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Clarice conhecia a alma humana, não camuflava as inquietações e angústias próprias do sujeito no

mundo. Talvez por isso mesmo valorizasse tanto o inconsciente, aquilo que está mais oculto. “Tudo
meio cegamente. Eu elaboro muito inconscientemente. Às vezes, penso que não estou fazendo nada.
Estou só sentada numa cadeira e fico. Nem eu mesma sei que estou fazendo alguma coisa. Aí, de
repente vem alguma frase.

“Para o artista, a cor, o aroma, o tinido da colher no pires são coisas em grau máximo; ele se detém na
qualidade do som ou da forma, retorna a elas mil vezes, maravilhado; é essa cor-objeto que irá transportar
para a tela, e a única modificação por que a fará passar é transformá-la em objeto imaginário.”
SARTRE. Que é a literatura?, p. 11

LISPECTOR, Clarice. Medo 16/05/1975. Técnica mista sobre madeira, 30x40cm Acervo Fundação Casa de Rui
Barbosa.

Clarice nunca se colocou como artista, nem mesmo escritora. Assim como na escrita, na pintura a autora
apenas deixou fluir os sentimentos. Não se preocupou com acabamentos “perfeitos”, mas sim em
extravasar o que sentia.

“A inspiração, em todas as formas de arte, tem um toque de magia porque a criação é uma coisa
absolutamente inexplicável. Ninguém sabe nada a propósito dela. Não creio que a inspiração venha de fora
para dentro, de forças sobrenaturais. Suponho que ela emerge do mais profundo ‘eu’ de uma pessoa, do mais
profundo inconsciente individual, coletivo e cósmico.”

Pintei um quadro que uma amiga me aconselhou a não olhar porque me fazia mal. Concordei. Porque
neste quadro que se chama Medo eu conseguira pôr para fora de mim, quem sabe se magicamente, todo
o medo-pânico de um ser no mundo./ É uma tela pintada de preto tendo mais ou menos ao centro uma
mancha terrivelmente amarelo-escuro e no meio uma nervura vermelha, preta e de amarelo-ouro. Parece
uma boca sem dentes tentando gritar e não conseguindo. Perto dessa massa amarela, em cima do preto,
duas manchas totalmente brancas que são talvez a promessa de um alívio. Faz mal olhar este quadro

“Quanto ao fato de escrever, digo – se interessa a alguém – que estou desiludida. É que escrever não me
trouxe o que eu queria, isto é, a paz. (...) O que me descontrai, por incrível que pareça, é pintar. Sem ser
pintora de forma alguma, e sem aprender nenhuma técnica. (...) É relaxante e ao mesmo tempo
excitante mexer com cores e formas sem compromisso com coisa alguma. É a coisa mais pura que faço.”
O fascínio por artes plásticas era tanto que, no período em que se dedicou a
traduzir clássicos da literatura universal, Clarice optou, coincidência ou não, por
livros que traziam a palavra “retrato” no título: O Retrato de Dorian
Gray (1890), do irlandês Oscar Wilde (1854-1900); O Retrato Oval (1842), do
americano Edgar Allan Poe (1809-1849); e O Retrato (1934), de Mary
Westmacott, pseudônimo da inglesa Agatha Christie (1890-1976).

Das 22 telas que compõem sua obra pictórica, 20 foram produzidas entre março
e setembro de 1975. As exceções são Interior da Gruta, de 1960, e outra, sem
título, de 1976. “Não sei se houve uma razão em especial para Clarice pintar 20
de suas 22 telas em 1975. Creio que foi um impulso criativo. Clarice era um
espírito em permanente ebulição criativa”, especula Carlos Mendes de Sousa,
professor de literatura brasileira da Universidade do Minho, em Portugal, e
autor do livro Clarice Lispector – Pinturas. “Para as suas pinturas, ela criou um
método, apresentado pela voz de Ângela Pralini, em Um Sopro de Vida: técnica
de liberdade. Também na pintura, como na escrita, Clarice não está presa a
modelos. Está permanentemente a experimentar.”

“É óbvio que a pintora não se compara à ficcionista. Seu trabalho é expressivo,


mas não é uma grande arte”, avalia Ricardo Iannace, doutor em teoria literária e
literatura comparada pela USP e autor do livro Retratos em Clarice
Lispector (2009). “Sua pintura traduz a mesma força e originalidade de sua
literatura. Independentemente de ser uma tela ou um livro, seu objetivo era um
só: provocar estranheza e mal-estar. Na literatura, você precisa percorrer
algumas páginas até se deparar com o sinistro, o grotesco, o insólito. Na
pintura, não. O choque é praticamente imediato”.

Conclusão disso: O homem passa a perceber e resgatar essa sabedoria, por ir reconhecendo e
assimilando no seu interior essa imitação,até que enfim, se integra e volta a observar com mais
lucidez.

Eu adorei sua sinceridade kkkkkk! Quero agradecer essa gentileza (: eu não conhecia!
Fiz o download e passei os olhos antes de ler. De cara vi uma matéria sobre Deuses, lembrei me de
um documentário que assistir sobre a China, onde eles trazem o Taoísmo de duas formas: aspecto
religioso com divindades, iniciações,rituais e um aspecto onde é mais filosófico, sem
nenhuma’hierarquia’no templo – apenas os devotos vão. Você sabe onde posso me informar melhor
sobre isso ?

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