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Orientações práticas

para professores
de estudantes com

Deficiência Física
Orientações práticas
para professores
de estudantes com

Deficiência Física
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

SESI-SP
Orientações práticas para professores de estudantes com deficiência
física / SESI-SP. – São Paulo : SESI-SP, 2018.
56 p. : il.

Vários autores.
ISBN 978-85-8170-054-0

1. Educação Inclusiva 2. Inclusão Escolar 4. Acessibilidade 5.


Deficiência física I. Título.

CDD: 371.9

Índice para Catálogo Sistemático


1. Educação Inclusiva : Adaptação Curricular : Deficiência Física
2. Adaptação Curricular : Educação Inclusiva : Deficiência Física
3. Deficiência Física : Inclusão Escolar : Adaptação Curricular
4. Inclusão Escolar : Deficiência Física : Adaptação Curricular

Bibliotecária responsável: Enisete Malaquias CRB-8 5821


Informações Técnicas

Presidente em exercício
José Ricardo Roriz Coelho

Superintendente em exercício
Alexandre Ribeiro Meyer Pflug

Divisão de Educação Autores


Fernando Antônio Carvalho de Souza Andreza de Cassia Siqueira Carvalho de Oliveira
Luciana Campacci Bruna Fratto Casagrande
Francis Gonçalves Botareli
Divisão de Qualidade de Vida Juliana Perina
Alexandre Ribeiro Meyer Pflug Marli Gardim
Eduardo Augusto Carreiro Silvana Cristina Oliveira Spadaro
Soraia Romano
Elaboração e Coordenação do projeto
Anne Lise Dias Brasil Revisão de Língua Portuguesa
Célia Maria Amato Balian Elisabete Santos de Oliveira
Soraia Romano
Editoração Eletrônica
Kamila Sayuri Uchino
Taináh Linhares dos Santos

Todos os direitos reservados ao SESI-SP


Av. Paulista, 1.313 – São Paulo – SP | CEP: 01311-923 Tel: (11) 3146-7000 | www.sesisp.org.br
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Caro Educador,

Apresentação
A educação inclusiva propõe ao docente a atuação em um campo com diferentes
contextos educacionais nos quais o ensinar ressignifica o papel do professor, da
escola, da educação e das práticas pedagógicas.

Ao incorporar na escola atitudes de respeito à individualidade e diversidade, o


professor exerce influência direta e se configura como modelo para os estudantes.

Quando o ambiente assegura o direito de todos se sentirem pertencentes ao meio,


cada educando experimenta o reconhecimento e a valorização de sua identidade,
o que garante sua motivação para participar e aprender em grupo.

É importante considerar que o processo de inclusão só é possível se houver a jun-


ção de diferentes saberes, em que a participação ativa da família e do suporte dos
profissionais que acompanham o estudante são fatores indispensáveis.

Partindo desses fundamentos, o SESI-SP, por meio da Divisão de Educação (Super-


visão de Nutrição, Saúde Inclusão Escolar) e da Divisão de Qualidade de Vida (Área
de Reabilitação), elaborou este documento “Orientações práticas para professores
de estudantes com Deficiência Física” com o objetivo de oferecer informações so-
bre os diversos aspectos da deficiência física no processo de inclusão escolar.

Acreditamos que este material irá colaborar para o desenvolvimento de um am-


biente que proporcione acessibilidade e igualdade necessárias para a inclusão do
estudante com deficiência física.

Boa Leitura!
Introdução ......................................................................................................................... 11

sumário
Inclusão: concepções, história e práticas pedagógicas .................................................... 12
A deficiência e o desafio da inclusão escolar .................................................................... 18
Desenvolvimento motor e psicomotricidade ................................................................... 18
Conhecendo a deficiência física ........................................................................................ 20
Classificação da deficiência física ...................................................................................... 22
Fatores causadores da deficiência física ........................................................................... 22
Causas da deficiência física ............................................................................................... 22
Encefalopatia crônica não progressiva (ECNP) ............................................................. 22
Problemas associados à ECNP ................................................................................... 24
Mielomeningocele ....................................................................................................... 24
Traumatismo cranioencefálico (TCE) ............................................................................ 24
Acidente vascular cerebral (AVC) ................................................................................. 24
Hidrocefalia .................................................................................................................. 24
Doenças neuromusculares ........................................................................................... 25
Malformações congênitas ............................................................................................ 25
Nanismo ....................................................................................................................... 25
Postura sentada com alinhamento e estabilidade: a importância para o aprendizado.... 27
Cadeira ......................................................................................................................... 28
Carteira ......................................................................................................................... 28
Cadeira de rodas adaptada .......................................................................................... 28
Atenção para o sentar do estudante com alterações motoras ......................................... 28
Escoliose ............................................................................................................................ 30
Comunicação na deficiência motora ................................................................................ 31
Estimulação de linguagem e fala da pessoa com encefalopatia crônica .......................... 32
Acessibilidade da pessoa com deficiência física na escola ............................................... 33
Removendo as barreiras arquitetônicas no ambiente escolar .......................................... 34
Tecnologia assistiva: recursos para o ambiente escolar ................................................... 37
Outras categorias de tecnologia assistiva .......................................................................... 40
Próteses e órteses ........................................................................................................ 40
Lazer e recreação ......................................................................................................... 40
Tecnologia assistiva: considerações na prática escolar ..................................................... 40
Uso do lápis/caneta ...................................................................................................... 41
Mobília ......................................................................................................................... 42
Material escolar e recursos pedagógicos ..................................................................... 42
Comunicação aumentativa (ou suplementar) e comunicação alternativa ................... 44
O uso do computador como ferramenta de apoio à comunicação e ao aprendizado ...... 46
Atividades de vida diária (AVD) ......................................................................................... 49
Outras orientações para garantir maior adaptação e independência ............................... 49
Educação física adaptada ................................................................................................... 50
Algumas dicas e precauções ........................................................................................ 51
Alguns exemplos de recursos e atividades ................................................................... 52
Estratégias desenvolvidas pelo professor para facilitar a aprendizagem do estudante
com deficiência física ......................................................................................................... 53
Pontos importantes ...................................................................................................... 53
Bibliografia ......................................................................................................................... 55
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Como instituição social, a escola está inserida em uma realidade histórica da qual so-

Introdução
fre e exerce influência, porém não é apenas uma organização por onde transitam os
valores, a ciência, as ideologias, a política, os costumes e a cultura de uma sociedade.
Por um lado, ela desempenha o papel de acolher a realidade social e, por outro, tem
o poder de atuar sobre essa mesma realidade formando cidadãos plenos.

Dessa maneira, a cidadania que a escola deve formar é essencialmente da consciên-


cia de direitos e deveres no exercício da democracia que garanta direitos civis, sociais
e políticos fundamentados numa concepção que mobiliza cada um, individualmente
e todos na conquista de novos direitos.

A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência reconhece o direito à


educação que, para efetivá-la sem discriminação e com base na igualdade de oportu-
nidades, assegurará um sistema educacional inclusivo em todos os níveis, bem como
o aprendizado ao longo de toda a vida.

E quando se fala em inclusão, pressupõe-se que não basta apenas inserir as pessoas
com deficiência nos ambientes dos quais participam a maioria. Também é necessário
que esses meios promovam a sua participação, o que exige preparação para que isso
se efetive.

Este material se propõe a auxiliar o professor e a escola no processo de inclusão da


pessoa com deficiência física de forma a colaborar com o ambiente acessível, capaz
de atender a todos, indistintamente, incorporando as diferenças no contexto escolar.

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Inclusão:
Na perspectiva inclusiva, a educação relaciona-se da educação inclusiva é investir na qualidade da
a uma das principais questões ligadas ao plano proposta educacional e contribuir para a formação
de direitos humanos e promoveu uma reestrutu- de cidadãos comprometidos com a sociedade.

Concepções,
ração acelerada nestas últimas décadas para rea-
firmar o que já era de direito, tal como foi inscrito Nessa perspectiva, aceitar as diferenças e criar
na Declaração Universal dos Direitos do Homem ambientes propícios ao desenvolvimento das po-

História e
(ONU, 1948), Declaração de Salamanca (UNESCO, tencialidades individuais são as principais premis-
1994), Convenção sobre os direitos das pessoas sas da escola inclusiva que incorporam o entendi-
com deficiência (BRASIL, 2007) e Lei Brasileira de mento sobre equidade e diversidade humana.

Práticas
Inclusão (BRASIL, 2015).
Incluir significa inserir, compreender, tornar-se
Na esfera atual, o educador vive o privilégio de parte de ou colocar, de acordo com a etimologia.

Pedagógicas
realizar ações assertivas que podem marcar, Entretanto, para congregar a mudança de para-
de forma positiva, a vida de cada estudante. digma que essa ação revela, deve-se considerar
O ambiente escolar, as dinâmicas e metodolo- o percurso da educação especial, que apresenta
gias escolhidas são aspectos essenciais para o um histórico estruturado em princípios precon-
aprendizado e predispõem a motivação neces- ceituosos e discriminatórios.
sária para a criança e o jovem conquistarem o
sucesso escolar. Com essa clarificação, é possível identificar o
porquê de tantas dificuldades e tantos tabus en-
Ao incorporar na escola atitudes de respeito à in- volvendo as crianças e jovens com deficiência,
dividualidade e diversidade, o professor exerce in- transtornos e altas habilidades na tal chamada
fluência direta e configura-se como modelo para escola regular.
os educandos. Quando o ambiente assegura o di-
reito de todos se sentirem pertencentes ao meio, A história da deficiência no Brasil perpassa pe-
cada estudante experimenta o reconhecimento e los mesmos ápices de negação, segregação, in-
a valorização de sua identidade, que garantem a tegração e inclusão ocorridos no mundo todo.
motivação para participar e aprender em grupo. Mesmo antes do descobrimento das terras bra-
sileiras, as sociedades indígenas mantinham a
Tema amplamente debatido, a inclusão escolar ideia de excluir pessoas com deficiência ou até
apresenta um percurso que perpassa por diferen- mesmo eliminá-las. E esse descaso se manteve
tes ações, fases e concepções. E conhecer o histó- pelo povo europeu que chegava com a intenção
rico, as leis e as transformações originadas da ideia da colonização.

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As primeiras indicações de ações voltadas às No Brasil, uma nova diretriz ganhou impulso a ma de exclusão, que se pode até ser pior, uma vez
pessoas com deficiência ocorreram na época do partir da segunda metade dos anos 80. As pri- que é considerada hipócrita, ocorrendo dentro
Império quando foram criadas fundações para meiras indicações ao encontro do movimento de das instituições de ensino. Os estudantes com de-
cegos, surdos e tratamentos psiquiátricos na me- integração social, que já era bem preconizado no ficiência se mantinham nas escolas, mas nenhuma
tade do século XIX (Moreira, 2014). Essa institui- resto do mundo, deveriam prover meios adequa- mudança do sistema educacional foi promovida.
ção pioneira se fundamentou na concepção bio- dos na educação para atender às necessidades
lógica que priorizava o atendimento médico em dessas crianças e jovens. Definitivamente, não é possível manter estudan-
detrimento do educacional e no distanciamento tes com deficiência, transtornos e altas habilida-
do convívio em sociedade. Entretanto, o conceito de integração escolar pa- des em sala de aula apenas para socialização e
rece ter assumido o sentido da mera colocação sem avanços na aprendizagem. É preciso ousar
A fase foi caracterizada por um cunho assistencial de pessoas com deficiência numa mesma escola, e saber envolvê-los muito além disso e trabalhar
e filantrópico que mantinha os indivíduos com não necessariamente na mesma classe, ratifican- para que sejam aceitos sem preconceitos pelo
deficiência ou transtornos separados dos demais do, assim, o caráter assistencialista, protecionista, grupo de maior convivência.
grupos e com grande tendência à piedade. As persistindo a segregação nas relações e atitudes.
atribuições eram descentralizadas e o apoio do Até a integração, a concepção de atendimento
governo era restrito com ações de auxílio finan- Segundo Montoan (1993), o movimento de in- educacional era fundamentada no modelo médi-
ceiro para entidades assistencialistas. tegração escolar foi relacionado ao conceito de co, que, durante muitos anos, foi a única possibi-
promover o acesso escolar para as pessoas em lidade de ações educativas, inicialmente planeja-
Com o tempo, as associações especializadas modi- condições desfavoráveis, isto é, crianças com de- das em instituições especializadas.
ficaram seu direcionamento e iniciaram um novo ficiência, transtornos e altas habilidades deveriam
trajeto com o objetivo de criar possibilidades para dividir os espaços escolares e se adaptar ao am- Os movimentos internacionais, contra a premissa
pessoas com deficiência. E de tal modo se desenvol- biente onde nada seria modificado. Dessa forma, da educação de crianças e jovens com deficiência,
veram serviços de reabilitação médica e cuidados, a adaptação era compreendida de forma em que transtornos e altas habilidades serem segregados
alguns mais outros menos, voltados à educação. o estudante buscaria meios para atingir o máximo em instituições, marcaram a luta pela educação
possível dos padrões considerados normais. para todos, sem exceção ou restrição.
A partir de 1970, a educação especial brasileira
ganhou um espaço maior no Plano do Governo, Nessa perspectiva, a proposta educacional foi re- Com isso, a concepção de modelo médico deixa
que estimulou a criação de instituições públicas e duzida, e a ação de “integrar” assumiu a concep- de ser utilizada e a nova abordagem é o mode-
privadas, órgãos normativos federais e estaduais. ção de “estar no mesmo espaço”, mas não neces- lo social, no qual as pessoas com deficiência são
De acordo com Mantoan (2002), a condução para sariamente de interagir com esse meio. aquelas que podem ter alguns impedimentos na
instituições e associações beneficentes perpe- locomoção, coordenação do movimento, fala,
tuou a concepção assistencialista, com forte ca- A possibilidade de acesso, que garantia apenas o compreensão de informações auditivas ou vi-
ráter protecionista. convívio, vinculou o termo integração à outra for- suais. Entretanto, essas características não são

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mais consideradas como incapacidade para a tégias, conteúdos e de forma individualizada para gem; busca esgotar estratégias e modificar con-
aprendizagem. São as barreiras presentes nos lu- promover avanços pedagógicos significativos. teúdos para atingir os objetivos propostos, que
gares ou produzidas pelos próprios sujeitos que revelam o processo de aprendizagem de cada
podem dificultar a participação plena dessas pes- Nessa perspectiva, não se limita em direcionar e um; analisa a situação em que o educando está
soas na sociedade. suscitar a aprendizagem apenas dos estudantes inserido e as vulnerabilidades do sistema; e pro-
com dificuldades na escola, como também capa- põe vias para a transposição das barreiras.
Na proposta inclusiva, ocorre uma mudança de citar a todos – professor, educando e equipe ad-
paradigma da perspectiva educacional em que as ministrativa – para possibilitar o desenvolvimen- Portanto, a escola inclusiva é um processo contí-
necessidades de cada um devem ser considera- to educacional dos envolvidos. nuo, que analisa as possibilidades de cada cená-
das, transpondo-se as barreiras do sistema para rio e daqueles que pertencem àquela realidade.
a promoção de acesso irrestrito de todos os estu- Na escola inclusiva, não existe falta de compro- As pessoas não são diagnósticos, cada um tem
dantes no ambiente escolar. Para tanto, torna-se metimento diante de uma possível não evolução sua história, características, habilidades, seus de-
necessário proporcionar diferenciação de estra- do estudante. Respeita-se o ritmo de aprendiza- sejos e apresenta particularidades que podem ou

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não estar ligadas a diferentes tipos de deficiência, com a premissa da transposição de barreiras por expressão entre as comunidades de brasileiros
transtornos e altas habilidades. meio da promoção adequada de todos os níveis surdos (Brasil,2005).
de acessibilidade.
No que tange à educação especial, a nomenclatu- Outros recursos que contribuem para eliminar
ra referente aos estudantes passou por grandes De acordo com a Lei Brasileira de Inclusão (Brasil, barreiras de interlocução dizem respeito às for-
transformações. Na primeira LDB, em 1961, era 2015), a educação deve ser planejada com foco mas de comunicação alternativa e suplementar,
denominada Educação de excepcionais; na Cons- nas possibilidades percebidas no estudante, com como, por exemplo, os cartões de comunicação
tituição Federal de 1988, educandos portadores base na avaliação socioambiental das barreiras e as pranchas de comunicação que são utilizados
de deficiência; na LDB de 1996, educandos por- de acesso. Acessibilidade é um termo que deve com os sistemas de símbolos gráficos.
tadores de necessidades especiais; e na Resolu- ser considerado como a transposição de barrei-
ção 02/2011, do Conselho Nacional de Educação ras nas seguintes dimensões: arquitetônica, ur- Com referência à realidade escolar, é preciso
(CNE), educandos com necessidades educacio- banística, de transporte, naturais, comunicacio- atentar para as dificuldades de acesso a recursos
nais especiais. nal, metodológica, instrumental, programática e e materiais, que podem ser equilibrados com o
atitudinal. Para a pessoa com deficiência, devem uso de instrumentos e serviços que facilitam a au-
É importante notar que a busca por uma forma estar garantidas a segurança e a autonomia de tonomia dos estudantes. Metodologias de ensino
mais adequada de nomear essas crianças e jo- espaços, mobiliários, instrumentos e serviços. se utilizadas de forma ortodoxa podem acarretar
vens também revela a concepção adotada e o em prejuízos significativos e fracasso escolar.
percurso. Atualmente, a terminologia utilizada e Nessa perspectiva, promover acesso à essas pes-
recomendada pela Lei de Diretrizes e Bases - LDB soas é muito mais amplo do que a condição de A acessibilidade é condição central para garantia
(2017) é pessoa com deficiência, transtornos e al- transitar. Esse é apenas um dos níveis que engloba aos direitos das pessoas com deficiência, trans-
tas habilidades. a circulação com segurança e eliminação dos obs- tornos e altas habilidades e deve incorporar em
táculos urbanísticos, de transporte, natural (natu- suas dimensões. Não se trata de ajuda ou auxílio,
Outras referências apontadas pelas associações reza) e arquitetônicos existentes nas edificações. mas de direito e, nesse âmbito, intensifica-se a
pró-inclusivas enfatizam algumas expressões como barreira mais difícil de ser atravessada: a barreira
o uso de pessoa surda ou pessoa cega para diferen- Outro nível de acessibilidade está relacionado à programática e a atitudinal.
ciar a identidade da comunidade surda e pessoas transposição das barreiras de comunicação e de
com deficiência auditiva, como também de pessoas informações por meio de sistemas de comuni- A escrita de documentos, referenciais, circulares
cegas e as com baixa visão, respectivamente. cação e tecnologia da informação. Nessa cate- escolares, informativos que embutem atos pre-
goria, cabe salientar que o Brasil possui como conceituosos ou discriminatórios são da catego-
A concepção de educação inclusiva prevê matrí- língua oficial a Língua Portuguesa e a modalida- ria programática. Quando há referência à acessi-
cula de crianças e jovens com deficiência, trans- de de sinais (Libras – Língua Brasileira de Sinais), bilidade atitudinal, embrenha-se no universo da
tornos e altas habilidades em escolas regulares, reconhecida como meio legal de comunicação e ética, delineado ao conceito de empatia.

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Considerando a diversidade, a convivência é o Compreende-se melhor a questão da adequação O conceito de inclusão, proposta pela UNESCO
maior entrave, pois cada pessoa é única e con- de atitudes quando se internaliza o conceito de (2005), é abrangente e corrobora com os ideais
dizente à sua própria crença que resulta de suas equidade, que, na educação, de acordo com Ha- de melhoria na educação:
percepções e história. Conviver com o diferente ddad (2010), “significa igualar as oportunidades
pode parecer estranho para algumas pessoas, de todas as pessoas acessarem, permanecerem A inclusão é vista como um processo de
atender e de dar resposta à diversidade
que até conseguem manter o discurso espera- e concluírem a Educação Básica e desfrutarem de de necessidades de todos os alunos atra-
do nos tempos de inclusão, mas não sabem lidar um ensino de alta qualidade, independentemen- vés de uma participação cada vez maior
com o diferente, tornando- se reféns de suas pró- te de origem étnica, racial, social ou geográfica”. na aprendizagem, culturas e comunida-
prias atitudes inadequadas. des, e reduzir a exclusão da educação e
dentro da educação. Isso envolve modifi-
No âmbito pedagógico, todos os estudantes
cação de conteúdos, abordagens, estrutu-
A ação de se colocar no lugar do outro e com- devem ter o direito preservado de participar de ras e estratégias, com uma visão comum
preender a sua real necessidade está centrada todas as atividades propostas na escola, com que abranja todas as crianças de um nível
com a ética. As atitudes e práticas de cada pessoa objetivos definidos para resultar em aprendi- etário apropriado e a convicção de que
procedem de suas experiências e reflexões sobre zado. O professor deve planejar e desenvolver educar todas as crianças é responsabili-
as informações assimiladas e de seu aprendizado. propostas com equidade de condições e consi- dade do sistema regular de ensino.
O histórico social da deficiência percorre desde derar a peculiaridade do sujeito, procurar atin-
De acordo com o conceito da UNESCO, a inclu-
a exclusão perpassando pelo sentimento de pie- gir o máximo possível da autonomia e promo-
são é um processo, ou seja, não acontece de uma
dade em tempo próximo, que chegou às últimas ver a acessibilidade.
hora para outra, implica na identificação e remo-
décadas do século XX.
ção de barreiras de participação e aprendizagem.
É neste caminhar de processos de transformação e
Amplia o conceito para todos os estudantes e não
As instituições especializadas em algum tipo de desenvolvimento que a Escola Inclusiva ganha forma,
somente para aqueles com deficiência e respon-
deficiência reforçam essa ideia de benevolência constituindo a certeza de que o sistema necessita de
sabiliza as escolas pela garantia da educação de
ou caridade e, tal hipocrisia pode resistir atual- mudanças, independentemente de quais sejam a
todos promovendo as transformações curricula-
mente por fazer parte da memória viva da socie- condição ou deficiência dos estudantes. A inclusão
res e organizacionais.
dade. E, são os mesmos indivíduos que convivem escolar delineia seu caminho de acordo com a diver-
na comunidade circundante e trabalham nesta sidade e busca promover, na escola, condições mais Assim, a escola deve identificar as particulari-
escola inclusiva almejada. amplas do que a igualdade de condições. dades de cada caso para não desconsiderar as-
pectos importantes em relação ao histórico do
A transposição de barreiras atitudinais é extre- O conceito de igualdade, permeado à justiça estudante, os quais podem contribuir de modo
mamente difícil na medida em que atitudes não que valoriza a diversidade e suas especificida- considerável para a elaboração das ações que de-
éticas, apesar de coexistirem no ambiente esco- des, permite os processos equânimes e, assim, vem ser executadas em sala de aula, de acordo
lar, podem estar veladas e escondidas em discur- considera o convívio baseado no respeito e no com as especificidades de cada educando.
sos destoantes da prática. acesso ao aprendizado.
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As mudanças de paradigma e concepção não A equipe escolar deve esclarecer a realidade, o seu tendimento das ações realizadas nos tratamentos
dependem apenas das reflexões teóricas. Dessa modo de trabalho e acolhê-los, uma vez que, em clínicos dessas crianças e jovens. Os profissionais
forma, a inclusão deve ter planejamento e orga- qualquer situação ou cenário novo, o medo e a in- da saúde também são integrantes indispensá-
nização de funcionamento. A equipe escolar deve segurança se instalam. Ao mesmo tempo, a escola veis na troca de experiências escolares e, assim,
ter um líder para assumir o papel de organizador, não os conhece e é durante os primeiros contatos ampliar o conhecimento das particularidades de
regulador para monitorar os mecanismos de im- que a equipe gestora irá levantar algumas informa- cada estudante. Dessa maneira, cada um assume
plementação da gestão educacional. ções preliminares sobre como as famílias condu- sua parte e a escola se responsabiliza pelo apren-
zem a educação dos filhos que apresentam defi- dizado e contribui para o desenvolvimento inte-
A liderança compreende assumir tanto o moni- ciência, transtornos e altas habilidades. gral dos estudantes.
toramento de ações da equipe escolar quanto as
tratativas para manter o ponto de equilíbrio das Essas famílias podem ter vivenciado diferentes fa- Concluindo, o movimento de educação inclusiva
relações provenientes com outros setores que ses emocionais que interferem em suas ações, e, é crescente, mas não deixa de prosseguir numa
atendem o estudante e sua família. muitas vezes, adotam posturas que incorporam dinâmica controversa, desigual e complexa. O
juízos de valores, o que pode gerar desentendi- professor precisa analisar como a diversidade
Com esse cenário, o líder que assumir a organiza- mentos logo no primeiro contato. Dessa forma, a se reflete na sala de aula para estabelecer quais
ção das relações pró-inclusivas deve estabelecer equipe escolar precisa ouvir atentamente os pais abordagens seguir e organizar o trabalho diante
a partilha de responsabilidades entre o próprio e permitir que exponham suas angústias em rela- das escolhas de seu estilo de ensinar, podendo
estudante, sua família, além das parcerias com ção ao desenvolvimento de seus filhos na escola. encontrar as melhores estratégias e, dessa for-
serviços da comunidade. Esse posicionamento é ma, atingir todos os estudantes, incentivando-os
extremamente importante, uma vez que as ne- É sabido que não é uma condição fácil, por isso, a a encontrar o prazer da aprendizagem e do co-
cessidades são complexas, e os encaminhamen- comunicação deve ser clara e sem uso de termi- nhecimento como subsequente trajetória de su-
tos devem ser decididos e conduzidos sempre em nologias técnicas ou, se necessário, utilizar sem- cesso e respeitar a identidade de cada um.
comum acordo com as famílias, que têm o direito pre a forma simplificada. Todos devem ter conhe-
e o dever de participar do processo educacional cimento de que são parceiros em uma mesma
de seus filhos. empreitada. Essa é uma ação que se estabelece
por meio de empatia, ao se valorizar as habilida-
O primeiro contato entre os colaboradores da es- des e saberes que o estudante possui para, assim,
cola com os pais deve ser priorizado logo no início vislumbrar as possibilidades pedagógicas e o seu
do ano letivo. É importante evidenciar que a in- desenvolvimento.
clusão das crianças e dos jovens com deficiência,
transtornos e altas habilidades somente terá êxi- À vista disso, é fundamental proporcionar à famí-
to se as responsabilidades entre escola, estudan- lia a compreensão de que há necessidade de par-
tes, famílias e terapeutas forem compartilhadas. ticipação próxima com a escola, bem como o en-
17
A Deficiência e o
vida, de forma a alcançar o máximo de Ações ou reações de forma discriminatória ou
desenvolvimento possível de seus ta- preconceituosa, mesmo sem intenção ou cons-
lentos e habilidades físicas, sensoriais,
ciência, identificam uma falha no desenvolvimen-
intelectuais e sociais, segundo suas ca-

Desafio da Inclusão
racterísticas, interesses e necessidades to educacional que está relacionada com a ética.
de aprendizagem.
Embora garantida por Lei, a Inclusão Escolar não

Escolar
O movimento mundial pela educação inclusiva é se concretiza por si só. Para se tornar uma prática
uma ação política, cultural, social e pedagógica, real, depende da disponibilidade interna dos que
desencadeada em defesa do direito de todos os estão envolvidos, em especial da união da família
estudantes de estarem juntos, aprendendo e par- com a escola.
De acordo com a Lei no 13.146, de 06 de julho
de 2015, art. 2º, considera-se pessoa com defi- ticipando, sem nenhum tipo de discriminação.
ciência aquela que tem impedimento de longo

Desenvolvimento
prazo de natureza física, mental, intelectual ou A Escola Inclusiva passa a ser vista como um
sensorial, o qual, em interação com uma ou mais ambiente onde a pessoa com deficiência encon-
barreiras, pode obstruir sua participação plena e tra um caminho de acesso à socialização, tendo

Motor e a
efetiva na sociedade em igualdade de condições maiores chances de trocar experiências e de se
com as demais pessoas. desenvolver como ser social atuante.

Psicomotricidade
De acordo com Mantoan (2017), as escolas inclu-
O Decreto Federal 3.298/1999 e Decreto
sivas propõem um modo de constituir o sistema
5.296/2004 classificam as deficiências em:
educacional que considera as necessidades de to-
dos os estudantes e é estruturado em função des-
• Deficiência Auditiva Ao nascer, o sistema nervoso central (SNC) da
sas necessidades. A inclusão causa uma mudança
• Deficiência Visual criança ainda não está completamente desenvol-
de perspectiva educacional, pois não se limita a
• Deficiência Intelectual vido, apresentando um tempo diferente para rea-
ajudar somente aqueles que apresentam dificul-
• Deficiência Física gir aos estímulos de acordo com suas experiên-
dades na escola, mas apoia a todos – professores,
• Deficiência Múltipla (associação de duas ou cias individuais. Quando ela não atinge alguns
estudantes, equipe escolar – para que obtenham
mais deficiências) dos marcos do desenvolvimento com a idade es-
sucesso na corrente educativa em geral.
perada, mesmo já levando em conta as variações
O capítulo IV, art. 27 da Lei 13.146, diz: individuais, utiliza-se o termo “atraso no desen-
A educação constitui direito da pessoa Espaços com segurança e autonomia, mobiliá-
volvimento motor”. Entre esses estão, por exem-
com deficiência, assegurada pelo siste- rios, instrumentos e serviços são aspectos que
ma educacional inclusivo em todos os plo, a dificuldade de se movimentar, de brincar,
definem o termo acessibilidade.
níveis e aprendizado ao longo de toda a de se comunicar e atraso na aprendizagem.

18
O desenvolvimento motor humano é um proces- A aquisição de habilidades motoras está vinculada Piaget afirma que a inteligência se constrói me-
so dinâmico com fatores interdependentes como ao desenvolvimento da motricidade. Os elemen- diante a troca entre o organismo e o meio, meca-
a maturação neuromuscular, o controle dos ges- tos básicos da psicomotricidade são pré-requisitos nismo pelo qual ocorre a formação das estruturas
tos e a capacidade de interagir com as pessoas e para o desenvolvimento dos potenciais humanos. cognitivas. O organismo com sua bagagem heredi-
com o ambiente. Um bom desenvolvimento motor Assim, uma criança cuja doença a privou de en- tária, em contato com o meio, perturba-se, dese-
repercute na vida futura da criança nos aspectos gatinhar e rastejar pode apresentar insuficiente quilibra-se e, para superar esse desequilíbrio e se
sociais, intelectuais e culturais, pois, ao ter alguma organização espacial e temporal (por exemplo, adaptar, constrói novos esquemas.
dificuldade motora ela deixa de realizar tentativas na noção do “antes-depois”) e isso dificultar a
gestuais que a impedirá, posteriormente, de aper- ordenação silábica ou dos números em fileiras e A quantidade e a qualidade de estímulos propor-
feiçoar o movimento corporal. colunas na matemática. Quando há carência na cionados ao estudante com deficiência física pos-
percepção espacial e lateralidade, é comum ao es- sibilitarão o máximo desenvolvimento de suas
A sequência ordenada e previsível do desenvol-
tudante não distinguir o “21” do “12”, confundir o potencialidades. Isso tudo já justifica a real neces-
vimento motor no primeiro ano de vida pode ser
“p” e o “b”, o “n” e o “u” na escrita. sidade de propiciar a convivência comum e provo-
observada em:
car os desafios escolares para que ele desenvolva
Alterações na representação da imagem corporal habilidades que não desenvolveria se estivesse em
http://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/355900/
afetam a construção da personalidade da criança, ambiente segregado.
mod_resource/content/1/AulaDNM2015.pdf
e, sem a noção do esquema corporal, os movi-
A sequência do desenvolvimento e controle motor mentos são pouco coordenados, a grafia fica irre- Em suma, ao proporcionar precocemente o maior
ocorre no sentido céfalo-caudal (da musculatura da gular e a leitura talvez sem o ritmo adequado por número de experiências motoras e psicossociais
cabeça em direção aos pés), próximo-distal (da mus- falta de segurança e confiança própria. Ao con- às crianças com deficiência física, previne-se que
quistar um bom controle motor, a criança estará elas apresentem comprometimento nas habilida-
culatura do centro do corpo até às suas extremida-
construindo as noções básicas para o seu desen- des escolares.
des) e da ação simples para complexa/refinada, ou
seja, primeiro a criança anda para depois conseguir volvimento intelectual.
saltar.

19
Conhecendo a
generalista “físico” está mais associado às clas- Segundo o Censo do IBGE de 2010, cerca de
sificações legais. 23,9% da população brasileira apresenta algum
tipo de deficiência, sendo 7% com deficiência fí-

Deficiência Física
É importante salientar que a deficiência física, na sica. Para que tais indivíduos participem efetiva-
maioria dos casos, não tem implicação ao nível mente na escola, comunidade e espaços sociais,
intelectual, podendo o indivíduo apresentar al- é necessário considerar todas as suas necessida-
Na literatura, encontra-se maior número de defi- gumas dificuldades psicológicas e emocionais de- des e possibilitar o atendimento especializado e o
nições para “deficiência física” do que para “defi- correntes das limitações que apresenta. Todavia, acesso às tecnologias inclusivas.
ciência motora”. No entanto, esses termos apa- dependendo do tipo e extensão da lesão pode ser
recem com relação causal, complementares e, às acompanhada por distúrbios sensoriais, percepti- A deficiência física é a “alteração completa ou
vezes, até sinônimos. vos, cognitivos, comportamentais, de comunica- parcial de um ou mais segmentos do corpo
ção, por epilepsia, entre outros. Um cuidado todo humano, acarretando o comprometimento da
O termo “motor” está mais associado às lesões especial por parte dos profissionais, pais e comu- função física” (Decreto no 3.298, de 20 de de-
em estruturas biológicas ligadas diretamente à nidade é não confundir a dificuldade motora da zembro de 1999). Seguem alguns dos tipos de
função e ao movimento do indivíduo, e o termo fala ou comunicação geral com deficit cognitivo. comprometimento (quadro abaixo).

Tipos de comprometimento

Paraplegia / Paraparesia Perda total e parcial respectivamente das funções motoras dos membros inferiores.

Monoplegia / Monoparesia Perda total e parcial respectivamente das funções motoras de um só membro (inferior ou superior).

Tetraplegia / Tetraparesia Perda total ou parcial respectivamente das funções motoras dos membros inferiores e superiores.

Hemiplegia / Hemiparesia Perda total e parcial respectivamente das funções motoras de um lado do corpo (direito ou esquerdo).

Amputação (quando congênita é chamada de amelia) Perda total e parcial de um determinado membro ou segmento de membro.

Ostomia Intervenção cirúrgica que cria um ostoma (abertura, ostio) na parede abdominal para adaptação de bolsa de coleta.

20
A deficiência física está relacionada a uma li-
mitação na função motora (fala, coordenação
e mobilidade) que pode ser melhorada ou até
mesmo restabelecida com treinos, adaptações
mecânicas, ambientais e com a utilização das
tecnologias assistivas.

Uma pessoa que teve a perna amputada é in-


capaz de caminhar sozinha, porém, ela pode
realizar o seu deslocamento espacial se utilizar
muletas, cadeira de rodas ou uma prótese.

A capacidade motora refere-se às qualidades


físicas de uma pessoa, definida geneticamente.
Está ligada à execução e é dividida em condicio-
nais (quantitativo: resistência, força, velocida-
de e flexibilidade) e coordenativas (qualitativo:
equilíbrio, orientação, reação, aprendizado mo-
tor, ritmo).

Já a habilidade motora se refere à realização do


movimento com objetivo específico e está inti-
mamente relacionado com precisão e eficiência.
A habilidade motora pode ser treinada através
de exercícios de agilidade e destreza.

21
Classificação da
dicas, articulares ou neurológicas que podem • Fatores de risco para lesões medulares
comprometer seu desenvolvimento educacional. a) fatores hereditários
A deficiência física pode ser: temporária, recupe- b) traumas

Deficiência Física
rável, definitiva ou compensável. c) deficiência vitamínica

A deficiência física é classificada, segundo a etio-


logia (entre congênita ou adquirida), quanto à Fatores Causadores Causas da
Deficiência Física
forma de instalação (aguda ou crônica) e confor-

da Deficiência Física
me a natureza, sendo decorrente de:

• distúrbios ortopédicos - problemas originários


A seguir, destacam-se algumas doenças ocasio-
nos músculos, ossos e/ou articulações (amputa- Alteração do Sistema Nervoso Central – SNC nadas pela alteração do SNC (cérebro e medula
ções, doenças reumáticas); Lesões que ocorrem no cérebro ou na medula espinhal) que comprometem o desenvolvimento
espinhal. infantil e causam deficiência física.
• distúrbios neurológicos - degeneração ou lesão
do sistema nervoso (trauma cranioencefálico, lesões
• Fatores de risco para lesões cerebrais Encefalopatia crônica não progressiva
medulares, esclerose múltipla, síndromes encefálicas
a) fatores pré-natais (durante o processo gesta- (ECNP) – Paralisia cerebral
ou medulares, acidente vascular encefálico);
cional) - as causas mais comuns nesse período A ECNP é o distúrbio do desenvolvimento mais co-
são as malformações encefálicas e as infecções mum em crianças, levando à deficiência física, defi-
• doenças neuromusculares - (miopatias/distro-
congênitas por sífilis, toxoplasmose, rubéola, ci- nido como um grupo de desordens do desenvolvi-
fias, lesões em nervos periféricos);
tomegalovírus, Herpes e HIV; mento, movimento e postura, causando limitação
na execução de tarefas. É atribuído a distúrbios
• malformações - (mielomeningocele, artrogri-
b) fatores perinatais (durante o parto) - o princi- não progressivos ocorridos durante o desenvolvi-
pose, osteogênese imperfeita, malformações
pal agente nessa fase é a anóxia (falta de oxigê- mento do cérebro, em fetos ou crianças. As desor-
nos membros);
nio) e a prematuridade; dens motoras são comumente acompanhadas de
convulsões, distúrbios de comportamento, cogni-
• doenças crônicas - (cardíacas, renais, AIDS,
c) fatores pós-natais (entre a segunda semana de ção, comunicação, visão e audição.
câncer).
vida e o segundo aniversário) - as causas mais co-
muns são as meningites, lesões traumáticas (aci- Há uma forma de classificação fisiológica da
Os estudantes com deficiência física são aqueles
dentes) e tumorais. ECNP, segundo o tipo clínico que especifica a al-
que apresentam alterações musculares, ortopé-
teração do movimento e do tônus ‒ que é o esta-
22
do de relativa tensão em que se encontra perma- Hipotonia - o tônus muscular é baixo. Apresenta fra- de certa idade, ou, ainda, crianças com ECNP es-
nentemente um músculo normal em repouso. As queza muscular, articulações frouxas, músculos mal pástica dos membros com hipotonia de tronco e
principais características de cada tipo clínico (se- definidos, sendo características a falta de controle de musculatura proximal.
gundo a área lesionada no cérebro) serão apre- postural e a dificuldade em vencer a gravidade.
sentadas a seguir. Algumas crianças com ECNP cursam com uma
Espástica - o termo, usado para designar o tônus manifestação reflexa influenciando as reações
Atetose - o sistema muscular é instável e flutuante, aumentado (tenso), é a hipertonicidade, onde corporais voluntárias, sendo mais comuns os re-
sem fixação nas articulações proximais. Pode apre- o músculo permanece muito rígido. As crian- flexos primitivos que aparecem após a mudança
sentar movimentos involuntários, espasmos, altera- ças apresentam movimentos desajeitados, têm de posição da cabeça da criança.
ção na fala e audição, atenção reduzida, hipermobi- dificuldades para mudar a própria posição, não
lidade articular, agressividade e mudanças abruptas usam corretamente os membros para manifes- Assim, o RTCA (Reflexo Tônico Cervical Assimé-
de humor. Quando o indivíduo tenta executar uma tar os objetos e os reflexos são exacerbados. Não trico) ocorre quando a cabeça é rodada para um
ação, os movimentos são lentos, incoordenados, seguem as etapas normais de desenvolvimento dos lados e observa-se uma resposta de extensão
com pequena amplitude e retorcidos. psicomotor estabelecidas pelas tabelas de de- de todo o lado do corpo para o qual a criança se
senvolvimento: demoram mais para sustentar a volta e o lado oposto fica flexionado.
Coreia - os movimentos são caracterizados por cabeça e sentar, às vezes nem engatinham ou fi-
golpes rápidos, amplos e involuntários, presen- cam de pé. Podem apresentar dificuldades para Já no RTCS (Reflexo Tônico Cervical Simétrico), a
tes no repouso e aumentam conforme o movi- deglutir, mastigar, controlar a saliva e falar. Ge- flexão da cabeça causa flexão da parte superior
mento voluntário. O controle da cabeça é fraco ralmente, o início do movimento voluntário é do corpo e extensão na parte inferior do corpo.
e as respostas a estímulos são instáveis e impre- lento, sem destreza ou coordenação adequadas. Também pode ocorrer: a extensão da cabeça cau-
visíveis. Apresentam um quadro de flacidez e Os membros superiores tendem a ficar junto ao sa a extensão na parte superior do corpo e flexão
respiração anormal. tronco, as mãos fechadas e os dedos fletidos. na parte inferior do corpo.

Distonia - a sustentação das contrações muscu- Rigidez - é a forma grave de espasticidade, onde os No RTL (Reflexo Tônico Labiríntico), a extensão da
lares causa posturas anormais ou movimentos músculos dos membros são tensos e se contraem cabeça gera um aumento de tônus extensor em
repetitivos geralmente em torção. fortemente, quando se tenta movimentá-los ou todo o corpo, enquanto que a flexão da cabeça
alongá-los. flete todo o corpo.
Ataxia - manifesta-se por falta de equilíbrio e falta
de coordenação motora nas atividades musculares Mista - muitas crianças apresentam padrões mu- Como os reflexos são desencadeados pela alte-
voluntárias. Há sinais de tremor, dificuldade em ar- táveis de tônus muscular ou diversos padrões di- ração da posição da cabeça, orienta-se que o es-
ticular as palavras de maneira correta, mantém a ferentes ao mesmo tempo. Podem apresentar hi- tudante permaneça com a cabeça na linha média
boca aberta e salivação aumentada, pouco contro- potonia nos primeiros meses ou anos de sua vida, (sem rotações, flexão ou extensão exageradas),
le de cabeça e do tronco e, às vezes, hipotonia. desenvolvendo espasticidade ou atetose a partir para que não sofra tais interferências durante as
atividades pedagógicas.
23
Na medida do possível, deixá-lo sentado em sala dos reflexos, como na tentativa de alcançar um Pode acarretar problemas urológicos, ortopé-
de aula nas fileiras do centro, para evitar a as- objeto fazendo a rotação da cabeça para desen- dicos e neurológicos de acordo com o nível da
simetria de cabeça. A instalação do movimento cadear o RTCA. Nessa situação, o estudante só lesão na medula. Quanto mais alto o nível da
reflexo altera o fluxo da vascularização sanguí- apresenta uma habilidade funcional, caso se utili- lesão da medula, maior será o acometimento
nea e, consequentemente, o foco de atenção e ze do reflexo primitivo. motor e visceral.
intenção voluntária.
É importante o professor conversar com o fisio- O quadro clínico pode cursar com hidrocefalia,
O professor pode e deve controlar o ambiente terapeuta ou terapeuta ocupacional que realiza o bexiga neurogênica ou de esforço, puberdade
em sala de aula para facilitar o aprendizado des- acompanhamento clínico do educando para que, precoce, alergia ao látex, alteração de sensibili-
ses estudantes com atividade reflexa primitiva juntos, priorizarem a funcionalidade nas melho- dade, obesidade, dificuldades para movimentar
frequente, que demandam muito tempo para res condições posturais possíveis. as pernas e andar.
“sair do reflexo”.
Problemas associados à ECNP Traumatismo cranioencefálico (TCE)
A seguir, algumas sugestões: Tais crianças frequentemente apresentam disfun- É uma lesão cerebral de causa traumática exter-
ção no processamento sensorial. Podem ocorrer na de diferentes etiologias (acidentes automo-
• evitar que o educando tenha que rodar, baixar estrabismo, nistagmo, convulsões, distúrbios de bilísticos, quedas) que resultam em sequelas
a cabeça ou olhar muito para cima, tudo deve ser crescimento e distúrbios significativos da comu- físicas, psicocomportamentais e cognitivas em
apresentado de frente, na altura dos olhos do es- nicação (secundários a um controle oral-motor diversos graus.
tudante (material escolar, pedagógico e objetos); da fala precário, a uma disfunção central de lin-
guagem, à deficiência auditiva ou aos déficit cog- Acidente vascular cerebral (AVC)
• o professor deve se posicionar mais à frente, fa- nitivos). Com o passar dos anos, algumas crianças Quando ocorre uma interrupção na circulação ce-
vorecendo que o estudante permaneça com a ca- com quadros espásticos graves sofrem grande rebral (por hemorragia ou isquemia) e acomete o
beça na linha média do corpo e, dessa forma, ele risco de adquirir alguns déficit neurológicos im- funcionamento das células de uma determinada
conseguirá levar as duas mãos ao centro, podendo portantes devido à degeneração discal e à insta- região cortical. As sequelas serão corresponden-
adequadamente interagir e manusear objetos; bilidade em sua coluna cervical. tes à área lesionada, motora, sensorial, visual,
cognitiva, sendo a forma mais comum a hemiple-
• quando o estudante estiver frente ao computa- Mielomeningocele gia/ hemiparesia.
dor, ao invés do teclado estar apoiado na mesa, Conhecida popularmente como “Espinha Bífi-
pode ser adaptado no plano inclinado, assim não da”, é uma malformação no fechamento do tubo Hidrocefalia
precisa abaixar a cabeça, o que despertaria a ati- neural entre a terceira e quinta semana de vida Pode ser congênita (devido a uma anomalia) ou
vidade reflexa. intrauterina, que ocorre geralmente na coluna adquirida (tumores, infecções). É caracterizada
lombar. Logo após o nascimento, é realizada a ci- por retenção do líquido cefalorraquidiano nas
Há casos em que a criança com deficiência só rurgia para correção. estruturas corticais, resultando na macrocefalia.
consegue interagir com o meio através do uso Muitas vezes, é necessário derivar o excesso de
24
líquor, colocando-se dreno cirurgicamente. início após 10 anos de idade, comprometimento Pode ser de dois tipos: nanismo proporcional, que
O volume líquido pode gerar compressão nas cardíaco). Tem-se ainda a Distrofia de Cinturas, a é causado por alterações hormonais genéticas, na
estruturas do córtex e lesionar áreas motoras, de Steinert, a Ocular e a Fascioescapuloumeral. qual a baixa estatura tem proporcionalidade com o
sensoriais, cognitivas ou comportamentais, tamanho dos demais órgãos. Já o nanismo despro-
manifestando quadro clínico compatível ao lo- Malformações congênitas porcional é causado por mutações genéticas (dis-
cal acometido. São defeitos estruturais que resultam de erros plasias) onde alguns órgãos corporais tem tama-
localizados no desenvolvimento de diferentes nho normal, não proporcional à estatura pequena
Doenças neuromusculares partes do corpo e que podem levar a sérios com- do indivíduo. Nesse grupo, os tipos mais comuns
É um grupo de desordens hereditárias ou adqui- prometimentos orgânicos ou manifestarem-se de são a acondroplasia e a hipocondroplasia.
ridas de caráter progressivo e englobam um con- maneira suave sem prejuízo à pessoa. Exemplos:
junto de mais de 40 patologias diferentes já iden- amelias, deficiência congênita do fêmur, artrogri- Inúmeros são os diagnósticos encontrados nos
tificadas, abrangendo as doenças dos músculos pose, osteogênese imperfeita, pé torto congêni- estudantes com deficiência física nas escolas. A
(miopatias), doenças dos nervos (neuropatias), to, malformação arteriovenosa. definição clínica fica a cargo da equipe médica.
doenças do corno anterior da medula (atrofias Aos professores cabe distinguir a informação so-
espinhais) e as perturbações da junção neuro- bre o quadro do educando, se é progressivo ou
Os defeitos congênitos não são resultados de uma
muscular (miastenia). estável, se existem outras complicações associa-
única causa. Podem estar associados à herança
das como epilepsia, alterações de sensibilidade
genética, a doenças preexistentes ou contraídas
Apesar das diferentes designações, todas têm ou problemas de saúde que requerem cuidados e
pela mãe nos primeiros meses de gravidez, à in-
em comum a falta de força muscular, muitas medicações (respiratórios, cardiovasculares etc.).
gestão materna de medicamentos teratogênicos
vezes cursando com fadiga. O uso repetitivo da
no mesmo período e ainda à ação conjunta de al-
musculatura e/ou a realização de atividade física Tais informações irão nortear o professor na
guns desses fatores.
(mesmo que de baixo impacto e duração) podem condução do seu trabalho com o estudante,
acelerar a progressão da doença. além das questões específicas de cuidados. Sem
Nanismo contar que, em muitos casos, a deficiência físi-
Segue como exemplo uma das mais encontra- É uma doença genética que afeta o crescimento ca vem associada a outras deficiências (visual,
das no âmbito escolar: as distrofias musculares, do esqueleto. O indivíduo apresenta estatura me- mental, auditiva).
doenças genéticas, degenerativas, que alteram as nor que a média da população em que está inse-
proteínas na membrana das células musculares, rido (cerca de 20% abaixo da média). A baixa es- Reconhecer todas as dificuldades do estudante
gerando a fraqueza muscular. Os tipos mais fre- tatura está comumente associada aos membros e a forma de abordagem nesses casos facilitará
quentes são a de Duchenne (maior incidência e curtos, espaço persistente entre o dedo médio e a criação das atividades curriculares adaptadas.
gravidade, de instalação precoce, acomete mais anelar, malformações ósseas (coluna e joelhos) e
o sexo masculino) e Becker (sintomas mais leves, alterações dentárias. A importância em compreender se o diagnóstico
do educando é devido à lesão neurológica não

25
evolutiva (como na ECNP ou traumas medulares)
ou progressiva (distrofias musculares, tumores
do SNC) está em reconhecer que as limitações do
aluno tendem a diminuir no primeiro caso (com o
auxílio de recursos e estimulação específica).

Já nas doenças progressivas, as incapacidades


funcionais e os problemas de saúde tendem
a evoluir, às vezes, impedindo o estudante de
acompanhar as aulas com a regularidade ne-
cessária (por motivo de internação hospitalar
ou de cuidados de saúde). A escola deve estar
preparada para dar suporte educacional no
ambiente hospitalar ou domiciliar enquanto as
condições de saúde do educando com deficiên-
cia física se estabilizem.

26
Postura Sentada
to. Postura e equilíbrio formam a base da ativida- pode restringir a circulação sanguínea na área,
de motora onde se apoiam os processos de apren- comprimir estruturas nervosas e/ou interferir
dizagem, permitindo a exploração e interação com no funcionamento do intestino e bexiga. Além

com Alinhamento
o ambiente ao redor. Seguir algumas das diretrizes dessas possíveis alterações fisiológicas, o próprio
biomecânicas orientará o professor a perceber se desalinhamento corporal colabora para que se
o estudante está sentado da melhor forma, além desencadeiem outras variações corporais, por

e Estabilidade: A
de auxiliá-lo na busca por recursos e suportes que exemplo, o funcionamento dos sistemas respira-
promovam a adequação postural, ampliando a ca- tório, digestório e de fonação, e, até, em algumas
pacidade de interação do educando ao meio. funções corticais.

Importância para o A tuberosidade isquiática é a estrutura óssea


preparada para receber o peso corporal. Mui-
Ao sentar, é primordial respeitar os ângulos retos
(90 graus), ou a posição neutra, que se assemelha

Aprendizado
tos indivíduos sentam-se com o apoio na região a melhor postura para o corpo não sofrer estres-
sacral (“cóccix”- final da coluna vertebral) o que se mecânico e sobrecarga nas articulações.

O estudante com deficiência física necessita de


uma postura adequada, que promova estabilida-
de e conforto durante todo o período que perma-
nece sentado na escola. Sentar com alinhamento
correto preserva a capacidade respiratória, previ-
ne o desenvolvimento ou progressão de deformi-
dades ortopédicas, potencializa a funcionalidade
de membros superiores e a interação com o meio
ambiente, influenciando, assim, o melhor desem-
penho escolar.

A postura corporal é diretamente influenciada


pelo comportamento psicoemocional, que habi-
tualmente observa-se alterado nos casos de defi-
ciência física. Ter a postura estável e confortável
que propicie um desempenho funcional adequado
é, sem dúvida, a melhor forma de posicionamen-

27
Cadeira A altura da mobília também determina a estrutu- ma perna cruzada, ou ainda, ao girar o tronco
• deve ter uma altura que permita que os pés se ração do corpo. É muito importante observar se sempre para o mesmo lado (por exemplo aquele
apoiem confortavelmente sobre o solo; há pontos de pressão e tensão sendo formados que senta próximo à parede e necessita rodar o
devido à cadeira ser muito alta ou muito baixa. corpo para olhar para a lousa).
• ter profundidade que evite pressão na região
posterior da coxa;
Caso o estudante esteja sentado com a coluna
• quadril e joelhos devem estar com um ângulo
de aproximadamente 90°;
Atenção para reta e os pés apoiados no chão e, ainda assim,
não apoie a coluna no encosto da cadeira, o ideal
é preencher o espaço com uma almofada (de
• a coluna deve ficar apoiada no encosto da cadeira.

Carteira
o Sentar do densidade entre 24 e 26), revestida com tecido
apropriado e espessura adequada ao espaço exis-
tente entre as costas do educando e o encosto
• os antebraços devem estar apoiados o suficien-
te para que o estudante não necessite se inclinar
ou sentar para frente na cadeira;
Estudante com da cadeira da sala de aula. Convém ajustar tal
medida com os terapeutas que acompanham o
estudante.

• a altura da mesa não deve restringir o posicio-


namento das pernas mantendo-as livre para me-
Alterações Motoras Estando ele sentado, não permitir que perma-
neça com os joelhos dobrados excessivamente
lhor acomodação. No caso de estudante com deficiência física, a de- para trás e com as pontas dos pés apoiadas no
pender da doença e estágio, alguns pontos são chão, ou mesmo com os pés cruzados embaixo
Cadeira de rodas adaptada relevantes durante a postura sentada. do assento da cadeira. Tal posição impede o ali-
Deve-se considerar que a cadeira de rodas é adap- nhamento do quadril com a coluna, motivando
tada de acordo com a necessidade individual de instabilidades no tronco.
A cadeira de rodas com assento de lona não deve
cada educando. Entretanto, deve permitir o posi-
ser utilizada para longos períodos, pois não pro-
cionamento acima referido e, quando possível, ter
porciona a estabilidade e suporte adequado ao O estudante com alterações de tônus, muitas ve-
acoplada à cadeira de rodas a mesa com recorte.
quadril. É apropriada apenas para deslocamentos zes, carece de um tempo de descanso corporal/
Caso seja observado que a criança esteja caindo dentro do ambiente escolar. postural para que sua habilidade em sustentar a
para um dos lados, ou flexionando o tronco sobre atenção, motivação e memória operacional se-
a carteira/mesa adaptada, ou que permaneça com O peso corporal deve estar dividido nos dois la- jam restabelecidas.
joelhos dobrados acima de 90° ou totalmente es- dos do corpo (apoio nas nádegas), para evitar
tendidos, deve ser solicitado aos pais a revisão da desvios na coluna vertebral. Situações contrárias Principalmente nos casos em que o educando
cadeira de rodas por um profissional habilitado. e prejudiciais ocorrem quando o educando senta permanece em período integral, a sugestão é
sobre um calcanhar, ou mantém sempre a mes- que tenha disponível um colchonete no fundo
28
da sala de aula para ele sair da postura senta- Assim, a ação gravitacional é anulada e o tronco menda-se que a equipe escolar observe, espora-
da e esticar as pernas (talvez deitar até em um não cederá para frente, porém, o contato visual dicamente, a coloração da pele e os indícios da
sofá) e, assim, consiga ter êxito no desempenho será restrito, a menos que se adapte um plano in- presença de feridas nas partes corpóreas em con-
das atividades educacionais. clinado na mesa. tato com a cadeira. Tal verificação pode prevenir
ulcerações sérias na pele por pressão concentra-
Muitas vezes, a adaptação necessária não vem Estimular o posicionamento ereto da coluna na da e excessiva num único ponto, principalmente
de recursos externos e sim do próprio indivíduo, maior parte do tempo em sala de aula, evitando que no estudante com deficit de sensibilidade.
como o uso mais adequado das estruturas corpo- o educando persista com o tronco debruçado na
De modo geral, previnem-se tais úlceras (escaras)
rais, a fim de facilitar a aprendizagem e o desen- carteira, ou, com as mãos apoiando rotineiramente
na pele com a distribuição adequada do peso cor-
volvimento cognitivo. a cabeça. Para tanto, o professor poderá combinar
poral na superfície da cadeira, com o controle do
previamente com o estudante uma palavra, sinal ou
Quando o estudante não apresenta bom contro- tempo de posição sentada, com o rodízio de posi-
gesto que indique a necessidade de correção pos- cionamento e, também, através dos cuidados com
le de cabeça e tronco, uma alternativa é permi-
tural, ou seja, o uso de “pistas” para a retomada do alimentação, higiene e vestimentas adequadas.
tir que seu corpo fique mais inclinado para trás,
alinhamento, até que se crie o novo hábito.
por exemplo, com as cadeiras de rodas com “tilt”
Quanto à localização do estudante com espas-
(A prescrição é sempre médica ou do terapeuta Para aquele educando que permanece sentado ticidade e liberação reflexa primitiva em sala de
que acompanha o estudante, porém o professor por tempo prolongado na mesma superfície, reco- aula: evitar que ele sente próximo às paredes la-
é quem, muitas vezes, observa tal necessidade).

29
terais, pois a postura corporal é prejudicada ao A escoliose congênita é aquela na qual o indiví- de objetos da mesa. Muito disso é explicado pela
rodar o tronco para localizar os estímulos dados duo nasce com as alterações. Existem, também, postura sentada inadequada ou pela permanência
pelo professor e ambiente. Tal desalinhamento doenças que cursam com o aparecimento de es- em mobília inapropriada ao biotipo da criança (ge-
(assimetria do eixo corporal) interfere negativa- coliose por desordens neuromusculares. ralmente as cadeiras escolares são grandes para
mente na integração dos reflexos neurológicos.
as dimensões da criança até os seus 10 anos).
Na idade escolar, o risco de aparecimento ou

Escoliose
agravamento da escoliose pode aumentar com o A falta de apoio correto e o desalinhamento cor-
transporte inadequado do material escolar, além poral sobrecarregam estruturas ósseas e muscu-
da permanência em postura sentada inadequada. lares, o que potencializa o aparecimento de dores
e deformidades, principalmente nos estudantes
É um desvio no alinhamento das vértebras, pro- Quando o estudante é mantido sentado por tem- que já apresentam alterações físicas de base.
duzindo uma ou mais curvaturas na coluna. Essa po prolongado de aula, observa-se a falta de aten-
anormalidade pode possuir diferentes velocida- ção, a movimentação inquieta e a constante queda Assim, o cuidado do professor em orientar a
des de agravamento e prognósticos diferenciados. boa postura e adaptar o ambiente (na
medida do possível) favorece o bom
funcionamento corporal de todos os
estudantes e reduz complicações
no quadro dos educandos com de-
ficiência física.

O objetivo é não deixar evoluir


para uma escoliose, o que, em
muitas vezes, restringe a capaci-
dade respiratória do estudante.
Para promover a saúde, reco-
menda-se organizar as ativida-
des escolares de forma que haja
um rodízio no uso do corpo (ora
sentado ora se movimentando),
sem permanecer tempo prolonga-
do na mesma posição.

Normal Lordose Cifose Normal


30
Comunicação na
enquanto joga sua bola e será essa associação que
contribuirá para a construção de sua linguagem.

Deficiência Motora
Na deficiência motora, o comprometimento neu-
rológico e o muscular podem prejudicar gestos
e expressões em diferentes graus que afetam a
Conforme exposto nos capítulos anteriores, a de função comunicativa.
ciência motora tem diversos quadros que apresen-
tam tipos e modos de comprometimentos. Diante As desvantagens na aquisição de linguagem acar-
dessas naturezas, as alterações de comunicação retam em dificuldades para identificar, discri-
podem ou não complementar o conjunto de ca- minar, reconhecer os sons da fala e, numa fase
posterior, compreender e falar. Assim, o bebê fica
racterísticas das pessoas com de ciências motoras.
atento às ações relacionadas a um som ou palavra
Comunicar é amplo, resultado de interação e e, depois, compreende essa ação, diferencia de
participação entre as pessoas e o meio em que outras palavras e, mais tarde, sabe utilizar para se
vivem. A troca comunicativa pode externar sen- comunicar.
timentos, emoções, conceitos, estabelecendo-se
As trocas na fala podem ocorrer devido a altera-
de diferentes modos.
ções na articulação ou dificuldades na percepção
Dessa forma, há necessidade de se considerar: dos sons da língua. De forma geral, é na ence-
ausência de linguagem oral; atrasos na aquisição falopatia crônica que se encontram alterações
ou alterações no desenvolvimento de linguagem; musculares que prejudicam a articulação com a
problemas na fala, na escrita, na voz, no contro- produção de sons distorcidos ou projetados.
le muscular, utilizados para falar e respirar; bem
Em relação às dificuldades na produção, podem
como os comprometimentos na audição.
ocorrer omissão, substituição de sons ou sílabas
Em relação à linguagem oral, a criança, com um que, no início, são esperadas no desenvolvimen-
histórico saudável desde a gestação e exposta to da criança até 4-5 anos de idade. É possível
num ambiente de trocas com seus familiares, também encontrar a disfluência da fala e as al-
terá a oportunidade para desenvolver a lingua- terações do padrão de voz decorrentes de alte-
gem e adquirir a sua língua. rações respiratórias e musculares com diferen-
tes graus de manifestação, que levam a padrões
Na fase inicial, as manifestações orais e, poste- compensatórios anormais, que prejudicam a pro-
riormente, as primeiras palavras estão acompa- dução da pessoa com de ciência motora, mais es-
nhadas de ação motora. Assim, um bebê vocaliza pecífico para aqueles com encefalopatia crônica.
31
Estimulação de
As dificuldades na coordenação motora, alte- • não falar mais lento ou silabado, pois a altera-
rações na rigidez ou frouxidão muscular, entre ção não está relacionada a dificuldades articula-
outras condições, podem levar a problemas na tórias e isso desestimula a fala ou compreenção

Linguagem e Fala
articulação da fala. do estudante;

Com a ausência da produção oral, fica-se em dú- • auxiliar na postura corporal e de cabeça da

da Pessoa com
vida, muitas vezes, se a criança não sabe ou se, criança quando houver dificuldade de emissão da
realmente, há prejuízos cognitivos. Cada caso fala, excesso de expressões faciais ou alteração
deve ser considerado único e estimulado. na emissão da voz;

Encefalopatia O professor tem que estar atento às informações


que o estudante fornece por qualquer forma e
• não solicitar que fale mais alto se a voz estiver
baixa, pois esse esforço pode levar a um padrão

Crônica investir num trabalho para estimular a fala e a postural alterado;


linguagem.
• dar oportunidade para a criança se expressar,
ou seja, não completar palavras ou tentar adivi-
Para tal, deve-se:
nhar o que a criança quer dizer;
O papel da escola é trabalhar na estimulação da
• manter uma boa comunicação e, assim, pro-
linguagem por meio de qualquer modo (verbal • buscar, junto ao professor e terapeuta, esta-
curar se posicionar bem na altura dos olhos do
ou não verbal) para ampliar as possibilidades de belecer comunicação suplementar e alternativa
estudante;
aprendizagem. para ampliação do repertório linguístico.

32
Os estudantes que já apresentam escoliose ou a) adaptável - espaço, edificação, mobiliário, equi- trumental), até políticas públicas (acessibilidade
com alterações físicas devem ficar, preferencial- pamento urbano ou elemento cujas características programática) e práticas de convivência na diver-
mente, nas fileiras centrais da sala de aula, em possam ser alteradas para que se torne acessível; sidade humana (acessibilidade atitudinal).
busca da simetria corporal.
b) barreira arquitetônica - qualquer obstáculo, Dentro do contexto legal, existe a Lei nº 10.098/00
atitude ou comportamento que limite ou impeça (BRASIL, 2000), segundo a qual, todas as escolas

Acessibilidade a participação social da pessoa; devem promover ambiente acessível, adequando


os espaços que atendam à diversidade humana

da Pessoa com
c) desenho universal - estabelece critérios para e eliminando as barreiras arquitetônicas. Tam-
que edificações, concepção de produtos, ambien- bém foi promulgado o Decreto nº 5.296/04 que
tes, programas e serviços atendam a um maior estabelece normas gerais e critérios básicos para

Deficiência Física
número de usuários, independentemente de suas a promoção da acessibilidade das pessoas com
características físicas, habilidades e faixa etária, deficiência ou com mobilidade reduzida e dá ou-
favorecendo a biodiversidade humana e propor- tras providências. Outras leis federais são: Lei nº

na Escola
cionando melhor ergonomia para todos. 10048/2000 e Lei nº 7801/2008.

O conceito de desenho universal tem como pres- Em suma, a escola tem que proporcionar um am-
supostos, mundialmente adotados, em planeja- biente agradável, confortável e prazeroso, onde
A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
mentos e obras de acessibilidade: equiparação os estudantes tenham condições de aprender e
Deficiência – CMDPD (ONU/2006), por meio dos
das possibilidades de uso, flexibilidade no uso, se desenvolver. É nesse ambiente escolar que vão
Decretos nº 186/2008 e nº 6.949/2009, estabe-
uso simples e intuitivo, captação da informação, superar seus medos e desafios diários, através
leceu o compromisso de assegurar o acesso das
tolerância ao erro, mínimo esforço físico, dimen- dos meios facilitadores, sejam no âmbito do ensi-
pessoas com deficiência a um sistema educa-
sionamento de espaços para acesso, uso e intera- no e aprendizagem ou de locomoção.
cional inclusivo em todos os níveis e de adotar
ção de todos os usuários.
medidas que garantam as condições para sua
Um educando que possua alguma limitação em
efetiva participação, de forma que não sejam
A acessibilidade é um conceito amplo, que envol- suas atividades, decorrente de deficiência ou bar-
excluídas do sistema educacional geral em razão
ve desde condições ambientais (acessibilidade reiras ambientais, pode apresentar dificuldades
da deficiência.
arquitetônica), acesso à informação (acessibilida- em expressar as habilidades que são necessárias
de comunicacional), possibilidades de locomoção para o seu aprendizado e convívio na escola, o
Para que o ambiente escolar seja acessível e aco-
e uso de atividades que incluam a pessoa com que torna o ambiente desfavorável ao seu desen-
lhedor para o estudante com deficiência, algumas
deficiência (acessibilidade metodológica e ins- volvimento.
definições e orientações legais são necessárias:

33
Removendo
as Barreiras
Arquitetônicas no
Ambiente Escolar
Modificar a estrutura arquitetônica dos pré-
dios escolares nem sempre é possível devido à
escassez monetária, às dificuldades operacio-
nais e administrativas.

O ideal é planejar a construção ou reforma,


contemplando a acessibilidade aos estudantes
com deficiências, transtornos e altas habilida-
des. Entretanto, algumas barreiras físicas po-
dem ser removidas com ações de baixo custo,
mudança da mobília no layout do ambiente, ou,
ainda, desconstruindo regras que, na verdade,
não consideram o diferente. Um exemplo disso
é estabelecer que todos os educandos entrem
pela mesma portaria, quando um segundo aces-
so facilitaria o percurso e acessibilidade a um
estudante com deficiência física.

A maioria dos desníveis de superfície geralmente


é compensada com rampas ou elevadores. Entre-

34
tanto, nem toda rampa possibilita acessibilidade • não só permitir a acessibilidade a bibliotecas, estejam firmes no chão, embutidos ou nivelados
ao estudante na escola. A Associação Brasileira refeitórios, auditórios, quadras poliesportivas, la- (não exceder 5 mm);
de Normas Técnicas (ABNT) estabelece crité- boratórios e demais locais como garantir o deslo-
rios e parâmetros técnicos a serem observados camento no interior desses espaços e a interação • sinalizar com fita antiderrapante as bordas de
quanto ao projeto, à construção, instalação e com as atividades ali desenvolvidas; todos os degraus das escadas da escola. É pru-
adaptação das edificações às condições de aces- dente instalar faixa adesiva contínua de seguran-
sibilidade. A ABNT criou a NBR 9050, uma nor- • colocação de tapetes antiderrapantes em áreas ça em portas e paredes de vidro, inclusive em al-
ma extensa que define aspectos relacionados escorregadias. Atentar-se à disposição, localização tura capaz de ser percebida pelo educando com
às condições de acessibilidade (cuja última re- e manutenção dos tapetes e capachos distribuídos nanismo ou usuário de cadeira de rodas;
visão foi em 11/09/2015), além de regulamen- no ambiente escolar: muitas vezes criam desníveis
tar outras normas necessárias à aplicação da que impedem a passagem de andadores, ou criam • adequar, se possível, a acessibilidade do estu-
NBR9050. maior atrito durante o deslocamento das rodinhas dante às mesas do refeitório, removendo duas
dos auxiliares de marcha (o que exige maior esfor- cadeiras fixas do chão frente a uma das mesas,
Seguem sugestões e adequações nos recursos fí- ço físico da criança com deficiência). Sem contar possibilitando a ampliação do espaço para conter
sicos no ambiente escolar. que podem estar obstruindo o piso tátil (que guia uma cadeira de rodas;
as pessoas com deficiência visual). O ideal é que
• colocação de corrimãos próximos à lousa, be-
bedouros, pias e vaso sanitário, bem como nos
dois lados das escadas e rampas de acesso;

• acomodação de carteiras e outros móveis no la-


yout da sala de aula, permitindo a livre passagem
de cadeira de rodas e a locomoção de estudantes
com andador ou muletas;

• adaptações do mobiliário (com altura regulável)


de forma a promover maior conforto aos educan-
dos que usam tipoia, órteses e/ou próteses;

• facilitar o amplo e seguro acesso aos ambientes


através de portas largas e mobiliário com cantos
arredondados;

35
abrigo em dias chuvosos, o que facilita também o
deslocamento de cadeira de rodas e pessoas com
deficiências que não apresentam bom equilíbrio
ou agilidade para correr durante a chuva;

• disponibilizar a cadeira de rodas para grandes


deslocamentos no ambiente escolar, potencia-
lizando o tempo que o educando leva para che-
gar até o refeitório ou à aula no laboratório.
Convém verificar constantemente se os pneus
da cadeira de rodas se encontram cheios, pois
o desuso os faz murchar;

• situar a sala de aula do educando com deficiên-


cia motora em localização próxima aos espaços a
serem frequentados por ele (banheiro, refeitório,
biblioteca), garantindo a condição de “ir e vir”,
em tempo hábil para participar integralmente
das atividades escolares. Na maioria dos casos
em que o estudante consegue realizar o deslo-
camento sem auxílio, é preferível proporcionar
acessibilidade e segurança a ele de forma inde-
pendente, ao invés de terceiros conduzirem a ca-
deira de rodas em trajeto longo;
• providenciar um banco nos banheiros para de um gasto energético maior para se locomo-
apoio e facilitação nas atividades de troca de rou- verem de um espaço a outro, a procura de um • na presença de um educando com nanismo,
pas/amarração dos calçados, para acomodação banheiro destrancado; adequar um mobiliário de dimensões menores
dos pertences pessoais, além de descanso após no refeitório, biblioteca e laboratórios para uso
atividades funcionais em pé; • garantir o acesso (livre de obstáculos) desde o do estudante durante as atividades escolares.
portão de entrada da escola até a sala de aula, ni- Atentar-se para que a mobília também acomode
• destrancar o banheiro adaptado. Tal medida velando pisos, pavimentos, grelhas e soleiras das outros educandos, proporcionando comparti-
facilita a agilidade no uso, visto que os estu- portas, segundo padronização da ABNT. Se pos- lhar o momento da refeição ou fazer um traba-
dantes com dificuldades motoras despendem sível, providenciar uma estrutura coberta para lho em grupos;

36
• verificar o tipo de cadeira mais adequada ao No Brasil, o Comitê de Ajudas Técnicas - CAT, prir uma dificuldade específica, como uma órtese
quadro do estudante com deficiência física nas instituído pela PORTARIA N° 142, DE 16 DE NO- termo moldável para manter o polegar separa-
áreas comuns da escola. Em geral, para o estu- VEMBRO DE 2006, propõe o conceito para tec- do da mão de um estudante com espasticidade
dante com alterações de equilíbrio, a cadeira fixa nologia assistiva (TA): ou uma cadeira de rodas com encosto adaptado
com braços é a mais indicada (desde que ele con- para acomodar uma escoliose severa.
siga ter acesso) propiciando maior segurança. “É uma área do conhecimento, de ca-
racterística interdisciplinar, que engloba A participação efetiva no contexto escolar depen-
produtos, recursos, metodologias, estra- de das condições proporcionadas ao educando
À equipe escolar, cabe refletir: o estudante com tégias, práticas e serviços com o intuito
mobilidade reduzida tem acesso garantido ao pal- com deficiência física. Assim, a tecnologia assisti-
de promover a funcionalidade, relacio-
co do auditório? O estudante com dificuldades nada à atividade e participação de pes- va na escola refere-se a toda adaptação ou modi-
para se equilibrar em pé tem a oportunidade de soas com deficiência, incapacidades ou ficação nos materiais, no ambiente e nas formas
apoio em uma barra ou corrimão dentro do refei- mobilidade reduzida, visando à autono- de realizar as atividades, que compensem as li-
mia, independência, qualidade de vida e mitações funcionais e dificuldades do estudante.
tório enquanto se desloca até a mesa? Há banca- inclusão social”. O uso de tecnologia assistiva na escola fortifica
das de diferentes alturas nos laboratórios, capaz
a promoção da independência, autonomia, equi-
de acomodar um estudante que utiliza cadeira de A definição de recurso, dentro de tecnologia assistiva paração de oportunidades e qualidade de vida do
rodas? A altura das estantes da biblioteca facilita o refere-se a todo equipamento que favoreça o desem- estudante com deficiência física.
manuseio dos livros pelo estudante com diagnós- penho, seja para aumentar, manter ou melhorar as
tico de nanismo? Alguma rampa ou elevador per- capacidades funcionais do indivíduo com deficiência. Os recursos de tecnologia assistiva são organi-
mite o uso do vestiário na quadra poliesportiva?
zados ou classificados de acordo com objetivos
Os recursos de TA podem ser simples, de baixo cus- funcionais a que se destinam, tais como: adap-

Tecnologia
to e disponíveis no ambiente – como um banco de tação de veículos, acessibilidade arquitetônica e
madeira e uma figura ampliada, ou mais sofisticados, sistemas de controle de ambiente, mobilidade,
como um software ou uma prótese com tecnologia adequação postural, adaptação de materiais pe-

Assistiva: Recursos
científica para um atleta amputado realizar corridas. dagógicos, acessibilidade ao computador, adap-
tação para atividade de vida diária, comunicação
Por outro lado, quando os recursos são produ- suplementar ou alternativa, órteses e próteses,

para o Ambiente
zidos em série para atender indivíduos com ne- recursos para esporte e lazer.
cessidades similares e vendidos no varejo, é a
chamada TA comercializada. Por exemplo, os en- No caminho de casa para a escola, o educando

Escolar
grossadores de lápis ou as luvas tamanho P/M ou com deficiência física pode precisar de um meio
G. Existe, ainda, a TA individualizada, em que os de transporte ou cadeira adaptada que garanta
recursos são confeccionados sob medida para su- a segurança durante o trajeto. Nesta categoria

37
“adaptação de veículos”, as vans com espaço re- riais e ferramentas adaptadas. Essa categoria de rão adaptações. Essa categoria de TA é chamada
servado ou ônibus com elevadores também são “adaptação dos materiais” engloba muitos recur- de “adaptações para as atividades de vida diária”,
exemplos de recursos. sos, como os facilitadores para preensão de lápis que incluem objetos de higiene pessoal e alimen-
e objetos escolares, suportes para apoiar textos e tação, visando maior autonomia na realização
O deslocamento pela escola, por vezes, requer alfabetos móveis. das tarefas: copo com duas alças, talheres com
adaptações como rampas, alargamento de por- cabos mais grossos ou “tortos”, aparador para
tas, elevadores e corrimões. A categoria de TA Para complementar o acesso à informação, a pos- prato (impedem que a comida caia fora do prato),
“acessibilidade arquitetônica” baseia-se nos sibilidade de escrita ou o próprio brincar, existem adaptações para vestuário como abotoadores e
parâmetros da ABNT (Associação Brasileira de diversos softwares para teclados, mouses dife- uso de velcro etc.
Normas Técnicas), como a NBR 9050 - 2015 que renciados, equipamentos e programas de leitura
normatiza a acessibilidade às edificações, mobi- que garantem “acessibilidade ao computador” a Algumas doenças causam desordens motoras
liários e equipamentos urbanos. pessoas com privações sensoriais (visuais e audi- que acometem a coordenação da musculatura
tivas), intelectuais e físicas, sendo esta uma outra orofacial, manifestando uma fala inteligível e difi-
Os auxiliares de marcha, como andadores, mu- categoria de tecnologia assistiva. cultando a comunicação e interação do estudan-
letas, cadeiras de rodas manuais ou elétricas e te com o professor e meio escolar.
scooters, pertencem à categoria de TA “mobili- São exemplos de dispositivos de entrada os tecla-
dade”. Qualquer outro veículo, equipamento ou dos modificados, os teclados virtuais com varre- A “comunicação suplementar (ou aumentativa)
estratégia utilizada na melhoria da mobilidade dura, mouses especiais e acionadores diversos, alternativa” é uma categoria da TA que promove
pessoal do estudante para circular na escola software de reconhecimento de voz, dispositivos inclusão às pessoas sem fala, sem escrita funcional
carece de espaços amplos e pisos nivelados no apontadores que valorizam movimento de cabeça, ou em defasagem entre sua necessidade comuni-
ambiente escolar. movimento de olhos, ondas cerebrais (pensamen- cativa e sua habilidade em falar e/ou escrever.
to), órteses e ponteiras para digitação etc.
A categoria “adequação postural” inclui mobília Recursos como as pranchas de comunicação,
escolar adaptada para que o educando se mante- Como dispositivos de saída, existem softwares construídas com simbologia gráfica (BLISS, PCS),
nha na escola em postura física adequada. Alguns leitores de tela, softwares para ajustes de cores letras ou palavras escritas, são utilizados pelos
exemplos são: a mesa em “U” para encaixe da ca- e tamanhos das informações (efeito lupa), soft- estudantes com diversas deficiências para ex-
deira de rodas ou a mesa em plano inclinado, a wares leitores de texto impresso (OCR), impres- pressar suas questões, seus desejos, sentimentos
mobília com regulagem de altura, o apoio para os soras braile e linha braile, impressão em relevo, e entendimentos.
pés, as adaptações para cadeira de rodas e tipos entre outros.
de apoio para sentar-se no chão. A alta tecnologia dos vocalizadores (pranchas
Durante a permanência na escola do estudante com produção de voz) ou o computador com
Em sala de aula, as atividades pedagógicas para com deficiência física, o simples uso do banhei- softwares específicos e pranchas dinâmicas em
os estudantes com deficiência física geralmente ro e refeitório (e suas atividades correlacionadas computadores tipo tablets garantem grande efi-
precisam ser ajustadas, lançando-se de mate- aos cuidados pessoais) provavelmente requisita- ciência à função comunicativa.
38
39
Outras Categorias
Lazer e recreação em seu próprio processo de desenvolvimento e
Essa categoria engloba os recursos que favore- descomplica a aquisição de conhecimentos, isso
cem a prática de esportes e a participação em ati- se denomina inclusão escolar.

de Tecnologia
vidades de lazer, incluindo adaptações em brin-
quedos que auxiliam o brincar. No contexto educacional, a tecnologia assistiva
faz uso de recursos e soluções que:

Assistiva Tecnologia
• possibilitam a manipulação de objetos de estudos;

• rompem as barreiras sensoriais, motoras e cog-


Próteses e órteses nitivas que limitam (e/ou impedem) o acesso às
Prótese: dispositivo perma-
nente ou transitório que subs-
titui total ou parcialmente um
Assistiva: informações, registros e a própria expressão do
conhecimento adquirido;

membro, como no caso das


amputações. É confeccionada
sob medida e a criança neces-
Considerações na • promovem a participação ativa e o acesso inde-
pendente nas atividades pedagógicas;

sita de treinamento para o bom


uso e potencialização da inde-
pendência funcional.
Prática Escolar • criam e ampliam as possibilidades de aprendi-
zado, minimizando restrições.

A tecnologia assistiva (TA) na escola tem como O estudante deve, sempre que possível, partici-
Órtese: dispositivo permanente objetivo buscar alternativas para resolver as di- par na escolha do recurso, para que faça adesão
ou transitório, utilizado para auxi- ficuldades funcionais do estudante para que ele ao uso. A decisão é bilateral, deve auxiliar o estu-
liar as funções de um membro, evitar possa intervir e atuar no contexto escolar, fazen- dante e o professor.
deformidades ou sua progressão, estabi- do com que tenha autonomia e acesso aos con-
Inúmeras são as possibilidades de adaptações em
lizar, imobilizar, aumentar a mobilidade, ali- teúdos acadêmicos.
prol dos educandos com deficiência física. Entre-
viar dores, fornecer orientação fisiológica cor-
tanto, alguns deles podem precisar de recursos
reta ou evitar mal posicionamento e suporte O computador utilizado pelos educandos com
mais elaborados ou específicos. Por exemplo: lei-
de peso incorretos. Esses apoios podem ser deficiência física é uma ferramenta educacional tores de texto, textos ampliados, textos em brai-
trocados mediante crescimento da criança ou aplicada para beneficiá-los e diversificar o acesso le, textos com símbolos, mouses diferenciados,
evolução clínica da parte corporal afetada. às informações. Não se trata de tecnologia assis- teclados virtuais com varreduras e acionadores,
São prescritos pela equipe de saúde, após tiva. Esse recurso, quando empregado, permite softwares de comunicação alternativa, mobiliário
avaliação detalhada. que o estudante seja personagem principal, ativo acessível e recursos de mobilidade pessoal.

40
Para a prescrição, avaliação e reavaliação dos re- tos escolares de espessura fina, com o objetivo • “aranha mola” - é um tubo de silicone com car-
cursos de tecnologia assistiva, o professor pode de ampliar as possibilidades de interação nas bono flexível, ajustável, onde os dedos e a cane-
contar com apoio de diferentes profissionais, diversas atividades. ta (lápis ou pincel) são encaixados. Indicada nos
como fonoaudiólogo, fisioterapeuta, terapeuta casos onde o polegar permanece separado do
ocupacional e psicopedagogo. O professor pode inicialmente testar aumentar indicador (em abdução), nas alterações de sen-
o calibre do lápis, enrolando-o com fita crepe ou sibilidade ou fraqueza da musculatura da região
Alguns cuidados são necessários ao se pensar em EVA para facilitar a preensão. tenar;
adaptações: os quadros motores que cursam com
rigidez excessiva precisam de materiais mais leves, Recomenda-se, posteriormente, adquirir mate- • receptor para caneta/lápis e pincéis - favore-
que não provoquem tensão ou pontos de pressão. rial o adequado, como o uso do lápis triangular ce a preensão tridigital, mantendo o arco palmar,
Já aos estudantes com movimentação involuntá- grosso ou engrossadores de lápis, de acordo com com boa postura de punho e dedos;
ria, descoordenada ou muito ampla, recomen- a musculatura que o estudante faz uso ou que se
dam-se materiais mais pesados, que promovam quer estimular. • ponteiras com acionamento bucal - nos casos
estabilidade e maior equilíbrio. Nas doenças mus- em que as mãos não apresentam condições de
culares, o objetivo geralmente é evitar a fadiga, as- Da mesma forma, pode-se engrossar pincéis, tu- pinça;
sim, materiais mais leves facilitam as ações. bos de cola, giz de cera etc., inclusive com espu-
ma de várias espessuras. • adaptação “passarinho” - indicada nos casos
Seguem alguns exemplos e sugestões de adap- ortopédicos de artrite e problemas ósseos ou
tações aplicáveis em alguns casos de deficiência A avaliação clínica é imprescindível para a prescri- para fraqueza muscular e pouca destreza (casos
física, a depender do estágio e evolução da doen- ção da adaptação mais adequada. Não basta ofe- neurológicos);
ça, bem como da integridade ou condição dos de- recer o facilitador, é necessário ajustar durante o
mais sistemas sensoriais. uso, às vezes até treinar a musculatura. Entretan- • prancha com letras - folha de papel conten-
to, o professor é quem diariamente observa as do todo o alfabeto. O estudante aponta ou olha
Uso do lápis/caneta investidas do estudante e muito pode contribuir para a letra que deseja escrever e o colega ou seu
A pinça adequada para segurar o lápis é aquela na escolha do recurso de TA. acompanhante vai compondo o texto;
cujo apoio se dá na polpa digital do polegar, in-
dicador e dedo médio. Em alguns casos, não há A seguir, serão listados alguns exemplos de faci- • peso no lápis ou uso de pulseira com peso no
coordenação, destreza ou condição de manter litadores e adaptações, com o intuito de ampliar punho - para estudantes com ECNP tipo atetose,
essa habilidade fina durante período prolonga- o conhecimento do professor e aguçar sua criati- coreia ou ataxia para facilitar o controle e a coor-
do de escrita. Os facilitadores de preensão são vidade para criação de outros, concomitante, às denação da escrita, inibindo a movimentação in-
adaptadores para facilitar a pinça dos estudan- orientações do corpo clínico que atende o edu- voluntária. Pode-se acoplar uma pulseira imanta-
tes com dificuldades motoras para segurar obje- cando com deficiência física: da ao uso de uma chapa de metal prendendo a
folha de atividade pedagógica.

41
Mobília
Para posicionar com conforto e boa postura o es- enquanto que, para outras, pode trazer desequilí- O tamanho do caderno deve ser avaliado segun-
tudante, muitas adaptações podem ser feitas no brios. Deve-se dar preferência às cadeiras que per- do a destreza e coordenação fina do estudante,
mobiliário escolar, a depender do quadro clínico, mitem travar as rodinhas (pino com trava). variando inclusive na escolha da largura da pau-
do padrão de tônus apresentado e da doença de ta ampliada (distância entrelinhas). O professor
base. O ideal é construir a adaptação com os te- Diversos modelos de “conjunto de carteira e ca- deve observar qual opção de caderno (espiral ou
rapeutas clínicos que acompanham o estudante e deira escolar adaptadas” são encontrados no brochura) permite o manuseio com alterações
conhecem as dificuldades motoras e o prognósti- mercado, com altura regulável e vários acessó- motoras de forma mais independente.
co do quadro apresentado. Em alguns casos, su- rios, como: “suspensório” para a região do tron-
gere-se material mais rígido; em outros, a seleção co superior, apoio para a cabeça e pés, mesa em O facilitador de preensão palmar, curvado ou
do material é irrelevante frente às necessidades plano inclinado, pés da cadeira e carteira fixos ou não, com duas ponteiras pode ser inserido para
de posicionamento. com rodízios para proporcionar deslocamentos. virar páginas ou acoplar pincéis, talheres, escovas
de cabelo ou de dentes.
O uso do apoio para os pés permite ao estudan- Material escolar e recursos pedagógicos
te manter o posicionamento das articulações do Ao elaborar novos recursos de aprendizagem Suportes para livros que os apoiam na mesa e
quadril, joelhos e tornozelos nos ângulos adequa- para os estudantes com deficiência, o professor facilitam a leitura nos casos de instabilidade do
dos (próximos a 90°), provendo o alinhamento do amplia significativamente o material e os desa- pescoço e dificuldades na coluna.
tronco e a manutenção do equilíbrio corporal. As fios empregados a todo o corpo discente. Na prá-
dimensões do apoio devem permitir que toda a tica, ao invés da adaptação curricular e do uso de Uso de lixa, fita crepe ou imantar na parte inferior
sola do pé fique apoiada e os pés devem perma- TA propiciar ao educando com deficiência física da régua para que não escorregue durante a me-
necer separados na largura do corpo. as tarefas semelhantes aos colegas de classe, tal dição (se o objetivo for apenas para riscar, tal uso
diversidade de estímulos e estratégias ampliadas pode ser abolido).
A utilização de canaletas de madeira ou P.V.C. cor- de ensino irão despertar o potencial de habilida-
tado ao meio em toda a volta da carteira não per- des singulares de cada um. A utilização do apontador de lápis de metal nos
mitirá os lápis caírem no chão. casos de hemiplegia, ausência da função bima-
As adaptações no material escolar devem ser pen- nual (uso concomitante e coordenado das mãos)
A adaptação de extensões adicionais com dobra-
sadas de acordo com as características da deficiên- ou incoordenação muscular pode ser facilitada ao
diças na carteira pode auxiliar o estudante com
cia física, fase de desenvolvimento motor em que se fixá-lo em uma ripa de madeira sem que fique es-
pouco equilíbrio a manter-se sentado, pois pro-
encontra o estudante e a presença ou não de auxi- corregadio, por vezes, até prendendo-o na mesa
porciona maior espaço para apoio dos braços e
liar pedagógico. As apostilas, as atividades estrutu- para que o estudante faça o uso independente –
objetos escolares.
radas e o material pedagógico devem ser adaptados acionando apenas com uma mão. O apontador
Para algumas crianças, a cadeira com assento gira- conforme objetivo, grade curricular da série e grau de plástico com tambor pode ser revestido com
tório auxilia o movimento de levantar e sentar-se, de dificuldade motora e cognitiva do educando. espuma para se tornar menos escorregadio, além
42
de mais grosso, adequando o uso ao educando com
preensão bimanual diminuída.

O ato de apagar para o estudante com deficiência


física traz dificuldades no controle da força a ser apli-
cada, tanto quanto na coordenação do movimento.
O papel deve estar bem fixado para impedir que seja
amassado ou rasgado. As sugestões de adaptações
consistem em variar o tamanho e espessura da bor-
racha, com ou sem protetor plástico, além do forma-
to apresentado (borracha fixada na ponta do lápis,
borracha triangular ou em formato de caneta). Nos
casos de sudorese da palma da mão, pode-se reves-
tir a borracha com material que aumente a sua ade-
rência, para não escorregar da mão (como o EVA).

Outra adaptação é fixar a borracha num prolonga-


dor com formato, espessura e superfície de contato
adequados (plástico, EVA, emborrachado). Se o es-
tudante tiver a preensão com a ponta dos dedos, o
prolongador acoplado a borracha poderá ser curto,
mas, caso a preensão seja palmar, recomenda-se um
comprimento mais longo.

Também vale facilitar a abertura de estojo e mochila


escolar com a ampliação da argola do zíper (aumen-
tar a base da alça) por meio de extensores confeccio-
nados com retalhos de tecidos ou emborrachados.

Existem vários tipos de tesouras adaptadas, para as di-


ferentes necessidades motoras, inclusive para canho-
tos, o que facilita o controle e a agilidade durante o
recorte; além da tesoura que é acionada por meio de
43
um sistema de rolamento (não sendo necessário facilitam quem tem restrições na escrita para Mais uma vez a parceria escola (família – terapeu-
o abrir e fechar) durante as atividades escolares. acompanhar e participar das atividades em clas- tas) será imprescindível na elaboração desse re-
se, perpetuando ainda a integridade corporal. curso. A condução de todo o processo de constru-
O quadro de feltro (ou imantado) para fixar car- ção do material, na maioria das vezes, é orientada
tões com ações ou a rotina do ambiente escolar O profissional de apoio da educação inclusiva em pelo fonoaudiólogo e/ou terapeuta ocupacional.
pode facilitar a comunicação entre o estudante e sala de aula, concomitante à presença e explica-
o professor. ções do professor, pode ser de grande valia na Alguns sistemas de símbolos gráficos para a con-
condução didática, incentivo e facilitação para o fecção das pranchas e cartões de comunicação
Para os estudantes com falta de controle da saliva estudante com deficiência física. utilizados no Brasil e conhecidos internacional-
ou incoordenação no uso da força e alcance do mente são o Sistema Blissymbolics e os Símbolos
objeto, uma das alternativas é plastificar as fo- Comunicação aumentativa (ou suplemen- de Comunicação Pictórica (PCS), encontrado tan-
lhas de atividades e material escolar para garantir tar) e comunicação alternativa to em livro (Combination Book) como em softwa-
maior durabilidade. É considerada uma área da prática clínica e edu- re (Boardmaker e Escrevendo com Símbolos).
cacional que se propõe a compensar (temporária
Outro recurso é prender a folha de atividade peda- ou permanentemente) a ausência ou dificuldade A prancha de comunicação pessoal é persona-
gógica na carteira com fita adesiva para minimizar da pessoa com com comprometimento na comu- lizada, desde a escolha do tamanho, formato e
deslocamentos devido à incoordenação motora. nicação. O objetivo é tornar a comunicação rá- material (cartolina, pasta plástica, madeira, EVA e
pida e eficiente, valorizando e ampliando todas outros) até o vocabulário dos símbolos. Para que
O espaço na carteira escolar deve ser delimitado, as vias de expressão do estudante, por meio da seja atraente e proporcione rapidez na localiza-
criando pistas para posicionamento do caderno e construção de recursos próprios desta metodolo- ção dos símbolos as palavras são organizadas na
demais objetos, de modo que o estudante se con- gia, para o estabelecimento de situações comuni- disposição de categorias (respeitando a ordem
centre nas atividades propostas. cativas, interação na escola e na comunidade em frasal) e codificadas por cores (o contorno ou o
geral (SCHIRMER, 2004). fundo do símbolo).
Em alguns casos, o ato de escrever dispende mui-
ta energia e esforço do estudante, além de contri- Deve-se usar a Comunicação Alternativa quan- Segundo JOHNSON, 1998, as categorias do PCS
buir para o quadro de encurtamentos e contratu- do houver situações reais de comunicação, se- são as seguintes: social (palavras para pedir des-
ras musculares. Pode-se alternar e diversificar a gundo as habilidades (cognitiva, motora, visual) culpas, expressões de gíria para expressar prazer
cópia da lousa com material já impresso. e idade do estudante, inserido num ambiente e desprazer e quaisquer outras palavras e expres-
contextualizado. Ele precisa ter o desejo de se sões que sejam exclusivas do indivíduo), pessoas
Outras sugestões são encaminhar a matéria via comunicar, o interesse e a motivação, além de (incluindo pronomes pessoais), verbos, substanti-
e-mail, usar o tablet ou notebook em sala, gra- reconhecer objetos concretos, miniaturas e fo- vos, descritivo (primariamente adjetivos e advér-
var a aula e usufruir de auxiliar que complemente tografias para utilizar símbolos gráficos em re- bios) e, miscelânea (cor branca) que engloba os
o texto após cópia do estudante. Essas medidas cursos de comunicação.

44
artigos, conjunções, preposições, conceito de tempo, cores, o alfabeto, números
e outras palavras abstratas variadas.

A quantidade, tamanho e posicionamento dos símbolos na prancha devem va-


lorizar as possibilidades de acesso motor do estudante à mensagem. Assim, o
estudante com deficiência motora que não consegue indicar, poderá selecionar
o que deseja expressar com a ajuda de terceiros, que apontariam os símbolos ou
recursos sofisticados que fazem a leitura da movimentação do olhar por meio da
retina.

Alguns recursos de comunicação alternativa e aumentativa de baixa tecnologia


podem ser criados pelo professor, conforme as necessidades de expressão do
educando com deficiência física. Durante a confecção, pensar na portabilidade
do recurso escolhido durante os deslocamentos do estudante pelos diversos es-
paços escolares.

Seguem algumas dicas:


• pasta de comunicação, com folhas (ou plásticos) dividindo as áreas de interesse;

• avental para o professor usar, no qual o estudante possa apontar os símbolos;

• tapete sensorial, quadro imantado, adesivos na lousa;

• chaveiro com cartões de comunicação para levar na educação física, refeitório


e biblioteca;

• o alfabeto Evolution é um jogo composto por vogais e consoantes em braile,


libras, caixa alto e cursiva.

Uma ponteira pode ser acoplada ao sistema antigravitacional de sustentação da


cabeça, facilitando a comunicação do estudante através do apontamento de le-
tras, imagens e frases – seja no computador ou na prancha de comunicação. É o
chamado “capacete tamanduá”.

45
O uso de tecnologia também garante a comu- educando socialmente mais participativo e me- Quando o estudante com deficiência física possui
nicação mais eficiente (aumentativa ou alter- lhorando a qualidade de vida. controle de movimento na mão, porém não o su-
nativa), como a que é feita por meio de vocali- ficiente para manusear o mouse convencional em
zadores (pranchas com produção de voz) ou de Se a habilidade do estudante em ler é um pouco todas as suas funções (clique, duplo clique, clique
softwares específicos. A escolha do recurso e o maior do que em escrever, o uso de um softwa- e preensão, arrastar e liberação do clique), algumas
treinamento serão mais assertivos na presença e re com predição de palavras pode ser explorado, opções para assegurar o uso ao computador são:
apoio de um fonoaudiólogo. onde é permitido ao usuário selecionar a palavra
desejada em uma dada lista. O estudante pode- • o joystick, que utiliza uma haste para controlar

O Uso do rá, então, selecionar o número correspondente à


palavra desejada sem precisar escrever a palavra
toda. No Microsoft Word podem ser também se-
os movimentos do cursor e os cliques do mou-
se. Essa haste pode ser encontrada em forma de
“T” ou “O”, variações disponíveis para facilitar a

Computador como lecionadas “ferramentas” como “autocorreção” e


“autotexto”, para adicionar expressões utilizadas
com frequência pelo estudante.
preensão e o manuseio;

Ferramenta de Apoio O Programa de Expansão e Abreviatura permite


com que o educando programe abreviaturas para

à Comunicação e representar uma frase, parágrafos, endereços etc.

A opção chamada “escrita por comando de voz” é

ao Aprendizado dada quando o estudante se exercita em elaborar


seu pensamento para a produção textual enquan-
to se expressa na escrita por meio do texto ditado
O estudante com deficiência física, por vezes, ao computador.
encontra-se tolhido em demonstrar e desenvol-
ver seu potencial cognitivo, social e criativo. Boa
parte dos avanços tecnológicos permite contor-
nar essa limitação de forma a auxiliar no proces-
Lembrar que o bom posicionamento e alinhamento postural diminuem o
so de educação e inclusão social de pessoas com
cansaço e aumentam a destreza manual. Assim, lançar uso de adaptações ou
deficiência, como no caso da comunicação por
suportes para apoio dos braços, punhos e/ou mãos traz melhor acessibilida-
intermédio do computador. A predição de pa-
de ao uso do computador.
lavras e simuladores de teclado para produção
textual estão entre essas soluções, tornando o
46
• o trackball, onde uma esfera estacionária gira meias podem ser construídas de acrílico ou em • usufruir do software Escrevendo com Símbo-
em torno de sua própria linha central para mover um material resistente como papel-cartão ou pla- los, o qual traz também o reforço visual da sim-
o cursor. Tal dispositivo varia em tamanho da es- ca de metal; bologia gráfica que acompanha a escrita durante
fera e funções oferecidas. a digitação;
• explorar teclados menores do que o teclado
Existem acionadores de diferentes formas, resis- convencional, que pode ser benéfico a depender • usar uma fonte maior;
tências e pressão que controlam as funções do da dificuldade motora;
mouse. A escolha é feita de acordo com as habi- • utilizar software com síntese de voz (leitor de
lidades do estudante. O controle do mouse pode • modificar a sensibilidade do teclado na opção texto) para explorar conteúdos de textos escritos
ser feito com os movimentos dos olhos (inclusi- “teclas de filtragem”, além de selecionar a opção na internet ou em outros programas (Dosvox).
ve o piscar), da cabeça, da boca (também com “ignorar pressionamentos de tecla repetidos”,
a pressão de ar), dos pés, além do programa de que fazem parte das “opções de acessibilidade” Para o estudante com dificuldade em manter a
reconhecimento de voz para acionar os coman- do sistema operacional Windows, localizadas no atenção, as opções são:
dos (gratuito no www.intervox.nce.ufrj/motrix/ painel de controle;
• simplificar o equipamento de entrada (input),
download.htm).
• ajustar ao selecionar “teclas de aderência” em como um teclado expandido, tela de toque, joys-
opções de acessibilidade caso ele ative simulta- tick, a fim de facilitar o acesso motor ao compu-
O sistema de varredura é a opção em que o estu-
neamente a mesma tecla duas vezes. tador;
dante utiliza um ou mais acionadores para sele-
cionar uma tecla. Trata-se de um método lento.
Programas de teclado virtual fornecem a imagem • cobrir o teclado convencional, deixando expos-
As áreas vão passando na tela e ele aciona a que
do teclado na tela do computador, com letras, nú- tas apenas as teclas a serem usadas, com o apren-
tem interesse ou, então, a varredura é programa-
meros, pontuação e símbolos, sendo a seleção da dizado da localização das teclas, expor as demais
da para acontecer enquanto o estudante mantém tecla pelo mouse, toque na tela com ponteiras, gradualmente;
pressionado o acionador. Ao soltá-lo a seleção da trackball e pelo ajuste na velocidade de varredura.
área é acionada. • usar software que motive e desperte a atenção
Com o estudante que pode usar ou não um te- do estudante, com variedade de cores, voz, sons,
Supondo que o estudante use um teclado con- clado e mouse convencional, porém apresenta com letras em tamanho maior ou figuras grandes.
vencional, mas, devido a sua deficiência moto- dificuldades para ler o texto, as orientações são: Deve ser apropriado à idade;
ra, ele ativa outras letras indesejadas, as op-
ções seriam: • usar software com síntese de voz, que lê a le- • iniciar com pouca informação na tela, aumen-
tra, a palavra e/ou frase logo após sua digitação, tando a quantidade de estímulos gradualmente.
• confeccionar uma espécie de colmeia para se- como o IntelliTalk 3 ou o Escrevendo com Símbo- Lidar com muitas informações na tela ou no te-
parar as teclas e ajudá-lo a alcançar a tecla de- los (www.clik.com.br); clado, por exemplo, repercute na dificuldade de
sejada sem ativar outras no movimento. As col- discriminar figura e fundo. 47
48
Atividades de Outras Orientações
Caso a pia do banheiro não tenha diferentes al-
turas, oferecer uma escada de dois degraus para
o alcance do estudante à bancada, facilitando a

Vida Diária (AVD) para Garantir


independência e segurança na higienização bucal
e das mãos.

Maior Adaptação e
Nos casos de ECNP, alguns estudantes com maior O jogo americano pode conter as principais ações
comprometimento talvez necessitem de supervi- apropriadas para o momento e facilitar a comu-
são verbal nas tarefas de autocuidados, estimu- nicação e a interação do educando durante as

Independência
lando a execução por etapas, com ordens sim- refeições. O material pode ser emborrachado, o
ples, dadas à medida que são executadas. Isso que adere melhor os utensílios e impede que des-
possibilita ao sistema nervoso central programar, lizem durante o manuseio.
sistematizar e controlar a execução motora. Nas atividades extraclasses, é cabível verificar
Propiciar recurso para alimentação independente
anteriormente a acessibilidade ao local para ga-
O educando que apresenta alteração motora pode do estudante, facilitando a pinça e o controle no
rantir a efetiva participação do estudante com di-
ser orientado, no uso do vaso sanitário, a colocar as trajeto do alimento até a boca, por meio da facili-
ficuldades motoras ou usuários de auxiliares de
mãos nas barras de apoio ou na ausência dessas, tação da preensão. Existem talheres com balanço,
marcha (sem barreiras arquitetônicas impeditivas
apoiar-se na parede ou porta do banheiro. Essa me- talheres com peso, talheres com engrossador e ta-
para andador, muleta, bengala, cadeira de rodas).
dida previne a queda abrupta ao sentar-se no vaso lheres curvados para a direita ou esquerda.
Tratar o estudante com deficiência física com
sanitário, visto que muitos alunos com deficiência naturalidade e, perceber que, não é preciso fa-
física apresentam fraqueza muscular nas pernas ou Engrossar e alongar o cabo da escova de pentear
lar devagar, nem aumentar a voz para que ele
instabilidade na coordenação dos músculos nessa com EVA ou emborrachado para facilitar o alcan-
compreenda o que está sendo dito. Contudo,
atividade, como também garante maior segurança ce à parte posterior da cabeça e gerar maior inde-
respeitar o tempo de fala ou outra forma de co-
enquanto permanece em pé frente ao vaso, dimi- pendência na ação.
municação dele, permitindo que se expresse sem
nuindo possíveis desequilíbrios. a interrupção do ouvinte (”querendo adivinhar o
Alongar e engrossar os pincéis de maquiagem
que o ele quer dizer”).
No caso do estudante com nanismo, existem es- com EVA ou cabos móveis.
cadas de acesso ao vaso sanitário padrão, que são
Estimular a simetria (eixo do tronco) requisitando
acopladas com segurança, além de serem remo- Para os estudantes usuários de cadeira de rodas
ao estudante que deixe as duas mãos apoiadas
víveis. Atentar-se para a distância da papeleira da com independência durante a locomoção, reco-
na bancada ou mesa, enquanto executa as ati-
parede, pois, em sendo os membros superiores mendar o uso de luvas para proteger as mãos do
vidades motoras finas, como escrever, recortar,
curtos, tal estudante poderá não alcançar o papel aparecimento de calos e úlceras de pressão.
selecionar e manusear objetos, alimentar-se, en-
higiênico ou a lixeira.

49
tre outros. Tal medida auxilia na visualização das Alguns estudantes aparentam resistência em dante não participar das atividades bimanuais. É
mãos, o que integra o esquema corporal e facilita aceitar a condição preventiva do uso da cadeira necessário, então, manter esse mambro em posi-
o treino da função bimanual (integração e habili- de rodas para os grandes deslocamentos no am- cionamento ergonômico sobre a mesa, seja por
dade coordenada bilateral das mãos). biente escolar. Convêm enaltecer todos os bene- meio de um suporte almofadado ou utilizando
fícios de poupar o organismo em dados momen- uma órtese (indicada pelo terapeuta), enquanto
Solicitar a postura simétrica dos membros inferio- tos, enfatizando a importância do conceito de a outra mão interage com o ambiente, desenvol-
res (com pernas separadas na largura do corpo, conservação de energia. Ou seja, ao invés de ser vendo a escrita e selecionando objetos.
pés apontados para frente, peso corporal distribuí- despendido, o gasto energético corporal nos vá-
do nos dois pés e tronco alinhado) sempre que o rios deslocamentos com andador, durante o pe- Orientar os pais sobre os deveres de casa, sa-
educando estiver em pé, parado, como, por exem- ríodo de aulas, tal energia poderá ser direcionada lientando que faz parte do aprendizado do fi-
plo, no banheiro frente à bancada, em pé na fila, à atividade intelectual. lho; portanto, eles devem auxiliar, mas não fa-
ao escrever na lousa ou enquanto aguarda expli- zer a atividade por ele. Sempre que necessário
cações para atividades a serem desenvolvidas na Supervisionar o estudante com dificuldades mo- fazer as adaptações nas atividades e recursos,
posição bípede. toras durante a ação de subir e descer escadas: a instruindo-os.
orientação é segurar sempre no corrimão e não o
Para os estudantes com ECNP espástica ou qua- distrair com ordens simples enquanto realiza tal
dros motores que cursem com mãos cerradas e deslocamento.
dedos fletidos, existe o manuseio da abertura
das mãos do estudo através da técnica de “pon-
tos chaves”. Cada caso tem sua particularidade e
Em alguns casos de ECNP tipo atetose, ataxia ou
com movimentos involuntários, pode ser con-
Educação Física
modo de abrir a mão.

O ideal é perguntar para os terapeutas que acom-


feccionado um suporte para posicionamento de
uma das mãos enquanto a outra escreve. Uma su-
gestão para criar a adaptação é utilizar o cone de
Adaptada
panham o educando e aprender como garantir a A escola é uma instituição provedora de cultura,
linha de papelão ou de plástico e revesti-lo com
integridade das articulações ao acomodar o lápis imersa numa sociedade que, aos poucos, vem to-
EVA, preenchendo o interior com cimento ou
ou posicionar algum objeto nas mãos. mando consciência das diferenças e priorizando a
areia e fixando numa base pesada ou na própria
carteira escolar. O estudante deve segurar o cone equidade de condições.
Proporcionar estrutura física para apoio do estu-
dante com deficiência física durante a realização na posição vertical ou, até mesmo, na horizontal
A Educação Física como disciplina curricular não
das atividades de autocuidados, seja com ajuda (cuidado com a posição do polegar), mantendo o
pode ficar indiferente ao processo de educação
de terceiros, apoio em mobília ou barras de apoio arco normal da palma da mão (abóboda da mão).
inclusiva. A forma como é ministrada pode se
(se necessário, disponibilizar colchonetes), que Da mesma forma que, em casos de hemiplegia,
constituir em uma barreira ou um facilitador para
assegurem a motivação para a independência, pode ocorrer de um membro superior do estu-
que a escola seja mais inclusiva.
além da segurança na execução das ações.
50
Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensi- nifestação corporal, com base na identidade e na ma sistêmica, considerando efeitos colaterais das
no fundamental, no que se refere à contribuição diferença dos estudantes e da comunidade esco- medicações, condições cardiorrespiratórias e si-
das diferentes áreas de conhecimento, apontam lar. São exemplos disso: ressignificar jogos, com- tuações de fadiga muscular, entre outros. O mais
em relação à Educação Física: por novas regras nas brincadeiras, atribuir objeti- sensato é solicitar laudo médico para liberação da
vos individualizados, estimular práticas corporais prática esportiva, descrevendo as atividades per-
É a área do conhecimento que introduz concomitante aos componentes curriculares de mitidas em cada caso.
e integra os alunos na cultura corporal
outras disciplinas.
do movimento, com finalidades de lazer,
de expressão de sentimentos, afetos e Sempre que possível, pergun-
emoções, de manutenção e melhoria da tar à família e ao profissional
saúde. Para tanto, deve romper com o tra- de saúde se há restrições nas
tamento tradicional dos conteúdos que atividades de brincar, além
favorece os alunos que já têm aptidões, de ensinar as brincadeiras
adotando como eixo estrutural da ação
para que os pais brinquem
pedagógica o princípio da inclusão, apon- Participação
tando para uma perspectiva metodológi- em casa com os filhos.
de todos,
ca de ensino e aprendizagem que busca o
desenvolvimento da autonomia, da coo- independente das Estimular a destreza e
peração, da participação social e da afir- características a função bimanual por
mação de valores e princípios democráti- individuais meio de atividades como
cos. Nesse sentido, deve buscar garantir a
empurrar/puxar com as
todos a possibilidade de usufruir de jogos,
esportes, danças, lutas e ginástica em be- duas mãos juntas, segurar/
nefício do exercício crítico da cidadania. arremessar uma bola com as
duas mãos ou manusear ins-
Sendo assim, a educação física não deve se pau- trumentos musicais com as
tar só no aspecto biológico do ser humano, mas mãos simultaneamente.
valorizar os diferentes interesses, respeitando Algumas dicas e precauções
opiniões e ideias divergentes, sob o ponto de vis- Considerar todas as possibilidades motoras do Após o aprimoramento da coordenação bimanual
ta do universo da cultura corporal. Cada educan- educando com ECNP antes de propor uma ativi- é que muitos estudantes com dificuldades moto-
do, independentemente de ter ou não deficiência dade, levando-se em conta o controle inibitório ras desenvolverão as habilidades finas, como a es-
física, será estimulado a refletir por meio de uma dos reflexos primitivos neurológicos e dos fatores crita, recorte ou mesmo colar figuras na linha.
didática comprometida com todos. desencadeantes para crises convulsivas.
Para a maioria dos estudantes com alterações mo-
Deve-se evitar um olhar e uma prática homoge- A prática de atividades aeróbicas pelos estudan- toras que ficam em pé, o ideal é sempre aumentar
neizante e possibilitar variar as vivências de ma- tes com deficiência física deve ser avaliada de for- a base de sustentação do corpo, ou seja, separar
51
as pernas e, se possível, com os pés voltados para Alguns exemplos de recursos e atividades Sugere-se atividades como estabilizar o papel
frente durante quaisquer atividades em bípede. Câmara de pneu de caminhão forrada com obje- com uma das mãos enquanto escreve/pinta com
tos presos com elástico para facilitar o alcance e a outra, transpor objetos de um recipiente para
Promover ambiente seguro durante as atividades exploração do estudante com dificuldades moto- outro, enroscar tampas de garrafa, segurar uma
que causem desequilíbrios posturais, seja com ras. Ele fica posicionado dentro da câmara para bandeja com as mãos enquanto caminha em zi-
mobília/parede próxima para o apoio do educan- explorar os objetos e interagir de acordo com a gue-zague, andar sobre uma linha no chão e pular
do, evitando a queda, ou com colchonetes estra- proposta de atividade. com os dois pés juntos. Tudo isso para desenvol-
tegicamente acomodados. ver a habilidade de usar os dois lados do corpo
Propiciar aos educandos o aumento da capacida- (integração bilateral) de forma mais harmoniosa,
Criar adaptações para que o estudante com de- de respiratória e treino da musculatura acessória, no desempenho das tarefas.
ficiência física manuseie os objetos ou que esses através de exercícios de expansibilidade torácica,
permaneçam próximos do alcance dele, como ex- o que previne o cansaço durante a fala ou ativida- Cautela ao dar mais de um comando ao estudan-
tensor para conduzir a bola e suporte para água de motora. te que anda com dificuldade no momento em
acoplado na cadeira de rodas. que estiver na transição ou alternância de pisos,
A estimulação tátil de temperatura e cinestési- por exemplo: de rampa para escada ou em algum
Independente da presença ou não de deficiência, ca pode ser realizada com diferentes alimentos, lugar que tenha acesso estreito ou com rupturas,
é muito importante a variação e qualidade da es- como grãos, macarrão, gelatina e também por de um tipo de piso para o outro. O processamento
timulação na fase de desenvolvimento psicomo- meio de bastões com ponteiras revestidas com e controle neurológico do estudante demandam
tor. A estimulação sensorial é um dos objetivos algodão, lixa, lã, espuma, tapete. As letras fixadas um tempo maior para perceber essas mudanças
das práticas corporais na escola. Quanto mais o na madeira, feitas com velcro auxiliam no desen- quando duas ordens lhe são dadas, potenciali-
ambiente promover vivências que estimulem to- volvimento do grafismo e percepções visomoto- zando as chances de desequilíbrio, desatenção e
dos os sentidos (visual, auditivo, tátil, gustativo e ras. queda.
olfativo) mais ricas serão as experiências e mais
completo o aprendizado dos alunos. Na educação física, assegurar o quanto for possí- Existem vários cursos de especialização para que
vel, atividades que estimulem a parte sensorial e os profissionais se capacitem e se encontrem
motora: rolar na grama ou colchonete, passar di- preparados para atuar com a educação motora
ferentes texturas na pele, exercícios de lateralida- adaptada. Caso não haja professor especializado,
de, entre outros. Criar brinquedos que explorem é necessário que tenha uma orientação médica
figuras, cores, cheiros, texturas e sons, como as e/ou supervisão especializada (Ex.: fisioterapeu-
bolas com guizos e objetos sonoros. tas, terapeutas ocupacionais etc.).

52
Estratégias
darem quem tem mobilidade reduzida e outras • o estudante com grandes limitações físicas deve
dificuldades. ocupar um lugar, relativamente, próximo ao pro-
fessor para que possa ter maior assistência;

Desenvolvidas pelo
Pontos importantes
• acreditar no potencial a ser desenvolvido, pois • o professor deve estar ciente que é direito do
baixas expectativas de desempenho do estudante estudante com deficiência receber o conteúdo pe-

Professor para Facilitar


com deficiência física acomodam o professor em dagógico adaptado, inclusive as provas devem ser
buscar novos métodos e estratégias para alcançar aplicadas de acordo com a necessidade do educan-
o objetivo proposto; do e, se preciso, ampliar o tempo para realizá-la.

a Aprendizagem • interferir quando alguém estiver excluído da


brincadeira;
Ao propor um recurso ou tecnologia que auxilie
o estudante com deficiência em sala de aula, o

do Estudante com • o professor e a equipe escolar devem tomar


o cuidado para não superproteger o estudante,
educador deve ponderar que as dificuldades não
serão sanadas imediatamente.

Deficiência Física oferecendo ajuda na medida necessária para esti-


mular também sua autonomia;
Tal auxílio só fará sentido diante da percepção do
professor sobre a dificuldade e a possiblidade do
estudante, após ajustes e treinamento apropriado.
Quando o professor recebe um estudante com de- • cabe ao professor manter-se atualizado sobre o qua-
ficiência física, ele é estimulado a rever sua prática dro de deficiência do educando, por meio de pesqui- Para finalizar, muitas vezes, recorrer à equipe de
e a buscar outras formas de ensinar. Ao propor re- sas, relatórios médicos e interação com terapeutas; reabilitação que acompanha o educando leva a
cursos didáticos adaptados para facilitar o apren- uma nova perspectiva, possibilitando outras es-
dizado desses estudantes, o docente beneficia a • a incontinência é um dos obstáculos mais de- tratégias que favoreçam o desempenho do estu-
todos da classe, pois recorre a materiais concretos, sagradáveis para o estudante em sala de aula. O dante.
que facilitam a compreensão dos conceitos. professor atento e ciente do problema deve expli-
car aos outros educandos a situação, ponderando Não existem receitas prontas a serem transmiti-
A cooperação em sala de aula também pode ser o tempo das atividades propostas e vigilante ao das. Muitas vivências e conceitos foram introduzi-
um fator importante para a inclusão das pessoas horário de evacuação da criança, evitando, assim, dos, entretanto, nem todos trarão aplicabilidade
com deficiência, pois permite interação e troca situações embaraçosas; visto que o quadro clínico e as sequelas físicas
entre os estudantes. Algumas estratégias podem variam abundantemente de estudante para estu-
propiciar um ambiente de cooperação, como • alguns quadros motores cursam com hipersen- dante.
aquela em que o educando com mais habilidade sibilidade tátil ou visual: respeitar o ritmo de exe-
numa determinada matéria auxilia aqueles com cução das atividades, apresentando os estímulos A premissa é avaliar caso a caso, ter muita criativida-
menos habilidades ou estimular as crianças a aju- aos poucos e controlando o ambiente com rela- de em sala de aula e contínua troca de experiências.
ção a hiperestimulação;
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