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Expediente Sumário

4 Editorial
Evangelho é o tema
11 Entrevista: Evandro Noleto Bezerra
Fundada em 21 de janeiro de 1883 As viagens de Kardec
Fundador: AUGUSTO ELIAS DA S ILVA
21 Esflorando o Evangelho
Por Cristo – Emmanuel
Revista de Espiritismo Cristão
Ano 130 / Dezembro, 2012 / N o 2.205 30 Evangelização Espírita Infantojuvenil
ISSN 1413-1749 Nossos filhos e o Natal de Jesus
Propriedade e orientação da
FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA 34 A FEB e o Esperanto
Diretor: NESTOR JOÃO MASOTTI
Editor: AFFONSO BORGES GALLEGO SOARES Zamenhof e seu ideário – Affonso Soares
Redatores: ALTIVO FERREIRA, ANTONIO CESAR PERRI DE
CARVALHO, EVANDRO NOLETO BEZERRA, GERALDO 37 Reformador de ontem
CAMPETTI SOBRINHO, JOSÉ CARLOS DA SILVA SILVEIRA
E MARTA ANTUNES DE OLIVEIRA DE MOURA A festa real de Jesus – Suely Caldas Schubert e
Secretário: PAULO DE TARSO DOS REIS LYRA
Carlos Augusto Abranches
Gerente: SADY GUILHERME SCHMIDT
Equipe de Diagramação: AGADYR TORRES PEREIRA E
42 Seara Espírita
SARAÍ AYRES TORRES
Equipe de Revisão: WAGNA CARVALHO E ISAURA DA
SILVA KAUFMAN
Projeto gráfico da revista: JULIO MOREIRA
Capa: AGADYR TORRES PEREIRA
5 Penas temporais – Christiano Torchi
REFORMADOR: Registro de publicação
8 Vencedor incomparável – Joanna de Ângelis
o
n 121.P.209/73 (DCDP do Departamento de 10 Jesus – Emmanuel
Polícia Federal do Ministério da Justiça)
CNPJ 33.644.857/0002-84 • I. E. 81.600.503 13 O Senhor vem... – Auta de Souza
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SGAN 603 – Conjunto F – L2 Norte
70830-030 • Brasília (DF)
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20 Espiritismo – Allan Kardec
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22 Parnaso de Além-Túmulo – 80 anos –
Rio de Janeiro (RJ) • Brasil Glaucio V. Cardoso
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feb@febrasil.org.br Marta Antunes Moura
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Assinatura anual R$ 52,00 32 Cecília Rocha
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Assinatura anual US$ 50,00
Assinatura de Reformador: 36 A formiguinha – Mauro Paiva Fonseca
Tel.: (21) 2187-8264 • 2187-8274
www.feblivraria.com.br 39 Comunicação com os Espíritos –
assinaturas.reformador@febrasil.org.br Ricardo dos Santos Malta
Editorial
Evangelho
é o tema
s evocações do Natal de Jesus dulcificam o lado emocional das pessoas.

A O ideal seria que esse contexto se ampliasse ao longo do ano. Na base


das mensagens natalinas estão sempre as ideias de fraternidade e soli-
dariedade, assentadas na regra do “amar ao próximo como a si mesmo”.
No ano que se finda, e ao nos aproximarmos dos 150 anos de lançamento de O
Evangelho segundo o Espiritismo, sente-se o dealbar de uma nova aurora, que culmi-
nará com várias atividades e a realização, em 2014, do 4o Congresso Espírita Bra-
sileiro, simultaneamente, em quatro regiões do país.
O Codificador Allan Kardec destaca na Introdução da obra citada: “[...] É, final-
mente e acima de tudo, o roteiro infalível para a felicidade vindoura, o levantamen-
to de uma ponta do véu que nos oculta a vida futura”, e ainda comenta que “essa
parte é a que será objeto exclusivo desta obra”.1
Daí a razão da necessidade do estudo, da prática e divulgação do ensino moral do
Cristo, que é robustecido pelo Espiritismo. Com este objetivo, neste ano, a FEB deu
início a atividades significativas, para se estimular a compreensão e o conhecimen-
to dos ensinos do Cristo: o curso sobre a obra O Evangelho segundo o Espiritismo, a
série da TVCEI “Estudo do Evangelho à Luz do Espiritismo”, e a criação e instalação
do “Núcleo de Estudo e Pesquisa do Evangelho”, como um órgão da FEB para estudo
e pesquisa do Evangelho à luz das Obras Básicas de Allan Kardec.
Torna-se importante o esforço coletivo em prol da preparação das bases para a
Nova Era da Humanidade e, sem dúvida, o conteúdo da obra citada de Allan Kardec
tem importância fundamental.
O Evangelho é o grande tema para o momento!

1
KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 130. ed. 2. reimp. Rio de
Janeiro: FEB, 2012. Introdução, it. 1, p. 23.

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Penas temporais C H R I S T I A N O TO RC H I

H
umberto de Campos,

Imagem retirada do site: <http://www.jb.com.br/rio/noticias/2011/12/17/incendio-no-gran-


circo-em-niteroi-completa-50-anos-relembre/>.
notável escritor bra-
sileiro, desencarna-
do em 1934, descreve, sob o
pseudônimo “Irmão X”, em
obra psicografada pelo mé-
dium Francisco Cândido
Xavier (1910-2002), lamen-
tável episódio ocorrido, no
ano 177 da Era Cristã, na
cidade de Lyon, situada em
antiga província romana da
Gália, em que “mais de mil
pessoas, ávidas de crueldade”,
cooperaram com sinistro
plano de levar à arena “largas
filas de mulheres e crianci- Bombeiros apagando o incêndio que destruiu o Gran Circo
nhas, em gritos e lágrimas”,
as quais, “no fim de soberbo espe- dezembro de 1961, na cidade todos cumprir sua parte na obra
táculo, encontraram a morte, quei- brasileira de Niterói, em como- da criação e onde a indefectível
madas nas chamas alteadas ao vedora tragédia num circo.1 justiça divina se faz por intermé-
sopro do vento, ou despedaçadas dio da lei de causa e efeito.
pelos cavalos em correria”. Fina- Esses dois impactantes eventos, Os sofrimentos podem ser de
lizando a viva narrativa, Hum- ocorridos em lugares tão distan- natureza física e/ou moral e atin-
berto de Campos arremata: tes um do outro, no espaço e no gem indiferentemente os Espíri-
tempo, nos fazem refletir sobre as tos encarnados. Os desencarna-
Quase dezoito séculos passaram causas das provas experimenta- dos, porém, por estarem despro-
sobre o tenebroso aconteci- das pelos Espíritos no estado de vidos do corpo material, sofrem
mento... Entretanto, a justiça da encarnados, também chamadas apenas dores morais, muito em-
Lei, através da reencarnação, rea- “penas temporais”. Da choupana bora tais padecimentos sejam,
proximou todos os responsáveis, ao palácio, ninguém está livre muitas vezes, superlativamente
que, em diversas posições de dos sofrimentos inerentes ao mais pungentes do que os experi-
idade física, se reuniram de novo estágio evolutivo da Terra, orbe de mentados pelos chamados “vivos”.
para dolorosa expiação, a 17 de provas e expiações, onde cabe a Já os “mortos” nessas condições,

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ainda inscientes de seu desenlace, tar outros orbes mais evo-
experimentam tais aflições como luídos, ascendendo, de
se ainda estivessem na carne. forma gradual e irrever-
Os sofrimentos que atingem os sível, à perfeição. Eis a
Espíritos em estágio na vida ma- instrução de Kardec,
terial geralmente decorrem da com fundamento no
expiação de erros praticados em ensino dos Espíritos
encarnações anteriores, expiação superiores, a respei-
essa que, via de regra, é escolhida to desse tema:
livremente por eles próprios antes
de retornarem ao corpo físico. Nos mundos on-
Há sofrimentos, porém, que de a existência é
não derivam de erros praticados menos material do
no pretérito reencarnatório: são que na Terra, as ne-
apenas consequências inevitáveis cessidades são menos
da conduta do homem em sua grosseiras e menos in-
existência atual, em virtude do tensos os sofrimentos físi-
seu caráter inferior. cos. Os homens desconhe-
A expiação é a pena imposta ao cem as más paixões que, nos
infrator das leis divinas. O sofri- mundos inferiores, os fazem
mento causado por essa pena é a inimigos uns dos outros.Não tendo
oportunidade do resgate dos er- nenhum motivo de ódio nem
ros, que conduz à redenção espiri- de ciúme, vivem em paz, porque da que lhe tocará no mundo
tual. Já a provação é o teste que praticam a lei de justiça,amor e cari- dos Espíritos, e que a justiça de
avalia o aprendizado na estrada dade. Não conhecem os aborreci- Deus nunca se interrompe.4
da edificação espiritual. mentos e os cuidados que nascem
Há casos em que os Espíritos da inveja, do orgulho e do egoís- A partir desse entendimento, é
ainda não estão aptos para esco- mo e que constituem o tormen- lícito deduzir que, se pertencêsse-
lher as provações pelas quais expia- to de nossa existência terrestre.3 mos a um orbe mais adiantado,
rão seus erros, em virtude de falta não passaríamos por essas prova-
de evolução ou de merecimento, Não podemos perder de vista ções e que só depende de nós o
hipóteses em que as provas são que estamos reencarnados num acesso a esses mundos melhores,
impostas compulsoriamente. mundo inferior, nele retidos em vir- desde que trabalhemos pela nossa
Ressalve-se, porém, que nem to- tude de nossas imperfeições. Toda elevação. Enquanto não estiver bas-
do sofrimento experimentado pelos vez que formos atingidos em nos- tante adiantado, o Espírito conti-
Espíritos constitui expiação ou res- sos interesses mais caros, sejam eles nuará reencarnando na Terra.
gate de atos passados. Muitas ve- morais ou materiais, lembremo-nos Entretanto, mesmo merecendo
zes, o Espírito escolhe provas difí- da advertência que vem do Alto: a ascensão para um mundo me-
ceis com o objetivo de progredir lhor, o Espírito que não completou
mais rapidamente. Por isso se diz [...] Aquele que se elevar, pelo determinada missão pode pedir
que toda expiação é uma prova, mas pensamento, de modo a abran- uma nova existência na Terra pa-
nem toda prova é uma expiação.2 ger toda uma série de existên- ra concluí-la, circunstância em
À medida que o Espírito se puri- cias, verá que cada um recebe a que tal existência não representa-
fica, põe-se em condições de habi- parte que merece, sem prejuízo rá para ele uma expiação.

6 444 R e f o r m a d o r • D e z e m b r o 2 0 1 2
importância de ficar- suas impaciências, pois, do con-
mos atentos às nossas trário, terá de recomeçar.7
atuais tendências,
que são indícios do Em suma, as penas temporais
mal que precisa- dizem respeito às expiações e às
mos corrigir em provações pelas quais os Espíritos
nós: encarnados passam, com o objeti-
vo de resgatarem suas faltas e pro-
O homem traz consi- gredirem. Se o mal e o sofrimento
go, ao nascer, aquilo ainda prevalecem na Terra, não
que adquiriu; nasce devemos culpar a ninguém se-
como se fez. Cada exis- não a nós mesmos, todavia, não es-
tência é, para ele, um tamos desvalidos dos recursos di-
novo ponto de partida. vinos para modificar esse estado
Pouco lhe importa saber de coisas, os quais atestam a mise-
o que foi antes: se é punido, ricórdia e a bondade do Criador,
é porque fez o mal. Suas atuais que jamais fecha a porta ao arre-
tendências más indicam o que pendimento e à recuperação de
lhe resta corrigir em si próprio e seus filhos que somos todos nós.
é nisso que deve concentrar-se
toda a sua atenção, pois, daquilo Referências:
1
de que se corrigiu completamen- XAVIER, Francisco C. Cartas e crônicas.
Aquele que, mesmo sem prati- te, não restará mais nenhum Pelo Espírito Irmão X. 13. ed. 3. reimp.
car o mal, nada fez para se melho- sinal. As boas resoluções que Rio de Janeiro: FEB, 2012. Cap. 6.
2
rar, permanece estacionário em tomou são a voz da consciência, KARDEC, Allan. O evangelho segundo o
seu progresso, prolongando os so- que o adverte do que é bem e do espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra.
frimentos decorrentes de sua ex- que é mal, dando-lhe forças para 1. reimp. (atualizada). Rio de Janeiro: FEB,
piação. Sem a atividade, sem o tra- resistir às tentações.6 2010. Cap. 5, it. 9.
3
balho na causa do bem, não há ______. O livro dos espíritos. Trad. Evan-
progresso moral. Essa é a razão É por intermédio das prova- dro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. reimp. Rio de
pela qual os benfeitores advertem: ções bem suportadas, nas diver- Janeiro: FEB, 2011. Comentário de Kardec
sas encarnações, que os Espíritos à q. 985.
4
[...] A soma da felicidade futura adiantam-se na senda do progresso, ______. O evangelho segundo o espiritis-
é proporcional à soma do bem superando suas imperfeições, e, por mo. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1.
que tenha feito; a da infelicida- meio das expiações, quitam suas reimp. (atualizada). Rio de Janeiro: FEB,
de está na razão do mal que ha- faltas e se purificam: 2010. Cap. 5, it. 7.
5
ja praticado e das pessoas a ______. O livro dos espíritos. Trad. Evan-
quem tenha infelicitado.5 [...] Aquele, pois, que sofre mui- dro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. reimp. Rio de
to, deve reconhecer que muito Janeiro: FEB, 2011. Q. 988.
6
Todo aquele que, pelo seu ca- tinha a expiar e alegrar-se à ______. O evangelho segundo o espiritis-
ráter, for causa de infelicidade a ideia de ser logo curado. Depen- mo. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1.
outrem também experimentará de dele, pela resignação, tornar reimp. (atualizada). Rio de Janeiro: FEB,
na mesma proporção o mal que proveitoso o seu sofrimento e 2010. Cap. 5, it. 11.
7
tenha feito o outro sofrer. Daí a não lhe estragar o fruto com as ______. ______. It. 10.

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Vencedor
incomparável
O
cadáver das nações venci- Deus silenciara a sua mensa- simplicidade, demonstrando que
das encontrava-se expos- gem de amor nos penetrais do o maior poder existente, o que per-
to em decomposição mo- infinito, e mesmo Israel, que afir- dura para sempre, é aquele que se
ral, devorado pelos abutres do po- mava cultuá-lo, sentia-lhe a au- origina nos sentimentos de ter-
der transitório, sucedidos sem- sência, dominado pelas ambições nura e de compaixão, renovando
pre pelos momentaneamente mais desmedidas e orgulhosas das suas as ressequidas searas do coração
fortes. tradições. desolado...
Naqueles dias, as legiões roma- O crime campeava à solta e os A partir de então, nunca mais a
nas esmagavam o mundo conhe- mais vis conciliábulos eram fir- Humanidade seria a mesma.
cido, enquanto a decadência mo- mados entre os triunfadores de Por mais teimassem os destrui-
ral tomava conta da capital do um dia. dores da esperança e os zombado-
Império e se espalhava por toda Nesse clima de hediondez veio, res do bem, a sua mensagem pe-
parte. então, Jesus, confirmando a pro- netraria o âmago das criaturas
A degradação humana atingira messa apresentada pelos profetas que, mesmo destituídas, no mo-
o clímax da sua degenerescência. do passado, a fim de inaugurar a mento, da capacidade de entendê-
A sombra do terror diminuía Era do amor, visando modificar -la para modificar-se, ficariam en-
a claridade do sol do discerni- a estrutura moral da sociedade sementadas para o futuro por to-
mento e a crueldade reinava so- para sempre. do o sempre.
berana em todo lugar, devoran- Um pouco antes, enviados espe- Tocados por esse fluxo divino,
do aqueles que se lhe faziam ciais nas artes e na cultura enrique- renasceriam nas páginas sombrias
vítimas, sendo substituída pelas ceram o Império romano com be- da História do futuro, deixando as
mais terríveis manifestações de leza, diminuindo a arbitrariedade imorredouras lições da fraterni-
selvageria. dominante e, ao mesmo tempo, dade e do sacrifício como norma-
As musas haviam-se refugiado preparando o advento do Evange- tivas felizes para o triunfo sobre
no Parnaso e os deuses do bem lho de luz e de misericórdia. todas as paixões asselvajadas.
e da justiça, da harmonia e da De um lado, a barbárie em pre- Por essa razão, nos dias atuais,
ética, que sempre eram cantados domínio, enquanto, de outro, o quando as paisagens humanas en-
nas expressões da beleza, foram raiar de glorioso amanhecer de contram-se devoradas pelo fogo
expurgados da sociedade, que bênçãos. da insensatez e do orgulho, da
agora cultivava as paixões bélicas Desprezando as honrarias do violência e dos descalabros mo-
e as transitórias forças do poder mundo e as ilusões vigentes, Jesus rais, ressurgem do silêncio dos tú-
exaustivo. nasceu na pobreza e dignificou a mulos as vozes da imortalidade,

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entoando o hino de compaixão e rico de inteligência e saber, mas apresentar desvios de condutas
de caridade para com todas as sofrido e desgastado nas emoções próprias às alucinações da época,
criaturas terrestres. superiores, asfixiadas pelos vícios porém, sem o êxito a que se pro-
Repontam, em toda parte, aque- e comprometimentos infelizes. põem, porque os Espíritos, que
les mesmos Espíritos que ouviram Sendo o Espiritismo, que a sopram em toda parte, demons-
a mensagem no passado e não a desvela, a Doutrina dos que vi- trarão os equívocos hediondos e
souberam vivenciar, agora habili- vem além da sepultura, ninguém manterão puros os paradigmas
tados para transmiti-la aos ouvi- o pode deter, nem o conspurcar, e as lições de inconfundível beleza
dos e aos corações dos sofredores conforme o fizeram com a men- do Evangelho.
de todo jaez. sagem inicial. Embora estes dias se apresen-

É certo que tentarão re- tem com muitas das caracte-
verter a ordem dos ensina- rísticas daqueles em que
Jamais a sociedade re- mentos, adaptando-os aos Ele viveu com as criaturas
cebera no seu seio alguém infiéis conteúdos do pas- humanas, as circunstân-
semelhante a Jesus. sado, que procurarão
A sua presença incomum
dividiu os períodos históricos,
tornando-se imorredoura na me-
mória e no comportamento
de todos os tempos.
Adulterada, a fim de aten-
der às conveniências de al-
guns daqueles que se lhe di-
ziam vinculados, utilizada
como arma de vingança e de
destruição pelos insensatos
mistificadores que não acre-
ditavam na sobrevivência ao
túmulo, permaneceu incor-
ruptível na memória dos
tempos, a fim de ser reapre-
sentada pelos imortais, por
Ele enviados, para inaugurar
a Era do Consolador que
prometera, antes da partida...
...E ao retornar a sinfonia
de incomparável beleza, que
o mundo parecia haver es-
quecido, aqueles que o ouvi-
ram e não o seguiram ou o
acompanharam, segundo os
próprios interesses, levanta-
ram-se para apresentá-la
ao mundo contemporâneo,

Dezembro 2012 • Reformador 447 9


cias são diferentes, por causa da Ante as dúlcidas melodias sa a comandar a tua existência,
grande transição que o planeta evocativas do Natal, que recorda nela edificando o reino de Deus
experiencia, deixando as sombras o momento em que Jesus mer- que se espalhará por toda a Terra,
densas em que se encontra mer- gulhou nas sombras do planeta tornando todas as criaturas me-
gulhado para flutuar nas divinas para viver com os seus discípu- lhores e mais felizes.
claridades da regeneração que se los, mantém-te vigilante, procu- Felicidades, pois, no Natal e em
aproxima. rando descobrir se já o sentes todos os Anos Novos da tua jor-
Força alguma, de qualquer pro- nos recessos do ser e se te entre- nada terrestre!
cedência, poderá impedir o proces- gas, realmente, à sua programa-
so irreversível da evolução coman- ção. Joanna de Ângelis
dada por esse Vencedor Incompa- O Natal é mais do que uma da-
rável, que transformou os braços ta elegida aleatoriamente no ca- (Página psicografada pelo médium Dival-
de uma cruz de vergonha em asas lendário, para assinalar o dia do do Pereira Franco, na manhã de 11 de
luminosas de libertação perene. nascimento de Jesus. agosto de 2012, na residência do Dr. Epa-
O Espiritismo é a sublime rea- É, também, o momento em que minondas Corrêa e Silva, em Paramirim,
lidade da volta de Jesus a todos Ele, nascendo no teu coração, pas- Bahia.)
quantos padecem injunções pe-
nosas e caminham pelas estradas
difíceis da ignorância, aguardan-
do o guia e seguro mentor.
Não havendo alternativa para
que seja conseguido o significado
Jesus
psicológico da existência física, om o nascimento de Jesus, há como que uma comunhão direta
senão o alvo da imortalidade, é
inevitável que as propostas in- C do Céu com a Terra. Estranhas e admiráveis revelações perfu-
comparáveis do amor de Jesus en- mam as almas, e o Enviado oferece aos seres humanos toda a gran-
contrem ressonância no íntimo deza do seu amor, da sua sabedoria e da sua misericórdia.
de todos e permaneçam como di-
Aos corações abre-se nova torrente de esperanças, e a Humani-
retrizes de segurança emocional,
para a jornada feliz. dade, na manjedoura, no Tabor e no Calvário, sente as manifes-
As conquistas da Ciência, as ad- tações da vida celeste, sublime em sua gloriosa espiritualidade.
miráveis realizações da Tecnolo- Com o tesouro dos seus exemplos e das suas palavras, deixa
gia, os altos índices de conheci-
mento do mundo exterior, na o Mestre entre os homens a sua Boa Nova. O Evangelho do Cristo é o
atualidade, inevitavelmente con- transunto de todas as filosofias que procuram aprimorar o espírito,
duzem, também, o ser humano à norteando-lhe a vida e as aspirações.
viagem interna, a fim de que deci-
Jesus foi a manifestação do amor de Deus, a personificação de
fre as incógnitas do sentimento e
equacione os desafios existenciais, sua Bondade Infinita.
abraçando as causas do bem e da
fraternidade como as mais dignas Emmanuel
de serem vivenciadas. Fonte: XAVIER Francisco C. Antologia mediúnica do Natal. Espíritos diversos. 6. ed.
Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 6.


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Entrevista E VA N D R O N O L E TO B E Z E R R A

As viagens
de Kardec
Evandro Noleto Bezerra comenta a sua tradução, para a Editora FEB,
do livro de Allan Kardec que completa 150 anos de lançamento.
Considera tal obra um manual de orientação ao trabalhador espírita,
um relato de experiências extraordinárias do Codificador

Reformador: Como se sentiu ao Nestor João Masotti, discorría- visitou mais de 20 localidades,
traduzir o livro Viagem Espírita mos sobre a conveniência da tra- matéria que seria publicada à
em 1862? dução e publicação dos 12 volu- parte sob a forma de opúsculo.
Evandro: Vamos recuar um pouco mes da Revista Espírita e, quem Ao traduzir Viagem Espírita em
no tempo. Corria o ano 2001. Em sabe, das demais obras do Codi- 1862, fui dominado pelos mes-
conversa com o presidente da FEB, ficador do Espiritismo ainda não mos sentimentos que me anima-
publicadas pela Casa de Ismael. ram quando traduzi as demais
À medida que o trabalho de tradu- obras de Kardec: imensa alegria,
ção prosseguia, tornava-se cada profunda emoção, indizível sen-
vez mais claro para nós o verda- sação de paz e, sobretudo, certeza
deiro papel da Revista Espírita: o absoluta de estar contribuindo,
de um veículo de comunicação de alguma sorte, para tornar mais
destinado não apenas a ser uma conhecida esta Doutrina que nos
“tribuna livre” da doutrina nas- é tão cara.
cente, mas seu órgão orientador,
seu porta-voz doutrinário. E den- Reformador: Qual a sua visão so-
tre tantos assuntos interessantes, bre o Codificador com a vivência
chamaram nossa atenção as via- das viagens?
gens realizadas por Allan Kardec Evandro: A de um homem de ação,
entre 1860 e 1867, verdadeiras que não limitava seu trabalho às
maratonas a serviço da Doutrina comodidades de Paris. Como ele
e do Movimento espíritas, espe- próprio confessou, essas viagens
cialmente a de 1862, a mais tinham duplo objetivo: dar instru-
longa de todas, quan- ções onde estas fossem necessárias
do ele percorreu e, ao mesmo tempo, instruir-se com
693 léguas e os irmãos da província. Queria ver

Dezembro 2012 • Reformador 449 11


com os próprios olhos, a fim de sões gerais de Kardec, os discur- quais serão as consequências da
julgar o estado real da Doutrina sos que ele pronunciou nas reu- transgressão desse preceito?. A to-
e a maneira pela qual era com- niões de que tomava parte, as das elas Kardec responde com a
preendida; estudar as causas lo- instruções particulares que mi- elegância que lhe caracteriza o es-
cais favoráveis ou desfavoráveis nistrava aos grupos espíritas, bem tilo, a precisão e a clareza que lhe
ao seu progresso, sondar as opi- como o projeto de regulamento são habituais. Contudo, não as
niões, apreciar os efeitos da opo- que ele elaborou com vistas a transcreveremos aqui; preferimos
sição e da crítica e conhecer o assegurar a unidade doutrinária. que o leitor as descubra na pró-
julgamento que se fazia das obras Destaco, porém, um capítulo de pria fonte, visto não querermos
espíritas. Mas, acima de tudo, fundamental importância: o que privá-lo da satisfação, do privilé-
queria apertar a mão de cada contém as respostas de Kardec a gio de estudar esses e outros pon-
trabalhador espírita e com eles uma série de perguntas que lhe tos abordados pelo Codificador
confraternizar; exprimir pessoal- foram feitas pelos dirigentes es- ao longo da obra.
mente sua gratidão aos pionei- píritas a quem visitava. Por exem-
ros do Espiritismo pelo zelo e plo: – Já que o Espiritismo torna Reformador: Você acrescentou ou-
devotamento de que davam pro- melhores os homens, levando os tros textos na versão editada pela
vas. Para tanto, embrenhou-se al- descrentes à crença em Deus, na FEB?
gumas vezes pelo Interior da Fran- alma e na vida futura, por que Evandro: Sim, visto que outras
ça, numa época em que precá- tem inimigos? – Que se deve res- viagens de Allan Kardec, igual-
rios e temerosos eram os meios ponder aos que veem no Espiri- mente relevantes para o Movi-
de transporte, servindo-se de tismo um perigo para as classes mento Espírita, também merece-
trens, carruagens e até de bar- pouco esclarecidas e que, por ram dele destaque especial na
cos, nos deslocamentos que fa- não o compreenderem em sua Revista Espírita: as realizadas nos
zia, a fim de levar a orientação essência, poderiam desnaturar- anos de 1860, 1861, 1864 e 1867.
segura e abalizada da Doutrina -lhe o espírito e fazê-lo degene- A maioria delas se limitou às ci-
Espírita às sociedades que por rar em superstição? – Há uma dades francesas que se encontra-
toda parte se formavam. Agiu coisa ainda mais prejudicial ao vam no trajeto da linha férrea
como fez outrora Paulo de Tarso, Espiritismo do que os ataques que liga Paris a Lyon. A primeira
singrando mares e vencendo de- de seus inimigos: é o que, em seu viagem espírita tinha como alvo
sertos para que a Boa Nova não nome, publicam seus pretensos a cidade de Lyon. A segunda al-
se circunscrevesse ao povo judeu; adeptos, a ponto mesmo de ex- cançou Bordeaux. A terceira le-
agiu como fazem hoje os repre- pô-lo ao ridículo. Como reme- vou o Codificador a Bruxelas e
sentantes do Movimento Espírita diar esse inconveniente, que nos Antuérpia, na Bélgica. A quarta
organizado que, em nível nacio- parece um dos maiores escolhos passava por Orléans e Tours. São
nal, estadual ou municipal, per- da Doutrina? – Considerando-se viagens tão importantes quanto
correm regularmente os territó- os sábios ensinamentos dados a de 1862, porquanto em todas
rios sob sua jurisdição, visando pelos Espíritos e o grande nú- elas Allan Kardec teve oportuni-
ao mesmo objetivo. mero de pessoas que são condu- dade de constatar in loco os pro-
zidas a Deus pelos seus conse- gressos que o Espiritismo fazia,
Reformador: Que episódio você lhos, como é possível acreditar as transformações morais que
destacaria? que seja obra do demônio? – operava nas consciências. Era tam-
Evandro: Todos os episódios des- Que se deve pensar da proibição bém a chance de levar aos ir-
critos no livro Viagem Espírita em de Moisés aos hebreus para não mãos da província a orientação
1862 são importantes: as impres- evocarem as almas dos mortos, e segura da Doutrina Espírita, tal

12 450 R e f o r m a d o r • D e z e m b r o 2 0 1 2
como era entendida e praticada confundível do seu talento, as rita em 1862, cujo sesquicente-
na Sociedade Parisiense de Estu- experiências extraordinárias que nário de publicação comemora-
dos Espíritas, que ele presidia. vivenciou, bem como os desafios mos este ano. Não só a Doutri-
que enfrentou ao codificar o Es- na e o Movimento espíritas são
Reformador: Qual o valor que piritismo. Entre elas se encon- abordados nessas obras, como
atribui a este livro de Kardec? tram particularmente a coleção também a própria alma, a inti-
Evandro: O de um manual de completa da Revista Espírita, midade mesma do Codificador,
orientação aos trabalhadores es- Obras Póstumas, O Espiritismo na constituindo-se, algumas partes
píritas, semelhante aos que hoje sua Expressão mais Simples, O que delas, em sua verdadeira auto-
em dia são editados pelo Movi- é o Espiritismo e a Viagem Espí- biografia.
mento Espírita organizado, mas
com a vantagem de ter sido ela-
borado com o peso da autori-
dade de Allan Kardec, quando a O Senhor
Doutrina Espírita dava seus pri-
meiros passos e numa época em
que imperavam a ignorância, o
vem...
preconceito, a intolerância reli- E eis que Ele chega sempre de mansinho.
giosa e o materialismo avassa- Haja sol, faça frio ou tempestade;
lador. Embora editado há tanto
Veste o manto do amor e da verdade,
tempo, é surpreendente sua atua-
lidade, porquanto, mantidas as E percorre o silêncio do caminho.
devidas proporções, os desafios
com que outrora se deparava o
Vem ao nosso amargoso torvelinho,
Codificador na difusão do Es-
piritismo são praticamente os Traz às sombras da vida a claridade,
mesmos enfrentados por quan- E os próprios sofrimentos da impiedade
tos assumam agora o compro- São as bênçãos de luz do seu carinho.
misso de manter acesa a chama
viva do Consolador prometi-
do no coração da Humanidade Como o Sol que dá vida sem alarde,
inteira. Vem o Senhor que nunca chega tarde,
E protege a miséria mais sombria.
Reformador: Que recomendações
oferece ao leitor de Reformador?
Evandro: A mesma que fazemos Ele chega. E o amor se perpetua...
quando abordamos um escrito É por isso que o homem continua
de Allan Kardec: a de todo espí-
rita conhecer a fundo as suas Ressurgindo da treva a cada dia.
obras, não apenas as fundamen-
Auta de Souza
tais, mas também as subsidiá-
rias, as que mais do que outras Fonte: XAVIER, Francisco C. Parnaso de além-túmulo. 19. ed. 2. reimp. Rio de
levaram o cunho indistinguível Janeiro: FEB, 2010. p. 234.
da sua inteligência, a marca in-

Dezembro 2012 • Reformador 451 13


Cultivo à boa
convivência
“Aquele que ama a seu irmão está na luz, e nele não há escândalo. Mas aquele
que aborrece a seu irmão está em trevas, e anda em trevas, e não sabe para
onde deva ir, porque as trevas lhe cegaram os olhos.” (I João, 2:10 e 11.)

CLARA LILA GONZALEZ DE ARAÚJO

A
s sábias palavras do apóstolo quereríamos que os outros fizes- gação do Espiritismo – tarefeiros sin-
João, em sua primeira epís- sem por nós”, é a expressão mais ceros que ainda hoje preservam os
tola, capítulo 2, ressoam em completa da caridade, porque re- princípios do autêntico amor na
nossa consciência. Elas revelam não sume todos os deveres do homem formação do “[...] núcleo da grande
só a necessidade do cultivo inces- para com o próximo. Não pode- família espírita, que um dia consor-
sante de amor pelos semelhantes, mos encontrar guia mais seguro, a ciará todas as opiniões e unirá os
mas também a conquista das indis- tal respeito,que tomar para padrão, homens por um único sentimento:
pensáveis compreensão e tolerância, do que devemos fazer aos outros, o da fraternidade, trazendo o cunho
principalmente para com aqueles aquilo que para nós desejamos. da caridade cristã”.2 Conscientes da
que nos repelem e hostilizam. Essa [...] A prática dessas máximas ten- necessidade, sobretudo, de trabalhar
advertência nos indica condições de à destruição do egoísmo. Quan- pela unificação do Movimento Espí-
favoráveis a se ter no trato para com do as adotarem para regra de con- rita, a fim de robustecer a nobre ta-
todos, nas diferentes experiências duta e para base de suas institui- refa da difusão e da prática da Dou-
da caminhada terrena. ções, os homens compreenderão a trina Consoladora, cabe aos searei-
Em O Evangelho segundo o Espiri- verdadeira fraternidade e farão que ros laborar, consolidados nos precei-
tismo, capítulo 11, a análise feita por entre eles reinem a paz e a justiça. tos morais do Evangelho de Jesus,
Allan Kardec sobre o direito de exi- Não mais haverá ódios, nem dis- que tem no amor os alicerces funda-
gir de nossos semelhantes irrepreen- sensões, mas, tão somente, união, mentais da sua doutrina, “[...] visto
síveis procedimentos para conosco, concórdia e benevolência mútua.1 que esse é o sentimento por excelên-
sem que tenhamos condições de cia, e os sentimentos são os instintos
ser mais indulgentes e benevolen- A prática da boa convivência não elevados à altura do progresso feito.
tes para com eles, leva-nos a refletir se deve limitar aos ambientes parti- [...] E o ponto delicado do senti-
profundamente quanto às infinitas cular e familiar, mas ser estendida a mento é o amor [...]”.3 No entanto,
dificuldades que ainda possuímos toda a sociedade. Ao se referir às ins- assim considerando, como se justifi-
para exercitar a legítima bondade: tituições, certamente o Codificador cam algumas posturas antifraternas
chamou-nos a atenção para que de certos grupos espiritistas? O esti-
“Amar o próximo como a si mes- conservássemos a correta relação mado Benfeitor espiritual Emmanuel
mo: fazer pelos outros o que entre os que trabalham para a divul- responde a essa indagação:

14 452 R e f o r m a d o r • D e z e m b r o 2 0 1 2
– Os agrupamentos espiritistas fraternidade e humildade legí- Observa o Espírito Pascal: “[...] A
necessitam entender que o seu timas [...].4 rigidez mata os bons sentimentos
aparelhamento não pode ser [...]”,6 como a nos querer dizer que
análogo ao das associações pro- Em outra questão, o generoso não é possível ser bom sem supe-
priamente humanas. Espírito alerta-nos para o preparo rar os preconceitos e as dúvidas que
Um grêmio espírita cristão deve individual, convocando-nos ao ainda permanecem em nosso ínti-
ter, mais que tudo, a caracterís- mo. Por esse motivo, diversas ve-
tica familiar, onde o amor e a sim- [...] esforço próprio no estudo, zes, somos resistentes à rotina da
plicidade figurem na manifesta- meditação, cultivo e aplicação real solidariedade; fugimos às ta-
ção de todos os sentimentos. da Doutrina. refas de amor, supondo erradamen-
Em uma entidade doutrinária, A frequência às sessões ou o fa- te que as pessoas são moralmente
quando surgem as dissensões e to de presenciar esse ou aquele equivocadas, e tornamo-nos rigo-
lutas internas, revelando partida- fenômeno [...] não traduz aqui- rosos na amizade cultivada junto
rismos e hostilidades, é sinal de sição de conhecimentos.5 aos pares que nos cercam, bem
ausência do Evangelho nos cora- como para com aqueles que são
ções, demonstrando-se pelo ex- Da mesma maneira, avisam-nos acolhidos na Instituição Espírita
cesso de material humano e pres- os Espíritos reveladores: é impres- em que servimos, na busca de
sagiando o naufrágio das inten- cindível nos libertarmos das ten- consolação para as suas almas. Je-
ções mais generosas. dências egoísticas que transformam sus revelava infinita compaixão
Nesses núcleos de estudo, ne- os nossos corações, tornando-nos por todos que o buscavam, e sua
nhuma realização se fará sem insensíveis aos sofrimentos alheios. atitude caridosa causou estranheza

Dezembro 2012 • Reformador 453 15


e repúdio entre os fariseus e os es- Muitos continuam presos aos ensina e pratica a caridade de
cribas, seguidores do convencio- instintos propriamente humanos, forma ilimitada, levando consolo
nalismo e da falsidade. na luta pelas conquistas do mun- a muitos aflitos e sofredores:
Martins Peralva (1918-2007), do – de posições e aquisições mate-
conhecido autor espírita, ao estu- riais – e, ao verem malogradas as [...] reconhecê-los-eis pelo seu
dar sobre a importância do bom suas expectativas pessoais, a reação amor ao próximo, pela sua ab-
relacionamento no Centro Espíri- é de agressividade, sem nenhuma negação, pelo seu desinteresse
ta, admite que: resistência em suprimir as frustra- pessoal; reconhecê-los-eis, final-
ções que os abatem, tornando-se mente, pelo triunfo de seus prin-
Os espíritas, procurando assimi- exigentes e autoritários ou trans- cípios, porque Deus quer o triunfo
lar e exemplificar o ensino, reco- formando-se em pessoas frias e in- de Sua lei; os que seguem Sua
nhecem que, se é realmente agra- diferentes. Para o obreiro espírita, lei, esses são os escolhidos e Ele
dável o convívio com irmãos essa atitude está em desacordo com lhes dará a vitória; mas Ele des-
superiores, profundamente fra- a obrigação moral de agir no bem, truirá aqueles que falseiam o
terno e meritório é o acolhi- pois deve conservar, nas múltiplas espírito dessa lei e fazem dela
mento àqueles que ocupam, na situações existenciais, a manutenção degrau para contentar sua vai-
escala evolutiva, posição menos de um clima favorável no âmbito dade e sua ambição.8
segura que a nossa. dos relacionamentos que conquis-
[...] abraçar os que aceitaram, ta. Ser fraterno significa cooperar de Referências:
1
por equívoco, as sugestões do maneira sincera, sem personalis- KARDEC, Allan. O evangelho segundo o
erro e do crime constitui valioso mos prejudiciais, que provocariam espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 130. ed.
programa evangélico, tal como distanciamentos entre as criaturas 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2012. Cap.
fez Jesus em casa de Zaqueu ou de uma mesma crença. 11, it. 4.
no banquete de Levi.7 Não basta, pois, conhecer a Dou- 2
______. O livro dos médiuns. Trad.
trina Espírita; ela nos convida à in- Guillon Ribeiro. 80. ed. 4. reimp. Rio de
Na explanação e execução da ta- terpretação individual antes de atin- Janeiro: FEB, 2012. Cap. 29, it. 334.
3
refa, o seareiro do bem, ao longo do girmos o patamar de segurança que ______. O evangelho segundo o espiritis-
caminho a percorrer, sabe que se- precisamos transpor para a aplica- mo. Trad. Guillon Ribeiro. 130. ed. 2. reimp.
melhante trajetória pode lhe trazer ção de sua prática. Por isso, exis- Rio de Janeiro: FEB, 2012. Cap. 11, it. 8.
4
condições ideais para adquirir con- tem companheiros mais inteligen- XAVIER, Francisco C. O consolador. Pelo
fiança em si mesmo e nos amigos tes do que outros que, no entanto, Espírito Emmanuel. 28. ed. 5. reimp. Rio
espirituais, nutrindo esperanças por não compreendem a essência dos de Janeiro: FEB, 2011. Q. 363.
5
dias melhores, mas não constitui a ensinamentos doutrinários e não ______. ______. Q. 364.
6
imprescindível fórmula para vencer conseguem vivenciá-los como de- KARDEC, Allan. O evangelho segundo o
a si mesmo. Muitas vezes, ao nos veriam, enquanto determinados espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 130. ed.
prepararmos para as retificações indivíduos possuem sensibilidade 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2012. Cap.
dolorosas, não fortalecemos a fé, e senso moral mais adiantados e se 11, it. 12.
7
que nos traria calma e tranquilida- empenham em praticar os princí- PERALVA, Martins. Estudando o evange-
de, e nos deixamos abater e desani- pios espíritas e suas máximas evan- lho. 11. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB,
mar sem procurarmos conservar os gélicas, embora sejam simples e sem 2012. Cap. 12.
8
sentimentos dignos no exercício da grandes arroubos de inteligência. KARDEC, Allan. O evangelho segundo o
retidão e da pureza dos pensamen- Conforme o Espírito Erasto, espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 130. ed.
tos elevados, mormente em relação anjo da guarda do médium, o ver- 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2012. Cap.
aos que permanecem ao nosso lado. dadeiro espírita é aquele que 20, it. 4.

16 454 R e f o r m a d o r • D e z e m b r o 2 0 1 2
Férias espíritas?!
GERALDO CAMPETTI SOBRINHO

O
espírita tem direito a fé- se período de férias também seja Espírita jamais deve fechar as suas
rias? Os Espíritos saem de utilizada para uma pausa em suas portas, ressalvadas as circunstân-
férias? A Casa Espírita po- atividades na Casa Espírita. Alguns cias e obrigações imperiosas, pois
de tirar férias? aproveitam parcela desse tempo a necessidade não tira férias e a
O vocábulo férias é um subs- para dedicação aos afazeres espi- dor não tem hora marcada. Por
tantivo feminino plural que sig- ritistas, ofertando outra porção de esta razão, há que se organizar
nifica “período de descanso a que tempo aos interesses particulares, equipes de trabalho para garantir
têm direito empregados, servido- familiares e sociais. Nada que fuja o ininterrupto funcionamento das
res públicos, estudantes etc., depois à normalidade, considerando-se a atividades destinadas ao atendi-
de passado um ano ou um semes- necessidade de cuidar da vida mento do público, encarnado e de-
tre de trabalho ou de atividades”.1 material. Porém, cabe lembrar: sencarnado. Feriados como Natal,
O conceito vale para labor remu- na vida cotidiana, somos espíritas Ano Novo, Carnaval, entre ou-
nerado ou prestação de serviços. todos os dias. tros, são oportunidades de servir.
A Lei Divina do trabalho insere No que tange aos Espíritos saí- É recomendável manterem-se ati-
em suas diretrizes a necessidade rem de férias, aprendemos que a vos, principalmente, os serviços de
do repouso.2 Como ser humano e Lei do Repouso é rigorosamente palestras públicas, passes, atendi-
profissional, o espírita tem direito observada por eles. Quando cons- mento fraterno e reuniões mediú-
de usufruir as férias decorrentes da ciente de seu papel na construção nicas.
sua prestação de serviços. É co- de um mundo melhor, o Espírito A Casa Espírita é uma fonte de
mum que parte ou totalidade des- aproveita utilmente o “tempo li- luz constante para assistência, con-
vre”. A palavra férias se aplica solo e esclarecimento aos neces-
1 mais a nós que aos Espíritos liber- sitados do corpo e do espírito.
Assim define o Dicionário eletrônico
Houaiss da língua portuguesa. tos do corpo físico, sobretudo àque-
2 les evoluídos.
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad.
Evandro Noleto Bezerra. ed. bolso 1. reimp. A terceira questão é complexa e
Rio de Janeiro: FEB, 2011. Q. 674 a 685a. exige seguro posicionamento.A Casa

Dezembro 2012 • Reformador 455 17


O Espiritismo na sua
expressão mais simples
150 anos de edição e tradução
J O R G E B R I TO

E
m 15 de janeiro de 1862, era O opúsculo está dividido em a fim de que se lhe possa com-
lançada em Paris, pela Li- três capítulos: “Histórico do Espi- preender o objetivo moral e filo-
vraria Ledoyen e pelo escri- ritismo”, “Resumo do Ensino dos sófico”.2
tório da Revista Espírita, a edição Espíritos” e “Máximas Extraídas Um fato que merece destaque:
príncipe de 36 páginas, in-18, de das obras de Allan Kardec é a
Le Spiritisme à sa plus simple ex- primeira traduzida para o por-
pression, exposé sommaire de tuguês por Alexandre Canu,3
l’enseignement des esprits et de leurs autorizado pelo próprio autor,
manifestations. O Espiritismo em a qual foi editada em Paris no
sua mais simples expressão, expo- ano de 1862 por Va. J. P. Aillaud,
sição sumária do ensinamento Monlon e Cia., livreiros de suas
dos Espíritos e de suas manifesta- majestades o imperador do Bra-
ções, obra escrita por Allan Kar- sil e o rei de Portugal, e impres-
dec para popularizar o Espiritis- sa na Tip. Rignoux, rua Mon-
mo na França, a preço acessível, sieur-le-Prince, 3, sendo esta a
sem prejuízo das obras básicas. terceira edição, logo após a pri-
Custava 15 centavos de franco e meira, francesa, e a segunda, em
os 10 mil exemplares esgota- alemão, pelo professor belga
ram-se em três meses. A segun- Constantin Delhez. O tradutor
da edição, com o texto definiti- destaca no Prólogo a importân-
vo, sairia em maio daquele ano.
Várias outras edições se sucede-
2
ram, com destaque para a de KARDEC, Allan. O Espiritismo na sua
1923 pela Livraria de Ciências expressão mais simples... Revista espíri-
ta: jornal de estudos psicológicos, ano
Psicológicas, de Paul Leymarie, 5, n. 1, p. 51, jan. 1862. Trad. Evandro
que teve uma tiragem única de Noleto Bezerra. 3. ed. 2. reimp. Rio de
150 mil exemplares.1 Janeiro: FEB, 2009.
3
dos Ensinos dos Espíritos” e tem Espírita francês, culto e inteligente,
como objetivo “dar, num panora- muito convicto, e que viera do materialis-
1
BARREIRA, Florentino. Resumo analítico mo. Kardec chama-o colega. Residiu no
ma muito sucinto, um histórico
das obras de Allan Kardec. Trad. David Brasil de 1842 a 1845. Em 1863, foi secre-
Caparelli. São Paulo: Madras Editora, do Espiritismo e uma ideia sufi- tário da Sociedade Parisiense de Estudos
2003. p. 116. ciente da Doutrina dos Espíritos, Espíritas (SPEE).

18 456 R e f o r m a d o r • D e z e m b r o 2 0 1 2
cia do Espiritismo e a sua admira- eu, quanto à tradução, na indul- É, também, o primeiro dos li-
ção pelo Codificador: gência daqueles que, nas cousas vros espíritas do mestre lionês em
desta ordem, antes consideram versão portuguesa integral, anô-
Ainda que pouco versado no o fundo que a forma. nima, impressa no Brasil em 1866,
estilo português, porém movido mais precisamente, na capital de
da importância do assunto Um trecho do extrato do Jornal São Paulo, pela Typographia Lit-
assombroso de que aqui se trata, do Commercio, do Rio de Janeiro, teraria, rua do Imperador, 94,
e que está hoje maravilhando o de 23 de setembro de 1863, trans- com o título: O Espiritismo redu-
mundo inteiro, e também da crito pela Revista Espírita, de ju- zido a sua mais simples expressão,
necessidade de espalhá-lo, quan- lho de 1864 (FEB, 2009, p. 289- traduzido do francês, com 36 pá-
to antes, por toda a parte, não -290, tradução de Evandro Noleto ginas. Naquele mesmo ano, Luís
duvidei de traduzir esta obrazi- Bezerra), dá conta da presença da Olímpio Teles de Menezes tradu-
nha elementar, já vertida em tradução de Canu, no Brasil: ziu apenas parte de uma obra de
muitas línguas, a fim de levá-la Kardec, ou seja, a “Introdução” de
ao conhecimento dos povos que Constatamos com satisfação O Livro dos Espíritos, que foi im-
falam a língua portuguesa, e pô- que a ideia espírita faz sensíveis pressa na Tipografia de Camillo
-los em estado de se esclarecerem progressos no Rio de Janeiro, de Lellis Masson & C., em Salva-
numa descoberta tão espantosa, onde conta expressivo núme- dor, Bahia.
por meio das obras especiais do ro de representantes, fervorosos A Livraria Garnier, no seu Ca-
homem eminente que foi o pri- e devotados. A pequena brochu- tálogo das Obras Fundamentais da
meiro propagador, e ainda hoje ra O Espiritismo na sua expres- Doutrina Espírita, de 1874, infor-
o maior vulgarizador desta ciên- são mais simples, publicada em ma que O Espiritismo em sua mais
cia sublime, que há certamente português, muito contribuiu simples expressão foi “já há mui-
de transformar em pouco tem- para ali espalhar os verdadeiros to traduzido em português” e, em
po a humanidade; descansando princípios da doutrina. 1875, registra: “vertido para o por-

Dezembro 2012 • Reformador 457 19


tuguês”, tamanho in-4, custando Existem traduções brasileiras 2007, juntamente com outros
mil réis a brochura de uma prová- modernas dessa obra como a de opúsculos de Kardec, traduzidos
vel nova tradução, que ainda não Dafne R. Nascimento, editada pela por Evandro Noleto Bezerra.
teve nenhum exemplar localizado. Federação Espírita do Estado de São A Edicei – Editora do Conselho
A Federação Espírita Brasileira Paulo, a de Salvador Gentile,6 pelo Espírita Internacional – tem se res-
editou, pela primeira vez, em Instituto de Difusão Espírita (IDE), ponsabilizado pela publicação, em
1904, O Espiritismo em sua mais Araras, São Paulo, e a de Joaquim da vários idiomas, das obras de Allan
simples expressão, a Biografia [par- Silva Sampaio Lobo (In: Iniciação Kardec, bem como das psicogra-
cial] de Allan Kardec, de Henry Espírita, Edicel, São Paulo e Brasília). fadas por Chico Xavier, além de
Sausse, ambos sem nome de tra- Esse texto, pioneiro na divulga- outros autores, cujo catálogo atin-
dutor, e a Memória Histórica, for- ção do Espiritismo no Brasil, vol- ge mais de 170 títulos. Em 2009,
mando os três juntos o livro, de tou a ser editado pela FEB, em editou O Espiritismo na sua ex-
102 páginas, Memória Histórica pressão mais simples, em francês e
do Espiritismo, Alguns Dados, Pu- russo; em 2010, em sueco e espa-
6
blicação Comemorativa do Cente- Em parceria com Alípio Gonzalez tradu- nhol e, em 2011, em finlandês,
ziu para o espanhol El Espiritismo em su
nário de Allan Kardec, Codificador fato relevante que destaca o papel
más simple expression, Exposición sumária
da Doutrina Espírita, impresso de la enseñanza de los Espíritos. 9. ed. IDE, do Brasil na propagação do Es-
pela Tip. Besnard Fréres, rua do 2008. Mensaje Fraternal, Caracas, Venezuela. piritismo pelo mundo.
Hospício, 1.133, Rio de Janeiro.
Com recursos mensais de uma
chamada “Caixa de Propaganda”,4
instituída em 1920 pela Federação
Espiritismo
Espírita Brasileira, para publica-
ção de folhetos de propaganda da
Doutrina Espírita, foram distribuí-
O Espiritismo não é uma descoberta moderna. Os fatos e os
princípios sobre os quais ele repousa se perdem na noite dos tem-
pos, pois que deles se encontram traços nas crenças de todos os
dos em 1921, gratuitamente, 2.469 povos, em todas as religiões, na maioria dos escritores sagrados e
exemplares5 de O Espiritismo na sua profanos; apenas os fatos, incompletamente observados, muitas
expressão mais simples – Exposição vezes foram interpretados de acordo com as ideias supersticiosas da
sumária dos ensinos dos espíritos e ignorância e ninguém havia deduzido todas as suas consequências.
de suas manifestações –, traduzido Com efeito, o Espiritismo se funda na existência dos Espíritos;
mas, não sendo os Espíritos senão as almas dos homens, desde que
por Guillon Ribeiro, reeditado em
há homens há Espíritos. O Espiritismo nem os descobriu, nem os
1933, também para gratuidade. Ou-
inventou. Se as almas ou Espíritos podem manifestar-se aos vivos é
tros títulos foram entregues aos
que isso está na Natureza e, assim, desde todos os tempos eles o pu-
leitores nessa mesma condição. deram fazer. É por isso que em todos os tempos e por toda parte se
encontra a prova dessas manifestações, abundantes, sobretudo, nas
4
Por sugestão dos confrades Alcindo Terra,
narrações bíblicas. O que é moderno é a explicação lógica dos fatos,
Vespasiano Mendes, Eutychio Campos, o conhecimento mais completo da natureza dos Espíritos, o seu
Ruben Bello, Dirceu de Oliveira, Eduardo papel e o seu modo de ação, a revelação do nosso estado futuro;
Carvalho e Acacio de Lannes. Ver Reforma- enfim, sua constituição em corpo de ciência e de doutrina, com as
dor, ano 38, n. 20, p. 416, out. 1920. suas diversas aplicações. [...]
5
Relatório da presidência, apresentado à Allan Kardec
Assembleia Deliberativa na sua Reunião
Ordinária de 22 de janeiro de 1922, it. Fonte: O espiritismo na sua expressão mais simples e outros opúsculos de Kardec. 2. ed.
Propaganda. Reformador, ano 40, n. 3, fev. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. Histórico do Espiritismo, p. 32-33.
1922, p. 63.

20 458 R e f o r m a d o r • D e z e m b r o 2 0 1 2
Esf lorando o Evangelho
Pelo Espírito Emmanuel

Por Cristo “E se te fez algum dano, ou te deve alguma coisa,


põe isso à minha conta.”
– PAULO. (FILEMOM, 1:18.)

E
nviando Onésimo a Filemom, Paulo, nas suas expressões inspiradas e felizes,
recomendava ao amigo lançasse ao seu débito quanto lhe era devido pelo
portador.
Afeiçoemos a exortação às nossas necessidades próprias.
Em cada novo dia de luta, passamos a ser maiores devedores do Cristo.
Se tudo nos corre dificilmente, é de Jesus que nos chegam as providências justas.
Se tudo se desenvolve retamente, é por seu amor que utilizamos as dádivas da vida
e é, em seu nome, que distribuímos esperanças e consolações.
Estamos empenhados à sua inesgotável misericórdia.
Somos d’Ele e nessa circunstância reside nosso título mais alto.
Por que, então, o pessimismo e o desespero, quando a calúnia ou a ingratidão nos
ataquem de rijo, trazendo-nos a possibilidade de mais vasta ascensão? Se estamos
totalmente empenhados ao amor infinito do Mestre, não será razoável compreen-
dermos pelo menos alguma particularidade de nossa dívida imensa, dispondo-nos
a aceitar pequenina parcela de sofrimento, em memória de seu nome, junto de nos-
sos irmãos da Terra, que são seus tutelados igualmente?
Devemos refletir que quando falamos em paz, em felicidade, em vida superior,
agimos no campo da confiança, prometendo por conta do Cristo, porquanto só Ele
tem para dar em abundância.
Em vista disso, caso sintas que alguém se converteu em devedor de tua alma, não
te entregues a preocupações inúteis, porque o Cristo é também teu credor e deves
colocar os danos do caminho em sua conta divina, passando adiante.

Fonte: XAVIER, Francisco C. Caminho, verdade e vida. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2012. Cap. 17.

Dezembro 2012 • Reformador 459 21


Parnaso de
Além-Túmulo
80 anos
G L AU C I O V. C A R D O S O

E
m junho deste ano, quando meira obra psicografada pelo sau- determinavam desde as formas até
foi bastante lembrado o 10o doso médium mineiro. os temas possíveis no fazer literá-
ano da desencarnação de O simples fato de ter sido com rio. Com o gradativo advento da
Francisco Cândido Xavier (1910- este livro que Chico Xavier iniciou modernidade, este panorama mo-
-2002), uma data significativa pas- sua profícua lavra mediúnica já bas- difica-se de modo surpreendente.
sou praticamente ignorada: 6 de taria para sua inclusão nos Anais Não se trata, como poderia con-
julho de 1932, dia de lançamento da Doutrina Espírita. Entretanto, cluir um raciocínio reducionista,
de Parnaso de Além-Túmulo, pri- a relevância deste acontecimento de abolição absoluta das regras,
vai ainda mais longe, e sua devida mas sim de seu alargamento e fle-
apreciação deve nos permitir vi- xibilização, permitindo que todas
sualizar, com maior completude, pudessem ser usadas, até mesmo a
o lugar de destaque que ele tem rigidez formal.
na literatura como um todo. É neste contexto que vemos a
Se observarmos o contexto poesia ocupando lugar central nas
no qual o Parnaso surgiu, vamos manifestações literárias; havendo a
notar que foi um momento proliferação das publicações a ela
muito propício para a poesia. dedicadas, vale lembrar aqui a Re-
Dez anos antes, ocorrera a Se- vista Orpheu (Portugal – 1915) e a
mana de Arte Moderna, cujos Revista de Antropofagia (Brasil –
frutos começavam a ser colhidos, 1928); é também a época de pu-
marcando as bases para uma nova blicação de importantes livros
tradição em nossa Arte, principal- como Pauliceia Desvairada (1922),
mente na literatura: a tradição da de Mário de Andrade; Primeiro ca-
liberdade, da ousadia, da ruptura. derno do aluno de poesia Oswald de
De fato, durante as primeiras Andrade (1927), de Oswald de An-
décadas do século XX, viu-se uma drade; e Charneca em Flor (1931),
liberação sem precedentes da lite- de Florbela Espanca; os poetas
ratura, em todas as suas manifes- ocupam tamanho status sociocul-
tações, das velhas regras que tural que, entre os laureados com o

22 460 R e f o r m a d o r • D e z e m b r o 2 0 1 2
Prêmio Nobel de Literatura, a par- nos séculos XV e XVI, ou os poe- universal, quer a tomemos por livro
tir de 1901 até 1931, dez eram poe- mas pré-islâmicos, organizados religioso, quer apenas como obra
tas;1 o público leitor estava ávido sob o título Os poemas suspensos, poética, livre de quaisquer rótulos.
por poesia que consumia e discutia. coligidos no século VIII e traduzi- Como poesia, o Parnaso enri-
Era, portanto, o momento pro- dos recentemente para o português quece a tradição literária em língua
pício para uma publicação tra- por Alberto Mussa. Tais obras per- portuguesa com multiplicidade de
zendo os poetas de além-túmulo, mitem-nos um vislumbre pano- estilos e temas que só encontrarão
de modo similar ao clima aberto à râmico da produção de um povo, equivalência na obra de um Fer-
filosofia de caráter transcendental um autor, uma linha temática. nando Pessoa e, tal qual o vate lu-
que, na França de meados do Um livro como o Parnaso de sitano, com o mérito de apresentar
século XIX, propiciou o surgimen- Além-Túmulo já seria importante unidade dentro de sua diversidade.2
to de O Livro dos Espíritos. por sua simples existência; entre- Hoje, oito décadas após sua pri-
Não nos detemos na menção tanto, sua natureza agrega-lhe meira edição e após ter sido revis-
das reações provocadas pelo to pelos próprios autores es-
Parnaso de Além-Túmulo en- pirituais até a oitava edição
tre a intelectualidade na épo- (1972), tomada como defini-
ca de sua primeira edição, tiva, o Parnaso de Além-Tú-
por considerar que a mesma mulo ainda chama a atenção e
já foi feita de modo satisfató- permanece como uma obra ini-
rio no belo trabalho de Clóvis gualável a ser estudada e deba-
Ramos, intitulado 50 anos de tida por espíritas, amantes da
Parnaso. Preferimos antes tra- poesia e estudiosos da literatu-
tar de outros aspectos relacio- ra. Seja qual for o olhar que
nados à obra de Chico Xavier nele se detenha, não sairá indi-
a fim de tentar um esboço de ferente à poesia transcenden-
sua dimensão. tal, pois “Além do túmulo o
Antologias poéticas não re- Espírito inda canta”3 e seu
presentam nenhuma raridade canto faz eco nos mais recôn-
na história da literatura uni- ditos recantos.
versal. Em praticamente todas
as épocas e em toda parte hou- Referências:
ve iniciativas para preservar a RAMOS, Clóvis. 50 anos de parnaso. 2.
produção literária de um povo ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002.
ou de um momento específico. XAVIER, Francisco Cândido. Parnaso de
É assim que encontraremos além-túmulo. Espíritos diversos. 19. ed. 2.
obras como o Cancioneiro Geral ainda outros valores, como pro- reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010.
(1516), organizado por Garcia de blematizar a sobrevivência da in-
Resende, com poemas escritos dividualidade após a morte física, 2
Não se infira desta observação nenhuma
levantar questionamentos a res- insinuação de que Fernando Pessoa seria
1 peito de autoria, estabelecer o de- médium. Temos algumas ideias a esse res-
1901 – Sully Prudhomme; 1904 – Fréderic
peito que merecerão um texto próprio em
Mistral; 1906 – Giosuè Carducci; 1907 – bate sobre a questão mediúnica. momento oportuno e, se possível, em breve.
Rudyard Kipling; 1911 – Maurice Maeterlinck; Ao passear os olhos por suas pá- 3
1913 – Rabindranath Tagore; 1919 – Carl N. da R.: Soneto Parnaso de além-túmulo,
Spitteler; 1923 – William Butler Yeats; 1926 ginas, somos defrontados com uma do Espírito João de Deus, na obra de mes-
– Grazia Deledda; 1931 – Erik Axel Karlfeldt. das mais belas obras da literatura mo título.

Dezembro 2012 • Reformador 461 23


Capa

Em dia com o Espiritismo

As três orações “Todos precisamos cultivar a paciência e a humildade.” 1

M A RTA A N T U N E S M O U R A

N
a literatura mundial e na- beleceram entre si uma comunhão mais elevado de vibrações, de se-
cional há belíssimas páginas perfeita de ideias e de sentimentos renas e tocantes emoções.
referentes ao Natal, consi- para, ao final, produzirem uma O autor espiritual relata, em
derada a mais importante festa da das mais belas páginas conhecidas As Três Orações, uma breve história
cristandade. Comemorada anual- de louvor, homenagem e reverên- que foi contada por “Simão Abileno,
mente em 25 de dezembro, no cia a Jesus, nosso Mestre e Senhor. instrutor cristão, considerado no
Ocidente, esta data foi definida pela Quando nos propomos a ler e Plano Espiritual por mestre do apó-
Igreja Católica Romana, no terceiro reler As Três Orações, temos dificul- logo e da síntese”.2 Trata-se, na ver-
século d.C., como a do nascimento dade em discernir quem se revela dade, de antiga lenda que, em prin-
de Jesus. Os países eslavos e os cris- maior: o brilhante escritor, domi- cípio, nos fala do valor da oração
tãos filiados à Igreja Católica Orto- ciliado no além-túmulo, ou o valo- e da “resposta do Criador às pre-
doxa festejam o Natal em sete de ja- roso médium, portador de agu- ces das criaturas”.2 Em linhas gerais,
neiro, pois seguem o calendário Ju- çada sensibilidade mediúnica. A o texto pode ser assim resumido:
liano (implantado por Júlio César). despeito de ambos, escritor e mé-
As mensagens natalinas espí- dium, se apequenarem para revelar [...] Em grande bosque da Ásia
ritas, sobretudo as mediúnicas, a glória do Cristo, não passam des- Menor, três árvores ainda jovens
constituem um capítulo à parte percebidas a correção e a elegância pediram a Deus lhes concedesse
pelo elevado conteúdo que trans- da linguagem utilizada pelo admi- destinos gloriosos e diferentes.
mitem. Entre elas destacamos As rável contista e cronista que foi A primeira explicou que aspi-
Três Orações,1 de autoria do Espí- Humberto de Campos, membro rava a ser empregada no trono
rito Irmão X (ou Humberto de da Academia Brasileira de Letras, do mais alto soberano da Terra;
Campos), transmitida pela me- na última reencarnação. Da mesma após ouvi-la, a segunda decla-
diunidade de Chico Xavier e que forma, Chico Xavier consegue mate- rou que desejava ser utilizada na
faz parte do livro Cartas e Crônicas, rializar com maestria o pensamen- construção do carro que trans-
publicado pela FEB, desde 1966. to do desencarnado, que o utiliza portasse os tesouros desse rei
As Três Orações não se restringe como medianeiro, fazendo fluir poderoso, e a terceira, por últi-
a ser apenas mais uma mensagem palavras e frases de forma enca- mo, disse então que almejava
que emociona e agrada o leitor de deada, dentro de uma sequência transformar-se numa torre, nos
qualquer idade: criança, jovem, ido- harmoniosa de pura simplicidade domínios desse potentado, pa-
so. Nela, o Espírito e o médium esta- que nos transporta a um plano ra indicar o caminho do Céu.

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Depois das preces formuladas, servir, em momento oportuno, crifício, indicando o verdadeiro
um mensageiro angélico desceu numa cela de malfeitores. [...]3 caminho do Reino celestial...4
à mata e avisou que o Todo-Mi-
sericordioso lhes recebera as ro- Ainda que separadas e sofredo- Essa singela história nos faz re-
gativas e lhes atenderia às peti- ras, as três árvores continuaram fletir que é preciso não só cultivar
ções. Decorrido muito tempo, firmes, confiantes no Senhor.3 a prece e alimentar a fé na Pro-
lenhadores invadiram o horto vidência Divina. As Três Orações é
selvagem e as árvores, com gran- [...] No bosque, contudo, as ou- lição que nos mostra a importân-
de pesar de todas as plantas cir- tras plantas tinham perdido a fé cia de resgatar a mensagem de
cunvizinhas, foram reduzidas no valor da oração, quando, amor consubstanciada no Evan-
a troncos, despidos por mãos transcorridos muitos anos, vie- gelho de Jesus. Para tanto, há ne-
cruéis. Arrastadas para fora do ram a saber que as três árvores cessidade de estabelecermos um
ambiente familiar, ainda mes- haviam obtido as concessões glo- programa de vida que objetive
mo com os braços decepados, riosas solicitadas... A primeira, conhecer Jesus, seguindo os seus
elas confiaram nas promessas do forrada de panos singelos, rece- passos. Com Ele aprendemos que
Supremo Senhor e se deixaram bera Jesus das mãos de Maria uma vida de simplicidade e culti-
conduzir com paciência e humil- de Nazaré, servindo de berço ao vo de virtudes afasta-nos do fascí-
dade. Qual não lhes foi, porém, Dirigente Mais Alto do mundo; nio de querer acumular bens
a aflitiva surpresa!... [...]3 a segunda, trabalhando com materiais, ou permanecer na ilu-
pescadores, na forma de uma são de que cargos e posições de
As três árvores seguiram desti- barca valente e pobre, fora o destaque, no seio da comunidade
nos distintos: veículo de que Jesus se utilizou onde estamos inseridos, nos con-
para transmitir sobre as águas ferem status social. Já passa da ho-
[...] a primeira caiu sob o poder muitos dos seus mais belos en- ra de estabelecermos a diretriz de
de um criador de animais que, de sinamentos; e a terceira, con- inserir o Mestre Nazareno nos
imediato, mandou convertê-la vertida apressadamente numa nossos propósitos existenciais:
num grande cocho destinado à cruz em Jerusalém, seguira com
alimentação de carneiros; a se- Ele, o Senhor, para o monte e, E a ninguém, sobre a terra, cha-
gunda foi adquirida por um ve- ali, ereta e valorosa, guardara- meis de vosso Pai; pois vosso
lho praiano que construía bar- -lhe o coração torturado, mas Pai Celestial é somente um.
cos por encomenda; e a terceira repleto de amor no extremo sa- Nem sejais chamados “Guias”,
foi comprada e recolhida para porque vosso Guia é somente

Dezembro 2012 • Reformador 463 25


Capa

um, o Cristo. Porém o maior Não se renasce na Terra, sem o perceber que sem o conheci-
entre vós será o vosso servidor, concurso dos pais ou dos valo- mento de nossas próprias fra-
e aquele que exaltar a si mesmo res genéticos que forneçam. Não quezas, tombaríamos no orgu-
será diminuído, e aquele que se adquire cultura sem profes- lho. [...] Para nós que aceitamos
diminuir a si mesmo será exal- sores ou recursos que eles deci- a jornada para a integração
tado. (Mateus, 23:9 a 11.)5 dam formar. Não se obtém ali- com Jesus, não há possibilidade
mento sem esforço próprio, de recuo, porque a desistência da
É certo que cada um encontrará, nem sob o amparo do esforço luta pela vitória do bem signifi-
por si mesmo, o caminho de servir alheio. [...] Há famílias de or- ca perturbação e não equilíbrio,
a Jesus, mas, como sugestão, pode- dem material e aquelas outras rebeldia e não fé.
mos começar com o cuidado de de ordem espiritual – afirma- Em suma, carregar nossa cruz
evitar a tentação do consumismo -nos o Evangelho, na Doutrina será, desse modo, romper com
desenfreado, tão comum nos dias Espírita. Atendamos, por isso, os milênios de animalidade em
atuais e, em especial, na época do ao nosso conceito de família que se nos sedimenta a estrutu-
Natal. Trabalhemos, ao contrário, mais ampla. [...] Conduzamos a ra da alma, principiando por
para acumular outros tipos de bens: nossa mensagem de paz e amor acender as possíveis réstias de
a quantos nos partilhem a es- luz na selva de nossos próprios
Entesourai para vós tesouros trada do dia a dia. [...] Agrade- instintos, recebendo, pela fide-
no céu, onde nem a traça nem a çamos a oportunidade de enten- lidade ao serviço, a honra de
corrosão consomem, e onde os der isso e o privilégio de traba- trabalhar, em Seu Nome, não
ladrões não arrombam nem lhar por um Mundo Melhor através de méritos que ainda
roubam. (Mateus, 6:20.)6 com o nosso Espírito Melhora- não possuímos, mas em razão
do, seguindo para a Vida Maior.8 da misericórdia, da pura miseri-
Por outro lado, algo devemos córdia que Ele nos concedeu.9
fazer para minorar a dor do pró- Quanto às provações, vamos
ximo, uma vez que, como espíri- enfrentá-las, confiantes na bonda- Referências:
1
tas, temos consciência de que “fo- de e misericórdia divinas. Aconse- XAVIER, Francisco C. Cartas e crônicas.
ra da caridade não há salvação”: lha Emmanuel: Pelo Espírito Irmão X. 13. ed. 3. imp. Rio
de Janeiro: FEB, 2012. Cap. 2, p. 15.
2
[...] Vinde, benditos do meu Carregar nossa cruz, a caminho ______. ______. p. 13.
3
Pai, herdai o reino preparado do Cristo, será abraçar as res- ______. ______. p. 14.
4
para vós desde a fundação do ponsabilidades que nos cabem, ______. ______. p. 14 e 15.
5
mundo. Pois tive fome e me des- no setor de trabalho que ele pró- NOVO TESTAMENTO. Trad. Haroldo Dutra
tes de comer; tive sede e me destes prio nos confiou. Dias. Brasília: Edicei, 2010. p. 129.
6
de beber; era estrangeiro e me aco- E na adesão ao compromisso ______. ______. p. 57.
7
lhestes; {estava} nu e me vestis- esposado, urge não esquecer que ______. ______. p. 141.
8
tes; estive enfermo e me visitas- as nossas dificuldades podem ser XAVIER, Francisco C. Bezerra, Chico e vo-
tes; estava na prisão e viestes a modificadas, mas não extintas. cê. Pelo Espírito Bezerra de Menezes. São
mim. (Mateus, 25:34 a 36.)7 [...] Bernardo do Campo (SP): GEEM, 1973.
Em quaisquer circunstâncias, Cap. 44, Família mais ampla, p. 65-67.
9
Os laços de família, consanguí- cumpre-nos trabalhar, aceitan- ______. Mãos unidas. Pelo Espírito
nea e espiritual, não podem ser do-nos com as imperfeições Emmanuel. 4. ed. Araras (SP): Instituto de
descurados, mas fortalecidos. Be- que ainda trazemos, realizando Difusão Espírita, 1976. Cap. 48, A Cami-
zerra de Menezes nos esclarece: o melhor ao nosso alcance, a nho do Cristo, p. 151 a 153.

26 464 R e f o r m a d o r • D e z e m b r o 2 0 1 2
A parábola de um
Centro Espírita LU I Z J U L I Ã O R I B E I RO

H
avia um homem que se de Allan Kardec, pois havia caducado Casa. Todos estavam enormemen-
dizia euforicamente espíri- e agora o preceito correto passara a te envaidecidos e satisfeitos. Repe-
ta moderno, atualizado, es- ser “Instruí-vos e amai-vos”, pois só tiam, orgulhosos, que aquele Cen-
tudioso, científico. Repetia o tem- existe amor onde há conhecimento. tro Espírita era o mais bem orien-
po todo que a coisa mais impor- O discurso envernizado pela tado que se conhecia, um Centro
tante na vida de um ser humano tinta espetaculosa de científico Espírita de vanguarda, exemplo
era o conhecimento. agradava em cheio a muitos fre- para todos os demais existentes.
“– Conhecereis a verdade e ela quentadores da Casa que se sen- Certa feita, chegou uma pessoa
vos libertará” (João, 8:32), enfati- tiam grandes e modernos cientis- que havia transferido sua residên-
zava ele a todo tempo, com ar de tas do Espiritismo, pelo que aplau- cia, em razão do seu trabalho, com-
grande sabedoria, como se esta diam a nova visão da hodierna parecendo àquela Casa Espírita
frase excluísse todas as outras com concepção espírita. com o objetivo de se engajar nas
as quais deveria se harmonizar. Estabeleceu-se então uma série atividades voluntárias. Esclareceu
Afirmava nas palestras públicas de requisitos para que uma pessoa que era espírita praticante há mais
da Casa e nas reuniões de grupo de fosse alçada à condição de traba- de 40 anos na cidade onde mora-
estudos que, sem conhecimento, lhador do Centro. Os que não se va, palestrante, dirigente de tra-
era impossível amar o próximo, matriculassem nos cursos de es- balhos espirituais, trabalhador da
uma vez que era inadmissível tudo da Casa não poderiam mais Assistência Social e que já havia
existir amor sem conhecimento. trabalhar nas atividades da Insti- até dirigido o Centro Espírita que
A partir de certo tempo, passou a tuição, pois ali não mais havia es- frequentava.
defender que a expressão “Amai-vos paço para pessoas ignorantes ou – O senhor já fez o Estudo Sis-
e instruí-vos”, de autoria do Espírito avessas ao estudo. tematizado da Doutrina Espírita
de Verdade (O Evangelho segundo Vieram as eleições e aquele ho- ou algum Curso Básico de Espiri-
o Espiritismo, cap. 6, it. 5, 5o parágra- mem foi unanimemente eleito pre- tismo? – perguntou o presidente
fo), aplicava-se apenas aos tempos sidente do Conselho Diretor da sem rodeios.

Dezembro 2012 • Reformador 465 27


– Sinceramente não fiz, porque, balhar em nosso Centro Espírita. É preferível a má vontade com co-
ao se iniciar este estudo na Casa que O que precisa mesmo é estudar, nhecimento, do que a boa vonta-
eu frequentava, já possuía larga mas antes precisa passar por uma de com ignorância! Entendeu?
experiência na Doutrina Espírita, já desobsessão, porque o que fez até – Entendi – respondeu a pessoa
havia estudado várias vezes as obras agora está tudo errado. Vou enca- com humildade.
básicas e complementares, de modo minhá-lo para assistir palestras e Os trabalhadores da Casa fo-
que fui até mesmo convidado para tomar passes, por quatro meses. ram intimados e receberam um
ser um dos instrutores do Curso, No semestre que vem o senhor vai ultimato:
colaborando por alguns anos. iniciar o Curso sobre Doutrina – A partir de agora vai ser assim:
– Como pode ser isso?! Quer Espírita. Quando terminar, vamos quem não participar de um grupo
dizer que o senhor já começou encaminhá-lo para o Curso de Ins- de estudos não poderá mais fazer
como instrutor, sem sequer ter trução Mediúnica. Posteriormen- parte dos trabalhos do nosso
feito o Curso? Que absurdo! – ex- te, será avaliado pelos coordena- Centro Espírita, pois não tolera-
clamou o presidente com ostensi- dores para saber se tem condição mos pessoas que não gostam de
va ironia e desdém... de trabalhar na Casa. Precisa com- estudar a Doutrina Espírita. Os
– Sabe o que é, seu presidente... preender que a coisa mais impor- que não dispuserem de tempo pa-
– a pessoa não pôde se explicar tante no mundo é o conhecimento. ra estudar devem deixar o trabalho
porque foi interrompida abrupta- Só boa vontade é muito perigoso. que realizam na Casa e se matri-
mente pelo interlocutor, com in- cular num curso, porque o estudo
transigência. é muito mais importante. Como é
– Não precisa dizer mais nada, que um ignorante pode fazer algu-
pois já compreendi tudo. O senhor ma coisa que preste?
não tem o menor preparo para tra-

28 466 R e f o r m a d o r • D e z e m b r o 2 0 1 2
Com o passar do tempo, os tra- do que a revivescência, para toda uns aos outros”, porque o conheci-
balhadores da Casa foram minguan- a Humanidade terrestre e em sua mento é neutro, destituído de sen-
do. Vários procuraram outras casas pureza primitiva, do ensino do timento, e os homens tanto o têm
espíritas em que houvesse mais flexi- Cristo, o qual foi desvirtuado pelo usado para o bem como para o
bilidade; onde o estudo e o trabalho homem, ao longo dos séculos. A sua mal, no exercício do livre-arbítrio.
fossem contemplados com a mesma essência será eternamente o amor, A ignorância pode produzir mui-
importância, o mesmo valor; onde tos males, é verdade, no entanto,
o patrimônio espiritual acumulado, muito maiores produz o conheci-
não só nesta existência, mas tam-
bém nas precedentes, fosse levado
Conhecer é, mento quando destituído do amor.
Os males da ignorância são deter-
em conta; onde a bagagem moral fos-
se valorizada e associada ao conhe-
cimento intelectual; enfim, onde
de fato, minados pelas disposições das pró-
prias limitações, mas aqueles ori-
ginados do conhecimento são di-
o amor valesse mais que o conheci-
mento ou pelo menos tanto quanto...
muito mensionados pela vontade orgu-
lhosa dos homens. O supremo ob-
Normalmente, quando valori-
zamos de forma desmedida um importante, jetivo do homem deve ser a prática
do bem, porque o bem é que exte-
único princípio, corremos sério rioriza a lei de amor, essência do
risco de aguçar o orgulho e o egoís-
mo, as duas maiores e mais terrí-
porém, Criador. Na Casa do Pai há trabalho
para todos, sem exceção, até para
veis chagas da Humanidade, ter-
reno fértil para a germinação da muito mais os irracionais. Observe melhor a
Natureza; veja como tudo trabalha
vaidade, da prepotência, da into- na harmoniosa obra universal. Não
lerância, tantas vezes repetidas na
história dos povos da Terra.
importante, inverta a ordem das coisas. Porque o
que é remédio pode virar veneno,
A humildade, maior e mais con-
tundente expressão da real sabedo- éo o que é harmonia pode transfor-
mar-se em caos. O conhecimento
ria, é incompatível com o sentimento é instrumento para a melhor com-
da falsa superioridade, da falsa gran-
deza e da supervalorização do inte-
irrevogável preensão e efetiva aplicação do amor,
a Ciência absoluta do Universo...
lecto, porque a essência do Universo
é o amor, que flui perenemente do “amai-vos O amor nunca dependeu e jamais
dependerá do conhecimento, por-
sentimento superlativo de Deus. que é constituído do sublime e in-

uns aos comparável sentimento que emana
de Deus, nosso Pai.
Certo dia, durante o sono, o
presidente do Centro foi conduzi-
outros” O presidente do Centro chora-
va, não tinha palavras para se ex-
do a esferas mais iluminadas dos pressar, sentia uma vibração dul-
planos espirituais e qual não foi a o mandamento maior que contém císsima, um misto de suavidade,
sua surpresa quando se deparou todas as línguas e todos os profetas carinho, aroma e intraduzível feli-
com a figura de amoroso Espírito – a Constituição Suprema. cidade celestial... Quando acordou,
que lhe falou meigamente: Conhecer é, de fato, muito im- sem saber explicar, sentiu uma
– Irmão querido, o que está ha- portante, porém, muito mais im- vontade incontida de amar o pró-
vendo? O Espiritismo nada mais é portante é o irrevogável “amai-vos ximo como a si mesmo.

Dezembro 2012 • Reformador 467 29


Evangelização Espírita Infantojuvenil

Nossos filhos e o
Natal de Jesus
“Para o homem, Jesus constitui o tipo da perfeição moral a que a Humanidade
pode aspirar na Terra.” 1

O
Espiritismo segue os passos de Jesus, sobre- tal influência em nossa maneira de ser, permitindo-
tudo, na exemplificação da prática da cari- -nos buscar a conquista do ideal de perfeição que pre-
dade, na missão de curar os homens de suas cisamos alcançar! Assim considerando, de que forma
doenças morais. No entanto, a maioria dos Espíritos os pais explicam para seus filhos a relação que existe
encarnados não percebe a importância dos princí- entre o Natal de Jesus e suas existências nessa encar-
pios superiores que regem a vida, transformando as nação? Qual a finalidade do nascimento de Jesus e
leis divinas em simples leis humanas, ao gosto insen- que preponderância exerce em cada um deles? Isso
sato dos homens. Afirmam os benfeitores espirituais: irá determinar a importância da data comemorativa
de sua chegada ao mundo, e de que forma Ele coope-
[...] Estamos incumbidos de preparar o reino do ra para a boa formação do caráter dos Espíritos aqui
bem que Jesus anunciou. Daí a necessidade de que a reencarnados. Sobre o tema, a afirmação de Vinícius,
ninguém seja possível interpretar a lei de Deus ao pseudônimo utilizado pelo aclamado autor espírita
sabor de suas paixões, nem falsear o sentido de uma Pedro de Camargo (1878-1966), nos oferece valiosos
lei toda de amor e de caridade.2 esclarecimentos:

Jesus não é apenas, como se imagina, o instituidor [...] Os que ainda não sentiram em seu íntimo a
do Cristianismo. “[...] Ele é o revelador da Lei, o influência do espírito do Cristo ignoram, em verda-
expoente máximo, neste mundo, da Vontade divina. de, que Ele nasceu. [...] Só após Ele haver nascido em
Sua missão não teve início em Belém [...]. Ele vem, nosso coração é que chegaremos a entendê-lo, já em
desde que o mundo é mundo, inspirando a Huma- seus ensinos, já no que respeita à sua missão neste
nidade [...] no desempenho do mandato que o Pai orbe.4
lhe confiara.”3 A falta de compreensão dessa realida-
de faz com que os homens não consigam despertar A incomparável personalidade de Jesus e sua ex-
para o caminho da verdadeira vida, a ser seguido por traordinária ação sobre os seus feitos insuperá-
todos os que já possuem a certeza da revelação divi- veis não podem, pois, deixar de ser conhecidos pelas
na do Cristo e de seu Evangelho de amor na Terra. crianças e jovens, desde pequeninos. A trajetória de
O nascimento de Jesus em Belém, há mais de vinte Jesus na Terra não pode prescindir de um estudo pro-
séculos, é um fato que deveria ser lembrado diaria- fundo, de acordo com a capacidade de entendimento
mente, e não somente durante as comemorações na- das respectivas faixas etárias, para que seu nascimento,
talinas, pois o seu aparecimento exerceu fundamen- seus ensinamentos e suas louvadas realizações sejam

30 468 R e f o r m a d o r • D e z e m b r o 2 0 1 2
compreendidos não como um simples fato histórico porque o Reino de Deus é daqueles que se lhes
ou biográfico, mas quanto à magnitude de sua vinda assemelham” (Marcos, 10:14), atrai carinhosamen-
para a ascensão espiritual de cada um de nós. te para si os pequeninos que o assistiam em meio
Certos pais, entretanto, não se interessam por es- à multidão de seguidores. Ao analisarmos o signi-
tudar a vida e os ensinos do Mestre Nazareno. Assim ficado do suave chamamento, por meio da doçura
procedendo, deixam uma grande lacuna na educação incomparável com que Jesus se dirige às crianças,
moral dos filhos, não os preparando para se tornarem destaca-se a necessidade de fazê-las conhecer o seu
receptivos ao Bem, de modo que sigam as luzes dos Evangelho de amor, sem que ninguém atrapalhe
preceitos cristãos. Não os fortalecem para resistirem esse acontecimento. Elas devem segui-lo, incon-
às investidas do mal que, porventura, surjam ao longo dicionalmente! Portanto, cumpre, principalmente
de suas vivências materiais. O conhecido escritor espí- aos pais, ajudá-las a conquistar esse maravilhoso
rita Richard Simonetti, em um dos seus livros, adverte: intento!

Não basta oferecer amor aos filhos, aconchegando- Referências:


1
-os ao coração. É fundamental iluminar seus espíri- KARDEC. Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 92.
tos, a fim de que não se percam nos caminhos da ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2012. Comentário de Allan
existência nem sejam atropelados pelos males do Kardec à q. 625.
2
Mundo. ______. ______. Q. 627.
3
Esse o objetivo da iniciação religiosa, sem o qual, VINÍCIUS (Pseudônimo de Pedro de Camargo). Em torno do
ainda que nos desdobremos em favor dos filhos, es- mestre. 9. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. Jesus e
taremos incorrendo em perigosa omissão.5 o seu Natal, p. 229.
4
______. ______. p. 230.
5
Jesus, ao enunciar o dulcíssimo convite: “[...] SIMONETTI, Richard. Atravessando a rua. 23. ed. Araras (SP):
Deixai vir a mim os pequeninos e não os impeçais, IDE, 2008. Cap. 30.

Dezembro 2012 • Reformador 469 31


Cecília Rocha
R
etornou ao mundo espi- capital gaúcha, onde seus pais dades Espíritas do Norte e Nor-
ritual, na madrugada do (José Rocha e Carmen Rocha) e ir- deste do Brasil, ocorrida em Te-
dia 5 de novembro, no mãos (Otávio, Alberto, Mário e resina (PI), ocasião em que co-
Centro de Tratamento Intensi- Fernando) fixaram residência. nheceu Divaldo Pereira Franco,
vo do Hospital Santa Marta, no Em Porto Alegre, concluiu o en- a quem dedicou amizade até o
Distrito Federal, a confreira Ce- sino fundamental, seguido do final dos seus dias. Em 1960,
cília Rocha, aos 93 anos. curso secundário de magistério Cecília transfere residência tem-
Cecília Rocha nasceu em Porto e o de Pedagogia, com especiali- porária para a Mansão do Ca-
Alegre (RS), em 21 de maio de zação em administração esco- minho, obra social-espírita, se-
1919. Desde a infância viveu na lar. Exerceu o magistério em es- diada em Salvador (BA), por
colas de ensino fundamental, dez meses, em atendimento ao
públicas e particulares, no Inte- convite que Divaldo lhe fizera
rior e na Capital do Rio Grande com o fim de prestar orienta-
do Sul, até a sua aposentadoria, ções pedagógicas à escola pri-
após mais de 30 anos dedicados mária ali existente. No período,
à profissão. teve oportunidade de viajar pe-
No ano de 1957, Cecília Rocha lo Estado da Bahia e conhecer,
já estava em plena atividade no de perto, o Movimento Espírita
Movimento Espírita do seu Esta- baiano.
do, atuando como evangelizado- Em julho de 1980, já aposen-
ra. Neste mesmo ano, passou a tada, Cecília fixa residência em
dirigir a escola primária Insti- Brasília (DF), por solicitação do
tuto Espírita Amigo Germano, presidente da Federação Espíri-
voltado à alfabetização de crian- ta Brasileira, Francisco Thiesen,
ças carentes. Em 1958, participa passando a integrar a diretoria
da Confraternização de Moci- da FEB.
Exerceu os cargos de diretora
de 1980 a 1982, e de vice-presiden-
te, de 1983 até março de 2012.
Por 31 anos, a nobre confreira
dedicou-se à organização e de-
senvolvimento da Área de Estu-
do, no campo experimental da
FEB, e do Movimento Espírita

32 470 R e f o r m a d o r • D e z e m b r o 2 0 1 2
Federativo, sobretudo no que diz da evangelização da criança e do Permanente da Evangelização Es-
respeito à implantação e aper- jovem”. Este ano, a FEB prestou pírita Infantojuvenil, em julho.
feiçoamento das escolas de evan- homenagens a Cecília Rocha, em Nas duas oportunidades, Cecília
gelização espírita infantojuvenil dois momentos significativos: no não pôde comparecer em virtude
e estudo doutrinário espírita de Seminário “Os trabalhadores es- de imprevistos na sua saúde.
adultos. Participou da elaboração píritas e os primeiros cristãos à Para a nossa irmã Cecília Rocha,
e da implementação das Campa- luz da obra Paulo e Estêvão”, reali- respeitada obreira espírita, roga-
nhas de Evangelização Espírita zado em junho, e nas comemora- mos a Jesus bênçãos de paz em seu
Infantojuvenil, no início junta- ções dos 35 anos da Campanha retorno à Pátria Espiritual!
mente com Maria Cecília Paiva,
e do Estudo Sistematizado da
Doutrina Espírita (Esde). Promo-
veu inúmeros cursos e seminá-
rios de treinamento nestas duas
áreas, em todo o País e no Exte-
Gratidão
Agradeço, alma irmã, por tudo o que me deste,
rior. Foi coordenadora da Área O auxílio fraternal, generoso e sem preço –
do Esde das Comissões Regio-
O teto, o lume, o prato, o reconforto, a veste –
nais do Conselho Federativo
Tudo isso agradeço...
Nacional (CFN) da FEB. Coor-
denou atividade educacional da
Sobretudo, alma boa,
FEB em Santo Antônio do Des-
Deus te compense o coração amigo,
coberto (GO). Foi autora de li-
vros infantis, editados pela FEB, Por teu olhar de paz que me alenta e abençoa
os quais deram origem a duas Na estrada em que prossigo.
Coleções: Além da vida, composta
por cinco títulos, e Lições de vida, Viste-me em solidão –
com 10 títulos, e da obra Pelos Esperança caída sem ninguém...
Caminhos da Evangelização. Foi Deste-me apoio com teu braço irmão
responsável também pela orga- E ergui-me de alma nova para o bem!...
nização dos três livros que cons-
tituem o Programa Fundamental Não há palavra com que te defina
I e II e Programa Complementar O reconhecimento que me invade,
– Tomo Único, do Esde. Com sua Ao sentir-te no amparo a presença divina
equipe, reelaborou o Currículo Da Celeste Bondade.
para as Escolas de Evangelização
Espírita Infantojuvenil. Deus te guarde no excelso resplendor
Em 2009, a Editora da FERGS Da luz com que me aqueces todo o ser,
lançou a obra A Missão e os Mis- Porque me refizeste a certeza do amor,
sionários, de Gladis Pedersen de A bênção de servir e a força de viver.
Oliveira, focalizando “a figura de
Cecília Rocha mergulhada na ação Maria Dolores
evangelizadora de corpo e alma, Fonte: XAVIER, Francisco C. Antologia da espiritualidade. 6. ed. Rio de Janeiro:
isto é, de mente e coração”, resga- FEB, 2011. Cap. 28.
tando “todo o seu esforço em prol

Dezembro 2012 • Reformador 471 33


A FEB e o Esperanto

Zamenhof
e seu ideário
A F F O N S O S OA R E S

E
m 15 de dezembro de 1859, mergulhava no priando-se do acervo que trazia do Espaço, indelevel-
cenário terrestre um Espírito, incumbido da mente decalcado nos tecidos da alma, delineia seu
missão de oferecer à Humanidade um instru- trabalho futuro, a que dedicaria toda a sua vida: dotar
mento de comunicação que, minando as barreiras a Humanidade de um idioma internacional absoluta-
linguísticas entre os povos, muito contribuiria para a mente neutro, com que todos pudessem se entender,
construção do progresso geral. e oferecer-lhe um código de elevados princí-
Reencarna esse missionário, Lázaro Luís pios pelos quais se relacionassem amisto-
Zamenhof, sobre quem os Espíritos samente todas as religiões.
revelam ser “um gênio da confra- Revelam-nos os Espíritos estar
ternização humana”, exatamente esse idioma, que os esperantistas
numa pequena cidade da Polô- sábia e carinhosamente denomi-
nia, então anexada ao Império nam “idioma da fraternidade”, já
Russo, onde quatro raças, com criado, antes de surgir na Terra,
línguas e religiões diversas, para uso nas esferas espirituais
formavam um belicoso qua- próximas, pois ali, onde preva-
dro social e político, relacio- lece o chamado “espaço das na-
nando-se invariavelmente com ções”,1 ou “o Espírito dos lares
suspeição e consequentes agres- nacionais”,2 o intercâmbio entre
sões mútuas. Era certamente o as coletividades nacionais ainda
clima propício a que Zamenhof é afetado por imensas dificuldades,
despertasse para sua missão, já na tal como acontece na esfera física.
infância, pois, sendo judeu, também ex- Após tentativas infrutíferas nesse senti-
perimentava o opressivo peso das injustas e, às do, aquele “gênio da confraternização humana”,
vezes, sangrentas discriminações. “um dos grandes missionários da Luz, consagrado à
Desde, portanto, os seis anos, sonhava em aproxi- concórdia”, é convocado e, sob o amparo do Alto,
mar os homens por sobre as barreiras que entre eles
têm erguido o orgulho e o egoísmo, as quais eram 1
XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo. Evolução em dois mun-
traduzidas, em sua visão, na multiplicidade das lín- dos. Pelo Espírito André Luiz. ed. esp. 3. reimp. Rio de Janeiro:
guas e na diversidade das religiões. FEB, 2011. Pt. 2, cap. 2, p. 192.
Vê então, como criança, na pequena Byalistok, 2
XAVIER, Francisco C. Voltei. Pelo Espírito Irmão Jacob. 28. ed. 4. reimp.
uma projeção do mundo e da Humanidade, e, apro- Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 14, it. Visita significativa, p. 120.

34 472 R e f o r m a d o r • D e z e m b r o 2 0 1 2
com o concurso de numerosos colaboradores, após católicos, reformistas, ortodoxos, bramanistas, budis-
quase meio século de trabalho, concretiza nas regiões tas, israelitas, sintoístas, maometanos, zoroastristas,
espirituais o idioma que no plano físico tomaria o ateus e de quaisquer outras confissões e convicções,
nome Esperanto. porquanto as correntes de ideias, como as fontes de
No que diz respeito às suas aspirações no campo níveis diversos que deságuam invariavelmente no mar,
inter-religioso, concebe primeiramente um conjunto alcançam sempre o oceano da realidade imutável, em
de regras (Hilelismo), as quais, adotadas por seus ir- cujas águas as advertências da evolução nos impõem
mãos de raça, poderiam ensejar-lhes abrandamento o reconhecimento da própria humildade ante a grandeza
nas relações, quase sempre conflituosas, com outros da vida, com a impersonalização de nossa fé. [...]
povos. Dificuldades, igualmente providenciais, nessas
tentativas, levam-no, porém, a tornar mais amplo o seu Sugestão de leitura: O Esperanto como Revelação (Esperanto
projeto, estendendo-o às relações entre todas as raças, kiel Revelacio). Pelo Espírito Francisco Valdomiro Lorenz ao mé-
povos, nações, culturas e religiões (Homaranismo). dium Francisco Cândido Xavier, Editora IDE.
É certamente por trazer a chancela do Alto que o
esperanto foi acolhido, em 1909, na Casa de Ismael,
quando Zamenhof completava 50 anos de existência Retorno à Pátria Espiritual
e sua Lingvo Internacia estava no mundo há 22.
A trajetória luminosa do esperanto no Movi-
mento Espírita brasileiro tem no ensino, divulgação Arnaldo Rocha
e utilização, o seu balizamento bem definido, ativi- Arnaldo Rocha desencarnou, aos 90 anos, às
dades que o firmaram como item indissociável dos 18h40 do dia 29 de outubro, em sua residência, na
serviços do Consolador em nossa terra. cidade de Belo Horizonte. Foi marido de Meimei
Visam agora os esperantistas-espíritas do Brasil ao (Irma de Castro Rocha) e, num segundo casamen-
coroamento de seu esforço já secular: estendê-lo aos to, com Neusa Rocha, teve uma filha e netos.
movimentos espíritas de outros países, a fim de que Sendo amigo pessoal de Chico Xavier, atuou como
seu grande colaborador nos tempos de Pedro Leo-
sirva aos interesses da crescente família espírita
poldo, tendo sido um dos fundadores do Grupo
mundial, tornando-se em instrumento para as rela- Espírita Meimei. Organizou os livros Instruções
ções internacionais de seus membros. Psicofônicas e Vozes do Grande Além, publicados
Concluamos nossas despretensiosas considerações pela FEB e obtidos por transcrição de gravações
com um significativo trecho da mensagem O Esperan- históricas das psicofonias de Chico Xavier no Gru-
to como Revelação, ditada pelo Espírito Francisco po Espírita Meimei.
Valdomiro Lorenz a Chico Xavier, em 19 de janeiro Arnaldo participou ativamente das comemo-
de 1959, publicada em Reformador, de abril desse rações do Centenário de Nascimento de Chico
mesmo ano, p. 15(83): Xavier, em 2010, em várias cidades, e foi entrevis-
tado por Reformador, em setembro de 2011 (p. 11).
Em julho deste ano, na sede da FEB em Brasília,
Atendamos, desse modo, nós outros, espiritualistas e participou do lançamento do DVD Instruções Psi-
espíritas, encarnados e desencarnados, ao incremen- cofônicas & Vozes do Grande Além, editado pela
to do Esperanto, em simultaneidade com o esforço Versátil. Até início de outubro dirigiu reuniões me-
de restaurar as colunas do Cristianismo, por santuá- diúnicas na União Espírita Mineira.
rio vivo da Religião Universal, em bases de amor e A diretora Célia Maria Rey de Carvalho repre-
sabedoria, no terreno da Bondade imensurável de sentou a FEB no velório e sepultamento, ocorri-
Deus e Sua Justiça indefectível. dos no dia 30.
Não importa estejamos, na condição de coidealistas Ao nosso caríssimo confrade, em seu retorno à
Pátria Espiritual, rogamos as bênçãos de Jesus!
do Esperanto, em sintonia com os nossos irmãos

Dezembro 2012 • Reformador 473 35


A formiguinha M AU R O P A I VA F O N S E C A

S
aboreava, na varanda, a geral, formiga é um inseto perni- ante as barbaridades a que os
leitura de Urânia, de Ca- cioso, quando, incontinente, a mais inteligentes e esclarecidos
mille Flammarion, para consciência bradou numa voz submetem seus irmãos menores
curtir a fresca brisa da manhã sem som: – Insensato! Como te da retaguarda. Senti-me enver-
com o livro apoiado na pequena atreves a destruir tão primorosa gonhado por pactuar, embora in-
mesa redonda, de tampo alvo. Vez criação que não és capaz de pro- diretamente, com tal ignomínia,
que outra desviava os olhos da lei- duzir? Acaso não merece respeito pela indiferença ante a crueldade
tura, para meditar sobre as em- e admiração esta obra-prima da humana que assassina, com frie-
polgantes notícias que a obra ofe- Natureza? No mesmo instante, re- za sistemática, os indefesos ani-
recia, deixando o olhar vago en- colhi a mão e, fechando o livro so- mais, justificando tal gesto com a
quanto imaginava as cenas ali des- bre o marcador, pus-me a pensar: fantasiosa carência proteica do
critas. Foi então que me chamou “Como um ser vivo, com nada organismo humano. Certamente
a atenção minúscula formiga que, mais que dois milímetros de com- não estaremos indenes às conse-
mostrando extraordinária inde- primento, poderia reunir em si quências inevitáveis desse morti-
pendência de movimentos, se des- mesmo tantos atributos como cínio covarde.
locava, de um lado a outro da su- vitalidade, determinação, senso de Nas esferas espirituais de luz,
perfície, à cata, talvez, de algum direção e coragem?”. Foi então existem animais belos e saudá-
alimento com que pudesse retor- que me ocorreram ao pensamen- veis, que são tratados com zelo e
nar ao formigueiro. to os atributos de Deus. Se Ele na- respeito, destinados a embelezar
Instintivamente levei a mão de da cria de inútil, aquele animalejo os ambientes, exercendo fun-
dedo em riste para esma- trazia implícita em sua existên- ções específicas e úteis, sem se-
gá-la, já que no conceito cia uma finalidade útil; rem vítimas da crueldade como
alguma tarefa impor- nos informa a farta literatura
tante no arcabouço espírita. Na grandeza da Cria-
geral da Criação ção, não existe lugar para a im-
divina. Estava cer- piedade! Façamos jus ao concei-
tamente desti- to de sermos a espécie mais in-
nado a progre- teligente da Criação, rejeitando
dir através de definitivamente o suplício dos ani-
transformações mais, atendendo desse modo ao
cada vez mais comple- inequívoco mandamento do De-
xas rumo à perfeição! cálogo, recebido por Moisés no
Estendi este raciocínio a todo Monte Sinai: “Não matarás” (Êxo-
o reino animal e me entristeci do, 20:13).

36 474 R e f o r m a d o r • D e z e m b r o 2 0 1 2
Reformador de ontem

A festa real
de Jesus
“Se Jesus deixasse a Terra, o caos lhe tomaria o lugar.”
Kelvin van Dine 1
S U E LY C A L DA S S C H U B E RT E C A R LO S A U G U S TO A B R A N C H E S

F
eliz Natal! das e entre estas alguém se lembrasse de dizer que é
a data de nascimento de Jesus.
O Natal se aproxima. Bem antes do tempo as Mas, por mais que se procure o aniversariante, Ele não
vitrines enfeitadas convidam as pessoas a se lembra- é encontrado. Não há qualquer sinal nas ruas e lojas.
rem da época dos presentes.

Nessa fase de aguda crise é preciso recordar mais
vivamente que o tempo do Natal está chegando e é A exata compreensão do Natal sugere uma averi-
necessário provar aos parentes e amigos que pensa- guação histórica quanto à data do nascimento de
mos neles. Jesus. O pesquisadores não são unânimes em afirmar
Feliz Natal! Para muitos, esta pequena frase não se que ocorreu em dezembro, porque, na história do
realiza tão facilmente quanto é pronunciada. Cristianismo primitivo, os primeiros cristãos não
Cercado de presentes, diante de iguarias, o ser tinham o hábito de celebrar o Natal, por considera-
humano não está feliz. Nele, vai uma emoção tocada rem a comemoração um costume pagão.
de incompletude, como se algo ou alguém estivesse As primeiras observações acerca do nascimento
faltando. aparecem por volta do ano 200. O dia 25 de dezem-
Lá fora, na noite, noutras casas onde a luz escas- bro foi mencionado em 336, o que não impedia que
seia e a mesa é pobre, também se ouve: Feliz Natal! em outras datas também ocorressem os festejos,
Lá e aqui a noite feliz parece não significar quase como, por exemplo, no dia 6 de janeiro, que até hoje
nada, a não ser o estranho paradoxo de se ter que é mantido pelas Igrejas Ortodoxas Orientais.2
aparentar felicidade porque assim é estabelecido. Afi- Com o passar dos séculos, o Natal foi deixando de
nal, o que se está comemorando? ser uma festa de cunho religioso e passou a ganhar
Um repórter, em movimentada avenida, pergun- novos contornos, originários de culturas anteriores
tando aos transeuntes, que saem das lojas com em- ao Cristianismo. Na Inglaterra, durante a Idade Mé-
brulhos e sacolas, o que se comemora no dia 25 de dia, o Natal transformou-se no dia mais alegre do
dezembro, possivelmente obtivesse respostas varia- ano, mas como esse estado de alma não era lá muito

1 2
VIEIRA, Waldo. Técnica de viver. Pelo Espírito Kelvin van Dine. Dados históricos extraídos da Enciclopédia delta universal, Ed.
Uberaba (MG): Ed. CEC, 1984. Delta, Rio de Janeiro.

Dezembro 2012 • Reformador 475 37


compatível com o “espírito sombrio” da época, os pecadora rendeu-lhe homenagens perfumando os
puritanos que encaravam a festa como pagã proibi- seus pés com essência de nardo, diante dos fariseus
ram-na no país. estupefatos e dos apóstolos um tanto constrangidos.
No Ocidente, a celebração do Natal, anteriormen- O Mestre aceitou a oferenda porque sabia da atitude
te ligada ao nascimento de Jesus, aos poucos foi sendo interior que a impulsionava. Todavia, quão distante
modificada. A figura do Papai Noel, o bom velhinho, esse gesto de humildade, respeito e amor da comer-
tornou-se um atrativo maior para as crianças, logo cialização desenfreada que ocorre nos nossos dias!
também para os adultos. As festas natalinas assumiram Onde está Jesus neste Natal?
um caráter notadamente comercial, onde se estimula Ele nos prepara o lugar. E que lugar lhe damos em
o consumismo desenfreado sob o pretexto de que nossa vida?
esta é a época de se presentear os amigos e parentes. 
Com isso tudo, Jesus foi sendo gradualmente
substituído, de motivo central da festividade a ele- No momento em que nossa cultura comemora
mento secundário na preferência popular, que resol- esta data, vale a pena guardar na memória e no sen-
veu homenagear outros ídolos. timento uma certeza: essa região, que o Mestre pre-

para para nós, começa no território do coração, e só
com muito trabalho e comprometimento com o
Ele, porém, dissera com convicção: “Na Casa do Amor genuíno é que ampliaremos os horizontes
Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, eu vo-lo seguros de nossa paz.
teria dito. Vou preparar-vos o lugar”.3 Ao fazer tal Isto equivale dizer que o homem reconheceria,
afirmação, o Cristo garantiu que há um lugar para então, o lugar do Cristo como o legítimo Govenador
todos, que a Ele cabe preparar. Espiritual da Terra.
Mas, e Ele? Que lugar ocupa no mundo atual? Será Na verdade, o Natal não significa somente o nas-
um lugar específico? Numa escala de valores, está em cimento de Jesus, em um dia específico, diante das
primeiro lugar? datas do mundo, mas também o nascimento do
A civilização ocidental rotula-se como cristã, Cristo na consciência renovada do Homem Integral,
todavia, é muito difícil encontrarmos o Cristo no em qualquer dia, a qualquer hora.
Cristianismo presente. Parece que os homens o bani- É com esta visão que Cármen Cinira traduz, em
ram, substituindo-o por outros modelos de heróis poesia, a festa real de Jesus:
que, na verdade, não expressam nenhum dos valores
cristãos. “Natal!.... O mundo é todo um lar festivo!...
Cultuam-se ídolos que se sobressaem pela força de Claros guizos no ar vibram em bando...
seus músculos, pela facilidade em matar grande E Jesus continua procurando
número de pessoas, pelas conquistas amorosas, pela A humilde manjedoura do amor vivo.
adoção deliberada de extravagantes atitudes eróticas
para a venda milionária de discos e livros. Natal! eis a Divina Redenção!...
Longe está o modelo do herói cristão, que traz à Regozija-te e canta, renovado,
memória as figuras de Gandhi, Albert Schweitzer, Mas não negues ao Mestre desprezado
Madre Teresa de Calcutá e alguns poucos mais. A estalagem do próprio coração.”4
Por isso o Natal se distancia cada vez mais de seu
real significado. O aniversariante, por certo, não se Fonte: Reformador de dezembro de 1992, p. 10(358).
importaria em ser presenteado. Um dia, uma mulher
4
XAVIER, Francisco C. Instruções psicofônicas. Espíritos diversos.
3
JOÃO, 14:2. 9. ed. 4. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Cap. 40.

38 476 R e f o r m a d o r • D e z e m b r o 2 0 1 2
Comunicação
com os Espíritos
RICARDO DOS S A N TO S M A LTA

A
comunicação com os Es- Certas pessoas consideram, mas Cândido Xavier numerosos ante-
píritos existe desde os pri- sem razão, a mediunidade um cedentes históricos dos fenôme-
mórdios da Humanidade. fenômeno peculiar aos nossos nos mediúnicos, in verbis:
Encontramos registros do inter- tempos. A mediunidade, real-
câmbio mediúnico nos livros sa- mente, é de todos os séculos e de Acena-nos a antiguidade terres-
grados de todos os povos, nas mais todos os países. Desde as ida- tre com brilhantes manifesta-
diversas culturas e tradições. Um des mais remotas existiram re-
dos grandiosos objetivos do Espi- lações entre a Humanidade ter-
ritismo foi o de colocar bases lógi- restre e o mundo dos Espíritos. Moisés e os
cas na explicação dos fenômenos Se interrogarmos os Vedas da Dez Mandamentos
mediúnicos. Nada inventou, pois Índia, os templos do Egito, os
analisando os efeitos remontou às mistérios da Grécia, os recintos
causas e revelou as leis que regem de pedra da Gália, os livros sa-
as comunicações espíritas. grados de todos os povos, por
Na Bíblia, por exemplo, encon- toda parte, nos documentos es-
traremos os mais variados tipos critos, nos monumen-
de fenômenos mediúnicos: a pneu- tos e tradições,
matografia dos Dez Mandamen- encontraremos
tos, a xenoglossia do dia de Pente- a afirmação de
costes, a materialização dos Espíri- um fato que tem
tos Elias e Moisés no Monte Tabor, permanecido através
o diálogo entre Saul e o Espírito das vicissitudes dos
Samuel, estabelecido pelo fenô- tempos [...].1
meno da psicofonia, entre outros.
Enfim, a Bíblia está repleta de fe- Neste mesmo sentido, com
nômenos espíritas, cuja citação mais detalhes, encontramos na
exigiria se escrevesse um livro, só lavra psicográfica de Francisco
para citá-los.
A história da Humanidade está 1
DENIS, Léon. No invisível. 25. ed. 3.
repleta de fatos espíritas, como reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Pt. 1,
nos esclarece Léon Denis: cap. 6, p. 97.

Dezembro 2012 • Reformador 477 39


ções mediúnicas, a repontarem
da História.
Discípulos de Sócrates referem-
-se, com admiração e respeito,
ao amigo invisível que o acom-
panhava constantemente.
Reporta-se Plutarco ao encon-
tro de Bruto, certa noite, com
um dos seus perseguidores de-
sencarnados, a visitá-lo, em ple-
no campo.
Em Roma, no templo de Mi-
nerva, Pausânias, ali condena-
do a morrer de fome, passou a
viver, em Espírito, monoidei-
zado na revolta em que se alu-
cinava, aparecendo e desapa-
recendo aos olhos de circuns-
tantes assombrados, durante
largo tempo.
Sabe-se que Nero, nos últi-
mos dias de seu reinado, viu-
-se fora do corpo carnal, junto
de Agripina e de Otávia, sua
genitora e sua esposa, ambas
assassinadas por sua ordem, a
lhe pressagiarem a queda no
abismo.
Os Espíritos vingativos em
torno de Calígula eram tantos
que, depois de lhe enterra-
rem os restos nos jardins de Lâ-
mia, eram ali vistos, frequente-
mente, até que se lhe exuma- O Pentecostes por Adriane van der Werff
ram os despojos para a inci-
neração. [...]2 [...] Apenas há alguns séculos, recolhendo, afastado do corpo
vimos Francisco de Assis exal- físico, anotações de vários pla-
Mais adiante, o Espírito André çando-a em luminosos aconte- nos espirituais que ele próprio
Luiz completa: cimentos; Lutero transitando filtra para o conhecimento hu-
entre visões; Teresa d’Ávila em mano, segundo as concepções
2
admiráveis desdobramentos; de sua época. [...]3
XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo.
José de Copertino levitando an-
Mecanismos da mediunidade. Pelo Espírito
André Luiz. ed. esp. 2. reimp. Rio de te a espantada observação do
3
Janeiro: FEB, 2010. p. 13. papa Urbano VIII, e Swedenborg Idem, ibidem. p.15-16.

40 478 R e f o r m a d o r • D e z e m b r o 2 0 1 2
A proibição mosaica (não de comunicação com os Espíritos, Entre a população desencar-
divina) da comunicação com os já que, afinal, por questões óbvias, nada existem diversas categorias
“mortos” deu-se pelos abusos pra- só se proíbe aquilo que é possível de Espíritos, que se diferenciam
ticados por aquele povo que ainda ser praticado. apenas pelo grau de evolução.
não se encontrava suficientemen- Na atualidade, porém, tal proi- Dessa forma, tanto podemos rece-
te maduro para o entendimento bição não faz mais sentido. O ber comunicações de alto nível
das coisas espirituais. A prática apóstolo dos gentios nos fala das espiritual, oriundas de Espíritos
mediúnica era exercida leviana- crianças espirituais: superiores, como também pode-
mente para finalidades escusas remos receber mensagens frívolas,
como a adivinhação, feitiçarias, Quando eu era menino, falava provenientes do elemento inferior
entre outras frivolidades, tam- como menino, sentia como me- do mundo invisível. Convém sa-
bém condenadas pelo Espiritis- nino, discorria como menino, ber separar o joio do trigo e não
mo. Neste sentido, elucida Allan mas, logo que cheguei a ser ho- aceitar nada cegamente, fazendo
Kardec: mem, acabei com as coisas de passar todas as comunicações
menino. (I Coríntios, 13:11.) recebidas pelo crivo da razão e do
[...] nesse tempo as evocações bom-senso, bem como repelindo
tinham por fim a adivinhação, Atingimos uma maturidade espi- toda comunicação que atente à
ao mesmo tempo que consti- ritual que nos permite estabelecer lógica do homem sensato. Por
tuíam comércio, associadas às o intercâmbio mediúnico com res- isso, nos diz Léon Denis:
práticas da magia e do sortilé- ponsabilidade, pois o que motivou
gio, acompanhadas até de sacri- a proibição mosaica é também Nada é mais prejudicial à causa
fícios humanos. Moisés tinha condenado pela própria Doutrina do Espiritismo que a excessiva
razão, portanto, proibindo tais Espírita: os espíritas apenas se co- credulidade de certos adeptos [...].
coisas e afirmando que Deus municam com o plano espiritual [...]
as abominava. com o fim exclusivamente moral, É preciso não aceitar cegamente
Essas práticas supersticiosas consolador e religioso. coisa alguma. Cada fato deve
perpetuaram-se até a Idade Então, conforme afirmou o ser objeto de minucioso e apro-
Média, mas hoje a razão pre- apóstolo Paulo de Tarso, “estamos fundado exame. [...]5
domina, ao mesmo tempo que rodeados de uma tão grande nu-
o Espiritismo veio mostrar o fim vem de testemunhas” (Hebreus, Nesse sentido, já nos advertia o
exclusivamente moral, conso- 12:1.), tratando-se, evidentemen- apóstolo João: “Amados, não creiais
lador e religioso das relações te, dos seres desencarnados que, em todo espírito, mas provai se
de além-túmulo.4 em circunstâncias propícias, po- os espíritos são de Deus” (I João,
dem estabelecer comunicação os- 4:1), ou, em outras palavras, ana-
Ademais, o objetivo de uma lei tensiva com a população encarna- lisemos o conteúdo das mensa-
proibitiva é evitar que determina- da. Todavia, não podemos olvidar gens para conhecermos a sua real
da conduta seja exercida. Ora, nin- que sofremos grande influência procedência, “porque não há boa
guém proíbe algo que é impossível oculta dos Espíritos em nossos árvore que dê mau fruto, nem
de ser realizado, o que comprova atos e pensamentos (O Livro dos má árvore que dê bom fruto”
que Moisés sabia da possibilidade Espíritos, ed. FEB, q. 459), caben- (Lucas, 6:43).
do-nos saber separar os maus e os
4 bons conselhos que, geralmente, 5
DENIS, Léon. No invisível. 25. ed. 3.
KARDEC. Allan. O céu e o inferno. Trad.
Manuel Quintão. 2. ed. esp. 2. reimp. Rio nos surgem como uma espécie de reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Pt. 1,
de Janeiro: FEB, 2011. Pt. 1, cap. 11, it. 4. intuição ou inspiração. cap. 9, p. 147.

Dezembro 2012 • Reformador 479 41


Seara Espírita

FEB: Estudo e Pesquisa do Evangelho Espírito Santo: Encontro Estadual de


Entre julho e outubro, foi criado e instalado o “Nú- Comunicação
cleo de Estudo e Pesquisa do Evangelho” da FEB, O 12o Encontro Estadual de Comunicação Social Es-
como um órgão para estudo e pesquisa do Evange- pírita Capixaba foi realizado pelo Departamento Co-
lho à luz das Obras Básicas de Allan Kardec. A Co- municação Social Espírita, no dia 20 de outubro, no
missão de Administração é composta por Haroldo Auditório da Federação Espírita do Estado do Espí-
Dutra Dias, Célia Maria Rey de Carvalho, Flávio Rey rito Santo, tendo como convidado Gabriel Salum
de Carvalho, Affonso Chagas Correa, Ricardo de An- (RS). O Encontro foi destinado para os grupos de in-
drade T. Mesquita, Wagner Gomes da Paixão e Simão teresse: divulgação, recepção, direção e leitura,
Pedro de Lima, sendo o primeiro o coordenador. In- exposição, passe, biblioteca e livraria. Informações:
formações: <nepe@febnet.org.br>. <www.feees.org.br>.

Bahia: Encontro Estadual Sergipe: Feira de Livros Infantojuvenis


“O Evangelho na Construção do Homem de Bem” A União Espírita Sergipana organizou no dia 6 de
foi o tema do Encontro Estadual do Espiritismo com novembro, com o apoio da Federação Espírita do Es-
participação especial de Divaldo Pereira Franco, nos tado de Sergipe, a 1a Feira de Livros Espíritas Infan-
dias 2, 3 e 4 de novembro, no Centro de Convenções tojuvenis, com o tema “Oriente seus filhos no uni-
da Bahia. Atuaram como expositores: André Marcílio, verso das letras, estimulando a prática da leitura!”.
Jason de Camargo, Georgina Valente, Janete Oliveira, Informações: <www.fees.org.br>.
Creuza Santos Lage, Ruth Brasil, Kátia Silveira. Tam-
bém houve programa sobre o tema: “O Evangelho Cuba: Inscrições para o Congresso Mundial
através da arte” e foi promovido o Encontro Espírita O Conselho Espírita Internacional promoverá o 7o
Universitário, que teve como objetivo criar uma rede Congresso Espírita Mundial, em Havana, de 22 a
de estudos universitários, em torno do Espírito, di- 24 de março de 2013, com o tema “A Educação
vulgar os trabalhos publicados nas revistas acadêmi- e a Caridade na Construção de um Mundo de Paz”.
cas e formar núcleos universitários espíritas. Infor- Os expositores convidados estão relacionados na
mações: <www.feeb.com.br>. página eletrônica do Congresso. No portal da FEB
(www.febnet.org.br) é possível conferir a lista de
Amazonas: Capacitação para Esde e algumas agências de viagens que oferecem paco-
Congresso tes para o evento. Inscrições e mais informações:
Os cursos de Capacitação para Coordenadores e Mo- <www.congressoespirita.com.br>; <www.7cem.
nitores de Estudos Doutrinários do Amazonas, pro- org>.
movidos pela Federação Espírita Amazonense, foram
realizados nos dias 22, 23, 29 e 30 de setembro, em Ceará: Oficina de técnicas de Estudo
Manaus. A Federação também promoveu o 5o Con- Sistematizado
gresso Espírita do Amazonas, com o tema “Transição No dia 30 de setembro foi realizada a II Oficina
Planetária – A Transformação do Homem e do de técnicas e dinâmicas de Estudo Sistematizado da
Mundo”. O evento ocorreu no Manaus Plaza Centro Doutrina Espírita (Esde), na Federação Espírita do Es-
de Convenções, nos dias 1, 2 e 3 de novembro. tado do Ceará. O tema trabalhado na oficina foi “Mo-
Yasmin Madeira, Simão Pedro e Francisco do Espíri- nitor do Esde, suas aulas são planejadas para Aco-
to Santo foram os expositores convidados. Informa- lher, Consolar e Esclarecer?”. Informações: <www.
ções: <www.feamazonas.org.br>. feec.org.br>.

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