
Dentro da etapa de uso, o maior consumo de energia (60%) é responsa-
bilidade do uso de secador de roupas. Porém, só seria possível reduzir 50% em
toda energia consumida pelo produto ao longo do seu ciclo de vida (fases de
produção, uso e descarte) caso os gastos energéticos com o aquecimento da
água na máquina de lavar, a secagem em máquina e o ferro de passar fossem
eliminados deste ciclo.
Argumentos quanto às diferenças de impactos determinadas pelas diver-
sidades geográficas permitem usar ou deixar de usar um ou outro procedimen-
to, como secar roupa no varal em vez de usar a secadora. Contudo, podemos
verificar pelo exemplo a seguir que, além dos aspectos do produto, há fatores
culturais que influenciam muito no uso e, consequentemente, no impacto.
Alguns materiais por si só induzem um menor gasto energético, como
a lã. Suas características físicas demandam uma lavagem em baixas tempe-
raturas e forçam a secagem em varal, uma vez que não têm bons resultados,
quando secados em secadoras. Contudo, não podemos simplesmente assumir
que todos os projetos de produtos sejam feitos, contemplando a lã. Hoje, 80%
da demanda mundial é por fibras de poliéster e algodão.
A troca da lavagem doméstica por uma comunitária é uma forma de re-
duzir alguns impactos ambientais. O uso de uma lavanderia induz que o indiví-
duo deixe de ter um aparelho só para si, reduzindo, assim, a produção de mais
máquinas e fazendo uso de melhores práticas de lavagem contínua (lava sem-
pre lotes máximos, detergentes concentrados, reutiliza água e calor), porém
devem-se contar também os impactos causados pelo transporte das roupas.
Devemos fazer uma ressalva nesse ponto e dizer que o modelo de aná-
lise de impacto ambiental, até aqui, está focado no impacto energético da so-

102
Design Sustentável e Moda

lução, com certeza um parâmetro de extrema importância, especialmente se


considerarmos que a matriz energética do local que está sendo utilizado o pro-
duto é a base de mineral petróleo ou carvão. Caso a energia seja proveniente
de matrizes mais “limpas”, como a eólica, nuclear ou a partir de hidrelétricas,
como no Brasil, podemos voltar o foco para outros impactos, como toxicidade.
Neste caso, melhores práticas energéticas, como: lavar a temperaturas mais
baixas ou secar no varal em vez de no secador não serão tão impactantes como
cuidar dos efluentes industriais durante a fase de produção.

2.2. Impactos por tipos de hábitos do usuário

A higiene / limpeza foi originariamente motivada como um procedimen-


to de prevenção de doenças e, rapidamente, tornou-se uma atividade domésti-
ca importante. Mais tarde, a higiene e limpeza estiveram associadas à religião
e a um esclarecimento cultural. As máquinas de lavar roupa surgiram no século
20, elevando o status de limpeza, onde apenas os ricos podiam comprar uma
limpeza superior; então, esta passou a ser sinônimo de sucesso, alegria e acei-
tação social.
Na Europa, existem selos de medição obrigatórios que estabelecem ní-
veis de eficiência energética para eletrodomésticos de linha branca (refrigera-
dores, secadores, lavadora de louças e roupas, etc.). Por isto, cerca de 90% do
mercado de máquinas de lavar é representado por produtos na categoria de
melhor eficiência (categoria A). Contudo, a economia financeira gerada pelo
menor consumo energético destes aparelhos gera um maior consumo destes
produtos, resultando em um maior número de lavagens, que quase elimina os
ganhos ambientais proporcionados por esta eficiência.
Portanto, a despeito da eficiência dos equipamentos envolvidos nesta
etapa do produto, o que poderia ser creditado como ineficiência da solução
fabril, é muito importante atentar para os hábitos culturais que determinam a
frequência com que estes processos são executados. Em outras palavras, mes-
mo que a máquina de lavar e o ferro sejam altamente eficientes em suas fun-
ções, um uso não otimizado destes recursos por parte do usuário sempre vai
gerar impactos, muitas vezes desnecessários.
Usuários geralmente usam critérios, como roupa branca e colorida ou
clara e escura para separar pilhas de roupas a serem lavadas. Dificilmente, as
pessoas separam as pilhas de roupa por tipo de fibra, o que induz a lavagem do
lote no ciclo para algodão. As fibras sintéticas, como poliéster e nylon, geral-
mente são lavadas em temperaturas mais baixas, como 30°C ou 40°C e secam

103
Aula 4

mais rápido que algumas fibras naturais, como a do algodão, que deve ser
lavada entre 50°C e 60°C. Assim, deixa-se de obter uma redução de 10% do
impacto ambiental a cada 10°C reduzido da temperatura de lavagem.
Dizemos que as soluções são mais difíceis na fase de uso, pois deman-
dam o envolvimento de diversos pares, como: produtores de eletrodomésticos,
fabricantes de detergentes, fabricantes de tecido e também o consumidor, to-
dos em prol de uma solução menos impactante.
Neste conceito de uma solução conjunta entre pares, a melhoria de todo
o sistema poderia ser traduzida em melhores práticas de lavanderia, comoo Fator 4 ou X4: Mais fre-
quente no meio empre-
uso de menores temperaturas de lavagem e secagem natural o que, revertidos
sarial, pode representar
para roupas feitas de poliéster, geraria uma redução de fator 4 (1/4 do impac- uma melhoria no proces-
so que resultou na eco-
to atual) e, para vestuário de algodão, um fator 2 (a metade do impacto hoje
nomia de ¾ dos recursos
medido). normalmente utilizados,
ou então a produção
Uma abordagem mais focada em uma mudança cultural, que induzisse dobrou com o emprego
uma blusa de poliéster a ser lavada apenas metade das vezes que ocorre atual- da metade dos recursos
originais, ou mesmo que
mente, significaria uma redução de 50% de todas as emissões aéreas, poluição a produção quadriplicou
e resíduos sólidos causados por esta blusa. com a mesma quantida-
de de recursos gastos no
Portanto, para poder propor soluções que viabilizem os padrões citados processo original.
acima, deve-se influenciar mudanças de hábitos dos usuários e, para isto, é
fundamental entender os motivos pelo qual o usuário decide lavar suas roupas
e com qual a frequência isto é feito.
Fonte: Stock Xchange | Foto: Oliver Brandt

Na tentativa de diminuir os impactos causados pelo processo de lavagem dos tecidos, é importante estimular
uma mudança cultural, onde as pessoas sejam conscientizadas a lavar as roupas de forma correta, economizan-
do gastos desnecessários.

104
Design Sustentável e Moda

Cheiro ruim?
Uma pesquisa de seis meses concluiu que o odor indesejável que se concen-
tra debaixo dos braços e a sujeira nas mangas, cotovelos e partes frontais
de uma camisa são os principais motivos que fazem indivíduos
lavarem suas roupas. Um estudo na Holanda estabeleceu que
uma peça de roupa dura cerca de 3 a 5 anos no armário de
uma pessoa e 44 dias no corpo de seu usuário, que a usa en-
Fonte: Flickr | Foto: Dominik Golenia

torno de duas a três vezes antes de lavá-la. Mesmo que uma


peça de roupa seja lavada por apenas 20 vezes, o impacto da
lavagem é superior aos impactos das fases de plantio, proces-
samento, produção do tecido ou mesmo do descarte.
Esses levantamentos induzem a busca por soluções alterna-
tivas, como tratamentos impermeabilizantes e antimicrobial
para que a peça de roupa esteja sempre com aspecto de limpo
e sem odor ou que a sujeira que se deposite possa ser remo-
vida com uma escovada, contudo esta solução contém químicas que são prejudiciais à
saúde humana e de difícil degradação no ambiente.

Por outro lado, se prestarmos atenção, perceberemos que todos temos


peças do vestuário que são utilizadas, mas nunca foram lavadas. A conscien-
tização deste fato pode induzir designers e usuários a procurar mais soluções
com características similares às observadas nestas peças, para que possamos
ser menos impactantes. Hábitos como pendurar camisas para arejar e truques
para tirar manchas são “tecnologias verdes” já implementadas e de fácil exe-
cução e que podem se tornar diretrizes, boas práticas, procedimentos padrões,
enfim, novos hábitos incorporados em uma cultura.

Atividade 1 – Objetivo 1

Com base no exemplo holandês de Fletcher, delineie o perfil de gasto


energético de uma roupa cotidiana do seu armário e analise as diferenças de
impacto de uso no caso brasileiro e no holandês:

O estudo na Holanda estabeleceu que uma peça de roupa dura cerca de


4 anos (durabilidade) no armário de uma pessoa, 44 dias (intensidade de
uso) no corpo de seu usuário, que usa entorno de 2 a 3 vezes antes de
lavar a roupa; portanto, a peça de roupa passa pela lavadora, secadora e
ferro de passar (processos envolvidos) cerca de 20 vezes (manutenção) ao
longo de sua vida útil.

105
Aula 4

Durabilidade (4 anos) Peça holandesa Sua peça de roupa

Intensidade de uso 44 dias

Manutenção 20 lavagens

Processos Lavadora, secador e ferro

Dica: Auxílio para realizar as contas: um ano tem 52 semanas.

Resposta Comentada

Exemplo escolhido: Uma calça jeans, usada para trabalhar.


Esta peça dura cerca de 2 anos (durabilidade) no armário e é usada apro-
ximadamente 3 dias a cada duas semanas. Então, isso significa 3 vezes a meta-
de das semanas, se considerarmos o uso durante dois anos [3x(52/2)x2] = 156
dias por vida útil (intensidade de uso). A lavagem é executada uma semana
sim e a outra não, o que reflete em 52/2 = 26 lavagens por ano e o dobro (52
lavagens) (manutenção) ao longo de sua vida útil. Contudo, apesar do jeans
ser lavado e passado de forma similar à holandesa, o processo de secagem é
feito naturalmente no varal (processos envolvidos).
Como estamos comparando uma solução que dura 2 anos com outra que
dura 4 anos, devemos considerar que estamos trabalhando com duas calças
jeans ao invés de uma, o que na prática duplica a quantidade de lavagens feitas
e a intensidade de uso. Então, os dados das duas soluções devem ser:

Durabilidade (4 anos) Peça holandesa Peça brasileira

Intensidade de uso 44 dias 312 dias

Manutenção 20 lavagens 104 lavagens

Processos Lavadora, secador e ferro Lavadora, varal e ferro

106
Design Sustentável e Moda

O referido processo de lavagem brasileiro não é energeticamente tão


impactante quanto o holandês. Contudo, o produto sofre mais do que cinco
vezes o número de lavagens e em menor tempo que o holandês, em decorrên-
cia da intensidade de uso setuplicada (sete vezes maior) da calça.
Portanto, levando em consideração que o uso de uma secadora de rou-
pas é em torno de 60% do gasto energético da lavagem, teremos:

• Gasto holandês: 20 lavagens x 1 (valor da lavagem com a máquina


secadora) = 20
• Gasto brasileiro: 104 lavagens x 0,40 (valor da lavagem sem máquina
secadora) = 41.6

Portanto, em termos absolutos, podemos considerar que o gasto ener-


gético do item brasileiro é maior. Porém, devemos ponderar o fato de que a
calça jeans brasileira teve uma intensidade de uso durante sua vida útil bem
maior do que a peça holandesa. Assim, se considerarmos o impacto usado por
dia em cada um dos países, temos uma nova realidade:

• 20 (gasto holandês) / 44 dias = 0.45


• 41.6 (gasto brasileiro) / 312 dias = 0.13

Então, o impacto de cada dia de uso da peça brasileira é correspondente


a aproximadamente 1/3 da peça holandesa. O resultado só reforça que a inten-
sificação do uso de uma roupa é uma estratégia mais interessante do ponto de
vista ambiental.

3. Impactos do descarte

O setor têxtil tem uma longa historia de retrabalho da sucata. Além da


centenária figura do coletor de trapos e de tecidos de menor qualidade que
vem reciclando estes materiais, educados na arte de corte e costura, indivíduos
faziam pequenos reparos e recondicionaram roupas durante séculos, até o va-
lor da roupa nova compensar mais do que o seu trabalho.
Esta cultura de comprar uma roupa nova sempre que a antiga não mais
cumpre sua função (hoje a função está relacionada muito mais a questões sub-
jetivas do que a da proteção do corpo), gera um mercado de descarte de mi-
lhões de toneladas por ano. Para tanto, algumas estratégias de controle deste
volume têm sido difundidas no mercado.

107
Aula 4

3.1. As estratégias de gestão de descartes

Normalmente, quando se trata de falar em orientações que ajudam a


desenvolver um produto ou vida mais sustentável e ecológica, são citados os
famosos 3 “R’s” (Reciclar, Reutilizar e Reduzir). Recentemente, mais um “R” foi
acrescentado (Repensar). As três estratégias de gestão dos descartes ou os 3
R’s (Reduzir, Reusar e Reciclar) são utilizadas por sistemas que têm por objetivo
extrair o máximo de benefícios dos produtos, por estender sua vida útil e suas
matérias primas. O 4º “R”, o Repensar, frisa a conscientização da necessidade
de criar um produto antes que ele gere um impacto ambiental.

3.1.1. Reduzir

O Reduzir é um dos mais importantes R’s citados, pois implica na redução de:

• matéria prima;
• energia;
• impacto no ambiente;
• consumismo;

Reduzir, visando ao equilíbrio e à harmonia, significa reduzir os exces-


sos, desmaterializar, trocar produtos por serviços, compartilhar produtos, ou
seja, relaciona-se à eficiência. Vamos entender melhor isto.
Veremos que muitos dos “R”s relacionam-se. Pegaremos como exemplo, a
produção de uma simples camisa de algodão. Na produção do algodão, podemos
tomar ações que poderão reduzir o impacto causado no ambiente decorrente do
uso excessivo de agrotóxico na sua lavoura. Uma vez que nesta cultura há um
excesso no uso do agrotóxico, o uso correto do agrotóxico, sem abusar indiscri-
minadamente dele, reduziria não só o custo pela redução deste insumo, assim
como já minimizaria os impactos no ambiente e na própria saúde do agricultor.
Ao consumirmos menos matéria prima na hora de fabricarmos uma
camisa de algodão através de novas técnicas de produção sem geração de
Fonte: Alvarez | Foto: Imagem de divulgação

resíduo, teremos impacto reduzido e custos mais baixos na produção. Temos,


como exemplo, camisas que não possuem as costuras laterais e mistura de
outras fibras, com objetivo de tornar o tecido mais resistente e durável.

Roupas que não possuem costuras geram menos impactos em seu


processo de produção, pois consomem menos matérias primas.

108
Design Sustentável e Moda

3.1.2. Reutilizar

O Reutilizar seria usar novamente algum produto após o fim da sua vida
útil ou para a mesma função, como usar uma garrafa de vinho para armazenar
água ou comprar um produto de 2ª mão para prolongar
seu uso, como por exemplo, ser o segundo ou terceiro
proprietário de um carro, imóvel ou algo que tenha valor
para reutilização.
Ainda podemos considerar como reutilização o uso
de um produto para uma nova função diferente para qual
foi projetada originalmente, como é o caso de móveis fei-
tos com garrafas PET, desde que, para isto, não tenha que
se descaracterizar o produto original. Ambas as opções
implicam em modificações sem uso de processos indus-
triais complexos, com utilização de muita energia.
Fonte: UFRJ

Poltrona feita com garrafas pet.

Logo, não é correto usar a palavra reciclagem para artesanatos feitos a


partir das garrafas PET ou com qualquer outro material (proveniente de produ-
to descartado). Deve-se usar o termo reaproveitamento.

Aprendendo um pouco mais sobre as garrafas PET...


Em 1974, a Coca-cola encomendou ao MRI (Instituto de Pesquisa do Meio
Oeste - EUA) pesquisa para levantar as
consequências sobre o meio ambiente de dois ti-
pos de embalagens: as de vidro e as de plástico.
O trabalho foi aprimorado pelo instituto, com
apoio da EPA (Agência de Proteção Ambiental
norte-americana) e tornou-se o primeiro estudo
Fonte: Flickr | Foto: José Roitberg

de caso de ACV (Análise do Ciclo de Vida) que se


conhece hoje.

109
Aula 4

As práticas de reuso eram muito comuns em nossa sociedade até apro-


ximadamente 50 anos atrás. O jargão “objeto de família” foi muito utilizado
para produtos, como um relógio, uma cama - eram heranças de pais, tios e
avós. Hoje, dificilmente um produto passa de pai para filho, não porque não
possua durabilidade, mas pelo valor de guardar e manter aquilo que se pode
adquirir a qualquer momento. Esta quebra com o passado, além de se mostrar
mais conveniente ou menos trabalhoso, é fomentada
pela fascinação que os novos produtos exercem o que
faz o individuo optar por um novo modelo ao invés do
objeto herdado.
Muitas gerações serão necessárias para que pos-
samos, pelo menos, minimizar os efeitos deste tenta-
dor vício pelo produto novo. O compartilhamento de
produtos através de serviços encontrará obstáculos
para mudar os hábitos dos consumidores, sobretudo
em relação às questões relativas à individualidade e
gostos pessoais. Na moda, podemos citar como bom
exemplo do uso da estratégia de reutilização o aluguel

Fonte: Flickr | Foto: Gustavo Gomes


de roupas na forma de serviços e os brechós que fun-
cionam bem na venda de produtos usados.

Os brechós são um excelente meio para reaproveitamento de roupas usadas.

Segundo Fletcher (2001, p.107), especialistas criticam a eficiência da


reutilização e da reciclagem como sendo apenas um paliativo para a ques-
tão ambiental, uma vez que não modificam nem a maneira como os produtos
são produzidos, nem a maneira como o consumidor consome. Estes dois R’s
não previnem os efeitos negativos do atual sistema de produção e consumo,
sendo estratégias apenas de curto prazo e não de longo prazo em relação ao
problema de sustentabilidade. Eles apenas colaboram para a manutenção do
atual sistema que gerou os problemas ambientais, proporcionando às pessoas
apenas uma ilusão de mudança. A reciclagem e o reuso, no máximo, são uma
estratégia de transição entre o atual sistema e o sistema chamado sustentável.
A fim de realmente nos tornarmos sustentáveis, devemos criar uma nova ma-
neira de pensar.

110
Design Sustentável e Moda

3.1.3 Reciclar

O Reciclar, neste contexto, refere-se à matéria prima do qual um produto


é feito e não do produto em si. Logo, estamos falando do retorno do material
descartado ao ciclo produtivo, através de processo feito industrialmente (re-
ciclagem), e refere-se sempre a materiais de difícil degradação no meio am-
biente, como plástico, vidro, metais, etc. No caso de alguns metais pesados
e outros materiais tóxicos ao meio ambiente, os cuidados devem ser maiores
com relação ao descarte e sua reciclagem.
Quando o descarte e reciclagem acontecem na própria indústria, esta-
mos falando de Reciclagem de pós-industrial ou de pré-consumo. Quando a
reciclagem é feita depois que o consumidor utilizou o produto, nós chamamos
Reciclagem pós-consumo. Vale ressaltar que a reciclagem pós-consumo tem
papel importante em países onde existem populações carentes, pois passa a
ter um valor sócioambiental por contribuir tanto para a geração de renda e
emprego, quanto para a retirada deste material do meio ambiente, liberando
espaços nos aterros sanitários e auxiliando no saneamento básico em áreas
carentes de sistemas de coleta de esgoto e água potável. Como é notório, áreas
sem saneamento básico com córregos e rios acabam por utilizar estes corpos
d’água para o propósito de escoamento de detritos e lixo.
A maioria deste material que é descartado no meio ambiente advém da
embalagem do que do produto em si.
Diversos tipos de reciclagem são conhecidos, tais como:

• Reciclagem mecânica ou física - reciclagem em que os resíduos são


rasgados ou triturados e retornam como matéria prima de segunda-
mão à linha de produção;
• Reciclagem energética - ocorre com a incineração dos produtos cole-
tados, sendo utilizada como combustível;
• Reciclagem química - acontece pela
despolimerização do plástico ou dissolução do
mesmo com solventes, permitindo, em alguns
Fonte: Stock Xchange | Foto: Christy Thompson

casos, a separação de fibras da massa plástica.

O papel reciclado é um exemplo de produto produzido por reci-


clagem mecânica.

111
Aula 4

Cabe aqui diferenciar os termos para não serem confundidos:

• Material reciclável – produto que poderá ser reciclado ao ser descartado, mas geral-
mente é composto de material virgem;
• Material reciclado – produto que já contém material reciclado em sua composição,
contudo isso não é impeditivo para que ele seja reciclável por mais algumas vezes.

Um material reciclado geralmente é composto de uma pequena parcela


de material reciclado e uma maior quantidade de material virgem. Esta mistura
se dá por causa das perdas de características mecânicas (flexibilidade, plasti-
cidade, resistência à tração e pressão, etc.) que um material exclusivamente
reciclado apresenta. Para não obter uma matéria reciclada de pior qualidade,
faz-se importante a separação por tipos de materiais antes da reciclagem me-
cânica. Para facilitar a identificação do tipo de material em uma coleta seletiva,
o fabricante é obrigado, por norma, a indicar o tipo de material em cada peça
acima de 5 gramas que foi utilizada em um produto. Esta marcação é feita em
relevo ou impressa com setas em circuito fechado, envolvendo números ou
letras, como as abaixo.

Note que as setas do ciclo de cada tipo de material são diferentes. Assim, quando estas não vêm com legenda,
devem ser reconhecidas pelo formato. Diversas vezes, um número vem no interior das setas de plástico, indican-
do o tipo de plástico utilizado no produto.

Infelizmente, não há incentivos fiscais em nosso país para que micro e


pequenas indústrias assumam o uso de mais material reciclado. Em verdade, o
produto reciclado acaba sendo duplamente taxado ao invés de ser isento, o que

112
Design Sustentável e Moda

Bauxita: É a matéria seria justo, uma vez que elimina a sujeira gerada pelas indústrias que não se
prima do alumínio e
reserva a proporção de responsabilizam pelo descarte de seus produtos, o que em outros países já é lei.
5 toneladas de bauxita De todos os “R”, a reciclagem provavelmente é a menos eficaz, como de-
para produzir cada to-
nelada de alumínio pelo monstrada pela experiência brasileira de reciclagem de latinhas de alumínio,
processo de Redução. exposta a seguir.
Por este material neces-
sitar cerca de 15 MWhcc O Brasil tem o maior índice de reciclagem de alumínio do mundo e este
(150.000.000 watts) para
índice não é fruto do voluntarismo de pessoas que aderiram à separação de
produzir uma tonelada
de alumínio, pode ser seu lixo para a coleta seletiva, o que na grande maioria do país não existe. O
considerado como um
que geralmente movimenta este mercado é o interesse econômico ou social
dos materiais de maior
impacto ambiental, se envolvido nesta atividade. Contudo, apesar da impressionante eficiência do
levarmos em conta o uso
de matrizes energéticas.
processamento deste material (em torno de 95%), se formos analisar a rele-
Fonte: Associação Brasi- vância do volume total produzido por esta atividade em relação à demanda
leira do Alumínio
do mercado, esta quantidade apenas representa um pequeno índice de 5% no
retardo do tempo de extinção ou esgotamento das reservas atuais.
E olha que estamos falando sobre o Brasil, um dos maiores pro-
dutores mundiais de alumínio e um país que detém uma das três
maiores reservas mundiais de bauxita!
Fonte: Flickr | Foto: Carlos Essei

O maior mercado de reciclagem de alumínio é movimentado, em sua maioria, por interesses


econômicos ou sociais e não pela coleta seletiva de lixo em residências. É comum ver pelas
ruas brasileiras pessoas que vivem da coleta de latinhas de alumínio para posterior venda a
depósitos de reciclagem.

O aparente sucesso dessa iniciativa só foi possível graças às


circunstâncias socioeconômicas de nosso país. Em países mais desenvolvidos,
estes índices são ainda mais baixos, a despeito da adesão voluntária a progra-
mas de coleta seletiva e de não contarem com reservas próprias de bauxita ou
tão grandes quanto as nossas. Entende-se que, à medida que os níveis cultural
e econômico forem mais altos no país, a tendência será a da redução de pesso-
as trabalhando neste meio. Isto nos leva a repensar na eficácia desta estratégia
que usa da conscientização como forma de alterar hábitos culturais ou de con-
sumo. E mesmo que fosse possível atingir níveis mais eficientes, próximo aos
100%, é improvável que a demanda por estes recursos cessariam, o que levaria
ao esgotamento das reservas de bauxita.

113
Aula 4

Por isso, ao contemplarmos as abordagens relacionadas ao Design


Orientado ao Ambiente (Design for Environment - DFE), devemos priorizar o
ultimo “R” que é o repensar.

Design Orientado ao Ambiente (Design for Environment - DFE)


É uma metodologia que integra um programa maior de gestão ambiental,
geralmente associado a exigências normativas ou demandas específicas de
competitividade em mercados internacionais, compondo sistemas de forte atuação em
proteção ambiental para as plantas industriais.
O Design Orientado ao Meio Ambiente (DFE) tem um importante papel em modelos
de produção sustentável, ou seja, modelos que compatibilizam, de modo adequado, o
uso, a atualização, o reuso, a reciclagem e a deposição de matéria e energia, promoven-
do, sempre que possível, um ciclo fechado em seus sistemas produtivos.
A principal vantagem do DFE é a possibilidade de respostas rápidas, no âmbito da
tomada de decisões ainda na fase de projeto, implicando significativamente em redu-
ções de custos nas unidades fabris. As decisões no âmbito do DFE influenciam toda
cadeia produtiva, no sentido de minimizar os impactos ambientais.
De acordo com Souza (2002), este método pode ser definido como um processo de
design que leva fortemente em consideração o desempenho ambiental, isto é, uma pro-
dução livre de danos ambientais, desde as fases iniciais do projeto (no caso, geração de
ideias). Este processo busca otimizar os fluxos de matéria e energéticos envolvidos no
sistema, caracterizando especialmente o uso eficiente de materiais, técnicas e processos
produtivos, na busca por atender às demandas mercadológicas e, ao mesmo tempo,
minimizar os resíduos e danos à natureza.
Assim, o DFE consiste basicamente de inovações tecnológicas e metodológicas de
projeto que auxiliam o designer na tomada de decisões, buscando soluções economica- Ecoindicador: No con-
mente viáveis e ecologicamente amigáveis. Conceitualmente, Allenby (1999) apresenta texto da metodologia da
Análise do Ciclo de Vida,
três fases fundamentais para o DFE:
o conceito de ecoindi-
cador descreve, em um
1. Fase de inventário (inventory analysis): detalhamento da área de abrangência do
único valor quantitativo,
produto, com a identificação das principais implicações ambientais do processo pro- uma medida do impacto
dutivo e o levantamento dos materiais e fluxos mássicos resultantes da produção; ambiental causado ao
longo de todo o ciclo de
2. Fase de análise de impactos (impact analysis): os dados coletados são confrontados vida de um determina-
com as possíveis mudanças ocorridas no entorno da fábrica e são eleitos ecoindica- do produto (ou de fases
deste ciclo, sejam tem-
dores para quantificação dos custos e danos ambientais de cada ciclo (matéria prima,
porais, geográficas ou
manufatura, distribuição, transporte, armazenamento, vendas, utilização e descarte); tecnológicas). A metodo-
3. Fase de implementação de melhorias (improvement analysis): são determinadas logia envolve a agrega-
ção de diversos efeitos
as melhorias a serem agregadas ao processo, visando a um aumento do desem- ambientais através de
penho ambiental do produto (menor gasto em insumos, produtos mais eficientes, um sistema de pondera-
ção específico.
descarte menos impactante, etc.).

114
Design Sustentável e Moda

3.1.4. Repensar

O mais novo dos “R” é o Repensar. Neste caso, estamos falando de mu-
dar nossa visão de produto, repensar nossos hábitos, repensar nossas vidas.
Projetar pensando no que se precisa e não na solução física, aproveitar o que já
existe, fazer uso de estruturas pré-existentes, o que já foi criado, mas pode ter
sido esquecido, novas ideias com antigas tecnologias. Podemos projetar novos
produtos usando outros como base, ao invés de termos que criá-los a partir de
uma nova matéria prima.
Tomemos como exemplo o problema do atendimento da malha metro-
viária e ferroviária que, por motivos óbvios, não permitem atender tão bem
a população no quesito proximidade de casa como um ônibus, o que gera a
necessidade de um transporte secundário. O Metrô do Rio de Janeiro resolveu
compensar esta deficiência com duas alternativas: a primeira permite que usu-
ários usem o bilhete único, que permite somado ao uso de linhas de ônibus
já existentes (o usuário pode andar de ambos os transportes, pagando apenas
por um bilhete), e a segunda solução instiga o transporte complementar por
bicicleta, ao instalar bicicletários dentro das estações que são servidas por ci-
clovias. Com isto, estimula-se o uso de soluções pré-existentes, combinadas
com uma solução ambientalmente menos impactante.

Fonte: Rothman | Foto de divulgação


Fonte: Flickr | Foto: Frederick Dennstedt

Integração bicicleta e transporte público: uma forma de incentivar a economia, a saúde e a redução dos impactos
ambientais.

115
Aula 4

Apesar do Repensar ter surgido mais recentemente como o último dos


R’s, ele deveria ser não somente o primeiro na escala de R’s, mas o principal,
pois é ele que provoca as mudanças mais profundas e necessárias em todo sis-
tema de uma sociedade que deseja e necessita se tornar sustentável.
O objetivo de criar uma indústria têxtil de impacto zero leva-nos a uma
situação de mudança de paradigma, uma vez que influencia toda uma cadeia
produtiva que vai desde os agricultores até os consumidores. Será necessário
sair deste sistema linear aberto de produção, onde a economia começa com
a extração de matérias primas, passando pela produção, consumo e descarte
para um sistema circular fechado, ou seja, sem lixo ou resíduo, apenas recur-
sos que circulam no sistema. Lembrando que, no atual sistema linear, 90% dos
recursos extraídos da natureza transformam-se em lixo ou resíduo em menos
de três meses.

3.2. Impactos relacionados ao descarte de produtos têxteis

As estratégias de reciclagem e reuso fazem a sustentabilidade parecer


mais tangível, tendo maior aceitação social através do desenvolvimento de
tecnologias, estratégias de ponta de gestão em recuperação de descartes e uso
de novas mídias (como a internet) para disseminar seu conceito.
Estes conceitos promovem ideias de que o descarte faz parte de um ciclo
que pode ser recuperado, sem que tenhamos de mexer no nível de consumo.
Contudo, além do pequeno fluxo hoje disponibilizado pelos processos de re-
cuperação, há limitações relacionadas ao uso de materiais de “segunda mão”,
que perdem propriedades físicas a cada novo ciclo.
Não há dúvidas de que todos esses processos são energeticamente me-
nos impactantes do que produzir um produto do zero. Contudo, à medida que
se vai descendo os níveis da escala (reusar, reduzir e reciclar), mais energia
será necessária para reconstituir o descarte, ou seja, reutilizar uma roupa de-
manda menos energia do que recondicionar uma roupa que, por fim, é menos
impactante do que desmanchar uma roupa e reutilizar suas fibras para fazer
um novo produto.
A diretriz mercadológica considera que o produto final, como por exem-
plo, uma roupa, tem maior valor mercadológico do que o tecido que o fez;
assim, é interessante que se mantenha este patamar ao invés de se reciclar o
tecido. Até mesmo porque há uma natural degradação da qualidade do mate-
rial reciclado, uma vez que suas fibras são diminuídas pelo processo mecânico
da reciclagem, que rasgar o tecido para obter as fibras. Estas fibras, por sua

116
Design Sustentável e Moda

vez, acabam sendo misturadas a outras, tornando o tecido resultante de menor


qualidade e que dificilmente será novamente utilizado para vestimentas com
o mesmo valor percebido do original. Uma política contrária à prática do mer-
cado, que estabelecesse a redução da diversidade dos tipos de fibras, auxiliaria
a qualidade do mercado de reciclagem, mas, por outro lado, incentivaria tam-
bém a monocultura, o que por si só já seria uma perda ambiental.
Há exceções na perda de qualidade através da reciclagem, como é o caso
da reciclagem química, onde fibras sintéticas, como poliestireno, nylon e poli-
propileno são quebradas e repolimerizadas, mantendo sua qualidade. Todavia,
este processamento usa mais energia do que a reciclagem mecânica. Ainda as-
sim, a produção do nylon a partir da reciclagem é 80% da produção de nylon
virgem e a produção de roupas a partir de roupas de poliéster recuperados é de
um quarto da energia necessária para produzir a partir de material virgem. Já no
caso de fibras mistas, natural com sintética, este processo faz a separação destas
fibras, permitindo que todas sejam reutilizadas de forma mais qualitativa.
A depreciação de uma peça é algo tão normal que podemos observá-la
dentro de um universo menor, como o nosso próprio uso. Esta hierarquia do
uso é demonstrada pela opção de utilizar uma peça de roupa nova só em even-
tos especiais. Depois de algum tempo, a usamos em situações corriqueiras e,
por fim, somente a usamos dentro de casa. Este mesmo princípio é utilizado
na hierarquia do uso dentro da reciclagem, onde o tecido mais nobre e de
tonalidade clara serve para confecção de roupas para homens e mulheres; na
reciclagem seguinte, o tecido fica mais denso, com menor qualidade, e recebe
uma carga maior de tintura para atender ao mercado infantil, com o uso de
cores vibrantes.
Por isso, podemos perceber que o mercado de reciclagem é influenciado
por cor, tipo de fibra, qualidade e pureza:

• Tecidos brancos permitem fácil aplicação de tintura;


• Fibras naturais são mais fáceis de separar;
• A qualidade é medida pelo comprimento da fibra (fios mais longos
permitem o uso de máquinas mais rápidas);
• Pureza conta como uma menor variedade de tipos de fibra.
Vintage: É uma refe-
rência retrógrada, uma
O reuso tem o gasto energético de 10 ou 20 vezes menor do que a fa-
recuperação de estilos
dos anos 1920, 1930, bricação de uma roupa iniciando do zero. Mas, embora a caída vertiginosa
1940, 1950 e 1960. São
do preço da roupa de segunda mão nos últimos 30 anos estimule a aquisição
itens originais da época
ou mesmo aqueles que desta opção menos impactante, a oferta supera a demanda por este produto.
possuam atributos esti-
lísticos desta época, com
Algumas peças alcançam o status de Vintage e são valorizadas nestes
uma aparência de usado, mercados de segunda mão. Alternativamente, recursos como o de re-estilizar
antigo, de outra época.

117
Aula 4

uma peça de vestuário pode ser feito com o intuito de dar um ar de peça única,
agregando algum valor extra a esta mercadoria na hora de revenda.

Destino dos produtos têxteis do Reino Unido


No Reino Unido, um quarto do descarte têxtil é recuperado, mas apenas
13% são reciclados e 13% são incinerados, o restante vai para aterros, con-
tribuindo para a produção e liberação de metano no ar e emissões de toxinas solo. Te-
cidos sintéticos levam muito mais tempo para se decompor no ambiente, prolongando
estes impactos. Já a decomposição da lã emite altas concentrações de amônia para o
ar e água.
Um quarto dos tecidos e roupas britânicos descartados é reutilizado como material
de reciclagem, coleções vendidas de porta em porta, ou mesmo como doações filan-
trópicas. Algumas peças em melhor estado são separadas para a venda em brechós,
ou então viram base para peças customizadas por estilistas. A maior parte das peças
doadas segue para o Leste Europeu ou para cidades da África, onde são revendidas
por comerciantes locais. A pequena parte reciclada é utilizada para panos de limpeza,
material de enchimento ou para gerar novos fios.
Na Inglaterra, há uma legislação para exterminar os resíduos têxteis dos aterros
sanitários até 2015, através de coleta seletiva deste material, assim como há leis que
determinam a responsabilidade do produtor, responsabilizando-o financeira ou fisica-
mente pelo descarte de sua produção, após o fim de sua vida útil, junto ao usuário.
Fonte: FLETCHER, 2008

Por fim, caso não seja interessante nenhum dos processos dos “R”´s an-
teriormente citados, é importante que a peça tenha uma boa taxa de biode-
gradação, onde microorganismos, luz, ar ou água sejam capazes de quebrar a
fibra em substâncias simples. Neste caso de compostagem, devemos atentar
para as fibras sintéticas, que derivadas do petróleo e tratadas quimicamente,
costumam ter um tempo de degradação mais longo, acumulando e dissemi-
nando contaminantes no ambiente.
Para que os produtos sejam biodegradáveis, estes devem ser planejados
como tal em cada detalhe: botões, zíperes, colchetes, etiquetas, inclusive a
linha da costura. As linhas mais usadas, geralmente, são feitas de combinações
de poliéster; portanto, não são biodegradáveis.

118
Design Sustentável e Moda

Atividade 2 – Objetivo 2

A granel: Porções vendi-


Com base nos conhecimentos adquiridos sobre as estratégias dos 3 R’s,
das sem embalagens in- descreva como um sistema onde consumidores levam os vasilhames plásticos
dividuais ou de pequenos
volumes. Muito comum dos detergentes já utilizados para encher novamente com mais detergente
em feiras, geralmente, concentrado a granel no mercado, engloba os conceitos de reciclagem, redu-
são produtos como grãos
expostos em sacas de ção, reutilização e repensar em uma só solução.
pano, onde o cliente se __________________________________________________________________
serve com uma concha
da quantidade que dese- __________________________________________________________________
ja e paga por peso.
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
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__________________________________________________________________

Resposta

Reutilização: o vasilhame estará sendo utilizado com a mesma finalidade;


Redução: produtos concentrados ocupam menos volume para ser trans-
portados e têm maior rendimento;
Reciclagem: a embalagem planejada para durar diversos refis, geralmen-
te é reforçada, tendo paredes mais grossas, o que pressupõe mais matéria pri-
ma utilizada, o que se torna mais economicamente interessante, quando esta
embalagem é descartada para a reciclagem.
Repensar: rever que a compra a granel, comum à época de nossos pais
ou avós, pode ser menos impactante e mais econômica, pois só paga-se o valor
embutido na embalagem uma vez, ou seja, na primeira compra.

Conclusão

Apesar das pressões do mercado se dirigirem, de forma geral, às culturas


produtivas, sejam elas industriais, agrícolas ou de descarte como vilãs ambien-
tais, grande parte do impacto de alguns produtos, como é o caso de peças de
roupa, está na fase de uso. No nosso foco - o universo têxtil - apesar de haver
uma diversidade maior de produtos do que apenas roupas ou têxteis domici-
liares, como toalhas, lençóis e panos, estes são a grande maioria da produção
mundial e apresentam como atividade frequente sua limpeza, geralmente con-
siderada o maior impacto no ciclo de vida destes produtos.

119
Aula 4

Esta etapa do ciclo de vida do produto tradicionalmente foge ao es-


copo industrial ou corporativo, estando majoritariamente dominada pelo
usuário. Contudo, é nesta fase que há a convergência das soluções empre-
sariais de diversos segmentos: têxteis, linha branca de eletrodomésticos,
detergentes. Portanto, as empresas e designers têm muita influência nesta
etapa, desenvolvendo produtos que permitam um desempenho superior de
sua função. Porém, serão os hábitos dos usuários que determinarão quão
eficientes serão as soluções. Por isto, é importante o entendimento sobre
quais são as práticas e quais as necessidades dos usuários para que sejam
promovidas soluções cada vez mais eficientes de acordo com o contexto
existente.
Além dos aspectos do produto, aspectos do cotidiano influenciam muito
no uso e, consequentemente, no impacto ambiental. Produtos que induzam
uma menor frequência de lavagem ou mesmo que evitem o uso de equipa-
mentos de alto consumo de energia (secadoras) devem ser priorizados, con-
tudo alerta-se que todos os processos têm impactos e estes não devem ser
menosprezados, especialmente em localidades onde a matriz energética for
proveniente de fontes renováveis.
A etapa de descarte é comum a todos os produtos produzidos, sendo
que uns atingem esta etapa mais rapidamente que outros. Com taxas de cres-
cimento dos aterros sanitários e de incineração de descartes cada vez mais
intensas, foram desenvolvidas estratégias para gestão destes descartes.
Apesar da gestão de resíduos focarem no aumento do aproveitamento
dos produtos, esta não fomenta uma mudança nos hábitos de consumo da so-
ciedade, que assume os descartes como inevitáveis e apresenta uma forma de
amenizar os seus impactos. Os principais impactos dos produtos do universo
têxtil na fase de descarte ocorrem em aterros sanitários ou mesmo quando
incinerados, degradando o ar e o solo.
Examinando todo o ciclo de vida de produtos têxteis e seus impactos
ambientais, pode-se considerar que este é um campo passível de grandes
mudanças. Não há exclusividade de responsabilidade entre os industriais e os
usuários; todos são apontados como agentes de poluição em potencial. Em-
presas devem desenvolver soluções culturalmente viáveis em parceria com
os usuários, para que estes adotem soluções mais limpas de uso e descarte.
A confluência destas parcerias é o que, a princípio, conduzirá a soluções sus-
tentáveis

120
Design Sustentável e Moda

Para uma segunda olhada

As atividades referentes à lavagem, durante a fase de uso de um produto


têxtil, são intensas em uso de energia e detergentes que impactam o ambien-
te. Este impacto é composto pelo consumo de energia elétrica, emissão de
resíduos sólidos, emissões no ar e grandes quantidades de efluentes líquidos.
Para têxteis que necessitam frequentemente de lavagem, a fase de uso
é a etapa do ciclo de vida de maior impacto ambiental. Para têxteis que são
raramente lavados, as fases mais impactantes são as seguintes: primeiro, a pro-
dução e depois o descarte.
A lavagem a seco é menos frequente e, geralmente, executada por pro-
fissionais, mas também é impactante. A substância usada neste tipo de lava-
gem – Perc - é reconhecidamente poluidora e faz mal à saúde humana.
A lavagem molhada é mais frequente e representa o maior impacto do
ciclo de vida de um produto textil. Consiste em 3 etapas: lavagem, secagem e
alisamento, usando, respectivamente: máquina de lavar, secadora e ferro de
passar. Deste impacto, 60% é causado pelo uso da máquina secadora, sendo a
secagem natural mais recomendada.
Práticas de limpeza comunitária amenizam parte do impacto dessa fase
de uso. Porém, neste caso, deve-se considerar o impacto do transporte utiliza-
do para a movimentação destes têxteis.
Acredita-se que selos de medição obrigatórios estabelecem um mercado
com máquinas energeticamente eficientes, mas a economia gerada pode induzir
uma maior frequência de lavagens, eliminando, assim, sua vantagem ambiental.
Fibras sintéticas demandam menor temperatura de lavagem, mas o cri-
tério de usuários para lotes de roupas a serem lavadas é cores claras e escuras,
fazendo que a temperatura seja guiada pelo algodão, que depende de água
mais quente para ser lavado.
Melhores práticas de lavanderia (menores temperaturas de lavagem e
secagem natural) podem gerar reduções de fatores diversos, conforme os ma-
teriais de roupas utilizadas. Promoção do uso de roupas que demandam me-
nor frequência de lavagens também é uma importante estratégia para redução
do impacto desta fase.
Para a gestão dos descartes, o mercado adotou a estratégia dos 3 R’s,
uma metodologia que prega a reutilização, redução e reciclagem do produto ao
fim de sua vida útil. Esta estratégia tem a finalidade de aproveitar ao máximo o
produto, expandindo a vida útil ou mesmo reaproveitando sua matéria prima.

121
Aula 4

A Redução é a estratégia de gestão do descarte com maior potencial de


combate ao impacto ambiental, pois visa minimizar os excessos, seja em quan-
tidade de material, energia ou consumo.
O reuso admite o prolongamento da vida útil de um produto, seja em sua
função original ou em um segundo aproveitamento, desde que não se utilize pro-
cessos de descaracterização do produto originário. O reuso tem o gasto energéti-
co de 10 ou 20 vezes menor do que a fabricação de uma roupa, iniciando do zero.
A reciclagem é o processo que mais demanda recursos para retornar ao
estado de matéria prima entre os três R’s. O produto pode ser reciclado mecâ-
nica e quimicamente ou reaproveitado termicamente ao ser incinerado. O mer-
cado de reciclagem é influenciado por cor, tipo de fibra, qualidade e pureza.
O Repensar pode ser considerado como algo a mais do que gestão de des-
cartes. Esta estratégia está mais voltada para a gestão de produção, uma vez que
considera o porquê de se produzir e, assim, evitar todo o impacto de um ciclo
de vida. O Repensar foca em resolver problemas com soluções criativas e funcio-
nais, utilizando os recursos que já foram processados com outras soluções.
Quanto mais perto da reutilização, menor o impacto do processo dos Rs,
ou seja, reutilizar uma roupa demanda menos energia do que recondicionar
uma roupa que, por fim, é menos impactante do que desmanchar uma roupa
e reutilizar suas fibras para fazer um novo produto.
A mesma lógica de roupa, tecido e fios é seguida mercadologicamente;
portanto, é interessante manter a roupa já feita ao invés de triturá-la para fazer
novo tecido. Além disto, a cada reciclagem, a matéria prima perde suas carac-
terísticas físicas, o que demanda, geralmente, a mistura com material virgem.
A exceção à perda de valor a cada reciclagem pode ser encontrada na recicla-
gem química de tecidos de fibra sintética.
Contudo, se nenhuma dessas estratégias puder ser aplicada, tem de se
ter em mente que produtos têxteis podem produzir e liberar metano no ar e
emissões de toxinas no solo, além de amônia, no caso dos tecidos de lã.

Referências

ALLENBY, Braden R. Industrial ecology: policy framework and implementation. New


Jersey: Prentice-Hall, 1999.
FLETCHER, Kate T.; GOGGIN, Phillipe A. The dominant stances on ecodesign: a cri-
tique, 2001.
FLETCHER, kate. Sustainable fashion & textiles: design journey. 2008.

122
Design Sustentável e Moda

SOUZA, Paulo F. de A. Design orientado ao ambiente: uma questão de prioridade. In:


Anais do Congresso P&D Design 2002, 1º Congresso Internacional de Pesquisa em Design,
5º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design. Brasília, 2002.
ZÖHRER, Pedro. Estruturas tensegrities e o ecodesign. Rio de Janeiro, 2005. Disserta-
ção (Mestrado em Design) Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2005.

Sites consultados
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO ALUMÍNIO - ABAL. Disponível em: <http://www.abal.org.br/>.
Acesso em: 24 ago. 2010.
ALVAREZ, Larissa. Outwear sem costura. Disponível em: <http://vilamulher.terra.com.
br/outwear-sem-costura-13-1-50-127.html>.
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Monarco. Disponível em: <http://www.monaconet.com.br/artigos-int.php?id_post=29&>.
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ROTHMAN, Paula. São Paulo testa ônibus que leva bicicleta. Disponível em:
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STOCK Xchange. Disponível em: <http://www.sxc.hu>. Acesso em: 23 ago. 2010.
UFRJ. Disponível em: <http://www.imagem.ufrj.br/index.php?acao=detalhar_
imagem&id_img=2127>.

123
Aula
5
Design sustentável

Seus Objetivos:
Ao final desta aula, esperamos que você seja capaz de:
1. identificar que sustentabilidade é um conceito que
está calçado em um tripé: social, ambiental e tecnológico;
2. reconhecer os quatro níveis distintos de participação do
designer no caminho para a sustentabilidade;
3. identificar que o escopo da profissão de designer foi estendido
por uma visão ampliada do ciclo de vida do produto e pelo interre-
lacionamento com outras áreas de conhecimento.

2 horas de aula
Design Sustentável e Moda

1. Consciência de consumo...

Vamos começar a aula com uma pergunta: para você, produtos são so-
luções ou apenas suportes para as soluções? Bem, eu posso dizer a você que
os produtos são suportes de soluções. E você sabe por quê? Veja este exemplo:
quando você quer se alimentar, você deseja um frango bem assado ou um “su-
per” fogão que permita assá-lo? Raras são as situações em que você vai ouvir:
“não importa o que cozinhar, desde que seja no meu fogão”. É mais frequente o
ato de encomendar o frango da padaria ao lado. Por isso, dizemos que o produ-
to não é o fim, mas sim uma ferramenta para atingir o que realmente queremos.
É claro que, algumas vezes, um belo fogão pode fazer com que uma co-
mida apresente-se mais apetitosa, mesmo que você não saiba cozinhar e sim
só esquentar. Você pode estar se perguntando: mas o que isso tem a ver com
nossa aula? O que queremos enfatizar é a importância de saber qual tipo de
suporte você realmente necessita, pois diversos produtos poderiam ser menos
impactantes, caso fossem simplificados.

Fonte: Flickr | Foto: Lindsey T.

Todo fogão foi projetado para cozinhar. Você pode prefirir aqueles mais modernos, com maior número de quei-
madores, mas não pode discordar de que todos podem fazer uma boa comida.

Alternativas voltadas para a ecoeficiência podem se aproximar mais


da sustentabilidade se buscarem um equilíbrio entre a solução técnica e a
culturalmente contextualizada, pois de nada adianta desenvolver algo que

127
Aula 5

seja minimamente impactante se esse produto não for bem aceito pelo mer-
cado onde será disponibilizado. Neste caso, o produto irá simplesmente
ficar nas prateleiras, não compensando todo o impacto agregado em sua
concepção e fabricação. Portanto, é muito difícil promover um resultado
sustentável em produtos que obtêm êxito apenas em uma das duas linhas:
só a técnica ou só a cultural. Soluções completas são aquelas que obtêm
equilíbrio nas áreas tecnológica, social e ambiental, compondo o tripé da
sustentabilidade.

O tripé da sustentabilidade é composto pelas áreas tecnológica, social e ambiental. Em alguns casos, podem
demandar regulagens assimétricas, mas se faltar um pé, o conjunto não se sustenta.

Assim sendo, cada oportunidade de intervenção deve ser contextualiza-


da para que sejam geradas alternativas coerentes com os aspectos culturais e
práticos, solucionando necessidades e respeitando o ambiente no qual estará
inserido. O designer, como membro atuante desta sociedade, deve também
ser responsável, assumindo seu papel na geração de alternativas mais cons-
cientes que permitam à comunidade escolher quais caminhos irá percorrer em
busca de uma sociedade mais sustentável.
Contudo, deve ser ressaltado que o designer trabalhando sozinho não é
a solução; ele apenas faz parte de um processo de planejamento multidiscipli-
nar. Você verá nesta aula um pouco mais sobre o papel do designer no proces-
so de busca pela sustentabilidade ambiental.

128
Design Sustentável e Moda

2. O ecodesign ou design para a sustentabilidade

A mudança de valores na transição da era industrial para a pós-industrial


reflete em uma maior proximidade da empresa com o mercado. Se em um pri-
meiro momento as limitações técnicas fabris permitiam apenas impor soluções
produtivas, tornando viáveis somente àquelas que se enquadrassem dentro de
uma escala de massa, hoje as tecnologias disponíveis permitem uma maior
flexibilidade e personalização de soluções, estabelecendo um novo padrão de
conduta, em que o atendimento das necessidades do cliente é um valor com-
petitivo.
Esta abordagem traz uma mudança de foco sobre a exploração do pro-
duto. Os ganhos financeiros deixam de se concentrar na venda e, dentro desta
visão, participam mais amplamente da vida útil do produto, abrangendo a pro-
dução, uso e a fase do descarte. Esta transição traz consigo novas percepções
sobre mercados inexplorados e, consequentemente, oportunidades de solu-
ções originais.
Definindo produto como “o que uma iniciativa oferece a seus clientes”,
Pine e Gilmore (1999) classificaram os estágios da evolução do produto confor-
me sua natureza:

Commodity ou com-
“Se você cobra por uma coisa sem diferencial, então você está no ramo
modities (plural): é um
termo de língua inglesa de commodity”.
que significa mercado- “Se você cobra por uma coisa distinta e tangível, então você está no ramo
ria sem diferencial ou
de bens de consumo”.
sem valor agregado. É
referência aos produtos “Se você cobra por atividades que você executa, então você está no ramo
de base em estado bru- de serviço”.
to (matérias-primas) ou
com pequeno grau de “Se você cobra por um sentimento que o cliente tem por ter sido cativado
industrialização, de qua- por você, então você está no ramo de experiência”.
lidade quase uniforme,
“Se você cobra por um benefício que o cliente (ou convidado) recebe
produzidos em grandes
quantidades e por dife- como resultado do tempo despendido, então você está no ramo de trans-
rentes produtores. formação”. (tradução do autor).

Percebe-se então que o modelo industrial tradicional - exclusivamente


de venda e compra de materiais e manufaturados - abrange apenas os dois pri-
meiros itens dessa lista, restringindo, assim, possibilidades de ganhos dentro
uma sociedade com novas necessidades, representativas do pós-industrialis-
mo. Curiosamente, nesta citação, à medida que se eleva o grau de intangibili-
dade do que é oferecido ao cliente, os autores descartam o vocábulo “coisa”,
utilizado para se referir ao “produto”, deixando de nomear a oferta com uma
palavra que em, nossa sociedade, tem valor depreciativo. Essa adequação de

129
Aula 5

termo se apresenta coerente com o valor cada vez maior dado por nossa socie-
dade aos aspectos imateriais do que é ofertado.
Quando falamos de sustentabilidade ambiental relacionada ao desen-
volvimento de produtos, nós nos referimos aos critérios, métodos e investi-
mentos do projeto de produtos no planejamento de todo seu Ciclo de Vida.
Como a sustentabilidade, de forma geral, é dada pela junção do atendi-
mento a três áreas - socioambiental e tecnológica -, podemos considerar que o
projeto sustentável deve vislumbrar os seguintes objetivos:

• ambiental: reduzir os impactos das entradas de materiais e energia no


sistema, assim como evitar as emissões, dejetos, toxinas em todas as
fases do ciclo de vida;
• social: ser relevante à comunidade, não ser mais um genérico que
seguirá o fluxo de obsolescência prematura;
• tecnológico: tornar o ciclo o mais eficiente possível.

Sendo assim, ao escolher uma estratégia sustentável para os produtos,


uma empresa, além de compreender a natureza do produto, do seu uso e de
seus impactos, deve levar em consideração a estratégia de colocação deste no
mercado, uma vez que uma solução pode ter níveis de sustentabilidade maio-
res ou menores de acordo com o contexto em que esta for colocada.
Para tanto, designers com foco em soluções sustentáveis devem estabe-
lecer procedimentos que contemplem a:

1. descrição do sistema-produto em estudo (fases do ciclo de vida e seus


impactos; características do produto, contextos em que este será inse-
rido, reais demandas do mercado);
2. prospecção dos efeitos ambientais que uma modificação no design
pode acarretar (como alterações em produtos podem impactar cultu-
ralmente e ambientalmente);
3. avaliação das melhoras ambientais geradas pela modificação planejada;
4. comunicação dos resultados positivos da modificação, com a informa-
ção voltada ao consumidor.

Portanto, é imprescindível, para o desenvolvimento e a implantação de so-


luções sustentáveis, um canal de interlocução entre empresa e usuário. Este meio
cria conscientização da empresa sobre o usuário e do usuário sobre a solução, per-
mitindo que o consumidor reconheça as vantagens de se obter um produto cons-
ciente, dando-lhe a oportunidade de optar por ser mais ambientalmente correto.
À medida que esta comunicação entre empresa e usuário é estreitada,
novos planejamentos estratégicos são inseridos ainda em fases incipientes do

130
Design Sustentável e Moda

desenvolvimento de novas soluções o que, segundo Manzini e Vezolli (2002),


permite obter resultados com maior grau de sustentabilidade.

Fonte: Manzini e Vezzoli, 2002.


Integração dos requisitos ambientais nas fases de desenvolvimento de produtos e serviços.

Manzini, Collina e Evans (2004) ainda defendem que a troca da postura


empresarial em enxergar o cliente como consumidor e passar a chamá-lo de
pessoa, permitirá ao negócio ganhar nova dimensão sobre a realidade da com-
plexidade humana e, portanto, entender como as relações acontecem den-
tro de um contexto. Assim, gera-se uma descentralização de foco do pequeno
universo que é o contato do cliente com a empresa para uma percepção mais
ampla das diversas relações que esta pessoa mantém durante sua vida.
O objetivo de toda essa estratégia de valorização do cliente e do con-
texto em que este está inserido é o desenvolvimento de uma inteligência
cultural ou um banco de dados fiel sobre as expectativas e necessidades de
clientes, que possam contribuir para o crescimento de oportunidades de no-
vos negócios.
Para Manzini e Vezzoli (2002), Ecodesign ou Design sustentável significa
projetar produtos que propiciem o bem-estar social com o mínimo desperdício
e prejuízo para a natureza e, mais no futuro, a concepção de produtos que pro-
duzam impactos positivos na sociedade e no meio ambiente.

131
Aula 5

Atividade 1 – Objetivo 1

Identifique nos trechos a seguir os princípios que regem a sustentabilidade:

( ) “A companhia InterfaceFLOR, quer zerar o seu impacto no meio am-


biente até 2020. Para isto, desenvolveu sete frentes de atuação que podem ser
mensuradas. São elas: eliminação de desperdícios, eliminação de emissões de
substâncias tóxicas, energia renovável, reciclagem total, transporte eficiente
com foco no uso de recursos, sensibilização dos acionistas e criação de um
modelo de negócios que demonstra o valor do comércio sustentável.”

( ) A InterfaceFLOR encarou a sustentabilidade como uma oportunidade


de negócios. Além de economizar com água, energia e eliminação de emis-
sões, a organização ganha dinheiro com a reciclagem e a criação de matéria-
prima e novas linhas de produtos.

( ) Um Departamento de Diversidade foi criado para favorecer a inclu-


são de minorias (mulheres, negros, deficientes, veteranos etc) nos negócios.
Todos os funcionários também recebem treinamento que foca no autoconheci-
mento e na utilização dos talentos de cada um.

(a) Tecnológico
(b) Social
(c) Ambiental

Resposta

a; c; b

Fonte: Referência de caso


<http://sustentabilidade.bancoreal.com.br/bancodepraticas/SlideSho-
wIntegra.aspx?ID=31&position=2>

2.1. Os níveis de interferência do ecodesign

A insustentabilidade ambiental e social mundial conduz a sociedade a


questionar seus padrões de bem-estar, a buscar informações sobre a veracida-
de dos fatos e a vislumbrar cenários, teorias e tecnologias mais contundentes

132
Design Sustentável e Moda

com a nova realidade apresentada. Todo este empenho tem o intuito de emba-
sar os caminhos a serem percorridos nas próximas décadas, minimizando, as-
sim, os riscos das decisões tomadas no presente. O designer também deve con-
tribuir, dentro de seus níveis de interferência, para a recuperação do ambiente.

“Dentro deste quadro geral de referência, o papel do design industrial


pode ser sintetizado como a atividade que, ligando tecnicamente possível
com o ecologicamente necessário, faz nascer novas propostas que sejam
social e culturalmente apreciáveis.” (MANZINI; VEZZOLI, 2002)

Segundo os autores, há quatro estágios de interferência onde o designer


pode promover resultados mais sustentáveis. Estas alternativas são aborda-
gens da linha do design sustentável em intensidades distintas, que vão desde
a melhoria da eficiência do sistema produtivo e do produto em si até a concep-
ção de panoramas que sugerem uma nova visão de sociedade.

Tabela de níveis de Interferência do Ecodesign (baseado em MANZINI; VEZZOLI, 2002)

Interferência Definição Característica Público

Sensibilização do públi-
Melhorar a eficiência ma- Prevalece o técnico;
1. O redesign ambiental co, na hora da escolha,
terial e energética, além não requer mudança no
do existente quanto ao diferencial
da reciclagem e reuso público.
ambiental.

Inovação técnico-produ-
2. Projeto de novos produ- Soluções originais que tiva. Sensível a inovações
tos e serviços que substi- oferecem serviços ecofa- Novas propostas reco- tecnológicas ou já eco-
tuam os atuais voráveis nhecidas e socialmente orientado.
aceitas.

Sujeito à verificação. O
Inovação no mix de pro-
3. Projeto de produtos e Escolha projetual, em sucesso compensa o risco
dutos e serviços social-
serviços intrinsecamente âmbito estratégico, de com a possibilidade de
mente apreciáveis que
sustentáveis promoção de conceitos. abertura de novos mer-
superem a inércia social
cados.

Promover novos crité-


4. Proposta de cenários rios de qualidade que Desvinculados da ativida- Relacionamento com
que correspondam a um sejam, ao mesmo tempo, de produtiva, estimulam formadores de opinião
novo estilo de vida susten- sustentáveis, socialmente a consciência da socieda- e empresas orientadas à
tável. aceitáveis e culturalmente de de forma cultural. causa.
atraentes.

133
Aula 5

O primeiro nível de intervenção, o Redesign Ambiental do Existente, con-


templa melhorias na eficiência do produto na fase de projeto, com uma visão
de todo o ciclo de vida do produto. Isto faz com que o impacto ambiental do
artefato seja reduzido de uma forma global, desde a fase do consumo de maté-
rias-primas e energia, até o descarte controlado ou o reaproveitamento do pro-
duto por reciclagem ou reutilização. Por tratar-se de uma solução majoritaria-
mente técnica, esta se dará internamente na empresa, dispensando mudanças
mais profundas no sistema de intercâmbio empresa-cliente hoje existente e,
muitas vezes, será imperceptível ao público. Por isto, o cliente deve ser comu-
nicado sobre o diferencial embutido nesta alternativa no momento da compra.
Essa tem sido a prática mais frequentemente incorporada por empre-
sas que trabalham com sistemas de venda de produtos, porém não de forma
plena, uma vez que a implementação destas práticas tem sido efetiva durante
a fase interna à empresa, contudo sem apresentar o mesmo desempenho na
fase do descarte. A responsabilidade pelo controle do fim do ciclo de vida do
produto é praticada pela empresa, quando esta é cobrada através de raríssimas
leis de retorno garantido. A “prática do berço ao túmulo” se dá em alguns seto-
res pressionados por leis que concernem o meio ambiente, como por exemplo,
produtores de materiais radioativos e tóxicos, como pilhas e baterias, além de
pneumáticos de carro e bicicletas, Resoluções Conama 013/89, 257/99 e 258/99,
respectivamente (BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. CONAMA).
Algumas exceções são observadas em poucas empresas de segmentos
como as de computadores e celulares, que começam a apresentar sistemas de
coleta para o descarte de aparelhos no final de sua vida útil, demonstrando
uma pró-atividade na adoção de princípios de responsabilidade ambiental a
sua estratégia.
Economia de serviço:
“Um sistema econômico
“Obviamente, poucas empresas adotaram ou vão adotar essa abordagem
onde o foco e a lucrati-
a não ser obrigadas por regulamentação, seus acionistas, pela sensibili- vidade estão vinculados
dade do mercado, por imperativos de comunicação ou por todos estes aos serviços que os bens
proveem e não dos bens
elementos ao mesmo tempo. Todavia, a empresa poderia estar na origem em si.” (GIARINI; STAHEL
de uma profunda mutação: a passagem de uma sociedade de consumo, apud OLIVEIRA, 2000).
Esta abordagem traz
baseada no produto para uma sociedade de utilização cuja principal mo-
uma mudança de foco
dalidade seria o serviço e que teria por finalidade uma economia leve”. do mercado atual: os ga-
(KAZAZIAN, 2005) nhos financeiros deixam
de se concentrar na ven-
da do produto e passam
O segundo e terceiro níveis são contemplados pelo sistema de Econo- para venda de suprimen-
tos ou suporte técnico.
mia de Serviços. O Projeto de Novos Produtos ou Serviços tem por princípio Normalmente, este siste-
sanar uma deficiência de produtos com uma boa prestação de serviços com- ma é reconhecido como
aluguel, leasing ou con-
plementares justificando, assim, uma prática ambientalmente menos impac- trato por produtividade.

134
Design Sustentável e Moda

tante, retardando uma possível obsolescência funcional através dos incre-


mentos da função do produto por meio de serviços, validando a extensão da
vida do produto.
Já na vertente dos Projetos de Novos Produtos-Serviços Intrinsecamente
Sustentáveis, não se trata de um processo aditivo, mas sim uma solução alter-
nativa concebida de forma simultânea para que o mix produto-serviço obtenha
um grau de inovação muito sedutor a ponto de “superar a inércia cultural e
comportamental dos consumidores” (MANZINI; VEZZOLI, 2002). Por seu caráter
inédito, este empreendimento tem intrinsecamente um grau de risco acima da
média, porém, ao obter êxito contra a barreira da verificação de mercado, este
possibilitará a criação de uma nova vertente mercadológica “diferente de tudo
que já existia”.
Nesses dois níveis de intervenção, o designer deverá atuar de forma bas-
tante estratégica, pois além de contribuir para a transmissão de uma visão
holística sobre o “problema” detectado, poderá detalhar tecnicamente as en-
tradas e saídas deste sistema. Trata-se de uma fronteira de gestão do sistema
que lança o design como um componente estratégico na criação de soluções
para a sustentabilidade. Ao obter êxito, a empresa estará contribuindo de for-
ma inovadora para a criação de alternativas a serem seguidas, descontinuando
o sistema vigente.
Na prática, ambas alternativas ganham força pela existência de um pú-
blico mais exigente que demanda, além do desempenho do produto, um su-
porte efetivo da empresa. Contudo, por propor uma mudança de hábitos de
consumo, estas iniciativas têm ainda dificuldades de serem absorvidas pelo
público em geral, que analisado sob um quadro cultural e comportamental,
ainda sustenta uma expectativa e valores pautados em posse, diferentes dos
valores baseados no usufruto sugerido pela Economia de Serviço.
A quarta interferência proposta ao design é a de Novos Cenários que
Correspondam a Estilos de Vida Sustentáveis. Esta atividade é a única apre-
sentada como uma vertente externa a um sistema mercadológico, mas que
encontra respaldo do setor produtivo como agente fomentador de discussões
e firmação dos níveis de qualidade a serem aceitos nas áreas socioambientais,
assim como da fixação de critérios culturais para a promoção de caminhos
sustentáveis. No entanto, dentro do panorama de dinâmicas socioculturais
complexas, Manzini e Vezolli (2002) consideram o papel do designer na busca,
interpretação, proposição e estímulo por ideias socialmente produtivas “im-
portantes, porém limitadas”. O autor Thierry Kazazian, em uma reflexão si-
métrica à máxima “pensar globalmente e agir localmente”, complementa o
pensamento da dupla:

135
Aula 5

“(...) em uma escala microeconômica, a única que nos permite intervir de


forma eficiente. É nessa altura que o designer se distingue, porque seu
papel pode ser transversal, integrador e dinâmico entre a ecologia e con-
cepção de produtos, inovações econômicas e tecnológicas, necessidades
e novos hábitos”. (KAZAZIAN, 2005)

Porém, mesmo com este amplo campo em soluções ambientalmente mais


aceitáveis que o designer pode atuar, este potencial ainda é pouco explorado.
A clarividência de que a sociedade deve assumir uma atitude pró-ativa
para migrar de uma cultura de bem-estar de posses para uma alternativa am-
biental e socialmente compatíveis, com uns ao projeto sustentável, como a do
modelo baseado no usufruto do produto, pode ser auxiliada pela interferência
do designer através de suas ferramentas de comunicação e síntese.

“Os instrumentos informativos (por exemplo, campanhas de conscienti-


zação) podem afetar positivamente a qualidade ambiental, promovendo
escolhas embasadas e possivelmente contribuindo para a mudança de
comportamento, contudo seu impacto nas emissões ainda não foi medi-
do” (BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia. IPCC, 2007).

Atividade 2 – Objetivo 2

Com base nas explicações dos níveis de interferência do design para


atingir a sustentabilidade, imagine exemplos de produtos ou serviços que se-
riam oferecidos por cada nível:

A) Redesign;
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________

B) Novos produtos e serviços que substituam os atuais;


__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________

136
Design Sustentável e Moda

C) Produtos e serviços intrinsecamente sustentáveis;


__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________

D) Proposta de cenários que correspondam a um novo estilo de vida.


__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________

Resposta

A) O desenho de um produto que permita a economia de material, ener-


gia ou permita uma recuperação do material por via de reciclagem poderia ser
enquadrado como Redesign;

B) Transformações onde produtos são complementados por novos servi-


ços ou produtos, tornando-os menos impactantes, como é o caso kits de GNV
que substituem o uso da gasolina por gás natural é exemplo de novos produ-
tos e serviços que substituam os atuais;

C) Um produto ou serviço que é planejado, assumindo a responsabili-


dade pela minimização de impactos durante toda o ciclo de vida do produto
é típico exemplo de produtos e serviços intrinsecamente sustentáveis, como
a venda ou aluguel de cadeiras, onde a manutenção e a compra de volta do
produto é garantida, após período pré-determinado para que a empresa possa
reutilizá-las ou dar o devido descarte;

D) O planejamento do envolvimento de todo um grupo ou comunidade


em atividades que permitam um comércio justo com baixo impacto ambiental
é uma proposta de cenários que correspondam a um novo estilo de vida, como
poderia ser considerada uma rede em que consumidores comprem diretamen-
te de produtores de gêneros alimentícios orgânicos locais que respeitam as
safras de frutas.

137
Aula 5

3. Design e pós-industrialismo.

Apesar de o design ter seus limites, esta profissão não mais se restringe
apenas à produção ou à materialização de conceitos em produtos, mas englo-
ba o projeto de todo o sistema relacionado ao produto, assim como os serviços
que fazem parte.
Proveniente do período denominado industrialismo, a atuação do de-
signer ainda é alvo de diversas críticas quanto à sua prática, principalmente
quanto à alienação da profissão em relação aos contextos para os quais se
projetava. Os autores, a seguir, comentam o quanto é fundamental para este
ofício entender a necessidade do cliente e das novas práticas que podem ser
relacionadas ao cenário pós-industrial.
Pugh (1996) comenta que para desvendar o “Design Core” (a essência
do Design), deve-se começar pelo exame da necessidade do mercado e dos
usuários. Porém, o mesmo atesta que esta função não é conduzida bem pelo
design, assim como não é esperado por empresas ou indústrias que o desig-
ner participe da pesquisa de mercado ou da investigação da necessidade do
usuário, sendo a este relegada apenas a fase produtiva do serviço de gerar
soluções. O autor conclui em seus estudos que esta prática deve ser realizada
por um time multidisciplinar e, dentro deste grupo, o designer teria muito a
contribuir através dos conhecimentos envolvidos em sua atividade.
Cooper (1988 apud Pugh, 1996) argumenta que os pesquisadores de
mercado não são instruídos a analisar situações que providenciem um PDS
(Product Design Specifications - Especificações para o Planejamento de Produ-
tos) compreensível, fazendo com que a informação coletada nestes estudos
seja inadequada ao controle da atividade fundamental do design.
Manzini, Collina e Evans (2004) afirmam que, para que o designer possa
contribuir mais para um time de desenvolvimento de produtos, é necessária
uma “co-pesquisa” específica de “contexto de uso” que saia das habituais per-
guntas: “o que” e “como”, para definir “o porquê” as pessoas usam os produtos.
Em contraposição a esta prática, o pós-modernismo apresenta como ca-
racterística mais importante para o critico literário Leslie Fielder (apud WELSH,
1993), “o fechamento do ‘abismo’ entre o artista e o público”. Esta ponte que pre-
tende sobrepor a conduta modernista de imposição de uma padronização glo-
bal de interesses e valores também pode retirar o designer do confinamento de
pranchetas e computadores para uma relação mais próxima dos contextos reais,
onde problemas reais demandam criatividade e técnica para serem resolvidos.
Esse novo momento - o pós-industrial ou o pós-moderno -, período pelo
qual estamos passando, apresenta características que incitam uma reavaliação

138
Design Sustentável e Moda

da condição do designer como profissional que possui a rotina de meramente


desenhar tendências formais para novos produtos. Pertinente com o cresci-
mento da consciência de que o estilo de vida adotado pela sociedade contribui
para o aquecimento global, este profissional deve se voltar ao pensamento ho-
lístico sobre os valores que justificam o lançamento de um novo produto, uma
vez que seu trabalho coopera para saturar um mercado de soluções similares.
Entre os caminhos apontados para soluções sustentáveis, duas vertentes
parecem estar sobressaindo:

• a de alta tecnologia e
• a de redes sociais.

Tabela de conceitos tecnológicos do Pós-industrialismo (baseado em CROSS, 2001)

High-tech Eco-tech

Baseado em tecnologia hyper-indus- Baseado em sistemas de pequenas esca-


trial, na revolução da informação, las, conservação de recursos e tecnologias
automação e tecnologias de ponta. “sociáveis”.

Opção virtualmente autônoma, e Tecnologia é influenciada e comandada


voltada para a tecnologia. pelas pessoas e comunidades.

Nigel Cross, em 2001, descreve e questiona que transformações serão


necessárias ao design e ao seu ensino para que este acompanhe as mudanças
da sociedade e da tecnologia na transição para o pós-industrialismo, usual-
mente definido pelas interpretações acima.
Percebemos por ambas as vertentes que o caminho para se obter resul-
tados passa, necessariamente, pelo desenvolvimento de tecnologia, seja ela
um substrato da eficiência de pesquisas científicas ou um derivado proveniente
da iniciativa e da experiência popular.
Manzini e Vezzoli (2002) citam conceitos que conversam com estas aná-
lises e as relacionam para indicar caminhos direcionados às soluções susten-
táveis.

• O Tecnociclo - pretende que soluções de sucesso sejam alcançadas


com a total dissociação da natureza, onde tudo se dá de forma contro-
lada em um ciclo hermético, consumo exclusivo de recursos artificiais
e resíduos controlados dentro desta “esfera”.
• Os Biociclos - onde todos os recursos retirados da natureza serão re-
postos de forma a não degradarem o ambiente natural.

139
Aula 5

Os autores consideram que as duas vertentes máximas dos conceitos


acima citados - a suficiência total cultural e a eficiência total tecnológica - são
utópicas, dados os esforços extraordinários necessários para atingir soluções
consideradas sustentáveis através de uma só linha de atuação.
Conceitos complementares como o Tecnociclo e o Biociclo devem ser
trabalhados em uma correlação equilibrada para poder atingir a eficácia espe-
rada. Em vista disto, soluções propostas devem apresentar, preferencialmente,
uma combinação entre a eficiência das tecnologias de ponta voltadas para so-
lução de problemas reais apontados pela sociedade, indicando a necessidade
de uma interação contínua entre empresa e o contexto de aplicação da solução
para que o trabalho do designer caminhe para uma sustentabilidade factível.
A conjugação equilibrada de aspectos tecnológicos e culturais tende a
gerar soluções sustentáveis. Observe, nas tabelas a seguir, como os novos pa-
drões pós-industriais de produtos e de processos voltados ao trabalho do de-
signer se assimilam com as diretrizes do design para sustentabilidade:

Tabela de conceitos de produtos e processos do Pós-industrialismo (baseado em CROSS, 2001)

Produto em dois momentos:

Industrial Pós-Industrial

Produção de massa e estandardização Produção flexível e customizada

Descartáveis e com grande Vida estendida, reciclável e com


consumo de recursos economia de recursos

Frágeis Robustos

Estúpido e “Alien” (fora do contexto) Inteligente e Amigável

Processos em dois momentos:

Industrial Pós-Industrial

Designer individual (individualizado e Trabalho em equipe


autocrático) (colaborativo e democrático)

Externalizado e com
Internalizado e exclusivo a poucos
participação múltipla

Procura por novidades e soluções Métodos que lideram uma evolução


revolucionárias mais consistente

Possui estrutura mais aberta e basea-


É criticado por sua natureza fechada e
da em procedimentos simultâneos e
sequencial
integrados.

140
Design Sustentável e Moda

As informações apresentadas sobre este novo estilo de época reforçam


o emprego de estratégias de aumento de durabilidade dos produtos, da reutili-
zação de materiais e da utilização de recursos ambientais de forma consciente,
todos amplamente debatidos por vertentes do design ambiental.

Atividade 3 – Objetivo 3

Identifique, nos trechos a seguir, quem é o designer:

(a) O Profissional 1 analisa o potencial de um produto no mercado, ca-


racteriza as diretrizes do produto conforme o perfil a ser atendido e
coordena famílias de produtos e marcas, além dos canais de contato
com o cliente.
(b) O profissional 2 atua dentro do processo de inovação da empresa nas
etapas de gerações de ideias, solucionador de questões de usabilida-
de, seleção das alternativas de maior potencial e na materialização do
conceito.
(c) O Profissional 3 faz diagnósticos sobre as fraquezas do produto, coor-
dena áreas de qualidade e também de manutenção pós-venda.

Resposta

O designer é o profissional 2, aquele que tem uma formação mais gene-


ralista. O profissional 1 é da área de marketing e lida com análises estatísticas;
já o profissional 3 é um especialista em diagnósticos mecânicos e pode ser um
engenheiro.

Fonte: Referência de caso


SILVA, Marcos Henrique Garamvölgyi e. Design para a sustentabilidade
e a economia de serviço: o caso de purificação de água por assinatura. Rio de
Janeiro: PUC, Departamento de Artes e Design, 2009. 130 p. Orientador: Alfre-
do Jefferson de Oliveira.

Conclusão

Embora o design em si (design do conceito e de um produto) seja consi-


derado como um serviço prestado (imaterial), o resultado esperado e o contra-

141
Aula 5

tado ao profissional sempre é o desenvolvimento de um produto (materializa-


ção em um produto).
Porém, sob o prisma da sustentabilidade, as soluções apresentadas de-
vem tender cada vez menos a resultados materiais, ou seja, o produto resultan-
te da ação do designer deve ser encarado mais como uma práxis de converter
requisitos intangíveis do sistema em valores tangíveis à percepção de um pú-
blico ou contexto, do que algo necessariamente físico.
Por isso, no caminho para a sustentabilidade ambiental, existe a neces-
sidade de potencializar um novo conjunto de valores também para o design.
Como a crise do meio ambiente é fundamentada no valor material de nossa cul-
tura, desenvolvedores de produto têm um papel primordial nesta empreitada.
O designer pós-industrial afasta-se de sua reclusão industrial para bus-
car, no contexto onde o produto será inserido, as reais necessidades do usuá-
rio. Dentro deste ambiente, ele entra em contato com uma realidade diferente
da que costumava imaginar e passa a projetar de forma mais coerente, trazen-
do produtos mais “inteligentes” do ponto de vista sustentável.
Esse novo designer, na procura por novas soluções de projetos em seu
processo criador, participa de equipes multidisciplinares que consideram alter-
nativas imateriais às tradicionais, com foco no produto.
Algumas opções de inserção do design já contemplam soluções mais
ecoeficientes, como é o caso da substituição da posse do produto pelo usu-
fruto deste, através de sistema de serviços. Esta escolha demanda uma nova
postura do designer, que deve buscar uma visão holística do “problema” para
que o resultado seja uma estratégia enxuta quanto ao seu contexto, uma vez
que disto depende da descontinuidade do atual problema ambiental.

Para uma segunda olhada

As soluções sustentáveis demandam êxito nas três áreas (tripé da sus-


tentabilidade):

• ambiental: reduzindo os impactos durante todas as fases do ciclo de


vida;
• social: ser relevante à comunidade, não ser mais um produto;
• tecnológico: tornar o ciclo o mais eficiente possível.

Os designers com foco em soluções sustentáveis devem estabelecer pro-


cedimentos como:
• a descrição do sistema-produto;

142
Design Sustentável e Moda

• prospecção e avaliação dos efeitos ambientais da modificação no design


• comunicação dos resultados positivos da modificação ao consumidor

Para promover resultados mais sustentáveis, o designer pode e deve in-


terferir em quatro estágios:

1. o redesign ambiental do existente;


2. projeto de novos produtos e serviços que substituam os atuais;
3. projeto de produtos e serviços intrinsecamente sustentáveis;
4. proposta de cenários que correspondam a um novo estilo de vida
sustentável.

Estes estágios de intervenção que induzem a soluções ambiental e so-


cialmente compatíveis com um projeto sustentável levam a sociedade do bem-
estar baseado na posse de objetos para um modelo baseado no usufruto do
produto e serviços.
Alternativas ecoeficientes aproximam-se mais da sustentabilidade quan-
do ocorre o equilíbrio entre soluções técnicas e culturalmente contextualiza-
das, pois além de ser minimamente impactante, o produto deve ser bem assi-
milado pelo público onde será disponibilizado.
Entre os caminhos apontados para soluções sustentáveis, duas vertentes
parecem estar sobressaindo:

• a que envolve alta tecnologia e


• aquela com participação de redes sociais.

Especialistas concordam que duas são as vertentes que dividem as so-


luções ambientalmente menos impactantes (Biociclos e Tecnociclos), contudo
estas devem ser trabalhadas em uma correlação equilibrada para poder atingir
a eficácia esperada:

• O Tecnociclo - soluções em total dissociação da natureza, onde todos


os recursos são artificiais e resíduos controlados dentro desta “esfera”.
• Os Biociclos - onde todos os recursos retirados da natureza serão re-
postos de forma a não degradarem o ambiente natural.

A era pós-industrial reflete em uma maior proximidade da empresa com


o mercado e amplia o campo do designer, participando-o de um processo es-
tratégico de planejamento multidisciplinar. Dentro deste grupo, o designer atua
através de suas ferramentas de comunicação e síntese para traduzir contextos
reais, onde problemas demandam criatividade e técnica para serem resolvidos.
Essa maior comunicação entre empresa e usuário permite que novos
planejamentos estratégicos sejam inseridos em fases iniciais do desenvolvi-
mento de soluções, o que induz a um maior grau de sustentabilidade.
143
Aula 5

Enfim, Ecodesign ou Design sustentável significa projetar produtos que


propiciem o bem-estar social com o mínimo desperdício e prejuízo para a nature-
za, e no futuro, produzam impactos positivos na sociedade e no meio ambiente
A seguir, algumas características dos produtos e processos do design
pós-moderno:

Produtos Pós-Industriais Processos Pós-Industriais

Trabalho em equipe
Produção flexível e customizada
(colaborativo e democrático)

Vida estendida, reciclável e com Externalizado e com participação


economia de recursos múltipla

Métodos que lideram uma evolução


Robustos
mais consistente

Possui estrutura mais aberta e


Inteligente e Amigável baseada em procedimentos
simultâneos e integrados.

Referências

BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia. IPCC – Intergovernmental Panel on Climate


Change. Quarto relatório de avaliação: mudança do Clima 2007. Sumário para os
Formadores de Políticas do Grupo I, II e III. 2007. Disponível em: <http://www.mct.gov.
br/index.php/content/view /50401.html.>. Acesso em: 5 jun. 2008.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. CONAMA. Gestão de resíduos e produtos
perigosos – Tratamento – Resolução CONAMA nº 257 de 1999. Publicação DOU nº
139, de 22/07/1999, p. 28-29. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/ port/conama/
legiano.cfm?codlegitipo=3>. Acesso em: 2 maio 2008.
CROSS, Nigel. Post-industrial design education. Keynote speech. Education Forum. IN-
TERNATIONAL COUNCIL OF SOCIETIES OF INDUSTRIAL DESIGN (ICSID), Seoul, Korea, 2001.
KAZAZIAN, Thierry. Haverá a idade das coisas leves. São Paulo: Senac, 2005.
MANZINI, Ezio; VEZZOLI, Carlo. O desenvolvimento de produtos sustentáveis. São
Paulo: Editora USP, 2002.
MANZINI, E.; COLLINA, L.; EVANS, S. Solution oriented partnership: how to design
industrialized sustainable solutions. Cranfield University, 2004.

144
Design Sustentável e Moda

OLIVEIRA, Alfredo Jefferson de. Ecodesign e remanufatura: algumas contribuições


para o projeto de produtos eco-eficientes. Rio de Janeiro, 2000. 253 p. Tese. (Doutora-
do em Engenharia de Produção ) - COPPE/UFRJ, 2000.
PINE, J.; GILMORE, J. The experience economy. Boston: Harvard Business School
Press, 1999.
PUGH, S. Creating innovative product using total design. Workingham, Publishing
Company, 1996.
WELSCH, Wolfgang. Perspectivas para o design do futuro. Äesthetisches Denken.
Stuttgart: Reclam, 1993.

Sites consultados
FLICKR. Disponível em: <www.flickr.com>. Acesso em: 3 ago. 2010.
STOCK Xchange. Disponível em: <www.sxc.hu>. Acesso em: 3 ago. 2010.

145
Aula

Ferramenta de estratégias do ecodesign


6
Seus Objetivos:
Ao final desta aula, esperamos que você seja capaz de:
1. reconhecer como um produto pode ser percebido sob
o ponto de vista das estratégias da sustentabilidade;
2. comparar impactos de produtos distintos, usando a roda de
estratégia de ecodesign.

3 horas de aula
Design Sustentável e Moda

1. Estratégias

Nas aulas anteriores você:

• aprendeu sobre os tipos de impactos no ambiente,


• investigou e identificou as etapas do ciclo de vida de um produto,
• tomou ciência de que o designer pode atuar em diferentes níveis de
interferência na tentativa de atingir soluções sustentáveis.

De posse dessas informações, você já pode tomar decisões com relação


às ações que tornem um produto ou sistema-produto mais sustentável.
Identificar os problemas é a primeira etapa que permitirá encontrar os
meios de tornar os produtos mais sustentáveis. A segunda etapa passa a ser
interferir no ciclo do sistema de forma positiva, a fim de minimizar ou até mes-
mo anular os efeitos negativos presentes no ciclo de vida de um produto sobre
o meio ambiente.
Nesta aula, você vai conhecer uma ferramenta chamada roda de estra-
tégia do ecodesign. Esta ferramenta qualitativa auxilia na tomada de decisões
por demonstrar graficamente sob que aspectos diferentes soluções apresen-
tam maiores ou menores fatores de sustentabilidade.

2. Roda de estratégia do Ecodesign

Roda de estratégia do Ecodesign


Vamos aqui sugerir uma metodo-
logia de classificação para as diferentes
Estratégia

@ estratégias que podem ser utilizadas no


Otimização do fim de vida Seleção de materiais
do sistema de baixo impacto Ecodesign. Esta classificação conhecida
7 1
como a roda de estratégias do Ecodesign,
+ ilustrada na figura a seguir, é um modelo
Otimização no
6
- 2 Redução no conceitual que nos mostra os principais
início da vida útil uso de materiais
campos de interesse do ecodesign e está
dividido em oito áreas que se relacionam

5 3 aos oito eixos desta roda.


Redução do impacto Otimização da produção
durante o uso 4 e da tecnologia

Distribuição

Solução sem Ecodesign


Uma roda de estratégia do ecodesign, apresentando me-
Solução com Ecodesign
lhorias de ecodesign em cada uma de suas categorias.

149
Aula 6

As áreas de interesse do Ecodesign estão representadas dentro da roda


de estratégia de tal forma que facilite sua visualização dentro de todo o ciclo
de vida de um sistema produto. As estratégias são formuladas como interven-
ções no ciclo com o objetivo de torná-lo o mais positivo possível ao meio am-
biente. Seguindo o movimento horário, podemos ver uma numeração de 1 até
7 que inicia com a seleção de materiais, processos, produção e uso até o fim do
ciclo de vida do sistema produto no descarte.
As estratégias de 1 a 7 são opções de implementos em que em cada item
é passível de ações que podem conduzir a resultados positivos para o meio am-
biente. Quanto mais intensas e radicais forem as ações, mais próximo da borda
do círculo de estratégias estarão e, consequentemente, mais sustentável será
o sistema-produto. Devemos lembrar que a intenção aqui é provocar, através
do Ecodesign, mudanças estruturais e substanciais na redução dos impactos no
meio ambiente. Estas ideias inovadoras e radicais são um objetivo a ser atingi-
do, representadas pelo simbolo no alto da roda de estratégias com o nome de
“Novos conceitos de desenvolvimento”.
A essa estratégia foi dado o simbolo @, pois difere da natureza das outras
estratégias. Este símbolo foi escolhido por remeter à internet, que representa
um sistema extremamente inovador e funcional que é muito sustentável. Esta
estratégia foge ao atual conceito de produto, servindo para mostrar a discussão
sobre as reais necessidades dos consumidores e se elas são realmente atendi-
das. Isto permite a criação de novos caminhos para o desenvolvimento de novos
conceitos de produtos que são altamente funcionais e ecologicamente corretos.
Se observarmos a roda de estratégia no sentido horário, veremos dife-
rentes progressões: as que se referem às partes componentes do produto (1 e
2), aquelas que se referem à estrutura do produto (3, 4 e 5) e as estratégias que
se referem à otimização do sistema-produto (6 e 7).
Vejam que, nesse sentido, há uma progressão do mais simples ao mais
complexo. Notem que é mais difícil se alcançar uma alternativa de conceito que
uma redução de materiais. Naturalmente, esta progressão na complexidade de-
pende do grupo em que está inserido o produto. Decisões que consideram o
nível dos componentes do produto são mais fáceis de serem mudadas, pois, em Engenharia reversa:
Também chamado de re-
geral, são menos radicais e requerem um número de decisões menores, sem
engenharia, é o proces-
tantas incertezas como o nível do sistema produto ou estrutura do produto. so de análise a partir de
uma solução, trilhando o
Consequentemente, a estratégia @ demanda mais mudanças do siste-
caminho inverso até sua
ma do produto do que a estratégia 1, contudo o sentido do desenvolvimento produção, geralmente
com a intenção de cons-
de soluções deve seguir o sentido anti-horário em semelhança ao conceito da truir um novo aparelho
engenharia reversa. Assim, decisões da esfera das estratégias @, 7 e 6 devem ou sistema que faça a
mesma coisa, sem copiar
ser feitas antes no processo inicial, uma vez que, estas estratégias se relacio- algo do original.

150
Design Sustentável e Moda

nam às mudanças no sistema do produto e podem mudar todo o conceito do


produto. Decisões nas estratégias 5, 4 e 3 têm de ser tomadas antes da criação
da lista de requisitos, uma vez que envolvem mudanças no nível da estrutura.
Estratégias 2 e 1 são, em geral, o ponto de partida do Ecodesign e são im-
portantes a partir do momento que dimensões e materiais são determinados
implicando em mudanças
Entretanto, esta sequência depende muito mais do produto e de como
as estratégias são vistas. Por exemplo: a tabela a seguir nos mostra que uma
redução no consumo de energia pelo produto (estratégia 5), numa máquina
copiadora, tem de ser vista numa fase anterior de desenvolvimento, pois pode
mudar toda a máquina. Assim como, uma solução mais concreta como aumen-
tar a reciclabilidade do produto (estratégia 7) tem de aguardar pela mudança
no projeto, por ser dependente deste para a sua implementação. E no desen-
volvimento da embalagem, mesmo a escolha do seu material (estratégia 1),
deve aguardar por ser a fase final antes do transporte ao consumidor.
A roda de estratégia do Ecodesign pode ser usada para diversos propó-
sitos em diferentes fases de um projeto. A equipe de projeto e o time de desig-
ners, por exemplo, podem usar a roda de estratégias como forma de visuali-
zar o produto atual dentro do contexto de sustentabilidade e, assim, perceber
quais estratégias poderiam ser usadas e onde e como estas poderiam afetar
a curto e longo prazo o ciclo de vida do sistema-produto. O formato gráfico
desta ferramenta permite que cada membro da equipe saiba de forma clara
os aspectos que devem ser levados em conta nas mudanças a serem feitas no
plano de ações e como elas interferem entre si.
A roda de estratégias também pode ser usada como ponto de partida
para a criação de novos produtos orientados de forma criativa e balizada pelas
estratégias possíveis, assim como permite a análise das opções de melhorias
que podem ser rapidamente visualizadas no gráfico que representa todo o sis-
tema e ciclo de vida de um produto ou sistema-produto.

2.1 A relação entre as estratégias de Ecodesign e o ciclo de


vida de um produto

Existe claramente uma relação entre as estratégias do ecodesign e o ciclo de


vida de um sistema-produto, como podemos ver na figura a seguir. Note que a es-
tratégia @ é uma etapa de gestão de uma solução, não sendo responsável por um
impacto físico direto, contudo determina o impacto em todas das fases do produ-
to e do seu ciclo de vida, uma vez que influi diretamente no conceito do produto.

151
Aula 6

Etapa do ciclo de vida Estratégias de Ecodesign Conceitos


do produto

Desmaterialização
Novo produto @ Estratégia Produtos compartilhados
Otimização funcional

Materiais mais limpos


Suprimentos de 1 Seleção de materiais de baixo impacto Materiais Renováveis
materiais e Material reciclado e reciclável
componentes

2 Redução no uso de material Redução de peso e volume

Produção

Tecnologias de produção
3 Otimização da produção e da tecnologia Consumo de energia
Perdas

Eficiência energética da
logística e do transporte
4 Distribuição
Distribuição Embalagens reutilizáveis.

Consumo e fornecimento
de energia
5 Redução do impacto durante o uso

Fonte: Brezet; van Hemel (1997 apud ÖLUNDH, 2006)


Consumíveis em menor
quantidade e mais verdes.

Uso

Estruturas moduláveis
6 Otimização no início da vida útil Manutenção

Reuso
Recuperação 7 Otimização do fim de vida do sistema Remanufatura
Reciclar

A relação entre as estratégias do Ecodesign e o ciclo de vida de um produto.

152
Design Sustentável e Moda

2.2. Descrição das oito estratégias do ecodesign

As estratégias e os princípios de Ecodesign com seus conteúdos são des-


critos a seguir, onde discutimos os benefícios ambientais a eles relacionados:
Ao colocarmos em prática as estratégias, a equipe de projeto pode se
utilizar do resumo localizado no gráfico da roda de estratégias que remete aos
itens detalhados a seguir.

2.2.1. Estratégia @ - novo conceito de desenvolvimento

Novas soluções são desenvolvidas para atender às necessidades específi-


cas da estratégia. O foco aqui não é o produto físico, e sim a função do sistema
produto e como ele atende a todas as necessidades do indivíduo ou grupo para
a solução disponibilizada. A que tipo de necessidade social a solução atende
atualmente e como a nova solução pode ser implementada para atender de
forma melhor a essa necessidade?
A diretriz orientada para essa estratégia@ é tentar, no mínimo, substituir
uma das etapas do produto por um serviço e não possuir o produto em si, onde
compartilhar é a palavra de ordem. Isto cria uma importância maior no proces-
so de desenvolvimento do sistema-produto. Se a administração focar menos
em vender o produto e mais em atender o consumidor através de um serviço,
a empresa estará mais engajada em desenvolver um novo negocio (business)
do que simplesmente criar um novo produto.
Essa visão @ começa sempre com a identificação das necessidades, tanto
do meio ambiente como do consumidor.

2.2.2. Estratégia @ e a desmaterialização

A desmaterialização não significa aqui, simplesmente, fazer o produto


menor, mas sim incluir, em uma das etapas do ciclo de vida do produto, uma
parte não materializada (como o serviço descrito anteriomente) que cumpra
de forma mais eficiente a mesma função atualmente disponibilizada.
Em geral, esta parte acaba direcionando para o compartilhamento de
produtos, como é o caso da empresa Xerox, que antigamente vendia a foto-
copiadora e, hoje em dia, aluga a máquina para o serviço de fotocópia, forne-
cendo papel, tinta e manutenção. Isto fez com que houvesse uma preocupação
maior com a durabilidade da vida útil da máquina, pois ela deixa de ser um

153
Aula 6

produto descartado após o uso pelo consumidor. A sua vida útil se torna es-
tendida e as suas peças, sempre que possível, são reaproveitadas após o uso.
Assim, o foco de desenvolvimento da empresa passa a ser melhorar o serviço
(redução de custos para a empresa e para o usuário) e aumentar a vida útil do
sistema produto (fotocopiadora).

Fonte: Flickr | Foto: Ken Bosma

A empresa Xerox não tem uma política de venda de equipamento. Ela lucra principalmente com suprimentos e
manutenção, investindo na durabilidade de suas máquinas copiadoras.

Outros exemplos de inovação com baixo impacto ambiental


O sistema de correspondência eletrônica (e-mail), proporcionado pela inter-
net, é um avanço na estrutura de comunicação, tanto pela velocidade como
pela redução de consumo de papel, comparado ao sistema tradicional (envio de cartas
pelo correio) ou mesmo às mensagens por fax.
Você se lembra da secretária eletrônica que ficava ao lado telefone tanto nos escritó-
rios como em casa? Bom, ela foi substituída por um serviço oferecido pelos provedores
de telefonia, tanto móvel como fixo, que possibilita o acesso aos recados deixados em
uma caixa postal e que podem ser acessados por qualquer telefone e em qualquer lugar.

2.2.3 A estratégia @ e o compartilhamento de produtos

Nesta opção, o avanço se dá pelo fato de um grupo de pessoas, ao invés


de cada um possuir um produto que executa a mesma função, passa a compar-
tilhar um mesmo produto que não tem um único dono. Isto permite um uso
mais otimizado do produto.
Vejamos o exemplo a seguir:

154
Design Sustentável e Moda

Na Suíça e na Holanda, o sistema de compartilhar um carro tornou-se


muito popular. Quem inspirou este sistema foi a empresa ANWB (Associação
Holandesa de veículos), onde um serviço conhecido por Call-a-Car foi lançado,
em 1994. Os associados pagam uma anuidade para arcar com os custos de uso
do carro. Neste sistema, 15 pessoas compartilham um mesmo carro. Natural-
mente, pelo uso intensivo do produto, sua substituição passa
a acontecer mais rapidamente do que se pertences-
Fonte: Stock Xchange | Foto: Michal Zacharzewski

se a um único usuário. No compartilhamento, a


média de troca do carro por um novo acontece
de 5 em 5 anos, comparado aos 20 anos de um
carro que pertence a um único usuário.

A estratégia de compartilhar um carro para várias pessoas permite


o uso mais intensivo do produto.

A vantagem ambiental desta rápida substituição é decorrente da redu-


ção de produtos produzidos para atender a esse grupo e dos avanços tecno-
lógicos que vêm nos novos modelos que são mais econômicos e fabricados
com maiores preocupações ambientais. Toda a manutenção e conserto destes
carros compartilhados é feita em uma garagem central, que faz as revisões
na época certa, tornando o sistema muito eficiente e seguro. Finalmente, as
pessoas acabam por se adaptar a este novo sistema, evitando usar o carro em
curtas distâncias, substituindo-os por outros meios de transporte de massa ou
mesmo bicicleta, uma vez que estes carros compartilhados não ficam parados
em frente às suas casas. A iniciativa ANWB inspirou muitas outras, criando um
efeito multiplicador da ideia por toda a Holanda.

2.2.4 Estratégia @ e as funções integradas

Uma das soluções para obtermos redução de material e de espaço seria


aumentar o número de funções de um produto. Veja os exemplos a seguir:

• Um telefone, fax e secretária eletrônica podem ser substituídos por


único produto, uma impressora multifuncional, que integra estas três
funções;

155
Aula 6

• O notebook, em relação a um desktop, tem teclado, monitor e hard–


disk integrados em um menor e único volume;
• Hoje já há uma TV que também serve como monitor de computador,
ou mesmo com sistema integrado de internet.

Fonte: Stock Xchange | Foto: Svyatoslav Palenyy

O notebook, além de trabalhar o conceito de miniaturização do desktop, incorpora periféricos em sua carena-
gem, como monitor e teclado.

2.2.5 Estratégia @ as funções otimizadas de um produto e


seus componentes

Quando consideramos a função primária e secundária de um produto,


podemos perceber, às vezes, que algumas destas funções
secundárias muitas vezes são supérfluas. Muitas destas
funções secundárias, que têm como objetivo ressaltar a
ideia de qualidade e status do produto podem ser feitas
de forma mais eficiente e ecológica.
Veja o exemplo:
• Muitos produtos de beleza, como perfumes e
maquiagens, têm um excesso de embalagens
para criar uma atmosfera de estilo e luxo, mas
Fonte:Pascowitch | Foto: divulgação

este tipo de clima pode, perfeitamente, ser obti-


do através de um design mais inteligente.

A série de sabonetes Natura Ekos trabalha com conceitos muito interessantes de


ofertar seus produtos que, em alguns casos dispensam embalagens, como no
exemplo do sabonete fornecido “à penca” e para ser fatiado.

156
Design Sustentável e Moda

2.2.6. Recomendações para se melhorar um produto, usando a


estratégia @ de ecodesign

Nenhuma recomendação pode ser dada ao nível do produto, sem que


este atenda às necessidades básicas levantadas, tanto para o usuário, empresa
e meio ambiente. As estratégias de nada valem sem que se entenda o grau de
interferência que as mesmas são capazes de provocar nos diferentes níveis do
sistema-produto. A discussão das mudanças no sistema-produto pode levar à
mudanças na cultura e à organização de uma empresa.
A decisão por optar por uma ou outra estratégia não está somente nas
mãos da equipe de projeto, mas sim de toda a empresa e seus segmentos. As-
sim sendo, as estratégias de Ecodesign são também uma tática de marketing
de visão da empresa.

2.3. Ecodesign - estratégia 1: Seleção de materiais de baixo


impacto

Nesta estratégia, iremos focar no tipo de material e nos acabamentos e


tratamentos dados a um determinado produto, com o objetivo de tornar esta
escolha a mais ecológica e sustentável possível.
Esta estratégia é muito prática e pontual, e não precisa ser centrada no
ciclo de vida do produto. Por exemplo: o metal bronze, que pode ser usado em
uma escultura, dificilmente vai entrar como lixo ou resíduo, pois seu material
permite ser novamente derretido e reutilizado.

Retardantes de fogo:
Química que evita a com-
bustão de um produto. 2.3.1. Materiais limpos - 1A

Cargas: São componen-


tes químicos que adicio- Alguns materiais e aditivos são perigosos quando da produção, queima
nam características aos
ou descarte de um produto. Um exemplo são os pigmentos, estabilizadores de
materiais. Por exemplo,
há cargas que dificultam calor ou filtros ultravioleta, retardantes de fogo, agentes para tornar mate-
que o plástico branco
riais mais macios ou flexíveis, cargas, agentes expansivos e antioxidantes. Al-
fique amarelado, cargas
de fibra tornam produ- guns pigmentos ou corantes, assim como fogo retardante, são especialmente
tos mecanicamente mais
resistentes etc.
tóxicos e perigosos. Em muitos países, eles são proibidos por leis.
Existe um debate sobre o uso de produtos de origem orgânica por serem
Agentes expansivos:
Esta química permite biodegradáveis. Mas se a degradação for do tipo anaeróbica (que ocorre na
que alguns materiais se- ausência de O2), ela irá produzir gás metano que é um dos gases que provoca
jam, como: poliuretano
e isopor.

157
Aula 6

o efeito estufa; logo, não basta ser biodegradável para ser ecológico, pois ele PCB e PCT: Bifenilos poli-
clorados (PCB) e os terfe-
também pode criar problemas ambientais. nilos policlorados (PCT)
A seguir, seguem recomendações importantes: são produtos químicos
de grande estabilidade,
• Nunca usar aditivos ou cargas que são proibidas pela sua toxidade. baixa volatilidade, eleva-
da constante dielétrica
Alguns deles são reconhecidamente impactantes, como: PCBs, PCTs, e propriedades plastifi-
cantes, no entanto são
chumbo (usado em plásticos de PVC, baterias de carro, circuitos eletrô-
produtos com caracterís-
nicos), cádmio (usado em pilhas e baterias), mercúrio (usado em ter- ticas de periculosidade
para a saúde pública e
mômetros, interruptores, lâmpadas fluorescentes, pilhas e baterias).
para o ambiente.
• Não use materiais e aditivos que destruam a camada de ozônio, como
Galvanoplastia: Trata-
cloro, flúor, brometo de etil, halogênios, aerossóis, espumas, fluidos re- mento superficial em que
frigerantes, solventes e materiais a base de CFCs (clorofluorcarbono). metais são revestidos por
outros mais nobres, ge-
• Não use hidrocarbonetos que provocam a névoa de poluição, como: ralmente para proteger
gasolina, diesel etc; da corrosão ou para fins
estéticos/decorativos.
• Evite os materiais não ferrosos, como: cobre, zinco, níquel, cromo, Esta tecnologia é respon-
pois estes emitem produtos tóxicos na sua produção; sável por acabamentos
conhecidos como croma-
• Use acabamentos alternativos à galvanoplastia (zincagem, douração gem, douração e zinca-
gem, conforme o metal
e cromagem eletrolítica).
utilizado para revestir
(cromo, ouro e zinco, res-
pectivamente).

Monte sua lista de produtos indesejáveis!


Veja produtos proibidos em vários países em função de toxicidade em: http://ec.europa.
eu/environment/policy_en.htm.

2.3.2. Materiais renováveis - 1B

Outros materiais devem ser buscados quando o que está sendo usado
não se renova naturalmente ou leva muito tempo para isto, implicando em seu
esgotamento ao longo do tempo. Exemplos de materiais não renováveis ou
que demoram para se renovar são os combustíveis fósseis, madeiras de lei e
minerais, como: cobre, zinco, platina e estanho.
Alguns cientistas acreditam que o esgotamento destes tipos de recursos
são de menor importância ambiental, uma vez que sua falta ou disponibili-
dade irão resultar em um aumento de preço e a alternativa vai ser reciclar ou
substituí-lo por outro material a ser desenvolvido. Neste caso, apenas o esgo-
tamento dos combustíveis fósseis para uso em energia será considerado um
problema sério.

158
Design Sustentável e Moda

A seguir, segue uma recomendação importante:

• Encontre alternativas sustentáveis para os combustíveis fósseis, ma-


deiras de lei e minerais, como: cobre, zinco, platina e estanho

2.3.3. Materiais cuja extração consuma menos energia - 1C

Alguns materiais têm, na extração e produção, um grande consumo de


energia, tendo assim uma energia intrínseca maior que outros. Estes materiais
têm seu uso justificado apenas se comparado a outro onde ele demonstrar
um impacto ambiental menor ou um impacto positivo no meio ambiente. Por
exemplo: o alumínio tem um consumo muito grande de energia na extração e
produção, mas seu baixo peso, aliado às suas propriedades mecânicas, acaba
por torná-lo útil na construção de veículos ou produtos cujo baixo peso aju-
dam a reduzir o impacto no ambiente, além, é claro, de já existirem sistemas
de reciclagem para o alumínio, sistemas estes que baixo consumo de energia.
A seguir, seguem recomendações importantes:

• Evite usar materiais com alta energia agregada em produtos cujo tem-
po de vida seja curto, como o alumínio;
• Evite o uso de matérias-primas renováveis, produzido pela agricultura
intensiva, como o algodão.

2.3.4. Materiais reciclados - 1D

Materiais reciclados, como já apresentados na Aula 4, são aqueles que


já foram anteriormente usados em um produto. A grande vantagem aqui é
poder utilizar novamente a matéria-prima, de forma que o material e a energia
investidos para fabricá-lo não sejam perdidos.
A seguir, seguem recomendações importantes:

• Use materiais reciclados sempre que for possível, pois isto estimula o
mercado e a demanda por materiais reciclados;
• Use metais vindos de reciclagem no lugar de matéria-prima virgem ou
equivalente, como o alumínio reciclado e cobre;
• Use sempre o plástico reciclado nas partes internas dos produtos, cuja
função é meramente de suporte e não de resistência mecânica ou de
qualidade higiênica ou tolerância estrutural;

159
Aula 6

• Quando a higiene for um fator de importância (como em algumas em-


balagens de alimentos), uma superfície usando material virgem pode
ser aplicada sobre o material reciclado;
• Faça uso das características do material reciclado, como por exemplo,
cores que não se repetem como diferenciador no design do produto.

2.3.5. Materiais recicláveis - 1E

Sempre que possível, use materiais que podem ser reciclados. Isto pode
ser implementado ao se planejar o produto, pensando na reciclagem.
Escolha o material a ser usado com base nas propriedades que apresen-
tará depois de reciclado. Quanto menor for a quantidade de materiais diferen-
tes usados na fabricação do produto, mais fácil será separá-los e reciclá-los.
A seguir, seguem recomendações importantes:

• Dê preferência a fazer um produto com apenas um tipo de material,


assim como de seus subsistemas;
• Se isso não for possível, use materiais compatíveis que são aqueles
que pertencem à mesma família química, no caso dos plásticos. É im-
portante lembrar que existem cargas que podem atrapalhar a reci-
clagem por contaminarem outros plásticos, mesmo sendo do mesmo
tipo; o mesmo vale para as cores. E no caso dos metais, evitar que me-
tais se contaminem (ligas e outros aditivos), dificultando a reciclagem;
• Evite o uso de materiais do tipo compósito, como fibra de vidro, fibra
de carbono, laminados (tetrapack) etc, pois eles dificultam a separa-
ção dos materiais para a reciclagem;
• Dê preferência a materiais recicláveis para o qual já exista um sistema
de reciclagem;
• Evite o uso de elementos contaminantes, como adesivos, que acabam
atrapalhando a reciclagem.

2.4. Ecodesign - estratégia 2: Redução no uso de materiais

Redução de material aqui significa usar o mínimo necessário sem com-


prometer a função e a resistência do produto para seu uso. Isto inclui reduzir
seu volume ao máximo, de forma não só a reduzir o uso da matéria-prima na
fabricação, mas reduzir o tamanho das embalagens e o espaço ocupado no
transporte e estocagem.

160
Design Sustentável e Moda

Normalmente, os produtos são deliberadamente projetados para serem


largos ou pesados, a fim de proteger a imagem de qualidade do produto. Esta
imagem pode ser alcançada pelo uso de outras técnicas projetuais, como o
aumento do número de estruturas de suporte, formatos que valorizem a resis-
tência nos sentidos que o produto mais sofre pressão, o emprego de materiais
mais resistentes etc.
Naturalmente, o produto não pode ser tão leve a ponto de comprometer
sua resistência mecânica, mas com certeza pode ser possível diminuir seu peso.

2.4.1. Redução do peso - 2A

Usando menos material ou usando materiais mais leves, reduzimos tam-


bém o impacto no ambiente. Menos material significa usar menos recursos,
produzir, menos resíduos e menos impacto durante o transporte.
A seguir, seguem recomendações importantes:

• Adote uma construção que use mais conhecimento técnico estrutural


e menos abuso de material por superdimensionamento (”eficiência de
projeto”);
• Tente expressar qualidade pelo design e não pelo superdimensiona-
mento do produto (maior não significa melhor).

2.4.2. Redução no Volume (transporte) - 2B

Quando o produto e sua embalagem são reduzidos em peso e volume,


mais produtos podem ser transportados por vez no mesmo espaço. Outra so-
lução é fazer o produto dobrável ou compactável de alguma forma ou mesmo
desmontável, mas de fácil montagem.
A seguir, seguem recomendações importantes:

• Tente reduzir o espaço necessário para o transporte e armazenagem,


diminuindo as dimensões e volume total do produto;
• Faça o produto dobrável ou para ser montado depois de transportado;
• Considere que, no transporte, parte do produto venha desmontado
e que o mesmo seja montado por terceiros ou pelo próprio usuário
final.

161
Aula 6

2.5. Ecodesign - estratégia 3: Otimização da produção e da


tecnologia

Tecnologias de produção têm de ter um baixo impacto ambiental e de-


vem minimizar o uso de materiais auxiliares (somente os não tóxicos) e ener-
gia, para alcançar eficiência máxima sem desperdício de materiais e energia,
ou seja, sem a criação de resíduos tanto quanto for possível.
Essa estratégia que objetiva a produção limpa através de novos avanços tec-
nológicos levará cada vez mais a produtos customizados, feitos por pequenas em-
presas, ao invés de produtos industriais, feitos por multinacionais. Os avanços para
uma produção industrial ecológica se tornarão cada vez mais centrados na qualida-
de da gestão do sistema voltado para a sustentabilidade. É aí que as normas de certi-
ficação como a ISO 14.000 europeia e a 7.750 inglesa, entre outras, entram em ação.

Produção mais limpa (P+L)


Este foi um conceito introduzido, em 1998, pelo Programa das Nações Uni-
das para o Meio Ambiente (PNUMA), como uma aplicação contínua de uma
estratégia ambiental preventiva integrada aos processos, produtos e serviços para au-
mentar a ecoeficiência e reduzir os riscos ao homem e ao meio ambiente. Aplica-se a:
• processos produtivos: conservação de matérias-primas e energia, eliminação de ma-
térias-primas tóxicas e redução da quantidade e toxicidade dos resíduos e emissões;
• produtos: redução dos impactos negativos ao longo do ciclo de vida de um produ-
to, desde a extração de matérias-primas até a sua disposição final;
• serviços: incorporação das preocupações ambientais no planejamento e entrega
dos serviços.
Em linhas gerais, o conceito de P+L pode ser resumido como uma série de estratégias,
práticas e condutas econômicas, ambientais e técnicas, que evitam ou reduzem a emissão
de poluentes no meio ambiente por meio de ações preventivas, ou seja, evitando a gera-
ção de poluentes ou criando alternativas para que estes sejam reutilizados ou reciclados.
Geralmente, a empresa é que obtém os maiores benefícios para o seu próprio negó-
cio. Para ela, a P+L pode significar:
• redução de custos de produção;
• aumento de eficiência e competitividade;
• diminuição dos riscos de acidentes ambientais;
• melhoria das condições de saúde e de segurança do trabalhador;
• melhoria da imagem da empresa junto a consumidores, fornecedores, poder pú-
blico, mercado e comunidades;
• ampliação de suas perspectivas de atuação no mercado interno e externo;
• maior acesso a linhas de financiamento;
• melhoria do relacionamento com os órgãos ambientais e a sociedade.

162
Design Sustentável e Moda

Esta estratégia pode ser replicada a processos semelhantes de diversos


tipos de empresas, assim como de seus fornecedores. Algumas empresas já fa-
zem questão que seus fornecedores possuam certificação de gestão ambiental.

Em busca da produção limpa!


Para saber mais a respeito, faça uma busca na internet, usando palavras chaves, como:
certificações verdes ou gestão ambiental; P+L e SMA.
Segue uma sugestão de leitura muito interessante, já apresentada em outra aula: Guia
Técnico Ambiental da Indústria Têxtil - Série P+L. Disponível em http://www.cetesb.
sp.gov.br/Tecnologia/producao_limpa/documentos/guia_textil.pdf

2.5.1. Tecnologias alternativas de produção - 3A

O designer nem sempre interfere na parte produtiva de uma empresa,


mas quando isso acontece, ele deve sempre orientar a produção na busca de
alternativas que reduzam o impacto ambiental.
A seguir, seguem recomendações importantes:

• De preferência, use técnicas produtivas mais limpas, que requeiram


menor uso de produtos tóxicos e aditivos que impactem no meio am-
biente, como uso de graxas e óleos à base de teflon ou cloro;
• Use sistemas produtivos de baixa emissão de poluente, como por
exemplo, dobras ao invés de soldas, encaixe ao invés de colas;
• Adote processos mais eficientes no uso de materiais, como pintura
eletrostática ao invés de pintura líquida.

2.5.2. Menos etapas na produção - 3B

Reduzir ao máximo as etapas na produção de um produto.


A seguir, seguem recomendações importantes:

• Combine funções em um único componente, reduzindo etapas na


produção;
• Use materiais que não necessitem de outro como acabamento.

163
Aula 6

2.5.3. Menos e mais limpas fontes no consumo de energia - 3C

Objetiva reduzir consumo de energia nos atuais processos produtivos.


A seguir, seguem recomendações importantes:

• Motive o departamento de produção e seus fornecedores a produzir,


levando em conta a eficiência energética;
• Encoraje o uso de formas de conservação de energia e o uso de ener-
gias limpas, e renováveis, como: gás natural, carvão com menos enxo-
fre, energia eólica, energia hidrelétrica e solar, buscando reduzir o uso
de combustíveis fósseis (carvão e petróleo).

2.5.4. Geração de menos resíduos - 3D

Os atuais sistemas produtivos muitas vezes podem ser otimizados no


que diz respeito às entradas e às saídas de materiais e emissões. A eficiência
com a qual cada material é utilizado leva a uma redução na geração de resídu-
os e emissões.
A seguir, seguem recomendações importantes:

• Desenhe o produto para que minimize sempre a geração de resíduos,


especialmente durante processos, como: cortes, desbastes, estampas,
dobras etc;
• Motive o setor de produção e os fornecedores a reduzir o percentual
de perdas e resíduos durante a produção;
• Recicle os resíduos da própria empresa.

2.5.5. Menos uso de consumíveis/ sempre mais limpos - 3E Consumíveis: São ma-
teriais de consumo, usa-
dos durante a produção
Esta abordagem relaciona-se à redução de consumíveis, também conhe- de produtos, como: gra-
xas, óleos de máquina,
cidos como materiais de consumo das operações de produção e oferece a cer- estopa, materiais de lim-
peza e manutenção etc.
teza de que não são perigosos.
A seguir, seguem recomendações importantes:

• Reduzir os consumíveis necessários à limpeza ao se desenhar um pro-


duto, de tal forma que durante uma etapa de corte que gere muita
sujeira, esta fique limitada a um só setor da fábrica e não espalhada
em várias outras áreas;

164
Design Sustentável e Moda

• Consulte o departamento de produção e almoxarifado para juntos au-


mentarem a eficiência no uso dos materiais de produção e controlar
melhor as condições das áreas de produção e estoque, reutilizando ou
reciclando estes materiais sempre que possível.

2.6. Ecodesign - estratégia 4: Otimizando o sistema de distri-


buição

Esta estratégia garante que o produto, ao ser transportado da fábrica


para o distribuidor e do distribuidor para o usuário, aconteça da maneira mais
eficiente possível. Ela se relaciona tanto à embalagem e à maneira como é
transportada, como também à logística envolvida.
Se um projeto inclui uma análise de embalagem, quanto menor a embala-
gem, maior é o espaço ganho no transporte e menor é o consumo de material de
embalagem, assim como menor é o consumo de energia necessária ao transporte.
A seguir, seguem recomendações importantes:

• Se toda ou parte da embalagem serve para dar ao produto um certo


apelo, use o design para conseguir isto, reduzindo o tamanho e peso
da embalagem;
• Para transporte de embalagens para muitos itens, considere a possibi-
lidade de reuso da embalagem, associado a um custo de depósito do
retorno da mesma;
• Use materiais apropriados para os tipos de embalagens, por exemplo,
só use PVC ou alumínio em embalagens retornáveis;
• Tenha certeza que a embalagem é apropriada para a redução do vo-
lume, como no caso de produtos dobráveis e desmontados (estraté-
gia 2b).

2.6.1.Transporte com eficiência energética – 4A

O impacto causado durante o transporte de um produto por avião é


maior que quando o transporte se dá pelo mar. Isto mostra como o meio de
transporte interfere nas escolhas que fazemos.
A seguir, seguem recomendações importantes:

• Motive o setor de Vendas a considerar meios de transportes de merca-


doria com menos impacto para o ambiente;

165
Aula 6

• Motive o setor de vendas a adotar formas mais eficientes de distribui-


ção, como, por exemplo, a distribuição de uma variedade maior de
produtos por viagem;
• Adotar sistemas de embalagens padronizadas para facilitar a paleti-
zação.

2.7. Ecodesign - estratégia 5: Redução do impacto durante o


uso

Consumíveis (como energia, água, detergentes e comida) e produtos


(baterias, filtros e refis) são necessários ao funcionamento de alguns produtos
e isto se aplica não só a manutenção e reposição. Nesta estratégia, o objetivo
é projetar um produto de forma que o usuário não desperdice ou jogue fora
material ou energia, de forma a aumentar o impacto no ambiente.

2.7.1. Menor consumo de energia - 5A

O objetivo é reduzir a energia consumida durante o uso, seja pela ado-


ção de componentes mais eficientes ou pelo não uso de outros que causem
emissões de CO2 (responsável pelo efeito estufa), SOx e NOx (que causam chu-
va ácida). Algumas análises ambientais mostraram que se um produto con-
some energia durante seu uso, é provável que durante este estágio ele cause
mais impacto.
A seguir, seguem recomendações importantes:

• Use sempre produtos que consumam menos energia (selo Procel);


• Use sempre o modo desligado de um produto, quando este não esti-
ver em uso;
• Tenha certeza de que os produtos tenham a opção desligar, além do
modo stand by;
• Se há necessidade de deslocar o produto, faça-o com um peso mais
leve, para que consuma menos energia neste deslocamento;
• Se alguma energia é consumida para aquecer uma substância (como
ocorre em uma cafeteira), garanta que o local onde esta substância
ficará seja isolada termicamente, a fim de reduzir o consumo para
mantê-lo quente.

166
Design Sustentável e Moda

Selo Procel
É um produto desenvolvido e concedido pelo Programa Nacional de Conser-
vação de Energia Elétrica - Procel, coordenado pelo Ministério de Minas e
Energia – MME, pelas Centrais Elétricas Brasileiras S.A – Eletrobrás.
Tem por objetivo promover a diminuição do consumo de energia elétrica e indicar
aos consumidores quais aparelhos são mais energeticamente eficientes, promovendo a
exploração racional dos recursos naturais.
Fazem parte deste programa as categorias: refrigeradores, freezers, ar-condiciona-
dos, motores elétricos, coletores solares, reservatórios térmicos de coletores solares,
reatores eletromagnéticos para lâmpadas e lâmpadas fluorescentes.
Fonte: Eletrobrás
Fonte: Wikipedia

2.7.2. Fontes renováveis de energia - 5B

Usando fontes renováveis de energia, reduzimos muito os impactos no


ambiente, especialmente aqueles provocados por produtos que a consomem
em demasia.
A seguir, seguem recomendações importantes:

• Escolha uma fonte de energia de baixo impacto ambiental;


• Não encoraje o uso de pilhas, dê preferência às baterias recarregáveis;
• Escolha fontes limpas, como: gás natural e carvão com baixos teores
de enxofre, fermentação, energia eólica, hidrelétricas e energia solar.
Um bom exemplo é o uso de aquecedores de água, aquecidos pelo sol.

2.7.3 Diminua o consumo de consumíveis (insumos) - 5C

O objetivo é reduzir o uso de consumíveis em produtos que precisem


deles para funcionar.
A seguir, seguem recomendações importantes:

• Projete produtos que minimizem os insumos, por exemplo, troque os fil-


tros de café descartáveis pelos permanentes e lembre de usar o filtro com
o desenho certo para determinado aparelho, buscando otimizar seu uso;
• Minimize as perdas de uma máquina que use grandes volumes de
insumos, pelo uso de um aparelho de detecção de perdas de insumo;

167
Aula 6

• Estude a possibilidade de reutilização de insumos, como por exemplo,


o reuso da água que sai da máquina de lavar roupa ou pratos.

2.7.4. Consumíveis mais ecológicos - 5D

Dois são os caminhos desta estratégia: substituir ou projetar consumí-


veis menos impactantes. Para que este tópico seja avaliado, é necessário con-
siderar à parte o ciclo de vida do produto, o ciclo de vida do insumo ou consu-
mível. Assim, as estratégias de ecodesign devem ser usadas em separado para
cada insumo.
A seguir, seguem recomendações importantes:

• Projete o produto, para usar os insumos mais limpos disponíveis;


• Tenha certeza de que, ao utilizar o produto, não resultará em algum
tipo de poluição e sim, apenas dejetos inertes. Um exemplo é o uso de
filtros não descartáveis, que são também inertes no meio ambiente.

2.7.5. Reduzindo perdas de energia e de consumíveis - 5E

O produto pode ser projetado de forma a encorajar o próprio usuário a


usar de forma eficiente o produto, reduzindo assim desperdícios.
A seguir, seguem recomendações importantes:

• O mau uso do produto deve ser evitado através do bom planejamento


do projeto do produto e suas instruções de uso;
• Projetar o produto de forma a não permitir que o usuário desperdiçe
os insumos, por exemplo, o local onde se insere o consumível deve ter
a forma adequada para que, durante o abastecimento, o usuário não
derrame fora parte do insumo;
• Usar um sistema de marcações para que o usuário saiba a quantidade
adequada de insumos para uma dada função, por exemplo, o nível de
sabão em pó nas máquinas de lavar roupa;
• Torne a opção mais ecológica padrão, por exemplo, incentive o uso
de copos laváveis e o aproveitamento dos dois lados de uma folha de
papel em uma impressão.

168
Design Sustentável e Moda

2.8. Ecodesign - estratégia 6: Otimização no início da vida útil

O objetivo desta estratégia é estender ao máximo a vida útil do produto


(tempo útil de uso do produto e suas funções) e a vida estética do produto
(tempo durante o qual o usuário considera o produto atraente).
Todos os princípios que se seguem visam atingir esse objetivo, pois
quanto mais tempo um produto for capaz de atender às necessidades do usu-
ário, menos necessidade ele tem em adquirir um novo.
Em geral, o que acontece é que a vida útil e a vida estética do produto não
são sincronizadas. Este equilíbrio é importante para tornar efetiva esta estraté-
gia. Apesar de raras, há situações nas quais a melhor prática não é aumentar o
tempo de vida do produto. Recomenda-se uma vida mais curta para um produto
quando um novo produto tiver uma nova tecnologia capaz de trazer benefícios
relacionados a um menor consumo de energia no ciclo como um todo, em es-
pecial durante o uso, e que compense o descarte do produto anterior.

2.8.1. Confiabilidade e durabilidade - 6A

O aumento da confiabilidade e durabilidade de um produto é um item


bem conhecido dos designers.
A seguir, seguem recomendações importantes:

• Deve-se evitar que a quebra de um produto induza ao descarte ime-


diato;
• Desenvolver um projeto, evitando as ligações fracas. Analisar através
de simulações computacionais, esforços que um produto seria expos-
to e, consequentemente, verificar quais seriam os pontos de ruptura
de material ou possíveis mecanismos que reduziriam a vida útil de um
produto, prevenindo e corrigindo pontos que podem falhar e quebrar
no projeto.

2.8.2. Fácil manutenção e reparação – 6B

A manutenção e substituição de partes de um produto devem ser feitas


de maneira fácil e rápida.
A seguir, seguem recomendações importantes:

• Projete o produto de tal forma que precise de pouca manutenção;

169
Aula 6

• Indique no produto como ele deve ser aberto para limpeza ou reparação;
• Indique, no corpo de produtos, como furadeiras, ventiladores, portas
de geladeira, quais peças devem ser limpas ou devem passar por ma-
nutenção, por exemplo, use a codificação de cores para mostrar os
pontos onde deve ser feita lubrificação;
• Indicar, no produto, que partes ou subconjuntos devem ser inspecio-
nados frequentemente, devido ao desgaste rápido;
• Facilite a localização das peças que se desgastam rapidamente, de pre-
ferência próximas umas às outras e de fácil acesso;
• Faça os componentes mais vulneráveis mais fáceis de desmontar para
manutenção ou substituição.

2.8.3. Produtos com estruturas modulares – 6C

Escolher uma estrutura modular (feita em módulos) ou adaptativa, per-


mite melhoras do produto ao longo do tempo, com relação aos aspectos téc-
nico-funcionais e estéticos.
A seguir, seguem recomendações importantes:

• Projete o produto em módulos, de modo a permitir a melhoria da fun-


ção e do desempenho (por exemplo, um upgrade nos computadores
pela troca das placas de memória e outros circuitos);
• Projetando com o uso de módulos, resolvemos também o problema
de uma estética ultrapassada ou facilitamos a troca e manutenção de
uma cobertura ou carenagem (por exemplo, em um sofá podemos
trocar o forro e a espuma facilmente, seja para limpeza, seja para a
substituição por um novo);
• Crie sistemas abertos que se baseiem em uma plataforma comum a vá-
rios produtos. Um exemplo disto é que a mesma plataforma de constru-
ção do carro Audi A3 era utilizada pelo Golf da Volkswagen, originando
dois carros bem distintos e economizando flexibilidade produtiva.

2.8.4. Design clássico - valorização do design mais permanen-


te e atemporal, no lugar do modismo descartável – 6D

Projete o produto, para que ele não se torne desinteressante e desagra-


dável mais rápido do que a sua vida técnica.

170
Design Sustentável e Moda

2.8.5. Aumento da relação entre usuário e produto – 6E

Muitos produtos necessitam de manutenção e reparos para se manterem


funcionais. O interessante é que estes sejam projetados, buscando promover
uma relação mais profunda do usuário com o produto, minimizando o tempo
gasto pelo usuário com estes afazeres de reparo.
A seguir, seguem recomendações importantes:

• Torne os produtos esteticamente atraentes de forma que o usuário


queira sempre manter ele novo e em bom estado (exemplo: apesar
de popular, o Fusca é um carro clássico que não perde valor de merca-
do e por isto, geralmente, seus donos os mantêm em bom estado de
conservação);
• Projete o produto de forma a ele ter apelos intangíveis ou ocultos. Isto
o torna mais interessante para o usuário por um tempo maior;
• Certifique-se de que a manutenção e reparo do produto se tornem um
prazer e não uma obrigação para o usuário. O bom serviço de atendi-
mento e de manutenção ao usuário pode prolongar significativamen-
te a vida de um produto;
• Lembre-se de que o usuário normalmente cuida mais daquilo que lhe foi
caro do que aquilo que lhe foi barato (monetário e emocionalmente);
• Dar ao usuário um valor maior em termos de design e funcionalidade,
de modo que o usuário se recuse a substituí-lo.

2.9. Ecodesign - estratégia 7: Otimização de Fim de Vida do


Sistema

O fim de vida do sistema de um produto acontece após o término da sua


vida útil. Nesta estratégia, o objetivo é revalorizar as partes do produto, certifi-
cando-se que elas sejam recuperadas ou tratadas adequadamente, de forma a
não criar impactos no ambiente.
Nada mais natural e racional do que incentivarmos a recuperação do ma-
terial e da energia que foram usados ao longo de toda a cadeia do ciclo de vida
do produto, prevenindo, ao mesmo tempo, a contaminação do meio ambiente
por materiais tóxicos.
A otimização do fim de vida útil de um produto é uma estratégia que
sempre deve ser considerada no projeto de um produto.

171
Aula 6

2.9.1. Reutilização de produtos – 7A

Aqui, nosso foco é reutilizar o produto como um todo, mais do que para
outras novas aplicações, pois quanto mais um produto preserva suas caracte-
rísticas originais de projeto, mais eficiente será sob o ponto de vista ambiental,
proporcionando o retorno dos sistemas desenvolvidos e o surgimento de sis-
temas de reciclagem de partes do produto, economizando energia e materiais.
A seguir, seguem recomendações importantes:
• Conferir um design clássico ao produto, que o torne atraente para um
segundo usuário;
• Certifique-se de que a construção é sólida e permite a reutilização;
• Certifique-se de que, não sejam utilizadas funções ou sistemas que
se tornarão rapidamente obsoletos, do ponto de vista tecnológico na
construção de um produto.

Câmera de uso único Kodak


Esta câmera fotográfica é oferecida aos clientes como uma
câmera descartável pelas lojas da Kodak. Apesar de ainda uti-

Fonte: Flickr | Foto: Steve Harwood


lizar a tecnologia de filme fotográfico (não digital), esta permite que
qualquer um bata fotos, inclusive subaquáticas. Ao concluir o filme (27
poses), o usuário retorna a câmera para que seu filme seja revelado. Com
esta prática, a Kodak pode reutilizar a câmera, remanufaturar ou mesmo
encaminhá-la para um descarte apropriado.

2.9.2. Remanufatura / renovação – 7B

Muitos produtos acabam seus dias nos aterros sanitários ou em inci-


neradores, mesmo que eles contenham partes em condição de uso ou com
materiais preciosos; logo, é importante considerar que alguns componentes
podem ser reutilizados, se não na função original, em uma nova função. A
remanufatura e renovação no sentido de recolocação no mercado através de
conserto de seus subsistemas são normalmente necessárias.
A seguir, seguem recomendações importantes:

172
Design Sustentável e Moda

• Ao projetar um produto, pensando na remanufatura, use as estraté-


gias de fácil desmontagem e acessibilidade das partes para inspeção
(estratégia 6B);
• A maioria dos produtos não pode ser diretamente reutilizada sem,
pelo menos, uma inspeção;
• Em muitos casos, peças remanufaturadas podem ser “tão boas ou me-
lhores” do que as novas;
• Certifique-se de que um produto pode ser reparado.

2.9.3. Reciclagem de materiais – 7C

Reciclagem é uma estratégia bem comum hoje em dia, que precisa de re-
lativamente pouco tempo e pequeno investimento para tornar o produto fácil
de ser desmontado para se chegar à parte a ser reciclada. Uma das razões para
a popularidade desta estratégia foi relatada no início desta aula, onde vimos
que os benefícios financeiros são rapidamente percebidos, tanto dentro como
fora da indústria.
No entanto, muitos fabricantes têm anunciado que seus produtos são
feitos com materiais recicláveis, sem mesmo terem um sistema de reciclagem
para eles. Naturalmente que isto tem diminuído ao longo do tempo, estimula-
dos pelo governo através de leis e mesmo pela pressão dos consumidores. Em
alguns países, a reciclagem energética não é considerada pelo governo como
uma reciclagem legítima.
Se a reciclagem é preterida no lugar de outras estratégias de méritos
ambientais maiores, é um sinal de que a estratégia deve ser revista. Hoje a
reciclagem é uma solução chamada fim de linha e não deve ser usada como
desculpa elegante para se continuar a gerar resíduos. Existem vários níveis de
reciclagem, que juntos formam a cascata de reciclagem:

• reciclagem primária (um produto é reciclado para ser usado na mes-


ma função);
• reciclagem secundária (um produto é reciclado para um uso menos
nobre que o original);
• reciclagem terciária (um produto é reciclado por ação química de de-
composição das partes constituintes).

Não há dúvida que, reciclando materiais, estaremos reduzindo a deman-


da por minérios, assim como estaremos diminuindo o tamanho dos aterros
sanitários.

173
Aula 6

Para facilitar a reciclagem, é preciso seguir orientações específicas de


projeto, segundo as várias técnicas vistas na estratégia 6.

2.9.4. Incineração Limpa – 7D

Por fim, se o reuso ou reciclagem não são possíveis, nossa próxima op-
ção passa a ser incinerar o produto, com o objetivo de recuperar a energia
(reciclagem energética) usada em seu processo de fabricação. Neste caso, é
preciso usar uma planta moderna de incineração que não gere poluentes ou
resíduos tóxicos.
A seguir, seguem recomendações importantes:

• A incineração limpa pode ser usada como fonte de energia e reduz a


demanda nos aterros sanitários;
• Evite materiais tóxicos no produto, pois aumentam os custos de inci-
neração e podem precisar ser removidos antes da incineração.

Atividade 1 – Objetivo 1

Indique o número de cada estratégia empregada em cada fase do desen-


volvimento de uma embalagem:

Fase de Estratégia
Resultado: Embalagem
desenvolvimento N°
Otimização do produto
para não ter a necessida- ( )
Planejamento e
Lista de requisitos de de embalagem
definição da tarefa
Viabilidade na reciclagem ( )

Desenvolvimento de
( )
embalagem mínima
Conceito do projeto Conceito
Materiais de baixo
( )
impacto ambiental
Seleção e técnicas de
( )
Estudos premilinares produção limpas
Linhas de projeto
e definição de layout Redução no uso
( )
dos materiais
Projetando para
( )
Documentação a reciclagem
Detalhes do projeto
do produto Redução no uso dos
( )
materiais

174
Design Sustentável e Moda

Resposta

Estratégias: @; 7; 2; 1; 3; 2; 7; 2

3. Conflitos nas estratégias de ecodesign - Trade-Offs

Nos itens anteriores, mostramos várias estratégias de ecodesign, apli-


cadas à roda de estratégias. Uma das tarefas mais difíceis que uma equipe de
designers tem a enfrentar está na escolha das estratégias que permitam não só
implementar os produtos de forma a se tornarem mais sustentáveis ambiental-
mente, mas também economicamente.
Antes de iniciar o desenvolvimento de um produto, a equipe de desig-
ners deve descobrir qual das estratégias é a mais adequada para determinado
projeto específico. Muita gente acha que ecodesign é projetar visando à re-
ciclagem, implicando na mera escolha de materiais, que junto a um projeto,
facilite a desmontagem do produto. Na maioria dos casos, isto é uma verdade
de mercado, mas como vimos anteriormente, a redução, o reuso e, principal-
mente, o repensar do sistema podem ser soluções melhores.
Muitas empresas têm limitações de tempo e dinheiro para investir em
ecodesign, uma vez que para desenvolver um projeto adequado e sustentável
se faz necessária a construção de conhecimento para resolver as contradições
de algumas estratégias, na qual a solução passa a ser estabelecer as priorida-
des de ecodesign.
Duas estratégias diferentes podem tanto se somar sinergeticamente
como podem acabar criando um efeito adverso, resultando em novo problema
ambiental. Neste caso, a decisão deve ser tomada com base nos princípios
de antecipação de méritos: ambientais, técnicos e de viabilidade econômica,
assim como, das oportunidades de mercado. Por exemplo:

• Os processos de produção mais limpa podem custar mais;


• A substituição de um combustível por um insumo mais ecológico
pode ser inviável pela dificuldade deste ser encontrado e fornecido
ao consumidor;
• A redução em uma embalagem pode prejudicar a visibilidade do pro-
duto nas prateleiras.

Por outro lado, temos exemplos sinergéticos, como:

• Produtos que consomem menos energia, quando em funcionamento


reduzem as contas de luz do consumidor;

175
Aula 6

• A desmaterialização de um produto e a implementação de um serviço


podem criar um novo mercado;
• A soma de mais funções em um único produto diminui custos e isto
reflete no preço final do produto;
• O uso de consumíveis limpos pode reduzir o impacto ambiental.

Atividade 2 – Objetivo 2

Observe a análise dos impactos de dois purificadores de água (matriz


MET): a alternativa A representa uma solução comercializada através de siste-
ma de aluguel e a alternativa B uma solução comercializada pelo varejo.

Matriz MET da alternativa A


MATRIZ MET Materiais PT Energia PT Emissões de Toxinas PT TOTAL
A opção por PSS deve aumentar
muito o uso de materiais, para Não usa níquel, alumí-
Extração e ser mais resistente, conse- nio ou nenhum outro
Plásticos e metais mes-
Produção de quentemente, aumentando o -3 material intenso em -2 -2 -7
mo em pequena escala
materiais impacto da manufatura; energia (apenas um
Ocorre redução da quantidade pouco de cobre)
de produtos fabricados (50%)
Sobras são retrabalhadas; Baixo impacto, energia
Fabricação 0 -1 Indústria limpa -1 -2
Quantificar materiais e processo de injeção, montagem
Gasta combustível e
Gasta algum material na distri- emite CO2 no transporte; Transporte em cami-
buição, as embalagens Usa diversos materiais; nhões diesel, emissões
Distribuição (uso de isopor); -1 logo, muito transporte; -3 de outros poluentes, -1 -5
As várias viagens de cada unida- A opção por PSS aumen- além do CO2 durante o
de usam novas embalagens ta as viagens de cada transporte
unidade
Material de limpeza e con-
servação (pano umedecido).
Como a tônica é a qualidade da Consumo de eletricidade
água, suponho que os usuários quase desprezível;
tenham hábitos de higiene Visitas de manutenção
Uso -1 -1 Não há toxidades 0 -2
elevados, usem detergente e inspeção, usando
regularmente; automóveis pequenos
Embalagens utilizadas para em cidades
levar e apanhar produtos, troca
de filtro e outros componentes
Economia de energia
70% é o índice de reaprovei-
pela grande reutilização Redução de emissões
tamento e 99% do material é
de peças existentes; que ocorreriam na fabri-
reciclado e reutilizado dentro
Energia necessária para cação de novas peças;
da própria linha da empresa.
triturar o material e Limpeza do material
Fim da vida Acho que deve ser citado aqui, 3 2 1 6
transformá-lo em grãos; para reaproveitamento
porque o lado ruim do PSS apa-
Transportá-lo para em grãos;
rece aqui também. Apenas 1% é
fábrica; Material de baixa emis-
descartado, material de massa
Energia do descarte de são/poder tóxico
mínima
1% é desprezível

-10

176
Design Sustentável e Moda

Avaliação do técnico:
O princípio de comercialização por assinatura e fazendo uso de remanufa-
tura proporciona um impacto positivo na fase ‘fim de vida’, ao economizar maté-
ria-prima de novos produtos, energia na fabricação e redução de emissões. Por
outro lado, aumenta um pouco o impacto na fase de distribuição, devido à maior
quantidade de transportes e viagens. Como o produto deve ser mais resistente,
considerei um maior gasto de material na fase de produção da matéria-prima.
Fonte: Silva, 2009

Matriz MET da solução da Empresa B


MATRIZ MET Materiais PT Energia PT Emissões de Toxinas PT TOTAL
A opção pelo uso de melhores Não usa níquel, alumí-
Extração e materiais, para ser mais resisten- nio ou nenhum outro
Plásticos e metais mes-
Produção de te. Não é tão impactante quanto -2 material intenso em -2 -2 -6
mo em pequena escala
materiais aumentar a espessura da parede energia (apenas um
de um produto pouco de cobre)
Materiais virgens como PP e aços Baixo impacto, energia
Fabricação 0 -1 Indústria limpa -1 -2
sendo transformados em peças de injeção, montagem
Gasta algum material na distri- Transporte em cami-
Gasta combustível e
buição, as embalagens nhões diesel, emissões
emite CO2 no transporte;
Distribuição (uso de isopor); -1 -2 de outros poluentes, -1 -4
Usa diversos materiais;
Viagem só de ida, volta é sem além do CO2 durante o
logo, muito transporte;
carga transporte
Material de limpeza e conser-
vação (pano umedecido) com
Consumo de eletricidade
a tônica é a qualidade da água,
quase desprezível;
suponho que os usuários tenham
Visitas de manutenção
Uso hábitos de higiene elevados, -1 -1 Não há toxidades 0 -2
e inspeção, usando
usem detergente regularmente;
automóveis pequenos
Embalagens utilizadas para levar
em cidades
e apanhar produtos. Troca de
filtro e outros componentes
Energia necessária para
É possível que algum catador
triturar o material e
faça desmantelamento do produ- Limpeza do material
transformá-lo em grãos;
to aproveitando algum plástico e para reaproveitamento
Energia do descarte é
Fim da vida a peça de aço inox; -1 0 em grãos; -1 -2
desprezível pois esse
Provável que pelo menos 40% Material de baixa emis-
material não deve ser
dos produtos devam ir para são/poder tóxico
encinerado e sim ficar
aterros
degradando em aterro

-16

Avaliação do técnico:
O produto comercializado por leasing (cujo impacto ambiental no Ciclo
de Vida se assemelha ao de um produto vendido) tem um impacto um pouco
menor na extração e produção de materiais, porque não precisa ser tão du-
rável. O impacto da distribuição também será um pouco reduzido. Por outro
lado, não apresenta tantos benefícios quanto à remanufatura na fase de fim de
vida. Neste produto, está previsto a reciclagem de alguns materiais, mas não a
reutilização de produtos ou componentes inteiros. O percentual de reciclagem
do produto permite um impacto menor no fim de vida, mas não positivo.
Fonte: Silva, 2009

177
Aula 6

Agora, pontue (-2;-1; 0; +1; +2, do péssimo ao excelente) as alternativas A


e B em relação às estratégias de Ecodesign e monte a roda de estratégias abaixo.

Estratégias Alternativa 1 Alternativa 2

1 - Seleção de materiais de baixo impacto

2 - Redução no uso de material

3 - Otimização da produção e da tecnologia

4 - Otimização do sistema de distribuição

5 - Redução do impacto durante o uso

6 - Otimização no início da vida útil

7 - Otimização do fim de vida do sistema

@ - Estratégia

Com base na pontuação anterior, monte o gráfico, revelando as diferen-


ças entre as soluções a cada quesito das soluções:

Alternativa A
Alternativa A

@
Conceito
Otimização do fim de vida Seleção de materiais
do sistema de baixo impacto
7 1

Otimização no 2 Redução no
6
início da vida útil -2 -1 0 +1 +2
uso de materiais

5 3
Redução do impacto Otimização da produção
durante o uso 4 e da tecnologia

Distribuição

Resposta e Comentário

Não existe uma resposta única para esta atividade, contudo podemos
perceber que o grande ganho da opção A sobre a opção B está na eficiência do
fim de vida e na estratégia de durabilidade da alternativa A. A distribuição de
A mostra-se inferior à alternativa B que, por sua vez, tem menor uso de mate-
riais, pois seu produto não é feito para durar tanto quanto o da concorrência
e sua distribuição consistem em apenas levar o produto ao mercado uma vez,
pois a manutenção, neste caso, é considerada esporádica.

178
Design Sustentável e Moda

Estratégias Alternativa 1 Alternativa 2

1 - Seleção de materiais de baixo impacto 0 0

2 - Redução no uso de material -1 0

3 - Otimização da produção e da tecnologia 0 -1

4 - Otimização do sistema de distribuição -1 0

5 - Redução do impacto durante o uso -1 -1

6 - Otimização no início da vida útil +1 -1

7 - Otimização do fim de vida do sistema +1 -1

@ - Estratégia +2 -1

Alternativa A
Alternativa A

@
Conceito
Otimização do fim de vida Seleção de materiais
do sistema de baixo impacto
7 1

Otimização no 2 Redução no
6
início da vida útil -2 -1 0 +1 +2
uso de materiais

5 3
Redução do impacto Otimização da produção
durante o uso 4 e da tecnologia

Distribuição

Conclusão

Mais uma vez, podemos constatar que apesar do mercado ver o Ecodesign
como uma prática que está atrelada a utilização de materiais menos impactantes
e produtos voltados para reciclagem, o campo dedicado ao profissional da área
é muito mais vasto e permite intervenções em todas as etapas do ciclo de vida.
A ferramenta mostra-se completa, quanto à análise das possibilidades,
pois além de colocar questionamentos, referentes às diversas etapas do ciclo
de vida, sugere ainda uma etapa estratégica (@), onde é possível repensar o
todo a partir do resultado que se deseja chegar.
Sendo uma ferramenta qualitativa e com lampejos semiquantitativos, a
roda de estratégias do ecodesign possibilita demonstrar, simultaneamente, e
de forma visual, as diferenças entre duas ou mais soluções em questão. Esta
característica permite que a equipe envolvida possa estabelecer prioridades
entre os conflitos e definir que soluções são melhores para cada contexto.

179
Aula 6

Para uma segunda olhada

A roda de estratégias do Ecodesign é um modelo conceitual que permite


a reflexão sobre os principais campos de interesse do Ecodesign e está dividida
em oito áreas que se relacionam aos eixos desta roda:

@ - Estratégia
• Desmaterialização;
• Produtos compartilhados;
• Funções integradas
• Otimização funcional

1 - Seleção de materiais de baixo impacto


• Materiais mais limpos;
• Materiais Renováveis;
• Materiais que consumem menos energia na extração;
• Material reciclado e reciclável

2 - Redução no uso de material


• Redução de peso e volume.

3 - Otimização da produção e da tecnologia


• Tecnologias alternativas de produção;
• Menos etapas de produção
• Menos e mais limpas fontes no consumo de energia;
• Geração de menos resíduos;
• Menos uso de consumíveis; prioridade de uso para os mais limpos.

4 - Otimização do sistema de distribuição


• Eficiência energética da logística e do transporte;
• Embalagens reutilizáveis.

5 - Redução do impacto durante o uso


• Menor consumo e fornecimento de energia;
• Uso de fontes renováveis;
• Consumíveis em menor quantidade e prioridade de uso aos mais verdes.

6 - Otimização no início da vida útil


• Confiabilidade e durabilidade;
• Produtos com estruturas moduláveis;
• Fácil manutenção;
• Projetar um design clássico;

180
Design Sustentável e Moda

• Aumento da relação entre usuário e produto.

7 - Otimização do fim de vida do sistema


• Reuso do produto;
• Remanufatura / renovação do produto;
• Reciclagem de materiais;
• Incineração limpa.

Apesar de essa ferramenta ordenar informações de forma clara, antes


de iniciar o desenvolvimento de um produto, a equipe de designers deve ter
em mente qual das estratégias é a mais adequada para determinado projeto.
Esta clareza é o que guiará a opção por uma ou outra solução, que poderá ter
aspectos divergentes ou sinergéticos.

Referências Bibliográficas

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MODULE A: ecodesign strategies In: Ecodesign: a promising approach
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ZÖHRER, Pedro. Estruturas tensegrities e o ecodesign. Rio de Janeiro, 2005. Dissertação
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