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Dezembro de 2016 - edição 1/2016 - n˚ 06

faunb
Dezembro de 2016 - edição 1/2016 - n˚ 06

faunb

Universidade de Brasília
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Por ser de lá

Do sertão, lá do cerrado

Lá do interior do mato

Da caatinga do roçado

Eu quase não saio

Eu quase não tenho amigos

Eu quase que não consigo

Ficar na cidade sem viver contrariado

Por ser de lá

Na certa por isso mesmo

Não gosto de cama mole

Não sei comer sem torresmo

Eu quase não falo

Eu quase não sei de nada

Sou como rês desgarrada

Nessa multidão boiada caminhando a esmo

Gilberto Gil; Dominguinhos. Lamento Sertanejo, gravação de 1975.


editorial
I magens do cerrado feitas por alunos da FAU-UnB
sugeriram o tema desta edição da revista ARQUI. Tais
Ver e criar, por meio de textos, imagens e projetos
não são atividades exclusivas do arquiteto e urbanista,
imagens pareceram-nos apropriadas para esta revista mas detêm um lugar específico na sua formação e
por muitas razões. São belas fotos, produzidas por atividade profissional. Os trabalhos produzidos por
ocasião de um concurso realizado pela equipe Pé na alunos da Faculdade no 1º semestre de 2016, como
Estrada com o tema “O que é o cerrado para você?”. mostram as páginas seguintes, transitam entre arte,
Nelas, a vegetação aparece em close, ou a distância, história, tecnologia, planejamento e urbanismo;
exuberante ou delicada, em refúgios naturais ou em propõem edifícios, intervenções e também novos
meio ao cotidiano, por vezes em diálogo com a arqui- problemas; discutem políticas urbanas e posturas de
tetura, ou em contraponto a elementos construídos. projeto. As atividades de extensão promovidas por
Um cerrado visto por jovens futuros arquitetos. Mais alunos e professores naquele semestre permitiram
do que belas fotos, tais imagens instigam-nos também discutir Brasília sob novos ângulos, mas também
a refletir sobre paisagens criadas e imaginadas não trataram de Recife, de Minas Gerais, do Rio de Janeiro
apenas por arquitetos. e de outros lugares, reais ou imaginados. Nesses
Em 1819, o viajante-naturalista Auguste de encontros, a presença de professores e alunos de
Saint-Hilaire percorreu o cerrado inventariando diferentes faculdades e instituições foi importante
plantas, rios, montanhas, animais e modos de vida. para dar a conhecer melhor aqueles outros lugares
Em seus relatos, a expressão de uma sensibilidade e também possibilitou estabelecer redes de pesquisa
ao lugar e de sensações visuais estava em conso- e de intercâmbio de conhecimentos. Nesse amplo
nância com os métodos científicos da época. O horizonte de atuação e discussão, reafirma-se um
viajante ora podia mostrar-se aflito ao ver árvores exercício crítico, em que o arquiteto também contribui
raquíticas de ramos entrelaçados e ressecados pelo para criar novas paisagens sociais.
sol, ora maravilhava-se com a variedade de formas Por fim, as imagens do cerrado pareceram-nos
e folhagens da vegetação sob o céu luminoso. A apropriadas como tema desta revista também por
todo o tempo, a ausência do que considerava certo outra razão. Uma das peculiaridades de sua vegetação
padrão de civilidade – além das pulgas e mosquitos são as sementes capazes de sobreviver a condições tão
– importunava-o enormemente. Dos registros de adversas como as queimadas, pois são muito resis-
Saint-Hilaire às fotos dos alunos da FAU-UnB, quase tentes e renovam-se com rapidez. Em tempos difíceis
duzentos anos separam essas diferentes formas de para a vida universitária, persistência e capacidade
olhar o cerrado. Mas os dois momentos nos falam de de renovação permanecem qualidades essenciais.
paisagens e espaços que não são realidades objetivas
e sem história, tampouco meros dados da natureza.
Ali se expressam visões de mundo e imaginários:
são criações simbólicas e discursivas. A equipe editorial
Photos of the Brazilian savannah taken by Observing and creating, through texts, images
students of the FAU-UnB suggested the theme of this and projects, are activities which are not exclusive
issue of the ARQUI journal. These pictures appealed to to the practice of architects and urban planners, but
the editorial team for many reasons. They are beautiful nevertheless hold a distinct place in the education and
photos, made on the occasion of a photo competition work of these professionals. The projects made by the
organized by the Hit the Road Project [Programa Pé students of the School in the 1st semester of 2016, as the
na Estrada] with the theme “What is the savannah following pages disclose, inquire into art, history, tech-
[cerrado] to you?”. They portray the vegetation close nology, planning and urbanism; they propose buildings,
up, or from a distance, exuberant or delicate, in all interventions, as well as new problems; they discuss
natural havens or as a part of daily life, occasionally urban policies and design attitudes. The extension
associated with architecture, or as a counterpoint to activities run by students and professors have motivated
built objects. A savannah seen by young future archi- a discussion on Brasília from different points of views,
tects. More than beautiful photos, such images lead and have also addressed Recife, Minas Gerais, Rio de
us to ponder on landscapes created and imagined not Janeiro, and other places, real and imagined. In these
only by architects. events, the presence of professors and students from
In 1819, the explorer and naturalist Auguste de different schools and institutions has been important
Saint-Hilaire roamed the Brazilian savannahs cata- in giving an insight into these and other places, while
loguing plants, rivers, mountains, animals and ways also fostering the creation of research networks and
of life. His accounts reveal a sensibility to place and the exchange of knowledge. This broad scope of action
to visual impressions that ran parallel to the scien- and dialogue set the stage for critical discussions,
tific methods of the time. While the sight of scrawny where the architect is engaged in the creation of new
trees with their sun-dried interlaced branches would social landscapes.
cause him distress, the variety of forms and foliage Lastly, the photos of the savannah seemed appro-
set under the bright sky made him awestruck. The priate to us as the theme of this journal for yet another
permanent lack of decorum – in addition to the fleas reason. One of the peculiarities of this vegetation is
and mosquitoes – disturbed him immensely. From the that its seeds are capable of overcoming such harsh
records of Saint-Hilaire to the student’s photos, we conditions as wildfire, due to their resilience and speed
have a span of almost two hundred years that reveals with which they are renewed. In the difficult times we
different ways of looking at the Brazilian savannahs. face in the university, persistence and the ability of
The landscapes and spaces presented to us in these renewal remain essential qualities.
two moments are not objective realities devoid of
history, much less a datum of nature. They express
worldviews and imaginaries, which shape symbolic
and discursive creations. The editorial team
sumário
10 PESQUISA

12 ensaio 22 smart cities e a governança da


resiliência urbana maysa valença
14 inhotim ana carolina moreth 23 zemch natália brasil
16 habitação de interesse social e a atuação 24 arquitetura da aprendizagem paula maria
de arquitetos renomados andrea lucena ribeiro levi
18 um olhar para terceira idade ariadna jesus 25 potencial fotovoltaico renan davis
19 food truck e espaço público juliana cristina 26 viollet-le-duc e a reconstrução histórica
almeida do nascimento do interior da notre-dame de paris vivien
20 a arquitetura de abrigos para crianças e rodrigues destord
adolescentes mayara cristina alencar bet

28 NOVOS ARQUITETOS

30 diplô 51 de porto velho ao rio madeira edna da luz


52 memorial elo eduardo duarte
32 destaques 53 nova ceu erika passos
34 depois do aeroporto andré leal 54 autotekton frédéric homerin
36 espaço w anna angélica szczepasnki 55 park way, vias parque isabela martins
38 mercado regional de brazlândia camila 56 bsb hostel laissa narciso
harumi kakazu 57 skia lara fernandes
40 humanizando o canteiro de obras gabriela 58 lar de idosos vó catarina lara boretes
lamounier 59 kohl letícia melo
42 espaço público brasiliense sensível à água 60 parque ecológico canela de ema marcelo
hudson ribeiro ulisses pimenta
44 um bairro sustentável para a cidade do 61 mobilidade e brasília marina madsen
futuro joão gabriel michetti 62 traçado acústico millena montefusco
46 novo centro multifuncional em turim 63 habitação coletiva patrick martins
adriano felipe oliveira 64 reviva porto priscila gerardi
47 praças das artes no centro metropolitano 65 circuito cultural e de lazer raquel braz
do guará ana celeste de jesus 66 un po di borromini raquel ferraz
48 bloco colaborativo de beleza bruna trivelli 67 centro de acolhimento a refugiados em
49 conexão sociocultural camila cardoso brasília verônica rodrigues
50 albergaria urbana caroline albergaria
68 FAU PREMIADA

70 projeto para barca bertolla


72 anparq 2016

74 ENCONTROS

76 pé na estrada um pé em diversos
territórios: do familiar ao alheio
80 exposição diplô 1/2016
81 a experiência de transformação urbana
81 clima e repertório arquitetônico
82 cine fau a utopia e a distopia na cidade
modernista
83 conservação da arquitetura moderna
desafios e ações
83 ii ciclo políticas urbanas e regionais no
brasil
84 iv jornadas labeurbeanas
85 como construímos brasília uma conversa
com jayme zettel
86 a invenção do tropicalismo na baía de
guanabara
88 aula magna rosa kliass no cerrado

90 GALERIA

92 #rosakliassnocerrado

100 HOMENAGEM

102 cerrado
PES
QUI
SA
S empre que sou instado a escrever sobre o Ensaio
Teórico da FAU, a ideia recorrente é destacar a singu-
tanto, muito contribui o diálogo com orientadores,
membros da banca e colegas.
laridade desta disciplina e recobrar as grandes possi- Os dez Ensaios Teóricos que serão apresentados
bilidades de desdobramento futuro que ela enseja. a seguir foram selecionados a partir das indicações
O resultado exitoso dos Ensaios Teóricos realizadas pelas bancas. Agradeço o apoio funda-
demonstra que a disciplina se mantém como um mental dos professores Marcos Thadeu Magalhães,
momento especial na trajetória acadêmica dos alunos Pedro Paulo Palazzo, Elane Ribeiro Peixoto e Maria
da graduação, apesar da premência do cronograma, Fernanda Derntl, que compuseram comigo uma
mesmo com a concorrência de outras atividades e comissão ad hoc para esta seleção. Agradeço também
disciplinas. todos os professores que participam das bancas!
O historiador Eric Hobsbawm afirma que Em meio à diversidade de temas e assuntos
é mais fácil formular perguntas do que elaborar de que os Ensaios Teóricos tratam fica aberta a
respostas. Nesse sentido, ao estimular o enfrenta- possibilidade de compartilhar a formulação dessas
mento de assuntos variados que estejam inscritos perguntas e a construção de respostas, ora elabo-
nos amplos e diversificados domínios do campo da radas nestes Ensaios.
arquitetura e do urbanismo, o Ensaio Teórico deve
instigar e produzir impulsos para que os alunos
possam formular questões para explorar temas, Eduardo Rossetti
assuntos e questões, à procura de respostas. Para Coordenador de Ensaio Teórico
On every occasion in which I am called upon to The ten Theoretical Essays presented in the
write about the Theoretical Essay course at FAU, the following pages were selected among those recom-
recurring idea is to highlight the uniqueness of this mended by the examinators. I would like to thank the
discipline and reinstate the great possibilities for future key support from professors Marcos Thadeu Magalhães,
development that it entails. Pedro Paulo Palazzo, Elane Ribeiro Peixoto and Maria
The positive results from the Theoretical Essays Fernanda Derntl, who have taken part with me in an ad
is a sign that the discipline endures as a special time hoc selection committee. I extend the thanks to all the
in the undergraduate student’s academic life, despite professors who took part in the assessment of the essays!
the course’s tight schedule and the competing priorities Amidst the diversity of themes and subjects covered
from other activities and classes. by the Theoretical Essays, we provide the opportunity
Historian Eric Hobsbawm states that it is easier to share the formulation of questions and construction
to formulate questions than to devise solutions. In this of answers, drawn up in the following Essays.
regard, by motivating students to tackle the various
subjects inscribed in the field of architecture and
urbanism, the Theoretical Essay should inspire and
incite the formulation of questions to explore themes,
topics and questions in the search for answers. This
process is greatly enriched by discussions with advisors,
the examining committee and colleagues. Eduardo Rossetti - Theoretical Essay coordinator
arqui #6

inhotim
arte e arquitetura

Ana Carolina Macedo Moreth

Foto por Ana Carolina Macedo Moreth.

14 1/2016
The essay “Inhotim: Art and Architecture” explores the relationship between the architecture of museums and
gallery spaces with the artworks that they exhibit through the case study of Instituto Inhotim, located in Brumadinho,
Minas Gerais. The study of the Lygia Pape and Cosmococa galleries is the starting point to understand how an
artwork could be taken into account in the design of its container and how these relationships could be translated in
architectural design.

O cubo branco, proeminente na a relação existente entre o campo da escala, superfícies envolventes, luz, som
maior parte dos museus e galerias do arquitetura e o das artes visuais. Para e a obra em si. Esses são aspectos que,
mundo contemporâneo — segundo tanto, questiona-se como os pavilhões quando analisados, permitem buscar
Sonia Salcedo del Castillo, em seu do Instituto Inhotim atendem às dife- os princípios definidores do projeto,
livro Cenário da arquitetura e da arte: rentes demandas não só relacionadas mediante estratégias e táticas que os
montagens e espaços de exposições — às obras, mas também às experiências arquitetos utilizam dentro do processo.
foi promovido por arquitetos e museó- dos visitantes, e quais são as propostas Dessa forma, o estudo estrutu-
logos que o divulgaram como exemplo relativas ao espaço, à circulação, à ilumi- rou-se em duas etapas. A primeira desti-
de uma solução ambiental supostamente nação e à receptividade designadas a na-se a apresentar o Instituto Inhotim
neutra, a serviço da obra de arte, exclu- distintos públicos. como um todo. Na segunda, duas gale-
sivamente. Assim, esse espaço hermético Partindo dessa indagação, levan- rias foram escolhidas para uma análise
seria incapaz de interferir no que estava tam-se, ainda, algumas questões prelimi- mais detida. Trata-se da Galeria Lygia
sendo exposto. nares: como a arquitetura pode impactar Pape, projetada pelo escritório Rizoma
Diferentemente desse pensa- a percepção das obras de arte, enfati- Arquitetura, e da Galeria Cosmococa,
mento, e diante de um desenvolvimento zando impressões e valores? Ela teria um pavilhão desenvolvido pelos Arquitetos
museológico mais livre, Inhotim criou papel na preparação do visitante em sua Associados. A escolha justificou-se pelo
e permanece criando, em um mesmo fruição? No caso de ser essa uma diretriz fato de ambas possuírem instalações
espaço, uma série de pavilhões que de projeto, como poderia ser traduzida artísticas e por evidenciarem, de uma
possuem estreita relação com a obra em desenhos técnicos? Para responder maneira mais contundente, as diferentes
que expõem, conferindo, muitas vezes, a essas questões, propõe-se a análise experiências sensoriais que tanto a
efeitos sinestésicos a par de um equilí- dos pavilhões por meio das soluções de obra exposta quanto a arquitetura que
brio entre arte e arquitetura. projeto, ou seja, por meio da leitura do a envolve sugerem.
Em face de propostas tão diversas, espaço. Para tal, foram considerados
o incentivo para a pesquisa do Insti- alguns aspectos presentes no conceito
tuto parte de um interesse pessoal de ambiência, como memória, volume- Orientadora: Elane Ribeiro Peixoto
em conhecer, de forma aprofundada, tria, percurso, hierarquia dos espaços, Banca: Ana Zerbini e Sérgio Rizo

15
arqui #6

habitação de interesse
social e a atuação de
arquitetos renomados
três casos paulistas
The essay surveys social housing projects of renowned architects built between 2005 and 2012 in the city of São Paulo,
specially regarding the potential of the chosen case studies to increase in value. The study of these projects takes
Bourdieu’s idea of social space as a theoretical framework, regarding how social spaces shape physical space through
the division of people by means of symbolic and cultural capital. The essay seeks to identify these new models of
architecture, which are considered notable precedents to a new generation of architects and architecture students.

Andrea Lucena

A produção do habitar sempre temporal de 2005 a 2012, em São Paulo, tação social de pertencimento à classe
foi objeto de estudo do campo da período inicial dos novos programas média, refletiu no desejo de consumo
arquitetura, ainda que aos moldes do habitacionais da SEHAB. Tal escolha de bens culturais simbólicos típicos
mercado imobiliário, agente transfor- deveu-se à mudança de foco dos da elite, tal como a arquitetura. Se por
mador do espaço do solo em merca- programas padrões de conjuntos habi- um lado, o arquiteto, inserido no campo
doria. É possível conectar o mercado tacionais para a revitalização da cidade cultural, é responsável pelo processo
imobiliário com a teoria de Bourdieu informal e valorização do arquiteto como bilateral de exaltação do bom gosto,
de “espaço social reificado” ou “espaço agente transformador do espaço. Assim, sendo o produtor cultural, o cliente de
físico apropriado”, de forma que ele foram escolhidos três exemplares para o habitação de interesse social também
determina a organização hierárquica estudo: Residencial Alexandre Mackenzie se encara como um consumidor, atri-
do espaço físico por meio da quantidade (2008), dos arquitetos Alexandre Bolda- buindo um novo olhar àquele espaço.
e dos tipos de capitais possuídos pelos rini e Sérgio Faraulo, Parque Novo Santo É dessa forma que a participação de
agentes sociais. Com isso, o mercado Amaro (2009), de Vigliecca & Associados, arquitetos renomados faz com que esses
colabora na determinação da existência e Jardim Edite (2010), de MMBB e H+F. exemplares, denominados por Stevens
social do indivíduo e na formação de Nesses projetos, a perspectiva em O círculo privilegiado (2003) como
seu habitus, ou seja, o conjunto de suas adotada mostra, em vez da criação de “lar”, estejam lado a lado das “casas”,
disposições interiorizadas. novos guetos, a intervenção como nas ou “objets d’art”, nas publicações de
De fato, o arquiteto, sujeito atuante décadas anteriores, para a intervenção no arquitetura.
no campo do mercado imobiliário, pode local foco, mantendo assim os indivíduos Por fim, a abordagem deste ensaio
se inserir nele de várias maneiras, assim em seu próprio habitat. Em ambos os resumiu-se em vislumbrar a relação do
como na situação específica abordada casos, a hierarquização da sociedade é arquiteto com essa nova esfera social e
neste ensaio. Nesse caso, os arquitetos mantida, mascarada pelo “efeito de natu- ampliar a investigação da organização
que se destacaram primariamente por ralização”, o qual reproduz as diferenças espacial das moradias, do ponto de vista
uma atuação de certa forma elitista, para mediante as lógicas sociais, aludindo à antropológico, a fim de melhorar a quali-
o tipo de cliente unifamiliar, agora estão natureza das coisas, tal como uma fron- dade espacial do projeto de habitação
atuando no campo da habitação de inte- teira natural. No entanto, essa fronteira de interesse social e contribuir para a
resse social. nos casos atuais traz a sensação de valorização do habitante.
A partir do histórico das polí- vínculo das pessoas ao espaço, conferindo
ticas habitacionais de interesse social o peso ao seu “lugar de nascimento”.
no Brasil, o enfoque do trabalho foi Essa valorização do espaço Orientador: Eduardo Rossetti
pesquisar produções publicadas em informal com a intervenção de arqui- Banca: Cecília Gomes de Sá e
revistas de arquitetura no recorte tetos, considerando o cliente de habi- Ricardo Trevisan

16 1/2016
Parque Novo Santo Amaro,
foto por Leonardo Finotti .

17
arqui #6

um olhar para a
terceira idade
The essay presents a proposal for an ideal shelter for elderly people and analyses how it could positively affect the
well-being of those who are leaving their homes to live in a new place, distant from all that is familiar. It is divided into
three parts: a literature review about the changes associated with ageing, aimed at understanding the needs of the
elder, a survey of existing retirement homes and a sensitive pondering on these spaces, all interrelated in the proposal
for improving the daily life of the elderly.

Ariadna Jesus Lopes da Silva

Ao chegar à terceira idade, o ser novo lugar. Em um espaço que seja o universal acessível, abrange lições
humano se encontra em uma situação mais próximo de um ambiente domés- arquitetônicas de aspectos físicos
em que nunca se viu antes. Muitos tico e em que ele possa ter o máximo de que pretendem facilitar a vivência do
idosos perdem parte do seu poder de independência. E também um espaço idoso. Para tanto, parte do pressuposto
decisão e de certa forma de sua inde- capaz de oferecer atividades que o de que o corpo de cuidadores é quali-
pendência, precisando muitas vezes de façam sentir mais vivo e revigorado, ficado e presta um bom atendimento
cuidados de terceiros. proporcionando-lhe uma melhor quali- aos hóspedes.
Na maioria das ocasiões as famí- dade de vida. Além das questões físicas da
lias não podem cuidar de seu parente É importante olhar para os idosos disposição espacial, funcionalidade
idoso, seja por falta de tempo ou de com mais respeito, como pessoas que e acessibilidade, é importante que a
condição financeira, uma vez que bancar não apenas estão no final da vida, mas arquitetura proporcione espaços agra-
um cuidador particular é muito caro; que já viveram e deram muito de si e dáveis e estimulantes que vão além
ou o idoso não criou vínculos afetivos que merecem consideração e admiração. de simplesmente atender às normas e
durante a sua vida. Assim acabam Assim, ao olhar para um lar de idosos busque influenciar positivamente no
buscando uma alternativa fora de casa. deve-se fazê-lo de forma mais humana bem-estar dos idosos. Por conseguinte,
Quando esse idoso vai para um e notar que é um lugar que precisa valo- deve-se atentar para aspectos como
abrigo, além de conviver com pessoas rizar, acolher e ajudar os idosos, para revestimentos, aberturas para o meio
que ele nunca viu, depara-se com um que se sintam o mais em casa possível, externo, as visuais do espaço, locali-
lugar que não é dele, um lugar que não a fim de auxiliar na transição da sua zação no contexto urbano e dar a devida
é seu lar. E nessa idade a capacidade de casa para este novo lugar. importância para espaços voltados para
adaptação é muito baixa, o que faz com O ensaio faz uma reflexão sobre o lazer e atividades em geral.
que esse processo seja muito difícil. alguns lares de idosos e se traduz em
Por meio da Arquitetura, acredi- ideias a serem aplicadas em um projeto
ta-se ser possível ajudar a fazer com de um lar para a terceira idade. Assim, Orientadora: Maria Cecília Gabriele
que ele se sinta mais à vontade nesse além dos aspectos da arquitetura Banca: Camila Sant’Anna e Paola Ferrari

18 1/2016
food truck e espaço
público
Food trucks have become a nationwide trend in Brazil, impacting the local economy and the use of public spaces. The
research assesses the national legislation regarding these businesses, inquires about the origins of food trucks and
analyzes their peculiarities as a form of street food distribution in regards to public space, within a perspective of the
active use of the city’s free spaces. Through this analysis, the study points out policy gaps and proposes amendments
concerning this type of business.

Juliana Cristina Almeida do Nascimento

Considerado um dos modelos bilização nos horários das refeições, a não propiciando, assim, um custo-be-
mais promissores no âmbito de comida comida de rua compreende a opção mais nefício promissor.
de rua, os food trucks remontam aos viável para grande parte da população. Embora a prática de venda de
velhos tempos. O termo, assim como No segundo cenário se remete à comida na rua não seja recente, os
esse método de comercialização de intensificação de tais empreendimentos food trucks trazem peculiaridades que
alimentos, veio importado dos EUA. Lá pelas suas participações em feiras e não estão ainda plenamente contem-
ganhou forma com a crise econômica de eventos, sendo grandes atrativos para os pladas na legislação, o que torna atra-
2008, o que levou muitos restaurantes donos, por se tratar, em sua maioria, de tiva a necessidade de um estudo que
a fecharem as portas e alguns chefes de eventos com um grande fluxo de pessoas preconize a sua relação com o urbano,
cozinha a investirem na rua como local e, consequentemente, com um grande viabilizando uma visão geral da situ-
de preparação e venda de seus pratos retorno financeiro. Os food trucks esta- ação legislativa e suas implicações
de alta gastronomia e a baixo custo. cionam em um determinado local do no espaço público. Afirmação que se
O fenômeno se desdobra em três evento, criando um espaço de variedade confirma pelo fato de apenas oito, de
cenários distintos, sendo eles, respectiva- gastronômica, e grande parte da popu- trinta e três cidades analisadas, possu-
mente, o food truck como comida de rua, lação, na busca por lazer e vivacidade, írem uma legislação a respeito dos food
como apoio para eventos e atividades lota tais eventos, tornando-os espaços trucks. Ficou evidenciado na pesquisa
e como atrativo em si. No cenário mais de encontro. o reflexo de uma legislação nacional
comum, um food truck exerce a tradi- E como terceiro e último cenário, falha no que diz respeito aos food trucks
cional função de fornecedor de comida a grande demanda de um espaço para e sua inserção no tecido urbano, dado
de rua, não sendo um atrativo em si, tais empreendimentos fez surgir o seu grande papel de potencial urbano
mas sendo o público o grande atrativo. fenômeno chamado food trucks, que e revitalizador na cidade. Além disso, a
Isso vem como resposta ao modo de nada mais é do que um grande espaço ausência de sua organização pode gerar
vida urbano contemporâneo, carac- privado que abriga todo o mobiliário e as incômodos para a cidade, como ruídos,
terizado pela escassez de tempo para instalações necessárias para food trucks poluição visual e barreira de acesso.
preparo e consumo de alimentos, pelo efetuarem ali as suas vendas. Tem como
deslocamento das refeições de casa para forma de pagamento um aluguel mensal
alimentação fora desse ambiente, pelo ou diário, que por vezes é tomado pela Orientadora: Gabriela Tenorio
uso de alimentos prontos e diversificados grande especulação imobiliária local, Banca: Camila Sant’Anna e
para o consumo. Além disso, pela flexi- exigindo grandes valores de pagamento, Giuliana Freitas

19
arqui #6

a arquitetura de
abrigos para crianças
e adolescentes
em contexto de
vulnerabilidade social
um estudo do espaço arquitetônico e sua
relação com a condição psicológica e o
desenvolvimento dos usuários

Mayara Cristina Alencar Bet

O abrigo é uma medida prevista e adolescentes em situação de abrigo,


pelo Estatuto da Criança e do Adoles- de Simone Gueresi de Mello. Também
cente para casos onde haja ameaça ou estudou conceitos do desenvolvimento
violação dos seus direitos e é definido humano por meio da obra A ecologia do
como excepcional e provisório, prezando desenvolvimento, de Urie Bronfenbrenner,
sempre pela reintegração do indivíduo e como se configuram os ambientes em
na família. Em fevereiro de 2012 o Brasil que se desenvolvem e socializam as
tinha 37.240 crianças e adolescentes crianças e adolescentes em contexto
vivendo em abrigos no país. O período de vulnerabilidade. Nos estudos sobre o
de institucionalização se torna longo comportamento espacial baseados na obra
e, muitas vezes, permanente. Em 2003, Percepção ambiental e comportamento, de
segundo o Levantamento Nacional de Jun Okamoto, juntamente com o estudo
Abrigos para Crianças e Adolescentes, de caso realizado, verificou-se que a priva-
mais da metade das crianças e dos cidade e a territorialidade acabam sendo
adolescentes pesquisados na época vivia inibidas pelo grande número de indivíduos
em instituições há mais de dois anos. abrigados nas instituições, o que fere o
Com o intuito de investigar como os sentido de “lar”.
abrigos podem configurar um ambiente Enquanto as mudanças cultu-
o mais próximo do dito “familiar”, o rais, políticas e sociais não modificam
ensaio tomou como referência as publi- as estruturas e relações familiares, e
cações Abrigo ou lar?, de Aline Savi, e O consequentemente, como são tratadas
ambiente físico no qual vivem crianças as crianças e adolescentes, existirão

20 1/2016
The essay surveys the architectural space of shelters for vulnerable children and teens in order to understand the
relationship between the space, the state of mind and the psychological development of the building’s occupants.
The analysis is based on areas such as environmental perception and developmental ecology. It shows that shelters
can influence the lives of children in their process of growth and socialization, being decisive in the comprehensive
development of all their cognitive and emotional skills.

Foto por Mayara Cristina Alencar Bet.

abrigos para recebê-los. No entanto, os si só, não pode modificar o desenvolvi-


abrigos nunca substituirão os vínculos mento social de um indivíduo abrigado.
familiares, pois apesar de ser a única Contudo, pode favorecer a criação de um
e melhor (quando comparada com a espaço em que o afeto seja um elemento
um contexto de negligência, abuso e decisivo e imprescindível para que o ser
violência) alternativa para essas crianças humano se relacione com as pessoas e
e adolescentes, não representam a tota- os ambientes e possa se desenvolver de
lidade de afeto e carinho que teriam forma saudável, mesmo em um abrigo.
num ambiente familiar “comum”. A Portando, a arquitetura desses
arquitetura, nesse contexto, poderia ambientes tem a função de minimizar
proporcionar espaços mais adequados. ao máximo a distância física existente
Nessas condições, a criança e o adoles- entre o abrigado e a sociedade, gerada
cente poderiam ter uma relação de afeto pela falta dos vínculos familiares. Vale
saudável com seus irmãos, amigos, dizer, vínculos que são entendidos como
mãe-social, psicólogo, a família durante uma instituição intrínseca da vida em
as visitas de reintegração, a família sociedade. Dessa forma, é possível
durante as visitas de reconhecimento diminuir um possível preconceito que
para adoção, ou os voluntários em suas exista com a criança e o adolescente
visitas para distribuir carinho e afeto, e institucionalizado, além de promover
também seu próprio espaço individual o aconchego e o afeto, mais próximos Orientador: Augusto Cristiano Prata
de reflexão e meditação. de um ambiente familiar, no sentido de Banca: Cláudia Garcia e
Entende-se que a arquitetura, por se tornar um lar. Maria Cecília Gabriele

21
arqui #6

smart cities e a
governança da
resiliência urbana
The study investigates how smart cities could improve not only urban resilience but also governability. The concepts
for smart cities, urban resiliency and governability are initially drawn out and interrelated, in an effort to pinpoint the
convergence of these subjects. The study goes on to evaluate the use of new technologies and the promotion of
partnerships with large companies within urban planning. It shows how such technologies and partnerships could help
to support the development of better cities.

Maysa Gonçalves Valença

A tecnologia sempre determinou, dades sistêmicas – tem sido cada vez vimento da população. A resiliência
em algum aspecto, a forma das cidades, mais justificada pelas transformações deve existir em todas as instâncias da
seja no método de construção, seja que o mundo vem enfrentando, sejam governança, para poder então existir
na abertura de ruas mais largas para elas por razões climáticas ou por conta na cidade.
carros. Mas no século XXI ela tem inter- do rápido crescimento das populações Smart Cities e resiliência urbana
ferido de uma forma mais profunda; urbanas. Entretanto, a resiliência podem ter uma relação intrínseca
mudando a forma como as pessoas se depende de uma rede de estruturas quando ambas se associam na gover-
relacionam com as cidades. Ao usar funcionando de forma alinhada. Dessa nança da cidade, seja fortalecendo-a ou
dados e tecnologia de informação para forma, se ocorre uma falha, o sistema servindo como base para seu funciona-
contribuir ou apoiar o planejamento fica comprometido. A governança das mento adequado. Entretanto, apesar de
urbano, é possível dar voz aos habi- cidades é o maior provedor dessa rede, e se encontrar cidades resilientes que não
tantes mesmo não intencionalmente, só há resiliência se houver interesse da são Smart Cities, a maioria das Smart
pois é o vinculo, o movimento que cada governança em apoiar seu desenvolvi- Cities é resiliente. Uma cidade prepa-
pessoa faz, que será transformado nas mento. A governança pode ser concei- rada pode ser vista, de forma simplifi-
sequências computadorizadas usadas tuada como uma rede de comunicação cada, como uma cidade onde os serviços
pelos governos e instituições. A tecno- e organização entre agentes – gover- funcionam adequadamente, que está
logia pode ser uma ferramenta de demo- namentais ou não – que se articulam ciente de suas vulnerabilidades e que
cratização tanto quanto pode ser uma para que as pessoas e as organizações tenta se fortalecer perante elas. Nesse
ferramenta de segregação. Assim como dentro de sua área de atuação tenham caso, a população e o governo se comu-
ela também pode ajudar a solucionar uma conduta determinada, satisfaçam nicam, e a governança é equilibrada.
problemas de planejamento ou desenho suas necessidades e respondam às suas Todas essas características são buscadas
urbano. No entanto, não isoladamente demandas. Entende-se que gover- pelas Smart Cities com o uso de tecno-
e não com o uso extensivo. A utilização nança pode existir sem governo, mas o logias. Logo, em algum momento há
desse tipo de recurso deve compreender governo e a comunidade compreendem uma convergência.
uma governança adequada. papéis específicos que não podem ser
A busca pela resiliência urbana substituídos. Para se ter cidades prepa-
– definida como a capacidade de uma radas, é tão importante que a câmara Orientadora: Raquel Blumenschein
cidade de sofrer mudanças ou passar legislativa da cidade esteja envolvida, Banca: Benny Schvarsberg e
por problemas e manter suas capaci- quanto é tão importante se ter o envol- Monica Gondim

22 1/2016
zemch
construção em massa e sustentabilidade
Civil construction is one of industries that uses up the greatest amount of energy and natural resources. This pushes
the construction sector to constantly streamline its production processes. The idea of the Zero Energy Mass Custom
Homes (ZEMCH) originated in such a context, from the merging of energy efficiency with mass customization. The
study surveyed and compared case studies, allowing for the recognition of certain design parameters that contribute to
the assimilation of the ZEMCH ideas in industrialized collective housing.

Natália Brasil

A construção civil tem grande conhecidas por sua produção em massa em comum adotadas pelas empresas de
impacto ambiental. O setor é respon- de habitações customizadas e que modo a tornar a ocupação do edifício
sável por consumir quase metade da apresentavam também preocupações sustentável. As empresas se atentam
energia elétrica do país e por produzir relativas ao impacto ambiental de suas a fatores como ventilação, iluminação
metade das emissões de dióxido de casas, além de se observar o contexto (natural e artificial), produção de energia
carbono na atmosfera. Assinale-se da industrialização da construção em e isolamento térmico para redução do
que é o próprio consumo de energia cada país. consumo de energia e emissões de
que acarreta grande parte dessas emis- A customização em massa carbono, além de prever e facilitar a
sões. Tal impacto se dá, em maior peso, mostrou-se altamente vantajosa na manutenção de suas casas, visando à
nas etapas de produção e ocupação busca por sustentabilidade. A produção durabilidade.
do edifício. Isso torna necessário um de elementos construtivos em ambiente Além de se observar diretrizes
olhar atento ao projeto, que, para fabril oferece maior controle sobre pertinentes ao conceito de ZEMCH, foi
tornar-se sustentável, deve focar tanto questões de desempenho ambiental, possível também analisar brevemente a
em produção otimizada quanto em tais como consumo de energia e água, situação brasileira em relação à cons-
ocupação eficiente. e emissões de CO2. Nesse caso, produ- trução industrializada. Como foi possível
Nesse contexto, o conceito de Zero zem-se elementos modulares inter- ver ao longo do estudo, a industriali-
Energy Mass Custom Homes (ZEMCH) cambiáveis que, combinados entre si, zação está fortemente ligada à redução
surgiu na última década como a união formam maior número de variedades, do impacto ambiental de um edifício. A
entre fatores de customização em massa sendo possível assim atender às neces- predominância, no contexto brasileiro,
e eficiência energética visando menor sidades individuais dos consumidores de materiais convencionais e intenso
impacto ambiental na construção civil. sem perder as vantagens da produção uso da mão de obra é algo que deve ser
Para verificar diretrizes arquite- em economia de escala. Com exceção fortemente questionado.
tônicas e formas de produção incorpo- da empresa brasileira Tecverde, todas as
ráveis ao conceito de ZEMCH, foram empresas estudadas disponibilizavam
feitos estudos de casos em quatro catálogos de soluções para seus clientes. Orientadora: Vanda Zanoni
países – Japão, Estados Unidos, Suécia No que se refere ao projeto arqui- Banca: Júlio Eustáquio e
e Brasil. Foram estudadas seis empresas tetônico, foi possível observar diretrizes Oscar Luís Ferreira.

23
arqui #6

arquitetura da
aprendizagem
o ambiente escolar e a formação
da criança
Space plays an integral part in child growth, and the way it is organized can have the power to influence a child’s
development. It should be tailored to the child’s size and scale, and created with their needs and activities in mind.
The educational environment is the setting for a great portion of the child’s life and should be envisioned for these
occupants. This essay brings together information on pedagogy to analyze its relationship with architecture. Its purpose
is to enquire how the configuration of the school environment can influence the development of children.

Paula Maria Ribeiro Levi

Os espaços projetados para as de tomarem suas próprias decisões, de uma autoridade, mas sim um orien-
crianças devem ser elaborados de acordo forma a contribuir positivamente com o tador que tem a função de transmitir
com suas necessidades, faixa etária e mundo ao redor, e as arquiteturas dessas o conhecimento de forma dinâmica,
atividades ali desempenhadas. Eles escolas devem estimular isso. segura e criativa.
devem abrigar os recursos necessá- Apesar de haver maior variedade Existe a necessidade de “huma-
rios para o desenvolvimento de suas de atividades no atual sistema educa- nizar” o espaço interno e adaptar a
potencialidades e contribuindo para o cional brasileiro, existem muitas escolas proporção com a escala infantil, para
desenvolvimento físico, psicológico, que ainda prezam por configurações permitir a manipulação do mobiliário
intelectual e social. Com isso, devem espaciais tradicionais. Assim, ainda pelos usuários, enfatizando a necessi-
ser fundamentais para a sua formação são exigidas avaliações constantes dade de paisagismo, harmonia entre os
como seres humanos. dos sistemas de educação, o que muitas elementos construtivos, as cores e os
A escola, como um espaço desti- vezes limita os alunos nas suas poten- materiais. O contato com equipamentos
nado às crianças, deve respeitar esses cialidades. A maioria das arquiteturas variados no cotidiano deve ser estimu-
fatores de maneira prioritária. Isso das escolas brasileiras é reflexo disso, lado, a fim de preparar o aluno para o
porque, além de influenciar ativa- e suas organizações espaciais são feitas mercado de trabalho e para a vida.
mente no seu desenvolvimento pessoal, com a intenção de controlar os alunos Nesse sentido, tendo em vista as
representa o local com mais recorda- por meio da disciplina. A partir disso, elucidações aqui expostas a respeito da
ções da infância. Por isso, o ambiente entende-se que o atual sistema não interferência da configuração espacial
escolar deve ter um caráter pedagógico está preocupado prioritariamente com dos ambientes escolares na formação
e proporcionar o bem-estar, por meio da a formação holística do aluno, mas com de uma criança, conclui-se que o espaço
sensação de acolhimento e liberdade. a sua avaliação intelectual. não é neutro, ao con­trário, ele é capaz
As metodologias pedagógicas A educação deve ser baseada de influenciar na conduta infantil. Um
apresentadas apontam características na atenção ao desenvolvimento das lugar, dependendo como foi organizado
comuns de respeito primordial ao ritmo opiniões individuais, na harmonia das e projetado, pode ser estimulante ou
e limitações das crianças. Tendem a necessidades e habilidades e na preva- limitador do processo de ensino e apren-
formar ambientes propícios ao desen- lência de um espírito humanitário. A dizagem e da formação das crianças.
volvimento delas pelo estímulo à criati- criança deve ser educada para se tornar
vidade, autonomia, ao senso de respeito um ser humano completo que respeita
e de coletividade. As crianças devem ser o próximo e não para uma profissão Orientadora: Maria Cecília Gabrielle
seres com pensamentos críticos capazes específica. O professor não deve ser Banca: Camila Sant’Anna e Paola Ferrari

24 1/2016
potencial fotovoltaico
blocos residenciais do plano piloto
The study undertakes the assessment of the photovoltaic potential of the rooftops and facades of the residential
blocks in the superquadras of the Pilot Plan, envisioning the integration of photovoltaic systems in the existing power
grid. The identification of residential blocks of similar shape and solar orientation is the basis for the estimation of the
power generated and the measurement of the total impact of these micro generators in the net power consumption of
the Pilot Plan.

Renan Davis

Diariamente incide sobre a super- fachadas, até substituindo materiais gular mínima encontrada nas quadras
fície da terra mais energia vinda do sol convencionais da estrutura ou reves- 200, 100 e 300 das Asas Sul e Norte do
do que demanda o total de habitantes timento, ao mesmo tempo em que geram Plano Piloto, com dimensões de 12,5 m
do nosso planeta em todo um ano. A energia limpa e infinita. x 85 m, sendo 1.060 m2 de área total.
energia solar tem diversas aplicações, Brasília possui clima e localização A repetição de 884 blocos em
e uma delas é a geração direta de eletri- ideais para o uso de sistemas fotovol- situações similares possibilitou uma
cidade por intermédio do efeito foto- taicos. A arquitetura homogênea da estimativa da produção desse conjunto
voltaico (RÜTHER, 2004). cidade, especialmente da Asa Sul e de blocos residenciais: 163.048.496
Dentre os sistemas fotovoltaicos Asa Norte, possibilita uma estimativa kWh/ano.
existem duas configurações: o sistema de produção de energia que engloba Segundo dados do Anuário Esta-
fotovoltaico isolado e o conectado à o Plano Piloto como um todo. Desta- tístico de Energia Elétrica (EPE, 2013), o
rede elétrica. O isolado (ou autônomo) cam-se também o potencial e a quan- consumo energético médio Per Capita em
é dependente de um banco de baterias tidade de fachadas com boa orientação Brasília é de 218,5 kWh/mês. Com isso,
para armazenar a energia gerada nos para implementação de novas tecno- a produção de energia estimada seria
módulos e funciona independentemente logias fotovoltaicas, por intermédio capaz de suprir a demanda de 59.380
da rede elétrica. Já o sistema conectado do uso de materiais de revestimento e habitantes, representando uma popu-
à rede elétrica funciona como se fossem aplicação em vidros. lação próxima à de vinte superquadras.
geradores paralelos às grandes usinas O trabalho possibilitou uma esti- De acordo com a densidade populacional
geradoras de energia, dispensam acumu- mativa de produção de energia fotovol- das superquadras, este consumo repre-
ladores e compartilham energia dire- taica por sistemas localizados nas cober- sentaria cerca de 17% do total de 117
tamente com a rede (CRESESB, 2006). turas dos blocos residenciais do Plano superquadras do Plano Piloto.
Por meio da geração distribuída Piloto com até seis pavimentos, e seus Contudo seria possível ainda inte-
com sistemas fotovoltaicos conectados resultados demonstram possibilidade grar sistemas fotovoltaicos de outras
à rede elétrica, é possível enxergar uma de suprir parte da demanda energética maneiras, considerando também as
alternativa para a matriz energética de da cidade. O relatório desenvolvido no fachadas dos blocos residenciais, prin-
Brasília. Esse modelo de produção de portal http://tecnando.com/bipvde- cipalmente voltadas para Noroeste.
energia descentralizado faz o melhor sign (PORTOLAN, 2016) apontou uma
uso da energia produzida, evitando produção anual de 184.444,65 kWh para
perdas na transmissão de energia. um sistema de 569 módulos de silício Orientadora: Claudia Amorim
Trata-se de sistemas que podem ser policristalino, ocupando 80% da área Banca: Caio Frederico e Silva,
instalados nos telhados, coberturas e da cobertura da projeção mínima retan- Daniel Sant’Ana e Marta Bustos Romero

25
arqui #6

Foto por Vivien Rodrigues Pereira Destord.

26 1/2016
viollet-le-duc e a
reconstrução histórica
do interior da
notre-dame de paris
The essay explores the use of color in the interior spaces of the Notre-Dame de Paris cathedral and its relation to
the building’s history, investigating the reasons for its usage. The aim of the study is to relate the use of color to
the changes made in Viollet-le-Duc’s restoration, which began in 1844, and to the symbolism in Gothic art. In that
restoration, colors were used in the cathedral´s interior space based on a study of tones in gothic art.

Vivien Rodrigues Pereira Destord

A Notre-Dame é uma das catedrais era símbolo de morte e luto. estrutura e função, buscando a lógica
mais antigas em estilo gótico. Dedicada A religião nessa época possuía do conjunto arquitetônico.
a Maria, Mãe de Cristo, situa-se na Île um papel muito mais abrangente. E as Assim, por vezes, deixou seu
de La Cité, em Paris, França. Sua cons- cores tinham como objetivo explicar o conhecimento sobre a arquitetura criar
trução foi iniciada em 1163 e durou até mundo de uma forma que todos enten- cenários irreais, acabando por modificar
o século XIV. Sofreu alterações substan- dessem. Acreditava-se que o mundo era as edificações no estado encontrado
ciais nos séculos XVII e XVIII, durante composto por uma mistura dos quatro originalmente. Ele tentou se apro-
a Revolução Francesa e no século XIX. elementos básicos: a terra, representada ximar o máximo possível de seu ideal
Na época do início da cons- pelo preto; a água, pelo branco; o fogo, do “gótico clássico”, em que a catedral
trução da catedral, a Igreja represen- pelo vermelho; e o ar representado pelo se transforma em um espaço ritualís-
tava o centro da vida popular, onde as amarelo. Já no homem, os elementos tico e a luz e a cor são duas de várias
mudanças mais significativas na vida tomavam a forma de fluidos corporais: a formas de apelação ao fervor religioso.
do ser humano (como o batismo, casa- bílis, negra; a fleuma, branca; o sangue, Para ele, somente após a luz adquirir
mento e funerais) eram celebradas, e vermelho; e a bílis, amarela. cor é que há de fato significado em sua
essas eram representadas pelas cores. No estilo gótico, a cor era utili- presença na Notre-Dame, no sentido de
O branco simbolizava o Natal, a zada como estímulo emotivo e comple- se tornar uma forma de comunicação
pureza, espiritualidade e vitória, sendo mento estético. A decoração exterior era com o Divino. Utiliza-se dos vitrais
associado à vitória de Cristo sobre a realista, com a cor se manifestando em para a manifestação do misticismo e
morte e o mal. O ouro representava colunas e ornamentos; nas fachadas, da pintura de afrescos nas paredes para a
a Páscoa e o caráter ultraterreno dos os vermelhos, laranjas, verdes e ocres sensação mais intimista. As cores usadas
sucessos sagrados. O vermelho simboli- amarelados são intensos; e o branco e são baseadas em um estudo dos matizes
zava o martírio de Jesus e de seu sangue. o preto, puros. No interior, predomi- utilizados na arte gótica: o vermelho
O verde era símbolo da esperança, da navam os tons neutros da pedra, que representa o homem, o amarelo o sol,
provisão de Deus para satisfazer as contrastavam com a policromia dos o púrpura a terra, o azul a verdade e o
necessidades humanas. A púrpura, vitrais iluminados. verde a Natureza. O azul pontilhado de
nas semanas da Paixão, representava As intervenções na catedral, estrelas pintado nas abóbadas era usado
a penitência do pescador e os sofri- em 1842, geraram um concurso para para representar o cosmos.
mentos de Cristo. Era usada em missas sua restauração. O projeto iniciou em
em memória aos mortos e considerada a 1844, e o ganhador foi Viollet-le-Duc, Orientador: Sérgio Rizo
cor mais sagrada desde tempos antigos. que possuía uma teoria de um sistema Banca: Cláudia Garcia e
O rosa simbolizava a alegria e o negro “ideal” entre os elementos da forma, Maria Cecília Gabriele

27
NOVOS
ARQUI
TETOS
diplô

É com imensa satisfação que apresentamos nesta


edição da revista ARQUI os Trabalhos de Conclusão
cimento para resolução de problemas; e há também
os que são desenvolvidos a partir do entendimento
de Curso do primeiro semestre de 2016. dos novos arranjos e demandas socioeconômicas que
Os projetos que vocês terão a oportunidade se apresentam. Enfim, acreditamos que os trabalhos
de conhecer nas próximas páginas representam o apresentados lhes garantirão momentos agradáveis
material desenvolvido no decorrer dos últimos anos de reflexão sobre papel do arquiteto urbanista na
na FAU/UnB. São trabalhos que refletem o papel do atualidade. Aproveitem!
profissional de Arquitetura no mundo do século No fim do primeiro semestre de 2016, a abertura
XXI: elaborar soluções espaciais de diversas ordens da exposição desses trabalhos contou com a palestra
e escalas que respondam às demandas da sociedade, do mineiro Gustavo Penna, arquiteto com importante
que reforcem o papel primordial do espaço público carreira nacional, líder de uma equipe de mais de trinta
na constituição da cidade e do homem coletivo, aten- profissionais que pensa, desenha e constrói com a
tando para os problemas socioambientais, mas sem certeza de que a arquitetura é um elemento definidor
jamais se descuidar das questões de funcionalidade, da identidade do país. Nessa ocasião ocorreu também
conforto ambiental, estética e historicidade. o lançamento da quinta edição da revista ARQUI, e a
É parte do trabalho do arquiteto a integração premiação, por meio de certificados do IAB/DF, dos
de diferentes conhecimentos na proposição de solu- graduandos que tiveram seus projetos selecionados
ções espaciais para a nossa sociedade. Para tanto, o como destaques do semestre anterior, uma forma de
profissional graduado na FAU/UnB incorpora em sua reconhecimento à excelência de seus trabalhos.
atividade projetual questões para discussão como Nesta oportunidade reforçamos nosso agrade-
sustentabilidade, colaboração, multifuncionalidade, cimento ao arquiteto Gustavo Penna pela linda aula
reaproveitamento e participação. apresentada e pela generosidade em compartilhar
São 28 trabalhos apresentados. Destes, seis a experiência adquirida em seus mais de quarenta
recebem mais espaço nesta edição, por terem sido anos de atuação. Estendemos nosso agradecimento ao
considerados trabalhos de destaque desenvolvidos ao arquiteto Matheus Secco, representante do IAB-DF,
longo dos dois últimos semestres acadêmicos. Alguns pelo apoio à comunidade acadêmica. Por fim, agrade-
projetos focam na requalificação de áreas urbanas cemos a dedicação e empenho de sempre de profes-
com o compromisso na melhoria de desempenho sores, alunos e técnico-administrativos.
socioeconômico e ambiental; outros em intervenções
patrimoniais habilidosas que garantem a preservação
de marcos culturais significativos e o atendimento das
necessidades sociais atuais; há ainda os que focam na Giselle Chalub Martins
tecnologia como importante plataforma de conhe- Coordenadora de Diplomação
We are delighted to present the final projects of that the following projects may inspire invigorating
the first semester of 2016 in this edition of the ARQUI thoughts on the current role of the architect and urban
jornal. The projects you will be introduced to in the planner. Enjoy!
following pages are illustrative of the work developed The opening of the exhibition of the student
throughout the recent years at FAU-UnB. They are projects had Gustavo Penna, an architect from Minas
proposals which represent the diverse roles architects Gerais, as guest speaker. Gustavo leads a nationally
play in the world of the 21st century: to generate spatial acclaimed practice with over thirty professionals who are
solutions of various types and scales that answer to the devoted to thinking, drawing and overseeing construc-
needs of society and strengthen the crucial role of public tion. They share a view of architecture as a key element
space in the formation of cities and in the development in shaping a country’s identity. This event was also
of the collective person, all the while being sensitive marked by the launch of the 4th edition of the ARQUI
to social and environmental issues, but without over- journal and a ceremony that handed out certificates
looking matters of functionality, environmental quality, emitted by the IAB/DF [Architects’ Institute of Brazil
aesthetics, and historicity. A part of the architect’s job / Federal District] to the students whose projects from
consists in integrating different fields of knowledge in the the previous semester were considered outstanding, a
design of adequate spatial solutions for our society. The sign of recognition for their excellent work.
architects who graduate from FAU-UnB are therefore We take this opportunity to thank architect
engaged in the discussion of issues such as sustain- Gustavo Penna for his inspiring lecture and his gener-
ability, collaboration, multifunctionality, reuse and osity in sharing his experience of over forty years of
participation in their design practices. practice. We also acknowledge the support given to the
Twenty student projects are presented here. academic community by architect Matheus Secco, as a
Amongst them, six projects, considered outstanding representative of IAB/DF. In conclusion, we would like to
proposals developed throughout the last two academic thank the relentless dedication and effort of professors,
terms, have received more coverage in this issue. Some students and staff.
of the projects focus on urban regeneration committed
to the improvement of socioeconomic and environmental
performance, others on skillful interventions in built
heritage that ensure the preservation of significant
landmarks while allowing them to cater to the needs
of today’s society. There are also those that use tech-
nological knowledge as a base to problem solving, and
other projects that survey and react to new socioeco- Giselle Chalub Martins
nomic structures and necessities. Ultimately, we believe Graduation Project Coordinator
arqui #6

destaques

depois do aeroporto
Aluno: André Leal Santos /// Orientação: Mônica Gondim

A construção de um novo aeroporto para Teresina no futuro lança um ques-


tionamento que os planos não respondem: o que será feito com o atual terreno,
localizado no meio da cidade? A proposta de urbanizar o terreno sob uma abordagem
menos insustentável mostra que, mais que acrescentar uma nova área ao tecido
urbano, é possível modificar a cidade em uma escala metropolitana, reorganizando
fluxos, modos de transporte, além de permitir a criação de um estoque de habitação
de baixo custo e um novo polo urbano.

espaço w
Aluna: Anna Angélica Szczepasnki Bento /// Orientação: Bruno Capanema

O objeto do trabalho é um projeto arquitetônico de um hostel e coworking


para Brasília. Com o intuito de atender turistas que buscam hospedagem de baixo
custo na cidade, criou-se um estabelecimento hoteleiro em que a integração foi
transposta para os ambientes e espaços criados. Além disso, a proposta contém
um escritório compartilhado por profissionais independentes uns dos outros
(ou não) que, assim como no hostel, dividem custos básicos de infraestrutura e
ampliam seu networking devido ao uso dos mesmos espaços físicos.

mercado regional de brazlândia


Aluna: Camila Harumi Azevedo Kakazu /// Orientação: Cláudia Garcia

O caráter informal e espontâneo dos mercados configura pontos de atividades


para além da compra e da venda. O espírito de vivência neles criado muitas vezes
acaba por agregar uma nova dimensão ao espaço público: este se transforma
em área de eventos, lazer e encontros, tornando-se, assim, parte do cotidiano
da cidade. Diante da cultura dos grandes mercados, foi proposto um projeto de
uma nova estrutura em Brazlândia, em escalas arquitetônica e urbana, buscando
incentivar uma ocupação ativa, diversificada e multifuncional.

32 1/2016
humanizando o canteiro de obras
Aluna: Gabriela Lamounier /// Orientação: Raquel Blumenschein

O canteiro de obras participa do processo de produção da indústria da


construção civil, demandando recursos humanos, ecológicos e financeiros. Por
ser constituído por instalações provisórias, muitas vezes ele é tratado com preca-
riedade, entretanto é um espaço no qual as pessoas despendem significativo
tempo de suas jornadas de trabalho, por isso a necessidade de planejar e projetar
um ambiente que atenda às demandas desses usuários e à destinação a que se
propõe: um espaço produtivo com desempenho ambiental e social.

espaço público brasiliense sensível à água


Aluno: Hudson Ribeiro Fernandes /// Orientação: Camila Sant’Anna

Os espaços livres sensíveis á água são áreas do meio urbano, como por exemplo,
estacionamentos, praças, e até mesmo as vias, onde são empregadas soluções de
micro drenagem. Essas soluções atuam no gerenciamento e controle do escoamento
das águas residuais urbanas e são pensadas simultaneamente ao desenho urbano.
Esses espaços foram concebidos de forma a compor um sistema onde os espaços
livres estão interligados pelas infraestruturas da cidade criando áreas com valor
estético, paisagístico e de lazer, favorecendo assim a apropriação dos usuários.

um bairro sustentável para a cidade do futuro


Aluno: João Gabriel Michetti Ferreira /// Orientação: Giselle Chalub

O plano de adensamento para o Park Way se trata da remodelação de


uma grande área suburbana, que constitui um bairro periférico da cidade de
Brasília. O extenso bairro seria convertido em um pequeno centro comercial cujo
ordenamento aconteceria em torno da preservação das áreas ambientalmente
sensíveis de seu território; da reestruturação completa de seu sistema viário e
de um robusto processo de adensamento que estabeleceria diferentes formas
de uso e ocupação do seu território.

33
arqui #6

depois do
aeroporto
replanejando teresina após a desativação
do sítio aeroportuário
Future plans for the construction of a new airport in Teresina raise a question: what are the prospects for the site of the
existing airport, located inside the city? This urban design proposal, which was developed with sustainability as a key
concern, make plans for the development of the city on a metropolitan scale, where in addition to the densification of
the inner city, it structures traffic flows and transportation modes and allows for the designation of new areas for social
housing and the definition of a new urban centrality.

André Leal Santos

O aeroporto de Teresina é um equilibrada às demandas mais estraté- O zoneamento adotado no terreno


equipamento urbano de grande impacto gicas para o desenvolvimento da cidade. priorizou a habitação de baixo custo,
para a cidade. A localização central, a O projeto de urbanização do aeroporto com um total de cerca de 4 mil unidades
quatro quilômetros do centro de uma consiste em uma versão preliminar do em lotes com densidade fundiária de
região metropolitana com mais de 1,2 desenho viário e conexões, elaborado 1.010 hab/ha. O terreno é permeado
milhão de habitantes, e o crescimento de em congruência com o replanejamento por parques lineares que compõem
quase dez vezes na movimentação anual viário da área de influência da ocupação, um sistema de áreas verdes mais difuso
de passageiros nos últimos 25 anos, além além de um zoneamento para o terreno. na malha urbana; esses parques são
das restrições de gabarito no entorno Das propostas de traçado viário marcados visualmente por edifícios
são alguns dos motivos que levam os elaboradas, a simples extensão dos arru- em altura voltados para eles. Também
planos a serem enfáticos na necessidade amentos do entorno, replicando a lógica foram criados dois polos institucionais:
de se construir um novo aeroporto fora cartesiana do traçado viário da cidade, um novo campus para a UESPI, mais
da zona urbana. No entanto, é indefi- foi a opção que conferiu mais orienta- integrado à rede de transporte público,
nida a destinação deste terreno de 130 bilidade e atendimento aos principais o que permite que o campus atual seja
hectares, cuja ocupação fornece várias fluxos dos corredores de transportes usado para ampliar a estação de trata-
alternativas que podem alterar signifi- públicos, pois permitiu uma reorga- mento de esgoto adjacente; e um centro
cativamente a zona urbana de Teresina, nização dos fluxos em binários, que administrativo unificado da prefeitura
impactando em termos de densidade, simplificam os cruzamentos e permitem e do estado, agregando o edifício do
fluxos de tráfego e na infraestrutura a inserção de faixas preferenciais de aeroporto em sua estrutura, e utilizando
urbana de um modo geral. ônibus e ciclofaixas onde antes não era o estacionamento do aeroporto como
Este trabalho propõe que, após possível. Todas as novas vias criadas no praça cívica, que concentraria a maior
a construção de um novo aeroporto, terreno possuem calçadas mais largas movimentação de usuários do trans-
o atual aeroporto seja usado para para inserção de ciclofaixas bidirecionais porte público.
expansão urbana interna, buscando-se e canteiros para arborização, em ambos
articular a estrutura viária adjacente os lados. Como resultado, obteve-se na
ao sítio. Para tanto, são delimitados área de projeto um aumento de 5,4 km Orientadora: Mônica Gondim
espaços públicos e loteamentos de para 77 km de vias com faixas preferen- Banca: Benny Schvarsberg,
forma a preencher integralmente a área, ciais de ônibus, e de 7 km para 63 km Camila Sant’Anna, Gabriela Tenorio e
destinando usos que atendam de forma de vias com ciclofaixas. Giuliana Sousa

34 1/2016
Imagens fornecidas pelo autor.

35
arqui #6

espaço w
hostel e coworking em brasília
Espaço W hostel aims at catering to the needs of tourists who seek cheaper accommodation in the city, and is
designed with the integration of spaces in mind. The building also houses a shared office space for independent self-
employed people or group ventures, where, similar to the hostel, basic expenses for infrastructure are split among
users, whilst creating networking opportunities through the sharing of spaces.

Anna Angélica Szczepasnki Bento

36 1/2016
Imagem fornecida pela autora.

Os temas eleitos mostram-se pertinentes diante do crescimento do setor


turístico e empresarial no país. Com isso, destacou-se como um investimento
promissor a criação de um hostel e coworking, categorias ainda pouco exploradas
em Brasília. A localização escolhida para implantação é a avenida W3 Norte, a
fim de abordar duas temáticas relevantes — o objeto e sua localização — durante
o desenvolvimento do projeto para esta disciplina.
A intenção de produzir uma arquitetura que valorize o pedestre levou à
conformação das fachadas dos edifícios na divisa do lote. Dessa maneira, a caixa
viária não se rompe e dá sensação de continuidade para o caminhante. O Espaço
W conta com três estabelecimentos: o Hostel W, voltado para a avenida W2
Norte; o CoWork., com acesso pela avenida W3 Norte; e o Café W, cujo acesso
se dá pela praça pública elevada, que conecta as três edificações, pensada para
convidar os habitantes a ocuparem a praça, que recebeu cobertura e mobiliário.
A conexão também se estabelece internamente entre o hostel e o coworking,
por meio de um corredor de acesso à sala de jogos, de uso comum aos usuários
dos dois prédios. Em conformidade a um estilo de vida e trabalho baseados na
sustentabilidade, compartilhar espaços é uma boa alternativa e ainda garante
economia para os usuários.
A cor amarela foi utilizada em determinados blocos para dar vida ao espaço
e ao mesmo tempo servir como marco visual urbano associado ao edifício. Ela
aparece nas marquises de acesso ao hostel e ao coworking, no prédio do café e na
caixa de escada de emergência. Elementos de proteção solar foram adicionados
e incorporados aos volumes para proporcionar conforto ambiental.
O edifício é sustentado por estrutura metálica, que permite vãos livres
consideráveis. Dessa maneira, é possível que os espaços sejam mais flexíveis,
característica interessante para os espaços de trabalho no coworking, que são
mutáveis e podem se adaptar ao interesse do usuário. Além disso, visando à Orientador: Bruno Capanema
viabilidade econômica do estabelecimento em sua localização de elevado custo Banca: Cláudia Garcia, Igor Campos e
comercial na cidade, essa flexibilidade aumenta as possibilidades de ampliação Ricardo Meira
e/ou troca de função do espaço. Convidada: Wanda Meyer

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arqui #6

Imagens fornecidas pela autora.

mercado
regional de
brazlândia
The spontaneous and informal quality of markets signals the presence of activities that go beyond simply buying and
selling. The interactions they engender give a new dimension to public space, transforming it into a place for events,
leisure and social interactions, thus making it more present in daily life. The proposal for the Regional Market in
Brazlândia draws from the cultural qualities of the great markets, operating at the scale of the building and the urban to
promote an active, diverse and multifunctional occupation of space.

Camila Harumi Azevedo Kakazu

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Os mercados públicos tendem a configurar espaços que enriquecem a comu-
nidade. Geram um link entre economia rural e urbana, oferecem oportunidades
de empregos e negócios e promovem a saúde pública.
A escolha do lugar foi pensada sob diferentes aspectos. Além de trabalhar
um espaço fora do Plano Piloto, voltando os olhares para os valores locais de uma
área periférica, Brazlândia também é um importante centro de agronegócios,
sendo a maior fornecedora dos produtos hortifrutigranjeiros con­sumidos no DF.
Nesse contexto, elaborou-se também uma proposta de intervenção urbana,
buscando criar espaços públicos coerentes com o local e conectados entre si,
fortalecendo o fluxo de pedestres. Assim, foram definidos dois eixos para o
projeto: um, paralelo ao Veredinha, cobrindo parte do perímetro da orla; e outro,
perpendicular, conectando o lago, o mercado e a igreja.
No eixo de conexão, por ser uma área bem-consolidada, foi elaborada uma
proposta de intervenção em duas etapas. A primeira, de menor impacto, trazendo
mais vida para os muros que seguem ao longo da via, acrescentando pequenos
quiosques, paisagismo e utilizando os trechos murados para arte urbana. A segunda
ocorreria conforme o retorno dos usuários do espaço, em que se trabalhariam
as disposições e usos dos lotes.
No eixo da orla, a via passa a ser pedestrianizada, reforçando a relação
dos visitantes com o lago. São propostos equipamentos urbanos variados, como
playground, bicas de águas, aluguel de artigos desportivos e quiosques. Soma-se
a isso o desenho paisagístico, que envolve desde o mobiliário urbano até o uso
da arborização como elementos estéticos e funcionais.
A estrutura da cobertura foi inspirada no sistema construtivo do arquiteto
japonês Shigeru Ban, que utiliza uma trama de vigas em madeira laminada colada
associada com membranas tensionadas, para vencer grandes vãos de maneira
fluida e criativa, permitindo a flexibilidade da planta. Orientadora: Cláudia Garcia
Por fim, o projeto do Mercado Regional de Brazlândia visa, além do espaço Banca: Carlos Luna, Elane Peixoto e
de troca, a uma experiência que atenda aos seus usuários com conforto e beleza, Paola Martins
fortalecendo a identidade local e o senso de pertencimento da comunidade. Convidado: Paulo Coelho

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arqui #6

Imagens fornecidas pela autora.

40 1/2016
humanizando
o canteiro
de obras
Due to their ephemeral quality, construction sites are often precarious spaces, yet it is in these places that many people
spend a large part of their workdays. This calls for the need for planning and designing environments that respond
to the demands of these occupants and to the end purpose of these spaces: to be productive areas that meet high
standards of environmental and social performance.

Gabriela Lamounier

Pensando em um ciclo de vida do composta pela infraestrutura, a segunda espaços de permanência, respeitando as
edifício, o canteiro de obras participa pela estrutura e obra bruta e a terceira preexistências e agregando a vegetação
do processo de produção da indús- por obra fina, acabamentos e desmo- original à implantação dos edifícios.
tria da construção civil, demandando bilização. Um fator considerado foi a A programação visual dos edifícios
recursos humanos, ecológicos e finan- estimativa de usuários que ocupariam foi pensada com o intuito de dinamizar
ceiros. Dentro de um mercado altamente o espaço, que variam de acordo com o esteticamente o espaço e orientar os
competitivo, o planejamento dessa sistema construtivo e as etapas. usuários durante seu percurso estabe-
etapa precisa ser realizado buscando O programa de necessidades lecido dentro do canteiro, propiciando
produtividade, eficiência, qualidade e abarca as instalações provisórias de maior fluidez, segurança e integração.
sustentabilidade. Por ser constituído por administração, apoio e vivência, bem Pensando na perspectiva da
instalações provisórias, muitas vezes o como as instalações relativas à produção sustentabilidade, uma alternativa apre-
canteiro é tratado com precariedade. do edifício, as quais sofrem modificações sentada para autonomia do canteiro foi
Entretanto, trata-se de um espaço no ao longo da obra de acordo com a fase a produção de energia fotovoltaica em
qual as pessoas despendem significa- em que se encontram. cobertura adaptável para o encapsu-
tivo tempo de suas jornadas de trabalho. Baseado nos conceitos de flexi- lamento e acoplamento no transporte
Daí a necessidade de planejar e projetar bilidade, fluidez, integração, susten- dos módulos.
um ambiente que atenda às demandas tabilidade, estética e racionalização, o O projeto procurou trazer a
desses usuários e à destinação a que sistema construtivo foi definido pela temática como reflexão tanto para a
se propõe: um espaço produtivo com utilização de contêineres adaptados, indústria da construção civil como para
desempenho ambiental e social. que se padronizados aos módulos de a Arquitetura, na medida em que os
O projeto consistiu na elaboração transporte podem ser realocados em espaços efêmeros tenham relevância
de um canteiro de obra para um edifício obras posteriores. e possam propiciar aos usuários quali-
no Setor de Autarquias Norte de Brasília, A proposta constou do zonea- dade ambiental.
o Conselho Nacional do Comércio – CNC mento e fluxograma das três fases defi-
–, uma construção em concreto armado nidas, assim como também da evolução
e lajes protendidas, tendo quatro torres de quatros edificações: Administração, Orientador: Raquel Blumenschein
e quatro pavimentos de subsolo. Para Vestiários, Refeitório e Área de Vivência. Banca: Cláudia Amorim, Oscar Ferreira
melhor definição do estudo, foram esta- Cada instalação procurou atender às e Vanda Zanoni
belecidas três fases de obra. A primeira normas estabelecidas e aprimorar os Convidado: Raffael Innecco

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arqui #6

espaço público
brasiliense
sensível à água
Urban areas such as parking lots, gardens, squares, parks and even streets, can become water sensitive free
spaces with the adoption of sustainable urban drainage systems and principles of low-impact development in their
design. This project applies these design principles to interventions on an area of the North Wing of the Pilot Plan
which is susceptible to floods, addressing the management of its stormwater runoff. Its goal is to reproduce the
natural hydrological regimens prior to the urbanization of the area by allowing the detention, infiltration, evaporation,
and reduction of surface water runoff. These areas are thought out as a system of free spaces interconnected by
the city’s infrastructures, resulting in areas valued for their beauty, landscape qualities and leisure possibilities,
enlivening the public realm.

Hudson Ribeiro Fernandes

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Imagens fornecidas pelo autor.

A área de estudo do projeto se localiza na Asa Norte. Trata-se de um bairro


da zona central de Brasília, dentro da área tombada pela UNESCO. A Asa Norte
possui um sistema de drenagem convencional característico da década de 1960,
época em que Brasília foi projetada. É o bairro do Plano Piloto com o maior
número de pontos críticos de alagamentos. A área de intervenção engloba a
faixa que começa na W3 Norte e vai até a L2 Norte, nas quadras 9 e 10. É ponto
crítico com o maior número de registro de alagamentos.
O projeto utiliza soluções de drenagem de baixo impacto em conjunto com
o sistema de drenagem convencional, buscando reter e favorecer a infiltração
da água no solo. Estas soluções de drenagem compõem um sistema de espaços
livres urbanos, integrando a infraestrutura de drenagem às áreas de lazer e
convivência, agregando valor estético e paisagístico ao local.
O projeto prevê a remodelagem da infraestrutura viária das vias W3 Norte,
Eixos W e L e L2 Norte. Na área da W3 Norte foram utilizados jardins de chuva
para auxiliar no gerenciamento dos escoamentos. Os jardins de chuva estão
localizados no canteiro central em conjunto com a ciclovia. A ciclovia percorre
toda a dimensão da via, e assim como o percurso arborizado, conecta-se com as
áreas propostas pelo sistema e cria acessos para todas elas.
Para a área dos Eixos L e W Norte e L2 Norte, foram utilizadas trincheiras
de infiltração para auxiliar no gerenciamento dos escoamentos. As trincheiras
de infiltração estão localizadas no canteiro central. Esta foi a solução escolhida
para o local por conta da dimensão reduzida dos canteiros centrais, o que impos-
sibilitaria a implantação de jardins de chuva. Assim como na W3 Norte, foi criada
uma ciclovia que percorre toda a dimensão da via, e do mesmo modo como o
percurso arborizado, se conecta e cria acessos para todas as áreas propostas
pelo sistema. Foi prevista também a criação de áreas de permanência para os
pedestres nas áreas próximas aos blocos residenciais e pontos de ônibus.
A praça alagável se localiza na quadra 109 Norte, próxima ao Eixo W Norte.
No local existe uma quadra de esportes situada no meio de um campo gramado,
sem nenhum tipo de tratamento urbanístico ou paisagístico e sem conexão
com o entorno. O Projeto propõe, portanto, a criação de uma praça que crie um
espaço com valor estético, paisagístico e de lazer que tenha os elementos urbanos Orientadora: Camila Sant’Anna
necessários para que a população se aproprie do espaço. A praça recebe também Banca: Daniel Sant’Anna, Liza Andrade e
três áreas de lazer e permanência alagáveis. Esses espaços funcionam como Maria do Carmo Bezerra
bacias de detenção nos períodos de chuva e áreas de lazer nos períodos de seca. Convidada: Patricia Melasso

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arqui #6

um bairro
sustentável
para a cidade
do futuro
The densification plan for Park Way addresses the redevelopment of a large suburban area in the outskirts of Brasília.
The project proposes the conversion of the neighborhood into a small commercial centrality, with a design based on
the preservation of environmentally sensitive areas inside it, the complete redesign of the street layout and an intense
densification of occupation, establishing a new and varied land-use plan.

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Imagem fornecida pelo autor.

João Gabriel Michetti Ferreira

Brasília foi concebida na metade extremamente complexo e dinâmico. ticas a que o urbanismo do século XXI
do século XX para ser o símbolo de Bairros se alastraram pelo território e deve aspirar.
uma nova era. As novidades estavam desenvolveram características próprias. Essa remodelação é embasada em
presentes nas avançadas técnicas de O Park Way é um desses bairros, e três diretrizes principais: desenvolver
construção utilizadas e também na se sobressai entre seus pares em virtude o caráter ecológico do bairro, acentu-
própria jornada em que se constituía o de sua grande extensão territorial, o que ando a proteção de áreas ambientais
abandono da antiga capital, uma cidade acaba por contribuir com a concen- existentes e explorando suas particu-
histórica e consolidada, em busca de tração, e até mesmo com o reforço de laridades; transformar o sistema viário,
uma alternativa capaz de inaugurar uma muitos dos problemas, de ordem de com a reestruturação de vias existentes
nova era. À época de sua criação, Brasília planejamento urbano. Mais do que isso, e a criação de vias novas, aumentando
deveria ser uma representante do futuro por se tratar de um bairro tipicamente a conectividade de todo território;
e, mais do que isso, um exemplo a ser suburbano – com grandes residências adensar o bairro, estabelecendo uma
seguido pelas demais cidades brasileiras. implantadas em amplos terrenos de uso ocupação urbana em forma de tran-
A capital aos poucos se distan- unifamiliar, espraiados em um vasto secto. Com a transformação efetivada,
ciou da utopia modernista vislumbrada território com infraestrutura limitada o bairro deixaria sua densidade bruta
e, enquanto se desenvolvia, os para- e praticamente nenhum suporte para atual de 3 hab/ha e alcançaria os 200
digmas urbanísticos sob os quais foi modais de transporte coletivo –, o Park hab/ha, com uma até 1.000 hab/ha nas
projetada também se transformavam. Way, em sua atual configuração urbana, áreas centrais e ao menos 100 hab/ha
Os problemas enfrentados cinco décadas encarna o símbolo de uma época que nas áreas periféricas.
atrás se transformaram, e os modelos já passou.
encontrados na época para resolvê-los A remodelação do Park Way é
mostraram-se ineficazes e em alguns lançada com uma carga simbólica Orientadora: Giselle Chalub
casos até mesmo nocivos. Brasília que constitui a transformação de um Banca: André Cobbe, Gabriela Tenorio
também mudou. Seu plano piloto subúrbio rodoviarista em um pequeno e Mônica Gondim
tornou-se apenas parte de um todo centro urbano com todas as caracterís- Convidada: Tatiana Chaer

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arqui #6

Imagens fornecidas pelo autor.

novo centro
multifuncional em turim
Adriano Felipe Oliveira Lopes

Turim, tida até fins dos anos dentro de si mesma mediante o reuso do antigo complexo industrial, a fim de
1970 como capital industrial por exce- destes espaços. configurar uma nova centralidade na
lência, assiste ao desmantelamento Dentre esses vazios urbanos, cidade, transformando-a em um novo
de suas engrenagens ainda no final encontra-se a antiga sede da fábrica hub para a cidade de Turim, ou seja, um
dessa mesma década com a crise de Fonderiadi Caratteri Nebiolo, localizada Centro Multifuncional capaz de agregar
sua principal fábrica, a FIAT. O efeito no bairro Aurora, na periferia ao norte atividades de coworking a funções de
dessa crise foi a fragmentação de partes da cidade, exemplar típico da arquite- cohousing e espaços para a realização
da cidade em função do abandono de tura funcional da primeira metade do de eventos, exposições e workshops.
considerável número de indústrias que século XX e que permanece em desuso
compunham o seu tecido urbano. Nos por mais de vinte anos. A antiga fábrica
anos 1990, esses vazios urbanos, vistos encontra-se em uma importante zona de
a princípio como problemas da cidade confluência, entre o centro histórico e Orientadora: Caio Frederico e Silva
pós-industrial, passaram a ser conside- áreas sujeitas a grandes transformações. Banca: Ana Carolina Sant’Ana,
rados oportunidades de reconfiguração Nesse sentido o projeto perseguiu a defi- Ana Zerbini e Cláudia Amorim
da malha urbana, reconstruindo a cidade nição de uma proposta de reconversão Convidado: Paulo Ávila Coelho

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praças das artes no
centro metropolitano
do guará
Ana Celeste de Jesus Lima

O projeto Praças das Artes no já desenvolvidas na vizinhança. o território e para os bairros Guará I
Centro Metropolitano do Guará tem Com o propósito de fortalecer a e Guará II, a proposta das Praças das
o objetivo de criar espaços públicos e identificação da população local com o Artes deve trazer, já num curto prazo,
privados com destinação mista, eviden- projeto, foi feita uma reinterpretação impactos positivos como a geração de
ciando os usos artístico, cultural e espor- do símbolo do calçadão do Guará como renda e o fortalecimento das relações
tivo. A ideia parte do diagnóstico da desenho de piso para o pavimento de uso culturais. Produz, assim, um Guará revi-
área com o envolvimento dos moradores, comum e também foram criados espaços gorado, com mais atrações artísticas e
que revela a necessidade local de áreas públicos que valorizam atividades de relações sociais que valorizam a cultura
voltadas para o lazer e entretenimento. grupo que já ocorrem com bastante local e, consequentemente, fortalecem
Com o desenvolvimento dos eixos ênfase no bairro, como a capoeira, o as raízes do bairro, trazendo qualidade
temáticos para o projeto foi imediata a skate e o hip-hop. de vida para a população.
criação de quadras com temas, respecti- Foram criados, também, os
vamente, cultural, esportivo, corporativo chamados “módulos do pedestre”, que
e de parque. Dessa forma, distribuem-se auxiliam na inserção do morador, ou Orientador: Caio Frederico e Silva
esses predeterminados usos ao longo do visitante, às atividades e serviços Banca: Camila Sant’Anna,
da área de projeto, integrando sempre cotidianos e de pequena escala. Com Gabriela Tenorio e Oscar Luís
os programas propostos às atividades soluções físicas de baixo impacto para Convidado: Paulo Ávila

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arqui #6

Imagem fornecida pela autora.

bloco colaborativo
de beleza
Bruna Trivelli Muniz

Nesse espaço, cada profissional poderá alugar sua estação de trabalho e


será responsável por levar seus materiais e ferramentas. Além disso, os valores
dos serviços são determinados pelo profissional e serão pagos diretamente a eles.
O terreno escolhido está localizado na Asa Sul do Plano Piloto de Brasília,
na entrequadra CLS 105, próximo ao centro da cidade e da conhecida “Rua da
Moda”, onde existem muitas lojas de roupas, sapatos e acessórios femininos.
O edifício foi pensado a partir do subsolo aberto. Assim surgiu a praça,
que traz leveza e permeabilidade, com duas formas de acesso, pela passarela
ou pela lateral do edifício.
As atividades foram distribuídas em dois blocos. Um é mais transparente e
aberto, integrado com a praça, onde estão os grandes estúdios de cabelo, unha e
maquiagem. Já o outro é mais discreto e restrito, onde funcionam as atividades
de apoio, que necessitam de um ambiente mais exclusivo.
As estações de trabalho, apesar de serem individuais, estão inseridas em Orientadora: Raquel Blumenschein
grandes estúdios coletivos, que permitem a integração entre os usuários, clientes Banca: Bruno Capanema e
e profissionais. Essa solução dos grandes estúdios também propicia a flexibilidade Cláudia Garcia
dos espaços para diversos usos. Convidada: Aline Zim

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Imagem fornecida pela autora.

conexão sociocultural
uma nova maneira de pensar a habitação
[social] em luziânia
Camila Cardoso Silva

Nessa área duas realidades socioeconômicas diferentes se confrontam: de


um lado, um condomínio residencial de alto padrão, totalmente murado e com
áreas de lazer privativo – Terra Park Club Residence –, e, do outro, um conjunto
de habitações do PMCMV – Programa Minha Casa Minha Vida. Assim, no terreno
localizado entre essas duas realidades foi proposta uma Conexão Sociocultural.
Tratou-se o tema da habitação social a partir do conceito de “bairro-cidade”
capaz de atender tanto à necessidade de moradia digna quanto à possibilidade
de promover interações e transformações sociais no urbano. Foram realizadas
atividades com a comunidade residente próxima à área para entender às neces-
sidades reais daqueles que se beneficiariam com a implementação do projeto.
Como principais diretrizes de projeto adotaram-se: 1) integração com o
entorno; 2) mistura equilibrada de usos; 3) descentralização das áreas de lazer
e estar; 4) incentivo às relações de vizinhança; 5) respeito à escala do pedestre;
6) flexibilidade em atender a diferentes famílias a partir da combinação de dife- Orientadora: Liza Andrade
rentes tipologias arquitetônicas; 7) redução máxima do impacto ambiental para Banca: Caio Frederico e Silva,
a implantação do empreendimento; 8) preservação da massa de vegetação exis- Maria Assunção e Mônica Gondim
tente a partir da criação de um parque urbano linear. Convidada: Hiatiane Cunha

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arqui #6

Renderização por Caroline Albergaria.

albergaria urbana
Caroline Albergaria

O homem atual vê a real necessidade de viajar. A ideia de projetar um


albergue na Capital surgiu a fim de suprir a demanda desse tipo de acomodação
e o interesse em atrair mochileiros para a cidade. O projeto foi implantado na
Entrequadra 302/303 Sul, em frente à Avenida W3. A escolha do terreno numa
área central de Brasília torna as atividades diárias dos hóspedes mais acessíveis.
Além do albergue, foi projetada a Pocket Park, uma boate e um café aberto a todos.
A boate, que tem seu funcionamento no turno noturno, dinamiza o entorno e
oferece outras formas de lazer.
O edifício foi dividido em dois blocos. Em um deles, o térreo foi desobstruído,
criando uma área de pilotis. O outro bloco, de tamanho menor, proporciona
espaços livres de vivência e mantém a harmonia entre as formas. A conexão
entre eles é feita por uma passarela suspensa, onde não configura um obstáculo
aos pedestres.
Brasília, sua arquitetura e seu urbanismo influenciam fortemente o conceito Orientador: Bruno Capanema
do albergue: a troca. Assim o edifício e as pessoas estão em constante interação Banca: Cláudia Garcia, Maribel Aliaga e
por meio dos espaços construídos e livres. Dessa forma, o albergue desempenha Ricardo Trevisan
um papel de troca entre os usuários e a cidade. Por isso, Albergaria Urbana. Convidada: Maria Eduarda

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Imagem fornecida pela autora.

de porto velho ao
rio madeira
espaços públicos no bairro baixa da união
Edna Maria Marques da Luz Ramos

O Baixa da União é um bairro ribeirinho localizado na cidade de Porto Velho,


capital do estado de Rondônia. A cidade, banhada pelo rio Madeira, teve como
ponto inicial de seu crescimento urbano as áreas próximas às suas margens. Com
o desenvolvimento das rodovias, entretanto, passou a se estruturar no sentido
oposto ao rio, e os bairros ribeirinhos tornaram-se áreas distantes dos principais
equipamentos públicos, carentes de infraestrutura e vulneráveis ambientalmente.
Tendo em seu entorno diversos usos e abrangências, determinou-se como
eixo de intervenção uma via de ligação direta com o rio e os espaços públicos
voltados para ela, proporcionando um percurso voltado à comunidade local, mas
também conectado à escala urbana. O limite ao sul é o canal Santa Bárbara, onde
são delimitadas a zona de interesse social e a área de preservação permanente.
A intervenção proposta considerou a predominância de residências de
baixo padrão familiar e alta vulnerabilidade ambiental, bem como o caráter
de antiguidade das residências e a cultura ribeirinha presente na comunidade. Orientador: Ricardo Trevisan
Adotaram-se como diretrizes principais, portanto, a permanência da comunidade, Banca: Gabriela Tenorio, Liza Andrade
a qualificação dos percursos de veículos, ciclistas e pedestres, a integração da e Mônica Gondim
população com os espaços públicos e a resiliência aos períodos de cheias do rio. Convidada: Giuliana de Brito Sousa

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arqui #6

memorial elo
Imagem fornecida pelo autor.

caminhos entre a vida e a morte


Eduardo Duarte Ruas

Peter Zumthor me apresentou as nas coisas em si, mas na consciência morte, este fenômeno tão suscetível de
“atmosferas” da arquitetura, dele trago do sujeito que passa pela experiência interpretações simbólicas. Assim crio
o entendimento que considerei ao longo pessoal, sendo sempre um ato genuíno propostas baseadas em símbolos que
deste trabalho para constituir minhas de introspecção. A força emocional ecoam na percepção humana para que
próprias imagens, arquiteturas e atmos- está, portanto, nas imagens trans- a arquitetura crie uma narrativa e se
feras. Procuro uma ligação autêntica mitidas pelas coisas e não nas coisas torne o veículo de contado da vida com
com a experiência arquitetônica. mesmas. A palavra, a arquitetura ou a morte.
Por se tratar da morte, um tema os símbolos criam ecos, dependentes
interpretado de diferentes maneiras de interpretações pessoais, são plurais, Orientador: Ricardo Trevisan
por culturas e pessoas, busquei nos mecanismos que abrem o espírito para o Banca: Eduardo Rossetti,
símbolos as traduções para as sensações desconhecido e o infinito. Este trabalho Maria Cecília Gabriele e
e narrativas que ela carrega consigo. O tenta descrever relações de imagens, Maria Fernanda Derntl
significado das coisas não está contido ideias, crenças e emoções evocadas pela Convidado: Lucas de Abreu

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Imagem fornecida pela autora.

nova ceu
uma proposta para a casa do estudante
universitário da unb
Erika Passos Otto

O presente projeto propõe, diante os bolsões está o Restaurante Universi- enterrar um dos pavimentos e manter o
da situação deficitária de moradia tário, que suscita uma forte urbanidade primeiro no nível da rua. Com a abertura
universitária da UnB, uma Nova Casa a área, o que resultou na criação de um desse pavimento inferior para o ICC,
do Estudante de Graduação integrada eixo de vivência para o planejamento são criados dois térreos: o pavimento
à vivência do Campus Darcy Ribeiro e do território. rua e o pavimento ICC.
ao restante da cidade. Diante desse panorama, propõe Acredita-se que com esta loca-
Considerou-se que o espaço físico -se o alojamento estudantil na área lização e configuração a NOVA CEU
do campus Darcy Ribeiro foi marcado central do campus. Adotou-se neste amplia as possibilidades de interação e
por iniciativas que desejavam afastar a projeto uma tipologia em que os pátios retoma o entendimento da Universidade
vivência dos estudantes da Praça Maior se relacionam com o campus. Volumes como um espaço contínuo de integração
e da Reitoria. Buscou-se então resgatar paralelos definem espaços livres desti- idealizado por Darcy Ribeiro.
a presença dos estudantes enxergando nados para a convivência dos estu-
a habitação como parte integrante e dantes. Esses espaços foram dispostos
dinamizadora do território universitário. perpendicularmente às curvas de nível. Orientador: Ricardo Trevisan
A área central do campus encon- Considerando o desnível e a cuida- Banca: Caio Frederico e Silva,
tra-se dominada por bolsões de esta- dosa implantação dos edifícios da UnB Luciana Saboia e Márcia Urbano
cionamentos em frente ao ICC. Entre desde a via L3 até o ICC optou-se por Convidado: Lucas de Abreu

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arqui #6

Imagem fornecida pelo autor.

autotekton
sistema construtivo para moradia
em autoconstrução
Frédéric Camelo Homerin

A preocupação do homem com a segurança é tão antiga quanto sua exis-


tência. Procurando satisfazer as necessidades humanas mais rudimentares, nos
deparamos com as primeiras experiências de abrigo: um espaço preferencialmente
coberto, que proporcionasse refúgio. Assim, surge a ideia de moradia.
Apesar de a moradia ser uma preocupação universal, a solução encontrada nos
diversos espaços e tempos não é única, nem mesmo os condicionantes culturais,
econômicos e sociais para sua plena concretização. No caso do Brasil, o déficit
habitacional ultrapassa os 5,4 milhões de habitações (FJP, 2012). As propostas
apresentadas pelo Estado e pela sociedade civil para sanar esse déficit ainda são
insuficientes para reverter o quadro habitacional no país.
Por isso, com base em autores como John Turner e Colin Ward, e conside-
rando os conceitos de bem-estar e de moradia digna definidos pela Declaração
dos Direitos Humanos da ONU, assumiu-se a autoconstrução não somente como
uma realidade representativa do que boa parte da população brasileira já executa,
mas como uma solução a ser considerada e valorizada.
Foram realizados estudos de materiais e tecnologias na área de pré-fabri-
cados, possibilitando uma construção de fácil realização, baixo custo e qualidade.
O projeto AUTOTEKTON define-se como uma construção modular, utilizando Orientadora: Raquel Blumenschein
painéis de fibrocerâmica em pneu reciclado e uma estrutura metálica de encaixe Banca: Augusto Esteca e
por parafusos, permitindo, além de uma considerável facilidade de execução, Ivan Manoel do Valle
uma flexibilidade projetual e alta adaptabilidade. Convidado: Raffael Innecco

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AEROPORTO
VIA DE
ENTRADA

RESERVA

Imagem fornecida pela autora.

park way, vias parque


Isabela Martins Lemes

A implantação do projeto urbanístico do Park Way demonstra a não obser-


vação e valoração do ambiente natural em que foi inserido. Área favorecida por
mananciais e nascentes, com vegetação representativa do cerrado, passa por
processo de ocupação urbana que induz a transformações ambientais negativas
que colaboram para o enfraquecimento e perda dos atributos naturais origi-
nais. Os córregos ficaram obsoletos, sem visibilidade e aproveitamento das suas
vantagens paisagísticas. Confinados na maioria das vezes em fundos de lotes,
eles estão sujeitos à erosão e à poluição.
O projeto propõe a criação de vias paisagísticas onde serão implementadas
vias de circulação integradas às existentes, novas ciclovias, calçadas, espaços
que abrigam também as funções de lazer, recreação e contemplação.
A criação de vias paisagísticas permite a exploração de um novo paradigma,
que alia a melhoria da qualidade de vida urbana com a recuperação dos ecos-
sistemas locais. Assim, na escala e nas condições dadas, esses espaços podem
exercer várias outras funções, como conectar fragmentos de vegetação, além de
atender aos objetivos de recreação e melhorias ambientais e estéticas. Orientadora: Mônica Gondim
Como resultado da intervenção proposta, o Park Way obteria 38 ha de mata Banca: Gabriela Tenorio, Giselle Chalub
replantada, fornecendo assim uma melhoria para a população e para o meio e Marcos Thadeu Queiroz
ambiente, reintegrando os rios e as matas ciliares à paisagem urbana. Convidado: André Cobbe

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arqui #6

Imagem fornecida pela autora.

bsb hostel
Laissa Narciso Novais Oliveira

Representação do novo estilo meio de dois percursos distintos, um comum como: cozinha coletiva, sala
de vida do viajante contemporâneo, o na horizontal, que conecta a via W3 de jogos, lavanderia coletiva e outros,
BSB Hostel busca, além de um lugar de com o SHS, e outro na vertical, que além do redário, no 1º pavimento,
pernoite, uma hospedagem que incre- conecta as atividades semipúblicas no que permite uma pausa para apreciar
mente a viagem e não seja apenas um térreo com o terraço. Pensou-se em uma a cidade. No segundo pavimento um
local de passagem, e sim uma experi- circulação vertical que percorresse os café semipúblico convida o visitante
ência de hospedagem agradável e ines- patamares dos pavimentos, entrelaçando a realizar um passeio e se conectar
quecível. Inserido na atual Quadra 3 o trajeto e conectando as atividades ao urbano. No terraço pensou-se na
do Setor Hoteleiro Sul, concebida por semipúblicas. O desenho contínuo da versatilidade: um restaurante ou um
Lucio Costa para ser uma das quadras de escada permitiu um grafismo sucessivo ambiente para festas, um espaço livre
hotelarias econômicas, o hostel propõe da faixa que envolve toda a edificação, e público, que, além de emoldurar a
estabelecer conexões e criar percursos obtendo continuidade visual em todas cidade, convida os usuários a apreciar
que conectem e incentivem o hóspede as fachadas. o pôr e o nascer do sol.
e/ou visitante a contemplar a capital O pátio conectado à praça no
em perspectivas diferentes. térreo compartilha espaço com o
Inspirado na solução que o escri- comércio e a recepção do hostel. Inter- Orientadora: Maribel Aliaga
tório Diller Scofidio + Renfro deu ao namente, os quartos atendem aos mais Banca: Eduardo Rossetti e
Museu da Imagem e do Som – MIS variados grupos de usuários, propor- Ricardo Trevisan
Copacabana –, o partido se define por cionando, a estes, espaços de convívio Convidada: Maria Eduarda

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Imagem fornecida pela autora.

skia
centro de esportes no gelo
Lara Caldas Fernandes da Silveira

O Centro foi locado no Setor de luta, além da área técnico-adminis-


Grandes Áreas Norte, entre o Estádio trativa; a segunda sessão é a pista de
Mané Garrincha e o Brasília Shopping. gelo hermética, com capacidade para
É a localidade ideal, dada a contigui- 3.000 espectadores; o último setor é
dade com o Setor Esportivo de Brasília um grande foyer, que funciona como
e levando em consideração a linguagem elemento de ligação e antessala para a
arquitetônica e a setorização da cidade. arena de gelo, cujas portas só se abrem
Além disso, a proximidade com o setor para dentro da edificação. O outro
hoteleiro, o eixo monumental e a rodo- elemento é a praça, que distribui fluxos
viária foi estratégica para o projeto. e propõe funções diversas da ocupação
Propôs-se criar o primeiro centro popular: abrigar feiras, skatistas, food
de treinamento de esportes no gelo na trucks, áreas de permanência e descanso.
América Latina. O Centro é composto Visando tornar o projeto viável
por uma grande praça e uma edificação, ambientalmente, foram previstos Orientadora: Raquel Blumenschein
claramente dividida em três setores: um sistemas de coleta e reuso de água da Banca: Ana Carolina Sant’ana,
se dedica a esportes tradicionais, como chuva e um sistema fotovoltaico autos- Bruno Capanema e Luciana Saboia,
natação, dança, esportes de quadra e suficiente energeticamente. Convidado: Aline Zim

57
arqui #6

Renderização por Lara Boretes.

lar de idosos
vó catarina
Lara Catarina de Sousa Boretes

O lar de idosos proposto foi pensado para suprir a ausência de Instituições


de Longa Permanência de Idosos (ILPI) na cidade de Planaltina. O projeto foi
planejado como uma unidade total, onde os residentes e aqueles que frequentam
o lar durante o dia têm acesso ao lazer, cultura, saúde, segurança e convívio social.
O terreno escolhido para implantação do edifício localiza-se em Planal-
tina, a mais antiga Região Administrativa do Distrito Federal, a RA XI. Encon-
tra-se numa área denominada ZUR-1, que compreende a zona urbana, localizada
próxima à entrada da cidade, ao lado do campus da UnB e em frente ao bairro
residencial Nossa Senhora de Fátima. Pode ser acessado por pedestres, ciclistas,
veículo particular e por transporte público, pois existem dois pontos de ônibus
nas imediações.
Espacialmente, o lar funciona em setores, sendo eles: setor administra-
tivo (recepção, administração, RH, almoxarifado), setor de saúde (consultórios,
enfermaria, farmácia, terapia), lazer e cultura (piscina, salão de dança, sala de
tv, sala de jogos, sala de costura, espaços de lazer ao lar livre), serviços (cozinha,
depósito, vestiário e sala de descanso para funcionários) e residência (quartos
individuais, duplos, com duas camas, cama de casal ou beliche para os cuidadores).
As fachadas foram pensadas de forma a trazer dinamismo e permeabili- Orientador: Bruno Capanema
dade ao edifício, além de proteger os usuários das intempéries. Para isso foram Banca: Cláudio Queiroz, Maribel Aliaga
utilizados brises tipo camarão, brises pivotantes e cobogós, soluções que, além e Oscar Luís Ferreira
de estéticas, permitem o controle de luz e ventilação naturais. Convidado: Wanda Meyer

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Imagem fornecida pela autora.

kohl
escola técnica de imagem pessoal

Letícia Melo e Loureiro

A Escola Técnica de Imagem Pessoal é composta por um centro de formação


técnica com salas de aula e laboratórios e uma parte prática representada pelo
centro de beleza. Levando em conta o programa de necessidades, o projeto é
formado por dois volumes marcantes, contendo uma intersecção e apresentando
uma integração exterior-interior por meio do tratamento paisagístico circun-
dante, assim como pela possibilidade de travessia da edificação pelo térreo, para
o usufruto das áreas comuns também pela comunidade.
O projeto reúne as ideias do Desenho Universal e utiliza critérios de susten-
tabilidade do BREEAM, que foram fonte para a utilização da forma circular,
simbolizando um ciclo e auxiliando na orientabilidade dentro da edificação. O
partido circular propicia a utilização da modulação radial, e a circulação vertical Orientadora: Raquel Blumenschein
se dá por meio de uma rampa acessível que envolve o átrio interno. Seus espaços Banca: Bruno Capanema e
amplos e ambientes abertos favorecem as relações interpessoais e diminuem Cláudia Garcia
hierarquias, pois se trata de lugar convidativo para todos os seus usuários. Convidado: Aline Zim

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arqui #6

Imagem fornecida pelo autor.

parque ecológico
canela de ema
Marcelo Ulisses Pimenta

A Região Administrativa de Sobra- mente, apesar de não estarem estru-


dinho (RA-V), em Brasília, possui, após turados fisicamente. Esses parques
a implantação de seu núcleo original, se dão em torno aos cursos hídricos,
um histórico de ocupação disperso no configurando Áreas de Proteção Perma-
território e pouco conectado. Os núcleos nente. Propõe-se então a criação de um
antrópicos são formados pelas cidades sistema de vias paralelo ao limite de
de Sobradinho e Sobradinho II, além um novo parque integrado, de caráter
de diversos condomínios horizontais naturalista, trazendo-o como elemento
criados a partir de parcelamentos irregu- central da cidade como um todo. A partir
lares do solo. A região possui, bastante disso, são propostas conexões que inte-
marcada em sua paisagem, uma variação grem as bordas opostas do parque, e
topográfica, configurada pelas bacias se avança na proposta de uma delas,
hídricas nas quais se assenta. Nesse situada a norte do conjunto, e que possui
contexto, foca-se no maior corpo hídrico como ponto focal a Lagoa Canela de
da região, a Lagoa Canela de Ema que, Ema. Propõe-se essa conexão como um
apesar de estar em posição central na edifício-ponte, uma sede do parque, que,
mancha urbana territorial, não possui além de abrigar as funções administra-
uma centralidade de fato na configu- tiva, cultural e de viveiro de reposição
ração urbana. de mudas em um pavimento inferior,
O projeto toma então como ponto funciona como passarela e mirante para Orientadora: Luciana Saboia
de partida a integração dos diversos a lagoa em seu nível que se conecta ao Banca: Ivan do Valle e Jaime de Almeida
parques que a cidade possui oficial- solo de forma direta. Convidado: André Cobbe

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Imagem fornecida pela autora.

mobilidade e brasília
Marina Madsen

Brasília é um exemplo de cidade tadoras ao uso de meios de transporte


na qual podem ser notadas diversas alternativos ao carro, ao mesmo tempo
características peculiares, ligadas prin- em que respeitassem sua condição de
cipalmente ao urbanismo modernista, patrimônio da humanidade.
que acabam por dificultar a mobilidade Com o objetivo de chamar a
urbana. Tais características criam uma atenção para a necessidade de se pensar
dependência do uso de automóvel nos a resiliência em Brasília, o projeto Plano
deslocamentos. Entretanto essa cidade, (co)Piloto surgiu até mesmo como uma
na condição de patrimônio da humani- crítica à falta de atualização do presente
dade, merece estudos e experimentações documento de tombamento da cidade
que proponham melhores articulações (datado de 1992), uma vez que a cidade
entre os diversos sistemas, facilitando desenvolve-se com o passar dos anos e
assim a mobilidade. novas necessidades devem ser atendidas.
Ao se estudar o Plano Piloto de O tombamento deve ser uma ferramenta Orientadora: Giselle Chalub
Brasília, pode ser observado que há de orientação à salvaguarda e não um Banca: Gabriela Tenorio e
possibilidades de intervenção que documento que engesse a cidade e difi- Mônica Gondim
poderiam propiciar condições facili- culte seu desenvolvimento. Convidado: André Cobbe

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arqui #6

Imagem fornecida pela autora.

traçado acústico
a cidade que queremos ouvir
Millena Montefusco dos Santos

Em Brasília vem ocorrendo um fenômeno interessante de ocupação de áreas


livres, espaços vazios que não faltam na cidade de Lucio Costa. O brasiliense
passou a perceber a importância dos espaços públicos como pontos de encontro
e vivência. Nesse contexto, muitas vezes nos esquecemos que o som também
faz parte do espaço em que vivemos. Assim como são considerados diversos
fatores como clima, iluminação, função, o som também é uma variável capaz
de completar o projeto arquitetônico. O projeto foi criado como algo prático,
palpável, próprio para ser executado em espaços públicos e está moldado em
três bases principais: Urbano, Estrutura e Tecnologia e Som.
A estrutura é formada por peças moduladas de madeira laminada colada que
se encaixam por meio de ligações metálicas e podem formar vários ambientes.
Existem três tipos de pilares que, se ligados uns aos outros de formas diferentes,
criam alturas e ângulos diversos. As vigas também variam e podem ser fixadas
de diversas formas. O palco é formado por caixas de madeira laminada e painel
wall unidas em um sistema steel frame. Para garantir a melhor reflexão do som
foram inseridas placas de material reflexivo presas à estrutura, que podem ser
produzidas de várias cores. A cobertura é de lona presa à estrutura e constituída Orientadora: Marta Bustos Romero
de forma diferenciada para facilitar a montagem. A ideia seria criar, por inter- Banca:Caio Frederico e Silva,
médio das mesmas peças, o palco, as barreiras acústicas de proteção, espaços Ivan do Valle e Liza Andrade
para relaxar, além de camarins e espaço para banheiros. Convidada: Patrícia Melasso

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Imagem fornecida pelo autor.

habitação coletiva
conexão e centralidade em águas claras
Patrick Martins Costa

O projeto apresentado evoca uma discussão sobre espaço público e espaço


privado, trazendo à tona a ocupação de Águas Claras por condomínios residenciais
privativos, murados ou cercados. A construção dos condomínios e a ocupação dos
lotes dessa região administrativa (RA) ocorreram, de certa forma, livre, deixando-se
que construtoras, incorporadoras e especuladores executassem o serviço, além
de não ter sido feita uma fiscalização correta dessas obras e projetos, tornando
desequilibrada a distribuição de equipamentos de lazer, comércio e serviços.
Em contraponto a esses fatos, buscou-se utilizar cinco lotes (quatro de
uso misto e um de uso institucional) de maneira livre, sem delimitações por
muros ou cercas, com uma grande praça ocupando a totalidade dessa área. Essa
praça, por sua vez, promove diferentes usos e equipamentos a serem utilizados
por pessoas de diferentes faixas etárias, gerando encontros e movimento, além
de convidar ao uso do parque Águas Claras, localizado em frente aos terrenos.
Foram detalhadas duas edificações: um edifício com onze pavimentos, Orientadora: Luciana Saboia
cento e dez apartamentos e dez áreas diferentes, com layout adaptável pelo Banca: Eduardo Rossetti e
comprador; e uma midiateca de um pavimento e pilotis livre, respeitando a Ricardo Trevisan
definição de uso institucional de um dos terrenos originais. Convidado: Juan Carlos Guillén Salas

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arqui #6

Imagem fornecida pela autora.

reviva porto
revitalização da área portuária do
valongo de santos
Priscila Gonçalves Gerardi

A área do projeto Reviva Porto dividem-se em três partes: entorno,


se localiza em Santos, SP, no bairro do acesso e orla.
Valongo. Essa região impregnada de Para o entorno, novos usos para
história teve parte inutilizada em virtude trazer movimento e ocupação aos
das novas tecnologias e embarcações e de espaços públicos, como um circuito
um projeto malsucedido de desocupação cultural e uma linha de conexão entre
feito pela prefeitura. Contudo, o espaço espaços abertos e praças que leva até
está lá; a memória permanece presente, a orla. Para esta, quatro setores inter-
conquanto adormecida. conectados: comércio, gastronomia,
É por isso que Reviva Porto busca cultura e lazer. Além disso, delimitação
a renovação desse local, inclusive do acesso à orla por meio de três novos
como parte do debate global acerca de eixos baseados nos já existentes, para
sustentabilidade e preservação, que fez garantir segurança na travessia dos Orientadora: Maria Cecília Gabriele
surgir interesse em trabalhar com áreas trilhos do trem que por lá passa, mas Banca: Gabriela Tenorio e
subutilizadas, dado o crescimento das também facilitar o acesso aos pedestres Mônica Gondim
metrópoles. As intervenções propostas e usuários da ciclovia, a ser ampliada. Convidado: André Cobbe

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Imagem fornecida pela autora.

circuito cultural e
de lazer
arte urbana e espaços comunitários em
valparaíso de goiás
Raquel Braz Lopes

A especulação imobiliária é um praça, dois becos e uma grande área livre com palco para apresentações públicas,
dos principais problemas enfrentados ao longo da linha férrea existente. Esse uma passarela para os pedestres atra-
por Valparaíso atualmente, pois o cres- percurso foi feito com uma única calçada vessarem o trilho do trem e quiosques e
cimento desordenado da cidade, nos com piso diferenciado para integração lojinhas para aumentar o comércio local.
últimos anos, trouxe vários problemas entre os pontos. Conta ainda com área para os jovens
estruturais, como a falta de locais para Foi proposta uma nova praça com com quadras de esportes, basquete, área
implantação de equipamentos públicos uma pequena arena para o céu das artes, para bikecross, pista de skate, escalada,
e institucionais. pintura nas paredes de todos os becos, parkour e playground. Conta também
O Circuito Cultural e de Lazer com plantio de árvores, hortas comu- com pista de cooper e ciclovia, além de
procura atender à população, sugerindo nitárias e micropraças para os mora- hortas urbanas, espaços com árvores
propostas de melhorias dos espaços dores, a fim de manter os becos sempre frutíferas e churrasqueiras públicas.
ociosos. Propõe recuperar regiões não ocupados para propiciar segurança.
utilizadas por falta de segurança, usando Na maior área, foi implantado um
a arte urbana como um meio de inte- parque linear. Todos os usos do parque Orientadora:Liza Andrade
gração entre as classes sociais. foram escolhidos pelos próprios mora- Banca: Ana Zerbini, Camila Sant’anna e
A implantação do circuito ligou dores. O parque conta com uma estru- Sérgio Rizo
quatro pontos importantes. Uniu uma tura para uma nova feira, um espaço Convidada: Vânia Loureiro

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arqui #6

Imagem fornecida pela autora.

un po di borromini
praça borromini
Raquel Ferraz Fontes

A escolha da praça Borromini e do parque Michelotti em Turim como


área de intervenção originou-se da vontade de requalificar um espaço público
de valor histórico, e foi motivada por ser um espaço que não acompanhou as
transformações da cidade, perdendo a sua identidade e funcionalidade.
Foi abordado o conceito de integração a partir da criação de um piso dife-
renciado que conecta os espaços públicos da área, criando um caminho contínuo
que convida a explorar a zona. Para a área do parque e do rio Pó, foram criados
novos acessos, funções e espaços de convívio (praças, área para piquenique,
píer, mobiliários urbanos, esculturas).
Considerada o ponto central de agregação, a praça Borromini foi intei-
ramente reorganizada para receber a feira diária e valorizar a permanência e
apropriação da população por meio de arborização, esculturas e mobiliários
que criam espaços diferenciados. Sua conexão com a área se dá mediante a Orientadora: Camila Sant’Anna
transformação da via Castelnuovo em rua compartilhada. Banca: Elane Ribeiro Peixoto,
A nova identidade vem com o uso de um dos símbolos da cidade, a fonte Oscar Luís Ferreira
Toret. Para destacá-la foi criado um piso especial inspirado na desconstrução e Convidadas: Gabriela Tenorio e
construção da cabeça do touro, marcando e destacando os momentos da fonte. Gisele Chalub

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Imagem fornecida pela autora.

centro de acolhimento
a refugiados em brasília
Verônica Rodrigues do Carmo

Segundo dados do último relatório anual divulgado pelo Alto Comissariado


das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) – Tendências Globais (2015) –, em
2014, uma média de 42,5 mil pessoas por dia tornou-se refugiada. Em todo o
mundo, um em cada 122 indivíduos é atualmente refugiado, deslocado interno
ou solicitante de refúgio.
O projeto para o Centro de Acolhimento localiza-se no Setor de Grandes
Áreas Sul – SGAS –, quadra 607, conjunto A, Brasília. Tem a função de, além de
melhorar as condições de vida do acolhido e sua integração à cidade, concentrar
uma variedade de atividades que permitam o pronto atendimento, a proteção,
formação e organização do tempo livre dos requerentes de asilo e refúgio, bem
como um ponto de apoio para divulgar a temática do asilo para a própria sociedade.
Pretende-se construir um espaço para promover o diálogo e o convívio
entre aqueles que se encontram na mesma situação, além da integração por Orientador: Ricardo Trevisan
meio da inserção na comunidade local e regional. Cria-se, assim, uma dinâmica Banca: Caio Frederico e Silva,
intercultural mediante o desenvolvimento de atividades conjuntas, melhoria da Carolina Pescatori e
imagem dos refugiados perante a sociedade de acolhimento, reforço dos laços Maria Fernanda Derntl
comunitários e do sentimento de pertencimento ao local onde estão abrigados. Convidado: Jandson Queiroz

67
FAU
PREMI
ADA
arqui #6

projeto para barca


bertolla
2º lugar em prêmio internacional
An urban landscape design proposal developed by a team of students from FAU-UnB for a neighborhood in Turin
was awarded second place at the international landscape design competition promoted by the 53rd Congress of the
International Federation of Landscape Architects (IFLA), held in Italy.

Equipe /// Anna Clara Lopes, Caroline Fernandes, Elisa Zaidan,


Gabriela Moura, Mariana Fernanda de Souza
Orientadora /// Camila Sant’Anna

Cinco alunas da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade


de Brasília conquistaram o segundo lugar em concurso mundial de arquitetura
da paisagem, realizado durante um workshop do 53º Congresso da Federação
Internacional dos Arquitetos Paisagistas (IFLA). O evento, que reuniu nomes
importantes do paisagismo de todo o mundo, foi realizado em Turim, na Itália,
em abril. Para o concurso, o grupo desenvolveu um projeto urbano-paisagístico
para Barca Bertolla, um bairro localizado na cidade-sede do encontro.
A equipe foi formada por Gabriela Moura, Mariana Fernanda de Souza,
Caroline Fernandes, Anna Clara Lopes e Elisa Zaidan. A competição, realizada
entre 16 e 19 de abril, era voltada para estudantes de graduação e pós-gradu-
ação na área e antecedeu o Congresso. Na ocasião, as alunas participaram de
oficinas e receberam orientação e assistência técnica e científica de tutores
da Itália e de outros países para a elaboração do projeto. O grupo foi o único
das Américas selecionado para participar da fase final do concurso e concorreu
com outras nove equipes da Europa e da Ásia.
“Saí muito satisfeita com o resultado, principalmente por ver que estamos
estudando e sendo encaminhadas para o caminho certo”, avalia Anna Clara
Lopes, uma das cinco integrantes do time.
Além de terem de desenvolver um projeto em curto prazo, elas precisaram
superar outros desafios, como o fato de nunca haverem trabalhado juntas e
a falta de confiança em ganhar o concurso. Um orgulho para o grupo foi ser
composto somente por mulheres – e foi também um dos principais incentivos
das meninas, que afirmaram estar dispostas a quebrar o estereótipo tão marcado
da mulher brasileira no exterior.
Para ajudar com os custos da viagem e inscrição no concurso, as alunas
receberam auxílio do Decanato de Graduação da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo e de uma empresa de urbanização do Distrito Federal.

70 1/2016
Imagens fornecidas pelas autoras.

Pelos critérios do concurso, os trabalhos deveriam propor melhorias no


valor ecológico da área, melhorar a mobilidade e a conexão com a paisagem,
valorizar a identidade da região e a integração entre seus habitantes e indicar
iniciativas que incentivem a agricultura urbana.
Projeto – Acompanhadas por seus tutores, as estudantes fizeram uma
visita ao bairro de Barca Bertolla. Segundo Caroline Fernandes, um dos maiores
diferenciais do grupo foi levar em consideração as preferências dos seus resi-
dentes por meio do diálogo com os moradores locais. “Fizemos entrevistas
e perguntamos o que achavam da área, o que poderia mudar e o que mais
gostavam. A partir disso, fizemos uma proposta de intervenção”, afirma.
“Fizemos uma proposta real para um problema real”, acrescenta a colega
de equipe, Mariana Fernanda de Souza. Entre as sugestões apresentadas,
estavam a construção de ciclovias internas ao bairro e de uma externa, que
ligaria a região ao centro de Turim, além da implantação de espaços de convi-
vência e lazer para crianças e adultos em locais estratégicos, com o objetivo
de aumentar a integração entre os habitantes desses lugares. Orgulho – O
trabalho foi congratulado com o segundo lugar, atrás apenas de uma equipe
italiana. O grupo recebeu mil euros e certificado de participação. A atuação
brasileira foi uma grande satisfação para a professora orientadora do grupo,
Camila Sant’Anna, docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Foi ela
quem convidou as estudantes a participar, além de acompanhar o grupo na
Itália. Sant’Anna valoriza o resultado e a experiência obtida no Congresso.
“Este contato entre alunos, profissionais e professores possibilita diálogos
de pesquisas futuras, no âmbito acadêmico ou não. Isso tudo tem um grande Textos extraidos da SECOM-UnB; site
significado, pois reconhece o empenho da nossa faculdade com um ensino de UnB-Notícias
Arquitetura e Urbanismo de excelência”. Publicado em 13/07/2016

71
arqui #6

anparq 2016
vencedores do prêmio anparq 2016 nas
modalidades artigos, livros, dissertações
e teses

The 2016 ANPARQ prize, which was coordinated by the board of the association through professors Angélica Benatti
Alvim (UPM) and Rodrigo de Farias (UnB), recognized outstanding papers, books, dissertations and thesis in the fields
of architecture and urbanism.

A edição de 2016 foi organizada pela Diretoria da entidade, sob a respon-


sabilidade dos professores Rodrigo de Farias (UNB, Conselho Fiscal Anparq) e
Angélica Benatti Alvim (UPM, Presidente Anparq).
O número de trabalhos inscritos totalizou 92, distribuídos nas seguintes
modalidades: artigo em coletânea: 9 trabalhos; artigo em periódico: 14 traba-
lhos; dissertação: 26 trabalhos; tese: 12 trabalhos; livro autoral: 18 livros; livro
coletânea: 4 e-books e 9 impressos. O Prêmio Anparq vem se consolidando a
cada edição e, na atualidade, é fundamental para o dinamismo e publicização
da pesquisa e da pós-graduação na área de arquitetura e urbanismo do país. A
entidade agradece a participação de todos os programas de pós-graduação em
arquitetura e urbanismo, filiados e associados à Anparq, que enviaram teses e
dissertações, e pela ampla adesão dos pesquisadores da área de arquitetura e
urbanismo nas demais modalidades.

VENCEDORES PRÊMIO ANPARQ 2016

ARTIGO EM COLETÂNEA
• Menção Honrosa: “Oscar Niemeyer, arquitetura narrada: Módulo, 1ª série,
1955-65”, de autoria de Sylvia Ficher e Danilo Matoso Macedo
• Vencedor: “Além da técnica: construções da poética corbusiana entre texto e
figura”, de autoria de Rogério de Castro Oliveira

ARTIGO EM PERIÓDICO
• Menção Honrosa: “Oscar Niemeyer e seu duplo: Mies van der Rohe”, de
Abílio Guerra
• Vencedor: “The Cultural Heritage of Small and Medium – Size Cities: A New
Approach to Metropolitan Transformation in São Paulo, Brazil”, de Maria Cris-
tina Schicchi

LIVRO COLETÂNEA
• Menção Honrosa: Projetos por cenários – o território em foco, de Paulo Reyes (Org.)
• Vencedor: Quid Novi? Dilemas do ensino de arquitetura no século XXI, de
Fernando Lara e Sonia Marques (Ed.)

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LIVRO AUTORAL
• Menção Honrosa: Brutalist Connections: a refreshed approach to debates and
buildings, de Ruth Verde Zein
• Vencedor: Projetos para Brasília 1927-1957, de Jeferson Tavares

DISSERTAÇÃO
• Menção Honrosa: Impactos morfológicos gerados por equipamentos de infra-
estrutura urbana: um olhar sobre as subestações elétricas no Rio de Janeiro, de
Miriam VIctoria Fernandez Lins, orientada pela profª. Andréa de Lacerda Pessôa
Borde do Prourb/UFRJ
• Vencedor: Patrimônio cultural e as práticas de delimitação de sítios tombados:
um estudo para o conjunto arquitetônico e urbanístico do Serro, MG, de Kelly
Diniz de Souza, orientada pelo prof. Ítalo Itamar Caixeiro Stephan do PPGAU/UFV

TESE
• Menção Honrosa I: Bethencourt da Silva e a cultura arquitetônica do Rio de
Janeiro no século XIX, de autoria de Doralice Duque Sobral Filha, pelo Programa
de Pós-Graduação em Arquitetura (Proarq) da Faculdade de Arquitetura e Urba-
nismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Orientadora: Profª. Dra. Beatriz
Santos de Oliveira
• Menção Honrosa II: Ceplan: 50 anos em 5 tempos, de autoria de Neusa
Cavalcante Filha, pelo Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e
Urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de
Brasília. Orientadora: Profª Drª. Elane Ribeiro Peixoto
• Vencedor: Diagramática: descrição e criação das formas na arquitetura seriada
de Peter Eisnmann, de autoria de Gabriela Izar dos Santos, pelo Programa de
Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo. Orientador: Prof. Dr. Luiz Américo
de Souza Munari.

Texto de Rodrigo de Faria / ANPARQ 2016, Porto Alegre


Extraido de www.vitruvius.com.br
Publicado em 30/07/2016

73
EN
CON
TROS
arqui #6

pé na estrada
um pé em diversos territórios: do
familiar ao alheio

The Hit the Road Project [Programa Pé na Estrada] is an extra-curricular activity of the School of Architecture and Urbanism of the Univer-
sity of Brasília (FAU-UnB). During the first semester of 2016, the Project carried out various activities in which participants were brought to
experience familiar and unexplored urban spaces, from the campus to the city, and and were encouraged to share their personal experiences
in debates. These events are related to the Project’s goal of transforming the city into a learning space, where topics of architecture, urba-
nism and landscape design are presented, discussed, and oftentimes given new meaning.

Fotos por Bárbara Gomes, Camila Garrido e Rodrigo de Oliveira.


Montagem por Pedro Ribs.

76 1/2016
Fotos por Caio Nascimento e Camila Sant’Anna.
Montagem por Pedro Ribs.
No primeiro semestre de 2016, a atividade complementar “Pé na Estrada”
da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB)
desenvolveu ações que discutiram, a partir de múltiplos pontos de vista e lugares,
vivências urbanas muitas vezes familiares ou alheias, da cidade ao território
universitário. Tal proposta se integra ao objetivo do projeto de transformar a
cidade em sala de aula, apresentando, questionando e, quando relevante, ressig-
nificando temas relacionados à arquitetura, ao urbanismo e ao paisagismo.

O TERRITÓRIO UNIVERSITÁRIO PONDO UM PÉ NA CIDADE

O Pé na Estrada promoveu algumas ações com o intuito de convidar os


alunos a conhecerem a partir de um outro olhar as propostas de arquitetura
dos espaços culturais de Brasília e a sua relação com a cidade. Almeja-se não
só abordar temas discutidos em sala de aula, mas também como eles são intro-
duzidos pela expografia do espaço visitado.

PÉ COM PÉ: FRIDA KAHLO

Em Maio de 2016, o Pé na Estrada juntamente com a Professora Camila


Gomes Sant’ Anna levou cerca de 20 alunos da Universidade de Brasília para
visitar a exposição “Frida Kahlo: Conexões entre mulheres surrealistas no México”
na Caixa Cultural. Este evento foi realizado em parceria com a Caixa Cultural,
que ofereceu o ônibus para transporte, lanche e monitores e organizou, ao final
da visita, um workshop que convidou os alunos a elaborarem um auto-retrato.
Os alunos foram convidados a conhecer melhor a personalidade e produção
artística da mexicana Frida Kalho para além do seu relacionamento com o artista
Diego Riviera. Contribuiu para entender melhor melhor as pinturas, fotografias
e a moda do mesmo período que influenciaram o seu trabalho.

PÉ COM PÉ: MONDRIAN

Em Junho de 2016, o Pé na Estrada teve o prazer de levar mais um grupo


de alunos a uma exposição no Distrito Federal. A exposição “Mondrian e o
movimento Stijl” aconteceu no CCBB. A visita teve o acompanhamento das
professoras Camila Gomes Sant’Anna e Maria Cecília Filgueiras Lima Gabriele.
Cerca de 15 alunos participaram. Esta atividade tinha por objetivo introduzir o
movimento da vanguarda holandesa, De Stijl, muito conhecido pela produção de
Piet Mondrian, a partir de uma expografia dividida em duas salas de exposição
que introduziam “da figuração à abstração”, quadros, projetos arquitetônicos,
maquetes, desenhos de mobiliários, documentários e fotografias.

77
arqui #6

A CIDADE PONDO UM PÉ NO TERRITÓRIO UNIVERSITÁRIO

Dando continuidade à intenção de desenvolver atividades interativas


de aluno para aluno, foram idealizadas propostas didáticas que convidavam
a comunidade a usufruir do território universitário, participando de palestras
sobre temas do seu interesse - Possibilidades no mercado de trabalho para um
arquiteto e urbanista e Aula magna com Rosa Kliass - ou descobrindo cidades
brasileiras e o conhecimento produzido no território universitário, visitando
uma exposição (EXPO RJ), com a intenção de promover a interação e o diálogo
a partir de diferentes propostas dentro da Universidade.

PÉ COM PÉ: AS POSSIBILIDADES NO MERCADO DE TRABALHO PARA UM


ARQUITETO E URBANISTA

Em março de 2016, o Pé na Estrada organizou um ciclo de palestras, “Pé


com Pé: as possibilidade do mercado de trabalho para um arquiteto e urbanista”
no novo auditório da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.
Este evento contou com a participação de cerca de 150 pessoas e teve
como proposta conhecer diferentes tipos de caminhos para a vida profissional
em arquitetura e urbanismo. Três profissionais participaram do evento:
• Ana Zerbini, com o tema arquitetura cenográfica. Ana é arquiteta e urba-
nista pela Universidade de Brasília (FAU-UnB) com experiência na área de ceno-
grafia, desenvolvimento e execução de projetos temáticos e cenográficos para o
mercado de eventos e arquitetura. É de ser professora substituta na FAU-UnB.
• Danilo Barbosa, com o tema sinalização das cidades. Arquiteto e urba-
nista com formação na FAU-UnB, coordenou o projeto de sinalização urbana de
Brasília. O design das placas de sinalização de Brasília foi realizado em 1976 e
integra o acervo do MoMa.
• Gabriela Bilá, falando sobre “O Novo Guia de Brasilia”. Arquiteta e urbanista
também graduada pela FAU-UnB e autora do Novo Guia de Brasília, resultado
do seu Ensaio Teórico.
Foi importante perceber as diversas possibilidades de atuação para um
profissional arquiteto e urbanista. Ao final da palestra, um momento bate-papo
aconteceu, permitindo que os participantes pudessem conversar com os pales-
trantes por meio de perguntas.

Fotos por Camila Garrido e Samara Neves.


Montagem por Pedro Ribs.

78 1/2016
Fotos por Brenda Oliveira, Gabriela Heusi e Marina Rebelo.
Montagem por Pedro Ribs.

EXPO RJ

Como resultado da viagem didática “Pé na Estrada no Rio de Janeiro”, em


outubro de 2015, coordenada pelas professoras Camila Sant’Anna, Claudia Garcia
e Luciana Saboia, a equipe Pé na Estrada organizou a “Expo RJ”. Esta exposição
aconteceu em abril de 2016 e ficou aberta para visitação por uma semana na
galeria da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB. O objetivo era reunir
e organizar as leituras da cidade realizadas pelos alunos viajantes. A proposta da
expografia partiu do entendimento da paisagem, elemento marcante na cidade
do Rio de Janeiro.
O projeto da exposição foi coordenado pelas alunas Bárbara Vasconcelos
e Gabriela Heusi com o auxílio da equipe Pé na Estrada e da professora Camila
Sant’Anna. A montagem contou com a participação de alunos da FAU-UnB e de
voluntários. O intuito era desenvolver uma exposição de baixo custo que usufru-
ísse da potencialidade do papelão combinada com projeções mapeadas e com as
produções dos alunos, desenvolvidas nos exercícios “Momentos Pé na Estrada”,
que ocorrem ao longo da viagem para retratar as vivências urbanas cariocas.
A exposição retratou também a pluralidade de habilidades artísticas dos
alunos da Faculdade e a sua contribuição para enriquecer a produção dos trabalhos. Texto da equipe Pé na Estrada.
Foi proposto um mapa colaborativo de vivências, exibição das fotos das Equipe: Amanda Vital, Bárbara Gomes,
joias desenvolvidas pela aluna Jeanne Miake com o tema da viagem, fotos dos Bárbara Vasconcelos, Brenda Oliveira,
pés dos participantes em diferentes lugares do Rio de Janeiro e qrcodes de áudios Camila Garrido, Caio Nascimento,
produzidos pelos alunos. Gabriela Heusi, Isabella Rodrigues,
A abertura aconteceu no dia 04 de abril de 2016 e contou com coquetel Marina Rebelo, Nayane Machado,
e com um pocket show da aluna Isabelle Nogueira, que participou da viagem. Rayan de Sant’Anna e Vanessa Tourinho
Professoras: Camila Sant’Anna e
Essas ações refletem o amadurecimento que o projeto está sofrendo, graças Elane Peixoto
ao envolvimento dos alunos, funcionários e professores. Esse projeto expandiu-se
em várias vertentes, que surgem da sua tentativa de promover e discutir o papel www.penaestradafaunb.wixsite.com
e a ação da arquitetura e do urbanismo, seja nas diferentes escalas da cidade, facebook.com/penaestrada.faunb
seja nas produções culturais. penaestrada.faunb@gmail.com

79
arqui #6

exposição diplô 1/2016


exposição de diplomação, palestra com
gustavo penna e lançamento da arqui #5
A lecture by architect Gustavo Penna marked the launch of the fifth issue of ARQUI and the closing off of the graduation exhibition. The
architect presented an overview of his work through the conceptual basis and varied technical solutions of each project.

Foto por Thiago Abreu.

O lançamento da revista ARQUI dos profetas em Congonhas do Campo, da capacidade de ouvir as palavras ele
#5 e o encerramento dos trabalhos passando por inúmeras situações de também recobra que ele mesmo, atento
de diplomação do primeiro semestre projetos residenciais e de edifícios e observador, gosta muito de imitar o
de 2016 foram celebrados com uma institucionais. canto dos pássaros. Ato contínuo, ele se
palestra do arquiteto mineiro Gustavo O arquiteto que diz ser um “monta- põe a imitar os sons de várias espécies,
Penna. O termo “palestra” talvez seja nhês”, por ter as montanhas como uma piando no auditório, para surpresa de
um excesso de formalidade acadêmica constante de paisagem, evoca a compa- todos!
para uma situação em que o arquiteto nhia de Amilcar de Castro e Alberto da O evento se iniciou com a forma-
fez uma livre exposição sobre sua obra, Veiga Guignard para se situar no mundo lidade da premiação dos trabalhos de
intercalando aspectos prosaicos e ques- contemporâneo. Com certa provocação, Diplomação destacados dos arquitetos
tões pessoais com as soluções técnicas ele comenta sobre quando as cidades recém-formados, mas logo se distendeu
e demandas de cada obra. eram narradas, seja por Proust, seja diante de um arquiteto que sabe ser
Diante de uma plateia com por João do Rio, ou ainda Fernando sério, competente e informal.
presença de ilustres personalidades, Sabino, apontando no cotidiano um É famosa a expressão “ouvir o galo
como o professor Coutinho, o arqui- valor perene. cantar, mas não sabe onde”, e diante do
teto Sergio Parada e o arquiteto Nonato Penna reitera a capacidade humana imenso manancial de referências visuais
Veloso –autor do projeto do auditório de reconhecer a natureza e superá-la, que os meios de comunicação e as cone-
da AdUnB –, Gustavo Penna foi percor- que difere da mera destruição das xões dos suportes digitais reverberam
rendo um itinerário próprio, vagando barreiras e de quaisquer adversidades e – muitas vezes travestidos de comple-
entre escalas tão distintas de projeto. diferenças. Para isso, toma a ponte como xidade – foi bom ouvir o pio do Penna!
Ele abordou desde a escada para o apar- metáfora da ação de projetar e inventar
tamento de Zuenir Ventura até o museu soluções. Ao mencionar a importância Texto de Eduardo Rossetti

80 1/2016
a experiência de
transformação urbana
Lecturer Gustavo Restreppo talked about theories of urban transformation applied in the requalification of public spaces in Medellín,
Colombia, and how it had positive impacts in the reduction of vandalism and criminality rates in the city.

O que acontece se deixarmos um féricos e escadas rolantes estampados e tem desempenhado o papel de jurado
carro abandonado, em boas condições, nas manchetes de jornais, um projeto em diversos concursos nacionais e inter-
em um lugar qualquer? Há boa proba- que considerou a relação ética e estética nacionais de arquitetura. Foi um dos
bilidade de que nada aconteça. Em como premissa de intervenção; o arqui- responsáveis pelo Plano de Desenvolvi-
contrapartida, se o carro estiver com teto apenas como mais um membro de mento de Medellín (2008/2011). Textos e
os vidros quebrados possivelmente uma equipe multidisciplinar; e a popu- projetos de sua autoria foram publicados
será dilapidado. Trata-se da “teoria das lação como cliente, ouvindo-lhe, mais em livros especializados. Entre outros
ventanas rotas”, que defende que, em que as demandas, os sonhos! reconhecimentos, destaca-se o Holcim
espaços urbanos de qualidade, vanda- Gustavo Restreppo é arquiteto e Awards of Sostenible Construction.
lismo e criminalidade diminuem. Teoria urbanista, atua nos setores público e
e experiências foram apresentadas à privado nas áreas de desenho, admi- Texto de Ana Elisabete Medeiros
FAU, no dia 13 de abril, como alicerce nistração e construção de projetos de Coordenação do evento: Luciana
da Experiência de Transformação Urbana arquitetura sustentáveis. É professor na Saboia e Ana Elisabete Medeiros
do arquiteto Gustavo Restreppo e equipe Pontifícia Universidade Bolivariana e na Mediação: Roberto Montezuma
em Medellín, Colômbia. Por trás de tele- Universidade Santo Tomás, em Medellín Organização: Karoline Cunha

clima e repertório
arquitetônico
In his talk, professor Leonardo Bittencourt (UFAL) presented his work experience as professor of indoor environmental quality and architec-
tural design, showing examples of applied bioclimatic design principles.

A FAU recebeu, em junho de em Londres. Ao longo de sua carreira arquitetura e mostrando uma visão do
2016, a palestra do professor Leonardo como professor de Conforto Ambiental projeto que incorpora a ideia climática
Bittencourt, da UFAL, intitulada “Clima e Projeto da UFAL, desenvolveu ensino como linguagem estética, em magníficos
e Repertório Arquitetônico”. O audi- e prática de projeto, tirando partido do exemplos de projetos. Além de professor,
tório da FAU ficou repleto de alunos clima e dos condicionantes ambientais pesquisador e orientador de inúmeros
e professores da graduação e pós-gra- como linguagem projetual, ilustrando trabalhos de mestrado e doutorado,
duação, além de profissionais atuantes de maneira muito prática os conceitos Leonardo é ainda autor de dois livros
no mercado. da arquitetura bioclimática e conforto. muito conhecidos e usados por alunos e
O professor Leonardo é arquiteto Foi exatamente esta a abordagem profissionais de arquitetura: O uso das
graduado na Universidade Federal de da palestra que o professor Leonardo cartas solares: diretrizes para arquitetos
Pernambuco, com doutorado em Envi- trouxe para Brasília, “quebrando” a e Introdução à ventilação natural.
ronment and Energy Studies na Archi- ideia comum do conforto como aces-
tectural Association Graduate School, sório final ou como mecanização da Texto de Cláudia Amorim

81
arqui #6

a UTOPIA e a DISTOPIA
cineFAU e Ocupa a Pracinha:

na cidade modernista
Things to come | 18.05 | 18h | Pracinha da Fau
William Cameron Menzies | 1936.
The Trial | 27.05 | 16h | Auditório novo da Fau
Orson Welles | 1962.
Fahrenheit 451 | 01.06 | 18h | Pracinha da Fau

cine fau
François Truffaut | 1966.
Filmes e debates sobre a formação da Playtime | 10.06 | 16h | Auditório novo da Fau
cidade modernista e do discurso crítico Jacques Tati | 1967.
pós moderno. Branco sai, preto fica | 15.06 | 18h | Pracinha da Fau
18 de maio a 15 de junho. Ardiley Queirós | 2015.

a utopia e a distopia na cidade modernista


CINEFAU is a student-led series of film screenings and debates centered on the themes of architecture, the
city and cinema.

Em 2012, alunos da Fau-UnB reviveram o Cine Fau, cineclube que tem como
objetivo projetar filmes que motivem o debate sobre a relação do cinema com a
arquitetura e a relação das pessoas com a arquitetura e a cidade.
No 1º semestre de 2016, foi realizada a mostra Utopia e Distopia na Cidade
Modernista, com base no ensaio teórico Da utopia a distopia: um panorama da
cidade modernista segundo o cinema, de 2015. Foi feito um convite por meio
de cartazes e pela página no Facebook do Cine Fau, para os alunos e professores
da UnB, e para a comunidade de fora da UnB, apresentando os filmes, que eram
de décadas e visões de cidade distintas.
As sessões aconteceram na pracinha da FAU, à noite, com o intuito de ocupar
o espaço que vinha passando por esvaziamento, e na sala Ernesto Walter, em
horário que agregasse os alunos de cursos noturnos. Os debates sempre foram
acompanhados por professores da FAU e alunos, com temáticas que trabalhavam
a vivência na cidade e a realidade no século XXI.

Texto de Amanda Brasil


Coordenadores: Amanda Brasil, Thiago Freire
Professores convidados: Gabriela Tenorio, Gabriel Dorfman, Reinaldo Guedes
Machado, Ricardo Trevisan, Ana Paula Gurgel, Leandro Cruz, Luciana Saboia

82 1/2016
conservação da
arquitetura moderna
desafios e ações
In his lecture, professor Fernando Diniz Moreira presented the current challenges and the actions carried out to
promote the conservation of the modern architectural heritage of the city of Recife, Pernambuco.

A palestra A Conservação da Arqui- materiais, sistemas infraestruturais, mento Urbano (UFPE/1994) e mestre
tetura Moderna: desafios e ações trouxe manutenção, dimensão urbana, pátina, e PhD em Arquitetura (Pennsylvania
o Recife à Brasília. Não o Recife naquele reconhecimento e tombamento. Ações University, 2001/2004). Atualmente é
dia vestido de retalhos e cores do feriado de ensino, projeto e inventário: Recife professor associado da UFPE e Pesqui-
junino. Não o Recife representado na como sede do I Curso Latino-Americano sador N.2 do CNPq.
figura do palestrante, ele mesmo reci- de Conservação da Arquitetura Moderna;
fense. Mas o Recife como objeto das Recife do Geraldão, como exemplo de
ações às quais o título da palestra se intervenção e Recife inventariado na Texto de Ana Elisabete Medeiros
refere. Ações que buscaram vencer vários obra de Janete Costa e Acácio Gil Borsoi. Coordenação do Evento: Luciana
dos desafios colocados como específicos Fernando Diniz Moreira é arqui- Saboia e Ana Elisabete Medeiros
à conservação da arquitetura moderna, teto e urbanista (UFPE/1989), historiador Organização: Karoline Cunha e
associados a questões de funcionalidade, (UC-PE/1991), mestre em Desenvolvi- Constanza Manzochi

ii ciclo políticas urbanas


e regionais no brasil
The event on Brazilian urban and regional policies brought together researchers from various governmental agencies such as IPEA, IPHAN,
MCT, MCidades and SMRIF, from São Paulo, in presentations and discussions.

O II Ciclo Políticas Urbanas e rativas da Prefeitura Municipal de São politanas no marco dos Estatutos das
Regionais no Brasil teve como objetivo Paulo. O foco foi generalista, procurando Metrópoles e Cidades. A conferência de
apresentar e debater as diversas políticas abarcar as diferentes temáticas deba- abertura foi proferida pela Profa. Dra.
urbanas e regionais no Brasil a partir do tidas no âmbito das políticas urbanas e Marília Steinberger, do Departamento
olhar de pesquisadores de órgãos gover- regionais, incluindo o desenvolvimento de Geografia da UnB, com o título “A
namentais, incluindo a Universidade, o urbano, as problemáticas ambientais dos Retomada da Formulação de Políticas
Instituto de Pesquisas Econômicas Apli- municípios, temas relacionados ao patri- Urbanas e Regionais”.
cada (IPEA), o Ministério de Ciência e mônio histórico-arquitetônico como
Tecnologia, o Ministério das Cidades, processo do planejamento, assuntos Texto de Carolina Pescatori
o Instituto do Patrimônio Histórico e relacionados ao campo da economia Organização: GPHUC-UnB/CNPq
Artístico Nacional – IPHAN – e a Secre- urbana e regional, e o desenvolvi- Coordenação: Rodrigo de Faria,
taria de Relações Internacionais e Fede- mento regional e das regiões metro- Carolina Pescatori e Sandra Corrêa

83
arqui #6

iv jornadas labeurbeanas
The results of the undergraduate and graduate research projects undertaken by professors and students of the LabeUrbe were presented in
a seminar hosted by the laboratory in April.

Nos dias 7 e 8 de abril de 2016 pelo Prof. Dr. Marcos Thadeu Magalhães. orais, realizou-se um debate pelos
foram realizadas as IV Jornadas Labeur- Em seguida, iniciaram-se as comuni- membros do LabeUrbe a respeito das
beanas, no Auditório da Faculdade de cações e debates que se dividiram em temáticas orientadoras das linhas de
Arquitetura e Urbanismo da Universi- cinco momentos distintos. O primeiro pesquisa e sua estruturação. Pontos
dade de Brasília. O evento, organizado foi composto pelas apresentações altos do evento foram a apresentação
pelo Laboratório dos Estudos da Urbe orais das pesquisas em andamento na da pesquisa “Cronologia do Pensamento
(LabeUrbe) no âmbito do Programa de pós-graduação acerca da cidade contem- Urbanístico”, dos alunos Dilton Lopes e
Pós-Graduação e Pesquisa da Faculdade porânea, do urbano e do território em Thiago Magri, da FAU-UFBA, e a palestra
de Arquitetura, tem como objetivo suas múltiplas escalas, organizadas a “Pensar por Nebulosas: Cronologia do
informar a comunidade acadêmica e a partir dos seguintes temas específicos: Pensamento Urbanístico”, proferida
sociedade em geral sobre o andamento paisagem e narrativas; planejamento pelas professoras Paola Berenstein
da formação, produção, além dos resul- urbano; cronologia urbana; patrimônio Jacques (FAU-UFBA) e Margareth da
tados de pesquisas realizadas por profes- e história; produção do espaço e desen- Silva Pereira (PROURB-UFRJ), com
sores, alunos do Programa de Iniciação volvimento regional; projetos e debates mediação da Profª. Dra. Sylvia Ficher.
Científica e pós-graduação vinculados contemporâneos em arquitetura. O evento ocorre anualmente e
ao laboratório. Dois outros momentos envolveram espera-se que possa contribuir para o
O evento foi aberto pelo Prof. Ms. a exposição em pôsteres dos projetos debate sobre a cidade em suas distintas
Pedro Henrique Máximo (professor do de pesquisa dos alunos recém-ingressos escalas e abordagens, e, principalmente,
Curso de Arquitetura e Urbanismo da no Programa de Pós-Graduação e das para promover a construção coletiva do
UEG), com a apresentação da dissertação ref lexões preliminares acerca dos conhecimento e a troca de experiências
de mestrado Do aeroporto à aerotró- objetos investigados pelos alunos do entre os pesquisadores e participantes.
pole e o território do Aeroporto Inter- Programa de Iniciação Científica e seus
nacional de Viracopos, defendida em coordenadores. No dia 8 de abril, além Texto de Sued Ferreira e
abril de 2014, na FAU-UnB, e orientada do prosseguimento das comunicações Ana Flávia Rêgo Mota

84 1/2016
como construímos
brasília
uma conversa com jayme zettel
Architect Jayme Zettel was a member of the design team led by Lucio Costa for the construction of Brasília. In his talk, Jayme Zettel shared
the work that went into transforming the layout of the Pilot Plan into the urban plan of the nation’s new capital, presenting the technical
complexities and unforeseen challenges during that process.

A ideia inicial de trazer o arquiteto Jayme Zettel como palestrante da


disciplina Brasília: Questões de Urbanização e História, do Programa de Pós-Gra-
duação, rapidamente se ampliou para uma palestra aberta, estendendo o convite
para toda a FAU e para a comunidade. O próprio convidado se surpreendeu com
o interesse de tanta gente – estudantes, arquitetos, professores, funcionários
públicos – no que ele poderia contar sobre Brasília.
Jayme Zettel veio para Brasília no início da empreitada, para “botar a cidade
no chão”, como gosta de dizer, mantendo o tom irônico, pois, longe de qualquer
destruição, ele é quem também assinou a famosa Portaria de tombamento do
Plano Piloto! Jayme é cúmplice do nascimento da cidade por ter trabalhado
no grupo de Lucio Costa, contribuindo para o processo de transformação do
desenho do Plano Piloto em projeto urbanístico. Fato que ele lembra com emoção,
recobrando os desafios técnicos e a premência para resolver tantas demandas
imprevistas, desde novos setores, como as quadras 600 ou 900, até terrenos para
diferentes representações religiosas.
Apesar de ser um nome conhecido e uma pessoa reconhecida, trata-se
de alguém discreto e com raras visitas a Brasília. Por esta razão ele também se
surpreendeu com um auditório lotado e curioso para saber outras passagens de
sua trajetória profissional.
Trabalhar nas obras de Brasília foi justamente o seu primeiro emprego
assim que ele saiu da faculdade, fazendo cortes no terreno e tratando da topo-
grafia do lugar que abrigaria a nova cidade-capital. Ele mesmo afirmou que o
processo intenso de trabalho alterou sua percepção de escala, que passou a ser
1:2000, ou seja, uma escala urbana.
Depois desta experiência inicial ele permaneceu integrado à NOVACAP, mas
foi logo convocado por Darcy Ribeiro para trabalhar na construção da Universidade
de Brasília, atuando em seu centro de planejamento, o CEPLAN. Neste processo
teve contato direto com Lelé e com as experiências de pré-fabricação. Diversos
outros assuntos foram mencionados, incluindo seu retorno ao Rio de Janeiro e a
atuação nas obras do metrô, até a atuação com patrimônio na instância federal.
Diante de uma plateia curiosa, o debate mediado pela Profa. Sylvia Ficher
correu fácil, se estendendo até o limite do próprio convidado, que paciente-
mente saltava de um assunto ao outro, alterando escalas, sem alterar seu bom Texto de Eduardo Rossetti
humor. Ao final, Jayme destaca o esforço enorme e coletivo que gerou a cidade, Debatedora: Sylvia Ficher
fato que não deve ser desprezado pela inteligência na condução dos desígnios Coordenação: Eduardo Rossetti e
futuros de nossa cidade. Maria Fernanda Derntl

85
arqui #6

a invenção do
tropicalismo na baía
de guanabara
In his talk, professor Amilcar Torrão Filho (PUC-USP) presented a collection of accounts and images of the Guanabara Bay landscape and
how it became a national symbol and epitome of Brazilian identity.

Braço de mar, foz, gigante de pedra adormecido ou boca banguela. Baía de


natureza edênica e tropical. Em sua palestra, o prof. Dr. Amilcar Torrão Filho (PUC-
SP) retomou relatos e imagens sobre a baía de Guanabara feitos por viajantes,
cientistas, comerciantes e intelectuais, incluindo homens tão distantes no tempo
como André Thevet e Jean de Léry, Claude Lévi-Strauss e Caetano Veloso. Suas
narrativas polêmicas e contraditórias podiam expressar encanto e temor ou
combinar imaginação e realidade. Muito além da mera descrição geográfica, a
baía de Guanabara foi uma paisagem construída e imaginada, tornou-se epítome
da identidade brasileira e um dos principais espaços de memória do país. Como
mostrou o palestrante, a natureza tropical deu ao Brasil uma imagem conceitual
para ser compreendida pelo estrangeiro, uma autoimagem que condensa a nacio-
nalidade. Além de nos conduzir por um instigante percurso de criações discursivas
sobre a baía da Guanabara, a palestra de Amilcar Torrão Filho levou-nos a refletir
sobre o modo como lidar com fontes históricas em trabalhos desenvolvidos nas
interfaces entre os campos da Arquitetura e Urbanismo e da História Cultural.
Leva-nos também a desconfiar dos discursos de identidade impostos à nação
como símbolo – tema crucial, como se sabe, também para tratar de Brasília. Texto de Maria Fernanda Derntl

86 1/2016
Fonte: REIS FILHO, Nestor Goulart. Imagens das Vilas e Cidades do Brasil Colonial. [Colaboradores: Beatriz P. S.
Bueno e Paulo J. V. Bruna]. São Paulo: EDUSP, Imprensa Oficial do Estado, FAPESP, 2000.

87
arqui #6

aula magna
rosa kliass no cerrado
The landscape architect Rosa Kliass spoke with irreverence and modesty about her long-standing career and
presented some of her outstanding projects.

Foto por Thiago Abreu.

88 1/2016
Foi uma tarde especial, a de 20 de maio de 2016, para a virando o Instituto Municipal de Paisagem Urbana de São
Universidade de Brasília. Superlotado, o auditório da Asso- Luís (Impur). A partir da criação do instituto foi feito o
ciação de Docentes (ADUnB), com 520 lugares, recebia uma plano da paisagem urbana da cidade, dando continuidade
senhora de 83 anos, elegante e bem-humorada, para uma a um dos inúmeros trabalhos de Rosa Kliass.
aula magna. Os relatos não pararam por aí. Foram feitas análises,
Rosa Kliass falou sobre “Arquitetura Paisagística – para estudo dos presentes, de pelo menos sete trabalhos
Uma Trajetória”, que faz parte de um circuito de palestras realizados pela arquiteta, ao redor do Brasil e do mundo.
chamado “Rosa Kliass no Cerrado”, em que ela relata sua A atenção dos participantes era máxima, com momentos
trajetória pelo universo do paisagismo. Esbanjando simpatia de descontração, que ela construía com seu jeito meigo e
e sabedoria, Rosa Kliass mostrou para alunos, profissio- a clareza das palavras.
nais e pessoas que se interessam pela área de Arquitetura Em uma de suas histórias emocionantes, a arquiteta
e Urbanismo uma parte de sua experiência como arquiteta contou que, enquanto estava em São Luís para realizar o
paisagista, apresentando projetos e histórias ligados a eles. projeto do Impur, uma conversa com outro dos hóspedes
A arquiteta também carrega em seu currículo formações do hotel em que estava fez com que ela se sentisse tocada
em Geografia e Botânica, que, segundo ela, são de extrema por um de seus trabalhos feitos no Amapá, o Parque do
importância para sua área de trabalho. Seu mestrado voltado Forte. O parque fica no entorno da Fortaleza de São José e,
para a área de Arquitetura e Urbanismo foi feito na Faculdade banhado pelo Rio Amazonas, deu origem a um espaço de
de Arquitetura e Urbanismo da UnB (FAU), o que, segundo recreação para crianças.
ela, já estava em seus planos, entre os trabalhos e a prepa- O hóspede se apresentou como macapaense. Sem
ração para ingressar em mais uma aventura acadêmica na fazer muitos rodeios, Rosa disse que era quase uma cidadã
Universidade de Brasília. do Amapá. Curioso, o homem perguntou o motivo, já que
Mais de vinte países ao redor do globo foram visi- ela havia falado que era do estado de São Paulo. Foi então
tados, estudados e explorados paisagisticamente por Rosa. que ela mencionou seu projeto do parque, que havia sido
A arquiteta ressalta que essas viagens foram de extrema inaugurado há seis meses. Encantado com quem estava a
importância para seu crescimento acadêmico e profis- sua frente o homem chama os dois filhos que estavam na
sional. Entre congressos e trabalhos, Rosa conta que uma piscina para que conhecessem a moça que fez o “lugar bonito”.
das viagens que mais marcou sua vida profissional foi feita Lisonjeada, Rosa conta esta história com muito orgulho e
pelos Estados Unidos, que para ser realizada contou com prazer por ter tido um de seus projetos rebatizados pela
uma bolsa que ganhou para viajar por toda a costa do país – população com um adjetivo tão significativo.
From coast to coast era o nome do projeto. Rosa conta que Ao final da apresentação a arquiteta respondeu a
passou por muitos lugares dentro do país, e que em cada perguntas dos participantes, seguindo para uma sessão
parada existiam visitas que ela julgava serem obrigatórias de autógrafos da segunda edição de seu livro Rosa Kliass:
para seu crescimento. “Em cada cidade eu visitava a escola desenhando paisagens, moldando uma profissão.
de arquitetura paisagística do local, os principais arquitetos A ponto de fazer 84 anos, Rosa Kliass deu uma aula de
ali residentes e buscava conhecer a fundo os lugares e seus humanidade, humildade, preocupação com o meio ambiente
estilos paisagísticos”, relata durante a apresentação. e experiência. Os participantes, em momentos de risadas
Já nos projetos realizados no Brasil, Rosa destaca com e outros de emoção, demonstraram imenso respeito pela
humor e irreverência uma experiência que viveu no estado figura que a arquiteta representa da história da Arquitetura
do Maranhão, mais especificamente na capital São Luís. Paisagística mundial. A clareza e a lucidez das palavras profe-
Nos tempos em que era presidente da Associação de ridas pela profissional fizeram com que a plateia quisesse
Arquitetos Paisagistas (ABAP), Rosa recebeu um convite, mais. Aplaudida de pé e homenageada pelos estudantes da
de uma arquiteta do estado do Maranhão, para que ela indi- FAU, Rosa Kliass foi exaltada pelo público. Os pedidos de
casse um profissional da região Norte que pudesse fazer um abraços não foram poucos. Uma fila se formou na saída do
projeto paisagístico na cidade. “Eles queriam um arquiteto palco. Essa foi a maneira encontrada pelos participantes
paisagista para um projeto que visava apenas uma plan- para demonstrar gratidão por aquele breve momento de
tação de florzinhas nos canteiros das avenidas”, conta a troca de experiências entre quem está ingressando na área
arquiteta, fato que arrancou risos dos presentes. Para solu- e quem nela se consagrou como uma das melhores.
cionar inicialmente o problema de São Luís, Rosa sugeriu
que a equipe responsável pelo projeto fosse a um congresso
que seria realizado em Belém, no Pará. Tendo sua sugestão
acatada, após o congresso, ela recebeu o convite para criar Extraído do site CAU-BR
um departamento de parques e jardins, que por fim acabou Texto por Jéssica Luz, com supervisão de Júlio Moreno

89
GA
LE
RIA
arqui #6

#rosakliass
nocerrado
Imagens do concurso #rosakliassnocerrado,
promovido pelo projeto Pé na Estrada.

Foto por Luciana Jobim Navarro.

92 1/2016
Foto por Marcela Budó.

Foto por Maurício Campos. 93


arqui #6

Foto por Frederico Maranhão.

Foto por Manuella Monção.

94 1/2016
Foto por Marina Zuquim.
95
arqui #6

Foto por Leila Cosmobrasiliana.

96 1/2016
Foto por Gaby Heusi.

Foto por Isadora Nunes.

97
arqui #6

Foto por Luciana Jobim Navarro.

Foto por Eduardo Duarte.

98 1/2016
Foto por Andrea Alquezar.

Foto por Edna Marques.


99
HO
MENA
GEM
cerrado
E começa a rezar, meio alto, só como sabe, enquanto a estrada sai do
mato para o calorão do cerrado, com enfezadas arvorezinhas: muricis
de pernas tortas, manqüebas; mangabeiras pedidoras-de-esmola;
barbatimãos de casca rugosa e ramos de ferrugem; e, no raro, um
araticum teimoso, que conseguiu enfolhar e engordar.
Da garupa de Brabagato a cauda cai como uma cobra grossa, oscilando,
e o pincel zurze o ar, quase nos chifres de Brilhante, que fechou de
todo os olhos e vergou o toutiço. ....
“Cada dia o boi Rodapião falava uma coisa mais difícil p’ra nós bois.
Deste jeito: — Todo boi é bicho. Nós todos somos bois. Então, nós todos
somos bichos!... Estúrdio...

João Guimarães Rosa. Sagarana, 1946

Imagens de capa e seções da revista por Marilia Alves Fotografia


+ infos: www.mariliaalves.com

Seleção de textos: Maria Fernanda Derntl


Colaboração: Fátima Macedo Martins
“Paramos no lugar denominado Porco Morto, à beira
de um riachinho, num vale fundo e estreito rodeado de
morros cobertos de matas. Grandes árvores formavam
acima de nossas cabeças uma abóbada espessa, e aquela
solidão parecia isolada do resto do universo. Entretanto,
era-nos impossível desfrutar da beleza do lugar, dada
a infinidade de insetos de todas as espécies que nos
atormentava.”
“[...] Nada havia para ver, nem a mais humilde choupana,
nem gado, nem caçadores, e, no entanto, não se podia
dizer que aquelas solidões inspirassem melancolia, pois
a luminosidade do céu bastava para embelezar tudo.
Além do mais, o viajante encontra permanente distração
nas singulares variações da vegetação, com suas
maravilhosas diferenças de forma e de folhagem.”

Saint-Hilaire, Auguste de. Viagem à província de Goiás, 1819.


“No meu espírito, quando tive essa intenção de marcar a
posição da Praça [dos Três Poderes] era, em parte, com o
objetivo de acentuar o contraste da parte civilizada, de co-
mando do País, com a natureza agreste do cerrado.
Propunha que esta viesse ao encontro do arrimo triangular
que caracteriza a Praça dos Três Poderes. É um triângulo
equilátero, com os Três Poderes acentuados, cada qual num
vértice. No contato direto desse triângulo com a vegetação,
no meu espírito um tanto romântico, imaginava que teria um
sentido: o cerrado representaria o povo, a massa de gente
sofrida, que estaria ali junto ao poder da democracia que lhe
é oferecido. Essa ideia foi logo destruída, sem querer, pelas
máquinas de terraplenagem.”
Lucio Costa. Considerações em torno do Plano-Piloto de Brasília, 1974.
O Cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul,
ocupando uma área de 2.036.448 km2, cerca de 22% do território
nacional. A sua área contínua incide sobre os estados de Goiás,
Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais,
Bahia, Maranhão, Piauí, Rondônia, Paraná, São Paulo e Distrito
Federal, além dos encraves no Amapá, Roraima e Amazonas.
Neste espaço territorial encontram-se as nascentes das três
maiores bacias hidrográficas da América do Sul (Amazônica/
Tocantins, São Francisco e Prata), o que resulta em um elevado
potencial aquífero e favorece a sua biodiversidade [...] Além dos
aspectos ambientais, o Cerrado tem grande importância social.
Muitas populações sobrevivem de seus recursos naturais,
incluindo etnias indígenas, quilombolas, geraizeiros, ribeirinhos,
babaçueiras, vazanteiros e comunidades quilombolas que,
juntas, fazem parte do patrimônio histórico e cultural brasileiro, e
detêm um conhecimento tradicional de sua biodiversidade.

Ministério do Meio Ambiente. O bioma cerrado, sem data.


Universidade de Brasília

Reitor: Ivan Marques de Toledo Camargo


Vice-reitora: Sonia Báo
Decano de extensão: Valdir Steinke

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB

Diretor: José Manoel Morales Sánchez


Vice-diretora: Luciana Saboia Fonseca Cruz
Coordenador de pós-graduação: Marcos Thadeu Queiroz Magalhães

ARQUI é uma publicação semestral da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – UnB

EDITOR – José Manoel Morales Sánchez


EDITORA EXECUTIVA – Maria Fernanda Derntl
CONSELHO EDITORIAL – Andrey Rosenthal Schlee, Benny Schvarsberg, Cláudio José
Pinheiro Villar Queiroz, Elane Ribeiro Peixoto e Luiz Alberto Gouvêa
EQUIPE EDITORIAL DA REVISTA – Caio Frederico e Silva, Eduardo Pierrotti Rossetti
(Coordenação de Ensaio Teórico), Gabriela Bílá, José Manoel Morales Sánchez,
Karolyne Godoy, Luiz Eduardo Sarmento, Maria Fernanda Derntl e Giselle Chalub
Martins Martins (Coordenação de Diplomação)
COORDENAÇÃO EDITORIAL – Maria Fernanda Derntl
COMISSÃO DE DIPLOMAÇÃO – Cláudia Garcia, Gabriela Tenorio, Giselle Chalub
Martins, Maria Cecília Gabriele e Oscar Luis Ferreira
COMISSÃO DE ENSAIO TEÓRICO – Eduardo Rossetti, Marcos Thadeu Queiroz
Magalhães, Maria Fernanda Derntl e Pedro Paulo Palazzo
PROJETO GRÁFICO – Gabriela Bílá (Novo Estúdio Brasília) e Luiz Eduardo Sarmento
REVISÃO ORTOGRÁFICA – Sueli Dunck
TRADUÇÃO INGLÊS – Ana Luisa Rein

IMAGENS DA CAPA E SEÇÕES – Marilia Alves Fotografia

IMPRESSÃO – Gráfica Brasil

© Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - UnB


Universidade de Brasília, Instituto Central de Ciências – ICC Norte, Gleba A, Campus
Universitário Darcy Ribeiro, Asa Norte, Brasília DF, Brasil 70904-970
tel. (+55) 61.3107.6630 fax. (+55) 61.3107.7723
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n° 06 1/2016

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