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Este livro foi escrito por Luiz Gonzaga Pinheiro, que quer lançá-lo
apenas após estudá-lo detalhadamente com o grupo de aprofundamento
doutrinário Leon Denis, formado por uma equipe multidisciplinar com a
função de estudar “O Livro dos Espíritos”. Se você quer participar desse
estudo, tecendo críticas, comentários, adendos, correções, elogios... sinta-se
á vontade. Mas, por gentileza, o faça com base na ciência e não movido por
emoção ou paixão, pois neste caso não levaremos em consideração a sua
opinião.
O grupo Leon Denis procura estudar a obra de Kardec, situando-a no
contexto por ele vivido, e já chegou à conclusão lógica de que ele é muito
maior e mais genial do que todos supunham. Para nós, Kardec não está
superado, ultrapassado, não foi indigno da missão que desempenhou nem
poderia ter feito mais do que fez, pois sempre agiu no limite de suas forças.
Muito ao contrário daqueles que o julgam superado, o consideramos
um missionário honesto, sábio, humilde em seu saber e coerente em suas
posições; um homem de vanguarda com o pensamento muito a frente do
seu tempo.
Os que pensam que queremos fragilizá-lo, atacá-lo, ou agredi-lo de
maneira velada ou ostensiva, aquietem seus corações. A obra louva seu
bom senso e competência e procura fazer o que ele aconselhou aos
verdadeiros espíritas, deixar a obra compatível com o tempo.
Apelos do tempo
APELOS DO TEMPO
Dedicatória
Índice
1. Introdução
2. A arte de burilar mensagens
3. Um olhar crítico sobre nossos valores
4. A credibilidade da ciência
5. Sobre a necessidade de aprofundamento de algumas respostas de O Livro dos
Espíritos
6. Reflexões positivas são sempre bem-vindas
7. Argumentos de Kardec a favor da adequação de sua obra ao tempo
8. Resultado prático da aplicação do pensamento progressista de Kardec
9. Kardec, o homem, o cientista
10. Introdução ao estudo da Doutrina Espírita (comentários e sugestões)
11. Prolegômenos
12. Análise de algumas perguntas, respostas e comentários de Kardec
13. Sem comentários
14. Comentários do autor
Kardec era adepto da abiogênese?
Sobre a polêmica da inteligência das plantas
A antropologia criminal
Sobre a formação de novos mundos pelos cometas
Sobre a superioridade de Marte e de outros planetas
Sobre o momento da união da alma ao corpo
Sobre a meditação e a contemplação
Sobre a elaboração em segredo do livro Imitação do Evangelho e outros temas
15. Conclusão
16. Bibliografia
“Foi assim, que mais de dez médiuns prestaram a sua assistência para esse trabalho.
Foi da comparação e da fusão de todas essas respostas coordenadas, classificadas, e
muitas vezes, refundidas no silêncio da meditação, que formei a primeira edição de O
Livro dos Espíritos, que apareceu a 18 de abril de 1857 (Allan Kardec – Obras
Póstumas)”.
6
Introdução
Este livro é uma obra de ficção no qual o autor relata seu encontro com um
estranho que o busca para esclarecimentos sobre uma das obras básicas da Doutrina
Espírita, “O Livro dos Espíritos”. Tal encontro se dá durante o sono físico, estando seu
Espírito liberto e preocupado com o desenvolvimento de temas doutrinários.
O visitante, um franco atirador no campo do pensamento, pouco disse sobre ele,
mas através de agudos questionamentos devidamente elastecidos, forçou o dialogista a
reflexões que ele mesmo queria evitar.
O homem dizia chamar-se Rama Lunru ou tempo, como preferissem chamá-lo, e
ali estava para uma conversa de homem para homem ou de homem com o tempo, pois
gostava de buscar amadores, sendo ele mesmo um deles, para fazer apelos, e
experientes, o que viria a ser um dia, para conversas edificantes.
O estranho trazia o citado exemplar na mão e confessou estar sua vida mudada
em função dos ensinamentos ali contidos. Que gostaria de aprofundá-los, mas entre os
seus não despertara nenhum interesse. Foi então que ficou sabendo da existência de um
amador apaixonado, em terras brasileiras, e voou para cá. Ao identificar a quem buscava
pediu que o hospedasse por uma noite a fim de expor seus pensamentos sobre os temas
ali registrados, pois pretendia, com a ajuda dele, dissipar a nuvem que bloqueava seus
pensamentos, gerada pelos arraigados conceitos a ele passados por sua religião.
Aprendera com seus ancestrais que a alma do homem pode voltar a habitar o
corpo de um animal; que a condição de subalternidade imposta pela divisão da
sociedade em castas é justa; que os párias não devem se rebelar contra seus
dominadores nem praticar esforços para sair da situação em que se encontram, pois tudo
quanto merecem da justiça divina é o que ora têm em suas vidas. O livro que tinha em
mãos desautorizava tudo aquilo, daí o conflito gerado em sua mente.
Afirmou que sempre fora estudioso dos problemas da alma e que meditava
diariamente em questões relativas à imortalidade, reencarnação, justiça divina, dentre
outros temas ali escritos, mas nunca houvera encontrado um compêndio tão grandioso
quanto aquele, pois nele observara de maneira clara e elegante as mais significantes
questões da existência humana. O problema se resumia no desdobramento das questões,
já efetuado em outras obras, de difícil acesso para ele.
Convidado a sentar-se e a citar um ponto da obra que o intrigava disse que
jamais ingerira carne, que a vaca era um animal sagrado em seu país, todavia, o livro
admitia que os adeptos da religião iniciada a partir da sua publicação, o fizessem.
Apesar do esforço para enviá-lo a outras pessoas que pudessem explicar melhor
toda a problemática que o atormentava, do argumento forjado para descartar pessoas
insistentes e pegajosas, qual seja a falta de tempo e de competência, neste caso
verdadeiro, ele fez desabar a desculpa dizendo que já tinha feito algumas visitas e
que os visitados haviam simplesmente repetido o que o livro dizia, não admitindo
qualquer outra interpretação que não fosse a julgada correta por eles. A ele, alma impura
e carente de conhecimento, interessava minúcias e especificidades. Gostara da obra,
principalmente pela abertura que a mesma deixa aos seus adeptos para questioná-la e
aceitar apenas o que a consciência aprovava.
7
uma obra de arte nas livrarias, podendo ser utilizada como substrato e argumentação no
corpo doutrinário espírita.
A julgar pela afirmativa de Kardec exposta em destaque no início deste livro, ele
foi um excelente burilador de mensagens. Dotá-las de vigor argumentativo, imprimir-
lhes clareza estelar, favorecê-las com solidez literária e “lixar-lhes” as arestas,
desbastando o excesso sem, contudo, prejudicar o conjunto da obra ou alterar-lhe a
essência, foi, dentre outros, o trabalho mais precioso do codificador.
Mas isso não é uma afirmação leviana que pode, inclusive, comprometer o
mérito da codificação pela participação pessoal de Kardec em meio às mensagens dos
bons Espíritos? Diria que o raciocínio é justamente o oposto. Através da pesquisa e da
meditação no tema exposto, o codificador teve oportunidade de enriquecê-lo, desdobrá-
lo, aprofundá-lo, resumi-lo.
Não foi por acaso que ele foi escolhido e preparado para tão espinhosa missão,
qual seja, apresentar ao mundo a síntese literária do consolador prometido por Jesus.
Todavia, algumas frases ou mensagens de O Livro dos Espíritos, obra que
enfoco neste momento, necessitam na atualidade de um polimento, a fim de mostrar
todo o brilho que o tempo foi aos poucos retirando. No espaço de três anos, da primeira
edição para a segunda, Kardec fez esse trabalho. Mas, passados mais de 150 anos,
ninguém mais ousou auxiliar o grande codificador nessa tarefa de ajustamento da obra
ao tempo.
A proposta deste livro é tentar imprimir um polimento na escultura de algumas
respostas buriladas por Kardec, agindo tal qual o artesão quando se vê diante de uma
obra sacra cuja pintura foi danificada pelo tempo. No caso, ele procura manter a
originalidade o quanto pode, mas não se omite de lustrar a parte vencida pelo tempo, de
adicionar nova madeira às partes corroídas por agressões naturais, sem contudo, sentir-
se um violador de obras de arte nem um profanador de relíquias.
Jamais diria, pelo menos de forma consciente, que Kardec está errado ou
superado, e me esforçarei para não rotular de questões erradas, aquelas escolhidas para
comentar. Seria muita pretensão de minha parte, Espírito ainda ignorante em milhares
de temas que povoam este mundo, arvorar-me como dono da verdade, coisa que
combato sistematicamente naqueles que assim procedem. Tentarei fazer detalhamento,
aprofundamento, adequação, comentários que julgo pertinentes, principalmente para o
bom entendimento daqueles que têm a felicidade de agora adentrarem o estudo de tão
consoladora doutrina.
Que aquietem seus corações os defensores do zelo doutrinário. Meu
compromisso é com a perenidade e não com a precariedade, ou seja, preocupo-me com
a Doutrina atualizada, bem compreendida, aceita sem reservas, e não sob suspeita,
acossada pela ciência, agredida por qualquer um que venha a pinçar de suas obras,
informações ultrapassadas ou dúbias interpretações. As sugestões contidas neste livro
são frutos de reflexões do autor em diálogo com o tempo e, assim sendo, podem ou não
ser aceitas por outras pessoas. Não significam, como podem pensar alguns, sentenças
condenatórias ao trabalho de Kardec ou dos Espíritos que o assistiam. Portanto, se
algumas delas possam parecer inócuas sob o ponto de vista de um sábio, não o serão
para outros que necessitam de uma visão através de outro ângulo.
Enfatizo que os argumentos aqui utilizados são do próprio codificador sendo
bastante fácil encontrá-los em sua obra. Como podem dizer alguns, meu é o
atrevimento, e como declaram outros, a coerência. Antes de alguma crítica é
aconselhável respirar fundo e tentar compreender a obra deste grande homem chamado
Kardec.
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A credibilidade da ciência
Da mesma maneira, se hoje algum comunicante em uma reunião de estudos disser que
veio do futuro através de um buraco de minhoca (espécie de túnel que liga o passado
com o presente ou o presente com o futuro), nos tenderíamos a não aceitação da sua
mensagem, no mínimo desconfiando da sua natureza inusitada. Nos próximos séculos,
se tal teoria vier a se confirmar, como acreditam os cientistas, veríamos que o
comunicante poderia estar com a razão.
Povos diferentes possuem culturas diferentes e, logicamente, isso gera maneiras
diferentes de expressar verdades, sem, contudo, implicar em mistificações. Esse é outro
ponto a ser analisado antes de acusar uma mensagem de ser contrária ao consenso
universal. Na verdade, diante de uma página expressa em uma linguagem cultural
impregnada de nuanças fora do senso comum europeu - o chinês, por exemplo – algum
pesquisador espírita do século XIX talvez tendesse a julgar a informação sob a ótica
européia, considerada por ele a mais compatível com a verdade científica, esquecendo
ou desconhecendo que povos como o indiano, o japonês, o africano, dentre outros,
possuem maneiras diferentes de explicar o mundo.
Se observarmos a codificação, veremos que os textos são, em sua maioria,
europeus. Atentando para este detalhe - heranças culturais diferentes - podemos
observar a velha Índia, o Japão e a China que através de paradoxos e Koans* expressam
verdades milenares numa estranha e maravilhosa forma de integrar ciência, filosofia e
religião, revelando ensinamentos que mais se assemelham à poesia pura, cuja
profundidade e coerência são percebidas por poucos. Tais textos, ainda hoje têm grande
chance de serem excluídos, taxados de mentirosos ou inadequados por sua origem
suspeita, por parte daqueles que não levam em conta essa diversidade cultural.
Aprofundando mais um pouco o bisturi investigativo nos critérios de aceitação
de uma mensagem como proveniente de uma boa fonte, há de se notar que outro ponto
bastante polêmico, mas de suma importância, é o que se refere à maldade. Esta é
interpretada diferentemente conforme os tempos, as situações e as culturas. Considerar
que: “Todo Espírito que, em suas comunicações, revela um mau pensamento, pode ser
classificado na terceira ordem” (O Livro dos Espíritos – pergunta 101), ou seja, é um
Espírito imperfeito, é adotar um critério temerário, embora seja difícil encontrar um
melhor. Se Moisés, sem se identificar, houvesse dito em uma comunicação mediúnica
que fora um líder que mandara matar muitos dos seus liderados, sem se aprofundar no
contexto em que atuou, seria, de imediato, classificado como um Espírito de terceira
ordem.
Como meu principal objetivo nesta obra é analisar perguntas e respostas de O
Livro dos Espíritos, no que fui acossado pelo tempo, deixemos o atalho que tomamos
para outra ocasião e sigamos adiante.
O Espiritismo é uma fonte valiosa de conhecimentos, mas como esse
conhecimento precisa ter continuidade, necessita, sobretudo, de adequação ao momento
das novas gerações sob pena de, pelo menos, em suas afirmações científicas, ficar
defasado.
material e a outra as leis do mundo moral. Mas uma e outra, tendo o mesmo princípio,
que é Deus, não podem contradizer-se” (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. I,
Item 8).
O Espiritismo, ao conclamar a humanidade terrena à prática do amor e à
instrução, faz um convite para que todos se tornem cientistas, ou seja, amantes da
ciência, pois esta é a linguagem utilizada por Deus para mostrar sua magnífica obra.
Quem caminha, faz ciência, quem canta, escreve poesia, ora, rega, ampara ou qualquer
coisa faz, pratica ciência, mesmo sem o saber. É a ciência, portanto, o alfabeto de todas
as ações, o combustível da evolução material, que terminará por induzir às reformas
morais necessárias à aquisição da justiça e da paz.
O homem pode evoluir através da arte, da filosofia e da religião, mas estes
caminhos estão assentados na generosa estrada da ciência, e qualquer um deles que a
negue não sobreviverá. É destino do ser humano conviver intimamente com a ciência,
pois mesmo para entender a si próprio sempre precisará dela. Respiramos, nos
alimentamos, dormimos e sonhamos ciência.
O pensamento é que tornou o homem cientista. Desde que começou a pensar, ele
quis saber a resposta para as indagações que o cotidiano lhe trazia. Hipóteses, teorias,
leis, compêndios e enciclopédias avolumaram-se e continuam se avolumando na mente
humana, formando uma biblioteca que não tem fim.
Ninguém que não seja louco despreza a ciência. A própria palavra consciência,
lembra-nos que devemos encarar os fatos “com ciência”. Fora dela, o que resta para
esboçar uma explicação? A ciência, no presente momento, é o que existe de mais
palpável para a nossa necessidade de “ver para crer”, para a pacificação da nossa
certeza, para a sobrevivência da confiança ao tecermos nossos sonhos.
Alguém poderá dizer que coloco a ciência acima de Deus. Claro que isso não é
verdade. Exalto a linguagem divina através da ciência, pois é mais lógico admitir um
deus cientista do que um deus mágico. O primeiro inspira mais confiança pela
imparcialidade com que se manifesta, sempre através de leis. Muita ciência aproxima de
Deus, é o que dizem.
Portanto não tenhamos medo do saber científico, antes o abracemos, sabedores
de que, ao dominá-lo, estaremos dominando a nós mesmos.
Sempre tive o máximo respeito por qualquer religião, e mesmo por quem não
tem religião alguma. Deus não se interessa por rótulos doutrinários, mas que seus filhos
cumpram o resumo da lei exposta de maneira magnífica por Jesus: amar a Deus sob
todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Tal resumo pertence a todas as religiões
e a nenhuma delas em particular. Kardec, por sua vez, traduzindo o pensamento dos
bons Espíritos, enfatiza: a melhor religião é aquela que mais homens de bem faz.
Mas então, por que você está nas hostes espíritas? Porque o Espiritismo é a
religião que melhor responde aos meus anseios de crescimento. A que atingiu, em
cheio, minhas dúvidas, amenizando-as, pois ainda convivo com muitas delas. A
proposta espírita, fundamentada na reforma moral e intelectual dos seus adeptos, me
fisgou em definitivo, principalmente pela ânsia de conhecimento que sinto e pela
necessidade de entender a minha origem e destinação.
Todavia, na tentativa de aprofundar alguns pontos dessa proposta, notadamente
o científico, tenho me deparado ao longo dos anos com a intransigência daqueles que
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consideram Kardec um Espírito tão infinitamente superior que lhe seria impossível
registrar algo que pudesse ser complementado; alguém incapaz de cometer qualquer
falha durante seu trabalho na codificação; um homem de cuja obra literária não se pode
retirar ou adicionar uma vírgula sequer; um ser que produziu uma obra pronta e
acabada.
Essa divinização de Kardec sempre me pareceu estranha, porque ele jamais
demonstrou qualquer interesse nesse sentido. Agindo contrariamente à parcela que o
considera perfeito, sempre teve o cuidado e a hombridade de se dizer limitado,
admitindo que a ciência, e não ele pudesse estar com a verdade em alguns pontos da sua
obra e, nesse caso, os espíritas deveriam seguir com ela. Aconselhou a todos que
passassem pela peneira da razão tudo quanto lessem ou ouvissem, retendo somente o
aprovado pela consciência; incentivou a utilização do bom senso como mediador das
discussões e apontou a fé raciocinada como a única capaz de enfrentar a razão em
qualquer época ou circunstância.
Para quem considera o Espiritismo uma revelação exclusivamente divina, trazida
aos homens através de Espíritos superiores em 1857, nada mais lógico supor que a
Doutrina é um diamante já entregue lapidado, ou seja, jóia pronta e acabada. Se tudo
quanto foi dito saiu diretamente da boca de Deus, este não poderia ter se enganado em
nenhum aspecto. Mas para quem considera que Kardec foi co-autor, que uma boa
metade do que foi escrito é fruto de suas pesquisas, condensadas, remodeladas,
aprofundadas e aperfeiçoadas com seu próprio raciocínio, o enredo muda de cenário.
Para quem tem a lucidez de observar que as mensagens vieram de médiuns e
estes podem se enganar, introduzir idéias suas, a nível consciente ou inconsciente,
dando assim outra interpretação aos fatos, o panorama se altera.
Para quem recorda que àquela época não havia médiuns educados segundo as
regras espiritistas, uma vez que ainda seriam aglutinadas; que a cesta de bico, de escrita
lenta e mal elaborada, dava margem para interpretações equivocadas, a certeza de
transmissão mediúnica sem interferência anímica se esvai.
Para quem se lembra de que Kardec Iniciou seus estudos sobre as mesas girantes
em 1855, e em menos de dois anos já lançava a primeira edição de “O Livro dos
Espíritos”, ou seja, admitindo-se que neste período de tempo é impossível a qualquer ser
humano dominar completamente assunto tão complexo como o que ele pesquisava, há
uma a pedra no meio do caminho, ou um porém no meio do texto.
Para quem admite que a Doutrina foi coordenada sob a ordem de Espíritos
superiores, mas interpreta “superiores” com relação a nós, habitantes terrenos, e não
superiores em último grau, Espíritos puros, a necessidade de atualização parece óbvia.
Vou mais fundo neste tema. Contribuíram para elaboração da idéia espírita não
apenas Espíritos superiores, mas também inferiores, como consta em uma de suas
importantes obras, “O Céu e o Inferno”, pouco lida e pesquisada. Encravada em suas
páginas, como um rubi à cavidade de uma jóia, encontra-se contundente coletânea de
testemunhos de Espíritos em condições medianas, sofredores, suicidas, criminosos
arrependidos e Espíritos endurecidos, todos descrevendo suas condições espirituais,
utilizadas como ensinamentos e advertências para os aprendizes da Doutrina.
Quando notamos que o Espiritismo, Doutrina de excelência comprovada é mais
condensação, ordenação, seleção do que revelação, posto que tudo nele reunido, já
existia antes e tinha sido revelado em outras religiões e filosofias, inclusive entre os
iniciados pré-Jesus, somos tocados por certa dose de humildade.
A mesma humildade que Kardec aconselhava na interpretação e na atualização
das verdades, pois estas se modificam a cada esquina. Algumas pessoas podem
pensar que tenho a pretensão, mediante uma atitude de orgulho e prepotência, de alterar,
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enfim, que esforços sejam empregados em uma tarefa certamente, inspirada pelas
trevas.
Certa vez, visitando um Centro Espírita para proferir uma palestra sobre a lei do
progresso, passei em frente ao quadro onde avisos eram expostos e li no cartaz que fazia
o chamamento para o início de um curso sobre mediunidade: “Não é Doutrina Espírita
o que não tiver a chancela de Allan Kardec”. Alguém colocara acima desse cartaz,
outro com a belíssima frase: “Quando a gente pensa que sabe todas as respostas, vem a
vida e muda todas as perguntas”.
Fiquei alguns minutos admirando aquele paradoxo. Uma frase excludente
revelando o quanto estamos longe da união entre os espíritas, e muito mais do tão
sonhado ecumenismo, e outra progressista, indutora da busca do conhecimento. As
frases excludentes fazem mais mal do que bem aos profitentes de uma religião.
Separam, quando todos deveriam estar unidos em nome da fraternidade, respeitando-se
mutuamente. Toda a ciência pós-Kardec, os clones, as células-tronco, a inseminação
artificial, a mãe de aluguel, os transgênicos, o genoma, a mecânica quântica, a teoria da
relatividade e um sem-número de avanços científicos não possuem a chancela de
Kardec, de vez que ele desencarnou antes que tais eventos ocorressem. O autor da
melancólica frase não colocou chancela do Espiritismo, o que amenizaria a situação,
mas de Allan Kardec, deixando fora da Doutrina todo o conhecimento de um século e
meio. Isso demonstra o quanto o inconsciente revela nossa intransigência para com o
pensamento alheio quando este é diferente do nosso. Como ele trai nossa intenção de
camuflar sentimentos e desnuda o preconceito lá instalado, expondo a alma, em seu
verdadeiro estágio evolutivo.
“Fora da Igreja não há salvação” é uma frase excludente, pois deixa de fora
dessa salvação os budistas, os hinduístas, os espíritas, os evangélicos, dentre outros.
Não simpatizo nem mesmo com a mais lógica delas, “fora da caridade não há
salvação”, pois entendo que a não salvação é algo inviável e impossível segundo a lei
do progresso. Mesmo que alguém se negue a evoluir, ou seja, a ser salvo, um dia será
tomado pelo redemoinho do progresso e forçado por ele, terá que caminhar um ou mais
passos, situando-se adiante do degrau evolutivo em que se encontrava.
Aquele que exclui o faz por considerar-se superior a outros, dos quais tenta
apartar-se, mostrando claramente a falta de humildade ou, por outro lado, o complexo
de superioridade que o caracteriza. Explicitamente esse alguém expõe, mesmo sem ser
esta a sua intenção, o não cumprimento dos postulados que, em teoria, defende.
Sei que as pessoas não são obrigadas a aceitar meus pontos de vista pessoais. Por
outro lado, não podem impor suas convicções a seus irmãos. Aliás, para o filósofo
Nietzsche, o problema da verdade não é a mentira, mas as convicções. Aquele que está
convicto de que sua idéia é correta não desiste dela. Mas, se esta idéia não for
verdadeira, estiver incompleta, inadequada? É justamente em nome da liberdade de
pensamento tão enfatizada e cobrada por Kardec que as exponho. Ele próprio era um
homem de vanguarda, rejeitando boa parte do pensamento religioso do continente em
que vivia. Pensemos em conjunto, abstraindo qualquer preconceito ou antipatia à idéia
exposta, fazendo um esforço para aceitar a necessidade imposta pela evolução que o
tempo trouxe, navegando nas asas ligeiras que a lei do progresso fez crescer neste
tempo maravilhoso em que vivemos e vejamos se as questões abaixo não merecem
acolhimento.
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Sei que ninguém gosta de expor fragilidades nem de ser contestado em seus
valores. Mas é justamente para que esses valores sejam fortalecidos e admirados que
precisamos confrontá-los com outros já devidamente testados e reconhecidos como
verdadeiros. Determinados fatos são definitivos, outros necessitam de mais dados,
terceiros devem ser reavaliados. Não fazemos isto em nossa vida diária? É neste
sentido que lanço nesta página algumas informações para que sirva como objeto de
reflexão.
d) Atitudes estranhas, tais como Kardec ter escrito O Evangelho Segundo o Espiritismo
sem o conhecimento de seus colaboradores, fazendo ele mesmo a seleção de textos, o
julgamento quanto à autenticidade dos mesmos e lá colocando um título imediatamente
censurado por alguém de raro bom senso. Sabemos que Kardec era auxiliado pelos bons
Espíritos. Mas por que nesse detalhe principal não foi feliz na escolha? O título
Imitação do Evangelho poderia, de imediato, ampliar a censura contra a doutrina
nascente cujos detratores não se esquivariam em dizer: nós temos o original! Não
precisamos de uma imitação!
Podemos afirmar, e é verdade, que nós de evolução mediana para baixo, não
somos inspirados e assistidos durante as 24 horas do dia. Há sempre um momento em
que baixamos a guarda, motivados pelo cansaço, a tristeza, a ingratidão que sofremos,
as necessidades de toda ordem. Pode ser que em um desses raros momentos de
desatenção, Kardec tenha decidido por este título infeliz, sendo necessário que um
amigo encarnado o advertisse quanto à falha cometida. Mas, e aí vem a questão a que se
prendem os detratores da Doutrina: se isso aconteceu em um ponto, pode ter acontecido
em outros.
É do ganhador do prêmio Nobel de Física, pela descoberta dos quarks, Murray
Geel-Mann, o seguinte pensamento: “Quando me deparo com uma imprecisão escrita
em um livro, fico desencorajado e me pergunto se posso, realmente, aprender alguma
coisa de um autor que já provou estar errado em pelo menos um ponto”. Essa é a razão
da necessidade de adequação de determinados pontos da obra. Estamos em uma época
onde as fontes de informação são abundantes, propiciando comparações,
aprofundamentos e refutações, fato que tanto prende como afasta os adeptos de uma
idéia, a depender de como ela é exposta. Se não quisermos ver a Doutrina Espírita
vulnerável, sob fogo cerrado dos detratores que se apegam a interpretações equivocadas
e a aspectos vagos que exigem complemento, façamos nós mesmos os ajustes antes de
sermos forçados pela ciência, pelo progresso ou pela língua cortante, mas incentivadora
dos nossos oponentes.
Não adianta culpar àqueles que possuem idéias contrárias às nossas; muito
menos, agredi-los. O que supera uma idéia é outra mais robusta. Além do mais,
diversidade é uma coisa boa e necessária. Sabemos que com o amadurecimento do
senso moral e a socialização dos conhecimentos científicos, a Humanidade tenderá para
uma estabilidade e uma homogeneidade no seu modo de agir e pensar. No livro em
análise, O Livro dos Espíritos, Kardec indaga se o Espiritismo se tornará uma crença
21
- Pelo que se conhece da vida e obra de Kardec, ele foi um homem pacífico e honesto,
não havendo registros em qualquer documento acerca de agressões por ele cometidas,
seja de forma explicita ou velada, física ou verbal, a quem quer que seja. Mesmo sendo
um homem lidando com um tema altamente “explosivo”, polêmico e antipático para boa
parcela da população francesa, manteve-se firme e digno durante a grande batalha
intelectual que levou a efeito.
- Kardec foi considerado homem de visão, cujas qualidades intelectuais e morais jamais
estiveram em dúvida, fruto de uma educação esmerada e de uma disciplina bem
direcionada.
- O codificador não costumava deixar sem resposta nenhuma agressão sofrida pela
Doutrina que ajudou a nascer, a tudo explicando com paciência, coerência e boa
vontade.
- Mesmo desconhecendo o inconsciente, mais tarde devassado por Freud, Kardec nele
aprofundou investigações, deixando valioso relato sobre a maneira como ele interfere na
personalidade atual. Ao estudar o animismo e a “herança” intelecto-moral que o
Espírito traz do passado, tornou-se um precursor dos estudos psicológicos modernos,
colocando-se à frente do seu tempo, sendo, por isso mesmo, considerado um dos
importantes homens de vanguarda da Europa.
- Foi um homem aberto aos novos conhecimentos, sem idéias dogmáticas, consciente do
seu poder de liderança, precavido contra as fraudes e convicto da necessidade de
integração entre o conhecimento da Doutrina que codificava e o conhecimento já
conquistado pela Humanidade.
- Foi também, em algumas ocasiões, centralizador, pois elaborou sozinho, sem opiniões
de terceiros e sem mesmo mostrar a seus amigos, O Evangelho Segundo o Espiritismo,
e apesar da opinião de seus auxiliares encarnados e desencarnados favorável a evolução
anatômica e fisiológica das espécies (biogênese) manteve fidelidade às suas convicções
(abiogênese). Tal fato demonstra que pelo menos nestes casos, seu procedimento foi
diferente do usual. No primeiro, preocupado com o volume do trabalho e o pouco tempo
24
disponível para desenvolvê-lo, não parou para ouvir seus auxiliares que, muito
provavelmente, retardariam o lançamento da obra, mas por outro lado, poderiam
enriquecê-la com justas argumentações. No segundo, talvez pelo mesmo motivo, falta
de tempo, não tenha priorizado o aprofundamento dos estudos científicos sobre a gênese
da vida.
- Em determinados momentos de sua caminhada, fato comum a qualquer humano,
Kardec admitia determinado raciocínio e “esquecia” de enquadrar o restante da obra à
nova maneira de pensar. Um ser humano comum pode mudar de opinião a qualquer
instante sem prejuízo no seu relacionamento com os amigos. Um escritor, ao admitir
uma nova interpretação para os fatos que narra, deve retornar às paginas já gravadas
cujas interpretações são, diante do novo momento, equivocadas, a fim de promover os
devidos reparos, sob pena de incorrer em contradições. Isso ocorreu com o texto contido
em O Livro dos Médiuns, cujo autor se identifica como Jesus de Nazaré, classificado de
apócrifo por Kardec, e que, por alguma razão não bem explicada, surge em O
Evangelho Segundo o Espiritismo com uma nova assinatura e com modificações em sua
estrutura. Esse texto revelou-se de grande importância para o movimento espírita por
indicar um belíssimo roteiro de elevação para todos: “Amai-vos e instrui-vos”. A
assinatura, no novo livro, foi modificada para Espírito de Verdade. Em outras ocasiões,
Kardec parecia ser confiante demais em sua intuição e eficiência, registrando fatos sem
o devido aprofundamento em suas conseqüências. Acredito que ao escutar dos Espíritos
que a união da alma com o corpo ocorre somente no instante do nascimento (primeira
edição de O Livro dos Espíritos) Kardec poderia ter indagado sobre a responsabilidade
de quem provoca um aborto, pois àquela altura todos já sabiam que a expulsão
proposital do útero materno, com a intenção de matar uma criança completamente
formada, que se movimenta e está pronta para nascer, estaria em desacordo com a ética,
a caridade e constituiria um crime. Por qual razão esse erro só foi corrigido na segunda
edição, após ser criticado pelos leitores mais atentos?
- Kardec recebeu críticas por endossar o pensamento comum na Europa de que nela
estava a parcela mais culta do planeta. Este fato não combatido e até defendido por ele,
no qual muitos europeus admitiam como inferiores, negros, índios e amarelos é causa
ainda hoje de errôneas interpretações das quais se servem seus detratores. Contra esta
atitude estão os próprios preceitos reencarnacionistas a ele passados pelos Espíritos: um
sábio cujo patrimônio intelectual seja mal-aplicado e que venha a causar prejuízos ao
meio em que vive, pode nascer junto a ignorantes, viver entre eles e, inclusive, ser um
deles, já que precede a reencarnação o esquecimento temporário de determinadas
conquistas anteriores. Sendo bem claro: um europeu culto, porém aético, poderia nascer
em uma tribo indígena, ser um hotentote, tribo a qual Kardec se refere como sendo uma
das mais atrasadas; um branco racista pode nascer entre negros; um mau patrão pode
nascer como empregado. Resumindo: tomando-se como base a cor da pele de um
homem, se compararmos um negro africano com um branco europeu, sendo ambos
desconhecidos para o observador, tudo quanto se pode dizer, com certeza, sobre o
negro, é que ele tem mais melanina do que o branco.
- Kardec também foi criticado por considerar o trabalho intelectual uma forma superior
de atividade, tanto entre encarnados quanto entre desencarnados (ver pergunta 538 de O
Livro dos Espíritos), o que, certamente, influenciou na elaboração da obra que
compunha, de vez que nela a abordagem dos fenômenos físicos e da experimentação
prática é diminuta. Tal pensamento elitista (Karl Marx o chamaria de burguês) pode
gerar em pessoas desinformadas, o seguinte raciocínio: se fulano é um trabalhador
artesanal, operador de máquinas, sapateiro, dentre outros, está ligado a um trabalho
25
inferior, é portanto um Espírito inferior. Jesus foi carpinteiro, Paulo de Tarso era
tecelão, Madre Teresa, Albert Schweitzer e Gandhi, foram faxineiros e escritores.
Todavia, todos eles se mostraram Espíritos iluminados. Acredito que este pensamento,
que perpassa toda a codificação, tenha desviado para outros pesquisadores
contemporâneos do mestre lionês, até mesmo como uma providência adotada pela
equipe espiritual responsável pela instalação do Espiritismo no planeta, a pesquisa e a
divulgação de toda a gama de fenômenos relacionados com os efeitos físicos. Tal foi o
trabalho efetuado por Madame D’Esperance, William Crookes, Daniel Dunglas Home,
Louis Alphonse Cahagnet, Alexandre Aksakof, Zöllner, Bozzano, Henry Slade, dentre
outros.
- Kardec é também criticado por ora utilizar, ora não utilizar e de outras vezes mal-
utilizar o método científico e a concordância universal para os ensinamentos espíritas.
Uma argumentação favorável a esse ponto de vista é a modificação que ocorreu na
segunda edição de O Livro dos Espíritos de três pontos altamente importantes para a
Doutrina e que todos desconhecem o critério utilizado na modificação. Essas
modificações já foram apresentadas acima.
Resta-nos reconhecer que Kardec viveu em um contexto e em um país que
realmente eram cultos, berço do iluminismo, sendo-lhe dificultoso escapar às
influências do meio, aos arroubos patrióticos de uma nação convicta da superioridade de
suas conquistas nos campos da ciência, da filosofia e das artes. Enquanto outros países
ainda escravizavam os negros e dizimavam os índios, a França, recanto mais luminoso
da Europa, preparava enciclopédias, aprofundava os direitos sociais, humanizava o
tratamento dos loucos, exaltava os valores filosóficos e artísticos, destacava a ciência
como linguagem representativa do progresso e burilava a religião procurando retirar
dela os pruridos humanos. Ao ler a obra de Kardec, deve o leitor situar-se em tal
contexto, pois dificilmente o homem passa incólume aos valores e tradições de sua
época.
Ao final do livro, em Comentários do Autor, aprofundaremos as questões aqui
abordadas.
Esses pontos sobre a vida e a obra de Kardec nos bastam para justificar a
necessidade das reflexões que passaremos a desenvolver em sua obra O Livro dos
Espíritos, sempre lembrando: Não tenho nenhuma intenção de modificar a citada
obra, retirando o que seu autor escreveu para colocar o que eu sugiro; apenas
proponho que o leitor coloque um livro ao lado do outro e, passo a passo, tire suas
próprias conclusões. Assim fizemos, eu e o tempo. As sugestões que constam na
obra têm a finalidade de oferecer ao leitor um referencial para que ele possa
avaliar o comentário feito, e não para que elas sejam introduzidas em meio aos
escritos de Kardec.
Como o codificador também disse que na Doutrina Espírita tudo deveria ter
precisão e clareza, sem nada deixar de vago, consideramos que a presente resposta
necessita de um complemento.
Sugestão: Na sua reentrada no mundo dos Espíritos, a alma aí reencontra alguns
daqueles que conheceu sobre a Terra e, à proporção que vai se readaptando a vida no
mundo espiritual, suas existências anteriores vão se retratando em sua memória com a
lembrança do bem e do mal que fez.
Aqui temos uma flagrante contradição com o que mais tarde, Kardec, mais
experiente e mais sábio, afirmaria: “Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo
jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em
erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade
nova se revelar, ele a aceitará”. (A Gênese, cap. I, Item. 55). Mas para que todos vejam
o apreço que Kardec tinha para com a ciência, vejamos algumas afirmativas suas
escritas no livro “A Gênese” lançado em 1868, já mais experiente neste assunto: Por
sua natureza, a revelação espírita tem duplo caráter: participa ao mesmo tempo da
revelação divina e da revelação científica. ... Participa da segunda, por não ser esse
ensino privilégio de indivíduo algum, mas ministrado a todos do mesmo modo; por não
serem os que o transmitem e os que o recebem seres passivos, dispensados do trabalho
da observação e da pesquisa, por não renunciarem ao raciocínio e ao livre-arbítrio;
porque não lhes é interdito o exame, mas, ao contrário, recomendado; enfim porque a
doutrina não foi ditada completa, nem imposta à crença cega; porque é deduzida, pelo
trabalho do homem, da observação dos fatos que os Espíritos lhe põem sob os olhos e
das instruções que lhe dão, instruções que ele estuda, comenta, compara, a fim de tirar
ele próprio as ilações e aplicações.
Um pouco adiante Kardec reforça este raciocínio: É, pois, rigorosamente exato
dizer-se que o Espiritismo é uma ciência de observação e não produto da imaginação.
As ciências só fizeram progressos importantes depois que seus estudos se basearam
sobre o método experimental; ate então, acreditou-se que esse método também só era
aplicável à matéria, ao passo que o é também às coisas metafísicas.
Para, finalmente, concluirmos que o Espiritismo não sobreviveria sem o auxilio
da ciência, vejamos como o codificador expõe de maneira clara sobre a necessidade de
união ente os aspectos religioso e científico: Assim como a ciência propriamente dita
tem por objeto o estudo das leis do princípio material, o objeto especial do Espiritismo
é o conhecimento das leis do principio espiritual. Ora, como este último princípio é
uma das forças da natureza, a reagir incessantemente sobre o princípio material e
reciprocamente, segue-se que o conhecimento de um não pode estar completo sem o
conhecimento do outro. O Espiritismo e a ciência se completam reciprocamente; a
ciência, sem o Espiritismo, se acha na impossibilidade de explicar certos fenômenos só
pelas leis da matéria; ao Espiritismo, sem a ciência, faltariam apoio e comprovação. O
estudo das leis da matéria tinha de preceder o da espiritualidade, porque a matéria é o
que primeiro fere os sentidos. Se o espiritismo tivesse vindo antes das descobertas
científicas, teria abortado, como tudo quanto surge antes do tempo.
29
Prolegômenos
O Livro dos Espíritos, em alguns tópicos, traz fortes argumentos a favor de uma
adequação. Seus organizadores desencarnados, ou seja, a equipe chefiada pelo Espírito
de Verdade, enfatizou que fiscalizaria toda a obra a fim de que ela não viesse a conter
erros ou interpretações dúbias. São afirmações dessa equipe contidas no texto em
análise: “Esse livro foi escrito por ordem e sob o ditado dos Espíritos superiores para
estabelecer os fundamentos de uma filosofia racional, livre dos preconceitos do espírito
do sistema. (...) Ocupa-te com zelo e perseverança do trabalho que tu empreendeste
com nosso concurso, porque esse trabalho é o nosso. (...) antes de o propagar, nós o
reveremos em conjunto, a fim de controlar-lhe todos os detalhes”.
A julgar pelas palavras acima, a obra deveria aproximar-se o quanto possível da
perfeição, com o mínimo de arestas. E por que surgiram equívocos na primeira edição,
já superados, e permanecem os de natureza científica ainda hoje?
Primeiramente ressaltemos que ao dizer “esse trabalho é nosso”, os Espíritos
referiam-se a eles e a Kardec, fato que impõe mais responsabilidade sobre os ombros do
codificador. Se fosse apenas dos Espíritos, Kardec teria sido um ser passivo e qualquer
pessoa medianamente preparada poderia selecionar textos, proceder a uma pequena
crítica e editar seu conteúdo. Sabemos que ele analisava as mensagens, fundia umas
com outras, as aprofundava e completava com textos seus, acrescentava notas, enfim,
dava corpo definido ao que ouvia e anotava. Podemos afirmar que grande parte dos
textos da codificação devemos a ele, à sua inteligência e intuição, pois dos Espíritos era
a idéia, a essência, a inspiração que jamais lhe faltou.
É prudente também admitir que ainda somos falhos em alguns detalhes,
notadamente na educação da mediunidade. A obra foi repassada a Kardec por via
mediúnica. Isso significa que em algum ponto ela pode ter sido alvo de interferência,
sofrendo modificações no pensamento original do comunicante.
Devemos lembrar de que O Livro dos Espíritos teve suas respostas elaboradas,
inicialmente, através da psicografia por intermédio de uma cesta de bico e,
posteriormente, através da mão do médium. A fragilidade do primeiro método decorre
da imprecisão da caligrafia, pouco legível, às vezes, e com palavras que poderiam estar
emendadas umas às outras, sendo necessário recorrer à intuição do médium para que a
mensagem tivesse sentido. A deficiência da segunda tem base na interferência que o
médium ou o comunicante pode sofrer, resultando disso um real prejuízo para a
mensagem.
Ressalte-se ainda que a primeira edição da obra foi quase que totalmente escrita pela
jovem Caroline Baudin, de 16 anos de idade, como narra Kardec na Revista Espírita, de
janeiro de 1858: “Os primeiros médiuns que concorreram para o nosso trabalho foram
as senhoritas Julie e Caroline Baudin, cuja boa vontade jamais nos faltou. O livro foi
quase todo escrito por seu intermédio e em presença de numeroso público que assistia
às sessões, nas quais tinha o mais vivo interesse. Mais tarde os Espíritos
30
tanto encarnado quanto na erraticidade, ou seja, com os dois corpos citados ou com
apenas um, o perispírito. A frase ficaria mais clara assim expressa: “... e tu sabes que é
apenas pelo trabalho que o Espírito adquire conhecimento”. Alguém poderá questionar
que o Espírito adquire conhecimento pelo estudo, pela prática das virtudes ou da
maldade, mas, em última instância, tudo é trabalho. Saiamos da introdução e
adentremos o cerne da obra.
Pergunta 2
- O que não tem começo nem fim; o desconhecido: tudo que é desconhecido é infinito.
A palavra, infinito significa, não finito, ou seja, sem fim. Eterno é o que não tem
começo nem fim. Mesmo admitindo a palavra, infinito, como o que não tem começo
nem fim a resposta não está clara. Tudo que é desconhecido um dia virá à luz. E quando
isso ocorrer ainda será infinito? Admitindo este raciocínio, o desconhecido tornar-se
conhecido, ele já não se encaixa mais dentro do conceito defendido inicialmente, o de
não ter começo nem fim, pois com o conhecimento dominado, encerrado estará o
problema. Por tal razão, concordamos com a supressão de parte da resposta. Chamamos
a atenção do leitor para o conceito de infinito adotado pelos autores da obra, de vez que,
tomado como verdadeiro, deverá adequar-se coerentemente em todas as situações em
que for utilizado.
Pergunta 11
- Quando seu Espírito não estiver mais obscurecido pela matéria e, pela sua perfeição,
ele estiver próximo dele, então, ele o verá e o compreenderá.
Se Deus é onipresente sempre estamos próximos Dele não sendo preciso esperar
a evolução para então gozarmos dessa proximidade. Quanto a vê-lo, como quem diz:
estou vendo ali o meu pai, isso o limitaria por enquadrá-lo em um espaço finito e Deus é
infinito.
Sugestão: Quando seu Espírito não estiver mais obscurecido pela matéria ele se
identificará em definitivo com Ele.
Pergunta 14
- Se o fora assim, Deus seria, o efeito e não a causa; ele não pode ser ao mesmo tempo
um e outra. Deus existe, vós não o podeis duvidar, é o essencial. Crede-me, não vades
além. Não vos percais num labirinto de onde não podereis sair. Isso não vos torna
melhores, mas talvez um pouco mais orgulhoso porque acreditaríeis o que na realidade
nada saberíeis. Deixai, pois, de lado todos esses sistemas; tendes muitas coisas que vos
tocam mais diretamente, a começar por vós mesmos. Estudai as vossas imperfeições, a
fim de vos desembaraçar delas, isso vos será mais útil do que querer penetrar o que é
impenetrável.
Sugestão: Se assim o fora, deus seria o efeito e não a causa. Deus existe, vós não podeis
duvidar, isso é essencial. Pesquisai, mas tende o cuidado para não vos tornardes
orgulhosos por um falso saber que julgais verdadeiro, tendo antes a preocupação de
apreender o conhecimento acerca de vós mesmos, a fim de vencer vossas imperfeições.
Pergunta 17
- Não, Deus não permite que tudo seja revelado ao homem nesse mundo.
Sugestão: Deus não permite, ainda, que tudo seja revelado ao homem nesse mundo
devido ao seu atraso intelectual e moral.
Pergunta 21
- A matéria existe desde o princípio, como Deus, ou foi criada por Ele em determinado
momento?
33
- Só Deus o sabe. Entretanto, há uma coisa que a vossa razão deve indicar: Deus,
modelo de amor e caridade, jamais esteve inativo. Por mais distante que se consiga
imaginar o início da sua ação, poder-se-á compreendê-lo um segundo sequer na
ociosidade?
Pergunta 25
- O Espírito é independente da matéria ou não é mais que uma propriedade desta, como
as cores são propriedades da luz e o som uma propriedade do ar?
- Ambos são distintos; mas é necessária a união do Espírito e da matéria para dar
inteligência à matéria.
Sugestão: Ambos são distintos; mas é necessária a união do Espírito com a matéria a
fim de que ele possa atuar no mundo a que é chamado a se exercitar. De certa forma,
com o auxílio do fluido vital ele animaliza a matéria e dela se serve em suas atividades.
Pergunta 31
- São modificações que as moléculas elementares sofrem pela sua união, e em certas
circunstâncias.
Sugestão: São modificações que as partículas elementares sofrem pela sua união, e em
certas circunstâncias.
Pergunta 33
Pergunta 34
- Sem dúvida, as moléculas têm uma forma determinada, mas que não é para vós
apreciável.
Sugestão: Sem dúvida, as moléculas têm uma forma determinada, mas para vós ainda
não apreciável.
Pergunta 35
- Infinito. Supõe-no limitado; que haveria além? Isto te confunde a razão, eu sei bem, e,
todavia, tua razão diz que não pode ser de outro modo. Ele é como o infinito em todas
as coisas; não é na vossa pequenina esfera que podereis compreendê-lo.
Sugestão: Ilimitado; Supõe-no limitado; o que haveria além? Isto te confunde a razão,
eu bem sei, e, todavia, tua razão diz que não pode ser de outro modo.
Pergunta 37
- Sem dúvida que ele não pôde fazer-se por si mesmo, e se fosse de toda a eternidade,
como Deus, não poderia ser obra de Deus.
Pergunta 40
- Isso é exato; mas o que é absurdo é crer-se em sua influência. Quero dizer, a
influência que vulgarmente se lhe atribui; porque todos os corpos celestes têm sua
parte de influência em certos fenômenos físicos.
A resposta a essa questão não nos parece clara, razão pela qual a dividiremos em
duas partes: se ela se referisse unicamente à condensação da matéria, permanecendo
como está nos pareceria lógica, apesar de não termos a certeza de que um corpo situado
a milhões de anos-luz da Terra, um asteróide, por exemplo, girando tranqüilamente em
órbita de algum planeta, possa ter influência em algum fenômeno físico na Terra. Se o
Espírito que a respondeu o fez incluindo os mundos a serem formados, ela se
modificaria.
Quanto aos cometas serem mundos em formação, nada há de provado neste
sentido, pelo contrário, a ciência afirma que o destino desses astros é a morte por
desgaste de matéria, que vai diminuindo a cada vez que passam próximo ao Sol.
Sugestão: Cometas são astros errantes que nos visitam periodicamente até que, por
decréscimo de matéria, o que ocorre a cada vez que se aproximam do Sol, desaparecem
do cenário celeste. Não devemos atribuir à sua aparição nenhum mau presságio, como
os antigos faziam, pois, trata-se de um fato normal dentro das leis que regem os
movimentos dos astros.
Pergunta 42
- Nada te posso dizer a respeito, porque só o Criador o sabe, e bem louco seria quem
pretendesse saber ou conhecer o número de séculos dessa formação.
Digno de nota é o tempo do verbo poder, no futuro, que assim empregado, nega
a lei de evolução. Consideramos que no momento em que a pergunta foi feita, muitos
Espíritos superiores, técnicos, engenheiros siderais, aos quais Deus confia a formação
de novos mundos, poderiam dar uma resposta exata à questão formulada.
A ciência atual já calcula a idade das mais antigas rochas com base na
radioatividade. Através de pesquisas feitas por Becquerel em 1895, constatou-se que
certos elementos químicos, os radioativos, vão se desintegrando espontaneamente a um
ritmo constante de emissão de partículas até estabilizarem-se sob a forma de um
elemento final. A velocidade e o modo de desintegração dos elementos radioativos são
próprios em cada um deles e podem ser determinados experimentalmente. Através da
aplicação dos métodos radioativos, a idade da Terra foi calculada em cerca de 4,6
bilhões de anos.
Indo mais longe, o homem descobriu através do estudo dos fósseis, que a origem
da vida teve seus ensaios iniciais em torno de quatro bilhões de anos passados, nos
lagos e oceanos. Há três bilhões de anos começaram a surgir os organismos
pluricelulares; há 2 bilhões de anos surgiu o sexo; há um bilhão de anos os vegetais
37
Pergunta 43
- No começo tudo era caos; os elementos estavam em confusão. Pouco a pouco cada
coisa tomou o seu lugar; então apareceram os seres vivos apropriados ao estado do
globo.
Pergunta 46
- Sim, mas o germe primitivo existia em estado latente. Sois testemunhas todos os dias,
desse fenômeno. Os tecidos dos homens e dos animais não encerram os germes de uma
multidão de vermes que aguardam, para eclodirem, a fermentação pútrida necessária à
sua existência? É um pequeno mundo que dormita e que se cria.
Sugestão: Não, pois um ser vivo surge através de outro que lhe dá origem. A
fermentação pútrida que ocorre por ocasião da morte dos seres vivos é necessária a fim
38
de que a matéria por eles utilizada seja restituída a terra para novamente ser
aproveitada.
Pergunta 49
- Se o germe da espécie humana se encontrava entre os elementos do globo, por que não
se formam mais, espontaneamente, os homens como na sua origem?
- O princípio das coisas está nos segredos de Deus; todavia, pode-se dizer que os
homens uma vez espalhados sobre a Terra, absorveram neles os elementos necessários
à sua formação para transmiti-los segundo as leis da reprodução. O mesmo se deu com
as diferentes espécies de seres vivos.
Sugestão: Pode-se dizer que os homens adquiriram a capacidade de formar cópias suas
segundo a lei de reprodução, pois já havia neles os elementos necessários à
transmissão dos caracteres hereditários. O mesmo se deu com as diferentes espécies de
seres vivos surgidas deles.
Pergunta 52
- Do clima, da vida e dos costumes. O mesmo ocorre com dois filhos da mesma mãe
que, educados um longe do outro e diferentemente, não se assemelham em nada quanto
à moral.
Primeiramente é preciso lembrar que a ciência já provou que existe apenas uma
raça humana. Quando se fala sobre moral, faz-se alusão a um conjunto de regras de
conduta consideradas como válidas, quer de modo absoluto para qualquer tempo ou
lugar, quer para grupo ou pessoa determinada. Dessa maneira nos referimos à moral do
Cristo e a consideramos válida para todos os cristãos. Ora, se esses dois filhos já
tiverem valores morais consolidados, mesmo longe e em culturas diferentes, mostrar-se-
ão semelhantes no modo de agir diante de fatos que exijam uma decisão, provando a
aquisição de um determinado valor ou conquista, tal como a paciência, a tolerância, a
justiça, a caridade, dentre outras. As diferenças culturais dos povos não retiram dos
Espíritos seus valores morais já conquistados, que de alguma maneira se expressam,
visto que eles não podem retrogradar. A resposta parece ignorar as afinidades, as
tendências e o estágio espiritual de cada um, generalizando aspectos que necessitam de
detalhes para um completo entendimento. Exemplificando: dois filhos de uma mesma
39
Pergunta 55
- Sim, e o homem da Terra está longe de ser, como ele crê, o primeiro em inteligência,
em bondade e em perfeição. Todavia, há homens que se crêem muito fortes, que
imaginam que somente seu pequeno globo tem o privilégio de abrigar seres racionais.
Orgulho e vaidade! Julgam que Deus criou o Universo só para eles.
A pergunta, segundo o meu ponto de vista, foi feita com a intenção de saber da
existência de seres humanos em outros planetas e não de simples formas de vida, tais
como vírus e bactérias. Suponhamos que a Terra seja o universo que conhecemos. Nela
existe locais onde a vida é abundante, outros onde é escassa e terceiros onde ela não
floresce. As cidades, os desertos, o centro da Terra com seu núcleo de ferro e níquel
incandescente, podem nos dar uma idéia desse quadro. Não podemos imaginar o
universo com semelhantes características? Haverá vida em um buraco negro? Em uma
estrela que explode transformando-se em uma supernova? Em uma estrela qual o Sol,
onde as explosões são constantes devido aos átomos de hidrogênio se fundirem a uma
temperatura que oscila entre 15 a 20 milhões de graus para formar o hélio? Nas
explosões das estrelas, o que sucederia com a vida se ela lá estivesse? Seria
exterminada? A Lua não é habitada por encarnados. Deveríamos então fazer uma
divisão clara de mundos habitados por encarnados e outros por desencarnados, a fim de
que alguém não venha a dizer: “Não é habitado por encarnados, mas pode ser por
desencarnados”
A pergunta de número 43 indaga quando a Terra começou a ser povoada. Isso
não é um indicativo de que ela, no período de sua formação estava despovoada? Nesse
período correspondente a um bilhão ou mais de anos necessários a sua consolidação, era
ou não era um planeta? Quem respondeu à pergunta de número 55 teve condições de
averiguar ou saber de uma fonte segura que tivesse sondado os confins do universo a
fim de se certificar se todos os globos são habitados?
Já fomos à Lua e enviamos a Marte naves que fizeram um relato completo de
sua superfície. Somente a Mariner 9 orbitando este planeta durante 349 dias, enviou
para a Terra 7.329 fotografias. Temos um mapa da superfície marciana mostrando solo
avermelhado, pedras, montes e buracos. Ainda não foi encontrada nenhuma espécie de
vida entre esses escombros. Viveriam os marcianos no interior do planeta ou teriam eles
o poder de iludir nossos instrumentos?
Quando o Espiritismo faz uma citação, esta deve ter respaldo científico. Foi
assim que aconselhou o seu codificador. Afirmações espetaculares, mas sem a devida
40
Sugestão: Acreditamos que a grande maioria o seja, e o homem da Terra está longe de
ser, como ele crê o primeiro em inteligência, em bondade e em perfeição. Todavia, há
homens que se crêem muito fortes, que imaginam que somente seu pequeno globo tem o
privilégio de abrigar seres racionais. Orgulho e vaidade! Julgam que Deus criou o
Universo só para eles.
Pergunta 56
hierarquia espiritual. Logo, há algo em comum entre os mundos, pelo menos alguns,
que os tornam semelhantes, fisicamente e espiritualmente, em um ou mais aspectos.
Os seres orgânicos são aqueles que têm, em si mesmos, uma fonte de atividade
íntima que lhes dá a vida. Eles nascem, crescem, reproduzem-se por si mesmos e
morrem. São dotados de órgãos especiais para realizarem os diferentes atos da vida e
que são apropriados às suas necessidades de conservação. Nessa classe estão
compreendidos os homens, os animais e as planta. Os seres inorgânicos são todos
aqueles eu não têm vitalidade, nem movimento próprio e não se formam senão pela
agregação da matéria. Tais são os minerais, a água, o ar, etc.
Destaco ainda no texto que inicia este capítulo, que ele se baseia na classificação
ultrapassada que englobava todos os seres vivos em apenas animais e vegetais. Hoje
sabemos que a classificação se estende por cinco reinos e mais os vírus, que não
pertencem a nenhum deles, devido suas características específicas.
Sugestão: Os seres orgânicos são aqueles que apresentam em sua estrutura básica
moléculas orgânicas, ou seja, aquelas que contêm átomos de carbono formando
cadeias, as quais se ligam outros elementos, tais como o oxigênio, o hidrogênio e o
nitrogênio. Estes seres têm em si mesmos, uma fonte de atividade íntima que lhes dá a
vida. Eles nascem, crescem, reproduzem-se por si mesmos e morrem. São dotados de
órgãos especiais para realizarem os diferentes atos da vida, apropriados às suas
necessidades de conservação. Nessa classe estão compreendidos as bactérias, os
protozoários e as algas, os fungos, as plantas e os animais. Os seres inorgânicos são
todos aqueles eu não têm vitalidade, nem movimento próprio e não se formam senão
pela agregação da matéria. Tais são os minerais, a água, o ar, etc.
Pergunta 67
- Ele não se desenvolve senão com o corpo. Não dissemos que esse agente sem a
matéria não é a vida? É necessária a união dessas duas coisas para produzir a vida.
Melhor seria trocar a palavra corpo por “matéria orgânica com certo nível de
organização”. O vírus é acelular, ou seja, não tem células, mas tem fluido vital, pois é
vivo. Seguindo este raciocínio podemos dizer que a vitalidade, ou princípio vital, latente
na matéria orgânica com ela se associa ou é acionada a partir de certo nível de
organização conquistada por ela. Seguem os vírus, as bactérias, os protozoários
culminando com os seres mais evoluídos como os humanos. Atualmente constatou-se
que uma proteína anormal ou príon pode reproduzir réplicas de si mesma e espalhar
doenças, tais como a da “vaca louca”. Estaria aí o limite além do qual o princípio vital
seria acionado?
Sugestão: - Ele não se desenvolve senão quando a matéria atinge certo nível de
organização. Não dissemos que esse agente sem a matéria não é a vida? É necessária a
união dessas duas coisas para produzir a vida.
Pergunta 68
A morte dos seres vivos pode ocorrer por dezenas de motivos naturais ou induzidos.
Para que a pergunta fique mais clara seria aconselhável adicionar a ela a palavra
natural.
Pergunta 68-a
- Sim; se a máquina está mal montada, a atividade cessa; se o corpo adoece, a vida se
extingue.
Sugestão: Sim; se a máquina está defeituosa, a atividade cessa; se o corpo adoece a tal
ponto de não mais desenvolver suas atividades vitais, a vida orgânica se extingue.
Pergunta 71
- Não, pois as plantas vivem e não pensam; têm apenas vida orgânica. A inteligência e
a matéria são independentes, pois um corpo pode viver sem inteligência; mas a
inteligência não pode se manifestar senão por meio de órgãos materiais; é necessária a
união com o Espírito para intelectualizar a matéria animalizada.
Nesse comentário Kardec afirma a existência de seres vivos que têm a mais que
outros um princípio inteligente, admitindo assim que alguns não o possuem. Léon
Denis, André Luiz, Gabriel Delanne e os próprios Espíritos que auxiliaram na
codificação, pensam de maneira diferente.
* “O homem é, pois, ao mesmo tempo, Espírito e matéria, alma e corpo; mas,
talvez que Espírito e matéria não sejam mais do que simples palavras, exprimindo de
maneira imperfeita as duas formas de vida eterna, a qual dormita na matéria bruta,
acorda na matéria orgânica, adquire vitalidade, se expande e se eleva no Espírito”
(Leon Denis – O Problema do Ser do Destino e da Dor). Poeticamente, esse raciocínio
foi absorvido pelos espíritas da seguinte maneira: A alma dorme nos minerais, sonha
nos vegetais, agita-se nos animais e acorda no homem.
* “Através de mil modelos inferiores, nos labirintos de uma escalada
ininterrupta; através das mais bizarras formas; sob a pressão dos instintos e da sevícia
de forças inverossímeis, a cega psique vai tendendo para a luz, para a consciência
esclarecida, para a liberdade” (Gabriel Delanne – A Evolução Anímica).
* “A imensa fornalha atômica estava habilitada a receber as sementes da vida
e, sob o impulso dos gênios construtores, que operavam no orbe nascituro, vemos o seio
da Terra recoberto de mares mornos, invadido por gigantesca massa viscosa a
espraiar-se no colo da paisagem primitiva. Dessa geleia cósmica, verte o princípio
inteligente, em suas primeiras manifestações” (André Luiz – Evolução em dois
Mundos).
44
* “A alma pareceria, assim, ter sido o princípio inteligente dos seres inferiores
da criação? – Não dissemos que tudo se encadeia na Natureza e tende à unidade? É
nesses seres, que estais longe de conhecer totalmente, que o princípio inteligente se
elabora, se individualiza pouco a pouco e ensaia para a vida” ( Allan Kardec - O Livro
dos Espíritos, pergunta 607).
* “O Espírito não chega a receber a iluminação divina, que lhe dá,
simultaneamente com o livre arbítrio e a consciência, a noção dos seus altos destinos,
sem haver passado pela série divinamente fatal dos seres inferiores, entre os quais se
elabora lentamente a obra da sua individualização” (Allan Kardec – A Gênese).
Acreditamos que o princípio inteligente contribui na modelação do seu
envoltório astral que dará origem ao futuro perispírito, e participa ativamente na
resolução dos problemas atinentes à sua sobrevivência e reprodução. A base para tal
afirmação é bem simples: efeitos inteligentes têm origem em causas inteligentes.
Observando-se a atividade de um simples vírus, como ele invade uma célula, toma seus
comandos e injeta seu material genético, passando a interferir no metabolismo da célula
invadida, percebemos que ele demonstra uma inteligência invulgar. Ele toma a
“fortaleza” (célula) de assalto, passa a comandar a síntese de novos ácidos nucléicos
virais à custa da energia e dos componentes químicos da célula hospedeira (aproveita a
fábrica para fabricar armas), culminando com a reprodução de novas cópias suas
(clones) num processo de produção por montagem digno das mais modernas fábricas.
Diante de tamanha precisão e planejamento há de se perguntar: que obra do acaso
engendraria plano tão inteligente?
Alguém poderá dizer que estamos diante do automatismo da matéria, de reflexos
ou movimentos instintivos. Mas por que isso não ocorre em uma pedra, já que ela é
também matéria? O fato é que existe uma evolução e uma complexidade claras a partir
de determinado ponto de organização da matéria, caminhando progressivamente até o
homem.
Pergunta 84
Podemos admitir pelo pensamento que o Espírito seja, em si, uma inteligência
incorpórea, já que é ele quem detém a inteligência. Todavia, ele não existe separado do
seu perispírito ou corpo espiritual, por mais quintessenciado que este seja. Ora, sendo o
perispírito inseparável do Espírito e um corpo que deve obedecer à composição fluídica
do mundo em que habita no momento, não podemos admitir a sua existência sem o seu
inseparável revestimento. É por esta razão que vemos e reconhecemos alguém no
mundo espiritual devido ao seu invólucro, e jamais o Espírito propriamente dito.
A pergunta feita por Kardec refere-se ao mundo espiritual tal qual o
conhecemos, e neste os Espíritos são corpóreos, ou seja, possuem o corpo espiritual.
45
Pergunta 89
Sugestão: Isso varia conforme a evolução de cada um. Existem aqueles cujos
perispíritos são mais densos e que, por isso mesmo, se locomovem mais lentamente, e
outros são rápidos como o pensamento.
Pergunta 89-a
- Quando o pensamento está em qualquer parte, a alma aí está também, pois é a alma
quem pensa. O pensamento é um atributo.
Pergunta 91
46
- Não; eles penetram em tudo: o ar, a terra, as águas e mesmo o fogo lhes são
igualmente acessíveis.
Se assim fosse, qual seria a utilidade das construções no mundo espiritual? Não
existem nele hospitais, habitações, templos, fortalezas tidas como inexpugnáveis? Mais
uma vez a resposta generaliza a questão. Os habitantes de uma colônia espiritual, Nosso
Lar, por exemplo, não atravessam as paredes que constróem para seus abrigos, pois
estes são compatíveis com o nível vibracional que ocupam na escala evolutiva. De outra
maneira, que sentido teria construí-las, caso fossem devassáveis por qualquer um?
Todavia, um Espírito de maior nível vibracional, de perispírito mais quintessenciado,
mais imponderável, portanto, poderá atravessar as paredes daquela colônia. Um inferior,
jamais. As leis de Deus permitem que os superiores a tudo vejam e atravessem desde
que o objeto de suas investigações se encontre em nível vibracional abaixo do estágio
que ocupam. Pois, se assim agem, o motivo é sempre ajudar e aperfeiçoar. Deus a tudo
vê e a tudo penetra e, da mesma maneira, em escala descendente, seus auxiliares. Neste
caso, ainda que a pergunta de Kardec se refira a matéria como a entendem os cientistas,
necessita, no mínimo, de um comentário adicional ou de uma nota explicativa a fim de
que o assunto seja devidamente esclarecido.
Sugestão: Não; eles penetram em tudo que se situe abaixo do seu estado vibracional, ou
seja, da quintessência adquirida pelo seu corpo espiritual. Para os superiores tudo é
devassável.
Pergunta 94
- Do fluido universal de cada globo. Por isso, ele não é o mesmo em todos os mundos.
Passando de um mundo para outro, o Espírito troca seu envoltório, como muda de
roupa.
Sugestão: Do fluido universal de cada globo. Por isso, ele não é o mesmo em todos os
mundos. Passando de um mundo para outro, o Espírito troca os fluidos que envolvem
seu perispírito, como muda de roupa.
Pergunta 124
- Uma vez que há Espíritos que, desde o princípio, seguiram o caminho do bem absoluto
e outros do mal absoluto, deve haver sem dúvida, degraus entre esses dois extremos?
Comentário:
Pergunta 154
- Não, o corpo sofre, freqüentemente, mais durante a vida que no momento da morte; a
alma está por um fio. Os sofrimentos que experimenta, algumas vezes, no momento da
morte, são um prazer para o Espírito que vê chegar o fim do seu exílio.
Apesar da palavra “freqüentemente”, o que quer dizer, nem sempre, existe uma
negação no início da resposta. Aqui podemos observar uma variedade de casos que se
contam aos milhares, todos ligados ao estado evolutivo do Espírito. O livro “O Céu e o
Inferno” registra uma síntese admirável acerca desse problema: “O estado do Espírito
por ocasião da morte pode ser assim resumido: tanto maior é o sofrimento, quanto mais
lento for o desprendimento do perispírito; a presteza desse desprendimento está na
razão direta do adiantamento moral do Espírito; para o Espírito desmaterializado, de
consciência pura, a morte é qual um sono breve, isento de agonia, e cujo despertar é
suave”.
Não convém generalizar essa resposta devido à importância da questão, pois isso
prejudica o entendimento e estabelece certa confusão em contextos diferentes.
Pergunta 155-a
- Não, a alma se liberta gradualmente e não escapa como um pássaro cativo que ganha
subitamente a liberdade. Esses dois estados se tocam e se confundem; assim o Espírito
se liberta pouco a pouco de seus laços: os laços se desatam, não se quebram.
Nas mortes violentas, por acidentes, o Espírito é colhido de surpresa tendo seus
laços perispirituais quebrados com grande violência. Nesses casos a separação da alma e
a cessação da vida orgânica ocorrem quase que instantaneamente. Nesse caso, a
perturbação pode ser maior, a depender do estágio evolutivo do Espírito, devido ao
inesperado gênero de morte que o toma de súbito, o que não ocorre nas mortes naturais
pelo esgotamento dos órgãos que, aos poucos, vão perdendo o fluido vital.
Sugestão: Nas mortes naturais, ou seja, por esgotamento do fluido vital, a alma se
liberta gradualmente e não escapa como um pássaro cativo que ganha subitamente a
liberdade. Nas mortes bruscas há uma quebra dos laços perispirituais que prendem o
49
Espírito ao corpo, fazendo, geralmente, com que aquele mergulhe em grande confusão.
Genericamente, podemos dizer que esses dois estados se tocam e se confundem.
Pergunta 157
- No momento da morte, a alma tem, algumas vezes, uma inspiração ou êxtase que lhe
faça entrever o mundo em que vai entrar?
- Freqüentemente a alma sente se desatarem os laços que a ligam ao corpo; ela faz
então todos os seus esforços para rompê-los inteiramente. Já em parte desligada da
matéria, ela vê o futuro se desenrolar diante dela e alegra-se, por antecipação, da
situação de Espírito.
Isso ocorre apenas com os Espíritos sem grandes culpas, pois há os que
desencarnam, e não são poucos, pensando apenas em ódio e vingança. Outro tanto,
mergulhado na ignorância, prolonga o estágio no vício que se permitiu quando
encarnado, e outros enlouquecem de dor e sofrimento devido ao gênero de vida e de
morte pelos quais passaram. O Espírito de alguns suicidas, simplesmente desmaia,
permanecendo neste estado durante meses.
Pergunta 160
- O Espírito reencontra imediatamente aqueles que ele reconheceu sobre a Terra e que
morreram antes dele?
- Sim, segundo a afeição que lhes tinha e a que tinham por ele. Freqüentemente, eles o
vêm receber em sua volta ao mundo dos Espíritos, e ajudam a libertá-lo das faixas da
matéria; reencontra, também, a muitos que havia perdido de vista em sua permanência
sobre a Terra. Vê aqueles que estão na erraticidade, aqueles que estão encarnados, e
os vai visitar.
Sugestão: Nem sempre. Isso depende da afeição que lhes tinha e a que tinham por ele.
Freqüentemente, eles o vêm receber em sua volta ao mundo dos Espíritos, e ajudam a
libertá-lo das faixas da matéria; reencontra, também, a muitos que havia perdido de
vista em sua permanência sobre a Terra. Vê aqueles que estão na erraticidade, aqueles
que estão encarnados, e os vai visitar. Para alguns a realidade é diversa, pois podem
ser aprisionados por inimigos, juntar-se a outros em busca de vingança, ser deslocados
para regiões de sofrimento, internados para refazimento por longos períodos e até, em
caso extremo, serem enviados a mundos ainda mais inferiores ao que habitaram.
50
Pergunta 162
Sugestão: Ao contrário, em todos os casos de morte violenta, quando ela não resulta
da extinção gradual das forças vitais, os laços que prendem o corpo ao perispírito são
mais tenazes, mas quebrados de súbito, fazem o Espírito imergir em profunda
perturbação na qual ele confunde a vida espiritual que já adentrou com a vida material
que acaba de deixar.
Pergunta 188
Pergunta 199
- A duração da vida de uma criança pode ser, para o Espírito que está nela encarnado,
o complemento de uma existência interrompida antes do seu término marcado, e sua
morte, no mais das vezes, é uma prova ou uma expiação para os pais.
Pergunta 200
- Não como o entendeis, pois, os sexos dependem do organismo. Entre eles há amor e
simpatia baseados na identidade de sentimentos.
É correto dizer que o Espírito não tem sexo. Todavia ele é revestido por um
corpo fluídico a que chamamos de perispírito que, geralmente, apresenta as
características físicas da sua última encarnação. É dessa maneira que o Espírito pode ser
identificado por aqueles que o conheceram na Terra. Assim falamos e nos dirigimos a
eles, como Antônio de Pádua, Francisco de Assis, Maria de Nazaré, dentre outros. Esse
perispírito tem órgãos e sistemas, à semelhança do corpo físico, sendo, contudo, menos
grosseiro.
Sugestão: Não como o entendeis, pois, os sexos dependem do organismo. Entre eles há
amor e simpatia baseados na identidade de sentimentos. No entanto, seu perispírito
apresenta-se, geralmente, com a aparência da última encarnação, tenha sido esta de
homem ou mulher.
Pergunta 202
Comentário de Kardec: Aquele que fosse sempre homem não saberia senão o que sabem
os homens.
Séculos atrás essa afirmativa soaria bem. Atualmente a mulher ocupa todas as
posições sociais e profissionais, a maioria delas, no passado, privilégio apenas
masculino. Os homens, por sua vez, vão à cozinha, lavam roupas, criam seus filhos com
imenso carinho e, com exceção da gestação e da amamentação, fazem qualquer
trabalho, antes destinado apenas às mulheres. Não há mais universo masculino ou
feminino, mas universo humano. Alguns podem até dizer que ternura, delicadeza,
52
Pergunta 228
Sugestão: Os Espíritos elevados, perdendo seu envoltório físico, deixam as más paixões
do meio em que viveram, visto que jamais as aprovaram ou participaram delas; quanto
aos Espíritos inferiores, conservam-nas, pois, de outra forma, seriam de primeira
ordem.
Pergunta 258
- Ele próprio escolhe o gênero de provas que quer suportar e é nisso que consiste o seu
livre-arbítrio.
a) - Não é Deus que lhe impõe, então, as tribulações da vida como castigo?
53
- Nada ocorre sem a permissão de Deus, pois é ele quem estabelece todas as leis que
regem o universo. Perguntai, então, por que ele fez tal lei ao invés de outra. Dando ao
Espírito a liberdade de escolha, deixa-lhe toda a responsabilidade de seus atos e suas
conseqüências, de maneira que nada entrava o seu futuro; o caminho do bem, como o
do mal, lhe está aberto. Se sucumbe, resta-lhe a consolação de que nem tudo se acabou
para ele; Deus, na sua bondade, lhe dá a oportunidade de recomeçar o que foi mal
feito. É necessário, aliás, distinguir o que é obra da vontade de Deus do que é da
vontade do homem. Se um perigo vos ameaça, não foste vós que criastes esse perigo,
mas Deus; contudo, vós, pela própria vontade, vos expondes porque vedes nele um
meio de adiantar-vos e Deus o permite.
Sugestão para a resposta: Ele próprio escolhe o gênero de provas que quer suportar e é
nisso que consiste o seu livre-arbítrio. No entanto há aqueles que não têm condições de
pedir devido ao estado de alienação em que se encontram, bem como aqueles que têm
seus pedidos rejeitados e substituídos por programas mais condizentes com seus
méritos e deméritos.
Sugestão para a segunda parte da resposta: Nada ocorre sem a permissão de Deus, pois
é ele que estabelece todas as leis que regem o universo. Perguntai, então, por que ele
fez tal lei ao invés de outra. Dando ao Espírito a liberdade de escolha, deixa-lhe toda a
responsabilidade de seus atos e suas conseqüências, de maneira que nada entrava o seu
futuro; o caminho do bem, como o do mal, lhe está aberto. Se sucumbe, resta-lhe a
consolação de que nem tudo se acabou para ele; Deus, na sua bondade, lhe dá a
54
oportunidade de recomeçar o que foi mal feito ou está inacabado. É necessário, aliás,
distinguir o que é obra da vontade de Deus do que é da vontade do homem.
Pergunta 269
- Ele pode escolher uma que esteja acima de suas forças e, então, sucumbe; pode,
também, escolher uma que não lhe dê proveito algum, como ocorre se prefere um
gênero de vida ociosa e inútil. Nesse caso, uma vez de volta ao mundo dos Espíritos, ele
percebe que nada ganhou e pede outra existência para reparar o tempo perdido.
Sugestão: Ele pode escolher uma que esteja acima de suas forças e, então, sucumbe;
pode, também, escolher uma que não lhe dê proveito algum, como ocorre se preferir um
gênero de vida ociosa e inútil. Contudo, nessa ocasião, é esclarecido quanto às
questões que podem levá-lo ao fracasso e, freqüentemente, muda de opinião diante dos
argumentos daqueles que o orientam. Insubmisso e orgulhoso, pode fazer-se de surdo
aos bons conselhos e, nesse caso, uma vez de volta ao mundo dos Espíritos, percebe
que nada ganhou e pede outra existência para reparar o tempo perdido.
Pergunta 275
com o seu suicídio. Todavia, se por pequenos entendermos os humildes e por grandes os
orgulhosos, a resposta dada pelos Espíritos é irretocável.
Sugestão: Mais uma vez, isso depende da evolução espiritual de cada um. O homem
bom não degenera. Segue-se que os humildes são elevados e os orgulhosos são
rebaixados.
Pergunta 282
Pergunta 283
- Não, para eles tudo está a descoberto, sobretudo aos que são perfeitos. Podem se
distanciar, mas se vêem sempre. Isto, entretanto, não é uma regra absoluta, pois certos
Espíritos podem muito bem se tornar invisíveis para outros Espíritos, se julgam útil
fazê-lo.
Sugestão: Insistentemente temos afirmado que tudo obedece à lei de evolução. Para os
que se adiantaram tudo está a descoberto. Podem se distanciar, mas se vêem sempre.
Os mais inferiorizados, à medida que progridem, vão conquistando seus atributos,
alargados na proporção dos esforços que empreendem para mais se libertarem do
julgo da matéria.
Pergunta 284
- Como os Espíritos que não têm mais corpo, podem constatar sua individualidade e se
distinguir dos outros seres espirituais que os cercam?
Pergunta 285-a
- Vemos nossa vida passada e a lemos como em um livro; vendo o passado de nossos
amigos e de nossos inimigos, vemos sua passagem da vida para a morte.
Sugestão: Pela aparência que o perispírito toma da última encarnação e pela afinidade
de gostos. Aqueles que simpatizam das mesmas idéias se atraem, caso contrário, se
evitam.
57
Pergunta 293
- Duas pessoas que foram inimigas sobre a Terra, conservarão ressentimento, uma
contra a outra, no mundo dos Espíritos?
- Não, elas compreenderão que seu ódio foi estúpido e o motivo pueril. Os Espíritos
imperfeitos conservam apenas uma espécie de animosidade até que estejam purificados.
Se foi um interesse material que os dividiu, eles não pensarão mais nisso, por pouco
que sejam desmaterializados. Se não há mais antipatia entre eles, o motivo da
discussão não mais existindo, eles podem se rever com prazer.
Pergunta 306-b
A resposta induz a que se pense que o Espírito sempre sai de uma encarnação
com seu débito aliviado, o que não é verdade. Igualmente, pode fazer planos de realizar
determinada tarefa e, por sua vontade, trabalhando no limite de suas forças, avançar na
tarefa muito além do prometido, como pode estacionar sem lucros reais, para abater
parcelas de sua dívida. Havia um planejamento para que Chico Xavier escrevesse 30
livros. Cumprida a tarefa, o total foi aumentado para 50, depois para 100, 150... e o
Chico chegou a mais de 400. Temos, pois, no que se referem a este tema, débitos
agravados, estacionados e aliviados, como elucida André Luiz em sua obra Ação e
Reação, sem, contudo, o Espírito retrogradar nas virtudes já conquistadas e na
aprendizagem já consolidada.
Pergunta 308
- Todo o seu passado se desenrola diante dele como as etapas do caminho que o
viajante percorreu. Mas, dissemos que ele não se lembra de maneira absoluta de todos
os atos, porém em razão da influência que tem sobre seu estado presente. Quanto às
primeiras existências, as que podemos considerar a infância do Espírito, perdem-se no
vago e desaparecem na noite do esquecimento.
Sugestão: O Espírito vai lembrando, à proporção que se adapta à sua nova situação,
dos fatos da antecedente existência. Quanto às existências anteriores, isso depende do
grau de adiantamento de cada um. Geralmente, é aos poucos que ele vai penetrando no
passado e resgatando a sua história de vida. Quanto mais evoluído mais conhecedor de
si ele é. Porém, há acontecimentos que permanecem obscuros à sua visão até que ele
tenha o amadurecimento para enfrentá-los, e as primeiras encarnações perdem-se na
noite do esquecimento.
Pergunta 328
- O Espírito daquele que acaba de morrer, assiste à reunião dos seus herdeiros?
- Quase sempre. Deus o permite para a sua própria instrução e o castigo dos culpados;
é então que ele julga o valor das manifestações que lhe fazem. Para ele, todos os
sentimentos estão a descoberto e a decepção que experimenta vendo a cobiça dos que
partilham seus despojos o esclarece sobre seus sentimentos; mas a vez deles chegará.
É certo que Deus pode permitir que alguém assista a partilha dos seus bens com
a finalidade de aferir quem são seus verdadeiros afetos. Mas quem aplicará o castigo aos
culpados? Será que o reencarnante vai à forra punindo os que agem como vilões e
dilapidadores do seu patrimônio? Acreditamos que não, pois isso implicaria num revide,
numa vingança, e tal conselho seria indigno da parte dos bons Espíritos. Do castigo dos
culpados se encarregará a Lei. Não estou afirmando em meu comentário que a questão
induz a uma desforra, mas sugerindo que se atenue a linguagem da última frase.
Sugestão: Quase sempre. Deus o permite para a sua própria instrução; é então que ele
julga o valor das manifestações que lhe fazem. Para ele, todos os sentimentos estão a
59
descoberto e a decepção que experimenta vendo a cobiça dos que partilham seus
antigos bens o esclarece sobre os sentimentos que a ele dedicavam.
Pergunta 402
O que realmente quer dizer a frase acima? Que alguns Espíritos, por ocasião da
morte física, têm sonhos inteligentes? Que Espíritos que dão pouco valor às coisas
materiais e que, por isso mesmo, vão se “desmaterializando” enquanto encarnados, têm
sonhos inteligentes? Aliás, desligar-se rapidamente da matéria não implica em adquirir
ao mesmo tempo a lucidez, pois nas mortes bruscas o Espírito, tomado de surpresa, logo
se desliga da matéria, mas entra em profunda perturbação, e nesse estado de
aturdimento seus sonhos são, geralmente, confusos. Segue-se à morte um período de
perturbação no qual os sonhos podem ser inteligentes ou sofridos segundo o
adiantamento de cada Espírito. Aqueles que vão aos poucos se desapegando das coisas
materiais têm sonhos inteligentes, mas podem, também, ter outros que são fruto das
preocupações do dia. Além do mais, o corpo não fica como morto durante o sono, pelo
contrário, em certas fases do sono o cérebro trabalha ativamente.
Sugestão: retirar a frase, substituindo-a por: Nesse estado, reúne-se à sociedade de seres
superiores ou afins a ele. Com eles, viaja, conversa...
Pergunta 406
- Atos que não sonham de maneira alguma? Que sabes tu? Seu Espírito pode visitar o
teu, assim como o teu pode visitá-lo, e nem sempre sabes em que ele pensa. Aliás,
freqüentemente, atribuís às pessoas que conheceis, e segundo vossos desejos, o que se
passou ou se passa em outras existências.
Sugestão para a pergunta: Quando vemos em sonho pessoas ainda encarnadas, que
conhecemos perfeitamente, realizando atos que não realizariam no estado de vigília,
estamos diante de um efeito da imaginação?
Sugestão para a resposta: Atos que não sonham de maneira alguma? Que sabes tu? Seu
Espírito pode visitar o teu, assim como o teu pode visitá-lo, e nem sempre sabes em que
ele pensa. Aliás, freqüentemente, atribuís às pessoas que conheceis, e segundo vossos
desejos, o que se passou em outras existências, e até mesmo nesta, estabelecendo
confusão entre datas, episódios e personagens.
Pergunta 420
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- O Espírito não está encerrado no corpo como numa caixa: irradia para todos os
lados. Por isso ele pode se comunicar com outros Espíritos mesmo no estado de vigília,
ainda que o faça mais dificilmente.
Sugestão: O Espírito não está encerrado no corpo como numa caixa: irradia para todos
os lados. Por isso ele pode se comunicar com outros Espíritos, mesmo no estado de
vigília, ainda que o faça mais dificilmente, através da telepatia ou da projeção da
consciência.
Pergunta 422
- O estado do corpo se opõe a isso. Esse estado particular dos órgãos vos dão a prova
de que há, no homem, outra coisa além do corpo, visto que o corpo não tendo mais
função, o Espírito age.
Sugestão: O estado do corpo se opõe a isso. Esse estado particular dos órgãos vos dá a
prova de que há, no homem, outra coisa além do corpo, visto que este, por momentos,
entregue ao seu próprio automatismo, devido à liberdade que o Espírito desfruta,
permanece aparentemente sem função para seu usuário.
Pergunta 440
- Sim, ele os vê e compreende a felicidade dos que ali habitam; por isso gostaria de lá
ficar. Mas, existem mundos inacessíveis aos Espíritos que não são bastante depurados.
Sugestão: Sim, isso pode ocorrer, se ele tem méritos para tanto. Nesse estado ele os vê e
compreende a felicidade dos que ali habitam; por isso gostaria de lá ficar. Mas,
existem mundos inacessíveis aos Espíritos que não são bastante depurados.
Não existem mundos terrestres, mas sim um mundo chamado Terra. É preciso
utilizar termos corretos conforme o contexto em que situamos o leitor. Quando o
homem pisou na lua pela primeira vez criou-se um novo verbo para o evento, alunissar,
porque aterrissar refere-se a um pouso na Terra. De igual forma, tomando-se como
modelo o vocábulo geografia, que quer dizer escrita da Terra, foram cunhadas as
palavras selenografia e areografia, respectivamente, escrita da Lua e escrita de Marte.
Pergunta 466
- (...) Tu, sendo Espírito, deves progredir na ciência do infinito e é por isso que
passas...
Sendo um dos lemas do Espiritismo, o mais importante deles, por sinal, amai-
vos e instruí-vos, parece-nos óbvio que o Espirito necessita evoluir através desses dois
caminhos, o amor e a instrução, a fim de conquistar a sua maioridade moral-intelectual,
livrando-se assim das sucessivas reencarnações.
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Sugestão: Tu, sendo Espírito, deves progredir na ciência e na moral, e é por isso que
passas...
Pergunta 475
Antes de ser dominado por outro, dispõe o Espírito do seu senso crítico, o que
lhe permite analisar a situação em que se encontra e esboçar uma reação de defesa.
Tolhido físico e moralmente, encontra-se nas mãos do seu perseguidor, que o faz de
joguete de sua maldade. Nesse estágio do processo obsessivo severo, a subjugação, o
obsidiado necessita da ajuda de terceiros para subtrair-se de tão humilhante situação a
que se expôs, em razão de suas próprias falhas. Portanto, que utilize a vontade firme
antes que o pior lhe aconteça, pois atingindo a culminância almejada pelo obsessor, a
dominação completa do seu inimigo, na imensa maioria das vezes, somente com a ajuda
dos bons Espíritos tal desenlace se opera.
Pergunta 477
- Não, quando esses Espíritos vêem alguém tomar a coisa a sério, riem e se obstinam.
Sugestão: Não, na maioria das vezes, quando esses Espíritos vêem alguém tomar a
coisa a sério, riem e se obstinam. Contudo, há os ignorantes que se deixam
impressionar pelas fórmulas e palavras do exorcista, bem como os covardes que fogem
63
Pergunta 488
- Nossos parentes e nossos amigos, que nos precederam na outra vida, têm por nós mais
simpatia que os Espíritos que nos são estranhos?
- Sem dúvida, e freqüentemente eles vos protegem como Espíritos, segundo seu poder.
Sugestão: Muito sensíveis, mas pode ocorrer que, em alguns casos, eles se esqueçam
daqueles que os esqueceram, devido à falta de afinidade entre eles.
Pergunta 490
O Espírito protetor pertence sempre a uma categoria mais elevada que a do seu
protegido. Mas, tal como em outras questões, aqui temos que considerar o estágio
evolutivo em que o protegido se encontra. Nesse sentido, e somente neste, podemos
mencionar o protetor incluso em uma ordem elevada, ou seja, elevada em relação as que
se situam abaixo dele.
Sugestão: O Espírito protetor de uma ordem mais elevada do que a do seu protegido.
Pergunta 497
- O Espírito protetor pode deixar seu protegido à mercê de um Espírito que poderia lhe
desejar o mal?
- Há união dos maus Espíritos para neutralizar a ação dos bons. Mas, se o protegido
quiser, ele dará toda a força ao seu bom Espírito. O bom Espírito pode ser que
64
encontre uma boa vontade, alhures, para ajudar; ele disto aproveita até seu retorno
junto ao seu protegido.
O acompanhamento do protegido é uma missão que o protetor toma para si, não
podendo se afastar para outra desempenhar, a não ser deixando em seu lugar alguém
que a desempenhe de forma semelhante ou superior. Ele pode afastar-se ficando em
observação à distância, se o seu protegido negligencia suas tarefas, não escutando seus
reiterados apelos no sentido de cumprir o que lhe foi designado. Pode afastar-se,
igualmente, se por um motivo inadiável, sua presença for exigida em algum lugar
distante, devendo concentrar-se em outra atividade até que dela se desembarace. Nesse
caso, deixa alguém com igual competência a lhe substituir. A primeira parte da resposta
pode ser dispensada sem prejuízo para a segunda, que não detalha bem o caso.
Sugestão: Ao tomar como tarefa proteger alguém, o anjo guardião dele só se afasta por
um motivo realmente sério e, nesse caso, outro de igual competência ou superior, o
substitui.
Pergunta 498
- Quando o Espírito protetor deixa seu protegido se transviar na vida é por falta de força
da sua parte na luta contra outros Espíritos malévolos?
- Isso não é porque ele não pode, mas porque ele não quer. Seu protegido sai das
provas mais perfeito e mais instruído. Ele o assiste com seus conselhos pelos bons
pensamentos que lhe sugere, mas que, infelizmente, não são sempre escutados. Não é
senão a fraqueza, a negligência ou o orgulho do homem que dá força aos maus
Espíritos; seu poder sobre vós resulta de não lhes opordes resistência.
Sugestão: Isso não é porque ele não pode, mas porque analisa e decide pelo que é mais
benéfico para o progresso do protegido. Permitindo o assédio, este poderá sair das
provas mais perfeito e mais instruído. Ele o assiste com seus conselhos pelos bons
pensamentos que lhe sugere, mas que, infelizmente, não são sempre escutados. Não é
senão a fraqueza, a negligência ou o orgulho do homem que dá força aos maus
Espíritos; seu poder sobre vós resulta de não lhes opordes resistência.
Pergunta 507
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- Ele o pode, mas a proteção supõe certo grau de elevação, um poder ou uma virtude a
mais concedida por Deus. O pai que protege seu filho pode ser, ele mesmo, assistido
por um Espírito elevado.
Sugestão: Ele o pode, mas a proteção supõe certo grau de elevação, um poder ou uma
virtude a mais conquistada pelo protetor. O pai que protege seu filho pode ser, ele
mesmo, assistido por um Espírito elevado.
Pergunta 510
- Quando o pai que vela sobre seu filho vem a reencarnar, vela ainda sobre ele?
- Isso é mais difícil, mas ele convida, num momento de desprendimento, um Espírito
simpático para o assistir nessa missão. Aliás, os Espíritos não aceitam senão missões
que podem cumprir até o fim. O Espírito encarnado, sobretudo nos mundos onde a
existência é material, está mais submetido ao seu corpo para poder ser inteiramente
devotado, quer dizer, assistir pessoalmente. Por isso, aqueles que não são bastante
elevados, são, eles mesmos, assistidos por Espíritos que lhe são superiores, de tal sorte
que se um falta por uma causa qualquer, ele é substituído por outro.
Sugestão: Isso é mais difícil, mas ele convida, num momento de desprendimento, um
Espírito simpático para o assistir nessa missão. Aliás, Espíritos de valores morais já
consolidados, não aceitam senão tarefas que possam cumprir integralmente. O Espírito
encarnado, sobretudo nos mundos onde a existência é material, está mais submetido ao
seu corpo para poder ser inteiramente devotado, quer dizer, assistir pessoalmente. Por
isso, aqueles que não são bastante elevados, são, eles mesmos, assistidos por Espíritos
que lhe são superiores, de tal sorte que se um falta por uma causa qualquer, ele é
substituído por outro.
Pergunta 511
66
- Além do Espírito protetor, um mau Espírito é ligado a cada indivíduo, tendo em vista
compeli-lo ao mal e lhe fornecer uma ocasião de lutar entre o bem e o mal?
- Ligado não é o termo. É bem verdade que os maus Espíritos procuram desviar do bom
caminho, quando encontram oportunidade; mas quando um deles se liga a um
indivíduo, ele o faz por si mesmo, posto que espera ser escutado. Então, há a luta entre
o bom e o mau, e vence aquele ao qual o homem deixa imperar sobre si.
Supondo que cada Espírito, desde que ainda necessite da orientação de um anjo
guardião, reencarne sob seus cuidados, mais necessariamente aqueles ainda sem valores
morais destacados, não é conveniente polarizar a questão entre o bom e mau, já que, em
alguns casos, nenhum dos envolvidos, nem o homem, nem seu guardião, nem seu
obsessor é bom. Explicando melhor: se todos os Espíritos nascem sob a orientação de
um guardião, nos mundos inferiores, onde reina a força bruta, não existe ainda a noção
do justo e do injusto, os anjos guardiões não necessariamente são Espíritos superiores.
Comparando os anjos guardiões de um mundo inferior com os de um mundo de provas
e expiações, pode ocorrer que alguns dos primeiros sejam considerados maus quando
analisados sob a ótica e no contexto dos segundos. Se não tratarmos essa questão com a
relatividade que ela exige, precisaremos explicar este fato, pois nem Jesus aceitou o
título de bom, afirmando que só Deus o era. Neste caso a que me refiro, aquele que
opta por um caminho menos ruim pode ser classificado como menos mau, mas jamais
bom.
Sugestão: Ligado não é o termo. É bem verdade que os maus Espíritos procuram
desviar do bom caminho quando encontram oportunidade; mas quando um deles se liga
a um indivíduo, ele o faz por si mesmo, posto que espera ser escutado. Então, há uma
luta entre as duas vontades capitulando aquela que se deixa subjugar.
Pergunta 526
- Os Espíritos tendo uma ação sobre a matéria podem provocar certos efeitos para que
se cumpra um acontecimento? Por exemplo, um homem deve perecer: ele sobe em uma
escada, a escada se quebra e o homem morre da queda; são os Espíritos que fazem a
escada quebrar para cumprir o destino desse homem?
- É bem verdade que os Espíritos têm uma ação sobre a matéria, mas para o
cumprimento das leis da Natureza e não para as derrogar, fazendo surgir no momento
oportuno um acontecimento inesperado e contrário a essas leis. No exemplo que tu
citas, a escada se rompe porque ela estava carcomida ou não bastante forte para
suportar o peso do homem. Se estava no destino desse homem perecer dessa maneira,
eles o inspirarão o pensamento de subir por essa escada que deverá se romper sob o
seu peso, e sua morte terá lugar por um efeito natural e sem que seja necessário fazer
um milagre para isso.
Sugestão: É bem verdade que os Espíritos têm uma ação sobre a matéria, mas para o
cumprimento das leis da Natureza e não para as derrogar, fazendo surgir no momento
68
Pergunta 535
- Quando nos acontece alguma coisa feliz é ao nosso Espírito protetor que devemos
agradecer?
- Agradecei, sobretudo, a Deus, sem cuja permissão nada se faz, pois os bons Espíritos
foram seus agentes.
b) - Entretanto, há pessoas que não oram, nem agradecem e às quais tudo sai bem?
- Sim, mas é preciso ver o fim, pois pagarão bem caro essa felicidade passageira que
não merecem, porque mais tenham recebido, mais terão que restituir.
Primeiro é preciso que se diga que alguém pode não orar, esquecer de agradecer
a Deus as bençãos recebidas diariamente, permanecendo com créditos frente à vida, por
ações meritórias que desenvolve.
Deus não se ofende quando não agradecemos as dádivas de cada dia, tais como o
ar que respiramos, a comida que ingerimos, o deslocamento que fazemos e centenas de
situações nas quais nos situamos e que nos causam certa dose de alegria. A cada um é
dado segundo as obras e, na maioria das vezes, merecemos o que temos e o que nos
acontece, já que somos o resultado do que fazemos. Claro que a gratidão é um
sentimento nobre e demonstra no Espírito que a cultiva uma sensibilidade mais apurada.
Todavia, algumas pessoas são mais “desligadas” quanto a este aspecto; outras são
excessivamente compenetradas em suas tarefas e terceiras são tímidas o bastante para
nutrirem medo de se sentirem felizes. Estas se subestimam, carregam certa vergonha de
se admitirem merecedoras dos prazeres sadios desta vida. Existem pessoas que, sob o
tacão dos complexos que lhes impuseram, se travam diante das belezas e alegrias que
podem desfrutar, principalmente se tiveram uma educação castradora. Tais pessoas, até
porque não vêem em si as bençãos que em outras julga fecundas, se sentem desmotivas
para agradecer. Por outro lado, poderia gerar fanatismo o ato de, a todo instante,
agradecermos pelo que nos ocorre. Devemos ter a consciência de que tudo de bom que
nos alcança vem de Deus, do seu imenso amor para conosco; ao levantar e ao deitar
agradecermos por um novo dia e uma boa noite concedidos para o exercício na prática
das leis divinas. Deus sabe de nossas imperfeições e não nos cobra um regime de
adoração contemplativa, competindo com a nossa luta pela sobrevivência.
Apenas os ingratos pagam pela ingratidão. Um filho parte para um país distante
e, após anos sem comunicação, entretido em suas atividades produtivas, chega e diz:
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Pai, estive ocupado, mas jamais esqueci da sua amizade. Haverá ingratidão nessa
atitude? Deverá pagar ele o quinhão dos ingratos? Estejamos convictos de que devemos
perseguir o estado de agradecimento espontâneo, que é uma atitude íntima, uma
conquista do Espírito na qual ele, mesmo sem gestos e palavras, o reflete, pois já o tem
incorporado como estado natural.
Sugestão para a primeira pergunta: Agradecei, sobretudo, a Deus, sem cuja permissão
nada se faz, pois os bons Espíritos foram seus agentes. Mas não julgueis que Deus
exige de vós atitudes fanáticas, contemplação exagerada ou bajulações inúteis. Buscai
antes, um estado de agradecimento natural, ou seja, sede gratos, em Espírito e
naturalmente, por todo bem que vos ocorre.
Pergunta 538
- Os Espíritos que presidem aos fenômenos da Natureza formam uma categoria especial
no mundo espírita? São seres à parte ou Espíritos que estiveram encarnados como nós?
- Isso depende do seu papel mais ou menos material ou inteligente. Alguns comandam,
outros executam. Os que executam as coisas materiais são sempre de uma ordem
inferior, entre os Espíritos como entre os homens.
idéia que afirma serem os executantes de um trabalho braçal menos evoluído do que
outros que desempenham tarefas intelectuais, gerou um grande vago nos estudos dos
efeitos físicos por parte da codificação kardeciana, sendo preenchida por outros
pesquisadores do tema (ver Kardec, o homem, o cientista, no início da obra).
Sugestão: Isso depende do seu papel mais ou menos material ou inteligente. Alguns
comandam, outros executam. Os que executam as coisas materiais são, na hierarquia
espiritual, geralmente, de uma ordem inferior, entre os Espíritos como entre os homens.
Pergunta 539
- Em massas inumeráveis.
Essa é uma das questões que eu gostaria de ter subsídios para desenvolver. Sinto
falta, nesse caso, do consenso universal que, certamente, o aprofundaria, de vez que,
abordado por outros médiuns e pesquisadores seria de se esperar que todos não se
limitassem a repetir o que já fora dito. Confesso minha ignorância diante dela e, mais
ainda, a dificuldade de entender como e por que os Espíritos promovem um tsunami
levando com ele milhares de vidas. Vejamos como Kardec, em 1868, mais de 10 anos
após ter selecionado esta questão, se reporta em A Gênese, Cap. XV, Tempestade
Aplacada, sobre a ação dos Espíritos nos fenômenos da natureza: Ainda não
conhecemos o bastante os segredos da Natureza para dizer se há ou não inteligências
ocultas presidindo à ação dos elementos. Na hipótese de haver, o fenômeno em questão
poderia ter resultado de um ato de autoridade sobre essas inteligências e provaria um
poder que a nenhum homem é dado exercer.
Sugestão: Se a Doutrina não tem como explicar o fenômeno ainda, é necessário que se
promova seminários, debates, pesquisas, consultas ao plano espiritual, até que se chegue
a uma conclusão, pelo menos à altura do nosso entendimento. Como está, pode levar o
leitor a impressões vagas ou errôneas. Esse foi o conselho de Allan Kardec em “Obras
Póstumas”: O conjunto da Doutrina deve ser determinado com precisão e clareza, sem
nada deixar de vago. Penso que essa resposta poderia ficar de quarentena até tivéssemos
a sua confirmação, ou por outro lado, a sua negação.
Pergunta 540
- Os Espíritos que exercem uma ação sobre os fenômenos da Natureza agem com
conhecimento de causa, em virtude do seu livre-arbítrio ou por um impulso instintivo e
irrefletido?
- Alguns sim, outros não. Eu faço uma comparação: figura-te entre essas miríades de
animais que, pouco a pouco, fazem surgir do mar as ilhas e os arquipélagos; crês que
nisso não há um fim providencial e que certa transformação da superfície do globo não
seja necessária à harmonia geral? Esses não são mais que animais da última ordem
que cumprem essas coisas, para proverem suas necessidades e sem desconfiarem que
são os instrumentos de Deus. Muito bem! Da mesma forma, os Espíritos, os mais
atrasados, são úteis ao conjunto. Enquanto ensaiam para a vida e antes de terem a
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plena consciência dos seus atos e seu livre-arbítrio, eles agem sobre certos fenômenos
dos quais são agentes inconscientes; eles executam primeiro; mais tarde, quando sua
inteligência estiver mais desenvolvida, eles comandarão e dirigirão as coisas do mundo
material. Mais tarde, ainda, eles poderão dirigir as coisas do mundo moral. É assim
que tudo serve, tudo se coordena na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo
que, ele mesmo começou pelo átomo. Admirável lei de harmonia da qual vosso Espírito
limitado não pode ainda entender o conjunto.
Comentário:
“É assim que tudo serve, tudo se coordena na Natureza, desde o átomo
primitivo até o arcanjo que, ele mesmo começou pelo átomo”. Eis aí outra questão que
gostaria de entender. Se o arcanjo começou pelo átomo, sua origem seria material?
Existem no elemento inteligente universal átomos que, a semelhança de sementes, irão
gerar Espíritos? Que benefício traz uma resposta que tudo quanto consegue transmitir é
um sem número de perguntas que, mesmo verticalizadas, não se mostram conclusivas?
Aqui há um grande vago que dificilmente será preenchido no presente estágio de
conhecimento em que nos encontramos. Segue-se aqui a mesma opinião emitida na
sugestão da questão anterior.
Pergunta 547
- Os Espíritos que se combatiam, estando vivos, uma vez mortos se reconhecem por
inimigos e são ainda obstinados uns contra os outros?
Sugestão: substituir as expressões estando vivos por enquanto encarnados e mortos por
desencarnados.
Pergunta 551
- Pode um homem mau, com a ajuda de um mau Espírito que lhe é devotado, fazer mal
ao seu próximo?
A pergunta não esclarece sobre a condição moral da suposta vítima. Se ela for
má, estando suas defesas vulneráveis, certamente não escapará quando perseguida, do
assédio e da violência daqueles que a buscam. Tal procedimento é comum nos “ajustes
de contas” entre malfeitores encarnados e desencarnados que se unem em torno de
objetivos de vingança. Até mesmo um homem honesto na presente encarnação, mas
com o passado comprometido por desrespeitar as leis divinas em encarnação anterior,
fato que o credencia a sofrer agressões por imposição cármica, pode sofrer assédio,
perseguição e agressão de um mau Espírito, que age sob o comando de outro, encarnado
ou desencarnado.
Sugestão: Se for um homem bom cujo passado honesto desautorize uma agressão, Deus
não o permite. Caso contrário, segue-se a lei geral, ou seja, a cada um é dado segundo
as suas obras.
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Pergunta 557
- A benção e a maldição podem atrair o bem e o mal sobre aqueles que são seu objeto?
- Deus não escuta uma maldição injusta e aquele que a pronuncia é culpado aos seus
olhos. Como nós temos os dois gênios, o bem e o mal, ela pode ter uma influência
momentânea, mesmo sobre a matéria, mas essa influência não ocorre senão pela
vontade de Deus e como acréscimo de prova para aquele que objetiva. De resto, o mais
freqüentemente, se maldizem os maus e se bendizem os bons. A benção e a maldição
não podem jamais desviar a Providência do caminho da justiça; ela não atinge o
maldito senão se é mau, e a sua proteção não cobre senão aquele que a merece.
Nós temos os dois gênios, o bem e o mal, somente até certo ponto da escala
evolutiva a que todos são obrigados a percorrer, ocasião em que superamos o mal em
nós e passamos a agir visando apenas o bem geral. Quanto a acrescentar mais
sofrimento aos que carpimos, já que uma maldição não se destina a beneficiar, mas a
prejudicar, soa como se pudessem cobrar mais do que devemos, a não ser que tenhamos
dívidas passadas reais e tenhamos concordado com o tal acréscimo anteriormente. Se o
planejamento reencarnatório vem a sofrer mudanças segundo as bençãos e as maldições
que nos são lançadas, pouca consideração ele merece, além da insegurança que pode
gerar. E se nessa prova adicional o Espírito cair e disso resultar um atraso evolutivo no
lugar de um progresso? Dirão que Deus permite quando aquele que sofre a prova tem a
garantia da vitória. Mas, se assim for, por que tudo isso não é explicado às claras para
que não pairem dúvidas em nosso caminho?
Sugestão: Deus não escuta uma maldição injusta e aquele que a pronuncia é culpado
aos seus olhos. Enquanto imaturos moralmente temos os dois gênios, o bem e o mal, e
nesse caso ela pode ter uma influência momentânea, mesmo sobre a matéria, mas essa
influência não ocorre senão pela vontade de Deus e como uma prova para aquele que
dela necessita se disso puder resultar algum progresso ao seu Espírito. De resto, o mais
freqüentemente, se maldizem os maus e se bendizem os bons. A benção e a maldição
não podem jamais desviar a Providência do caminho da justiça; ela não atinge o
maldito senão se é mau, e a sua proteção não cobre senão aquele que a merece.
Pergunta 565
- Eles examinam o que possa provar a elevação dos Espíritos e seus progressos.
Espíritos que se encontram no mesmo patamar evolutivo que nós ou abaixo dele
se interessam por nossas obras de arte, conosco interagindo, ensinando e aprendendo
como alunos de uma mesma série. Espíritos mais evoluídos, com a missão de fazerem
progredir a Humanidade ou parte dela é que selecionam dentre os trabalhos de arte
existentes, aqueles que facultam mais diretamente o progresso dos Espíritos. Ocorre o
mesmo em uma escola onde todos os alunos são convidados a expor seus trabalhos,
indo à exposição apenas os selecionados pelo valor que apresentam.
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Sugestão: Assim procedem aqueles que se encontram no mesmo patamar evolutivo que
vós, ou abaixo dele. Os mais adiantados examinam o que possa provar a elevação dos
Espíritos e seus progressos.
Pergunta 579
- Visto que o Espírito recebe sua missão de Deus, como Deus pode confiar uma missão
importante e de interesse geral a um Espírito que poderá nela falir?
- Deus não sabe se o seu general obterá a vitória ou será vencido? Ele o sabe, estais
seguros, e seus planos, quando são importantes, não repousam sobre aqueles que
devem abandonar a obra no meio do seu trabalho. Toda questão está para vós no
conhecimento do futuro que Deus possui, mas que não vos é dado.
Acredito que Kardec, admitindo que um Espírito ao receber uma missão de Deus
pudesse falhar na execução de sua tarefa, quis saber sobre a utilidade dessa atitude,
entregar uma tarefa a quem não a cumprirá integralmente. Nesse caso a resposta ficaria
mais clara explicada através do raciocínio seguinte: o Espírito que recebe uma missão e
não a desempenha a contento adquire experiência e, conseqüentemente aprende lições
que lhe serão úteis em uma segunda tentativa, não resultando de todo inútil a sua tarefa.
Digamos que um homem receba a missão de fundar um Centro Espírita e com ele
promover a assistência social e espiritual bem como a divulgação da Doutrina em uma
grande favela. Se ele apenas começa o seu trabalho e logo desiste, aquele seu exemplo
pode ser imitado por outro que lhe dará prosseguimento, resultando daquele fracasso um
bem. Teria sido inútil a missão do primeiro? Como Deus tudo sabe, certamente permitiu
a tarefa inicial ao general acomodado, incentivando a outro lhe tomar o lugar sem
prejuízo da obra.
Sugestão: Para grandes batalhas Deus escolhe grandes generais. Seus planos não
repousam sobre aqueles que devem abandonar a obra no meio do trabalho. Todavia,
das derrotas podem ser extraídas grandes lições. Toda questão está para vós no
conhecimento do futuro que Deus possui, mas que não vos é dado.
Pergunta 583-a
- Deus é justo.
Sugestão: Deus, sendo justo, não pode fazer constar na “folha de serviço” de alguém
méritos que ele não tem.
Pergunta 585
74
- Elas são todas boas, dependendo do ponto de vista. Materialmente, não há senão
seres orgânicos e seres inorgânicos; sob o ponto de vista moral há, evidentemente
quatro graus.
Sugestão: Elas são todas boas, dependendo do ponto de vista. Materialmente, não há
senão seres orgânicos e seres inorgânicos. Todavia, a fim de evitar confusões
desnecessárias é preferível seguir o progresso da ciência, que muda conforme a época
e a necessidade. Sob o ponto de vista moral há, conforme o pensamento que ora
expressais, quatro graus.
Pergunta 587
- As plantas recebem as impressões físicas que agem sobre a matéria, mas não têm
percepções e, por conseguinte, não têm sentimento de dor.
Pergunta 646
- O mérito do bem que se fez está subordinado a certas condições; dizendo melhor, há
diferentes graus no mérito do bem?
- O mérito do bem está na dificuldade. Não há mérito em fazer o bem sem trabalho, e
quando nada custa. Deus tem mais em conta o pobre que reparte seu único pedaço de
pão, do que o rico que não dá senão seu supérfluo. Jesus disse-o a propósito do óbulo
da viúva.
Comentário:
Que Deus tenha mais em conta o pobre que doa do seu necessário do que o rico
que distribui do seu supérfluo, isso nos parece lógico. Todavia, o complemento da
resposta, “tem mais em conta”, ou seja, dá mais valor, representa uma gradação ou
valoração do bem que cada um faz e não está compatível com a negação do mérito
anteriormente afirmado. O rico que já inicia o seu processo de desprendimento dos bens
terrenos, mesmo sem o saber, doando do seu supérfluo, não está adiante daquele que,
igualmente rico, nada doa devido a sua sede de posse? O supérfluo que ele doa não mata
a fome e veste o corpo do pobre igualmente ao que é doado por outro pobre? Gerando
benefícios, ou seja, atendendo às necessidades básicas de alguém, não representa um
bem diante da vida? E aquele que beneficia a vida em seus passos angustiantes não tem
algum mérito diante de Deus?
A caridade, para firmar-se como uma virtude adquirida, necessita de muito
treinamento em seu processo de construção. Ninguém se santifica do dia para a noite,
mas nos passos dos milênios. É assim que o rico, doando do seu supérfluo, séculos mais
tarde permitirá que outros participem de suas reservas para, então, culminar um dia
doando do seu necessário.
Desvalorizar por completo a dádiva do rico porque esta, quando praticada, não
lhe arranha a abastança não nos parece lógico, já que em si ela é um bem. Algum mérito
ela deve ter, nem que seja o do não desperdício. O mesmo já não se pode dizer daqueles
que doam por orgulho fazendo tocar as trombetas em louvor à sua “bondade”.
Sugestão: O mérito do bem está na dificuldade. Há pouco mérito em fazer o bem sem
trabalho e quando nada custa. Deus tem mais em conta o pobre que reparte seu único
pedaço de pão, do que o rico que não dá senão do seu supérfluo. Jesus disse-o a
propósito do óbulo da viúva.
76
Pergunta 657
- Os homens que se abandonam à vida contemplativa, não fazendo nenhum mal e não
pensando senão em Deus, têm algum mérito aos seus olhos?
- Não, porque se eles não fazem o mal, não fazem o bem e são inúteis. Aliás, não fazer o
bem já é um mal. Deus quer que se pense nele, mas não quer que se pense apenas nele,
visto que deu ao homem deveres a cumprir sobre a Terra. Aquele que se consome na
meditação e na contemplação, não faz nada de meritório aos olhos de Deus, posto que
sua vida é toda pessoal e inútil à Humanidade e Deus lhe pedirá contas do bem que não
haja feito.
Sugestão: Raramente, porque se eles não fazem o mal, nem sempre fazem o bem e, neste
caso, são inúteis. Aliás, não fazer o bem já é um mal. Deus quer que se pense nele, mas
não quer que se pense apenas nele, visto que deu ao homem deveres a cumprir sobre a
77
Pergunta 661
- Deus sabe discernir o bem e o mal: a prece não oculta as faltas. Aquele que pede a
Deus o perdão de suas faltas, não o obtém, senão mudando de conduta. As boas ações
são as melhores preces, porque os atos valem mais que as palavras.
Sugestão: A prece não invalida as faltas. Aquele que pede a Deus o perdão de suas
faltas, deve fazê-lo reparando o mal que haja feito e mudando de conduta. Assim ele
mesmo se perdoará através da sensação de alívio e de dever cumprido que sentirá.
Pergunta 664
- É útil orar pelos mortos e pelos Espíritos sofredores e, nesse caso, como nossas preces
podem proporcionar-lhes alívio e abreviar seus sofrimentos? Têm elas o poder de dobrar
a justiça de Deus?
- A prece não pode ter por efeito mudar os desígnios de Deus, mas a alma pela qual se
ora experimenta alívio, porque é um testemunho de interesse que se lhe dá, e o infeliz é
sempre aliviado quando ele encontra almas caridosas que se compadecem de suas
dores. Por outro lado, pela prece, provoca-se o arrependimento e o desejo de fazer o
que for preciso para ser feliz. É nesse sentido que se pode abreviar sua pena, se, por
seu turno, ele ajuda com sua boa vontade. Esse desejo de melhorar-se, excitado pela
78
prece, atrai, antes de Espíritos sofredores, Espíritos melhores que vêm esclarecê-lo,
consolá-lo e dar-lhe a esperança. Jesus orou por todas as ovelhas desgarradas,
mostrando-vos, com isso, que sereis culpados não o fazendo por aqueles que mais
necessitam.
Admitir culpa naquele que não ora pelos mortos e por Espíritos sofredores é dar
status de obrigatoriedade a esse procedimento. Pode-se amar ao próximo sem orar por
ele, estando o mesmo encarnado ou desencarnado? Um homem pode ser honesto, justo
e caridoso sem orar por seus mortos? Aqueles que ainda não entendem o valor da prece
serão igualmente culpados por não orarem? Separando a prece tradicional dos bons
pensamentos que enviamos a nossos mortos, pois a pergunta acima se refere à prece
praticada formalmente, podemos afirmar que existem pessoas caridosas sem o concurso
da oração. Na lista de mandamentos a que chamamos decálogo, regra ideal de conduta
para o ser humano, não consta esta obrigatoriedade.
Não estamos, em nenhum instante, desaprovando a prece, provocando uma
rebelião para que não a pratiquem ou retirando o alto valor que ela tem. Questionamos a
culpa imputada a quem não a movimenta em favor dos mais necessitados. Essa questão
não seria melhor explicada admitindo-se a prece como uma das maneiras de alguém
exercitar a caridade e, portanto, ter mais mérito se comparado a outro que não ora, no
lugar de pesar sobre este uma culpa que soa como uma falta cometida? Não basta ao
homem trabalhar pelos desvalidos, cumprir suas obrigações enquanto cidadão e honrar a
religião que adotou através de uma conduta reta? Deve também orar pelos necessitados
senão será culpado? De quê?
Deus e os Espíritos superiores não são verdugos que nos vigiam a cada passo,
culpando-nos por qualquer deslize. Incentivam-nos ao bem incessantemente, mas não
nos culpam quando as forças nos faltam ou a lucidez ainda é criança em nós. Aquele
que tem a felicidade de praticar algum bem além de suas obrigações rotineiras é
inspirado e amparado para que mais produza, e não culpado pelo que ainda não
conseguiu fazer. Lançar culpa sobre pessoas porque elas não oram pelos semelhantes
pode gerar fanatismo, complexos, rejeições, necessidade de autopunição em Espíritos
ainda imaturos. Pode ainda fomentar o vício de apenas recitar fórmulas decoradas sem
nenhum valor sentimental, com vistas a serenar a consciência que, alertada da
obrigatoriedade da prece pelos necessitados, passe a cobrar uma providência a fim de
resguardar-se da culpa. Somos daqueles que consideram todo bom pensamento ou boa
obra uma prece.
Sugestão: A prece não pode ter por efeito mudar os desígnios de Deus, mas a alma pela
qual se ora experimenta alívio, porque é um testemunho de interesse que se lhe dá, e o
infeliz é sempre aliviado quando ele encontra almas caridosas que se compadecem de
suas dores. Por outro lado, pela prece, provoca-se o arrependimento e o desejo de fazer
o que for preciso para ser feliz. É nesse sentido que se pode abreviar sua pena, se, por
seu turno, ele ajuda com sua boa vontade. Esse desejo de se melhorar, excitado pela
prece, atrai, antes de Espíritos sofredores, Espíritos melhores que vêm esclarecê-lo,
consolá-lo e dar-lhe a esperança. Jesus orou por todas as ovelhas desgarradas,
mostrando-vos, com isso, o exemplo de caridade que deveríeis seguir.
Pergunta 670
- Os sacrifícios humanos feitos com uma intenção piedosa foram, alguma vez,
agradáveis a Deus?
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- Não, jamais; mas Deus julga a intenção. Os homens, sendo ignorantes, poderiam crer
que faziam um ato louvável imolando um dos seus semelhantes. Nesse caso, a Deus não
interessava senão o pensamento, e não o fato. Melhorando-se os homens, deviam
reconhecer seus erros e reprovar esses sacrifícios, que não deviam mais entrar na idéia
de Espíritos esclarecidos; eu digo esclarecidos porque os Espíritos estavam então
envolvidos por um véu material. Mas, pelo livre-arbítrio, eles poderiam ter uma
percepção de sua origem e de seu fim, e muitos compreendiam já, por intuição, o mal
que faziam, embora não o fizessem menos para satisfazerem suas paixões.
Sugestão: Não, jamais; mas Deus julga a intenção. Os homens, sendo ignorantes,
poderiam crer que faziam um ato louvável imolando um dos seus semelhantes.
Melhorando-se eles chegariam ao ponto de reconhecer seus erros e reprovar esses
sacrifícios, que não deveriam mais entrar na idéia de Espíritos esclarecidos; eu digo
esclarecidos porque os Espíritos estavam então envolvidos por um véu material. Mas,
pela evolução do pensamento, eles poderiam ter uma percepção de sua origem e de seu
fim, e muitos compreendiam já, por intuição, o mal que faziam, embora não o fizessem
menos para satisfazerem suas paixões.
Pergunta 676
Nem sempre aquele que é muito fraco de corpo pode manifestar a inteligência
para suprir suas necessidades. Essa questão, atrelada à Lei de Causa e Efeito, nos mostra
centenas de casos em que o homem deve enfrentar a fraqueza do seu corpo e o mau
desempenho de seu cérebro, tornando-se um peso para a sociedade devido suas más
ações praticadas em encarnações passadas. A questão não se refere ao carma, dirão
alguns. Mas, excetuando-se esse importante detalhe, temos que a inteligência não é dada
a alguém pela fragilidade do seu corpo ou por outro motivo qualquer. Ela é uma
conquista pessoal e intransferível do Espírito a ser efetuada através dos milênios. Como
temos insistido, Deus não doa gratuitamente as virtudes que nos cabem conquistar.
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Pergunta 744
- A liberdade e o progresso.
Pergunta 751
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- Como se explica que, entre certos povos já avançados do ponto de vista intelectual, o
infanticídio esteja nos costumes e consagrado pela legislação?
Pergunta 815
- Tanto uma como outra, o são. A miséria provoca o murmúrio contra a Providência e
a riqueza leva a todos os excessos.
Uma coisa é ou não é. Se existe meio termo devemos dizê-lo. Quando afirmo:
café produz azia, generalizo. Se ele produz azia a uns e a outros não, devo fazer uma
82
ressalva. É certo que em nenhum instante os Espíritos disseram que a miséria sempre
provoca murmúrio e que a riqueza sempre leva a todos os excessos. Mas também é
correto dizer que nesta resposta em nenhum momento eles fizeram tais ressalvas. As
pessoas versadas no Espiritismo podem dizer: isso está implícito. Para tais pessoas;
volto a lembrar que os iniciantes na Doutrina precisam de idéias justas, como disse
Kardec em Obras Póstumas: “Com precisão e clareza, sem nada deixar no vago”.
Murmúrio e excessos a depender do Espírito testado. Um personagem bem
conhecido da Bíblia, Jó, parece um bom exemplo de vitória nos dois casos. O caráter de
uma prova é o de testar o aprendiz em determinada área de conhecimento no que ele
pode sair vitorioso ou derrotado da avaliação a que se submete. Sabe-se que a
infelicidade pode levar à rebeldia ou à lamentação, mas que também pode ser enfrentada
com bravura e resignação saindo, neste caso, o Espírito da peleja em que se envolveu
com méritos incorporados ao seu patrimônio evolutivo. O mesmo raciocínio vale para a
riqueza, pois tanto há ricos generosos quanto pobres orgulhosos e mesquinhos.
Nesse campo, o das virtudes, tudo depende da vontade de superar, da fé em si e
em Deus que cada ser nutre, diante dos obstáculos postos à sua frente.
Sugestão: Tanto uma como outra, o são. Todavia, apesar de a miséria poder levar ao
murmúrio contra a Providência e a riqueza induzir a todos os excessos, não significa
que aquele que passa por uma ou por outra prova citadas esteja condenado ao
fracasso.
Pergunta 818
- Do império injusto e cruel que o homem tomou sobre ela. É um resultado das
instituições sociais e do abuso da força sobre a fraqueza. Entre os homens pouco
avançados do ponto de vista moral, a força faz o direito.
Nota-se que no primeiro caso, a inferioridade moral fica mais evidente naquele
que pratica a ação, o homem, do que naquela que a sofre, a mulher.
Argumentamos, igualmente, que em muitos relacionamentos sociais ou
conjugais, a mulher é um Espírito cuja superioridade moral ultrapassa ao homem que,
despoticamente a comanda, quando melhor seria para ele ser comandado por ela.
Resumindo: Os termos, inferioridade moral, não me parecem condizentes com a
resposta dada pelos Espíritos, portanto, a sugestão é apenas para a pergunta.
Pergunta 819
- Para lhe assinalar funções particulares. O homem é para os trabalhos rudes, por ser
o mais forte; a mulher para os trabalhos suaves, e todos os dois para se entreajudarem
nas provas de uma vida plena de amargura.
Ser fisicamente mais fraca não implica na não realização de trabalhos rudes e
estafantes. Atualmente a mulher compete com o homem de igual para igual em todos os
campos de trabalho, mesmo nos mais pesados. Grande parcela das sertanejas
nordestinas passa todo o dia no roçado, ao lado do marido, tratando a terra com a
enxada, e quando volta para casa ainda têm que fazer a comida. Se a mulher é para os
trabalhos suaves a necessidade a vem preparando para os mais rudes testes de
resistência física. A noção de superioridade física, de fortaleza atribuída ao homem já é
contestada no enfrentamento de soluções que exigem sacrifício e renúncia, onde as
mulheres se saem melhor.
Nesse campo é digno de nota o esforço e exemplo das impropriamente chamadas
de mães solteiras, cujos maridos fogem à obrigação de ajudar na criação dos filhos,
deixando-as sozinhas com o pesado fardo. Como dizia Chico Xavier, a mãe nunca
abandona os filhos e aquela que o faz, é caso patológico.
Não percamos de vista que há um Espírito por trás da roupagem masculina ou
feminina e que para ele, um corpo aparentemente frágil nem sempre é obstáculo às
realizações que pretende concretizar. Se no campo da delicadeza o homem pode se
exercitar, sendo carinhoso, compreensivo e terno, a mulher pode a ele igualar-se em
força através do esforço e da vontade. Não nos esqueçamos de que Jesus era conhecido
como o meigo e doce rabi da Galiléia e de que Madre Teresa de Calcutá passou toda a
sua vida em trabalho estafante, que a grande maioria dos homens não suportaria.
Acredito que não cabe generalização nesse tema, pois existem mulheres com mais força
física que homens e, logicamente, homens com mais força física que mulheres. Na
minha terra, O Ceará, as mulheres fazem prédios (pedreiras e serventes de pedreiras),
quebram pedras com maretas para calçar ruas, dirigem caminhões, realizando tarefas
antes exclusivas apenas de homens.
Sugestão para a pergunta: Com que objetivo a mulher possui a aparência mais frágil que
o homem?
Pergunta 928
- Pela especialidade das aptidões naturais, Deus indica evidentemente nossa vocação
neste mundo. Muitos dos males não decorrem do fato de não seguirmos essa vocação?
- É verdade, e, freqüentemente, são os pais que, por orgulho ou avareza, fazem seus
filhos saírem do caminho traçado pela natureza e, por esse deslocamento,
comprometem sua felicidade. Eles serão responsáveis.
É natural e lógico que cada pessoa siga suas aptidões naturais, tal como aquele
que é treinado no cálculo torne-se um matemático ou um engenheiro. Todavia, é
também digno de observação, sob pena dessa pessoa ficar parada em uma face do
conhecimento geral, justamente aquela em que é mais hábil, que ela precisa ser treinada
em outras habilidades, expandindo assim sua área de conhecimento, o que não implica
em fracasso intelectual ou profissional no campo de atuação escolhido.
Nesses tempos de globalização e de Neoliberalismo onde o subemprego e o
desemprego rondam as portas da juventude, é muito difícil obedecer à especificidade
das aptidões naturais. Na minha atuação de professor, vejo mais em meus alunos a
busca por profissões mais rendosas ou em maior oferta no mercado de trabalho. A
esmagadora maioria, de pré-vestibulandos com os quais convivo não sabe qual é a sua
vocação, nem está interessada em sabê-la. Muitos deles temem ingressar em uma
profissão cuja saturação no mercado de trabalho não lhes permita um emprego
garantido, retrato da realidade atual, resultando disso o ingresso em subempregos fora
da sua especialização, o que é pior, para alguns, do que o deslocamento aludido na
resposta.
O problema econômico e social da atualidade, no qual a maioria dos indivíduos
está sempre sem tempo na luta pela sobrevivência, nos leva a refletir que as vocações,
quando não rendem bom dinheiro, para muitos que as identificam em si, podem ser
praticadas muito mais por hobby quando o tempo lhes permitirem, que como profissão.
Ainda quanto às vocações, não é tão fácil descobri-las, por isso muitos jovens se
confundem e se questionam a respeito de as possuírem ou não. Conversando certa feita
com meus alunos sobre este tema, ocasião em que alguns disseram o que pretendiam
ser, muito mais pelo dinheiro que pelo prazer de executarem uma tarefa, ouvi a jocosa
observação de um deles que me fez rir da sua franqueza: professor, disse-me ele, o
senhor notou que aqui só tem futuros médicos, engenheiros, advogados e nenhum
padeiro, pedreiro ou sapateiro? Não existem vocações para as tarefas mais humildes?
O maior de todos os engenheiros siderais que veio a este planeta foi um carpinteiro,
respondi, sem deixá-lo convencido da sinceridade de seus colegas.
Sugestão: É verdade que isso possa ocorrer. Todavia, é preciso observar também que
existe para o Espírito a necessidade de diversificar seus conhecimentos, bem como as
exigências das leis que regulam o mercado de trabalho. Mas, se ocorrer prejuízo para
o filho devido à influência dos pais, que com seu orgulho ou avareza, contribuíram
para que ele saísse do caminho traçado pela natureza, eles serão responsabilizados.
Pergunta 940
85
- A falta de simpatia entre os seres destinados a viverem juntos, não é igualmente uma
fonte de desgostos tanto mais amarga quanto envenena toda a existência?
- Muito amargas, com efeito. Mas é uma dessas infelicidades das quais,
freqüentemente, sois a primeira causa. Primeiro, são vossas leis que são erradas. Por
que crês que Deus te constrange a ficar com aqueles que te descontentam? Aliás,
nessas uniões, freqüentemente, procurais mais a satisfação do vosso orgulho e da
vossa ambição, do que a felicidade de uma afeição mútua; suportareis, nesse caso, a
conseqüência dos vossos preconceitos.
- Sim, e é para ela uma dura expiação; mas a responsabilidade de sua infelicidade
recairá sobre aqueles que lhe foram a causa. Se a luz da verdade penetrou sua alma,
ela terá sua consolação em sua fé no futuro. De resto, à medida que os preconceitos se
enfraquecem, as causas de suas infelicidades íntimas desaparecerão também.
Se a vítima é inocente nada há para expiar. Trata-se, pois, de uma prova e não de
uma expiação. O caráter da prova é testar o Espírito, que se eleva ao vencê-la. Na
expiação pressupõe-se um débito que, necessariamente, deve ser resgatado. Verifica-se
nela o caráter da obrigatoriedade nem sempre existente na prova.
Sugestão para a segunda parte da resposta: Sim, e é para ela uma dura prova; mas a
responsabilidade de sua infelicidade recairá sobre aqueles que lhe foram a causa. Se a
luz da verdade penetrou sua alma, ela terá sua consolação em sua fé no futuro. De
resto, à medida que os preconceitos se enfraquecem, as causas de suas infelicidades
íntimas desaparecerão também.
Pergunta 945
- Insensatos! Por que não trabalhavam? A existência não lhes seria uma carga!
O desgosto da vida pode ter muitas origens, sem ser, contudo, fruto da
ociosidade. Pode ser, inclusive, gerado pelo excesso de trabalho mal remunerado, que
impõe ao trabalhador uma vida cheia de humilhações e de necessidades. Note o leitor
que citamos uma causa oposta à registrada na resposta em análise. Outra causa de
desgosto e de depressão pode ser o remorso, com ou sem motivos aparentes, gerado por
fatos desta ou de outras encarnações. Podem ser levadas em conta as doenças terminais,
os dramas íntimos e inconfessáveis que destroem a alegria de viver.
Aconselha a medicina e, muito mais a providência divina, a que se análise certos
casos de “desgosto pela vida” sob a ótica da patologia, ou seja, veja-se o depressivo
como um enfermo da alma e não como um preguiçoso que prefere morrer a trabalhar.
Em casos dessa natureza, é difícil averiguar as causas reais da tristeza que se abateu
sobre o Espírito e um pouco de caridade no trato da questão é muito mais sábio e
prudente do que um julgamento precipitado.
Pergunta 956
- Os que, não podendo suportar a perda de pessoas que lhe são queridas, se matam na
esperança de reencontrá-las, atingem seu objetivo?
Considero muito rigorosa e até com certo tom vingativo a linguagem atribuída
ao gesto, como diz a resposta, de loucura do suicida: “Deus não pode recompensar um
ato de covardia e o insulto que lhe é feito duvidando de sua providência”. Quis mesmo
o suicida insultar a Deus? Foi um covarde ou um louco alucinado pela dor?
Se no instante em que ele cometeu o suicídio estivesse louco o crime não lhe
seria imputado, pois o louco que se mata não sabe o que faz. (O suicídio não é sempre
voluntário? - O louco que se mata não sabe o que faz. Pergunta 944-a de O Livro dos
Espíritos).
Deus não se ofende nem se sente insultado com as nossas fraquezas. Antes, delas
se apieda e, como previsto em Sua lei, em seu tempo, proporciona alívio e atendimento
ao filho que se transviou. Que se coloque o julgador do ato no lugar da vítima que
perdeu seu único filho, a quem destinava todos os cuidados, razão maior de sua vida, e
que, num instante de loucura, tenta ir ao seu encontro através da morte. Essa pessoa
deve ser rotulada de covarde e receber no rosto a acusação de que insultou o seu
Criador?
O sofrimento que ela sente já não é bastante para embrutecê-la? Por que lhe
adicionar um pouco mais de fel ao já sorvido, lançando-lhe no rosto palavras ásperas?
Insistentemente tenho dito que Deus não é carrasco nem sádico que sente prazer em nos
vigiar e punir quando nos equivocamos.
Estudemos o contexto, a cultura do país em que se deu o suicídio, a educação
que a vítima recebeu, a influência do meio sobre ela, a situação psicológica que
atravessava. Averiguemos se o auxílio de que necessitava não lhe foi negado e tantas
outras variáveis que alfinetavam sua alma no crucial instante, e assim, certamente, nossa
linguagem será mais moderada para com a dor alheia. Certamente que o suicídio é uma
transgressão da lei divina e não estamos aqui a justificá-lo, mas como ocorre em todos
os crimes, há atenuantes e agravantes.
Pergunta 958
Não podemos ter horror ao nada justamente porque o nada não existe. Digamos
antes, horror ao desconhecido. Tememos o desconhecido porque sobre ele paira a
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