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Expediente Sumário
4 Editorial
Lei Divina ou Natural
12 Entrevista: Olga Lúcia Espíndola Freire Maia
O Espiritismo no Nordeste
Fundada em 21 de janeiro de 1883
Fundador: A UGUSTO E LIAS DA S ILVA 15 Presença de Chico Xavier
Esclarecimento – André Luiz
Revista de Espiritismo Cristão 21 Esflorando o Evangelho
Ano 128 / Maio, 2010 / N o 2.174
Salários – Emmanuel
ISSN 1413-1749
Propriedade e orientação da
34 A FEB e o Esperanto
FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA Cruz e Souza – copiosa produção em e sobre o Esperanto –
Diretor: NESTOR JOÃO MASOTTI
Editor: ALTIVO FERREIRA Affonso Soares
Redatores: AFFONSO BORGES GALLEGO SOARES, ANTONIO
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BEZERRA
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TORRES PEREIRA E CLAUDIO CARVALHO
Equipe de Revisão: MÔNICA DOS SANTOS E WAGNA 5 Lei Divina ou Natural (Capa) – Christiano Torchi
CARVALHO
8 Agressividade – Joanna de Ângelis
REFORMADOR: Registro de publicação
o
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10 Amor e submissão – Richard Simonetti
Polícia Federal do Ministério da Justiça) 16 Procura por Centros Espíritas se ampliará com a
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37 Ciúme: trama escura do sentimento –
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41 Composição dos Órgãos da FEB após a Reunião do
Projeto gráfico da revista: JULIO MOREIRA
Capa: AGADYR TORRES PEREIRA Conselho Superior de março de 2010
Editorial
Lei Divina
ou
Natural
N
o capítulo I do Livro III de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec,1 os
Espíritos superiores responderam a várias questões formuladas sobre a
Lei Divina ou Natural, das quais destacaram:
614. Que se deve entender por lei natural?
“A lei natural é a Lei de Deus. É a única verdadeira para a felicidade do homem.
Indica-lhe o que deve fazer ou não fazer e ele só é infeliz porque dela se afasta.”
615. A Lei de Deus é eterna?
“É eterna e imutável como o próprio Deus.”
621. Onde está escrita a Lei de Deus?
“Na consciência.”
647. Toda a Lei de Deus está contida na máxima do amor ao próximo, ensinada por
Jesus?
“Certamente essa máxima encerra todos os deveres dos homens uns para com os
outros. Mas é preciso mostrar a eles a sua aplicação, pois, do contrário, deixarão de
praticá-la, como o fazem até hoje. Ademais, a lei natural abrange todas as circuns-
tâncias da vida, e essa máxima é apenas uma parte da lei. Os homens necessitam de
regras precisas; os preceitos gerais e muito vagos deixam muitas portas abertas à
interpretação.”
648. Que pensais da divisão da lei natural em dez partes, compreendendo as leis de
adoração, trabalho, reprodução, conservação, destruição, sociedade, progresso,
igualdade, liberdade e, por fim, a de justiça, amor e caridade?
“Essa divisão da Lei de Deus em dez partes é a de Moisés, e pode abranger todas
as circunstâncias da vida, o que é essencial. Podes, pois, adotá-la, sem que, por isso,
tenha qualquer coisa de absoluta, como não o têm os demais sistemas de classifica-
ção, que dependem do ponto de vista sob o qual se considere uma coisa. A última
lei é a mais importante; é por meio dela que o homem pode adiantar-se mais na
vida espiritual, visto que resume todas as outras.”
Ao transcrever estas questões temos o propósito de motivar o estudo dessas Leis,
que tratam dos assuntos relacionados à compreensão do comportamento humano,
fundamentais para a nossa evolução moral e intelectual e consequente libertação
espiritual.

1
Tradução Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2010.

4 178 Reformador • Maio 2010


Capa

Lei Divina
ou Natural
C H R I S T I A N O TO RC H I

Q
ue somos? Antes de nascer, Estas são indagações milenares que aprenderiam a interpretar melhor
o que éramos? Por que as os estudiosos procuram responder, a realidade que os cerca, buscan-
pessoas são tão diferentes? em vão, com base nos compêndios do nas leis divinas a base funda-
Por que a vida sorri para umas e é humanos. mental dos seus códigos, subme-
só desgraça para outras? Por tendo seus labores e suas
que umas nascem enfermas, conquistas aos princípios de
outros sãs? Por que umas são uma ética incorruptível, evi-
miseráveis, outras abastadas? tando, por exemplo, a aprova-
Por que umas, demorando-se ção de leis que atentam con-
em má conduta, sofrem me- tra a vida, em seus múltiplos
nos que outras, que só fazem o aspectos, como no caso do
bem? Por que o Criador per- aborto, da eutanásia e da pe-
mitiria essas aparentes desi- na de morte.
gualdades entre seus filhos? Por A despeito da ignorância
que a felicidade completa ain- humana, as leis divinas, que
da não é deste mundo? De on- têm por escopo o Amor, ba-
de viemos? Para onde vamos? se de sustentação do equilí-
O que estamos fazendo na Ter- brio e da harmonia do Uni-
ra? Várias pessoas viajam num verso, seguem seu curso ine-
trem, carro, navio ou avião, xorável, aguardando, pacien-
mas somente uma ou algumas temente, que despertemos,
delas se salvam, após desastre pelos nossos próprios esfor-
terrível, como ocorreu nos des- ços, de profundo sono espi-
lizamentos de terra em Angra ritual. Nesse hercúleo mister,
dos Reis, no litoral do Estado contamos com o auxílio pre-
do Rio de Janeiro, que vitimou cioso das revelações conti-
dezenas de famílias na virada das em O Livro dos Espíritos,
do ano – qual a razão de “sortes” Se os homens fossem mais aten- pedra angular sobre a qual se ergue
tão diferentes? Onde encontrar, em tos aos fenômenos da vida, prin- a Doutrina Espírita, que elucida,
fatos tão díspares, a Justiça Divina? cipalmente aos de ordem social, sem mistérios:

Maio 2010 • Reformador 179 5


Capa

A lei natural é a Lei de Deus. É a de melhoramento pessoal. Ou, vina. Enquanto o sábio estuda as leis
única verdadeira para a felicida- ainda, como acreditar que a cria- da matéria, com o auxílio da Ciên-
de do homem. Indica-lhe o que tura humana venha a ser conde- cia, o homem de bem estuda e pra-
deve fazer ou não fazer e ele só nada, irremissivelmente, a um tica as leis da alma, que são as leis
é infeliz porque dela se afasta.1 inferno eterno por erros cometi- morais, contando, para isso, com
dos em única existência? Se Deus o apoio da Filosofia e da Religião.
Para os desesperados que ainda assim agisse, seria menos justo que Em sua infinita misericórdia,
não se dispuseram a sondar os ar- os próprios homens que, apesar sabedoria, bondade e justiça, Deus
canos das leis naturais ou para mui- de imperfeitos, vêm criando leis faculta a todos os seres pensantes
tos dos que insistem em ignorar, equitativas para julgar seus seme- os meios de conhecerem sua lei. To-
por exemplo, a justiça das reen- lhantes, cujas penas são propor- davia, mesmo conhecendo-a, nem
carnações e da lei de causa e efei- cionais aos malefícios cometidos. todos a compreendem de imediato.
to, corolário da imortalidade e do Todos os Espíritos, encarnados É por tal motivo que os Espíritos
progresso dos Espíritos, tudo pare- e desencarnados, estão submetidos alertam que uma única existência
ce perdido, especialmente quando à lei natural que governa o Univer- não nos basta para alcançar esta
as tragédias e os sofrimentos aba- so – a Lei de Deus –, que está aci- meta, pois necessitamos, para isso,
tem seus ânimos. ma das legislações humanas, tran- de experiência, maturidade, isto é, de
Como achar sentido na vida, sitórias e imperfeitas. A caracte- evolução intelecto-moral.
com base na crença niilista do rística principal da lei divina é ser Os que perseveram no bem e os
“morreu, acabou”? Com ela, muito imutável, visto ser perfeita de toda interessados em pesquisar tais leis
ganhariam os maus que se veriam a eternidade. Por tal motivo, impri- são os que melhor as compreen-
livres, ao mesmo tempo, de suas me estabilidade às coisas, o que já dem, sentindo a ventura de pene-
mazelas e de suas culpas, em detri- não acontece com as leis humanas, trar, gradualmente, nos segredos
mento das pessoas escrupulosas que se modificam, constantemen- que elas ocultam. No futuro, po-
que não encontrariam nenhuma te, de acordo com o progresso e a rém, todos partilharão dessas ex-
compensação pelos seus esforços cultura da sociedade. periências, uma vez que o progresso
Sendo Deus o autor de todas as é inevitável. A unicidade da exis-
1 coisas, segue-se que todas as leis da tência não se compadece com a ló-
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad.
Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio de Ja- Natureza, sejam elas físicas ou mo- gica divina, visto que milhões de
neiro: FEB, 2010. Q. 614. rais, têm o selo da paternidade di- criaturas humanas perecem dia-

6 180 Reformador • Maio 2010


Capa

riamente ainda embrutecidas na cuja doutrina é a mais pura ex- Entretanto, Jesus somente pro-
selvageria e na ignorância, sem que pressão das leis do Criador. Estan- cedia assim quanto às partes mais
tenham tido a oportunidade de se do como estão as leis divinas es- abstratas de sua Doutrina. No to-
esclarecer. critas no livro da Natureza, muito cante à caridade para com o próxi-
Ensinam os benfeitores do espa- antes da vinda de Jesus à Terra, já mo e à humildade, condições bási-
ço que a lei de Deus (lei moral) está era possível percebê-las em seus cas da “salvação”, tudo o que disse a
insculpida na consciência.2 Apesar sinais por aqueles que estivessem esse respeito foi inteiramente cla-
disso, esta lei necessitou ser revelada dispostos a meditar sobre a sabe- ro, explícito e sem ambiguidades.
ao homem, por meio de missio- doria. Por isso, muitas dessas leis Atualmente, é preciso que a verda-
nários, uma vez que ele a esque- foram antecipadas, ainda que de de seja inteligível para todos. Por
ceu e a desprezou. Em meio a esses modo incompleto, por vários ho- isso, os Espíritos superiores têm
mensageiros do bem, vez por ou- mens virtuosos, chamados de pre- por missão abrir os olhos e os ou-
tra, surgem os “falsos profetas” que, cursores, que prepararam o terre- vidos da Humanidade, de sorte que
movidos pela ambição e confun- no para a vinda do Messias. Não ninguém poderá alegar ignorân-
dindo as leis que regulam as condi- sem razão, alguns desses preceitos cia, interpretando a lei de Deus ao
ções da vida da alma, com as que re- consagrados por essas leis têm sido sabor de suas paixões e interesses
gem a vida do corpo, se atribuem proclamados em todos os tempos pessoais, visto que
uma missão que não lhes cabe. e lugares, com destaque para o
Deus permite que isso aconteça código de ouro do Universo: “Não a posse, a compreensão da lei
para que aprendamos a discernir faças a outrem o que não gostarias moral é o que há de mais neces-
o bem do mal. O verdadeiro pro- que fizessem contigo”. sário e de mais precioso para a
feta inspirado por Deus cultiva vir- Jesus, Mestre por excelência, fa- alma. Permite medir os nossos
tudes: é reconhecido não somente lava de acordo com a época e os recursos internos, regular o seu
pelas palavras, mas também pelos lugares. Para não chocar as pes- exercício, dispô-los para o nosso
seus atos, uma vez que Deus não soas, ainda desprovidas de conhe- bem. As nossas paixões são for-
se utiliza de um emissário dado a cimento e de compreensão quan- ças perigosas, quando lhes esta-
mentiras para ensinar a verdade. to a determinados assuntos, acessí- mos escravizados; úteis e benfei-
No afã de dominar as massas, es- veis apenas aos iniciados, utilizava- toras, quando sabemos dirigi-las;
ses falsos profetas apresentam leis -se de alegorias que seriam futura- subjugá-las é ser grande; deixar-
humanas, concebidas unicamente mente desvendadas quando tives- -se dominar por elas é ser pe-
para servir às paixões, como se fos- sem adquirido maior desenvolvi- queno e miserável.4
sem leis divinas. Apesar disso, por mento, o que efetivamente aconte-
serem homens de gênio, mesmo ceu, com o progresso da Ciência e Se desejamos libertar-nos dos
entre os equívocos que propagam, o advento do próprio Espiritismo, o males terrestres, evitando as reen-
muitas vezes se encontram gran- Consolador Prometido. Isto porque carnações dolorosas, vivenciemos,
des verdades. “todo ensinamento deve ser pro- na medida do possível, as leis mo-
No topo da Escala espírita – Es- porcional à inteligência daquele a rais, pois elas constituem o roteiro
píritos puros –, Deus oferece JESUS quem é dirigido, pois há pessoas de felicidade do homem, constru-
como o tipo mais perfeito para ser- a quem uma luz viva demais des- tor do próprio destino, nas sendas
vir de guia e modelo aos homens, lumbraria, sem as esclarecer”.3 da evolução.

2 3 4
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Idem. O evangelho segundo o espiritismo. DENIS, Léon. Depois da morte. ed. esp. 1.
Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio Trad. Evandro Noleto Bezerra. Rio de Ja- reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2008. P. 5, cap.
de Janeiro: FEB, 2010. Q. 621. neiro: FEB, 2008. Cap. 24, item 4. 56, A lei moral, p. 431.

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Agressividade
V
ivem-se, na atualidade, os Explica-se que muitos fatores zes, transformando-se em calúnias
dias de descontrole emo- sociológicos são os responsáveis insidiosas. Mesmo entre as pessoas
cional e espiritual no que- pelas ocorrências infelizes. vinculadas às doutrinas religiosas li-
rido orbe terrestre. Apontam-se a fugacidade de to- bertadoras que se baseiam no amor
O tumulto desenfreado, fruto das as coisas, a celeridade do reló- e na caridade, no respeito ao próxi-
espúrio das paixões servis, invade gio, o medo, a solidão e a ansieda- mo e no culto aos deveres morais, o
quase todas as áreas do comporta- de, como responsáveis pela frustra- vício infeliz permanece, destruidor.
mento humano e da convivência ção dos indivíduos, gerando as si- Armando-se de mau humor, não
social. tuações agressivas que os armam poucos homens e mulheres exter-
Desconfiança sistemática aturde de violência e de perversidade. nam o enfado ou os sentimentos
as mentes invigilantes, levando-as A cultura e a ética não têm conse- controvertidos em que se conso-
a suspeitas infundadas e contínuas, guido acalmar os ânimos, deixando mem, dando lugar a situações ve-
bem como a reações doentias nas que a arrogância e a presunção en- xatórias. Em mecanismo de trans-
mais diversas circunstâncias. ganosas tomem conta dos incautos ferência psicológica atiram os seus
A probidade cede lugar à avare- que se lhes submetem docemente. conflitos à responsabilidade dos
za, enquanto a simpatia e a afabi- Os relacionamentos sem afetivi- outros, como se estivessem desfor-
lidade são substituídas pela ani- dade real, estimulados por interes- çando-se da inveja que experimen-
mosidade contumaz. ses nem sempre nobres, tornam-se tam em relação aos mesmos.
As pessoas mal suportam-se umas rápidos, diluindo-se com facilida- Aumenta, assustadoramente, a
às outras, explodindo por motivos de, quando não se transformam agressividade, nestes dias, nos gru-
irrelevantes, sem significado. em antagonismos, em decorrência pos humanos, sem que haja um
de alguma negativa que se torna programa de reequilíbrio, de har-
oportuna e é direcionada ao outro. monização individual ou coletiva.
A maledicência perversa grassa Trata-se de uma guerra não de-
nos arraiais dos grupos, minando as clarada, cujos efeitos perniciosos
bases frágeis atemorizam a sociedade.
das amiza- As autoridades dizem-se atadas
des superfi- a dificuldades quase insuperáveis
ciais, e, não em razão do suborno, do tráfico
poucas ve- de drogas, dos desafios adminis-
trativos, da ausência de pessoal ha-
bilitado para os enfrentamentos,
falhando, quase sempre, nas pro-
vidências tomadas.
Permanecem, desse modo, os
comportamentos infelizes nos la-
res, nos educandários, nas vias pú-
blicas, no trabalho...

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A agressividade é doença da alma rialistas, ameaçada pela agressivi- Instala-se, desse modo, lenta-
que deve merecer cuidados muito dade e pelo desrespeito moral que mente, o período da paz, da bran-
especiais desde a infância, educan- assolam sem freio. dura, da fraternidade.
do-se o iniciante na experiência Sem dúvida, estudiosos do com- Sofrido, o ser humano ver-se-á
terrestre, de forma que possa dis- portamento, educadores sinceros compelido a fazer a viagem de
por de recursos para vencer a infe- e devotados, religiosos abnegados, volta às questões simples e afáveis,
rioridade moral que traz de exis- pensadores sensatos e sociólogos lú- à amizade e à ternura, qual filho
tências transatas ou que adquire na cidos vêm investindo os seus melho- pródigo de retorno ao lar paterno
convivência doentia da família... res recursos na construção da nova após as extravagantes experiên-
mentalidade saudável, em tentativas cias que se permitiu.

ainda não vitoriosas para a reversão Que se não demorem esses dias,
A agressividade é herança cruel do quadro aparvalhante, confiantes, que dependerão do livre-arbítrio
do medo ancestral, que remanesce no entanto, nos resultados futuros. dos indivíduos em particular e da
no Espírito desde priscas eras. O progresso moral é lento e exi- sociedade em geral, embora o pro-
Não diluído pela segurança psico- ge sacrifícios de todos os cidadãos gresso seja inevitável, apressando-
lógica adquirida mediante a fé re- que aspiram pela felicidade e pela -se ou retardando-se em razão das
ligiosa, a reflexão, a psicoterapia aca- harmonia na Terra. opções humanas.
dêmica, a oração, domina os recôn- As respeitáveis contribuições da

ditos do sentimento e exterioriza-se Ciência e da Tecnologia, valiosas,
de forma infeliz na agressividade. sob qualquer aspecto consideradas, A agressividade infeliz é doença
A ausência dos diálogos domés- respondem por muitas modifica- passageira, embora os grandes da-
ticos saudáveis entre pais, filhos e ções das estruturas ultramontanas, nos que produz, cedendo lugar à
cônjuges ou parceiros, que se agri- suprimindo a ignorância e o pri- pacificação.
dem mutuamente, sempre ressen- mitivismo. Nada obstante, também Torna dócil a tua voz, nestes
tidos, extrapolam do lar em direção são usadas para o crime de várias turbulentos dias de algazarra, e
à via pública, transformada em denominações, especialmente atra- gentis os teus gestos ante os tu-
campo de batalha, segue no rumo vés dos veículos da mídia: os perió- multos e choques pessoais...
do local de trabalho, e até aos clu- dicos, a Internet, a televisão, assim Com sua sabedoria ímpar, Jesus as-
bes de recreação, em contínuo des- como o teatro e o cinema, com a sinalou:“Bem-aventurados os man-
trambelho das emoções. sua complexa penetração nas mas- sos, porque eles herdarão a Terra”.1
Nesse contubérnio afligente, sas, às vezes, usados vergonhosa- Suavemente permite que a mansi-
Espíritos irresponsáveis e frívolos mente e sem qualquer controle, ofe- dão domine os territórios das tuas
aproveitam-se das vibrações dele- recendo campo de vulgaridades e emoções, substituindo esses infelizes
térias e misturam-se com esses informações que preparam delin- mecanismos da inferioridade moral
combatentes perturbados, aumen- quentes e viciosos... pelos abençoados valores da verdade.
tando-lhes a ferocidade e estimu- A rigor, com as nobres exceções
lando-lhes os instintos inferiores. existentes, a sociedade moderna en- Joanna de Ângelis
O resultado são os crimes hedion- contra-se enferma gravemente,
dos, asselvajados, estarrecedores, que necessitando de urgentes cuidados, (Página psicografada pelo médium Divaldo
aumentam o índice de maldade em que o sofrimento, igualmente ge- Pereira Franco, na sessão mediúnica da noite
razão da ingestão de bebidas alcoóli- neralizando-se, conseguirá, no mo- de 15 de março de 2010, no Centro Espírita
cas, de drogas alucinantes e fatais... mento próprio, oferecer a recupe- Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.)
A civilização contemporânea ração, o reencontro com a saúde
1
periclita nos seus alicerces mate- após a exaustão pelas dores... MATEUS, 5:5. (Nota da autora espiritual.)

Maio 2010 • Reformador 183 9


Amor e
submissãoRICHARD SIMONETTI

M
aio, mês consagrado às chagas, lhe osculou as mãos, reco- tadoras e afetuosas, enfermos que
mães, evoca a figura ve- nhecidamente murmurando: invocavam a sua proteção, mães
nerável daquela que é a – “Senhora, sois a mãe de nosso infortunadas que pediam a bên-
mãe espiritual da Humanidade: Mestre e nossa Mãe Santíssima”. ção de seu carinho.
Maria de Nazaré. A tradição criou raízes em to- – “Minha mãe – dizia um dos
São escassos os registros a seu dos os espíritos. Quem não lhe de- mais aflitos – como poderei vencer
respeito nos textos evangélicos. via o favor de uma palavra mater- as minhas dificuldades? Sinto-me
Os evangelistas centralizaram a nal nos momentos mais duros? E abandonado na estrada escura da
narrativa na figura augusta do João consolidava o conceito, acen- vida...”
Cristo. tuando que o mundo lhe seria Maria lhe enviava o olhar amo-
Não obstante, a tradição nos eternamente grato, pois fora pela roso da sua bondade, deixando ne-
fala de uma mulher ardente na fé sua grandeza espiritual que o le transparecer toda a dedicação
e dedicada ao filho amado. Emissário de Deus pudera pene- enternecida de seu espírito ma-
No livro Boa Nova, psicografia trar a atmosfera escura e pestilen- ternal.
de Francisco Cândido Xavier, o ta do mundo para balsamizar os – “Isso também passa! – dizia
Espírito Humberto de Campos, sofrimentos da criatura. Na sua ela, carinhosamente – só o Reino de
colhendo informações da Espiri- humildade sincera, Maria se es- Deus é bastante forte para nunca
tualidade, reporta-se aos últimos quivava às homenagens afetuosas passar de nossas almas, como eter-
anos de Maria, em Éfeso, ampara- dos discípulos de Jesus, mas aque- na realização do amor celestial.”
da por João, o discípulo amado, la confiança filial com que lhe re- Seus conceitos abrandavam a
onde se devotou inteiramente aos clamavam a presença era para sua dor dos mais desesperados, desanu-
sofredores de todos os matizes. alma um brando e delicioso tesou- viavam o pensamento obscuro dos
Diz Humberto de Campos: ro do coração. O título de mater- mais acabrunhados. (Op. cit., cap.
nidade fazia vibrar em seu espíri- 30, p. 254-256, ed. FEB.)
Sua choupana era, então, co- to os cânticos mais doces. Diaria-
nhecida pelo nome de “Casa da mente, acorriam os desampara- Na Revista Espírita, janeiro de
Santíssima”. dos, suplicando a sua assistência 1862, Kardec situa Maria como
O fato tivera origem em certa espiritual. Eram velhos trôpegos e um Espírito puro, não pertencen-
ocasião, quando um miserável le- desenganados do mundo, que lhe te à Humanidade, acentuando
proso, depois de aliviado em suas vinham ouvir as palavras confor- que Deus [...] de vez em quando,

10 184 Reformador • Maio 2010


envia Espíritos superiores que en- exemplos, em dois aspectos fun- rios poetas desencarnados ren-
carnam [na Terra] a fim de im- damentais: dem homenagem a Maria, a de-
pulsionar o progresso e apressar o O amor ao próximo, que com- monstrar que lá, nas etéreas pla-
desenvolvimento do orbe. Na Terra preende, perdoa, atende, socorre, gas, como diria Camões, também
tais Espíritos agem como o verda- ajuda, sempre pronto a servir. é reconhecida a grandeza espiri-
deiro pastor, que vai moralizar os A submissão à vontade de Deus, tual da mãe de Jesus.
condenados em suas prisões e lhes que elimina dúvidas e temores de Dentre as homenagens desses
mostrar o caminho da salvação. nosso coração, sustentando-nos o poetas, escolhemos uma, de Al-
(p. 29, ed. FEB.) equilíbrio e a paz em todas as si- phonsus de Guimaraens (1870-
Dá para perceber, caro leitor, tuações. -1921), que bem nos fala do que
nessas citações, a grandeza es- ela representa e do que continua a
piritual da Mãe de Jesus. fazer:

Há na narrativa evangé- Sobe da Terra, em ondas


lica um momento glorio- [luminosas,
so, em que Maria, meni- Um turbilhão de vozes e de
na-moça ainda, de pou- [lírios,
co mais de 16 primave- Buscando-vos nas Luzes
ras, recebeu a visita de [Harmoniosas,
um anjo, a anunciar- Oh! Virgem da Pureza
-lhe que seria mãe do [e dos Martírios!
Messias.
E ela, sem maiores Imagens de turíbulos e
questionamentos, sem [rosas
dúvidas e sem receios, Aromatizam todos os
intuitivamente cons- [empíreos…
ciente de sua mis- Há na Terra canções
são, simplesmente [maravilhosas
respondeu (Lucas, Entre as luzes e as
1:38): [lágrimas dos círios.

Senhor, eis aqui Senhora, o mundo


a tua serva. Cum- [inteiro vos festeja,
pra-se em mim se- Em magnificência
gundo a tua palavra. [ampla e radiosa,
“Nossa Senhora, Mãe de Jesus”
(Trabalho artístico realizado pelo Nos altares
Muitos sofrimentos seriam evi- sr. Vicente Avela, sob a orientação [simbólicos da Igreja!
tados, muitos problemas seriam mediúnica de Chico Xavier e ditado
solucionados, muitas angústias se- pelo Espírito Emmanuel, em 1983.) Eis, porém, que vos vejo nos
riam superadas, muitas desaven- [caminhos,

ças seriam eliminadas, plena de Onde a vossa virtude carinhosa
bênçãos seria nossa existência, se Em Parnaso de Além-Túmulo, Consola e ampara os fracos
nos dispuséssemos a imitar seus psicografia de Chico Xavier, vá- [pobrezinhos...

Maio 2010 • Reformador 185 11


Entrevista O LG A L Ú C I A E S P Í N D O L A F. M A I A

O Espiritismo
no Nordeste
Olga Lúcia Espíndola Freire Maia, secretária da Comissão Regional Nordeste
do CFN, comenta o Movimento Espírita em sua Região

Reformador: Como tem se dissemi- estruturados núcleos de amor, co- gurança e iluminando definitiva-
nado o Espiritismo no Nordeste? laborando, decisivamente, para que mente aqueles que o buscam e que
Olga: Em 1865, Luís Olímpio Te- o Espiritismo brilhe como uma es- o estudam. Hoje, o Trabalho de Uni-
les de Menezes fundava, na então cola de luz, esclarecendo com se- ficação vem sendo estimulado pau-
província da Bahia, o Grupo Fami- latinamente por meio do Con-
liar do Espiritismo, a primeira so- selho Federativo Nacional da FEB,
ciedade espírita do Brasil. O Espi- viabilizando as reuniões das Co-
ritismo no Nordeste contou com missões Regionais do Nordeste, que
respeitáveis nomes como o mara- consolidam esta disseminação,cons-
nhense Marechal Ewerton Quadros, truindo as bases para que o Espiri-
primeiro presidente da FEB, do pa- tismo seja bem entendido e com-
raibano Leopoldo Cirne e dos cea- preendido, atendendo à preocu-
renses Adolfo Bezerra de Menezes pação de Allan Kardec, que afirma
e Manoel Vianna de Carvalho. A em Obras Póstumas:“um dos maio-
disseminação de nossa Doutrina res obstáculos capazes de retardar
contou, também, com o a propagação da Doutrina
trabalho anônimo dos seria a falta de unidade”.
inúmeros companhei-
ros que foram desta- Reformador: Como as
cados para servir nos reuniões das Comissões
rincões mais distantes Regionais do CFN têm
de nossa Região, le- colaborado com o Mo-
vando consigo os co- vimento da Região?
nhecimentos espíri- Olga: Elas constroem
tas, trabalhando em as bases do Trabalho
pequenas cidades, de Unificação de nos-
fundando células de sa Região, promovem
estudo, deixando a união e a capacita-

12 186 Reformador • Maio 2010


ção dos trabalhadores e, ainda, do, consolando e construindo as das pequenas localidades, mas apro-
complementam e enriquecem as bases deste Edifício que, confor- ximará e unirá todo o Movimento.
reuniões anuais do CFN. É rele- me consta em “Prolegômenos” de Em 1990, na pequena cidade de
vante ressaltar a importância des- O Livro dos Espíritos, deverá reu- Viçosa, sertão cearense, foi fun-
sas reuniões tanto para as Fede- nir todos os homens num mesmo dado o Centro Espírita “O Pobre
rações Estaduais, como para seus sentimento de amor e caridade, de Deus”. Em poucos meses, no
dirigentes e coordenadores, como, “abrindo uma Nova Era para a re- povoado Oiticicas, eles iniciaram
ainda, para a Federação Espírita generação da Humanidade”. uma obra social, amparada pelo
Brasileira. Para as Federativas, re- estudo e pelas atividades espíri-
presentam excelente oportunidade Reformador: E o desenvolvimento tas. Hoje, o trabalho social do ci-
de compartilhamento e aprendiza- do Espiritismo no Interior, em ci- tado Centro é reconhecido como
do, uma vez que integram os tra- dades pequenas? Algum exemplo de Utilidade Pública Municipal,
balhos executados nos Estados e interessante? Estadual e Federal. Atende a 90 fa-
dão oportunidade a permuta de Olga: É um dos maiores desafios mílias muito carentes, com visita-
experiências exitosas, promoven- para o Trabalhador de Unificação. ção domiciliar, grupos sociais,
do a segurança e o fortalecimento Nosso Brasil geograficamente é qualificação profissional, apoio às
das Ações Doutrinárias, Assisten- muito extenso e as Federativas vi- necessidades básicas e mutirões
ciais e Administrativas. Para os di- venciam inúmeras dificuldades, habitacionais; 120 crianças fre-
rigentes e coordenadores, essas inclusive financeiras, com algumas quentam quatro horas diárias de
reuniões ensejam capacitação, poucas exceções. O trabalho em- atendimento complementar à es-
confiança, motivação, abrem no- preendido pelo CFN da Federação cola pública, com oficinas criati-
vos horizontes para os trabalhos e Espírita Brasileira, focando a inte- vas, apoio escolar, atividades es-
fortalecem os laços de união entre riorização do Espiritismo, será de- portivas e recreativas, coralzinho
os trabalhadores dos diversos Esta- cisivo para o enfrentamento das di- infantil e Evangelização. A Casa
dos e a equipe do CFN da FEB. Pa- ficuldades, considerando que não oferece, aos jovens, evangelização,
ra a FEB, propiciam oportunida- apenas capacitará o trabalhador iniciação profissional voltada para a
de de conhecer de perto
a realidade de cada Fe-
derativa. Este conheci-
mento é valioso para a
elaboração de estratégias
que ajudam a colocar em
prática as diretrizes e
campanhas aprovadas
nas Reuniões do CFN.
Aqueles que participam
desses encontros podem
avaliar com mais cons-
ciência a importância fun-
damental que tem o Tra-
balho de Unificação pa-
ra que o Espiritismo
possa ser posto ao alcan- Centro Espírita “O Pobre de Deus”
ce de todos, esclarecen-

Maio 2010 • Reformador 187 13


inserção no mercado de trabalho, para orientar a difusão, o estudo e tra que a vida continua para mui-
através de seus projetos Pão da a prática da Doutrina Espírita, to mais além do túmulo. Sua obra
Vida e Sítio Estrada de Damasco. munidos de um material nortea- literária socializa o raciocínio dos
Nesses 20 anos, muita coisa mu- dor, no que concerne à Ação Fe- postulados, trazidos por Allan Kar-
dou, mas o grupo de estudos espí- derativa, para que seja possível dec, como uma majestosa bandei-
ritas conserva os traços do início, viabilizar o “Plano de Trabalho ra desfraldada no horizonte do in-
onde se encontram muitos dos para o Movimento Espírita Brasi- finito, convidando ao esclarecimen-
participantes sem escolaridade, leiro (2007-2012)” e consolidar o to e ao consolo. Suas mensagens,
soletrando as obras espíritas, lega- período de aplicação e consequên- impregnadas do raciocínio da reen-
das pelos benfeitores do Mundo cias dos postulados espíritas. Nos- carnação, ensejarão atitudes no-
Maior... Ficam em nossos ouvidos sas expectativas mais caras dizem vas, por conscientizarem acerca da
espirituais as palavras de Bezerra respeito a nós mesmos, os que nos eternidade do Espírito. A sua exis-
de Menezes: “Allan Kardec, nos propusemos a trabalhar na Unifi- tência dedicada à Humanidade
estudos, nas cogitações, nas ativi- cação do Movimento Espírita em e, agora, as comemorações de seu
dades, nas obras, a fim de que a qualquer lugar do mundo, para Centenário, com certeza, fazem
nossa fé não se faça hipnose, pela que envidemos todos os esforços parte do planejamento dos ben-
qual o domínio da sombra se es- no sentido de fazer a nossa peque- feitores espirituais para consoli-
tabelece sobre as mentes mais fra- na parte, neste maravilhoso con- dar o tempo de regeneração da
cas, acorrentando-as a séculos de certo que é colaborar para a cons- Humanidade. O homenageado
ilusão e sofrimento” (Mensagem trução de um mundo melhor. So- dedicou sua vida para esclarecer e
“Unificação”). mos felizes, pois quem trabalha consolar, imprimindo em seus
pela unificação presta relevante passos um verdadeiro caminho de
Reformador: Qual sua expectativa serviço à Causa do Evangelho Re- luz, que ficará grafado no coração
com o novo documento “Orienta- dentor, junto à Humanidade, con- de todos os que ouvirem falar do
ção aos Órgãos de Unificação”? forme nos orienta Emmanuel. homem: “Chico Amor Xavier”.
Olga: Rogamos a Jesus que abençoe
cada trabalhador federativo, para Reformador: Qual o impacto das Reformador: Mensagem aos leito-
que nos conscientizemos da im- comemorações do Centenário de res de Reformador.
portância do momento em curso, Chico Xavier? Olga: Um dia, há dois mil anos,
no que concerne à responsabilida- Olga: É muito difícil avaliar os im- Jesus nos falou do convite para
de de orientar, de apoiar os centros pactos das comemorações deste um banquete no qual muitos não
espíritas a fim de que tenham con- Centenário que serão constatados compareceram... Nos tempos atuais,
dições de bem desenvolver suas a curto, médio e longo prazos e os Espíritos do Senhor nos convi-
atividades Doutrinárias, Assisten- repercutirão, também, em todo dam para o Concerto Divino...
ciais e Administrativas, direcio- o Exterior. Como sabemos, serão Nossos mais sinceros votos de que
nando um olhar especial às pe- filmes, documentários, congres- saibamos aceitar o convite, vis-
quenas cidades do Interior, esti- sos, novelas abordando a temática tamos a túnica nupcial e traba-
mulando o estudo e o trabalho em espírita, encartes, reportagens, pa- lhemos o campo do Senhor com
prol do bem. Nesta fase de transi- lestras, entrevistas, dentre outros. desinteresse e movidos apenas
ção em que vive a Terra, quando a O inolvidável exemplo de Chico pela verdadeira caridade, con-
globalização integra as informa- Xavier imprimirá em muitos co- forme nos orienta o Espírito de
ções e dá velocidade aos proces- rações o desejo sincero de fazer o Verdade, em “Os obreiros do Se-
sos, é fundamental que os Órgãos bem e de conhecer o Espiritismo. nhor”, de O Evangelho segundo o
de Unificação estejam preparados Sua mediunidade indiscutível mos- Espiritismo. Muita paz!

14 188 Reformador • Maio 2010


Presença de Chico Xavier

Esclarecimento
Q
uando alinhamos nossas despretensiosas líbrio desejável, já que nos achamos saudosos de con-
anotações acerca de Nosso Lar,1 relacionan- tato mais positivo com as experiências terrestres.
do a nossa alegria diante da Vida Superior, Agimos, então, como alunos inadaptados de
muitos companheiros inquiriram espantados: – Universidade venerável, cuja disciplina nos desagra-
“Afinal, o que vem a ser isso? Os desencarnados olvi- da, por guardarmos o pensamento na retaguarda
dam assim a paragem de que procedem? Se as almas, distante, ansiosos de comunhão com o ambiente
em se materializando na Terra, chegam do mundo doméstico, em razão do espírito gregário que ainda
espiritual, por que as exclamações excessivas de júbi- prevalece em nosso modo de ser.
lo quando para lá regressam, como se fossem Como é fácil observar, raras Inteligências descem,
estrangeiros ou filhos adotivos de nova pátria?” efetivamente, das esferas divinas para se reencar-
O assunto, simples embora, exige reflexão. narem na esfera física.
E é necessário raciocinar dentro dele, não em ter- Todos alcançamos as estações do berço e do túmu-
mos de vida exterior, mas de vida íntima. lo, condicionando nossas percepções do mundo ex-
Cada criatura atravessa o portal do túmulo ou terno aos valores mentais que já estabelecemos para
transpõe o limiar do berço, levando consigo a visão nós mesmos, porque todos nos ajustamos, bilhões de
conceptual do Universo que lhe é própria. encarnados e desencarnados, a diferentes faixas vibra-
Almas existem que varam dezenas de reencarna- tórias de matéria, guardando, embora, o Planeta como
ções sem a menor notícia da Espiritualidade superior, nosso centro evolutivo, no trabalho comum.
em cuja claridade permanecem como que hibernadas, Desse modo, a mais singela conquista interior cor-
na condição de múmias vivas, já que não dispõem de responde para a nossa alma a horizontes novos, tan-
recursos mentais para o registro de impressões que to mais amplos e mais belos, quanto mais bela e mais
não sejam puramente de ordem física. ampla se faça a nossa visão espiritual.
Assemelham-se, de alguma sorte, aos nossos sel- Construamos, pois, o nosso paraíso por dentro.
vagens, que, trazidos aos grandes espetáculos da Lembremo-nos de que os grandes culpados que
ópera lírica, suspiram contrafeitos pela volta ao edificaram o inferno, em que se debatem, respiram o
batuque. ambiente da Terra – da Terra que é um santuário do
E muitos de nós, como tantos outros, em seguida a Senhor, evolutindo em pleno Céu.
romagens infelizes ou semicorretas, tornamos do Nosso ligeiro apontamento em torno do assunto
mundo às esferas espirituais compatíveis com a nossa destina-se, desse modo, igualmente a reconhecermos,
evolução deficiente, e, além desses lugares de pur- mais uma vez, o acerto e a propriedade da palavra de
gação e reajuste, habitualmente somos conduzidos Nosso Divino Mestre, quando nos afirmou, convin-
por nossos instrutores e benfeitores para ensaios de cente: – “O reino de Deus está dentro de nós”.
sublimação a círculos mais nobres e mais elevados,
nos quais nem sempre nos mantemos com o equi- Pelo Espírito André Luiz

1
Nosso Lar, de autoria do Espírito André Luiz, edição da Federa- Fonte: XAVIER, Francisco C. Vozes do grande além. 5. ed. Rio de
ção Espírita Brasileira. – Nota do Organizador. Janeiro: FEB, 2003. Cap. 12.

Maio 2010 • Reformador 189 15


Procura por Centros
Espíritas se ampliará
com a maior difusão
A N TO N I O C E S A R P E R R I DE C A RVA L H O

A
s comemorações do Cen- sequência poderá aumentar a Com o planejamento e o pre-
tenário de Nascimento de procura pelas instituições espí- paro por parte das instituições,
Chico Xavier, com inúme- ritas, suas livrarias e bibliotecas, atuando-se em sinergismo com os
ros eventos, lançamentos de livros, e pelas páginas eletrônicas na reflexos naturais da mais ampla
DVDs e filmes, ampliará substan- Internet. difusão da Doutrina Espírita, po-
cialmente a difusão do Espiritis- derá ocorrer um melhor atendi-
mo e, especificamente, das mento para a recepção de simpa-
obras psicográficas do no- tizantes do Espiritismo.
tável médium. Como con- A provocação que lançamos
para reflexão há algumas déca-
das – “Estão os Centros Espíritas
preparados para receber gran-
des massas humanas?”,1 é válida
para a atualidade. Ao influxo da
divulgação dos exemplos nobi-
litantes da história de vida de
Chico Xavier e de sua porten-
tosa obra psi-
cográfica, seria
conveniente que as
instituições espíritas
aproveitassem o opor-
tuno cenário do momento pa-
ra, na base do Movimento Es-
pírita, no contato direto com
as comunidades em que se in-
serem, estivessem preparadas
para recepcionar interessa-
dos no conhecimento da Doutri- Ide e agradecei a Deus a gloriosa siedades, com fundamento nas
na Espírita. tarefa que Ele vos confiou; mas, obras da Codificação Espírita e,
As propostas de organização ad- atenção! entre os chamados para no caso, nas obras psicográficas
ministrativa e doutrinária dos cen- o Espiritismo muitos se trans- de Francisco Cândido Xavier que
tros espíritas vêm se intensifican- viaram; reparai, pois, vosso ca- trazem subsídios importantes e
do nas últimas décadas. Estas estão minho e segui a verdade.6 doutrinariamente coerentes.
previstas e contêm recomendações A propósito, Emmanuel comenta
oportunas em documentos gera- O citado Orientação ao Centro as várias formas de atendimento e
dos pelo Conselho Federativo Na- Espírita contempla algumas reco- de difusão do Espiritismo, encer-
cional da FEB, como a edição am- mendações específicas que podem rando com a frase:
pliada de Orientação ao Centro Es- ser adotadas para o desenvolvi-
pírita2,3 (2007) e o “Plano de Traba- mento das atividades de divulga- [...] estudemos Allan Kardec,
lho para o Movimento Espírita Bra- ao clarão da mensagem de Jesus
sileiro (2007-2012)”.4 Este último Cristo, e, seja no exemplo ou na
apresenta como primeira Diretriz
“A Difusão da Doutrina Espírita”,
“Estudemos atitude, na ação ou na palavra,
recordemos que o Espiritismo
que tem como objetivo: “Difundir nos solicita uma espécie perma-
a Doutrina Espírita, através do seu
estudo, da sua divulgação e da sua
Allan nente de caridade – a caridade
da sua própria divulgação.7
prática, colocando-a ao alcance e a
serviço de todas as pessoas, indis- Kardec, ao Referências:
1
tintamente, independentemente PERRI DE CARVALHO, Antonio C. Estão
de sua condição social, cultural,
econômica ou faixa etária”, cum-
clarão da os Centros Espíritas preparados para re-
ceber grandes massas humanas? O Cla-
prindo, assim, a missão do Movi-
mento Espírita, que é “instruir e mensagem rim. Matão, p. 6-7, 15 mai. 1975.
2
Orientação ao centro espírita. Organiza-
esclarecer os homens, abrindo do pela Equipe da Secretaria-Geral do Con-
uma Nova Era para a regeneração
da Humanidade”.5 Há o respaldo
de Jesus selho Federativo Nacional. Rio de Janeiro:
FEB, 2007. Cap. 7.
3
do entendimento de Erasto, em ______. ______. Cap. 3.
“Missão dos Espíritas”: Cristo” 4
Plano de Trabalho para o Movimento Es-
pírita Brasileiro (2007-2012). In: Reforma-
Ide, pois, e levai a palavra divi- dor. ed. esp. ano 125, n. 2.140A, p. 30,
2
na: aos grandes que a despreza- ção, aplicáveis às várias frentes jul. 2007.
5
rão, aos eruditos que exigirão de trabalho dos centros espíritas. KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad.
provas, aos pequenos e simples Mas, são indispensáveis algumas Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio de Ja-
que a aceitarão; porque, princi- atenções especiais, enfeixadas no neiro: FEB, 2010. Prolegômenos, p. 70.
6
palmente entre os mártires do capítulo “Atendimento Espiritual ______. O evangelho segundo o espiri-
trabalho, desta provação terre- no Centro Espírita”,3 para o ade- tismo. Trad. Guillon Ribeiro. 4. ed. esp. 1.
na, encontrareis fervor e fé. quado acolhimento e esclareci- reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 20,
Arme-se a vossa falange de de- mento das pessoas que procuram item 4, p. 401-402.
7
cisão e coragem! Mãos à obra! o as instituições em busca de conso- XAVIER, Francisco C. Estude e viva. Pelo
arado está pronto; a terra espe- lo e de esclarecimentos, ou seja, de Espírito Emmanuel. 13. ed. Rio de Janeiro:
ra; arai! respostas para suas dúvidas e an- FEB, 2008. Cap. 40, p. 235.

Maio 2010 • Reformador 191 17


O Espiritismo e a
humanização da Justiça
“É preciso combater a injustiça com mais prontidão do que um incêndio.”
Heráclito

A D I LTO N P U G L I E S E

E
m 1891, 22 anos após a de- carnado em Turim em 19/10/1909, do delinquente e concebeu sua
sencarnação de Allan Kar- há um século, passaria por fasci- famosa teoria do criminoso nato,
dec, um famoso médico e nante experiência que mudaria também conhecida como teoria
cientista, fundador da Antropolo- radicalmente a sua concepção do lombrosiana, ainda hoje estudada
gia Criminal, nascido na Itália, em homem. O jornal Mundo Espírita, nas faculdades de Direito e de
Verona, no dia 6/11/1835, e desen- de fevereiro de 2009, comenta epi- Medicina, na cadeira de Medicina
sódios, que transcrevemos, da vida Legal. Segundo o célebre pensa-
desse pensador, chamado Cesare dor, o delito é fruto inexorável do
Lombroso, um dos fundadores homem incorrigível, havendo as-
da corrente positivista do Direi- sim um criminoso nato, cuja ori-
to Penal, cujas pesquisas e livros, gem estaria no atavismo, na he-
notadamente sobre Antropolo- rança da idade selvagem, da não-
gia Criminal, tornaram-no co- -evolução de aspectos físicos e psí-
nhecido e respeitado mundial- quicos. Ou seja, certos indivíduos
mente, e para o qual a personali- trazem a predestinação criminosa
dade moral nada mais era que inexoravelmente estampada na
uma secreção do cérebro. E, nes- conformação fisionômica.
sa linha de raciocínio, a morte Mas naquele ano de 1891, ce-
tudo extinguia. dendo às insistências de um ami-
Pesquisando sobre as causas go, o Prof. Ercole Chiaia, Lombro-
primeiras dos atos delituosos, ele so foi assistir a uma experiência
direcionou sua atenção à pessoa com a médium italiana Eusapia
Palladino (1854-1918). Observou
então inúmeros fenômenos de
Cesare Lombroso: médico, efeitos físicos e admitiu a realida-
cientista e fundador da de dessas manifestações.
Antropologia Criminal
Contudo, qual a conclusão do
eminente sábio? Preso às suas

18 192 Reformador • Maio 2010


convicções materialistas, não po- Em 1906, entrevistado, ele decla-
dendo admitir pensamento sem raria na revista Luce e Ombra:
cérebro e nem a sobrevivência do
Espírito após a morte, entendeu Nenhum gigante do pensa-
que os ditos fenômenos eram mento e da força poderia me
causados por funções neurofisio- fazer o que me fez essa pequena
lógicas da também famosa sensi- mulher analfabeta [referindo-
tiva, Eusapia, como igualmente -se a Eusapia]: arrancar minha
concluíram outros sábios, pesqui- mãe do túmulo e devolvê-la aos
sadores do universo dos fenôme- meus braços.4
nos psíquicos.
Posteriormente, em 1902, du- Em 4 de janeiro de 2009, o jornal
rante outra sessão, estando Eusa- Estado de São Paulo publicou lon-
pia retida numa sala, Lombroso go artigo do advogado Miguel Reale
percebeu que das cortinas emer- Júnior, professor da USP, membro
giu um vulto que veio deslizando da Academia Paulista de Letras e ex-
em sua direção. Um arrepio per- -ministro da Justiça, no qual o ilustre
corre-lhe a epiderme. Ele então mestre do Direito comenta esse epi-
reconhece... sua mãe! A mãe apro- sódio na vida de Lombroso, fazen-
Eusapia Palladino
xima-se mais e o abraça carinho- do conexão com os ensinamentos
samente, beijando-lhe a face. Ele a contidos em O Livro dos Espíritos.
abraça também, sente sua carne, Revendo essa fascinante história cação das leis de uma sociedade5 –
sente o seu calor. Embora porta- da vida do famoso pensador italia- é desumana. Essa visão também
dor de deficiência auditiva, ouve no, refleti como seria maravilho- parece estar inserida no famoso
ela dizer-lhe: Cesare, meu filho!1 so se todos os magistrados e ope- pensamento do escritor e jornalis-
Lombroso, a partir daí, leu tudo radores do Direito do Brasil, e do ta, nascido no Maranhão, Hum-
que havia sobre Espiritismo e es- mundo, passassem por semelhan- berto de Campos (1886-1934),
creveu um livro muito sugestivo: te experiência paranormal, mas exarado em uma das suas famosas
Ricerche sui Fenomeni Ipnotici2 e de consequências éticas, quando crônicas, escrita quando encarna-
Spiritici, traduzido no Brasil co- obteriam a comprovação de um do: “a Justiça tem na mão uma es-
mo Hipnotismo e Mediunidade e dos pilares dos fundamentos do Es- pada, quando deveria ter, no lugar
Hipnotismo e Espiritismo.3 piritismo: a Imortalidade da Alma, desta, um coração”.
Nessa obra, ele refuta sua teoria ao lado da Existência de Deus, da Poderíamos deduzir, contudo,
do criminoso nato. Não é o tipo fí- Reencarnação e da Lei de Causa e que a Justiça, através dos diver-
sico que determina o tipo psico- Efeito. sos órgãos judiciários, tem rea-
lógico, é exatamente o contrário. O tema dos nossos comentá- lizado, além da sua função de
rios parece sugerir que a Justiça – controle de constitucionalidade, a
1 no sentido de Poder Judiciário, sua função jurisdicional, ou seja,
Vide jornal Mundo Espírita, de fevereiro
de 2009. um dos três poderes da República a obrigação e a prerrogativa de
2 ou Conjunto dos Profissionais e compor os conflitos de interesse
Edição da Federação Espírita Brasileira,
1999. Tradução de Almerindo Martins de Instituições responsáveis pela apli- em cada caso concreto, através do
Castro.
3 4 5
Edição da LAKE. Livraria Allan Kardec Edi- PIRES, Herculano. Mediunidade. EDICEL, Dicionário da Academia Brasileira de Le-
tora, 1999. Tradução de Carlos Imbassahy. p. 38. tras. 2. ed. 2008.

Maio 2010 • Reformador 193 19


dos chamados anencéfalos; ficação das leis judaicas, a Bíblia
que existe o delinquente in- que Jesus lia e interpretava. O Mes-
corrigível; que alguém de- tre realizava exercícios de herme-
veria ser punido com a pe- nêutica jurídica dos textos sacros
na de morte; que a segre- da Torá, comprometido que esta-
gação nas penitenciárias é va em demonstrar a verdadeira fina-
o único meio de punir o lidade da Lei. Em instrutivo e me-
crime – afastando o cri- morável encontro de Jesus com os
minoso da sociedade. apóstolos, o Mestre enfatiza: “Se a
Estudiosos da vida de vossa justiça não exceder a dos
Jesus consideram que o escribas e fariseus, de modo algum
motivo da sua crucifica- entrareis no Reino dos céus”, con-
ção foi a ocorrência de forme anotou Mateus (5:20) em
um choque entre três seu Evangelho.
Direitos: o Direito Ju- Ao ler os episódios dos exercí-
daico, o Direito Roma- cios de hermenêutica jurídica de
no e o Direito Messiâ- Jesus, lembrei-me do célebre cri-
nico. Ouviste que foi minalista italiano Cesare Bonesa-
dito: “Olho por olho e dente por na, o Marquês de Beccaria (1738-
processo judicial, aplicando sen- dente”. Eu, porém, vos digo “que -1794). Em sua famosa obra Dos
tenças e decisões, consoante a vi- não resistais ao mal; mas se qual- Delitos e das Penas, lida por Dide-
são que tem do homem e do mundo quer te bater na face direita, ofere- rot, Voltaire e outros pensadores,
físico. ce-lhe também a outra” (Mateus, ele declara que “a partir do mo-
Com essa visão do ser huma- 5:38-39). mento em que o juiz é mais seve-
no, qual o perfil do ser que uma Também foi dito: “Amarás o teu ro que a lei, ele é injusto e que se
parcela do judiciário julga e os próximo e aborrecerás o teu ini- a interpretação arbitrária das leis
operadores do Direito defendem migo”. Eu, porém, vos digo: “Amai é um mal, também o é a sua obs-
ou acusam? Um ser sem passado os vossos inimigos, bendizei os curidade, pois precisam ser inter-
antes de nascer; um ser sem futu- que vos maldizem” (Mateus, 5:43- pretadas”.6 A “humanização da Jus-
ro após morrer; um ser resultado -44).“Perdoai não apenas sete vezes, tiça” passaria, portanto, por esse
de uma herança genética, ou ain- mas setenta vezes sete” (Mateus, desafio de realizar a “verdadeira
da consequência de um zigoto de- 18:22). Era esse o Direito Messiâ- hermenêutica jurídica” dos textos
feituoso, recebido como herança nico, praticado por Jesus. atuais praticados, e na forma de
inesperada irreversível; um ser re- Operadores do Direito consi- ação dos operadores do Direito.
sultado ou produto do meio am- deram que o Mestre praticou, em O Livro dos Espíritos, na ques-
biente nefasto em que vive, sem suas pregações, vários exercícios de tão 876, ensina que a verdadeira
possibilidades de educação e de hermenêutica jurídica, que seria justiça [direitos e deveres iguais
sobrevivência. a interpretação da Lei, o sentido e para todos os cidadãos] é aquela
Adotando esse entendimento, o alcance das expressões do Direito. cujas leis humanas são feitas para
judiciário então se sente em con- Várias vezes Ele foi desafiado nes- todos e se identificam com as leis
dição de decidir: se alguém deve se sentido. Os fariseus ofereciam de Deus.
ou não morrer através da eutaná- uma visão distorcida do espírito
sia; se alguém deve ou não nascer, de complacência, presente nas en- 6
BECCARIA, Cesare B. Dos delitos e das
autorizando o aborto, inclusive trelinhas da Torá, que era a Codi- penas. Hemus Editora. p. 16 e 19.

20 194 Reformador • Maio 2010


Esf lorando o Evangelho
Pelo Espírito Emmanuel

Salários
“E contentai-vos com o vosso soldo.”
– JOÃO BATISTA (LUCAS, 3:14.)

A
resposta de João Batista aos soldados, que lhe rogavam esclarecimentos, é
modelo de concisão e bom senso.
Muita gente se perde através de inextricáveis labirintos, em virtude da
compreensão deficiente acerca dos problemas de remuneração na vida comum.
Operários existem que reclamam salários devidos a ministros, sem cogitarem das
graves responsabilidades que, não raro, convertem os administradores do mundo
em vítimas da inquietação e da insônia, quando não seja em mártires de represen-
tações e banquetes.
Há homens cultos que vendem a paz do lar em troca da dilatação de vencimentos.
Inúmeras pessoas seguem, da mocidade à velhice do corpo, ansiosas e descrentes,
enfermas e aflitas, por não se conformarem com os ordenados mensais que as cir-
cunstâncias do caminho humano lhes assinalam, dentro dos Imperscrutáveis
Desígnios.
Não é por demasia de remuneração que a criatura se integrará nos quadros divinos.
Se um homem permanece consciente quanto aos deveres que lhe competem,
quanto mais altamente pago, estará mais intranquilo.
Desde muito, esclarece a filosofia popular que para a grande nau surgirá a gran-
de tormenta. Contentar-se cada servidor com o próprio salário é prova de elevada
compreensão, ante a justiça do Todo-Poderoso.
Antes, pois, de analisar o pagamento da Terra, habitua-te a valorizar as conces-
sões do Céu.

Fonte: XAVIER, Francisco C. Pão nosso. ed. esp. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Cap. 5.

Maio 2010 • Reformador 195 21


Liberdade,
sonho inalcançável?
“Enquanto um se contenta com o seu horizonte limitado, outro, que
apreende alguma coisa de melhor, se esforça por desligar-se dele
e sempre o consegue, se tem firme a vontade.”
(O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XVII, item 4. Ed. FEB.)

“Liberdade – essa palavra / Que o sonho humano alimenta: /


/ Que não há ninguém que explique, / E ninguém que não entenda!”
(Cecília Meireles, em Romanceiro da Inconfidência.)

A. M E R C I S PA DA B O R G E S

L
iberdade apresenta várias ver- mano Lucrécio celebrava a im- Expressar livremente pensamen-
tentes, mas vamos situá-la co- portância da educação na liber- tos e ideias em palavras e atos, doa
mo circunstância ou estado dade das pessoas. [...] só aqueles a quem doer. Dirigir em alta velo-
do homem livre, com a faculdade de que usam a razão para desven- cidade, ouvir música com o som
exercer seus direitos e suas vonta- dar o porquê das coisas podem nas alturas. Que liberdade é essa
des com responsabilidade. de fato ser livres, dizia. [...] nun- que sempre depara com barreiras?
Cantada em prosa e verso, a li- ca se deve aceitar algo só porque E as nossas aspirações a ter o
berdade tem sido tema de filóso- foi dito por uma autoridade [...] carro da moda, a mansão dos so-
fos, artistas, literatos. (Folha de São Paulo, 6/9/09.) nhos, viajar pelo mundo, o empre-
Marcelo Gleiser, em comentário go ideal e bem remunerado...
sobre a frase “Ser livre é poder es- Não são poucos os filósofos que Mas, que liberdade é essa que
colher ao que se prender”, afirma: escreveram sobre o tema. Todavia, é trava os passos, amordaça e limita
notório que sem instrução dificil- direitos?
[...] essa frase pressupõe a liber- mente o indivíduo alcança a sua li- Não há liberdade se existem leis
dade de escolha. Isso nem sempre berdade, seja ela social, econômica, que monitoram as nossas ativida-
é verdade. Para ser livre é preci- etc. Geralmente, quando clamamos des e ações. Além disso, existe um
so ter livre acesso à informação. por liberdade estamos pensando no dispositivo físico e mental que sem-
Só assim teremos o privilégio direito de ir e vir, de agir de acor- pre interfere quando exageramos
de podermos escolher ao que do com a própria vontade. Assim na bebida, na comida, no trabalho...
vamos nos prender. Daí o papel realizar todos os nossos sonhos e Sempre que ultrapassamos os li-
fundamental da educação [...] desejos. Fazer o que bem enten- mites do bom senso e do equilí-
em torno de 50 a.C., o poeta ro- der sem dar satisfações a ninguém. brio, vem a sanção. Como precisar

22 196 Reformador • Maio 2010


esses limites? Onde começam? On- suave e amorosa: “Não façais aos Artigo I – Todas as pessoas nas-
de terminam? outros, o que não desejaríeis que cem livres e iguais em dignidade
Diante de tantas dúvidas, de inu- vos fosse feito!” (Lucas, 6:31.) e direitos. São dotadas de razão e
meráveis empecilhos, de um ema- A Declaração Universal dos consciência e devem agir em rela-
ranhado de regras e monitoramen- Direitos Humanos [1948] estabe- ção umas às outras com espírito
tos, é oportuno perguntar: Onde lece que o reconhecimento da dig- de fraternidade.
está a nossa liberdade? Que liberda- nidade inerente a todos os mem- Artigo II – Toda pessoa tem
de é essa que procuramos? Como bros da família humana e de seus capacidade para gozar os direitos
exercê-la se, vislumbrada, é imedia- direitos iguais e inalienáveis é o e as liberdades estabelecidos nes-
tamente reprimida? Estaria dentro fundamento da liberdade, da jus- ta Declaração, sem distinção de
de nós, ou fora? Seria ela individual tiça e da paz no mundo... qualquer espécie, seja de raça, cor,
ou coletiva? Seria favorável ou des- sexo, língua, religião, opinião po-
favorável ao ser como indivíduo? Eis alguns artigos: lítica ou de outra natureza, ori-
Partindo do princípio de que os gem nacional ou social, riqueza,
seres vivem em agrupamentos, por- nascimento, ou qualquer outra
tanto, em sociedade, a liberdade de- condição.
veria favorecer a quantos?
Em resumo, a partir do instante
em que favoreça uns em detrimen-
to de outros surge uma sombra
perturbadora: o privilégio. Esse é
o ponto crucial do relacionamen-
to humano. Onde o privilégio pre-
domina, explodem as desigualdades
sociais. Onde há desigualdade social,
a liberdade não entra. Assim, privi-
légio e liberdade não se entrosam.
A liberdade impera altiva e se-
rena de forma individual ou cole-
tiva, onde imperam o amor, o sa-
ber, a justiça.
O Espírito Lázaro afirma:

O dever principia, para cada um de


vós, exatamente no ponto em que
ameaçais a felicidade ou a tran-
quilidade do vosso próximo; acaba
no limite que não desejais ninguém
transponha com relação a vós. (O
Evangelho segundo o Espiritismo,
cap. XVII, item 7, Ed. FEB.)

Mas, antes disso, muito antes,


Jesus já delimitara de forma mais

Maio 2010 • Reformador 197 23


Artigo III – Toda pessoa tem
direito à vida, à liberdade e à se-
gurança pessoal.
Artigo IV – Ninguém será
mantido em escravidão ou servi-
dão, a escravidão e o tráfico de es-
cravos serão proibidos em todas
as suas formas.
Artigo XVIII – Toda pessoa
tem direito à liberdade de pensa-
mento, consciência e religião [...]

Em nome da liberdade, nações


e indivíduos desrespeitam os di-
reitos humanos e a mulher é sem-
pre a mais prejudicada, por ser fi-
sicamente mais frágil.
Desde que o homem conquis-
tou o estado da razão, compreen-
deu a importância, o valor da liber-
dade e então passou a lutar por ela,
porém, em detrimento da liberda-
de alheia. O esforço em garantir e
preservar a própria liberdade tor-
nou o homem belicoso e guerreiro.
Na Antiguidade, povos inteiros
se tornavam escravos, verdadeiros
troféus de guerra. Resultado do
triunfo sobre o inimigo. Pedro, o Eremita, desencadeando as Cruzadas
Por amor a Jesus, Pedro, o Ere-
mita, com a justificativa de liber- Cantada em prosa e em verso por recordar o centenário da assinatu-
tar o “túmulo vazio do Mestre”, de- todos os povos, em todos os tempos, ra da Declaração de Independência
sencadeia as Cruzadas, numa série a liberdade é aspiração legítima, dos Estados Unidos da América.
infindável de guerras, que envol- sendo, no entanto, mal interpretada. O Brasil também possui um sím-
vem várias nações no comprome- Ninguém mais que o povo he- bolo semelhante. Em Maceió, Ala-
timento com as leis divinas. breu soube valorizar a sua liber- goas, uma outra estátua expressa a
Foi igualmente em nome da li- dade após o esforço empreendido importância da liberdade.
berdade, igualdade e fraternidade por Moisés para retirá-lo da es- O sonho de liberdade é um sen-
que a França se envolveu na terrí- cravidão no Egito. timento inato no ser humano.
vel revolução do século XVIII. Várias nações possuem símbo- Tanto a submissão quanto o do-
Ainda hoje o panorama do Pla- los que representam a liberdade. A mínio impedem a evolução do
neta continua o mesmo. Em no- mais conhecida é a Estátua da Li- ser. Somente a consciência liberta
me da liberdade física o homem berdade, erguida no porto, na ci- promove o progresso. Para isso, é
se escraviza moralmente. dade de Nova York. Ali está para preciso solidificar a liberdade de

24 198 Reformador • Maio 2010


consciência, única capaz de der- “A consciência é um pensamen- de perseguir a liberdade sem, toda-
rubar as muralhas que limitam o to íntimo, que pertence ao ho- via, saber usá-la com responsabi-
Espírito. O estudo do Evangelho e mem, como todos os outros lidade. Impedido de expressar a sua
da Doutrina dos Espíritos pode li- pensamentos.” liberdade de forma ampla e pru-
bertar a alma da opressão. dente, estará constantemente ultra-
Por mais conhecido ou impor- Tem o homem o livre-arbítrio de passando os limites do bom senso
tante que seja, nenhum símbolo seus atos? e do equilíbrio, agravando o seu es-
supera a liberdade proposta por “Pois que tem a liberdade de pensar, tágio na Terra. Da mesma forma
Jesus. “Amar a Deus acima de to- tem igualmente a de obrar. Sem que não se permite à criança o po-
das as coisas e ao próximo como a o livre-arbítrio,o homem seria má- der de decisão conferido aos adul-
si mesmo”. (O Evangelho segundo quina.” (Op. cit., q. 835 e 843.) tos, o Pai não concede às suas cria-
o Espiritismo, cap. I, item 3.) Essa turas a liberdade que não têm con-
é a maior proposta de libertação O Espírito Emmanuel esclarece: dições de desfrutar. É preciso ama-
rediviva no Espiritismo. durecer e demonstrar capacidade,
Kardec perguntou aos Espíritos: – Determinismo e livre-arbítrio respeito aos direitos e deveres de
coexistem na vida, entrosando- seus semelhantes, às leis divinas, e
Haverá no mundo posições em -se na estrada dos destinos, para a senso de justiça em sua amplitu-
que o homem possa jactar-se de elevação e redenção dos homens. de. Antes disso, viverá em liberdade
gozar de absoluta liberdade? O primeiro é absoluto nas mais condicional nesta Terra de provas
“Não, porque todos precisais uns baixas camadas evolutivas e o e expiações que para muitos nada
dos outros, assim os pequenos segundo amplia-se com os valo- mais é que verdadeira prisão. Por-
como os grandes.” res da educação e da experiên- tanto, liberdade condicional.
cia. Acresce observar que sobre A liberdade não se expressa abso-
Em que condições poderia o ho- ambos pairam as determinações luta no corpo perecível, mas se ma-
mem gozar de absoluta liberdade? divinas, baseadas na lei do amor, nifesta crescente para o Espírito à
“Nas do eremita no deserto. Des- sagrada e única, da qual a profe- medida que este se integre à vontade
de que juntos estejam dois homens, cia foi sempre o mais eloquente do Pai através das duas vertentes
há entre eles direitos recíprocos que testemunho. educacionais: intelectual e moral.
lhes cumpre respeitar; não mais, [...] Jesus deixou o roteiro de liber-
portanto, qualquer deles goza de Estabelecida a verdade de que o dade moral através de suas lições.
liberdade absoluta.” (O Livro dos homem é livre na pauta de sua Escarnecido e humilhado, perma-
Espíritos, q. 825-826. Ed. FEB.) educação e de seus méritos, na neceu soberano ante Pilatos. Nin-
lei das provas, cumpre-nos reco- guém demonstrou maior senso de
Enquanto a Humanidade se di- nhecer que o próprio homem, à liberdade do que Ele, quando, no
gladia em busca de uma liberda- medida que se torna responsável, alto da cruz, dirige ao Pai o pedido
de transitória e efêmera, perde a organiza o determinismo de sua de perdão a seus algozes. Após a
oportunidade de viver a liberda- existência, agravando-o ou ame- crucificação, ressurgiu entre seus
de de consciência, expressa nas nizando-lhe os rigores, até po- discípulos no maior exemplo de
lições do Mestre. der elevar-se definitivamente aos liberdade e responsabilidade. O seu
Eis o que afirma a Doutrina planos superiores do Universo. Evangelho atravessou os séculos e
Espírita: (O Consolador, q. 132. Ed. FEB.) permanece como o maior símbo-
lo de humanidade e liberdade que
Será a liberdade de consciência Enquanto o homem permanecer o homem pode almejar: a liberda-
uma consequência da de pensar? na ignorância conservará a teimosia de de consciência.

Maio 2010 • Reformador 199 25


Em dia com o Espiritismo

O Plano Físico M A RTA A N T U N E S M O U R A

O
plano físico é o local onde aquisição e fixação dos dons de ticas (crosta oceânica) compostas
transcorre a existência que necessita para respirar em por minerais ricos em silício e
carnal, idealizado pela Es- mais altos climas.1 magnésio, denominada de Sima.2
piritualidade superior para se pôr
em prática o planejamento reen- O plano físico é objeto de estu- • Atmosfera: camada gasosa que en-
carnatório. Ensina Emmanuel que do da Geociência que investiga, em volve a Terra, de aproximadamen-
nesse “[...] templo miraculoso da conjunto com a Biologia, Física, te 800 quilômetros de extensão,
carne, em que as células são tijo- Química, Matemática, Antropolo- contados na vertical, a partir da
los vivos na construção da forma, gia, Palenteologia, entre outras ciên- crosta. É constituída de gases,
nossa alma permanece proviso- cias, a Natureza e a Vida planetárias. principalmente nitrogênio e oxi-
riamente encerrada, em temporá- É consenso científico que a Terra gênio, mas há outros de menor
rio olvido, mas não absoluto, por- está dividida em quatro ambientes proporção. Aí se encontram tam-
que [...] transporta consigo mais ou geosferas, decorrentes da for- bém o vapor de água, necessário à
vasto patrimônio de experiência ma do Planeta (uma esfera achata- vida, e o dióxido de enxofre, ele-
[...]”.1 Esclarece ainda que da nos polos), assim especificados: mento altamente poluente da at-
mosfera, pois afeta diretamente a
dentro da grade dos sentidos fisio- • Litosfera ou Crosta Terrestre: é a vida humana, animal e vegetal. O
lógicos, porém, o espírito recebe camada sólida mais externa da seu mais nocivo efeito é conhecido
gloriosas oportunidades de traba- Terra, formada por rochas e mi- como “chuva ácida” (precipitação
lho no labor de autossuperação. nerais que abrangem a chamada de ácidos fortes na atmosfera).
Sob as constrições naturais do crosta continental e a oceânica.
plano físico, é obrigado a lapidar- • Hidrosfera: é o ambiente hídrico
-se por dentro, a consolidar qua- Composta pelas rochas ígneas, do Planeta, formado pelas águas
lidades que o santificam e, sobre- sedimentares e metamórficas, a glaciais, dos oceanos e mares; dos
tudo, a estender-se e a dilatar-se litosfera cobre toda a superfície rios, fontes, lagos e águas subter-
em influência, pavimentando o da Terra. [...] Nas regiões conti- râneas. Os reservatórios marinhos
caminho da própria elevação. nentais é constituída principal- e salobros correspondem a 97,4%
mente por rochas graníticas, ri- dos recursos hídricos do Plane-
É região em que o Espírito cas em alumínio e silício (a cros- ta. Apenas 2,6% são mananciais
ta continental), também denomi- de água doce, fato que demons-
[...] encontra multiplicados nada de Sial. Já nas áreas oceâni- tra a importância da água salga-
meios de exercício e luta para a cas predominam as rochas basál- da para a vida planetária.

26 200 R e f o r m a d o r • M a i o 2 0 1 0
• Biosfera: comumente denomina- bloco continental, espécie de “su- e estavam afastando a América
da “esfera da vida”, é um ambien- percontinente” ou Pangeia, nome da Europa. Isso levou ao concei-
te misto, composto de porções de que lhe foi dado pelo famoso me- to tectônico de placas, que ex-
terra, mar e águas continentais, teorologista alemão Alfred Lothar plica características da superfí-
habitado pelos seres vivos. Esta é Wegener (1880-1930). Para Wege- cie da Terra por meio de eventos
a razão de a biosfera ser conside- ner, esse continente “[...] teria se nas bordas de gigantescas pla-
rada a esfera de todos os ecossis- dividido há cerca de 200 milhões cas que flutuam sobre o interior
temas da Terra. Por definição, ecos- de anos”.3 A sua teoria, ainda que derretido do nosso Planeta. Evi-
sistema (do grego oikos = casa e brilhante, foi palco de muitas con- dências obtidas por satélites de-
systema = sistema: sistema onde trovérsias, pois não se aceitava a monstraram que os continentes
se vive) designa o conjunto for- possibilidade de os continentes se se movem até 15 cm por ano –
mado por todas as comunidades deslocarem. Somente a partir de fornecendo a prova definitiva que
que vivem e interagem em deter- 1950, as conclusões do estudioso Wegener sempre procurou.3
minada região e pelos fatores alemão foram aceitas, trinta anos
abióticos que atuam sobre essas depois de sua morte, fundamen- De acordo com [as melhores]
comunidades. É, pois, o espaço tando-se nas provas fornecidas estimativas, o surgimento da at-
onde predomina intensa ativida- por estudos em águas profundas.4 mosfera ocorreu há aproximada-
de vital: microbiana, vegetal, ani- As análises desenvolvidas pelo mente 4 bilhões de anos. Sua for-
mal e humana. O homem se en- cientista britânico Robert Hogg mação aconteceu quando o pla-
contra totalmente integrado à Matthew (1906-1975)3 demonstra- neta Terra, após ter sofrido um
biosfera há milhares de anos, de ram que para respaldar a ideia de enorme aquecimento, começou
forma que não é possível imagi- movimentação dos continentes, a esfriar, então do seu interior foi
nar a sua sobrevivência fora des- foram realizadas pesquisas que sendo expelido, dentre outros,
se ambiente. vapor de água, e uma considerá-
[...] incluíam estudos geológicos vel quantidade de gases. Os mes-
Com base nas provas fósseis e da cordilheira Mesoatlântica, mos se dirigiram em direção ao
geológicas, os modernos estudos bem como das profundezas do espaço sideral, porém uma par-
científicos concluem que no pas- Oceano Atlântico, que sugeriam te se fixou ao redor do planeta,
sado remoto a litosfera planetária que novas rochas estavam emer- evento proporcionado pela força
estava organizada em um único gindo das profundezas da Terra gravitacional.4 (Grifo nosso.)

Maio 2010 • Reformador 201 27


Com a formação do Planeta, Comboio imenso, a deslocar-se so- propriedade, tomando-o por nos-
supostamente ocorrida há 4,5 bi- bre si mesmo e girando em torno sa escola multimilenária.5
lhões de anos, acredita-se que as do Sol, podemos comparar as clas-
primeiras manifestações da vida te- ses sociais que o habitam a gran- Referências:
1
nham surgido um bilhão de anos des vagões de categorias diversas. XAVIER, Francisco C. Roteiro. Pelo Espíri-
depois e, por esse fato, a biosfera [...] to Emmanuel. 13. ed. Rio de Janeiro: FEB,
alterou gradativa e significativa- Temos aí o símbolo das reen- 2008. Cap. 2, p. 16-17.
2
mente a atmosfera terráquea, pela carnações. Disponivel em: <http://pt.wikipedia.org/
proliferação de micro-organismos De corpo em corpo, como quem wiki/Litosfera>.
3
aeróbios (oxigênio dependentes) se utiliza de variadas vestiduras, MATTEWS, Robert. 25 grandes ideias:
e pela formação da camada de peregrina o Espírito de existência como a ciência está transformando o
ozônio (capa de gás que envolve a em existência, buscando aquisi- mundo. Trad. José Gradel. Rio de Janeiro:
Terra e a protege de várias radia- ções novas para o tesouro de Zahar, 2008. Cap. 11, p. 103.
4
ções). Na verdade, a atmosfera ter- amor e sabedoria que lhe cons- Disponivel em: <http://www.brasilescol a
restre jamais foi estável, mas sujei- tituirá divina garantia no cam- .com/geografia/aorigem-atmosfera.htm>.
5
ta a modificações consequentes das po da eternidade. XAVIER, Francisco C. Roteiro. Pelo Espíri-
ocorrências usuais da Natureza e Podemos, ainda, filosoficamen- to Emmanuel. 13. ed. Rio de Janeiro: FEB,
por efeito das ações humanas (be- te, classificar o planeta, com mais 2008. Cap. 8, p. 39-40.
néficas ou nocivas). Importa con-
siderar, porém, que o momento
atual é especialmente grave, pois a
Natureza se revela absurdamente Retorno à Pátria Espiritual
agredida pelo homem, cujas con-

Geraldo Guimarães
sequências refletem a tendência
de séria ameaça à sobrevivência
das espécies.
A orientação espírita nos faz Registramos a desencarnação, em Araçatuba (SP), no movi-
ver, contudo, que o plano físico aos 74 anos, de Geraldo Guima- mento de mocidades, e presidiu a
da Terra é mais do que uma rães, ocorrida em 11 de janeiro União Municipal Espírita; casou-
admirável estrutura geológica. É, passado, no Rio de Janeiro (RJ). -se, naquela cidade, com a jovem
sobretudo, espaço de aprimora- Conceituado orador espírita, Ana Jaicy, também sua compa-
mento espiritual, viabilizado pe- participou ativamente de even- nheira na tribuna espírita. Resi-
las reencarnações sucessivas. Por- tos doutrinários em todas as re- dia, atualmente, no Rio de Ja-
tanto, revela-se como necessidade giões do Brasil e no Exterior. Na- neiro, onde fundou, com a es-
premente o aprendizado de sa- tural de Aracaju (SE), mudou-se, posa, o Grupo Espírita Caminho
bermos preservar a moradia que ainda jovem, para Salvador (BA), da Esperança, e era um dos coor-
nos foi cedida por Deus. A Terra, onde conviveu com Divaldo Pe- denadores do programa de tele-
no dizer dos Espíritos esclareci- reira Franco e, por seu intermé- visão Despertar de um Mundo Me-
dos, é, pois, dio, conheceu o Espiritismo, lhor, que tem patrocínio do Lar
tornando-se seu adepto; colabo- Fabiano de Cristo e da CAPEMI.
um magneto enorme, gigantes- rou com Divaldo e Nilson de Ao seareiro que retorna à Pá-
co aparelho cósmico em que fa- Souza Pereira, nas suas ativida- tria Espiritual, rogamos as bên-
zemos, a pleno céu, nossa via- des de assistência social. Atuou, çãos de Jesus.
gem evolutiva.

28 202 R e f o r m a d o r • M a i o 2 0 1 0
A consciência faz
de nós covardes?
“Thus conscience does make cowards of us all.”
– Shakespeare (em Hamlet)

D E L AU R O DE O. B AU M G R AT Z

O
utrora, indagamos, nas na a todos covardes, motto deste que não fora ofendido por uma
páginas desta revista, se se artigo. (O termo “consciência”, aqui cobra como se espalhara pelo
poderia considerar Wil- não em sua acepção moral, mas reino, mas by a brother’s hand/Of
liam Shakespeare (1564-1616) intelectiva: “saber”, “tomar conhe- life, of crown, of queen, at once
precursor do Espiritismo, e ana- cimento de”, “estar a par”, “inter- dispatch’d;/pela mão de um irmão
lisamos um de seus conceitos.1 nalizar informações”.)
Agora, gostaríamos de contradi-

tar, em termos, uma das afirma-
tivas do Bardo de Stratford-on- Anteriormente, na cena
-Avon, in A tragédia de Hamlet, V do Ato I, um “espectro”,
Príncipe da Dinamarca... com toda a aparên-
cia do finado rei,

surgira entre as
Ouçamos a peça, no palco da ameias do castelo
imaginação. Hamlet, na cena I de Elsinore e dis-
do Ato III, formula suas angus- sera a Hamlet: I
tiosas reflexões metafísicas, no mo- am thy father’s
nólogo imortal To be or not to spirit/Sou o espí-
be/Ser ou não ser, que desaguam rito de teu pai. In-
na polêmica assertiva: Thus cons- formara-o, então, de
cience does make cowards of us
all./Assim, a consciência nos tor-
Retrato de William
Shakespeare por
1 Max Bihn
BAUMGRATZ, Delauro de O. Shakes-
peare, precursor da Doutrina Espírita?. In:
Reformador, ano 109, n. 1.951, p. 20(304)-
-23(307), out. 1991.

Maio 2010 • Reformador 203 29


/privado de um só golpe da vida, tática de despiste, e toma reso- thousand natural shocks/That
da coroa e da rainha – esta, des- luções temporárias, ambíguas, flesh is heir to,/os mil embates
posada pelo fratricida, logo após espalhando involuntariamente a naturais/inerentes à carne; When
o ato criminoso, em busca de le- tragédia na corte, sem dar mor- he himself might his quietus ma-
gitimidade para outro delito, o te ao tio! ke/With a bare bodkin?/Quando
da usurpação do trono. The ser- 
ele próprio poderia buscar a
pent that did sting thy father’s li- paz/Na ponta de um punhal?.
fe/Now wears his crown/A víbora Sufocando-se, náufrago da Vale dizer: se o perecimento do
que picou a vida de teu pai/Agora dúvida, o protagonista recolhe- corpo físico implicasse aniqui-
ostenta sua coroa. E lhe pede: If -se e medita. O já mencionado lamento total não haveria por-
thou didst ever thy father love/Re- solilóquio “Ser ou não ser” – que sofrer; poder-se-ia dar um
venge this foul and most unnatu- exíguos 33 versos que valem ponto final à existência corpó-
ral murder/Se jamais amaste teu por um tratado de filosofia –, rea sem qualquer consequência
pai/Vinga este hediondo e desnatu- resume suas mais lacerantes ulterior. Como esta convicção é
rado assassinato. indagações. inalcançável, a dúvida é a gera-
Sente-se canhestro viajor tran- triz da “covardia”, como ele dirá

sitando no corrompido plano a seguir.
Elaborando em torno dessa terreno, hostil à nobreza de sua 
comunicação do Espírito mate- alma. Sua cogitação tangencia mo-
rializado, desenhemos esse qua- mentaneamente o suicídio, co- Em exame também tangen-
dro: um jovem príncipe, filho de mo suposta libertação. Descarta cial do tema do suicídio – este
pais afetuosos, um ser ameno e a ideia, todavia. Por quê? Aí a não é o objetivo principal des-
de nobres sentimentos, já tendo fonte de seu agon, do conflito te artigo –, observamos que o
a eleita de seu coração – a “fair metafísico: sua clara noção da príncipe não manifesta “temor
Ophelia”/“a bela Ofélia” – aguar- imortalidade da alma o induz a a Deus”, nem que a vida na
da um futuro de coroa e bodas, pensar que talvez seja melhor carne seja dádiva de uma divin-
em sonhos de felicidade. Subita- para o habitante da Terra sofrer dade, portanto, “bem inaliená-
mente, uma revelação o confron- as vicissitudes desta vida (a sea vel”, posição comum a várias re-
ta com cruel realidade: o esposo of troubles/um mar de aborreci- ligiões. Sequer fala na crença
fiel e pai amoroso, o grande rei, mentos; the opressor’s wrong/a em um deus. Seu receio las-
fora vítima do pérfido e ambi- afronta do opressor; the law’s de- treia-se exclusivamente na vida
cioso irmão, que lhe instilara ve- lay/a lentidão da justiça; the in- após a morte física. Ele tem cer-
neno no ouvido, durante sua cos- solence of office/a arrogância do teza dela, mas não a vislumbra.
tumeira sesta no jardim. poder etc.). Esquivar-se-ia, desta Nesse domínio, a propósito, o
A chocante mensagem provo- forma, ao pavor de ignorados Espiritismo apresenta tese cris-
ca a eclosão de um tumulto in- acontecimentos após a morte, por- talina: o suicídio é, sim, contrá-
terior – é-lhe difícil assimilar ta para The indiscover’d coun- rio à lei divina. A literatura dou-
esse brutal enredo e cumprir a try/from whose bourn/No tra- trinária é rica no assunto e in-
vontade do pai, pois, se por um veller returns/o mundo desconhe- forma quais as consequências
lado, o venera e quer atender- cido/de cujas fronteiras/nenhum do tresloucado gesto, em obe-
-lhe o pedido, por outro, está viajante volta. E esta torturante diência à lei universal de ação e
despreparado emocionalmente incerteza puzzles the will/con- reação – expiações dolorosas,
para perpetrar o crime de vin- funde a vontade. Não fora este pelo mecanismo da reencarna-
gança. Finge-se de louco, como temor, quem suportaria the ção ou não.

30 204 R e f o r m a d o r • M a i o 2 0 1 0
Gravura de uma cena da tragédia de William Shakespeare, Hamlet

guidores, pois a Revelação Nova cro”, 2 como elucida o irmão



abre as cortinas do mistério e ilu- Emmanuel, em página inspira-
Encontramo-nos agora diante mina o cenário. Sua contribuição da na questão 838 de O Livro
do ponto focal do presente estu- – científica e filosófica, com resso- dos Espíritos, em que destaca
do: Thus conscience does make co- nâncias morais, daí religiosas –, seus aspectos principais, entre
wards of us all/Assim, a consciên- ao saber humano, confirma a imor- estes o de orientar “na solução
cia nos torna a todos covardes. De- talidade da alma, a evolução aní- dos problemas do destino e da
finamos a “consciência” a que ele mica, através das vidas sucessivas, dor”. “Doutrina Espírita”2 é exa-
se remete: a de algo haver “do ou- a pluralidade dos mundos habi- tamente o título da comunica-
tro lado”, mas sem uma antevisão tados e resolve as questões agô- ção; após lembrar sua função
desse “algo”, talvez composto de nicas do destino e da dor. Reco- esclarecedora e consoladora,
males muito mais dolorosos do nhece existir, além da esfera física, deixa essa bela exortação a seus
que os já conhecidos, força a ter- o mundo espiritual, de cujas fron- seguidores:
rena gente a preferir seu penar teiras os viajantes voltam, sim, e até
atual. Enfatizemos o registro: ele se comunicam – como Hamlet Dignifica, assim, a Doutrina
não demonstra preocupações mo- pai, materializando-se em toda sua que te consola e liberta, vigian-
rais ou teológicas; sua análise é majestade e dialogando com o fi- do-lhe a pureza e a simplici-
tão somente “racional” – aceita lho homônimo. dade [...]
a hipótese de uma vida em outro A “consciência” – decorrente “Espírita” deve ser o teu caráter
plano; não sabe, todavia, em que do conhecimento dos princípios [...]
consiste, como é a mesma. espíritas –, por conseguinte, muito “Espírita” deve ser a tua condu-
ao contrário de celeiro de covar- ta [...]

des, é o vetor que norteia o co- “Espírita” deve ser o teu nome,
Assim pensa o vivente no Orbe? rajoso viandante do Universo, ainda mesmo respires em afliti-
Tem-se de conceder pela afirma- encarnado ou não. vos combates contigo mesmo.
tiva – para os que não aceitam a A Doutrina codificada por
Doutrina dos Espíritos. Allan Kardec oferece esta visão, 2
XAVIER, Francisco C. Religião dos espíri-
Entretanto, responde-se nega- “suscetível de descerrar a conti- tos. Pelo Espírito Emmanuel. 21. ed. Rio
tivamente, em relação a seus se- nuidade da vida além do sepul- de Janeiro: FEB, 2008. p. 309-313.

Maio 2010 • Reformador 205 31


Reforma íntima:
quem precisa?
Semper ascendens: 1 “De muito longe venho, em surtos milenários; vivi na luz dos
sóis, vaguei por mil esferas e, preso ao turbilhão dos motos planetários, fui lodo
e fui cristal, no alvor de priscas eras. Mil formas animei, nos reinos multifários:
fui planta no verdor de frescas primaveras e, após desenvolver impulsos
embrionários, galguei novos degraus: fui fera dentre as feras. Depois que em
mim brilhou o facho da razão, fui o íncola feroz das tribos primitivas e como
tal vivi, por vidas sucessivas. E sempre na espiral da eterna evolução, um dia
alcançarei, em planos bem diversos, a glória de ser luz, na Luz dos universos”. 2

I VO N E M O L I N A R O G H I G G I N O

E
spíritos que somos, fomos to- bolas, Ele nos exemplificou quais ma, único meio de alcançarmos
dos criados “simples e igno- atitudes devemos ou não tomar. nossas metas de júbilo e pureza.
rantes, isto é, sem saber”,3 de- E, como roteiro seguro, receita para Aliás, Jesus já nos animava a en-
vendo, através das múltiplas chan- essa escalada luminosa rumo ao cetar essa reconstrução interior, ao
ces encarnatórias, conhecer a ver- progresso, legou-nos as Bem-aven- afirmar: “Vós sois a luz do mun-
dade e palmilhar a estrada da evo- turanças, verdadeiro “coração” do do.5 Vós sois o sal da terra”.6
lução rumo à perfeição, o que nos Sermão da Montanha: aí, nessas E nós, como estamos?
proporcionará “a pura e eterna fe- pérolas inigualáveis de sabedoria Apesar de todas essas informa-
licidade”,4 que é nossa destinação. e doçura, encontramos, em mara- ções, de todos esses avisos, muitos
Jesus, há mais de dois mil anos, vilhosa simplicidade, os recursos de nós ainda estamos claudicantes
ensinou-nos o Mandamento do íntimos que devemos desenvolver nesse mister, às vezes até caminhan-
Amor, base indispensável para qual- em nós a fim de capacitar-nos pa- do invigilantes, descuidados, esque-
quer melhoria individual e coletiva. ra pensar, sentir e agir no bem. cendo que, embora o progresso seja
A seguir, com as importantes pará- Mais tarde, em pleno século XIX, uma lei divina, nós somos seres inte-
a Doutrina Espírita veio, com a per- ligentes: “o princípio inteligente do
1 missão de Deus e sob a orientação Universo”,7capazes de alcançar pata-
Latim: “Sempre ascendendo”.
2
do Cristo, recordar-nos seus ensi- mares evolutivos superiores, mais ou
ROMANELLI, Rubens C. Primado do es- nos, enfatizando a necessidade de
pírito, 3. ed. Belo Horizonte: Ed. Síntesi,
1965. Tópico III – Temas Filosóficos: Evo- que os sigamos para sermos real- 5
MATEUS, 5:14. Bíblia sagrada (CD-
lução, p. 55. mente felizes, o que é o anseio de -ROM). Rio de Janeiro: Ed. Vozes, 1996.
3
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. toda a Humanidade. 6
MATEUS, 5:13. Idem.
Trad. Guillon Ribeiro. 91. ed. 1. reimp. Rio Assim, com esclarecimentos de- 7
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.
de Janeiro: FEB, 2008. Q. 115. talhados, é-nos sinalizada, como Trad. Guillon Ribeiro. 91. ed. 1. reimp.
4
Idem, ibidem. imprescindível, a nossa reforma ínti- Rio de Janeiro: FEB, 2008. Q. 23.

32 206 R e f o r m a d o r • M a i o 2 0 1 0
menos rapidamente, conforme o uso sistem em querer ocultar a luz da os adornos enganosos do Homem
que façamos de nosso livre-arbítrio. verdade que irá nos libertar. Velho, que nos cerceiam a evolu-
Por que é tão difícil praticarmos Um bom amigo nosso (Milton ção, e dediquemo-nos a esculpir
com autenticidade a Lei de Amor? Menezes), em suas explanações em em nós mesmos o Homem Novo,
Para algumas pessoas, a palavra tarefas espíritas, costuma alertar a tornado-nos Cidadãos do Universo,
“amor” encerra tanta grandeza, seus ouvintes de que, se não nos dignos filhos amados de nosso Pai.
tanta sensação de incomensurável, achamos aptos ainda a cultivar o Não tenhamos dúvida de que,
que não raro se sentem “esmaga- amor incondicional, devemos dedi- então, estaremos transformando a
das” e incompetentes ante esse pe- car-nos corajosa e persistentemen- Terra realmente num mundo azul,
so, praticamente desistindo dessa te a semear e cultivar os “filhotes do belo e evangelizado.
inadiável empreitada. amor” (respeito, paciência, tolerân- Recordemos as palavras judi-
Todos nós precisamos entender cia, humildade, simplicidade etc.). ciosas do Dalai Lama:
que “reformar” significa “novamen- Desse modo, embora enfrentando
te dar forma a alguma coisa”, “mo- numerosas dificuldades individuais, Se você quer transformar o mun-
dificá-la para melhor”, e, porque iremos paulatinamente eliminando do, experimente primeiro pro-
não, “retocá-la”, “embelezá-la”... É erros e edificando virtudes, as quais mover o seu aperfeiçoamento
higienizarmos nosso interior, sa- nos levarão ao Amor Incondicional, pessoal e realizar inovações no
nando-o de miasmas pestilenciais, semelhante ao de Jesus. seu próprio interior. [...]8
eliminando sombras persistentes, Por conseguinte, ouçamos a voz
as quais, desavisadamente, permiti- de Jesus em nós, e, com perseve- 8
Disponível em: <www.pensador.info/
mos que nos invadissem, e que in- rança, anulemos conscientemente autor/Dalai_Lama/>.

Maio 2010 • Reformador 207 33


A FEB e o Esperanto

Cruz e Souza –
copiosa produção em
e sobre o Esperanto
A F F O N S O S OA R E S

P
elo menos cinco poetas brasileiros dedica- Abel Gomes, que era tio do grande pioneiro
ram, no além-túmulo, a sensibilidade do esperantista Ismael Gomes Braga (1891-1969),
seu estro à genial criação de Lázaro Luís também compôs, ainda encarnado, versos em
Zamenhof: Abel Gomes (1877-1934), Amaral Or- que exaltou as excelências da Língua Internacio-
nellas (1885-1923), Castro Alves (1847-1871), Cruz nal Neutra e seus ideais de fraternidade entre os
e Souza (1861-1898) e Emílio de Menezes (1866- povos.
-1918). Vamos aqui, porém, destacar o grande vate ca-
tarinense João da Cruz e Souza, que é o autor da
mais copiosa produção mediúnica em torno do
idioma, a qual, traduzida em números, nos apre-
senta, em português, três peças através do Chico
Xavier e, originalmente em esperanto, 12 poemas
por meio do médium Francisco Valdomiro Lo-
renz e 26 por intermédio de Luís da Costa Porto
Carreiro Neto. Esses originais em esperanto estão
enfeixados nas obras Vo/oj de Poetoj el la Spirita
Mondo (Vozes de Poetas do Mundo Espiritual), pelo
médium F. V. Lorenz, e Mediuma Poemaro (Coletâ-
nea de Poesias Mediúnicas), pelo médium P. Carrei-
ro Neto, ambas de edição da Federação Espírita
Brasileira (FEB).
Convém ressalvar, todavia, que três peças cons-
tantes do citado Vo/oj não são propriamente ori-
ginais em esperanto, pois se trata de versões, feitas
pelo Espírito Cruz e Souza, de sonetos por ele an-
teriormente ditados ao Chico Xavier, que figuram

Cruz e Souza, autor da mais copiosa produção mediúnica


em torno do Esperanto

34 208 R e f o r m a d o r • M a i o 2 0 1 0
Vamos finalizar nosso
texto, transcrevendo o belo
soneto:

ESPERANTO

Mensageiro Divino da
[Verdade,
O Esperanto abre as portas
[do futuro,
Apagando o passado horrendo
[e obscuro
Da treva e dissensões da
[Humanidade.

É a linguagem do bem que ama


[e persuade
– Vasto porto de paz, calmo e seguro,
Onde se acolhe a nau sem palinuro
Do velho sonho da Fraternidade.

Esperanto! – Mensagem soberana


Para a Babel da iniquidade humana,
em Parnaso de Além-Túmulo: “Animo Libera” (Al- Que recorda os horrores da caverna!
ma Livre), “Nia Mesa1o” (Nossa Mensagem) e “Se
Vi Volas...” (Se Queres). Dá novo brilho à luz do pensamento,
Muito provavelmente, Cruz e Souza aprendeu o A caminho do grande entendimento
esperanto nas regiões espirituais, embora pudesse ter No campo augusto da Unidade Eterna!
sabido, em vida física, da existência do idioma, con-
siderando que a criação de Zamenhof foi lançada em
1887 e a desencarnação do poeta ocorreu em 1898.
Entretanto, nossa estatística dos seus versos a
Trova
respeito do tema em foco deve sofrer pequena alte- Nenhuma ciência elucida Ne klari1is /i afero:
ração. Há poucos dias, conhecemos um soneto do Onde a saudade é mais forte: 0u sopir’ estas pli forta
grande simbolista brasileiro, recebido pelo Chico Se nas lágrimas da vida, Dum surtera vivsufero,
e inserido na obra Doutrina-Escola, de diversos Se nos júbilos da morte. A9 en feli/o postmorta.
autores espirituais, edição do IDE, de 1996.
Esse poema, cujo título é “Esperanto”, não fi- Soares Bulcão
gurou na bem cuidada compilação do que os Es-
XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo. Trovadores do além.
píritos têm dito em e sobre o esperanto, editada (Antologia). Diversos Espíritos. 5. ed. Rio de Janeiro: FEB,
pelo CELD, em 2004, com o título A Língua que 2002. Trova 1, p. 23.
Veio do Céu.

Maio 2010 • Reformador 209 35


Jonas da Costa Barbosa
Natural de Cruzeiro do Sul, Acre, Permaneceu ativo, na Federati- num Estado em que as vias de aces-
nasceu em 17 de setembro de 1928, va, trabalhando na assessoria da so são diversificadas, cuja manuten-
filho de João Lemos Barbosa e área doutrinária interna da Casa, ção ainda hoje é precária para ven-
Francisca da Costa Barbosa, ambos onde também conduzia dois gru- cer grandes distâncias, conseguin-
espíritas. Mudou-se para Belém, pos de ESDE e realizava inúme- do instalar, até dezembro de 2005,
em 1940, onde concluiu os estudos ros atendimentos pelo diálogo aos 185 unidades espíritas, das quais
primários. Fez o curso secundário aflitos e oprimidos que o busca- 105 adesas, em 65 municípios. E,
no Colégio Estadual “Paes de Car- vam constantemente. Na véspera ainda, criou uma geografia espírita
valho”. Formou-se em engenharia da sua desencarnação, ocorrida paraense, onde jurisdicionou a Ca-
civil, em 1952, quando se casou em 13/12/2009, dirigiu a reunião pital e o Interior em 23 CREs –
com Adelina Lopes Barbo- Conselhos Regionais Espí-
sa, igualmente de formação ritas, descentralizando as
espírita. Tiveram uma filha: ações de expansão da Dou-
Lívia, adotaram dois e cria- trina Espírita. Visando ca-
ram mais quatro como fi- pacitar as lideranças, ins-
lhos. Foi funcionário do tituiu, ligadas à Diretoria
Instituto Brasileiro de Geo- Executiva, Coordenadorias
grafia e Estatística (IBGE) de Áreas de Atividades de
por 3 anos e, posterior- Infância e Juventude, ESDE,
mente, do Banco da Ama- Assistência Espiritual, Me-
zônia por 27 anos. Exerceu, diunidade, Serviço de As-
durante vários anos, em ca- sistência e Promoção So-
ráter particular, sua profis- cial Espírita, Comunicação
são de engenheiro civil. Social Espírita, Adminis-
Aos 16 anos começou a tração e Organização, As-
estudar o Espiritismo. Logo sessoria Jurídica.
após o casamento, ingres- Participou dos simpó-
sou na União Espírita Pa- sios espíritas na Região
raense, passando, a partir de mar- mediúnica semanal e, em seguida, Norte, na Região Centro-Oeste e
ço de 1953, a integrar sua direto- deslocou-se para a Praça da Repú- territórios e, por último, no nacio-
ria, ocupando, ao longo dos anos, blica, fazendo-se presente no stand nal, realizados respectivamente, em
os cargos de segundo secretário, se- da XX Feira do Livro Espírita, por Belém – 1964; Goiânia – 1965 e Rio
cretário-geral, presidente, vice-pre- ele fundada há 20 anos. de Janeiro – 1966. Além da sua in-
sidente e novamente presidente. Sua participação no desenvol- tensa atividade no Movimento Es-
Como presidente (1960 a 1971) per- vimento do Espiritismo no Pará pírita regional, estadual e nacional,
maneceu 12 anos seguidos no man- foi marcante: além da preservação foi membro, como esperantista, da
dato. Voltando à presidência, em da pureza doutrinária, despendeu “Pará Esperanto-Asocio”, e tomou
1978, continuou no cargo por mais enormes esforços para a expansão e parte do 14o Congresso Brasileiro
48 anos, até abril de 2006. unificação do Movimento Espírita, de Esperanto, em 1954.

36 210 Reformador • Maio 2010


Ciúme: trama escura
do sentimento
“Escutai e compreendei bem isto: não é o que entra na boca que macula
o homem; o que sai da boca do homem é que o macula.
O que sai da boca procede do coração e é o que torna impuro o homem.”
(Mateus, 15:17-18.)

CLARA LILA GONZALEZ DE ARAÚJO

O
Mestre, ao enunciar esse benefício das experiências amo- que nos conduzem à derrota no
significativo ensinamento, rosas que usufruímos? campo de lutas cotidianas.
de inapreciável valor, tam- Ao interpretar o ciúme, o Mentor Ao examinar os relacionamentos
bém registrado no Evangelho de espiritual Emmanuel, esclarece: perturbadores, o Espírito Joanna de
Marcos (7: 18 a 21), espera de nós Ângelis mostra-nos que “o amor é
uma mudança íntima e radical me- – O ciúme, propriamente con- uma conquista do espírito maduro,
diante a purificação do nosso cora- siderado nas suas expressões de psicologicamente equilibrado; usi-
ção, não de reforma externa. A pas- escândalo e violência, é um indí- na de forças para manter os equi-
sagem evangélica impele-nos a pen- cio de atraso moral ou de esta- pamentos emocionais em funcio-
sar sobre o tema do presente artigo, cionamento no egoísmo, dolo- namento harmônico”2 e refere-se às
identificando, nas doenças da alma, rosa situação que o homem so- características daqueles que agem
o momento em que o ciúme conver- mente vencerá a golpes de muito em desacordo com esse amor:
te a palavra em açoite desesperador. esforço, na oração e na vigilân-
O assunto sugere vasta aborda- cia, de modo a enriquecer o seu Os indivíduos de temperamento
gem, mas gostaríamos de nos deter íntimo com a luz do amor uni- neurótico, tornam-se incapazes
em alguns aspectos desse sentimento versal, começando pela pieda- de manter um relacionamento
que tem danificado moralmente de para com todos os que so- estável. Pela própria constituição
muitas almas irmãs que se deixam frem e erram, guardando tam- psicológica, são portadores de
levar pelo receio e pela incerteza nos bém a disposição sadia para coo- afetividade obsessiva e, porque
relacionamentos afetivos entre ca- perar na elevação de cada um.1 inseguros, são desconfiados, ciu-
sais. Como aniquilar o ciúme do co- mentos, por consequência, de-
ração para fugir de aflitivas tenta- Nossas ideias se exteriorizam pressivos ou capazes de inespera-
ções que nos assaltam o pensamento? todos os dias e somos identificados das irrupções de agressividade.
Se o sentimento precede, em nós, pelas vibrações que irradiamos. É [...] Creem não merecer o amor
toda e qualquer elaboração de ordem imprescindível, portanto, observar de outrem, e, se tal acontece, as-
mental, por que não conseguimos as condições emocionais que se ori- sumem o estranho comporta-
mantê-los equilibrados, pacifican- ginam de nossas reflexões e racio- mento de acreditar que os outros
do-os, tanto quanto possível, em cínios – nem sempre vigilantes – e não lhes merecem a afeição, po-

Maio 2010 • Reformador 211 37


dendo traí-los ou abandoná-los O monstro do ciúme, contudo, não poderão dizer: Se eu hou-
na primeira oportunidade. Quan- devora-nos o equilíbrio; torna- vesse feito, ou deixado de fazer
do se vinculam, fazem-se absor- -nos frágeis emocionalmente fren- tal coisa, não estaria em seme-
ventes, castradores, exigindo que te às dúvidas e às desconfianças lhante condição.
os seus afetos vivam em caráter que nos atormentam o coração. A quem, então, há de o homem
de exclusividade para eles [...].3 Nossas suspeitas, fruto do egoísmo responsabilizar por todas essas
que nos assinala a personalidade, aflições, senão a si mesmo? O
Afirma o preclaro Espírito, que convertem-se em profundas afli- homem, pois, em grande nú-
o amor-compreensão “não se esco- ções fazendo-nos sofrer desneces- mero de casos, é o causador de
ra em suspeitas, nem exigências sariamente, causando-nos inúme- seus próprios infortúnios [...].6
infantis; elimina o ciúme e a ambi- ros transtornos físicos e morais;
ção de posse, proporcionando ine- padecimentos buscados na vida Em nota à questão 917 de O Li-
fável bem-estar ao ser amado que, presente, “consequência natural vro dos Espíritos, tendo como res-
descomprometido com o dever de do caráter e do proceder dos que posta a mensagem transmitida pe-
retribuição, também ama”.3 De fa- os suportam”.5 Sobre o problema, lo Espírito Fénelon, analisa Kardec,
to, esse amor, contrário ao amor- Allan Kardec explica-nos, objeti- asseverando:
-paixão, vence obstáculos para ma- vamente:
nifestar a sua afeição com maior [...] Quando compreender bem
intensidade a cada dia. Assim, no Interroguem friamente suas que no egoísmo reside uma des-
entender de Vinícius: “A paixão po- consciências todos os que são sas causas, a que gera o orgulho,
de conduzir o homem à loucura e feridos no coração pelas vicissi- a ambição, a cupidez, a inveja, o
ao crime. O amor equilibra as fa- tudes e decepções da vida; re- ódio, o ciúme, que a cada mo-
culdades, consolida o caráter, apu- montem passo a passo à origem mento o magoam, a que per-
ra os sentimentos e torna o homem dos males que os torturam e ve- turba todas as relações sociais,
capaz dos mais belos sacrifícios”.4 rifiquem se, as mais das vezes, provoca as dissensões, aniquila

38 212 Reformador • Maio 2010


a confiança, a que o obriga a se André Luiz, orientado pelo amam, lutando contra os perigos
manter constantemente na de- Guardião espiritual, relata que, do ciúme devastador que aniqui-
fensiva contra o seu vizinho, en- apesar de a cooperadora possuir la a estabilidade de nossos me-
fim a que do amigo faz inimigo, vastas probabilidades de serviço lhores sentimentos, sem esquecer
ele compreenderá também que ao próximo, suas condições espi- que a palavra procede do coração
esse vício é incompatível com a rituais menos nobres, influencia- envolvendo-nos para o bem ou
sua felicidade e, podemos mes- das pelos sentimentos enegrecidos para o mal.
mo acrescentar, com a sua pró- que cultiva, lhe encaminham, du-
pria segurança. [...]7 rante o sono, fora do corpo de car- Referências:
1
ne, ao encontro de entidades de- XAVIER, Francisco C. O consolador. Pelo
É imprescindível vigiar a palavra sencarnadas, caracterizadas por Espírito Emmanuel. 28. ed. 3. reimp. Rio
para que não venhamos a cometer aspirações de ordem inferior e de de Janeiro: FEB, 2010. Questão 183.
2
desatinos em nome do sentimen- mentes pervertidas. Confabulando FRANCO, Divaldo P. O homem integral.
to que afirmamos ter pela pessoa com esses Espíritos, a seareira en- Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador,
amada; vigiar a boca, ao transmi- contra guarida para desabafar so- BA: LEAL, 1990. Cap. 7, Relacionamentos
tir pensamentos destrutivos, exte- bre os dramas imaginários que aca- perturbadores, p. 114-117.
3
riorizando elementos perturbado- lenta dentro de si. Em razão disso, ______.______. p. 114.
4
res, de acordo com as nossas inten- os Espíritos superiores que a assis- VINÍCIUS (Pseudônimo de Pedro de Ca-
ções mais secretas e personalis- tem, concluem: margo). Nas pegadas do mestre. 12. ed.
tas. Dia virá em que colheremos 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap.
os frutos amargos das atitudes – Antes de tudo, os agentes da Amor e paixão, p. 126.
5
infelizes que perpetramos. desarmonia perturbam-lhe os KARDEC, Allan. O evangelho segundo o
O exemplo oferecido pelo Espí- sentimentos de mulher, para, espiritismo. 129. ed. Rio de Janeiro: FEB,
rito André Luiz, retratado em uma em seguida, lhe aniquilarem as 2009. Cap. 5, item 4, p. 107.
6
de suas obras, alerta-nos para o possibilidades de missionária. ______.______. p. 108.
7
fato de que, mesmo espíritas, não O ciúme e o egoísmo constituem ______. O livro dos espíritos. 91. ed. 2.
fugiremos dessas situações se portas fáceis de acesso à obses- reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Comen-
não soubermos preservar a har- são arrasadora do bem. Pelo ex- tário de Kardec à questão 917.
8
monia necessária ao lado daque- clusivismo afetivo, a médium, XAVIER, Francisco C. Libertação. Pelo Es-
les com quem convivemos no re- nesta conversação, já se ligou pírito André Luiz. 2. ed. esp. Rio de Janei-
cesso do lar: é o caso da médium mentalmente aos ardilosos ad- ro: FEB, 2007. Cap. 16, p. 216.
9
Isaura Silva. O autor, em conversa versários de seus compromissos ______.______. p. 220.
com Sidônio, diretor dos traba- sublimes.9
lhos, a descreve como
Vivamos, pois, tranquila-
[...] valorosa cooperadora, re- mente junto aos que nos cer-
vela qualidades apreciáveis e cam, mantendo uma conduta
dignas, porém, não perdeu ain- de segurança no plano afeti-
da a noção de exclusivismo so- vo; saibamos cultivar a liga-
bre a vida do companheiro e, ção imperecível entre as al-
através dessa brecha que a in- mas que amamos e que nos
duz a violentas vibrações de có-
lera, perde excelentes oportuni-
dades de servir e elevar-se. [...]8

Maio 2010 • Reformador 213 39


Quando eu crescer
C A R LO S A B R A N C H E S

C
ada um a seu momento, etária de minhas filhas não é sufi- O trabalhador invigilante do
dentro de sua realidade, po- cientemente harmônica para que bem – “Quando crescer, vou ter
deria fazer uma avaliação eu continue a usá-las, numa tenta- condições de perceber que pode-
pessoal para saber se tudo vai tiva estranha e um tanto ridícula ria ter feito muito mais pelo bem
bem no encaixe ideal entre a de não aceitar a idade que tenho”. do que fiz, e que só não fui mais
idade física e a emocional. O traficante – “Quando crescer, adiante por causa de minhas pró-
Nesse contexto, faço uma leitu- vou compreender que a droga que prias fraquezas não vigiadas,
ra mental, imaginando como seria vendo para alimentar a busca in- dando vazão a vaidades tolas, a
a expressão dos desejos de alguns saciável do prazer egoísta do vi- invejas limitantes e a atritos rui-
desencontrados nesse aspecto. ciado tem a força de uma bomba, dosos, que poderia ter calado na
ao minar a criatividade de toda raiz, mas que permiti floresces-

uma geração, a força produtiva sem e tomassem conta de meus
Talvez as sentenças se revelas- dos jovens e a esperança das co- dias de servidor”.
sem assim: munidades. Vou enfim entender O homem medroso do futuro –
que cada pacotinho de ilusão que “Quando crescer, verei o impacto
O eterno Don Juan – “Quando ofereço aos outros explodirá co- que a falta de coragem de assumir
crescer, vou conseguir ser maduro mo vazio interior, solidão existen- minhas metas de evolução provo-
e profundo em minhas relações, cial e dura cobrança da própria cou em minha condição pessoal.
sem precisar pular de coração em consciência, que me exigirá repor Poderei, então, vislumbrar que ha-
coração para me sentir importan- pedra por pedra tudo que destruí via atalhos que a bondade divina
te ou realizado emocionalmente”. nos corações alheios”. abriu a minha frente, a fim de que
O político corrupto – “Quando O viciado – “Quando crescer, vou eu tivesse alternativas flexíveis pa-
crescer, vou ter a exata noção de enfim aceitar que vivi até agora ra solucionar meus entraves, e
que o dinheiro ilícito que desvio como uma pobre e indefesa criança que acabei desprezando, por pura
para meu bolso é exatamente o que emocional, joguete fácil nas mãos falta de coragem para tomar as ré-
falta para a construção da escola de víboras e vampiros da energia deas de minha própria vida”.
no bairro pobre, do hospital que alheia. Vou finalmente compreen-

atenderia a comunidade carente, der que a força de uma sociedade
da ação pública que ofereceria um consumista e focada na busca in- Minha leitura mental poderia
programa eficiente para os jovens, consequente do prazer a todo custo continuar por muitas e muitas li-
ameaçados pelo tráfico de drogas”. pode ser freada por meu profundo nhas. Mas deixo para que você me
A dondoca renitente – “Quando desejo de me autodescobrir. Foi ajude, acrescentando suas impres-
crescer, poderei compreender que investindo nisso que ganhei for- sões a respeito do que pode acon-
a relação entre meu corpo e as rou- ças para assumir as rédeas de tecer, quando algumas pessoas de-
pas e maquiagem comuns à faixa minhas próprias emoções”. cidirem finalmente amadurecer.

40 214 Reformador • Maio 2010


Federação Espírita Brasileira
COMPOSIÇÃO DOS ÓRGÃOS DA FEB
Após a Reunião do Conselho Superior de março de 2010

CONSELHO DIRETOR
Presidente: Nestor João Masotti. Vice-presidentes: Altivo Ferreira, Cecília Rocha, Ilcio Bianchi e José Carlos da Silva Silveira.
DIRETORIA EXECUTIVA
Diretores: Affonso Borges Gallego Soares, Amaury Alves da Silva, Antonio Cesar Perri de Carvalho, Arthur do Nascimento, Edna Maria
Fabro, Geraldo Campetti Sobrinho, João Pinto Rabelo, José Salomão Mizrahy, José Valdo de Oliveira, Maria de Lourdes Pereira de
Oliveira, Marta Antunes de Oliveira de Moura, Norberto Pásqua, Rute Vieira Ribeiro, Sady Guilherme Schmidt e Tânia de Souza Lopes.
CONSELHO FISCAL
Efetivos: César Augusto Lourenço Filho, Ennio de Oliveira Tavares e Sérgio Thiesen. Suplentes: Alamir Gomes de Abreu e Eliphas
Levi Garcez Maia.
ASSESSORES DA PRESIDÊNCIA
Evandro Noleto Bezerra e Jorge Godinho Barreto Nery.
REFORMADOR
Diretor: Nestor João Masotti. Editor: Altivo Ferreira. Redatores: Affonso Borges Gallego Soares, Antonio Cesar Perri de Carvalho,
Evandro Noleto Bezerra. Secretário: Paulo de Tarso dos Reis Lyra. Gerência: Ilcio Bianchi.
CONSELHO SUPERIOR
Efetivos: Allan Eurípedes Rezende Nápoli, Allan Kardec Rezende Nápoli, Alzira Matoso de Abreu, Christodolino da Silva, Clara Lila
Gonzalez de Araújo, Francisco Bispo dos Anjos, Ismael de Miranda e Silva, Jamile Mizrahy, João de Jesus Moutinho, Jorge
Godinho Barreto Nery, José Francisco dos Santos, Lucia Maria Alba da Silva, Luiz Antonio de Moura, Lydia Alba da Silva, Márcia
Regina Pini de Souza, Marco Aurélio Luzio de Assis, Maria da Conceição de Carvalho, Maria Euny Herrera Masotti, Maria Luiza
Priolli dos Santos Fonseca, Nilton da Costa Pereira de São Thiago, Paulo Affonso de Farias, Raimunda Maria Prata, Regina Lúcia
de Souza B. Rodrigues, Salim Tannus Feres Neto, Suely Caldas Schubert, Tossie Yamashita, Yola Carvalho Borges de Souza, Orlando
Ayrton de Toledo, Rubens André Gonçalves Dusi e Bittencourt Rezende de Nápoli. Efetivos indicados pelo CFN: Ana Luiza Nazareno
Ferreira, César Soares dos Reis, Darcy Neves Moreira, Divaldo Pereira Franco, Hélio Ribeiro Loureiro, José Raimundo de Lima,
Lacordaire Abrahão Faiad, Sandra Maria Borba Pereira, Sônia Maria Arruda Fonseca e Weimar Muniz de Oliveira. Ex-presidente:
Juvanir Borges de Souza.
Suplentes: Lauro de Freitas Carvalho, Zaira Amarilis da Cruz Silveira, Marlene Silva Duarte, Roosevelt Pinto Sampaio, Aldenice
Cousseiro de Carvalho Filha, Marley de Souza Lopes, Venita Abranches Simões, Eliphas Levi Garcez Maia e Maria Alves da Silva.
Suplentes indicados pelo CFN: Gerson Simões Monteiro, Pedro Valente da Cunha, Miriam Lucia Herrera Masotti Dusi, Eloy
Carvalho Villela e Israel Quirino do Nascimento.
CONSELHO FEDERATIVO NACIONAL
Entidades Federativas Estaduais: Acre – Federação Espírita do Estado do Acre; Alagoas – Federação Espírita do Estado de Alagoas;
Amapá – Federação Espírita do Amapá; Amazonas – Federação Espírita Amazonense; Bahia – Federação Espírita do Estado da Bahia;
Ceará – Federação Espírita do Estado do Ceará; Distrito Federal – Federação Espírita do Distrito Federal; Espírito Santo – Federação
Espírita do Estado do Espírito Santo; Goiás – Federação Espírita do Estado de Goiás; Maranhão – Federação Espírita do Maranhão;
Mato Grosso – Federação Espírita do Estado de Mato Grosso; Mato Grosso do Sul – Federação Espírita de Mato Grosso do Sul;
Minas Gerais – União Espírita Mineira; Pará – União Espírita Paraense; Paraíba – Federação Espírita Paraibana; Paraná – Federação
Espírita do Paraná; Pernambuco – Federação Espírita Pernambucana; Piauí – Federação Espírita Piauiense; Rio de Janeiro – Conselho
Espírita do Estado do Rio de Janeiro; Rio Grande do Norte – Federação Espírita do Rio Grande do Norte; Rio Grande do Sul –
Federação Espírita do Rio Grande do Sul; Rondônia – Federação Espírita de Rondônia; Roraima – Federação Espírita Roraimense;
Santa Catarina – Federação Espírita Catarinense; São Paulo – União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo; Sergipe –
Federação Espírita do Estado de Sergipe; e Tocantins – Federação Espírita do Estado do Tocantins.
ENTIDADES ESPECIALIZADAS DE ÂMBITO NACIONAL
Associação Brasileira de Artistas Espíritas; Associação Brasileira de Divulgadores do Espiritismo; Associação Brasileira de Esperantis-
tas-Espíritas; Associação Brasileira dos Magistrados Espíritas; Associação Médico-Espírita do Brasil; Cruzada dos Militares Espíritas;
e Instituto de Cultura Espírita do Brasil.

Maio 2010 • Reformador 215 41


Seara Espírita

Ato Público Em Defesa da Vida tou com a atuação de Roberto Versiani e José Luiz
O Movimento Nacional da Cidadania pela Vida – Dias, da equipe da Secretaria-Geral do CFN. Infor-
Brasil Sem Aborto realizou no dia 20 de março, no mações: <www.feees.org.br>.
centro de São Paulo, o 4o Ato Público Em Defesa da
Vida. A Marcha reivindicou a não aprovação do Minas Gerais: Homenagens a Chico Xavier
Projeto de Lei 1.135/91 que, se aprovado, permitirá O Estado natal de Chico Xavier sediou vários even-
o aborto no Brasil até o nono mês de gravidez. tos alusivos ao Centenário de Nascimento de Chico
A Federação Espírita Brasileira (FEB), foi repre- Xavier. Nos dias 2 e 3 de abril, foi inaugurado um
sentada por Clodoaldo de Lima Leite. Informações: Memorial anexo ao Centro Espírita Luiz Gonzaga,
<www.brasilsemaborto.com.br>. em Pedro Leopoldo, e ocorreram palestras pelo dire-
tor da FEB, Antonio Cesar Perri de Carvalho, e por
Amazonas: Congresso Espírita em Terezinha de Oliveira (SP). Marta Antunes de Moura
homenagem a Chico Xavier representou a FEB, no dia 2, na sessão especial no
A Federação Espírita Amazonense promoveu o 4o Grupo Espírita da Prece, em Uberaba, e, no dia 6 de
Congresso Espírita do Amazonas, em Manaus, de 2 abril, na Sessão Solene em homenagem ao médium,
a 4 de abril, com o tema central “Chico Xavier – o na Câmara de Vereadores de Belo Horizonte. No dia
Apóstolo do Bem e da Paz”. O evento fez parte das 2, Marival Veloso de Matos proferiu palestra come-
comemorações do Centenário de Nascimento de Chi- morativa na sede da União Espírita Mineira, em Belo
co Xavier e contou com palestras proferidas por Horizonte. Informações: <www.uemmg.org.br>.
Alberto Almeida (PA), Suely Caldas Schubert (MG),
André Luiz Peixinho (BA) e Sandra Borba (RN). Rio de Janeiro: Homenagem a
Informações: <www.feamazonas.org.br>. Chico Xavier
Em comemoração ao Centenário de Nascimento de
Reino Unido e Suíça: Workshops sobre Chico Xavier, a Assembleia Legislativa do Estado
Mediunidade do Rio de Janeiro promoveu, no Plenário do Palácio
A diretora da Federação Espírita Brasileira, Marta Tiradentes, no dia 5 de abril, sessão solene em home-
Antunes de Oliveira de Moura, e Ruth Guimarães, nagem ao médium mineiro e ao Dia do Livro Espírita,
integrante da equipe das Comissões Regionais do oficializado em 18 de abril, data da publicação de
Conselho Federativo Nacional (CFN), estiveram dis- O Livro dos Espíritos. Informações: <www.ceerj.org.br>.
correndo sobre a mediunidade nos dias 6 e 7 de
março, em Londres, numa promoção da União Bri- São Paulo: Vários eventos sobre
tânica de Sociedades Espíritas. Em seguida, cum- Chico Xavier
priram programação similar em Centros da Suíça, A União das Sociedades Espíritas do Estado de São
a convite da União dos Centros de Estudos Espíri- Paulo (USE) promoveu eventos simultâneos em ho-
tas da Suíça. Informações: <bussevents@gmail.com>, menagem ao Centenário de Chico Xavier em:
<www.spiritismus.ch>. Araçatuba, Bauru, Ribeirão Preto, São José dos
Campos, São Paulo e Sorocaba. No dia 11 de abril,
Espírito Santo: Encontro de Trabalhadores das 10h às 11h, cada uma dessas Regionais da USE
A Federação Espírita do Estado do Espírito Santo sediou evento aberto à participação popular, com
promoveu o Encontro de Trabalhadores Espíritas, apresentações artísticas, palestras curtas e depoimen-
nos dias 27 e 28 de março, em Vitória. O evento con- tos. Informações: <www.use-sp.com.br>.

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