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Expediente Sumário

4 Editorial
Sentimento e abnegação
11 Entrevista: Clauber Campos Cecconi
O artista das capas de livros
Fundada em 21 de janeiro de 1883
Fundador: AUGUSTO ELIAS DA S ILVA 21 Esflorando o Evangelho
O novo mandamento – Emmanuel
Revista de Espiritismo Cristão 22 Falando de Livro
Ano 131 / Abril, 2013 / N o 2.209
O livro espírita na FEB – Geraldo Campetti Sobrinho
ISSN 1413-1749 27 Em dia com o Espiritismo
Propriedade e orientação da
FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA Biodiversidade biológica – Marta Antunes Moura
Diretor Interino: ANTONIO CESAR PERRI DE CARVALHO
Editor: AFFONSO BORGES GALLEGO SOARES 30 Evangelização Espírita Infantojuvenil
Redatores: ALTIVO FERREIRA, EVANDRO NOLETO BEZERRA,
GERALDO CAMPETTI SOBRINHO, JOSÉ CARLOS DA SILVA
A tarefa de evangelização no Centro Espírita –
SILVEIRA E MARTA ANTUNES DE OLIVEIRA DE MOURA Departamento de Infância e Juventude/FEB
Secretário: PAULO DE TARSO DOS REIS LYRA
35 A FEB e o Esperanto
Gerente: SADY GUILHERME SCHMIDT
Equipe de Diagramação: AGADYR TORRES PEREIRA E “Nosso lar” na Hungria via Esperanto – Affonso Soares
SARAÍ AYRES TORRES
Equipe de Revisão: WAGNA CARVALHO E ISAURA DA 36 Doutrina Espírita / Spiritisma Doktrino
SILVA KAUFMAN
Projeto gráfico da revista: JULIO MOREIRA 39 Reformador de ontem
Capa: AGADYR TORRES PEREIRA
Um livro sublime – Ismael Gomes Braga
REFORMADOR: Registro de publicação
o
n 121.P.209/73 (DCDP do Departamento de 42 Seara Espírita
Polícia Federal do Ministério da Justiça)
CNPJ 33.644.857/0002-84 • I. E. 81.600.503 5 Moradas do Espírito – Christiano Torchi
Direção e Redação: 8 Religiosidade juvenil – Fator de importância para o
SGAN 603 – Conjunto F – L2 Norte
70830-030 • Brasília (DF) Espiritismo – Clara Lila Gonzalez de Araújo
Tel.: (61) 2101-6150
FAX: (61) 3322-0523 13 Paralelismo neuropsicofísico – Richard Simonetti
Home page: http://www.febnet.org.br 14 Educar – Vinícius
E-mail: feb@febnet.org.br
15 O livro dos espíritos – Farol a indicar caminhos
Departamento Editorial:
Rua Sousa Valente, 17 • 20941-040 (Capa) – A. Merci Spada Borges
Rio de Janeiro (RJ) • Brasil
Tel.: (21) 2187-8282 • FAX: (21) 2187-8298
18 Ave, Cristo! – 60 anos de lançamento –
E-mails: redacao.reformador@febrasil.org.br Antonio Cesar Perri de Carvalho
feb@febrasil.org.br
23 Ao leitor
PARA O BRASIL 24 Esde – 30 anos – Ide e pregai
Assinatura anual R$ 52,00
Assinatura digital anual R$ 24,00
32 O século XXI chegou. A lei de talião finalmente se
Número avulso R$ 7,00 foi? – Rogério Miguez
PARA O EXTERIOR
Assinatura anual US$ 50,00
34 Allan Kardec – Mário Frigéri
Assinatura de Reformador: 37 Seminário, ações sobre o Evangelho e início de
Tel.: (21) 2187-8264 • 2187-8274
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assinaturas.reformador@febrasil.org.br 38 O bom livro – André Luiz
Editorial
Sentimento e
abnegação
N
as efemérides do ano em curso, dois portentosos romances de auto-
ria do Espírito Emmanuel – Renúncia e Ave, Cristo! – completam,
respectivamente, 70 e 60 anos de lançamento pela FEB.
Dois enredos assentados em episódios, nos quais a mensagem do Cristianismo é
o pano de fundo e transbordam as emoções e sentimentos humanos.
O autor espiritual destaca na apresentação de Renúncia: “Este é um livro de
sentimento, para quem aprecie a experiência humana através do coração. [...]”.1
Os grandes exemplos de renúncia da personagem Alcíone são comparáveis aos de
Quinto Varro, em Ave, Cristo!, e dos que entregaram suas vidas sob a égide do
clamor: “Ave, Cristo! os que aspiram à glória de servir em teu nome te glorificam e
saúdam!”.2
A dedicação e renúncia dos cristãos primitivos se repetiram em outros momentos
de nossa civilização, através de personificações nobres e altaneiras.
O Espiritismo, em sua obra inaugural, define claramente: “A verdadeira adoração
é a do coração. [...]”3 e esta se concretiza com aperfeiçoamento moral e espiritual.
O Espírito de Verdade define que a sabedoria humana reside em duas palavras:
“[...] A abnegação e o devotamento são uma prece contínua e encerram um ensina-
mento profundo. [...]”.4
Nos momentos difíceis de nossos tempos, a grande tarefa é a concretização das
propostas cristãs com a compreensão adquirida na Doutrina Espírita.

1
XAVIER, Francisco C. Renúncia. Pelo Espírito Emmanuel. 3. ed. esp. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010.
Velhas Recordações, p. 8.
2
Idem. Ave, Cristo! Pelo Espírito Emmanuel. 1. reimp. Brasília: FEB, 2012. Ave, Cristo!, p. 8.
3
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB,
2011. q. 653.
4
Idem. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 130. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB,
2012. cap. 6, it. 8.

4 122 Reformador • Abril 2013


Moradas
do Espírito
C H R I S T I A N O TO RC H I

H
á longo tempo questiona- com dogmas impostos pela teologia Os Espíritos superiores defini-
-se sobre o real significado humana, que embutem promessas ram o paraíso ou o céu como sendo
da máxima:“Na casa de meu vazias de um céu beatífico, a ser
Pai há muitas moradas” (João, 14:2). conquistado com a prática de me- o espaço universal; são os pla-
O Espiritismo, revelando o princí- ros rituais exteriores, ou que pre- netas, as estrelas e todos os
pio da pluralidade dos mundos ha- gam a existência de um inferno ter- mundos superiores, onde os Es-
bitados, alargou o conceito, situan- rível, como destino fatal e irrevogá- píritos gozam de todas as suas
do as “moradas do Pai” nos mundos vel daqueles que cometem erros faculdades, sem as tribulações
físicos que formam o Universo, on- em uma única existência física. da vida material, nem as angús-
de vivem e progridem outras comu- Os Espíritos superiores ensinam tias inerentes à inferioridade.3
nidades humanas. Localizou, ainda, que não há um lugar restrito no
tais moradas nos planos espirituais Universo, destinado às penas e aos Os dicionários humanos não
superiores, intermediários e inferio- gozos dos Espíritos. Em realidade, contêm palavras suficientes para
res, onde a vida pulsa com a mesma as penas e os gozos refletem o grau explicar a felicidade dos que con-
intensidade dos grandes centros de perfeição do Espírito. Quanto quistaram o céu em si mesmos:
urbanos da Terra. Mas não ficou só mais atrasado em moralidade, mais
nisso, esclareceu que as moradas sujeito aos sofrimentos. Quanto A suprema felicidade consiste no
também representam as infinitas mais adiantado, mais livre e feliz. gozo de todos os esplendores da
faixas evolutivas do psiquismo, on- Portanto, como a felicidade e a Criação, que nenhuma lingua-
de se agitam pensamentos e senti- infelicidade constituem verdadeiras gem humana jamais poderia des-
mentos em vasta gama, a expressar “moradas” ou criação dos Espíritos, crever, que a imaginação mais
o estado feliz ou infeliz do Espírito. os quais estão por toda a parte, é fecunda não poderia conceber.
O conceito de moradas como lícito dizer que não há nenhum Consiste também na penetração
departamentos da mente possui es- lugar limitado que se destine a uns de todas as coisas, na ausência de
treita relação com a temática “pa- ou a outros. De fato, a noção de céu sofrimentos físicos e morais,
raíso, inferno, purgatório, paraíso e inferno, em seu conceito tradicio- numa satisfação íntima, numa
perdido e pecado original”.1 Por nal, como regiões localizadas no alto serenidade de alma imperturbá-
que tais ideias, sobretudo paraíso e e embaixo, respectivamente, encon- vel, no amor que envolve todos
inferno, andam tão desacreditadas? tra-se superada pelo avanço das os seres, por causa da ausência
O homem está sedento de conhe- ciências, que destruiu a ideia de que de atrito pelo contato dos maus,
cimentos e não se contenta mais a Terra era o centro do Universo.2 e, acima de tudo, na contempla-

Abril 2013 • Reformador 123 5


ou em lagos de enxofre e fogo, em
eterno sofrimento. Sob esse ponto
de vista, o “inferno pode traduzir-
-se por uma vida de provações
extremamente dolorosa, com a
incerteza de haver outra melhor”.5
Desde os primórdios, o homem
sempre cultivou, intuitivamente, a
crença na vida futura, e que, após a
morte, seria premiado ou castiga-
do, conforme agisse bem ou mal.
Durante muito tempo – e ainda
acontece em alguns segmentos
religiosos – o inferno e o demônio
foram apresentados como ameaça
constante sobre a cabeça dos
“fiéis”, um meio de colocar freio
nas maldades humanas ou de re-
primi-las pelo medo, ou até mes-
mo como forma de manipular as
massas com propósitos escusos.
Em parte, isso se devia à predo-
minância dos instintos materiais,
que induzia o homem à crença
nas penas e gozos futuros de cará-
ter também material.6 Com tais
ção de Deus e na compreensão Em suma, pode-se dizer que o afirmativas, não se está a dizer que
dos seus mistérios revelados aos céu está no interior de todos aque- os Espíritos estejam isentos de
mais dignos. A felicidade tam- les que ultrapassaram as frontei- suas faltas perante as leis divinas,
bém existe nas tarefas cujo en- ras do animalismo e atingiram um porém, o objetivo da Criação é
cargo nos faz felizes. Os puros grau de desenvolvimento espiri- educar e corrigir, não simples-
Espíritos são os Messias ou tual superior que lhes dá ampla li- mente punir:
mensageiros de Deus pela trans- berdade, em harmonia com as leis
missão e execução das suas von- divinas. O Espiritismo não nega, pois,
tades. Preenchem as grandes O inferno, por sua vez, tal qual antes confirma, a penalidade
missões, presidem à formação acontece com o céu, ainda é consi- futura. O que ele destrói é o in-
dos mundos e à harmonia geral derado por muitas pessoas como ferno localizado com suas for-
do Universo, tarefa gloriosa a um lugar físico ou geográfico. Ge- nalhas e penas irremissíveis.7
que se não chega senão pela per- ralmente, o seu endereço é imagi-
feição. Os da ordem mais eleva- nado como sendo o centro da Ter- Em resumo, o inferno – men-
da são os únicos a possuírem os ra, suposta morada de Satã, o per- cionado por Jesus no sentido ale-
segredos de Deus, inspirando-se sonagem-símbolo do mal, que, de górico – é a representação do esta-
no seu pensamento, de que são posse de seu tridente, manteria os do infeliz da criatura, que sofre as
diretos representantes.4 condenados nas fornalhas ardentes desditas de sua inferioridade, é a

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construção do próprio Espírito De fato, o purgatório é igual- do joio do trigo”. Aproveitemos a
que nesse estado permanece en- mente uma alegoria, que consiste oportunidade de ter reencarnado
quanto continuar infringindo as nas provas da vida corporal, onde, neste mundo, escola e oficina in-
leis divinas. como o próprio nome sugere, pur- dispensáveis ao aperfeiçoamento
gamos as imperfeições do Espírito. espiritual. Trabalhando pela pró-
A seu turno, o purgatório é um Por fim, o mito do paraíso perdi- pria regeneração, estaremos con-
dogma criado pela Igreja no sé- do e do pecado original é um arqué- tribuindo para a implantação defi-
culo VI, e não consta dos evan- tipo.“Não é uma ilusão, uma men- nitiva do reinado da paz e do amor
gelhos. Inegavelmente, é muito tira, mas uma realidade interna da no orbe, que ocorrerá quando ti-
mais coerente do que o dogma alma, que se projeta na realidade vermos banido de nossos corações
do inferno, que seria uma pena externa”10 e, como toda alegoria, o orgulho e o egoísmo.13
irremissível, visto que, se por tem um sentido oculto. O paraíso
um lado propaga a ideia de um perdido constitui a recordação in- Referências:
1
castigo, admite, por outro, um tuitiva que muitos Espíritos – KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad.
futuro melhor pelo resgate das atualmente encarnados no plane- Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. reimp. Rio
faltas. Entretanto, como toda ta Terra – trazem de mundos mais de Janeiro: FEB, 2011. q. 1.012 a 1.019.
2
ideia humana, tais conceitua- evoluídos, dos quais foram exila- ______. ______. Comentário de Allan Kar-
ções são imperfeitas, uma vez dos por sua própria culpa, e o pe- dec à q. 1.017.
3
que esbarram no dogma de que cado original consiste igualmente ______. ______. q. 1.016.
4
essas almas dependeriam, para na lembrança inata que trazem, ao ______. O céu e o inferno. Trad. Manuel
ser resgatadas, não do seu pró- renascer, dos débitos de outras en- Quintão. 60. ed. 3. reimp. Rio de Janeiro:
prio mérito ou adiantamento, carnações e das imperfeições mo- FEB, 2012. pt. 1, cap. 3, it. 12.
5
mas das preces dos que estão na rais das quais ainda não se despo- ______. O livro dos espíritos. Trad. Evan-
Terra. É como se os desígnios jaram, como bem ilustrado pelo dro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. reimp. Rio de
do Criador estivessem subordi- Espírito Emmanuel, no livro A ca- Janeiro: FEB, 2011. q. 1.014a.
nados aos caprichos e vontades minho da luz,11 e por Kardec, na 6
______. O céu e o inferno. Trad. Manuel
humanas.8 última obra básica, A gênese.12 Quintão. 60. ed. 3. reimp. Rio de Janeiro:
Há muito que as profecias FEB, 2012. pt. 1, cap. 4, it. 1.
7
Como registra a História, as pre- anunciam, por meio de sugestiva ______. ______. pt. 1, cap. 5, it. 8.
8
ces pagas e a venda de indulgências alegoria, “o final dos tempos”, sob ______. ______. pt. 1, cap. 5, it. 2.
9
deram origem à Reforma coman- o signo do Evangelho: “Bem-aven- ______. O livro dos espíritos. Trad. Evan-
dada por Lutero, que refutou, com turados os mansos, porque eles her- dro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. reimp. Rio de
veemência, tais abusos. Mas o que darão a terra” (Mateus, 5:5). Mundo Janeiro: FEB, 2011. q. 1.013.
10
dizem os Espíritos superiores so- de expiação e provas, a Terra é um PIRES, J. Herculano. Revisão do cristianis-
bre o purgatório? O que se deve orbe de categoria moral inferior, mo. 2. ed. São Paulo: Paideia, 1983. p. 5.
11
entender por purgatório? Allan que também enfrenta seus mo- XAVIER, Francisco C. A caminho da luz.
Kardec formulou esta pergunta, e mentos de transição, a caminho Pelo Espírito Emmanuel. 37. ed. 4. reimp.
obteve deles a seguinte resposta: de se transformar em esfera de re- Rio de Janeiro: FEB, 2012. p. 38 a 40.
12
generação, onde, finalmente, o KARDEC, Allan. A gênese. Trad. Guillon
Dores físicas e morais: o tempo bem sobrepujará o mal. Ribeiro. 52. ed. 5. reimp. Rio de Janeiro:
da expiação. É quase sempre na Entramos num final de ciclo, em FEB, 2012. cap. 1, it. 38.
13
Terra que fazeis o vosso purga- que se processa, lenta e gradual- ______. ______. O livro dos espíritos.
tório e que Deus vos faz expiar mente, a seleção das almas, ou, Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1.
as vossas faltas.9 como diz a metáfora: “a separação reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. q. 1.019.

Abril 2013 • Reformador 125 7


Religiosidade
juvenil
Fator de importância para o Espiritismo
“Disse então aos discípulos: A seara é verdadeiramente grande, mas poucos os
trabalhadores. Rogai, pois, ao dono da seara que mande trabalhadores para ela.”
(Mateus, 9:37 e 38.)

CLARA LILA GONZALEZ DE ARAÚJO

J esus conclamava seus discípu-


los a reunirem em torno de si
todos os seguidores do Cris-
tianismo, adeptos de boa vontade,
de carne com o propósito de fun-
dar a era do progresso moral. Esses
Espíritos se distinguem por inteli-
gência e razão, geralmente possui-
seus objetivos, o Espiritismo se
encontrará com ela no mesmo
terreno. Aos homens progressis-
tas se deparará nas ideias espí-
que se esforçassem sinceramente dores de sentimentos inatos do bem ritas poderosa alavanca e o Es-
na pregação moral pura que Ele e simpatizantes de crenças espiri- piritismo achará, nos novos ho-
ensinava. A mensagem do Cristo tualistas. Não são exatamente seres mens, espíritos inteiramente dis-
devia ser anunciada pelos traba- superiores, mas possuem certo pro- postos a acolhê-lo. [...]1
lhadores corajosos e perseveran- gresso moral e se acham predispos-
tes, que seriam preparados para tos a assimilar concepções transfor- Ao refletirmos sobre o jovem,
divulgá-la por diversas regiões, pois madoras, de cunho religioso, cien- no que tange à sua religiosidade, é
“acompanhava-o grande multidão tífico e filosófico, que lhes permi- comum verificar que a religião, con-
de povo da Galileia, de Decápo- tam agir em prol da consolidação do forme orientação da educadora
lis, de Jerusalém e de além do Jor- movimento de regeneração do orbe. espiritual Joanna de Ângelis, é pri-
dão” (Mateus, 4:25). A Doutrina de Ao analisar a chegada dos tem- mordial e importante na sua for-
Jesus é simples e clara em seus pos, quando grandes acontecimen- mação moral e cultural, amplian-
princípios e dirige-se, principal- tos ocorrerão para a melhoria da do-lhe a compreensão em torno das
mente, aos deserdados e humildes. Humanidade,Allan Kardec observa: realidades que o cercam, influindo,
Nos tempos atuais, em que se fortemente, nas escolhas essenciais
abre uma nova era, outros obreiros A nova geração marchará, pois, e prioritárias. A mentora, ao ava-
surgem para fazer parte das fileiras para a realização de todas as liar essas conquistas, esclarece:
convocadas por Jesus. São as gera- ideias humanitárias compatíveis
ções recentes, que possuem as legíti- com o grau de adiantamento a A religião é portadora de signi-
mas aspirações do coração e do es- que houver chegado. Avançando ficativa contribuição ética e es-
pírito, e que retornam ao corpo para o mesmo alvo e realizando piritual no desenvolvimento do

8 126 Reformador • Abril 2013


caráter e na afirmação da per- reencarnações, o moço os esque- liares, sociais e religiosos, faltando-
sonalidade do jovem em desen- ce momentaneamente; a intuição, -lhe, às vezes, condições de ama-
volvimento. Através dos seus pos- contudo, permite conservá-los, durecimento emocional no uso de
tulados básicos, o educando nela auxiliando-o em seu progresso es- sua autonomia para o desempenho
haure a consciência de si e o come- piritual no mundo material. dos vários papéis que irá exercer
ço do amadurecimento dos valo- Não será sem esforço que o ao longo de sua existência.
res significativos, que lhe incor- adolescente irá adquirir condições Quando o adolescente não é
porarão em definitivo, estabele- necessárias para o seu legítimo de- preparado para adquirir e aceitar
cendo-lhe paradigmas de com- sabrochamento no campo dos pos- certos valores espirituais, torna-se
portamento para toda existência. tulados religiosos. Se não for estimu- inseguro para enfrentar os desafios
[...] O adolescente traz em si o lado apropriadamente, ele poderá e descamba para a rebeldia, o sar-
arquétipo religioso, que rema- tornar-se ateu ou experimentar uma casmo e a indiferença, portas de
nesce das experiências de ou- variedade de posições religiosas e entrada à delinquência e ao deses-
tras reencarnações, o que o leva mudanças muito frequentes, moti- pero. Nos malogros naturais que
à busca de Deus e da imortali- vado por períodos místicos exage- ocorrem durante o seu desenvol-
dade do Espírito, de forma que, rados. Os limites são imprecisos em vimento, a religião se torna fator
reencontrando a proposta da fé, consequência de sua inteligência, indispensável para que compreen-
assimila-a com facilidade. [...]2 que se diversifica, e de suas aptidões da as situações existenciais pertur-
particulares que se definem, gra- badoras, esclarecendo-se para en-
O jovem precisa conhecer de dualmente, permitindo-lhe escolher tender o porquê de nem sempre
forma verdadeira a mensagem do caminhos e engajar-se em experiên- ser bem-sucedido nos resultados
Cristo, guardando-a no coração cias de vida adulta, estabelecendo obtidos das lutas que trava a cada
para o êxito de suas encarnações vínculos entre ele e os outros. Nem dia, pois as provas que contraímos
futuras! “[...] os conhecimentos sempre, porém, encontrará uma es- se tornam recursos de aprendiza-
adquiridos em cada existência não trutura educativa que lhe permita gem valiosos e ninguém evolui sem
mais se perdem [...]”.3 Durante as consolidar certos interesses fami- as enfrentar corajosamente.

Abril 2013 • Reformador 127 9


Infelizmente, a maioria carece mento doutrinário e da prática capacidade de adaptação e flexibi-
de orientação adequada dos pais, espírita-cristã. lidade muito grandes.
que deveriam incumbir-se da pre- Na entrevista com o médium Como vigiar os impulsos dos
paração de seu porvir espiritual. Divaldo Pereira Franco, sob a ins- jovens com suas energias sobre-
O bondoso Espírito Emmanuel, piração do Espírito Bezerra de carregadas de vitalidade e supon-
preocupado com o destino dos Menezes, em homenagem aos 35 do tudo saber sobre a vida? A expe-
jovens, “[...] que somam às ten- anos da Campanha Permanente de riência vai lhes mostrar a excelên-
dências do passado as experiên- Evangelização Espírita Infantoju- cia dos valores legítimos, levando-
cias recém-adquiridas”,4 tece ano- venil (2012), o preclaro mentor -os a discernir. Ter paciência com
tações sobre o problema, conside- aponta uma dessas graves questões: eles significa, sobretudo, cuidar pa-
rando principalmente: ra que a religião seja a força que
O jovem moderno vive uma roti- amplie os potenciais dos seus sen-
[...] todos vieram da estação in- na tecnológica muito especial e timentos e que, no Espiritismo, en-
fantil para o desempenho de perigosa. A comunicação virtual contrem a sua renovação mental.
nobre destino. que se lhe encontra ao alcance no Portanto, é nosso dever enca-
Entretanto, quantas ansiedades lar, sem a orientação nem a vigi- minhar os moços aos centros es-
e quantas flagelações quase to- lância dos pais, facilmente indu- píritas, na execução das tarefas de
dos padecem, antes de se firma- -lo à convivência com portado- amor que os aguardam, atenden-
rem no porto seguro do dever a res de transtornos de compor- do ao apelo do Mestre para que
cumprir!... tamento, pessoas viciosas, gru- outros obreiros atuem no serviço
Ao mapa de orientação respei- pos atormentados que o cativam misericordioso a ser cumprido em
tável que trazem das esferas su- e o arrastam para as suas malhas sua vasta seara.
periores, a transparecer-lhes do perigosas. Esse trabalho de assis-
sentimento, na forma de entu- tência é essencialmente da famí- Referências:
1
siasmos e sonhos juvenis, mis- lia, que tem o dever de selecio- KARDEC, Allan. A gênese. Trad. Guillon
turam-se as deformações da rea- nar os sites que os filhos visitam, Ribeiro. 52. ed. 5. reimp. Rio de Janeiro:
lidade terrestre que neles espera de tomar contato com os seus FEB, 2012. cap. 18, it. 24.
2
a redenção do futuro. relacionamentos dentro de uma FRANCO, Divaldo P. Adolescência e vida.
Muitos saem da meninice mo- convivência equilibrada e sem Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador
ralmente mutilados [...] e [...] imposições absurdas, facilitando (BA): Leal, 1997. cap. 19, O adolescente e
acordam no labirinto dos exem- o trabalho do evangelizador.6 a religião.
3
plos lamentáveis, partidos da- KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.
queles mesmos de quem conta- As pessoas, principalmente os Trad. Guillon Ribeiro. 92. ed. 2. reimp.
vam colher as diretrizes do apri- jovens, mergulham na sociedade Rio de Janeiro: FEB, 2012. q. 218a.
moramento interior.5 que cultua a informação. São as 4
XAVIER, Francisco C. Religião dos espíritos.
demandas por soluções e decisões Pelo Espírito Emmanuel. 21. ed. 3. reimp.
A par dos vários enigmas que imediatas entre os seus pares. Rio de Janeiro: FEB, 2012. cap. Jovens,
se destacam na educação e no en- Alertados para o problema, preci- p. 205.
5
caminhamento da juventude atual, samos adquirir conhecimentos ______. ______. p. 205 e 206.
6
encontramos sérios entraves, que que nos permitam assimilar essa DUSI, Miriam M. (Coord.). Sublime semen-
dificultam o seu autoaperfeiçoa- rapidez na busca alucinante por teira: Evangelização espírita infantojuvenil.
mento, interferindo nas ações respostas a todas as suas indaga- 2. reimp. Brasília: FEB, 2012. Entrevista com
evangelizadoras que auxiliam o ções, exigindo dos pais, dos evan- Divaldo Franco, sob inspiração de Bezerra
jovem na obtenção do conheci- gelizadores e dos educadores uma de Menezes. p. 53 e 54, resposta à q. 5.

10 128 Reformador • Abril 2013


Entrevista C L AU B E R C A M P O S C E C C O N I

O artista das
capas de livros
Clauber Campos Cecconi comenta sobre sua atuação como capista de obras
editadas pela FEB e sobre a importância da capa de um livro. Atua há 50 anos
no campo da Arte (pintura). Desde 2006 ocupa a Cadeira n o 15 na Academia
Brasileira de Belas Artes, que pertenceu ao pintor Pedro Américo

Reformador: Como começou e du-


rante quanto tempo produziu ca-
pas para a FEB Editora?
Cecconi: Nasci num berço batista
e desenvolvi-me na fé cristã. Nun-
ca me afastei do Evangelho de
Cristo. Quanto ao meu trabalho
profissional na FEB, fui convida-
do por um espírita a conhecer o
sr. Luciano dos Anjos. Estive pes-
soalmente com ele, e fui muito
bem recebido...! Como profissio-
nal, achei por bem dizer que faria
as capas simplesmente como um
ilustrador e capista. Ele aceitou
totalmente, obviamente disse a ele
sobre minha crença. Ele me deu
parabéns e começamos naquele
momento a executar as capas para remunerado pela FEB. Foi a pri- Cecconi: Inspiração, todo artis-
a FEB, simplesmente como um meira vez que isto aconteceu em ta é obrigado a ter. Recebia e lia
profissional. Estou destacando es- minha vida! Assim, trabalhei du- o resumo da obra.
te particular pois nunca escondi rante uns cinco anos para a FEB, a
meus anseios por minha religião e partir de 1966. Reformador: Tinha preferência
meu amor ao Cristo amado. Cha- Reformador: Como surgia a ins- por algum autor, e alguma obra
mou-me a atenção a forma corre- piração para cada capa: a obra impressionou-o mais significati-
ta e pontual com que sempre fui era lida em resumo ou completa? vamente?

Abril 2013 • Reformador 129 11


onde criei e executei algumas
centenas de capas para a FEB,
incluindo os livros novos e os
reeditados!

Reformador: Há algum fato


marcante na produção de capas
para a FEB?
Cecconi: Nada em especial. Dei-
xei de fazer as capas, quando o sr.
Salomão Mizrahy mostrou-me
um trecho de uma carta do Acre,
onde a pessoa dizia que o capista
e ilustrador devia ser um mé-
dium...! Era jovem e tomei uma
posição radical com meu amigo...

Reformador: Qual a importân-


cia da capa na relação com a
composição e a comercialização
do livro?
Cecconi: A capa deve ajudar a
vender o livro. Fui várias vezes
à Livraria da FEB, no Centro do
Rio, apenas para conhecer a re-
ceptividade das pessoas nas li-
vrarias. Perguntava o que as
pessoas estavam achando sobre
as capas etc.

Reformador: Teria
algum comentá-
Capa do livro da FEB, Bem-aven- rio final?
turados os simples, e quadro Cecconi: Consi-
Abertura do Mar Vermelho, dero-me privile-
ambos pintados por Cecconi giado em poder
ser entrevistado
Cecconi: Não tinha preferência! pela revista Re-
Fui apenas um profissional formador da FEB.
executando meu trabalho de Arte. Lembro que toda
leitura boa de-
Reformador: Como trabalhava: Cecconi: Produzia as capas em monstra cultura. E o espírita lê
na FEB ou em outro local? Quan- outro local, no meu Estúdio muito! A produção da FEB sem-
tas capas produziu para a FEB? (Cecconi Comunicação Visual), pre foi de alto nível.

12 130 Reformador • Abril 2013


Paralelismo
neuropsicofísico RICHARD SIMONETTI

F
ala-se que o século XXI será Opção sexual, inteligência, essas conclusões, pretendendo que
o século do cérebro, com a uti- doenças, depressão, déficit de derrubam o princípio da reen-
lização de modernos instru- atenção, vícios, enfim, tudo es- carnação, segundo o qual nossa
mentos de pesquisa, como a resso- taria sujeito à condição neuro- maneira de ser, com tendências
nância magnética e a tomografia lógica do indivíduo. e motivações, facilidades e limi-
computadorizada, que permitem tações, guarda sua origem em pre-
uma visão ampla dos socavões da téritas existências.
massa encefálica. Como sempre, falta aos de-
Com base nesses recur- tratores um mínimo de coe-
sos, está em moda, nos rência em suas observa-
meios científicos, o ções, a partir da iniciativa
princípio do Paralelis- elementar de, primei-
mo Neuropsicofísico, ro, conhecer a Dou-
segundo o qual o trina Espírita, para
histórico do indiví- depois criticá-la.
duo, com suas ten- Se se dessem ao
dências, aptidões, trabalho de estudar,
fragilidades, limita- verificariam que es-
ções, doenças e defi- se paralelismo em
ciências, está subordi- nada compromete os
nado às disposições da princípios doutriná-
massa cerebral. rios.
Pesquisadores avançam A razão é simples: o ar-
nesse paralelismo. A todo mo- ranjo das células cerebrais
mento, estamos vendo a mídia des- não obedece a circunstâncias alea-
tacar situações e tendências com- tórias. Ocorre a partir do molde
portamentais, que seriam originá- Como era de esperar, mate- perispiritual.
rias do arranjo das células na cai- rialistas e adeptos de outras reli- O Espírito tem em seu corpo
xa craniana. giões brandem em nossa cabeça espiritual, o períspirito, o somató-

Abril 2013 • Reformador 131 13


rio de suas experiências pretéritas. Qual, para este, a utilidade de Isso significa que más incli-
Ao reencarnar, essas característi- passar pelo estado de infância? nações, defeitos de caráter e ten-
cas imprimem-se no corpo físico, “Encarnando, com o objetivo dências viciosas podem ser su-
dando origem aos arranjos celula- de se aperfeiçoar, o Espírito, peradas com a influência que os
res que influenciam o comporta- durante esse período, é mais pais podem e devem exercer so-
mento, as tendências, as condi- acessível às impressões que bre os filhos durante o longo
ções físicas. recebe, capazes de lhe auxilia- período da infância, em que o
Se foi alcóolatra na existência rem o adiantamento, para o Espírito é mais sensível às in-
passada, o cientista materialista que devem contribuir os in- fluências que recebe.
dirá que ele tem tendência ao al- cumbidos de educá-lo.”1 O cérebro pode sinalizar uma
coolismo porque o cérebro assim maneira de ser egoísta e com-
o determina, quando na verdade o prometedora, refletindo as ten-
cérebro assim o determina porque 1 dências do Espírito, mas tudo
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.
ele veio com essa tendência. Trad. Guillon Ribeiro. 92. ed. 2. reimp. Rio poderá ser diferente ante a ação
de Janeiro: FEB, 2012. gloriosa do Amor.


Li, certa feita, a entrevista de um


cientista, explicando que, após
analisar exames de ressonância
magnética e tomografia compu-
Educar
“N
a maneira de conduzir a obra da educação, está a chave do
tadorizada de seu cérebro, cons- problema cuja solução o momento atual da Humanidade
tatou que tinha todas as caracte- reclama.
rísticas do psicopata, com forte Não há duas correntes de opinião quanto ao valor da educação.
tendência à agressividade. Todos a reconhecem e a proclamam como medida salvadora. Po-
No entanto, parecia não funcio- rém, há divergência no que respeita ao modo de educar. Existem
nar para ele o paralelismo, por- dois processos de educação: um, falso, que mascara a ignorância;
quanto era uma pessoa equili- outro, verdadeiro, que realmente conduz ao saber. Um que age de
brada e pacata. fora para dentro, outro que atua de dentro para fora. Um, artificial,
Quando o repórter pergun- ora maquiavelicamente empregado para confundir; outro, natural,
tou-lhe a que atribuía o fato de cujo alvo é esclarecer, libertar e aperfeiçoar o homem.
não ter desenvolvido um com- O ensino por autoridade, impondo princípios e doutrinas, avil-
portamento violento ou se com- ta o caráter e neutraliza as melhores possibilidades individuais. [...]
prometido na delinquência, ou- O ensino que se funda no processo de despertar os poderes
viu, surpreso, a resposta: latentes do Espírito é o único que realmente encerra e resolve o
– Creio que foi em virtude problema da educação.
das influências que recebi. Meus Baseando-se o ensino no apelo constante à razão e ao bom
pais dedicaram-me muito amor senso, gera-se a confiança própria, estimula-se a vontade, esclarece-
e carinho. Cresci num lar bem -se a mente – numa palavra – consegue-se que o educando faça a
ajustado e feliz, que me ajudou independência própria em todo o terreno, o que representa a ver-
a superar a sinistra profecia de dadeira nobreza de caráter.”
meus neurônios. Vinícius
Isso é notável, leitor amigo! Fonte: O mestre na educação. 10. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. cap. 10.
Lembra a questão 383, de O li- (Transcrição parcial.)
vro dos espíritos:

14 132 Reformador • Abril 2013


Capa

O livro dos
espíritos Farol a indicar caminhos
A. M E R C I S PA DA B O R G E S

A
história das civilizações se mento da natureza dos Espí- Seu conteúdo se distribui em
perpetua através dos livros, ritos e nos mistérios da vida quatro partes; os temas, adrede-
proporcionando o enri- de além-túmulo. Quem o lê mente escolhidos, são desenvol-
quecimento histórico e cultural vidos de forma muito original:
dos povos. O livro, cada vez perguntas e respostas. É uma
mais lido, torna-se instru- disposição que facilita agra-
mento atuante sobre a men- davelmente a leitura e o seu
te humana. Os livros tanto entendimento.
podem enriquecer, ampliar, A primeira edição dessa obra
libertar, quanto deturpar ou monumental foi revelada ao
escravizar consciências. Por- público a 18 de abril de 1857.
tanto, é necessário valorizar Não foi por acaso que essa data
aqueles que dignificam o ho- ficou gravada nos anais do Espi-
mem. Sob a luz abençoada do ritismo. Tão importante se tor-
Consolador, O livro dos espí- nou que, na atualidade, foi insti-
ritos comemora 156 anos a tuída como Dia Nacional do Es-
iluminar consciências. piritismo.
Segundo publicação do pró- O êxito do lançamento foi es-
prio Codificador: plêndido. A primeira edição esgo-
tou-se rapidamente. Em março
Contém a doutrina comple- de 1860, após revista, corrigida e
ta, como a ditaram os pró- ampliada, foi lançada a segunda edi-
prios Espíritos, com toda a ção, com seu conteúdo e formato
sua filosofia e todas as suas compreende que o Espiritis- definitivos. Completou-se, dessa
consequências morais. É a re- mo objetiva um fim sério, forma, o primeiro livro da Codifi-
velação do destino do ho- que não constitui frívolo pas- cação Espírita em toda sua ampli-
mem, a iniciação no conheci- satempo. 1 tude filosófica e moral.2

Abril 2013 • Reformador 133 15


Capa

O Espírito Baluze, em comuni- época se apressaram a publicar rio desencarnado, foi publicada a
cação mediúnica e espontânea, artigos favoráveis sobre essa obra sua biografia, de que extraímos o
faz referência a esse estandarte do monumental: seguinte excerto:
Espiritismo:
O livro dos espíritos, do Sr. Data do aparecimento de O
E quando tantas esperanças não Allan Kardec, é uma página no- livro dos espíritos a fundação
pedem senão para se espalhar, va do grande livro do infinito, e do Espiritismo que, até então,
quando tantas outras regiões estamos persuadidos de que só contara com elementos es-
estão, como essa, numa prostra- um marcador assinalará essa parsos, sem coordenação, e
ção mortal, desejamos que, em página. Ficaríamos desolados se cujo alcance nem toda gente
todos os corações, em todos os pensassem que acabamos de fa- pudera apreender. A partir
recantos perdidos deste mun- zer aqui um anúncio biblio- daquele momento, a doutrina
do, penetre O livro dos espíritos. gráfico; se pudéssemos supor prendeu a atenção dos homens
Só a doutrina que ele encerra que assim fora, quebraríamos sérios e tomou rápido desen-
será capaz de mudar o espírito a nossa pena imediatamente. volvimento. Em poucos anos,
das populações [...].3 (Destaque Não conhecemos absolutamen- aquelas ideias conquistaram
nosso.) te o autor, mas confessamos numerosos aderentes em todas
abertamente que ficaríamos fe- as camadas sociais e em todos
Em 1868, ao ser lançada A gê- lizes em conhecê-lo. Aquele que os países. Esse êxito sem pre-
nese, Allan Kardec ressalta em escreveu a introdução que ini- cedentes decorreu sem dúvida
suas páginas: cia O livro dos espíritos deve ter da simpatia que tais ideias des-
a alma aberta a todos os senti- pertaram, mas também é de-
O livro dos espíritos só teve con- mentos nobres. vido, em grande parte, à cla-
solidado o seu crédito, por ser a [...] reza com que foram expostas
expressão de um pensamento A todos os deserdados da Terra, e que é um dos característicos
coletivo, geral. Em abril de 1867, a todos os que caminham e dos escritos de Allan Kardec.6
completou o seu primeiro perío- caem, regando com suas lágri- (Destaque nosso.)
do decenal. Nesse intervalo, os mas o pó da estrada, diremos:
princípios fundamentais, cujas Lede O livro dos espíritos; isso O Sr. Camille Flammarion fez
bases ele assentara, foram suces- vos tornará mais fortes. Tam- um discurso emocionante junto
sivamente completados e desen- bém aos felizes, aos que pelos ao túmulo de Kardec:
volvidos, por virtude da progres- caminhos só encontram os
sividade do ensino dos Espíritos. aplausos da multidão ou os sor- [...] Quando, pelo ano de 1850,
Nenhum, porém, recebeu des- risos da fortuna, diremos: Estu- as manifestações, novas na
mentido da experiência; todos, dai-o; ele vos tornará melho- aparência, das mesas girantes,
sem exceção, permaneceram de res.5 (Destaques nosso.) das pancadas sem causa osten-
pé, mais vivazes do que nunca, siva, dos movimentos insólitos
enquanto que, de todas as ideias Chegara o momento em que o de objetos e móveis começa-
contraditórias que alguns tenta- eminente trabalhador deveria re- ram a prender a atenção pública,
ram opor-lhe, nenhuma preva- tornar ao lar espiritual. Comple- determinando mesmo, nos de
leceu [...].4 (Destaque nosso.) tara galhardamente a missão a imaginação aventureira, uma
que viera: a Codificação estava es- espécie de febre, devida à novi-
Tão importante se tornou O li- truturada no Pentateuco Conso- dade de tais experiências, Allan
vro dos espíritos que os jornais da lador. Tendo o grande missioná- Kardec, estudando ao mesmo

16 134 Reformador • Abril 2013


Capa

tempo o magnetismo e seus espíritos alcançou sua décima sexta 2. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB,
singulares efeitos, acompanhou edição francesa. E, nos dias atuais, 2009. Lembrança retrospectiva de um
com a maior paciência e clari- após 156 anos de divulgação, a obra Espírito.
4
vidência judiciosa as experimen- basilar da Codificação já foi tradu- ______. A gênese. Trad. Guillon Ribeiro,
tações e as tentativas numero- zida para as mais diversas línguas 52. ed. 5. reimp. Rio de Janeiro: FEB,
sas que então se faziam em Paris. do mundo, entre elas o japonês. 2012. Introdução, p. 16.
5
Recolheu e pôs em ordem os re- O livro dos espíritos é o alicerce ______. Revista espírita: jornal de estu-
sultados conseguidos dessa lon- sólido, a pedra angular dessa con- dos psicológicos. ano 1, n. 1, p. 64 e 65,
ga observação e com eles compôs soladora Doutrina, revivescência do jan. 1858. Trad. Evandro Noleto Bezerra.
o corpo de doutrina que publi- Evangelho de Jesus.8 4. ed. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011.
cou em 1857, na primeira edição A Doutrina Espírita, p. 64 e 65.
6
de O livro dos espíritos. Todos Referências: ______. ______. ano 12, n. 5, p. 188 e
1
sabeis que êxito alcançou essa KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. 189, mai. 1869. Trad. Evandro Noleto Be-
obra, na França e no estrangeiro. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. 4. reimp. zerra. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009.
Havendo atingido a 16a edição, Rio de Janeiro: FEB, 2012. pt. 1, cap. 3, Do Biografia do sr. Allan Kardec.
7
tem espalhado em todas as clas- método, it. 35. ______. ______. p. 197. Discursos pro-
2
ses esse corpo de doutrina ele- ______. Revista espírita: jornal de estudos nunciados junto ao túmulo. O espiritismo
mentar [...].7 (Destaque nosso.) psicológicos, ano 3, n. 3, p. 154 e 155, mar. e a ciência.
8
1860. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 3. ed. WANTUIL, Zêus; THIESEN, Francisco.
Doze anos depois de seu lança- 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. À venda Allan Kardec – Pesquisa biobibliográfica e
mento, precisamente em maio de O livro dos espíritos – Segunda edição. ensaios de interpretação. 4. ed. Rio de Ja-
3
1869, após a desencarnação do ______. ______. ano 9, n. 5, p. 199, mai. neiro: FEB, 1998. v. 3, cap. 1, As obras es-
amorável Codificador, O livro dos 1866. Trad. Evandro Noleto Bezerra. píritas de Allan Kardec.

Abril 2013 • Reformador 135 17


Ave, Cristo! 60 anos de lançament0
A N TO N I O C E S A R P E R R I DE C A RVA L H O

A
os 18 de abril de 1953, Os romances históricos do cita- Hoje, como outrora, na organi-
Emmanuel – o orientador do autor espiritual focalizam cená- zação social em decadência, Je-
espiritual de Francisco rios relacionados com a história do sus avança no mundo, restau-
Cândido Xavier – assinou a apre- Cristianismo: quatro deles vincula- rando a esperança e a fraterni-
sentação de Ave, Cristo!, em Pedro dos aos séculos iniciais do movi- dade, para que o santuário do
Leopoldo (MG), dando por con- mento cristão, enquanto Renúncia amor seja reconstituído em
cluída a redação do livro, que foi tem como pano de fundo algumas seus legítimos fundamentos.4
lançado pela FEB na passagem de ações religiosas na Espanha e na
novembro para dezembro do mes- França. Mesmo considerando-se as O século III é o cenário para as
mo ano. Já na edição de dezembro diferenças de contextos, “os cinco tramas relatadas em Ave, Cristo!.
de 1953, Reformador estampava romances em questão são adequa- No decorrer do período focali-
uma resenha da obra, sob o título dos e direcionados às vivências em zado no romance – quase 50 anos
Monumentos literários: curso no nosso tempo”.2 Tais obras – sucederam-se vários impera-
dores, diversos deles citados pelo
É o relato de uma série imensa [...] têm a finalidade de nos ser- autor espiritual: de Caracala –
de crimes, cometidos no tercei- vir de roteiro e fonte de inspira- governo de 211 a 217 d.C., pas-
ro século de nossa era, demons- ção para melhor conduzirmos, sando por Macrino, Heliogábalo,
trando a degradação do Paga- em termos morais, as nossas vi- Alexandre Severo, Maximino,
nismo na decadência do Império das. Ademais, o autor espiritual Gordiano, Filipe, Décio, Gallus,
Romano, e o triunfo do Cris- nos induz à reflexão sobre a Emiliano, até Valeriano (período
tianismo no martírio de multi- existência de certa similitude 253 a 260 d.C.). O enredo se de-
dões de Espíritos sublimes que entre o momento em que vive- senrola na capital do Império, na
desceram à Terra para exempli- mos e os três primeiros séculos Gália Narbonense e na região
ficar a Boa Nova.1 do Cristianismo – época em que da Campânia.
transcorreu a maior parte das A história dos personagens se
Esta edição de Reformador tam- histórias por ele narradas. [...]3 desenvolve a partir de episódio
bém publicava um anúncio: “Natal! trágico durante viagem em navio
Ano Novo! Presenteie seu amigo Na apresentação de Ave, Cristo!, de propriedade de Opílio Veturo,
com Ave, Cristo!”.1 Emmanuel fez a seguinte colocação: no momento em que Ápio Corvino

18 136 Reformador • Abril 2013


Ruínas da Igreja de S. João original,
em Lyon (foto do autor)

– velho pregador de Lyon (a anti- Ali ainda havia as reminis-


ga Lugdunum) na Gália Narbo- cências das perseguições do ano Taciano, então enfermo. Entre
nense –, foi assassinado em subs- 177, mas, no geral, “a comuni- muitos outros fatos relatados, des-
tituição ao alvo, que seria Quinto dade lionesa começara o servi- tacamos que no ano 243 nasceu
Varro. Ápio Corvino estava com ço de evangelização em relativa Blandina, como “uma bênção do
“mais de 70 anos, mas [...] porta- calma”.6 Céu”8 para o pai Taciano. Blan-
dor de um espírito juvenil”5 e há dina ficou enferma e, num mo-
também a informação de que “de- [...] Quinto Varro, agora trans- mento de impasses, ela e Taciano
pois de 177, estivera largo tempo formado em “irmão Corvino”, foram amparados pelos cristãos
no Egito, onde adquirira valiosas chegou à sala acanhada e pobre Basílio e sua filha adotiva Lívia,
experiências”.6 Com este fato, ocor- destinada às pregações da Igreja recém-chegados a Lyon. Basílio,
re uma guinada na vida de Quin- de São João, onde, segundo in- nascido em Roma e filho de es-
to Varro, que desponta como cris- formações obtidas, encontraria cravos gregos, se abeirava dos 70
tão, escondido na personagem de Horácio Níger para o anelado anos. Blandina ficou muito sen-
um novo Corvino. entendimento.7 sibilizada com o apoio espiri-
O agora irmão Corvino se dirige tual de Basílio e Lívia.
a Lyon, que Os enganos de patrícios roma- Em função do atendimento
nos em Lyon levaram a antiga citado, começaram as persegui-
[...] fora sempre um ponto de família de Varro à degeneração ções aos dois missionários. Ba-
convergência para os estrangei- moral, e ele próprio foi vítima sílio foi morto e Lívia, vítima de
ros. Perseguidos de vários luga- de seus familiares, mesmo após uma cegueira provocada, sofreu
res batiam às portas da Igreja, – como o missionário cristão Cor- chantagens e pressões para que
implorando socorro e asilo.7 vino – ter dado apoio a seu filho abandonasse a crença:

Abril 2013 • Reformador 137 19


meras existências mar-
cadas por renúncia e
dedicação. Neste ro-
mance, como em al-
guns outros, ele não
aparece como persona-
gem principal. 11
Em nossos dias, o sa-
crifício é substituído
por algumas renúncias
ou priorizações para o
norteamento da traje-
tória de nossas existên-
cias, com fidelidade aos
ensinos emanados do
Anfiteatro Trois Gaules, oficialmente reconhecido como local
Mestre Galileu e do mun-
dos sacrifícios do ano 177 d.C. (foto do autor) do espiritual, codificados
por Allan Kardec nas
[...] o Cristianismo é a loucura de Beijou as mãos paternas como Obras Básicas.
Jerusalém que pretende asfixiar alguém que saciava saudades
a saúde e a alegria de Roma. [...]9 terrivelmente sofridas e tentava Referências:
1
algo dizer, quando viu Blandi- REFORMADOR. ano 71, n. 12, p. 11(279)
Depois de uma peregrinação na, Basílio, Lívia e Rufo [...]. e 12(280), dez. 1953.
2
benfazeja, no final da vida, Lívia [...] centenas de almas radiantes CARVALHO, Flávio Rey. Os romances de
foi reconhecida por Taciano na seguravam lirial estandarte, em Emmanuel e o nosso tempo. Reformador.
região de Nápoles, passando-lhe o que brilhava a saudação tocante ano 128, n. 2.177, p. 18(312) a 20(314),
garoto Quinto Celso, que ela ha- e sublime: ago. 2010.
3
via adotado. Na realidade, era – Ave, Cristo! os que vão viver ______. A finalidade dos romances de
Quinto Varro reencarnado, que para sempre te glorificam e Emmanuel. Reformador. ano 128, n.
retornava em tarefa especial na saúdam!10 2.178, p. 18(352) a 20(354), set. 2010.
4
tentativa de recuperar Taciano. XAVIER, Francisco C. Ave, Cristo! Pelo Es-
Anos depois, o orgulhoso Ta- Há “[...] certa analogia entre pírito Emmanuel. 1. imp. Brasília: FEB,
ciano e o jovem Quinto Celso fo- os sacrifícios vividos pelos cris- 2012. p. 7.
5
ram sacrificados juntamente com tãos do século III e o papel a ser ______. ______. pt. 1, cap. 2, p. 27.
6
os cristãos, em Roma, no Anfitea- desempenhado pelos espíritas ______. ______. pt. 1, cap. 3, p. 65 e 62,
tro de Vespasiano. Ao adentrar no no processo de exemplificação do respectivamente.
7
mundo espiritual, Taciano reco- Evangelho na atual fase de tran- ______. ______. pt. 1, cap. 3, p. 64.
8
nheceu o pai na figura do jovem e sição, vivida na Terra, rumo ao ______. ______. pt. 2, cap. 1, p. 153.
9
dele ouviu: reajustamento dos valores huma- ______. ______. pt. 2, cap. 4, p. 225.
nos”. 3 Emmanuel, na sua traje- 10
______. ______. pt. 2, cap. 7, p. 311.
11
– Taciano, meu filho, agora po- tória do outrora orgulhoso sena- CARVALHO, Antonio Cesar Perri. Tra-
deremos trabalhar, em louvor dor Públio Lentulus até a con- jetória de Emmanuel. Reformador. ano
de Jesus, para sempre!... dição atual de exegeta do Evan- 125, n. 2.139, p. 23(229) a 25(231),
[...] gelho de Jesus, passou por inú- jun. 2007.

20 138 Reformador • Abril 2013


Esf lorando o Evangelho
Pelo Espírito Emmanuel

O novo
mandamento “Um novo mandamento vos dou:
– Que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei.”
– Jesus. (João, 13:34.)

A
leitura despercebida do texto induziria o leitor a sentir nessas palavras do
Mestre absoluta identidade com o seu ensinamento relativo à regra áurea.
Entretanto, é preciso salientar a diferença.
O “ama a teu próximo como a ti mesmo” é diverso do “que vos ameis uns
aos outros como Eu vos amei”.
O primeiro institui um dever, em cuja execução não é razoável que o homem
cogite da compreensão alheia. O aprendiz amará o próximo como a si mesmo.
Jesus, porém, engrandeceu a fórmula, criando o novo mandamento na comuni-
dade cristã. O Mestre refere-se a isso na derradeira reunião com os amigos queri-
dos, na intimidade dos corações.
A recomendação “que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei” assegura o
regime da verdadeira solidariedade entre os discípulos, garante a confiança frater-
nal e a certeza do entendimento recíproco.
Em todas as relações comuns, o cristão amará o próximo como a si mesmo, reco-
nhecendo, contudo, que no lar de sua fé conta com irmãos que se amparam efeti-
vamente uns aos outros.
Esse é o novo mandamento que estabeleceu a intimidade legítima entre os que se
entregaram ao Cristo, significando que, em seus ambientes de trabalho, há quem
se sacrifique e quem compreenda o sacrifício, quem ame e se sinta amado, quem faz
o bem e quem saiba agradecer.
Em qualquer círculo do Evangelho, onde essa característica não assinala as mani-
festações dos companheiros entre si, os argumentos da Boa Nova podem haver atin-
gido os cérebros indagadores, mas ainda não penetraram o santuário dos corações.

Fonte: XAVIER, Francisco C. Caminho, verdade e vida. 3. reimp. Brasília: FEB, 2012. cap. 179.

Abril 2013 • Reformador 139 21


Falando de Livro

O livro
espírita
na FEB
“O livro espírita é dos maiores veículos de divulgação da Doutrina codificada por
Allan Kardec, levando a mensagem para as mais longínquas partes do mundo.” 1

GERALDO CAMPETTI SOBRINHO

A
centenária e respeitável
instituição Federação
Espírita Brasileira (FEB),
desde seus primórdios, no final
do século XIX, quando foi fun-
dada, já se ocupava com impor-
tantes serviços para promover
a divulgação do Espiritismo.
O cuidado em preservar a
documentação arquivística, a fun-
dação da primeira livraria, a or-
ganização da biblioteca e a publi-
Foto da livraria antiga na Sede Histórica da FEB, Av. Passos
cação das obras sob os seus aus-
pícios constituíram impactantes ini- tante o desenvolvimento cientí- Atribuída a Mário Quintana,
ciativas da Casa de Ismael até mea- fico e tecnológico, com a inven- a feliz expressão: “Os livros não
dos do século XX, quando se insta- ção de poderosas mídias eletrô- mudam o mundo, quem muda o
lou o parque gráfico da Federação e nicas e digitais, guardou em seu mundo são as pessoas. Os livros
inaugurou-se, na gestão de Wantuil conceito a admirável capacidade só mudam as pessoas” apresenta,
de Freitas, o que ficou internamente adaptativa de acompanhar a evo- com inteligência, a extraordinária
conhecido como “a cidade do livro”. lução dos tempos e permanecer missão desse companheiro de to-
O livro foi o principal veículo atual e imprescindível ao registro, das as horas, nos mais diversificados
de difusão doutrinária. E, não obs- resgate e estudo de informações, formatos, sempre com o propósito
assim como à aquisição e pros- de ilustrar, esclarecer e consolar, in-
1 pecção de conhecimentos trans- termediando os saberes acumula-
CAMPETTI SOBRINHO, Geraldo (Coord.).
O espiritismo de a a z. 4. ed. 2. reimp. Rio de Ja- formadores de costumes e cultu- dos no processo de evolução antro-
neiro, FEB: 2012. Verbete livro espírita, p. 514. ras sociais e espirituais. possociopsicológica e espiritual do

22 140 Reformador • Abril 2013


Biblioteca de Obras Raras, na Sede da FEB, em Brasília

ser humano nas variadas fases por rança no segmento cada vez mais tálogo da maior editora espírita
que atravessou a Humanidade. numeroso da população mundial do Brasil e do planeta, com a pro-
O livro é o médium da informa- de pessoas na terceira idade. fícua produção do “livro espírita
ção, do conhecimento e da sabedo- A FEB Editora, mantendo “o tra- para um novo mundo”.
ria. E o livro espírita possui a impor- dicional ainda mais bonito”, pre- Reconhecemos, com a humil-
tante missão de espargir luzes de serva o conteúdo espírita de exce- dade que ainda precisamos con-
esclarecimento e consolação a todas lência, com rigorosa base nas obras quistar, que nossa atuação em prol
as mentes sedentas de explicações e organizadas por Allan Kardec, e da difusão doutrinária é diminuta
àquelas em busca de entendimen- inova com o atual conceito edito- se comparada com as oportunida-
tos, bem como aos corações aflitos rial de reunir em um mesmo pro- des de trabalho e aprendizado que
que anseiam apaziguar sofrimentos duto a profundidade e a acessibili- constantemente recebemos da
e encontrar alívio aos seus pesares. dade, a seriedade e a leveza em pro- bondade divina.
Ciência, filosofia, religião, histó- jetos gráficos arrojados que refle- O Espiritismo merece esse em-
ria, arte e educação são algumas tem beleza, harmonia e utilidade. penho da FEB Editora e você, ami-
das facetas exploradas por esse Reedições com novas diagra- go leitor, também é digno de nos-
veículo disseminador da luz em pá- mações e oportunos lançamentos sa atenção e carinho na oferta do
ginas encardidas pelo tempo na somam-se, em trabalho de equi- melhor livro espírita que puder-
vestimenta de obras raras e valiosas, pe, para constituir o precioso ca- mos publicar.
como as que podem ser pesquisa-
das na Biblioteca de Obras Raras da
FEB, fisicamente em Brasília, ou Ao leitor
pelo portal <www.febnet.org.br>, Informamos as referências completas sobre os autores men-
no link “Pesquisas – Obras Raras”. cionados na entrevista de Éden Ernesto da Silva Lemos, publicada
Entretanto, o livro também se em Reformador de fevereiro último, p. 10(48) a 12(50):
reveste de nova roupagem, no con- LEGOFF, Jacques. História e memória. Campinas, SP: Editora da
teúdo ou na forma de apresenta- Unicamp, 2008.
ção, encantando crianças, desper- RICCEUR, Paulo. A memória, a história, o esquecimento.
tando o interesse de jovens, educan- Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2010.
do adultos e estimulando a espe-

Abril 2013 • Reformador 141 23


Esde – 30 anos
Ide e pregai
“E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura.”
(Marcos, 16:15.)
“E, indo, pregai, dizendo: É chegado o Reino dos céus. Curai os enfermos,
limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios; de graça
recebestes, de graça dai.” (Mateus, 10:7 e 8.)

A
orientação de Jesus indica da obra divina, cada um em si [...] Ide e pregai a palavra divi-
a extensão do programa mesmo, para que ela transborde na. É chegada a hora em que
de trabalho que compete a em ações efetivas no contato com deveis sacrificar à sua propaga-
todos os que se inteiram dos ensi- o semelhante, dando de graça o ção os vossos hábitos, os vossos
namentos do Evangelho. O apren- que de graça é recebido. trabalhos, as vossas ocupações
dizado é o primeiro passo, vindo, Da perspectiva em que a Dou- fúteis. Ide e pregai. Convosco es-
em seguida, o compromisso de es- trina Espírita nos apresenta a vi- tão os Espíritos elevados. [...]1
palhar a mensagem, para que seja da, fica evidente que cada um é
possível a renovação do mundo. artífice do seu caminho evolutivo Como se pode observar, não se
Na execução de sua missão, e ninguém será dispensado do esfor- trata simplesmente de pregar com
Jesus falou ao povo, esclareceu, ço de se aprimorar. Mas, destaca-se a palavra, mas com o exemplo,
assistiu aos necessitados de toda também a informação de que, no fruto da convicção, que produz a
ordem e orientou os discípulos a processo de ampliação do conhe- reforma íntima do candidato ao
fazer o mesmo. Não há, no Evan- cimento, é possível contar com o serviço no campo do Senhor.
gelho, base para supor que Ele apoio de companheiros mais ex- O Espiritismo vem se propa-
orientasse simplesmente visando perientes. Não tem sido outra a gando pela Terra, porque há aque-
à pregação pomposa e vazia em atitude dos abnegados mentores les que entenderam e vêm aten-
nome de qualquer tipo de hierar- espirituais, que não se cansam de dendo a esse chamado, alguns
quia ou para satisfação de vaidades nos intuir e orientar por todos os com mais, outros com menos en-
e veleidades humanas transitórias. meios. Cada um de nós também, à volvimento. Sua difusão iniciou-
A única autoridade reconheci- medida que avançamos no apren- -se com o livro, as revistas, jornais
da pela Boa Nova é a que resulta da dizado da Doutrina Espírita, as- e a propaganda boca a boca. No
misericórdia e da dedicação em sim como recebemos ajuda, somos entanto, o que levou o Espiritismo
favor do próximo. Por isso mes- convidados a auxiliar aqueles com
mo, o “e, indo” não se restringe quem compartimos a caminhada. 1
simplesmente ao caminhar em Erasto, discípulo de Paulo de KARDEC, Allan. O evangelho segundo o
espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 130. ed.
direção a algum lugar, mas aplica- Tarso, dirigindo-se aos espíritas, 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2012. cap.
-se ao movimento de realização propõe: 20, Missão dos espíritas, it. 4.

24 142 Reformador • Abril 2013


a destacar-se foi o seu caráter pro- Allan Kardec e dos autores, encar- para a lógica da lei de causa e efei-
fundamente esclarecedor e conso- nados e desencarnados, que deram to, pela qual cada um é respon-
lador, que movimenta as fibras seguimento à revelação do Espiri- sável pelo que é e faz ou deixa de
mais íntimas do indivíduo, geran- tismo para a Humanidade. A par- fazer.
do a convicção quanto à vida fu- tir daí, travou-se a luta pela revi- Na tentativa de aproveitar os
tura, convidando-o à transforma- talização do estudo, com o ma- recursos técnicos disponíveis e as
ção moral inadiável e ao posicio- nuseio dos livros espíritas e criação demandas da sociedade por mais
namento mais construtivo no am- de cursos para favorecer o estudo amplos conhecimentos da reali-
biente onde vive. do Espiritismo pelas crianças, jo- dade espiritual, o Movimento Es-
Enquanto os livros eram pro- vens e adultos. pírita, além dos meios tradicio-
duzidos e traduzidos para diver- Ocorreu, assim, uma revitaliza- nais e necessários como os livros,
sos idiomas, os centros espíritas se ção do “ide e pregai” com o fim de revistas, jornais, palestras, cursos,
multiplicaram e congressos foram preparar o Movimento Espírita seminários, encontros, congressos,
realizados, no final do século para a era da informática, fase na vem apresentando o conteúdo
XVIII e início do XIX. Um período qual, a par da disseminação de espírita por meio de CDs, DVDs,
de acomodação se estabeleceu na exemplos negativos, a velocidade audiobooks, e-books, filmes e de
rotina das instituições com a rea- de propagação de informações e outros recursos disponibilizados
lização das palestras públicas, tra- conhecimentos promove o desen- pela Internet, a maior de todas as
balhos mediúnicos e atividades de volvimento intelectual, que ad- maravilhas da tecnologia da co-
assistência social, com pouco in- quire maturidade e passa a ques- municação.
centivo ao estudo. Nesse período, tionar os valores morais de facha- Há, portanto, múltiplos cami-
surgiram os pioneiros, os traba- da usados pelas sociedades e suas nhos para a construção do conhe-
lhadores que marcaram sua pre- instituições para regular as rela- cimento espírita. Com a utilização
sença nas instituições a que se fi- ções entre as pessoas. Estes exem- dessa multiplicidade de recursos,
liaram e no Movimento Espírita plos negativos e o questionamen- pode-se atuar, por exemplo, pela
por eles influenciado. to geram instabilidade nas rela- leitura, pela pesquisa, pela reflexão
Como resultado desse período ções e a busca de novos parâ- e pela elaboração mental, num es-
de experiências e de amadureci- metros com a abertura de possibi- forço individual de autodidatismo.
mento do Movimento Espírita, lidade de entendimento das leis No entanto, esse procedimento exi-
identificou-se a necessidade das que regulam a vida, conduzindo ge dedicação e disciplina, que nem
casas espíritas se voltarem para a sempre o interessado possui, preci-
origem, a base, ou seja, o estudo,
prática e divulgação do Espiri-
tismo, utilizando as obras de

Abril 2013 • Reformador 143 25


sando, muitas vezes, de auxílio para são, pela visão de como as obras porque aumentou o contingente
adquirir as habilidades e condições básicas e as complementares se con- de pessoas que, curiosas pelo que
pessoais com que possa desenvol- jugam no estabelecimento dos ali- veem e ouvem, buscam os centros
ver um estudo individual de longo cerces seguros do saber espírita. para esclarecimentos e possível
curso, o qual poderá acompanhá- O aprofundamento será incen- aprofundamento dos temas. Entre
-lo por toda a sua existência de tivado pelo facilitador/monitor da todas as opções, o Estudo Siste-
Espírito imortal. turma e ficará por conta do parti- matizado da Doutrina Espírita, ao
Perguntas naturais podem sur- cipante, que pode valer-se das fon- lado das reuniões, que oferecem
gir, como: Por onde começar? Com tes bibliográficas, indicadas no pró- oportunidade do estudo de cada
quem falar no caso de dúvidas? prio programa, e avançar pelos uma das obras básicas, é uma das
Como selecionar livros, que real- caminhos alternativos indicados principais formas de estudo para
mente agregam, evitando informa- anteriormente, de acordo com o os que travam os primeiros conta-
ções desencontradas e, muitas ve- tempo de que dispõe. tos com o Espiritismo.
zes, falsas, que mais confundem O Esde atende, assim, à condi- Em síntese, o Espiritismo veio
que auxiliam? Como estabelecer ção de estabelecimento do diálo- anunciar essa nova era de vivência
um roteiro adequado de leitura, que go no grupo, para dirimir dúvidas mais consciente das leis divinas. O
favoreça a construção do saber? e ampliar o entendimento, bem conhecimento é fundamental pa-
Em diversos momentos, poderá sur- como contempla as diferenças in- ra libertar a pessoa da ignorância,
gir a necessidade de intercâmbio de dividuais, oferecendo a cada um a porém, o convite da Espiritualida-
ideias. Com quem trocar essas ideias chance de atuar como sujeito de de superior, por meio do “ide e
e experiências? Com quem falar seu processo de construção do co- pregai”, vai além. Não basta supe-
sobre os acontecimentos cotidianos nhecimento, em seu próprio ritmo. rar a ignorância intelectual, pois é
e sobre como utilizar os conhecimentos Além do Esde, a Instituição Espíri- chegado o momento da transfor-
adquiridos nas situações da vida? ta pode oferecer alternativas aos mação íntima para a maior parte
Sensível às necessidades dos seus seus frequentadores, como o Es- dos habitantes da Terra, quando a
frequentadores, a Casa Espírita pre- tudo Aprofundado da Doutrina sintonia do sentimento com o bem
cisa oferecer alternativas de aco- Espírita (Eade), o estudo da me- se faz mandatório, pela ampliação
lhimento e encaminhamento, que diunidade, das obras básicas etc. da consciência que conduz à vi-
possibilitem não respostas prontas, No atendimento ao convite de vência, à prática pela convicção de
mas a construção do conhecimento Jesus, os espíritas compreendem e que ninguém faz mal a outrem
a partir da correlação do conteúdo as instituições espíritas atuam sem prejudicar a si mesmo e de
teórico com a vida prática. Nesse com a consciência de que a maior que a felicidade pessoal só é possí-
sentido, o caminho proposto pelo força de convencimento e envol- vel se existir empenho para a pro-
Esde é interessante, porque facilita vimento das pessoas nesse ideal moção da felicidade alheia. Este é
a interação entre pessoas que têm renovador continua sendo o pró- o momento de se incentivar o sen-
diferentes níveis de conhecimento. prio exemplo do adepto, quando, tir, baseado nos conhecimentos ad-
Um programa de Esde bem elabo- em seu dia a dia, consegue refletir, quiridos, para o domínio dos ins-
rado proporá o estudo de temas a nos atos, o conhecimento trans- tintos primitivos que retêm o ser
serem aprofundados gradativa- formador que o Espiritismo ofe- na retaguarda da evolução; de
mente, levando o interessado a rece. Por isso, seguem atuais e fun- auxiliar, pela reflexão, a escolha
adentrar o universo riquíssimo das damentais as oportunidades do consciente pelo caminho liberta-
ideias renovadoras da Doutrina diálogo e do intercâmbio de expe- dor a ser trilhado gradativamente
Espírita, passo a passo, numa abor- riências nas casas espíritas. Em nos- com a consequente mudança nas
dagem que favorece a compreen- sos dias, ainda mais que antes, atitudes e comportamentos.

26 144 Reformador • Abril 2013


Em dia com o Espiritismo

Biodiversidade
biológica M A RTA A N T U N E S M O U R A

E
xpressão corriqueira nos dias nidades, que se organizam em gridem materialmente. Quem
atuais, biodiversidade bioló- ecossistemas. “Ecossistema é um pudesse acompanhar um mundo
gica ou biodiversidade refere- sistema de interação e relações em suas diversas fases, desde o
-se à variedade de seres vivos do entre seres vivos (plantas, animais instante em que se aglomera-
Planeta e às diferentes relações eco- e micro-organismos) e o ambiente ram os primeiros átomos desti-
lógicas que estabelecem, entre si e em que eles vivem, formado tam- nados a constituí-lo, vê-lo-ia per-
com os ambientes da Natureza. O bém por fatores químicos e físicos correr uma escala incessantemen-
estudo da biodiversidade, segundo (água, ar, nutrientes, luz solar, te progressiva, mas de degraus im-
a Ciência, abrange três níveis: temperatura, chuvas etc.).”2 perceptíveis para cada geração,
e a oferecer aos seus habitantes
• Variedade biológica: os indivíduos O Espiritismo extrapola o conhe- uma morada cada vez mais agra-
são agrupados em espécies de acor- cimento científico porque as suas dável, à medida que eles próprios
do com a história evolutiva em co- orientações consideram o mundo fí- avançam na estrada do progres-
mum. Espécie “é um grupamento sico e o extrafísico. Assim, os espíri- so. Marcham, assim, paralela-
de indivíduos com profundas se- tas entendemos que a biodiversidade mente, o progresso do homem,
melhanças entre si. Esses indiví- presente em cada orbe planetário é, o dos animais, seus auxiliares, o
duos vivem na mesma região geo- efetivamente, definida pelo Criador dos vegetais e o da habitação, por-
gráfica e mostram fortes seme- supremo, tendo em vista a destina- que nada permanece estacioná-
lhanças bioquímicas [...], origi- ção de cada mundo. Sabemos tam- rio na Natureza. [...]4
nando novos descendentes férteis bém que todos os seres da Criação
e com as mesmas características”.1 evoluem, pois “o progresso é uma Os seres vivos, que integram os
• Variedade genética: os indivíduos das leis da Natureza. Todos os seres ecossistemas, não vivem isolados
de uma mesma espécie são ge- da Criação, animados e inanimados, na Natureza. A sua manutenção e
neticamente diferentes, pois ca- estão submetidos a ele pela bon- sobrevivência dependem de inter-
da um possui uma combinação dade de Deus, que deseja que tudo -relações: internas com os organis-
própria de genes. se engrandeça e prospere. [...]”.3 mos da própria espécie, externas
• Variedade ecológica: é a inter-rela- com outros seres, e, ambas, com os
ção dos indivíduos da mesma es- Ao mesmo tempo que os seres diferentes ambientes. Mas, para ga-
pécie com os de outras espécies, vivos progridem moralmente, os rantir a sobrevivência dos ecossis-
conduzindo à formação de comu- mundos que eles habitam pro- temas, faz-se necessário manter a

Abril 2013 • Reformador 145 27


“[...] interdependência física e bio- constituiu um dos traços inde- qualquer tipo de orgulho nacional,
lógica entre suas diferentes partes. léveis de toda a criação.7 o registro desses valores aponta
[...] Em um ecossistema, os orga- para a enorme responsabilidade da
nismos e os fatores físicos estão Contudo, estamos distantes de preservação de tais dádivas divi-
conectados por constantes trocas saber dimensionar a riqueza e a be- nas. Na verdade, a biodiversidade
de energia e matéria”.5 Assim, se um leza da biodiversidade planetária. do país está seriamente ameaçada
ecossistema é ameaçado, todas as Os cientistas acreditam que desco- pelas contínuas ações predatórias
suas espécies também o serão. nhecemos mais de 90% das espécies do homem. A situação é particular-
Camille Flammarion, espírita e que o Planeta abriga. Neste contex- mente grave na região tropical com
respeitado astrônomo francês do to, o Brasil é considerado o país da a crescente destruição de florestas.
passado, demonstra a semelhança megadiversidade, não somente pelo A título de exemplo, recordemos o
das ideias espíritas com os atuais expressivo número de plantas que que aconteceu com a Mata Atlânti-
postulados científicos, ao explicar são encontradas apenas no terri- ca, da época do descobrimento do
como surgiu a biodiversidade bio- tório brasileiro (chamadas de plan- Brasil à atualidade:
lógica dos seres domesticados: tas endêmicas), mas, também, pelo
significativo número de mamíferos, Estendia-se do Rio Grande do
[...] A variabilidade das formas pássaros, répteis e anfíbios: Norte ao Rio Grande do Sul, e
específicas é governada por certo ocupava uma área de 1,3 milhão
número de leis muito complexas No Brasil é encontrada 1 em cada de quilômetros quadrados [Área
[...]. Nossas espécies domésticas 11 espécies de mamíferos exis- atual: aproximadamente 52.000
sofreram modificações profun- tentes no mundo,
das, que se transmitiram por he- nos dando um
reditariedade, durante período total de 522 espé-
assaz longo. [...] Por outro lado, cies [conhecidas].
está provado que a variabilidade, Quando o assunto
uma vez começando a manifes- são as aves, temos
tar-se, não cessa totalmente de 1 em cada 6 espécies do Pla-
operar, visto como novas varieda- neta, totalizando 1.622. Para o to-
des ainda se verificam, de tem- tal global de 468 espécies de rép-
pos a tempos, entre as nossas es- teis, temos 1 em cada 15, e 1 em
pécies domésticas mais antigas.6 cada 8 das 516 espécies de anfí-
bios. [...] Essa riqueza de espécies
A variedade das espécies na Terra corresponde a pelo menos 10%
é algo fenomenal. Sob a direção dos anfíbios e mamífe-
amorosa do Cristo, alguns crité- ros, e 17% das aves en-
rios foram por ele definidos, co- contrados no Planeta.8
mo nos assevera Emmanuel:
Acredita-se que o
O ideal de beleza foi a sua Brasil seja o país mais rico do
preocupação dos primeiros mo- mundo no que se refere à di-
mentos, no que se referia às edi- versidade de vida terrestre e de
ficações celulares das origens. É água doce. Perde para a Indonésia
por isso que, em todos os tem- em relação aos ecossistemas mari-
pos, a beleza junto à ordem, nhos. 9 Mas, longe de alimentar

28 146 Reformador • Abril 2013


km2]. [...] O grande destaque da Cabe-nos, então, algo fazer em da corrupção, em cujas fileiras
mata original era o pau-brasil, prol do equilíbrio ambiental. Co- permanecíamos até ontem, au-
que deu origem ao nome do nos- mecemos por refletir a respeito xiliando-os a despertar a cons-
so país. [...] O pau-brasil hoje é das considerações e apelo de Ani- ciência divina para a vida eter-
quase uma relíquia, existindo ape- ceto, instrutor do Ministério das na! [...] Cooperemos, por nossa
nas alguns exemplares no Sul da Comunicações da colônia espiri- vez, no despertar dos homens,
Bahia. Atualmente da segunda tual Nosso Lar, que consta do li- nossos irmãos, relativamente
maior floresta brasileira restam vro Os mensageiros. Recomenda- ao nosso débito para com a na-
apenas cerca de 5% de sua exten- mos a leitura integral do capítulo tureza maternal. [...]13
são original. Em alguns lugares 42, do qual destacamos as seguin-
como no Rio Grande do Norte, tes citações: Referências:
1
nem vestígios. Hoje a maioria da SIMON, Alba.; GOUVEIA, Maria Teresa de
área litorânea que era coberta pe- • [...] Há milênios a Natureza es- J. O destino das espécies: como e porque
la Mata Atlântica é ocupada por pera a compreensão dos homens. estamos perdendo a biodiversidade. Rio
grandes cidades, pastos e agricul- Não se tem alimentado tão so- de Janeiro: Garamond, 2011. cap. 1, p. 13.
2
tura. Porém, ainda restam man- mente de esperança, mas vive ______. ______. p. 32.
3
chas da floresta na Serra do Mar em ardente expectação, aguar- KARDEC, Allan. O evangelho segundo o
e na Serra da Mantiqueira, no dando o entendimento e o au- espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezer-
sudeste do Brasil.10 xílio dos Espíritos encarnados ra. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010.
na Terra, mais propriamente con- cap. 3, it. 19, p. 89.
siderados filhos de Deus. [...]11 4
______. ______. p. 90.
5
• [...] Enquanto zelais, cuidadosa- SIMON, Alba.; GOUVEIA, Maria Teresa de
mente, pela manutenção das ba- J. O destino das espécies: como e porque
ses da vida, tendes visto a civili- estamos perdendo a biodiversidade. Rio
zação funcionando qual vigorosa de Janeiro: Garamond, 2011. cap. 1, p. 33.
6
máquina de triturar, converten- FLAMMARION, Camille. Deus na natureza.
do-se os homens, nossos ir- Trad. Manuel Quintão. 7. ed. 1. reimp. Rio
mãos, em pequenos Moloques de Janeiro: FEB, 2010. t. 2, cap. 2, p. 175.
7
de pão, carne e vinho [...], des- XAVIER, Francisco C. A caminho da luz.
preocupados do imenso débito 37. ed. 4. reimp. Rio de Janeiro: FEB,
para com a Natureza amorável e 2012. cap. 2, it. As construções celulares.
8
generosa. Eles oprimem as cria- SIMON, Alba.; GOUVEIA, Maria Teresa de J.
turas inferiores, ferem as forças O destino das espécies: como e porque es-
benfeitoras da vida, são ingratos tamos perdendo a biodiversidade. Rio de
para com as fontes do bem, aten- Janeiro: Garamond, 2011. cap. 4, p. 75 e 76.
9
dem às indústrias ruralistas, mais ______. ______. p. 76.
10
pela vaidade e ambição de ganhar, Mata Atlântica. it. Localização geográfica
que lhes são próprias. da região. Disponível em: <http://educar.sc.
[...]12 usp.br/licenciatura/trabalhos/mataatl.htm>.
11
• [...] Escutemos os ge- XAVIER, Francisco C. Os mensageiros. Pelo
midos da criação, pedin- Espírito André Luiz. 2. ed. esp. 5. reimp. Rio
do a luz do raciocínio hu- de Janeiro: FEB, 2011. cap. 42, p. 260.
12
mano, mas não olvidemos, tam- ______. ______. p. 261.
13
bém, a lágrima desses escravos ______. ______. p. 262.

Abril 2013 • Reformador 147 29


Evangelização Espírita Infantojuvenil

A tarefa de
evangelização no
Centro Espírita
Departamento de Infância e Juventude/FEB
quipe de Jesus em ação”.1 Esta é a defini-

“E
jovens, oferecendo-lhes ferramentas para o autoapri-
ção de Instituição Espírita dada por Be- moramento e para a construção do mundo novo. A
zerra de Menezes em mensagem datada fé raciocinada, a prática da caridade e a formação do
de 1982, que aborda a relevância da tarefa de evange- homem de bem, fundamentadas no conhecimento
lização espírita infantojuvenil. da Doutrina Espírita, articulam pensamento, senti-
Sintética, mas completa, tal definição convida os mento e ação, dando-lhes coerência e fortalecendo
trabalhadores espíritas a uma ação conjunta e inte- os Espíritos recém-reencarnados em suas escolhas e
grada, fortalecida nos ensinos do Evangelho de Jesus atitudes diante da vida.
e dinamizada pelo espírito de união que deve per- Por essa razão, a organização da atividade de
mear o estudo, a prática e a difusão da Doutrina evangelização espírita infantojuvenil nas instituições
Espírita. espíritas apresenta-se como ação relevante e é des-
O conjunto das nobres ações, realizadas pelos tacada por Espíritos como Bezerra de Menezes,
centros espíritas, encontra ressonância no coração Guillon Ribeiro, Francisco Thiesen e Joanna de
de todos os que buscam o esclarecimento e o con- Ângelis, cujas mensagens e orientações, de alto signi-
solo proporcionado pelos ensinamentos espíritas, ficado, são apresentadas nos trechos a seguir:
abrangendo a sociedade em geral, desde a tenra
idade. Bezerra de Menezes
Referindo-se aos compromissos da Instituição • “Tem sido enfatizado, quanto
Espírita, Bezerra completa: possível, que a tarefa da Evan-
gelização Espírita Infantoju-
[...] como tal [equipe de Jesus em ação], deverá con- venil é do mais alto significado
cretizar seus sublimes programas de iluminação das dentre as atividades desenvol-
almas, dedicando-se com todo empenho à evangeli- vidas pelas Instituições Espíri-
zação da infância e da mocidade.1 tas, na sua ampla e valiosa pro-
gramação de apoio à obra educativa do homem.
A ação evangelizadora nos centros espíritas pro- Não fosse a evangelização, o Espiritismo, distante
move a aproximação da mensagem de Jesus e dos de sua feição evangélica, perderia sua missão de
ensinamentos espíritas aos corações das crianças e Consolador [...].”2

30 148 Reformador • Abril 2013


• “É forçoso reconhecer que Espiritismo sem apri- • “Compreendendo que a tarefa da Evangelização
moramento moral, sem evangelização do ho- espírita-cristã é de primacial importância, o diri-
mem é como um templo sem luz.”2 gente da Casa Espírita se sentirá envolvido com o
• “Os responsáveis pelos Centros, Grupos, Casas labor nobilitante, dispondo-se a brindar toda a
ou Núcleos espiritistas devem mobilizar o maior cooperação necessária ao êxito do mesmo, o que
empenho e incentivo, envidando todos os esfor- implica resultado positivo da sua administração,
ços para que a evangelização de crianças e jovens que não descuida dos tarefeiros do porvir [...].”5
faça evidenciar os valores da fé e da moral nas
gerações novas. É necessário que a vejam com Joanna de Ângelis
simpatia, como um trabalho integrado nos obje- • “[...] Graças ao trabalho prepa-
tivos da Instituição e jamais como atividade à ratório que se vem realizando há
parte.”3 anos junto à criança e ao jovem, é
que encontramos uma floração
Guillon Ribeiro abençoada de trabalhadores, na
• “Que dirigentes e diretores, atualidade, que tiveram o seu iní-
colaboradores, diretos e indire- cio sadio e equilibrado nas aulas
tos, prestigiem sempre mais o de evangelização espírita, quando dos seus dias pri-
atendimento a crianças e jo- meiros na Terra...”6
vens nos agrupamentos espíri- • “Este ministério de preparação do homem do
tas, seja adequando-lhes a am- amanhã facultará ao Brasil tornar-se realmente
biência para tal mister, adaptan- “O coração do mundo e a Pátria do Evangelho
do ou, ainda, improvisando meios, de tal sorte que [...].”6
a evangelização se efetue, se desenvolva, cresça,
ilumine...”4 Esperamos que os trechos supramencionados
• “É imperioso se reconheça na evangelização das possam inspirar e auxiliar os tarefeiros a uma ação
almas tarefa da mais alta expressão na atualidade conjunta nos centros espíritas, unindo esforços e
da Doutrina Espírita. [...] sua ação preventi- ideais em busca da formação do homem novo e da
va evitará derrocadas no erro, novos desastres construção do mundo novo, percebendo na tarefa de
morais [...].”4 Evangelização Espírita Infantojuvenil espaço signifi-
cativo de atuação junto às novas gerações. Prossiga-
Francisco Thiesen mos, unidos, equipes de Jesus em ação!
• “Ao dirigente espírita cabe a
tarefa de propiciar aos Evange- Referências:
1
lizadores todo o apoio necessá- DUSI, Miriam M. (Coord.). Sublime sementeira: Evangelização
rio ao bom êxito do empreen- espírita infantojuvenil. 2. reimp. Brasília: FEB, 2012. Entrevista
dimento espiritual. Não apenas com Bezerra de Menezes, 1982. pt. 1, p. 14, resposta à q. 4.
2
a contribuição moral de que ne- ______. ______. p. 13 e 14, resposta à q. 4.
3
cessitam, mas também as con- ______. ______. p. 15, resposta à q. 6.
4
dições físicas do ambiente, o entusiasmo doutri- ______. Mensagem de Guillon Ribeiro, 1963. pt. 2, cap. 15,
nário, atraindo os pais, as crianças e os jovens, p. 199.
5
facilitando o intercâmbio entre todos os partici- ______. Entrevista com Francisco Thiesen, 1997. pt. 1, p. 40, res-
pantes e, por sua vez, envolvendo-se no trabalho posta à q. 11.
6
que é de todos nós, desencarnados e encarna- ______. Entrevista com Divaldo Franco, sob inspiração de
dos.” 5 Joanna de Ângelis. pt. 1, p. 25, resposta à q. 9.

Abril 2013 • Reformador 149 31


O século XXI chegou.
A lei de talião
finalmente se foi? RO GÉRIO MIGUEZ

N
estes tempos de moderni- mas existia como um preceito mo- trar que esta lei ainda existe, deter-
dade, quando tudo se reno- ral com aplicação civil. Embora minar quem tem autoridade para
va e se transforma, hábitos, de caráter divino, podia ser e era aplicá-la e em que circunstâncias.
costumes e conceitos do passado empregada pelos homens. A introdução deste princípio nas
encontram cada vez menos espaço Entretanto, esta antiquíssima leis da Humanidade visou estabe-
para debates. Há mesmo certa aver- lei, de quase quatro milênios, con- lecer uma primeira noção de jus-
são generalizada pelas tradições, tinua sendo usada a todo mo- tiça nas relações sociais, visto que,
práticas e ideias antigas. Tudo tem mento, para surpresa e espanto de no passado, a cobrança da dívida,
que ser atual, novo, tecnológico, muitos, sempre que necessário, fosse ela qual fosse, era desmedida,
cabeça aberta para as inovações. sob certas condições, é verdade. En- alcançava o devedor de um modo
Falar de passado é out, in é falar tretanto, agora não deveria mais desproporcional ao prejuízo cau-
do moderno. ser aplicada pelos homens. sado, extrapolava o direito de res-
Hoje em dia, de modo geral, não Diz a nossa História que esta sarcimento da possível perda. Os
se sabe quem foi este tal de talião. máxima já constava de um antigo fortes se sobrepunham aos fracos.
Assim, a primeira informação de código de leis, elaborado na Me- Então, em tempos bárbaros, a pro-
interesse para todos nós é que ta- sopotâmia, no reino da Babilônia, posta de uma lei que acenasse com
lião não foi uma pessoa, é uma pa- chamado Código de Hamurabi visão mais equânime da justiça foi
lavra oriunda do latim talionis que (século XVIII a.C.). É também o uma dádiva para as sociedades da
significa tal, parelho, de tal tipo, por conhecido princípio do olho por época, um verdadeiro avanço mo-
isso não se escreve com letra capi- olho, dente por dente de Moisés, um ral. Tentou equacionar as questões
tal. Também conhecida por pena conceito de fato disciplinador. Há jurídicas, de modo a não incenti-
de talião, sugere desta forma uma uma discussão na História se Moi- var a vingança, impedindo que o
pena ao infrator, semelhante, pare- sés teria se inspirado no Código de castigo fosse maior que o próprio
lha, tal qual o prejuízo daquele que Hamurabi, ou se propôs esta lei pa- delito, ou seja, devia-se pagar, mas
se sentiu prejudicado. ra o povo judeu espontaneamente, na mesma moeda.
Relacionava-se às questões do talvez inspirado. Essa questão, no Os tempos escoaram, e chega à
delito e de sua correspondente momento, é de pouca relevância Terra o Espírito puro por excelên-
punição. É vista por muitos como para a nossa abordagem. O que cia: Jesus, o Cristo. O que faz Jesus
cruel e bárbara, extemporânea, nos interessa de imediato, é mos- em relação a esta lei? Derroga-a?

32 150 Reformador • Abril 2013


Dita o seu fim? Decreta a sua nuli-
dade como lei de Deus? Não, mui-
to pelo contrário, ratifica o princí-
pio, ao dizer: “Quem com a espa-
da fere com a espada será ferido”,
naquele inesquecível momento em
que, traído, estava para ser apri-
sionado, quando Pedro, para de-
fendê-lo, desembainha a espada e,
com um golpe certeiro, fere Malco,
o servo do sumo sacerdote que lá
estava para dar cumprimento ao
fato que já havia sido predito por
Ele mesmo. (Mateus, 26:52.)
É certíssimo que Jesus apresen- revelação para a Humanidade: o Ora, se Jesus não suprimiu a
tou uma nova e surpreendente pro- advento da Doutrina dos Espíritos. Lei de talião, o Espiritismo tam-
posta quando disse: Visitando apenas as páginas das bém não poderia tê-lo feito.
obras básicas, encontramos várias Fechou-se o ciclo de revelações:
Ouvistes que foi dito: Olho por citações, entre outras, sobre a exis- Moisés, Jesus e o Espiritismo, e em
olho e dente por dente. tência da Lei de talião: O livro dos todas as três o mesmo conceito
Eu, porém, vos digo que não re- espíritos, questão 764; O evangelho confirmado, a mesma proposta de
sistais ao mal; mas, se qualquer te segundo o espiritismo, cap.VIII, itens uma justiça mais “justa”.
bater na face direita, oferece-lhe 16 e 21; A gênese, cap. XI, item 34; Poderia ser diferente? Responde-
também a outra; e ao que quiser O céu e o inferno, segunda parte, mos que não! Leis de Deus, como
pleitear contigo e tirar-te a vesti- cap.VIII. Exceto O livro dos médiuns, esta, não são de curta duração. De-
menta, larga-lhe também a capa; todas as outras obras citam direta- vem viger enquanto o homem não
e, se qualquer te obrigar a cami- mente a lei, indicando que ela deve aprende e não entende como se por-
nhar uma milha, vai com ele duas. estar viva, presente pelo menos até tar dentro do organismo social em
(Mateus, 5:38 a 41.) o século XIX, época em que foi con- que vive. Tais leis devem existir en-
solidada a Doutrina Espírita. En- quanto o Espírito, ainda tímido em
Propôs desse modo, uma atitude tretanto, como a Doutrina veio para seus avanços morais, não aceita os
revolucionária para a época, a qual ficar conosco, a lei em princípio princípios de outra lei divina: a do
ainda nos desafia, sugerindo que o também deve permanecer. Amor, princípios estes que existem
ofendido abrisse mão de qualquer Seria surpresa encontrar esta para serem exercitados continua-
represália ou vingança, não pagan- lei consagrada nos textos espíri- mente, sob pena de, não os cum-
do o mal com o mal, mas apenas tas? De modo algum, visto que é o prindo, ser surpreendido pelo olho
com o bem. Realmente, outro avan- próprio Allan Kardec que, em A por olho. A lei vigora até que nos
ço moral para aqueles Espíritos pou- gênese, capítulo I, item 56, afirma conscientizemos de que não se pode
co acostumados ao perdão. Con- em mais um momento de extre- ferir com a espada impunemente,
tudo, com a imagem da espada ferin- ma lucidez espiritual: sem consequências graves para si
do aquele que com ela fere, não des- e para a sua jornada evolutiva.
cartou a existência do olho por olho. A moral que os Espíritos ensi- Conclui-se que a lei existe, mes-
Mais uma vez os tempos correm, nam é a do Cristo, pela razão de mo nos dias atuais, e existirá por
e chega o momento de uma nova que não há outra melhor. muito tempo. Contudo, quem teria

Abril 2013 • Reformador 151 33


o direito moral de aplicá-la? Sería- ferindo com a espada, Deus, em sua mente, a quitação rápida da falta e
mos nós, Espíritos ainda em evo- infinita bondade e sabedoria, nos a aceleração do nosso progresso.
lução? Seriam os Espíritos puros faz passar pela espada, não para nos Sim, o século XXI chegou com
que já fazem a vontade do Pai? punir, mas para nos educar e inibir novas esperanças de um mundo
Não, nem uns nem outros. Quem futuros delitos. Mostra que todos melhor e de uma sociedade mais
aplica a Lei de talião é o próprio somos irmãos e que um irmão não justa. E, se desejamos este mundo
Deus, através da reencarnação, por deve ofender outro irmão sem que novo de regeneração, lembremo-
exemplo, pois afinal foi Ele que a lhe sejam pedidas contas de seus -nos sempre de Pedro e guardemos
formulou. Não é lei humana. Mas, atos. Pela segunda lei, a do Amor, igualmente em nossos corações a
em que condições aplicá-la? estas contas podem ser plenamente superior proposta de Jesus, que
Registrada na literatura univer- sanadas, sem que precisemos passar recomenda retribuir o mal com o
sal, particularmente no Novo Testa- pelo fio da espada. Cabe lembrar bem, perdoando e nada mais, dei-
mento, há outra lei de Deus que que muitos de nós, agora mais xando que as sábias e educativas
diz: “Mas, sobretudo, tende ardente conscientes, sinceramente arrepen- Leis de Deus ajam de acordo com o
caridade uns para com os outros, didos, solicitamos a pena do olho olho por olho onde e quando se fizer
porque a caridade cobrirá a multi- por olho antes de reencarnar, pro- necessário e enquanto perdurar a
dão de pecados” (I Pedro, 4:8). Fe- movendo desta forma, simultanea- dureza dos nossos corações.
chou-se outro ciclo. Deus permitiu
que fosse apresentada no passado a
sua Lei de talião, permitiu também
que os homens a aplicassem, mas
no transcorrer do tempo apresen-
Allan Kardec
tou outra lei informando que todo “É o precursor da felicidade celeste.”
aquele que amar poderá se forrar UM ESPÍRITO
da aplicação da primeira. Quanta Mário Frigéri
beleza na criação! Advertência e
equanimidade na primeira lei, mi- França. Paris. Travessa de Sainte-Anne.
sericórdia e salvação na segunda. Doba, sereno, o século dezenove...
Assim, Pedro, o mesmo que foi Seleto grupo concentra e promove
advertido de que se ferisse com a Mensagens-luz de uma etérea Hipocrene.
espada com a espada seria ferido, É o Espiritismo que, ao nascer, comove
registrou em sua epístola este te-
A grande pátria de Hugo e La Fontaine,
souro de ensinamento que foi dei-
Nela elegendo o gênio que o coordene,
xado por Jesus em Lucas (7:47).
Na lucidez de um novo e grave Jove.
E aí estão as condições em que
sempre se aplicou a Lei de talião. Moderno Zeus, do Olimpo em que se embasa,
Toda vez que pecamos, e é oportu- Kardec empunha os raios de Vulcano
no definirmos o pecado na visão es- E em fogo a Lei de Deus nas almas vaza;
pírita como toda e qualquer trans-
Semeia o Bem à flor da Humanidade
gressão às leis de Deus, e não repa-
ramos pelo exercício do Amor os E, mano a mano, ascende o ser humano
prejuízos causados ao próximo pe- Pelas veredas da Imortalidade...
los nossos atos inconsequentes, ain- Fonte: Reformador, ano 107, n. 1.921, 9(101), abril de 1989.
da nos satisfazendo em continuar

34 152 Reformador • Abril 2013


A FEB e o Esperanto

“Nosso lar” na Hungria


via Esperanto
A F F O N S O S OA R E S

D
esde quando, a partir dos anos
40, iniciou-se no Brasil a divulga-
ção da Doutrina Espírita no
mundo, através do Esperanto, logo se
evidenciou uma significativa utilidade
do idioma a serviço do Consolador
Prometido: tal iniciativa não se limitaria
a beneficiar exclusivamente os círculos
esperantistas, mas poderia também abran-
ger mais vastas coletividades, a socieda-
de em geral. Alguns esperantistas, além de
nossas fronteiras, cujos corações eram to-
cados pelas luzes da Revelação dos Es-
píritos, logo compreenderam que a Lín-
gua Internacional Neutra seria capaz de
funcionar como ponte para que se pro-
duzissem versões, em línguas nacionais, Tibor Szabadi e Nestor João Masotti, ex-presidente da FEB
das obras sobre Espiritismo, publicadas
no Brasil. Em estoniano, O livro dos espíritos e O espiritismo
Ao aparecimento, em 1971, de O livro dos espíritos em sua expressão mais simples;
em japonês, traduzido por Yoshimi Umeda com base Em húngaro, O espiritismo em sua expressão mais
na versão em Esperanto, publicada pela Federação simples, Introdução ao estudo da doutrina espírita,
Espírita Brasileira (FEB), em 1946, seguiram-se versões O livro dos espíritos, Memórias de um suicida, O se-
em línguas nacionais, nos países do Leste Europeu, de meador, Vida feliz, O céu e o inferno, Os mensageiros,
outras obras doutrinárias, igualmente baseadas nas tra- Ação e reação;
duções em Esperanto lançadas no Brasil. Algumas des- Em tcheco, O livro dos espíritos, O livro dos
sas versões em Esperanto não tiveram edição, mas estão médiuns, O céu e o inferno, O evangelho segundo o
disponibilizadas na rede mundial de computadores. espiritismo, Nosso lar, Ação e reação, A caminho da luz
Em albanês, O livro dos espíritos e Pai nosso (ape- (edições amadoras, com pequenas tiragens, por ha-
nas na web), O porquê da vida e O semeador; verem surgido na vigência do regime comunista).
Em búlgaro, Introdução ao estudo da doutrina Há pouco menos de um mês, recebemos a aus-
espírita; piciosa notícia, intermediada em e-mail de nossa

Abril 2013 • Reformador 153 35


recentemente lançada na Hungria
em língua nacional, com base na
versão em Esperanto, Nia hejmo,
publicada pela FEB.
Tibor, que esteve recentemente
no Brasil, é incansável no seu empe-
nho por divulgar o Espiritismo em
seu País. Suas traduções de O céu e
o inferno, Ação e reação e Os mensa-
geiros ainda aguardam edição, e, há
pouco mais de um ano, nosso sami-
deano húngaro fundou em sua cida-
de natal, Nagykanisza, a Instituição
Allan Kardec, cujos membros se
reúnem diversas vezes em cada mês,
para a prática do Espiritismo e o
Capa do livro Az otthonunk
estudo das obras de Allan Kardec.
(Nosso lar, em húngaro) Capa virtual do livro Nia hejmo (Nosso
lar, em Esperanto), disponível na Finalizando, exortamos os que
amiga e irmã, Elsa Rossi, do seção de Esperanto no Portal da FEB reúnem em si o fervor idealista e o
Conselho Espírita Interna- indispensável talento para a difícil
cional, de que, graças ao esforço idealista do tradu- arte de traduzir, a que os empreguem na divulgação
tor e esperantista-espírita húngaro, Tibor Szabadi da Doutrina Espírita por meio do Esperanto. É obra
– <satibor.esp@gmail.com> – a obra Nosso lar foi fecunda e amparada pelo Alto.

Doutrina Espírita Spiritisma Doktrino


“[...] Crede, amai, meditai sobre as coisas que “[...] Kredu, amu, meditu pri l’aferoj revelaciataj
vos são reveladas; não mistureis o joio com a boa al vi; ne miksu la lolon kun la bona grajno,
semente, as utopias com as verdades. utopiojn kun vera5 oj.
Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamen- Spiritistoj! amu, jen la unua admono; instruu vin,
to; instruí-vos, este o segundo. No Cristianismo jen la dua. 0iuj vera5 oj trovi1as en Kristanismo;
encontram-se todas as verdades; são de origem la eraroj, enradiki1intaj en 1i, havas homan
humana os erros que nele se enraizaram. Eis originon; kaj jen el trans la tombo, kiun vi opiniis
que do além-túmulo, que julgáveis o nada, vozes la nenii1o, vo/oj krias al vi: Fratoj! nenio pereas;
vos clamam: ‘Irmãos! nada perece; Jesus Cristo Jesuo Kristo estas la venkanto de la malbono, estu
é o vencedor do mal, sede os vencedores da venkantoj de la malpieco.” (La Spirito de Vero.
impiedade.’” – O Espírito de Verdade. (Paris, 1860.) Parizo, 1860.)

Fonte: KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Fonto: KARDEC, Allan. La evangelio la9 spiritismo. Trad.
Trad. Guillon Ribeiro. 130. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, Ismael Gomes Braga. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1980. /ap. 6,
ro
2012. cap. 6, it. 5, Advento do Espírito de Verdade. n 5, Regado de la Spirito de Vero.

36 154 Reformador • Abril 2013


Seminário, ações sobre
o Evangelho e início
de cursos na FEB
A Sede da Federação Espírita Carvalho); Fundamentação Teóri- sículo: coordenação de Haroldo
Brasileira, em Brasília, contou ca e Doutrinária do Nepe e do Es- Dutra Dias e participação de to-
com dois marcantes eventos no tudo do Evangelho com base nas dos os membros da Comissão de
dia 2 de março. Nos períodos da obras de Kardec e Chico Xavier Administração do Nepe, já cita-
manhã e da tarde foi realizado o (Haroldo Dutra Dias); Metodolo- dos, e da vice-presidente da FEB,
Seminário “Jesus a Porta, Kardec a gia de Estudo Interpretativo do Marta Antunes de Moura.
Chave”, promovido pelo Núcleo Evangelho (Wagner Gomes da O auditório principal da FEB
de Estudo e Pesquisa do Evange- Paixão); Experiência da FEB: Cur- esteve lotado com quase 500 ins-
lho (Nepe) da Federação Espírita so de O evangelho segundo o espiri- critos, contando com a presença
Brasileira (FEB). O evento foi tismo com base no método inter- de equipes e representantes de ins-
aberto pelo presidente interino da pretativo do Evangelho (Célia Ma- tituições de Mato Grosso do Sul,
FEB e coordenado por Haroldo ria Rey de Carvalho); Mesa-re- Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Per-
Dutra Dias. Durante o Seminário donda – coordenação de Ricardo nambuco, Rio de Janeiro, São Pau-
foi apresentada a revista digital de Andrade Toloise Mesquita, com lo, e também dirigentes de Enti-
“Lei Divina”, elaborada pelo participação de Haroldo Dutra dades Federativas Estaduais de Ala-
Nepe, que foi disponibilizada em Dias, Célia Maria Rey de Carva- goas, Bahia, Distrito Federal, Espí-
meados de março no Portal da lho, Simão Pedro de Lima, Afonso rito Santo, Goiás, Maranhão, Piauí,
FEB. O seguinte programa foi de- Chagas, Flávio Rey de Carvalho e Rio Grande do Sul, Santa Catarina
senvolvido: Origem e Objetivos do Wagner Gomes da Paixão; Oficina e Tocantins, e de colaboradores e
Nepe (Antonio Cesar Perri de do Evangelho – Estudo de um ver- diretores da FEB. O Seminário foi

O presidente interino da FEB e a Comissão do Nepe

Abril 2013 • Reformador 155 37


Público presente ao Seminário

transmitido ao vivo pela TVCEI e pressão pela FEB de O novo testa- Brasileiro (abril de 2014), que se-
pela Rádio Web Fraternidade. O mento (os quatro Evangelhos e rá realizado simultaneamente em
objetivo do Seminário foi infor- Atos dos apóstolos), traduzido por quatro regiões: Manaus, João Pes-
mar sobre as propostas de ação do Haroldo Dutra Dias – a ser lan- soa, Vitória e Campo Grande. In-
Nepe, as quais estão disponíveis çado este mês –, e sobre os prepa- formações: <nepe@febnet.org.br>;
no Portal da FEB: <http://www. rativos para o 4o Congresso Espírita <diretoria@febnet.org.br>.
febnet.org.br/blog/topico/geral/
pesquisas/nepe/>.
Após um intervalo, às 18h30,
Haroldo Dutra Dias proferiu a pa-
O bom livro
lestra de abertura de todos os cur- O livro edificante é sementeira da Luz Divina,
aclarando o passado,
sos e atividades da Sede da FEB, dis-
orientando o presente
correndo sobre o tema “Parábolas e preparando o futuro...
do Trigo e do Joio e do Semeador”.
Instrutor do espírito – esclarece sem exigências,
Nesta oportunidade, a vice-presi-
Médico da alma – cura sem ruído,
dente Marta Antunes de Moura, Sacerdote do coração – consola sem ritos exteriores.
supervisora da Área de Estudo do
Campo Experimental da FEB, apre- Amigo vigilante – ampara em silêncio,
Companheiro devotado – jamais abandona,
sentou os coordenadores de todos
Cooperador eficiente – não pede compensações.
os cursos e atividades da Sede.
Nos dois eventos, o presidente Semeador do infinito – fecunda os sentimentos,
Benfeitor infatigável – permanece fiel,
interino da FEB, Antonio Cesar
Arquiteto do bem – constrói no espírito imorredouro.
Perri de Carvalho, teceu conside-
rações de que naquele dia estavam Altar da simplicidade – revela a sabedoria,
se iniciando as ações predeces- Fonte inesgotável – jorra bênçãos de paz,
Campo benfazejo – prepara a vida eterna.
soras do Sesquicentenário de O
evangelho segundo o espiritismo e Lâmpada fulgurante – brilha sem ofuscar,
apresentou a edição histórica des- Árvore compassiva – frutifica sem condições,
Celeiro farto – supre sem perder.
ta obra, editada pela FEB em par-
ceria com as 26 Entidades Federa-
André Luiz
Fonte: XAVIER, Francisco C. Relicário de luz. Autores diversos. 6. ed. 1. reimp. Rio
tivas Estaduais e a do Distrito Fede-
de Janeiro: FEB, 2011. p. 17
ral. Informou ainda sobre a reim-

38 156 Reformador • Abril 2013


Reformador de ontem

Um livro sublime I S M A E L G O M E S B R AG A

E
mmanuel, o grande Espírito que nos vem enri- concepção mais elevada do sofrimento. Segundo a
quecendo as letras espíritas com uma coleção convicção generalizada dos reencarnacionistas, cada
de obras que encantam como arte e santifi- sofrimento corresponde a uma falta cometida, é uma
cam como doutrina, aumentou expiação, uma experiência do-
o nosso tesouro literário com lorosa na escola eterna da vida.
mais um volume destinado a
grande futuro. Agora é Renúncia
Emmanuel Sem negar essa verdade, que ca-
da ação produza o seu efeito,
que o dedicado “secretário” de nos ensinou a não Emmanuel nos ensinou a não
Emmanuel, o nosso caro Fran- vermos sempre no sofredor um
cisco Cândido Xavier, entrega
ao mundo sofredor e sedento de
vermos sempre culpado, porque nos apresenta,
em dois romances, duas heroí-
consolações.
É um romance grande, de
no sofredor um nas sofrendo a perseguição do
mundo durante a vida inteira,
mais de quatrocentas páginas
compactas, bem revistas e bem
culpado, porque sem culpa alguma a reparar, só
para exemplificar, para elevar o
impressas. É grande, mas lê-se
de um fôlego, sem poder parar,
nos apresenta [...] nível moral dos homens. São Es-
píritos de grande superiorida-
numa emoção crescente, com os
olhos úmidos e o coração palpi-
duas heroínas de, de pureza inatacável, cheios
de amor, que descem à Terra em
tante. Vive-se naquelas páginas missão por eles mesmos solici-
o Evangelho vivo, com o espíri-
sofrendo a tada, para se sacrificarem em
to de sacrifício elevado ao subli- benefício da Humanidade.
me, esquecendo-se a justiça, a perseguição do Esse esforço de Emmanuel, a
lógica, as conveniências, as con- um exame superficial, não será
venções, as fórmulas, para sen- mundo [...] compreendido, pois que a nos-
tir-se unicamente amor, amor sa mentalidade está sempre dis-
nas suas expressões divinas de sem culpa posta a considerar o sofrimento
força criadora, organizadora, ligado ao crime, como repara-
diretora, governadora dos mun- alguma a reparar ção; nunca a ver no sofredor um
dos e dos seres. modelo descido do Céu. É uma
A tese principal deste, como já fora de outro ro- tese de grande oportunidade e deve ser seriamente
mance de Emmanuel, é desfazer uma convicção meditada, a fim de nos livrar de juízos temerários
muito enraizada entre os espíritas e, em geral, em to- quanto aos que sofrem. Com a tendência extremista
dos os reencarnacionistas, substituindo-a por uma de ver em cada sofredor um culpado, uma vítima de

Abril 2013 • Reformador 157 39


seus próprios erros, chegaríamos ao juízo monstruo- Parece que essa tese é o ensinamento capital do
so de que todos os grandes Missionários descidos à novo livro e deve ser maduramente meditada. Se
Terra para nos instruir e levantar, seriam culpados, muitas vezes o culpado se nos afigura feliz pelas
pois que todos eles são incompreendidos no seu posições e estima do mundo, logo cometemos o erro
tempo e perseguidos pela incompreensão dos de julgá-lo um vencedor; outras vezes o desprezado,
homens. pobre, perseguido, que nos parece um criminoso
Não escaparam à perseguição e ao sofrimento algemado às suas culpas pela Justiça Divina, é um
nem mesmo o Divino Mensageiro, Jesus o Cristo grande Espírito em missão, redentora para a Huma-
de Deus, nem seus escolhidos companheiros de nidade, está dando exemplos, sacrificando-se para
missão. Todos foram perseguidos e sacrificados sob elevar o nível moral dos pecadores; é, pois, um ver-
várias formas pela ignorância humana. Sofreram dadeiro vitorioso contra o mal.
e sofrem igualmente os Missionários descidos à Além desse ensino, que reputamos a principal fi-
Terra para impulsionar o progresso em todas as suas nalidade do livro de Emmanuel, outro se eleva aos
modalidades: na filosofia, na ciência, nas artes, na nossos olhos durante a leitura e nos impressiona até
política. Sofreram e sofrem, porque não são com- o fim do volume. É um combate silencioso ao espíri-
preendidos pelos seus contemporâneos, desper- to de seita, ao partidarismo religioso dos fanáticos
tam inveja, suspeitas, ciúmes, medo, e as paixões que tudo o que há de mau atribuem às escolas di-
inferiores desencadeiam contra eles perseguições ferentes da sua e a esta última só creditam benefícios.
de várias modalidades. Só o futuro repara, séculos O cenário do romance é o mundo católico do
mais tarde, os erros cometidos pelos contemporâ- século dezessete. As cenas principais ocorrem na Es-
neos do Missionário e não raro essa reparação panha e na França e outras, secundárias, na Irlanda
toma a forma violenta de fanatismo que dá lamen- do Norte. Todos os personagens são católico-roma-
táveis exemplos de perseguição, sob pretexto de nos. Uma das figuras centrais é o padre Damiano,
reparar os erros do passado. Assim foi com o Cris- cheio de sabedoria e bondade, personalidade encan-
tianismo. Sob pretexto de vingar as injustiças pra- tadora, um condutor de almas para Deus. A principal
ticadas contra Jesus, os pseudocristãos da Idade heroína, Alcíone, faz-se freira e representa papel mara-
Média estabeleceram as mais tremendas perse- vilhoso no Convento das Carmelitas, como diretora
guições contra os judeus e em geral contra todos os de religiosas. Outros personagens superiores são fi-
homens que lhes pareciam contrários à sua limi- lhos diletos da Igreja católico-romana. No entanto,
tadíssima concepção do Cristianismo. Estabeleceu- os maus, que praticam crimes detestáveis, são igual-
-se o terrorismo em nome de Jesus e esse extremis- mente católico-romanos, pertencem à mesma Igreja.
mo nominalmente cristão foi mais contrário ao Encontrando todos os seus caracteres dentro da
Cristo do que todos os seus inimigos juntos. Os mesma Igreja, com iguais possibilidades e a mesma
melhores cristãos da Idade Média foram acusados educação religiosa, Emmanuel dá um golpe de mor-
de heresia e pereceram, sob torturas. A heroína de te no espírito de seita, que certamente escolheria os
Emmanuel, Alcíone, termina sua missão num cala- personagens maus fora do seio do seu credo e so-
bouço do Santo Ofício, onde curtiu dez meses de mente os bons em sua roda de crentes.
angústia. Não há, pois, no romance partidarismo religioso e
A tese do romance, ensinando que, além da expia- por isso mesmo poderá ele levar seus benefícios aos
ção de faltas, existem sofrimentos de natureza su- profitentes de diversas seitas religiosas, desde que te-
blime, para redenção alheia, nos leva a ter mais nham esses crentes a necessária tolerância para lê-lo
respeito pelos que sofrem e nos previne contra a le- de alma aberta e coração puro. Esperamos que assim
viandade de julgar pelas aparências. sucederá, porque o valor artístico do livro é bastante

40 158 Reformador • Abril 2013


elevado para conquistar amigos fora das rodas espí- que caracteriza os grandes Seres, é sempre precário e,
ritas, entre todos os cristãos do mundo e até entre os por isso mesmo, devemos sempre guiá-los no senti-
livre-pensadores, alheios ao Cristianismo. do da absolvição, quando forçados somos a julgar.
Os acontecimentos começam e terminam no Talvez pudéssemos pensar que os grandes Missioná-
mundo espiritual, mas todos os grandes exemplos se rios, pelo modo elevado como recebem o sofrimen-
desenvolvem no nosso mundo. to e a injustiça, sacrificando-se
Não devemos dar aqui um
resumo da obra, porque isso
Aceitemos, sempre a si mesmos para não
sacrificarem os outros, são mui-
diminuiria o encantamento do
leitor; furtaríamos a outros o
pois, com to diferentes dos culpados em
expiação, e que, com um juízo
prazer que sentimos aprecian-
do o desenrolar dos aconteci- reconhecimento sereno e imparcial, possamos
distingui-los dos pecadores. Fo-
mentos. ra uma ilusão assim pensarmos,
Como obra de arte, o novo o ensino porque a escala do progresso é
livro de Emmanuel poderá ser infinita e infinitas são as nuan-
motivo de um filme cinemato- de Emmanuel e ças que se apresentam. Não há
gráfico empolgante; merece tra- uma linha forte e bem marca-
duzido em todas as línguas, por- vejamos sempre da para os nossos olhos, entre o
que seus temas são universais e simples Espírito em expiação
podem interessar em todos os no sofrimento e o Espírito em missão.
lugares e em todos os tempos. Aceitemos, pois, com reco-
Já sonhamos vê-lo lançado no alheio um motivo nhecimento o ensino de Emma-
mundo esperantista e, por in- nuel e vejamos sempre no so-
termédio do Esperanto, alcan- de simpatia, frimento alheio um motivo de
çando um público planetário, simpatia, um convite ao amor,
quer pelo texto em Esperanto, um convite sem nos arvorarmos nunca em
quer pelas traduções que os es- juízes dos nossos irmãos. Bas-
perantistas de todas as línguas ao amor, tam os erros do passado, os jul-
farão da obra para seus idiomas gamentos monstruosos que con-
nacionais. sem nos denaram tantos justos, tantos
Como obra de doutrina, enviados de Deus à Terra! “Quem
apresenta a grande tese a que arvorarmos estiver sem pecado lance a
nos referimos acima. Afasta-nos primeira pedra.” Ora, nós esta-
do erro de ver sempre o sofri- nunca em mos sempre em pecado e nunca
mento ligado ao crime e em poderemos lançar a primeira
cada sofredor um criminoso, juízes dos nem a última pedra.
um culpado em expiação. Mais Rendemos graças a Deus e
uma vez somos levados ao ensi-
no de Jesus, quando disse: “Não
nosso irmãos felicitamos os nossos irmãos
que recebem mais essa dádiva
julgueis!”. dos Céus, por intermédio de Emmanuel, para nosso
Nossos julgamentos, fundamentados em aparên- enriquecimento moral.
cias externas, sem conhecimento do passado nem do
futuro, sem compreensão do espírito de sacrifício Fonte: Reformador de abril de 1943, p. 25(101) a 27(103).

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Seara Espírita

Rio Grande do Sul: Boa Nova tações nos dias 9 e 10, 16 e 23 de março, no Centro
No dia 16 de fevereiro, a Federação Espírita do Rio Espírita Luz, Fé e Caridade. Os expositores convidados
Grande do Sul (Fergs) completou 92 anos de funda- foram Ercília Zilli, Wellington Balbo e Júpiter Villoz
ção. Em comemoração, foi realizado o Seminário Silveira. “Psicoterapia do Espírito”, “Jesus, a alegria
“Personagens da Boa Nova”, proferido pela assessora dos homens” e “Drogadição, Homeopatia e Espiritis-
de comunicação social espírita da Federação Espírita do mo” foram os temas discutidos durante o evento. In-
Paraná (FEP), Maria Helena Marcon. Informações: formações: <www.feluzecaridade.net>.
<www.fergs.org.br>.
Distrito Federal: Aprenda a falar em público
Tocantins: Acolher e Consolar sem desencarnar de medo
“Centro Espírita Acolhe, Consola, Esclarece e Orien- A Federação Espírita Brasileira promoveu o workshop
ta” foi o tema do Seminário para trabalhadores, mi- “Como falar em público sem desencarnar de medo”, no
nistrado por Antonio Cesar Perri de Carvalho e dia 9 de março. Contou com público-alvo composto por
Aston Brian Leão, na sede da Federação Espírita do palestrantes, dirigentes de palestras públicas, prepara-
Estado de Tocantins, no dia 24 de fevereiro. Informa- dores e demais interessados. O evento foi conduzido,
ções: <www.feetins.org.br>. no Cenáculo FEB, por Geraldo Campetti, vice-presiden-
te da FEB. Informações: <diretoria @feb net. org.br>.
Ceará: Jovens Espíritas
O XV Encontro de Mocidades Espíritas do Ceará Minas Gerais: Comenda Chico Xavier
ocorreu nos dias 9, 10, 11 e 12 de fevereiro, no Lar No dia 8 de março foi realizada a cerimônia de con-
Fabiano de Cristo, em Maraponga, Fortaleza (CE). decoração da Comenda da Paz Chico Xavier, no An-
“O que é ser jovem espírita?” foi o tema principal do fiteatro da Prefeitura de Uberaba. Trata-se de outorga
evento. Informações: <emece.feec@hotmail.com>. do Governo do Estado de Minas Gerais e foi entregue
aos agraciados pelo governador Antonio Anastasia.
Paraíba: Encontro de jovens O evento objetivou homenagear pessoas físicas ou
Nos dias 9, 10, 11 e 12 de fevereiro, os Polos Distritais jurídicas que tiveram destaque na promoção da paz e do
de João Pessoa realizaram o Encontro Espírita Parai- bem-estar social. Entre os agraciados de 2013 estiveram
bano (Enesp) destinado aos jovens, com o intuito de Antonio Cesar Perri de Carvalho, presidente interino
debater temas como “O carnaval na visão do Espiri- da FEB, o Grupo Espírita Dias da Cruz (de Caratinga,
tismo, saúde, enfermidade, cura e cirurgias espirituais”, MG), Augusto César Vanucci (in memoriam), entre ou-
“Reflexões sobre o tríplice aspecto da Doutrina Espí- tros. Informações: <cerimonial@governo.mg.gov.br>.
rita”, “As predições segundo o Espiritismo”, entre ou-
tros. Estiveram presentes no evento: Mauro Aldrigue, FEB: Reinício de cursos
Marcos Sodré, Josefa Vênus, Josy Honório, Suely Entre os dias 6 e 10 de março, foram reiniciados os
Cavalcanti, Júlio César, Ajicé Chaves, Otávio Caúmo, cursos da FEB, oferecidos em sua Sede, em Brasília, e
Breno Henrique, Emmanuel, Joelma, Ismael Maia, na Sede Seccional, no Rio de Janeiro. Neste ano, na
Anna Thereza, Marco Lima e Jair Herculano. Infor- Sede da FEB, ocorreram mais de 800 inscrições e,
mações: <www.fepb.org.br>. além dos cursos anteriormente oferecidos – Esde,
Eade, Mediunidade, Esperanto e reuniões para a In-
São Paulo: Mês Espírita fância e Juventude –, foram implantados cinco cursos
A União das Sociedades Espíritas – Intermunicipal sobre as Obras Básicas da Codificação. Informações:
de Marília (SP), realizou o mês espírita com apresen- <diretoria@febnet.org.br>.

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