Você está na página 1de 33

SO

CI
OL
OG
IA

Pr
é-
Ve
st
ibu
lar

50
0
ia
log
cio
So

Capítulo 7
Sociologia e temas recentes............................300
Exercícios Propostos........................................ 319
2

Módulo 13
58

A sociedade e as novas questões


do meio ambiente e das novas formas ...... 319
de comunicação ............................................. 319
Módulo 14
Globalização e sociedade pós-moderna.... 324
Gabarito dos Exercícios Propostos................329

C
SO
SERGEY KHAKIMULLIN/DREAMSTIME

7 Sociologia e temas recentes


O mundo contemporâneo é uma realidade em transfor- 1. Sociedade e meio ambiente
mação. As crises ecológicas, produzidas pelas modernas Em que medida o meio ambiente é tema importante para
relações dos seres humanos com a natureza, projetam as reflexões sociológicas? Em um primeiro momento, pode-
os debates ambientais no centro das questões políticas. mos ser arrebatados pela inclinação a afirmar que a nature-
Novas formas de comunicação, construídas com as redes za, o conjunto de seus processos e suas formas de vida são
sociais virtuais, interferem decisivamente nos padrões de objetos de estudos exclusivos das ciências naturais, como a
sociabilidade. A globalização acentua a internacionaliza- biologia, a física e a química. Entretanto, se consideramos a
ção dos aspectos sociais, econômicos, culturais e políti- singularidade da condição humana no interior do ecossiste-
300

cos das sociedades atuais, reconfigurando-as no horizon- ma, constataremos a relevância temática das questões am-
te de uma sociedade global. Meio ambiente, novas formas bientais para a sociologia.
de comunicação e globalização são objetos de investiga- Como todos os seres vivos, os seres humanos são se-
ções sociológicas recentes, temas sobre os quais discor- res naturais, submetidos aos ciclos e às leis da natureza.
reremos neste capítulo. Diferentemente dos demais animais, cuja vida transcorre
unicamente nos parâmetros fixados pela natureza, a humani- sociais e culturais das civilizações atuais? Quais são seus

CAP. 7
dade realiza-se em dimensões socioculturais e sua conduta é riscos efetivos para o futuro da humanidade e da vida no pla-
orientada por valores, tradições, normas e símbolos expres- neta? Quais são as mudanças necessárias à reversão desse
sos na linguagem de uma sociedade. Em suas articulações processo? Essas interrogações pontuam as pesquisas da so-
sociais e culturais, os seres humanos ultrapassam a realida- ciologia acerca dessa temática.
de imediata da natureza, construindo um mundo especifica-

SOCIOLOGIA 582
mente humano.
Em suas elaborações socioculturais, as sociedades hu-

DUNDJA/DREAMSTIME
manas transformam diretamente a natureza mediante as ati-
vidades que denominamos de trabalho. Enquanto os animais,
de maneira geral, conquistam sua sobrevivência apenas com
a utilização das disposições naturais de seus organismos, os
seres humanos confeccionam ferramentas, prolongamentos
artificiais de seu corpo, com as quais interferem na natureza
e modificam o meio ambiente.
Nas primeiras comunidades humanas, que superaram
sua dependência da caça e da coleta com o desenvolvimen-

LIVRO DO PROFESSOR
to de práticas agrícolas e a domesticação de animais, es-
tendem-se e aprofundam-se as ações transformadoras dos
seres humanos sobre o meio natural. A humanidade produz Com o trabalho, os seres humanos interferem no meio natural.
as condições materiais de sua existência mediante a orga-
nização de atividades econômicas e sociais com as quais se A. Os problemas ambientais contemporâneos
apropria da natureza. A paisagem natural é modificada pela Os problemas ambientais detectados na atualidade,
agricultura, os cursos dos rios são alterados em busca da como as transformações climáticas, a extinção de formas de
maior eficiência dos trabalhos agrícolas e multiplicam-se as vida e o esgotamento de recursos naturais, têm uma fonte:
atividades artesanais. a interferência humana sobre a natureza. Sabemos que as
ações humanas sobre o meio natural são tão antigas quanto
a própria humanização de nossa espécie, cuja constituição
biológica conduz os seres humanos ao desenvolvimento de
Na história humana, as roupas, ferramentas, um repertório de conhecimentos e expedientes práticos, di-
armas e tradições tomam o lugar das peles, gar- recionados à modificação da natureza para a conquista de
ras, presas e instintos na busca de alimentos e sua sobrevivência.
abrigos. Hábitos e proibições, representando Os problemas ambientais seriam, portanto, uma conse-
séculos de experiência acumulada pela tradição quência de um percurso histórico cumulativo, no qual cres-
social, substituem os instintos hereditários, para cem e se expandem as intervenções dos seres humanos so-
facilitar a sobrevivência de nossa espécie. bre a natureza? Ainda que a resposta positiva a essa questão
CHILDE, Gordon. A evolução cultural do homem. não seja completamente incorreta, é preciso constatar que
4. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. p. 32. não se trata simplesmente de uma trajetória de adição, em
que se acrescentam novos procedimentos humanos sobre a
natureza: entre as sociedades antigas e medievais e o deno-
A vida humana em sociedade, portanto, compreende minado mundo moderno, verifica-se uma profunda mudança
as relações dos seres humanos entre si e as relações dos de sentido nas relações entre humanidade e natureza. Se nas
seres humanos com a natureza. Nessa perspectiva, o meio primeiras prevalece o domínio da natureza sobre os seres
ambiente não deve ser examinado como um dado exterior e humanos, na modernidade realiza-se o suposto domínio do
desvinculado da realidade sociocultural, mas sim, em suas homem sobre a natureza.
reelaborações pelas sociedades humanas, em processos só- Em linhas gerais, as sociedades tradicionais não se
cio-históricos que envolvem tanto a dependência da humani- caracterizam pela expectativa de absoluto controle sobre o
dade diante da natureza quanto o projeto humano de controle meio natural, pelo compromisso de converter o conhecimen-
e domínio sobre os elementos naturais. to em geração de tecnologias e pela ambição de expandir a
O meio ambiente, então, constitui-se como campo temá- produtividade econômica. Essas tendências sociais, econô-
tico significativo para as investigações sociológicas. Não há micas e culturais desenvolvem-se com a formação do mun-
fronteiras rígidas entre sociedade e natureza. Vivendo em do moderno.
sociedade, os seres humanos atuam sobre o conjunto na- No universo mais amplo da cultura, a projeção do domínio
tural e, em certa medida, produzem o meio ambiente que, humano sobre a natureza delineia-se com o Renascimento Cul-
transformado pela humanidade, interfere na dinâmica das tural e a Revolução Científica, na Europa, entre os séculos XIV
relações sociais. e XVII, fenômenos históricos que depositam elevada confiança
301

Os estudos sociológicos mais recentes consideram as na capacidade humana de conhecer e modificar o mundo. O
relações entre seres humanos e natureza com base num pro- moderno conhecimento científico, diferenciando-se da tradi-
blema que afeta profundamente o mundo contemporâneo: os ção especulativa da filosofia, é concebido em suas conexões
PV3D-18-70

desequilíbrios ambientais. Qual é a origem dessa crise ecoló- com suas aplicações práticas, segundo as quais os saberes
gica? Quais são suas conexões com os padrões econômicos, produzidos pela física, pela química, pela biologia, enfim, pelas
ciências naturais, devem ser utilizados em benefício da eman- consumo de mercadorias que personificam status social e
CAP. 7

cipação humana diante da natureza. estilo de vida socialmente valorizado.


Nos círculos filosóficos, é exemplar, a esse respeito, a Muitas mercadorias são fabricadas de acordo com o
concepção do filósofo britânico Francis Bacon (1561-1626), conceito de obsolescência planejada. O que é a obsoles-
que se dedica à construção de uma metodologia adequada cência planejada? É a produção de bens concebidos para
ao conhecimento científico da natureza. A proposta meto- serem efêmeros, quer dizer, de bens descartáveis, de pou-
SOCIOLOGIA 582

dológica de Bacon, com uma base experimental apropriada ca duração, exigindo sua substituição por mercadorias
à identificação das leis que regem os fatos naturais, vincu- mais atualizadas, sob o prisma tecnológico e simbólico. Na
la-se diretamente à expectativa de habilitar a humanidade sociedade de consumo, os seres humanos são, sobretudo,
para o desenvolvimento de técnicas e tecnologias que me- consumidores, intensificando a postura humana destrutiva
lhorem as condições de vida dos seres humanos. Em outras da natureza.
palavras, esse filósofo preconiza o conhecimento científico
como recurso indispensável para o domínio humano sobre a
natureza, tese condensada em sua afirmação de que saber
é poder.

HAI HUY TON THAT/DREAMSTIME


Esse horizonte sociocultural articula-se com transforma-
ções socioeconômicas que assinalam o declínio do feudalis-
LIVRO DO PROFESSOR

mo e o surgimento da sociedade capitalista entre os últimos


séculos do Período Medieval e os primeiros da Era Moderna.
No capitalismo, regido pelos empreendimentos econômicos
orientados pelo lucro, fomenta-se a busca pela ampliação
da produtividade. Conhecimento científico e aspirações lu-
crativas capitalistas confluem em uma atuação incisiva das
modernas sociedades humanas diante do meio natural, po-
tencializando o estabelecimento de inovações técnicas e a
transformação dos elementos naturais em recursos energé-
ticos e objetos da atividade industrial.

Outros ícones da revolução científica foram Isaac


Newton e René Descartes, dos quais herdamos uma visão Os shopping centers são símbolos da sociedade de consumo.
mecanicista e cartesiana de sociedade que solidificou a
ideia de domínio técnico do ser humano sobre a natureza Em síntese, a realização do domínio humano sobre o meio
e uma visão fragmentada sobre ela, ou seja, o ser humano natural, na forma clássica do desenvolvimento econômico ca-
passou a se ver separado do mundo natural e acima dele, pitalista, realiza-se com a dilapidação da natureza, resultando
aprofundando as perspectivas antropocêntrica e tecnicista. em graves desequilíbrios ecológicos e problemas ambientais
Somadas às transformações socioeconômicas, liga- que se explicitam com veemência nas últimas décadas. Entre
das à consolidação do capitalismo, esse paradigma terá os inúmeros problemas ambientais, que colocam sob severo
efeitos visíveis no plano ecológico e precisa ser profunda- risco a continuidade da vida e as gerações futuras, podemos
mente repensado, como sugerem pensadores como Félix citar a poluição, a multiplicação dos resíduos sólidos, o esgo-
Gattari, na obra As três ecologias, em que expressa preo- tamento de recursos naturais, o desmatamento e o aqueci-
cupação com um mundo que se deteriora lentamente, e mento global.
Fritjof Capra, em O ponto de mutação, que propõe uma
mudança paradigmática pautada numa perspectiva mais
sistêmica e holística de mundo, o que traria ganhos para a
dimensão ecológica. É importante observar que a postura predatória pe-
rante a natureza é característica também dos países que,
no século XX, organizaram suas economias nos moldes
Sob o ponto de vista socioeconômico, é a partir da Revo- do intitulado socialismo real. De modo geral, os impactos
lução Industrial do século XVIII que se consolida a atitude de ambientais dessas sociedades socialistas revelam-se tão
domínio humano sobre a natureza. A dinâmica industrial ca- negativos quanto os das sociedades capitalistas.
pitalista enseja a sistematização de práticas agressivas em
face do meio natural, com a extração, em larga escala, de ma-
térias-primas, a devastação de extensas paisagens naturais e A poluição do ar é um dos fenômenos ambientais das
a utilização desmedida de recursos ambientais. sociedades contemporâneas, procedendo principalmen-
302

No século XX, as relações sociais capitalistas configu- te das atividades industriais poluentes e da emissão de
ram-se nos termos da sociedade de consumo. Nesta, a pro- gases por veículos motorizados. Esse fenômeno interfere
dução econômica massiva conjuga-se com as estratégias de forma negativa na saúde das pessoas, provocando da-
PV3D-18-70

discursivas da publicidade, suscitando desejos e neces- nos como problemas respiratórios, doenças pulmonares
sidades artificiais nos seres humanos, mobilizados para o e câncer. Merece destaque também a poluição da água,
produzida especialmente pelo despejo de dejetos indus-

SHIME/DREAMSTIME

CAP. 7
triais e urbanos em rios e oceanos, com sua consequente
contaminação por metais, substâncias tóxicas e diversos
resíduos das atividades humanas.

SOCIOLOGIA 582
A poluição do ar não afeta apenas [diretamen-
te] a saúde das populações humanas e animais;
seu impacto é prejudicial também sobre outros
elementos do ecossistema. Uma consequência A poluição do ar é um dos graves problemas ambientais contemporâneos.
nociva da poluição do ar é a chuva ácida, um
fenômeno que ocorre quando as emissões de Questiona-se a noção de domínio dos seres humanos so-
enxofre e óxido de nitrogênio em um país são bre a natureza, a redução sociocultural da natureza à condição
levadas pela corrente de ar, atravessando fron- de objeto manipulável pela humanidade, algo que, sob um pon-
teiras e produzindo precipitações acidíferas em to de vista crítico, consuma-se no exercício do domínio sobre o
outro país. A chuva ácida prejudica as florestas, conjunto dos seres humanos, que também são seres naturais.

LIVRO DO PROFESSOR
as plantações e a vida animal e leva à acidifica- Nesse contexto, amplia-se a repercussão internacional
ção dos lagos. dos movimentos sociais ambientalistas, assim questões
GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005. p. 489. ecológicas são introduzidas na pauta do debate político inter-
nacional. Quanto a este último aspecto, é interessante regis-
trar a realização, em 1992, da Conferência das Nações Unidas
A contaminação da água incide, evidentemente, na sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, evento sediado
diminuição da oferta do recurso hídrico disponível para a na cidade do Rio de Janeiro. Conhecida como Eco-92, essa
utilização humana. A água é classificada como um recur- conferência foi realizada com a participação de chefes de Es-
so renovável, uma vez que é substituída naturalmente ao tado de diversos países, em que se discutiram os problemas
longo do tempo, desde que esse ciclo de renovação não ambientais contemporâneos e os caminhos pertinentes ao
seja comprometido pelos desequilíbrios introduzidos no seu enfrentamento. Nesse sentido, elaborou-se a Convenção
ecossistema. Além da poluição, outros fatores afetam sua sobre Diversidade Biológica, um tratado multilateral destina-
disponibilidade, como a concentração populacional em do à proteção da biodiversidade, com o compromisso de sua
determinadas regiões do planeta, os desmatamentos e o utilização sustentável e socialmente justa. Formulou-se ain-
aquecimento global. da a Agenda 21, plano de ação e metas cuja execução pressu-
Os desmatamentos – destruição de áreas florestais – põe o comprometimento de governos, empresas, sindicatos
–são protagonizados pelos interesses imediatos de gru- e diferentes entidades da sociedade civil com o restabeleci-
pos industriais e de proprietários de terras, comprometen- mento do equilíbrio ambiental, a erradicação das acentuadas
do, assim, um elemento essencial ao equilíbrio ecológico. desigualdades sociais e a promoção da inclusão social.
As florestas são imprescindíveis à preservação da bio- Nessa mesma conferência, foi proposta a redação da
diversidade, à reciclagem das águas das chuvas, à ma- Carta da Terra, com o propósito de oferecer os fundamentos
nutenção da qualidade do solo, enfim, à integridade do reguladores dos esforços mundiais em defesa do meio am-
ecossistema. Os desmatamentos implicam acentuados biente. A confecção desse documento, entretanto, efetivou-se
prejuízos ambientais. somente nos anos seguintes, contando com representantes
Um dos mais contundentes problemas ambientais de diferentes instituições e países. Sua versão final foi apro-
contemporâneos é o aquecimento global, que consiste no vada no ano de 2000, preconizando a mobilização de todos
aumento gradual da temperatura média da Terra, associa- os povos em torno da construção de uma sociedade mundial
do às alterações atmosféricas decorrentes das atividades sustentável, justa e democrática.
humanas. Entre os riscos contidos no aquecimento global, A Carta da Terra apresenta como seu primeiro princípio
podemos registrar a elevação do nível dos mares, a trans- a necessidade de respeitar e cuidar da comunidade da vida.
formação de terras férteis em regiões desérticas, a dimi- Esse fundamento envolve a valorização da biodiversidade; da
nuição de muitas colheitas e a disseminação de doenças. potencialidade intelectual, artística, cultural e espiritual da
humanidade; da conjugação entre liberdade e responsabili-
B. A proposta de desenvolvimento sustentável dade na promoção do bem comum, de sociedades democrá-
Em tempos recentes, as constatações científicas desses ticas, participativas e sustentáveis; e do compromisso com a
problemas ambientais e a percepção mundial de seus efei- qualidade de vida das futuras gerações.
tos e riscos estimulam reflexões acerca das relações entre O segundo princípio refere-se à integridade ecológica, de-
seres humanos e natureza, bem como posturas bastante fendendo a realização de estudos ecológicos, a restauração
críticas diante do modelo de civilização em que vivemos na do ecossistema, práticas preventivas que evitem danos am-
303

contemporaneidade. Afinal, o itinerário histórico de domina- bientais e a instauração de padrões de consumo submetidos à
ção humana sobre a natureza, a despeito de suas conquistas preservação ambiental e à efetivação dos direitos humanos. O
tecnológicas, desdobra-se em dramas ecológicos que preju- terceiro princípio concerne à justiça social e econômica, clas-
PV3D-18-70

dicam a qualidade de vida dos seres humanos e ameaçam sificando a erradicação da pobreza como imperativo ético, so-
severamente o futuro da humanidade. cial e ambiental e defendendo a subordinação das atividades
econômicas à promoção de sociedades justas, a igualdade de ao restabelecimento da integridade ecológica e à remoção
CAP. 7

direitos entre os gêneros e o direito de todas as pessoas a um das iniquidades sociais. Essa concepção retira a prioridade
ambiente natural e social que assegure a dignidade humana. do fator econômico, transferindo-a para os aspectos so-
Por fim, o quarto princípio, nomeado “Democracia, não vio- ciais e ambientais.
lência e paz”, ressalta a importância dos mecanismos de de- O que significa exatamente essa mudança de prioridade
mocratização sociopolítica, da incorporação do modo de vida defendida pelo prisma do desenvolvimento sustentável? Não
SOCIOLOGIA 582

sustentável à cidadania, do respeito a todas as formas de vida se nega, obviamente, a importância das atividades econômicas,
e dos valores culturais de tolerância e pacifismo. imprescindíveis à sobrevivência e ao conforto material dos se-
res humanos. O que se rejeita é a valorização suprema e incon-
dicional do desenvolvimento econômico, independentemente
de seus impactos sobre a natureza e sobre a qualidade de vida
A Carta da Terra dos seres humanos. Em sentido diverso, o desenvolvimento
sustentável condiciona a produção econômica à preservação
Preâmbulo ambiental e à realização de uma sociedade plena de cidadania.
Estamos diante de um momento crítico na his-
tória da Terra, numa época em que a humanidade
deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo
LIVRO DO PROFESSOR

torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o O termo “desenvolvimento sustentável” foi
futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos introduzido primeiramente no relatório Our
e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos common future (Nosso futuro comum), de 1987,
reconhecer que, no meio da uma magnífica diver- encomendado pelas Nações Unidas, também
sidade de culturas e formas de vida, somos uma conhecido como Relatório Brundtland, pois a
família humana e uma comunidade terrestre com comissão organizadora que o elaborou foi pre-
um destino comum. Devemos somar forças para sidida por G. H. Brundtland, na época primei-
gerar uma sociedade sustentável global baseada ra-ministra da Noruega. O desenvolvimento
no respeito pela natureza, nos direitos humanos sustentável foi definido como o uso de recur-
universais, na justiça econômica e numa cultura da sos renováveis para promover o crescimento
paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que econômico, a proteção das espécies animais e
nós, os povos da Terra, declaremos nossa respon- da biodiversidade e o compromisso com a ma-
sabilidade uns para com os outros, com a grande nutenção da pureza do ar, da água e da terra.
comunidade da vida e com as futuras gerações. Para a comissão Brundtland, desenvolvimento
A Carta da Terra. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/ sustentável é aquele que “atende às necessida-
agenda21/_arquivos/carta_terra.pdf>. Acesso em: 20 nov. 2016. des de hoje, sem comprometer a capacidade de
as próximas gerações atenderem às suas pró-
prias necessidades".
Em seus aspectos gerais, a Carta da Terra reconhece e valo- GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005. p. 487.
riza a diversidade cultural humana, ressaltando, contudo, a uni-
dade da humanidade como espécie pertencente à extensa co-
munidade da vida. O que se nota não apenas nesse documento, Em que pesem a intensificação da atuação dos movi-
mas no conjunto das perspectivas de restauração de um meio mentos ambientalistas, o aprofundamento do debate inter-
ambiente saudável, é a proposta de radical modificação das nacional sobre as questões ecológicas e a implementação
relações dos seres entre si e das relações dos seres humanos de medidas pontualmente direcionadas à transformação das
com a natureza. Nesse horizonte, compreende-se que o respei- relações entre sociedades e natureza, ainda não podemos
to à natureza é indissociável do respeito aos direitos humanos, constatar a supremacia do desenvolvimento sustentável no
ou seja, a integridade ecológica vincula-se à redução das desi- mundo contemporâneo, ou seja, persiste a prevalência do pa-
gualdades sociais, à supressão da miséria, à construção social drão clássico de organização socioeconômica.
de padrões materiais e espirituais de vida, dignos para todos Sendo assim, é oportuno o exame da seguinte questão:
seres humanos, quer dizer, à efetivação da cidadania. por que não se concretiza plenamente a proposta de desen-
Trata-se, em suma, de uma proposta de mudança dos volvimento sustentável? Afinal, se o conceito de desenvol-
padrões sociais, culturais, econômicos e políticos da civiliza- vimento sustentável contempla os interesses e direitos de
ção atual, conceituada como desenvolvimento sustentável. todos os seres humanos – inclusive a preocupação com a
O desenvolvimento sustentável exige a modificação dos pa- qualidade de vida da humanidade no futuro –, não seria ra-
râmetros civilizacionais, com a renúncia ao modelo clássico zoável esperar o assentimento das diversas sociedades e
de desenvolvimento das civilizações modernas e contempo- grupos sociais quanto à necessidade de sua efetivação?
râneas, assentado na dilapidação dos recursos planetários e A resistência social e política ao desenvolvimento susten-
na primazia concedida às estratégias empresariais lucrativas. tável é articulada sob diferentes fatores. Um obstáculo rigoro-
304

Esse modelo de civilização implica exclusão social, desigual- so a essas mudanças sociais e ecológicas é a caracterização
dades extremas e graves desarranjos ambientais. do capitalismo contemporâneo como sociedade de consumo.
O conceito de desenvolvimento sustentável projeta um O desenvolvimento sustentável requer não apenas a dimi-
PV3D-18-70

tipo de sociedade em que o desenvolvimento econômico nuição considerável dos níveis de consumo, mas também a
esteja subordinado à preservação dos recursos naturais, desconstrução da cultura consumista. Uma transformação
dessa natureza exigiria, portanto, a reestruturação radical 2. Sociedade e as novas

CAP. 7
das atividades econômicas e dos laços sociais, a reorienta-
ção do mercado para os valores ambientais e para a esfera
formas de comunicação
da cidadania. A amplitude e a profundidade dessa mudança, Sabemos que a sociologia interessa-se pelos seres hu-
que substituiria as próprias bases da civilização atual, tornam manos em sua condição sociocultural, isto é, como seres que,
extremamente complexa a sua realização. inseridos em articulações entre si e com a natureza, vivem

SOCIOLOGIA 582
Além disso, devemos observar que a proposta de desenvol- no interior de um universo diversificado de valores, normas,
vimento sustentável confronta-se com interesses específicos hábitos e práticas sociais e culturais. A dinâmica das socieda-
de grupos socioeconômicos poderosos, cujas práticas empre- des humanas é instituída por tradições, consensos, conflitos
sariais são mobilizadas exclusivamente por suas ambições lu- e relações de poder.
crativas. Em sua redução do mundo ao mercado, prevalece seu No vocabulário sociológico, utiliza-se o termo socializa-
objetivo mercadológico imediato: a maximização de seus lucros ção para nomear o processo no qual as regras, os preceitos
em detrimento das questões socioambientais. É importante sa- e os conhecimentos dos grupos sociais são transmitidos e
lientar a sólida representatividade política desses segmentos assimilados pelos indivíduos, integrando-os à sociedade. Na
sociais, isto é, sua ascendência sobre as autoridades governa- socialização, bem como na totalidade das relações sociais, é
mentais dificulta ou, muitas vezes, inviabiliza a efetivação de central a importância da linguagem, conjunto de regras gra-
medidas sociopolíticas de desenvolvimento sustentável. maticais e de conteúdos semânticos com o qual os seres

LIVRO DO PROFESSOR
Por fim, sob o ponto de vista estritamente político, se é humanos significam, reproduzem e partilham suas experiên-
ampla, pelo menos no nível discursivo, a aceitação de que é cias. Utilizando a linguagem, realiza-se a comunicação na
preciso reconfigurar as relações entre humanidade e nature- vida em sociedade.
za e avançar em direção a formas de vida socialmente justas, A comunicação envolve não apenas a linguagem con-
os caminhos para a construção dessa realidade são objetos vencional, mas também recursos variados, como gestos cor-
de divergência. Nesse sentido, vigoram concepções diversas porais, imagens, símbolos, criações artísticas. As interações
sobre a atuação e as tarefas do Estado na sociedade, sua sociais cotidianas são, necessariamente, formas comunica-
maior ou menor ingerência no âmbito das atividades econô- cionais. A comunicação, entretanto, não é simplesmente um
micas e as formas pelas quais deve promover a cidadania e a expediente para viabilizar os laços sociais entre grupos e in-
regulação da conduta ambiental dos seres humanos. divíduos, tampouco um mero mecanismo de reprodução do
patrimônio cultural de uma sociedade. A comunicação produz
valores, interfere na dinâmica social, mobiliza as disputas so-
APRENDER SEMPRE 36 ciais e, muitas vezes, transforma as relações de poder.
Nas mais distintas situações da existência social, cons-
01. Enem tata-se a comunicação entre os seres humanos. Em um diálo-
O acidente nuclear de Chernobyl revela brutal- go entre uma professora e uma aluna, na visita a uma exposi-
mente os limites dos poderes técnico-científicos da ção artística, na exibição de um filme em uma sala de cinema,
humanidade e as “marchas a ré” que a “natureza“ em uma transação comercial, na leitura de uma mensagem
nos pode reservar. É evidente que uma gestão mais enviada por meios eletrônicos, ou seja, em incontáveis exem-
coletiva se impõe para orientar as ciências e as téc- plos localiza-se o fenômeno social da comunicação.
nicas em direção a finalidades mais humanas.
GUATTARI, F. As três ecologias. São Paulo: Papirus, 1995. Adaptado. A. Formas de comunicação na contemporaneidade
A comunicação assume formas bastante complexas nas
O texto trata do aparato técnico-científico e suas sociedades modernas e contemporâneas, proporcionadas
consequências para a humanidade, propondo que pelo desenvolvimento de recursos tecnológicos que revo-
esse desenvolvimento lucionam as relações entre os seres humanos. É o caso do
a. defina seus projetos com base nos interesses surgimento dos meios de comunicação de massa, como a
coletivos. imprensa escrita, o rádio, o cinema e a televisão.
b. guie-se por interesses econômicos, prescritos Em um dos capítulos anteriores, examinamos sociolo-
pela lógica do mercado. gicamente a presença desses meios de comunicação de
c. priorize a evolução da tecnologia, apropriando-se massa na sociedade sob o conceito de indústria cultural,
da natureza. formulado pelos teóricos da Escola de Frankfurt, precisa-
d. promova a separação entre natureza e sociedade mente por Theodor Adorno e Max Horkheimer. Ainda que a
tecnológica. conceituação proposta por esses intelectuais não seja aco-
e. tenha gestão própria, com o objetivo de melhor lhida de forma unânime pelos sociólogos contemporâneos,
apropriação da natureza. inegavelmente possui o mérito de registrar que o apareci-
mento desses modernos recursos comunicacionais não se
Resolução reduz a uma mudança quantitativa, ou seja, não se limita a
O conteúdo do texto declara a necessidade de mo- permitir a difusão mais rápida, ampla e generalizada de in-
305

dificação nas relações entre seres humanos e natureza, formações pela sociedade – embora tal fato, por si só, seja
promovendo seu redirecionamento para o horizonte do extremamente relevante. Muito além disso, os meios de
desenvolvimento sustentável. comunicação de massa provocam transformações qualita-
PV3D-18-70

Alternativa correta: A tivas nos conteúdos e no fluxo das relações sociais e cultu-
rais da civilização contemporânea.
Sob o prisma de Adorno e Horkheimer, a indústria cultural difusão pela sociedade desdobra-se em alterações na própria
CAP. 7

dissolve o recorte social entre cultura erudita e cultura popu- natureza da comunicação e no universo das relações sociais.
lar, convertendo a cultura em mercadoria, em bens mercado- Como se articulam os tradicionais meios de comunicação
lógicos, descartáveis e de consumo. A indústria cultural reduz de massa e a comunicação efetuada pela rede mundial de com-
os seres humanos a receptores passivos de seus conteúdos, putadores? Em que medida as novas formas de comunicação
moldando-os na padronização de seus pensamentos, expec- afetam o cotidiano das pessoas? Quais são as possibilidades
SOCIOLOGIA 582

tativas, preferências, comportamento e estilo de vida. Incide, individuais e sociais inauguradas pela comunicação em rede?
portanto, na neutralização da capacidade crítica e verdadeira- O que significa, socialmente, o espaço virtual em que se esta-
mente criativa dos seres humanos, adequando-os, assim, à belece parte expressiva das comunicações entre os seres hu-
vigência da razão instrumental. manos na atualidade? Como se relacionam o ambiente virtual
e a totalidade do real? Podemos, com legitimidade, considerar a
virtualidade como elemento importante da realidade contempo-
rânea, isto é, diagnosticar a existência de uma realidade virtual?
Essa extensa lista de questões indica a amplitude e a
profundidade das mudanças engendradas pela proliferação
de modalidades de comunicação eletrônica na sociedade
contemporânea. Oferecer respostas definitivas para essas
LIVRO DO PROFESSOR

indagações é tarefa situada além do estágio atual das pes-


quisas sociológicas sobre essa temática, algo que se explica
precisamente pela densidade e pela multiplicidade das im-
plicações da tecnologia da informação nas relações sociais,
ALEXANDRG/DREAMSTIME

pela originalidade dos fenômenos por ela produzidos e por


ser um dado ainda muito recente de nossa realidade. Des-
sa forma, o que os estudos sociológicos nos apresentam é
a identificação de tendências anunciadas por essas novas
formas de comunicação.
A televisão é um dos tradicionais meios de comunicação de massa. Apresentaremos, na sequência, sumariamente as prin-
cipais observações realizadas pelos estudiosos do tema.
Nas últimas décadas do século XX, consume-se um re-
pertório de inovações tecnológicas características do que B. As novas formas de comunicação
muitos estudiosos chamam de Terceira Revolução Indus- e as relações sociais
trial. Nela se destacam as conquistas no campo da informá- Um microcomputador, um telefone celular ou um tablet
tica, com larga repercussão nos processos produtivos e na oferecem um vasto leque de possibilidades aos seus usuá-
totalidade das relações sociais. As novas tecnologias intro- rios. Por meio desses equipamentos, ingressa-se no cibe-
duzem uma série de dispositivos que modificam as condi- respaço. O que é o ciberespaço? Essa palavra designa o am-
ções de comunicação nas sociedades atuais, tais como a di- biente virtual da rede mundial de computadores, a internet,
fusão dos computadores de uso pessoal, a rede mundial de no qual seres humanos fisicamente localizados em pontos
computadores interligados – internet –, a telefonia móvel distantes do planeta estabelecem interações diversas entre
e os equipamentos eletroeletrônicos multifuncionais. Cons- si. A presença do ciberespaço na sociedade intensifica-se em
titui-se, nesse contexto, o que alguns sociólogos definem tal proporção que é comum, atualmente, a utilização do termo
como sociedade de informação. cibercultura, para referir-se aos elementos e aspectos socio-
culturais produzidos na rede eletrônica de comunicação. MAGLARA/DREAMSTIME

A sociedade de informação é um sistema


social no qual a produção de bens e serviços
depende profundamente da coleta, processa-
mento e transmissão de informações. Da mesma
maneira que a industrialização tornou possível
produzir imensos volumes de bens materiais, o
aparecimento de computadores de alta velocida-
de e da tecnologia da comunicação tornou viável
produzir, processar e transmitir volumes imen-
sos de informação.
JOHNSON, Allan G. Dicionário de sociologia. Computadores são utensílios difundidos em nosso cotidiano atual. Seus
Rio de Janeiro: Zahar, 1997. p. 214. recursos comunicacionais transformam o conjunto das relações sociais.
306

Ingressando no ciberespaço, um indivíduo pode buscar


O que afirmamos acerca da inserção social dos clássicos informações necessárias para um trabalho que pretende
PV3D-18-70

meios de comunicação de massa é igualmente válido para o apri- realizar, participar de uma reunião profissional com colegas
moramento e a difusão dos recursos informáticos, ou seja, sua instalados em diferentes lugares, envolver-se em uma discus-
são sobre questões políticas e efetuar compras. Pode também cibernéticas, por sua vez, aproxima-se da horizontalidade

CAP. 7
assistir a um documentário, compartilhar músicas em uma e da multilateralidade.
rede social e criar um blog para a publicação de seus textos. É O que queremos dizer, exatamente, ao declararmos o
possível ainda fazer um curso de idiomas on-line, engajar-se predomínio da verticalidade e da unilateralidade na comu-
virtualmente em um movimento social e buscar informar-se nicação praticada pelos tradicionais meios de massa? De
sobre eventos de interesse. Há inúmeras alternativas, tais maneira geral, esses meios de comunicação concentram-se

SOCIOLOGIA 582
como conhecer o acervo de um museu, acompanhar instan- em poderosos grupos particulares – sob a forma direta de
taneamente os acontecimentos mundiais, divulgar seu tra- propriedade privada ou no exercício de uma concessão pú-
balho e conversar com uma amiga que reside em outro país. blica – que os controlam diretamente. Seus conteúdos, suas
Essas são apenas algumas das possibilidades de in- linhas editorais e sua programação são definidos por esse
teração do ambiente cibernético, no entanto sua menção é núcleo minoritário da sociedade, em sintonia com sua visão
suficiente para pontuar a crescente presença dessas formas de mundo, estratégias de mercado, interesses econômicos
de comunicação na organização da sociedade e no cotidiano e seus objetivos políticos. Nota-se, então, a verticalidade, ou
das pessoas. Delineia-se o que o sociólogo espanhol Manuel seja, sua atuação é configurada por um grupo situado em um
Castells diagnostica como sociedade em rede. Para esse inte- ponto elevado na hierarquia social, afinado com os valores da
lectual, dada a importância fundamental que a rede de comu- cultura dominante, e direcionada de maneira descendente
nicação eletrônica assume na sociedade, a expressão mundo ao conjunto da sociedade. Pronuncia-se, do mesmo modo, a

LIVRO DO PROFESSOR
virtual não é a mais apropriada para se referir à dimensão supremacia da unilateralidade, pois os diversos segmentos
formada pelo desenvolvimento e expansão das comunida- sociais receptores desses conteúdos não participam, direta-
des on-line. Nesse sentido, o sociólogo argumenta que essas mente, de sua produção.
novas formas de comunicação, atualmente, não são uma di- Diferentemente, a comunicação em rede pela internet
mensão secundária, paralela ou complementar à realidade não é controlada por um núcleo social restrito, propiciando,
efetiva, mas, sim, uma virtualidade real, integrada com as assim, o estabelecimento de relações dialógicas e a multipli-
demais modalidades de interação na sociedade. cidade de perspectivas. Nesse espaço virtual, indivíduos po-
dem publicar seus textos em blogs e redes sociais; entidades
culturais e movimentos sociais divulgam suas plataformas
em sites e revistas eletrônicas; e a postagem de vídeos é, em
[...] identifiquei algumas tendências que já princípio, aberta a todos no YouTube. A inclinação à horizon-
estavam presentes e podiam ser observadas nas talidade e à multilateralidade desse espaço de comunicação
duas últimas décadas do século passado e tentei assenta-se no fato de que os usuários da internet são tam-
dar sentido ao seu significado usando procedi- bém protagonistas de seus conteúdos e múltiplas são as
mentos-padrão das ciências sociais. O resultado fontes socioculturais que tecem a rede de informações em
foi a descoberta de uma nova estrutura social interações virtuais.
que estava se formando, que conceituei como a É importante, contudo, ponderar que essas característi-
sociedade em rede por ser constituída por redes cas dessas formas de comunicação não devem ser entendi-
em todas as dimensões fundamentais da orga- das como realidades absolutas. Em outras palavras, a produ-
nização e da prática social. [...] Como as redes ção da comunicação pelos clássicos meios de massa, apesar
não param nas fronteiras do Estado-Nação, a so- de seu viés vertical e unilateral, é parcialmente permeável
ciedade em rede se constituiu como um sistema às expressões de segmentos variados da sociedade civil.
global, prenunciando a nova forma de globaliza- Da mesma forma, a comunicação mobilizada no ciberespaço
ção característica do nosso tempo. não é imune à correlação de forças sociais e à desigualdade
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. das relações de poder vigentes na sociedade. Além disso, de-
São Paulo: Paz e Terra, 2010. p. II. vemos observar a existência de influências recíprocas entre
essas modalidades comunicacionais.
Essa interpenetração pode ser identificada com a descri-
Essa rede informática de comunicação, com sua ção de alguns fatos. A programação televisiva, por exemplo,
abrangência mundial, ultrapassa as divisões geográficas, incorpora crescentemente aspectos da interatividade das
nacionais e regionais, interseccionando o global e o local redes sociais eletrônicas e digitais, com participações de
em suas diferentes esferas – social, econômica, cultural telespectadores por meio de recursos informáticos. Grandes
e política. Em certa medida, reduzem-se as distâncias e o empresas de comunicação canalizam parte de seus inves-
tempo, tornando mais fluidos os limites entre localidade e timentos para a internet: a imprensa escrita publica seus
globalidade. Esse movimento situa-se no fenômeno mais jornais e revistas em versões eletrônicas, as transmissões
amplo da globalização, que estudaremos na continuidade radiofônicas e televisivas podem ser acessadas por compu-
deste capítulo. tadores e sites de notícias são mantidos por esses grupos
Essas redes de comunicação da internet distinguem-se de comunicação. As estratégias publicitárias de mercado es-
dos tradicionais meios de comunicação de massa. Em tendem-se dos meios de comunicação convencionais para o
307

linguagem esquemática e comparativa, podemos di- ambiente em rede do ciberespaço.


zer que emissoras de rádio, canais de televisão, jornais, A tecnologia da informação, com a agilidade da comunicação
revistas, enfim os clássicos meios de comunicação de em rede e seu alcance global, introduz novas perspectivas nas
PV3D-18-70

massa estruturam-se em perspectiva vertical e unilate- dimensões sociopolíticas do mundo atual, tanto no plano inter-
ral. A comunicação que se processa nas redes sociais no de diferentes países quanto no âmbito geopolítico mundial.
Essas transformações dizem respeito às relações entre socieda- no mundo efetivamente físico. Apontam, portanto, o risco de
CAP. 7

de civil e Estado e às relações entre os Estados Nacionais. decomposição da sociabilidade, com a primazia da atomiza-
Ao estudar os movimentos sociais contemporâneos, re- ção dos indivíduos e do isolamento social.
gistramos o seu redimensionamento na era da tecnologia da
informação. O tempo necessário para a organização e a reali-
zação de mobilizações sociais diminui, agilizando as respostas
SOCIOLOGIA 582

sociais aos fatos políticos. Diversos grupos sociais utilizam Alguns sociólogos temem que a difusão da
intensivamente o ambiente virtual para divulgar suas platafor- tecnologia da internet acabe levando a um isola-
mas e para exercer pressão sobre as decisões governamen- mento social e a uma atomização cada vez maio-
tais, buscando, por esse meio, soluções institucionais favorá- res. Eles sustentam que um efeito da ampliação
veis às suas reivindicações. A eliminação virtual das distâncias do acesso à internet nos lares é que as pessoas
geográficas proporciona a interação de movimentos sociais estão dedicando menos “tempo de qualidade” à
situados em diferentes regiões do mundo, possibilitando a dis- vida com a família e com os amigos. Diante da
cussão de pautas globais e a adoção de estratégias unificadas. confusão nos limites entre o trabalho e a casa,
Em certa medida, a internet revela-se como uma espécie a internet invade a vida doméstica: muitos em-
de termômetro das tendências sociopolíticas, sendo comum, pregados continuam trabalhando em casa após
então, o seu acompanhamento por representantes do poder o expediente – verificando o e-mail ou concluin-
LIVRO DO PROFESSOR

estatal, com o propósito de avaliar a repercussão de possíveis do tarefas que não tenham conseguido terminar
decisões governamentais e de definir a tonalidade adequada da durante o dia. Reduz-se o contato humano, so-
comunicação entre Estado e sociedade. Não é raro, por exemplo, frem os relacionamentos pessoais, esquecem-se
que determinados projetos do poder público sejam modificados, as formas tradicionais de entretenimento, como
postergados ou até abandonados diante da observação de sua o teatro e os livros, e enfraquece-se a estrutura
recepção negativa por amplos segmentos sociais – constata- da vida social.
ção que se processa, ainda que não exclusivamente, pela men- GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005. p. 382.
suração das reações expressas pelas redes sociais da internet.
A tecnologias digitais e eletrônicas interferem também nas
questões atinentes à segurança dos Estados Nacionais, sobre- Avaliações sociológicas diferentes, porém, assinalam as
tudo porque a comunicação em rede cibernética torna mais frágil novas possibilidades de exploração do mundo social, propor-
a preservação de informações governamentais e estatais sigilo- cionadas pela comunicação em rede, o que não apenas am-
sas. As técnicas de espionagem eletrônica ameaçam o conceito pliaria o horizonte dos relacionamentos sociais, com a intera-
de soberania nacional, razão pela qual o tema é objeto de preo- ção eletrônica, como também reforçaria e complementaria as
cupação internacional, recebendo atenção da Organização das modalidades tradicionais de relações sociais. A oportunidade
Nações Unidas, que, no ano de 2013, aprovou o projeto de reso- de uma mãe e de um pai se comunicarem, pela internet, com
lução “O direito à privacidade na era digital”, elaborado e apresen- uma filha ou um filho que vive em outro país seria um exemplo
tado conjuntamente por representantes do Brasil e da Alemanha. a esse respeito. Outra exemplificação é a interação de indiví-
O problema da privacidade na era digital não se restringe duos que, mesmo não se conhecendo, aglutinam-se em comu-
aos domínios das questões de Estado, envolvendo direta- nidades virtuais compostas com base em interesses comuns.
mente os cidadãos do mundo contemporâneo. A tecnologia Segundo esse ponto de vista, portanto, verificam-se a expan-
da informação e a comunicação em rede tornam bastante tê- são e o enriquecimento dos contatos sociais entre as pessoas.
nue a linha de separação entre o público e o privado. Muitos
dados pessoais dos indivíduos estão armazenados e disponí-
veis na internet – e são consideráveis as possibilidades de in- FABIO FORMAGGIO/DREAMSTIME
terceptação nas comunicações eletrônicas entre as pessoas.
Os impactos das tecnologias computacionais são tam-
bém expressivos no universo do trabalho. Na economia glo-
balizada, reduz-se o espaço mercadológico para muitas ativi-
dades – algumas profissões, de fato, desaparecem – e outras
ocupações profissionais, vinculadas à inserção da informática
nos circuitos econômicos, surgem e se desenvolvem. Alguns
sociólogos alertam também para o aumento da exploração
econômica sobre o trabalhador, pois as redes de comunicação
permitem a extrapolação do tempo de trabalho em detrimento
do tempo de descanso e lazer, sendo comum, nos dias atuais,
a extensão da jornada de trabalho para o recinto doméstico, São muitas as tendências sociais decorrentes da
com a execução e a transmissão de tarefas on-line. disseminação da comunicação eletrônica na sociedade.
Essa é uma das críticas sociológicas dirigidas aos efeitos
308

da virtualidade na realidade da civilização contemporânea. Tanto as apreciações mais positivas quanto as mais
Os teóricos que sublinham os seus aspectos negativos afir- negativas diante das novas formas de comunicação ampa-
mam que o longo tempo dispendido nas interações virtuais ram-se na observação de dados significativos da realidade,
PV3D-18-70

fragilizam as relações propriamente humanas, implicando que não devem ser desprezados nas reflexões sobre o tema.
menor envolvimento com as relações sociais desenvolvidas Conforme foi dito em linhas anteriores, é razoável afirmar que
respostas sociológicas definitivas para essas questões são 3. Origens, interpretações e

CAP. 7
prematuras; não são conclusões devidamente fundamenta-
das, mas prognósticos sociologicamente arriscados. Afinal,
impactos da globalização
trata-se de transformações historicamente muito recentes Nas últimas décadas do século XX, dissemina-se, nos
que estão em pleno curso, não sendo possível, no momento, círculos intelectuais e na linguagem cotidiana, o uso do vocá-
avaliá-las em sua total extensão e profundidade. bulo globalização para denominar um conjunto de aspectos

SOCIOLOGIA 582
econômicos, tecnológicos, sociais, culturais e políticos que
caracterizam o mundo atual.
Os estudiosos do tema habitualmente registram a noção
Cabe chamar a atenção para o problema da exclusão de aldeia global como referência inicial para as discussões
digital, uma vez que nem todos têm acesso ao ciberes- sobre a temática da globalização. Essa expressão é consagra-
paço e compartilham a cibercultura. Apesar dos avanços da pelo teórico de comunicação canadense Marshall McLuhan
no acesso à internet, da queda dos preços para os servi- (1911-1980), autor de livros como Os meios de comunicação
ços de celulares e da banda larga, dados da ONU de 2013 como extensões do homem, A galáxia de Gutenberg e O meio
apontam que 4,4 bilhões de pessoas ainda permanecem é a mensagem.
sem acesso à internet em todo o mundo. De acordo com McLuhan, as novas tecnologias eletrô-
nicas e o aprimoramento dos meios de comunicação ten-

LIVRO DO PROFESSOR
dem a reduzir radicalmente as distâncias entre as diversas
sociedades humanas, superando as fronteiras geográficas
APRENDER SEMPRE 37 e culturais entre os povos na formação de uma espécie
de sociedade mundial. Nessa aldeia global, realiza-se a
01. UEM-PR integração cultural de seres humanos de diferentes re-
Sobre a revolução tecnológica em curso em nossa giões do mundo, articulados em uma comunidade de ex-
sociedade, é correto afirmar, com base numa perspectiva tensão planetária.
sociológica, que Nos textos de McLuhan não se desenvolve uma teo-
01. as transformações decorrentes do uso de alta ria da globalização, mas aponta-se um núcleo comum às
tecnologia nas comunicações e na realização de diversas interpretações sociológicas construídas acerca
tarefas representam um avanço que coloca as desse fenômeno contemporâneo: a constatação da for-
sociedades ocidentais à frente das outras. mação de uma sociedade global. O que se entende, ba-
02. a substituição de humanos por robôs demanda a sicamente, por uma sociedade global? Compreende-se
necessidade de se avaliar, debater e equacionar o seu surgimento na intensificação da interdependência
os problemas éticos e de desemprego decorren- entre as múltiplas sociedades humanas, na intersecção
tes disso. – econômica, social, cultural e política – que estabele-
04. a substituição tecnológica nos campos da comu- ce elementos universais e dominantes na regulação das
nicação e da realização de tarefas pode transfor- relações sociais experimentadas nas mais distintas e
mar profundamente a sociabilidade, a cultura e o distantes localidades do mundo. As tendências univer-
modo de organizar a vida pessoal. sais da globalização são experimentadas regionalmente,
08. as máquinas, mesmo as de mais alta tecnologia, afetando diretamente o cotidiano, o dia a dia dos seres
estão sujeitas a panes e a violações de seguran- humanos e suas relações sociais.
ça, e isso representa enormes riscos aos siste-
mas de segurança pública, de saúde, de comuni-
cação, de prestação de serviços essenciais e de RAWPIXELIMAGES/DREAMSTIME
gerenciamento de recursos.
16. a possibilidade de que a inteligência artificial
implantada em certos robôs e computadores se
torne tão desenvolvida e complexa quanto a dos
seus criadores não pode ficar exclusivamente a
cargo dos especialistas e deve ser amplamente
discutida por todos os setores sociais.

Resolução A globalização é um fenômeno de dimensões


A afirmação 01 é incorreta, pois, no âmbito da socio- sociais, culturais, econômicas e políticas
logia, não é unânime a concepção de que a sociedade
ocidental, por seus avanços tecnológicos, seria superior Em que medida a globalização se expressa em
às outras. São muitos os sociólogos contemporâneos que nosso cotidiano? A descrição de algumas situações
recusam esse tipo de hierarquização entre as socieda- comuns da atualidade nos auxiliam a avançar nessa
309

des. As demais afirmações referem-se corretamente às questão. Pensemos, por exemplo, na aquisição de um
implicações sociais e éticas decorrentes das novas tec- produto eletroeletrônico por um consumidor, de um
nologias e das novas formas de comunicação. computador, um televisor, um aparelho celular ou algo
PV3D-18-70

Resposta: 30 (02 + 04 + 08 + 16) do gênero por uma pessoa, digamos, em uma cidade do
interior do Brasil. Essa atitude aparentemente isolada
situa-se no universo das relações econômicas globali- A globalização, afinal, é um processo caraterístico dos
CAP. 7

zadas. Muito possivelmente, a mercadoria comerciali- tempos recentes? O questionamento é válido se pontuarmos
zada é composta por peças produzidas em diferentes que os contatos entre civilizações são recorrentes desde a
países, conforme a lógica empresarial contemporânea Antiguidade e o fenômeno da mundialização tem suas raízes
de terceirização e flexibilização da produção. Essa di- no princípio da Época Moderna. Predomina, entre os estudio-
nâmica atualmente vigente no capitalismo, na qual se sos do tema, o reconhecimento de que as bases históricas da
SOCIOLOGIA 582

verifica a desconcentração da produção industrial em globalização foram lançadas nas origens do mundo capitalis-
busca do menor custo econômico, realiza-se com a di- ta. No entanto, o entendimento de que sua concatenação pro-
minuição das barreiras alfandegárias entre os países. vocou profundas transformações ao longo do século XX, em
Essa mesma dinâmica pode atingir localmente as rela- especial em suas décadas finais, confere grau de profundida-
ções de trabalho, implicando mudanças na legislação de inédito à internacionalização econômica, cultural e política
trabalhista, modificações ajustadas às exigências in- com a qual se configura a sociedade global.
ternacionais do mercado. Outra interrogação oportuna concerne à presença ou
Da mesma forma, quando um estudante universitário, di- não de um vetor determinante na globalização. Trata-se, so-
gamos, de uma cidade europeia acessa o arquivo digital de bretudo, de um processo econômico, tecnológico, cultural
uma universidade brasileira, estamos diante de uma situação ou político ou essas diferentes dimensões apresentam-se
propiciada pela globalização. Idêntica constatação é possí- conjuntamente, sem a primazia de uma sobre as demais?
LIVRO DO PROFESSOR

vel na menção a incontáveis e variados fenômenos, como o Essa é uma questão muito controversa entre os sociólogos,
maior fluxo internacional das elaborações cinematográficas que se dividem com pontos de vista divergentes. Percorre-
contemporâneas, a rápida integração de movimentos sociais remos, na continuidade deste capítulo, os aspectos gerais
em torno de reivindicações e pautas globais, a disseminação da globalização, procurando indicar suas articulações, sem
mundial de estilos de vida, preferências estéticas e padrões o propósito de identificar algum deles como o fator princi-
comportamentais etc. pal e decisivo. Antes disso, porém, situaremos brevemente
Registrar essas manifestações de globalização ou, em o percurso histórico que antecede e prenuncia a globaliza-
sentido mais assertivo, a existência de uma sociedade glo- ção contemporânea.
bal significa declarar o desaparecimento das sociedades re-
gionais e nacionais, sua completa absorção pela sociedade A. Raízes da globalização
mundial? Não se trata disso. Os estudiosos da globalização A expansão marítima e comercial europeia no século XV e
reconhecem a permanência de particularidades, de tradições a colonização do continente americano, a partir do século XVI,
culturais, de relações sociopolíticas delineadas em contextos constituem um marco na ampliação da comunicação entre
locais, enfim, de realidades sociais específicas, que preser- diferentes culturas e na mundialização das relações econô-
vam a diversidade entre as sociedades humanas. O que se micas entre povos distintos. No âmbito cultural, os contatos
afirma, sob o prisma da globalização, é que as diversas so- entre povos diversos são regidos, principalmente, pelo etno-
ciedades não podem mais ser examinadas como realidades centrismo europeu utilizado, inclusive, como suposto princí-
predominantemente autônomas, uma vez que se encontram, pio de legitimação para a exploração econômica sobre outras
crescentemente, articuladas e transformadas sob o horizonte etnias. Sob o prisma econômico, estruturam-se as práticas
da globalização. mercantilistas controladas e reguladas pelos Estados Moder-
nos europeus, organizados sob a forma de monarquias abso-
lutistas. Tanto no plano das articulações culturais quanto no
desenvolvimento de um mercado crescentemente mundial,
As sociedades contemporâneas a despeito projeta-se o eurocentrismo.
das suas diversidades e tensões internas e ex- Nos séculos XVIII e XIX, as revoluções burguesas na Euro-
ternas, estão articuladas numa sociedade glo- pa assinalam a superação definitiva da sociedade estamen-
bal. Uma sociedade global no sentido de que tal, do poder absolutista e das práticas mercantilistas pela
compreende relações, processos e estruturas cidadania liberal, pela organização constitucional do poder
econômicas, sociais e políticas e culturais, ain- político e pelo capitalismo industrial. Sob a supremacia das
da que operando de modo desigual e contra- atividades industriais, reorganiza-se a chamada divisão inter-
ditório. Neste contexto, as formas regionais e nacional do trabalho no hemisfério sul e em outras regiões do
nacionais evidentemente continuam a subsis- planeta; essas áreas ficam submetidas ao fornecimento de
tir e atuar. Os nacionalismos e regionalismos matérias-primas, minérios e recursos naturais processados
sociais, econômicos, políticos, culturais, ét- industrialmente nas nações capitalistas hegemônicas.
nicos, linguísticos, religiosos e outros podem Na segunda metade do século XIX, os Estados Nacionais
até ressurgir, recrudescer. Mas o que começa capitalistas empreendem nova expansão imperialista, dessa
a predominar, a apresentar-se como uma de- vez visando diretamente à exploração dos continentes afri-
terminação básica, constitutiva, é a socieda- cano e asiático. Nesse período, o capitalismo modifica-se na
de global, a totalidade na qual pouco a pouco reestruturação aglutinadora de capitais com a qual se inau-
310

tudo o mais começa a fazer parte, segmento, gura sua fase monopolista. A atuação do capitalismo mono-
elo, momento. polista repercute em diferentes partes do mundo, elevando o
IANNI, Octavio. A sociedade global. Rio de Janeiro: grau de integração entre os continentes e promovendo nítida
PV3D-18-70

Civilização Brasileira, 1999. p. 39. redução das distâncias e do tempo dispendidos para os des-
locamentos de um ponto a outro do planeta. A construção de
vias férreas, por exemplo, agiliza o transporte de matérias-pri-

CAP. 7
mas e mercadorias.
As disputas imperialistas entre as nações capitalis- Entre os diversos fatores econômicos que
tas concorrem para a eclosão da Primeira Guerra Mundial conduzem à globalização, o papel das corpora-
(1914-1918). No período posterior a esse conflito internacio- ções transnacionais CTs é particularmente im-
nal, projeta-se a liderança dos Estados Unidos da América no portante. As CTs são companhias que produzem

SOCIOLOGIA 582
capitalismo mundial. Regida pelo liberalismo econômico, a bens ou serviços comerciais em mais de um
economia norte-americana caminha da prosperidade para a país. Podem ser empresas relativamente peque-
Grande Depressão da década de 1930. Derivando do descom- nas, com uma ou duas fábricas fora do país onde
passo entre níveis de produção e níveis de consumo, bem estão baseadas, ou gigantescas empresas inter-
como da especulação financeira, a quebra da Bolsa de Valo- nacionais, cujas operações se entrecruzam ao
res de Nova York, em outubro de 1929, deflagra uma acentua- redor do globo. [...]. As corporações transnacio-
da crise capitalista de proporções mundiais. nais estão no centro da globalização econômica:
Essa crise internacional capitalista favorece a emergên- elas contabilizam dois terços de todo o comércio
cia de formas políticas autoritárias na Europa, cujas expres- mundial e são instrumentais na difusão de novas
sões mais dramáticas são o fascismo na Itália e o nazismo tecnologias ao redor do globo. São também as
na Alemanha. A política externa expansionista e militarista principais protagonistas dos mercados financei-

LIVRO DO PROFESSOR
desses Estados totalitários resulta na Segunda Guerra Mun- ros internacionais.
dial (1939-1945). No contexto posterior aos terríveis aconte- GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005. p. 65.
cimentos bélicos, funda-se a Organização das Nações Unidas,
entidade internacional concebida com a finalidade de impe-
dir a repetição de confrontos dessa natureza e de promover a Sob o prisma das finalidades e das estratégias empre-
busca de soluções diplomáticas para eventuais conflitos de sariais contemporâneas, as delimitações geográficas dos
interesses entre as nações. países são um anacronismo, uma realidade menor diante
Nessa mesma época, entretanto, desenvolve-se a Guer- da lógica do mercado mundial. Compreendem-se as frontei-
ra Fria, disputa geopolítica entre o bloco capitalista, liderado ras nacionais como obstáculos que devem ser removidos
pelos Estados Unidos da América (EUA), e o bloco socialista, para a plena realização dos objetivos mercadológicos de
comandado pela União das Repúblicas Socialistas Sovié- seus empreendimentos.
ticas (URSS). A Guerra Fria prolonga-se até fins da década O que se nota, portanto, é a conversão das corporações
de 1980, quando se verifica a dissolução internacional do empresariais e financeiras transnacionais em centros decisó-
socialismo real. Sua extinção remove barreiras para a ex- rios sobrepostos aos Estados Nacionais. Em termos práticos,
pansão global capitalista. Esse movimento de globalização essa realidade contemporânea fragiliza a própria noção de
é impulsionado pela multiplicação das realizações tecnoló- soberania nacional. Restringe-se, efetivamente, o poder do
gicas na segunda metade do século XX, especialmente na Estado no tocante à coordenação das atividades econômicas
informática e na robótica. e à elaboração de políticas sociais. Na constituição da socie-
dade global, os Estados Nacionais são pressionados a ajusta-
B. A globalização e o mundo contemporâneo rem sua conduta aos marcos do neoliberalismo.
Em seus aspectos econômicos e políticos, a globalização O que é o neoliberalismo? Em seu núcleo teórico, o neo-
delineia-se em um nível acentuado de internacionalização liberalismo não se diferencia essencialmente do liberalismo
do capitalismo, implicando a fragilização das fronteiras na- econômico clássico. Em sua formulação original por econo-
cionais sob a supremacia do mercado mundial. É fato que o mistas como Adam Smith (1723-1790), autor de A riqueza
capitalismo é, desde suas origens, pautado pela mundializa- das nações, o liberalismo delineia-se pela concepção de que
ção das relações econômicas, contudo, até meados do século o livre mercado capitalista, com sua dinâmica fundamentada
XX, a organização das estruturas produtivas e as trocas eco- na lei da oferta e da procura, promove o desenvolvimento
nômicas internacionais foram, em larga medida, controladas econômico e a prosperidade social. Rejeita-se a interferência
em bases nacionais. Na atualidade, a atuação das empresas reguladora do Estado no mercado sob a alegação de que qual-
transnacionais, das grandes corporações mundiais e das ins- quer medida exterior e restritiva em relação à livre iniciativa
tituições financeiras internacionais tendem à unificação do capitalista afeta negativamente o conjunto da economia.
mundo sob critérios mercadológicos, que não são contidos Em linhas gerais, o neoliberalismo preserva os princípios
pelos tradicionais limites territoriais entre os países. centrais do liberalismo clássico, entretanto há uma diferença
No mundo globalizado, empresas e instituições finan- importante. O liberalismo desenvolve-se historicamente em
ceiras aplicam e deslocam seus capitais com ampla mobi- bases nacionais, isto é, no contexto de competição interna-
lidade, transferindo facilmente seus recursos segundo a cional entre diferentes mercados nacionais. O neoliberalismo,
conveniência das situações. Torna-se comum, por exemplo, por seu turno, funda-se diretamente no mercado mundial, na
uma empresa anunciar subitamente a desativação de uma economia capitalista sem fronteiras geográficas e políticas.
unidade produtiva em determinado país e sua remoção As políticas econômicas neoliberais contrapõem-se ao
311

para uma nação distante. As motivações para esse desloca- modelo do Estado de Bem-Estar Social, forma de relação en-
mento podem ser várias: flutuações no mercado financeiro, tre Estado, economia e sociedade, razoavelmente difundida
instabilidade ou estabilidade sociopolítica, menor ou maior no século XX, na qual o poder estatal atua na regulamentação
PV3D-18-70

qualificação dos trabalhadores, regras trabalhistas mais ou do mercado e na instauração de políticas públicas de distri-
menos flexíveis. buição de riquezas e de seguridade social. Dessa forma, o
neoliberalismo defende medidas como a ampla privatização tantes diretamente eleitos. A formação de blocos econômi-
CAP. 7

de empresas estatais, a supressão de normas econômicas cos é uma tendência contemporânea, expressando tanto
protecionistas de caráter nacional, a intensificação do livre- a intensificação da globalização quanto o empenho de go-
-comércio internacional e a redução das despesas governa- vernos nacionais em evitar posições de desvantagem nas
mentais e do próprio aparato estatal. trocas internacionais – além da União Europeia, podem-se
citar outros, como o Mercosul, na América Latina, e o Nafta,
SOCIOLOGIA 582

na América do Norte.

A observação de que o neoliberalismo é a política


econômica dominante no capitalismo globalizado não
significa afirmar que se realiza sua total e uniforme im- As Nações Unidas e a União Europeia são os
plementação no mundo. Constatam-se diferenças locais, dois exemplos mais proeminentes de organiza-
produzidas por correlações internas de forças sociais e ções internacionais que reúnem os Estados-Na-
conjunturas específicas, nas quais alguns movimentos ção em um fórum político comum. Enquanto as
sociais e governos oferecem resistência à adoção dos Nações Unidas fazem isso como uma associação
preceitos neoliberais. de Estados-Nação individuais, a União Europeia
é uma forma mais pioneira de governança trans-
LIVRO DO PROFESSOR

nacional em que um certo grau de soberania na-


Nesse cenário, as políticas econômicas são destituídas cional é abdicado pelos seus Estados-membros.
de bases realmente nacionais, submetendo-se, em larga me- GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005. p. 63.
dida, às diretrizes do capitalismo internacional e à orientação
de instituições do sistema monetário mundial, como o Fundo
Monetário Internacional e o Banco Mundial. São igualmente notáveis as transformações promovidas
Portanto, as transformações da economia globalizada pela globalização no universo da cultura. Essas mudanças
são acompanhadas, na esfera política, de uma considerável vinculam-se ao mercado planetário, à atuação dos meios
mudança no poder dos Estado Nacionais, especialmente no de comunicação de massa, à difusão das tecnologias da in-
que concerne à elaboração de políticas econômicas e sociais. formação e às novas redes comunicacionais. Identificam-se
Para alguns teóricos da globalização, trata-se, de fato, da di- sentidos diferentes e, muitas vezes, contrários nessas modi-
minuição da autonomia política do poder estatal de caráter ficações culturais.
nacional; para outros, experimenta-se a reconfiguração do Por um lado, é possível diagnosticar a propensão à uni-
protagonismo dos Estados Nacionais em formas contempo- formização cultural, com a disseminação de modos de vida,
râneas de alianças supranacionais. hábitos, expectativas e padrões comportamentais forjados
na conjugação da sociedade de consumo, das estratégias
mercadológicas, da influência da indústria cultural e dos
mecanismos publicitários do mercado global. Os teóricos da
globalização que identificam essa perspectiva cultural cos-
tumam denominá-la de ‘ocidentalização do mundo’, referin-
do-se à imposição e assimilação dos parâmetros sociocultu-
rais norte-americanos e europeus pelas diversas regiões e
sociedades do planeta. Em sua realização radical, essa oci-
CLAUDIO MONNI/DREAMSTIME

dentalização do mundo implicaria a supressão de culturas


regionais, o desaparecimento da própria diversidade cultural
da humanidade.
Da mesma forma, é plausível a afirmação de que as
redes virtuais de comunicação contribuem para a viabiliza-
ção de formas originais e, pelo menos parcialmente, autô-
nomas de articulação social entre indivíduos e grupos, que
O Parlamento Europeu é uma instituição política que mobiliza reconstroem sua identidade subjetiva e cultural. Nesse mo-
esforços por articulações supranacionais, capazes de oferecer vimento, notam-se ainda a reelaboração, a reafirmação e a
respostas satisfatórias às exigências da globalização.
divulgação de valores étnicos, sociais e culturais regionais
Em sintonia com a globalização, desenvolvem-se for- e tradicionais.
mas institucionais de poder alicerçadas em dimensões Além disso, devemos recordar que a internet possibilita
supranacionais. A Organização das Nações Unidas repre- o acesso imediato a informações sobre acontecimentos com
senta um movimento nesse sentido. Exemplo mais recente repercussão mundial e as redes sociais virtuais são um recur-
é a União Europeia, fundada em 1992 com o propósito de so bastante utilizado pelos movimentos culturais e sociais,
unificar plenamente o mercado entre os países-membros inclusive para a sua conexão em dimensões internacionais.
312

– a criação de uma moeda comum, o euro, e a eliminação Nesse plano, situam-se também os chamados movimen-
de barreiras econômicas internas são aspectos essenciais tos antiglobalização.
nesse processo – e articular politicamente diferentes Es- Como se caracterizam esses movimentos? A expres-
PV3D-18-70

tados europeus – papel importante, nessa associação, é são denomina genericamente diversos movimentos sociais
exercido pelo Parlamento Europeu, composto por represen- que contestam diferentes aspectos da globalização con-
temporânea. São alvos dessas mobilizações os problemas Resolução

CAP. 7
ambientais decorrentes dos procedimentos empresariais A sentença 02 está incorreta: apesar da globalização
capitalistas, as hierarquias entre países centrais e países se caracterizar pela mundialização de alguns aspectos
periféricos no interior da economia global, as desigualdades culturais, não há elementos que nos permitam concluir
sociais, a redução de políticas sociais e a diminuição de di- que desaparecerão as sociedades e culturas tradicionais.
reitos trabalhistas. Também é incorreta a afirmação 04, pois a globalização

SOCIOLOGIA 582
Esses movimentos, na realidade, não são propriamen- atual ratifica e reforça relações hierárquicas e de desi-
te antiglobalização, mas sim contrários, em menor ou maior gualdades entre diferentes nações. A asserção 8 é igual-
grau, à forma histórica em que está se realizando a globaliza- mente incorreta, dado que a globalização mantém parte
ção. Em sua efetividade econômica e política, a globalização significativa da população mundial excluída da cidadania.
atual preserva as relações destrutivas com a natureza – ain- As afirmações 01 e 16 são corretas.
da são tímidas as iniciativas governamentais e políticas de Resposta: 17 (01 + 16)
preservação ambiental e de restauração ecológica –, ratifica
a correlação desigual de forças entre os países na geopolíti-
ca internacional e mantém parte significativa da população
mundial submetida a precárias condições materiais de vida, 4. A sociedade pós-moderna:
excluída do círculo real da cidadania. É contra essa modalida-
significado e interpretações

LIVRO DO PROFESSOR
de de globalização que se posicionam tais movimentos, rei-
vindicando, em seu lugar, uma sociedade global com relações As recentes transformações sociais, econômicas, culturais
ambientais saudáveis e com justiça social. e políticas da civilização contemporânea introduzem uma polê-
mica na sociologia: alguns sociólogos entendem que a natureza
dessas mudanças descaracteriza a sociedade moderna, ou seja,
APRENDER SEMPRE 38 vivemos, atualmente, em uma sociedade pós-moderna. Para ou-
tros, a modernidade persiste nos dias atuais, embora inegavel-
01. UEM-PR mente modificada.
Os tempos mudaram, porque a informação
pode agora mover-se independentemente dos
corpos físicos. Com isso, a velocidade das co-

YKKSTUDIO/DREAMSTIME
municações já não é mantida pelos limites a ela
impostos por pessoas e objetos materiais. Para
todos os fins práticos, a comunicação é agora
instantânea, e, assim, as distâncias não impor-
tam, pois qualquer canto do globo pode ser al-
cançado ao mesmo tempo. No que diz respeito
ao acesso e à propagação da informação, ‘estar
perto’ e ‘estar longe’ já não tem a importância
de outrora.
BAUMAN, Z.; MAY, T. Aprendendo a pensar com a
Sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. p. 178-179.

Considerando a citação e os estudos sociológicos so-


bre a globalização, assinale o que for correto.
01. Os processos de globalização não modificam ra-
dicalmente as relações de poder, pois se estabe-
lecem a partir dos desequilíbrios socioeconômi-
cos e das desigualdades existentes.
02. A integração social e cultural promovida pela
globalização levará ao desaparecimento das so-
ciedades tradicionais, pois emergirá um tipo de
cultura universal e homogênea.
04. Todas as economias nacionais participam igual-
mente, em termos de compromisso e de vanta- Quais são as bases dessa discussão sobre modernidade
gens, do processo de globalização. ou pós-modernidade? Quais seriam as diferenças entre a
sociedade moderna e a sociedade pós-moderna?
08. As sociedades globalizadas alcançaram um pa-
drão de bem-estar e de desenvolvimento social O intelectual francês Jean Baudrillard (1929-2007),
nunca antes visto na história, pois conseguiram autor de livros como A sociedade de consumo, A transpa-
313

emancipar as pessoas. rência do mal e O sistema dos objetos, refere-se ao pós-mo-


16. A atual velocidade das comunicações, o acesso e dernismo como a hiper-realidade em que a supremacia dos
a propagação de informação não acarretam pro- meios eletrônicos de comunicação, com sua saturação de
PV3D-18-70

cessos de homogeneização cultural. imagens e símbolos, dissolve os critérios de distinção entre


o imaginário e o real.
Segundo esse sociólogo, a hiper-realidade pós-moder- Em seu livro Pós-modernidade, o sociólogo David Lyon
CAP. 7

na suprime o próprio sujeito humano, centralmente valori- procura apresentar o percurso histórico da modernidade
zado na modernidade, diluindo o indivíduo em um terminal ao intitulado mundo pós-moderno. Mencionando, em sen-
de redes múltiplas de informação e de comunicação, que tido amplo, o itinerário cultural das civilizações, da época
promovem o fim de sua vida interior. Sob o consumismo, medieval à atualidade, observa-se que as ideias ociden-
no qual os objetos constituem um sistema de sinais que tais cumprem uma trajetória da qual elas partem reguladas
SOCIOLOGIA 582

hierarquizam os seres humanos, uma cidade como Los pelo pressuposto teológico de providência, transitam para
Angeles, cuja única referência é a dinâmica do consumo, o ideal racional de progresso e desembocam no niilismo
torna-se uma espécie de deserto, com sua total ausência contemporâneo.
de profundidade.
O filósofo Jean-François Lyotard (1924-1998), em seu li-
vro A condição pós-moderna, declara que o declínio das meta-
narrativas – discursos conceituais que pretendem explicar a O termo niilismo é utilizado por diferentes filósofos,
totalidade do real em seu conjunto de articulações – anuncia com significados consideravelmente variados. Em Friedrich
a renúncia às promessas iluministas de emancipação racio- Nietzsche (1844-1900), por exemplo, o niilismo consis-
nal da humanidade. Nesse contexto, resta espaço somente te na depreciação da realidade e da vida, iniciando com
para narrativas menores, locais, privadas de pretensões cien- a projeção de valores em uma esfera ideal e concluindo
LIVRO DO PROFESSOR

tíficas e autolegitimadoras. O social atomiza-se em redes fle- com a remoção da crença nesse mundo metafísico, com
xíveis de jogos de linguagem, assinalando o surgimento da a humanidade exposta à instabilidade do devir. Na lingua-
pós-modernidade. gem sociológica, esse vocábulo refere-se, em linhas ge-
O crítico literário norte-americano Fredric Jameson nega rais, à ausência da crença no progresso ou em uma meta
a emergência de uma realidade ou sociedade propriamente final para a história humana, de um sentido fundamental
nova, sublinhando, porém, o delineamento de uma cultura para a existência humana em sociedade.
pós-moderna, que assume uma posição de primazia no es-
tágio contemporâneo do capitalismo. Autor de livros como A
cultura do dinheiro e intelectual de orientação marxista, Ja- A providência manifesta-se vigorosamente no pensa-
meson diagnostica a expansão da cultura para todo o reino mento medieval cristão, de acordo com o qual a história
do social, de maneira que a economia, o Estado e até mes- humana é fundamentada teologicamente subordinada aos
mo as estruturas psíquicas dos indivíduos sejam absorvidas planos divinos. Sob esse prisma, Deus exerce a supervisão
pela esfera cultural. O pós-modernismo é, para ele, a lógica sobre a história, assegurando que a humanidade avance
cultural do capitalismo atual, no qual a cultura de massa ao objetivo final, ou seja, o sentido da história é dado pela
compromete a distinção entre real e imaginário, mas a tota- Providência Divina e o seu movimento é linear, direcionado
lidade capitalista permanece como ponto de partida para a para o futuro.
compreensão da sociedade. Nesse sentido, o universo cul- Com essa observação, pretende-se destacar que a for-
tural desloca-se da condição de apêndice para o centro do mação do mundo moderno, ao mesmo tempo que se realiza
modo de produção capitalista. como ruptura com a medievalidade, recolhe a noção cristã de
O sociólogo britânico Anthony Giddens, por sua vez, de- Providência Divina, reelaborando-a racionalmente sob o con-
nomina sociologicamente os tempos atuais, marcados por ceito de progresso. Essa perspectiva é apresentada também
significativas mudanças, como modernidade tardia. O polo- pelo sociólogo Krishan Kumar, no livro Da sociedade pós-in-
nês Zygmunt Bauman, em seus vários estudos sobre a civi- dustrial à pós-moderna.
lização contemporânea, admite que estamos em uma época Kumar observa que o cristianismo, ao romper com a
na qual a modernidade pode, em certo sentido, ser investi- concepção cíclica do tempo, prevalente nas civilizações an-
gada retrospectivamente, utilizando, preferencialmente, a tigas, introduz dimensão diferenciada de temporalidade nas
expressão "modernidade líquida" para nomeá-la. sociedades humanas. Nas sociedades da Antiguidade, o
A rápida menção a esses estudiosos e suas concepções tempo humano é uma reprodução da temporalidade cíclica
é suficiente para demonstrar que o debate sobre a pós-mo- da natureza, na qual não há lugar para acontecimentos real-
dernidade é pontuado por diferentes pontos de vista so- mente novos, para mudanças, mas apenas para a repetição.
ciológicos. No interior dessa polêmica, há desde posições O cristianismo introjeta significado e finalidade no tempo a
segundo as quais a realidade atual é pós-moderna até a partir de um evento singular, a encarnação divina em Cristo,
completa recusa de que a atualidade se defina pela ultra- que representa um corte temporal, articulando passado, pre-
passagem da modernidade. No final, essas teses diversas sente e futuro numa sequência linear e compreensível. Mo-
comportam, pelo menos, um ponto em comum: o reconhe- difica-se, assim, o horizonte da história humana, que, dessa
cimento de que o mundo contemporâneo experimenta pro- forma, move-se por um princípio diferente da história natural.
fundas transformações. Em termos sucintos, com a cultura cristã, o mundo humano
projeta-se em uma temporalidade situada acima do mundo
A. O conceito de modernidade não humano.
314

Para entender, ainda que apenas em seus aspectos bá- A concepção cristã de história humana é, sobretudo, es-
sicos, a discussão em torno da noção de pós-modernidade, catológica: passado, presente e futuro conjugam-se não ape-
é necessário, inicialmente, delimitar o conceito de moderni- nas cronologicamente, mas de forma teológica e teleológica,
PV3D-18-70

dade, isto é, identificar os traços constitutivos, nucleares, da ou seja, fundamentados em desígnios divinos e previamente
chamada sociedade moderna. destinados a uma conclusão. A redenção final da humanidade
confere sentido à história e o passado, portanto, tem valor histórico de repercussão internacional. Com ela, estabe-

CAP. 7
retrospectivo, conforme consiste na preparação necessária lecem-se princípios reguladores das relações sociopolí-
para a realização do futuro. ticas na modernidade, tais como a cidadania, os direitos
Qual é a relação entre essas diretrizes cristãs e o pen- individuais e os mecanismos de representatividade dos
samento moderno? De acordo com David Lyon e Krishan cidadãos no poder estatal. Enquanto a Revolução France-
Kumar, o cristianismo instaura elementos que são incor- sa exprime a forma política da modernidade, a Revolução

SOCIOLOGIA 582
porados pela modernidade: o tempo torna-se humanizado, Industrial, realizada inicialmente na Inglaterra na segunda
linear e irreversível; a história é processualmente concebida metade do século XVIII, efetiva as estruturas e relações
como percurso que contém começo, meio e fim; a história é socioeconômicas da sociedade moderna. Para alguns teóri-
interpretada em um plano retrospectivo, a saber, de acordo cos, aliás, a única divisão realmente importante na história
com o futuro; e o passado é prólogo do presente, bem como da humanidade consiste no recorte entre sociedades pré-
o presente é pleno de expectativas que, acredita-se, serão -industriais e civilização industrial. Com a industrialização,
consumadas no futuro. a sociedade torna-se, progressivamente, mundial.
Esses sociólogos registram a ressalva, entretanto, de que A sociedade moderna constitui-se em um longo percur-
a medievalidade cristã preserva certa indiferença em relação so histórico, que envolve um conjunto de processos como
ao futuro da humanidade em sua organização social, pois, no o Renascimento Comercial e Urbano, o Renascimento Cul-
ideário do cristianismo, a vida humana e terrena é enfatizada tural e a Revolução Científica, consolidando-se, como ob-

LIVRO DO PROFESSOR
pela transitoriedade, por seu pertencimento ao plano espiri- servamos, com a cultura filosófica iluminista, a Revolução
tual transcendente. Nesses termos, a história da humanida- Francesa e a Revolução Industrial. Caracteriza-se, em linhas
de não é compreendida como realidade autônoma, mas sim gerais, pela economia industrial, por complexas relações
como parte da teologia. sociais, pelas crescentes intervenções humanas sobre a
No mundo moderno, o pressuposto da Providência Di- natureza, pelas incontáveis realizações tecnológicas, pela
vina é substituído pelo ideal de progresso. Nesse sentido, valorização política da cidadania e pela confiança no pro-
sob o plano intelectual, é no século XVIII que se consoli- gresso social da humanidade.
da esse conceito fundamental da modernidade, a tese do
progresso, amplamente difundida no movimento filosófico
iluminista. Na modernidade, a conceituação cristã de tem-
po é secularizada e absorvida em uma filosofia dinâmica A modernidade abrange todas as mudanças
da história, que projeta a história mundial em um esquema significativas que acontecem em muitos níveis
evolucionário, classificando a sociedade moderna, estru- desde a metade do século XVI [...], mudanças
turada em instituições racionalmente organizadas, como assinaladas pelas alterações que erradicaram os
seu patamar superior. trabalhadores dos campos e os transformaram
em citadinos industriais móveis. A modernida-
de questiona todos os modos convencionais de
fazer as coisas, substituindo autoridades por seu
O termo Iluminismo, em sua acepção básica, é utiliza- próprio arbítrio, baseada na ciência, no cresci-
do para nomear o movimento filosófico, predominante no mento econômico, na democracia ou na lei. [...]
século XVIII, em que se articulam pensadores de diferen- A modernidade começa a conquistar o mundo
tes inclinações teóricas, todos, porém, exprimindo suas em nome da razão; a certeza e ordem social se-
convicções acerca da capacidade humana de conhecer riam erigidas em novas bases.
cientificamente a realidade e de aprimorar racionalmen- LYON, David. Pós-modernidade. São Paulo: Paulus, 1998. p. 37.
te a vida em sociedade. O filósofo alemão Immanuel Kant
(1724-1804), por exemplo, define o Iluminismo como o
processo pelo qual os seres humanos superam sua me- A sociedade moderna é o tema examinado pelos autores
noridade, utilizando publicamente a razão. clássicos da sociologia – o próprio surgimento do pensamen-
to sociológico, como sabemos, explica-se a partir da moder-
nidade. Nos textos de Émile Durkheim, de Karl Marx e de Max
David Lyon afirma que, no pensamento iluminista, a Weber, encontramos sofisticadas reflexões sobre a socieda-
razão é concebida em dimensões emancipadoras e o po- de moderna.
der transformador é atribuído aos seres humanos. A inter- Émile Durkheim destaca a passagem da solidariedade
ferência divina é anulada ou minimizada e a Providência é mecânica para a solidariedade orgânica como elemento fun-
substituída pelo progresso sustentado em pressupostos damental do mundo moderno. Nas sociedades tradicionais,
científicos: o Iluminismo é, dessa forma, a marca intelectual a coesão social é promovida pelos valores da consciência
da modernidade. Nesse contexto, a modernidade torna-se coletiva, transmitidos por meio das gerações. Na sociedade
decisiva e o passado somente é válido para compreender moderna, o princípio de coesão social é a progressiva inter-
o que nos tornamos. Abandona-se definitivamente a ideia dependência dos indivíduos, configurada pela divisão social
315

de uniformidade da vida humana no curso do tempo, sob a do trabalho, pela especialização de funções estendidas pelo
convicção de que os seres humanos modernos vivem em conjunto da sociedade.
um mundo completamente novo. Em Karl Marx, a formação da sociedade moderna é
PV3D-18-70

Na esfera política, a sociedade moderna anuncia-se examinada em suas dimensões socioeconômicas capita-
plenamente na Revolução Francesa de 1789, fenômeno listas. A divisão entre proprietários e não proprietários dos
meios de produção, a alienação do trabalho, as frequentes O sociólogo Georg Simmel (1858-1918) identifica, no
CAP. 7

transformações tecnológicas, a fetichização das mercadorias mundo moderno, a fragmentação da sociedade de estranhos,
e a luta de classes são aspectos centrais na crítica sociológi- marcada pela ausência de sólidos vínculos identitários e
ca marxista ao modo de produção capitalista. emocionais entre os indivíduos. Esse estudioso constata a
Para a sociologia de Max Weber, o eixo da modernidade cidade como alvo privilegiado da organização racional, quer
é a racionalização, que corresponde ao domínio da atitude dizer, o teor essencialmente urbano da modernidade, espe-
SOCIOLOGIA 582

calculista – das ações sociais racionais com relação a fins – cialmente se comparada com as sociedades pré-modernas.
em inúmeros aspectos da vida humana. A razão subjacente à Dessa forma, as metrópoles são os lugares de condensação
ciência dinamiza-se no capitalismo e dilata-se para todos os da sociedade moderna, com sua dinâmica social regida na es-
setores da sociedade, substituindo a tradição como fonte de fera da circulação, da troca e do consumo, com a vida mental
autoridade. De acordo com Weber, a racionalização, presente, dos seres humanos apreendida em um universo de significa-
por exemplo, tanto no laboratório científico quanto na pintura dos simbólicos manifestados no dinheiro e nas mercadorias.
de um quadro, converte-se no domínio sobre a natureza e so-
bre as próprias relações humanas.

ALFFOTO/DREAMSTIME
Ainda que Durkheim, Marx e Weber apresentem preocu-
pações sociológicas com aspectos da realidade histórica mo-
derna, predomina, nesses diferentes estudiosos, o reconhe-
LIVRO DO PROFESSOR

cimento de que a modernidade é a primeira forma universal


de organização social, ou seja, a sociedade moderna tende a
se estabelecer mundialmente.

B. A discussão sociológica em
torno da pós-modernidade
As metanarrativas são um traço intelectual essencial da
modernidade. O que são as metanarrativas? No âmbito da so-
ciologia, as metanarrativas são entendidas como as grandes
construções discursivas, históricas e filosóficas, que preten- Para Georg Simmel, as metrópoles revelam o mundo
dem oferecer explicações completas sobre a realidade em moderno como uma sociedade de estranhos.
seus diversos aspetos. As metanarrativas modernas aspiram
à condição de um saber global e cientificamente amparado, Vale recordar que muitos teóricos, atualmente, não se
capaz de orientar a ação humana sobre o mundo, sempre limitam ao apontamento de ambiguidades na sociedade
pautada pela predição do progresso. moderna ou de uma profunda crise da modernidade; decla-
Sob o ponto de vista histórico, a confiança no progres- ram, isto sim, o esgotamento da modernidade, que o mundo
so é desafiada por um largo repertório de acontecimentos moderno se encerrou e que ingressamos definitivamente na
no século XX. Resiste parcialmente às guerras mundiais e à pós-modernidade. O que seria, então, esse mundo pós-mo-
depressão capitalista da década de 1930, para citar alguns derno? Embora não seja razoável reunir as reflexões dos in-
dos episódios históricos que contestam o programa iluminis- telectuais pós-modernos em uma espécie de corpo teórico,
ta de emancipação racional da humanidade, e revigora-se, dada a multiplicidade de enfoques e a própria natureza frag-
para alguns, no desenvolvimento tecnológico e na explosão mentária da concepção de pós-modernidade, é possível listar
de consumo que caracterizam as últimas décadas do século suas principais características.
passado. Nesse mesmo período, fenômenos como os danos Em linhas gerais, os teóricos da pós-modernidade en-
ambientais causados pelo industrialismo, os movimentos tendem que as transformações do mundo contemporâneo
socioculturais contestatórios dos anos sessenta, a Guerra do decretam o fim da sociedade moderna. Quais são essas mu-
Vietnã e a derrocada do chamado socialismo real denunciam danças? A globalização econômica, social, política e cultural;
com veemência a crise da modernidade e as contradições a inserção de novas tecnologias na sociedade; a atuação dos
inerentes ao projeto de um mundo totalmente controlado meios de comunicação de massa e as redes cibernéticas de
pela razão. comunicação eletrônica; e a primazia do consumismo.
Antes de iniciarmos propriamente a explanação sobre Essas transformações, sob a ótica do pós-modernismo,
a pós-modernidade, é importante pontuar que os primei- baniram as noções modernas de história humana dotada
ros teóricos das ciências sociais, embora identificados de de sentido, de supremacia do sujeito humano no mundo, de
diferentes maneiras com o projeto da sociedade moderna, progresso da humanidade. A pós-modernidade não articula
diagnosticam problemas e ambivalências na modernida- passado, presente e futuro em uma unidade orientada para o
de. Durkheim sublinha a anomia, a fragilização do universo aprimoramento da sociedade humana. Prevalece o presente,
de valores que articulam socialmente os seres humanos, superficial e eterno, descartando passado e futuro. O presen-
como um dado preocupante da sociedade moderna. Marx é te é o efêmero renovável e, por isso, descarta o passado e de-
um crítico radical da modernidade capitalista, consideran- sinteressa-se pelo futuro.
316

do-a desumana e preconizando a construção de uma socie- Nessa perspectiva, o sujeito pós-moderno não possui iden-
dade moderna justa na superação do capitalismo por uma tidade histórica e temporal, por isso a biografia individual não é
sociedade socialista e, posteriormente, comunista. Weber compreendida como uma personalidade em desenvolvimento,
PV3D-18-70

sublinha a burocratização do espírito humano no desencan- mas como uma simples soma de experiências descontínuas,
tamento do mundo pela racionalidade. vividas na completa confusão entre realidade e virtualidade.
David Lyon situa o consumismo como elemento crucial

CAP. 7
da pós-modernidade. No mundo pós-moderno, os estilos
de vida do consumidor e do consumo de massa se impõem
às pessoas à razão da produção incessante de desejos. A
cidade, centro da modernidade, é igualmente o cenário da
MONIKA WISNIEWSKA/DREAMSTIME

pós-modernidade, agora não mais organizada, sobretudo,

SOCIOLOGIA 582
como núcleo industrial, mas principalmente como ambiente
de consumo.
O consumismo não tem fronteiras, a saber, a verdade,
os significados e o conhecimento são transformados em ar-
tigos de consumo. A condição pós-moderna está profunda-
A ausência de distinção entre virtualidade e realidade mente vinculada ao capitalismo de consumo. Dessa forma,
seria um dos traços da pós-modernidade. enquanto muitas vertentes da sociologia clássica examinam
o capitalismo por meio das relações de produção, o viés pós-
A metáfora cinematográfica utilizada por David Lyon na -moderno privilegia as formas pelas quais os valores da vida
abertura do livro Pós-modernidade nos auxilia na compreen- econômica se expressam no consumismo. Sob esse prisma,
são dessa questão. Trata-se de Blade runner, o caçador de gosto e estilo não são simples reflexo da produção, mas ele-

LIVRO DO PROFESSOR
androides, filme produzido no início da década de 1980, sob mentos centrais na análise sociológica.
direção de Ridley Scott. O enredo desenvolve-se na cidade de O sociólogo Zygmunt Bauman declara que estamos pre-
Los Angeles, em 2019. senciando uma nova forma de sociedade, na qual o eixo das
Um grupo de replicantes, seres gerados pela bioenge- relações sociais desloca-se do trabalho para o consumo, con-
nharia, retorna à Terra, reivindicando de seus criadores um ferindo importante função ao prazer. O consumismo promete
período mais longo de vida – sua programação inicial esta- a felicidade universal e reduz a liberdade humana, anterior-
belece apenas quatro anos de duração. O cenário do filme é a mente identificada com a cidadania, à escolha do consumi-
decadência urbana, a metrópole composta pela desordenada dor, personagem central da sociedade atual.
mistura de extensos centros comerciais, volumes impressio- Zygmunt Bauman, aliás, é um dos mais influentes inte-
nantes de lixo, ruínas de edifícios imponentes e o céu cons- lectuais no debate sobre a pós-modernidade. Sua produção
tantemente acinzentado. escrita é bastante vasta, expressa em livros como O mal-es-
Esses replicantes são simulacros que, sem viajar, manifes- tar na pós-modernidade, Modernidade e ambivalência, Tem-
tam-se em diferentes lugares e são, frequentemente, subme- pos líquidos e Modernidade líquida. Em de vez de pós-mo-
tidos a testes que pretendem verificar se são humanos ou não dernidade, esse autor utiliza preferencialmente a expressão
– não há como diferenciar um ser humano de uma imitação “modernidade líquida” para designar a realidade social do
somente pela aparência ou por comportamento. É significativo o tempo presente.
fato de Rachel, uma replicante, apresentar a foto de sua suposta Dessa forma, Bauman distingue a modernidade líquida,
mãe, com o propósito de demonstrar a sua humanidade. engendrada pelas transformações das últimas décadas, da
Blade runner nos remete à pós-modernidade, à medida que modernidade sólida, forma clássica da sociedade moderna.
retrata a indiferenciação entre o simulacro e o real e suscita a re- Na passagem da modernidade sólida para a modernidade
flexão sobre a própria condição humana na contemporaneidade. líquida, verifica-se uma série de mudanças relevantes nos
Nos tempos atuais ou pós-modernos, a identidade das pessoas círculos de sociabilidade humana. As estruturas modernas
é destituída de suportes sólidos, assemelhando-se à transitorie- tradicionais de solidariedade cedem espaço para as dispu-
dade dos replicantes, com suas individualidades dispersas nas tas entre os indivíduos. Os cidadãos, conceituados como
redes de comunicação e na dimensão cultural do consumo. sujeitos de direitos, são convertidos em indivíduos que
competem entre si pela afirmação social. Fragilizam-se os
sistemas estatais de proteção social e os planejamentos da
vida a longo prazo, fomentando-se, assim, um ambiente so-
Simular por imagens na TV, que dá o mundo cial repleto de incertezas.
acontecendo, significa apagar a diferença entre
real e imaginário, ser e aparência. Fica apenas
o simulacro passando por real. Mas o simulacro,
ANDERSPHOTO/SHUTTERSTOCK

tal qual a fotografia a cores, intensifica o real. Ele


fabrica um hiper-real, espetacular, um real
mais real e interessante que a própria realidade.
[...] O ambiente pós-moderno significa basica-
mente isso: entre nós e o mundo, estão os meios
tecnológicos de comunicação, ou seja, de simu-
lação. Eles não nos informam sobre o mundo;
317

eles o refazem à sua maneira, hiper-realizam o


mundo, transformando-o num espetáculo.
SANTOS, José Ferreira dos. O que é o pós-moderno.
PV3D-18-70

São Paulo: Brasilense, 1986. p.12-13.


Zygmunt Bauman (1925-2017)
A modernidade sólida, configuração original da sociedade moderna, é caracterizada por instituições duradouras e códigos
CAP. 7

sociais estáveis, oferecendo um quadro de referências seguro para identidade social dos indivíduos. Na modernidade líquida,
todas as relações sociais tornam-se fluidas, desprovidas de formas estáveis e marcadas pela inconstância. No declínio das
entidades representativas – sindicatos, partidos, associações – e na dinâmica do consumismo, os indivíduos não possuem
sólidas referências sociais e culturais para a definição de si mesmos. Nessa fragmentação das individualidades, os indivíduos
são lançados às disputas pela construção de sua identidade.
SOCIOLOGIA 582

São esses padrões, códigos e regras a que po- construção. Mas quer dizer que estamos passando
díamos nos conformar, que podíamos selecionar de uma era de “grupos de referência” predetermi-
como pontos estáveis de orientação e pelos quais nados a uma outra de “comparação universal”, em
podíamos nos deixar guiar, que estão cada vez mais que o destino dos trabalhos de autoconstrução in-
em falta. Isso não quer dizer que nossos contempo- dividual está endêmico e incuravelmente subdeter-
râneos sejam guiados tão somente por sua imagi- minado, não está dado de antemão e tende a sofrer
nação e resolução e que sejam livres para construir numerosas e profundas mudanças antes que esses
seu modo de vida a partir do zero e segundo sua trabalhos alcancem seu único fim genuíno: o fim da
LIVRO DO PROFESSOR

vontade, ou que não sejam mais dependentes da so- vida do indivíduo.


ciedade para conseguir as plantas e os materiais de
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. p. 14.

A despeito das consideráveis divergências dos estudiosos, cujas posições podem ser divididas, esquematicamente, entre
as teses que afirmam que a atualidade permanece moderna e as concepções que declaram a pós-modernidade do presente, há
um ponto consensual em suas análises: são profundas as transformações recentes da civilização contemporânea.

APRENDER SEMPRE 39

01. UEL-PR por Durkheim, na medida que as bases da existência


Leia o texto a seguir. social mantêm seu funcionamento normal.
“O primeiro beijo é sempre o último”. Assim III. A vida social moderna, ao individualizar os sujeitos,
um informante define, com certa nostalgia, o sur- eliminou a necessidade, entre os jovens, de partici-
gimento de uma nova rotina na prática de “ficar” par de agrupamentos identitários e de estabelecer
entre os jovens ao longo da night. “Ficar” é essen- vínculos sociais com outras pessoas.
cialmente beijar, beijar em série, beijar muito. O IV. A adoção da prática antissocial do “ficar” é fruto de
primeiro beijo, marcado por algo absolutamente uma juventude sem valores morais, como família,
fugaz, registro imediato do tátil, desliga-se do que tradição e propriedade privada, presentes desde os
outrora era ritual do enamoramento, prelúdio de primórdios da humanidade.
uma trajetória sentimental. [...] No campo do afe- Assinale a alternativa correta.
to e do exercício da sociabilidade, essa mesma a. Somente as afirmativas I e II são corretas.
noite propicia comportamentos que revelam a b. Somente as afirmativas I e IV são corretas.
transitoriedade, a seriação e o deslocamento afe- c. Somente as afirmativas III e IV são corretas.
tivo como um novo mecanismo de agrupamento d. Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
dos jovens. e. Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
ALMEIDA, M.I.M. de. Guerreiros da noite: cultura jovem e nomadismo
urbano. Ciência hoje, Rio de Janeiro: ICH, 2004, v. 34, n. 202, p. 28. Resolução
A afirmação I é correta, pois o comportamento descrito no
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a socia- texto é compatível com a transitoriedade, a fluidez das relações
bilidade moderna, considere as afirmativas a seguir. sociais contemporâneas, características da pós-modernidade
I. As práticas assinaladas entre os jovens identificam- ou, segundo Bauman, da modernidade líquida. A sentença II
-se ao que se definiu como pós-modernidade, isto é, também é correta, pois a anomia, segundo Durkheim, expres-
relações fluidas, marcadas pela instantaneidade e por sa um estado de fragilização dos valores que compromete o
rupturas contínuas com referenciais preestabelecidos. funcionamento da sociedade e este não é o caso da situação
II. O comportamento dos jovens que optam pela prática descrita no texto. As afirmativas III e IV são incorretas.
do “ficar” é diferente do estado anômico, analisado Alternativa correta: A
318

PV3D-18-70
Módulo 13

CAP. 7
A sociedade e as novas questões do meio ambiente e das novas formas
de comunicação
EXERCÍCIOS PROPOSTOS

SOCIOLOGIA 582
Leia com atenção Capítulo 7 – Tópicos 1, 1.A, 1.B, 2, 2.A e 2.B
Série branca 241 242 243 244 251 252 253 254
DE ESTUDOS
ROTEIRO

Exercícios

Série amarela 245 246 247 248 255 256 257 258
Série roxa 247 248 249 250 257 258 259 260
Foco Enem 243 245 246 248 253 255 256 258

241. UPE não só da atividade agrícola em si, senão que afete

LIVRO DO PROFESSOR
Ao fazer o estudo bibliográfico sobre um determina- de maneira geral a todo o entorno no qual a agricul-
do assunto do conteúdo programático do vestibular da tura está inserida.
Universidade de Pernambuco (UPE), um vestibulando GOMES, J. C. C. Desenvolvimento rural, transição de formatos tecnológicos,
encontrou e anotou a seguinte definição: “É aquele que elaboração social da qualidade, interdisciplinaridade e participação. In:
PORTO, V. H.; WIZNIEWSKY, C. R. F.; SIMICH, T. (Org.). Agricultor familiar: sujeito
satisfaz as necessidades presentes sem comprometer a de um novo método de pesquisa, o participativo. Pelotas: Embrapa, 2004.
capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias
necessidades”. No texto, faz-se referência a um tipo de pressão da socie-
Trata-se da definição correta de dade contemporânea sobre a agricultura. Essa pressão objeti-
a. crescimento neomalthusiano ambiental. va a seguinte transformação na atividade agrícola:
b. desenvolvimento sustentável. a. ampliação de políticas de financiamento voltadas
c. ecodesenvolvimento neoliberal. para a produção de transgênicos.
d. desenvolvimento ambiental. b. modernização do modo de produção focado na alta
e. ecodesenvolvimento darwinista. produtividade da terra.
c. expansão do agronegócio relacionado ao mercado
242. consumidor externo.
Assinale a alternativa que justifica as investigações so- d. promoção de práticas destinadas à conservação de
ciológicas sobre o meio ambiente. recursos naturais.
a. As leis que regem os fenômenos da natureza são pro- e. inserção de modelos orientados ao uso intensivo de
duzidas pela criatividade da mente humana, que inau- agroquímicos.
gura o meio ambiente.
b. A vida humana em sociedade compreende as relações 244. UEM-PR
dos seres humanos entre si e suas relações sociocul- Uma das discussões sociológicas relacionadas
turais com a natureza. aos problemas socioambientais se desenvolveu no
c. O meio ambiente consiste em uma realidade com di- debate sobre meio ambiente e sustentabilidade: a
nâmica própria, que jamais é afetada pelas condutas questão da fome e da segurança alimentar. O tema
econômicas e sociais dos seres humanos. da superação da fome e da pobreza também trouxe
d. As relações sociais estabelecidas no mundo moderno à tona uma discussão sobre o modelo de desenvol-
ajustam o comportamento humano ao natural perten- vimento associado ao capitalismo. A ideia difundida
cimento dos seres humanos ao meio ambiente. no século XIX de que a fome e a pobreza seriam re-
e. A crise ecológica contemporânea é irreversível e os sultado de uma produção de alimentos insuficiente
esforços para enfrentá-la revelam a dimensão utópica em relação ao crescimento populacional foi critica-
do conjunto da humanidade. da e superada ao longo do século XX.
SILVA, Afrânio et al. Sociologia em movimento.
243. Enem C6-H26 São Paulo: Moderna, 2015. p. 371.
A crescente conscientização sobre os efeitos do
modelo intensivo de produção, adotado de forma Considerando o texto citado e conhecimentos sobre a te-
geral na agricultura, tem gerado também uma série mática do meio ambiente e desenvolvimento, assinale o que
de reações. De fato, a agricultura está cada vez mais for correto.
pressionada pelo conjunto de relações que man- 01. A produção de alimentos orgânicos e as políticas de
319

tém com a sociedade em geral, sendo emergente o soberania alimentar são mantidas mundialmente
que comumente se denomina “questão ambiental”. pelas grandes empresas mundiais produtoras de
Essas relações, às vezes de dependência, às vezes grãos e insumos agrícolas.
PV3D-18-70

de conflito, são as que determinam uma chamada 02. O desenvolvimento capitalista garantiu a superação
ampla para mudanças orientadas à sustentabilidade, da fome e da pobreza em nível mundial.
04. A manutenção de reservas territoriais ocupadas por c. a melhora generalizada das condições de vida da po-
CAP. 7

diferentes etnias indígenas é responsável pela baixa pulação mundial, a partir da eliminação das desigual-
produção de alimentos no Brasil. dades econômicas na atualidade.
08. Políticas públicas voltadas para a redistribuição de d. o desmatamento, que eliminou grandes extensões de
recursos econômicos, como o Programa Bolsa Famí- diversos biomas improdutivos, cujas áreas passaram
lia, no Brasil, são aliadas importantes das políticas a ser ocupadas por centros industriais modernos.
SOCIOLOGIA 582

mundiais de soberania alimentar. e. o aumento demográfico mundial, sobretudo nos paí-


16. O alimento é um direito humano e não apenas uma ses mais desenvolvidos, que apresentam altas taxas
mercadoria comum, ou seja, o acesso aos produtos de crescimento vegetativo.
alimentícios não deve estar sujeito às regras econô-
micas voltadas ao lucro, mas sobretudo a princípios 247. UEM-PR
básicos de garantia da vida humana. A partir do momento em que as duas grandes
‘coletividades’ da tradição modernista, a socieda-
245. Enem de e a natureza, foram diluídas, quero dizer, redis-
Diante de ameaças surgidas com a engenharia tribuídas e divididas por causa das crises práticas
genética de alimentos, vários grupos da sociedade da ecologia, a noção de reunião ou reconstituição
civil conceberam o chamado “princípio da precau- desses coletivos – sejam eles humanos ou não hu-
LIVRO DO PROFESSOR

ção”. O fundamento desse princípio é: quando uma manos – tornou-se a questão política mais impor-
tecnologia ou produto comporta alguma ameaça à tante. A separação entre esses dois conjuntos era,
saúde ou ao ambiente, ainda que não se possa ava- antes também, uma questão política. A ecologia não
liar a natureza precisa ou a magnitude do dano que modificou isto, ela continua definindo os campos da
venha a ser causado por eles, deve-se evitá-los ou sociedade e da natureza, salvo pelo fato de que a
deixá-los de quarentena para maiores estudos e ava- isso ela adicionou a ideia que os americanos cha-
liações antes de sua liberação. mam de bioprocess, uma forma legítima de inventar
SEVCENKO, N. A corrida para o século XXI: no loop da montanha- a questão da ecologia política. De fato, o importante
-russa. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. Adaptado. agora – depois de abandonar as duas coletividades
a que me referi – de um lado, a natureza, de outro,
O texto expõe uma tendência representativa do pensa- a sociedade – é se interessar na questão da produ-
mento social contemporâneo, na qual o desenvolvimento de ção das instituições que permitem pesquisar essas
mecanismos de acautelamento ou administração de riscos associações. Essa é a grande questão da ecologia
tem como objetivo política que encontramos agora por todos os lados:
a. priorizar os interesses econômicos em relação aos se- o caso dos parques naturais, do aquecimento global,
res humanos e à natureza. dos problemas das cidades. Essa é a própria visão
b. negar a perspectiva científica e suas conquistas por do global.
causa de riscos ecológicos. Entrevista com Bruno Latour, Revista Cult, n. 132.
c. instituir o diálogo público sobre mudanças tecnológi-
cas e suas consequências. Segundo o texto apresentado e com base na adoção de
d. combater a introdução de tecnologias para travar o pontos de vista sociológicos, é correto afirmar que
curso das mudanças sociais. 01. a ecologia política pretende abordar fenômenos com
e. romper o equilíbrio entre benefícios e riscos do avan- base em perspectivas que não analisem separada-
ço tecnológico e científico. mente a natureza e a sociedade.
02. a análise em separado dos fenômenos humanos e
246. Enem dos fenômenos da natureza, assim como a posição
O homem construiu sua história por meio do contrária a essa, está associada à adoção de um po-
constante processo de ocupação e transformação sicionamento político.
do espaço natural. Na verdade, o que variou, nos 04. os parques naturais, o aquecimento global e os pro-
diversos momentos da experiência humana, foi a blemas das cidades devem ser analisados por uma
intensidade dessa exploração. perspectiva exclusiva: ou a social ou a natural.
Disponível em: <http://www.simposioreformaagraria. 08. a tradição moderna é a proposição mais correta para
propp.ufu.br>. Acesso em: 09 jul. 2009. Adaptado. as práticas científicas e intelectuais e, por isso, não
deve ser questionada.
Uma das consequências que pode ser atribuída à cres- 16. a análise da sociedade ou da natureza são exercícios
cente intensificação da exploração de recursos naturais, facili- puramente racionais e nada têm a ver com questões
tada pelo desenvolvimento tecnológico ao longo da história, é políticas.
a. a diminuição do comércio entre países e regiões,
que se tornaram autossuficientes na produção de 248. Enem C6-H26
320

bens e serviços. A cultura ocidental, acentuadamente antropo-


b. a ocorrência de desastres ambientais de grandes pro- cêntrica, foi marcada por processos convergentes
porções, como no caso do derramamento de óleo por de desenvolvimento técnico-científico e acumula-
PV3D-18-70

navios petroleiros. ção de riquezas, propiciados pela expansão colonial,


que resultaram na revolução industrial, no fortaleci- conteúdo particular. Ou antes, ele os aceita todos,

CAP. 7
mento da ideia de progresso e no processo de oci- pois se concentra em colocar em contato um ponto
dentalização do mundo. qualquer com qualquer outro, seja qual for a carga
FERREIRA, L. C. Dilemas do século XX: ideias para uma sociologia semântica das entidades relacionadas.
da questão ecológica. In: SILVA, J. P. (Org.). Por uma sociologia LEVY, P. Cibercultura. São Paulo: 34, 1999. p. 113.
do século XX. São Paulo: Annablume, 2007. Adaptado.

SOCIOLOGIA 582
Esse processo de acumulação de riquezas no Ocidente, Considerando as recentes contribuições da sociologia da
por longos séculos, fez-se à custa da degradação do meio na- comunicação sobre o tema da cultura midiática e o trecho ci-
tural. Do ponto de vista da cultura e do imaginário ocidental tado, assinale o que for correto.
moderno, isso se deveu à 01. O ciberespaço suprime as particularidades culturais e as
a. ideologia revolucionária burguesa, que pregava a re- desigualdades sociais ao organizar de modo imparcial
partição igualitária do direito de acesso aos recursos as informações que são distribuídas em nível planetário.
naturais e agrícolas. 02. A internet é responsável pelos atuais problemas
b. ideia de Renascimento, que representava os benefí- educacionais, pois aliena os estudantes ao torná-los
cios técnicos de transformação da natureza como sa- receptores passivos de informações fragmentadas e
lutares para a preservação de ecossistemas. imprecisas sobre a vida social.
c. concepção sacralizada de que a natureza, enquanto 04. O conceito de cibercultura pode ser utilizado para

LIVRO DO PROFESSOR
obra da criação de Deus, devia servir à contemplação descrever o aparecimento de novos modos de ser e
estética e religiosa. de pensar que produzem mudanças cognitivas e so-
d. perspectiva desenvolvimentista, que atrelava o pro- ciais por meio da interação virtual.
gresso ao meio ambiente e difundia amplamente um 08. Ainda que inserida na indústria cultural, a internet
entendimento da relação harmoniosa entre sociedade tem o potencial de democratizar o acesso ao conhe-
e natureza. cimento por meio da criação de novos espaços de
e. crença nos poderes da ciência e do desenvolvimen- produção, troca e difusão de informações.
to tecnológico, que contribuiu para tratar a nature- 16. O ciberespaço representa uma mudança tecnológica e
za como objeto de quantificação, manipulação e não cultural, pois altera o modo de organizar e distribuir a
dominação. informação e não o modo de produção do conhecimento.

249. 252.
O desenvolvimento da ciência e da tecnologia, principal- Identifique a alternativa que se refere corretamente à
mente no século XX, serviu tanto para promover a melhoria comunicação praticada pela rede mundial de computadores.
da qualidade da vida do ser humano, quanto para ampliar a a. A comunicação em rede reproduz totalmente os pa-
sua capacidade de autodestruição. No tocante à economia, a drões da televisão.
proposta de desenvolvimento sustentável b. A comunicação eletrônica dispensa o uso da linguagem.
a. incorpora o liberalismo econômico como solução mer- c. A comunicação pela rede de computadores é sempre
cadológica para a redução das desigualdades sociais. unilateral.
b. alerta para a necessidade de intensificação da produ- d. A comunicação praticada pela internet interseciona o
ção de bens de consumo para a restauração da inte- global e o local.
gridade ecológica. e. A comunicação virtual é menos racional do que a co-
c. condiciona a produção econômica à preservação municação tradicional.
ambiental e à realização de uma sociedade plena de
cidadania. 253. Enem C6-H26
d. defende a completa estatização das atividades pro-
dutivas e o gradual abandono das novas tecnologias
industriais.
e. favorece iniciativas econômicas capazes de
transgredir normas ambientais estabelecidas no
plano legal.

250.
Explique as relações entre as sociedades industriais e de
consumo e os problemas ambientais contemporâneos. NANI. Disponível em:<www.nanihumor.com>. Acesso em: 7 ago.2012.

251. UEM-PR As novas tecnologias foram massificadas, alcançando e


A cada minuto que passa, novas pessoas passam impactando de diferentes formas os lugares. A ironia proposta
a acessar a internet, novos computadores são in- pela charge indica que o acesso à tecnologia está
321

terconectados, novas informações são injetadas na a. vinculado a mudanças na paisagem.


rede. Quanto mais o ciberespaço se amplia, mais ele b. garantido de forma equitativa aos cidadãos.
se torna ‘universal’ e menos o mundo informacional c. priorizado para resolver as desigualdades.
PV3D-18-70

se torna totalizável. O universo da cibercultura não d. relacionado a uma ação redentora na vida social.
possui nem centro nem linha diretriz. É vazio, sem e. dissociado de revoluções na realidade socioespacial.
254. a. a prática identitária autorreferente.
CAP. 7

Alguns estudos sociológicos destacam aspectos negati- b. a dinâmica política democratizante.


vos da atual comunicação eletrônica. Entre esses aspectos, c. a produção instantânea de notícias.
situa-se d. os processos difusores de informações.
a. a reafirmação de valores culturais locais em detrimen- e. os mecanismos de convergência tecnológica.
to da cultura global.
SOCIOLOGIA 582

b. a proximidade virtual entre parentes geograficamente 257.


distantes. Sobre as relações entre tradicionais meios de comunica-
c. a queda da produtividade dos trabalhadores com for- ção de massa e as recentes tecnologias eletrônicas de comu-
mação educacional superior. nicação, é certo dizer que
d. a desvalorização dos bens produzidos na sociedade a. os conteúdos da comunicação virtual em rede deter-
de consumo. minam a programação da televisão.
e. a diminuição do tempo dedicado às interações basea- b. as grandes empresas de comunicação canalizam par-
das na proximidade física. te de seus investimentos para a internet.
c. a unilateralidade das redes sociais cibernéticas resul-
255. Enem ta na unilateralidade da produção radiofônica.
Imagine uma festa. São centenas de pessoas apa- d. a internet neutraliza completamente a importância
LIVRO DO PROFESSOR

rentemente viajadas, inteligentes, abertas a novas das revistas e dos jornais impressos.
amizades. Você seleciona uma delas e começa um e. a indústria cultural surge na internet e espalha-se pe-
diálogo. Apesar do assunto envolvente, você olha para los meios de comunicação tradicionais.
o lado, perde o foco e dá início a um novo bate-papo.
Trinta segundos depois, outra pessoa desperta a sua 258. Enem C4-H20
atenção. Você repete a mesma ação. Lá pelas tantas Os meios de comunicação funcionam como um elo en-
você se dá conta de que não lembra o nome de ne- tre os diferentes segmentos de uma sociedade. Nas últimas
nhuma das pessoas com quem conversou. A internet décadas, acompanhamos a inserção de um novo meio de co-
é mais ou menos assim, repleta de coisas legais, infor- municação que supera em muitos outros já existentes, visto
mações relevantes. São janelas e mais janelas abertas. que pode contribuir para a democratização da vida social e
Disponível em: <http://revistagalileu.globo.com>. política da sociedade à medida que possibilita a instituição de
Acesso em: 19 fev. 2013. Adaptado. mecanismos eletrônicos para a efetiva participação política e
disseminação de informações.
Refletindo sobre a correlação entre meios de comunica- Constitui o exemplo mais expressivo desse novo conjun-
ção e vida social, o texto associa a internet a um padrão de to de redes informacionais a
sociabilidade que se caracteriza pelo(a) a. internet.
a. isolamento das pessoas. b. fibra ótica.
b. intelectualização dos internautas. c. TV digital.
c. superficialidade das interações. d. telefonia móvel.
d. mercantilização das relações. e. portabilidade telefônica.
e. massificação dos gostos.
259. UEM-PR
256. Enem Cada vez mais, vivemos em um mundo no qual
Na sociedade contemporânea, em que as rela- você acorda como amante, toma café da manhã
ções sociais tendem a reger-se por imagens midiá- como mãe e dirige seu carro para o trabalho como
ticas, a imagem de um indivíduo, principalmente na advogada. Em um mesmo dia, as pessoas passam
indústria do espetáculo, pode agregar valor econô- por transições drásticas e é evidente que desem-
mico na medida de seu incremento técnico: amplitu- penham múltiplas funções. [...] Na internet, você
de do espelhamento e da atenção pública. Aparecer se vê atuando em sete janelas abertas na tela, as-
é então mais do que ser; o sujeito é famoso porque é sumindo literalmente diferentes personalidades
falado. Nesse âmbito, a lógica circulatória do merca- em cada uma dessas sete janelas, tendo todos os
do, ao mesmo tempo que acena democraticamente tipos de relacionamentos, alternando e desem-
para as massas com supostos “ganhos distributivos” penhando todas as funções simultaneamente,
(a informação ilimitada, a quebra das supostas hie- deixando partes de si [...]. Sua identidade é dis-
rarquias culturais), afeta a velha cultura disseminada tribuída em uma série de janelas. Cada vez mais,
na esfera pública. A participação nas redes sociais, a vida na tela também oferece uma janela para o
a obsessão dos selfies, tanto falar e ser falado quanto que somos na vida fora da tela: somos pessoas
ser visto são índices do desejo de “espelhamento”. que alternamos aspectos do eu.
SODRÉ, M. Disponível em: <http://alias.estadao.com. TURKLE, S. Depoimento a John Brockman. In: BROCKMAN, J. Digerati:
322

br>. Acesso em: 9 fev. 2015. Adaptado. encontros com a elite digital. Rio de Janeiro: Campos, 1997. p. 264.

A crítica contida no texto sobre a sociedade contemporâ- Considerando a citação de Turkle e os estudos sociológi-
PV3D-18-70

nea enfatiza cos sobre a internet, assinale o que for correto.


01. Do ponto de vista sociológico, o espaço virtual é 260.

CAP. 7
tão amplo e complexo que não há como analisá-lo Explique sociologicamente as diferenças entre a comu-
cientificamente. nicação em rede, estabelecida na internet, e a comunicação
02. Segundo Turkle, a identidade não é fixa nem singu- praticada pelos tradicionais meios de massa.
lar, mas uma multiplicidade relacional em constante
mudança.

SOCIOLOGIA 582
04. De acordo com Turkle, o tempo gasto na internet faz
as pessoas se alienarem de seu verdadeiro eu.
08. Conforme Turkle, a crescente preocupação com a
vida privada no Facebook fez com que as pessoas
deixassem de ter uma atuação política e social.
16. Para Turkle, a internet evidencia o fato de que as
atuais relações sociais possibilitam a formulação de
múltiplos projetos identitários. Veja o gabarito desses exercícios propostos na página 329

LIVRO DO PROFESSOR
323
PV3D-18-70
Módulo 14
CAP. 7

Globalização e sociedade pós-moderna


EXERCÍCIOS PROPOSTOS
Leia com atenção Capítulo 7 – Tópicos 3, 3.A, 3.B, 4, 4.A e 4.B
SOCIOLOGIA 582

Série branca 261 262 263 264 271 272 273 274
DE ESTUDOS
ROTEIRO

Exercícios

Série amarela 265 266 267 268 275 276 277 278
Série roxa 267 268 269 270 277 278 279 280
Foco Enem 263 264 267 268 273 274 277 278

261. Um fator essencial para a organização da produção, na


A expressão “ocidentalização do mundo”, utilizada com conjuntura destacada no texto, é a
alguma frequência para se referir à globalização em seus a. criação de uniões aduaneiras.
LIVRO DO PROFESSOR

mais amplos aspectos culturais, refere-se b. difusão de padrões culturais.


a. à radicalização da diversidade cultural na multiplicação c. melhoria na infraestrutura de transportes.
indefinida de tendências socioculturais fragmentárias. d. supressão das barreiras para comercialização.
b. à imposição e assimilação dos parâmetros sociocul- e. organização de regras nas relações internacionais.
turais norte-americanos e europeus pelas diversas
regiões e sociedades do planeta. 264. Enem
c. à disseminação de valores culturais humanistas que No final do século XX e em razão dos avanços
atestam a superioridade ética do Ocidente em relação da ciência, produziu-se um sistema presidido pelas
ao mundo. técnicas da informação, que passaram a exercer um
d. à retomada de princípios culturais medievais, de ins- papel de elo entre as demais, unindo-as e asseguran-
piração cristã, que anunciam a difusão da religiosida- do ao novo sistema uma presença planetária. Um
de pelo mundo. mercado que utiliza esse sistema de técnicas avan-
e. à supremacia cultural da política sobre a economia, çadas resulta nessa globalização perversa.
fundada nas democracias representativas ocidentais. SANTOS, M. Por uma outra globalização. Rio de
Janeiro: Record, 2008. Adaptado.
262. Unioeste-PR
Quais as principais características do neoliberalismo? Uma consequência para o setor produtivo e outra para o
Marque a alternativa correta. mundo do trabalho advindas das transformações citadas no
a. Defesa do livre-comércio, estatização da economia e texto estão presentes, respectivamente, em:
flexibilização das relações trabalhistas a. Eliminação das vantagens locacionais e ampliação da
b. Defesa do livre-comércio, redução do aparato de Esta- legislação laboral.
do e de sua intervenção na economia e flexibilização b. Limitação dos fluxos logísticos e fortalecimento de as-
das relações trabalhistas sociações sindicais.
c. Aumento da intervenção do Estado na economia, pla- c. Diminuição dos investimentos industriais e desvalori-
nejamento central e aumento da taxação das gran- zação dos postos qualificados.
des fortunas d. Concentração das áreas manufatureiras e redução da
d. Flexibilização das relações trabalhistas, interven- jornada semanal.
ção do Estado na economia e adoção de políticas e. Automatização dos processos fabris e aumento dos
protecionistas níveis de desemprego.
e. Redução da intervenção do Estado na economia, ado-
ção de políticas protecionistas e de proteção social 265. UEM-PR
A globalização em curso é, em primeiro lugar, a
263. Enem C5-H22 culminação de um processo que começou com a
Não acho que seja possível identificar a glo- constituição da América e do capitalismo colonial/
balização apenas com a criação de uma econo- moderno e eurocentrado como um novo padrão de
mia global, embora este seja seu ponto focal e sua poder mundial. Um dos eixos fundamentais desse pa-
característica mais óbvia. Precisamos olhar além drão de poder é a classificação social da população
da economia. Antes de tudo, a globalização de- mundial de acordo com a ideia de raça, uma cons-
pende da eliminação de obstáculos técnicos, não trução mental que expressa a experiência básica da
324

de obstáculos econômicos. Isso tornou possível dominação colonial e que, desde então, permeia as
organizar a produção, e não apenas o comércio, dimensões mais importantes do poder mundial, in-
em escala internacional. cluindo sua racionalidade específica, o eurocentrismo.
PV3D-18-70

HOBSBAWM, E. O novo século: entrevista a Antonio Polito. QUIJANO, A. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In:
São Paulo: Companhia das Letras, 2000. Adaptado. LANDER, E. A colonialidade do saber. Buenos Aires: CLACSO, 2005. p. 227.
De acordo com a citação apresentada e com as teorias a. o crescimento da carga tributária.

CAP. 7
sociológicas contemporâneas sobre o tema, assinale o que b. o aumento da mobilidade ocupacional.
for correto. c. a redução da competitividade entre as empresas.
01. As atuais relações de poder entre as regiões ou os d. o direcionamento das vendas para os mercados regionais.
países inseridos no capitalismo mundial expres- e. a ampliação do poder de planejamento dos Estados
sam-se comercialmente e não culturalmente. Nacionais.

SOCIOLOGIA 582
02. O capitalismo atual refere-se ao sistema democrático
e igualitário que superou os processos de coloniza- 268. Enem C5-H22
ção ocorridos entre os séculos XVI e XX. Um certo carro esporte é desenhado na Califór-
04. O eurocentrismo pode ser pensado como uma pers- nia, financiado por Tóquio, o protótipo criado em
pectiva etnocêntrica, pois separa o mundo em pares Worthing (Inglaterra) e a montagem é feita nos EUA
desiguais de “europeus” e “não europeus”. e México, com componentes eletrônicos inventados
08. A história mundial tem sido apresentada, em grande em Nova Jérsei (EUA), fabricados no Japão. (...). já
medida, como a história da expansão dos povos e Es- a indústria de confecção norte-americana, quando
tados europeus pelo mundo. inscreve em seus produtos “made in USA”, esquece
16. No Período Colonial, a classificação da população de mencionar que eles foram produzidos no México,
mundial, com base na ideia de raça, ajudou a legitimar Caribe ou Filipinas.

LIVRO DO PROFESSOR
o projeto de dominação dos países colonizadores. Renato Ortiz: Mundialização e Cultura

266. Unicentro-PR O texto ilustra como em certos países produz-se tanto


Leia o texto a seguir. um carro esporte caro e sofisticado, quanto roupas que nem
sequer levam uma etiqueta identificando o país produtor. De
As mudanças que ocorreram no modo de pro- fato, tais roupas costumam ser feitas em fábricas – chamadas
dução capitalista, a partir do final do século XX e “maquiladoras” – situadas em zonas-francas, onde os traba-
início do XXI, trouxeram acelerado aumento da lhadores nem sempre têm direitos trabalhistas garantidos.
produtividade do trabalho industrial e também dos A produção nessas condições indicaria um processo de
serviços, em especial dos que recolhem, proces- globalização que
sam, transmitem e arquivam informações. Apre- a. fortalece os Estados Nacionais e diminui as dispari-
sentando maior flexibilidade do parque produtivo, dades econômicas entre eles pela aproximação entre
as empresas, até então com produção vertical- um centro rico e uma periferia pobre.
mente integrada, deixam de executar atividades b. garante a soberania dos Estados Nacionais por meio
complementares para comprá-las no mercado da identificação da origem de produção dos bens
concorrencial ao menor preço. Do ponto de vista e mercadorias.
do desemprego e da exclusão social, observam-se c. fortalece igualmente os Estados Nacionais por meio
muitas atividades que passam a ser exercidas por da circulação de bens e capitais e do intercâmbio
pequenos empresários, trabalhadores autônomos, de tecnologia.
cooperativas de produção etc., transformando em- d. compensa as disparidades econômicas pela sociali-
pregos formais em ocupações. zação de novas tecnologias e pela circulação globali-
SINGER, Paul. Globalização e desemprego: diagnóstico e zada da mão de obra.
alternativas. São Paulo: Contexto, 2000. Adaptado. e. reafirma as diferenças entre um centro rico e uma pe-
riferia pobre, tanto dentro como fora das fronteiras dos
Com base no texto, assinale a alternativa que apresenta, Estados Nacionais.
corretamente, o processo que transforma postos de trabalho
de empregos formais em ocupações, deixando de oferecer as 269. UEM-PR
garantias e os direitos habituais. Para atuar sobre as migrações internacionais no sé-
a. Aculturação d. Segregação culo 21, é preciso entender como a globalização afeta
b. Burocratização e. Terceirização os deslocamentos espaciais da população. O migrante
c. Corporação vive no mundo onde a globalização dispensa frontei-
ras, muda parâmetros diariamente, ostenta luxos, es-
267. Enem banja informações, estimula consumos, gera sonhos
Uma mesma empresa pode ter sua sede adminis- e, finalmente, cria expectativas de uma vida melhor.
trativa onde os impostos são menores, as unidades de Entretanto, a globalização é parcial e inacabada, e isso
produção onde os salários são os mais baixos, os ca- afeta as migrações de várias maneiras. O resultado é
pitais onde os juros são os mais altos e seus executi- que a globalização apresenta dificuldades e morosida-
vos vivendo onde a qualidade de vida é mais elevada. des no cumprimento de suas promessas. Muitos países
SEVCENKO, N. A corrida para o século XXI: no loop da montanha crescem pouco ou nada e, enquanto isso, as disparida-
325

russa. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. Adaptado. des entre ricos e pobres aumentam. Porém, enquanto
o capital financeiro e o comércio fluem livremente, a
No texto estão apresentadas estratégias empresariais no mão de obra se move a conta-gotas.
PV3D-18-70

contexto da globalização. Uma consequência social derivada MARTINE, George. A globalização inacabada: migrações e pobreza no
dessas estratégias tem sido século 21. São Paulo em perspectiva, v. 19, n. 3, p. 3, jul./set. 2005.
Considerando o que se diz na citação apresentada, assi- SONÍFEROS VITAMINADOS. Seu programa rolou
CAP. 7

nale o que for correto. fácil. Na rua divertiu-se pacas com a manifestação
01. As melhorias sociais globais não têm acompanhado feminista pró-aborto que contava com um bloco só
o crescimento vertiginoso do capital financeiro e do de freiras e, a metros dali, com a escultura que refa-
comércio mundial. zia a Pietá (aquela do Miguelângelo) com baconzitos
02. A globalização facilita os deslocamentos pelas cida- e cartões perfurados. Rose ligou. Você embarcou
SOCIOLOGIA 582

des, estados e países, aumentando consideravel- no filme Indiana Jones sentado numa poltrona estilo
mente o fluxo migratório. Menphis – uma pirâmide laranja em vinil – desfian-
04. A globalização tem afetado todos os habitantes do do piadas sobre a tese dela de filosofia: Em cena,
planeta, de um modo ou de outro, independentemen- a decadência. A câmera adaptada ao vídeo filmou
te se residem em países ricos ou pobres e se estão vocês enquanto faziam amor. Será o pornô que ani-
ou não em processo de migração. mará a próxima vez. Ao trazê-lo de carro para casa,
08. As migrações permitem o crescimento dos países Rose, que esticaria até uma festa, veio tipo impacto:
pobres, pois, ao se deslocarem de um país para ou- maquiagem teatral, brincos enormes e uma gravata
tro, esses imigrantes, quando retornam, trazem con- prateada sobre camisão lilás. Na cama, um senti-
sigo riquezas e experiências que permitirão o desen- mento de vazio e irrealidade se instala em você. Sua
volvimento de seus países de origem. vida se fragmenta desordenadamente em imagens,
LIVRO DO PROFESSOR

16. A globalização é uma força poderosa no novo siste- dígitos, signos – tudo leve e sem substância como
ma mundial, sendo determinante no curso da histó- um fantasma. Nenhuma revolta. Entre a apatia e a
ria contemporânea da humanidade, definindo novas satisfação, você dorme.
oportunidades, bem como novos problemas sociais. SANTOS, Jair Ferreira. O que é pós-moderno.
São Paulo: Brasiliense, 1988. p. 8.
270.
Explique as implicações da globalização sobre o poder e Utilizando seus conhecimentos sobre o tema “gostos e esti-
a soberania dos Estados Nacionais. los de vida”, assinale a(s) alternativa(s) correta(s) sobre o texto.
01. Trata-se do cotidiano de um indivíduo urbano que
271. convive com a tecnologia eletrônica de massa e
De maneira geral, os teóricos da pós-modernidade enten- individual.
dem que a atualidade não comporta a concepção moderna 02. Aborda a valorização do estilo de vida hedonista,
do sujeito centrado em si mesmo. Para esses intelectuais, na no qual predomina a busca pelo prazer individual
pós-modernidade, e imediato.
a. a solidez dos laços comunitários não permite a reali- 04. Exemplifica a lógica de uma sociedade que não é pau-
zação de escolhas pessoais, de caráter propriamen- tada pelo consumo generalizado de bens e serviços.
te autônomo. 08. Retrata uma situação peculiar aos indivíduos que vi-
b. o conjunto de tecnologias de comunicação reduz os vem em sociedades altamente industrializadas que
seres humanos à condição comportamental dos de- oferecem acesso diferenciado às novas tecnologias.
mais animais. 16. Mostra o processo de fragmentação dos indivíduos
c. a biografia individual não consiste no desenvolvimen- em uma sociedade baseada na tecnociência.
to de uma personalidade, mas sim em uma soma de
experiências descontínuas. 273. Enem C4-H18
d. a supremacia da política partidária, estabelecendo a Ser moderno é encontrar-se em um ambiente
prioridade da consciência de classe, não favorece a que promete aventura, poder, alegria, crescimen-
elaboração de subjetividades. to, autotransformação e transformação das coisas
e. a indústria cultural é o único recurso possível para a em redor — mas ao mesmo tempo ameaça des-
construção pessoal de sujeitos plenos e realmente truir tudo o que temos, tudo o que sabemos, tudo
dotados de liberdade. o que somos. A experiência ambiental da moder-
nidade anula todas as fronteiras geográficas e
272. UEM-PR raciais, de classe e nacionalidade: nesse sentido,
[…] Ao acordá-lo, o rádio-relógio digital dispara pode-se dizer que a modernidade une a espécie
informações sobre o tempo e o trânsito. Ligando a humana. Porém, é uma unidade paradoxal, uma
FM, lá está o U2. O vibramassageador amacia-lhe a unidade de desunidade.
nuca, enquanto o forno microondas descongela um BERMAN, M. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da
sanduíche natural. No seu micro Apple II, sua agen- modernidade. São Paulo: Companhia das Letras, 1986. Adaptado.
da indica:
REUNIÃO AGÊNCIA 10H/ TÊNIS CLUBE O texto apresenta uma interpretação da modernidade
12H/ ALMOÇO/ TROCAR CARTÃO MAGNÉTI- que a caracteriza como um(a)
326

CO BANCO/ TRABALHAR 15H/ PSICOTERAPIA a. dinâmica social contraditória.


18H/ SHOPPING/ OPÇÕES: INDIANA JONES- b. interação coletiva harmônica.
-BLADE RUNNER VIDEOCASSETE ROSE, SE LI- c. fenômeno econômico estável.
PV3D-18-70

GAR/ SE NÃO LIGAR, OPÇÕES: LER O NOME DA d. sistema internacional decadente.


ROSA (ECO) – DALLAS NA TV – DORMIR COM e. processo histórico homogeneizador.
274. 276.

CAP. 7
A pós-modernidade é um conceito multiface- Zigmunt Bauman utiliza a expressão modernidade líqui-
tado que chama a nossa atenção para um con- da para referir-se às transformações recentes da sociedade
junto de mudanças sociais e culturais profundas moderna. De acordo com esse autor, diferentemente da mo-
que estão acontecendo [...] em muitas sociedades dernidade sólida, a modernidade líquida caracteriza-se
“avançadas”. Tudo está englobado: uma mudança a. pela pluralidade religiosa, tendente ao ecumenismo.

SOCIOLOGIA 582
tecnológica acelerada envolvendo as telecomuni- b. por relações sociais fluidas, desprovidas de formas
cações e o poder da informática, alterações nas estáveis.
relações políticas e o surgimento de movimentos c. pelo fortalecimento da solidariedade, baseada na cidadania.
sociais, especialmente os relacionados com aspec- d. por intensas lutas de classes, mediadas pelo Estado.
tos étnicos e raciais, ecológicos e de competição e. pela difusão das utopias, baseadas em discursos filosóficos.
entre os sexos.
LYON, David. Pós-modernidade. São Paulo: Paulus, 1998. p. 7. 277. Enem
O mercado tende a gerir e regulamentar todas as
De acordo com o texto, o conceito de pós-modernidade é atividades humanas. Até há pouco, certos campos –
a. uma referência conceitual útil na reflexão sobre o cultura, esporte, religião – ficavam fora do seu alcan-
mundo atual. ce. Agora, são absorvidos pela esfera do mercado.

LIVRO DO PROFESSOR
b. uma explicação superior sobre as recentes transfor- Os governos confiam cada vez mais nele (abandono
mações sociais. dos setores de Estado, privatizações).
c. uma teoria sociológica centrada na noção filosóficado RAMONET, I. Guerras do século XXI: novos temores e
devir. novas ameaças. Petrópolis: Vozes, 2003.
d. uma perspectiva teórica orientada pelo ideal de progresso.
e. uma especulação sociológica de viés nitidamen- No texto, é apresentada uma lógica que constitui uma
te iluminista. característica central do seguinte sistema socioeconômico:
a. socialismo. d. anarquismo.
275. UEM-PR b. feudalismo. e. comunitarismo.
O que o senso comum entende é que qualida- c. capitalismo.
de de vida é uma coisa que pode ser medida, um
objetivo a ser buscado dentro dos programas das 278. Enem C4-H20
empresas, ou do tempo que passamos no trânsito Não estou mais pensando como costumava pen-
entre o local de trabalho e nossa casa, a qualida- sar. Percebo isso de modo mais acentuado quando
de dos serviços médico-hospitalares, a presença estou lendo. Mergulhar num livro ou num longo artigo
de áreas verdes nas grandes cidades, a seguran- costumava ser fácil. Isso raramente ocorre atualmen-
ça que nos protege dos criminosos, a ausência de te. Agora minha atenção começa a divagar depois de
efeitos colaterais de medicamentos de uso crôni- duas ou três páginas. Creio que sei o que está acon-
co, a realização profissional e financeira, enfim, o tecendo. Por mais de uma década venho passando
que cada um de nós pode considerar como impor- mais tempo on-line, procurando e surfando e algumas
tante para viver bem. vezes acrescentando informação à grande biblioteca
RODRIGUES, Robson. A busca sem fim. Revista da internet. A internet tem sido uma dádiva para um
Sociologia, ano II, ed. 30, ago. 2010, p. 26. escritor como eu. Pesquisas que antes exigiam dias de
procura em jornais ou na biblioteca agora podem ser
Considerando o texto e a temática do trabalho e a produ- feitas em minutos. Como disse o teórico da comunica-
ção social do mundo, assinale o que for correto. ção Marshall McLuhan nos anos 1960, a mídia não é
01. Nas sociedades capitalistas, o mundo do trabalho apenas um canal passivo para o tráfego de informação.
ganha uma centralidade capaz de diferenciar as pes- Ela fornece a matéria, mas também molda o processo
soas pela posição que elas ocupam nesse universo. de pensamento. E o que a net parece fazer é pulverizar
02. A qualidade de vida buscada pelos indivíduos na minha capacidade de concentração e contemplação.
modernidade está relacionada à possibilidade de CARR, N. Is Google making us stupid? Disponível em: <www.
consumo de determinados bens e à viabilidade de theatlantic.com>. Acesso em: 17 fev. 2013. Adaptado.
acesso a alguns serviços.
04. A definição do que é ter qualidade de vida está rela- Em relação à internet, a perspectiva defendida pelo autor
cionada às representações sociais criadas a partir de ressalta um paradoxo que se caracteriza por
parâmetros subjetivos importantes para os indiví- a. associar uma experiência superficial à abundância de
duos modernos. informações.
08. A construção de um estilo de vida saudável independe b. condicionar uma capacidade individual à desorgani-
de apropriações menos predatórias da natureza e de zação da rede.
327

melhor gestão do trânsito nas grandes cidades. c. agregar uma tendência contemporânea à aceleração
16. Uma abordagem sociológica da busca por qualidade do tempo.
de vida pode revelar mecanismos de imposição so- d. aproximar uma mídia inovadora à passividade da
PV3D-18-70

cial criados pela sociedade, que define os padrões a recepção.


serem seguidos por todos. e. equiparar uma ferramenta digital à tecnologia analógica.
279. UEM-PR 04. A sociedade pós-moderna, ao criticar o etnocentris-
CAP. 7

Diz-se que a modernidade corresponde à socie- mo das culturas europeias, deixa de lado o debate
dade industrial (aquela em que o poder econômico e epistemológico em nome das teses para a filosofia
político pertence às grandes indústrias e em que se da história, bem como reconhece o sentido descon-
explora o trabalho produtivo), enquanto a pós-mo- tínuo da história e a crise dos ideais revolucionários
dernidade corresponde à sociedade pós-industrial utópicos de emancipação humana.
SOCIOLOGIA 582

(aquela em que o poder econômico e político per- 08. A filosofia moderna, ao estabelecer um consenso na
tence ao capital financeiro e ao setor de serviço das questão da fundamentação do conhecimento, não
redes de informação e automação). reproduz o debate, incessante na pós-modernidade,
CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, 2005. p. 54. em torno da natureza humana.
16. A sociedade pós-moderna procura estabelecer prin-
Com base nessa afirmação que contextualiza a passagem cípios a partir dos quais a ciência e a filosofia podem,
da modernidade à pós-modernidade, assinale o que for correto. por meio do bom-senso, adquirir resultados univer-
01. É notório, na pós-modernidade, o contexto filosófico sais e andar de mãos dadas, como acontece no posi-
de crítica ao racionalismo e abertura a novos campos tivismo de Auguste Comte.
de experiência válidos, como as vivências corporais,
artísticas e linguísticas. 280.
LIVRO DO PROFESSOR

02. Ao contrário da modernidade, a pós-modernidade Explique os conceitos de modernidade tardia e de moder-


fundamentou o conhecimento pela subjetividade nidade líquida, elaborados pelo sociólogo Zygmunt Bauman.
e suas leis racionais, tanto no domínio teórico (pro-
dução do conhecimento) quanto no domínio prático
(mandamentos da ação). Veja o gabarito desses exercícios propostos na página 329
328

PV3D-18-70
Gabarito dos Exercícios Propostos

GAB.
SOCIOLOGIA 582
Módulo 13 253. E deos é, em princípio, aberta a todos no
YouTube. A inclinação à horizontalida-

SOCIOLOGIA 582
241. B 254. E de e à multilateralidade desse espaço
de comunicação assenta-se no fato de
242. B 255. C que os usuários da internet são tam-
bém protagonistas de seus conteúdos
243. D 256. A e múltiplas são as fontes sociocultu-
rais que tecem a rede de informações
244. 24 (08 + 16) 257. B em interações virtuais.

245. C 258. A Módulo 14


246. B 259. 18 (02 + 16) 261. B

LIVRO DO PROFESSOR
247. 03 (01 + 02) 260. As redes de comunicação da in- 262. B
ternet distinguem-se dos tradicionais
248. E meios de comunicação de massa, 263. C
como rádio, televisão, jornais, revistas,
249. C os quais estruturam-se em perspec- 264. E
tiva vertical e unilateral. De maneira
250. Sob o ponto de vista socioeconômi- geral, esses meios de comunicação 265. 28 (04 + 08 +16)
co, é a partir da Revolução Industrial do concentram-se em poderosos grupos
século XVIII que se consolida a atitude particulares – sob a forma direta de 266. E
de domínio humano sobre a natureza. propriedade privada ou no exercício
A dinâmica industrial capitalista enseja de uma concessão pública – que os 267. B
a sistematização de práticas agressi- controlam diretamente. Seus conteú-
vas diante da natureza, com a extração, dos, suas linhas editorais e sua progra- 268. E
em larga escala, de matérias-primas, mação são definidos por esse núcleo
a devastação de extensas paisagens minoritário da sociedade, em sintonia 269. 23 (01 + 02 + 04 + 16)
naturais e a utilização desmedida de re- com sua visão de mundo, estratégias
cursos ambientais. No século XX, as rela- de mercado, interesses econômicos 270. A globalização contemporânea,
ções sociais capitalistas configuram-se e seus objetivos políticos. Nota-se, em seus aspectos econômicos, con-
nos termos da sociedade de consumo. então, a verticalidade, ou seja, sua verte as corporações empresariais e
Nesta, a produção econômica massiva atuação é configurada por um grupo si- financeiras transnacionais em centros
conjuga-se com as estratégias discur- tuado em um ponto elevado na hierar- decisórios sobrepostos aos Estados
sivas da publicidade, suscitando dese- quia social, afinado com os valores da Nacionais. Em termos práticos, essa
jos e necessidades artificiais dos seres cultura dominante, e é direcionada de realidade contemporânea fragiliza a
humanos, mobilizados para o consumo maneira descendente ao conjunto da própria noção de soberania nacional.
de mercadorias que personificam sta- sociedade. Pronuncia-se, do mesmo Restringe-se, efetivamente, o poder do
tus social e estilos de vida socialmente modo, a supremacia da unilateralida- Estado no tocante à coordenação das
valorizados. Muitas mercadorias são de, pois os diversos segmentos sociais atividades econômicas e à elaboração
fabricadas de acordo com o conceito de receptores desses conteúdos não par- de políticas sociais. Na constituição da
obsolescência planejada. O que é a ob- ticipam, diretamente, de sua produ- sociedade global, os Estados Nacionais
solescência planejada? É a produção de ção. A comunicação que se processa são pressionados a ajustarem suas
bens concebidos para serem efêmeros, nas redes sociais cibernéticas, por sua condutas aos marcos do neoliberalis-
quer dizer, de bens descartáveis, de pou- vez, aproxima-se da horizontalidade e mo. Dessa forma, as transformações
ca duração, exigindo sua substituição da multilateralidade. A comunicação da economia globalizada são acom-
por mercadorias mais atualizadas, sob em rede pela internet não é controlada panhadas, na esfera política, de uma
o prisma tecnológico e simbólico. Na so- por um núcleo social restrito, propi- considerável mudança no poder do Es-
ciedade de consumo, os seres humanos ciando, assim, o estabelecimento de tados Nacionais, especialmente no que
são, sobretudo, consumidores, e inten- relações dialógicas e a multiplicidade concerne à elaboração de políticas eco-
sifica-se a postura humana destrutiva de perspectivas. Nesse espaço virtual, nômicas e sociais. Para alguns teóricos
329

sobre a natureza. indivíduos podem publicar seus textos da globalização, trata-se da diminuição
em blogs e redes sociais; entidades de fato da autonomia política do poder
251. 12 (04 + 08) culturais e movimentos sociais divul- estatal de caráter nacional; para outros,
PV3D-18-70

gam suas plataformas em sites e re- experimenta-se a reconfiguração do


252. D vistas eletrônicas; e a postagem de ví- protagonismo dos Estados Nacionais
em formas contemporâneas de alian- 279. 05 (01 + 04) da individualidade, os indivíduos são
GAB.

ças supranacionais. lançados às disputas pela construção


280. A modernidade sólida, forma de sua identidade. Na passagem da
271. C clássica da sociedade moderna, é ca- modernidade sólida para a moderni-
racterizada por instituições duradou- dade líquida, verifica-se uma série de
272. 27 (01 + 02 + 08 + 16) ras e referências estáveis, oferecendo mudanças relevantes nos círculos de
SOCIOLOGIA 582

um quadro de referências seguro para sociabilidade humana. As estruturas


273. A a identidade social dos indivíduos. Na modernas tradicionais de solidarieda-
modernidade líquida, todas as rela- de cedem espaço para a disputa entre
274. A ções sociais tornam-se fluidas, des- os indivíduos. Os cidadãos, concei-
providas de formas estáveis e marca- tuados como sujeitos de direitos, são
275. 23 (01 + 02 + 04 +16) das pela inconstância. No declínio das convertidos em indivíduos que com-
entidades representativas – sindica- petem entre si pela afirmação social.
276. B tos, partidos, associações – e na di- Fragilizam--se os sistemas estatais
nâmica do consumismo, os indivíduos de proteção social e os planejamentos
277. C não possuem sólidas referências da vida a longo prazo, fomentando-se,
sociais e culturais para a definição assim, um ambiente social repleto
LIVRO DO PROFESSOR

278. A de si mesmos. Nessa fragmentação de incertezas.


330

PV3D-18-70

Você também pode gostar