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Educação

Popular
Eblin Farage e Francine Helfreich
 Educação Popular como: “[...] uma forma de fazer
educação que contribui para a mobilização e
organização dos trabalhadores e favorece o despertar
para uma consciência crítica, considerando nessa
concepção a dimensão da classe e a necessidade de
ultrapassar essa ordem societária”
 Concepção esta que se constitui como ponto de
intersecção com a profissão e as organizações da
classe trabalhadora, e que coaduna com as lutas
anticapitalistas e populares.
2. Educação Popular: gênese, conceitos e experiências

Início - década de 60

 iniciativa
do Estado
 Surge como fruto da iniciativa de movimentos progressistas e
também com Concepções norteadoras diferentes, assim as
experiências de educação popular tinham conotações e
intenções políticas distintas.

Exemplos: O MOBRAL da Ditadura empresarial Militar e os


círculos de leitura, que foram experiências antagônicas.
2. Educação Popular: gênese,
conceitos e experiências
 Estado: a educação popular era vista como uma
forma de responder a distintas demandas do
capital, por uma força de trabalho mais
qualificada,

 Movimentos progressistas: tinha relevância no


sentido de ser uma forma possível de contribuição
para o desenvolvimento da consciência crítica das
classes subalternas.
 a Educação Popular não se restringe a educação formal e escolar, muito
pelo contrário.

 Apesar das diferentes leituras sobre a Educação Popular, o eixo


hegemônico que norteou grande parte das experiências tinha como
objetivo principal possibilitar às camadas subalternas, fossem da cidade
ou do campo, o acesso ao direito básico à educação.

Toda leitura da palavra pressupõe uma leitura anterior do mundo, e toda leitura da
palavra implica a volta sobre a leitura do mundo, de tal maneira que “ler o mundo” e
“ler palavra” se constituam um movimento em que não há ruptura, em que você vai e
volta. E “ler mundo” e “ler palavra”, no fundo, para mim, implicam “reescrever” o
mundo (FREIRE, 1999, p. 15)
2. Educação Popular: gênese, conceitos e
experiências
 As experiências progressistas de educação popular foram
fortemente reprimidas pela ditadura militar, ficando restritas a
pequenos espaços como igrejas, associações de bairro e à
iniciativa de pequenos grupos, que, tentando burlar a
repressão, foram desenvolvendo suas ações, embora com
menos fôlego e com restrita participação.

 Já as ações promovidas pela ditadura ganhavam o país,


enchendo salas para a alfabetização de adultos com o objetivo
estrito de ensiná-los a ler as letras, não a ler o mundo.
2. Educação Popular: gênese,
conceitos e experiências
 Apesar das diferentes leituras sobre a educação
popular, o eixo hegemônico que norteou grande parte
das experiências tinha como objetivo principal
possibilitar às camadas subalternas, da cidade ou do
campo, o acesso a direitos. Direitos que não estavam
restritos apenas ao aprendizado das letras, mas
essencialmente na leitura do mundo, bem como na
possibilidade de superação do senso comum enquanto
única forma de crítica à organização social, apontando
para uma perspectiva de transformação.
2. Educação Popular: gênese,
conceitos e experiências
“Educação popular é o nome dado (...) a todo tipo de
prática de mediação que promove ou assessora os
movimentos populares (...), cuja teoria, desde Paulo
Freire, faz a denúncia dos usos políticos da educação
opressora e cuja prática converte o trabalho
pedagógico do educador em favor do trabalho político
dos subalternos” (Carlos Rodrigues Brandão, 1984)
2. Educação Popular: gênese,
conceitos e experiências
 A Educação Popular, não se resume e nem se
expressa em uma educação para pobres, como o
senso comum prevê. Mas sim como uma perspectiva
de fazer educação, que parte de uma metodologia
participativa, progressista (ou libertadora como
afirmava Paulo Freire), ou desinteressada (na
concepção de Gramsci). Para o autor italiano,
Antônio Gramsci, a educação deveria “preparar os
sujeitos para governar ou para dirigir quem
governa”.
 Nessa perspectiva, a educação popular não se
restringe a educação formal e escolar, muito pelo
contrário. Entendemos, assim como Gramsci que a
educação se constitui como um amplo processo de
formação, que passa por diferentes dimensões da
vida dos sujeitos, contribuindo para a formação do
senso crítico, para o desenvolvimento de seu
processo de formação da consciência, ou seja, para
sua constituição enquanto Ser Social.
Círculo de Cultura: momento de colocar em prática o método de
alfabetização de Paulo Freire. (Créditos:
www.acervo.paulofreire.org).
Movimentos Reivindicativos e Experiências de
Educação Popular nas décadas de 60, 70 e 80:
 Cine-clubes  Clubes de mães
 Projetos de alfabetização  Movimento de Custo de
de jovens e adultos
 CEB´S – Comunidades Vida
Eclesiais da Base  Movimento de Moradia
 Pastorais sociais da Igreja  Pastoral de Favelas e
Católica com ênfase na
Teologia da Libertação Movimento de Defesa do
 Movimentos de bairro- favelado (1975)
associação de moradores 

Comitês de Lutas contra o
Movimento de luta pela
terra (MST etc) desemprego
 Movimento de Saúde
Diferentes concepções de educação
popular na América Latina:
As diferentes orientações de Educação Popular caracterizaram as inúmeras experiências na America
Latina, distinguidas ora como recuperadoras, ora como transformadoras sistematizadas da seguinte
forma:

a) Educação Popular com a orientação de integração (educação para todos, extensão da cidadania,
eliminar a marginalidade social, superar o subdesenvolvimento etc.);

b) Educação Popular como orientação nacional-populista (dinamizada no período dos governos


populistas, buscava dinamizar os setores das classes populares para o nacional-desenvolvimentismo,
homogeneizando os interesses divergentes na consecução dos projetos de desenvolvimento
capitalista, pretendido como autônomo nacional e popular);

c) Educação Popular como orientação de libertação (buscando fortalecer as potencialidades do povo,


valorizar a cultura popular, a conscientização, a capacitação, a participação, que seriam
concretizadas a partir de uma troca de saberes entre agentes e membros das classes populares, e
realizar reformas estruturais na ordem capitalista) (WANDERLEY, 1994, apud WANDERLEY,
2010, p. 21).
Algumas conseqüências das experiências
de educação popular no Brasil:
 forte processo de mobilização de diferentes segmentos da
classe trabalhadora;
 processo de formação continuada – com foco na formação
política e no processo de formação da consciência
 politização de amplos segmentos da classe trabalhadora;
 incentivo a processos distintos de organização ;
 Avanço nas formulações e conceções de EP
Educação Popular
 “A educação popular por nós entendida é
necessariamente uma educação de classe. Uma
educação comprometida com os segmentos
populares da sociedade, cujo objetivo maior deve
ser o de contribuir para a elevação da sua
consciência crítica, do reconhecimento da sua
condição de classe e das potencialidades
transformadoras inerentes a essa condição.”
 ( VALE,1992: 57)
A Educação Popular na escola pública!!???
 A escola pode contribuir para que os sujeitos formados
por ela, tenham acesso ao conhecimento, a novos
valores e a construção de uma nova racionalidade.

 A educação aliada a ação e a organização podem


contribuir para a desmistificação do aparente, na
construção de uma consciência coletiva crítica, no
resgate da esperança, do sonho e da utopia.

 Pode impulsionar os sujeitos para a construção de uma


outra sociedade marcada pela perspectiva das classes
sulbalternas.
O caráter educativo, formativo, democrático e
político da escola pública, deve ser resgatado na
tentativa de se re-significar esse espaço, na busca de
obter um equilíbrio entre “o desenvolvimento da
capacidade de trabalhar manualmente (tecnicamente,
industrialmente) e o desenvolvimento das
capacidades de trabalho intelectual” (Gramsci,
2001:118).
Escola Unitária
A concepção gramsciana da escola unitária
pressupõe, em nível teórico, um novo nexo entre
teoria e prática que sintetize, numa só dimensão, o
pensar e o agir, e em nível prático, a apropriação
coletiva do saber construído coletivamente pela
humanidade, para a construção também coletiva do
novo mundo”. (2001:02)
Educação Desinteressada

Para Gramsci na fase inicial da escola o estudo


ou a maior parte dele deve ser desinteressado,
ou seja, não deve ter finalidades práticas
imediatas, deve ser formativo ainda que
“instrutivo”, isto é, rico de noções concretas
O diálogo entre escola pública e educação popular só será
possível na medida em que se realiza um movimento de
reinvenção do espaço escolar, resignificação de sua
importância, valorização de seu papel para as classes
subalternas. E para que essas classes percebam a sua
importância é preciso que a escola faça sentido na vida
real, tenha um papel de impulsionar os indivíduos, fazê-
los sujeitos criadores e pensantes, construindo o
conhecimento a partir da realidade dos subalternos, da
sua cultura e de suas necessidades.
3. Desafios postos à escola pública para a
implementação de uma proposta de educação popular:

 A gestão democrática da escola (que envolva a


participação de toda a comunidade escolar);

 A construção de um Projeto Político Pedagógico de


forma coletiva;

 O diálogo com a comunidade, via instituições


representativas, moradores, organizações ,
movimentos sociais, equipamentos públicos;
Desafios postos à escola pública para a implementação
de uma proposta de educação popular

 Construção de uma nova prática pedagógica por parte dos


professores;
 A inserção de outros profissionais na escola (assistentes sociais,
psicólogos etc);
 O entendimento que a educação tem uma função política, que
pode ser para educar para o consenso ou para a superação da
condição de subalternidade da classe trabalhadora.

Como afirmou Marx “Não é a consciência dos homens que determina o seu
ser, é o seu ser social que, inversamente,determina a sua consciência”.
A Educação Popular é...
“É a que estimula a presença organizada das classes
populares na luta em favor da transformação
democrática da sociedade, no sentido da superação das
injustiças sociais”

“É a que entende a escola


com um campo aberto à
comunidade, e não como um
espaço trancado a sete
chaves, objeto possessivo do
diretor ou da diretora, que
gostaria de ter sua escola
virgem da presença de
estranhos”;
A Educação Popular é...
É a que, em lugar de negar a importância da presença dos país, da
comunidade, dos movimentos populares na escola, se aproxima dessas
forças com as quais aprende para a elas poder ensinar também.
A Educação Popular é...
É a que supera os
preconceitos de raça, de
classe, de sexo e se
radicaliza na defesa da
substantividade
democrática.

 “É um nadar contra a
correnteza, é exatamente a
que, substantivamente
democrática, jamais separa
do ensino dos conteúdos o
desvelamento da realidade”;
A Educação Popular é...

É a que não considera suficiente mudar apenas as


relações entre educadora e educandos, amaciando
essas relações, mas, ao criticar e tentar ir além
das tradições autoritárias da escola velha, critica
também a natureza autoritária e exploradora do
capitalismo.
A EDUCAÇÃO POPULAR É COMPREENDIDA:

1 - Como um investimento político que constrói um


lugar voltado para o processo de conhecimento da
realidade.
2 - Como espaço que vai possibilitar o trânsito do
senso comum ao bom senso. Lugar de apropriação
individual e coletiva, no qual está presente uma
dimensão ideológica fundamental: a de compreender a
base de estruturação da vida social sob o capitalismo e
da conformação possível de outras alternativas de
organização da vida social, sob outras bases.
3 - Como espaço das classes trabalhadoras a conformar um outro NÓS, antagônico ao
hegemônico, este último constituído sob a égide do individualismo, da ausência de
solidariedade etc. Portanto, espaço no qual possam ser experimentados novos valores,
novos pensares, numa dimensão de práxis na qual ativamente se busca a elaboração da
realidade a partir de uma perspectiva humano-social.
4 - Finalmente, um espaço no qual os sujeitos possam exercitar o singular exercício de
suas próprias sínteses, redefinindo e recriando referências de vida, sentidos novos à
sua existência individual e coletiva (SILVEIRA. 2004, p. 122).
BIBLIOGRAFIA
 MARX, Karl.Prefácio Contribuição a Crítica da Economia
Política. São Paulo, Ed Expressão Popular, 2007
 DIAS, Edmundo Fernandes. Cultura, Política e Cidadania In:
Gramsci em Turim- a construção de hegemonia. São Paulo, Ed
Xamã, 2000
 IASI, Mauro Luis. Uma reflexão sobre o processo de consciência
In: Processo de Consciência. São Paulo, Ed CPV, 2001.
 ABREU, Marina Maciel. A dimensão pedagógica do Serviço
Social: bases histórico-conceituais e expressões particulares
na sociedade brasileira. In: Serviço Social & Sociedade n° 79.
Cortez editora. Rio de Janeiro, 2004.
Questões para debater:
1- O que vocês avaliam que pode mobilizar as
pessoas hoje?

2- Como, a partir do lugar em que estamos inseridos,


podemos pensar ações de educação popular?

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