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Pedagogia como ciência da educação

Article  in  Cadernos de Pesquisa · August 2007


DOI: 10.1590/S0100-15742007000200013

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Libaneo José Carlos


Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás)
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Resenhas

RESENHAS

PEDAGOGIA COMO CIÊNCIA DA gica é voltada para a educação do homem in-


tegral, em todas as suas dimensões e assume
EDUCAÇÃO
ora caráter normativo, ora compreensivo, en-
Maria Amélia Santoro Franco
volvendo diferentes influências teóricas como o
Campinas: Papirus, 2003, 144p. humanismo clássico, o iluminismo, o romantis-
mo e o idealismo. A pedagogia técnico-cientí-
O livro é uma contribuição diferenciada fica, ancorada no método experimental de cu-
entre os estudos epistemológicos da Pedagogia nho racional empirista, postula a normatização
por tratar-se de uma pesquisa de base, de fô- e a prescrição para a prática educativa voltada
lego teórico. O objetivo sistematicamente re- para fins de inserção social dos educandos.
afirmado ao longo do texto é a busca de fun- Com suporte na Filosofia, Psicologia e Sociolo-
damentos para compreender a cientificidade da gia, essa orientação inclui desde Comênio e
pedagogia no seu caminho para se constituir Herbart a Durkheim e Dewey, mas também as
ciência em educação. Seu foco não está na vi- concepções sociocríticas sustentadas na teoria
são positivista de ciência, mas na relação entre marxista. A Pedagogia crítico-emancipatória
práxis e epistemologia, uma vez que a especi- propõe uma ação pedagógica para formar indi-
ficidade epistemológica da pedagogia encontra víduos na e pela práxis, com forte sentido de
seu suporte, na prática educativa, práxis consi- transformação da realidade socioistórica, que
derada em uma dimensão de intencionalidade. toma o conhecimento em sua ligação com a
Precisamente porque a pedagogia viabiliza uma vida social. Teoricamente associa-se à dialética,
práxis educativa, a práxis pedagógica será o à filosofia da práxis, incorporando elementos da
exercício do fazer científico da pedagogia sobre teoria crítica da Escola de Frankfurt.
a prática educativa. No capítulo 2, “A Pedagogia como ciên-
A obra, em três capítulos, mostra no pri- cia da educação”, o leitor se envolverá com a
meiro os caminhos históricos da Pedagogia, no determinação de Franco de enfatizar sua opção
segundo, apresenta as bases teóricas e episte- por uma “ciência pedagógica ou pedagogia
mológicas da pedagogia como ciência da edu- como ciência”, concebida como um instrumen-
cação e, no terceiro, propõe alternativas da to político e de emancipação. A autora apresen-
formação profissional do pedagogo como cien- ta seu entendimento sobre as bases dessa ciên-
tista educacional. cia, seu objeto, as relações entre práxis educa-
No capítulo 1, a autora discute o percur- tiva e práxis pedagógica. Assinala o desprezo à
so histórico da Pedagogia tratada ora como arte, Pedagogia, demonstrado nos planos nacionais,
ora como ciência e até como ciência da arte estaduais e municipais de educação dos respec-
educativa, mostrando as dificuldades da discus- tivos governos, principalmente na década neoli-
são de sua epistemologia. Na sistematização beral dos anos 90, bem como nas práticas ins-
desse percurso, são caracterizadas três grandes titucionais, que relegam a Pedagogia a aspectos
concepções: a Pedagogia filosófica, a Pedagogia meramente organizativos, o que tem provoca-
técnico-científica e a Pedagogia crítico-emanci- do a perda de “sentido”, de “identidade”, da “ra-
patória. Na Pedagogia filosófica, a ação pedagó- zão de ser” da Pedagogia. Segundo a autora,

Cadernos de Pesquisa, v. 37, n. 131, p.


maio/ago.
511-518,
2007
maio/ago. 2007 511
Resenhas

outras ciências como a Psicologia, a Sociologia ticas educativas, antes, convivem com elas em
têm galgado espaços educacionais amplos que múltiplas articulações.
deveriam estar ocupados pela Pedagogia. Con- O livro apresenta-se, assim, como valio-
tudo, nenhuma delas alcançou o posto de ciên- so instrumento de compreensão da Pedagogia
cia da educação que define a especificidade do como ciência da educação e também como
estudo do fenômeno educativo, sem relegar a orientação para a formulação do currículo de
importância das ciências auxiliares na educação, formação de pedagogos especialistas e professo-
entre outras, a Psicologia e a Sociologia. Neste res e para os fundamentos teóricos da pesquisa
capítulo nuclear de seu livro, Franco afirma que pedagógica. São contribuições oportunas, signi-
a Pedagogia como ciência deve ter por finalida- ficativas e legítimas; nenhuma delas oportunista,
de “o esclarecimento reflexivo e transformador mesquinha ou corporativista, como mostram as
da práxis educativa, discutindo as mediações perguntas da autora: “Se não é a Pedagogia como
possíveis entre teoria e práxis”. Cabe-lhe o pa- ciência da educação a condutora e operaciona-
pel de ser uma “explícita mediadora da práxis dora desse movimento de formação de profes-
educacional”, que conduz o sujeito à humaniza- sores reflexivos, qual outra ciência pode assumir
ção, à emancipação, a apreender e reconstruir esse papel? Qual outra alternativa, em relação à
a cultura, conditio sine qua non da cidadania. formação de professores se não a racionalidade
Como ciência da educação a Pedagogia crítico-reflexiva? É possível transformar essas
precisa passar da racionalidade técnica à racio- propostas em projeto educacional? Se não os
nalidade prática, reflexiva, formativa e emanci- pedagogos, quem deve assumir a condução des-
patória. A formação de pedagogo deve enfati- te projeto?” (p.124).
zar o aspecto crítico-reflexivo, que compreen- Para além do interesse teórico e investi-
da a complexa pluralidade do âmbito educacio- gativo, o livro de Maria Amélia Santoro Franco
nal, a necessidade de mediar um processo de contribui para esclarecer aspectos do debate que
aprendizagem voltado para a formação integral se tem travado na área educacional a respeito da
de um sujeito de pensamento fragmentado, formação de educadores, reafirmando a tradição
acrítico, alienado das questões políticas e so- teórica em que a Pedagogia, como ciência da
cioculturais. Está claro que essa tarefa extrapola educação, formula a partir da práxis educativa os
os muros escolares. elementos científicos e técnicos da formação
Finalmente, no capítulo 3, a autora formula humana, constituindo referência para todas as
sua proposta de formação de um pedagogo cien- práticas educativas, entre elas o trabalho docen-
tista educacional, e argumenta que, para possibi- te. Ou seja, a docência fundamenta-se na Peda-
litar a sobrevivência profissional e valorização da gogia e não o inverso.
prática do magistério, urgem “re-interpretações
de conceitos basilares, ampliando o espaço cien- José Carlos Libâneo
tífico da Pedagogia”. Conclui, definindo o peda- Programa de Pós-Graduação em Educação
gogo como o investigador educacional por exce- da Universidade Católica de Goiás
lência, com características de profissional crítico libaneojc@uol.com.br
e reflexivo, uma vez que a Pedagogia é uma ciên-
cia que visa o estudo e a compreensão da práxis Lelis Dias Parreira
educativa em suas intencionalidades. Para isso, a Mestrando do Programa de Pós-Graduação
investigação parte da práxis, como ação coletiva, em Educação da Universidade Católica de Goiás
pois as teorias educacionais não determinam prá- lelisdp@universiabrasil.net

512 Cadernos de Pesquisa, v. 37, n. 131, maio/ago. 2007

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