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GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

PREFEITURA MUNICIPAL DE TERESÓPOLIS


SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
CENTRO EDUCACIONAL BEATRIZ SILVA

Educação ambiental: uma proposta para o ensino fundamental


Introdução
A educação ambiental é uma temática de suma relevância para abordagem em sala de
aula e, cada vez mais se torna crucial nos dias de hoje. Em virtude das mudanças climáticas,
há uma preocupação crescente com as questões ambientais e essas preocupações precisam ser
problematizadas, para que os estudantes compreendam que as ações humanas têm impactado
diretamente na totalidade do ambiente no qual vivemos e que nossas escolhas atuais são
alheias e essa lógica.
A importância da educação ambiental se dá de tal forma que a lei federal n.o 9.795, de
27 de abril de 1999, que regulamenta o assunto, entende-a como:
[...] os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem
valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências
voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo,
essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (SENADO
FEDERAL, p. 25, 2015).
Esse destaque do meio ambiente como um patrimônio coletivo das comunidades nas
quais está inserido serve como um ponto de partida (a partir da discussão e da
conscientização, mas também de ações concretas) para alternativas que busquem refrear os
efeitos das mudanças climáticas e da devastação de um modo geral, sobretudo nas populações
mais pobres, vulneráveis às severidades da degradação do ambiente.
A referida legislação ainda faz menção à educação ambiental como um tema que deve
fazer parte dos currículos de todos os níveis e modalidades de todos os processos educativos
ao longo dos anos. Em consonância, a resolução CNE/CP n. o 2/2012 do MEC, por sua vez,
estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental como uma
temática “transversal, contínua e permanente em todas as áreas de conhecimento,
componentes curriculares e atividades escolares e acadêmicas” (SENADO FEDERAL, p. 144,
2015).
Neste sentido, a Geografia tem uma vantagem para dar significado aos conteúdos
curriculares, na medida em que permite a sistematização das relações espaciais que se
observam no cotidiano da cidade como um todo. Além disso, a relação entre os elementos do
cotidiano das abordagens pedagógicas, o contexto socioespacial e a vivência dão forma e
significado aos processos de ensino-aprendizagem.
Concepção de educação ambiental

Quando se menciona o assunto, faz-se necessário especificar de qual educação


ambiental se está tratando. Das diversas concepções abordadas por Lucie Sauvé (2005),
aquela que mais se adéqua ao que se pretende desenvolver é a que enfatiza a dimensão
humana do meio ambiente, como síntese da natureza e da cultura. Nesta corrente, o ambiente
é muito mais do que apenas um conjunto de elementos biofísicos e que podem ser
compreendidos de forma objetiva e isolada; equivale a um meio de vida que correlaciona
distintos aspectos, históricos, políticos, econômicos, geográficos etc, em que os significados
atribuídos ao contexto são fundamentais para essa compreensão (SAUVÉ, 2005).

No campo da Geografia, o conceito que converge de forma muito pertinente para essa
abordagem é o de paisagem, na medida em que, de acordo com cada cultura, os seres
humanos são treinados a ver algumas coisas em detrimento de outras. É claro que não se deve
ficar restrito à ideia clássica de paisagem, como a descrição da dimensão visual, apesar deste
contexto atual de hiperexploração do aspecto ótico. Mais do que um lance de vista, a
paisagem também é um ato perceptivo que, além do que se vê, provoca pensamentos,
reflexões e perspectivas de mundo (GONÇALVES, 2016).

Isso vem ao encontro do que Sauvé (2005) destaca: mais do que uma rigorosa
observação, anterior à análise e à síntese, o viés da educação ambiental humanista também
ressalta o sensorial, os afetos e a criatividade. Estas são de grande valia para se desenvolver o
raciocínio, pois é necessário ter referências que permitam criar outras relações, “dando asas”
às capacidades imaginativas de cada estudante, um dos grandes anseios da educação de um
modo geral. Além disso, compreender o contexto no qual estão inseridos os estudantes e, com
base nesse olhar, como processo de apreensão do real, sistematizar os conhecimentos
observados. De acordo com a origem sociocultural, cada um é condicionado a ver alguns
elementos em detrimento de outros e uma das funções da escola é ampliar o repertório
cultural e o modo como cada um interpreta o mundo.

A educação ambiental serve tanto para a reflexão dos problemas cotidianos


enfrentados pelos membros de uma comunidade, tanto quanto para a proposta de intervenções
que modifiquem a lógica predatória quando se trata da natureza na qual, cada vez mais, se
está inserido. Conforme destaca Layrargues (2003), há dois caminhos possíveis para se propor
estratégias da resolução de problemas ambientais no âmbito local: uma que tem por finalidade
a resolução de um problema ambiental específico, como uma como uma “atividade-fim” e
outra proposta pedagógica que se compromete com a compreensão e a transformação da
realidade local.

A segunda perspectiva apresentada acima tem melhores condições de dar conta da


articulação dos processos educativos com a ação local e com a complexidade dos problemas
ambientais com os quais a humanidade se depara hoje em dia (LAYRARGUES, 2003).
Devido à conexão das grandes questões ambientais globais, como as mudanças climáticas e
as queimadas nas florestas tropicais, por exemplo, também há como se chegar à discussão dos
problemas identificados nas comunidades locais.

Nesse sentido, a relação entre os elementos do cotidiano das abordagens pedagógicas,


num percurso da micro à macroescala, é uma necessidade para se alcançar o pensamento
abstrato, sendo o contexto socioespacial e a vivência fundamentais para se atingir a tão
necessária concretude, que dá forma e significado aos processos de ensino-aprendizagem.

Simbologias da água

As reflexões que fundamentam este texto surgiram a partir de uma saída de campo –
realizada em março de 2023 – vinculada à revisão do projeto político-pedagógico do Centro
Educacional Beatriz Silva (CEBES), situado na Barra do Imbuí, bairro que pertence ao
município de Teresópolis-RJ. Nesta atividade, os professores e as professoras visitaram os
bairros de origem dos estudantes da escola. Ficaram muito evidentes problemas urbanos que
estão diretamente ligados ao saneamento básico na região. A partir da observação minuciosa,
ressaltaram-se as questões ligadas ao manejo das águas pluviais, a limpeza e coleta de
resíduos urbanos, principalmente.

Há um ponto de inflexão entre a limpeza urbana e o manejo das águas, pois a


confluência entre ambos pode ser causadora de diversas doenças para quem circula pela
localidade. Sobre o manejo de águas pluviais, verificou-se que poucos minutos de chuva já
são suficientes para causar alagamento na rua da escola. Isso se deve ao fato de que a escola
se encontra em um vale, encravada entre morros e que convergem suas águas para a rua Dr.
Oliveira, que, muitas vezes, não dá vazão a toda essa água, o que provoca alagamentos
periódicos na região, sobretudo durante os meses do verão.

Assim, a água que é um bem inestimável e crucial para a perpetuação da vida no


planeta, dependendo da situação, pode simbolizar um alto potencial de destruição, sobretudo
na região serrana do Rio de Janeiro, onde ocorreram enchentes e deslizamentos de terra no
verão de 2011. À época, essa catástrofe foi considerada o oitavo maior desastre natural no
mundo nos últimos 100 anos, comparado, por exemplo, com o furacão Katrina, que devastou
Nova Orleans, nos Estados Unidos, em 2005 (BUSCH; AMORIM, 2011).

Objetivo geral

Com base no que foi observado na Barra do Imbuí, pensou-se em viabilizar a


simbologia da capacidade criadora da água, enaltecendo a vida, como fonte de reflexão e de
sistematização de conhecimentos a serem mobilizados. Neste sentido, articulou-se um projeto
educação ambiental tem por objetivo geral investigar temas importantes para a comunidade,
além da realização de iniciativas como o reaproveitamento da água das chuvas e a
implementação de uma horta no contexto escolar. A proposta busca articular as temáticas que
tenham como ponto em comum a água, como o consumo consciente e a captação das águas
pluviais para o desenvolvimento da horticultura, para promover a conscientização ambiental
entre os estudantes, incentivando práticas que produzam um espaço escolar mais responsável
e atento aos problemas ambientais da atualidade.

Objetivos específicos

➢ Refletir sobre a importância da água no contexto de Teresópolis e para a humanidade;

➢ Desenvolver espaços dentro da escola de múltiplos aprendizados, em integração com


a comunidade e o contexto atual;

➢ Compreender as dinâmicas socioespaciais e econômicas locais relacionadas com os


conteúdos trabalhados a partir da perspectiva da educação ambiental;

➢ Promover práticas educativas que valorizem outros conteúdos e que estão ligados aos
saberes transmitidos pela comunidade local;

➢ Divulgar as atividades desenvolvidas ao longo do projeto como forma de propagação


de práticas relacionadas à educação ambiental.

Metodologia

1. A água será um tema que perpassará todos conteúdos abordados nas aulas de Geografia do
sétimo ano.
Paisagem: água em Teresópolis

Movimento migratório: por falta de água ou pelas enchentes no próprio município

Setores da economia: destaque para agricultura no município e uso da água

Variáveis climáticas: gráficos e climogramas interpretação, microclima, relevo, vegetação

Relevo: e os cursos d’água. Áreas de risco e deslizamento.

2. construção de sistema de captação de águas pluviais e seu reúso em horta para educação
ambiental,

3. Visitação aos sítios da agricultura familiar com produção de alimentos orgânicos e a uma
estação meteorológica no município

4. Elaboração de monitoria pelos estudantes que será uma atividade interdisciplinar. Como
monitores serão incentivados os estudantes com dificuldades de aprendizado em sala de aula e
baixo rendimento escolar. Assim, as atividades serão avaliadas e complementarão a pontuação
de todos os componentes curriculares do ano letivo.

5. Escrita e publicação de um livro para a como material didático para educação ambiental
com as particularidades do município a ser distribuído nos espaços escolares

Recursos

Orçamento

Cronograma

PROJETO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL


2023 2024
Etapas o o
3. tri 1. tri 2.o tri 3.o tri
Construção do sistema de captação de águas pluviais X
Construção e organização da horta escolar X
Seleção da monitoria X X
Visitação ao sítio agroecológico Saíra Azul X
Visitação à estação meteorológica de Teresópolis X
Lançamento do livro de divulgação do projeto X
Como recurso pedagógico, o trabalho de campo se torna um destacado instrumento
que alia a teoria e a prática. A partir dos contextos da escola e da cidade, há inúmeras
possibilidades de abordagem que facilitam a compreensão dos estudantes em formação que,
muitas vezes, possuem seu ambiente de circulação restrito. No entanto, este precisa estar
articulado com o planejamento pedagógico e, consequentemente, com o trabalho
desenvolvido em sala de aula.

BUSCH, A.; AMORIM, S. A tragédia da região serrana do Rio de Janeiro em 2011:


procurando respostas. Brasília/DF: ENAP – Casoteca de Gestão Pública, 2011. Disponível
em: <https://repositorio.enap.gov.br/handle/1/328>. Acesso em: 12 set 2023.

EDUCAÇÃO Ambiental. Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas – DF, 2015.


(Coleção Ambiental)

GONÇALVES, J. A. O. Memórias Geográficas: As Cinco Peles do Pai Bitu – São Francisco


de Paula/RS. 2016. 219 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Instituto de Geociências –
UFRGS: Porto Alegre/RS, 2016.

LAYRARGUES, P. P. A natureza da ideologia e a ideologia da natureza: elementos para


uma sociologia da educação ambiental. 2003. 105 f. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) –
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas – UNICAMP: Campinas/SP, 2003.

SAUVÉ, L. Uma cartografia das correntes em educação ambiental. In: M. Sato, I. C. de


M. Carvalho, Eds.). Educação Ambiental - Pesquisa e Desafios, Porto Alegre: Artmed, 2005.

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