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O QUE É EDUCAÇÃO AMBIENTAL E ECOLOGIA HUMANA?

Laís Mourão1
Rosângela Corrêa2

EDUCAÇÃO

Quando tudo vai bem em uma comunidade, a educação é encarada como um meio
de formar as novas gerações dentro dos mesmos princípios e valores que os mais velhos
receberam e assumiram como os seus. Toda sociedade possui mecanismos educativos, pois
os seres humanos não nascem com comportamentos programados.Tudo que uma criança
vem a ser como adulto, seu modo de sentir, de pensar, de agir, são coisas aprendidas no
convívio social. É assim que o conjunto da sociedade prove formas de garantir sua
continuidade, produzindo indivíduos capazes de sustentar o regime das relações que
constituem a organização social.
Porém, quando os valores e princípios de uma sociedade se encontram em crise, isto
é, quando passamos por um momento histórico de profundas transformações, a educação
se torna também um ponto critico. Nestas situações, como é o caso do momento que
vivemos atualmente em todo o planeta, as pessoas têm a sensação de estarem perdendo as
referencias e os valores, espalha-se a desconfiança e a violência. A solidariedade e o
convívio pacifico, se tornam coisas raras na vida cotidiana. Nestas épocas, as pessoas
precisam reorientar sua formação e seus valores, para poder aproveitar positivamente o
movimento de transformação, e não ser atropeladas pelas forcas destrutivas que costumam
se impor de inicio.
A primeira coisa a se aprender é que as mudanças são uma condição natural e
saudável de tudo que tem na vida. Mesmo naqueles períodos tranqüilos que nos referimos
acima, as mudanças também existem, porque a criatividade é algo inerente a vida, e
principalmente aos humanos, dotados de autoconsciência e livre arbítrio. Tudo que é vivo
se encontra em constante transformação. Mas a sociedade humana tem uma tendência a
reagir as mudanças e querer conservar os padrões de organização vigentes, apesar de ter
alcançado o ponto de mutação, onde o que é obsoleto esta sendo um obstáculo a vida e
precisa ser renovado. A este comportamento chamamos conservadorismo, uma atitude
reacionária, que quer impedir o movimento das transformações. As pessoas adotam com
freqüência este tipo de atitude, por motivos de habito, de condicionamentos, de interesses
egoístas, ou de inércia (preguiça) simplesmente. Qual seria, então, o papel da educação
nestas situações?

1. Professora na Faculdade UnB Campus Planaltina.


2. Professora Adjunta na Área de Educação Ambiental e Ecologia Humana na Faculdade de
Educação na Universidade de Brasília.

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As novas gerações que chegam em momentos de crise, encontram dois tipos básicos
de comportamento dos adultos. Existem aqueles que encaram a crise como algo ameaçador,
e tentam supera-la reforçando ainda mais velhos valores que são a causa dos problemas
existentes; e de outro lado, estão aqueles que encaram a crise como uma excepcional
oportunidade para corrigir erros, buscar novas soluções, cultivar a criatividade, rever os
modelos, buscando compreender as causas que geraram o estado atual. Estas pessoas
descobrem que a crise é um momento de tomar consciência de tudo aquilo que vinha sendo
feito de modo automático e repetitivo, de assumir coletivamente a construção de nossa
vida comum, e buscar soluções inovadoras antes que os problemas do presente se tornem
irreversíveis.
A educação nesta Segunda atitude se torna um meio de acionar a capacidade
inventiva e criadora das pessoas, sejam crianças, jovens, adultos ou idosos. Ela não se
limita apenas as instituições formais de ensino, mas acontece em todo lugar e a qualquer
momento onde a situação se apresenta para a troca de experiências e a cooperação. Mas,
antes de tudo, a Educação voltada para enfrentar os momentos de crise é uma auto-
educação.
O sentimento de ser responsável por sua própria transformação, revendo seus
comportamentos e formas de pensar, vai fazendo com que as pessoas se sintam também
responsáveis e solidárias com aqueles que compartilham as mesmas situações em meio a
crise, sejam os mais próximos e mais queridos, ou mesmo aqueles que não são tão amados
e agradáveis, mas com quem temos que inevitavelmente compartilhar a sobrevivência
comum. Dessa forma, aquilo que chamamos de cidadania, passa a ser algo vivido como
uma necessidade interior e subjetiva, impulsionada por um sentimento de pertencimento, e
não mera formalidade. A vida política da comunidade passa a ser compreendida como uma
vontade de união diante de um destino comum, e uma nova etica começa a surgir. Isto
acontece quando as pessoas conseguem desejar a sua autonomia pessoal para decidir sobre
seus próprios valores e ações, ao mesmo tempo em que desejam aprimorar os laços de
dependência mutua para enfrentar os mesmos problemas.

AMBIENTAL

Quando falamos atualmente em “Crise Ambiental”, o sentido que está implícito é


que a crise de nossa sociedade é decorrente de um erro na nossa relação com a natureza, um
erro de percepção quanto ao modo de estarmos envolvidos com o mundo natural do qual
somos parte integrante. Isto quer dizer que, daqui, deste fim de século e fim de milênio,
podemos vislumbrar com discernimento o que se passou no processo histórico que fez
surgir a ciência e a tecnologia modernas, chegando até a atual crise planetária.
O mesmo progresso técnico que gerou a informática e que nos permite ter uma
visão global instantânea do passado, do presente e do futuro, é também responsável por
uma perda da ligação primeira que outras culturas e outros povos tiveram, e ainda tem, com
o que chamamos de “meio ambiente”. Podemos hoje pesquisar, por exemplo, a historia dos
antigos egípcios, ou das tribos indígenas brasileiras, e descobrir como era a sua visão e sua

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relação com as outras formas de vida com as quais compartilhavam territórios, a
sobrevivência e a evolução do planeta. Vamos sempre encontrar uma atitude reverente e
respeitosa dos humanos na convivência com o mundo não humano, e geralmente os
fenômenos naturais e cósmicos são vistos por estes povos antigos como um mundo de
forças mais poderosas e misteriosas. Mesmo que tivessem a sua disposição todas as
informações cientificas de que hoje dispomos para explicar racionalmente tais fenômenos,
estes humanos ancestrais continuariam a reverenciar a natureza, pois não o faziam por
medo ou ignorância (como dizem alguns), mas por respeito e humildade diante da
grandiosidade infinita do universo, do qual a própria mente humana é produto.
Nestas comparações, iremos descobrir que foi com o advento da ciência e da
tecnologia modernas que nossa espécie perdeu o sentido do sagrado, a medida em que a
razão cientifica ia descobrindo o funcionamento das leis que regem esse mundo cósmico.
Parece, a primeira vista, que este conhecimento, conquista meritória da capacidade
racional da mente humana, deveria ter tido efeito contrario, isto é, gerar um sentimento
ainda mais relevante e respeitoso, além de uma profunda gratidão por podermos
compartilhar, enquanto humanos, desta arquitetura tão perfeita que é a vida universal.
No entanto, ciência e tecnologia evoluíram com base num sentimento de orgulho e
de superioridade. De tanto mexer e transformar o mundo natural, criando enormes
ambientes artificiais, como as grandes cidades, dizimando florestas, espécies animais,
extraindo substancias minerais do interior da terra, deslocando e destruindo rios, lagos e
mares, liberando componentes químicos nocivos ao ar que alimenta a vida; de tanto
vivenciar este poder, movidos por uma fome de riqueza insaciável, nos humanos perdemos
a noção do equilíbrio sagrado da vida, do planeta e do cosmos.
A chamada “crise ambiental” é hoje um fato que atinge todos os seres vivos do
nosso planeta, e talvez até mesmo o equilíbrio de todo o sistema planetário.

ECOLOGIA

Se a Educação for encarada como uma relação humana voltada para promover a
auto-educação e a cidadania entre aqueles que compartilham de uma mesma situação socio-
ambiental, poderemos então falar de um trabalho de Ecologia humana, e dizer que toda
educação é uma ação ecológica.
A Ecologia surgiu, no campo das ciências da vida, como uma área voltada para o
estudo das relações entre os seres vivos. Daí nasceu também a noção de ecossistema,
quando se colocou a necessidade de não ver os seres vivos de modo isolado, mas perceber
as interações que ocorrem nas trocas de energia e matéria, entre o meio e os seres vivos,
formando ciclos e fluxos contínuos. Aplicada as ciências humanas, esta noção permite
enfocar a relação entre os processos culturais e as condições ambientais neles envolvidas,
mostrando a importância dos processos criativos da cultura que orientam as relações entre
humanos e o ambiente que habitam, o seu “oikos” (palavra grega que significa o espaço
ocupado e o modo de ocupá-lo).
No campo da psicologia, por exemplo, a noção de ecologia permitiu ver a pessoa
humana como um conjunto de dimensões e funções psíquicas que integram os níveis físico,
emocional, mental e espiritual numa totalidade complexa.

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Aplicada a visão transformadora da Educação em situações de crise, a noção de
Ecologia aponta para a busca de compreensão das causas que geram o desequilíbrio nas
relações entre os seres vivos, incluindo os comportamentos destrutivos dos humanos.
Enquanto fundamento para uma ação educativa, essa compreensão permite identificar os
pontos em que os modos humanos de compartilhar o espaço habitado com os demais seres
vivos foram desviados do equilíbrio do todo. Estes modos humanos desorganizadores
incluem, por exemplo, as formas como lidamos com as águas, a agricultura, a infra-
estrutura das cidades, a extinção das espécies vegetais e animais, inclusive a própria saúde
humana.
A visão ecológica, portanto, implica em rever a nossa ética, isto é, valores que
orientam as nossas ações pessoais e coletivas, aquilo que julgamos certo e errado, o que
valorizamos ou desprezamos em nós mesmos e na natureza. Podemos ainda, inspirarmos
em muitos exemplos de outras culturas diferentes da nossa que, no passado, e também no
momento presente, criaram e ainda preservam modelos ecológicos de compartilhamento do
espaço ambiental em perfeito equilíbrio dinâmico, dentro da preocupação de proteger a
vida. Ética e Ecologia são inseparáveis, como mostram, por exemplo, as sociedades onde a
natureza é alvo de uma reciprocidade onde os sentimentos, afetos e gestos humanos se
dirigem aos demais seres vivos, tidos como também portadores de uma subjetividade. Nas
sociedades onde existe respeito recíproco e solidariedade entre humanos, os mesmos
valores são transpostos para as relações de trabalho, ou qualquer outra atividade onde
existam trocas recíprocas entre humanos e natureza, É claro que onde domina a violência e
a exploração egoísta do mundo e do outro, não poderá existir equilíbrio ecológico. Por isso,
a questão ética, a mudança de valores, o criar interiormente as condições afetivas e
racionais para novos valores é um ponto fundamental da Educação Ambiental.

HUMANA

Dentro da proposta de Educação Ambiental, quando damos ênfase à Ecologia


Humana, estamos ressaltando o fato de que cabe a espécie humana a responsabilidade pela
preservação ou destruição da vida no nosso planeta. A crise atual é fruto de condições
patológicas, isto é, de uma espécie de doença coletiva que contaminou a consciência
humana levando-nos destruir nossas condições de sobrevivência e reprodução, assim como
as dos outros seres do planeta.
A intervenção pedagógica da EA vem propor uma cura dessa patologia, atuando nos
três níveis em que ela se manifesta. Primeiro, nas pessoas humanas individualmente,
levando a atitudes de autoconhecimento e incentivando a capacidade criativa e
autotransformadora, gerando novos hábitos e atitudes. Segundo, nas relações entre as
pessoas, fazendo surgir uma verdadeira cidadania, baseada em laços de cooperação e ajuda
mútua, superando os efeitos nocivos da competição, da violência e do individualismo
egoísta. Terceiro, nas relações entre os demais humanos e os demais seres vivos
compartilhando das trocas energéticas e dos ciclos que formam os ecossistemas, na
preservação da saúde do planeta. Daí podemos falar de três ecologias, quer dizer, de uma
ação educativa simultânea em três níveis, visando a correção dos modos de ser que se
tornaram doentios e causaram a crise atual. Uma nova ética vai aos poucos sendo assim
cultivada, trazendo a consciência humana para uma percepção atenta e inteligente do

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momento atual, estendendo a visão restrita dos “direitos humanos”, para a defesa dos
direitos de todos os seres vivos.

A EA com esta visão transformadora exige um educador de novo tipo, não mais um
mero repassador de informações (pois a informática já pode substituí-lo neste papel), mas
um agente de mudanças. A atuação do educador deve incluir também o aspecto da pesquisa
científica, pois ele precisa estar constantemente conhecendo e reconhecendo a realidade a
sua volta, integrando a sua experiência de vida à vivência coletiva, contribuindo assim para
a busca de soluções aos problemas existentes. O educador deve ser alguém capaz de
contribuir para o enfrentamento das questões que tocam na qualidade de vida da
comunidade, sendo um facilitador da organização política da mesma, no sentido de
dinamizar as formas de cooperação e a criação coletiva de soluções comuns.
Portanto, a concepção política que se coloca para uma atuação em Educação
Ambiental, não se refere às práticas partidárias e eleitoreiras do sistema vigente, mas a um
outro sentido desta palavra. Aqui, a ação política ganha o sentido de uma ação coletiva
organizada para a solução de problemas comuns, garantindo que cada pessoa cultive sua
autoconsciência e sua autonomia, para não se deixar massificar ou manipular por
propaganda ou por desejo de vantagens pessoais. O educador ambiental é toda pessoa que
se esforça por transformar a si mesmo e influenciar positivamente o ambiente a sua volta,
um pesquisador de si mesmo, da comunidade e da natureza, preocupado em ajudar na
compreensão dos problemas coletivos. Ao mesmo tempo em que se auto-educa, coopera
para o surgimento de soluções conjuntas, visando superar os conflitos de interesses, na
busca de pontos comuns.
Para isso, precisamos de uma abordagem transversal que “apresenta-se como uma
metodologia adequada para integrar cotidianidade e conhecimento sistematizado no âmbito
da educação: formal e não-formal. A transversalidade busca incluir no centro do debate a
diversidade de informações, de interesses, de visões de mundo. Precisamos tanto de um
pensamento instituído que organiza e sistematiza quanto do pensamento divergente e
transgressor. A complexidade, a transdisciplinaridade e a transversalidade alimentam-se
mutuamente” (Catalão et AL 2009:30) .
As pesquisas sob a ótica transdisciplinar incluem um leque de abordagens
metodológicas que contemplam a polissemia das práticas educativas e o reconhecimento
das forças subjetivas que as sustentam, entre elas destacam-se a pesquisa-ação e a
etnometodologia. Segundo Catalão et al, “as múltiplas possibilidades de caminhos
metodológicos permitem a livre expressão da criatividade dos pesquisadores e dos grupos
implicados. O fundamento comum em todas estas abordagens é a unidade dialógica de
sujeito/objeto, grupo/individuo, ação/reflexão, texto/contexto. Nesse sentido, a relação
entre Ecologia Humana e Educação Ambiental abre um vasto campo epistemológico à
pesquisa científica sobre conhecimentos, valores e vivências que influenciam a construção
do sujeito ecológico, percepção ambiental, crise e sustentabilidade, e sobre a escola como
espaço socioambiental de construção do conhecimento e produção de sentidos” (ibid
2009:30).

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CONSTRUIR UMA SOCIEDADE SUSTENTÁVEL

É importante lembrar que a sustentabilidade, conceito um tanto polêmico pela


complexidade dos elementos que levanta, implica nesta possibilidade de articular passado,
presente e futuro, natureza e cultura, tecnologia e relações humanas, de forma a possibilitar
a consecução saudável dos ciclos necessários à existência de uma humanidade socialmente
equilibrada e ambientalmente entrosada.

A reflexão acerca da sustentabilidade socioambiental decorre do fato de que processos


produtivos resultantes de um modelo de desenvolvimento sócio-econômico não sustentável
acarretaram sérios danos ambientais, dando origem a situações que colocam em risco a
saúde humana, bem como o seu acesso a recursos que são essenciais à sua sobrevivência.

A crise socioambiental, assim como a divisão internacional da produção e do consumo,


enquanto mecanismos que produzem desigualdade impactam nos determinantes e
condicionantes socioambientais de um dado território. O resultado gerado pelas diferentes
formas de desenvolvimento econômico causa, em escalas distintas, impactos
socioambientais que afetam a saúde humana. Esses impactos se manifestam de formas
diferentes e peculiares nas cidades, no campo, no cerrado e na floresta, sendo mediados
pelas dimensões culturais e simbólicas dos diferentes grupos populacionais. Até a década
de 70, o desenvolvimento era sinônimo de crescimento econômico e não importava o
quanto pudesse tomar rumos diferenciados com efeitos heterogêneos na estrutura social de
cada país.

O atual modelo de crescimento econômico gerou enormes desequilíbrios; se, por um lado,
nunca houve tanta riqueza e fartura no mundo, por outro lado, a miséria, a degradação
ambiental e a poluição aumentam dia-a-dia. Diante desta constatação, surge a idéia do
Desenvolvimento Sustentável (DS), buscando a conciliação entre o desenvolvimento
econômico, a preservação ambiental e o fim da pobreza no mundo.

Em 1990 foi divulgado o primeiro Relatório sobre o desenvolvimento humano e o


crescimento da economia já vinha sendo entendido por muitos como parte de um processo
muito mais abrangente, uma vez que seus resultados não se traduziam apenas em
benefícios. Surgiu então, a percepção da importância de se refletir sobre a natureza do
desenvolvimento que se almejava, já que ficara evidente que as políticas
desenvolvimentistas deveriam ser baseadas em valores que não deveriam ser somente os da
dinâmica econômica.

A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no


Rio de Janeiro, em 1992, mostrou um crescimento do interesse mundial pelo futuro do
planeta. Muitos países passaram a se preocupar com as relações entre desenvolvimento
sócio-econômico e modificações no meio ambiente.

O termo desenvolvimento sustentável define as práticas de desenvolvimento que atendem


às necessidades presentes sem comprometer as condições de sustentabilidade das gerações
futuras e seus princípios são baseados nas necessidades, sobretudo as essenciais e,

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prioritariamente, aquelas das populações mais pobres, bem como nas limitações que a
tecnologia e a organização social impõem ao meio ambiente, restringindo a capacidade de
atender às necessidades presentes e futuras.

Entretanto, o desenvolvimento sustentável não trata somente da redução do impacto da


atividade econômica no meio ambiente, mas principalmente das conseqüências dessa
relação na qualidade de vida e no bem-estar da sociedade, tanto presente quanto futura.

É importante ressaltar que a idéia de desenvolvimento sustentável deve ser assimilada como
uma nova forma de produzir sem degradar o meio ambiente, estendendo essa cultura a
todos os níveis da sociedade, que por sua vez deve pensar em novas formas de consumo e
aliar-se às várias instâncias dos setores público e privado no sentido de propor e adotar
medidas para a implantação de um programa minimamente adequado de desenvolvimento
sustentável, que podem passar pelos seguintes caminhos:

1.) Uso de novos materiais na construção;

2.) Reestruturação da distribuição de zonas residenciais e industriais;

3.) Aproveitamento e consumo de fontes alternativas de energia, como a solar, a eólica e a


geotérmica;

4.) Reciclagem de materiais reaproveitáveis;

5.) Consumo racional de água, inclusive aproveitamento de água da chuva, e de alimentos;

6.) Redução do uso de produtos químicos prejudiciais à saúde na produção de alimentos;

7.) Estímulo à produção de alimentos orgânicos e implantação de agro florestas.

Para se alcançar o desenvolvimento sustentável, a proteção do ambiente tem que ser


entendida como parte integrante do processo de desenvolvimento e não pode ser
considerada isoladamente; é aqui que entra uma questão sobre a qual talvez você nunca
tenha pensado: qual a diferença entre crescimento e desenvolvimento?

A diferença é que o crescimento não conduz automaticamente à igualdade nem à justiça


sociais, pois não leva em consideração nenhum outro aspecto da qualidade de vida a não ser
o acúmulo de riquezas, que se faz nas mãos apenas de alguns indivíduos da população. O
desenvolvimento, por sua vez, preocupa-se com a geração de riquezas sim, mas tem o
objetivo de distribuí-las, de melhorar a qualidade de vida de toda a população, levando em
consideração, portanto, a qualidade ambiental do planeta, e por isso apresenta seis aspectos
que devem ser entendidos como metas, quais sejam:

1.) A satisfação das necessidades básicas da população (educação, alimentação, saúde,


lazer, etc);

2.) A solidariedade para com as gerações futuras (preservar o ambiente de modo que elas

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tenham chance de viver);

3.) A participação da população envolvida (todos devem se conscientizar da necessidade de


conservar o ambiente e fazer, cada um, a parte que lhe cabe para tal);

4.) A preservação dos recursos naturais (água, oxigênio, etc);

5.) A elaboração de um sistema social garantindo emprego, segurança social e respeito a


outras culturas, erradicação da miséria, do preconceito e do massacre de populações
oprimidas;

6.) A efetivação dos programas educativos.

O desenvolvimento sustentável faz-se necessário em função, ainda, das vulnerabilidades


dos diferentes ambientes. Estas podem ser melhor percebidas a partir da verificação do tipo
de desenvolvimento existente nas diferentes localidades, sendo que os modelos de
desenvolvimento locais estão diretamente relacionados à divisão internacional da produção,
que, por sua vez, decorre das divisões social e técnica do trabalho.

Nada disso significa negar a necessidade de regras universais de organização das relações
globais. Pelo contrário, trata-se de dar visibilidade às diferenças, para que o universal possa
emergir de modo mais profundo e originário, como resultante de uma base biológica
comum que, nos humanos, manifesta-se enquanto estrutura energética que movimenta
forças psíquicas. Uma verdadeira ética pode assim prevalecer, não como um conjunto de
normas impostas autoritariamente, mas como modo de vida ambientalmente correto,
resultante da compreensão vivencial consciente do vínculo intuitivo que une sociedade e
natureza.

Em suma, o trabalho de educação/gestão ambiental urbana deve fornecer subsídios para que
os indivíduos e grupos possam encontrar o caminho sócio-político-administrativo de
construção de uma sociedade fundamentada em níveis sustentáveis de interação socio-
ambiental. Para tanto, o método adotado deve favorecer a conexão com a história pessoal e
comunitária e, através dela, com as forças essenciais da psique humana, que se acham
enfraquecidas pelos efeitos massificantes do modelo consumista vigente. É necessário que
a educação ambiental seja capaz de produzir um processo de ação-reflexão coletiva que
engendre uma vontade de transformação e de autonomia das pessoas e grupos, para que
possam relacionar-se dentro de padrões éticos de respeito mútuo, reconhecimento das
diferenças e desejo de cooperação, superando a violência, o autoritarismo e o oportunismo
político, de um lado, e a subserviência, a inércia, o comodismo e dependência, de outro.

Para que surjam soluções criativas aos problemas imediatos que afetam os indivíduos,
comunidades e cidades, é preciso que se amplie a consciência individual e coletiva,
buscando-se alcançar uma melhor tradução dos modelos organizacionais adotados. As
construções sócio-ambientais devem tornar-se compatíveis com as diferentes situações
colocadas pelos ambientes físicos-naturais e pelas facilidades e limitações técnico-
científicas. A meta é encontrar alternativas de qualidade que sejam fruto de relações
harmoniosas entre os diversos níveis da hierarquia social, com base numa ética que

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contemple a autonomia, o respeito pela diferença, a cooperação e a solidariedade para com
todos os seres vivos e não-vivos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ANTÔNIO, Severino. Educação e Transdisciplinaridade. Rio de Janeiro, Editora Lucerna,


2002.
BARBIER, René. A Pesquisa-Ação. Brasília: Editora Plano, 2000.
CATALÃO, Vera; Mourão, Lais; Pato, Claudia. Educação e Ecologia Humana: uma
epistemologia para a Educação Ambiental in AMBIENTE & EDUCAÇÃO , vol. 14(2),
2009, pp.27-36.
NICOLESCU – O Manifesto da Transdisciplinaridade. São Paulo: Trion, 1999.

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