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Resumo: Sabendo da importância das concepções primárias que as pessoas carregam consigo e
o poder que as mesmas possuem no agir, pensar e sentir em relação ao mundo (na sua forma
tanto material quanto imaterial) e às outras pessoas, perguntamos: quais as concepções que os
alunos do curso de turismo e meio ambiente trazem consigo? E a partir disso, pensar uma forma
mais efetiva tanto em nível de conteúdo quanto de forma para ministrar a disciplina de
Educação Ambiental. Lançamos mão da teoria das representações sociais como instrumento não
só de investigação como de intervenção dentro dessa nova proposta. Também essa teoria está
descrita no corpo do texto e foi relacionada com a EA e como as representações poderão ajudar
nessa nova proposta de EA. Foi aplicado um questionário para um grupo de 37 alunos do 1º
ano do Curso de Turismo e Meio Ambiente(turma de 2004) e 31 (turma de 2005) , um
instrumento elaborado a partir dos referenciais teóricos apresentados por Moscovici (1978). O
objetivo do questionário foi perceber quais representações existem no imaginário dos alunos em
relação aos conceitos e representações em relação ao meio ambiente, natureza, impacto
ambiental, crise ecológica e a relação psicológica que eles desenvolveram em relação à natureza
durante sua história de vida. Os dados coletados foram sistematizados por temas e simbologias e
foram analisados qualitativamente sob a ótica da bibliografia estudada sobre representações e
concepções sociais. Além do arcabouço teórico apresentado, analisamos também as respostas
dos questionários respondido pelos 37 alunos do primeiro ano do curso de Turismo e Meio
ambiente (ano 2004) e 31 questionários do ano de 2005. Observou-se pouca variação entre a
turma de 2004 e de 2005 das respostas analisadas. A visão romântica e estética da natureza
predominou em ambas as turmas e pouca relações dos níveis econômico ou sóciopolíticos foram
relacionados ao tema, evidenciando uma relação antropocêntrica e fragmentada em relação ao
meio- ambiente.
1
Mestre em Educação Ambiental pela UEM. Professora do Departamento de Turismo e Meio Ambiente
da FECILCAM. zildaleandro@hotmail.com
INTRODUÇÃO
Sabemos também, que essa fragmentação e compartimentação dos sistemas impede que
o homem entre em contato com as realidades complexas que constituem seu ambiente.
Dessa forma, a compreensão dos bens ambientais como “recursos naturais”, sua
utilização baseada quase que exclusivamente em critérios econômicos, bem como o
abismo social provocado em parte pela má distribuição dos benefícios deles advindos e,
finalmente, a desigualdade nas conseqüências dos impactos ambientais provocam uma
crescente degradação ambiental, entendida, desta forma, como sócio-ambiental.
Segundo Mata (1996) a palavra meio deve ter significado concreto na vida dos sujeitos,
sinalizar o seu entorno, o local onde se vive, se movimenta, enfim, espaços próximos,
contrariando a idéia de “portal verde”, muitas vezes difundida nas escolas e na
comunidade em geral, cujas implicações são:
[...] associar meio ambiente a um altar sagrado, prometido, contemplado de
longe e nunca acontecido e, por isso mesmo, cada vez mais distante, se não
cambiante para o irreal. Por continuar longínquo e inacessível, não está ao
meu alcance cuida-lo. O meio ambiente é sempre e mais do outro. E, com
isso a diligência é terceirizada. A difusão social da responsabilidade social
com o meio, nessa perspectiva, faz do detentor de poder aquisitivo o seu
maior, se não o único visitante; o que não significa por si só, o seu grande
zelador. A outra implicação é de banir do seu contexto imediato, do seu
cotidiano, a visagem de meio ambiente. A vivência é próxima e o meio é
distante (...). Assim concebendo, deixa de expropriar-se de sua condição
primária de existência por escapismo do direito a um meio satisfatório e
decente de vida (p. 121).
Representação social
Para que possamos pensar em uma proposta de EA, é preciso partir dos significados que
o ambiente e seus elementos tem para estas pessoas, como coloca Teixeira Coelho
(1994) – buscar a “pedagogia do imaginário” como base de um projeto de EA.
O pensar sobre o que é a natureza, qual a natureza do homem, qual o papel do homem
na natureza, atravessa quase 25 séculos de história e remonta mesmo, ao próprio
surgimento do homem no mundo. Estas questões que acompanham o homem em sua
trajetória, tentavam ser resolvidos por ele através da criação de histórias, mitos,
explicações da realidade elaboradas individualmente ou compartilhadas pelo grupo
social.
Esta imagem da realidade que incide em nossas condutas cotidianas está impregnada
dos paradigmas dominantes e possui as características do momento histórico em que
vivemos.
Segundo Meyer (1991), Reigota, (1996), entre outros a questão do fracasso da educação
científica, está, entre outras razões, ligada ao fato de que não se olha para quem
aprende. Isto significa conhecer as concepções dos alunos para que possam ser levadas
em consideração e nortear o processo didático-pedagógico.
À investigação da gênese do conhecimento humano acompanha a evolução das ciências
e a consolidação do método científico, até os nossos dias com as pesquisas de
Claparéde, Wallon e Piaget. Estes pesquisadores buscavam definir, caracterizar e
entender o modo de pensar individual e até onde ele era uma imposição coletiva.
Este aspecto coletivo do modo de pensar foi retomado e recolocado por Moscovici
(1978) na atual psicologia social através da “identificação de um conjunto de crenças,
concepções, valores, característicos de uma sociedade, centrando-se em objetos que
poderíamos qualificar de paradigmáticos ou, ao menos, significativos para uma
determinada população” (p. 78).
Assim, cada indivíduo através de sua própria percepção constrói uma compreensão
diferente diante de cada experiência vivenciada. “Percepção, atitudes e valores
preparam-nos, primeiramente a compreender nós mesmos. Sem a autocompreensão não
podemos esperar por soluções duradouras para os problemas ambientais que
fundamentalmente são problemas humanos” (TUAN, 1980).
Essas teorias vem fundamentar o objeto deste estudo, as concepções a respeito dos
problemas ecológicos apresentada pelos alunos da disciplina de Educação ambiental do
curso de Turismo e Meio Ambiente – da Fecilcam, suas imagens, seus problemas
ambientais e sociais.
Em relação a este tema, resumidamente, pudemos constatar que 80% dos questionários
descreveram meio ambiente como “espaço físico onde o homem vive”, ou “local
harmônico entre animais e vegetais” “Tudo o que está a nossa volta”. (30%) dos alunos
se referiram a “ harmonia dos elementos” , “equilíbrio” . Donde podemos observar uma
visão idealizada. O meio ambiente foi ligado também ao local onde estão inseridos
todos os elementos da natureza fisicamente. Conceitualmente podemos dizer que meio
ambiente foi definido como local geográfico onde os elementos da natureza estão
presentes fisicamente. Observa-se uma confusão generalizada entre natureza e meio
ambiente. As respostas variaram em termos das dimensões naturais ou técnicas de
natureza. Em nenhum momento alguém mencionou o homem como sendo parte do
meio ambiente, onde ele também vive, como um ser natural.
Embora a expressão meio ambiente tenha sido amplamente confundida com natureza,
sabemos que a questão ambiental diz respeito ao modo como a sociedade se relaciona
com a natureza e isso inclui também as relações dos homens entre si.
NATUREZA
Todas as respostas a respeito do que é natureza foi definido pelos alunos como sendo os
elementos que tem vida ou não (fauna, flora, rios, montanhas etc.) “elementos que
propiciam a vida na terra e o lazer do homem”, “natural independente, o que não é feito
pelo homem”, ou “tudo o que Deus criou”. Na turma de 2005 observamos uma
concepção também recorrente: “tudo o que não foi afetado pelo homem”. Ou seja, a
concepção de natureza foi definida pela oposição a de homem, de cultura e de história.
Natureza e cultura se excluíram. Essa parece ser uma concepção generalizada nas duas
turmas.
No entanto, como podemos ler na fundamentação teórica, só isso não bastaria para
perpetuar a situação até as raias da destruição. Mas outras leituras e formulações
contribuíram no seio das relações econômicas se propagaram e se materializaram. A
divisão sociedade-natureza foi assinalado por Descartes na sexta parte do discurso do
método, como visto anteriormente, e isso deu um impulso decisivo. O paradigma
cartesiano de ciência, então, foi o alicerce teórico e prático de um modo de produção
que modificou, sem precedentes históricos, a relação dos homens entre si e com a
natureza: o modo de produção que nasceu com a revolução industrial. A partir do
surgimento do capitalismo, as relações mercantis cresceram e as antigas comunidades
com suas culturas tradicionais foram se esfacelando e sendo absorvidas pela “cultura
tecnológica”. As cidades e o estilo de vida industrial e consumista tornaram-se
sinônimos de cultura e civilização, opostos ao viver no campo.
Impacto ambiental foi descrito em 100% dos casos, como sendo conseqüência das
alterações dos ciclos da natureza por falta de “consciência humana”. Causando
destruição, extinção de espécies, desequilíbrio. Em nenhum momento alguém
mencionou a própria destruição humana e qual a relação social que marca tal fato. Mas
unicamente as respostas enfatizaram a questão de que os problemas ambientais devem-
se mais a uma crise de gerenciamento da natureza.
Outro fato interessante é que turma de 2005 os graves problemas são “provocados pelo
Homem” e esse homem é visto como um ser genérico, abstrato sem personificação. Que
nos parece uma forma segura de interação eximindo-se da própria responsabilidade,
pois esse “homem” assim como suas “fábricas poluentes” e sua “gana insaciável” está
longe de ser um modelo de identificação. Em nenhuma das respostas podemos verificar
a presença dessa característica tão humana, a agressividade, presente no decurso do
texto, como presente nas próprias pessoas em questão.
Contudo, sabemos que os problemas ecológicos sempre existiram, mas só nos últimos
20 anos que a questão ambiental tem sido problematizada em termos globais. As
hipóteses levantadas segundo fundamentação teórica acima, é que todas as camadas
sociais vem sofrendo com os danos ambientais causadas pela relação nefasta com a
natureza e dos homens entre si. A globalização também ajuda a disseminar as notícias,
pois o mundo tornou-se uma “aldeia global”, todos tomam conhecimento de tudo o que
acontece em todo o planeta.
Não apareceram também nos questionários, respostas que se quer indicassem questões
vinculadas ao poder de destruição da sociedade industrial. Como vimos, na análise
teórica anterior que a crise ambiental é uma crise da civilização, ou seja, um colapso de
um modo de produção baseadas no uso intensivo de recursos não renováveis, altamente
consumidor de energia e com grande fé no progresso a ser atingido pelo avanço da
tecnologia.
A crise ambiental, portanto é muito mais que simples destruição dos ecossistemas,
poluição, desequilíbrios dos recursos naturais, como mencionados nas respostas, mas
também fome, pobreza, falta de controle das armas, decorrente de uma corrida
armamentícia pelo poder, um “homem mais livre” do poder da mídia e do “controle
hipnótico” da ideologia, que nos leva a viver uma realidade e conceitos construídos e
disseminados pelos meios de comunicação, que provoca uma letargia dos sentidos.
Deturpando nossos sentidos de mundo e de realidade (CESARMAN, 1973).
ACONTECIMENTO MARCANTE
Dessa forma, no imaginário dos estudantes o conceito de meio ambiente está longe de
abranger uma totalidade que inclui os aspectos naturais e os resultantes das atividades
humanas, sendo o resultando da interação de fatores biológicos, sociais, físicos,
psicológicos e culturais. A idéia que consideramos é a de que meio ambiente é uma
“segunda natureza” (GONÇALVES, 1990 p.190) que resulta do agir humano, através
do processo do trabalho, sob relações sociais características desse processo, localizadas
no tempo e no espaço, ao procurar satisfazer suas necessidades físicas e psicológicas,
historicamente determinadas.
Portanto, no âmbito institucional, tudo leva-nos a crer que devemos resgatar a dimensão
política e ética da questão ambiental através de uma análise critico-social de toda
trajetória humana na terra e suas relações e inter-relações, ressignificar valores, resgatar
o conceito de ética da relação homem/natureza e homem/homem. Para então pensar
modos diferentes de viver que viabilizem a sobrevivência do e no planeta de todas as
formas de vida.
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