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As 9 Mães Sagradas

Mitos e reflexões
Por: Janaina Cruz
As 9 Mães Sagradas
A escolha específica das 9 Deusas como referência e direcionamento dessa jornada é algo pura e simplesmente
intuitivo.
Diante do desejo e ímpeto para o desenvolvimento desse projeto, as Deusas se apresentaram para mim, num fluxo
fluido de pensamento e conexão com a representatividade de cada uma delas, já que em minha história de vida a
espiritualidade os mitos sempre foram campos a explorar.
Por que 9? As nove representações se deram por dois motivos:
1. Estudos em numerologia afirmam que o numero nove simboliza o final de um ciclo. Um encerramento que aponta
para o ápice da realização intelectual e espiritual. Depois de um ano totalmente desafiador devido à pandemia,
trazer essa simbologia como um exercício psíquico, ou como um ritual energético me pareceu auspicioso.
2. 2. Coincidentemente ( ou não) esse numero se manifestou em um sonho que tive há exatamente 9 anos. Eu vivia
um intenso mergulho terapêutico, ressignificando minha história de vida com minha mãe e minha avó paterna.
Nesse tempo tive um sonho com 9 mulheres mortas e eu só conseguia ver minha mãe entre elas.
Os mitos de todas as nações
são seus reais representantes.
De fato, a mitologia como um
todo poderia ser tomada como
uma espécie de projeção do
inconsciente coletivo (...).
Portanto, podemos estudar o
inconsciente coletivo de duas
maneiras: ou na mitologia ou
na análise pessoal (Jung,
1924/1986, §325).
Mito de Durga Representando os aspectos femininos da existência humana,
Durga, é uma das figuras mais importantes da Mitologia
Hindu. Ela é considerada a mãe do Universo, representando
a força que gera e concretiza a vontade divina e manifesta
todas as formas pelas quais a vida se expressa.

O mito da criação da grande deusa Durga, nasce da união


de forças e de desideratos dos outros deuses, símbolo de
integração, força e virtude. É uma das deusas mais
poderosas e importantes do Hinduísmo. A Grande Deusa foi
criada pelos poderes de Brahmá, Vishnu e Shiva, junto com
os devas, ou deuses menores. Ela encarna a totalidade dos
poderes divinos, nossas virtudes e força interior, para
combater e aniquilar o búfalo-demônio, Mahishasura, que
representa o egoísmo e a ignorância. É por isso que Durga-
Kali é igualmente chamada Mahishasuramardini, ou a
matadora de Mahishasura.
Durga
Durga carrega em suas
mãos diversos objetos que
foram dados a ela pelos
Deuses durante a batalha
contra Mahishasura. Os
acessórios usados por
Durga também foram
presentes dos Deuses.
Durga
Ela aparece com muitas faces e muitos
nomes em várias ocorrências de sua
mitologia, sendo representada
normalmente como uma bela mulher
com dois ou três olhos e seis, oito ou
dez braços, segurando uma arma
divina em cada mão, sempre
acompanhada de um leão ou tigre. A
deusa Durga é conhecida por 108
nomes diferentes de acordo com a
qualidade que ela possui.
Durga

Seu nome é de origem sânscrito e significa invencível ou inacessível.


Está bastante associada à segurança, sendo vista como figura de um porto seguro, e à eliminação de
sofrimentos. Ela representa toda a natureza cósmica feminina, ou seja, é o começo do feminino de
acordo com a cultura
Na crença Hindu, Durga é a mãe que de todo o mal, doenças e tristezas. Faz parte do seu trabalho
acabar com qualquer energia negativa e demonstrações do ego que possam fazer mal tanto às
pessoas, quanto à boa convivência, seja ela consigo mesmo ou com os outros.
Foi em uma de suas lutas que a deusa Kali foi criada. Kali nasceu da testa da Deusa Durga durante
uma de suas batalhas contra as forças do mal.
Durga - kali
Kali vem da palavra raiz sânscrita Kal, que significa tempo . Não há nada que
escapa à consumidora marcha do tempo. No budismo tibetano, sua
contraparte é do sexo masculino com o nome Kala. De acordo com a crença
Hindu uma pessoa apegada ao seu ego não será receptiva à Mãe Kali e ela
aparecerá de uma forma assustadora. Uma alma madura que se envolve em
prática espiritual para remover a ilusão do ego vê a Mãe Kali como muito
doce, afetuosa e transbordando de amor incompreensível por Seus filhos.
Apesar da aparência de malvada, Kali mostra o lado subestimado da mulher e
a verdadeira força feminina. Kali é venerada na Índia como uma mãe pelos
seus devotos e devotas, que esperam dela, uma morte sem dor ou aflição e a
libertação do ciclo de reencarnações.
A idéia da divindade é o espelho da majestade
primordial do humano. Ela se lança como as raízes
mais profundas das nossas consciências,
transcendendo-as até a ilimitada camada do
“inconsciente coletivo”. Nesse conceito psicológico
erguido por Carl Gustav Jung, a divindade existe na
existência do humano, e o humano existe nas
explicações míticas asseguradas pela possibilidade da
existência divina.

“Salve salve deusa musa
Teu vermelho de sangue quente
Tua força de cerrar os dentes
Os pulsos abertos

IANSÃ Derramando trovoadas


A magnética luz
Das entranhas do céu
Rebolas impassível
Sob o filete rubro
Dos amores rasgados”.
Vitor Carmezim
Iansã ou oyá
Iansã, Yansã ou Oyá é a Orixá dos fenômenos climáticos.
Oyá é o orixá dos grandes movimentos e das várias
formas. Formas estas que representam seu domínio sobre
vários elementos da natureza, a sua essência é a
liberdade inclinada à constante transformação. E apesar
de ser essencialmente aérea, e de dominar o tempo
atmosférico, Oyá é uma das poucas divindades africanas
conhecidas por nós, que se faz presente em todos os
elementos primordiais do planeta.
O seu nome possui significado de: A mãe do Entardecer,
e foi dado à ela por Xangô, sua grande paixão. Mulher
guerreira, essa Orixá se distancia das características das
demais, com toda sua garra ela acompanha os mais fortes
nas batalhas, não nasceu para ficar em casa cuidando do
lar.
MITO DE IansÃ
Um de seus mitos narra a história de que Oyá sendo estéril e
ansiosa por ter filhos buscou um babalaô para consultar o
oráculo de Ifá, e foi aconselhada a fazer uma roupa em
vermelho para os ancestrais e um sacrifício de carneiro, com os
quais logrou sucesso e acabou por parir nove filhos, proibindo-
se nunca mais comer carneiro e se tornando a Iansã, mãe dos
espíritos ancestrais e dominadora absoluta dos eguns (
espíritos dos mortos) seus filhos diletos.
Oyá-Iansã é a transportadora dos espíritos humanos após a
morte, ela os leva do Aiyê (terra) para o Orum (céu, mundo dos
encantados).
IansÃ
Ela segura sempre na mão direita um sabre de
cobre, que a defende em suas guerras, e na
esquerda segura um iruquerê (ou eruixim), espécie
de espanador feito de rabo de boi com o qual ela
espanta espíritos indesejados, e limpa o ambiente
onde se faz circular. Sua dança é a circulação dos
ventos que, a depender da cantiga a ela dedicada
e do texto mítico da mesma, pode ser tranqüila
como uma doce brisa matinal ou violenta como a
mais terrível das tempestades.
Iansã
Oyá corporifica a transgressão feminina. Orixá de personalidade intransigente, ao mesmo tempo
em que é doce e complacente. Controla as suas finanças, cuida do sustento próprio e dos seus.
Assegura proteção a toda e qualquer liderança feminina, possui um temperamento severo em suas
ações, domina os lares dos quais faz parte. É um ser voltado à solidão e porta-se, diante da
realidade, com características e hábitos comuns ao universo masculino.
Mas é mulher, de sexualidade desenfreada, longe de repressões e de tabus que impeçam o seu
prazer. É o orixá do vermelho-marrom que simboliza a intensidade de sua paixão. De acordo aos
seus mais conhecidos mitos, Oyá é pura paixão!
Aquilo que somos segundo nossa visão
interior e aquilo que o homem parece ser,
só pode ser expresso por meio do mito.
O mito é mais individual e exprime a vida
de forma mais precisa do que a ciência. Ela
trabalha com médias e conceitos, e estas
são demasiadamente gerais para fazer
justiça à variedade subjetiva de uma vida
individual. (Carl Gustav Jung)
OXUM
Deusa das águas doces e frescas desempenha um papel
importante nos ritos de iniciação, que são a gestação e o
nascimento.
O ventre da mulher pertence a ela, que é regente da
menstruação, da gravidez e do parto.
Evoca o arquétipo da Grande mãe que acolhe, protege seus
filhos e as crianças.
Por sua característica sedutora, também evoca a
sensualidade.
um mito de Uma vez Olodumare quis castigar os homens.
Então levou as águas da Terra para o Céu. A terra
tornou-se infecunda. Homens e animais

Oxum sucumbiam pela sede. Ifá foi consulado. Foi dito


que se fizesse um ebó com bolos, ovos, linha
preta e linha branca, com uma agulha e um galo.
Oxum encarregou-se de levar o ebó ao céu No
caminho Oxum encontrou Exu e ofereceu-lhe os
fios e a agulha.
Em seguida encontrou Obatalá e entregou-lhe
os ovos Obatalá ensinou-lhe o caminho da porta
do céu e lá chegando, Oxum encontrou um
grupo de crianças e repartiu entre elas os bolos
que levava
Olodumare viu tudo aquilo e se comoveu
devolvendo à Terra a água retida no Céu e tudo
voltou a prosperar.
Oxum
É representada com vestes douradas ou amarelas,
perfumes, colares e jóias expressando sua conexão
com a abundância e a riqueza.
Segura um (abebé) espelho na mão demonstrando
sua relação com a beleza, sedução e vaidade.
Oxum
É o símbolo do poder feminino da fecundação e da
continuidade da vida. Oxum é a “mãe das mães”.
Arquétipo da fertilidade, prosperidade e gestação.
Suas representações fazem mais alusão à sua sensualidade e
vaidade que o estereótipo arquetípico materno. A mitologia de
Oxum guarda aspectos eróticos bastante semelhantes às
divindades gregas, pois Oxum se utiliza de manipulação e
sedução para conseguir o que quer.
Sua sensualidade e intuição, demonstram toda sabedoria
feminina, toda manifestação criativa.
Os mitos descrevem as diversas, e
algumas vezes dramáticas, irrupções do
sagrado (ou do “sobrenatural”) no Mundo.
É essa irrupção do sagrado que realmente
fundamenta o Mundo e o converte no que
é hoje. E mais: é em razão das
intervenções dos Entes Sobrenaturais que
o homem é o que é hoje, um ser mortal,
sexuado e cultural”. MIRCEA ELIADE
(1907-1986).
Iemanjá
De todos os mitos da cosmogonia yoruba, Iemanjá foi o que se tornou mais
conhecido na América Latina, principalmente no Brasil.
Na África o culto inicial a Iemanjá a associou aos rios e seus afluentes, ao
processo criativo do mundo, à fertilidade feminina, à maternidade, ao
plantio das colheitas de inhame e à coleta dos peixes, por isso, seu nome
Yemoja (Yeye Omo Eja), que significa Mãe dos Filhos Peixes, deusa que
rege a pesca.
Desde África, à América e ao Brasil, várias são as versões africanas sobre o
orixá Iemanjá. Contudo, entre semelhanças e diferenças, seu protagonismo
foi preservado junto aos orixás femininos das águas, como Nanã e Oxum.
Entre todos os orixás/divindades do panteão africano, ocupa lugar especial.
Iemanjá se destaca na mitologia yoruba em tantos papéis quantas são as
lendas que inspirara: mãe, amante, filha e esposa, reunindo qualidades
semelhantes às formas como a mulher socializa sua presença na sociedade.
Um Mito de Iemanjá
Iemanjá era uma rainha poderosa e sábia, tinha sete filhos, sendo o
primogênito seu predileto. Era um negro bonito e com o dom da palavra,
seu nome era Xangô.
As mulheres caíam aos seus pés, e os homens tinham muita inveja dele e até
mesmo os orixás padeciam desse sentimento. Tanto fizeram e tantas calúnias
levantaram contra o filho de Iemanjá, que provocaram a desconfiança em
seu próprio pai. O rei, marido de Iemanjá, deu ouvidos à história de que seu
filho Xangô, queria matá-lo para apossar-se de seu trono. Levaram o filho de
Iemanjá a julgamento e o sentenciaram à pena capital.
Iemanjá explodiu em ira e tentou de todas as formas aliviar a pena imputada
a seu filho. Os homens não a ouviram, contudo. Não se importaram com
suas súplicas. Mais adiante, essa humanidade soube sentir o poder da
vingança de Iemanjá. Ela declarou que sobre a Terra os homens
permaneceriam enquanto ela quisesse.
Perdendo seu filho amado, invadiria o mundo com suas águas salgadas e
de sua água doce não mais experimentariam. Assim o fez e a primeira
humanidade foi destruída. (CABREIRA, 1980: 32-33).
Iemanjá
É representada nos templos africanos por
uma mulher de corpo largo e seios fartos,
que ela sustenta com as mãos. Sobre a
cabeça um recipiente em forma de tigela
onde são postos seus objetos sagrados, as
pedras sagradas (otás), que após rituais de
sacrifícios tornam-se portadores de sua força
sagrada, seu axé.
Iemanjá
Iemanjá trás a representação do espelho do mundo, que reflete todas as diferenças,
pois a mãe é sempre um espelho para o filho, um exemplo de conduta. Arquétipo
materno que orienta, que mostra os caminhos, que educa, e sabe, sobre tudo,
explorar as potencialidades que estão em cada um direcionando o entendimento de
que a guerra maior é a que travamos contra nós mesmos.
Os mitos de Iemanjá proporcionam reflexões acerca de sua expansão e capacidade de
penetração e assimilação, alternando suas formas, variando suas faces de acordo com
os lugares por onde passou.
À semelhança do elemento água, ela se transforma e se espraia, contorna e se
apropria dos espaços, preenche e esvazia num movimento cíclico. O imaginário
coletivo sobre Iemanjá a nomeou por inúmeros nomes cantados por poetas de várias
gerações e nessas canções são exaltadas suas qualidades de mãe e de amante
ardorosa. Entretanto, sua sacralidade se faz inquestionável como erupção do mítico.
“Ela é tão livre que um dia será
presa.
Presa por quê?
Por excesso de liberdade.
Mas essa liberdade é inocente?
É. Até mesmo ingênua.
Então por que a prisão?
Porque a liberdade ofende. “
Clarice Lispector.
Lilith
Entrar em contato com o mito de Lilith é entrar em contato com a história da
nossa civilização e com a construção desenfreada e intransigente do patriarcado
na sociedade global
Lilith é a mulher em estado natural, antes de sofrer as transformações impostas
pela cultura. Neste estado a mulher recusa-se a submeter-se ao homem seja no
ato sexual, seja nas relações entre os sexos na vida cotidiana.
Lilith, portanto, se reconhece como igual ao homem, não admitindo nenhuma
hierarquia nem biológica, nem social. É sua igual e espera ser tratada assim pelo
varão.
É castigada por Deus em seu aspecto materno. Devido à sua desobediência e
subversão Deus ordena que ela permita que 100 de seus filhos morram todos
os dias.
O Mito
Lilith é criada por Deus da mesma forma que Adão, ou seja, moldada pelas mãos
divinas.
Os dois são o primeiro casal, responsáveis por cuidar do Éden. Com o tempo
Lilith se rebela por não se conformar em estar em uma posição inferior a de seu
marido, já que ambos foram criados a imagem e semelhança de Deus.
A submissão é detectada inclusive sexualmente, onde Lilith exerce poder de
sedução e entorpecimento orgástico em Adão e ele, por outro lado, se deita
continuamente sobre ela, num sinal de domínio no coito e na relação, o que Lilith
não aceita.
Em conflito com seu marido, contesta sua posição de inferioridade, e contesta
também o criador, tendo que escolher entre se submeter ou deixar o jardim. Ela
escolhe a segunda opção e parte para um exílio no Mar Vermelho, reduto de
demônios.
Após seu exilo no Mar Vermelho Lilith volta ao Jardim do Éden como um
demônio, e na forma de uma serpente é responsável pela tentação de Eva, que
levou toda a humanidade ao pecado. Com astúcia, Lilith confunde Eva e
desperta nela o desejo de igualdade, não a igualdade com o homem, que a
primeira mulher antes desejava, mas a igualdade com o próprio Deus.
Lilith
Lilith representa o oposto das características que foram culturalmente atribuídas
como obrigações femininas. Ela representa portanto a rebeldia contra a
passividade, à submissão e a obediência. O repúdio à tradição patriarcal de
dominação do homem sobre a mulher; a luta pela igualdade de condições e
direitos e principalmente o desenvolvimento de ações seguras e assertivas diante
de seus ideais.
“O homem só repete os deuses
porque participa do caráter
deles, porque um pouco do que
eles são penetrou-lhe na
cabeça.” (Roger Bastide)
Demeter
Deméter é uma deusa grega do cultivo, da fertilidade e da
colheita. Chamada de “Mãe das estações”, ela trouxe a
agricultura para o mundo terreno e ensinou aos homens a
cultivar o trigo e o milho.
Deméter não encenou histórias de vingança e punições
como outras deusas gregas. Porém, ela é a personagem
principal de um dos mitos sobre mãe e filha mais
conhecido na mitologia grega.
Mito
Perséfone, filha amada de
Deméter foi raptada por Hades,
que vivia nas profundezas do
inferno e lá se casaram.
Depois de muito sofrimento e
busca Deméter conseguiu que sua
filha passasse uma parte do tempo
ao seu lado e outra com seu
marido no inferno, onde se tornou
a pessoa que recebia as almas.
Quando Perséfone está com sua
mãe, a primavera reina, já quando
volta para o inferno com seu
marido, o inverno chega.
Deméter

O principal elemento que vemos


nas representações das deusas da
terra cultivada é um ramo de trigo
e, no caso de Deméter, uma tocha
também, usada para procurar sua
filha durante a noite ou no mundo
inferior de Hades.
Deméter
Demeter representa o instinto maternal. Ela não consegue se ver como indivíduo fora
da relação com um filho.
Como arquétipo materno representa a nutrição e a generosidade. Além de mãe de
Perséfone era fornecedora de alimentação (como deusa do cereal) e de alimento
espiritual (os mistérios eleusinos).
A grande deusa das alternâncias de vida e de morte, que regularizam não somente
o ciclo da vegetação, mas também de toda a existência. Ou seja, sem esses ciclos de
vida e morte, não há fertilidade na terra, nem fertilidade psicológica.
O ato de descer ao Hades, realizado por Perséfone, simboliza uma descida ao
inconsciente na busca do sentido da vida e da própria personalidade. Um processo
iniciatório de morrer e nascer renovado.
O lado sombrio desse arquétipo é o a mãe que impede o crescimento dos filhos. A
mãe destruidora. É o arquétipo que impede a independência do filho e o
subseqüente desenvolvimento da personalidade. A perda do filho para o mundo é
sentida como rejeição.
“O homem não pode fugir à própria consecução. Não
pode deixar de adotar as condições da própria vida.
Já não vive num universo puramente físico, mas num
universo simbólico. A linguagem, o mito, a arte e a
religião são partes deste universo. São os vários fios
que tecem a rede simbólica, a teia emaranhada da
experiência humana. Todo o progresso humano no
pensamento e na experiência aperfeiçoa e fortalece
essa rede. Já não é dado ao homem enfrentar
imediatamente a realidade. Envolveu-se por tal
maneira em formas lingüísticas, em imagens artísticas,
em símbolos míticos ou em ritos religiosos, que não
pode ver nem conhecer coisa alguma senão pela
interposição desse meio.”

Cassirer
Kuan Yin
O nome Kuan Yin ou Guanyin é uma abreviação de Guanshiyin que significa
observar os sons (ou Gritos) do mundo.
Kuan Yin é a Deusa da Grande Compaixão.
É um bodhisattva, ou seja, um ser que jurou levar todos os seres à felicidade.
Em sânscrito é Avalokiteshvara, na China é Kuan Yin ou Kuan Shih Yin, no
Japão é Kannon e no Tibete é Chenrezig.
Apesar dos seus traços predominantemente femininos, Kuan Yin é também
vista como um ser masculino em alguns países.
O seu nome aparece em diversos sutras sendo os mais importantes o Sutra de
Lótus, o Sutra da Contemplação do Buda da Vida Imensurável e o Sutra do
Adorno Floral. Todos eles falam de como Kuan Yin pode ouvir as vozes de
todos os seres que precisam de ajuda e de como faz tudo o que está em seu
poder para ajudar esses seres.
Mito
Kuan Yin aparece em diversos sutras sendo os mais importantes o Sutra de Lótus, o Sutra da
Contemplação do Buda da Vida Imensurável e o Sutra do Adorno Floral. Todos eles falam de
como Kuan Yin pode ouvir as vozes de todos os seres que precisam de ajuda e de como faz
tudo o que está em seu poder para ajudar esses seres.
Diz-se que houve um momento em que Kuan Yin desceu aos reinos do inferno e começou a
libertar um por um os seres que lá se encontravam. Foi um trabalho difícil, mas os infernos não
ficavam vazios e voltavam sempre a encher-se de novas almas. Isso deixou-a tão triste que
chegou a explodir, literalmente. Logo, outros seres de luz surgiram para a recompor, mas sem
saber onde fixar todas as partes. Assim, quando finalizaram Kuan Yin ficou com muitos braços e
cabeças. Daí as 33 formas de Kuan Yin, com as suas múltiplas habilidades. No fim, chorou
lágrimas coloridas que à medida que tocavam o chão transformavam-se em deusas Tara de
diferentes cores que, desde então, têm vindo para ajudar Kuan Yin.

Kuan Yin não trabalha sozinha. Aparece frequentemente na companhia de outros seres de luz.
Entre eles, está o Buda Amitabha.
Kuan yIn
A deusa da misericórdia é representada com muitos elementos significativos
como a flor de lótus, que mostra a suprema espiritualidade alcançada por ela
e que podemos conquistar; o jarro de água (ou vaso sagrado), que a conecta
com os oito símbolos budistas da boa fortuna; o akash mudra, gesto feito
com as mãos no intuito de ampliar o cosmos dentro de nós e nos reunir com
a consciência coletiva; e o ramo de salgueiro, que exprime resiliência.
A coroa, que retrata a luz infinita de Amitabha, mentor de Kuan Yin; o pássaro,
enfatizando a fecundidade enquanto potência em nosso ser; o colar, cujas
contas remetem aos seres vivos e seus processos para alcançar a iluminação;
bem como o livro (ou rolo de papéis), que manifesta o Dharma; e o dragão,
correspondendo a sabedoria e alta espiritualidade; são outras simbologias
relevantes que configuram a sua imagem.
Kuan Yin
Essencialmente, Kuan Yin abarca a mãe cósmica onipresente,
plena de pureza espiritual, que intercede em todas as
direções simultaneamente. É capaz de sentir as aflições de
todos os seres e responder misericordiosamente as orações,
assim como amparar aqueles que transgridam leis universais.
O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.
Este, que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.
Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.
Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
E a fecundá-la decorre.
Em baixo, a vida, metade
De nada, morre. ( Fernando Pessoa)
Nanã
Nanã é um importante orixá feminino
relacionado com a origem do homem na
Terra. O seu domínio se relaciona com as
águas paradas, os pântanos e a terra úmida.
Do ponto de vista divino, sua relação com o
barro, mistura de água e terra, coloca essa
divindade nos domínios existentes entre a
vida e a morte. Isso porque a água é o
elemento que se liga à vida e a terra, à
morte. É daí que compreendemos o seu
trânsito entre essas duas poderosas
realidades.
Nanã
O mito de Nanã conta que Olorum encarregou Oxalá da missão de fazer o
modelo que daria forma ao homem. Entre tantas alternativas, o orixá
encarregado tentou fazer uso do vento, da madeira, da pedra, do fogo, do
azeite e até do vinho. Contudo, apesar de tanto esforço, ele percebia que
nenhum material era maleável o suficiente para que ele executasse a tarefa.
Foi quando Nanã retirou uma porção de barro do fundo do lago em que
morava.

Utilizando aquele material, Oxalá conseguiu finalmente dar forma ao


homem. Logo em seguida, Olorum pegou o modelo e com um sopro lhe
concedeu força vital para realizar tarefas. Depois disso, os outros orixás se
encarregaram de ajudar o homem a povoar as terras do mundo. Sendo feito
de um elemento que pertence à Nanã, os homens têm que morrer. Afinal de
contas, ela cobra de volta aquilo que um dia ofereceu para que o homem
viesse a existir.
nanã
Entre os símbolos de Nanã está o ibiri, que é feito com
palitos do dendezeiro que representa a multidão de Eguns,
que são seus filhos na terra dos homens, e Nanã o carrega
como mimasse uma criança.
Os búzios que simbolizam morte por estarem vazios e
fecundidade porque lembram os órgãos genitais femininos,
também pertencem a Nanã.
Contudo, o símbolo que melhor sintetiza o caráter de Nanã
é o grão, pois ela domina também a agricultura e todo o
grão tem que morrer para germinar.
Nanã é a morte que reside no âmago da vida, que
possibilita o renascimento.
Nanã
Nanã assume, como outras Deusas e Orixás femininas, o
conceito de maternidade como principal função.
Em seu caso é tida como a grande Avó da sabedoria e do
tempo.
Estabelece uma relação tensa com seus filhos onde aparecem
sentimentos de amor, ódio e rejeição.
Ela é a avó que acolhe, ao mesmo tempo que é a mãe que
rejeita e esse traço de sua particularidade trabalha em nós a
humanidade de nossas emoções, legitimando e ao mesmo
tempo transmutando sentimentos que essas emoções nos
provocam, principalmente em se tratando do arquétipo
materno.
“A compreensão mítica surge de
uma conscientização comum
vivenciada do próprio Deus.
A partir da experiência, ela é
moldada em imagem e
acontecimento.”
(Emma Brunner-Traut)
Maria
Maria é a figura feminina mais reverenciada da história da humanidade. Mas
muito pouco se sabe sobre ela. Dois mil anos depois, sua existência continua
envolta em mistério. Sabe-se que ela era uma dona-de-casa judia que
morava na vila de Nazaré, na Galiléia, povoado colonizado pelos romanos.
Vivia em condições muito simples. Dormia em uma esteira, num chão de
terra batida sobre a palha, numa casa que cheirava a óleo queimado,
proveniente de uma lamparina que ela mantinha acesa, acomodada em uma
cavidade na parede. Vestia o mesmo traje, independentemente da ocasião:
uma túnica de linho, com a qual realizava seus afazeres ou saía para alguma
atividade, sem esquecer de colocar o véu, em respeito ao marido. Era uma
mãe zelosa e dedicada, que sempre tentou manter o filho próximo de si.
Como esposa, era uma mulher submissa, como todas de sua época. Casou-
se aos 12 anos com José, um carpinteiro muito mais velho do que ela.
Mito de Maria
Maria é representada com mais de mil títulos e imagens diferentes.
A Igreja Católica Romana, a Igreja Ortodoxa Oriental, a Igreja Anglicana e a Igreja
Luterana veneram a Virgem Maria, cada uma a seu modo diante de muitas formas e
imagens que estão associadas à possíveis aparições da virgem aos homens ao longo de
toda a história.
A grande maioria dos títulos atribuídos a Virgem Maria tem sua origem na devoção
popular. Na maioria das vezes, a devoção surge a partir de uma imagem de Nossa
Senhora. A veneração de ícones de Maria remonta a era apostólica. Alguns ícones da
Virgem são atribuídos a São Lucas, considerado o pintor de Nossa Senhora. Dentre eles,
alguns são muito conhecidos, como “Nossa Senhora do Perpétuo Socorro”, a “Theotokos
de Vladimir”
A veneração pode assumir a forma de oração, pedindo a intercessão dela juntamente
com o seu Filho, Jesus Cristo, e também de composições de poemas e canções, pinturas
e esculturas, títulos em sua homenagem, revelando uma posição de destaque em relação
aos demais santos e santas.
Mãe do salvador da humanidade, é responsável por trazer ao mundo o Deus encarnado
através de um milagre.
Assim como Deus, é divino e homem, Maria é mantida no imaginário cristão como mãe e
virgem, mesmo depois de um parto e sendo casada com José.
No Cristianismo e Judaísmo que dominam a cultura ocidental, parecia que o lado feminino
foi esquecido ou reprimido, tanto é que, nos seus dogmas não há lugar para a deusa mãe.
Essas duas principais religiões de nossa cultura se concentram mais no masculino: Deus-
Pai e Deus-Filho. Porém, é na vertente católica que surge a figura da “mulher santa”, como
que para manter o equilíbrio entre os arquétipos masculino e feminino do mundo interior
psíquico.
Toda a representação do corpo de Maria , isto é, seus braços, seu colo, seu olhar, tudo
denota os aspectos da Grande Mãe que protege, acolhe e nutre o Filho. Também os
detalhes de suas vestes completam essa compreensão.
Maria invoca através de sua constituição materna humana e sagrada o desejo humano
primário de chegar à consciência pela luz expressa no rosto da Mãe.
Os arquétipos da Grande Mãe e do Pai são os dois arquétipos básicos da psique. Eles têm um
poder psicológico tão grande que a dominância de um tende a desequilibrar o self individual ou
cultural às expensas das características do outro.
O dinamismo matriarcal (arquétipo da Grande Mãe) é regido pelo princípio do prazer, da
sensualidade e da fertilidade. Por isso, nas culturas,ele é geralmente representado pelas deusas
e deuses das forças da natureza.
Por outro lado, o dinamismo patriarcal (arquétipo do Pai) é regido pelo princípio da ordem, do
dever e do desafio das tarefas. O poder, com o qual se impõe, divide a vida em polaridades
altamente desiguais e exclusivamente opostas como bom e mau, certo e errado, justo e injusto,
forte e fraco, bonito e feio, sucesso e fracasso. Estas polaridades estão reunidas em sistemas
lógicos e racionais. Seus deuses, deusas e ideais são conquistadores e legisladores.
Foi esse dinamismo que codificou os papéis sociais rígidos do homem e da mulher, atribuindo a
ela uma condição inferior
junto com a maioria das funções matriarcais. Esse dinamismo é
característico das guerras de conquista, das sociedades de classe com acentuada hierarquia
social e rígida codificação ideológica da conduta.
(CARLOS AMADEU B. BYINGTON, in Prefácio a "O Martelo das Feiticeiras",
HEINRICH KRAMERe JAMES SPRENGER)
Mãe Divina, Mãe Sagrada, Deusa

“A Deusa é um arquétipo eterno da psique humana, embora a desprezamos e


reprimamos ou neguemos exteriormente a sua existência.
Desde os primórdios de nossa civilização ela se revela a nós em
desenhos rupestres e em esculturas primitivas, nas grandes mitologias,
manifestando-se na nossa cultura atual sob os mais diversos disfarces.
Ela faz parte do tecido de nosso ser, com o qual toda a humanidade tem de se
relacionar interiormente se desejarmos ter em nossas almas um equilíbrio de
base.
Ela é parte tão essencial da humanidade que, mesmo se, nos próximos séculos
nos tornarmos filhos do Cosmo, deixando a Terra para trás em sua viagem para
as estrelas, sem dúvida a encontraremos nas escuras profundezas do espaço”.
• (Adam Mclean)

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