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Tradução livre
Para melhor entendimento do prezado leitor, alguns títulos de livros citados em inglês nesta
obra foram traduzidos de forma livre para a língua portuguesa (entre parênteses), podendo não
corresponder a eventuais publicações já existentes em nosso idioma.
Sumario
Prefácio de Andrew Greeley ............ ........................ 11
I A EXPERIÊNCIA DE QUASE MORRER............ 15
Quem, Quantos e Por Quê ........................................ 18
Os Sintomas da EQM................................................ 20
Um Pouco da Pesquisa: Quanto, Quantos? ............... 30
A Visão do Futuro ..................................................... 38
£ VIDAS MODIFICADAS: O PODER
TRANSFORMADOR DAS EXPERIÊNCIAS DE QUASE-MORTE 42
Sem Medo da Morte.................................................. 46
Percebendo a Importância do Amor ........................ 48
Uma Sensação de Conexão com Todas as Coisas .... 49
O Gosto pela Aprendizagem ..................................... 50
Uma Nova Sensação de Controle ............................. 52
Uma Sensação de Urgência ...................................... 54
O Lado Espiritual Mais Desenvolvido ...................... 55
Reentrando no Mundo “Real” ........................... 55
AS CRIANÇAS E AS EQMS: ENCONTRANDO O ANJO DA GUARDA 61
Minha Primeira Criança com EQM .................. 62
“A Luz Era Muito Brilhante” .... ...................... 63
As Conclusões de Outros Pesquisadores ......... 70
Mais de Morse................................................... 73
Eu me Vi como um Adulto .......... .................... 76
Conclusão.................................................... ..... 78
POR QUE EXPERIÊNCIAS DE QUASE-MORTE NOS INTRIGAM 79
Pessoas com EQMs Estão Realmente Mortas? . 82
Como as Pessoas com EQMs Consideram
seu Corpo? ............... ....................................... 84
As EQM como Confirmação Religiosa ............ 86
EQM na Literatura ......... , ........ ...... ... !: ......... 90
Explicando EQMs de Combate ......................... 93
Esperança para Aqueles Acometidos pelo
Sofrimento......................................................... 95
Os Efeitos das EQMs nos Suicidas ................... 96
A Ciência se Alteraria com a Prova das EQMs?....... 98
As EQMs nos Intrigam Porque Estão na “Moda”?... 100 Conclusão... 103
POR QUE A EQM NÃO É UMA DOENÇA MENTAL 104
Psicose Relacionada à Esquizofrenia .. .......... 108
Desordens Mentais Orgânicas.................. ... .... 115
“Entre Você e Deus” ................ .... ................... 119
PESQUISADORES DA EXPERIÊNCIA DE QUASE-MORTE 121
Doutor Melvin Morse ............................................ 122
Doutor Michael Sabom ......................................... 129
Michael Grosso ..................................................... 135
Doutor Kenneth Ring ............................................ 143
Robert Sullivan ..................................................... 149
EXPLICAÇÕES ................................................... 154
Cari Sagan: Nascimento como a Experiência
do Túnel ................................................................ 158
Sobrecarga de Dióxido de Carbono e a
Experiência do Túnel ............................................ 161
Essas Pessoas Precisam Estar Perto da Morte?...... 162
A EQM como Alucinação ...................................... 163
A Religião Não É Necessária ................................ 165
Por Que Todas as EQMs Não São Iguais ............. 166
A Última História de Ninar ................................... 168
Realização do Desejo .......................................... 170
Inconsciente Coletivo de Jung .............................. 171
Uma Experiência de Luz ....................................... 172
Conclusão “O Indescritivelmente Glorioso” ........ 174
Bibliografia ........................................................... 179
Prefácio
Raymond Moody alcançou um feito raro na busca pelo conhecimento humano: ele criou um
paradigma.
Em seu livro clássico, The Structure ofScientific Revolutions (A Estrutura das Revoluções
Científicas)1, Thomas Kuhn aponta que as revoluções científicas ocorrem quando alguém cria
uma nova perspectiva, um novo modelo, uma nova abordagem para a realidade. Após tal
avanço, um grande progresso pode ser feito, quando antes era impossível. O progresso
científico, argumenta Kuhn, é menos resultado do trabalho obstinado de aplicar métodos
científicos aos problemas e mais o resultado de um insight brilhante e original que acontece no
caminho de tal trabalho.
Como aponta o doutor Moody no presente livro, A Vida Depois da Vida2 não é o primeiro
livro sobre tais experiências. De fato, Carol Zaleski de Harvard, em seu estudo fascinante,
Otherworld Joumeys (Jornadas a Outros Mundos), conta-nos que a literatura da Idade Média
está repleta de relatos similares. Então, Moody não descobriu tais experiências, mas deu-lhes
um nome, e esse nome Experiência de Quase-Morte (EQM) fornece o paradigma para a
pesquisa considerável que se deu desde a publicação de A Vida Depois da Vida.
Por que o fato de dar um nome ao fenômeno é tão importante? Stephen Hawking, o grande
físico teórico inglês, disse que o nome buraco negro para o fenômeno que ele está estudando é
de importância crítica. O mesmo acontece com toda a atividade humana, já que damos nomes
às criaturas que conferem significado aos fenômenos os nomes que escolhemos determinam
como explicamos os fenômenos e o que os outros fazem com nosso trabalho.
O doutor Moody não apenas redescobriu uma experiência que, como sabemos agora,
acontece amplamente na condição humana, mas, também, ao dar a essa experiência o rótulo
adequado, garantiu que haveria mais pesquisa e estudos sobre o fato. E impossível
superestimar a importância de tal contribuição para o conhecimento humano.
A Luz que Vem do Além, assim como os esforços anteriores do doutor Moody, é
caracterizado pela franqueza, sensibilidade e modéstia. Acredito que a última característica é a
mais importante em seu trabalho. Ele não faz qualquer declaração extrema de suas descobertas.
O próprio rótulo, Experiência de Quase-Morte, é tão eficaz porque é extremamente modesto. O
doutor Moody não anuncia ter provado nada mais do que a experiência e a ampla prevalência
da EQM.
A pesquisa da EQM provou cientificamente que existe vida após a morte? Acho que não,
apesar de algumas declarações entusiasmadas que foram feitas em relação a isso. Ela
1
1 Para melhor entendimento do prezado leitor, alguns títulos de livros citados em inglês nesta obra foram
traduzidos de forma livre para a língua portuguesa (entre parênteses), podendo não corresponder a eventuais publicações em nosso
idioma (Nota do Editor). .
2
2 MOODY JR., Raymond A. A Vida Depois da Vida. São Paulo: Butterfly, 2004. (N.E.)
meramente prova que no momento da morte muitas pessoas passam por uma experiência
benigna e promissora. Não acredito que qualquer outra coisa possa ser concluída além disso
sobre a questão da sobrevivência humana. Portanto, não vejo por que muitos dos
estabelecimentos científicos e médicos não possam se dar por satisfeitos com o fato
demonstrado de que essas experiências ocorrem e estudá-los com interesse e respeito.
A pesquisa de EQM aumenta as probabilidades da sobrevivência humana além da morte?
Acredito que sim; mas, quando se está trabalhando com probabilidades, ainda é necessário um
salto de fé, e a maioria das pessoas que passam por EQMs não hesitam em dá-lo.
Próximo ao final deste livro, o doutor Moody cita um homem que talvez tenha sido o maior
pensador americano, William James. A EQM é uma experiência “abstrata”, uma experiência
de iluminação que pretende fornecer uma compreensão que é incontestável para aquele que
passou por isso. Como o próprio James coloca, tais experiências não podem se restringir à
aceitação da ciência empírica; mas, como tal experiência ocorre, a ciência empírica não pode
exigir um monopólio sobre as formas humanas de conhecimento. Carol Zaleski chega à mesma
conclusão no final de sua investigação; assim como o doutor Moody, ela recai sobre as
categorias de William James: a EQM é uma experiência de iluminação mística.
“Visões do além-mundo são produtos da mesma força imaginativa que está ativa em nossas
formas ordinárias de visualizar a morte; em nossa tendência a retratar ideias de forma concreta,
encorpada e dramática; na capacidade de nossos estados internos transfigurarem nossa
percepção de paisagens externas; em nossa necessidade de internalizar o mapa cultural do
universo físico; e em nosso desejo de experimentar esse universo como um cosmos moral e
espiritual ao qual pertencemos e onde temos um propósito.”
Então, a EQM é uma de várias experiências que renovam a esperança durante a vida
humana embora seja uma experiência espetacular. É uma pista de uma explicação, embora seja
uma pista poderosa.
Não é apenas uma pista qualquer.
A doutora Zaleski, em correspondência comigo sobre seu trabalho, comentou que sua carta
estava atrasada devido ao nascimento de seu primeiro filho. Respondi dizendo que me
perguntava se o nascimento de uma criança não seria uma pista tão forte quanto a EQM, talvez
uma pista muito mais comum e aceita. Do ponto de vista do Ser Supremo, a questão poderia
muito bem ser se Ele pode nos dar pistas melhores ou em maior número do que as que Ele já
nos deu.
Seja como for, as pistas, os rumores dos anjos, não são muito úteis para aqueles que estão
inclinados a ouvi-los, a menos que isso influencie suas vidas; Como a doutora Zaleski coloca:
“Uma convicção de que a vida supera a morte, por mais intensa que seja a sensação, acabará
perdendo sua vitalidade e se tomará um mero registro fóssil tão estranho quanto qualquer
doutrina emprestada, a menos que seja testado e redescoberto na vida cotidiana”.
Ao ler as explorações do doutor Moody em relação à luz e à Luz, ele parece estar expondo
o mesmo argumento. A Luz entrou na escuridão, e a escuridão não conseguiu expulsá-la.
Andrew Greeley CHICAGO ALL-SOULS/SAMAIN 1987
3
3 IANDS: International Association for Near-Death Studies (Nota da Tradutora).
3 As crianças e as eqms:
encontrando o anjo da guarda
As experiências de quase-morte das crianças têm um significado especial. Ao lidar com tais
inocentes, os pesquisadores têm a oportunidade de examinar indivíduos que tiveram muito
pouco tempo de pensar sobre a vida, a morte e o além-mundo. Uma vez que as crianças não
estão impregnadas das especulações do mundo adulto ao seu redor, elas não têm conhecimento
de nada parecido bom uma experiência de quase-morte.
É pelo fato de essas crianças estarem mais livres do condicionamento cultural dos adultos
que seus episódios agregam valiIdade ao âmago da experiência de quase-morte.
Até mesmo em idades muito precoces com apenas seis [meses, como você lerá mais adiante
as crianças relatam os mesmos sintomas em suas EQMs que os adultos de todas as culturas: a
sensação de ver seu próprio corpo de um ponto de observação fora do corpo físico; exame
panorâmico da vida; entrar em um túnel encontrar outros, incluindo parentes vivos e mortos;
encontré com um Ser de Luz; sentir a presença de uma divindade; e retomai ao corpo.
Das bocas dos bebês vem a sabedoria é um axioma que bem se aplica às crianças que
passam por EQMs, assim comi acontece com muitas coisas na vida.
Minha Primeira Criança com EQM
Minha primeira criança com EQM chegou a mim de suri presa enquanto eu era médico
residente em um hospital da Geórgia Eu estava fazendo um exame de rotina em um paciente a
quem?! chamarei de Sam, um garoto de nove anos que quase morrera nó ano anterior de uma
parada cardíaca devido a uma doença na glândula supra-renal.
Eu estava conversando com ele sobre sua doença quandoj ele ofereceu espontânea e
timidamente: “Mais ou menos há um ano atrás eu morri”.
Comecei a induzi-lo a contar sobre sua experiência. Ele me contou que depois que morreu,
flutuou para fora de seu corpo li olhou para baixo ao mesmo tempo em que o doutor
comprimial seu peito para reavivar seu coração. Sam, em seu estado alterado! tentou fazer com
que o doutor parasse de esmurrá-lo, mas o doutoi não prestou a menor atenção.
Naquele momento, Sam teve a experiência de mover-se rapidamente para cima e ver a
Terra desaparecer atrás dele.
Então passou por um túnel escuro e estava sendo esperado, do outro lado por um grupo de
“anjos”. Eu perguntei a ele se aqueles anjos tinham asas e ele disse que não.
“Eles estavam brilhando”, ele disse, luminescentes, e todos pareciam amá-lo muito.
Tudo nesse lugar era cheio de luz, ele disse. Todavia através de tudo aquilo, ele viu belas
cenas bucólicas. Esse lugar celestial era circundado por uma cerca. Os anjos contaram que se
ele fosse além da cerca, ele não seria capaz de retomar à vida. Um Ser de Luz (Sam o chamou
de Deus) lhe disse que ele teria de voltar e reentrar em seu corpo.
“Eu não queria, mas ele me fez voltar”, Sam disse.
Essa conversa foi especialmente excitante para mim. Quando indivíduos sofrem uma EQM
em uma idade tão precoce, ela parece ser incorporada em suas personalidades; É algo com que
vivem suas vidas inteiras e isso os transforma. Eles não têm mais medo da morte da maneira
que seus semelhantes tem. Ao contrário, eles têm o ar de alguém que viu nossa próxima
existência.
Esses insights m transformam em pessoas muito sensíveis e maduras que abordam a vida de
uma maneira inusitadamente adulta. Então é comum que expressem uma saudade da
experiência através dos anos. E quando as coisas se tomam difíceis, eles acharão conforto em,
como uma pessoa me disse, “ter estado do outro lado”:.
Um homem que vivenciou uma EQM quando criança contou que nos anos intervenientes,
ele foi ameaçado de morte duas vezes. Uma dessas experiências aconteceu durante a guerra.
Outra vez ele foi imobilizado no chão de uma mercearia por um pistoleiro enlouquecido que
estava roubando o mercado e ia matá-lo como um exemplo aos outros reféns. JÍ
Ele disse que em nenhuma daquelas ocasiões ficou amedrontado. O medo que poderia ter
sentido foi substituído pelas memórias de seu encontro com o Ser de Luz. .
“A Luz Era Muito Brilhante”
Alguns pesquisadores concluíram que EQMs são o mecanismo de defesa da mente contra o
medo de morrer. Mas EQMs em crianças refutam essa teoria, uma vez que as crianças têm
percepções muito diferentes dos adultos em relação à morte, Crianças abaixo de sete anos de
idade, por exemplo, tende a pensar na morte como temporária, como um período de férias
talvez. Para eles a morte é algo de onde se retoma. Dos sete aos dez anos, a morte é um conceito
mágico, que é substituído nos anos seguintes pelo conhecimento de que a morte envolve uma
decomposição orgânica. Durante o período dos sete aos dez anos as crianças personificam a
morte. Elas pensam nela como um J; monstro ou algum tipo de gnomo que vai comê-las.
Acham que m a morte se esconde no escuro e que elas poderão correr dela se a morte chegar.
De qualquer modo, as percepções de uma criança sobre a morte são muito diferentes
daquelas dos adultos. Por exemplo muitas pessoas mais velhas temem uma obliteração da
consciência enquanto outras temem a dor que imaginam ter de passar durante o processo de
morte. Algumas temem ficar sozinhas ou serem isoladas de seus parentes e amigos, enquanto
outras temem o fogo do inferno e a condenação. Algumas pessoas temem a perda de controle
que a morte implica, já que não serão mais responsáveis por seus negócios, família ou qualquer
coisa que estejam tentando dirigir. Algumas têm o medo primitivo do desmembramento.
As crianças não têm esse condicionamento cultural ainda® E aqueles que passaram por
EQMs não costumam experimentar esses medos mais tarde. Eles têm pouco medo da morte e
frequentemente falam afetuosamente de suas experiências de quase-morte. Algumas das
crianças com quem falei expressaram um desejo de “retomar para a luz”.
Uma dessas crianças é uma menina de nove anos de idade a quem chamarei de Nina. Ela
passou por uma EQM durante uma cirurgia de apendicite. Os cirurgiões imediatamente
trabalharam para ressuscitá-la, um evento durante o qual ela esteve num ponto de observação
fora de seu corpo.
Eu os ouvi dizer que meu coração havia parado, mas eu estava lá no teto observando. Eu
podia ver tudo dali. Eu estava flutuando perto do teto, assim, quando vi meu corpo, eu não sabia
que era eu. Então eu o reconheci. Saí para o corredor e vi minha mãe chorando. Perguntei por
que ela estava chorando, mas ela não podia me ouvir. Os médicos acharam que eu estava morta.
Foi quando uma senhora bonita apareceu e me ajudou, porque ela sabia que eu estava
assustada. Nós fomos através de um túnel até o céu. Há lindas flores lá. Eu estava com Deus e
Jesus. Eles disseram que eu tinha de voltar para ficar com minha mãe porque ela estava muito
triste. Disseram que eu tinha de terminar minha vida. Efoi assim que eu voltei e acordei.
O túnel no qual passei era longo e muito escuro. Eu passei por ele muito rápido. Havia uma
luz no final. Quando ; vimos a luz, eu fiquei muito contente. Eu quis voltar durante muito
tempo. E ainda quero voltar para a luz quando eu morrer... A luz era muito brilhante.
Outra criança que fala de sua EQM com saudades é um menino que chamarei de Jason. Ele
vivenciou uma EQM após ser atingido por um carro enquanto andava de bicicleta. Seu episódio é uma
EQM interessante e “desenvolvida”, no sentido de exibir muitos dos sintomas da experiência essencial e
ter sido muito intensa.
Conversei com ele quando tinha quatorze anos, três anos após sua experiência. Apesar de seu
acidente ter sido muito sério, os exames mostraram que não houve danos ao cérebro. E, como você verá,
suas respostas são inteligentes e brilhantes.
JASON: ISSO aconteceu quando eu tinha onze anos. Ganhei uma bicicleta nova de aniversário.
No dia seguinte, eu estava andando de bicicleta e não vi um carro vindo e ele me acertou.
Eu não me lembro de ter sido atropelado pelo carrop mas de repente eu estava no alto,
olhando para mim mesmo lá embaixo. Vi meu corpo debaixo da bicicleta e minha perna estava
quebrada e sangrando. Lembro-me de ver meus olhos fechados. Eu estava em cima. Estava
flutuando mais ou menos a um metro e meio acima de meu corpo e havia pessoas em volta. Um
homem no meio da multidão tentou me ajudar. Uma ambulância chegou. Fiquei pensando por
que as pessoas estavam preocupadas comigo se eu estava bem Eu os vi pondo meu corpo na
ambulância e eu tentava dizer-lhes que estava bem, mas nenhum deles podia me ouvir. Dá
para repetir o que estavam dizendo. “Ajudem-no ” alguém estava dizendo. “Acho que ele está
morto, mas vamos trabalhar nele ”, disse outra pessoa.
A ambulância partiu e eu tentei segui-la. Eu estava acima da ambulância seguindo-a. Pensei
que estava morto. Olhei em volta, e já estava em um túnel com uma luz brilhante no final dele.
O túnel parecia ir para cima. Eu saí do outro lado do túnel.
Havia muitas pessoas na luz, mas eu não conhecia nenhuma delas. Contei sobre o acidente e
elas disseram que eu tinha de voltar. Disseram que não era minha hora de morrer ainda, então
era preciso voltar para o meu pai, minha mãe e minha irmã.
Fiquei na luz por um longo tempo. Parecia um longo período. Senti que todos me amavam lá.
Todos estavam contentes. Sinto que a luz era Deus. O túnel girava em direção à luz como um
redemoinho. Eu não sabia por que estava no túnel ou para onde estava indo, Eu queria chegar
àquela luz. E quando cheguei, não queria voltar. Quase esqueci do meu corpo. Conforme
subia pelo túnel, duas pessoas estavam me ajudando. Eu as vi no momento em que saíram do
túnel para a luz. Elas ficaram comigo durante o trajeto todo.
Então me disseram que eu tinha de voltar. Voltei pelo túnel e cheguei de volta ao hospital onde
dois médicos estavam trabalhando em mim. Eles diziam “Jason, Jason”. Eu vi meu corpo em
uma mesa e parecia azul. Eu sabia que voltaria porque as pessoas na luz tinham me dito.
Os médicos estavam preocupados, mas eu tentava lhes dizer que estava bem. Um médico
colocou chapinhas em meu peito e meu corpo deu um pulo.
Quando acordei, contei ao doutor que eu o havia visto quando colocou chapinhas em meu
peito. Tentei contar à minha mãe também, mas ninguém queria ouvir. Contei para minha
professora um dia na classe e ela contou para você.
MOODY: Jason, o que você pensa de tudo isso? Eu quero dizer, isso aconteceu com você há três
anos. Isso o transformou de alguma maneira? O que você acha que isso significa?
JASON: Bem, eu tenho pensado muito sobre isso. Para mim eu morri. Eu vi o lugar para onde se
vai quando morre. Não tenho medo de morrer. O que aprendi lá é que a coisa mais
importante é amar enquanto se está vivo. Um menino da minha classe morreu no ano
passado. Ele tinha leucemia. Ninguém queria falara respeito, mas eu disse que Don está
bem onde ele está, que a morte não é algo tão ruim. Eu contei a eles sobre quando eu
morri, e foi por isso que minha professora contou para você.
MOODY: Jason, você notou algo sobre as pessoas que estavam no túnel com você?
JASON: AS duas pessoas comigo no túnel me ajudaram a partir : do momento em que cheguei
lá. Eu não sabia exatamente onde estava, mas eu queria chegar até aquela luz no final.
Eles me disseram que eu ficaria bem e que eles me levariam até a luz. Eu podia sentir amor
vindo deles. Eu não vi seus rostos, apenas contornos no túnel. Quando chegamos à luz,
pude ver seus rostos. É difícil de explicar porque isso é muito diferente da vida no universo.
Eu não tenho palavras para isso. Era como se eles estivessem usando túnicas muito
brancas. Tudo estava iluminado.
MOODY: Você disse que eles falaram com você. O que disseram?
JASON: Não. Eu conseguia dizer o que estavam pensando e eles conseguiam dizer o que eu
estava pensando.
MOODY: Em algum momento Você me disse que estava morto. Você pode me falar a respeito?
JASON: Você quer dizer quando eu estava flutuando por cima da ambulância? Eu olhava para
baixo de cima da ambulância e sabia que meu corpo estava dentro da ambulância, mas eu
estava lá por cima dela. Um dos homens na ambulância disse que achava que eu estava
morto e quando falei com eles ninguém me ouviu, assim eu soube que estava morto. Tão
logo soube que estava morto, esse túnel se abriu e eu vi uma luz no final dele. Quando
entrei nele, ouvi um “assobio”. Era divertido estar lá.
As memórias obviamente prazerosas das crianças em relação às suas EQMs são um sinal
saudável. Muito frequentemente essas crianças criam ligações com as pessoas que encontraram
do “outro lado”. Quando voltam, falam sobre a linda mulher que tomou conta deles quando
morreram.
Para mim essa é mais uma indicação dos efeitos positivos da EQM, até mesmo em um
segmento “culturalmente não condicionado” da sociedade. A experiência não causa medo nem
afeta as crianças como uma doença mental; em vez disso, jovens com EQM comumente criam
um certo tipo de ligação com seus episódios. Esse “anseio pela luz bonita”, como um paciente
me disse, fez da maioria das crianças com EQM pessoas melhores à medida que cresceram.
Mais uma vez, é seu conhecimento especial que faz delas mais gentis e muito mais pacientes.
Um paciente mais velho que passou por uma EQM quando criança me disse:
Eu nunca me envolvi em brigas de família como meus irmãos e irmãs faziam. Minha mãe
dizia que era porque eu “tinha uma visão geral da situação”. Eu acho que podia ser verdade.
Mas eu só sabia que nada do que estávamos discutindo tinha qualquer importância real.
Após ter encontrado o Ser de Luz, eu sabia que qualquer discussão que acontecesse não teria
sentido. Assim, quando algo daquele tipo acontecia na família, eu apenas me enroscava com
um livro e deixava que os outros resolvessem seus problemas. Os meus já tinham sido
resolvidos para mim. Eu ainda sou desse jeito, até mesmo agora mais de trinta anos após o que
aconteceu comigo.
As Conclusões de Outros Pesquisadores
Há pouca pesquisa médica que lida com crianças e EQMs. Mas, certamente o que há
merece ser examinado, porque os pesquisadores chegaram às suas conclusões sobre o
significado das EQMs em pessoas muito jovens.
Um desses pesquisadores é o doutor David Herzog do Hospital Geral de Massachusetts em
Boston. Em um relatório de casos intitulado “Experiências de Quase-Morte em Pessom Muito
Jovens”4, Herzog escreve sobre uma menina de seis meses que foi admitida na unidade de
terapia intensiva com uma doença grave. Ela foi medicada imediatamente com terapia
adequada, incluindo oxigênio para estabilização, e em um curto período de tempo ela estava
bem novamente.
Contudo, muitos meses depois, ela entrou em pânico quando encorajada pelos irmãos e
irmãs a engatinhar através de um túnel em uma loja de departamentos local. O doutor Herzog,
que identificou esse medo como “pânico do túnel”, diz que o problema ocorreu em várias
ocasiões subsequentes.
“De acordo com sua mãe”, lê-se no relatório de casos, “durante esses episódios a paciente
falava muito rápido, ficava excessivamente assustada e indefesa e parecia conhecer o túnel
muito bem. Com três anos e meio, quando sua mãe estava explicando morte iminente de sua
avó, a criança retrucou. A vovó terá de passar através do túnel na loja para chegar a ver Deus?”
Apesar de Herzog reconhecer que a imagem do túnel é a mesma daquela experimentada por
adultos, ele evita interpretar o significado do episódio. Em vez disso, ele aponta a necessidade?
4
4 HERZOG, “Near-Death Experiences in the Very Young”, Critical Care Medicine, v. 13, n. 12, p.
1.074 (Nota do Autor).
de compreensão imediata, conforto e reafirmação pelos médicos e pais de uma pessoa com
EQM e diz:
“Ajudar a criança a expressar suas emoções e entender suas reações a eventos traumáticos
passados permitirá que ela resolva medos iniciais e traumas passados”.
Outro estudo de casos vem do doutor Melvin Morse do Hospital Ortopédico de Crianças e
Centro Médico em Seattle. Ele escreve sobre uma menina de sete anos que quase se afogou em
uma piscina local.
Morse a viu pela primeira vez quando ela foi trazida para a sala de emergência. Ele
administrou medicação adequada e a colocou em um respirador por três dias. Depois de uma
semana no hospital, ela foi liberada.
Ela admitiu ter tido uma EQM aproximadamente duas semanas mais tarde, durante um
exame de acompanhamento. Questionada sobre o que lembrava da experiência, ela contou ao
médico que apenas lembrava de “ter falado com o Pai Celestial”. Então ela ficou muito
desconcertada em continuar a discutir o assunto mais profundamente.
Uma semana depois, Morse entrevistou a menina. Ela ficou desconcertada quando ele
mencionou a EQM pela primeira vez, mas decidiu discutir o episódio com ele porque “você se
sente bem falando sobre isso”. Ela não permitiu que a entrevista fosse gravada e só falou a
respeito do incidente após ter primeiro desenhado figuras do que havia acontecido. Para citar o
relato de Morse:
A paciente disse que a primeira lembrança que teve de seu quase afogamento foi de “estar na
água ”. Ela declarou,
"eu estava morta. Então fui parar num túnel. Estava escuro e eu estava com medo. Eu não
conseguia andar". Uma mulher chamada Elizabeth apareceu e o túnel ficou brilhante. A
mulher era alta e tinha cabelos louros brilhantes. Elas andaram juntas para o céu. Ela
declarou que "o céu era divertido. Era brilhante e havia muitas flores". Disse que havia uma
fronteira em volta do céu através da qual ela não podia ver nada. Ela afirma ter encontrado
muitas pessoas, incluindo seus avós falecidos, sua tia materna morta e Heather e Melissa, dois
adultos esperando para renasceram Então encontrou o “Pai Celestial e Jesus", que
perguntaram m se ela queria voltar à Terra. Ela respondeu "não”. Eles perguntaram então se
ela queria ver sua mãe. Ela disse que sim e acordou no hospital. Finalmente, ela afirmou
lembrar de ter me visto na sala de emergência, mas não M conseguiu fornecer mais detalhes
sobre o período de três m dias nos quais esteve em coma.5
Morse investiga a formação religiosa da paciente. Sendo Mórmon, foi ensinado à menina
que a Terra nada mais é do qué um ponto de parada no caminho para o céu. Foi dito a ela que
finalmente se reuniria a seus parentes mortos, incluindo sua tia que morrera dois anos antes de
seu quase afogamento.
Sua mãe descreveu a morte como “dizer adeus às pessoas em um barco a vela. Podemos
simplesmente ir até a margem e acena: para elas”. A alma foi descrita como sendo similar a
uma luva que sai de sua mão na morte e se junta a você novamente no céu.
Morse admite que os eventos durante a EQM de sua paciente; encontrar Jesus, ver parentes
mortos se enreda caprichosamen com seu ensino religioso. Mas, apesar de tal ensino religioso,
ele aponta que sua experiência é a mesma daquela de muitas pessoas não religiosas que
vivenciaram EQMs. Da mesma maneira que experimentaram a passagem através de um túnel,
a visão de Seres de Luz, uma conversa com divindades e a visão do céu, assim também foi a
experiência dela.
Ele conclui assim como outros pesquisadores que a formação religiosa não altera a essência
5
5 MORSE, A Near-Death Experience in a Seven Year-Old Child, The American Journal of the
Disabled Child (A Experiência de Quase-Morte numa Criança de Sete Anos, Jornal Americano
da Criaiiça Portadora de Deficiência), v. 137, p. 939-961 (N.A.).
da experiência, mas apenas a sua interpretação.
Mais de Morse
Desde seu relato sobre esse caso em 1983, o doutor Morse continuou a estudar EQMs em
crianças.
Em 1985, ele publicou um estudo intitulado Near-Death Experiences in a Pediatric
Population (Experiências de QuaseMorte em uma População Pediátrica), no qual entrevistou
sete crianças que tinham de três a dezesseis anos quando ficaram em estado crítico (isto é,
sofriam de condições de saúde com altas taxas de mortalidade). Em sua maioria, as crianças
sofreram paradas cardíacas causadas por trauma ou quase afogamentos, Outros pacientes na
mesma faixa etária, mas com condições graves (não necessariamente de risco de vida) também
foram entrevistados. Eles não experimentaram episódios de EQM.
As crianças foram entrevistadas pelo menos dois meses após terem deixado o hospital. Elas
estavam acompanhadas pelos pais, que foram requisitados a apresentar seu ponto de vista do
histórico médico da criança. Depois, tanto para os pais como para o filho foram feitas perguntas
abertas sobre as lembranças da criança sobre sua hospitalização. Havia perguntas como: “Você
tinha sonhos?”, “O que você lembra sobre o tempo em que estava inconsciente ou
adormecido?” As crianças também eram encorajadas a desenhar figuras de suas experiências.
Quando a entrevista estava quase terminada, as crianças foram submetidas a uma série de
perguntas diretas com respostas de sim ou não sobre os sintomas da EQM, como por exemplo!
“Você viu um túnel?” “Você viu um Ser de Luz?”
Quatro dos sete pacientes que estiveram em estado crítico! relataram EQMs. Dois daqueles
quatro disseram que a EQM teve um efeito tranquilizador, dois tiveram experiências fora do
corpo* um viu um túnel brilhante e o outro uma escada escura; dois foram questionados sobre
o Ser de Luz, se eles queriam ficar nesse lugar celestial e se decidiram retomar.
Algumas das entrevistas eram realmente surpreendentes! Um dos pacientes que “morreu”
de parada cardíaca na mesa de operação contou a seus pais: “eu tenho um segredo maravilhoso
para contar a vocês. Eu estive a meio caminho do céu”. Ele disse que “estava em uma escada
escura” e “subia”. Na metade do caminho ascendente, ele resolveu voltar porque tinha um
irmão mais novo que havia morrido e ele achou que não era tempo de se juntar a ele ainda
porque seus pais se sentiriam sozinhos.
Desse estudo, Morse concluiu que as crianças vivenciam EQMs muito parecidas com as
dos adultos. Ele também esperou que o estudo “alertasse” outros médicos para o fato de que
essas experiências ocorrem com um “número significativo de crianças muito doentes”. Mas o
estudo também o encorajou a olhar parâ outra questão intrigante: Uma pessoa tem de estar
próxima da morte para ter uma EQM, ou alguém pode ter a experiência com uma doença que
não apresente risco de vida?
O doutor Morse tentou responder a essa questão com seu estudo seguinte. Nesse trabalho,
os pesquisadores selecionara dentre 202 relatos médicos onze pacientes que sobreviveram a
doenças muito graves estados definidos como condições com taxa de mortalidade maior do que
dez por cento. Também foram estudados vinte e nove pacientes da mesma idade que sobrevi?
veram a “doenças graves” aqueles com taxas de mortalidade muito pequenas.
Apesar de nenhum dos gravemente doentes terem passado por EQMs, sete dos onze
doentes em estado crítico tinham lembranças que incluíam estar fora do corpo (seis pacientes),
entrar na escuridão (cinco), efeitos positivos ou tranquilizadores (três); ver pessoas ou seres
vestidos de branco (três), visões de colegas de classe ou professores (dois), visões de parentes
mortos (um), chegar a uma fronteira (um), estar em um túnel (quatro) e decidir retomar ao
corpo (três).
As entrevistas foram conduzidas de maneira similar àquelas que o doutor Morse fez no
estudo sobre crianças e EQMs. Mas as respostas foram muito mais interessantes. Um menino
de onze anos, por exemplo, teve uma parada cardíaca no saguão do hospital. De repente, de
acordo com o estudo:
Ele lembra de estar no saguão do hospital e sentir uma sensação de mergulhar “como
quando você passa por um solavanco em um carro e seu estômago vem até a boca”. Ele ouviu
um barulho em seus ouvidos e pessoas falando. Logo estava flutuando no teto da sala, olhando
para seu corpo abaixo dele. A sala estava pouco clara e seu corpo estava iluminado por uma
luz suave. Ele ouviu uma enfermeira dizer, “gostaria , que não tivéssemos de fazer isso”, e
examinou o continuado , ressuscitamento cardiopulmonqr. Efe viu uma enfermeira “colocar
gel em meu corpo”, e então ela “entregou chapinhas.ao doutor”. As chapinhas foram
colocadas em seu corpo e quando “o doutor apertou o botão, de repente eu estava de volta ao
meu corpo olhando para o médico”,
Ele percebeu uma dor significativa à medida que o choque percorreu seu corpo e relatou
que teve pesadelos recorrentes da dor dessa técnica, conhecida como cardioversão6.
As enfermeiras presentes ao evento narram que ele abriu os olhos depois da cardioversão
e disse: Aquilo foi real& mente estranho. Eu estava flutuando acima do meu corpo e fui
sugado de volta para dentro de mim mesmo". Ele não tinha lembrança de ter feito aquela
declaração.
Outro dos pacientes entrevistados lembrou de um ser de aproximadamente dois metros e
meio que o levou através de um túnel. “Não era Cristo”, ele garantiu a Morse. “No entanto,
pode ter sido um anjo, levando-me para Cristo”
A conclusão de Morse foi que a essência da EQM é experimentada apenas por pessoas que
sobreviveram a uma doença gravíssima ou aqueles que passaram por um estresse causada pelo
risco de vida.
Eu me Vi como um Adulto
Nesses últimos anos, comecei a perguntar às crianças quantos anos elas têm durante a
EQM. Em outras palavras, seu corpo espiritual é de uma criança ou de um adulto? Um número
surpreendente delas diz que são adultas durante o episódio, apesar de não conseguirem dizer
como sabem disso.
Se você acredita na EQM como o espírito deixando seu corpo terrestre, então isso pode
significar que ó espírito é uma entidade que não envelhece e se encontra alojado em um corpo
em constante mutação. Quando finalmente se cansa do corpo, o espírito vai para outro mundo.
Outra explicação possível é que os Seres de Luz fazem essas crianças ficarem tão à vontade
que elas se sentem como se estivessem entre iguais. Isso pode levá-las a pensar que têm a
mesma idade que aqueles ao seu redor.
Uma mulher me contou sobre uma EQM que teve quando criança.
Certa vez, próximo ao meio-dia quando eu tinha sete anos, eu estava indo da escola para
casa almoçar. Havia um fragmento de gelo no meio da rua e corri para escorregar nele como
as crianças fazem. Bem, quando eu cheguei nele, meus pés escorregaram na minha frente e
bati a cabeça. Levantei e andei os três quarteirões até minha casa, mas eu não estava nada
bem.
Minha mãe me perguntou o que tinha acontecido e eu contei que havia escorregado e
batido a cabeça. Ela me deu uma aspirina, mas quando fui tomá-la, não conseguia encontrar
minha boca.
Imediatamente ela me fez deitar e chamou o médico. Foi então que desmaiei. Fiquei
desacordada por doze horas e eles não sabiam se eu viveria ou morreria naquele período de
tempo.
6
6 Cardioversão: técnica em que se aplica um choque elétrico no tórax para reverter uma anormalidade dos
batimentos cardíacos (N.T.La
E claro que não me lembro de nada daquilo. Tudo o que lembro foi ter acordado em um
jardim cheio deflores grandes. Se tivesse de descrevê-las, eu diria que elas pareciam dálias
grandes e altas. Estava quente e claro nesse jardim e ele era muito bonito.
Olhei em volta do jardim e vi esse ser. O jardim era extraordinariamente belo, mas tudo
empalideceu diante de sua presença. Eu me senti amada e nutrida completamente por sua
presença. Foi o sentimento mais agradável que já conheci. E apesar de ter sido há muitos
anos, ainda posso sentir aquela sensação.
O ser me disse—sem palavras —“Então você vai voltar’*.' E eu respondi da mesma
maneira, “Sim". Ele perguntou por que eu queria voltar ao meu corpo e eu respondi: “Porque
minha mãe precisa de mim”.
Naquele momento, eu lembro de descer por um túnel e a luz continuava a ficar cada vez
mais fraca. E quando não dava mais para ver a luz, acordei.
Levantei, olhei em volta e disse, “Olá, mamãe”.
Ao pensar na experiência, compreendi que eu estava com] pletamente madura quando
estava em sua presença. Como disse, eu só tinha sete anos, mas sabia que era adulta.
À medida que pesquisas de EQM avançarem, finalmente seremos capazes de descobrir o
quão difundido é esse fenômendi
Conclusão
Para muitos, as experiências de quase-morte em criança#: fornecem maior evidência da
vida após a morte do que aquelas* que ocorrem em pessoas mais velhas. Não é difícil entender
o porquê. Pessoas mais velhas tiveram mais tempo de ser influenciadas e moldadas pelas
experiências de sua vida e uma infinidade de crenças religiosas.
Por outro lado, as crianças vêm para a experiência com um certo frescor. Elas não tiveram
tempo de ser influenciadas profun-i damente pelo material cultural que começa a rodeá-las
rapidamente.’
Mas em nível clínico, o aspecto mais importante das EQMs em crianças é o vislumbre que
têm do “além-vida” e como isso as afeta pelo resto da vida. Elas são mais felizes e esperançosas
do que outras pessoas ao seu redor. Elas apresentam evidências mais fortes de que EQMs são
transformações positivas na vida de uma pessoa.
7
7 Epístola de Paulo aos Coríntios; Vide capítulo 15, de onde foram transcritos p§ seguintes
versículos: 35 a 38; 40; 42 a 44; 51 e 52 (N.E.).
8
8 Scrooge: em inglês, significa uma pessoa mesquinha, avarenta que quer todo Seu dinheiro
somente para ela mesma (N.T.),
O exame no qual ele é acompanhado por esses três Seres de Luz transforma Scrooge. Ele se
arrepende profundamente por não ter demonstrado mais amor pelos outros. Ao final da
experiência, ele é um homem mudado, pronto para demonstrar compaixão pelos outros a fim
de recuperar o tempo perdido.
Há também referências às EQMs no maravilhoso romance de Victor Hugo, Os Miseráveis.
Durante toda a vida, o personagem principal, Jean Valjean, é perseguido por um policial por ter
escapado da prisão onde foi colocado por ter roubado um pãozinho para alimentar a criança
faminta de sua irmã.
Ao longo do livro, ele faz grandes atos de bondade. Um deles é cuidar de uma mulher
grávida e faminta chamada Fantine, que acaba morrendo. Como Hugo escreveu:
Jean Valjean tomou a cabeça de Fantine em suas mãos e a arrumou em um travesseiro,
como uma mãe faria por seu filho... Feito isso, ele fechou seus olhos.
O rosto de Fantine, nesse instante, pareceu estranhamente iluminado. A morte é a entrada
para a grande luz.
Da morte de Valjean, Hugo escreveu:
A cada momento, Jean Valjean enfraquecia... A luz do desconhecido já era visível em seus
olhos.
E então as últimas palavras de Valjean:
Amem-se uns aos outros ternamente sempre. Certamente não há mais nada no mundo a
não ser isso; amar uns aos outros... Eu vejo uma luz... Eu morro feliz.
Induzida por seu próprio acesso quase fatal de gripe, Katherine Anne Porter escreveu Pale
Horse, Pale Rider (Cavalo Branco, Cavaleiro Branco), uma história desesperadora que
acontece próximo ao fim da Primeira Guerra Mundial.
No Capítulo 1, inclui comentários de uma entrevista que ela deu sobre o assunto de seu
pequeno encontro com a vida após a morte. Aqui está uma parte de Pale Horse, Pale Rider, na
qual sua personagem Miranda vê parentes mortos há muito tempo:
Movendo-se em sua direção lentamente como nuvem pelo ar bruxuleante veio uma grande
companhia de seres humanos, e Miranda viu com alegria que eles eram todos vivos que ela
conhecera. Suas faces estavam transfiguradas cada um em sua própria beleza, além do que ela
se lembrava deles, seus olhos eram límpidos e tranquilos como o tempo bom e eles não
lançaram sombras. Eles tinham identidades puras e ela conhecia a todos eles sem chamar seus
nomeam ou lembrar que relacionamento ela mantinha com eles, Eles a cercaram suavemente
com pés silenciosos, então viraram suas faces em transe novamente em direção ao mar, e ela
se movia no meio deles facilmente como uma onda entre as ondas.
Há muitos outros exemplos de experiências de quase-morte na literatura, desde cartas de
Emest Hemingway até histórias de Thomton Wilder. O ponto é que as próprias EQMs têm um
lugar na literatura e não devem ser confundidas com aquela categoria excitante, mas distinta,
da literatura de terror.
Explicando EQMs de Combate
Às vezes acontece que pessoas têm estados alterados sem nem mesmo terem sido feridas.
Mais exatamente, elas se encontram no meio de uma situação intensamente perigosa o combate
é o melhor exemplo e de repente encontram sua percepção extremamente alterada.
Essa experiência tem sido confundida com EQMs por algumas pessoas. Eles então
formulam a pergunta lógica: Como uma experiência de quase-morte pode acontecer a alguém
que não está doente ou traumatizado?
Minha resposta é que a pessoa não vivenciou uma EQM. Muito simplesmente, essas
experiências intensas não envolvem os traços de uma EQM. Coisas como descer por um túnel e
passar para um bonito reino de luz não foram relatadas nessas chamadas EQMs de combate.
Geralmente essas experiências envolvem uma breve retrospectiva de eventos experimentados
pela pessoa em sua vida, ou de tudo subitamente parecer ter tido seu ritmo reduzido. Algumas
dessas experiências, como você verá pelo exemplo, envolvem “ir a algum outro lugar”,
possivelmente para evitar a situação desagradável na qual se encontram. As experiências não
envolvem o estado enlevado da EQM, mas elas certamente estão em uma série contínua com as
últimas.
Aqui está um exemplo de experiência de combate relatada a mim por um veterano da
Segunda Guerra Mundial:
Isto aconteceu comigo na Sicília durante a invasão da Itália. Meu pelotão estava passando
por um campo quando fomos encurralados pela frente por um enxame de metralhadoras
alemãs. Como eu era o sargento do pelotão, considerei minha responsabilidade livrar-nos do
enxame a fim de continuar a avançar.
Dei a volta por fora, usando uma mata de árvores frutíferas como cobertura. Em
aproximadamente trinta minutos, eu tinha dado uma volta em tomo do campo para chegar pela
frente de maneira a me posicionar atrás deles. Eu estava extasiado. Havia três deles em um
buraco cavado ali do outro lado de uma ponte. Eles estavam tão envolvidos em manter o pe,
lotão encurralado que nenhum deles estava olhando para trás.
Eu provavelmente poderia ter me aproximado uns dois metros deles e não ser visto. Pensei
em fazer isso, mas optei, por jogar uma granada de mão quando cheguei em cima da ponte.
Lembro-me de ter puxado a agulha e preparado para atirá-la de uns vinte metros dali.
Levantei o braço e um pouco * antes de jogá-la no buraco eu gritei: “Aí está, idiotas”. Então eu
deitei e esperei...
...E esperei e esperei. A granada não explodiu. Ela era inútil, sem valor algum como uma
pedra.
Antes que pudesse fazer qualquer coisa, eles viraram as metralhadoras na minha direção e
começaram a atirar. . Eu me enrolei como uma bola e esperei que algo me atingisse, mas nada
me atingiu. Talvez foi a elevação na ponte que me deu cobertura ou talvez apenas pura sorte,
mas nada que atiraram me atingiu.
Mas algo estranho aconteceu. Enquanto eu estava deitado lá, subitamente deixei meu corpo
e a Sicília, no caso, Eu “viajei” para uma fábrica de munições em Nova Jersey, onde eu flutuei
acima de uma linha de montagem de mulheres que estavam montando granadas de mão. Tentei
falar com elas e lhes pedir para que prestassem atenção ao seu trabalho, mas elas não me
ouviam. Ao invés disso, elas continuaram a tagarelar enquanto faziam o trabalho.
. Senti como se tivesse ficado lá por quinze ou vinte minutos. Então de repente voltei à Itália,
deitado no alto daquela ponte, vivo ainda. Nessa hora, os alemães já pensavam que eu estava
morto e voltaram suas armas em direção ao pelotão novamente. Eu levantei e puxei o pino de
outra granada de mão e atirei no buraco onde estavam. Dessa vez ela explodiu.
O pelotão havia visto tudo e pensado que eu estava morto, então ficaram muito surpresos de
me ver andando. Eu estava muito calmo em relação à experiência toda, tão calmo que o
comandante da companhia me mandou a um psiquiatra. Eu contei a ele o que aconteceu e ele
me deu um atestado de saúde e me mandou de volta para a batalha.
Ele me disse que ouviu a mesma coisa acontecer a outros homens antes, e que eu deveria
manter sigilo a respeito da experiência para não ser enviado a ele novamente. E foi exatamente
o que fiz.
Como vocês podem ver, essa experiência difere muito das EQMs e não deve ser confundida
com uma delas. Todavia, deve ser estudada mais a fundo, porque esse tipo de experiência
acontece com muita frequência entre soldados em combate e outras pessoas em situações
semelhantes de estresse.
Esperança para Aqueles Acometidos pelo Sofrimento
O maior sofrimento de todos é a morte de um ente querido. Para muitos, esse sofrimento
recebe um alívio muito grande com o relato de experiências de quase-morte.
Pouco depois de A Vida Depois da Vida ser publicado, recebi uma carta de uma família cuja filha
havia sido assassinada. Ela era uma professora jovem e brilhante, que foi morta por um ladrão
que a havia surpreendido em sua casa. Ela era filha única, e seus pais estavam vivendo uma
experiência insuportável desde sua morte.
Eles disseram que quando leram sobre experiências de quase-morte, eles se sentiram muito
melhor a respeito de sua dolorosa perda.
Todos nós que pesquisamos EQMs temos histórias sobre pessoas que se reconciliaram com
a morte de um ente querido ao ouvir sobre as experiências de quase-morte. Acredito que a
EQM faz muitas pessoas aflitas perceberem que a morte é uma passagem para outro lugar, que
mesmo que os eventos que levaram à morte possam ser agoniantes, uma vez que a pessoa sai de
seu corpo não há dor, mas, sim, um grande sentimento de alívio. E, baseado em muitas EQMs,
haverá uma reunião com os entes queridos no reino espiritual. Esse fato sozinho acalma muitas
pessoas.
Os Efeitos das EQMs nos Suicidas
A melhor maneira de abordar essa questão é olhar o efeito das EQMs em pessoas que as
vivenciaram como resultado de tentativas de suicídio.
O doutor Bruce Greyson fez um estudo extensivo com essas pessoas e descobriu que não
apenas passar por uma EQM, mas também saber da existência de EQMs praticamente apaga o
desejo de suicídio.
O doutor Greyson é um médico de emergência psiquiátrica na Universidade de Connecticut
e lida com tentativas de suicídio em seu dia-a-dia. Ele descobriu que se compararmos um grupo
de pessoas que viveram EQMs como resultado de tentativa de suicídio com um grupo que não
passou por EQMs enquanto tentavam o suicídio, descobre-se que quase nenhum dos que
tiveram EQMs tentam se matar novamente. Por outro lado, uma grande porcentagem dos que
não tiveram uma EQM tentará cometer suicídio novamente. Então ter uma EQM tende a
resolver inclinações suicidas.
Um pesquisador em Nova York mostrou os estudos de caso de sobreviventes de EQMs
para pacientes que tentaram o suicídio. Ele notou que isso fez a ideia de suicídio como solução
desaparecer. Esse experimento foi repetido diversas vezes com o mesmo resultado: a exposição
à experiência de quase-morte realmente impediu pessoas de cometer suicídio.
Esses resultados não me surpreendem. A perda da esperança é frequentemente a razão pela
qual as pessoas cometem suicídio. Eles se sentem sobrecarregados pela vida e destituídos de
crenças espirituais. As EQMs preenchem esse vazio. Onde antes essas pessoas sentiam que a
vida não levava a lugar nenhum, elas agora sentem que uma vida após a morte rica e cheia de
satisfação espera por eles. Nesse conhecimento há algo que alivia a dor em sua vida. Isso os faz
sentir que a vida vale a pena ser vivida.
Um amigo testemunhou essa reação em uma vizinha dele que estava cometendo suicídio
por autonegligência. No meio do dia, o telefone de meu amigo ficou mudo. Como a maioria dos
vizinhos estava no trabalho, ele foi até a rua pedir para uma senhora reclusa se podia usar o
telefone dela para reclamar com a companhia telefônica.
Ele bateu na porta da cozinha e a ouviu arrastando os pés devagar e dolorosamente, vindo
de outra parte da casa para atendê-lo. Ela o deixou entrar e exausta pelo esforço, sentou na mesa
da cozinha e começou a respirar oxigênio de um grande tanque verde.
Quando terminou a ligação, ele conversou com ela e descobriu que não havia nada de
errado com ela clinicamente. Ela estava apenas velha e deprimida, dizia, e todo o tempo em que
passou sentada fez com que ela ficasse tão fraca que seu médico lhe deu uma garrafa de
oxigênio a fim de facilitar qualquer pequeno movimento que fizesse.
Meu amigo se recusou a aceitar aquela explicação. Ele pensou que ela estava morrendo
pela simples falta de exercício e decidiu dar-lhe algo que alteraria seu humor. Ele foi para casa
e trouxe uma cópia de A Vida Depois da Vida para ela ler.
Poucos dias depois, ele a viu andando devagar pela ma com o livro nas mãos. Ela
agradeceu-lhe profundamente e disse que essa era a primeira vez que saía de casa em mais de
um ano porque era a primeira vez que sentira vontade de fazê-lo. Ela não se sentia mais tão mal
sobre a velhice e seus resultados inevitáveis, ela disse. A esperança da vida depois da vida fez
com que tivesse mais vontade de aceitar o aqui e agora.
Agora meu amigo relata que esta mulher tomou-se uma jardineira ativa e que não precisa
mais da constante companhia daquelas grandes garrafas verdes de oxigênio.
A Ciência se Alteraria com a Prova das EQMs?
O mundo é governado, dizem os cientistas, por uma série de leis naturais. Por exemplo, a
ideia de que a gravidade prende nossos pés ao planeta é uma simplificação das leis da
gravidade. Outra dessas leis afirma que todas as formas de vida na Terra são baseadas no
carbono. O mundo da ciência é baseado nessas e em outras muitas suposições, e muito
progresso tem sido feito porque sabemos essasJeis e vivemos de acordo com elas.
Se fôssemos abrir uma nova dimensão pela prova da vida após a morte, ela revolucionaria a
ciência com a introdução de outras dimensões para o estudo científico do que aquelas que
conhecemos.
Por exemplo, se ficasse provado que uma pessoa poderia deixar seu corpo e viajar através
das paredes apenas com o pensamento, isso mudaria o modo como a ciência pensa sobre a
comunicação e as viagens, isso sem mencionar as propriedades da vida.
Isso provaria a existência de todo um outro universo, um que é certamente mais
desenvolvido do que este em que vivemos agora. As implicações de tal achado quase desafiam
a descrição. Você pode imaginar-se penetrando outra dimensão e conversando com membros
de civilizações mortos há muito tempo? Ou, no caso, você poderia imaginar o efeito que a
prova de um mundo espiritual teria sobre a ciência de guerra? Acho que a faria virtualmente
obsoleta.
Se soubéssemos que haveria um mundo espiritual no qual o amor e o conhecimento seriam
os únicos atributos de importância e as coisas pelas quais se fazem as guerras dinheiro, terra,
poder político seriam importantes apenas aqui na Terra, nossas atitudes e crenças sobre as
pessoas que consideramos inimigos mudariam.
, Isso faria com que olhássemos essas pessoas sob uma nova luz. Afinal, a existência do
mundo espiritual significaria que estaríamos destinados a passar a eternidade com essas
pessoas. Também significaria que em nossa vida depois da vida, seríamos capazes de saber
exatamente como os outros se sentiram sobre a vida na Terra e sobre nós. Apenas saber que tal
reino existe faria com que fôssemos seguramente mais tolerantes uns com os outros.
Há um problema com as EQMs: Da maneira como se encontram agora, elas são apenas
evidências relatadas. Não tem sido possível reproduzi-las cientificamente ou estudá-las em um
nível mais profundo do que chamamos de “forma verbal”. Até que o fenômeno da EQM possa
ser reproduzido, a ciência não pode aceitar essas histórias como prova de nada além da
existência de algo que acontece com as pessoas que quase morrem.
Embora esses casos sejam extremamente convincentes para mim e para um grande número
de outros médicos, até que possam ser repetidas, as EQMs podem ser sempre questionadas.
As EQMs nos Intrigam Porque Estão na “Moda”?
Algumas pessoas dizem que as EQMs são de interesse público porque são algo novo. Meu
livro A Vida Depois da Vida é citado por algumas pessoas como sendo a primeira história
gravada das experiências de quase-morte. Por causa da observada novidade do tema, algumas
pessoas acham que o interesse diminuirá, e as EQMs seguirão o caminho do bambolê ou dos
calhambeques.
De fato, nada disso é verdadeiro. Há casos de EQMs desde tempos remotos, até as
referências em A República, de Platão, escrita na Grécia antiga.
Há muito mais relatos de EQM agora do que há duas décadas, graças ao desenvolvimento
do ressuscitamento cardiopulmonar. Essa técnica de salvamento permite-nos trazer muito mais
pessoas à beira da morte de volta do aquelas que já sobreviveram antes.
A grande maioria das pessoas com quem tenho falado teria morrido trinta ou quarenta anos
atrás em vez de ter ressuscitado. Portanto, em vez de as EQMs serem meramente
curiosidades,singulares em jornais obscuros de medicina, como eram muitos anos atrás,
podemos encontrar hoje milhares de pessoas que passaram por essa experiência.
Outra diferença é que as pessoas estão muito mais dispostas a falar a respeito de suas
experiências abertamente. Hoje as pessoas têm menos medo de receber o estigma de estranhas
por parte dos médicos. E, logicamente, elas certamente não têm de se preocupar mais em serem
trancadas em um hospital psiquiátrico, como poderia acontecer trinta anos atrás.
Agora as pessoas falam sobre experiências peculiares. E quando elas o fazem, conseguem
apoio social de outras pessoas com EQMs.
No entanto, como estamos procurando por paralelos históricos, os primeiros relatos de A
Vida Depois da Vida dos quais estou a par estão contidos nos Diálogos de Gregório, o Grande9, um
conjunto de escritos espirituais feitos por esse papa do século seis.
No livro final dos Diálogos, há quarenta e dois casos que dão “prova” da imortalidade da
alma. Essas são uma variedade de visões no leito de morte, histórias assombradas e relatos de
quasemorte. A maioria desses foi enfeitada por Gregório para estabelecer a oportunidade para
moralização pesada.
No relato que se segue, um soldado “morre” e retoma com uma história poderosa da vida
após a morte e com o destino de um homem de negócios de Constantinopla chamado Stephen.
Um certo soldado nessa nossa cidade foi atacado (por uma praga). Ele foi arrancado de seu
corpo, ficando prostrado, sem vida, mas logo retomou e descreveu o que ocorreu com ele.
Naquele tempo havia muitas pessoas experimentando essas coisas. Ele disse que havia uma
ponte, embaixo da qual corria um rio negro e sombrio que exalava um vapor fétido intolerável.
Mas, do outro lado da ponte havia prados maravilhosos acarpetados com grama verde e flores
de doce perfume. Os prados pareciam ser ponto de encontro para pessoas vestidas de branco. O
odor muito agradável enchia o arde tal maneira que o perfume doce era o suficiente para
satisfazer todas as necessidades dos habitantes que estavam passeando lá. Naquele lugar, cada
um tinha sua própria habitação separada, cheia de uma magnífica luz. Uma casa com
capacidade espantosa estava sendo construída lá, aparentemente com tijolos de ouro, mas ele
não conseguiu descobrir para quem ela poderia ser. Na margem do rio havia habitações,
algumas das quais estavam contaminadas pelo vapor fétido que subia do rio, mas outras não
eram tocadas por ele.
Na ponte, havia um teste. Se alguma pessoa injusta desejasse cruzar, ela escorregaria e
cairia na água escura e fedorenta. Mas os justos, que não eram bloqueados pela culpa,
facilmente e com liberdade passavam para a região do prazer. Ele revelou ter visto Pedro, um
ancião da família eclesiástica, que morrera quatro anos atrás; ele estava deitado no lodo
horrível embaixo da ponte, dobrado com o peso de uma corrente de ferro enorme. Quando
perguntou por que isso era assim, foi-lhe dada uma resposta que traz à nossa mente exatamente
o que sabemos sobre os feitos desse homem. Foi-lhe dito, uEle sofre essas coisas porque
quando ele recebia ordens de punir alguém, ele costumava infligir golpes mais pelo amor à
9
9 Gregório, o Grande: Nomeado Núncio Apostólico em 578. Em 590, é consagrado o sucessor do Papa
Pelágio 2a. Escritor notável, é autor de Liber Regulae Pastoralis, Diálogos e Magna Moralis. Considerado o
criador do Canto Gregoriano. Sua obra é referenciada na atualidade: trechos de Diálogos são destacados
para apoiar o contexto de ideias e pensamentos (N.E.)
crueldade do que por obediência ”. Ninguém que o conhecia está alheio que ele se comportava
dessa maneira.
Ele também viu um certo padre peregrino se aproximar da ponte e cruzá-la com tanto
autocontrole em seus passos quanto havia de sinceridade em sua vida. Na mesma ponte ele
relatou haver reconhecido aquele Stephen de quem falamos antes. Em sua tentativa de cruzar a
ponte, o pé de Stephen escorregou e a parte de baixo de seu corpo estava agora pendente.
Alguns homens medonhos saíram do rio e agarraram-no pelos quadris para puxá-lo para baixo.
Ao mesmo tempo, alguns homens esplêndidos vestidos de branco começaram a puxá-lo para
cima pelos braços. Enquanto a luta continuava, com espíritos bons puxando-o para cima e
espíritos maus arrastando-o para baixo, a pessoa
que estava assistindo a tudo isso foi mandada de volta a seu corpo. Por isso ele nunca soube do
resultado da luta.
0 que aconteceu com Stephen pode ser, contudo, explicado em termos de sua vida. Porque
nele o mal da carne competia com o bom trabalho de doação de esmolas. Por ter sido arrastado
pelos quadris e puxado pelos braços, é claro ver que ele adorava dar esmolas mas ainda não se
privava completamente dos vícios carnais que faziam com que ele fosse arrastado para baixo.
Que lado saiu vitorioso naquela disputa foi escondido de nossa testemunha ocular, e não está
mais claro para nós do que para aquele que viu tudo isso e então voltou à vida. Ainda, é certo
que mesmo tendo ido para o inferno e voltado, Stephen, como relatado acima, não corrigiu
completamente sua vida. Consequentemente, quando ele saiu de seu corpo muitos anos depois,
ainda teve de encarar uma batalha de vida e morte.
Conclusão
Logo após A Vida Depois da Vida ter sido publicado, era óbvio que esse era um tema
amplamente popular, e que minha vida jamais seria a mesma. Percebi rapidamente que a morte
é nosso maior mistério e todos estão interessados em resolvê-lo.
As EQMs nos intrigam porque são a prova mais tangível da existência espiritual que pode
ser encontrada. Elas são literalmente a luz no fim do túnel.
6 Pesquisadores da experiência de
quase-morte
Até a publicação de A Depois da Vida não havia praticamente nenhuma pesquisa no campo
de experiências de quase-morte. Na verdade, quase nenhum profissional se interessava pelo
assunto.
A maioria dos médicos ignorava tais ocorrências se as ouvissem de seus pacientes. Às
vezes chegavam a pensar que seus pacientes estavam “loucos” e recomendavam tratamento
psiquiátrico ou hospitalar às pessoas que passavam por tais experiências. A exemplo de vários
médicos de hoje, os médicos de uma década atrás jamais haviam ouvido sobre experiências de
“um outro inundo”. Mesmo que tivessem se dado ao trabalho de checar a literatura médica
sobre o assunto, não encontrariam praticamente nada a respeito. Naquela época, havia poucos
casos estudados, mas nada que trouxesse conselhos claros sobre o que dizer ou fazer.
Hoje tudo é diferente. Graças a um punhado de pesquisadores que leram A Vida Depois da
Vida e se interessaram pelas EQMs, os médicos dispõem de uma rica pesquisa anedótica e
empírica da qual podem aprender sobre esse fenômeno comum.
Não somente podem aprender sobre as características de uma EQM, como também podem
encontrar maneiras de conversar com pacientes a respeito dessa maravilhosa e confusa
experiência, consultando o trabalho desses pesquisadores corajosos.
Eu os chamo de corajosos porque ir aonde ninguém jamais ousou ir exige coragem. Como
os grandes exploradores do planeta, essas pessoas exploram a geografia do espírito. Alguns,
como o doutor Michael Sabom e Kenneth Ring, fazem sua exploração de maneira metódica a
fim de obter fatos médicos concretos. O doutor Melvin Morse também busca fatos médicos
concretos, mas somente através do estudo de EQMs que ocorrem com crianças pequenas.
Outros, como o filósofo Michael Grosso, observam a EQM através da ótica da filosofia,
tentando descobrir o significado da experiência e suas ligações com outros fenômenos
espirituais. Em algum momento todos eles se confrontaram com adversidades, que foram da
ridicularização à dúvida. Entretanto, eles persistiram em suas pesquisas, pois sentiram a
necessidade de encontrar respostas para essas perguntas espirituais.
As pessoas que enfoco aqui são alguns dos pioneiros mais ativos neste rico e novo campo
de pesquisa. E claro que existiram outros, mas esses são os que serviram de luz-guia.
Doutor Melvin Morse
Pediatra de Seattle, Washington, o doutor Morse abriu caminho no estudo da EQM em
crianças. Suas pesquisas são particularmente importantes no estudo de experiências de
quasemorte, uma vez que ele lida com uma população “inocente"
pessoas que não foram expostas a um intenso treinamento cultural ou religioso. Quando suas
experiências são idênticas às vividas por pacientes com muito mais idade, elas adquirem um
significado especial.
0 doutor Morse se interessa pelas EQMs desde que deparou com elas pela primeira vez,
quando era residente em um hospital de Idaho. Desde então, ele as tem pesquisado.
“Fui cético durante muito tempo”, disse o doutor Morse quando o visitei em sua casa em
Seattle. “Então, certo dia, li um artigo em uma publicação médica que tentava explicar as
EQMs como sendo uma variedade de truque do cérebro. Nessa época eu já havia estudado as
EQMs exaustivamente, e nenhuma das explicações que o pesquisador dava fazia sentido.
Finalmente, ficou ciam para mim que ele ignorara a mais óbvia explicação de todas: as EQMs
são reais. Ele ignorara a possibilidade de que a alma realmente pode viajar
Contada com suas próprias palavras, eis aqui a história do doutor Melvin Morse: ;
Interessei-me pela primeira vez pelas experiências de quasemorte em crianças quando era
médico residente em um hospital de Pocatello, Idaho. Eu estava de plantão quando uma menina
que quase havia morrido afogada chegou. Era um caso surpreendente.
Ela estava nadando na piscina de uma ACM 10 num dia em que o lugar estava lotado.
Quando todos deixaram a piscina, ela ainda permanecia no fundo.
Por acaso, havia um médico lá. Era o tipo de sujeito que trazia consigo todos os tipos de
medicamentos em sua sacola de ginástica, o que lhe permitiu iniciar um processo de
ressuscitamento na garota no próprio local. Ela foi transportada ao hospital da comunidade, e
então fui chamado para vê-la.
Ela estava em coma profundo: pupilas dilatadas e imóveis* não emitia sons e não se
podiam ver suas córneas. Pensei que provavelmente morreria, mas tive de submetê-la a uma
tomografia para averiguar quão crítico era seu estado. Para fazê-lo, coloquei em sua veia um
tubo para que pudesse injetar contraste e ter uma visão clara de seu cérebro. Nunca esquecerei
aquela cena, eu inserindo o tubo em seu corpo. Havia sangue esguichando por todo o lugar,
enquanto seus pais e familiares faziam um círculo de preces à nossa volta.
Eu não tinha dúvida alguma de que ela sofreria graves danos cerebrais. Eu estava errado.
Ela se recuperou completamente em três dias.
Quando cursei a faculdade de medicina sempre me havia sido dito que devemos questionar
de maneira irrestrita. Não devemos nunca fazer perguntas cujas respostas sejam “sim” ou
“não”. Isso é crucial em minha profissão. Meu parceiro atende cinquenta pacientes por dia. Eu,
no entanto, não posso atender tal número, pois gosto muito de conversar e desejo ouvir a
10
10 ACM: Associação Cristã de Moços (N.E.).
história por completo.
Pois bem, eu fiz um acompanhamento com a menina após ela ter recebido alta do hospital.
Eu disse: “conte-me o que aconteceu quando você estava na piscina”. Eu queria saber se ela
havia tido um ataque, se alguém a havia atingido na cabeça ou qualquer coisa do tipo. Em vez
disso, ela me disse: “você se refere ao momento em que me sentei no colo do papai do céu?”, I
Uau, pensei. “Isso parece interessante”, eu disse. “Conte-mea respeito”. Nem é preciso
dizer como fiquei surpreso com o que ouvi.
O que essa menina de sete anos me contou era incrivelmente detalhado. Ela disse que
estava em um lugar escuro, e não sabia onde estava ou como havia chegado lá. Ela não
conseguia falar. Obviamente, era uma espécie de túnel. Então, essa mulher veio recebê-la. Ela
tinha cabelos longos e dourados e chamava-se Elizabeth. Ela a tomou pela mão, então o túnel
ficou ainda mais escuro e a garotinha percebeu que podia caminhar. Elas caminharam juntas
até um lugar que, para ela, parecia o paraíso.
Ela contou-me que o lugar para onde foi possuía uma delimitação. Parecia ser um círculo
além do qual ela não conseguia ver, pois seus limites eram cercados por flores.
Eu somente queria aplicar-lhe um teste de veracidade, então perguntei: “O que significa
morrer?”. E ela respondeu: “Você verá. 0 céu é divertido”. Jamais me esquecerei daquilo, pois
a menina me disse com tremenda confiança. Olhando bem nos meus olhos, ela disse: “Você
verá”.
Então perguntei novamente: “O que significa morrer?”, e ela disse: “Bem, o que aconteceu
comigo não foi exatamente morte, pois quando você está morto você é enterrado em uma
caixa”.
Eu lhe perguntei se a experiência havia sido um sonho. Ela respondeu: “Não, é algo que
realmente aconteceu comigo. Mas não era a morte. Morrer é quando você é enterrado em uma
caixa”.
Isso é perfeito, pois combina exatamente com a percepção que uma criança de sete anos
possui da morte.
Então ela disse ter encontrado Jesus, que a levou até o papai do céu, que lhe disse algo
como: “Você não devia estar aqui. Você quer ficar aqui ou quer voltar?”. Ela respondeu que
queria ficar. Então ele perguntou de modo diferente. “Você não gostaria de estar com sua
mãe?”. Ela disse que sim, e então acordou.
Ao despertar, perguntou por seus amigos às enfermeiras. Aquelas foram as primeiras
palavras que pronunciou. Ela disse: “Onde estão esse e aquele sujeito?”. Referia-se às pessoas
que havia encontrado no céu. E claro que as pessoas no hospital não tinham ideia do que ela
estava falando.
Conversei com as enfermeiras e elas confirmaram tudo. Elas contaram que quando ela
acordou começou a perguntar por pessoas com as quais não possuía nenhuma ligação e sobre as
quais ninguém parecia saber nada a respeito. Então ela ficou inconsciente uma vez mais e
aquelas lembranças desapareceram completamente.
Na verdade, ela não falou mais sobre o episódio até que eu a visse novamente para um
acompanhamento.
Foi uma experiência tão real que me deixou extremamente interessado. Decidi que
escreveria sobre isso em literaturas médicas, uma vez que não havia nenhuma descrição do tipo
envolvendo uma criança de sua idade. Questionei outras famílias cujos filhos haviam passado
por uma EQM a respeito de suas crenças e tentei descobrir quais eram seus ensinamentos a
respeito da morte. Eu realmente queria descobrir se tudo aquilo tinha origem cultural.
É claro que, potencialmente, nada daquilo era cultural. Parece cultural de uma maneira
aparente, mas quando investigamos e perguntamos à criança o que lhe foi ensinado a respeito
da morte e da vida após a morte, nada se compara à experiência dessa menina.
Disseram-lhe que a morte era como um barco a vela; que quando morremos embarcamos
em um pequeno barco e atravessamos o mar em direção a uma outra terra. Certamente não
havia conceito algum sobre anjos da guarda, pessoas conduzindo-a ao céu ou decisões entre
voltar à Terra ou ficar lá. Praticamente nenhuma de suas experiências guardava qualquer
semelhança com os ensinamentos de sua família a respeito da morte.
Ainda assim, vários de meus colegas insistiam que isso devia ser uma experiência cultural,
relacionada à sua família profundamente religiosa. Decidi então estudar aquilo por conta
própria.
Trabalhei para um serviço em Idaho chamado Airlift Northwest, que faz transportes aéreos
até o hospital. Isso me deu a chance de estar em contato com dúzias e dúzias de crianças
ressuscitadas como parte de minha rotina diária.
Perguntei ao chefe do programa de transporte aéreo se eu podia estudar as EQMs
informalmente. Ele concordou, então entrevistei cada criança que havia sobrevivido a uma
parada cardíaca nesse hospital durante um período de dez anos. Meu estudo levou
aproximadamente três anos e exigiu que eu revisse centenas de registros.
Ninguém acima da idade de dezoito anos podia fazer parte do estudo. Entrevistei cada
sobrevivente de paradas cardíacas, todos que haviam estado em coma até o nível quatro na
escala Glascow e todos que sofressem de uma doença das quais provavelmente morreriam.
Durante esse tempo, li também tudo o que pude encontrar a respeito da despersonalização
transitória (DT), que consiste na teoria de que a mente faz truques consigo mesma quando
defrontada com uma situação crítica. Fiz isso porque um dos médicos sugeriu que isso poderia
esclarecer as EQMs. Li casos sobre DT e não achei que se parecessem de maneira alguma com
as experiências de quase-morte.
Analisei então cada droga que meus pacientes pudessem estar tomando e li registros sobre
como cada uma das drogas poderia afetar alguém. Nada se parecia com uma EQM. Mas eu
queria também ver tudo pessoalmente.
Entre minha população de pacientes havia um punhado deles que não haviam passado por
uma EQM, mas que eu imaginava sofrerem de processos de enfermidade particularmente
graves. Se havia alguém que pudesse sofrer uma EQM por qualquer uma destas razões —
narcóticos, drogas ou despersonalização transitóriag. teriam de ser estes.
Deliberadamente, selecionei alguns casos bem sérios. Eu tinha uma paciente que estava
paralisada da cabeça aos pés fazia alguns meses. Ela sentia dores tão fortes que estava tomando
todos os tipos de narcóticos e drogas imagináveis que alteram a consciência, incluindo
Torazina, Valium, Demerol e morfina. Ela também estava sendo tratada intensa e
continuamente com sessões de hipnose, durante as quais ela tinha visões de seu próprio corpo
de fora dele. Não havia caso melhor que aquele para estudar. Ou seja, se ela não tinha nenhum
tipo de EQM em consequência da despersonalização transitória, ninguém mais podia ter.
Bem, ela não teve. Ninguém no grupo-controle tinha experiências semelhantes a uma
EQM. Eles não tinham experiência alguma. Todos diziam a mesma coisa: “Sonhei que os
médicos se aproximavam de mim com seringas”, ou então “Tive sonhos com monstros”. No
entanto, nenhum passou pelo que chamamos de EQM.
O outro grupo, composto de pessoas que haviam estado próximas da morte, apresentou
EQMs. Cada um deles. Eles atravessavam túneis, viam seus corpos de fora deles, viam seres de
luz. Todos tinham experiências praticamente idênticas.
De um modo ou de outro havia sempre uma luz em seus casos. Uma paciente, num caso
fascinante, chegou mesmo a ficar luminescente brilhavas de acordo com seu pai. Em um local
chamado Puget Sound ele teve de mergulhar quarenta pés de profundidade para salvá-la, e
disse que só conseguiu encontrá-la porque ela estava banhada por essa luz branca.
Um outro paciente contou-me que não via qualquer luz ou túnel, mas seu próprio corpo
emanando luz. Ele via um mundo de trevas acima de si, e abaixo via seu próprio corpo banhado
por uma suave luz branca. Então foi sugado de volta ao corpo quando lhe aplicaram choques no
peito. Não havia emoções reais nem sentimentos reais. Não havia felicidade ou tristeza.
Simplesmente aconteceu.
A maioria das crianças no estudo não achava que esse havia sido o acontecimento mais
importante de sua vida, o que para mim era muito realista. Eles o encararam de modo muito
natural: isso é o que acontece quando se morre.
Cheguei a algumas conclusões com meu trabalho com crianças:
♦ Sei que isso não parece muito científico, mas estou convencido de que quase todas as pessoas
que sofrem uma parada cardíaca passam por algum tipo de experiência de quase-morte, seja ela
fora do corpo ou indo na direção de um Ser de Luz. A única razão pela qual não se lembram
dela seja talvez porque as drogas que lhes são dadas Valium, por exemplo causam amnésia.
Cheguei a essa conclusão porque pacientes em meu estudo que tomavam menos desses
medicamentos tinham as experiências mais poderosas. Faz sentido, se pensarmos a respeito.
Afinal, os pacientes que estão sob efeito de morfina têm menos probabilidade de lembrar de
uma experiência do que aqueles que tomam menos dos medicamentos que interferem na
memória.
♦ Aprendemos na faculdade de medicina a encontrar a explicação mais simples para problemas
médicos. Após considerar todas as outras explicações para experiências de quase-morte,
acredito que a explicação mais simples é que EQMs são, na verdade, vislumbres do mundo
do além. E por que não? Li todas as equivocadas explicações psicológicas e fisiológicas
para as EQMs, e nenhuma delas parece muito satisfatória*
Quem sabe quem realmente sabe se as almas dos que passam por uma EQM realmente
deixam seus corpos físicos e viajam para um outro mundo?
Considerei todas as evidências e não vejo por que não.
Doutor Michael Sabom
0 doutor Michael Sabom era um cético quando ouviu falar sobre experiências de quase-morte
pela primeira vez. Contudo, à medida que seu interesse sobre o assunto crescia, Sabom decidiu
elaborar um estudo que se tornou uma pedra fundamental no campo das pesquisas sobre a
EQM. Ele examinou as EQMs de 116 pessoas, dividindo suas experiências em três tipos:
autoscópicas (quando se deixa o corpo), transcendentais (quando se entra num “mundo
espiritual ”) e mistas, em que a pessoa tem uma experiência com características autoscópicas e
transcendentais.
Talvez o aspecto mais interessante das pesquisas de Sabom seja sua avaliação meticulosa
de uma experiência extracorpórea. Em tal experiência, a pessoa afirma ter deixado seu corpo e
assistido ao seu próprio ressuscitamento enquanto os médicos trabalhavam dentro da sala de
emergência ou durante uma cirurgia. Em seu estudo, Sabom tinha trinta e dois pacientes desse
tipo.
Ele comparou suas descrições dos procedimentos de ressuscitamento às conclusões tiradas
por vinte e cinco pacientes mais esclarecidos sobre o que acontece quando um médico tenta
fazer o coração bater novamente. Ele queria saber o que opaciente com “conhecimento de
medicina ” sabe, comparado a alguém que teve uma experiência fora do corpo.
Ele descobriu que vinte e duas em vinte e três pessoas do grupo-controle cometeram
grandes erros ao descrever os procedimentos de ressuscitamento. Por outro lado, nenhum dos
pacientes que tiveram uma EQM errou ao descrever o que ocorria durante o processo — forte
evidência de que essas pessoas estavam realmente olhando para seu corpo de fora dele.
Conversei com Sabom em Atlanta, onde agora pratica cardiologia em sua clínica particular.
“Sou um cristão devoto e vejo a vida após a morte como uma das crenças básicas do
cristianismo’’, disse Sabom. “Não acho que isso deveria ser sensacionalizado como tem sido
em alguns casos, mas considerado parte dos processos normais da vida e da morte. Se as
pessoas vissem as EQMs | dessa maneira, elas talvez não lhes parecessem tão estranhas”Em
suas próprias palavras, aqui está como surgiu seu interesse pelas EQMs e ç.omo ele cresceu até
culminar em um estudo importante e em seu livro Recollections of Death: A Medicai
Investigation {Lembranças da Morte: Um Estudo Médico).
Em 1978 eu estava em Gainsville, Flórida, quando ouvi a respeito do livro A Vida Depois
da Vida, com a psiquiatra e assistente social Sarah Kreutziger, que o apresentava em uma aula
dominical. Logo depois ela me perguntou o que eu havia achado sobre ele, e eu disse ter achado
ridículo. Meus pacientes jamais haviam me falado sobre aquelas experiências. Cheguei até a ir
ao hospital e perguntar a outros médicos se eles já haviam ouvido falar a respeito, e eles
disseram que não.
Mesmo assim, ela me desafiou a ler o livro, e eu o fiz. Eu o achei muito divertido, mas
francamente, não achei que apresentava muitos fatos substanciais.
Pediram que ela apresentasse o livro para a igreja em geral, e achamos que seria interessante se
o fizéssemos juntos.
Mas para fazê-lo, decidimos que deveríamos tentar encontrar alguns pacientes que haviam
passado pela experiência. De modo casual, falei com vários de meus pacientes e fiquei surpreso
ao V constatar que um grande número a havia tido. Fiquei mais surpreso ainda com o fato de
tais experiências estarem acontecendo bem debaixo do nosso nariz, com pessoas de quem
cuidávamos, e nem ao menos sabíamos.
Ficamos tão intrigados com o assunto que decidimos realizar um estudo sobre as EQMs.
Começamos entrevistando pessoas que haviam tido uma parada cardíaca ou quaisquer outros
acontecimentos de quase-morte para avaliar que percentual havia passado por EQMs, que tipo
de pessoas eram, sob quais circunstâncias etc...
Entrevistamos em tomo de cento e vinte pessoas em um estudo que se estendeu por mais
cinco anos. Isso formou o núcleo do livro que escrevi.
Vocês sabem que eu inicialmente tinha uma visão bem cética sobre esse assunto. Minha
formação é muito tradicional. Essa foi realmente a primeira vez em que me envolvi com
qualquer coisa que não estivesse de acordo com a educação médica tradicional.
Estudar as EQMs era um processo de rompimento com algumas noções preconcebidas.
Afinal, durante minha educação eu havia me concentrado no aspecto físico do homem, não no
espiritual.
O aspecto da experiência no qual fiquei mais interessado foi o autoscópico, ou experiência
fora do corpo. As pessoas que passam por isso parecem realmente poder ver o que está
ocorrendo de modo um tanto par anormal.
O caso responsável por meu interesse foi o de um veterano do Vietnã que trabalha no
hospital de veteranos aqui em Atlanta, que teve sua experiência no campo de batalha.
Ele estava gravemente ferido e saiu de seu corpo no meio do combate. Ele observava seu
corpo físico enquanto os vietcongues se aproximavam e levavam tudo o que ele tinha seu
relógio, sua arma, até mesmo seus sapatos.
Ele assistiu a isso do alto, e continuou observando? enquanto os americanos voltavam no
final daquela tarde, colocando seu corpo em um saco preto e então no alto de uma pilha de
corpos num caminhão que os levariam ao necrotério onde seriam embalsamados.
O embalsamador fez uma incisão sobre sua veia femoral esquerda para injetar o fluido de
embalsamamento e notou que havia um escoamento excessivo de sangue.
Os médicos foram chamados e concluíram que ele ainda estava vivo. Fizeram uma
checagem geral e o levaram direto para a sala de cirurgia, onde seu braço foi amputado.
Ele assistiu a tudo isso.
Eu sabia que ele havia se ferido no Vietnã, mas não tinha ouvido nada sobre ele ter tido essa
experiência. Ele me contou a respeito enquanto conversávamos sobre o Vietnã.
Eu acreditei nele até certo ponto, mas como cientista era preciso obter algum tipo de prova.
Então perguntei: “Você se importa se eu der uma olhada em sua virilha esquerda?” Eu o fiz, e
havia uma pequena cicatriz de dois centímetros bem acima de sua veia femoral esquerda. Para
mim, aquilo realmente me convenceu de que a história que ele contara era verdadeira.
Várias pessoas realmente pensavam que ele havia morrido no campo de batalha, mas ele
ainda estava consciente em um outro mundo. Seu comportamento enquanto estava nessa
situação era tranquilo e pacífico. Ele não estava horrorizado nem sofria dores terríveis. Acho
isso confortante. Também penso nisso quando trato de pacientes em coma. Será que eles estão
me observando de algum lugar?
De qualquer modo, o veterano do Vietnã foi convincente, mas não posso dizer em que
ponto comecei a acreditar que essas eram ocorrências reais. Tive de pesquisar várias pessoas
que tiveram EQMs, mas quando todas elas começaram a relatar basicamente a mesma história,
comecei a investigar se elas haviam ouvido ou lido a respeito ou se haviam tido acesso às
experiências de uma outra pessoa depois de ressuscitada.
A primeira coisa que me vinha à mente para perguntar a esses pacientes era: “Você leu o
livro de Raymond Moody, não leu?”. E eles não haviam lido. A maioria dessas pessoas era do
norte da Flórida. Eles não eram influenciados pela mídia ou coisa do gênero. Raramente liam
livros, e liam jornais somente ocasionalmente. No entanto, as experiências eram tão
semelhantes que seus relatos eram como se estivessem me contando um filme.
Durante minhas pesquisas ouvi sobre vários casos em que, enquanto alguém morria, outra
pessoa em outro lugar tinha consciência disso. Não incluí isso em meu livro, pois não achava
que telepatia estava realmente relacionada às EQMs. Agora, não tenho tanta certeza. Quanto
mais ouço a respeito, mais acredito que ela possa ser algum tipo de experiência fora do corpo.
Um exemplo surpreendente é o de um garoto de seis anos de idade que estava morrendo.
Ele estava recebendo intravenosas de morfina, mas após sua primeira ou terceira visões ele não
precisava mais dela, pois não sentia dor nenhuma.
Durante a primeira visão, ele viu um cavalo branco e uma esfera celestial, para a qual se
dirigiu. Lá ele falou com Deus.
Durante a segunda, ele contatou telepaticamente sua avó, que havia estado confinada a uma
cama por vários anos devido a uma grave artrite. Sei que isso aconteceu realmente porque o
garoto teve essa visão às quatro da manhã, a mesma hora em que a senhora idosa acordou e
insistiu para que seu enfermeiro a levasse ao hospital onde a criança estava internada. Quando
ela chegou, ele passava, em espasmos, por sua terceira visão, e parecia quase totalmente
incoerente. Ele faleceu pouco depois disso.
Eu sei que isso parece mais uma matéria do National Enquirer, mas essa e outras histórias
do tipo têm sido investigadas.
Após algum tempo, os fatos se tornaram tão impressionantes que eu não podia negar a
realidade da EQM. Ainda hoje, quando penso a respeito de uma forma tradicional, concluo que
havia descobrido algo do nada. Comecei então a ler algumas entrevistas que fiz com algumas
dessas pessoas e mais uma vez percebi que realmente havia algo aqui.
Infelizmente, esse sentimento não é compartilhado por muitas pessoas que controlam o
mundo das publicações médicas, onde há negativismo no que se refere à EQM, pois ela causa
um pouco de estranhamento.
E lamentável que esses editores médicos não nos permitam atingir mais profissionais com
informações sobre as EQMs, especialmente nestes tempos de alta tecnologia, quando tantas
pessoas estão sobrevivendo a calamidades médicas que costumavam matá-las. Hoje, o que um
dia era classificado como “visões do leito de morte” tomou-se uma EQM para o paciente que
precisa de aconselhamento sobre sua impressionante experiência. Se os médicos não sabem o
que tudo isso significa, eles não estão dando ao paciente aquilo que ele merece.
Michael Grosso
0 doutor Michael Grosso é um filósofo, e por causa disso ele ocupa um lugar de destaque
entre os pesquisadores da EQM. Em vez de reunir informação empírica, a exemplo de seus
colegas mais científicos, o doutor Grosso procura conexões entre experiências de quase-morte
e as grandes verdades filosóficas, mas ele também as encontra. Como veremos aqui, o doutor
Grosso encontra fortes ligações entre as experiências daqueles que passaram por EQMs e os
ensinamentos de grandes filósofos, de Platão a Cristo.
Contudo, ele encontrou também outras ligaçõesi Quando conversei com esse filósofo
treinado na Universidade de Colúmbia em sua residência em Riverdale, Nova York, fiquei
intrigado ao ouvir sobre sua crença de que as EQMs estão ligadas a vários outros fenômenos
parapsicológicos, como recepção de ondas de rádio. “Existem várias portas para o mundo
espiritual ”, diz o doutor Grosso, “e várias delas são mais acessíveis do que quase morrer”.
Para o doutor Grosso, a EQM é um vislumbre da religião não nominativa, a “religião
conforme Deus a concebera Aqui estão suas próprias palavras sobre o assunto.
Existe esse mito maravilhoso em Platão chamado “O mito da verdadeira Terra”. Ele é
contado por Sócrates» da prisão, onde está prestes a beber veneno como sua punição fatal por
“corromper” os jovens atenienses.
Ele está dialogando com seus seguidores a respeito da “verdadeira Terra” e do espírito
enquanto ele se liberta do corpo.
Nesse mito, ele diz:
Mas aqueles que viverem uma vida de completa santidade esses são os que são libertados do
confinamento nessas regiões terrenas, ascendendo até sua pura morada, fazendo sua
residência por sobre a face da Terra. E esses, que foram purificados o suficiente pela filosofia,
vivem juntos uma vida posterior sem seus corpos, e chegam a moradas ainda mais belas, muito
difíceis de descrever.
A observação interessante que Platão faz é que, nessa modalidade mais elevada na
verdadeira Terra, seres humanos estão em comunicação direta com os deuses.
Essa tem sido minha experiência com pacientes comEQM. Creio que eles se comunicaram
com os “deuses” como resultado de sua experiência, e por causa dessa comunicação temos
muito o que aprender com eles.
***
No período em que fazia meu doutorado, passei por um grande número de experiências
extraordinárias. Em uma delas avistei um OVNI, o que de certo modo ajudou a expandir minha
imaginação.
Então comecei a ler a respeito de parapsicologia e, poucos anos depois, deparei com
estudos sobre experiências de quasemorte. De repente, vi-me fazendo pesquisas sobre
evidências de vida após a morte.
O que particularmente me fascinou na EQM foi que parecia que aqueles que as tiveram
haviam visitado a “verdadeira Terra” descrita por Platão. Além disso, essas eram experiências
reais, e não simbólicas. Havia pessoas no século vinte que estavam tendo experiências que
ressoavam com as descrições das visões de Platão. Aquilo instigou minha imaginação.
Comecei a procurar essas pessoas que haviam tido tais experiências. Pensei que a maioria delas
não estaria disposta a falar, mas rapidamente descobri que ansiavam por alguém que as
ouvisse. Elas sempre caracterizavam nossas discussões com a seguinte frase:
“Sabe, eu não conto isso para a maioria das pessoas”. Daí me relatavam suas histórias
fascinantes.
Eu ficava empolgado a maior parte do tempo. Era como ouvir sobre uma viagem a um
outro país, um que eu mesmo temesse conhecer, mas sabia que teria de explorá-lo algum dia.
Por exemplo, uma mulher estava tendo um parto muito difícil quando seu coração parou de
repente. Os médicos imediatamente começaram a trabalhar nela vigorosamente enquanto seu
marido, que estava presente, entrava em pânico. Ele estava tão abalado que os médicos
praticamente o consideraram um segundo paciente na sala de cirurgia.
No entanto, eles conseguiram reanimá-la e fizeram o parto através de operação cesariana.
À noite ela contou ao marido que havia deixado o corpo e testemunhara do teto tudo o que
acontecia enquanto ela estava próxima da morte. Embora ainda estivesse um pouco atordoada,
ela contou que o havia visto sofrendo do canto do teto.
Outro paciente com EQM descreveu de maneira muito clara sua poderosa experiência, que
envolveu desde a experiência extracorpórea até a visão de toda sua vida passando diante de
seus olhos.
Entretanto, a EQM não o impressionou tanto quanto os efeitos que ela provocara. Ele
estava surpreso com sua sensibilidade amplificada. Ele era uma pessoa rígida e lógica antes da
experiência. Agora era muito mais flexível e imaginativo.
*** ,
A maior parte do tempo, minha reação era intelectual, pois eu tentava fazer conexões com
todo tipo de coisa. Por exemplo, encontrei conexões com O Livro Tibetono dos Mortos e com a
experiência de São Paulo na Bíblia. Ao ouvir esses contos eu me preenchia com reminiscências
de minha educação.
Por exemplo, existe uma história maravilhosa de São Tomás de Aquino, o filósofo e
teólogo do século doze, que escreveu profusamente até o fim de sua vida. Certo dia ele teve
uma visão da luz, após a qual disse: “Tudo o que escrevi é como palha”. Ele parou de escrever
e em um ano morreu silenciosa e misteriosamente.
Depois que ouvi todas essas histórias, senti que estava recebendo dessas pessoas comuns,
sem treinamento, sem interesses filosóficos ou místicos, uma visão de um reino de existência
sobre o qual só havia ouvido falar através de fontes como místicos, filósofos e poetas. De certa
forma, essas eram mais peças do quebra-cabeça: era o entusiasmo de ver uma imagem que
entrava em foco para mim. Isso era o meu entusiasmo.
Às vezes me pergunto se talvez o que um dos grandes sábios hindus disse é verdade. Sua
ideia era de que somente por estar na presença de um ser altamente evoluído, o choque que o
espírito sofre se toma menor, como se fosse um estender de mãos. Às vezes me pergunto
também se é essa a atração de se ouvir tais histórias, que dizem que somente por entrar em
contato com tais pessoas experimentamos uma espécie de absorção de energia.
Acho também que essa é uma verdadeira energia divina. Acredito, como tantos outros, que
a EQM é uma passagem para a dimensão divina da consciência humana, que é latente em todos
nós. Outros pesquisadores sugeriram ou argumentaram que existem outros meios de fazer
contato com essa dimensão da consciência. De certa forma, então, se usarmos o modelo
teutônico de conhecimento de Platão — esse conhecimento é uma lembrança de coisas que já
sabemos então essa consciência espiritual já se encontra latente dentro de nós.
Então pergunto se a razão para essa profunda atração pelas EQMs é que ao ouvirmos a seu
respeito, isso desperta uma memória guardada em nosso interior. E quase como que voltar para
casa. Os relatos dos que vivenciaram uma EQM são como ecos que ressoam de algum lugar
dentro de nós, assim desejamos continuar a ouvir histórias que nos despertam mais
completamente para essa consciência.
Ao mesmo tempo me ocorreram algumas perguntas. Como podemos explicar tais
experiências? São ilusões ou fantasias? Suponho que as que mais me impressionaram foram
aquelas em que havia algum tipo de experiência fora do corpo que pudesse ser constatada.
Quando esses relatos são precisos, não se pode ignorá-los.
Em geral, as EQMs são acontecimentos positivos que transformam as pessoas de modo
positivo. No entanto, ocorre ocasionalmente a EQM negativa. Sempre considerei com
seriedade as experiências negativas e me perguntava por que não ocorriam com maior
frequência. Elas provocam geralmente um efeito positivo nas pessoas, assim como as
experiências celestiais, mas podem ser absolutamente apavorantes quando acontecem.
Deixe-me contar um caso impressionante. Havia um jovem que tentara o suicídio. Ele
havia sido desajustado por toda a sua vida e pouco se importava com isso. Tivera algum tipo de
overdose de drogas e passou por dois diferentes estágios da experiência. 0 primeiro estágio
consistia apenas de dor, desconforto e terror, enquanto ele adentrava a quase-morte. Ele teve
um ataque cardíaco na presença de amigos e ficou azul.
Por sorte, conseguiram trazer uma equipe médica ao local, onde foi ressuscitado. Depois
que havia passado pela fase crítica da morte ele me descreveu a mais terrível história de EQM
que eu jamais ouvira.
Ele descreveu imagens de seres horrendos que tentavam segurá-lo com suas garras. Parecia
algo como a descida ao inferno de Dante. Ele tivera uma EQM claustrofóbica, hostil e
perturbadora, sem a menor chance de se tomar uma experiência positiva. Não houve
experiência fora do corpo, nenhum Ser de Luz, nada belo, nada agradável.
Contudo, a experiência o transformou totalmente. Eu podia sentir que ele era uma pessoa
diferente. Ele havia adquirido uma espécie de clareza. Ele demonstrava integridade e
autodeterminação. Ele não era particularmente talentoso ou ambicioso, mas possuía um
notável senso de direcionamento em sua vida.
Existe um fato muito estranho a respeito dessa história: Eu estava feliz por ter podido
gravar o relato detalhado de sua perturbadora EQM, mas depois de ele ter me contado tudo, eu
tentei ouvir o que eu havia registrado no gravador. Toda a experiência havia sido apagada. O
gravador que eu havia usado por aproximadamente dez anos jamais havia falhado antes, e não
tem falhado desde então. Quando tentei reproduzir a experiência, tudo havia sido apagado.
Não tenho explicação para isso. Talvez seja uma coincidência, mas é certamente um
detalhe curioso.
O estudo das EQMs me transformou de duas maneiras. Primeiro, sinto-me mais em contato
com a vida, e isso é um efeito libertador. Uma outra mudança interessante é que a experiência
de quase-morte oferece um vislumbre de várias coisas associadas à experiência religiosa.
Curiosamente, quando penso que já vi o suficiente a respeito, descubro que há sempre mais,
pois é pertinente a várias coisas em minha vida.
O aspecto religioso também significa muito para quem passou por uma EQM. E paradoxal
que várias das pessoas que tiveram uma EQM digam que o melhor momento de sua vida
aconteceu quando estavam à beira da morte. Isso me lembra Euripides, que disse: “Como saber
se os vivos não estão mortos e os mortos não estão vivos?”. Observe que isso sugere uma
inversão do senso comum. Acho isso atraente, embora muitos o considerem perturbador. Há
algo aqui quase surrealista, e sempre fui um admirador dos surrealistas. De certo modo, essas
experiências indicam que a nossa percepção óbvia e normal do mundo pode estar equivocada.
***
Houve tentativas de se explicar as EQMs como um mecanismo biológico que é ativado
quando a morte se aproxima. Não aceito tal explicação, pois não consigo ver como um
organismo humano possa se beneficiar dessa experiência depois que o processo de morte
irreversível se instala. Acho difícil imaginá-la como uma função biológica, pois seria um
paradoxo. Que bem faria ao corpo evoluir desse jeito?
Já a evolução espiritual é outra questão. Como um filósofo disse certa vez: “A genialidade
acontece quando se está prensado contra a parede”. Como uma sociedade, estamos
definitivamente prensados contra a parede, uma parede nuclear. Se pensarmos a respeito, não
sobreviveremos biologicamente por muito tempo nesse ponto, a menos que tenhamos evoluído
ou involuído espiritualmente, já que acredito que o que fazemos representa um retomo ao
conhecimento espiritual dentro de nós.
Pode até ser que no incompreensível esquema de evolução, o desenvolvimento dessa
tecnologia autodestrutiva irá, na verdade, estimular o despertar espiritual. Talvez a evolução
espiritual seja oque acontece conosco quando, enquanto espécie, não nos restam alternativas.
Acredito que o risco de autodestruição em massa através de armamentos sofisticados força
o acontecimento dos fenômenos que parecem ocorrer agora.
A experiência de quase-morte é apenas um entre vários padrões que surgiram durante esse
acelerado desenvolvimento intelectual e técnico.
Todos esses acontecimentos espirituais têm características comuns. Existem algumas
relações interessantes entre certas EQMs profundas e EQMs proféticas, por exemplo ver a
“Visão do Futuro” no Capítulo 1. Também existem associações entre alguns dos casos de
contatos com OVNIs e os incríveis padrões de aparições coletivas chamadas visões Marianas,
em que a virgem Maria toma-se visível em paredes ou outros objetos em certas cidades.
Acredito que haja uma correlação fundamental que todas essas experiências sejam
manifestações de uma transformação de consciência coletiva, que ocorrem em virtude de um
possível aniquilamento nuclear.
É interessante, no entanto, que os fenômenos relacionados a OVNIs tenham ganhado força
em 1947, alguns anos após a primeira bomba nuclear. Ao mesmo tempo houve um repentino
crescimento mundial das aparições Marianas.
Acredito também que o assim chamado fenômeno da captação, no qual as pessoas podem
comunicar-se com os mortos, seja uma versão do processo de abertura. Na verdade, pode-se
dizer que o fenômeno da captação é um caminho fácil para as EQMs, uma abertura que não
ameaça a vida, do mesmo mundo de consciência que é aberto numa EQM. Acho que as pessoas
que têm todas essas experiências passam por uma mesma porta, mas de diferentes modos.
***
Essa maneira de pensar não ameaçou minha reputação, nem contribuiu para aumentá-la,
entre meus colegas. Alguns dos meus colegas da Faculdade Estadual da Cidade de Jersey, onde
leciono, dispuseram-se a discutir tais fenômenos, mas um número equivalente demonstrou
antagonismo.
Os acadêmicos tendem a associar o estudo desses eventos a algo retrógrado, supersticioso e
irracional. Essa atitude não me prejudicou, como também não me ajudou junto aos meus
colegas. Suponho que deveria ser grato pela gentil neutralidade.
Doutor Kenneth Ring
Eu sempre disse que foi Kenneth Ring que legitimou meu trabalho. Uma vez que meu livro
dependia das “histórias” de EQM de várias dezenas de pessoas, das quais eu pude descobrir
alguns padrões, ele foi duramente criticado pela comunidade médica. Eles sentiram que minha
abordagem do assunto era demasiadamente como a de um repórter, e pouco como a de um
cientista. Felizmente Ring estava lá para acrescentar o aspecto científico:
Ele havia tomado conhecimento das EQMs quando estudava psicologia, mas só ficou
intrigado o suficiente para estudar a EQM quando leu A Vida Depois da Vida, em 1977. \
Ring examinou com detalhe as experiências de 102 pacientes e conseguiu demonstrar que
a religião é um fator tão sem importância quanto ar raça nas experiências de quase-morte. 0
mesmo podia ser dito a respeito da idade. Ele também confirmou minhas descobertas de que a
EQM é principalmente uma experiência positiva, e que a pessoa que passa por ela é
transformada.
0 trabalho de Ring é uma referência para todos aqueles que fazem pesquisas significativas
sobre a EQM. Como vimos no Capítulo 1, o método e as perguntas que ele elaborou para seu
estudo tomaram-se padrão para os pesquisadores da EQM. Os resultados de seus estudos
estão contidos em seu livro, Life at Death: A Scientific Investigation of the Near-Death
Experience {Vida na Morte: Um Estudo Científico da Experiência de QuaseMorte. Eis aqui
sua história.
Precisei apenas ouvir a primeira história sobre experiência de quase-morte para ficar
fascinado. Foi em 1977, depois de ter lido o suficiente sobre esse fenômeno para realizar uma
pesquisa.
No entanto, aquela primeira experiência era tudo o que eu precisava.
Eu queria ouvir mais e mais.
A primeira história que ouvi foi a de uma mulher que sofrera uma queda de pressão muito
rápida durante o parto. De repente, tudo ficou escuro. Quando ela “recobrou a consciência”,
estava no alto da sala de cirurgia, observando os médicos enquanto eles trabalhavam para
revivê-la e retirar a criança.
Ela não atravessou nenhum túnel nem viu qualquer Ser de Luz, mas os pensamentos
começaram a invadir sua mente, como se alguém estivesse conversando com ela. Eles disseram
que ela ficaria bem e que tinha de retomar ao corpo. “Você sentiu o gosto disso”, disse a voz.
“Agora você deve voltar”.
A voz revelou a ela que seu bebê deveria chamar-se Peter (até então eles planejavam
chamá-lo de Harold) e que ele teria um problema de coração que deveria ser corrigido
rapidamente.
Aconteceu exatamente isso, conforme dissera a voz.
Essa história me fascinou, mas tenho de admitir que não fui sempre interessado em
experiências de quase-morte. Em meu papel como psicólogo, eu me interessava por estados
alterados de consciência, razão pela qual eu li pela primeira vez alguns artigos sobre o assunto
em publicações médicas. As experiências sobre as quais li revelavam o que acontece a alguém
no limiar da morte. Depois disso, li alguns livros sobre parapsicologia, e então li A Vida Depois
da Vida. Fiquei fascinado. Lembro que tive uma sensação eletrizante enquanto o ua sentado em
meu quintal. Até mesmo comecei a rascunhar ideias para projetos de pesquisa em suas
margens. Meu primeiro sentimento foi: “Isso é o que quero fazer”.
Decidi elaborar um projeto próprio que respondesse a algumas perguntas sobre a
experiência:
♦ Quantas pessoas passam pelos cinco estágios gerais de uma EQM (sentimento de paz,
separação do corpo, penetração na escuridão, visão da luz e penetração na luz)?
♦ A religião tem efeito sobre a EQM?
♦ Quais eram os efeitos resultantes de uma EQM? Eles realmente faziam as pessoas sentirem
menos medo da morte e aceitarem melhor a vida?
Eu queria responder a essas perguntas, mas tinha antes de encontrar pessoas que
houvessem vivenciado uma EQM. A fim de fazê-lo, fui até alguns hospitais de Connecticut e
dei palestras para vários comitês para familiarizar os funcionários com o que eu desejava fazer.
Tive de falar muito para convencer os mais resistentes nesses hospitais de que minhas
pesquisas eram válidas. Finalmente, consegui permissão para executar o trabalho que eu
precisava realizar. Recebi dos hospitais até mesmo referências sobre pessoas que haviam
estado próximas da morte ou clinicamente mortas. Visitei então seus médicos para conseguir
autorização para falar com elas.
' Não me importava se elas tinham passado por uma EQM ou não, já que um dos propósitos
do estudo era descobrir quantas das pessoas que haviam estado próximas da morte haviam tido
alguma dessas experiências. Eu esperava que várias tivessem, pois desejava ouvir sobre mais
outra EQM.
Bem, a segunda pessoa com quem conversei havia vivenciado uma EQM.
Eu estava tão empolgado que parecia estar sentado em dinamite, e sinto-me assim até hoje,
não importa quantos desses pacientes eu ouça.
Era costume eu dirigir até a região da Nova Inglaterra para entrevistar alguma pessoa que
tivesse vivido uma EQM. Nesse momento, a pessoa já havia deixado o hospital, então eu me
sentava em sua sala de visitas e conduzia a entrevista. Depois eu dirigia de volta a Hartford
ouvindo a fita gravada da conversa durante o percurso. Eu estava tão empolgado com esses
relatos que os ouvia várias e várias vezes.
Eu não iria tão longe a ponto de dizer que eu estava tendo uma experiência religiosa
enquanto ouvia essas histórias, mas confesso que o envolvimento com as EQMs lhe causa um
certo “impacto”. Sabe aquela sensação que se tem quando se conversa com alguém que visitou
uma terra distante sobre a qual sempre estivemos curiosos, ou quando se tem a oportunidade de
falar com um astronauta ou outro tipo de explorador? É um sentimento semelhante, como se
estivéssemos fazendo contato com uma ordem espiritual mais elevada.
O mais engraçado é que as pessoas com quem falei apreciavam as entrevistas tanto quanto
eu. Várias jamais haviam falado com ninguém sobre suas experiências, ou o haviam feito
hesitantemente, pois o que precisavam era simplesmente desabafar. Geralmente elas eram mal
interpretadas e algumas vezes até ridicularizadas.
Encontrar alguém como eu, que tinha interesse genuíno em suas EQMs as aliviava do peso
em sua mente. Elas podiam confiar em mim e sabiam que eu podia compreender. Elas
frequentemente me faziam tantas perguntas quantas eu fazia a elas.
Algumas queriam saber se eram “especiais”; outras se eram “loucas”. Faziam perguntas
sobre por que se sentiam tão diferentes' depois da EQM e por que suas famílias não apreciavam
a experiência. Em quase todos os casos que ouvi, elas somente queriam conversar com alguém
que as compreendesse e não as julgasse. Para elas eu era alguém aberto que não desejava impor
limites às suas experiências.
Em praticamente todos os casos, elas diziam: “Essa é a experiência mais profunda, mais
secreta e mais espiritual que jamais tive”. Elas me contavam e eu acreditava. Eu podia verem
seus olhos que suas palavras podiam exprimir talvez apenas um milésimo da experiência.
Certamente havia algo pessoal e sagrado sendo compartilhado.
Meu entusiasmo tomava difícil seguir as perguntas que eu havia programado. Às vezes eu
me repreendia por ficar tão emocionado, até que percebi que conversando com tais pessoas eu
me conectava a uma fonte de insight espiritual Eu tinha de me abrir, a menos que fosse algum
tipo de pedra.
Por exemplo, aqui está uma transcrição de um relato sobre uma poderosa EQM sofrida por
uma mulher que quase morrera em consequência de uma cirurgia nos intestinos:
Lembro-me de estar acima da cama não estava mais nela olhando para meu próprio corpo
deitado e me lembro de ter dito a mim mesma: “eu não quero ser cortada”. Sei que os médicos
trabalharam em mim por várias horas, e lembro de primeiro ter pairado por sobre meu corpo
e depois de estar dentro de um vale. Esse vale me lembrava de algo que eu descreveria como o
vale da sombra da morte. Lembro-me também de que era um belo vale, muito agradável, e
nesse momento me sentia muito tranquila. Lá encontrei uma lipessoa, e mais tarde percebi que
era meu [falecido] avô, que eu jamais conhecera. Lembro-me de que ele me disse: “Helen, não
desista. Ainda precisam de você. Ainda não estou pronto para você”. Era algo mais ou menos
assim. Então ouvi uma música, que de certo modo parecia música de igreja, música espiritual.
Havia algo de triste nela, algo impressionante.
Ouvi milhares dessas histórias, mas nunca consegui parar de lhes dar atenção. As pessoas
me dizem: “Eu sei que você já ouviu todas as histórias de que precisava, mas eu tenho mais
uma”. E eu continuo com a mesma empolgação. Não é um vício, mas certamente algo do qual
nunca me canso.
Sinto-me tão íntimo dessas pessoas que faço algo que psicólogos não devem fazer com seus
pacientes. Eu os chamo de “amigos”. Na verdade, tenho mantido contato com várias das
pessoas que entrevistei para o estudo.
Acho que isso aconteceu porque compartilhamos algo difícil de entender para algumas
pessoas. Isso criou um vínculo que transcendeu o relacionamento habitual entre psicólogo e
paciente. Além disso, é muito agradável estar na companhia dessas pessoas; portanto, seria
uma pena encontrá-las apenas uma vez. Várias vezes lhes pergunto se gostariam de comparecer
a uma de minhas aulas ou participar de programas de rádio ou televisão.
É claro que se toma muito difícil ter de pesquisar seus próprios amigos.
Pesquisar as experiências de quase-morte mudou minha vida de várias formas. Por
exemplo, fiquei mais “espiritualizado”. Não religioso, veja bem, mas espiritualizado. E qual é a
diferença? Um sábio disse certa vez: “Uma pessoa religiosa segue os ensinamentos de sua
igreja, enquanto a espiritualizada segue a orientação de sua alma”.
O estudo das EQMs me fez acreditar nisso. Se você examiná-las, as experiências sustentam
várias das grandes religiões do mundo. Que mensagem os que atravessam uma EQM tentam
passar? Que o conhecimento e o amor são as coisas mais importantes. Foram as religiões
formais que adicionaram o dogma e a doutrina.
Lidar com as EQMs também mudou o que sinto a respeito da vida após a morte. Na
verdade, nem uso mais esta frase. Em vez disso, acredito que exista apenas vida. Quando o
corpo físico pára de funcionar o espírito o abandona e continua a viver.As EQMs me deram
uma boa ideia de como é a separação f do espírito do corpo. Elas me convenceram de que existe
apenas vida, e que a morte é algo que vemos do lado de fora.
Meus estudos também me ensinaram a não temer o fim, do modo como o conhecemos. Eu
aguardo ansioso por tal experiência, seja eia como for.
Bobert Sullivan
Estou no ramo de plásticos como um meio de ganhar a vida”, diz Bob Sullivan, “Mas não
é isso o que eu sou ”. Na realidade, este residente da Pensilvânia é um pesquisador de EQMs.
Sua especialidade: esclarecer as EQMs.
Sullivan começou a interessar-se pelas EQMs no final dos anos setenta, após ouvir uma
palestra de Kenneth Ring.
Fiquei intrigado com o assunto ”, conta Bob. “Perguntei a Ring se havia alguma pesquisa
sobre o que acontece com pessoas em combate. Ele disse que não havia nenhuma, e sugeriu
que eu a fizesse. Então decidi me tomar um pesquisador naquele momento”.
Sullivan possuía todas as qualidades necessárias para pesquisar o assunto. Além de
curiosidade, ele possuía experiência militar, tendo servido o exército nos anos sessenta e como
reservista por vários anos depois. Além disso, ele havia estudado psicologia na faculdade, mas
possuía uma visão bem reducionista sobre o assunto. “Para mim, tudo se resumia em
substâncias e impulsos elétricos ”, diz ele. Paralelamente ao trabalho com os negócios da
família, Sullivan oferecia aconselhamento em um hospital local, onde lidava com pessoas que
ameaçavam tentar suicídio.
“Todo o tempo que passei fazendo esse aconselhamento ajudou-me a lidar com as EQMs”,
diz Sullivan. “No decorrer de minha pesquisa deparei com alguns casos realmente
impressionantes, e para conseguir tudo o que me interessava eu tinha dê realmente
pesquisar”.
Agora Sullivan está de volta aos negócios como presidente de uma indústria de plásticos,
mas em seu tempo livre, pormenor que seja, ele ainda dá palestras sobre o fenômeno da EQM.
Durante os três anos em que realizei pesquisas sobre a EQM conversei com
aproximadamente quarenta veteranos de guerra que haviam passado por ela. Os relatos iam
desde ocorrências altamente detalhadas até sensações de paz e tranquilidade de soldados
gravemente feridos. No geral, suas experiências eram as mesmas que as das pessoas que não
haviam experimentado a intensidade de um combate, o que serve como mais uma prova de que
elas transcendem as culturas, no verdadeiro sentido da palavra.
Uma EQM aconteceu com um sujeito que chamarei de Tom. No Vietnã, ele pisou em uma
mina que literalmente arrancou sua perna. Ele teve a experiência completa: deixou o corpo,
projetou-se por um túnel, viu um Ser de Luz e assistiu a todo um retrospecto de sua vida. De
repente, já estava lá no campo de batalha, com lama que subia pelos ares e sangue que jorrava
de seu corpo.
Quando os médicos chegaram, ficaram chocados. Lá estava ele sem uma perna e tudo o que
falava enquanto lhe colocavam um torniquete dizia respeito à sua viagem através do túnel.
Essas pessoas eram incríveis, mas ao contrário dos relatos de EQM de cidadãos comuns,
alguns tinham experiências incomuns relacionadas ao combate.
Por exemplo, dois indivíduos me contaram que podiam ver balas vindo em sua direção,
mas tinham tempo suficiente para desviar delas. Disseram que, para eles, as balas pareciam
bolas de beisebol, objetos tão visíveis que podiam esquivar-se delas como um jogador de
beisebol se esquiva de uma bola rebatida.
Um veterano da Segunda Guerra afirmou que possuía visar [ de trezentos e sessenta graus
enquanto fugia de rajadas de metralhadoras alemãs. Não só podia ver o que estava à sua frente
como ' também via os atiradores tentando atingi-lo por trás. Outro veterano contou que podia
prever com cem por cento de precisão quem estava preste a ser morto ou ferido antes de um
conflito. Quando a notícia de que ele possuía tal habilidade se espalhou, os soldados faziam fila
ao lado de seu beliche todas as manhãs para saber quem morreria naquele dia.
A exemplo de todos os que passam por EQMs e suas ocorrências metafísicas, essas pessoas
não desejavam possuir tais poderes. Elas simplesmente os tinham, e eram tão inexplicáveis
para elas quanto o são para nós que os estudamos.
Tudo isso me diz que toda vez que pensamos ter abrido uma porta para a compreensão das
EQMs encontramos muito mais portas abertas. Nesse caso, outras questões parapsicológicas
vêm à tona nas investigações sobre EQMs. Para elas e para as EQMs não tenho explicação
alguma, apenas suposições.
Quase todo mundo me pergunta o que eu acho que as EQMs são. Faço a mesma pergunta a
mim mesmo: São um vislumbre do mundo do além ou simplesmente uma combinação química
peculiar? Minha resposta: Não sei.
Quando ouvi a respeito pela primeira vez, pensei que as EQMs eram uma porta aberta para
o mundo do além. Juntei tudo o que havia aprendido sobre psicologia, química, filosofia e
religião e comecei a investigar tão minuciosamente quanto podia. O problema é que cada
pergunta levantava mais outras doze. Essa eterna falta de compreensão tem sido minha
principal frustração.
Agora concluo que talvez o real significado de uma EQM não possa ser determinado.
Acredito que as EQMs sejam um vislumbre de um outro plano de realidade. Mas seriam elas a
vida após a morte? Simplesmente não sei.
Acredito realmente que as EQMs são uma desculpa para falarmos da morte, que é um
assunto pelo qual somos profundamente interessados, mesmo que num nível subconsciente4
Esse é o modo mais positivo que conheço para discutir o assunto.
Darei um exemplo disso. O sujeito para quem vendi minha empresa vários anos atrás era
um homem de negócios conservador e rígido.
Depois que assinamos os contratos ele me levou para jantar e me perguntou o que eu
planejava fazer, agora que estava livre das preocupações com negócios. Pensei que ele fosse
me considerar um louco caso eu lhe contasse que iria estudaras EQMs, mas prossegui mesmo
assim.
Ele ficou fascinado. Contou-me então sobre sua tia, que havia vivido uma EQM. Passamos
então uma noite inteira conversando animadamente sobre a morte. Achei depois que as pessoas
sentadas em outras mesas pensaram que estávamos conversando sobre um time de beisebol ou
coisa do gênero. Mas não estávamos. Falávamos sobre a morte.
Cheguei a algumas conclusões irrefutáveis sobre pessoas que têm experiências de
quase-morte.
Por exemplo* não acho que quem passa por tal experiência irradia um tipo especial de
energia. Certamente você pode senti-lo quando está próximo a eles.
Certa noite, eu tinha de dirigir por uma nevasca para fazer uma palestra sobre as EQMs.
Pensei que ninguém apareceria por causa do tempo, mas quando cheguei lá havia cinquenta
pessoas me aguardando.
Fiz minha pequena palestra sobre as EQMs e então abri para perguntas. Várias pessoas na
plateia haviam passado por EQMs e começaram a contar suas histórias. A sessão continuou por
aproximadamente duas horas.
Devo confessar que depois que tudo terminou eu estava positivamente “alto”. Era como se
eu tivesse tomado drogas. Fiquei acordado a maior parte da noite por causa da energia que
essas pessoas compartilharam.
Desde então, eu chamo isso de “experiência de aura grupai”. Várias pessoas que conheço a
tiveram. O que torna os pesquisadores da EQM viciados no assunto é certamente a energia que
recebem dessas pessoas.
Outra conclusão a que cheguei é que as EQMs são experiências positivas, mesmo entre
veteranos devastados pela guerra. Isso é importante diante do estresse pós-traumático pelo qual
vários veteranos passam. Embora vários indivíduos que passaram por uma EQM com quem
conversei tivessem sentido o estresse pós-combate, eles acabaram por compreender a EQM à
luz de suas outras experiências e tomaram-se pessoas melhores como resultado disso.
7 Explicações
Existem várias tentativas de explicar as experiências de quase-morte como algo diferente
de eventos espirituais ou vislumbres do além-mundo. Pretendo apresentar o maior número
possível de discussões como essas e oferecer meu ponto de vista, além do ponto de vista de
outras pessoas. Mas, primeiro, quero discutir por que acredito que as EQMs são experiências
espirituais.
Como você verá nesse capítulo, existem várias teorias teológica, médica e psicológica que
tentam explicar a experiência de quase-morte como um fenômeno físico Ou mental que está
mais relacionado com uma disfunção do cérebro do que com uma aventura do espírito.
Entretanto, há duas coisas que apresentam uma enorme dificuldade para esses
pesquisadores: Como os pacientes podem dar detalhes tão elaborados dos ressuscitamentos,
explicando de maneira integral o que os médicos estavam fazendo para trazê-los de volta à
vida? Como tantas pessoas podem explicar o que estava acontecendo nas outras salas de um
hospital enquanto o corpo deles estava na sala de cirurgia sendo ressuscitado?
Para mim, esses são os pontos de maior dificuldade para os pesquisadores de EQMs. Na
verdade, até agora foram incapazes de explicar, exceto com uma única resposta: essas
experiências realmente ocorreram.
Antes de apresentar a grande variedade de explicações que existem acerca das EQMs,
vamos dar uma olhada em alguns exemplos desses eventos inexplicáveis.
Um homem de quarenta e nove anos sofreu um ataque cardíaco tão severo que, após trinta e
cinco minutos de esforços vigorosos de ressuscitamento, o médico desistiu e começou a
preencher o atestado de óbito. Então alguém percebeu um sopro de vida, e o médico voltou ao
seu trabalho com a massagem cardíaca e os equipamentos respiratórios e foi capaz de reavivar
o coração do homem.
No dia seguinte, quando já conseguia falar com mais coerência, o paciente foi capaz de
descrever com grande detalhe o que á ocorrera na sala de emergência. Isso surpreendeu o
médico, mas o que o deixou ainda mais perplexo foi a descrição vívida que o paciente fez da
enfermeira do pronto-socorro qpe entrou correndo na sala para auxiliar o médico.
Ele a descreveu perfeitamente, desde o seu penteado até o sobrenome, Hawkes. Ele disse
que ela empurrou um carrinho pelo corredor com uma máquina que tinha o que pareciam se
duas raquetes de pingue-pongue (aparelho de eletrochoque que é um equipamento básico do
ressuscitamento).
Quando o médico perguntou como ele sabia o nome da enfermeira e o que ela fizera
durante seu ataque cardíaco, ele disse que saiu do corpo e enquanto caminhava pelo corredor
para ver a esposa passou pela enfermeira Hawkes. Assim pôde ler seu crachá enquanto passava
por ela, e guardou na memória para poder agradecer mais tarde.
RAYMOND A. MOODY JR,
Conversei com o médico por muito tempo sobre esse caso. Ele estava bastante atordoado
com o fato. Estar ali, ele disse, era a única maneira de esse homem poder ter contado o que
aconteceu com tamanha exatidão.
Em Long Island, uma mulher de setenta anos que era cega desde os dezoito foi capaz de
descrever com riqueza de detalhes o que estava acontecendo à sua volta enquanto os médicos a
ressuscitavam após uma parada cardíaca.
Ela não apenas descreveu como eram os instrumentos, mas também descreveu suas cores.
O mais surpreendente de tudo isso para mim é que a maioria desses instrumentos não tinha
sequer sido concebida cinquenta anos atrás quando ela ainda podia ver. Além de tudo isso, ela
também foi capaz de dizer ao médico que ele estava usando um temo azul quando iniciou o
processo de ressuscitamento.
*
**
Outro caso surpreendente que mostra que as EQMs são mais do que simples truques da
mente me foi contado por um médico na Dakota do Sul.
Dirigindo até o hospital certa manhã, ele bateu na traseira de um carro. Foi uma experiência
muito perturbadora. Ele estava bastante preocupado que as pessoas no outro carro reclamassem
por ter sofrido danos no pescoço e o processassem por uma grande soma em dinheiro.
O acidente o deixou perturbado e não saiu de sua mente durante toda a manhã quando ele
correu para a sala de emergência para reavivar uma pessoa que estava sofrendo uma parada
cardíaca.
No dia seguinte, o homem que foi salvo contou-lhe uma história marcante: “Enquanto você
me salvava, saí do corpo e observei seu trabalho”.
0 médico começou a fazer perguntas sobre o que o homem havia visto e ficou surpreso com
a exatidão de sua descrição. Com detalhes precisos, ele contou ao médico como eram os
instrumentos e até mesmo a ordem em que foram usados. Descreveu as cores dos
equipamentos, formas, e até mesmo as configurações estabelecidas nos botões das máquinas.
No entanto, o que finalmente convenceu esse jovem cardiologista de que a experiência do
homem era genuína foi quando ele disse: “Doutor, deu para perceber que o senhor estava
preocupado com o acidente. Mas não há por que se preocupar com coisas assim. Você dedica
seu tempo às outras pessoas. Ninguém irá machucá-lo”.
Esse paciente não percebeu apenas os detalhes físicos à sua volta, mas também leu a mente
do médico.
Após uma palestra dirigida aos médicos da base do Exército Americano em Fort Dix, Nova
Jersey, um homem se aproximou econtou sobre sua EQM marcante. Mais tarde confirmei a
experiência com seus médicos.
Eu estava extremamente doente e próximo da morte com meus problemas cardíacos ao
mesmo tempo em que minha irmã estava próxima da morte em outra parte do mesmo hospital
mm coma diabético. Deixei meu corpo efui até o canto da sala, onde observei os médicos
trabalharem em mim.
De repente, encontrei-me conversando com minha irmã, que também estava no alto da
sala. Sempre fui muito apegado a ela, e estávamos tendo uma ótima conversa sobre o que
acontecia ali embaixo, quando ela começou a se afastar de mim.
Tentei segui-la, mas ela continuava dizendo que eu deveria ficar onde estava. “Não é sua
hora”, ela dizia. “Você não pode vir comigo porque não é sua hora”. Então ela começou a se
afastar e a desaparecer por um túnel enquanto fui deixado ali sozinho.
Quando acordei, disse aos médicos que minha irmã havia morrido. Eles negaram, mas
com a minha insistência, enviaram uma enfermeira para verificar. Ela havia de fato morrido,
exatamente como eu tinha dito.
Esses são apenas alguns poucos casos que provam que as EQMs são mais do que apenas
alucinações ou “pesadelos”. Não existe explicação lógica para as experiências dessas pessoas.
Embora as experiências de túnel e os Seres de Luz possam facilmente*ser descartados como
meros “truques da mente”, as experiências fora do corpo aturdem até mesmo os mais céticos da
profissão* médica.
Agora vamos dar uma olhada em algumas das teorias acerca das EQMs e por que não
funcionam realmente como explicações desse fenômeno.
Carl Sagan: Nascimento como a Experiência do Túnel
Carl Sagan, notório cientista e astrônomo da Universidade Comell, está entre aqueles que
tentaram explicar a experiência de túnel como memórias perdidas da experiência do
nascimento.
Superficialmente, a comparação faz sentido. Todas as pessoas do mundo vi venciam o
nascimento, o que poderia explicar por que as EQMs são iguais quer ocorram na cultura
budista ou batista.
Passar pelo canal do nascimento e ser puxado para um mundo brilhante e colorido por
pessoas que estão felizes em vê-lo são coisas que a maioria de nós já vivenciou.
Não é de se surpreender que Sagan faça a conexão entre nascimento e morte. Em seu
best-seller, Broca's Brain: Reflections on the Romance of Science (Cérebro de Broca: Reflexões sobre o
Romance da Ciência), Sagan escreve:
A única alternativa, até onde posso ver, é que todo ser humano, sem exceção, já
compartilhou uma experiência igual à desses viajantes que retomam da terra da morte: a si
sensação de voar; a emergência da escuridão para a luz/ uma experiência na qual, pelo menos
às vezes, uma figura heroica pode ser vista com pouca clareza, banhada em luz e glória. Existe
apenas uma experiência comum que se encaixa nessa descrição. É chamada nascimento.
A teoria de Sagan pode parecer lógica, até que você faça o que Carl Becker fez. Esse
professor de filosofia da Universidade de Illinois examinou uma pesquisa pediátrica para
determinar quanto uma criança sabe em seu nascimento e quanto pode lembrar da experiência.
Sua conclusão: os bebês não lembram de ter nascido e não têm faculdades para reter a
experiência no cérebro.
Aqui está o exame ponto a ponto de Becker sobre a discussão:
♦ A percepção infantil é muito pobre para ver o que está acontecendo durante o nascimento. Na
teoria de Sagan, a pessoa que passa por uma EQM e é recebida por Seres de Luz está
simplesmente revivendo a experiência de sair pelo canal do nascimento e ver a parteira, o
médico ou o pai.
Mas Becker aponta para a falha dessa suposição ao referir-se a estudos extensos da percepção
infantil que mostram que a mente da criança ainda não está desenvolvida o suficiente para
perceber muita coisa.
O estudo mostra que os recém-nascidos não conseguem distinguir figuras. Outros estudos
mostram que:
♦ Os recém-nascidos não apresentam reações à luz, a menos que exista um contraste de pelo
menos setenta por cento entre a luz e a escuridão.
♦ Eles raramente focalizam ou se fixam num objeto, e quando isso acontece, conseguem
apenas examinar um pequeno segmento do objeto por um curto período de tempo.
♦ Os recém-nascidos têm “foco não centralizado”, o que significa que quando conseguem
focalizar, focalizam uma porção próxima e altamente contrastiva de um objeto e não o
objeto como um todo.
♦ Metade dos recém-nascidos não consegue coordenar a visão de objetos à distância de um
braço. E nenhuma criança com menos de um mês consegue focalizar completamente um
objeto a um metro e meio de distância.
♦ Os movimentos oculares das crianças são “rápidos e desorganizados”, especialmente
quando estão chorando. E, nesses casos, os olhos ficam frequentemente embaçados pelas
lágrimas, especialmente no nascimento.
Outro ponto apoiado pelos estudos é o fato de as crianças terem pouca memória para
formas ou padrões. E como o cérebro nessa fase não está bem desenvolvido e ainda não foi
exposto à vida fora do útero, elas têm pouca capacidade para codificar o que veem.
Mesmo que fosse verdade que a EQM é algum tipo de reprise dramática da experiência do
nascimento, preciso perguntar se ela seria revista num contexto tão positivo quanto é a
experiência de quase-morte para a grande maioria das pessoas. Afinal, o nascimento envolve
uma grande ruptura do universo do bebê não nascido. Os bebês são trazidos para um mundo
onde são virados de cabeça para baixo, espancados, e cortados com tesouras para se separar do
cordão umbilical.
Se a EQM fosse uma reprise da experiência do nascimento, como sugere Sagan,
provavelmente não seria uma transformação tão positiva para a maioria das pessoas.
Uma nota final sobre a teoria de Sagan. A experiência do túnel frequentemente envolve
uma passagem rápida em direção à luz no final do túnel. Na experiência real do nascimento, o
rosto da criança é pressionado contra as paredes do canal do nascimento. Elas não estão
olhando para cima e vendo uma luz que se aproxima, como sugere a teoria de Sagan. Não é
possível ver nada enquanto são empurradas para sua-entrada no mundo.
Sobrecarga de Dióxido de Carbono e a Experiência do Túnel
A experiência do túnel foi chamada por alguns como “o portão para o mundo do além” e
geralmente é descrito como a sensação que você teria se estivesse passando rapidamente por
um túnel em direção a um ponto de luz crescente no final.
Alguns pesquisadores sentem que a experiência do túnel nas EQMs é causada pela reação
do cérebro aos níveis elevados de dióxido de carbono (C02) no sangue. Esse gás é um
subproduto do metabolismo do corpo o oxigênio é inspirado, e o ar que contém níveis maiores
de C02 é eliminado. Quando uma pessoa pára de respirar, devido a uma parada cardíaca ou um
trauma severo, o nível de C02 na Corrente sanguínea aumenta rapidamente. Quando o nível fica
alto demais, os tecidos começam a morrer.
Como a inalação de C02 foi usada na década de cinquenta como uma forma de psicoterapia,
seus efeitos foram vivenciados por urna série de pacientes e seus sintomas são bem conhecidos.
Existem estudos de casos sobre essa técnica já abandonada que descrevem a experiência como
uma sensação de viajar por um túnel ou cone, ou ser cercado por luzes brilhantes.
Não existem relatos de que a inalação de C02 seja acompanhada de coisas como Seres de
Luz e revisões da vida.
Eu até poderia aceitar a crença de que o excesso de C02 causa a experiência do túnel se não
fosse pela pesquisa do doutor Michael Sabom.
Em um de seus casos, o cardiologista de Atlanta coincidentemente mediu os níveis de
oxigênio no sangue de um paciente no exato momento em que uma poderosa EQM acontecia, e
descobriu que o nível de oxigênio estava acima do normal.
Isso questiona a teoria da experiência do túnel como uma sobrecarga de COr No mínimo, o
estudo de caso de Sabom aponta para a necessidade de sé pesquisar mais a fundo antes de
chegara uma conclusão.
Essas Pessoas Precisam Estar Perto da Morte?
Muitos céticos disseram que as EQMs são causadas simplesmente pelo fato de o corpo
estar sob estresse, ou pelo fato de a pessoa estar muito doente. Embora admitam que as EQMs
ocorram com pessoas que quase morreram, eles também acreditam que a mesma experiência
pode ser vivenciada por pessoas com doenças graves, mas que não ameaçam a vida.
Para testar essa teoria, o doutor Melvin Morse entrevistou onze crianças, com idades entre
três e dezesseis anos, que sobreviveram ao seu encontro com a morte. Foram incluídos jovens
que tivessem estado em coma e que fossem vítimas de parada cardíaca.
Sete dessas crianças apresentavam elementos da experiência de quase-morte, incluindo
memórias de estar fora do corpo, entrar na escuridão, estar num túnel e decidir retomar ao
corpo,
Esses onze pacientes foram comparados a vinte e nove crianças da mesma idade que
sofreram de doenças sérias com baixo índice de mortalidade e que não envolviam encontros
com a morte. Nenhuma das crianças desse grupo tinha lembranças de qualquer elemento da
EQM.
Isso levou Morse e sua equipe de pesquisadores a concluir que “independente da ... causa
dessas experiências únicas, fica claro que as crianças que sobreviveram a eventos que
ameaçavam-lhes a vida vivenciaram EQMs”.
Isso mostra que a experiência de quase-morte é algo especificamente ligado ao fato de estar
à beira da morte em oposição a estar apenas doente.
EQM como Alucinação
Algumas pessoas postulam que as EQMs são meramente alucinações, eventos mentais
causados pelo estresse, falta de oxigênio, ou em alguns casos, até mesmo drogas.
Entretanto, um dos argumentos mais fortes contra a EQM como alucinação é sua
ocorrência em pacientes que apresentam Unhas retas no eletroencefalograma.
O eletroencefalograma, ou EEG, mede a atividade elétrica do cérebro. Ele registra essa
atividade ao desenhar uma linha sobre uma folha de papel contínua. Essa linha sobe e desce em
resposta à atividade elétrica do cérebro enquanto a pessoa pensa, fala, sonha, e virtualmente faz
qualquer outra coisa. Se o cérebro estiver morto, a leitura do EEG é uma linha reta, o que
implica que o cérebro é incapaz de pensar ou agir, Um EEG reto agora é a definição legal da
morte em vários estados americanos.
Para que qualquer coisa aconteça no cérebro, é preciso haver atividade elétrica. Até mesmo
as alucinações são medidas no EEG.
No entanto, existem muitos casos em que as pessoas com EEGs retos passaram por
experiências de quase-morte. Claro que sobreviveram para contar a história. O simples número
de casos me diz que em algumas pessoas, as EQMs ocorreram enquanto elas estavam
tecnicamente mortas. Caso fossem alucinações, elas teriam sido registradas no EEG.
Devo dizer aqui que os EEGs nem sempre são uma medida exata da vida cerebral. Acredite
se quiser, mas existem casos registrados de máquinas de EEG serem fixadas em potes de
gelatina trêmula e registrarem padrões de onda cerebral.
Claro que isso não significa que a gelatina esteja viva! Significa apenas que o EEG está
registrando uma interferência (provavelmente de ondas de rádio), e isso está sendo registrado
no instrumento. Algumas pessoas chamam isso de fantasma na máquina.
Às vezes, o cérebro pode estar vivo num nível tão baixo que o EEG não registra a atividade.
Um exemplo disso me foi dado por um médico da Universidade de Duke. Ele disse que
colocaram uma menina num EEG, e que ela não apresentava atividade de onda cerebral na
máquina.
Os médicos pensaram que ela estava morta e iriam removê-la dos equipamentos de apoio à
vida, mas a família se recusou. Eles insistiram que haveria um milagre e se reuniram em volta
da cama dela para uma novena.
Ela escapou. O médico que me contou essa história disse que ela voltou à vida e
recentemente terminou a primeira série. Ele enfatiza que a menina teria morrido caso ele
contasse apenas com o EEG. Ele descobriu o que muitos outros médicos já haviam descobrido:
a atividade cerebral pode continuar num nível tão profundo do cérebro que os eletrodos
superficiais não conseguem registrar.
A Religião Não é Necessária
Algumas pessoas acreditam erroneamente que apenas os muito religiosos vivenciam
EQMs. As pesquisas mostraram, no entanto, que isso não é verdade. Pesquisadores como
Melvin Morse e outros descobriram que os muito religiosos apresentam maior tendência a
acreditar que o Ser de Luz é Deus ou Jesus, e com frequência chamam o lugar no final do túnel
de paraíso. Mas sua formação religiosa não altera a essência da experiência de quasemorte.
Elas ainda deixam o corpo, passam pela experiência do túnel, veem Seres de Luz, e fazem a
revisão de sua vida assim como as pessoas que não são religiosas. E apenas mais tarde que
colocam a experiência num contexto religioso. ,
Como um pequeno aparte, descobri que há geralmente dois tipos de pessoas que perguntam
sobre religião e EQM. Um grupo está tentando provar algo relacionado com sua interpretação
das escrituras pelas experiências de quase-morte de alguém. O outro grupo quer saber se os
ateus se tomam religiosos após uma EQM.
0 que deduzem é que uma experiência contada por um ateu seria mais válida e objetiva. Eles
supõem que essa pessoa não traria conceitos anteriores para sua EQM.
Descobri que toda a questão da “formação religiosa” é imensamente mais complexa do que
o simples fato de ter religião ou não.
Quando lidamos com isso, é preciso levar em consideração mais do que apenas a mente
consciente. Também devemos considerar fatores inconscientes, porque podem ser muito
diferentes daquilo que a pessoa sente num nível consciente.
Percebi que muito embora algumas pessoas se digam ateias, elas têm algum conhecimento
de religião. Afinal, você consegue imaginar alguém que chegue à idade de seis ou sete anos e
não tenha qualquer conceito de Deus? Eu não. Mesmo que os pais tenham tentado protegê-la
contra a religião, a criança certamente seria bombardeada com as mesmas imagens que todos
nós vemos, especialmente pelo fato de pastores na televisão e igrejas na vizinhança serem
inevitáveis. Essas imagens criam uma noção de Deus na mente de todos.
Quando uma pessoa enfrenta uma crise como a morte, isso certamente faz com que
qualquer noção de religião venha à tona. Assim como não existem ateus no campo de batalha,
acredito que não haja nenhum à beira da morte.
Portanto, na minha opinião, existem predisposições inconscientes para crenças religiosas
que até mesmo os pesquisadores não podem medir durante uma entrevista após uma EQM.
De modo geral, as pessoas muito religiosas voltam de suas EQMs nada eclesiásticas. Elas
relatam que Deus está mais interessado nos aspectos espirituais da religião do que nos aspectos
dogmáticos.
Por Que Todas as EQMs Não São Iguais
Algumas pessoas discutem que caso as EQMs fossem realmente vislumbres do reino
espiritual, então todas as pessoas que passam pela EQM deveriam passar pela mesma
experiência. Todas deveriam ver seu corpo a partir de um ponto de vista externo, flutuar por um
túnel, encontrar parentes há muito mortos, ver um magnífico Ser de Luz e passar por uma
revisão da vida.
Mas, de fato, essas pessoas não vivenciam as mesmas experiências. Citei vários relatos e
estudos nos capítulos anteriores que mostram uma variedade de detalhes exibidos por esses
indivíduos. Algumas pessoas passaram apenas por experiências extracorpóreas, enquanto
outros tiveram EQMs completas, que os levaram a um mundo espiritual.
Um estudo que ainda precisa ser discutido foi conduzido na Universidade Estadual da
Califórnia em Nothridge, por J. Timothy Green e Peneiope Fríedman. Eles conduziram
entrevistas profundas com quarenta e uma pessoas que estiveram clinicamente mortas ou
próximas da morte como resultado de acidente, doenças ou suicídio. Como Green e Fríedman
estavam usando uma amostra menor, as porcentagens encontradas nos diferentes estágios são,
em alguns casos, muito diferentes daquelas encontradas no estudo deRing. Tendo isso em
mente, aqui está a comparação:
ESTUDO
DE GREEN
ESTUDO E
ESTÁGIO DE RING FRÍEDMAN
1. EMOÇÃO AFETIVA CENTRAL 60% 70%
(PAZ E TRANQUILIDADE)
2. EXPERIÊNCIA
EXTRACORPÓREÍPI
37% 66%
3. TÚNEL/ÁREA ESCURA 23%. 32%
4. VER A LUZ. 16% „ 18%
5. ENTRAR NA LUZ 10% 18%
Esse estudo e sua comparação com o trabalho de Ring reforçam a variedade das
experiências que ocorrem dentro da EQM. Embora as pessoas abordadas nesses estudos
tivessem vivenciado o que chamamos de experiências de quase-morte, suas características são
diferentes. Algumas simplesmente passaram pela experiência extracorpórea, enquanto outros
passaram pelo túnel. Outros ainda vivenciaram EQMs completas.
Mas, a pergunta básica ainda permanece: todos aqueles que quase morreram não deveriam
passar pela mesma experiência?.
Minha resposta é “Não”. Pense da seguinte maneira: se dez pessoas visitassem a França,
duvido que todas passassem pela mesma experiência. Três delas poderiam dizer que viram um
prédio muito alto. Cinco poderiam dizer que provaram uma comida deliciosa, e dois deles
poderiam dizer que navegaram por um rio. Todas as pessoas ao voltarem da França teriam uma
história um pouco diferente, embora houvesse áreas similares.
Do mesmo modo, nas EQMs, embora traços similares sejam reportados dentro de uma
estrutura comum, não existem duas experiências que sejam exatamente iguais.
Última História de Ninar
Algumas pessoas pensam que as EQMs são o mecanismo que a mente tem para lidar com
nossa pior realidade: a morte. A teoria é que a severidade da situação leva a mente a se enganar
colocando-se numa situação melhor. Aqui está uma versão simplificada da cadeia de eventos
proposta:
♦ Existem duas maneiras de reagir diante do perigo. Se você puder fazer algo fisicamente
para mudar a situação sair da frente de um carro em alta velocidade, por exemplo — você
faz isso. Se não houver nada que você possa fazer para mudar a situação digamos que você
bata no carro - então a mente deve procurar dentro de si mesma uma forma de lidar com
o problema. Isso é feito ao se dissociar da situação, em alguns casos indo ao extremo de
criar um mundo de fantasia.
♦ Embora essa abordagem fantástica possa parecer uma maneira passiva de enfrentar um
problema como ser atingido por um carro, isso só vem ajudar; como essa situação que
ameaça a vida é dolorosa e imobilizadora, você se encontra muito agoniado para ser capaz
de tomar atitudes físicas contra a dor.
♦ Para conservar energia e manter o corpo funcionando, a mente se deixa levar por uma
fantasia confortável. Isso não apenas permite que você volte sua atenção para outra coisa
que não a dor excruciante de ser atingido por um carro, mas também permite que o corpo
relaxe para que possa lidar melhor com seus problemas internos.
♦ Essa atitude vem acompanhada da própria habilidade do cérebro em fabricar substâncias
químicas. Quando em dor, ele fabrica os assim chamados opiatos, ou endorfinas, que são
trinta vezes mais poderosos do que a morfina. Você já deve ter sentido os efeitos relaxantes
dessas substâncias após uma sessão de exercícios vigorosos. Elas causam a gostosa
sensação conhecida como “êxtase do corredor”. Mas ser atingido por um carro fez com que
o cérebro fabricasse uma quantidade da substância muito maior do que o exercício físico de
correr. E essa produção também foi muito rápida.
A dissociação e a fantasia tomam-se mais intensas. Coisas fegpauito estranhas começam a
acontecer. Você pensa que deixou seu corpo. Ou talvez se encontre voando por um túnel a
velocidades supersônicas em direção a uma luz brilhante. Talvez veja avós falecidos ou antigos
tios e tias. Um magnífico Ser de Luz pode recepcioná-lo e levá-lo a uma revisão da vida. Talvez
você deseje ficar nesse “paraíso”. Mas o Ser de Luz diz que é hora de retomar, Em poucos
instantes você não sabe ao certo quanto você sente como se estivesse sendo “sugado” de volta
ao corpo.
♦ Você retoma ao mundo real como uma pessoa transformada. Essa experiência produzida por
drogas cerebrais o transformou. Agora você vê o mundo com um olhar diferente. Talvez
pense que esse episódio, que você descobre ser chamado de experiência de quase-morte, é
um vislumbre do além-vida. Contudo, alguns pesquisadores acreditam simplesmente que
você quase ouviu sua última “história de ninar”.
Essa é uma teoria muito bem estabelecida de várias formas. Mas ainda não explica as
EQMs. Para começo de conversa, não conheço nenhuma pesquisa que relacione endorfinas
com alucinações ou qualquer outro tipo de fenômeno visual.
No entanto, sei que corredores de maratona e outros atletas de resistência produzem uma
quantidade extraordinária de endorfinas enquanto estão treinando ou competindo. Eles
costumam se sentir quase eufórico após um esforço contínuo, o que demonstra como esses
neurotransmissores devem afetar uma pessoa.
Mas não conheço nenhum caso em que atletas de resistência tenham relatado aspectos da
EQM, a menos que quase tenham morrido durante o exercício.
Essa teoria também não explica as experiências fora do corpo que discutimos neste livro,
em que as pessoas descrevem com exatidão objetos e eventos que viram enquanto estavam fora
do corpo.
Suponho que essa discussão encontre sua plausibilidade no fato de que as endorfinas
realmente criam um estado de paz e grande êxtase. E não seria de se esperar menos, já que são
o mecanismo do corpo para lidar com a dor. Contudo, do ponto de vista lógico, o argumento
não pode ser levado adiante.
Realização do Desejo
As pessoas incapazes de enfrentar a aproximação rápida da morte podem negá-la ao criar
uma fantasia de que vão sobreviver. Trata-se de uma forma de realização de um desejo.
Apresenta uma natureza defensiva porque finge nos defender da aniquilação final.
O argumento mais óbvio contra essa explicação de realização do desejo é que as pessoas
que passam pelas EQMs apresentam basicamente as mesmas experiências. Se fosse apenas a
realização de um desejo, as pessoas provavelmente dariam preferência às lembranças vívidas
daquele delicioso piquenique no Dia do Trabalho ou sonhos em que estão cercados por lindas
mulheres, em vez de vivenciar experiências de túnel e revisões de vida.
Os eventos associados com a quase-morte não poderiam ser apenas a realização de um
desejo comum. Se fossem, os relatos de EQM seriam completamente diferentes, sem nenhum
laço comum.
Outra dificuldade com essa explicação é que ela não se encaixa nos fatos daquilo que
acontece durante uma EQM. Uma defesa psicológica como a realização de um desejo mantém
sua situação no mesmo estado, já que o estado da psique quer se manter intacto.
Uma experiência de quase-morte é muito diferente, já que é uma revelação. Em vez de
manter as pessoas como são, a experiência as obriga a enfrentar a vida de maneira que nunca
fizeram antes.
Após as EQMs, as pessoas enfrentam a verdade pessoal de maneira muito profunda, e isso
as deixa felizes. Diferentemente da realização do desejo conhecido como “sonhar acordado”,
que fornece um alívio temporário do mundo à nossa volta, a EQM é uma plataforma para a
mudança de uma vida toda.
Inconsciente Coletivo de Jung
O grande psicoterapeuta Cari Jung percebeu que muitos dos mesmos mitos e crenças
existem em culturas diferentes, embora não estejam conectados uns com os outros. Por
exemplo, a história da criação é quase a mesma para os índios Papago e os antigos gregos.
RAYMOND A. MOODY JR.
Jung chamou a teoria geral de “inconsciente coletivo” e os exemplos individuais de
“arquétipos”. Trata-se de reações programadas de todos os seres humanos. Um exemplo
simples de arquétipo é a “mãe”. Pronunciar essa palavra em qualquer cultura terá significados
similares, uma universalidade básica.
Embora o próprio Jung tenha vivenciado uma experiência de quase-morte, ele não
relacionou as EQMs com o inconsciente coletivo. Mas os acadêmicos jungianos relacionaram
as EQMs com os arquétipos porque a experiência é multicultural (vivenciada pelas pessoas
independente de sua raça), e contém essencialmente os mesmos elementos para homens e
mulheres de todas as idades.
A experiência arquetípica pode ser descrita assim: Uma pessoa tem um sonho que contém
elementos que não estão presentes em sua experiência consciente, mas que são similares aos
elementos encontrados na mitologia ou nos rituais antigos. Esses elementos sem explicação são
os arquétipos.
Alguns acadêmicos jungianos acreditam que a morte e a quase-morte fazem com que esse
imaginário de arquétipos seja trazido de um subconsciente profundo. Esse imaginário é
basicamente igual para toda a humanidade: experiências de túnel, Seres de Luz, revisões de
vida passada etc.
Trata-se de uma teoria difícil de refutar, especialmente por ser apenas isso, uma teoria. E,
assim, como as outras teorias apresentadas aqui, tem seu fundo de verdade. No entanto, o
principal problema que encontro aqui é que a teoria não explica as experiências fora do corpo.
Até que isso seja feita, a teoria não se encaixa.
Uma experiência de Luz
Durante anos venho tentando descobrir uma explicação fisiológica para as EQMs. E durante
anos saí de mãos vazias.
Simplesmente parece que todas as explicações propostas são incompletas ou malformadas.
Em sua maioria, as pessoas que propuseram essas explicações são pessoas que nunca se deram
ao trabalho de conversar com pessoas que vivenciaram EQMs, nunca olharam para elas nem
ouviram suas histórias.
Se fizessem isso, talvez chegassem às mesmas conclusões do filósofo William James ao
descrever o misticismo.
Ele disse que não se trata de uma experiência intelectual. É uma experiência que confirma a
si mesma porque é, em si, uma forma de conhecimento. É tão pessoal que não pode ser
explicada, e transforma a vida profundamente.
Trata-se, simplesmente, de uma experiência de luz.“O Indescritivelmente Glorioso”
Durante mais de vinte anos venho trabalhando na pesquisa de ponta de EQMs. No curso
dos meus estudos, ouvi milhares de pessoas contarem sobre suas viagens profundas para... o
quê? O mundo do além? O paraíso que aprenderam em suas religiões? Uma região do cérebro
que se revela apenas em momentos de desespero?
Conversei com quase todos os pesquisadores de EQM do mundo sobre o trabalho deles, sei
que a maioria deles no fundo acredita que as EQMs são um vislumbre da vida depois da vida.
Mas como cientistas e médicos, eles ainda não encontraram uma “prova científica” de que uma
parte de nós segue vivendo após nosso ser físico ter morrido. Essa falta de provas os impede de
tomar público seu verdadeiro sentimento. Mas, enquanto isso, continuam tentando responder
de forma científica à questão desconcertante: o que acontece quando morremos?
Não acredito que a ciência possa algum dia responder a essa pergunta. Ela pode ser
ponderada de quase todos os ângulos, mas a resposta resultante nunca estará completa. Mesmo
que a experiência de quase-morte possa ser duplicada em laboratório, o que aconteceria? A
ciência apenas ouviria o relato de mais uma viagem que não pôde ser vista.
Vários pesquisadores sugeriram formas de examinar as EQMs mais perto do que nunca.
Suas sugestões são interessantes por aquilo que podem revelar, mas é improvável que sejam
executadas por razões de ética médica. Embora não haja problema em pensar sobre algumas
dessas técnicas, realmente aplicá-las pode violar a privacidade e a segurança do paciente.
Quando um médico está trabalhando num paciente que está prestes a morrer, é óbvio que o
ponto mais importante não é conduzir uma pesquisa científica, mas trazer a pessoa de volta à
vida.
Acredito que seria errado se nós, pesquisadores de EQM, defendêssemos a pesquisa com
seres humanos nesse momento crítico da vida deles. Isso seria uma intrusão em um dos
momentos más particulares e insuperáveis da vida de uma pessoa.
Interferir de qualquer forma na tarefa crítica a ser realizada seria moralmente repreensível.
Ademais, pouco poderia ser pesquisado para revelar mais sobre as EQMs do que a pesquisa
detalhada e exposta neste livro.
No entanto, existe um tipo de pesquisa que pode ser interessante além de discreto. Um
pesquisador sugeriu que objetos que não se encontram comumente no pronto-socorro talvez
medalhões de formatos estranhos fossem colocados sobre a barriga dos pacientes que
estivessem sendo ressuscitados durante uma parada cardíaca.
Assim, se realmente tivessem uma experiência fora do corpo, eles poderiam identificar o
objeto ao olhar para baixo a partir de sua posição no teto.
Superficialmente, isso pode parecer uma boa ideia. Mas pense melhor: você gostaria que
um médico brincasse com medalhões de formas estranhas enquanto deveria estar usando todos
os seus esforços para salvar sua vida? Eu acho que não.
Tal procedimento não apenas apresentaria os problemas éticos já mencionados, como
também apresentaria problemas legais de segurança tanto para o médico realizando (ou
tentando realizar) o ressuscitamento, como para o hospital que permitisse a realização de um
experimento como esse.
Outra sugestão, uma que considero mais razoável, seria fixar alguns pontos nas salas onde
esses ressuscitamentos ocorrem, de maneira que pudessem ser vistos apenas de um ponto de
vista próximo do teto. Assim, a pessoa poderia provar a experiência extracorpórea ao descrever
essas referências enquanto descreve seu próprio ressuscitamento.
Referências que imagino funcionarem especialmente bem seriam adesivos grandes e
coloridos colocados em cima dos lustres, de modo que seria impossível não vê-los caso a
pessoa estivesse flutuando acima deles.
*
Um método bastante peculiar de pesquisa envolvendo gorilas foi sugerido em determinado
momento. Mencionarei isso aqui apenas porque ilustra a frustração que enfrentamos com a
impossibilidade de replicar a EQM num ambiente clínico.
Já se sabe que os gorilas podem aprender a linguagem de sinais; eles seriam conduzidos à
beira da morte num ambiente controlado por médicos que então os ressuscitariam. Quando os
primatas se recuperassem, eles poderiam ser “questionados” sobre sua experiência através da
linguagem de sinais.
Sou contra essa ideia. Para começar, seria uma cmeldade com os animais. Além disso,
haveria poucos ganhos. Ainda que uma EQM possa acontecer num ambiente controlado ou na
vida real, é provável que a experiência seja a mesma. Algo como a experiência do túnel ou a
revisão tridimensional da vida não pode ser testemunhado de maneira nenhuma por ninguém
além do sujeito em questão. Portanto, por que arriscar a vida do gorila numa tentativa?
Acho que se trata de uma sugestão fanática e que mal merece comentários. Apenas a
exponho aqui porque é a única forma concebível de realizar um estudo sobre a experiência de
quasemorte em animais.
Na ausência de prova científica consistente, as pessoas frequentemente perguntam se eu
acredito que as EQMs são uma evidência da vida depois da vida. Minha resposta é “Sim.” f
Existem vários aspectos das EQMs que me trazem essa convicção. Um dos aspectos é a
experiência fora do corpo que pode ser verificada como mencionei no capítulo anterior. Que
maior prova é necessária de que as pessoas sobrevivem à morte de seu corpo físico do que os
vários exemplos de indivíduos que o deixam e presenciam as tentativas de salvá-lo? '
Embora essas experiências fora do corpo possam ser a razão científica mais sólida para
acreditar na vida após a morte, o mais impressionante nas EQMs para mim é a enorme
mudança na personalidade das pessoas que passaram pela experiência. O fato de que as EQMs
transformam totalmente as pessoas que passaram por isso mostra sua realidade e força.
Após vinte e dois anos observando a experiência de quasemorte, acho que não existe prova
científica suficiente para concluir que existe vida após a morte. Mas aqui estou falando de
prova científica.
As questões do coração são diferentes. O coração está aberto para julgamentos que não
exigem uma visão estritamente científica do mundo. Mas, com pesquisadores como eu, isso
exige uma análise mais instruída.
Baseado em tais exames, estou convencido de que as pessoas que passam por EQMs
realmente vislumbram o além, passam brevemente para outra realidade.
O psicoterapeuta C. G. Jung resumiu meu sentimento em relação à vida depois da vida
numa carta que escreveu em 1944. Essa carta é especialmente significativa porque o próprio
Jung vivenciou uma EQM durante um ataque cardíaco que sofreu poucos meses antes de
escrever isto:
O que acontece após a morte é tão indescritivelmente glorioso que nossa imaginação e
nossos sentimentos não . . são suficientes para formar até mesmo uma concepção aproximada
disso...
Mais cedo ou mais tarde, todos os mortos se tomam o que também somos. Mas, nessa
realidade, sabemos pouco ou nada sobre tal modo de existência. E o que ainda saberemos
desta Terra após a morte? A dissolução de nossa ... forma vinculada ao tempo na eternidade
não traz qualquer perda de sentido. Em vez disso, o dedo mindinho toma conhecimento de que
faz parte da mão.
Bibliografia
Além dos trabalhos citados em todo o livro, a seguinte pesquisa ajudou a formar meu
conhecimento e opinião sobre o assunto da experiência de quase-morte.
Raft, David e Andersen, Jeffry, Transformations in Self-Understanding After Near-Death
Experiences (Transformações no Auto Entendimento Após Experiências de Quase-Morte),
Contemporary Psychoamlysis, julho de 1986, v. ,22, p. 319-346.
Sentimentos e pensamentos associados com experiências de quase-morte são revisados e os
casos de dois pacientes que apresentaram um tipo especial de autocompreensão após uma
EQM são usados como exemplos. Esses indivíduos mostraram um interesse aguçado em saber
mais sobre si mesmos, ficaram extremamente sensíveis a estímulos sensoriais e buscaram criar
experiências com a qualidade de devaneios. Os dois apresentaram uma recuperação de
lembranças, uma consciência de pensamentos e sentimentos anteriormente não reconhecidos
nos outros e uma dor pelas perdas. Outro caso, de um homem que vivenciou uma sensação de
completo autoconhecimento e atividades elevadas após uma parada cardíaca, também é
apresentado. As revelações que podem potencialmente ocorrer durante a EQM também são
discutidas . ;
Gabbard, Glen e Twemlow, Stuart, An OverView of Altered MindJBody Perception (Uma
Visão Geral da Percepção Alterada entre Mente/Gorpo), Bulletin ofthe Menninger Clinic,
julho de 1986, v. 50, p351-366.
Resumo: Descreve as várias formas de percepção alterada da mente-corpo, como as
experiências extracorpóreas, despersonalização, autoscopia, distúrbios esquizofrênicos do
limite corporal e experiências de quase-morte. Juntas, essas experiências formam uma gama
contínua desde experiências integradoras que transformam a vida até distúrbios altamente
patológicos. São discutidas considerações de tratamento, e é enfatizado que esses estados são
distinguíveis e exigem intervenções diferentes.
Kirshna, V., Near-Death Experiences: Evidence for Survival? (Experiências de Quase-Morte:
Evidência de Sobrevivência?), Anabiosis, primavera de 1986, v. 5, II21-38.
O autor discute que as experiências fora do corpo e outros elementos das experiências de
quase-morte, junto com o efeito agradável que as seguem, não são evidências conclusivas da
sobrevivência após a morte.
Becker, Cari, View from Tibet: NDEs and the Book ofthe Dead (Visão do Tibet: EQMs e o
Livro dos Mortos), Anabiosis, primavera de 1985, v. 5, p. 3-20.
O autor apresenta uma perspectiva tibetana sobre as experiências de quasemorte e a vida após a
morte ao discutir as crenças da religião Bon e do Budismo Vajrayana e as teorias derivadas do
Livro Tibetano dos Mortos. São apontadas similaridades com os relatos modernos de EQM,
incluindo experiências fora do corpo, revisão da vida e julgament@i~<8
Bauer, Martin, Near-Death Experiences and Attitude Change (Experiências de Quase-Morte e
Mudança de Atitude), Anabiosis, primavera de 1985, v. 5, p. 39-47.
A associação entre experiências de quase-morte e as subsequentes mudanças de atitude é
explorada ao administrar um questionário de atitude de vida para avaliar sete categorias de
atitudes em um grupo de vinte mulheres e oito homens entre trinta e cinco e setenta e cinco
anos que vivenciaram uma EQM. O questionário foi desenvolvido para determinar se o
indivíduo está vivendo como deseja ou se lhe falta sentido na vida, e também a força da crença
do indivíduo numa existência significativa.
Rodabough, Tillman, Near-Death Experiences: An Examination ofthe Supporting Data and
Altemative Explanations (Experiências de Quase-Morte: Um Exame dos Dados de Apoio e
Explicações Alternativas), Death Studies, 1985, v. 9, p. 95-113.
Este artigo resume um modelo de A Vida Depois da Vida, de R. A. Moody, com uma breve
listagem de suas partes componentes. Explicações para experiências de quase-morte
similares são organizadas em três categorias; metafísica, fisiológica e psicossocial. Isso
conclui que as pessoas que acreditam na vida após a morte não encontraram
contradição nem apoio nos estudos de EQMs.
Pasricha, Satwant, e Stevenson, Ian, Near-Death Experiences in India: A Preliminary Report
(Experiências de Quase-Morte na índia: Um Relatório Preliminar), Journal of Nervous and
Mental Disease, março de 1986, v. 175, p. 165-170.
Os autores relatam características clínicas de dezesseis casos de experiências de quase-morte
investigados na índia. Após breves descrições clínicas de quatro experiências, os autores
descrevem e discutem características em que os casos indianos diferem de uma mostra maior
de casos americanos. Essas características tipicamente incluem a percepção de ser levado a um
mensageiro, que, após consultar uma lista, determina que houve um erro e que o doente não
está pronto para morrer. Sugere-se que, enquanto algumas características parecem refletir a
influência das crenças vinculadas à cultura, essas representações culturais podem refletir
diferenças reais na manifestação do conceito de vida após a morte nas diferentes culturas.
Greyson, Brace, A Typology of Near-Death Experiences (Uma Tipologia das Experiências de
Quase-Morte), American Journal of Psychiatry, agosto de 1985, v. 142, p. 967-969.
O autor administra a Escala de Experiência de Quase-Morte com 89 indi11 víduos que
passaram pela experiência. A escala quantifica os componentes cognitivos, afetivos,
paranormais e transcendentais da EQM. A análise revelou três grandes grupos: EQMs
transcendentais, afetivas e cognitivas. Os indivíduos que relatam esses três tipos de EQMs não
diferem significativamente em variáveis demográficas nem na Escala de Desejabilidade Social
Marlowe-Crowne. O tipo de EQM não estava significativamente relacionado com a causa
específica dá EQM. Contudo, as EQMs que ocorreram de forma repentina e inesperada
raramente foram associadas a experiências cognitvas, mas frequentemente com experiências
transcendentais e afetivas. Os resultados não apoiam a hipótese de K. Ring de que as EQMs são
essencialmente invariáveis de caso a caso e sugerem que a condição psicológica pode
influenciar o tipo de experiência.
Straight, Steve, A Wave Among Waves: Katherine Anne Porter’s Near-Death Experience
(Uma Onda Entre Ondas: A Experiência de Quase-Morte de Katherine Anne Porter),
Anabiosis, outono de 1984, v. 4, p. 107-123.
Esse trabalho argumenta que a visão principal da história de 1938, de Katherine Anne Porter,
“Pale Horse, Pale Rider”, baseada em sua quase-morte por causa de uma epidemia de influenza
em 1918, é uma profunda experiência de quase-morte do tipo descrito pela primeira vez por
Raymond Moody. As fontes bibliográficas e as entrevistas com Porter são usadas para
demonstrar a visão da história e os efeitos físicos e psicológicos que a experiência teve sobre
ela. A visão do paraíso na história é analisada como uma EQM. Dois estudos críticos da
história são brevemente discutidos.
Rogo, Scott, NDEs and Archetypes: Reply (EQMs e Arquétipos: Resposta), Anabiosis, outono
de 1984, v. 4, p. 180.
Esse artigo responde aos comentários de Michael Grosso que diz que Scott Rogo, em seu
trabalho sobre experiências de quase-morte em pacientes anestesiados por quetamina, não
prestou atenção suficiente à teoria de Grosso sobre os arquétipos nas EQMs. Rogo classifica
sua posição ém relação à teoria dos arquétipos como sendo uma “não teoria” e argumenta que
os prós e os contras listados para cada uma das três teorias de EQM por quetamina , foram
apresentados a partir de um ponto de vista objetivo, e não pessoal. Embora Rogo seja favorável
à ideia dos arquétipos, nenhuma evidência concreta fie que eles existem pôde ser vista ém uma
pesquisa objetiva.
Grosso, Michael, NDEs and Archetypes (EQMs e Arquétipos), Anabiosis, outono de 1984, v.,
p. 178-1179.
Grosso oferece uma interpretação da experiência de quase-morte qúe usa o conceito de
arquétipos. S. Rogo refutou essa teoria como uma “nãoteoria” já que explica 0 desconhecido
com outros conceitos desconhecidos. Grosso afirma que Rogo descartou essa teoria com muita
pressa, especialmente em virtude do fato de que o próprio Rogo usou a teoria dos arquétipos
para explicar experiências iricomuns de aparições.
Siegel, Ronald, e Hirschman, Ada. Hashish Near-Death Experiences (Experiências de
Quase-Morte por Haxixe), Anabiosis, primavera de 1984, v. 4, p. 69-86.
Esse artigo revisa a literatura histórica das experiências de quase-morte induzidas por
haxixe. Boa parte da pesquisa endossou a visão do psiquiatra francês, Jacques Joseph Moreau,
de que essas experiências eram alucinações; outros acreditaram que as EQMs induzidas por
haxixe revelavam uma realidade subjacente como a descrita nos trabalhos de Emanuel
Swedenborg. A maioria dos relatos dessas experiências, que resultam de uma alta dosagem da
droga, continham elementos e sequências das EQMs não induzidas por drogas.