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MANUAL DO
DE PERTO
PROFESSOR VOLUME ÚNICO
» MAURILIO ANDRADE ROCHA
Estudos Avançados em Ciências Musicais pela Universidade Nova de Lisboa (Portugal).
Pós-Doutor no Instituto de Etnomusicologia – Música e Dança da Universidade Nova de
ARTE
Lisboa (Portugal) e na Escola Superior de Teatro e Cinema do Instituto Politécnico de Lisboa
(Portugal). Professor do bacharelado e licenciatura em Teatro, do Mestrado Profissional em
Artes e do Mestrado Acadêmico e Doutorado em Artes da UFMG. Coordenador do PIBID –
Subprojeto Interartes na FAE/UFMG.
» RODRIGO VIVAS
Licenciado em História pela Universidade Federal de Ouro Preto. Mestre em História pela
UFMG. Doutor em História da Arte pela Unicamp. Professor do bacharelado em Artes Visuais,
Mestrado Acadêmico, Profissional e Doutorado da UFMG. Diretor do Centro Cultural UFMG e
curador independente.
DE PERTO
VOLUME ÚNICO
São Paulo • 1a edição • 2016
MANUAL DO
PROFESSOR
Arte de Perto – Volume Único
© 2016 Leya
Coordenação de produção
Nadiane Oliveira ISBN 978-85-451-0370-7 (aluno)
ISBN 978-85-451-0345-5 (professor)
Gerência de revisão
Miriam de Carvalho Abões
Revisão de texto
Vânia Cobiaco
Célia Sunahara
SEU LIVRO
vai acompanhá-lo durante o ano
letivo, vamos conhecê-lo?
ABERTURA DE UNIDADE
PREPARANDO AS TINTAS
E OS PINCÉIS
AFINANDO OS INSTRUMENTOS
FAZER ARTE
Momento de
RODA DE experimentação
CONVERSA prática dos conteúdos
Áudio tratados nos capítulos,
No início do capítulo,
com músicas, sons de conectando-os às
a seção “Roda de
instrumentos, ruídos. suas vivências lúdicas
conversa” visa explorar
e artísticas. Por
seus conhecimentos
Atividade oral meio de atividades
prévios e suas
para você se expressar interdisciplinares
opiniões a respeito
oralmente. ou interartes, revela
dos conteúdos a
possíveis conexões
serem abordados.
entre as diversas
práticas artísticas.
ARTE NO DIA A DIA GLOSSÁRIO
ENSAIO CORRIDO
Da mesma forma que nas Artes
Cênicas, os artistas passam um
ensaio rápido do início ao fim da
obra para relembrar o que já foi
aprendido. Esta seção é uma revisão
dos conteúdos abordados em cada
capítulo, servindo como preparação
para a “Roda de conversa” final.
RODA DE CONVERSA
ATIVIDADES
DE MÚLTIPLA PARA SABER
ESCOLHA MAIS
Zonas de contato, 12
§ Afinando os instrumentos, 12
§ Roda de conversa, 13
Disciplina Arte – seus campos artísticos
e suas zonas de contato, 14
§ Arte em diálogo – Arte e Matemática, 14
§ Arte no dia a dia, 16
Arte e experiência, 16
Música e imagem, 18
§ Fazer arte, 20
§ Ensaio corrido, 21
§ Roda de conversa, 21
10
ARTE:
CONHECIMENTO
E EXPERIÊNCIA
11
Conteúdos
A disciplina Arte e
ZONAS DE CONTATO
seus campos artísticos
(artes visuais, dança,
música e teatro)
Zonas de contato entre
os campos artísticos
Experiência
O objetivo da Introdução é levar o estudante a contextualizar, por meio da teoria, Bocas, quantas bocas
da prática e da fruição, a arte como uma área do conhecimento, que possui téc- A cidade vai abrir
nicas, procedimentos e formas específicas de se relacionar com o mundo. Além Pr’uma alma de artista se entregar
disso, os estudantes são apresentados a expressões de fronteira entre os campos Palmas pro artista confundir
artísticos, e entre a arte e outras áreas do conhecimento. Pernas pro artista tropeçar
Chico Buarque e Edu Lobo, “Na carreira”, do disco O grande circo místico, de 1983.
LEO AVERSA
Foto da remontagem de O grande circo místico, dirigida por João Fonseca, apresentada no Rio de Janeiro (RJ), em 2014. Em primeiro plano, está
o ator Fernando Eiras, representando o administrador do circo. A obra é composta de elementos da música, balé, circo, teatro, ópera e poesia. A
primeira estreia aconteceu em 1983, com o balé do Teatro Guaíra, em Curitiba (PR).
A disciplina Arte é composta por quatro campos artísticos: artes visuais, dança, música e teatro. Cada um
deles tem, ao mesmo tempo, sua especificidade e grandes zonas de contato, ou seja, espaços em que cada
campo interage com elementos de outras expressões artísticas.
A educação do futuro deverá ser o ensino primeiro e universal, centrado na condição humana.
Estamos na era planetária; uma aventura comum conduz os seres humanos, onde quer que se encon-
trem. Estes devem reconhecer-se em sua humanidade comum e ao mesmo tempo reconhecer a diversi-
dade cultural inerente a tudo que é humano. [...]
Disso decorre que, para a educação do futuro, é necessário promover grande remembramento dos
conhecimentos oriundos das ciências naturais, a fim de situar a condição humana no mundo, dos co-
nhecimentos derivados das ciências humanas, para colocar em evidência a multidimensionalidade e a
complexidade humanas, bem como para integrar (na educação do futuro) a contribuição inestimável das
humanidades, não somente a filosofia e a história, mas também a literatura, a poesia, as artes...
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo/Brasília, DF: Cortez/Unesco, 2000. p. 43-44.
Quem vive nesta segunda década do século XXI, pode afirmar que o futuro do qual fala Morin já chegou.
Por isso, essa integração das diversas áreas do conhecimento na escola é tão importante e é o que você irá
perceber ao longo do livro em relação à disciplina de Arte.
RODA DE CONVERSA
Responda às questões a seguir e, depois, discuta as respostas com os colegas:
1. Com qual dos quatro campos artísticos que compõem o componente curricular de Arte (artes vi-
suais, dança, música e teatro) você tem mais contato? Justifique a sua resposta.
1. Resposta pessoal. Estimule os estudantes a se lembrarem de suas experiências com artes visuais, dança, teatro ou mú-
sica tanto na escola quanto em igrejas, projetos socioculturais e até mesmo em casa ou com os colegas. Aliás, essas expe-
riências não se restringem ao “fazer arte”, pois a maioria dos estudantes escuta músicas ou assiste a filmes na televisão, por
exemplo.
Arte e Matemática
EDITORIA DE ARTE
1
visuais, dança, teatro e música) fosse tratado como um conjun-
ARTE
to, poderiam ser representados graficamente conforme figura 1.
Dança e teatro, se pensados dentro da teoria matemática
dos conjuntos, fazem parte do conjunto denominado “artes cê-
Teatro Dança
nicas”, que contém também o circo, a ópera e outras expressões
artísticas, como a performance, a intervenção urbana, que serão
aprofundadas na Unidade 3 (vide figura 2).
A ópera, por sua vez, está contida na interseção dos con-
juntos teatro e música. Observe:
EDITORIA DE ARTE
Música Artes visuais
Teatro Música
EDITORIA DE ARTE
2
ARTES CÊNICAS
Ilustração esquemática da interseção entre os campos teatro e música que gera uma
Performance Circo
outra forma de expressão artística, no caso a ópera.
Site specific: a expressão em inglês pode ser traduzida literalmente como “local específico”. Consiste em um movimento das
artes visuais iniciado na década de 1970 no qual uma obra é criada para um espaço específico em uma relação estreita entre
a arquitetura e outras características específicas desse espaço e a obra de arte. Também é uma característica presente em ou-
tras artes na contemporaneidade, principalmente nas artes cênicas.
de expressão. A música e a dança se relacionam na composição das imagens. A interpretação teatral colabora na expres-
sividade dos artistas envolvidos e em algumas situações ficcionais, uma vez que o videoclipe, muitas vezes, conta uma
história. As artes visuais estão presentes na produção dos cenários, na iluminação, no figurino, nos efeitos visuais etc.
Arte e experiência
“Experimentar” é uma palavra bastante utilizada no dia a dia, em diver-
sas situações. Experimenta-se uma comida, uma roupa, uma aula de dança
ou de arte marcial, um procedimento no laboratório. Nesse sentido, a expe-
riência parece estar muito ligada a fazer algo pela primeira vez, com a possi-
bilidade de gostar ou não (no caso de uma roupa ou uma determinada ativi-
dade) ou de dar certo ou não (no caso de um procedimento em laboratório).
A experiência, nos exemplos citados, também está intimamente relacionada
à prática.
No campo da filosofia e das artes, “experiência” é uma palavra sobre a
qual muitos estudiosos e artistas se debruçaram, tratando de compreender
a amplitude dos seus significados. O filósofo espanhol Jorge Larrosa (1958-)
tem uma forma de entender a experiência diferente da usada no dia a dia.
A palavra “canto”, usada por Larrosa, pode remeter aos cantos dos rap-
sodos, artistas que iam de cidade em cidade recitando poemas na Grécia
Antiga. Esses poemas falavam de guerras e de notícias distantes, bem como
da relação dos seres humanos entre si e com os deuses. Assim, podemos per-
ceber que, há muito tempo, as artes ocupam um lugar no qual há a possibi-
lidade de converter uma experiência em canto e fazê-lo ressoar em nossas
próprias experiências.
A experiência é algo que acontece com as pessoas e que pode ocorrer
quando se está lendo um livro, comendo, se divertindo com os amigos, em
um laboratório, fazendo ou fruindo de uma prática artística. Não há como prever
quando você será tocado por uma experiência, já que a experiência é algo
que nos acontece individualmente e pode ou não acontecer ao outro, mes-
mo que ele tenha estado presente no mesmo momento, no mesmo lugar.
Sendo assim, quando as artes são experimentadas e são apreendidas
suas técnicas e também seus procedimentos, estamos possibilitando que
aconteçam experiências estéticas. Em alguns momentos, as propostas prá-
ticas deste livro podem levar a uma experiência, a esse tremor transformado
em canto de que nos fala Larrosa. Em outros, podem levar a um envolvimen-
to prático com a materialidade artística. De qualquer forma, estudar Arte en-
volve praticar arte, assim como fruir da arte como espectador, e compreen-
der a arte em seu contexto histórico, artístico e social. Conhecendo sobre
arte e fruindo arte, também é possível ter experiências significativas, tanto
quanto praticando uma arte. Veja orientações na Assessoria Pedagógica.
Fotograma do videoclipe da canção “We got time”, do músico britânico Moray McLaren, dirigido por David Wilson.
David Wilson é diretor musical e artista inglês, que alcançou grande su-
cesso como criador de videoclipes produzidos para artistas como Lady Gaga
e os grupos Arctic Monkeys, Metronomy, Tame Impala, entre outros. Em suas
obras, ele cria imagens que misturam diversas técnicas visuais, tradicionais e
digitais, compondo uma crônica visual para as músicas e proporcionando uma
Projeto Sofar Sounds – som para pequenos “We got time“ para os estudantes.
ambientes
O projeto Sofar Sounds é formado por uma comunidade global de mú-
sicos independentes e apreciadores de apresentações ao vivo de música
popular e ocorre em mais de 190 cidades ao redor do mundo, inclusive no
Brasil. A sigla “Sofar” vem da abreviação de sound for a room que, em tradu-
ção livre, significa “som para pequenos ambientes”. Trata-se de apresenta-
ções de músicos ainda desconhecidos do grande público que acontecem
em residências ou pequenos ambientes como ateliês, galerias de arte, cafés.
Há três formas de participar do projeto: se apresentando como artista, assis-
tindo aos shows ou abrigando alguma edição do evento em sua casa ou es-
paço comercial. Os locais das apresentações e os artistas de cada edição são
revelados somente poucos dias antes da apresentação ao público seleciona-
do para cada edição, geralmente composto por cinquenta pessoas. As apre-
sentações são filmadas e gravadas em alta resolução, e ficam disponíveis no
canal do projeto na internet.
O projeto Sofar Sounds modificou a relação de copresença entre músi-
cos e plateia. Como as apresentações ocorrem em formatos intimistas, com
as pessoas próximas aos músicos, a plateia tem uma relação com os artistas
que não existe nos grandes eventos de música popular. Por outro lado, a dis-
ponibilização das gravações dos shows na internet faz essas apresentações
intimistas alcançarem multidões ao redor do mundo. Portanto, a experiên-
cia desse projeto pode ser múltipla: durante as apresentações, presencia-se
a parte artesanal do trabalho musical; na internet, participa-se de um evento
de divulgação musical em massa.
Disponível em: <www.sofarsounds.com>. Acesso em: 30 jan. 2016. Música popular: o termo música
Visite o site do projeto Sofar Sounds, escolha uma cidade entre as 190 que popular é usado em contraposi-
fazem parte dessa rede e assista a uma apresentação que já esteja disponível ção à música de concerto. Existem
online. Você fará um passeio sonoro ao redor do mundo, conferindo várias vertentes de música popular
apresentações musicais realizadas em diversas partes do planeta. como o jazz, o rap, o pop, o rock, o
samba etc.
melhor qualidade da foto (foco, luz); enquadramento da foto; cores; texturas, entre outros.
seu andamento, o timbre, a altura, entre outros. Mesmo que os estudantes não citem esses elementos técnicos da música,
que serão estudados ao longo deste livro, é possível que apareçam pares de adjetivos como forte/suave; intenso/relaxado;
rápido/lento, entre outros, para explicar as sensações que cada um sentiu com os vídeos apresentados.
6. O que você achou da experiência de assistir aos videoclipes editados com duas músicas diferen-
tes? O impacto das imagens mudou dependendo da música escolhida? Dê exemplos.
6. Resposta pessoal. O objetivo desta atividade é chamar a atenção para o fato de cada música ter o poder de mudar sig-
nificativamente a percepção das imagens. Caso a música seja composta com instrumentos de sonoridade suave, a per-
cepção é uma. Caso seja uma música com um andamento rápido, com o uso de muitos instrumentos de percussão,
Na Introdução foi apresentada, nas palavras de Edgar Morin, a ideia da educação do futuro, na qual “os
conhecimentos precisam ser remembrados”, ou seja, ordenados novamente de modo integrado para que
se possa compreender o ser humano e suas relações em todas as suas dimensões.
Partindo da teoria matemática de conjuntos, foram apresentados os campos artísticos da disciplina de Arte
(artes visuais, dança, música e teatro) e suas zonas de contato entre si e com outras áreas de conhecimento.
Conheceu-se o que Jorge Larrosa chama de “experiência”: algo que acontece a alguém individualmen-
te e que, algumas vezes, pode ser convertido em um “canto” que será capaz de tocar as experiências indi-
viduais de várias outras pessoas. A arte pode ser entendida como um canto de experiência capaz de res-
soar de maneira diferenciada em cada um que a vivencia.
RODA DE CONVERSA
§ Que contribuição a arte pode trazer para a compreensão do mundo, dos seres humanos e de
suas relações? Justifique sua resposta com elementos do que você já teve como experiência.
Resposta pessoal.
A música é considerada por muitos estudiosos como a arte do tempo, ao contrário das artes visuais –
como a escultura –, que são artes que existem no espaço. Isso se deve ao fato de a música ser uma arte que
precisa do passar do tempo para acontecer.
Toda música apresenta uma duração que pode ser medida, desde uma canção de três minutos, feita para
tocar no rádio, até uma sinfonia de uma hora, para ser executada em uma sala de concertos. Assim, para ouvir
uma música, precisamos de todo o tempo de sua duração.
Porém, além de considerar a música como uma arte da duração, é possível entendê-la também como uma
arte do espaço, como será estudado neste capítulo, ao tratar de ondas sonoras.
Som é vibração
Todo som vem de uma fonte sonora, que pode ser um instrumento
musical, a voz de uma pessoa, as máquinas, os fenômenos da natureza e
até o simples toque de um objeto em outro. O som é produzido a partir de
ALBERTO PASQUANTONIO
vibrações provenientes da fonte sonora e chegam ao cérebro humano por
meio da orelha. Além disso, o som que, junto ao silêncio, forma a “matéria-
-prima” da música precisa do espaço para se propagar desde sua fonte
geradora até às orelhas de quem o ouve.
O físico Heinrich Hertz (1857-1894) desenvolveu um modo de medir as vibrações produzidas por fontes
sonoras, em relação a determinada quantidade de tempo. Determinou-se que uma vibração por segundo seria
denominada 1 Hertz (1 Hz). O número de vibrações por segundo é a frequência do som. A partir daí foi possível
constatar que quanto maior o número de vibrações por segundo geradas pela fonte sonora, maior é a frequência
e mais agudo é o som que ouvimos. Inversamente, quanto menor o número de vibrações por segundo, menor é
a frequência e mais grave é o som que ouvimos. Foi possível também perceber que o sistema sensorial humano
não consegue registrar todos os sons que são produzidos. O limite inferior de vibrações por segundo que a
orelha humana é capaz de registrar é de 16 Hz e o limite superior está por volta de 20 000 Hz.
EDITORIA DE ARTE
Amplitude Alta frequência
EDITORIA DE ARTE
Amplitude Baixa frequência
YURIY_FX/ SHUTTERSTOCK
GEMPHOTOGRAPHY/ALAMY/LATINSTOCK
BOONROONG/ SHUTTERSTOCK
Foto de instrumentos musicais da mesma família, de tamanhos diferentes. Nos instrumentos de corda, a frequência das vibrações produzidas
depende do comprimento, da espessura e do tensionamento das cordas. Quanto mais curta, mais fina e mais esticada a corda, maior será a
frequência das vibrações e mais agudas serão as notas produzidas.
AUGUSTO DE CAMPOS
com Décio Pignatari, os criadores da poesia concreta
brasileira na década de 1950. A poesia concreta utiliza-se
de recursos visuais como o aproveitamento do espaço
da página para a formação de imagens por meio da
disposição das palavras, cores e de diferentes tipos de
letra, integrando o som, a visualidade e o sentido das
palavras.
Uma das principais características dessa poesia é a
exploração do aspecto sonoro dos vocábulos, como se
Reprodução do poema “O pulsar”, escrito por Augusto de Campos
percebe no poema “O pulsar”, de Augusto de Campos. em 1975.
Toda a canção foi feita utilizando-se notas de apenas três alturas diferentes: a mais aguda corresponde à letra E, que no poema
foi grafada com símbolo de estrela (); a nota mais grave corresponde à letra O, que no poema foi grafada com símbolo () e a
Esse poema foi transformado em música pelo cantor e compositor baiano Caetano Veloso e gra-
nota de altura intermediária soa quando se cantam as letras A ou U. Percebam que a palavra
vado no CD Velô, de 1984.
2 OCO pode ser lida também como ECO. (Símbolo que mescla bolinha e estrela, o que remete
Agora, leia o poema e ouça a gravação da canção na faixa 2 do CD de áudio. Perceba como a mú-
sica se relaciona com os aspectos sonoros dos vocábulos, através do uso de diferentes alturas.
às palavras eco e/ ou oco).
Música e Biologia
As ondas sonoras se propagam pelo ar e, ao entrar pelo pavilhão auricular, são direcionadas para interior
da orelha, onde chegarão ao tímpano, fazendo-o vibrar também. Essa vibração do tímpano aciona um
complexo mecanismo de transmissão de vibrações através de três ossos minúsculos da orelha média:
primeiro, o martelo; depois, a bigorna; e, por último, o estribo. Esses ossos, um a um, vão passando adiante as
vibrações recebidas. Já na orelha interna, as vibrações fazem o líquido do interior da cóclea, uma estrutura em
forma de caracol, se movimentar. Esse movimento estimula as terminações nervosas que ali se encontram e
que, por sua vez, levarão a mensagem captada até o cérebro, que a interpretará em forma de som.
ANGELO SHUMAN
Ossículos
Conduto
auditivo Cóclea
externo Nervo
Cavidade
timpânica
Janela do
Tuba vestíbulo
Membrana auditiva Janela da
timpânica cóclea
Representação esquemática de orelha
humana com componentes anatômicos
Orelha externa Orelha média Orelha interna responsáveis pela audição.
Melodia
A melodia é um fenômeno humano universal que remonta à pré-história; em suas origens, serviram-
-lhe de modelo a linguagem, o canto dos pássaros e outros sons animais, bem como o choro e as brin-
cadeiras infantis. [...]
As concepções a respeito do que seja música melodiosa estão em constante mudança na música ocidental;
por exemplo, quase todas as gerações criticam a falta de melodia na música produzida pela geração seguinte. [...]
Na música vocal, desde a época dos trovadores medievais, passando pelos compositores de canções do
final do Renascimento e os compositores operísticos do bel canto, a melodia sempre teve importância
capital, e assim permaneceu particularmente nos períodos clássico [1750-1810] e romântico [1810-1910],
tanto na música instrumental quanto vocal.
SADIE, Stanley (Ed.). Dicionário grove de música. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1994. p. 592.
Bel canto: expressão usada para se referir ao estilo vocal italiano dos séculos XVII a XIX, caracterizado pela busca da beleza das
vozes dos cantores e pela técnica de canto apurada.
Existe um jogo de sentidos entre a letra da canção e as variações de altura da melodia. Em alguns
momentos, a melodia é feita pela repetição de uma nota da mesma altura, e, em outros, há uma grande
variação nas alturas para a construção da melodia. Repare que há uma conexão entre as repetições ou
variações das alturas da melodia com o sentido da letra.
Identifique as frases em que a melodia é feita de notas de alturas repetidas e as frases em que
há variações. Para facilitar, utilize a numeração das frases. Pense em uma possível conexão en-
tre as repetições e variações na melodia e o sentido da letra e depois discuta os resultados ob-
tidos com os demais colegas e o professor.
A melodia das frases 1, 2, 3 e 4 foi construída por meio da repetição de uma nota da mesma altura. A variação dos acordes
responsáveis pela harmonia é que traz uma sensação de movimento sonoro. A letra apresenta o samba que foi feito de
uma nota só, conforme o nome da canção, e anuncia a entrada de outras notas. Nas frases 5 e 6, há uma mudança na altu-
ra da nota, acompanhada de um comentário da letra. Nas frases 7 e 8, a melodia retorna à nota inicial, variando apenas na
última sílaba. Até o final da oitava frase, notas de somente duas alturas diferentes foram utilizadas na melodia, em alusão
ao casal retratado na canção. Nas frases 9 a 14, há uma grande variação de alturas na melodia, em uma alusão ao grande
número de pessoas ou de notas musicais, que seriam sem significado para o cantor.
Nas frases 15 a 22, a melodia volta a ser construída com notas de somente duas alturas diferentes, remetendo novamente
ao casal retratado na canção e alertando para o risco de se variar muito, no amor e na música, e acabar sem nada.
Execute os sons registrados a seguir, emitindo sons graves ou agudos, de acordo com a represen-
tação. A leitura deve ser da esquerda para a direita. Lembre-se de que os sons graves estão represen-
tados por traços na parte inferior, e os agudos, na parte superior.
a. b.
EDITORIA DE ARTE
EDITORIA DE ARTE
Agora, com o professor, vocês poderão criar diversas combinações de sons em dois planos diferen-
tes de alturas.
Representem na lousa diversas combinações de sons, variando os planos de altura (graves e agudos).
Em seguida, executem as combinações por meio de vozes ou instrumentos musicais.
a) Uma nota grave, uma nota aguda, duas notas graves, duas notas agudas, uma nota grave, uma nota aguda e uma
nota grave. Os estudantes poderão executar os sons representados cantando ou tocando instrumentos que favoreçam
a audição dos contrastes de altura.
Neste capítulo, você verificou que é possível pensar a música, a arte do tempo, também como uma arte
do espaço. O som precisa do espaço para se propagar de sua fonte sonora até as orelhas e as diferentes
frequências que formam os sons provocam sensações de diferentes alturas: graves e agudas.
b) Duas notas graves, uma nota aguda, uma nota grave, uma nota aguda, uma nota grave e uma nota aguda.
RODA DE CONVERSA
Os sons podem ser classificados de acordo com suas alturas, ou seja, em graves ou agudos. A capacidade
de combinar sons de diferentes alturas faz parte da arte de fazer música.
Descreva a forma como os compositores ou grupos de que você gosta combinam as alturas dos sons
nas músicas. Traga exemplos de músicas para a sala de aula e troque suas impressões com os colegas.
Resposta pessoal. Auxilie os estudantes dando alguns exemplos. Por exemplo, no rap existe uma linha melódica grave fei-
ta pelo contrabaixo que dá o suporte rítmico, além de o canto ser próximo à fala e também em registros mais graves. Outro
exemplo são os solos de guitarra na música pop ou rock, que, normalmente, são em registros mais agudos. As possibilidades
são muitas; se necessário, comente como a combinação de alturas pode tornar contrastantes os exemplos apresentados.
TEMPO E ESPAÇO
nas artes cênicas
O cenário não deve falar a mesma linguagem que o ator. O cenário não pode ser da mesma
natureza que o ator. O cenário é instituído pelo ator e, como ele, sempre em movimento.
Jacques Copeau, cerca de 1915.
Foto de um ator da companhia Jogando no Quintal durante apresentação em Ribeirão Preto (SP). Foto de 22 de janeiro de 2016.
Observe como a plateia parece estar conectada ao palhaço da mesma forma que ele está se dirigindo ao público. Essa relação só é possível porque
artistas e público estão compartilhando o mesmo espaço e o mesmo tempo.
O teatro, o circo, a ópera, a dança e mesmo os shows ou concertos musicais, apesar de serem formas de
expressão diferentes, têm sempre alguma característica em comum. Para se assistir a apresentações artísticas
como essas, normalmente, as pessoas saem de suas casas e dirigem-se a um determinado lugar para estar na
presença dos artistas. Da mesma forma, os artistas se preparam durante muito tempo, ensaiam, pesquisam, es-
tudam e praticam suas habilidades para, no dia, horário e local estabelecidos, estarem na presença do público.
RODA DE CONVERSA
cada lugar, a divisão do espaço entre os artistas e o público e o comportamento das pessoas em cada local.
Com os colegas e o professor, conversem sobre os espaços onde ocorrem apresentações de teatro,
dança ou circo e a duração dessas apresentações e respondam às perguntas a seguir.
1. Vocês conhecem alguns desses espaços? Quais?
1. Resposta pessoal.
3. Como as pessoas se comportam nesses espaços? 3. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes percebam
as diferenças de comportamento em diferentes espaços. Em teatros fechados, as pessoas ficam em silêncio após o terceiro
sinal, que anuncia que o espetáculo vai começar. Como isso se dá em espaços abertos? Há uma diferença também entre o
público de teatro ou dança em espaços fechados e o público do circo na lona. Enquanto no teatro, principalmente em peças
dramáticas, espera-se silêncio da plateia até que o espetáculo termine, os artistas de circo pedem aplausos depois de um
grande feito e a interação entre artistas e público é mais constante. Nos shows de música, o público aplaude ao final de cada
música. Nos concertos clássicos, aplaude-se somente no final da execução completa da peça musical. O objetivo é introduzir
os estudantes nessas diferenças a partir de suas respostas pessoais.
4. Em que horário essas apresentações costumam ocorrer com mais frequência?
4. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes notem que o horário das apresentações é variável, ainda que seja mais co-
mum serem realizadas no período noturno. A hora de apresentar-se também influencia algumas das características da apre-
sentação, como iluminação e som. Caso o espetáculo seja feito em espaços abertos durante o dia, por exemplo, é muito difí-
cil contar com recursos de iluminação e, muitas vezes, é preciso que os atores usem microfones de lapela e sem fio para que
a voz possa ser ouvida. Além disso, o público presente pode variar: é comum que os teatros fechados reservem os horários
diurnos a obras voltadas ao público infantil.
5. Quais diferenças pode haver em uma mesma apresentação de dança, teatro ou circo feita durante
o dia em um espaço aberto e durante a noite em um espaço fechado? 5. Resposta pessoal. Em um teatro
fechado, as apresentações durante o dia ou durante a noite sofrem pouca alteração em seus aspectos técnicos (iluminação
e sonorização), pois o edifício teatral veda a luz externa e possui tratamento acústico. Nesses casos, o que costuma variar é o
público. Segundo a classificação etária do espetáculo, é comum que haja mais crianças durante o dia do que durante a noi-
te. Na rua, como vimos anteriormente, a iluminação varia muito se é de noite ou de dia. O público da rua é bem mais diverso
e seu comportamento é menos preestabelecido do que num espaço fechado. No teatro fechado, é comum que, atrás dos
ingressos, esteja impressa uma série de regras de comportamento, tais como não beber ou comer no teatro, manter-se em
silêncio etc.
O teatro, a dança, o circo e outras formas de artes cênicas podem acon- Disponível em: <www.
teatrodavertigem.com.br>.
tecer em diversos espaços. O mais comum é assistir a peças e coreografias
Acesso em: 26 out. 2015.
em casas de espetáculo com palco e plateia, e apresentações circenses em
Nos últimos anos, o grupo
lonas com picadeiro e arquibancadas. No entanto, também é possível pre- Teatro da Vertigem, da
senciar expressões de teatro, circo, dança ou performance nas ruas da cidade, cidade de São Paulo, tem
se destacado por montar
em praças, parques, restaurantes, entre outros locais.
espetáculos em lugares
não usuais, tais como:
Aurática: adjetivo formado a partir do substantivo aura. No caso específico do texto aci- igrejas, presídios e hospitais
ma, Dubatti refere-se ao conceito de aura da obra de arte discutido pelo filósofo alemão desativados, barcos no Rio
Walter Benjamim no início do século XX. Benjamim questionava as formas de repro- Tietê, entre outros lugares.
dução técnica das obras de arte como uma perda de sua aura. O filósofo alemão usa o Para conhecer mais sobre
exemplo do cinema, surgido no início do século XX, em relação ao teatro para discutir a a história do grupo, além
aura de uma obra de arte. No teatro, para Benjamim, a obra de arte teria aura, pois seria de visualizar fotos e
produzida artesanalmente pelos atores diante do público. Já no cinema, Benjamim con- vídeos curtos de alguns
sidera que a arte teria perdido sua aura, pois seria fruto de uma reprodução técnica de espetáculos, visite o
uma arte aurática anterior, neste caso o teatro. O próprio filósofo, posteriormente, questio- site da companhia.
nou essa divisão categórica entre a aura da obra de arte e sua reprodutibilidade técnica.
O ator é movido para fora de seu contexto habitual de signos artificiais e é colocado no centro de
uma cena real para desenvolver a história. Já o espectador deixa a habitual sujeição e anonimato que co-
mumente encontra no teatro e passa a ter um papel ativo e pessoal durante toda a performance.
UMPIERREZ, Matías. TeatroSOLO. Disponível em: <www.teatrosolo.com.ar/pt/>. Acesso em: 24 out. 2015.
Palco Plateia
Foto do interior do Teatro Colón, Buenos Aires, Argentina. Esse teatro entrou em um processo de restauração em 2006, concluído em maio de
2010, ano em que foi reaberto ao público.
Nessa planta, é possível observar que a parte central está destinada ao público com as poltronas organi-
zadas de modo que todos consigam ver o palco. O palco é um retângulo amplo, separado da plateia. A forma
como está distribuído o espaço nessa planta evidencia que artistas e público estão distantes e claramente se-
parados, o que não costuma acontecer tão explicitamente em outros espaços como a rua ou aqueles escolhi-
dos por Umpierrez em seu TeatroSOLO.
Não adianta fingir que não sente. Gente sente tudo, se envolve com tudo! Sou eu que estou pedindo
isso. Façam isso por mim. Por mim! Por mim! Por mim! (Agora para os quatro atores). Por mim! Isso
também vale para vocês. Não se envolvam tanto! Escutem, vocês podem estar pensando que o que eu
estou falando agora, nesse momento, foi memorizado antes também, mas agora, não... nesse momento
eu juro que não, agora sou “eu” que estou falando: “eu”!, “eu!”, “eu!”.
PASSÔ, Grace. Por Elise. Belo Horizonte: Grace Passô, 2005. p. 40.
No trecho acima, é possível perceber que a personagem olha e fala direta- A leitura da peça Por Elise, de Grace
Passô, 2005, pode ser útil para am-
mente com o público e confunde propositalmente ficção e realidade: o tempo e
pliar as referências no gênero dra-
o espaço da história contada e o tempo e o espaço do encontro real com o es- mático, bem como para expandir as
pectador. Nesse exemplo, o público pode ficar em dúvida se a atriz está dizendo informações e comentários trazidos
neste capítulo.
realmente suas próprias palavras ou as palavras da personagem da peça memo-
rizadas previamente. No caso da peça Por Elise, a atriz que interpretou esse papel
era a dramaturga da peça. Para o público que tinha essa informação previamente,
o jogo entre realidade e ficção se tornou ainda mais curioso.
Na foto ao lado, é possível ob-
As personagens não agem para imitar os caracteres, mas adquirem os caracteres graças às ações.
Serão abordadas as distinções entre gênero dramático, épico e lírico para contextualizar o
Aristóteles, Arte poética.
tipo de texto da peça Por Elise e vocabulários técnicos como monólogo e rubrica.
Na Antiguidade clássica, Aristóteles em sua obra intitulada Arte poética organizou a produção literária
seguindo como critérios a forma e o conteúdo.
Assim, os gêneros literários abarcam um conjunto de obras literárias com características semelhantes e
que foram classificadas em grandes categorias: gênero dramático, gênero épico (ou narrativo) e, poste-
riormente, gênero lírico.
No gênero épico ou narrativo, muitas vezes, há a presença de um narrador responsável por contar a
história de um herói. Nele, há a predominância do uso da terceira pessoa. Exemplo:
Coisas extraordinárias aconteceram naquele verão de 1950. Cojinoba Lañas se declarou por
primeira vez a uma garota – a ruiva Seminauel – e ela, para surpresa de todo Miraf lores, disse
que sim.
LLOSA, Mario Vargas. Travessuras da menina má. Ari Roitman e Paulina Wacht (Trad.). Rio de Janeiro: Objetiva, 2006. p. 6.
No gênero lírico, há maior presença da função poética da linguagem e da musicalidade das palavras.
Há também uma predominância do uso da primeira pessoa e da expressão de sentimentos e sensações.
Exemplo: O trecho em prosa presente nesta página é de um livro que mistura ficção com dados autobiográficos do autor.
Cojinoba Lañas é o nome de um personagem. Seminauel e Miraflores são bairros de Lima, capital peruana. Se sur-
gir a dúvida, explique isso aos estudantes.
Batata quente
Os textos dramáticos são aqueles criados para a representação teatral. Os atores contam uma história por
meio da ação dos seus personagens, através de monólogos – cena ou texto no qual há apenas um ator que
fala ao público ou consigo mesmo – ou diálogos – cena ou texto no qual há mais de um ator em cena.
Os fragmentos de texto dramático citados, anteriormente, da obra Por Elise são da primeira parte da
peça, em que a personagem Dona de Casa fala diretamente ao público. Em destaque, no primeiro frag-
mento citado, é possível observar uma indicação da movimentação da atriz: “(Agora para os quatro
atores)”. Essas indicações são usadas pelos dramaturgos para orientar a leitura da peça e a encenação,
mas não devem ser ditas pelos atores. O nome técnico dessas intervenções é rubrica. No caso citado, a
rubrica indica que a atriz deve, em determinado momento, parar de direcionar seu texto ao público, e falar
com os demais atores que estão em cena. Ainda assim, as rubricas são orientações que podem ou não ser
seguidas pelos atores, dependendo das propostas de cada encenação de um texto teatral.
Como já foi comentado anteriormente, nas artes cênicas, as formas de Audiodescrição: narração integra-
se apresentar, a relação dos artistas com a plateia, os espaços de encenação e da ao espetáculo teatral conten-
do descrições de sons e elemen-
o tempo de duração das apresentações podem variar bastante. Outro exem-
tos visuais que sejam importantes
plo interessante é o das apresentações da Cia. Las Brujas de teatro, um grupo à melhor compreensão do espetá-
de teatro de Porto Alegre que contempla audiodescrição e Libras em suas culo por pessoas com deficiência
visual.
apresentações teatrais.
O primeiro trabalho da companhia foi um espetáculo para crianças cha-
mado Filó de Bolso – A menina do cabelo vermelho, que aborda o tema das dife-
Disponível em: <http://
renças socioculturais. Buscando uma “arte para todo mundo”, como descrevem lasbrujasciadeteatro.
seu trabalho no blog da Companhia, as artistas começaram a investigar a audio- blogspot.com.br/p/
historico-do-grupo.html>.
descrição e a linguagem de sinais como formas de atingir um público compos-
Acesso em: 3 nov. 2015.
to também por pessoas que não enxergam ou que não ouvem. Essa prática, tão
O blog da Cia. Las Brujas
importante para aumentar o acesso de pessoas com deficiência às produções de teatro possui diversas
artísticas disponíveis, amplia os tempos e os espaços do teatro, fazendo-o che- informações sobre as
montagens teatrais da
gar a um público cada vez maior e mais diverso. Observe a foto a seguir e iden- companhia, com fotos e
tifique em que tipos de espaço acontece a apresentação do grupo Las Brujas. vídeos das apresentações.
RENATA IBIS/ CIA. LAS BRUJAS DE TEATRO
1. O que cada espaço trouxe de diferente a cada uma das ações? Descreva pelo menos uma diferen-
ça de cada lugar visitado.
1. Espera-se que os estudantes observem que os espaços nunca são neutros em uma ação artística. Eles têm características
específicas que se relacionam com as ações artísticas propostas. É diferente fazer uma roda ao redor de uma pedra ou de
uma árvore. Da mesma forma, é diferente, para quem vê, ver um texto ou ação em frente a uma parede branca ou grafi-
tada. Se possível, leve os estudantes a identificar os elementos de cada espaço e como eles se relacionaram com as ações.
2. Antes de registrarem as respostas, é importante que os estudantes conversem sobre cada uma das ações, que saibam des-
crevê-las e relacioná-las aos espaços escolhidos. A arte tem como característica evidenciar aspectos cotidianos, dando-lhes
uma nova moldura e provocando novos olhares. Sendo assim, chame a atenção dos estudante para os aspectos espaciais
destacados por cada ação. Nesse momento, é possível que apareçam histórias ou outros tipos de leitura sobres as ações.
Aceite-as e discuta-as sem pretender chegar a uma interpretação única das ações experimentadas. Independentemente
de qual foi o objetivo do grupo ao realizar uma ação em um determinado espaço, o espectador é livre para ter sua própria
experiência e interpretação sobre o que viu.
2. Depois de assistir às apresentações dos outros grupos, escreva em uma folha de papel avulsa
um texto sobre uma das ações feitas que modificaram a forma de você perceber cada espaço
escolhido.
Foto de pessoas assistindo a acrobacias em tecido no Circo da Cultura, na Universidade de Passo Fundo
(UPF), que teve apresentações de música, dança e circo. Foto de 22 de agosto de 2011, Passo Fundo (RS).
O tempo no circo também é um elemento muito importante, pois essa arte se baseia fortemente na tra-
dição dos números circenses, breves apresentações de habilidades físicas, envolvendo equilíbrio, elasticidade,
saltos etc.; números de mágica; gags (rotinas cômicas) de palhaço e outros. Os números circenses tradicionais
são passados de geração para geração, tendo uma origem distante no tempo que se faz presente no espaço
do picadeiro a cada nova apresentação.
Sobre a história do circo, é muito difícil precisar a data e origem dos espetáculos. No livro O circo no Brasil,
de Antônio Torres (1940-), encontram-se algumas hipóteses para esse surgimento:
Há registros de que o circo tem suas raízes nos hipódromos da Grécia antiga e no grande Império
egípcio, onde já havia a doma de animais. [...] Diversos números circenses faziam parte das Olimpíadas –
diz a pesquisadora Alice Viveiros de Castro, para quem a arte circense é uma arte de superação, com uma
relação muito forte com o esporte. [...] Os chineses têm outra versão, que complica tudo: foi na China
que tudo começou. E com a arte acrobática, tão antiga quanto a sua música, a sua dança e o seu teatro.
TORRES, Antônio. Colaboração: Alice Viveiros de Castro e Márcio Carrilho. O circo no Brasil. Rio de Janeiro: FUNARTE; São Paulo: Atração, 1998. p. 13-15.
NUANZ/ SHUTTERSTOCK
Omar Eliott, diretora da Escola Nacional de Circo, no Rio de Janeiro, na mes-
ma época da escrita do livro (1998). Leia a resposta de Omar Elliot:
Bufão: personagem cômico e provocador existente na tradição do circo e do teatro popular desde suas origens greco-romanas.
Mito utópico: no texto de Leo Bassi, pode ser entendido como uma narrativa lendária, um lugar (que não existe) onde as pessoas
são iguais e vivem em harmonia. Para Bassi, o circo poderia ocupar este lugar lendário e utópico devido à sua força e tradição.
Artistas do Circo Teatro Artetude no espetáculo Brincadeiras de circo, rico em elementos como canções populares, jogos acrobáticos, mágicas,
brincadeiras de roda, equilibrismo, malabarismo e outros números circenses. Foto de 24 de junho de 2012, Brasília.
No trecho a seguir, o artista circense e professor da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia (UFBA),
Fábio Dal Gallo, fala sobre o circo social. Surgido no Brasil, o circo social está presente também em outros países
e contribui para a educação de crianças e jovens por meio das artes circenses, promovendo um reconhecimen-
to das possibilidades e capacidades dos estudantes no desenvolvimento da cultura e da cidadania:
Atualmente, após mais de duas décadas de existência e experiências, o Circo Social ocupa um
lugar de destaque não apenas no que se refere à atividade artista circense, mas também em relação
à utilização da arte em âmbito da educação não formal. [...]
O Circo Social, que como termo e como experiência sistematizada surgiu no Brasil, está presente
hoje no mundo todo, despertando de maneira crescente o interesse de diferentes instituições que de-
senvolvem o fazer pedagógico através da arte. Na prática, o Circo Social atua por meio de cursos de
técnicas circenses articulados com um conjunto de atividades complementares que envolvem cursos
de outras áreas artísticas e profissões da área cultural, como figurinista, técnico de som, além de um
acompanhamento pedagógico dos alunos que visa à permanência no sistema formal de ensino e ao au-
mento do rendimento do educando; existe, como elemento de destaque de sua prática pedagógica, a
criação de espetáculos e montagens didáticas, que, em muitos casos, são inseridas no mercado cultural.
GALLO, Fábio Dal. O cotidiano no espetáculo de Circo Social.
In: Lamparina – Revista de Ensino de Teatro. v. 1, n. 5, novembro (2014).
Belo Horizonte: Escola de Belas Artes da UFMG, 2014. p. 72.
Foto de jovem andando em um monociclo no Circo-Escola Benjamim de Oliveira, no bairro Venda Velha, em São João de Meriti (RJ). O Circo-
-Escola Benjamim de Oliveira representou o Brasil na 2ª- edição do Circomondo, festival internacional de Circo Social, em 2015, na Itália.
Foto de 18 de junho de 2015.
Após a leitura do boxe, responda:
§ Como o circo social pode ajudar no desenvolvimento da cidadania e da educação de jovens e
crianças? O circo social visa à permanência das crianças e jovens no ensino formal, além de possibilitar uma formação
técnica nas diversas áreas profissionais do circo, o que pode vir a se tornar uma profissão.
Foto de apresentação do espetáculo de dança A vida começa pela memória, da Cia. de Intérpretes Independentes, de Manaus (AM). Foto de
divulgação para as apresentações de 20 e 21 de março de 2015, na Fundação Curro Velho e no Teatro Waldemar Henrique, em Belém (PA). Observe
a rede de pesca que compõe o cenário e a relação que os artistas estabelecem com esse elemento por meio do movimento coreografado.
Em casa, procure nos álbuns de fotografia, em um computador, aparelho de celular ou até mesmo nas
redes sociais três imagens de momentos que você considera importantes na sua vida. A ideia é que essas
fotos do passado lhe inspirem lembranças marcantes. Separe essas imagens ou tire uma cópia para mos-
trá-las aos colegas da turma.
A partir das fotografias selecionadas, associe uma emoção ou sensação a cada uma das imagens, por
exemplo, alegria, tristeza, raiva, dor, medo, tensão, dúvida etc. Lembre-se do conceito de memória corporal
que é explorado no espetáculo A vida começa pela memória. Busque resgatar as emoções e as sensações cor-
porais associadas a cada um desses momentos e transformá-las em movimentos com o seu corpo.
Sem mencionar para seus colegas qual emoção ou sensação você escolheu para cada imagem, ex-
presse-as fazendo apenas movimentos corporais.
Para finalizar, organize os três movimentos em uma sequência e repita-os até que você a memorize,
como em uma coreografia.
Combinem uma ordem de apresentação e, quando for a sua vez, faça a sua sequência para os cole-
gas, pedindo a eles que relacionem cada movimento a uma das imagens apresentadas. Assim, você po-
derá compartilhar com seus colegas memórias de sua vida por meio de imagens e da expressão corporal.
Veja orientações na Assessoria Pedagógica.
DANIELA NADER
Foto de apresentação de cavalo-marinho na zona da mata (norte de Pernambuco e sul da Paraíba), que acontece no período entre julho e janeiro,
com destaque para os dias de Natal, ano-novo e dia de Reis. Foto de 2014. O cavalo-marinho e outras manifestações, como o maracatu e o frevo,
são considerados patrimônios culturais imateriais do Brasil.
Tradicionalmente praticado por homens, o cavalo-marinho acontece no período natalino ou no ciclo na-
talino (que começa no início de dezembro e termina em 6 de janeiro, no dia de Reis) e retrata o cotidiano dos
trabalhadores nos engenhos de cana-de-açúcar. Os movimentos que acontecem durante a apresentação se
assemelham às ações físicas realizadas durante o trabalho nos engenhos de cana-de-açúcar. Leia a seguir o
trecho de uma entrevista do mestre do cavalo-marinho Inácio Lucindo, na qual foram mantidas as caracterís-
ticas de sua forma de falar.
Foto de apresentação de cavalo-marinho Estrela de Ouro, do Mestre Aguinaldo, de Pernambuco. Aguinaldo Roberto (1966-), no centro da imagem,
é artista popular, dançarino e tocador, brinca de cavalo-marinho e maracatu rural desde os 12 anos de idade.
Muitas são as expressões da cultura popular que acontecem em forma de ritual. É comum a associação
da palavra ritual às cerimônias religiosas, mas são várias as definições dessa palavra. Vivemos pequenos rituais
nas práticas diárias ao repetirmos certas formas de agir. E, quando se fala da cultura popular, é necessário lem-
brar que muitas das danças que conhecemos nasceram das relações do ser humano com os seus afazeres diá-
rios e, por isso, quando se associa uma dança a um ritual, é preciso lembrar que os movimentos, o tempo de
duração, e os símbolos utilizados no palco pelos intérpretes, sintetizam as etapas do ritual com o qual aquela
dança está associada. Também é importante lembrar que, na contemporaneidade, rituais tradicionais servem
de inspiração para a criação de movimentos, coreografias e espetáculos de grupos artísticos que levam ao
palco suas versões condensadas, mas que ainda acontecem, em forma de ritual, nas diversas partes do país.
2. Em que época do ano essa manifestação popular acontece e qual o tempo de duração?
2. Resposta pessoal. Exemplos: Frevo em fevereiro ou março (durante o Carnaval); Boi-bumbá no mês de junho etc.
3. Pesquise grupos de dança que tenham criado coreografias e/ou espetáculos inspirados nessa ex-
pressão da cultura popular.
3. Resposta pessoal. Exemplos: O “Balé Popular do Recife” (PE) pesquisou sobre as tradições populares do Nordeste bra-
sileiro; o “Balé Folclórico da Bahia”, sobre as tradições afro-brasileiras; o “Grupo Corpo” (MG) montou coreografias inspira-
Neste capítulo, foi possível conhecer, experimentar e refletir sobre diversas formas de relação das ar-
tes cênicas com o tempo e com o espaço. Foi possível observar como o espaço é fundamental para o
teatro e para a dança, e como cada espaço determina ou influencia tanto o processo criativo dos artistas,
quanto a fruição do público. Também se observou como o tempo nas artes cênicas é diferente do tempo
da vida cotidiana, bem como do tempo ritualístico. As mesmas expressões da cultura popular que duram
noites inteiras nas comunidades onde são realizadas podem ser condensadas em minutos de apresenta-
ções realizadas nos palcos.
RODA DE CONVERSA
Agora que vocês já experimentaram, conheceram e pensaram sobre as relações entre espaço e
tempo nas artes cênicas, vocês vão refletir sobre as diferenças entre o teatro, a dança, o circo, a televi-
são, o cinema e a internet. Este tema será retomado e aprofundado no capítulo 21.
trastando-a à experiência mediada pela televisão, internet ou cinema. Entre essas diferenças, está a existência de uma mes-
ma coordenada espaço temporal, no caso das artes cênicas ao vivo, diferentemente da experiência produzida pela tele-
visão, cinema ou internet. Quando os estudantes assistem a uma novela, por exemplo, os atores não estão presentes no
mesmo espaço e o telespectador assiste a algo gravado. Mesmo quando a gravação é ao vivo, como acontece em alguns
programas de televisão, o telespectador não está na presença dos artistas. Não se trata de fazer um juízo de valor sobre o
que é melhor ou pior, o importante é ser consciente das diferenças e, assim, entender melhor o funcionamento de cada arte
TEMPO, ESPAÇO
do espaço, tempo
e movimento
E MOVIMENTO
O material mental específico do escultor consiste em ideias cinestésicas, às quais ele dá expressão
transformando-as com as mãos em material concreto. A projeção visual dessa representação, quando feita, propor-
ciona ao espectador uma ideia unificada da forma do objeto. Alcançar esse fim é o verdadeiro problema do escultor.
O “cinestésicas” se refere às ideias que indicam sensações de movimento, e nesse caso, aos movimentos realizados Adolf Hildebrand, 1907.
pelos olhos para apreensão da forma.
Formas únicas da continuidade no espaço, escultura em bronze, de Umberto Boccioni, 1913. Dimensões: 117,5 cm × 87,6 cm × 36,8 cm.
A obra é considerada um símbolo dos ideais futuristas. Observe como as diferentes dobras simulam velocidade e movimento ao redor da figura.
RODA DE CONVERSA
1. Para você, o que é uma escultura? Como você imagina que ela é feita?
1. Resposta pessoal. É possível que os estudantes entendam escultura como o “resultado do processo de esculpir”. Em sen-
tido ampliado, a escultura caracteriza formas visuais compostas por meio de volumes ou relevos, que podem ser originadas
a partir do entalhe ou da modelagem. O entalhe pode ser realizado diretamente sobre a pedra, madeira etc. A modelagem
trabalha com materiais de fácil manuseio e também podem ser utilizados como molde para outras esculturas.
2. Descreva alguma escultura ou monumento que esteja em algum local público ou museu. O que
mais chamou sua atenção nessa obra?
2. Resposta pessoal. Se necessário, solicite uma pesquisa prévia antes de propor essa atividade. Oriente os estudantes a des-
creverem a escultura fornecendo informações como: título, material, nome do artista, ano em que foi feita, tamanho, onde
está exposta, o que representa, motivo da escolha da escultura etc. Leve-os a refletir também sobre o fato de que muitos
monumentos pelos quais eles passam diariamente são esculturas.
3. Observe novamente a escultura de Boccioni, no início deste capítulo: o que chama atenção na sua
visualidade? Que história você imagina para essa escultura? 3. Resposta pessoal. Oriente os estudantes a ob-
servarem atentamente a imagem, pensando em sua estrutura, no seu material e no tipo de movimentação sugerida por ela.
ESAG
GLOW IM
ser muito expressivos. Além das obras históricas, é possível encontrar inúmeras
CHIVE/
AGES AR
esculturas que tiveram como tema a mitologia grega. O artista italiano Gian
ART IM
Lorenzo Bernini (1598-1680), por exemplo, representou, entre 1622 e 1625, o
mito de Apolo e Dafne. Observe, nas imagens ao lado, que os dois personagens
dão a impressão de correr e quase voar próximos a um casco de árvore. Os movi-
mentos dos corpos se aproximam aos de uma dança. Da mesma forma, pode-se
imaginar como cada gesto dessa “dança” sugerida pela escultura poderia estar
articulado a um som musical. Os corpos e os cabelos se movimentam como se o
vento exercesse muita força sobre os personagens. Observe que quase todos os
elementos da escultura sugerem movimento; tudo é ação e inquietação. Fotos de dois pontos de vista
diferentes da escultura Apolo
Na possibilidade de visualizar a própria escultura, o visitante de um mu-
e Dafne, feita de mármore, de
seu também é convidado, de certa forma, a agir, movimentando-se ao redor Gian Lorenzo Bernini, 1622-1625.
da obra para contemplar o todo e perceber a delicadeza de cada detalhe Dimensão: 243 cm (altura).
que a constrói. No mito grego que inspirou a criação da escultura, Dafne, ao
ser tocada pelo deus Apolo, transforma-se em árvore.
Nas fotografias ao lado, observa-se a mesma escultura sob ângulos di-
ferentes. Perceba a diferença que essa mudança na posição de observação
revela. Na fotografia acima é possível notar mais claramente a ação de Apolo,
que envolve sua amada pelo braço. As mãos de Dafne se transformam em
galhos, e as pernas, em troncos. O observador da escultura pode completar
ALINARI/ ART RESOURCE, NY.
Fique de pé, com os dois pés apoiados no chão, deixando o peso Objetivo
do corpo bem distribuído entre as pernas, a coluna ereta e os braços Facilitar a compreensão
do movimento proposto
estendidos ao longo do corpo. pela escultura Adão por
Perceba como o seu corpo está no espaço e como está o peso meio da reprodução
de seu posicionamento
de cada parte do corpo.
com o próprio corpo.
Agora, reproduza a mesma posição da escultura de Rodin e ob-
serve o que mudou.
Ao tentar reproduzir a posição da escultura, perceba que essa posição não é muito confortável e
que o peso do corpo não consegue ser dividido igualmente entre as duas pernas, pois, mesmo que
a perna esquerda esteja totalmente estendida e apoiada no chão, ela não produz um possível relaxa-
mento para a perna direita. O movimento do ombro, dos braços, das mãos esquerda e direita (atente
para o posicionamento de cada um dos dedos das mãos) e da cabeça também exige um posiciona-
mento que tampouco é confortável. A observação dessa escultura permite imaginar o desdobramento
de várias cenas em ação, em que o olhar aguarda pelo próximo instante de articulação do personagem.
Veja orientações na Assessoria Pedagógica.
Foto do ator e mímico Étienne Decroux lecionando na Universidade de Baylor, no Texas (EUA).
Foto de 1º- de maio de 1958. Observe a postura corporal dos artistas, indicando movimento.
MULHERES
Elas participaram indiretamente do
conflito, fornecendo alimentos e
informações aos cabanos. Nas aldeias,
ocupavam-se de tarefas associadas ao
cultivo e ao preparo de alimentos.
Neste capítulo, foram abordadas esculturas que lidam com a representação do movimento de formas
humanas ou da natureza por meio da tridimensionalidade. A escultura não se relaciona somente a uma
temática, podendo surgir em contextos religiosos, dentro de igrejas e templos; em contextos históricos,
como registro de um evento importante; e ocupando espaços públicos ou museus.
RODA DE CONVERSA
Agora que você já estudou alguns aspectos das esculturas, converse com os colegas e o professor
sobre os diferentes lugares onde elas podem ser encontradas.
§ Quais as relações estabelecidas entre observador e escultura quando se está em um espaço am-
plo (como uma praça ou um parque) ou em uma sala fechada (como um museu)?
Oriente os estudantes a pensar em como a escultura, quando exposta em determinado local – seja ele interno ou externo –,
estabelece diferentes relações com o observador e com o seu entorno. Leve-os a refletir também sobre como esse ambiente
ao redor da escultura também é capaz de influenciar a percepção do observador.
Escultura: Tempo, Espaço e Movimento | CAPÍTULO 3 65
4
IMAGEM EM Conteúdo
A fotografia e o
MOVIMENTO
início do cinema
As fotografias de Marey, como os produtos de seu método gráfico, foram desenvolvidos para capturar aspec-
tos da realidade que não podem ser percebidos com os olhos nus. Como signos do invisível inscrito nelas mesmas,
elas marcam, no século XX, o começo da incursão dentro do invisível.
Marta Braun. The Photographic Work of E. J. Marey. 1983.
MAREY/ REPRODUÇÃO
O voo dos pássaros, estudo realizado por Étienne-Jules Marey, na França, em 1882. É possível observar na foto várias fases do movimento do pelicano.
Este capítulo explorará o universo das imagens em movimento e a forma como a fotografia possibilitou o
surgimento do cinema. Antes da invenção das câmeras filmadoras, pesquisadores das mais diferentes áreas
buscaram concretizar a ideia de movimento a partir da sequência de imagens. O fisiologista Étienne-Jules
Marey (1830-1904) inventou um mecanismo – o fuzil cronofotográfico – capaz de captar vários movimentos
em uma única imagem, como a figura acima, que representa seis estágios do voo de um pelicano, captada
pela técnica desenvolvida por Marey.
A origem do cinema só foi possível devido à invenção da fotografia por volta de 1843. A fotografia permitiu a
captação de imagens, como se congelasse aquilo que estava em frente às lentes. Para chegar ao cinema, contudo,
houve a transformação de uma captura de movimento estática (fotografia) para o registro de um movimento con-
tínuo (cinema). A seguir, será possível compreender como a fotografia foi gradualmente dando origem ao cinema.
LE MOUVEMENT/ REPRODUÇÃO
momentos em sequência .
RODA DE CONVERSA
Veja orientações na Assessoria Pedagógica.
Com relação às experiências da fotografia e do cinema, converse com os colegas sobre as seguin-
1. Resposta pessoal. Oriente os estudantes a informarem os dados básicos do filme assistido: título, ano de produ-
tes questões: ção, nome do diretor, além de alguns aspectos básicos sobre a narrativa.
1. Qual foi o último filme a que você assistiu? Faça um resumo em uma folha de papel avulsa, contan-
do em poucas linhas do que trata o filme e qual sua opinião a respeito dele.
2. Onde você assistiu a esse filme: em casa ou no cinema?
2. O objetivo dessa pergunta é saber se os estudantes reconhecem a experiência de ir ao cinema como algo distinto do filme
assistido em casa. É também importante conhecer a relação que eles estabelecem com a cultura cinematográfica ao busca-
rem informações sobre novos filmes, atores, cineastas etc.
4. Na sua opinião, é possível contar uma história utilizando apenas fotografias? Justifique sua resposta.
4. Resposta pessoal. O objetivo dessa pergunta é saber o que os estudantes consideram como essencial para a construção
de uma narrativa, cenas em ação ou capturas pontuais de uma cena, que, apesar de oferecer a ideia de uma ação ou de um
gesto específico, está congelada. Faça-os refletir sobre as possibilidades oferecidas por uma imagem no que diz respeito à
construção de uma história.
Durante o compartilhamento das preferências cinematográficas, fique atento a comentários desrespeitosos e precon-
ceituosos. Caso ocorra alguma situação de conflito, explique que a conversa não tem como objetivo encontrar respostas
“certas” ou “erradas”. Imagem em Movimento | CAPÍTULO 4 67
Desenhando com luz
De origem grega, a palavra fotografia significa “desenhar com luz”: [fós] (“luz”),
e [grafis] (“estilo”, “pincel”). Pode ser resumida, portanto, como a técnica de
captação de imagens por meio da exposição de materiais sensíveis à luz.
A origem da fotografia dependeu de inúmeras descobertas anteriores, mas
convencionou situar sua “invenção” no século XIX. A câmera escura possui
uma importância fundamental no desenvolvimento da fotografia, mas não
é possível saber ao certo quem a inventou, sendo atribuída tanto ao filósofo
grego Aristóteles (384-322 a.C.) quanto ao chinês Mo Tzu (século V a.C.).
Por alguns séculos, o conhecimento da câmera escura ficou reservado
ao oriente. Ibn al Haitam – um estudioso árabe – observa, em princípios do sé-
culo XI, um eclipse solar com a câmara escura. Com o decorrer dos séculos, a
prática se difunde pela Europa. No século XIV, a câmara escura passou a ser
utilizada como auxílio na elaboração de trabalhos de desenho e pintura, ten-
do em vista sua capacidade de aproximar objetos distantes mantendo sua
proporção real.
Além dos artistas italianos, como Leonardo da Vinci, artistas holandeses
também fizeram uso da câmera escura para conseguir maior realismo e rique-
za de detalhes em suas obras. Os artistas holandeses do século XVII contaram
com dois modelos de câmera escura: uma imóvel e outra em menor formato.
Na câmera escura imóvel, uma lente era fixada a uma parede de um
quarto ou sala escura. A lente, com o efeito da luz, tinha a capacidade de pro-
jetar a imagem do modelo na tela situada na parte interna da câmera escura.
Assim, bastava o artista utilizar a imagem projetada para a realização da sua
pintura. É importante esclarecer que a imagem era projetada invertida. Existia,
também, uma outra versão de câmera escura, que era menor e poderia ser
transportada sem maiores problemas.
Giovanni Baptista della Porta (1541-1615), cientista proveniente da cidade
de Porta, Itália, publicou em 1558 a obra Magiae Naturallis. Dentre a varieda-
de de temas abordados pelo autor, caso das amplas descrições sobre espe-
lhos, lentes, ele se refere também a possibilidade de obtenção de imagens
por meio do uso da câmera escura.
A câmera escura é como uma caixa constituída por paredes escuras e
opacas que, exceto por um pequeno orifício em uma das paredes, é total-
mente fechada. Essa abertura é o que permite a entrada de luz para a poste-
rior formação da imagem. Desse modo, quando posicionada com o orifício
direcionado para a entrada de luz em frente a um objeto iluminado ou lumi-
noso, os raios de luz seguem do objeto, passam pela abertura e projetam, na
parede oposta, uma imagem invertida do objeto.
Câmera escura com vista de Florença, desenho atribuído a Stefano della Bella, cerca de 1630. Dimensões:
11,5 cm × 17 cm. Observe no desenho como a imagem da vista de Florença é projetada invertida.
Natureza morta, primeira fotografia de que se tem registro produzida com daguerreótipo por Louis Jacques Daguerre. Note, na
imagem, os contrastes entre luz e sombra e os efeitos de volume.
Imagens de cavalo em movimento, de Eadweard Muybridge, 1872. É possível notar nas imagens as diferentes posições das pernas dos cavalos ao
galopar. Antes da invenção da fotografia, os artistas representavam esse movimento de outra forma. É interessante comparar a representação
desse tema em obras anteriores e posteriores a esse período.
A partir do caminho apontado pela fotografia ao registrar imagens es-
táticas, e com o desenvolvimento das técnicas por parte de pesquisadores,
o cinema pôde alcançar o formato conhecido atualmente, registrando uma
série de imagens de um mesmo acontecimento em movimento que, quan-
do projetadas em grande velocidade, criam a sensação de movimento con-
tínuo. Esse processo foi longo. Foram necessários muitos estudos e gran-
de conhecimento técnico das mais variadas áreas para a associação entre as
imagens estáticas da fotografia.
Pré-cinema
Os primeiros filmes produzidos pelos irmãos Lumière apresentavam situa-
ções do cotidiano filmadas ao ar livre, muitas vezes, sem cortes. Auguste (1862-
-1954) e Louis Lumière (1864-1948) foram dois engenheiros franceses que revo-
lucionaram a história do cinema com a invenção do cinematógrafo. Apesar das
controvérsias sobre quais os procedimentos responsáveis pela invenção do cine-
ma, já que era possível localizar no século XIX invenções como o praxinoscópio
(França), o kinetoscópio (Estado Unidos), nenhum desses instrumentos conse-
guiu conciliar, tal qual o cinematógrafo, a capacidade de filmar e projetar pelí-
culas. As primeiras sessões que apresentaram filmes captados com essa técnica
foram apresentadas por eles no dia 28 de dezembro de 1895 no Grand Café, em
Paris, entre eles A saída dos operários da fábrica Lumière, A chegada do trem na esta-
ção, O mar, Almoço do bebê e O regador regado. O novo aparelho seria experimen-
tado por eles em momentos variados do dia a dia e em cenas próximas ao pró-
prio cotidiano deles – como a primeira obra dos Lumière, A saída das indústrias
Lumière, que registra trabalhadores saindo da fábrica de produtos fotográficos da
qual eram diretores. É possível visitar o local dessa primeira filmagem, que atual-
mente funciona como uma cinemateca na cidade de Lyon, na França.
Em duplas ou trios, assistam ao filme produzido pelos irmãos Lumière em 1895 A chegada do trem na
estação e, a seguir, façam o que se pede. Peça a eles que anotem suas observações individuais para, depois,
compartilhar com seus próprios grupos e com o restante da turma. Caso não seja possível, tente exibi-lo durante a aula e, de-
pois, oriente os grupos a seguirem o roteiro de pesquisa proposto.
1. As produções dos irmãos Lumière apresentam relações com o gênero cinematográfico atualmen-
te conhecido como “documentário”. Façam uma pesquisa sobre esse gênero, registrem quais as
características responsáveis por essa definição e indiquem quais aspectos desse gênero foram
percebidas no filme A chegada do trem na estação.
1. Auxilie os estudantes a identificar as ações registradas pelo filme e como essas ações são o ponto principal da produção
assistida, interessada em captar os movimentos, e não em contar uma história, o que justifica a ausência de uma estrutura
narrativa e a participação de personagens fictícios. Faça a relação com o gênero documentário, caracterizado, em suma,
pelo registro do real em oposição a uma história fictícia. É importante demarcar para os estudantes que documentar uma
cena não quer dizer registrá-la imparcialmente, considerando que o diretor atua ativamente na escolha do tema, dos en-
2. Assim como o filme assistido, outros filmes produzidos pelos irmãos franceses, caso de A saída dos
operários da fábrica Lumière, são curtos. Escreva abaixo uma justificativa para tal fato.
2. Reflita sobre a forma de captação utilizada pelos irmãos Lumière e sobre a operacionalização dos materiais feita por eles.
O primeiro aspecto é perceber que o filme não possui cortes na filmagem, é o resultado completo da captação da cena –
com a câmera fixa – a partir da possibilidade técnica do filme utilizado: a película. Os filmes usados pelos Lumière vinham
em rolos de 35 mm de largura por 15 metros de comprimento, os quais, passando pelo cinematógrafo na velocidade mé-
dia de então (entre 16 e 18 quadros por segundo), davam um tempo de filmagem e de projeção em torno de 45 a 50 se-
gundos; por isso, o tempo de todo o filme intacto dentro da câmera (que quase chegava a um minuto) se constitui como o
tempo total do filme exibido.
3. Pesquisem os termos “tomada”, “plano” e “cena” e analisem como essas técnicas se relacionam no
filme assistido.
3. O objetivo desta atividade é fazer os estudantes compreenderem a estratégia de captação do movimento executada
pelos irmãos Lumière, e como essas três noções não podem ser tão facilmente separadas, pois o filme possui uma cena,
constituída por um único plano, que é, também, toda a tomada registrada pela câmera.
EDITORIA DE ARTE
ho
hi
Representação
esquemática da
formação da imagem
Do Di
em uma câmera escura.
Pode-se representar o processo indicado acima por meio da seguinte equação:
ho Do
=
hi Di
Dentro da câmera escura, coloca-se um papel fotossensível, capaz de propiciar uma reação química
entre suas partículas e a luz que incide sobre ele.
Como fazer
Z
IRO
QUE
ELE
1. Pintem a parte interna da caixa com tinta preta. Cuidem para que
CIB
todas as partes internas estejam totalmente pintadas; se necessário,
pintem uma vez, esperem secar e repitam o procedimento.
2. Com uma régua, marquem o centro da tampa da caixa e um
quadrado de 1 cm × 1 cm.
3. Com tesoura ou estilete, recortem o quadrado, formando uma “jane-
la”, e pintem a borda interna da “janela” com caneta hidrocor preta.
4. Recortem um pedaço de papel-alumínio, de 5 cm × 5 cm, e façam
um furo com a agulha. Cuidem para que o furo fique bem redondo.
5. Preservando o orifício feito com a agulha, colem o papel-alumí-
nio na parte externa da janela utilizando fita isolante. E, para garantir
que não haja nenhuma passagem de luz pelas frestas, passem fita
isolante na parte interna também.
6. Ainda utilizando a fita isolante, façam uma pequena aba na par-
te externa da janela cobrindo o orifício. Essa aba tem a função de
controlar a passagem de luz pelo orifício.
Tirando fotos
Com a pinhole em mãos, escolham um lugar ao ar livre. Se for um dia
ensolarado, a aba deve ficar aberta cerca de 1 minuto. Se for um dia nu-
blado, o tempo aumenta para 2 a 4 minutos.
Auxilie os grupos na marcação do tempo dependendo da luminosidade do dia e orien-
te-os a utilizar um cronômetro.
Atenção
Quanto maior a pinhole, maior o tempo de exposição, pois a luz perde
força à medida que viaja do furinho até a parede onde está o papel.
DONATAS1205/ SHUTTERSTOCK
mais próxima ficará a imagem, e quanto mais
perto estiver do furo, mais “informações” entra-
rão na foto, pois o ângulo de visão será maior.
O tempo de exposição à luz deverá ser menor
se o orifício for maior. Porém, a imagem capta-
da será menos nítida, ficará embaçada.
Como os tempos de exposição são longos,
para a foto não sair tremida, apoiem a pinhole em
uma superfície fixa.
A pinhole não possui nenhum botão para dar
o click e, por isso, para captar a imagem escolhida,
você deve levantar a aba da fita adesiva preta que Retrato obtido com pinhole em dia ensolarado. Observe que a foto está
cobre o orifício. embaçada.
Depois de tirar a foto, abaixe a aba de fita adesiva e mantenha a sua pinhole totalmente fechada. Sua
abertura deverá ser feita somente em local totalmente escuro escolhido para a revelação, iluminado ape-
nas pela lâmpada vermelha, onde você deverá retirar o papel fotográfico de dentro da câmera. Porém o
papel ainda não traz a foto, e sim o seu negativo; por isso, é importante mantê-lo longe da claridade para
que não ocorra a perda da imagem, uma vez que essa ainda não é a imagem fixada.
Para melhores resultados, é possível mudar alguns materiais. A caixa de sapato pode ser substituída por uma lata com tampa de alu-
mínio, por exemplo, latas de leite em pó; nesse caso, para fazer o orifício é preciso ter cautela, para utilizar outras ferramentas, como
Converse com os colegas e com o professor sobre todo o processo e sobre a imagem final. Se
possível, registre a mesma imagem com uma câmera fotográfica e leve para a sala de aula.
prego e martelo, além de forrar a lata com cartolina preta. Se houver possibilidade, essa atividade pode contar com o apoio do pro-
fessor de Física para um debate ampliado, que aprofunde os conhecimentos obtidos de maneira prática.
Neste capítulo, foi possível perceber diversas relações entre as artes e as ciências, principalmente no
que diz respeito à fotografia e ao cinema, e conhecer outras possibilidades de captação de imagens,
como o daguerreótipo, anteriores aos mecanismos digitais atuais. Foi mostrado também como o cinema
se originou a partir da fotografia, trazendo movimento às imagens. Por fim, uma câmera escura foi feita e
foram produzidas as primeiras imagens fotográficas.
1. Resposta pessoal. O objetivo aqui é perceber a categoria fotografia dentro do cinema. No caso do cinema, a fotografia
destina-se ao trabalho com a luz das cenas, o enquadramento e outros elementos importantes para a captura da imagem
RODA DE CONVERSA
pela câmera cinematográfica.
1. Fotografia é uma das categorias de premiações internacionais de cinema, como o Oscar (nos
Estados Unidos) e Cannes (na França). Para você, o que um filme precisa ter para receber a premia-
ção nessa categoria?
2. Como a Física contribui para o processo de captura de fotos e da produção das imagens em
movimento?
2. Resposta pessoal. Oriente os estudantes a rever o que foi experimentado na construção da pinhole. É importante que eles
percebam também que existe uma relação estreita entre as artes e as ciências. A fotografia e o cinema são um bom exem-
plo dessa relação.
Imagem em Movimento | CAPÍTULO 4 77
5
MÚSICA E Conteúdos
Movimento sonoro
MOVIMENTO
Leitura musical por gráficos
Nenhum som teme o silêncio que o extingue. O mundo se apresenta suficientemente espaçado
[...] para estar sempre vazado de vazios, e concreto
John Cage. de sobra para nunca deixar de provocar barulho.
José Miguel Wisnik.
Foto do maestro Laércio Sinhorelli Diniz, regente titular da Orquestra Sinfônica de João Pessoa (PB) e da Orquestra Filarmônica do Brasil, em apresentação
do Concerto Didático da Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz em Belém (PA). Foto de 6 de maio de 2015. Com os movimentos de seu corpo, o maestro se
comunica com os músicos a partir das indicações da partitura. Juntos, o maestro e os músicos revelam a musicalidade presente nas partituras que executam.
No capítulo 1, foi possível perceber que a música, mesmo sendo considerada uma arte da duração, pode ser
entendida também como uma arte do espaço. Agora, você poderá observar e entender a música também como
movimento.
Como visto anteriormente, o som é produzido por meio de vibrações e se movimenta através do ar ou de
outros condutores, desde sua fonte sonora até as orelhas das pessoas. Porém há outras formas de entender o
som e a música como movimento, que serão exploradas a seguir.
Converse com os colegas e imaginem possíveis maneiras de entender o som como movimento.
Dica: lembre-se da relação das diferentes frequências das ondas sonoras com a diversidade de
Os estudantes podem dizer como as melodias se movimentam em dife-
sons que se pode ouvir no dia a dia. rentes alturas ou se referir aos diversos andamentos que dão aos estilos
musicais diferentes características. Poderão, ainda, referir-se às alterações de andamento em uma mesma música, como
aceleração ou diminuição da pulsação. Aceite as diferentes respostas e conduza a abordagem para o conteúdo deste capí-
tulo: movimento sonoro através das mudanças de altura.
Sons graves
Esquema representando sons em três planos de altura. Nesse exemplo, ao tocar ou cantar as alturas
indicadas no gráfico, deve-se seguir esta sequência, da esquerda para a direita: uma nota grave, uma
nota de altura intermediária, uma nota aguda, uma nota de altura intermediária, uma nota grave e
uma nota aguda.
EDITORIA DE ARTE
nota aguda.
1.b) Três notas agudas, duas notas
graves, uma nota de altura inter-
mediária e uma nota aguda.
1.c) Uma nota de altura interme-
b. diária, duas notas agudas, uma
nota de altura intermediária, uma
EDITORIA DE ARTE
nota grave.
O som do silêncio
Glissando: termo derivado da língua francesa que pode ser traduzido por deslizar e que é usado para definir sequências de sons liga-
dos em que se passa rapidamente de um som grave para outro mais agudo, ou vice-versa, executando todos os sons de altura inter-
mediária existentes entre eles, de acordo com a característica de cada instrumento musical.
Música e Física
A acústica, uma área de estudo da Física, é conhecida como a ciência do som que estuda a produção,
o comportamento e a recepção das ondas sonoras, ou seja, o conjunto dos fenômenos de reflexão e
absorção sonoras que favorecem ou prejudicam a audição em um determinado lugar.
As câmaras anecoicas são um dos espaços construídos pelo ser humano para o estudo do som e do
silêncio. O texto a seguir traz algumas informações sobre esse curioso local de pesquisa sonora:
À prova de som
Essa câmara é uma sala especial, com paredes metálicas, isolada do exterior e revestida com ma-
teriais (lã de vidro, espumas plásticas e outros) de alto nível de absorção de sons. Esse revestimento
interno garante isolamento sonoro de quase 100% e ausência absoluta de reflexões das ondas sono-
ras – portanto, o silêncio é o maior possível.
Essa sala é usada para testar equipamentos acústicos, como microfones e alto-falantes, para ava-
liar o nível de ruído de máquinas e aparelhos (produtos automotivos, eletrodomésticos, médico-
-hospitalares e de outros setores) e para estudos científicos.
Produzam os sons sugeridos pelas imagens acima utilizando suas próprias vozes. Se houver
possibilidade, também podem ser utilizadas flautas de êmbolo, xilofones ou marimbas.
Crie outras combinações de alturas e movimentos sonoros e peça aos estudantes que as executem ou cantem, como forma
de “ditado musical”. Isso quer dizer que, enquanto um estudante realiza um movimento sonoro com a voz ou instrumentos,
os colegas deverão ouvir e transcrever em forma de gráficos os sons realizados.
84 CAPÍTULO 5 | Música e Movimento
Na música orquestral ou de concerto, utiliza-se o termo movimento para nomear as partes de uma
composição musical. Por exemplo, o Concerto para piano n-o 5 em Mi bemol maior, Op. 73 de Ludwig van
Beethoven, está estruturado em três partes ou movimentos: I. Allegro em Mi bemol maior; II. Adagio un
poco mosso em Si maior, III. Rondó: Allegro ma non troppo em Mi bemol maior.
Os termos Allegro e Adagio são provenientes da língua italiana e indicam o andamento dos movi-
mentos, ou seja, a velocidade em que as peças musicais devem ser executadas. Alguns termos que in-
dicam andamentos podem também sugerir a atmosfera emocional das peças musicais. Assim, allegro
poderia ser traduzido para o português como alegre e ligeiro; adagio un poco mosso poderia ser tradu-
zido como lento, mas avançando; e allegro ma non troppo seria algo parecido com “alegre ou rápido,
mas não muito”.
Na música popular, o andamento e a atmosfera das músicas geralmente estão relacionados com os es-
tilos ou gêneros. Por exemplo: os boleros costumam ser lentos e tristes; o frevo e o samba-enredo costu-
mam ser mais acelerados e alegres.
Foto de apresentação da orquestra da Osesp interpretando Beethoven sob a regência do maestro espanhol Rafael Frühbeck de Burgos na
Sala São Paulo, em São Paulo (SP). Foto de 7 de março de 2011.
8
§ Ouça, na faixa 8 do CD, os fragmentos iniciais dos três movimentos do Concerto para piano n-o 5
em Mi bemol maior, Op. 73, de Ludwig van Beethoven.
Reproduza os fragmentos para os estudantes ouvirem e ajude-os a relacionar os nomes dos andamentos a cada movimen-
to do concerto. Promova uma discussão para verificar se os nomes dos andamentos parecem adequados à velocidade e à
atmosfera musical da peça.
RSTOCK
SHUT TE
tidamente são formas de acompanhar a pulsação da música. O termo pulsação,
DELLA/
em música, pode ser pensado a partir de uma analogia com o pulso
PETER GU
da circulação sanguínea, dos batimentos do coração, dos movimen-
tos respiratórios e das pisadas em uma caminhada. São pulsos que se
repetem regularmente e que podem ser medidos no decorrer do tempo.
A música também ocorre no passar do tempo e, por isso, a fre-
quência de suas pulsações pode ser medida. Para isso utiliza-se um metrô-
nomo, que é um aparelho, mecânico ou eletrônico, que emite pulsos sono-
ros em intervalos regulares de tempo. Os músicos utilizam metrônomos em
gravações ou quando estão estudando para manter uma pulsação constante
ao longo de uma música ou em algumas de suas partes. Cada som produ-
zido pelo metrônomo é chamado de batimento por minuto. Os intervalos
de tempo entre os pulsos e que são gerados pelo metrônomo podem ser
regulados de acordo com o andamento desejado para a música, ou seja,
pode-se ajustar o metrônomo para produzir diferentes quantidades de
batimentos por minuto (BPM). Quanto maior o número de BPM, menor
será o intervalo de tempo decorrido entre um pulso e outro. Na práti-
ca, se o número de BPM aumentar, o pulso será acelerado, aumentan-
do a velocidade das batidas e, consequentemente, o andamento da
Fotos de diferentes tipos de
música. Pode-se então dizer que o andamento está relacionado à velocida-
metrônomos. Acima vê-se um
de do pulso de uma música ou de um de seus trechos. metrônomo mecânico que utiliza um
Na maior parte da música popular e da música de concerto ocidentais do pêndulo para a regulação do pulso.
Abaixo vê-se um metrônomo eletrônico.
final da Idade Média até o século XX, o tempo é geralmente organizado para es- Existem também vários metrônomos
tabelecer uma pulsação regular, que pode ser acompanhada com batidas dos digitais disponíveis gratuitamente na
pés ou com palmas. internet para uso online.
A pulsação e o andamento da música são alguns dos principais
REPRODUÇÃO
Desde os anos 1990, o Grupo Corpo vem encomendando de compositores da música popular brasi-
leira as trilhas originais para seus espetáculos. Marco Antonio Guimarães, Arnaldo Antunes, Tom Zé,
João Bosco, + 2, Caetano, Lenine, Samuel Rosa fizeram, para dança, experiências que certamente não
fariam no rumo central de suas carreiras. Uma trilha de mais de 40 minutos, toda voltada para a cena
dançante, predominantemente instrumental, e guiada por um fio condutor, é muito diferente do costu-
meiro álbum de canções a que quase todos estão acostumados. [...]
Tive a sorte de participar desse processo desde 1993, quando fui convidado pelo diretor artístico
Paulo Pederneiras para fazer a música de “Nazareth”. [...]
Foto da coreografia “Sem mim” do Grupo Corpo, em São Paulo (SP). Foto de 3 de agosto de 2011.
No trabalho do Grupo Corpo, a música tem o privilégio de ser o disparador do espetáculo todo: a
partir dela nascem a coreografia, o cenário, a luz, os figurinos. [...] Feita a música, ela passa por um
processo de transfiguração em movimentos corpóreos (nós, os músicos, temos então a felicidade única
de ver a música acontecer literalmente aos nossos olhos) e de visualização inteligente e também trans-
figuradora do espaço cênico, que integra e multiplica o que se dança.
WISNIK, José Miguel. Grupo Corpo: a música do movimento. 5 set. 2015. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/cultura/
livros/grupo-corpo-musica-do-movimento-17407571#ixzz3yNMzJMu2>. Acesso em: 27 jan. 2016.
Dicas
Façam um revezamento de modo que um estudante fique respon-
sável por anotar a sequência de sons que todos acharem interes-
sante, para criar um registro da composição.
Inicialmente, o professor poderá ser o regente, ou seja, aquele
que determina por quanto tempo cada subgrupo deverá produ-
zir cada tipo de som, combinando subgrupos e inserindo momen-
tos de silêncio. Depois, caso queiram, algum estudante poderá ser
o regente.
Se possível, gravem as sequências para ouvir posteriormente e per-
ceber as diferentes alturas de sons presentes na peça produzida.
RODA DE CONVERSA
Em grupos de cinco estudantes, selecionem uma música para compartilhar com os outros grupos.
Se possível, levem o CD ou o áudio da música para a sala de aula para que todos possam ouvir juntos.
Depois de ouvir as músicas trazidas pelos colegas, conversem sobre a altura dos sons e sobre o anda-
mento delas e respondam:
1. Qual é o título da música? Quem é o intérprete? E o compositor?
1. Resposta pessoal.
2. Como você percebe os movimentos sonoros no canto, os contrastes entre os graves e os agudos
nos instrumentos musicais e as mudanças no andamento da música escolhida pelo grupo?
2. Analise pequenos trechos das músicas trazidas pelos estudantes, em que os contrastes entre planos de altura e andamen-
to forem mais evidentes. Aproveite para identificar se há instantes de silêncio na música ou se algum instrumento ou mes-
mo a voz que canta não são ouvidos em algum momento. Verifique se a melodia realiza movimentos sonoros amplos ou se
está mais próxima à fala cotidiana; chame atenção para o desenho dos instrumentos graves como contrabaixo, se houver,
e agudos, como solos de guitarras ou violinos; chame atenção para as pulsações e os andamentos de cada música e se há
E MOVIMENTO
Teatro gestual
Dança-teatro
Dança moderna
Se possível, assista com os estudantes ao vídeo “O mascareiro” (The mask maker), de Marcel Marceau, encontrado em alguns sites de
vídeo na internet. A cena foi gravada nos anos 1950 e narra, por meio da mímica e Dance, dance... Senão estamos perdidos.
sem o uso de palavras, a história de um mascareiro que experimenta várias máscaras invisíveis, transformando completamente sua
expressão facial e forma de mover-se a partir de cada uma das máscaras. Em um dos trechos, é Pina Bausch, coreógrafa alemã.
curioso observar, por exemplo, como a face do ator permanece imóvel em uma expressão de alegria, enquanto seu corpo demonstra
o desespero por não poder tirar a máscara alegre.
Foto de “Mounsier Bip”, personagem do lendário mímico Marcel Marceau (1923-2007), que desenvolveu um teatro baseado no gesto e sem a
utilização de palavras em cena. Foto no Geffen Playhouse, de 31 de julho de 2002, Westwood, Califórnia.
Este capítulo pretende mostrar como o movimento é essencial e pode conectar diversas áreas do conhe-
cimento artístico. Serão exploradas relações entre diferentes áreas e as semelhanças e diferenças entre a dan-
ça e o teatro. Serão observados movimentos como o teatro gestual e a dança-teatro, sendo este último
importante para a criação do que hoje se conhece como dança moderna. Também será abordada a capoeira,
uma expressão artística brasileira que une música, dança e luta.
RODA DE CONVERSA
A partir das questões a seguir, converse com os colegas e com o professor sobre teatro e dança.
Procure lembrar-se também de alguma apresentação a que você já tenha assistido.
1. Para você, quais são as principais diferenças entre o teatro e a dança? Cite duas ou três delas e
explique-as.
1. Resposta pessoal.
O estudante pode exemplificar algumas diferenças, como: no teatro é mais comum haver personagens que na dança, à ex-
ceção do balé de repertório; na dança é mais comum que os movimentos sejam mais complexos que no teatro, à exceção
do teatro físico ou gestual; no teatro é mais comum haver palavras ditas pelos atores que na dança; na dança é mais comum
haver música durante toda a obra do que no teatro, à exceção do teatro musical. Como foi observado, cada vez que se bus-
ca uma diferença, é necessário apontar as exceções, o que acaba reforçando ainda mais as semelhanças entre o teatro e a
dança contemporâneos. Ainda assim, algumas dessas respostas podem servir para conduzir essa roda de conversa inicial.
2. O teatro e a dança possuem características em comum? Quais? Citem duas ou três semelhanças
principais e explique-as.
2. Pode-se exemplificar algumas semelhanças: tanto na dança como no teatro, normalmente, há um espaço de representa-
ção no qual ficam os atores e os bailarinos, e um espaço no qual ficam os espectadores ou público; há movimento em cena;
a música, as luzes, os figurinos e os cenários são elementos importantes da obra e contribuem para seu sentido e para as sen-
sações que pretende provocar; a obra se dá no momento de encontro entre público e artistas.
A Ópera de Pequim é uma expressão artística chinesa que une música, dança e teatro, originária das
primeiras peças musicais realizadas durante a dinastia Ming (1368 a 1644). Começou a se desenvolver no
século XVIII, durante a dinastia Ching (1644 a 1911), como uma arte que une canto, recitação, música, dan-
ça, e acrobacia com figurinos e objetos de cena complexos, em um palco destituído de cenário ou outros
elementos decorativos. Segundo Margot Berthold, no livro História mundial do teatro, sobre a Ópera de
Pequim, “o ator atua num palco vazio. Não conta com nenhum acessório externo para ajudá-lo. Tem de
criar tudo unicamente por meio de seus movimentos – a ação simbólica, como também a ilusão espacial.
É ele quem sugere o cenário e torna visíveis os acessórios cênicos inexistentes” (p. 67).
Na imagem ao lado, é pos-
Não há consenso sobre a origem da capoeira mesmo entre os estudiosos e mestres que a ensinam e
a praticam. Alguns afirmam que a capoeira se originou na África e veio ao Brasil trazida pelos africanos da
família linguística banto, procedentes, sobretudo, da região de Angola, influenciada pela dança e luta afri-
cana conhecida como N´golo. Outros dizem ser uma manifestação surgida já em terras brasileiras.
Atualmente, a capoeira é amplamente praticada no Brasil, sendo uma das expressões culturais brasilei-
ras mais conhecidas no mundo todo. Assim como a Ópera de Pequim, a capoeira é uma manifestação hí-
brida, pois inclui jogo, música, dança, brincadeira, acrobacia e luta.
A capoeira se divide em duas formas mais conhecidas: capoeira angola e capoeira regional. Na capoeira
angola, o jogo entre os capoeiristas é mais fechado e os movimentos acontecem majoritariamente no pla-
no baixo, ou seja, mais próximos do chão, com um contato direto entre os participantes.
ACERVO PESSOAL
Reproduza a faixa 9 do CD
de áudio e ouça trechos do
toque dos instrumentos e
cantos da capoeira angola
e da capoeira regional.
Se possível, convide um mestre, contramestre ou praticante de capoeira para dividir suas experiências com os estudantes.
Em duplas, pesquisem imagens que representem a prática da capoeira. Depois de selecionadas, analisem al-
guns aspectos como: as roupas dos participantes, os instrumentos e, principalmente, os movimentos. Anotem,
em uma folha de papel avulsa, as informações discutidas sobre cada imagem e compartilhem com os colegas.
Na capoeira há uma atividade conhecida como “arranca-rabo”. Essa atividade é utilizada por mestres de ca-
9
poeira para ensinar aos praticantes as diferentes formas de se movimentar, atacando e se defendendo.
Como o ritmo é fundamental na capoeira, a atividade será realizada em duas etapas: primeiro, ao som
dos toques e cantos da capoeira angola, depois da capoeira regional. Em duplas, primeiro, um de vocês
irá amarrar um balão na cintura. Aquele que estiver com o balão deve assumir uma postura de defesa, en-
quanto o outro ataca o balão, tentando estourá-lo. Depois, vocês invertem os papéis de ataque e defesa.
Tentem reproduzir os movimentos retratados nas imagens pesquisadas anteriormente.
Em círculo, compartilhem suas impressões ao criar os movimentos de ataque e/ou de defesa dos ba-
lões e sobre os movimentos criados pelos demais colegas.
1. Qual a influência do tipo da música, capoeira angola ou regional, na criação e execução dos movimentos?
1. Os primeiros movimentos são feitos durante a execução de uma música de capoeira angola, que tem o andamento mais
lento, por isso normalmente é acompanhada por movimentos mais lentos. Já a capoeira regional possui um andamento
mais rápido, que exige, portanto, movimentos mais rápidos.
3. Foi mais fácil se movimentar com a música mais rápida ou com a música mais lenta?
3. Resposta pessoal.
A busca do movimento nas artes cênicas contemporâneas não passa, necessariamente, pela ideia de
“perfeição” dos corpos normalmente atribuída aos bailarinos de danças clássicas. Muitos grupos começaram
a construir suas obras a partir da incorporação da deficiência física ao vocabulário de seus movimentos com
resultados artísticos instigantes e provocativos.
A companhia francesa MPTA – Les mains, les pieds et la tête aussi (As mãos, os pés e a cabeça também), por
exemplo, trabalha com dança, teatro e circo em suas obras. Um de seus artistas teve uma perna amputada em
decorrência de uma doença. Depois desse acontecimento, o grupo passou a explorar seus movimentos co-
reográficos partindo das possibilidades e impossibilidades dessa perna “ausente”. O espetáculo Nós somos se-
melhantes a esses sapos... trata de um triângulo amoroso, interpretado de forma impressionante pelo artista que
perdeu uma das pernas e seus dois colegas da companhia. Em cena, é possível observar um compartilhamen-
to de pernas, braços, cabeças e muletas na qual os personagens e seus corpos se confundem propositalmente.
MANON VALENTIN/ DIVULGAÇÃO
Foto de cena da peça Nós somos semelhantes a esses sapos…, da companhia MPTA com os atores Artémis Stavridi, Mathurin Bolze e Hedi
Thabet na Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, ocorrida em março de 2014.
Fotograma do filme Pina, de Win Wenders, sobre a coreógrafa alemã Pina Bausch. O longa-metragem foi filmado em 3D com o elenco do
Tanztheater Wuppertal Pina Bausch.
“É dança? É teatro? Ou é apenas vida?” Essas perguntas aparecem no início do trailer oficial do filme que,
em 2011, levou às telas do cinema o trabalho da bailarina e coreógrafa Pina Bausch (1940-2009), responsável
pela criação do movimento artístico conhecido como dança-teatro.
Iniciadas na Alemanha entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, as criações de artistas europeus des-
se período demonstram que o teatro e a dança não podem ser compreendidos por separações, mas sim pela
união de seus principais elementos: o movimento e a palavra.
Já foi dito anteriormente que o teatro também é o corpo em movimento e a dança também pode ser palavra.
A dança-teatro de Pina Bausch leva ao palco o movimento da vida e se nutre da necessidade de expressão huma-
na. A expressão “dança-teatro” define, até os dias atuais, a necessidade que os artistas europeus do início do século XX
tiveram de criar obras que expressavam as angústias vividas nas situações de guerra, e entreguerras, misturando e co-
nectando o uso dos elementos cênicos, que até então representavam as duas áreas do conhecimento: o movimento,
que representava a dança, e a palavra, que representava o teatro.
A expressão dança-teatro continua a ser usada para definir uma das correntes mais consolidadas da dan-
ça moderna, que surge impulsionada pela dança expressionista alemã, uma dança caracterizada pelas an-
gústias da Alemanha do período entreguerras, entre 1920 e 1950, e que expressa os sentimentos sombrios vi-
vidos pelo ser humano daquele período.
Fotos de cenas da primeira montagem de A mesa verde, no Théâtre des Champs-Élysées. Foto de 3 de julho de 1932, Paris.
Assista com os estudantes a trechos de A mesa verde, de Kurt Jooss; para isso digite em um site de buscas as palavras “kurt jooss
a mesa verde” e selecione o vídeo desejado.
Neste capítulo, foi explorada a utilização dos movimentos do corpo como elemento essencial para a
conexão entre a dança e o teatro. Você conheceu o teatro gestual; a relação entre música, dança e luta pro-
posta pela capoeira e alguns elementos que unem o teatro aos movimentos da dança moderna. Para enten-
der ainda mais a importância do movimento para a dança e para o teatro, uma vez que ambos os campos
do conhecimento artístico refletem as experiências vivenciadas pelo ser humano ao longo da vida, vale
lembrar o que disse uma vez Pina Bausch: “não estou preocupada com como as pessoas se movem, mas
sim com o que move as pessoas”.
2. Resposta pessoal. As ações do cotidiano, quando sistematizadas em uma sequência de movimentos e associadas a um determina-
do ritmo, podem ser consideradas dança. Os coreógrafos da dança moderna e da dança contemporânea se utilizam bastante dessas
RODA DE CONVERSA
ações como inspirações para as suas criações coreográficas. Assim como atores se inspiram nos movimentos do cotidiano para
Para refletir sobre o que foi visto neste capítulo, conversem em grupo usando, além das palavras, os
criar cenas teatrais.
movimentos criados e executados pelo corpo nos momentos já vivenciados. Aqui serão relembrados
alguns dos movimentos criados nas atividades desenvolvidas.
1. Como os movimentos que foram criados pelo seu grupo e pela turma podem ser modificados?
2. Em sua opinião, como as ações do seu cotidiano poderiam se tornar dança ou uma cena de teatro?
Dê exemplos para justificar sua resposta.
3. É possível utilizar uma ou várias partes do corpo para criar e executar movimentos e cenas teatrais.
Que partes do corpo você utiliza para executar as ações do cotidiano citadas na atividade anterior?
3. Resposta pessoal. Não existe resposta certa ou errada. Todas as partes do corpo podem ser utilizadas e servir como estí-
NELSON KAO
As três graças, escultura de mármore de
Jean-Jacquer Padrier, 1825. Dimensões:
172 cm × 102 cm × 45 cm.
5. Em seu Dicionário de teatro, o estudioso francês
Patrice Pavis define o Teatro Gestual como:
Forma de teatro que privilegia o gesto e a ex-
Foto do espetáculo BR-3 do Teatro da Vertigem encenado no
pressão corporal sem, todavia, excluir a priori o
Rio Tietê, em São Paulo (SP). A peça é uma viagem pelos três
uso da fala, da música e de todos os recursos cê- BRS do título: Brasília (DF), Brasileia (AC) e Brasilândia (bairro
nicos imagináveis. da periferia de São Paulo). Como pano de fundo, os problemas
socioeconômicos do Brasil. Foto de 2006.
PAVIS, P. Dicionário de teatro. São Paulo: Perspectiva, 1999. p. 391. 6. Resposta: B.
a. Ampliar as possibilidades expressivas do
A partir dessa citação, podemos entender que
teatro incorporando os elementos arquite-
no teatro do gesto: 5. Resposta: C.
tônicos, texturas, odores dos espaços não
a. o gesto e a expressão corporal substituem a
fala e demais elementos sonoros e cênicos; convencionais à dramaturgia da obra.
b. o gesto e a expressão corporal são valoriza- b. Encontrar melhor recurso de iluminação,
dos como complementares à palavra e de- maquinaria teatral e acústica que os comu-
mais elementos sonoros e cênicos; mente encontrados nos bons edifícios tea-
c. o gesto e a expressão corporal são valoriza- trais do Brasil.
dos como elementos principais da criação c. Buscar uma relação diferenciada com o pú-
teatral, podendo ou não estar articulados a blico provocada pelas diferentes relações
outros elementos cênicos; espaciais presentes em cada lugar não con-
d. os gestos e a expressão corporal são insufi-
vencional escolhido.
cientes para sustentar uma obra teatral;
d. Estabelecer uma relação da obra teatral com
e. os gestos e a expressão corporal são ele-
a história do espaço não convencional esco-
mentos acessórios na criação teatral e preci-
lhido contribuindo para diferentes níveis de
sam estar articulados à fala, música e demais
elementos cênicos. leitura da obra.
6. A imagem a seguir é do espetáculo BR – 3 do Teatro e. Experimentar outras possibilidades cênicas
da Vertigem apresentado no Rio Tietê em São e técnicas provocadas pelo espaço não con-
Paulo. A apresentação de espetáculos em lugares vencional e suas diferentes arquiteturas.
E SOCIEDADE
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E SOCIEDADE
§ Origem do teatro na Grécia
§ O Teatro do Oprimido de Augusto Boal
§ O teatro como expressão política
§ A Zona de Arte da Periferia – ZAP 18
Foto do grupo de Teatro do Oprimido Marias do Brasil durante uma de suas apresentações teatrais na Praça dos Arcos da Lapa,
no Rio de Janeiro (RJ). Foto de 1998.
O teatro, tal como é conhecido no mundo ocidental, surgiu na Grécia, no século VI a.C., passando por
diversas transformações ao longo de sua história e por mudanças importantes em sua forma de comunicação
e de expressão. No entanto, manteve como característica o fato de ser uma arte do encontro entre pessoas,
uma arte social. Pode-se afirmar que o teatro foi fundamental para o surgimento de outras formas de expressão
conhecidas na atualidade, como o cinema e as teledramaturgias, como as telenovelas e as séries exibidas pela
televisão e pela internet.
CASSIA TAMURA
Foto de grupo de teatro do Museu da Maré, no Complexo da Maré, Rio de Janeiro (RJ). O grupo encenou uma adaptação da peça Romeu e Julieta,
de William Shakespeare, incorporando elementos do Hip-Hop. Foto de 2012.
§ Converse com os colegas e responda às seguintes perguntas:
a. Você participa ou conhece pessoas que participam de grupos de teatro em escolas, clubes, institui-
ções religiosas ou parques? Cite alguns exemplos.
a. Há diversas possibilidades de resposta a esta pergunta e o que se pretende é que o professor conheça a experiência pré-
via dos estudantes com o teatro. É importante que não seja feito nenhum juízo de valor sobre formas e lugares diferentes
de se fazer teatro. O importante é verificar que o teatro, seja ele profissional ou amador, pode fazer parte da vida dos es-
b. Que características você já viu ou imagina que estejam presentes em uma peça teatral?
b. É importante perceber algumas características do teatro que os estudantes já conhecem. O professor pode contribuir fazendo
perguntas específicas sobre o espaço onde é representada e ensaiada aquela peça, quem são os integrantes do grupo, quem é
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público. Ao mesmo tempo, surgem duas figuras igualmente importantes na
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arte teatral: o ator e o público.
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O teatro começa, portanto, como uma maneira de ser o que não se
é e, dessa forma, abre um novo campo de comunicação e de expressão
Foto de vaso grego representando
das relações humanas em sociedade. Por isso, diz-se que o teatro é, desde Dionísio com uma mênade, pintado
sua origem, uma arte social. Esse aspecto social se reflete também em sua por Syriskos, 470-460 d.C. As mênades
são adoradoras de Dionísio e foram
realização, por se tratar de uma arte essencialmente coletiva. Mesmo quando
representadas no teatro grego de
se vê um só ator em cena, para que ele possa se apresentar, é necessário que Eurípedes na peça As bacantes,
haja vários outros artistas e técnicos trabalhando, além do público. E todos nome pelo qual foram conhecidas na
mitologia romana.
precisam estar no mesmo local ao mesmo tempo.
Por consequência, como arte social, feita pela comunidade e para a
comunidade, com a participação de diferentes indivíduos, o teatro pode ser
considerado uma arte política. Isso não significa que uma peça teatral tenha que
tratar explicitamente do que o senso comum classifica como “política” ou que deva
defender, necessariamente, uma ideologia, um partido político ou um conjunto de Ficção: neste caso, pode ser en-
ideias ou de valores específicos. O teatro é uma arte política no sentido observado tendida como arte de imaginar, ou
obras que não partem de acon-
na sociedade grega da antiguidade, que representa o debate democrático sobre tecimentos reais e sim de coisas
as diversas formas de organização de um grupo ou comunidade. imaginadas.
. DA
/G
simbólico e ritualístico utilizado por várias culturas desde os primórdios da DE
A
Na Grécia antiga, os atores eram chamados de hupokritês, que deu origem à palavra hipócrita, em
português e que, atualmente, significa fingido ou falso.
Para os gregos, hupokritês designava o ator durante a sua representação, momento em que o ator
passava a ser algo que não era, como no caso de Téspis que se “transformou” em Dionísio.
1. Leia os dois textos a seguir e, depois, faça o que se pede.
§ Texto 1 § Texto 2
A vida é sonho Autopsicografia
No texto 1 estão algumas falas de Segismundo, personagem da peça A vida é sonho, de Pedro
Calderón de la Barca (Espanha, 1600-1681). Nele, Segismundo questiona a diferença entre realida-
de e ilusão e afirma que a vida é sonho.
No texto 2 estão alguns versos do poema “Autopsicografia”, de Fernando Pessoa (Portugal, 1888-
-1935) em que o eu lírico afirma que o poeta é um fingidor e que por fingir sentir dor de modo tão
completo, acaba por senti-la.
b. Além das artes cênicas, pode-se observar a utilização de máscaras em outras situações do co-
tidiano. Citem pelo menos três dessas situações e qual a função das máscaras nesses casos.
3.b. Resposta pessoal.
Espera-se que os estudantes citem outras situações nas quais eles identificam o uso de máscara. Pode ser citada a máscara
do palhaço no teatro, no circo, na rua ou em festas infantis; máscaras utilizadas para caracterizar um personagem em uma
contação de histórias; máscaras utilizadas com objetivo de protesto em uma manifestação popular para reivindicar direi-
tos de um grupo. Podem ser citadas também máscaras utilizadas em desfiles de carnaval e máscaras ritualísticas presentes
em festas ou rituais populares etc. Em situações fora do teatro, as máscaras também cumprem uma função de esconder o
rosto de quem as veste e revelar outro ser. Nos rituais, elas têm uma característica sagrada e mágica, próxima à transmu-
tação. No carnaval e em outras festas não religiosas, as máscaras permitem que se brinque com a própria identidade. No
teatro, há uma longa tradição no trabalho com as máscaras que contém ambas as características: a do ritual e a da brinca-
deira, mas que é aplicada à construção corporal de um personagem que é mantido durante toda a representação.
c. As máscaras cênicas atuais têm a mesma função que as utilizadas na época de Téspis, na Grécia?
Descreva brevemente as semelhanças e as diferenças.
3.c. Resposta pessoal
Não há respostas corretas ou incorretas. No caso de Téspis, a máscara funciona como um objeto que permite uma trans-
mutação, uma transformação do ator em algo que ele não é. As semelhanças podem ser encontradas na ideia do disfar-
ce, do ocultamento da identidade em máscaras carnavalescas ou até mesmo em manifestações políticas. As diferenças
podem ser evidenciadas no fato do ator ter a intenção de, com o uso da máscara, assumir outra identidade de uma forma
que pode ser mais duradoura, pelo menos durante o tempo da peça. No carnaval ou nas festas infantis, as máscaras são
usadas como disfarces que podem ser colocados e retirados pelas pessoas a qualquer momento.
CEDOCFUNARTE
O teatro é um meio privilegiado para desco-
brirmos quem somos, ao criarmos imagens do nos-
so desejo: somos nosso desejo, ou nada somos.
Por que o teatro? Porque existem artes, como
a música, que organizam o som e o silêncio, no
tempo; outras, como a pintura, que organizam a
forma e a cor, no espaço; e existem artes como o
teatro, que organizam ações humanas, no espa-
ço e no tempo. [...]
No Teatro do Oprimido, aquele que entra
Foto do dramaturgo brasileiro Augusto Boal em Paris, 1975. Seus
em cena para contar um episódio de sua vida
livros foram traduzidos para vários idiomas, e sua obra foi uma das
é, ao mesmo tempo, o narrado e o narrador – contribuições metodológicas mais importantes do teatro brasileiro
pode, por isso, imaginar-se no futuro. internacionalmente.
Entra em cena para fazer teatro, porque teatro não se faz sozinho, e para que possamos todos dizer
eu, antes de nos juntarmos numa palavra mais bela: nós!
“O teatro é um espelho onde podemos ver nossos vícios, nossas virtudes” – disse Shakespeare. Pode-
-se também transformar em espelho mágico, como no Teatro do Oprimido, espelho que podemos inva-
dir se não gostarmos da imagem que nos mostra e, ao penetrá-lo, ensaiar modificações desta imagem,
fazê-la mais ao nosso gosto. Neste espelho, vemos o presente, mas podemos inventar o futuro dos nos-
sos sonhos: o ato de transformar é transformador – ao mudar nossa imagem, estaremos mudando a nós
mesmos, para mudarmos, depois, o mundo.
BOAL, Augusto. O teatro como arte marcial. Rio de Janeiro: Garamond, 2003. p. 90-91.
Neste capítulo, foi possível perceber como o teatro surgiu, no ocidente, a partir da criação da polis na
Grécia Antiga, o que aproxima essa forma de expressão da ação política desde a sua origem, ou seja, ba-
seada na livre expressão individual em praça pública e do debate coletivo sobre os rumos da sociedade.
Ao tratar do teatro no Brasil, explorou-se o Teatro do Oprimido de Augusto Boal, que desenvolveu uma
série de jogos e técnicas para atores e não atores com o objetivo de provocar transformações sociais.
Foi abordada, também, a influência do teatro de Bertolt Brecht no Brasil, detendo-se em um exemplo
atual do teatro brasileiro como expressão política e transformadora da realidade: a ZAP 18.
RODA DE CONVERSA
Neste capítulo, foi possível perceber que o teatro está presente em diversos locais, tanto em produções de
companhias profissionais quanto em outros contextos.
Para conhecer mais sobre o teatro apresentado perto de você, em duplas, pesquisem grupos teatrais
existentes em seu bairro ou região. A pesquisa pode ser feita na internet, em revistas de bairro, em jornais
e conversando com funcionários de um centro cultural, entre outros.
1. Citem o nome de um grupo teatral existente em seu bairro ou região, o local onde ensaia ou onde cos-
tuma se apresentar e um nome de uma peça já apresentada.
1. Resposta pessoal.
2. Caso você ou seu colega tenham assistido a alguma apresentação teatral desse grupo, descreva como
foi a experiência. Caso não tenha assistido, qual título de peça chamou mais a atenção durante a pes-
quisa? Por quê?
2. Resposta pessoal. Caso o estudante tenha assistido a uma apresentação teatral, ele pode comentar a trama, a forma de
interpretação, o espaço cênico, o figurino etc. É possível que alguns estudantes não tenham assistido a uma peça do grupo
escolhido. Essa é uma boa oportunidade para você entrar em contato com algum grupo e articular os recursos necessários
junto à direção da escola para viabilizar essa experiência.
E PODER
§ Imagem na Antiguidade
§ Imagem como subversão
Arte da pintura, óleo sobre tela, de Johannes Vermeer, 1665-1666. Dimensões: 120 cm × 100 cm. Esta obra também é
conhecida como “O pintor e sua modelo como Clio”. Clio é a musa grega da História e da criatividade.
RODA DE CONVERSA
Veja orientações na Assessoria Pedagógica.
É importante considerar que, ao longo da história, foram criados, desenvolvidos e modificados os
meios de se produzir uma imagem, tanto com o objetivo de representar a realidade tal como é vista
pelas pessoas de modo geral quanto de recriá-la de maneira subjetiva a partir do ponto de vista de
um artista, por exemplo.
Converse com os colegas e o professor para responder às questões a seguir.
1. Explique como você imagina que seja o processo de realização de uma pintura e o de uma fotogra-
fia atualmente.
1. Resposta pessoal. Se possível, incentive os estudantes a conversar com pintores e fotógrafos, perguntando a eles sobre
seus processos de trabalho. Caso domine essas técnicas, reserve um tempo da aula para que conheçam de perto esses
meios de expressão.
4. Selfie é um termo inglês originado do termo self-portrait, que em português é o mesmo que autor-
retrato. Observe a imagem a seguir e responda:
ELLEN DEGENERES/ GETTY IMAGES
b. Os atores parecem estar se divertindo na situação retratada. Por qual razão é tão divertido rea-
lizar um selfie em grupo?
4. b) Resposta pessoal. Possibilite o debate sobre o uso do selfie coletivo como uma forma de marcar um momento de fe-
licidade ou confraternização.
era preciso entrar em uma sala escura, retirar o material fotossensível da É possível fazer uma visita
virtual à caverna de Lascaux,
câmera e passá-lo por processos químicos que gerariam a imagem.
na França, a partir de seu
Hoje, com o grande número de aparelhos que permitem a captação site. A página não está em
de imagens, como smartphones, tornou o registro de fotografias acessível a português, mas pode-se
navegar pelo menu lateral
um grande número de pessoas, modificando a relação dos indivíduos com à esquerda da página.
as imagens produzidas. Quando se quer tirar uma foto entre familiares ou Clicando em “Visite de la
grotte”, tem-se a impressão
amigos, por exemplo, é possível tirar várias fotos para, posteriormente fazer
de estar dentro da caverna
seleção da “melhor”, excluir as fotos indesejadas na própria câmera, modificá- e pode-se observar pinturas
-las ou mesmo publicá-las na internet em tempo real, não sendo mais rupestres preservadas
por muitos séculos.
necessário o tempo de espera para a revelação dos antigos rolos de filme
fotográfico. Estratégias como o uso de filtros, edição por meio programas ou
aplicativos em computadores, tablets ou smartphones também se tornaram
de mais fácil acesso e utilização.
Voltando a um período de cerca de quinze mil anos – último período
da Pré-história conhecido como Neolítico, bem distante da invenção da
televisão, do computador e até mesmo da escrita, um outro mundo é
revelado por meio de imagens presentes nas cavernas de Altamira (Espanha),
Lascaux (França), em Pedro Leopoldo (Minas Gerais) ou na Serra da Capivara
(Piauí). Uma das hipóteses é que os povos primitivos do período Neolítico
acreditavam que, se desenhassem um bisão sendo caçado em uma caverna,
FRANCO HOFF/ PULSAR IMAGENS
o fato iria acontecer na realidade. Acredita-se que, na complexa forma de
pensar desses povos, não havia diferença entre o fazer e o usar imagens.
Não haveria, portanto, uma separação entre realidade e imagem. Naquelas
épocas distantes, a imagem tinha uma função muito clara: transformar
vontade em realidade. O que é diferente da relação com a imagem
atualmente, que pode estar relacionada ao registro histórico, à apreciação
estética, a um sentimento em relação à imagem etc.
Como citado anteriormente, o Parque Nacional Serra da Capivara,
localizado no Piauí, é outro exemplo de patrimônio cultural pré-histórico.
De acordo com o Fumdham (Fundação Museu do Homem Americano), os Foto de pintura rupestre encontrada na Toca
do Boqueirão no Parque Nacional Serra da
vestígios ali preservados demarcam a passagem do ser humano há cerca de Capivara, em São Raimundo Nonato (PI).
100 000 anos antes do presente, com sítios arqueológicos majoritariamente Foto de novembro de 2011.
CORBIS/ LATINSTOCK
Mais do que observar se o animal é bem
representado e perfeitamente desenhado, pode-se
refletir sobre a relação entre a imagem e a sua
duração. É curioso que as fotografias se desgastem
com facilidade em poucos anos e que um desenho
feito com gordura e pigmentos retirados da natureza
ainda possa ser observado após milhares de anos.
A seguir, a matéria assinada pelo jornalista,
escritor e cineasta estadunidense Walter Chip (1951-)
para a revista National Geographic, em 2015, conta qual
foi a impressão do escritor ao adentrar pela primeira
vez a caverna Chauvet-Pont-D’Arc, na França, e ver em
primeira mão aquelas pinturas rupestres. Foto de pintura rupestre, de cerca de 15 000 a.C., que representa
bisão na caverna de Altamira, Espanha.
Aproveite esse momento para estimular os estudantes a refletirem e levantarem hipóteses
sobre a preservação das pinturas rupestres até os dias atuais.
124 CAPÍTULO 8 | Imagem e Poder
Primeiros artistas
Auroque: tipo de animal de grande porte com características similares ao boi. Dados registram sua extinção em 1627. Chegava
a medir dois metros de altura e poderia pesar até uma tonelada com os chifres alcançando mais de um metro de comprimento.
Ocre: variedade de argila colorida pelo óxido de ferro que assume tons próximos ao vermelho.
ALBUM/ FOTOARENA
arquitetura das pirâmides, o mesmo deveria ocorrer nas esculturas que eram
colocadas no interior delas, produzidas de maneira idêntica à cabeça do rei.
Nas esculturas, os bustos dos faraós precisavam conter as características
físicas deles e, ao mesmo tempo, uma imagem de imortalidade e
Foto de escultura em rocha calcária,
eternidade. Por isso a escolha por materiais resistentes para a sua produção. de cerca de 2 700 a.C., encontrada
O escultor era considerado “aquele que mantém vivo”, justamente por captar em um túmulo em Gizé, no Egito.
os traços definidores do rei, transformando-os em linhas básicas e conformações geométricas que pudessem eternizar
sua imagem sobre um suporte de pedra. Tais esculturas eram criadas para serem colocadas dentro das pirâmides.
A ideia de manutenção da vida no Egito Antigo não terminava com as pirâmides e nem mesmo com
as esculturas feitas a partir das características mais importantes do faraó. Quando um governante morria,
deveriam morrer também todos os seus servos. Acreditava-se que, assim, o faraó poderia chegar ao “além”
acompanhado por aqueles que o serviram na Terra. Em algumas situações, ocorria a substituição desses
mesmos servos por suas representações feitas em escultura.
ALBUM / FOTOARENA
2
ARTE EM diálogo Artes visuais e História
leveza.
Até agora foi possível observar o lugar ocupado
pelas imagens em vários períodos históricos;
passamos pelos povos primitivos, pelo Egito e Grécia
antigos, conhecendo um pouco de suas respectivas Foto da escultura de mármore Vitória de Samotrácia, de cerca
formas de expressão. de 190 a.C. Dimensão: 3,28 m.
Foto de cédula
de 5 cruzeiros,
com carimbo
“YANKEES GO
HOME”, de Cildo
Meireles, da
série Inserções
em circuitos
ideológicos 2:
Projeto Cédula,
1970.
1. Em jornais e revistas, por exemplo, é possível perceber que esses materiais possuem uma organiza-
ção interna que reveza anúncios publicitários e reportagens. Como você compreende a utilização
de imagens feitas por essas duas formas de comunicação? Diferencie uma imagem veiculada em
uma propaganda e uma imagem que faz parte de uma reportagem.
1. Resposta pessoal. É importante que os estudantes reflitam sobre o fato de que as imagens continuam tendo um papel
muito importante na sociedade atual, seja como forma de convencimento – caso de uma propaganda –, ou para corro-
borar com uma certa interpretação – caso de uma notícia que pode esconder a realidade dos fatos e apresentar imagens
que reforcem o texto escrito. Entretanto, com a tecnologia e os usos de ferramentas como a internet, as imagens também
podem apresentar um caráter efêmero e passageiro, diferentemente de outras épocas e lugares.
2. Você acha que a relação entre arte e poder, seja como forma de exaltação ou subversão, é atual?
Justifique sua resposta.
2. Resposta pessoal. Os estudantes podem citar imagens pesquisadas em diferentes meios de comunicação, como jor-
nais, revistas etc., percebendo também, como essa arte – de exaltação ou subversão – circula por esses meios. Seria im-
portante levar em consideração o texto que acompanha a imagem com o objetivo de compreender quais as interpreta-
ções pretendidas.
3. Pense nas imagens que você utiliza para se identificar, seja em documentos ou em redes sociais.
Quais são os objetivos delas? Cite as semelhanças e as diferenças.
3. Resposta pessoal. É importante que os estudantes reflitam sobre a “efemeridade” dessas imagens e o que elas comu-
nicam para quem as vê. A foto de um documento, por exemplo, tem o objetivo de identificação e não pode ser trocada
com tanta frequência, o que exige um formato específico. Já a foto utilizada nos perfis pode ser mudada sempre que o
usuário da rede social desejar e pode expressar outras informações sobre o indivíduo que vão além da identificação física.
4. Em uma folha avulsa, faça uma colagem utilizando apenas imagens que represente quem você é.
4. Essa atividade pode ser utilizada como importante ferramenta de avaliação da aprendizagem e compreensão dos es-
tudantes. Nesse sentido, oriente-os a obterem uma pasta (ou outra forma de armazenamento possível) que permita suas
produções para uma possível exposição final e conjunta de todos os trabalhos individuais feitos por eles. Cada atividade
funciona como um registro que permite, também, uma avaliação dupla, tanto por parte do professor como do próprio es-
tudante, instigando-o a refletir sobre suas experiências.
O operário
§ Profissão:
§ A que horas acordam?
§ Que tipo de transporte utilizam para chegar ao trabalho?
§ Quanto tempo leva o trajeto de casa para o trabalho?
§ Que horas chega ao trabalho?
2. Imagine como é se sentir preso a uma rotina sem muitas possibilidades de mudanças. Em uma fo-
lha avulsa, faça uma representação dessa sensação por meio de palavras ou de desenhos.
2. Resposta pessoal. Essa atividade permite uma identificação dupla; primeiro, a forma como os estudantes prefe-
rem se expressar, se por meio de palavras ou desenhos, sendo possível a reflexão em conjunto sobre a preferência
expressiva; a forma em que eles se sentem mais à vontade para construir respostas, o que pode facilitar aplicações
futuras. Outra questão mais diretamente associada ao objetivo dessa pergunta é perceber quais formas e palavras
são usadas por eles como associadas ao sentimento descrito na pergunta, ou seja, o que confere a eles a sensação
de impossibilidade de mudança.
4. Atualmente, estudar é uma das principais atividades dos jovens. Que semelhanças os estudos têm
com o trabalho?
4. Resposta pessoal. Nesse momento será importante analisar como os estudantes concebem a rotina de estudos e se per-
cebem semelhanças com a rotina de um trabalhador, como a necessidade de realização de tarefas específicas, o recebi-
mento de notas pelo trabalho escolar, a exigência por seguir o horário estipulado pela escola e demais paralelos.
Se julgar interessante, realize com a turma a atividade “quadros vivos”. Essa atividade é muito usada durante a análise de um
texto no início dos ensaios de uma peça de teatro, a fim de que os atores possam enriquecê-la com experiências pessoais ou
de pessoas próximas a eles, facilitando uma apropriação da temática por parte dos atores. Veja orientações na Assessoria
Pedagógica.
RODA DE CONVERSA
Caso julgue interessante, as fotografias produzidas podem ser impressas e expostas no corredor da escola com legenda em
cada uma destacando os aspectos discutidos em sala de aula.
Como observado neste capítulo, a imagem, desde os primórdios, é muito importante para o ser hu-
mano e costuma estar relacionada à construção da identidade, à captura e imortalização do momento
vivido ou almejado.
A partir do que foi observado até agora sobre as diferenças da relação do ser humano com a ima-
gem hoje (por exemplo, a fotografia tirada por meio de um smartphone) e há cerca de quinze mil
anos, converse com os colegas e escreva diferenças que vocês perceberam na relação entre as ima-
gens produzidas pelos seres humanos primitivos e as imagens produzidas atualmente.
Resposta pessoal. Como duas possibilidades de reflexão a essa pergunta, podemos destacar a instantaneidade dessas ima-
gens e também em sua portabilidade. A instantaneidade permite o compartilhamento rápido com um grande número de
pessoas, já a portabilidade oferecida pelas novas tecnologias de impressão, smartphones, tablets, pendrives, ou mesmo o arma-
zenamento na internet, permite que essas imagens sejam acessadas praticamente de qualquer lugar, sem a necessidade de
E SOCIEDADE
história da dança, dança
de rua e balé clássico
§ Fruição, apreciação, apropriação
e criação em dança
Embora a “ dança” seja um fato social, eu admito que ela seja derivada das capacidades específicas
da nossa espécie sendo, portanto, parte da constituição humana e uma força básica da vida social,
e não mera consequência da invenção humana, em algum tempo e espaço particular.
John Blacking, 1976.
Foto da Companhia Urbana de Dança em apresentação da coreografia de Sonia Destri Lie na Praça XV, Rio de Janeiro (RJ).
Foto de março de 2013.
Dança é movimento. As danças de salão, as danças de rua, as danças tradicionais, a dança contempo-
rânea, o jazz, o balé e maioria das danças que conhecemos têm formas e histórias próprias que represen-
tam traços das sociedades nas quais estão inseridas. A dança, quando compreendida como expressão ar-
tística é um sistema de relações e de símbolos, e que tem o movimento do corpo como veículo principal.
1. Físico: o corpo humano libera energia através de respostas musculares aos estímulos do cérebro.
O movimento e a energia organizada é a essência da dança;
2. Cultural: os valores, as atitudes, os conceitos de um povo determinam parcialmente as conceitua-
ções da dança e suas produções físicas, seu estilo, sua estrutura, suas modalidades de execução;
3. Social: a dança reflete e influencia as formas de organização social, a relação entre os indivíduos
no grupo e entre os grupos;
4. Psicológico: implica experiências cognitivas e emocionais, afetadas pela vida pessoal e coletiva de
um indivíduo, e o afetando por sua vez;
5. Econômico: a dança pode fornecer um complemento de renda ou constituir a renda principal de
profissionais. Outros investem sua renda no aprendizado da dança ou para apreciar outros dançarem;
6. Político: a dança como um lugar de articulação de atitudes e valores políticos e um meio de con-
trole, de julgamento e de mudança;
7. Comunicativo: pela “linguagem do corpo”, a dança como instrumento físico ou como um símbolo,
permite exprimir sentimentos e pensamentos: os movimentos corporais se transformam em símbo-
los que os membros da sociedade compreendem e cujo objetivo é o de representar as experiências do
mundo exterior e psíquico.
HANNA, Judith Lynne. To dance is human. Austin and London: University of Texas Press, 1979. Apud ZEMP, Hugo.
Para entrar na dança. In: CAMARGO, Giselle. (Org.). Antropologia da Dança I. Florianópolis: Insular. 2013. p. 31-32.
Esses comportamentos humanos, como foram definidos pela antropóloga, ajudam a entender que a
nossa dança surge das situações que vivemos. Dançar é ser e estar em sociedade. A dança está presente nas
diversas situações vividas.
Apesar de ser muito difícil determinar quando, como e por que o ser humano dançou pela primeira vez,
hoje é possível afirmar que o ser humano dança desde a Pré-história. Sabe-se que o ser humano do paleolítico
registrava nas paredes das cavernas suas ações e tudo que lhe importava, inclusive os movimentos.
Paleolítico: período em que os seres humanos viviam somente da caça, da pesca e da coleta, eram nômades, e utilizavam a
tecnologia da pedra lascada.
RODA DE CONVERSA
Que tal conhecer um pouco mais sobre a dança presente no seu bairro ou na sua comunidade? Você
já sabe que as pessoas dançam por diversas razões e que a dança sempre esteve presente na história da
1. Atente para o fato de que as pessoas podem dançar sempre, em diversos lugares da cidade onde moram. É
humanidade.
muito provável que o estudante encontre algum grupo para utilizar como exemplo, seja um grupo que dança
1. Entreviste cinco pessoas que moram perto da sua residência e, a partir das respostas obtidas, reflita
na rua, nas praças, nas instituições religiosas, nos clubes
sobre a presença da dança na vida de cada uma delas.etc. Caso o estudante não encontre um grupo que se en-
Roteiro de pesquisa caixe na categoria “dança de rua”, motive-o a procurar a
presença de dança na cidade, de qualquer estilo de dança.
a. Nome, idade, profissão, sexo, local onde mora.
Veja orientações na Assessoria Pedagógica.
b. Você gosta de dançar ou conhece alguém que goste?
c. Com que frequência e em que ocasiões você dança?
d. Onde você costuma dançar? Na escola? Em uma instituição religiosa? Na rua?
e. Por que você dança? E para que você dança?
2. Em grupo, em uma roda, a ideia é conversar, e, para responder e melhor compreender as respostas,
dançar também. Primeiro converse e compartilhe com os colegas os dados coletados e suas impres-
sões sobre como os seus vizinhos ou as pessoas que você conhece dançam. Depois, ouça os dados
coletados, as opiniões e impressões que os colegas tiveram em relação às entrevistas feitas e compa-
rem-nas com as suas. Note que poderá haver diferenças entre as respostas dos entrevistados, afinal, a
dança tem papéis diferentes e ocupa diferentes espaços na vida de cada um. Converse com os colegas
sobre que espaços são esses.
3. A Companhia Urbana de Dança levou aos palcos os movimentos dançados nos subúrbios cariocas.
Será que as danças do seu bairro, da sua comunidade, da sua cidade, ou até mesmo do seu estado,
poderiam ser transformadas em espetáculos?
Dança e Hip-Hop
§ Em grupos com quatro estudantes, pesquisem em jornais, revistas ou na internet sobre um grupo de
dança de rua presente na região ou bairro onde vocês moram. Se possível, conversem também com
pessoas que moram na região ou com funcionários de um espaço cultural.
§ A partir da pesquisa, respondam às questões a seguir.
espaço para que a discussão gire em torno das características da dança de rua: movimentos que usam o chão, execu-
tados com velocidade, com torsão do tronco, passos do break dancing etc.
companhias de danças de rua buscam levar ao palco a realidade das ruas, muitas vezes permeada por situações de
violência e conflito.
tos urbanos, bem como outras questões que as companhias tenham intenção de discutir.
6. Compare os movimentos de dança da companhia pesquisada e de outras danças que você conhe-
ce ou já assistiu (mesmo que pela televisão). Cite as semelhanças e as diferenças entre eles.
6. Resposta pessoal. Nesse exercício de fruição artística e estética, espera-se que os estudantes observem as diferen-
tes formas que o movimento pode ter de acordo com a estética construída por cada estilo de dança. É importante
atentar que o objetivo aqui está diretamente relacionado com as possibilidades de fruição como estímulo aos pro-
cessos de criação, e não ao juízo de valores. Para contemplar o olhar com foco na diversidade e nas múltiplas possibi-
lidades do movimento, não será estabelecido qualquer tipo de hierarquia entre os estilos estudados.
fazer arte
música de fundo é opcional, mas a utilização de um rap, pode auxiliar os estudantes a se aproxima-
rem e fruírem do contexto apresentado. Objetivo
A exploração da liberdade individual e das diversas e infinitas possibi-
§ Experimentar e
lidades de criação de movimento caracteriza a dança de rua e todos os conhecer os planos
seus estilos. A fim de explorar as diversas possibilidades que os corpos do espaço conforme
os princípios de
têm de criar e reproduzir movimentos, vamos experimentar e conhecer Rudolf von Laban.
os planos do espaço conforme os princípios de Rudolf Laban.
Abra espaço na sala de aula, afastando as carteiras.
Comecem a se movimentar pelo espaço experimentando com os
corpos os planos baixo, médio e alto.Como fonte de pesquisa sobre o assunto, indica-se o livro: RENGEL, Lenira. Os
temas do movimento de Rudolf Laban I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII (modos de aplicação e referências). São Paulo: Annablume, 2008.
Sala de dança na ópera da rua Le Peletier, óleo sobre tela de Edgar Degas, 1872. Dimensões: 32,7 cm × 46,3 cm. Degas frequentava os bastidores de
óperas para observar as bailarinas, as quais considerava um pretexto para reproduzir o movimento fluido.
No link <http://entretenimento.uol.com.br/album/kirov_2011_album.htm#fotoNav=15>, acesso em: 15 dez. 2015, há imagens do
A dança de rua, por ser uma arte que nasce de movimentos inseridos em um contexto urbano permeado por
diferenças sociais e econômicas, reflete em seus movimentos o comportamento, o ritmo das músicas compostas pe-
los integrantes do hip-hop e os conflitos entre grupos de jovens que lutam pelo estabelecimento da paz nas ruas dos
grandes centros urbanos. Já o balé clássico, em seu início, refletia os costumes dos palácios reais do século XVII, e re-
tratava a forma de vida das classes mais privilegiadas da Europa daquela época. ensaio da companhia russa Kirov, em sua
turnê em São Paulo. Ao observar as imagens, note parte da estética associada ao estilo de dança hoje conhecido como balé clássico.
É possível encontrar um vídeo de O lago dos cisnes interpretado pela companhia de dança Kirov Ballet, digitando o nome desse balé
em um site de vídeos na internet. Dança e Sociedade | CAPÍTULO 9 147
Saber que esses dois estilos de dança coexistem na atualidade leva a Arte PARA ASSISTIR
perceber que a dança do século XXI abriga diferentes formas de expressão
Sob a luz da fama
de conflitos políticos, sociais e econômicos, e que esses conflitos também
Direção: Nicholas Hytner.
servem de inspiração para a criação. Sony Pictures: Estados Unidos.
Em 1760, a obra Cartas sobre a dança e sobre os bailados, escrita pelo co- Ano: 2001.
Duração: 155 min.
reógrafo Jean-Georde Noverre, influenciou bastante o estabelecimento do
O filme conta a história
balé como uma arte da elite. Na obra, Noverre rejeita a dança somente como de um grupo de jovens
divertimento e propõe que ela seja essencialmente uma forma artística de bailarinos que se dedica
exaustivamente ao
“representação”, ou uma imitação da ação. Na tentativa de reproduzir ações
balé clássico, muitas
do cotidiano, o balé passa a representar as ações da sociedade da época e vezes sacrificando a
se transforma até chegar ao que se conhece hoje como balé clássico. Com o convivência em família, os
relacionamentos amorosos
passar do tempo, os balés foram se consagrando, e escolas e métodos foram e seus hábitos alimentares
desenvolvidos para treinar os bailarinos que levariam ao palco não apenas a para atingirem o objetivo de
representação das ações, mas também as questões sociais vividas. Aos pou- entrar em uma das maiores
companhias de dança do
cos, essas formas de representação se desdobraram em diferentes métodos, mundo, o American Ballet
que passaram a ser escritos em livros e transmitidos de geração em geração. Theatre, (ABC) de Nova Iork.
Os passos do balé, que até hoje são ensinados nas escolas de dança es-
palhadas pelo mundo, permitem identificar o balé clássico como um estilo de
dança formalizado e como uma arte cênica, uma arte dos palcos e dos teatros.
Embora os espetáculos de balé clássico continuem sendo apresentados por
diversas companhias até hoje, os palcos e teatros do século XX e XXI passaram
a exibir também criações de dança de outros estilos, inclusive danças inspira-
das nos movimentos do cotidiano que acontecem nas ruas e nos bairros das
periferias das grandes cidades, como é o caso das danças de rua.
O século XX para a dança ocidental representa o século das rupturas e cria-
ções modernas, é nesse século que a dança moderna alemã e a dança moderna
americana se estabelecem como formas de romper os rígidos padrões corporais
estabelecidos pelo balé clássico e de expressar com o corpo as angústias vividas
pelo ser humano moderno. Durante o século XX, a criação de estilos e métodos
compostos por técnicas específicas e por muitos considerados como teorias da
dança moderna, impulsionam criações coreográficas que definem a dança da épo-
ca e influenciam até hoje o cenário da dança no mundo inteiro. Por ser uma dança
que tem como característica principal as criações e os anseios individuais, nomes
como Rudolf Laban, Isadora Duncan, Mary Wigman e Martha Graham se consa-
gram como intérpretes e mestres de uma dança que influenciaria gerações. Na se-
gunda metade do século XX, surge o movimento artístico conhecido como dança
contemporânea, que abarca até os dias atuais, todos os outros movimentos pauta-
dos nas fusões de movimento e na diversidade dos corpos que dançam. Conhecer
um pouco sobre a história da dança e as diversas formas de se dançar permite uma
aproximação com os muitos lugares que a dança ocupa em uma sociedade.
1. Há companhias de balé clássico que já se apresentaram em sua cidade? Citem pelo menos uma.
1. Resposta pessoal.
Os estudantes podem pesquisar companhias de outras cidades ou países, caso não haja companhias de balé
2. Como vocês imaginam que seja a rotina de aulas e ensaios de uma companhia de balé clássico
profissional? A pesquisa feita mudou a percepção de vocês sobre o tema?
2. Resposta pessoal.
Esta questão permite que os estudantes reflitam sobre o cotidiano profissional de qualquer área, seja artística ou não,
percebendo que todo trabalho depende de prática e dedicação para ser bem executado. Nesse momento, pode ser
discutido com os estudantes que algumas vezes a rotina de aulas e ensaios do balé clássico propõe exageros na prá-
tica e na dedicação dos profissionais em busca de uma estética específica, condicionada ao virtuosismo e aos rígidos
padrões de execução de movimento.
Neste capítulo, foi possível observar os aspectos sociais e culturais da dança de rua, um estilo de dan-
ça utilizado por muitos jovens como forma de expressar seu papel político.
Também foi observado que os espetáculos de companhias de balé clássico vindas da Europa foram
os primeiros a ocupar os teatros brasileiros. Aos poucos, os teatros passaram a receber apresentações de
outros estilos de dança, mas somente no final do século XX e início do século XXI, a dança de rua come-
çou a ocupar os palcos dos grandes teatros. Nas observações e atividades foram comparadas a dança de
rua, que integra a cultura hip-hop e o balé clássico, que surgiu alguns séculos antes nos palácios reais. Cada
um desses estilos representa os movimentos de corpos que expressam os conflitos e as relações de poder
das várias classes de uma sociedade.
Aproximar estilos de dança tão diferentes e que surgiram em contextos tão distintos é um dos desa-
fios do mundo contemporâneo. É importante lembrar que vida e arte se misturam e que os movimentos
levados ao palco podem refletir tudo que acontece fora dele. As experiências diárias de cada indivíduo
transformam a sua dança e a dança de cada indivíduo também transforma as suas experiências diárias.
análise, porém vale enfatizar que a dança de rua se caracteriza pelo uso da força no tronco, por ações acrobáticas que
exploram o movimento de braços e pernas e pelos diferentes usos do chão. Em uma sequência de dança de rua, é possí-
vel fazer movimentos muito variados; e a força, a agilidade e a improvisação que privilegiam a liberdade do movimento
também são características essenciais a esse estilo de dança. Já o balé clássico é caracterizado por movimentos, posições
e posturas pré-estabelecidas, passadas de geração em geração e que enfatizam a leveza como característica essencial
dos seus passos, sempre inspirados nos movimentos das cortes europeias.
2. De acordo com Rudolf von Laban, em relação à utilização do espaço, o movimento dançado acontece
nas “áreas espaciais” ou “níveis espaciais”. Para Laban, a dança pode acontecer no chão, ou próximo
ao chão (no plano baixo), na altura de uma mesa padrão (no plano médio), ou acima da altura de uma
mesa padrão (no plano alto). Quais os planos do espaço utilizados nos passos da dança de rua? E no
balé clássico?
2. Para desenvolver mais a compreensão dos planos do espaço de acordo com os princípios de Rudolf von Laban, es-
timule os estudantes a experimentarem, na prática, as diferenças entre os movimentos executados nos planos baixo,
médio e alto.
E SOCIEDADE
Música e diferenças
Paisagem sonora
TUCA VIEIRA
Foto de um edifício de alto padrão na região do Morumbi, na cidade de São Paulo, com uma grande área de lazer comum, além de varandas com
piscinas privativas voltadas para a favela Paraisópolis. Foto de 2005.
RODA DE CONVERSA
Converse com os colegas e o professor e responda às seguintes questões.
1. Para você, o que é música?
1. Resposta pessoal. Neste livro será trabalhada a ideia de que não existe uma definição de música que possa ser considerada
melhor ou a mais correta. Acolha as diversas definições que poderão surgir das colocações dos estudantes e atente para pos-
síveis juízos de valor ao classificarem determinados tipos de música como “boa” ou “ruim”, “erudita” ou “popular”. Procure não
2. Resposta pessoal. Considere as preferências pessoais de cada estudante, sem expressar julgamentos que classifiquem os
3. Será que todas as pessoas acham que essa música que você gosta de ouvir é boa música? Justifique
sua resposta.
3. Espera-se que ocorra uma conversa na qual os conflitos entre os julgamentos sobre o valor das várias expressões musicais
venham à tona. Atente para o fato de que uma música pode ser classificada pelas pessoas como boa ou ruim de acordo com
sua complexidade técnica e criativa, mas também de acordo com os gostos e opiniões do público que a produz e a consome.
Provavelmente, a discussão em sala de aula mostrará que não há um consenso entre o que seja música, muito menos entre o
que seja boa música ou música de mau gosto. O que é boa música para alguns pode ser música ruim para outros, ou talvez nem
Seresta: canções românticas cantadas à noite nas serenatas, quando os músicos se colo-
cavam sob a janela da pessoa amada. O conjunto de músicas desse estilo formou o que
no Brasil passou a ser conhecido como serestas, mesmo que não sejam necessariamen-
te cantadas em uma serenata.
A canção descreve um barraco com uma porta que não se pode trancar,
Guizo: pequenas bolas ocas, ge-
mostrando a precariedade daquela construção. Um telhado de zinco furado, ralmente de metal, com uma ou
por onde passa a luz da lua, e provavelmente também a chuva, o vento e o mais bolinhas maciças em seu in-
terior e que produzem sons quan-
frio. No entanto, o lirismo dos versos em sinergia com a composição musical do agitadas.
criam uma atmosfera romântica, levando o ouvinte a acreditar que a alegria Cabrocha: mulher jovem e bonita,
dessa vida é mesmo a “cabrocha, o luar e violão”. A pobreza econômica nes- descendente de pai e mãe de cor
de pele diferentes, sendo um de-
-sa canção aparece apenas como pano de fundo, predominando a descrição
les negro e o outro branco.
da tristeza pelo grande amor que se foi.
Sinergia: quando duas coisas jun-
A segunda música que será analisada é a canção “Ave Maria no morro”,
tas causam um efeito superior ao
de Herivelto Martins. que causariam separadamente.
Agora vou mudar minha conduta Eu hoje estou pulando como sapo
Reproduza
Eu vou pra luta pois eu quero me aprumar Pra ver se escapo desta praga de urubu a faixa 12 do
Vou tratar você com a força bruta Já estou coberto de farrapo CD de áudio
Pra poder me reabilitar Eu vou acabar ficando nu para ouvir
a canção e
leia a letra
Pois esta vida não está sopa Meu terno já virou estopa
da música
E eu pergunto: com que roupa? E eu nem sei mais com que roupa enquanto
Com que roupa que eu vou Com que roupa que eu vou a ouve.
Pro samba que você me convidou? Pro samba que você me convidou?
Agora eu não ando mais fagueiro Seu Português agora deu o fora,
Pois o dinheiro não é fácil de ganhar Já foi-se embora e levou seu capital.
Mesmo eu sendo um cabra trapaceiro Esqueceu quem tanto amou outrora,
Não consigo ter nem pra gastar Foi no Adamastor pra Portugal,
Cada uma à sua maneira, as três canções que foram analisadas até aqui
falam em suas letras do modo de vida de uma parte da população brasileira,
em uma época passada, marcado pela pobreza urbana. “Chão de estrelas” é
uma canção de amor onde a pobreza é apenas o pano de fundo; a canção
de Herivelto Martins aborda o tema dentro de um clima religioso; e “Com
que roupa” aborda a pobreza com ironia e bom humor. As três músicas al-
cançaram muito sucesso em suas épocas e continuam a ser gravadas e to-
cadas até hoje. Talvez um dos motivos desse sucesso que atravessa os anos
seja a pluralidade de maneiras que essas canções podem afetar o público. Ao
mesmo tempo em que podem despertar alguns ouvintes para o conteúdo
social retratado em seus versos, são também consideradas por muitas pes-
soas como belas canções, clássicos que se canta para celebrar e festejar, ape-
sar do conteúdo de suas letras.
Tais canções foram compostas e inicialmente veiculadas quando o Brasil co-
meçava seu processo de urbanização e industrialização. A pobreza e os contras-
tes sociais já estavam presentes e eram marcantes, mas as canções daquele tem-
po ainda não eram veículos para expor os conflitos sociais ou protestar contra a
REPRODUÇÃO
três canções estudadas. Espera-se
que eles concluam que a fotografia
apresenta moradias precárias. A po-
breza é documentada de maneira
objetiva na foto, em um contrapon-
to aos recursos poéticos utilizados
nas canções.
Música e universidade
ARIEL FAGUNDES
tacou por músicas que abordam situações de ra-
cismo, pobreza, violência e o ambiente de crimina-
lidade a que estão expostas as comunidades mais
pobres das grandes cidades.
A letra do rap “Beco sem saída”, que será
analisada, descreve a situação de pessoas que
dormem sob os viadutos, vivendo sem perspec-
tivas de dias melhores. A letra também chama a
atenção para o fato de essas pessoas serem, em
sua maioria, afrodescendentes, “vítimas de uma Foto do show de lançamento do CD, Cores e Valores do grupo Racionais, em Porto
ingrata herança”. Alegre (RS). Foto de 22 de agosto de 2015.
RACIONAIS. Beco sem saída. In: Holocausto urbano (LP). Zimbabwe, 1990.
EL
GU
MI
Foto de grafite de Eduardo Kobra, representando o grupo Racionais, feito em 2014, que ocupa uma
parede de 14 metros de comprimento por 7,5 metros de altura em um imóvel na comunidade da Vila
Fundão, zona sul da cidade de São Paulo (SP). Foto de 2014.
RODA DE CONVERSA
A partir do que foi visto até agora, converse com os colegas e professor e responda:
1. Cite semelhanças e diferenças entre a música “Beco sem saída” e as demais músicas estudadas nes-
te capítulo.
1. Entre as semelhanças, pode-se citar a temática das letras que, de alguma forma, abordam situações do cotidiano das cida-
des; todas se ligam ao tema da pobreza. Entre as diferenças, estão o estilo de cantar, a instrumentação, o gênero musical e a
2. Quais os fatores que contribuíram para as mudanças na paisagem sonora da canção brasileira nos
últimos anos?
2. O agravamento da violência, o fim da censura, os avanços tecnológicos e a chegada da cultura hip-hop no Brasil são alguns
fatores. É importante ressaltar que, dentro dessa nova paisagem sonora, temas como a exclusão social ou a violência urbana
têm sido abordados nas canções de uma forma mais direta do que se fazia até então.
REPRODUÇÃO
pelas classes dominantes;
e. o uso exclusivista da arte para atender aos
interesses da elite.
4. (Universidade Federal de Sergipe) Considere as
afirmações sobre a dança contemporânea.
I. A dança contemporânea não se define
em técnicas ou movimentos específicos,
Toca do Salitre - Piauí pois o intérprete/bailarino ganha autono-
Disponível em: <http://www.fumdham.org.br>. Acesso em: 27 jul. 2010.
mia para construir suas próprias partituras
Texto 2 coreográficas.
II. A improvisação, contato improvisação,
REPRODUÇÃO
Billy Elliot, direção de Stephen Daldry. Inglaterra. 2000. (111 min.) Acesso em 14 dez. 2015.
Esse filme conta a história de um menino de 11 anos que morava No site do artista Criolo, é possível fazer o download gratuito de
numa pequena cidade e era obrigado pelo pai a treinar boxe. diversos trabalhos, como alguns de seus CDs, DVDs de shows
Porém, o menino acaba se encantando com as aulas de balé gravados ao vivo, videoclipes e documentários.
ministradas na academia que frequentava. Ao escolher praticar o Fumdham. Disponível em: <www.fumdham.org.br/>. Acesso em:
balé em vez do boxe, Billy enfrentará o preconceito de seu pai e 15 dez. 2015.
de seu irmão e descobre na dança a sua paixão.
O Museu do Homem Americano pertence à Fundação Museu
Chico – artista brasileiro. Direção de Miguel Faria Jr., 2015.
do Homem Americano (Fumdham) e está localizado em São
O documentário apresenta depoimentos, cenas históricas e
interpretações de canções de Chico Buarque, um dos mais Raimundo Nonato (PI). No site do Fumdham, há diversas imagens
importantes compositores da música popular no Brasil. Chico de pinturas rupestres e textos explicativos sobre a fundação e
Buarque, a seu modo, também denunciou a desigualdade social sobre as linhas de pesquisa.
Na Unidade 1, você percebeu que o espaço é um elemento fundamental das artes cênicas e que pode mo-
dificar tanto o significado de uma obra quanto seu processo de criação. Observou também experiências tea-
trais realizadas em espaços da cidade que não são pensados para o teatro; por exemplo, o Rio Tietê, na cidade
de São Paulo. Também experimentou, na prática, como um determinado espaço da escola pode ser transfor-
mado por uma ação cênica e como cada ação também é transformada pelo espaço.
Como você observou na Unidade 2, o surgimento do teatro se deu após o surgimento das cidades no
ocidente. Ele foi uma das principais atividades artísticas das urbes gregas, sendo, portanto, uma arte urbana.
Também vimos que, como arte vinculada às cidades, o teatro surgiu primeiramente nas ruas e, só depois, fo-
ram construídos os teatros gregos, mantendo como característica o fato de serem ao ar livre.
Neste capítulo será aprofundada a relação entre teatro e a cidade na contemporaneidade.
RODA DE CONVERSA
senta etc. Se possível, mostre aos estudantes fotos de diferentes espaços onde se pratica teatro para comparar, caso haja mais de um.
1. Em grupos de três estudantes, façam uma breve pesquisa em jornais, revistas ou na internet sobre
edifícios teatrais na cidade onde moram. Depois, escolham um deles e, em uma folha avulsa, colem
uma imagem do edifício teatral e descrevam-no, destacando aspectos de sua arquitetura.
2. Compartilhem com os demais grupos da turma sua pesquisa e conversem sobre a diversidade
dos edifícios teatrais na cidade ou região em que moram. Depois, registre nas linhas abaixo suas
impressões.
2. Resposta pessoal.
3. Você e seus colegas já viram alguma ação teatral em algum espaço que não seja o próprio teatro?
Escreva abaixo como foi sua experiência e, depois, compartilhe-a com os colegas.
3. O objetivo é conhecer as experiências que os estudantes já tiveram com peças em diversos espaços.
Este espaço teatral ficou encoberto por outras construções entre os sé-
culos XVIII e XX. Somente na década de 1950 iniciou-se um processo de re-
cuperação de sua estrutura original que foi finalizada em 1952. Repare que
as cores presentes no espaço são vibrantes e que o palco não é todo preto, e
sim uma construção de dois andares, com portas, janelas e balcões.
EDILSON PELIKANO
Foto de sala de teatro com palco italiano, no Centro Municipal de Cultura Goiânia Ouro, que foi inaugurado em 21 de junho de 2006, com o
objetivo de democratizar o acesso da população aos bens culturais, e fomentar o talento local. Foto de 2012.
mece a disputar a atenção do público com os artistas. Fazer teatro de rua é Improvisação: capacidade de criar,
de forma rápida e sem preparação
ser capaz de lidar com todos esses imprevistos e a improvisação e o diálogo prévia, tendo como base os ele-
direto com o público são recursos recorrentes dessa prática. mentos disponíveis na cena.
Amir Haddad é um diretor de teatro brasileiro que trabalha, desde a década de 1970, com espaços não
convencionais para suas peças – adotando principalmente a rua como espaço cênico. É fundador do gru-
po Tá na Rua, da cidade do Rio de Janeiro, referência nacional e internacional do teatro de rua.
Foto de cena do espetáculo Natal dos “Pobres”, do grupo Tá na Rua, dirigido por Amir Haddad na praça Arariboia, Niterói (RJ). Foto de 2013.
Lembro que, na primeira vez que fui fazer teatro de rua, estava com meu grupo e de repente fiz
um gesto (abre os braços) e fiquei estatelado... Falei: Santo Deus, já vivi isso, já vivi isso, estou me
reconhecendo, não é a primeira vez que faço isso, nem será a última, não sei onde, mas já vivi isso,
sei que já vivi isso! Uma sensação que nunca tinha tido fazendo teatro nas salas fechadas, mas fa-
zendo esse gesto na rua, abrindo meus braços, o povo ali fora... Gente pobre, gente rica, todo mun-
do, cachorro, polícia, todo mundo ali em volta... Eu já vivi isso! Já vivi isso não só no meu gesto,
já vivi nessa gente que está em volta de mim, nessa plateia heterogênea que se formou em volta de
mim, nessa construção de um novo edifício teatral, que é o cidadão livre se expressando no meio da
praça dizendo à sua maneira o que ele quer dizer para o outro e respeitando a inteligência do outro,
em nenhum momento tratando nenhum ser humano na praça como se ele não fosse capaz de enten-
der todas as linguagens, a melhor das linguagens: a mais direta, a mais viva, a mais perturbadora, a
mais transformadora que é essa relação direta que o teatro estabelece com as pessoas.
HADDAD, Amir. Arte urbana e a (re)construção do imaginário da cidade. Rio de Janeiro: Sesc,
Administração Regional no Rio de Janeiro, 2015. p. 10. (Caderno diverso, n. 1.)
1. Quais características do teatro de rua citadas por Amir Haddad são possíveis pelo fato de o teatro
ser feito na rua?
1. Haddad se refere à presença de um público heterogêneo: gente pobre, gente rica, cachorro, polícia etc. A liberdade de
expressão do cidadão em um local público falando diretamente para o público também é outra característica importante
2. De acordo com o texto, há uma linguagem ou composição teatral específica pelo fato de ser feito
na rua? Justifique sua resposta.
2. Não, o diretor afirma que todas as linguagens podem coexistir no teatro de rua e que o importante é a “relação direta
Canções de palhaço
DIVULGAÇÃO
Acesso em: 2 dez. 2015.
Para conhecer mais
sobre a Cia. Carroça de
Mamulengos, acesse sua
página na internet, onde é
possível saber a história da
companhia, ler as sinopses
de seus espetáculos, e
visualizar fotos e vídeos
de suas apresentações.
Fugir com o circo fez parte do imaginário de muitos jovens no século XX.
Peça a uma pessoa com experiência nesse contexto para contar como era o circo quando ela era crian-
ça e pergunte se, para ela, o circo era um importante momento de diversão e contato com a arte. É possí-
vel que ela ainda se lembre da emoção que sentia com a chegada dos artistas itinerantes em sua cidade.
Anote a resposta, compartilhe-a com os colegas, percebendo as semelhanças e diferenças entre
elas. Depois de conversar com os colegas, responda:
Atualmente, como você percebe o circo?
Resposta pessoal. Espera-se que o estudante consiga expressar sua percepção do circo na atualidade, tanto com expe-
riências que eles possam ter tido em espetáculo de circo quanto vendo algum espetáculo ou número circense na televi-
Depois de ler a reportagem, forme grupos de até quatro pessoas, e respondam às atividades
a seguir.
O objetivo dessa atividade é conhecer como os estudantes se relacionam com a sua própria cidade e como eles percebem
2. Resposta pessoal.
Participe da discussão levando em consideração a observação dos artistas citados no texto que destacam a correria e a
falta de contato entre as pessoas na cidade grande. É possível que em cidades do interior dos estados ou em outras capi-
tais do Brasil essa relação seja um pouco diferente da relatada pelos artistas do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Caso você já tenha visto alguma intervenção urbana na sua cidade, descreva-a para os estudantes e conte se ela interfe-
riu ou não na sua maneira de se relacionar com aquele espaço. Podem ser exemplos mais relacionados a outros campos
O sociólogo francês Henri Lefebvre publicou em 1968 um livro cuja tradução para o português é O di-
reito à cidade. Esse livro define como direito à cidade o direito de toda a sociedade urbana de usufruir dos
benefícios e da qualidade de vida nas cidades, independentemente de sua condição socioeconômica.
No entanto, observa-se nas grandes cidades brasileiras um crescente processo de gentrificação, isto é,
um processo de mudança imobiliária em uma região que envolve a troca de um grupo social por outro
de maior poder aquisitivo. Isso faz com que os grupos sociais de menor poder aquisitivo acabem sendo
levados a regiões cada vez mais distantes do centro urbano e cultural das cidades. Junto a este processo, a
dificuldade das cidades brasileiras em promover uma melhor mobilidade urbana por meio de transportes
públicos de qualidade, a preços acessíveis e sustentáveis ambientalmente, acaba restringindo o acesso aos
bens culturais e espaços de lazer da cidade a grupos sociais com maior poder aquisitivo.
Muitos coletivos de intervenção urbana têm questionado esse processo de gentrificação por meio de
ações artísticas e sociais. É o caso do movimento Praia da Estação, em Belo Horizonte. Esse movimento sur-
giu da união de diversos coletivos artísticos, políticos e sociais em resposta ao decreto 13.792 de 2009, que
limitação a realização de eventos culturais na Praça da Estação (região central da cidade). O movimento,
que tem muitos outros desdobramentos artísticos e sociais, tem como principal ação a reunião de cente-
nas de pessoas em trajes de banho na Praça da Estação, transformando-a em uma “praia”. Entendendo a
praia como um espaço cultural e de lazer democrático e de livre acesso a toda a população, essa interven-
ção chama a atenção para a necessidade de se pensar a cidade e seus equipamentos culturais e de lazer
não apenas como espaço de circulação, mas também de convivência entre seus cidadãos.
PRISCILA MUSA
Foto de banhistas na Praça da Estação, em Belo Horizonte (MG), comemorando a ocupação livre do espaço público e celebrando o terceiro
aniversário da Praia da Estação. Foto de 2 de janeiro 2012.
Foto da performance urbana CEGOS, do grupo Desvio Coletivo, no centro de Curitiba (PR). Foto de 8 de agosto de 2014.
Se possível, apresente aos estudantes o vídeo da performance Cegos. Para isso, digite
em um site de buscas as palavras “cegos desvio coletivo” e selecione o vídeo. Teatro e Cidade | CAPÍTULO 11 181
Veja orientações na Assessoria Pedagógica.
Primeira etapa Objetivo
Um dos elementos mais importantes no processo de criação artística é a Experimentar a
observação do mundo à sua volta. Nessa atividade, você vai observar a cidade, performance arte como
intervenção urbana no
seus caminhos, seus meios de transporte, a circulação das pessoas, o mobiliário
entorno da escola.
urbano, seus personagens, a forma de relação entre as pessoas etc.
Você e seus colegas farão um percurso da escola até um centro urbano. Pode ser uma praça, uma estação
de ônibus ou metrô, um shopping, um parque etc. A turma toda irá definir o local e planejar o trajeto a ser reali-
zado até o destino utilizando um mapa da cidade ou, se possível, um programa de geolocalização na internet.
Depois de planejado o trajeto, combinem um dia para a realização da ação de observação. No dia com-
binado, levem um bloco de anotações e, se possível, câmeras fotográficas. Durante o percurso, observem
cada detalhe, anotem, tirem fotos, filmem e comentem com outros colegas. Tentem ficar em silêncio em
alguns momentos para ouvir melhor o que se passa na cidade. Tudo o que chamar a atenção é importan-
te e deve ser registrado.
Segunda etapa
Formem grupos de, no máximo, cinco estudantes.
Compartilhem as anotações e as imagens entre o grupo e escolham dois ou três registros que chama-
ram a atenção de vocês. Pode ser uma pessoa, um mobiliário urbano, uma frase ou palavra que vocês ou-
viram etc. Depois dessa escolha, pensem em uma ação cênica que vocês podem fazer inspirados por esse
contexto. A performance deve ter em torno de cinco minutos. Pode ser uma pessoa vestida com determi-
nada roupa, um grupo de pessoas dizendo uma mesma frase, a disposição de algum objeto que modifi-
que um determinado espaço.
Atenção: não se trata de pregar uma peça nas pessoas. O objetivo da atividade é fazer os transeuntes
repararem naquilo que vocês observaram e, desse modo, verem a cidade de um modo diferente, ainda
que por apenas um momento. Se vocês forem usar mobiliário urbano, tudo o que vocês colocarem no
espaço deve ser possível de ser retirado sem depredá-lo. Escrevam uma proposta de intervenção em um
papel e mostrem ao professor para que ele possa ajudar.
Terceira etapa
Depois de definida a proposta de intervenção e com o auxílio do professor, definam o local de cada
performance, fazendo o mesmo percurso da primeira vez. No dia determinado, realizem a ação em um
tempo inferior a cinco minutos. Os demais colegas devem observar a certa distância, para que os tran-
seuntes também possam fruir da ação. Depois de finalizada a performance, voltem para a escola, assistam
aos vídeos e, ainda em grupos, conversem sobre a ação:
Vocês conseguiram realizar a ação?
Qual foi a reação dos outros colegas? E dos transeuntes?
O que vocês mudariam na ação se fossem fazê-la de novo? Mobiliário urbano: refere-se aos
objetos que compõem as ruas e
Qual aspecto da cidade as pessoas olharam de modo diferente em praças. Podem ser postes, lixei-
decorrência da performance que vocês fizeram? Por quê? ras, pontos de ônibus etc.
RODA DE CONVERSA
A partir do que foi estudado neste capítulo, converse com os colegas e responda quais são as prin-
cipais diferenças entre um espetáculo que é apresentado no palco e um que é apresentado na rua.
É importante que os estudantes observem que, na apresentação no palco, o público está mais concentrado na cena e é
mais homogêneo, sendo, em sua maioria, espectadores usuais de espetáculos de teatro ou dança. Já na rua, o ambiente é
mais disperso, e os artistas devem estar preparados para as mais diversas situações. Em uma apresentação na rua o públi-
co é heterogêneo e todos podem participar de maneira democrática. No palco, o preço dos ingressos e a lotação do teatro
podem limitar o acesso do público. Os espetáculos de rua podem circular por diversas cidades; já os espetáculos de palco
só podem ser apresentados em cidades que possuam edifícios teatrais. Algumas companhias também fazem adaptações
do espetáculo de palco para apresentação na rua ou em outros espaços como ginásios etc.
Foto do segundo dia do Ultra Music Festival 14, no parque Bayfront, Miami, Florida (EUA). Foto de 24 de março de 2012.
Na Unidade 2, você conheceu o conceito de paisagem sonora e a ideia de que as pessoas, de alguma ma-
neira, reproduzem os ambientes sonoros em que vivem em forma de linguagem e de música.
De acordo com o censo demográfico realizado pelo IBGE em 2010 mais de 80% da população bra-
sileira vive na área urbana. Pense em uma cidade bem movimentada e na diversidade de sons que for-
mam a paisagem sonora desse lugar: máquinas de todo tipo, telefones, veículos, multidões. Certamente
RODA DE CONVERSA
Mesmo havendo uma variedade tão grande de expressões musicais nas cidades, muitas pessoas
acabam ouvindo somente um estilo musical. Algumas pessoas gostam de rap, outras, de música clássi-
ca, outras preferem ouvir sertanejo ou heavy metal, mas nem todos se interessam por vários estilos ao
mesmo tempo.
Para gostar de alguns tipos de música, basta ser tocado por ela, sem que seja necessário fazer qualquer
esforço. Porém, para apreciar outros estilos, é preciso ouvir várias vezes, utilizando de interesse e vontade
em ampliar o gosto musical.
Converse com os colegas e o professor e responda às questões a seguir:
a. Cite o título de uma música que você goste muito e explique o que faz você gostar dela.
a) Resposta pessoal. Os estudantes poderão citar as letras das canções ou o fato de serem divertidas ou dançantes. É im-
portante acolher todas as opiniões sem julgamentos de valor e sem impor seu gosto pessoal.
b. Relate alguma experiência musical em que, após ouvir mais de uma vez uma música de um
estilo novo para você, começou a se interessar por ela.
b) Resposta pessoal. O objetivo dessa conversa e de todo o capítulo é incentivar os estudantes a ampliarem seu universo
Foto da harpista Cristina Braga durante show no Teatro Café Pequeno, no Leblon, ao lado do contrabaixista Ricardo Medeiros. A harpa de concerto
possui 47 cordas e sete pedais que ajustam o comprimento das cordas, alterando sua afinação. O contrabaixo possui 4 cordas e, devido ao seu
tamanho, deve ser tocado em pé ou parcialmente sentado em um banco bem alto. Os dois instrumentos pertencem à família das cordas; os
materiais de que são feitos e as diferenças nos tamanhos e na composição de suas cordas tornam o contrabaixo e a harpa instrumentos de timbres
muito diferentes. Foto de 14 de outubro de 2007, Rio de Janeiro (RJ).
O fator mais importante entre os res- 1/1 1/2 1/3 1/4 1/5 1/6 1/7 1/8
ponsáveis pelo timbre característico de
EDITORIA DE ARTE
um instrumento são seus harmônicos.
O timbre resulta da série harmônica, que
é o conjunto de frequências sonoras que
soa junto a uma nota principal.
Quando ouvimos uma nota produzi-
da por um instrumento ou pela voz, es- Ilustração esquemática representando a vibração principal e as vibrações
secundárias de uma corda, gerando os sons que formam a série harmônica. Na
cutamos também uma série de outras
figura, é possível visualizar as vibrações separadamente, mas, na prática, as
notas mais agudas que formam um con- vibrações ocorrem simultaneamente em uma corda.
junto sonoro. Isso acontece porque um
corpo em vibração (as cordas ou o tubo de um instrumento, por exemplo), além de vibrar como um
todo, vibra ao mesmo tempo em pequenas partes proporcionais: suas duas metades, seus três terços,
seus quatro quartos etc.
A nota fundamental é a mais grave e a responsável pela percepção da altura de um som. Porém, ela é
apenas uma de uma sequência de notas que são produzidas ao mesmo tempo e que é chamada de série
harmônica. As notas geradas pelas demais vibrações do corpo sonoro (das metades, dos terços etc.) são
mais fracas e mais agudas, e são chamadas de harmônicos. Esses, por sua vez, são o fator mais importan-
te para dar o “colorido” final do som, ou seja, seu timbre. Alguns instrumentos geram mais harmônicos que
outros e podem ressaltar ou mesmo suprimir alguns harmônicos da série.
EDITORIA DE ARTE
Formato de onda
do som complexo
Frequência
fundamental ou
1-º harmônico
2-º harmônico
Representação
gráfica das ondas
relativas aos
3-º harmônico três primeiros
harmônicos de
um som.
EDITORIA DE ARTE
representação das ondas sonoras (fre-
quência fundamental e seus harmô- Oboé
nicos) produzidas por diferentes ins-
trumentos musicais ao executarem a
mesma nota. Clarinete
No decorrer deste capítulo, você per-
ceberá que as orquestras e fanfarras são
agrupamentos musicais muito interessan-
Oboé e clarinete
tes, pois reúnem instrumentos diferentes
Gráficos representando as ondas sonoras produzidas por diferentes instrumentos
entre si e que produzem uma grande va-
musicais executando a mesma nota. As diferenças na produção dos harmônicos fazem
riedade de sons de diferentes timbres. os instrumentos produzir sons de timbres diferentes, mesmo se tocarem a mesma nota.
Música e História
A palavra orquestra vem do grego orkhéstra e significa “lugar para dançar”.
Na Grécia Antiga, os espetáculos eram encenados ao ar livre, nos anfiteatros. Havia um local em frente à área
de representação dos atores que era destinado às movimentações do coro, que cantava e também dançava. Ali
também ficavam os músicos. Muito tempo depois, já no início do século XVII, começaram a ser encenadas as pri-
meiras óperas na Itália que, originalmente, pretendiam ser imitações dos dramas gregos. Por isso, manteve-se o
nome orquestra para designar o local onde deveriam ficar os músicos, entre a plateia e os cantores. Com o passar
do tempo, o termo foi sendo utilizado para denominar grupos de muitos instrumentistas que tocavam juntos,
como as orquestras de música de concerto e as orquestras de música para festas, por exemplo.
STEVEN BOSTOCK/SHUTTERSTOCK
2 3
Foto do anfiteatro Odeon de Herodes Ático, localizado em Atenas, capital da Grécia. Os locais da orquestra e da plateia foram
restaurados na década de 1950. Foto de 2014. 1. Skene: significa “cenário” e era onde ficavam os atores. 2. Orkhéstra significa “lugar
para dançar”. 3. Theatron significa “lugar de onde se vê” e era onde ficava a plateia.
Família de cordas
DIVULGAÇÃO
Os instrumentos desse naipe são o violino, a viola (viola de concerto, não
a viola de 10 cordas, também conhecida como viola caipira), o violoncelo e o
contrabaixo; sendo o violino o instrumento que produz os sons mais agudos
entre esses quatro instrumentos, e o contrabaixo o que produz os sons mais
graves. Esses instrumentos possuem quatro cordas cada um e produzem sons
a partir da passagem de um arco pelas cordas. Às vezes, o músico usa também
a ponta dos dedos para pinçar as cordas e produzir um som. A harpa também
é um instrumento desse naipe e suas 47 cordas produzem sons aos serem pin-
çadas com os dedos do músico.
O piano é um instrumento que produz som quando suas cordas são
percutidas por um mecanismo ativado por meio de um teclado. Apesar dis-
Foto de Antônio Meneses, violoncelista
so, o piano não faz parte do naipe de cordas de uma orquestra, sendo utiliza-
pernambucano, considerado um dos
do principalmente como instrumento solista nos concertos. melhores do Brasil. Foto de 2012.
Se possível, reproduza as músicas sugeridas para os estudantes e, com eles, identifique os instrumentos da família das cordas em
maior destaque. Se julgar interessante, oriente os estudantes a formarem grupos para
Música e Cidade | CAPÍTULO 12 189
realizar a atividade de audição proposta.
Família das madeiras
Os instrumentos desse naipe, usualmente, são as flautas e o flautim, o
clarinete, o oboé, o corne-inglês, o fagote e o contrafagote.
Esses instrumentos foram originalmente construídos em madeira, mas,
com o tempo, receberam também outros materiais em sua fabricação. Por isso,
as flautas que são construídas em metal também estão na família das madeiras.
O saxofone também é feito de metal, mas utiliza palhetas de madeira e, por isso,
também está nessa família. O som desses instrumentos é produzido por meio
do sopro do músico, que faz vibrar a coluna de ar dentro do tubo do instru-
mento. Eles possuem orifícios controlados por chaves e alavancas, que, ao serem
abertas ou fechadas pelo músico, alteram o comprimento da coluna vibratória
de ar. Assim, quanto mais curta for a coluna de ar, mais agudo será o som produ-
zido. Quanto mais longa a coluna de ar, mais grave será o som produzido.
LUIS PAULO / AGÊNCIA O GLOBO
Foto de Alfredo da Rocha Viana, mais conhecido como Pixinguinha (1987-1973), flautista, Foto do clarinetista Paulo Moura
arranjador e compositor carioca. Considerado o principal nome da música popular brasileira da (1932-2010) em apresentação em São
primeira metade do século XX, ajudou a renovar e consolidar o chorinho como gênero musical Paulo (SP). Foto de 2 de maio de 2002.
brasileiro por meio de suas composições, arranjos e apresentações ao vivo. Algumas de suas
músicas como Carinhoso, Rosa e Lamento estão entre as obras-primas do repertório musical
nacional. Foto de 30 de novembro de 1972.
Disponível em: <www.
institutopaulomoura.com.
br/home/index.html>.
HAENDEL, George Frideric. Sonata para flauta n. 5, Handel: Sonatas for flute and basso
Acesso em: 12 fev. 2016.
continuo. Jan de Wine, Lorenzo Ghielmi & Marco Testori. CD. EPR-Classic, 2010.
No site do Instituto Paulo
Nessa música, a flauta é o instrumento solista, sendo acompanhada por um cravo,
Moura, é possível conhecer
que é instrumento de teclado com cordas.
o trabalho desse músico que
foi um dos maiores
STRAUSS, Richard. Concerto para oboé e orquestra em Ré maior, François Leleux,
clarinetistas do país e ajudou
Swedish Radio Symphony Orchestra & Daniel Harding. CD. Sony Music, 2010.
a desenvolver gêneros
Nessa música, o oboé é o instrumento solista, acompanhado pela orquestra. Repare musicais brasileiros como o
na diferença da sonoridade do oboé em relação à flauta ouvida na música anterior. samba e o choro.
Família da percussão
Existe uma grande variedade de instrumentos de percussão, feitos de
diversos materiais, que produzem sons ao serem batidos, sacudidos ou mar-
BAKER, Jason. Allston
telados. Alguns, como o tímpano e o carrilhão, produzem notas de altura de- Memoir. In: Mark Berry,
finida e podem ser usados para tocar melodias. Outros, como o bombo, o Sounds, shapes and synergy:
music for triangles. CD.
triângulo e a caixa clara, não produzem notas definidas e são usados apenas
Tresona Multimedia, 2015.
para a execução de ritmos.
A música foi composta
As formações das orquestras de música de concerto foram se alterando para ser interpretada por
com o tempo, incorporando ou substituindo instrumentos à medida que os um percussionista que
toca três triângulos de
avanços tecnológicos iam interferindo na sua maneira de tocar e na sua sonori-
tamanhos diferentes.
dade. No infográfico da página seguinte, é possível visualizar a formação básica
de uma orquestra atual de música de concerto. Essa formação varia de acordo BARTÓK, Béla. Sonata
para dois pianos e
com a música que vai ser tocada e pode haver a inclusão de instrumentos me- percussão. In: Béla Bartók:
nos comuns nas orquestras, como o violão ou o saxofone, por exemplo. Piano performances
1928-1945. CD. Essential
MARIANA GARCIA/ INSTITUTO CULTURAL FILARMÔNICA/ DIVULGAÇÃO
CORDAS
1 Harpa É sempre dedilhada.
2 Contrabaixo É o mais grave e o de maior tamanho dos instrumentos de corda.
3 Violoncelo Pelo seu tamanho, precisa ser tocado entre as pernas do músico, que deve estar sentado.
4 Viola Um pouco maior que o violino, possui um timbre um pouco mais escuro e produz notas mais graves do que o violino.
5 Violino É o mais agudo dos instrumentos de cordas friccionadas.
1 2 3 4 5
Trompetes Clarinetes
Flautas
Flautim
Harpas
Violas
Segundos
violinos
Spalla É o
principal
Primeiros violinista e
violinos atua como
elemento de
Piano Quando sua participação é menor Violinos São divididos em dois ligação entre
em uma música, normalmente fica atrás dos grupos: os primeiros e os segundos os demais Partitura Cada
violinos. Quando utilizado como instrumento violinos. Os primeiros geralmente músicos da pentagrama refere-se
solista, fica à frente da orquestra e à tocam notas mais agudas e os orquestra e o a um instrumento
esquerda do maestro. segundos mais graves. regente. musical.
14
7 10
13
9 15
11
6 8 12 16
17 18 19 20
Trombones Tuba
Bumbo
Contrafagote
Fagotes
Trompas
Oboés
Pratos
Tímpanos
Corne Caixa clara
inglês
Contrabaixos
ALBERTO PASQUANTONIO
determinando a intensidade, o
andamento e as dinâmicas da música de
acordo com sua interpretação da obra.
Infográfico mostrando como é a formação básica de uma orquestra de música de concerto.
Orquestras brasileiras
No Brasil, há várias orquestras de música de concerto, geralmente
vinculadas aos governos municipais ou estaduais. As orquestras também
podem ser chamadas de filarmônicas quando são mantidas por institu-
tos culturais, associações ou organizações da Sociedade Civil de Interesse
Público (Oscip), de caráter privado, mas que mantêm parcerias com o po-
Disponível em: <http://
der público. multirio.rio.rj.gov.br/index.
Agora você vai conhecer um pouco sobre algumas das orquestras de php/interaja/76-objetos-
de-aprendizagem/8401-
música de concerto existentes no Brasil. Além dos concertos tradicionais nos instrumentos-da-orquestra>.
grandes teatros, a grande maioria dessas orquestras realiza também concer- Acesso em: 13 out. 2015.
tos didáticos em escolas, igrejas ou praças, com entrada gratuita. Nesses con- Neste link da Multirio, é
possível conhecer como
certos, o maestro ou os músicos apresentam detalhes sobre alguma obra
funciona uma orquestra.
que vai ser tocada ou sobre algum instrumento de destaque no repertório Para isso, passe o mouse
do computador pelos
do dia. A seguir, serão apresentados alguns exemplos.
instrumentos, ouça os
A Orquestra Sinfônica da Bahia (Osba), além de realizar concertos no formato sons que produzem e
tradicional, mantém uma programação de apresentações de cameratas, que são conheça um pouco mais
sobre cada um deles.
pequenos grupos formados entre os músicos integrantes da própria orquestra.
A Orquestra Filarmônica de Goiás faz seus concertos tradicionais no Teatro Goiânia e também promove uma
série de concertos didáticos nas redes pública e particular de ensino de Goiás: a série Orquestra nos Bairros, que in-
clui apresentações em espaços alternativos de Goiânia, além das turnês regionais pelo interior do estado.
A Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa), no Rio Grande do Sul, realiza várias séries de concertos na
capital gaúcha e em cidades do interior do estado. Uma importante ação da Ospa é a manutenção da Escola de
Música, onde são ministradas aulas pelos próprios músicos da orquestra e os jovens interessados podem apren-
der gratuitamente a tocar violino, flauta transversal, clarinete, percussão e outros instrumentos de orquestra.
RAFAELA PESSOA
Foto de concerto da
Orquestra Filarmônica de
Goiás realizado em
uma igreja na cidade de
Anápolis (GO).
Foto de 2013.
MARIANA SIRENA
Foto de alunos da Escola de Música da
Orquestra Sinfônica de Porto Alegre
se apresentando na Escola Estadual
Rafaela Remião, do bairro Lomba do
Pinheiro, Porto Alegre (RS). A exibição
foi parte do projeto Escola da Ospa
na Comunidade, lançado em 2015,
que tem o objetivo de levar música
a diferentes lugares da região, como
escolas, lares de idosos, hospitais e
centros comunitários. Foto de 27 de
maio de 2015.
MARIANA GARCIA
MARIANA SIRENA
Dobrado: estilo musical original-
mente utilizado para acompanhar
marchas militares em andamento
rápido. Com o tempo, o estilo foi
recebendo modificações, passan-
do a ser uma das principais formas
musicais utilizadas pelas bandas
de música.
RODA DE CONVERSA
Neste capítulo, foi possível perceber que há muitas formas de se fazer música além das que comumente
são apresentadas pela maioria dos meios de comunicação. Você também pôde observar que o Brasil abriga
várias orquestras e que existem muitas bandas de música espalhadas pelo seu território.
Pesquise se na cidade onde você mora existe alguma orquestra ou grupo de câmara que se dedi-
que à música de concerto. Procure saber como é a formação instrumental desses grupos, se há pes-
soas que você conhece na orquestra ou no grupo de câmara, qual repertório é tocado e outros aspec-
tos que achar interessantes e, depois, compartilhe com os demais colegas da turma.
Resposta pessoal.
O objetivo dessa atividade é mostrar estas formações musicais como algo que pode estar próximo de muitos estudantes
e despertar a curiosidade daqueles cujas cidades não apresentem tais grupos. Se na cidade em que se localiza sua escola
não existir nenhum agrupamento musical desse tipo, você pode combinar alguma localidade com os estudantes ou sugerir
E CIDADE
Muralismo mexicano
Grafite, sociedade de
massas e indústria cultural
Papel do artista
na sociedade
CORBIS/ FOTOARENA
O primeiro passo é verificar se na escola há uma parede que possa ser Objetivo
usada para a realização da atividade. Redecorar as paredes
Em seguida, é necessário definir com os colegas e professor um tema da escola com pinturas
executadas pelos
para os trabalhos que irão figurar as paredes da escola. Independente da próprios estudantes e
temática selecionada, o importante é que os estudantes trabalhem jun- perceber as possíveis
aproximações com a
tos de modo que o trabalho funcione não apenas individualmente, mas
técnica adotada pelo
também em conjunto, ou seja, são produções individuais de cada estu- muralismo mexicano.
dante, mas que, juntas, formarão uma composição unificada nas paredes
da escola. Veja orientações na Assessoria Pedagógica.
COLEÇÃO PARTICULAR
CHANTAL REGNAULT
urbana foram os do artista Keith Haring. O artista co-
meçou a desenhar com giz em superfícies de papel
preto e a afixar seus desenhos sobre pôsteres nas es-
tações de metrô, como se pode ver na fotografia ao
lado. Haring vendia seus desenhos na cidade de Nova
York e destinava parte da renda aos eventos bene-
ficentes em favor da campanha contra a Aids. É im-
portante destacar que a Aids transformou-se em uma
verdadeira epidemia na década de 1980, o que fez
com que vários artistas se posicionassem em campa-
nhas públicas ou com doações monetárias. O próprio
Haring era soropositivo e faleceu em 1990.
No contexto da arte urbana, verificam-se expres-
sões e palavras como grafite, stickers (adesivos feitos
por meio digital ou manualmente), cartazes, pôste-
res lambe-lambes (pôsteres artísticos que geralmente
são fixados com um cola caseira), estêncil (técnica uti-
lizada com um molde vazado para aplicar o desenho
com tinta), flash mob (conjunto de pessoas que exe-
Foto de Keith Haring desenhando com giz em papel preto no
cutam, inusitadamente, ações ensaiadas em espaços espaço subterrâneo do metrô de Nova York, EUA, 1981. No começo
públicos) etc. da década de 1980, ele criou centenas desses desenhos.
JACK GUEZ/ AFP
WC.TAKEUCHI
Foto de belvedere (edifício construído
em local elevado) pichado na Praça João
Cândido, em Curitiba (PR). Construído
em 1915, abrigou a primeira emissora de
rádio do Paraná, tornou-se observatório
astronômico e meteorológico e, em
1962, passou a ser sede da União Cívica
Feminina. Foto de 21 de abril de 2012.
KEILA SURRUYA
O conceito de patrimônio aparece pela primeira vez no Brasil no Decreto-lei nº- 25, de 30 de novem-
bro de 1937 como Patrimônio Histórico e Artístico, ou seja, “o conjunto de bens móveis e imóveis existen-
tes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da
História do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico”.
A modificação e consequente ampliação do seu significado de patrimônio veio com a Constituição
Federal de 1988, na qual o anterior Patrimônio Histórico e Artístico passa a chamar-se Patrimônio Cultural e
refere-se aos bens “de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores
de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira”,
conforme o artigo 216 da Constituição citada.
A mudança, mais do que simples teor nominal, passa a reconhecer elementos não somente materiais,
como também os imateriais e relacionados à cultura, como os modos de criar, fazer e viver. Também fa-
zem parte desse conjunto as manifestações artísticas e tecnológicas; as obras, objetos, documentos, edifi-
cações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; os conjuntos urbanos e sítios de
valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
Portanto, nem todos os monumentos são considerados patrimônio. Para que isso ocorra, é necessário
que seja aberto um processo de tombamento, que irá decidir, conforme as legislações vigentes, se o mo-
numento atende às exigências patrimoniais – possuem valor artístico, histórico e etc. –, que condiciona-
rão sua preservação. Um monumento “tombado” e, por isso, parte do patrimônio, é um monumento re-
conhecido como digno de proteção. O tombamento é aplicado para bens móveis (pinturas, esculturas e
etc.) e para bens imóveis (equipamentos urbanos e de infraestrutura, paisagens naturais, ruínas, jardins e
parques históricos, terreiros e sítios arqueológicos). Sua instituição está presente no Decreto-Lei nº- 25, de
30 de novembro de 1937.
A respeito da tipologia dos bens que devem ser preservados, a Constituição em 1988 insere em seu
campo de proteção os bens imateriais e relacionados à cultura e, nesse caso, pode-se concluir que não
somente os monumentos são considerados como dignos de preservação, que também é válida para sa-
beres, ofícios e modos de fazer; celebrações; formas de expressão cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas; e
para lugares (como mercados, feiras e santuários que abrigam práticas culturais coletivas).
Dentro da categoria dos saberes está o Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro, que tem como pon-
to central o cultivo da mandioca brava, praticada por mais de 22 povos indígenas distribuídos ao longo
das margens do rio Negro, entre os municípios de Barcelos, Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel da
Cachoeira, no estado do Amazonas, até a fronteira do Brasil com a Colômbia e com a Venezuela.
Tombamento: tombar um bem é o mesmo que fazer um registro do valor a ser preservado de determinado patrimô-
nio. O tombamento é feito em livros específicos responsáveis por separar esses bens em grupos, dos quais: Livro nº- 1
do tombo arqueológico, etnográfico e paisagístico. Livro nº- 2 do tombo histórico; Livro nº- 3 do tombo das belas artes;
Livro do tombo das artes aplicadas.
Terreiro: nome popularmente atribuído ao espaço onde se realizam rituais de diversas modalidades dos cultos afro-bra-
sileiros, como folguedos, bailados, cantos e desafios.
BRUNO MEDLEY/ALAMY/LATINSTOCK
dantes, planejem e façam um mapeamen-
to de arte pública. Identifiquem, nas pro-
ximidades de casa, da escola entre outros
lugares, as obras que modificam a paisa-
gem urbana, como a imagem ao lado, que
traz o exemplo de um estêncil em que a
imagem é realizada a partir de um molde
vazado feito em papel, plástico ou metal
com formatos variados (letras, desenhos,
símbolos etc.), colocado sobre a parede
– ou outra superfície desejada. O preen-
chimento pode ser efetuado utilizando tinta
spray, rolo ou pincel. Se possível, pesquisem
quem são os artistas responsáveis pelas inter-
venções presentes nesses espaços visitados.
Passeiem por esses lugares, registrem
os trabalhos dos artistas por meio de foto-
grafias e tragam para a sala de aula.
Conversem com os colegas dos outros
grupos e com o professor sobre como essas
Foto do estêncil Swept under the carpet (em tradução livre “Varrido para
imagens se relacionam com a paisagem e debaixo do tapete”), realizado pelo artista conhecido como Banksy, em 2006,
com o seu entorno. em Londres, Inglaterra. Foto de 2010.
Outra possibilidade é compor um mapa da região pesquisada com as informações coletadas por to-
dos os grupos. Vocês podem demarcar todos os pontos nos quais foram identificadas manifestações de
arte pública. Nesse caso, cada grupo pode usar uma marcação diferente (um grupo usa a cor vermelha,
enquanto outro usa a cor verde etc.). Observem se nos espaços visitados, há alguma proximidade entre
as práticas e qual a região com o maior número de exemplos. Levantem hipóteses sobre os resultados.
Veja orientações na Assessoria Pedagógica.
AKG IMAGES/LATINSTOCK
Outro elemento fundamental para a compreensão da arte contemporânea pode ser denominado de
politização do meio artístico mais latente na década de 1960 ou como estudo na América Latina, por meio do
Muralismo mexicano, intensificando a presença de movimentos que reivindicaram a redescoberta da história
dos indígenas, dos afrodescendentes e de outros povos que foram dominados durante a colonização.
RODA DE CONVERSA
Após o estudo deste capítulo, converse com os colegas e o professor e responda:
1. Qual a sua opinião sobre as intervenções que têm como suporte os espaços públicos? Justifique sua
resposta.
1. Resposta pessoal. Reflita sobre as diferentes formas de ocupação do espaço público, seja na transformação de espaços
2. Das manifestações de arte urbana estudadas, quais delas você pôde observar em seus trajetos no dia a dia?
2. Resposta pessoal. Estimule a percepção dos estudantes com relação aos locais de acesso rotineiro, questionando-os sobre
a identificação do conteúdo aprendido em sala de aula, e incentivando sua aplicação no dia a dia.
3. Caso você tivesse a possibilidade e a liberdade de ocupar um espaço público com algum trabalho
artístico, o que você faria? Justifique sua resposta.
3. Resposta pessoal. Desperte o interesse sobre espaços, prédios ou monumentos que são considerados importantes.
Considere tanto as definições de patrimônio material (como praças, estátuas, prédios) como também imateriais (alimentos,
danças, formas de expressar sua identidade ou religiosidade etc.).
4. Você conhece algum bem material ou imaterial tombado pelo Iphan? Caso não conheça, você tem
alguma sugestão de bens que poderiam ser tombados na sua cidade?
4. Resposta pessoal. Converse com os estudantes sobre a importância de respeitar e preservar espaços públicos e, ainda nes-
sa perspectiva, faça-os refletir sobre a importância da preservação desses bens para a sociedade.
Foto da intervenção urbana Involuntário, realizada pela Cia. Etc. na praia de Boa Viagem, em Pernambuco. Trata-se de uma intervenção urbana,
de 45 minutos, em que quatro intérpretes da dança se movimentam envolvidos por um tecido vermelho. O intuito é promover um encontro
inesperado e inusitado com a cidade, interferindo na normalidade estabelecida dentro e fora de cada pessoa. Foto de 2010.
Para conhecer mais o trabalho da Cia. Etc. visite o site <http://ciaetc.com.br/home/>, acesso em 9 maio 2016.
RODA DE CONVERSA
Converse com os colegas e o professor sobre as questões a seguir.
1. O que você pensa sobre a dança apresentada em espaços como ruas, sacadas, escadarias etc.?
2. Que espaços você considera propícios para apresentações de dança? Cite três deles e justifique suas
escolhas.
2. Resposta pessoal. No século XXI, apesar de encontrarmos a dança nas escolas, nos salões, nos clubes e inclusive em hos-
pitais, os teatros ainda são os lugares mais comumente associados às apresentações de dança. Incentive respostas que ex-
trapolem os lugares convencionais de apresentações, a exemplo de: supermercados, parques, telhados, laterais de prédios
etc. É importante que as respostas sejam consideradas de acordo com o contexto no qual os estudantes estão inseridos, pois
algumas questões podem se tornar mais polêmicas a partir, por exemplo, da orientação religiosa e/ou educacional. Dançar
em espaços como igrejas ou hospitais pode ser algo possível e comum para uns, mas impossível e inusitado para outros, e
a definição dessas possibilidades dependerá das orientações e construções culturais de cada um. É importante respeitar es-
sas diferenças.
1. Resposta pessoal. O estudante poderá responder a essa pergunta de diversas formas, a depender da sua cultura e das vivências
anteriores. Os estudantes que vivem em grandes centros urbanos podem estar mais acostumados com a dança apresentada nos es-
paços citados acima do que os estudantes que vivem em cidades menores. Dança e Cidade | CAPÍTULO 14 217
Quando a dança ocupa a
cidade e desafia a gravidade
O movimento humano surge a partir das relações do corpo que se move no
espaço com as variadas qualidades (ou dinâmicas) do movimento. O corpo, o es-
paço e as variadas qualidades ou dinâmicas são os componentes do movimento.
Uma coreografia ou uma performance é elaborada com a combinação dos
movimentos do corpo no espaço em um tempo determinado pela criação do in-
térprete ou do coreógrafo e sempre é influenciado pelo espaço que o corpo ocupa.
A pesquisadora de dança Isabel Marques no livro Interações: crianças, dança
e escola, de 2012, sugere que, para compreender o movimento, deve-se conhe-
cer o corpo que dança (o que se move), o espaço que ele cria (onde esse corpo
se move) e as diferentes dinâmicas do movimento (como esse corpo se move).
ANGELO REDAELLI
A companhia italiana Il Posto é fruto de um projeto concebido em 1994 pela coreógrafa Wanda Moretti
e pelo músico Marco Castelli. Por trabalhar essencialmente com apresentações de dança influenciadas pelos
espaços que os corpos dos intérpretes ocupam e pela interação desses corpos com a plateia presente nes-
ses espaços, essa companhia se especializa em performances urbanas. As performances dessa companhia
de dança desafiam a gravidade ao utilizar a dimensão aérea e as formas arquitetônicas de prédios e edifícios
como palcos e cenários para os seus movimentos. Para que os movimentos dos intérpretes aconteçam nesses
espaços, estudos que incluem as leis da física e conhecimentos da arquitetura desses espaços são essenciais.
Considere que qualquer corpo, quando solto no espaço, tende a cair, por causa da ação da gravidade
sobre ele. Ao observar os corpos dos intérpretes da companhia italiana Il Posto em suas performances, no-
ta-se que a força desses corpos, a relação entre os movimentos, a posição dos corpos no espaço e a arqui-
tetura dos espaços utilizados pela companhia são componentes essenciais para suas criações artísticas.
O público presente se torna parte do espetáculo e assiste aos movimentos executados ao som de uma
música tocada ao vivo. Seguindo a proposta de ocupação de espaço da companhia, esse público tem di-
ferentes visões dos movimentos criados e executados pelos intérpretes, dependendo do lugar escolhido
para assistir à performance.
Na imagem acima, observe os diferentes ângulos dos movimentos dos intérpretes.
Foto de apresentação do Judson Dance Theatre no Judson Memorial Church em Nova York, Estados
Unidos. Foto de 1963.
Foto da performance Floor of the forest, da Trisha Brown Dance Company durante a “Documenta 12”, uma das maiores exposições de arte
moderna e contemporânea que acontece a cada cinco anos em Kassel, Alemanha. Foto de 13 de junho de 2007.
penduram, os tecidos.
3. Que tipos de movimento você imagina que são executados pelos corpos que participam da per-
formance na imagem?
3. Resposta pessoal. Movimentos que exploram a relação dos corpos com o espaço encontrado, a exemplo do uso das cor-
das para se pendurar sustentando o corpo, o balanço dos corpos pendurados e os deslocamentos, quando os corpos pas-
sam entre as cordas e as roupas.
Agora, em trios, escolham um espaço, dentro ou fora da escola, onde vocês possam criar movimentos
de dança e compor uma performance. De acordo com as ideias de cada trio, definam:
Veja orientações na Assessoria Pedagógica.
1. Qual será o espaço utilizado e por que ele foi escolhido.
2. Utilizem um tempo da aula para o processo de criação dos movimentos que integrarão a perfor-
mance. Nessa vivência, é importante atentar para os seguintes fatores:
a. Nos processos de criação em dança contemporânea, que podem vir a ser performances, os mo-
vimentos e a forma como eles serão utilizados durante um determinado tempo, podem sur-
gir à medida em que são experimentadas as diversas formas de mover dos corpos envolvidos,
e, portanto, nem sempre haverá passos a serem ensinados, memorizados e sincronizados em
muitos ensaios, mas, sim, oportunidades de vivenciar processos de criação dos movimentos.
b. Na dança contemporânea, o espaço, o cenário, o figurino e os objetos cênicos podem servir como
estímulos motivadores dos processos de criação, experimentação e transformação dos movi-
mentos criados. O processo de criação é, muitas vezes, mais importante do que o resultado final.
c. Diferentemente de outras formas de dança, em que os intérpretes repetem os movimentos criados
pelo coreógrafo, na dança contemporânea, muitas vezes, é a integração entre os corpos e a ação
deles no espaço que determinarão os movimentos a serem criados e executados. Mesmo quando
um dos membros do grupo atua como o coreógrafo daquela performance, um movimento criado
por um outro membro do grupo pode vir a ser movimento inspirador para o processo de criação.
3. Com o espaço definido, escolham um figurino a ser utilizado pelos integrantes dessa vivência em dança.
4. Definam, entre os integrantes do grupo, se haverá utilização de música no processo de criação da
performance. Na dança contemporânea, e nas performances, nem sempre a música é necessária
para a criação e apresentação dos movimentos.
5. Decidam se haverá a utilização de algum outro objeto cênico para que a performance aconteça, a
exemplo de cordas, bastões, cadeiras, mesas etc.
6. Depois de definidos os movimentos, os objetos cênicos, a utilização da música e o espaço a serem
utilizados, ensaiem algumas vezes em grupo a performance que será apresentada.
7. Depois de vivenciar com os colegas os vários momentos que compõem um processo de criação e
ensaio, compartilhe a performance criada pelo seu trio com os outros integrantes da turma e com
o público presente no espaço escolhido para apresentação.
Artistas fazem intervenções de dança nas calçadas da cidade e interagem com o público
Reações do público
Surpresa, espanto, alegria, pavor. As reações do público são muito variadas [...] Para os interventores,
os resultados incertos são esperados, já que é um propósito das intervenções.
Os dançarinos ainda contam que há pessoas que entram na brincadeira e outras ficam de fora, mas
sempre curiosas. “Algumas pessoas dançam conosco, outras entram no quadrado como um espaço de
visibilidade para outras ações. Há quem interaja de fora incentivando com frases, estimulando outras
pessoas a entrar ou dançando, fotografando, filmando”.
Os artistas ressaltam que todas as interações do público são bem-vindas, e que é um ótimo incentivo
para a apropriação poética e subjetiva do espaço público. [...]
OLIVEIRA, Bruna Martins. Artistas fazem intervenções de dança nas calçadas da cidade e interagem com o público.
Disponível em: <www.portalcomunicare.com.br/artistas-fazem-intervencoes-de-danca-nas-calcadas-
da-cidade-e-interagem-com-o-publico/>. Acesso em: 5 fev. 2016.
Pesquise na internet, em jornais ou revistas três companhias de dança que levam os movimentos
criados em suas performances para os espaços públicos não convencionais e anote o nome da com-
panhia e o espaço público onde foi realizada a apresentação. Resposta pessoal.
Espera-se que os estudantes busquem criações que são levadas aos espaços públicos como intervenções urbanas e perfor-
mances, a exemplo das que foram estudadas neste capítulo, e não as apresentações de dança que acontecem em eventos
programados por prefeituras, associações de bairros, escolas e igrejas em praças públicas. Amplie a atividade para que os
estudantes pesquisem de maneira mais específica sobre companhias de dança que se apresentaram em espaços públicos
da cidade ou no estado onde moram. Para incentivar a reflexão sobre como os movimentos do cotidiano podem ser trans-
formados em coreografia, sugira aos estudantes que formem grupos de até cinco pessoas e listem cinco movimentos diá-
rios simples, como escovar os dentes, pentear os cabelos, caminhar, amarrar os sapatos, e criem sua própria sequência de
movimentos. Depois, a sequência de movimentos poderá ser compartilhada com os demais colegas da turma.
RODA DE CONVERSA
Agora que você já apreciou algumas performances que utilizam os espaços urbanos para os
seus processos de criação, experimentou espaços variados para os processos de criação e execu-
ção do movimento na dança contemporânea e conheceu o trabalho de companhias de dança que
utilizam espaços urbanos para suas criações e performances, converse sobre essas questões com
os colegas:
1. Na sua avaliação, qual foi o impacto da apresentação da performance criada pelo seu trio no boxe
“Fazer arte” para as pessoas que a assistiram? E como esse impacto se relaciona com as concepções
da dança contemporânea?
1. Resposta pessoal. Nessa questão, é importante considerar as várias respostas possíveis. Porém, é importante estimular o
relato sobre a opinião e/ou reação das pessoas ao assistirem à performance. Considerando que não há intenção de prever
ou controlar a reação de uma plateia, todas as respostas contribuirão para a discussão e para a compreensão de que a dan-
ça contemporânea privilegia as diversas possibilidades de criação de movimento e de interação com o público presente.
2. Neste capítulo, foi visto como determinados fatores, por exemplo, a participação ou não participa-
ção do público, a integração dos intérpretes com o espaço ou os imprevistos do momento da apre-
sentação são importantes para o processo de criação e apresentação de uma obra de dança. Como
se deu a interação entre o seu grupo que interpretava os movimentos criados e o público que assis-
tiu à performance, e como você relaciona essa interação com a dança contemporânea?
2. Resposta pessoal. Nas apresentações de dança contemporânea, deve-se sempre considerar o contexto onde os movi-
mentos são apresentados e como as pessoas reagem a esses movimentos, uma vez que elas integram a performance que o
grupo propõe. Fatores como a participação ou não participação do público, a integração dos intérpretes com o espaço ou os
imprevistos do momento da apresentação devem ser sempre considerados como parte do processo vivenciado.
a apresentação utilizou músicas, analisar como a música funcionou naquele ambiente e, se não utilizou, de que modo o som
4. Diversos espaços podem ser utilizados para a criação e apresentação de uma performance. Conforme
o que foi estudado, cite outros espaços nos quais você poderia experimentar a performance cria-
da pelo seu trio. Você considera que a performance apresentada poderia ser feita em um hospital?
Justifique sua resposta.
4. Resposta pessoal. Diversos espaços podem ser utilizados para a performance criada pelo grupo, desde que sejam feitas as
adaptações necessárias e que se considerem fatores de segurança, climáticos, ambientais e logísticos típicos de cada lugar.
5. Escrever sobre as experiências vivenciadas pelo corpo que dança também é uma forma de registro e de re-
flexão sobre os processos de criação em dança. Escreva abaixo os principais desafios encontrados no desen-
volvimento desse trabalho. Ao finalizar, caso queira, compartilhe esses desafios com os colegas da turma.
5. Resposta pessoal. Os desafios encontrados terão caráter muito pessoal, portanto, essa atividade tem caráter reflexivo. O
mais importante é que os estudantes e o professor reflitam sobre as ações que a turma desenvolveu. Talvez alguns grupos não
se sintam à vontade para compartilhar essas experiências em voz alta com os demais estudantes da turma, mas isso não dimi-
nui a importância da atividade. Na dança, muitas vezes, a reflexão e a escrita servem como alicerces para a próxima ação em
um processo de criação.
REPRODUÇÃO
a. As pessoas não gostam de teatro por-
que ele costuma ser rebuscado e de difícil
compreensão;
b. O teatro fora das casas de espetáculos tra-
dicionais permite que uma maior parcela da
população tenha acesso a essa arte e que
goste do que vê;
c. No teatro, apenas os artistas jogam um pa-
pel relevante, cabendo ao público o lugar
de um observador que não contribui com o
acontecimento teatral;
d. O teatro de rua e em espaços não conven-
cionais é menos importante, pois costuma
ser feito para um público popular e pouco
acostumado ao teatro; Romero Brito. “Gisele e Tom”
REPRODUÇÃO
REPRODUÇÃO
Andy Warhol. “Michael Jackson”. Andy Warhol. “Marilyn Monroe”.
c. e.
REPRODUÇÃO
REPRODUÇÃO
Funny Filez. “Monabean”. Pablo Picasso. “Retrato de Jaqueline Roque com as Mãos
Cruzadas”.
Detalhe da obra Bumba meu boi, óleo sobre tela, de Dila, 2011.
Dimensões: 50 cm × 100 cm. Dila, artista autodidata nascida em
Humberto de Campos (MA), participou de inúmeras exposições no
Brasil e no exterior. Em suas obras, ela explora imagens da memória,
o cotidiano nordestino e lembranças da infância. Nessa obra, é
possível reconhecer a diversidade de cores, fantasias e papéis no
bumba meu boi, uma expressão da cultura popular brasileira.
233
5
CULTURA OU Conteúdos
§ Conceito de cultura
CULTURAS
§ Capital cultural
§ Culturas dos jovens
Foto de indígenas da etnia Kuikuro, do Alto Xingu, registrando com smartphones a competição de cabo de força no I Jogos Mundiais dos Povos
Indígenas, realizado em Palmas (TO), que contou com a presença e participação de povos indígenas de diversos países como: Argentina, Bolívia,
Canadá, Chile, Mongólia, Rússia entre outros. Foto de outubro de 2015.
A palavra cultura é utilizada em diversas situações, seja em conversas familiares ou entre amigos, nos meios de co-
municação, na escola etc., muitas vezes como sinônimo de arte ou de escolaridade. No senso comum, normalmente,
quando se diz que uma pessoa é culta ou que tem cultura, deseja-se dizer que ela possui alto nível de escolarização,
que lê bastante, que frequenta eventos artísticos, entre outras características. No entanto, afirmar que alguém ou al-
gum grupo é culto pode levar à interpretação de que outras pessoas ou outros grupos não o são, o que não é verdade.
Neste capítulo, você conhecerá o conceito de cultura de maneira mais aprofundada, percebendo que não
existe apenas uma cultura, no singular, e sim várias culturas, no plural.
ções de cultura que surgirem e a diversidade de situações, objetos e ações que pertencem ao conceito de cultura.
2. No seu cotidiano, quais acontecimentos, festas, objetos artísticos, tradições etc. fazem parte da sua
cultura? Por quê?
2. Resposta pessoal. Aceite as respostas dos estudantes e conduza a conversa de maneira a explicitar a diversidade de ex-
pressões culturais que os estudantes já conhecem e estão imersos. Ajude-os a reconhecer elementos presentes em sua
cultura.
Quilombos: foram lugares de refúgio dos negros em situação de escravidão no Brasil nos séculos XVII e XVIII. Muitos desses
quilombos existem até hoje, preservando a cultura e a tradição afro-brasileira.
Pense em práticas comuns e regras de comportamento presentes onde você mora e tente se lembrar
de pequenas tradições que determinam a forma como você e as outras pessoas que moram com você
se relacionam.
Observe como vocês ocupam o tempo em casa e quais os horários reservados para cada atividade. Por
exemplo, assistir a um programa específico de televisão, preparar um determinado tipo de comida, as for-
mas específicas de almoçar ou jantar, uma música que sempre ouvem etc.
Agora, descreva abaixo alguns desses pequenos “rituais culturais” comuns em sua casa.
Resposta pessoal.
Essa atividade é continuidade da atividade anterior. Ao se reconhecer imerso em uma cultura, os estudantes são capazes
DIVULGAÇÃO
tura do Brasil, sendo exibidas também em vários outros
países. O documentário A negação do Brasil: o negro na te-
lenovela brasileira, dirigido por Joel Zito Araújo, em 2000,
apresenta uma extensa pesquisa da teledramaturgia brasi-
leira desde a novela O direito de nascer, exibida em 1964, até
novelas exibidas no início dos anos 2000.
A pesquisa tem como foco o lugar dos atores e persona-
gens afro-brasileiros na teledramaturgia nacional. Por meio
de fragmentos das novelas, entrevistas de importantes ato-
res afro-brasileiros como Zezé Motta, Milton Gonçalves,
Ruth de Souza, entre outros, o documentário discute como
o mito da democracia racial – a ideia de que no Brasil não
existe preconceito – perpassa também os roteiros das te- Fotograma do casamento entre os personagens de Zezé
lenovelas. Para Joel Zito, frente a uma sociedade miscige- Motta e Marcos Paulo na novela Corpo a Corpo, de 1984.
nada, a telenovela ainda apresenta um Brasil quase inteira-
mente branco, reservando um espaço muito reduzido aos atores e à cultura afro-brasileira.
O diretor destaca o papel protagônico de Zezé Motta na novela Corpo a Corpo, escrita por Gilberto Braga,
em 1984, como um marco da questão racial na teledramaturgia. A atriz fazia o par romântico com o ator
Marcos Paulo e foi alvo de críticas e de preconceito na época. Zezé Motta é uma importante atriz brasileira,
tendo feito papéis protagônicos no teatro, na televisão e no cinema. Ela também se destaca por sua atuação
no movimento negro contra o racismo e, com vários outros artistas, continua lutando pela ampliação do es-
paço para artistas afrodescendentes na teledramaturgia brasileira, bem como no teatro e no cinema.
Porém, não é apenas no Brasil que o espaço para atores e atrizes afrodescendentes vem sendo recla-
mado pelos artistas. Viola Davis foi a primeira intérprete negra a ganhar o principal prêmio da TV norte-
-americana, o Emmy, na categoria de melhor atriz em drama ao interpretar uma advogada na série televisiva
How to get away with murder (em livre tradução Como se livrar de um assassinato).
O portal Geledés – Instituto da Mulher Negra, disponível em: <www.geledes.org.br/>, acesso em: 11 maio 2016, traz inúmeras
informações, artigos e reflexões atuais, principalmente, sobre questões raciais e de gênero. Há também uma aba denominada
África e sua diáspora, sobre assuntos diretamente relacionados à cultura e história africana.
Cultura ou Culturas | CAPÍTULO 15 239
Leia a seguir um fragmento do discurso da atriz ao receber o Emmy, no qual reafirma a importância de
papéis protagônicos escritos para atrizes e atores afrodescendentes:
Com base nessas informações, reflita sobre a situação dos afrodescendentes nas telenovelas e converse
com os colegas e o professor sobre o assunto, utilizando as perguntas a seguir como norteadoras.
1. Como você percebe a presença dos atores e personagens afrodescendentes na telenovela brasi-
leira atualmente?
1. Resposta pessoal. Normalmente, os estudantes assistem à televisão ou a programas televisivos em outros suportes
como computador, tablet ou celular. Peça a eles que observem quais são os personagens representados por afrodescen-
dentes na teledramaturgia brasileira e que tragam referências sobre esses personagens para a sala de aula.
2. Você considera que o espaço para os atores afrodescendentes nas telenovelas têm aumentado?
Justifique sua resposta citando exemplos.
2. Resposta pessoal. Conduza a conversa citando exemplos específicos de personagens interpretados por atores afrodes-
cendentes em telenovelas brasileiras. Exemplos: o personagem André Gurgel, interpretado pelo ator Lázaro Ramos em
Insensato Coração (2011); ou, ainda, a personagem Keila Machado, interpretada por Sheron Menezes em Além do Horizonte
(2013).
3. Como são retratados os personagens afrodescendentes nos roteiros das novelas? Os atores afro-
descendentes costumam ser protagonistas? Cite exemplos.
Fruidor: é a pessoa que aprecia algo. Nesse contexto, refere-se à arte e à cultura.
Agente: aquele que age, que realiza uma ação. Nesse contexto, o agente cultural é aquele que promove ou realiza obras ar-
tísticas ou atividades culturais.
Sociabilidade geracional: refere-se às relações sociais que se dão entre pessoas de uma mesma geração.
Design: palavra de origem inglesa que, em sua tradução literal para o português, significa desenho. Refere-se ao aspecto vi-
sual da obra em sua divulgação. Pode ser a capa de um disco ou livro ou as demais peças visuais (cartazes, folhetos etc.) de
divulgação.
Na década de 1980, o rock brasileiro se destacou como expressão máxima de uma parcela da juventu-
de no país. Vindo principalmente de Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e de outras capitais do país, o rock
cantado em português passou a ser tocado com bastante frequência em estações de rádio até então
acostumadas a tocarem apenas músicas em inglês. Dentro desse movimento nacional, a banda Titãs, de
São Paulo, surgiu em 1981 com influências de estilos como o heavy metal, punk rock e o pop. Suas apresen-
tações na televisão e em shows eram bem-humoradas e eles foram um dos primeiros grupos musicais a
explorar a linguagem do videoclipe, que começava a despontar no Brasil e no mundo.
Comida
Bebida é água!
Comida é pasto!
S
Você tem sede de quê?
PIRE
ANDO
Você tem fome de quê?...
FERN
A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte
[...]
A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer dinheiro
E felicidade
A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer inteiro
E não pela metade
[...]
Diversão e arte
Para qualquer parte
Diversão, balé
Como a vida quer
Desejo, necessidade, vontade
Necessidade, desejo
Necessidade, vontade
Necessidade...
Comer e beber são atividades básicas de sobrevivência do ser humano. Sem alimento e sem água, os seres vivos morrem.
No entanto, a canção chama a atenção para o fato de que a vida vai muito além da sobrevivência física do corpo. Ao fazer
essas perguntas, a música leva o ouvinte a refletir sobre quais elementos da cultura, entendida em seu conceito mais am-
2. Entendendo que comida, diversão e arte também fazem parte da cultura, escreva abaixo alguns
desejos, vontades e necessidades que você tem em relação à sua cultura.
2. Resposta pessoal.
Para esta questão, interessa saber o que os estudantes consideram essencial para se viver e quais são seus modos de vida.
Isso ajuda a entender a cultura na qual eles estão inseridos. É possível que, para um estudante, participar de uma prática
religiosa seja fundamental, enquanto, para outro, jogar determinado jogo digital seja essencial. São essas as diferenças
3. Essa música provavelmente fez parte da juventude de seus pais e de alguns professores. Que músi-
ca da atualidade você escolheria para expressar, por exemplo, que viver é muito mais que “sobre-
viver”? Escolha uma canção e traga para a sala de aula em um CD, pen drive ou outra mídia para
mostrar aos colegas.
3. Resposta pessoal. É importante que o estudante compartilhe elementos da sua cultura com os colegas, valorizando tam-
bém suas escolhas e as expressões artísticas que falam diretamente à sua geração. Se possível, verifique se na escola há dis-
ponibilidade de algum equipamento para a reprodução das músicas trazidas pelos estudantes e selecione algumas delas
para serem ouvidas por todos. Caso considere pertinente, procure pelo videoclipe Comida dos Titãs em sites de vídeos na
internet e acesse com os estudantes. Se possível, acesse com os estudantes o canal oficial dos Titãs na internet, disponível
em: <www.youtube.com/user/TitasOficial1>, acesso em: 7 jan. 2016, para conhecer mais o trabalho atual do grupo.
RODA DE CONVERSA
A partir do que foi estudado e experimentado neste capítulo, escolha uma cultura diferente da sua
e que tenha preferências das quais você não compartilha. Pode ser culturas de outras regiões do país
ou até mesmo no seu próprio bairro ou escola. Explique aspectos dessa outra cultura.
O objetivo principal desta pergunta é possibilitar o respeito à diferença. Reconhecer e compreender a diversidade e respei-
tá-la é um dos grandes desafios de uma educação democrática. A cultura escolhida pode ser de outro país ou até mesmo de
BRASILEIRAS
§ Fandango caiçara, frevo,
congado, maculelê, bumba
meu boi maranhense e as
máscaras brasileiras
Foto de apresentação do grupo de fandango caiçara do Mestre Romão, em Morretes (PR). Em 2012, o Instituto do Patrimônio Histórico e
Arquitetônico Nacional (Iphan) incluiu o fandango caiçara, uma das diversas expressões da cultura popular brasileira, na lista do patrimônio
cultural brasileiro. Note como a participação das crianças na dança é um modo de perpetuar a tradição. Foto de 2010.
Neste capítulo, serão apresentadas algumas das diversas expressões da cultura popular brasileira, como o
fandango, dança típica da região Sul e do litoral do Sudeste; o frevo, dança típica de Pernambuco, praticada
principalmente durante o carnaval; o congado, expressão cultural mineira influenciada pelas culturas afro-
-brasileiras e europeias; o maculelê, dança de origem afro-brasileira e indígena, que se originou nas senzalas
e quilombos do Brasil; o bumba meu boi do Maranhão, uma das expressões culturais brasileiras que mais se
caracteriza pelo encontro entre encenação, música e dança; e as máscaras brasileiras, que fazem parte das
diversas expressões culturais espalhadas pelo país.
Todas as expressões da cultura popular que serão estudadas nesse capítulo são símbolos de identidade das
muitas culturas que compõem o Brasil, e todas têm algo em comum: nelas, não é possível separar a música da
dança e nem dos elementos teatrais que as compõem. Em Recife e Olinda, o frevo, uma expressão da cultura
popular associada ao carnaval, mas que também acontece em outras épocas do ano, e se tornou símbolo de
identidade cultural dos pernambucanos. Segundo o mestre de frevo Nascimento do Passo (1936-2009), o frevo
tem tantos passos quanto a quantidade de pernambucanos espalhados pelo mundo afora, e o bom passista
de frevo não dança sem a sombrinha de frevo, objeto típico e símbolo cultural da tradição pernambucana.
Em Minas Gerais, o congado, uma das tradições populares de origem afro-brasileira mais conhecidas
pelos mineiros, tem como um dos seus símbolos de identidade as gungas, peças utilizadas como parte
da indumentária, mas que funcionam como instrumentos sonoros no corpo dos integrantes do congado
conhecidos como moçambiqueiros.
Gungas: pequenas latas com pedaços de chumbo que são amarradas nos tornozelos dos integrantes do congado. As gungas funcio-
nam como instrumentos musicais, que produzem sons a partir do caminhar e dos movimentos dançados dos integrantes do congado.
RODA DE CONVERSA
As expressões da cultura popular refletem o dia a dia de um grupo de pessoas. As danças, as músicas e
as comidas representam as vivências diárias de uma comunidade. Por exemplo, para quem dança fandango
desde criança, o baile não pode acontecer sem o uso dos tamancos. Da mesma forma, para se dançar o
frevo pernambucano, utilizam-se as sombrinhas típicas dessa dança.
O congado mineiro precisa de suas gungas para que os movimentos executados emitam o som tão
característico da tradição. As sombrinhas do frevo pernambucano, as grimas do maculelê, os tamancos do
fandango e as máscaras do bumba meu boi são objetos que pertencem à história dessas expressões da
cultura popular e à memória das pessoas que participam delas.
§ Agora, observe novamente a imagem da página 248 e as imagens a seguir, converse com os co-
legas sobre os objetos em uso e depois responda às perguntas.
JOHN MICHAELS/ ALAMY/ FOTOARENA
Foto de passista de frevo durante Carnaval de Olinda (PE). Foto de desfile de rua do Congado de Santa Efigênia, em Ouro Preto
Foto de 2015. (MG). Foto de janeiro de 2015.
OSTILL/ SHUTTERSTOCK
Foto de estudantes durante oficina de maculelê em uma escola Foto de pessoas caracterizadas com máscaras típicas da celebração do
estadual de Timóteo (MG). Foto de 2007. bumba meu boi em São Luís (MA). Foto de 2008.
a. Após observar as imagens, pesquise e responda, em uma folha de papel avulsa, de que forma
os objetos, símbolos de identidade de cada uma das seguintes expressões da cultura popular
são utilizados. Veja orientações na Assessoria Pedagógica.
Fandango caiçara
Frevo
Congado
Maculelê
Bumba meu boi
b. Cite duas expressões culturais que você conhece e/ou que estão presentes no estado onde
você mora, alguns dos respectivos objetos que simbolizam a identidade de cada uma delas e a
função desses objetos.
b) Resposta pessoal.
Dança e Gastronomia
dançar na festa. Daí a conexão do prato com o fandango, pois, enquanto se cozinha
o barreado, dança-se o fandango. Ouça a faixa
17 do CD de
O barreado consiste em um ou dois tipos de carne bovina cozidas até desmanchar,
áudio para
e temperadas com toucinho de porco, cebola, alho, louro, cominho e pimenta do reino. conhecer
Na hora de servir o prato, a carne desfiada é misturada com farinha de mandioca até uma música
de fandango
chegar a uma consistência cremosa, lembrando a do barro. Por isso o nome barreado.
caiçara.
Rodelas de banana crua também são adicionadas ao prato depois de pronto.
Fatores do Movimento
Peso Tempo Espaço Fluência
Súbito ou Controlado
Firme ou suave Direto ou flexível
sustentado ou livre
(Direção)
(Velocidade) Parado ou
Forte ou fraco Direta ou
Rápido ou lento liberado
ondulante
Observe a seguir, como as dinâmicas do movimento podem se relacionar com as expressões da cultura po-
pular apresentadas neste capítulo.
Conhecer a forma de um povo dançar também é conhecer a cultura de um lugar. Para saber mais
sobre algumas das várias formas de dança das culturas brasileiras, se possível, assista ao vídeo
No frevo com os estudantes ou peça a eles que assistam em casa. Depois, estimule um debate em sala de
aula sobre os vídeos.
Tanto as pessoas que dançam frevo livremente, seguindo os blocos durante o carnaval, como os
passistas que executam passos acrobáticos e representativos dessa tradição, ao dançarem frevo, criam,
utilizando a improvisação, vários movimentos para o mesmo ritmo musical. Os passos do frevo podem
ser executados ora em ritmo lento, ora em ritmo rápido (tempo), mas sempre com base na habilidade
que os corpos têm em improvisar e criar movimentos em meio à multidão que ocupa as ruas do carnaval
pernambucano. Isso porque, além dos passistas, são os demais participantes do carnaval que fazem o
frevo nas ruas, ao interligarem os passos (fluência) e ao criarem, espontaneamente, novos passos e novos
movimentos para os frevos tocados pelas bandas que acompanham os blocos. Diversas expressões da
cultura popular têm como característica justamente o fato de as pessoas se juntarem e participarem de
um momento coletivo, onde todos contribuem dançando, cantando e integrando de várias formas aquele
acontecimento.
Assim como no fandango, no frevo, o modo de vida de uma população se reflete nos passos e nos
símbolos que representam aquela tradição e reforçam a identidade de quem dança. Resultado do movimento
No congado
A ênfase não está nos passos executados no congado, mas no objetivo dos brincantes em fazer um
cortejo, que, geralmente, acontece em ritmo lento (tempo), enfatizando a religiosidade mineira e a louvação
à Nossa Senhora do Rosário. Os passos executados nas coreografias normalmente ocupam os níveis alto e
médio (espaço), sendo executados de maneira mais suave (peso do corpo no espaço), e fluência controlada.
Isso ocorre, pois o conjunto apresentado pelo cortejo é o foco da festa, e nesse cortejo é possível encontrar a
complexidade e os diversos fatores culturais que compõem essa tradição mineira.
No maculelê
Semelhante ao frevo, o maculelê possui movimentos de fluência livre nos vários níveis do espaço (bai-
xo, médio e alto), executados em tempo rápido e com peso do corpo utilizado de maneira firme. Por se tratar
de uma dança que representa movimentos de luta, os movimentos do maculelê são caracterizados por mo-
vimentos firmes, rápidos e agressivos, que fazem referências a histórias de luta e valentia e, por essa razão, são
sempre executados com muita força. No início, o maculelê só era dançado por homens. Só com a espetacu-
larização dessa expressão cultural, ou seja, somente quando ela começa a ser levada aos palcos, as mulheres
passam a ser incluídas, e a fazer os mesmos movimentos que os homens.
Esse breve estudo sobre as dinâmicas e os fatores do movimento descritas por Rudolph Laban e a asso-
ciação feita com os movimentos do fandango, do frevo, do maculelê e do congado conduz à compreensão
de que essas expressões da cultura popular, assim como todas as expressões da cultura popular brasileira que
contêm dança, utilizam movimentos que variam nas dinâmicas e nos fatores de movimento, sendo, portan-
to, impossível resumir à fluência, à utilização do espaço, do peso e do tempo nessas expressões em uma
análise tão breve. Para uma maior precisão nessa análise, é necessário concentrar a observação em cada passo
e considerar que as expressões da cultura popular brasileira são muito ricas e complexas na quantidade e na
qualidade de passos e movimentos utilizados pelos seus brincantes, e que, a cada dia, surge mais uma forma
de se dançar, o que contribui tanto para a transformação como para a manutenção de cada tradição.
ALBERTO PASQUANTONIO
tema Laban para o gestual do
regente”, de Heloiza Branco,
disponível em: <www.uel.br/
pos/musica/pages/arquivos/
LabanSimpemus.pdf>.
Acesso em: 19 fev. 2016.
Encha de ar um balão e, com os colegas, comece a jogá-lo de um lado para o outro, sem deixá-lo cair,
ocupando todo o espaço disponível para a vivência, como se estivessem brincando. Continuem a jogar,
fazendo a mesma movimentação nos três níveis do espaço: baixo, médio e alto.
Depois, relacione seu movimento com o movimento de apenas um colega da turma e continuem
jogando o balão em duplas. Durante o processo de criação dos movimentos, inclua os estímulos sonoros
que você percebe no ambiente. Por exemplo, se o ambiente tiver música, tente fazer os movimentos
acompanhando o ritmo dela nos três níveis do espaço. Caso contrário, ouça os sons presentes no espaço
e tente criar movimentos inspirados nesses sons.
Deixe que a fluência, o tempo do movimento e o peso do seu corpo se conectem com o ritmo da música
e com o espaço. Nessa atividade, foi proposto um processo de criação em dança utilizando, como referencial,
os processos de criação em dança contemporânea. Considere que, nos processos de criação em dança
contemporânea, o corpo cria seu próprio ritmo independentemente da música do ambiente; assim, caso a
música não seja utilizada nessa atividade, tente se mover considerando o ritmo criado pelo próprio corpo ao
se mover no espaço.
Observe os movimentos que surgem.
ALBERTO PASQUANTONIO
Agora, faça a mesma experimentação
de antes, porém, em vez de utilizar os
balões, utilize folhas de papel de seda.
Primeiramente, jogue-as abertas para
os colegas, e tente não deixá-las cair
no chão. Essa tentativa criará novos
movimentos. Depois, amasse as folhas
criando movimentos a partir do ato de
amassá-las.
Compare os movimentos criados com os Ilustração para a vivência 2.
que foram produzidos na Vivência 1.
Se julgar interessante, utilize as seguintes estratégias para que as vivências atinjam os objetivos: 1. Trabalhar em um espaço
amplo, sem mesas ou cadeiras, como o pátio ou quadra escolar, ou afastar as carteiras da sala de aula. 2. Dividir a turma em
Vivência 3 dois, três, quatro ou cinco grupos para que cada grupo possa observar o trabalho um do outro. 3. Utilizar vá-
rios ritmos durante a prática. Se possível, utilize músicas das expressões da cultura popular estudadas neste
Nesta etapa, em vez de jogar objetos, você vai criar movimentos utilizando bastões semelhantes às
grimas que são utilizadas no maculelê. Movimente o corpo segurando os bastões e observe como as
características dos objetos interferem nos processos de criação e execução dos movimentos.
capítulo (fandango, frevo, maculelê e conga-
Converse com os colegas e respondam às perguntas a seguir:do) e os ritmos que os estudantes trouxerem
a. Quais as diferenças e semelhanças encontradas nas três vivências? motivando o engajamento e o pro-
tagonismo deles nos processos de
b. Que movimentos surgem durante a criação dos movimentos com os bastões se for utilizado o
criação em dança. Essa última estratégia será importante para que os
mesmo ritmo empregado com os balões? estudantes relacionem essa prática às discussões iniciais do capítulo,
c. E o que acontece quando são criados movimentos utilizando as folhas de papel de seda? Há
compreendendo os objetos também como símbolos de identidade.
diferenças quando elas estão amassadas? Observe que nessas vivências os objetos cênicos são utilizados como
d. Como os movimentos dos corpos são transformados por cada objeto (balões, papel de seda e
bastões)? E os movimentos dos colegas? Quais as semelhanças e diferenças que você observou
motivadores dos momentos de criação, execução e improvisação dos mo-
entre os seus movimentos e os deles? vimentos individuais.
ALBERTO PASQUANTONIO
• Matraca
Vindo de São Luís, tem como principal instrumento a matraca, dois
pedaços de madeira que são batidos um no outro, e o pandeiro rústico,
feito de couro de cabra. O sotaque de Matraca tem um ritmo bem ace-
lerado, embalado por dezenas de matraqueiros.
• Zabumba
Forte na região de Guimarães e arredores, tem como puxadores o
ritmo africano das zabumbas, tambores bem grandes socados por uma
maceta. Pandeirinhos e matracas também participam, mas somente
como complementos. O figurino é bem rico. Os brincantes usam rou-
pas aveludadas, saias amplas bordadas e chapéus cheios de fitas que Maceta: espécie de baqueta gran-
quase cobrem seu rosto. de utilizada para tocar o tambor.
• Baixada
[Característico da baixada maranhense – região a oeste e a sudes-
te da ilha de São Luís] tem o som mais leve e lento, apesar de também
usar pandeiros e matracas. Na verdade, é o toque ritmado que dá o tom
suave. A roupa vem com penas e bordados em bases de veludo e cha-
péus suntuosos. O Cazumba, bicho e homem são personagens caracte-
rísticas desse sotaque.
• Costa de mão
Surgido na região de Cururupu, esse sotaque vem embalado por um
ritmo cadenciado ao som de pandeiros tocados com as costas da mão,
caixas e maracás. As roupas também têm bordados em calças e casacos
e seus chapéus em cogumelo funil são adornados com flores.
Bumba meu boi do Maranhão. Disponível em: <http://bumba-meu-boi.info/
bumba-meu-boi-do-maranhao.html>. Acesso em: 3 jan. 2016.
ROCHA, Alexandre Nazareth da (Coord.). Comédias do bumba Banjo: instrumento musical de cor-
meu boi do Maranhão. Santarém: Cumbuca, 2014. das. Consta de um tipo de pandei-
Neste livro, há uma compilação de histórias cômicas contadas ro com duas ou mais cordas. O to-
pelos próprios brincantes do bumba meu boi. cador de banjo dedilha as cordas
com a base apoiada em seu braço.
A Mãe D’água chupava o boi por uma taboca e curava o boi, tirando
uma troíra feita de buriti de dentro dele. Diz que a troíra era a flecha
que estava dentro do bicho, que quase estava matando o boi.
LEAL, Raimundo (Baguinho). Troíra. In: DA ROCHA, Alexandre Nazareth (Coord.). Comédias
do bumba meu boi do Maranhão. Santarém: Cumbuca, 2014. p. 65.
O texto acima pode ser representado pela turma. Para isso, formem grupos com quatro ou cinco
pessoas e dividam entre vocês os personagens do texto e o narrador que canta a história.
Criem uma melodia para acompanhar a letra da toada ou partam de uma melodia
Troíra: lagartixa.
já existente. Pensem no vestuário, nos gestos e movimentos dos personagens.
Mãe D’água: Iara ou Uiara,
Os personagens Mãe d’agua, boi e lagartixa podem ser representados como entidade do folclore bra-
se fossem metade bichos, metade humanos. Isso permite explorar gestos que sileiro de beleza extraor-
remetem a animais: o peixe (no caso da Mãe d’água), o boi e a lagartixa, bem como dinária que vive nas águas
os diversos planos (alto, médio e baixo). No caso do narrador, é importante que a voz doces dos rios e tem a
fama de enfeitiçar os ho-
e a forma de cantar ou dizer o texto capte a atenção do público. mens, levando-os à morte.
Apresentem a cena para os colegas mantendo o caráter de brincadeira e diversão
Taboca: espécie de bambu.
do bumba meu boi.
Buriti: planta da família das
Com essa atividade, é possível verificar que, a partir de um mesmo texto,
aerecáceas. Comum no es-
cada grupo pode criar formas diferentes para a cena de uma história, o mesmo tado do Maranhão, entre
Veja orientações na Assessoria
acontece entre os grupos de bumba meu boi. Pedagógica. outros estados brasileiros.
FABIO COLOMBINI
Como visto na Unidade 2, o surgimento do teatro
no ocidente está bastante vinculado ao uso da máscara.
Objeto ritualístico presente em várias culturas, a
máscara traz uma possibilidade de incorporação de
um outro ser. Os rituais são muito diversos, passando
da solenidade do culto aos mortos à festividade dos
carnavais, do sagrado ao profano.
No Brasil, uma grande parte das tradições culturais
tem a presença da máscara como um objeto marcante
de sua expressividade. Essas máscaras têm formas e
materiais diversos desde a madeira, látex, papel, tecido, e
até mesmo a pintura corporal, entre outros. O que há em
comum entre elas é a possibilidade daquele que as veste
de se transformar, incorporando atributos e características
específicas que se expressam por meio da máscara.
Foto de máscara indígena feita pelos Wayana e Aparai com fibras
As máscaras têm tamanhos diferentes, podendo de árvore, algodão e cera de abelha no distrito de Alter do Chão,
ir de um detalhe no rosto, por exemplo um nariz de em Santarém (PA). Foto de novembro de 2013.
palhaço, até o corpo inteiro, como no caso da máscara
REPRODUÇÃO
feita pelos índios Wayana e Aparai no norte do Pará e
usada em rituais.
Também há máscaras que são pintadas no rosto
ou corpo dos participantes de rituais e brincadeiras das
culturas brasileiras. Muito comum aos rituais indígenas
brasileiros, as pinturas faciais ou corporais também
fazem parte do carnaval, do circo e do teatro.
Benjamim de Oliveira, autor, ator e compositor
considerado o primeiro palhaço afro-brasileiro, nasceu
em Pará de Minas (MG) em 1870, um ano antes da
proclamação da Lei do Ventre Livre. Aos 12 anos de idade,
juntou-se à trupe do Circo Sotero. Fazia números de
trapézio e acrobacia. Introduziu o circo-teatro no Rio de
Janeiro e atuou até 1940, sendo respeitado como grande Foto de Benjamim Oliveira (1870-1954), primeiro palhaço afro-brasileiro,
também foi autor, ator e compositor, sendo uma das principais
artista pela classe teatral e circense da época. Além dos
referências do circo-teatro no Brasil.
números típicos do circo tradicional, Benjamim Oliveira
Lei do Ventre Livre: foi promulgada em setembro de 1871 e
interpretava operetas e até mesmo textos clássicos de considerava livre os filhos de mulheres escravizadas nasci-
Shakespeare e a Paixão de Cristo. Sua máscara de palhaço dos a partir da data de sua promulgação. Fez parte de um
processo lento de libertação dos trabalhadores forçados,
era uma pintura branca sobre o rosto, acentuando seus em virtude de um forte movimento abolicionista, até a abo-
lábios, olhos e sobrancelhas, pintados com outra cor. lição da escravatura em 13 de maio de 1888.
[...] Após manifestações de repúdio nas redes sociais, o Itaú Cultural resolveu cancelar a apresentação da
peça nesse dia e, no lugar, realizar um debate com militantes, historiadores e pessoas ligadas ao teatro. O ob-
jetivo do debate é discutir por diversos ângulos o problema de se utilizar blackface ainda nos dias atuais. [...]
Pessoas ligadas à companhia se defenderam dizendo que máscaras fazem parte da tradição cir-
cense. Atores defendendo a peça disseram haver exagero por parte dos militantes e alguns usaram a
justificativa de que quem criticava não era do teatro. [...]
[...] fui ouvir pessoas ligadas à arte para falarem sobre esse caso e as respostas delas foram no
mesmo sentido da dos militantes. Renata Felinto, artista visual e doutoranda em Artes Visuais pela
Universidade Estadual Paulista (Unesp), diz: “Como dizia Mário de Andrade, ‘a arte é uma expres-
são interessada na sociedade’”, diz. “Os Fofos enquanto artistas que se dizem conscientes estética e
politicamente devem, portanto, acatar e ponderar acerca de um segmento da sociedade que se ofende
a partir de um elemento presente em seu trabalho. Elemento que ofende, subjuga, recoloca o negro
em um lugar passível de ridicularização que é anacrônico, pois vivemos um momento de reivindica-
ções e de conquistas – na contemporaneidade não há lugar para essa forma de estética. [...]
RIBEIRO, Djamila. Artistas repudiam blackface de peça. Carta capital, 11 maio 2015. Disponível em:
<www.cartacapital.com.br/sociedade/artistas-repudiam-blackface-de-peca-4221.html>. Acesso em: 6 out. 2015.
CHRISTINA RUFATTO
Bartolomeu de Depoimentos, fazia a media-
ção do debate e, ao final, expressou sua opi-
nião dizendo que mesmo que racismo não
tenha sido a intenção do grupo Os Fofos
Encenam, a técnica blackface foi construída
em cima de um ideário racista. Ao final do
debate, o diretor da companhia acabou reti-
rando o uso da máscara blackface do espetá-
culo e pediu desculpas aos que se sentiram Foto da peça A mulher do trem, da companhia Os Fofos Encenam,
ofendidos. de São Paulo (SP). Foto de 2015.
RODA DE CONVERSA
1. Você se identifica com as culturas brasileiras? Justifique sua resposta.
1. Resposta pessoal. Essa resposta depende da relação que os estudantes mantêm com as culturas brasileiras. Espera-se que
eles já tenham compreendido suas diversidades e possam manifestar suas identificações, ou não, inclusive com outras ex-
2. Que tipo de expressões culturais você observa ou participa no seu dia a dia, seja em casa, na escola
ou em outros lugares de convivência? Descreva pelos menos três delas e compartilhe com os
colegas.
2. Resposta pessoal. Com essa pergunta, os estudantes são incentivados a pesquisarem seu próprio cotidiano e associarem
suas práticas à ideia de culturas brasileiras. A descrição contribui para desenvolver a capacidade de observação de uma prá-
3. Resposta pessoal. O objetivo dessa atividade é incentivar os estudantes a pesquisarem sobre as expressões culturais de seu
cotidiano por meio do contato com os mais velhos. Essa prática desenvolve o respeito pela sabedoria que vem com a idade, in-
dependentemente da instrução formal da pessoa, e a consciência de que a tradição é algo que passe de geração para geração.
3. Você sabe a origem das expressões culturais das quais você participa ou observa? Converse com os
membros mais velhos dessas comunidades sobre isso, registre-as em uma folha avulsa e leve para
a sala de aula.
7
Conteúdo
EXPERIMENTAR
tradicionais
O MUNDO
Nós, habitantes da floresta, não maltratamos a Terra. Não desmatamos a floresta sem medida. Toda essa
destruição não é nossa marca, é a pegada dos brancos, o rastro de vocês na terra.
É isso que queremos falar. Os brancos carecem de sabedoria e não pensam muito longe.
Davi Kopenawa Yanomami.
Foto do Festival Mariri Yawanawá, tradição indígena que envolve festas, brincadeiras e cultura, e celebra o sentimento de preservação da
natureza, realizado na Aldeia Mutum, da Terra Indígena (TI) do Rio Gregório. O festival ocorreu entre 27 e 31 de julho de 2015.
Desde os tempos mais remotos, a música e a dança fazem parte dos rituais e das festas de diferentes culturas.
O canto, por exemplo, é muito valorizado pelos povos indígenas devido ao papel que exerce nos rituais e festas e
pelo seu poder de cura. A sabedoria e o conhecimento de um povo indígena podem ser compartilhados por meio
de seus cantos. Além disso, para muitos povos indígenas cantar é uma forma de exercitar a memória, de ampliar e
relacionar diferentes conhecimentos, de ampliar as percepções de mundo, de imaginar e experimentar a vida.
Rituais: conjunto de práticas consagradas pela tradição e que devem ser seguidas durante cerimônias sagradas.
RODA DE CONVERSA
O Brasil é um país rico em festas e celebrações que estão presentes em muitos momentos da vida das
pessoas. É possível que você ou alguém que conheça faça parte de um bloco de carnaval, de um grupo de
congado ou talvez já tenha acompanhado uma procissão de caráter religioso.
Converse com os colegas e com o professor sobre as questões a seguir.
1. Vocês praticam ou conhecem alguma festa popular ou ritual em que a música e a dança estejam
presentes? Caso não conheçam, pesquisem na internet, em revistas ou jornais se há alguma festa
popular na região onde mora.
1. Resposta pessoal. Poderão ser citadas diversas festas e cerimônias religiosas ou de caráter não religioso. É importante
2. Alguma dessas festas está relacionada a um ritual sagrado ou religioso? Cite um exemplo.
2. Resposta pessoal. Neste momento, os estudantes poderão compartilhar experiências e vivências artísticas envolvendo ri-
tuais e festas populares e refletir sobre as várias influências que essas manifestações recebem, mantendo-as vivas e ao mes-
mo tempo modificando-as. Auxilie os estudantes a identificar eventos de que participem, mas não os reconheçam como re-
ligiosos ou ritualísticos, como procissões, terreiros de umbanda, missas ou cultos, entre outros.
povos, apresentando em
detalhes todos os aspectos
que constituem o ritual. O
livro é também ricamente
ilustrado com fotografias
e desenhos realizados
pelos próprios indígenas.
Os cantos e as danças são elementos fundamentais para a realização do Turé. Leia a seguir um texto
escrito por indígenas do Oiapoque, em que eles detalham alguns aspectos do canto e da dança no ritual.
As Danças
Para dançar o turé é preciso de 15 a 25 pares de dançarinos no lakuh, estes são os que vão imitar os Bichos
ou Karuãna. E há pequenas diferenças na coreografia da dança entre os Karipuna e os Galibi-Marworno. No
primeiro momento a dança é normal. Ela começa no final da tarde com a dança do gengibre (jite uarimã).
Quando dá meia-noite começam as imitações dos Bichos, aí logo têm que começar imitando um gran-
de Karuãna, como os Bichos da floresta (Djab dã bua), as Ondas (lamê), o Golfinho (masuê), o Tucano
(ghobek), o Sapo (khapô/kapô) e principalmente a Cobra Grande (ghã kulev/aramari/wamuí), que sem-
pre aparece no turé dos Galibi-Marworno para finalizar a festa. Para que isso aconteça é preciso fazer
uma dança especial, a kulev, para mandar a Cobra Grande de volta ao Outro Mundo.
Os Cantos
No turé há vários cantos que são cantados pelo pajé, participantes, palikás e outros ajudantes. Eles
começam a cantar para chamar as pinturas quando vão pintar os bancos e mastros. Isso se repete todo
dia até terminarem de pintar. Também cantam o canto do Karamatá durante todo o tempo de prepara-
ção da flauta turé (sinal/karamatá/powkanõ).
O pajé, os palikás e os participantes iniciam a festa, entrando no lakuh com o canto “kã solei ka pose”
(patuá)/ “ueiô mitãmi” (galibi antigo), que quer dizer “quando o sol se põe”. Depois tem o canto para
passar gengibre nas pernas dos dançarinos e jogar no lakuh, ou “ jite uarimã”. Em seguida, o pajé co-
meça a cantar o canto do dono do cigarro tawari que ele fuma. É este canto acompanhado do som dos
maracás e das flautas que vão chamar todo tipo de Karuãna para a festa. Quando eles chegam, cantam
e bebem e a quantidade de cantos que o pajé cantará durante o turé depende da quantidade de Karuãna
que chegam à festa, pois há um canto para cada um deles. Eles vêm de todo lugar (do espaço, da mata,
do fundo d’água, do pôr do sol, da nascente do sol, da costa do sol etc.), diz o pajé: são muitas pessoas,
de diferentes nações, que vêm para cantar seu canto. E com isso, num turé há cantos um atrás do outro,
a noite inteira, sem se repetirem.
TURÉ dos povos indígenas do Oiapoque. Rio de Janeiro/ São Paulo: Museu do Índio, IEPÉ, 2009. p. 16; 35.
As vozes do canto de Toré kariri-xocó sofrem influência do contingente numérico de índios dispo-
níveis nas apresentações dos grupos de Toré. Normalmente são dois homens que “tiram” o toré, consi-
derados mestres de Toré. Eles podem combinar ou “deixar a inspiração” decidir qual canto será tirado.
Tentam “casar” as vozes, de acordo com a tessitura de cada cantor. Dessa forma, não há uma altura de-
finida para puxar o canto. Pode-se observar em muitas ocasiões a mudança da altura de referência para
uma melhor adequação com o timbre e extensão de cada cantor, também visando uma melhor expressão
para o sentido dado a cada Toré em determinado contexto. O resto do grupo “responde” aos tiradores
em coro de dois, três e até quatro vozes, neste último caso quando há presença de vozes femininas, po-
dendo então ultrapassar o âmbito de uma oitava. [...]
Outra característica importante das vozes está na emissão, pelos índios que fazem coro responden-
do aos tiradores, de gritos, assovios, ataques vocais e imitações de sons da natureza ou de animais. [...]
Normalmente, o primeiro tirador, aquele que “puxa” o canto, também é quem define a pulsação ini-
cial tocando o maracá, acompanhado pelo maracá de seu parceiro e logo depois pelos outros do grupo.
Não há um limite para o número de maracás. A percepção rítmica é influenciada pelo diálogo entre
maracás, pisadas, canto e gritos. Muitas vezes o grito entra no contratempo da pisada ou deslocado, fa-
zendo com que o ritmo se acelere, a depender da intensidade e acentuação. Essa mudança se incorpora
assim que o maracá define o novo pulso.
A pisada se faz alternando os pés, coincidindo o pulso com o do maracá, mas podendo sofrer algu-
mas variações de acentuação e intensidade. [...]
CUNHA, Leonardo Campos Mendes. Toré – da aldeia para a cidade: música e territorialidade indígena na Grande Salvador. Dissertação de Mestrado em Música.
Escola de Música, UFBA, Salvador, 2008. p. 139, 140 e 142. Disponível em: <https://repositorio.ufba.br/ri/
bitstream/ri/9106/1/Dissertacao%2520Leonardo%2520da%2520Cunha%2520seg.pdf>. Acesso em: 22 fev. 2016.
Tessitura: parte da extensão de uma voz ou instrumento mais utilizada em uma música.
Extensão: o termo, quando aplicado à voz, se refere à gama de sons que o cantor consegue emitir, desde o mais grave até o
mais agudo. A extensão varia para cada pessoa, se deve à sua conformação física e pode ser ampliada com treinamento vocal.
Ataques vocais: no texto, a expressão se refere a sons emitidos vocalmente por meio de gritos e movimentos bruscos com as
pregas vocais.
Arte e Geografia
A Amazônia Legal é uma área que englo- Domínio Amazônico e Amazônia Legal (2015)
ba a totalidade de oito estados (Acre, Amapá, G2015_GEO1_C11_M116
50º O
ALLMAPS
Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, VENEZUELA OCEANO
ATLÂNTICO
GUIANA
Roraima e Tocantins) e parte do Estado do COLÔMBIA
Guiana Francesa (FRA)
SURINAME
VENEZUELA OCEANO
EQUADOR
Pesquise na internet ou na biblioteca de
ATLÂNTICO
GUIANA
Guiana Francesa (FRA)
COLÔMBIA
SURINAME
RORAIMA
PIAUÍ
OCEANO
PERU
RONDÔNIA
ACRE
RONDÔNIA
MATO GROSSO
MATO GROSSO
TOCANTINS
TOCANTINS
BAHIA
OCEANO PACÍFICO BAHIA
nativa. Depois, selecione uma manifestação PACÍFICO BOLÍVIA
GOIÁS
DF
MINAS
BOLÍVIA
DO SUL
DF
Domínio Amazônico
0 315 630 km
CHILE PARAGUAI
GOIÁS
Amazônia Legal
Domínio Amazônico
ALMANAQUE Brasil Socioambiental. São Paulo: ISA, 2007. 0 315 630 km
CHILE PARAGUAI
Amazônia Legal
Pesquise sobre a existência de comunidades tradicionais próximas à região onde você vive. Informe-
-se sobre quais são os rituais dessa comunidade que envolvam música e dança e em que contexto cultural
eles são praticados. Se você fizer parte de alguma comunidade tradicional, seu relato pessoal também
poderá ser importante para a turma. Depois, o resultado da pesquisa poderá ser compartilhado com o
restante da turma em forma de conversa ou seminário. O objetivo aqui é dar visibilidade e valor às manifestações po-
pulares locais, auxiliando os estudantes a reconhecer as variadas formas em que a música pode se apresentar nas culturas brasileiras.
Um exemplo das influências que povos indígenas do Brasil recebem de Assista ao programa
“Câmara ligada”, que
outras culturas do país é a música do Brô MC’s, grupo de rap formado por jovens apresentou um debate sobre
de reservas indígenas situadas no estado de Mato Grosso do Sul, onde vivem desenvolvimento sustentável
com a presença dos Brô MC’s.
cerca de 15 mil famílias das etnias Terena, Guarani Kaiowá e Guarani Ñandeva.
Veja orientações na Assessoria Pedagógica.
Tupã
Neste capítulo, você estudou o Turé dos povos indígenas do Oiapoque e o Toré dos povos indígenas
do Nordeste brasileiro, manifestações ligadas a festas e rituais desses povos. Foi possível observar como
essas práticas musicais dançadas se aliam à festividade e à religiosidade, sendo uma forma desses povos
reconhecerem e reinventarem sua identidade. A multiculturalidade é uma das características das culturas
brasileiras que se evidenciou, por exemplo, na música do Brô MC’s, que mistura a musicalidade do rap aos
idiomas português e guarani, denunciando a situação de precariedade das aldeias e dos povos indígenas
no Brasil contemporâneo.
RODA DE CONVERSA
Converse com o professor e os colegas sobre a ideia da existência de uma cultura “autêntica”, sem
trocas ou influências de outras culturas.
Após os estudos apresentados neste capítulo, é possível afirmar que exista uma única cultura
brasileira, verdadeiramente “autêntica”?
O objetivo da reflexão proposta é instigar o estudante e reforçar o caráter multicultural da sociedade brasileira e suas múl-
tiplas fontes e interconexões, além de o ajudar a quebrar juízos preestabelecidos sobre o que é arte ou cultura autêntica.
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Conteúdos
ARTES INDÍGENAS
§ Os diferentes
tipos de produção
artística dos povos
BRASILEIRAS
indígenas brasileiros
§ O índio no Brasil
contemporâneo
Que é arte índia? Com esta expressão designamos certas criações conformadas pelos índios de
acordo com padrões prescritos, geralmente para servir a usos práticos, mas buscando alcançar a
perfeição. Não todas elas, naturalmente, mas aquelas entre todas que alcançam tão alto grau de
rigor formal e de beleza que se destacam das demais como objetos dotados de valor estético. Neste
caso, a expressão estética indica certo grau de satisfação dessa indefinível vontade de beleza que
comove e alenta aos homens como uma necessidade e um gozo profundamente arraigados.
Darcy Ribeiro.
Foto de mulher indígena da etnia Kayapó, da aldeia Moykarakô, pintando figura geométrica em tecido, em São Félix do Xingu (PA). Foto de 2015.
Na Unidade anterior, foram abordadas propostas artísticas realizadas fora do ambiente institucional. O foco
da reflexão esteve na arte de rua, do cotidiano, seja no trajeto para a escola ou em um passeio de fim de semana.
Foi possível observar que os artistas deslocaram seu fazer artístico para locais inusitados. Agora, serão exploradas as
práticas e os fazeres de povos indígenas do Brasil, que reúnem uma variada gama de gêneros artísticos, como,
Fotos de grafismos indígenas da etnia Kayapó, feitos sobre tecidos. Aldeia Moykarako, São Félix do Xingu (PA). Foto de 2015.
FABIO COLOMBINI
e artes indígenas
A compreensão de arte indígena
tem interessado a pesquisadores de dife-
rentes áreas como antropólogos e histo-
riadores da arte. A dificuldade reside na
tentativa de definir objetos com concei-
tos formulados externamente a essas cul-
turas, caso do próprio conceito de arte
constituído na Europa ocidental. Para compreender essas questões, é neces- Foto mostra a realização de pintura
corporal dos Barasana, que vivem às
sário apresentar como o conceito de arte europeu foi estabelecido em opo-
margens do Rio Uaupés, em Manaus
sição ao de artesanato. O termo de origem latina ars, formulado no século (AM). Foto de setembro de 2014.
XI, designava um conjunto de atividades ligadas à técnica e à realização de
tarefas essencialmente manuais. Desse termo deriva tanto o conceito de ar-
tista como de artesão.
Como bem esclarece Marc Jimenez em seu livro O que é estética?, a ideia
de um “sujeito criador autônomo” surge no final do século XV. Essa distinção
é importante, tendo em vista que o artista passa a gozar de um status social
mais elevado que o do artesão, pois, como explica o mesmo autor, pintores
e escultores, entre os séculos XIV e XV, aproximam suas produções do saber
científico, o que fazia com que as ações de pintar e esculpir não estivessem
mais associadas às habilidades de um artesão, sendo vistas como atividades
Disponível em: <www.
intelectuais que repousavam sobre faculdades e aptidões não provenientes indioeduca.org/>. Acesso
em: 11 jan. 2016.
do ofício. Exemplo do pintor, escultor, músico e arquiteto Leon Battista Alberti
“Índio Educa” é um projeto
(1404-1472) que atribuía grande importância ao estudo da matemática para os que divulga, principalmente
interessados em pintura e escultura. (As relações entre Arte e Matemática se- via internet, conteúdos
produzidos pelos povos
rão aprofundadas no capítulo 20). Por sua vez, o artesão passa a ser responsá- indígenas, incluindo
vel pela produção de objetos funcionais e em série, como espadas, mesas e histórias, cultura e outros
temas variados. O objetivo
cadeiras. O valor de sua produção está na capacidade de produzir uma mesa é oferecer informações pela
resistente e durável, por exemplo. Ao artista cabe a produção de objetos ori- perspectiva do índio como
sujeito narrador. O projeto é
ginais, únicos, sem uma função prática no cotidiano e que sejam capazes de apoiado pela ONG THYDÉWÁ.
provocar emoções, elevar o espírito e deleitar. Essas diferenciações estabe- Outro aliado do projeto é
o Pontão de Cultura Viva:
leciam também uma escala de valor financeiro: enquanto uma obra de arte Esperança da Terra, parceria
poderia alcançar cifras astronômicas, um objeto de artesanato poderia ser fa- entre a ONG Thydêwá e
o Ministério da Cultura.
cilmente comprado nas feiras de diversas cidades.
É necessário esclarecer que essas distinções (entre artista e artesão) são didáticas, tendo em vista que é possível encontrar muitas
obras de artesanato que são feitas com grande criatividade e originalidade também.
A Visualidade das Artes Indígenas Brasileiras | CAPÍTULO 18 277
Patrimônio imaterial e a arte indígena
O Instituto de Pesquisa e Formação em Educação Indígena (Iepé) desenvolve ações educativas com as
comunidades indígenas localizadas no Amapá e norte do Pará, com o objetivo de preservar e valorizar os
patrimônios culturais imateriais dessas comunidades, ou seja, suas formas de expressão, modos de fazer,
viver e criar. A importância da preservação dessas práticas imateriais está prevista nos artigos 215 e 216 da
Constituição Federal de 1988 e fica a cargo tanto do Departamento de Patrimônio Imaterial do Instituto
de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (DPI/IPHAN) quanto do Centro Nacional de Cultura Popular
(CNP), entretanto, é fundamental que essas práticas e ações de intervenção nessas comunidades sejam fei-
tas com a participação e apoio delas.
O projeto “Valorização e gestão de patrimônios culturais indígenas” procura desenvolver um equilíbrio
nas relações estabelecidas entre os indígenas dos grupos Tiriyó, Katxuyana, Aparai, Wayana, Wajãpi, Galibi
do Oiapoque, Karipuna, Galibi-Marworno e Palikur e os sistemas sociais, econômicos e políticos de seus
estados e país, evitando que as práticas, os conhecimentos e os costumes indígenas sejam apagados em
detrimento da adoção de procedimentos contemporâneos.
Uma das principais dificuldades, como registrado no livro Patrimônio cultural imaterial e povos indígenas
– exemplos no Amapá e norte do Pará de 2006, está em manter o interesse dos indígenas mais jovens nos
conhecimentos dos mais velhos, que, ao deixar de aprendê-los, interrompem o processo de transmissão
e renovação desses saberes. Veja informações na Assessoria Pedagógica.
WWW.INDIOEDUCA.ORG
Krenak: os imbricados caminhos para a com-
preensão da arte”, a pesquisadora Edileila Portes
afirma, a partir das informações obtidas com o bo-
rum Itchó-Ittchó (Líder Borum do grupo Athorãn/
Krenak), que grande parcela dos desenhos Borum
possuem como temática os Maret (espíritos de
borum já falecidos). Os outros possuem inspira-
ção proveniente das formas presentes na natu-
reza, elementos que segundo a crença dos indí-
genas, encontram-se em sintonia com a vida e
valores do povo. Nesse sentido, os elementos de
inspiração dos indígenas, as formas, as linhas, os
pontos, os detalhes inspirados na natureza con-
formam padrões, trabalhados geometricamente
no espaço e “são exatamente esses padrões, es-
sas estruturas que caracterizam os desenhos mais
tradicionais dos borum, que revelam sentidos
particulares, que evidenciam o ‘Cosmos’: a terra, o
céu, as plantas, os animais, os homens, os espíritos Foto de pintura corporal, feita de jenipapo pelos indígenas da etnia
para constituírem a arte” (p. 97). Kayapó, que estão localizados nos estados do Mato Grosso e Pará.
2
CASSANDRA CURY/ PULSAR IMAGENS
Foto de cestos de fibras trançadas feitos pelos índios da etnia Wajãpi, que vivem na região dos rios
Araguari, Oiapoque e Jari, no Amapá. Acervo Memorial da América Latina, São Paulo (SP). Foto de 2008.
O grafismo indígena
O grafismo dos grupos indígenas sempre chamou a atenção de cronistas e viajantes, desde a
chegada dos primeiros europeus ao Brasil. Além da beleza dos desenhos, o que surpreendia os não
índios era a insistência da presença desses grafismos. Os índios sempre pintavam o próprio corpo e
também decoravam suas peças utilitárias.
No entanto, durante muito tempo essas pinturas foram pouco estudadas pelos europeus. Eram
consideradas apenas uma atividade lúdica, sem maiores significados dentro da cultura indígena a
não ser o mero prazer da decoração. Há algumas décadas, estudiosos perceberam que o grafismo
dos povos indígenas ultrapassa o desejo da beleza, trata-se sim, de um código de comunicação com-
plexo, que exprime a concepção que um grupo indígena tem sobre um indivíduo e suas relações com
os outros índios, com os espíritos, com o meio onde vive [...]
Iandé – Casa das Culturas Indígenas. Disponível em: <www.iande.art.br/boletim010.htm>. Acesso em: 11 jan. 2016.
tir de grafismos indígenas encontrados em objetos e utensílios, bem como na pintura corporal de povos
indígenas brasileiros. Trata-se de um estudo prático. Para isso, pesquise vários tipos de grafismos indígenas e leve
imagens para a sala de aula que servirão de inspiração para 2
Materiais os alunos. Você pode trabalhar com diversos
suportes, como argila, papel etc. É fundamen-
§ papel kraft;
tal que a atividade se torne uma forma prática
§ tinta guache, giz de cera, caneta hidrocor etc.
de aproximar-se da arte indígena.
Instruções
1
1. Observe as imagens ao lado.
2. Desenhe ou pinte o papel kraft, ou parte dele,
a partir das imagens coletadas.
3. Depois de pronto, exiba seu trabalho em um
mural com todos os trabalhos dos colegas. O
RENATO SOARES/ PULSAR IMAGENS
guido, morto lá na floresta, nas estradas, nas aldeias. Esse não existe.
Para o mundo aqui fora existe aquele indígena exótico: o que usa cocar, Fotograma do vídeo Ymá
colar, que dança, que canta. Coisa para turista ver. Mas aquele outro que Nhandehetama, com imagem de
Almires Martins, indígena do povo
está lá na aldeia, esse sofre de uma doença que é a doença de ser invisível. guarani.
De desaparecer. Ele quase não é visto. Tanto para o mundo do Direito,
principalmente para o mundo do Direito, como ser humano. Ele desaparece. Ele se afoga nesse mar
de burocracia, no mar de teorias da academia, ele é afogado no meio das palavras. Quando a acade-
mia, os estudiosos, entendem mais de indígena, de índio, que o próprio índio. Ele é invisibilizado
pela própria academia […]
MARTINS, Almires. Ymá Nhandehetama (texto transcrito do vídeo exibido na 31-ª Bienal de São Paulo).
Disponível em: <http://alice.ces.uc.pt/news/?p=4203>. Acesso em: 23 fev. 2016.
Analise a transcrição acima e reflita sobre as questões tratadas, principalmente sobre a disparida-
de entre a realidade do indígena exposta no depoimento e a “realidade” veiculada sobre os indí-
genas. Depois, escreva como você percebe o indígena, pesquise sobre os direitos dos povos indí-
genas no Brasil e compartilhe com os colegas e o professor.
Oriente os estudantes a pensar sobre essas diferentes formas de veiculação da imagem do índio e como isso se apresenta
na visão construída em torno dele pela sociedade. Incentive-os a relacionarem a questão dos direitos do índio no Brasil e
RODA DE CONVERSA
No decorrer deste capítulo foram vistos objetos produzidos pelos povos indígenas; alguns estão atual-
mente em acervos de museus distribuídos por todo o Brasil. Entretanto, algumas aldeias possuem objetos
destinados ao comércio.
Pense sobre a inserção de objetos provenientes da cultura indígena na indústria de consumo,
seja diretamente, por meio dos objetos, ou por meio da apropriação de símbolos ou grafismos
provenientes desses povos. Reflita sobre esse processo e quais os possíveis reflexos dessa incor-
poração para os povos indígenas.
Conduza os estudantes a refletir sobre a incorporação da cultura indígena em meios como o mercado de consumo, ou seja,
em como a cultura pode se transformar em puro comércio e ser praticada somente por interesses financeiros. Entretanto,
é igualmente importante explorar o lado positivo da situação, que dependendo da como é conduzida, pode trazer bene-
fícios aos produtores indígenas e reconhecimento para o saber associado à prática. Outro ponto possível de discussão é
fazê-los pensar sobre as roupas, sapatos, móveis entre outros objetos já vendidos, ou atualmente em circulação, que tra-
zem elementos recortados da cultura indígena sobre o rótulo do “etno” ou “étnico”, refletindo sobre esse deslocamento.
REPRODUÇÃO
traste entre a cultura europeia e a cultura
indígena.
e. há forte direcionamento religioso no texto e
na pintura, uma vez que o índio representa-
do é objeto da catequização jesuítica.
2. (Enem) 2. Resposta: E.
Chegança
Sou Pataxó
Sou Xavante e Cariri,
Ianomâmi, sou Tupi
Guarani, sou Carajá.
Sou Pancaruru,
Carijó, Tupinajé,
Sou Potiguar, sou Caeté,
Ful-ni-ô, Tupinambá.
Eu atraquei num porto muito seguro,
Céu azul, paz e ar puro...
Botei as pernas pro ar.
Logo sonhei que estava no paraíso,
Onde nem era preciso dormir para sonhar.
ECKHOUT, A. “Índio Tapuia” (1610-1666). Disponível em: http://www. Mas de repente me acordei com a surpresa:
diaadia.pr.gov.br. Acesso em: 9 jul. 2009. Uma esquadra portuguesa veio na praia atracar.
Da grande-nau,
Um branco de barba escura,
Ao se estabelecer uma relação entre a obra de
Vestindo uma armadura me apontou pra me pegar.
Eckhout e o trecho do texto de Caminha, con-
E assustado dei um pulo da rede,
clui-se que Pressenti a fome, a sede,
a. ambos se identificam pelas característi- Eu pensei: “vão me acabar”.
cas estéticas marcantes, como tristeza e Levantei-me de Borduna já na mão.
E HISTÓRIA
do Brasil do século XIX
por meio da pintura
O Teatro Documentário
e a visão crítica dos
acontecimentos
históricos
O teatro não é feito para nos reconciliar com um mundo que vai mal, mas para reconciliar nós
mesmos nesse mundo com aquilo que passamos nosso tempo a ignorar solenemente: o instante.
Jacques Lassalle.
CLÁUDIO ETGES
Foto do espetáculo de rua O amargo santo da purificação da tribo de atuadores do grupo do Rio Grande do Sul, Ói Nóis Aqui Traveiz, na Praça da
Batalha, Portugal. O espetáculo trata da trajetória do militante baiano Carlos Marighella, que lutou contra os regimes autoritários no Brasil e foi
morto em 1969 em uma ação da Delegacia de Ordem Política e Social (Dops). Foto de 14 de maio de 2013.
As artes têm relação estreita com o tempo no qual se desenvolvem, como já foi observado nas Unidades 1
e 2. Os artistas são sujeitos imersos na sociedade e, sendo assim, também são marcados pelos acontecimentos
históricos à sua volta. Além disso, desde os rapsodos gregos, como citado na Introdução, a arte muitas vezes
serviu como forma de expressão e reflexão sobre determinado acontecimento histórico. Em muitos casos, as
Criar é, basicamente, formar. É poder dar uma forma a algo novo. [...]
Desde as primeiras culturas, o ser humano surge dotado de um dom singular: mais do que “homo
faber”, ser fazedor, o homem é um ser formador. Ele é capaz de estabelecer relacionamentos entre os
múltiplos eventos que ocorrem ao redor e dentro dele. Relacionando os eventos, ele os configura em sua
experiência do viver e lhes dá um significado.
OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. Petrópolis: Vozes, 2008. p. 9.
RODA DE CONVERSA
Há diversas interações que ocorrem entre as artes e outras áreas do conhecimento. Neste capítulo, se-
rão estudadas as relações entre a pintura, o teatro documentário e a História. A pintura pode ser entendida
como elemento importante para a construção histórica da identidade de um povo; já o teatro documentá-
rio pode ser entendido como estratégia para evidenciar essa construção da identidade.
Converse com os colegas e o professor sobre as questões a seguir.
1. Qual definição você daria para “história”?
1. Resposta pessoal. É interessante registrar as definições de história apresentadas pelos estudantes e, a partir delas, traba-
lhar esse conceito por meio da arte ao longo do capítulo. O termo história pode comportar inúmeras definições. Pode-se
pensar na história de cada indivíduo relacionando sua infância e a visão construída sobre os eventos familiares. É possível
ampliar e pensar em histórias que, mesmo que privadas, pertencem a uma família ou a uma comunidade, eventos especí-
ficos que fazem parte da tradição de uma determinada cidade ou estado; como também situações que aproximam grupos
que não vivem na mesma comunidade, mas que compartilham histórias em comum como princípios religiosos, étnicos ou
de gênero.
2. Quais relações podem existir entre Arte e História? Discuta com os colegas e com o professor. Depois,
cite lugares, objetos, entre outros, em que você já percebeu a existência dessa relação.
2. Resposta pessoal. Levar em consideração o conhecimento prévio dos estudantes é importante para fomentar essa discus-
são. Algumas sugestões de exemplos que eles podem dar são: obras de arte e fotografias que ilustram os livros didáticos de
Coroação de D. Pedro I, óleo sobre tela, de Jean-Baptiste Debret, de 1828. Dimensões: 340 cm × 640 cm.
Primeira missa no Brasil, óleo sobre tela, de Victor Meirelles, de 1860. Dimensões: 268 cm × 356 cm.
1. No início deste capítulo, há duas imagens que tratam de temáticas históricas. Você já as viu em li-
vros didáticos de História? Em caso afirmativo, qual delas?
1. Resposta pessoal.
2. Pesquise e escolha, em seu próprio livro de História ou em um livro didático da biblioteca, uma pin-
tura. Escreva, no quadro a seguir, os dados da obra.
2. Resposta pessoal.
Título Converse com os estudantes sobre a função das imagens artísticas nos livros didáticos de
História e leve-os a refletir sobre essa associação entre artes visuais e história. Pergunte a eles
se essas imagens acrescentam novos significados aos conteúdos que representam ou simples-
Autor mente ilustram os fatos relatados.
Se possível, após ler as produções dos estudantes, oriente-os a exporem seus trabalhos.
Ano
Dimensões
Local em que
a obra está
Acontecimento
histórico que a
obra representa
No século XIX, outras expedições artísticas e científicas, muitas delas oriundas de projetos de outros países
– Inglaterra e Alemanha, por exemplo –, ocorreram no Brasil. Essas expedições tinham o objetivo de mapear e
reconhecer os territórios recém-descobertos. Nesse período, não existiam outros meios de captação e repro-
dução da imagem, como máquinas fotográficas ou filmadoras, portanto, a pintura era considerada meio pri-
vilegiado de retratação da natureza. É possível destacar a Missão Austríaca e da Baviera com a participação de
inúmeros pesquisadores: Johann Christof Mikan (1769-1844), botânico e entomólogo; Johann Emanuel Pohl
(1782-1834), médico, mineralogista e botânico; Johann Buchberger (?-1821), pintor de plantas; Johann Natterer
(1787-1843), zoólogo; Rochus Schüch (1788-1844), mineralogista e bibliotecário; Heinrich Schott (1794-1865),
botânico e jardineiro. O único membro da expe-
Batalha do Avaí, óleo sobre tela, de Pedro Américo, de 1872-1877. Dimensões: 600 cm × 1 100 cm.
MUSEU NACIONAL DE BELAS ARTES, RIO DE JANEIRO
Batalha dos Guararapes, óleo sobre tela, de Victor Meirelles, de 1879. Dimensões: 500 cm × 925 cm.
Foto da peça As Rosas no Jardim de Zula, de Zula Cia. de Teatro. Nessa peça, duas atrizes recontam a história da mãe de uma delas, que abandonou
os filhos. Foto de 2015.
Para entender melhor o Teatro Documentário, é importante definir o que representa um documento
para a História. Jacques Le Goff (1924-2014), historiador francês, discutiu a questão do documento como fon-
te histórica. Para ele, a fonte que serve como documento para se estudar a história não é apenas a oficial,
ou seja, a história escrita em documentos oficiais – anais, livros de história etc. –, possuidora de uma verda-
de objetiva e autêntica sobre os fatos do passado, mas também outras fontes, como fotografias pessoais,
escritos não oficiais, registros audiovisuais etc. O historiador, para Goff, portanto, é aquele que interpreta e
analisa os fatos a partir de uma pluralidade de fontes, estabelecendo uma história das formas de represen-
tação das sociedades.
O movimento historiográfico de que Le Goff foi um dos inte-
REPRODUÇÃO
grantes é denominado Escola dos Annales, e inaugurou o que se
convencionou chamar de Nova História. Para ampliar essa discus-
são, a historiadora Rosângela de Lima Vieira discorre sobre a relação
entre documento e conhecimento histórico, tendo como ponto de
partida as ideias de Le Goff:
RIOTIRAS.COM
Disponível em: <http://ryotiras.com/instangram/>. Acesso em: 25 maio 2016.
1. Qual a situação representada na tirinha?
1. A tirinha retrata um dos hábitos mais comuns de quem usa as redes sociais: fotografar pratos de comida.
te, postá-las em alguma rede social e compartilhar sua experiência (sempre igual) com seus colegas. Essa tirinha trata de
maneira cômica o hábito contemporâneo de postar suas atividades mais cotidianas nas redes sociais.
3. Entre na rede social que você mais acessa. Na página do seu perfil, selecione documentos (textos, memes,
fotos, vídeos, áudios etc.) que você acredita serem mais significativos para analisar um determinado acon-
tecimento da sua vida. Depois, escreva abaixo a história “contada” pelos documentos que você escolheu.
3. Resposta pessoal. O objetivo desta atividade é fazer os estudantes experimentarem o trabalho a partir de fontes do-
cumentais. Completar essas lacunas entre os documentos e o acontecimento em si, com possibilidades percebidas a
4. Agora, compartilhe sua história com os colegas e o professor. 4. É importante criar um ambiente de respei-
to entre os estudantes para a realização desta atividade. A conversa entre os estudantes é um momento muito importante,
pois permite que contem suas histórias a partir das fontes que coletaram nas redes sociais. Incentive os estudantes a traze-
rem o material pesquisado de forma impressa ou digital para compartilhar suas fontes com os colegas.
DIVULGAÇÃO/ CP
nhado de acontecimentos históricos, do julgamento de
Sócrates à condenação a trabalhos forçados de um poeta
soviético desempregado, tudo ilustrando o sentido geral
da liberdade.
Paulo Autran, o astro principal entre os quatro intér-
pretes que representam no palco vazio, pronuncia, sob a
luz de único spotlight, a última palavra da peça: “Resisto!”.
A audiência de trezentas pessoas, que tinha pago o equi-
valente a um dólar e vinte e cinco centavos por pessoa
para sentar amontoada, levantou-se e aplaudiu vibrante-
mente. Alguns gritavam “Bravos!”.
Contudo, o que parecia conquistar a audiência era o
fato da irada mensagem da peça vir temperada com hu-
mor, música e um otimismo ansioso com respeito ao fu-
Foto dos atores Paulo Autran e Tereza Rachel em cena da
turo do Brasil. peça Liberdade, Liberdade, que foi proibida pela censura
THE NEW YORK TIMES. O New York Times comenta Liberdade, Liberdade. In: RANGEL, poucos meses depois de sua estreia, no dia 21 de abril de
F & FERNANDES, Millôr. Liberdade, Liberdade. 5. ed. Porto Alegre: L&PM, 1987. p. 10-11. 1965, no Rio de Janeiro (RJ).
Performadores: neste caso, refere-se aos artistas que performam as ações na obra.
b. A forma de contar de cada pessoa contribuiu para a compreensão do que aconteceu? Por quê?
3. b) Resposta pessoal.
Os estudantes poderão perceber que há formas diferentes de se contar uma história, que o ponto de vista costuma variar
Jogo de cena
Direção: Eduardo Coutinho.
Videofilmes: Brasil.
Ano: 2007.
Duração: 104 min.
Documentário realizado pelo cineasta brasileiro Eduardo Coutinho
(1933-2014), no qual pessoas comuns são convidadas a contar suas
histórias de vida diante da câmera e, posteriormente, atores contam
essas mesmas histórias, como se tivessem acontecido com eles. Se possível, mostre aos estudantes
Enquanto se assiste ao documentário, fica a dúvida entre o que é o documentário Jogo de cena, que
realidade e o que é ficção; entre quem está contando a própria história e pode ser assistido na internet. Para
quem está contando a história de outra pessoa; entre quem é o sujeito isso, digite em um site de buscas as
da história e quem atua “como se fosse” o sujeito da história. palavras “Jogo de Cena Eduardo
Coutinho” e selecione o vídeo.
28%
Melhor
66% Igual
Pior
Não sabem ou não responderam
60%
Aumentou
40%
Continuou igual
Diminuiu
20%
Não sabem ou
não responderam
0%
0 2009 2011 2013
serir legenda Gráfico do tipo de violência sofrida dentre as mulheres que declaram ter sido agredidas (2009-2013).
oxo] – Denunciou em delegacia da Mulher
CIBELE QUEIROZ
Marido/ companheiro/
40% namorado
Ex-marido/
ex-companheiro/
30%
ex-namorado
Familiar
20% Padrasto
13%
11% Outro
10%
8%
Não sabem ou
2% 1% não responderam
0%
30%
25%
Denunciou em Delegacia da Mulher
Outra opção
0%
2009 2011 2013
Colocar-se no lugar do outro. [...] O choque não é de mulheres contra os homens. O choque é
contra um pensamento que limita a liberdade humana, mas principalmente, de mulheres. O cho-
que – sem violência – é para que haja o encontro [entre homens e mulheres].
Disponível em: <https://osconectores.wordpress.com/teatro/>. Acesso em: 14 jan. 2016.
5. Ensaiando a cena
Ensaiem a cena usando o roteiro que vocês produziram. Vocês podem, por exemplo, fazer a leitura em
voz alta de cartas, e-mails, entrevistas e demais registros escritos, e trabalhar com a projeção de ima-
gens, com músicas e demais recursos que contribuam para enriquecer a compreensão da história.
2. Qual foi o ponto de vista da cena escolhido para narrar a história? Você concorda com ele? Justifique
sua resposta.
2. Resposta pessoal.
3. Quais elementos visuais ou sonoros foram mais importantes para contar a história encenada pelo
seu grupo? Justifique sua resposta.
3. Resposta pessoal.
4. Quais documentos foram mais relevantes para compor o roteiro da cena? Justifique sua resposta.
4. Resposta pessoal.
O objetivo da atividade é permitir que os estudantes tenham um espaço para refletir sobre a prática a partir de questões
objetivas. Estas referem-se a cada etapa do processo da construção de cena e à análise do resultado segundo a perspecti-
RODA DE CONVERSA
Converse com os colegas e o professor e responda às questões a seguir.
1. Qual foi a função da Missão Artística Francesa no Brasil? Justifique sua resposta.
1. A Missão Artística Francesa se constituiu no Brasil durante o reinado de D. João IV e a presença da corte de Portugal no Rio
de Janeiro. Tinha como objetivo documentar os acontecimentos do novo Estado. Foi responsável, também, pela fundação
da Escola Real das Ciências, Artes e Ofícios e pela formação de novos artistas no Brasil.
diversos documentos levados à cena, ele pretende evidenciar que a história é uma construção social e não uma forma de
acesso à verdade.
MATEMÁTICA
§ Matemática
§ Perspectiva
§ Lógica
ALYSTA/ SHUTTERSTOCK
Foto do Domo da Catedral Santa Maria del Fiore, de Filippo Brunelleschi, de 1420-1436, Florença, Itália. Foto de 2010.
Renascimento: compreende o período entre os anos 1400 e 1650, mais associado à ci-
vilização europeia. Uma das características do período é a valorização do ser humano,
deixando de lado concepções pautadas, por exemplo, na religião. Vários são os avanços
desse período nas áreas de ciência, literatura e artes. Alguns princípios básicos, como ra-
cionalidade, retomada artística de preceitos greco-romanos e o rigor científico são nor-
teadores do Renascimento. Kouros jônico proveniente de Milo, feita
de mármore, de cerca de 600 a.C. Altura
Perspectiva: técnica que permite representar objetos, figuras e espaços de maneira rea- 214 cm. Esta escultura colossal estava,
lista em terceira dimensão, oferecendo a ilusão de profundidade e espessura em planos originalmente, no templo de Poseidon e
bidimensionais (de duas dimensões). foi encontrada no final do século XIX.
RODA DE CONVERSA
A observação atenta da natureza é uma condição básica que acompanha a história de sobrevivência do
ser humano desde o início de sua história no planeta. Essa observação permite identificar padrões geomé-
tricos na própria natureza.
1. Cite no mínimo três exemplos de padrões geométricos que existem na natureza.
1. Resposta pessoal. Sugestões de resposta: No reino animal, as estruturas hexagonais das colmeias; no reino vegetal, o
miolo de um girassol, um repolho cortado ao meio. As plantas e as flores em geral possuem formas que, normalmente, re-
2. Faça uma pesquisa em jornais, revistas ou mesmo na internet e traga para a sala de aula imagens
com exemplos de padrões geométricos.
Veja orientações na Assessoria Pedagógica.
Hércules esmagando
serpentes, afresco
da Casa dos Vettii,
Pompeia, Itália, século
I d.C. Foto de 5 de
setembro de 2007.
PV
2
ILUSTRAÇÕES: CIBELE QUEIROZ
1
a
fug
de
ha
Lin
PF
LH LH
Ilustrações mostram a localização das linhas responsáveis pela composição da perspectiva do ponto de vista do observador (PV), em que é possível
perceber a linha do horizonte (LH) e o ponto de fuga (PF).
vador denominada “linha do horizonte”, de modo que tudo o que estiver abaixo
dela será visto de cima para baixo, enquanto o que estiver acima, é visto de baixo para cima. Os elementos
situados exatamente na linha do horizonte são vistos de frente, sem variação. As profundidades dos obje-
tos são alcançadas por meio de pontos colocados sobre a “linha do horizonte”, que recebem o nome de
“ponto de fuga”, cujas posições serão definidas a partir do ângulo de visão do observador.
Dizemos:
3-º O quadro deve ser inteiramente construído com elementos puramente plásticos, isto é, planos
[(superfícies)] e cores. Um elemento pictural só significa “a si próprio” e, consequentemente, o quadro
não tem outra significação que “ele mesmo”.
4-º A construção do quadro, assim como seus elementos, deve ser simples e controlável visualmente.
5-º A técnica deve ser mecânica isto é, exata, anti-impressionista.
6-º Esforço pela clareza absoluta.
DOESBURG, Theo van. Arte concreta. In: AMARAL, Aracy A. (Coord.). Projeto construtivo na arte: 1950-1962.
Rio de Janeiro: Museu de Arte Moderna; São Paulo: Pinacoteca do Estado, 1977. p. 42
Um dos principais objetivos do grupo, como foi verificado no manifesto, era buscar uma arte mais obje-
tiva possível com a construção de formas e linhas que se aproximassem da matemática. Nesse caso, a pintura
era realizada com ângulos e linhas retas, somente com o uso de vermelho, amarelo e azul (cores primárias) e
cinza, branco e preto (consideradas negativas).
© 2016 ESTATE OF PABLO PICASSO / ARTISTS RIGHTS SOCIETY ARS, NEW YORK
vimentos racionalistas, que, por volta de 1910,
abandonaram gradativamente as representações
figurativas ou passaram a trabalhar na constitui-
ção de um repertório visual geométrico. Exemplo
desse abandono da representação em prol da
abstração pode ser encontrado já no início da
década de 1910 nas aquarelas desenvolvidas por
Wassily Kandinsky (1866-1944), e, no que diz res-
peito à adoção da forma geométrica como princí-
pio para a composição, é possível ressaltar as pro-
duções associadas ao Cubismo, que trouxeram
uma nova abordagem à questão da representa-
ção volumétrica – tridimensional dos objetos – na
superfície plana e bidimensional do quadro ao re-
cortar geometricamente os elementos represen-
tados, tornando possível registrar o aspecto tridi-
mensional dos objetos, por meio da reunião dos
Retrato de Daniel-Henry Kahnweiler, óleo sobre tela, de Picasso, 1910.
vários perfis do mesmo. Essa estratégia das múlti- Dimensões: 100,6 cm × 72,8 cm.
plas vistas do objeto pode ser observada no rosto © VASSILY KANDINSKY, VEGAP/ ALBUM/ DE AGOSTINI/ M. CARRIERI/ LATINSTOCK
COLEÇÃO PARTICULAR
ACERVO DA EDITORA
como objetivo reestruturar a linguagem artística
no campo da poesia. Décio Pignatari, Augusto de
Campos e Haroldo de Campos, reunidos desde o
ano de 1952 em grupo denominado Noigandres
– lançando uma revista de mesmo nome –, fo-
ram alguns dos envolvidos na construção da
poesia concreta no Brasil. Nessas composições,
as palavras são utilizadas em seu significado se-
mântico e no valor imagético, ou seja, na poesia
concreta a palavra possui tanto a qualidade de
“sentido” quanto sua “forma” e, por isso, funcio-
na estruturalmente, sendo encaixada no plano PIGNATARI, Décio. Contribuição para um alfabeto duplo.
da folha como uma peça. O poema passa, assim, In.: Poesia, Pois é, Poesia. / Poetc. São Paulo: Brasiliense, 1986, p. 184.
a incorporar elementos da racionalidade matemática como parte do processo criativo, brincando com a simulta-
neidade entre comunicação verbal e visual. Décio Pignatari, no exemplo acima, constrói uma frase de modo que a
combinação entre as letras “b” e “p” e “o” e “i”, ofereça uma dupla interpretação a uma mesma palavra e sentença.
Pesquise na internet ou na biblioteca outros exemplos de poemas escritos por Augusto de
Campos, Haroldo de Campos ou Décio Pignatari e, com essa reunião de referências, escreva,
em uma folha avulsa, o seu poema. Pense nas palavras, em seus sentidos, em suas configura-
ções formais, em como as palavras estarão dispostas no papel etc. Esta atividade permite o trabalho
interdisciplinar com Língua Portuguesa. Se julgar interessante, organize um sarau para a apresentação dos poemas escritos pe-
los estudantes.
Noigandres: revista fundada pelos irmãos Haroldo e Augusto de Campos com Décio Pignatari, em 1952. A palavra “noigan-
dres” foi retirada de um poema de Ezra Pound, que não possui significado específico e apenas faz referência à experimenta-
ção verbal. A revista foi o veículo da proposta artística do grupo e trazia vários dos poemas visuais produzidos pelo grupo.
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letra grega “fi”, que representa a aproximadamente 1,6180. Veja,
RIA D
EDITO
no pentagrama ao lado, um exemplo em que a proporção áurea
está representada. Representação do pentagrama, exemplo de organização
que ilustra a razão do número de ouro.
Ao traçar retas unindo as pontas da estrela obtém-se um
pentágono e, novamente, com a interseção dessas linhas em
SHUTTERSTOCK/ LEONART
seu interior, temos um novo pentágono que forma outra es- 1
TONIFLAP/ SHUTTERSTOCK
saicos é o uso de formas não geométricas, como feito pelos
mouros na imagem ao lado.
O artista Maurits Cornelis Escher (1898-1972), importan-
te artista holandês, por exemplo, teria se interessado por esse
tipo de composição após ter passado uma temporada na
Espanha, quando teve contato com os mosaicos da cidade de
Alhambra. Observe as semelhanças entre a obra Cada vez me-
nor, de Escher, e a imagem do mosaico árabe ao lado. É possí-
vel perceber como os dois compartilham da repetição de um
mesmo motivo como forma de recobrir a superfície, dividindo
o plano por meio do encaixe geométrico das figuras e pela
alternância entre um conjunto de cores definidas. O mosaico
árabe sudivide o plano pela proximidade entre as sequências
de figuras dispostas diagonalmente nas cores preta, amarela
e azul. A xilogravura de Escher divide os planos por meio das
cores preta, branca e vermelha. A repetição da forma e sua dis-
posição calculada na superfície é a tal ponto explorada por
Escher, que torna possível a ideia de continuidade infinita entre
os planos, que assumem dimensões menores à medida que
se aproximam do centro e maiores quando se aproximam das
quatro margens da imagem como se estivessem em um mo-
vimento constante de multiplicação.
Foto de mosaico no Palácio Alhambra, construído no século
XIII, Granada, Espanha.
COLEÇÃO PARTICULAR
Neste capítulo, foi feita uma caminhada passando pela Antiguidade grega, pelo Trecento e pelo
Renascimento. Foi possível acompanhar também os trabalhos dos artistas concretos brasileiros desenvol-
vidos em direta relação com as leis e os princípios matemáticos. A matemática é uma ciência que com-
partilha espaços da vida dos seres humanos; está na arte, na biologia e chega a passar despercebida pela
simplicidade com que compõe e estrutura os elementos da natureza, com a mesma simplicidade que
confere beleza e equilíbrio a uma obra artística.
Dos vários aspectos da relação entre arte e matemática, seria interessante retomar alguns pontos da
estratégia de representação tridimensional dos objetos conhecida como perspectiva, sobre a qual foi es-
tudado o método utilizado pelos pintores romanos, como foi visto no afresco na casa dos Vettii, onde os
objetos possuem uma representação individual, cuja proximidade entre eles oferece a ideia de profundi-
dade, e a perspectiva desenvolvida em Florença, no início do século XV, por artistas como Leonardo da
Vinci, onde um único ponto de vista define toda a representação, concebendo a cena como um todo.
Conclui-se, então, que as atuações do artista e do matemático sempre estiveram muito próximas, uma
vez que ambas se constituem como formas de responder de maneira lógica a questões, sejam elas artísti-
cas, caso do esforço em conferir tridimensionalidade a objetos representados no plano bidimensional, se-
jam numéricas, desvendando as relações geométricas entre polígonos e as razões existentes na natureza.
objetos, de pessoas e da natureza. O grupo Ruptura passou a reivindicar a utilização tanto de cores como formas que não
2. As diferenças entre os grupos concretos de São Paulo e do Rio de Janeiro são caracterizadas pela
prioridade conferida à teoria e à experiência. Seria possível reconhecer essas diferenças nas obras?
Justifique sua resposta.
2. Resposta pessoal.
As obras dos grupos concretos podem ser reconhecidas pela utilização de formas geométricas em suas pinturas e escul-
turas. O grupo do Rio de Janeiro, Neoconcreto, utiliza objetos dos mais variados, inclusive fotos da execução das obras.
TECNOLOGIA
e tecnologia; artes
cênicas e tecnologia
§ Música e tecnologia
PHILA 7/ DIVULGAÇÃO
Foto do evento de construção coletiva Profanações do Grupo Phila 7, realizado em agosto de 2012. O público presente era
convidado a trazer seus computadores e smartphones para interagir em tempo real com a ação cênica. Também havia o
público que assistia a transmissão ao vivo através do site www.profana.art.br.
RODA DE CONVERSA
Atualmente há diversas obras teatrais que foram adaptadas para a televisão, o cinema e a internet assim
como há inúmeras gravações de balés, peças, concertos, óperas ou e apresentações circenses. Hoje em dia,
por exemplo, é cada vez mais comum que os artistas disponibilizem fragmentos de suas obras na internet.
1. Você já assistiu a um filme que foi primeiramente uma peça de teatro ou um balé? Ou já assistiu a
alguma obra de dança, concerto, ópera ou espetáculo de circo, performance, entre outros, no cine-
ma, na televisão ou na internet? Escreva abaixo o título e quais foram suas impressões sobre a obra
assistida e, depois, compartilhe com os colegas e o professor suas experiências.
1. Resposta pessoal. Ao longo deste livro, há exemplos de obras cênicas que poderiam ser vistas em programas de televi-
são, filmes ou na internet nos boxes “Arte para assistir” e “Arte para navegar”. Caso os estudantes não se lembrem de um
exemplo de alguma obra que foi adaptada para outra mídia, escolha uma das indicações dadas, apresente para a turma e
estimule uma discussão com base nela.
O objetivo desta atividade é provocar uma reflexão sobre a importância da copresença de público e artistas nas obras cênicas.
Isso já foi estudado na Unidade 1. Caso a turma tenha assistido a algum espetáculo, performance ou intervenção cênica duran-
te o ano, use essa experiência como exemplo para a reflexão proposta. Se isso não foi possível, trabalhe com a experiência de
assistir aos colegas em suas produções cênicas atividades práticas das aulas de Arte.
3. São muitas as maneiras que se pode ouvir música: elas podem ser armazenadas em um telefone celu-
lar, tocadas no rádio, em um aparelho de som ou na TV, ouvidas em espetáculos etc. Compartilhe suas
experiências de ouvir música com os colegas e o professor.
a. Habitualmente, de onde vem a música que você ouve?
3. a) Resposta pessoal.
É provável que muitos estudantes tenham como hábito ouvir músicas baixadas ou compartilhadas na internet.
Estimule os estudantes a trazerem alguns discos ou CDs que tenham em suas residências e mostre as possíveis diferenças entre
c. De que modo você adquire as músicas que ouve? Você acha que as músicas deveriam estar disponí-
veis gratuitamente para todos ouvirem ou acha justo que seja cobrado um valor por isso? Por quê?
3. c) Resposta pessoal.
Estimule uma discussão sobre o fato de, atualmente, cada vez menos pessoas pagarem para ouvir músicas gravadas e os pos-
Foto de uma cena da ópera La Traviata, de Giuseppe Verdi, encenada pela Royal Opera House Covent Garden de Londres e transmitida no cinema
em fevereiro de 2016. Foto de 16 de abril de 2014.
Título da peça
Ano e direção
Grupo Teatral
Sinopse
Suas impressões
sobre o trailer
SIR_ENITY/SHUTTERSTOCK
Título do filme
Ano e direção
Elenco
Sinopse
Suas impressões
sobre o trailer
MATRIOSHKA/SHUTTERSTOCK
2. Compare os trailers e descreva suas semelhanças e diferenças. Depois, converse com os colegas e
o professor sobre suas percepções.
2. É importante que os estudantes observem questões como duração dos trailers, edição, a escolha de frases que
REPRODUÇÃO
REPRODUÇÃO
Foto de cena da coreografia BIPED, da Merce Cunningham Dance Company, no Alex Theatre, em Glendale, Califórnia, EUA. Foto de 2015.
ZENICOLA, Denise. Celebrando Merce Cunningham. Disponível em: <www.existencialismo. Merce Cunningham explorando movimento.
org.br/jornalexistencial/suelilugarcelebrando.htm>. Acesso em: 20 jan. 2016.
Observe a sutileza do gesto e a sugestão de
leveza. Foto de 1º- de janeiro de 1975.
§ Após a leitura do texto, responda às questões a seguir e, depois, converse com os colegas e o
professor.
a. Com base no texto, qual é a relação entre dança e música proposta por Cunningham?
a) Cunningham propõe a independência entre dança e música. Sua proposta é conferir autonomia total à dança.
b. O que você acha que o coreógrafo quis dizer com a frase “o tema da dança é a dança mesma”?
b) Dentro da perspectiva de autonomia da dança proposta por Cunningham, a dança é o seu próprio tema. Ou seja, ela
não precisa expressar um sentimento, uma história, o movimento dançado em si já é suficiente. Isso corrobora o enten-
dimento da dança como área do conhecimento humano de forma independente de outras artes e de outras formas de
produzir conhecimento. O mesmo pode ser pensado em relação a outros campos do conhecimento artístico.
Sugestão de resposta: Videoclipes de músicas, espetáculos de dança, óperas, flash mobs, entre outros.
Converse com os estudantes e estimule-os para que os exemplos apontados por eles versem sobre os flash mobs, sobre as
obras coreográficas e/ou sobre expressões de danças que possam ser associadas a um dos muitos estilos de dança existen-
tes. Por mais que todas as formas de dançar sejam válidas, ou seja, que não haja certo ou errado, é importante que os estu-
3. Escolham um vídeo e conversem sobre os momentos coreográficos de que vocês mais gostaram
e justifiquem a resposta.
3. Resposta pessoal. Os momentos destacados pelos estudantes podem ser relacionados à forma que o movimento se
sincroniza com a música, à expressividade dos gestos dos dançarinos, entre outros.
Foto de perfomance da Cia. dos Tolos, inspirada no trabalho do fotógrafo e ambientalista francês Yann Arthus-Bertrand. Essa perfomance, feita
com seis mil balões brancos, inaugurou o Atraves.TV, espaço colaborativo idealizado pela cineasta brasileira Georgia Guerra-Peixe, que recebe
diferentes expressões de arte, reflexão e projetos, que são transmitidos ao vivo pela web. Foto de 2016.
LATINSTOCK
REPRODUÇÃO
Fotograma do filme De volta para o futuro 2, de 1989, em Cena de videoconferência em Os Jetsons, desenho estadunidense
que os personagens conversam em tempo real, fazendo uma originalmente exibido no início dos anos 1960 e, posteriormente, nos
videoconferência. anos de 1980. No Brasil, foi exibido na TV aberta na década de 1980.
Web 2.0: criada em 2004, a web 2.0 representa uma segunda geração de ambientes e participação de usuários na internet que
possibilitou o desenvolvimento das redes sociais.
Foto da peça Odiseo.com em que atores e público interagem por meio da tecnologia. Foto de dezembro de 2014, Florianópolis (SC).
DIVULGAÇÃO
monta ao próprio surgimento do cinema,
no início do século XX, pois este era exibi-
do como atração em espetáculos teatrais de
variedades.
Também é comum ver, nos primeiros
filmes, os atores, na tela, cumprimentan-
do o público ao final da sessão, repetin-
do o gesto dos atores de teatro. Esse re-
curso é visto no filme A viagem do Capitão
Tornado (1990), do diretor italiano Ettore
Fotograma da cena final de A viagem do Capitão Tornado, de Ettore Scola, de 1990.
Scola (1931-2016).
No filme, o diretor faz uma homenagem à commedia dell’arte, movimento teatral ocorrido entre os sé-
culos XVI e XVII, que representou a profissionalização do ator e influenciou todo o teatro europeu da épo-
ca por ser um teatro itinerante que se apresentou também na França, Espanha, Inglaterra, Alemanha entre
outros países. Esse movimento também foi chamado de comédia de improviso, pois os atores seguiam
um roteiro, entretanto, criavam cenas diante do público por meio de improvisações.
Commedia dell’arte – comédia da habilidade. Isto quer dizer arte mimética segundo a inspiração
do momento, improvisação ágil, rude e burlesca, jogo teatral primitivo tal como na Antiguidade os
atelanos haviam apresentado em seus palcos itinerantes: o grotesco de tipos segundo esquemas bá-
sicos de conflitos humanos, demasiadamente humanos, a inesgotável, infinitamente variável e, em
última análise, sempre inalterada matéria-prima dos comediantes no grande teatro do mundo. Mas
isto também significa domínio artístico dos meios de expressão do corpo, reservatório de cenas
prontas para a apresentação e modelos de situações, combinações engenhosas, adaptação espontâ-
nea do gracejo à situação do momento.
Quando o conceito de Commedia dell’arte surgiu na Itália no começo do século XVI, inicialmen-
te significava não mais que uma delimitação em face do teatro literário culto, a commedia erudita.
Os atores dell’arte eram, no sentido original da palavra, artesãos de sua arte, a do teatro. Foram, ao
contrário dos grupos amadores acadêmicos, os primeiros atores profissionais.
BERTHOLD, Margot. História mundial do teatro. São Paulo: Perspectiva, 2004. p. 353.
Atelanos: cidadãos da antiga cidade de Atella (atual Itália) na Antiguidade Clássica. Remonta século IV a.C. a Farsa Atelana
que foi posteriormente recuperada pelos romanos no século I d.C.
Grotesco de tipos: refere-se aos personagens-tipos da farsa que caracterizam-se por um humor que explora o grotesco
associado a deformações físicas e de caráter, escatologia etc.
REPRODUÇÃO
chamado Sbornia. Diferentemente da adaptação cinematográfica a partir de Foto do cartaz do filme Até que a
textos dramatúrgicos, Até que a Sbørnia nos separe é um filme inspirado em Sbørnia nos separe, de Otto Guerra e
Enio Tornesan Júnior, de 2014.
espetáculo que foi criado da junção entre música e teatro.
DIVULGAÇÃO/ “TANGOS E TRAGÉDIAS”
G18_EM_ARTE_C21_F13:
acontece diante dos espectadores ao mesmo tempo em que é filmada e edita- Para conhecer mais sobre
o trabalho de Christiane
da ao vivo. De maneira simultânea ao espetáculo, o filme é exibido em ou-
Jatahy, visite o site oficial
tro espaço. O público pode optar por assistir a peça com todo o aparato de da escritora, diretora e
gravação ou assistir ao filme enquanto ele está sendo montado na mesa de cineasta. No site, é possível
ver fotos e vídeos de
edição. A pesquisa de linguagem entre teatro, vídeo e cinema é uma marca
outras obras de Jatahy e
da diretora que explora as semelhanças e diferenças entre essas linguagens, conhecer um pouco sobre
bem como o aspecto presencial do teatro, em contraposição ao virtual do sua trajetória e sua pesquisa
entre o teatro e o cinema.
cinema.
Foto da peça E se elas fossem para Moscou, da companhia carioca Vértice, com as atrizes Isabel Teixeira e Julia Bernart (ao fundo) e Stella Rabello (a
frente) durante apresentação em São Paulo (SP). Foto de 13 de julho de 2014.
foi necessário o uso de tecnologia para a sua construção. O feito parece mais Nesse link é possível assistir
ao documentário UAKTI –
impressionante quando se pensa em como era o modo de vida do homo
oficina instrumental dirigido
sapiens daquela época, na disponibilidade de recursos técnicos ao seu alcan- pelo cineasta Rafael Conde.
ce e no conhecimento que teve de acumular para utilizá-los. O filme aborda a lenda
indígena que deu origem ao
Ao longo da história da música, a tecnologia tem sido empregada na nome do grupo e apresenta
construção e no aperfeiçoamento dos instrumentos musicais, na escolha os músicos interpretando
dos materiais e projetos que oferecem a melhor sonoridade e que, com isso, algumas músicas em seus
inusitados instrumentos.
favorecem os músicos no aperfeiçoamento das suas técnicas de execução.
O grupo brasileiro de música instrumental UAKTI caracteriza-se pela utilização de instrumentos não
convencionais construídos por um de seus integrantes a partir de materiais como canos de PVC, madei-
ras, metais, vidros ou reutilizando objetos como bacias e calotas de automóveis. Como os instrumentos
construídos pelo grupo não se enquadram de modo exato na classificação de famílias de instrumentos
que você estudou na Unidade 3 (cordas, madeiras, metais e percussão), os músicos Artur Andrés e Fausto
Borém propõem a classificação dos instrumentos do UAKTI pelo sistema Hornbostel-Sachs. Leia, no texto
abaixo, um pouco sobre essa classificação:
[...] Erich von Hornbostel (1877-1935) e Curt Sachs (1881-1959) criaram, em 1914, um novo sistema
para a classificação dos instrumentos musicais, mais completo e de abrangência internacional. Em oposi-
ção à divisão tripartida (percussão, cordas e sopros), esse novo sistema propôs a utilização da característica
física de produção do som como princípio básico para a divisão classificatória, onde se destacaram, à prin-
cípio, quatro categorias de instrumentos musicais: os idiofones, que são instrumentos cujo próprio corpo
em vibração gera o som; os membranofones, onde o som é produzido pela vibração de uma membrana; os
cordofones, onde o som é produzido pela vibração de cordas e os aerofones, onde o som é produzido pela
vibração do ar. Posteriormente, foi incluída uma quinta classe de instrumentos, a dos eletrofones, instru-
mentos que produzem vibrações que passam por um alto-falante e se transformam em sons.
ANDRÉS, A.; BORÉM, F. O grupo UAKTI: três décadas de música instrumental e de novos instrumentos
musicais acústicos. Per Musi, Belo Horizonte, n. 23, 2011, p. 170-184.
Qual instrumento sonoro que você conhece pode se encaixar em cada uma das categorias do sis-
tema Hornbostel-Sachs? Se necessário, faça uma pesquisa na internet ou na biblioteca.
Veja orientações na Assessoria Pedagógica.
Música e Arqueologia
Podemos pensar que o uso da tecnologia é algo recente e que somente os jovens ou as civilizações
contemporâneas se utilizam de técnicas avançadas para seu tempo. Descobertas recentes têm mostrado
que os humanos que viveram há mais de 35 mil anos já se utilizavam de tecnologias para construir instru-
mentos musicais como a flauta encontrada em uma caverna na Alemanha. No artigo a seguir, você verá
que esse instrumento, construído a partir do osso de uma ave, assemelha-se às flautas modernas e que a
música dali soprada pode ter ajudado a construir redes sociais.
Do fonógrafo à música
pela internet
A divulgação da música popular, tal como a conhecemos hoje, só foi
possível a partir da invenção do fonógrafo e da expansão da radiodifusão.
O fonógrafo, criado pelo estadunidense Thomas Edison (1847-1931) em
1877, foi o ponto de chegada de uma longa série de tentativas e inventos que
buscavam formas de registrar os sons. Esse aparelho utilizava cilindros de cera e,
nestes, o som era gravado de modo mecânico. Inicialmente pensado como um
equipamento para gravar a voz falada, o fonógrafo passou a ser utilizado para
gravar músicas. Como ele, além de gravar os sons nos cilindros de cera, também
podia reproduzi-los, foi criada a possibilidade de se produzir e vender música
gravada, o que deu início ao que hoje conhecemos como indústria fonográfica. 1. Foto de fonógrafo de Thomas Edison.
Como usualmente ocorre com as novas tecnologias, no início, o cus- Sua invenção, conhecida no começo
como “máquina de falar”, permaneceu
to dos fonógrafos era alto e isso restringia o número de pessoas que eles al- inalterada por quase uma década. Foto
cançavam. Entretanto, com o tempo, começaram a ser produzidos em maior de 1º- de janeiro de 1877.
escala e receberam modificações até serem superados por outra invenção. 2. Foto de Emile Berliner com antigos
protótipos do gramofone. A vantagem
Em 1887, o alemão Emil Berliner (1851-1929) inventou o gramofone, o primeiro
do gramofone em relação ao fonógrafo
toca-discos da história. Esse aparelho não usava cilindros, mas sim discos planos fei- era o uso de discos planos, mais
tos de vulcanite, um composto semelhante à borracha. Para rodar um disco, o gra- resistentes e com maior capacidade de
registro de músicas. O maior interesse
mofone deveria ser acionado manualmente por uma manivela. Então, o som era de Berliner era a fabricação de discos
amplificado pela estrutura metálica em forma de corneta acoplada ao aparelho. para comercialização.
HULTON ARCHIVE/ GETTY IMAGES
1
LIBRARY OF CONGRESS
Nos últimos vinte anos, os computadores passaram gradualmente a centralizar as formas de grava-
ção de música a partir de programas especificamente desenvolvidos para essa finalidade. Os estúdios tro-
caram seus gravadores de fita por sistemas digitais e os fonogramas passaram a ser gravados em forma de
dados computacionais, que podem ser compartilhados em pen drives ou na internet e reproduzidos em
aparelhos móveis, como os telefones celulares.
Para compreender melhor a expressão “tecnologia digital” e seus impactos na indústria da música, leia
o texto a seguir. Lembre aos estudantes que o uso prolongado de fones de ouvido pode levar a graves problemas de au-
dição, muitas vezes irreversíveis.
Assim, os antigos suportes de veiculação de dados foram gradualmente substituídos por tecnologias
digitais. No caso da música, os discos, as fitas cassetes e os gravadores analógicos de som dos estúdios
também foram superados por novas tecnologias.
DIVULGAÇÃO
Se por um lado as facilidades tecnológicas possiblitaram o acesso de
muitas pessoas ao processo de produção musical, a proliferação de artistas e Foto de Ná Ozzetti e Zé Miguel Wisnik,
gravações fez com que o fato de ter um álbum gravado deixasse de ser uma que lançaram o disco Ná e Zé, em 2015,
com download gratuito. O álbum
garantia de inserção no mercado da música e passasse a ser somente mais tem canções feitas entre 1978 e 2014,
uma entre as estratégias de divulgação do trabalho dos músicos. cujo assunto, segundo o compositor,
é o tempo.
Além disso, a grande agilidade com que a produção musical passou a circu-
lar nos meios digitais facilitou de tal forma sua reprodução que deixou de ser lu-
crativa a venda de música para a maior parte dos artistas. Excetuando-se as gran-
XAVIER DOLAN
des estrelas da música pop internacional, que ainda conseguem vender milhões
de cópias de suas músicas pela internet, vários artistas passaram a disponibilizar
seus novos trabalhos gratuitamente na rede, abrindo mão da verba obtida com a
venda em favor da maior possibilidade de divulgação com a distribuição gratuita.
Ná Ozzetti e Zé Miguel Wisnik, músicos paulistas, lançaram em 2015, um
álbum de canções intitulado Ná e Zé. Por serem músicos independentes, des-
vinculados das grandes empresas fonográficas, os artistas optaram por dis-
ponibilizar o novo trabalho para ser baixado gratuitamente no site oficial do
álbum. Como eles, outros artistas brasileiros de grande destaque também
passaram a disponibilizar gratuitamente seus novos álbuns de canções pela
internet, como Criolo, Vitor Ramil, Gilberto Gil, Tulipa Ruiz, entre outros. Fotograma do clipe da música Hello, de
A cantora inglesa Adele é um exemplo de artista pop internacional de gran- Adele, dirigido pelo canadense Xavier
Dolan. Foto de 2015.
de sucesso comercial. Uma das formas de divulgação de seus trabalhos é o com-
partilhamento gratuito de seus videoclipes na rede. Em 2015, o vídeo da canção
“Hello”, do álbum 25, alcançou mais de 100 milhões de visualizações em apenas
cinco dias. Como as visualizações nos sites de compartilhamento de vídeo estão Streaming: palavra do inglês que
associadas a inserções comerciais, elas acabam por ser transformar em fonte de pode ser traduzida pela expressão
“transmissão de mídia”. O streaming
ganhos financeiros maiores do que a própria venda das músicas.
é uma forma de distribuição de
Além da opção de ouvir e conhecer novas produções musicais pelos dados pela internet, que se dife-
sites de visualização de videoclipes, tem se tornado cada vez mais comum o rencia do download porque em
streaming as informações não são
streaming, tecnologia que permite ouvir música sem que seja preciso reali- armazenadas pelo usuário em seu
zar downloads, desde que se tenha acesso à internet. próprio computador.
Estilo musical
A canção ou o álbum está disponível para download, para streaming ou para ambos?
Após a pesquisa realizada, compartilhem com os colegas e o professor suas descobertas. Se possí-
vel, apresentem a gravação de uma música desse artista ou grupo para que toda a turma possa ouvi-la.
Desde a flauta de 35 mil anos até à música digital atual, a humanidade vem utilizando-se de tecnologia
para fazer, gravar e ouvir música. A música, por estar inserida na cultura, moldou e foi moldada pelos diferen-
tes contextos históricos e sociais, ajudando a estabelecer redes sociais, apresentando-se como manifestação
simbólica e também participando do desenvolvimento industrial e comercial.
CIBELE QUEIROZ
tesoura;
Ilustração de marimba de garrafas de vidro.
um cabo de vassoura;
um bastão pequeno de madeira ou metal para ser usado como baqueta;
duas cadeiras iguais que servirão de suporte.
Modo de fazer
Antes de iniciar a construção do instrumento musical, misture quantidades variadas de água com os
corantes para produzir oito cores distintas para colocar nas garrafas.
Encha cada uma das garrafas com uma quantidade diferente de água, atente para que haja uma gar-
rafa completamente cheia, outra apenas até a metade e outra fique vazia. A garrafa cheia produzirá o
som mais grave, a com água pela metade produzirá um som de altura intermediária e a garrafa vazia
irá produzir o som mais agudo da marimba.
Coloque a garrafa mais cheia à sua esquerda, a com água até a metade no meio e a vazia à sua direita. Em se-
guida, encha as demais garrafas com água em quantidades intermediárias às três que você utilizou no início.
Agora apoie cada extremidade do cabo de vassoura em uma cadeira e, com o barbante, pendure
cada garrafa no cabo de vassoura, indo da mais cheia até à vazia, ou seja, da esquerda para a direita.
Cuide para que todas as garrafas sejam penduradas no mesmo nível.
O som é produzido ao se percutir as garrafas com a baqueta de madeira ou metal.
4. Caixas sonoras
Materiais
caixa de sapato com tampa ou pote de sorvete de 2L com tampa;
tesoura;
quatro elásticos de escritório;
lápis.
CIBELE QUEIROZ
Modo de fazer
Ilustração mostrando o recorte oval na
G18_EM_ARTE_C21_I03:
Com a tesoura, faça um corte oval na tampa do pote.
tampa recipiente.
Tampe novamente o recipiente e coloque elásticos com diferentes
tensionamentos em volta do pote, deixando espaços entre eles.
Para obter diferentes tensionamentos dos elásticos, você pode re-
duzi-los para que, ao serem esticados, produzam sons mais agu-
dos. Ordene os elásticos, que serão as cordas desse instrumento
sonoro, de acordo com a altura dos sons que produzem, sequen-
cialmente do grave para o agudo.
Por fim, posicione o lápis debaixo dos elásticos.
CIBELE QUEIROZ
Os sons são produzidos ao se dedilhar os elásticos com as pontas dos
Ilustração indicando o posicionamento
dedos. As alturas dos sons irão variar de acordo com a espessura, com-
dos elásticos no recipiente.
primento e tensionamento dos elásticos. Se preferir, oriente a turma a escolher G18_EM_ARTE_C21_I04:
alguns colegas para serem os compositores que irão definir a organização das variações
de sons, entradas dos instrumentos, andamentos, pulsações e duração de cada som.
Com os instrumentos prontos, formem grupos com 9 pessoas,
com a seguinte divisão de tarefas: um regente, dois tocadores de
chocalho, dois tocadores de marimba de garrafas, dois tocadores de
tambor e dois tocadores de caixas sonoras.
Agora vocês irão criar pequenas obras sonoras, variando as alturas
dos sons, os timbres, as pulsações e os andamentos.
CIBELE QUEIROZ
RODA DE CONVERSA
Converse com os colegas e o professor para responder às seguintes questões.
1. Antes da invenção do cinema, do vídeo e da internet, como se davam os registros das obras cênicas?
E hoje, como essas obras podem ser registradas?
1. Antes da invenção dessas tecnologias, o registro de obras cênicas se dava por meio de desenhos, pinturas, gravuras, além
de textos descritivos sobre as obras. Hoje, é possível assistir a obras cênicas registradas em vídeos, com as imagens em mo-
vimento e seus sons originais, dando uma ideia mais completa do que ela quis representar.
3. A principal mudança que essas tecnologias promoveram foi a possibilidade de registrar e divulgar obras cênicas in-
dependentemente da copresença de público e artistas. Assim, essas obras podem circular por vários países e atingir um
grande número de pessoas. No entanto, por mais que essas tecnologias possibilitem ver obras que, de outra forma, esta-
riam muito distantes de determinado público, a experiência de se estar na presença dos artistas não pode ser substituí-
da. Os estudantes podem dar os exemplos citados na seção “Arte em Diálogo” deste capítulo.
um banco de dados de movimentos, passos de balé, movimentos específicos da dança moderna, e tutoriais para o apren-
5. Ao longo do capítulo, você também aprendeu que as mudanças tecnológicas dos últimos anos al-
teraram as maneiras de se produzir, comercializar e compartilhar músicas. Apesar de o avanço tec-
nológico ter facilitado o acesso de um grande número de artistas ao processo de produção e divul-
gação de seus trabalhos, muitos desses artistas permanecem desconhecidos do grande público.
Quais poderiam ser os motivos de o grande público não conhecer a maioria dos artistas que pro-
duzem sua obra de maneira independente?
5. Resposta pessoal.
Sugestões de resposta: grandes meios de comunicação insistem em divulgar um número limitado de artistas e de gêne-
ros musicais, pois consideram apenas o poder comercial; pode haver artistas que produzam músicas que não interessem
a um público numeroso; pode ser que as pessoas ainda não tenham o acesso necessário às ferramentas de divulgação
REPRODUÇÃO
d. trata-se de uma prática teatral que utiliza
apenas acontecimentos históricos impor-
tantes para o país, fatos e acontecimentos
da vida das pessoas não podem ser inseri-
dos nesse tipo de teatro;
e. trata-se de um gênero teatral que não acre-
b.
dita que acontecimentos do passado pos-
REPRODUÇÃO
sam interferir no presente, por isso suas prá-
ticas remetem apenas a um passado recente.
3. (Enem) Em Florença, Itália, na Igreja de Santa
Croce, é possível encontrar um portão em que
aparecem os anéis de Borromeo. Alguns histo-
riadores acreditavam que os círculos representa-
vam as três artes: escultura, pintura e arquitetura, c.
pois elas eram tão próximas quanto inseparáveis.
REPRODUÇÃO
3. Resposta: E.
REPRODUÇÃO
d.
REPRODUÇÃO
e.
REPRODUÇÃO
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368
ARTE
VOLUME ÚNICO
ASSESSORIA
PEDAGÓGICA
SUMÁRIO
Os autores
INTRODUÇÃO
Você perceberá que durante a elaboração deste livro, as conhecimento dos campos artísticos. Na atualidade, artes
experiências artísticas abordadas não foram tratadas de ma- híbridas, como performance, intervenção urbana, dança
neira cronológica e o foco que escolhemos é o da arte con- de rua, grafite, entre outras, ocupam as cidades junto a
temporânea1, por se caracterizar como uma arte geralmente outras mais tradicionais, como o teatro de rua, o circo e
interdisciplinar2, plural e que abarca uma grande diversidade as bandas musicais. O tema nos possibilita transitar entre
temática, estilística e estética. Com isso queremos dizer que, a tradição e a vanguarda, e a revelar a pluralidade da arte
em nosso entendimento, a arte contemporânea não é um contemporânea e de sua relação com as cidades.
estilo, mas é aquela que está sendo produzida e vivida por Culturas brasileiras: Este tema, referente à Unidade 4,
nossos contemporâneos. No entanto, para compreender e aborda o conceito de cultura/culturas e o lugar da arte
experimentar a arte contemporânea, se faz necessário tam- nas culturas brasileiras. Tratamos de expressões culturais
bém o diálogo com a perspectiva histórica de movimentos brasileiras de matrizes ameríndias, afro-brasileiras, euro-
artísticos pregressos. peias e latino-americanas, que em grande parte, integram
Os temas geradores3 que selecionamos para compor este elementos técnicos e expressivos da dança, das artes vi-
livro provocam associações entre os campos artísticos em suais, do teatro e da música. Essa percepção integradora
uma perspectiva dialógica, ou seja, aberta ao diálogo entre entre as artes e outros campos da cultura possibilita um
o material didático, sua prática docente e a experiência dos olhar capaz de perceber e respeitar a diversidade cultural
estudantes. Os temas selecionados são: e a contribuição desta para a construção de nossa iden-
Arte, tempo, espaço e movimento: Este tema, referente à tidade.
Unidade 1 do livro, trata de aspectos essenciais que atra- Arte em conexão: Este tema, referente à Unidade 5, abor-
vessam os quatro campos artísticos, deixando evidentes da o diálogo direto de movimentos, estilos e práticas de
os elementos técnicos, filosóficos, sociais e estéticos de cada um dos campos artísticos – artes visuais, dança, mú-
cada campo. Independente do estilo artístico, da época sica e teatro – com outras áreas do conhecimento, em
ou das técnicas escolhidas, artistas de artes visuais, dança, uma perspectiva interdisciplinar.
música e teatro se relacionam com o tempo, o espaço e o Dentro da perspectiva da Abordagem Triangular4, nossa
movimento em suas produções. Diferentes formas de se metodologia propõe: a contextualização – no tratamento
relacionar com esses elementos acabam por revelar abor- histórico, social e estético dos procedimentos artísticos estu-
dagens artísticas diversas, o que reforça sua importância dados; a fruição – na descrição das práticas analisadas e na
para a contextualização, fruição e produção em arte. visualização ou audição de materiais audiovisuais sugeridos
Arte e sociedade: Este tema, referente à Unidade 2 do li- em cada unidade, além da fruição da produção dos colegas
vro, tem como objetivo evidenciar a íntima relação entre a de turma e possíveis visitas a exposições, espetáculos, concer-
arte nos quatro campos artísticos e as demais expressões tos etc.; a produção – nas práticas coletivas e individuais em
culturais e áreas do conhecimento em uma determinada diálogo com cada tema gerador. Não há uma relação hierár-
sociedade. As relações entre arte e sociedade evidenciam quica ou sequencial entre os vértices da Abordagem Triangu-
a contextualização de um artista, de um movimento e de lar (contextualização, fruição e produção), tampouco há uma
um estilo em uma determinada sociedade marcada por separação estanque entre os mesmos.
acontecimentos históricos e visões de mundo. Assim, po- Buscamos, também, valorizar a experiência do jovem do
demos entender a produção artística como uma reação Ensino Médio que, além de ter tido contato com a disciplina
político-social-filosófica a seu entorno. Arte no Ensino Fundamental, se relaciona com a arte e com
Arte e as cidades: Este tema, referente à Unidade 3, abor- a cultura em seu dia a dia. O jovem não é considerado, neste
da as relações entre os quatro campos artísticos e as cida- livro, como um receptor de informações ou conteúdos, mas
des. A relação entre arte e cidade remonta à Antiguidade sim como um fruidor e produtor da arte e da cultura contem-
Clássica, no Ocidente, reiterando sua importância no re- porâneas5.
1. Ao falar de arte contemporânea, neste livro, estamos nos referindo à arte atual, principalmente aquela produzida a partir do século XXI.
2. Sobre interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, ver item A interdisciplinaridade e a investigação artística mais adiante, nesta Assessoria Pedagógica.
3. Nessa obra, os “temas geradores” foram definidos com base nas propostas de John Dewey e Paulo Freire. Sobre esse assunto, veja o subitem Método e
metodologia no livro didático mais adiante, nesta Assessoria Pedagógica.
4. Sobre Abordagem Triangular, veja o item Proposta didáticopedagógica da obra mais adiante, nesta Assessoria Pedagógica.
5. Percebemos essa mesma visão nas questões do Enem que, em sua prova de Linguagens e Conhecimentos Gerais, na qual estão contidas as questões
relacionadas à disciplina Arte, valoriza a capacidade do estudante na interpretação de textos verbais e não verbais.
372
1. ASPECTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS
DA DISCIPLINA ARTE
Trataremos de alguns aspectos teóricos e metodológicos suas obras, conservado em museu, um aparelho sanitário de
da disciplina Arte com o objetivo de contribuir para a con- louça, absolutamente idêntico aos que existem em todos os
tinuidade de sua formação na área, bem como para uma mictórios masculinos do mundo inteiro. Ora, esse objeto não
contextualização das propostas metodológicas deste livro e corresponde exatamente à ideia que eu faço da arte.
de seus pressupostos teóricos. Começaremos por abordar as Para me distrair um pouco, discretamente tomo em-
relações entre arte, história e estética. Posteriormente, descre- prestada do meu irmãozinho uma revista em quadrinhos de
veremos e analisaremos a introdução da educação formal no terror. Mais tarde, visito um amigo intelectual que possui
Brasil e, em particular, o desenvolvimento do ensino de arte magnífica biblioteca, e nela encontro uma suntuosa edição
neste contexto. Finalizaremos estes aspectos teóricos e meto- italiana consagrada a Stan Lee, reproduzindo a mesma his-
dológicos com uma diferenciação entre método e metodo- tória em quadrinhos que eu havia lido há pouco num gi-
logia que será importante para contextualizar a organização bizinho barato. Meu amigo me ensina que Stan Lee é um
didática desta obra e suas propostas metodológicas.
grande artista e, por sinal, a introdução, elaborada por um
professor da Universidade de Milão, confirma seus dizeres.
Arte, História e Estética Eu nem imaginava que uma história em quadrinhos pudesse
ter autor, quanto mais que esse autor pudesse ser chamado
Ao iniciarmos qualquer debate com nossos amigos so- artista e sua produção, obra de arte. [...]
bre arte, logo escutamos frases como: “Gosto não se discute”. Para decidir o que é ou não arte, nossa cultura possui
Outras vezes, também, é possível nos encontrarmos diante instrumentos específicos. Um deles, essencial, é o discurso
de uma discussão acalorada que se encerra com a frase: “Mas sobre o objeto artístico, ao qual reconhecemos competência
arte não é subjetiva?”. Esse tema tão presente no cotidiano e autoridade. Esse discurso é o que proferem o crítico, o his-
conduzirá parte do nosso debate e nos ajudará a compreen- toriador da arte, o perito, o conservador de museu. São eles
der as discussões apresentadas no livro. que conferem o estatuto de arte a um objeto. Nossa cultura
É certo que a definição de arte envolve questões como também prevê locais específicos onde a arte pode manifes-
subjetividade, afetividade e gosto. Contudo, devido à com- tar-se, quer dizer, locais que também dão estatuto de arte a
plexidade do tema, inúmeros teóricos se debruçaram sobre um objeto. Num museu, numa galeria, sei de antemão que
essa questão para tentarem chegar a uma explicação mais encontrarei obras de arte; num cinema “de arte”, filmes que
ampla. Vamos, primeiro, nos aproximar de Jorge Coli (2000), escapam à “banalidade” dos circuitos normais; numa sala de
o historiador da Arte que relata a dificuldade de se encontrar concerto, música “erudita”, etc. Esses locais garantem-me
uma definição exclusiva para este campo de estudo: assim o rótulo “arte” às coisas que apresentam, enobrecen-
do-as. No caso da arquitetura, como é evidentemente im-
Dizer o que seja a arte é coisa difícil. Um sem-número de
possível transportar uma casa ou uma igreja para um museu,
tratados de estética debruçou-se sobre o problema, procuran-
possuímos instituições legais que protegem as construções
do situá-lo, procurando definir o conceito. Mas, se buscamos
“artísticas”. Quando deparamos com um edifício tombado
uma resposta clara e definitiva, decepcionamo-nos: elas são
pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
divergentes, contraditórias, além de frequentemente se pre-
podemos respirar aliviados: não há sombra de dúvida, esta-
tenderem exclusivas, propondo-se como solução única. [...]
mos diante de uma obra de arte.
Entretanto, se pedirmos a qualquer pessoa que possua um
mínimo contato com a cultura para nos citar alguns exem- COLI, J. O que é arte. São Paulo: Brasiliense, 2000. p. 7-11.
plos de obras de arte ou de artistas, ficaremos certamente Nesse texto, Jorge Coli faz uma apresentação relevante so-
satisfeitos. Todos sabemos que a Mona Lisa, que a Nona Sin- bre as dificuldades inerentes à definição de “arte”. Existem múl-
fonia de Beethoven, que A Divina Comédia, que Guernica de tiplas possibilidades de definição e estas correspondem tanto
Picasso ou o Davi de Michelangelo são, indiscutivelmente, à cultura quanto à temporalidade em que foram produzidas.
obras de arte. Assim, mesmo sem possuirmos uma defini- Coli nos indica, então, um caminho para a compreensão dessa
ção clara e lógica do conceito, somos capazes de identificar multiplicidade, das referências de onde elas partem, ou seja,
algumas produções da cultura em que vivemos como sendo das instituições responsáveis pela demarcação do “lugar” da
“arte”. [...] Entretanto, eu abro um livro consagrado a um ar- arte e dos profissionais que trabalham na construção do discur-
tista célebre do nosso século, Marcel Duchamp, e vejo entre so sobre a arte6. Esse conjunto de atores recebe a denominação
6. O termo “discurso” deve ser compreendido como todas as referências que são produzidas dentro do campo do conhecimento. A sociedade contem-
porânea é construída com base em inúmeros discursos. O que os diferencia é a legitimidade conferida por instituições ou por elementos internos à
nossa cultura.
373
de “circuito artístico” e reúne museus, críticos de arte, artistas, retrata a memória de uma determinada sociedade em termos
galeristas, revistas especializadas, entre outros. culturais ou temporais. Contudo, a tarefa de compreender as
A definição de arte envolve uma rede de significados e outras esferas que atravessam a interface própria da obra de
não é raro ficarmos em dúvida sobre a inclusão ou exclusão arte é uma questão que poderia ser enunciada da seguinte
de um objeto do mundo da arte. Muitas vezes, certo objeto forma: Quais são e como se apresentam artisticamente essas
nos desperta grande curiosidade e nos perguntamos por quê. referências que determinam culturalmente e temporalmente
Talvez esses atores do chamado circuito artístico tenham vis- uma sociedade?
to algum talento raro em determinado artista ou, então, um Seria utópico dizer que áreas do conhecimento como a
potencial de mercado em determinada obra produzida por história, a política, a biografia, a religião, a filosofia, entre ou-
alguém, e esse artista e/ou essa obra são colocados em desta- tras, não se relacionam com as produções artísticas, mas não
que na mídia, em exposições de museus, em grandes leilões, se deve buscar uma ideia de determinação dessas áreas na
entre outras situações. Além das razões do valor intelectual obra artística. Nesse sentido, torna-se relevante a explicação
da produção artística, nesse meio também existem questões dada, a seguir, por Argan (1994):
mercadológicas, que são próprias do tempo em que vivemos
e não são exclusivas do campo da arte. É por isso que, mui- Os problemas para os quais cada obra de arte é a solução
tas vezes, durante a leitura deste livro, será possível encontrar encontrada ou proposta são problemas tipicamente artísti-
produções que poderão fazê-lo ficar em dúvida se podem ou cos; mas porque a arte é uma componente constitutiva do
não ser consideradas arte. Entretanto, como foi dito por Jorge sistema cultural, existe decerto uma relação entre os proble-
Coli, apenas é possível compreender esses elementos den- mas artísticos e a problemática geral da época. O historia-
tro de uma rede de significados específicos de uma cultura dor não deve, pois, tentar entender como aquela problemá-
e sociedade localizadas no tempo que o nosso livro ajudará tica geral se desdobra na obra do artista e nela constitui o
a compreender. Para nos aprofundarmos nessas questões, tema ou o conteúdo, mas como aquela problemática envolve
torna-se importante o conhecimento de um componente o problema específico da arte e se apresenta ao artista como
responsável por valorizar um objeto de arte. problema artístico. Miguel Ângelo viveu profunda e dra-
maticamente a crise religiosa do seu tempo e, sem levarmos
Na cultura moderna, a arte é objecto de estudo por em linha de conta aquela situação histórica, não podemos
parte de uma disciplina autónoma e especializada, a críti- compreender os frescos que pintou na Capela Sistina. Es-
ca de arte, que opera segundo metodologias próprias, tem tava certamente ciente da enorme responsabilidade que
como fim a interpretação e avaliação das obras artísticas e, comportava o seu empreendimento pictórico no lugar mais
ao longo do seu desenvolvimento, deu origem não só a ter- sagrado, no centro ideal da cristandade. Assumiu uma po-
minologias apropriadas como a uma autêntica “linguagem sição ideológica que pôde ser explicada também no plano
especial”, que “recorre com insólita frequência a uma dada doutrinal, que decerto influiu de maneira determinante na
secção do léxico e, relativamente ao uso corrente, é rica em evolução da crise. Mas não ilustrou nem exprimiu, em figu-
termos que derivam de diversas nomenclaturas técnicas e ras, conceitos que teriam podido ser igualmente expressos
científicas” (DE MAURO, 1965, p. 1). As obras artísticas num discurso falado ou escrito. Sentiu que a crise religiosa
foram sempre objecto de juízos de valor e consideradas colidia também com a arte e enfrentou-a como problema da
como componentes de um património cultural que exigia arte do mesmo modo que os filósofos a enfrentaram como
atenções particulares por parte da sociedade e dos seus problema filosófico e os políticos como problema político.
órgãos representativos, interessados em conservá-las e em
transmiti-las (mas também, não poucas vezes, em se desfa- ARGAN, G. C. Guia de História da Arte. 2. ed. Lisboa: Editorial Estampa, 1994. p. 17-18.
zer delas, em destruí-las, em substituí-las); desde a Antigui- Não devemos esquecer que a História da Arte e a Crítica
dade, desenvolveu-se em torno da arte uma vasta literatura, de Arte são apenas algumas disciplinas capazes de oferecer
de carácter diversificado: cronístico ou memorialístico, teó- um caminho para a análise do campo das artes. A Estética,
rico e preceitual, histórico-biográfico, erudito e filológico, enquanto Filosofia da Arte, reuniu grandes pensadores capa-
interpretativo ou de comentário. zes de definir, normatizar e gerir o pensamento sobre arte no
mundo ocidental. O problema, como aponta Marc Jimenez
ARGAN, G. C. Arte e crítica de arte. 2. ed. Lisboa: Editorial Estampa, 1995. p. 127.
(1999) a seguir, ocorreu com a desvalorização progressiva do
O historiador da arte Giulio Carlo Argan (1995) expõe, no campo da arte.
fragmento acima, os princípios que caracterizam o universo
de validação dos objetos de arte. Os críticos de arte escolhem Há vinte anos apenas, a palavra “estética”, usada para
e escrevem sobre os objetos que possuem maior relevância designar a reflexão filosófica sobre a arte, apresentava-se
para o patrimônio da humanidade. Ao definir a relevância de prematuramente envelhecida. Embora seu sentido moderno
um determinado objeto de arte, este é convertido em patri- date apenas do século XVIII, parecia antiquada e prestes a
mônio cultural e passa a interessar a instituições responsáveis desaparecer. Certos filósofos chegavam ao ponto de decla-
pela preservação de tais objetos. Geralmente, essa preserva- rar, de forma humorística, que “em sua história bicentenária,
ção é justificada por reunir um conjunto de elementos que da metade do século XVIII até a metade do século XX, a
374
estética revelou-se como um insucesso brilhante e repleto tempos e em todos os lugares. Sem remontar ao paleolítico,
de resultados”. todos os séculos, desde a Antiguidade greco-latina até os
De onde provém esse paradoxo? Certamente dos di- nossos dias, não se distinguiram, em diferentes graus, por
versos significados da palavra estética; falaremos mais tarde períodos de floração artística? Como explicar então a emer-
deste problema. Mas ele provém também do próprio objeto gência tão tardia de uma reflexão específica, autônoma, par-
da estética, isto é, da arte. E as contradições levantadas por ticularmente consagrada à criação artística?
esta última são numerosas. Nós as vivemos no dia a dia. Para responder a tais perguntas, convém precisar aqui
Como compreender, por exemplo, que a sociedade moder- o sentido da palavra autonomia. “Autonomia da estética”
na, colocada sob o signo da civilização da imagem, conceda não tem o mesmo sentido de “autonomia da arte”, mas um
tão pouco espaço ao ensino das artes plásticas? Evidente- certo número de correlações existem entre uma e outra. A
mente, nestes últimos anos foram realizados grandes pro- reflexão específica, que acabamos de evocar, supõe que o
gressos graças à criação de cursos e de concursos, mas os objeto ao qual se aplica seja ele mesmo definido de forma
professores das disciplinas artísticas sabem muito bem que precisa; ora, a palavra arte, herdeira desde o século XI, de
se beneficiam de um status particular, incapaz de rivalizar sua origem latina ars = atividade, habilidade, designa até o
com o de seus colegas da matemática, das letras ou da lin- século XV, no Ocidente, apenas um conjunto de atividades
guística. Um outro exemplo: a música – seria preciso dizer ligadas à técnica, ao ofício, à perícia, isto é, a tarefas essen-
todas as músicas – cria um universo sonoro no qual estamos cialmente manuais. A própria ideia de estética, no sentido
permanentemente imersos; este universo tornou-se denso e moderno, aparece somente no momento em que a arte é
aperfeiçoou-se graças aos progressos e à flexibilidade de uti- reconhecida e se reconhece, através de seu conceito, como
lização das novas tecnologias. Pensemos [...] nos CD players atividade intelectual, irredutível a qualquer outra tarefa pu-
de carro. Porém, excetuando certos filões específicos, que lu- ramente técnica.
gar ocupa o ensino musical na escola secundária? [...] E, JIMENEZ, M. O que é estética? São Leopoldo: Unisinos, 1999. p. 31-32.
enfim, que dizer do ensino da estética, disciplina que consta
É importante perceber que a ideia a qual chamamos
do programa de filosofia do último ano do segundo grau, muitas vezes de “arte” ocorre apenas em um período
mas cujo estudo é frequentemente relegado para o final do relativamente curto da experiência ocidental – do século
ano escolar, “caso houver tempo”! XIV ao XX. Nesse sentido, a distinção entre artistas e artesãos,
JIMENEZ, M. O que é estética? São Leopoldo: Unisinos, 1999. p. 9-10. assim como uma possível diferença entre uma cama e uma
pintura bem executadas, era inexistente. As separações
Não é difícil perceber como a discussão de Marc Jimenez, ocorreram no momento em que o artista cessou de realizar
filósofo francês, aproxima-se de nossa realidade. Apesar do obras orientadas para o valor de uso e também quando dei-
grande acesso às imagens e a inúmeras músicas, ainda existe xou de reproduzi-las, o que, por sua vez, instituiu o princípio
pouca valorização dos profissionais do campo das artes em de peças únicas. Enquanto ao artesão é atribuída a tarefa de
todas as suas linguagens e isso faz com que o conhecimento repetir uma determinada ideia, o artista buscaria a autonomia
da área nos pareça por vezes distante ou mais difícil de ser de criar uma obra ainda não conhecida. Naturalmente, essas
acessado que a matemática. Jimenez visa produzir algumas separações não são tão rígidas e tornam-se gradativamente
aproximações desse campo ainda não muito valorizado e, re- mais frágeis com o decorrer do século XX, a partir da emer-
tomando a discussão apontada no início do fragmento com gência da arte moderna.
relação à disciplina Estética: Como situá-la historicamente e O desafio que caracteriza essa publicação é o de analisar
por qual razão sua fundação no campo do conhecimento é as produções artísticas em um duplo movimento: histórico –
tão tardia? A explicação está em outra passagem da mesma com a valorização dos aspectos que caracterizam sua produ-
obra de Jimenez (1999): ção à época em que foi realizada e em seus aspectos sociais,
políticos e econômicos como também estéticos, em discus-
A fundação da estética como disciplina autônoma cons-
sões que ultrapassam sua historicidade e são capazes de dia-
tituiu um acontecimento de um alcance considerável. Este logar com outras realidades tanto temporais como espaciais.
acontecimento é tanto mais importante por não se tratar uni-
camente de acrescentar um novo ramo à árvore da ciência.
O que é criado não é apenas um vocábulo, uma pala- História do ensino de Arte
vra cômoda capaz de reunir e designar um saber até então no Brasil
difuso. A novidade reside no olhar que os contemporâneos
pousam doravante não somente sobre a arte do passado, Para entender a trajetória do ensino de Arte no Brasil e
mas também sobre os artistas e sobre as obras de sua época. seus diferentes processos metodológicos, é importante que
Mas que significa exatamente esta autonomia estética? retomemos, ainda que brevemente, a história da educação
Por que apareceu ela somente no século XVIII, já que a formal e da inclusão da Arte como disciplina em nosso país.
existência dos artistas data aparentemente das mais afasta- O processo de formalização da educação do sujeito come-
das épocas? A arte, de fato, parece ter existido em todos os çou no Brasil Colônia, com os jesuítas da Companhia de Jesus,
375
ordem religiosa vinculada à Igreja Católica, fundada por Inácio para organizar o ensino de Belas-Artes no Brasil. Com pro-
Loyola em 1534, na península Ibérica (Portugal e Espanha), posições essencialmente técnicas, o grupo chegou para criar
que implementaram a arte como estratégica pedagógica. a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, voltada para o
No primeiro período jesuítico (1549-1570), também cha- ensino de ofícios artísticos e mecânicos.
mado “tempos heroicos”, a educação jesuítica destinava-se A instituição, quando começou a funcionar, passou a se
à catequização dos indígenas e era comandada pelo Padre chamar Academia Imperial de Belas-Artes, com conteúdos
Manuel da Nóbrega, com o objetivo de convertê-los ao ca- focados na formação artística. Em 1855, quando Araújo
tolicismo, bem como de lhes transmitir a Língua Portuguesa. Porto Alegre assumiu a direção da Academia, propôs, sem
Os jesuítas usavam o teatro e a música como estratégias pe- sucesso, uma reforma para que a instituição agregasse a for-
dagógicas a fim de envolver o público nas cerimônias religio- mação de artesãos e artistas [...].
sas com a apresentação dos autos medievais e dos conjuntos Esse momento é quando, segundo Barbosa (2002), a
musicais para as festividades solenes da Igreja Católica.
“concepção popular de arte de então é substituída por uma
O programa educacional dos jesuítas, principalmente no
concepção burguesa” e o aprendizado deixa de ser por meio
segundo período, se inseria na concepção de mundo e de ho-
do trabalho e se estabelece “por árduos exercícios formais”.
mem existentes na Península Ibérica do século XVI, em que se
Outro dado significativo do período apontado por Barbosa
destacava a valorização do ócio frente ao negócio. Era voltado
(2002) é que a “atividade artística não era incluída nas esco-
para o ensino das artes liberais, ensinadas em latim, e no de-
senvolvimento do espírito. Ou seja, havia uma forte separação las elementares públicas” (p. 41).
entre as chamadas artes liberais dos ofícios manuais e mecâni- GOUTHIER, J. História do ensino da Arte no Brasil. In: PIMENTEL, L. G. (Org.). Curso de
cos. As artes liberais têm sua origem na Antiguidade Clássica e especialização em ensino de artes visuais. Volume 1. Belo Horizonte: Escola de Belas Artes,
eram consideradas conhecimentos essenciais de uma pessoa 2009. p. 10.
livre. Quem tinha esses conhecimentos diferenciava-se dos es- A arte como disciplina se instaurou primeiro no ensino de
cravos ou servos por saber algo que se contrapunha às artes nível superior no Brasil e se atrelava, essencialmente, ao ensino
mecânicas, ou seja, aos trabalhos manuais e de esforço braçal. de desenho. As propostas de Rui Barbosa, entre 1882 e 1883,
Ainda no Brasil Colônia, é importante ressaltar a existência foram as responsáveis pela implantação da Arte como disci-
de oficinas de artesãos, comumente chamadas pelos histo- plina nas escolas primárias e secundárias. Gouthier (2009) diz:
riadores escolas de artífices, que se ocupavam de ensinar di-
versos ofícios a quem estivesse fora do ensino formal jesuíta. A instauração da República, no final do século XIX, refle-
Também nos quilombos, como no de Palmares, há o relato te também no ensino do desenho na educação popular, que
do recebimento de indígenas e mestiços que desenvolviam no ideal dos liberais chegou a ser a disciplina mais importante
trabalhos manuais, como agricultura e artesanato. Este perío nas escolas primárias e secundárias. [...] Nos primeiros anos
do durou até a derrocada da Companhia de Jesus no Brasil, do século XX prevalece um grande estímulo ao ensino do
em 1759, finalizando oficialmente mais de duzentos anos de desenho, visto como um importante meio para a formação
desenvolvimento do projeto educacional jesuíta no Brasil. técnica, mas com ingredientes conceituais como a racionali-
Com a dissolução oficial da educação jesuíta, iniciou-se zação da emoção ou ainda a liberação da inventividade.
o período conhecido como Pombalino, denominação que
se refere ao Marquês de Pombal. A laicização da educação GOUTHIER, J. História do ensino da Arte no Brasil. In: PIMENTEL, L. G. (Org.). Curso de
especialização em ensino de artes visuais. Volume 1. Belo Horizonte: Escola de Belas Artes,
deu frutos importantes a Portugal, mas, no Brasil, significou o
2009. p. 11.
desmantelamento de um sistema de ensino complexo e com
objetivos muito claros, sem que outro projeto tenha sido efe- No século XX, Gouthier (2009) apresenta as principais re-
tivado. Deu-se continuidade a aulas régias e avulsas de Latim, formas educacionais no sistema brasileiro a partir dos anos
Grego, Filosofia e Retórica, que formavam apenas aqueles que 1920, quando Anísio Teixeira (1900-1971) trouxe novas pers-
davam continuidade a seus estudos na Europa. pectivas ao currículo na Bahia ao considerar as disciplinas
Em 1807, Lisboa foi invadida por tropas francesas, obri- como instrumentos para determinados fins, com o objetivo
gando a Corte a fugir para o Brasil. A chegada de Dom João final de capacitar os estudantes para a vida em sociedade.
VI mudou significativamente as relações comerciais e econô- Francisco Campos e Mário Cassanta implementaram o pen-
micas do Brasil, acarretando também mudanças educacionais samento da Escola Nova, em Minas Gerais, em que a valoriza-
importantes, principalmente no que diz respeito à introdução ção da criatividade da criança, bem como do jogo, abriram as
da Arte (predominantemente o desenho) no currículo formal. portas para que as artes, principalmente as artes visuais, mas
Segundo Gouthier (2009): também a música, o teatro e a dança, fossem valorizadas no
contexto da educação elementar.
A chegada de Dom João VI ao Brasil e, em seguida, a
Missão Francesa, trouxeram marcas profundas nas referên- Escola Nova
cias estéticas do país, com a substituição do Barroco bra-
sileiro pelo Neoclassicismo. Joachim Lebreton, egresso do O ideário da Escola Nova veio para contrapor o que
Instituto de França, liderou o grupo de artistas e artífices era considerado “tradicional”. Os seus defensores lutavam
franceses que chegou no Rio de Janeiro em março de 1816 por diferenciar-se das práticas pedagógicas anteriores.
376
uma de suas premissas era influenciar as práticas da edu-
No fim do século XIX, muitas das mudanças que se- cação formal da época por meio de seus professores(as),
riam afirmadas como originais pelo “escolanovismo” da que passariam a compreender a importância da livre ex-
década de [19]20, já eram levantadas e colocadas em pressão da criança.
prática. [...] Na década de 1950, a influência estadunidense se fez pre-
O ler e o escrever passaram a ser associados e racio- sente em um pensamento hierarquizado do processo edu-
nalizados. Por outro lado, o conhecimento era adqui- cacional, o qual dava grande importância ao currículo. Este
rido através da experiência. Os alunos eram levados a currículo seria “ensinado” ao professor(a), que passaria por
observar fatos e objetos com o intuito de conhecê-los. treinamentos e, posteriormente, seria supervisionado. Assim,
Pedagogia Escolanovista. In: HISTEDBR. Navegando na história da Educação a função de supervisor foi valorizada na escola na qualidade
Brasileira. Glossário. Disponível em: <www.histedbr.fe.unicamp.br/navegando/ de controlar a ação do professor(a) e verificar a correta aplica-
glossario/verb_c_pedagogia_escolanovista.htm>. Acesso em: 12 mar. 2016. ção do currículo no processo educacional. Com isso, houve
uma valorização das técnicas científicas em detrimento dos
aspectos sociais da educação.
Anísio Teixeira também foi o responsável por trazer, ainda No período entre 1958 e 1963, a educação no Brasil co-
a partir da década de 1920, o pensamento de John Dewey meçou a conquistar autonomia dos modelos estrangeiros.
(1859-1952) ao Brasil dentro das propostas do Movimento
Houve uma intensificação dos movimentos sociais brasilei-
Escola Nova. Este movimento, apesar de dar grande impor-
ros no contexto internacional da Revolução Cubana, dos
tância à arte, acabou gerando a concepção de arte como ins-
movimentos de independência dos países africanos e das
trumento de auxílio ao aprendizado de outras disciplinas e
lutas pelos direitos civis nos Estados Unidos. Junto a isso, a
não como área do conhecimento em si, ou seja, as ideias de
vanguarda artística brasileira, com o Concretismo e o Neo-
Dewey foram mal interpretadas.
concretismo, cria um ambiente favorável à reformulação da
Nos anos 1930, surgiram, entre outras experiências fora do
educação e do papel da arte e da cultura no processo edu-
sistema formal de ensino, a Escola Brasileira de Arte, coorde-
cacional. As propostas pedagógicas de Paulo Freire causam
nada por Theodoro Braga (1872-1953), que oferecia gratuita-
grande impacto no ideal de universalização da educação
mente, às crianças e aos adolescentes, cursos de música, de-
no Brasil e inclusão de todas as camadas populares ao sis-
senho e pintura, e o curso para crianças na Biblioteca Infantil
tema educacional.
Municipal de São Paulo, criado por Anita Malfatti (1860-1964).
Barbosa (2002) ressalta que, enquanto na experiência de Bra-
ga o ensino da arte era focado na valorização da técnica, a A criação das Leis de Diretrizes e
proposta de Malfatti se concentrava na exploração dos ele- Bases da Educação Nacional e dos
mentos internos expressivos da arte.
Durante a ditadura de Getúlio Vargas (1937-1945), hou- Parâmetros Curriculares Nacionais
ve “uma sensível redução do interesse pela arte-educação”
O presidente João Goulart promulgou a primeira Lei de
(BARBOSA, 2002, p. 43). Neste mesmo período, houve uma
Diretrizes e Bases da Educação Nacional em 20 de dezembro
ênfase no desenho geométrico e no desenho pedagógi-
de 1961, e esta tentava contemplar a efervescência das de-
co e de cópia, distanciando-se dos aspectos expressivos e
mandas da época. O Golpe de Estado de 1964 interrompeu
criativos dessa expressão artística. Com o fim da ditadura
esse processo de renovação, abrindo caminho para o que é
Vargas, segundo Gouthier (2009), o ensino de Arte se res-
conhecido como tecnicismo na educação, que se instaurou
tringiu a uma
mais fortemente na década de 1970.
perspectiva mais instrumental, voltada apenas para o Em 1971, é promulgada uma nova Lei de Diretrizes e Bases
treinamento do olhar e a liberação da emoção, perdendo o da Educação – LDB nº- 5.692/71 –, que tem uma fundamenta-
seu rumo próprio, que começara a ser construído. A Escola ção tecnicista, visando a profissionalização do jovem e sua rá-
Nova sobrevive, mas com foco menos científico, mais polí- pida inserção no mercado de trabalho. Essa proposta valoriza
tico no sentido de ampliar o acesso à educação, que começa a produtividade do sistema educacional capaz de gerar uma
rápida socialização do estudante aos valores dominantes da
a ganhar espaços extraescolares.
sociedade e, principalmente, ao mercado de trabalho.
GOUTHIER, J. História do ensino da Arte no Brasil. In: PIMENTEL, L. G. (Org.). No que diz respeito ao ensino de Arte, a Lei nº- 2.692/71
Curso de especialização em ensino de artes visuais. Volume 1. Belo Horizonte: institui a polivalência, que reúne na disciplina Educação Ar-
Escola de Belas Artes, 2009. p. 14.
tística as “atividades7 de artes plásticas, música e artes cê-
Nesse contexto, surgiram em várias cidades do país nicas (teatro e dança). Com esses fundamentos pautados
as Escolinhas de Arte, que pautavam o ensino na livre ex- na superficialidade e sem foco no conhecimento, a arte
pressão do estudante. Barbosa (2003) afirma que chegou entrou para o currículo obrigatório no Ensino Fundamen-
a haver trinta e duas Escolinhas de Arte no Brasil e que tal” (GOUTHIER, 2009, p. 16-7). Com a inclusão da Educação
7. Gouthier destaca atividade no que se refere ao texto da lei de 1971 e continuamos com o destaque à palavra, pois ela remete ao ensino de arte como
uma atividade escolar e não como um conteúdo ou área do conhecimento.
377
Artística no currículo obrigatório do Ensino Fundamental, Sendo assim, vamos nos ater, ainda que brevemente, às traje-
em 1973 foram criados os cursos superiores para preparar tórias da formação em música, teatro e dança no Brasil e em
os professores(as) em licenciaturas de Educação Artística sua inserção na educação formal.
em duas modalidades: licenciatura curta (2 anos) e licen-
ciatura plena (4 anos). Essas licenciaturas foram chamadas Música
de polivalentes por pretender, em seu currículo, formar
Os conservatórios de música possuem uma importante
um(a) professor(a) que estaria capacitado(a) a conduzir as
trajetória em nosso país desde o século XIX. Em 1841, foi cria-
atividades de artes plásticas8, música e artes cênicas. Assim,
houve uma diluição dos conteúdos específicos de cada do o Imperial Conservatório de Música do Rio de Janeiro, que
expressão artística, bem como de suas materialidades es- seguiu o modelo francês. Segundo Alves (2015):
téticas e expressivas. Sem a devida formação em cada ex-
Este modelo conduzirá os CEM (Conservatórios Esta-
pressão artística, a arte na escola acabou sendo concebida
duais de Música) historicamente, seja através da formação
como uma atividade de lazer e relaxamento, e não como
uma área do conhecimento humano importante para a de seus professores e concepções pedagógicas de funciona-
formação do indivíduo. mento destas instituições, simultaneamente à necessidade
Nos anos de 1980, inicia-se o processo de redemocratiza- de se formar professores de música e intervenções de seus
ção no Brasil e, com isso, a desvalorização dos modelos edu- professores junto à escola básica.
cacionais adotados pelos governos militares, além de uma ALVES, D. C. O Conservatório Estadual de Música de Juiz de Fora: MG e a preparação de
busca pela autonomia frente a modelos estrangeiros. professores de música não especialistas para a rede estadual de ensino. Belo Horizonte:
Na década de 1990, a LDB de 1996 abrange uma concep- PROFARTES UFMG, 2015. p. 5. (material de qualificação)
ção bastante diversa da de 1971. Frente à formação técnica
para o mercado de trabalho, a LDB de 1996 propõe uma edu- Ao longo do século XX, muitos conservatórios foram
cação para a cidadania. Artigo 1º- da Lei de Diretrizes e Bases abertos em várias capitais e cidades brasileiras do interior,
Nacional (1996), Lei nº- 9.394/96: responsabilizando-se pela educação musical de jovens e
adultos fora do sistema formal de ensino. A partir da LDB
Art. 1-º A educação abrange os processos formativos que de 1971 e, em consonância com o projeto de profissionali-
se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no zação técnica do jovem brasileiro, os conservatórios foram
trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movi- enquadrados como ensino supletivo de qualificação pro-
mentos sociais e organizações da sociedade civil e nas ma- fissional, tornando-se estabelecimentos de ensino técnico
nifestações culturais. para a formação de profissionais nas seguintes habilita-
ções: técnico em instrumento, instrutor de fanfarra, sono-
Com a LDB de 1996, é extinta a Educação Artística e criada
plastia e canto. Nesse sentido, a educação visava o apri-
a disciplina Arte.
moramento técnico do estudante frente a um repertório
Em 1998, foram divulgados os Parâmetros Curriculares
quase que exclusivamente europeu. Com a LDB de 1996
Nacionais (PCN) do Ensino Fundamental, Médio, Profissiona-
e os Parâmetros Nacionais para a Educação Profissional de
lizante e de Jovens e Adultos. Esses documentos foram ela-
borados por especialistas de cada área do conhecimento, em Nível Técnico nas diversas áreas, passou-se a valorizar um
diálogo com a sociedade civil organizada. No caso da discipli- novo paradigma educacional também nos conservatórios
na Arte, os Parâmetros Curriculares Nacionais estão embasa- (ESPERIDIÃO, 2002):
dos na Abordagem Triangular, proposta por Ana Mae Barbosa
[...] o objetivo primeiro da educação nacional é a for-
nos anos de 1980.
mação dos indivíduos na perspectiva do pleno exercício da
cidadania. Em 1999, pela Resolução CNE/CEB n-º 4, fun-
Música, teatro e dança no ensino damentada no Parecer CNE/CEB n-º 16/99, são instituídas
da Arte as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Pro-
fissional, as quais estabelecem como princípios norteadores
Tradicionalmente, a disciplina Arte é bastante vinculada
da educação profissional de nível técnico os enunciados no
ao ensino de artes visuais, ainda que esteja explicitada, nos
artigo 3-º da LDB, mais os seguintes:
Parâmetros Curriculares Nacionais de 1998, sua composição
I – independência e articulação com o ensino médio;
em quatro conteúdos: artes visuais, dança, teatro e música.
Essa vinculação se dá pela trajetória do ensino formal das ar- II – respeito aos valores estéticos, políticos e éticos;
tes visuais, que foi feito por meio do desenho desde o reinado III – desenvolvimento de competências para a laborabilidade;
de Dom Pedro II. Explica-se, também, pelo fato de a abertura IV – flexibilidade, interdisciplinaridade e contextuali-
dos cursos superiores de licenciatura em artes visuais ser an- zação;
terior à criação das licenciaturas em música, teatro e dança. V – identidade dos perfis profissionais de conclusão de curso;
8. Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), de 1998, passou a ser usado o termo “artes visuais” em substituição a “artes plásticas”. Por isso, nesse
fragmento, mantivemos a terminologia da época.
378
VI – atualização permanente dos cursos e currículos; lho Nacional de Educação, dos referenciais curriculares da
VII – autonomia da escola em seu projeto pedagógico. educação infantil e dos parâmetros curriculares da educação
ESPERIDIÃO, N. Educação profissional: reflexões sobre o currículo e a prática pedagógica fundamental e média (PCN), bem como das diretrizes para
dos conservatórios. In: Revista da ABEM, Porto Alegre, v. 7, p. 69-74, set. 2002. p. 71. os cursos superiores de teatro.
Para além dos conservatórios, o ensino de música está pre- SANTANA, A. P. de. Trajetórias, avanços e desafios do teatro-educação no Brasil. In:
Revista Evidências, UESB, p. 248-249, 2014. Disponível em: <www.uesb.br/
sente na Escola Básica em todos os seus níveis, bem como nas
evidencias/2014/01/fase-2-teatro/texto04.pdf>. Acesso em: 8 mar. 2016.
licenciaturas em música em muitas das universidades federais,
estaduais e particulares no Brasil. A ampliação do repertório e Assim como na música, a LDB de 1971 permitiu que al-
dos objetivos do ensino de música, apontados acima por Es- gumas escolas de teatro fossem incorporadas ao sistema de
peridião, atualizam a função da música na formação escolar. ensino brasileiro como educação profissionalizante de Ensi-
no Técnico. A introdução do teatro como campo da discipli-
Teatro na Arte na Educação Básica (nos níveis fundamental, médio
No caso do ensino do teatro, o ator e produtor teatral e profissionalizante) e a expansão do Ensino Superior com
João Caetano (1808-1863), responsável por fundar a primeira a criação de diversos cursos de teatro (licenciatura e/ou ba-
companhia profissional de teatro brasileira no Rio de Janeiro, charelado) em várias universidades do país foram muito im-
portantes para a consolidação dessa área como um conheci-
tentou fundar uma escola de teatro ainda no século XIX, mas
mento humano relevante por si mesmo, e não apenas como
não o conseguiu por ter tido dificuldade em encontrar apoio
instrumento pedagógico para outros conteúdos.
governamental. A primeira escola para atores no Brasil foi fun-
dada em 1908, no Rio de Janeiro, por Coelho Neto, e foi ba-
Dança
tizada de Martins Penna em homenagem ao teatrólogo bra-
sileiro considerado o precursor da comédia de costumes em O ensino de dança nas escolas do Brasil ainda percorre um
nosso país. Essa escola de teatro continua formando atores e longo e árduo caminho. Se o ensino de Arte, na hierarquia do
é a mais antiga em funcionamento da América Latina. Sobre a currículo escolar, é renegado a segundo plano em relação às
inclusão do teatro na Educação Básica, Santana afirma (2014): outras disciplinas – com a carga horária de uma aula semanal
para que se contemple os conteúdos dos quatro campos ar-
O grande marco na história deu-se com a obrigato- tísticos –, o ensino de dança sofre maior resistência, pois, além
riedade da educação artística no ensino de 1-º e 2-º graus, do pouco tempo destinado ao desenvolvimento dos conteú
implementada por lei federal em 1971, prevendo-se a mo- dos específicos, enfrenta desafios decorrentes de preconcei-
dalidade artes cênicas, para ser ministrada de maneira po- tos estabelecidos pelos modelos educacionais em relação às
livalente junto a música, artes plásticas e desenho, durante concepções de corpo e de movimento, além da falta de for-
cinquenta minutos por semana, o que se tornou, na expe- mação específica em dança dos profissionais que atuam nas
riência concreta da sala de aula, algo de difícil realização. escolas brasileiras.
Não obstante, foi a partir da implantação da educação ar- Apesar de o Brasil ser conhecido mundialmente como
tística que surgiu a necessidade da formação de professores, “um país dançante”, de possuirmos os PCN, um documento
colaborando decisivamente para a expansão do ensino das que regulamenta o ensino das Artes contemplando os quatro
artes em nível superior [...]. campos artísticos, precisamos considerar o que nos diz a pes-
O ensino superior de teatro foi regulamentado em 1965, quisadora Márcia Strazzacappa (2006, p. 16), ao se referir ao
embora o Conservatório Brasileiro de Teatro ofertasse, des- ensino da dança nas escolas formais: “A dança situa-se no Ter-
de 1939, um curso alternativo que não tinha delegação de ceiro Mundo da arte [...] sempre esteve numa situação inferior
competência para expedir diploma aos concludentes. A par-
às demais manifestações artísticas”. Assim, podemos concluir
que estar na legislação não garante que a dança seja ensinada
tir da reforma universitária de 1968, ocorreu uma expansão
nas escolas.
expressiva no ensino universitário de teatro [...].
Se nos dedicarmos a compreender as diferenças sociais e
Levando-se em conta a inadequação dos currículos pra-
culturais existentes no Brasil, essa situação torna-se ainda mais
ticados por escolas e universidades, fortaleceu-se, durante
complexa e delicada. Contudo, para fins desta reflexão, foque-
os anos 1990, um movimento iniciado ainda na década
mos na formação dos professores(as) que estariam habilitados
anterior, o qual reivindicava a reformulação do ensino das ao ensino de dança nas escolas: os licenciados em dança. Faz-
artes em todos os níveis da escolarização. O avanço mais -se essencial compreendermos que aquele que domina uma
significativo dessa jornada efetivou-se com a manutenção técnica de dança específica pode ser um exímio intérprete da
da obrigatoriedade em todos os níveis da educação nacional, dança naquele estilo, mas não se encontra automaticamen-
através da promulgação da LDBEN (Lei n-º 9.394/96), o te apto a ensinar a dança com a função que esta deve ter no
que engendrou um processo de discussão pública – divulga- contexto escolar: o desenvolvimento integrado do estudante na
ção de documentos oficiais em versões preliminares, crítica forma de expressão, comunicação e de ressignificação do mundo
de especialistas e entidades para-acadêmicas, contribuição vivido. Mas que formação deve ter o(a) professor(a) de dança nas
das universidades – e redundou na aprovação, pelo Conse- escolas? Vale saber que o primeiro curso superior de dança do
379
Brasil surgiu na década de 1950, na Universidade Federal da
Bahia, em Salvador. Mas, de acordo com Silva (2011), só na A valorização dos africanos e dos afro-brasileiros na for-
mação da história do nosso país como conteúdo programá-
década de 1980 outros cursos superiores de dança se estabe-
tico escolar é importante para interromper um percurso de
leceram no país, restringindo as possibilidades de graduação
silenciamento desses sujeitos históricos nos livros didáticos,
em dança para as universidades localizadas nos estados de
bem como no cotidiano escolar. Da mesma forma, a parti-
São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Bahia.
cipação dos povos indígenas brasileiros na construção da
Atualmente, no entanto, contamos com mais de trinta
nossa identidade e na formação do país (apesar de não ser
cursos superiores de dança espalhados nas diversas regiões contemplada na Lei nº- 10.639) vem sendo discutida em di-
do país, ou seja, há profissionais qualificados para o ensino versos âmbitos educacionais da sociedade, com a ação direta
de dança, mas falta compreensão da necessidade dos con- dos próprios povos indígenas. No caso das artes, a inclusão
teúdos relativos ao ensino desta área nas escolas brasileiras. do estudo da produção artística de afro-brasileiros e indíge-
Os profissionais licenciados em dança buscam espaços para nas agrega valor e identidade ao reconhecimento da arte e
atuar e empregar os conhecimentos adquiridos na formação da cultura brasileira, tanto em sua trajetória histórica, quanto
que tiveram. Portanto, é nessa via de mão dupla que investi- na contemporaneidade.
mos ao nos dedicar a inserir os conteúdos da dança na edu-
cação formal: precisamos construir esses espaços, mas isso
só poderá acontecer se proporcionarmos aos nossos jovens Durante o ano de 2015, esteve em fase de elaboração a
uma educação em dança que parta dos processos de criação primeira versão da Base Nacional Comum Curricular (BNC),
e experimentação do movimento, e estas têm de ser com- publicada pelo Ministério da Educação e discutida pela so-
preendidas como uma forma de expressão e de investigação ciedade civil organizada, especialmente pelas associações
coletiva, de conhecer a si mesmo e ao outro, como uma for- estaduais e nacionais de arte-educadores, de artes plásticas,
ma de apreciação estética e, principalmente, como expressão de artes cênicas e de dança. De acordo com a proposta do
cultural e social de um povo. Ministério da Educação (MEC), no ano de 2016, será finalizada
a redação da BNC, com base nas intervenções sugeridas em
consulta pública9.
As Diretrizes Curriculares da Educação
Básica e a Base Nacional Comum O que é a Base Nacional Comum Curricular?
Curricular
A Base Nacional Comum Curricular (BNC) vai
Posteriormente aos PCN, foram publicadas pelo Ministério deixar claro os conhecimentos essenciais aos quais to-
da Educação, em 2013, as Diretrizes Curriculares Nacionais da dos os estudantes brasileiros têm o direito de ter acesso
Educação Básica. São essas diretrizes que determinam, até o e se apropriar durante sua trajetória na Educação Bá-
momento, os currículos e a organização da Escola Básica em sica, ano a ano, desde o ingresso na Creche até o final
nosso país, conjuntamente com a LDB de 1996. do Ensino Médio. Com ela os sistemas educacionais,
as escolas e os professores terão um importante ins-
Lei nº- 10.639/2003 – História e Cultura Afro-brasileira trumento de gestão pedagógica e as famílias poderão
participar e acompanhar mais de perto a vida escolar
Em 2003, foi sancionada pelo presidente da República a
de seus filhos.
Lei nº- 10.639 que estabelece a obrigatoriedade do ensino so-
A Base será mais uma ferramenta que vai ajudar
bre História e Cultura Afro-brasileira nas instituições públicas
a orientar a construção do currículo das mais de 190
e particulares de Ensino Fundamental e Médio. Estes conteú-
mil escolas de Educação Básica do país, espalhadas de
dos devem ser ministrados, em caráter especial, nas “áreas de
Norte a Sul, públicas ou particulares.
Educação Artística e de Literatura e Histórias Brasileiras”. (Lei
Com a BNC, ficará claro para todo mundo quais
nº- 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Disponível em: <www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.639.htm>. Acesso em:
são os elementos fundamentais que precisam ser ensi-
26 mar. 2016.) nados nas Áreas de Conhecimento: na Matemática, nas
Linguagens e nas Ciências da Natureza e Humanas.
Assim, essas áreas devem incluir, de forma integrada
A Base é parte do Currículo e orienta a formulação
com outras disciplinas escolares, “o estudo da História da
do projeto Político-Pedagógico das escolas, permitin-
África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura
do maior articulação deste. A partir da Base, os mais
negra brasileira e o negro na formação da sociedade na-
de 2 milhões de professores continuarão podendo es-
cional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas
social, econômica e política pertinentes à história do Brasil" colher os melhores caminhos de como ensinar e, tam-
(Idem). bém, quais outros elementos (a Parte Diversificada)
9. No momento da elaboração desta Assessoria Pedagógica, no primeiro trimestre de 2016, a proposta do texto final da Base Nacional Comum Curricu-
lar ainda não tinha sido finalizada.
380
rumos da Educação em nosso país, que foi provocado pela
precisam ser somados nesse processo de aprendizagem elaboração e consulta pública da BNC. Para o(a) professor(a)
e desenvolvimento de seus alunos. Tudo isso respei- que já se encontra em exercício, este é o momento para refle-
tando a diversidade, as particularidades e os contextos tir, junto à escola e às suas entidades de classe e outras formas
de onde estão. de organização social, sobre os rumos da prática docente e o
BASE Nacional Comum Curricular. Disponível em: <http://basenacionalcomum. que queremos como projeto educacional para as crianças e
mec.gov.br/#/site/base/o-que>. Acesso em: 26 mar. 2016. os jovens.
A disciplina Arte, na BNC, está dentro da área Linguagens, Diferenças entre metodologia
que reúne quatro componentes curriculares: Língua Portu- e método
guesa, Língua Estrangeira Moderna, Arte e Educação Física.
Estudiosos da área de artes têm realizado uma série de dis-
Segundo Morin (2005), a metodologia pode ser enten-
cussões relativas à alocação da disciplina Arte dentro da área
dida como uma atitude intelectual que busca a integração
de Linguagem. O principal questionamento é o que afirma de diversas áreas, visando um conhecimento complexo. O
que os procedimentos artísticos seriam limitados a códigos e método, por sua vez, é um procedimento, ou conjunto de
signos, excluindo outros elementos, como o processo de frui- procedimentos, já realizado anteriormente, que contém as
ção da arte no qual a emoção, a percepção e a memória têm instruções e etapas necessárias para sua reprodução em con-
um papel determinante para além da descodificação de có- textos similares. A metodologia inclui um ou vários métodos
digos e da interpretação sígnica da linguagem. O argumento e é um esforço intelectual daquele que a desenvolve. Assim,
consiste em que, ao fazer isso, reduz-se a importância da arte a partir do desenvolvimento de novas metodologias, novos
como área de conhecimento autônoma atrelando-a à lingua- métodos podem ser gerados, contribuindo para a constante
gem e à função comunicativa. Apesar destes questionamen- reavaliação das práticas em sala de aula e para a criação de
tos, a área de Linguagens, como está explicitada na primeira novas formas de ensinar.
versão da BNC (2015), tem objetivos que são compartilhados
pela disciplina Arte:
Metodologia
interagir com práticas de linguagem em diferentes mo- Segundo Pimentel (2009), metodologia é:
dalidades, na perspectiva de sua recepção e produção, de
[...] uma construção conceitual, elaborada pela in-
modo a ampliar, gradativamente, o repertório de gêneros
tervenção do método. Podemos dizer que é uma espiral
e de recursos comunicativos e expressivos;
de conjugação de métodos aliados à inovação de ações
reconhecer as condições de produção das práticas de lin- que criam novos métodos, que por sua vez se integrarão
guagens (quem, o quê, por quem, para quê, para quem, a novas metodologias, e assim por diante.
em que suporte, modo de circulação) materializadas na O progresso dos conhecimentos e os saltos sig-
oralidade, na escrita, nas linguagens artísticas e na cultura nificativos do saber estão ligados às rupturas meto-
corporal do movimento; dológicas: o abandono e a mudança na utilização dos
refletir sobre os usos das linguagens e os efeitos de senti- instrumentos, as novas definições de critérios para a
do de diferentes recursos expressivos, levando em conta as identificação dos fenômenos, das técnicas inusitadas de
condições de recepção e produção; análise dos dados etc.
A metodologia é uma disciplina que se constrói
compreender a diversidade de manifestações linguísticas,
como objeto de observação, de análise, de reflexão e de
artísticas e de práticas corporais como construções sociais
contestação. Ela não permanece um código estável, es-
e culturais, relacionando-as com ideologias e relações de
tando sujeita a remanejamentos.
poder;
Toda opção metodológica envolve necessariamente
interagir com o outro, usando expedientes comunicativos valores epistemológicos: visões de mundo e formas de
e expressivos nas diversas práticas sociais de modo crítico, construir conhecimento.
autoral e criativo; Metodologia é, então, um conjunto sistemático e
reconhecer a dimensão poética e estética como constitu- racionalmente organizado a fim de:
tiva das linguagens, apreciando a cultura, a arte e a língua estabelecer conexões de forma consistente;
como patrimônios. estabelecer a intenção, a meta, o objetivo da aula;
estabelecer a maneira de inserir o conteúdo;
BASE Nacional Comum Curricular. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.
gov.br/#/site/conhecaDisciplina?disciplina=AC_LIN&tipoEnsino=TE_EM>. estabelecer as técnicas de constituição do material e
Acesso em: 4 maio 2016. sua validação;
estabelecer os procedimentos de interpretação dos
Durante a escrita desta Assessoria Pedagógica, nos en-
resultados e suas verificações (avaliação);
contramos em um processo de intensa discussão sobre os
381
estabelecer a justificativa das diferentes escolhas. 6. Conjunto de regras ou preceitos que regulam o ensi-
A metodologia tem como premissa ser objetiva no ou uma prática de arte.
e pertinente. A objetividade diz respeito à realização O método científico tem como principal caracterís-
dos objetivos pretendidos. A pertinência diz respeito tica a sequência rígida de procedimentos que garantam
à adequação dos procedimentos para a realização dos o resultado final desejado, ou seja, a solução de um pro-
objetivos. Como critérios para avaliar a pertinência da blema. Implica, portanto, a conjugação de certos ele-
metodologia podemos considerar: mentos que se apresentam em etapas. [...]
a originalidade: a variedade dos procedimentos e as Para as ciências humanas, entretanto, nem sempre
relações entre eles. A originalidade é avaliada em re- todas essas etapas são necessárias ou compatíveis com o
lação tanto à situação em que os procedimentos são objetivo. Também a sequência de ações não precisa ser
usados quanto em relação a seu uso para tal grupo tão rígida. E mais: o uso de somente um método não
de alunos. garante a eficácia do ensino. É necessário, então, que @
o envolvimento d@s alun@s10 com as atividades pro- professor@ tenha conhecimento de vários métodos e
postas. O envolvimento é avaliado tanto em relação à saiba criar sua metodologia de acordo com os objetivos
participação efetiva d@s alun@s nas atividades pro- pretendidos em seu ensino.
postas pel@ professor@ quanto em relação às pro-
postas que @s própri@s alun@s façam para enrique- PIMENTEL, L. G. Metodologias do ensino de artes visuais. In: PIMENTEL, L. G. (Org.).
Curso de especialização em ensino de artes visuais. Volume 1. Belo Horizonte:
cer a construção de conhecimentos.
Escola de Belas Artes, 2009. p. 27.
o grau de atendimento aos objetivos propostos.
10. Pimentel utiliza o símbolo gráfico “@” para se referir a masculino e/ou feminino.
382
ou seja, uma série de etapas e procedimentos a serem segui- visuais, acreditamos que o diálogo entre os três vértices do tri-
dos de forma rígida para alcançar um resultado. ângulo sejam importantes para os demais campos artísticos,
Nosso objetivo com esta obra didática é dar suporte ma- como a música, o teatro e a dança11.
terial, teórico e metodológico suficientemente completo para Também optamos por considerar alguns temas gerado-
que você, professor(a), possa usar de sua experiência e criati- res, com base nos pressupostos de Paulo Freire12, que podem
vidade na condução das atividades e propostas pedagógicas provocar discussões e produções em arte conectadas ao co-
aqui contidas, entre outras que queira desenvolver, e, assim, tidiano do jovem do século XXI. Esses temas atravessam os
criar sua própria metodologia em sala de aula. Queremos pro- quatro campos artísticos supracitados de forma transversal
porcionar uma aprendizagem na área de Arte para jovens do e permitem visualizar suas semelhanças e diferenças, conec-
Ensino Médio, contemplando a contextualização histórica, a tando-os entre si e com outras áreas do conhecimento de
fruição e a produção de obras artísticas nos quatro campos forma interdisciplinar. Por estarem próximos ao dia a dia dos
artísticos contemplados pela disciplina Arte: artes visuais, jovens, esses temas foram explorados na arte contemporâ-
dança, música e teatro. Por isso, nossa abordagem metodo- nea de forma preponderante, mas também foram contex-
lógica está fundamentada na Abordagem Triangular de Ana tualizados historicamente e relacionados à tradição artística
Mae Barbosa, proposta na década de 1980: a concepção de que os antecede.
que o ensino-aprendizagem de Arte tem de dialogar com a Dessa forma, neste livro apresentamos alguns métodos
prática (a produção de arte), com a fruição (o convívio com relacionados às atividades práticas ou de pesquisa, mas sua
arte como espectador, ouvinte etc.) e com a contextualização metodologia sugere o desenvolvimento de um processo
(a compreensão da arte em seus contextos históricos, teóri- dialógico com você, professor(a), e com os estudantes. Valo-
cos etc.). A Abordagem Triangular propõe que os três vértices rizando as suas experiências em sala de aula, pretendemos
do triângulo – a produção, a fruição e a contextualização – es- subsidiar sua prática com esse material didático, permitindo
tejam em constante relação no ensino/aprendizagem da arte que você possa interferir em sua condução sempre que ne-
na escola. Apesar de ela ser pensada para o ensino de artes cessário, criando suas próprias metodologias.
Este livro é composto por uma introdução e cinco uni- Abertura de Unidade – Preparando as
dades temáticas. Cada unidade se subdivide em quantidade
tintas e os pincéis
variável de capítulos, de acordo com o tema principal. Esses
capítulos possuem uma estrutura regular (mas não rígida
nem monótona), que se repete com o objetivo de familiarizar
o estudante com a organização interna dos conteúdos e de
colaborar para o planejamento das aulas.
Para alguns elementos organizativos dos capítulos, esco-
lhemos nomes familiares ao universo das artes (artes visuais,
teatro, dança ou música). Acreditamos que, com a organiza-
ção interna, vamos introduzindo vocabulários próprios das
artes e também suas simbologias.
11. Para saber mais sobre a Abordagem Triangular, sugerimos o livro: CUNHA, Fernanda Pereira; BARBOSA, Ana Mae. Abordagem Triangular no ensino das
artes e culturas visuais. São Paulo: Cortez, 2010.
12. Sobre os temas geradores, com base nos pressupostos de Paulo Freire, veja o item Proposta teórico-metodológica da obra mais adiante, nesta Assesso-
ria Pedagógica.
383
Abertura de capítulo – Afinando os avaliativo não pretende classificar os estudantes, mas permite
ao(à) professor(a) uma avaliação qualitativa do progresso dos
instrumentos
estudantes. Como não há certo ou errado em Arte, é espera-
do que os estudantes conversem sobre os temas e exponham
suas opiniões e conhecimentos tendo como base as pergun-
tas propostas no livro. Sugerimos que você, professor(a), ano-
te ou grave a roda de conversa inicial para compará-la à roda
de conversa final13.
Fazer arte
Roda de conversa
Ao início e fim de cada capítulo, propomos esta seção.
A roda é um elemento muito importante nas artes cênicas, Fazer arte é o momento de experimentação prática dos
pois é comum que seus espetáculos ocorram em semiare- conteúdos tratados nos capítulos, conectando-os às vivên-
nas, formando a metade de uma roda entre atores e público. cias lúdicas e artísticas dos estudantes e do(a) professor(a)14.
Também é comum que atores e bailarinos se sentem em roda Como é uma proposta de trabalho artístico, optamos por
atividades coletivas, em sua maioria, que vão envolver os
para avaliar o dia a dia dos ensaios.
estudantes reunidos em grupos. Assim, nos preocupamos
No início do capítulo, após a seção Afinando os instru- em sugerir possíveis divisões internas dos trabalhos pro-
mentos, a Roda de conversa objetiva explorar os conheci- postos, para que todos possam experimentar diferentes
mentos prévios dos estudantes e suas opiniões e dúvidas, funções na produção artística.
suas vivências e experiências a respeito dos conteúdos a Fazer arte é, geralmente, uma proposta de atividade
serem abordados. No fim do capítulo, após a seção Ensaio interartes15, na qual mais de um campo artístico é explo-
corrido, ela objetiva evidenciar a ampliação dos conheci- rado de maneira interdisciplinar, revelando possíveis cone-
mentos dos estudantes sobre os temas tratados e represen- xões entre as diversas práticas artísticas. Mas neste boxe
ta mais uma oportunidade de aprendizagem e de esclareci- também pode haver atividades que explorem apenas um
mento de dúvidas. dos campos artísticos contemplados em cada capítulo.
As Rodas de conversa são um importante instrumento de Essa flexibilidade é importante para que os estudantes ex-
avaliação diagnóstica, pois permite que professor(a) e estu- perimentem tanto as técnicas, habilidades e expressivida-
dantes conheçam seu ponto de partida para o trabalho com des de um campo artístico específico, quanto a feitura de
os temas abordados e as mudanças decorrentes da leitura e produções artísticas híbridas em que mais de um campo
das práticas propostas em cada capítulo. Esse instrumento artístico está envolvido.
13. Sobre a Roda de conversa ao final dos capítulo, veja o item sobre Avaliação mais adiante, nesta Assessoria Pedagógica.
14. Na Unidade 4 – Culturas brasileiras, especialmente no capítulo 15, Cultura ou culturas, o boxe Fazer arte não propõe um fazer artístico, mas sim uma
pesquisa sobre jovens que usam a internet para divulgar sua produção artística.
15. Sobre as atividades interartes, veja também o item Experiências interartes na Educação mais adiante, nesta Assessoria Pedagógica.
384
Fazer arte é também um momento de avaliação diag- Arte no dia a dia
nóstica em relação à prática e à fruição nos campos artísticos
trabalhados neste livro. Com essa avaliação, não estamos bus-
cando uma atribuição de valores subjetivos como “bom” ou
“ruim”, “bonito” ou “feio”, mas sim uma observação e valoriza-
ção do processo individual dos estudantes e de seus envolvi-
mentos na produção coletiva do grupo. Em “Avaliação”, nesta
Assessoria Pedagógica, apresentamos propostas de avaliação
diagnóstica dos boxes Fazer arte, levando em consideração
as diferenças de cada expressão artística tratada.
Arte em diálogo
16. A interdisciplinaridade é discutida também no item O pensamento inter, multi e transdisciplinar mais adiante, nesta Assessoria Pedagógica).
17. Os sites foram selecionados cuidadosamente e não havia neles, no momento da elaboração da obra, propaganda ou publicidade de produto ou insti-
tuição. No entanto, professor(a), como não há como controlar a inserção de conteúdos na internet, reforçamos que em nenhum momento quisemos
sugerir a compra ou o consumo de produtos ou similares.
18. Consideramos que o uso de smartphones e equipamentos similares está cada vez mais comum, e isso pode contribuir para que os estudantes tenham
acesso a esse material na escola, em casa ou onde eles estiverem.
385
artístico e cultural de todos sobre o tema tratado em cada conteúdos abordados em cada capítulo. O objetivo é dar aos
capítulo. Essas atividades podem fazer parte de uma avalia- estudantes uma visão geral dos conteúdos tratados e prepa-
ção diagnóstica19. rá-los para a Roda de conversa final.
CD de áudio Glossário
Um CD de áudio acompanha o livro do es-
tudante e contém 19 faixas com músicas e sons X
variados para execução de atividades ou audi-
ção. As faixas estão identificadas no livro com o
ícone ao lado:
São elas:
Faixa 1 – Vinheta de introdução
Faixa 2 – O pulsar
Faixa 3 – Sons em alturas diferentes
Faixa 4 – Sons em alturas diferentes com nuances
Faixa 5 – Samba de uma nota só
Faixa 6 – Sons em diferentes planos de altura (exemplo)
Faixa 7 – Sons em diferentes planos de altura
Faixa 8 – Concerto para piano número 5, em Mi bemol maior,
Opus 73
Faixa 9 – Capoeira angola e capoeira regional Boxe que apresenta o significado de vocábulos importan-
Faixa 10 – Chão de estrelas tes de cada campo artístico tratado neste livro. Tem a função
Faixa 11 – Ave Maria no morro de auxiliar a compreensão dos textos, mas também de habi-
Faixa 12 – Com que roupa tuar os estudantes a conhecerem e incorporarem o vocabulá-
Faixa 13 – Beco sem saída rio próprio de cada expressão artística.
Faixa 14 – O operário No texto, o termo do glossário aparece destacado em azul.
Faixa 15 – Base musical para o rap
Faixa 16 – The Young Person’s Guide to the Orchestra Questões de múltipla escolha
Faixa 17 – Fandango caiçara
Faixa 18 – Canto do povo Kariri-Xocó Sabemos que grande parte dos estudantes do Ensino Mé-
Faixa 19 – Canto das meninas do povo Maxakali dio irá realizar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para
ingresso nas instituições de Ensino Superior. Este exame é com-
posto de questões reflexivas de múltipla escolha. Os conteúdos
Ensaio corrido da disciplina Arte estão contemplados na prova de Linguagens,
portanto, apresentamos nessa seção algumas questões de Enem
dos anos anteriores, bem como novas questões elaboradas por
nós seguindo a estrutura proposta pelo Exame. Essas atividades
podem ser realizadas em casa e corrigidas em sala de aula e tam-
bém podem ser utilizadas como ferramenta de avaliação. No en-
tanto, é fundamental que seja apenas uma das práticas adotadas
em conjunto com as demais propostas de avaliação do livro.
19. Sobre a avaliação do boxe Arte no dia a dia, veja o item Avaliação mais adiante, nesta Assessoria Pedagógica.
386
Quadro de conteúdos da obra
Capítulos Conteúdos
- A disciplina Arte e seus campos artísticos (artes visuais, dança, música e teatro).
Introdução – Arte:
- As zonas de contato entre os campos artísticos e com outras áreas de conhecimento.
conhecimento e experiência
- A experimentação e a fruição artísticas e as propostas interartes.
UNIDADE 1 – ARTE, TEMPO, ESPAÇO E MOVIMENTO
- A música no espaço: ondas sonoras, vibração, frequência.
- Os aspectos físicos da música: produção do som.
Capítulo 1 – Música e espaço - Os aspectos biológicos do som: ouvir música.
- A altura do som: graves e agudos.
- As partituras: notas musicais no pentagrama.
387
UNIDADE 3 – ARTE E AS CIDADES
- O conceito de culturas.
Capítulo 15 – Cultura ou
- O conceito de capital cultural.
culturas
- As culturas dos jovens e as juventudes no Brasil.
- Música e dança em algumas festas e rituais tradicionais: o Turé do baixo Oiapoque e o Toré do
Capítulo 17 – Música para
Nordeste.
imaginar e experimentar o
- A relação entre festividade, religiosidade e identidade cultural.
mundo
- A multiculturalidade das culturas brasileiras.
Capítulo 18 – A visualidade - Os diferentes tipos de Arte dos povos indígenas brasileiros.
das artes indígenas - A Arte indígena expressa nas práticas cotidianas.
brasileiras - Os patrimônios culturais e artísticos dos povos indígenas no Brasil.
388
3. PROPOSTA DIDÁTICO-PEDAGÓGICA DA OBRA
Pressupostos metodológicos
Apresentaremos, agora, com mais detalhes, a proposta
didático-pedagógica que fundamenta esta obra. Nosso obje-
tivo é que você, professor(a), possa reconhecer os fundamen- da obra
tos metodológicos e, assim, possa interagir com o livro de for-
ma consciente e propositiva, de forma a atingir os objetivos Com o intuito de nos aproximarmos das discussões te-
do ensino de Arte no Ensino Médio. óricas e das práticas que propomos ao longo deste livro, e
também de afinarmos essas reflexões com a sua prática do-
Objetivos do ensino de Arte cente, desenvolvemos, nas linhas abaixo, algumas conexões
entre possibilidades e abordagens metodológicas que, acre-
na obra ditamos, possam contribuir com a sua atuação como profes-
sor de Arte e constituir uma forma eficiente para uma prática
Como vimos anteriormente, a disciplina Arte está passan- docente socialmente engajada, dinâmica, dialética e trans-
do por importantes transformações desde a publicação, em formadora. Utilizamos como pressupostos teóricos algumas
abordagens metodológicas que trazem uma perspectiva
2012, das Diretrizes Curriculares do Ensino Médio20.
interdisciplinar no ensino de Arte e, portanto, apontam pos-
A partir de uma importante mobilização das associações
sibilidades para o trabalho interartes e contextualizado que
de arte-educadores e de profissionais de artes cênicas, mú- buscamos.
sica e artes visuais, foram realizadas alterações na legislação Para compreender nossas sugestões para a sua prática do-
e outras ainda encontram-se em discussão. Sendo assim, os cente, é importante que você esteja aberto às possibilidades
objetivos do ensino da disciplina Arte – nos campos artís- de relacionar e integrar as abordagens sugeridas. Não que-
ticos de dança, teatro, música e artes visuais –, nas escolas remos, com essas sugestões, esgotar as possibilidades para
brasileiras estão sendo amplamente debatidos com toda a a sua prática, pois assim como propomos possibilidades de
sociedade. Neste livro, entendemos que o principal objetivo práticas dialéticas e dinâmicas, acreditamos no dinamismo
do ensino-aprendizagem da Arte na escola é possibilitar, aos natural da prática docente e da arte. Afinal, nosso objeto de
estudantes, o acesso a modos específicos de se comunicar, estudo, a arte, tem um componente que é inerente e indis-
pensável à sua prática: a criação.
expressar, entender, explicar, levantar dúvidas e se relacionar
Ao apresentarmos as abordagens que consideramos pos-
com o mundo que só são possíveis por meio das artes, de
síveis para o ensino de Arte que almejamos, sugerimos que
suas formas, procedimentos, materiais etc. você se empenhe na conexão dessas abordagens e não no
Como dissemos na Introdução da obra, a contempora- isolamento delas. Conectá-las também será uma forma de
neidade traz problemas e questionamentos que demandam enfrentarmos os desafios postos pelo nosso sistema de ensi-
a integração e o diálogo entre as diversas áreas do conheci- no, que nem sempre nos mune dos saberes necessários para
mento, incluindo as artes. Na disciplina Arte, o estudante é o desenvolvimento dos conteúdos e nos apresenta desafios
levado a experienciar, contextualizar, fruir e produzir obras ar- constantes. Por isso, incentivamos uma combinação e/ou
tísticas relacionando-se com a arte em todas as suas dimen- uma alternância das abordagens metodológicas descritas
sões: histórica, filosófica, cotidiana e convivial, estética, pro- abaixo, ao considerarmos que elas podem se complementar
cedimental, lúdica, política etc. Por meio de uma experiência e contribuir para uma prática docente ainda mais consciente.
Nesse sentido, pense de forma conectada.
contextualizada em arte, é possível desconstruir e reconstruir
Inicialmente, apresentaremos uma abordagem conheci-
poeticamente a matéria, o corpo, o som, as relações entre as
da na área da Educação como metodologia de ensino por
pessoas. Essa capacidade de ação poética sobre as coisas é
projetos. Inspirada na proposta de John Dewey – denomi-
uma capacidade/habilidade específica das artes e é funda- nada problem solving methodology21 –, a abordagem de en-
mental para um pensamento plural, integrador e interdisci- sino por projetos foi ressignificada para o contexto brasileiro
plinar que nosso tempo demanda. A seguir, apresentamos por Paulo Freire, na sua busca da construção de princípios
alguns pressupostos metodológicos nos quais nos apoiamos para uma educação emancipatória. Essa abordagem prevê
para a elaboração deste livro. o uso de temas geradores do conhecimento na construção
389
de projetos que motivem os estudantes a adquirirem e a de- artístico e na inter-relação entre eles e com outras disciplinas
senvolverem os saberes necessários para a sua construção. do currículo escolar pode ser uma ferramenta muito útil, pois
Compreender como podemos nos utilizar dos temas gera- ao motivar que os estudantes se mobilizem a buscar e aper-
dores do conhecimento faz-se essencial para o desenvolvi- feiçoar os recursos necessários para a realização de um proje-
mento dessa abordagem no ensino de Arte. Para auxiliá-los to sobre um determinado tema, ela associa a apropriação dos
nessa compreensão, utilizamos como pressuposto teórico o conteúdos às vivências dos mesmos, o que, então, aproxima
artigo “Ensino Médio e Técnico com Currículos Integrados: a prática docente dos diversos objetos de estudo dos quatro
propostas de ação didática para uma relação não fantasiosa”, campos artísticos abordados neste livro. Ademais, a aproxima-
de Lucília Machado (2009), e como forma de aprofundarmos os ção entre as teorias e as práticas artísticas de cada campo artís-
assuntos abordados, lançamos mão de uma estratégia utiliza- tico faz-se essencial para um ensino de Arte engajado e trans-
da para a aquisição do conhecimento, mas que reforça a ideia formador. Defendemos que a apropriação da prática docente
de ensino por projetos: a investigação artística, apresentada por dos objetos de estudos de cada campo de conhecimento ar-
Christine Zulbach (2009) no artigo “Investigação artística e inter- tístico aqui apresentado – as artes visuais, a dança, a música e o
disciplinaridade no âmbito universitário: modo de usar”. teatro – são essenciais para a formação de um sujeito autôno-
Em seguida, discorremos sobre a prática docente e a arte/ mo e engajado no contexto social e cultural em que vive.
educação baseadas na comunidade, ao resumirmos o texto O uso de temas geradores, segundo Machado (2009, p.
de Flávia Bastos (2005) “O perturbamento familiar: uma pro- 65), “considera que os sujeitos do processo de reflexão-ação-
posta teórica para a Arte/Educação baseada na comunidade”, -educação não são exteriores ao mesmo, senão indivíduos
que aponta oito formas distintas que podem ser conectadas reais e concretos, que no curso de sua existência e em função
para um ensino de Arte contextualizado. dela fazem da realidade em que estão imersos, e que da qual
Com isso, queremos estimular seu mergulho e total en- integram, o objeto do seu pensamento”. Considerando apro-
gajamento no ensino da Arte, fazendo uso de uma prática ximações intrínsecas entre a arte e a vida, os objetos artísticos
docente pautada nas possibilidades interdisciplinares que a aos quais nos debruçamos nos processos de ensino-aprendi-
própria área do conhecimento nos traz. Desde já, sugerimos zagem de Arte integram nosso fazer diário e, muitas vezes, já
que você se exercite diariamente como um “professor-artista- fazem parte do nosso cotidiano. O que almejamos em nossa
-investigador”, “professor-intérprete da dança”, “professor-ator”, prática docente é que essa aproximação seja feita por meio da
e “professor-músico”, no sentido de se investigar ao máximo interpretação e ressignificação desses objetos como elemen-
os saberes e os temas geradores do conhecimento que pro- tos criados e, portanto, passíveis de serem transformados, a
pomos neste livro em suas práticas diárias. Comecemos, en- partir de novos entendimentos e interpretações.
tão, buscando a compreensão do que são os temas geradores A fim de utilizarmos essa abordagem metodológica na prática
do conhecimento aqui propostos e como eles podem ser uti- docente, sugerimos, a cada unidade, temas geradores do conhe-
lizados na abordagem metodológica de ensino por projetos. cimento capazes de centralizar e desenvolver processos de criação
artística e de ensino-aprendizagem significativos e transformado-
Os temas geradores e a abordagem res. Você notará que não há a intenção de esgotar quaisquer dos
assuntos abordados no livro e há sugestões para desenvolver e
metodológica de ensino por projetos aprofundar os temas geradores por meio de ações e processos de
A abordagem metodológica orientada por projetos, tam- criação em perspectivas processuais, em que os passos do proces-
bém conhecida como “ensino por projetos”, objetiva associar so são muito mais importantes de avaliar do que o produto.
teoria e prática mediante a investigação de um tema ou pro- No entanto, ao mesmo tempo que tentamos conside-
blema. Inspirada na problem solving methodology, elaborada rar as diferenças entre os diferentes contextos, também
no início do século XX22, essa abordagem auxilia a contextua- sugerimos temas geradores que expressam de forma mais
lização da prática docente, uma vez que proporciona proces- abrangente a realidade, para procurarmos estabelecer elos
sos de ensino-aprendizagem e propõe associações entre os entre as particularidades e o caráter mais geral de cada
conhecimentos prévios dos estudantes, a realidade encontra- tema a ser trabalhado. Dentro dessa perspectiva, sugeri-
da (e, consequentemente, modificada pelas nossas ações) e mos que você esteja sempre atento às diversas possibili-
os conteúdos a serem adquiridos em cada fase escolar. dades de trabalho que cada tema gerador pode suscitar,
Machado (2009, p. 64-65), em seu artigo “Ensino Médio e a depender, como dissemos anteriormente, do contexto
Técnico com Currículos Integrados: propostas de ação didá- em que você e seus estudantes estão inseridos. Como o
tica para uma relação não fantasiosa”, discute estratégias de próprio termo sugere, os temas geradores têm como obje-
integração entre currículos e afirma que o ensino por projetos tivo gerar, produzir conhecimento. E o ideal é que busque-
“contribui ainda para instigar a dúvida e a curiosidade do alu- mos fazer isso sabendo que as características individuais
no e para promovê-lo a sujeito do processo de construção de formarão a característica geral do seu grupo de estudan-
conhecimentos”. A utilização dessa abordagem no ensino dos tes, e que elas devem ser constantemente consideradas.
conteúdos específicos dos quatro campos do conhecimento Não é de maneira aleatória que muitas vezes utilizamos o
22. A problem solving methodology é utilizada nos Estados Unidos atualmente, mas não se sabe se John Dewey, no início do século XX, pensou a teoria e
utilizava esse termo ou se esse foi um termo utilizado por educadores posteriormente.
390
termo “tema gerador de interesse”. Justificamos esse uso na reinterpretação e na ressignificação do conhecimento
pela ideia de que é a partir do interesse dos estudantes obtido – Fazer arte.
em determinado tema que o conhecimento é mais bem
6. Estar aberto a transformar e a ser transformado pelas mu-
investigado e, portanto, construído em um processo de
danças indicadas no contexto encontrado.
ensino-aprendizagem.
Paulo Freire nos ensina que o tema gerador deve vir
do estudante. Aliando esse ensinamento aos conteúdos A prática docente e a arte-educação
que consideramos importantes para a apropriação dos co- baseada na comunidade
nhecimentos componentes dos quatro campos artísticos,
a proposta desse livro tem como base a utilização de te- Com base em uma experiência vivenciada nos Estados
mas geradores sugeridos por nós no intuito de estimular o Unidos, a artista e professora de artes visuais Flávia Bastos
surgimento de temas geradores entre os estudantes, com (2008, p. 227) nos fala de um ensino de Arte contextualiza-
base em suas experiências prévias. Nesta obra, cada tema do e da utilização da abordagem por projetos e discorre so-
gerador poderá, portanto, ser desenvolvido levando em bre a necessidade de uma parceria entre arte-educadores
consideração os pontos de interesse e de resistência que (professores de Arte), artistas e comunidade, mas salienta
ele inevitavelmente causará em cada turma. Esses pontos que, apesar do sucesso dessa perspectiva em relação a sua
de interesse ou de resistência, gerados pelo encontro des- teoria, ela “depende da implementação das diferentes abor-
ses temas com as culturas de cada estudante e com as di- dagens apropriadas às realidades das comunidades em que
ferenças culturais encontradas em cada turma, devem ser ela é aplicada”.
considerados complementares e, quando combinados en- Sugerimos, neste livro, a utilização do modelo que par-
tre si e com os aspectos técnicos de cada assunto, podem te da valorização da cultura local, do contexto no qual os
ser essenciais para a construção de processos de ensino- estudantes estão inseridos e dos recursos existentes e dis-
-aprendizagem sólidos, interdisciplinares e artística e social- ponibilizados na escola, seguindo a experiência vivencia-
mente transformadores. da por Bastos, que confirmaram as ligações entre a arte
Para Machado (2009, p. 63): “É preciso que o processo e a vida cotidiana, e entre os conceitos de arte erudita e
educacional se transforme num processo investigativo, arte popular. Para Bastos (2008, p. 228): “Valorizar as liga-
o qual inclui o planejamento, a colocação em prática de ções intrínsecas entre a arte e a vida cotidiana constitui a
processos pedagógicos ordenados, lógicos e coerentes e base de uma arte/educação democrática, porque envolve
a avaliação contínua”. Por isso, fugindo de uma perspecti- o reconhecimento de várias práticas artísticas sem distin-
va “espontaneísta”, por vezes associada ao ensino de Arte guir entre o erudito e o popular”. Nossas práticas artísticas,
nas escolas – pois, alguns professores tendem a considerar como professores e artistas das artes visuais, da dança, da
que não estamos formando o profissional-artista das artes música e do teatro, têm nos mostrado, ao longo dos anos,
visuais, da dança, da música e do teatro e, assim, abordam que, como diz a autora, “esses rótulos não nos ajudam mais
os conteúdos relacionados aos campos da arte de forma a compreender a arte produzida atualmente” (BASTOS,
superficial –, sugerimos que, em sua prática, você foque na 2008, p. 229) e, além disso, eles estão associados a uma
organização e na sistematização dos conteúdos abordados visão de mundo elitista, que tende a categorizar o fazer
nesta obra, para que os processos de ensino-aprendizagem artístico como melhor ou pior com base em concepções
fiquem claros a todos os sujeitos envolvidos (incluindo econômicas e sociais.
você, como mediador do processo). A seguir, relacionamos A arte-educação baseada na comunidade, além dis-
alguns objetivos a serem atingidos e destacamos algumas so, aponta para uma concepção de arte conciliatória, que
seções do nosso livro que podem auxiliar sua prática do- abraça as diferenças e a diversidade cultural como ponto de
cente. No entanto, essa divisão é apenas didática, pois uma partida para as produções artísticas, e combina “tradições
mesma seção pode contribuir para vários objetivos ao mes- regionais, artesanato local, arte tradicionalmente produzida
mo tempo: por mulheres, arte popular, média, etc.” (BASTOS, 2008, p.
229), em um mesmo grau de valoração e, principalmente,
1. Conhecer e compreender o seu contexto, sempre na ten- como parte integrante de uma comunidade. Nesse sentido,
tativa de agregar informações – Roda de conversa. queremos estimular uma prática docente que parta de uma
visão ampla, inclusiva (e não excludente), que considere as
2. Reinterpretar, ressignificar e estruturar os conteúdos des-
várias formas de se fazer arte e ainda motive os possíveis
sas informações – Fazer arte, Arte no dia a dia.
entrelaces e uma maior participação social. Sendo assim,
3. Estabelecer uma teia de conexões entre as informações sugerimos que você esteja sempre disposto a pesquisar, in-
agregadas – Para assistir/navegar/ler/ouvir, Arte em diá- vestigar, identificar e a propor processos de ensino-apren-
logo, Para saber mais. dizagem que fomentem o pensamento crítico no que diz
respeito à compreensão das diversas e muitas formas de se
4. Confrontar as informações agregadas com as vivências do
fazer arte, para que os estudantes sejam capazes de inter-
cotidiano – Arte no dia a dia.
pretar e valorizar as diversas e infinitas possibilidades de se
5. Transformar a realidade na qual esteja inserido com base fazer arte.
391
A prática docente e os ensinamentos comunidade e da arte que os cerca. Para que compreenda
melhor a abordagem da arte-educação com base na co-
de Paulo Freire munidade, reproduzimos, a seguir, as cinco abordagens do
Ao sugerir práticas contextualizadas e pautadas em multiculturalismo propostas por Sleeter e Grant (1994) e as
uma visão de mundo mais democrática e inclusiva, corro- três orientações propostas por Marché (1998), assim como
boramos com Paulo Freire: “educação é um processo po- descritas no texto de Flávia Bastos (2008). As cinco orien-
lítico que ou reforça as injustiças sociais, pelo controle da tações propostas por Sleeter e Grant (1994, apud BASTOS,
consciência, ou promove mudanças pelo processo de re- 2008, p. 236) são:
flexão crítica chamado ‘conscientização’ ” (BASTOS, 2008, p. (a) excepcionalidade e diferença cultural, usadas por educa-
230). Ainda no mesmo texto, Flávia Bastos (2008) cita como dores que encaram sua bagagem cultural como norma
exemplo um dos métodos utilizados por Freire nos grupos e tentam lidar com culturas que eles consideram dife-
de adultos que eram alfabetizados por ele, conhecidos rentes;
como “Círculos de cultura”, que muito se assemelham com
(b) relações humanas envolvem práticas que enfocam o de-
as Rodas de conversa propostas neste livro. De acordo
senvolvimento de interações positivas entre indivíduos
com a autora:
e grupos;
os participantes dos “círculos de cultura” eram convi- (c) estudos de grupos distintos preocupa-se com um grupo
dados a examinar suas vilas e comunidades e a coletar os isolado, por exemplo, mulheres, descendentes de cul-
nomes das ferramentas, lugares e atividades importantes em turas africanas, membros da classe operária;
suas vidas. Essa nova mirada sobre objetos e eventos fami- (d) educação multicultural envolve políticas e práticas que
liares despertava o questionamento e o diálogo sobre sua negociam as diferenças e similaridades entre vários
situação de vida. grupos humanos, examinando etnia, deficiência, gêne-
ro, classe social etc.;
BASTOS, F. O perturbamento do familiar: uma proposta teórica para a Arte/Educação
baseada na comunidade. In: BARBOSA, A. M. (Org.). Arte/educação contemporânea: (e) reconstrução social busca desvelar as estruturas injustas
consonâncias internacionais. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2008. p. 231. que mantêm a desigualdade social entre diferentes
grupos.
Veja, a seguir, a descrição de Freire (1987, apud BASTOS,
2008) de uma experiência ocorrida em São Tomé e Príncipe, Já as três orientações de arte-educação baseadas na co-
na África, que desperta reflexões críticas e sensações transfor- munidade e propostas por Marché (1998, apud BASTOS, 2008,
madoras (p. 231-232): p. 236) focam na relação entre escola e comunidade. Veja a
seguir:
Visitamos o círculo de cultura na pequena comunida-
de pesqueira de Santo Mário. Eles tinham como palavra (a) extrair ( ) descreve um relacionamento explorativo,
geradora o termo “bonito”, o nome do peixe, e como codi- comparável aos processos de coleta e de extrativismo
ficação um desenho expressivo de sua vila, representando a em que a comunidade tem uma função instrumental;
vegetação local, casas típicas, barcos de pesca no mar e um (b) investigar ( ) envolve o estudo e a pesquisa sobre a
pescador segurando um bonito. Os alunos ficaram olhan- comunidade para conhecê-la mais profundamente;
do para essa codificação em silêncio. De repente, quatro
(c) interagir ( ) com a comunidade é a orientação mais
deles se levantaram de uma vez e como se eles tivessem expansiva que vai além do contexto humano para in-
combinado de antemão; caminharam até a parede onde a cluir o ambiente; dessa forma, os alunos passam a exer-
codificação estava pendurada. Eles a examinaram atenta e citar sua cidadania na interação com a comunidade.
longamente. Depois eles foram até a janela e olharam para
fora. Olhando um para o outro como se estivessem surpre- Observe que as oito abordagens podem ser interco-
sos e olhando novamente para a codificação eles disseram: nectadas para um efetivo trabalho na prática docente do
“Isto é Monte Mário. Monte Mário é desse jeito e a gente ensino de Arte. As cinco abordagens propostas por Sleeter
não sabia”. e Grant (1994) conectam ideias e conceitos que, ao serem
transformados, podem ser incorporados e desenvolvidos
A arte-educação baseada na comunidade indica a arte de diversas formas. As três orientações propostas por Mar-
e a cultura local como eixos norteadores do currículo. É ché (1996) podem ser utilizadas a partir da compreensão
importante atentar para o fato de que cada abordagem do trinômio: extração, investigação, interação, sugerindo
da arte/educação baseada na comunidade fundamenta- que para interagir com membros de uma comunidade, os
-se em uma orientação metodológica específica, de forma professores antes extraíram conhecimento dessa comuni-
que, nesse material, optamos por indicar formas, sugerir dade e a investigaram, e só dessa maneira poderão com-
atividades, mas sempre priorizando as suas escolhas como preendê-las de fato.
mediador do processo de ensino-aprendizagem, ou seja, A investigação e a pesquisa sobre a arte local é essen-
cabe a você, professor(a), escolher a orientação que melhor cial para propormos um ensino de Arte contextualizado e
responde às demandas de seus estudantes, da escola, da crítico. Considerar as diferenças sociais e culturais como
392
fatores que influenciam a criação em arte e a compreen- questões culturais, que valorize as diferenças e proponha
são do que é arte, assim como as diferenças entre o local, igualdade de oportunidades, que estimule a autonomia
o regional e o global faz-se essencial para que busque- dos estudantes considerando e também transformando
mos um ensino de Arte transformador e engajado com as suas visões de mundo.
Como escreveu a arte educadora Ana Mae Barbosa (2008), o professor e o constante esquecimento de que o conhecimento
prefixo inter- tem acompanhado muitas palavras que traduzem especializado faz parte, na verdade, de uma realidade mais ampla
as buscas contemporâneas nas áreas da Arte e da Educação: dentro da existência humana. Tanto a hiperespecialização quanto
a alienação da real amplitude do conhecimento levam a que os
Vivemos a era inter. Estamos vivendo um tempo em objetos de estudo referentes a cada disciplina sejam pensados de
que a atenção está voltada para a internet, interculturali- forma autossuficiente. Assim, diz Morin (2003):
dade, a interatividade, a interação, a inter-relação, a inter-
disciplinaridade e a integração das artes e dos meios, como as ligações e solidariedades desse objeto com outros ob-
modos de produção e significação desafiadores de limites, jetos estudados por outras disciplinas serão negligenciadas,
fronteiras e territórios. assim como as ligações e solidariedades com o universo do
qual ele faz parte. A fronteira disciplinar, sua linguagem e
BARBOSA, A. M. Interterritorialidade refazendo interdisciplinaridade: Arte na Educação.
Design, Arte e Tecnologia 4. Bauru/São Paulo/Rio de Janeiro: Unesp-Bauru/Rosari e seus conceitos próprios vão isolar a disciplina em relação às
Universidade Anhembi Morumbi/PUC-Rio, 2008. p. 1. outras e em relação aos problemas que se sobrepõem às dis-
ciplinas. A mentalidade hiperdisciplinar vai tornar-se uma
Como veremos a seguir, experiências inter no ensino de Arte
mentalidade de proprietário que proíbe qualquer incursão
podem ser alcançadas ou a partir de projetos que contemplem as
estranha em sua parcela de saber.
zonas de contato entre os vários campos artísticos, ou a partir do
reconhecimento da arte em contato com outras áreas do conhe- MORIN, E. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de
cimento, ou a partir das duas opções ocorrendo simultaneamen- Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. p. 106.
te. Antes de nos aprofundarmos nestas questões, é importante Este isolamento disciplinar de que nos fala Morin pode ser
uma breve contextualização sobre os conceitos que envolvem o facilmente percebido nos currículos e na forma como cada
pensamento disciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar. disciplina é ministrada nas escolas, com pouco ou nenhum
diálogo entre si e com boas doses de uma espécie de prote-
O pensamento disciplinar cionismo disciplinar por parte dos professores que normal-
mente não veem com bons olhos as incursões de colegas de
outras disciplinas em suas próprias áreas de conhecimento,
Como forma de organizar os conhecimentos acumula-
quando estas ocorrem. O que Morin (2003) tenta nos fazer en-
dos pela humanidade, foram criadas as disciplinas, tais como
tender é que o avanço da ciência e do conhecimento huma-
hoje temos Matemática, Química, Física, Arte, entre outras.
Tal forma de organizar as áreas do conhecimento humano no não se deu nem se dá somente com a proliferação das dis-
começou a ser instituída no século XIX com a formação das ciplinas, mas também e ao mesmo tempo com a ruptura das
universidades modernas e desenvolveu-se no século XX com fronteiras disciplinares, “da invasão de um problema de uma
o grande impulso dado à pesquisa científica. Nas palavras de disciplina por outra, de circulação de conceitos, de formação
Edgar Morin (2003), disciplina seria: de disciplinas híbridas que acabam tornando-se autônomas;
uma categoria organizadora dentro do conhecimento enfim, é também a história da formação de complexos, onde
científico; ela institui a divisão e a especialização do traba- diferentes disciplinas vão ser agregadas e aglutinadas”.
lho e responde à diversidade das áreas que as ciências abran- Isso tudo quer dizer que o conhecimento humano depen-
gem. Embora inserida em um conjunto mais amplo, uma de não somente das disciplinas, mas também de formas de
disciplina tende naturalmente à autonomia pela delimitação diálogo e de relação entre as mesmas. Tais formas de conexão
das fronteiras, da linguagem em que ela se constitui, das entre as disciplinas têm sido denominadas, conforme o caso,
técnicas que é levada a elaborar e a utilizar e, eventualmente,
de interdisciplinaridade, multi ou polidisciplinaridade e trans-
pelas teorias que lhe são próprias.
disciplinaridade (um pouco adiante detalharemos as diferen-
MORIN, E. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de ças entre tais termos). São muitos os exemplos de encontros e
Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. p. 105.
trocas entre pesquisadores de diferentes áreas que permitem
Com o enorme avanço científico dos séculos XX e XXI surgiram a disseminação mútua de conhecimento entre disciplinas di-
novas disciplinas e, concomitantemente, a hiperespecialização do ferentes, levando, inclusive, à formação de novas disciplinas
393
como a Bioquímica, por exemplo, que surgiu da integração Possivelmente a forma de interação mais convencional
entre a Química e a Biologia. entre disciplinas seja a pluri ou multidisciplinaridade. Nes-
Não se trata aqui de defender a extinção das disciplinas. ta modalidade, um objeto de uma única disciplina pode ser
Tampouco, no caso dos professores de Arte, espera-se o retor- estudado por duas ou mais disciplinas ao mesmo tempo e a
no da superada formação polivalente que proporcionava, em interação entre elas ocorre de maneira mais aditiva do que
muitos casos, uma formação mais panorâmica e superficial integrativa. Essa forma de cooperação entre disciplinas ocor-
em vários campos artísticos, e que foi substituída pelas for- re mais comumente por conta de projetos ou temas que lhes
mações especializadas que encontramos atualmente, espe- sejam comuns e onde cada disciplina é chamada para resol-
cialmente com a criação e ampliação de diversas licenciaturas ver problemas específicos. Nicolescu (1999) exemplifica isso:
em Dança, Teatro, Música e Artes Visuais a partir do REUNI23. Por exemplo, um quadro de Giotto pode ser estudado
Trata-se, então, de reconhecer a existência de conexões entre pela ótica da história da arte, em conjunto com a da física,
os diversos campos do saber e de estimular as muitas possibi- da química, da história das religiões, da história da Euro-
lidades de redes de solidariedade-de-saberes entre os docen- pa e da geometria. Ou, ainda, a filosofia marxista pode ser
tes das diversas disciplinas. A esses aspectos, Morin (2003) ain- estudada pelas óticas conjugadas da filosofia, da física, da
da acrescenta a necessidade de não se esquecer nunca das economia, da psicanálise ou da literatura.
realidades globais, e de não se perder nas pequenas verdades NICOLESCU, B. Um novo tipo de conhecimento – transdisciplinaridade. In:
limitadas de cada campo do conhecimento: Educação e transdiciplinaridade. São Paulo/Itatiba, Escola do Futuro (USP), 1999. p. 10.
Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/
Por exemplo, a noção de homem está fragmentada entre images/0012/001275/127511por.pdf>. Acesso em: 26 fev. 2016.
diversas disciplinas das ciências biológicas e entre todas as
disciplinas das ciências humanas: a física é estudada por um Um objeto submetido a um estudo multidisciplinar, se-
lado, o cérebro, por outro, e o organismo, por um terceiro,
gundo Nicolescu (1999, p. 2), sairá assim enriquecido pelo
cruzamento de várias disciplinas. O conhecimento do objeto
os genes, a cultura etc. Esses múltiplos aspectos de uma rea-
lidade humana complexa só podem adquirir sentido se, em em sua própria disciplina é aprofundado pelas contribuições
vez de ignorarem esta realidade, forem religados a ela. Com vindas das outras áreas, mas ainda está a serviço apenas de
certeza não é possível criar uma ciência do homem que anu- sua disciplina de origem. O autor afirma, ainda: “a abordagem
le por si só a complexa multiplicidade do que é humano. pluridisciplinar ultrapassa as disciplinas, mas sua finalidade
continua inscrita na estrutura da pesquisa disciplinar”.
MORIN, E. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. O sistema de cooperação interdisciplinar, por sua vez,
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. p. 113.
está fundado na formação de grupos de trabalho, visando,
de acordo com Domingues (2011, p. 4), a “integração de con-
O pensamento inter, multi ceitos, terminologias, métodos e dados em conjuntos mais
e transdisciplinar vastos, repercutindo na organização do ensino e da pesqui-
sa”. O objetivo dos trabalhos interdisciplinares é ultrapassar o
conhecimento de um objeto dentro de uma única disciplina,
Nas últimas décadas têm proliferado iniciativas de aproxi-
mação entre os campos disciplinares. Como vimos na Introdu- através do intercâmbio e da transferência de conhecimentos
ção do livro, segundo Morin (2003, p. 22-23), a inter-relação das e métodos de trabalho entre as diferentes disciplinas envol-
disciplinas, com suas especificidades, pode proporcionar uma vidas. Segundo Nicolescu (1999, p. 11), existem três graus
maior compreensão da realidade, a qual é sempre de natureza identificáveis em trabalhos em interdisciplinaridade:
complexa. Se a realidade é complexa, sua compreensão exige a) um grau de aplicação. Por exemplo, os métodos da física
de nós um pensamento igualmente complexo para que pos- nuclear transferidos para a medicina levam ao apareci-
samos elaborar novas formas de estar no mundo, aumentando mento de novos tratamentos para o câncer;
a qualidade de vida, buscando o bem comum e a preservação b) um grau epistemológico. Por exemplo, a transferência de
da espécie humana. Dependendo do nível de interação entre métodos da lógica formal para o campo do direito pro-
duz análises interessantes na epistemologia do direito;
as disciplinas, tais iniciativas têm sido denominadas interdis-
ciplinares, multidisciplinares ou transdisciplinares. A definição c) um grau de geração de novas disciplinas. Por exemplo,
a transferência dos métodos da matemática para o
do que seja inter, multi e transdisciplinar nem sempre é fácil,
campo da física gerou a física matemática; os da física
mas as principais diferenças entre tais interações têm sido de- de partículas para a astrofísica, a cosmologia quântica;
finidas por alguns estudiosos, como veremos a seguir. os da matemática para os fenômenos meteorológicos
23. O Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), do Ministério da Educação, foi implantado a partir de
2003 a fim de que as universidades federais pudessem promover a expansão física, acadêmica e pedagógica da rede federal de educação superior.
394
ou para os da bolsa, a teoria do caos; os da informática terartes. Existem também possibilidades de, a partir da com-
para a arte, a arte informática. preensão de zonas de contato da Arte com outras áreas do
NICOLESCU, B. Um novo tipo de conhecimento – transdisciplinaridade. conhecimento, buscarmos experiências interdisciplinares de
In: Anais do 1º- Encontro Catalisador do CETRANS, São Paulo/Itatiba, Escola do Futuro ensino envolvendo uma ou mais disciplinas em integração
(USP), 1999. p. 9-25. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/ com uma ou mais linguagens artísticas – estas são chamadas
images/0012/001275/127511por.pdf>. Acesso em: 26 fev. 2016. p. 2.
experiências interdisciplinares.
Apesar de sua finalidade também permanecer inscrita na A integração entre as diversas linguagens artísticas presen-
pesquisa disciplinar, os novos conhecimentos gerados pelo tes no conteúdo da disciplina Arte nas escolas, assim como a in-
trabalho interdisciplinar ultrapassam o âmbito das disciplinas
tegração do ensino da Arte com outras disciplinas, é um grande
envolvidas, gerando conhecimentos que não poderiam ser
desafio, pois prevê a criação de metodologias de ensino porosas
alcançados pelas disciplinas isoladamente.
e dialógicas, que abarquem possibilidades de diálogo entre as
Por fim, o pensamento transdisciplinar nasce com uma am-
artes (interartes) e entre a Arte e outras disciplinas (interdiscipli-
bição maior: a de ir além das disciplinas, tendo como objetivo
nar). Tal desafio torna-se ainda maior devido às características
fornecer sínteses teóricas abrangentes, capazes de unificar o co-
da Arte produzida hoje no mundo, as quais estão marcadas por
nhecimento e de levar à compreensão do mundo presente. No
múltiplas conexões e possibilidades de expressão individual e
entanto, segundo Domingues (2011, p. 5), “diferentemente das
coletiva. A complexidade e multiplicidade devem ser refletidas
experiências inter e multi, bem pesadas as coisas, não é possível
nas ações realizadas na escola, e estas deverão apresentar a Arte
ainda apontar experiências unificadoras trans bem-sucedidas,
como um lugar de fronteiras tênues e ampliadas.
e de fato, mesmo em ações menos ambiciosas, as abordagens
Existe uma carência de práticas pedagógicas que tra-
transdisciplinares são bastante raras”. Isso quer dizer que as ex-
tem a arte como uma área do conhecimento humano que
periências transdisciplinares se encontram ainda mais no plano
vai além de zonas tradicionalmente demarcadas, especial-
das ideias do que no das realizações. Assim, a transdisciplinari-
mente porque muitos arte-educadores têm dificuldade de
dade seria, no momento, um desejo, um paradigma, uma refe-
entender a arte produzida hoje e seus aspectos interdisci-
rência teórica inicial para os estudos e as pesquisas.
plinares. Como enfatiza Barbosa (2008), a busca pela inter-
Como vimos, a trans, a inter e a pluridisciplinaridade pos-
disciplinaridade no ensino de Arte coincide com a produção
suem em comum a ambição de ultrapassar os conhecimen-
contemporânea de arte que é, por si própria, interdisciplinar:
tos que podem ser alcançados pelos estudos disciplinares
isoladamente. As três formas de integração de estudos visam A interdisciplinaridade [na década de 1970] era deseja-
complementar as abordagens disciplinares na busca pelo co- da embora fosse ainda uma utopia para nós. Agora, a Arte
nhecimento. Segundo Morin (2003): Contemporânea trata de interdisciplinarizar, isto é, pessoas
com suas competências específicas interagem com outras
Não se pode demolir o que as disciplinas criaram; não
pessoas de diferentes competências e criam, transcendendo
se pode romper todo o fechamento: há o problema da dis-
cada um seus próprios limites ou simplesmente estabelecem
ciplina, o problema da ciência, bem como o problema da
diálogos. São exemplos o Happening, a Performance, a Body
vida; é preciso que uma disciplina seja, ao mesmo tempo,
Art, a Arte Ambiental, a Video Art, a Arte Computacional,
aberta e fechada. Afinal, de que serviriam todos os saberes
as Instalações, a Arte na WEB etc. A colaboração entre
parciais senão para formar uma configuração que responda
as Artes e os meios de produzi-la vem se intensificando.
a nossas expectativas, nossos desejos, nossas interrogações
Nós, arte-educadores ficamos perplexos com a riqueza es-
cognitivas? Deve-se pensar também que o que está além da
tética das hibridizações de códigos e linguagem operadas
disciplina é necessário à disciplina para que não seja auto-
pela Arte hoje, pois fomos obrigados a combater no Brasil
matizada e esterilizada.
a polivalência na Educação Artística decretada pelo gover-
MORIN, E. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de no ditatorial na década de 70. A polivalência consistia em
Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. p. 115-116.
um professor ser obrigado a ensinar Música, Teatro, Dança,
Artes Visuais e Desenho Geométrico tudo junto da 5-a série
Diálogos interartes no ensino ao Ensino Médio sendo preparado para tudo isto em ape-
nas dois anos nas Faculdades e Universidades. Combate-
mos este absurdo epistemológico. Contudo mesmo naquele
Experiências inter no ensino de Arte podem ser alcança- tempo já defendíamos a interdisciplinaridade das Artes.
das tendo como base projetos que contemplem os pontos
BARBOSA, A. M. Interterritorialidade refazendo interdisciplinaridade: Arte na Educação.
de contato entre os vários campos artísticos, os quais, no Design, Arte e Tecnologia 4. Bauru/São Paulo/Rio de Janeiro: Unesp-Bauru/Rosari e
decorrer deste livro, estamos chamando de experiências in- Universidade Anhembi Morumbi/PUC-Rio, 2008. p. 1-2.
395
Os próprios Parâmetros Curriculares Nacionais em Arte como pontos de interseção entre os campos artísticos,
para o Ensino Médio (2000, p. 172) também já defendiam a como o ritmo, a intensidade, o tempo ou o espaço;
ideia de que, entendimento sobre elementos fundantes das lingua-
gens artísticas (na música: som e silêncio; nas artes visuais,
Sem perder a clareza das especificidades de cada uma de- a imagem; nas artes cênicas, o convívio e a presença) e
las, é possível ousar contatos entre as suas diversas fronteiras como tais elementos fundantes são também conectores
de conhecimento e entrelaçá-las quando a serviço do alarga- entre as diferentes linguagens artísticas;
mento cultural dos alunos. Trata-se de momentos de discipli- projetos de criação artística que considerem a utilização
naridades ou de trânsitos entre fronteiras de conhecimentos, de mais de um campo artístico, de forma integrada. Por
objetivando uma educação transformadora e responsável, exemplo, um projeto de teatro de fantoches, onde a cria-
preocupada com a formação e identidade do cidadão. ção dos bonecos e sua manipulação, a criação da drama-
turgia e a criação e execução da trilha sonora executada
Ao mesmo tempo, a formação do professor de Arte tem se seja realizada pelos estudantes. Nesse caso teremos inte-
aproximado, cada vez mais, da concepção do professor-artista, gração das artes visuais, cênicas e musicais;24
que em linhas gerais é o modo de estabelecer a conexão ne- em projetos em conjunto com outras áreas como história,
geografia e outras ciências. A interdisciplinaridade se dá a
cessária entre os campos artístico e pedagógico, sem deixar
partir dos pontos de interseção/conexão entre as diferen-
que a prática artística se anule no ambiente escolar. Nesse sen- tes disciplinas e campos artísticos.
tido, é necessário ampliar a noção de arte e ir além da perspec- Ainda nas palavras de Barbosa (2008, p. 4): “Interdisciplina-
tiva de apenas transmitir o conhecimento artístico na escola. ridade é trabalho de várias cabeças provocando as possibili-
O ensino de Arte na escola deve pressupor o protagonismo dades do aluno estabelecer diferentes links. […] É necessário
do estudante, oferecendo-lhe oportunidades de expressão e um projeto conjunto, em que cada um saiba o que o outro vai
criação, além de ampliação de seu repertório artístico, dentro ensinar e como; enfim comunalidade de objetivos e ações”. Um
da enorme pluralidade de possibilidades de se fazer arte hoje. aspecto importante a ser considerado em projetos interdisci-
Ao relatar uma experiência de trabalho interartes realizada com plinares ou interartes é que muitas expressões culturais vivas
um grupo de estudantes, Mattar et al. (2012) refletem sobre as e instigantes em artes têm sido feitas a partir da rua (grafite,
dificuldades de se levar adiante esse tipo de trabalho: dança de rua, rap, muitas formas de música popular), e não ne-
cessitam da escola para se manifestarem ou normalmente não
O lugar em que as linguagens artísticas se encontram
para uma reunião produtiva não é facilmente acessível. En- são aprendidas na escola. Na maioria das vezes, a essência des-
contrá-lo requer que educadores e aprendizes percorram, sas manifestações vem exatamente de seu caráter extraescolar.
com esforço, sem medo de errar, o vasto labirinto das artes, É importante que o professor saiba acolher tais manifestações
passando por possíveis espaços de habitação da genuína ex- e valorizá-las, proporcionando ambientes criativos capazes de
periência artística. Em suas proposições, os alunos educado- absorver inclusive as referências culturais dos estudantes.
res esforçam-se por estabelecer relações entre as linguagens Mattar et al. (2012) perceberam a importância de se en-
artísticas, as práticas artísticas propostas e a produção cultural frentar o risco e as incertezas durante o desenvolvimento de
desta e de outras épocas, estimulando os jovens e adolescen-
projetos educacionais de caráter inter:
tes a desenvolverem sua capacidade de reflexão e de ação no
mundo, bem como a expressão de seus pensamentos. A experimentação faz parte do processo de conheci-
MATTAR, et al. Vivências com a arte para jovens e adolescentes: interdisciplinaridade, tra- mento em arte, aliás, muitas descobertas advêm e se alimen-
balho colaborativo e pesquisa-ação na formação inicial de professores de Arte. In: Anais tam deste procedimento levado a cabo por todos os artistas.
do XXII CONFAEB Arte/Educação: Corpos em Trânsito, Instituto de Artes da Universidade [...] Ao lidarem constantemente com a experimentação, os
Estadual Paulista, Federação de Arte Educadores do Brasil (FAEB), 2012. p. 11. educadores passam a reconhecê-la como parte do trabalho
Dentre as possibilidades de experiências interartes, pode- em educação, como o princípio de algo que, assim como
mos citar: ocorre na arte, pode levar à pesquisa e ao aprofundamento,
obras que se fazem a partir de mais de um campo artísti- além, é claro, de ajudar a desenvolver o pensamento criativo.
co, como a ópera, as instalações ou o teatro musical. Aqui MATTAR, et al. Vivências com a arte para jovens e adolescentes: interdisciplinaridade,
se incluem também as relações das artes tradicionais com trabalho colaborativo e pesquisa-ação na formação inicial de professores de Arte. In:
as mídias digitais; Anais do XXII CONFAEB Arte/Educação: Corpos em Trânsito, Instituto de Artes da Universi-
abordagem interartes de conceitos que se apresentam dade Estadual Paulista, Federação de Arte Educadores do Brasil (FAEB), 2012. p. 11.
24. Alguns autores podem considerar que esse exemplo não caracteriza um projeto interartes, pois estaria, na verdade, apenas utilizando recursos de
outras linguagens a serviço de uma linguagem preponderante, no caso, as artes cênicas (teatro de bonecos). No entanto, o que pode tornar o projeto
uma experiência interartes não é apenas a justaposição de recursos de linguagens artísticas diferentes, mas a busca pela conexão artística entre as
linguagens, e o reconhecimento e a reflexão sobre tais conexões.
396
Se por um lado é preciso saber conviver com as incertezas 3. Como avaliar a investigação artística realizada (se em ter-
de um projeto inter, Barbosa (2008) diz ser igualmente impor- mos de respostas ou por meio do ato crítico que torna
tante estar em constante processo de avaliação das experiên- visível a própria investigação).
cias realizadas. A autora, então, enfatiza que é preciso que os
Convidamos você a se aproximar das três problemáticas
projetos inter proporcionem uma clara identificação da ideia
dominante contida nos trabalhos, em que propostas pela autora para, assim, poder atuar como um(a)
mediador(a) dos processos de ensino-aprendizagem em Ar-
[...] deve haver reconhecimento claro da ideia ou pro- tes que sugerimos no nosso material.
blema que servirá do foco central para o trabalho. Não só
Vamos ao primeiro aspecto: a definição do objeto, o que
a ideia deve ser percebida por todos os participantes, mas
elegemos como importante para os processos de ensino-
também considerada de interesse por todos os participantes.
Também é crucial a necessidade de alcançar um resultado, -aprendizagem em Artes. Você observará que em nosso livro,
chegar ao fim do projeto ou pesquisas ou ainda de chegar a fundamentado pelas ideias relacionadas a um processo de in-
formular respostas para o problema escolhido. Sem isso, não vestigação artística, não nos detemos a uma ordem cronoló-
chegamos a uma síntese transformadora. gica dos fatos, mas sim buscamos temas e assuntos que moti-
BARBOSA, A. M. Interterritorialidade refazendo interdisciplinaridade: Arte na Educação. vem a reflexão crítica dos estudantes e causem possibilidades
Design, Arte e Tecnologia 4. Bauru/São Paulo/Rio de Janeiro: Unesp-Bauru/Rosari e de conexão com outros temas considerados tão importantes
Universidade Anhembi Morumbi/PUC-Rio, 2008. p. 6. quanto os temas sugeridos.
Segundo Mattar et al. (2012, p. 11-12), os resultados alcan- O segundo aspecto, os processos de investigação ar-
çados em projetos inter podem ser muito significativos, tanto tística – que está diretamente relacionado com a forma, ou
no aumento do interesse dos estudantes pela disciplina Arte, seja, o “como abordar” os assuntos elencados –, engloba a
pela crescente autonomia dos participantes em suas produ-
exploração máxima de todas as possibilidades que podemos
ções artísticas, pelo aumento no interesse pela agenda cultu-
ral da cidade, dentre outros aspectos. Para isso, os professores encontrar para o estudo de um determinado tema. Observe
devem, antes de tudo, estar abertos e buscar compreender que, nessa obra, nós consideramos as leituras e as interpre-
e valorizar as “interconexões de códigos culturais” e “a imbri- tações de textos, os processos de criação artística, os vídeos,
cação de meios de produção e de territórios artísticos que os áudios, as práticas corporais, os trabalhos de campos etc.
caracterizam a Arte Contemporânea” (BARBOSA, 2008, p. 1).
como formas complementares e que poderão ser integradas
à construção do conhecimento em questão.
A interdisciplinaridade e a E, no terceiro aspecto, como avaliar a investigação artís-
investigação artística tica realizada, propomos a avaliação contínua e processual
ao considerarmos a investigação artística como uma possível
Christine Zurbach (2009), professora da Universidade de abordagem metodológica a ser utilizada em sua prática do-
Évora, em Portugal, no artigo “Investigação artística e interdis- cente. Nesse sentido, será importante considerar a investigação
ciplinaridade no âmbito universitário: modos de usar”, apon- artística como uma ferramenta metodológica aliada à aborda-
ta para a interdisciplinaridade como algo que “potencializa a gem metodológica de ensino por projetos, como uma forma
construção de novas abordagens que permitem evidenciar de compreender e atuar nos diferentes contextos encontrados.
os novos problemas que novos objetos levantam, nomeada- Quando propomos uma avaliação pautada no ato crítico,
mente no território da arte contemporânea, aberta ao experi- temos de conectar essa avaliação ao processo de ensino-apren-
mentalismo e à inovação sistemática”. dizagem desenvolvido, pois sabemos que ela depende de cada
O termo “investigação artística” nos auxilia a compreender ação vivenciada durante esse processo. Sendo assim, o proces-
que o nosso trabalho docente estará em construção contínua, so de ensino-aprendizagem precisa ser constituído a partir de
e que pesquisar será uma das formas de construir e, principal- ações que unam teoria e prática, e que evitem estabelecer dico-
mente, de consolidar o conhecimento. O artigo contribui para tomias e distâncias entre os saberes estudados. Não podemos
as nossas proposições de abordagens da prática docente, so- separar método de objeto, por se tratar de uma investigação em
bretudo no que diz respeito à definição de investigação artística. Arte, para que ação e avaliação estejam conectadas; podemos,
O que seria, então, uma investigação artística? A autora, além de sim, pensar no fazer artístico como método. Como exemplo,
apontar a dificuldade inerente a essa definição, apresenta três damos a construção de uma das seções deste livro, a Roda de
problemáticas distintas para a compreensão desse conceito: conversa. Além de ser um momento não hierárquico, em que
1. A definição do objeto (o que investigar); todos podem se expressar, pretende ser um momento de apro-
2. Como abordá-lo (que método utilizar); ximação entre a escola e os campos artísticos estudados.
397
5. AVALIAÇÃO
Começamos nossa discussão sobre o tema da avaliação es- preciso atribuir valor a um sorvete, por exemplo, esse valor
colar com a citação do filósofo francês Edgar Morin (2011): poderá depender da minha vontade de tomar um sorvete,
bem como da qualidade do sorvete em si, da minha fome,
A compreensão não pode ser quantificada. Educar para
se eu gosto ou não desse tipo de alimento e até mesmo da
compreender a matemática ou uma disciplina determinada é
estação do ano, entre outros fatores. Quanto mais fome eu
uma coisa; educar para a compreensão humana é outra. Nela
encontra-se a missão propriamente espiritual da educação: tiver, ou quanto mais calor fizer, provavelmente, maior será
ensinar a compreensão entre as pessoas como condição e ga- o valor que darei ao sorvete. Esse exemplo trivial nos ajuda a
rantia da solidariedade intelectual e moral da humanidade. entender que as coisas ou ações não possuem um valor ab-
soluto, racional ou neutro. Os valores dependem de diversos
MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo/Brasília, DF:
Cortez/Unesco, 2011. p. 93.
fatores mais ou menos previsíveis e controláveis. Dentre eles
está a subjetividade daquele que avalia. Se em Arte enten-
Nesse trecho, o filósofo considera como missão da educa- demos bem que essa subjetividade é um fator presente na
ção ensinar a compreensão humana. Uma missão a ser com- avaliação, o mesmo pode se dizer de outras áreas do conhe-
partilhada por todos os saberes que compõem as disciplinas
cimento ditas como mais “técnicas” e que tendem a se pensar
do currículo escolar, e por muitos outros que ainda não estão
totalmente racionais e distanciadas do sujeito. Mesmo em
contemplados em nossos currículos.
outras áreas, dar valor a algo depende de uma série de fatores
Na contemporaneidade, os problemas morais, éticos, téc-
e valores entrelaçados, por melhor e mais objetivo que seja o
nicos etc. da vida cotidiana são problemas que demandam
instrumento de avaliação.
uma forma complexa de solução, unindo a unidade (discipli-
A avaliação é uma etapa importante da aprendizagem e
na) à multiplicidade (multidisciplinas). São problemas, portan-
está prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (1996).
to, que não pertencem apenas a uma disciplina e sim a todas No que diz respeito ao Ensino Médio:
as áreas do conhecimento de forma solidária e transversal. Se-
gundo Morin (2011), estes não são problemas compartimen- Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº- 9.394,
tados, assim como o é a disciplina, mas sim multidisciplinares: de 20 de dezembro de 1996)
Art. 36. O currículo do ensino médio observará o dis-
[...] existe inadequação cada vez mais ampla, profunda
posto na Seção I deste Capítulo e as seguintes diretrizes:
e grave entre, de um lado, os saberes desunidos, divididos,
[...]
compartimentados e, de outro, as realidades ou problemas
II – adotará metodologias de ensino e de avaliação que
cada vez mais multidisciplinares, transversais, multidimen-
estimulem a iniciativa dos estudantes;
sionais, transnacionais, globais e planetários.
[...]
MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo/Brasília, DF: § 1-º Os conteúdos, as metodologias e as formas de ava-
Cortez/Unesco, 2011. p. 36. liação serão organizados de tal forma que ao final do ensino
Entender a disciplina Arte como um saber que precisa médio o educando demonstre:
estar em diálogo com outros saberes oriundos das outras I – domínio dos princípios científicos e tecnológicos
disciplinas, bem como com os saberes dos estudantes e do que presidem a produção moderna;
professor, é um passo importante para pensar suas formas de II – conhecimento das formas contemporâneas de lin-
avaliação. Pois, a educação para Morin (2011, p. 72) é “[...] ao guagem;
mesmo tempo transmissão do antigo e abertura da mente [...]
para receber o novo [...]”. § 3-º Os cursos do ensino médio terão equivalência legal
e habilitarão ao prosseguimento de estudos.
Avaliação: noções, reflexões [...]
e propostas Lei de Diretrizes e Bases. Lei n-º 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/blegais.pdf>, p. 33-34. Acesso em: 26
mar. 2016.
Antes de adentrarmos nos processos de avaliação espe-
Inge Suhr (2012) apresenta os processos históricos de ava-
cíficos da disciplina Arte, gostaríamos de expor algumas de liação no sistema educacional brasileiro e discute as razões, os
nossas reflexões a respeito da avaliação, de modo geral. Para métodos e os instrumentos da avaliação no contexto escolar.
Luckesi (1990), o vocábulo avaliar tem origem latina: avalere, Reproduzimos, a seguir, um fragmento de seu texto para situ-
ou seja, “dar valor a”. No entanto, para que possamos dar valor ar você, professor(a), na discussão sobre a avaliação na educa-
a algo, precisamos entender quais são nossos objetivos. Se eu ção, apresentando duas tendências históricas:
398
A primeira delas, que recebeu o título de “tradicional” pedagógica defende que o ser humano só pode realmente vi-
e ainda permanece presente em várias escolas, mesmo nes- ver dignamente se dominar os conhecimentos que a humani-
te início de século XXI, pratica a avaliação classificatória, dade acumulou no decorrer dos séculos a ponto de torná-los
que, geralmente, exerce forte pressão sobre os alunos. Essa seus, por meio da incorporação crítica dos saberes necessários
pressão se manifesta durante o período letivo quando o à vida em sociedade. A avaliação “tem um papel essencial:
comportamento do aluno, geralmente usado como eufemis- obter as informações necessárias sobre o desenvolvimento do
mo para obediência, é avaliado e dá origem a uma “nota de aluno e sobre a necessidade de reformulação/adequação da
participação”. A seguir, vem o dia da prova ou da entrega do prática pedagógica para que o processo de ensino-aprendiza-
trabalho, cuja nota raramente pode ser questionada. Cabe ao gem tenha o maior índice de sucesso possível”.
professor o papel de “julgar” o desempenho do aluno e lhe SUHR, I. R. F. Avaliação do processo ensino-aprendizagem: classificatória e seletiva ou
“dar notas”, que originarão uma média, a qual decide a apro- diagnóstica e formativa? In: ZAGONEL, B. (Org.). Avaliação da aprendizagem em Arte. São
vação/reprovação ao final do período letivo. Observa-se que ao Paulo: Saraiva, 2012. p. 29-30.
aluno cabe um papel passivo, de executor de ordens e exames,
Podemos observar com a leitura deste fragmento que a
de quem receia a avaliação, que assume poder disciplinador. avaliação não é algo que exista a priori, mas sim uma cons-
Na história da educação brasileira, à escola tradicional trução histórica permeada de processos políticos, sociais e
se sucedeu a “Escola Nova”. Esta propunha o aluno como
ideológicos específicos da realidade brasileira. Ainda no mes-
mo texto, Inge Suhr (2012) discorre sobre a avaliação classi-
ser ativo, centro do processo ensino-aprendizagem. Segun-
ficatória e a avaliação diagnóstica como posturas avaliativas
do Suhr, para a Escola Nova “a relevância do aprendido é
diferenciadas, presentes na forma que avaliamos tanto dentro
medida em relação à importância para o sujeito-aprendiz e
quanto fora da escola.
não mais em relação à quantidade de conhecimentos assi-
A avaliação classificatória busca selecionar os estudantes,
milados”, como era na escola tradicional. A avaliação, ainda ou seja, estabelecer níveis de grandezas do melhor para o pior
segundo Suhr, passa a valorizar mais “os aspectos afetivos de acordo com o desempenho em uma prova, um exame ou
(atitudes) e o processo de produção do saber pelo estudan- um teste. Essas avaliações têm como princípios a neutralidade,
te”. Podemos observar uma nítida mudança: a avaliação a objetividade e a propriedade de ser mensurável e objetivam,
passa a ser mais processual, valorizar o diferente, a criati- assim, estabelecer comparações, identificações e destaques
vidade, assim como também os aspectos ligados à conduta entre os bons e maus estudantes, ou mesmo entre as boas
do aluno. Embora tenha sido um avanço no sentido de con- e más escolas. Para Suhr (2012, p. 32), “os resultados da escola
ceber o aluno como sujeito de sua aprendizagem, a Escola nessas avaliações externas acabam por dirigir as ações dentro
Nova pecou por relativizar o conteúdo, ferramenta essencial de sala, muitas vezes desviando de seu papel formativo, de
ao desenvolvimento dos sujeitos. favorecer a aprendizagem de todos”. No caso brasileiro, mas
Nos anos 70 do século XX, ganhou força no Brasil a também em muitos outros países, temos exemplos de exames
pedagogia tecnicista, coerente com o processo autoritário governamentais, como o ENEM, para os estudantes do Ensino
que vigia na política da época (Ditadura Militar). O tec- Médio, e o ENADE, para os egressos do Ensino Superior.
nicismo compreendia a educação escolar como espaço que
deveria ser eficiente na transmissão “dos saberes necessários Enem – Apresentação
– informações objetivas e precisas – para que os indivíduos
pudessem se integrar na sociedade, principalmente no que Criado em 1998, o Exame Nacional do Ensino
se refere ao mercado de trabalho”. Os conteúdos foram par- Médio (Enem) tem o objetivo de avaliar o desempenho
tidos em momentos estanques e avaliados por estratégias do estudante ao fim da escolaridade básica. Podem par-
que pretendiam ser científicas e neutras, que medissem a ticipar do exame alunos que estão concluindo ou que já
produtividade do aluno. Podemos perceber nessa concepção concluíram o ensino médio em anos anteriores.
que avaliar é igual a medir, a classificar os alunos como com- O Enem é utilizado como critério de seleção para os
petentes ou não. Os traços de subjetividade e criatividade estudantes que pretendem concorrer a uma bolsa no Pro-
deveriam ser eliminados. grama Universidade para Todos (ProUni). Além disso,
No final dos anos 80 e início dos anos 90 cresceu no Bra- cerca de 500 universidades já usam o resultado do exame
sil um movimento de redemocratização da sociedade que como critério de seleção para o ingresso no ensino supe-
culminou com a promulgação de nossa atual Constituição rior, seja complementando ou substituindo o vestibular.
Federal. Esse movimento atingiu a educação, e os educadores MEC. Disponível em:<http://portal.mec.gov.br/enem-sp-2094708791>.
engajaram-se na luta pela escola pública, de qualidade para Acesso em: 12 fev. 2016.
todos os brasileiros. Portanto, novas propostas educativas fo-
ram surgindo, dentre as quais destacamos a pedagogia histó-
Leia a informação que o MEC disponibilizou sobre o ENEM
rico-crítica, que aponta a difusão – significativa, viva, coeren-
te, atualizada – dos conteúdos construídos pela humanidade em sua proposta apresentada à Associação Nacional dos Diri-
no decorrer dos séculos como tarefa da educação. Essa linha gentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES),
399
com o objetivo de estimular a incorporação da nota do ENEM estudantes sobre determinados conteúdos e também de seu
a seus processos seletivos por meio do Sistema de Seleção desenvolvimento no decorrer das atividades propostas. Esse
Unificada (SISU): desenvolvimento é compreendido tanto em seu aspecto in-
dividual – cada estudante de forma diferenciada – quanto em
A nova prova seria estruturada a partir de uma matriz seu aspecto coletivo, ou seja, a capacidade de inter-relação de
de habilidades e um conjunto de conteúdos associados a um grupo ou turma na realização de determinada tarefa e a
elas. [...] Esta estrutura aproximaria o exame das Diretrizes habilidade de contextualização sobre a produção e a fruição
Curriculares Nacionais e dos currículos praticados nas es- artística. Os instrumentos de avaliação que propomos são as
colas, mas sem abandonar o modelo de avaliação centrado seguintes seções presentes em cada capítulo: Roda de con-
nas competências e habilidades. […] Espera-se, assim, que versa (inicial e final) e nos boxes Fazer arte e Arte no dia a dia.
a reestruturação do Enem atenda plenamente à demanda
das IFES por um instrumento de alto poder preditivo de
Propostas de avaliação contínua do
desempenho futuro, capaz de diferenciar estudantes em
diferentes níveis de proficiência. processo de ensino-aprendizagem
MEC. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_ As seções a seguir foram apresentadas a você na Orga-
content&view=article&id=13318&Itemid=921>. Acesso em: 25 jun. 2015. (grifo dos autores) nização geral da obra, nesta Assessoria Pedagógica. Passa-
Em contraste à avaliação classificatória (seletiva), a avalia- remos, agora, a discorrer mais sobre o processo de avaliação
ção diagnóstica (formativa), procura (Suhr, 2012): nelas proposto.
diagnosticar a situação do aluno, seu nível de aprendi-
Roda de conversa
zagem e em que pontos é necessário que haja melhorias.
Essa forma de avaliar tem como objetivo manter professor Esta seção se repete no início e no fim de cada capítu-
e aluno informados sobre a aprendizagem deste, para que o lo. É um momento de ter uma conversa mediada por você,
docente possa planejar as próximas atividades, visando su- professor(a), e orientada pelas perguntas sobre os conteúdos
prir as necessidades do aprendiz. Do mesmo modo, o pró- de cada capítulo.
prio estudante deve ser informado de seus progressos e dos A Roda de conversa inicial pretende diagnosticar quais
pontos em que ainda precisa se desenvolver mais, para que conhecimentos, opiniões e informações os estudantes pos-
possa, como sujeito do processo de sua própria aprendiza-
suem sobre o contexto artístico abordado no capítulo. A
partir desse diagnóstico, os estudantes podem ter uma re-
gem, aprender cada vez mais e melhor.
lação mais consciente e contextualizada com os conteúdos
SUHR, I. R. F. Avaliação do processo ensino-aprendizagem: classificatória e seletiva ou apresentados e você pode repensar estratégias e métodos de
diagnóstica e formativa? In: ZAGONEL, B. (Org.). Avaliação da aprendizagem em Arte. São abordagem dos mesmos em seu planejamento.
Paulo: Saraiva, 2012. p. 35.
Ao fim de cada capítulo, as perguntas orientadas preten-
dem identificar possíveis mudanças na concepção original
A proposta avaliativa deste dos estudantes sobre o assunto, o que possibilitará a você
aferir o desenvolvimento de cada estudante individualmente
livro didático e, também, da turma como um todo. Em ambas as rodas de
conversa é importante não atribuir juízo de valor sobre as fa-
A avaliação diagnóstica é a opção avaliativa deste livro las dos estudantes, dizendo que algo é “bom” ou “ruim”, “feio”
didático. Propomos instrumentos que permitem que você, ou “bonito”, ou até mesmo afirmando que algo “é” ou “não é”
professor(a), possa conhecer e avaliar o processo de apren- arte. No caso da disciplina Arte, essas relações dicotômicas
dizagem de seus estudantes de forma compartilhada com os são sempre variáveis, flutuantes e possuidoras de um alto
mesmos, em uma perspectiva propositiva e implicada com grau de subjetividade. É importante também questionar os
os objetivos de cada unidade, de forma particular, e com os estudantes sobre a atribuição desses mesmos juízos de valor
objetivos do ensino de Arte no Ensino Médio, de forma geral. sobre a fala dos colegas. É importante começar a discutir so-
Essa concepção formativa da avaliação pode ser encontrada bre arte para além da subjetividade do “gosto” ou “não gosto”.
também na LDB, Lei nº- 9.394/1996, no artigo 24, que afirma
que a avaliação deve ser “contínua e cumulativa do desempe-
Fazer arte
nho do estudante, com prevalência dos aspectos qualitativos Neste boxe, o estudante produzirá arte e fruirá da produ-
sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período ção artística dos colegas. No decorrer do livro, Fazer arte as-
sobre os de eventuais provas finais”. sume durações e complexidades variadas, e podem envolver
A avaliação diagnóstica estabelece seus instrumentos mais de um campo artístico.
avaliativos relacionados às características dos conteúdos a se- O primeiro passo para a avaliação do boxe Fazer arte é
rem trabalhados. Assim, nas unidades e em seus respectivos conhecer bem seus procedimentos, etapas e, principalmente,
capítulos, estabelecemos instrumentos de avaliação que pre- seus objetivos. No livro e nas Orientações didáticas especí-
tendem aproximá-lo do nível de conhecimento prévio dos ficas dessa Assessoria, você encontrará orientações precisas
400
sobre os objetivos de cada momento experimental e este é o possível utilização de recursos audiovisuais. Nesse tipo
principal guia para a sua avaliação. Propomos que essa avalia- de avaliação, você deve mediar a discussão sobre o tema,
ção, seguindo os objetivos propostos, tenha três parâmetros: estabelecer o tempo que cada aluno ou grupo terá para
Individual: desempenho de cada estudante em relação ao se apresentar e dar um retorno claro e objetivo sobre o
seu próprio processo de aprendizagem e aos objetivos da desempenho deles.
atividade; Os mesmos parâmetros para a avaliação da atividade usa-
Coletiva: saber organizar-se em grupo, interagir com os dos no Fazer arte podem ser desenvolvidos neste boxe (são
colegas solidariamente e respeitosamente em prol da eles: individual, coletivo e contextual). No entanto, no caso
produção artística; e do trabalho escrito em grupo, não é possível avaliar a con-
Contextualizadora: ser capaz de contextualizar e se ex- tribuição individual ao texto. No caso de apresentação oral
pressar sobre o próprio trabalho e sobre o trabalho dos em grupo, sugerimos a você que estimule os estudantes para
colegas a partir de seus conhecimentos prévios, incorpo- que cada membro apresente parte do trabalho. Retomamos a
rando os novos conteúdos abordados no capítulo. importância de que você deixe clara a duração de cada apre-
sentação (escrita, oral, sonora ou visual) e o que será avaliado.
Arte no dia a dia Da mesma forma, é importante dar um retorno objetivo da
avaliação para o estudante de forma individualizada, e para
O boxe Arte do dia a dia apresenta sugestões de ativida- o grupo ou turma coletivamente. Esse retorno permite que o
des, pesquisas e recursos audiovisuais que podem ser utili- jovem do Ensino Médio seja consciente e sujeito do seu pró-
zados em complementação aos conteúdos de cada capítulo. prio processo de aprendizagem e produção de conhecimen-
Essas atividades também são instrumentos de avaliação. Sen- to em/sobre Arte, ganhando autonomia.
do assim, é importante que o(a) professor(a) crie mecanismos É muito possível que você, professor(a), utilize instrumen-
de compartilhamento delas para poder estabelecer uma ava- tos e parâmetros de avaliação oriundos da sua prática e expe-
liação. Propomos dois mecanismos básicos para realização riência em sala de aula e diferentes dos aqui abordados. Suas
das avaliações: experiências são muito importantes para o desenvolvimento
entrega de trabalho escrito sobre a atividade a ser avalia- da aprendizagem dos estudantes e acreditamos que colabo-
da por você fora de sala de aula e devolvido ao estudante ram para complementar as propostas deste livro, pois preten-
com um retorno claro sobre seu desempenho. Nesse caso, demos que ele seja incorporado a sua experiência em sala de
é importante estabelecer um número mínimo e máximo aula de forma autônoma e propositiva. Em todo caso, pensar
de páginas e, também, indicar se o trabalho é individual sobre o sistema de avaliação, seus objetivos, parâmetros e ins-
ou em grupo; trumentos é uma tarefa constante e necessária ao exercício
breve apresentação de cada atividade pelos estudantes, da docência. Esperamos que os pensamentos tecidos aqui,
que pode ser feita em sala de aula (propomos uma forma- somados às referências citadas, contribuam para a sua refle-
ção em roda) ou em um laboratório de informática com xão constante sobre a avaliação.
Com base na literatura sobre as teorias do ensino-apren- No sentido de estimular investigações contínuas sobre os
dizagem das artes e dos vários componentes curriculares do assuntos abordados no livro, também sugerimos alguns sites
Ensino Médio numa perspectiva interdisciplinar, neste item, que podem contribuir para a sua atualização como mediador
apresentamos alguns exemplos de obras, com a intenção de dos processos de ensino-aprendizagem e dos estudos sobre
que elas sirvam como motivação para buscas e pesquisas bi- os temas que propomos na obra.
bliográficas mais amplas.
Também sugerimos alguns filmes ou documentários
que têm como tema, principalmente, a dança, mas também Livros
as artes visuais, a música e o teatro, a vida e a experiência de
artistas, e o ensino das artes. Acreditamos que essas obras
podem servir como estímulo para a investigação artística SOBRE A HISTÓRIA DO PENSAMENTO
sobre os temas geradores sugeridos ao longo da obra, os EM ARTE
quais motivarão as investigações artísticas dos estudan-
tes. Nossa intenção é que as obras sugeridas sirvam tanto ARGAN, Giulio Carlo. História da arte como história da cida
como uma fonte de inspiração como de motivação para os de. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
processos de ensino-aprendizagem propostos, e para a sua Nesse livro, o Historiador da Arte Italiano percorre as rela-
atuação como professor, transformador do conhecimento. ções existentes entre obra de arte, espaço urbano e cidade.
401
Ao analisar produções artísticas no espaço urbano, descons- tratando, entre outros temas, da ruptura nas tradições, da
trói a noção geralmente compartilhada que as obras artís- diminuição das distâncias (espaço e tempo), da ênfase na
ticas ocupariam apenas o espaço dos museus ou galerias. personalização e na competitividade, da possibilidade de
simulação do cotidiano por meio de imagens dos meios
BELTING, Hans. O fim da história da arte: uma revisão dez de comunicação de massa. O autor analisa como esses as-
anos depois. São Paulo: Cosac Naify, 2003. pectos podem ser considerados dicotômicos ou comple-
Hans Belting analisa as transformações no campo artísti- mentares, com base na visão de mundo dos sujeitos en-
co, assim como as novas exigências da disciplina história da volvidos, proporcionando uma aproximação das questões
arte. Após a década de 1960, com a emergência das novas políticas, sociais e culturais inerentes a todos os processos
mídias as noções de enquadramento, originalidade e esti- de ensino-aprendizagem.
lo foram questionadas. O autor propõe novos instrumentos DOMINGUES, Ivan (org.). Conhecimento e transdisciplinari
analíticos para a análise dessas novas produções emergentes. dade. Belo Horizonte: Editora UFMG/IEAT, 2005.
Esse livro reúne uma coletânea de textos apresenta-
BURKE, Peter. O que é história cultural? Rio de Janeiro: dos em seminários organizados pelo Instituto de Estudos
Zahar, 2005. Avançados Transdisciplinares (IEAT) da UFMG. A procura
A história cultural ocupa atualmente um lugar de por novas metodologias transdisciplinares em diversas
destaque nos estudos históricos. Comumente situada na áreas do conhecimento, o reconhecimento das porosida-
década de 1930, é localizada por Burke ainda no final do des das disciplinas e da complexidade como um aspecto
século XIX. Visando historicizar as conquistas e as discus- estruturante do mundo são pontos em comum entre os
sões da Escola, Burke analisa um conjunto de pesquisas e trabalhos que compõem a obra.
avalia os avanços e as limitações do campo.
DUARTE, Newton. Educação escolar, teoria do cotidiano
DANTO, Arthur. Após o fim da arte: a arte contemporânea e e a escola de Vigotski. 2. ed. Campinas: Autores Associa-
os limites da história. São Paulo: Edusp, 2006. dos, 1999.
Arthur Danto localiza o fim da arte na década de 1950 Esse livro está dividido em 5 capítulos que discorrem
com a emergência da Pop Art americana e a produção sobre algumas das principais teorias do ensino-aprendi-
de Andy Wahroll que conseguiu vender como artístico re- zagem orientadas pelo pensamento de Vigotski. Os temas
produções de produtos encontrados em supermercados. abordados são: “Por uma teoria histórico-social na forma-
A definição da arte não estaria nos “objetos”, mas sim nas ção do indivíduo”, “Educação escolar e o conceito de vida
definições construídas pelas instituições artísticas. cotidiana”, “O trabalho educativo e a dupla referência: a
reprodução do indivíduo e a reprodução da sociedade”,
“A prática pedagógica escolar e as categorias de homo-
SOBRE TEORIAS DO
geneização e catarse” e “A escola de Vigotski e a educação
ENSINO-APRENDIZAGEM escolar (hipóteses para uma leitura pedagógica da psico-
logia histórico-cultural)”. A obra possibilita a aproximação
BARBOSA, Raquel (Org.) Formação de educadores: desa
de conceitos essenciais para a compreensão das dualida-
fios e perspectivas. São Paulo: Unesp, 2003. Disponível em:
des e conexões sociais que o trabalho com o ensino de
<www.dominiopublico.gov.br/download/texto/up00
Arte traz.
0019.pdf>. Acesso em 26 mar. 2016.
Esse livro apresenta o ponto de vista de vários edu- FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade. 3. ed. Rio de
cadores sobre os desafios e as perspectivas da formação Janeiro: Paz e Terra, 1978.
de professores. Por meio de temas variados, 31 artigos Nesse livro, o mestre Paulo Freire trata da alfabeti-
analisam os diversos aspectos que contribuem para a zação de adultos e da diferença entre uma compreen-
emergência das teorias e práticas do ensino-aprendi- são ingênua e uma compreensão crítica da realidade e
zagem. A leitura desse livro, não só nos aproxima das também desenvolve suas teorias sobre o processo de
teorias existentes como nos coloca frente a frente com alfabetização de adultos como uma ação cultural para a
as contradições e confrontos existentes entre elas. Vale libertação. Nele, também se encontram reflexões sobre
a leitura e a reflexão sobre um tema tão vasto e desa- o processo de humanização e suas implicações peda-
fiador para quem atua como professor-mediador de gógicas, consideradas essenciais para a compreensão
processos de ensino-aprendizagem transformadores e e o desenvolvimento de um ensino de arte “libertador”,
libertadores. termo tão utilizado pelo autor. A obra reúne alguns
dos textos escritos entre 1968 e 1974 que, para o autor,
CAVALLET, Valdo. Educação formal e treinamento: confun-
podem esclarecer certos possíveis vazios entre as suas
dir para doutrinar e dominar. Revista Diálogo Educacional,
teorias de “Educação como prática de liberdade” e a “pe-
Volume 1, número 2, jul./dez. 2000.
dagogia do oprimido”.
Nesse artigo, o autor, professor da Universidade Fe-
deral do Paraná, discorre sobre as mudanças ocorridas FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 17. ed.
nos dois últimos séculos na área da Educação no Brasil, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.
402
Nas palavras de Paulo Freire: “ A educação é um ato de jogos de improvisação e as indicações para visualiza-
de amor, por isso, um ato de coragem. Não pode te- ção desses jogos na internet.
mer o debate. A análise da realidade. Não pode fugir à
PEREIRA, Eugênio Tadeu. Práticas lúdicas na formação vocal
discussão criadora, sob pena de ser uma farsa”. Nesse
em teatro. São Paulo: Hucitec, 2015.
livro, Paulo Freire propõe seu método de alfabetização
Este livro traz uma perspectiva interdisciplinar entre mú-
de adultos de maneira minuciosa, expondo seus pres-
sica e teatro ao abordar a formação vocal em teatro como
supostos políticos e filosóficos e contextualizando his-
uma prática lúdica. Discute as noções de jogo e ludicidade
tórica e culturalmente sua proposta. Essa obra muito
realizando uma importante revisão bibliográfica sobre o
pode contribuir para a compreensão dos princípios de
tema. Também traz a descrição de jogos e práticas importan-
contextualização e do papel do professor-mediador nos
tes tanto para o professor de música como para o de teatro.
processos de ensino-aprendizagem.
QUEIROZ, Lela. Corpo, dança, consciência: circuitações e
FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a
trânsitos em Klauss Vianna. Salvador: EDUFBA, 2011.
pedagogia do oprimido. 5. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998.
Nesse livro, a autora apresenta os novos entendimen-
Nesse livro, escrito em 1992, Paulo Freire faz uma re-
tos de corpo e do movimento, resultados das pesquisas
flexão sobre seus escritos na obra Pedagogia do Oprimido
e do ensino de dança do bailarino e professor de dança
e analisa suas experiências pedagógicas de mais de 30
anos nos diversos países em que viveu e onde pôde apli- mineiro, Klauss Vianna. Nos processos de criação do mo-
car suas teorias de ensino-aprendizagem. Ler essa obra vimento, os ensinamentos de Klauss muito contribuíram
é uma oportunidade de aproximação das reflexões de para a compreensão das relações mente-corpo e dos
um professor, escritor e teórico de processos de ensino- princípios e das características da dança contemporânea.
-aprendizagem dialéticos, transformadores e libertadores, SOARES, Carmela. Pedagogia do jogo teatral: uma poética
conceitos tão essenciais para uma pedagogia da esperan- do efêmero. O ensino do teatro na escola pública. São Paulo:
ça, de acordo com o próprio autor. Hucitec, 2010.
Essa obra discorre sobre a descoberta do sentido do
SOBRE O ENSINO-APRENDIZAGEM DA jogo e do teatro como manifestação lúdica, situando sua
metodologia no ensino do teatro na escola pública brasi-
DISCIPLINA ARTE leira. Traz também reflexões teóricas e sugestões de práti-
BARBOSA, Ana Mae (org.). Arte/educação contemporânea: cas úteis à formação continuada dos professores de teatro
consonâncias internacionais. São Paulo: Cortez, s/d. e de educação artística.
Esse livro transmite a visão de vários autores e arte/
TELLES, Narciso; FLORENTINO, Adilson. Cartografias do en
educadores ao discutir os modos pelos quais se aprende
sino do teatro. Uberlândia: EDUFU, 2009.
Arte pela cognição e pela interdisciplinaridade (parte 1), o
Este livro reúne capítulos escritos por diversos pesquisa-
conhecimento em Arte e o ensino da história da Arte (par-
dores no ensino do teatro no Brasil. Dessa forma, é possível ter
te 2), e a necessidade de uma teoria crítica no ensino da
história da Arte com base na leitura da obra e do campo uma visão panorâmica e bem fundamentada das principais
de sentido da Arte. Há também artigos sobre intercultura- tendências da pedagogia teatral brasileira contemporânea.
lidade e sobre avaliação.
BOURCIER, Paul. História da dança no Ocidente. 2. ed. São Filmes e documentários
Paulo: Martins Fontes, 2001.
Nesse livro, além das informações históricas, são apre-
sentadas também técnicas e estilos de dança, possibilitan- Ballet Russes (documentário). Direção: Daniel Geller e Day-
do uma reflexão sobre a evolução das sociedades huma- na Goldfine. EUA, 2005. 118 min.
nas. A dança e o corpo de quem dança são considerados Esse documentário utiliza depoimentos de integrantes
como um dos principais indicadores desse processo. dos Ballets Russes para contar a história de vida de vários ar-
tistas russos nos Estados Unidos e do início do período de
MUNIZ, Mariana Lima. Improvisação como espetáculo: pro
desenvolvimento da dança moderna nesse país. Em seu
cessos de criação e metodologias de treinamento do ator
quadro de bailarinos, a companhia russa teve alguns dos
improvisador. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2015.
maiores nomes da dança clássica mundial, como George
Este livro traz um panorama histórico da prática da im-
Balanchine, Leónide Massine, Alicia Markova. As histórias
provisação no teatro e de suas implicações pedagógicas
das pessoas que se dedicaram à dança ilustram a história
no seu ensino para crianças e jovens tanto na educação
do estabelecimento do balé em solo norte-americano.
formal quanto na formação de atores. Faz uma revisão bi-
bliográfica e metodológica dos principais pedagogos re- Billy Elliot. Direção: Stephen Daldry. Reino Unido/França,
lacionados à improvisação no século XX, dando ênfase ao 2000. 110 min.
trabalho de Keith Jhonstone, pedagogo de fama interna- Nesse filme, a história de Billy Elliot – um menino de
cional pouco difundido no Brasil. Também traz a descrição 11 anos que escolheu praticar aulas de balé no lugar
403
de boxe – é o tema para refletir sobre o ensino de balé trabalhar com bailarinos de sua companhia de dança, ela tra-
clássico e sobre situações historicamente construídas, balha com adolescentes de 14 a 18 anos, que terão sua
relacionadas às questões de gênero e ao preconceito na primeira experiência com a dança e com o palco.
dança. Estratégias de ensino do balé clássico compõem
parte do enredo desenvolvida nessa história.
Sites relacionados à educação
Frida. Direção: Julie Taymor. EUA/Canadá/México, 2002.
123 min. e ao ensino de arte
O filme narra a vida da pintora mexicana Frida Kahlo. O
trauma após um acidente de ônibus, sua relação com o mu- Portal do Professor
ralista Diego Rivera, seus casos amorosos – inclusive com o Disponível em: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/index.
marxista Leon Trotsky –, as experiências homossexuais são html>. Acesso em: 29 fev. 2016.
episódios da história da artista que aparecem no filme. Nesse site do Ministério da Educação (MEC), você en-
No balanço do amor. Direção: Thomas Carter. EUA, 2001. contrará dicas para seu trabalho docente dentro e fora da
112 min. sala de aula, assim como sugestões para auxiliar o plane-
Esse filme conta a história de uma dançarina negra jamento de suas aulas, questões relacionadas a educação
que, ao se mudar para o sul de Chicago, sente-se discrimi- brasileira, e conteúdos relacionados ao ensino de várias
nada. Por meio de uma colega, ela se aproxima de Derek, disciplinas do currículo escolar. Sugerimos que você na-
com quem divide sua paixão pela dança. Os jovens co- vegue nesse site para pesquisar as possíveis relações en-
meçam a namorar e passam a sofrer a oposição dos pais. tre a arte e as outras áreas do conhecimento, fomentan-
As histórias de vida desses dois jovens contextualizam as do assim a interdisciplinaridade na sua prática docente.
relações étnicas presentes no mundo da dança.
Arte Educação
O poder do ritmo. Direção: Sylvian White. EUA, 2007. Disponível em: <www.arteducacao.pro.br/>. Acesso em:
109 min. 29 fev. 2016.
O filme conta a história de um talentoso dançarino de Esse site, com foco específico nos assuntos relaciona-
rua, que trabalha como jardineiro e tem dificuldade para dos à arte/educação, instiga o professor de arte a investir
se entrosar com os colegas ricos da faculdade. Por meio na prática docente e a mergulhar nas práticas artísticas
de uma competição de dança, ele poderá mostrar seu que vão constituir seus objetos de estudo. Nele você en-
talento, ganhar o respeito dos colegas e conquistar a ga- contrará também informações sobre os quatro campos
rota de seus sonhos. O filme permite uma reflexão sobre
artísticos e as ferramentas para o ensino de suas especi-
desigualdades sociais e culturais e sobre a importância de
ficidades.
compartilhar experiências na dança.
Instituto Arte na Escola
O segredo de Beethoven. Direção: Agnieszka Holland. EUA/
Disponível em: <http://artenaescola.org.br/>. Acesso em:
Alemanha, 2006. 104 min.
26 fev. 2016.
O drama apresenta, em ficção, a fase final da vida do
compositor alemão Ludwig Van Beethoven, quando, já O site do Instituto Arte na Escola reúne dicas e espaços
praticamente surdo, estava prestes a estrear sua nona sin- para o aprofundamento de arte/educadores dos quatro
fonia. Por meio do filme é possível conhecer fragmentos campos artísticos. Nele você encontrará lugar para discus-
de obras importantes de Beethoven. sões sobre temas relacionados ao ensino das artes, infor-
mações sobre eventos e congressos de Arte, exemplos de
O último dançarino de Mao. Direção: Bruce Beresford. Aus- experiências realizadas por professores de arte de várias
trália, 2009. 117 min.
partes do Brasil, além de possibilidade de inscrição e pu-
Baseado na autobiografia do bailarino chinês Li
blicação dos trabalhos realizados com as turmas na escola
Cunxin, esse filme retrata a história de um bailarino que,
em que você leciona.
aos 11 anos, é tirado de uma aldeia pobre chinesa para
estudar balé na escola de Madame Mao, em Pequim. De- Federação de Arte Educadores do Brasil
pois, ele tem a chance de se mudar para os Estados Uni- Disponível em: <http://faeb.com.br/>. Acesso em: 26 fev.
dos para dançar no Houston Ballet. Para manter-se nos 2016.
Estados Unidos, ele faz várias manobras legais contra as Esse site reúne informações e artigos da Federação de
tentativas oficiais chinesas. O filme aborda várias ques- Arte Educadores do Brasil (FAEB), além de permitir acesso
tões sobre dança e interculturalidade. a textos escritos por vários professores de arte do Brasil.
Sonhos em movimento. Direção: Rainer Hoffmann e Anne Ao acessá-lo, você poderá obter informações sobre os
Linsel. Alemanha, 2010. 92 min. movimentos que envolvem a Arte/educação brasileira
Nesse documentário, podemos nos aproximar de uma e algumas das principais questões específicas ao ensino
nova montagem do espetáculo Kontkthof, de Pina Bausch, das artes visuais, da dança, da música e do teatro, tanto
em 2008, poucos meses antes de sua morte. No lugar de nas escolas quanto fora delas.
404
7. ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS ESPECÍFICAS
405
Barbosa (1942-) no livro Abordagem triangular no ensino das quantidade de informação sobre o espaço que se quer
artes e culturas visuais. A abordagem triangular propõe que capturar. Leve-os a experimentar diferentes enquadra-
os três vértices do triângulo – a produção, a fruição e a con- mentos, mais abertos e mais fechados, com a câmera na
textualização – estejam em constante relação ao se estudar vertical ou na horizontal. Também é importante prestar
arte na escola. Este livro foi pensado dessa maneira e, nele, atenção à incidência da luz. O normal é fotografar com
o professor encontrará oportunidades para os estudantes a luz incidindo sobre o lugar ou objeto, mas também po-
produzirem (no boxe “Fazer arte”), fruírem (conhecendo pro- dem ser experimentadas outras maneiras de incidência
duções dos colegas e de artistas nos boxes “Arte para assistir”, da luz, como fotografar lugares ou objetos na sombra ou
“Arte para ouvir”, “Arte para navegar”, “Arte para ler”) e contex- de frente para a fonte de luz. Como serão usadas câmeras
tualizarem (por meio das teorias e dos boxes “Arte no dia a fotográficas digitais, elas têm um modo automático que
dia”, “Arte em diálogo”, entre outros). Apesar de a abordagem corrige o foco e a exposição à luminosidade. Sendo essa
triangular ser pensada para o ensino de artes visuais, o diá- a primeira atividade com fotografia, os estudantes podem
logo entre os três vértices do triângulo também são impor- utilizar a função automática.
tantes para os demais campos artísticos, como a música, o c) Selecionando as imagens
teatro e a dança. Os grupos devem selecionar as imagens coletivamen-
te usando critérios como enquadramento, foco, lumino-
Páginas 18 e 19 Música e imagem sidade, entre outros. Além disso, é importante que eles
Se possível, assista ao videoclipe de David Wilson an- gostem das imagens que selecionaram e que elas tenham
tes de abordar esse tema com os estudantes e reproduza-o conseguido capturar o que lhes chamou atenção nos lu-
para eles na escola. Se não for possível, reforce a importân- gares ou nos objetos fotografados: formas, texturas, cores,
cia de que eles assistam ao vídeo fora do horário de aula. marcas.
Conhecer a obra de Wilson é muito importante para com- d) Fazendo o vídeo
preender a interdisciplinaridade e as conexões que faz com Selecione um aplicativo de celular ou programa de
vários campos artísticos, como artes visuais, música e vídeo. computador que faça animação de fotografias. Lembre-
Esse vídeo também é uma referência para a prática propos- -se de verificar na escola qual deles está disponibilizado
ta no boxe “Fazer arte“. no laboratório de informática (se houver), qual os estu-
dantes estão mais acostumados a utilizar ou, ainda, se
Páginas 20 e 21 Fazer arte possuem algum aplicativo ou programa em seus apa-
relhos eletrônicos. A forma mais simples é baixar as fo-
Objetivo tografias em um computador e anexá-las ao programa,
escolhendo a ordem de exibição e o tempo entre cada
Experimentar uma prática que envolva duas expressões
artísticas (música e fotografia) para a criação de uma terceira
slide. Também há formatos pré-programados que ani-
(vídeo), em uma perspectiva transdisciplinar. mam de forma diferenciada a sequência de fotos. Depois,
é necessário incluir músicas em duas versões da mesma
A seguir, há mais orientações para a realização da ativi- sequência de slides, conforme a orientação no interior
dade. Se possível, realize a atividade de modo interdisciplinar do livro. Caso os estudantes conheçam programas mais
com o professor de Informática. complexos e saibam utilizá-los, é importante que você
a) Preparação para a realização da atividade valorize a variedade de formatos de vídeos que podem
Oriente a turma a formar grupos de seis a oito estu- aparecer nesta atividade.
dantes. Caso a escola não possua uma câmera fotográfica Página 21 Ensaio corrido
digital ou um tablet, é importante que, em cada grupo,
tenha um estudante que possua um desses aparelhos ou Espera-se que os estudantes sejam capazes de compre-
um smartphone. A edição das fotos e do vídeo pode ser ender a diversidade de campos artísticos da disciplina Arte e
feita no computador da escola, em um smartphone ou como esses campos possuem várias zonas de contato entre
em um tablet. Os programas ou aplicativos de edição de si e com outras áreas do conhecimento. Esse entendimento
fotos e vídeos são simples e muitos estão disponíveis com contribuirá para o desenvolvimento dos estudos.
download gratuito. Pode ser usado, em último caso, um
Página 21 Roda de conversa
programa de apresentação de slides, que também pode
ser encontrado gratuitamente na internet. Nesta “Roda de conversa” final é importante que os es-
b) Escolhendo o lugar e tirando as fotografias tudantes reflitam sobre a arte como conhecimento e expe-
A escolha dos lugares a serem fotografados deve le- riência. Há procedimentos e formas de se relacionar com o
var em consideração diferentes texturas, formas, cores, mundo que são próprios da arte e se manifestam apenas por
luz e sombra. Também pode haver marcas nos ambien- meio dela. No caso da dança, por exemplo, o movimento dos
tes – como um grafite ou determinada forma riscada em corpos compõe imagens e sensações singulares que permi-
uma parede – que chamem a atenção dos estudantes. tem ampliar as maneiras de se conhecer o próprio corpo e a
O enquadramento usado deve levar em consideração a sua capacidade de expressão e interação. Frente às ciências
406
exatas, que tratam de “verdades” testadas e reproduzidas em Capítulos da
laboratório (por exemplo, “dois corpos não podem ocupar Arte em diálogo
Unidade 1
o mesmo lugar no espaço”), a arte traz questionamentos e – Música e Física
provoca dúvidas. Esses questionamentos também são funda- 1 Música e espaço – Música e Língua Portuguesa
mentais para fazer avançar o conhecimento humano e testar – Música e Biologia
seus limites. – Teatro e Língua Portuguesa
2 Artes cênicas: tempo e
– Circo, educação e cidadania
espaço
Unidade 1 Arte, tempo, – Artes cênicas e História
espaço e movimento
3 Escultura: tempo, espaço e – Artes visuais e artes cênicas
movimento – Artes plásticas e História
4 Imagem em movimento – Fotografia, Física e Química
5 Música e movimento – Música e Física
– Ópera de Pequim e História
– Capoeira e cultura brasileira
– Artes cênicas e deficiência
6 Dança, teatro e movimento
física
– Artes cênicas e Língua
Portuguesa
Páginas 22 e 23
Nesta Unidade algumas características estruturais e ex-
pressivas de cada um dos conteúdos da disciplina Arte (ar-
tes visuais, dança, música e teatro) serão conhecidas e ex-
perimentadas, de modo contextualizado. Para isso, foram
elencados o tempo, o espaço e o movimento como temas
geradores que possibilitam explorar essas características. Essa
Unidade possui seis capítulos: os três primeiros abordam as
relações das artes cênicas, das artes visuais e da música com o
tempo e o espaço e os três últimos relacionam esses mesmos Conteúdos
campos artísticos com o movimento. Música no espaço (ondas sonoras)
É possível entender que o movimento é um gesto ou Altura do som: graves e agudos
uma ação (cênica, sonora ou visual) no tempo e no espaço
e perceber que o espaço e o tempo se evidenciam no movi-
Página 24 Afinando os instrumentos
mento. Sendo assim, o objetivo não é abordar esses elemen-
tos de maneira compartimentada, já que estão entrelaçados Nesse capítulo, será abordado o ensino da música e do
e se expressam de modo integrado em cada campo do co- som por meio de suas relações com o espaço. Tais relações
nhecimento artístico. A divisão nesta Unidade atende a uma levam a diálogos com outras áreas do conhecimento, como a
necessidade didática e deve ser compreendida nesse con- Física, a Língua Portuguesa e a Biologia, que ajudam na com-
texto, atentando-se para as inter-relações que são apontadas preensão de que o som é gerado a partir de vibrações. Serão
ao longo do livro. discutidos, também, os fatores que atuam na determinação
das diferentes alturas dos sons e como tais fatores influen-
ciam no modo como os diversos instrumentos musicais de-
Interdisciplinaridade
vem ser construídos. Serão apresentadas algumas formas de
Durante o estudo dos assuntos abordados nesta Unidade, representação gráfica dos sons e atividades práticas de reco-
você vai observar conexões interdisciplinares entre as artes e nhecimento de planos de altura, que incluem exercícios de
outras áreas do conhecimento explicitadas no boxe “Arte em apreciação musical e de associação entre movimentos sono-
diálogo”. ro e corporal.
407
Página 25 Roda de conversa Página 28 Arte em diálogo: Música e Língua
O objetivo de se trabalharem essas questões é despertar nos Portuguesa
AUGUSTO DE CAMPOS
estudantes o interesse pelo fascinante mundo sonoro que neces-
sita de diversas áreas do conhecimento para sua compreensão
mais ampla. Espera-se que o desafio apresentado a eles de pensar
a música como arte do espaço estimule o desejo de se aprofun-
darem na grande complexidade que envolve a produção sonora.
É importante receber as respostas dos estudantes como estímu-
los a novas perguntas que se direcionem para os fenômenos vi-
bratórios que envolvem a produção e a propagação dos sons.
408
A faixa 3 apresenta somente sons em extremos de altura, Página 33 Ensaio corrido
graves ou agudos, a fim de facilitar a percepção dos estudan-
tes quanto à diferente sonoridade dos graves e dos agudos. Neste capítulo, são apresentadas múltiplas conexões do
A faixa 4, além dos graves e dos agudos, apresenta também saber musical com outras áreas do conhecimento, mostrando
sons de alturas intermediárias, exigindo uma percepção mais que as alturas dos sons são definidas pelas frequências das
apurada por parte deles. Auxilie-os a desenvolver essa per- vibrações produzidas por um objeto sonoro. Espera-se que
cepção repetindo essa atividade com variações de movimen- os estudantes tenham compreendido as correspondências
to sonoro executando você mesmo sons graves, agudos e entre frequência e altura, e que tenham conseguido diferen-
intermediários, ou orientando-os a produzir os sons usando ciar de maneira auditiva e representar graficamente sons de
instrumentos musicais. diferentes alturas.
Comece classificando, com eles, os instrumentos quan-
Página 33 Roda de conversa
to às alturas dos sons produzidos. Vocês podem formar, por
exemplo, três grupos de instrumentos: de sons graves, de Verificar se os estudantes desenvolveram a consciência
sons intermediários e de sons agudos. Instrumentos de gran- auditiva com relação às diferenças de altura dos sons e se re-
de extensão sonora podem fazer parte de mais de um grupo lacionam esse conhecimento às preferências musicais deles.
ou ficar limitados a produzir sons somente de uma categoria Se possível, converse sobre os exemplos de músicas que os
de altura. Inicialmente, trabalhe com extremos opostos de al- estudantes trouxeram para a sala de aula. Por exemplo, no
tura e, aos poucos, adicione nuances de gradação entre os rap existe uma linha melódica grave feita pelo contrabaixo
sons graves e agudos. que dá o suporte rítmico, além de o canto ser próximo à fala
Esse trabalho possibilita aos estudantes perceber nuances e estar em registros mais graves. Outro exemplo são os solos
entre sons graves e agudos e relacionar essas diferenças com de guitarra na música pop ou no rock que, normalmente,
movimentos de seu próprio corpo. estão em registros mais agudos. As possibilidades são mui-
tas e, se necessário, comente com eles como a combinação
Página 31 Arte no dia a dia de alturas pode tornar contrastantes os exemplos apresen-
Nesse boxe, utiliza-se a música “Samba de uma nota só”, tados.
composta por Tom Jobim e Newton Mendonça, para desen-
volver outra atividade de percepção de variações de altura, Sugestão de leitura
dessa vez a partir da melodia de uma canção. GUIA, R. L. dos M.; FRANÇA,C.C. Jogos pedagógicos para
Aproveite esse momento para apresentar aos estudantes o Educação Musical. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005.
movimento musical que ficou conhecido como Bossa Nova e Esse livro apresenta vários jogos que facilitam o apren-
que teve em Tom Jobim um de seus principais representantes. dizado e a consciência musical. O capítulo 2, especificamen-
te, aborda o movimento sonoro, a direcionalidade sonora e
Sugestão para ouvir os planos de altura em jogos de bingo, dados e trilha.
Canção do amor demais, de Elizete Cardoso. Rio de Janeiro:
Biscoito Fino, 2008.
Lançado em 1958 no formato LP pela gravadora Festa, Capítulo 2 Artes cênicas: tempo e
Canção do amor demais reúne 13 canções de Tom Jobim e espaço
Vinícius de Moraes, interpretadas por Elizete Cardoso e com
arranjos de violão de João Gilberto. O disco é considerado
o marco inicial da Bossa Nova, apresentando um estilo de
instrumentação diferente dos boleros e sambas predomi-
nantes à época, além do violão de João Gilberto.
Sugestão de leitura
SEVERIANO, J. Uma história da música popular brasileira. São
Paulo: Editora 34, 2008.
Nesse livro, o autor contextualiza historicamente os
gêneros e movimentos que marcaram a música popular
do Brasil, bem como os principais compositores, músicos e
intérpretes. Esse livro pode ser usado para aprofundar seus
conhecimentos sobre Caetano Veloso, coautor da canção
“O pulsar”, estudada nesse capítulo, e também sobre Tom Conteúdo
Jobim e João Gilberto.
O tempo e o espaço nas artes cênicas
409
Páginas 34 e 35 Afinando os instrumentos artistas aos estudos acadêmicos em teatro, no estudo que
Neste capítulo são discutidas as relações entre tempo, es- denominou Filosofia do teatro, que tem como base com
paço e as artes cênicas. É importante perceber que a discus- preender a ontologia dessa arte e, para enfrentar esse desafio,
são abrange outras artes cênicas além da dança e do teatro, Dubatti elenca algumas características que não podem faltar
pois objetiva ampliar o escopo das linguagens artísticas abar- para que o teatro seja teatro. São elas: artistas/técnicos e pú-
cadas no conceito de artes cênicas contemplando o circo, por blico compartilhando um mesmo espaço/tempo (o convívio
exemplo. teatral) e a construção poética (a poiesis). Isso reforça a impor-
A capacidade de compartilhar um mesmo tempo e um tância do espaço e do tempo como elementos estruturantes
mesmo espaço em uma situação de convívio entre público e da arte teatral, que se produz na copresença de artistas/téc-
artista é o que as reúne dentro desse conjunto. Assim, esses nicos e público.
elementos estruturantes (o tempo e o espaço) revelam carac- No texto a seguir, Dubatti parte da observação do teatro
terísticas comuns entre as diversas artes da cena, reforçando contemporâneo da Argentina para tentar responder à ques-
seu caráter presencial e de compartilhamento. tão “O que é teatro?”. É possível ampliar suas respostas à di-
Os exemplos artísticos citados neste capítulo são paradig- versidade da produção teatral brasileira da atualidade, confira.
máticos na análise do tempo e do espaço e contribuem para
a compreensão de como esses elementos podem ser articu- Nos últimos anos, somou-se ao campo teatral da Ar-
lados no teatro, na dança e no circo. Se julgar interessante, gentina a percepção da problemática do teatro quando se
traga outros exemplos para a discussão em sala de aula, apro- tenta responder: o que entendemos por teatro? Na pós-
veitando alguma experiência da turma com as artes cênicas -ditadura (período que se inicia na Argentina a partir
ou mesmo se organizando para assistir a um espetáculo com de 1983), o teatro deixa de ter uma definição fechada,
os estudantes. desfiguram-se seus limites. O teatro deixa de ser apenas
uma das belas artes, um edifício ou um texto para ser
Página 35 Roda de conversa representado por atores, como nas velhas definições de
O objetivo desta roda de conversa é conhecer os estudan- séculos passados.
tes e a familiaridade deles com as artes cênicas como espec- Esta nova visão do teatro, implica novas dinâmicas no
tadores. Com base nas perguntas propostas, trace caracterís- comportamento dos espectadores, na legislação, na progra-
ticas das obras de artes cênicas, como locais de apresentação, mação de festivais, nas grades curriculares, na teoria etc. O
duração, horário de apresentações, entre outras. Acolha todas conceito de teatro se torna complexo e hoje resulta inevitá-
as respostas e fique atento à diversidade de locais, duração e vel a aceitação e inclusão de sua liminaridade (Dubatti, 2007
horários de apresentação. É importante debater sobre as dife- e 2015), isto é, sua conexão fronteiriça, seus cruzamentos e
renças que cada espaço, duração e horário podem acarretar suas zonas periféricas, seus intercâmbios e indeterminações
no espetáculo. Lembre-se de que a “Roda de conversa” tem com outras práticas sociais e artísticas. Liminaridade com
como objetivo permitir uma avaliação diagnóstica da turma, a vida e com as outras artes. Para entender o teatro atual é
de seus conhecimentos prévios, opiniões e hábitos em rela- necessário considerar três termos relacionados: teatralidade,
ção às artes. teatro e transteatralização. Estas mudanças foram questio-
nadas no livro Filosofia do Teatro. [...]
Páginas 36 a 42 Artes da presença: artistas e público
Desta maneira, o teatro seria um uso tardio da teatrali-
em um mesmo espaço ao mesmo tempo dade humana e se assemelharia às práticas originadas nes-
O teatro é o primeiro soro que o homem inventou sa teatralidade. Um uso singular, que a Filosofia do Teatro
para se proteger da doença da angústia. define como um acontecimento no qual artistas, técnicos e
espectadores se reúnem de corpo presente (o convívio) para
Jean-Louis Barrault
assistir (recordemos que o termo teatro, em grego, théatron,
O objetivo é evidenciar as artes cênicas como artes da quer dizer mirante, observatório) a aparição de um mundo
presença, ou seja, que dependem da relação de convívio en- paralelo ao mundo, com suas próprias regras, no corpo dos
tre artistas e público em uma mesma coordenada temporal atores (Aristóteles em sua Poética chamou a esse mundo
e espacial. Essa proposição permite diferenciá-las de outras poiesis, que quer dizer “construção”, e desse termo provem
artes, como o cinema, a televisão etc. Nesse sentido, pode-se a palavra poesia).
entender que essa relação presencial entre público e artistas Apertando ainda mais o parafuso: a transteatralização
no mesmo espaço e tempo é uma característica fundadora (Dubatti, 2007, 2010, 2014a). Validada pelo auge da mi-
do teatro, da dança, do circo, entre outras artes cênicas. Sobre diatização e da digitalização, se produz uma projeção do
esse tema, há uma discussão complementar com o objetivo teatro sobre a teatralidade como resultado de uma dinâ-
de ampliar reflexões sobre o assunto. mica invertida: como no domínio da política do olhar se
Jorge Dubatti (1963-) é crítico teatral e professor da Uni- sustenta o poder, o mercado e a vida social a partir da mídia,
versidade de Buenos Aires (UBA), na Argentina. Em seu tra- para otimizar e cultivar o controle da teatralidade recorre às
balho, ele pretende aproximar o pensamento e a prática dos
estratégias e aos procedimentos do teatro. Políticos, jorna-
410
listas, pastores, advogados, entre outros, realizam cada vez Página 43 Fazer arte
mais cursos e treinamentos de teatro para valerem-se des-
ses saberes a serviço de um maior domínio da teatralidade. Objetivo
Organizar o olhar de grandes audiências implica construir Experimentar cenicamente diferentes espaços da escola e
opinião pública, ganhar ou perder eleições, vender mais ou perceber o que cada espaço provoca na cena e vice-versa.
menos produtos. A publicidade pode ser estudada com base
nos mecanismos da transteatralização. O objetivo desta atividade é experimentar como o espaço
[...] produz e altera os conteúdos e a expressividade nas artes cêni-
cas, além de levar os estudantes a perceberem o espaço como
Já não se usa, então, a palavra teatro como no passado,
elemento estruturante da criação cênica. Assim, a partir dessa
hoje está carregada das mais amplas referências. No pre-
experiência, ficará mais claro para todos que o espaço é um ele-
sente o teatro inclui tanto os shows da Madonna como as mento importante a se considerar na fruição e na análise de uma
obras de Eduardo Tato Pavlovsky ou do Bicentenário de 25 obra de teatro, dança, circo, performance, entre outras artes da
de maio de 2010 organizado em Buenos Aires pelo grupo cena.
Fuerzabruta. Uma grande conquista: sem dúvida uma maior Mantenha um diálogo constante com os grupos de es-
aproximação da realidade do teatro e da complexidade de tudantes, acompanhando cada etapa do trabalho. A escolha
do espaço deve levar em consideração o desejo dos partici-
seus vínculos fronteiriços e trocas com o resto do mundo. O
pantes do grupo em explorar aquele lugar específico. Quanto
teatro é feito de mundo e o mundo é feito de teatro.
mais claros forem os motivos da escolha do espaço a ser tra-
DUBATTI, Jorge. Teatrología y Epistemología de las Ciencias del Artes: para una cartogra- balhado, mais fácil será estabelecer as relações com ele.
fia radicante. In: Pós: Revista do Programa de Pós-graduação em Artes da Escola de Belas Depois da escolha do espaço, é importante que os grupos
Artes da UFMG. v. 5, n. 10, nov. 2015. p. 97-100. (Tradução dos autores especialmente passem a explorar possibilidades de ação nesse espaço. De-
para esta obra). vem ser propostas ações simples, que possam ser feitas pelo
coletivo, como sentar-se, levantar-se, empurrar, puxar, circun-
As propostas de definição de teatro, teatralidade e trans-
dar alguma área, erguer algum objeto, entre outras. Contribua
teatralização de Dubatti, podem encontrar um eco direto na para que os grupos não fiquem muito tempo sentados discu-
prática teatral em sala de aula, bem como na maneira de fruir tindo o que deve ser feito. Cada proposta precisa ser experi-
de um espetáculo teatral ou de contextualizá-lo histórica e es- mentada na prática para que, a partir dessa experimentação,
teticamente. Ampliando os limites do que pode ser conside- opte-se por uma ou outra.
rado teatro na atualidade, abarcam-se muitas manifestações Colabore para que a turma defina um percurso interessante
da cultura popular e urbana contemporâneas. Da mesma para a realização das ações em cada espaço escolhido. Além do
forma, entendendo a teatralidade como uma condição sine espaço, é importante pensar no caminho a ser percorrido entre
qua non do ser humano, que é capaz de organizar o olhar do um espaço e outro. Esse trajeto também contribui para uma
descoberta espacial da escola sob novas perspectivas. Revelar
outro e de organizar-se a partir desse olhar, as ações cotidia-
novas formas, contornos, texturas e relações com o espaço é
nas podem ser carregadas de teatralidade sem, no entanto,
um elemento bastante presente na cena contemporânea.
ser teatro. Com a transteatralização, é possível observar o em-
prego da teatralidade nas mais diversas atividades do mundo Página 47 Arte em diálogo: Circo, educação e
contemporâneo, por exemplo, na política, nas organizações cidadania
empresariais, nos grandes eventos esportivos, entre outras.
O circo social é um dos muitos exemplos das artes cêni-
Páginas 41 e 42 Arte em diálogo: Teatro e Língua cas que são trabalhados como um instrumento de inclusão
social e cidadania. Projetos como esse são comuns em várias
Portuguesa cidades do Brasil e é possível que você possa encontrar al-
O objetivo deste boxe é estabelecer as diferenças entre os gum projeto relacionado ao teatro, à dança ou ao circo na
gêneros a partir da Poética, de Aristóteles. É importante que sua cidade. Na atividade a seguir, propomos uma pesquisa
os estudantes compreendam a diferenciação entre gêneros sobre um projeto de arte cênica vinculado à educação e à
cidadania na sua cidade.
lírico, épico e dramático, a fim de que possam reconhecê-
-los. Chame a atenção deles para a presença da narrativa e Atividade complementar
da poesia no teatro contemporâneo, no qual essa diferença
Prepare esta atividade previamente, pesquisando na in-
de gêneros já não é tão clara. No fragmento do texto Por Elise, ternet, em jornais, revistas e outras mídias, bem como con-
citado na página 40, pode-se observar a personagem falando versando com amigos e conhecidos sobre alguma atividade
diretamente ao público, o que mostra uma ruptura com a es- educacional de inclusão cidadã relacionada às artes cênicas
trutura clássica do gênero dramático, em que a ação cênica se em sua cidade ou em cidades próximas. Se não houver ne-
dá por meio de diálogo entre os personagens. nhuma, escolha um projeto desse cunho que seja realizado
411
em outras cidades e peça aos estudantes que reunam o máxi- para facilitar a integração dos participantes à atividade e a
mo de informações que encontrarem sobre ele para compar- concentração deles no processo de criação proposto. A es-
tilhar com os colegas em sala de aula. Se possível, entre em colha de movimentos e a definição de uma sequência são
contato com a coordenação do projeto selecionado e agen- estímulos a processos de criação do movimento.
de uma visita com os estudantes. Oriente a turma a formar Caso a turma tenha acesso a um projetor, as fotos escolhi-
grupos de quatro ou cinco pessoas. das podem ser projetadas na parede branca, enquanto cada
Durante a visita é importante que eles observem: estudante apresenta à turma o movimento correspondente
a) o espaço usado pelo projeto; a ela. Esse exercício resultará na criação de uma sequência
b) em que região/bairro se localiza; de movimentos por estudante e, dependendo da dinâmica
c) qual é o tipo de público atendido; utilizada, a sequência poderá transformar-se em uma grande
d) quem são os professores e qual é a formação deles; célula coreográfica criada por toda a turma.
e) como o projeto é mantido financeiramente; Se desejar, explique o conceito de célula coreográfica
f) qual(is) o(s) campo(s) artístico(s) é(são) explorado(s) pelo para os estudantes. Khoreia é a palavra grega para “dança”, e
projeto e como isso se dá; gráphein, para “escrita”. Em português, portanto, “coreografia” é
g) se o projeto faz apresentações ao público e, em caso posi- uma sequência de movimentos que se escreve com o corpo
tivo, como são feitas essas apresentações. no espaço, em um determinado tempo. A expressão “célula
Depois da visita, os grupos devem entregar um breve re- coreográfica” define as pequenas sequências escritas com o
latório respondendo de modo completo aos tópicos supra- corpo, geralmente com menor duração, e que podem ser
citados e, ao final, dissertar sobre a relevância do projeto no adicionadas a outras sequências para formar uma coreografia.
contexto em que está inserido. Essa atividade também pode Crie um ambiente favorável para que esse processo de
ser considerada avaliativa. criação seja desenvolvido. Você pode sugerir aos estudantes
que espalhem as imagens escolhidas no chão da sala e cami-
nhem em torno delas. Depois de um tempo de observação
Páginas 48 e 49 O corpo também tem memória das imagens, sugira que cada estudante crie um movimento
que expresse a emoção contida em cada imagem escolhida.
Quando se fala de tempo e espaço na dança, assim como Em seguida, peça a eles que organizem os três movimentos
no teatro, trata-se de elementos estruturantes dessas artes. em uma sequência, mas motive-os a conectar os movimen-
Lembrando que o tempo das artes é diferente do tempo tos para que depois eles possam compartilhar a sequência
da vida, as criações de dança utilizam o espaço físico para, criada com os colegas da turma. É importante lembrar que
em um pequeno intervalo de tempo, expressar sensações e não existe certo nem errado, e sim diferentes formas de ex-
sentimentos que podem ser vividos durante uma vida inteira. pressar as sensações e os sentimentos contidos nas imagens
Nesta Unidade, quando se trata da obra A vida começa pela por meio das diversas formas que os corpos podem criar.
memória, a coreografia da Cia. de Intérpretes Independentes
de Manaus (AM) é utilizada para estimular um processo de Leitura complementar
criação em dança que conecte as muitas possibilidades de se
Ao falar de possibilidades de improvisação a partir dos
trabalhar com o elemento tempo.
princípios de Rudolf Laban no livro Os temas do movimento
Página 49 Arte no dia a dia de Rudolf Laban: modos de aplicação e referências I, II, III, IV, V, VI,
VII e VIII, Lenira Rengel afirma que, ao estimular processos de
Esta atividade propõe aos estudantes que participem de improvisação e criação em movimento, podem ser utilizadas
um processo de improvisação do movimento, com base em algumas expressões para incentivar os estudantes a criarem
uma pesquisa realizada a partir de imagens relacionadas à seus próprios movimentos:
vida deles. podemos nos mover rápido como uma flecha;
Estimule-os a escolher suas fotos sozinhos; eles é que de- ou lento como um robô bem pesado;
vem definir que memórias e fatos vividos têm importância ou ficar parados como um caule de uma planta bem de-
para eles. Decida, de acordo com a preferência da turma, se é licada;
melhor padronizar a atividade, pedindo que todas as imagens
ou ficar parados e não sair do lugar “de jeito nenhum”;
venham da mesma fonte (álbum de fotografia, arquivo de
ou sustentar a postura ereta com muita energia e bem or-
computador, redes sociais) ou se cada estudante pode definir
gulhoso;
a fonte que quer utilizar, se podem trazer as fotos impressas
ou despencar nosso peso no chão, levantar e descer, levan-
ou mostrar os arquivos de imagens em um computador, ta-
tar e cair, levantar e ruir;
blet ou celular. Defina com a turma a forma de apresentação
das imagens escolhidas, enfatizando que a escolha condiz podemos empurrar o corpo de um amigo e ele nos em-
com as vivências pessoais e, por isso, não existe certo ou er- purrar também;
rado. ou usar a imagem de bolinhas de sabão explodindo ou
Direcione os estudantes para que escolham apenas um sendo levadas pelo ar; [...]
movimento para cada emoção selecionada. Se julgar interes- RENGEL, Lenira. Os temas do movimento de Rudolf Laban: modos de aplicação e
sante, divida a turma em grupos de até quatro componentes referências I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII. São Paulo: Annablume, 2009. p. 32.
412
Com base nos princípios de Rudolf Laban, a autora alerta por exemplo, acontece nos engenhos e canaviais da Zona da
que para algumas pessoas essas imagens têm pouco sentido. Mata de Pernambuco e pode durar uma noite inteira.
Dependendo das imagens escolhidas pelos estudantes, ou- Pesquise na internet, em livros e revistas e elabore uma
tras ações corporais ou adjetivos que as descrevam podem lista relacionando as tradições populares que você encon-
ser utilizados para estimular o processo de criação dos mo- trar em sua pesquisa e os espaços onde elas acontecem
vimentos. ou aconteceram em forma de ritual. Na aula seguinte,
Dentro do seu planejamento anual, esse texto pode ser compartilhe as informações encontradas com os colegas.
compartilhado com os estudantes para que eles aprofundem Para melhor visualizar os espaços e movimentos de cada
o conteúdo em um outro momento. tradição popular, se possível, procure e assista na internet
a vídeos sobre o assunto.
Para finalizar e sintetizar a pesquisa feita pelos estudantes,
Páginas 52 e 53 Arte em diálogo – Artes cênicas e mostre vídeos curtos sobre algumas das tradições populares.
História Se julgar interessante, faça algumas perguntas como as suge-
ridas abaixo:
Neste boxe são reforçadas as relações existentes entre as 1. Onde acontece o frevo e por que a dança do frevo se ca-
danças e os fazeres diários. O cavalo-marinho também exem- racteriza por movimentos rápidos e acrobáticos?
plifica essas relações. Ao falar dos aspectos da vida cotidiana, 2. Onde acontece o fandango e qual é a relação do lugar
das relações sociais e da memória contidos na brincadeira, com os movimentos do fandango?
Guaraldo (2012) diz: 3. E o bumba meu boi? Onde acontece e como se caracteri-
zam os movimentos de quem dança?
O universo simbólico do cavalo-marinho remete às
Outra opção, para incentivar o protagonismo dos estu-
relações sociais tais como elas se davam nos engenhos de dantes como “pesquisadores”, é solicitar que eles façam uma
cana-de-açúcar. A recriação ficcional e jocosa (por vezes ca- seleção dos vídeos encontrados e, no momento de síntese,
ricata) deste contexto tem dupla função: de um lado função apresentem em sala os vídeos pesquisados por eles, seguidos
de memória, já que o processo de urbanização da Zona da de perguntas a exemplo das sugeridas anteriormente.
Mata Norte, alterou significantemente as relações sociais da
região, acabando com o antigo sistema de morada, quando
trabalhadores moravam nas terras dos engenhos; de outro Página 54 Arte no dia a dia
lado a função de crítica e reflexão sobre o agenciamento do
É importante que os estudantes relacionem as tradições
poder nas relações de trabalho na região-relações marcadas
apresentadas no livro com as expressões culturais presen-
pela continuidade de muitos dos traços do modelo instau-
tes na região onde vivem. Essa atividade tem como objetivo
rado durante o período colonial.
aproximá-los do seu cotidiano e do contexto no qual eles es-
GUARALDO, Lineu. Ensinamentos do corpo brincante e sua apropriação singular. tão inseridos. São esperadas respostas pessoais, no entanto,
In: Tradição e contemporaneidade na cena do cavalo-marinho. OLIVEIRA, Érico. (Org.) vale reforçar qual é o conceito que está sendo utilizado para
UFBA/PPGAC: Salvador, 2012. p. 137. definir uma tradição popular brasileira ou uma expressão da
O mesmo boxe trata também da espetacularização das cultura popular brasileira.
tradições populares brasileiras e utiliza como exemplo a Festa
Página 55 Ensaio corrido
de Nossa Senhora do Rosário, que é representada pelo grupo
mineiro Aruanda e por vários outros grupos que se especiali- O eixo central deste capítulo é a relação entre tempo e es-
zaram em levar ao palco representações dessas tradições em paço com as artes cênicas. Assim, espera-se que o estudante
formato de espetáculos. compreenda tempo tanto como duração quanto como con-
vívio, ou seja, a permanência de artistas e público em uma
Atividade complementar mesma coordenada temporal. Do mesmo modo, o espaço é
Com a atividade proposta a seguir, busca-se aproximar tão explorado como localização e convívio, pois permite um
os estudantes de fatores sociais e culturais que compõem os território comum e compartilhado, que o convívio se estabe-
rituais diariamente transformados em espetáculos cênicos. lece. Uma boa estratégia para rever o conteúdo é reportar-se
Incentive-os a discutir e a relacionar as características dos es- às experiências prévias dos estudantes com a fruição de obras
paços sociais com as características das danças quando trans- cênicas, bem como às atividades do boxe “Arte do dia a dia”
formadas em espetáculo. deste capítulo.
Neste capítulo, além de aproximar os estudantes das
Página 55 Roda de conversa
maneiras de dançar em algumas das tradições populares e
expressões culturais brasileiras, houve uma aproximação dos Reflita com os estudantes sobre as diferenças entre as for-
espaços onde essas tradições populares acontecem em for- mas de fazer teatro e assistir ao teatro, à dança, ao circo, ao ci-
ma de ritual, com um tempo de duração equivalente a uma nema, à televisão e a um vídeo na internet. Lembre-se de que,
festa, ou seja, antes de serem transformadas em espetáculos ao aproximá-los das diferenças entre esses campos artísticos,
cênicos. Foi possível observar que o ritual do cavalo-marinho, buscam-se também as suas zonas de contato. Vivemos em um
413
mundo globalizado, onde com muita frequência as experiên- Capítulo 3 Escultura: tempo, espaço e
cias produzidas em um espaço artístico (teatro, cinema, televi-
são ou internet, por exemplo) se relacionam diretamente com movimento
outro ou até com outros lugares simultaneamente. O impor-
tante nessa atividade é que haja espaço para a discussão e para
a aproximação dos estudantes com os elementos pertinentes
aos vários lugares que as expressões artísticas podem ocupar.
Sugestões de leitura
ANDRADE, M. Danças dramáticas do Brasil. São Paulo: Mar-
tins Editora, 1959.
Nesse livro, escrito entre 1934 e 1944, Mário de Andrade
conceitua muitas das danças populares brasileiras a partir
da noção de folclore e as define como danças dramáticas,
destacando o bumba meu boi como a “mais exemplar”, pois
visualiza na composição dessa expressão da cultura popular
um entrelaçamento dos elementos da dança, da interpreta- Conteúdo
ção e do drama teatral. Escultura – narrativas do espaço, tempo e movimento
CAMARGO, G. (Org.). Antropologia da dança I. Florianópolis:
Insular, 2003. Página 57 Afinando os instrumentos
Esse livro reúne uma coletânea de artigos que abordam
Os escultores trabalharam, ao longo dos séculos, com um
a dança como forma cultural interconectada pelos proces-
número variado de materiais e construíram formas as mais
sos criativos de movimentação dos corpos humanos no
diversas possíveis: representação de personalidades, monu-
tempo e no espaço. Os artigos desenvolvem a possibilidade
de que a dança seja um tipo de atividade social imbuída
mentos em homenagem a guerras, figuras religiosas. Neste
de símbolos específicos e que “pode gerar certos tipos de capítulo, estuda-se essa aventura em alguns períodos da
experiências que não podem ser vivenciadas de nenhuma História da Arte. No texto a seguir, Rudolf Wittkower (2001)
outra forma”, como nos diz John Blacking em um dos arti- estabelece uma história dos materiais utilizados em tempora-
gos desse livro. lidades e espaços distantes pelo mundo.
COSSE, Wagner. Aruanda: 50 anos de história. Belo Horizon-
No passado, os escultores utilizaram praticamente todos
te, 2015.
os materiais que se prestavam a receber uma forma em três
Nesse livro, o diretor artístico do grupo mineiro Aruanda, dimensões. Até mesmo materiais como areia, conchas, cris-
Luís Wagner Cosse de Oliveira (Wagner Cosse), relata o
tal de rocha e vidro têm seu lugar na história da escultura.
percurso histórico do grupo nos seus primeiros 50 anos
Os escultores modernos ampliaram enormemente a diver-
de existência (1960-2010), em Belo Horizonte (MG). Atual-
mente com 55 anos, o Grupo Aruanda é um dos grupos sidade dos materiais: novos metais, aço, materiais artificiais
de projeção folclórica mais antigos do Brasil em atividade como o náilon e os plásticos vieram somar-se e dar conti-
ininterrupta e é pioneiro na pesquisa, preservação e divul- nuidade à antiga tradição de busca e experimentação.
gação da cultura popular brasileira por meio da construção Não obstante, ao longo da história e por todas as partes
de espetáculos que envolvem músicas e danças de todo o do mundo, dois materiais predominaram: a madeira e a pe-
Brasil, interpretadas por dançarinos de diversas faixas etárias, dra. O bronze pode ser acrescentado como um terceiro ma-
e de origem sociocultural muito diversificada. terial em algumas partes do mundo, como a China, a África,
a Grécia e Roma. Na Europa, a escultura em madeira sem-
Sugestão de site pre foi um procedimento comum nos países setentrionais,
Mestres e Griôs do Brasil. Disponível em: <www.mestresegrios. principalmente na França e na Alemanha. Nestes países,
com.br/index.php?option=com_content&view=category&la quando se utilizava a pedra, o que acontecia com certa fre-
yout=blog&id=11&Itemid=10>. Acesso em: 22 abr. 2016. quência, tratava-se em geral de uma variedade menos dura
A série “Mestres e Griôs” é resultado do projeto que de pedras encontradas nos arredores, como a pedra calcária
surgiu da necessidade de instigar o espectador a conhecer e o arenito, e não de pedras duras, como o mármore, ou
o processo de transmissão oral da cultura popular brasileira. materiais de uma rigidez ainda maior, como o granito e o
Além de aprofundar os conceitos de tradição e história oral, pórfiro, extraídos em países mediterrâneos.
tão importantes para a compreensão dos diversos aspectos
O trabalho em pedra é de uma antiguidade incalculável:
das tradições populares brasileiras, houve uma pesquisa
todos conhecem os utensílios de pedra primitivos, encon-
fundamentada por depoimentos de mestres de tradições
populares, como capoeira, jongo, tambores, maculelê e trados em todas as partes do mundo. Tais utensílios devem
moçambique, entre outras discussões essenciais ao tema. ser vistos como a primeira extensão eficaz da mão huma-
na e datam, consequentemente, do despertar da civilização
414
humana. Eles nos oferecem os primeiros exemplos da ha-
Embora tenha sido escrito no século XVIII, o tratado
bilidade manual do homem, pois para fazê-los era preci-
estético de Gotthold Lessing, Laocoonte 2, aplica-se direta-
so lascar ou “britar” a pedra. Conferiam poder, coisa que o
mente à discussão da escultura nos dias de hoje. Isso porque,
homem primitivo estava constantemente descobrindo, e se
no decurso de sua argumentação, Lessing julga necessário
tornaram, assim, os precursores das divindades e das ima-
indagar sobre a natureza da escultura e considerar de que
gens de pedra, receptáculos do poder mágico. modo podemos definir a singular experiência dessa arte. Se
Com o passar do tempo, os utensílios de pedra lascada dei- a formulação dessas mesmas questões tornou-se mais ne-
xaram de satisfazer ao homem. Desenvolveram-se, então, duas cessária ainda, é porque a escultura do século XX adotou,
novas técnicas de se trabalhar a pedra, ambas extremamente repetidamente, formas que o público contemporâneo teve
trabalhosas e lentas. Descobriu-se primeiro que, friccionando- dificuldade de incorporar às suas ideias convencionais acer-
-se um utensílio com areia, sua forma podia ser aperfeiçoada, ca da função característica das artes plásticas. Isso foi tão
o que deu início aos processos de abrasão. Além disso, inven- válido para os objetos criados por Brancusi, Duchamp ou
taram-se os instrumentos de cobre, de bronze e, mais tarde, de Gabo na década de 20 como o é para o trabalho de vários
ferro, e com sua ajuda era possível dar forma à pedra. A partir da escultores dos últimos anos. A questão do que se pode con-
existência desses instrumentos, testemunhamos o nascimento siderar propriamente um trabalho de escultura tornou-se
da história da escultura. Isto nos leva a retroceder mais de seis cada vez mais problemática. Por conseguinte, será conve-
mil anos na história, até as origens das civilizações egípcia e ba- niente, ao se empreender um estudo da escultura deste sé-
bilônica. Os gregos, herdeiros das civilizações orientais, e depois culo, examinar, a exemplo do que fez Lessing duzentos anos
deles os romanos e italianos, cultivaram com orgulho as tradi- atrás, a categoria geral de experiência em que a escultura se
ções que remontam a uma época imemorial, e foi no seio dessas insere.
civilizações mediterrâneas que surgiu o conceito de que esculpir Ao tentar descobri-lo em seu Laocoonte, Lessing começa
a pedra, especialmente o mármore, era o objetivo mais elevado e por definir as condições limitadoras de cada arte. Indaga
a mais grandiosa realização dos escultores. Tal conceito, nascido se existe alguma diferença inerente entre um acontecimen-
no Sul, foi plenamente assimilado por toda a Europa, e sua for- to temporal e um objeto estático e, caso exista, qual o seu
ça continua viva até hoje. significado para as formas de arte relacionadas com o pri-
WITTKOWER, Rudolf. Escultura. São Paulo: Martins Fontes, 2001. p. 3-4. meiro ou o segundo tipo de construção. Ao levantar essa
questão, Lessing incursiona por aquilo que denominamos
crítica normativa. Ele procura estabelecer normas, ou cri-
Página 57 Roda de conversa
térios objetivos, que permitam definir o que é natural a
Quando se caminha pelas praças das cidades, é comum um empreendimento artístico determinado e compreender
ver bustos, monumentos que muitas vezes não se sabe, ao quais seus poderes especiais de criar significado. Assim, em
certo, quais personalidades representam. No entanto, essa rea- resposta à pergunta “o que é a escultura?”, Lessing declara
lidade é muito distante das representações escultóricas em que a escultura é uma arte relacionada com a disposição de
períodos como o da Grécia Antiga ou do Império Romano. As objetos no espaço. E, prossegue, é preciso distinguir entre
esculturas não eram apenas uma ilustração de uma história ou esse caráter espacial definidor e a essência das formas artís-
de um evento, ou seja, uma escultura de Apolo em seu templo ticas, como a poesia, cujo veículo é o tempo. Se a represen-
era o próprio Apolo. Esse “poder mágico” atribuído às escultu- tação de ações no tempo é natural para a poesia, argumenta
ras foi se perdendo com a passagem do tempo, mas ainda é Lessing, não é natural para a escultura ou a pintura, pois o
possível encontrar muitas pessoas que sentem medo, afeto, que caracteriza as artes visuais é o fato de serem estáticas.
ou têm devoção por uma imagem, seja ela sagrada ou não. Em decorrência dessa condição, as relações entre as partes
Neste capítulo, serão analisadas formas denominadas es- isoladas de um objeto visual são oferecidas simultaneamente
culturas. E como definir “escultura”? Muitas vezes há dúvidas a seu observador; estão ali para serem percebidas e absorvi-
sobre a própria definição de escultura, mas isso é natural e se das em conjunto e ao mesmo tempo.
deve, em parte, ao conceito de “autonomia da escultura”1. Essa
autonomia significa que as esculturas deixaram de cumprir a KRAUSS, Rosalind E. Caminhos da escultura moderna.
São Paulo: Martins Fontes, 2001. p. 2-3.
função de ilustrar uma história – seja bíblica, seja mitológica – e
passaram a provocar sensações, dúvidas e outros sentimentos. Como é possível perceber, a própria definição de escultura
A autonomia da escultura ampliou as possibilidades artís- interessou a teóricos das mais diversas épocas, mas a discussão
ticas tanto na escolha dos temas como no uso dos materiais foi ampliada no século XIX, tornando cada vez mais difícil a ta-
por parte dos escultores. Segundo a pesquisadora de história refa de definir o objetivo e a função de uma escultura. Uma
da arte Rosalind Krauss (2001): das chaves para a compreensão dessas mudanças pode ser
1. O termo autonomia da escultura se refere ao abandono da necessidade de a escultura sempre representar os temas considerados sagrados, históri-
cos ou mitológicos e passar a representar qualquer tipo de tema ou de sensações, como a dor, o amor, a saudade, entre outras.
2. Gotthold Lessing escreve um importante tratado no século XVIII com o objetivo de compreender qual dos meios é mais fidedigno: a imagem ou o
texto.
415
percebida em Auguste Rodin, na obra A Porta do Inferno (1880- em sua evolução no espaço do plano de fundo e o signifi-
-1917). Rodin se empenhou em fazer uma obra que dialogasse cado do momento representado em seu contexto histórico.
com a narrativa A Divina Comédia, de Dante Alighieri, mas, con- Muito embora o observador não se desloque efetivamente
trariamente ao que se esperava, não ilustrou o texto, recriando em torno da escultura, recebe a ilusão de dispor de tanta
inúmeras passagens. Conforme diz Krauss (2001), informação quanto teria se pudesse circunavegar as formas
– talvez mais ainda, já que lhe é dado visualizar, em uma
No início, Rodin seguiu, para a Porta, uma concepção
única percepção, tanto o desenvolvimento das massas como
que obedecia às convenções do relevo narrativo. Seus pri-
sua capacidade de exprimir um significado. Se a atitude do
meiros esboços arquitetônicos para o projeto dividem a su-
escultor para com o relevo é a de um narrador onisciente a
perfície externa do portal em oito painéis separados, cada
comentar a relação de causa e efeito das figuras, no espaço
um dos quais conteria relevos narrativos organizados se-
histórico e plástico, a atitude correspondente do observador
quencialmente. [...].
é definida pela natureza do próprio relevo: o observador as-
Em sua versão final, A Porta do Inferno resiste a todas as
sumirá uma onisciência paralela em sua leitura da obra em
tentativas de ser compreendida como uma narrativa coerente.
toda a lucidez desta.
Dentre a profusão de grupos de figuras, somente dois estão di-
retamente relacionados à narrativa original da Divina Comédia. KRAUSS, Rosalind E. Caminhos da escultura moderna. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
p. 15-16.
KRAUSS, Rosalind E. Caminhos da escultura moderna.
416
que a escultura se movimentasse seja pela ação do vento, Página 60 Fazer arte
do toque ou mesmo de mecanismos que simulassem deter-
minado movimento. Nesta parte do capítulo, será possível Objetivo
compreender esse desenvolvimento e o interesse da arte Facilitar a compreensão do movimento proposto
moderna e contemporânea em aproximar cada vez mais o pela escultura Adão, por meio da reprodução de seu
espectador da escultura. posicionamento com o próprio corpo.
417
trabalho de Étienne Decroux e a criação da técnica chamada representação de um evento que realmente aconteceu, mas
mímica corporal dramática. existem muitas formas de manipulação da imagem fotográ-
fica que passam, por vezes, despercebidos. Essa problemati-
Páginas 62 a 64 Esculturas e espaço público zação pode ser encontrada na explicação do pesquisador na
As esculturas não são encontradas apenas em museus ou área da fotografia Arlindo Machado (1984):
galerias. É possível, como mencionado anteriormente, con-
Toda fotografia, seja qual for o referente que a motiva, é
viver com esculturas no espaço público, no pátio da escola,
sempre um retângulo que recorta o visível. O primeiro papel
entre outros. Muitas vezes, a convivência contínua com esses
monumentos fazem com que eles passem despercebidos. O da fotografia é selecionar e destacar um campo significan-
importante nesse momento é observarmos os monumentos te, limitá-lo pelas bordas do quadro, isolá-lo da zona cir-
que estão bem próximos do nosso cotidiano tentando res- cunvizinha que é a sua continuidade censurada. O quadro
gatar o seu sentido tanto do ponto de vista artístico como da câmera é uma espécie de tesoura que recorta aquilo que
também histórico. deve ser valorizado, que separa o que é importante para os
interesses da enunciação do que é acessório, que estabelece
Página 64 Arte em diálogo – Artes plásticas e logo de início uma primeira organização das coisas visíveis.
História Eisenstein já afirmou mais de uma vez que a visão figurativa
é sempre uma visão “em primeiro plano” (no sentido em
Nas cidades, muitos monumentos públicos possuem a
que se fala de primeiro plano no cinema, como detalhe am-
função de símbolo comemorativo de fatos históricos de uma
pliado), porque tanto o pintor como o fotógrafo precisam
sociedade. Se possível, com o professor de História, realize
uma atividade para localizar e identificar um monumento his- sempre efetuar uma escolha, para recortar na continuidade
tórico, por meio de pesquisa e discussão com os estudantes, do mundo o campo significante que lhes interessa. Toda vi-
com o objetivo de resgatar tanto os aspectos históricos da são pictórica, mesmo a mais “realista” ou a mais ingênua, é
obra como as alternativas artísticas utilizadas pelo autor da sempre um processo classificatório, que joga nas trevas da
escultura. invisibilidade extraquadro tudo aquilo que não convém aos
interesses da enunciação e que, inversamente, traz à luz da
Página 65 Ensaio corrido cena o detalhe que se quer privilegiar.
O objetivo deste capítulo foi apresentar formas diversas Evidentemente, essa escolha, esse recorte não são nunca
de representação tridimensional, tanto brasileiras como es- inocentes, nem gratuitos. Toda síncope do quadro é uma
trangeiras. Foram propostas atividades para elaborar objetos operação ideologicamente orientada, já que entrar em cam-
tridimensionais e repetir os movimentos realizados pelas es- po ou sair de campo pressupõe a intencionalidade de quem
culturas, o que aproxima e ajuda os estudantes a analisarem enuncia e a disponibilidade do que é enunciado.
as obras. MACHADO, A. A ilusão especular: introdução à fotografia. São Paulo: Brasiliense, 1984. p. 76-77.
Cada fotografia é um recorte da realidade, assim como
Capítulo 4 Imagem em movimento uma história contada por alguém. Porém, para além dos cui-
dados necessários a uma crítica das imagens, é importante
conhecer a passagem da fotografia para as imagens em mo-
vimento denominadas de “primeiro cinema” ou pré-cinema.
A sensação de movimento de uma imagem como um filme
demanda a sobreposição de 24 imagens por segundo. É ne-
cessário lembrar que ainda não existiam as câmeras de vídeo
que atualmente conseguem realizar “filmes” ou construir a
ideia de imagem em movimento sem depender da monta-
gem. O desenvolvimento técnico para se chegar ao ponto
conhecido hoje foi bastante longo. Vamos, então, retornar ao
início do cinema com Georges Sadoul (1963) e a invenção dos
primeiros aparelhos:
Conteúdo
Fazendo desfilar aos nossos olhos vinte e quatro (e
antigamente dezesseis) imagens por segundo, o cinema
A fotografia e o início do cinema
nos dá a ilusão do movimento, porque as imagens que se
gravam em nossa retina não se apagam instantaneamente.
Páginas 66 e 67 Afinando os instrumentos Essa qualidade (ou imperfeição) do olho humano, a persis-
Neste capítulo serão apresentadas algumas tecnologias tência retiniana, transforma um tição agitado numa linha
de criação e reprodução de imagens, assim como a passagem de fogo. O fenômeno foi constatado pelos Antigos, e o seu
da fotografia para o cinema. É comum associar fotografia à estudo esboçado nos séculos XVII e XVIII por Newton
418
e o Cavaleiro D’Arcy. Foi, entretanto, necessário esperar mo provocado com as primeiras possibilidades técnicas, a
os trabalhos de Peter Mark Roget, inglês de origem suíça, escolha do assunto impôs-se aos fabricantes de brinquedos.
para tomar-se o rumo que levaria ao cinema. Como aplica- SADOUL, G. História do cinema mundial. São Paulo: Martins, 1963. v. 1. p. 15.
ção dos seus trabalhos, um ilustre físico britânico construiu
em 1830 a Roda de Faraday, descrita em todos os tratados Neste capítulo, é visto como uma nova tecnologia muitas
de física, enquanto John Herschel, imaginando uma nova vezes incorpora um conjunto de outras anteriores. Atualmen-
experiência divertida de física, fez nascer o primeiro brin- te, ao assistir a um filme não se tem a dimensão de sua histó-
quedo óptico a empregar desenhos. O Taumatrópio, criado ria com a graduação da passagem por outros meios, como a
em 1825 por Fitton e o doutor Paris, é um simples disco fotografia. Essa experiência apenas aumenta o interesse e o
de papelão contendo na face e no verso dois desenhos, que fascínio por essa tecnologia tão presente no dia a dia.
se superpõem aos nossos olhos quando os fazemos girar
Página 67 Roda de conversa
rapidamente.
Os aparelhos criados simultaneamente em 1832 por Existem inúmeras possibilidades de acesso a filmes atual-
Joseph Plateau, jovem físico belga, e o professor austríaco mente. A experiência pode ocorrer no cinema, nas redes so-
Stampfer, retomam os dispositivos essenciais da Roda de ciais ou mesmo na TV aberta. Uma das questões fundamen-
Faraday (um disco denteado observado num espelho) e os tais é observar as diferenças existentes entre cada experiência
desenhos do Taumatrópio. e incentivar a discussão.
Aproveite esse momento para conhecer qual é o contato
SADOUL, G. História do cinema mundial. São Paulo: Martins, 1963. v. 1. p. 9.
dos estudantes com o cinema, com a fotografia e com as mí-
A primeira tecnologia capaz de realizar não apenas a cap- dias que permitem o compartilhamento de vídeos. Com re-
tação, mas também a projeção de imagens em movimento lação ao cinema, é importante refletir sobre o lugar que essa
ficou conhecida como fuzil cronofotográfico. O nome, à pri- arte ocupa na vida de cada um deles. Eles possuem o hábito
meira vista, pode parecer estranho e inapropriado, mas trata- de assistir a filmes? Essa atividade é realizada com a família ou
-se justamente de um mecanismo de um revólver. Assim que com amigos? Pergunte a eles quais são seus filmes preferidos
o gatilho era disparado, percebia-se um círculo em movimen- e o motivo dessa preferência.
to sobrepondo imagens estáticas e criando a ilusão de movi-
mento. Segundo Sadoul (1963), Páginas 68 e 69 Desenhando com luz
Em 1825, na sua forma mais clássica o Taumatrópio A fotografia, tal como se conhece hoje, possui uma histó-
era um disco de papelão tendo na face um pássaro e no ria fascinante. Os princípios teóricos podem ser encontrados
verso uma gaiola. O disco girava e o pássaro entrava na em Aristóteles (384-322 a.C.) e em Mo-tzu (século V a.C.). Da
gaiola. Por enquanto, nada é animado. Trata-se somente passagem dos aspectos teóricos aos práticos encontra-se a
de uma sobreimpressão que obedecia a certa lógica e cujos criação da câmara escura, que serviu como importante fer-
assuntos eram simples. Esse brinquedo esteve em voga, ramenta tanto para os artistas como para a invenção da fo-
litografaram-se delicadamente em cores os seus temas tografia.
elementares. Assim, podiam-se encontrar nos bazares de
Página 70 Arte em diálogo – Fotografia, Física e
Londres, Paris ou Viena um cavaleiro e sua cavalgadura,
Química
um decapitado e sua cabeça, os dois membros de um casal,
duas partes de uma palavra, uma dançarina e seu parceiro, A produção de uma fotografia depende de um conheci-
um caçador e sua caça etc., que eram reunidos numa única mento interdisciplinar que aproxima Arte, Física e Química.
imagem pelo rodopio do taumatrópio. Esse boxe traz informações básicas de como esses conheci-
Stampfer, de Viena, era professor de geometria, e mentos relacionados permitiram a criação, reprodução e fixa-
a Roda de Faraday, na qual se inspirou, mostrara-lhe ção das imagens.
setores coloridos derivados do Disco de Newton. No
seu Estroboscópio, o austríaco pôs inicialmente em mo- Páginas 71 e 72 Cinema e ilusão de movimento
vimento rosáceas, engrenagens, sólidos em revolução. Pri- A ilusão de movimento, a partir da sobreposição de várias
meiros balbucios do cinema científico aplicado ao ensino. imagens estáticas, foi um dos aspectos mais complexos para
Mas em Viena como em Liège, Stampfer e Plateau a invenção do cinema. Para tanto, foi necessária a invenção
logo procuraram animar o homem e dar-lhe relevo, por de inúmeros equipamentos ao longo de décadas. Nesta par-
meio do movimento em uma terceira dimensão, alguns te do capítulo, será apresentado um pouco da história des-
anos antes da invenção do Estereoscópio. A primeira ima- se desenvolvimento técnico. É importante compreender de
gem que Madou desenhou para o seu amigo Plateau foi a que modo um tipo de tecnologia, à primeira vista percebida
de um pajem em estilo trovadoresco, que girava sobre os como “nova” ou “independente”, é fruto de inúmeros conhe-
calcanhares. Stampfer, por seu lado, mandou executar a cimentos anteriores, como ocorreu com o cinema associado
imagem de um saltador rodopiando. Ao passar o entusias- à pintura e à fotografia.
419
Página 73 Arte no dia a dia uma primeira aproximação à produção e análise de imagens.
Nesse sentido, é importante reconhecer a complexidade da
Esta atividade é uma ótima oportunidade de conhecer os discussão e valorizar o processo de produção dos estudan-
primeiros filmes que foram exibidos no início do cinema. É tes. Muitas atividades dependem de grande empenho deles
possível que a primeira impressão que os estudantes tenham, para que sejam concretizadas, e as imagens produzidas não
quando assistirem a esses filmes, seja a que possuem uma
devem ser julgadas como “bonitas” ou “agradáveis”. O mais re-
linguagem próxima da fotografia e não têm enredos muito
levante, nesse momento, é que os estudantes entrem nesse
elaborados. Então, uma possibilidade é apresentar e discutir
universo de produção, o qual poderá gerar importantes resul-
os elementos que compõem a linguagem do cinema que,
tados com a prática contínua.
nesses filmes, estão sendo construídos e consolidados.
420
estruturadora que usa a metáfora para estabelecer conexões tanto nas obras musicais quanto no ambiente que nos cerca, e
significativas, sendo as elaborações metafóricas essencial- serão discutidas a relatividade do silêncio por meio da apresenta-
mente corpóreas. ção da câmera anecoica e do impacto dela sobre a obra do mú-
sico John Cage, o que culminou na criação da composição 4'33''.
PIMENTEL, Lúcia. Fugindo da escola do passado: arte na vida. Revista Digital do LAV.
Santa Maria, v. 8, n. 2, 2005. p. 16. Disponível em: <http://cascavel.ufsm.br/revistas/ Atividade complementar
ojs-2.2.2/index.php/revislav/article/view/19862/pdf>. Acesso em: 28 abr. 2016.
Mostre à turma um vídeo (que pode ser visto na internet)
Neste capítulo, prossegue o trabalho com o treinamento de uma apresentação da peça musical 4'33'', de John Cage.
auditivo e com as formas de representação gráfica dos sons, Antes da exibição, oriente os estudantes a observar a rea-
incluindo, além dos graves e agudos, os sons de altura inter- ção da plateia e os sons que ela produz durante a execução
mediária, continuando com as atividades práticas de reconhe- da obra. Peça a eles que façam silêncio, prestem atenção aos
cimento de planos de altura e de movimentos sonoros que sons que vêm do ambiente e anotem os sons ouvidos em
incluem exercícios de representação gráfica e ditado musical. uma folha avulsa ou no caderno. É importante que assistam à
peça em toda a sua duração.
Página 79 Roda de conversa
Depois, organize um debate para que compartilhem suas
Relembre a relação das frequências das vibrações sonoras anotações e pergunte aos estudantes se já tinham consciên-
com a altura dos sons. Os estudantes podem dizer como as cia da existência desses sons antes dessa experiência.
melodias se movimentam em diferentes alturas ou se referir Uma discussão que possivelmente surgirá é se essa com-
aos diversos andamentos, que dão aos estilos musicais dife- posição de John Cage é música ou se trata-se apenas de uma
rentes características. Podem, ainda, referir-se às alterações de provocação ou irreverência. A composição de Cage mostra
andamento em uma mesma música, como aceleração ou di- que o silêncio é relativo e que, na verdade, a música está sem-
minuição da pulsação. Aceite as diversas respostas e conduza pre acompanhada de ruídos. Além disso, o próprio conceito
a abordagem para o movimento sonoro através das mudan- de música se expande, acolhendo diversas sonoridades e ruí-
ças de altura. dos até então considerados não musicais.
421
Realize diversos exercícios com os estudantes, tocando pulsações em um tambor ou em outro instrumento de per-
em um instrumento de percussão trechos de pulsações em cussão disponível na escola.
diferentes andamentos e solicite a eles que caminhem sincro-
nizados com as batidas do instrumento, ou seja, com a pulsa- Página 89 Roda de conversa
ção. Depois, alguns estudantes podem se revezar na execu- Discuta os exemplos de músicas trazidos pelos estudan-
ção das pulsações, trabalhando desde extremos de intervalos tes e analise pequenos trechos. Verifique, então, se os estu-
entre os pulsos (longos e curtos) até nuances de pulsações dantes conseguem desenvolver a consciência auditiva com
em andamentos próximos, e os outros continuam caminhan- relação aos sons de alturas intermediárias e aos movimentos
do em sincronismo com as batidas do instrumento. sonoros em sons ligados, assim como se conseguem fazer a
representação em forma de gráficos.
Página 88 Fazer arte
422
Páginas 92 e 93 Artes híbridas mestres, dos contramestres, professores e instrutores. Além
disso, na atualidade, as rodas de capoeira estão difundidas em
Em dois boxes “Arte em diálogo” foram abordados assun- mais de 150 países. A roda de capoeira e o ofício dos mestres
tos que tratam das artes híbridas: Ópera de Pequim e História foram reconhecidos como patrimônio cultural brasileiro pelo
e Capoeira e Cultura Brasileira. Em ambos, foram utilizados Iphan em 21 de outubro de 2008. Abaixo há alguns trechos do
exemplos de expressões culturais que envolvem também Roda de capoeira e ofício dos mestres de capoeira, a fim de apro-
elementos artísticos de vários campos: teatro, dança, música, ximá-lo das discussões que envolvem a origem da capoeira:
artes visuais, entre outros. Esses exemplos pretendem contri-
buir para o entendimento do hibridismo existente nas artes, O mais antigo registro referente à capoeira foi encon-
pois possibilitam a visualização dos diversos elementos pre- trado pelo jornalista Nireu Cavalcanti. O documento data
sentes, como no caso da capoeira. Reproduza a faixa 9 do CD de 1789 e se refere à libertação de um escravo chamado
em sala de aula para exemplificar o uso da música na capoeira Adão, preso nas ruas do Rio de Janeiro por praticar capoei-
e suas diferenças de andamento. ragem. Isso mostra que a repressão acontecia antes mesmo
Se possível, outra opção é levar os instrumentos utiliza- da criminalização da capoeira, em 1890, durante o governo
dos na prática da capoeira (berimbaus, pandeiros, reco-recos)
provisório de marechal Deodoro da Fonseca.
para a sala de aula. Assim, os estudantes podem tocá-los e
[...] Entre 1808 e 1850 (ano que foi proibido o tráfico
criar sons semelhantes aos sons executados pelos capoeiris-
de escravos), existiu o que Soares definiu como “capoeira
tas. Por ser a capoeira uma prática artística e cultural muito
escrava”, a qual, segundo o pesquisador, não se restringe a
difundida no Brasil, você pode ter em seus grupos de estu-
dantes algum que a pratique ou que já a tenha praticado e, “uma prática cultural excludente de negros libertos ou li-
por isso, tenha a experiência de tocar os instrumentos e até vres, mas uma tradição rebelde que tinha fortes raízes escra-
de fazer música com eles. vas... e “seduzia” aqueles de outra condição social e jurídica,
por sua maneabilidade e resistência. O termo, portanto, não
Página 94 Arte no dia a dia se aplica apenas aos negros escravos, mas ao contexto da
Se possível, convide um mestre, contramestre ou pra- escravidão.
ticante de capoeira para dividir suas experiências com os Difundida na capital por africanos, a capoeira se tornou
estudantes. Esta atividade tem como objetivo aproximar os motivo para troca de relações mais amplas. Tanto que, no
estudantes dos saberes populares dos mestres. Ouvir o mes- segundo momento estudado por Soares, 1850-1890, é pos-
tre contar histórias, observar sua forma de transmissão do co- sível encontrar entre os seus praticantes nomes de letrados,
nhecimento, fazer perguntas e, de fato, ver mais de perto um aristocratas e militares.
conhecedor de uma tradição cultural significa aproximar o [...] No Rio de Janeiro, a capoeira foi duramente per-
estudante de uma das muitas culturas que compõem o Brasil. seguida. Seus praticantes eram conhecidos por desafiar a
A capoeira no Brasil passa a ser primeiramente um símbolo de ordem policial, hostilizar a população, provocar brigas e
identidade da população afrodescendente. Depois, ela passa correrias, marcadas por cabeçadas, rasteiras e navalhadas.
a ocupar as ruas das cidades e, atualmente, está presente em
IPHAN. Roda de capoeira e ofício dos mestres de capoeira, 2008. p. 22-23. Disponível em:
academias de ginástica e nas escolas.
<http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/DossieCapoeiraWeb.pdf>.
Apesar de algumas pesquisas apontarem a origem da ca- Acesso em: 28 abr. 2016.
poeira na África, ainda não se é possível determiná-la. No Brasil,
a capoeira primeiro é símbolo de identidade e de resistência
da população afrodescendente, ocupando as ruas das cidades
Página 95 Teatro gestual
no período pós-abolição, mas atualmente está presente nas Jacques Lecoq (1921-1999) foi um pedagogo francês que
academias de ginástica, nas escolas e até nas universidades. deu continuidade às pesquisas de Jacques Copeau (1879-
No intuito de fundamentar a discussão sobre a origem da ca- ‑1949) e de Jean-Louis Barrault (1910-1994) sobre o gesto e
poeira, o livro Roda de capoeira e ofício dos mestres de capoeira o movimento no teatro, e que contribuiu para o desenvol-
apresenta três possibilidades para a origem dessa arte, mas vimento do chamado Teatro do Gesto. Ele fundou a Escola
afirma que essas possibilidades são hipóteses, ou seja, que Internacional Jacques Lecoq em Paris, em 1956. A escola
ainda não estão resolvidas e, por isso, são consideradas mitos continua em funcionamento até hoje e oferece um curso de
fundadores: “a capoeira nasceu na África Central e foi trazida formação de dois anos em teatro do gesto, tendo como base
intacta por africanos escravizados; a capoeira é criação dos es- a metodologia desenvolvida por Lecoq. O terceiro ano do cur-
cravos quilombolas no Brasil; a capoeira é criação dos índios, so é destinado àqueles que desejam se tornar professores da
daí a origem do vocábulo que nomeia o jogo” (IPHAN, 2014). pedagogia do Lecoq, denominada por ele “Pedagogia da cria-
De acordo com essa última hipótese, o termo capoeira faz par- ção teatral”. Lecoq dividiu sua pedagogia em duas linhas de
te da língua tupi e significa “mato ralo”. trabalho: a improvisação e a análise do movimento. Segundo
Conhecer a capoeira significa adentrar um universo muito Lecoq (2003):
vasto, composto de registros iconográficos e documentos que
remontam ao século XVIII e se aproximar de suas várias esco- Junto à improvisação, a segunda grande via de trabalho da
las, com ensinamentos distintos a partir do entendimento dos Escola centra-se na análise dos movimentos. O movimento
423
não é um percurso, é uma dinâmica, algo muito diferente mar. A água é um tipo de movimento de resistência contra o
a um simples deslocamento de um ponto a outro. O que qual há que se lutar para poder reconhecê-lo. Só a partir da
importa é como se realiza o deslocamento. A base da dinâ- pélvis essa sensação global pode ser transmitida ao conjunto
mica do meu ensino está constituída pelas inter-relações de do corpo. Insistimos na implicação da pélvis para evitar os
ritmos, de espaços e de forças. O importante é reconhecer gestos dos braços e das mãos que têm uma tendência a re-
as leis do movimento a partir do corpo humano em ação: presentar o mar sem chegar a senti-lo nunca.
equilíbrio, desequilíbrio, oposição, alternância, compensa- O fogo nasce do interior. Sua origem está na respira-
ção, ação e reação. E estas leis se encontram tanto no corpo ção e no diafragma. Dois movimentos se distinguem no
do ator como no do público. O espectador sabe perfeita- fogo: por uma parte a combustão, por outra a chama. Co-
mente se em uma cena há equilíbrio ou desequilíbrio. Existe meçamos com a combustão no nível do diafragma, para
um corpo coletivo que sabe se um espetáculo está vivo ou descobrir, progressivamente, os ritmos do fogo e constatar,
não. O tédio coletivo é um sinal do “não funcionamento” rapidamente, que sua justificação dramática encontra-se na
orgânico de um espetáculo. cólera. As chamas só aparecem em uma segunda fase, depois
As leis do movimento organizam todas as situações tea- da qual podemos trabalhar outras imagens interessantes, a
trais. Uma escrita é uma estrutura em movimento. Os temas água em ebulição, por exemplo.
podem mudar, pois pertencem a ideias, mas as estruturas O ar se descobre através do voo. Correndo pela sala, com
da atuação permanecem ligadas ao movimento e a suas leis os braços estendidos como um aeroplano, experimentamos
imutáveis. Na arquitetura, quando se coloca concreto arma- a possibilidade de nos apoiarmos no ar, que não é um vazio,
do para assentar uma abóbada, caso colocado em excesso, senão um elemento que dá suporte. Demanda a implicação
tudo desmorona. No teatro, às vezes, se vai longe demais de todo o corpo. Em sua dimensão mais extrema, o ar, trans-
sem saber se tudo vai desmoronar. Sendo assim, é necessá- formando-se nos “grandes ventos”, atua sobre o homem, o
rio encontrar a arquitetura no interior. Os movimentos do empurra, o arrasta. Mas, inversamente, o homem também
exterior são análogos aos movimentos do interior, trata-se pode atuar sobre o ar, movendo-o com um leque.
da mesma linguagem. Por último, trabalhamos a terra como uma argila mol-
LECOQ, Jacques. El cuerpo poético: una pedagogia de la creación teatral. Barcelona: Alba dável que podemos amassar, alisar, esticar. Aqui a sensação
Editorial, 2003. p. 40-41. (Tradução dos autores especialmente para esta obra). parte das mãos e da manipulação, para ir se estendendo por
É importante lembrar que o conceito de mímica em todo o corpo. Ainda que seja fácil experimentar sensações
Lecoq refere-se à capacidade de observação, imitação a partir das mãos, também é importante implicar o resto
e incorporação. Não se trata, portanto, da mímica subs- do corpo, a pélvis, o plexo [terminação nervosa na região
tituindo a palavra, como normalmente se associa. Para dos quadris], em uma confrontação com uma terra argilosa
Lecoq (2003) “a mímica é parte integrante do teatro, não imaginária. A partir da terra que manipulo passo a ser, pro-
uma arte separada. A mímica que eu amo é uma identifi- gressivamente, a argila manipulada.
cação com as coisas, para fazê-las viver, inclusive quando
LECOQ, Jacques. El cuerpo poético: una pedagogia de la creación teatral. Barcelona: Alba
a palavra está presente”. Editorial, 2003. p. 126-127. (Tradução dos autores especialmente para esta obra).
Reserve um tempo para uma conversa de, aproximada-
mente, 10 minutos, logo após a realização do exercício. O
Atividade complementar objetivo da conversa é fazer com que os estudantes tenham
consciência da prática realizada, enquanto relatam suas expe-
Objetivo riências para os demais.
Pergunte a eles quais imagens (o mar, a combustão, a
Potencializar a criação corporal, tendo como referência a
mímica do movimento dos elementos da natureza (água,
chama, o vento, o ar, a terra, a argila) foram mais fáceis de in-
fogo, terra e ar). corporar ao movimento e quais foram mais difíceis, e peça-
-lhes que justifiquem suas respostas. Depois, pergunte sobre
Em uma sala sem móveis, oriente todos os estudantes a outras imagens que possam ter-lhes ocorrido durante a rea-
fazer o exercício a seguir ao mesmo tempo. Dê indicações lização do exercício. Você também pode indagá-los sobre as
contínuas para provocá-los a buscar o movimento de cada sensações que tiveram (leveza, raiva, relaxamento, angústia,
elemento da natureza. É importante que eles mantenham os liberdade, fúria, entre outras) e pedir-lhes que as associem a
olhos abertos, para não se machucarem. Fica a seu critério a um elemento da natureza específico.
utilização ou não de música e demais estímulos sonoros. Leia Caso a turma se envolva com este exercício, você pode
a seguir a descrição da atividade feita por Lecoq (2003): aprofundá-lo, posteriormente, associando cada imagem a
uma sensação específica. A partir daí, um texto pode ser in-
Observemos, por exemplo, o movimento de um corpo serido e cada frase ou fragmento trabalhados, tendo como
confrontado pelo mar: é levantado pela água, empurrado ponto de partida uma imagem ou sensação experimentada.
pelas ondas, arrastado em uma luta desigual por adentrar o
424
Páginas 97 a 100 Dança, teatro e cinema Atividade complementar
O autor Roger Garaudy (1980) afirma: No livro História da dança no ocidente, de Paul Bourcier, há
um Quadro sinótico da dança moderna, representado a seguir:
Ao contrário do balé clássico, onde os passos e seus en-
cadeamentos obedeciam a uma ordem pré-fabricada, a dan- Quadro sinótico da dança moderna
ça moderna procurou compor a forma do movimento como Escola americana
expressão de um significado interno. Contra o exclusivo Teórico: François Delsarte
virtuosismo mecânico das pernas, pôs o corpo todo para Isadora Duncan
trabalhar, privilegiando, em lugar dos membros, periféricos,
Saint-Denis-Shawn: Denishawnschool
o centro gerador de todo movimento, o tronco.
GARAUDY, Roger. Dançar a vida. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1980. p. 49.
Humphrey-Weidman Grahan
Nesta parte do capítulo, é utilizado o filme Pina (2011), do
cineasta Wim Wenders (1945-), para apresentar a estética da Limon Hawkins Cunninham
dança-teatro, e da dança moderna alemã em geral, e aproximar
os estudantes de momentos de fruição e criação em dança. Falco Taylor Tharp
Ao apresentar o trailer oficial do filme aos estudantes, a
intenção é proporcionar momentos de observação crítica aos Fora da Denishawnschool: Horton
movimentos dos intérpretes por meio de uma atividade que
integra os momentos de observação (quando os movimen- Ailey Lewitzky
tos e as palavras aparecem no trailer) com os momentos de
Post-modern: De Groat-Childs-Dunn
ação (ao sugerir que os estudantes criem seus próprios movi-
mentos com base nas palavras que aparecem na tela). Escola alemã
Teórico: Jaques-Dalcroze
Caso tenha tempo, combine com os estudantes uma data
para assistir ao filme na íntegra, ou peça a eles que assistam ao Laban
filme em casa. Fazer uma “sessão de cinema” em horário alterna-
tivo pode ser uma forma de aproximá-los da obra do cineasta, da Wingman
obra de Pina Bausch (1940-2009) e de integrar os estudantes em
um momento artístico, unindo dança e cinema para aprofundar Nikolais
Joos
e desenvolver um dos conteúdos abordados nesta obra. Por
causa do tempo necessário para o desenvolvimento do conteú-
Louis Buirge Carlson
do, foram usados exemplos de Pina Bausch, Mary Wigman, Kurt
Jooss e Rudolf Laban para tratar de dança moderna. No entanto, BOURCIER, Paul. História da dança no ocidente. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes. 2001. p. 308.
tratar de dança moderna significa abordar diversos artistas por
meio de suas obras e formas de sistematizar o ensino da dança. Depois de ler e pesquisar informações sobre os coreógra-
fos da dança moderna estadunidense e alemã, mostre o qua-
Sugestão de leitura
dro aos estudantes e peça a eles que pesquisem na internet
informações sobre cada coreógrafo que consta do quadro.
BOURCIER, P. História da dança no ocidente. 2. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2001.
Nesse livro, o autor, professor de História da Universida-
Página 98 Fazer arte
de de Paris, nos apresenta a dança numa perspectiva crono-
lógica, desde as primeiras manifestações que se tem notícia,
há mais de quinze mil anos, até a nossa época. Objetivos
O capítulo 9 desse livro traz informações sobre alguns Fruir e criar movimentos, motivar processos de criação do
nomes dos precursores das escolas de dança moderna, movimento inspirados nos princípios da dança moderna e
como: François Delsarte; Isadora Duncan; Loie Fuller; Ruth da dança contemporânea, privilegiando a diversidade dos
Saint Denis; Ted Shawn; Doris Humphrey; Charles Weidman; corpos e as inúmeras possibilidades de movimento dos
Martha Graham; José Limón; Eric Hawkins; Merce Cun- participantes.
ningham; Lester Horton; Alvin Ailey e Twyla Tharp Émile
Jaques-Dalcroze; Rudolf Laban; Mary Wigman; Kurt Jooss; Esta atividade deve ser realizada em um espaço amplo para
Alwin Nikolais; Murray Louis; Susan Buirge e Carolyn Carlson. que os estudantes possam explorar as diversas possibilidades de
Alguns desses artistas atuaram como coreógrafos, dan- criação do movimento em seus corpos. Observe que, ao estimu-
çarinos e professores de dança na transição entre a dança
lar a criação de movimentos a partir de palavras, não se pretende
moderna e a dança contemporânea, criando escolas e
estabelecer qualquer estética, forma ou ritmo. Se possível, grave a
obras artísticas que caracterizaram a nova dança da segun-
da metade do século XX. atividade ou oriente os estudantes a fazerem registros escritos so-
bre a atividade para retomá-la na discussão da “Roda de Conversa”.
425
Esta atividade proporciona aos estudantes a exploração SILVEIRA, J. C. F. da. Contextualização da dança-teatro de Pina
dos princípios de Laban conhecidos como níveis espaciais. Bausch. In.: Cena em movimento. n.1. Porto Alegre: UFRGS,
Sistematizados nos processos de criação, notação e ensino 2009. Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/index.php/cenamov/
do movimento, os níveis do movimento de Laban (baixo, mé- article/view/21603/12437>. Acesso em: 27 abr. 2016.
dio e alto) podem ser explorados em um processo de criação Esse artigo é uma revisão da história da dança-teatro e
dinâmico e interativo. Incentive a interação dos estudantes tem como foco a sua articulação com a abordagem de Pina
com o espaço. Para o bom desenvolvimento da atividade, Bausch. O estudo pretende aproximar a teoria da dança-
atente para as diferenças corporais e para as limitações de -teatro da prática da coreógrafa alemã. Você compreenderá
movimento dos estudantes, respeitando o limite de cada um. muito mais as cenas do filme de Wim Wenders se conhecer
Considere sempre que os movimentos não podem ser classi- um pouco mais sobre Pina Bausch.
ficados como melhores ou piores, mas diferentes e diversos.
Se julgar interessante, escreva no quadro as palavras que Página 101 Ensaio corrido
aparecem no trailer do filme Pina: 1. vida; 2. amor; 3. liberdade;
É importante reiterar o movimento como elemento
4. esforço; 5. saudade; 6. alegria; 7. desespero; 8. reencontro;
potencializador das práticas artísticas estudadas neste ca-
9. beleza; 10. força. Partindo dessas palavras, desenvolva a ati-
pítulo tanto no teatro quanto na dança e em expressões
vidade nas versões sugeridas no livro, que podem ser utiliza- artísticas híbridas. O boxe “Fazer arte” (e a “Atividade com-
das como forma cumulativa, a fim de progredir e desenvolver plementar” proposta, caso seja realizada) contribui para um
mais habilidades. entendimento do movimento como motor e materialidade
A utilização de música é opcional. Considere que, na dan- da criação baseada na própria experiência dos estudantes.
ça moderna, muitas vezes o ritmo de uma coreografia poderá Se possível, visualize os vídeos e escute os áudios sugeri-
ser ditado pelo próprio movimento e pela respiração. Portan- dos no interior do livro se precisar ampliar o repertório em
to, caso opte por utilizar uma música, escolha obras instru- relação à temática discutida. Sempre que possível, assista
mentais e que não definam um estilo de dança. Evite que os aos vídeos e escute os áudios com os estudantes. Caso não
estudantes associem as características de um estilo musical haja possibilidade, contribua para que eles o façam em um
com o processo de criação do movimento, uma vez que a horário fora da aula. Recorrer a essas sugestões contribui
atividade incentiva a criação individual. para a compreensão do movimento como elemento das
Lembre-se de que, nesta atividade, não existe resposta artes cênicas.
certa ou errada. Todo e qualquer movimento ou texto escolhi-
do pelos estudantes deve ser considerado e contextualizado, Página 101 Roda de conversa
pois cada corpo se movimentará e criará cenas ou textos de As atividades desta seção estão diretamente relacionadas
acordo com as habilidades desenvolvidas em suas vivências à prática proposta no “Fazer arte”, que deve ser retomada e re-
cotidianas. Muitas vezes o cotidiano dos estudantes não tem fletida aqui. É importante levar isso em consideração ao fazer
qualquer relação com a dança ou com o teatro. Por exemplo, o planejamento da aula do “Fazer arte” e também desta “Roda
é possível que alguns estudantes com vivências nas artes cê- de conversa”. O objetivo é que os estudantes sejam capazes
nicas restrinjam suas noções de movimento ou a criação de de refletir sobre o movimento nas artes cênicas também a
seus textos aos padrões midiáticos do que é ou não é dança partir de sua experiência corporal e prática.
e teatro, ou que utilizem elementos associados às técnicas de
Páginas 102 a 104 Atividades de múltipla escolha
dança ou teatro aprendidas.
Para se aprofundar e conhecer outras maneiras de abordar 1. Apesar de o balé estar presente no Brasil, não podemos
atividades que incluam a dança moderna e a dança contem- classificá-lo como dança folclórica brasileira, pois ele tem
porânea na escola, a última sendo caracterizada pela aceitação sua origem nas tradições das cortes francesas e italianas.
das diversas formas e possibilidades de criação e execução de Vale atentar que a resposta da letra E está mal formulada,
movimentos por diferentes corpos, se possível, faça leituras pois o Carnaval não é uma dança, e, sim, uma festa, uma
mais especializadas sobre o tema, como apresentada a seguir. celebração. A dança nesse caso é o samba, que tem, de
fato, sua origem no batuque africano, entre outras coisas.
Sugestões de leitura 2. John Cage integrou o grupo que Schafer denomina no
fragmento de texto analisado de compositores de van-
RENGEL, Lenira. Os temas do movimento de Rudolf Laban:
guarda, tendo sido um dos precursores na incorporação
modos de aplicação e referências (I-II-III-IV-V-VI-VII-VIII). São
de ruídos considerados não musicais em suas peças e um
Paulo: Annablume, 2008.
dos responsáveis pela ampliação do que poderia ser con-
Essa é uma das obras de referência sobre a teoria de siderado música no século XX.
Rudolph Laban no Brasil. A partir do entendimento do cor- 3. As rubricas são indicações do autor para os atores e os di-
po como processo de natureza e cultura, a obra nos aproxi- retores. Elas são importantes para se compreender como
ma dos temas do movimento, e das formas de se trabalhar o autor caracteriza determinada personagem ou deter-
esses temas nos processos de criação em dança. minada cena. Ainda assim, cabe ao diretor e aos atores
426
encontrarem sua própria forma de encenação do texto do A imagem escolhida para a abertura desta Unidade é um
autor, podendo ou não seguir suas rubricas. fotograma do filme Tempos Modernos (1936), de Charles Cha-
4. Para essa questão é importante que os estudantes identi- plin. Nesse filme, Chaplin explora artisticamente o processo de
fiquem que a escultura neoclássica utiliza como princípio mecanização da sociedade no início do século XX, com o surgi-
a repetição das mesmas imagens em posições diversas do mento das linhas de montagem nas fábricas. Na visão do diretor,
corpo humano. Nesse sentido, a tradição em agrupar fi- as linhas de montagem mecanizam as ações do ser humano
guras em duplas ou trios com posições distintas pode ser que acaba sendo, metaforicamente, engolido pelas máquinas.
observada tanto na imagem A do artista Antonio Cano-
va, como na imagem B de Thorwaldsen, na imagem E de
Jean-Jacquer Padrier e também no conjunto de Carpeaux Interdisciplinaridade
no item C. Entretanto, o mesmo não ocorre na imagem D, Durante o estudo dos assuntos abordados nesta Unidade,
de Rodin, que apenas repete a mesma imagem, na mes-
você vai observar conexões interdisciplinares entre as artes e
ma posição, três vezes.
outras áreas do conhecimento. Essas conexões são explicita-
5. No teatro do gesto há uma valorização do gesto e da
das no boxe “Arte em diálogo”.
palavra como elementos principais da criação teatral,
correspondendo a uma retomada do corpo e do movi- Capítulos da Unidade 2 Arte em diálogo
mento no trabalho do ator a partir do final do século XX
e início do século XXI, principalmente na Europa. Esse 7 Teatro e sociedade – Teatro e História
teatro também influenciou a produção brasileira con- – Teatro e Filosofia
temporânea, como é o caso do Grupo Primeiro Ato (MG),
Moitará (RJ), entre outros.
6. Ao optar pela realização de um espetáculo fora dos pal- 8 Imagem e poder – Artes visuais e História
cos dos teatros, artistas e técnicos deparam com desafios
relacionados à iluminação e à projeção da voz dos atores, 9 Dança e sociedade – Dança e Hip-Hop
entre outros. Muitos grupos brasileiros contemporâneos
partem da necessidade de ampliar a relação da cena e da
10 Música e sociedade – Música e universidade
dramaturgia com o espaço real da cidade, bem como de
propor novas formas de interação com o público por meio
do uso de espaços não convencionais. Os desafios técni-
cos dessa escolha fazem parte do processo de criação.
Capítulo 7 Teatro e Sociedade
Unidade 2 Arte e sociedade
Conteúdos
O teatro como uma arte política e social
Origem do teatro na Grécia
O Teatro do Oprimido de Augusto Boal
Páginas 106 e 107 Preparando as tintas e os pincéis
O teatro como expressão política
Nesta Unidade, serão conhecidas e experimentadas, de A Zona de Arte da Periferia – ZAP 18
modo contextualizado, as relações da arte com a sociedade
nas artes visuais, na dança, na música e no teatro. Para isso,
Página 108 Afinando os instrumentos
foram elencadas algumas experiências nesses campos artís-
ticos que exemplificam essa relação e contribuem para as O principal objetivo deste capítulo é traçar um estudo e
conexões da arte com seu tempo e com os acontecimentos desenvolver uma prática do teatro a partir de sua relação com
políticos e sociais que o marcam. a sociedade. Para isso, apresentam-se as propostas de Denis
427
Guénoun (1946-), publicadas em seu livro O teatro é necessá- no teatro é um problema constantemente discutido por artis-
rio?, cujo título remete à importante relação entre o teatro e a tas e produtores culturais.
sociedade. Denis Guénoun (2004), no texto a seguir, aborda a No entanto, é cada vez mais comum se fazer teatro. Exem-
chamada crise do teatro: plo disso é que, nas últimas décadas, foram abertos vários
cursos livres, profissionalizantes e graduações em teatro em
Não haveria crise do teatro se o teatro fosse para nós, muitas cidades brasileiras. Muitas companhias foram criadas e
simplesmente, “coisa do passado”: se ele se afastasse ou se espaços alternativos para apresentações teatrais são mantidos
eclipsasse irremediavelmente. por grupos de teatro em bairros distantes dos centros das cida-
É verdade que, num certo sentido, ele encolhe e parece des, ampliando o acesso do público, como no caso da ZAP 18.
destinado a se extinguir. Seu público diminui, dizem as pes- A vontade de fazer teatro parece persistir e conquistar muitos
quisas. Ele não funciona mais como centro: os poderes do- jovens, renovando essa arte milenar.
minantes não usam mais seu brilho para exibir-se, ostentar A inclusão do teatro como conteúdo da disciplina Arte
os signos de sua dominação simbólica e de sua hegemonia. também é um reflexo da valorização dessa arte por possuir
Ele ficou órfão das revoluções. Sua função se embaralha. um valor específico na formação escolar de jovens e adultos,
Sobretudo, segundo a opinião corrente, os desafios mais como foi discutido na introdução deste livro. Fazer e assistir
arriscados da representação coletiva se estabelecem neste teatro possuem saberes únicos, como o do compartilhamento
momento em atos narrativos ou figurativos que empurram do aqui e agora entre artistas e público. Além disso, a dança, o
o teatro para as margens: cinema, televisão. Tudo devereia teatro, o circo, entre outras artes cênicas, estão presentes no dia
nos levar a considerá-lo um artesanato superado, uma peça a dia das pessoas independentemente de elas irem ou não a
de museu, vestígio de um mundo ultrapassado. um edifício teatral. Exemplo disso é a ONG Doutores da Alegria:
Ora, o tempo dessa retratação é também o tempo em que
Doutores da Alegria é uma organização da sociedade
o teatro se amplia, prolifera, ganha espaços em toda parte. Na
civil sem fins lucrativos que há 24 anos promove as relações
França, os teatros públicos, cujo número aumentou bastante
humanas e qualifica a experiência de internação em hospitais
e cuja geografia se ampliou a ponto de cobrir quase todo o
por meio da visita contínua de palhaços profissionais espe-
território, estão tomados, sitiados, por “companhias” que se
cialmente treinados em São Paulo e no Recife.
multiplicam de forma explosiva: elas existem aos milhares,
[...] O trabalho da ONG, gratuito para os hospitais, é
hoje em dia. Participam destes grupos, maiores ou menores,
mantido por recursos financeiros obtidos através de patrocí-
legiões de aspirantes à vida teatral. Nada indica, apesar dos
nio, doações de empresas e pessoas e por meio de atividades
sonhos das autoridades, que esta proliferação vá estancar. Pelo
que geram recursos, como palestras e parcerias com empresas.
contrário: a cada ano, acrescentam-se a estas companhias
multidões de jovens que se inscrevem em cursos de arte dra- DOUTORES da Alegria. Disponível em: <www.doutoresdaalegria.org.br/conheca/
mática, aulas de teatro oferecidas em toda parte no âmbito do sobre-os-doutores>. Acesso em: 9 mar. 2016.
ensino secundário e faculdades de teatro que mobilizam um Em várias outras cidades, há projetos similares ao dos
número crescente de profissionais. A singularidade do que Doutores da Alegria, cujos palhaços profissionais atuam em
poderia passar por um novo amadorismo é evidente; no polo hospitais, colaborando para a melhora do ambiente hospi-
oposto, a aspiração intratável destes jovens entusiasmados talar e levando alegria e esperança para crianças internadas.
à qualificação “profissional”, que denota simplesmente seu Exemplo disso é o Instituto HAHAHA, uma ONG de Belo Ho-
desejo ardente de viver o teatro, de viver de teatro: de fazer rizonte, que ganhou projeção nacional em 2015 ao simular
do teatro o centro de suas vidas e inscrever este entusiasmo uma “fuga” do hospital de uma criança que havia recebido
no princípio de sua existência social. Mas em volta destes alta. Confira a reportagem:
exércitos de voluntários é preciso ainda localizar as múltiplas
Matheus Theodoro Oliveira, de seis anos, recebeu alta
extensões da atividade dramática nos lugares mais diversos:
do hospital nesta quinta-feira (17), em Belo Horizonte,
prisões, hospitais, escolas, claro, e, hoje, os bairros ditos “em
Minas Gerais, depois de um ano internado. Ele tem proble-
situação de risco social” ou conflagrados. São lugares que, há
mas no intestino, nos rins e precisa de um transplante. Para
alguns anos, teriam atraído a atenção da militância política e
continuar o tratamento em casa, ele combinou um plano de
que hoje são tomados pela nova moda. A eles é preciso acres-
“fuga” com palhaços que conheceu no hospital, e tudo foi
centar ainda, last but not least, o teatro amador, persistente ou
feito como ele planejou.
mutante, em suas formas tradicionais ou modernizadas.
[...] Na imaginação dele, a fuga é com a ajuda dos palha-
GUÉNOUN, D. O teatro é necessário? São Paulo: Perspectiva, 2004. p. 11-12. ços da ONG HaHaHa, que durante o tempo de internação
Nesse texto, o autor trata da realidade francesa, mas é viraram os melhores amigos do menino. O combinado era
possível perceber muitas conexões com a realidade do tea- se esconder numa caixa, como um brinquedo, e tudo foi fei-
tro brasileiro. No início do século XX, nas principais capitais to como Matheus planejou com os palhaços. [...]
do Brasil, a temporada teatral acontecia de terça a domingo, Matheus foi levado dentro da caixa até a ambulância.
levando multidões aos teatros e, hoje em dia, a falta de público Na ambulância ele pediu para não contar para ninguém que
428
ele estava fugindo. Todos os procedimentos médicos foram fomentar as descrições. O texto de Denis Guénoun e as ex-
cumpridos: medicamentos, maca e muito carinho. Uma fes- periências descritas dos Doutores da Alegria e do Instituto
ta esperava por Matheus em casa. “Deu tudo certo”, come- HAHAHA podem auxiliar no debate levantado pela pergunta:
morou Matheus. “c) De que forma você imagina que o teatro contribui para
melhorias na região onde você mora? Por que ele é importan-
SCALABRINI, Isabela. Criança recebe alta após um ano e palhaços simulam "fuga" de
hospital, 17 set. 2105. Disponível em: <http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/ te para seus familiares e amigos?”. Almeja-se evidenciar como
2015/09/crianca-recebe-alta-apos-um-ano-e-palhacos-simulam-fuga-de-hospital. as descrições das peças de teatro pelos estudantes dialogam
html>. Acesso em: 9 mar. 2016. com a comunidade que as produzem e/ou as assistem.
429
teatro de resistência à ditadura civil-militar brasileira. Da A simplicidade do jogo de Boal revela o foco no trabalho de
mesma forma que o teatro grego, não se trata de um pa- cooperação entre todos para a conquista de um mesmo objeti-
norama histórico do teatro brasileiro, mas sim de caracteri- vo, tão importante ao teatro e também à vida em sociedade. A
zar um cenário histórico e cultural para o desenvolvimento
experiência corporal proposta nesse jogo demonstra a impor-
do Teatro do Oprimido. Boal teve grande importância no
desenvolvimento do teatro moderno brasileiro, suas pro- tância da colaboração de modo que cada indivíduo é parte de
postas impactaram vários países do mundo ocidental e, um todo. Em um mundo cada vez mais individualizado, em que
principalmente, suas escolhas estéticas e políticas estão as brincadeiras coletivas foram substituídas por telas individuais,
ancoradas na realidade social que as cerca almejando sua é importante aproveitar as oportunidades de inter-relação
transformação. entre as pessoas. A proximidade corporal demandada nesse
jogo e a harmonização rítmica do grupo favorecem a noção
Sugestões de leitura
de coletividade, segundo a qual cada um é responsável, ao
GUINSBURG, J.; FARIA, J. R.; LIMA, M. A. de (Coord.). Dicioná-
mesmo tempo, por si e pelo todo. Por causa da complexidade
rio do teatro brasileiro: temas, formas e conceitos. São Paulo:
Perspectiva/Edições Sesc-SP, 2009.
do jogo, é provável que sejam necessárias várias tentativas até
que ele seja bem-sucedido.
Esse dicionário organiza textos críticos-analíticos dos
principais temas, formas e conceitos do teatro brasileiro Página 119 Ensaio corrido
ao longo de sua história. É um importante instrumento de
conhecimento e consulta para o professor de teatro, por Neste capítulo, foram ressaltadas as relações entre o tea-
possibilitar a localização rápida de cada verbete e um co- tro e a sociedade, apresentando contextualizações históricas
nhecimento inicial bem fundamentado sobre eles. (surgimento do teatro no Ocidente e o teatro de resistência
BERTHOLD, M. História mundial do teatro. São Paulo: Pers- no Brasil), propostas como as do Teatro do Oprimido, além
pectiva, 2004.
de um exemplo do teatro feito em estreita relação com a
Esse livro contém uma análise bem fundamentada do
comunidade que o cerca, a ZAP 18. Com base nas rodas de
desenvolvimento mundial do teatro até nossos tempos tan-
to no Ocidente quanto no Oriente. Sua leitura é direcionada conversa deste capítulo, é possível conhecer algumas expe-
por períodos históricos, que permitem um conhecimento riências dos estudantes com o teatro. Para aproximar ainda
crítico das diversas realizações cênicas ao longo da história mais os estudantes do teatro, sugere-se uma visita a algum
do teatro. espaço de apresentação ou um convite a algum artista para
LEVI, C. Teatro brasileiro – um panorama do século XX. Rio de que visite a escola e compartilhe suas experiências. O objetivo
Janeiro: Fundação Nacional das Artes; São Paulo: Atração
é ressaltar que o teatro é uma arte que se realiza em diversos
Produções Ilimitadas, 1997.
contextos e com propostas igualmente diversas. O contato
Esse livro traça um panorama do teatro brasileiro do
dos estudantes com os espaços e os artistas que fazem teatro
século XX por meio de imagens de espetáculos. Está centra-
do no eixo Rio-São Paulo, mas também apresenta algumas em sua cidade é muito importante, pois possibilita experiên-
imagens de espetáculos de outras cidades brasileiras. cias de fruição de peças ou, caso essa possibilidade seja mais
remota, de compartilhamento de procedimentos artísticos
Página 116 Fazer arte em ensaios, oficinas, entre outras atividades.
430
Capítulo 8 Imagem e poder primitivos. [...] Os primitivos são, por vezes, ainda mais vagos
a respeito do que é real e do que é imagem. Certa ocasião,
quando um artista europeu fez desenhos de animais domésti-
cos numa aldeia africana, os habitantes mostraram-se nervosos:
“Se levar consigo o nosso gado, de que iremos viver?”.
GOMBRICH, Ernst. A história da arte. Rio de Janeiro: LTC, 2012. p. 40.
As relações entre imagem e realidade estão impregnadas
no senso comum: uma imagem vale mais que mil palavras,
como é expresso no ditado popular. O problema é que as
imagens, assim como as informações, podem ser manipula-
das dentro de determinado contexto. Ao andar pelas praças e
ruas da cidade, geralmente há imagens que representam pes-
soas ou fatos considerados importantes da História. Porém,
como foi construída essa noção da utilização das imagens ar-
Conteúdos
tísticas para a constituição do poder? Um exemplo bastante
Imagem na Pré-história conhecido foi o Coliseu.
Imagem na Antiguidade Segundo, Giulio Carlo Argan (2003):
Imagem como subersão
Para explicar como adquiriu esse significado ideológico
não basta a paixão dos romanos pelos jogos do circo. Os gla-
Página 121 Afinando os instrumentos
diadores, os lutadores, as feras que eram exibidos na arena
Com o desenvolvimento gradativo das tecnologias de provinham de todas as partes do mundo conquistado por
produção e reprodução de imagens (celulares, câmeras foto- Roma: o espetáculo do circo era, pois, uma espécie de gran-
gráficas, TV, publicidade), passamos a nos comunicar e con- de parada, de “triunfo” continuamente celebrado e renovado
viver diariamente em um universo em que grande parte das sob os olhos dos governantes e do povo de Roma.
relações sociais está mediada por imagens, por exemplo, nas O imenso reservatório humano respondia, antes de
mídias sociais. O contato com as imagens produzidas atual- tudo, às exigências de uma complexa funcionalidade inter-
mente coloca uma questão: como os primeiros habitantes do na: rápido afluxo e defluxo dos 45 mil espectadores, depósi-
mundo lidavam com as imagens? É quase impossível respon-
tos de materiais e equipamentos para os espetáculos. Sob a
der com segurança, mas o historiador da arte Ernst Gombrich
cávea ou arquibancada para o público corriam grandes gale-
(2012) buscou algumas indicações:
rias anulares, que davam para o exterior com três ordens de
É impossível entender esses estranhos começos se não arcadas, às quais se sobrepunha um último anel de murada
procurarmos penetrar na mente dos povos primitivos e des- contínua.
cobrir qual é o gênero de experiência que os faz pensar em ARGAN, G. C. História da arte italiana: da Antiguidade a Duccio. v. 1. São Paulo: Cosac &
imagens como algo poderoso para ser usado e não como algo Naif, 2003, p. 175-176.
bonito para se contemplar. Não acho que seja realmente di-
A arquitetura romana possuía dentro dessa sociedade um
fícil recuperar esse sentimento. Tudo o que precisamos é ser
papel fundamental, além de seu valor prático, ao oferecer fun-
profundamente honestos conosco e examinar se em nosso cionalidade à população e torna-se efetiva como ferramenta
íntimo não se conserva algo do “primitivo”. Em vez de co- de grande utilidade aos interesses ideológicos da república.
meçarmos pela Era Glacial, comecemos por nós mesmos. É também do historiador da arte Argan (2003) a passagem a
Suponha-se que recortamos do jornal de hoje o retrato do seguir, que ajuda a compreender melhor essa questão:
nosso campeão favorito – será que sentiríamos prazer em
apanhar uma agulha e furar os olhos? Isso nos deixaria tão Por muito tempo Roma foi apenas um agrupamento
indiferentes quanto praticar tais furos em qualquer outra de pagi (povoados) disseminados pelas colinas. Mas já no
parte do jornal? Suponho que não. Embora eu saiba, bem tempo de Sila sente-se a necessidade de dar uma acomo-
no íntimo dos meus pensamentos, que o que fizer ao retrato dação e uma feição à cidade: constroem-se grandes edifí-
não causará a mínima diferença ao meu amigo ou herói, cios públicos [...]. César concebe um verdadeiro e próprio
sinto, não obstante, uma vaga relutância em causar danos à plano regulador ao qual dá força com a lei de urbe augenda,
sua imagem. Subsiste algures a absurda sensação de que o também para remediar a superlotação e as péssimas con-
que se faz ao retrato é infligido à pessoa que ele representa. dições higiênicas dos bairros pobres. O plano foi executa-
Ora, se estou certo nessa suposição, se essa ideia estranha e do somente mais tarde e, em parte, por Augusto e Agripa.
irracional realmente sobrevive mesmo entre nós, em plena Desde então, quase todos os imperadores quiseram deixar
era da energia atômica, talvez seja menos surpreendente que no perfil da cidade a marca visível do respectivo governo,
tais ideias existissem entre quase todos os chamados povos fosse saneando bairros insalubres e indignos, fosse erigindo
431
edifícios majestosos e monumentais, valorizando-os com a nasce de um forte impulso sentimental ou ideológico, mas
abertura de praças, ruas e jardins. As duas grandes diretrizes se realiza antes por meio de uma técnica do que de uma
de desenvolvimento são a utilidade e a decoração urbana; intuição formal.
e, uma vez provida a utilidade, de acordo com a urgência, BANDINELLI, R. B. O relevo honorífico e o retrato. In: ARGAN, G. C. História da arte italiana:
e o ornamento dependendo da mudança de gosto, Roma da Antiguidade a Duccio. v. 1. São Paulo: Cosac & Naif, 2003, p.199.
não teve um desenvolvimento orgânico. Cresceu como uma
Essas relações, portanto, se efetivam como uma estratégia
cidade monumental, representativa: capital de um imenso
de conferir maior valor a um indivíduo comparativamente aos
império, habitada por uma população heterogênea pelo
outros e seguem materializando as possíveis combinações entre
contínuo afluxo de gente atraída pela sua opulência – à sua
arte e poder, e, como bem completa Bandinelli (2003), oferecem:
função política e de prestígio jamais correspondeu uma fun-
ção econômica ou produtiva. Tratava-se da solene imagem a possibilidade de dirigir um olhar sobre um aspecto pe-
da autoridade do Estado, como depois, foi a da Igreja. culiar da sociedade romana, profundamente permeada por
Não existia, na civilização romana, uma ideia ou con- esse apego à realidade da vida, à vontade de durar além da
cepção de espaço que precedesse ou condicionasse a cons- morte, na lembrança dos homens e por meio de sepulcros
trução arquitetônica: o valor, o significado do espaço esta- grandiosos, elevados muitas vezes como fortalezas (e como
va inteiramente expresso na visão, no espetáculo das obras tais foram usados na Idade Média), ou, se os meios não o
arquitetônicas. Os dois grandes temas eram a técnica ou a permitiam, pelo menos como uma pequena edícula, uma
praxe construtiva e a beleza exterior, a decoração: a primeira estele. Sepulcros, grandiosos ou modestos, que fossem não
permitia o desenvolvimento articulado de grandes massas recolhidos em áreas sepulcrais, mas situados ao longo das
murais e de vazios; a segunda qualificava-as visualmente por ruas, para que os passantes pudessem vê-los, ler as incrições
meio de elementos plásticos e cromáticos. e por meio delas comunicar-se ainda com os mortos em
ARGAN, G. C. História da arte italiana: da Antiguidade a Duccio. v. 1. São Paulo: Cosac & uma ideal perpetuidade de tempo e de convivência [...].
Naif, 2003, p. 168-169.
BANDINELLI, R. B. O relevo honorífico e o retrato. In: ARGAN, G. C. História da arte italiana:
Essas formas eram construídas, portanto, com o objetivo da Antiguidade a Duccio. V. 1. São Paulo: Cosac & Naif, 2003. p. 199.
de materializar o poder, que, desempenhado individualmen- Aspecto esse que, apesar de distante cronologicamente,
te, deveria ser capaz de materializar-se como símbolo para parece permear intensamente as condições da relação atual
um conjunto de pessoas. Para utilizar novamente a palavra com as imagens.
“poder”, que abre o capítulo, é possível citar Roberto Bandi-
nelli (2003), pesquisador que concebe, ainda, o relevo honorí- Páginas 121 e 122 Roda de conversa
fico e o retrato como localizados no centro do poder romano
Antes de iniciar a seção “Roda de conversa”, pesquise com
e, por isso, atestam sua forte capacidade representativa:
os estudantes ou solicite uma pesquisa prévia sobre pinturas
Definir uma corrente de arte “plebeia” ajuda-nos a com- e fotografias antigas que retratem pessoas. As imagens cole-
preender como se formaram certos aspectos característicos tadas serão importantes para que percebam as diferenças en-
dos relevos de tema histórico, que representam um momento tre diversos meios de se representar pessoas e situações, seja
da vida contemporânea – privada ou pública, civil ou religiosa por meio da pintura ou, mais recentemente, pela fotografia.
– e quase sempre pertencem ao mesmo tempo a todas essas Também serão importantes para que observem, por exem-
plo, que, até determinado período, somente pessoas de clas-
esferas da vida social romana. O “relevo histórico” estivera lar-
ses favorecidas eram retratadas em obras de arte. Outra rela-
gamente em voga na arte egípcia e assíria para a glorificação
ção interessante que pode ser observada é a constituição das
das empresas dos soberanos. Logo, não é, em sentido estrito,
famílias de antigamente em comparação com a das famílias
uma “invenção” romana, uma vez que também os soberanos
atuais. Quais diferenças é possível observar entre uma foto-
helenísticos preferiam revestir de argumentos mitológicos a
grafia para o registro de um momento pessoal e uma pintura?
exaltação dos próprios empreendimentos, usando, por exem-
Durante a primeira “Roda de conversa”, busque trabalhar
plo, a representação da amazonomaquia ou até da giganto- as formas de produção das imagens (pintura e fotografia)
maquia para lembrar a vitória sobre as populações “bárbaras”. e compreender seus possíveis objetivos. A ideia é iniciar
Contudo, o “relevo histórico” assume na arte romana uma a reflexão sobre como o ser humano se relaciona com as
importância excepcional e um desenvolvimento que parece imagens desde os tempos mais afastados – antes da inven-
fundamental na caracterização dessa civilização artística. ção de artifícios mecânicos de captação – até os dias atuais,
O outro tipo de produção artística que caracteriza de com o aumento do acesso a mecanismos como celulares,
modo particular a arte romana é o retrato. Ambos, relevo smartphones e tablets. Especificamente sobre a atividade
histórico e retrato, são concebidos como manifestações de proposta de comparação, será feito o acompanhamento da
uma forte ligação terrena e objetiva, que exclui toda a cons- gradativa modificação das características visuais das fotos
trução metafísica. [...]. em consequência da alteração das técnicas usadas no pro-
A arte do retrato é um gênero artístico equívoco, que cesso de captura e revelação das imagens.
432
Páginas 123 a 126 Imagens reveladas – do primitivo pela reconstrução do imaginário místico da cidade de Atenas
ao século XIX após a vitória no conflito com a Pérsia. Ao artista foi dada a ta-
refa de esculpir as figuras dos deuses adorados pelos gregos.
Em cada período histórico, o ser humano se relaciona Essas representações estão preservadas na atualidade devido
com as imagens de diferentes maneiras. É importante colocar ao grande interesse do Império romano pela cultura grega,
em questão o fascínio gerado em torno das imagens e a ideia que levou à criação de inúmeras cópias de diversas esculturas
de perpetuação de vida e de memória que elas passam. O gregas, muitas delas preservadas em importantes museus.
ato de registrar em uma parede ainda hoje se encontra muito
próximo do ato de fotografar, e ambos têm a função de regis- Páginas 130 a 132 Arte como subversão na década
trar um momento ou a memória de um momento e torná-los de 1960
acessíveis materialmente para gerações e gerações. A ideia de subversão como arte será tratada em referência
Páginas 126 e 127 Das artes à arquitetura – ao decorrer dos anos de 1960 a 1985 no Brasil. Nesse momen-
produção de imagens no Egito Antigo to, a arte se mostra como uma ferramenta fundamental para
problematizar e levantar questionamentos sobre as ações
Seguindo no processo de compreensão das possíveis abusivas promovidas pelo regime da ditadura civil-militar. A
relações entre os seres humanos e as imagens, este tópi- arte se oferece, então, como um veículo a ideias que não po-
co apresenta a sociedade egípcia. Serão vistos aspectos da diam ser expressas de maneira direta em vista da repressão
construção das pirâmides e seu significado enquanto re- operante.
presentação política e caminho simbólico para a vida eter-
na do faraó, combinação capaz de estender seus valores Página 133 Arte no dia a dia
para além de sua imagem como monumento. Assim como Esta atividade visa trabalhar de modo associado os aspec-
a arquitetura, a escultura também contribuiu em termos tos estudados sobre a importância das imagens nas socieda-
de significação, uma vez que o escultor foi considerado des egípcia e grega, no período identificado como ditadura
“aquele que mantém vivo”. Essas considerações permitem civil-militar ocorrido no Brasil e a percepção atual do estudan-
a percepção sobre como a representação por meio de uma te sobre as formas de circulação e relacionamento com as ima-
imagem e a realidade estiveram, por muito tempo, total- gens em suas várias formas de apresentação (propagandas em
mente integradas. diversos veículos, notícias de jornal, internet). Outras questões
Páginas 128 e 129 A Grécia Antiga e a imagem como interessantes referem-se à reflexão sobre a durabilidade dessas
representação de esplendor e nobreza imagens, a apropriação de uma mesma imagem em diferen-
tes contextos e, ainda, a diferença de compreensão de uma
A arte grega nos mostrará, em grande proximidade mesma imagem quando produzida por diferentes receptores.
com a arte egípcia estudada anteriormente, como algu-
mas estratégias compositivas em termos de simetria foram Páginas 134 e 135 Fazer arte
mantidas. Entretanto, serão percebidas, em igual sentido,
novas alternativas para a concepção formal, as quais refle- Objetivos
tem formas particulares de interação com as imagens. As Discutir e expressar-se artisticamente sobre questões relati-
vas à rotina do trabalhador e à rotina de estudo.
diferenças se mostram como forma de compreensão do
Praticar jogos inspirados no Teatro Imagem de Augusto Boal.
que existia de diferente na própria estrutura de pensamen-
Fruir da produção artística dos colegas.
to dos egípcios e gregos: enquanto os egípcios trabalham
na construção de uma imagem rígida, capaz de conduzir a Esta atividade, denominada “quadros vivos”, é inspirada no
ideia de eternidade demarcada pelo papel do faraó como Teatro Imagem de Augusto Boal, com algumas modificações
uma divindade na terra, os gregos se voltam para o aspec- criadas especificamente para esta prática, e tem o objetivo de
to terreno e, por assim dizer, humano das divindades, de- relacionar teatro e artes visuais, por meio do uso da fotografia.
Materiais
monstrando em suas imagens caracteres de maior leveza
câmera fotográfica, smatphone ou tablet.
e movimentação.
Instruções
Página 128 Arte em diálogo – Artes visuais e História 1. Depois de lerem o poema, “O operário”, oriente os estu-
dantes a formarem grupos com no máximo seis integran-
O diálogo entre Artes visuais e História visa demarcar o pa- tes e divida o poema entre cada grupo.
pel desempenhado pelo escultor Fídias como o responsável Sugestão:
433
Grupo 1: versos 1 a 3 Capítulo 9 Dança e sociedade
Grupo 2: versos 4 a 6
Grupo 3: versos 7 a 10
Grupo 4: versos 11 a 13
Grupo 5: versos 14 a 16
Grupo 6: versos 17 a 19
Grupo 7: versos 20 a 22
Grupo 8: versos 23 a 26.
Depois de formados os grupos e distribuídos os versos,
cada grupo vai experimentar corporalmente, a partir dos pró-
prios gestos, de duas a três cenas que expressem as ideias,
sensações e situações do trecho selecionado. Montem as ce-
nas como um quadro composto por pessoas ao vivo, por isso
o nome “quadros vivos”.
Conteúdos
2. Enquanto um grupo experimenta seus “quadros vivos”,
Dança na contemporaneidade, história da dança, dança de
os outros observam, tiram fotos das posições iniciais, de-
rua e balé clássico
pois, e podem fazer modificações nesses “quadros”, mo-
Fruição, apreciação, apropriação e criação em dança
vendo os colegas e colocando-os em outras posições e
tirando novas fotos. O objetivo é que eles percebam as
construções artísticas possíveis ao relacionarem-se com Páginas 137 a 139 Afinando os instrumentos
uma temática e observar como pequenas alterações O objetivo deste capítulo é levar os estudantes à com-
nas posições e gestos dos atores podem gerar gran- preensão da dança e dos seus diferentes estilos como ex-
des mudanças na expressividade e nos significados dos pressão humana, social e cultural. A epígrafe é uma frase do
“quadros vivos”. pesquisador de dança estadunidense John Blacking, que,
3. As fotografias devem ser realizadas no momento inicial ao se referir à dança como um fato social, remete às capa-
em cada um dos grupos. Em caso de modificações nas cidades específicas da nossa espécie e a uma “força básica
posições iniciais como resultado das sugestões dos outros da vida social”.
grupos, novas fotografias devem ser realizadas para uma A princípio, abordam-se as várias formas de dança, mas fo-
análise comparativa, que permitirá compreender o reflexo ca-se na dança de rua como tema principal para construir um
direto da modificação da posição e a consequente altera-
conhecimento fundamentado em práticas de dança social-
ção expressional.
mente inclusivas e não discriminatórias. Também é apresentado
4. Para finalizar, entre todas as fotos que os estudantes pro-
o pensamento da antropóloga da dança Judith Lynne Hanna
duziram, escolha três ou quatro fotos de cada grupo e
organizem uma exposição. Vocês podem colocar as ima- (1936-), que lista sete comportamentos humanos para a com-
gens em sequência reconstruindo o poema por meio de- preensão da dança. Enfatiza-se a possibilidade de ampliar a
las, por exemplo. discussão para vários estilos de dança a exemplo da dança
de salão (que está presente em muitas culturas do mundo);
Página 136 Ensaio corrido do jazz (símbolo da cultura afro-americana); do balé (com sua
Resgatar os aspectos estudados sobre o significado das matriz europeia); da dança moderna (estadunidense e alemã);
imagens em diferentes tempos, contextos e em relação a das danças brasileiras (que representam a fusão das matrizes
diferentes receptores. Conduzir os estudantes à percepção africanas, indígenas e europeias que constituem o povo bra-
da imagem como elemento atuante e ferramenta de trans- sileiro) e de todas as outras formas de se dançar espalhadas
missão de sentidos e ideias, caso das apropriações realizadas pelo mundo.
pelo artista Cildo Meireles, e até mesmo em condições mais
cotidianas, como em revistas e jornais. Página 139 Roda de conversa
Nesta roda de conversa, é proposto aos estudantes um
Página 136 Roda de conversa
trabalho de pesquisa no bairro ou na comunidade para cole-
Neste capítulo, foi trabalhado como imagens que sobrevi- tar dados sobre a presença, o significado e a importância da
veram por diversos séculos e que foram capazes de transmitir dança na vida dos entrevistados.
o poder de um rei ou a sobrevivência de uma cultura. Tam- O objetivo dessa pesquisa é levar os estudantes a com-
bém foram vistas imagens produzidas em grande número e preender a dança como uma forma de expressão social e
que são recorrentemente apagadas, editadas e distribuídas. cultural, que vai além do senso comum, ou seja, da compre-
Apresente essas questões e proponha um debate sobre essas ensão de dança somente como técnica e espetáculo. Para
modalidades de representação e circulação das imagens. isso, é levantada a relação estabelecida entre dança e técnica
434
e entre dança e cultura, ou seja, a dança como símbolo da obtidas nas entrevistas com as suas próprias motiva-
identidade, como forma de participação social e cultural na ções e definições de dança. A ideia é mostrar a impor-
comunidade, a exemplo das danças relacionadas à religião tância da dança não apenas na vida de cada um dos
ou aos rituais específicos de um grupo social. Assim, todas entrevistados, mas também na vida dos estudantes.
as respostas são válidas e deverão ser utilizadas como da- 2. Não há respostas certas ou erradas, pois as questões estão
dos relevantes para as discussões sobre a pesquisa. relacionadas ao cotidiano dos estudantes e devem refletir
suas experiências e visões de mundo. O objetivo é diagnos-
Orientações complementares para a realização ticar a inserção da dança no contexto dos estudantes, fazê-
da entrevista -los compartilhar um pouco do que conhecem sobre dança,
as respostas obtidas nas entrevistas, o contexto vivenciado
Considerações gerais por eles no bairro, na rua e na comunidade em que estão
Dependendo da quantidade de estudantes na turma, é inseridos e estimular a reflexão, a percepção e a consciência
possível propor uma conversa com a participação de todos das possibilidades e movimentos dos seus corpos.
ou pode-se optar por dividir a turma em dois grupos para que Observe, na resposta dos estudantes, quais estilos ou for-
aconteçam duas rodas menores. Na roda de conversa, os estu- mas de se dançar são referências para eles. Existe uma pre-
dantes não só podem apresentar as respostas das entrevistas, dominância de estilo ou forma de se dançar entre eles?
mas também podem responder às perguntas das entrevistas. Se positivo, qual? Com base nas respostas dadas por eles,
Se julgar interessante, organize a roda de conversa em dois mo- é possível depreender as concepções deles a respeito
mentos: primeiro, eles compartilham as entrevistas realizadas e, da dança. É importante frisar que dança não é somente
depois, respondem às perguntas com base em suas próprias o balé clássico ou o jazz e não está presente apenas em
experiências. Nesse segundo momento, as perguntas podem academias e escolas de dança. É fundamental considerar
ser lidas por um dos integrantes da roda ou pelo professor. formas populares de dança, como o samba, o funk, o forró.
3. Estimule a reflexão dos estudantes sobre as diferenças
Sobre o passo a passo da entrevista entre as danças que eles conhecem e os espetáculos
1. É importante que os estudantes compreendam que as de companhias de danças profissionais, lembrando que,
pessoas podem dançar em diversos lugares da cidade muitas vezes, as companhias de dança se inspiram nas tra-
onde moram. É muito provável que eles encontrem al- dições populares ou no cotidiano das pessoas para cria-
gum grupo para utilizar como exemplo: um grupo que rem seus espetáculos, como no exemplo da Companhia
dança na rua, nas praças, nas instituições religiosas, nos Urbana de Dança.
clubes etc. Caso não encontrem um grupo que pertença
à categoria “dança de rua”, motive-os a buscar a presença Páginas 140 a 145 Quando a dança invade as ruas
de outro estilo de dança na cidade. Um dos objetivos deste capítulo é o reconhecimento das
b) Esta pergunta visa a uma análise qualitativa. Estimu-
diferenças quando o assunto é o movimento humano. Por
le a reflexão dos estudantes e pergunte a eles: Entre
isso, nessa parte, serão abordados conteúdos sobre a histó-
os cinco entrevistados, quantos responderam que
ria da dança, mostrando sua presença em espaços e tempos
gostam de dançar? Por que você acha que isso acon-
tece? Será que está relacionado ao lugar, à idade, à diferentes. São apresentadas imagens para que os estudantes
profissão ou ao sexo dos entrevistados? As respostas se aproximem da ideia das danças da nobreza e das danças
a essas perguntas muitas vezes podem trazer à tona dos camponeses do século XV. No entanto, você poderá en-
questões de gênero e da bagagem cultural dos en- contrar em pesquisas na internet exemplos de vídeos e filmes
trevistados. Aproveite esse momento para estimular o que apresentam essas danças. Caso considere interessante,
conhecimento dos diversos estilos e formas de dança, você pode exibi-los ou indicá-los para que os estudantes ob-
e para a desconstrução de alguns preconceitos, por servem as dinâmicas de movimento desse período e possam
exemplo, de que a prática da dança está mais ligada contrastá-las com os movimentos das danças de rua e dos
ao gênero feminino. outros estilos de dança da atualidade.
c) Aproveite para conversar sobre a importância da dan-
ça não apenas como forma de entretenimento, mas Página 141 Arte em diálogo – Dança e Hip-Hop
também como arte, e sobre a contribuição das festas
Nesse boxe, foi estabelecido um diálogo com o Hip-Hop.
populares para a manutenção e a afirmação cultural
Por ser muito divulgado na mídia nacional e internacional e
de vários estilos de dança. Por exemplo, o período de
estar presente em centros urbanos de todo o país, o Hip-Hop
Carnaval, o dia de São João, o período de Natal, em
nos instiga a várias discussões.
que muitas das tradições populares ocupam as ruas e
O objetivo é aproximar os estudantes de dados da histó-
praças de várias cidades brasileiras.
d) Com esta questão, espera-se conhecer e debater o ria do Hip-Hop, mas podem surgir outras discussões, como
contexto social e cultural dos entrevistados e perce- outros estilos de dança de rua praticados pelos estudantes,
ber de que forma a dança se insere nesse contexto. a presença das mulheres nos grupos de dança de rua no sé-
e) Estimule os estudantes a relacionarem as respostas culo XXI, a presença dos negros nesses grupos e suas ações
435
afirmativas. Como mediador do processo, é importante que de rua no capítulo, chama-se a atenção dos estudantes para
você sonde os conhecimentos prévios dos estudantes e os contrastes e diferenças históricas entre esses dois estilos
verifique a familiaridade deles com o tema com perguntas: de dança. A ideia é convidar os estudantes a observarem os
Quantos de vocês conhecem o Hip-Hop ou a dança de rua? elementos diferentes, como o figurino, os espaços que ocu-
Quem de vocês dança ou já dançou Hip-Hop ou dança de pam e, principalmente, os movimentos executados por seus
rua? Qual é a importância do Hip-Hop ou da dança de rua na intérpretes, representativos das culturas e das situações so-
vida de vocês? ciais vividas.
Durante a conversa com os estudantes, valorize os conhe-
Página 149 Arte no dia a dia
cimentos locais, ou seja, aqueles descobertos muitas vezes
dentro da própria sala de aula. É importante incentivar o pro- Mais uma vez, incentiva-se os estudantes a entrarem em
tagonismo dos estudantes como elemento construtivo de contato com diferentes veículos de comunicação e amplia-
um processo de ensino-aprendizagem. rem seus conhecimentos sobre a dança presente na cidade
Ao longo do desenvolvimento dos conteúdos deste ca- ou comunidade deles. O foco desse boxe são as companhias
pítulo, estimule os estudantes a compartilharem com você e de balé clássico, com o objetivo de os estudantes reconhe-
com os colegas conhecimentos e experiências prévias. cerem a presença de dança cênica na cidade deles, mesmo
que seja de companhias de outras cidades ou estados que
Páginas 143 e 144 Arte no dia a dia
tenham se apresentado na cidade onde moram.
Os objetivos da pesquisa são os estudantes se aproxima-
rem da diversidade de estilos de dança e reconhecerem os Página 149 Ensaio corrido
jornais, as revistas e a internet como fontes de informação Neste capítulo, foram explorados aspectos sociais e cul-
para a aquisição de conhecimento sobre dança. turais que compõem a dança de rua e o balé clássico a fim
A atividade pode ser feita em grupos de quatro estudan- de que os estudantes reconheçam – com base em pesquisas
tes. Embora tenha sido sugerida uma atividade em grupo, é e comparações entre esses dois estilos de dança – a diver-
proposto que as respostas dos estudantes sejam individuais, sidade de movimentos, os conflitos e as relações de poder
pois integrantes de um mesmo grupo podem apresentar res- presentes nos vários estilos de dança: cênica, praticada no co-
postas diversas, complementares e até mesmo divergentes tidiano ou que ocupa espaços além dos palcos dos grandes
sobre a mesma companhia pesquisada. Por causa das con- centros urbanos.
cepções diversas sobre dança, podem surgir divergências Ao aproximar estilos de dança tão distintos, almeja-se que
dentro dos próprios grupos, e isso cria um excelente momen- os processos de ensino-aprendizagem propostos contem-
to para a aproximação real dos estudantes dos conteúdos plem a diversidade de corpos, de ideias e de movimentos
abordados. Lembre-se de que estamos falando da dança feita presentes na dança na contemporaneidade.
na rua, permeada pelas diferentes formas de se viver nos cen- Página 150 Roda de conversa
tros urbanos.
Nesta roda de conversa, são enfatizadas as diferenças en-
Página 145 Fazer arte tre a dança de rua e o balé clássico, incentivando a capacida-
de de análise e reflexão de cada estudante.
Objetivos Ao longo do capítulo, foram indicados filmes e ima-
Experimentar e conhecer os planos de movimento gens que podem auxiliar os estudantes a construírem
conforme os princípios de Rudolf Laban. suas opiniões e desenvolverem essa análise, pois o acesso
a imagens do corpo em movimento é um recurso impor-
Se possível, para a realização desta atividade, utilize outros tante para o aprendizado da dança. Antes de finalizar a
espaços da escola como corredores, pátio e quadra. Desse discussão do capítulo, você pode retomar alguma cena
modo, os estudantes podem explorar um fator importante de um dos filmes assistidos, mostrar trechos de vídeos de
no processo de criação em dança: o reconhecimento de um balé clássico e de dança de rua ou compartilhar outras
novo espaço. imagens e propor aos estudantes que experimentem com
seus corpos essas duas formas de dançar, imitando os mo-
Páginas 146 a 149 Entre a dança da nobreza e a
vimentos assistidos e/ou conhecidos antes ou durante a
dança de rua roda de conversa proposta.
É apresentado um pouco da história da dança no Brasil, Lembre-se de que esse é um momento importante para
com o objetivo de levar os estudantes a compreendê-la de comparar os conhecimentos preexistentes dos estudantes e
forma mais ampla, relacionando-a ao contexto social, econô- os conhecimentos construídos após a abordagem do capí-
mico, político e cultural. tulo. A roda de conversa pode ser mais um momento impor-
Ao apresentar uma imagem de balé clássico no Teatro tante para a avaliação contínua e processual sugerida neste
Municipal do Rio de Janeiro e vídeos e imagens de dança livro didático.
436
Capítulo 10 Música e sociedade Já no rap “Beco Sem Saída” buscou-se aproximar à gra-
vação original dos Racionais MC’s, tanto na instrumentação
quanto no canto. Da mesma forma, o poema “Operário”, de
Mario Chamie, foi musicado em forma de rap e buscou-se
inseri-lo na linguagem musical desse estilo no Brasil.
Além de propiciar a possibilidade de os estudantes reali-
zarem uma reflexão sobre as relações entre música popular
e sociedade, eles entrarão em contato com uma produção
musical brasileira de significação histórica e artística.
437
Página 163 Roda de conversa portanto, que subverta a proposta original nem que seja
apenas uma reprodução da cultura musical dos Estados
Verifique se os estudantes conseguiram estabelecer conexões Unidos. Como o próprio texto apresenta, o hip-hop no
entre a temática das letras das canções estudadas no capítulo e
Brasil deriva das festas black que, por sua vez, surgiram
situações do cotidiano das cidades brasileiras e as diferenças na
como uma alternativa de lazer antes inexistente e não da
forma como os temas são abordados em cada canção. Tente rela-
diversidade de práticas artísticas já presentes nas periferias
cionar esse conhecimento às preferências musicais dos estudan-
brasileiras. Adicionalmente, à indústria fonográfica não in-
tes e discuta outros exemplos de músicas trazidos por eles para a
sala de aula. É importante, também, ressaltar que a abordagem de ventou o movimento, mas apropriou-se dele.
temas como a pobreza não deve ser indicativo de qualidade ou 3. Apesar da distância temporal entre o grafite contempo-
falta dela dentro da produção musical, mas deve ser vista como râneo e a arte rupestre, é possível encontrar uma aproxi-
uma dentre as várias possibilidades de se envolver com a canção mação entre as produções no que se refere à busca de re-
popular, tanto como criador quanto como ouvinte. gistrar o pensamento e a crença das sociedades em várias
épocas
Sugestão de CD 4. Somente as afirmativas I, II e IV estão corretas. A afirmativa
Racionais MC’s. Coletânea 25 anos. 2014. III não está correta, pois o bailado dramático e a repro-
dução de uma técnica específica são ferramentas do balé
A coletânea lançada em 2014 em comemoração aos 25
clássico e não da dança contemporânea.
anos de atividade do grupo traz 14 canções, gravadas ori-
ginalmente nos discos anteriores, que permitem conhecer
a trajetória poético-musical dos Racionais MC’s e seus raps
contestatórios.
Unidade 3 Arte e as cidades
Sugestão de site
Dicionário Cravo Albin da música popular brasileira. Dis-
ponível em: <www.dicionariompb.com.br>. Acesso em: 2
maio 2016.
O site apresenta breves biografias, as principais músicas
e discos, e uma contextualização crítica que permite com-
preender a importância dos compositores citados neste
capítulo inseridos na produção da música popular no Brasil.
Sugestão de leitura
SEVERIANO, J. Uma história da música popular brasileira. São
Paulo: Editora 34, 2008.
Nesse livro, o autor contextualiza historicamente os
gêneros e movimentos que marcaram a história da música
popular no Brasil, os principais compositores, músicos e
intérpretes.
Páginas 168 e 169 Preparando as tintas e os pincéis
Páginas 165 e 166 Atividades de múltipla escolha A relação entre arte e as cidades é um tema gerador de
discussões importantes na contemporaneidade, pois eviden-
1. O Teatro do Oprimido democratiza o acesso à linguagem cia as conexões da arte com o dia a dia das pessoas. A cidade
teatral e seus códigos a partir do momento em que torna
torna-se uma temática e uma problemática importante a ser
menos rígida a separação entre os que fazem (os atores)
tratada nas mais diversas áreas, e a arte tem se relacionado di-
e os que assistem (espectadores). Ao possibilitar, por meio
retamente com essa problemática, interferindo no cotidiano
de seus jogos e exercícios, que todos façam teatro, o Teatro
das cidades e nas suas formas de organização.
do Oprimido não restringe a prática teatral aos atores e
demais artistas do teatro. Tornando o cidadão como pro- Por meio de um panorama da relação das Artes visuais, da
tagonista, Boal possibilitou uma abertura do Teatro do Dança, da Música e do Teatro com as cidades, é possível com-
Oprimido às temáticas diversas, criando um espaço para preender muitas práticas criativas contemporâneas e perce-
a discussão de temas importantes em cada comunidade ber sua contextualização ao longo da história. As experimen-
que o pratica. tações propostas nesta Unidade pretendem fomentar uma
2. Ao mesmo tempo em que se mantém fiel aos ideais ori- relação diferenciada dos estudantes com as cidades onde
ginais de paz e de afirmação de identidades de jovens vivem. Assim, experimenta-se a cidade como campo, tema e
afrodescendentes e pobres, o hip-hop no Brasil incorpora matéria da criação artística relacionada à arte e ao exercício
elementos da cultura brasileira, não sendo possível afirmar, da cidadania.
438
Interdisciplinaridade Página 171 Roda de conversa
Durante o estudo dos assuntos abordados nesta Unidade, Este levantamento inicial objetiva aproximar os conteú-
você vai observar conexões interdisciplinares entre as artes e dos a serem tratados das experiências prévias dos estudantes.
outras áreas do conhecimento. Essas conexões são explicita- Partindo de uma pesquisa sobre os edifícios teatrais existen-
das no boxe “Arte em diálogo". tes na cidade onde vivem, ou de outros espaços fechados
nos quais se apresentam peças teatrais, pretende-se levantar
suas características e trabalhá-las no tema Teatro de palco.
Capítulos da Unidade 3 Arte em diálogo
Da mesma forma, a pergunta sobre outros lugares, além dos
11 Teatro e cidade – Intervenção urbana, espaços teatrais fechados, nos quais os estudantes já presen-
Geografia e Sociologia ciaram uma ação cênica, possibilita o levantamento das prin-
cipais características dessa ação e do lugar específico no qual
12 Música e cidade – Música e Física ela aconteceu. Essa temática é tratada em relação ao teatro de
– Música e História rua, à intervenção urbana, ao circo e à performance.
13 Artes visuais e cidade – Arte pública e patrimônio Páginas 172 e 173 Teatro de palco
14 Dança e cidade – Dança e Arquitetura Neste momento, o objetivo é contextualizar historicamen-
– Dança e saúde te o surgimento dos edifícios teatrais fechados, que influen-
ciaram a arquitetura teatral contemporânea de vários países
do mundo, inclusive do Brasil. Essa contextualização contribui
para o entendimento da relação do teatro com as cidades e
Capítulo 11 Teatro e a cidade possibilita melhor compreensão dos elementos mais comuns
do teatro de palco, tratados nesse momento. É importante
relacionar esses elementos às experiências prévias dos estu-
dantes levantadas na “Roda de conversa” inicial.
Atividade complementar
Objetivo
Possibilitar a fruição de uma obra teatral de palco e o conhe-
cimento da estrutura de um edifício teatral.
439
aconteceu no palco e o público ficou sentado de frente com experiências de rua. As práticas do teatro de agit-prop
para os atores”; “A peça aconteceu em uma quadra e o pú- russo, do teatro político de Erwin Piscator e Bertolt Brecht
blico ficou nas arquibancadas em volta dos atores” etc. foram, posteriormente, referências decisivas na criação dos
3. Quais são as regras de comportamento do público no grupos teatrais de rua dos anos 60/70. Neste período tam-
espaço visitado? bém se observou a presença de influências relacionadas com
esposta 3: Exemplos de possíveis respostas: “O público
R buscas cerimoniais e ritualísticas a partir de práticas tea-
ficava no escuro e deveria se manter em silêncio durante a trais articuladas em comunidades. A efervescência cultural e
peça”; “O público podia intervir na apresentação”. As regras política desse período, fortemente influenciado pelo pensa-
costumam ser explícitas, como no caso de haver regras mento marxista, e ao mesmo tempo, pelos movimentos pa-
impressas atrás do ingresso ou algum vídeo ou áudio ex- cifistas-coletivistas facilitou essa aproximação. É importan-
plicando como as pessoas devem se comportar. Se neces- te remarcar estas influências porque foi nas décadas de 1960
sário, explique aos estudantes as regras de comportamen- e de 1970 que se abriram os caminhos para a consolidação
to esperadas naquele ambiente antes da visita. O objetivo do teatro de rua atual.
é deixar clara a existência dessas regras e a diferença que
CARREIRA, André. Reflexões sobre o conceito de Teatro de Rua. In: TELLES, N. CARNEIRO,
isso provoca quando comparado ao teatro de rua, no qual A. (Org.). Teatro de rua: olhares e perspectivas. Rio de Janeiro: E-papers serviços editoriais,
elas não existem de maneira explícita. 2005. p. 21-22.
Após essa contextualização histórica, Carreira percorre
Páginas 174 e 175 Teatro de rua algumas definições de teatro de rua que ora o associam di-
retamente a uma atividade de cunho político, ora o gene-
A seguir, há um aprofundamento teórico sobre o teatro ralizam como atividade que ocorre na rua. O pesquisador
de rua que auxiliará na compreensão da diversidade do teatro refuta a associação direta do teatro de rua com o teatro po-
de rua na contemporaneidade e ajudará a trabalhar o assunto pular dizendo que, apesar de importante na caracterização
com os estudantes. de muitas práticas teatrais na rua, não pode ser considerada
Sob o termo teatro de rua aglutinam-se uma série de uma prática homogênea. Ou seja, nem todo teatro de rua
práticas, diversas em suas temáticas, procedimentos e esté- recorre, necessariamente, às temáticas e aos procedimentos
ticas. Normalmente associado ao teatro popular, o teatro de da arte popular, havendo muitas práticas experimentais e
rua tem sido cada vez mais estudado no âmbito acadêmico mais associadas às vanguardas artísticas.
brasileiro. A seguir, André Carreira (2005) questiona essa asso- Ainda com relação ao espaço, o teatro de rua lida com
ciação direta e estabelece um percurso histórico do teatro de uma multiplicidade de apelos e acidentes durante sua
rua, desde seu surgimento até a atualidade. apresentação. Frente ao palco italiano e ao edifício teatral,
O fenômeno teatral na rua existe desde o advento da no qual se trata de excluir o mundo exterior a fim de corro-
própria cidade. Mas, tal qual como conhecemos hoje, como borar para a criação de outro mundo fictício da cena teatral,
acontecimento teatral paralelo à teatralidade do espaço fe-
a rua lida com o aqui e agora, e sua ficção ou teatralidade
está em contínuo tensionamento com os acontecimentos
chado, surgiu na Idade Média no momento em que uma
próprios da rua. Mesmo que haja espetáculos que são di-
vertente de realizadores de teatro religioso, uma vez impe-
vulgados anteriormente e podem contar com a presença
dida de representar nos templos, optou por utilizar os es-
de um público previamente agendado, a grande parte dos
paços abertos da cidade nos quais passou a conviver com
espetáculos de rua acontece com um público acidental.
os narradores, cômicos e todo tipo de artistas mambembes.
Ou seja, frequentadores de praças, parques e ruas que in-
Este teatro religioso, apoiado pelas corporações de ofício, se
terrompem seu cotidiano para assistir a uma apresentação
combinou posteriormente com o desenvolvimento das fes- teatral apenas pelo tempo em que esta lhe prender o inte-
tas civis. Por outro lado, a tradição do jogral medieval se viu resse ou a atenção.
renovada pelos artistas da Comédia Italiana – a Commedia Há, portanto, uma relação diferenciada do teatro de rua
D’ellArte – que cruzaram toda Europa com seus roteiros e com o público. Ao contrário do edifício teatral no qual o pú-
personagens característicos. blico normalmente já reservou algumas horas de sua vida
A partir do século XVIII as expressões que deram con- para presenciar aquela ação, na rua o artista deve conquistar
tinuidade à tradição do espetáculo do teatro de rua se dis- e reconquistar seu público a cada momento, além de ter de
persaram, constituindo-se em um corpus difícil de delimitar. lidar com uma grande variação no número de pessoas duran-
Se bem o teatro de feira guardou uma continuidade relativa, te um espetáculo, o que lhe concede uma característica bas-
o elo mais forte da tradição consistiu na festa de povoado tante diferenciada. Assim, a partir do espaço e do espectador,
(particularmente na Europa), seja no carnaval, ou nas festas Carreira (2005) ressalta que:
religiosas.
No princípio do século XX observamos, na nascen- [...] é possível dizer que a noção de teatro de rua en-
te União Soviética e na Alemanha, movimentos políticos globaria todos os espetáculos ao ar livre fora de um espaço
intensos acompanhados por uma vigorosa atividade teatral teatral convencional, apropriado temporariamente para o
440
acontecimento teatral, e permeável a um público acidental. Página 180 Arte em diálogo – Intervenção urbana,
Esta modalidade teatral pode ou não ter formas estéticas e/
Geografia e Sociologia
ou conteúdos ideológicos próprios da cultura popular, mas
essencialmente se vincula com a necessidade de um contato O objetivo desse boxe é contextualizar como conceitos
direto com um amplo espectro de público que não frequen- da Geografia e da Sociologia interferem nas práticas de in-
ta as salas teatrais. tervenções urbanas. A discussão apresentada visa ampliar e
evidenciar as características de intervenção direta e transfor-
CARREIRA, André. Reflexões sobre o conceito de teatro de rua. In: TELLES, N. CARNEIRO,
A. (Org.). Teatro de rua: olhares e perspectivas. Rio de Janeiro: E-papers serviços editoriais,
madora no cotidiano das cidades.
2005. p. 35-36.
Página 182 Fazer arte
Esse pensamento sobre o teatro de rua pode ser comple-
mentado com a capacidade de essa modalidade de teatro Objetivo
chegar a lugares remotos nos quais não há espaços ou edifí-
Experimentar a performance arte como intervenção urbana
cios previamente designados para as representações teatrais.
no entorno da escola.
Sua característica de adaptabilidade aos diferentes espaços
da rua, ainda que haja espetáculos de rua site-specific, provoca Essa atividade pode ser feita como um projeto interdisci-
uma característica itinerante muito importante para a interio- plinar com os professores de Geografia, Sociologia e/ou Filo-
rização do teatro no país. Tanto feito por grupos locais quanto sofia. Quanto mais disciplinas, maior é o tempo de preparo e
por grupos de outros estados e cidades, é bastante comum
a complexidade da atividade, mas também maior é a possibi-
que pequenas cidades possam ter contato com o teatro a
lidade de um resultado ainda mais instigante.
partir dos artistas de rua, ampliando o acesso a essa arte para
As ações descritas estão diretamente relacionadas à inter-
além das casas de espetáculo das capitais.
venção urbana, ou seja, são ações cênicas em estreita relação
Páginas 178 a 180 Intervenção urbana com a cidade. Apresente a atividade aos demais professores
para que eles possam sugerir complementações relaciona-
Neste livro, intervenção urbana se refere àquelas interven- das aos conteúdos específicos de suas disciplinas. Essas com-
ções artísticas de caráter híbrido que dialogam diretamente plementações são muito valiosas no trabalho interdisciplinar
com as áreas urbanas. Carreira (2005) propõe as intervenções e devem ser valorizadas. Vocês devem pensar juntos todas
cênicas urbanas dentro da categoria do teatro de rua, que, as alterações e complementações necessárias para realizar a
segundo ele, abrange uma multiplicidade de formas na con- experiência proposta.
temporaneidade. Durante a primeira e a segunda etapa do boxe “Fazer arte”
Partindo de uma discussão da rua como espaço multifun- será preciso passear pela cidade. Por isso, é importante se
cional e da utilização contemporânea das ruas nas cidades
organizar na escola para que haja, pelo menos, três horários
apenas como espaço de deslocamento e não de convívio,
consecutivos para a realização de cada passeio. Essa atividade
Carreira (2005, p. 30) destaca o caráter transgressor do teatro
pode ser proposta como um projeto comum com os profes-
de rua ao romper, ainda que brevemente, “com o uso cotidia-
sores das áreas de Geografia, Sociologia e Filosofia, ampliando
no da rua, recria o espaço da rua e inventa uma nova ordem.
suas possibilidades de discussão, desenvolvimento e tempo
Ao mesmo tempo impõe um câmbio aos cidadãos que ca-
de realização. Escolha um trajeto que seja possível de se rea-
minham pela rua: de simples pedestres passam a exercer o
lizar a pé da escola até um local central de maior movimento
papel de espectadores”.
na sua cidade.
Essa transgressão, ainda que não manifeste uma intencio-
Se possível, recomenda-se que as duas saídas a campo
nalidade marcadamente política, se faz política ao interferir
sejam filmadas por algum estudante ou grupo de estudantes
na forma de relacionamento do cidadão com a cidade. Ao
que se disponham, também, a editar os vídeos. Esses estu-
mesmo tempo, dialoga com uma “cultura da rua”. De acordo
com Carreira (2005, p. 30), “Esta seria a mescla das culturas dos dantes não devem estar envolvidos diretamente nas ações
usuários do espaço da rua, isto é, tudo aquilo que se manipula artísticas, para que possam ter a tranquilidade de filmar o ví-
como modo de atuar próprio da rua: os medos, os códigos deo durante a intervenção urbana, e essa seria sua forma de
gestuais, as formas de ocupação do espaço etc.”. participação na atividade. O resultado pode ser analisado e,
Como foi visto ao longo do livro, as definições e catego- posteriormente, exibido em uma mostra cultural da escola,
rias no campo das artes são um terreno poroso e aberto a sendo necessário apenas um televisor.
várias interpretações. Assim, a inclusão das intervenções ur-
Página 183 Ensaio corrido
banas no contexto do teatro de rua amplia seus contornos
e revela a relação direta do teatro com a rua por meio des- Este capítulo foi trabalhado, do ponto de vista da relação
sas práticas. O importante é a compreensão de que as in- do teatro com a cidade, as diferenças entre o teatro apresen-
tervenções urbanas, como prática teatral de rua, propõem tado no palco e em edifícios teatrais e aquele apresentado
uma ruptura com o uso cotidiano da rua e da cidade. Esse na rua. A partir dessas diferenças, foram evidenciadas as prin-
entendimento será importante no momento de realização cipais características do teatro de rua, da intervenção urba-
da experiência proposta no boxe “Fazer arte” deste capítulo. na e da performance arte em espaços urbanos. Também foi
441
retomada a relação do circo com a cidade, destacando seu musicais ou da voz, conhecida como timbre, especialmente
caráter itinerante e a capacidade de circular por diversas cida- no que se refere aos harmônicos que produzem. Este estu-
des. No boxe “Fazer arte”, foi proposta uma prática interdisci- do será importante na compreensão das diferenças sonoras
plinar com Geografia, Sociologia e/ou Filosofia. encontradas nos diversos instrumentos que compõem as or-
questras e bandas de música.
Página 183 Roda de conversa Serão apresentados, em detalhes, as famílias de instru-
Nesta roda de conversa, a questão das diferenças entre as mentos – cordas, metais, madeiras e percussão –, a respeito
peças apresentadas em um edifício teatral e na rua serão re- dos materiais de que são feitos e os mecanismos implicados
tomadas. Os estudantes já tiveram a oportunidade de estudar na emissão de seus sons, com apresentação de alguns instru-
sobre essas diferenças ao longo do capítulo, ampliando seus mentistas brasileiros em cada família e sugestões de músicas
repertórios teórico e artístico para responder a esta questão. em que as famílias de instrumentos podem ser ouvidas em
Caso você tenha conseguido realizar a atividade complemen- maior destaque dentro do repertório da música instrumental,
tar sugerida anteriormente, eles também terão tido a expe- tanto popular quanto de concerto.
riência de visitar um edifício teatral ou espaço similar. Assim,
Página 185 Roda de conversa
estimule-os a recorrer ao que foi estudado para responder à
questão e discutir as diferenças com base nas vivências possi- O objetivo desta seção é despertar os estudantes para a
bilitadas neste capítulo. grande variedade de expressões musicais encontradas nas
cidades e para as possibilidades de se integrarem a grupos
de música instrumental em localidades próximas de onde
Capítulo 12 Música e cidade moram. Espera-se que, ao descobrirem a riqueza de combi-
nações de timbres presentes nos grupos de música instru-
mental, os estudantes se disponham a conhecer mais profun-
damente esse tipo de fazer musical, ampliando sua escuta e
até mesmo buscando se integrar a algum grupo.
É importante ressaltar que, muitas vezes, é preciso certo
esforço e tempo para quebrar hábitos de escuta musical, para
abrir-se a novas possibilidades musicais e para compreender
as linguagens musicais presentes em estilos diferentes da-
queles a que se está habituado a ouvir.
Objetivo
Conteúdos Identificação sonora das diversas famílias de instrumentos
Música de concerto de orquestra.
442
§ Novamente, uma variação da melodia é executada so- Página 200 Fazer arte
mente pelo naipe de cordas, incluindo a harpa.
§ Outra variação da melodia é executada, dessa vez apenas Objetivos
pela percussão. Os tímpanos é que tocam as primeiras no-
§ Identificar e produzir sons de diferentes timbres em uma
tas da melodia. composição musical.
§ Finalmente, toda a orquestra volta a tocar a melodia origi-
nal em conjunto. Os estudantes realizarão uma atividade de criação musi-
Repita o trecho gravado no CD quantas vezes forem ne- cal coletiva, desta vez com foco nas possíveis combinações
cessárias para que os estudantes se familiarizem tanto com a entre os timbres dos instrumentos e das vozes. Eles deverão
melodia quanto com a sonoridade de cada naipe de instru- compor uma música que será chamada “melodia de timbres”.
mentos. Será muito esclarecedor assistir ao vídeo da Orques- Isso quer dizer que o objetivo principal na criação da músi-
tra Sinfônica da WDR de Colônia, Alemanha, interpretando ca será o de combinar timbres diferentes em uma sequência
The Young Person’s Guide to the Orchestra. sonora. O papel do professor de instigar e orientar os estu-
dantes na pesquisa e combinação dos sons é fundamental
nesta atividade.
Devido à complexidade, a atividade deverá se desenvol-
Sugestão de vídeo
ver em mais de uma aula para que seja realizada com sucesso.
§ Orquestra Sinfônica da WDR de Colônia (Alemanha). Dispo- Os estudantes deverão ser estimulados a ampliar sua percep-
nível em: <www.wdrso.de>. Acesso em: 3 maio 2016. ção sobre os sons, experimentando as diversas possibilidades
Após entrar no site oficial da Orquestra Sinfônica da de combinações sonoras na criação de uma composição fora
WDR de Colônia, clique no menu e assista ao vídeo Britten: do padrão a que, possivelmente, a maioria esteja acostumada
Young Person’s Guide to Orchestra. a ouvir. À medida que o trabalho for progredindo, poderão
ser adicionados novos objetivos, como o estabelecimento de
Sugestão de leitura pulsações e a alteração de andamentos. Para isso, alguns es-
§ BENNET, R. Instrumentos da orquestra. Rio de Janeiro: Jorge tudantes poderão executar as pulsações em um tambor ou
Zahar Editor, 1985. em outro instrumento de percussão disponível na escola ou,
O livro apresenta em detalhes as famílias de instrumen- até mesmo, poderão trazer instrumentos musicais de casa,
tos de orquestra, seus materiais de construção, seu modo mesmo sem dominarem a técnica de execução.
de funcionamento, a extensão de notas que alcançam, Atente-se para o fato de que não se trata de interpretar
entre outras informações. Além disso, o livro traz diversas músicas já existentes, e sim de compor uma sequência sono-
sugestões de músicas que ajudam o leitor a conhecer o ra na qual os estudantes possam combinar variações de tim-
repertório de música de concerto voltado para cada instru- bres, desenvolvendo a sensibilidade auditiva e a criatividade.
mento ou família de instrumentos. Também é possível acrescentar à composição, aos poucos, a
consciência e o domínio de outros parâmetros do som, como
altura e intensidade.
443
Página 201 Roda de conversa pela veiculação diária de propagandas. Os artistas também
participaram desse fenômeno, incorporando, em suas reali-
Incentive os estudantes a frequentar concertos, explican- zações, os códigos dessa sociedade. Esse fenômeno está si-
do-lhes que a sensibilidade para a apreciação musical au- tuado na década de 1960.
menta à medida que se familiarizam com o repertório, com Segundo o crítico de arte, Michael Archer (2001):
os instrumentos da orquestra e com a linguagem da música
de concerto. No início dos anos 60 ainda era possível pensar nas obras
de arte como pertencentes a uma de duas amplas categorias:
Atividade complementar a pintura e a escultura. As colagens cubistas e outras, a per-
Informe-se se em sua cidade ou em uma localidade pró- formance futurista e os eventos dadaístas já haviam começa-
xima existe algum grupo de música de concerto. Verifique a do a desafiar este singelo “duopólio”, e a fotografia reivin-
agenda de apresentações do grupo e programe-se para assis- dicava, cada vez mais, seu reconhecimento como expressão
tir a uma das apresentações. artística. No entanto, ainda persistia a noção de que a arte
Depois, em conversa com o professor e os colegas conte compreende essencialmente aqueles produtos do esforço
como foi a experiência, se o concerto foi em um local aberto criativo humano que gostaríamos de chamar de pintura e
ou em um teatro e qual foi o repertório apresentado. Descre- escultura. Depois de 1960 houve uma decomposição das
va a apresentação dando seu ponto de vista sobre o que viu certezas quanto a este sistema de classificação. Sem dúvida,
e ouviu. alguns artistas ainda pintam e outros fazem aquilo a que a
tradição se referiria como escultura, mas estas práticas agora
ocorrem num espectro muito mais amplo de atividades.
Capítulo 13 Artes visuais e cidade ARCHER, M. Arte contemporânea: uma história concisa. São Paulo:
Martins Fontes, 2001. p. 1.
Essa constatação registra a dificuldade em se reconhece-
rem as divisões entre as modalidades artísticas. Essas divisões
foram firmadas a partir do século XVI, em que as artes visuais
passaram a ser designadas por áreas específicas: pintura, es-
cultura, desenho e gravura. Como mostrou Archer (2001), as
certezas se modificaram na década de 1960 após a incorpora-
ção de novas técnicas e formas no campo da arte.
444
Além disso, a bandeira na realidade, consistindo de cores selecionou quadros individuais das histórias em quadri-
sobre um pedaço de tecido, não é mais substancial, tri- nhos, alterando-os ligeiramente para servir a seus propósi-
dimensional e semelhante a um objeto que a pintura de tos, e reproduziu-os numa escala maior em óleo sobre tela.
Johns. O mesmo vale para os objetos que ele pintaria a O processo de replicação, no entanto, não era inventivo,
seguir. No começo dos anos 60, na sequência de suas pin- livre ou lúdico, mas preciso e observado cuidadosamente.
turas de “combinações”, Rauschenberg produziu uma série Em lugar de interpretar a tira cômica de modo expansi-
de telas contendo uma variedade de imagens em serigrafia, vo […] Lichtenstein produziu, laboriosa e manualmente,
bem como símbolos desenhados e pintados. Tais imagens uma simulação da técnica de pontos crivados com a qual a
eram tomadas não apenas da história da arte, mas também tira original fora impressa. Como o resultado era tão seco e
dos meios de comunicação. Assim como as imagens apa- “não emocional”, era possível acreditar que não fora reali-
recem de modo recorrente e constante em jornais, revistas zada absolutamente nenhuma interpretação. Seus quadros,
e sucessivos boletins de TV, da mesma maneira surgem os à primeira vista, pareciam ter um estilo tão mecânico quan-
elementos nas pinturas de Rauschenberg. A mão repetida to o material original, embora seja evidente, numa pintura
de John F. Kennedy em Búfalo II (1964), por exemplo, es- como Sei como você deve estar se sentindo, Brad (1963), que
tabelece um ritmo ao longo da tela totalmente distinto dos a ideia da arte como atividade expressiva das emoções está
efeitos composicionais da arte anterior. sendo considerada de modo irônico.
ARCHER, M. Arte contemporânea: uma história concisa. São Paulo: ARCHER, M. Arte contemporânea: uma história concisa. São Paulo:
Martins Fontes, 2001. p. 5. Martins Fontes, 2001. p. 6.
Com os “ready-mades”, Duchamp busca discutir as rela- As fontes da arte aumentaram exponencialmente. Re-
ções entre design e arte. Qual é a diferença entre um objeto vistas de histórias em quadrinhos, fotos de personalidades
estético realizado por uma máquina do executado por um ou embalagens de alimentos, todos esses aspectos trans-
artista? Duchamp ficou também conhecido por apresentar formaram-se em temas para a arte. Essa abertura alcançou,
como obra de arte mictórios, rodas de bicicleta etc. Parte também, os espaços expositivos. Antes podiam-se encontrar
da provocação do artista estava em considerar que objetos as produções artísticas apenas em museus e galerias. Nos Es-
deslocados para um museu ganhavam imediatamente o tados Unidos, após a crescente crise econômica da década
valor de obra de arte. Mais do que um simples deslocamen- de 1980, houve a possibilidade de realizar uma produção que
to, somos direcionados a reconhecer que as barreiras ante- integrasse imigrantes e jovens em situação de risco culminou
riormente fixadas e que ofereciam ao observador a certeza na criação do grafite. Segundo Archer:
sobre o que considerar como “arte” são diluídas por meio de
realizações que incorporam tudo o que se mostra disponível. O mercado chegou mesmo a descobrir uma forma
Tal atitude, levada adiante também por outros artistas como de trazer parte da arte pública de volta à sua órbita. Nos
Rauschenberg– citado por Archer (2001) –, demonstra como EUA, o florescimento de grafites urbanos em quadros
essas produções foram capazes de associar elementos que coloridos e em grande escala foi reconhecido como uma
perfazem o campo da arte, mas que transitam igualmente vívida forma de arte. Usando não apenas as paredes, mas
pelo universo do cotidiano. também locais móveis como vagões de trem, que levavam
Um dos movimentos artísticos mais conhecidos desse ce- a obra da cidade para os subúrbios e além deles, a arte
nário foi a Pop art. É necessário, inicialmente, registrar que o do grafite rapidamente se tornou uma presença difusa
termo pop não está associado ao sentido de “popular”, como em todos os Estados Unidos e na Europa. O oportunis-
muitas vezes pode ser compreendido no Brasil. O pop faz refe-
mo dos grafiteiros que usavam qualquer superfície vazia
rência à sociedade de consumo e sua divulgação de produtos
convenientemente disponível para realizar pinturas com
pela mídia. Outro aspecto importante é o culto às personali-
spray de exuberante expressividade – provocativos murais
dades, como ocorreu na época com Elvis Presley ou Marilyn
de maior urgência e imediatismo de impacto que os pro-
Monroe. Segundo Archer:
dutos comportados e democráticos dos projetos de arte
A Pop Art surgiu e foi reconhecida como movimento comunitária – estava em sintonia com o mercado recém-
nos EUA bem no começo da década de 60. Em 1962, era -vitalizado. A tática, bastante simples, era oferecer aos
possível identificar uma sensibilidade comum em vários grafiteiros – ou, pelo menos, aos que tinham maiores am-
artistas, principalmente Roy Lichtenstein (1923-), Andy bições – uma superfície dentro de uma galeria para pintar,
Warhol, Claes Oldenburg, Tom Wesselman (1931-) e Ja- em vez de uma parede externa.
mes Rosenquist (1933-), todos cujas obras utilizavam te- Ciente da exploração que poderia ocorrer nessas cir-
mas extraídos da banalidade dos Estados Unidos urbanos. cunstâncias, Tim Rollins (1955-) colaborou com jovens
Além disso, num desvio significativo dos estilos emocio- provenientes, em sua maior parte, da população porto-
nalmente carregados dos expressionistas abstratos, o tra- -riquenha mais pobre de Nova York e que ansiavam por
balho desses artistas também parecia depender das técni- desenvolver um trabalho criativo, mas que, devido às cir-
cas da cultura visual de massa. Lichtenstein, por exemplo, cunstâncias, possuíam pouco treinamento formal. Rollins
445
e o MDS (Meninos da Sobrevivência), usando a literatu- a discussão a partir dos conteúdos que têm relação com a
ra como ponto de partida, liam um texto e discutiam as indústria cultural, com a modificação dos lugares da arte na
imagens que pudessem ser apropriadas a ele. O resultado sociedade e também com a ampliação do fazer artístico no
era, por vezes, pintado numa tela sobre a qual as páginas uso de novos suportes, tecnologias e temas.
do livro original haviam sido coladas. Em outros casos,
Página 204 Arte pública
as imagens eram desenhadas nas páginas dos livros. O
projeto era educativo e artístico, tendo surgido do grupo O presente tópico tem por objetivo discutir a arte pública
“Arte e Conhecimento” que Rollins havia criado na escola em seu sentido conceitual e como possibilidade de reconhe-
em que lecionava. Os textos estudados e usados em mais cimento dentro da própria cidade, tornando os estudantes
de uma obra incluíam Moby-Dick de Herman Melville, aptos a identificar suas manifestações. Outra questão relevan-
Alice no País das Maravilhas de Lewis Carroll e Amerika te é registrar a variedade reunida dentro da ideia de arte pú-
de Franz Kafka. blica, que pode se apresentar tanto como uma obra de arte
inserida em um espaço público – pontualmente, caso de uma
ARCHER, M. Arte contemporânea: uma história concisa. São Paulo: escultura ou monumento –, quanto cidades onde toda uma
Martins Fontes, 2001. p. 171-172.
delimitação pode ser assim reconhecida – cidades que pos-
Portanto, objetos do cotidiano passam a dialogar com o suem seu centro histórico preservado e trazem registradas,
universo da arte. Além disso, existe uma expansão dos espa- em sua configuração, elementos participantes da história da
ços expositivos. A arte ganha os muros das cidades e outros sociedade.
espaços que antes se restringiam aos museus e galerias. O
muralismo mexicano foi outro exemplo de como a arte pode Páginas 205 a 207 Muralismo mexicano – arte
ser levada a adquirir significações diversas a partir, também, e política
da mudança de seu lugar e suporte tradicionais. Segundo Com o intuito de oferecer a compreensão do que é co-
Andrea Kettenmann (2006): nhecido como muralismo – no que diz respeito a sua ocor-
Logo após a sua chegada, Rivera é integrado por José
rência no México na década de 1920 –, a discussão traz exem-
plos de produções de artistas participantes do movimento,
Vasconcelos no programa cultural do Governo, programa
caso de Diego Rivera e David Alfaro Siqueiros, além de trazer
este que procura encontrar novos meios de representação
as origens históricas de seu acontecimento. Essa mesma dis-
artística, depois de dez confusos anos de guerra civil. […].
cussão permite, ainda, a reflexão sobre as relações entre arte
Com a pintura educativa, pretende alcançar uma ruptura
e política sem, contudo, desconsiderar os aspectos artísticos
com o passado, mas não com a tradição, e, sobretudo, a dessas produções, já que a arte se torna fator de ligação entre
rejeição da época colonial da cultura europeizada do sé- uma mesma população e representa igualmente sua possibi-
culo XIX. lidade de sobrevivência.
Em novembro de 1921, Vasconcelos convida Rivera e
outros artistas e intelectuais, como ele, acabados de chegar Página 207 Arte no dia a dia
da Europa, para uma viagem a Yucatán, para aí visitarem as A atividade visa aumentar o repertório dos estudantes no
estações arqueológicas Chichén Itzá e Uxmal. [...]. Segundo que diz respeito à produção dos muralistas mexicanos para
as sugestões de Vasconcelos, com o qual faz outras viagens que, além dos exemplos listados ao longo do capítulo, sejam
para a província, e na sua busca de novos métodos de comu- integradas outras realizações. Nesse sentido, os estudantes te-
nicar artisticamente com o seu povo, Rivera elabora para si a rão acesso a uma compreensão maior sobre as diversas estra-
ideia de uma arte ao serviço do povo que lhe transmita com tégias de representação adotadas pelos artistas, que, mesmo
a ajuda da pintura mural a sua própria história. partindo de um tema comum, apresentam uma produção de
KETTENMANN, Andrea. Diego Rivera (1886-1957): um espírito revolucionário na arte grande variedade.
moderna. Rio de Janeiro: Numen, 2006. p. 23-24. Oriente os estudantes a formar grupos de até cinco estu-
dantes e adapte o número de grupos ou a quantidade de es-
Reflexões realizadas em torno das possíveis conexões en- tudantes de cada grupo conforme a necessidade. Essa é uma
tre arte e sociedade mostram-se profícuas desde que sejam atividade interdisciplinar que pode envolver parcerias com
análises que não comprometam as especifidades inerentes outros professores de História, Filosofia e Sociologia.
ao fazer artístico. Oriente os estudantes a consultar diversas fontes, na
internet ou na biblioteca, para que compreendam o papel
Página 203 Roda de conversa
desses artistas nas modificações e na construção da Histó-
Se julgar interessante, faça uma seleção de imagens para ria do México, sem deixá-los perder de vista a análise das
serem usadas nessa roda de conversa. Assim, podem ser feitas estratégias artísticas utilizadas, com o uso do pigmento em
comparações objetivas sobre como esses elementos foram in- pó, das texturas criadas a partir da aplicação direta na pa-
corporados e tratados pelos artistas em suas produções. rede e das configurações formais, ou seja, como o artista
Faça um levantamento dos conhecimentos dos estudan- representou a técnica do afresco e suas possíveis variações,
tes com relação à arte atualmente em circulação. Desenvolva da tonalidade das cores construídas à cena criada. Outro fa-
446
tor importante e concebido como estratégia é refletir sobre Os registros permitirão que os colegas e o professor te-
as formas de ocupação do espaço, pensando sobre a dis- nham acesso a esses trabalhos e reconheçam as intervenções
tribuição das imagens sobre a parede feita como suporte. descobertas pelos grupos ao visitar os mesmos espaços.
Para essa atividade, se possível, reúna todas as fotos e
Páginas 208 a 210 Arte urbana: grafite e intervenção
outros registros realizados pela turma em uma sessão de
urbana slides para serem projetados em sala de aula. Outra possi-
O estudo do grafite permite análises que associam o fazer bilidade é montar um mural com fotografias, esboços e in-
artístico à ocupação de espaços públicos dentro da cidade. formações registrados pelos estudantes, para montar um
É importante orientar os estudantes durante o processo de panorama do olhar que obtiveram da manifestação da arte
compreensão dessa forma de arte. Conduza a discussão dan- pública na região. As descrições devem ser feitas ressaltan-
do enfoque às técnicas utilizadas pelos artistas e às possíveis do os aspectos que mais chamaram a atenção dos grupos. É
relações entre o espaço de aplicação do grafite – um cenário importante que o trabalho de campo seja compartilhado e
urbano, compartilhado e sua própria visualidade. Outra ques- discutido em sala de aula, de modo que os estudantes exer-
tão significativa é perceber a integração de um novo suporte citem sua visão crítica sobre as formas artísticas estudadas
à prática artística, que, como visto no muralismo, também neste capítulo.
abandona o cavalete em prol da apropriação do muro, mas,
no caso do grafite, se apropria de muros distribuídos pelo es- Página 214 Arte contemporânea: o papel do artista
paço urbano da cidade. na sociedade
Páginas 211 a 213 Pichação ou grafite? Ao longo deste capítulo, foram feitas revisões que per-
O objetivo desse assunto não é formular uma resposta mitiram aos estudantes a reflexão sobre como a arte não se
categórica sobre as diferenças entre pichação e grafite, mas encontra mais reservada a um lugar específico – dentro de
sim pensar nos limites existentes entre uma mesma forma de uma galeria ou museu, podendo ocupar espaços e supor-
apropriação do espaço público, que poderá ser considerada tes variados, que vão desde telas à própria parede, dentro
positiva ou negativa em razão de qual o suporte selecionado ou fora de uma instituição. Neste momento, a discussão se
e, também, a partir do objetivo de seus produtores. Seria inte- concentra na figura do artista enquanto “criador” único, que
ressante ilustrar a discussão com exemplos da própria cidade passa a ser questionada pelos próprios artistas, os quais
em que vivem os estudantes, que poderão oferecer, durante a passam a oferecer proposições que levam a uma maior
discussão, suas opiniões sobre as apropriações por eles vistas aproximação ao sujeito antes reservado à ação de “obser-
em espaços conhecidos. var”. Essas práticas podem ser compreendidas, em termos
gerais, dentro dos novos interesses associados à arte con-
Página 212 Arte em diálogo: Arte pública e
temporânea.
patrimônio
Antes de iniciar a atividade, reflita com os estudantes Página 215 Ensaio corrido
sobre as relações entre monumentos e patrimônio cultural, A seleção sobre os conteúdos abordados neste capítulo
pensando sobre quais são os fatores que tornam a identifica- foi feita no sentido de oferecer reflexões que permitissem
ção de um monumento como patrimônio possível e se essa uma análise da arte em suas manifestações mais distanciadas
caracterização está reservada somente aos monumentos ou ao fazer tradicional, elencando práticas e exemplos que trou-
se outras manifestações também consideradas importantes – xessem maior integração entre arte, cidade e sociedade. Mais
mesmo que por diferentes critérios – podem ser igualmente importante que situar uma compreensão sobre o fenômeno
incorporadas. A discussão permite pensar sobre os diferentes da arte contemporânea, o objetivo foi explorar manifestações
registros que compõem a história de determinada sociedade,
que colocam em dúvida não somente o fazer artístico ou o
seja apresentada materialmente, caso de edifícios (bens imó-
lugar da arte, mas também o papel do artista dentro dessa
veis) ou aqueles compartilhados pelo imaginário, seja pelos
prática e localização, caso dos exemplos estudados no mura-
seus modos de criar, fazer e viver, os quais representam cultu-
ralmente essa sociedade. lismo mexicano e no grafite.
Essa atividade pode ser feita de maneira interdisciplinar Nesta roda de conversa, perceba como os estudantes
com o professor de Geografia, tendo em vista as aproxima- praticaram o deslocamento do olhar proposto durante todo
ções com a ideia de mapeamento e conhecimento das repre- o capítulo, o qual deixa de identificar somente um conjunto
sentações da cidade a partir de desenhos, mapas etc. específico de práticas artísticas e passa a considerar, também,
Caso não seja possível fotografar, oriente os estudantes a ações que ocupam espaços urbanos e compartilhados den-
fazerem descrições por meio de textos, a anotar o endereço tro da cidade. Levante novamente questões referentes à ocu-
ou elaborar esboços a lápis das intervenções. pação e preservação do espaço urbano.
447
Capítulo 14 Dança e cidade Página 217 Roda de conversa
Ao propor essa roda de conversa busca-se aproximar
“texto e contexto”, ou seja, um diagnóstico do conhecimento
do estudante sobre o tema, seguindo a premissa de que ele
servirá como ponto de partida para o processo dialético de
construção do conhecimento.
As respostas são pessoais, no entanto, estimule discussões
conectadas com o conceito de intervenção urbana. Não está
sendo posta em questão a dança que é apresentada em um
evento, mas sim a que intervém no espaço de modo inusita-
do e surpreendente, modificando e sendo modificada pelo
espaço em questão.
448
embaixo das carteiras e cadeiras da sala de aula? A depender definição desse item, uma vez que, por exemplo, ter ou
do ambiente escolar e do entorno onde a escola está localiza- não ter acesso a um som de amplo alcance pode definir
da, sair da sala pode ser uma forma ainda mais instigante de se o grupo utilizará ou não música em uma performance
aproximar os estudantes do tema. de rua. Além disso, algum estudante pode tocar um ins-
trumento e, muitas vezes, o som desse instrumento pode
ser eleito como som para acompanhar a performance.
Páginas 221 e 222 Fazer arte Instrumentos de percussão e cordas são muito utilizados
nas criações de dança contemporânea.
Objetivos 4. Ao transformar objetos de uso cotidiano em objetos cêni-
Apreciar uma obra de dança ou uma performance. cos, é possível obter experiências mais reais de criação do
movimento. É interessante utilizar objetos que proporcio-
Aproximar-se da dança contemporânea e da performance.
nem aos estudantes a exploração dos movimentos sem
Conhecer as diversas possibilidades de utilização do espaço.
comprometer a segurança ou a relação com a duração da
Reconhecer os objetos cênicos presentes em uma atividade. Participe com os estudantes da escolha dos ob-
coreografia ou performance. jetos que serão utilizados.
449
Página 225 Arte no dia a dia produções anteriores de uma artista em constante avalia-
ção e julgamento.
Antes de pedir que os estudantes pesquisem as compa-
nhias de dança que propõem performances urbanas nas ruas SALLES, C. Gesto inacabado: processo de criação artística.
São Paulo: Intermeios. 2011. p. 47.
das cidades brasileiras, incentive a pesquisa de movimentos
de simples execução presentes no cotidiano. O objetivo é que Desenvolva com os estudantes processos de criação em
eles se familiarizem e experimentem em seus corpos a esté- constante construção e que possibilitem a transformação do
tica dos movimentos muitas vezes utilizadas por essas com- espaço e dos corpos envolvidos nos processos propostos. Ao
panhias brasileiras que levam intervenções e performances aproximar os estudantes das obras de artistas como a esta-
às ruas da cidade. dunidense Trisha Brown, da companhia italiana Il Posto, das
Essa aproximação pode ser uma forma muito eficaz de intervenções nos hospitais do Festival de Dança de Joinville,
aproximar estudantes do Ensino Médio da estética do mo- da companhia pernambuca Etc. e do grupo de estudantes
vimento utilizado na dança contemporânea da atualidade, paranaenses que levam a dança às ruas de Curitiba, busca-
pois os movimentos do cotidiano de cada um deles podem -se fazer com que a dança escrita no livro se encontre com a
aproximá-los da compreensão dos contextos apresentados dança feita na rua, para um ensino de dança mais conectado
nas produções artísticas espalhadas pelos centros urbanos com o mundo e com as questões vivenciadas pelos corpos
brasileiros. do século XXI, assim como se propõe a fazer a dança contem-
porânea estudada.
Sugestões de leitura
Páginas 226 e 227 Roda de conversa
FERNANDES, C. O corpo em movimento: o sistema Laban/
Bartenieff na formação e pesquisa em artes cênicas. 2. ed. São Nesta roda de conversa, abra espaço para as opiniões de
Paulo: Annablume, 2006. cada estudante. Incentive o protagonismo e a ação reflexiva
Esse livro traz informações importantes sobre os prin- sobre a atividade vivenciada no boxe “Fazer arte”, em que os
cípios desenvolvidos por Laban. A leitura desse livro pode estudantes levaram a um espaço aberto ao público, em forma
funcionar como uma excelente fonte para consulta das de intervenção, a performance construída coletivamente.
relações entre corpo e movimento desenvolvidas por esse Lembre-se de que há muitas variáveis que influencia-
teórico da dança. rão as opiniões dos estudantes. Alguns considerarão que
MATOS, L. Dança e diferença: cartografia de múltiplos corpos. a performance atingiu o sucesso esperado e outros apon-
Salvador: EDUFBA, 2012. tarão as possíveis falhas e os erros encontrados. Enfatize a
Nesse livro, a professora de dança da Universidade Fe-
imprevisibilidade da reação do público, do funcionamen-
deral da Bahia, Lúcia Matos, discute questões relacionadas à to do lugar, dos fatores ambientais como constituintes
dança, à diversidade e à inclusão de diferentes corpos e das desses processos de criação e que, por essa razão, os artis-
diversas formas de movimento na contemporaneidade. tas que se propõem a participar de intervenções urbanas
utilizam essa imprevisibilidade como um nutriente para as
SALLES, C. Gesto inacabado: processo de criação artística.
suas criações.
5. ed. São Paulo: Intermeios, 2011.
O gesto e os processos de criação em dança são apre- Páginas 228 a 230 Atividades de múltipla escolha
sentados como formas de construção do conhecimento na
contemporaneidade. A autora utiliza documentos de ar- 1. No texto, Eduardo Moreira chama a atenção para a capa-
tistas e os processos de construção das obras para explicar cidade de o teatro feito fora das casas tradicionais de es-
as produções em dança e o “gesto inacabado” como uma petáculos conquistar um público amplo e heterogêneo.
possível teoria que trata da beleza e da precariedade das Ainda segundo o autor, quando em contato com espetá-
formas inacabadas e complexas que os corpos desenvol- culos, o público que normalmente não frequenta os tea-
vem nos processos de criação em dança. tros fechados costuma gostar muito do que vê.
2. Ao olhar o quadro da Monalisa, nota-se que o rosto de
um homem foi inserido. Trata-se do personagem da série
Página 226 Ensaio corrido de TV: Mr. Bean. Nesse sentido, configura-se como a mis-
Ao falar sobre um projeto poético de criação artística, es- tura de passado e presente e intervenção de uma obra de
pecificamente da criação em dança, em seu livro Gesto inaca- arte famosa.
bado, Cecília Salles (2011) nos diz: 3. Na opção A, o piano não pertence à família das madei-
ras; na opção C, o metalofone não pertence à família dos
Não há uma teoria fechada e pronta anterior ao fazer. metais; na opção D, o fagote não pertence à família da
A ação da mão do artista vai revelando esse projeto em percussão.
construção. As tendências poéticas vão se definindo ao 4. O texto aponta para a inovação tecnológica na dança,
longo do percurso: são princípios em estado de constru- quando em um único balé se combinaram os vários cam-
ção e transformação. Trata-se de um conjunto de prin- pos artísticos, com o cenário e a indumentária desenhados
cípios que colocam uma obra em criação específica e as por Pablo Picasso, um artista das artes visuais, a música de
450
Erik Satie, que misturava jazz, música popular e os sons do Capítulo 15 Cultura ou culturas
cotidiano, as imagens do balé de Charles Chaplin, caubóis,
vilões, mágica chinesa e ragtime, e a ação coreográfica, ca-
racterizada pela colagem de ações isoladas.
Conteúdos
Conceito de cultura
Capital cultural
Culturas dos jovens
3. Termo usado por Pavis na descrição de seu método de análise do teatro intercultural explicitado no livro: O teatro no cruzamento de culturas, São Paulo:
Perspectiva, 2008.
451
Podemos nos perguntar, certamente, se uma cultura se dei- livro Arquivo e repertório. Arquivo são os conjuntos de sabe-
xa tão facilmente representar ou interpretar (perform), se não res e práticas culturais pertencentes a uma cultura letrada,
são apenas os aspectos mais exteriores e superficiais que são conservados por meio da escrita ou de materiais concretos,
representáveis deixando na sombra as qualidades mais profun- como ossos, fósseis, entre outros. Repertório seriam aqueles
das. Tratamos aqui, porém, dos meios especificamente cênicos saberes e práticas culturais que não são letrados e não são
para transmitir essa cultura-fonte para uma cultura-alvo. traduzidos e conservados pela escrita ou por matérias concre-
tas permanentes, fazendo parte de uma memória corporal, a
PAVIS, P. O teatro no cruzamento de culturas. São Paulo: Perspectiva, 2008. p. 195.
qual a autora chama de performances incorporadas. Esses
Patrice Pavis (2008) continua sua análise sobre esse cru- outros conhecimentos, mais relacionados aos fazeres corpo-
zamento de culturas a partir da montagem de Brook de rais, tendem a ser desconsiderados como memória e como
Mahabarata: contribuição ao conhecimento humano em prol da concre-
tude e permanência da escrita, ainda hoje entendida na so-
Traduzir o intraduzível é, por exemplo, encontrar os
ciedade ocidental como o lugar privilegiado da reflexão e do
gestos, a atmosfera, as ações simbólicas que explicitam, pela
registro. Segundo Diana Taylor (2013):
simples ostentação, um conceito tão abstrato e intraduzível
como o de darma4, por uma série de ações que mostram As performances incorporadas têm sempre tido um pa-
homens em conflito entre o possível e sua negação. Decerto, pel central na conservação da memória e na consolidação
não se pode representar cenicamente esse conceito, no en- de identidades em sociedades letradas, semiletradas e digi-
tanto, graças a um estilo de atuação que se quer imediato, tais. Nem todo mundo chega à “cultura” ou à modernidade
autêntico e não repetitivo, Brook consegue dar a impressão por meio da escrita. Acredito ser imperativo continuar ree-
de um cerimonial que não ocorre sem que se lembre o ceri- xaminando as relações entre performance incorporada e a
monial na religião hindu. A partir do momento em que não produção de conhecimento. Poderíamos examinar práticas
se trata de representar, mas sim de realizar (to perform) uma passadas, consideradas por alguns como desaparecidas. Po-
ação, o teatro pode servir de modelo e de dispositivo para a deríamos examinar práticas contemporâneas de populações
realização desse cerimonial. geralmente rejeitadas como “retrógradas” (comunidades in-
PAVIS, P. O teatro no cruzamento de culturas. São Paulo: Perspectiva, 2008. p. 196. dígenas e marginalizadas). Ou poderíamos explorar a rela-
ção da prática incorporada com o conhecimento ao estudar
Pavis faz questão de colocar ao lado das palavras traduzidas
como os jovens de hoje aprendem por meio de tecnologias
à língua portuguesa como interpretar, no primeiro fragmento,
e realizar, no segundo, o verbo de língua inglesa to perform. digitais. Caso se diga que os povos sem escrita desaparece-
Esse verbo possui uma pluralidade de significados e gera o ram sem deixar rastros, como podemos pensar sobre o corpo
substantivo performance. A performance, no sentido dado tornado invisível on-line? É difícil pensar sobre a prática
pelas artes cênicas contemporâneas, destaca os verbos realizar incorporada no interior dos sistemas epistêmicos desenvol-
e agir em lugar de representar ou imitar. Para Pavis, os atores vidos no pensamento ocidental, em que a escrita se tornou
de Brook, em Mahabarata, estavam em uma ação cerimonial e avalista da própria existência.
não em uma representação de um cerimonial. Essa capacidade TAYLOR, D. O arquivo e o repertório: performance e memória cultural nas Américas. Belo
de agir, em lugar de simular, representar, imitar, levaria a uma Horizonte: Editora UFMG. 2013. p. 21.
percepção mediada por uma série de adaptações da equipe
artística e técnica do cerimonial da cultura-fonte pela cultura- Do ponto de vista pedagógico, pensar nas memórias in-
-alvo. As propostas de interculturalidade de Pavis têm por ob- corporadas e na importância dos saberes e fazeres corporais
jetivo compreender quais traduções/adaptações/recriações para a construção da identidade de um povo é um dos pilares
foram feitas em relação ao referente inicial e como esses proce- que sustentam a relevância dos conteúdos de dança e tea-
dimentos são ou não percebidos pelo público-alvo. tro na Educação Básica. Na dança e no teatro, assim como no
Ainda no campo das artes cênicas na contemporaneidade, circo, na performance, na intervenção urbana, o corpo é um
em interdisciplinaridade com outras áreas do conhecimento, lugar de saberes próprios, e o convívio entre os corpos dos
como a Antropologia, existe uma linha de pesquisa chamada artistas e os do público durante uma ação cênica é o lugar do
“Estudos da performance”, que compreende as diversas ações encontro entre esses saberes.
culturais como performances, independentemente de sua É possível pensar, ainda, nas diferenças entre a cultura
finalidade artística. Assim, um ritual, uma manifestação polí- adulta e a cultura do adolescente ou da criança. A cultura do
tica, atos cotidianos culturais, entre outras ações, podem ser professor, que vem de uma tradição de saberes e práticas, e
entendidos e analisados como performance. as culturas dos estudantes, que têm outras tradições de sabe-
Diana Taylor (1950-), pesquisadora e professora da Univer- res e práticas. Saber-se diverso é um passo importante para o
sidade de Nova York, discute a questão da memória cultural enriquecimento do processo pedagógico, que é também um
nas Américas a partir desses dois conceitos que nomeiam seu processo de trânsito entre culturas.
4. Na cultura hinduísta, pode ser entendido como lei única que rege a conduta individual, a maneira correta de se agir, de acordo com a casta que o
indivíduo ocupa na sociedade.
452
Página 235 Roda de conversa de atrizes afrodescendentes interpretando protagonistas
na teledramaturgia brasileira, além da anteriormente citada
Esta “Roda de conversa” inicial pretende identificar os co- Zezé Motta, é o da atriz Thaís Araújo, que viveu duas prota-
nhecimentos prévios dos estudantes a respeito do conceito gonistas: na novela Xica da Silva (1996), na qual interpretava
de cultura. Neste momento, não é necessário apresentar a uma importante personagem histórica do Brasil colonial, e
discussão sobre o conceito, pois ela será realizada ao longo em Viver a Vida, de 2009, na qual interpretava uma modelo.
do capítulo. O importante é identificar os conceitos trazidos Thaís Araújo também protagonizou a novela Cheia de Char-
pelos estudantes – por exemplo, cultura como sinônimo de me (2012), na qual interpretava uma empregada doméstica.
escolarização – e fazer remissão a eles ao longo do trabalho Antes disso, a atriz Yolanda Braga foi a primeira protagonista
com o capítulo e, principalmente, na “Roda de conversa” final. negra da teledramaturgia brasileira na novela A cor de sua
Assim, registre as respostas em áudio, vídeo ou por escrito, pele, de 1965. Nelson Xavier protagonizou a minissérie Tenda
para poder acessar e fazer uso desse material posteriormente. dos milagres, de 1985. Os exemplos são muitos, mas, compa-
A imagem do culto à Nossa Senhora do Rosário na co- rativamente, ainda é incomum a presença de protagonistas
munidade quilombola Boa Esperança, no Tocantins, faz parte interpretados por atores afrodescendentes na teledramatur-
da cultura brasileira. Cultos religiosos possuem vestimentas, gia brasileira.
gestos e ações específicos com alto grau de simbolismo, sen-
do parte da construção identitária e cultural de um povo ou Página 241 O que é capital cultural?
comunidade. A diversidade das práticas religiosa enriquece a
É importante assistir à animação produzida pela Univesp
cultura de nosso país. TV sobre capital cultural antes de abordar este conteúdo. Se
Página 237 Arte no dia a dia possível, mostre-a aos estudantes em sala de aula. Se não for
possível, peça a eles que a assistam fora do horário de aula. A
Nesta atividade de pesquisa, pretende-se que os estu- animação apresenta o conceito de Bordieu de forma simples
dantes sejam capazes de se reconhecer como sujeitos que e bem fundamentada, e contribui para a discussão tratada
podem registrar e refletir sobre cultura. A partir do comparti- neste capítulo.
lhamento com os demais, será possível perceber as diferenças
culturais expressas em práticas, saberes e tradições da cultura Páginas 242 a 246 Cultura e juventude
de cada um. Essa atividade também se presta a desenvolver Há ambientes, práticas e formas de ver o mundo próprios
a capacidade de escutar o outro e de respeitar as diferenças da juventude de cada geração. São abordadas as percepções
culturais, um exercício muito importante de cidadania. sobre cultura jovem a partir de Néstor Canclini e suas rela-
Páginas 239 e 240 Arte em diálogo: Teledramaturgia ções com o uso da internet e das redes sociais como maneira
de aproximar o estudante dos conteúdos tratados neste livro
e preconceito racial e de reconhecê-lo como um sujeito cultural específico, que
A teledramaturgia é muito importante na cultura brasilei- consome e produz diversos produtos culturais e artísticos.
ra e tem um setor cultural bastante desenvolvido no Brasil, Essa concepção é importante para a realização da atividade
capaz de influenciar as formas de pensar e de se comportar proposta no boxe “Fazer arte” deste capítulo.
de grande parcela da população. Neste boxe, é importante
valorizar o conhecimento que os estudantes têm sobre as te- Página 246 Fazer arte
lenovelas e séries produzidas no Brasil e estimulá-los a refletir
sobre a presença de atores afro-brasileiros e sobre a represen- Objetivos
tação da cultura afro-brasileira nessas produções. Conhecer e estudar as produções de jovens brasileiros na
Antes de abordar o tema deste boxe, se possível, assista internet.
ao documentário A negação do Brasil, disponível em: <https:// Criar um blog ou um site com as produções artísticas da
vimeo.com/95471812>, acesso em: 28 abr. 2016, e reproduza- turma.
-o para os estudantes em sala de aula. Caso não seja possível,
peça a eles que o assistam fora do horário de aula, pois isso Para compreender as práticas culturais brasileiras que fa-
enriquecerá a discussão. zem parte de culturas específicas e que conjugam elementos
Atividade 3. Com algumas exceções, como no caso do artísticos de diversos campos, é importante estudar o con-
personagem André Gurgel, interpretado por Lázaro Ramos ceito de cultura. Neste capítulo, é abordado o conceito de
em Insensato Coração, normalmente os personagens inter- cultura como aquele que engloba práticas, modos de fazer e
pretados por atores negros têm uma condição socioeconô- saberes de determinado povo ou grupo social. A arte, como
mica menos favorecida, destinando-se a trabalhos pouco foi vista, é uma das expressões de uma cultura.
remunerados e com pouca influência na trama. Porém, recen- O boxe “Fazer arte” deste capítulo é um pouco diferente
temente, isso vem mudando, como pode ser visto na série dos demais, pois traz uma atividade de pesquisa sobre pro-
de televisão Mister Brau (2015), protagonizada pelo casal Thaís dutores culturais jovens da internet. Contextualizar a produ-
Araújo e Lázaro Ramos, que conta a história do cantor Mister ção jovem da internet como uma produção cultural é impor-
Brau e sua esposa e empresária, Michele. Outros exemplos tante para valorizar a cultura do estudante do Ensino Médio.
453
É fundamental que você acompanhe cada passo desta pes- Capítulo 16 Culturas brasileiras
quisa, principalmente os contatos que cada grupo fará com
o produtor escolhido. Esta é uma atividade que deve ser feita
também em horários fora da sala de aula e pode ser desen-
volvida junto ao professor de Informática, caso exista esse
profissional em sua escola. É possível que alguns produtores
não respondam aos contatos dos estudantes. Assim, é im-
prescindível que o contato com eles seja feito nos primeiros
dias dedicados à atividade e que você oriente os estudantes
a contatar outro produtor, caso o primeiro não responda. O
compartilhamento dos resultados com a turma é muito im-
portante. Incentive os estudantes a trazerem imagens, vídeos
e/ou áudios das produções pesquisadas para as apresenta-
ções em sala de aula. Caso exista um laboratório de informá-
tica, você pode reservá-lo para as pesquisas em sala de aula e
para a apresentação dos resultados. Conteúdos
Este é um bom momento para realizar projetos integra- Culturas brasileiras e diversidade
dos com as disciplinas de Sociologia, História, Geografia e Lín- Fandango caiçara, frevo, congado, maculelê, bumba meu
gua Portuguesa. boi maranhense e as máscaras brasileiras
A atividade também pode ser utilizada como projeto para
alguma feira cultural realizada pela escola. Proponha um tra-
balho com os professores dessas disciplinas e defina com eles Páginas 249 e 250 Afinando os instrumentos
o recorte que melhor serve à interdisciplinaridade sugerida. Na abertura deste capítulo, há versos de fandango, da
Por exemplo, caso seja um projeto compartilhado com o cidade de Valadares (litoral paranaense), e uma imagem de
professor de Língua Portuguesa, vocês podem investigar os um grupo dançando fandango. Isso porque o objetivo deste
escritores de blogs, estudar essa forma de publicação e seus capítulo é aproximar os estudantes de algumas expressões
estilos de escrita etc. culturais brasileiras, a fim de que eles as reconheçam como
símbolos de identidade e de patrimônio imaterial, mas tam-
Página 247 Ensaio corrido bém como expressões artísticas, quando se transformam em
Neste capítulo é abordado o conceito de cultura e sua re- arte para quem assiste e muitas vezes também para quem
lação com o cotidiano e as práticas dos estudantes do Ensino participa.
Médio. As atividades de pesquisa desenvolvidas contribuem No desenvolver do capítulo, são abordados conteúdos
para identificar diferentes culturas entre os estudantes e valo- relacionados à integração da música, da dança, do teatro e
das artes visuais que acontecem nessas expressões da cultura
rizar o respeito à diversidade cultural. Também são produzidas
popular e são desenvolvidas atividades sobre o frevo de Per-
pesquisas sobre jovens produtores culturais da internet, am-
nambuco, o congado de Minas Gerais, o maculelê (que tem
pliando a percepção da cultura jovens nos dias de hoje e sua
sua origem ainda discutida, mas muito associada à Bahia), o
estreita relação com o mundo digital. O respeito à diversidade
bumba meu boi do Maranhão e as máscaras brasileiras.
cultural é um exercício importante na valorização das diver-
A cada uma dessas expressões culturais poderia ser dedi-
sas culturas que contribuem para a construção da identidade
cado um capítulo, um (ou muitos) livros e vários anos de estu-
brasileira, como será visto nos capítulos a seguir. do, tamanha a complexidade de informações relacionadas a
Página 247 Roda de conversa saberes milenares construídos no Brasil a partir de influências
das três matrizes que compõem o povo: a indígena, a euro-
Esta “Roda de conversa” final retoma a inicial, sendo impor- peia e a africana. Por essa razão, todos os assuntos aqui abor-
tante ter em mãos os registros da inicial para retomar algumas dados podem ser sempre aprofundados.
falas ou percepções apontadas no início do capítulo. Não é
necessário apontar quem falou o quê, o relevante é perceber Páginas 250 e 251 Roda de conversa
as diferenças de compreensão do conceito de cultura após Seguindo a opção metodológica de utilizar a leitura de
os estudos e as pesquisas contempladas neste capítulo a par- imagens como motivação para o desenvolvimento do tema,
tir do contraste entre as percepções iniciais e finais dos es- são escolhidas algumas imagens que contêm a utilização dos
tudantes. Espera-se que os estudantes tenham sido capazes objetos denominada símbolos de identidade das expres-
de compreender que cultura é um conceito plural e abrange sões culturais estudadas, a exemplo da sombrinha do frevo,
grandes diferenças quando está vinculado às práticas e sabe- das gungas do congado e dos tamancos do fandango.
res de determinado grupo social. Assim, chega-se à conclu- Se possível, proporcione aos estudantes o contato direto
são de que não há sujeito que, vivendo em sociedade, seja com esses objetos e/ou que haja a visita de mestres, grupos
desprovido de cultura, pois todos são produtores de cultura. ou brincantes na escola. Reforçando a ideia que foi desenvol-
454
vida no livro de que os objetos, chamados de símbolos de b) O objetivo dessa atividade é levar os estudantes a reco-
identidade, são essenciais para a manutenção da tradição, nhecer as expressões culturais e relacioná-las aos objetos
será inevitável que o convidado fale sobre a importância des- que simbolizam a identidade cultural de cada uma delas.
ses símbolos. É importante salientar que uma expressão cultural pode
Nas aulas destinadas ao tema, confeccione com os estu- ter vários símbolos de identidade, a exemplo da capoeira,
dantes alguns adereços das brincadeiras, como as grimas do que pode ser identificada tanto pelo berimbau como pe-
maculelê, que você pode fazer serrando um cabo de vassoura las calças brancas que os capoeiristas vestem; ou o sam-
em três partes iguais. Outra opção, dependendo da cidade ba, não só caracterizado pelo pandeiro, mas também pelo
em que você está, e das culturas e instituições presentes nela, tamborim.
é fazer visitas a museus, ONGs, escolas especializadas, grupos
Páginas 252 e 253 O fandango e a cultura caiçara
de dança e associações que possam manter um acervo des-
se tipo de material. Nesses casos, como se está trabalhando Para a pesquisadora Marilena Chaui, a cultura popular
dentro da perspectiva de “temas geradores do conhecimen- pode ser entendida “como forma de expressão dos domina-
to”, não é necessário buscar somente os símbolos de identida- dos, como manifestação diferenciada que se realiza no inte-
de das expressões da cultura popular citadas neste capítulo. rior de uma sociedade que, embora seja a mesma para todos,
Em vez disso, busque uma expressão da cultura popular da apresenta-se repleta de sentidos e finalidades diferentes para
cidade em que vivem, investindo assim em um ensino con- cada uma das classes sociais”. (LARA, 2007, p. 112).
textualizado, que considera a cultura local e o contexto do No artigo “O sentido ético-estético do corpo na cultura
estudante como fatores essenciais aos processos de ensino- popular e a estruturação do campo gestual”, a pesquisadora
-aprendizagem. Larissa Lara desenvolve reflexões sobre o sentido ético-estéti-
As respostas para as questões desta “Roda de conversa” co do corpo na cultura popular. Ainda no mesmo texto, Lara
podem conter variações. A seguir, são indicados pontos es- (2007) afirma que as investigações apontam para um proces-
senciais para que os estudantes associem os objetos símbolos so de normatização coletiva que gera técnicas corporais pró-
de identidade às expressões culturais estudadas. prias às comunidades de cultura popular, as quais se colocam
a) como parte de uma teia complexa de relações e, de acordo
Fandango caiçara: assim como as gungas do congado, os com a filósofa Marilena Chaui5 (1995, p. 25):
tamancos do fandango são indumentária e instrumentos.
[...] conjunto disperso de práticas, representações e for-
Eles são usados pelos homens ao executarem os passos
mas de consciência que possuem lógica própria (o jogo in-
batidos do fandango; passos diferentes são feitos a partir
terno de conformismo, do inconformismo e da resistência),
dos diferentes ritmos tocados.
distinguindo-se da cultura dominante exatamente por essa
Frevo: as sombrinhas do frevo são utilizadas pelos pas-
lógica de práticas, representações e formas de consciência.
sistas e os auxiliam no equilíbrio e na execução dos mo-
vimentos acrobáticos. As pessoas que dançam frevo es- LARA, Larissa M. O sentido ético-estético do corpo na cultura popular e a estruturação do
pontaneamente, improvisando passos nas ruas durante campo gestual. Revista Movimento, Porto Alegre, 2007. p. 112.
o carnaval, também utilizam as sombrinhas para executar A fim de aproximar você e seus estudantes dessa “teia
os movimentos do frevo. complexa de relações” formada por essas lógicas próprias de
Congado: as gungas do congado não só funcionam como práticas e representações, neste livro, optou-se por refletir so-
indumentária, mas também como instrumentos nos pés bre os vários componentes das expressões da cultura popular
dos brincantes durante o cortejo. Amarradas em seus tor- apresentadas, como no caso do fandango, que além de falar
nozelos, as gungas são tocadas conforme os passos do sobre a música, os tamancos e o movimento, fala também
congado são executados, ou seja, a cada movimento dos sobre o barreado, componente que integra a cultura caiçara
tornozelos dos congadeiros, um som é executado. de quem faz e de quem assiste ao fandango.
Maculelê: as grimas do maculelê são utilizadas como ins- Para Lara (2007):
trumentos de defesa durante a dança que simboliza uma
luta composta de movimentos ritmados. Ao executarem A identificação de uma manifestação cultural como
os movimentos característicos dessa dança e luta, os brin- sendo um maracatu, um coco, um frevo ou um bumba meu
cantes também utilizam as grimas como instrumentos, boi dá-se não apenas pelo movimento, mas por um conjun-
executando sons que seguem o ritmo da música tocada. to de elementos que o constituem, a exemplo dos ritmos
Bumba meu boi: as máscaras do bumba meu boi tam- produzidos, das letras entoadas, das vestimentas caracterís-
bém constituem parte da indumentária dos brincantes, ticas e da expressão simbólica. Além do mais, a forma como
mas nessa expressão cultural funcionam como elemento o gestual popular é delineado está, sobretudo, relacionado
de caracterização dos personagens. É importante consi- à produção histórico-cultural da comunidade (seus ritos,
derar que a máscara também define o tipo de movimen- sua religiosidade, sua forma de se relacionar com o antigo
tação de cada personagem. e o novo, suas construções normativas ético-estéticas para
5. CHAUI, Marilena. Conformismo e resistência: aspectos da cultura popular no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1995.
455
convivência em grupo e para o desenvolvimento de dada mento 4: ao som de uma música de frevo.
manifestação cultural). b) Vivência 2 – momento 1: ao som de uma música de fan-
LARA, Larissa M. O sentido ético-estético do corpo na cultura popular e a estruturação do
dango; momento 2: ao som de uma música de congado;
campo gestual. Revista Movimento, Porto Alegre, 2007. p. 113. momento 3: ao som de uma música de maculelê; mo-
mento 4: ao som de uma música de frevo.
A leitura desse artigo na íntegra aproximará você, profes- c) Vivência 3 – momento 1: ao som de uma música de fan-
sor, das questões conceituais relacionadas à cultura popular dango; momento 2: ao som de uma música de congado;
discutida no livro. Buscando essa aproximação, assista com os momento 3: ao som de uma música de maculelê; mo-
estudantes a vídeos e reportagens sobre o fandango, obser- mento 4: ao som de uma música de frevo.
vem as batidas dos tamancos de madeira no tablado, a indu-
mentária utilizada pelos fandangueiros e escutem a música O objetivo de utilizar ritmos trazidos pelos estudantes é
tocada e cantada pelos mestres. relacionar essa prática a outras já propostas em capítulos an-
No boxe “Arte para navegar”, foi sugerido um site de pes- teriores, em que buscavam-se processos de criação que par-
quisa onde é possível encontrar músicas tradicionais, assistir a tissem do contexto dos estudantes. Considere que é possível
vídeos e ler depoimentos e publicações no projeto intitulado ter em sala de aula estudantes que são brincantes de alguma
“Memória caiçara”. Considere que, além dos sites indicados, outra expressão da cultura popular.
pesquisas na internet poderão aproximar você e seus estu-
Páginas 259 e 260 O bumba meu boi do Maranhão
dantes do fandango e de muitas outras expressões da cultura
brasileira.
Atividade complementar
Página 253 Arte em diálogo: Dança e Gastronomia Oriente os alunos a assistir em casa a série Sotaques do
Verifique se na cidade ou no estado onde a sua escola está bumba meu boi da TV Brasil, disponível em: <http://tvbrasil.
localizada existe alguma comida típica que seja associada a ebc.com.br/reportermaranhao/episodio/serie-sobre-
uma expressão da cultura popular e, antes de começar a tra- sotaques-do-bumba-meu-boi>, acesso em: 4 maio 2016, em
balhar o tema do boxe “Arte em diálogo”, pergunte aos estu- que é possível ver e ouvir os vários sotaques do bumba meu
dantes e incentive-os a realizar uma pesquisa sobre o tema boi maranhense.
“Dança e gastronomia”. No episódio selecionado para essa atividade, apresentam-
Neste boxe, é apresentada a importância da união entre -se as principais características do boi de orquestra.
a dança e a gastronomia na cultura popular utilizando como Depois de assistir, peça a eles que pesquisem na internet
exemplo um prato típico do Paraná, o barreado. Lembre-se mais informações sobre o sotaque de orquestra na atualidade
de ressaltar que outros pratos e comidas típicas das regiões e respondam às perguntas a seguir:
brasileiras também são comumente associados às danças na 1. O boi de orquestra atualmente é considerado o mais pra-
cultura popular. ticado no Maranhão e um dos mais abertos a inovações.
Surgiu em Munim, mas hoje também existem sotaques
Páginas 257 e 258 Fazer arte
desse tipo em São Luís, havendo uma grande diversida-
de entre os vários grupos atuais. Cite as diferenças que
Objetivos
podem ser encontradas em um mesmo sotaque de boi
Experimentar as dinâmicas e os fatores do movimento asso-
de orquestra.
ciados à utilização de objetos.
Descobrir movimentos a partir das diversas dinâmicas e fato-
1 . As diferenças que podem ser encontradas em um mes-
res definidos por Rudolf Laban. mo sotaque de boi de orquestra vão desde o andamento
das músicas (mais lento, mais rápido), até a formação dos
Conectar as possibilidades de movimento individual com os
grupos (em forma de U ou em forma de pelotão), a repre-
símbolos de identidade estudados neste capítulo.
sentação ou não do auto do boi e a presença de mulheres
como cantadoras.
Nesta atividade, é proposto o encontro de algumas dan-
ças da cultura popular brasileira com alguns dos princípios 2. No capítulo da série “Sotaques do bumba meu boi” da
de Laban. Considerando o estudo que precede essa atividade TV Brasil, é possível ver que as apresentações do boi de
e que enfatiza as dinâmicas e os fatores dos movimentos de orquestra filmadas por eles ocorrem em um “arraial”, um
Rudolf Laban em cada uma das expressões da cultura popu- espaço previamente preparado para isso, no qual cada
lar estudadas, ao realizar a atividade proposta, utilize músicas grupo se apresenta e os espectadores assistem. Uma das
associadas às referidas expressões da cultura popular e desen- características das culturas populares brasileiras tradicio-
volva as vivências da seguinte forma: nais é uma impossibilidade de separação entre quem faz
a) Vivência 1 – momento 1: ao som de uma música de fan- e quem assiste, de modo que todos participam da festa.
dango; momento 2: ao som de uma música de congado; Assim como no carnaval da Marquês de Sapucaí, no Rio
momento 3: ao som de uma música de maculelê; mo- de Janeiro, essa separação entre público e brincantes
456
modifica a forma de perceber e participar dessas expres- sendo parte da tradição circense, não deve ser levada em
sões culturais. Converse com os colegas e o professor so- cena por reforçar estereótipos. Após a leitura das reportagens
bre o tema e responda: na sua opinião, em que sentido e dos depoimentos sobre o tema a serem pesquisados pelos
estudantes, discuta com a turma ambas as posições.
isso se modifica? Justifique sua resposta.
2 . Resposta pessoal. Podem ser citadas algumas modifi- Página 264 Ensaio corrido
cações: a separação rígida entre quem vê e quem faz; a
Neste capítulo, o intuito é aproximar os estudantes do fan-
transformação da expressão cultural em espetáculo, que
dango caiçara, do frevo, do maculelê, do congado e da liga-
pode decorrer na cobrança; a acessibilidade do turista na-
ção dos componentes dessas expressões da cultura popular,
cional e internacional, que, de outra forma, teria mais difi-
chamadas aqui de símbolos de identidade, com o cotidiano
culdade de ter acesso às comunidades onde se realizam
das populações que participam delas.
as festas; a profissionalização da expressão cultural e sua Conhecer o bumba meu boi e seus diversos sotaques, co-
incorporação no calendário turístico da cidade, fomen- médias, autos e histórias e o caráter ritualístico das máscaras
tando sua economia. brasileiras aproxima de fazeres e saberes populares. Por fim,
são discutidas questões relacionadas ao racismo a partir da
polêmica do uso da máscara blackface em A Mulher do Trem.
Página 261 Fazer arte
Página 264 Roda de conversa
Objetivos Nesta “Roda de conversa” final, é proposta a aproximação
Conhecer uma das histórias do festejo do bumba meu boi e a reflexão dos estudantes sobre o contexto em que estão
maranhense e experimentá-la teatralmente, interpretando inseridos. Em todos os estados brasileiros existem expressões
seus personagens e representando-a para a turma. da cultura popular mais ou menos conhecidas pelo povo,
mais ou menos divulgadas pela mídia. Ao longo de todo o ca-
Uma das principais características do bumba meu boi é pítulo, considere as relações de mais ou menos familiaridade
a festividade e um ambiente descontraído e alegre. Não é com uma ou várias das expressões da cultura popular abor-
preciso buscar uma perfeição na caracterização dos perso- dadas. Além disso, considere também que muitas expressões
nagens ou na cena. O mais importante é que os estudantes da cultura brasileira são transmitidas pela oralidade e muitas
sejam capazes de contar a história teatralmente, utilizando-se vezes acontecem em comunidades distantes dos centros ur-
de elementos simples como lençóis, chapéus etc., mantendo banos. Dependendo de onde está localizada a escola, falar de
o caráter festivo da história. Cada grupo pode procurar dife- cultura popular pode ser falar da comunidade do próprio es-
rentes soluções cênicas para representar o narrador, a Mãe tudante ou, então, de algo totalmente desconhecido para ele.
d’água (metade peixe e metade mulher) e a Lagartixa. Ajude- Saliente que nem sempre você ou outras pessoas envol-
-os, também, a buscar soluções cênicas para tirar a Lagartixa vidas em uma expressão da cultura popular terão todas as
de dentro do Boi (pode ser usado algum tecido sobre o corpo respostas às perguntas feitas pelos estudantes, seja por não
do estudante que faz o Boi e, de dentro do tecido, outro es- conhecê-las profundamente, seja porque uma das coisas que
tudante pode surgir como Lagartixa, por exemplo). Também mais caracterizam a cultura popular é a tradição, ou seja, a
podem ser usados fantoches, marionetes ou outros objetos transmissão e manutenção de um conhecimento consolida-
representando cada personagem, aproximando-se às técni- do e passado de geração a geração sem justificativa ou ex-
cas do teatro de formas animadas. A musicalidade também plicação.
pode ser explorada incorporando elementos de percussão No filme O auto da Compadecida, baseado no livro ho-
simples, como bater dois pedaços de madeira, um chocalho mônimo do escritor paraibano Ariano Suassuna (1927-2014),
etc. Na composição corporal dos personagens, use os planos constantemente os personagens principais, Chicó e João
alto, médio e baixo para diferenciá-los e os fatores de movi- Grilo, estabelecem diálogos sem respostas. Ao se espantar
mento de Laban também podem ser explorados, por exem- com a história de João Grilo, Chicó pede que o amigo des-
plo: a Lagartixa se mantém no plano baixo e faz movimentos creva a situação e pergunta como isso aconteceu, obtendo
indiretos, leves e contínuos. como resposta: “Não sei, só sei que foi assim”. Essa forma de
explicar os fatos nos aproxima da definição de tradição como
Página 263 Arte no dia a dia algo que não se explica, mas se mantém, sem saber como,
geralmente repetindo o que foi ensinado pelos mais velhos
A polêmica ocorrida pelo uso da máscara blackface na
de uma comunidade.
peça do grupo teatral Os Fofos Encenam traz duas argumen-
tações básicas. De um lado, o grupo, alguns artistas e estudio-
Sugestão de filme
sos do teatro e do circo afirmam ser uma máscara da tradição
do circo popular do Brasil e que não tem a intenção de ser O auto da Compadecida, direção de Guel Arraes. Rio de
ofensiva. Por outro lado, os movimentos sociais contra o ra- Janeiro: Globo Filmes, 2000. (104 min.)
cismo e outros artistas e estudiosos afirmam ser uma máscara Ambientado no sertão da Paraíba, a história acontece,
que ridiculariza a identidade afrodescendente e que, mesmo basicamente, em torno de dois personagens principais:
457
nas e não buscarem compará-las com a música a que estão
João Grilo, sertanejo mentiroso, e Chicó, um grande covar-
de. Ambos sobrevivem de pequenos negócios e aplicando habituados a ouvir.
alguns golpes nos moradores da região até que se envol- São estudadas, especialmente, duas manifestações indí-
vem com o terrível cangaceiro, Severino de Aracaju. genas em que a música apresenta papel central: o Turé dos
povos do baixo Oiapoque e o Toré dos povos indígenas do
Sugestão de leitura nordeste. Apesar de muitos dos povos do baixo Oiapoque
ALVES, J. da S. Musicalidade e dança, tamancas e moda de manterem contato com culturas não indígenas da região, eles
viola como aspectos da identidade de um povo do litoral conseguiram preservar o caráter sagrado e mágico do ritual
paranaense. In: O professor PDE e os desafios da escola pública do Turé.
paranaense. Governo do Paraná, 2010. v. 1. Disponível em: O Toré do Nordeste vem recebendo bastante influência
<www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/ de outras manifestações culturais da região, mas tem se man-
pdebusca/producoes_pde/2010/2010_uem_hist_artigo_ tido como importante instrumento de luta política pelo reco-
joao_da_silva_alves.pdf>. Acesso em: 16 abr. 2016. nhecimento de identidade indígena daqueles povos e pela
Artigo escrito por um professor da rede pública esta- demarcação de terras.
dual do Paraná, em que se vislumbra o estudo do fandango
como forma de afirmação de identidade dos estudantes
paranaenses. Esse artigo pode auxiliar para aprofundar as Sugestões de leitura
questões relacionadas à manutenção e à transformação da CUNHA, L. C. M. da. Toré – da aldeia para a cidade: música e
identidade propostas neste livro. territorialidade indígena na Grande Salvador. Dissertação de
Mestrado, Universidade Federal da Bahia (Escola de Música),
2008. Disponível em: <https://repositorio.ufba.br/ri/
Capítulo 17 Música para imaginar e bitstream/ri/9106/1/Dissertacao%2520Leonardo%2520da%
2520Cunha%2520seg.pdf>. Acesso em: 23 abr. 2016.
experimentar o mundo
Em sua dissertação de mestrado, Leonardo Campos
Mendes da Cunha descreve o deslocamento de indígenas
Kariri-Xocó de sua aldeia em Alagoas até a região metro-
politana de Salvador (BA), onde organizam uma reserva
indígena. Lá passam a praticar o Toré como forma de sobre-
vivência econômica e de ensinamento da cultura indígena.
A dissertação apresenta com detalhes o ritual, enfatizando
aspectos musicais, e traz uma reflexão sobre suas dimen-
sões ritualísticas, político-econômicas e ideológicas.
SANTOS, A.; ALMEIDA, B. S. et al. Turé dos povos indígenas do
Oiapoque. Rio de Janeiro: Museu do Índio/Instituto Iepé,
2009. Disponível em: <www.institutoiepe.org.br/wp-
content/uploads/2008/01/livro_ture_povos_indigenas_
oiapoque-iepe.pdf>. Acesso em: 22 fev. 2016.
Conteúdo Os povos indígenas Palikur, Galibi-Marworno, Galibi
Música e dança em festas e rituais tradicionais Kali’na e Karipuna formam os povos indígenas do baixo
Oiapoque e vivem no Amapá, na fronteira do Brasil com a
Guiana Francesa. O Turé encontra-se detalhado nessa publi-
Páginas 265 e 266 Afinando os instrumentos cação, que foi escrita e ilustrada pelos próprios indígenas
do baixo Oiapoque e relata a importância que o Turé tem
Neste capítulo é abordada a música presente em rituais
na vida daqueles povos. Disponível em: <www.institutoiepe.
e festas de alguns povos indígenas do Brasil. O objetivo é
org.br/wp-content/uploads/2008/01/livro_ture_povos_
mostrar aos estudantes que existe uma enorme variedade
indigenas_oiapoque-iepe.pdf>. Acesso em: 22 fev. 2016.
de rituais e festas tradicionais dos povos indígenas em que
o canto é de vital importância e que revela a complexidade
e a multiculturalidade da sociedade brasileira e de suas ex- Página 272 Arte para assistir
pressões artísticas. Ressalte que, para os povos indígenas, a
música se reveste de importância peculiar devido ao papel Se possível, assista com os estudantes ao clipe oficial da
que tem nos rituais e nas festas, e pelo seu poder de cura. música Eju Orendive, do Brô MC’s, produzido pela Cufa e TV
Para muitos povos indígenas cantar é uma forma de exerci- Dourados na internet. Para isso, basta digitar “Eju Orendive
tar a memória, de ampliar e relacionar diferentes conheci- Brô MC’s” em um site de busca na internet e escolher o vídeo.
mentos, de ampliar as percepções de mundo, de imaginar Ouvir a música e ver o clipe oficial pode ajudar a identificar a
e experimentar a vida. Oriente os estudantes a se abrirem multiculturalidade presente na música e na visualidade pro-
para as diferentes sonoridades da música dos povos indíge- posta pelo vídeo.
458
Página 274 Fazer arte a contribuição indígena na construção da música brasileira
ser pouco reconhecida, o que de certa forma revela uma difi-
culdade presente no Brasil de entender os indígenas do país
Objetivos
como brasileiros.
Apreciação musical de cantos indígenas.
Percepção de pulsação musical, sons de diferentes alturas e O índio na música brasileira
repetição melódica. Não faz parte dos discursos modernos usuais – científi-
cos e de senso comum – sobre a “música brasileira” colocar
Nesta atividade os estudantes realizarão um trabalho de em suas origens a “música indígena”. O corriqueiro a este
apreciação musical, ouvindo duas gravações de cantos indí- respeito é que a fábula das três raças retroaja à de duas, o
genas. Ao executar a faixa 18 do CD de áudio com o fragmen- célebre triângulo racial brasileiro reduzindo-se assim a um
to de um canto de Toré, executado por adultos do povo Kariri segmento de linha, com os extremos ocupados por “negros”
Xocó, auxilie os estudantes a reconhecer a marcação da pul- e “brancos”. Não há lugar aqui, portanto, para os “índios”,
sação feita pelos maracás, a linha repetitiva da melodia canta- a mestiçagem que estaria na base da formação da música
da e o caráter repetitivo da canção. Ao executar a faixa 19 do
brasileira limitando-se tão-somente a brancos e negros.
CD de áudio com o canto de meninas do povo Maxakali, da
[...] qual o nexo dessa perda ou esquecimento? Isto,
Aldeia Verde, em Minas Gerais, auxilie os estudantes a perce-
num país onde a influência indígena é reconhecidamente
ber o caráter repetitivo da canção e o som gutural que as me-
imensa, indo da língua falada à alimentação, à religião, ao
ninas fazem com a voz quando cantam as notas mais graves
equipamento doméstico, passando pelos universos gerais da
da melodia. Nos dois exemplos, a música indígena não deve
ser entendida nos modelos da canção comercial a que muitos adaptação ao meio ambiente e da genética e por muitos e
podem estar acostumados, mas como parte de um ritual e de muitos outros domínios?
um modo de viver que envolve sociabilidades particulares e [...]
afirmação de identidades. Nesse sentido, quaisquer compa- Embora as pesquisas sobre os impactos das músicas in-
rações com outros tipos de músicas não indígenas poderão dígenas nas músicas brasileiras sejam incipientes, elas nos
ser infrutíferas em estimular os estudantes a se abrirem para permitem desconfiar da transparência desse universo de
novos sons e novas músicas. representações onde a contribuição ameríndia é apagada.
Desta maneira – e na demanda de contraexemplos para a
Página 274 Ensaio corrido narrativa analisada –, pode-se levantar a hipótese, sim, de
O estudo dos rituais indígenas dos povos do Oiapoque e que as músicas indígenas estão na base de grande parte dos
do Nordeste brasileiro deve ser conduzido para enfatizar tais universos musicais conhecidos como “folclóricos” de vastas
manifestações como práticas musicais dançadas que se aliam regiões do país. O caso do nordeste revela-se, a este res-
à festividade e à religiosidade, sendo uma forma desses po- peito, riquíssimo, ali onde o universo músico-ritual do toré
vos reconhecerem e reinventarem sua identidade. É impor- parece constituir-se como uma espécie de linguagem franca
tante ressaltar a multiculturalidade como uma das principais de toda a região, da Bahia ao Ceará. A eventual pequena
características da cultura brasileira, desafiando os estudantes magnitude do nível de contraste existente entre o que con-
a ampliar os conceitos preconcebidos sobre música e cultura suetudinariamente se considera, naquela região, – para nela
que possam ter, usualmente fundados nas manifestações di- ficar –, “indígena” e “brasileiro”, ao invés de simplesmente
fundidas pelos meios de comunicação de massa que direcio- poder ser lida como desqualificante da “indianidade” das
nam a produção e o consumo da música para caminhos nem práticas culturais indígenas da área, poderá antes apontar
sempre condizentes com a multiplicidade cultural do país. para algo tão surpreendente quanto insistentemente negado
Página 274 Roda de conversa por grande parte dos brasileiros e por muita antropologia: o
contraste referido é pequeno, às vezes até mínimo, porque
O objetivo aqui é evidenciar a multiculturalidade que ca- não somente os “índios” ali – para limitar-me tão-somente
racteriza as culturas do Brasil e suas características múltiplas ao nordeste – são “brasileiros”, mas, também e ao revés, por-
que incorporam e reinventam as diversas manifestações cul- que lá estes (ou grande parte deles) também são “índios”.
turais que a compõem. Nesse sentido, discussões sobre au-
Como pensar o Brasil assim? Estado-nação moderno ame-
tenticidade cultural podem dar lugar ao reconhecimento e à
ríndio?
evidenciação da pluralidade que caracteriza as manifestações
culturais no país, em suas múltiplas fontes e interconexões. BASTOS, Rafael J. de M. O índio na música brasileira: recordando quinhentos anos de
esquecimento. In: TUGNY, Rosângela P.; QUEIRÓZ, Rubem Q. de. (Org.). In.: Músicas africa-
Leituras complementares nas e indígenas no Brasil. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006. p.115, 116, 123, 124.
Leitura 1 Leitura 2
Rafael José de Menezes Bastos é professor da Universida- O texto a seguir foi escrito pelo professor Gersem dos
de Federal de Santa Catarina e pesquisador de cultura indí- Santos Luciano – Baniwa (2006), primeiro índigena mestre em
gena. No texto a seguir, Bastos (2006) alerta para o fato de Antropologia Social no Brasil e representante no Conselho
459
Nacional de Educação. Neste texto, o professor apresenta al- são esteja na presença de inúmeros produtos da mandioca,
gumas das diversas contribuições dos povos indígenas para o desde a tradicional tapioquinha ao exótico tucupi e à in-
Brasil e para a humanidade, em várias áreas do conhecimento. dispensável farinha.
Contribuições dos povos indígenas ao Brasil e ao Além de tudo isso, há ainda outro legado bem mais atual
mundo dos povos indígenas ao Brasil e ao mundo, que são os seus
milenares conhecimentos de medicinas tradicionais. Alguns
Na história oficial do Brasil, contada nos livros didáti-
estudiosos estimam que os índios do Brasil já chegaram a
cos das escolas ou mesmo na literatura especializada, não
dominar uma cifra de mais de 200.000 espécies de plantas
aparece nenhum feito ou contribuição significativa dos po-
medicinais. Muitas delas estão se perdendo antes mesmo de
vos indígenas à formação da nação brasileira. Isto porque
serem descobertas pela ciência moderna. Ao contrário do
os povos indígenas sempre foram considerados sem cultu-
que muitos médicos pregam, a medicina tradicional pos-
ra, sem civilização ou qualquer tipo de progresso material.
sui um valor incalculável ainda a ser descoberto e explorado
Aliás, circula ainda hoje entre pessoas bem escolarizadas a
pela medicina moderna, desde que a arrogância dos cientis-
ideia de que os índios representam barreiras e empecilhos
tas ceda lugar às possibilidades de novas descobertas sobre
para o progresso e o desenvolvimento da nação. Mesmo al-
os mistérios da natureza e da vida, como pregam e vivem os
guns índios afirmam, por vezes, que precisam ser ensinados
povos indígenas. Recentemente, em cadeia de televisão, um
pelos brancos civilizados para que posteriormente possam
famoso médico brasileiro afirmou que os conhecimentos in-
contribuir para o desenvolvimento socioeconômico do país.
dígenas no campo da medicina tradicional não tinham nada
Esquecem, ou mesmo ignoram, por força da ideologia in-
a dar à ciência médica, porque os que havia eram totalmente
corporada do pensamento preconceituoso dos brancos, com
ineficientes. Os povos indígenas logo se perguntaram qual
quantas tecnologias, conhecimentos e valores os povos indí-
seria a ciência infalível daquele médico, pois nos hospitais
genas contribuíram para a construção e a formação do povo
brasileiro. Ou será que esqueceram de como os primeiros conhecidos morria gente diariamente, muitas vezes vítima
portugueses aprenderam a sobreviver em terras totalmente de doenças banais.
desconhecidas? No campo da medicina tradicional dos povos indígenas
A primeira contribuição dos povos indígenas teve início há grandes probabilidades de existirem soluções para mui-
logo após a chegada dos portugueses às terras brasileiras. Os tos males que hoje afligem os homens da ciência moderna.
índios pacificados e dominados ensinaram a eles as técnicas Não é gratuito o aumento da atividade de biopirataria em
de sobrevivência na selva e como lidar com várias situações terras indígenas, praticada por pesquisadores e cientistas
perigosas nas florestas ou como se orientar nas expedições do mundo inteiro, porque sabem das riquezas infinitas que
realizadas. Em todas as expedições empreendidas pelos des- constituem as culturas indígenas em relação aos seus recur-
bravadores e colonizadores portugueses lá estavam os índios sos naturais. Só para citar um exemplo, foram os índios da
como guias e serviçais, conforme atestam vários registros América que dominaram, ao longo de séculos ou mesmo
documentais da época. Ao longo de toda a história de co- de milênios, conhecimentos sobre os produtos anestésicos,
lonização brasileira, os povos indígenas estiveram presentes, que hoje são fundamentais para os processos cirúrgicos
ora como aliados na expulsão de outros invasores estrangei- praticados pela medicina médica. Os Baniwa do Alto Rio
ros, ora como mão de obra nas frentes de expansão agrícola Negro há séculos dominam com presteza essa técnica, sen-
ou extrativista. do o principal instrumento de caça e de guerra. Os índios
Do ponto de vista sociocultural, hoje é aceito ofi- Ashaninka e outros povos indígenas do Acre são exímios
cialmente o fato de que o povo brasileiro é formado pela manipuladores de plantas alucinógenas, como a ayawaska,
junção de três raças: a indígena, a branca e a negra. Mas recentemente patenteada por empresas norte-americanas
não foi somente no aspecto biológico que os índios con- e em razão de que muitos povos indígenas das Américas
tribuíram para a formação do povo brasileiro como o sen- estão brigando na justiça por direitos de propriedade inte-
so comum faz crer, mas principalmente do ponto de vista lectual coletiva.
cultural e religioso. Basta prestarmos atenção em muitos E assim poderíamos continuar enumerando várias con-
aspectos que constituem a vida cotidiana dos brasileiros, tribuições importantes dos povos indígenas ao Brasil e ao
começando com a própria língua portuguesa que acabou mundo. Ao olharmos para a realidade presente, percebe-
incorporando várias palavras, conceitos e expressões de mos que essas contribuições aumentaram de importância,
línguas indígenas. Há centenas de nomes de lugares (Igua- mesmo sem ou com pouco reconhecimento por parte da
çu, Itaquaquecetuba, Paranapanema), de cidades (Manaus, sociedade global e nacional. Basta observarmos as riquezas
Curitiba, Cuiabá) de pessoas (Ubiratan, Tupinambá), de estratégicas que se encontram nos territórios indígenas,
ruas e até de empresas (Aviação Xavante, Empresa Xingu). dos quais eles são não apenas donos, mas principalmente
Outro aspecto extremamente relevante são os conheci- guardiões e aguerridos defensores. A principal delas, e com
mentos culinários dos povos indígenas que estão presentes a qual os povos indígenas contribuem para a riqueza so-
na vida dos brasileiros, em que talvez a mais forte expres- cioeconômica do país, é a megabiodiversidade existente em
460
suas terras, que representam quase 13% do território brasi- em culturas que não compartilham de seu significado e apli-
leiro, a maior parte totalmente preservada. Fotos de satélites cação? Tal impasse de compreensão acontece justamente por
mostram que as terras indígenas são verdadeiras ilhas de suscitar questões referentes às reflexões e definições de arte.
florestas verdes rodeadas por pastos e cultivos de monocul- Darcy Ribeiro (1983) segue no questionamento aqui iniciado:
turas, com a predominância da soja. Esta não é apenas uma
riqueza dos índios, mas de todos os brasileiros e dos viventes Que é arte índia? Com esta expressão designamos certas
do planeta, na medida em que são florestas que contribuem criações conformadas pelos índios de acordo com padrões
para amenizar os graves desequilíbrios ambientais da Terra prescritos, geralmente para servir a usos práticos, mas bus-
nos tempos atuais. Por esta razão, o Brasil e o mundo deve- cando alcançar a perfeição. Não todas elas, naturalmente,
riam contribuir para que os povos indígenas continuassem a mas aquelas entre todas que alcançam tão alto grau de rigor
proteger essa imensurável riqueza vital. formal e de beleza que se destacam das demais como obje-
Por fim, os povos indígenas brasileiros constituem ainda tos dotados de valor estético. Neste caso, a expressão estética
uma riqueza cultural invejável para muitos países e conti- indica certo grau de satisfação dessa indefinível vontade de
nentes do mundo. São 222 povos étnicos falando 180 lín- beleza que comove e alenta aos homens como uma neces-
guas – 222 povos é pouco menos que as 234 etnias existen- sidade e um gozo profundamente arraigados. Não se trata
tes em todo o continente europeu. São poucos os países que de nenhuma necessidade imperativa como a fome ou a sede,
possuem tamanha diversidade sociocultural e étnica. Por bem o sabemos; mas de uma sorte de carência espiritual,
tudo isso, o Brasil e o mundo precisam olhar com mais ca- sensível, onde faltam oportunidades para atendê-la; e de
rinho para os povos indígenas e vê-los não como vítimas ou presença observável, gozosa e querida, onde floresce.
coitadinhos pedindo socorro, mas como povos que, além de Esta concepção da arte, aplicada aos índios, nos per-
herdeiros de histórias e de civilizações milenares, ajudaram mite encontrar em sua vida diária, muitas expressões de
a escrever e a construir a história do Brasil e do planeta com criatividade artística. Quer dizer, criações voltadas para a
seus modos de pensar, falar e viver. perfeição formal, cuja fatura, desempenho ou simples apre-
ciação lhes dá gozo, orgulho e alegria. Muito mais do que
BANIWA, Gersem dos S. L. O índio brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos
indígenas no Brasil de hoje. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação na nossa vida, estão presentes na vida indígena estas formas
Continuada, Alfabetização e Diversidade; Laced/Museu Nacional, 2006. p. 216-220. de fruição artística. Lá, porém, estas qualidades do que é
Disponível em: <unesdoc.unesco.org/images/0015/001545/154565por.pdf>. artístico estão de tal forma dispersas no que eles fazem, que
Acesso em: 4 maio 2016. teríamos, talvez, de encarar como arte, criações dos gêneros
mais variados. Um arco cerimonial emplumado dos Bororo
– mas não um arco comum –, uma enorme peneira Desana,
Capítulo 18 A visualidade das artes trançada de forma a ressaltar desenhos decorativos – mas
indígenas brasileiras não qualquer peneira –, seriam criações artísticas porque se
destacam como objetos de beleza extraordinária.
RIBEIRO, Darcy. Arte índia. In: ZANINI, Walter (Org.). História geral da arte no Brasil. v. 1.
São Paulo: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. p. 49.
461
Assim é porque a característica distintiva da arte é ser de subsistência da família, de participação nas durezas e nas
mais um modo do que uma coisa, mais forma do que con- alegrias da vida e de desempenho dos papéis sociais pres-
teúdo, mais expressão do que entidade. Suas criações se critos de membro da comunidade. É, porém, um homem
apresentam como um conjunto estilizado de modos de fa- mais inteiro, porque além de fazer o que todos fazem, faz
zer certas coisas, de contar uns casos, de cantar e de dançar. algumas coisas notoriamente melhor que todos.
O que caracteriza a arte índia, entre as artes, é este modo RIBEIRO, Darcy. Arte índia. In: ZANINI, Walter (Org.). História geral da arte no Brasil. v. 1.
generalizado de fazer todas as coisas com uma preocupação São Paulo: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. p. 50.
primordialmente estética.
Essa mesma questão é tratada por José Braga Fernandes
Para complicar, nada parece mais fortuito e até fútil que
Dias (2000). Ele reflete não somente sobre a ação de colecio-
o modo artístico. Entretanto, ele exibe uma fixidez admirá-
nar os objetos produzidos pelos povos indígenas, mas tam-
vel e mesmo quando muda, muda dentro de certa pauta cuja
bém sobre expô-los, o que se verifica, novamente, como um
continuidade se pode ver. Isto é o que ocorre com os estilos
gesto de tratar igualmente operações realizadas com objeti-
artísticos de cada tribo, em cada gênero, que variam sen-
vos e em contextos diferentes:
sivelmente, como se pode observar através da comparação
das coleções museológicas. Variam, porém, lentissimamente Ora, o museu e a exposição de arte, ocidentais, que
e só variam pela acumulação de pequenas alterações quase condicionam a nossa relação com os objetos, são diluen-
imperceptíveis em cada geração, preservando assim, através tes muito poderosos das diferenças culturais; nem mesmo
do tempo, o perfil estilístico tribal. quando adotam o pluralismo cultural deixam de ser fun-
Contribui, provavelmente, para este conservadorismo, o damentalmente monoculturais. Dessa maneira, ao expô-los,
fato de que o saber técnico, sendo implícito no nível tribal, só estamos ao mesmo tempo a aproximar da nossa categoria
pode reter o acervo das experiências do passado pela repeti- “arte” coisas provenientes de sociedades que não têm para
ção fiel de cada item formal. Uma flecha, por exemplo, deve ela equivalente, assimilando-os pelas práticas institucionais
atender a grande número de requisitos físicos de dimensões de uma cultura da exposição, em que são supostos ser olha-
proporcionais, de equilíbrio, de peso e de torção adequada dos e apreciados no mesmo espírito estético, contemplativo
da emplumação, para imprimir em seu movimento a rotação e desinteressado com que olhamos os nossos objetos artísti-
necessária para que ela cumpra sua função prática. cos. [...] Em que medida isso envolve uma distorção ou uma
RIBEIRO, Darcy. Arte índia. In ZANINI, Walter (Org.). História geral da arte no Brasil. v. 1. apropriação do valor dos objetos? Ou esse reconhecimento
São Paulo: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. p. 50. artístico é uma forma de valorizar esses artefatos? Que rela-
ção há entre as qualidades de um objeto visto pelo público
Ribeiro (1983) alerta sobre o risco de ficar isolando objetos
de arte ocidental e as suas qualidades vistas pelos que o pro-
em categorias, ou seja, que o conceito de arte deve conside-
rar o que é interno à cultura e não o que é externo a ela. duziram para seu uso? Por que usamos designações diferen-
tes: “arte” só, e artes com nome – artes indígenas (também
É de perguntar, nesta altura, se não seria um valor cultural arte popular, arte primitiva ou arte étnica etc.)?
nosso a ideia de coisa artística. Não seria isso uma espécie de DIAS, José António Braga Fernandes. Arte, arte índia, artes indígenas. In: AGUILAR,
supervalorização que atribuímos a algumas criações? Entre Nelson (Org.). Mostra do redescobrimento: artes indígenas. São Paulo: Associação Brasil
nós, é nítida a diferença entre objetos pretensamente únicos, 500 Anos Artes Visuais, 2000. p. 36.
criados por especialistas, dentro da categoria de coisas desti-
Nesse sentido, essa discussão não tem como objetivo
nadas às coleções privadas ou a museus e tudo que se destina
demonstrar a condição não artística das produções dos
ao uso corrente. No mundo indígena ela existe para o etnó- povos indígenas, mas apenas evidenciar como tal coloca-
logo que olha, reconhece e colhe os objetos “artísticos”; não ção é uma produção cultural localizada e de origem oci-
tanto para os índios que os têm e os usam junto com todos dental, não devendo ser compreendida como uma defini-
os outros. Esclareça-se aqui que, apesar de usá-los conjun- ção e uso universais.
tamente, os índios apreciam distintivamente os espécimens
que atendem melhor aos requisitos formais de perfeição de Página 276 Roda de conversa
cada gênero e melhor expressam o padrão tradicionalmente O objetivo dessa primeira conversa é perceber a variedade
prescrito, como também reverenciam muito as pessoas que de padronagens presentes em um mesmo povo, procurando
conseguem fazê-los com tamanha perfeição. Mas ninguém identificar as formas e as possibilidades de combinação de-
pensaria lá em colecionar objetos artísticos. Cada objeto re- las. Levante questões sobre quais os suportes possíveis para
trata quem os fez e lembra os dias em que foi feito. Como tal, a aplicação desses padrões, como deve ser esse processo,
pode ser tido e retido, mas jamais colecionado. com quais materiais. Ao analisarmos as representações dos
O artista índio não se sabe artista, nem a comunidade Asuniri, é possível destacar o padrão Tayngava – combinação
para a qual ele cria sabe o que significa isto que nós consi- da palavra ayngava, que significa réplica, medida ou imagem
deramos objeto artístico. O criador indígena é tão somente acrescida ao prefixo “T”, forma gramatical que indica possui-
um homem igual aos outros, obrigado como todos às tarefas dor humano.
462
Estimule os estudantes a observar a imagem e ler a legen- A vida do índio
da com atenção. Depois, pergunte a eles se consideram esse O índio lutador,
objeto como arte ou não. Oriente-os a justificar suas respos- Tem sempre uma história pra contar.
tas e, se julgar interessante, organize um debate em sala sobre Coisas da sua vida,
o assunto. Que ele não há de negar.
A vida é de sofrimento,
Páginas 277 a 283 Arte, artesanato e artes indígenas
E eu preciso recuperar.
Problematizam-se as relações entre arte, artesanato, a
produção dos povos indígenas e como ela é vista fora da Eu luto por minha terra,
sociedade indígena. O objetivo é demonstrar que não existe Por que ela me pertence.
produção melhor ou pior. Outro aspecto bastante relevan- Ela é minha mãe,
te é observar que as produções indígenas possuíam e ain- E faz feliz muita gente.
da possuem uma grande complexidade; porém, ainda são Ela tudo nós dá,
vistas pelas sociedades não indígenas sob um viés muitas Se plantarmos a semente.
vezes preconceituoso, como se fossem menos elaboradas.
A minha luta é grande,
Página 278 Arte em diálogo – Patrimônio imaterial e Não sei quando vai terminar.
Eu não desisto dos meus sonhos,
a arte indígena
E sei quando vou encontrar.
Nesse momento, são levantados conceitos relevantes so- A felicidade de um povo,
bre a definição de patrimônio imaterial. Muitas vezes, é mais Que vive a sonhar.
fácil reconhecer os patrimônios materiais, como os monu-
mentos públicos, obras de arte, entre outros, que os patri- Ser índio não é fácil,
mônios imateriais, representados pelas danças, pelos hábitos Mas eles têm que entender.
alimentares, pelas crenças e pela própria língua. Infelizmente, Que somos índios guerreiros.
como o processo de colonização dizimou culturas, conse- E lutamos pra vencer.
quentemente, grande parte do patrimônio imaterial dos pri- Temos que buscar a paz,
meiros habitantes do Brasil foi destruída. E ver nosso povo crescer.
Se possível, visite o site do Iepé, disponível em <www.
Orgulho-me de ser índio,
institutoiepe.org.br/>, acesso em: 5 maio 2016, e traga para
E tenho cultura pra exibir.
a sala de aula um dos artigos ali presentes para ler com os
estudantes. Reforce a importância de se buscarem informa- Luto por meus ideais,
ções sobre os povos indígenas, sobre as produções feitas E nunca vou desistir.
pelos próprios indígenas e conversem sobre a capacidade Sou Pataxó Hãhãhãe,
dessas produções de contribuir para a compreensão das E tenho muito que expandir.
culturas indígenas no Brasil contemporâneo, já que são arti- SOUZA, Edmar Batista de (Itohã Pataxó). A vida do índio. Índio Educa, 12 abr. 2013.
gos de datas recentes. Disponível em: <www.indioeduca.org/?p=1919>. Acesso em: 11 jan. 2016.
Página 277 Arte para navegar O objetivo principal desta “Roda de conversa” final é que
os estudantes percebam que a cultura indígena foi parte
Atividade complementar fundamental para a constituição da sociedade, mas que in-
felizmente foram negados os direitos fundamentais de sobre-
Leve para a aula o poema “A vida do índio”, faça uma lei- vivência de boa parte do patrimônio material e do imaterial
tura e, em seguida, analise-os oralmente com os estudantes. dos povos indígenas brasileiros. A diversidade é a tônica deste
Esta atividade permite o trabalho interdisciplinar com Língua capítulo e seria fundamental que os estudantes terminassem
Portuguesa. o estudo compreendendo a importância do respeito às dife-
463
renças e que todos têm direito de preservar sua identidade e dos de cada capítulo da Unidade sejam trabalhados de forma
de ter acesso à cultura e à educação. interdisciplinar com os professores de História, Matemática
e Informática. Nos comentários do texto do livro didático e
Páginas 285 a 287 Atividades de múltipla escolha nesta Assessoria Pedagógica, específica para cada capítulo, há
1. As retratações tanto na pintura como nos textos de época orientações para a realização desse trabalho interdisciplinar.
carregam o olhar do colonizador que tinha o objetivo de Esta Unidade contempla três capítulos que foram estrutu-
dominar e explorar tanto o território como seus habitan- rados tendo como base a conexão dos campos artísticos com
tes – os indígenas. a História (capítulo 19), com a Matemática (capítulo 20) e com
2. A letra da canção aponta justamente a forma violenta a tecnologia (capítulo 21). Essas três áreas foram escolhidas
como foi realizada a colonização portuguesa, retirando por apresentarem um impacto bastante destacado na arte
os povos indígenas de suas formas tradicionais de vida contemporânea e, além disso, foram abordados os campos
e ocasionando, no decorrer do tempo, um processo de artísticos que se relacionam de maneira mais direta com cada
marginalização e de risco de extinção progressiva. uma delas.
3. A preservação da memória ancestral e resistência negra
aparece repetidamente no poema ao relembrar as origens
Interdisciplinaridade
africanas e a situação de opressão vivida pelos afrodescen-
dentes nos processos de colonização dos Estados Unidos Durante o estudo dos assuntos abordados nesta Unidade,
e do Brasil. Também é recorrente a menção à resistência observe as conexões interdisciplinares entre as artes e outras
negra a esse processo colonizatório e escravocrata, princi- áreas do conhecimento. Essas conexões são explicitadas no
palmente ao citar Zumbi dos Palmares considerando um boxe “Arte em diálogo”.
símbolo dessa resistência. O blues, a primeira e principal
forma cultural especificamente negro-americana e seu Capítulos da Unidade 5 Arte em diálogo
canto melancólico, é associado à apatia dos brancos pelo
eu lírico. 19 Pintura, Teatro e História – Pintura e Biologia
4. A relação entre o modo de fazer e a obra é característica – Teatro documentário e
importante de sua identidade, pois revela uma forma es- documento histórico
pecífica de relação da obra, no caso, o cordel, com a co- – Teatro e igualdade de
munidade na qual é gerada. gênero
5. O padrinho, que é como um professor que sonha e plane-
20 Arte e Matemática – Arte e Língua Portuguesa
ja o canto dos adolescentes na cultura xavante. Todos os
tipos de dança vêm dos primeiros Xavantes, portanto eles 21 Arte e tecnologia – Teatro e cinema
preservam uma identidade entre a gestualidade ancestral – Música e Arqueologia
e a novidade dos cantos a serem entoados. – Música e tecnologia digital
Conteúdos
Páginas 290 e 291 § A representação histórica do Brasil do século XIX por meio
da pintura
Nesta Unidade são abordadas as conexões dos campos
§ O teatro documentário e a visão crítica dos acontecimentos
artísticos com outras áreas do conhecimento ao longo da his-
históricos
tória até a contemporaneidade. É importante que os conteú-
464
Páginas 292 e 293 Afinando os instrumentos Página 296 Pintura e identidade nacional
Neste capítulo, são exploradas as relações da pintura e O século XIX é um importante momento de discussão da
do teatro com a História. Entre os campos artísticos tratados identidade nacional brasileira. Existe o desejo político de apre-
neste livro, a pintura e o teatro se destacam como artes que sentar soluções para a unidade da nação, tendo em vista a sua
se entrelaçam de forma especial com a representação e a constituição tão diversa nos seus aspectos étnicos, culturais
releitura dos acontecimentos históricos. Nesse sentido, com- e linguísticos. Vários artistas utilizaram seus conhecimentos
preendendo as especificidades dessa relação tanto no teatro para construir, a partir de imagens, um passado compartilha-
quanto na pintura, pretende-se proporcionar o conhecimen- do. Esse interessante debate será apresentado neste livro.
to e a experiência, de forma contextualizada, da História como
matéria de criação artística. Página 296 Arte no dia a dia
Desenvolva os temas e as atividades aqui propostos em As pinturas são geralmente utilizadas como importante
parceria com o professor de História. A interdisciplinaridade ferramenta de ensino e aprendizagem. Geralmente apare-
com História se revelará bastante significativa na abordagem cem nos livros de História como ilustração de um evento
dos temas aqui relacionados e, principalmente, na experiên- ou de um conteúdo importante. É necessário, entretanto,
cia proposta na segunda seção “Fazer arte” deste capítulo. Ao muita atenção para valorizar as obras artísticas e não as
longo desta Assessoria Pedagógica, serão feitas algumas su- submeter ao mero registro ilustrativo, pois a imagem artís-
gestões específicas para trabalhar essa interdisciplinaridade. tica pode tanto dialogar com um evento como criar novas
No que se refere às relações entre história e pintura, é im- problematizações.
portante considerar tanto os aspectos que aproximam como
os que distanciam as duas áreas. Apesar de a pintura repre- Página 297 Arte em diálogo – Pintura e Biologia
sentar fatos históricos, existe a característica da invenção e in- Existe a possibilidade de aproximação interdisciplinar en-
ventividade típica da arte. É necessário lembrar que a pintura tre pintura e Biologia. Grande parte das representações da
histórica estabelece a relação entre o evento histórico (rela- fauna e da flora foi realizada por artistas, mas sem perder mui-
tivo ao que aconteceu) e a criação artística (liberdade do ar- tas vezes a inventividade e a criatividade. Tal fato se deveu à
tista em construir uma história a partir de sua interpretação). ausência de outras possibilidades de registro, como a câmera
Nosso objetivo é estabelecer essas relações em uma proposta fotográfica.
que, ao mesmo tempo, aproxime sem descaracterizar a espe-
cificidade de cada campo. Página 298 Duas histórias
O conceito de história está geralmente associado ao que
Página 293 Roda de conversa
aconteceu de fato. Sabemos, entretanto, que a história é fruto
Este é um momento em que a participação do professor de uma construção que envolve inúmeros atores. Nesta parte
de História pode contribuir para ampliar o escopo da dis- do capítulo, comparando duas representações artísticas de
cussão travada, uma vez que se pergunta o que é história. O um mesmo evento histórico, teremos a possibilidade de nos
professor de História pode trazer outros pontos de vista ou aproximar desse universo e de entender que existem inúme-
aprofundar os que são apresentados na resposta à pergunta ras interpretações possíveis para um mesmo evento histórico.
do livro.
Da mesma forma, a relação entre Arte e História se faz Página 299 Arte no dia a dia
presente no cotidiano de ambas as disciplinas. Por um lado, a O objetivo desta atividade é fazer os estudantes desloca-
arte se faz no tempo e está em estreita relação com os acon- rem seus olhares para a história que lhes é mais próxima e
tecimentos e a sociedade que emolduram cada momento conhecerem quem foram as pessoas consideradas significati-
histórico. Por outro lado, a arte também serve como docu- vas para a história do bairro, da cidade, do estado ou do país.
mento de determinada época e é bastante utilizada por his- A própria escola pode ser um lugar interessante para a pes-
toriadores em seus estudos. Além disso, é muito comum que quisa, pois muitas vezes é nomeada com o nome de alguma
obras artísticas, principalmente pinturas, sejam utilizadas figura pública importante.
como ilustrações nos livros didáticos de História. Abordar A história narrada não está presente apenas nos livros
esse tema de forma interdisciplinar pode enriquecer ambas didáticos de História. Muitas vezes, convivemos com essas
as disciplinas, pois permite uma pluralidade de olhares sobre referências sem nos darmos conta. A história está também
o tema. O maior desafio será aproximar os dois campos, sem presente nos monumentos, em nomes de praças ou viadutos.
que se reduzam as pinturas à mera ilustração da História. As
obras artísticas, mesmo ao representar temas históricos, pos-
Atividade complementar
suem uma carga de criatividade artística que não deve ser Segue uma proposta de atividade complementar que
desconsiderada. Esse é um bom caminho de discussão en- pode ser posta em prática com os estudantes, em grupo, de
tre História e a pintura, mostrando como existem inúmeras acordo com a dinâmica da turma e as possibilidades da esco-
possibilidades de interpretação de um mesmo fato histórico. la ou do município.
465
Expedição artística despercebidas) resultem em reflexão e registro. A apresenta-
ção deverá conter todas as fotografias reunidas e indicar cla-
Etapa 1
ramente os aspectos de cada uma que foram considerados
Retome o espírito aventureiro das expedições artísticas na
mais importantes pelo estudante. Um exemplo seria uma
sua escola e/ou na sua cidade. Reúna os estudantes, conver-
imagem final, montada com o recorte de uma pessoa (um
se com eles sobre a possibilidade de visitar um determinado
local na cidade que ainda não conhecem e registrá-lo. Outra transeunte casual, por exemplo) vista no primeiro dia com ou-
possibilidade é encontrar, dentro da própria escola, um lugar tro recorte daquela mesma pessoa registrada no último dia,
menos frequentado para construir um novo olhar sobre ele. ambas reunidas em uma mesma paisagem.
Afinal, caso o espaço já seja conhecido, sempre existem as-
pectos a serem explorados e investigados. A ideia é que cada
estudante produza seu registro desse espaço e o apresente Páginas 300 e 301 Teatro Documentário e História
para a turma com fotografias ou desenhos. Para tornar a ex- No contexto das relações entre teatro e história, foi pro-
periência mais interessante, após a elaboração do registro, posto o recorte do teatro documentário por este estabele-
confrontem as diversas possibilidades de compreensão desse cer um diálogo direto entre a arte teatral e os documentos
mesmo ambiente. históricos. Ao longo do capítulo, são dados alguns exemplos
O importante nesta etapa é que o estudante registre sua de Teatro Documentário no Brasil e contextualizado seu sur-
visão sobre o espaço no formato que julgar mais adequado. gimento na história do teatro ocidental. Esses conhecimentos
Poderá ser um desenho, uma fotografia ou uma pintura. Os serão importantes para a realização de ambas as seções “Fazer
materiais também podem ser variados: lápis, carvão, caneta, arte” do capítulo, pois possibilitam melhor apreensão de seus
aquarela etc. O importante é que os trabalhos sejam compar- objetivos e procedimentos.
tilhados e que a turma compreenda como um mesmo espaço
pode oferecer diferentes visões, mesmo quando o ponto de Página 301 Arte em diálogo – Teatro Documentário e
vista for o mesmo. Fica a sua escolha a definição do lugar a ser documento histórico
registrado: uma paisagem única, por exemplo, um determi-
nado ângulo de uma vista do parque ou da escola; diferentes Essa seção é um exemplo da relação interdisciplinar en-
aspectos de uma paisagem, em que cada estudante terá a li- tre teatro e história expressa no Teatro Documentário. Como
berdade de selecionar um aspecto de uma mesma paisagem, sugerido anteriormente, é recomendável que você amplie
por exemplo, um estudante que deseja trabalhar a paisagem essas informações com o professor de História da escola. É
a partir de uma árvore “X” e outro que deseja registrar a paisa- importante abordar a compreensão do documento históri-
gem sem a presença da árvore “X”, apesar de estarem ambos co para apreciar melhor a diversidade de materiais que os
no mesmo parque. Outra questão importante é solicitar que artistas teatrais costumam usar em sua prática no teatro do-
os estudantes justifiquem a escolha da paisagem trabalhada, cumentário. Ao possibilitar uma crítica do conceito de do-
extrapolando o “querer” ou o “gostar”, buscando razões esté- cumento como monumento e como prova da verdade, Le
ticas para isso. Esse procedimento possibilita que os alunos Goff abre espaço para uma diversidade de fontes e também
expressem seus interesses e olhem com mais atenção para para o entendimento da história como uma representação
as obras. de determinada sociedade. Da mesma forma, os grupos que
se dedicam ao Teatro Documentário valem-se de diversas
Etapa 2
fontes com a intenção de questionar as versões dos aconte-
Durante o estudo, retome o tema das expedições em di-
cimentos, apresentando outras leituras sobre eles, como se
reção ao desconhecido. E proponha algumas reflexões aos
vê nas experiências relatadas ao longo deste capítulo.
estudantes:
Se prestarmos mais atenção aos trajetos cotidianos, eles Página 303 Arte no dia a dia
poderiam ser considerados, de fato, “conhecidos”? Relacionando-se à pluralidade do que pode ser consi-
Em nosso caminho de casa para a escola, por exemplo, derado como documento, é proposto investigar a prática
será que passamos, todos os dias, pelas mesmas pessoas? contemporânea de registro das ações cotidianas e seu com-
Nesse mesmo caminho, a paisagem é sempre a mesma? partilhamento pelas redes sociais. Cada perfil em uma rede
Uma alternativa para responder a essas perguntas é regis- social acaba tornando-se um registro da história de um in-
trar, de uma semana a um mês, com o auxílio de uma câmera divíduo, mas também pode ser considerado um documento
fotográfica, um ponto determinado do trajeto feito sempre da história de um grupo ou da sociedade em geral. Nas redes
no mesmo horário, se possível. Terminado o período, será sociais, compartilhamos fotos, memes, vídeos, reportagens,
possível comparar as imagens obtidas, observando os ele- pensamentos etc., que constituem expressões de determina-
mentos que foram mantidos e aqueles que, ao contrário, se do momento histórico. Fatos e acontecimentos importantes,
modificaram ou foram modificados. tanto da vida de cada indivíduo quanto os que se relacionam
Nesta atividade, o objetivo é que o estudante volte seu à história do país ou do mundo, são rapidamente registrados,
olhar para um lugar que faça parte de seu trajeto diário e comentados e reproduzidos nas redes sociais, que têm um
que as modificações nesse lugar (que muitas vezes passam importante papel na interpretação e na representação deles.
466
Atividade complementar Marian Ziembinski (1908-1978), polonês com longa expe-
riência teatral e refugiado no Brasil na época, começaram
Os fatos nas redes sociais
a valorizar a prática dos ensaios e se aproximaram das
Objetivo metodologias russas de interpretação do teatro realista,
especialmente das propostas de Constantin Stanislawski
Analisar as diversas interpretações de um mesmo fato ex-
(1863-1938). A estreia de Vestido de noiva, de Nelson Ro-
pressas nas redes sociais.
drigues (1912-1980), em 1943, no TeatroMunicipal do Rio,
Os estudantes do Ensino Médio têm grande familiaridade encenada por Ziembinski à frente de Os comediantes, cos-
com as redes sociais e são usuários de muitas delas. O tema tuma ser considerada o marco do teatro moderno brasilei-
da arte em relação à história e ao uso das redes sociais é uma ro, inaugurando uma fase do nosso teatro mais vinculada
à pesquisa e ao trabalho de atuação e encenação, e em
aproximação com o cotidiano desses jovens. Assim, se pos-
busca de novas dramaturgias.
sível, realize esta atividade complementar junto ao professor
Nesse contexto de transformações, Abdias Nascimento
de História.
funda, em 1944, o Teatro Experimental do Negro (TEN), tam-
Separe a turma em grupos de 4 ou 5 estudantes. Cada
bém na cidade do Rio de Janeiro. Inquieto e incomodado, ao
grupo deve escolher um fato recente para analisar e uma rede
ver os poucos protagonistas negros da dramaturgia mundial
social específica para fazer a pesquisa. Com base nessas es-
sendo interpretados por atores brancos pintados de preto,
colhas, eles devem analisar e apresentar para os colegas da
Nascimento (2004) se envolve na empreitada de organizar
turma posts com versões divergentes sobre o mesmo fato.
uma rede formativa e criativa em torno do TEN:
Contribua para que os estudantes possam contextuali-
zar as opiniões expressas com base nos posicionamentos de que se propunha a resgatar, no Brasil, os valores da
cada usuário selecionado na pesquisa. O objetivo é compre- pessoa humana e da cultura negro-africana, degradados e
ender o impacto das redes sociais na interpretação dos fatos. negados por uma sociedade dominante que, desde os tem-
É possível que na turma haja opiniões divergentes e é im-
pos da colônia, portava a bagagem mental de sua formação
portante orientar os estudantes para que as escutem de for-
metropolitana europeia, imbuída de conceitos pseudocien-
ma respeitosa para contribuir com o debate que a pesquisa
tíficos sobre a inferioridade da raça negra. Propunha-se o
vai gerar. Essa experiência na busca de informações e docu-
TEN a trabalhar pela valorização social do negro no Brasil,
mentação na rede será valiosa para a prática artística proposta
através da educação, da cultura e da arte.
na segunda seção “Fazer arte” deste capítulo e se aproxima
dos procedimentos do Teatro Documentário. NASCIMENTO, Abdias. Teatro experimental do negro: trajetória e reflexões.
In: Estudos Avançados. v. 18. n. 50. São Paulo. Janeiro/Abril de 2004. Disponível em:
<www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142004000100019>.
Acesso em: 26 mar. 2016.
Páginas 304 e 305 Teatro Documentário no Brasil
Na abordagem do Teatro Documentário no Brasil, é dada Nesse sentido, o TEN aparece como uma reação ao silen-
ênfase ao período da ditadura civil-militar brasileira, no qual a ciamento da história, da cultura e da arte afro-brasileiras em
relação entre teatro e história se deu de forma bastante con- nosso país, não apenas no teatro. Nas práticas do TEN havia al-
tundente. Entretanto, é importante que você conheça outras fabetização de adultos, que foram os primeiros participantes
experiências que trataram de lançar um novo olhar sobre a do grupo “recrutados entre operários, empregados domés-
nossa história, como é o caso de Abdias Nascimento (1914- ticos, favelados sem profissão definida, modestos funcioná-
-2011) e do Teatro Experimental do Negro (TEN). O envolvi- rios públicos – e oferecia-lhes uma nova atitude, um critério
mento do TEN com a história e culturas afro-brasileiras é um próprio que os habilitava também a ver, enxergar o espaço
referencial importante para se conhecer ao se estudar o tea- que ocupava o grupo afro-brasileiro no contexto nacional”
tro brasileiro e sua relação com a história. O TEN contribuiu (NASCIMENTO, 2004, p. 211). Junto à alfabetização, havia o
para a consolidação do teatro moderno brasileiro e lançou curso de cultura geral e o ensino das primeiras noções de te-
luz sobre a questão da inserção da cultura afro-brasileira em atro, que ficava a cargo de Abdias Nascimento.
nossa história e nas artes cênicas de nosso país. Veja o texto Após seis meses de preparação do elenco, o TEN bus-
complementar a respeito a seguir. cou um texto que fosse capaz de refletir a realidade dos
afro-brasileiros no Brasil da época. Nascimento descreve a
Texto complementar dificuldade de se encontrar um material dramatúrgico bra-
sileiro naquele momento que não tratasse o negro como
Abdias Nascimento e o Teatro Experimental do Negro
uma figura folclórica. Quando não era esse o caso, os textos
A década de 1940 representou uma importante trans- normalmente continham personagens afro-brasileiros em
formação no meio teatral brasileiro. No Rio de Janeiro, papéis secundários e, frequentemente, cômicos. A escolha
o grupo Os comediantes se constituiu como um grupo foi a peça norte-americana O imperador Jones, de Eugene
de vanguarda, que, diante das produções nacionais que O’Neill (1888-1953), que cedeu gratuitamente os direitos de
mantinham um ritmo frenético de montagens, se propôs autor para o grupo e que estreou em 1945 no Teatro Muni-
como um grupo de pesquisa do teatro. Junto a Zbigniew cipal do Rio de Janeiro, sob a direção de Abdias Nascimento.
467
Segundo Nascimento (2004): Página 306 Fazer arte
Sob intensa expectativa, a 8 de maio de 1945, uma noi-
Objetivo
te histórica para o teatro brasileiro, o TEN apresentou seu
Por meio da narrativa oral, elemento importante no teatro
espetáculo fundador. O estreante ator Aguinaldo Camar-
documentário, pretende-se abordar a ideia de que um acon-
go entrou no palco do Teatro Municipal do Rio de Janei- tecimento está sujeito a variações, de acordo com o ponto
ro, onde antes nunca pisara um negro como intérprete ou de vista de quem o conta.
como público, e, numa interpretação inesquecível, viveu o
trágico Brutus Jones, de O’Neill. Na sua unanimidade, a É importante que você acompanhe cada etapa do traba-
lho, colaborando com os grupos. A avaliação das narrativas
crítica saudou entusiasticamente o aparecimento do Teatro
escutadas pode ter uma perspectiva mais vinculada à expres-
Experimental do Negro e do grande ator negro Aguinaldo sividade e à capacidade comunicativa de cada narrador, e
Camargo [...] também à improbabilidade de uma versão única de um fato
NASCIMENTO, Abdias. Teatro experimental do negro: trajetória e reflexões.
narrado. Como uma variável do mesmo exercício, você pode
In: Estudos Avançados. v. 18. n. 50. São Paulo. Janeiro/abril de 2004. Disponível em:
selecionar um acontecimento histórico que deve ser narrado
por diferentes pessoas, que, no entanto, tiveram acesso a um
<www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142004000100019>.
mesmo conjunto de documentos históricos, como reporta-
Acesso em: 26 mar. 2016.
gens, relatos, fotografias etc.
Após a boa recepção de O imperador Jones e a expec-
Páginas 307 a 309 Arte em diálogo – Teatro e
tativa criada em torno do TEN, o grupo passou a buscar e a
fomentar dramaturgias brasileiras que tratassem da história igualdade de gênero
e da cultura afro-brasileiras. Em 1947, Lúcio Cardoso (1912- São fornecidos alguns dados sobre a violência contra as
-1958) finaliza o primeiro texto escrito especialmente para o mulheres no Brasil, extraídos do site do Senado Federal Brasi-
TEN, Filho pródigo, inspirado na parábola bíblica. A peça, com leiro. Esses dados revelam que esta é uma questão que deve
o cenário de Santa Rosa – cenógrafo que ajudou a revolucio- ser tratada por toda a sociedade com muita seriedade. O es-
petáculo Rosa Choque é descrito como uma experiência de
nar o teatro brasileiro –, e as interpretações de Ruth Souza,
teatro documental que trata a identidade de gênero, abor-
Aguinaldo Camargo e do próprio Abdias Nascimento, entre dando, entre outras questões, a violência contra a mulher, e
outros importantes atores afro-brasileiros, foi considerada é um exemplo de utilização de dados concretos da realidade
uma das melhores produções do ano, contribuindo para o brasileira como matéria de criação artística.
prestígio crescente do TEN.
O TEN continuou montando textos de novos autores bra- Páginas 310 e 311 Fazer arte
sileiros sobre a questão da negritude até seu encerramento
no final da década de 1960. Ao longo da década de 1960, o Objetivo
TEN atuou em muitas frentes, para além da montagem de pe- Construir uma cena sobre um acontecimento próximo aos
estudantes, tendo como base as propostas do Teatro Docu-
ças, sendo um importante instrumento da luta pela igualda-
mentário
de racial no Brasil e pela valorização da cultura afro-brasileira.
Destaca-se a montagem da primeira coleção de seu Museu Esta atividade também deve ser realizada com o profes-
de Arte Negra no Museu da Imagem e do Som no Rio de Ja- sor de História, se possível. Caso isso tenha sido construído
neiro, em 1968. Por causa do encrudescimento da ditadura ao longo de todo o capítulo, este é o momento em que as
civil-militar no Brasil, Abdias Nascimento foi exilado (1968- discussões sobre a diversidade de interpretações sobre um
-1978). Suas ações em defesa da cultura e da igualdade para determinado fato ou acontecimento contribuirão para a prá-
tica artística proposta.
a população afro-brasileira continuaram a ser desenvolvidas
A escolha dos acontecimentos deve ser acompanhada e
durante seu exílio em outros países, principalmente nos Es-
orientada por você. É importante que sejam escolhidos fatos
tados Unidos. sobre os quais seja possível encontrar registros, reportagens
Abdias do Nascimento foi professor emérito da Universi- e/ou também realizar entrevistas com testemunhas. O profes-
dade do Estado de Nova York, deputado federal (1983-1987) sor de História pode colaborar na orientação dos grupos em
e senador da república (1997-1999). Sua atuação no teatro relação à escolha e também ao recolhimento de informações
reforça os vínculos dessa arte com a história de seu tempo, e documentos, bem como em suas análises.
recriando e contestando teses historiográficas “oficiais” e reve- Todas as demais etapas (escrita do roteiro, ensaio e apre-
sentação) devem ser acompanhadas por vocês dois, pois a
lando outros protagonistas dessas histórias, como no caso da
interdisciplinaridade implica promover uma diluição entre as
contribuição afro-brasileira ao nosso país.
fronteiras de cada disciplina e se propor a experimentar novas
atividades e procedimentos.
468
Orientem os estudantes a produzir roteiros simples que truíram obras de grande valor cultural, cenário este em que
durem de 5 a 10 minutos, para que possam aprofundar no seria possível mencionar a produção de Giotto. Para exempli-
ensaio das cenas. O ideal é que pelo menos quatro aulas (con- ficar a importância desse artista, o historiador da arte Giulio
jugadas duas a duas, para melhor aproveitamento do tempo) Carlo Argan (2003) estabelece uma comparação com outra
sejam destinadas à elaboração do roteiro e dos ensaios. Todas figura histórica igualmente significativa: Dante Alighieri.
as cenas completas devem ser assistidas por vocês e pelo pro-
fessor de História, antes da apresentação, para que possam A comparação entre Dante e Giotto tem um funda-
contribuir para sua finalização. mento histórico: Giotto, nascido perto de Florença pelo ano
de 1266, foi um coetâneo, um concidadão e, segundo a tra-
Página 312 Ensaio corrido dição, um amigo de Dante. Comparação não significa para-
Neste capítulo, a partir dos temas e das experiências abor- lelismo: foi justamente observado (Battisti) que, entre poeta
dados, os estudantes devem ter compreendido as possíveis e pintor, as divergências prevalecem sobre as analogias. Mas
relações entre pintura, teatro e história. A linha principal da exatamente porque operam em domínios e com intenções
argumentação é que essa relação revela que a história tam- diversos, Dante e Giotto são os dois grandes pilares de uma
bém é matéria artística e que é passível de diferentes repre- nova cultura, consciente das próprias raízes históricas la-
sentações e interpretações. Tanto na pintura quanto no tea- tinas. A obra de ambos tem o mesmo valor de summa, de
tro, a recorrência a acontecimentos e fatos históricos provoca síntese de grandes experiências culturais, de sistema. [...].
novas leituras sobre essas áreas e dá contorno a diferentes Os escritores do Trezentos, começando precisamente por
identidades construídas também a partir da arte. Dante, reconhecem a enorme importância de Giotto: não
O trabalho interdisciplinar aqui proposto permite ampliar é mais o sábio artesão que opera na linha de uma tradição
as discussões apresentadas, lançando um olhar integrado em a serviço dos supremos poderes religiosos e políticos, mas o
uma relação – da arte com a história – que está presente de personagem histórico que muda a concepção, os modos, a
forma menos explícita em muitos conteúdos abordados de finalidade da arte, exercendo uma profunda influência sobre
forma separada nessas disciplinas. a cultura do tempo. Não se louva apenas a sua perícia na
arte, mas o seu engenho inventivo, a sua interpretação da
Página 312 Roda de conversa
natureza, da história, da vida. O próprio Dante, tão orgu-
Nesta “Roda de conversa” final, são propostas perguntas lhoso da sua dignidade de literato, reconhece em Giotto um
diretas sobre os conteúdos abordados que objetivam explici- igual, cuja posição, com respeito aos mestres que o prece-
tar a compreensão pelos estudantes. deram, é semelhante à sua em relação aos poetas do doce
estilo novo. Petrarca, embora levado pelos próprios gostos
Capítulo 20 Arte e Matemática literários a preferir os sienenses, diz que a beleza da arte de
Giotto se capta mais com o intelecto do que com os olhos.
Boccaccio, Sacchetti, Villani insistem, mais ou menos, no
mesmo tema: Giotto fez renascer a pintura morta havia sé-
culos, conferindo-lhe naturalidade e nobreza.
ARGAN, G. C. História da arte italiana: de Giotto a Leonardo. v. 2. São Paulo:
Cosac & Naify, 2003. p. 21.
Essa citação permite desvendar inúmeros aspectos da pri-
meira fase do que se convencionou denominar Renascimen-
to. Especificamente na pintura, o desenvolvimento das leis de
perspectiva estava fechado nos mosteiros. As obras de arte
eram apenas ícones, consideradas imagens frias, que não po-
deriam transmitir emoções. Poucas imagens cristãs restaram
no mundo por causa da crescente destruição promovida pelo
Conteúdos que ficou conhecido como “movimento iconoclasta”. Sobre
Arte esse período, Gombrich (2012) explica:
Matemática Assim, a arte cristã da Idade Média tornou-se uma
Perspectiva curiosa mistura de processos primitivos e métodos refina-
Lógica dos. O poder de observação da natureza, a cujo despertar
assistimos na Grécia, por volta de 500 a.C., voltou a ador-
mecer cerca de 500 d.C. Os artistas deixaram de cotejar suas
Páginas 313 a 315 Afinando os instrumentos fórmulas com a realidade. Não se dispunham mais a fazer
Neste capítulo é demonstrado como dois campos de co- descobertas sobre o modo de representar o corpo ou de criar
nhecimento – a Arte e a Matemática – se associaram e cons- uma ilusão de profundidade. [...]
469
Essa questão da finalidade apropriada da arte em igrejas Página 316 A invenção da perspectiva e o domínio
provou-se ser de imensa importância para toda a história
do espaço
da Europa, pois constituiu uma das questões principais que
levaram as regiões orientais de fala grega do Império Ro- Giotto foi um dos representantes que passaram a utilizar
mano, cuja capital era Bizâncio (ou Constantinopla), a re- uma sequência de imagens para contar uma história, seja bí-
cusarem a liderança do papa latino. Uma parte era contrária blica, seja histórica. Como se sabe, Giotto narrou a história de
a toda e qualquer imagem de natureza religiosa: a dos cha- São Francisco de Assis (1182-1226) a partir de uma sequência
mados iconoclastas ou destruidores de imagens. Em 745, de imagens. Para transformar a história o mais próximo possí-
eles levaram a melhor e toda a arte religiosa foi proibida na vel da realidade, ele utilizou o conhecimento matemático da
perspectiva, que Panofsky (2003) descreve a seguir:
Igreja Oriental. Mas seus adversários estavam ainda menos
de acordo com as ideias do Papa Gregório. Para eles, as ima- “Perspectiva é uma palavra latina que significa ‘ver
gens não eram apenas úteis de um ponto de vista didático através de’.” Assim Dürer procurou explicar o conceito
– as imagens eram, acima de tudo, sagradas. Os argumentos de perspectiva. [...] falaremos de intuição “perspéctica” do
com que procuraram justificar essa opinião eram tão sutis espaço, em sentido pleno, não apenas quando os objetos
quanto os usados pela parte contrária: “Se Deus, em Sua individuais, as casas ou os utensílios são representados “em
misericórdia, pôde decidir revelar-Se aos olhos dos mortais escorço”, e sim quando o quadro inteiro – para citar as pa-
na natureza humana do Cristo”, argumentavam eles, “por lavras de outro teórico do Renascimento – se transforma
que não estaria também disposto a manifestar-Se em ima- em uma “janela”, através da qual cremos olhar o espaço,
gens? Não adoramos essas imagens em si mesmas, como isto é, quando a superfície material, pictórica ou em relevo,
fizeram os pagãos. Adoramos Deus e os santos através das sobre a qual aparecem, desenhadas ou esculpidas, as formas
imagens ou além delas.” Seja o que for que pensemos so- das figuras individuais ou das coisas, é negada como tal e
bre a lógica dessa tese, sua importância foi enorme para a transformada no “plano figurativo” sobre o qual se proje-
história da arte. Pois quando esse partido voltou ao poder, ta um espaço unitário visto através dele e compreendendo
após um século de repressão, as pinturas de igreja não po- todas as coisas – independentemente do fato de que essa
diam mais ser encaradas como meras ilustrações para uso projeção seja construída com base na impressão sensível
de analfabetos. Eram considerados reflexos misteriosos do imediata ou mesmo mediante uma construção geométrica
mundo sobrenatural. Portanto, a Igreja Oriental não pôde mais ou menos “correta”. Essa construção geométrica “cor-
continuar permitindo ao artista que seguisse a sua fantasia reta”, descoberta no Renascimento e mais tarde constan-
na criação dessas obras. Por certo, nenhuma bela pintura temente aperfeiçoada e simplificada [...], pode ser assim
apenas porque representava uma mãe com o filho pequeno, definida conceitualmente: eu represento um quadro – con-
podia ser aceita como verdadeira imagem sacra ou “ícone” forme a definição da “janela” – como uma interseção plana
da Mãe de Deus, mas somente aquelas figuras consagradas da chamada “pirâmide visual”, que é determinada pelo fato
por uma tradição de séculos. de que considero o olho como um ponto e o ligo aos pontos
GOMBRICH, E. A história da arte. Rio de Janeiro: LTC, 2012. p. 136-138. isolados do espaço que pretendo representar. Com efeito,
uma vez que a posição relativa desses “raios visuais” deter-
Página 315 Roda de conversa mina a posição aparente dos pontos em questão no quadro,
basta que eu trace a planta e a elevação do sistema inteiro
O conhecimento matemático é uma importante ferra- para determinar a figura que aparece sobre a superfície da
menta de observação de padrões tanto da natureza como
interseção: a planta me dá os valores da largura, a elevação,
da arte. Muitas vezes a arte é tratada como subjetiva, sendo
os valores da altura, e basta que eu reúna esses valores so-
dependente de uma interpretação pessoal. Apesar dessa
bre um terceiro desenho para obter a projeção perspéctica
afirmativa não estar completamente incorreta, é necessário
procurada. No quadro assim obtido – isto é, na “interseção
considerar que também existem padrões que podem ser re-
plana transparente de todas as linhas que do olho recaem
conhecidos. A atividade que será desenvolvida oferecerá uma
ótima alternativa de aprendizagem na observação de formas sobre a coisa que se vê” – valem as seguintes leis: todas as
geométricas nos espaços da escola. perpendiculares ou ortogonais encontram-se no chamado
Atividade 2. Se possível, antes de atribuir esta atividade “ponto de vista”, cuja posição é determinada pela perpen-
aos estudantes, visite espaços da escola em que eles possam dicular tirada a partir do olho sobre o plano de projeção.
reconhecer padrões geométricos na arquitetura do prédio, Em segundo lugar, todas as paralelas, de qualquer modo
no jardim da escola. Uma sugestão interessante seria contar que sejam orientadas, têm um ponto de fuga comum. Se
o número de pétalas de uma flor e pensar como a repetição estiverem em um plano horizontal, o ponto de fuga fica no
de padrões geométricos contribui para o aspecto ornamen- “horizonte”, isto é, sobre a horizontal que passa pelo ponto
tal da flor. Os estudantes podem usar máquinas fotográficas de vista; se, além disso, formam com a superfície do quadro
ou smartphones para fotografar as cenas ou espaços escolhi- um ângulo de 45°, o intervalo entre o seu ponto de fuga e o
dos e depois compartilhar em sala com os demais colegas. “ponto de vista” é igual à distância que separa o olho da su-
470
perfície do quadro; por fim, as grandezas iguais diminuem claro-escuro como base da cor naturalista) e representação
para o fundo segundo uma certa progressão, de modo que inercial do movimento dos objetos.
– presumindo-se conhecida a posição do olho – toda gran- Tomando como referencial de ruptura estes princípios,
deza é calculável com base na precedente ou na sucessiva. o Concretismo propõe contra a tridimensionalidade, pres-
PANOFSKY, E. A perspectiva como forma simbólica. In: ARGAN, G. C. História da arte suposto para a criação da ilusão ótica de profundidade em
italiana: de Giotto a Leonardo. v. 2. São Paulo: Cosac & Naify, 2003. p. 108. um espaço de duas dimensões, a bidimensionalidade que
respeita as características do suporte plano de toda a pintu-
Entretanto, pode-se perguntar: por qual razão os artistas
ra. Contra o tonalismo – responsável pela ilusão, da pintura,
se aproximaram das leis matemáticas com o objetivo de in-
de volume – o Concretismo prega a pureza cromática e a
terpretar a natureza? É novamente Argan (2003) quem auxilia
ausência de tons; a cor deve ser chapeada, uniforme.
a responder a mais essa questão:
COCCHIARALE, F.; GEIGER, A. B. Abstracionismo geométrico e informal:
Por que se pergunta tudo isso à arte e não, por exem- a vanguarda brasileira nos anos cinquenta. Rio de Janeiro: Instituto Nacional
plo, à ciência? É preciso ter presente que, nesse período, a de Artes Plásticas, 1987. p. 17.
ciência evolui mais lentamente, ainda está entravada por
Buscar as relações entre Arte e Matemática se efetiva, por-
preconceitos doutrinários: as primeiras descobertas cien- tanto, com uma estratégia de compreensão a um fazer que,
tíficas do Quatrocentos acontecem efetivamente por meio apesar de realizado como uma combinação entre formas, co-
da arte e será um artista que abrirá, no fim do século, o res, texturas etc., permite associações com campos variados,
curso de uma ciência autônoma como, em outro campo, é exemplo da lógica construtiva da Matemática.
autônoma a arte: Leonardo. Em segundo lugar, o conhecer
da arte é, conjuntamente, conhecer e fazer, ou melhor, é Páginas 326 e 327 Arte no dia a dia
um conhecer fazendo, produzindo obras que são, ao mes- Nesse momento, será possível conhecer como os artistas
mo tempo, fatos e valores. Nesse sentido, a arte fornece do Grupo Ruptura produziram um manifesto que visava tornar
modelos de valor não somente ao artesão, mas ao homem, a arte objetiva. A aproximação com a matemática seria uma
na nova dignidade que lhe confere a responsabilidade pes- forma de retirar da arte os componentes da subjetividade. A
soal do decidir e do fazer. leitura do manifesto permitirá compreender como esses artis-
ARGAN, G. C. História da arte italiana: de Giotto a Leonardo. v. 2. São Paulo: tas queriam criar uma nova arte a partir de formas objetivas, in-
Cosac & Naify, 2003. p. 130. clusive abandonando as representações artísticas do passado.
471
O objetivo desta atividade é fazer os estudantes se sur- 6. Uma vez que tiver em mãos todos os quadradinhos, co-
preenderem com a presença da sequência de Fibonacci na mece a fazer suas combinações. Elas podem ser aplicadas
natureza de seu cotidiano, mesmo quando “imperceptível” ao como decoração em suportes de madeira, como caixas,
olhar. Oriente-os a buscar a constante de Fibonacci no cresci- ou simplesmente ser combinadas sobre uma superfície
mento de plantas, nas árvores e nos animais. de papel, compondo as formas desejadas.
472
Na área da música, é abordado como a produção musi- a audição musical tem se tornado a cada dia um fenôme-
cal sempre esteve envolvida com algum tipo de tecnologia no quase individual, em que as pessoas ouvem músicas
– desde a necessária para se construir uma flauta pré-histó- usando fones de ouvido;
rica até as tecnologias digitais utilizadas para gravar ou ouvir os suportes de música até algum tempo comuns, como
música no século XXI. Também é explorado como o grande o disco de vinil ou o CD, tornaram-se praticamente ob-
desenvolvimento tecnológico ao longo dos séculos XX e XXI soletos ou são produtos dirigidos a parcelas específicas e
tem modificado profundamente as formas de ouvir e produ- restritas do mercado consumidor de música;
zir música. os aspectos que envolvem a compra e a venda de música
São apresentados como exemplos o grupo Uakti e seus gravada, a pirataria e o compartilhamento não autorizado,
instrumentos não convencionais, assim como a classificação que implicam questões legais, éticas e econômicas.
de instrumentos pelo sistema Hornbostel-Sachs, que se utiliza
da característica física de produção do som como princípio Página 339 Dança e tecnologias digitais
básico para a divisão classificatória. Você poderá explicar aos Este é um dos temas que mais podem aproximar os estu-
estudantes que a classificação tradicional – que separa os ins- dantes do Ensino Médio dos conteúdos abordados no livro,
trumentos em famílias de cordas, metais, madeiras e percus- pois eles têm bastante intimidade com as tecnologias digitais
são – e a classificação pelo sistema Hornbostel-Sachs devem e o mundo virtual. Contudo, talvez eles ainda não estejam
ser vistas como complementares, uma não é mais correta que familiarizados com as possíveis relações entre dança, como
a outra. Em seguida, é feita uma contraposição entre a figura campo do conhecimento artístico, o corpo, como meio para
do luthier e a produção industrial de instrumentos, buscando que a dança aconteça, e tecnologias.
mostrar que ambas as possibilidades de construção dos ins- Ao falar sobre Merce Cunningham, além de abordar as
trumentos envolvem conhecimento e tecnologias. relações entre dança e tecnologias digitais, adentra-se no
estudo da dança contemporânea. Pertencente à chamada
Página 335 Roda de conversa
terceira geração da dança moderna, Merce Cunningham
Na história da dança, é possível encontrar muitas obras contribui com a transição entre a dança moderna e a dança
que foram adaptadas para a televisão, o cinema e a internet. contemporânea estadunidense. Cunningham, além de ser
O famoso balé O Lago dos Cisnes, com música de Tchaikovsky um dos pioneiros das criações em dança com o uso das tec-
e coreografia de Marius Petipa, estreou em 1877 e foi adapta- nologias, institui uma técnica de dança que colabora com
do para um dos filmes de maior sucesso do cinema mundial: a compreensão contemporânea de corpo em movimento.
O Cisne Negro, de 2011, dirigido por Darren Aronofsky. Atual- Seus experimentos com jogos, o uso do acaso e situações
mente, graças às tecnologias digitais, balés e óperas podem menos previsíveis de criação em dança servem até os dias
ser assistidos na íntegra em sessões especiais nos cinemas de atuais como inspiração para os processos de criação em dan-
todo o mundo, o que facilita o acesso a obras de grande im- ça contemporânea.
portância para a história das artes da cena, proporcionando
um momento de aproximação e fruição a pessoas de diversas Sugestões de leituras
partes do mundo.
SANTANA, I. Corpo aberto: Cunningham, dança e novas
Nesta “Roda de conversa” inicial, o objetivo é que os es- tecnologias. São Paulo: Educ/Fapesp, 2002.
tudantes compreendam o papel da tecnologia digital para
Esse livro é uma das principais referências para o diálo-
a manutenção, transformação e difusão das obras artísticas,
go entre dança e tecnologia ou, como a autora se refere ao
além de sua importância em diversas áreas no mundo atual.
tema, para a “dança com mediação tecnológica”. Nele, há in-
As respostas são pessoais e, ao longo do capítulo, você en-
formações sobre a influência do coreógrafo estadunidense
contrará nos boxes “Arte para assistir” e “Arte para navegar”
Merce Cunningham para o desenvolvimento desse diálogo
várias obras que podem ser utilizadas como suporte para as e para a dança conhecida como dança contemporânea.
discussões sugeridas.
MIRANDA, Regina. Dança e tecnologia. In: PEREIRA, R.;
Para aprofundar o assunto, organize um “trabalho de cam-
SOTER, S. (Org.). Lições de dança 2. Rio de Janeiro:
po” com os estudantes: convide-os para assistir a uma obra
UniverCidade, 2000.
cênica ao vivo (teatro, circo, dança, performance) e, em se-
guida, estimule-os a assistir a uma obra cênica na televisão, Com a leitura desse artigo você pode conhecer ainda
no cinema ou na internet. Atualmente, é possível encontrar mais sobre algumas das criações de Merce Cunningham e
a mesma obra vista ao vivo disponibilizada na internet. Essa as relações entre dança e tecnologias digitais.
comparação possibilita que as respostas às questões 1 e 2 re-
flitam uma experiência pessoal, real e atual.
Página 341 Arte no dia a dia
Nesta seção também são feitas algumas perguntas aos
estudantes sobre como costumam ouvir música. O hábito de Nesta atividade, é utilizado um fragmento de um texto
muitos jovens de ouvir música baixada ou compartilhada na sobre Merce Cunningham, produzido pela pesquisadora
internet, usualmente em celulares, abre espaço para algumas Denise Zenicola. Nele, você encontra a seguinte afirmação:
discussões: “Cunningham não faz mais do que afirmar os princípios da
473
Pop Art onde a obra de arte não apresenta a realidade, e sim Etapa 3: Dançando e filmando
uma realidade em si mesma” (ZENICOLA, 1992). Essa filmagem poderá ser feita por você ou por um estu-
Ao propor a leitura desse texto com os estudantes e de- dante da turma, contudo, para que todos os intérpretes cria-
senvolver o assunto, é importante aproximá-los dos princí- dores estejam presentes na filmagem, o ideal é que a câmera
pios da Pop Art, para que possam compreender melhor os e/ou o celular sejam colocados em um tripé ou que alguém
princípios de Cunningham, da dança contemporânea e das que não esteja envolvido no processo de criação fique encar-
relações traçadas com as tecnologias digitais. Oriente os es- regado da filmagem. Se a turma concordar e com as devidas
tudantes a pesquisar na internet os principais elementos da
autorizações, a coreografia poderá ser compartilhada na(s)
Pop Art, as obras de Andy Warhol e de outros artistas e dis-
rede(s) social(is) de sua escolha ou pode ser exibida na esco-
cuta com eles as semelhanças entre esse movimento das ar-
la, para as outras turmas, como forma de registro do projeto
tes visuais e as concepções de dança apresentadas. No livro,
o conceito de Pop Art foi estudado com mais profundidade realizado pela turma. A proposta da filmagem só é válida para
no capítulo 13, dentro das discussões propostas pela área de uma turma composta de estudantes que não lidem com ti-
artes visuais. Esse pode ser um momento interessante para midez ou com qualquer outro fator que reduza a sua atuação
retomar essas discussões e conectar artes visuais e dança de no processo.
uma perspectiva interartes. Etapa 4: Compartilhando o movimento
Página 342 Fazer arte Essa etapa da atividade tem por objetivo os estudantes
compartilharem as experiências. Nesse momento, podem ser
verificados os efeitos do processo de criação de movimen-
Objetivo
tos em cada participante. Esteja atento para o fato de que,
Experimentar um processo de criação coreográfica em gru-
na dança contemporânea, os movimentos possuem caracte-
po utilizando o acaso.
rísticas individuais, relacionadas às habilidades de criação e
Nesta atividade, é proposto um processo de criação core- execução de movimento de cada participante. Assim, o ob-
ográfica dividido em três etapas que poderão ser modificadas jetivo não é a representação de um padrão específico, mas
de acordo com a quantidade de estudantes, o ritmo e a ma- o desenvolvimento da capacidade de criar movimentos de
turidade da turma, desde que os mesmos princípios sejam diversas formas e ritmos.
aplicados.
Página 343 Arte no dia a dia
Etapa 1: A criação dos movimentos
Vários serão os estímulos que poderão orientar a criação O objetivo desta atividade é que os estudantes saibam
de movimentos, por exemplo: movimentos do cotidiano; como buscar vídeos de dança na internet e propor a interdis-
inspirados em determinado estilo de dança; ou que expres- ciplinaridade entre os campos da dança e da informática. No
sem um tipo de sentimento; movimentos que representam entanto, esse trabalho deve ser orientado por você e a pes-
os movimentos de animais; estilos de esportes, entre outros. quisa deve contemplar a diversidade da visão de mundo e
É importante que essa atividade seja proposta de maneira das origens dos estudantes.
contextualizada, ou seja, quando definir o estímulo, leve em Nesta atividade, é importante considerar o contexto dos
consideração as vivências e habilidades físicas dos estudan- estudantes e a intimidade que eles têm com a internet. O
tes, a cultura do local onde a escola está inserida e outros foco da pesquisa deve estar nos conteúdos desenvolvidos
fatores que possam estimular e/ou limitar a criação artística neste capítulo, portanto, motive os estudantes a reconhecer
do grupo em questão. Utilize um desses estímulos para que
a dança como arte e expressão cultural de um povo. Porém,
os estudantes criem um movimento ou uma sequência de
atente para o fato de que, mesmo com as discussões direcio-
movimentos. Exemplo: “uma sequência com os movimentos
nadas, poderão surgir respostas e discussões com base em
feitos ao acordar”.
A sequência final deve ser repetida várias vezes. Essa ação vídeos postados em sites de compartilhamento, que ficam
é necessária para o processo de cognição em uma criação famosos pelo caráter lúdico e subversivo em relação ao corpo
coreográfica, especialmente porque, nesse caso, os grupos, e ao movimento em geral.
além de criarem suas próprias sequências, estarão aprenden-
Página 350 Arte no dia a dia
do as sequências criadas pelos outros grupos.
Etapa 2: A definição da música Os instrumentos tradicionais como são conhecidos hoje
Nesta etapa, sugere-se que cada estudante indique uma são apenas algumas das muitas possibilidades de se produ-
música de sua preferência e que você numere as músicas zir sons a partir de instrumentos construídos. A ampliação da
indicadas. Utilize os dados para definir a música ou a ordem gama de instrumentos musicais vem ocasionando a criação
das músicas a serem utilizadas. É importante ressaltar que, na de formas complementares de classificação, como a divisão
construção desse projeto, você poderá optar por usar uma ou tradicional em famílias (cordas, madeiras, metais e percussão),
várias músicas. o sistema Hornbostel-Sachs, entre outros.
474
Página 351 Arte em diálogo: Música e Arqueologia
A ideia de exibir seus espetáculos em live stream tem
O objetivo deste boxe é mostrar a intrínseca conexão en- uma forte conexão com as propostas éticas, estéticas e
tre o fazer musical e o conhecimento e o uso de tecnologias, políticas de José Celso e seu grupo. Seu espetáculo Ma-
como no caso da flauta de 35 mil anos encontrada na caver- cumba antropófaga concebido em 2011 em consonância
na de Hohle Fels, em sua essência muito semelhante às flau- declarada com a primavera árabe, com os movimentos
tas atuais. O texto reproduzido sugere que o hábito de fazer do Chile, Espanha e Grécia e com a ocupação de Wall
música pode ter sido um diferencial na construção de iden-
Street. A encenação, que pode ser vista na TV Uzyna, é
tidades e sociabilidades, possivelmente determinantes para a
marcada pelo tom antropofágico. A cena devora o mo-
expansão territorial e demográfica do ser humano moderno,
em contraposição aos neandertais, mais isolados. Essas con- vimento internacional e o transforma em um movimen-
jecturas podem ser relacionadas aos conteúdos dos capítulos to brasileiro com caráter universal. Uma das atrizes grita:
10 e 17, em que se estudou a importância da música para o “Que se leia no meu blog o meu grito planetário contra a
estabelecimento e fortalecimento de relações sociais e para a injustiça no mundo”6 e, em outro momento, o coro canta
construção e afirmação de identidades individuais e coletivas. “Nós, os 99%, vamos comer a ganância dos 1%”7 ao que se
segue uma debochada gargalhada coletiva. A web é uma
Página 357 Espetáculos e tecnologia grande janela para o mundo e o Uzyna Uzona a amplia,
Assim como a televisão revolucionou o comportamento levando sua ação teatral a outros espaços atingindo um
humano no século XX, o surgimento da internet e a demo- número elevado de pessoas, principalmente se se pensar
cratização do seu acesso e o advento das chamadas mídias que a arte teatral, por essência, sempre terá um número
sociais modificaram as relações interpessoais na sociedade. reduzido de espectadores se comparada a outras mídias,
Redes sociais e similares criam um universo virtual que atin- como a TV, o cinema, o rádio e a própria internet.
ge um enorme número de pessoas e se fazem cada vez mais Está claro que a experiência da presença no tempo e
presentes no dia a dia. A seguir, são apresentados exemplos da
espaço da representação não é a mesma que a possibili-
relação entre teatro e internet no Brasil.
tada pelo live stream; no entanto, assistir a um espetáculo
via web na mesma coordenada temporal na qual ele se
Macumba antropófaga
desenvolve também é uma experiência estética diferen-
A Associação Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona, de José ciada, principalmente se se considerarem as ferramentas
Celso Martinez Corrêa, tem em sua página web, além de de interatividade propostas. Caso o espectador virtual
um histórico, fotos, vídeos e outras informações, um link não possa interagir diretamente no ato teatral, como um
para a TV Uzyna em live stream. O live stream permite as- espectador presencial o faz, ele pode compartilhar essa
sistir a algo na internet em tempo real e normalmente é experiência com outros espectadores virtuais.
utilizado pelo usuário para assistir a programas da tele- Há que se pensar se o teatro transmitido ao vivo,
visão paga, gratuitamente. A Associação Teat(r)o Oficina quando visto pelo internauta, ainda é teatro ou é uma
utiliza essa tecnologia de baixo custo para transmitir suas transmissão ao vivo de um ato que só pode se dar em
copresença. Parece que, eliminando o caráter presencial
apresentações na web e, assim, dois tipos de espectado-
do teatro, exclui-se aquilo que é mais representativo de
res compartem o tempo real da ação teatral: o que está
sua essência e que o coloca, justamente, em um lugar de
presente no local em que o espetáculo será realizado e
resistência à espetacularidade da ética contemporânea.
o internauta que o assiste a partir do olhar da câmera. A
Com isso, não se está afirmando que essas ações cor-
diferença desse formato para o tradicional teatro grava-
rompem o teatro, de modo algum. Elas contribuem para
do é que há uma distância espacial, mas não temporal
uma ressignificação da prática do teatro, além de torna-
do acontecimento teatral. Além disso, o internauta tem
rem possível que o registro da experiência teatral perdure
algumas ferramentas para interagir, como a postagem de
em outros meios, aumentando seu público e proporcio-
comentários e a abertura de discussões e compartilha-
nando novos laços entre a obra e o espectador.
mentos da experiência virtual nas principais redes sociais.
Cabe ressaltar que o espetáculo é pensado, desde o iní-
Página 357 Arte no dia a dia
cio de seu processo de criação, para ser visto por esses
dois tipos de público. O intuito desse boxe é instigar os estudantes a conhecer
alguns dos diversos cantores e compositores, consagrados ou
6. ASSOCIAÇÃO Teat(r)o Uzyna Usona. Disponível em: <www.teatroficina.com.br/>. Acesso em: 18 abr. 2016.
7. Idem.
475
iniciantes, que disponibilizam gratuitamente suas gravações na
internet. Procura-se mostrar a enorme diversidade da produ- Nesse artigo, o professor André Azevedo da Fonseca
ção musical brasileira que se tornou mais acessível com o avan- propõe uma reflexão sobre o uso do blog como ferramenta
ço das tecnologias digitais, tanto para a gravação quanto para o de avaliação no processo de ensino-aprendizagem. Apesar
compartilhamento, e com isso ampliaram-se as possibilidades de o foco da análise ser um curso de Comunicação Social do
de se fazer e ouvir música. É importante ressaltar que a prática ensino superior, a leitura pode revelar contribuições do mun-
de se pagar para ouvir música ainda existe e é bastante lucra- do virtual para a mediação do conhecimento em sua prática
tiva para as grandes empresas internacionais; entretanto, um docente.
grande número de artistas pode gravar e divulgar suas músicas
SANTANA, I. Dança na cultura digital. Salvador:
sem depender, necessariamente, de estar vinculado a alguma
SciELO-EDUFBA, 2006.
delas. Possivelmente surgirão questões sobre as diferenças en-
tre as vendagens de artistas internacionais, especialmente os Nesse livro, a autora utiliza a Semiótica para desenvolver
que cantam em língua inglesa, e os brasileiros que se utilizam as relações entre corpo, ambiente, tecnologia e dança nas
da produção independente ou alternativa de seus trabalhos. criações artísticas do século XXI.
Tal discussão pode ser direcionada para os limites da Língua
Portuguesa no mercado internacional de música ou para a for-
Páginas 362 a 364 Atividades de múltipla escolha
te influência cultural que os países de Língua Inglesa exercem
sobre o Brasil, especialmente no campo da música popular. 1. O teatro contemporâneo não recorre às tecnologias digi-
tais com o objetivo de preencher uma lacuna ou aumentar
Páginas 358 e 359 Fazer arte
a verossimilhança da peça teatral. Se assim fosse, entende-
ríamos que já não é possível haver teatro sem o uso dessas
Objetivos
tecnologias e que essas modificaram significativamente
Construção manual de instrumentos musicais.
todo o teatro feito na atualidade, o que não é verdade.
Execução de peça musical improvisada.
Mesmo em um contexto social cada vez mais digital, há
muitos artistas de teatro que continuam fazendo suas pe-
Existem muitas possibilidades de construção artesanal de
instrumentos que podem ser trabalhadas com os estudantes. ças sem o uso dessas tecnologias. A tecnologia sempre in-
Sugira como pesquisa adicional que os estudantes criem ou- fluenciou o teatro, a exemplo da luz elétrica que permitiu
tros instrumentos em horário extraclasse a partir de pesquisas que o teatro pudesse ser uma atividade noturna. No en-
na internet ou mesmo criando livremente com base nos co- tanto, ainda hoje, há espetáculos feitos na rua ou em ou-
nhecimentos obtidos com o estudo do livro. Adicionalmente, tros espaços durante o dia. O importante é perceber que
a turma pode tentar classificar os instrumentos criados pela o teatro está conectado a seu tempo e que as mudanças
classificação tradicional ou pelo sistema Hornbostel-Sachs, ocorridas na sociedade o modificam e o mantém vivo.
justificando o motivo da escolha realizada.
2. O Teatro Documentário utiliza-se de acontecimentos reais
Página 360 Ensaio corrido da história de um país, povo e, inclusive, de pessoas co-
muns, misturando-o a elementos ficcionais na construção
As atividades desenvolvidas neste capítulo objetivam que
da cena teatral com o objetivo de revelar um olhar dife-
os estudantes compreendessem as relações entre as artes cê-
nicas e a música com o cinema, os programas de computado- renciado sobre o acontecimento, muitas vezes, contes-
res e a internet. São propostas atividades práticas e leituras de tando as versões oficiais dos mesmos.
textos que visam aproximar o estudante dos mundos digitais e 3. Ao se analisar a sobreposição dos círculos, o único que
virtuais sob a ótica das artes. Apresenta-se que a tecnologia di- está completamente integrado de modo inseparável é o
gital e o mundo virtual funcionam como elo entre as várias for- da letra E.
mas de arte e as várias formas de acessar e compreender arte. 4. O principal objetivo do portal Domínio Público é o de
Também é apresentado o vínculo entre a produção de som e promover acesso às obras literárias, artísticas e científicas,
de música à tecnologia, propondo uma interface entre música
proporcionando, assim, a democratização da informação
e arqueologia. É importante perceber que a perspectiva inter-
por meio da disponibilização dos conteúdos à sociedade.
disciplinar permeia todas as relações propostas neste capítulo.
5. A letra C é incorreta, pois não houve diminuição no hábito
Páginas 360 e 361 Roda de conversa de ouvir música entre os jovens devido às reconfigura-
ções da indústria fonográfica. Ao contrário, a grande dis-
Sugestões de leitura ponibilidade de músicas em formato digital, possíveis de
FONSECA, A. A. da. Portfólio digital: o blog no recurso peda-
serem ouvidas em dispositivos móveis, como o telefone
gógico no ensino superior. Semina: Ciências Sociais e Huma- celular, tem mantido o hábito de ouvir música como um
nas. Londrina, v. 33, n.1, p. 81-90, jan.-jun. 2012. dos principais fatores na construção de redes de sociabili-
dade e de identidade entre os jovens.
476
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ISBN - 978-85-451-0345-5