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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA


ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO PERCEPÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO
ESPACIAL DAS PALMEIRAS DE AÇAÍ E MIRITI AO LONGO DE 2...

Conference Paper · October 2015

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Camila C Verbicaro Christian Nunes Da Silva


A Fundação de Ciência, Aplicações e Tecnologia Espaciais Federal University of Pará
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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO

PERCEPÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DAS PALMEIRAS DE


AÇAÍ E MIRITI AO LONGO DE 20 ANOS NA VÁRZEA DA AMAZONIA
PARAENSE.
Camila Contente Verbicaro¹
Christian da Silva Nunes ²
Resumo
A natureza exerce papel fundamental no suprimento das necessidades básicas do
homem. Nesse contexto o presente trabalho apresenta um mapeamento
participativo como proposta metodológica. Isto pode ser significante para gerar de
maneira rápida e eficaz, informações georeferenciadas sobre a localização e os
usos de recursos naturais pelas populações locais. A utilização de um sistema de
informação geográfica permite ao planejador mapear, analisar e apresentar as
informações geradas através dos diagnósticos participativos. Além disso, a
linguagem gráfica dos mapas uniformiza e potencializa a comunicação entre os
técnicos e os residentes. Além disso, o mapeamento destas áreas se torna
importante para ajudar no entendimento melhor da distribuição das duas palmeiras,
o açaizeiro (Euterpe oleracae L., Palmae) e o miritizeiro (Mauritia flexuosa
L.,Palmae), que representam um recurso importantíssimo para a Comunidade de
Tauerá de Beja, Abaetetuba/PA. Os moradores inicialmente localizaram a sua
comunidade, os rios e os igarapés, e posteriormente as áreas de intensificação de
açaizeiros e miritizeiros com muita facilidade.

Palavras-chave: Mapeamento Participativo; Recursos Naturais; Manejo.

Abstract
Nature plays an essential role in the mankind existence, since its basic needs come
from natural resources. In this context, this article presents the participatory mapping
as a methodology, which can be extremely considerable when generating quickly
and efficiently georeferenced information regarding location and uses of natural
resources by local populations. The use of a geographyc information system allows
the planner to map, analyze and readily present the information generated by means
of participatory diagnosis. Moreover, the graphic language of maps standardizes, and
consequently enhances, the communication between technicians and dwellers.
Mapping these areas becomes important for daily management, ever since they may
specifically provide a better understanding1 of two palms distribution over twenty
years, the Açaí palm (Euterpe oleracea palm.) and the Miriti palm (Mauritia flexuosa
palm.), which are found as critical resources for the Community of Tauerá de Beja,
Abaetetuba/PA.

Keywords: Participatory mapping; Natural resources; Management.

1
Aluna do programa de Pós-graduação em Geografia, Universidade Federal do Pará.
² Professo do programa de Pós-graduação em Geografia , Universidade Federal do Pará.

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1- INTRODUÇÃO
Um dos maiores problemas e desafios ambientais do século 21 é a
degradação de recursos naturais. O debate sobre crescimento econômico e
degradação dos recursos naturais abrange a questão do gerenciamento de estoques
desses recursos, essa questão permite iluminar a reflexão atual sobre a
complexidade envolvida nas relações de interdependência entre produção social e
reprodução ecológica.
Para garantir a manutenção da vida no planeta deve-se produzir com
sustentabilidade, manejando o ambiente com planejamento e racionalidade. O
planejamento adequado das áreas de desenvolvimento econômico deve ser
considerado ação prioritária para assegurar a proteção dos recursos naturais, o
equilíbrio natural e a produtividade das terras. Neste sentido, há necessidade de
informações sobre os principais recursos disponíveis e a criação de tecnologia que
permitam explorá-los de maneira adequada sem causar degradação ambiental,
gerando emprego e renda para as populações locais.
Dessa forma, o objetivo desse trabalho foi elaborar uma cartografia do açaí e
do miriti. Também foi mapeada a pressão antrópica que estes recursos sofreram ao
longo de 20 anos. Este mapeamento foi elaborado a partir da percepção moradores
da comunidade de Tauerá de Beja localizados no município de Abaetetuba/PA. O
intuito desse trabalho foi de contribuir com o manejo desses recursos, seu
planejamento racional dentro de uma lógica sustentável, para que a comunidade
possa usar os recursos de maneira sustentável, com rentabilidade e aproveitando
oportunidades de mercado.
2- MATERIAIS E MÉTODOS
A comunidade em estudo, pertence ao município de Abaetetuba e está
localizada (a 1°39'30,129"S 48°51'7,903"W e 1°42'10,386"S 48°49'38,967"W), a uma
distância aproximada de 7 km da sede do municipal (figura 1). Esta comunidade é
fronteiriça as comunidades do Rio Guajará de Beja a nordeste, a comunidade do
Maranhão a sudeste, a comunidade do API a sul e com a comunidade de
Tauerazinho a oeste.

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Figura 1: Mapa de localização da Comunidade estudada.

Foi realizada uma revisão de literatura de mapeamento participativo dos


recursos naturais na visão dos saberes locais. Para isto foi levantado em conta os
conceitos cartográficos, e suas formas de representação gráfica tendo por base os
trabalhos de Martinelli (2005) e Silva (2013). O uso do mapeamento participativo foi
norteado por Mwanundu (2009) que apresenta uma discussão inovadora a respeito
deste tema e sua aplicabilidade na construção de representações cartográficas
partindo de um olhar empírico dos grupos sociais em estudo.
É preciso entender que a participação consiste no conceito central para este
processo de mapeamento. Para tanto deve ser dada a oportunidade aos residentes
de expressar seus conhecimentos e suas percepções sobre o uso de recursos
naturais. Todo este processo pôde alavancar instruir e sustentar ações participativas
de empoderamento da comunidade. Isto foi possível a partir da contribuição de
diversos atores, facilitadores e parceiros, instruindo, fazendo a emancipação e
propiciando a sustentabilidade local e regional.
Para trabalhar com a percepção dos Comunitários, foi preciso elaborar uma
Carta-imagem, na qual foi realizado o cruzamento dos dados cartográficos tais
como, rede hidrográfica, limites municipal, rede rodoviária (IBGE, 2007), pontos de
GPS (Global Positioning Systems) dos principais pontos de referência da

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comunidade (escola, centro comunitário e igreja) e as imagens de radar SAR (Radar


de Abertura Sintética) R99B (2008) com a resolução de 6 metros, cedida pelo
SIPAM (Sistema de Proteção da Amazônia). Esta base de informações foi impressa
na dimensão de 1m x 1,5m, para ser trabalhada pela comunidade na identificação
dos espaços naturais.
Após a impressão foram realizadas reuniões na comunidade para explicar a
metodologia adotada no mapeamento. Buscou-se também explicar a todos o que é
uma imagem de radar, noções básicas de localização, escala e outros conceitos
cartográficos.
A fim de que o trabalho em conjunto fosse agradável, ficou claro que o
convívio com tal comunidade deveria ser nutrido baseado na confiança mútua. Caso
contrário, o processo de mapeamento participativo poderia tornar-se improdutível ou
até mesmo inviável. Portanto, é necessário manter transparente o processo de
entendimento, sendo aconselhável promover reuniões para definir e explanar a
metodologia. Deve-se também utilizar uma abordagem simples, clara, criativa e que
envolva todos os comunitários presentes. Outro ponto que vale ressaltar é a
importância do planejamento das atividades. Para isso é aconselhável fazer uma
lista prévia dos itens e dos propósitos da pesquisa, esclarecer para que e por quem
vão ser usados os mapas.
Para um melhor andamento da metodologia, a comunidade foi dividida em
equipes. Cada equipe possuía pelo menos um mediador, que teria como finalidade,
escutar os comunitários, encorajá-los, perguntar, sondar e principalmente não
interferir e reprimir os comunitários.
Para iniciar o processo de mapeamento foi perguntado os nomes dos rios
localizados próximos da comunidade, o nome das estradas e ramais. Também
mostrou-se a localização do centro comunitário, igreja e escola. Ainda foram
indagados a respeito de algumas áreas descampadas que apareciam nas imagens,
pois até o momento não era de conhecimento da equipe de pesquisa se tais áreas
pertenciam à comunidade ou a outrem. A comunidade esclareceu que estas áreas
pertencem às fazendas que fazem fronteira com os limites da comunidade.
Para realizar o mapeamento, os mediadores sobrepunham a imagem
impressa com um papel vidro, no qual a comunidade mapeava o alvo de interesse.

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Sempre que o alvo de interesse fosse alterado, o papel vidro era substituído por um
novo, evitando desta maneira perda de informações.
Dando procedimento ao processo de mapeamento dos principais Recursos
Naturais, foram delimitados os limites da comunidade de Tauerá de Beja a partir da
percepção dos presentes. Uma vez delimitada a área que corresponde a
comunidade em estudo, partiu-se para a delimitação da área de Várzea e Terra-
firme. Em seguida, segundo a visão dos moradores, traçou-se o espaço denominado
de Área Coletiva, vale ressaltar que essa área coletiva é resultado da organização
de alguns moradores locais que ao perceber a intensificação da pecuária na região,
as terras das proximidades estavam sendo adquiridas por fazendeiros, com o medo
de terem a sua terra vendida, por falta de regularização, os moradores elegeram um
representante e buscaram a regularização da terra que a muito tempo já usavam,
que é predominantemente de terra-firme com uma extensão de 81ha, sendo apenas
estabelecida com um título no nome do morador que foi eleito como representante
da comunidade seu Sebastião Costa, aproximadamente 30 famílias moram dentro
dessa área, as outras famílias que não moram dentro da área coletiva possuem
pequenas roças para o cultivo.
Delimitada as áreas de várzea, terra-firme e área coletiva, partiu-se para o
mapeamento dos principais recursos naturais, tais como açaí e miriti, tendo em vista
a importância de registrar a espacialidade destes recursos dentro dos limites da
comunidade de acordo com a percepção dos moradores. Foi definida uma
simbologia no momento do mapeamento para identificar e diferenciar áreas de
ocorrência das palmeiras, gerando assim um mapa da distribuição delas na
comunidade.
Além de mapear a distribuição das palmeiras no ano de 2008 foi preciso
resgatar informações pretéritas, partindo de relatos dos moradores para mapear as
áreas de açaizeiros e miritizeiros no decorres de 10 e 20 anos atrás. Em conjunto
com a comunidade e embasados na lembrança e percepção espacial da mesma,
iniciou-se o mapeamento dos recursos de 10 anos atrás. Relatou-se que somente
um morador possuía área considerável para produção de açaí e que os miritizeiros
eram mais presentes; é nesse contexto que se criou a representação cartográfica da
distribuição espacial do açaí e miriti há 10 anos atrás, a partir das narrativas e da

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percepção dos moradores da comunidade de Tauerá de Beja. Houve uma


curiosidade de saber como se distribuíam as duas palmeiras há 20 anos atrás, foi
perguntado se os presentes no mapeamento participativo lembravam de tal
percepção, a resposta foi positiva, partiu-se, então para o desafio de mapear a
espacialização das duas espécies de palmeiras buscado sempre pelas memórias
dos moradores.
Após trabalho de campo na comunidade, todo o material produzido no
mapeamento, mais a base cartográfica construída previamente, foram cruzados,
com a finalidade de gerar um produto denominado de mapa participativo, esse
cruzamento das informações prosseguiu da seguinte forma, primeiramente os
papeis vidros foram superposto as imagens levadas à campo, dessa forma pôde-se
visualmente comparar a imagem impressas levadas à campo à imagem no digital
armazenada em ambiente computacional, onde adicionou-se as informações do
papel vidro visualmente no computador, construindo polígonos, linhas e pontos,
resultando dessa maneira na produção dos mapas participativos, que é uma
ferramenta essencial para analisar a realidade da comunidade local.
3- DISCURSÕES E RESULTADOS
O uso de ferramentas como, as técnicas de cartografia digital em associação
ao sensoriamento remoto têm-se tornado de suma importância para a avaliação dos
problemas ambientais e significativa para a elaboração de medidas mais eficazes de
planejamento territorial. Contudo a cartografia que é proposta nesse trabalho é
diferente da cartografia tradicional, não se tratando apenas do uso da tecnologia e
da técnica. É proposta aqui, uma cartografia que não se limita a simplesmente
representar o traço geográfico, e sim uma busca em ilustrar importantes
conhecimentos sociais, culturais e históricos, incluindo, por exemplo, informações
relacionadas à ocupação do uso da terra, distribuição dos principais recursos
naturais. Estes mapas geralmente representam um entendimento social ou
culturalmente distinto de paisagem e incluem dados que são excluídos dos mapas
convencionais, os quais usualmente representam a visão dos setores dominantes da
sociedade; estes tipos de mapas são fruto do Mapeamento Participativo, entretanto
o que o faz significativamente diferente da cartografia tradicional, é o processo pelo
qual tais mapas são criados e os usos aos quais eles são posteriormente dedicados.

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Santos (1988) nos fala que os Geógrafos não podem existir senão numa
sociedade dotada de um senso geográfico, esse senso geográfico nos remete a
pensar na percepção espacial, para avaliar essa percepção esse trabalho utilizará
como proposta metodológica o mapeamento participativo que segundo Mwanundu
(2009) argumenta que o mapeamento participativo fornece uma representação
visual valiosa do que uma comunidade percebe como o seu lugar e as
características significativas dentro do mesmo, essas características incluem
representações dos traços físicos naturais, assim como traços socioculturais
conhecidos pela própria comunidade. Mapas são mais do que pedaços de papel.
São histórias, conversas, vidas e canções que ocorrem em um lugar, sendo
inseparáveis do contexto político e cultural no qual são utilizados (Warren, 2004).
O supracitado detém profunda relação com a Geografia Humanística, pois a
mesma, procura um entendimento do mundo humano, através dos estudos das
relações das pessoas com a natureza, do seu comportamento geográfico bem como
seus sentimentos e ideais a respeito do espaço e do lugar (TUAN 1985) e numa
atitude diferente, centraliza no homem, enquanto ser pensante, numa importância
vital, visando a compreender e interpretar os seus sentimentos e entendimentos do
espaço e até mesmo, como simbologia e o significado dos lugares que podem afetar
sua organização espacial. A realidade visível é uma visão do conjunto percebida a
partir do espaço circundante. Não tem, assim, uma existência própria, em si. Ela
existe a partir do sujeito que a apreende: cada pessoa a vê diferentemente de outra,
não só em função do direcionamento de sua observação, como também em termos
de seus interesses individuais (TUAN, 1985).
Segundo Gallais (1977) a análise do espaço vivido é um trabalho difícil, mas
indispensável para chegar a geografia verdadeiramente humana e compreender as
possibilidades de aceitação de qualquer proposta de mudança. É nessa perspectiva
humanista da geografia que se abre esta discussão, que está em busca de valorizar
os mundos particulares de cada indivíduo, relacionando-se com a esfera de mundo-
vivido e seu recorte em espaço vivido. A fenomenologia surge como abordagem
capaz de permear a complexidade do mundo vivido sem destruir seus significados.
Para Mwanundu (2009) o mapeamento participativo é a criação de mapas
pela comunidade local – em muitos casos envolvendo organizações de suporte

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como o governo (em diversos níveis), organizações não governamentais (ONGs),


universidades e outros agentes envolvidos em desenvolvimento e no planejamento
relacionado com a terra. A mesma autora narra que desde a década de 70, esforços
no campo do desenvolvimento procuram auxiliar e promover a participação da
comunidade na tomada de decisões através da criação de uso de diversas
metodologias participativas que juntam, analisam e comunicam as informações da
comunidade. Chambers (2006) expõe que de todos os métodos de desenvolvimento
participativos já adotados, adaptados e aplicados no contexto do desenvolvimento, é
o mapeamento participativo que tem sido o mais amplamente usado.
A comunidade é formada por um sistema de atores que participam de
processos, atividades e ações continuadas por meio de suas potencialidades
humanas, técnicas e científicas dentro da área de abrangência da comunidade
(ARNS, 2003). Mapeamento participativo se concentra em fornecer as habilidades e
competências para que os membros da comunidade criem mapas sozinhos, assim
como representar o conhecimento espacial dos mesmos, garantindo que os
membros da comunidade determinem a posse dos mapas, como e para quem
comunicar as informações fornecidas nestes mapas. Dessa forma, entende-se, que
o mapa deixa de ser um mero conjunto de informações geográficas, para se tornar
uma ferramenta de atuação, que possibilitará à comunidade a representar os
fenômenos socioeconômicos e ambientais de suma importância para o bom
desempenho e para o planejamento de ações conjuntas integradas entre
comunidades e instituições públicas e privadas.
É nessa conjuntura que é proposto nesse trabalho um processo de
comunicação que é realizado em etapas participativas que valoriza a atuação da
comunidade em estudo desde a confecção e o uso do mapa. É entendido que a
utilização dos mapas estimula a operação mental, ocorrendo assim uma interação
entre o mapa e os processos mentais do usuário. É difícil, para uma pessoa,
comunicar sua ideia de um determinado lugar somente com palavras (imagens
mentais). Os mapas são instrumentos visuais concretos que têm o poder de
sintetizar a percepção espacial que o ser humano tem do ambiente; ou seja, um
mapa representa graficamente as imagens mentais de um determinado espaço.

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Com a inserção destas informações em um SIG, é possível gerar mapas


coloridos que permitem visualizar e analisar a situação de cada comunidade em
relação aos problemas identificados. O mapeamento destas áreas se torna
importante para o manejo, pois poderão ajudar no entendimento melhor da
distribuição das duas palmeiras e os fatores relacionados a esta distribuição
diferenciada na floresta.
A partir do processo de mapeamento participativo realizado na comunidade
de Tauerá de Beja, podemos perceber nos mapas gerados no ano de 1988, 1998 e
2008 uma certa mudança a espacialização dessas palmeiras. Dessa forma, foi
elaborado um mapa síntese que expõe a modificação da área de estudo ao longo de
20 anos, mostrando a evolução da distribuição das áreas de açaizeiros e Miritizeiros,
esse mapa (Figura 02) reflete e proporciona uma visualização do processo de
valorização do açaí e a mudança na importância desse fruto para as famílias da
comunidade, em contrapartida, as áreas de Miritizeiros estão tendo uma breve
diminuição durante tal período não podendo competir com os açaizeiros.

Figura 2: Mapa Síntese

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Observa-se nos mapas acima que a presença das áreas de açaí aumentou
consideravelmente de 1988 a 2008, isso se deve ao processo de mudança da
importância do açaí para a renda familiar das pessoas que vivem na comunidade,
além de se tornar um dos principais recursos que compõe a cobertura vegetal de
Tauerá de Beja, em comparação com uma menor incidência de 20 anos atrás, afinal
nesse período o açaí era produzido em maior parte para a subsistência. Com uma
valorização do produto no mercado nacional e internacional no decorrer dos anos, a
produção do fruto vem crescendo desde os anos 90 até os dias atuais.
No caso do Miriti, apesar de ser uma vegetação resistente e que na várzea se
reproduzem facilmente, observou-se que os miritizeiros têm diminuído
continuamente no decorrer dos anos, isso se deve ao processo de “boom” do açaí, e
da falta de conhecimento da importância dessa espécie nesse ecossistema. Alguns
moradores reportam, que quando fazem manejo da floresta, principalmente para a
produção de açaí, deixam apenas os miritizeiros fêmea, com a explicação que são
elas que produzem os frutos, os machos são retirados na hora do manejo junto com
as outras espécies que são competidores do açaizeiro, pois segundo as famílias que
moram na região, o açaizeiro para ser produtivo precisa de luz, logo retiram as
árvores que impedem a entrada de luz no açaizal, isso inclui os miritizeiros machos.
Um dos problemas nessa lógica é que, ao retirar os miritizeiros machos, com o
argumento de que os mesmos não oferecem frutos, os moradores não sabem que a
fêmea para produzir os frutos precisa ter miritizeiros machos próximos, para ocorrer
o processo de polinização. De certa forma, isso representa mais uma ameaça à
persistência da espécie de miriti.
É nesse contexto que as áreas cartografadas servirão eficazmente como
embasamento de informações relacionadas aos principais recursos naturais para a
comunidade de Tauerá de Beja, fazendo com que estas possam ser utilizadas para
um planejamento participativo local, gerenciando ações entre os atores de tomada
de decisão e os facilitadores com o objetivo de atender as necessidades levantadas
e fazer o acompanhamento de medidas corretivas dentro da comunidade.
4- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse trabalho podemos perceber a importância da realização do
mapeamento participativo para a construção de uma análise espacial e temporal dos

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recursos naturais tais como açaí e miriti na comunidade de Tauerá de Beja, ao


trabalhar com essa metodologia na busca de informações sobre esses recursos,
proporcionou um vasto conhecimento do extrativismo do açaí e do miriti no decorrer
de 20 anos. Vale ressaltar a importância dos mapas gerados, servindo como
ferramenta para a visualização das informações e dados precisos necessários para
o embasamento nas tomadas de decisões de um planejamento e gerenciamento dos
recursos naturais para contribuir com a busca da melhoria da qualidade de vida das
famílias de Tauerá de Beja.
Outro uso que pode ser dado aos mapas gerados no processo de
mapeamento da comunidade, é a utilização dos mesmos no ensino e aprendizagem
das crianças da comunidade, alguns mapas serão entregues as escolas da
comunidade, para que as crianças possam aprender sobre os conceitos básicos de
geografia, visualizando seu próprio espaço geográfico, podendo aguçar, dessa
maneira, o seu próprio senso de localização e avaliar as variadas percepções
espaciais.
A percepção dos moradores em relação ao uso de imagens para identificação
das áreas de exploração do açaí e miriti foi algo surpreendente. Visto a facilidade de
identificar nas imagens as suas comunidades, rios e igarapés e posteriormente as
áreas de intensificação de açaizeiros e miritizeiros.
Com da inserção das informações referentes ao mapeamento participativo no
SIG, foi possível gerar mapas que permitem visualizar e analisar a situação da
comunidade em relação aos problemas identificados. O mapeamento destas áreas
pode se tornar importante para o manejo, pois poderá ajudar no entendimento
melhor da distribuição das duas palmeiras, afinal, com a falta de informações sobre
o uso de recursos naturais pelos moradores, essa ferramenta do mapeamento
participativo foi utilizada de forma rápida e eficiente que pode gerar um maior
conhecimento a respeito do extrativismo do açaí e do miriti.
É importante no futuro, fazer um plano de manejo para a gestão dos recursos
naturais, conscientizando, ensinado e aprendendo com a comunidade. Entretanto,
deve-se saber de antemão que tal experiência é desafiadora, pois ela se esbarra
nos mecanismos financeiros e técnicos, que possam garantir a participação da
comunidade que está em questão, para proporcionar um maior e desejável poder de

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deliberação da mesma. O processo de mapeamento só é o primeiro passo que


possui sua importância baseada numa visualização clara e apresentação da
espacialidade de tais recursos para a comunidade, carente em informações e dados
precisos que possam contribuir com a busca da melhoria da qualidade de vida. A
cartografia servirá para o embasamento das informações, fazendo com que estas
possam ser utilizadas para um planejamento e gerenciamento participativo local.
Consequentemente, a capacitação dos comunitários é fundamental,
mostrando o quanto é importante à prática do manejo dos recursos naturais
explorados, utilizando-os de forma correta, tirando sua renda e ao mesmo tempo
conservando a biodiversidade e assim, estimulando-os para o gerenciamento dos
próprios recursos explorados no futuro.

5- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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em Engenharia de Produção, UFSC, 2003.

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