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Universidade de Brasília
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Universidade de Brasília
Equipe Editorial
Coordenação Editorial: Maria Cecília Filgueiras Lima Gabriele
Coordenação de Ensaio Teórico: Ana Elisabete de Almeida Medeiros
Coordenação de Extensão: Carlos Luna
Coordenação de Diplomação: Cynthia Nojimoto e Paulo Roberto Carvalho Tavares
Estagiários: Marcos Cambuí, Amora de Andrade e Leonardo Nóbrega
Comissão de Diplomação: Cynthia Nojimoto, Neusa Cavalcante e Maria Claudia Candeia
Comissão de Ensaio Teórico: Ana Paula Gurgel, Carlos Luna e Maria Claudia Candeia
Diagramação: Marcos Cambuí
Projeto Gráfico: Gabriela Bílá (Novo Estúdio Brasília) e Luiz Eduardo Sarmento com adaptações de Marcos Cambuí
Revisão Ortográfica: Amora Andrade
Imagens da Capa e Seções: Fotografias do Balé Triádico da Bauhaus com intervenções gráficas de Marcos Cambuí
As opiniões expressas nos artigos desta revista são de responsabilidade exclusiva dos autores.
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editorial
A equipe editorial
sumário
pesquisa
ensaio
20
Representação gráfica em urbanismo
Angelina Guedes Trotta
21
Êxodo: Uma análise espacial da situação dos
imigrantes venezuelanos na cidade de Boa
Vista/RR.
Anne Scandelari Raupp
22
Retratos da Cidade: Intervenções temporárias
no espaço público
Clara Alvares Camargo
24
Metabolismo 1960: do conceito à matéria
Clara Rezende Porto
26
Significância Cultural da SQS 308
Luiza Peregrino Cunha
27
Mulher e o direito à cidade: uma investigação
sobre a adequação dos espaços e mobilidade
editorial urbanos com foco nas trabalhadoras
domésticas de Brasília/DF
10
Geometria construtiva: de olho na criatividade Marcella Menezes Vaz Teixeira
Neusa Cavalcante 28
De fora pra dentro, de dentro pra fora: Um
14
Pedagogia da utopia panorama histórico da janela residencial
Rodrigo Mendes de Souza Mariana Fernandes das Neves
29
Da terra à mesa: Territórios e comunidades
produtivas
Monique Gomes Nogueira
30
O museu do futuro diplô
Pedro Vitor Almeida Silva
32 destaque
Arquitetura Social: Experiências em
Assistência Técnica
39
Sarah Lima Cirino repensar a escola classe
Kamila Venancio Moreira
40
ccol - complexo cultural orla livre
Karoline de Sousa Cunha
42
habitar o campo: uma residência no lago
oeste
Marcia Del Lama
44
lixo:compostagem e agricultura urbana no
plano piloto de brasília
Tainá Wanderley
63
viveiro caliandra
49 66
a nova biblioteca pública de Brasília sambódromo da ceilândia
Angela Viana Pereira Lucas Rodrigues Araújo
50 67
modifica: eixo de produção e comércio de espaços públicos modulares para crianças
modas do df Luísa Viana Luniere de Azevedo
Bárbara Veras Rodrigues Queiroz 68
espaço iso photo e arts
51
os movimentos sociais no direito à cidade: Maria Clara Viana Licursi
desenho coletivo dos espaços livres públicos
69
no assentamento MTST em Nova Planaltina projeto quatro patas: projeto arquitetônico de
Cristina Nakamura Araujo abrigo pra animais abandonados
55 73
terminal de integração hidroviária novo zoo bsb encontros
Douglas Dornela Menezes Mario Sergio Facundes Taveira
56 74 82
espaço do nascer: casa de atendimento à dorothy stang de baixo pra cima: modelo Pé na estrada: Expo Sampa
gestante e ao parto humanizado no hospital participativo e sustentável para uma quadra Júlia Lopes Soares
regional de ceilândia da ocupação
84
Estela Hirakuri Mateus Marques Rangel arquitetura, Urbanismo e seus nexos
62 100
menu brasília - espaço gastronômico e balé Triádico: trinômio do quadrado perfeito,
cultural ou não...
Larissa Carvalho de Paula Eduardo Pierrotti Rosseti
No final do século XIX, em consequência das transformações impostas
pela Revolução Industrial, as artes e a arquitetura foram sacudidas por
uma polêmica. De um lado, estavam os defensores do movimento Arts
and Crafts (1850-1914) que, liderado por William Morris, rejeitaram o modo
industrial de produção, colocando em dúvida a qualidade estética de seus
produtos; de outro, aqueles que viam na industrialização uma forma de
promover a produção em escala e, consequentemente, o barateamento dos
preços, permitindo que mais pessoas adquirissem os produtos.
1 2 3
5 6 7
1.Oficina de cerâmica, Weimar, 1924 (http://ghdi.ghi-dc.org/sub_image.cfm?image_id=4305); 2. Oficina de carpintaria, Weimar, 1923. (https://br.pinterest.com/pin/565061703
Galeria da FAU-UnB, 2019. Foto Gabriel Lyon; 6. Geometrizando 7, Galeria FAU-UnB, 2011; 7. Geometrizando 6, Galeria da FAU-UnB, 2007. Foto Thaís Pompeu de Pina; 8.
monotonia e, por consequência, desinteresse por parte
Depois das primeiras experiências com os “objetos”
dos espectadores.
da natureza, outros temas são eleitos como pontos de
A multiplicidade de elementos e a conciliação entre ordem partida para as composições plásticas das unidades
e variedade transformam a difícil etapa de composição didáticas seguintes. Manifestações culturais, como a
em um jogo, ou melhor, em um complexo quebra-cabeça. dança, o circo, o carnaval, as obras dos artistas e as
O fato de as peças e as regras estarem colocadas não cidades, tornam-se pretextos interessantes para promover
garante o sucesso da produção artística. Como em releituras e rearranjos artísticos interessantes e inusitados.
qualquer jogo, é preciso agrupar as peças de acordo com
Para concluir, é preciso ressaltar a importância das
certos critérios, o que exige perspicácia que, nesse caso,
disciplinas práticas e de criação, em geral, e da Geometria
prefere-se chamar de criatividade.
Construtiva, em particular, para o Curso de Arquitetura e
O desafio seguinte é traduzir os sonhos, materializar Urbanismo da Universidade de Brasília que, prejudicado
as ideias. Entra então em cena a verdadeira atividade pela baixa carga horária destinada à área de Projeto,
construtiva, que se expressa por meio do domínio Expressão e Representação,⁸ tem oferecido menos
dos materiais e técnicas. Para isso, é necessário chances de os alunos desenvolverem a criatividade e,
entender, mesmo que empiricamente, as características portanto, de se tornarem profissionais mais capacitados
e propriedades dos materiais. ⁷ Mas, quase como para enfrentar as demandas impostas pelos novos
num passe de mágica, após uma sensibilização sobre tempos.
____________________________________________________
o assunto, as criações se transformam em objetos ¹ Este artigo é uma homenagem aos 100 anos da Bauhaus.
esperando para serem reconhecidos como obras de arte.
² PUIG, Armand. La Sagrada Familia según Gaudí. Barcelona: El Aleph
Editores, 2011.
Esse conhecimento empírico reforça o caráter
³ BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
experimental da Geometria Construtiva. Acompanhando
de perto as experiências e dificuldades dos alunos, ⁴ Canção de Milton Nascimento, Lô Borges e Márcio Borges.
a disciplina tem se transformado ao longo do tempo. ⁵ OSTROWER, Fayga. Universos da arte. 24. ed. Rio de Janeiro: Elsevier,
2004.
Buscando uma analogia, pode-se dizer que o seu fio
condutor é a corda por onde se desloca a bailarina do ⁶ WEISS, Paul. Organic forms: scientific and aesthetic aspects. In: KEPES,
circo: embora sempre estendida no mesmo lugar e Gyorgy. The visual arts today. Middletown: Wesleyan University, 1960, pp.
177-190.
fixada nos mesmos pontos, ela tende a se amoldar às ⁷ GC é oferecida aos calouros, os quais não possuem ainda
acrobacias que sobre ela são feitas. conhecimentos sobre os materiais e as técnicas construtivas.
8 9 10
318262496/); 3. Exposição de trabalhos de alunos, Weimar, 1923. (https://www.pinterest.co.uk/pin/318348267394613891/); 4. Aula prática no atelier.; 5. Geometrizando 9,
Geometrizando 8, Galeria FAU-UnB, 2014; 9. Professor Jayme Golubov (1940-1997); 10. Atelier de esculturas, Dessau, 1925 (https://www.akg-images.co.uk/archive).
Pedagogia da utopia
Rodrigo Mendes de Souza, prof. CAU/UFMS
Ao abordar a pedagogia da Bauhaus algumas distinções se fazem
necessárias, seja quanto às possibilidades de tratar o tema no singular, seja
acerca dos fundamentos presentes nos diversos estatutos da escola. É em
Gropius que encontraremos alguma possibilidade de unidade pedagógica
que perpassa toda a atividade da escola, sem que isso constitua, como
afirmou o próprio, um estilo Bauhaus.
Elane Ribeiro
Coordenadora de Ensaio Teórico
ensaio
Representação gráfica em urbanismo
Angelina Guedes Trotta
O desenho é uma ferramenta de encontrados registros e ilustrações de atuais de registrar e ilustrar cidades
expressão através da qual realidade e cidades são extremamente variadas, vão - em uma aula da universidade ou na
ficção se aproximam, onde uma situ- desde imagens feitas com ferramentas aprovação de projetos urbanos. Assim o
ação pode ser ilustrada ou simulada e baseadas em satélite, até o uso de trabalho é estruturado em duas partes:
depois interpretada de inúmeras formas. softwares de modelagem ou ilustração. um breve panorama histórico apre-
Para arquitetos e urbanistas, desenhar Consequentemente, os disposi- sentado no primeiro capítulo; e uma
é comunicar uma ideia, testar possi- tivos usados serão diferentes e cada pesquisa de campo composta por entre-
bilidades, analisar agentes, comparar, mapa terá um processo de produção vistas, assunto do capítulo dois. Ques-
dialogar e propor. Representar a cidade específico. A consciência desta escolha tiona-se nessa etapa o uso de recursos
através do desenho é um ofício que vem está relacionada à prática e à pesquisa gráficos computadorizados para repre-
sendo o escopo de profissionais como por repertório, e este ensaio se propõe a sentar a cidade, além da presença ou
geógrafos, planejadores, cartógrafos e ser um instrumento de auxílio à compre- ausência do desenho à mão no processo.
mesmo artistas, com as mais variadas ensão de como pode ser feita a repre- Com ela tem-se um cenário tangível das
técnicas. sentação gráfica da cidade. Posto isso, conveniências e das condicionantes que
Para o arquiteto e urbanista, a identifica-se a possibilidade de contri- fazem parte da rotina de profissionais
questão abrange, além do ponto “o que buir para a formação de urbanistas ao do urbanismo. Ao final, a conclusão e
representar”, a decisão de “como repre- levar em consideração o desenho como os anexos fecham o ensaio.
sentar” - o que envolve uma gama de instrumento de projeto.
alternativas a serem avaliadas. É cres- Entender a trajetória dos mapas
cente a preocupação com o efeito visual e da cartografia ao longo da história
que o mapa ou desenho irá passar, em se mostra pertinente à medida que as
um panorama de mídias e informações transformações vividas pela humani-
rápidas em que a primeira impressão dade são também transformações no
pode ser decisiva ao atrair a atenção modo de pensar e enxergar o mundo - e
de um público. consequentemente no modo de repre-
Assim, a representação gráfica sentá-lo. A transição entres os séculos
vem se tornando tópico de pesquisas, XIX a XXI em especial trouxe inovações
palestras, oficinas e aulas - cada vez tecnológicas e artísticas que influíram
mais é procurada por estudantes e imperativamente na representação da
profissionais que querem expandir seu cidade - e no desenho em geral. Orientadora: Ana Júlia D. Brandão
conhecimento nos meios de represen- Somado a essa trajetória, é opor- Banca:Antônio Rodrigues da Silva e
tação projetual. As formas em que são tuno entender também os problemas Benny Schvarsberg
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Êxodo: uma análise espacial da
situação dos imigrantes venezuelanos
na cidade de Boa Vista/RR.
Anne Scandelari Raupp
Devido à crise econômica e polí- em parceria com as Forças Armadas e que medida isso contribuiu para a segre-
tica na Venezuela que se agravou em com as Organizações Não-Governamen- gação espacial destes indivíduos.
dezembro de 2015, com a derrota do tais IMPACT e ACTED, foi possível iden- O estudo foi realizado com base em
governo de Nicolás Maduro nas eleições tificar diferentes padrões de ocupação dados sociais obtidos através do Censo
parlamentares, um crescente número do território, e categorizá-los em quatro Demográfico de 2010, tais como dados
de venezuelanos começou a emigrar tipo distintos: venezuelanos vivendo em de densidade populacional, renda média
para alguns países da América Latina, abrigos públicos oferecidos e mantidos familiar e uso do solo, e com o auxílio
principalmente Colômbia e Brasil. No pelo governo em parceria com a ACNUR, da Sintaxe Espacial ou Teoria da Lógica
primeiro semestre de 2018, estima-se venezuelanos vivendo em situação de rua Social do Espaço (Hillier e Hanson, 1984)
que mais de 16 mil venezuelanos pediram ao redor dos abrigos públicos, venezue- de modo a entender a lógica socioespacial
refúgio em Roraima, segundo a Polícia lanos que invadiram e ocuparam edifí- da configuração urbana de Boa Vista e sua
Federal, número equiparável ao de soli- cios abandonados como casas e edifícios influência na dinâmica de ocupação do
citações registradas durante todo o ano públicos espalhados pela cidade e vene- tecido urbano pelos imigrantes venezue-
de 2017, equivalente a 17.865, segundo zuelanos vivendo em situação de rua em lanos, cujas análises se concentraram nas
o Ministério da Justiça (Ministério da pontos variados da cidade sem relação variáveis de integração global (INThh),
Justiça, 2018). direta com os abrigos públicos. escolha angular normalizada (NACH) e
Em consequência da crescente Sendo assim, este trabalho teve integração angular normalizada (NAIN).
entrada de imigrantes venezuelanos como objetivo principal observar os Foi observado que as variáveis como
no território brasileiro, especialmente diferentes padrões de ocupação decor- oferta de equipamentos públicos, espaços
no estado de Roraima, somada à uma rentes do fenômeno migratório ocor- livres públicos, uso e ocupação do solo
incapacidade do governo em lidar com rido nos últimos três anos, e analisar, urbano, distribuição espacial de renda e
a situação local de maneira rápida e de maneira exploratória, a relação entre densidade podem ter sido determinantes
eficiente, desencadeou-se uma ocupação estes diferentes padrões com caracterís- na escolha dos locais onde os imigrantes
espontânea de espaços públicos e edifí- ticas configuracionais da cidade de Boa decidiram ocupar.
cios abandonados em diversos pontos da Vista que fossem relevantes para essa
cidade de Boa Vista, gerando conflitos pesquisa, sendo elas, traçado urbano,
urbanos e estimulando cada vez mais a oferta de equipamentos públicos, espaços
segregação social deste grupo na cidade. livres públicos, uso e ocupação do solo
Através de levantamentos reali- urbano, distribuição espacial de renda
zados entre os dias 13 de maio de 2018 e densidade, buscando entender quais Orientadora: Vânia Raquel Teles
e 27 de junho de 2018, pela Agência das variáveis influenciaram na fixação destes Banca: Vânia Raquel Teles e Valério
Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) diferentes grupos no tecido urbano e em Augusto Soares de Medeiros
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Retratos da cidade: intervenções
temporárias no espaço público
Clara Alvares Camargo
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Imagem fornecida pela autora
Metabolismo 1960: do conceito à matéria
Clara Rezende Porto
A forma como o ser humano os avanços tecnológicos sobretudo na através da arquitetura, enxergando-a
passa a enxergar as transformações área das ciências biológicas instigaram como meio e não como fim.
sociais, culturais, políticas e econô- a produção de um grupo de arquitetos Sejam projetos desenvol-
micas traduzem-se para o mundo cons- japoneses que planejavam um movi- vidos “em terra”, “no mar” ou “no ar”,
truído por meio da arquitetura, ora de mento avant-garde de caráter seme- de caráter conceitual ou efetivamente
caráter mais palpável, ora exagerando lhante ao comportamento biológico construídos, o metabolismo ultrapassou
o cenário vivenciado por aquela socie- de um organismo, o qual regenera e se os limites de sua produção, deixando
dade. Perante um século XX pautado renova constantemente. Assim como marcas culturais, econômicas e sociais
na destruição da identidade das nações o archigram na Inglaterra e o supe- no Japão mesmo após seu desfecho em
e rápida transformação das relações restudio na Itália, o metabolismo no 1980. Por vezes, as megaestruturas
humanas após duas grandes guerras, Japão nasceu como uma resposta às japonesas, as pequenas cápsulas de
artistas e arquitetos ao redor do mundo catátrofes sequenciais de seu território, habitação e os planos de regeneração
iniciaram sua busca por estratégias de justificando a estética emergencial da e ocupação de cidades entraram para a
fuga da realidade e da insatisfação arquitetura do período e ganhando história da arquitetura como produtos
com o modo de se pensar arquitetura atenção especial no debate acerca das de ficção científica e estética distópica
e urbanismo na era moderna, culmi- megaestruturas. - e, por isso talvez, tenham caído em
nando no redescobrimento da estética A síntese desse movimento, esquecimento no campo acadêmico.
utópica e especulativa, mantendo em baseado sobretudo no avanço tecnoló- A transformação do Japão
comum a crítica à realidade limitadora gico, mutabilidade da estrutura social e elucida a importância do debate acerca
que enfrentavam. flexibilidade de uso dos espaços constru- da arquitetura especulativa, a qual posi-
Além de destruições territo- ídos, culminou na publicação do Mani- ciona o questionamento crítico sobre
riais e estruturais das nações, pode-se festo Metabolista em 1960. Reunindo o a produção atual e estimula a liber-
dizer que o grande legado do século pensamento de seis teóricos japoneses tação da arquitetura de suas limitações
XX foi a extensa expansão tecnoló- - quatro arquitetos (Kisho Kurokawa, técnicas dadas pela produção aos moldes
gica advindas das guerras: distâncias Kiyonori Kikutake, Fumihiko Maki e do funcionalismo moderno. Entender
foram encurtadas por novos meios de Masato Otaka), um jornalista (Noboru essas especulações, tomando conhe-
comunicação, relações homem-máquina Kawazoe) e um designer (Kenji Ekuan) - cimento de seu contexto e cronologia,
foram modificadas e cápsulas de habi- as discussões eram centradas em planos nos permite levar discussões da frente
tação foram lançadas na corrida para a urbanísticos para as cidades devastadas acadêmica para o campo profissional,
conquista do espaço durante o embate e soluções para o rápido crescimento embasadas em pensamento crítico na
da Guerra Fria. Enquanto isso, do outro daquelas que ainda mantinham sua forma de se pensar arquitetura e urba-
lado da terra, o anseio pela utopia do estrutura. Os seis autores do manifesto nismo.
novo mundo e dominação das novas ganharam maior visibilidade dentro do
técnicas encontraram um Japão extre- movimento, mas não se resumiu apenas
mamente tradicional, economicamente à esse grupo, configurando-se bastante
abalado e completamente fragilizado heterogêneo - enquanto uns negavam a
pelas guerras. estética conceitual metabolista, outros Orientadora: Maria Cláudia Candeia
Assumindo a abertura do país procuraram segui-la fielmente por Banca: Eduardo Rossetti, Maria Cláudia
à cultura ocidental como inevitável, acreditarem na reestruturação do país Candeia e Mônica Gondim
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Imagens fornecidas pela autora
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Significância cultural da SQS 308
Luiza Peregrino Cunha
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Mulher e o direito à cidade: uma
investigação sobre a adequação dos
espaços e mobilidade urbanos com foco
nas trabalhadoras domésticas de Brasília/DF
Marcella Menezes Vaz Teixeira
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De fora pra dentro, de dentro pra fora: um
panorama histórico da janela residencial
Mariana Fernandes das Neves
Ao imaginarmos uma casa, um da paisagem externa e assumindo com No mundo artificial em que se
edifício ou até mesmo uma cidade, destaque um importante papel na esté- vive, as funções básicas da janela talvez
no cenário formado em nossa mente, tica das edificações e das ruas. É quando não sejam mais tão indispensáveis, o
instantaneamente, desponta a janela, a janela dialoga com suas vizinhas e mesmo, no entanto, não se pode dizer de
um elemento do cotidiano que dificil- com as pertencentes a outros edifícios. sua expressividade e poética no espaço
mente se desassocia do nosso imagi- Por fim, a partir da industriali- e na arquitetura.
nário arquitetônico e urbano. zação observa-se o ocaso da janela, a
Como afirma Le Corbusier, “a princípio por questões econômicas e de
história da janela é também a história precariedade dos projetos residenciais
da arquitetura, ou pelo menos, de quando os exemplos de Londres e Nova
uma parte das mais características da Iorque mostram de forma lamentável
História da Arquitetura” à medida em que a sobrevivência humana dentro de
que este elemento é capaz de revelar uma moradia não pode prescindir de
intenções arquitetônicas, urbanas, aeração e iluminação. Apesar disso,
culturais, etc. exemplos de moradias em cidades inse-
Na primeira fase histórica da guras brasileiras, no presente momento,
janela (Paleolítico e o primeiro período negam a importância da janela, com a
do Neolítico acerâmico), ela se fundia sua ausência ou com seu permanente
à porta através da qual permitia a fechamento, se valendo de meios de
passagem de luz e ar, suas funções ventilação e iluminação artificiais.
primárias. Na segunda fase (segundo Simultaneamente, é neste período
período do Neolítico acerâmico e industrial que se observa um vertiginoso
cidades Antigas anteriores a Roma), desenvolvimento técnico que permite
ela se liberta da porta de modo tímido, a liberdade da expressão estética da
tomando forma de pequenos e altos janela com um amplo repertório de
orifícios nas paredes das fachadas. soluções formais. Ventilação e ilumi-
Com estes pequenos vãos, estas primi- nação naturais então passam a funções
tivas janelas pareciam temer a expo- secundárias com uso de meios artificiais.
sição da privacidade e da segurança ao Não apenas isso, com a utilização do
proporcionar modestas iluminação e vidro temperado a janela oferece mais
ventilação. E com estas únicas funções conforto térmico e acústico. Quando, por
primeiras permaneceu por quase três fim, a janela assume o papel das paredes
milênios. Na terceira fase (Roma Antiga externas, deixa indelével a divisa entre o
ao Renascimento), a janela se mostra dentro e o fora, o privado e o público. É Orientadora: Mônica F. Gondim
plena em suas funções primárias e quando a janela faz da casa uma vitrine Banca: Maria Cláudia Candeia e
secundárias permitindo a visibilidade e a vida doméstica um palco. Eduardo Rossetti
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Da terra à mesa: territórios e comunidades
produtivas
Monique Gomes Nogueira
Os sistemas alimentares modernos e territórios se modificam para adap- um bom escoamento da produção e
geram consequências sociais e ambien- tar-se as demandas de uma população. para permitir uma melhor integração
tais, alterando a paisagem e o terri- Os atuais padrões alimentares, dos moradores rurais com a estrutura
tório e influenciando o planejamento marcados por um alto consumo de da cidade, desde os espaços de feiras e
urbano. Dessa forma, a pesquisa inves- alimentos ultraprocessados possuem de venda dos produtos, até hospitais,
tiga o percurso histórico de transfor- consequências não apenas para a saúde, escolas, faculdades e espaços de lazer.
mação dos atuais padrões alimentares, mas também em uma escala macro, de Depreende-se com o estudo, que
dentro do contexto ocidental, e como abrangência territorial e sistêmica. A uma mudança no cenário presente da
essas mudanças foram e são capazes atual forma de produção dos alimentos, produção de alimentos, acontecerá
de causar impactos no espaço rural baseada no agronegócio, ou seja, na paralelamente a conscientização social
e urbano. A partir disso, voltando-se monocultura de determinadas espé- relativa aos nossos padrões de consumo.
para o cenário brasileiro, investiga-se cies transgênicas com intenso uso A produção sustentável de alimentos,
o desenvolvimento da história social e de agrotóxicos e aditivos químicos, seja ela orgânica ou agroecológica,
política do Brasil, atrelada a produção de geram impactos negativos, do ponto possui consequências positivas tanto
alimentos, abarcando as políticas e leis de vista social, financeiro, ambiental para o ambiente quanto para a socie-
de incentivo à produção convencional e de saúde pública. Por se consolidar dade, aumentando o emprego seguro no
e o surgimento das leis referentes à como um processo que envolve variáveis campo, e a fixação de famílias ao meio
produção orgânica. tão complexas, o ato de se alimentar rural e, dessa forma, contribuindo para
A produção alimentar é um pode ser considerado um ato político e a segurança alimentar da população.
componente vital da civilização social, visto que as decisões alimentares Compreendendo que diversos atores
ocidental e possui uma ampla esfera possuem impactos sociais e ambien- participam dessa dinâmica e que tais
de influência em diversas áreas. O tais que podem influenciar as formas mudanças são lentas e graduais, não
ato de se alimentar, por sua vez, pode de produção. podemos ignorar o papel transformador
estar conectado a fisiologia, a saúde, a Como forma de ilustrar a da ação popular sobre a indústria.
cultura, ao prazer, ao meio ambiente, a discussão, são apresentada entrevistas
sustentabilidade, as relações de poder, com três produtores rurais agroeco-
a sobrevivência, entre outras coisas. As lógicos do Distrito Federal, a fim de
escolhas alimentares de uma população entender quais são suas capacidades
incentivam determinadas formas de de produção e de abastecimento, o
produção. Estas, por sua vez, estruturam quanto dependem/usam a estrutura
os espaços, desde o plantio, passando urbana próxima e quais as distancias
pelo transporte, comercialização, percorridas por semana pelas suas famí-
preparo, até o consumo. Dessa forma, lias em suas rotinas. Dessa forma, fica
a alimentação possui uma estreita e explicito o impacto que o desenho e o Orientadora: Natália da Silva Lemos
explícita relação com a arquitetura e o planejamento urbano tem para integrar Banca: Frederico Flósculo e Liza Maria
urbanismo, já que os espaços, paisagens o campo e a cidade, para proporcionar Souza de Andrade
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O museu do futuro
Pedro Vitor Almeida Silva
Pra entender o Museu do Futuro é no edifício: mais lojas, restaurantes, LGBTQI+, afroamericanos, asiáticos e
preciso ampliar o olhar sobre o compor- auditórios, coworkings e áreas cada imigrantes ganham exposições, ao passo
tamento humano e as mudanças sociais vez mais personalizadas ao usuário e a que o perfil da própria comunidade do
e tecnológicas. Compreender o futuro sua sociabilidade. O visitante é cada vez museu também se transforma.
também é perceber que a Geração mais percebido como consumidor e vetor Dessa forma, percebeu-se como
Z (nascidos a partir dos anos 2000) de validação da relevância do museu. desafio para os museus do futuro gerar
já são grande parcela dos visitantes Portanto, os museus trabalham a sua conexões e interação entre pessoas
dos museus: jovens multitasking que marca e se comunicam mais com seus no mundo real em um era de “hiper-
nasceram conectados à internet 24 públicos: produtos personalizados com conectividade” digital. Gerar expe-
horas, telas e interação touchscreen. a identidade visual do museu, hastags riências únicas para consumidores,
Uma geração diversa, ligada nativa- específicas para repostagem de foto- enquanto atende uma comunidade
mente a uma consciência globalizada grafias dos visitantes, programas para mais diversa, conecta culturas, gera-
dos movimentos sociais e das trans- grupos sociais específicos, tecnologias ções e etnias diferentes. Mais do que
formações tecnológicas na era digital. de interação como Realidade Aumentada isso, os museus estão se posicionando
Por outro lado, seres humanos mais e Virtual e uso de Inteligência Artificial a favor das pessoas, assumindo papéis
expostos a grande quantidade de são ferramentas de personalização da políticos em assuntos como a imigração,
informações e dados visuais. Enquanto experiência do usuário. diversidade e sustentabilidade. A partir
arquitetos como Guto Requena leem No campo social, os museus dessas posturas, os museus atendem não
essa geração como “a primeira geração participam ativamente de projetos que apenas ideais econômicos, mas concen-
de ciborgues”, a edição 394 da Revista dialogam com a sociedade e a realidade tram-se no seu papel fundamental de
Superinteressante expõe dados que de minorias. Em Londres, o British perpetuação da memória e cultura dos
apontam o decréscimo de QI em vários Museum hasteou a bandeira gay no alto povos e promoção do diálogo entre as
países em uma capa com letras garrafais do edifício em homenagem a comuni- pessoas e as suas diferenças.
que dizem “A era da Burrice”. dade queer. Nesse sentido, os museus
Para dialogar com essas pessoas e buscam não só abrir suas portas para
acompanhar as tendências de compor- todas as pessoas, mas oferecer repre-
tamento e de tecnologia os museus têm sentatividade por meio dos artistas
se transformado e reinventado. Os em exposições, atividades educativas Orientadora: Maribel Aliaga Fuentes
espaços estão sendo adaptados a plura- específicas e eventos que celebrem Banca: Márcio Buson e Maria Cecília
lidade de atividades desempenhadas a diversidade. Mais artistas negros, Gabriele
30
Arquitetura social: experiências em
assistência técnica
Sarah Lima Cirino
31
novos arquitetos
O final do curso é só o início de uma trajetória
profissional de desafios e escolhas. Trata-se de um
momento decisivo de avaliação do conjunto das
habilidades dos estudantes adquiridas ao longo do
curso e passe para o mundo profissional. Ao mesmo
tempo, é um momento de liberdade e escolha onde o
estudante se vale do fazer arquitetônico para projetar
seus anseios e aflições perante os desafios do mundo
e da cidade contemporânea. Por fim, a diplomação
fecha um ciclo de parcerias colaborativas entre
professores e alunos que juntos trabalharam na busca
de soluções para a nossa complexa realidade.
Boa leitura!
O trabalho apresenta um projeto de escola classe A proposta do Complexo Cultural Orla Livre parte da
para a Região Administrativa do Riacho Fundo II, no demanda por espaços para a realização de atividades cultu-
Distrito Federal. O projeto foi estruturado a partir da rais e por pontos de atratividade e acessibilidade ao uso do
construção do Residencial Parque do Riacho, que atende Lago Paranoá. O terreno localizado ao lado do Parque das
famílias integrantes do Programa Minha Casa Minha Garças no Lago Norte, é área pública integrante do Projeto
Vida, propondo uma alternativa arquitetônica aos Orla Livre. Devido a esse contexto e localização, o projeto
projetos padronizados e replicáveis. Com a aplicação do instiga questionamentos acerca da democratização da orla,
conceito de escola humanizada e inclusiva, o trabalho propondo a integração urbana e a diversidade de ocupação
evidencia o caráter cidadão da escola, como fomenta- socioespacial, viabilizando o acesso a partir da mobilidade
dora do desenvolvimento social, igualitário, eficaz e urbana, e por meio do transporte público e da inserção do
sustentável. transporte lacustre.
habitar o campo: uma residência no lago lixo: compostagem e agricultura urbana
oeste no plano piloto de brasília
Aluna: Marcia Del Lama Aluna: Tainá Wanderley
Viver na APA da Cafuringa, área de amortecimento Lixo: ou se ressignifica esta palavra, ou se abole o termo
do Parque Nacional de Brasília (DF), e nas proximidades da de vez do nosso vocabulário. Costuma-se defini-lo como “resí-
Reserva Biológica da Contagem, requer um olhar sensível à duos provenientes de nossas atividades, que não prestam e são
preservação dos recursos naturais e à redução do impacto jogados fora”. Mas onde exatamente é esse “fora”? No Brasil,
ambiental na ocupação do solo. Esse é o contexto da chácara a Política Nacional de Resíduos Sólidos introduziu conceitos
residencial localizada no Núcleo Rural Lago Oeste, com inéditos no ordenamento jurídico brasileiro, para além de
ampla vista para a Chapada da Contagem. Nela viverá um desenvolvimento sustentável: destinação ambientalmente
casal habituado à vida urbana e às facilidades oferecidas adequada, responsabilidade compartilhada e logística reversa.
pela vida moderna, mas que pretende viver no campo, Mas a grande lacuna entre o texto da lei e a realidade ainda não
em busca de uma vida mais saudável e de cultivar seus foi preenchida. Este projeto resultou de uma reflexão sobre o
alimentos com práticas sustentáveis. tema, usando as ferramentas da arquitetura e do urbanismo.
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Repensar a escola classe
Kamila Venancio Moreira
“É óbvio que a arquitetura exerce grande influência no
ambiente escolar. Agora, o ambiente humano, digamos, um
bom professor, seria a primeira influência. A segunda, uma boa
pedagogia. A terceira, eu vejo como sendo o material didático e
equipamentos. A quarta seria o grupo, os alunos, a participação,
o clima social. E nós, arquitetos, achamos que o ambiente físico
é também um professor. Ele faz parte desse ambiente escolar.”
(KOWALTOWSKI, 2011)
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CCOL - complexo cultural orla livre
Karoline de Sousa Cunha
Os conceitos de integração, permeabilidade e visuais
foram extremamente importantes para o desenvolvimento
do projeto. Os eixos de circulação e articulação com o Parque
das Garças determinaram o traçado de ocupação do terreno.
Através de uma extensão do eixo viário existente, o mesmo
desenho estruturou um novo eixo secundário definido por uma
grande marquise, seguida de um deck, que além de criar uma
relação entre o terreno e o parque, é um mirante que aponta
em direção ao Lago Paranoá.
Devido ao extenso programa, optou-se por dividir as ativi-
dades em blocos, a fim de setorizar e concentrar as funções em
3 núcleos: bloco A - sociocultural, bloco B - esportivo e bloco
C - teatro. Os edifícios foram implantados mais ao nordeste
do terreno, na cota 1005, para permitir a construção de um
pavimento enterrado diminuindo a altura das edificações,
preservando o skyline da cidade.
Desta maneira, criou-se uma praça central rebaixada para
manter a integração com as áreas de praia existentes. Para
amarrar a composição, criou-se um outro eixo de circulação no
terreno dado por um segundo deck, que articula diretamente
com as edificações, e concebe novos pontos de contemplação
da paisagem. O deck também é um elemento de setorização das
áreas de praia, categorizando de acordo com seus atuais usos:
praia marina ,com um pier; praia família, entre as limitações
internas do deck; e praia esportes, mais próxima ao parque,
onde já há um projeto de práticas esportivas.
Quanto às edificações, o bloco esportivo ficou semien-
terrado, com a fachada principal para a praça e mantendo a
circulação por sua cobertura criando outro mirante para contem-
plação da paisagem, de acesso no mesmo nível da marquise e
do Parque das Garças. Intencionalmente todos os edifícios se
abriram tanto para a praça central e o lago Paranoá, quanto
para o parque, criando uma relação de integração entre eles.
O bloco A foi elevado para manter a permeabilidade, com
o acesso principal também a nível do parque, e criando um
acesso secundário pelo centro do edifício no térreo inferior, onde
estão locadas as colunas de circulação vertical e uma grande
distribuição de fluxos que também dá acesso a praça e ao bloco
B esportivo. Parte do edifício parece apoiar no solo, e apesar do
caimento do terreno, o pé direito é mantido, elevando a outra
parte do edifício por pilotis , preservando a permeabilidade.
A topografia permitiu também a inserção do bloco C,
o teatro com a arquibancada projetada para o lago e o palco
reversível, viabilizando sua abertura completa para a praça
e para o lago. A caixa d’água conformou um marco visual de
todo o complexo, que faz contraponto com o farol locado na
outra extremidade do terreno.
O conceito de abrir visuais para o lago também foi aplicada
às fachadas com brises em chapa metálica perfurada, fazendo
com que quem está dentro do edifício consiga ver fora e quem
está fora, consiga ver dentro. O mobiliário urbano, conformou-se
ao redor de árvores existentes mantidas no projeto.
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Imagens fornecidas pelo autor.
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Habitar o campo: uma residência no lago
oeste
Marcia Del Lama
Viver na APA da Cafuringa, área de amortecimento do Parque
Nacional de Brasília (DF), e nas proximidades da Reserva Biológica
da Contagem, requer um olhar sensível à preservação dos recursos
naturais e à redução do impacto ambiental na ocupação do solo. Esse
é o contexto da chácara residencial localizada no Núcleo Rural Lago
Oeste, com ampla vista para a Chapada da Contagem. Nela viverá um
casal habituado à vida urbana e às facilidades oferecidas pela vida
moderna, mas que pretende viver no campo, em busca de uma vida
mais saudável e de cultivar seus alimentos com práticas sustentáveis.
O projeto engloba uma residência unifamiliar, áreas para criação
de aves, cultivo de frutas e verduras, além de uma reserva natural,
planejadas com inspiração nos princípios da Permacultura e de Sistemas
Agroflorestais. A implantação da residência é, portanto, o ponto de
partida na distribuição dos demais elementos que compõem a chácara.
Visando o menor gasto energético, distribuem-se nas proximidades
da casa aquelas atividades de maior manejo diário, tais como horta
e galinheiro. O estudo do entorno permitiu escolher a zona mais
adequada do terreno destinada à reserva florestal, já que ela deverá
restaurar a continuidade da vegetação original de cerrado e favorecer
assim uma interação entre a fauna e flora locais.
A casa, com sentido de Habitat, mostra-se como um ambiente
de refúgio e relaxamento, com um caráter arquitetônico despojado
e contemporâneo. O partido de projeto, organizado em três blocos,
está marcado pelo uso de estratégias bioclimáticas para obtenção de
conforto ambiental, como implantação adequada, sombreamento de
superfícies envidraçadas, aberturas controladas, disposição de elementos
para permitir resfriamento evaporativo, sempre desenhadas de acordo
com a carta solar e a incidência dos ventos predominantes. A escolha
dos materiais das paredes, revestimentos, coberturas e as aberturas
dos ambientes estão em conformidade com os critérios de eficiência
térmica da ABNT NBR 15575.
A projeto da casa se compõe de áreas para habitação, lazer e
hobby, interligados por uma cobertura. A habitação, com a sua maior
fachada voltada para o Norte, oferece a vista deslumbrante da Chapada
da Contagem. No térreo, o ambiente integrado de estar, jantar e cozinha
está pensado para propiciar momentos familiares aconchegantes,
além de uma suíte para acomodar eventuais visitas com dificuldade
de locomoção. Circulando-se apenas pelo térreo, é possível desfrutar
de todas as atividades da casa. No pavimento superior estão a suíte
principal, a suíte de hóspedes e uma sala íntima, com acesso à varanda.
Um sistema solar fotovoltaico e coletores para aquecimento solar de
água na cobertura contribuem para a eficiência energética da edificação.
A eficiência hídrica engloba reservatórios para armazenamento de
águas pluviais, a condução das águas cinzas claras diretamente para
irrigação e o tratamento das águas cinzas escuras por zona de raízes.
O projeto atende ao desejo dos proprietários de se criar um
ambiente de contemplação e conforto, com manuseio sustentável do
solo e consumos hídrico e energético mais eficientes.
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Imagens fornecidas por Lucas Lopes
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Lixo:compostagem e agricultura urbana
no plano piloto de brasília
Tainá Wanderley
Este trabalho tem alguns pontos de partida, mas talvez a premissa
fundamental seja a descentralização do processo de coleta, tratamento e
destinação dos resíduos sólidos, isto é, que o problema do lixo seja resol-
vido mais perto de sua geração. Para além de uma diminuição de impacto
ambiental e econômico, isso poderia causar uma mudança comportamental,
e quem sabe a formação de uma consciência coletiva mais sustentável. A
ideia aqui é tentar fechar o ciclo, ou se aproximar disso. E Brasília, cidade
planejada sob a ótica do movimento moderno, hoje tombada nacional-
mente e Patrimônio Histórico da Humanidade pela UNESCO, ganharia uma
nova camada: a da sustentabilidade. Isso agregaria valor ao título que a
cidade recebe, sem ferir as características que a tornam única. Optou-se
por trabalhar com os resíduos orgânicos compostáveis, ao se notar, ainda,
uma conexão temática entre o lixo e o alimento: como retirar os resíduos
orgânicos do ciclo do lixo e recolocá-los no ciclo do alimento? Seria possível
facilitar a integração entre os dois ciclos com ferramentas de desenho
urbano e arquitetônico?
Após um estudo sobre a história do lixo urbano, sobre a atual gestão
do lixo no Distrito Federal, após uma análise atenta das diversas referências
nacionais e internacionais, buscou-se dimensionar a geração de lixo no local,
visando entender quais eram os processos mais adaptáveis à realidade da
área de estudo, e quais as estruturas necessárias de acordo com o volume e
o tipo de resíduo. E a proposta deste trabalho, então, foi elaborada em suas
escalas urbana e arquitetônica, englobando três estratégias: a alteração
do sistema de coleta dos resíduos sólidos nas superquadras e comércios
locais; a realização de compostagem da fração orgânica desses resíduos
nas Estações de Compostagem das Unidades de Vizinhança; a indicação
de locais nas asas para realizar agricultura urbana, sendo uma destinação
final mais próxima para o composto produzido na compostagem, fechando
o ciclo. Nessa última parte, foram ainda exemplificados cinco modelos
possíveis de serem implantados em conformidade aos parâmetros dos
diversos setores da cidade.
A Estação de Compostagem da Unidade de Vizinhança da
305/304/105/104 norte teve seu programa de necessidades criado a partir
das demandas espaciais e técnicas para realização do processo de compos-
tagem. Porém, também incluiu espaços complementares comerciais, criando
também espaço para agricultura urbana em seu terraço, com a produção de
mudas de hortaliças, ervas e flores. Além de uma infraestrutura abrigando
função importante para a cidade, o projeto, com sistema estrutural em
madeira, pretendeu ser uma contribuição arquitetônica harmoniosa ao
contexto no qual se insere. Havia a intenção de que o edifício respeitasse
as preexistências, se integrando a elas e dando forma a mais um espaço
público qualificado, com mobiliário, áreas de permanência para os moradores,
trabalhadores da região e passantes, favorecendo o acesso por pedestres
e ciclistas, proporcionando uma integração paisagística com a Unidade
de Vizinhança em questão, local generosamente arborizado. A cisão do
bloco em duas partes com a criação de um jardim central, desejada por
questões operacionais e bioclimáticas, também abre o edifício ao olhar
das pessoas, permitindo mais participação e interesse pela própria temá-
tica materializada no edifício. O mérito do projeto é exatamente esse seu
possível efeito multiplicador.
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Imagens fornecidas pela autora.
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+
cidade e natureza: urbanização em áreas de viveiro caliandra
recarga de aquíferos Laura Santos Siqueira
Aline da Nóbrega Oliveira
parque aqua lakeshore
a nova biblioteca pública de Brasília Layane Christine Vieira
Angela Viana Pereira
abrigo para pessoas em situação de rua
Letícia Drummond de Oliveira Magalhães
modifica: eixo de produção e comércio de modas
do df sambódromo da ceilândia
Bárbara Veras Rodrigues Queiroz Lucas Rodrigues Araújo
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A nova biblioteca pública de Brasília
Angela Viana Pereira
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Modifica: eixo de produção e comércio
de modas do df
Bárbara Veras Rodrigues Queiroz
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Os movimentos sociais no direito à cidade:
desenho coletivo dos espaços livres
públicos no assentamento MTST em
Nova Planaltina
Cristina Nakamura Araujo
Quando os moradores do MTST, Setor Habitacional Mestre D’armas I, (área
que conquistaram 23 lotes junto à CODHAB e agora em processo de regula-
rização) me trouxeram a demanda por uma agrofloresta comunitária, decidi
complementar o projeto do governo com um trabalho focando nas áreas livres
públicas e feito de forma participativa com as famílias. Neste caminho, foram
levantadas também reflexões sobre o sistema alimentar no direito à cidade,
como formas de soberania e resistência.
Assim, o objetivo é que a área destas famílias seja mais que um espaço
dormitório. Seja um espaço de convivência plena, que garante além do direito à
moradia adequada, o acesso a espaços de convívio e lazer de qualidade; o forta-
lecimento do sentido de pertencimento e identidade; a diminuição dos conflitos
socioambientais, e a promoção da autossuficiência alimentar.
O resultado final foi a troca com as famílias através das oficinas: a discussão
participativa na construção de soluções emancipatórias e de autogestão. A base
criada aqui, no entanto, é apenas uma parte do trabalho, parte do grupo “Peri-
férico, trabalhos emergentes” da FAU/ UnB, que não deve ser encerrado aqui,
no tempo acadêmico, mas desenvolvido em suas próximas etapas no contexto
temporal condizente com o dos moradores.
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Duna – complexo praiano
Danielle Mota
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Google brasília - em busca do conforto
do usuário
Débora Guedes Anacleto
As torres foram pensadas para atender a critérios referentes ao conforto
luminoso e térmico em um edifício de escritórios, utilizando a luz como elemento
de composição arquitetônica e considerando ainda aspectos da sustentabilidade
e biofilia como base. Além disso, a fim de criar um edifício de escritório com
mais personalidade, foi escolhido como cliente uma empresa que preza bastante
pelo conforto e bem-estar de seus funcionários: a Google. Por outro lado, a base
comercial foi pensada para solucionar os problemas de esvaziamento noturno do
SAUN e trazer uma diversidade aos tipos de atividades que têm nesse setor. Com
isso, a criação de espaços como cinemas e academias possibilita a transformação
desse local em um polo atrativo. O partido arquitetônico foi baseado em dois
conceitos: insolação e vistas, a fim de promover um melhor conforto térmico
e visual para os usuários. Com isso, pensou-se nas maiores fachadas voltadas
para Norte e Sul e em valorizar a melhor vista, a Leste. Em seguida, visando a
presença de iluminação natural em todos os ambientes, foram feitos eixos de
limitação de profundidade, para que a profundidade da planta não ultrapassasse
25m. Notou-se também uma necessidade de buscar uma forma mais orgânica,
que permitisse a criação de espaços abertos e promovesse maiores possibilidades
de vistas. Com isso, surgiu a proposta final.
Orientador: Cláudia Naves Amorim Banca: Caio Frederico e Silva, José Manoel
Sanchez, Natália da Silva Lemos
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Centro gerontológico sensorial: atenção ao
bem-estar físico e psicológico dos idosos
Deyse Chagas Mendes
A hospitalização rompe com o cotidiano natural e pode diminuir a possibili-
dade de vivenciar experiências sensoriais usuais. A rotina dos idosos hospitalizados
é cercada por estímulos dolorosos, restrição do espaço físico e de movimentação,
e alteração de estímulos ambientais.
O Centro Gerontológico Sensorial atrela o conceito de humanização e
ambiência como principal base do projeto, pois o tratamento dado ao espaço
físico proporciona um conforto e qualidade ambiental que serão percebidas
pelo usuário, já que somos capazes de interagir com o ambiente imediato por
meio dos sentidos. Busca-se não criar uma arquitetura hospitalar e sim uma
arquitetura para a saúde.
Localizado em Ceilândia, o Centro Hospitalar está interligado em 3 blocos,
permeados por jardins e hortas comunitárias: O BLOCO 1 destinado ao ambula-
tório, exames, laboratórios e emergência, possui coberturas metálicas em sheds
e fachada com brises horizontais, propiciando ventilação e iluminação natural.
O BLOCO 2 possui 3 pavimentos com centros cirúrgicos e internações, pilotis
como área de passagem entre os blocos e cobertura destinada para o solário dos
pacientes, onde acontece os “percursos sensoriais”. O BLOCO 3 tem sua estrutura
como o bloco 1, mas com destinações administrativas e de serviços, com anexos
para refeitório e auditório.
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Terminal de integração hidroviária
Douglas Dornela Menezes
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Espaço do nascer: casa de atendimento à
gestante e ao parto humanizado no hospital
regional de ceilândia
Estela Hirakuri
O projeto procura atender a uma demanda tanto do governo enquanto
medida de saúde pública, quanto das mulheres que querem ter um parto natural.
Além disso, busca seguir o movimento de humanização dos espaços de saúde, que
colocam o paciente como indivíduo de maior importância no processo projetual.
Casas de parto são pensadas para ser um meio termo entre o domicílio
e o hospital, promovendo um parto natural respeitoso, livre de intervenções
e qualificando os serviços de assistência à gestante. Diferentemente de uma
maternidade tradicional, onde a mulher transita de um ambiente a outro durante
o procedimento de parto, casas de parto têm como principal elemento o “Quarto
PPP”, que atende ao Pré-parto, ao Parto e ao Puerpério. Assim, ela permanece
sempre no mesmo local, com o intuito de fazê-la se sentir mais familiarizada
e confortável.
A única casa de parto existente hoje no Distrito Federal, localizada em
São Sebastião, é referência para as mulheres, mas atende somente moradoras
da região. Esse projeto visa contribuir para a expansão da rede de atendimento,
que já é parte das estratégias da rede pública de saúde, e abranger a região de
Ceilândia.
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Edifício de uso misto para locação social
Luís Fernando Lucena
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Modhaus - modelo de habitação para
autoconstrução sustentável
Gabrielle Monteiro Teixeira
A casa MODHAUS surge da necessidade de se trazer maior consciência
ecológica no setor da construção civil e, em especial, no setor da habitação. Assim
sendo propõe uma alternativa arquitetônica residencial cujo conceito gira em
torno de princípios sustentáveis e relacionados à economia em sua produção e
ao longo de sua vida útil. O projeto prevê possibilidades de expansão em função
das necessidades das famílias que venham a habitá-la.
O projeto emprega fundamentos da bioconstrução para garantir uma casa
de baixo impacto ambiental e de maior qualidade bioclimática, bem como dispõe
de estratégias passivas para lograr um melhor desempenho térmico e de ilumi-
nação no interior da casa. Visando reduzir o impacto ambiental provocado pelas
construções e necessidades diárias, a casa prevê sistemas ecológicos e susten-
táveis para gestão de águas (pluviais, cinzas e negras) objetivando um uso mais
responsável dos recursos naturais.
A facilidade da técnica empregada permite a prática da autoconstrução
para a execução da casa, com ou sem o regime de mutirão e, para tanto, conta
com seu próprio manual de autoconstrução, contendo todas as informações
necessárias, da implantação ao acabamento.
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Permacultura urbana e habitação social
Giulia Gheno
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Emaa – escola municipal alice attuá
Hiagson Souza de Jesus
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Intervenção no elefante branco:
integrando a cidade com o parque
Joaquim da C. Bastos Júnior
O prédio do Elefante Branco está situado na 907/908 sul, quadra referência
de Brasília, no ponto intermediário do eixo cultural da quadra, no qual abriga
obras de grande relevância para o cenário inicial da construção de brasília. Foi a
primeira escola de ensino médio projetada em Brasília, em 1957, obra do arqui-
teto José de Souza Reis.
Apesar da escola fazer fronteira com o Parque da cidade, não possui qualquer
vínculo ou passagem, ignorando por completo sua existência e sua importância.
Isso se deve ao fato da escola ter sido construída antes da instalação do Parque.
Já no interior do lote, o fluxo de pedestres tem um traçado marcante nos
sentidos transversais, mostrando-nos o desejo e a necessidade de requalificação
para esse percurso que era ocupado pelo antigo estacionamento, superdimensio-
nado, já que grande parte dos alunos não possuem idade para conduzir veículos
motorizados. Além disso, os funcionários da instituição fazem uso do estacio-
namento posterior, localizado no piloti da edificação, diminuindo mais a carga
de uso do estacionamento frontal.
A proposta é remover por completo o estacionamento frontal do edifício,
remover os cercamentos e os usos inapropriados do piloti; também construir
uma nova sede para o Centro de Línguas, esta semienterrada para não tirar a
importância do prédio já existente e requalificando a passagem dos usuários
que por ali passam todos os dias.
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Menu brasília - espaço gastronômico e cultural
Larissa Carvalho de Paula
Dentre as diversas tipologias comerciais de caráter público, o espaço
gastronômico ressalta o potencial cultural, econômico e democrático, palco de
relações humanas que desde a Antiguidade são fundamentais para impulsionar
a urbanidade e a formação dos centros urbanos. Eles ultrapassam a ideia de
intercâmbio de produtos para ser referência na cultura, tradição, comércio e
relações sociais na cidade a que se insere.
O projeto do MENU BRASÍLIA consiste em um novo equipamento estratégico
na tentativa de integrar o Setor Cultural da cidade, localizado no Eixo Monu-
mental, e recuperar o espaço urbano. Pretende proporcionar uma arquitetura
capaz de servir de apoio a espaços de convívio, área gastronômica, ambientes
destinados a atividades culturais, impulsionar o comércio local, as trocas e novas
experiências.
O complexo é composto por área gastronômica, lojas de especiarias, salas
para cursos, coworking, escola gastronômica, praça interna destinada a eventos
efêmeros e ainda uma grande escadaria como espaço de contemplação voltada
para uma as mais belas visuais da cidade: a Torre de Televisão de Brasília.
Espero ter contribuído para despertar a vontade reviver a ideia do mercado
trazida para os dias atuais e demostrado o grande valor cultural existente nesta
tipologia e em tudo que nela está intrínseco. Mas sobretudo, quem sabe, tenha
despertado em você a vontade de intervir e vivenciar o local.
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Viveiro caliandra
Laura Santos Siqueira
O Viveiro Caliandra localiza-se no Núcleo Rural Vale do Palha, Lago Norte.
A região apresenta alta sensibilidade ambiental e fragilidade hídrica, devido à
presença de vegetação nativa, nascentes e solo de recarga hídrica. Assim, foi
elaborado um projeto de viveiro de produção e demonstração de técnicas de
cultivo, com foco também na preservação e educação ambiental, que é capaz
de abordar diversas questões sociais, culturais, econômicas e ambientais, além
de trazer as atividades e processos que nele ocorrem para consolidar preceitos
da relação campo-cidade.
O resultado consolida uma configuração espacial que traz diversas técnicas
de cultivo alternativas e sustentáveis, além de abordagens distributivas da água
e a integração com pequenas animais aliados na produção. O projeto foi pensado
em vários níveis, desde o posicionamento de bacias de contenção, passando pelo
sistemo viário, até os diversos edifícios e locais de cultivo, todos cuidadosamente
posicionados.
Ainda, foi proposto um viveiro ornamental, que reúne as atividades admi-
nistrativas do local, além restaurante, loja e mirante. Em consonância com o
objetivo do projeto, o sistema estrutural escolhido foi a taipa de pilão.
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Parque aqua lakeshore
Layane Christine Vieira
O Parque Aqua Lakeshore (Chicago, IL) utiliza a arquitetura e o urbanismo
como instrumento de disseminação do aprendizado referente à água e aos riscos
aos quais os recursos hídricos estão suscetíveis diariamente, dando destaque à
constante presença destes aquíferos na paisagem urbana. O parque tem como
objetivo melhorar um dos principais problemas de infraestrutura urbana da
cidade: a sobrecarga do sistema de esgoto e água pluvial, bem como oferecer
espaços para manifestações artísticas onde a água protagoniza a história contada.
Desta forma, há a hibridização de uma arquitetura de caráter intermitente (o
reservatório de água da chuva) com uma arquitetura de uso contínuo (o parque).
Por estar em meio a um grande centro urbano, o projeto funciona como
uma “esponja urbana” para a água da chuva. A edificação compõe a paisagem da
cidade de maneira descontínua e descompactada, criando diversas camadas de
passeio nas quais sempre haverá uma apreensão diferente do espaço visitado, seja
com novas visuais do terreno ou de sua vizinhança. Além disso, o parque tem o
potencial de fazer a conexão direta entre a Avenida Michigan – uma importante
rua turística e de comércio – e o Lago Michigan.
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Abrigo para pessoas em situação de rua
Letícia Drummond de Oliveira Magalhães
Somente estrutura de pernoite não é suficiente para recuperação e rein-
serção social da pessoa em situação de rua. O projeto visa englobar diferentes
frentes necessárias à recuperação dessa população, como alimentação, educação,
saúde, atendimento psicossocial e convivência, além de lançar mão de uma
arquitetura mais humanizada, aspecto importante que exerce grande impacto
na recuperação da autoestima dessa pessoa. Propõe, ainda, uma localização
privilegiada, no SGAN - quadra 601, próximo ao coração da cidade e do maior
ponto de concentração dessa população no DF: a rodoviária do Plano Piloto.
Com uma arquitetura simples e descontraída, o projeto apresenta como
diretrizes a integração com a natureza por meio do aproveitamento da área verde
e de jardins internos. Estes, também ajudam na iluminação e ventilação natu-
rais, assim como as esquadrias que promovem ventilação cruzada. Estratégias
de conforto térmico e acústico, como telhas de fibrocimento, fachada ventilada
e estrutura em light steel frame foram empregadas. A integração do espaço
público e privado se dá por meio de um “calçadão” inteiramente acessível, sendo
o eixo regulador do projeto. A abertura do restaurante comunitário e dos cursos
e oficinas à comunidade visa maior convivência social e auto reconhecimento
do indivíduo em recuperação como membro da sociedade.
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Sambódromo da ceilândia
Lucas Rodrigues Araújo
A escolha do sambódromo como objeto de estudo é feita atenta à importância
da criação de um espaço a sediar os desfiles das escolas de samba e atender às
necessidades das agremiações. Assim, têm-se a intenção de que o projeto atue
como um possível elemento propulsor do retorno e consolidação deste tipo de
carnaval no Distrito Federal, buscando sanar os prejuízos causados à comunidade
pela suspensão destes desfiles em 2015. Sensibiliza-se à necessidade de apoiar
e preservar este tipo de manifestação popular essencialmente brasileira, talvez,
um de seus traços culturais mais emblemáticos internacionalmente. É impor-
tante ressaltar que as atividades desenvolvidas pelas agremiações extrapolam
o métier carnavalesco, desenvolvendo diversos papéis de caráter comunitário.
Pretende-se a criação de um espaço destinado a sediar os desfiles de samba
e fornecer às agremiações espaços dedicados que suportem eventos e atividades
de médio a grande porte que, entre outras funções, viabilizariam financeira-
mente a realização dos desfiles. Para tanto, a proposta agrega à pista de samba
um programa de atividades complementar que se divide em: Centro Cultural
(cinema, café, sala de exposições e camarote), Feira Local, Camarote e Salão
Multiuso, Tenda Multiuso e Barracões.
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Espaços públicos modulares para crianças
Luísa Viana Luniere de Azevedo
O presente trabalho de diplomação teve como objeto de estudo um parque
infantil modular voltado para crianças de 5-10 anos que possa ser adaptável a várias
realidades e sítios. Para tanto, foram propostos mobiliários urbanos lúdicos que
desenvolvam habilidades cognitivas, físicas e sociais para crianças. Além disso,
para a questão modular foi proposto um desenho urbano seguro e lúdico para as
crianças em todo o raio de abrangência do parquinho.
Este trabalho defende uma nova proposta de diretrizes que estes parqui-
nhos modulares devem seguir para atender a todas as demandas, necessidades e
potencialidades do desenvolvimento infantil. Os espaços públicos lúdicos precisam
não só de equipamentos melhores que estimulem mais as habilidades cognitivas
infantis, mas também de um desenho que favoreça as interações sociais entre
crianças e adultos, além de trazer mais segurança e permitir maior empodera-
mento do espaço público pelos seus usuários.
Mesmo propondo um desenho diferente dos brinquedos tradicionais,
optou-se por fazer uma releitura dos mesmos pois estes já são muito abran-
gentes no desenvolvimento das habilidades necessárias ao desenvolvimento
da criança, focando assim em possibilitar diferentes brincadeiras dentro de um
mesmo equipamento e criar mais desafios daqueles já conhecidos pelas crianças.
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Espaço iso photo e arts
Maria Clara Viana Licursi
O Espaço ISO photo e arts é um espaço que oferece cursos de pós graduação,
especialização e profissionalização em fotografia, contendo 4 grandes estudios
de fotografia, salas de revelação manual, salas multimídia, espaços para oficinas,
salas de aula e espaço para a área administrativa educacional, além de espaços de
coworking para alugel e espaços públicos, como biblioteca, salas de estudos, brin-
quedoteca, sala de dança, música, teatro e trabalhos manuais, auditórios e lojinhas
para a venda de produtos feitos no local, tudo isso disponível para a população. O
espaço externo também faz parte do projeto e possui fortes ligações do interior
com o exterior, uma grande praça pensada para atender todas as necessidades
especiais de qualquer pessoa, com escadas e rampas ligando todos os principais
pontos do terreno, criando espaços de estar para todas as faixas etárias, como
playground, pista de skate e teatro de arena voltado, tanto para a parte interna
de um dos auditórios, quanto para um palco externo. O café cituado no interior
do edificio também possui acesso pelo lado externo, oferenco um espaço com
mesas do lado de fora. A arquitetura do prédio foi pensada para fornecer a maior
integração com o exterior, com brises e paineis metálicos perfurados nas fachadas
de vidro, acessos aplos e livres de obstáculos, circulação vertical e horizontal com
visuais livres de todo o prédio. Os principais materiais utilizados foram o metal
nos pilares e o concreto aparente nas lajes nervuradas.
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Projeto quatro patas: projeto arquitetônico
de abrigo pra animais abandonados
Maria Eduarda Moll Chaves
Projeto Quatro Patas é um estudo de arquitetura modular de rápida cons-
trução, fácil manutenção e eficiência econômica a médio e longo prazo, com prin-
cipal conceito de animalização do espaço. Portanto, o estudo pretende otimizar
a construção de novos espaços com a função de abrigar animais abandonados e,
numa escala maior, como consequência indireta, poderia aumentar o número de
abrigos a nível nacional. O Projeto Piloto desse estudo está implantado no terreno
do abrigo Flora e Fauna, na cidade do Gama - Distrito Federal. A falta de espaços
qualificados dedicados a abrigar animais em situações de risco aliada à precariedade
de informação disponível sobre o tema, evidenciam a relevância de um projeto
destinado a suprir essa lacuna. A escolha do tema se deu a partir de experiências
pessoais no Abrigo Flora e Fauna, localizado na área estudada, onde pude notar
a ausência de informação para orientar reformas e até mesmo novas construções
desse tipo de arquitetura. Associado a isso, o número de animais abandonados só
aumenta e, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2014, no
Brasil havia cerca de 30 milhões de animais abandonados. Mais de 20 mil desses
animais estão nas ruas do Distrito Federal, segundo a Gerência de controle de
Zoonoses da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (GERAZ). A abordagem do
tema foi iniciada na disciplina de Ensaio Teórico da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo - UnB, onde foram feitos estudos iniciais, foram levantados dados sobre
o tema e foram realizadas tabelas com parâmetros arquitetônicos.
69
Requalificação urbana ao longo do metrô
de ceilândia
Maria Emília Monteiro
A partir dos conceitos de (1) Desenvolvimento Orientado ao Transporte
Sustentável-DOTS, (2) Cidades Compactas, (3) Sprawl Repair e (4) Microacessi-
bilidade, foi elaborado um projeto de requalificação urbana ao longo das esta-
ções do metrô de Ceilândia com o intuito de aumentar a vitalidade da região. O
objetivo é representar o potencial de uso e ocupação do território dos corredores
de transporte público de média e alta capacidade do DF.
O diagnóstico foi feito por meio de caminhas-teste e da decomposição e
análise dos espaços livres públicos. Após a identificação de problemas e poten-
cialidades, o projeto se desenvolveu em três etapas: (1) criação de novas vias e
reformulação de macroparcelas; (2) criação de novas tipologias nas áreas não
ocupadas; e (3) readequação dos lotes já ocupados para novos parâmetros urba-
nísticos.
O projeto alcançou seu objetivo ao mostrar como a área pode ser transfor-
mada para atingir seu potencial. Foram criadas 547 novas edificações para preen-
cherem os vazios urbanos e os espaços residuais e foi proposta a reformulação
de 13.637 lotes. A população da área de intervenção era de 490.000 habitantes
e sofreu um aumento de 38%, passando para 675.222 habitantes.
70
Cw3 - coworking w3 sul
Marina da Silva Ribeiro
71
“Ei! tem alguém aí?”: arquitetura cenográfica
Mariana Figueiredo Sobral Torres
O projeto cenográfico desse trabalho foi desenvolvido para um curta-me-
tragem escrito na diplomação - inspirado no livro “Ei! Tem alguém aí? ”, do autor
Jostein Gaarder. O curta gira em torno de Joaquim, criança de oito anos, e Mika,
uma criança extraterrestre que caiu no jardim da casa dele. Eles passam uma
noite juntos e aprendem muito sobre si mesmos e sobre o universo.
A criação dessa casa-cenário passa por discussões sobre as congruências
de linguagem do cinema e da arquitetura; sobre percurso (com Sergei Eisenstein
e Le Corbusier); sobre filmes que evocam a expressividade de um cenário; sobre
casas inspiradoras dentro e fora das telas e, por fim, sobre a representação nos
desenhos de criança. Esse último tema é o arremate pois a casa do Joaquim é
projetada sob a perspectiva dele – a representação predominantemente 2d dos
desenhos infantis remete ao conceito cinematográfico de montagem. O roteiro
vem como o programa de necessidades.
Nasceu assim uma casa em cortes, sob a visão de Joaquim, a criança prota-
gonista. Com uma pincelada de direção de arte são discutidas cores e texturas
e o projeto arquitetônico é voltado para soluções de uma arquitetura efêmera.
72
Novo zoo bsb
Mario Sergio Facundes Taveira
Desenhar um zoológico vai além das questões de preservação, tendo em
vista que alguns animais são resgatados por maus tratos e sequer conheceram o
seu habitat natural. Dessa forma, não é apenas sobre recriar biomas e habitá-los,
é mais sobre as necessidades de cada indivíduo, e para muitos humanos, a inte-
ração com o exótico e selvagem só acontece no ZOO. Importa nesta perspectiva
é que, mesmo se o visitante entre no parque apenas pelo lazer, ele saia como
um agente de preservação da vida animal.
Como diretrizes principais foram estabelecidas o conceito de imersão
paisagística, no qual o animal vive em seu habitat natural, sem divisões e com
maior unidade estética dos espaços. Retirou-se o trânsito de veículos e foram
realocados os animais para um novo trecho, permitindo assim recriar a proposta
de um habitat ideal.
A diretriz principal foi à educação e o lazer visando alcançar o potencial
para conexão do espaço de preservação com os espaços projetados. Esta dire-
triz levou a desenvolver um eixo principal de circulação (denominado Grande
Narrativa) que conduz, mas não limita as descobertas de seu entorno. Este eixo
parte da praça da entrada e se desenvolve através de onze praças, que foram em
grande parte recriadas com base nos antigos habitats, sendo sua última estrofe
a praça da preservação. Um traçado radial distribui os habitats tornando os
espaços dinâmicos e de possibilidades para o desenvolvimento de um percurso
individual, ainda assim conectado a uma rede circular que facilita a orientação.
73
Dorothy stang de baixo pra cima: modelo
participativo e sustentável para uma
quadra da ocupação
Mateus Marques Rangel
Dentre as ocupações não regularizadas existentes no Distrito Federal existe
a Dorothy Stang, no Setor Nova Colina em Sobradinho. Segundo a professora Liza
Maria Souza de Andrade, trata-se de uma comunidade de aproximadamente 544
famílias de baixa renda assentadas em habitações provisórias de madeira. Este
trabalho propõe metodologias de projeto em que a população local participa de
todo o processo de concepção, fundamental para estabelecer uma relação hori-
zontal e para que se compreenda e se respeite a cultura e história daquele povo.
O projeto considerou o caimento natural do terreno, a vegetação nativa e
os pontos afetivos marcados pelos moradores. Também procurou-se adensar o
espaço para criar maior diversidade social e propiciar o encontro das pessoas na
rua por meio do alargamento das calçadas, da criação de quintais compartilhados
e de tipologias voltadas para a rua.
Foram criadas 4 tipologias residenciais para atender à diversidade de famílias
existentes. Nessas tipologias foram incorporados padrões estéticos locais, prio-
rizou-se a criação de espaços compartilhados, o uso de materiais e mão-de-obra
locais, a vista para a rua, permacultura e drenagem urbana mais sustentável.
74
Eixo universitário do plano piloto
Rachel Benedet de Sousa Martins
75
Espaço da moda
Vanessa Silva Botelho
O Espaço da Moda é o projeto de um complexo situado no Lago Norte (na
principal via de entrada da região), destinado ao processo de ensino, criação,
e produção da moda , contando com áreas para estudo e confecção, áreas para
exposições de trabalhos realizados pelos próprios estudantes, por artistas locais
e por grandes estilistas, além de áreas com cafés, lanchonetes e uma grande
área livre que estimularão o uso do conjunto arquitetônico por diferentes tipos
de usuários.
O processo de criação teve como base as diretrizes da Expressão, Inovação e
Liberdade, e como referência um corpo como base de sustentação e a vestimenta
como sua continuidade. E foi a partir dessas diretrizes e da referência, que a
arquitetura foi proposta e de imediato se interligou com o plano de necessidades,
resultando assim em 3 áreas principais e conectadas: ÁREAS COMUNS com Museu,
Feira, Áreas livres, Restaurante e lanchonetes, Café do Museu; ÁREAS PRÁTICAS
com Ateliês na Escola da Moda e ÁREAS DE PESQUISA com Biblioteca, Auditório,
Salas de Projeção. Toda a arquitetura parte de tons neutros e áreas livres, para
que o espaço seja habitado e usado de formas e com cores diversas, propiciando
um ambiente versátil para infinitas possibilidades de usos e instalações.
76
Centro de intercâmbio cultural brasil – japão
Vinícius Faustino de Oliveira Santos
No ano de 2018, comemorou-se os 120 anos de amizade entre Brasil e
Japão, bem como os 110 anos da imigração japonesa no Brasil, marcada com
a chegada do navio “Kasato-Maru” (笠戸丸), em 1908. A presença nipônica no
Brasil vem há muitos anos enriquecendo e diversificando nossa cultura, sendo
celebrado vários acordos de cooperação mútua que aproximam ambas nações.
Visando simbolizar esse laço de amizade, foi proposto a criação de um Espaço
de Intercâmbio Cultural entre o Brasil e o Japão.
Localizado nas proximidades da Universidade de Brasília e da Escola Modelo
de Língua Japonesa (SGAN 606, módulo C), o Espaço promove ao público geral,
a possibilidade de desenvolver práticas culturais relacionadas à culinária, arte,
educação, esporte, entre outras, que busquem a aproximação entre brasileiros
e japoneses, assim como, entre a cultura ocidental e oriental.
Implantado sobre um terreno de 200x50m, adotou-se ao edifício uma
arquitetura do tipo pavilhonar, que estendende-se em um conjunto de 3 partes:
Pavilhão Japão (acesso via L2 Norte); Pavilhão Brasil (acesso via L3 Norte) e
Hall dos Arcos (praça central). Além do intercâmbio cultural, o edifício busca
ainda o intercâmbio de linguagens arquitetônicas (tradicional e moderno) e de
materiais (madeira e concreto), característico de cada país.
77
Cer - centro especializado em reabilitação
visual, físico, auditivo
Yasmin Rodrigues da Costa
Este Trabalho de Conclusão de Curso propõe como objeto arquitetônico um
Centro Especializado em Reabilitação (CER), que promova maior reintegração
social e autonomia para as pessoas com deficiências físicas, visuais e auditivas.
Utilizando o conceito de humanização para a criação de um ambiente de saúde,
em que a arquitetura influencie positivamente no tratamento, a ideia do CER é
apresentar um lugar qualificado, cujo próprio ambiente influencie positivamente
no bem estar dos pacientes, de forma a contribuir com o processo terapêutico.
Tão importante quanto os hospitais são os lugares de assistência após o trauma,
como os Centros de Reabilitação, por exemplo, que são medidas complementares
necessárias no intuito de tratar os pacientes por meio de reabilitação multi-
profissional em ambiente extra hospitalar para aqueles que necessitam de uma
continuidade do tratamento mesmo após a alta. Dessa forma, a proposta deste
trabalho sugere um lugar com infraestrutura adequada, acessibilidade e atividades
que contribuam para a melhora da saúde física e mental, fornecendo atendimento,
diagnóstico e terapia. O projeto está localizado na cidade de Ceilândia - DF, que
tem uma população elevada e dentre as regiões administrativas do DF, de acordo
com o IBGE, é a que possui a maior porcentagem de pessoas com deficiência.
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79
encontros
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Pé na estrada: Expo Sampa
83
Arquitetura, Urbanismo e seus
nexos
Como as cidades do futuro, especialmente as cidades verdes, conseguirão abraçar
as dimensões ambiental, cultural e a tecnológica? Foi tentando responder a esta
indagação que sediamos, no âmbito da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
(FAU-UnB), o evento internacional intitulado “The Environment-Culture-Technology
Nexus: Envisioning Future Green Cities ” nos dias 17, 18 e 19 de julho de 2019. O
evento se deu num formato de workshop e teve como parceira a Universidade de
Portsmouth e como financiador o Global Challenges Research Fund (GCRF).
A coordenação geral ficou a cargo da Profa. Dra. Maria do Carmo Bezerra, com
muitos trabalhos na área em questão, com a colaboração dos professores Caio
Silva e Joára Cronemberger, que também foram integrantes do time de convidados
do workshop, todos da FAU-UnB. Do lado britânico, os promotores foram o Prof.
Dr. Fabiano Lemes (que atualmente é professor da Universidade Politécnica de
Milão) e o Prof. Dr. Tarek Teba (University of Portsmouth). O evento contou com a
colaboração efetiva de estudantes da FAU, dentre eles mestrandos e doutorandos
do PPG-FAU: Júlia Adário, Rejane Viegas, Thiago Góes, Anna Carolina Palmeira e
Aline da Nóbrega.
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Palestra de Alexandre Brasil
(sócio fundador do Arquitetos Associados)
Em julho de 2019, a FAU-UnB recebeu o arquiteto e urbanista Alexandre Brasil
para proferir uma palestra sobre a sua atuação profissional. Brasil é sócio do
escritório Arquitetos Associados (também composto por André Luiz Prado,
Bruno Santa Cecília, Carlos Alberto Maciel e Paula Zasnicoff), com sede em Belo
Horizonte-MG. Na palestra, falou de suas principais influências, da dinâmica do
escritório e de algumas obras significativas.
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Workshop “Os espaços da
FAUFRGS”
O workshop “Os espaços da FAUFRGS” foi realizado em Porto Alegre (RS).
Resultou da parceria entre as Faculdades de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de Brasília (UnB) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS) através das disciplinas Projeto de Arquitetura - Problemas Especiais
(PAPE) (UnB) e Ateliê de Projeto V (UFRGS), ministradas respectivamente pela
profa. dra. Luciana Saboia e prof. dr. Sérgio M. Marques.
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entrevista
arqui entrevista: nonato veloso
O projeto Arqui Entrevista tem como [Amora de Andrade] Partindo do [Nonato Veloso] Olha, eu sou daqueles
objetivo apresentar professores início de sua trajetória: como você que acham que não tem crítica
consagrados da FAU aos estudantes descobriu que queria ser arquiteto? alguma. Pra mim é uma maravilha,
de graduação. A nossa faculdade [Nonato Veloso] Eu não descobri é uma obra prima do Modernismo
tem a alegria de ter uma trajetória que queria ser arquiteto, acho que e do Urbanismo Moderno. Eu
rica em experiências profissionais, de veio naturalmente. Meu pai era entendo assim: é inédito no planeta.
pesquisa, de ensino e de extensão. arquiteto, professor de perspectiva Como você constrói no Cerrado,
Além do contato com os mestres é na UFMG (Universidade Federal de em um contexto de país pobre,
uma maneira de conhecer e vivenciar Minas Gerais), então eu já tinha essa sem recursos, e consegue construir
a história dessa instituição. referência, e em casa eu também longe de tudo uma cidade desse
gostava muito de desenhar. Além tamanho, implantar todo o sistema
O primeiro entrevistado é o professor disso, em Belo Horizonte, as décadas viário, drenagem, vários palácios
Nonato Veloso. Ele é mineiro e de 50 e 60 foram muito ricas no e Superquadras? Um fenômeno! A
cursou a graduação em Arquitetura e âmbito da arquitetura com a presença própria rodoviária é fantástica, ela não
Urbanismo na UFMG (Universidade forte de Oscar Niemeyer. A gente é um edifício rodoviário como tem em
de Minas Gerais), formando-se em via a construção do Edifício Oscar toda cidade.
74. Em 75 mudou-se para Brasília, Niemeyer na Praça da Liberdade, eu [Amora de Andrade] Você poderia falar
para colaborar no escritório de seu passava a pé ali menino, indo para sobre a sua participação no concurso
antigo mestre Hélio Ferreira Pinto. escola, e até hoje eu me espanto para o Pavilhão de Sevilha?
Em 76 começou a lecionar na quando vejo aquele prédio, uma obra
Universidade de Brasília, inicialmente prima do Oscar. [Nonato Veloso] Foi um concurso
no Departamento de Desenho (atual disputadíssimo, tem muito debate
IdA), ao qual a FAU era vinculada. Também teve o Edifício JK na Praça sobre ele até hoje. Foi um marco
Raul Soares, que é outro ícone na na arquitetura da virada do pós-
cidade até hoje, e a Pampulha com moderno, e uma retomada da
Em 95 passou a lecionar Projeto de
seus edifícios. Outra referência muito arquitetura brasileira. Então foi muito
Arquitetura 1, a porta de entrada
forte para mim foi o Colégio Estadual disputado, com os escritórios todos
dos estudantes da FAU no exercício
Central de Belo Horizonte, onde participando, e foi uma revelação de
projetual. Foi professor dessa
estudei no meu primeiro e segundo vários grupos. Tanto que as equipes
disciplina até 2014, quando se
grau, que é um projeto maravilhoso desse concurso foram chamadas de
aposentou. Nela aplicou o exercício
do Oscar Niemeyer. Tinha os pilotis, “Geração Sevilha”.
do Espaço da Luz, de forma a ensinar
como trabalhar a implantação do as salas de aula em cima e uma
espaço arquitetônico e diversas de rampa que levava para uma sala de O que acontece: a minha pesquisa
suas propriedades. Também em 2014, aula. O auditório dele é um precursor de doutorado conversa com dados
recebeu seu doutorado com a tese do olho que Oscar fez depois no de Sevilha. São duas décadas sobre
“Arquitetos Paulistas e os concursos Museu em Curitiba (Museu Oscar concursos de arquitetura no Brasil, de
nacionais de Arquitetura” e em 2016 Niemeyer), mas dávamos outro 1990 a 2010. O cenário da época era
estabeleceu seu escritório, o Estúdio apelido pro nosso. Não chamávamos que ainda não tinha internet, mas as
NV. de olho, era mata-borrão, pois tinha o revistas começaram a publicar muitos
desenho parecido com o objeto que outros projetos que não tinham sido
Os concursos de Arquitetura, além usavam para tirar as tintas da caneta selecionados.
de objeto de análise científica, tinteiro que borravam o papel.
significaram para Nonato uma Matheus Gorovitz e eu, que éramos
oportunidade de aplicar diversos dos Outra lembrança é que o piso do de equipes separadas, ficamos
seus conhecimentos e reflexões na auditório era curvo; você entrava e com menção honrosa. Em seguida
prática arquitetônica. Entre as suas as cadeiras já acompanhavam esse teve uma exposição no Itamarati,
participações, podem ser elencadas formato curvilíneo. Era uma maravilha! vou contar pra vocês, eu morri de
as menções honrosas nos concursos Vale a pena pesquisar sobre. A gente vergonha do meu projeto, no meio
para o Pavilhão do Brasil na EXPO92 tinha muito orgulho de estudar lá, daqueles projetos ali. A maquete do
Sevilha e para o Museu da Tolerância vinha gente do mundo todo conhecer Angelo Bucci era de madeira balsa e
e as primeiras colocações para a aquele projeto. Então foi isso, eu tive a minha era uma de papel desenhado
Casa do Professor da Associação dos a influência de todo esse contexto, em cima! Nossa! Horrível, né? Mas
Docentes da UnB, para o Museu de mas foi nessa escola que eu tive um talvez a questão dos desenhos, das
Ciência e Tecnologia da UnB e para o professor de geometria que me fez perspectivas que eu tinha feito ali,
Paço Municipal da Várzea Paulista.¹ realmente gostar de estudar essa tenham servido para me dar um
área. ponta pé e começar a me interessar
por projeto e acabar participando de
¹ A apresentação teve como referencial teórico [Marcos Cambuí] Como foi a
a dissertação de mestrado de Paulo Victor muitos concursos.
influência de Brasília na sua relação
Borges Ribeiro, apresentada em 2017 e de título
“Arquitetura potencial: Nonato Veloso, concursos com Arquitetura. E sobre o plano [Marcos Cambuí] Como foi o seu
de projeto” vinculada ao PPG-FAU UnB e de urbanístico de Lucio Costa para a primeiro contato com a Universidade
orientação da professora Sylvia Ficher. cidade, qual sua análise crítica? de Brasília? Poderia falar um pouco
90
sobre a sua história na FAU e no IdA? trabalho. Conversávamos sobre a fazer um curso do programa, que já
vida! Teve um dia que estávamos não tem nem tanto tempo assim, e de
Eu comecei a orientar diplomação nos intervalinhos que davam entre lá pra cá uso ele bastante.
preocupado porque é uma uma orientação e outra, e a gente
responsabilidade muito grande. ficava conversando um assunto que [Marcos Cambuí] Na sua prática
Aquele é o momento em que você não podia deixar de acabar naquele projetual, quando o projeto passa do
discute arquitetura com os alunos, momento. Aí foi dando a hora do croqui pra prancheta? em que fase do
é onde tem confronto. Antes você café, o pessoal foi levantando e tinha projeto se deixa o desenho à mão e
ficava com o seu orientando durante ainda uns três ou quatro alunos para se passa aos meios digitais?
todo o processo e no dia da banca orientar. Acho que ainda conseguiram
podia entrar qualquer professor que Apesar dos meus métodos de ensino
falar com a gente. Daí a Neusa serem todos em maquete física,
quisesse e que nunca viu o projeto, foi falando daquele outro assunto
criticar e dar nota, entendeu? Era que por conveniência na época era
que não tinha nada a ver com a a ferramenta que eu achava mais
uma loucura. Pegava fogo! Depois orientação, levantando, mas alguns
tinha que entrar todo mundo pra uma simples, hoje em dia eu fiquei um
alunos ainda queriam conversar, pouco preguiçoso quanto ao uso
sala, pra sala 6 que é maiorzinha, pra então a Neusa falou: “Nonato, vamo
dar a nota no quadro. E era aquela dela. Faço de vez em quando. Mas o
logo pro café porque esses meninos processo é esse mesmo, o processo
tensão toda. não deixam a gente conversar”. A que vocês conhecem e fazem. É
Eu lembro até que em uma orientação gente começou a rir e eles também. muito croqui também, e à medida
um garoto, hoje ele é professor lá da Era muito bacana. que você vai fazendo, o croqui vai te
engenharia, faltou uma orientação, [Marcos Cambuí] Como foi pra você a ajudando a chegar no momento em
e foi logo no início que comecei transição da prancheta para as novas que aquilo merece um 3D.
a orientar diplomação. Eu muito tecnologias? Em concursos as vezes eu faço um
preocupado com aquela cobrança
[Nonato Veloso] Eu não senti muito. mundo de ideias. Um mundo de
toda, e ele faltou uma orientação
Trabalhei muito com desenho técnico croquis. Mas não faço aquele croqui
dizendo “a minha avó teve um
tradicional naquela época e tinha bonitinho que os arquitetos gostam.
problema”. Então eu fui na secretaria,
feito o meu método de perspectiva. Eu faço aquele risco rápido, vou
peguei o telefone da avó dele,
Tinha uma colega de artes plásticas riscando vários papeis e assim vai.
liguei e falei com ela: “seu neto não
que aprendeu o 3DS e me deu aula. Ainda tem um problema: a minha
pode deixar de vir pra orientação,
Quando eu vi aquilo eu pensei: “eu esposa é bióloga, professora de
entendeu?” e a gente morre de rir
acabei de criar esse método de biologia, e desde sempre ela não me
disso.
perspectiva, mas ninguém vai querer deixa usar papel só no verso, tem que
Naquela época a gente acordava de saber disso”. Não precisa mais ficar usar frente e verso: “ah porque tem a
madrugada, lembrava do trabalho marcando perspectiva, né?! Mas eu questão ecológica, tem as químicas
de um e de outro, e pensava: “não, não tive nenhum conflito com isso. que usam pro papel ficar branquinho,
tem que terminar o projeto; tem que depois aquilo vai pro lixo e ainda tem
ter isso e aquilo”. Mandava e-mail a celulose...” então se você pegar os
Tinha uma garota de 17 anos que
de madrugada, aquela coisa toda. meus papéis de croquis é um mundo
estudava desenho industrial lá no
Então tinha uma tensão, mas era de garrancho, um mundo de risco em
IdA, mas fazia desenho de arquitetura
uma coisa legal, né?! Comecei a dar cada lado.
pra escritórios. O desenho a lápis
aula com a Raquel Blumenschein,
dela era maravilhoso e o desenho a
mas ela tirou licença e comecei a [Marcos Cambuí] Como tem sido a sua
nanquim então, nem se fala. Logo ela
dar aula com a Christina Jucá. A participação recente em concursos
aprendeu o AutoCAD e me ensinou,
Christina é aquela pessoa de uma de arquitetura?
nessa virada de 1991-92. De vez em
cultura arquitetônica, um negócio [Nonato Veloso] Quando eu penso em
quando eu pegava alguns ex-alunos
fantástico! Ela dava aula de projeto e um concurso, já monto uma equipe
pra me dar alguma aula. O Marco
teoria, e foi ótimo. A gente teve uma com recém formados, estudantes, e
Antônio me deu aula também do 3DS.
parceria de uns dois semestres, e já vou mostrando pra eles o que estou
No meio da aula eu achava aquilo um
depois a Raquel voltou. Christina era fazendo pra gente ir conversando. Eu
mundo. O manual do 3DS eram umas
aquela figuraça, fazia várias coisas, já estava trabalhando nessa forma
três vidas.
inclusive era muito preocupada virtual bem antes da pandemia.
com o conforto ambiental. Ela pediu Teve um curso de extensão de Reunião presencial só acontecia
pro Jayme Almeida fazer parceria SketchUp na FAU há algum tempo, quando não tinha jeito.
comigo no PA1. Bruno Capanema e eu fui fazer. Vocês não imaginam
ficou comigo um monte de tempo, quem fez o curso do meu lado: o 2018 foi atípico pra mim. Cada
sabe?! Ele era ótimo. Só parceria Zimbres. Nessa época eu devia ter concurso leva uma média de 2 meses
maravilhosa. Neusa! Olha bem, a uns cinquentas e poucos anos, e o e meio a 3, e nesse ano eu fiz sete
parceria que eu tive com a Neusa era Zimbres já devia estar com a idade concursos. Só entregamos seis,
a coisa mais fantástica do planeta! que eu tô hoje. Mas ele foi atrás porque um ninguém pôde entregar.
A gente se divertia dando PA1, também. Nós fomos coleguinhas no Na véspera da entrega já estava com
conversávamos sobre muitas coisas SketchUp. Depois me convenceram tudo pronto e teve uma questão. O
além da arquitetura e além daquele que SketchUp era bom. Então eu fui
91
coordenador teve que ligar pra todo A gente é amigo, Paulo Victor de vez aprender muito. E nesses casos,
mundo falando: “olha, infelizmente em quando me chama pra dar essas a maioria dos professores precisa
foi cancelado”. Então entreguei seis aulinhas, essas conversas com os mesmo ser dedicação exclusiva. É
concursos em 2018. alunos dele. como na ciência: não tem como um
professor da Física não ser dedicação
[Amora de Andrade] e concurso é [Marcos Cambuí] Na FAU os exclusiva.
muito interessante, né?! É uma professores são de dedicação
matéria de projeto que você faz fora exclusiva e não podem exercer a Eu acho que no nosso caso, das
da fau. Como se fosse isso profissão de arquiteto projetista. artes e da arquitetura, é totalmente
Na sua relação com os concursos compatível você ter professores de
[Nonato Veloso] Aí que tá... Eu comecei
havia também a busca pela prática tempo parcial ou integral. Durante a
a trabalhar muito com concurso
arquitetônica? minha pesquisa final eu li a tese de
porque pra orientar diplomação eu
tinha que conhecer temas diversos e um professor da FAU USP, Antonio
[Nonato Veloso] Em vários concursos
ter velocidade. E o concurso é isso: Barossi. Na tese dele tem um estudo
eu montava grupos com colegas
em um tempo de 2 meses e meio com estatísticas mostrando que em
da FAU. Muitos professores, o Ivan
que você pega um tema e tem que 2005 o departamento de projetos
(do Valle), a Luciana (Saboia), o
correr atrás e montar. Eu participei de da USP tinha 66 professores e
(José Manoel) Sánchez... eu nem
muitos concursos e eles me ajudaram 22 em dedicação exclusiva. Os
vou lembrar agora quantos... Vários
muito nas orientações. Agora me outros 44 são distribuídos em
trabalharam comigo. É uma saída. O
aposentei, mas continuo fazendo tempo parcial e tempo integral. E a
concurso é interessante.
como exercício pra não ficar parado. estrutura deles é bem parecida com
a nossa: Departamento de Projeto,
Na época em que eu já era professor,
Departamento de Tecnologia e
Há uns 5 anos, o Paulo Victor participei do primeiro concurso pro
Departamento de Teoria e História.
(Borges) resolveu fazer um mestrado IAB. Foi logo quando cheguei em
sobre a minha participação em Brasília. Quem ganhou esse concurso Eu tenho contato com o Álvaro
concursos. Aí eu falei: “Paulo foi o Aleixo (Furtado), que era
Puntoni, encontrei com ele ano
Victor, tem tantos outros arquitetos, professor da UnB. Só que o Aleixo
passado e surgiu esse assunto.
escritórios estabelecidos, pessoas era tempo parcial. Eu só conheci
três professores de tempo parcial Ele falou que agora na USP estão
fantásticas, arquiteta, arquiteto que
tem produção, né?!”. Ele não quis o tempo todo que eu tive na UnB. querendo incentivar a dedicação
mudar, então eu passei o material Eu acho o seguinte: o ensino que exclusiva, mas o que eu quero
todo pra ele. Foi bom porque eu fui vocês têm é fantástico: as pesquisas, dizer é o seguinte: eu acho que
atrás de muita coisa que tava perdida, as formações, os doutorados, os não é incompatível. Eu conheço
passei pra ele e ele fez a dissertação. laboratórios, os grupos... Dá pra também o exemplo da UFMG que
92
tem os Arquitetos Associados como triangular. A gente falava “lá no PA1 implantação. Eu comecei a fazer uma
professores em tempo parcial, e podia tudo”. aula, de vez em quando eu ainda
nem por isso esse pessoal deixou faço, que é uma seleção de projetos
de ter doutorado. Os Arquitetos A gente dava um panorama sobre do mundo nos quais eu acho que
Associados, o Ângelo Bucci da as proteções solares e eu falava a implantação é mais determinante
FAU USP, todos tem doutorado, “qual o melhor lugar para sua que a forma. Eu já começo com a
publicam e não são dedicação proposta? Onde você colocaria o Rodoviária de Brasília e vou pegando
exclusiva. norte?”. Mas eu achava que aquilo outros clássicos do Movimento
dava um trabalho muito grande. As Moderno.
Agora acho que grande parte sendo
maquetinhas eram sem tempo.
dedicação exclusiva importa muito, [Marcos Cambuí] Gostaríamos a
porque senão fica muito difícil levar Eu comecei a achar que era muito que você compartilhasse arquitetos
grupos de trabalho e de pesquisa. pro PA1: sensibilizava para a questão ou arquitetas que você tem como
[Amora de Andrade] Gostaríamos que do conforto, mas tinha que entrar referência e inspiração no seu
você explicasse um pouco sobre com a parte técnica que eu acho momento de projetar.
o Espaço da Luz e quais práticas que não era a Oficina Básica. Aí
[Nonato Veloso] O repertório da
do ofício arquitetônico você trouxe eu abandonei o exercício e criei o
gente tem os nomes clássicos do
ao introduzir essa matéria para os Espaço da Luz com o objetivo de
Movimento Moderno. No Brasil a
calouros. trabalhar também com a questão
gente sempre tem Lúcio, Oscar, Lelé,
luminosa. O enunciado do exercício
Paulo Mendes, Artigas, entre tantos
[Nonato Veloso] A influência foi da era “um espaço único para
outros.
Oficina Básica das Artes. Havia uma meditação ou recolhimento onde a
série de exercícios lá no PA1 (Projeto luz pudesse entrar de forma indireta”. Mais ou menos na década de 90, o
Arquitetônico 1). Antes de chegar Eram exercícios muito rápidos e Tadao Ando começou a ser publicado
no espaço da luz, havia o exercício interessantes. Uma entrada, um e todo mundo ficou encantado pela
que focava na questão do conforto caminho, um terreno que a gente arquitetura dele. Uma influência muito
ambiental e que depois eu abandonei mexia. positiva.
para poder criar o espaço da luz.
Era um exercício de ocupação do Durante um bom tempo os Tem o (Alberto) Campo Baeza,
espaço interno. Eram três ambientes professores achavam que eu fazia na Espanha, a Arquitetura
associados: um grande, um médio um exercício de composição até que Contemporânea Portuguesa,
e um pequeno. A Neusa participou comecei a ver que eu fazia era muito a Arquitetura Contemporânea
muito comigo desse trabalho. Eu mais exercício de implantação. Aí eu Espanhola, o Siza, o Souto Moura,
dava uma base quadrada e uma comecei a orientar até melhor com aquela turma toda. E no Brasil, além
base retangular, já ela criou a base esse foco. Não era composição, era disso, tem toda a Geração Sevilha
93
e os frutos dela. Esses jovens
mulheres nas turmas. Era só homem.
Tinha uma ou outra. Dois grupos
de meninas da FAU que eu orientei
foram premiados. Um grupo foi no
concurso de estudantes para o metrô
de Fortaleza e outro na Nona Bienal
de São Paulo. Os dois ficaram em
primeiro lugar.
Eu trabalhei muito na diplomação,
mas não é só nisso. A gente também
tem que orientar outros grupos com
outros objetivos.
[Marcos Cambuí] Pra você, qual a
função do arquiteto na sociedade?
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e os frutos dela. Esses jovens arquitetos que estão por aí tem uma
influência muito forte da Arquitetura Paulista e esse pessoal também
permeia o que eu penso hoje. Admiro muito os jovens arquitetos e
arquitetas.
Por falar em arquiteta, eu fui de uma geração que quase não tinha mulheres
nas turmas. Era só homem. Tinha uma ou outra. Dois grupos de meninas
da FAU que eu orientei foram premiados. Um grupo foi no concurso de
estudantes para o metrô de Fortaleza e outro na Nona Bienal de São Paulo.
Os dois ficaram em primeiro lugar.
Eu trabalhei muito na diplomação, mas não é só nisso. A gente também tem
que orientar outros grupos com outros objetivos.
[Nonato Veloso] É tudo isso que a gente tem hoje. Vocês têm professores
fantásticos em todos os níveis. A universidade, a pública por excelência,
mas também as particulares, ambas trabalham com a questão social o
tempo todo. Começa da cidade, do geral para o particular. É a cidade,
as pessoas, a acessibilidade universal, o transporte público, a inclusão
social, o acesso aos espaços, a qualidade dos espaços. O papel social do
arquiteto acaba entrando por aí.
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homenagem
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o balé triádico da bauhaus
Balé Triádico: trinômio do quadrado perfeito, ou não...
Eduardo Pierrotti Rossetti
“Enquanto aqui embaixo a indefinição é o regime
E dançamos com uma graça cujo segredo
Nem eu mesmo sei
Entre a delícia e a desgraça
Entre o monstruoso e o sublime...”