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Introdução à Sociologia e às

Ciências Humanas

Conteudista
Prof.ª Dra Vivian Fiori

Revisão Textual
Aline de Fátima Camargo da Silva
Sumário

Objetivos da Unidade............................................................................................................ 3

Introdução............................................................................................................................... 4

A Construção do Conhecimento........................................................................................ 4

Senso Comum.......................................................................................................................................4

Conhecimento Científico.............................................................................................................. 10

A Formação das Ciências Humanas e Sociais............................................................... 14

Os Meios de Produção e as Transformações Sociais.................................................. 22

Material Complementar.................................................................................................... 27

Referências........................................................................................................................... 28
Objetivos da Unidade

• Discutir a base teórica e metodológica das principais teorias sociológicas que


se empenham em explicar as estruturas, os processos e os fenômenos sociais;

• Evidenciar alguns conceitos usados nas Ciências Humanas e principalmente


na Sociologia;

• Discutir algumas teorias e conceitos propostos por pensadores que foram im-
portantes para a Sociologia.

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VOCÊ SABE RESPONDER?

Quais são as principais teorias sociológicas que se empenham em explicar as estru-


turas, os processos e os fenômenos sociais, e como elas se baseiam em conceitos
fundamentais das Ciências Humanas, em especial da Sociologia?

Introdução
Nesta Unidade, iremos tratar do conhecimento científico e do senso comum, bem
como discutiremos o processo de formação das Ciências Humanas, em especial, da
Sociologia. Vamos iniciar o estudo introdutório à Sociologia, buscando a compreen-
são de sua importância, mediante a análise da evolução histórica dessa ciência.

A Construção do Conhecimento
A seguir, discutiremos algumas diferentes concepções existentes, relacionadas ao
conceito de conhecimento.

Senso Comum
Ao longo da história humana, os grupos humanos – na sua mediação com a natureza,
com o meio no qual vivia e na relação com outros homens – construíram formas de
explicar a existência do planeta, do mundo, das coisas da natureza e de sua própria
existência.

Num primeiro momento, quando a relação com a natureza era maior, vivia-se
num meio denominado por Milton Santos (2006) de “meio natural”. Nesse
período, homens e mulheres dependiam mais da natureza, explicando sua
existência por meio de componentes sobrenaturais, de superstições, cren-
ças e explicações míticas, que podem ser denominadas de senso comum.

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Tais explicações variavam conforme o grupo ou povo, e, igualmente, foram sendo
modificadas no decorrer da história do mundo, de acordo com as mudanças na his-
tória da humanidade e suas frações, grupos e povos.

Glossário
Senso comum
Um conjunto de conhecimentos culturais populares elaborados
ao longo da história para explicar a existência do mundo, do pla-
neta, da humanidade, do universo, entre outros.

Essa visão de mundo era comum entre os primeiros povos e mesmo as primeiras
civilizações – caso da Grécia antiga, Egito, Mesopotâmia, Roma etc. – nas quais pre-
dominavam as explicações sobrenaturais, como o uso da força dos deuses, entes
sobrenaturais, que teriam criado os fenômenos da natureza e a própria humanidade.

Se chovia, era porque os deuses queriam; se havia seca, era uma repressão divina,
e, por isso, a explicação dos fenômenos naturais era obtida a partir de crenças e
superstições.

Tal conhecimento passava de pais para filhos, de geração em geração, por meio de
conselhos, recomendações, normas, tabus, proibições e práticas socioculturais, as
quais variavam também conforme o lugar.

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Ao longo da história humana, median-
te as relações do ser humano com a
natureza, em suas atividades de tra-
balho, nas interações intergrupais, so-
cioculturais, ou intragrupais, homens
e mulheres foram adquirindo conhe-
cimento em suas vivências cotidianas.
Esse saber é denominado de conheci-
mento popular ou senso comum.

Figura 1 – Crianças
Fonte: Getty Images

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À medida que a sociedade foi se tornando mais complexa e as relações sociais
deixaram de ser mediadas apenas pela natureza, homens e mulheres foram esta-
belecendo normas de convivência, definindo padrões de moral daquele grupo, o
que seria considerado aceitável socialmente, e o que não seria práticas e conven-
ções que ajudariam a fundamentar os costumes, a vida diária, as tradições de cada
grupo humano.

Com as sociedades mais complexas, o mundo foi passando de relações que


eram tribais e de clãs, mediadas por chefes, por estruturas sociais de forte laço
de proximidade, de família, de relação intragrupal, para situações de represen-
tatividade por meio de pessoas mais distantes, de normas que não são mais
oriundas daquele grupo.

Este foi o caso da existência e constituição do Estado-Nação, que marca


definitivamente o chamado “mundo moderno” – com a criação de um Esta-
do delimitado, com soberania política, com normas específicas para os que
lá habitam.

Agora, as normas não eram mais apenas da família ou de um grupo sociocultural,


mas vinham do Estado, por intermédio de leis, as quais também são normas, dora-
vante escritas, definidas pelas formas de poder de cada Estado.

O saber e conhecimento popular e do senso comum, no entanto, não desaparece-


ram. Mesmo atualmente, com um mundo cada vez mais articulado por meio das
redes sociais, ainda temos orientações, normas, formas de explicar o mundo que
são do senso comum.

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Os meios de comunicação, as
mídias televisivas, das redes sociais
da internet, dos jornais e revistas
também se utilizam das formas de
concepções populares, tornando-se
muitas vezes formadores de opinião,
cujo embasamento é originário deste
chamado senso comum.

As formas de explicação pelo senso comum não devem ser caracterizadas como
menos importantes, pois é a partir dele que se desenvolve a possibilidade de buscar
entendimento sobre o cotidiano da vida, procurando discernir erros e acertos do
passado, na medida em que iam vivendo e produzindo explicações, tanto em socie-
dades mais simples como nas mais complexas.

O saber das sociedades e comunidades que hoje chamamos de “tradicionais” – caso


das indígenas – é o conhecimento acumulado de muitas gerações, sobre a natureza,
o uso de plantas e da biodiversidade, que são fundamentais para a existência dessa e
de outras gerações. Esse conhecimento tradicional tem servido também como base
para o conhecimento científico, indústria farmacêutica, alimentícia, entre outros.

Importante
Desse modo, não se trata de uma forma menos importante de
saber, embora possa ser contestado por outras maneiras de
conhecimento. São notáveis, por exemplo, os conhecimentos
e práticas desenvolvidos por povos indígenas: conhecimentos,
domínios e práticas cobiçados pelas multinacionais, principal-
mente, em questões medicinais.

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Reconhecendo que o senso comum é um saber qualitativamente diferenciado do
saber científico e acadêmico, devemos nos colocar, contudo, na disposição de re-
conhecer os méritos que necessitam ser atribuídos a ele, os quais muito tem acres-
centado à construção de novos saberes para a vida humana em sociedade.

Em Síntese
Portanto, não se trata de negar no cotidiano o bom senso, o
conhecimento popular, uma vez que dele depende a vida de
milhões de pessoas sobre a Terra, desde aqueles que não tive-
ram e continuam não tendo acesso à escola de qualidade e à
convivência social mínima, até aqueles que se julgam “porta-
dores de verdades absolutas”.

Logo, não precisamos desconsiderar o conhecimento popular ou o definirmos como


menos importante. Há alguns casos em que tais saberes são transformados, igual-
mente, em conhecimento científico mediante pesquisas em laboratório e confirma-
do pela ciência, muito depois de já conhecidos pelo saber popular.

Quantas vezes nos disseram que


deveríamos tomar um chá de
certa planta que faria bem para
um determinado problema? Isso é
conhecimento cumulativo, passado
por várias gerações pela experiência,
pela vivência empírica. A empiria
– experiência obtida pela vivência
prática do cotidiano – ajuda-nos a
ter exemplos que, embora não sejam
conduzidos pelo pensamento e
normas científicas, podem conduzir-
nos à razão, ao bom senso, à verdade.

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Conhecimento Científico
O conhecimento científico, por outro lado, é mais cheio de formalidades, normas,
regras, procedimentos e maneiras de explicar as coisas, os objetos, os fatos, os fe-
nômenos buscando a verdade científica, mediante provas, teorias e hipóteses.

Trata-se de um produto da atividade humana que, ao refletir, questionar, pensar


acerca da existência das coisas, elaborou formas de explicação que foram sendo in-
corporadas por parte da sociedade, sobretudo, por intermédio do processo de edu-
cação formal a que tinham acesso principalmente nobres e burgueses num primeiro
momento.

Figura 2 – Conhecimento científico


Fonte: Freepik

Com o advento da Ciência Moderna, principalmente, a partir dos séculos XVIII e


XIX, houve avanços significativos no conhecimento científico, impulsionados pelos
processos de colonização e neocolonialismo que os europeus empreenderam pelo
mundo, que trouxe à tona lugares, culturas, natureza com características bastante
diferentes dos conhecidos até então pelos povos europeus.

Esse conhecimento empírico abriu possibilidades de se buscar explicações para tais


distinções na natureza e no mundo. Tal período moderno, situado após a Idade Mé-
dia na Europa, fez com que tais explicações saíssem do senso comum e do cunho
das explicações religiosas que permearam a Europa Ocidental na Idade Média – com
a ascensão e consolidação do cristianismo católico romano.

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Figura 3 – Castelo
Fonte: Getty Images

Se antes, em grande medida, um Deus único era o responsável pelo o que ocorria no
mundo e na natureza, agora, havia a busca por outras explicações para compreender
tudo o que acontecia.

O que diferencia essa forma de conhecimento era o método – o caminho escolhido


para explicar a “verdade”. No que se refere à concepção de mundo, por exemplo, os
procedimentos metodológicos precisariam ser perseguidos, com regras de conduta
a fim de que o investigador, o pesquisador, o cientista pudesse comprovar a veraci-
dade de suas afirmações.

Esses procedimentos iriam variar de acordo com o objeto de análise da ciência, as


transformações tecnológicas e os métodos existentes.

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Reflita
Logo, o conhecimento científico também é mutável, ou seja, foi
mudando conforme as sociedades foram se sofisticando, bem
como as próprias técnicas e tecnologias puderam ajudar no
aprimoramento do conhecimento de certas áreas do conheci-
mento. O que seria, por exemplo, da Astronomia e da Física sem
o incremento das novas tecnologias? Ou mesmo da Engenharia
Genética?

Mas, se a Ciência Moderna se difundiu da Europa para o mundo se tornando univer-


sal, é fato que até hoje, nem todos têm acesso ou explicam a realidade dos homens,
da natureza e dos fatos somente pelo viés científico.

A busca pela prova, mediante um método, com um conjunto de pressupostos, de


criação de leis gerais, de hipóteses que precisam ser comprovadas, está no cerne do
conhecimento científico. A coleta de dados, a investigação por intermédio da ob-
servação, da descrição dos fatos e da experiência foram muito comuns nos séculos
XVIII e XIX, e ajudaram a consolidar o discurso científico.

É preciso considerar a relevância que o conhecimento científico teve e possui para


a humanidade, mas fazendo ressalvas, visto que nem sempre os propósitos da in-
vestigação foram usados para beneficiar a humanidade em geral. Desse modo, o
conhecimento científico não é melhor do que as outras formas de produção de
conhecimento.

Importante
O método é imprescindível para a ciência. Trata-se da concep-
ção teórica, da visão de mundo que conduz o pensamento do
pesquisador. A partir dele, buscam-se procedimentos meto-
dológicos compatíveis com o método-caso da experiência, da
entrevista, da observação, do raciocínio lógico, da comparação,
entre outros procedimentos.

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Contudo, existem outras formas de definir o conhecimento científico. A Ciência
moderna, que foi difundida pela Europa para praticamente todo o mundo, tornou-se
uma Ciência universal. Tal Ciência é formal e esse formalismo é, portanto, exigido
dentro do conhecimento científico por meio da elaboração de regras, métodos, pro-
cedimentos, hipóteses e teorias.

Figura 4 – Ciência
Fonte: Freepik

Cada Ciência possui uma forma de compreender a realidade, cada uma tem um
objeto de estudo, qual seja, é a forma daquela Ciência buscar compreender a rea-
lidade. Porém, nunca se deve confundir a própria realidade com o modo de tentar
entendê-la.

O ser humano, a título de exemplo, é alvo de interesse de inúmeras ciências, caso


da Antropologia Cultural, da Sociologia, da Psicologia, da Ecologia, da Geografia,
mas todas estas têm objetos de estudos diferentes e podem também ter diversos
métodos e procedimentos de pesquisa.

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A Formação das Ciências
Humanas e Sociais
As chamadas Ciências Humanas e Sociais têm como premissa básica o estudo do
ser humano. Há diferentes Ciências Humanas, dentre elas, citamos:

Sociologia

Como o estudo da sociedade, considerando as relações sociais ao longo


do tempo, as normas sociais, as classes sociais, as formas de organizações
sociais, os conflitos sociais, as formas nas quais a sociedade influencia o
comportamento das pessoas, entre outras temáticas.

Antropologia Cultural

Estuda o homem enquanto ser cultural, em seus hábitos, costumes, cren-


ças e modos de vida.

Ciência Política

Estuda as formas de poder ao longo da história, o papel do Estado, as for-


mas de organização política, as formas de governo, a autoridade, as rela-
ções internacionais.

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Geografia

Estuda o espaço geográfico, o homem no espaço em suas múltiplas


relações.

Economia

Estuda as atividades produzidas pelo homem, relativas à produção e dis-


tribuição de bens e serviços. Tem como pesquisas estudos sobre renda,
políticas econômicas, planos econômicos, micro e macroeconomia etc.

A Sociologia é uma ciência que estuda a sociedade, as estruturas e processos so-


ciais, políticos, econômicos e culturais da sociedade. É uma ciência que se originou
principalmente nos séculos XVIII-XIX, quando na Europa a ascensão do Estado Mo-
derno e a sociedade foram se tornando mais complexas.

Já no período após a Idade Média europeia (século XV),


denominado pelos pesquisadores de Renascimento,
houve uma busca de romper com a ordem teológica A visão de que o
do cristianismo católico na Europa Ocidental. ​​A vi- homem deveria ser
são de que o homem deveria ser o centro do mundo o centro do mundo
(antropocentrismo), a fé no indivíduo, na experiência (antropocentrismo)
empírica para provar os fatos deu origem a um movi-
mento que ficou conhecido como Humanismo.

Podemos dizer que, as origens das preocupações com a sociedade moderna estão
baseadas, especialmente, nessa concepção de mundo que permeou parte das obras
e do pensamento intelectual da época do séculos XVI-XVII.

As tentativas de explicações das relações sociais vigentes no período pós Idade Mé-
dia, e também, da explicação da existência humana mediante a razão, procurando
se distanciar dos dogmas e das explicações religiosas, deu a esse período da história
europeia um novo momento, denominado pelos historiadores de Iluminismo. A fé

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pautada na razão, buscando lançar “luzes” ao que antes parecia estar encoberto por
explicações religiosas ou do senso comum.

A ciência moderna se torna universal a


partir do modelo europeu de expansão
mediante os processos de colonialis-
mo (séculos XVI-XVIII) e imperialismo
(principalmente após o século XIX),
assim como o próprio conhecimento
da Sociologia e sua sistematização
como ciência é difundido a partir da
Europa. Sob a égide da fé na ciência e
na razão e que o progresso depende-
ria do conhecimento científico, sobre-
tudo, a partir do século XVIII, a ciência
europeia se difunde pelo mundo.

O conjunto de ideais fundamentados em um novo modo de compreender o mundo,


especialmente, a partir das existências vividas pelos europeus, tanto das relações
sociais e políticas quanto pelo conhecimento da natureza, é fundado no que alguns
autores denominam de Iluminismo.

Importante
O período denominado por historiadores de Iluminismo foi um
dos que ampliaram o rompimento do conhecimento com a con-
cepção teológica, das concepções sobrenaturais, com críticas
ao poder da Igreja e também aos reis absolutistas.

Com um discurso no qual via na ciência a possibilidade de conhecer o mundo, expli-


cá-lo por intermédio do uso de regras, de um método, que segue uma lógica que
pode ser explicada com certo grau de precisão. O Iluminismo foi um movimento
intelectual do século XVIII, que procurou romper com as concepções e visões do
mundo da época, impulsionando o avanço do conhecimento científico na leitura do
mundo e das relações humanas e sociais.

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Figura 5 – Encyclopédie (1772), desenho de Charles-Nicolas Cochin que representa alguns
símbolos do Iluminismo
Fonte: Wikimedia Commons
#ParaTodosVerem: essa imagem é um desenho intitulado Encyclopédie, criado por Charles-Nicolas Cochin em
1772. A imagem está em preto e branco, com variações tonais para representar os diferentes elementos pre-
sentes nela. É possível notar várias figuras alegóricas representando diferentes áreas do conhecimento, como
Ciências, Filosofia e Artes. Essas figuras são desenhadas com detalhes distintos para diferenciá-las umas das
outras. Apesar de não haver cores distintas, a imagem apresenta contrastes entre áreas mais claras e escuras,
permitindo a identificação dos diferentes elementos. Os traços do desenho são detalhados e precisos, desta-
cando os símbolos e objetos relacionados a cada área do conhecimento. Fim da descrição.

O referido movimento fundado na concepção de modernidade tem alguns expoen-


tes e, entre eles, destacamos: René Descartes, com sua obra Discurso do Método de
1637; Montesquieu com o Espírito das Leis em 1748; Jean Jacques Rousseau com
Do Contrato Social em 1762; e Voltaire com Cartas Inglesas em 1734.

Alguns pensadores da época passaram a escrever obras que retratavam essa nova
concepção do mundo, visto a partir da opinião destes intelectuais europeus. Cita-
mos, aqui, o francês Voltaire (1694-1778), considerado um importante iluminista.
Em suas obras, ele fez críticas às formas de conduta da nobreza e também da Igreja
Católica, pedindo reformas sociais.

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Outro pensador desse período foi Jean Jacques Rousseau (1712-1778), em sua obra
Contrato Social, ele faz uma proposta de revisão das formas de existência da so-
ciedade em suas formas de vida e política, defendendo a liberdade do homem na
busca de uma sociedade que pudesse se basear nas formas antigas de democracia,
de consenso e de cidadania.

Como explica o sociólogo, Reinaldo Dias (2014):

Um dos mais destacados iluministas foi Jean-Jacques Rousseau (1712-


1778) que tem entre suas obras O contrato social. Nesse livro, Rousseau
concebe as pessoas no estado de natureza como seres livres bons, e iguais
entre si, e que são as sociedades que as corrompem. Mas, como no estado
de natureza existem dificuldades para satisfazer todas as necessidades, os
indivíduos precisam associar a sua vontade a serviço de todos. Segundo
ele, essa é uma vontade geral, e a obedecê-la o indivíduo obedece a si mes-
mo. O resultado institucional desse contrato é o estado democrático de
direito representativo onde o parlamento é um instrumento fundamental
da vontade geral que se expressa por meio da lei.

Fonte: Dias, 2014, p. 20

Ressalte-se que esses autores foram precursores na Europa Moderna (do Estado
absolutista – da burguesia nascente – do capitalismo) de estudos da organização
da vida em sociedade, o que ajudou nas formulações do que viria a ser a Sociologia.

É fundamental caracterizar o período entre os séculos XVIII-XIX na Europa. Vivia-se


um mundo de Revolução Industrial em parte da Europa, com muitas pessoas sendo
expropriadas do campo (com uso da mecanização nas atividades rurais) e vindo
morar na cidade para trabalhar em fábricas, morando quase sempre em cortiços.

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Figura 6 – Fábricas no período da revolução industrial
Fonte: Wikimedia Commons
#ParaTodosVerem: essa figura representa uma pintura que retrata um cenário de fábricas durante o período da
Revolução Industrial. A imagem mostra várias fábricas lado a lado, criando uma paisagem industrial. As fábricas
são representadas como grandes estruturas retangulares, com chaminés altas e janelas em suas paredes. A
imagem apresenta também fumaça saindo das chaminés das fábricas. Além disso, podem ser identificadas
algumas pessoas próximas às fábricas. A paleta de cores utilizada são geralmente predominantes nos tons de
cinza, preto, branco e marrom. Fim da descrição.

Além da Revolução Industrial, houve também a Revolução Francesa (1789), que


depôs do poder a nobreza francesa, sendo considerada uma revolução burguesa.
A Revolução Francesa transformou a sociedade e serviu de exemplo para outros
países, nos quais a monarquia era a principal forma de organização político-social.
Desse modo, os parâmetros de organização social e política no mundo ocidental se
pautaram em parte pela Revolução Francesa. A consolidação da burguesia, do ideá-
rio capitalista, do individualismo, torna-se exemplo para o mundo.

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Figura 7 – Revolução Francesa (1789)
Fonte: Wikimedia Commons
#ParaTodosVerem: a figura representa uma cena de batalha durante a Revolução Francesa em 1789. No fundo
da imagem, há um castelo imponente. O castelo é representado com torres altas e muralhas, transmitindo uma
sensação de fortaleza. Na parte da frente da imagem, há várias pessoas envolvidas em um confronto. A imagem
pode mostrar soldados, rebeldes ou cidadãos comuns, todos retratados em poses e ações diversas, sugerindo
uma cena dinâmica de combate. Há também armas, como espadas, lanças ou mosquetes, além de barricadas.
Fim da descrição.

A Modernidade vem com a mudança do paradigma cristão católico – com as ex-


plicações religiosas para um mundo que, embora continue religioso, pauta a vida
também pelo ganhar dinheiro –, pela luta pela sobrevivência nos moldes capitalistas.
A respeito da Modernidade, o sociólogo Dias (2014), comenta que:

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A Revolução Francesa representou a consolidação da Modernidade como
perspectiva histórica identificada com a industrialização. As caracterís-
ticas desse novo período, ao qual se denominou Modernidade incluem:
o declínio das pequenas Comunidades; a expansão do individualismo;
o aumento da diversidade social; o predomínio de uma orientação para
o futuro (progresso); e o aumento da racionalização. Essa evolução do
pensamento humano, que levou à utilização da razão para o livre exame
da realidade, inclusive a social, juntamente com os problemas origina-
dos pela Revolução Industrial foram as duas principais circunstâncias que
possibilitaram o surgimento da sociologia. Sua preocupação Inicial foi or-
ganizada a sociedade.

Fonte: Dias, 2014, p. 21

Essas transformações sociais, políticas e econômicas engendraram mudanças na


sociedade de países, tais como Inglaterra e França, entre outros, trazendo à tona a
questão da sociedade como foco das discussões da época.

O próprio capitalismo como processo gerou modificações nas formas de trabalho,


nas formas de apropriação da terra, nas relações sociais, culminando na segunda
metade do século XIX e início do século XX, com protestos de trabalhadores que
tinham condições de vida e moradia insalubres, e de trabalho bastante precário,
transformando, dessa feita, a sociedade.

Os trabalhadores, por exemplo, que antes trabalhavam como artesãos, e eram do-
nos dos meios de produção, agora passavam também a ser assalariados, trabalhan-
do com máquinas e vendendo sua força de trabalho em fábricas.

Importante
Outro aspecto a ser destacado, foram as mudanças técnicas
no período que ajudaram nessas transformações sociais – caso
do advento da máquina a vapor, da ferrovia, dos telégrafos, da
energia elétrica, das máquinas –, as quais transformaram as ma-
neiras de produzir. Assim, o labor passou a ter um ritmo de tra-
balho, que é mediado pelo tempo, pela quantidade produzida,
pelos usos de tecnologias e de sistemas técnicos.

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De pessoas que viviam principalmente no campo, passou-se a ter cidades apinhadas
de pobres operários em alguns lugares na Europa, em um modo de vida totalmente
transformado em relação ao anterior. De camponeses a operários, da agricultura à
indústria, do modo de vida no campo à cidade. Logo, todas essas situações se tor-
naram temas interessantes para estudos da Sociologia.

A Sociologia se tornou a ciência que estuda a sociedade e de como os grupos so-


ciais e a sociedade afetam a vida das pessoas, tendo como foco as relações sociais.
De um lado, os homens vivendo, criam, elaboram e mantêm relações sociais; de
outro, estas relações agem sobre as pessoas. Por exemplo, uma dada sociedade
cria normas sociais de comportamentos – do que é o certo a ser feito em certas
situações – normas de conduta sobre a vida cotidiana –, algumas se tornam leis; de
outro lado, estas mesmas leis moldam a vida daquela sociedade. O homem passa a
ser objeto de estudo e também sujeito da história e da sociedade que é produzida.

Em Síntese
A Sociologia é considerada uma ciência sistematizada, sobretudo,
nos séculos XVIII e XIX, passou a ter vários pensadores e tornou-
-se ciência estudada no ensino superior. Os termos e conceitos
oriundos da Sociologia passaram a ser usados indistintamente,
tanto pelos cientistas sociais quanto também por parte da po-
pulação em geral, no caso de termos como: classes sociais, re-
des sociais, sociedade, ideologia, burguesia, entre tantos outros.
Desse modo, a Sociologia vem contribuindo para a compreensão
dos fenômenos sociais, as formas de relações sociais existentes,
tornando-se uma ciência social e humana importante.

Os Meios de Produção e as
Transformações Sociais
A sociedade, ao longo da história, passou por inúmeras mudanças nas formas de
produzir, distribuir e consumir bens e serviços. As chamadas formas de produzir e
suas forças produtivas mais as relações existentes nessa produção são chamadas
de “modos de produção”.

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A cada momento da história e em
diferentes lugares do mundo, hou-
ve diversas formas de produção que
alteraram o modo de vida em socie-
dade. Pela maneira de produção e de
seu sistema econômico, podemos
evidenciar as características de uma
determinada sociedade. Ou seja, não
importa somente o que se produz,
mas o modo como se produz, as for-
mas de trabalho social, as condições e
relações sociais existentes.

O modo de produção não é alheio à sociedade de cada época, às formas de se es-


truturar jurídico-politicamente, dos códigos sociais. Por exemplo, no modo de pro-
dução escravista – havia uma repressão e discurso que aceitava a escravidão como
algo aparentemente “normal”, apoiado pelo regime social e político e, até mesmo,
religioso em alguns casos. Essa estrutura social e política legitimaram o próprio
modo de produção.

Marx e Engels são um dos autores que definiram o conceito de modos de produção.
Acerca disso, Marx (2008) afirma:

[...] na produção social da sua vida os homens contraem determinadas


relações necessárias e independentes da sua vontade, relações de produ-
ção que correspondem a uma determinada fase de desenvolvimento das
suas forças produtivas materiais. [...] O modo de produção da vida mate-
rial condiciona o processo da vida social, política e espiritual em geral [...]
Ao mudar a base econômica, revoluciona-se, mais ou menos rapidamen-
te toda a imensa superestrutura erigida sobre ela.

Fonte: Marx, 2008, p. 201

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Consequentemente, a cada mudança de um modo de produção, alteram-se as for-
mas de vida, de trabalho, de produção, isto é, mudam a sociedade e suas relações.
Os pesquisadores a respeito do tema, definem alguns tipos de modos de produção
os quais existiram ou existem e que trouxeram características específicas às formas
de vida em sociedade. Destacamos, a seguir, alguns modos de produção:

Primitivo

Tem relação com uma forma de produzir e de uma sociedade que abran-
ge todo o período inicial da história humana no qual o homem tinha maior
relação com a natureza. Nesse caso, havia uma divisão social de trabalho,
mas, em geral, homens e mulheres trabalhavam em conjunto e os frutos
do trabalho e a propriedade eram de todos e, portanto, não havia uma or-
ganização social mais complexa como Estado. Ainda existem sociedades
assim, vivendo de modo isolado e com maior contato com a natureza, caso
de algumas sociedades indígenas que ainda foram pouco alteradas pelo
modo de produção atual.

Escravista

Os meios de produção e a forma de trabalho são realizados pelo escra-


vo, sendo que ele é propriedade de um senhor. O escravo, portanto, era
considerado um objeto, o instrumento e o próprio meio de produção e os
“senhores” eram proprietários de sua força de trabalho. Tal modo de pro-
dução ocorreu, por exemplo, na Idade Antiga (Egito, Grécia, Roma etc.) e
também em países colonizados pelos europeus, na América, a partir do
século XVI, principalmente.

Feudal

É baseado na servidão. O servo trabalha para o senhor feudal em troca de


um lugar para morar. O poder político era descentralizado em “feudos”, foi
muito comum durante o período da Idade Média, na Europa Ocidental.

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Capitalista

Trata-se de um modo de produção que se tornou universal, sobretudo, após


o século XIX, no qual há a exploração do homem pelo homem, constituindo
duas classes sociais, a burguesia, que detém os meios de produção, e os
proletários, que são a força de trabalho explorada.

O modo capitalista de produção revolucionou as formas de acesso à terra, que pas-


sou a ser privada, as formas de trabalho (assalariado) e as formas de produção pas-
saram a ter uma mediação cada vez maior das técnicas e tecnologias, formando os
sistemas técnicos.

Logo, a sociedade passaria por inúmeras mudanças a partir do capitalismo – que


chegou mais claramente primeiro às cidades, com a industrialização, e depois se
tornou o modo de produção universal no campo e na cidade.

Figura 8 – Capitalismo
Fonte: Getty Images

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Esse é um trabalho que vai se tornando mais alienado, com normas mais distantes
da vida local, cada vez mais artificial. Se, no modo de produção primitivo, as pessoas,
por exemplo, sabiam o que produziam, tinham conhecimento acerca de todas as
partes de seu trabalho, atualmente, cada um faz uma parte do trabalho e, é, inclusi-
ve, complicado definirmos nosso papel na divisão social do trabalho.

É uma sociedade que concentra terras, capital, diversificadas formas de dinheiro e


na qual os que são explorados não conseguem acesso à terra e nem aos meios de
produção para sobreviver. Como comenta Leonardo Boff (1999):

[...] o núcleo desta sociedade não está construído sobre a vida, o bem
comum, a participação e a solidariedade entre os humanos. O seu eixo
estruturador está na economia de corte capitalista. Ela é um conjunto
de poderes e instrumentos de criação de riqueza – e aqui vem a sua
característica básica – mediante a depredação da natureza e a exploração
dos seres humanos. A economia é a economia do crescimento ilimitado,
no tempo mais rápido possível, com o mínimo de investimento e a máxima
rentabilidade. Quem conseguir se manter nessa dinâmica e obedecer
a essa lógica acumulará e será rico, mesmo à custa de um permanente
processo de exploração.

Fonte: Boff, 1999, p. 42

Desse modo, os distintos modos de produção alteraram os modos de vida da socie-


dade ao longo da história e em diferentes lugares. Não podemos dizer que todos os
locais do mundo passaram pelas mesmas situações e modo de produção, nem tam-
pouco, que cada modo de produção sucedeu ao outro de forma progressiva e linear.

Há, igualmente, formas híbridas de viver, e nem todos que vivem atualmente partilham
o mesmo modo de vida. Podemos dizer, sim, que há universalidades, formas de vida
e sociedades que são hegemônicas, porém nem todas são completamente iguais.

Sempre há diferentes temporalidades – formas e tempos de vida que são específi-


cos, mesmo num mundo cada vez mais global –. Então, cabe à Sociologia desvendar
esses processos e relações sociais, evidenciados nas formas de trabalho, na urba-
nização, no processo de globalização, nas formas de organização social e política.
Tudo isso é motivo para estudos da Sociologia.

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Material Complementar

Livro
O que é Sociologia
MARTINS. C. B. O que é Sociologia. São Paulo, Brasiliense, 2000.

Filme
O Nome da Rosa
Indicamos que você assista ao filme baseado no romance homônimo de
Umberto Eco. O filme levanta questões sociais, culturais e religiosas que
podem ser analisadas sob uma perspectiva sociológica, oferecendo insights
sobre as relações de poder, estrutura social e ideologias presentes na
sociedade retratada.
https://youtu.be/7-yYJgpQ-CE

Leituras
Introdução à Sociologia
https://bit.ly/3JVCBMU

Novas Perspectivas para as Ciências Sociais no Brasil


https://bit.ly/44LrZsb

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Referências

BOFF, L. Ética da Vida. Brasília: Letraviva, 1999.

DIAS, R. Sociologia clássica. São Paulo: Biblioteca Pearson, 2014. (e-book)

LAKATOS, E. M; MARCONI, M. A. Metodologia científica. São Paulo: Atlas, 1982.

MARX, K. Contribuição à crítica da economia política. Trad. Florestan Fernandes.


São Paulo: Expressão Popular, 2008.

PAIXÃO, A. I. Sociologia geral. Curitiba: InterSaberes, 2012. (e-book)

SANTOS, M. Do meio natural ao meio técnico científico informacional. In: A Na-


tureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. 4ª ed. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 2006.

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