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RESENHA

Andressa Rodrigues dos Santos

Seminário intitulado “Educação Ambiental Crítica: reflexões para a relação


ser humano e ambiente”, proferido pela Dra. Rita Paradeda Muhle, Doutora e
Mestre em Educação pelo PPGEdu da Escola de Humanidades da PUCRS, no
âmbito da disciplina “Seminários Avançados” do Programa de Pós-Graduação
em Ensino das Ciências – PPGEC/UFRPE, ministrada pela Professora Dra.
Ivoneide Mendes.

No presente encontro, a Professora Rita traçou um panorama geral


acerca da Educação Ambiental (EA) enquanto campo de estudo até chegarmos
ao que se compreende por Educação Ambiental Crítica (EAC). Para isso,
remontou ao processo histórico do desenvolvimento da humanidade olhando,
especificamente, para o modo como se deu a relação entre o ser humano e a
natureza, caracterizando a humanidade em três momentos diferentes: No
primeiro momento, essa relação se deu por dependência total da natureza,
nesse período, o meio ambiente era sua fonte de alimento, fazendo com que as
famílias tivessem que se deslocar constantemente pela natureza (nômades) em
busca de locais que disponibilizassem os recursos necessários para
sobrevivência. Nesse período havia uma relação mística entre natureza e ser
humano, colocando os recursos naturais e os fenômenos como entidades
responsáveis pelo sucesso ou não do grupo. O segundo momento, caracterizou-
se pela busca pela dominação da natureza, esse movimento veio através da
consolidação da Idade Moderna que, mais adiante, culminou na revolução
industrial, trazendo mudanças drásticas no padrão de consumo da população e
na compreensão da natureza enquanto espaço distanciado da “civilização”, local
no qual é possível extrair e consumir para atender às demandas das pessoas.
Por fim, temos o terceiro momento, caracterizado pela “criação da natureza”.

É nesse terceiro momento da história que se situa o que chamamos de


“crise ambiental”, marcada pela “sociedade de risco”, na qual as problemáticas
envolvendo questões ambientais não se localizam geograficamente em um único
espaço-tempo, não existem barreiras, as consequências da crise ambiental
podem ser percebidas em todo e qualquer local no planeta Terra, como é o caso
das mudanças climáticas.

A dificuldade em reverter essa compreensão se dá, entre outras coisas,


pelo fato de estar ainda muito presente nas tomadas de decisões e no nosso dia-
a-dia um discurso desenvolvimentista, marcado pela ideia de que a preservação
do ambiente impede o desenvolvimento tecnológico e econômico. Somado a
isso, organizações como ONU e UNESCO, por exemplo, que buscam trazer para
o debate com a sociedade as questões ambientais, ainda a tratam com um viés
muito utilitarista, o que desemboca numa concepção conservadora da EA, ou
seja, que mantém o status quo, permanece acrítica, é “neutra” e, portanto, se
mantém opressora e comportamentalista.

Em movimento contrário a essa perspectiva, no âmbito das ciências


humanas e sociais, emerge a Educação Ambiental Crítica (EAC), identificando
que o princípio da reciprocidade não é mais suficiente para dar conta dos novos
desafios. É, portanto, fundamental a construção de “sujeitos ecológicos”, um
ideal ético e estético que inspira atitudes ecologicamente orientadas, baseadas
no cuidado, na responsabilidade e na solidariedade com o ambiente. A EAC
pode ser definida por uma abordagem em educação ambiental que não
desconsidera o ser humano como integrante de todos os processos que
envolvem o meio ambiente, compreende que o meio ambiente é qualquer
espaço, não apenas o “natural”. E, por isso, leva em consideração aspectos
políticos, sociais, econômicos, além do ambiental.

Ao olhar para o panorama brasileiro percebemos que a EA é marcada por


constantes avanços e retrocessos. Nos referindo especificamente às escolas,
tivemos um período em que documentos norteadores da educação trouxeram
maior visibilidade às questões ambientais, como é o caso dos Parâmetros
Curriculares Nacionais, por exemplo, que traziam a EA como eixo transversal, o
PRONEA que buscava articulação entre o Ministério do Meio Ambiente e o
Ministério da Educação, na década de 90, que contribuiu sobremaneira para o
debate defendendo que a EA estivesse presente em todos os níveis de ensino.
Entretanto, atualmente, devido à forte influência do Neoliberalismo nos últimos
anos, que resultou na implementação do Novo Ensino Médio e na construção de
Base Nacional Comum Curricular totalmente descolada dos movimentos
educacionais, dos professores, estudantes e pesquisadores da área, o que
temos são documentos que inserem os termos “desenvolvimento sustentável”,
“sociedades sustentáveis” ou “sustentabilidade” que, ao serem definidos,
apresentam características de uma EA conservadora. Desse modo, observamos
a apropriação de determinados termos por parte da lógica neoliberal trazendo
retrocessos ao que vinha sendo construído em anos anteriores.

Desse modo, tem se tornado cada vez mais desafiador tratar de educação
ambiental, sobretudo no viés crítico, atualmente. Professores e escolas estão
sufocados pelas demandas das provas escolares externas que determinam a
verba que chega nas escolas, priorizando sempre as disciplinas de português e
matemática. Concomitante a isso temos também e redução da carga horária de
disciplinas como biologia, química, física e geografia, principalmente, se a trilha
formativa escolhida pelo estudante (no caso do ensino médio), for de uma área
que não tenha essas disciplinas como as “principais”.

Estruturar processos de ensino-aprendizagem numa abordagem de


Educação Ambiental Crítica requer, sobretudo, sensibilidade. Como falar de
separação do lixo para pessoas que moram em condições desumanizantes, na
qual, muitas vezes, sequer têm acesso as condições básicas de sobrevivência?
Por este motivo, não basta falar do lixo, da poluição em si. É preciso refletir sobre
a estrutura que promove esse lixo, sobre as questões políticas envolvidas nas
tomadas de decisões de pessoas que estão distantes dessa realidade
opressora. Por isso, mais do que nunca, se torna essencial a EAC nas escolas
e sua transversalidade em todas as disciplinas, não apenas no Ensino das
Ciências.

Tendo em vista a relevância de se tornar a EAC cada vez mais presente


nas escolas, é que emerge o meu projeto de tese que tem por objetivo promover
formação continuada, tendo por base a teoria do conhecimento freiriano, em um
processo de ensino-aprendizagem na perspectiva libertadora, problematizadora,
crítica-reflexiva a partir de temas geradores que envolvam a EAC. Queremos
que o processo seja significativo, que emerja da realidade e que traga
contribuições para a formação e, sobretudo, transformações nas práticas
docentes dos atores e atrizes envolvidas no processo.

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