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N°12 | 1 / 2019

faunb
faunb

Universidade de Brasília
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Universidade de Brasília

Reitora: Márcia Abrahão Moura


Vice-reitor: Enrique Huelva
Decano de extensão: Olgamir Amancia

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB

Diretor: Marcos Thadeu Queiroz Magalhães


Vice-diretora: Cláudia da Conceição Garcia

ARQUI é uma publicação semestral da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – UnB


Editor: Marcos Thadeu Queiroz Magalhães

Equipe Editorial
Coordenação Editorial: Maria Cecília Filgueiras Lima Gabriele
Coordenação de Ensaio Teórico: Ana Elisabete de Almeida Medeiros
Coordenação de Extensão: Carlos Luna
Coordenação de Diplomação: Cynthia Nojimoto e Paulo Roberto Carvalho Tavares
Estagiários: Marcos Cambuí, Amora de Andrade e Leonardo Nóbrega
Comissão de Diplomação: Cynthia Nojimoto, Neusa Cavalcante e Maria Claudia Candeia
Comissão de Ensaio Teórico: Ana Paula Gurgel, Carlos Luna e Maria Claudia Candeia
Diagramação: Marcos Cambuí
Projeto Gráfico: Gabriela Bílá (Novo Estúdio Brasília) e Luiz Eduardo Sarmento com adaptações de Marcos Cambuí
Revisão Ortográfica: Amora Andrade

Imagens da Capa e Seções: Fotografias do Balé Triádico da Bauhaus com intervenções gráficas de Marcos Cambuí

Versão Digital: https://issuu.com/fau.unb/docs/arqui12


Impressão: Gráfica Coronário

© Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - UnB


Universidade de Brasília, Instituto Central de Ciências – ICC Norte, Gleba A, Campus Universitário Darcy Ribeiro, Asa Norte, Brasília
DF, Brasil 70904-970
tel. (+55) 61.3107.6630 fax. (+55) 61.3107.7723
http://www.fau.unb.br/
n° 12 1/2019

As opiniões expressas nos artigos desta revista são de responsabilidade exclusiva dos autores.
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instagram: @revistaarqui
editorial

N esta edição a Revista Arqui homenageia a Bauhaus


em seu 100º aniversário. Nossas páginas foram inspiradas
pelo Balé Triádico, com reflexões do Professor Eduardo
Pierrotti Rossetti.
Os ensaios deste semestre trazem um amplo espectro de
temas que permeiam o local e o global, desde detalhes de
janelas às questões urbanas. Assim também ocorre com
a produção dos Trabalhos de Conclusão de Cursos, que
desvelam olhares diferentes na complexidade de objetos
estudados e desenvolvidos.

A professora Neusa Cavalcante abre a edição com um


texto sobre a Geometria Construtiva, tão importante para
a formação de nossos alunos. Corre à boca miúda que
os alunos saem com um “novo olhar” depois de desfrutar
dos belos exercícios ali propostos.
E uma nova seção é inaugurada, a “Arqui entrevista”
com o eterno professor Nonato Veloso entrevistado pela
nossos alunos Amora Andrade, Léo Nóbrega e Marcos
Cambuí. Uma estreia com o pé direito!!
Temos ainda as peripécias do “Pé na Estrada” e outras
notícias da nossa FAU. Vamos à Arqui 12!

A equipe editorial
sumário
pesquisa
ensaio

20
Representação gráfica em urbanismo
Angelina Guedes Trotta

21
Êxodo: Uma análise espacial da situação dos
imigrantes venezuelanos na cidade de Boa
Vista/RR.
Anne Scandelari Raupp

22
Retratos da Cidade: Intervenções temporárias
no espaço público
Clara Alvares Camargo

24
Metabolismo 1960: do conceito à matéria
Clara Rezende Porto

26
Significância Cultural da SQS 308
Luiza Peregrino Cunha

27
Mulher e o direito à cidade: uma investigação
sobre a adequação dos espaços e mobilidade
editorial urbanos com foco nas trabalhadoras
domésticas de Brasília/DF
10
Geometria construtiva: de olho na criatividade Marcella Menezes Vaz Teixeira
Neusa Cavalcante 28
De fora pra dentro, de dentro pra fora: Um
14
Pedagogia da utopia panorama histórico da janela residencial
Rodrigo Mendes de Souza Mariana Fernandes das Neves

29
Da terra à mesa: Territórios e comunidades
produtivas
Monique Gomes Nogueira

30
O museu do futuro diplô
Pedro Vitor Almeida Silva

32 destaque
Arquitetura Social: Experiências em
Assistência Técnica
39
Sarah Lima Cirino repensar a escola classe
Kamila Venancio Moreira

40
ccol - complexo cultural orla livre
Karoline de Sousa Cunha

42
habitar o campo: uma residência no lago
oeste
Marcia Del Lama

44
lixo:compostagem e agricultura urbana no
plano piloto de brasília
Tainá Wanderley
63
viveiro caliandra

+ Laura Santos Siqueira


64
parque aqua lakeshore

48 Layane Christine Vieira


cidade e natureza: urbanização em áreas de 65
recarga de aquíferos abrigo para pessoas em situação de rua
Aline da Nóbrega Oliveira Letícia Drummond de Oliveira Magalhães

49 66
a nova biblioteca pública de Brasília sambódromo da ceilândia
Angela Viana Pereira Lucas Rodrigues Araújo

50 67
modifica: eixo de produção e comércio de espaços públicos modulares para crianças
modas do df Luísa Viana Luniere de Azevedo
Bárbara Veras Rodrigues Queiroz 68
espaço iso photo e arts
51
os movimentos sociais no direito à cidade: Maria Clara Viana Licursi
desenho coletivo dos espaços livres públicos
69
no assentamento MTST em Nova Planaltina projeto quatro patas: projeto arquitetônico de
Cristina Nakamura Araujo abrigo pra animais abandonados

52 Maria Eduarda Moll Chaves


duna – complexo praiano 70
Danielle Mota requalificação urbana ao longo do metrô de
ceilândia
53
google brasília - em busca do conforto do Maria Emília Monteiro
usuário
71
Débora Guedes Anacleto cw3 - coworking w3 sul

54 Marina da Silva Ribeiro


centro gerontológico sensorial: atenção ao 72
bem-estar físico e psicológico dos idosos “ei! tem alguém aí?”: arquitetura cenográfica
Deyse Chagas Mendes Mariana Figueiredo Sobral Torres

55 73
terminal de integração hidroviária novo zoo bsb encontros
Douglas Dornela Menezes Mario Sergio Facundes Taveira

56 74 82
espaço do nascer: casa de atendimento à dorothy stang de baixo pra cima: modelo Pé na estrada: Expo Sampa
gestante e ao parto humanizado no hospital participativo e sustentável para uma quadra Júlia Lopes Soares
regional de ceilândia da ocupação
84
Estela Hirakuri Mateus Marques Rangel arquitetura, Urbanismo e seus nexos

57 75 Caio Frederico e Silva


edifício de uso misto para locação social eixo universitário do plano piloto
86
Luís Fernando Lucena Rachel Benedet de Sousa Martins palestra de Alexandre Brasil

58 76 Maria Claudia Candeia


modhaus - modelo de habitação para espaço da moda 87
autoconstrução sustentável Vanessa Silva Botelho workshop “Os espaços da FAUFRGS”
Gabrielle Monteiro Teixeira 77 Luciana Saboia e Paola Ferrari
centro de intercâmbio cultural brasil – japão
59
permacultura urbana e habitação social Vinícius Faustino de Oliveira Santos entrevista
Giulia Gheno 78
cer - centro especializado em reabilitação
60 90
emaa – escola municipal alice attuá visual, físico, auditivo arqui entrevista: nonato veloso
Hiagson Souza de Jesus Yasmin Rodrigues da Costa Amora de Andrade, Leonardo Nóbrega e
Marcos Cambuí
61
intervenção no elefante branco: integrando a
cidade com o parque homenagem
Joaquim da C. Bastos Júnior

62 100
menu brasília - espaço gastronômico e balé Triádico: trinômio do quadrado perfeito,
cultural ou não...
Larissa Carvalho de Paula Eduardo Pierrotti Rosseti
No final do século XIX, em consequência das transformações impostas
pela Revolução Industrial, as artes e a arquitetura foram sacudidas por
uma polêmica. De um lado, estavam os defensores do movimento Arts
and Crafts (1850-1914) que, liderado por William Morris, rejeitaram o modo
industrial de produção, colocando em dúvida a qualidade estética de seus
produtos; de outro, aqueles que viam na industrialização uma forma de
promover a produção em escala e, consequentemente, o barateamento dos
preços, permitindo que mais pessoas adquirissem os produtos.

Após considerar a máquina uma inimiga, Morris, influenciado pelos ideais


socialistas, convenceu-se de que seria impossível produzir de forma
manufatureira objetos que pudessem ser acessíveis a todos. Como
desejava uma arte “pelo povo e para o povo” e rejeitava a ideia de produzir
para “o luxo imundo dos ricos”, em seus últimos discursos, o artista inglês
admitiu que “[...] devíamos tentar tornar-nos senhores das nossas máquinas
e usá-las como instrumentos para conseguir melhores condições de vida”.
(Apud PEVSNER, 1962, p. 27)

O desafio proposto por Morris, de produzir um design adequado à


produção em escala, serviu de estímulo para a criação, em 1919, da
Staatliches Bauhaus, na cidade de Weimar, Alemanha, que buscou
neutralizar os conflitos entre o artesanato e a indústria emergente.
Durante o Vorkurs -, curso preparatório que durava cerca de 4 anos, dava-
se ênfase ao desenho, à pintura, à escultura e à elaboração de maquetes
e protótipos, ou seja, às disciplinas que implicavam o uso das mãos e
o desenvolvimento da criatividade. Somente após essas práticas, eram
oferecidos os conteúdos teóricos, pois acreditava-se que os alunos não
deveriam ser, de início, influenciados pelas obras do passado.

Na época, a experiência desenvolvida no âmbito da Bauhaus,


precocemente abortada pelo regime nazista, foi, sem dúvida, uma grande
inspiração para o ensino das artes e da arquitetura em todo o mundo.
Assim, no rastro das ideias da escola alemã, foi criado, em 1962,
na Universidade de Brasília, o Instituto Central de Artes (ICA), sob a
coordenação do arquiteto e professor Alcides da Rocha Miranda. Seguindo
as diretrizes da Bauhaus, no ICA, que reunia os ensinamentos preparatórios
para os cursos profissionais de artes e arquitetura, com exceção de
História da Arte I e II, a maior parte do tempo era dedicada aos trabalhos
de expressão artística – desenho, pintura, escultura, gravura em metal,
xilogravura, artes gráficas, fotografia – e, portanto, à criação, no sentido
mais abrangente.

No final da década de 1980, o ex-aluno do ICA Jayme Kerbel Golubov,


criou, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU-UnB), a disciplina
Geometria Construtiva, que buscou, de certa forma, recuperar o instigante
processo de ensino-aprendizagem das artes praticado nos primórdios da
UnB. Assim, a Geometria Construtiva, carinhosamente chamada pelos
alunos de GC, é “filha” do ICA e, por conseguinte, “neta” da Bauhaus.

A ideia do saudoso arquiteto e professos Golubov, conforme ele mesmo


esclareceu, não era ensinar geometria propriamente dita e sim estimular
a construir a partir dela, daí o nome Geometria Construtiva. Ao invés de
sobrecarregar os alunos com teorias e construções geométricas, dava-se
preferência às práticas de atelier, em que os conceitos eram apreendidos de
acordo com as necessidades impostas pelas construções artísticas.

Ao assumir a referida disciplina no final da década de 1990, e com o foco


em uma realidade dominada pela era digital, foram introduzidas algumas
modificações, entre as quais as estratégias voltadas ao desenvolvimento
da acuidade tátil-visual, da coordenação motora fina e, principalmente, da
criatividade. Como pretexto para o exercício fundador, optou-se pelo uso
da natureza, reconhecida como fonte privilegiada de conhecimento para o
fazer artístico.
Geometria Construtiva: de olho na criatividade¹
Neusa Cavalcante
orgânicas, perdem suas formas originais. Nas palavras de
Com seus padrões geométricos, suas formas de
Fayga Ostrower,
organização, suas cores e texturas, a natureza é, como
disse Antoni Gaudí, um livro aberto para quem quiser [...] ao formar, ao dar forma à imagem, o artista é
lê-lo. Segundo suas palavras: “[...] não invente soluções, obrigado a deformar. Por necessidade substituirá as
mas observe como a natureza se organiza [...] Se a formas existentes na natureza por outras. Também
natureza é um feito do Criador e as formas arquiteturais criará novos contextos formais, cuja extensão
derivam da natureza, isto significa que o Criador está e equilíbrio irão servir de padrão de referência à
sendo continuado”. (Apud PUIG, 2011, p. 25, 27) ² própria interpretação das formas articuladas pelo
artista [...] mesmo querendo inspirar-se em formas
As novas estratégias adotadas em GC decorreram de da natureza, o artista as abandona para criar formas
uma reflexão sobre as práticas pedagógicas adequadas de linguagem. (OSTROWER, 2004, p. 314) ⁵
ao atual momento histórico, definido por Zygmunt
Bauman (2001)³ como “modernidade líquida”, carente de Da fase anterior, em que os alunos são observadores
profissionais criativos capazes de dar respostas para as e intérpretes da Criação, passa-se para a etapa de
demandas de uma sociedade que se desenvolve em um síntese, a qual, destinada à criação a partir dos entes
ambiente de imprevisibilidade. geométricos estudados, promove os alunos de criaturas
atentas a criadores libertos. Trata-se, então, de produzir
O caminho que parece mais seguro para atingir esse
composições ou protótipos livres, cuja função principal
objetivo é o fomento à criatividade: ao invés de treinados
é criar beleza. Para que esses rearranjos resultem
para ser personagens de cenários já desenhados, os
harmoniosos, faz-se necessário, no entanto, adquirir
alunos devem ser estimulados a antecipá-los, recriá-los.
um repertório estético, que marca o universo das artes
Mais do que seguir dogmas, eles devem sentir-se libertos
plásticas, e também fazer uma reflexão sobre o conceito
para sonhar e corajosos o suficiente fazer os sonhos
de beleza.
acontecerem. Em um clima de instabilidade, tornam-se
importantes os espaços para criar e sonhar. “Porque se
chamavam homens, também se chamavam sonhos, e O biólogo e estudioso das artes Paul Weiss coloca
sonhos não envelhecem...” (Clube da Esquina II, 1972) ⁴ algumas luzes sobre o código estético da natureza:
“[...] a beleza sugere mais que uma simples ordenação,
Acreditando que a liberdade e a criatividade não são especifica um tipo particular de ordenação. Postula a
dádivas e sim frutos de conquistas, diferentemente ordem compatível com a singularidade [...] a natureza
de um atelier livre, na Geometria Construtiva, a forma não é caótica e atomizada. Seus padrões são primários e
de concretizar ideias segue uma trilha previamente inerentes e a ordem fundamental de beleza é aparente”.
estabelecida, com etapas determinadas e conquistas (WEISS, 1960, 178)⁶
parciais. O trabalho inaugural, que pressupõe uma
Para conceber uma obra de arte, não basta reproduzir
acurada análise da natureza, é subdividido em três
uma determinada ordem ou fazer uma releitura geométrica
passos: o desenho de observação, o mais fiel possível;
dos padrões orgânicos, é necessário e desejável que se
a descoberta dos padrões geométricos ocultos nas
estabeleça uma harmonia entre as diretrizes ordenadoras
formas orgânicas; e a abstração, ou seja, a interpretação
e as singularidades propostas pelos criadores. Se a
geométrica do material previamente analisado. Com isso,
falta de ordem conduz ao caos, seu excesso enseja
as formas da natureza, dissociadas de suas funções

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5 6 7

1.Oficina de cerâmica, Weimar, 1924 (http://ghdi.ghi-dc.org/sub_image.cfm?image_id=4305); 2. Oficina de carpintaria, Weimar, 1923. (https://br.pinterest.com/pin/565061703
Galeria da FAU-UnB, 2019. Foto Gabriel Lyon; 6. Geometrizando 7, Galeria FAU-UnB, 2011; 7. Geometrizando 6, Galeria da FAU-UnB, 2007. Foto Thaís Pompeu de Pina; 8.
monotonia e, por consequência, desinteresse por parte
Depois das primeiras experiências com os “objetos”
dos espectadores.
da natureza, outros temas são eleitos como pontos de
A multiplicidade de elementos e a conciliação entre ordem partida para as composições plásticas das unidades
e variedade transformam a difícil etapa de composição didáticas seguintes. Manifestações culturais, como a
em um jogo, ou melhor, em um complexo quebra-cabeça. dança, o circo, o carnaval, as obras dos artistas e as
O fato de as peças e as regras estarem colocadas não cidades, tornam-se pretextos interessantes para promover
garante o sucesso da produção artística. Como em releituras e rearranjos artísticos interessantes e inusitados.
qualquer jogo, é preciso agrupar as peças de acordo com
Para concluir, é preciso ressaltar a importância das
certos critérios, o que exige perspicácia que, nesse caso,
disciplinas práticas e de criação, em geral, e da Geometria
prefere-se chamar de criatividade.
Construtiva, em particular, para o Curso de Arquitetura e
O desafio seguinte é traduzir os sonhos, materializar Urbanismo da Universidade de Brasília que, prejudicado
as ideias. Entra então em cena a verdadeira atividade pela baixa carga horária destinada à área de Projeto,
construtiva, que se expressa por meio do domínio Expressão e Representação,⁸ tem oferecido menos
dos materiais e técnicas. Para isso, é necessário chances de os alunos desenvolverem a criatividade e,
entender, mesmo que empiricamente, as características portanto, de se tornarem profissionais mais capacitados
e propriedades dos materiais. ⁷ Mas, quase como para enfrentar as demandas impostas pelos novos
num passe de mágica, após uma sensibilização sobre tempos.
____________________________________________________
o assunto, as criações se transformam em objetos ¹ Este artigo é uma homenagem aos 100 anos da Bauhaus.
esperando para serem reconhecidos como obras de arte.
² PUIG, Armand. La Sagrada Familia según Gaudí. Barcelona: El Aleph
Editores, 2011.
Esse conhecimento empírico reforça o caráter
³ BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
experimental da Geometria Construtiva. Acompanhando
de perto as experiências e dificuldades dos alunos, ⁴ Canção de Milton Nascimento, Lô Borges e Márcio Borges.
a disciplina tem se transformado ao longo do tempo. ⁵ OSTROWER, Fayga. Universos da arte. 24. ed. Rio de Janeiro: Elsevier,
2004.
Buscando uma analogia, pode-se dizer que o seu fio
condutor é a corda por onde se desloca a bailarina do ⁶ WEISS, Paul. Organic forms: scientific and aesthetic aspects. In: KEPES,
circo: embora sempre estendida no mesmo lugar e Gyorgy. The visual arts today. Middletown: Wesleyan University, 1960, pp.
177-190.
fixada nos mesmos pontos, ela tende a se amoldar às ⁷ GC é oferecida aos calouros, os quais não possuem ainda
acrobacias que sobre ela são feitas. conhecimentos sobre os materiais e as técnicas construtivas.

⁸ Na época da fundação da FAU-UnB, as disciplinas de projeto – os


Por fim, reproduzindo as práticas do antigo ICA, os Projetos de Edificações e Urbanismo (PEUs) – tinham 12 horas por
melhores trabalhos são, de tempos em tempos, expostos semana; na década seguinte, tiveram sua carga horária semanal reduzida
ao público como merecem, de forma solene. Além de para 8 horas, o que representou uma perda de 33% do tempo dedicado
à criação e à prática de projeto. Em 1995, a área de Projeto, Expressão
servirem para melhorar a autoconfiança, conforme e Representação representava 92 dos 196 créditos (aproximadamente
reconhecido pelos alunos, essas iniciativas representam 47%) do total das disciplinas obrigatórias; atualmente essa relação é de
um meio, ainda que tímido, de prestar contas da produção 88 para 206 (aproximadamente 43%). Além disso, a área de Expressão
e Representação, em específico, possui hoje apenas 4 disciplinas
acadêmica à sociedade, indo ao encontro da transparência obrigatórias, com 4 créditos semanais cada. Nesses cálculos não foram
que deve prevalecer nas instituições públicas. considerados os estágios de projeto e de obra, o Projeto de Diplomação e
o Ensaio Teórico.

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318262496/); 3. Exposição de trabalhos de alunos, Weimar, 1923. (https://www.pinterest.co.uk/pin/318348267394613891/); 4. Aula prática no atelier.; 5. Geometrizando 9,
Geometrizando 8, Galeria FAU-UnB, 2014; 9. Professor Jayme Golubov (1940-1997); 10. Atelier de esculturas, Dessau, 1925 (https://www.akg-images.co.uk/archive).
Pedagogia da utopia
Rodrigo Mendes de Souza, prof. CAU/UFMS
Ao abordar a pedagogia da Bauhaus algumas distinções se fazem
necessárias, seja quanto às possibilidades de tratar o tema no singular, seja
acerca dos fundamentos presentes nos diversos estatutos da escola. É em
Gropius que encontraremos alguma possibilidade de unidade pedagógica
que perpassa toda a atividade da escola, sem que isso constitua, como
afirmou o próprio, um estilo Bauhaus.

Quando compõe o corpo docente, ele escolhe seus membros no círculo


expressionista alemão. De modo que a valorização do artesanato como
detentor de qualidade estética, a noção de matéria como precedente à
forma e a concepção do fazer artístico enquanto operação da realidade
e, portanto uma instância moral, se mantêm, mesmo com a radicalização
racionalista do Existenz-minumum sob a diretoria de Meyer, a fim de
oferecer as categorias operativas a orientar a produção de utensílios.
Mas sua extensão e papel estruturante da pedagogia da escola podem
ser melhor percebidos pela sua permanênia na inflexão da escola do
Expressionismo para o Construtivismo.

Embora parte da historiografia e mesmo o ambiente interno da escola


retratem este momento como uma disputa entre as duas correntes , um
olhar mais atento mostra uma aceitação aberta da indústria sobre as
mesmas bases. Neste momento, em 1923, o estatuto é reformulado, há a
saída de Itten e a permanência da estrutura do Curso Preliminar como ele
preconizara. As aulas sobre a matéria (Materiestudien) ficam a cargo de
Albers e Moholy-Nagy e as aulas de desenho (Gestaltungslehre ou Estudos
da Forma) continuam com Klee e Kandinsky.

No entanto, mais importante e destacado por Gropius é a admissão no


corpo docente de antigos alunos, pois pela primeira vez, ele vê condições
de suplantar a dicotomia entre mestres da forma e mestres artesãos,
condição de partida da Bauhaus na conciliação entre os mundos da
cultura e do trabalho, na síntese entre indústria e arte. Ele dispunha de uma
geração detentora de mestria em ambos os campos, como assinalado em
Bauhaus: Novarquitetura. Esta formação visava superar a separação entre
ideação e execução, como forma de unir qualidade e quantidade sob o
standard, formalização da resposta de Gropius a uma sociedade industrial e
de massa. Ao tornar evidente o procedimento na forma, a identidade entre
ideação e execução qualifica o espaço moderno no seu uso, em oposição
à instabilidade de valores que caracteriza a Modernidade. Se a qualidade
vem do uso, o standard racionaliza a inconstância da vida ao contemplar as
necessidades do indivíduo, sujeito abstrato, característico da Modernidade.
Aqui, a razão não atribui à técnica e à função valores absolutos. De modo
a estabelecer dupla relação com as questões da física moderna, acerca
da objetivação do mundo (sensível), pela óbvia relação com a técnica, mas
também com os apontamentos acerca da imponderabilidade, como os
feitos por Werner Heisenberg.

Gropius articula no que chamou de chave ótica – equivalente visual da clave


musical, ou à desvinculação total entre arte e natureza - a possibilidade de
unidade da Bauhaus. Isto não poder ser simplificado como uma redução às
formas básicas e cores primárias, porque consistiria em suporte a valores
pré-definidos. Assim, a pedagogia da Bauhaus não trata da forma (Gestalt),
coisa estável, mas da formatividade (Gestaltung), processo que articula
experiência criativa e percepção inteligente no fazer e no uso, portanto,
previamente indefinível na mesma medida em que abarca a imprevisbilidade
da vida.
pesquisa
2020 e 2021 serão tempos lembrados nas
páginas dos livros de história como anos aflitivos,
assombrados pelo medo, pela fome e por nossa
imprudência em desconsiderar os males do avanço
sobre a natureza. Sombrios, certamente! Mas não
destituídos de esperança - afinal, o que seria de
nós se esse belo sentimento nos abandonasse?
Se vimos florestas queimando, se testemunhamos
as violências mais nefastas, também ouvimos se
levantar contra elas inúmeras vozes. Trabalhemos, a
nossa maneira e na medida do nosso possível, para
engrossar esse coro e torná-lo mais audível e claro.
Não é preciso muito, consideremos os trabalhos de
ensaio, empenho de alunos e professores, sob essa
perspectiva. Eles são nossa contribuição para a
construção de conhecimento, ciência e tecnologia
na área de Arquitetura e Urbanismo. Este esforço
coletivo é luminoso e alegre – em outras palavras: é
esperançoso. A diversidade de temas contemplando
nessa edição de Revista Arqui nos dão prova disso.
Envolvem discussões contemporâneas sobre o
fenômeno crescente das expulsões de populações,
de segregação e preconceito, de alternativas para
as formas de produção em comunidades, assim
como assuntos muitos específico do fazer de nossa
profissão, importantes para o nosso ambiente
construído – temas que nos afetam como viventes do
século XXI.

Elane Ribeiro
Coordenadora de Ensaio Teórico
ensaio
Representação gráfica em urbanismo
Angelina Guedes Trotta

Imagens fornecidas pela autora

O desenho é uma ferramenta de encontrados registros e ilustrações de atuais de registrar e ilustrar cidades
expressão através da qual realidade e cidades são extremamente variadas, vão - em uma aula da universidade ou na
ficção se aproximam, onde uma situ- desde imagens feitas com ferramentas aprovação de projetos urbanos. Assim o
ação pode ser ilustrada ou simulada e baseadas em satélite, até o uso de trabalho é estruturado em duas partes:
depois interpretada de inúmeras formas. softwares de modelagem ou ilustração. um breve panorama histórico apre-
Para arquitetos e urbanistas, desenhar Consequentemente, os disposi- sentado no primeiro capítulo; e uma
é comunicar uma ideia, testar possi- tivos usados serão diferentes e cada pesquisa de campo composta por entre-
bilidades, analisar agentes, comparar, mapa terá um processo de produção vistas, assunto do capítulo dois. Ques-
dialogar e propor. Representar a cidade específico. A consciência desta escolha tiona-se nessa etapa o uso de recursos
através do desenho é um ofício que vem está relacionada à prática e à pesquisa gráficos computadorizados para repre-
sendo o escopo de profissionais como por repertório, e este ensaio se propõe a sentar a cidade, além da presença ou
geógrafos, planejadores, cartógrafos e ser um instrumento de auxílio à compre- ausência do desenho à mão no processo.
mesmo artistas, com as mais variadas ensão de como pode ser feita a repre- Com ela tem-se um cenário tangível das
técnicas. sentação gráfica da cidade. Posto isso, conveniências e das condicionantes que
Para o arquiteto e urbanista, a identifica-se a possibilidade de contri- fazem parte da rotina de profissionais
questão abrange, além do ponto “o que buir para a formação de urbanistas ao do urbanismo. Ao final, a conclusão e
representar”, a decisão de “como repre- levar em consideração o desenho como os anexos fecham o ensaio.
sentar” - o que envolve uma gama de instrumento de projeto.
alternativas a serem avaliadas. É cres- Entender a trajetória dos mapas
cente a preocupação com o efeito visual e da cartografia ao longo da história
que o mapa ou desenho irá passar, em se mostra pertinente à medida que as
um panorama de mídias e informações transformações vividas pela humani-
rápidas em que a primeira impressão dade são também transformações no
pode ser decisiva ao atrair a atenção modo de pensar e enxergar o mundo - e
de um público. consequentemente no modo de repre-
Assim, a representação gráfica sentá-lo. A transição entres os séculos
vem se tornando tópico de pesquisas, XIX a XXI em especial trouxe inovações
palestras, oficinas e aulas - cada vez tecnológicas e artísticas que influíram
mais é procurada por estudantes e imperativamente na representação da
profissionais que querem expandir seu cidade - e no desenho em geral. Orientadora: Ana Júlia D. Brandão
conhecimento nos meios de represen- Somado a essa trajetória, é opor- Banca:Antônio Rodrigues da Silva e
tação projetual. As formas em que são tuno entender também os problemas Benny Schvarsberg

20
Êxodo: uma análise espacial da
situação dos imigrantes venezuelanos
na cidade de Boa Vista/RR.
Anne Scandelari Raupp

Devido à crise econômica e polí- em parceria com as Forças Armadas e que medida isso contribuiu para a segre-
tica na Venezuela que se agravou em com as Organizações Não-Governamen- gação espacial destes indivíduos.
dezembro de 2015, com a derrota do tais IMPACT e ACTED, foi possível iden- O estudo foi realizado com base em
governo de Nicolás Maduro nas eleições tificar diferentes padrões de ocupação dados sociais obtidos através do Censo
parlamentares, um crescente número do território, e categorizá-los em quatro Demográfico de 2010, tais como dados
de venezuelanos começou a emigrar tipo distintos: venezuelanos vivendo em de densidade populacional, renda média
para alguns países da América Latina, abrigos públicos oferecidos e mantidos familiar e uso do solo, e com o auxílio
principalmente Colômbia e Brasil. No pelo governo em parceria com a ACNUR, da Sintaxe Espacial ou Teoria da Lógica
primeiro semestre de 2018, estima-se venezuelanos vivendo em situação de rua Social do Espaço (Hillier e Hanson, 1984)
que mais de 16 mil venezuelanos pediram ao redor dos abrigos públicos, venezue- de modo a entender a lógica socioespacial
refúgio em Roraima, segundo a Polícia lanos que invadiram e ocuparam edifí- da configuração urbana de Boa Vista e sua
Federal, número equiparável ao de soli- cios abandonados como casas e edifícios influência na dinâmica de ocupação do
citações registradas durante todo o ano públicos espalhados pela cidade e vene- tecido urbano pelos imigrantes venezue-
de 2017, equivalente a 17.865, segundo zuelanos vivendo em situação de rua em lanos, cujas análises se concentraram nas
o Ministério da Justiça (Ministério da pontos variados da cidade sem relação variáveis de integração global (INThh),
Justiça, 2018). direta com os abrigos públicos. escolha angular normalizada (NACH) e
Em consequência da crescente Sendo assim, este trabalho teve integração angular normalizada (NAIN).
entrada de imigrantes venezuelanos como objetivo principal observar os Foi observado que as variáveis como
no território brasileiro, especialmente diferentes padrões de ocupação decor- oferta de equipamentos públicos, espaços
no estado de Roraima, somada à uma rentes do fenômeno migratório ocor- livres públicos, uso e ocupação do solo
incapacidade do governo em lidar com rido nos últimos três anos, e analisar, urbano, distribuição espacial de renda e
a situação local de maneira rápida e de maneira exploratória, a relação entre densidade podem ter sido determinantes
eficiente, desencadeou-se uma ocupação estes diferentes padrões com caracterís- na escolha dos locais onde os imigrantes
espontânea de espaços públicos e edifí- ticas configuracionais da cidade de Boa decidiram ocupar.
cios abandonados em diversos pontos da Vista que fossem relevantes para essa
cidade de Boa Vista, gerando conflitos pesquisa, sendo elas, traçado urbano,
urbanos e estimulando cada vez mais a oferta de equipamentos públicos, espaços
segregação social deste grupo na cidade. livres públicos, uso e ocupação do solo
Através de levantamentos reali- urbano, distribuição espacial de renda
zados entre os dias 13 de maio de 2018 e densidade, buscando entender quais Orientadora: Vânia Raquel Teles
e 27 de junho de 2018, pela Agência das variáveis influenciaram na fixação destes Banca: Vânia Raquel Teles e Valério
Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) diferentes grupos no tecido urbano e em Augusto Soares de Medeiros

21
Retratos da cidade: intervenções
temporárias no espaço público
Clara Alvares Camargo

Vemos em Brasília que nem à rigidez da cidade construída e atendem


mesmo todos os esforços para prever a novas demandas na velocidade e dina-
e organizar as funções da cidade foram micidade que requer a vida cotidiana.
capazes de responder a todas as neces- Este homem-não-tipo de Brasília
sidades de sua população, sobretudo, produz uma cidade que é totalmente
quando essa população não se concre- avessa a ordem rígida e racional do
tizou como previsto. O centro de Brasília plano modernista, reconstituindo –
é palco do encontro de quem reside nas através de intervenções informais –
cidades satélites, com os moradores espaços da vivência, da sobrevivência e
do Plano Piloto. É onde se encontram do cotidiano. São estes corpos e sujeitos
camadas segregadas pela estruturação dissidentes que constroem uma outra
da cidade modernista e onde se escan- cidade a partir de várias formas de apro-
caram as fragilidades do planejamento. priação, reapropriação e subversão do
Brasília, enquanto cidade moder- espaço.
nista planejada, delimita em sua geome- Parto da premissa de que a obser-
tria uma forma de viver a cidade. Essa vação da apropriação da cidade, por
forma de vida tão bem desenhada intervenções realizadas por seus habi-
visa responder às necessidades de um tantes, é material que revela potenciali-
homem-tipo brasiliense. É preciso, dades e disfunções da cidade construída.
porém, entender que Brasília não é A atenção a tais fenômenos pode contri-
vivida somente pelo morador do Plano buir para o entendimento de estruturas
Piloto. Brasília é ocupada por uma popu- sociais e o que há de potencial a ser
lação miscigenada, de pessoas de todas aproveitado no exercício de planeja-
as regiões do Brasil, das mais variadas mento de cidades mais humanizadas
realidades sociais e econômicas e com e que respondam às necessidades de
uma diversa bagagem cultural. Não há sua população.
como enquadrar essas pessoas em um A partir do registro visual de
modelo e, muito menos, ter a pretensão inter venções no espaço público,
de que a cidade planejada atenda a todas confronto a cidade modernista às
as suas necessidades. soluções não previstas no planeja-
Na lacuna entre o planejamento mento, colocadas em prática por seus
modernista e a vivência da população habitantes, de maneira informal. O
surge a necessidade de adaptações dos produto final é um ensaio fotográfico
espaços da cidade. Essas subversões do dos setores centrais de Brasília, um
funcionamento da cidade modernista registro dos mecanismos utilizados para
encontram suporte em intervenções a apropriação e subversão dos espaços
temporárias no espaço público. No da cidade.
espaço público, pois, é onde coexistem
os atores que vivenciam a cidade. Orientador: Paulo Tavares
Temporárias, porque assim se concre- Banca: Maria Fernanda Derntl e Patrícia
tizam sem a necessidade de se submeter Silva Gomes

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23
Imagem fornecida pela autora
Metabolismo 1960: do conceito à matéria
Clara Rezende Porto

A forma como o ser humano os avanços tecnológicos sobretudo na através da arquitetura, enxergando-a
passa a enxergar as transformações área das ciências biológicas instigaram como meio e não como fim.
sociais, culturais, políticas e econô- a produção de um grupo de arquitetos Sejam projetos desenvol-
micas traduzem-se para o mundo cons- japoneses que planejavam um movi- vidos “em terra”, “no mar” ou “no ar”,
truído por meio da arquitetura, ora de mento avant-garde de caráter seme- de caráter conceitual ou efetivamente
caráter mais palpável, ora exagerando lhante ao comportamento biológico construídos, o metabolismo ultrapassou
o cenário vivenciado por aquela socie- de um organismo, o qual regenera e se os limites de sua produção, deixando
dade. Perante um século XX pautado renova constantemente. Assim como marcas culturais, econômicas e sociais
na destruição da identidade das nações o archigram na Inglaterra e o supe- no Japão mesmo após seu desfecho em
e rápida transformação das relações restudio na Itália, o metabolismo no 1980. Por vezes, as megaestruturas
humanas após duas grandes guerras, Japão nasceu como uma resposta às japonesas, as pequenas cápsulas de
artistas e arquitetos ao redor do mundo catátrofes sequenciais de seu território, habitação e os planos de regeneração
iniciaram sua busca por estratégias de justificando a estética emergencial da e ocupação de cidades entraram para a
fuga da realidade e da insatisfação arquitetura do período e ganhando história da arquitetura como produtos
com o modo de se pensar arquitetura atenção especial no debate acerca das de ficção científica e estética distópica
e urbanismo na era moderna, culmi- megaestruturas. - e, por isso talvez, tenham caído em
nando no redescobrimento da estética A síntese desse movimento, esquecimento no campo acadêmico.
utópica e especulativa, mantendo em baseado sobretudo no avanço tecnoló- A transformação do Japão
comum a crítica à realidade limitadora gico, mutabilidade da estrutura social e elucida a importância do debate acerca
que enfrentavam. flexibilidade de uso dos espaços constru- da arquitetura especulativa, a qual posi-
Além de destruições territo- ídos, culminou na publicação do Mani- ciona o questionamento crítico sobre
riais e estruturais das nações, pode-se festo Metabolista em 1960. Reunindo o a produção atual e estimula a liber-
dizer que o grande legado do século pensamento de seis teóricos japoneses tação da arquitetura de suas limitações
XX foi a extensa expansão tecnoló- - quatro arquitetos (Kisho Kurokawa, técnicas dadas pela produção aos moldes
gica advindas das guerras: distâncias Kiyonori Kikutake, Fumihiko Maki e do funcionalismo moderno. Entender
foram encurtadas por novos meios de Masato Otaka), um jornalista (Noboru essas especulações, tomando conhe-
comunicação, relações homem-máquina Kawazoe) e um designer (Kenji Ekuan) - cimento de seu contexto e cronologia,
foram modificadas e cápsulas de habi- as discussões eram centradas em planos nos permite levar discussões da frente
tação foram lançadas na corrida para a urbanísticos para as cidades devastadas acadêmica para o campo profissional,
conquista do espaço durante o embate e soluções para o rápido crescimento embasadas em pensamento crítico na
da Guerra Fria. Enquanto isso, do outro daquelas que ainda mantinham sua forma de se pensar arquitetura e urba-
lado da terra, o anseio pela utopia do estrutura. Os seis autores do manifesto nismo.
novo mundo e dominação das novas ganharam maior visibilidade dentro do
técnicas encontraram um Japão extre- movimento, mas não se resumiu apenas
mamente tradicional, economicamente à esse grupo, configurando-se bastante
abalado e completamente fragilizado heterogêneo - enquanto uns negavam a
pelas guerras. estética conceitual metabolista, outros Orientadora: Maria Cláudia Candeia
Assumindo a abertura do país procuraram segui-la fielmente por Banca: Eduardo Rossetti, Maria Cláudia
à cultura ocidental como inevitável, acreditarem na reestruturação do país Candeia e Mônica Gondim

24
Imagens fornecidas pela autora
25
Significância cultural da SQS 308
Luiza Peregrino Cunha

O projeto de Lucio Costa para a a superquadra como patrimônio e cons-


escala residencial de Brasília reservou troem sua significância cultural.
uma ideia inovadora de moradia cole- A fase de pesquisa em fontes
tiva, as Superquadras: “grandes quadras primárias e secundárias sobre a SQS
dispostas, em ordem dupla ou singela, 308 resultou na seleção de nove atri-
de ambos os lados da faixa rodoviária, e butos: arquitetura dos blocos resi-
emolduradas por uma larga cinta densa- denciais; paisagismo de Burle Marx;
mente arborizada(...)” (COSTA, 1991). visita da rainha Elizabeth II ao Jardim
Importante componente urbanístico e de Infância; azulejos de Athos Bulcão
pertencente à Unidade de Vizinhança para as paredes do Jardim de Infância;
brasiliense, a SQS 308 é o objeto de uso e ocupação dos espaços livres da
estudo deste ensaio, pois possui impor- quadra; prefeitura e zeladoria da quadra;
tantes atributos arquitetônicos, urba- equipamentos educacionais da quadra
nísticos e paisagísticos que a qualificam (Jardim de Infância, Escola Classe e
como a superquadra modelo de Brasília. Escola Parque) e a banca da Conceição.
Os documentos de tombamento A aplicação da ferramenta adaptada foi
e classificação da UNESCO consultados realizada junto à amostra de 12 atores
para a composição deste trabalho não socias dentre os quais estavam resi-
fazem referência à noção de significância dentes recentes; residentes antigos;
cultural, apesar do tombamento da funcionários dos blocos residenciais;
Unidade de Vizinhança ser de 2009 e tal funcionários dos equipamentos educa-
conceito já estar devidamente difundido. cionais; especialistas em patrimônio e
A significância cultural é central tanto usuários dos espaços livres não resi-
ao processo de identificação patrimonial dentes na quadra.
quanto ao processo de gestão da conser- Os estudos realizados neste
vação destes bens por estar relacionada trabalho ratificaram a importância da
à compreensão do conjunto de valores superquadra sul 308 para Brasília e seu
atribuídos pela comunidade afetada conjunto urbanístico, tanto no âmbito
pela sua conservação. Pode-se dizer funcional quanto nos âmbitos culturais
também, que a significância cultural é e históricos. Os resultados da aplicação
entendida, atualmente, como parte do da ferramenta e a produção dos gráficos
processo de democratização da seleção de ranking estão diretamente relacio-
de patrimônios. nados com o conceito de Significância
Considerando essa problemati- Cultural, pois evidencia o significado e
zação, o objetivo do ensaio foi a cons- valor que cada um dos atributos selecio-
trução da significância cultural da SQS nados representa para aquela comuni-
308 junto aos atores sociais envolvidos dade no momento atual. O processo de
com a sua conservação. Para atingi-lo, identificação da significância cultural
foi necessário consultar fontes sobre a deve ser refeito periodicamente, pois
superquadra a fim de detectar possí- tanto os atributos e os valores, quanto a
veis atributos; adaptar as fichas que relação dos usuários com estes se modi-
compõem a ferramenta; aplicar a ferra- ficam com o passar do tempo.
menta junto aos atores sociais e, final-
mente, a interpretar os dados obtidos, Orientadora: Flaviana Barreto Lira
que auxiliou na compreensão dos valores Banca: Eduardo Rossetti, Flaviana Lira
conferidos aos atributos que qualificam e Oscar Luís Ferreira

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Mulher e o direito à cidade: uma
investigação sobre a adequação dos
espaços e mobilidade urbanos com foco
nas trabalhadoras domésticas de Brasília/DF
Marcella Menezes Vaz Teixeira

A historiografia das lutas femi- de mulheres de baixa renda, negras e


nistas, muitas travadas no espaço pardas, de baixa escolaridade, moradoras
público (Alves; Pitanguy, 1982; Marie das regiões periféricas e que exercem
Perrot, 2008), revela que apesar da o papel doméstico tanto no lar, quanto
conquista de direitos, as mulheres ainda no ofício.
experienciam a desigualdade no acesso Diante disso, questionou-se:
à educação, ao mercado de trabalho, aos como os espaços públicos e o sistema
cargos políticos e ao próprio contexto de mobilidade do DF podem ser melhor
urbano. Foram personagens invisíveis adaptados às necessidades das mulheres,
na construção das cidades – de Brasília, como foco nas trabalhadoras domés-
particularmente –, erguidas sob visões ticas? A abordagem empírica constou,
masculinas, desvalorizando o trabalho primeiramente, do levantado de dados
reprodutivo das mulheres e dificultando socioeconômicos das mulheres do DF,
sua inserção no espaço público. utilizando dados da Codeplan, para
Os papéis sociais historicamente mapeamento crítico. Em seguida, foi
atribuíram responsabilidades diferentes feita uma investigação dos principais
aos gêneros, estruturando a sociedade desafios e inseguranças no espaço
em um sistema de dominação masculina público, entrevistando trabalhadoras
e levando à divisão sexual do trabalho domésticas, cuidadoras, cozinheiras
(Bourdieu, 1995). Mesmo conquistando e prestadoras de serviços de limpeza.
espaço, as mulheres continuam asso- Aplicaram-se questionários
ciadas ao trabalho social reprodutivo, presenciais utilizando o método da
assumindo mais responsabilidades narrativa oral, valorizando as experi-
e exercendo múltiplas jornadas de ências pessoais e o conforto das pesqui-
trabalho, se beneficiando menos das sadas. As narrativas foram corrobo-
oportunidades do meio urbano. Foi cons- radas com os levantamentos teóricos
tatado que na esfera privada são mais e análises realizadas. Os principais desa-
vulneráveis às inadequações urbanas fios levantados foram: grandes custos e
e precariedades de serviços próximos tempo de deslocamento, falta de equi-
à moradia. Já na esfera pública, são as pamentos prioritários para mulheres
mais prejudicadas pela insegurança e e crianças, insegurança em relação ao
má qualidade de equipamentos e trans- assédio e violência sexual dentro do
portes públicos (Cymbalista; Cardoso; transporte público e na mobilidade a
Santoro, 2008). pé, baixo acesso ao lazer e dificuldade
O trabalho identificou que a desi- para desempenhar tarefas cotidianas
gualdade entre gêneros é intensificada pela ausência de comércio e serviços
no espaço urbano por questões socio- perto de suas moradias.
econômicas, raciais e de segregação Imagens fornecidas pela autora
espacial. De forma que as características
de Brasília, concentrando as oportuni-
dades nas regiões centrais, dificulta a
mobilidade e potencializa a vulnera-
bilidade das mulheres. Caso este das
trabalhadoras domésticas, grupo ao Orientadora: Patrícia Silva Gomes
qual é sobreposto uma série de opres- Banca: Maria Fernanda Derntl e Paulo
sões – caracterizado por uma maioria Roberto Tavares

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De fora pra dentro, de dentro pra fora: um
panorama histórico da janela residencial
Mariana Fernandes das Neves

Ao imaginarmos uma casa, um da paisagem externa e assumindo com No mundo artificial em que se
edifício ou até mesmo uma cidade, destaque um importante papel na esté- vive, as funções básicas da janela talvez
no cenário formado em nossa mente, tica das edificações e das ruas. É quando não sejam mais tão indispensáveis, o
instantaneamente, desponta a janela, a janela dialoga com suas vizinhas e mesmo, no entanto, não se pode dizer de
um elemento do cotidiano que dificil- com as pertencentes a outros edifícios. sua expressividade e poética no espaço
mente se desassocia do nosso imagi- Por fim, a partir da industriali- e na arquitetura.
nário arquitetônico e urbano. zação observa-se o ocaso da janela, a
Como afirma Le Corbusier, “a princípio por questões econômicas e de
história da janela é também a história precariedade dos projetos residenciais
da arquitetura, ou pelo menos, de quando os exemplos de Londres e Nova
uma parte das mais características da Iorque mostram de forma lamentável
História da Arquitetura” à medida em que a sobrevivência humana dentro de
que este elemento é capaz de revelar uma moradia não pode prescindir de
intenções arquitetônicas, urbanas, aeração e iluminação. Apesar disso,
culturais, etc. exemplos de moradias em cidades inse-
Na primeira fase histórica da guras brasileiras, no presente momento,
janela (Paleolítico e o primeiro período negam a importância da janela, com a
do Neolítico acerâmico), ela se fundia sua ausência ou com seu permanente
à porta através da qual permitia a fechamento, se valendo de meios de
passagem de luz e ar, suas funções ventilação e iluminação artificiais.
primárias. Na segunda fase (segundo Simultaneamente, é neste período
período do Neolítico acerâmico e industrial que se observa um vertiginoso
cidades Antigas anteriores a Roma), desenvolvimento técnico que permite
ela se liberta da porta de modo tímido, a liberdade da expressão estética da
tomando forma de pequenos e altos janela com um amplo repertório de
orifícios nas paredes das fachadas. soluções formais. Ventilação e ilumi-
Com estes pequenos vãos, estas primi- nação naturais então passam a funções
tivas janelas pareciam temer a expo- secundárias com uso de meios artificiais.
sição da privacidade e da segurança ao Não apenas isso, com a utilização do
proporcionar modestas iluminação e vidro temperado a janela oferece mais
ventilação. E com estas únicas funções conforto térmico e acústico. Quando, por
primeiras permaneceu por quase três fim, a janela assume o papel das paredes
milênios. Na terceira fase (Roma Antiga externas, deixa indelével a divisa entre o
ao Renascimento), a janela se mostra dentro e o fora, o privado e o público. É Orientadora: Mônica F. Gondim
plena em suas funções primárias e quando a janela faz da casa uma vitrine Banca: Maria Cláudia Candeia e
secundárias permitindo a visibilidade e a vida doméstica um palco. Eduardo Rossetti

28
Da terra à mesa: territórios e comunidades
produtivas
Monique Gomes Nogueira

Os sistemas alimentares modernos e territórios se modificam para adap- um bom escoamento da produção e
geram consequências sociais e ambien- tar-se as demandas de uma população. para permitir uma melhor integração
tais, alterando a paisagem e o terri- Os atuais padrões alimentares, dos moradores rurais com a estrutura
tório e influenciando o planejamento marcados por um alto consumo de da cidade, desde os espaços de feiras e
urbano. Dessa forma, a pesquisa inves- alimentos ultraprocessados possuem de venda dos produtos, até hospitais,
tiga o percurso histórico de transfor- consequências não apenas para a saúde, escolas, faculdades e espaços de lazer.
mação dos atuais padrões alimentares, mas também em uma escala macro, de Depreende-se com o estudo, que
dentro do contexto ocidental, e como abrangência territorial e sistêmica. A uma mudança no cenário presente da
essas mudanças foram e são capazes atual forma de produção dos alimentos, produção de alimentos, acontecerá
de causar impactos no espaço rural baseada no agronegócio, ou seja, na paralelamente a conscientização social
e urbano. A partir disso, voltando-se monocultura de determinadas espé- relativa aos nossos padrões de consumo.
para o cenário brasileiro, investiga-se cies transgênicas com intenso uso A produção sustentável de alimentos,
o desenvolvimento da história social e de agrotóxicos e aditivos químicos, seja ela orgânica ou agroecológica,
política do Brasil, atrelada a produção de geram impactos negativos, do ponto possui consequências positivas tanto
alimentos, abarcando as políticas e leis de vista social, financeiro, ambiental para o ambiente quanto para a socie-
de incentivo à produção convencional e de saúde pública. Por se consolidar dade, aumentando o emprego seguro no
e o surgimento das leis referentes à como um processo que envolve variáveis campo, e a fixação de famílias ao meio
produção orgânica. tão complexas, o ato de se alimentar rural e, dessa forma, contribuindo para
A produção alimentar é um pode ser considerado um ato político e a segurança alimentar da população.
componente vital da civilização social, visto que as decisões alimentares Compreendendo que diversos atores
ocidental e possui uma ampla esfera possuem impactos sociais e ambien- participam dessa dinâmica e que tais
de influência em diversas áreas. O tais que podem influenciar as formas mudanças são lentas e graduais, não
ato de se alimentar, por sua vez, pode de produção. podemos ignorar o papel transformador
estar conectado a fisiologia, a saúde, a Como forma de ilustrar a da ação popular sobre a indústria.
cultura, ao prazer, ao meio ambiente, a discussão, são apresentada entrevistas
sustentabilidade, as relações de poder, com três produtores rurais agroeco-
a sobrevivência, entre outras coisas. As lógicos do Distrito Federal, a fim de
escolhas alimentares de uma população entender quais são suas capacidades
incentivam determinadas formas de de produção e de abastecimento, o
produção. Estas, por sua vez, estruturam quanto dependem/usam a estrutura
os espaços, desde o plantio, passando urbana próxima e quais as distancias
pelo transporte, comercialização, percorridas por semana pelas suas famí-
preparo, até o consumo. Dessa forma, lias em suas rotinas. Dessa forma, fica
a alimentação possui uma estreita e explicito o impacto que o desenho e o Orientadora: Natália da Silva Lemos
explícita relação com a arquitetura e o planejamento urbano tem para integrar Banca: Frederico Flósculo e Liza Maria
urbanismo, já que os espaços, paisagens o campo e a cidade, para proporcionar Souza de Andrade

29
O museu do futuro
Pedro Vitor Almeida Silva

Imagens fornecidas pelo autor

Pra entender o Museu do Futuro é no edifício: mais lojas, restaurantes, LGBTQI+, afroamericanos, asiáticos e
preciso ampliar o olhar sobre o compor- auditórios, coworkings e áreas cada imigrantes ganham exposições, ao passo
tamento humano e as mudanças sociais vez mais personalizadas ao usuário e a que o perfil da própria comunidade do
e tecnológicas. Compreender o futuro sua sociabilidade. O visitante é cada vez museu também se transforma.
também é perceber que a Geração mais percebido como consumidor e vetor Dessa forma, percebeu-se como
Z (nascidos a partir dos anos 2000) de validação da relevância do museu. desafio para os museus do futuro gerar
já são grande parcela dos visitantes Portanto, os museus trabalham a sua conexões e interação entre pessoas
dos museus: jovens multitasking que marca e se comunicam mais com seus no mundo real em um era de “hiper-
nasceram conectados à internet 24 públicos: produtos personalizados com conectividade” digital. Gerar expe-
horas, telas e interação touchscreen. a identidade visual do museu, hastags riências únicas para consumidores,
Uma geração diversa, ligada nativa- específicas para repostagem de foto- enquanto atende uma comunidade
mente a uma consciência globalizada grafias dos visitantes, programas para mais diversa, conecta culturas, gera-
dos movimentos sociais e das trans- grupos sociais específicos, tecnologias ções e etnias diferentes. Mais do que
formações tecnológicas na era digital. de interação como Realidade Aumentada isso, os museus estão se posicionando
Por outro lado, seres humanos mais e Virtual e uso de Inteligência Artificial a favor das pessoas, assumindo papéis
expostos a grande quantidade de são ferramentas de personalização da políticos em assuntos como a imigração,
informações e dados visuais. Enquanto experiência do usuário. diversidade e sustentabilidade. A partir
arquitetos como Guto Requena leem No campo social, os museus dessas posturas, os museus atendem não
essa geração como “a primeira geração participam ativamente de projetos que apenas ideais econômicos, mas concen-
de ciborgues”, a edição 394 da Revista dialogam com a sociedade e a realidade tram-se no seu papel fundamental de
Superinteressante expõe dados que de minorias. Em Londres, o British perpetuação da memória e cultura dos
apontam o decréscimo de QI em vários Museum hasteou a bandeira gay no alto povos e promoção do diálogo entre as
países em uma capa com letras garrafais do edifício em homenagem a comuni- pessoas e as suas diferenças.
que dizem “A era da Burrice”. dade queer. Nesse sentido, os museus
Para dialogar com essas pessoas e buscam não só abrir suas portas para
acompanhar as tendências de compor- todas as pessoas, mas oferecer repre-
tamento e de tecnologia os museus têm sentatividade por meio dos artistas
se transformado e reinventado. Os em exposições, atividades educativas Orientadora: Maribel Aliaga Fuentes
espaços estão sendo adaptados a plura- específicas e eventos que celebrem Banca: Márcio Buson e Maria Cecília
lidade de atividades desempenhadas a diversidade. Mais artistas negros, Gabriele

30
Arquitetura social: experiências em
assistência técnica
Sarah Lima Cirino

Prevista pela Constituição Federal, modelo centralizado de implementação,


a moradia é um direito de todo cidadão o que garante um atendimento indivi-
brasileiro, sendo aplicada não só na dualizado a cada caso atendido pelos
necessidade de um espaço físico para agentes.
habitar, mas também em toda a infraes- Em considerando o panorama
trutura necessária para atender os requi- apresentado na pesquisa, é possível
sitos de habitabilidade da construção. constatar o potencial da lei no acesso
Em contraponto a essa afirmativa, temos à moradia digna, que é o tema prin-
os dados do déficit habitacional do cipal da lei em análise. Pontuamos a
Brasil, que é composto por famílias em importância da atuação dos agentes
situação de coabitação, ônus excessivo e os benefícios direcionados a estas
com aluguel e situação de precariedade personagens envolvidas no acesso à
da moradia. Em um relatório divulgado moradia digna, a saber que: ao poder
pela FJP (2013-2014), detectamos que público convém a iniciativa legislativa
o índice de demanda qualitativa das para a qualificação urbana e controle
habitações representava 2/3 do déficit, do déficit habitacional; a atuação de
enquanto a necessidade quantitativa profissionais relacionados pelas inicia-
corresponde à 1/3 da necessidade habi- tivas abordadas pela lei, por sua vez,
tacional do país. é respaldada no cumprimento de sua
A Lei de Assistência Técnica, função social, compondo seu papel na
promulgada em 2008, é um instru- democratização do acesso aos serviços
mento de política urbana/pública de assistência técnica; assim, é também
capaz de tornar acessível o direito à atendida a demanda da comunidade por
moradia digna, previsto pela Cons- habitação digna, ao ser concedido a ela
tituição Federal. Através desta lei é o acesso a esse direito. Dessa forma,
possível intervir no percentual quali- compreendemos que a lei, em sendo
tativo do déficit habitacional. A lei aplicada de forma efetiva, tem grande
permite a atuação dos dois agentes potencial de transformação do cenário
principais na promulgação desse direito habitacional no País.
de forma conjunta, a saber: o Governo
Federal, através do respaldo da lei para
implementação de ações direcionadas a
qualificação urbana; e ao profissional da
arquitetura e engenharia, que se torna
acessível à população ao cumprir sua
função social na democratização do
acesso ao direito à moradia.
A pesquisa abordou o aspecto
prático da lei, trazendo um rápido
inventário de instituições que atuam
junto à Assistência Técnica voltada
para Habitação de Interesse Social,
suas formas de atuação, e processos
envolvidos na implementação da lei.
Foi possível constatar que existe uma
multiplicidade de ações, ligadas à suas
formas de gestão – segundo a lei, os
agentes implementadores são ONGS,
Escritórios Públicos geridos pelo Estado, Orientadora: Orlando Vinícius Rangel
Profissionais Autônomos e Iniciativas Banca: Neusa Cavalcante, Renan
acadêmicas – e que a lei não possui um Nascimento Balzani

31
novos arquitetos
O final do curso é só o início de uma trajetória
profissional de desafios e escolhas. Trata-se de um
momento decisivo de avaliação do conjunto das
habilidades dos estudantes adquiridas ao longo do
curso e passe para o mundo profissional. Ao mesmo
tempo, é um momento de liberdade e escolha onde o
estudante se vale do fazer arquitetônico para projetar
seus anseios e aflições perante os desafios do mundo
e da cidade contemporânea. Por fim, a diplomação
fecha um ciclo de parcerias colaborativas entre
professores e alunos que juntos trabalharam na busca
de soluções para a nossa complexa realidade.

Os projetos apresentados nesta edição anunciam


possíveis caminhos e interlocuções da arquitetura e do
urbanismo e a pluralidade de pensamentos de nossos
egressos reforçando a vocação multidisciplinar do
curso da FAU-UnB.

Convido os leitores a se debruçarem nas diferentes


visões de mundo aqui apresentadas e a celebrarem
a oportunidade de rico debate que esta escola nos
proporciona.

Boa leitura!

Maria Cláudia Candeia


Coordenadora de Diplomação
diplô
destaques

repensar a escola classe ccol - complexo cultural orla livre


Aluna: Kamila Venancio Moreira Aluna: Karoline de Sousa Cunha

Orientação: Caio Frederico e Silva Orientação: Oscar Luís Ferreira

O trabalho apresenta um projeto de escola classe A proposta do Complexo Cultural Orla Livre parte da
para a Região Administrativa do Riacho Fundo II, no demanda por espaços para a realização de atividades cultu-
Distrito Federal. O projeto foi estruturado a partir da rais e por pontos de atratividade e acessibilidade ao uso do
construção do Residencial Parque do Riacho, que atende Lago Paranoá. O terreno localizado ao lado do Parque das
famílias integrantes do Programa Minha Casa Minha Garças no Lago Norte, é área pública integrante do Projeto
Vida, propondo uma alternativa arquitetônica aos Orla Livre. Devido a esse contexto e localização, o projeto
projetos padronizados e replicáveis. Com a aplicação do instiga questionamentos acerca da democratização da orla,
conceito de escola humanizada e inclusiva, o trabalho propondo a integração urbana e a diversidade de ocupação
evidencia o caráter cidadão da escola, como fomenta- socioespacial, viabilizando o acesso a partir da mobilidade
dora do desenvolvimento social, igualitário, eficaz e urbana, e por meio do transporte público e da inserção do
sustentável. transporte lacustre.
habitar o campo: uma residência no lago lixo: compostagem e agricultura urbana
oeste no plano piloto de brasília
Aluna: Marcia Del Lama Aluna: Tainá Wanderley

Orientação: Joara Cronemberger Ribeiro Silva Orientação: Gabriela de Souza Tenorio

Viver na APA da Cafuringa, área de amortecimento Lixo: ou se ressignifica esta palavra, ou se abole o termo
do Parque Nacional de Brasília (DF), e nas proximidades da de vez do nosso vocabulário. Costuma-se defini-lo como “resí-
Reserva Biológica da Contagem, requer um olhar sensível à duos provenientes de nossas atividades, que não prestam e são
preservação dos recursos naturais e à redução do impacto jogados fora”. Mas onde exatamente é esse “fora”? No Brasil,
ambiental na ocupação do solo. Esse é o contexto da chácara a Política Nacional de Resíduos Sólidos introduziu conceitos
residencial localizada no Núcleo Rural Lago Oeste, com inéditos no ordenamento jurídico brasileiro, para além de
ampla vista para a Chapada da Contagem. Nela viverá um desenvolvimento sustentável: destinação ambientalmente
casal habituado à vida urbana e às facilidades oferecidas adequada, responsabilidade compartilhada e logística reversa.
pela vida moderna, mas que pretende viver no campo, Mas a grande lacuna entre o texto da lei e a realidade ainda não
em busca de uma vida mais saudável e de cultivar seus foi preenchida. Este projeto resultou de uma reflexão sobre o
alimentos com práticas sustentáveis. tema, usando as ferramentas da arquitetura e do urbanismo.
38
Repensar a escola classe
Kamila Venancio Moreira
“É óbvio que a arquitetura exerce grande influência no
ambiente escolar. Agora, o ambiente humano, digamos, um
bom professor, seria a primeira influência. A segunda, uma boa
pedagogia. A terceira, eu vejo como sendo o material didático e
equipamentos. A quarta seria o grupo, os alunos, a participação,
o clima social. E nós, arquitetos, achamos que o ambiente físico
é também um professor. Ele faz parte desse ambiente escolar.”
(KOWALTOWSKI, 2011)

O trabalho surgiu a partir da reflexão de que o ensino


público no Brasil ainda é, majoritariamente, desigual. A desi-
gualdade está ligada à infraestrutura das escolas, na maioria
das situações. Os alunos que cursam os ensinos fundamental
e médio em instituições públicas, muitas vezes apresentam
dificuldades de aprendizagem em razão, também, das precá-
rias condições estruturais e curriculares do ensino público.
A Escola Classe é responsável por ministrar, dentro
do contexto de Ensino Fundamental de nove anos, os cinco
primeiros. Sua estrutura abriga os cinco primeiros anos (1º
ao 5 ano), sendo a ponte entre a educação infantil e as séries
finais do ensino fundamental. Desenvolveu-se, portanto,
um projeto de Escola-Classe na Região Administrativa do
Riacho Fundo II, com o intuito de atender aos moradores
do Programa Minha Casa Minha Vida, estruturado a partir
da construção do Residencial Parque do Riacho.
Utilizou-se no referido projeto escolhas estratégicas
de materiais, método construtivo, implantação adequada e
adequação ao espaço pré-existente, buscando requalificar
o contexto no qual a intervenção está inserida e propor
alternativas aos projetos padronizados e replicáveis.
O trabalho desenvolvido adotou o método Montes-
sori por se tratar de uma pedagogia alternativa que vem
se consolidando no Brasil, adotada como metodologia de
ensino em diversas escolas privadas, viabilizando a instrução
e preparação do corpo docente no sistema público de ensino.
O público-alvo foram crianças do ensino fundamental I
(5-10 anos) em período integral (matutino e vespertino), em
turmas mistas, característica principal da pedagogia Montes-
sori, que propõe a composição e organização de salas como
pequenas comunidades integradas entre si, assegurando
uma atmosfera de aprendizado cooperativo, trabalho em
equipe e desenvolvimento social e emocional.
A Escola Classe idealizada no projeto visou, além da
implementação das diretrizes pedagógicas, requalificar
o espaço urbano, comprometendo-se a ser um ambiente
que agrega a comunidade circundante, ademais a proposta
também objetivou repensar o educandário através de esco-
lhas projetuais que solucionem questões relevantes sobre o
conforto dos espaços escolares, flexibilidade dos ambientes
no que tange aos seus usos e, sobretudo, adotem estratégias
de fácil execução.

Imagens fornecidas pela autora

Orientador: Caio Frederico e Silva Banca: Gustavo Luna


Sales, Joara Cronemberger, Aline Stefânia Zim e Luis
Alejandro Pérez

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CCOL - complexo cultural orla livre
Karoline de Sousa Cunha
Os conceitos de integração, permeabilidade e visuais
foram extremamente importantes para o desenvolvimento
do projeto. Os eixos de circulação e articulação com o Parque
das Garças determinaram o traçado de ocupação do terreno.
Através de uma extensão do eixo viário existente, o mesmo
desenho estruturou um novo eixo secundário definido por uma
grande marquise, seguida de um deck, que além de criar uma
relação entre o terreno e o parque, é um mirante que aponta
em direção ao Lago Paranoá.
Devido ao extenso programa, optou-se por dividir as ativi-
dades em blocos, a fim de setorizar e concentrar as funções em
3 núcleos: bloco A - sociocultural, bloco B - esportivo e bloco
C - teatro. Os edifícios foram implantados mais ao nordeste
do terreno, na cota 1005, para permitir a construção de um
pavimento enterrado diminuindo a altura das edificações,
preservando o skyline da cidade.
Desta maneira, criou-se uma praça central rebaixada para
manter a integração com as áreas de praia existentes. Para
amarrar a composição, criou-se um outro eixo de circulação no
terreno dado por um segundo deck, que articula diretamente
com as edificações, e concebe novos pontos de contemplação
da paisagem. O deck também é um elemento de setorização das
áreas de praia, categorizando de acordo com seus atuais usos:
praia marina ,com um pier; praia família, entre as limitações
internas do deck; e praia esportes, mais próxima ao parque,
onde já há um projeto de práticas esportivas.
Quanto às edificações, o bloco esportivo ficou semien-
terrado, com a fachada principal para a praça e mantendo a
circulação por sua cobertura criando outro mirante para contem-
plação da paisagem, de acesso no mesmo nível da marquise e
do Parque das Garças. Intencionalmente todos os edifícios se
abriram tanto para a praça central e o lago Paranoá, quanto
para o parque, criando uma relação de integração entre eles.
O bloco A foi elevado para manter a permeabilidade, com
o acesso principal também a nível do parque, e criando um
acesso secundário pelo centro do edifício no térreo inferior, onde
estão locadas as colunas de circulação vertical e uma grande
distribuição de fluxos que também dá acesso a praça e ao bloco
B esportivo. Parte do edifício parece apoiar no solo, e apesar do
caimento do terreno, o pé direito é mantido, elevando a outra
parte do edifício por pilotis , preservando a permeabilidade.
A topografia permitiu também a inserção do bloco C,
o teatro com a arquibancada projetada para o lago e o palco
reversível, viabilizando sua abertura completa para a praça
e para o lago. A caixa d’água conformou um marco visual de
todo o complexo, que faz contraponto com o farol locado na
outra extremidade do terreno.
O conceito de abrir visuais para o lago também foi aplicada
às fachadas com brises em chapa metálica perfurada, fazendo
com que quem está dentro do edifício consiga ver fora e quem
está fora, consiga ver dentro. O mobiliário urbano, conformou-se
ao redor de árvores existentes mantidas no projeto.

Orientador: Oscar Luís Ferreira


Banca: Claudio Queiroz, Mônica Godim e Ricardo Trevisan

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Imagens fornecidas pelo autor.

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Habitar o campo: uma residência no lago
oeste
Marcia Del Lama
Viver na APA da Cafuringa, área de amortecimento do Parque
Nacional de Brasília (DF), e nas proximidades da Reserva Biológica
da Contagem, requer um olhar sensível à preservação dos recursos
naturais e à redução do impacto ambiental na ocupação do solo. Esse
é o contexto da chácara residencial localizada no Núcleo Rural Lago
Oeste, com ampla vista para a Chapada da Contagem. Nela viverá um
casal habituado à vida urbana e às facilidades oferecidas pela vida
moderna, mas que pretende viver no campo, em busca de uma vida
mais saudável e de cultivar seus alimentos com práticas sustentáveis.
O projeto engloba uma residência unifamiliar, áreas para criação
de aves, cultivo de frutas e verduras, além de uma reserva natural,
planejadas com inspiração nos princípios da Permacultura e de Sistemas
Agroflorestais. A implantação da residência é, portanto, o ponto de
partida na distribuição dos demais elementos que compõem a chácara.
Visando o menor gasto energético, distribuem-se nas proximidades
da casa aquelas atividades de maior manejo diário, tais como horta
e galinheiro. O estudo do entorno permitiu escolher a zona mais
adequada do terreno destinada à reserva florestal, já que ela deverá
restaurar a continuidade da vegetação original de cerrado e favorecer
assim uma interação entre a fauna e flora locais.
A casa, com sentido de Habitat, mostra-se como um ambiente
de refúgio e relaxamento, com um caráter arquitetônico despojado
e contemporâneo. O partido de projeto, organizado em três blocos,
está marcado pelo uso de estratégias bioclimáticas para obtenção de
conforto ambiental, como implantação adequada, sombreamento de
superfícies envidraçadas, aberturas controladas, disposição de elementos
para permitir resfriamento evaporativo, sempre desenhadas de acordo
com a carta solar e a incidência dos ventos predominantes. A escolha
dos materiais das paredes, revestimentos, coberturas e as aberturas
dos ambientes estão em conformidade com os critérios de eficiência
térmica da ABNT NBR 15575.
A projeto da casa se compõe de áreas para habitação, lazer e
hobby, interligados por uma cobertura. A habitação, com a sua maior
fachada voltada para o Norte, oferece a vista deslumbrante da Chapada
da Contagem. No térreo, o ambiente integrado de estar, jantar e cozinha
está pensado para propiciar momentos familiares aconchegantes,
além de uma suíte para acomodar eventuais visitas com dificuldade
de locomoção. Circulando-se apenas pelo térreo, é possível desfrutar
de todas as atividades da casa. No pavimento superior estão a suíte
principal, a suíte de hóspedes e uma sala íntima, com acesso à varanda.
Um sistema solar fotovoltaico e coletores para aquecimento solar de
água na cobertura contribuem para a eficiência energética da edificação.
A eficiência hídrica engloba reservatórios para armazenamento de
águas pluviais, a condução das águas cinzas claras diretamente para
irrigação e o tratamento das águas cinzas escuras por zona de raízes.
O projeto atende ao desejo dos proprietários de se criar um
ambiente de contemplação e conforto, com manuseio sustentável do
solo e consumos hídrico e energético mais eficientes.

Orientadora: Joara Cronemberger Ribeiro Silva


Banca:Caio Frederico e Silva, Gustavo de Luna, Aline Stefania Zim e
Luis Alejandro Pérez

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Imagens fornecidas por Lucas Lopes

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Lixo:compostagem e agricultura urbana
no plano piloto de brasília
Tainá Wanderley
Este trabalho tem alguns pontos de partida, mas talvez a premissa
fundamental seja a descentralização do processo de coleta, tratamento e
destinação dos resíduos sólidos, isto é, que o problema do lixo seja resol-
vido mais perto de sua geração. Para além de uma diminuição de impacto
ambiental e econômico, isso poderia causar uma mudança comportamental,
e quem sabe a formação de uma consciência coletiva mais sustentável. A
ideia aqui é tentar fechar o ciclo, ou se aproximar disso. E Brasília, cidade
planejada sob a ótica do movimento moderno, hoje tombada nacional-
mente e Patrimônio Histórico da Humanidade pela UNESCO, ganharia uma
nova camada: a da sustentabilidade. Isso agregaria valor ao título que a
cidade recebe, sem ferir as características que a tornam única. Optou-se
por trabalhar com os resíduos orgânicos compostáveis, ao se notar, ainda,
uma conexão temática entre o lixo e o alimento: como retirar os resíduos
orgânicos do ciclo do lixo e recolocá-los no ciclo do alimento? Seria possível
facilitar a integração entre os dois ciclos com ferramentas de desenho
urbano e arquitetônico?
Após um estudo sobre a história do lixo urbano, sobre a atual gestão
do lixo no Distrito Federal, após uma análise atenta das diversas referências
nacionais e internacionais, buscou-se dimensionar a geração de lixo no local,
visando entender quais eram os processos mais adaptáveis à realidade da
área de estudo, e quais as estruturas necessárias de acordo com o volume e
o tipo de resíduo. E a proposta deste trabalho, então, foi elaborada em suas
escalas urbana e arquitetônica, englobando três estratégias: a alteração
do sistema de coleta dos resíduos sólidos nas superquadras e comércios
locais; a realização de compostagem da fração orgânica desses resíduos
nas Estações de Compostagem das Unidades de Vizinhança; a indicação
de locais nas asas para realizar agricultura urbana, sendo uma destinação
final mais próxima para o composto produzido na compostagem, fechando
o ciclo. Nessa última parte, foram ainda exemplificados cinco modelos
possíveis de serem implantados em conformidade aos parâmetros dos
diversos setores da cidade.
A Estação de Compostagem da Unidade de Vizinhança da
305/304/105/104 norte teve seu programa de necessidades criado a partir
das demandas espaciais e técnicas para realização do processo de compos-
tagem. Porém, também incluiu espaços complementares comerciais, criando
também espaço para agricultura urbana em seu terraço, com a produção de
mudas de hortaliças, ervas e flores. Além de uma infraestrutura abrigando
função importante para a cidade, o projeto, com sistema estrutural em
madeira, pretendeu ser uma contribuição arquitetônica harmoniosa ao
contexto no qual se insere. Havia a intenção de que o edifício respeitasse
as preexistências, se integrando a elas e dando forma a mais um espaço
público qualificado, com mobiliário, áreas de permanência para os moradores,
trabalhadores da região e passantes, favorecendo o acesso por pedestres
e ciclistas, proporcionando uma integração paisagística com a Unidade
de Vizinhança em questão, local generosamente arborizado. A cisão do
bloco em duas partes com a criação de um jardim central, desejada por
questões operacionais e bioclimáticas, também abre o edifício ao olhar
das pessoas, permitindo mais participação e interesse pela própria temá-
tica materializada no edifício. O mérito do projeto é exatamente esse seu
possível efeito multiplicador.

Orientadora: Gabriela de Souza Tenorio


Banca: Cláudia Garcia, Ivan do Valle, José Mario Pacheco e Mônica Gondim

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Imagens fornecidas pela autora.

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+
cidade e natureza: urbanização em áreas de viveiro caliandra
recarga de aquíferos Laura Santos Siqueira
Aline da Nóbrega Oliveira
parque aqua lakeshore
a nova biblioteca pública de Brasília Layane Christine Vieira
Angela Viana Pereira
abrigo para pessoas em situação de rua
Letícia Drummond de Oliveira Magalhães
modifica: eixo de produção e comércio de modas
do df sambódromo da ceilândia
Bárbara Veras Rodrigues Queiroz Lucas Rodrigues Araújo

os movimentos sociais no direito à cidade espaços públicos modulares para crianças


Cristina Nakamura Araujo Luísa Viana Luniere de Azevedo

duna – complexo praiano espaço iso photo e arts


Danielle Mota Maria Clara Viana Licursi

google brasília - em busca do conforto do projeto quatro patas


Maria Eduarda Moll Chaves
usuário
Débora Guedes Anacleto
requalificação urbana ao longo do metrô de
centro gerontológico sensorial ceilândia
Deyse Chagas Mendes Maria Emília Monteiro

terminal de integração hidroviária cw3 - coworking w3 sul


Douglas Dornela Menezes Marina da Silva Ribeiro

espaço do nascer “ei! tem alguém aí?”


Estela Hirakuri Mariana Figueiredo Sobral Torres

edifício de uso misto para locação social novo zoo bsb


Luís Fernando Lucena Mario Sergio Facundes Taveira

modhaus - modelo de habitação para dorothy stang de baixo pra cima


Mateus Marques Rangel
autoconstrução Sustentável
Gabrielle Monteiro Teixeira
eixo universitário do plano piloto
Rachel Benedet de Sousa Martins
permacultura urbana e habitação social
Giulia Gheno
espaço da moda
Vanessa Silva Botelho
emaa – escola municipal alice attuá
Hiagson Souza de Jesus
centro de intercâmbio cultural brasil – japão
intervenção no elefante branco: integrando a Vinícius Faustino de Oliveira Santos
cidade com o parque
Joaquim da C. Bastos Júnior cer- centro especializado em reabilitação visual,
físico, auditivo
menu brasília - espaço gastronômico e cultural Yasmin Rodrigues da Costa
Larissa Carvalho de Paula
Cidade e natureza: urbanização em áreas
de recarga de aquíferos
Aline da Nóbrega Oliveira
A forma de urbanização corrente nas cidades, proveniente de padrões urbanos
que não dialogam com o meio físico, tem impactado os serviços ecossistêmicos
hídricos, devido a excessiva impermeabilização do solo e a consequente dimi-
nuição da infiltração das águas, que reduz os níveis de água nos reservatórios
subterrâneos, os quais são responsáveis pela manutenção da disponibilidade
hídrica nos períodos de estiagem. Nesse contexto, o trabalho buscou identificar,
analisar e simular padrões urbanos de baixo impacto para áreas com sensibilidade
à recarga de aquíferos, aliados às infraestruturas verdes de drenagem que auxi-
liam na redução do impacto sobre o solo e propiciam o aumento da infiltração
das águas. A área estudada está inserida na bacia do Paranoá, em Brasília, na
Região Administrativa do Lago Norte, caracterizada como uma zona de expansão
urbana e de alta suscetibilidade à perda da recarga dos aquíferos. Este estudo
pode comprovar a efetividades das infraestruturas verdes e a possibilidade de se
urbanizar com base nas demandas da natureza utilizando padrões sensíveis à água.

Orientadora: Maria do Carmo de Lima


Banca: Rubens do Amaral, Paulo Tavares, Luis Pedro de Melo e Gabriela Tenório

Imagens fornecidas pela autora

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A nova biblioteca pública de Brasília
Angela Viana Pereira

O objetivo da Nova Biblioteca Pública de Brasília é ser um equipamento


cultural que contribua para ampliar a oferta de conteúdo, meios e espaços que
se relacionam ao mundo da leitura e do aprendizado, assim como ao encontro,
à troca e à abordagem lúdica do conhecimento.
A biblioteca ocupa os terrenos da EQS 312/313 e EQS 512/513 – sítio voltado
para a W3 Sul, contando com boa acessibilidade para pedestres e para o trans-
porte público, grande fluxo de pessoas e infraestrutura para acomodar o edifício
e acolher os visitantes.
A forma proposta parte de uma malha, que modula os espaços internos e
a estrutura. Dois pavimentos e um subsolo formam um volume único, no qual
foram feitas subtrações para marcar os acessos e um pátio interno – um jardim
para onde estão voltadas as áreas de coleção, que se interligam por uma passa-
rela. O subsolo conta com acesso independente e abriga usos culturais, além de
áreas destinadas aos funcionários e estacionamento.
O edifício se descola das extremidades para iluminar o subsolo, sendo defi-
nido um talude voltado para a W3. Uma segunda pele metálica perfurada envolve
as fachadas, unificando o volume e variando de acordo com a incidência solar.

Orientador: Maria Cecília Filgueiras


Banca: Cláudia Garcia, Cláudio Queiroz e Elane Ribeiro Peixoto

Imagens fornecidas pela autora

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Modifica: eixo de produção e comércio
de modas do df
Bárbara Veras Rodrigues Queiroz

A Galeria Serpentine no Hyde Park de Londres possui uma tradição de quase


20 anos de exposições anuais de Pavilhões. O ambiente é propício à inovação,
tanto formal quanto conceitual.
O Homo Liber é literalmente o homem livre. É um reflexo da cultura dos
nossos dias, cuja luta pela liberdade é a maior de todas as guerras. Os anseios
pela liberdade de se expressar são latentes e, graças ao que o Homo Sapiens já
viveu, são cada vez mais palpáveis.
Implantado a 1,30m acima do nível do solo, a passarela parece flutuar no
Hyde Park, em Londres. Barras de aço contraventadas oferecem sustentação para
as placas metálicas da cobertura, que formam uma casca leve e fina.
O percurso por uma passarela é linear. Ou seja, existe um começo e um
fim. Em cada bloco do pavilhão é contada uma parte da história da humanidade.
A peregrinação é, portanto, pela história da sociedade. O indivíduo vivencia em
poucos minutos o que o ser humano vivenciou em milênios.
A forma e o conceito, nesse caso, possuem a mesma relevância. Não há
hierarquia, e sim, complementação. Por isso, o termo Homo Liber é tanto ao
pavilhão quanto à exposição.

Orientador: Maribel Del Carmen Aliaga


Banca: Lucas Abreu, Mônica Fiuza Gondim, Paulo Tavares e Vânia Telles Loureiro

Imagens fornecidas pela autora

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Os movimentos sociais no direito à cidade:
desenho coletivo dos espaços livres
públicos no assentamento MTST em
Nova Planaltina
Cristina Nakamura Araujo
Quando os moradores do MTST, Setor Habitacional Mestre D’armas I, (área
que conquistaram 23 lotes junto à CODHAB e agora em processo de regula-
rização) me trouxeram a demanda por uma agrofloresta comunitária, decidi
complementar o projeto do governo com um trabalho focando nas áreas livres
públicas e feito de forma participativa com as famílias. Neste caminho, foram
levantadas também reflexões sobre o sistema alimentar no direito à cidade,
como formas de soberania e resistência.
Assim, o objetivo é que a área destas famílias seja mais que um espaço
dormitório. Seja um espaço de convivência plena, que garante além do direito à
moradia adequada, o acesso a espaços de convívio e lazer de qualidade; o forta-
lecimento do sentido de pertencimento e identidade; a diminuição dos conflitos
socioambientais, e a promoção da autossuficiência alimentar.
O resultado final foi a troca com as famílias através das oficinas: a discussão
participativa na construção de soluções emancipatórias e de autogestão. A base
criada aqui, no entanto, é apenas uma parte do trabalho, parte do grupo “Peri-
férico, trabalhos emergentes” da FAU/ UnB, que não deve ser encerrado aqui,
no tempo acadêmico, mas desenvolvido em suas próximas etapas no contexto
temporal condizente com o dos moradores.

Orientadora: Vânia Teles Loureiro


Banca: Flaviana Lira, Rodrigo Faria e Valério Medeiros

Imagens fornecidas pela autora

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Duna – complexo praiano
Danielle Mota

O projeto DUNA nasceu do incômodo gerado por um edifício abandonado


na praia Barreira D’água, há mais de 20 amos. A poluição visual causada pelas
ruínas do Hotel BRA, juntamente com o sentimento de desperdício do terreno
em questão, que situa-se entre o mar e o parque ecológico das Dunas em Natal
- RN, estimularam o desenvolvimento deste projeto.
A partir dessa análise, o projeto Duna estruturou-se em um complexo
composto por um hostel com infraestrutura aberta para não-hóspedes (beach
club + spa), um restaurante escola e uma ampla praça mirante pública para
contemplação do visual. Uma das premissas utilizadas no projeto é a valorização
do visual e a sua utilização como elemento atrativo. Para tanto, optou-se pelo não
aproveitamento das ruínas do hotel BRA, uma vez que além de possuir estrutura
inapta para utilização ( visto que foi deteriorada pela maresia), o empreendi-
mento desrespeita a legislação vigente em 4 pavimentos no quesito gabarito
permitido. Da opção pela demolição do esqueleto presente, somado à legislação
atual que não permite que a construção exceda o nível da rua em altura, surgiu
a ideia de transformar a cobertura do empreendimento em uma praça mirante.
A ideia é que a praça seja um ponto turístico e também um espaço de lazer para
os próprios potiguares.

Orientadora: Eliel Américo


Banca: : Claudia Garcia e Maria Cecília

Imagens fornecidas pela autora

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Google brasília - em busca do conforto
do usuário
Débora Guedes Anacleto
As torres foram pensadas para atender a critérios referentes ao conforto
luminoso e térmico em um edifício de escritórios, utilizando a luz como elemento
de composição arquitetônica e considerando ainda aspectos da sustentabilidade
e biofilia como base. Além disso, a fim de criar um edifício de escritório com
mais personalidade, foi escolhido como cliente uma empresa que preza bastante
pelo conforto e bem-estar de seus funcionários: a Google. Por outro lado, a base
comercial foi pensada para solucionar os problemas de esvaziamento noturno do
SAUN e trazer uma diversidade aos tipos de atividades que têm nesse setor. Com
isso, a criação de espaços como cinemas e academias possibilita a transformação
desse local em um polo atrativo. O partido arquitetônico foi baseado em dois
conceitos: insolação e vistas, a fim de promover um melhor conforto térmico
e visual para os usuários. Com isso, pensou-se nas maiores fachadas voltadas
para Norte e Sul e em valorizar a melhor vista, a Leste. Em seguida, visando a
presença de iluminação natural em todos os ambientes, foram feitos eixos de
limitação de profundidade, para que a profundidade da planta não ultrapassasse
25m. Notou-se também uma necessidade de buscar uma forma mais orgânica,
que permitisse a criação de espaços abertos e promovesse maiores possibilidades
de vistas. Com isso, surgiu a proposta final.

Orientador: Cláudia Naves Amorim Banca: Caio Frederico e Silva, José Manoel
Sanchez, Natália da Silva Lemos

Imagens fornecidas pela autora

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Centro gerontológico sensorial: atenção ao
bem-estar físico e psicológico dos idosos
Deyse Chagas Mendes
A hospitalização rompe com o cotidiano natural e pode diminuir a possibili-
dade de vivenciar experiências sensoriais usuais. A rotina dos idosos hospitalizados
é cercada por estímulos dolorosos, restrição do espaço físico e de movimentação,
e alteração de estímulos ambientais.
O Centro Gerontológico Sensorial atrela o conceito de humanização e
ambiência como principal base do projeto, pois o tratamento dado ao espaço
físico proporciona um conforto e qualidade ambiental que serão percebidas
pelo usuário, já que somos capazes de interagir com o ambiente imediato por
meio dos sentidos. Busca-se não criar uma arquitetura hospitalar e sim uma
arquitetura para a saúde.
Localizado em Ceilândia, o Centro Hospitalar está interligado em 3 blocos,
permeados por jardins e hortas comunitárias: O BLOCO 1 destinado ao ambula-
tório, exames, laboratórios e emergência, possui coberturas metálicas em sheds
e fachada com brises horizontais, propiciando ventilação e iluminação natural.
O BLOCO 2 possui 3 pavimentos com centros cirúrgicos e internações, pilotis
como área de passagem entre os blocos e cobertura destinada para o solário dos
pacientes, onde acontece os “percursos sensoriais”. O BLOCO 3 tem sua estrutura
como o bloco 1, mas com destinações administrativas e de serviços, com anexos
para refeitório e auditório.

Orientador: Frederico Flósculo P. Barreto


Banca: Ana Flávia R. Mota, Augusto Cristiano P. Esteca e Ivan Manoel do Vale

Imagens fornecidas pela autora

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Terminal de integração hidroviária
Douglas Dornela Menezes

É proposto o edifício piloto do sistema de transporte hidroviário no lago


de lajeado, como um equipamento público que reforce o caráter de reestrutu-
ração da cidade em torno das águas, uma espécie de experimentação teórica de
apropriação das margens de forma integrada a vegetação densa da orla.
A navegação teria função complementar nas atividades das cidades, podendo
contribuir com a redução dos impactos decorrentes da desfragmentação territorial
regional, reforçando o caráter público das margens como espaço indispensável
na consolidação das atividades urbanas e na integração cidade/natureza. Ou
seja, uma cidade que prioriza o transporte fluvial e que configura seus espaços
e sua função urbana em proteger os rios.
O caminho inicia através do percurso de quem vem através da praia, margeia
o espaço preexistente de natureza, com alagados, campos, buritis e após, o terminal
compõe o ponto final do percurso, se abrindo ao espaço externo e fornecendo
abrigo. A partir de então é possível então continuar o caminhar, porém sobre
as águas, navegando.
Esse grande abrigo é capaz de oferecer suporte as atividades inerentes
ao terminal de integração hidroviário, porém de forma a integrar e responder
demandas do entorno, reconhecendo o lugar como espaço de pertencimento e
referência.

Orientador: Augusto Cristiano P. Esteca


Banca: Maria Claudia Candeia, Frederico Flósculo Pinheiro, Ivan do Valle e
Amanda Casé Monteiro

Imagens fornecidas pela autora

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Espaço do nascer: casa de atendimento à
gestante e ao parto humanizado no hospital
regional de ceilândia
Estela Hirakuri
O projeto procura atender a uma demanda tanto do governo enquanto
medida de saúde pública, quanto das mulheres que querem ter um parto natural.
Além disso, busca seguir o movimento de humanização dos espaços de saúde, que
colocam o paciente como indivíduo de maior importância no processo projetual.
Casas de parto são pensadas para ser um meio termo entre o domicílio
e o hospital, promovendo um parto natural respeitoso, livre de intervenções
e qualificando os serviços de assistência à gestante. Diferentemente de uma
maternidade tradicional, onde a mulher transita de um ambiente a outro durante
o procedimento de parto, casas de parto têm como principal elemento o “Quarto
PPP”, que atende ao Pré-parto, ao Parto e ao Puerpério. Assim, ela permanece
sempre no mesmo local, com o intuito de fazê-la se sentir mais familiarizada
e confortável.
A única casa de parto existente hoje no Distrito Federal, localizada em
São Sebastião, é referência para as mulheres, mas atende somente moradoras
da região. Esse projeto visa contribuir para a expansão da rede de atendimento,
que já é parte das estratégias da rede pública de saúde, e abranger a região de
Ceilândia.

Orientador: Maribel Aliaga Fuentes Banca: Carolina Pescatori, Joara


Cronemberger, Mônica Godim e Ana Laterza

Imagens fornecidas pela autora

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Edifício de uso misto para locação social
Luís Fernando Lucena

Historicamente, os empreendimentos de habitação social brasileiros se


encontram, em grande parte, nas periferias ou franjas urbanas, locais distantes
de infraestrutura e com oferta deficitária de emprego e acesso a serviços de
saúde, educação, transporte e opções de lazer.
Atualmente evidencia-se, nos debates sobre habitação, a necessidade de
se oferecer opções de moradias nos centros urbanos. Para tanto, desenvolve-se
uma proposta de tipologia que una interesses públicos e privados em áreas
centrais subutilizadas. A definição do local se apropria da situação de desaque-
cimento no mercado imobiliário em Águas Claras (DF) e da decorrente oferta
expressiva de lotes não ocupados ou subutilizados. O edifício de uso misto
permite a exploração dos pavimentos inferiores com comércio, gerando renda
para a manutenção da porção residencial, cuja propriedade pública, destinada ao
aluguel social, se esquiva de lógicas excludentes de mercado e lucro na concepção
arquitetônica e uso do solo.
Localizado em frente à estação de metrô Concessionárias, em um dos atuais
277 lotes vazios de Águas Claras vertical, o projeto prevê 44 unidades residenciais,
para até 132 pessoas; bicicletário; 6 escritórios ou salas comerciais; 3 lojas; 20
vagas de estacionamento, contemplando 50% das unidades habitacionais. De
uso comum dos moradores, há um espaço de convivência com cozinha, sala de
estar/reuniões, terraço, administração e lavanderia coletiva.

Orientadora: Cristiane Guinâncio


Banca: Augusto Cristiano Prata Esteca, Eliel Americo, Benny Schvarsberg

Imagens fornecidas pelo autor

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Modhaus - modelo de habitação para
autoconstrução sustentável
Gabrielle Monteiro Teixeira
A casa MODHAUS surge da necessidade de se trazer maior consciência
ecológica no setor da construção civil e, em especial, no setor da habitação. Assim
sendo propõe uma alternativa arquitetônica residencial cujo conceito gira em
torno de princípios sustentáveis e relacionados à economia em sua produção e
ao longo de sua vida útil. O projeto prevê possibilidades de expansão em função
das necessidades das famílias que venham a habitá-la.
O projeto emprega fundamentos da bioconstrução para garantir uma casa
de baixo impacto ambiental e de maior qualidade bioclimática, bem como dispõe
de estratégias passivas para lograr um melhor desempenho térmico e de ilumi-
nação no interior da casa. Visando reduzir o impacto ambiental provocado pelas
construções e necessidades diárias, a casa prevê sistemas ecológicos e susten-
táveis para gestão de águas (pluviais, cinzas e negras) objetivando um uso mais
responsável dos recursos naturais.
A facilidade da técnica empregada permite a prática da autoconstrução
para a execução da casa, com ou sem o regime de mutirão e, para tanto, conta
com seu próprio manual de autoconstrução, contendo todas as informações
necessárias, da implantação ao acabamento.

Orientadora: Márcio Buson


Banca:Caio Frederico e Silva, José Mário Pacheco, Nathália da Silva Lemos e
Rosana Stockler Clímaco

Imagens fornecidas pela autora

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Permacultura urbana e habitação social
Giulia Gheno

A projetação urbana e arquitetônica apresenta-se como recurso para incen-


tivar a discussão sobre o direito à cidade e à moradia através da sustentabilidade
social, econômica, cultural e ambiental em cenários periféricos. Assim como
aludir ao 11º Objetivo de Desenvolvimentos Sustentável da Agenda 2030 da
ONU, que oferece princípios para tornar as cidades e os assentamentos humanos
inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis.
A condução do projeto acontece em parceria com a comunidade do Assen-
tamento Irmã Dulce, que possui 1,6 ha e 93 famílias, localizado na ARIS Nova
Colina II, em Sobradinho, DF. O processo participativo se pauta na metodologia
do Grupo Periféricos através de questionários, visitas e oficinas lúdicas com os
moradores. Em todo o percurso, as necessidades e as sugestões são preponde-
rantes para nortearem cada escolha projetual.
A Permacultura Urbana é usada como alternativa a infraestrutura urbana
e gestão tradicionais. Através de princípios éticos e de design, são elencadas
estratégias de zoneamento e tecnologias verdes aplicáveis ao contexto econô-
mico e social. São abordadas a eficiência energética cíclica, a autoconstrução e
a autogestão das habitações estruturadas em bioconstrução. O estudo aborda
um sistema integrado entre habitação social, equipamentos públicos e espaço
urbano para reuso e reciclagem das águas, práticas agroflorestais e fortalecimento
de uma cultura de cuidado com a terra e com as pessoas com partilha justa.

Orientador: Liza Andrade


Banca: Liza Andrade, Mônica Gondim, Natália Lemos, Patrícia Gomes

Imagens fornecidas pela autora

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Emaa – escola municipal alice attuá
Hiagson Souza de Jesus

A EMAA – Escola Municipal Alice Attuá se localiza no distrito de Missão de


Aricobé, município de Angical – Bahia, possui trinta e quatro anos de fundação
e nunca passou por um processo de reforma eficaz a fim da requalificação dos
espaços, que não atendem as demandas da comunidade. Com isso, a obra vem
propor um novo projeto à EMAA, assim como a extensão de suas instalações no
intuito de atender de maneira integral a maior parte da comunidade escolar local.
A proposta à EMAA se baseia em algo novo, que seja um diferencial à cidade,
divergindo da arquitetura local a fim de trazer identidade ao prédio e de certa
forma atração aos usuários.
O programa de necessidades se encaixou no prédio de forma a priorizar o
fluxo de alunos, funcionários e visitantes por meio de uma hierarquia de pavi-
mentos/função, onde se pode encontrar o que se dedica totalmente para ambientes
pedagógicos, direção e administração, serviços, vivência e pedagógico, sendo o
segundo no nível da rua que visa o fluxo de visitantes e prioriza a segurança dos
alunos e funcionários. Além disso, existem muitos pátios internos cobertos, uma
vez que o clima quente e árido da região provoca ao usuário a busca pela sombra.

Orientador: Cláudia Garcia


Banca: Ana Isabela Soares, Cláudia Garcia, Elaine Ribeiro e Maria Cecília
Filgueiras

Imagens fornecidas pelo autor

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Intervenção no elefante branco:
integrando a cidade com o parque
Joaquim da C. Bastos Júnior
O prédio do Elefante Branco está situado na 907/908 sul, quadra referência
de Brasília, no ponto intermediário do eixo cultural da quadra, no qual abriga
obras de grande relevância para o cenário inicial da construção de brasília. Foi a
primeira escola de ensino médio projetada em Brasília, em 1957, obra do arqui-
teto José de Souza Reis.
Apesar da escola fazer fronteira com o Parque da cidade, não possui qualquer
vínculo ou passagem, ignorando por completo sua existência e sua importância.
Isso se deve ao fato da escola ter sido construída antes da instalação do Parque.
Já no interior do lote, o fluxo de pedestres tem um traçado marcante nos
sentidos transversais, mostrando-nos o desejo e a necessidade de requalificação
para esse percurso que era ocupado pelo antigo estacionamento, superdimensio-
nado, já que grande parte dos alunos não possuem idade para conduzir veículos
motorizados. Além disso, os funcionários da instituição fazem uso do estacio-
namento posterior, localizado no piloti da edificação, diminuindo mais a carga
de uso do estacionamento frontal.
A proposta é remover por completo o estacionamento frontal do edifício,
remover os cercamentos e os usos inapropriados do piloti; também construir
uma nova sede para o Centro de Línguas, esta semienterrada para não tirar a
importância do prédio já existente e requalificando a passagem dos usuários
que por ali passam todos os dias.

Orientadora: Luciana Saboia Fonseca


Banca: Carolina Pescatori e Patrícia Silva Gomes

Imagens fornecidas pelo autor

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Menu brasília - espaço gastronômico e cultural
Larissa Carvalho de Paula
Dentre as diversas tipologias comerciais de caráter público, o espaço
gastronômico ressalta o potencial cultural, econômico e democrático, palco de
relações humanas que desde a Antiguidade são fundamentais para impulsionar
a urbanidade e a formação dos centros urbanos. Eles ultrapassam a ideia de
intercâmbio de produtos para ser referência na cultura, tradição, comércio e
relações sociais na cidade a que se insere.
O projeto do MENU BRASÍLIA consiste em um novo equipamento estratégico
na tentativa de integrar o Setor Cultural da cidade, localizado no Eixo Monu-
mental, e recuperar o espaço urbano. Pretende proporcionar uma arquitetura
capaz de servir de apoio a espaços de convívio, área gastronômica, ambientes
destinados a atividades culturais, impulsionar o comércio local, as trocas e novas
experiências.
O complexo é composto por área gastronômica, lojas de especiarias, salas
para cursos, coworking, escola gastronômica, praça interna destinada a eventos
efêmeros e ainda uma grande escadaria como espaço de contemplação voltada
para uma as mais belas visuais da cidade: a Torre de Televisão de Brasília.
Espero ter contribuído para despertar a vontade reviver a ideia do mercado
trazida para os dias atuais e demostrado o grande valor cultural existente nesta
tipologia e em tudo que nela está intrínseco. Mas sobretudo, quem sabe, tenha
despertado em você a vontade de intervir e vivenciar o local.

Orientadora: Eliel Américo


Banca: Augusto Esteca, Carlos Henrique Magalhaes, Juan Carlos Guillén e Neusa
Cavalcante

Imagens fornecidas pela autora

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Viveiro caliandra
Laura Santos Siqueira
O Viveiro Caliandra localiza-se no Núcleo Rural Vale do Palha, Lago Norte.
A região apresenta alta sensibilidade ambiental e fragilidade hídrica, devido à
presença de vegetação nativa, nascentes e solo de recarga hídrica. Assim, foi
elaborado um projeto de viveiro de produção e demonstração de técnicas de
cultivo, com foco também na preservação e educação ambiental, que é capaz
de abordar diversas questões sociais, culturais, econômicas e ambientais, além
de trazer as atividades e processos que nele ocorrem para consolidar preceitos
da relação campo-cidade.
O resultado consolida uma configuração espacial que traz diversas técnicas
de cultivo alternativas e sustentáveis, além de abordagens distributivas da água
e a integração com pequenas animais aliados na produção. O projeto foi pensado
em vários níveis, desde o posicionamento de bacias de contenção, passando pelo
sistemo viário, até os diversos edifícios e locais de cultivo, todos cuidadosamente
posicionados.
Ainda, foi proposto um viveiro ornamental, que reúne as atividades admi-
nistrativas do local, além restaurante, loja e mirante. Em consonância com o
objetivo do projeto, o sistema estrutural escolhido foi a taipa de pilão.

Orientadora: Natália da Silva Lemos


Banca: Liza Maria de Souza Andrade, Mônica Fiuza Gondim e Patrícia Silva Gomes

Imagens fornecidas pela autora

63
Parque aqua lakeshore
Layane Christine Vieira
O Parque Aqua Lakeshore (Chicago, IL) utiliza a arquitetura e o urbanismo
como instrumento de disseminação do aprendizado referente à água e aos riscos
aos quais os recursos hídricos estão suscetíveis diariamente, dando destaque à
constante presença destes aquíferos na paisagem urbana. O parque tem como
objetivo melhorar um dos principais problemas de infraestrutura urbana da
cidade: a sobrecarga do sistema de esgoto e água pluvial, bem como oferecer
espaços para manifestações artísticas onde a água protagoniza a história contada.
Desta forma, há a hibridização de uma arquitetura de caráter intermitente (o
reservatório de água da chuva) com uma arquitetura de uso contínuo (o parque).
Por estar em meio a um grande centro urbano, o projeto funciona como
uma “esponja urbana” para a água da chuva. A edificação compõe a paisagem da
cidade de maneira descontínua e descompactada, criando diversas camadas de
passeio nas quais sempre haverá uma apreensão diferente do espaço visitado, seja
com novas visuais do terreno ou de sua vizinhança. Além disso, o parque tem o
potencial de fazer a conexão direta entre a Avenida Michigan – uma importante
rua turística e de comércio – e o Lago Michigan.

Orientador: Márcio Buson


Banca: Daniel Sant’Ana, Gustavo de Luna Sales, Luis Alejandro Pérez e Renata Mello
Montenegro

Imagens fornecidas pela autora

64
Abrigo para pessoas em situação de rua
Letícia Drummond de Oliveira Magalhães
Somente estrutura de pernoite não é suficiente para recuperação e rein-
serção social da pessoa em situação de rua. O projeto visa englobar diferentes
frentes necessárias à recuperação dessa população, como alimentação, educação,
saúde, atendimento psicossocial e convivência, além de lançar mão de uma
arquitetura mais humanizada, aspecto importante que exerce grande impacto
na recuperação da autoestima dessa pessoa. Propõe, ainda, uma localização
privilegiada, no SGAN - quadra 601, próximo ao coração da cidade e do maior
ponto de concentração dessa população no DF: a rodoviária do Plano Piloto.
Com uma arquitetura simples e descontraída, o projeto apresenta como
diretrizes a integração com a natureza por meio do aproveitamento da área verde
e de jardins internos. Estes, também ajudam na iluminação e ventilação natu-
rais, assim como as esquadrias que promovem ventilação cruzada. Estratégias
de conforto térmico e acústico, como telhas de fibrocimento, fachada ventilada
e estrutura em light steel frame foram empregadas. A integração do espaço
público e privado se dá por meio de um “calçadão” inteiramente acessível, sendo
o eixo regulador do projeto. A abertura do restaurante comunitário e dos cursos
e oficinas à comunidade visa maior convivência social e auto reconhecimento
do indivíduo em recuperação como membro da sociedade.

Orientadora: Cláudia Garcia


Banca: Cláudia Garcia, Eliel Américo, Lia Tostes, Márcia Trancoso

Imagens fornecidas pela autora

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Sambódromo da ceilândia
Lucas Rodrigues Araújo
A escolha do sambódromo como objeto de estudo é feita atenta à importância
da criação de um espaço a sediar os desfiles das escolas de samba e atender às
necessidades das agremiações. Assim, têm-se a intenção de que o projeto atue
como um possível elemento propulsor do retorno e consolidação deste tipo de
carnaval no Distrito Federal, buscando sanar os prejuízos causados à comunidade
pela suspensão destes desfiles em 2015. Sensibiliza-se à necessidade de apoiar
e preservar este tipo de manifestação popular essencialmente brasileira, talvez,
um de seus traços culturais mais emblemáticos internacionalmente. É impor-
tante ressaltar que as atividades desenvolvidas pelas agremiações extrapolam
o métier carnavalesco, desenvolvendo diversos papéis de caráter comunitário.
Pretende-se a criação de um espaço destinado a sediar os desfiles de samba
e fornecer às agremiações espaços dedicados que suportem eventos e atividades
de médio a grande porte que, entre outras funções, viabilizariam financeira-
mente a realização dos desfiles. Para tanto, a proposta agrega à pista de samba
um programa de atividades complementar que se divide em: Centro Cultural
(cinema, café, sala de exposições e camarote), Feira Local, Camarote e Salão
Multiuso, Tenda Multiuso e Barracões.

Orientadora: Eduardo Rossetti


Banca: Ana Elisabete de Almeida, Pedro Paulo Palazzo de Almeida e Sérgio Rizo
Dutra

Imagens fornecidas pelo autor

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Espaços públicos modulares para crianças
Luísa Viana Luniere de Azevedo
O presente trabalho de diplomação teve como objeto de estudo um parque
infantil modular voltado para crianças de 5-10 anos que possa ser adaptável a várias
realidades e sítios. Para tanto, foram propostos mobiliários urbanos lúdicos que
desenvolvam habilidades cognitivas, físicas e sociais para crianças. Além disso,
para a questão modular foi proposto um desenho urbano seguro e lúdico para as
crianças em todo o raio de abrangência do parquinho.
Este trabalho defende uma nova proposta de diretrizes que estes parqui-
nhos modulares devem seguir para atender a todas as demandas, necessidades e
potencialidades do desenvolvimento infantil. Os espaços públicos lúdicos precisam
não só de equipamentos melhores que estimulem mais as habilidades cognitivas
infantis, mas também de um desenho que favoreça as interações sociais entre
crianças e adultos, além de trazer mais segurança e permitir maior empodera-
mento do espaço público pelos seus usuários.
Mesmo propondo um desenho diferente dos brinquedos tradicionais,
optou-se por fazer uma releitura dos mesmos pois estes já são muito abran-
gentes no desenvolvimento das habilidades necessárias ao desenvolvimento
da criança, focando assim em possibilitar diferentes brincadeiras dentro de um
mesmo equipamento e criar mais desafios daqueles já conhecidos pelas crianças.

Orientador: Gabriela de Souza Tenório


Banca: Luís Pedro De Melo, Maria Do Carmo De Lima e Paulo Tavares

Imagens fornecidas pela autora

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Espaço iso photo e arts
Maria Clara Viana Licursi

O Espaço ISO photo e arts é um espaço que oferece cursos de pós graduação,
especialização e profissionalização em fotografia, contendo 4 grandes estudios
de fotografia, salas de revelação manual, salas multimídia, espaços para oficinas,
salas de aula e espaço para a área administrativa educacional, além de espaços de
coworking para alugel e espaços públicos, como biblioteca, salas de estudos, brin-
quedoteca, sala de dança, música, teatro e trabalhos manuais, auditórios e lojinhas
para a venda de produtos feitos no local, tudo isso disponível para a população. O
espaço externo também faz parte do projeto e possui fortes ligações do interior
com o exterior, uma grande praça pensada para atender todas as necessidades
especiais de qualquer pessoa, com escadas e rampas ligando todos os principais
pontos do terreno, criando espaços de estar para todas as faixas etárias, como
playground, pista de skate e teatro de arena voltado, tanto para a parte interna
de um dos auditórios, quanto para um palco externo. O café cituado no interior
do edificio também possui acesso pelo lado externo, oferenco um espaço com
mesas do lado de fora. A arquitetura do prédio foi pensada para fornecer a maior
integração com o exterior, com brises e paineis metálicos perfurados nas fachadas
de vidro, acessos aplos e livres de obstáculos, circulação vertical e horizontal com
visuais livres de todo o prédio. Os principais materiais utilizados foram o metal
nos pilares e o concreto aparente nas lajes nervuradas.

Orientadora: Maria Cecília Filgueiras


Banca: Cláudia da Conceição Garcia, Cláudio de Queiroz e Elane Ribeiro Peixoto

Imagens fornecidas pela autora

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Projeto quatro patas: projeto arquitetônico
de abrigo pra animais abandonados
Maria Eduarda Moll Chaves
Projeto Quatro Patas é um estudo de arquitetura modular de rápida cons-
trução, fácil manutenção e eficiência econômica a médio e longo prazo, com prin-
cipal conceito de animalização do espaço. Portanto, o estudo pretende otimizar
a construção de novos espaços com a função de abrigar animais abandonados e,
numa escala maior, como consequência indireta, poderia aumentar o número de
abrigos a nível nacional. O Projeto Piloto desse estudo está implantado no terreno
do abrigo Flora e Fauna, na cidade do Gama - Distrito Federal. A falta de espaços
qualificados dedicados a abrigar animais em situações de risco aliada à precariedade
de informação disponível sobre o tema, evidenciam a relevância de um projeto
destinado a suprir essa lacuna. A escolha do tema se deu a partir de experiências
pessoais no Abrigo Flora e Fauna, localizado na área estudada, onde pude notar
a ausência de informação para orientar reformas e até mesmo novas construções
desse tipo de arquitetura. Associado a isso, o número de animais abandonados só
aumenta e, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2014, no
Brasil havia cerca de 30 milhões de animais abandonados. Mais de 20 mil desses
animais estão nas ruas do Distrito Federal, segundo a Gerência de controle de
Zoonoses da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (GERAZ). A abordagem do
tema foi iniciada na disciplina de Ensaio Teórico da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo - UnB, onde foram feitos estudos iniciais, foram levantados dados sobre
o tema e foram realizadas tabelas com parâmetros arquitetônicos.

Orientadores: Augusto Esteca e Frederico Flósculo


Banca: Ana Flávia Rego Mota e Ivan Manoel do Valle

Imagens fornecidas pela autora

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Requalificação urbana ao longo do metrô
de ceilândia
Maria Emília Monteiro
A partir dos conceitos de (1) Desenvolvimento Orientado ao Transporte
Sustentável-DOTS, (2) Cidades Compactas, (3) Sprawl Repair e (4) Microacessi-
bilidade, foi elaborado um projeto de requalificação urbana ao longo das esta-
ções do metrô de Ceilândia com o intuito de aumentar a vitalidade da região. O
objetivo é representar o potencial de uso e ocupação do território dos corredores
de transporte público de média e alta capacidade do DF.
O diagnóstico foi feito por meio de caminhas-teste e da decomposição e
análise dos espaços livres públicos. Após a identificação de problemas e poten-
cialidades, o projeto se desenvolveu em três etapas: (1) criação de novas vias e
reformulação de macroparcelas; (2) criação de novas tipologias nas áreas não
ocupadas; e (3) readequação dos lotes já ocupados para novos parâmetros urba-
nísticos.
O projeto alcançou seu objetivo ao mostrar como a área pode ser transfor-
mada para atingir seu potencial. Foram criadas 547 novas edificações para preen-
cherem os vazios urbanos e os espaços residuais e foi proposta a reformulação
de 13.637 lotes. A população da área de intervenção era de 490.000 habitantes
e sofreu um aumento de 38%, passando para 675.222 habitantes.

Orientadora: Vânia Raquel Teles


Banca: Flaviana Barreto Lira, Mario Pacheco, Rodrigo Santos de Faria e Valério
Augusto S. de Medeiros.

Imagens fornecidas pela autora

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Cw3 - coworking w3 sul
Marina da Silva Ribeiro

O Coworking é um tipo de espaço e forma de trabalho em ascensão, anga-


riando cada vez mais adeptos devido ao seu potencial de estimular a economia,
empreendedorismo e networking de um público bastante diversificado. No Distrito
Federal não é diferente, a cada ano surgem novos espaços de coworking devido
a uma demanda crescente de profissionais de diversas áreas por esse tipo de
espaço, especialmente os da indústria criativa. Entretanto, suprir esta necessi-
dade não pode se distanciar de uma arquitetura sustentável ou do potencial de
revitalizar o seu entorno.
O CW3 traz uma intervenção pontual na quadra 515 sul no intuito de
estimular a revitalização da região. A arquitetura traz um sistema construtivo
inovador e ambientalmente responsável, que combina estrutura em madeira
lamelada cruzada (CLT) com madeira laminada colada (MLC). A escolha do mate-
rial estrutural foi pautada no grande potencial ainda dormente no Brasil que a
madeira industrializada possui. A requalificação da área pública se dá através
de um Pocket Park que conecta a via W3 a W2 Sul, transformando uma área
subutilizada em um espaço de lazer e contemplação.

Orientador: José Manoel Sánchez


Banca: Cláudia Naves David Amorim e Natália da Silva Lemos

Imagens fornecidas pelo autor

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“Ei! tem alguém aí?”: arquitetura cenográfica
Mariana Figueiredo Sobral Torres
O projeto cenográfico desse trabalho foi desenvolvido para um curta-me-
tragem escrito na diplomação - inspirado no livro “Ei! Tem alguém aí? ”, do autor
Jostein Gaarder. O curta gira em torno de Joaquim, criança de oito anos, e Mika,
uma criança extraterrestre que caiu no jardim da casa dele. Eles passam uma
noite juntos e aprendem muito sobre si mesmos e sobre o universo.
A criação dessa casa-cenário passa por discussões sobre as congruências
de linguagem do cinema e da arquitetura; sobre percurso (com Sergei Eisenstein
e Le Corbusier); sobre filmes que evocam a expressividade de um cenário; sobre
casas inspiradoras dentro e fora das telas e, por fim, sobre a representação nos
desenhos de criança. Esse último tema é o arremate pois a casa do Joaquim é
projetada sob a perspectiva dele – a representação predominantemente 2d dos
desenhos infantis remete ao conceito cinematográfico de montagem. O roteiro
vem como o programa de necessidades.
Nasceu assim uma casa em cortes, sob a visão de Joaquim, a criança prota-
gonista. Com uma pincelada de direção de arte são discutidas cores e texturas
e o projeto arquitetônico é voltado para soluções de uma arquitetura efêmera.

Orientadora: Maribel Aliaga Fuentes


Banca: Carolina Pescatori, Joara Cronemberger, Monica Gondim e Ana Laterza

Imagens fornecidas pela autora

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Novo zoo bsb
Mario Sergio Facundes Taveira
Desenhar um zoológico vai além das questões de preservação, tendo em
vista que alguns animais são resgatados por maus tratos e sequer conheceram o
seu habitat natural. Dessa forma, não é apenas sobre recriar biomas e habitá-los,
é mais sobre as necessidades de cada indivíduo, e para muitos humanos, a inte-
ração com o exótico e selvagem só acontece no ZOO. Importa nesta perspectiva
é que, mesmo se o visitante entre no parque apenas pelo lazer, ele saia como
um agente de preservação da vida animal.
Como diretrizes principais foram estabelecidas o conceito de imersão
paisagística, no qual o animal vive em seu habitat natural, sem divisões e com
maior unidade estética dos espaços. Retirou-se o trânsito de veículos e foram
realocados os animais para um novo trecho, permitindo assim recriar a proposta
de um habitat ideal.
A diretriz principal foi à educação e o lazer visando alcançar o potencial
para conexão do espaço de preservação com os espaços projetados. Esta dire-
triz levou a desenvolver um eixo principal de circulação (denominado Grande
Narrativa) que conduz, mas não limita as descobertas de seu entorno. Este eixo
parte da praça da entrada e se desenvolve através de onze praças, que foram em
grande parte recriadas com base nos antigos habitats, sendo sua última estrofe
a praça da preservação. Um traçado radial distribui os habitats tornando os
espaços dinâmicos e de possibilidades para o desenvolvimento de um percurso
individual, ainda assim conectado a uma rede circular que facilita a orientação.

Orientador: Orlando Vinícius R. Nunes


Banca: Mônica Gondim, Natália Lemos, Patrícia Silva Gomes e Renata A.
Montenegro

Imagens fornecidas pelo autor

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Dorothy stang de baixo pra cima: modelo
participativo e sustentável para uma
quadra da ocupação
Mateus Marques Rangel
Dentre as ocupações não regularizadas existentes no Distrito Federal existe
a Dorothy Stang, no Setor Nova Colina em Sobradinho. Segundo a professora Liza
Maria Souza de Andrade, trata-se de uma comunidade de aproximadamente 544
famílias de baixa renda assentadas em habitações provisórias de madeira. Este
trabalho propõe metodologias de projeto em que a população local participa de
todo o processo de concepção, fundamental para estabelecer uma relação hori-
zontal e para que se compreenda e se respeite a cultura e história daquele povo.
O projeto considerou o caimento natural do terreno, a vegetação nativa e
os pontos afetivos marcados pelos moradores. Também procurou-se adensar o
espaço para criar maior diversidade social e propiciar o encontro das pessoas na
rua por meio do alargamento das calçadas, da criação de quintais compartilhados
e de tipologias voltadas para a rua.
Foram criadas 4 tipologias residenciais para atender à diversidade de famílias
existentes. Nessas tipologias foram incorporados padrões estéticos locais, prio-
rizou-se a criação de espaços compartilhados, o uso de materiais e mão-de-obra
locais, a vista para a rua, permacultura e drenagem urbana mais sustentável.

Orientador: Liza Maria S. de Andrade


Banca: Mônica Gondim, Natália Lemos e Patrícia Gomes

Imagens fornecidas pelo autor

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Eixo universitário do plano piloto
Rachel Benedet de Sousa Martins

O Eixo Universitário é composto por três camadas: Camada 1 “Transitar”,


com intervenção urbanística, Camada 2 “Estudar”, composta pelos polos de
estudo, e Camada 3 “Habitar”, com as reformas habitacionais.
A primeira camada é caracterizada por uma linha contínua de 3m de largura
e dois quilômetros de extensão, pavimentada com bloquetes de concreto e postes
de iluminação pedonal na cor vermelha. Também foram dispostas pequenas
praças com mobiliário para estudo ou descanso ao longo de todo o Eixo.
A Camada 2 “Estudar” é composta pelos pequenos polos de estudo que
abrigarão um programa mutável, com serviços complementares à moradia dos
estudantes. O Eixo perpassa o espaço interno de cada polo a partir de duas
entradas, permitindo fluidez e continuidade espacial.
A terceira camada inclui a reforma das diferentes tipologias habitacionais
da Asa Norte: blocos residenciais de 6 e 3 pavimentos, casas geminadas, e blocos
comerciais com quitinetes. Uma unidade de cada tipologia foi requalificada para
abrigar estudantes de ensino superior, prezando-se pela separação de fluxos
entre ambientes privados e coletivos. Dessa forma, o projeto abrange todas as
camadas incluídas na vida universitária.

Orientadora: Ricardo Trevisan


Banca: Cláudio Queiroz, Prof. Dr. Oscar Luis Ferreira, Mônica Gondim e João
Augusto Pereira

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Espaço da moda
Vanessa Silva Botelho
O Espaço da Moda é o projeto de um complexo situado no Lago Norte (na
principal via de entrada da região), destinado ao processo de ensino, criação,
e produção da moda , contando com áreas para estudo e confecção, áreas para
exposições de trabalhos realizados pelos próprios estudantes, por artistas locais
e por grandes estilistas, além de áreas com cafés, lanchonetes e uma grande
área livre que estimularão o uso do conjunto arquitetônico por diferentes tipos
de usuários.
O processo de criação teve como base as diretrizes da Expressão, Inovação e
Liberdade, e como referência um corpo como base de sustentação e a vestimenta
como sua continuidade. E foi a partir dessas diretrizes e da referência, que a
arquitetura foi proposta e de imediato se interligou com o plano de necessidades,
resultando assim em 3 áreas principais e conectadas: ÁREAS COMUNS com Museu,
Feira, Áreas livres, Restaurante e lanchonetes, Café do Museu; ÁREAS PRÁTICAS
com Ateliês na Escola da Moda e ÁREAS DE PESQUISA com Biblioteca, Auditório,
Salas de Projeção. Toda a arquitetura parte de tons neutros e áreas livres, para
que o espaço seja habitado e usado de formas e com cores diversas, propiciando
um ambiente versátil para infinitas possibilidades de usos e instalações.

Orientador: Eliel Américo


Banca: Carlos Henrique Magalhães de Lima e Neusa Cavalcante

Imagens fornecidas pela autora

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Centro de intercâmbio cultural brasil – japão
Vinícius Faustino de Oliveira Santos
No ano de 2018, comemorou-se os 120 anos de amizade entre Brasil e
Japão, bem como os 110 anos da imigração japonesa no Brasil, marcada com
a chegada do navio “Kasato-Maru” (笠戸丸), em 1908. A presença nipônica no
Brasil vem há muitos anos enriquecendo e diversificando nossa cultura, sendo
celebrado vários acordos de cooperação mútua que aproximam ambas nações.
Visando simbolizar esse laço de amizade, foi proposto a criação de um Espaço
de Intercâmbio Cultural entre o Brasil e o Japão.
Localizado nas proximidades da Universidade de Brasília e da Escola Modelo
de Língua Japonesa (SGAN 606, módulo C), o Espaço promove ao público geral,
a possibilidade de desenvolver práticas culturais relacionadas à culinária, arte,
educação, esporte, entre outras, que busquem a aproximação entre brasileiros
e japoneses, assim como, entre a cultura ocidental e oriental.
Implantado sobre um terreno de 200x50m, adotou-se ao edifício uma
arquitetura do tipo pavilhonar, que estendende-se em um conjunto de 3 partes:
Pavilhão Japão (acesso via L2 Norte); Pavilhão Brasil (acesso via L3 Norte) e
Hall dos Arcos (praça central). Além do intercâmbio cultural, o edifício busca
ainda o intercâmbio de linguagens arquitetônicas (tradicional e moderno) e de
materiais (madeira e concreto), característico de cada país.

Orientador: Ivan do Valle


Banca: Cláudia Amorim, José Sanchez, Anna Rachel e Neander Furtado

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Cer - centro especializado em reabilitação
visual, físico, auditivo
Yasmin Rodrigues da Costa
Este Trabalho de Conclusão de Curso propõe como objeto arquitetônico um
Centro Especializado em Reabilitação (CER), que promova maior reintegração
social e autonomia para as pessoas com deficiências físicas, visuais e auditivas.
Utilizando o conceito de humanização para a criação de um ambiente de saúde,
em que a arquitetura influencie positivamente no tratamento, a ideia do CER é
apresentar um lugar qualificado, cujo próprio ambiente influencie positivamente
no bem estar dos pacientes, de forma a contribuir com o processo terapêutico.
Tão importante quanto os hospitais são os lugares de assistência após o trauma,
como os Centros de Reabilitação, por exemplo, que são medidas complementares
necessárias no intuito de tratar os pacientes por meio de reabilitação multi-
profissional em ambiente extra hospitalar para aqueles que necessitam de uma
continuidade do tratamento mesmo após a alta. Dessa forma, a proposta deste
trabalho sugere um lugar com infraestrutura adequada, acessibilidade e atividades
que contribuam para a melhora da saúde física e mental, fornecendo atendimento,
diagnóstico e terapia. O projeto está localizado na cidade de Ceilândia - DF, que
tem uma população elevada e dentre as regiões administrativas do DF, de acordo
com o IBGE, é a que possui a maior porcentagem de pessoas com deficiência.

Orientador: Ivan Manoel do Valle


Banca: Augusto Esteca, Frederico Flósculo e Maria Cláudia Candeia

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79
encontros
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Pé na estrada: Expo Sampa

Na segunda semana de abril de 2019, realizou-se na Galeria Christina Jucá a EXPO


Sampa, trazendo os trabalhos produzidos por alunos participantes da viagem à São
Paulo com o Pé na Estrada, no segundo semestre de 2018. A abertura contou com
a apresentação do grupo Atemporal Cia de Dança (@atemporalcia no instagram). A
concepção do projeto foi feita pelo Projeto Pé na Estrada e coordenado pela aluna
Julia Lopes Soares.

Ao adentrar a galeria, o espectador é induzido a seguir a faixa vermelha que rodeia


o espaço. Esse elemento linear que conduz o visitante remonta a Avenida Paulista,
grande via de crista de morro que rasga São Paulo em várias faces, espécie de
palimpsesto, e que é co
uência das intensas mudanças sociais expressas na arquitetura que reside ali
atualmente. No percurso expositivo, em um primeiro momento, pode-se adentrar
em registros das vivências da viagem por parte dos alunos, através das cartilhas
penduradas no primeiro painel.
Em seguida, podia-se admirar as diferentes percepções dos SESC’s da cidade,
através das maquetes realizadas. Em um dos painéis, exibiram-se também
colagens produzidas com base nos arquitetos de edifícios visitados, além do Diário
do Pedestre, que contava com mais detalhes o cotidiano e aventuras da grande
selva de pedra pela perspectiva do pedestre. Por último, no centro, se encontravam
cubos de luzes representando a noite de São Paulo, ressaltando todas as suas
cores e texturas.

Os trabalhos foram realizados durante e após a viagem, por integrantes e


estudantes participantes, fazendo referência a momentos marcantes e a paisagem
da cidade visitada, traduzindo essa percepção de forma lúdica e interpretativa para
os visitantes da exposição.
Participaram como integrantes da equipe organizadora da viagem os estudantes:
Ana Carolina Michirefe, Ana Luísa Pedreira, Caio Nascimento, Iara Lemos, Jaqueline
Sales, Júlia dos Anjos, Julia Lopes, Julia Costa, Juliana Albuquerque, Maria Emília
Monteiro, e Maria Isabela Alves, Nayane Machado e Vivianne Fontoura.
Participaram como expositores os estudantes: Aldo Brasil, Amanda Fernandes,
Amanda Marques, Amanda Silva de Oliveira, Carolina Guida, Elciane Rocha,
Gabriela Medeiros, Gabriela Pires Lucas, Guilherme Reis, Heloisa Ravena, Hiagson
Souza, Isadora Artiaga, Julia C. Carvalho, Juliana Albuquerque, Karoline Cunha,
Mairla Julia, Manuella Monção, Marcela Budó, Maria Eduarda Azambuja, Mawere
Portela, Octavio Araujo, Rodrigo Figueiredo, Silvair de Freitas, Victoria Dias, Vivianne
Muniz e Yngred Lopes.

Texto de Julia Lopes Soares

83
Arquitetura, Urbanismo e seus
nexos
Como as cidades do futuro, especialmente as cidades verdes, conseguirão abraçar
as dimensões ambiental, cultural e a tecnológica? Foi tentando responder a esta
indagação que sediamos, no âmbito da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
(FAU-UnB), o evento internacional intitulado “The Environment-Culture-Technology
Nexus: Envisioning Future Green Cities ” nos dias 17, 18 e 19 de julho de 2019. O
evento se deu num formato de workshop e teve como parceira a Universidade de
Portsmouth e como financiador o Global Challenges Research Fund (GCRF).

Para a realização do workshop, a nossa Faculdade recebeu cerca de vinte


pesquisadores e pesquisadoras, sendo dois deles oriundos da instituição britânica
e os demais de diversos centros de pesquisa e universidades brasileiras. Dentre
o time de pesquisadores convidados para o evento, tivemos a Cláudia Almeida
(INPE), Gabriela Celani (UNICAMP), Luciana Ferreira (USP), Fernando Lima (UFJF),
Carme Machí-Castañer (USP), Ana Clara Mourão (UFMG), Ângela Rossi (UFRJ),
Patrícia Sanches (USP), Geovany Silva (UFPB), Robson Silva (PUC PE) além dos
professores da UnB.

O evento discutiu as criativas maneiras de tornar as cidades do futuro mais


verdes e sustentáveis, discutindo tópicos estratégicos como soluções de
urbanização baseadas na natureza, cultura e sociedade em tempos de polarização,
potencialidades da realidade virtual e aumentada no planejamento de cidades
do futuro, entre outros. O objetivo do evento foi trazer um olhar interdisciplinar
e sistêmico fundamentais para a promoção da sustentabilidade, resiliência,
identidade, memoria e demais princípios de qualidade ambiental.

A metodologia do workshop foi uma combinação de diferentes dinâmicas, ora


palestras técnicas, ora grupos de trabalho, quando, por meio de um exercício de
projeto urbano, todos os pesquisadores tiveram que tomar decisões rapidamente,
e consolidar ideias para implementar soluções urbanísticas sustentáveis, social e
culturalmente aderentes e tecnologicamente viáveis para o Distrito Federal. Para
isso, o evento ofereceu, além de uma palestra de abertura sobre o DF, uma visita
técnica à ARIE JK, locus do objeto de estudo, proporcionando aos participantes
um panorama ainda mais palpável do contexto urbano do Distrito Federal.

A coordenação geral ficou a cargo da Profa. Dra. Maria do Carmo Bezerra, com
muitos trabalhos na área em questão, com a colaboração dos professores Caio
Silva e Joára Cronemberger, que também foram integrantes do time de convidados
do workshop, todos da FAU-UnB. Do lado britânico, os promotores foram o Prof.
Dr. Fabiano Lemes (que atualmente é professor da Universidade Politécnica de
Milão) e o Prof. Dr. Tarek Teba (University of Portsmouth). O evento contou com a
colaboração efetiva de estudantes da FAU, dentre eles mestrandos e doutorandos
do PPG-FAU: Júlia Adário, Rejane Viegas, Thiago Góes, Anna Carolina Palmeira e
Aline da Nóbrega.

Texto de Caio Frederico e Silva

84
85
Palestra de Alexandre Brasil
(sócio fundador do Arquitetos Associados)
Em julho de 2019, a FAU-UnB recebeu o arquiteto e urbanista Alexandre Brasil
para proferir uma palestra sobre a sua atuação profissional. Brasil é sócio do
escritório Arquitetos Associados (também composto por André Luiz Prado,
Bruno Santa Cecília, Carlos Alberto Maciel e Paula Zasnicoff), com sede em Belo
Horizonte-MG. Na palestra, falou de suas principais influências, da dinâmica do
escritório e de algumas obras significativas.

Os projetos realizados no Instituto Inhotim, em Brumadinho-MG, especialmente


a Galeria Claudia Andujar, o Centro Educativo Burle Marx e a Galeria Miguel Rio
Branco, ganharam grande reconhecimento nacional e internacional. Em 2020,
o grupo assumiu a curadoria do Pavilhão Brasil na 17ª Bienal de Arquitetura de
Veneza.
Alexandre Brasil graduou-se em arquitetura e urbanismo pela EAUFMG em
1997, é mestre em engenharia civil e atua como professor de projeto e técnicas
construtivas na UNI-BH. Segundo o arquiteto, além da tradição modernista, ele
pertence a uma geração fortemente influenciada pelo movimento pós-moderno
mineiro através das figuras dos arquitetos Éolo Maia, Maria Josefina de
Vasconcellos e Sylvio de Podestá. Atualmente, o seu escritório funciona como
um estúdio colaborativo no qual cada projeto é tratado de forma específica
envolvendo equipes variadas e contribuições externas.

Ao apresentar as obras, o arquiteto pontuou a forte relação de seus projetos


com o sítio.
Ressaltou que a topografia acidentada de Minas Gerais sempre foi um desafio,
ao mesmo tempo que uma oportunidade para se pensar a implantação do
edifício e o seu impacto na paisagem. Valeu-se da expressão “amnésia urbana”
para criticar recentes projetos que “dão as costas” para a cidade e que não
dialogam com o espaço público.
A palestra ocorreu no Auditório da FAU-UnB e fez parte do evento “EXPO
DIPLÔ: Abertura da Exposição dos trabalhos de Diplomação de 1.2019”.
O evento contou também com o lançamento das nona e décima edições da
revista ARQUI e a Premiação dos alunos destaques de 1.2018 pelo IAB-DF.
Nos últimos anos, a Coordenação de Diplomação tem organizado palestras com
representantes da arquitetura brasileira para falar de suas vivências e desafios
da profissão. As palestras são dedicadas aos formandos, mas são abertas ao
público em geral.

Texto de Maria Cláudia Candeia de Souza

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Workshop “Os espaços da
FAUFRGS”
O workshop “Os espaços da FAUFRGS” foi realizado em Porto Alegre (RS).
Resultou da parceria entre as Faculdades de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de Brasília (UnB) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS) através das disciplinas Projeto de Arquitetura - Problemas Especiais
(PAPE) (UnB) e Ateliê de Projeto V (UFRGS), ministradas respectivamente pela
profa. dra. Luciana Saboia e prof. dr. Sérgio M. Marques.

Com Planos de Curso integrados, propunham exercício projetual a fim


de promover a compreensão e o domínio das relações entre construção,
tecnologia e programa, sítio, entorno construído e natural. O problema consistia
em desenvolver anteprojeto arquitetônico para o Anexo da Faculdade de
Arquitetura do Campus Centro da UFRGS. O workshop fez parte das atividades
de ensino.

Viajamos então a Porto Alegre com estudantes e os arquitetos convidados


do escritório Arqbr, Éder Alencar e André Velloso. Lá, os alunos da UnB e da
UFRGS se uniram em pequenos grupos e desenvolveram, nos três dias de
oficina, propostas ao problema da disciplina. As soluções eram apresentadas
em painéis aos professores e arquitetos convidados - escritórios Arqbr (DF)
e Sauermartins(RS) – e discutidas amplamente. As diversas leituras feitas
pelos participantes, a partir de sua bagagem teórica e prática, geraram
verdadeiros brainstorm de ideias e reflexões acerca do espaço arquitetônico
e da prática projetual. A programação incluiu palestras do prof. dr. Carlos E.
D. Comas (PROPAR/UFRGS) e do escritório Arqbr, além de visitas de estudo
a pontos estratégicos da cidade com o objetivo de aumentar o repertório de
conhecimento sobre a arquitetura moderna.
O workshop resultou em uma rica experiência, repleta de aprendizado e
agradáveis momentos de confraternização entre todos. A parceria rendeu
novos frutos. Ainda em 2020, o prof. Sérgio Marques e seus alunos de Ateliê de
Projeto V virão à Brasília para novo workshop. Desta vez, o objeto de estudo
será o nosso memorável Instituto Central de Ciências (Minhocão).

Texto de Luciana Saboia e Paola Ferrari

Organização: prof. Dr. Sergio M. Marques (PROPAR-FA/UFRGS), profa. dra.


Luciana Saboia (FAU/UnB). Colaboração: profa. Paola Ferrari (FAU/UnB),
escritório de arquitetura ARQBR (DF), estagiários Renata Beck (RS), Camila
Wentz(RS) e Willian Flores(RS); Palestrantes convidados: prof. dr. Carlos E. D.
Comas (PROPAR/UFRGS), arq. Eder Alencar (ARQBR) e arq. André Velloso
(ARQBR). Participantes convidados: arq. Cássio Sauer e arq. Elisa Martins
(escritório Sauermartins-RS) e mestranda Monica Bohrer.

87
entrevista
arqui entrevista: nonato veloso
O projeto Arqui Entrevista tem como [Amora de Andrade] Partindo do [Nonato Veloso] Olha, eu sou daqueles
objetivo apresentar professores início de sua trajetória: como você que acham que não tem crítica
consagrados da FAU aos estudantes descobriu que queria ser arquiteto? alguma. Pra mim é uma maravilha,
de graduação. A nossa faculdade [Nonato Veloso] Eu não descobri é uma obra prima do Modernismo
tem a alegria de ter uma trajetória que queria ser arquiteto, acho que e do Urbanismo Moderno. Eu
rica em experiências profissionais, de veio naturalmente. Meu pai era entendo assim: é inédito no planeta.
pesquisa, de ensino e de extensão. arquiteto, professor de perspectiva Como você constrói no Cerrado,
Além do contato com os mestres é na UFMG (Universidade Federal de em um contexto de país pobre,
uma maneira de conhecer e vivenciar Minas Gerais), então eu já tinha essa sem recursos, e consegue construir
a história dessa instituição. referência, e em casa eu também longe de tudo uma cidade desse
gostava muito de desenhar. Além tamanho, implantar todo o sistema
O primeiro entrevistado é o professor disso, em Belo Horizonte, as décadas viário, drenagem, vários palácios
Nonato Veloso. Ele é mineiro e de 50 e 60 foram muito ricas no e Superquadras? Um fenômeno! A
cursou a graduação em Arquitetura e âmbito da arquitetura com a presença própria rodoviária é fantástica, ela não
Urbanismo na UFMG (Universidade forte de Oscar Niemeyer. A gente é um edifício rodoviário como tem em
de Minas Gerais), formando-se em via a construção do Edifício Oscar toda cidade.
74. Em 75 mudou-se para Brasília, Niemeyer na Praça da Liberdade, eu [Amora de Andrade] Você poderia falar
para colaborar no escritório de seu passava a pé ali menino, indo para sobre a sua participação no concurso
antigo mestre Hélio Ferreira Pinto. escola, e até hoje eu me espanto para o Pavilhão de Sevilha?
Em 76 começou a lecionar na quando vejo aquele prédio, uma obra
Universidade de Brasília, inicialmente prima do Oscar. [Nonato Veloso] Foi um concurso
no Departamento de Desenho (atual disputadíssimo, tem muito debate
IdA), ao qual a FAU era vinculada. Também teve o Edifício JK na Praça sobre ele até hoje. Foi um marco
Raul Soares, que é outro ícone na na arquitetura da virada do pós-
cidade até hoje, e a Pampulha com moderno, e uma retomada da
Em 95 passou a lecionar Projeto de
seus edifícios. Outra referência muito arquitetura brasileira. Então foi muito
Arquitetura 1, a porta de entrada
forte para mim foi o Colégio Estadual disputado, com os escritórios todos
dos estudantes da FAU no exercício
Central de Belo Horizonte, onde participando, e foi uma revelação de
projetual. Foi professor dessa
estudei no meu primeiro e segundo vários grupos. Tanto que as equipes
disciplina até 2014, quando se
grau, que é um projeto maravilhoso desse concurso foram chamadas de
aposentou. Nela aplicou o exercício
do Oscar Niemeyer. Tinha os pilotis, “Geração Sevilha”.
do Espaço da Luz, de forma a ensinar
como trabalhar a implantação do as salas de aula em cima e uma
espaço arquitetônico e diversas de rampa que levava para uma sala de O que acontece: a minha pesquisa
suas propriedades. Também em 2014, aula. O auditório dele é um precursor de doutorado conversa com dados
recebeu seu doutorado com a tese do olho que Oscar fez depois no de Sevilha. São duas décadas sobre
“Arquitetos Paulistas e os concursos Museu em Curitiba (Museu Oscar concursos de arquitetura no Brasil, de
nacionais de Arquitetura” e em 2016 Niemeyer), mas dávamos outro 1990 a 2010. O cenário da época era
estabeleceu seu escritório, o Estúdio apelido pro nosso. Não chamávamos que ainda não tinha internet, mas as
NV. de olho, era mata-borrão, pois tinha o revistas começaram a publicar muitos
desenho parecido com o objeto que outros projetos que não tinham sido
Os concursos de Arquitetura, além usavam para tirar as tintas da caneta selecionados.
de objeto de análise científica, tinteiro que borravam o papel.
significaram para Nonato uma Matheus Gorovitz e eu, que éramos
oportunidade de aplicar diversos dos Outra lembrança é que o piso do de equipes separadas, ficamos
seus conhecimentos e reflexões na auditório era curvo; você entrava e com menção honrosa. Em seguida
prática arquitetônica. Entre as suas as cadeiras já acompanhavam esse teve uma exposição no Itamarati,
participações, podem ser elencadas formato curvilíneo. Era uma maravilha! vou contar pra vocês, eu morri de
as menções honrosas nos concursos Vale a pena pesquisar sobre. A gente vergonha do meu projeto, no meio
para o Pavilhão do Brasil na EXPO92 tinha muito orgulho de estudar lá, daqueles projetos ali. A maquete do
Sevilha e para o Museu da Tolerância vinha gente do mundo todo conhecer Angelo Bucci era de madeira balsa e
e as primeiras colocações para a aquele projeto. Então foi isso, eu tive a minha era uma de papel desenhado
Casa do Professor da Associação dos a influência de todo esse contexto, em cima! Nossa! Horrível, né? Mas
Docentes da UnB, para o Museu de mas foi nessa escola que eu tive um talvez a questão dos desenhos, das
Ciência e Tecnologia da UnB e para o professor de geometria que me fez perspectivas que eu tinha feito ali,
Paço Municipal da Várzea Paulista.¹ realmente gostar de estudar essa tenham servido para me dar um
área. ponta pé e começar a me interessar
por projeto e acabar participando de
¹ A apresentação teve como referencial teórico [Marcos Cambuí] Como foi a
a dissertação de mestrado de Paulo Victor muitos concursos.
influência de Brasília na sua relação
Borges Ribeiro, apresentada em 2017 e de título
“Arquitetura potencial: Nonato Veloso, concursos com Arquitetura. E sobre o plano [Marcos Cambuí] Como foi o seu
de projeto” vinculada ao PPG-FAU UnB e de urbanístico de Lucio Costa para a primeiro contato com a Universidade
orientação da professora Sylvia Ficher. cidade, qual sua análise crítica? de Brasília? Poderia falar um pouco

90
sobre a sua história na FAU e no IdA? trabalho. Conversávamos sobre a fazer um curso do programa, que já
vida! Teve um dia que estávamos não tem nem tanto tempo assim, e de
Eu comecei a orientar diplomação nos intervalinhos que davam entre lá pra cá uso ele bastante.
preocupado porque é uma uma orientação e outra, e a gente
responsabilidade muito grande. ficava conversando um assunto que [Marcos Cambuí] Na sua prática
Aquele é o momento em que você não podia deixar de acabar naquele projetual, quando o projeto passa do
discute arquitetura com os alunos, momento. Aí foi dando a hora do croqui pra prancheta? em que fase do
é onde tem confronto. Antes você café, o pessoal foi levantando e tinha projeto se deixa o desenho à mão e
ficava com o seu orientando durante ainda uns três ou quatro alunos para se passa aos meios digitais?
todo o processo e no dia da banca orientar. Acho que ainda conseguiram
podia entrar qualquer professor que Apesar dos meus métodos de ensino
falar com a gente. Daí a Neusa serem todos em maquete física,
quisesse e que nunca viu o projeto, foi falando daquele outro assunto
criticar e dar nota, entendeu? Era que por conveniência na época era
que não tinha nada a ver com a a ferramenta que eu achava mais
uma loucura. Pegava fogo! Depois orientação, levantando, mas alguns
tinha que entrar todo mundo pra uma simples, hoje em dia eu fiquei um
alunos ainda queriam conversar, pouco preguiçoso quanto ao uso
sala, pra sala 6 que é maiorzinha, pra então a Neusa falou: “Nonato, vamo
dar a nota no quadro. E era aquela dela. Faço de vez em quando. Mas o
logo pro café porque esses meninos processo é esse mesmo, o processo
tensão toda. não deixam a gente conversar”. A que vocês conhecem e fazem. É
Eu lembro até que em uma orientação gente começou a rir e eles também. muito croqui também, e à medida
um garoto, hoje ele é professor lá da Era muito bacana. que você vai fazendo, o croqui vai te
engenharia, faltou uma orientação, [Marcos Cambuí] Como foi pra você a ajudando a chegar no momento em
e foi logo no início que comecei transição da prancheta para as novas que aquilo merece um 3D.
a orientar diplomação. Eu muito tecnologias? Em concursos as vezes eu faço um
preocupado com aquela cobrança
[Nonato Veloso] Eu não senti muito. mundo de ideias. Um mundo de
toda, e ele faltou uma orientação
Trabalhei muito com desenho técnico croquis. Mas não faço aquele croqui
dizendo “a minha avó teve um
tradicional naquela época e tinha bonitinho que os arquitetos gostam.
problema”. Então eu fui na secretaria,
feito o meu método de perspectiva. Eu faço aquele risco rápido, vou
peguei o telefone da avó dele,
Tinha uma colega de artes plásticas riscando vários papeis e assim vai.
liguei e falei com ela: “seu neto não
que aprendeu o 3DS e me deu aula. Ainda tem um problema: a minha
pode deixar de vir pra orientação,
Quando eu vi aquilo eu pensei: “eu esposa é bióloga, professora de
entendeu?” e a gente morre de rir
acabei de criar esse método de biologia, e desde sempre ela não me
disso.
perspectiva, mas ninguém vai querer deixa usar papel só no verso, tem que
Naquela época a gente acordava de saber disso”. Não precisa mais ficar usar frente e verso: “ah porque tem a
madrugada, lembrava do trabalho marcando perspectiva, né?! Mas eu questão ecológica, tem as químicas
de um e de outro, e pensava: “não, não tive nenhum conflito com isso. que usam pro papel ficar branquinho,
tem que terminar o projeto; tem que depois aquilo vai pro lixo e ainda tem
ter isso e aquilo”. Mandava e-mail a celulose...” então se você pegar os
Tinha uma garota de 17 anos que
de madrugada, aquela coisa toda. meus papéis de croquis é um mundo
estudava desenho industrial lá no
Então tinha uma tensão, mas era de garrancho, um mundo de risco em
IdA, mas fazia desenho de arquitetura
uma coisa legal, né?! Comecei a dar cada lado.
pra escritórios. O desenho a lápis
aula com a Raquel Blumenschein,
dela era maravilhoso e o desenho a
mas ela tirou licença e comecei a [Marcos Cambuí] Como tem sido a sua
nanquim então, nem se fala. Logo ela
dar aula com a Christina Jucá. A participação recente em concursos
aprendeu o AutoCAD e me ensinou,
Christina é aquela pessoa de uma de arquitetura?
nessa virada de 1991-92. De vez em
cultura arquitetônica, um negócio [Nonato Veloso] Quando eu penso em
quando eu pegava alguns ex-alunos
fantástico! Ela dava aula de projeto e um concurso, já monto uma equipe
pra me dar alguma aula. O Marco
teoria, e foi ótimo. A gente teve uma com recém formados, estudantes, e
Antônio me deu aula também do 3DS.
parceria de uns dois semestres, e já vou mostrando pra eles o que estou
No meio da aula eu achava aquilo um
depois a Raquel voltou. Christina era fazendo pra gente ir conversando. Eu
mundo. O manual do 3DS eram umas
aquela figuraça, fazia várias coisas, já estava trabalhando nessa forma
três vidas.
inclusive era muito preocupada virtual bem antes da pandemia.
com o conforto ambiental. Ela pediu Teve um curso de extensão de Reunião presencial só acontecia
pro Jayme Almeida fazer parceria SketchUp na FAU há algum tempo, quando não tinha jeito.
comigo no PA1. Bruno Capanema e eu fui fazer. Vocês não imaginam
ficou comigo um monte de tempo, quem fez o curso do meu lado: o 2018 foi atípico pra mim. Cada
sabe?! Ele era ótimo. Só parceria Zimbres. Nessa época eu devia ter concurso leva uma média de 2 meses
maravilhosa. Neusa! Olha bem, a uns cinquentas e poucos anos, e o e meio a 3, e nesse ano eu fiz sete
parceria que eu tive com a Neusa era Zimbres já devia estar com a idade concursos. Só entregamos seis,
a coisa mais fantástica do planeta! que eu tô hoje. Mas ele foi atrás porque um ninguém pôde entregar.
A gente se divertia dando PA1, também. Nós fomos coleguinhas no Na véspera da entrega já estava com
conversávamos sobre muitas coisas SketchUp. Depois me convenceram tudo pronto e teve uma questão. O
além da arquitetura e além daquele que SketchUp era bom. Então eu fui

91
coordenador teve que ligar pra todo A gente é amigo, Paulo Victor de vez aprender muito. E nesses casos,
mundo falando: “olha, infelizmente em quando me chama pra dar essas a maioria dos professores precisa
foi cancelado”. Então entreguei seis aulinhas, essas conversas com os mesmo ser dedicação exclusiva. É
concursos em 2018. alunos dele. como na ciência: não tem como um
professor da Física não ser dedicação
[Amora de Andrade] e concurso é [Marcos Cambuí] Na FAU os exclusiva.
muito interessante, né?! É uma professores são de dedicação
matéria de projeto que você faz fora exclusiva e não podem exercer a Eu acho que no nosso caso, das
da fau. Como se fosse isso profissão de arquiteto projetista. artes e da arquitetura, é totalmente
Na sua relação com os concursos compatível você ter professores de
[Nonato Veloso] Aí que tá... Eu comecei
havia também a busca pela prática tempo parcial ou integral. Durante a
a trabalhar muito com concurso
arquitetônica? minha pesquisa final eu li a tese de
porque pra orientar diplomação eu
tinha que conhecer temas diversos e um professor da FAU USP, Antonio
[Nonato Veloso] Em vários concursos
ter velocidade. E o concurso é isso: Barossi. Na tese dele tem um estudo
eu montava grupos com colegas
em um tempo de 2 meses e meio com estatísticas mostrando que em
da FAU. Muitos professores, o Ivan
que você pega um tema e tem que 2005 o departamento de projetos
(do Valle), a Luciana (Saboia), o
correr atrás e montar. Eu participei de da USP tinha 66 professores e
(José Manoel) Sánchez... eu nem
muitos concursos e eles me ajudaram 22 em dedicação exclusiva. Os
vou lembrar agora quantos... Vários
muito nas orientações. Agora me outros 44 são distribuídos em
trabalharam comigo. É uma saída. O
aposentei, mas continuo fazendo tempo parcial e tempo integral. E a
concurso é interessante.
como exercício pra não ficar parado. estrutura deles é bem parecida com
a nossa: Departamento de Projeto,
Na época em que eu já era professor,
Departamento de Tecnologia e
Há uns 5 anos, o Paulo Victor participei do primeiro concurso pro
Departamento de Teoria e História.
(Borges) resolveu fazer um mestrado IAB. Foi logo quando cheguei em
sobre a minha participação em Brasília. Quem ganhou esse concurso Eu tenho contato com o Álvaro
concursos. Aí eu falei: “Paulo foi o Aleixo (Furtado), que era
Puntoni, encontrei com ele ano
Victor, tem tantos outros arquitetos, professor da UnB. Só que o Aleixo
passado e surgiu esse assunto.
escritórios estabelecidos, pessoas era tempo parcial. Eu só conheci
três professores de tempo parcial Ele falou que agora na USP estão
fantásticas, arquiteta, arquiteto que
tem produção, né?!”. Ele não quis o tempo todo que eu tive na UnB. querendo incentivar a dedicação
mudar, então eu passei o material Eu acho o seguinte: o ensino que exclusiva, mas o que eu quero
todo pra ele. Foi bom porque eu fui vocês têm é fantástico: as pesquisas, dizer é o seguinte: eu acho que
atrás de muita coisa que tava perdida, as formações, os doutorados, os não é incompatível. Eu conheço
passei pra ele e ele fez a dissertação. laboratórios, os grupos... Dá pra também o exemplo da UFMG que

“Como você constrói no Cerrado,


em um contexto de país pobre, sem
recursos, e consegue construir
longe de tudo uma cidade desse
tamanho, implantar todo o sistema
viário, drenagem, vários palácios e
Superquadras? Um fenômeno!”

92
tem os Arquitetos Associados como triangular. A gente falava “lá no PA1 implantação. Eu comecei a fazer uma
professores em tempo parcial, e podia tudo”. aula, de vez em quando eu ainda
nem por isso esse pessoal deixou faço, que é uma seleção de projetos
de ter doutorado. Os Arquitetos A gente dava um panorama sobre do mundo nos quais eu acho que
Associados, o Ângelo Bucci da as proteções solares e eu falava a implantação é mais determinante
FAU USP, todos tem doutorado, “qual o melhor lugar para sua que a forma. Eu já começo com a
publicam e não são dedicação proposta? Onde você colocaria o Rodoviária de Brasília e vou pegando
exclusiva. norte?”. Mas eu achava que aquilo outros clássicos do Movimento
dava um trabalho muito grande. As Moderno.
Agora acho que grande parte sendo
maquetinhas eram sem tempo.
dedicação exclusiva importa muito, [Marcos Cambuí] Gostaríamos a
porque senão fica muito difícil levar Eu comecei a achar que era muito que você compartilhasse arquitetos
grupos de trabalho e de pesquisa. pro PA1: sensibilizava para a questão ou arquitetas que você tem como
[Amora de Andrade] Gostaríamos que do conforto, mas tinha que entrar referência e inspiração no seu
você explicasse um pouco sobre com a parte técnica que eu acho momento de projetar.
o Espaço da Luz e quais práticas que não era a Oficina Básica. Aí
[Nonato Veloso] O repertório da
do ofício arquitetônico você trouxe eu abandonei o exercício e criei o
gente tem os nomes clássicos do
ao introduzir essa matéria para os Espaço da Luz com o objetivo de
Movimento Moderno. No Brasil a
calouros. trabalhar também com a questão
gente sempre tem Lúcio, Oscar, Lelé,
luminosa. O enunciado do exercício
Paulo Mendes, Artigas, entre tantos
[Nonato Veloso] A influência foi da era “um espaço único para
outros.
Oficina Básica das Artes. Havia uma meditação ou recolhimento onde a
série de exercícios lá no PA1 (Projeto luz pudesse entrar de forma indireta”. Mais ou menos na década de 90, o
Arquitetônico 1). Antes de chegar Eram exercícios muito rápidos e Tadao Ando começou a ser publicado
no espaço da luz, havia o exercício interessantes. Uma entrada, um e todo mundo ficou encantado pela
que focava na questão do conforto caminho, um terreno que a gente arquitetura dele. Uma influência muito
ambiental e que depois eu abandonei mexia. positiva.
para poder criar o espaço da luz.
Era um exercício de ocupação do Durante um bom tempo os Tem o (Alberto) Campo Baeza,
espaço interno. Eram três ambientes professores achavam que eu fazia na Espanha, a Arquitetura
associados: um grande, um médio um exercício de composição até que Contemporânea Portuguesa,
e um pequeno. A Neusa participou comecei a ver que eu fazia era muito a Arquitetura Contemporânea
muito comigo desse trabalho. Eu mais exercício de implantação. Aí eu Espanhola, o Siza, o Souto Moura,
dava uma base quadrada e uma comecei a orientar até melhor com aquela turma toda. E no Brasil, além
base retangular, já ela criou a base esse foco. Não era composição, era disso, tem toda a Geração Sevilha

“A gentileza urbana também


deveria acontecer nas obras
privadas.”

93
e os frutos dela. Esses jovens
mulheres nas turmas. Era só homem.
Tinha uma ou outra. Dois grupos
de meninas da FAU que eu orientei
foram premiados. Um grupo foi no
concurso de estudantes para o metrô
de Fortaleza e outro na Nona Bienal
de São Paulo. Os dois ficaram em
primeiro lugar.
Eu trabalhei muito na diplomação,
mas não é só nisso. A gente também
tem que orientar outros grupos com
outros objetivos.
[Marcos Cambuí] Pra você, qual a
função do arquiteto na sociedade?

[Nonato Veloso] É tudo isso que


a gente tem hoje. Vocês têm
professores fantásticos em todos
os níveis. A universidade, a pública
por excelência, mas também as
particulares, ambas trabalham com
a questão social o tempo todo.
Começa da cidade, do geral para o
particular. É a cidade, as pessoas, a
acessibilidade universal, o transporte
público, a inclusão social, o acesso
aos espaços, a qualidade dos
espaços. O papel social do arquiteto
acaba entrando por aí.
Mesmo se tratando de arquitetura
privada, ela sempre tá ligada a
cidade. A gentileza urbana também
deveria acontecer nas obras privadas.
A gente tem vários exemplos
fantásticos em obras particulares que
estão preocupadas com o espaço
público, com o ir e vir, com essa
busca toda, com essa troca e com
essa liberdade. Mais ou menos por aí
que são as coisas que vocês acabam
também discutindo nos grupos na
faculdade.
A mensagem que eu deixo como um
recado pros alunos de arquitetura é:
aproveitem a escola! Aproveitem os
professores e professoras porque
lugar melhor não tem! Pra mim foi o
melhor.

94
e os frutos dela. Esses jovens arquitetos que estão por aí tem uma
influência muito forte da Arquitetura Paulista e esse pessoal também
permeia o que eu penso hoje. Admiro muito os jovens arquitetos e
arquitetas.
Por falar em arquiteta, eu fui de uma geração que quase não tinha mulheres
nas turmas. Era só homem. Tinha uma ou outra. Dois grupos de meninas
da FAU que eu orientei foram premiados. Um grupo foi no concurso de
estudantes para o metrô de Fortaleza e outro na Nona Bienal de São Paulo.
Os dois ficaram em primeiro lugar.
Eu trabalhei muito na diplomação, mas não é só nisso. A gente também tem
que orientar outros grupos com outros objetivos.

[Marcos Cambuí] Pra você, qual a função do arquiteto na sociedade?

[Nonato Veloso] É tudo isso que a gente tem hoje. Vocês têm professores
fantásticos em todos os níveis. A universidade, a pública por excelência,
mas também as particulares, ambas trabalham com a questão social o
tempo todo. Começa da cidade, do geral para o particular. É a cidade,
as pessoas, a acessibilidade universal, o transporte público, a inclusão
social, o acesso aos espaços, a qualidade dos espaços. O papel social do
arquiteto acaba entrando por aí.

Mesmo se tratando de arquitetura privada, ela sempre tá ligada a cidade.


A gentileza urbana também deveria acontecer nas obras privadas. A
gente tem vários exemplos fantásticos em obras particulares que estão
preocupadas com o espaço público, com o ir e vir, com essa busca toda,
com essa troca e com essa liberdade. Mais ou menos por aí que são as
coisas que vocês acabam também discutindo nos grupos na faculdade.

A mensagem que eu deixo como um recado pros alunos de arquitetura é:


aproveitem a escola! Aproveitem os professores e professoras porque lugar
melhor não tem! Pra mim foi o melhor.

Amora de andrade, Leonardo Nóbrega e Marcos Cambuí

95
96
homenagem

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o balé triádico da bauhaus
Balé Triádico: trinômio do quadrado perfeito, ou não...
Eduardo Pierrotti Rossetti
“Enquanto aqui embaixo a indefinição é o regime
E dançamos com uma graça cujo segredo
Nem eu mesmo sei
Entre a delícia e a desgraça
Entre o monstruoso e o sublime...”

Caetano Veloso – Americanos


O texto incidental “Americanos” de Caetano Veloso —interpretado na
versão ao vivo da canção “Black or white”, de Michael Jackson— evoca
uma relação atávica entre o corpo e o movimento. Os pares antagônicos
dos versos da música não suplantam nossa capacidade de dançar. A
graça, o sublime e a possível delícia da dança decorrem da ação do corpo
e da execução de movimentos no espaço. Trata-se de um campo de
experimentação ilimitado. Diante de tal potencial, as experiências didáticas
da Bauhaus também tomaram o teatro, a dança e o balé como um suporte
para novas expressões e experimentações estéticas.

Na Bauhaus, a ambição de atingir uma “obra de arte total”


(gesamtkunstwerk) norteia as práticas, integrando os saberes das oficinas,
dos mestres de ofício e dos alunos para realizar uma dada manifestação
artística. Assim, o Balé Triádico, de 1922, elaborado por Oskar Schlemmer,
que teve sua estreia em Stuttgart, é uma obra consagrada, referência de
uma experiência exitosa na integração de figurino, dança e música. O nome
do balé deriva do número 3. São 3 formas geratrizes —círculo, quadrado,
triângulo— que num conjunto de 3 partes, ou 3 cores, estruturam
plasticidade e a performance com 18 figurinos, que executam 12
coreografias. Assim exposto, evocando uma operação matemática, parece
até que o balé resulta de um trinômio do quadrado perfeito. A estruturação
cromática do balé se constrói a partir das 3 cores: amarelo, rosa e preto;
em que o amarelo representa uma dimensão de alegria; o rosa representa
uma dimensão de sensibilidade; enquanto que o preto representa uma
dimensão introspectiva. O uso de máscaras, os adereços com partes
rígidas, as diversas texturas para maciez, dureza e os contrastes de luzes,
brilho... tudo isso constrói uma poética própria para cada uma das partes e
seus atos, sincronizada com o andamento da música.

Este enredo se desenvolve construindo uma tensão entre o corpo e


o espaço cênico, mas também pode evocar um contraponto entre a
dimensão sensível do sujeito —seja o bailarino ou o expectador— diante de
um país em profundo processo de transformação social, técnica e artística,
em um contexto de recuperação pós-Guerra. Um contexto em que,
parafraseando Caetano Veloso, a desgraça e o monstruoso prevalecem
sobre a delícia e o sublime.

A coreografia de movimentos diretos, que se fixam em uma articulação do


corpo, perfaz os desenhos dos movimentos dos elementos geométricos
no espaço. Estes movimentos marcados se contrapõem com a alternância
dos passos do balé, com movimentos mais delicados. A desenvoltura
dos elementos geométricos que se movem no espaço também decorre
da própria construção dos figurinos, que possibilitam movimentos e
expressão corporal. Menos que a total liberdade de um corpo aberto no
espaço, os figurinos limitam os movimentos da coreografia e ressignificam
a proporção do corpo, seu volume e suas dimensões. As limitações do
corpo, a relação entre música e dança, os contrastes de cores e formas...
as estruturas físicas e simbólicas da expressão do movimento... tudo isso
recobra o caráter transformador e, no limite, subversivo, das experiências
da Bauhaus.
Recobrar a experiência do Balé Triádico pode ser instigante para atiçar a
memória de nossa própria capacidade de bailar e de dançar. Ao mesmo
tempo em que “aqui em baixo a indefinição” é um fator constante, é
possível revigorar também os nossos hábitos ancestrais de dançar, as
nossas habilidades de mexer o corpo, seja na capoeira, no samba, mas
também com os parangolés de Oiticica, nas coreografias do Grupo Corpo,
da Quasar Cia. de Dança... além de muitas outras práticas de movimentar-
se, sejam elas perfeitas, ou não.

bauhaus. Stuttgart: Institut für auslandsbeziehugen, 1974.


DROSTE, Magdalena. Bauhaus. Berlin: Taschen, 1994.
Triadisches Ballett von Oskar Schlemmer – https://www.youtube.com/
watch?v=mHQmnumnNgo acesso:27/03/2021
versão digital: www.fau.unb.br
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