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O texto Epistemologia e educação: articulações conceituais de Adair Angelo Dalarosa,

percorre um caminho esclarecedor; sua pretensão é elucidar conceitos de epistemologia e educação


tanto situando o leitor no percurso histórico das disciplinas quanto demonstrando seus pontos de
convergência, para que assim a prática pedagógica possa ser compreendida em sua totalidade de
possibilidades.
O primeiro passo para entender o mecanismo de funcionamento dos métodos educacionais
utilizados em cada período histórico, está inicialmente na compreensão do significado das palavras
epistemologia e educação, antigas as duas acompanham a humanidade desde de tempos distantes,
como exemplo, já na antiguidade clássica é possível acompanhar Platão falando sobre formas de
conhecimento, em questão: Doxa, Sofia e Episteme.
Classificar formas de conhecimento, estudar a ciência como um sinônimo de conhecimento é
considerado epistemologia, no dicionário de Filosofia de Gérard Durozoi e André Roussel,
epistemologia é: “Disciplina cujo objeto é a ciência - sem ser propriamente uma “filosofia das
ciências ou uma “teoria do conhecimento” [..] estuda de maneira crítica os princípios, as hipóteses
gerais, as conclusões das várias ciências para delas apreciar o valor e alcance objetivo.”
Durante o desenvolvimento da humanidade, dentro campo das ciências humanas muitas
teorias sobre a epistemologia surgiram; a metafísica com seu pressuposto idealista; o positivismo com
análise de fenômenos partindo das leis da natureza; a fenomenologia em que os objetos são o centro
do conhecimento da realidade e o materialismo histórico-dialético; onde a realidade não é estática e
acabada e muito menos os fenômenos podem carregar clareza.
Cada modo de se pensar a epistemologia traz consequências diretas para aqueles que estão em
aprendizado, desse modo quando fala-se sobre educação; processo de desenvolvimento,
aperfeiçoamento, de alguma capacidade humana, não devemos ignorar que, de acordo com a
posicionamento epistemológico daqueles com maior influência política, a finalidade do ensino muda.
Em outras palavras, é possível observar que historicamente a formação está mais ligada a
objetivos políticos e econômicos que quaisquer outros, o que em muitos momentos pode com
facilidade, ir contra a vontade do próprio educador mas em acordo com as pretensões de outros
grupos.
No contexto educacional algumas práticas pedagógicas possuem destaque, estas estão nas
bases de produção de conhecimento em educação, e mais uma vez não deixam de ter teorias
epistemológicas em suas bases. A pedagogia tradicional, está ancorada no iluminismo e
positivismo, a educação seria um meio de superar a condição humana, limitada pela
natureza. O texto clássico do grande filósofo alemão Immanuel Kant, Resposta à pergunta:
O que é esclarecimento, capta e pontua com muita clareza, o que mais tarde é visualizado
como base para a pedagogia tradicional.
O texto de Dalarosa ainda irá percorrer as bases para criação da Pedagogia nova,
também positivista e inspirada principalmente em filósofos modernos como Câmeios e
Rousseau, concentra-se em um período pós-revolucionário onde a burguesia europeia já
tem o cetro do poder público e tenta somente conservá-lo. O posicionamento pedagógico
volta-se para a tentativa de desenvolver as potencialidades da criança, o aluno deve ser o
centro de análise da prática pedagógica.
Em meados dos anos 70 a pedagogia tecnicista surge no Brasil, sua prática está
ligada a instrumentalização do ensino, seus objetivos passam ser a produção de mão de
obra especializada em larga escala, o ensino técnico é implementado na formação ginasial,
seu viés é utilitarista, o que mantém, o status quo capitalista. Nesse momento nem aluno,
nem professor, como nas teorias rapidamente pinceladas anteriormente, são os focos
pedagógicos, mas encontram-se subordinados à técnica, à mão de obra.
Pouco mais a frente, na atualidade, ainda é possível analisar uma quarta
configuração da pedagogia, fixada mais uma vez em princípios epistemológicos
positivistas, na atualidade, a escola tem como principal objetivo preparar para o mercado, a
formação tecnicista é posta de lado, mas a inserção no mercado de trabalho ainda é o
principal objetivo da educação. Desse modo, a melhor escolha pedagógica está
concentrada na instituição que mais encaminha profissionais para empregos. No Brasil, é
importante enfatizar que processos seletivos para a admissão em universidades públicas e
federais, são também influenciadores para tais práticas pedagógicas.
Em contraste, existem outras práticas pedagógicas como a pedagogia do oprimido
do renomado educador brasileiro Paulo Freire e a Pedagogia Histórico-Critica de Dermeval
Saviani, pouquissimamente utilizadas no ensino básico, que pretendem dar ênfase em
posicionamentos revolucionários contra o modelo burguês positivista de ensino, focadas no
materialismo histórico dialético, produto de pensadores como: Karl Marx e Friedrich Engels,
explicam o homem como ser histórico, com práticas didáticas próprias voltadas para
liberdade, emancipação, esclarecimento histórico-crítico, que ocorrem em processos
dialéticos.
Dentro do contexto majoritariamente positivista em que a educação encontra-se,
cabe também à filosofia, enquanto disciplina, ofertar um espaço de reflexão onde a
alteridade através de temas diversos, possa ser posta em debate, promovendo a formação
dos indivíduos conscientes de suas condições.

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