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Fernanda Klein Marten - CRP 07/20970

fernandamarten@gmail.com / @psicofernandamarten

Laudo de Avaliação Neuropsicológica


Laudo realizado de acordo com a Resolução 007/2003, do Conselho Federal de Psicologia (CFP), na qual Institui o Manual de
Elaboração de Documentos Escritos produzidos pelo psicólogo, decorrentes de avaliação psicológica.

Identificação
Identificação do Laudo
Autora: Fernanda Klein Marten – CRP 07/20970
Interessado: a mesma
Finalidade: Avaliação Neuropsicológica
Data de Avaliação: Abril a Junho de 2022

Identificação do Paciente:
Nome: Juliana Motta Santos Sexo: Feminino
Data de Nascimento: 07/07/1981 Idade: 40 anos e 11 meses
Escolaridade: Ensino Superior Completo

Descrição da demanda e História Clínica: Juliana buscou avaliação neuropsicológica pois apresenta
características que se encaixam dentro do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA).
Juliana tem 40 anos, sexo feminino, nascida em Porto Alegre/RS, destra, do lar, casada, mora com
esposo e filha.. Mãe e pai vivos, e um irmão. Nasceu dentro do tempo esperado, peso adequado. Não apresentou
anoxia e icterícia, ou qualquer intercorrência. Juliana relata que era uma criança que gostava de brincar sozinha,
com poucos amigos, mas sempre muito observadora. Mudou-se para o interior de Pelotas/RS, onde tinha poucos
vizinhos e nenhuma criança para interagir.
Quanto a vida escolar, Juliana relatou que sempre estudou em boas escolas, sempre foi considerada
“estranha” entre os colegas.
Fisicamente, Juliana relata que não apresenta grandes intercorrências médicas. Porém relata dores de
cabeça, cansaço excessivo e muita sensibilidade a luzes fortes.
No que tange a área cognitiva, de linguagens e habilidades matemáticas Juliana cometa dificuldade em
compreender atividades inéditas, em mudar de planos ou atividades sem dica ou comunicado prévio, encontrar

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as palavras corretas para comunicar uma ideia ou pensamento, assim como expressar sentimentos. Dificuldade
em compreender o que lê, precisando retomar a leitura.
Sobre informações de consciência e concentração, Juliana considera que a mesma perde facilmente o
encadeamento do pensamento, por vezes sentindo como se sua mente desse um branco, e tarefas do dia-a-dia,
corriqueiras tem requerido mais esforço mental.
Quanto a memória descreve que esquece facilmente objetos e onde os deixou, assim como nomes de
pessoas ou o que estava fazendo (encadeamento de pensamento), sente-se mais segura quando anota seus
compromissos ou informações.
Aspectos relacionados a humor, comportamento e personalidade, Juliana relata sentir-se sempre triste,
levemente depressiva, ansiedade e nervosismo severo, problemas no sono, facilmente irritável (baixa tolerância
a frustração), emotiva, dificuldade em ser espontânea. Recebia comentários de rabugenta, estranha na escola por
considerarem Juliana muito fechada, pouco comunicativa e expressiva. Juliana Apresenta queixa de alteração de
humor intenso no período que antecede a menstruação. Dificuldade em elaborar e pensar em estratégias de
enfrentamento ao problemas, falta de perspectiva, e dificuldades sociais que a levam ao pensamento que ter
sempre algo errado consigo.
A primeira ingestão de bebida alcoólica de Juliana feita foi próxima aos 12 anos, no passado fez uso
recreativo de anfetamina, cocaína ácido, inalantes, maconha, todos no período da adolescência/idade adulta.
Juliana bebe em média 3 a 5 vezes na semana.

Instrumentos Neuropsicológicos:

SRS – 2 – Escala de Responsividade Social 2 – Autorrelato – Objetivos: mensurar sintomas associados ao


Transtorno do Espectro Autista (TEA), bem como a classificá-los em níveis leves, moderados ou severos.

Resultados

Condições averiguadas durante avaliação: Juliana não exibiu alteração do nível de consciência, apresentou-
se orientada, vestida adequadamente e nos horários combinados, sem atrasos. Manteve contato constante.
Mostrou-se colaborativa com as atividades, mesmo nas perguntas que poderiam ser mais delicadas, não
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titubeou. Juliana não exibiu comportamentos impulsivos, embora tenha relatado que se sente desta forma,
porém observou-se ansiosa para o início da investigação.

Funções Analisadas:

Funções Intelectuais

Embora não se tenha aplicado teste padronizado de funções intelectuais, observa-se:


- Compreensão Verbal: não foi verificado dificuldade considerável de conhecimento e expressão verbal (baixo
vocabulário).
- Memória Operacional: não foi verificado prejuízo no raciocínio não verbal e raciocínio fluido. Também
relacionado a M.P. foi verificado dificuldade leve das capacidades atencionais, assim como de processamento
de informações e mantê-las brevemente na memória emitindo posterior resposta, indicando também baixo
déficits na capacidade de concentração e memória de trabalho.
- Velocidade de Processamento: não foi verificado prejuízo significativo em tarefas mentais (entender e reagir a
uma informação ou estímulo).

Linguagem Verbal e Social

Interpretação: Juliana comunica-se por diálogo, sem dificuldade aparente do raciocínio verbal. Tem fala
expressiva, capacidade de nomeação.
Quanto a linguagem social utilizou-se a Escala de Responsividade Social, Segunda Edição (SRS-2) tem
como objetivo mensurar sintomas associados ao Transtorno do Espectro Autista (TEA), bem como a classificá-
los em níveis leves, moderados ou severos. Sua avaliação se faz de forma global e específica, já que agrupa os
sintomas em subcategorias (Escalas Compatíveis ao DSM-5 e Subescalas de Intervenção). Por esse motivo, pode
ser utilizada para iniciar processos diagnósticos (rastreio) e para o planejamento de intervenções clínicas e
ocupacionais. Entretanto, as decisões de diagnóstico não devem ser feitas exclusivamente com base nas
informações deste relatório.

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- Percepção Social: é a capacidade de reconhecer pistas sociais e lidar com os aspectos da percepção do
comportamento social recíproco, onde Juliana não apresenta níveis de prejuízo.

- Cognição Social: é a capacidade de interpretar as pistas sociais após reconhecê-las e lidar com o aspecto
cognitivo-interpretativo do comportamento social recíproco, Juliana apresenta prejuízo moderado clinicamente
significativos neste repertório o que leva a uma interferência substancial nas interações sociais cotidianas.
´
- Comunicação Social: é a capacidade de comunicação expressiva, lidando com os aspectos motores do
comportamento social recíproco. Juliana mostra rebaixamento leve desta capacidade, porém é importante se
destacar que o rebaixamente desta atividade também encontra-se em indivíduos com transtorno de ansiedade, o
que observamos na paciente.

- Motivação Social: é o grau em que as pessoas geralmente são motivadas a se engajar em comportamento sócio
interpessoal. Neste item observamos a ansiedade social, inibição e orientação empática. Juliana apresenta nível de
prejuízo na motivação social moderado.

- Padrões Restritivos e Repetitivos: mede a presença de comportamentos estereotípicos característicos de TEA


e áreas de interesse muito limitadas. Juliana apresenta nível moderado de presença destes comportamentos, o que
pode ser caracterizado por pensamentos obsessivos, que não saem da cabeça, ou são retomados com muita
frequência, até movimentos repetivos, passando por consumo de substância para ajudar-se a se autoregular.

- Comunicação e Interação Social – é a capacidade de reconhecer e interpretar sinais sociais quanto à


capacidade de motivação para o contato interpessoal social expressivo. Ela avalia a reciprocidade
socioemocional, comportamentos comunicativos não verbais usados para interação social e capacidade de
desenvolver, manter e compreender relacionamentos. Juliana, apresenta prejuízo moderado, o que rebaixa a
assertividade na comunicação, tornando-a difícil tanto de forma expressiva como receptiva, o que
consequentemente causa ruído e baixo engajamento na interação social.

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Interpretação: de acordo com os dados indicado na escala, indicam prejuízos no comportamento social
recíproco que são clinicamente significativos e levam a uma interferência moderada, porém duradoura nas
interações sociais cotidianas. Essas pontuações estão fortemente associadas ao Transtorno do Espectro Autista,
de acordo com o DSM-V. Na entrevista clínica são fortes as evidências de ansiedade e depressão a níveis
significativamente patológicos. Porém, é importante ressaltar que alguns sintomas de depressão e ansiedade
foram descritos como presentes de forma desagradáveis e constantes, mas suportável: nervosismo, sensação de
sufocação e suor (não devido a calor). Juliana relata esforço extra para manter atenção, sensação de cansaço que
incapacita fazer algo e alteração no sono. Por apresentar ao longo da vida humor rebaixado ao se investigar
ideação suicida, não se encontrou desejos, atitudes e planos suicidas.

Conclusão:

Juliana chegou para avaliação neuropsicológica, por opção própria, após a suspeitar de possível TEA.
Após análise dos dados verificou-se, inicialmente, hipótese diagnóstica de Transtorno do Espectro Autista
(TEA), combinado com um quadro de Depressão e Ansiedade Leve.
De acordo com Endres (2015) com estudos sobre o histórico familiar e observações de membros da
família têm reportado traços de personalidade tais como rigidez, pouco interesse em novidades e atividades,
perfeccionismo ou traços detalhistas, além de traços que denotam retraimento social, em pais de indivíduos com
autismo. Tais características parecem corresponder às dificuldades sociais, comportamentos
ritualísticos/repetitivos e ansiosos, observados nos filhos com autismo, o que torna estes indivíduos candidatos a
fenótipos intermediários do TEA (Losh, Childress, Lam, & Piven, 2008; Murphy et al., 2000). De fato, a,
herdabilidade do TEA é estimada em mais de 80% (Ronald & Hoekstra, 2011). Fenótipo intermediário do TEA
se caracteriza por embora a pessoa apresentar características do TEA, não cumpre todos os critérios
diagnósticos diante do DSM-5 para fechar diagnóstico do mesmo.
Por mais que Juliana tenha criado estratégias adaptativas para lidar com a impulsividade, ansiedade e
inadequação social, é perceptível o esforço que a mesmo faz para adequar-seo que a leva a ansiedade e
constante sensação de inadequação, que rebaixa seu humor.
No que tange à análise clínica neuropsicológica de Juliana, através de relatos, observa-se deficit nas
funções executivas, principalmente na capacidade planejamento, controle inibitório de impulsos cognitivos
irrelevantes.
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A avaliação qualitativa indica dificuldade leve na expressão verbal, essa dificuldade pode implicar em
déficit discreto de reconhecimento de normas sociais. Importante evidenciar que Juliana mostrou boa
motivação, persistente e entusiasmada diante de desafios.

Sugestões de encaminhamento:
- Psicoterapia.

Bibliografia:
ENDRES, Renata Giuliani et al . O Fenótipo Ampliado do Autismo em genitores de crianças com Transtorno do Espectro
Autista - TEA. Psic.: Teor. e Pesq., Brasília , v. 31, n. 3, p. 285-292, set. 2015 . Disponível em <http://www.scielo.br/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-37722015000300285&lng=pt&nrm=iso>. Acessos em 5 maio
2021. https://doi.org/10.1590/0102-37722015032268285292.

Ressalta-se que, o ser humano possui uma natureza dinâmica; não definitiva e não cristalizada. Sendo assim, os resultados aqui
expostos dizem respeito ao funcionamento das funções cognitivas, como também, da personalidade, humor e afetividade de Juliana
no momento presente, podendo haver alterações posteriores, dependendo das contingências ambientais vivenciadas e/ou do (s)
acompanhamento (s) recebido (s).

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Pelotas, 20 de junho de 2022.

Este laudo é composto de quatro (4) páginas, estando estas assinadas pela psicóloga responsável.

Me encontro à disposição para maiores esclarecimentos, pelo telefone: (53) 98142-4066 e pelo e-mail:
fernandamarten@gmail.com.

Pelotas, 20 de junho de 2022.

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Fernanda Klein Marten
Psicóloga – CRP 07/20970

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