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Orientações práticas

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

MENDES, Eniceia Gonçalves.

Orientações práticas para professores de estudantes com deficiência intelectual /


Eniceia Gonçalves Mendes, Soraia Romano. -- São Paulo: SESI-SP Editora, 2021.
67 p.

ISBN 976655938046-6

1. Educação inclusiva. 2. Inclusão Escolar. 3. Acessibilidade. 4. Deficiência


intelectual I. Título.
CDD: 371.9

Índice para Catálogo Sistemático

1. Educação inclusiva: Adaptação curricular: Deficiência intelectual;


2. Adaptação curricular: Educação inclusiva: Deficiência intelectual;
3. Acessibilidade: Educação inclusiva: Adaptação curricular;
4. Deficiência intelectual: Educação inclusiva: Adaptação curricular

Bibliotecária responsável: Evelyn Ruani de Souza CRB-8 8562


Informações Técnicas

Presidente
Josué Gomes da Silva

Superintendente
Alexandre Ribeiro Meyer Pflug

Gerência Executiva de Educação Leitura crítica


Roberto Xavier Augusto Filho Ivy Daniele Gavazzi Sandim

Gerência de Educação Básica Revisão


Ivy Daniele Gavazzi Sandim Barbara Canha

Elaboração e Coordenação do projeto Editoração Eletrônica


Soraia Romano Bruno Santos Viana

Autores
Eniceia Gonçalves Mendes
Soraia Romano

Todos os direitos reservados ao SESI-SP


Av. Paulista, 1.313 – São Paulo – SP | CEP: 01311-923 Tel: (11) 3146-7000 | www.sesisp.org.br
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Caro Educador,

APRESENTAÇÃO
A escolarização e aprendizagem de todos os estudantes propõe ao docente a atuação
em um campo com diferentes contextos educacionais, nos quais ressignifica o papel
do professor, da escola, da educação e das práticas pedagógicas a todo momento.

Ao incorporar na escola atitudes de respeito à individualidade e valorização da diver-


sidade, o professor se configura em um disseminador de práticas que garantem o res-
peito mútuo entre os seus alunos.

O ambiente deve assegurar o direito de todos se sentirem pertencentes ao meio. Des-


sa forma, cada educando experimenta o reconhecimento e a valorização de sua identi-
dade, o que garante sua motivação para participar e aprender em grupo.

É importante considerar que as ações são graduais e requerem uma mudança de cultu-
ra. O êxito de ações equânimes depende da junção de saberes que envolvem a prática
pedagógica, a participação ativa da família e o suporte dos profissionais especializa-
dos, para possibilitar ao estudante seu desenvolvimento pleno.

Com base nesses fundamentos, o SESI-SP, por meio da Gerência Executiva de Edu-
cação, produz o material “Orientações práticas para professores de estudantes com
Deficiência Intelectual”, com o objetivo de desmistificar os conceitos atribuídos à de-
ficiência, mitos, rótulos e características dos estudantes, com a finalidade de remover
barreiras de participação e direcionar possibilidades para o professor.

Acreditamos que este material irá colaborar para o desenvolvimento de um ambiente


escolar que proporcione acessibilidade e equidade necessárias para a inclusão do es-
tudante com deficiência intelectual.

Boa Leitura!

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SUMÁrio Introdução ........................................................................................................................................ 13
Inclusão: concepções, história e práticas pedagógicas ..................................................................... 14
Os desafios da inclusão escolar ........................................................................................................ 20
O que é a deficiência intelectual? ..................................................................................................... 20
Quem é o aluno com deficiência intelectual? ................................................................................... 24
A identificação dos alunos com deficiência intelectual no Brasil ...................................................... 26
Suspeito que tenho um aluno com deficiência intelectual. O que faço? ...................................... 28
Quero encaminhar para avaliação meu aluno suspeito. Como faço? .......................................... 29
Recebi um aluno com deficiência intelectual. E agora? ............................................................... 31
Estratégias para o ensino do estudante com deficiência intelectual ................................................ 31
Desenho universal para a aprendizagem .................................................................................... 34
Trabalho colaborativo na escola ................................................................................................. 36
Aprendizagem cooperativa ........................................................................................................ 37
Ensino diferenciado ................................................................................................................... 39
Considerações curriculares sobre alunos com deficiência intelectual .............................................. 44
O aluno com deficiência intelectual na educação infantil ........................................................... 45
O aluno com deficiência intelectual no ensino fundamental e ensino médio .............................. 46
Modificações curriculares para estudantes com deficiência intelectual que apresentam
impedimentos mais significativos .............................................................................................. 47

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Avaliação, certificação de terminalidade de escolarização e planos de transição ..................... 52
Avaliação do estudante com deficiência intelectual ........................................................... 53
Certificação de terminalidade específica ........................................................................... 54
Plano de transição e a vida pós-escola ............................................................................... 55
Considerações finais ................................................................................................................. 58
Bibliografia ............................................................................................................................... 60

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Como instituição social, a escola está inserida em uma realidade histórica da qual

INTRODUÇÃO
recebe e na qual exerce influência, porém não é apenas uma organização por onde
transitam os valores, a ciência, as ideologias, a política, os costumes e a cultura de
uma sociedade. Por um lado, ela desempenha o papel de acolher a realidade social
e, por outro, tem o poder de atuar sobre essa mesma realidade, formando cidadãos
plenos. Dessa maneira, a escola deve promover a consciência de direitos e deveres no
exercício da democracia. A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência
reconhece o direito à educação, que para ser efetivada sem discriminação e com base
na igualdade de oportunidades assegurará um sistema educacional inclusivo em todos
os níveis, bem como o aprendizado ao longo de toda a vida.

E quando se fala em inclusão, pressupõe-se que não basta apenas inserir as pessoas
com deficiência em ambientes nos quais participa a maioria, pois também é necessário
que esses meios promovam a sua participação, o que exige preparação para que isso
se efetive.

Este material se propõe a auxiliar o professor e a escola para incluir todos os estudan-
tes, ressaltando a criança ou jovem com deficiência intelectual.

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INCLUSÃO:
a criança e o jovem conquistarem o sucesso esco- los mesmos ápices de negação, segregação, in-
lar. Ao incorporar na escola atitudes de respeito tegração e inclusão ocorridos no mundo todo.
à individualidade e valorização da diversidade, o Mesmo antes do descobrimento das terras bra-

CONCEPÇÕES,
professor exerce influência direta e configura-se sileiras, as sociedades indígenas mantinham a
como modelo para os educandos. ideia de excluir pessoas com deficiência ou até
mesmo eliminá-las, e esse descaso foi mantido

HISTÓRIA E PRÁTICAS
Tema amplamente debatido, a inclusão escolar pelo povo europeu que chegava com a intenção
apresenta um percurso que perpassa por dife- da colonização.
rentes ações, fases e concepções, e conhecer

PEDAGÓGICAS
o histórico, as leis e as transformações origina- As primeiras indicações de ações voltadas às pes-
das da ideia da educação inclusiva é investir na soas com deficiência datam da época do Impé-
qualidade da proposta educacional e contribuir rio, quando foram criadas fundações para cegos
para a formação de cidadãos comprometidos e surdos e tratamentos psiquiátricos na metade
Na perspectiva inclusiva, a educação relaciona-se com a sociedade. do século XIX (MOREIRA, 2014). Essas instituições
a uma das principais questões ligadas ao plano para cegos e surdos se fundamentaram na con-
de direitos humanos e promoveu uma reestrutu- Nessa perspectiva, aceitar as diferenças e criar cepção biológica, que priorizava o atendimento
ração acelerada nestas nas últimas décadas para ambientes propícios ao desenvolvimento das po- médico em detrimento do educacional e o dis-
reafirmar o que já era de direito, tal como foi tencialidades individuais são as principais premis- tanciamento do convívio em sociedade.
inscrito na Declaração Universal dos Direitos Hu- sas da escola inclusiva, que incorporam o enten-
manos (ONU, 1948), na Declaração de Salaman- dimento sobre equidade e diversidade humana. A fase foi caracterizada por um cunho assistencial
ca sobre Princípios, Política e Práticas na Área Incluir significa inserir, compreender, tornar-se e grande apelo filantrópico, mantendo os indivídu-
das Necessidades Educativas Especiais (UNES- parte de ou colocar dentro de, de acordo com a os com deficiência ou transtornos separados dos
CO, 1994), na Convenção sobre os Direitos das etimologia. Entretanto, para congregar o para- demais. As atribuições eram descentralizadas e o
Pessoas com Deficiência (BRASIL, 2008) e na Lei digma que essa ação revela, deve-se considerar o apoio do governo era restrito, com ações de auxí-
Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência percurso da educação especial, que apresenta um lio financeiro para entidades assistencialistas.
(BRASIL, 2015). histórico de princípios relacionados ao desconhe-
cido, ao preconceito e à discriminação. Com esse Com o tempo, as associações especializadas mo-
Na esfera atual, o educador vive o privilégio de entendimento, é possível identificar o porquê de dificaram seu direcionamento e iniciaram um
realizar ações assertivas que podem marcar de tantas dificuldades e tantos tabus envolvendo as novo trajeto, com o objetivo de criar possibilida-
forma positiva a vida de cada estudante. O am- crianças e os jovens com deficiência, transtornos des para pessoas com deficiência. E, de tal modo,
biente escolar, as dinâmicas e as estratégias es- ou altas habilidades na escola regular. serviços de reabilitação médica e cuidados vol-
colhidas são aspectos essenciais para o aprendi- tados à educação foram desenvolvidos, alguns
zado e predispõem a motivação necessária para A história da deficiência no Brasil perpassa pe- mais, outros menos.
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De acordo com Mendes (2006), esse padrão foi desafiadores, vivendo em contextos mais realis- ele progredisse nos estudos, para contextos
mantido por muitos anos, até por volta de 1960, tas para promover aprendizagens significativas e menos segregantes. Entretanto, os 20 anos de
quando a prática de segregação se tornou into- proporcionar uma formação de uma sociedade. práticas integracionistas evidenciaram que isso
lerável, ocasionando a retirada das pessoas com raramente acontecia, e os indivíduos com defici-
deficiência de grandes instituições para reiniciá- A busca em tornar as pessoas com deficiência ência continuavam sendo escolarizados em con-
-las na sociedade. normais e a inserção escolar sem nenhum planeja- textos segregados de classes e escolas especiais
mento ou adequação emergiu do ativismo de pes- (MENDES, 2010a).
Até meados do século XX, não foram observadas quisadores, políticos e familiares de pessoas com
grandes evoluções no campo pedagógico da de- deficiência, que observavam as condições desu- No Brasil, na década de 1950, quando a escola
ficiência intelectual, e um modelo ainda médico manas que muitas instituições residenciais ofere- se popularizava no país, familiares de indivíduos
ou clínico, embasado numa concepção biológica ciam a indivíduos com deficiência intelectual. com deficiência intelectual preocupados com a
e com foco básico na classificação das condições exclusão de seus filhos das escolas comuns come-
dos indivíduos, podia ser observado na prática. O A partir daí, emerge a ênfase na chamada “inte- çaram a criar instituições privadas, de natureza
tratamento era mais assistencial do que propria- gração escolar”, baseada na ideia de que estu- filantrópica para acolhê-los. Com isso, cresceu a
mente educacional (MENDES, 1995). dantes com deficiência deveriam estudar em am- mentalidade de que a educação desses indivíduos
bientes educacionais com o mínimo de restrição não era uma questão de direito, mas sim de filan-
A segregação educacional, anteriormente vis- possível e que se aproximassem ao máximo dos tropia, uma benemerência ou caridade que a so-
ta como um benefício para a aprendizagem das ambientes naturais ou normais, que seriam as es- ciedade prestava para essa parcela da população.
pessoas com deficiência, passou a ser vista como colas comuns. Nessa perspectiva, seria prioritária
mecanismo de marginalização e discriminação a escolarização em ambientes comuns, ou classes Na década de 1970 no Brasil, as primeiras polí-
social de grupos em desvantagem sociocultural. comuns de escolas regulares, e caso isso não fos- ticas públicas educacionais relacionadas à esco-
Para além da deficiência, a sociedade impunha se possível, se lançaria mão de atendimentos as- larização da pessoa com deficiência foram anun-
a essas pessoas condições de desvantagens que sociados em salas de recursos ou substitutivos em ciadas na perspectiva da filosofia de integração
influenciavam mais adversamente o seu funcio- classes ou escolas especiais, e, em último caso, se escolar e normalização. A partir de então, come-
namento do que o próprio impedimento que por- adotaria o ensino hospitalar ou domiciliar. çaram a ser criadas nas escolas comuns classes
ventura tivessem. especiais para que alunos com deficiência inte-
Assim, havia a proposta de um contínuo de ser- lectual leve fossem escolarizados.
Além disso, passou-se a defender um sistema viços, que ia dos menos segregados (classe co-
educacional de qualidade para todos e, desse mum) até os mais segregados (ensino hospitalar Ao longo de 20 anos, pesquisas nacionais foram
modo, a inserção de alunos com deficiência em ou domiciliar), com a indicação de que, mesmo mostrando que as classes e escolas especiais ser-
classe comum. Assim, todos seriam beneficiados, se o indivíduo com deficiência intelectual fosse viam menos ao propósito de garantir o direito à
uma vez que alunos com deficiência poderiam colocado num ambiente mais restritivo, a meta educação e mais como mecanismo de seletivida-
participar de ambientes de aprendizagem mais seria movê-lo com o tempo, na medida em que de e exclusão de uma parcela indesejada da po-
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pulação das escolas comuns. Alunos de escolas pessoas com deficiências, tornando as políticas de matrícula de estudantes com deficiência sen-
e classes especiais não avançavam, o ensino que de inclusão escolar praticamente obrigatórias em do escolarizados em classe comum decuplicou
lhes era ofertado pouco garantia acesso ao currí- todos os países democráticos (MENDES, 2006). nos últimos 17 anos, passando de 110.536 em
culo e, na maioria das vezes, acrescentava-lhe um 2002 para 1.090.805 em 2019 (INEP, 2002, 2019).
duplo ônus: um rótulo pejorativo, que o estigma- No Brasil, apesar do debate sobre educação in-
tizava, e um ensino de baixa qualidade. O resul- clusiva ter surgido no final dos anos de 1990, uma Assim, apesar de ser uma política desafiadora,
tado disso foi um enorme contingente de adultos política de inclusão escolar mais contundente so- não há o que se colocar no lugar da proposta
institucionalizados ou que permaneciam em seus mente foi observada a partir de 2004, quando a de inclusão escolar, que continua sendo um im-
lares, sem escolarização, sem autonomia para a escolarização de alunos do público-alvo da edu- perativo moral se considerarmos os argumentos
vida independente e sem condições mínimas de cação especial nas escolas comuns começa a ser éticos, legais, práticos e políticos. Entretanto, a
inserção no mercado de trabalho. considerada como medida compulsória para os inclusão escolar não se encerra na matrícula, pois
sistemas de ensino. é preciso garantir a permanência e o sucesso des-
Assim, como a sociedade brasileira se desonera- ses alunos na escola.
va da obrigação legalmente imposta de educá- E por que a política de inclusão escolar é impor-
-los, aos familiares, muitas vezes sem condições, tante? Primeiramente, porque ela é justa, pau- Embora as políticas de inclusão escolar sejam
cabia a missão de acolhê-los e a preocupação tada em princípios morais de igualdade e não justas, elas não facilitam a vida dos professores,
de qual seria o seu futuro quando os pais lhes discriminação. Assim, não é possível mais que as que veem suas turmas cada vez mais heterogê-
faltassem. Ainda imperava a ideia de que a escolas continuem excluindo os diferentes e con- neas e desafiadoras. Neste momento, voltamos
deficiência era um drama pessoal, no máximo tribuindo para construir desigualdades educacio- ao ponto em que o professor se depara com um
uma tragédia familiar, e a sociedade não tinha nais e, consequentemente, sociais. Em segundo aluno com deficiência intelectual em sua turma
nenhuma relação com essa questão, ainda que lugar, as políticas de inclusão são legais, pois hoje e se questiona sobre quais estratégias serão as-
a deficiência fosse fruto de condições de desi- há dispositivos que garantem a matrícula de to- sumidas, sendo a primeira delas o caminho de
gualdade e injustiça social. dos os alunos, sem distinção, e políticas discri- adaptação curricular.
minatórias que tomam como base a deficiência,
A década de 1990 trouxe um movimento mais que impedem o acesso à escola, são passíveis Dessa forma, a adaptação foi compreendida
radical de crítica à discriminação proporcionada de criminalização. Em terceiro lugar, porque nas como a inserção do estudante na escola regular,
pela sociedade em geral, mas principalmente pe- políticas de integração escolar poucos estudan- e este deveria buscaria meios para atingir o má-
las escolas, em relação a grupos minoritários, e a tes com deficiência conseguiram acesso à escola, ximo possível os padrões considerados normais.
defesa pela educação inclusiva se tornou palavra fossem elas comuns ou especiais, ao passo que Nessa perspectiva, a proposta educacional foi
de ordem no campo da Educação. Em relação as as políticas de inclusão escolar ampliaram consi- reduzida, e a ação de integrar assumiu a con-
pessoas com deficiência, a classe comum de es- deravelmente o acesso à escola à população de cepção de “estar no mesmo espaço”, mas não
colas regulares foi, a partir de então, concebida crianças e jovens com deficiência. As estatísticas necessariamente de interagir com esse meio. A
como o lugar de excelência para a educação de oficiais do Censo Escolar indicam que o número possibilidade de acesso, que garantia apenas o
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de acesso irrestrito de todos os estudantes no
ambiente escolar. Para tanto, torna-se necessário
proporcionar diferentes estratégias e conteúdos
e formas personalizadas para promover avanços
pedagógicos significativos. Essa perspectiva não
se limita em direcionar e suscitar a aprendizagem
apenas dos estudantes com dificuldades na esco-
la, mas capacitar todos – professor, educando e
equipe administrativa – para possibilitar o desen-
volvimento educacional dos envolvidos.

Na escola inclusiva, não existe falta de compro-


metimento diante de uma possível não evolução
do estudante. Respeita-se o ritmo de aprendi-
zagem, busca-se esgotar estratégias e modificar
conteúdos para atingir os objetivos propostos
– que revelam o processo de aprendizagem de
cada um –, analisa-se a situação em que o edu-
convívio, vinculou o termo “integração” à outra podem ter alguns impedimentos na locomoção, cando está inserido e as vulnerabilidades do sis-
forma de exclusão, que pode até ser pior, uma na coordenação dos movimentos, na fala e na tema e propõem-se vias para a transposição das
vez que ocorre dentro das instituições de ensino. compreensão de informações auditivas ou vi- barreiras. Portanto, a escola inclusiva é um pro-
Os estudantes com deficiência se mantinham nas suais. Entretanto, essas características não são cesso contínuo, que analisa as possibilidades de
escolas, mas nenhuma mudança do sistema edu- mais consideradas como incapacidade para a cada cenário e daqueles que pertencem àquela
cacional foi promovida. aprendizagem. Os maiores impedimentos são as realidade.
barreiras presentes em diferentes ambientes ou
Os movimentos internacionais contra a premissa produzidas por outros sujeitos, que podem difi- Os alunos não são diagnósticos, cada um tem sua
de segregação da educação de crianças e jovens cultar a participação plena dos que apresentam história, suas características, suas habilidades e
com deficiência, transtornos e altas habilidades condições diferenciadas. seus desejos e apresenta particularidades que
em instituições, marcaram a luta pela educação podem ou não estar ligadas a diferentes tipos de
para todos, sem exceção ou restrição. Com isso, Na proposta inclusiva, ocorre uma mudança da deficiência, transtornos e altas habilidades. No
a concepção de modelo médico deixa de ser uti- perspectiva educacional, em que as necessidades que tange à educação especial, a nomenclatu-
lizada e a nova abordagem é o modelo social, no de cada um devem ser consideradas, transpon- ra referente aos estudantes passou por grandes
qual as pessoas com deficiência são aquelas que do-se as barreiras do sistema para a promoção transformações: na primeira Lei de Diretrizes e
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Base (LDB), de 1961, era denominada “educa- LDB de 2017 é “pessoa com deficiência, transtor- todas as atividades propostas na escola, com
ção de excepcionais”; na Constituição Federal de nos e altas habilidades”. Outras referências apon- objetivos definidos para resultar em aprendi-
1988, “educandos portadores de deficiência”; na tadas pelas associações pró-inclusivas enfatizam zado. O professor deve planejar e desenvolver
LDB de 1996, “educandos portadores de necessi- algumas expressões, como o uso de “pessoa sur- propostas com equidade de condições e conside-
dades especiais”; e na Resolução no 2 de 2011 do da” ou “pessoa cega” para diferenciar a identi- rar a peculiaridade do sujeito, procurar atingir o
Conselho Nacional de Educação (CNE), “educan- dade do surdo, surdo híbrido ou surdo oralizado, máximo possível de sua autonomia e promover
dos com necessidades educacionais especiais”. como também a de pessoas cegas e as com baixa acessibilidade. É nesse caminhar de processos de
É importante notar que a busca por uma forma visão, respectivamente. transformação e desenvolvimento que a escola
mais adequada de nomear as crianças e jovens inclusiva ganha forma, constituindo a certeza de
com deficiência também revela a concepção Considerando a diversidade, a convivência é o que o sistema de ensino necessita de mudanças,
adotada e o percurso. Atualmente, a terminolo- maior entrave, pois cada pessoa é única e con- independentemente de quais sejam as condições
gia utilizada e recomendada pela Lei Brasileira de dizente à sua própria crença, que resulta de suas ou deficiência dos estudantes.
Inclusão da Pessoa com Deficiência (2015) e pela percepções e história. Conviver com o diferente
pode parecer estranho para algumas pessoas, A inclusão escolar delineia seu caminho de acor-
que até conseguem manter o discurso espera- do com a diversidade e busca promover, na esco-
do nos tempos de inclusão, mas não sabem lidar la, condições mais amplas do que a igualdade de
com o diverso, tornando-se reféns de suas pró- condições. O conceito de igualdade, permeado
prias atitudes inadequadas. à justiça que valoriza a diversidade e suas espe-
cificidades, permite os processos equânimes e,
As atitudes e práticas de cada pessoa procedem assim, considera o convívio baseado no respeito
de suas experiências e reflexões sobre as infor- e no acesso ao aprendizado. O conceito de inclu-
mações assimiladas e de seu aprendizado. Com- são proposto pela UNESCO (2005) é abrangente
preende-se melhor a questão da adequação de e corrobora com os ideais de melhoria na educa-
atitudes quando se internaliza o conceito de ção. Isso envolve modificação de conteúdo, abor-
equidade, que, na educação, de acordo com Ha- dagens, estruturas e estratégias, com uma visão
ddad (2010), significa “igualar as oportunidades comum que envolva crianças de um nível etário
de todas as pessoas acessarem, permanecerem e apropriado, e a convicção de que educar todas elas
concluírem a Educação Básica e desfrutarem de é responsabilidade do sistema regular de ensino.
um ensino de alta qualidade, independentemen-
te de origem étnica, racial, social ou geográfica”. A inclusão é um processo, ou seja, não acontece
de uma hora para outra, implica a identificação e
No âmbito pedagógico, todos os estudantes de- remoção de barreiras de participação e aprendi-
vem ter preservado o direito de participar de zagem, amplia o conceito para todos os estudan-
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tes e não somente para aqueles com deficiência É importante ressaltar que a inclusão das crian- proporcionar à família a compreensão de que há
e responsabiliza as escolas pela garantia da edu- ças e dos jovens com deficiência, transtornos e necessidade de participação próxima com a esco-
cação de todos, promovendo as transformações altas habilidades somente terá êxito se as res- la, bem como o entendimento das ações realizadas
curriculares e organizacionais. ponsabilidades entre escola, estudantes, famílias nos tratamentos clínicos dessas crianças e jovens.
e terapeutas forem compartilhadas. A equipe es-
Assim, a escola deve identificar as particularida- colar deve esclarecer a realidade e o seu modo de Os profissionais da saúde também são parceiros
des de cada criança ou jovem para não desconsi- trabalho e acolhê-los, uma vez que, em qualquer indispensáveis na troca de experiências escolares
derar aspectos importantes em relação ao histó- situação ou cenário novo, o medo e a inseguran- para, assim, ampliar o conhecimento das parti-
rico do estudante, os quais podem contribuir de ça se instalam. Ao mesmo tempo, a escola não cularidades de cada estudante. Dessa maneira,
modo considerável para a elaboração das ações os conhece, e é durante os primeiros contatos cada um assume sua parte, e a escola se respon-
que devem ser executadas em sala de aula. que a equipe gestora irá levantar informações sabiliza pelo aprendizado e contribui para o de-
preliminares sobre como as famílias conduzem a senvolvimento integral dos estudantes.
A gestão escolar é fundamental para garantir a educação dos filhos que apresentam deficiência,
transformação. A liderança compreende assumir transtornos e altas habilidades. Essas famílias po- O movimento de educação inclusiva é crescente,
tanto o monitoramento de ações da equipe es- dem ter vivenciado diferentes fases emocionais mas não deixa de prosseguir numa dinâmica con-
colar quanto as tratativas para manter o ponto que interferem em suas ações e, muitas vezes, troversa, desigual e complexa. O professor preci-
de equilíbrio das relações com outros setores adotam posturas que incorporam juízos de valo- sa analisar como a diversidade se reflete na sala
que atendem o estudante e sua família. Com res, o que pode gerar desentendimentos logo no de aula para estabelecer quais abordagens seguir
esse cenário, o líder que assumir a organização primeiro contato. Dessa forma, a equipe escolar e organizar o trabalho diante das escolhas de seu
das relações pró-inclusivas deve estabelecer a precisa ouvir atentamente os pais e permitir que estilo de ensinar, podendo encontrar as melhores
partilha de responsabilidades entre o próprio exponham suas angústias em relação ao desen- estratégias e, dessa forma, atingir todos os estu-
estudante e sua família, além das parcerias com volvimento de seus filhos na escola. dantes, incentivando-os a encontrar o prazer da
serviços da comunidade. aprendizagem e do conhecimento como subse-
Tem-se consciência de que esta não é uma con- quente trajetória de sucesso e a respeitar a iden-
Esse posicionamento é extremamente importan- dição fácil, por isso a comunicação deve ser clara tidade de cada um.
te, uma vez que as necessidades são complexas, e sem o uso de terminologias técnicas; se neces-
e os encaminhamentos devem ser decididos e sário, utilizar sempre a forma simplificada. Todos
conduzidos sempre em comum acordo com as devem saber que são parceiros em uma mesma
famílias, que têm o direito e o dever de participar empreitada. Essa é uma ação que se estabelece
do processo educacional de seus filhos. O primei- por meio de empatia, ao se valorizar as habilida-
ro contato entre os colaboradores da escola com des e saberes que o estudante possui, para, assim,
os pais dos alunos deve ser priorizado logo no iní- vislumbrar as possibilidades pedagógicas e o seu
cio do ano letivo. desenvolvimento. À vista disso, é fundamental
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OS DESAFIOS DA
O movimento mundial pela educação inclusiva Significativas limitações no funcionamento in-
é uma ação política, cultural, social e pedagógi- telectual e no comportamento adaptativo que
abrange muitas habilidades sociais e práticas co-
ca, desencadeada em defesa do direito de todos
tidianas. Essa deficiência se origina antes dos 18

INCLUSÃO ESCOLAR
os estudantes de estarem juntos, aprendendo e anos (AAIDD, 2010, p. 1).
participando sem nenhum tipo de discriminação.
Três critérios podem ser extraídos dessa defini-
A deficiência intelectual apresenta característi- ção para que uma pessoa seja enquadrada nessa
De acordo com o art. 2º da Lei no 13.146, de 6 cas muito próprias e conduz o trabalho do pro- condição:
de julho de 2015, considera-se pessoa com de- fessor para caminhos bem distintos das outras
ficiência aquela que tem impedimento de longo deficiências já tratadas por esta coleção. 1. apresentar um funcionamento intelectual sig-
prazo de natureza física, mental, intelectual ou nificativamente limitado;
sensorial, o qual, em interação com uma ou mais 2. ter déficits no comportamento adaptativo;
barreiras, pode obstruir sua participação plena e
3. comprovar a origem desses déficits antes dos

O QUE É A
efetiva na sociedade em igualdade de condições
com as demais pessoas. 18 anos de idade.

Para entender os critérios de classificação da defi-

DEFICIÊNCIA
Os Decretos Federais no 3.298/1999 e no
5.296/2004 classificam as deficiências em: ciência intelectual, é preciso conhecer como e por
que as definições foram sendo gradualmente mo-
• auditiva;
dificadas. No século XIX, Jean-Étienne Esquirol,
• visual;
• intelectual;
• física;
INTELECTUAL? psiquiatra francês preocupado com a superpopu-
lação de hospitais para os considerados alienados
da razão, distinguiu os pacientes da época entre
• múltipla (associação de duas ou mais deficiências). A primeira tarefa para responder essa questão é duas condições: a idiotia – dividida em dois níveis
compreender o significado do conceito de defici- de severidade: a idiotia (casos mais graves) e a
O capítulo IV, art. 27 da Lei no 13.146, diz:
ência intelectual, e, para isso, é preciso conhecer imbecilidade (sintomas mais leves) – e a loucura.
A educação constitui direito da pessoa com defi-
como ele foi cientificamente modelado ao longo Com isso, ele inaugurou o estudo científico mais
ciência, assegurados sistema educacional inclu-
sivo em todos os níveis e aprendizado ao longo da história. sistemático da condição atualmente conhecida
de toda a vida, de forma a alcançar o máximo como deficiência intelectual (MENDES, 1995).
desenvolvimento possível de seus talentos e É importante enfatizar que não se trata de um
habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e so- olhar histórico voltado para uma condição, e sim Na época, a crença na hereditariedade e na irre-
ciais, segundo suas características, interesses e para uma classificação, uma normatização esta- versibilidade e a ameaça social que representava
necessidades de aprendizagem. a condição, tida como uma espécie de degeneres-
belecida. A deficiência intelectual é definida atu-
almente como uma condição caracterizada por: cência da raça humana, foram responsáveis pela
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marginalização, reprovação social, confinamento Idade mental se refere, em um influências praticamente definitivas sobre os ca-
em instituições, esterilizações em massa e outros determinado teste, ao escore minhos que a teoria da idiotia iria assumir, prin-
mecanismos visando o controle social da idiotia. cipalmente pela possibilidade de tomar decisões
que a média das crianças de uma
Mudanças nessas concepções puderam ser ob- legais e educacionais com base na aplicação dos
servadas no final do século XIX, como decorrên-
determinada idade consegue testes intelectuais. No âmbito educacional, ob-
cia de vários fatores, entre eles, a tranformação obter. Ela se refere ao desempenho servava-se a proliferação das instituições resi-
no modo de produção das sociedades ocidentais. relativo à média de desempenho denciais, escolas especiais e classes especiais nas
das outras crianças, ou seja, se escolas comuns. Todas essas formas de segrega-
A industrialização e a urbanização crescentes uma criança de 6 anos apresenta ção social livravam a sociedade e a escola des-
trouxeram novas demandas para a adaptação sa população, na época considerada indesejada,
desempenho equivalente à média
dos indivíduos naquela sociedade, e a escolariza- ação justificada como uma tentativa de separá-
ção passou a ser obrigatória para preparar a mão
de crianças de 4 anos, postula-se
-los para melhor assisti-los.
de obra para as indústrias. Assim, a escola antes que sua idade mental seja de 4 anos.
destinada apenas à elite, se popularizou, abriu Após os anos 50, as definições e os manuais cien-
suas portas para o povo e, com isso, evidenciou tíficos da deficiência intelectual começaram a se
um grande contingente de alunos que parecia Em 1908, ele instituiu o conceito de idade mental apoiar no sistema de classificação da Associação
incapaz de atender às exigências acadêmicas da e, posteriormente, introduziu também a noção Americana de Deficiência Intelectual e Desen-
escola pública recém-instituída. de Quociente de Inteligência (QI), compreendido volvimento (American Association on Intellectu-
como a razão entre a idade cronológica e a ida- al and Developmental Disabilities – AAIDD), que
Alfred Binet (1903, 1908), psicólogo e pedagogo de mental obtida por meio de teste psicométrico serve de base para os manuais internacionais de
francês interessado em estudar essas crianças (MENDES, 1995; VELTRONE, 2011). classificação das doenças, como, por exemplo,
que falhavam na realização das tarefas escola- o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtor-
res, considerou que elas podiam ser acometidas A partir de Binet, a debilidade mental seria asso-
nos Mentais (DSM-5), da Associação Psiquiátrica
por uma condição de incapacidade intelectual ciada à condição de idiotia e imbecilidade, que já
Americana (APA), a Classificação Estatística Inter-
relativamente leve, que denominou de debilida- eram consideradas como casos de desvio intelec-
nacional de Doenças e Problemas Relacionados
de mental. Com objetivos práticos, Binet tentou tual e condições hereditárias e descritas a partir
à Saúde (CID-10) e a Classificação Internacional
criar um instrumento que medisse a inteligência de atributos negativos, capacidades ausentes ou
de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF),
e, em 1905, publicou o primeiro teste, conhecido deficitárias e comportamentos aberrantes ou an-
ambas publicadas pela Organização Mundial da
como Escala de Binet-Simon, em coautoria com o tissociais, que, no conjunto, reforçavam o caráter
Saúde (OMS).
médico Théodore Simon. de estranheza e temor historicamente conferido
à condição. Em abril de 2007, a até então conhecida Asso-
ciação Americana de Retardo Mental (American
A tecnologia da testagem mental desenvolvida
Association on Mental Retardation - AAMR) re-
por Binet no início do século XX, proporcionou
21
nomeou-se como AAIDD e adotou a terminologia
deficiência intelectual (intellectual disability) ()
para se referir ao que anteriormente era chama-
do de “retardo mental” nos Estados Unidos. No
Brasil, os termos “retardo” e “deficiência mental”
ainda aparecem na linguagem médica, enquanto
na área educacional, o termo “deficiência men-
tal” foi substituído por “deficiência intelectual”,
atendendo a recomendações internacionais.

Assim, nos últimos 70 anos, Mendes (1995) iden-


tifica as mudanças de nomenclaturas e conceitos
direcionados para a deficiência intelectual.

Ao longo da história, pode-se identificar cinco


critérios implicados nessas definições e que so-
freram mudanças ao longo do tempo:

1. O caráter constitucional: crença de que a defi-


ciência intelectual era causada por fatores orgâ-
nicos, notadamente hereditários, o que resultou
em atitudes conformistas e negativas. Entretan-
to, a falsa ideia de que a deficiência intelectual é
uma patologia/doença, infelizmente ainda sobre-
vive na mentalidade de muitas pessoas.

2. A natureza irreversível da condição: após o


conceito de “debilidade mental”, esse critério
de irreversibilidade começou a ser questionado
porque, com educação apropriada, muitos indi-
víduos evoluíam na escola e na vida. Assim, o cri-
tério de que a condição era imutável foi sendo
gradualmente descartado, muito embora ainda

22
prevaleçam crenças infundadas sobre a irrever- ção de pessoas com deficiência intelectual devi- Resumindo, analisando-se a história, existe mui-
sibilidade da condição, que dão origem a baixas do à super-representação de, por exemplo, crian- ta controvérsia sobre a possibilidade de uma de-
expectativas em relação à possibilidade de edu- ças de etnias minoritárias (negros, indígenas, finição essencialmente teórica, que permitisse
car essas pessoas. imigrantes) e de nível socioeconômico baixo com representar uma entidade, fenômeno ou evento
implicações legais que obrigaram a uma revisão único, ou um conceito monolítico, denominado
3. O déficit intelectual: a princípio, a condição teórica do conceito de deficiência intelectual como deficiência intelectual. A controvérsia é
foi classificada como retardo ou subnormalidade (MENDES, 1995). Assim, a insatisfação com o uso relativamente menor quando ele é considerado
mental, e, posteriormente, chegou-se à conclu- exclusivo do QI e a necessidade de se promover um conceito genérico, abstrato, mas definido em
são de que se tratava de um déficit intelectual. procedimentos de diagnóstico não discriminató- termos práticos. Em síntese, o que isso significa?
Entretanto, não há consenso sobre o conceito de rios e mais justos e de avaliar o funcionamento Que o conceito de deficiência intelectual foi so-
inteligência entre os estudiosos do tema. Para al- do indivíduo em interação com o ambiente obri- cialmente construído, sendo, portanto, uma con-
guns, a inteligência é um fator geral que influencia garam a adoção de um outro critério, que foi o do venção ou invenção, e não se trata de nenhuma
a capacidade do indivíduo de aprender, enquan- comportamento adaptativo. descoberta científica, o que deve ser levado em
to para outros, as inteligências são múltiplas e consideração quando se planeja a educação des-
podem se manifestar em determinados tipos de 5. O período de aparecimento: a inclusão do pe- ses indivíduos.
aprendizagens, mas não em outras. Mesmo com ríodo de aparecimento como critério surgiu nas
tantas controvérsias, o QI passou a ser definitiva- definições do século XX, inicialmente como uma Ao longo da história, termos como “idiotia”, “im-
mente incorporado em todas as definições predo- vaga referência de que a deficiência intelectual becilidade”, “debilidade”, “oligofrenia”, “cretinis-
minantes de deficiência intelectual. Houve altera- deveria ser observada até a maturidade. Poste- mo”, “subnormalidade mental”, “anormalidade
ções nos pontos de corte do QI que estabeleciam riormente, esse período foi fixado na faixa etária mental”, “retardo mental” e “deficiência men-
os limites entre o que seria considerado inteligên- de zero a 16 anos, e quando a faixa de escolari- tal” foram então se sucedendo e sendo descar-
cia normal e o déficit intelectual (MENDES, 1995). dade pública obrigatória dos Estados Unidos foi tados, até se chegar ao termo atual “deficiência
expandida até 18 anos, a definição de deficiência intelectual”. As mudanças terminológicas foram
4. As deficiências no comportamento adapta- intelectual também incorporou a faixa de zero adotadas tanto em função de evoluções concei-
tivo: desde as primeiras teorias, a existência de a 18 anos. Por exemplo, no caso de um adulto tuais como também para se evitar as conotações
inadequações pessoais, sociais e vocacionais era maior de 18 anos sofrer um acidente e ter suas pejorativas que os termos antigos adquiriram ao
descrita como sinais que evidenciavam a condi- capacidades intelectuais prejudicadas ou ter Mal longo do tempo em função do estigma negativo
ção. Entretanto, quando crianças em idade es- de Alzheimer, por definição, ele não poderia ser que pesava, e ainda pesa, sobre a condição.
colar que apresentavam dificuldades quase que considerado uma pessoa com deficiência intelec-
circunscritas, as aprendizagens de leitura, escrita tual, porque a definição tem propósitos para a Foi a partir do ano de 2004¹, que o termo “defici-
e matemática começaram também a ser conside- política educacional. ência intelectual” passou a ser utilizado nos dis-
radas na categoria de deficiência intelectual. Foi cursos acadêmicos, nos movimentos de pessoas
constatado o critério psicométrico na classifica- com deficiência, bem como nas políticas públi-
23
cas nacionais e internacionais. Esse termo visou sinais ou estigmas da condição e, principalmente,
substituir a expressão “deficiência mental”, mais nas necessidades educacionais que suas variadas
empregada pelo modelo médico, considerando características implicam.
que o adjetivo “intelectual” seria mais adequado
do que “mental”, que é mais amplo e mais vago. A classificação numa categoria genérica teórica ou
pragmática é dificultada, pois os problemas susci-
tados são muito diversificados (MENDES, 1995).

QUEM É O ALUNO
No conjunto dos indivíduos identificados como
pessoas com deficiência intelectual, pode-se dis-
tinguir, pelo menos, quatro grupos de indivíduos

COM DEFICIÊNCIA
bem diferenciados, dispostos no quadro abaixo:

LEVE MODERADO SEVERO PROFUNDO

INTELECTUAL? INCIDÊNCIA 80% 15% 5%

Estudantes enquadrados na condição de defici- ETIOLOGIA


ORGÂNICA
ência intelectual compõem o grupo majoritário
do público-alvo da educação especial no Brasil
e respondem por cerca de 70% de todas dessas NÍVEL
Baixo Indiscriminado
SÓCIO-ECONÔMICO
matrículas (MENDES, TANNÚS-VALADÃO, MILA-
NESI, 2016).
SINAIS EVIDENTES
Na atualidade, há uma enorme diversidade, por DE ANORMALIDADE Ausentes
exemplo, entre os indivíduos enquadrados na
condição de deficiência intelectual, em termos
DOMÍNIO DAS Habilidades de Habilidades básicas de
de padrões de habilidades e incapacidades, nos Habilidades
NECESSIDADES DE independência independência pessoal-
acadêmicas
APOIO EDUCACIONAL pessoal-social social e ocupacional
¹ Ano no qual ocorreu em Montreal, no Canadá, a Conferência Internacional
sobre Deficiência Intelectual, evento promovido pela Organização Pan-Ameri-
cana da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde, tendo o Brasil participa-
do. Tal evento culminou na Declaração de Montreal sobre a Deficiência Inte-
QUADRO 1. Características distintivas dos grupos de indivíduos com deficiência
lectual, que teve a introdução e utilização do termo “deficiência intelectual”. intelectual com impedimentos de grau leve, moderado, severo e profundo.
24
O primeiro grupo compõe a grande maioria dos de lares de qualquer nível socioeconômico, apre- cia intelectual sempre foram pragmáticos, com
estudantes com deficiência intelectual, cerca de sentam histórico de acentuado atraso no desen- a finalidade de equacionar serviços de saúde e
80%, enquadrados no nível de deficiência consi- volvimento desde o nascimento, são facilmente educação. As definições refletem o propósito de
derado leve. Suas condições não são passíveis de identificados em função de estigmas físicos mais classificar os beneficiários dos serviços prestados.
explicação por causas orgânicas, eles não apresen- demarcados, apresentam associações de impedi-
tam sinais ou estigmas evidentes, são majoritaria- mentos (motores, visuais, auditivos, de comuni- Assim, o termo “deficiência intelectual” é um
mente provenientes de lares de níveis socioeconô- cação) e requerem suporte intensivo em todos os grande guarda-chuva cuja função primordial já
mico baixo e, geralmente, são identificados apenas domínios. A diferença entre os dois grupos está foi a de estipular, primeiramente, quem iria se
quando ingressam na escola, por apresentarem di- na intensidade, abrangência e extensão de supor- beneficiar da escola comum e quem seria ex-
ficuldades na aquisição da leitura e da escrita e em tes necessários, não apenas na área educacional, cluído dela. Atualmente, com o movimento pela
matemática básica. São aqueles mais prováveis de mas de saúde, assistência social e ocupacional. inclusão escolar, a função da identificação é de-
serem encontrados em escolas comuns. finir quem irá requerer alternativas adicionais às
Como mostra a história da construção do con- estratégias de escolarização que são comuns a
O segundo grupo, dos moderados, representa ceito de deficiência intelectual, a associação de todos os alunos, tais como um currículo diferen-
cerca de 15% de todos os indivíduos com defici- incapacidades tão diferentes em gênero, número ciado, um estagiário facilitador, recursos tecnoló-
ência intelectual. Eles apresentam indicadores de e grau foi feita aparentemente por conveniência gicos, tratamentos com especialistas no serviço
patologia presente ou passada, como, por exem- social e não obedeceu necessariamente a uma de saúde etc.
plo, lesões ou disfunções orgânicas comprovadas evolução científica que demonstrasse qualquer
ou síndromes. São casos provenientes de lares tipo de relação conceitual satisfatória entre tais
de todos os níveis socioeconômicos, apresentam condições, de modo que o conceito de deficiên-
histórico de atraso no desenvolvimento desde o cia intelectual na atualidade não pode ser consi-
nascimento, estigmas físicos mais diferenciados derado como uma descoberta científica, mas sim
facilmente reconhecíveis e outros impedimen- como uma invenção da ciência.
tos associados e têm necessidades educacionais
que não se restringem apenas ao domínio esco- Há uma enorme diversidade, por exemplo, entre
lar, mas também a habilidades de independência os indivíduos com deficiência intelectual em ter-
pessoal e social. mos de padrões de habilidades e incapacidades,
sinais ou estigmas da condição e, principalmente,
O terceiro e quarto grupos, dos severos e pro- necessidades de apoios educacionais que suas va-
fundos, compõem uma minoria dos indivíduos riadas características implicam, o que torna difícil
com deficiência intelectual, cerca de 5%, com justificar a classificação destes numa categoria
suas condições passíveis de explicação por de- genérica (MENDES, 1995). Entretanto, os propó-
terminantes orgânicos. Eles também podem vir sitos da classificação e delimitação da deficiên-
25
A IDENTIFICAÇÃO
Enfim, a atual tendência nas definições científicas querendo, portanto, vários profissionais para ava-
tem sido a de endossar a ideia de que tais indiví- liar e determinar se o indivíduo vai receber esse
duos podem se beneficiar se forem enquadrados rótulo e um plano de suporte individualizado.
na condição de deficiência intelectual, a despeito
do reconhecimento de todas as implicações inde-
sejáveis referentes a tal decisão.
DOS ALUNOS A AIDD destaca ainda que essas avaliações devem
considerar o ambiente comunitário típico dos

Além disso, seria ilusório supor que o abandono


total das definições e dos sistemas de identifica-
COM DEFICIÊNCIA pares e da cultura do indivíduo que está sendo
avaliado, bem como a existência de uma possí-
vel diversidade linguística, diferenças culturais na
ção iria impedir o encaminhamento pelos profes-
sores quando se refere, por exemplo, a alunos
“atrasados”, “lentos”, “imaturos”, “inadaptados”
INTELECTUAL NO BRASIL maneira como as pessoas se comunicam, se mo-
vem e se comportam, que possam explicar o fun-
cionamento diferente que não seja uma suposta
etc., o que continua potencializando a classifica- A grande maioria dos alunos enquadrados na deficiência intelectual. Finalmente, é ressaltado
ção, segregação, discriminação ou estigmatiza- condição de deficiência intelectual somente é ainda que as avaliações também devem assumir
ção de tais indivíduos, a despeito da existência identificada quando ingressa na escola, e o pro- que as limitações dos indivíduos geralmente co-
de rótulos oficiais. fessor do ensino comum, após observado o fra- existem com pontos fortes e que o nível de fun-
casso escolar, encaminha seus alunos para avalia- cionamento da vida de uma pessoa melhorará,
Em relação às considerações de classificação ou ções. Seguramente, ele quer beneficiá-los, mas é desde que sejam fornecidos apoios personaliza-
conceito, quaisquer generalizações sobre como preciso que se conheça com mais profundidade o dos adequados durante um período prolongado.
são os alunos com deficiência intelectual, como que acontece em nosso país quando se encami-
devem ser ensinados ou como aprendem são in- nha um aluno para um processo de diagnóstico No Brasil, o Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa
fundadas, uma vez que dentro desse amplo guar- de deficiência intelectual. com Deficiência (Lei nº 13.146/2015), conhecido
da-chuva encontram-se indivíduos com caracte- como Estatuto da Pessoa com Deficiência , de-
rísticas e necessidades muito diferenciadas. No processo de identificação, segundo a defini- fine a pessoa com deficiência como aquela que
ção oficial da AIDD, que também é reproduzida tem impedimento de longo prazo de natureza fí-
nos documentos oficiais brasileiros, três critérios sica, mental, intelectual ou sensorial, de modo a
deveriam ser observados: o déficit no funciona- comprometer sua participação plena e efetiva na
mento intelectual, o déficit nas habilidades adap- sociedade em igualdade de condições com os de-
tativas e a idade de início. Em tese, isso iria exi- mais. Para identificar a pessoa com deficiência,
gir processos de avaliações multifacetadas, com o estatuto prevê a regulamentação, pelo Poder
testes padronizados de inteligência, medidas em Executivo, da avaliação biopsicossocial, que de-
escalas de comportamento adaptativo e identifi- veria ser feita por uma equipe multiprofissional e
cação da idade de aparecimento dos déficits, re- interdisciplinar para identificar os impedimentos
26
nas funções e nas estruturas do corpo, os fatores Assim, se os critérios psicométricos referentes a Em 2014, diante do uso indiscriminado de muni-
socioambientais, psicológicos e pessoais, a limi- medidas do funcionamento intelectual e do com- cípios na exigência de laudo médico para com-
tação no desempenho de atividades e a restrição portamento adaptativo não têm sido usados no provar a deficiência intelecutal, o Ministério da
de participação. Prevista para entrar em vigor em país, como têm sido identificados os indivíduos Educação lançou a Nota Técnica nº 04 de 2014
janeiro de 2018, infelizmente, a avaliação biopsi- com deficiência intelectual? Essa questão foi ob- (BRASIL, 2014), que dispôs que os profissionais
cossocial ainda não foi regulamentada na realida- jetivo de vários estudos que analisaram as diretri- responsáveis pelo atendimento educacional es-
de brasileira. zes de documentos oficiais e os relatos e as práti- pecializado, a partir de um parecer pedagógico,
cas de profissionais envolvidos nos processos de poderiam realizar o processo de identificação,
No caso da identificação de pessoas com deficiên- diagnóstico da deficiência intelectual e que serão assim como a inserção ao Censo Escolar do MEC/
cia intelectual, para atender o critério do funcio- sintetizados a seguir. INEP dos alunos público-alvo da educação espe-
namento intelectual, haveria a necessidade dos cial, não sendo mais obrigatório o laudo médico
testes de QI que resultassem em medidas inferior Por meio da análise dos documentos orientado- ou de equipe clínica.
a 70. Schwartzman (2013) defende que esses tes- res e normativos, incluindo as recomendações
tes sejam aplicados por psicólogos competentes oficiais do Ministério de Educação para identifi- Na prática, o que se percebe na identificação de
e com experiência na área, de modo individual, cação da deficiência intelectual em escolares, são alunos com deficiência intelectual não é a preva-
com avaliação quantitativa e qualitativa, com re- notados a negligência e, inclusive, o descarte dos lência do critério de QI ou dos resultados em es-
sultados que enfatizassem as áreas de inabilida- critérios do QI e do comportamento adaptativo, calas de avaliação do comportamento adaptativo,
de, bem como de competência. Finalmente, ele favorecendo a avaliação pelos profissionais da mas sim dos laudos médicos e/ou de pareceres
sugere, em atenção aos requisitos da definição, escola para definir quais alunos com deficiência pedagógicos. E considerando que, de um modo
que o QI não deve ser considerado como variá- intelectual irão se beneficiar dos serviços espe- ou de outro, esse processo acaba sendo subje-
vel única, mas como parte de um processo mais cializados (VELTRONE; MENDES, 2011). tivo e precário e que o professor assume papel
amplo de diagnóstico. Entretanto, nem sempre primordial nele, dado que a maioria dos alunos
contamos com profissionais competentes para enquadrados nessa condição é identificada quan-
realizar esse tipo de avaliação de inteligência. do ingressa na escola, é preciso aprofundar a dis-
cussão conceitual e compreender a complexidade
Em relação à avaliação do comportamento que é identificar um estudante com deficiência
adaptativo, que deve ser verificado através das intelectual no contexto escolar e conhecer as con-
escalas, Almeida (2004) chama a atenção para o sequências que esse tipo de rotulação implica.
fato de que nenhuma das inúmeras escalas exis-
tentes na literatura tem validação no território Diante desse complexo contexto, oferecemos al-
nacional, por isso esse critério tem uso limitado gumas reflexões acerca da deficiência intelectual,
nos processos diagnósticos no campo da defici- que os professores devem levar em consideração.
ência intelectual.
27
Os dados estatísticos mostram que a proporção Uma vez feita essas ponderações e tendo a cer-
entre meninos e meninas no grupo de alunos com teza de que o aluno é diferente e tem necessi-
deficiência intelectual é de 3:1, ou seja, os meni- dades educacionais específicas, tenha em mente
nos são muito mais identificados como suspeitos que o caso não é de decidir se ele é ou não inte-
e diagnosticados como alunos com deficiência in- lectualmente deficiente. Também não é o caso
telectual. Além disso, diferenças de gênero, raça, de avaliar para decidir se ele tem ou não uma
naturalidade, nacionalidade, nível socioeconômi- deficiência intelectual – como se fosse possível
co etc., podem estar sendo interpretadas como precisar isso com um conceito tão complexo e
deficiências, em função de preconceitos estru- com processos tão precário de avaliação e iden-
SUSPEITO QUE TENHO UM turais que estão na base de nossa sociedade e tificação. Assim, a decisão que temos que fazer
que também mostram sua presença nas escolas. é se o estudante vai ter algum benefício, em ter-
ALUNO COM DEFICIÊNCIA Assim, sempre é bom refletir e questionar sobre mos do apoio adicional que o sistema escolar
nossos propósitos quando vemos nosso aluno oferece, se ele for enquadrado na condição de
INTELECTUAL. O QUE FAÇO? como “diferente” e julgar se nossa decisão vai ser
a mais justa em relação a ele.
deficiência intelectual, e se isso vai compensar o
ônus do estigma de iniciar uma trajetória escolar
de aluno considerado com deficiência intelectu-
Ao identificar um aluno como diferente, reflita al. Por isso, antes do encaminhamento, convém
sobre qual é a natureza da diferença que você tomar algumas precauções.
O termo “deficiente” não é mais
percebe nele. Questione-se por que, entre tan-
tos alunos que não aprendem, você acha que o utilizado, pois coloca a deficiência
caso do aluno sob suspeita é mais diferenciado e na centralidade da identidade
tem indicadores de deficiência intelectual. Você da pessoa. O correto sempre é
tem certeza de que o problema é do aluno e não falar “pessoa com deficiência”,
da forma que o ensino está sendo conduzido ou “estudante com deficiência”, porque
do meio no qual ele vive? Depois dessa reflexão, o ser humano vem antes de sua
você continua mantendo sua suspeita e acha que
condição de deficiência, como
seria melhor encaminhá-lo para avaliação? En-
tretanto, antes de prosseguir, pondere um pouco demanda o movimento das pessoas
sob alguns dados que nos mostram quantos vie- denominado People First, indicando
ses há no encaminhamento de alunos suspeitos que elas são, antes de tudo, pessoas
de deficiência intelectual. e não deficientes.

28
Especificamente em relação ao papel do profes- Assim, é importante observar qual é o modo de
sor, para além do desempenho acadêmico, este funcionamento do estudante. Para facilitar o ra-
pode contribuir para o processo elaborando um ciocínio de trabalho e planejamento direcionado
parecer sobre o histórico de desenvolvimento e para ele, descreva como todas essas habilidades
comportamento adaptativo atual do estudante. se apresentam no aluno e quais são suas possibi-
Assim, é importante conversar com os familia- lidades. Tenha cuidado para não destacar apenas
QUERO ENCAMINHAR PARA res e investigar sobre algumas características do
desenvolvimento de habilidades motoras, cog-
as dificuldades, as limitações ou os déficits, para
justificar suas suspeitas nos pareceres educacio-
AVALIAÇÃO MEU ALUNO nitivas, de linguagem, socialização e autocuida-
do. A existência de atrasos pode se constituir
nais e enviesar futuras decisões. Cabe destacar
que o ponto de vista da escola assume sempre
SUSPEITO. COMO FAÇO? em indicadores que reforçam a suspeita de de-
ficiência intelectual. Entretanto, cabe destacar
um peso muito importante, e muitas vezes os lau-
dos médicos apenas referendam esses pareceres
que na maioria dos casos, principalmente nos dos professores, por isso, descreva também os
Como vimos, a decisão de encaminhar para a leves, não há esse tipo de antecedente de atraso pontos fortes tanto quanto as fragilidades do alu-
identificação é complexa, exige julgamento mo- no desenvolvimento. no encaminhado para avaliação.
ral e uma deliberação ética, então é melhor que
várias pessoas sejam acionadas para pensar e de- O comportamento adaptativo envolve o conjunto Cabe destacar, ainda, que a identificação da defi-
cidir juntas quais são os prós e contras de uma de habilidades conceituais, sociais e práticas que ciência intelectual não deve ser cogitada no caso
possível rotulação. são aprendidas e executadas no cotidiano. As ha- de crianças pequenas, que tenham entre 0 e 3
bilidades conceituais se relacionam à linguagem, anos. Nesses casos, é feita apenas a identifica-
Assim, a família deve participar e, inclusive, ser à alfabetização e aos conceitos de dinheiro, tem- ção da existência de atrasos no desenvolvimento
bem orientada para compreender sobre o pro- po e número, além do autodirecionamento. Ha- neuromotor, sem rotulação de deficiência inte-
cesso de identificação. Além da família e do pro- bilidades sociais são interpessoais, envolvendo lectual, que somente pode ser considerada em
fessor do aluno, é sempre recomendável envol- responsabilidade social, autoestima, credulida- crianças a partir dos 3 anos de idade.
ver o maior número possível de pessoas nesse de, ingenuidade, resolução de problemas sociais
processo de avaliação para a identificação da e capacidade de seguir regras ou obedecer às
condição e a elaboração do plano de ação, tais leis e evitar ser vitimado. As habilidades práticas
como ex-professores, consultores, profissionais consistem nas atividades da vida diária (cuida-
externos, coordenadores, gestores, auxiliares, dos pessoais), habilidades ocupacionais, saúde,
enfim, todas as pessoas que têm informações e viagens/transporte, horários/rotinas, segurança,
podem contribuir com o processo para deliberar uso de dinheiro, uso do telefone etc.
sobre um encaminhamento justo de um aluno
com suspeita de deficiência intelectual.
29
30
ESTRATÉGIAS PARA O
Há que se considerar, ainda, que profissionais
médicos qualificados não representam a maioria

RECEBI UM ALUNO COM da classe médica no país no tocante à deficiên-

ENSINO DO ESTUDANTE
cia intelectual, de modo que na maioria dos ca-

DEFICIÊNCIA INTELECTUAL. sos as suspeitas dos professores são facilmente


confirmadas, surgindo daí a importância de um

E AGORA?
processo consciente e coletivamente deliberado
de encaminhamento, pois o professor tem sido o
principal agente no processo de identificação dos
COM DEFICIÊNCIA
Ao receber um aluno com laudo de deficiência
intelectual, tenha em mente que um diagnósti-
estudantes com deficiência intelectual.

Sem dúvida, não é fácil enquadrar os indivíduos


INTELECTUAL
co médico não deve ser considerado um destino,
na condição de deficiência intelectual, haja visto Quando nos referirmos às estratégias de ensino
mas sim um meio de buscar apoios para o aluno.
a imprecisão que o conceito encerra, a dificulda- para os estudantes com deficiência intelectual,
Há, primeiramente, que se considerar que, na de de operacionalizá-lo na prática e as consequ- as observações sobre como o estudante se mos-
maioria dos casos, nenhum exame médico irá ências que esse tipo de rótulo pode trazer para o tra, quais são suas motivações e como convive na
comprovar a existência de uma lesão, anoma- estudante. Entretanto, há que se destacar que a sala de aula podem direcionar suas potencialida-
lia ou disfunção no organismo, e que, portanto, mera classificação ou rotulação não são suficien- des e seu modo de aprender. Essas observações
a identificação do médico será baseada no seu tes no sentido de contribuir com informações e análises são primordiais para direcionar o Plano
julgamento clínico profissional. Assim, os laudos úteis para o processo educacional, porque não há de Trabalho Docente para todos os estudantes.
médicos são fundamentados em observações receitas padronizadas para o conjunto dos alunos Ele é o meio que favorece todo o raciocínio do
que o profissional irá fazer sobre a pessoa suspei- potencialmente considerados na categoria da de- professor e, assim, auxilia no delineamento do
ta, em condições nem sempre naturais de clínicas ficiência intelectual. que o estudante sabe e de onde se deve partir,
e consultórios, e com tempo limitado. Além dis- desconsiderando aquilo que o aluno não sabe
Para finalizar, é preciso não se ater muito ao ró-
so, ele vai se basear nos relatos de seus familiares fazer ou possíveis rótulos e preconceitos que im-
tulo, questionar os próprios estereótipos e acre-
e, se for possível, nos relatórios de professores pedem o aprendizado. Como vimos, somente um
ditar no aluno independentemente da sua condi-
ou da escola. Daí a importância de unificar os pa- relatório médico com um diagnóstico de defici-
ção, pois a definição atual esclarece que, com os
receres educacionais com os relatórios de saúde ência intelectual não diz nada sobre quem é esse
suportes adequados, todo aluno com deficiência
para auxiliar no processo de identificação, princi- aluno, o que ele sabe, o que pode aprender do
intelectual pode avançar. Resta, portanto, saber
palmente quando há exigência de comprovação currículo ou de quais suportes necessita.
como podemos apoiar sua escolarização.
da deficiência para a garantia de direitos propor-
cionados por meio do Censo Escolar. A necessidade de planejamentos educacionais
talhados na individualidade de cada aluno para
31
organizar e otimizar seu percurso de desenvol- 1. identificação de experiências de vida É importante recordar que os alunos com defi-
vimento e, assim, guiar a prática nas escolas e almejadas; ciência intelectual eram ensinados em contextos
nas salas de aula, é valorizada para garantir os 2. estabelecimento de metas a serem separados, e se pressupunha a necessidade de
resultados esperados no processo de escolariza- atingidas; elaboração de um modelo de currículo baseado
ção desse alunado. na compensação do déficit intelectual – com trei-
3. determinação da intensidade de suporte/
no de habilidades cognitivas e psicomotoras para
apoio necessários para atingir tais metas;
Quando há a necessidade de diferenciar o currí- aqueles com prejuízos considerados leves – e de
culo para atender as especificidades, é iniciado 4. desenvolvimento de plano de suporte outro modelo, mais funcional, para os casos mais
um registro diferenciado, conhecido como Plano individualizado; graves. Na prática, esses currículos se aproxima-
de Trabalho Docente Específico (PTDE). A reco- 5. monitoramento/acompanhamento do vam mais de conteúdos semelhantes aos encon-
mendação ideal é que esse planejamento seja progresso e avaliação. trados no currículo da Educação Infantil, e os es-
elaborado coletiva e colaborativamente, com o tudantes ficavam infantilizados, não avançavam
envolvimento de familiares, professores, coorde- No Plano de Trabalho Docente (PTD), poderemos para níveis mais complexos de escolarização.
nadores e profissionais especialistas que conhe- delinear as particularidades por meio do PTDE,
cem e trabalham com o estudante e que podem uma vez que o aluno com deficiência intelectual Quando os alunos com deficiência intelectual
fornecer informações sobre ele. pode se beneficiar de especificidades. Entretan- começaram a ingressar em escolas comuns, a
to, sempre garantindo o contexto da sala de aula crença de que eles precisavam de uma metodo-
Nele, serão abordados os conhecimentos prévios e tendo em vista que o PTDE é complementar e logia totalmente diferente ainda predominou e
referentes ao período que se refere, com a defini- específico, fazendo parte do PTD, conforme iden- algumas propostas surgiram, tais como preparar
ção sobre as expectativas de ensino e aprendiza- tificado na Figura 1. “adaptações” ou “acomodações” individualiza-
gem, bem como a especificação de mudanças de das para eles, muitas vezes na forma de ativida-
estratégias e metodologias ou indicação de recur- des em folhas separadas ou com o uso de livros
sos a mais que não foi possível contemplar no pla- ou textos de anos anteriores. Os professores
no universal. É importante enfatizar a necessidade reclamavam da falta de tempo e espaço para
do estabelecimento de metas e o que se espera do elaborar e executar duas formas de ensino: uma
estudante como resultado das ações e expressão, para toda a turma e outra exclusiva para o aluno
propostos nas avaliações de desempenho. PTDE PTD com deficiência. Além disso, a crença de que o
aluno requeria ensino totalmente individualiza-
De acordo com Almeida (2004), o planejamen- do complicava a vida do professor, que na sala
to dos apoios que o estudante com deficiência de aula tentava se dividir entre instruções gerais
intelectual requer deve envolver cinco compo- para toda a turma e individualizada para o aluno
nentes básicos: com deficiência.
Figura 1. Organização do PTD
32
Quando a situação ficava muito difícil, o profes- aí, pois independentemente das decisões toma- nem sempre compatíveis com o currículo padrão
sor tornava “invisível” o aluno com deficiência das, a presença cotidiana desses alunos na classe e, por isso, não contempladas na classe comum
para cuidar dos demais ou, então, demandava leva o professor a se autoquestionar sobre o sen- (WANG; REYNOLDS; WALBERG, 1995).
um auxiliar ou estagiário para individualizar o en- so de autoeficácia: Será que fiz tudo o que era
sino das atividades adaptadas que ele preparava preciso para esse aluno avançar? Será que fui um Há que se destacar, ainda, que a qualidade do
especialmente para esse aluno com deficiência bom professor para esse aluno? ensino interfere na necessidade de suporte, re-
intelectual. E, muitas vezes, na falta de tempo forços ou apoios, na tentativa de remediar um
para o planejamento, até deixava a tarefa de pre- Certamente, essas dúvidas, incertezas e insegu- ensino de má qualidade da classe comum. Além
parar atividades a cargo desses auxiliares de aula. ranças assombram muitos professores que têm disso, consequentemente, maior será o número
alunos com deficiência intelectual em suas tur- de alunos com suspeita de deficiência intelectual,
Entretanto, chegava a hora da avaliação, e as dú- mas, e mesmo que tenham vários outros alunos uma vez que o sistema tende a colocar no aluno
vidas surgiam. O que considerar na avaliação do que, igualmente, não estejam aprendendo, mui- os determinantes do fracasso.
desempenho do aluno com deficiência intelectu- tas vezes é o aluno rotulado de deficiente intelec-
al? As expectativas de aprendizagem do currículo, tual que os incomodam. Assim, todo o direcionamento da pesquisa sobre
que não foram ensinadas a ele por que estavam inclusão escolar na atualidade está voltado para
muito além de sua capacidade? A evolução do alu- A primeira evidência que a experiência com po- o desenvolvimento das chamadas práticas peda-
no comparado a ele mesmo? Tomar como base líticas de inclusão escolar tem mostrado é que é gógicas universais, que se mostram efetivas para
o currículo da turma ou as habilidades de socia- preciso mudar a crença de que todos os estudan- todos os alunos, indistintamente, e que possam
lização? Ele deve participar das provas da turma tes com deficiência intelectual requerem meto- ser adotadas no contexto da classe comum. E na
ou devo fazer uma avaliação específica para esse dologia específica ou diferenciada para o ensino medida em que se melhora ao máximo o ensino
aluno? Como devo registrar seu desempenho, nos e que eles podem ser tratados como um bloco na classe comum, é possível, então, ter a dimen-
boletins escolares ou através de portfólios? Que homogêneo em função do enquadramento na são exata de quais alunos precisariam de apoios
nota ou conceito devo registrar para esse aluno? mesma condição de deficiência. adicionais e diferenciados.
No final do ano, devo reter ou avançar o aluno, a
despeito de seu desempenho? Enfim, quais crité- Percebe-se que, em relação a estudantes com Entretanto, é preciso destacar que a parcela de
rios adotar na hora de avaliar? Quando chegava deficiência intelectual, a experiência de escola- alunos que precisaria de complementação ou, em
a época das avaliações externas, os professores rização em classes comuns de escolas regulares último caso, de substituição do currículo padrão
se questionavam se deveriam deixar o aluno par- tem evidenciado que a grande maioria desses es- é considerada minoria no grupo dos estudantes
ticipar ou pedir para ele ficar em casa, para não tudantes (que se estima ser de 80 a 85%) requer com deficiência intelectual. Vamos, então, tratar
prejudicar o desempenho da escola. apenas uma boa escola, ao passo que apenas primeiramente de compreender como essa gran-
uma minoria (entre 15 e 20%) precisaria de me- de maioria dos alunos com deficiência intelectual
Enfim, as dúvidas e incertezas não paravam por todologias mais diferenciadas ou especializadas, pode ser ensinada no contexto da classe comum.

33
Estes níveis foram concebidos inicialmente como preventivas, baseadas em intervenções univer-
um referencial amplo, com foco na educação de sais que melhorem o ensino na classe comum
DESENHO UNIVERSAL PARA estudantes identificados como sendo de risco de para todos e que tenham como foco o currículo,
fracasso na escola, mas com o tempo, percebeu- a fim de se evitar a necessidade de remediações
A APRENDIZAGEM -se que esse contínuo de trabalhos apoiava todos
os alunos, inclusive aqueles com significativas di-
ou adaptações descontextualizadas.

ficuldades intelectuais. O referencial do DUA considera três redes de


Em síntese, o investimento na organização escolar aprendizagem com base em pesquisas sobre
considerando o Desenho Universal para a Aprendi- O primeiro nível seria o das intervenções uni- imagens cerebrais obtidas enquanto indivíduos
zagem (DUA), que organiza o ensino em três níveis versais, que visa melhorar o ensino para todos estavam envolvidos em tarefas de aprendizagem
variados de apoio, conforme ilustrado na Figura 2. no contexto da classe comum, que atingiria de (por exemplo, de leitura ou escrita), que revela-
modo benéfico grande parte dos estudantes, ram três redes neurais no cérebro durante a ati-
por volta de 80%, inclusive aqueles considera- vidade: a rede de reconhecimento (o “que” da
dos com deficiência intelectual. Quando esse aprendizagem), a rede estratégica (o “como” da
ensino universalizado não for suficiente, a ele se aprendizagem) e a rede afetiva (o “porquê” da
somariam intervenções diferenciadas, do segun- aprendizagem) (ROSE; MEYER, 2002). Além dis-
do nível, que são suplementares e destinadas a so, o DUA é baseado em um conceito amplo de
atender os outros cerca de 20%, entre eles, estu- currículo que inclui metas, materiais, métodos e
dantes com deficiência intelectual mais compro- avaliação (HITCHCOCK et al., 2005), baseado em
metidos. E se, por sua vez, esse nível de suporte três princípios:
ainda não for suficiente, viria o terceiro nível, das
intervenções específicas. • Princípio 1: Fornecer múltiplos meios de
representação para ativar a rede de reconhe-
Outro ponto de destaque é que esses níveis de cimento, o que implica prover opções para
trabalho não se substituem, mas se somam, de modificar as informações e a interface visual
modo que, por exemplo, se o estudante recebe e auditiva, incluindo meios de comunicação,
uma intervenção de nível 3, a ela é associada uma cartas ou figuras.
instrução universal do nível 1, portanto, o aluno
continua recebendo o mesmo ensino da turma, • Princípio 2: Fornecer múltiplos meios da rede
acrescido de níveis mais intensivos de instrução estratégica, da ação e expressão, o que requer
(KOVALESKI; BLACK, 2010). oportunizar várias maneiras de expressar o co-
nhecimento e a aquisição de habilidades por
Figura 2. Níveis de apoio – Desenho Universal O desafio tem sido desenvolver abordagens mais parte dos estudantes.
para a Aprendizagem
34
• Princípio 3: Para ativar a rede afetiva, de- o progresso de um aluno utilizando uma varie- Na sala de aula, o DUA começa com três etapas
ve-se fornecer múltiplos meios de engajamen- dade de meios e materiais. As avaliações devem iniciais:
to, oportunizando opções que contemplem o ser direcionadas para medir com precisão o co- 1. definir metas apropriadas que permitam
interesse no aprendizado e favoreçam fatores nhecimento, as habilidades e o envolvimento do múltiplos meios de realização;
internos e externos, como autorregulação e aluno, mantendo o que é relevante no processo e
2. avaliar as diversas necessidades dos alunos;
autodisciplina, aumentando, assim, a motiva- reduzindo ou eliminando elementos irrelevantes
ção dos estudantes. ou que distraem e interferem na validade da ava- 3. verificar as barreiras que possam existir para
liação. No caso dos alunos com deficiência inte- oferecer o ensino.
As expectativas de ensino e aprendizagem repre- lectual, as avaliações devem considerar as expec-
sentam os conhecimentos, os conceitos e as habi- tativas de ensino e aprendizagem estabelecidas
lidades que os alunos precisam dominar e estão no planejamento, que devem estar vinculados às Todos os estudantes têm pontos
alinhados ao currículo. Nesse sentido, é impor- expectativas relacionadas ao currículo, que pode fortes, pontos fracos e áreas
tante vincular ao máximo os direcionamentos do ser de conteúdos priorizados se necessário. de interesse preferidas dentro
plano específico do estudante com deficiência in-
do contexto do ambiente de
telectual junto às propostas do plano de trabalho O objetivo quando se implementa o DUA é de
comum da turma em que ele se insere, sendo es- permitir que os alunos possam avaliar suas pró-
aprendizagem nas três redes de
sas metas definidas de modo que permita várias prias necessidades de aprendizagem, monitorar aprendizagem (de reconhecimento,
maneiras de o aluno demonstrar suas conquistas. seu progresso e regular e manter seu interesse, ação e expressão e engajamento), e
esforço e persistência durante uma tarefa de combiná-los em um perfil de classe/
As estratégias instrucionais usadas pelos edu- aprendizado. Embora muitos alunos aprendam grupo é tarefa do professor.
cadores para apoiar a aprendizagem dos alunos dentro de aulas tradicionais com um currículo
devem ser baseadas em evidências e apoiadas padrão, a maioria pode precisar de suportes ou
por uma análise da variabilidade dos estudantes, apoios para aprender em algum momento de seu Na avaliação das diversas necessidades dos estu-
sendo flexíveis e ajustáveis por meio do monito- percurso de escolarização. Assim, a diferença en- dantes, deve-se responder:
ramento consistente do progresso do aluno. tre o conceito de DUA e de adaptação curricular é • Quem são esses estudantes
que este último era pensado como modificações
Os materiais são os meios utilizados para se apre- • Como eles aprendem melhor?
exclusivas para alunos com deficiência, ao passo
sentar conteúdo e demonstrar aprendizado e de- que no referencial do DUA as flexibilizações nas • Que pontos fortes, origens culturais, estilos de
vem oferecem várias opções e incorporar supor- expectativas de aprendizagem, no modo de ins- aprendizagem e interesses eles trazem para a si-
tes para atender a diversidade dos estudantes. truir, nos materiais e nas formas de avaliação são tuação de aprendizagem?
pensadas como estratégias universais, ou seja, • Quais formas de comunicação eles usam?
A avaliação dentro do referencial do DUA refere-
aplicáveis a qualquer estudante. • Como eles executam um plano de aprendizado?
-se ao processo de coleta de informações sobre
• Quais são seus talentos?
35
Múltiplos meios de representação: • formas de representação; individuais de aprendizagem para focar e abor-
• apresentações em vídeo sobre o assunto; • variadas formas de modalidade para respon- dar as barreiras existentes no currículo. Quando
der (como, por exemplo, oralmente); munidos com as ferramentas certas para acessar
• legendagem de vídeo;
e compreender informações e conteúdo que são
• audiodescrição (de vídeo ou imagem); • checklist;
de seu interesse, estudantes com diversos perfis
• podcasts com textos narrados; • quiz;
de aprendizagem, inclusive aqueles com deficiên-
• destaque ao vocabulário no conteúdo alvo; • softwares interativos. cia intelectual, podem encontrar desafios apro-
• destaque às principais ideias oferecidas em priados, engajar-se na situação de aprendizagem
A variação nos meios de promover engajamento e progredir.
textos por meio de organizadores gráficos e
envolve:
mapeamento conceitual;
• escolher tópicos de interesse dos estudantes
• instruções verbais associadas com repre-
para o desenvolvimento de projetos (como, por
sentações impressas e visuais;
• aplicativos e conteúdo interativo;
exemplo, dinossauros, astronautas, estilo musi-
cal, produtos de beleza, moda, futebol, música, TRABALHO COLABORATIVO
• oportunidades prévias de aprender novos games, artes plásticas, meio ambiente etc.);
vocabulários e conceitos antes de introduzir/ • usar listas de verificação de automonitora- NA ESCOLA
ensinar o conteúdo visado; mento;
• uso de cores diferentes para dar ênfase às • montar centros de aprendizagem ou ateliês; Duas ou mais cabeças sempre pensam melhor
informações dos textos relacionadas ao con- do que uma única, e a inclusão tem obrigado os
• usar estratégias de autoavaliação;
teúdo ou vocabulário priorizado; professores a deixar de realizar um trabalho so-
• usar estratégias auditivas ou visuais para ob-
• mapas cognitivos; litário para buscar ações mais compartilhadas,
ter atenção e reduzir a dispersão;
• dicas visuais para fornecer feedback duran- melhorando a cultura colaborativa na escola.
• realizar tutoria de pares ou trabalhos em Assim, estratégias de planejamento coletivo,
te a aula.
grupo. compartilhamento de experiências e entrada de
Exemplos de múltiplos meios de ação e expressão: novos atores para apoiar a inclusão na escola e
Enfim, a maioria dos currículos é planejada como
• modelos multissensoriais (visuais, auditivos, na sala de aula têm sido aspectos importantes
se todos os alunos aprendessem da mesma
textuais ou táteis); quando se busca um ensino mais responsivo à
maneira. Entretanto, a ideia de um estudante
diversidade dos alunos.
• instrução verbal emparelhada com dicas vi- sem nenhuma necessidade de diferenciação na
suais; aprendizagem é um mito. Ao analisar as caracte- O ensino colaborativo – que envolve a parceria
• uso de computador; rísticas delineadas em um perfil da turma, à luz entre professores de ensino comum e especial –,
dos métodos e materiais flexíveis, os professores a consultoria colaborativa – que envolve o supor-
• modos de escrita;
podem ir além da identificação de dificuldades te de profissionais de equipes multidisciplinares
36
nas escolas – e a instituição de tempos e espaços política de inclusão da escola baseada na cultura Segundo Firminano (2011), as vantagens da
de planejamento coletivo e de formação em ser- colaborativa podem contribuir para sanar muitas aprendizagem cooperativa são:
viço sobre cultura colaborativa escolar têm sido das dúvidas dos professores sobre como ensinar • estímulo e desenvolvimento das habilidades
estratégias recomendadas pela literatura sobre seus alunos com deficiência. sociais;
inclusão escolar, não apenas para alunos com de-
• criação de um sistema de apoio social;
ficiência intelectual, mas para todo o público alvo É preciso fomentar no contexto escolar a ideia de
da educação especial. que o aluno, tenha ele ou não uma deficiência, é • encorajamento sobre a responsabilidade pelo
responsabilidade de todos os agentes educacio- outro;
O que todas elas têm em comum é o conceito de nais e não apenas do professor ou de auxiliares • elevação da autoestima;
colaboração, que compreende três princípios: contratados para apoiar esses alunos. Assim, a • criação de uma relação positiva entre alunos
existência de diretrizes coletivamente construí- e professores;
1. ter cumplicidade para definir as expectativas das e compartilhadas diminui as dúvidas, as in-
• estímulo do pensamento crítico;
de ensino e aprendizagem por meio de currícu- certezas e a solidão dos professores na hora de
lo universal e planejamento específico; decidir o que é melhor para o aluno com defici- • ajuda aos alunos a clarificar as ideias por meio
ência intelectual. do diálogo;
2. apresentar voluntarismo direcionado a
compartilhar, somar e aprender junto, porque • desenvolvimento da competência de comu-
quando não há vontade, não há colaboração; nicação oral;
3. demonstrar paridade, que valoriza igualda- • melhora da recordação dos conteúdos;
de na relação sem hierarquia, na qual parte-se APRENDIZAGEM • criação de um ambiente ativo e investigativo.
do princípio de que todos têm saberes impor-
tantes para partilhar e, nesse sentido, não se COOPERATIVA A aprendizagem cooperativa não só reconhece
a diversidade, mas tira proveito dela, na medida
concebe a existência de experts ou especialis-
tas orientando ou prescrevendo o que os pro- em que as diferenças entre os alunos se trans-
Considerando-se que a escola deve dar respostas
fessores devem fazer (VILARONGA; MENDES; formam em um elemento positivo facilitador da
às diferentes necessidades de seus estudantes,
ZERBATO, 2016). aprendizagem.
é recomendável utilizar estratégias que permi-
tam que eles participem ativamente e partilhem Há várias estratégias de aprendizagem coopera-
A ideia de colaboração é analisar os problemas e
maiores responsabilidades em relação a seus tiva para uso em sala de aula, mas no caso de
buscar conjuntamente as soluções. Assim, muitas
processos de aprendizagem. alunos com deficiência intelectual, destaca-se a
das dúvidas dos professores sobre o que e como
ensinar e como avaliar precisam ser comparti- tutoria de pares como uma das melhores estra-
A aprendizagem cooperativa pode ser definida
lhadas nos contextos escolares, e a construção tégias, pelos benefícios que proporcionam para
como um conjunto de técnicas de ensino que têm
coletiva e colaborativa do projeto político peda- o desenvolvimento dos estudantes e por ser
em comum o pressuposto de que os estudantes
gógico, a gestão democrática e a construção da consistentemente menos custosa do que, por
podem aprender na interação com seus colegas.
37
exemplo, a instrução assistida pelo computa-
dor, a redução no tamanho da classe, o aumen-
to do tempo instrucional para favorecer ganhos
em matemática e leitura ou mesmo a inserção
de outros profissionais de apoio na sala de aula
(SANTOS; MENDES, 2005).

A tutoria de pares é uma estratégia para a aten-


ção à diversidade, que deve possibilitar ao aluno
com dificuldade (tutorado) encontrar uma ajuda
personalizada de um colega (tutor) que, além de
colaborar na aprendizagem de outro estudante,
terá a oportunidade de aprofundar seus conhe-
cimentos, sendo, portanto, uma estratégia privi-
legiada para o ensino em classes heterogêneas
(DURAN; VIDAL, 2007). Assim, a tutoria de pares é baseada na criação de Num segundo momento, deve-se ensinar o tutor
díades de alunos com uma relação assimétrica, a intervir, incialmente dando dicas e só posterior-
A tutoria de pares (TOPPING, 2000) promove: na qual o papel de tutor e tutorado deriva do di- mente oferecendo modelos ou demonstrações
• mais oportunidade de prática entre os alunos; ferente nível de competência sobre a matéria, e do que tem que ser feito. O passo final envolve
• mais ajuda individualizada; tendo um objetivo comum, conhecido e compar- ensiná-lo a encorajar, elogiando o esforço do tu-
• maior possibilidade de questionamentos; tilhado, que é o ensino e a aprendizagem de con- torado em fazer a tarefa. Assim, os tutores devem
teúdos curriculares, alcançada por meio de um compreender que é necessário dar um tempo de
• vocabulário mais simples;
contexto planejado (MARINS, 2019). Entretanto, reflexão aos tutorados (esperar), devem também
• modelos e demonstração; o que a literatura destaca é que o uso bem-su- ver o interesse de uma intervenção precisa quan-
• mais exemplos relevantes; cedido da tutoria de pares requer planejamento do esses mesmos tutorados não conseguem cor-
• mais incentivo e autocorreção; cuidadoso das atuações na criação de situações rigir os seus erros (intervir) e, por fim, incentivá-
• oportunidades mais frequentes de feedback de tutoria entre iguais. -los na busca da solução (encorajar).
e elogio;
Para o treino do tutor, Marins (2019) recomenda
• mais reflexão acerca da aprendizagem; o método de ensinar o tutor a esperar antes de
• mais controle do próprio processo de apren- intervir quando o tutorado comete um erro ou
dizagem. hesita, a fim de permitir que ele identifique seus
erros e tenha tempo suficiente para os corrigir.
38
rol Ann Tomlinson, da Universidade de Virginia, Na vida, as crianças podem escolher entre uma
que foi professora da Educação Básica em escola variedade de roupas para combinar com diferen-

ENSINO pública nos Estados Unidos por mais de 20 anos


e somente depois se tornou pesquisadora. Ela é
tes tamanhos, estilos e preferências. Entendemos,
sem questionar, que isso os torna mais confortá-
veis e dá expressão às suas personalidades em
DIFERENCIADO a principal autora dessa abordagem, e seus tra-
balhos têm como vantagem os aspectos práticos
desenvolvimento. Na escola, modificar ou dife-
renciar instrução para estudantes com níveis de
da organização pedagógica da ED (TOMLINSON, prontidão e interesses diferentes também fica
Todos os professores reconhecem que em uma 1999, 2001, 2004, 2017, TOMLINSON; MCTIGHE, mais confortável, envolvente e convidativo... para
sala de aula os alunos são diversos, sendo que 2006, TOMLINSON; BRIMIJOIN; NARVAEZ, 2008,
estudantes com necessidades diferentes, mesmo
alguns avançam mais rápido, enquanto outros que sejam cronologicamente da mesma idade.
TOMLINSON, IMBEAU,2010). (TOMLINSON, 2001, p. VII-VIII).
demoram mais para aprender. Entretanto, a des-
peito de reconhecerem a diversidade dos estu- Cabe destacar, ainda, que se trata de uma pro- A primeira tarefa do professor para diferenciar
dantes, a forma de ensinar nem sempre respon- posta que visa contribuir para que os professo- o ensino é conhecer o perfil de aprendizagem
de a essas diferenças. res compreendam e respondam proativamente dos estudantes, e isso implica conhecer o nível
às diferenças de todos os seus alunos, inclusive de prontidão, os interesses, o estilo de aprendi-
A ideia de que ensinar implica em responder aqueles com deficiência ou altas habilidades/su-
adequadamente à diversidade dos alunos tem zagem, o tipo de inteligência e o conhecimento
perdotação, não se tratando, portanto, de uma prévio que o estudante tem do currículo.
sido partilhada por vários cientistas do campo da proposta de educação especializada, mas sim de
Educação. Entretanto, as pressões para cumprir educação para todos.
o conteúdo do currículo padrão e das avaliações
A. Avaliação do perfil de aprendizagem do
externas, associado ao formato dos cursos de Como no DUA, a abordagem da ED considera que estudante
formação e à cultura escolar, não têm incenti- para responder adequadamente à diversidade
vado os professores a buscar formas de ensinar dos alunos é preciso variar a forma de ensinar, Os alunos diferem no contexto em que apren-
estudantes que são diversos em seus estilos de podendo ser feita a diferenciação em quatro ele- dem melhor, tanto em relação ao ambiente físi-
aprendizagem. Além disso, muitos professores mentos relacionados ao currículo: conteúdo, pro- co quanto social, e em relação às características
acreditam que não se pode diferenciar o ensino, cesso, produto e estrutura da aula. Tais variações pessoais, tais como o estilo de aprendizagem e o
enquanto outros, embora pensem ser necessá- devem ser baseadas nas diferenças dos alunos tipo de inteligência. Por exemplo, no âmbito so-
rio, não sabem como fazê-lo. em termos de níveis de prontidão, interesses e cial, alguns trabalham independentemente, pois
perfil de aprendizagem. são auto-orientados, enquanto outros gostam de
No presente tópico, vamos apresentar especifica-
aprender com seus colegas em grupos ou duplas
mente uma dessas abordagens, denominada En-
ou ser orientados por adultos.
sino Diferenciado (ED)², que tem como principal
referência teórica a pesquisadora americana Ca-
² Tradução do termo inglês “differentiated instruction”.
39
Quanto ao contexto físico, alguns só se concen- to, enquanto outros se dão melhor se o ensino interpessoal e intrapessoal naturalista. E quando
tram se o ambiente estiver silencioso, outros parte do que é abstrato. Uns se estimulam com a os alunos desempenham tarefas relacionadas às
gostam de aprender ouvindo música, enquanto colaboração, e outros, ao contrário, com a com- suas inteligências preferenciais, eles têm mais su-
outros são estimulados a aprender em ambiente petição. Alguns gostam de atividades com pes- cesso em aprender.
agitado e barulhento. Alguns gostam mais de am- soas, enquanto outros preferem a introspecção,
bientes quentes, outros, de um clima mais fresco. ficar sozinhos. Alguns conseguem manter sua Nos exemplos acima, buscamos mostrar como
Uns gostam de se movimentar, enquanto outros atenção altamente concentrada, enquanto ou- os alunos podem ser diferentes entre si em fun-
preferem permanecer quietos. Uns preferem tros são facilmente distraídos. Uns se motivam e ção de sua biologia e de sua cultura, mas a escola
permanecer sempre no mesmo lugar, enquanto buscam a conquista do grupo, enquanto outros insiste em ignorar essa diversidade e privilegiar
outros apreciam ficar mudando de carteira. Uns se mobilizam mais por conquistas pessoais. Uns determinados estilos de aprendizagem, por isso
gostam de múltiplas tarefas desenvolvidas na preferem aprender observando, outros, falando, falha em ensinar a todos.
sequência ou até simultaneamente, enquanto e ainda outros, se movimentando. Alguns prefe-
outros apreciam uma sequência mais espaçada, rem pensar muito antes de agir, e outros são mais Embora não possamos manipular certas caracte-
gostam de trabalhar em uma tarefa por vez e de impulsivos, agem antes de pensar. rísticas pessoais, um professor atencioso vai ava-
algum tempo ocioso, descansando no intervalo liar o estilo de cada um de seus alunos e propor
entre as atividades. Os estudantes também diferem em tipos de in- uma sala de aula com diferentes perspectivas,
teligência. Nesse sentido, alguns teóricos nos de modo a contemplar essa diversidade com di-
Além do tipo de ambiente físico e social, estu- ajudam a refletir sobre como somos diversos ferentes tipos de acordo, arranjando as opções
dantes também diferem em relação ao estilo. nesse aspecto. Robert Sternberg (1985) classifi- ao longo das aulas, ou numa mesma aula, ofere-
Por exemplo, alguns são mais criativos, enquanto ca os tipos de inteligência em: analítica, prática e cendo diferentes espaços e oportunidades de os
outros preferem a conformidade. Alguns preocu- criativa. A inteligência analítica é velha conhecida estudantes aprenderem. Enfim, se o professor
pam-se com a essência ou os princípios, enquan- dos professores, pois tem sido praticamente a conhecer a preferência de cada um de seus es-
to outros gostam de se ater mais aos fatos. Al- mais valorizada e considerada pela escola. Entre- tudantes, ele pode contemplar essas diferenças
guns compreendem melhor se partirmos da parte tanto, há aqueles com inteligência mais prática, ao longo do tempo, ampliar o engajamento e ma-
para o todo, enquanto outros se dão melhor se que preferem a aprendizagem contextualizada e ximizar as oportunidades que os alunos têm de
partimos do todo para chegarmos às partes. Uns aprender como as coisas funcionam. E aqueles aprender (TOMLINSON, 2001).
são mais desinibidos e gostam de se expressar com inteligência criativa, que preferem resolver
em público, enquanto outros são mais introverti- problemas, criar algo ou inovar. Assim, no ED, os professores não veem as avalia-
dos e preferem não se expor. Alguns pensam de ções como algo no final do processo de ensino
forma mais linear, enquanto outros raciocinam Howard Gardner (1995) sugere ainda que as pes- de uma unidade para testar ou descobrir o que
em forma de rede. Uns são mais orientados para soas diferem em relação ao tipo de inteligência e os alunos aprenderam. Ao invés disso, elas são
pessoas, enquanto outros preferem objetos. Al- sugere linguística verbal, matemática lógica, viso- meios de entender, no presente, como devemos
guns aprendem melhor se partirmos do concre- -espacial, musical-rítmica, corporal-sinestésica, modificar o ensino para o futuro. Assim, elas de-
40
vem funcionar como um mapa para guiar o pla-
nejamento e a instrução na sala de aula.

Carol Tomlinson (1999, 2001 nos aconselha ob-


servar e estudar mais nossos alunos, perguntan-
do a eles o que funciona ou não para cada um,
convidando-os a propor sugestões sobre como
melhorar e conversando com seus pais sobre
como eles aprendem melhor. Instrumentos exis-
tentes na literatura sobre avaliação de estilos de
aprendizagem também podem contribuir para
conhecermos melhor nossos alunos e ajudá-los a
tomar consciência de suas preferências.

Enfim, iniciar pelo processo de avaliação do perfil


de aprendizagem dos estudantes é um diferen-
cial importante na abordagem do ED, pois uma
vez que conhecemos nossos alunos, podemos
pensar nos possíveis elementos de diferenciação.

B. Diferenciação do conteúdo

Ao diferenciar o conteúdo, é possível oferecer


abordagens diversificadas de input para favore-
cer entrada de informações, ideias e habilidades
que atendam às características dos diferentes
alunos e apoiem seus progressos individuais. A
diferenciação do conteúdo pode ser feita de duas
formas, no “o que” vamos ensinar (expectativas
de ensino e aprendizagem) ou no “modo” como
vamos ensinar o que o estudante precisa apren-
der. Ela pode ser baseada no nível de prontidão

41
dos estudantes, o que implica parear o nível de • Destacar previamente trechos importantes
complexidade do conteúdo com aquilo que o em materiais impressos ou oferecer resumos
aluno é capaz de ler e compreender. Tomlinson das principais ideias, como, por exemplo, em
(2001) oferece as seguintes sugestões para dife- sínteses, pontos listados, fluxogramas, mapas
renciar o conteúdo: conceituais do tópico etc.
• Basear o ensino em conceitos chave: sele-
C. Diferenciação no processo
cionar o que é mais importante para o aluno
aprender, os conceitos básicos. Diferenciar o processo implica oportunizar os
• Compactar o currículo: o professor avalia o meios pelos quais os alunos processam o conte-
tópico a ser ensinado e identifica quem domina údo, as ideias ou as habilidades que estão sendo
ou não o conteúdo. Os que já dominam ganham ensinadas, que têm relação com o processo de De modo geral, as instruções gerais direciona-
atividades enriquecidas, mais desafiadoras, en- construção de significados para o aluno e com as das para toda a turma, sejam orais ou baseadas
quanto o professor se dedica aos demais. Para atividades que o professor propõe para isso. em livros, textos ou apostilas, não contemplam
os que não dominam, o professor planeja ati- a diversidade dos alunos, e a proposta do ED é
vidades que vão atender às necessidades des- As atividades podem ser diferenciadas em relação:
mesclar as instruções gerais com instruções para
ses estudantes, que podem envolver juntá-los • ao nível de sofisticação ou complexidade da pequenos grupos, propondo atividades variadas.
a um colega para estudar ou fazer certa tarefa, tarefa;
levar tarefas para casa ou praticar mais fazendo • ao tempo para serem realizadas;
exercícios para dominar o conteúdo. • aos tipos de suportes pessoais que serão
D. Diferenciação nos produtos
• Usar material textual e recursos variados. fornecidos aos alunos (estagiário, tutoria de
colegas, trabalho de grupos etc.);
• Fazer contratos de aprendizagem com os alu- Diferenciar produtos é dar oportunidade para os
nos especificando o que eles precisam apren- • à redução das informações na tarefa para alunos demostrarem o que aprenderam de varia-
der, combinando como vão aprender e como que esta demande compreensão do que seria das formas. Uma boa atividade deve demandar
serão avaliados. essencial. que eles pensem sobre assunto, ampliem sua
A diferenciação no processo também pode ser compreensão, demonstrem e apliquem o que
• Oferecer miniaulas, aulas mais curtas com
feita por: aprenderam. O professor deve ter claro qual é o
conteúdo restrito, para ensinar de várias for-
• interesses; conhecimento, os entendimentos e as habilida-
mas algo que precisa ser dominado.
des que determinada produção deve incorporar
• nível de prontidão;
• Usar suportes variados, como, por exemplo, e, a partir de então, definir qual é o melhor for-
amigos, clube de leitura, áudio e vídeo, grava- • perfil de aprendizagem dos alunos. mato de atividade.
dores, tutoria de pares e mentoria de adultos.
42
Às vezes, a produção requerida é definida em plicações quando necessário; tendo em vista o nível de preparação ou pronti-
função dos requisitos do currículo, como, por dão do aluno. São exemplos disso:
• ajude os estudantes a preparar um cronogra-
exemplo, escrever uma redação. Outras vezes, o • ter textos disponíveis para diferentes níveis
ma para concluir um produto especificando as
professor pode variar o tipo de produção requeri- de proficiência em leitura;
tarefas intermediárias esperadas para que eles
da para que os alunos demonstrem como aplicar
saibam o que é esperado e possam se organizar; • prover materiais suplementares de leitura;
certas ideias ou habilidades, seja por escrito, oral,
desenhando, gravando em áudio ou vídeo, dra- • use minioficinas com produções intermediá- • usar apoios em níveis variados;
matizando, esquematizando em mapas mentais, rias, como como fazer anotações em pesquisas, • flexibilizar o tempo para execução das tarefas;
fazendo maquetes ou modelos ou combinando conduzir entrevistas, tirar conclusões, editar, e • oferecer diferentes opções de tarefa de casa;
as várias formas de mostrar o que foi aprendido. assim por diante.
• usar tutoria ou ensino em pequenos grupos;

No caso de alunos com deficiência intelectual, E. Diferenciação na estrutura da aula • usar organizadores gráficos;
tem sido comum constatar que seus professo- • escalonar tarefas (com níveis variados) e pro-
res têm baixas expectativas e, por isso, lhes atri- No ED, o professor deve alternar entre ensinar dutos (requisitos variados de desempenho);
buem atividades e produções pouco exigentes. toda a classe e ensinar grupos flexíveis (duplas,
• negociar com os estudantes critérios de de-
Assim, deve-se oferecer as seguintes sugestões trios, quartetos) e usar estações de ensino base-
sempenho esperados.
quanto ao que exigir de produtos de alunos com adas em centros de atividades ou centros de in-
mais dificuldades: teresses. A diferenciação na estrutura da sala de Diferenciações baseadas nos interesses dos alu-
aula é essencial para abrir portas para os demais nos implicam conhecer e lançar mão de interes-
• certifique-se de que o produto demandado tipos de diferenciação – de conteúdo, processo ses específicos, como, por exemplo, em artes
para todos os alunos requeira a ampliação da e produto. plásticas (fotografia, pintura, escultura), literatu-
compreensão sobre o assunto e a aplicação do ra (poesia, prosa, ficção ou não ficção), tecnolo-
conhecimento a ser adquirido; O que se sugere é que a estrutura de organização
gia, esportes/recreação, ciências (Biologia, Física,
de carteiras em filas tradicionais, ou mesmo ou-
• use formatos de produtos que permitam aos Matemática, História, Ciências Sociais), jorna-
tros tipos de organização da sala que sejam fixas,
alunos se expressarem de maneiras diferentes lismo, política, negócios, música (composição,
não funciona, e o professor precisa diversificar
da escrita, principalmente se ele ainda não de- canto, dança, performance), teatro/cinema/te-
tanto os arranjos quanto os critérios de formação
mostra proficiência nessa habilidade; levisão, turismo, cultura, pessoas (heróis, vilãos,
de grupos flexíveis ao longo das aulas.
ídolos, bebês/crianças/adolescentes/adultos/
• se necessário, dívida a atividade em partes idosos), artesanato etc.
mais simples e permita que o aluno complete F. Outras considerações sobre a diferenciação
uma tarefa para depois atribuir-lhe outra; no ensino
Os interesses dos estudantes podem também ser
• providencie instruções adicionais em áudio contemplados na forma como eles demonstram
Os professores podem diferenciar qualquer um
ou vídeo para que os alunos possam revisar ex- o que aprenderam, sendo que alguns podem pre-
dos elementos (conteúdo, processo ou produto)
43
ferir se expressar oralmente (falando, fazendo se- fazer um plano de trabalho específico e as cha- aplicado, pode responder inclusive às necessida-
minário/simpósio, dramatizando), outros, escre- madas adaptações ou flexibilizações curriculares des educacionais da maioria dos alunos com DI
vendo, desenhando, construindo algo, com um para alunos com DI. Tanto o DUA quanto o Ensino no contexto de classe comum, sem a necessidade
produto artístico (gráfico, pintura, ilustração), Diferenciado prezam pelo respeito a diversidade de se associar medidas especificas, diferenciadas
abstrações (expondo ideias, planos e teorias) ou dos alunos, e já são previamente pensadas no ou exclusivas para eles.
prestando algum serviço à comunidade. planejamento as estratégias para envolver ins-
truções multimodais (por exemplo, juntando áu-
Exemplos de diferenciações baseadas no perfil dios, vídeos, textos, gráficos, desenhos) a fim de

Considerações
de aprendizagem envolveriam variação na forma que se possa contemplar todos os alunos. Para
da tarefa, no tipo de instrução (oral, visual, si- diferenciar é preciso conhecer o aluno, descobrir
nestésica, do todo para a parte e da parte para qual é seu estilo, e estruturar a sala de aula de

curriculares
o todo), em como o aluno expressa o que apren- modo a oferecer diferentes tipos de ensino para
deu – considerando os diferentes estilos de inte- abarcar o conjunto de diversidade dos alunos.
ligência – ou, ainda, em trabalhar com oportu-

sobre alunos
nidades de escolhas, com diferentes arranjos na É de extrema importância variar as atividades,
sala de aula e em ambientes flexíveis, múltiplos assim como as tarefas dos alunos, de modo a
modos de avaliação e modos alternativos de or- proporcionar oportunidades diversas de o estu-

com deficiência
ganizar as informações. dante expressar de várias formas o que apren-
deu. Além disso, na abordagem do DUA e do
Alguns alunos aprendem facilmente a ler, outros Ensino Diferenciado, preza-se muito a autoava-

intelectual
são melhores em cálculo, nas aulas de desenho liação que o estudante deve empreender no fi-
ou nas de educação física. Enfim, os estudantes nal do processo de ensino.
diferem entre si, e em uma sala de aula diferen-
ciada, os professores têm que respeitar os estu- O DUA e o Ensino Diferenciado são propostas
dantes como eles são e contribuir para eles de- universais, ou seja, que sustentam a possibilidade Embora muitas questões curriculares tenham
senvolvam o máximo possível de seu potencial. de diferenciar o ensino para todos os alunos, in- sido apresentadas nos tópicos anteriores, nesta
Em uma sala de aula onde há ensino diferenciado, distintamente, e não pensar apenas nas medidas parte do texto iremos destacar alguns pontos re-
a diversidade de todos os alunos é contemplada, exclusivamente aplicadas a estudantes com defi- lacionados aos níveis de ensino e aos casos dos
inclusive daqueles com DI, e reduz-se a necessi- ciência, como eram as antigas propostas de modi- alunos cujos impedimentos são tais que temos
dade de planejar dois tipos de aula. ficação, adaptação ou flexibilização curricular. dificuldades em pensar como ensiná-los no con-
texto da classe comum ou tomando como base o
Cabe destacar aqui a diferença entre o DUA e Assim, o DUA e o Ensino Diferenciado visam me- currículo padrão.
Ensino Diferenciado associado a possibilidade de lhorar o ensino para todos os alunos e, se bem
44
outras – podem ser considerados fatores de ris- d) o engajamento social é maior em ambientes
co e indicativos de impedimentos mais severos inclusivos;
O aluno com da condição de DI. Em geral, essas crianças são
identificadas como diferentes porque possuem
e) é possível minimizar casos de isolamento so-
cial através de intervenções específicas ou de
deficiência intelectual estigmas físicos de maior visibilidade, e devido
à natureza de seus impedimentos, devem parti-
práticas que preveem a construção de intera-
ções sociais como parte do currículo.
na educação infantil cipar de um programa de estimulação ou inter-
venção precoce que atenda suas necessidades. Cabe destacar que o princípio de equiparação de
oportunidades não significa necessariamente tra-
Em geral, as crianças com DI são identificadas Odom (2000) destaca que a perspectiva de inclu-
tar os alunos da mesma maneira ou apenas igua-
depois que entram na escola, particularmente são escolar de crianças pequenas implica a parti-
lar as oportunidades, uma vez que o princípio da
quando demandadas a aprender a ler e escre- cipação das crianças com deficiência na mesma
igualdade não garante as mesmas oportunidades
ver e apresentam dificuldades. Daí se levanta a sala e turma como qualquer outra criança, e não
de aprendizagem para todos. Portanto, é cabível
suspeita e encaminha-se para avaliação. No caso apenas em algumas das atividades ou por algum
diferenciar sim, embora nem sempre seja fácil es-
dessas crianças identificadas quando ingressam período, mas durante o tempo todo e desfrutando
tabelecer quando isso é necessário para garantir
no Ensino Fundamental, as diferenças desenvol- da mesma rotina proporcionada aos seus colegas.
a participação da criança com deficiência. Uma
vimentais não costumam ser perceptíveis antes das possíveis diferenciações está na provisão de
dos 6 ou 7 anos de idade e, em geral, os impedi- Em relação ao impacto dos programas de inclu-
apoios que estão relacionados a:
mentos são de leve intensidade. são escolar na Educação Infantil, há evidências
que comprovam que: • assistência de outras pessoas (colega, adultos);
No caso de crianças pequenas, entre 0 a 5 anos, a) ambientes inclusivos podem favorecer o de- • adaptação dos diferentes espaços de apren-
como não é possível mensurar a função intelec- senvolvimento das crianças por oferecer um dizagem;
tual por meio de testes, não se recomenda identi- meio mais estimulador (cognitiva, social e lin-
ficá-las precocemente como uma pessoa com DI, • adequação de materiais ou qualquer outra
guisticamente) do que ambientes segregados;
mas apenas identificar se ela apresenta atrasos estratégia que assegure participação ativa e
no desenvolvimento neuropsicomotor. b) com suporte necessário e apropriado, as significante nas atividades;
crianças pequenas com condições diferencia-
• interações efetivas com os colegas e no pró-
Entretanto, atrasos significativos nos princi- das podem tanto adquirir habilidades comple-
prio grupo;
pais marcos de desenvolvimento (motor, social, xas quanto participar com sucesso de ambien-
cognitivo e da linguagem) e/ou presença de de- tes inclusivos; • resultados significativos consistentes com o
terminadas síndromes – como alguns tipos de clima e a cultura da situação natural.
c) a participação e a pertinência são as variáveis
anomalias cromossômicas, erros inatos do me- chaves e dependem de atividades específicas, Entretanto, existe um grande desafio para prover
tabolismo, síndrome de alcoólica fetal, entre que são dirigidas pelo educador; apoios para crianças com deficiência cuja idade
45
seja entre 0 e 6 anos, porque é difícil saber como exercer controle, além do ambiente e de suas al. (1996) propiciam práticas mais apropriadas
balancear entre as necessidades de cuidados, próprias vidas. para a idade dos alunos em ambientes da Edu-
que são próprias de qualquer criança nessa faixa cação Infantil inclusivos. As crianças terão par-
etária, e, ao mesmo tempo, assegurar cada vez Algumas recomendações para os educadores que ceiros mais habilidosos e modelos mais positivos
mais sua autonomia, atendendo às necessidades tenham alunos com deficiência em suas turmas de interação e poderão estar sujeitas a um nível
específicas necessárias para assegurar sua parti- são necessárias para criar um ambiente adequa- maior de interação social entre elas. Além disso,
cipação. Além disso, essas crianças podem ter di- do e benéfico para todos os estudantes, como: metas particulares contidas no plano de trabalho
ferentes necessidades de apoio, variando desde • fazer uma preparação não extensa e natural podem ser estimuladas durante as brincadeiras,
uma assistência mínima até aquelas do tipo in- para a chegada de um colega com deficiência em outras rotinas ou atividades previstas no cur-
tensivo e abrangente, sendo que as necessidades severa; rículo da Educação Infantil (MENDES, 2010b).
variam dependendo tanto da situação quanto
das características da criança. • oferecer sempre um modelo positivo para
se referir e se comunicar com as crianças com
Erwin e Schreiber (1999) sugerem que sejam se- deficiência, na medida em que as crianças sem
guidos os seguintes princípios na definição dos
apoios:
deficiência sigam o modelo do adulto para se
comunicar com as crianças com deficiência –
O aluno com
• o apoio deve ser o mais comum, cuidadoso e
daí a importância de o educador ser seguido;
deficiência intelectual
não estigmatizante possível; • permitir que alguns companheiros da mesma

• é preferível que o apoio seja fornecido pelos


idade possam aprender a usar estratégias de
suporte como ajuda física e serem facilitadores;
no ensino fundamental
colegas;
• as famílias devem estar envolvidas na defini-
• oferecer explicações e estratégias de enfren- e ensino médio
tamento para todos os estudantes aprenderem
ção dos apoios;
a lidar sem medo com a criança que é agressi- Em linhas gerais, vimos que, independentemen-
• deve existir um clima que promova a perti- va ou que apresenta comportamento de isola- te do nível de ensino, as abordagens universais,
nência e o espírito de comunidade, sem que ne- mento; aquelas que beneficiam todos os alunos, são as
nhuma criança fique isolada ou estigmatizada; mais indicadas também para a maioria dos alu-
• explicar e demonstrar o equipamento e/ou
• a fonte mais importante de avaliação deve dispositivo que o estudante com deficiência nos com DI. Todas admitem a possibilidade de
ser a própria criança, que deverá manifestar utiliza para que os colegas aprendam a respei- um currículo priorizado, e não apenas para aque-
suas prioridades, preferências, aversões e inte- tá-lo, além de oferecer oportunidade para que les com deficiência intelectual, mas para todos os
resses; eles os experimentem. alunos – entendendo aqui um conceito amplo de
currículo, que envolve objetivos, materiais, pro-
• o apoio deve refletir o direito das crianças de
Essas estratégias direcionadas por Thompson et cedimentos de ensino e avaliação.
46
Em relação ao currículo, podemos começar a aluno a ter sucesso nesses objetivos;
explorar a ideia de diferenciar o ensino conside-
• ensinar de modo que o estudante tenha
rando duas grandes categorias de estudantes: os
que são avançados e os que apresentam maior
aprendizagem contextualizada, ajudando-o a Modificações curriculares
ver como ideias e habilidades fazem parte de
dificuldade para aprender o que lhes é ensinado,
como é o caso dos alunos enquadrados na condi-
sua própria família, bairro e cultura e quais são
as conexões possíveis;
para estudantes com
ção de deficiência intelectual.
• planejar o ensino e a aprendizagem através deficiência intelectual que
Na escola, enfocamos o currículo padrão, os de muitas modalidades sensoriais, tanto na
professores se esforçam para cumprir todo o instrução quanto na forma de demonstrar a apresentam impedimentos
conteúdo, o ensino é praticamente o mesmo aprendizagem;
para todos os alunos e há avaliações regulares,
normalmente iguais para todos, mas quando re-
• encontrar sempre modos de deixar o aluno mais significativos
saber que você acredita nele e incentivar o su-
cebemos os resultados das avaliações externas,
cesso legítimo sempre que isso acontecer; A ideia de que é possível educar estudantes com
vemos o quão pouco nossos alunos estão domi-
• diferenciar conteúdo, processo, produto e a DI que apresentam impedimentos mais severos é
nando do currículo. Acontece que nosso cérebro,
estrutura da sala de aula. recente e teve início nos anos 1970, quando mo-
mesmo no caso das pessoas muito inteligentes,
vimentos sociais lutaram contra a história de ex-
está estruturado mais para esquecermos das
Até o momento, abordamos o ensino para a clusão desses alunos e pela defesa do direito des-
coisas do que para lembrarmos delas. Por isso, é
maioria dos alunos com DI, que são aqueles com sas pessoas de ingressarem nas escolas comuns.
preciso definir o que é essencial ou crucial para
que os estudantes compreendam, sejam capazes comprometimentos tidos como leves. E quanto
aqueles estudantes com DI que apresentam mais Quando esses estudantes chegaram às escolas
de fazer ou se lembrem posteriormente. comuns, as primeiras propostas curriculares pen-
impedimentos e para os quais as expectativas
de ensino e aprendizagem fazem pouco sentido? sadas para eles eram adaptações do currículo da
Especialmente para alunos com DI e outros com
Para estes, é necessário especificar o currículo ou Educação Infantil, pois como o desenvolvimento
dificuldades de avançar, algumas sugestões im-
diferenciar as estratégias, de modo a incorporar deles se mostrava muito atrasado, se pressupu-
portantes seriam:
metas adicionais que visem ampliar sua autono- nha que suas necessidades educacionais seriam
• focalizar o ensino naquilo que é essencial; semelhantes a de crianças pequenas. Com o tem-
mia, ou, no caso dos mais velhos, objetivos de
• ser claro sobre o que os alunos devem saber, natureza ocupacional pensando em uma possível po, percebeu-se que com esse tipo de currículo
entender e ser capaz de fazer para ampliar sua inserção profissional futura. o progresso era lento, o investimento alto e não
compreensão do assunto; havia avanço no percurso de escolarização de ní-
veis mais elevados de ensino, além disso, promo-
• estabelecer metas importantes de entendi- via-se uma eterna infantilização dos alunos, que
mento e construir degraus que possam levar o
47
Quando estudantes com deficiência intelectu-
al mais significativa ingressaram nas classes co-
muns, seus professores se depararam com a
dificuldade em ensiná-los, porque o repertório
desses estudantes parecia muito aquém dos re-
quisitos do currículo a ser seguido, e, ao mesmo
tempo, eles precisavam aprender habilidades
mais funcionais, que não eram contempladas
nesses currículos.

Ao longo do tempo, com o desenvolvimento de


tecnologias educacionais e assistivas, dois focos
foram se delineando na definição da escolariza-
ção desses estudantes, que pressupõe:
a) a garantia de acesso ao máximo possível do
currículo escolar;
b) currículo funcional de ensino com habilida-
des para a vida independente.

Atualmente na literatura, aparece para essa po-


pulação as propostas de currículo funcional, cur-
nunca alcançavam nenhum grau de independên- Na década de 1990, percebeu-se que a política de rículo funcional natural e currículo do mundo
cia e autonomia na vida adulta. integração escolar pouco avançava e que muitos real, todos pressupondo a ideia de que é preciso
estudantes com deficiência intelectual continu- ensinar a esses estudantes habilidades que sejam
A visão de um currículo voltado para as atividades avam sendo educados em contextos separados úteis ou funcionais para eles na vida pós-escola e
mais funcionais das pessoas com deficiência teve de instituições especializadas e quando ingres- que lhes assegurem o máximo de independência
início nos Estados Unidos, na década de 1980, savam em escolas comuns, eram colocados em possível em contextos sociais reais, um currículo
quando Falvey (1986) demonstrou que a avalia- classes especiais. Assim, o movimento de inclu- que permita que eles participem de todas as fa-
ção e o currículo do estudante com desvantagem são escolar se intensificou, a rejeição ao modelo cetas da vida real em sociedade, que consigam
severa no desenvolvimento precisavam ser ade- de currículo baseado no desenvolvimento infantil uma moradia, um trabalho e que sejam felizes
quados à idade cronológica e refletir mudanças cresceu e aumentou o acesso de estudantes com (BROWN; BRANSTON; HAMRE-NIETUPSKI; PUM-
significativas no seu ambiente social. prejuízos mais severos a classes comuns. PIAN; CERTO; GRUENEWALD, 1979).
48
O currículo funcional natural (CFN) foi descrito, juntamente com sua participação efetiva no âm- A meta é proporcionar uma abordagem curricu-
primeiramente, por Judith M. LeBlanc, da Univer- bito educacional, social e familiar, tendo como lar que prepare os estudantes para terem a maior
sidade do Kansas (EUA), a partir de parceria com consequência o processo inclusivo no ensino autonomia possível no lar, na escola, no trabalho
Liliana Mayo, estabelecida coordenadora-geral regular, uma vez que ele promove situações de e nos ambientes da comunidade.
do Centro Ann Sullivan del Perú (CASP), em Lima. ensino mais eficazes (CUCCOVIA, 2003, MIURA,
O objetivo geral é ensinar conhecimentos e ha- 2008, SUPLINO, 2009)³. Algumas propostas de habilidades acadêmicas
bilidades que possam ser úteis e utilizados pelo de leitura funcional envolveriam, por exemplo,
aluno durante toda sua vida e prioriza o ensino Os componentes do currículo funcional ou do o reconhecimento do próprio nome, a leitura de
e a generalização de comportamentos aprendi- mundo real sugeridos por Patton, Cronin e Jair- palavras úteis (como letreiros de ônibus e placas
dos em ambiente o mais natural e real possível rels (1997) e Wehman, Targett e Richardson de sinalização), de palavras básicas de receitas
(MAYO; LEBLANC; OYAMA, 2008). (2012) envolvem: culinárias e de medicamentos, o reconhecimen-
1. ensino de habilidades acadêmicas funcionais to de símbolos urbanos de localização (como ba-
LeBlanc e Mayo (1999) propuseram um currícu- (como matemática básica e leitura funcional); nheiros e outros locais) etc.
lo com procedimentos de ensino considerando
2. ensino vocacional e/ou profissionalizante;
as habilidades e necessidades de cada estudante As habilidades funcionais de matemática envol-
e também as apontadas pelos seus familiares. A 3. habilidades de vida independente no contexto veriam, por exemplo, o reconhecimento dos nú-
intervenção educacional é individualizada ou em doméstico; meros, o pareamento de números e quantidade,
pequenos grupos, conta com o apoio e a parti- 4. habilidades de vida e participação em comu- a memorização de números de telefones impor-
cipação da família e é orientada ao desenvolvi- nidade; tantes, o manejo do tempo (relógio, horas, mi-
mento das habilidades mais necessárias para um 5. autonomia com o transporte e a mobilidade; nutos, segundos), o reconhecimento de notas e
cotidiano autônomo, de maneira que o aluno cédulas de dinheiro, as operações matemáticas
6. habilidades sociais;
possua um funcionamento mais compatível com básicas com dinheiro, a solução de problemas de
7. autodeterminação;
sua idade. matemática simples etc.
8. cuidados pessoais de segurança;
O programa educacional fundamentado no cur- 9. cuidados com a saúde; A educação para o trabalho envolveria, por
rículo funcional é baseado no ensino de habili- exemplo, uma orientação vocacional, o desen-
10. planejamento e manejo das finanças;
dades importantes utilizadas na vida cotidiana, volvimento de atitudes e hábitos no trabalho, a
11. habilidades de recreação e lazer.
apresentadas em sequências usuais, naturais e participação em situações de seleção (entrevistas
mediante os interesses dos educandos. É im- de emprego, preenchimento de fichas de solici-
portante que se valorize as tarefas de interes- tação de emprego e currículos básico), estágios e
se do aluno, mostrando a ele a importância de programas de emprego com apoio etc.
suas ações e o contexto em que é necessário ³ Para os interessados em aprofundar sobre esse assunto, buscar as obras
aprender determinadas tarefas e habilidades, citadas desses autores, que apresentam estudos sobre o currículo funcional
natural desenvolvidos no Brasil.
49
No âmbito do manejo e arranjo do dinheiro, po- Na área de socialização, recreação e lazer, ensi- E como esse ensino em contexto natural pode-
deria ser ensinado como abrir e administrar con- na-se a desenvolver hobbies, atividades de lazer ria ser compatibilizado com o ensino do currí-
ta em banco, usar aplicativos de bancos e caixas (jogar futebol, boliche ou videogame, fazer arte- culo numa classe comum? Numa situação ideal,
eletrônicos, manejar orçamentos, pagar despe- sanato, praticar atividades artísticas, ler livros, iria depender de se definir o quanto o estudante
sas, fazer poupança etc. ir ao cinema ou teatro etc.), habilidades sociais poderia se beneficiar de um currículo da classe
apropriadas para locais (escola, trabalho, comu- comum, sendo que poderiam ser combinadas
A autonomia na vida comunitária envolveria ensi- nidade), desenvolver amizades e como interagir instruções baseadas no currículo comum com as
nar habilidades de independência em ambientes apropriadamente com as pessoas. expectativas almejadas no currículo funcional na-
domésticos, aprendendo, por exemplo, a prepa- tural, o que implicaria a participação parcial do
rar refeições, a fazer limpeza, higiene pessoal e Embora essas habilidades possam ser ensinadas tempo em classe comum. Em alguns casos, pode-
cuidados com a roupa. Autonomia na comunida- em ambientes simulados, a ideia de “natural” -se até chegar à conclusão de que o estudante se
de, poderia envolver, por exemplo, apender a fa- pressupõe que elas sejam ensinadas em contex- beneficiaria mais se o foco de sua educação fosse
zer compras em padarias, supermercados, açou- tos reais e de forma orgânica, sem que se separe somente centrado no currículo funcional natural,
gues e lojas, ir a restaurantes etc. os componentes do currículo em aulas estanques. o que implicaria em uma modificação curricular
Por exemplo, pode-se ensinar um estudante a ler mais radical, possível principalmente nos casos
No campo de transporte e mobilidade, são en- uma receita culinária para preparar um lanche de alunos com impedimentos mais severos e ex-
sinadas habilidades de ir a determinados locais e a fazer uma lista de compras para ir ao super- tensivos a vários domínios.
caminhando, usando transporte público (ônibus, mercado, envolvendo o ensino de habilidades de
metrô), privado (táxi, transporte por aplicativos) autonomia no contexto doméstico e, ao mesmo Entretanto, estamos falando em situação ideal,
ou próprio (bicicleta, moto, carro). tempo, habilidades de leitura e escrita funcional. porque programas baseados em currículo funcio-
Em seguida, a família deve ser orientada a levá-lo nal são praticamente inexistentes no Brasil, mes-
ao supermercado e, ao longo do caminho, ensi- mo em instituições especializadas, de modo que
ná-lo como deve se movimentar, as direções, muitos dos alunos que poderiam se beneficiar des-
atravessar a rua, obedecer os sinais de trânsito se tipo de modificação curricular não tem outra
e a como chegar ao local. No supermercado, é opção a não ser ingressar e permanecer em uma
ensinado como buscar os produtos pretendidos, classe comum, sem os benefícios que uma educa-
fazer contas e pagar os produtos manejando o ção mais adequada poderia lhes proporcionar.
dinheiro. Na volta para casa, ele pode preparar
o lanche, aprender atitudes recomendadas na re- Nesse caso, o que podem fazer os professores do
feição e, finalmente, a limpeza e organização do ensino comum? Eles podem trazer mais simula-
ambiente. Em síntese, os componentes não são ções de vida real, envolver nas atividades os alu-
ensinados separadamente, mas de forma orgâni- nos com e sem deficiência, pensar em situações
ca e em contextos naturais. mais práticas e fazer o melhor, dentro do que é
50
possível, para favorecer a participação e a apren-
dizagem de seus alunos com deficiência. Portan-
to, como nem sempre se encontra na realidade
brasileira programas educacionais que seriam
mais adequados para responder às necessidades
dos estudantes com deficiência, mesmo em ins-
tituições especializadas, é melhor que eles par-
ticipem de uma turma em uma escola comum,
convivendo com pares da mesma idade, porque
assim têm os mesmos direitos assegurados por
lei de estar nesse lugar.

Em síntese, poderíamos dizer que alunos com


deficiência cognitiva significativa podem e de-
vem aprender conteúdo acadêmico, mas podem
precisar que o ensino seja mais espaçado, com
conteúdo priorizado e em sequência que não a
típica do ensino do currículo padrão. Eles pre-
cisam aprender a desempenhar atividades e a
desenvolver habilidades mais funcionais ou que
tenham utilidade para eles no mundo real. Eles
se beneficiam mais do ensino em situações reais tem sido atribuído à questão da autodetermina- Isso implica que na escola os professores podem
e precisam aprender habilidades, não apenas a ção, que inclui o aprendizado de fazer escolhas, apoiar a autonomia dos estudantes, promovendo
desenvolver atividades ou a executar tarefas, e expressar preferências, resolver problemas, to- a tomada de decisões, as iniciativas e o desenvol-
essas habilidades devem ser embutidas nas ativi- mar decisões, estabelecer e atingir metas, au- vimento da motivação intrínseca. Para estudan-
dades planejadas. Nesse contexto, a orientação e togerenciar e autorregular o próprio comporta- tes com deficiência intelectual, por outro lado,
o apoio familiar são imprescindíveis. Eles podem mento e defender-se e adquirir autoconsciência podem ser críticos os apoios e as modificações
precisar praticar mais do que um aluno sem DI e autoconhecimento. A promoção das habilida- ambientais para se criar oportunidades de auto-
para aprender e podem requerer apoio de pesso- des e atitudes que levam a uma autodetermina- determinação, além de intervenções com o obje-
al ou tecnológico, que deve ser provido. ção aprimorada tem sido associada a resultados tivo específico de ensinar as habilidades associa-
positivos para os jovens com e sem deficiência, das ao comportamento autodeterminado.
Um foco importante na educação a indivíduos incluindo maior satisfação com a vida (SHOGREN;
com DI no tocante ao currículo mais funcional LOPEZ; WEHMEYER; LITTLE; PRESSGROVE, 2006).
51
AVALIAÇÃO,
CERTIFICAÇÃO DE
TERMINALIDADE DE
ESCOLARIZAÇÃO E
PLANOS DE TRANSIÇÃO
Neste tópico, discutiremos questões relaciona-
das aos processos avaliativos, de certificação e
de como a escola deve atuar pensando no futuro
do estudante com DI após o período escolar.
52
E quando isso não for possível? Nesses casos, o de tecnologia assistiva, provas ampliadas, pro-
PTDE pode sanar muitas dessas dúvidas do pro- vas em braile etc.
fessor, uma vez que as medidas de diferenciação
e especificidade definidas caso a caso já estariam Ao final do ano, no momento de deliberar se o

Avaliação do estudante com previstas no documento do aluno. Assim, a partir


do que é definido em termos de expectativas de
estudante deve ou não ser retido, é preciso con-
siderar que, por princípio, a retenção é uma me-

deficiência intelectual ensino e aprendizagem, o professor pode deci-


dir se o conteúdo e o formato da prova podem
dida que busca formar turmas com desempenhos
mais homogêneos, o que vai de encontro ao prin-
ser iguais ou diferentes, se alguma medida de cípio de inclusão, que implica valorizar a hetero-
Muitas das dúvidas dos professores em relação apoio será utilizada durante a aplicação (como, geneidade e o respeito à diversidade.
aos estudantes com DI dizem respeito à ques- por exemplo, a ampliação do tempo, o auxílio de
tão da avaliação. Os professores não sabem, por ledor, algum recurso tecnológico etc.) e, ainda, Além disso, cabe destacar que a retenção pode
exemplo, se podem ou não diferenciar provas, como deverá ser feita a correção, se poderão ou trazer barreiras adicionais aos estudantes com
se usam os mesmos critérios de correção, que não ser utilizados os mesmos critérios. Além dis- DI, que perdem a convivência com sua turma de
conceitos atribuem nos registros escolares para so, a nota ou o conceito que vai para os registros origem e são obrigados a se ajustarem a colegas
sintetizar o desempenho do estudante no bimes- escolares deve refletir os avanços em relação aos diferentes, com idades diferentes, o que pode
tre, se a participação deles não irá prejudicar o objetivos estabelecidos para o estudante. dificultar para eles a construção de laços de ami-
desempenho da escola em avaliações de larga zade no contexto escolar. Nesse sentido, a tenta-
escala e, finalmente, se podem ou não reter o es- Destaca-se, ainda, que as mesmas medidas de tiva de inseri-lo em uma turma de desempenho
tudante em determinado ano ou série. apoio utilizadas para instruir o aluno devem ser acadêmico mais semelhante é priorizada, em de-
adotadas nos momentos de avaliação, consideran- trimento da possibilidade de se primar pelo seu
De modo geral, podemos dizer que devido à do-se que não adianta prover medidas de suporte desenvolvimento global e sua socialização.
complexidade do conceito de DI, à fragilidade apenas durante provas e avaliações se todo o pro-
nos processos de identificação desses alunos e cesso de instrução não foi igualmente apoiado. Enfim, o princípio de inclusão escolar pressupõe
à variedade de indivíduos que são enquadrados que a não retenção seria, em tese, a melhor me-
nessa condição e que se encontram no dia a dia Em relação à participação de alunos em avalia- dida, mas novamente destacamos que isso não
das escolas, é praticamente impossível fazer ge- ções de larga escala, há que se compreender pode ser generalizado, pois há casos nos quais
neralizações a respeito de qualquer uma dessas que as provas desse tipo têm função de com- essa medida pode ser considerada, como, por
dúvidas sobre a avaliação de estudantes com DI. paração, portanto, seu conteúdo não pode ser exemplo, quando se chegar à conclusão de que
Entretanto, um princípio geral a ser adotado é, diferenciado, sendo cabíveis apenas medidas de há previsão de mais vantagens do que desvan-
na medida do possível, utilizar os mesmos proce- apoio que favoreçam a acessibilidade, tais como tagens se o estudante for retido, o que requer,
dimentos de avaliação utilizados com o restante a ampliação do tempo, presença de interlocuto- portanto, uma análise caso a caso, em delibera-
dos estudantes. res de língua de sinais, ledores, uso de recursos ções colegiadas, para definir essa questão. É im-
53
portante esclarecer que essa decisão é sempre alunos, apontando suas habilidades e competên-
tomada de forma conjunta entre família, profis- cias. O artigo 24, parágrafo VII da LDB determina
sionais da saúde e profissionais da educação.
CERTIFICAÇÃO DE que: “cabe a cada instituição de ensino expedir
históricos escolares, declarações de conclusão de
Com ou sem retenção, com o tempo, estudan-
tes com DI vão avançando em seu percurso de TERMINALIDADE ESPECÍFICA série e diplomas ou certificados de conclusão de
curso, com as especificações cabíveis” (BRASIL,
escolarização, e chega o momento em que eles 1996, p. 25).
cursam o último ano previsto em determinado O artigo 59 inciso II da LDB nº 9394/96 preconiza
nível e, seja em função de impedimentos decor- que os sistemas de ensino deverão assegurar a Entretanto, apesar de a legislação prever a con-
rentes da própria deficiência ou mesmo ao efeito “[...] terminalidade específica para aqueles que cessão do certificado de terminalidade específi-
escola, quando não se consegue responder ade- não puderem atingir o nível exigido para a con- ca, há que se considerar que o art. 205 da Cons-
quadamente às suas necessidades e desenvolver clusão do ensino fundamental, em virtude de tituição Federal define a educação como direito
ao máximo seus potenciais, é muito provável que suas deficiências” (BRASIL, 1996, p. 37). Essa de- de todos, assegurando, além do direito de acesso
eles cheguem ao final sem atingir os conheci- terminação foi ratificada pela Resolução nº 2 de à escolarização, o direito de igualdade de condi-
mentos, habilidades ou competências esperadas 11 de setembro de 2001, da Câmara de Educação ções e permanência na escola. Além disso, a Con-
para obter um certificado de conclusão. Esse é o Básica do Conselho Nacional de Educação, que venção sobre os Direitos das Pessoas com Defi-
momento de decidir que tipo de certificação ele instituiu as Diretrizes Nacionais para a Educação ciência (ONU 2006), promulgada no Brasil pelo
vai receber, pois não atingiu os requisitos do nível Especial na Educação Básica (BRASIL, 2001). Decreto nº 6.949/2009 com o status de Emenda
que cursou. Constitucional, no art. 24 assegura que as pesso-
Em tese, a terminalidade específica é a certifica- as com deficiência não sejam excluídas da escola
ção de estudos referente à conclusão do Ensino tendo como base a condição de deficiência e que
Fundamental ou Médio dos estudantes que apre- sejam adotadas medidas de apoio para sua plena
sentam comprovada defasagem entre o ano de participação em igualdade de condições.
escolaridade e a idade, com deficiência intelec-
tual ou múltipla deficiência, e descreve o nível Esses dispositivos legais, de certa forma, criam
de conhecimento alcançado pelo aluno, possibili- barreiras para a concessão indiscriminada desse
tando-lhe novas alternativas educacionais. tipo de certificação de terminalidade específica,
porque ela pode se constituir numa forma de
A legislação não prescreve como será essa certi- discriminação com base na deficiência e de ex-
ficação, sendo que os critérios para a construção clusão da escola. Essa contradição deve levar a
do instrumento ficam sob responsabilidade dos escola a analisar muito bem os casos desse tipo
próprios sistemas escolares, que deverão des- de concessão.
crever os avanços individuais alcançados pelos
54
Há que se considerar, primeiramente, que a le- Em tese, para uma vida independente, as opções
gislação educacional também garante a todas as para a vida pós-escola envolveriam decidir se o
pessoas a continuidade de estudos na educação estudante tem a possibilidade de ter um empre-
de jovens e adultos, bem como há possibilidades go, moradia ou condições de vida independentes,
de encaminhamento para a educação profissio- se precisará de algum apoio nesses domínios ou,
nal daqueles que estão fora da faixa etária obri- ainda, se tem a possibilidade de prosseguir seus
gatória, estando a matrícula condicionada à ca- estudos para além do Ensino Médio. Em síntese,
pacidade de aproveitamento do aluno, e não ao seriam três possibilidades de caminho para a vida
nível de escolaridade. independente a serem pensadas: 1) o estudante
pode prosseguir seus estudos para além da edu-
Enfim, quando se cogita a possibilidade de certi- cação básica; 2) o estudante poderá sustentar um
ficação de terminalidade específica, é importan- emprego independente; 3) o estudante consegui-
te que os casos sejam muito bem analisados, de rá apenas trabalhar em um emprego com apoio.
preferência em colegiados e em várias instâncias,
que haja anuência da família e/ou do estudante A análise dessas possibilidades caso a caso de-
e que o processo seja muito bem documentado, veria, portanto, balizar as decisões curriculares
para se evitar a possibilidade de judicialização, de um plano de transição para o estudante. Para
uma vez que a legislação educacional não é pre- traçar esse plano de transição, a escola, princi-
cisa nesse aspecto. palmente a de Ensino Médio, deveria prever uma

E muito antes da terminalidade, seja por conclu-


PLANO DE TRANSIÇÃO E A avaliação abrangente dos estudantes com DI no
sentido de traçar suas preferências, interesses
são de nível ou certificado específico, há que se
pensar na necessidade de se planejar e imple-
VIDA PÓS-ESCOLA e necessidades, bem como as de suas famílias,
além de conhecer extensivamente suas habilida-
mentar para alunos com DI planos de transição des cognitivas, acadêmicas e funcionais.
Com a perspectiva de integração escolar dos anos
para a vida adulta ou para o período pós-escola,
1970 intensificada pelo movimento pela inclusão
tópico que será abordado a seguir. Com base no resultado dessas avaliações, o pla-
escolar dos anos 1990, cresceu na literatura so-
no de transição centrado em uma das três metas
bre educação de indivíduos com DI a ideia de que
(continuidade dos estudos, emprego indepen-
as decisões curriculares devem ser guiadas pelos
dente ou emprego com apoio), selecionado após
resultados que se espera após a escolarização, no
análise das possibilidades caso a caso, deveria
sentido de oferecer mais oportunidades que ga-
balizar as decisões curriculares priorizadas, em
rantam o máximo de autonomia possível na vida
maior ou menor grau, em um currículo mais aca-
pós-escola para esses estudantes.
dêmico ou mais funcional.
55
No caso da opção pela continuidade dos estudos, go no competitivo mercado de trabalho ou obter mais se uma educação de melhor qualidade lhes
deve-se dar mais ênfase ao currículo comum do um emprego com apoio ou emprego apoiado. fosse proporcionada.
que ao funcional, e é uma possibilidade para alu-
nos com DI o encaminhamento para cursos de O emprego apoiado é uma metodologia de inser- Atualmente, há políticas afirmativas que garan-
educação profissional ou mesmo do ensino supe- ção profissional que envolve assessoria, orienta- tem cotas que ampliam as possibilidades de aces-
rior. O estudo de Lopes (2016), por exemplo, des- ção e acompanhamento personalizado, dentro e so ao ensino superior e ao emprego, tais como
creve e avalia um programa de transição para a fora do trabalho, realizado por instrutores. O ob- a Lei nº 8.213 (BRASIL, 1991), que exige que as
vida adulta de jovens com deficiência intelectual jetivo é possibilitar às pessoas com deficiência a grandes empresas tenham no quadro de funcio-
na universidade, que mesclou disciplinas específi- conquista e manutenção de um emprego no mer- nário um número mínimo de colaboradores com
cas de um currículo mais funcional (aprendizagens cado formal de trabalho (RAGAZZI, 2001). O pro- deficiência na proporção de 2 a 5% do número
ao longo da vida, emprego, atividades de vida di- grama se inicia com o apoio desses instrutores, total de funcionários, e a Lei nº 13.409/2016
ária e vida social) com disciplinas acadêmicas dos que vai sendo retirado gradualmente, na medida (BRASIL, 2016), que garante cotas em instituições
cursos universitários regulares que eram de inte- em que a pessoa vai ganhando independência. federais de ensino superior para estudantes vin-
resse desses jovens. Os resultados evidenciaram dos de escolas públicas, de baixa renda, negros,
aumento gradual no nível de independência dos No Brasil, as escolas têm se atentado pouco para pardos, indígenas e com deficiência. Infelizmen-
quatro estudantes participantes, e constatou-se uma educação de estudantes com deficiência te, muitas vezes essas oportunidades são perdi-
que o planejamento centrado no aluno associa- intelectual voltada para a vida pós-escola. Em das porque a educação não cumpre seu papel de
do às estratégias utilizadas pelos professores e geral, a ideia de inclusão escolar de alunos com preparar esses jovens com deficiência intelectual
o apoio dos tutores na realização das atividades deficiência é pensada na escolarização, em uma para a vida adulta.
acadêmicas e sociais também contribuíram para classe comum de uma escola regular, sem se co-
o desenvolvimento e a independência de cada gitar que os objetivos da educação para esses
participante. Em síntese, o estudo mostra pos- indivíduos devem ser os mesmos estabelecidos
sibilidades de alunos com deficiência intelectual para os demais estudantes: promover seu desen-
participarem de programas no ambiente univer- volvimento pessoal e sua inserção social futura e
sitário com resultados promissores, desde que os formar cidadãos críticos e participativos.
suportes necessários sejam fornecidos.
A grande maioria dos estudantes identificada
Uma segunda possibilidade seria uma educação com DI terá condições de obter um emprego e
visando aumentar as condições de empregabili- sustentar uma vida independente ao sair da es-
dade da pessoa com deficiência. Daí, dependen- cola, a despeito das restrições que a falta de uma
do das possibilidades do estudante, o foco pode escolaridade mais adequada lhes imporá na vida.
ser mais direcionado a um currículo funcional do Uma pequena parcela de indivíduos com preju-
que acadêmico, e o objetivo seria visar empre- ízos mais severos poderia se desenvolver muito
56
57
Analisando-se a história da evolução científica rótulo e buscar conhecer seu aluno e da escola

CONSIDERAÇÕES FINAIS
do conceito de deficiência intelectual, pode-se fazer um plano de trabalho docente específico
concluir que tem havido muita controvérsia so- para melhor ensiná-lo.
bre a possibilidade de uma definição essencial-
mente teórica, que permitisse representar uma Apesar dos estereótipos negativos e pessimistas
entidade, um fenômeno ou um evento único ou existentes quando se trata da condição de defi-
um conceito monolítico. O termo é um construto ciência intelectual, buscamos desmistificar esses
inventado que permite colocar no mesmo rótulo preconceitos, uma vez que a grande maioria dos
pessoas muito diversas em termos de capacidades estudantes enquadrados nessa condição tem
e necessidades de apoio. Nesse sentido, convém prejuízos leves circunscritos às dificuldades aca-
evitar qualquer tipo de generalização sobre como dêmicas e o ensino do qual precisam é apenas a
eles são, aprendem ou devem ser ensinados. versão de uma boa escola. Nesse sentido, ofere-
cemos várias estratégias universais para melho-
A complexidade da definição de deficiência inte- rar a qualidade do ensino na classe comum, de
lectual traz muitos desafios para a identificação modo que todos os alunos possam ter melhor
de estudantes com essa condição. Os três crité- participação e aprendizagem, inclusive os estu-
rios recomendados pela literatura (funcionamen- dantes com deficiência intelectual.
to intelectual, comportamento adaptativo e ida-
de de aparecimento) não têm sido considerados O trabalho colaborativo na escola, a aprendiza-
no Brasil, e a consequência tem sido que muitos gem cooperativa, as abordagens de planejamento
estudantes têm sido identificados com processos e ensino baseadas no desenho universal da apren-
subjetivos e arbitrários. Nesse sentido, reforça- dizagem e no ensino diferenciado definidos exem-
mos a importância do olhar cuidadoso e respon- plificaram como o ensino na classe comum pode
sável do professor, que, no geral, é o primeiro ser melhorado para que os estudantes com defi-
agente a levantar as suspeitas e encaminhar os ciência intelectual também possam se beneficiar.
alunos para avaliação. Recomendamos que pa-
receres educacionais detalhados sejam produzi- Para a minoria dos estudantes com mais preju-
dos quando um estudante é encaminhado para o ízos foi apresentada a proposta recomendada
processo de identificação. pela literatura do currículo funcional, que pode
ser combinada com o currículo comum. Além
Uma vez que o estudante é enquadrado na con- disso, considerações curriculares para educação
dição de deficiência, enfatizamos a importância infantil e os demais níveis da educação básica
de o professor não se deixar impressionar pelo foram feitas com a finalidade de contribuir com
58
as reflexões dos professores sobre como melhor
ensinar estudantes com deficiência intelectual.

Finalizando, abordamos a questão da avaliação,


retenção/promoção, a certificação de terminalida-
de específica e a necessidade de educar pautados
planos de transição para a vida adulta, tendo em
mente a possibilidade dos vários desfechos que
o processo educacional deve ter: a continuidade
da escolarização (no ensino profissionalizante ou
superior), a inserção no mercado de trabalho via
emprego com ou sem apoio. E ressaltamos como a
importância da educação para que os estudantes
com deficiência intelectual possam se beneficiar
das políticas de ações afirmativas existentes no
país, baseadas em cotas para empregos e ingresso
em instituições educacionais.

Finalizando, concluímos que pessoas com defi-


ciência intelectual com suportes personalizados
apropriados e sustentadas por um período deter-
minado, sempre melhorarão seu desempenho.
Quando não há melhora no funcionamento, é sinal
de que os perfis dos suportes necessários não es-
tão sendo ofertados. Apenas em raras circunstân-
cias e com uma minoria da parcela de estudantes
com deficiência intelectual pode acontecer que
mesmo que se garanta suportes apropriados, o
nível de funcionamento apenas se mantenha ou a
regressão seja impedida. Entretanto, o ponto prin-
cipal é que o antigo estereótipo de que as pessoas
com deficiência intelectual nunca apresentam ga-
nhos com a aprendizagem está equivocado!
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