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Propedêutica ao

Estudo de

Filosofia

Jurídica
Prof. Marco Antônio Correia Bomfim
FILOSOFIA PRA QUÊ?
AULA 2
“[...] em comum com a revelação, a filosofia conforme elaborada por Platão representava um “salto no ser”. Como a
revelação, a filosofia é “mais do que um aumento de conhecimento da ordem do ser; é uma mudança na própria
ordem”. Ao lado da revelação, a filosofia, “longe de ser um ponto de vista subjetivo, é um evento ontologicamente real
na história. [...] “é não somente uma verdade sobre o Ser; é a Verdade do Ser proclamada pelo ‘homem que sabe’ [...]
como Parmênides nos mostrou, é “uma encarnação na Verdade do Ser”.” Eric Voegelin, Ordem e História Vol. III

1- DA CIRCUNSTACIALIDADE DO EXISTIR À CONSCIÊNCIA DE SI


ENQUANTO EXPERIÊNCIA DE PARTICIPAÇÃO NO SER

Em uma sociedade totalmente imediatista onde os fatos, as vidas, as relações


não passam de coisas quantificáveis, produtos, estereótipos, espetáculos a serem
consumidos, etc. a pergunta pelo quê da Filosofia, mais especificamente pela sua
função, pelo seu por quê, para quê é cada vez mais recorrente. No entanto, na maioria
das vezes em que ela ocorre nada há de uma inquietação filosófica, mas sim de uma
urgência utilitarista que também vem assolando o “templo dos saberes”. As
universidades e suas mais diversificadas faculdades há muito deixaram de ser “a
verdadeira comunidade humana daqueles que procuram a verdade, dos sábios em
potencial... de todos os homens que queiram saber”, como bem nos dissera Allan Bloom
em O Declínio da Cultura Ocidental: da crise da Universidade à crise da sociedade
(1989, p. 9-10).
Outrora, nos primórdios do Ocidente a Educação clássica almejava formar a
partir daquilo que era perene isso é bastante claro nas Escolas Catedrais, depois nas
Universidades. Elas estavam alicerçadas, ou seja, eram feitas a partir de personalidades
humanas (Sócrates, Jesus Cristo...), em vidas humanas consistentes que demonstravam a
coerência entre o ensinamento e a vivência. Não negavam seu tempo, mas a partir dele
as personalidades eram formadas num diálogo com o que havia de perene.
Elas agora estão sintonizadas com seu tempo e respondem a interesses de
grandes conglomerados econômicos: têm a função de produzir novos profissionais e
mais qualificadas mãos de obra para o mercado de trabalho. Assim como, estão
intimamente arraigadas aos jogos de poder que impõem as doutrinações político-
ideológicas, os cerceamentos do moralismo “politicamente correto” e os reducionismos
ideológicos que não somente alienaram intelectualmente seres humanos, mediocrizaram
inteligências1, etc. mas acima de tudo ceifaram século passado milhões de vidas e em
século atual continuam tão perversa, desumana e macabra sina.
É de total conhecimento para qualquer filósofo, em qualquer época que o
homem que está mergulhado em seu tempo é sempre levado a procurar explicações
(ideologias/pseudo-filosofias) que justifiquem o seu martírio, as suas dores, as suas
ansiedades e desejos de um por vir que anule as fraquezas diante do presente
“indomável” que o faz sofrer. Como nos diz Louis Lavelle em A Presença Total: e
ensaios reunidos (2012, p. 19-20),

A consciência busca um amargo desfrute nesses estados violentos e


dolorosos em que o amor-próprio está em carne viva e, pela
sacudidela mesma que eles imprimem ao corpo e à imaginação, nos
dão enfim a ilusão de ter penetrado até a raiz do real [...]
[...] É verdade que a consciência não tem escolha senão entre a
infelicidade lúcida de sua existência separada e esta cega abdicação
pela qual ela toma da disciplina da ação o elã que já não encontra em
si mesma? Gostaríamos de mostrar que o próprio do pensamento não
é, como se crê, o separar-nos do mundo, e sim o estabelecer-nos nele;
que, em lugar de nos encerrar em nós mesmos, ela nos descobre a
imensidão do real de que não somos senão uma parte, mas que é
sustentada e não esmagada pelo Todo onde é chamada a viver [...]

Milênios depois da atividade originária do filosofar de Sócrates, Louis Lavelle


(15/07/1883 a 01/09/1951) atualiza a atividade do filosofar encarnado em Sócrates e tão
bem simbolizado por seu discípulo Platão, enquanto uma participação que almeja des-
velar o ser; uma presença que se faz consciência do Ser a partir do exercício socrático-
platônico tão bem apresentado por Platão na Alegoria da caverna.
Lavelle nos mostra o filosofar enquanto ato humano que torna toda existência
humana uma consciência de ser como experiência da participação, que é a experiência
do ato interior que nos faz ser. Mas ele é não como totalidade, e sim, como atualização
de uma possibilidade que nos é constantemente oferecida e depende de nossa
consciência em meio aos fenômenos (símbolos descritos por Platão na Alegoria da
caverna) de onde é possível o salto no ser ou o aprisionamento, rebaixamento nos
espetáculos fenomênicos da aparência de ser.
As Instituições de Ensino Superior agora estão sintonizadas com seu tempo e
respondem a interesses de grandes conglomerados econômicos: têm a função de
produzir novos e mais qualificados profissionais/proletários para o mercado de trabalho.
Assim como, estão intimamente arraigadas aos jogos de poder que impõem as

1
Cf. Otto Maria Carpeaux, Ensaios Reunidos – Vol “ I A idéia da universidade e as idéias das classes
médias” p 211-218.
doutrinações político-ideológicas, os cerceamentos do moralismo politicamente correto
e os reducionismos ideológicos. Como nos diz Otto Maria Carpeaux (1999, p. 211),

Por toda parte, as universidades são doentes, senão moribundas, e isto


é grande coisa. Os iniciados bem sabem que não é uma questão para
os pedagogos especializados. Das universidades depende a vida
espiritual das nações. O fim das universidades seria um fim definitivo.
O abismo entre o progresso material e a cultura espiritual aumenta de
dia para dia, e as armas desse progresso nas mãos dos bárbaros é fato
que clama aos céus. Os edifícios das universidades resistem ainda, e
neles trabalha-se muito, demais, às vezes, mas o edifício do espírito,
esta catedral invisível, está ameaçado de cair em ruínas. [...]

Otto Karpfen – nome de batismo de Carpeaux – nascido em Viena (09 de


março de 1900) filho de pai Judeu e mãe católica vivenciou o fenômeno de ascensão do
Nacional Socialismo na Alemanha/Áustria. Por isso consciente de que os reducionismos
ideológicos e a mentalidade utilitarista são inimigos mortais da Universidade (educou-
se consistentemente em Direito e Filosofia – Viena, Ciências matemáticas – Leipzig,
Sociologia – Paris, Literatura comparada – Nápoles e Política em Berlim), Otto Mª
Carpeaux em tal ensaio procura refletir acerca do papel da Cultura enquanto educação
da inteligência frente aos formalismos acadêmicos que visam aprendizados técnicos e
formatar quadros (“intelectual orgânico”) onde os seres humanos são subjugados,
reduzidos a meros executores de papéis sociais – o mais triste nisso é que passaram a se
reconhecer e se definir a partir de tais papéis, funções. O que está em jogo é a educação
que forma inteligências ou a catástrofe que formata intelectualidades2.
Raras são as mentalidades que têm chegado ao “templo dos saberes”
conscientes tanto da Tradição clássica e suas possibilidades educativas, quanto desta
cultura reducionista gnóstico-revolucionária, do moralismo “politicamente correto” em
que estão inseridos; da reengenharia social radical, da revolução silenciosa3 que
manipula vidas como “meras massas de ignorantes e totalmente submissas à classe
dominante” (BERNARDIN, 2013).

2
Cf. a este respeito a análise crítica feita pelo filósofo Mário Ferreira dos Santos em seu livro Invasão
vertical dos bárbaros, um manifesto sobre como na contemporaneidade se dá a tragédia da condição
humana esmagada sob a superficialidade, um modo da barbárie. Invasão vertical por se dá através da
cultura, solapando seus fundamentos e preparando o caminho para a corrupção mais fácil do ciclo
cultural. Manifesto escrito em meados doo século passado, mas com atualidade e vigência de tempos
hodiernos.
3
Cf. as seguintes obras: Maquiavel Pedagogo: Ou o ministério da reforma psicológica – Pascal
Bernardin e Poder Global e Religião Universal – Juan Claudio Sanahuja. Ambas, fruto de pesquisas ao
longo de uma década com indicação das fontes primárias e, A espiral do silêncio: opinião pública: nosso
tecido social – Elizabeth Nolle Neuman,
Em sua Reflexões autobiográficas – Eric Voegelin relata acerca da sua
formação intelectual, da Universidade de Viena na década de 20 e todo processo que
vivenciou da deterioração do ambiente cultural pela ascensão e chegada ao poder do
Nacional Socialismo – Nazismo. O processo de tomada de consciência de sua vocação,
ou seja, o seu filosofar vem da seguinte inquietação (2007, p 79-80):

Não consigo ver nenhuma razão para a escolha das ciências sociais –
ou das ciências humanas em geral – como área de atuação se não
existe a intenção honesta de examinar a estrutura da realidade. as
ideologias, seja o positivismo, o marxismo, ou o nacional socialismo,
constroem edifícios intelectualmente insustentáveis. [...] De que a
ideologia é uma manifestação de desonestidade intelectual não resta a
menor dúvida; todas as várias ideologias, afinal, já foram submetidas a
rigoroso exame crítico. Basta ler a bibliografia pertinente para saber
que são insustentáveis. Se, mesmo assim, o indivíduo opta por aderir a
uma delas, impõe-se de imediato a suposição de sua desonestidade
intelectual. O fenômeno patente da desonestidade intelectual suscita
outra questão: o que leva um homem a adotar esse tipo de atitude?
Este é um problema geral que me motivou a complexa pesquisa de
que tenho me ocupado nos últimos anos, tentando determinar a
natureza, as causas e a persistência dos estados de alienação.

Como corroboração ao que foi citado acima é interessante observar a postura


ética de Eric Voegelin em relação à sua obra História das idéias políticas, onde o
mesmo, depois de escritos VIII volumes (2611 páginas datilografadas) impugna a tese
apresentada na mesma, que há uma história das idéias... e abandona a sua publicação.
No entanto, tal abandono, não significa um repúdio dos princípios interpretativos, nem
tampouco dos materiais históricos, mas sim da relação específica entre ambas.
Para Voegelin, o teórico em ciências sociais, jamais deve esquecer que ao
analisar sociedades, o mesmo enfrenta um objeto que já está estruturado pela
consciência de si. Ou seja, os entes políticos reais são os povos que agem, atuam,
exprimem suas intencionalidades na história por meio de um conjunto de símbolos.
Senão, o teórico estará forjando o que Voegelin chama de metafísica proposicional, ou
seja, dogmatomaquias modernas, ideologias proposicionais.
Como diz o mesmo em sua Reflexões autobiográficas (2007, p. 123),

O foco de meu interesse deixou de incidir sobre as idéias, passando a


concentrar-se nas experiências da realidade cuja articulação tenha
engendrado uma grande variedade de símbolos. Isso significa que,
agora, o problema das idéias simplesmente tenha desaparecido. É
claro que ele estava muito presente, mas somente aos poucos fui me
dando conta de sua natureza. Um ponto importante, por exemplo, que
se tornou mais claro ao longo dos anos, foi a percepção gradual de que
a transformação das experiências e simbolizações originais em
doutrinas podia conduzir a uma deformação da existência, caso o
contato com a realidade tal como experienciada fosse perdido e o uso
dos símbolos de linguagem engendrados pelas experiências e
simbolizações originais degenerasse em um jogo mais ou menos
vazio. Só fui descobrir bastante tarde, nas décadas de 1950 e 1960,
alguns dos aspectos mais óbvios dessa deformação. Eu não estava
ciente, por exemplo, de que a origem do termo metafísica não é grega,
mas sim, árabe, ou melhor, é uma deformação arábica do título grego
da meta ta physica de Aristóteles. O termo foi apropriado por Tomás
de Aquino e empregado pela primeira vez em língua ocidental na
introdução ao seu comentário à Metafísica de Aristóteles. Desde
então, passou a existir uma ciência singular chamada metafísica. A
crítica dessa metafísica doutrinal pelos iluministas e primeiros
postulantes do positivismo, que não era de todo destituída de
propósitos, simplesmente não tocava nos problemas da filosofia
clássica. A filosofia clássica não era tão bem conhecida naquela
época, e ainda hoje o é pouquíssimo, pois o clichê metafísica se
transformou na palavra mágica pela qual se pode ter uma idéia de toda
análise filosófica no sentido clássico.

Evidencia-se assim que para o filósofo Eric Voegelin, a experiência da realidade


(pessoal, social, histórica, cósmica) é o real objeto de estudo nas ciências humanas e não
as idéias. Dito de outro modo são pessoas e não instituições, abstrações, idéias que
agem; que atualizam a potencialidade inerente a tudo aquilo que é humano. E os seres
humanos se servem de símbolos para expressar suas experiências, e os símbolos são a
chave para compreender essas experiências. E continua (2007, p. 128)

No entanto, o fulgurante avanço da ciência em nosso tempo não deve


suscitar expectativas precipitadas que apontem para a morte das
ideologias e para a perda de sua eficácia social. As discrepâncias entre
ciência e ideologia são de longa duração. Na realidade, certos
preceitos ideológicos foram desenvolvidos em flagrante contradição
com os fatos históricos bem conhecidos à época de sua formulação,
sobretudo pelos ideólogos. Quando, por exemplo, Marx e Engels
abrem o Manifesto comunista com a assertiva de que a história social
até o presente foi a história da luta de classes, proferem uma tolice
insolente. Afinal, eles bem sabiam, desde o colégio, que outras lutas
houvera na história, como as Guerras Médicas, as conquistas de
Alexandre, a Guerra do Peloponeso, as Guerras Púnicas e a expansão
do Império Romano, as quais decisivamente nada tiveram de lutas de
classes. Se os ideólogos podem fazer essa propaganda sem sentido e
escapar impunes por mais de um século, não se deve esperar que a
expansão de nosso conhecimento histórico pela ciência progrida ao
lado da corrupta presença do epígono ideológico em nosso próprio
tempo. De qualquer forma, que não se depreenda destas últimas
considerações um profundo pessimismo. [...]

Dentro de tal conjuntura, cultura a Filosofia inevitavelmente será rebaixada ao


nível das ideologias preponderantes (e das deformações inerentes à intelectualidade,
caráter dos mesmos), aos modismos tão em voga que servem justamente para a
deterioração das percepções, corrupção das inteligências, massificação de vidas
humanas. Exatamente aqui se encontra a figura da personagem Sócrates como
paradigma do filósofo e do filosofar como contraposição ao sofista/filodoxo. Uma
consciência de si originada na dialeticidade do existir que se apresenta enquanto
experiência originária do ser humano. Daí a célebre sentença do filósofo “uma vida sem
exame não vale a pena ser vivida”.
Não obstante, Voegelin, na seara da Tradição nos coloca em frente ao momento
originário, uma vez que o filosofar é sempre essa atividade que almeja captar o ser das
coisas. Em qualquer época independente da nacionalidade, sexualidade, da classe ou
casta social, etc. a realidade se nos impõe. Mas, como não estamos coeridos ao ser das
coisas, ajustados no ser das coisas, como a pedridade está na pedra, ou a cachorralidade
está no cachorro. Nós, seres humanos, existimos sendo impactados pelo ser das coisas e
convocados a participar conscientemente da totalidade de ser que implica, no ser
humano a complexidade, o peso existencial de estar na realidade.
Então o filosofar se apresenta como o mais intrínseco trabalho que o ser humano
pode e deve exercer para atualizar o seu ser, independentemente de sua sexualidade,
nacionalidade, situação econômica, papéis sociais que circunstancialmente é chamado a
atualizar. Exatamente aí em meio às circunstâncias é que o seu ser se percebe, se faz, se
encontra ou se perde, uma vez que o mesmo é convocado a existir integralmente como
uma presença consciente, pois fora disso sua existência é participação alienada enquanto
consciência de si e do real.

2- A BUSCA PELO SER DOS ENTES

Somos o ente para quem a pergunta é o caminho que rastreia o ser. Com
propriedade podemos dizer que a linguagem é a casa do ser! Que é através do
conhecimento que o ser se mostra. Não por acaso, o pensamento deste ente chamado
homem está no interesse do ser. Como bem dissera o filósofo grego Parmênides “pensar
é ser”. Ou seja, o nosso pensamento está na necessidade de ir ao encontro do ser das
coisas. A vida humana é intrinsecamente esta ponte que necessita a partir de si ir para
além de si em busca do real. E nesta investigação do real por meio do pensar alcança a
consciência de ser um eu que participa do ser (diferentemente do eu solipsista
moderno/pós-moderno).
Desde nossa mais tenra idade nos enredamos com o questionar acerca do ser
das coisas. Pois, o pensamento que rastreia o ser é movido pela intensa vontade de
perquiri-lo. Deste modo está sempre e em toda parte na amabilidade necessária do ser. E
essa amabilidade que nos filósofos se transformou em questão fundante e modo
existencial (a filosofia enquanto amor à sabedoria tão bem atualizada por Sócrates-
Platão-Aristóteles e todos aqueles que estão nessa seara enquanto existências
impactadas pelo ser e, por isso, convocados a participar de sua experiência originária) se
nos apresenta como busca, investigação que procura compartilhar o ser dos entes.
A isso se designa ontologia ou a questão do ser cuja tarefa consiste no
esclarecimento do ser dos entes. E já na polêmica entre Sócrates e os sofistas pode-se
perceber que a atividade do filosofar procura apurar o significado e o horizonte do
saber, que se destina à busca das razões últimas da existência, da realidade, do ser dos
entes.
Na condição de seres humanos percebemos, intuímos, racionalizamos, etc. que
o ser nos rodeia, sua presença é inelutável, irrefutável! Ela nos cerca de todos os lados e
formas, assim como nos perfaz e compõe. Não somente estamos rodeados de ser, mas a
nossa própria existência é composta e originada no ser! – fora dele: o nada! A
inexistência total. Nele estamos, participamos e somos. Daí que a questão do ser é a
mais intrinsecamente humana, e por que não dizer a única com real sentido enquanto
consistência para o nosso existir uma vez que tudo o mais que existe está no ser. Mas
nós privilegiadamente participamos desse universo de ser. Estamos enquanto partícipes
na condição singular de termos consciência de estarmos na totalidade do Ser.
A nossa ignorância, engano, fuga, revolta, etc. não apaga o ser. Pelo contrário,
aliena-nos e nos coloca em processo de auto-destruição uma vez que tudo mais,
naturalmente está no ser e nós, seres humanos estamos na condição de partícipes do ser.
Fugirmos, revoltarmo-nos, desta questão fulcral representa individual e coletivamente
alienar-mo-nos da nossa situação de ser consciente para decairmos numa ignóbil
situação de presença dispersa. Quando o nosso existir (modo de ser) exige participação
consciente da realidade; de existência inautêntica quando o nosso existir é uma
constante participação e descoberta do ser para por meio dele alcançar o status de
presença reencontrada. Uma vez que a vida do espírito é uma cumplicidade com o ser e
a posse do ser é o fim de toda ação particular.

3- FILOSOFIA EM CONTRAPOSIÇÃO À FILODOXIA

E por incrível que pareça é nesta atividade do questionar, perquirir pelo sentido
e por quê das coisas – mais precisamente na forma como lidamos com este encaminhar
– que nós seres humanos “dotados de racionalidade”, na maioria das vezes nos
distanciamos do seu real sentido e nos aprisionamos nas fórmulas, nos conceitos vazios
de conteúdo e sentidos reais dos fenômenos que nos circundam. Nossos discursos, o uso
corrente da linguagem não passam de usos de signos e as respectivas atribuições de seus
significados, não vamos às coisas mesmas (fenomenologia de Edmund Husserl), aos
referentes reais que nossos discursos tratam.
As palavras, os signos, significados boiam assim no plano dos sentimentos, das
emoções ou de meras abstrações, raciocínios lógicos. A transposição entre mundo dos
fatos, fenômenos existenciais vivenciados, etc. para o mundo da linguagem que não se
dá pelo simples jogo de linguagem, mas tem uma complexidade de perspectivas que
exigem educação da percepção, vivência real da coisa concreta, capacidade de
utilização da linguagem com a riqueza de nuances, perspectivas, níveis de
expressividade, clareza que façam o indivíduo compreender o referente e não, fique no
plano do discurso e do aprisionamento da realidade ao âmbito da emotividade,
sentimentalismo4.
E como nossa época é devedora dessas fugas do real e aprisionamentos à
racionalidade abstrata, burocrática; aos ditames das corporações profissionais de
intelectuais; aos sistemas que gestam sociedades, culturas, pessoas nati-mortas. Tudo
arquitetado pelas mentes desconexas da realidade, pelos filodoxos que buscam bem-
estar e acima de tudo o poder à custa de aprisionar as massas alienadas ao mundo de
suas sensações, dos meros jogos de linguagem. Negando aos mesmos a capacidade de ir
às coisas, de transmutar tais experiências em linguagem efetivamente rica de
objetividade e clareza acerca daquilo que se almeja dizer, descrever, mostrar.
Deste modo é que nos distanciamos da realidade e nos aprisionamos aos
sentimentalismos, ao reino das emoções, desejos e agimos como histéricos; nos
aconchegamos com a “posse” e segurança das regras, dos modelos definidos, dos
sistemas! realidade tão aconchegada a nós, homens hodiernos. Não por acaso: Sócrates,
Platão e Aristóteles nos demonstraram enquanto Filósofos que o laborar filosófico é
uma forma de prevenir contra a dogmatomaquia5 que almeja destituir, suplantar e criar
uma nova realidade (reengenharias sociais).
Daí nos dizer Márcio Bolda da Silva em sua Metafísica e assombro: curso de
ontologia (1994, p. 10-11)

4
Cf. em Platão como tal intento já é trabalhado em sua obra República enquanto uma Paidéia.
5
A imposição de uma segunda realidade criada a partir da razão humana e que fundamenta, explica e
condiciona o ser e todas as coisas existentes. Obscurecendo assim a realidade e impedindo ao mesmo
tempo de se experienciar a mesma de forma filosófica. Como uma cegueira da alma. Neste sentido, a filo-
sophia em oposição à filo-doxia é o elemento mais latente do existir e laborar destes três filósofos e que,
se encontra tão magistralmente demonstrado nos escritos platônicos (Diálogos).
Assim, enquanto sabedoria, a filosofia não é um saber apenas teórico,
abstrato, parcial. Está endereçado à globalidade da vida. Não tem um
valor de utilidade técnica imediata, por estar fundado sobre valores
essenciais e pontos referenciais últimos. O saber filosófico, diante
dessa exigência, implica em:

a) Certa distância crítica dos acontecimentos, dos fatos, das


experiências imediatas. Observar uma situação, ver uma coisa
“com filosofia”, significa “tomar distância” para melhor
compreendê-la, reportando-se ao núcleo central que constitui a
razão de que realmente seja assim.
b) Uma visão global que permite inserir cada coisa no seu devido
lugar. A filosofia possibilita a visão de conjunto – a cosmovisão6.
A “coisa”, o “fato”, na apreensão da filosofia, não é visto
isoladamente, mas inserido em seu contexto, formando parte de
um horizonte ao qual está integrado.
c) A procura do “por quê” que permite dar as razões da realidade, de
explicitar-lhe o sentido. Esta busca pela descoberta do sentido,
pelo des-ocultamento das razões está em sintonia com a
finalidade, a necessidade de o homem orientar a própria vida.
d) Em suma, o punctum dolens do saber filosófico é a questão do
“por quê”. o confronto com a realidade é questionante. Está
permeado de perguntas.

Então, a seara aberta pelo logos grego no campo da descoberta do ser trilha por
perguntas que serão respondidas de modo diverso. Em um primeiro plano pode-se dizer
que as perguntas básicas se dão em três níveis: 1º no campo da filosofia da linguagem
que investiga sobre a possibilidade de dizer se a coisa, o ente, o fenômeno é
verdadeiramente assim; 2º no campo desenvolvido pela gnoseologia ou teoria do
conhecimento (epistemologia) que procura investigar acerca da possibilidade do
conhecimento sobre a coisa, o ente, o fenômeno tal como ele é. A distinção entre objeto
e sujeito, a relação entre objeto e sujeito. A questão do ser e a perspectiva da
participação enquanto unidade no mistério do ser (perspectiva gnoseológica do ser
enquanto ato e potência, ser-sendo). 3º no campo da ontologia que investiga acerca da
possibilidade de que a coisa, o ente, etc. seja possível, cognoscível, real (perspectiva
ontológica do ser enquanto ato que torna possível todo ser do/nos entes).
Com relação à investigação ontológica, ela pode acontecer de modos
diferentes: investigação do ser dos entes particulares, observadas aqui as suas diferenças
específicas, que é chamada de ontologia regional (Edmund Husserl). Exemplo de tais
investigações: a cosmologia estudada pelos primeiros filósofos (physikoi), a
antropologia desenvolvida por Sócrates, a teodiceia ou filosofia primeira em Aristóteles

6
A Filosofia não é uma cosmovisão! Como bem compreenderam Platão e Aristóteles, esta advém da
cultura enquanto material absorvido nos mitos, religião, tragédias, etc.. A Filosofia ao contrário, é o árduo
laborar que o filósofo elabora enquanto busca de desvelamento, clarificação das cosmovisões existentes.
Conferir tal exercício nos Diálogos platônicos e Filosofia aristotélica (Platão e Aristóteles, não por acaso
são os mestres do Ocidente).
(Philosofia proté), etc.. Mas, há também a investigação que se dá no nível do ser
enquanto ser, ou ontologia geral que procura desvelar a possibilidade de ser enquanto
princípio fundante de todo e qualquer ser particular (ser enquanto ato criador constante
e não enquanto objeto).
O logos filosófico se apresenta assim como este laborar que almeja desvelar,
apreender, compactuar com o ser dos entes. E não por acaso Aristóteles nos dizer em
seu livro primeiro da Metafísica (Livro A) “Todos os homens, por natureza, tendem ao
saber”... não obstante, não se pode negar que a história da humanidade é um repositório
de fatos que demonstram períodos excessivamente longos de domínio das
dogmatomaquias, ideologias e concomitante alienação dos homens acerca da realidade
de si e dos fatos circundantes. E mesmo em épocas onde o terreno não fora fértil para tal
pensamento e postura, ali de certo modo existia o íncubo ideológico.
Exatamente por este motivo vermos na antiguidade clássica, homens da
estatura de Sócrates, Platão e Aristóteles; no período medievo-renascença Agostinho,
Boécio, Tomás de Aquino, Jean Bondin; em período moderno-contemporâneo Leibniz,
Schelling, Edmund Husserl, Xavier Zubiri, Constantin Noica, Bernard Lonergan, Louis
Lavelle, Eric Voegelin [...].

4- O BRASIL NA TRADIÇÃO FILOSÓFICA DO RESGATE A


REALIDADE

E nós da América do Sul, não ficamos órfãos de grandes representantes. Entre


nós brasileiros Mário Ferreira dos Santos, filósofo de grande estatura, mas, infelizmente
pouco lido e conhecido entre seus compatriotas e “filósofos acadêmicos”, Miguel Reale,
cujo reconhecimento internacional dispensa apresentações e Olavo de Carvalho – ainda
vivo e em pleno exercício intelectual, filosófico e docência – de quem o Jurista Ives
Gandra da Silva Martins declara: “Olavo de Carvalho é o mestre de todos nós”. Ambos,
denotaram a necessidade imperativa de filosofar como uma condição precípua para o
resgate da realidade e a reestruturação da história do homem a partir de uma
compreensão mais vasta e integral do significado de Ordem (Filosofia Perene/Projeto
socrático e Tradição filosófica).
Em Mário Ferreira dos Santos pode-se perceber claramente que o mesmo tinha
consciência da importância e seriedade da Educação. Assim como, do perigo que a
baixa cultura, demagogias, ideologias são capazes de produzir em um país.
Principalmente em sua juventude. Daí o mesmo nos dizer em Rumos da Filosofia atual
no Brasil: autos retratos (1976, p. 416-17) que,

Quanto à juventude brasileira, este é o mais grave de nossos


problemas [...] Dado o baixo grau de cultura que temos, nossos
estudantes passam a formar uma elite intelectual, o que demonstra
uma inferioridade em que nos encontramos. Na história, a juventude
sempre é o que decorre da sua natureza, apresentando aspectos
positivos (pela sua capacidade de ação e idealismo) e negativos (pela
sua irreflexão, pelo seu despreparo e apressamento, que a leva a cair,
facilmente, nas malhas dos grandes agitadores e a servir aos interesses
de demagogos e políticos). Em todas as épocas da humanidade, uma
parte da juventude mais ativa tendeu à luta a favor de más causas,
facilitando-as. Foram os jovens que destruíram o Instituto Pitagórico,
condenaram Sócrates, perseguiram Anaximandro, Aristóteles,
assassinaram Hipátia de Alexandria e perseguiram Santo Alberto, S.
Tomás de Aquino, S. Boa Ventura, quando mestres na Universidade
de Paris; que uivavam pelas ruas pedindo a cabeça de Dante, de
Savanarola, de Giordano Bruno; que acusavam Pasteur de “charlatão”
e atiravam pedras em Einstein. Esses jovens são ativos, eficientes na
sua parte destrutiva. Mas há também uma juventude construtiva.
Então, o que nos cabe fazer é orientar a juventude brasileira, dar-lhe
suficiente Sabedoria clara, positiva, concreta, de modo a imunizá-la
contra tendências niilistas, para que possa por a sua capacidade de
ação e de idealismo em algo concreto que beneficie o país. Fora disso,
nada dará resultado.

O filósofo Mário Ferreira não só é atualíssimo em sua fala, como demonstra de


forma direta aquilo que uma mente voltada para a compreensão da realidade é capaz de
oferecer-nos. Portanto, foge ao estereótipo dominante da cultura que nos cerca, a qual,
trata os “grandes nomes” como “homens de seu tempo”. Nada mais equivocado para
dizer acerca dos grandes homens... pois, eles não são filhos de seus respectivos tempos,
pelo contrário, eles perpassam por todos os tempos e dialogam com cada época com
uma clarividência magistral, somente possível àqueles que compreenderam de fato, a
universalidade do real (Platão, Aristóteles, etc.). Diferentemente das inteligências
medianas, das massas alienadas que estão aprisionadas ao seu tempo os grandes homens
rompem com suas épocas, a transcendem; eles são pontes que possibilitam novas
perspectivas, conhecimentos, práticas, etc. que os homens presos à sua época jamais
alcançariam (não por acaso serem perseguidos, vilipendiados, “cancelados”,
aprisionados e até mortos).
E é assim que em um memorial manifesto contra a tragédia da condição
humana esmagada pela ignorância fria e assassina das ideologias, o filósofo Mário
Ferreira dos Santos nos diz em A invasão vertical dos bárbaros- parte II O Barbarismo
e a Intelectualidade (2012, p. 130-131),
Não é a primeira vez que surge na história a tendência a colocar o
homem numa situação secundária, a hipovalorizá-lo, a virtualizar sua
significação, ao mesmo tempo que se valorizam as coisas. [...]
Desde o Renascimento, ao lado de uma humanização pretendida na
cultura, deu-se uma constante desumanização do homem, à proporção
que a economia feudal passava a ser superada pela economia
mercantil, industrial e financeira, em que as cifras passaram a ser o
sinal timológico principal e que os valores monetários móveis
passaram a significar a posse do kratos7 social mais elevado.
Desde então a quantidade começou a predominar sobre a qualidade, o
quantitativo passou a superar o qualitativo. [...] a história humana é
sempre o campo de uma luta antinômica entre o positivo e o negativo,
entre o quantitativo e o qualitativo, entre o sagrado e o profano, entre,
em suma, os valores positivos e os opositivos, com as sedimentações
viciosas intercalares entre eles. Não se quer dizer que tais
acontecimentos avassalem totalmente o âmbito social, mas apenas que
eles se tornam predominantes numa camada atuante da sociedade, a
quem cabe um papel de orientá-la também. É inegável que as mais
altas personalidade, as cerebrações mais enérgicas não pactuam com
essa desumanização. Sem dúvida que os apóstolos da desumanidade
são sempre os mais deficientes, mas, também, de uma atividade
perigosíssima e capazes de dominar vastos setores sociais,
encontrando sempre adeptos dóceis aos seus ensinamentos8.
A ênfase que se deu em nossos dias aos estudos axiológicos é um sinal
da reação à excessiva desumanização do homem no século dos
grandes desumanizadores: Lênin, Stalin, Hitler, Mussolini e outras
figuras menores, e uma sequela de intelectuais equívocos que
contribuem com o ludibrio da sua inteligência fantasmagórica para
trabalhar em favor dessa desumanização, [...]

Como bem dissera o filósofo Olavo de carvalho em sua obra O jardim das
aflições (2000, p. 31),

É da tradição os filósofos abandonarem o silêncio da meditação para ir


discursar às gentes, nas horas de escândalo e ruína. Sócrates ia pelas
praças cobrando os direitos da consciência, aviltada pelos abusos da
retórica. Leibniz, chocado com a guerra entre cristãos, clamava pela
união das igrejas. Fichte, do alto de um caixote de beterrabas,
convocava os alemães à defesa da honra nacional pisoteada pelo
invasor. Não é de hoje que a filosofia assume o encargo de guiar o
mundo, quando ele, desorientado e perplexo, já não consegue se guiar
por si mesmo.
Tão necessários são os filósofos nessas horas, que, não havendo
nenhum à mão, as nações nomeiam filósofos honorários, ou, em
terminologia mais moderna, biônicos. Foi assim que surgiu o termo
philosophes, que grifado ou entre aspas, designa os ideólogos da
Revolução Francesa. A diferença é simples: um filósofo busca a

7
Mário Ferreira se utiliza do termo Kratos, na acepção de poder (a superioridade da Força sobre o
Direito). Ou seja, o que sofremos é o retorno à barbárie. No entanto, potencializada! Uma vez que agora
os bárbaros possuem os meios tecnológicos, as instituições, governos, etc. os bárbaros estão a constituir
um novo ethos que é “a sua imagem e semelhança”. Os bárbaros estão nas instituições democráticas e
impõem suas concepções, valores, sua desmesura moral, psíquica, intelectual, etc. como medida moral,
psíquica e intelectual da sociedade.
8
Conferir o atual momento em que vive o Brasil. Não por acaso, os filósofos Mário Ferreira dos Santos,
cuja obra citada é um manifesto contrário a tal invasão vertical dos bárbaros e, Olavo de Carvalho, que
destina uma parte de suas obras à análise do que ele chama de “imbecilização coletiva” serem tratados de
maneira hostil pela “intelectualidade” dominante no meio artístico, universitário e intelectual brasileiro.
explicação do real segundo a sua própria exigência de veracidade e
segundo o nível alcançado por seus antecessores; um philosophe
busca explicações na estrita medida do mínimo que o mundo exige
daqueles a quem segue.

Então, cabe-nos perguntar: a quem foi dada, em nosso caso (Brasil) a


incumbência de figurar no papel de consciência filosófica nacional? A citação acima é
parte dessa importantíssima obra onde Olavo de Carvalho analisa de forma esplêndida
tal situação a partir da inquietação, angústia sofrida após assistir a palestra sobre
Epicuro, no Ciclo de Ética que a Secretaria Municipal de Cultura promoveu no Museu
de Arte de São Paulo. Palestra essa, proferida por José Américo Motta Pessanha.
E em A Filosofia e Seu Inverso: E Outros Estudos (2012, p.65-66), o filósofo
Olavo de Carvalho, respondendo a “filósofos profissionais” procura explicitar que,

“A” filosofia não é discussão racional nem sistema doutrinal. É uma


estruturação simbólica intelectualmente diferenciada na qual o mundo
da experiência deve adquirir uma visibilidade, uma claridade, que não
tinha nem no material bruto da experiência nem nas suas elaborações
culturais prévias (sociais, políticas, artísticas, religiosas).
[...] Mesmo quando uma filosofia assuma a aparência externa de uma
discussão, como acontece nos diálogos platônicos, o objetivo ali não é
“provar” coisa nenhuma, mas trazer à mostra, tornar visível, algo que
está para muito além da discussão e da prova. Platão parte do material
da experiência tal como o encontra na cultura da época e, através de
sucessivas marchas ascensionais e clarificações parciais, vai se
erguendo – e, quando possível, erguendo seus interlocutores – à
antevisão de mundo das formas, princípios e leis eternas que unificam
e estruturam a experiência. É esta escalada, e não a “discussão
racional”, que dá a forma e o sentido do empreendimento platônico.

Olavo de Carvalho nos explicita que a possibilidade da discussão racional


surge somente após ter ocorrido o vasto e complexo labor do empreendimento de
organização unificante da experiência, que se dá por meio de símbolos compactos dos
esquemas estruturantes (crenças, religião, artes, leis, instituições...). Daí que, falar em
filosofia para crianças, filosofia para adolescentes (modismo pedagógico-educacional
brasileiro)... soa no mínimo como incongruente! uma vez que filosofia não é
cosmovisão mas, exame crítico, reflexão, análise crítica do conjunto de conhecimentos
em um grau de profundidade e alta cultura não encontrados, nem possível numa criança
ou adolescente9.

9
Cf. a obra Aristóteles em nova perspectiva, de Olavo de Carvalho, pois a mesma é não só esclarecedora
acerca da questão acima colocada. Mas, trata do processo e domínio dos tipos de discursos necessários
para filosofar. Tese que o autor apresenta como sendo implícitas nas obras do filósofo grego. A mesma
foi apresentada no V Congresso Brasileiro de Filosofia, em São Paulo, 6 de setembro de 1995 (seção de
Lógica e Filosofia da Ciência).
E continua Olavo de Carvalho acerca da técnica filosófica utilizada pelos
filósofos ao longo dos séculos. Diz o mesmo (2012, p. 133),

[você] Verá que a técnica filosófica se compõe das seguintes


atividades:
1. A anamnese pela qual o filósofo rastreia as suas crenças e assume
a responsabilidade por elas.
2. A meditação pela qual ele busca transcender o círculo das suas
idéias e permitir que a própria realidade lhe fale, numa
experiência cognitiva originária.
3. O exame dialético pelo qual ele integra a sua experiência
cognitiva na tradição filosófica, e esta naquela.
4. A perspectiva histórico-filológica pela qual ele se apossa da
tradição.
5. A hermenêutica pela qual ele torna transparente para o exame
dialético as sentenças dos filósofos do passado e todos os demais
elementos da herança cultural que sejam necessários para a sua
atividade filosófica.
6. O exame de consciência pelo qual ele integra na sua
personalidade total as aquisições da sua investigação filosófica.
7. A técnica expressiva pela qual ele torna a sua experiência
cognitiva reprodutível por outras pessoas

O que se pode depreender em tal conjuntura, infelizmente, é que a sociedade


hodierna brasileira padece por: não haver uma elite cultural capaz de compreender e
explicar objetivamente o processo de destruição da cultura, sociedade, política, valores,
educação, etc. por que passa o país; por não haver a devida acuidade moral, a atenção e
o exercício concreto e responsável (intelectual, político, ético) por parte de sua “elite”
atual, para com os seus concidadãos, com o desenvolvimento da educação, sociedade,
cultura e civilidade no Brasil. O atual momento por que passamos exige um repositório
cultural, intelectual; um senso ético e vigor moral acima da média.

5- O ÁRDUO LABOR DA ATIVIDADE FILOSÓFICA: RESGATAR A


REALIDADE

Com tudo o que fora dito até aqui, pode-se compreender que a real intenção
enquanto proposta de reflexão acerca do para que da filosofia, não pode residir na
medida do que é posto como útil, pragmático, etc.; mas sim, reside no árduo labor de
resgatar a realidade do plano de alienação o qual em nosso tempo é obscurecido por
todo tipo de ideologias: progressistas, positivistas, liberais, socialistas, marxistas (de
diversas matizes), cientificistas, etc..
Dentro deste quadro originário/dialético de explicação da realidade e busca da
ordem (filodoxia-filosofia) serão apresentados dois momentos singulares e
paradigmáticos, no tocante à personalidade filosófica, naquilo que a mesma tem
enquanto capacidade para delinear de forma concreta e autêntica o real significado da
transcendência humana para além dos condicionamentos: físico-temporais, econômico-
sociais, psicológico-morais, etc. são eles Sócrates e Eric Voegelin.
Se fizermos uma leitura atenta da Apologia de Sócrates não será difícil
perceber uma característica bastante peculiar quanto ao quê e por quê da Filosofia. O
filósofo inicia a sua fala exortando os ouvintes para o fenômeno do acobertamento,
velamento da realidade por meio de discursos sofismáticos e persuasivos proferidos por
seus acusadores junto à comunidade (cidadãos, povos). Assim como, deixa transparecer
que a causa real da sua condenação não tem ligação alguma com o desejo de educar
virtuosamente os cidadãos atenienses, de fazer justiça, ou buscar a verdade dos fatos.
Mas que tal acusação é motivada por sentimentos mesquinhos e execráveis como a
inveja, a dissimulação, o ódio!
Isto é colocado em meio à sua maiêutica, onde o filósofo procura demonstrar
(através do logos filosófico) perante os cidadãos ali presentes a fragilidade e incoerência
dos argumentos apresentados por seus detratores. A tensão da investigação se torna um
conflito que traz para o filósofo a compreensão de que investigar a realidade, des-velar
os véus superpostos nos fenômenos forjados pelos sofistas, buscar a sabedoria gera
consequências como: inimizades, rancores, ódios, calúnias, perseguições, etc.
O importante a ser salientado aqui é que Sócrates procura a todo o momento
fazer vir a tona a verdade por trás dos fatos, independente se a sua absolvição será
conseguida ou não. Como o próprio réu diz. O filósofo tem a compreensão que age por
algo mais sublime que interesses próprios, mesquinhos, etc. Sócrates está a nos mostrar
que a atividade do filosofar, a busca pelo saber é sempre saber das causas, dos
princípios que se tornam no filósofo “unidade do conhecimento na unidade da
consciência/existência e vice-versa” (representação – existência/representação –
verdade).
Dando um salto de milênios, no entanto, ainda dentro da seara aberta e
constituída pela filosofia clássica grega encontramos o filósofo germano-americano Eric
Voegelin em meio ao fenômeno de ascensão dos regimes totalitários. Eric Voegelin
colocou aí o que seria o problema e a missão de sua vida, pois, como o mesmo entende:
para o intelectual, pensador, filósofo o problema é a vocação! E se você não encontra o
problema da sua vida você não encontra a sua vocação; você apenas estará exercendo
uma profissão10.
Eric Voegelin procura tornar claro que aquilo que anima desde o mais íntimo a
vida intelectual, que dá o sentido, o valor e o espírito, é exatamente ali que está o
problema. E este – faz-se aqui importante salientar – não é mais fruto de mera
curiosidade intelectual, especulação deslocada do real, cumprimento das “necessidades”
do sistema, etc., mas sim, tem na sua raiz a verdade interior do ser humano; em outros
termos é um chamado, um imperativo cognitivo e ético que a sua vida tem que
responder11.
Em meio a uma sociedade que se afundava intelectual, moral e
espiritualmente12 – as ideologias de massa estavam estendendo a sua sombra destruidora
por cima de milhões de vidas – Eric Voegelin, seguiu atento à sua vocação e exatamente
por esta sintonia com o seu ser, foi capaz de ouvir o chamado e não sucumbir aos
sussurros sedutores do maligno tão abundantemente distribuídos em nossa sociedade e
que espreitam em esquinas e vielas de nossas existências, invadem nossas residências,
estupram nossos sentidos, deformam nossas percepções, etc., etc.13.
E o que faz o filósofo Eric Voegelin face ao ambiente desestruturado e
seduzido pelo discurso ideológico que começa a vigorar em sua pátria? Começa por
fazer uma lista, um repertório da sua ignorância. Tendo em mente, é claro! Diante do
problema que se avoluma a necessidade para enfrentá-lo seriamente (compreender a

10
Em nosso país chegamos ao cúmulo do rebaixamento, uma vez que, em boa parcela dos universitários,
nem mesmo a profissão é almejada, mas, apenas um diploma que possibilite o acesso à aposentadoria
“segura” via concursos públicos. Ou um status que será colocado na parede e ostentado enquanto poder.
Ou ainda, um símbolo negativo e, não compreendido! de um “estudo” que não cumpriu com o novo status
tão ambicionado e, propagandeado, alardeado pelo sistema.
11
Cf. na vida e filosofia de Sócrates o sentido da sentença “uma vida sem reflexão não merece ser
vivida”. Ou, na resposta de Jesus Cristo ao discípulo Pedro [...] “Afasta-te de mim, Satanás! Tu me serves
de pedra e tropeço, porque não pensas as coisas de Deus, mas as dos homens!” (Mt 16, 21- 23).
12
Para um maior entendimento acerca de tal fenômeno denominado “crise da civilização”. Faz-se
importante a leitura das seguintes obras que foram escritas entre o início do século XX e a Segunda
Guerra Mundial: 1919 – Oswald Spengler, Der Untergang des Abendlandes (“A queda do Ocidente”);
1919 – Max Scheler, Vom Umsturz der Werte (“Sobre a Derrocada dos Valores”); 1927 – René Guénon,
La crise du monde moderne (“A Crise do Mundo Moderno”); 1928 – José Ortega y Gasset, La rebelión de
las masas (“A rebelião das massas”); 1936 – Jan Huizinga, In de Schaduwen van Morgen (“Nas sombras
do amanhã”); 1936 – Edmund Husserl, Die Krisis der europäischen Wissenschaften und die
transzendentale Phänomenologia (“A crise das ciências europeias e a fenomenologia transcendental”);
1937 – Hillaire Belloc, The crisis of civilization (“A crise da civilização”).
13
Em O Diabo na História: comunismo, fascismo e algumas lições do século XX, o historiador (romeno)
do comunismo Vladimir Tismaneanu relata as devastações produzidas pelas religiões seculares do século
XX.
diferença entre o filósofo e o filodoxo). Daí começa o seu itinerário, o qual não se
restringe ao ambiente acadêmico.
Nos cafés, restaurantes e outros ambientes boêmios ele busca as influências de
literatos da estatura de Stefan George e Karl Kraus enquanto repositórios vivos da
língua pátria [...] tendo a oportunidade de estudar nos EUA, o mesmo observa que o
ambiente político naquele país ainda resguardava uma conexão real e orgânica entre a
vida diária das comunidades e a discussão política. Daí ele perceber que diferentemente
do ambiente europeu tomado pelas filosofias niilistas e pelas ideologias de massa, nos
EUA ainda havia uma influência marcante dos clássicos (Platão, Aristóteles).
A busca pelo entendimento do legado da Tradição é a sua nova empreitada daí
o mesmo travar contato com tesouros do conhecimento antigo, da filosofia Medieval
Cristã (Patrística, Escolástica, Antropologia cristã). Dentre tantas idas e vindas, sempre
delineadas pela questão fulcral da sua vocação, Eric Voegelin vai adensando em
experiência e conhecimento do real. É exatamente nesta vida de estudo que o mesmo
vai compondo aos poucos os materiais com os quais atacará de forma magistral o
problema da origem e da razão de ser das ideologias revolucionárias modernas que se
prendem de algum modo a antigas correntes gnósticas e ao elemento messiânico.
Raça e Estado e A idéia de raça na história das idéias são as primeiras obras
de Eric Voegelin, que são constituídas no objetivo de fazerem uma análise
pormenorizada da idéia de raça que estavam em veiculação no ambiente acadêmico e na
vida política européia. Obras de vigor intelectual e espiritual marcante, des-velaram
todo conteúdo sofismático por trás das pretensas explicações “científicas” (recurso
bastante utilizado pelos adeptos das ideologias totalitátias) que buscavam dar
sustentação às atividades políticas de matiz totalitárias. Por desmascarar e alertar aos
seus concidadãos Voegelin é perseguido e tem seus livros abortados na imprensa ou
queimados pelas tropas de assalto do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores
Alemães – Partido Nazista ou Nazi.

6- A FILOSOFIA ENQUANTO BUSCA CONSTANTE DA UNIDADE DA


VIDA NA UNIDADE DA CONSCIÊNCIA

Pode-se perceber diante do que fora acima mencionado que cabe à filosofia e
ao amante da sabedoria estar atento à realidade dos fenômenos, fatos buscando como
um verdadeiro amante não desviar nem tampouco subtrair os dados e fatos que denotam
e descrevem a realidade. Deste modo, à pergunta Para que filosofia? Pode-se apreender
no discurso e vida destes dois filósofos aqui brevemente destacados, que o real sentido
do filosofar está na busca consciente de resgatar a realidade em meio a uma cultura em
que homens forjam e vivem em um segundo plano; uma segunda realidade que é
eminentemente hostil e aversa ao mundo real.
Como nos diz o filósofo Eric Voegelin em sua obra Ordem e História vol. I –
Israel e a revelação (2009, p.9) acerca do discernimento da perspectiva histórico-
filosófica em que se situa:

“A ordem da história emerge da história da ordem” [...].

[...] Cada sociedade leva sobre si o peso da tarefa de criar uma ordem
que dará ao fato de sua existência histórica um sentido de fins divinos
e humanos.

[...] A ideologia é a existência em rebelião contra Deus e o homem.

Enquanto Sócrates, nos adverte que “uma vida sem exame (reflexão) não
merece ser vivida”, pois bem entendera o Filósofo grego que pode haver várias
maneiras de o homem “conduzir” a sua vida, não obstante, somente quando
compreendida e vivida na integralidade do seu ser é que o homem alcança o estatuto da
dignidade de sua existência. Isso está documentado nos diálogos de Platão e de maneira
implícita aos seus ensinamentos filosóficos, o mesmo procura nos apresentar a filosofia
como uma forma simbólica em que a alma em meio ao turbilhão de sensações, etc.
procura ascender em direção à Deus.
Sendo a existência humana uma participação no ser e a verdade do ser um
eterno fluir na verdade da existência. A filosofia não pode deixar de ser – como nos diz
o filósofo brasileiro Olavo de Carvalho – “a busca constante da unidade da vida na
unidade da consciência e vice-versa”, uma vez que a verdade da existência – como bem
nos apresentara o filósofo francês, Louis Lavelle – é partícipe da verdade do ser.

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ATIVIDADE
Fazer a leitura do capítulo 22 Para que filosofar? Para resgatar realidade! (p.139-149),
obra Reflexões autobiográficas de Eric Voegelin procurando observar:
a) De que modo o projeto socrático (tradição filosófica ocidental) pode ser
observado na aula 2 e texto de Eric Voegelin?
b) Estabeleça a relação entre a Apologia de Sócrates – Platão e Para que filosofar?
Para resgatar realidade! – Eric Voegelin.
c) Como Eric Voegelin apresenta o problema das ideologias e qual o papel do
filósofo, homem de ciência?
d) A partir da leitura da aula 2 e texto anexo de Voegelin como classificar o
ambiente intelectual nas faculdades?
e) É possível formar profissionais (tecnicamente competentes e eticamente
conscientes) a partir de dogmatomaquias (ideologias)?
Obs. Justifique sua resposta nas aulas 1 e 2 e respectivos textos anexos

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