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PSICOLOGIA DA

APRENDIZAGEM
Unidade 1
Fundamentos da Psicologia
CEO

DAVID LIRA STEPHEN BARROS

DIRETORA EDITORIAL
ALESSANDRA FERREIRA

GERENTE EDITORIAL

LAURA KRISTINA FRANCO DOS SANTOS

PROJETO GRÁFICO

TIAGO DA ROCHA

AUTORIA

RAQUEL ELISABETH DUMASZAK


Raquel Elisabeth Dumaszak
AUTORIA

Olá. Sou formada em Psicologia, nas modalidades


bacharelado e licenciatura, e, desde então, atuo com Psicologia,
Educação e Aprendizagem. Tenho interesse por assuntos que
envolvem neurociências, comportamento e cognição, temáticas
que segui na pós-graduação. Fui convidada pela Editora
Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes
e espero contribuir bastante com seu aprendizado teórico e
profissional!
Unidade 1

4 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
ÍCONES
Unidade 1

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 5
Origem e influências filosóficas da Psicologia........................ 9
SUMÁRIO

Influências fisiológicas para Psicologia........................................................... 16

Psicologia científica: métodos descritivo, correlacional e


experimental............................................................................ 21
Método descritivo............................................................................................... 23

Método correlacional ........................................................................................ 25

Método experimental........................................................................................ 27

Psicologia científica: Estruturalismo, Funcionalismo e


Associacionismo ...................................................................... 30
Estruturalismo..................................................................................................... 30

O Funcionalismo................................................................................................. 33
Unidade 1

O Associacionismo.............................................................................................. 38

Alguns teóricos importantes dessa época...................................... 39

Objeto de estudo da Psicologia ............................................. 45


Psicologia clínica................................................................................................. 45

Psicologia social.................................................................................................. 47

Psicologia organizacional.................................................................................. 51

Psicologia do desenvolvimento humano........................................................ 54

Psicologia escolar e educacional..................................................................... 56

Psicobiologia ....................................................................................................... 57

6 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
Seja bem-vindo. Nesta unidade, veremos que a Psicologia
é uma ciência aplicável a qualquer cultura, povo e tempo.

APRESENTAÇÃO
Modernizada, presente em diversos campos de atuação e cada
vez mais com uma perspectiva multiprofissional, ela promete
interagir com outras áreas do conhecimento, contribuindo para
o desenvolvimento humano e social. Como esse é um tema
extenso, focaremos na relação entre Psicologia, Educação,
Pedagogia, aprendizagem e outras questões que envolvem
esse interesse. Porém, para compreendermos bem e fazermos
uso dessa ciência tão valiosa, precisamos conhecer a origem de
sua teoria, para entender suas heranças históricas, filosóficas,
fisiológicas e biológicas, e, assim, compreender essa esfera
científica que ampara e dá subsídio a você, futuro pedagogo! Ao
longo desta unidade letiva, você vai mergulhar neste universo!

Unidade 1
Vamos começar?

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 7
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso objetivo
é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências
OBJETIVOS

profissionais até o término desta etapa de estudos:

1. Compreender a importância e a história da Psicologia,


identificando suas principais influências filosóficas.

2. Aplicar os métodos descritivo, correlacional e


experimental da Psicologia científica.

3. Entender e aplicar os conceitos do Estruturalismo,


Funcionalismo e Associacionismo, à luz da Psicologia
científica.

4. Identificar os objetos de estudo da Psicologia e suas


aplicações.
Unidade 1

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento? Ao trabalho!

8 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
Origem e influências
filosóficas da Psicologia
Ao término deste capítulo, você será capaz de
entender a importância e a história da Psicologia,
identificando suas principais influências filosóficas.
OBJETIVO E então? Motivado para desenvolver esta
competência? Vamos lá!

A Psicologia é uma das ciências mais antigas e nasceu


a partir da Filosofia. Seus primeiros registros foram escritos
por Aristóteles (384-322 a.C.) e datam de mais de 2.000 anos.
Aristóteles escreveu sobre sono, sonhos, sentidos e memória

Unidade 1
e criou conceitos posteriormente usados, como a catarse e a
metafísica.

Os primeiros escritos a dar embasamento à Psicologia


são de teóricos como Sócrates, Platão e Aristóteles. Eles rompem
com a Filosofia natural determinista e buscam entender o
homem como senhor de suas ações, por meio de sua mente e
seus comportamentos, como autor de sua própria história.

É importante compararmos a Filosofia de Sócrates, Platão


e Aristóteles com a dos filósofos naturais, os pré-socráticos,
que observavam e tentavam compreender o mundo a partir
dos fenômenos naturais, deixando o ser em uma posição
determinista, pela qual sua existência e suas ações são fruto do
espaço e tempo (BORGES, 2009).

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 9
A ideia de compreender o homem por sua mente
e ações se inicia com Sócrates. Ele inovou tanto o
pensamento metafísico que a Filosofia passou a
EXPLICANDO
MELHOR ser dividida em filósofos pré e pós-socráticos! Mas,
afinal, o que ele disse de tão inovador?

Antes de Sócrates, os filósofos eram chamados de


“filósofos naturais”, porque entendiam o homem como parte
da natureza, que ditaria o caminho de seu conhecimento. Esse
filósofo é inovador, porque passou a compreender o homem
como um ser independente, autor e responsável por suas ações.
Figura 1 – Sócrates
Unidade 1

Fonte: Wikimedia Commons

Platão (428/7-347 a.C.), um de seus discípulos, por sua


vez, era determinista e compreendia o homem como produto do
mundo das ideias, advindas da razão, ou seja, o conhecimento se
dá pela razão, e não pelos sentidos do corpo. Você se lembra do
mito da caverna de Platão? Ele utilizou essa metáfora para dizer
que aquelas sombras refletidas nas paredes da caverna não
refletem o mundo como ele realmente é, por isso, cada um deve
se libertar das “aparências” e sair da caverna, ou seja, o homem é
dotado de capacidade cognitiva, por isso, é responsável por seu
processo de busca do conhecimento.

10 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
Figura 2 – Platão

Unidade 1
Fonte: Wikimedia Commons

Os estudos de Platão são complexos e pertinentes,


porém, vemos fortemente a influência das ideias de Aristóteles na
formação da Filosofia Moderna e, posteriormente, da Psicologia.

Para entender melhor o mito da caverna acesse


pelo QR-Code.

ACESSE

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 11
Figura 3 - Ilustração da “Alegoria da Caverna” de Platão (428/7-347AC)

Fonte: Wikimedia Commons.

O Mito da Caverna, também conhecido como Alegoria


da Caverna, foi uma parábola contada por Sócrates aos seus
dois irmãos, Gláuco e Adimanto, e relatada por Platão em “A
Unidade 1

República” (livro VII).

A imagem do Mito da Caverna de Platão retrata três fases.


Na primeira, os homens observam as sombras de objetos na
parede. Na segunda fase, eles decidem sair da caverna e passam
pelo fogo e pelos objetos autores das sombras. Os homens
observam e chegam à conclusão de que um não corresponde ao
outro. Por fim, na terceira fase, os homens estão no mundo real
e se libertaram das sombras.

Aristóteles (384/3-322 a.C.) influenciou a Filosofia do


século XVII, apresentando a ideia de mente e corpo como
entidades separadas, que interagem entre si para provocar
sensações. Esse filósofo foi inovador, porque, além de suas
contribuições filosóficas, é considerado o primeiro grande
pesquisador sistemático. Além disso, ele definiu o objeto de
estudo de várias ciências e foi o primeiro a oferecer uma teoria
sistemática sobre a Psicologia (GOMES, 1996).

As tendências filosóficas dessa época são retomadas


fortemente pelo filósofo francês René Descartes (1596-1650),

12 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
que viveu em um cenário Europeu marcado por conflitos e por
uma forte influência religiosa e do Estado, para comandar o
raciocínio e desenvolvimento intelectual.

O interesse primordial de Descartes era aplicar o


conhecimento de caráter científico às questões práticas do
cotidiano. Ele sempre buscou meios para que os cabelos não
fossem esbranquiçados e procurou formas de aperfeiçoar as
manobras de uma cadeira de rodas para deficientes físicos.

Apesar de acreditar na existência de Deus como criador


do universo, Descartes tinha uma visão mais mecanicista e
racional do homem, e foi bastante influenciado por matemáticos
como Galileu Galilei (1564-1642), propondo uma observação
fundamentada no mundo físico e em evidências científicas.

Descartes voltou seu olhar para diversas problemáticas,

Unidade 1
mas uma das mais importantes foi a tentativa de resolver o
problema mente-corpo, visando responder à seguinte pergunta:
o universo da mente e o mundo material possuem naturezas
diferentes?

A investigação do comportamento humano passa a ser


individual independentemente de raça, sexo e classe social, e
um método também chamado de reducionista (GOMES, 1996;
SCHULTZ; SCHULTZ, 2009).

Então, Descartes defende, por meio da sua teoria mente-


corpo, que a mente realiza uma influência sobre o corpo, no entanto,
a influência deste sobre a mente possuía uma maior proporção do
que se acreditava, não havendo, assim, uma relação entre eles tida
como unilateral, mas sim mútua.

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 13
Figura 4 – René Descartes
Unidade 1

Fonte: Wilipedia

Descartes considerava, em sua teoria, a mente como imaterial,


isto é, ela não possui uma substância física, no entanto, é composta pela
capacidade de pensamento e de outros processos cognitivos. Assim, em
consequência dessa imaterialidade e capacidade, a mente proporciona
para os indivíduos informações com relação ao mundo exterior.

A mente na visão de Descartes, desse modo, possui três tipos


de capacidades fundamentais:
1. Pensamento
2. Percepção.
3. Vontade.

Por meio dessas capacidades, ela influencia o corpo e é


influenciada também por ele.

14 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
A catarse (atualmente em desuso) ficou conhecida
com Sigmund Freud (1856-1939) e Joseph Breuer,
que aplicavam essa técnica em pacientes para
SAIBA MAIS induzi-los à hipnose, pela qual liberariam emoções
e sentimentos repreendidos, aliviando sintomas
psicossomáticos. Aristóteles chamava o teatro de
fenômeno catártico, pois, segundo ele, havia ali
uma capacidade de libertação, já que, à medida que
o indivíduo visse os sentimentos ali representados,
se libertaria deles.

Metafísica é o estudo do que não pode ser testado


empiricamente; está além da física.
VOCÊ SABIA?

Unidade 1
O cenário da época vivida por Descartes era literalmente
mecanicista. A criação de máquinas industriais, a revolução no
trabalho braçal e esse quadro em todo o contexto social levou
esse pensador a deixar de lado o pensamento naturalista
e enxergar o homem também em suas “peças” menores.
Entrávamos na era da Filosofia Moderna (SCHULTZ; SCHULTZ,
2009).

As contribuições da Filosofia moderna foram


fundamentais para a Psicologia, pois ela investiga o
comportamento, sempre priorizando o método científico.
Além disso, a era industrial influenciou a visão mecanicista e
reducionista do comportamento, na qual podemos destacar o
“arco reflexo”.

Descartes observou que o corpo humano produz


movimentos involuntários sabemos, hoje, que são os chamados
de arco reflexo) sem processamento cognitivo, que assim
acontecem para ter melhor resposta do corpo e protegê-lo de

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 15
estímulos nocivos, como uma queimadura na mão, por exemplo
(CARLSON, 2002).

Em suma, a teoria do arco reflexo afirma que


movimentos involuntários acontecem sem processamento
cognitivo, para ter uma resposta mais rápida do corpo e
protegê-lo de estímulos nocivos. Essa teoria é fundamentada
no movimento mecânico e robotizado das máquinas francesas
do século XIX, o zeitgeist influente em Descartes.

Essa teoria é fundamentada no movimento mecânico


e robotizado das máquinas francesas do século XIX, o zeitgeist
influente em Descartes.

Essa visão mecânica e reducionista influenciou


teorias extremamente importantes e que, hoje,
Unidade 1

ainda são fortemente estudadas dentro da


EXPLICANDO
MELHOR Psicologia e de outras áreas de conhecimento, que
serão de grande aplicabilidade para o pedagogo
compreender estímulos influenciadores em sala
de aula, os quais podem contribuir ou prejudicar a
aprendizagem e o desenvolvimento dos trabalhos.

Influências fisiológicas para


Psicologia
A partir do estudo do corpo humano, relacionando
cérebro e comportamento, deu-se um importante feito para
a ciência psicológica, a inclusão do estudo fisiológico e sua
interação com o comportamento.

Estudos como o de Broca e de Wernicke, por exemplo,


foram fundamentais para a identificação de regiões cerebrais
responsáveis pela linguagem e compreensão.

16 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
A investigação reducionista, a retirada de Deus do centro
do universo e a inserção do homem como senhor de suas ações
levou a ciência a buscar respostas para doenças, calamidades
e comportamento humano no próprio homem. Graças a essa
mudança histórica, foi possível haver estudos sobre cognição,
desenvolvimento e consciência. A ciência psicológica passa,
então, a receber influências fisiológicas que eram realizadas
desde o século XIX com a pesquisa experimental.

Como filósofos importantes para a Psicologia temos


Descartes, que, conforme abordamos, entre seus estudos, focou
na interação mente-corpo. Além disso, Descartes trouxe à baila
que a mente produz dois tipos de ideias:

Unidade 1
1. Ideias derivadas – são ideias que surgem a partir da
aplicação de forma direta de estímulos externos, por exemplo,
a imagem de uma árvore. Assim, ele concluiu que as ideias
derivadas constituem das experiências dos sentidos.

2. Ideias inatas – ao contrário das ideias derivadas,


as inatas são produzidas pela mente ou pelo consciente, por
exemplo, a ideia da existência de Deus.

Descartes contribuiu com diferentes ideias que serviram


como catalisador das diferentes tendências da Psicologia, entre
as quais podemos citar:

• O estudo das ideias inatas.

• A teoria do ato reflexo.

• Concepção mecanicista do corpo.

• Localização das funções mentais no cérebro.

• Interação mente-corpo.

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 17
Já Marshall Hall (1790-1857) chegou à conclusão de que
existem diversos tipos de movimentos originados pelo cérebro e
sistema nervoso ou muscular, isso porque os animais decapitados
ainda se mexiam. Assim, ele descobriu que os movimentos nem
sempre são modulados pelo cérebro.
Figura 5 – Marshall Hall
Unidade 1

Fonte: Wikimedia Commons

Os estudos feitos por fisiologistas dessa época permitiram


descobertas importantes como a de Paul Broca (1824-1880),
um cirurgião parisiense que, ao atender um paciente que
compreendia a linguagem, porém não falava mais do que a
palavra “tam”, buscou investigar o que podia estar comprometido
em seu cérebro, e assim se deu a descoberta da região cerebral
chamada de área de Broca, tão estudada por fonoaudiólogos
e psicopedagogos por ser responsável pela fluência verbal,
compreensão da fala e leitura. O conhecimento a respeito do
funcionamento das regiões cerebrais é importante, pois, no caso
da afasia de Broca, uma pessoa pode compreender muito bem
um texto lido, mas não conseguirá lê-lo (GRIGGS, 2009).

18 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
Figura 6 – Área de Broca e área de Wernicke

Regiões motoras e sensoriais do córtex cerebral

córtex motor primário córtex sensorial


primário
(Giro pré-central) (Giro pós-central)
Área de associação Área de associação
motora somática sensorial somática
(Córtex pré-motor)

Cóterx
pré-frontal Área de
associação
visual

Unidade 1
Área de Broca
(produção da fala)
Córtex
Área de associação Visual
auditiva Área de Wernicke
Córtex
(enternder fala)
Auditivo

Fonte: Wikimedia Commons

Para saber mais sobre a funcionalidade dessas


regiões acesse pelo QR-Code.

SAIBA MAIS

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 19
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu
mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza
de que você realmente entendeu o tema de
RESUMINDO estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que
vimos. Iniciamos nosso capítulo com o estudo da
origem e das influências filosóficas da Psicologia,
compreendendo que a Psicologia nasceu da
Filosofia, tendo seus primeiros escritos feitos por
Aristóteles, datando de mais de 2.000 anos. Em
seguida, comparamos a Filosofia de Sócrates,
Platão e Aristóteles com a dos filósofos naturais,
os pré-socráticos, que observavam e tentavam
compreender o mundo a partir dos fenômenos
naturais, deixando o ser em uma posição
determinista, segundo a qual sua existência
e ações é fruto do espaço e tempo. Vimos a
Unidade 1

importância do estudo de Descartes para o avanço


da Psicologia e, por fim, nossos olhares se voltaram
para as influências fisiológicas para Psicologia,
relembrando a importância de Broca e Wernicke,
assim como de Descartes e Marshall.

20 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
Psicologia científica: métodos
descritivo, correlacional e
experimental
Ao término deste capítulo, você será capaz de
entender os métodos descritivo, correlacional e
experimental da Psicologia científica. E então?
OBJETIVO Motivado para desenvolver esta competência?
Vamos lá. Avante!

A Psicologia é uma ciência que estuda o comportamento


humano e os processos mentais, para que seja possível predizer
comportamentos, interpretar ações, compreender a dinâmica de

Unidade 1
um grupo etc. A Associação Americana de Psicologia (APA) lista
mais de 50 divisões de atuação dentro da Psicologia. Porém, para
a pesquisa, existem apenas quatro, que são as áreas biológicas
e cognitivas, que estudam fatores internos, como o sistema
fisiológico, uso de medicamentos e pensamento, raciocínio etc.;
e as áreas das teorias comportamentais e socioculturais, que
estudam fatores externos, como um melhor tipo de aulas, provas
escolares e comportamentos que acontecem em grupo, como o
bullying, por exemplo, e que podem influenciar uns aos outros.
Resumindo, temos:

• As áreas biológica e cognitiva – estudam fatores


internos.

• As áreas comportamental e sociocultural – estudam


fatores externos

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 21
Figura 7 – Psicologia cognitiva

Cognitiva Biológica

Comportamental Sociocultural
Unidade 1

Fonte: Elaborada pela autoria (2022).

O método científico é uma maneira compartilhada em


todo o mundo para adquirir conhecimento a respeito do mundo
que nos rodeia. A Psicologia segue os pilares para produção de
conhecimento que visam formular uma hipótese, delinear um
estudo, mas, para que isso seja possível, esse estudo deve utilizar
um dos três métodos de se fazer pesquisa, que são o descritivo,
correlacional e experimental. Esses são métodos padrão para
que os dados observados sejam coletados corretamente e que
possamos chegar às conclusões do estudo para posteriormente
serem publicadas (HOCKENBURY; HOCKENBURY, 2001).

É importante ter em mente que qualquer pessoa pode


produzir ciência e que qualquer ambiente pode ser propício para
o fornecimento de dados e responder a hipóteses, como no caso
de um professor em sala de aula que investiga uma maneira

22 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
de despertar interesse nas crianças para que façam o dever de
casa. Ele desenvolve um pensamento crítico a respeito, que é
uma maneira científica de enxergar aquela situação-problema,
sempre optando pela neutralidade e fugindo de qualquer ideia
tendenciosa.

Assim, ele observa que algumas atitudes em sala motivam


as crianças e, a partir daí, cria a seguinte hipótese de pesquisa:
“colar uma estrelinha dourada no caderno de um aluno tende
a melhorar seu desempenho escolar”. Assim, o professor
precisa começar a investigar sua hipótese para confirmar se
ela é realmente eficaz; caso seja, ele terá progresso em sala de
aula. Vamos, agora, entender um pouco sobre a metodologia de
pesquisa para auxiliar o professor em seu projeto de pesquisa.

Unidade 1
Qual método você acredita que seja o mais indicado
para esse estudo? O descritivo, correlacional ou
experimental? Vejamos um por um!
REFLITA

Método descritivo
O método descritivo exige do investigador uma série de
informações sobre o que deseja pesquisar. Esse tipo de estudo
pretende descrever os fatos e fenômenos de determinada
realidade (TRIVIÑOS, 1987). O método descritivo é dividido em
três tipos:

• Técnicas observacionais.

• Estudo de caso.

• Pesquisa de levantamento.
Quando se diz que uma pesquisa é descritiva,
se está querendo dizer que se limita a uma

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 23
descrição pura e simples de cada uma
das variáveis, isoladamente, sem que sua
associação ou interação com as demais sejam
examinadas. (CASTRO, 1976, p. 66)

Com relação aos três tipos do método descritivo


temos que: as técnicas observacionais apenas observam o
comportamento, seja em seu ambiente natural, como um biólogo
que se esconde para observar pássaros, ou em laboratórios, com
situações-problema criadas para esse fim. Porém, a observação
naturalística é mais indicada, pois sabe-se que as pessoas
modificam seu comportamento em laboratórios, mas nem
sempre ela é possível, pois o pesquisador observador inserido
em um local também pode interferir na dinâmica do grupo (ao
pesquisar a relação entre chefe e subordinado, por exemplo).
Unidade 1

Além disso, sua inserção em um local se passando por


outra pessoa que não um pesquisador fere os pressupostos
éticos da pesquisa científica. Há, ainda, a observação participante,
pela qual o observador realmente se torna membro do grupo e
compartilha com ele o mesmo ofício, sem infringir a ética e o
sigilo.

O estudo de caso é muito utilizado na prática clínica,


pois permite estudar um único participante com
bastante profundidade e por um período maior.
VOCÊ SABIA? Geralmente, esse tipo de estudo relata alguma
intervenção clínica e mudanças no padrão de
comportamento do indivíduo. Os dados coletados
com esse tipo de estudo são posteriormente
compartilhados para serem utilizados por
profissionais que encontram casos semelhantes

O último tipo de pesquisa descritiva é a pesquisa de


levantamento, que é a entrevista com os participantes. Esse tipo
de pesquisa é muito utilizada por ser prática e acessível, mas

24 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
requer mais cuidado do pesquisador para não analisar os dados
tendenciosamente (HOCKENBURY; HOCKENBURY, 2001).

Por fim, cabe destacarmos exemplos de pesquisas com


caráter descritivo:

• Análise de documento.

• Estudos de caso.

• Pesquisa ex-post-facto.

Método correlacional
A preocupação do método correlacional é determinar
as relações existentes entre as variáveis. É importante destacar

Unidade 1
que não é feita uma manipulação das variáveis, mas sim uma
investigação da extensão em que as variáveis estão relacionadas.
Com esse método, procura-se explorar essas variações, no
entanto, não se dedica à análise da relação causa-efeito.

O método experimental só poderá ser utilizado


após a utilização do método correlacional, porque,
para que haja a aplicação da relação causa-efeito
IMPORTANTE que é tida no método correlacional, é necessário,
antes, que se estabeleça quando duas variáveis
são correlatas.

Quando é apresentada uma relação entre duas variáveis, dizemos que elas
estão correlacionadas. Lembra-se do exemplo que usamos para mostrar
a prática do pensamento crítico em sala de aula? Outra pesquisa que o
professor poderia fazer é a correlacional. Nela, ele pegaria um número
de alunos com maiores notas e faria uma correlação com o número de
estrelas douradas que foram ganhadas, para saber se há correlação entre
essas duas variáveis.

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 25
O estudo correlacional mede a relação entre
duas variáveis, de modo que a existência de uma
pressupõe a existência de outra, o que se chama
EXPLICANDO
MELHOR correlação positiva. Quando a existência de uma
variável pressupõe a inexistência de outra, nomeia-
se correlação negativa.

Com o método correlacional, obtém-se diferentes tipos


de informações, entre eles:

• Compreender um fenômeno complexo.

• Desenvolver uma teoria relacionada a um fenômeno


comportamental.
Figura 8 – Método correlacional
Unidade 1

Fonte: Freepik

Por meio do método correlacional, é possível:

• Entender determinados eventos relacionados,


condições e comportamentos.

26 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
• Predizer comportamentos variáveis ou condições
futuras levando em consideração o que se sabe de uma
outra variável.

• Algumas vezes, obter sugestões do que uma variável


está causando em outra.

Método experimental
O último tipo de pesquisa é a experimental, na qual o
pesquisador pode manipular as variáveis para saber qual delas
está influenciando para que haja o resultado. Esse método é
bastante utilizado em laboratórios que testam medicamentos.
Um grupo recebe a medicação e o outro o placebo, assim, fica

Unidade 1
mais fácil saber se a mediação funciona.

Assim, o método experimental investiga a manipulação


de tratamentos buscando estabelecer a relação causa-efeito, já
mencionada anteriormente nas variáveis investigadas. Há uma
manipulação na variável independente, visando julgar seu efeito
sobre uma variável dependente.

Destaca-se que a relação de causa-efeito não pode ser


estabelecida por meio de técnicas estatísticas, porém apenas
pela aplicação de um pensamento lógico para os experimentos
que são delineados regularmente.

O método experimental tem como objetivo testar as


hipóteses do pesquisador, visando elencar a forma ou por quais
causas o fenômeno é produzido.

Esse método pode ser aplicado no exemplo anterior da


escola, por exemplo, dividindo as crianças em quatro grupos:
grupo que recebeu estrelinha por fazer a tarefa; grupo que fez
a tarefa, mas não recebeu estrelinha; grupo que não fez a tarefa
e recebeu a estrela e grupo que não fez a tarefa e não recebeu

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 27
a estrela. O professor poderia comparar o resultado das provas
ao final do semestre, ou dar uma prova após cada estrela colada
no caderno de um grupo, ou, ainda, inverter os grupos que iriam
ganhar a estrelinha (o nome para esse método é delineamento
cruzado).

Porém, esse método exige que um protocolo experimental


seja seguido, a fim de que o número de participantes, tempo de
pesquisa e comprometimento ético sejam resguardados.

Assista ao vídeo “Quais os tipos de pesquisa? -


Metodologia Científica” para reforçar ainda mais
sua reflexão a respeito da pesquisa científica e, em
SAIBA MAIS seguida, reflita sobre qual método você acredita
ser o mais indicado para o nosso professor do
exemplo dado. Para acessá-lo, disponível no QR-
Unidade 1

Code.

28 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu
mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de
que você realmente entendeu o tema de estudo
RESUMINDO deste capítulo, vamos resumir o que vimos. A
pesquisa científica consiste em um padrão de coleta
e publicação de dados, de modo que qualquer
pesquisador ou profissional da área possa utilizar
evidências e conceitos seguros para sanar dúvidas
ou enriquecer seu conhecimento a respeito de
um mesmo assunto. Assim, estudamos sobre os
métodos descritivo, correlacional e experimental.
Compreendemos que o método descritivo exige
do investigador uma série de informações sobre
o que deseja pesquisar e que ele é dividido em
três tipos: técnicas observacionais, estudo de

Unidade 1
caso e pesquisa de levantamento. Com relação ao
método correlacional, vimos que ele determina
as relações existentes entre as variáveis e só
poderá ser utilizado após a utilização do método
correlacional. Por fim, estudamos sobre o método
experimental, com o qual o pesquisador pode
manipular as variáveis para saber qual delas está
influenciando para que haja o resultado. Esse
método é bastante utilizado em laboratórios
que testam medicamentos. Um grupo recebe a
medicação e o outro o placebo, assim, fica mais
fácil saber se a mediação funciona.

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 29
Psicologia científica:
Estruturalismo, Funcionalismo
e Associacionismo
Ao término deste capítulo você será capaz de
entender e aplicar os conceitos do Estruturalismo,
do Funcionalismo e do Associacionismo, à luz
OBJETIVO da Psicologia científica. E então? Motivado para
desenvolver esta competência? Vamos lá!

Estruturalismo
O modo de explicar a mente e o comportamento humano
Unidade 1

ao longo da história foi fundamentado na Filosofia, na Biologia,


na Sociologia e na Fisiologia. A Psicologia era um campo de
estudo que, até então, estava contido nessas áreas. Estudos a
respeito de estímulos sensoriais e respostas corporais, como
o de Pavlov (1849-1936), técnicas de extirpação de partes do
cérebro de animais para examinar problemas e consequências
comportamentais, e dissecação post mortem foram úteis para
avançar no entendimento acerca do comportamento humano.
Mas como, de fato, a Psicologia surgiu como ciência e disciplina
isolada? Vamos ver?

Podemos dizer que a Psicologia como disciplina surgiu


em 1874, na Alemanha, no laboratório do fisiologista, filósofo e
psicólogo Wilhelm Wundt (1832-1920). O laboratório inaugurado
por Wundt está localizado na Universidade de Leipzig, local onde
a Psicologia começou. Esse é o laboratório mais antigo da área,
com mais de 160 pesquisas de doutorado orientadas por Wundt
(SCHULTZ; SCHULTZ, 2009).

30 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
Figura 9 – Wilhelm Wundt

Unidade 1
Fonte: Wikimedia Commons

Wundt utilizou a pesquisa experimental em laboratório


para investigar processos psicológicos básicos, como consciência,
sensações e percepções. Ele queria entender como nossa mente
era capaz de produzir esses processos psicológicos, por exemplo,
como uma sensação de tato se processa. Há um padrão limiar ou
tempo de contato para que a sensação seja causada? Esse tinha
por base a experimentação e a comprovação física, por isso seus
estudos fazem parte de uma área de pesquisa atual da Psicologia
chamada de Psicofísica.

A percepção é uma subárea da Psicologia pela qual


perpassam fundamentos da Psicofísica. O estudo da percepção
envolve a detecção de estímulos do ambiente por meio dos

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 31
órgãos do sentido. Sabemos que temos neurônios receptores
de sensações, como dor e tato, porém os primeiros estudos
nessa área queriam identificar a intensidade psicológica das
sensações resultantes de estímulos externos. Então, sabemos
que os neurônios nociceptores detectam o estímulo e, em
seguida, eles devem ser diferenciados, por exemplo, no quente
ou no frio? Parece fácil, não é? Mas agora lhe convido a fazer
uma experiência, caro aluno. Afunde sua mão direita em uma
água bem gelada, porém suportável e, em seguida, afunde essa
mesma mão em água morna. Feito isso, afunde agora sua mão
esquerda em uma água natural e após isso em uma água morna.
Acredito que a sua mão direita sentiu a água mais quente se
comparada à outra, não é? Pois bem, assim entramos na terceira
parte do estudo, o reconhecimento do estímulo: sua modalidade
Unidade 1

e intensidade.

Porém, esse tipo de estudo fica sujeito a erros em razão


da subjetividade de cada participante. Como os experimentos
eram introspectivos, não poderia haver um consenso público, o
que resultou em muitas críticas ao método e, mesmo com toda
sua importância e relevância para o avanço da pesquisa, foi uma
escola que caiu em desuso após a morte de seus fundadores.

Os estudos de Wundt se basearam na comprovação da


estrutura da consciência e seus reflexos no corpo humano. Esse
método recebeu o nome de Estruturalismo, termo dado por um
de seus mais ilustres alunos, Edward Bradford Titchener (1867-
1927) que, após a conclusão de seu doutorado foi convidado a
trabalhar como professor na Universidade Cornell, nos Estados
Unidos, expandindo a Psicologia Experimental para aquele país.
Vale lembrar que, após o distanciamento físico entre professor e
aluno, algumas de suas ideias também se diferenciaram.

32 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
Estruturalismo é a mais antiga escola da Psicologia,
que visava descobrir os processos conscientes e
como se conectam com as condições fisiológicas
DEFINIÇÃO do corpo.

Esta primeira corrente psicológica morreu junto com seus


fundadores, ainda que muito importante para todo o surgimento
da Psicologia experimental. Não resistiu às críticas dos alunos
pesquisadores que sucederam a academia após a morte de seus
precursores, porque as variáveis ali estudadas não poderiam
ser observadas, cabendo apenas ao participante responder
a respeito do que sentiu, ou seja, totalmente introspectivo.
Um tipo de experimento realizado naquela época, na área da
percepção, consistia em saber quanto tempo uma pessoa levaria

Unidade 1
para detectar o som de um sino tocando. O participante anotava
em um papel o momento em que ouvisse o sinal, e o tempo era
medido posteriormente.

Sempre que o termo “sensação” for mencionado,


estamos nos referindo aos órgãos dos sentidos e
aos seus respectivos neurônios nociceptores (tato,
NOTA audição, paladar, olfato e visão).

O Funcionalismo
Por volta de 1870, um brilhante professor da Universidade
de Harvard chamado William James (1842-1910) se interessava
e estudava bastante os escritos de Wundt e, com base neles,
em suas obras descrevia a função do cérebro, hábito, memória,
sensação, percepção e emoção (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009).

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 33
Figura 10 – William James (1842-1910)
Unidade 1

Fonte: Wikimedia Commons

Para James, a Psicologia tinha como intenção desvendar


a noção biológica do cérebro sobre a consciência, o que deveria
ser analisado em seu ambiente natural, de uma forma mais
sistemática e não fragmentada, como no Estruturalismo. A
proposta, que também era embasada na Biologia Darwinista,
pretendia responder como o ser humano se adaptava ao
seu meio ambiente. Esse método de estudo foi denominado
Funcionalismo, pois pretendia entender o organismo e sua
adaptação ao meio.

Vale lembrar que o Funcionalismo foi criado por William


James e estudava não somente os processos e experiências
mentais, mas o propósito deles no comportamento.

34 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
As ideias de William James foram tão bem
aceitas que este novo jeito de se fazer Psicologia
se expandiu rapidamente, porque ela não se
DEFINIÇÃO interessava apenas na introspecção e na função
fragmentada de cada região cerebral ou do
corpo, das sensações e dos sentimentos, mas no
entendimento global do organismo e da aplicação
da Psicologia para outros campos, como educação
e ambientes de trabalho.

O Funcionalismo não utilizava a Psicologia Experimental


e passava a observar o funcionamento psicológico sistemático
de populações de pessoas saudáveis ou emocionalmente
desequilibradas, e até animais. Também eram utilizadas crianças

Unidade 1
e seus ambientes escolares, por isso essa escola psicológica
teve um grande impacto na educação normal e infantil. Um dos
alunos de James, John Dewey (1859-1952), grande referência no
campo da educação moderna, afirmava que as crianças deviam
aprender no nível para o qual estivessem preparadas (SCHULTZ;
SCHULTZ, 2009).

É imprescindível citar ainda dois ilustres discípulos de


William James: um deles foi Stanley Hall (1844-1924), conhecido
por ser o primeiro psicólogo a receber o título de PhD nos
Estados Unidos, com seus estudos a respeito da Psicologia do
Desenvolvimento e da Adolescência. Além disso, esse autor
fundou a Associação Americana de Psicologia (APA) e o primeiro
jornal americano de Psicologia, que existem até hoje, sendo a
APA a maior instituição de Psicologia no mundo.

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 35
Figura 11 – Stanley Hall (1844-1924)

Fonte: Wikimedia Commons

Outra ilustre aluna de James foi Mary Whiton Calkins


Unidade 1

(1863-1930), que, apesar de ter completado todas as exigências


para o recebimento de seu título de PhD em Psicologia, teve
seu título negado pela Universidade de Harvard em 1890, por
ser mulher. Calkins passou a lecionar Psicologia para uma
universidade feminina, onde criou seu laboratório de Psicologia.
Além disso, foi a primeira presidente da APA.
Figura 12 – Estudiosos da psicologia

Fonte: Psicologiaiesgo (2022).

36 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
A primeira mulher do mundo a receber o título de
Ph.D. em Psicologia foi Margaret Floy Washburn
(1871-1939), aluna de Titchener também nos
SAIBA MAIS Estados Unidos, com seus estudos sobre
comportamento animal e teoria motora. Além
disso, foi a segunda mulher a presidir a APA.

Figura 13 – Margaret Floy Washburn (1871- 1939)

Unidade 1
Fonte: Wikimedia Commons

Apesar de todo o sucesso, a escola funcionalista não


ficou livre de críticas. Psicólogos experimentais como Wundt
acreditavam que a pesquisa fora dos padrões de controle
do laboratório seria inconstante e fora de consenso público,
significando um retorno à ciência pura, aquela fundamentada
em ideias (como Platão) e não em evidências científicas
comprovadas, como a Filosofia moderna nos ensina, por isso não
a reconheciam como Psicologia.

É importante refletirmos que essa época já era o


século XX. Freud, Skinner, Watson e outros teóricos
já existiam. A Psicologia estava formada.
REFLITA

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 37
O Associacionismo
O Associacionismo teve início no Reino Unido com David
Hartley (1705-1757). Não é uma escola criada como crítica às
anteriores, mas uma corrente de pensamento fundamentada
em ideias filosóficas positivistas e empiristas, que, assim como o
Estruturalismo e o Funcionalismo, buscava entender os processos
mentais. Com base em teorias Newtonianas e empiristas, essa
teoria propunha que a mente seria produto de ações vibratórias
do sistema nervoso que produziriam sensações, e essas sensações
produziriam as ideias. Posteriormente, a concepção de sensação-
ideia foi substituída pela expressão estímulo-reação, ou seja,
estímulo-resposta. Importantes filósofos e psicólogos firmaram
suas teorias com base nessas ideias, que estão presentes e são
Unidade 1

utilizadas na Psicologia atual (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009).

O Positivismo foi uma escola filosófica criada pelo


francês Augusto Comte (1798-1857). Para os filósofos
positivistas, a ciência deveria ser construída por meio
DEFINIÇÃO de um protocolo sistemático de observações empíricas
e de fenômenos concretos passíveis de serem
observados e confirmados por consenso público.

As ideias apresentadas nessa corrente de pensamento


foram bastante revolucionárias, pois se aprofundaram na
compreensão do funcionamento cognitivo. Um filósofo que
inspirou o Associacionismo foi o inglês John Locke (1632-1704),
que defendia a tese aristotélica de que o homem nasce sem
qualquer conhecimento prévio, ou seja, como uma tábula-rasa.
Para Locke, o conhecimento é fruto da sensação (experiência
sensorial) e reflexão (cognitiva mental). A sensação e a reflexão
formam as ideias simples, que são elementares e não podem ser
reduzidas ou analisadas. A junção das ideias simples forma as
ideias complexas, as quais podem ser estudadas. A conexão entre

38 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
as ideias simples para formar as complexas recebeu o nome de
associação, cujo processo serve como base para explicar o que
atualmente os psicólogos, os pedagogos e os psicopedagogos
chamam de aprendizagem (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009).

Como já explicamos anteriormente, a sensação


deve-se aos órgãos dos sentidos, enquanto a
percepção é a assimilação da sensação com a
EXPLICANDO
MELHOR subjetividade de cada indivíduo. A junção dessas
duas operações forma a reflexão, ou seja, quando
temos uma experiência sensorial, atribuímos a ela
uma ideia a respeito do que foi vivenciado. Isso é
a associação, e essa percepção a respeito do que
está sendo vivenciado, ou seja, o entendimento
interno das operações da razão, é chamada de
reflexão.

Unidade 1
O “espírito” intelectual dessa época vinha da influência
de filósofos materialistas como Descartes. A ideia mentalista a
respeito da reflexão afirmava que todo o conhecimento é função
de um fenômeno mental e dependente da pessoa que a vivencia.
Assim, o Associacionismo defendia que o homem não nasce com
ideias inatas. O conhecimento é fruto dos processos fisiológicos
subjacentes que, por sua vez, formarão os processos psicológicos.
A doutrina do mecanicismo foi utilizada para explicar a mente
humana, sendo essa passiva e automática, respondente a
estímulos externos.

Alguns teóricos importantes dessa


época
Um estudo dessa época e que contribui diretamente para
a prática do pedagogo foram os achados de Hermann Ebbinghaus
(1850-1909), aluno de Wundt que em 1885 publicou o resultado
de uma pesquisa a respeito da associação, aprendizagem e
memória. Veja o exemplo:

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 39
Exemplo:

Leia o seguinte conjunto de letras:

Ce zl e m sl mrvoso !

Tente lembrar-se de todas daqui a 30 minutos.

Agora tente novamente.

Céu azul e um sol maravilhoso!

Viu só? Isto seria uma breve demonstração de como a


associação de ideias é importante para melhor consolidar
a memória. Provavelmente, você imaginou um céu, um sol,
Unidade 1

e vieram várias imagens e percepções em sua mente.

Outro teórico que contribuiu (acidentalmente) para a


Psicologia Experimental foi Ivan Pavlov (1849-1936), um fisiologista
russo que estava realizando um estudo gastrointestinal com
um cachorro, o qual sempre que ia ser alimentado, um sino
era tocado. Pavlov percebeu que o cão salivava quando o sino
tocava, antes de ver a comida.
Figura 14 – Ivan Pavlov (1849- 1936)

Fonte: Wikimedia Commons

40 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
Então, Pavlov fez a seguinte observação: a associação de
um estímulo não condicionado (comida) com a apresentação de
um estímulo neutro (som de uma campainha) pode provocar
uma resposta condicionada (salivação), ou seja, aprendida. Veja
o esquema a seguir
FIGURA 15 – Esquema do condicionamento de estímulos Pavloviano

1. Antes do condicionamento 2. Antes do condicionamento

som

Resposta Resposta
Sem
comida salivação salivação

Estímulo resposta Estímulo resposta não


incondicionado incondicionada neutro condicionada

Unidade 1
3. Durante condicionamento 4. Após condicionamento

som

Resposta Resposta
som
salivação salivação
comida
resposta Estímulo resposta
incondicionada condicionado condicionada

Fonte: Editorial Telesapiens.

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 41
Figura 16 – Animal experimental utilizado por Pavlov

Fonte: Wikimedia Commons

Um dos animais utilizados por Pavlov encontra-


se embalsamado, e a residência utilizada para
experimentos foi transformada em um museu na
VOCÊ SABIA? Rússia, na cidade de Ryazan.
Unidade 1

A descoberta de Pavlov foi chamada de reflexo


condicionado, ou seja, quando nosso corpo reage fisiologicamente
a um estímulo condicionado. Essa teoria serviu como base para
as pesquisas de Watson e Skinner, dois importantes psicólogos
comportamentais, cujas teorias são muito utilizadas na pesquisa
psicológica e na clínica atual.

Influenciado por Pavlov, John Broadus Watson (1878-


1958) foi um famoso professor de Psicologia americano,
considerado o fundador da Psicologia Comportamental. Aqui nos
ateremos apenas à importância dos achados de Watson, uma
escola psicológica que não acreditava na existência da mente e
dizia que apenas o comportamento era passível de estudo, pois
era observável.

Para Watson, o comportamento humano poderia ser


modelado de acordo com o ambiente. Ele criou um famoso
esquema que representava essa crença: S – R, do inglês stimulus-

42 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
response, que se tornou a base para a definição de aprendizagem
para sua teoria. Os experimentos de Watson são famosos e
muito comentados ainda hoje, pois contribuíram imensamente
para o conceito da relação entre modelagem comportamental e
meio. Esses experimentos, porém, foram considerados ofensivos
para quem estava participando da pesquisa (SCHULTZ; SCHULTZ,
2009).

Agora pense na prática da pedagogia quanto ao


comportamento dos alunos em relação ao meio (ambiente
escolar, professor, amigos, escola em geral). Como o meio pode
refletir no comportamento dos alunos? Caso você não consiga
responder a essa questão, guarde-a como uma motivação para
estudar todo o capítulo.

Unidade 1
Ao estudar a história de alguma disciplina, temos a
impressão de que um autor pegou o bastão de seu antecessor
e seguiu adiante. Porém, o que estamos vendo na história da
Psicologia é uma relação de construção dinâmica e de poucos
anos atrás. Aqui estamos no século XX: as mulheres lutam para
ter espaço na sociedade, associacionistas e estruturalistas
trabalham cada qual em seu laboratório. Freud e Skinner escrevem
suas teorias durante a mesma época, ou seja, as divergências
resultaram em muito crescimento e avanço nas pesquisas, com
muitas mudanças na sociedade em pouco tempo.

A figura mostra um relato histórico de 1909, ano de


aniversário da Clarck University em Massachusets, onde Freud
apresentou cinco conferências sobre Psicanálise. Na plateia
estavam Stanley Hall, William James, entre outros. Nota-se
também ainda a ausência de mulheres nos registros acadêmicos,
apesar da participação delas nas aulas, na academia e no
desenvolvimento das pesquisas. Na fileira da frente estão Freud,
à esquerda, Stanley Hall, no centro, e Carl Jung a direita.

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 43
Figura 17 – Teóricos da Psicologia reunidos

Fonte: Wikimedia Commons

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu


Unidade 1

mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza


de que você realmente entendeu o tema de
RESUMINDO estudo deste capítulo, vamos resumir algo do
que vimos. Você compreendeu os conceitos do
Estruturalismo, Funcionalismo e Associacionismo,
à luz da Psicologia científica.

44 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
Objeto de estudo da Psicologia
Ao término deste capítulo você será capaz de
identificar os objetos de estudo da Psicologia e suas
aplicações. E então? Motivado para desenvolver
OBJETIVO esta competência? Vamos lá!

Sem dúvida, os objetos de estudo da Psicologia são o


comportamento humano e os processos mentais e cognitivos.
Esta ciência surgiu como uma ramificação das ciências filosóficas
que buscava compreender o universo e a existência humana.

Ao focar no homem, a ciência passou a investigar cada


vez mais suas estruturas anatômica, fisiológica e neurofuncional.

Unidade 1
Antes do período do Iluminismo, acreditava-se que o homem
emitia comportamentos emanados por forças sobrenaturais.

Com o aprimoramento do estudo neurológico, o cenário


mudou: doenças neurológicas foram descobertas, a relação
entre sensação e cérebro também se aprimorou e o estudo mais
compreensível do comportamento pôde ser aplicado a esferas
organizacionais, escolares, industriais, entre outras inúmeras
vertentes.

Vamos agora conhecer um pouco do objeto de estudo da


Psicologia e suas aplicações, principalmente no que se aproxima
à prática do pedagogo e do ambiente educacional.

Psicologia clínica
Sem dúvida, a área mais conhecida dentro da Psicologia
é a área clínica, que se dedica à saúde mental, ou seja, à
compreensão dos transtornos mentais e aos sofrimentos
psíquicos do ser humano. Vale lembrar que os primeiros

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 45
atendimentos individuais dentro da Psicologia eram destinados
à compreensão de problemas de aprendizagem e memória,
realizados por Wundt e seus alunos, e daí partindo para análises
comportamentais. Porém, a grande explosão da Psicologia e sua
fama na área clínica para tratar doenças psicológicas deve-se a
Freud, que fundou a teoria psicanalítica, levando-a a quase todo
o mundo.
Figura 18 – Tipo de atendimento clínico
Unidade 1

Fonte: Pixabay

Além da teoria psicanalítica, existem várias


outras abordagens terapêuticas reconhecidas
pela ciência. Alguns teóricos são considerados
SAIBA MAIS neofreudianos porque estudaram e se basearam
na Psicanálise Freudiana para desenvolver seu
método de intervenção, como Carl Jung e a teoria
dos arquétipos e inconsciente coletivo, Erik Erikson,
Karen Horney e Alfred Adler, entre outros.

Há ainda a metodologia comportamental que hoje


é muito utilizada em clínica. Essa modalidade de terapia é
bastante famosa por estudar a intervenção de comportamentos
traumáticos e estereotipados, como Transtorno Obsessivo

46 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
Compulsivo (TOC), Transtorno do Espectro Autista (TEA), fobias e
questões de sofrimento psíquico em geral.

Em resposta às duas teorias anteriores, Carl Rogers


(1902-1987) deu início à Psicologia Humanista, uma forma mais
positiva e sistêmica de compreender as questões humanas.
Existem também as teorias que visam ao atendimento grupal e
não somente individual, como a Gestalt-terapia, por exemplo.
Existem outras abordagens também muito importantes na
pesquisa em Psicologia Clínica, que buscam investigar os
transtornos mentais em relação ao ambiente, a evolução desses
transtornos, as novas modalidades de intervenção, entre outros
(HOCKENBURRY; HOCKENBURRY, 2003).

Psicologia social

Unidade 1
A Psicologia Social aborda as relações entre os membros
de um grupo social que não precisa ser coeso; por exemplo, uma
fila de pessoas em um banco se caracteriza como um grupo.

As pessoas tendem a se comportar de forma diferente


quando estão acompanhadas, sendo influenciadas pelos
comportamentos de outros. Desse modo, a Psicologia Social é o
estudo de como os indivíduos pensam, sentem e se comportam
em situações sociais.

Engana-se quem acredita que a Psicologia seja totalmente


limitada a uma área de conhecimento. Freud, em sua teoria
psicanalítica, já abordava a importância do meio social para o
comportamento humano e descrevia a família como o primeiro
grupo social, que seria transformado pela vivência da criança em
um segundo grupo, a comunidade. Vygotsky também escreveu
sobre a importância do grupo no surgimento da linguagem, a
qual seria influenciada pela cultura (FADIMAN; FRAGER, 2002).

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 47
Porém, essa modalidade surgiu nos períodos de guerra
mundial, quando se tornou imprescindível compreender as
razões para alguns comportamentos de grupos. Kurt Lewin (1890-
1947) foi um teórico que trabalhou sobre essa seara durante a
Segunda Guerra, pesquisando o comportamento e a percepção
de pessoas quando estão em grupo, e desenvolveu a chamada
“pesquisa-ação”, um tipo de pesquisa descritiva e participante.

No Brasil, a Psicologia Social é marcada por diferentes


tendências, como a abordagem mais empirista e experimental-
cognitiva, e uma Psicologia mais ligada à Sociologia, que estuda
conceitos de comunidade, exclusão, inclusão social, estigmas,
entre outros.

São conceitos importantes para essa área a cognição


Unidade 1

social e a influência social. A cognição social é o processo de


formação de impressões a respeito de outras pessoas, como
interpretamos o significado do comportamento delas e como
o nosso comportamento é afetado por nossas atitudes, ou
seja, é um estudo sobre como o ser humano recebe, processa
e armazena a informação advinda do mundo. O estudo das
emoções e da cognição faz parte do estudo da cognição social e,
como diz Hamilton et al. (1994) apud Garrido, Azevedo e Palma
(2011),
O poder explicativo dos modelos cognitivos
adoptados em cognição social prende-se,
principalmente, com a sua capacidade em
descrever de forma precisa os mecanismos
gerais da aprendizagem e do pensamento,
subjacentes a uma variedade de áreas. Os
primeiros desenvolvimentos da cognição social
ficaram assim marcados pela investigação
dos fundamentos cognitivos dos fenómenos
sociais através do modelo do processamento

48 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
da informação, assumindo que o indivíduo
no contexto social é alguém que se encontra
virtualmente embrenhado nalguma forma de
processamento de informação. Isto aplica-se
quer a pessoa esteja a formar uma impressão,
a dirigir uma reunião, a pensar na sua escola
primária, a lidar com uma doença ou a decidir
que marca de desodorizante comprar. Em
qualquer uma destas circunstâncias a pessoa
dá atenção e codifica informação do contexto
social, interpreta e elabora essa informação
através de processos avaliativos, inferenciais e
atribucionais e representa esse conhecimento
em memória para que mais tarde possa ser

Unidade 1
recuperado e, subsequentemente utilizado,
em processos de pensamento e julgamento,
e para guiar o comportamento. (HAMILTON
et al., 1994 apud GARRIDO; AZEVEDO; PALMA,
2011, p. 116)

A influência social estuda como nosso comportamento


é afetado por situações e por outras pessoas. Essas influências
seriam, por exemplo, a importância atribuída a uma figura de
autoridade ou o fato de ajudarmos ou não um estranho. Ainda
neste campo, há o estudo sobre o fenômeno da dissonância
cognitiva, que ocorre quando o indivíduo se esforça para manter
a coerência (consonância) com suas crenças. Veja o exemplo a
seguir:

• Indivíduo fumante.

• Relação de consonância cognitiva - sabe que é


prejudicial, reconhece e decide parar de fumar.

• Relação de dissonância cognitiva - indivíduo fuma e


sabe que é prejudicial, tem um discurso voltado para
o não fumar, mas decide continuar fumando. Nesse

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 49
caso, seu comportamento não reforça suas crenças e
ele pode tentar justificá-lo criando novas crenças para
manter uma consonância, por exemplo: “Sim, eu fumo,
mas eu me exercito bastante, portanto quem não se
exercita e se alimenta mal, está pior que eu!”.

Assista ao vídeo disponível no QR-Code , que traz


uma explicação e aplicação bem didática e atual
para a dissonância cognitiva.
SAIBA MAIS
Unidade 1

Estudos sobre o comportamento social são bastante


investigados na Psicologia social: um deles, muito famoso, é o
estudo da obediência, que foi desenvolvido por Stanley Milgran
(1933-1984) nos Estados Unidos. Uma de suas investigações
propunha entender o comportamento excessivo de guardas que
serviram ao exército nazista, cometendo atrocidades, na maioria
das vezes fora de um combate, estando a vítima indefesa e sem
apresentar qualquer indício de ataque. Após o final da guerra,
quando esses guardas eram questionados a respeito de suas
atrocidades, apenas respondiam que estavam cumprindo
ordens.

50 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
O experimento de Milgram é considerado
importantíssimo para a pesquisa do
comportamento de grupos, porém não pode ser
SAIBA MAIS repetido por ser considerado exagerado para os
padrões éticos da pesquisa, por causar perturbação
aos seus participantes. Essa história se tornou
filme com título “Experimenter – die Stanley Milgram
Story” dirigido por Michael Almereyda em 2015.

Unidade 1
Psicologia organizacional
A Psicologia organizacional e do trabalho se iniciou ainda
no século XIX com a Revolução Industrial, pois, com o avanço da
tecnologia, as máquinas revolucionaram o esquema de trabalho,
os horários e a rotatividade de funcionários, por isso também é
chamada de Psicologia industrial. Ela tem o intuito de aumentar
a lucratividade e a produtividade, utilizando conhecimentos da
Psicometria (BASTOS; GALVÃO-MARTINS, 1990).

A Psicologia Organizacional estuda o clima organizacional


e qualidade de vida no trabalho, a saúde e bem-estar do
funcionário, ergonomia, poder e conflito, utilizando dinâmicas de
grupo, desenvolvimento de equipes e estudos sobre liderança.
A pesquisa nessa área é importante para manter uma relação
saudável entre empresa, funcionários e trabalho, além de
tentar compreender novas possibilidades de atuação, garantir a
inclusão social e interesses individuais de cada empresa.

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 51
Um importante teórico dessa área é Abraham
Maslow (1905-1970), considerado o fundador da
Psicologia Humanista, que se baseou em conceitos
IMPORTANTE do Behaviorismo, Psicanálise e Gestalt. Seus estudos
são significativos para lidar com organizações,
porque defende a ideia de que a satisfação
profissional e o crescimento do funcionário e
da empresa são apenas as consequências de
um bom delineamento de autossatisfação, que
será trabalhado individualmente e no grupo
organizacional. Maslow representou isto em uma
pirâmide, a chamada pirâmide de Maslow.

FIGURA 19 – Pirâmide de Maslow


Unidade 1

Fonte: Wikipedia

52 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
De acordo com a pirâmide de necessidades, o
indivíduo busca primeiro o que é essencial para
sua sobrevivência e, à medida que conquista um
SAIBA MAIS nível, o outro passa a ser seu objetivo. O topo da
pirâmide torna o indivíduo realizado, ou melhor
dizendo, conforme a definição de Maslow, o
indivíduo conquista a autoatualização, que seria a
oportunidade e capacidade de explorar os talentos,
potencialidades etc.

A observação de Maslow a respeito da hierarquia das


necessidades nos mostra que o homem muda sua concepção
a respeito do que realmente lhe importa. Quando o indivíduo
enxerga o que é importante para o desenvolvimento de seu

Unidade 1
Self (termo utilizado tanto por Maslow quanto pelos psicólogos
da abordagem humanista para se referir ao nosso “Eu”, nossa
psique), ele se sente motivado intimamente, “com necessidades
de autorrealização” (FADIMAM; FRAGER, 2002). Maslow (1970)
chamou isso de “Metamotivação” e, para ele, as pessoas
metamotivadas têm tendência à autoatualização, pois sua base
da pirâmide está contemplada.
É inteiramente verdadeiro que o homem vive
apenas de pão – quando não há pão. Mas
o que acontece com os desejos do homem
quando há muito pão e sua barriga está
cronicamente cheia? Imediatamente emergem
outras (e superiores) necessidades e são essas,
em vez de apetites fisiológicos, que dominam
seu organismo. E quando elas, por sua vez,
são satisfeitas, novamente novas (e ainda
superiores) necessidades emergem e assim por
diante. (MASLOW, 1970, p. 38)

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 53
Um sujeito autoatualizado não é aquele livre de
problemas, mas aquele que utiliza toda sua capacidade, seus
talentos e suas forças, para perceber com mais eficiência a
realidade e realizar fatos mais satisfatórios para si. No campo
afetivo, esse indivíduo aceita melhor a si e aos outros, cultiva a
espontaneidade, simplicidade e naturalidade, concentra-se no
problema, e não no ego, entre outros aspectos.
Autoatualização representa um compromisso
a longo prazo com o crescimento e o
desenvolvimento máximo das capacidades, e
não um acomodamento no mínimo por causa de
preguiça ou falta de autoconfiança. O trabalho
de autoatualização envolve a escolha de
problemas criativos e valiosos. Maslow escreve
que indivíduos autoatualizadores são atraídos
Unidade 1

por problemas mais desafiantes e intrigantes,


por questões que exigem os maiores e mais
criativos esforços. Estão dispostos a enfrentar
a incerteza e a ambiguidade e preferem o
desafio a soluções fáceis. (FADIMAN; FRAGER,
2002, p. 267)

Maslow incluiu algumas pessoas em seu estudo que foram


consideradas por ele como autoatualizadas, entre elas Tomas
Jefferson, Albert Einstein, Aldous Huxley e Abraham Lincoln.

Psicologia do desenvolvimento
humano
A Psicologia do desenvolvimento é uma grande área de
estudo, pois acompanha as mudanças psicológicas ao longo da
vida e abrange como as pessoas mudam fisicamente, mental,
e socialmente ao longo da vida em todas as idades e estágios
(primeira infância, velhice etc.). Os psicólogos do desenvolvimento

54 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
investigam a influência de fatores múltiplos no desenvolvimento,
incluindo os biológicos, ambientais, sociais e culturais.

A Psicologia do desenvolvimento estuda a relação entre


o genótipo (informações hereditárias de um organismo contidas
em seu código genético) e o fenótipo (genética do organismo
somada à influência de fatores ambientais e da possível interação
entre os dois). Assim, doenças genéticas e características físicas
e psicológicas são objetos de pesquisa. O desenvolvimento da
criança desde a formação da linguagem até a velhice, estando
ou não em condições genéticas típicas, é de interesse dessa área
(HOCKENBURRY; HOCKENBURRY, 2001).

Jean William Fritz Piaget (1896-1980) é um dos teóricos

Unidade 1
importantes dessa área de pesquisa que se interessou pela
formação da inteligência, a construção do conhecimento infantil
e seu desenvolvimento cognitivo. Ele dividiu a aprendizagem
infantil em estágios de desenvolvimento naturais e intrínsecos,
que se desenvolvem como etapas para a construção do
conhecimento. Lev Semyonovich Vygotsky (1896-1934) também
estudou o desenvolvimento intelectual das crianças e priorizou
as interações sociais e condições de vida do indivíduo para o
desenvolvimento cognitivo.

A Psicologia do Desenvolvimento ainda conta


com diversos autores dedicados unicamente a
investigar o comportamento do adolescente, do
IMPORTANTE adulto e do idoso, visto que uma série de mudanças
físicas, hormonais e psicológicas ocorrem no corpo
humano ao longo da vida, bem como a mudança
no comportamento dinâmico social. É notável que
em cada idade há um desenvolvimento moral
diferente e uma devolutiva social diferente em
cada fase (HOCKENBURY; HOCKENBURY, 2001).

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 55
Psicologia escolar e educacional
A Psicologia escolar e educacional investiga os processos
de ensino-aprendizagem. Alguns teóricos a chamam de Psicologia
escolar, porque o psicólogo atua dentro da escola, sempre
focado no aprendizado do aluno, mas ela também é chamada
de Psicologia Educacional, pois, para outros teóricos, o aprender
não acontece apenas no ambiente escolar e engloba também
a participação de outros ambientes educativos e participações-
chave, como a família, por exemplo.

A atuação é tanto na aplicação profissional quanto na


pesquisa, sempre dentro das perspectivas emocional, cognitiva
e social. A Psicologia atua em parceria com outras áreas do
conhecimento humano, como Antropologia, Pedagogia, Filosofia
Unidade 1

e Fonoaudiologia, para entender as causas do fracasso escolar,


da desmotivação e, principalmente, de transtornos e dificuldades
de aprendizagem. A partir de uma visão sistêmica, age em duas
frentes: a preventiva e a que requer ajustes ou mudanças.

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico


das Doenças Mentais - DSM 5 (APA, 2014), os transtornos
de aprendizagem são inabilidades específicas nas áreas da
leitura, escrita ou matemática, provocadas por disfunções ou
sequelas cerebrais que comprometem a região responsável
pelo aprendizado, ou seja, as causas são pontuais, necessitando
de um diagnóstico, para que se pense na intervenção
profissional. Assim, será desenhado um método diferente
de ensino e acompanhamento, e, quando necessário,
haverá o acompanhamento médico regular para intervenção
medicamentosa. Os transtornos de aprendizagem são
frequentemente confundidos com dificuldades de aprendizagem
porque a má produção escolar do aluno é muito parecida,
resultando em diagnósticos incorretos.

56 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
As causas das dificuldades de aprendizagem são
extrínsecas, subjetivas e técnicas, como falta de oportunidade
de aprender, principalmente nos primeiros estágios de
desenvolvimento, mudanças de escola que podem resultar
na descontinuidade do aprendizado, comprometimento na
inteligência global (pois nesse caso não se espera um desempenho
acadêmico, assim como em outros casos), comprometimentos
visuais ou auditivos não corrigidos, além de questões emocionais
que comprometem a saúde mental da criança, como problemas
em casa, bullying, má relação com o professor, má alimentação,
sono ruim etc.

O psicólogo também realiza ações de prevenção,


avaliação, diagnóstico, acompanhamento e orientação

Unidade 1
psicológica aplicada dentro de um contexto institucional, e não
ao aluno individualmente. Porém, para casos que necessitam,
realizam-se encaminhamentos clínicos.

Você sabe a diferença entre dificuldade e


transtorno de aprendizagem, ou quer aprofundar
um pouco mais o seu conhecimento? Então, acesse
ACESSE o material disponível no QR-Code.

Psicobiologia
É uma área do conhecimento que busca compreender
o comportamento por meio de suas bases biológicas, ou seja,
utilizam-se estudos fisiológicos e genéticos, para compreender

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 57
a interação entre sistema nervoso e comportamento. Também
conhecida como Neurociência Comportamental, é uma área
dentro do campo das Neurociências, na qual estão inseridos
diversos tipos de profissionais, como o neuropsicólogo e
neuropsicopedagogo, além das áreas que relacionam seus
problemas de pesquisa com as hipóteses neuronais, como
o neuromarketing, por exemplo, que é uma área nova dentro
deste campo (GRIGGS, 2009).

As Neurociências estão crescendo bastante. Com o


avanço da tecnologia, foram criados equipamentos que permitem
mapear o cérebro e verificar suas áreas ativas ou comprometidas,
facilitando o diagnóstico e prognóstico do paciente. O resultado
de um exame de imagem ajuda muito os profissionais a
confirmarem uma área lesionada no cérebro. O neuropsicólogo,
Unidade 1

por exemplo, poderá trabalhar na reabilitação dessa área dentro


dos limites da plasticidade cerebral. Já o neuropsicopedagogo
poderá realizar um trabalho de reabilitação cognitiva ou de
aprendizagem para uma criança mais rapidamente, pois, por
meio de um exame de imagem pontual, o profissional saberá
se o dano está na região cerebral responsável pela memória,
linguagem ou outra (GRIGGS, 2009).

A plasticidade cerebral é a capacidade de o cérebro mudar


ao longo da vida. O SNC (Sistema Nervoso Central) modifica sua
organização estrutural e funcional em resposta às experiências
(estímulos ambientais). Desse modo, a estimulação profissional
possibilita a reativação de algumas áreas inativas. Isso acontece
porque o estímulo externo faz com que surjam novas conexões
entre os chamados neurônios, que estariam “adormecidos”
(GRIGGS, 2009).

58 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
Quer se aprofundar na relação entre Psicologia
e Pedagogia? Recomendamos o acesso ao artigo
“Voltando o olhar para o professor: a Psicologia e
SAIBA MAIS pedagogia caminhando juntas”, disponível no QR-
Code.

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu


mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de

Unidade 1
que você realmente entendeu o tema de estudo
RESUMINDO deste capítulo, vamos resumir o que vimos. Você
aprendeu a identificar os objetos de estudo da
Psicologia e suas aplicações.

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 59
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION et al. Manual diagnóstico
e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. São Paulo: Artmed
REFERÊNCIAS

Editora, 2014.

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1, p. 10-18, 1990. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.
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BLOGODORIUM. Resumo sobre o mito da caverna de Platão,


c2022. Disponível em: https://www.blogodorium.com.br/resumo-
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BORGES, D. G. A influência platônica sobre a modernidade:


semelhanças entre o pensamento de Platão e o sistema de René
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Descartes. Polymatheia. Polymatheia – Revista de Filosofia,


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GARRIDO, M.V.; AZEVEDO, C.; PALMA, T. Cognição social:


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Introdução à História da Psicologia – Aula 3. [S. l.]: UFMG, 1996.

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SOARES, G. Portfólio – Psicologia da Educação. Psicologia da


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TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a


pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 61
Unidade 1

62 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM

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