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Direitos autorais © 2021 Juliana Souza

Todos os direitos reservados 1º Edição

Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios. Qualquer


semelhança com pessoas reais, vivas ou falecidas, é coincidência e não é
intencional por parte do autor.

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sistema de recuperação, ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer
meio, eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou outro, sem a permissão
expressa por escrito da editora.

Design da capa por: Magnifique Design Diagramação: Thamires Silva


Revisão do texto: Claudyanne Ferreira e Isa Oliveira
Decidir escrever um livro já é uma tarefa bem difícil, mas quando
eu defini a temática deste livro, confesso não foi nada fácil.
Falar sobre amores que dão certo, que tem um desenvolvimento
natural já é bem complicado, visto que todas as relações naturalmente já
são cheias de conflitos. E confesso que já estou até um pouco habituada
a eles.
Mas falar sobre um relacionamento que com o passar dos anos foi
se desgastando, foi perdendo o brilho naturalmente, onde os diálogos
são carregados de jogos de manipulação e o lar no qual era um refugio
de paz e tranquilidade se tornou um lugar claustrofóbico. Foi uma tarefa
difícil. Ainda mais quando uma terceira pessoa entra no meio desta
relação e desperta em um dos cônjuges sentimentos e sensações que há
tempos estão adormecidos.
Proibido Desejo é uma história erótica, onde os personagens
cometem erros reais, sofrem e se apaixonam. E como uma boa defensora
deles, espero que você inicie está leitura de coração e mente abertas,
que se deixe envolver e se apaixonar por Otávio e Mikaela.
Nesta história não tem vilões e mocinhos, apenas pessoas que amam
e em nome deste sentimento, que acreditam sentir, lutam com todas as
armas que possuem pela pessoa amada.
Quando escrevi a primeira versão deste livro tinha 16 anos, e hoje
com os meus 24 anos, revisa-lo me despertou um turbilhão de emoções.
Espero que ele desperte em você um terço das emoções que eu
senti...

Boa Leitura!

Um super beijo e sejam bem vindos.

Com muito carinho,


Juliana Souza.
Dedico está obra a cantora Marília Mendonça, ela esteve presente com
suas canções, em todos os momentos e etapas do processo de confecção deste
livro.
Eu como uma fã, faço está singela homenagem.
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Ao olhar para o azul de seus olhos só tive uma certeza, estava
completamente fodido por aquela mulher.
— Eu preciso fazer uma coisa, só não me impeça. — Digo
enlaçando sua cintura fina em minhas mãos, seus cabelos ruivos
formando uma cascata sobre o peito ofegante.
— Não impedirei. — Ela diz num sussurro.
E tudo parece ser em câmera lenta, quando nossas bocas se
encontram, a maciez dos seus lábios sobre os meus. E o beijo se torna
feroz, faminto. Suas mãos pousam em minha nunca, me trazendo mais e
mais pra si...
— Já chega, Anna! — Solto o ar desabotoando o paletó e aperto
a gravata nas mãos.
Ela me fita e arqueia a sobrancelha, arfando.
— Já chega, digo eu! — Diz colocando a mão sobre a testa e
suspira. É sempre assim, Otávio. Sempre!
Ela balança os cabelos dourados e me encara.
— Eu estou tentando reconstruir nosso casamento... — Diz um
pouco mais baixo.
— Desse jeito? — Jogo a gravata na cama e a olho. — É sempre as
mesmas especulações. Desconfianças sem necessidades, Anna! Por
favor! Eu estava no trabalho!
— Até essa hora?
Passo as mãos pelo rosto e sorrio.
— Sim, Annabel, até essa hora. Tive um problema com a construção
de um prédio. — Explico suspirando. — O trânsito está caótico!
Esperava um pouco mais de compreensão da sua parte.
— Compressão, Otávio? — Joga os braços e balança a cabeça.
— Eu estava no trabalho, Anna! — Aponto para o relógio na
cabeceira da cama. — Eu não ia me atrasar apenas dez minutos, se
estivesse fazendo o que você pensa!
Ela para e balanço a cabeça.
— Pare com essa desconfiança sem..
— Eu sempre fui assim! Você sempre soube.
Não. Não era, não. Ficou surtada depois.
Meu subconsciente berra. Seu ciúmes sempre foi algo fora do
normal, e por incrível que pareça, nunca houve motivos. Nunca. Mas não
vou entrar em mais um bate boca sem fim.
A encaro morder o lábio e me olhar. Apenas me viro, entrando no
enorme closet e indo direto para o banheiro.
— Ainda vamos sair hoje a noite? — Pergunta.
— Sabe que não gosto desses lugares, Annabell... — Arfo, olhando-
a por cima do ombro.
Ela sabe o quanto eu odeio balada, tumultos e tudo que tenha muita
gente. Acho que quando se chega aos trinta e oito anos, tudo que achava
divertido, se torna um saco. Só quero descansar quando chega sexta-
feira, mas também sei o quanto Anna precisa sair para tentar se distrair.
Ela precisa é de tratamento!
— Não sei por que diabos ainda pergunto! — Ela resmunga me
seguindo. — Você só pensa em você, Otávio!
Fecho os olhos e solto o ar preso. Estou tentando fazer isso dar
certo. Mesmo sabendo que às vezes, o coração só precisa de tempo para
aceitar o que a mente já sabe.
Meu casamento acabou tem tempo. Muito tempo, para falar a
verdade.
Já tentamos de tudo: conversas, terapia de casal e o diabo a quatro.
Mas de nada adianta. O sexo vai mal. Só brigamos. O tempo inteiro.
São vinte anos casados. Duas gravidezes perdidas. E um longo
histórico de surtos.
Bato a porta do banheiro causando um pequeno barulho. Ponho as
mãos na pia e abaixo a cabeça, suspirando pesadamente.
Onde está a porra da minha vida?!
— Otávio, ABRA A PORTA! — Ela bate insistentemente do outro
lado, mas continuo parado.
Não a culpo pelo fracasso do nosso casamento, na verdade, fomos
muito felizes. Tanto, que jamais pensei que isso tudo chegaria ao fim. No
momento que coloquei os meus olhos em Anna, me apaixonei
perdidamente. Tínhamos o mesmos círculo de amigos.
Estava no primeiro semestre da faculdade de Engenharia Civil, me
preparando para assumir a empresa da minha família assim que me
formasse. Anna ainda cursava o ensino médio, só que ao contrário de
mim, ela não pareceu tão apaixonada assim no início.
Mas foi questão de tempo. Depois de dois encontros, começamos a
namorar, e com pouco mais de três meses, noivamos e casamos. Assim,
rápido. Do nada.
Duas crianças que mal conheciam a vida.
Olho para a aliança grossa de ouro em meu dedo.
Entro no box e me jogo embaixo do chuveiro, tomando um banho
demorado. Faço a barba lentamente de propósito. Estou exausto.
Saio quase uma hora depois, com uma toalha enrolada na cintura e
enxugando meu cabelo com outra. Abro a porta e vejo Anna, ainda
parada com os braços cruzados.
— Anna... — Tento falar, mas ela rapidamente me interrompe com a
mão espalmada em meu peito.
— Não vamos ficar em casa em plena sexta-feira! Por Deus! — Ela
abre os braços e se afasta, jogando os braços para o alto. — Eu juro que
estou tentando... Mas você tem que tentar também! Sinto que vou
enlouquecer, Otávio.
Paro e solto o ar preso.
— Vamos nos distrair, só hoje. Por favor.
Ela venceu, mais uma vez.
— Ok, Anna. — Fecho os olhos e suspiro. — Eu vou.
Não queria levar essa discussão adiante. Até porque, seria em vão.
— Ah, meu amor... — Ela vence o espaço que nos separa e afaga
meu rosto, descendo pelo meu abdômen e sorrindo de leve.
Sinto desejo por Anna. Ela é minha esposa e incrivelmente linda.
Corpo esguio, olhos brilhantes como pedras preciosas.
Ainda lembra a menina de vinte anos atrás.
Aliás, os traços são as únicas coisas que me lembram do passado.
Depois de alguns anos, Anna se tornou extremamente ciumenta,
agressiva e possessiva.
Então tudo começou a desandar de todas as formas. Não
conversamos mais, nem transamos.
E não, não é por falta de tesão. Pelo menos da minha parte.
Eu sou homem, inferno! Estou há dois meses sem sexo!
Pego em seus cabelos, puxando-a para mim, prestes a colar os
lábios nos seus.
— Vai bagunçar meu cabelo... — Sorri me olhando.
— Você fica linda de todos os jeitos, Anna.
— Não com os cabelos desgrenhados.
Minha mão sobe o pano leve do vestido e sinto o tecido fino da
calcinha sob meus dedos. Ela sorri levemente e afasto o tecido de
algodão para o lado.
— Agora não... — Diz descendo o vestido e se afastando. — Eu
preciso olhar a Luíza...
Ela se afasta e me encara.
— Você sabe que os remédios me deixam assim. — Sussurra e deposita
um beijo leve em meus lábios. — Te espero lá embaixo...
— Agora é sempre assim, Anna... — Dou de ombros, sorrindo de
leve assim que ela sai e fecha a porta devagar. — Sempre não.
Sempre.
Entro no closet e visto uma calça jeans escura, uma camisa preta de
mangas compridas, que dobro até os cotovelos, e apenas passo os dedos
pelo cabelo, ajeitando-o.
Alguns minutos depois, desço as escadas e paro em frente a enorme
sala de estar.
Moramos em um dos condomínios mais caros de Nova York, em
uma bela e enorme mansão. Eu mesmo fiz o projeto: Três andares, duas
salas, sete quartos, cinema e academia.
A casa perfeita.
Éramos jovens, ricos, tínhamos tudo. Tudo que um casal precisa
para ser feliz. Mas não somos, não mais.
Sorrio, me sentando à mesa onde Anna janta com Luíza, nossa
sobrinha de treze anos, que adotamos como filha quando ela tinha oito
anos, assim que seus pais morreram em um trágico acidente de carro.
Anna acabou entrando em depressão após a morte da irmã e do
cunhado. E o caso só piorou com a perda recente do nosso filho, o real
motivo de não ter pedido o divórcio.
Fazem seis meses desde a perda, tal lembrança ainda nos machuca
com força brutal.
— Tia Anna me falou que vão sair. — Luíza sorri me olhando e
assinto, segurando em sua mão.
— Mas se você não estiver à vontade, podemos ficar com você. —
Digo sorrindo.
— Não, seu bobo. — Ela sorri abanando a cabeça. — Eu vou ficar
bem.
— A Inês vai ficar com você, Luíza. — Anna a encara. — Pode
ficar vendo tevê até mais tarde, amanhã não tem aula.
— Fico feliz que estejam saindo novamente. — Luíza sorri e leva o
garfo a boca.
— Nós também... — Anna suspira e coloca a mão por cima da
minha.
— E como foi a aula hoje? — Pergunto para Luíza, que começa a
falar empolgada sobre o seu dia.
Fazemos de tudo para ela ficar bem. Perder os pais da forma que ela
perdeu não é fácil. Luíza é como uma filha para nós dois, que
infelizmente não tivemos.
— Vou terminar de me arrumar e logo desço. — Anna se ergue e sai,
jogando um beijo em minha direção.
Luíza sobe assim que acaba o jantar e eu vou para a sala de estar.
Encaro a noite incrível pelas janelas de vidro. Fico alí por uns trinta
minutos, em pé, com as mãos enfiadas nos bolsos.
Anna desce com um vestido vermelho solto, que a deixa linda e
sexy, e caminha em minha direção, segurando a pequena bolsa nas mãos.
— Natan está vindo com Gaia. — Sorri e não consegui disfarçar a
cara, que se fecha instantâneamente. — Otávio, ele é meu irmão.
E não o suporto.
Ouço a buzina e Anna sai, desfilando até a porta. Seu sorriso então
se desmancha, e me aproximo, vendo o carro do meu irmão parado.
Assim como eu não suporto seu irmão, ela não suporta o meu. E vice
versa.
— Olá, irmão mais velho. — Leon acena e me encara. — Olá,
Annabell...
Anna fecha o semblante, olhando-o.
— Educação mandou lembranças. — Leon a alfineta e o encaro
sorrir. — Fiquei sabendo que vão para a noitada, vim convidar vocês
para irem na Kiss.
Anna se vira e me encara.
— Falou ao seu irmão que vamos sair?
— Comentei por alto, Anna...
— Eu ainda estou aqui. — Leon sorri e ergue o braço.
— Leonel, não vamos para aquele pardieiro, que você chama de
boate.
Leon estremece no mesmo instante e entorta o nariz. Ele odeia que o
chamem pelo nome completo.
— É só ficar em casa, Anna. Meu irmão vai!
— Leon... — O encaro revirar os olhos assim que Anna se vira. A
fito sorrindo — É melhor ir pra lá, até porquê, não quero ir para um
lugar tão longe.
Ela me fita e fecha o semblante no mesmo instante.
— Sabe que odeio sair e só estou fazendo isso por você, será que
pode fazer algo por mim também? — Seguro em seu queixo.
— Vou pegar o carro. — Diz e Leon sai do carro, cruzando os
braços e se encostando no mesmo.
— Ela me ama.
— Você adora provocar. — Digo o encarando sorrir e coçar o
queixo enquanto me olha.
— Ela é uma bruxa. — Ele diz sério.
— É minha esposa.
— Continua sendo uma bruxa. — Diz sarcástico.
Os dois nunca se suportaram e não fazem a menor questão de
esconder isso. De ninguém. O carro preto se aproxima e vejo Natan e
Gaia. Ele me cumprimenta com um leve aceno de cabeça e respondo do
mesmo modo.
Anna para logo depois, saindo do carro enquanto me fita.
— Vamos amor, você dirige.
— Nos encontramos lá. — Digo a Leon, que manda um beijo para
Anna, que torce o nariz e entra no carro.
— Seu irmão ama me provocar. — Bufa, colocando o cotovelo na
janela. — Acho que nunca superou o fim do relacionamento com a...
— Anna, não começa com isso. — Peço e ela me olha.
Se cala rapidamente e pousa a mão em minha perna, apertando-a
com firmeza. O pequeno gesto apenas me faz a encarar.
— Anna, não comece algo que não vai terminar. — Digo baixo.
— Desculpa. Eu queria voltar a ser como antes... Mas... — Ela fala
e passa as mãos pelos cabelos. — Eu vou voltar a ser a mulher que eu
era... Eu prometo.
— Vamos esquecer isso por hoje, insistiu tanto para sair.
Ela apenas assente sorrindo.
O restante do caminho é feito em total silêncio e eu agradeço
mentalmente por isso. Estaciono o carro alguns minutos depois e logo
após o irmão dela faz o mesmo.
— Essa boate é uma das melhores. — Gaia responde entusiasmada.
— Já ouvi falar muito dela. — Natan responde, passando o braço
pelos ombros da esposa.
Realmente Leon tem um dom para investir em casas de festas, e
a Kiss é uma delas. Uma das baladas mais luxuosas da cidade.
— Vamos entrar. — Seguimos passando rapidamente pela entrada
VIP.
Está bem movimentada, pessoas por todos os lados com copos de
bebidas. Ficamos na área reservada e logo nos acomodamos em um sofá
em L.
— Seu irmão fez um ótimo trabalho. — Gaia sorri. — A boate é
incrível!
— Leon realmente tem bom gosto. — Digo enquanto o garçom se
aproxima.
— Bom gosto para a farra. — Anna arqueia a sombrancelha e a
encaro.
— Quero apenas um coquetel de frutas sem álcool...
Falo com o garçom e peço o mesmo.
— E como vai a empresa, Otávio? — Natan pergunta me olhando.
— Ótima. E o escritório?
— Vocês não vieram até aqui para falar de trabalho. Por Deus! —
Anna pede e segura meu braço.
— Há meu Deus! Eu adoro essa música. Vamos dançar. — Gaia diz
e pega na mão de Anna, que me olha e sorrio, incentivando-a.
— Volto logo. — Ela diz em meu ouvido.
Elas ficam há poucos metros e começam a dançar. Natan me fita e
volta a observar Anna, que dança junto com Gaia.
— Ela está fingindo que está feliz. — Ele diz em um sussurro e o
encaro. — Minha irmã ainda sofre muito por tudo...
O encaro me fitar e continuar:
— Não achei que ela ia superar tão cedo... A perda do Ben foi
muito... Dolorosa para ela.
— Para nós dois. — O corto e ele me olha. — Mas não vim aqui
para falar do meu filho, Natan.
Quero apenas dar um fim na conversa enfadonha.
— É mais difícil pra ela do que pra você, Otávio. — Cerro o
maxilar.
— Nós dois perdemos, Natan. Eu e Anna estamos tentando seguir
em frente... Eu quero o melhor para Anna. Sempre.
— É claro que quer. Mas você saber que se não tivessem...
— Com licença, Natan.
Não fui sua culpa!
Nego com a cabeça. Estou prestes a manda-lo se foder, mas apenas
me ergo, me sentindo sufocado. Natan e eu não estamos mais nos
suportando.
Desço as escadas lentamente e a música parece ficar cada vez mais
alta, quando me aproximo do bar. São tantas pessoas juntas dançando e
algumas se beijando.
Balanço a cabeça, querendo ao menos ver o meu irmão, mesmo
sabendo que Leon não ficava muito à mostra.
Me encosto no bar e rapidamente peço um copo de whisky puro,
forte e sem gelo. Seguro o copo nas mãos, assim que o barman me
entrega e balanço o líquido de um lado para o outro. Me viro no banco,
olhando todo o local.
Faz alguns meses que eu não saio, e evito ao máximo, na verdade.
Por isso capto cada movimento e sorriso das pessoas que estão alí na
pista de dança.
— Três doses de tequila! Caprichadas, por favor! Estamos
comemorando!
Olho para o lado assim que a voz me chama atenção.
— Irei caprichar. — O barman a encara quando ela sorri e se
debruça sobre o balcão.
A saia curta revela o belo formato do bumbum avantajado e um belo
par de pernas de enlouquecer, cobertas pela meia-calça preta e saltos
extremamente altos. Os cabelos ruivos da cor de fogo caindo como uma
cascata sobre as costas.
É uma bela uma mulher.
Gostosa...
É muito bonita.
Incrivelmente linda e sexy.
Sexy como o inferno, pronto para queimar qualquer um.
Ela vira no exato momento, e por um instante meus olhos estão
presos aos seus. As luzes piscando e a fumaça em nossa direção.
Desvio rapidamente, assim que ela segura os três shots de tequila.
— Obrigada. — Ela aponta com o queixo e me fita. — Bela
tatuagem.
Encaro meu braço e sorrio de lado.
— Obrigado.
Levo o copo lentamente até a boca e observo seu semblante mudar
ao focar na grossa aliança em meu dedo.
Por que não escondeu esse caralho?!
Ela apenas se vira e sai andando calmamente, enquanto os quadris
balançam de um lado para o outro.
Se aproxima de uma mesa e coloca os copos. Os três rapidamente
viram todo o líquido juntos.
Não desvio o olhar quando ela me encara.
Vai lá...
Não.
Dou um sorriso torto balaçando a cabeça, enquanto ela apenas
entorta o nariz com desdém.
Ainda é atrevida.
Levanto o copo em sua direção, em um brinde imaginário enquanto a
levada vira de costas, mostrando a bunda empinada.
Ah, que vontade de dar umas palmadas.
Pare com isso, Otávio. Pare com isso
Você é casado.
Você não fez nada cara. Pode parar.
Estou flertando com uma desconhecida!
Aproveita. Desde a idade da pedra você não faz isso.
Deixo o copo em cima do balcão e uma boa gorjeta junto, e subo as
escadas. Paro no meio dos degraus, pessoas subindo e descendo. Apenas
me viro para olhá-la novamente.
Sorrio a encarando dançar levemente, e alguns olhares voarem em
sua direção.
Ela remexe os quadris no mesmo ritmo da música e sorria enquanto
os cabelos balançavam.
Ruivinha atrevida.
Subo as escadas, com a mente fodida e o pau duro de desejo por
uma mulher que nunca mais vou ver na vida.
— Senhorita Gonçalves, te vejo às oito horas na Construl Perrot,
na segunda feira. Tenha uma boa tarde.
Sorrio assim que a chamada é finalizada.
Aperto o celular no peito e me jogo no sofá.
Sabe quando você acaba de ganhar um presente que pediu muito?
Aquele que você não acredita que conseguiu...
Pois é, acabei de ganhar o meu!
CONSEGUI UM EMPREGO!
Um emprego do caralho!
Meu Deus!
Me ergo em um pulo, fazendo uma dança da alegria, balançando os
braços e pulando, jogando meus cabelos de lá pra cá.
Estou mais feliz que filhote de cachorro.
A porta se abre e Lia entra e me olha.
Começa a pular também, me acompanhando e sorrio, batendo o meu
quadril ao seu.
— Por que estamos dançando? — Ela pergunta, ainda
acompanhando meus passos.
— Arrumei um emprego! — Digo, pulando enquanto bato palmas
eufóricas.
— Aí, Miaaa! Que maravilha! — E caímos sentadas no tapete fofo
da sala.
— Começo segunda-feira. — Respiro fundo. — Vou ser secretária
de um engenheiro.
— É aquele tal Perrot? Que a Vanessa te indicou?
— O próprio. — Sorrio. — Nossa. Não sei nem como agradecer
ela. Ela disse que ele é ótimo, Liana. Um ótimo chefe.
Não faço idéia quem é meu novo chefe. Mas Vanessa, minha antiga
vizinha, ele é a melhor pessoa do mundo. Ela me indincou e precisei
apenas fazer a entrevista pela assistente do RH.
Mas estou eufórica. Não acredito que enfim vou começar a
trabalhar.
Meu último emprego foi muito caótico e estava me enlouquecendo.
Olho para Lia, que mesmo feliz por mim, ainda mantinha os olhos
distantes.
— Brigou com o Dylan?
Ela apenas suspira e põe a cabeça em meu colo, e o sorriso se
transforma em um choro intenso.
— Ai, Liana! O que faço com você, em?
— Ai amiga... — Afago seus cabelos e suspiro.
Queria poder saber o que dizer para ela.
Dá na cara dela!
Não sou muito boa em dar conselhos amorosos. Até porque, eu fujo
de relacionamentos, como o diabo foge da cruz. E sou bem mais feliz
desse modo.
Amor é cilada. Das feias.
Não que eu seja uma pessoa amarga. Eu sou bem feliz, animada,
amo sair, ser livre...
Prezo muito por ela, afinal.
E não, não acredito em príncipe, não acredito em amor a primeira
vista. Isso não existe.
— O amor é uma droga, Mia! — Ela diz e sorrio, enrolando os
cabelos em meus dedos.
— Por isso não me apaixono. — Suspiro a olhando. — Sai dessa,
Lia. Você é linda, não precisa ficar se humilhando pro idiota do Dylan.
— É mais forte que eu, Mia... Amar e se entregar de corpo e alma,
amar é só de você ver os olhos da outra pessoa, sumir o ar, sumir o
mundo e só existe você e ele alí. — Ela diz, limpando os olhos.
Quero dar na cara da Liana.
Bate boba.
— Isso não existe, Lia.
Bate logo!
— Eu sou a prova viva que existe, sim. — Ela se ergue e me encara.
— Você é uma tola, Lia... — Seguro em seu rosto. — Você só sente
aquilo que você quer, essa coisa de conexão é uma invenção dos tolos,
minha amiga.
Liana me encara e assente.
— Um dia, Mikaella Gonçalves, eu vou te ver apaixonada, mas tão
apaixonada...
Por que não bate nela?
— Você me rogou uma praga? — Coloco a mão no peito, fingindo
indignação.
— Sim. Roguei.
Não tem como ficar brava com aquela garota.
Gargalho e me jogando no sofá.
— Ok, senhorita chorona... Que tal, para te consolar, irmos comprar
sorvete, filmes idiotas românticos e chorar até de madrugada? — Digo
rápido e olho sua expressão horrorizada.
— Credo, não. Vamos nos acabar, mas é em uma pista de dança na
boate Kiss. — Ela diz, se levantando em um pulo.
Olho assustada para a garota que estava chorando agora pouco.
— Você não estava super mal por causa do Dylan? — Pergunto
arqueando a sobrancelha.
— Eu estou apaixonada, não demente!
— É a mesma coisa! — Ela estira a língua e sorrio enquanto aceito
sua mão estendida. — Então vamos lá senhorita, a balada nos espera!
A amada e linda liberdade!
Vim morar em Nova York há mais ou menos dois anos, desde a
morte da minha mãe. Deixei as mágoas e tudo para trás, quando sai do
Brasil, mas também deixei uma parte do meu coração. Minha irmã e
minha tia.
As únicas pessoas que me restam.
Apenas.
Termino de vestir a blusa e ajeito a saia, assim que coloco as meias.
Ambos têm cor escura. Soltos os cabelos ruivos de nascença e calço os
sapatos, um meia pata nude com o salto bem alto.
GOSTOSA!
Meu interior grita, me deixando mais confiante ainda. Liana já
invadiu minha casa e passa o batom vermelho, se olhando no espelho.
Ela tinha sido a primeira pessoa que encontrei aqui, e nunca mais nos
desgrudamos.
Se tornou minha família.
— Quero me acabar de tanto dançar hoje! — Diz soltando os
cabelos longos.
— Precisamos disso, amiga.
Pego minha pequena bolsa e coloco dentro as chaves, celular e
carteira. Descemos rindo, quando ouvimos um grito escandaloso que
conhecemos muito bem.
— Não acredito! — Dean aponta o dedo em nossa direção, e logo
depois coloca a mão sobre o peito, fingindo ofensa. — Vocês, suas
vacas, iam pra balada sem me comunicar?
Dean é irmão gêmeo de Dylan. Sim, o ex da Liana é a cara do nosso
melhor amigo, mas ao contrário do irmão que pega tudo que tem vagina,
Dean é gay, um gay lindo, e nosso fiel e melhor amigo.
— Dean, foi de última hora... — Digo sorrindo, para amenizar sua
expressão fechada. — Vamos comemorar o novo emprego da Mia!
— Foi tudo de última hora, Dean....
— Meu cu pra vocês. E pra provar que não me importo, irei junto,
mesmo sem ser convidado. — Ele diz, suavizando a expressão, dando
uma bela piscada.
— Anda Dean, você sabe que a gente te ama. — Lia diz o
abraçando.
— Hmm, conheço essa carinha... — Dean diz a olhando.
— Não me fale do seu irmão, Dean. Quero curtir a noite sem
lembrar que Dylan existe. — Lia diz e seguimos em direção ao seu
carro.
Fico no banco da frente, enquanto Dean vai para o de trás e
começamos a falar sobre coisas banais. Meu apartamento fica há uns
vinte minutos da boate, em trânsito tranquilo.
Liana estaciona o carro e abro a boca, está uma movimentação
incrível.
— Vamos lá, gatas. Ao ataque. — Dean diz sorrindo e caímos na
gargalhadas.
Nem precisamos enfrentar fila, Dean é figurinha carimbada e
conhece a metade dos seguranças aqui da Kiss, o que nos deixa felizes.
Sorrio enquanto observo várias pessoas dançando animadas e
seguimos sob olhares curiosos. Ficamos em uma mesa e Dean já corre
para pegar as bebidas.
Sorrio o olhando colocar os copos no balcão e grita para todo
mundo ouvir:
— EU BEBO É PRA CAIR, SE FOSSE PRA VOAR, TOMAVA
REDBULL! — E os nossos gritos ecoam por toda a boate.
É, eu tenho os melhores amigos.
Não tenho uma casa enorme, nem um carro do ano.
Mas sou feliz.
Eu sou muito feliz.
Abro a boca no mesmo instante em que começa a tocar Crazy In
Love da Beyoncé. É minha música preferida.
Lia me segura pelo pulso e sigo os passos, louca para a pista de
dança.
...You got me looking so crazy, my baby
I'm not myself lately, I'm foolish, I don't do this
I've been playing myself, baby, I don't care
Baby, your love's got the best of me
Your love's got the best of me
Baby, your love's got the best of me
And, baby, you're making a fool of me
You got me sprung and I don't care who sees
'Cause, baby, you got me, you got me
Oh, you got me, you got me...
A música nos envolve, enquanto balançamos nossos quadris, e
porra... A sensação é ótima, a euforia da música nos embalando...
I look and stare so deep in your eyes
I touch on you more and more every time
When you leave I'm begging you not to go
Call your name two, three times in a row
Such a funny thing for me to try to explain
How I'm feeling and my pride is the one to blame
Yeah, I still don't understand
Just how your love could do what no one else can...
É. Eu amo a minha liberdade!
— Preciso de algo mais forte! — Lia sorri enquanto vira o coquetel
de uma única vez.
— Minha vez de pegar a tequila! — A encaro. — Vamos fazer um
brinde!
Saio rapidamente, esbarrando em algumas pessoas e paro no balcão,
me debruçando sobre o mesmo, fazendo o pedido enquanto
o barman sorri me olhando.
— Irei caprichar...
Tamborilo os dedos no balcão.
Viro meu rosto rapidamente e encaro o par de olhos mais lindos que
já vi na minha vida.
E que estão em cima de mim.
Ele está me secando!?
Sim, ele está. Seca ele também, boba.
Uma mão grossa e grande segura o copo. Os braços descobertos
mostram uma tatuagem na metade do antebraço, que segue um longo
caminho pelo mesmo.
Viro os olhos rapidamente quando ele me fita.
Pelo amor de Jesus!
Seguro os shots de tequila enquanto o tal homem ainda me fita.
— Bela tatuagem... — As palavras saem sem eu ao menos perceber.
QUAL É MIKAELLA?!
— Obrigado. — A voz grossa e firme me invade, fazendo um
arrepio se apossar do meu corpo.
Ele rapidamente leva o copo aos lábios e arqueio a sobrancelha,
olhando um detalhe que quebrou o encanto.
A aliança em seu dedo anelar.
Ah não. Ah nãoooooooo!
Se tem uma coisa que eu fujo mais que compromisso, é homem
casado.
Tá repreendido!
Mas que é um belo e grande homem... ele é. Não sou cega. Tem
olhos claros, tão claros que hipnotizam. Aparenta ter um belo corpo.
É gostoso.
Entrego os copos para Lia e Dean, que viram rapidamente junto
comigo, mas o desconhecido não parava de me encarar. Sinto minhas
pernas frequejarem enquanto ele dá um sorriso e eu entorto o nariz.
Você é casado! Sai fora!
— Ai, vamos dançar! — Dean nos puxa e somos praticamente
arrastadas por ele.
Embalo ao som de outra música, mas levada ao sentido e o coração
disparado, decido olhar pra ele novamente, só que o banco já está
desocupado.
Apenas o fito subir as escadas sem olhar para trás.
Puta que pariu! Ele é uma tentação.
— O que foi, Mia?! — Lia pergunta me olhando. — Está séria...
Homem casado é roubada, Mikaella...
Mas acabei de molhar a calcinha para um desconhecido.
Merda de despertador do cacete!
Tateio a mão na mesa de cabeceira, tentando fazer o despertador
parar de tocar, bato no mesmo, fazendo-o cair no chão. Esfrego os olhos,
me sentando na cama. Dou aquela espreguiçada, que estala todos os
meus ossos e olho de relance para o relógio.
CARALHO!
Dou um salto da cama e meu pé se prende no tapete, e acabo de cara
no chão.
— Caraca Deus, maneira só hoje, vai! — Me levanto e corro para o
banheiro.
Já são sete da manhã!
INFERNOOOOOOOOO!
Tentei dormir o mais cedo possível, mas as segundas-feira são o
terror para qualquer pessoa. Para mim não é diferente.
— Calma, Mia. Calma. — Converso comigo enquanto tento me
apressar.
Tomo um banho tão rápido, que dá pra entrar na história
do Guinness. Saio alguns minutos depois e pego um conjunto de lingerie,
colocando-o rapidamente. Visto a saia de couro azul marinho que
separei junto com a blusa preta social.
Estou acabando de me arrumar quando a porta do quarto é aberta e
Lia entra, os cabelos para o alto e vestindo a mesma roupa da festa de
ontem.
— Por que está acordada uma hora dessas? — Pergunta, esfregando
os olhos enquanto se joga em minha cama.
— Primeiro dia de trabalho, Lia! Estou super atrasada. — Falo e
ligo o secador, fazendo uma escova rápida em meus cabelos.
Não é porque acordei tarde, que vou sair como uma bruxa!
Isso jamais!
— Boa sorte. — Ela diz com olhos fechados. — Ainda estou com
sono... Seu sofá é péssimo!
— Dormiu lá por que quis, Liana!
— Te odeio!
— Também te amo. — Digo sorrindo e saio, mas percebo que o
chão está gelado sob meus pés.
Ah, que ótimo! Ia para o trabalho sem sapatos!
Esse dia está perfeito! O que mais falta acontecer?
Pergunta não, amor, que só piora.
Volto correndo e pego os sapatos, estilo Peep Toe cinza com a sola
preta. Sorrio e o beijo o mesmo. Tenho uma paixão gigante por sapatos.
Pego minha bolsa, e estou pronta!
Desço rápido e entro no meu fusca, e não, não é uma lata velha. Esse
é um modelo novo, branco. Meu xodó. Comprei assim que sai do meu
antigo trabalho, junto com algumas economias. Ao menos algo bom.
Dirijo apressada. Meu apartamento não fica tão longe da empresa
assim, uns vinte minutos.
Aperto o volante entre as minhas mãos. Parada no sinal vermelho,
sorrio, pensado em toda a descarga elétrica que foi o final de semana,
dançamos tanto, que os pés ficaram dormentes.
Fomos em várias baladas, bebemos e beijamos horrores.
A deprê de Lia passou um pouco. Fomos na Kiss novamente, já que
é uma das melhores boates.
Mordo o lábio, sorrio e nego com a cabeça.
Fui traída pelo meu próprio corpo, quando fiquei olhando o bar
igual uma idiota, procurando...
Nego veemente.
Reviro os olhos e balanço os cabelos suspirando.
Se poupe, Mikaella. Se poupe.
Estaciono o carro em frente ao enorme prédio e ergo a cabeça,
olhando o grande prédio. Em letras douradas estava escrito o
nome: Construl Perrot.
E mesmo que toda a seleção para a vaga tenha sido feita aqui, ainda
fico abismada com o luxo do lugar. Passo pelas portas duplas de vidro e
dou de cara com dois seguranças altos, com cara de Pitbull raivosos.
— Bom dia. — Ensaio um sorriso os olhando e ouço responderem
educadamente.
Paro em frente a recepção e a loira insossa me fita de cima à baixo.
Quer uma foto?
— Em que posso ajudar? — Ela pergunta, ignorando completamente
meu bom dia.
Vaca!
— Sou Mikaella Gonçalves, a nova secretária do senhor Perrot.
— Pode me entregar um documento com foto? — Pergunta e assinto,
entregando.
Ela digita algo em seu computador, com o nariz enrugado e fala
rapidamente com alguém pelo telefone.
— A senhorita Honot está esperando no 10⁰ andar. — Agradeço, já
me virando.
Volto a observar todo o interior, uma sofisticação em cada detalhe.
Claro! É uma empresa de engenharia e arquitetura!
Reviro os olhos para minha mente enxerida e entro no elevador,
ergo os olhos vendo os números passarem. Sorrio assim que a porta se
abre e dois senhores entram, me olhando lascivamente.
Putz. Deveria ter pesquisado sobre o meu chefe. Que mancada do
caralho!
Espero que o velho barrigudo do senhor Perrot seja legal.
O elevador para na cobertura e já vejo uma morena com um sorriso
simpático me olhando assim que as portas se abrem.
— Mikaella? — Ela pergunta enquanto sorrio e assinto. — Prazer,
me chamo Katy Honot, sou assistente do departamento.
— Prazer, senhorita. — Digo, apertando sua mão gentilmente. —
Quero pedir desculpas pelo meu atraso, mas tive um imprevisto...
Teve nada, mentirosa.
— Não se preocupe, e pode me chamar de Katy. — Ela diz e suspira
pesadamente. — O senhor Perrot ainda não chegou.
Graças a Deus. Não vai ver o meu atraso.
— Vamos dar uma volta, posso te mostrar algumas coisas enquanto
isso.
— Perfeito.
— Temos as salas de reuniões aqui, nesse andar. A sua sala é ligada
com a dele. Para ficar mais fácil. — Katy me explica enquanto a
acompanho. Ela me mostra cada detalhe com paciência. É jovem e muito
bonita, acho que é só uns dois ou três anos mais velha que eu.
O corredor é enorme e com várias portas. Todas elas de madeira
escura, com detalhes de vidro e puxadores dourados. Ao todo têm seis
portas, e uma pequena entrada para outra sala com portas duplas.
— Você vai se sentir muito bem, Mikaella. Otávio é um excelente
chefe. Chamamos ele pelo primeiro nome, por insistência do próprio. —
Katy sorri. — Organizado ao extremo, mas nada que vá te incomodar.
— Sem problemas. — Sorrio, apertando a bolsa nas mãos. —
Vanessa me falou muito bem dele.
— Seu sotaque... — Ela me olha e semicerra os olhos.
— Sou brasileira. — Explico e ela abre a boca sorrindo.
— Da terra da feijoada? Caipirinha? — Katy estende o braço e
sorri. — Nos daremos muito bem! Não precisa ficar nervosa... Vem, vou
te mostrar o resto desse andar.
— Estou tentando não parecer tão nervosa. — Balanço a cabeça e
sorrio.
Estou nervosa para cacete, mas ao mesmo tempo, ansiosa.
Calma, Mia. É o trabalho dos sonhos.
O que pode dar errado?!

Sinto o peso das pernas de Anna sobre as minhas e abro os olhos


devagar. Sua cabeça está pousado em meu peito, os cabelos estão
espalhados. Me afasto gentilmente e ela protesta, mas continua
dormindo, então saio de fininho.
Vou para o banheiro e tomo uma ducha demorada, para despertar.
Coloco o terno de três peças, cinza, jogo o blazer no braço e saio.
Passo no quarto de Luíza, e a porta está aberta, mas o cômodo está
vazio.
Encontro Cristina - a governanta, que trabalha há anos aqui, e é
como uma mãe para todos nós - no andar de baixo. Ela sorri quando me
vê e continua arrumando a mesa para o café.
— Bom dia, Tina. — Digo e me sento.
— Bom dia, Otávio.
— Onde está a Luíza? Passei no quarto dela, mas não encontrei ela
lá. — Digo, bebendo o café, e só então encaro o relógio em meu pulso.
— Droga.
— O senhor Michael veio buscar ela para levar na escola.
Assinto rapidamente e deixo a xícara na mesa. Odeio me atrasar. E
logo hoje que vou ter que receber minha nova secretária.
Droga. Esqueci completamente.
— O senhor vai querer algo para almoçar?
— Não. Eu almoço na empresa, Anna ainda está dormindo! Avise-a,
por favor. Tenho que resolver muita coisa hoje. Até mais tarde.
Pego as chaves no aparador e vou para o carro, saio arrancando
com o mesmo, tentando deixar todos os meus pensamentos alí. Foi um
final de semana comun e mesmo assim, exaustivo.
Apenas uma coisa valeu a pena nesses dias.
Abano a cabeça, sorrindo, e pensando em um um par de pernas e
uma cabeleira ruiva.
Hiiii pirou...
Pirei mesmo. Pirei mesmo.
Bato com os dedos no volante e tento fazer os pensamentos sumirem.
Não sumiram durante o final de semana... Por que tu acha que
vai sumir agora?
Porquê eu mando em meus pensamentos! Por isso!
Não mando porra nenhuma.
Eu disse...
Por que tentei ao máximo não pensar, mas foi inevitável. E como
Anna me conhece bem e sente ciúmes até do próprio vento, não foi
diferente na boate. Assim que subi as escadas, ela me encheu de
perguntas.
◆◆◆

— Onde estava?
— Fui tomar um whisky. — Sorrio, olhando-a morder o lábio.
— E por que não pediu para tomar na mesa com Natan?
Sério isso?!
E era.
— Porquê eu não quis, Annabell. Desci para tomar no bar. Algum
problema? — Indago e ela franze o cenho, com os olhos fixados aos
meus.
— Nenhum, meu bem... Apenas fiquei te procurando. — Acaricia
meu rosto e me beija.
Anna consegue ser extremamente controladora. O que me causa
uma irritação tremenda. Ela disfarça o semblante fechado e tenta
sorrir.
— Será que meu marido pode me beijar agora? — Suas mãos
seguram na lapela da camisa e assinto.
Fecho os olhos, suspiro, e a beijo com uma ânsia fora do comum.
Um desejo sôfrego e ansioso. Mas apenas por causa de uma pessoa
que me vem a cabeça:
A maldita ruiva!
Anna sorri quando quebro o contato dos nossos lábios e a olho.
— Que saudade eu estava desse beijo...
◆◆◆
Estaciono o carro e um dos seguranças se aproxima e pega minha
chave. Cumprimento-o rapidamente e vou direto para o elevador.
Sou completamente apaixonado por minha profissão. Não teria
como escolher outra. O meu pai era um grande engenheiro, e a empresa
tinha sido dos meus avós, e dos avós deles... E assim vêm passando de
geração em geração.
Sempre fui o filho perfeito: Me dedicava à empresa, ao meu
casamento...
E mesmo assim, sinto como se faltasse algo. E talvez eu tenha
perdido a perspectiva de que um dia serei tão feliz, ao ponto de me
sentir totalmente realizado.
Fecho os olhos e me encosto no elevador.
Não estou reclamado de nada, não mesmo. Mas estou cansado.
Esgotado.
Um dor de cabeça se apossa de mim e passo direto para a minha
sala.
— Bom dia. — Elliza me segue enquanto me sento na cadeira e
dobro as mangas até os cotovelos. — A sua nova secretaria chegou. A
senhorita Katy a levou para conhecer todo o andar.
Assinto e me ergo.
— Pode, por favor, me trazer algo pra dor de cabeça? Antes que a
minha exploda. — Digo e ela sorri tímida, erguendo os enormes óculos
com os dedos.
— Pode deixar. E vou avisar as senhoritas que o senhor já chegou.
— Ela se afasta.
Abro a planta do projeto da construção de um aeroporto, que vai
demandar todo o meu tempo e conhecimento. Pelo menos tenho a ajuda
do meu irmão.
A Construl Perrot têm filiais espalhadas por vários estados e
cidades diferentes, então Leon toma conta de algumas. A Matriz é essa,
onde eu mais fico, até pelo fato de não poder viajar sempre, por causa
da Anna.
Logo, Elliza chega com um copo de água e um comprimido nas
mãos. Sorrio em agradecimento quando me entrega e tomo rapidamente.
— Elas estão vindo, senhor Otávio. O senhor Leon acabou de
chegar também.
— Ótimo. Obrigado.
Espero que a nova secretária supere as expectativas da antiga.
Vanessa precisou pedir demissão e me deixou depois de três anos,
já que vai se casar e mudar de cidade. Tivemos um tempo para procurar
as candidatas, mas deixei todas as exigências e entrevistas encarregadas
pelo RH.
Preciso apenas de uma boa funcionária.
— Querido irmão, sinto informar, mas temos um problema na sala
de reuniões. — Leon entra, abrindo os braços.
— Bom dia pra você também, Leon. — Massageio minhas têmporas.
— Problemas com a BruxAnna? — O encaro sorrir de lado.
— Para de chamar ela assim. — Vejo-o revirar os olhos enquanto se
senta. — Já são vinte anos...
— Nunca vou me acostumar em ver você jogar sua vida toda fora.
— Assim como você ia fazer? — Pergunto e ele me encara sério.
— O debochado aqui, sou eu. Não confunde em Otávio.
Sorrio, já sabendo que não posso tocar no assunto proibido para o
meu irmão.
Leon passou toda a adolescência na Grécia e mal acompanhou meu
casamento, mas odiou de todas as formas.
— Doido para ver a secretária nova... Os burburinhos lá fora estão
a todo vapor.
— Que burburinhos? — Pergunto e ele sorri.
— Que é gostosa. Mais do que a Vanessa. — Leon gira de um lado
para o outro na cadeira, me olhando.
— Vanessa era uma ótima profissional, Leon. E comprometida.
— E muito gostosa. Você saberia disso, se não fosse cego. —
Caçoa, se erguendo. — Agora vamos tentar arrumar aquele monitor...
Preciso fazer uma vídeo-conferência.
Me levanto abanando a cabeça e seguimos para a sala de reuniões.
— Tá vendo? A conexão está péssima. — Leon me olha.
— Não sou técnico de informática, não. — Digo, tentando
restabelecer a conexão de novo.
E demora pouco mais de um minuto para funcionar perfeitamente.
Leon sorri e me abraça.
— Te amo, irmão mais velho.
— Falso.
— Meninos... A Mikaella está esperando. — Katy entra e assinto.
Hummm, Mikaella...
— Katy... Que perfume gostoso é esse?! — Leon sorri a olhando. —
Posso sentir mais de perto?
Reviro os olhos e sorrio.
— Te trago o frasco, se quiser. — Balanço a cabeça enquanto Katy
o encara. — Otávio, já mostrei tudo para ela, menos a sua sala e a dela.
— Eu faço isso. — A encaro e fito Leon sorrir, olhando-a de cima à
baixo.
— Ela é gostosa, Katy?
— Leon! — O encaro dar de ombros.
Diz que sim...
— É linda. Venham... Ela já esperou demais.
— Estou bem atrás de você, Katyzinha...
Encaro o relógio no pulso e saímos da sala.
— Que que é isso! — Ouço Leon murmurar.
Ergo os olhos e paro estático.
— Aí está ela...
Ela se vira no mesmo instante e me encara. As bochechas rosadas, a
boca vermelha e carnuda entreaberta.
Ela me olha fixamente enquanto desço meu olhar por todo o seu
corpo.
Ela pelada deve ser um estrago!
— Otávio, essa é sua nova secretária. — Katy diz me olhando. —
Mikaella, Otávio.
Mikaella.
Mikaella. Isso mesmo.
O nome é tão lindo, quanto a dona.
Seu olhar cruza com o meu novamente.
E franzo o cenho, a olhando.
Qual é, mané?!
— Prazer. Mikaella Gonçalves. — Ela diz e me estende a mão.
Não é possível...
É ela.
É ela! Meu Deus! É ela!
Prazer... Prazer...
Encaro a mão delicada estendida e a aperto. Sinto uma descarga
elétrica passar por todo meu braço, assim que sinto seus dedos tocarem
minha mão.
— Prazer. Otávio Perrot. — Dou ênfase ao prazer, por que ela
exala isso.
Mas gente... Que safadinho.
Ela é muito mais bonita do que imaginei. As luzes da boate
ofuscaram toda a sua beleza, que é incrivelmente perfeita.
A boca desenhada, os olhos azuis cristalinos...
Por que diabos eu estou tão afetado?!
E por que ela parece tão afetada, quanto eu?!
Ou é coisa da minha cabeça?
Com qual das duas você está pensando amigo?
Percebo Leon suspirar, enquanto ele e Katy sorriem.
Acho que perceberam a tensão que se formou aqui.
A tensão e o tesão!
— Esse é meu irmão, Leon Perrot. — Digo rápido, a olhando.
— Prazer. — Ela diz olhando para Leon, que está com um sorriso
diabólico nos lábios.
— O prazer é meu. Seja bem vinda, Mikaella.
— Espero que se dêem bem. Aliás, deu trabalho achar ela. — Katy
nos olha e sorri.
— Tenho certeza que sim. — A fito e ela fixa os olhos aos meus.
Tá dando muito na cara, em meu filho...
— Otávio vai mostrar a sua sala e a dele, Mikaella. Ela está
ansiosa.
— Claro, vamos. — Pigarreio, olhando-a assentir. — A sala é por
aqui...
Pretendo fazer horrores nela...
Ela é minha secretária!
Mas não é freira!
Mas eu sou casado!
Mas não é capado!
— Aqui fica a sua sala... — Mostro a pequena sala e o ambiente
confortável e ela sorri. — Pode arrumar tudo do seu jeito.
— Está perfeito. — Suspira e coloca a bolsa na mesa.
— A agenda está toda no computador, e todas as ligações passam
por você, e você só passa para minha linha se necessário. — Explico e
ela concorda. — Se tiver qualquer dúvida, por favor, me avise.
A encaro e rapidamente coloco as mãos nos bolsos da calça.
Não seria melhor nos peitos dela?
— Pode deixar, senhor Perrot. Qualquer dúvida eu o aviso...
— Otávio... — Digo arqueando as sobrancelhas. — Apenas Otávio.
Meus olhos cravam aos seus e ficamos por alguns segundos nos
encarando.
— Otávio. — Ela sussurra e apenas em ouvir ela chamar meu nome,
faz um arrepio passar pela minha espinha.
Se fosse só pela espinha...
Realmente estou ficando maluco. Eu sou casado, e durante todos
esses anos eu nunca olhei para uma mulher e senti esses pensamentos
tomarem conta de mim.
Nunca.
Eu nunca traí Anna, sempre a respeitei. Não era um sacrifício, e sim
minha obrigação. Meu dever. Sempre levei o "para amar e respeitar"
comigo.
E porque diabos, agora não está funcionando?!
Mikaella arruma os cabelos e sorri, se sentando na cadeira.
— Obrigada.
— Qualquer coisa só me chamar. — Digo a olhando, e entro em
minha sala rapidamente.
Qualquer coisa me chama...
Desabo na cadeira e passo as mãos pelo cabelo nervosamente.
Será que é normal sentir uma atração tão forte por uma pessoa,
dessa forma?!
Óbvio que não. Respondo para mim mesmo.
É normal, sim.
Não quando se é casado.
Giro a cadeira com um pouco mais de força e suspiro.
— Merda! — Exclamo alto e firme, jogando a cabeça pra trás.
Sempre honrei meu casamento e estou me sentindo mal por está
sentindo essas coisas.
Diga por você. Por quê eu, estou me sentindo muito bem,
obrigado!
— Toc...Toc... Posso entrar? — A voz de Leon me tira do transe e o
encaro entrar.
— Já não está dentro, Leon? — Pergunto e giro a cadeira para
encara-lo.
Meu irmão sorri, coloca a mão no queixo e eu o encaro. Ele
tamborila os dedos na mesa e fica me olhando, em total silêncio. Sei
exatamente o que ele vai falar e já estou com minha defesa pronta.
Não estraga nada, seu babaca!
— O que foi aquilo lá fora?
— O quê?
— Otávio, eu sou seu irmão...
— Do que está falando, Leonel?
— Por favor! Essa troca de olhares entre vocês dois... — Ele
semicerra os olhos e encaro-o de volta, balançando a cabeça.
— Você ficou louco, só pode! — Sorrio, tentando disfarçar o
nervosismo que tenta me tomar.
— Você está nervoso por que, Otávio?! — Cruza os braços me
analisando e sorrio balançando a cabeça. — Você estava quase comendo
a Pimentinha alí fora!
Franzo o cenho o encarando.
Ele chamou ela de Pimentinha?!
— Do que você está falando? — Ele continua me olhando, com
olhos semicerrados e a boca curvada num sorriso debochado.
Ele chamou ela de Pimentinha!
— Otávio, você não está querendo me enganar não, né? Eu vi, Katy
viu. Vocês estavam quase fazendo sexo só com o olhar!
— Leon, por Deus... Você não sabe o que diz. — Digo e viro de
costas.
Seria melhor fazer sexo corpo a corpo. Olho no olho é tão...
Cala a boca!
Eu não tô falando, sou fruto do seu pensamento.
Foda-se!
— Ao menos olhe pra mim. Porra, eu sou o seu irmão!
É muito cedo para dizer algo, mas a atração entre nós dois é visível
e isso me deixa completamente confuso.
Mas não sei mentir para Leon. É meu irmão e melhor amigo.
— Eu a vi na boate... E nós trocamos olhares. — Confesso e Leon
abre a boca, me fitando sério. — E foi isso. Apenas.
Só por que você quis...
Meu irmão abre a boca rapidamente.
— Milagre, Senhor. O pau de Otávio Miller Perrot, está tarado por
uma periquita que não é da Anna! — Olho para ele, que mantém os
braços para o alto.
Nego com a cabeça o olhando. Estou me sentindo patético, como se
fosse a porra de um adolescente que não sabe distinguir as reações do
próprio corpo.
E não está sabendo...
— Vai pegar ela? — Leon indaga.
— Leon, você não tem o que fazer não?! — Me sento, o olhando
erguer um lado do rosto em um meio sorriso. — Minha relação com
Mikaella, vai ser extramente profissional, somente profissional.
Mente pra mim... É o que eu gosto!
— Otávio, quer um conselho? — Me sento na cadeira e finjo prestar
atenção em uns papéis qualquer.
— Não. — Digo sem olhá-lo, mexendo nos papéis sobre a mesa.
Ele chamou ela de Pimentinha!
— Pega a ruiva. Dane-se a Anna, você já viveu demais por esse
casamento, agora quem tem que viver é você. Sua vida está passando
diante dos seus olhos... E você não está percebendo!
Aperto a caneta nas mãos e o olho sair rápido. Para Leon, é tudo tão
fácil, tão simples. São vinte anos de casado, uma vida. Não posso deixar
tudo em um simples estalar de dedos.
Pode sim...
Mesmo sabendo que meu casamento não é mais o mesmo, que eu e
Anna somos mais como amigos, do que como um casal...
Sei um remédio para isso... DIVÓRCIO!
Já tentei.
Eu juro por Deus que eu tentei.
Tiro a aliança do dedo, olhando-a.
Tinha decidido conversar com Anna e tentarmos nos divorciar de
uma forma amigável, já não estava mais feliz e sentia que ela também
não.
Mas aí veio a notícia da gravidez.
Já tínhamos perdido um bebê, e não poderia deixa-la passar por isso
sozinha. Deixei aquele assunto de lado, porque era nosso sonho alí. E já
tinha tido a morte da sua irmã, e há alguns meses, a perda trágica de Ben.
E lembrar daquele dia, me fez sentir uma culpa da qual carrego até
hoje em meu peito.
Anna piorou, e me sinto em dívida para não deixa-la. Estou
empurrando com a barriga, e isso é frustrante.
No fundo ela sabia que tinha acabado, era nítido, pela crise que
estávamos passando. Mas faltava a coragem para dar um ponto final.
Porque no fundo, foi virando comodismo, culpa, e não havia mais
nada. Apenas a vontade de ir.
Vontade tem de sobra...
Vinte anos, não são vinte dias.
Faço alguns traços na planta de um prédio que está ganhando forma.
Passei quase a manhã inteira fazendo isso e mal reparei o quanto o
tempo passou rápido.
Estou tentando ver os melhores cálculos para a solidez do projeto, e
isso está me deixando muito estressado. Bato com o lápis na mesa e olho
para a porta quanto ouço as batidas leves na mesma.
— Desculpa interromper, mas está na hora do almoço...
Abano a cabeça a olhando e sorrio levemente.
Disfarça, porra!
— Me desculpe, esqueci de avisar. Pode ir almoçar, Mikaella... —
Falo me erguendo.
— O senhor quer algo? — Os olhos brilham me encarando.
Quero você.
Para, inferno!
— Eu como qualquer coisa. Nem vi a hora passar. Obrigado.
— Eu posso... Trazer algo... Algo para o senhor? — Olho para ela um
pouco surpreso e assinto.
Trás esse corpo projetado pelo pecado para cá, minha filha!
— Se não for te incomodar. — Digo sorrindo.
— Jamais. — Ela retribui o sorriso. — Com licença. Katy está me
esperando...
— Mikaella? — A chamo quando ela se vira, segurando a porta.
Os cabelos caindo feito uma cortina nas costas. Os lábios
entreabertos me encaram.
— Oi...
Diz que quer transar com ela!
— Obrigado.
— Por nada. — Sorri timidamente. — Com licença.
Cansei, não dou mais dicas.
Obrigado por isso.
A porta se fecha e sobressalto quando meu celular começa a tocar,
mas demoro alguns segundos para atende-lo. Olho a tela piscar e seguro
o mesmo, colocando no ouvido.
— Amor? — A voz de Anna me tira dos devaneios e me faz encarar
a realidade.
Pesadelo, você quer dizer.
— Oi. — Respondo, fechando os olhos e me sentando novamente.
— Esperei você para o almoço, querido. Por que não me acordou?
Giro a cadeira de um lado para o outro.
— Você estava dormindo tão bem. Avisei a Tina que não iria
almoçar, estou sufocado de trabalho.
E de você também...
— Senti sua falta...
— Também senti sua falta. — Bato os dedos na mesa, sorrindo.
Mentira, você não sentiu.
— Promete vir cedo para jantar em casa, amor?
— Prometo. — Digo, a ouvindo falar com alguém do outro lado. —
Está sozinha?
— Gaia está me fazendo companhia, sabe que me sinto só às
vezes. — Me ergo da cadeira, me aproximo da janela e encaro a
movimentação de Nova York. O prédio é bem localizado e com uma
vista incrível.
Coloco uma mão no bolso e mordo o lábio.
— Que bom, amor...
Humm, chamando de amor...
— Espero você mais tarde, te amo.
— Certo, também. — Digo e vejo Leon entrar e cruzar os braços,
sentando no sofá.
— Também o que, Otávio Perrot? — Anna indaga, fingindo
indignação.
— Também te amo, Anna. — Digo e Leon me fita. Rapidamente
coloca o dedo na boca, fingindo vomitar.
— Melhor assim, beijo.
— "Também te amo, Anna", não tinha algo melhor para casar não?!
— Leon se ergue, indo até o bar pegar uma dose de Whisky.
— Nem começa. — Reviro os olhos, me sentando e relendo o
projeto do metrô central.
— Cadê a ruiva? — Leon para na minha frente e o encaro.
— Foi almoçar. — Digo seco.
— E você não foi, porquê? — Ele me olha.
— Se você não percebeu, eu estou trabalhando. — Digo, voltando a
atenção para os papéis.
— Vai trepar, que você ganha mais.
Também acho.
Nego com a cabeça.
— Eu estou bem, como estou, Leon. Ponto. Assunto encerrado.
Mas pode melhorar... Com certeza.
Me encaro no espelho do banheiro pela milésima vez, tentando
absorver o que está acontecendo.
Treta, minha filha! Treta! E da pesada!
O tatuado gostoso da boate é meu chefe! Senhor da glória!
Que homem é aquele?!
O destino é um grande pau. E está tentando me foder.
Quero! Digo... CREDO!
Só pode ser isso.
O homem parecia ter saído de uma capa de revista, esculpido pelo
pecado. Eu devia ter procurado e olhado alguma coisa sobre ele, apenas
para saber um pouco mais sobre meu chefe. Mas, não. Não!
Eu tinha que ser pega de surpresa, para foder com tudo.
Eu gostei, e quero que ele foda com tudo mesmo...
Calma, Mia. Calma.
Passo o lenço umedecido devagar em meu rosto e suspiro. Pego a
bolsa, arrumo meus cabelos e saio, me equilibrando nos saltos altos.
Katy acena, já sentada, bebendo uma taça de vinho. Estamos no
restaurante na frente da empresa.
Temos quase uma hora de almoço, mas já perdi quase vinte minutos
no banheiro. É isso, ou pirar na frente de Katy.
Me sento e fazemos nossos pedidos. Respiro aliviada por ela não
tocar em nenhum assunto que fizesse eu me entregar. Por que ainda sinto
o impacto dos olhos presos aos meus. Aquele homem alto e
incrivelmente lindo.
Afasto o prato e seguro a taça nas mãos, balançando o vinho
levemente e o levando aos lábios.
— Já pedi o almoço do Otávio para viagem. — Katy explica e
assinto. — Pedi a mesma coisa que comemos. Ele é bom de garfo. Na
maioria da vezes ele come aqui, ou vai para casa...
Deposito a taça levemente na mesa e sorrio.
— Ele é casado a muito tempo? — Pergunto, tentando não aparentar
muita curiosidade.
Se esforça mais então, fofa.
— Não pasme... — Katy sussurra e me encara. — Vinte anos.
Dou umas tossidas de leve e a encaro.
Tu ainda estava de fraldas quando ele subiu no altar!
Valha-me Deus!
Ele casou jovem demais.
Vinte anos de casado? Meu Deus!
— Caramba. — Solto um pigarro a olhando e ela assente. — Mas
ele tem quantos anos? Ele parece ser tão jovem...
Minha curiosidade ganha todo o espaço e Katy sorri me olhando.
— Casou com dezoito anos. Acredita? A primeira namorada... E a
primeira mulher dele.
Tento não deixar o espanto me tomar enquanto a fito. É surreal. Não
no sentido ruim... Mas não sei explicar.
Só é estranho. Muito.
— Leon não a suporta. Na verdade, ninguém, a não ser o próprio
Otávio. — Katy suspira e se aproxima. — É uma socialite de nariz em
pé, arrogante e metida. Ela é totalmente diferente dele.
Fico em silêncio por uns segundos, e porra! Odeio essa sensação
estranha de inquietação, que possuiu meu corpo.
Será que ela estava com ele na boate?!
Menina... Eu estou passada.
— Ela vem sempre na empresa? — Rodeio antes de perguntar.
— Não tanto, como antes. — Katy leva a taça aos lábios. — Mas
sorte a nossa.
Está querendo saber demais...
Sorrio e tento manter a droga da minha boca fechada. Não quero
ficar especulando sobre a vida pessoal do meu chefe. Ainda mais sobre
a vida de casado. Tudo em extremo profissionalismo.
Hanramm...
— Ah, Mia. Pode entregar o almoço do Otávio? Tenho que pegar
uns documentos... — Katy me entrega o saco da embalagem assim que
chegamos no nosso andar.
— Claro, Katy. Pode ir.
Me aproximo da porta e bato delicadamente, e logo a voz rouca e
grossa sussurra um "Entre".
Entra você em mim!
Consciência de merda!
Entro devagar, só então olhando bem sua sala; a mesa de vidro
preta, duas cadeiras de couro na frente, no lado direito um espelho
enorme, tomando conta da parede. Tem quadros enormes, um frigobar e
um mini bar. Tudo muito bem equipado.
Só falta uma cama.
Humm... Danadinha.
— Trouxe o seu almoço. — Estendo o embrulho e ele me olha.
— Obrigado, não precisava se incomodar. — Se ergue vindo em
minha direção.
Olha o tamanho desse homem...
Olho nada.
Olha boba...
NÃO!
O encaro discretamente, de cima à baixo, observando os braços
fortes e com certeza ele tem um belo abdômen trincado por baixo da
camisa.
MIKAELLA, CARALHO!
A maldita tatuagem no braço...
Os olhos marcantes, a boca bem desenhada, a barba e os cabelos de
um castanho escuro, mesclados com alguns grisalhos, o deixam o mais
atraente possível.
Meu Deus... Para, Mia.
Para nada... Desce mais, vai.
As mãos extremamente grandes seguram o embrulho em minhas
mãos.
Pare com isso, Mikaella. Isso é encrenca.
Eu gosto de encrenca!
Ele é casado. E isso é uma regra inquebrável.
— É o meu trabalho, senhor... — Pigarro e olho seu irmão se erguer
e me encarar
É tão bonito quanto Otávio. Só que têm os cabelos mais negros,
como a noite, mas os olhos são tão azuis quanto os do irmão, que dói só
de olhar.
Ao menos é solteiro...
— Seu sotaque... Você é de onde, Mikaella?
— Sou do Brasil. — Sorrio enquanto Leon bate no peito de Otávio
sorrindo. — Rio de Janeiro
— Brasileira... Sabia que não era daqui. — Diz me olhando de cima
à baixo. — Somos apaixonados pelo Brasil... Não é, Otávio?
— Somos. — Ele sorri e o encaro.
— Brasil... As melhores mulheres são brasileiras. — Leon sorri, me
olhando. — Né, irmão?
Mordo o lábio, querendo sair daqui o mais rápido possível, mas não
faço idéia do porquê. Ou até faço. Mas sou durona demais para admitir.
Admitir o quê?!
Que acabei de me meter numa fria.

Arrumo alguns papéis espalhados sobre a mesa. O relógio marca


mais de dezesseis horas, foi um dia produtivo para o primeiro dia de
trabalho. Meus pés estão mortos de tanto andar de um lado para o outro.
Até a cabeça dói.
São tantos papéis para guardar, reuniões para marcar, ligações e
etc...
Mas pedi tanto por esse emprego e precisava tanto dele, que são
dores bem-vindas na minha vida. Preciso ajudar minha tia com os custos
da minha irmã. O que foi um dos motivos para sair do meu país.
Mudar de vida.
Não apenas por mim, mas quero dar o melhor para a minha irmã.
— Mikaella, venha até minha sala, por favor. — A voz grossa ecoa
pelo telefone e sinto minhas mãos tremerem levemente.
Não se emociona, querida!
Ah, caralho!
Me ergo e abro a porta levemente, ele sai de trás do espelho,
colocando o blazer por cima dos ombros musculosos e me encara.
— Só pra avisar que está liberada, ainda tenho uns relatórios para
olhar, mas nada que seja tão importante. — Solta o ar e senta.
— O senhor tem certeza? Não está no meu horário de...
— Pode ir, você fez um ótimo trabalho hoje.
Porque não viu tudo que eu sei fazer, ainda...
Calada!
— Eu fico feliz que tenha gostado. — Falo e ele franze o cenho me
olhando. — Do meu... Trabalho.
Ele semicerra os olhos e não desvio os meus em momento algum.
— Seus olhos... — Ele dá um meio sorriso me encarando.
— O que tem meus olhos? — Pergunto rápido, o olhando.
— Parecem... — Ele para e abana a cabeça. — São lindos.
Engulo em seco e coloco uma mecha de meu cabelo atrás da orelha.
Isso é flerte!
Não é, não.
Sinto um arrepio se apossar do meu corpo e o fito, mordendo o
lábio.
O corpo esguio e os olhos verdes brilhantes cravados em mim.
— Já que não vai mais precisar de mim... — Solto os braços e o
fito.
Parado perto da mesa e me olhando com aqueles olhos, como se
pudesse me despir a alma e revelar os meus maiores segredos.
A tatuagem está à mostra, engulo em seco tentando controlar as
batidas do meu coração.
— Até amanhã, senhor Otávio. — Sussurro baixo.
Ele assente com a cabeça me olhando.
— Até amanhã, Mikaella.
Aperto o volante entre meus dedos, olhando para a luz vermelha do
semáforo. Coloco o braço encostando na janela e suspiro. Foram muitas
emoções para um primeiro dia de trabalho.
Eu que o diga...
As luzes ofuscantes da cidade me fazem sorrir. Nova York, a cidade
dos meus sonhos de criança. Sorrio, lembrando de quando minha mãe
falava que é a cidade que não para, e foi o primeiro lugar que pensei
quando decidi deixar tudo para trás.
Deixei as únicas pessoas que ainda tenho depois da morte da minha
mãe. Por elas, tudo vale a pena. Até mesmo a saudade que aperta meu
coração.
Jogo as chaves no aparador assim que abro a porta, jogo minha
bolsa no sofá e faço uns movimentos circulares com os pés quando tiro
os sapatos, deixando jogados de qualquer jeito.
Desabo no sofá , me viro e fico de ponta cabeça, meus cabelos se
espalham pelo tapete felpudo, e balanço as pernas.
Será que devo insistir nesse trabalho?
Não só nele, no chefe também.
É burrice.
Certo. O homem exala testosterona, é gostoso para um caralho. Mas
é casado. E isso vai contra tudo, por Deus! Eu beijo várias bocas, eu
tenho uma vida sexual muito bem resolvida.
Graças a Deus!
Amém!
E estou mesmo querendo desistir do emprego por causa do meu
chefe!?
Euem, Mikaella!
Euem, digo eu. Mete a besta de sair do emprego não! Quero
babar naquele homem mais de perto.
Não é só por causa do chefe.
Não gosto do modo que seus olhos percorrem meu corpo.
Você gosta, sim.
Otávio é intimidador, mas não de um jeito ruim. Além de ser lindo.
Incrivelmente lindo.
E tudo bem, tenho uma quedinha por homens maduros.
Se você quer chamar aquilo de quedinha... Eu chamo é de tombo,
e dos feios!
É uma cilada. GRANDE!
O destino é mesmo um grande pau, e está querendo enfiar no meu
orifício anal.
Tradução: No meu cu!
E ainda por cima, minha mente pervertida não me ajuda!
Blá...blá...blá...
Fecho os olhos, suspiro e ouço a porta se abrir devagar. Sorrio
assim que abro os olhos e vejo Lia e Dean, de cabeça para baixo.
— Tá fazendo o que, Morcega?
Dean se joga no sofá e me ajeito rapidamente.
— Como foi o primeiro dia de trabalho? — Lia passa direto para a
cozinha e pega meu pote de amendoins.
— Foi ótimo. Adorei tudo, super receptivos. — Digo rápido.
Incluindo meu chefe...
— E o chefe? É um mala igual o antigo, que tinha sobrenome de cu,
era como mesmo? — Dean enfia a mão no pote.
— Cooler. — Sorrio e nego. — Não. Otávio é um excelente chefe.
— É velho?
— Não. Jovem. Bonito. — Entorto o nariz, os olhando sorrir. —
É casado.
— Esses homens ricos e gostosos... Quando não são casados, são
gays. Desperdício., — Lia me encara quando tomo o pote de suas mãos e
jogo uns amendoins em minha boca.
— Sobra mais para mim. — Dean pisca sorrindo.
— E essa carinha? — Lia me encara e toma o pote de volta.
— Que carinha?
— Essa aí, toda pra baixo...
— Só cansada. — Digo em um sussurro.
— Mas você acabou de dizer que foi tudo bem no primeiro dia... —
Dean assente e Lia continua me olhando.
— Foi tudo ótimo, mas trabalhei muito e estou cansada! Apenas! —
Me ergo, pegando minha bolsa.
Vou acabar me perdendo nas minhas palavras.
Não seria melhor no corpo escultural, musculoso e tatuado...
— Vou tomar um banho! — Saio me arrastando e vou direto para o
banheiro.
Mordo o lábio e me jogo embaixo do chuveiro, em uma tentativa
estúpida e boba de tentar parar de pensar nas coisas que estão rodeando
minha mente.
Sinto um pequeno aperto no peito, enquanto seco os cabelos com
uma toalha. Já estou vestida em meu pijama de algodão cor de rosa e
minhas pantufas de flamingo.
Arfo, sorrindo.
De repente me deu uma saudade de casa...
Mudar já não é uma coisa fácil, mudar para outro país, então... Mas
precisava desse recomeço, para poder me sentir melhor, ou ao menos
tentar.
A morte de minha mãe foi um golpe duro.
Vê-la definhando durante meses, sem poder fazer nada, e por alguém
que não merecia, era pior ainda.
Limpo o rosto, abanando a cabeça.
Péssimas lembranças.
Vou para a sala, onde Lia e Dean estão deitados no sofá, sorrindo e
conversando.
— Ainda estão aí? — Cruzo os braços olhando os dois.
— Estamos esperando o jantar. — Dean cruza as pernas.
— Folgados. Os dois. — Jogo um travesseiro na direção deles e
sorrio.
— Há quanto tempo não cozinha pra gente, né Mia!?
— Faz aquilo que começa com cu... Eu amo.
— Cuscuz? — Ele assente.
— Começou com Cu, ele já gosta. — Liana gargalha e não consigo
conter a risada que escapa da minha garganta.
— Eu faço a comida e vocês vão limpar tudo. — Aponto na direção
deles, que se erguem ficando eretos.
— Tudo pela comida.
Somos inseparáveis. Lian e Dean são meu porto seguro. Sei que
posso contar com eles sempre.
Decido deixar os pensamentos de lado, parar de bobagens e focar
no que importa: meu emprego!
Ah tá.
E é exatamente isso que vou fazer.
Ele tem uma casamento perfeito, ponto.
Essa atração... É comun. Aliás, bem banal e coisa de momento.
Quem nunca sentiu?
Você, né amiga...
É mesmo.
Nunca acreditei nessas sensações idiotas. O amor é uma invenção
dos tolos. Atração existe, óbvio. Mas é algo carnal. Uma maneira do
corpo mostrar do que precisa. Apenas isso.
Reviro os olhos enquanto me viro para preparar o jantar. Não sou
uma exímia cozinheira, sei apenas o básico, para não morrer de fome.
Dean e Lia são minhas cobaias para os pratos típicos do meu país,
que eu amo fazer. Nos sentamos no tapete da sala, comemos o cuscuz,
com um bom vinho. Ficamos conversando até um tarde.
Amo esses momentos com eles.
Seguro a taça nas mãos, balançando o líquido. Já estou sozinha,
andando de um lado para o outro, sem conseguir dormir. O que é
estranho, já que geralmente durmo igual um urso, em qualquer
circunstância.
Mas não, estou elétrica, eufórica e ansiosa.
Tão ansiosa, que me assusta.
Mas amanhã será um novo dia, e tudo isso ia passar e pronto.
Que idiotice, Mikaella.
Desço do carro, tirando os óculos enquanto seguro o sobretudo no
antebraço e entro na empresa. O dia está frio, o que foi difícil para me
fazer levantar. Também estou com dores no pescoço, pela noite mal
dormida em meu sofá. Que é péssimo por sinal.
Olho pelo espelho e me olho, arrumo a blusa de mangas longas, cor
creme, que combina com as botas marron e a calça jeans justa.
Me viro assim que a porta se abre, e vejo Otávio sorrir enquanto
conversa com Katy e Leon.
Os três me encaram e sorrio levemente.
— Bom dia, Mikaella. — Leon me fita de cima à baixo, e o encaro
sorrindo.
— Bom dia. Estou atrasada? — Indago sorrindo e mordo o lábio.
— Otávio que caiu da cama hoje.
Vejo-o revirar os olhos e negar com a cabeça.
Está apenas com camisa e blazer, sem gravata, meio informal. A
barba aparada e a mandíbula cerrada.
Que homem... Que homem.
— Vamos trabalhar? — Katy fala. — Leon, preciso que você
confirme o gráfico da ponte e...
— Tudo que você quiser, Katyzinha. — Leon pisca e sorri, passando
o braço ao redor dos ombros da Katy, que o tira rapidamente,
resmungando.
— Leon não tem muito juízo. — Otávio sorri de lado e o acompanho
enquanto andamos até sua sala.
Coloco minha bolsa na mesa e pego o tablet, indo direto para sua
sala. Ele já está sentado, mexendo em alguns papéis.
— Você pode repassar minha agenda, Mikaella? Não me recordo.
Tive uma péssima noite e... — Ele abana a cabeça.
Pela carinha tensa dele, a coisa foi feia, em miga.
Não temos nada a ver com isso.
Pergunta ao menos se estar tudo bem, não seja mal educada,
Mikaella.
Eu não sou... Mas não vou me meter!
Que inferno!
— Está tudo bem? — Pergunto e me amaldiçoo no mesmo momento.
QUE DESGRAÇA DO CARALHO!
Ele me fita e assente levemente.
— Está... — Diz e abana a cabeça no mesmo instante. — Cabeça
cheia.
— Quer que eu traga algum remédio? Alguma coisa?
Ele nega, passando as mãos pelos cabelos.
— Obrigado. Eu estou bem.
Volto a atenção para o tablet e digo toda sua agenda para o dia, que
vai ser bem corrido e apertado, por sinal. Três reuniões, uma em cima
da outra e duas vídeo conferência.
Deixei tudo pronto na mesa da sala de reuniões, onde ele entrou
alguns minutos depois, explicando e mostrando plantas para uma equipe
de empresários.
O dia vai ser bem longo.

Seguro a pequena bandeja com café e donuts em uma mão e bato na


porta devagar com a outra, equilibrando tudo. O dia foi corrido e
intenso, Otávio mal comeu e parece bem preocupado com os projetos.
— Pode entrar. — Ele sussurra e ergue o olhar.
Sorri levemente, se erguendo e vindo em minha direção.
— Me desculpe atrapalhar. — Sussurro, balançando a cabeça. —
Mas o senhor... Você, não comeu direito. Então, eu trouxe um lanchinho.
Eu também posso ser o lanchinho, se você quiser.
Sai daqui.
— Eu realmente estou com fome, mas fui deixando para depois
e nem percebi a hora passar. — Fala, abrindo um espaço na mesa, para a
bandeja.
Entrego a mesma e ele coloca no espaço vago.
— Trouxe donuts e café com chantilly, sem açúcar. E trouxa
também croissant.
Ele assente e agradece. Esfrego uma mão na outra, quando os olhos
verdes cravam nos meus.
— Come comigo? — Pede, apontando a mão para a cadeira vaga na
sua frente.
— Oh... Não.
— Por favor, eu insisto. Odeio comer sozinho.
Engulo em seco e mordo o lábio inferior.
Então concordo e me sento.
— Só por que não resisto a donuts. — Digo e me sento rapidamente.
Nem a você...
Por favor, fique quieta!
Ele tem um modo de me encarar, que me deixa paralisada de uma
forma inexplicável. Eu me odeio, por me sentir dessa forma. Por me
sentir tão... Atraída.
Otávio tem uma forma forte e intensa de me encarar, como se me
despisse mentalmente.
Merda. É meu chefe. E é casado.
Você sabe o quanto isso é extremamente inquebrável, Mikaella.
Saber, todo mundo sabe, amor. Sentir é outra coisa, né!?
— Por que Nova York? — Pergunta, me pegando de surpresa,
depois de um breve silêncio.
Estou bebericando o café e comendo um croissant. Aperto o copo
nas mãos, o fitando. Otávio é alto e mesmo sentado, ainda é um pouco
intimidador.
Ergo o queixo e arqueio a sombrancelha.
— Um sonho de infância. — Dou de ombros e sorrio. — Minha mãe
me contava muitas histórias sobre a cidade perfeita.
Sorrio, sorvendo um gole do líquido quente.
— E você encontrou a cidade perfeita?
Mordo o lábio, o encarando.
— Acho que nada nessa vida é perfeito... Mas consegui ver a magia
que ela me falava. — Abaixo os olhos, sentindo um aperto no peito.
— Falava? — Ergo a cabeça de novo.
Assinto levemente.
— Ela faleceu. Faz uns anos. — Suspiro e coloco o copo sobre a
mesa.
— Sinto muito. — Percebo sinceridade em suas palavras.
— Eu também sinto. — Solto um pigarro baixo e mordo o lábio. —
Ela era incrível, a melhor mãe do mundo.
— Acredito que sim. — Ele sussurra e me encara. — Infelizmente é
a lei da vida, perdas dolorosas.
Seus olhos brilham por um instante e ele franze o cenho. Mesmo
aparentando ser forte por fora, ele parece tão triste por dentro.
Como se fosse infeliz...
Engulo em seco, vendo-o depositar o copo em cima da mesa e se
erguer. As mãos se enfiam nos bolsos da calça de linho, que caem muito
bem em suas pernas, que parecem ser tão belas, quanto o resto do corpo.
A sala parece ter ficado pequena para o seu tamanho.
Imagina o tamanho de outras coisas...
Não começa, por favor. Por favor.
Otávio dá a volta na mesa e para ao meu lado, está sério, com o
cenho franzido. O cheiro amadeirado me invade e olho para os meus
pés.
Mas que caralho. Eu nunca fui tímida.
Mas não é timidez. É algo que eu não sei explicar.
É medo...
Medo de mim.
Qual é, Mia? É um homem!
Um homem gostoso e quente como o inferno.
— Eu preciso... — Me ergo rapidamente, olhando-o e solto um
pigarro. — Ir. Está quase no meu horário de...
Se quer encarar seus medos, enfrente-os, Mikaella.
Você que lute, minha filha.
Ele assente.
Aqueles olhos azuis intensos, me encarando fixamente.
— Obrigado pela companhia, e me desculpe se te fiz lembrar de
coisas que a machucam. — Diz baixo e nego com a cabeça.
— Está tudo bem, você não fez nada.
Sorrio e dou um passo para frente, e acabamos trombando um no
outro.
— Me desculpe. — Falamos em uníssono.
Sorrio, mas fico séria de imediatoz quando sinto a mão segurar em
meu braço. Engulo em seco, com o coração palpitando disparado e
frenético.
Sinto um choque percorrer meu corpo e um arrepio subir por minha
espinha.
Puta que pariu.
O homem parece uma obra de arte.
Observo seus lábios se moverem, abrindo-se.
— Otávio, eu trouxe o projeto do...
AH, INFERNO!
Nos afastamos de imediato quando seu irmão entra na sala,
segurando uma pasta nas mãos.
Merda. Merda. Merda.
Leon nos encara e abaixo os olhos rapidamente.
— O projeto. Claro. — Otávio estala os dedos.
— É... Eu estava de saída. — Digo, os encarando. — Com licença.
Forço um sorriso e saio quase correndo da sala, com as pernas
bambas e a respiração acelerada. Solto o ar pesado e coloco a mão no
peito.
Meu Deus.
O que está acontecendo comigo?
Ele é casado, meu Deus!
Casado.
Sinto minhas mãos tremerem e esfrego uma na outra. Me sento na
cadeira, abro a garrafinha de água e sorvo um gole generoso.
Acha que água vai resolver esse seu fogo do inferno, minha
filha!?
Volto a atenção para o computador, focando no trabalho, ou ao
menos tentando.
— Até amanhã, Mikaella. — Leon aparece, depois de um tempo
trancado na sala com o irmão.
Está sorrindo de lado e me encarando fixamente.
— Até amanhã... — Vejo-o dar uma piscadela enquanto sai.
Otávio aparece logo em seguida, fechando a porta atrás de si.
Coloca o blazer e me olha.
— Já está no seu horário, Mikaella...
— Eu só estou deixando algumas coisas prontas, para amanhã. —
Explico e ele assente.
Fito as mãos grandes, que seguram a pasta com firmeza, e vejo
novamente a grossa aliança dourada em seu dedo anelar.
Ele retira a mão e o encaro.
— Boa noite. — Diz suspirando.
— Tenha uma boa noite...
Ele vira as costas, andando em passos rápidos até o irmão, que está
próximo ao elevador. Fito as costas definidas, as veias do seu braço que
segura a pasta.
Poderia estar apertando outras coisas. Eu juro que não ia
reclamar.
Mente enxerida.
Estou mentindo?
Sim. Está.
Mordo o lábio assim que as portas do elevador se fecham e nossos
olhares se cruzam por alguns segundos.
Ele está indo para casa e provavelmente a esposa perfeita e linda,
está o esperando para uma bela noite de amor.
Se toca, Mikaella.

Estaciono o carro em frente de casa e demoro um pouco mais para


descer.
O efeito daqueles olhos sobre mim, ainda parecem assombrar a
minha minha mente. Posso jurar que sinto o cheiro dela ao fechar os
olhos.
Porra! Soco o volante.
Por que diabos não consigo tira-la da mente?
Meu Deus, que loucura. Que loucura do inferno.
Meu corpo parece incendiar sempre que ela está perto. Logo eu, que
sempre tive o controle do meu corpo e das minhas ações.
Mas não dos pensamentos...
Mais cedo ela estava tão perto, que...
E se Leon não tivesse chegado?
Eu teria coragem de beija-la?
Vocês estariam no maior amasso, até agora. Aposto.
Eu não teria...
Isso seria errado com ela. Comigo.
Desço do carro e rapidamente entrego as chaves a Dom, que me
espera.
— Boa noite, senhor Otávio. — Sorri me olhando. — Posso guardar
seu carro?
— Boa noite, Dom. Pode, não vou sair. — Domênico trabalha há
anos com a gente, assim como sua esposa, são nossos braço direito. — E
Gabriel? Como vai?
— Estudando muito. Ele é esforçado, daqui a pouco vai estar
trabalhando no que gosta. — O sorriso se expande em seu rosto ao falar
do filho. — Graças ao senhor, que está nos ajudando...
— Tudo é mérito dele, Dom. Tudo. — Bato em seu ombro e me
afasto sorrindo.
Realmente é. Gabriel é jovem, tem um futuro brilhante pela frente.
Não pensei duas vezes em ajudar com todos os custos de seus estudos.
Está quase se formando em direito, para a felicidade de seus pais e
claro, a minha também.
Coloco a digital no painel e abro a porta, Anna ergue a cabeça
assim que me vê. Coloca o tablet no sofá e se ergue, me olhando.
Anna vem até mim e me dá um beijo rápido nos lábios.
— Estava sentindo sua falta... — Diz baixo, espalmando a mão em
meu peito. — Demorou hoje, ou foi impressão minha?
Seguro em sua mão levemente, afastando-a.
Nem tento em me dá o trabalho de responder.
— Eu só achei que viria mais cedo, pedi para Tina fazer seu prato
preferido e...
Como se eu não a conhecesse.
O ciúme doentio.
As especulações, disfarçadas de preocupação.
— Vou mandar Tina pôr a mesa. — Ela sussurra quando me viro
para subir as escadas.
— Vou tomar meu banho.
Passo pelo corredor e vou direto para o quarto. Tiro a gravata,
jogando-a na cama e faço o mesmo com a camisa. Ouço os passos atrás
de mim e em seguida sinto as mãos espalmando em meu abdômen, e
Anna vejo que Anna está me abraçando.
— Me desculpe. Sabe que meu ciúme às vezes ultrapassa os limites
e acabo te sufocando.
— Se fosse apenas o ciúme, Anna. — Sussurro, fechando os olhos.
É SUA LOUCURA TAMBÉM!
Ela se afasta e segura em meu braço, me virando.
— Meu amor não é o suficiente para você? Meu amor te sufoca? —
Ela indaga, me encarando de cima à baixo.
O rosto toma uma expressão de irritabilidade e solto o ar devagar.
— Responda, Otávio!
— Eu estou cansado, Annabell! Estou exausto de não me sentir bem
em minha própria casa, com suas desconfianças sem sentindo! —
Aponto com o dedo, a olhando. — Estou cansado!
Ela me olha, pisca várias vezes, balançando a cabeça.
— Você quer se ver livre de mim, não é? A pobre esposa, que não
serve para mais nada! A louca da Anna... Não é isso?
Sai, maluca!
— Olhe as coisas que você diz, Anna, por favor!
— Claro que não sirvo para mais nada, não fui capaz de te dar o
filho que você sempre quis! — Ela altera a voz, abrindo os braços. — E
você sabe que a culpa foi sua!
Paro estático. Por saber que ela tocou em meu ponto fraco.
Ela sabe exatamente onde dói.
— Me desculpe... Eu não quis dizer... Me desculpe... — Anna se
aproxima e segura meu rosto.
Me livro de seu toque no mesmo instante.
— Otávio, me perdoe... Me perdoe, meu amor. Eu fiquei nervosa...
E-eu...
— Até quando você vai jogar a morte do nosso filho em meu rosto,
Anna!? Você acha que eu quis aquilo? Acha? Acha que eu sou o tipo de
homem que deixaria aquilo acontecer?
Seguro em seus braços enquanto ela chora copiosamente, me
olhando.
— Me perdoe... Me perdoe, meu amor... Eu sei que não foi sua
culpa... Eu sei, Otávio... — Ela tenta segurar em meu rosto, mas nego
veemente. — Otávio...
— Me deixe sozinho.
Tranco a porta do banheiro assim que entro, escutando as batidas
frenéticas que ela desfere na mesma.
Carregar essa culpa é como morrer um pouco a cada dia. E é isso
que está acontecendo.
Morrendo aos poucos.
A memória daquela noite me golpeia de uma forma cruel, que sufoca
o peito e maltrata.
— Estou... perdendo o nosso o filho, Otávio! — Anna me encara.
O sangue desce por suas pernas enquanto a palidez toma conta de
seu rosto.
— Ah... Eu estou... Perdendo nosso bebezinho...
Fecho os olhos, com as mãos apoiadas na bancada da pia.
Eu não tive culpa. Não tive.
Ligo o chuveiro e deixo a água fria descer, logo que fica morna, me
jogo embaixo, tentando aliviar a tensão que estou sentindo, que não é
pouca.
Fecho os olhos, suspirando, deixando a água descer por meu corpo,
esfrego o mesmo, desejando que a minha mente fosse para o mais longe
possível. E instantaneamente a imagem de Mikaella se forma em meus
pensamentos. O rosto leve e os cabelos ruivos, soltos como uma cascata
sobre as costas.
Fecho os olhos e vou descendo a mão pelo meu abdômen, indo mais
para baixo, então minha mão se fecha sobre o eixo duro. Engulo em
seco, tombando a cabeça para trás, a água continua a descer pelo meu
corpo e aumento o ritmo de vai e vem, passo o polegar, rodeando a
glande, que baba.
É para ela.
A imagem de Mikaella nua, em cima de mim, gemendo loucamente
enquanto me enterro nela, faz um gemido baixo e sôfrego escapar da
minha garganta.
Imagino os olhos quentes, os seios fartos e a boceta apertada me
engolindo em cada investida brusca e forte.
Fecho os olhos, acelerando os movimentos até sentir o espasmos do
gozo me dominar, e ela é a única a tomar meus pensamentos nesse
momento.
Me encosto na parede, retomando o fôlego. A respiração acelerada
e ofegante.
Caralho, até a punheta consegue ser mais emocionante do que o
sexo com a Anna.
Odeio admitir. Mas é a verdade.
Meu sexo com Anna sempre foi comun. Ela não gosta de certas
posições, não gosta de ser tocada em certos lugares... Sempre foi assim.
O básico.
O básico com Mikaella deve ser o melhor!
E deve ser mesmo.
Um sentimento se apossa de mim, apenas em pensar no homem que a
tem. Que pode se perder nas curvas, ter as belas pernas rodeando a
cintura e a cabeça dela pousada em seu peito, depois de ama-la por
horas e horas.
E esse homem nunca vai ser eu...
Temos quatorze anos de diferença. E não, não é pela diferença de
idade. São por motivos óbvios. Ela é cheia de vida. Livre e bem
resolvida. Quando eu coloquei os pés no altar, ela tinha acabado de sair
das fraldas.
Nunca senti atração por outra mulher, e isso me assusta de uma
forma surreal.
Perdi minha virgindade com a Anna. Aliás, perdemos juntos. Os
primeiros, um do outro. E só.
Como Leon diz: Só provou uma boceta na vida.
Mas por que agora eu estou tão tentado a provar outra?
Uma determinada, para ser mais exato, né!?
Por que Mikaella está tomando meus pensamentos dessa forma?

Coloco uma calça de moletom e uma camisa de algodão assim que


saio do closet. O quarto está vazio, em um silêncio ensurdecedor. Passo
as mãos pelos cabelos, suspirando e saio rapidamente.
— Tio Otávio. — Luíza sorri e beijo sua testa e me sento.
— Como foi seu dia? — Pergunto enquanto me sirvo.
— Foi legal, vovó Michael me levou pra escola, tive aula de piano
e balé. — Ela sorri, cortando a carne e levando o garfo a boca. — Aí
depois fiquei aqui com tia Gaia e tia Anna, que não estava se sentindo
bem hoje.
Luíza suspira e bebe um gole do suco.
Encaro Anna, que está em silêncio e rapidamente segura na mão de
Luíza.
— Não fale na hora do jantar, querida.
— Me desculpe, tia Anna.
— Tudo bem. — Anna sorri e me encara. — Como vão as coisas na
empresa?
— Boas. — Digo apenas e suspiro.
Odeio o fato dela agir como se nada tivesse acontecido.
Mas Anna odeia se sentir negligenciada. O terapeuta fala que é uma
reação aos traumas da perda que ela passou.
Frágil é esse casamento de fachada!
— Sua secretária chegou? — Pergunta me olhando.
— Sim. — Digo apenas e levo a taça de vinho à boca.
— Que bom. — Anna diz sorrindo. — E como ela é?
Franzo o cenho e a encaro.
Ela é gostosa. Tem uns peitos enormes!
— Quero saber se ela é tão dedicada ao serviço, igual a Vanessa
era... Eu quis dizer isso.
Quem não te conhece, que te compre!
— Não. Você não quis dizer isso. — Sorrio sem humor, ainda
olhando-a.
Anna semicerra os olhos, me fitando.
— Vocês não vão brigar não, né? — Luíza nos encara, afastando o
prato.
— Não, amor. Não vamos. — Seguro em sua mão e forço um
sorriso.
Solta a respiração pesada, não querendo passar toda a minha raiva
para Luíza. Engulo em seco, voltando a comer, mesmo sem sentir o sabor
da comida direito, que parece descer rasgando minha garganta.
Terminamos de jantar e Anna sobe com Luíza para o quarto.
Vou para a varanda e sinto o ar frio da noite. Mexo o líquido na taça
de cristal, observando o mesmo balançar de um lado para o outro.
Odeio o que me tornei. A prisão interna, esse sentimento de que tudo
está passando, mas nada acontece. Que a vida está se esvaindo por entre
meus dedos...
E o que vai vir depois disso?
Abro a porta do quarto de Luíza e vejo que está dormindo, me
aproximo, beijo sua testa e mexo nos cabelos dourados espalhados no
travesseiro.
A amo como se fosse minha.
Na verdade, a amei desde que coloquei meus olhos nela, quando era
bebê e fui escolhido pela irmã de Anna, para ser seu padrinho, seu
segundo pai.
— Boa noite, meu amor. — Sussurro e me ergo.
— Tio?
Ouço Luíza me chamar e acender o abajur.
— Oi, Princesa.
— Promete pra mim que nunca vai nos deixar? — Ela diz baixo e a
encaro.
— Por que, meu amor? — Pergunto quando ela se senta na cama.
— Só promete. — Ela diz. — Promete que não vai me deixar, igual
meus pais fizeram... Promete, tio Otávio?
— Maria Luíza, quantas vezes eu já conversei e te disse que você é
como se fosse uma filha para mim? — Seguro em suas mãos, apertando-
as.
— Mas se o senhor deixar a tia Anna, vai me deixar também.
Me calo quando sinto os braços em torno de mim, em um abraço.
— Não nos deixe, tio Otávio. Eu tenho muito medo de ficar sozinha
novamente...
— Luíza... — Seguro em seu rosto, enquanto ela chora, balançando
a cabeça. — O meu relacionamento com a sua tia, não tem nada a ver
comigo e com você... São coisas diferentes, meu amor.
Ela nega, limpando o rosto rapidamente.
— O senhor não gosta mais dela e também vai deixar de gostar de
mim...
— Luíza, não diga isso. — Sorrio e a abraço. — Eu sempre vou
amar você.
— Então promete, tio Otávio... Prometa pelo Ben que nunca vai
embora daqui, que nunca vai nos deixar. Prometa.
Ela chorava compulsivamente, me encarando.
Acaricio seu rosto e limpo as lágrimas, que descem rapidamente.
— Eu... Prometo, meu amor. Prometo nunca te deixar. — Digo
sorrindo. — Agora vá dormir, que amanhã vai precisar acordar cedo.
Ela assente e se deita, puxando o cobertor. Desligo o abajur e fecho
a porta devagar atrás de mim quando saio. Luíza não é mais nenhuma
criança, ela consegue entender o que está acontecendo.
— Ela dormiu? — Anna abraça a si mesma assim que entro no
quarto.
— Sim. — Digo apenas.
— Me perdoe, meu amor. Eu não quis falar aquelas coisas
horriveis... Te culpar pela morte de Benjamin. Foi idiota e estúpido, são
os remédios, Otávio. Eles me deixam estressada, angustiada e nervosa...
— Você não está colocando coisas na cabeça da Luíza, não né? — A
interrompo, querendo acabar de uma vez por todas com aquela conversa.
— Otávio... Acha que eu iria colocar a minha sobrinha no meio
disso aqui? — Ela aponta entre mim e ela. — O que pensa que eu sou?
Você quer que eu responda mesmo!?
— Ela deve ter ouvido quando eu conversei com a Gaia... Não falei
por querer.
Passo as mãos pelos cabelos.
— Porra, Anna! Eu já te disse mil vezes, que nosso casamento não é
pra ser discutido na frente da Luíza. — Altero minha voz, e sopro o ar.
Que inferno.
— Eu tenho medo de te perder. — Ela sussurra, se aproximando de
mim. — Eu te amo tanto, Otávio.
Não consigo me mover quando sinto as mãos acariciando meu rosto.
— O medo de te perder me deixa fora de controle, eu amo tanto
você... Tanto...
Continuo parado, a encarando.
As mãos seguram em meus braços e ela me puxa, enterrando o rosto
em meu peito.
— Me perdoe, eu estava nervosa e...
— Vamos dormir, Annabell. — Me afasto e deito na cama enquanto
ela me encara.
Anna não demora muito a deitar e se encostar próximo ao meu
corpo, ela segura em minha mão, levando-a para sua cintura e não me
movo, continuo do mesmo jeito.
— Eu te amo, Otávio. Te amo mais do que a mim mesma...
—Ela é um satanás! Eu já te disse isso, Otávio, mas você não
acorda pra Jesus! — Meu irmão anda de um lado para o outro.
— Você quer que eu faça o que, Leon?
— O que deveria ter feito há muito tempo. Pedir o divórcio!
— E você acha que eu não estou tentando?! — Suspiro cansado e
bufo. — Essa maldita semana foi um inferno, ela está pior.
— Ela te manipula, Otávio! É isso que ela faz... Anna é falsa! —
Meu irmão passa as mãos pelos cabelos e o encaro. — Ela te faz se
sentir culpado, ela usa isso contra você.
— Mas se a culpa for minha, Leon? — Digo com a voz presa e
esganiçada na garganta.
— Não. Não foi, e você sabe disso! — Meu irmão me encara. — O
que aconteceu, tinha que acontecer, Otávio! A culpa não foi sua!
Me sento e passo as mãos pelo rosto.
Ainda dói tanto... De uma forma absurda.
Anna demorou tanto tempo para engravidar de novo, depois do
último aborto espontâneo, com pouco menos de oito semanas. Foi um
baque imenso, esperamos por aquele bebê com tanto amor.
Nunca escondi meu sonho de formar uma família, mas estive ao lado
de Anna o tempo inteiro e falando que ia ficar tudo bem. Ela se culpou
por meses, e eu sempre alí, falando que não tinha sido culpa dela.
Passamos por meses de conturbados. O comportamento de Anna
piorou, ela se tornou obsessiva e compulsiva. Tentei restaurar meu
casamento de todas as formas possíveis, mas estava cansado de lutar
sozinho.
Por que para Anna, um filho seria como mágica e todos nossos
problemas se resolveriam. Queria dar um tempo, ver o que era melhor
para nós.
Então veio a gravidez de Benjamin.
Precisava de muitos cuidados, mas Anna estava bem. Saudável.
Nosso menino estava crescendo a cada semana.
Estávamos tão felizes, que por um minuto achei que Anna tinha
razão, um filho seria nosso recomeço. A família que sempre sonhamos,
enfim, ia se realizar.
Com vinte e quatro semanas, descobrimos que Benjamim teria
microcefalia.
Foi um baque.
Nosso filho sofreu um distúrbio neurológico, no qual o cérebro da
criança não se desenvolve completamente. Ficamos com medo...
Assustados. Mas independente de qualquer coisa, nosso filho ia ter todo
o amor do mundo.
Fomos em vários especialistas, que só poderiam nos dar respostas
após o nascimento. Mas adiantaram que ele poderia ter atrasos no
desenvolvimento; problemas de audição, ou visão; problemas de
movimento, ou equilíbrio e hiperatividade.
Mas nunca tivemos as respostas. Nunca
Com vinte e nove semanas, Anna teve um sangramento, depois de
uma discussão, que infelizmente tivemos naquela manhã. Em mais um de
seus ataques de ciúmes.
Corremos para o hospital, chegando lá, já era tarde demais.
Foi uma morte fetal. Assim, do nada.
Meu filho, que já tinha todo o meu amor, se foi, e levou consigo meu
coração. A perda mais dolorosa que eu poderia ter sentindo.
— Pare de se culpar, Otávio. Ben teria o melhor pai do mundo, onde
ele estiver... Sempre vai sentir seu amor. — Leon sorri de lado e seguro
em sua mão, apertando-a enquanto ele me abraça. — Você seria o
melhor pai... Tenha certeza.
— Você, às vezes, tem ótimos conselhos. — Sorrio o olhando
franzir o cenho.
— Se vier pedir conselhos para mim novamente, sete horas da
manhã, eu te chuto.
— Você tem que trabalhar. — Seguro meu blazer, o olhando se jogar
no sofá e fechar os olhos.
— Eu sou o chefe, e está muito cedo ainda. Deveria estar dormindo.
Estava fugindo da BruxAnna?
— Tchau, Leon. Te vejo daqui a pouco! — Me viro para sair.
— E a ruiva? Ainda está em seus pensamentos impróprios? — Ouço
Leon gargalhar e o ignoro, fechando a porta.
Acordei mais cedo essa manhã e fui correr, para aliviar a tensão que
estava sentindo nessa semana que se passou. Deixei Anna dormindo e
sai, então resolvi ir até o apartamento de Leon para conversar.
Para piorar, minha convivência com Mikaella está tensa. É
instantâneo encara-la e sentir o calor exalar pelo meu corpo. Ela, apenas
em respirar, me causa uma combustão insana. Mas fico ansioso para vê-
la, e é tão fodido, me sinto a porra de um adolescente, de novo, que vai
ver a líder de torcida na época da escola. Por que assim que Mikaella
aparece, é como me faz sentir. E nunca desejei tanto sentir seu beijo, o
toque da pele.
O que é horrível. Por que eu não quero sentir isso.
Mas está sentindo.
Mas não quero.
Está pensando em trair?
Não estou, não!
Está sim! Está atraído pela Pimentinha...
É apenas atração.
Dúvido.
Estou tentando evitar qualquer contato visual com ela, mas é
inevitável, nossos olhares sempre se cruzam de imediato, e ela parece
tão afetada quanto eu.

Estaciono o carro e saio, dou um bom dia rápido, e vou em direção


ao elevador.
— Senhor Perrot... — Ouço a voz da recepcionista, e me viro
quando ela aponta para o homem sentado, que se ergue rapidamente. —
Ele estava esperando o senhor.
— Perrot. — Me cumprimenta e logo o reconheço.
— Work. — Digo, fitando-o de relance quando abre aquele sorriso
cínico nos lábios.
— Queria mesmo falar com você. Estava te esperando.
Olho impaciente para meu relógio de pulso.
— Marque uma hora. Não tenho tempo.
— Estou tentando, há dias...
— Mande esse senhor procurar minha secretária e ela marca um
horário. — Falo com a recepcionista e me viro para o homem
novamente. — Tenha um bom dia, Willian. — Entro no elevador assim
que as portas se abrem.
Willian Work é um dos donos de uma companhia pequena de
engenharia, e se considera rival da Construl Perrot. É cínico e
dissimulado, e sempre foi apaixonado por Anna. Nunca fez questão de
esconder isso.
Deixa embrulhar ela para presente.
Não começa... Ainda é cedo e eu não quero me irritar.
As portas se abrem e o andar está completamente em silêncio, ou
quase...
Paro estático, sorrindo de leve.
Mikaella está de costas, de fones de ouvido, o celular em suas mãos.
Ela parece tão concentrada, que nem percebeu minha presença.
Ela sambava lentamente com a mão livre na cintura.
— Eu não tenho culpa de comer quietinho
No meu cantinho, boto pra quebrar
Levo a minha vida, bem do meu jeitinho
Sou de fazer, não sou de falar
Além de cantar rapidamente, os quadris balançam de um lado para o
outro.
As belas pernas apoiadas no salto alto preto.
Meu Deus.
A mulher tiraria um santo do pedestal.
Não entendo com perfeição as palavras que ela fala, por estar
falando em seu idioma de nascença.
Mas consigo entender um pouco.
— Quer saber o que tenho pra lhe dar
Vai fazer, você delirar
Tem sabor de queijo com docinho
Meu benzinho, você vai gostar
A saia, que é na altura dos joelhos, subia um pouco, sempre que ela
balançava o bumbum, e que belo bumbum que ela tem.
Mikaella é cheia de curvas, incrivelmente linda.
Engulo em seco, encarando-a balançar os cabelos e sambar
lentamente.
— Ai, ai, não tem como duvidar
Faz, faz, quem prova, se ama...
Ela vira e paralisa, me encarando.
— Eita! — Diz, com a mão no peito. — Me desculpe... Achei o que
o senhor... Ia demorar para chegar e...
Sorrio, mordendo o lábio.
Os olhos azuis se fixam aos meus.
O coração bate descompassado.
Só o coração?!
— Você estava tão concentrada... Que não quis atrapalhar.
— Me desculpe... — Ela se vira, colocando o celular sobre a mesa
e tirando os fones. — O senhor precisa de alguma coisa?
Preciso de você.
Sorrio, olhando-a.
A blusa de botões do uniforme, está bem justa ao corpo, assim como
a saia. Ambos escuros, que dão contraste com a pele alva, os cabelos
ruivos descendo pelo rosto.
As bochechas rosadas, e posso ver algumas sardas espalhadas. A
respiração ofegante.
Eu quero muito você. Vai, fala logo!
— Katy ainda não chegou? — Pergunto, soltando um pigarro baixo.
— Não. Eu cheguei mais cedo hoje. — Ela passa a língua pelos
lábios, me olhando.
Ela dá a volta na mesa, pega algo e me encara, voltando para onde
estava.
— O senhor quer churros? — Pergunta, estendendo uma caixinha em
minha direção. — Sei que é cedo ainda, mas...
— Sempre que me chama de senhor, tenho a impressão que pareço
ser um senhor de idade. — Brinco sorrindo e me aproximo. — Eu sou?
Ela me encara, balançando a cabeça lentamente.
— Não, senh... Não, Otávio. — Sorri, mordendo o lábio. —
Desculpa.
— Desculpo, se me falar, o que é isso? — Aponto para a caixinha
que ela segura.
— Você nunca comeu?
Não. Mas se quiser que eu coma... Eu juro que nem reclamo.
Não fode.
Quem não fode, é você.
— Não sou muito de doces. — Balanço a cabeça, olhando-a sorrir.
— Eu sou uma formiga. — Ela estende a caixinha em minha direção.
— Prova... Tem de doce de leite, brigadeiro e nutella.
— Qual me recomenda? — A encaro engolir em seco.
— Brigadeiro.
Hummmm...
Seguro o pequeno doce nas mãos e levo até os lábios, mordendo-o
devagar. Sorrio, sentindo o creme doce em minha boca. A cobertura
escorre pelo meu polegar, levo o mesmo aos lábios, limpando-os.
Instanteamente meus olhos se cruzam com os dela.
A boca desenhada, os olhos claros me encarando. Vejo sua garganta
se mover, e percebo que ela acabou de engolir em seco.
— É uma delícia. — Minha voz mal sai.
Você, é uma delícia.
— É sim.
Vai para frente.
Não posso.
Não minta.
Balanço a cabeça, passando por ela com o coração disparado.
Seguro a maçaneta, pronto para entrar em minha sala e ir para o
banheiro, para tentar apagar o raio de fogo que estava sentindo.
Volta, caralho!
Não. Não. Não.
Fecho os olhos e giro nos calcanhares.
Isso!
Acabo trombando com o corpo pequeno e vejo o líquido fumegante
derramar sob sua roupa.
— Ah droga!
Ela se afasta, se abanando.
— Me desculpe... Eu... — A encaro afastar a blusa da barriga.
Está toda suja de capuccino.
— Eu que devo um pedido de desculpas... Está queimando!? Ah
Deus, claro que está! — Respondo minha própria pergunta.
— Estou bem... — Diz, tentando se limpar e nego com a cabeça.
— Me deixa eu te ajudar. Por favor. — Abro a porta da minha sala
enquanto ela nega.
— Eu vou tentar me lavar... Não foi culpa sua.
— Mikaella, por favor. — Balanço a cabeça, indo até o banheiro.
Pego uma toalha e molho um pouco.
Volto para a sala e vejo Mikaella torcer o nariz.
— Porra, como isso queima! — Geme e a encaro.
— A blusa está ajudando a aquecer. — Digo, passando o pano
úmido pela roupa. — Vai ter que tirar...
Ela me encara e me afasto rapidamente.
— Tirar para não agredir sua pele.
— Eu sei... Eu... — Ela nega, e levanta um pouco. — Está
queimando...
Observo a pele da barriga exposta, e estendo o pano, passando-o
levemente. Mikaella sopra o ar, fazendo uma careta, quando o pano entra
em contato com a região avermelhada.
Sua mão segura a minha, apertando-a e a encaro.
Ao olhar para o azul dos seus olhos, só tive uma única certeza:
Estou completamente fodido por essa mulher.
— Eu preciso fazer uma coisa... Só não me impeça. — Digo,
pegando em sua cintura fina e trazendo o corpo para ficar colado ao
meu. Os cabelos ruivos feito fogo formam uma cascata sobre o peito que
sobe e desce rapidamente, por causa da respiração ofegante.
— Não vou impedir. — Ela diz em um sussurro.
E tudo parece ser em câmera lenta, quando nossas bocas se
encontram, a maciez dos seus lábios, nos meus. O beijo se torna voraz,
faminto. Suas mãos pousam em minha nunca, me puxando mais e mais
para si.
Minhas mãos passeiam pela cintura fina. A língua entra em uma luta
frenética com a minha. Ela puxa meus lábios de leve com os dentes, e
gemo entre os seus. Pego seus cabelos, os arqueando um pouco para trás,
enquanto o olhos mudam completamente de cor, as pupilas dilatadas, a
boca avermelhada pelo beijo selvagem.
Sinto os lábios quentes ainda nos meus. Os corpos tão juntos, que
poderia se fundir em um só. A mão espalmada em meu peito e a outra em
minha nuca.
Porra. Merda. Caralho!
Minha língua entrando e saindo de sua boca, ela gemendo contra
meus lábios; mordo-os de leve, apertando a cintura com firmeza,
puxando-a mais para mim.
É meu fim.

Espalmo a mão em seu peito, sentindo a boca capturar a minha de


uma forma descomunal. Sinto minhas pernas fraquejarem, e se não fosse
pelas mãos enormes segurando minha cintura, eu já estaria jogada no
chão.
A língua se entrelaçando com a minha, em um entra e sai violento,
como se nossas bocas puxasse um para o outro, mais e mais.
— Droga! — Ele grunhi e solto a respiração, o olhando se
desvencilhar rapidamente.
Há meu Deus! Há meu Deus!
Passo os dedos, ainda trêmulos, pelos meus lábios. A sensação da
sua boca sobre a minha ainda queima.
— Me desculpe... — Ele me encara com a mão estendida. — Me
desculpe. Por favor... Eu...
Engulo em seco, sem conseguir falar absolutamente nada.
— Me desculpe... Por favor...
E sai. Sai. Me deixando ali, sozinha.
O QUE MERDA ACONTECEU!?
FOGO NO PARQUINHO!
Passo as mãos pelos cabelos, suspirando. Ainda posso sentir o
roçar da barba em meu rosto. O gosto da boca, o desespero dos
sentimentos.
Droga.
O homem é casado. Meu Deus. O homem é casado.
Balanço a cabeça rapidamente, soltando o ar devagar.
— Que inferno! Inferno! — Exclamo, olhando para minha roupa.
Minha blusa ainda está ensopada.
Só a blusa, minha filha!?
— Mikaella? — A voz de Katy me pega de surpresa.
Me viro, olhando-a.
— O-oi. — Respondo enquanto tento arrumar a bagunça que está o
meu cabelo.
— O que houve? — Pergunta e estalo a língua.
Uma catástrofe.
Só de lembrar do toque das mãos dele na minha pele, acende um
fogo incontrolável em mim.
— Derramou um pouco de capuccino na minha roupa, e me queimei
um pouco.
— Meu Deus! Você está bem?
Nego, olhando-a.
Mas no fundo, não estou me referindo a pele arde por causa da
queimadura. Mas internamente. Katy me leva a enfermaria, onde
passaram uma pomada e fizeram um curativo.
— Acho que vai ficar um pouco pequena... Já que você tem mais
busto do que eu. — Ela estende uma blusa branca, que deixa meu sutiã
bem aparente.
— Obrigada. — Digo rapidamente.
— Otávio estava bem? Ellie me disse que ele passou como um
furacão...
— Não... — Falo, tentando esconder a surpresa. — Não sei dizer...
Quer dizer, eu o vi rapidamente.
— Se você não estiver bem, eu aviso para ele e você tira o dia de
folga.
Assinto e me sento na minha cadeira.
— Eu estou bem, Katy. Obrigada.
Eu nunca fui de fugir e não vai ser agora que vou começar.
Ainda estou absorvendo os acontecimentos. Os olhos azuis cravados
nos meus e aquelas mãos em mim...
Estou com raiva, mas ao mesmo tempo confusa. Com raiva, por ter
me deixado levar pelo meu corpo e confusa, por que nunca deixei isso
acontecer.
Nunca.
Foi um momento de loucura.
Meu celular vibra e o pego rapidamente, vendo que é uma
mensagem de Lia.
Passamos a semana inteira sem nos ver direito, já que estou
dormindo mais cedo, e acordando também.
Mia, balada hoje?
Sorrio e balaço a cabeça.
Respondo no mesmo instante.
Concerveja. No mesmo local.
Balada vai ser a minha rota de fuga. É disso que estou precisando.
Isso mesmo.
Balada. Festa. Beijo.
Ah, meu Deus, beijo...
Para. Para. Para. Para. Para.
Ela manda um "Te amo", e sorrio, por saber que ela está tentado
superar a crise com Dylan. O namoro deles sempre foi conturbado,
galinha de carteirinha, Dylan nunca foi de romances. Lia sempre foi
romântica nata, então essa combinação não foi nada perfeita.
Sobressalto quando o telefone toca e atendo rapidamente.
— Construl Perrot, Mikaella, bom dia. — Atendo, massageando
minhas têmporas.
— Bom dia. Você poderia transferir a ligação para o Otávio.
— Diz uma voz feminina doce.
Ah meu Deus.
— Desculpe, mas no momento ele não está. Quer deixar recado,
senhora?
Não seja senhora Perrot.
Não seja senhora Perrot.
— Não, obrigado. Diga apena que Lucy ligou. — Ela diz,
provavelmente sorrindo.
— Pode deixar. Tenha um bom dia.
Será que é uma das suas amantes!?
Entra na fila!
Não. Nunca.
Jamais vou me tornar algo que sempre repudiei. Meu Deus. Meu pai
foi embora e nos deixou a míngua, por uma amante. Abandonou nossa
casa, nosso lar e a nossa família por dinheiro...
Olho para cima e vejo os olhos de Otávio sobre mim. Engulo seco e
seguro nos braços da cadeira.
Vai ser gostoso assim lá na minha casa.
Cala a boca.
— Preciso falar com você. — A voz rouca me invade e sinto um
arrepio na espinha.
Ele vira as costas e entra na sala.
Ergo o queixo, ajeito a blusa e a saia, pego o tablet e entro. Ele está
de costas, apoiado na janela de vidro, as mãos dentro do bolso da calça.
As costas largas, a camisa branca, destacando os braços fortes.
— Pois não. — Digo alto, tentando não transparecer o nervosismo e
as batidas do meu coração.
Calma, qualquer coisa, agarra ele!
Muito obrigada!
Ele vira, mantendo as mãos no bolso, e parece distante quando me
encara.
— Isso que aconteceu... — Ele diz me olhando e abaixo a cabeça.
— Não vai voltar a acontecer! — Digo rápido, o olhando.
— Não pode e não vai. — Diz firme.
"Mas eu tenho certeza que vai..."
— Concordo com o senhor...
— Eu queria pedir desculpas... Sei que foi errado, que não deveria
ter acontecido. — Ele suspira pesado e assinto.
— Mas aconteceu.
— É, aconteceu.
Ficamos em silêncio, apenas nos encarando.
Ele me fita e o encaro.
— Seria hipocrisia da minha parte dizer que eu não quis isso, desde
a primeira vez que te vi naquela boate. — Ele sorri de lado e engulo em
seco.
— Também seria hipócrita, se falasse que eu também não quis. —
Disparo e vejo-o piscar algumas vezes.
Isso, garota.
— Talvez isso seja comun para você, mas eu nunca fiquei com
alguém casado...
— Eu nunca traí minha esposa, Mikaella. — Ele me interrompe de
imediato.
Por que eu estou surpresa!?
Por que seus olhos transparecem tristeza, e não arrependimento?
Porquê ele quer fazer de novo. E você também.
Nego com a cabeça, o olhando.
— Eu deveria ter mantido o controle. — Ele respira fundo.
— Eu que não deveria ter deixado isso acontecer. — Digo séria.
Vocês são dois mentirosos.
— E como ficamos? — Ele me fita e suspiro. — Não vamos deixar
isso atrapalhar o nosso trabalho, Mikaella. Por favor.
Agarra ele.
Não quero.
Não minta.
Não posso.
— Não se preocupe, esqueceremos tudo. — Estou ajeitando a saia,
quando percebo seu olhar em minhas pernas. — Foi a primeira e última.
O senhor não vai trair a sua esposa e eu não irei fazer...
O encaro, ainda parado com as mãos nos bolsos.
Não vai atrapalhar nosso trabalho.
Não vai.
Ele se senta rapidamente e tento ao máximo me recompor. As mãos
grandes, a aliança dourada e o rosto completamente sério me fitam.
— Senhor Perrot, Lucy ligou, mas não deixou recado, só disse pra
avisa-lo. — Digo, mantendo a postura.
— Voltei a ser o senhor Perrot? — Pergunta olhando nos meus
olhos.
Assinto rapidamente.
— Tudo bem. — Ele morde o lábio, ainda me olhando. — Estava
esperando pela ligação.
— O senhor tem uma reunião daqui a trinta minutos, com os
Gouveia.
— Claro, você pode ir arrumando a sala, por favor?
— Claro. Com licença. — Saio antes que ele fale mais alguma
coisa.
Não pode mais acontecer. Não vai mais acontecer. O beijo foi um
erro. Foi o erro mais gostoso da minha vida? Foi. Mas não vai voltar a
acontecer.
Vou para a sala de reunião, onde preparo a mesa, os televisores,
deixo café e água prontos na mesa. Leon ligou, avisando que não vai
poder vir porque está com problemas na outra filial, e Katy precisou ir
para ajuda-lo.
A reunião demorou mais que o esperado, estamos a quase oito horas
resolvendo assuntos que eu não entendo bulhufas. Apenas sei que é um
projeto caríssimo de uma ferrovia que a Perrot está tomando a frente.
Minha barriga está roncando, de tanta fome. Estou quase cochilando
sentada aqui, meu bumbum está dormente.
Olho para Otávio, que explica algo no painel, sério e tão lindo com
os braços fortes.
A tatuagem aparecendo a cada movimento que ele faz. As mangas da
blusa sobem, mostrando ainda mais os desenhos.
Tentação. Tesudo. Gostoso. Me perderia nesses braços.
Pensamento horrendo.
— Dou essa reunião por encerrada. — Otávio diz com a voz rouca.
— Não vamos chegar a qualquer conclusão assim. Então decidimos isso
amanhã.
Os burburinhos começam e ele encara os acionistas falando um
pouco mais alto que o normal. Respiro fundo quando os comentários dos
únicos dois homens ecoam, mas logo vão se retirando um por um.
— Inferno. — Ele passa as mãos pelos cabelos.
Arrumo os papéis na mesa e o vejo me encarando.
— O senhor precisa alguma coisa?
Uma chupada? Um beijo?
— O que eu quero, você não pode me dar.
Jesus! Morri mil mortes, agora. Eu posso dar sim. Claro que
posso.
Coloco o celular na mesa e o encaro, as mãos enfiadas no bolso da
calça e franzo o cenho.
— Por que mantém as mão nos bolsos sempre que está perto de
mim?
As palavras saem da minha boca antes que eu possa pensar.
Encaro seus olhos, que estão exalando desejo, cobiça e tesão.
— Por que não sei o que fazer quando estou perto de você e mante-
las no bolso, é a única forma de não a ter em seu corpo.
Fodeu.
Sinto sua boca colar na minha, a língua entrando na minha boca com
fome, com mais desejo do que a primeira vez. Ele me encosta na mesa,
suas mãos vão subindo e descendo pelas minhas coxas, fazendo minha
pele arrepiar.
Mordo seus lábios e seguro seus cabelos. Nunca senti tanto desejo
só em beijar um homem, mas com Otávio tudo é diferente.
Tudo.
As mãos se enfiam em meus cabelos, me puxando mais e mais para
si. Ardente. Quente. Insano. Gemo contra seus lábios enquanto ele me
senta na beira da mesa.
Esse porte de homem entre minhas pernas, consigo sentir o volume
esfregando-se em mim. Me abro lascivamente, perdendo o controle do
meu próprio corpo. Otávio beija meu pescoço, morde e chupa ao mesmo
tempo.
— O que você está fazendo comigo? — Pergunta, segurando em meu
queixo, me fazendo o encarar. — O que está fazendo comigo, Mikaella?
Fecho os olhos e sinto-o esfregar o nariz em meus lábios, a barba
roçando em minha pele.
— Eu que deveria te fazer essa pergunta... — Respondo.
— Você vem tirando meu sono, minha paz... Desde o dia em que
coloquei meus olhos em você. — Arqueia meu pescoço, segurando em
minha nuca. — Você destruiu em uma semana, o que eu construí em vinte
anos de casado! Vinte anos.
Beija meus lábios ferozmente, sem pudor e sem medo.
Eu gosto da sensação do corpo dele no meu, mesmo sendo errado.
Impuro. Indecente.
— Não me orgulho disso... — Digo entre seus lábios, espalmando a
mão em seu peito. — Mas eu sou livre... Eu tenho...
— E eu admiro isso em você. Sua liberdade... Seu jeito livre...
O polegar roça em meus lábios, abrindo-os e ele os mordisca e os
puxa.
— Otávio... — Digo em um sussurro inaudível.
As mãos apertam minhas coxas e o encaro.
— Não faz isso. — Sinto o polegar fazer círculos em minha coxa,
que ele mantém presa em seu quadril. — Não podemos...
— Mas não significa que não queremos. — Ele me encara assim que
me afasto e desço da mesa.
Ajeito minha blusa e meus cabelos, sob o olhar atento dele.
Estou ardendo.
— Eu não consigo me afastar de você, seus beijos são como uma
droga, Mikaella.
— Pelo amor de Deus, não vamos fazer isso! Você é casado! Você
tem uma vida e eu não vou entrar nisso...
Agarra ele!
Nego veemente, engolindo em seco.
Pego a bolsa e o olho para ele.
— Não vou entrar nessa história, por que sei muito bem como ela
termina...
— Mikaella... — Ele segura em meu braço me olhando e negando
com a cabeça.
— Foi um erro, Otávio. Isso é um erro.
Aperto o celular nas mãos e coloco o mesmo sobre minha pasta,
deixo no carro e desço. Ainda estou absorvendo o que foi o dia de hoje.
Me sento no sofá, afrouxando o nó da gravata. Passo as mãos pelos
lábios, lembrando da porra daquele beijo... Mikaella tem sabor de
pecado, de desejo proibido.
O corpo encaixou no meu com perfeição. Os seios perfeitos sob o
sutiã delicado. As pernas grossas. A boca carnuda. Apenas em pensar,
meu pau quase rasga a cueca, o ajeito rapidamente, me levantando.
A casa está em total silêncio. Subo as escadas e vou para o quarto,
abro a porta e vejo Anna arrumar os cabelos.
Vixi.
O vestido preto, um pouco abaixo do joelho, os sapatos também
pretos e os cabelos dourados, soltos. Anna é bonita, sempre foi, na
verdade. Ela sorri ao me ver, é já prevejo uma briga.
Motivo: ela sempre quer sair, mas eu não.
— Olá, meu amor. — Ela me olha pelo espelho enquanto coloca os
brincos.
— Oi. — Desvio os olhos dos seus, tirando os sapatos, em seguida
a camisa e me jogo na cama, apenas de calça e meias.
Meu casamento com Anna foi se desgastando com o tempo. Nos
éramos felizes, mas a possessividade dela sempre foi um problema.
Depois da morte de Rose, ela piorou bastante.
Passei meses ao seu lado, ajudando-a, aí veio a perda do nosso
filho, que contribuiu ainda mais para a depressão dela.
Mas eu não consigo mais me ver como homem ao seu lado.
Nem sei se a amo ainda.
Vinte anos de casados, não são vinte dias.
— Papai vai fazer um jantar, para comemorar o aniversário de nove
anos de casamento deles. — Anna avisa, me olhando.
Michael é o padrasto que Anna tem como pai. É brasileiro e acabou
se tornando membro da família, quando se casou com Letícia há alguns
anos atrás.
Mas a última coisa que eu quero no dia de hoje, é jantar com minha
sogra.
— Estou com dor de cabeça hoje, Anna. Quero descansar. — Digo e
ela sorrir e cruza os braços.
— Claro que está. — Seu tom exala ironia, mas não revido. — Você
sempre está cansado.
— Passei um dia infernal, Annabell...
Abraçando uma diaba ruiva.
— Estou cansado. Exausto.
Ela me fita de cima à baixo e sorri levemente.
— Vou comemorar com minha família, já que para você tanto fez,
como tanto faz. — Ela dá de ombros e passo a mão pelos cabelos.
— Onde está Luíza?
— Foi pra casa da mamãe. Está nos esperando lá, como todos. Mas
direi a sua sobrinha, que você está cansado. — Ela pega a bolsa e me
encara. — Boa noite.
Ela bate a porta, causando um estrondo e balanço a cabeça.
Tudo poderia ser diferente, não tive aventuras amorosas, como
Leon.
Mas por que estou sentindo isso justamente por ela?
Nunca senti isso por mulher nenhuma.
Esse desejo.
Nem Anna tem o poder de fazer meu pau endurecer só com o olhar.
Inferno. Passo as mãos pelos cabelos, tiro a calça e vou para o banheiro.
Tomo um banho relaxante e demorado. Na ilusão que esse fogo do
inferno passe.
Pego uma camisa de mangas pretas, dobrando até os cotovelos, em
seguida visto uma calça jeans clara e saio descalço, penteando os
cabelos com os dedos mesmo. Desço para a sala de jantar, mas passo
direto para a cozinha.
Tina se ergue rapidamente, me olhando.
— Pode continuar sentada, Tina. E ir descansar também. — Abro a
geladeira e pego uma garrafa de suco.
— O senhor vai jantar? — Tina e Dom me encaram esperando a
resposta.
— Não. Vou só tomar esse suco. — Encho o copo com o líquido
enquanto falo. — Podem descansar. Anna vai vir tarde e vou para o
escritório, trabalhar um pouco.
— Sempre trazendo trabalho para casa, né Otávio? — Tina sorri
balançando a cabeça.
Não só o trabalho. A secretária também.
Vou para o escritório, bebericando o suco. Fecho as portas duplas
de um dos meus lugares preferidos de casa. As enormes janelas de vidro
deixam uma vista incrível para todo o jardim. É um lugar amplo, e o
isolamento permite trabalhar, sem qualquer ruído externo.
Abro as plantas da construção, espalhando todas na mesa. Pego o
lápis, mas fico brincando com o mesmo pelos meus dedos.
Minha cabeça está distante. Estalo o pescoço de um lado para o
outro e pego o telefone, discando o número rápido.
— Eddie?
— Senhor Perrot? Pois não? — Eddie é os olhos e ouvidos da
empresa.
Mordo o lábio e solto o ar que estava segurando.
O que você está pensando, Otávio?
— Eddie, por favor, consiga o endereço de Mikaella Gonçalves
para mim. É urgente. — Digo rápido, sentindo o suor descer pelo meu
pescoço.
— Claro, senhor. Só um minuto. — Espero impaciente enquanto ele
digita algo no computador.
Aperto o lápis nas mãos, nervoso.
— O senhor quer anotar?
— Não. Mande para o meu e-mail, obrigado. Não vou precisar dizer
que é de total sigilo...
— Pode deixar. O senhor não me ligou. Tenha uma boa noite.
Desligo o telefone e corro para calçar os sapatos. Pego o celular e
as chaves do carro e saio. Ligo o GPS e o deixo localizar o endereço.
Não fica muito longe, mas também não é tão perto.
Alguém vai se dar bem hoje.
Tava demorando.
Pego o celular pequeno que ela havia esquecido e arranco com o
carro. Quase vinte minutos depois, estaciono em frente ao pequeno
prédio azul. Aperto forte o volante.
É um prédio simples e modesto, mas organizado.
— Boa noite. Mikaella Gonçalves, está? — Pergunto ao porteiro,
que me olha de cima à baixo.
— Sim, pode entrar.
Franzo o cenho, vendo-o abrir o portão.
Que falta de segurança.
Me viro, o encarando mascar um chiclete enquanto assiste TV.
— Acabei esquecendo o número do apartamento... — Digo e ele
vira o rosto em minha direção.
— 412. — Ele diz com pouca importância.
Encaro o corredor longo e olho para todas as portas.
399
400....
410...
412.
Bate logo.
Respiro fundo e a aperto a campainha. Viro de costas, tentando
manter as batidas do coração normais. Estou agindo como um
adolescente cuzão.
A porta se abre e volto a olhar para frente.
Quase perco meu fôlego com a cena que vejo.
Mikaella usa uma saia preta, justa ao corpo, marcando a cintura. A
blusa de mangas compridas também na cor preta e um decote marcando
os seios fartos. Está com os cabelos soltos e uma maquiagem marcante.
O batom vermelho parece o próprio pecado nos lábios.
— Otávio!? — Ela exclama quando seus olhos batem nos meus.
— Está de saída? — A encaro engolir em seco.
Que pergunta idiota! Claro que está!
— Eu... O que está fazendo aqui? — Olha para a minha mão quando
estendo o celular em sua direção.
— Você esqueceu. — Ela segura o aparelho nas mãos e me olha,
mordendo o lábio.
— Achei que tivesse perdido. — Sussurra, balançando a cabeça.
Os olhos encontram os meus, e nossa... Está incrivelmente linda.
— Quer entrar? — Abre um espaço na porta.
— Não vou atrapalhar?
Ela nega devagar e entro na pequena na sala. Não sei se eu sou
grande demais, ou tudo aqui é menor. É um apartamento simples e bem
arrumado. A sala tem uma TV e dois sofás pequenos.
Meu quarto deve ser do tamanho do apartamento inteiro.
— Quase do tamanho da sua sala, lá na empresa. — Ela diz, como
se lesse meus pensamentos.
Me viro sorrindo.
— Quase... — Assinto rapidamente.
Ela continua parada, me olhando atentamente.
— Pode se sentar. Deve estar acostumado com lugares mais
requintados...
— Nunca me importei com isso, Mikaella. Só não quero atrapalhar
você... — Me sento rapidamente e ela faz o mesmo, se acomodando na
minha frente.
A maquiagem realça sua beleza ainda mais. Esses olhos azuis
incrivelmente lindos e marcantes.
— Não está. Só não esperava sua visita uma hora dessas. — Diz,
cruzando os braços acima dos seios, que estão mais altos.
Posso ver as sardas no colo...
Meus olhos varrem o corpo curvilíneo da ruiva na minha frente.
— Nem eu esperava vir. — Confesso baixo.
Ela morde o lábio e não consigo desviar o olhar.
— Quer beber alguma coisa? Eu tenho vinho. Só não tenho whisky.
— Ela oferece e assinto.
— Vinho, então...
Anda lentamente para um cômodo, que deve ser a cozinha. Olho o
corredor e vejo duas portas, que devem ser o quarto e o banheiro.
— Não custa um rim, mas é um vinho de boa qualidade. — Ela volta
sorrindo, segurando uma garrafa e duas taças.
Balanço a cabeça, a olhando.
— As melhores coisas, às vezes não tem preço. — Falo rápido. Ela
se senta e pego a garrafa, nos servindo.
Hummm, clima.
Beberico o líquido devagar e ela sorri.
— Ao que não tem preço, então...
— Ao que não tem preço. — Ergo a taça e encosto na sua
levemente.
Fito-a balançar o líquido de um lado para o outro. Me encara sobre
a borda da taça, quando leva a mesma aos lábios, me encarando
fixamente.
— O que veio fazer aqui? — Indaga. — Você não viria uma hora
dessas, apenas para me entregar o meu celular...
Adivinha?
Engulo todo o líquido de uma única vez, deixando-o na mesa de
centro, então me ergo e dou um passo a frente e ela levanta. O salto a
deixa mais alta, mas não tanto. Ainda preciso abaixar l pescoço para
ficar próximo ao seu rosto.
É agora...
— Otávio...
Passo o polegar de leve por sua boca e volto, acariciando a
bochecha.
— Eu estou tentando, juro que estou. Mas não tenho mais forças, pra
ficar longe de você. — Sopro as palavras em seu ouvido.
— Você sabe que não podemos...
— Mas não significa que não queremos.
Estou sentindo o clima... Estou sentindo...
Coloco minhas mãos em seu rosto e a boca entreaberta é como um
convite silencioso. Então ela morde o lábio.
— Otávio... Por favor... Não faça...
— Eu vou embora. Eu juro que vou embora, se você olhar para mim
e falar que não sente a mesma coisa que eu... — Esfrego o nariz em seu
rosto e sinto aquele cheiro doce me invadir. — Diga... Diga, e eu vou
embora.
Ouço sua respiração falhar e a encaro.
— Isso é errado. Isso é muito errado... — Ela sussurra e a fito,
franzindo o cenho.
— Diga que não sente esse desejo insano. Esse tesão desenfreado...
Diga, Mikaella.
Ela nega lentamente e fecha os olhos.
— Não...
— Não sente? — Meu coração bate descompassado no peito.
Frenético. Intenso. Forte.
— Não posso mentir. — Os olhos encontram os meus.
— Apague esse raio de fogo que você acendeu em mim, Mikaella...
— Solto a respiração devagar e seguro seu rosto, olhando no fundo dos
seus olhos. — Ou venha se queimar junto comigo!

Sinto a boca tomar a minha e não consigo afasta-lo. Na verdade, é a


última coisa que quero.
Ele enfia as mãos em meus cabelos e arqueia meu pescoço. Sinto a
barba roçar na pele exposta, causando um arrepio, que me faz parar de
raciocinar.
Aliás, parei de raciocinar no exato momento em que o vi aqui na
minha casa. Estava pronta para sair com Lia e esquecer tudo que
aconteceu nesses dias.
Principalmente ele.
Inferno.
Gemo contra seus lábios quando ele me ergue e abraço seu quadril
com minhas pernas. Otávio tem o dobro do meu tamanho, em todos os
aspectos. As mãos grandes seguram meu bumbum, apalpando-o. A boca
não desgruda um segundo sequer da minha.
Sinto suas mãos tremerem e franzo o cenho.
Ele está nervoso?
Mas não para, não...
Desço os olhos para o corpo grande, os braços musculosos, que me
chamaram a atenção de imediato, desde a primeira vez que o vi. Os
cabelos estão desgrenhados e a boca avermelhada pelo meu batom.
Mesmo exalando um tesão desenfreado, ele parece muito nervoso.
Deve ser por que ele nunca...
Abano a cabeça. Não vou pensar nisso.
— Você me deixa louco... Desde que te vi naquela boate, desde que
te vi na empresa... — Sopra o ar e sorrio. — Você me tocou, sem usar as
mãos.
Se você soubesse o que posso fazer com você usando as
mãos, então.
Já vou para o inferno mesmo.
Seguro em seu pescoço e me viro, ficando por cima. As mãos
seguram minhas coxas e me esfrego em sua ereção, que marca a calça
perfeitamente.
Seus olhos descem para os meus seios e percebo quando engole
seco, olhando-os.
Você pode chupar... Pegar. Por que ele não pega?
Arqueio a sombrancelha, fitando-o.
Por que ele não pega? Será que ele sabe pegar?
— Não sei o que fazer... — Diz sorrindo.
— O que? — O encaro balançar a cabeça.
— Não sei se você gosta... Se... Não quero invadir seu corpo, e...
— Você já invadiu, Otávio. Primeiro minha mente e depois... —
Engulo em seco. — Depois, meu corpo...
Ele aperta minha cintura e me puxa, meu corpo encosta no seu e a
língua invade minha boca novamente. Chupo seus lábios e passo a mão
em seu peito. Puxo a camisa, que ele rapidamente se livra, descartando
em algum canto.
Paro, apenas para encarar os riscos da tatuagem na pele.
Uau! Que tatuagem!
Começa no pescoço e vai descendo para o ombro, o peito másculo,
todo o braço, e acaba no pulso.
— Sempre tive curiosidade de ver até onde ela ia... — Passo os
dedos pela tatuagem toda.
Sinto a pele se arrepiar e os olhos cravados nos meus.
A pupila dilata, mostrando o desejo se aguçar e sorrio.
As mãos buscam a barra da minha blusa, puxando-a rapidamente
quando encontra. Meus seios saltam livres, por estar sem sutiã.
— Sempre tive vontade de ver seu corpo...
Ele fala, ouço a voz rouca e sinto o impacto do tesão me tomar.
— São lindos. — O polegar roça devagar em um dos bicos
enrijecidos.
Ele parece hipnotizado.
Minha respiração falha, quando o sinto apertar o bico do meu peito
direito, um gemido escapa da minha garganta. E como se apenas
precisasse de permissão, ergo o colo em sua direção.
Otávio abocanha meu seio, a boca captura de imediato meu mamilo,
sugando-o.
— Ahh... — Gemo e sorrio quando ele mordisca o bico
entumescido.
Ele dá um sorriso de lado e consigo sentir minha boceta encharcar
de imediato. Otávio segura em minha cintura como se eu pudesse
escapar. A boca revezando entre um seio e outro, o barulho da sucção
fazendo meu corpo se contorcer.
— Como esperei por isso... — Diz me olhando e segurando em meu
queixo. — Para ter você... Para te sentir.
Beija minha boca novamente, seus dedos agarram meus cabelos e o
beijo se torna mais voraz e faminto.
Ele chupa minha língua, sugando-a enquanto as mãos tateiam todo meu
corpo.
Desabotoo sua calça e coloco minha mão sobre a ereção marcada.
Tiro o cinto e desço a braguilha, deixando a cueca box aparente.
— Você é a porra da minha tentação. — Diz sobre meus lábios e vai
beijando meu pescoço, meu rosto, meu queixo. — Não sabe quanto já me
masturbei pensando em você... Nessa sua boca. — Ele fecha os olhos,
esfregando o nariz no meu. — Nesse seu corpo... Essa sua bunda
perfeita... Você é a porra de um pecado, Mikaella.
— Tentações como você, merecem pecados como eu.
Me afasto e perco o fôlego quando vejo-o segurar o membro nas
mãos, masturbando-o de cima para baixo, enquanto me encara fixamente.
Tomo a controle, afastando suas mãos. É grande e grosso; as veias
estão saltando e a glande, babando. Rodeio o polegar e minha mão mal
fecha.
Isso vai acabar comigo.
Ele pende a cabeça para trás quando acelero os movimentos.
— Para... — Diz sôfrego, me olhando. — Não quero gozar na sua
mão.
Segura minhas mãos e chupa meu queixo.
— Prefere em minha boca?
Seus olhos encontram os meus e sorrio. Abaixo devagar e apoio os
joelhos no chão, desço a calça e a cueca logo em seguida, então o pau
salta feliz.
É deliciosamente assustador, de tão grande.
Passo a língua devagar pela glande inchada. Ele segura em meus
cabelos e minha língua desce por toda aquela extensão grossa, e sobe
novamente.
O abocanho, sabendo que não vou conseguir nem engolir a metade.
— Porra! — Ele geme quando chupo novamente, levando até o
limite que aguento.
Otávio geme descontrolado. Tiro-o da boca e sorrio, antes de
engolir novamente, deixando toda a extensão molhada, e ele totalmente
entregue.
Massageio, voltando a chupa-lo e sinto seu corpo enrijecer.
— Eu v-vou... Mikaella!
Meu nome sai em forma de um gemido rouco, tiro da boca apenas
para ver os jatos quentes saírem espessos e molharem o abdômen.
Passo a língua nos lábios enquanto ele sorri de lado.
— Você tem uma boca de anjo. — Sussurra e passa o polegar pelos
meus lábios. Me ergo e desço o zíper da saia sob seu olhar.
A mesma cai sobre meus pés e deixo os sapatos de lado também. A
calcinha sendo a única peça em meu corpo.
Como um tigre, em um movimento inesperado, ele se ergue e me
coloca apoiada no sofá. Suas mãos vão para os meus seios e ele morde
minhas costas e lambe minha nuca.
— Essa bunda empinada, me enlouqueceu desde a primeira vez te
vi. — Ele diz, afastando a calcinha para lado, acariciando minha boceta
de cima à baixo. — Caralho, que boceta molhada.
Arfo ao sentir um dedo me penetrar.
— Otávio...
Ele retira o dedo e rapidamente penetra fundo de novo, me fazendo
gritar, quando massageia meu clitóris.
— Goza nos meus dedos, quero te fazer desmanchar de prazer. —
Fala em meu ouvido.
Os dedos entrando e saindo, meu corpo em total combustão de
prazer. Enfio os dentes no meu lábio, quando gozo loucamente.
— Agora vou te provar. Fica assim.
Permaneço na mesma posição, as mãos apoiados no sofá, as costas
arqueadas. Suspiro ao sentir a língua quente passear por minha boceta
encharcada. Otávio esfrega o nariz, falando palavras que mal consigo
ouvir.
— O-Otávio....
Gemo quando ele separa minhas pernas e dá total atenção ao meu
clitóris inchado, mordisca de leve e o chupa com força.
Passeando a língua de cima para baixo, me fazendo delirar em sua
boca. Os espasmos me tomam de uma forma absurda, quando sinto o
orgasmo me tomar, me fazendo desmanchar em sua boca.
— Eu preciso estar... Dentro de você. Agora. — Aperta minha
cintura e sorrio, a olhando por cima do ombro.
— O preservativo... — O encaro assentir levemente.
— Eu não... Trouxe...
— Na minha bolsa. — Aponto e ele me encara.
Me ergo rapidamente, e abro a mesma sob seu olhar curioso. Seguro
a embalagem, o olhando.
— Pra que esperar?
— Inferno de mulher gostosa. — Ele solta um grunhido baixo,
esfregando os dedos no meio de minhas pernas. Sinto-o espalhar toda a
lubrificação, e me encara quando leva os dedos melados até a boca,
chupando um por um, sem desviar o olhar.
— Você está me enlouquecendo. — Digo entre os dentes, meio
sorrindo, meio gemendo.
— Você que me enlouquece, sua diaba!
Ele veste o preservativo com rapidez e o encaro enquanto abre
minhas pernas, segura o pau pela base e esfrega na entrada devagar.
Minhas pernas o abraçam e a boca captura a minha.
— Otávio...
Ele vai entrando. Sinto as carnes abrirem para recebe-lo e cravo as
unhas em seus ombros.
Ele se afasta e fica em pé, observando meu corpo por inteiro.
— Não brinque comigo.
— Você parece um sonho... — Diz, se deitando sobre meu corpo.
E sem esperar me penetra. Fundo.
O desejo se apossa.
Ele geme, me aperta.
— Eu sempre... Soube... Que essa boceta seria apertada. — Diz,
aumentando os ritmos e mexo o quadril sorrindo.
O sinto me invadir com brutalidade. A cada investida, meu corpo
arqueia, procurando o seu. Seus olhos presos aos meus, a boca
procurando a minha.
— Essa sua boceta é a oitava maravilha do mundo.
— Oitava maravilha do mundo... É quando você mete fundo em
mim.
O puxo bruscamente e me viro.
Otávio segura em minha bunda e rebolo lascivamente no pau, que
me preenche por inteira. Os lábios prendem o bico do meu seio e tombo
a cabeça para trás.
— Eu.. Eu vou... — Choramingo, o olhando enquanto ele impulsiona
o quadril, aumentando o ritmo das investidas.
— Vai... Goza!
Beijo sua boca e esfrego o corpo ao seu.
Suados.
Como se fossemos um só.
Otávio geme, agarrando-se a mim. Enfio os dedos em seus cabelos e
o beijo mais forte.
— Porra!
Seu corpo se tenciona por inteiro, seus músculos enrijecem. Me
aperta enquanto gozo novamente, sentindo que ele chegou ao clímax.
Encosto a testa na sua, tomando o fôlego e o encaro abrir os olhos.
Engulo em seco enquanto ele segura em meu rosto.
— O que você fez comigo?
Colo minha testa junto a dela enquanto tentamos, em vão, controlar
a respiração ofegante. Fecho os olhos e solto um sorriso de canto, a
olhando.
Ahhh, o alívio...
Ela está calada, me encarando atentamente. Os cabelos caindo sobre
os ombros, alguns fios colados em sua testa suada. E sei exatamente o
que ela está pensando, mas não quero falar sobre isso. Não agora.
— Otávio... — Sussurra e balanço a cabeça.
— Só fica aqui um pouquinho. — Peço, olhando-a.
Sem falar absolutamente nada, ela abaixa a cabeça e deita em meu
peito, nesse sofá minúsculo. Passo as pontas dos dedos pelos seus
ombros, que têm sardas também. Perfeita. Os cabelos se espalham como
uma cortina sedosa de fios avermelhados. O cheiro dela se impregnando
em mim, mais do que já está.
As batidas do coração ainda estão aceleradas, e parece que não vão
se acalmar tão cedo, com ela ainda em cima de mim.
Ainda estou dentro dela.
Encaro a embalagem do preservativo no chão e um pensamento
idiota se apossa de mim. Com quantos homens ela já transou?
Franzo o cenho, sentindo uma pontada de raiva.
Quantos homens já estiveram com ela... Assim.
Você não tem nem direito de ficar putinho.
Eu sei. Mas estou.
Abano a cabeça, de um lado para o outro e ela me olha.
Passo o polegar nos lábios inchados e vermelhos, não há mais
nenhum vestígio de batom.
— Eu não vou dizer que é errado, por que você já sabe disso. —
Nega com a cabeça. — Você é casado, Otávio.
Não me lembra disso.
— Eu sei. — Digo o óbvio.
Ela segura minha mão esquerda e olha para a aliança grossa de
ouro.
— Foi errado, Otávio.
— Foi. Mas eu não me arrependo. — Digo sério. — Eu não me
arrependo de nada...
— Eu não tenho nada haver com o seu casamento, mas não quero
fazer parte disso. — Diz, se erguendo enquanto fala.
— Mikaella? — Me levanto também.
Está linda, completamente nua, como uma deusa.
Engulo em seco, a encarando.
— Eu não me arrependo de nada...
— Eu também não, mas não deveríamos ter feito isso. — Ela nega e
assinto.
— Mas fizemos. E foi a melhor experiência da minha vida. —
Seguro em seu rosto. — Eu quis, você também. Sei que foi errado, mas
essa culpa tem quer ser minha.
— Eu não estou me sentindo culpada.
Eu também não.
— Eu nunca traí minha esposa... — Digo e seguro seu rosto
delicado entre minhas mãos. — Mas foi com você e se eu disser que não
foi bom, eu vou está sendo covarde...
— Não diz isso. — Ela pede em um sussurro quando dou um beijo
na ponta do seu nariz.
— É a verdade... — Sorrio, balançando a cabeça. — Você é a porra
de um pecado, Mikaella, que eu nunca desejei tanto cometer.
Ela me encara com os olhos baixos e sorrio, beijando-a
demoradamente e sentindo meu corpo em combustão novamente.
Mikaella vai ser o meu fim.
— Obrigado... — Ela me encara enquanto seco os cabelos com a
toalha cor de rosa.
O banheiro é pequeno, mas aconchegante. Assim como o resto do
apartamento. Cada cantinho tem um pouco dela. A encaro vestida em um
roupão branco, transparente, deixando todo o corpo à mostra.
— Pelo quê? — Diz me olhando.
— Por tudo. — Digo sorrindo e ela balança a cabeça.
— É melhor você ir.
— Também acho. — Olho-a e coloco a camisa rapidamente,
soltando um suspiro pesado. A encaro de braços cruzados, me olhando
enquanto passo os dedos pelos cabelos, arrumando-os.
Em um piscar de olhos, venço a distância que nos separa, a
erguendo no colo sob um olhar surpreso.
— Obrigado pelo banho... Pelos beijos... Pelo sexo incrível. —
Sussurro contra seus lábios.
— Louco. — Segura em meu rosto e a beijo.
A boca pequena e avermelhada colada na minha.
— Vai... — Diz esfregando o nariz ao meu. — Vai logo.
A coloco no chão sorrindo.
Ela me acompanha até a porta e paro, admirando a beleza
exuberante dessa ruiva gostosa.
— Te vejo na segunda? — Pergunto quando ela segura a porta.
— Estarei lá. — Cruza os braços.
Desço os olhos pelo seu corpo e engulo em seco.
— Boa noite, Mikaella.
— Boa noite... — Caminho em direção às escadas. — Otávio?
Me viro, vendo-a ainda parada na porta.
— Eu também adorei...
Paro, admirando ela sorrir daquele jeito, que parece que vai me
desmontar por inteiro.
Volta lá, vai.
Mordo o lábio quando ela fecha a porta devagar.
Balanço a cabeça, descendo as escadas do prédio. Entro no carro e
aperto o volante firmemente.
Está arrependido?
Não. Como poderia?
Estou me sentindo vivo, depois de... Muito tempo.
É errado? Sim.
É muito errado. Mas foi incrível.
Foi mais do que incrível. Foi maravilhoso.
Foi.
É um desejo que arde dentro de mim, e arde por ela. É loucura. É
um absurdo. É insano. Mas também é intenso.
O desejo é um sentimento muito perigoso. Principalmente, quando
desejamos o proibido.
E Mikaella é o meu Proibido Desejo.
Levo o copo de suco a boca, bebericando o líquido devagar. Anna
leva o garfo a boca e mastiga devagar. Ela me encara, voltando a mexer
a panqueca.
— Estava inquieto de noite, ou foi impressão minha? — Anna
indaga.
Não, estava pensando na ruiva.
— Deve ter sido impressão sua. — Nego com a cabeça, mordendo o
lábio.
Cheguei tarde e não demorou muito para Anna chegar também.
Estava no banho quando ela chegou, e ficou me olhando como se
soubesse o que eu tinha acabado de fazer.
— Achei que estivesse dormindo. — Tira os sapatos, enquanto visto
uma calça de moletom.
— Estava no escritório.
Finge melhor, Otávio.
Queria me desligar, mas meu corpo parece ter tomado uma descarga
elétrica.
E tomou meu amigo, a descarga elétrica da ruiva.
Mas nada me fazia desligar.
— Mamãe perguntou por você... — Ela retira as jóias, as meias e se
vira, me encarando. — Alias, todo mundo. Senti sua falta...
Jura!?
Franzo o cenho e ela senta na cama.
— O que você tem? Está estranho... Por que está me olhando assim?
Aconteceu alguma coisa?
— Nada. Não aconteceu nada. — Sussurro, fechando os olhos. —
Estou apenas...
— Cansado... — Ela completa. — Como sempre está.
Vejo-a se erguer bufando e fito o teto.
Queria apenas digerir o que estava sentindo, mas ainda não fazia
idéia do que era. Não era arrependimento. Isso, não.
Fazia anos que não me me sentia tão... Eu.
Fiquei de costas e não me virei quando senti o colchão seder do seu
lado. Senti o braço dela passar por minha cintura e se aconchegar, me
abraçando.
Não me movi.
Não consegui dormir, passei a noite inteira com a mente e o corpo a
mil por hora. Acordei mais cedo e sai em jejum para a academia, onde
aliviei a tensão, em sessões de musculação.
Mas era apenas fechar os olhos, para sentir a sensação do corpo de
Mikaella ao meu, a boca na minha. O modo que os seios se moviam,
enquanto eu entrava e saia de dentro dela com força, sentindo a carne
macia da boceta apertada, me sugar.
Os cabelos ruivos colados na testa suada, minhas mãos apertando
sua cintura, enquanto ela rebolava loucamente, gemendo.
— Otávio? Otávio, você está me ouvindo?
Arqueio as sobrancelhas e Anna me encara.
Não! Não estou e nem quero te ouvir! Euem!
— Meu Deus! Estou há minutos falando com você! — A voz se
altera e balanço a cabeça lentamente. — Já não basta viver para o seu
trabalho, agora está me negligenciando...
— Negligenciando, Annabell?
— Sim. Olhe para você, não pergunta como estou... Ontem fui para o
jantar de casamento dos meus pais e você sequer me acompanhou! —
Ela segura o guardanapo, sorrindo sem humor. — E agora nem
conversamos mais no café da manhã.
Deposito o copo devagar na mesa, balançando a cabeça.
— Está aéreo... Vivendo no mundo da lua.
— Quer mandar nos meus pensamentos também, Annabell? —
Coloco o guardanapo na mesa, a olhando.
— Eu só fiz uma simples pergunta, meu Deus! Olhe como está
agindo... — Me ergo rapidamente.
Fingida!
Giro nas calcanhares, saindo da sala de jantar.
— Vai me deixar falando sozinha? Otávio?
Ouço seus passos apressados atrás de mim e pego as chaves do
carro.
— Para onde estar indo? Otávio, estou falando com você! Otávio?
Vou para bem longe de você!
— Vou esfriar a minha cabeça!
— Você não vai me deixar aqui sozinha, está ouvindo!? — Ela
berra, avançando em minha direção. — Eu vou com você!
Ela segura em meus braços, tentando pegar as chaves. Tento afasta-
la, sem força alguma.
— Pare com isso, Annabell!
— Você não vai me deixar aqui! Não vai! Você não vai a lugar
algum! — As mãos me acertando tapas no peito, então seguro em seus
braços.
Ela está fora de controle.
— Anna...
— Você não vai me deixar... Nunca... Está me ouvindo? — Ela
berra, se debatendo.
— PARE COM ISSO, ANNABELL! CHEGA! CHEGA! PARE! —
Seguro ela sem usar força. Apenas em uma tentativa de faze-la parar. —
PARE!
A voz sai mais alta que o normal e ela arregala os olhos, me
encarando.
— Chega! Pare com essa sua infantilidade, essa sua loucura! Pare,
Annabell! Chega! — Grito, a soltando e me afasto.
Não usei força, nem nunca faria tal ato. Nunca ergui a voz ou o dedo
para ela.
Mas estou cansado.
— Eu estou cansado...
— E eu? Como acha que estou? — Ela joga os braços, me
encarando e põe as mãos nos cabelos. — Você quer me enlouquecer...
Não é isso? Quer se ver livre de mim...
Sim. Quero. Tchau.
— Eu quero viver em paz, Anna. — Sinto a voz presa na garganta e
solto o ar. — Isso está acabando com a gente...
— Isso é nosso casamento!
— Que casamento? Meu Deus!
Ela para, franzindo o cenho e vejo o queixo tremer.
— Você sabe que isso não existe mais, há anos, Anna! Anos! Isso já
acabou. — Digo baixo, passando as mãos pelo rosto.
— Não... — Ela nega me olhando e limpa o rosto. — Eu não vou
saber... Eu não sei viver sem você...
Fecho os olhos, enquanto ela se aproxima, segurando em meu rosto.
— Você não vai se separar de mim, você não pode. Não pode... —
Choraminga baixo e viro o rosto. — Eu te amo. Otávio, eu te amo... Eu
te amo...
Nego com a cabeça.
— Eu estou cansado, Annabell.
— Estão fazendo sua cabeça, não é? Contra mim? — Ela espalma a
mão em meu peito e me livro de seu toque.
— Eu que não quero mais, Anna. — Aponto para o meu peito. —
Eu!
Ela para e fecho os olhos.
— Eu não amo mais...
— Você me ama, sim! Você me ama muito! Você me ama! — Ela
assente, balançando a cabeça. — Tudo isso é por que não pude ter dar
um filho? Nós vamos ter! Eu juro... Nós vamos...
Engulo em seco, a encarando segurar em minha camisa e chorar
descontroladamente.
— Eu perdi nosso filho... Eu perdi tudo... Eu não posso perder
você... Eu não aguento perder você! Eu não aguento!
O choro é doloroso, enquanto ela me agarra.
— Eu não aguento perder você... Eu não aguento, Otávio...
Ela aguenta sim.
— Está tomando seus remédios, Anna? — Pergunto num sussurro,
encarando-a soluçar com a cabeça enterrada em meu peito.
Ela nega, sem me olhar.
— Eu vou voltar a tomar. Prometo. Eles me dão enjoos... Mas se
você quiser que eu tome, eu tomo. Eu juro. — Ela sorri, me puxando
para sentar ao seu lado no sofá. — Eu faço o que quiser... Juro por Ben,
que eu faço.
A mão segura a minha e aperta fortemente.
Olho para a Anna e não a conheço mais.
Continuo calado e ela sorri, me beijando.
E mais uma vez, a discussão se deu por encerrada.
E ela achando que venceu.
Mas na verdade... Eu estou me preparando para ir embora.

Empurro o carrinho pelo corredor iluminado e quase choro assim


que pego algumas caixinhas de leite condensado.
Preciso de brigadeiro.
Estou levando mais coisas do que preciso?
Sim.
Mas a saudade é maior.
Encaro os pacotes de biscoito de polvilho, nescau, leite ninho,
pipoca de microondas, pão de queijo e pão francês congelados. Além,
de goiabada, paçoquinha e beijinho em lata.
Isso é o paraíso.
Encontrar marcas brasileiras não é tão fácil, os maiores
supermercados ficam apenas em Orlando. Mas graças à Lia, encontrei
um mais perto de casa. Não é tão completo, mas dá para matar a
saudade.
E que saudade.
A noite foi mais longa do que achei que seria. A culpa veio, tirando
meu sono e me deixando inquieta.
Mas você gostou...
O pior de tudo, foi isso. Ou não. Foi o melhor.
Foi incrível.
Assim que fechei a porta, respirei fundo, me encostando na mesma e
tentando assimilar o que aconteceu nessa sala.
Caralho!
Que homem!
Estou tremendo da cabeça aos pés.
O homem é uma montanha de músculos. Viril e exala um tesão
insano e intenso.
Gostoso!
Lembro da boca sobre a minha, as mãos percorrendo meu corpo e a
língua... Ah, a língua fez um trabalho excelente.
Sigo em direção ao banheiro me sentindo nas nuvens. Me joguei
embaixo do chuveiro, deixando a água cair sobre meu corpo. As imagens
vindo de relance, me deixando desnorteada.
O corpo esculpido, as tatuagens...
E o pau dele!? Nunca tinha visto um pau tão lindo, grande e
grosso.
Respira, Respira.
Respira um cacete!
Desligo o chuveiro e me encaro no espelho em minha frente, os
cabelos desagrenhados, o pescoço com algumas marcas avermelhadas,
meus lábios ainda estão inchados, caraca!
O meio das pernas dolorido, mas é tão gostoso de lembrar.
Pare com isso, Mia. Pare.
Para nada. Quero lembrar de cada detalhe.
Mas eu não.
Quer sim.
Foi errado. Foi tão errado, mas fui traída pelo meu próprio corpo.
Mordo o lábio e entro no carro assim que guardo as compras. Acordei
cedo, então preciso manter minha mente ocupada o máximo possível.
Liguei para minha tia, que está muito empolgada pelo meu novo
trabalho, e meu coração apertou de saudades, quando ouvi a voz da
minha irmã. Gabriella tem dezesseis anos e está cursando o ensino
médio. É meu maior amor.
Quero organizar tudo para traze-las para cá. Tentei antes, mas então
fiquei sem emprego. Porém, sempre sonhei em te-las aqui, comigo.
Ando com o carro, devagarinho, admirando o dia, que está
incrivelmente lindo. Aperto o volante e ligo o som do carro, tentando
deixar a mente mais leve.
E não pensar no gostoso...
Não vou pensar.
Suspiro e a música começar a soar.
"É, e na hora que eu te beijei
Foi melhor do que eu imaginei
Se eu soubesse tinha feito antes
No fundo sempre fomos bons amantes..."
— Merda!
Pulo a música rapidamente.
...Pra você, sou só mais uma carona
No final de uma balada, me envolvi sabendo
Somos dois estranhos numa cama temporária
Fazendo amor, consciente que é só momento
O quarto é grande mas não cabe sentimento..."
Desligo o som, irritada.
— Eu nem queria ouvir música, mesmo. — Dou de ombros,
revirando os olhos.
Qual é, Mikaella? Foi só uma transa.
Uma transa gostosa e intensa, mas uma transa. Apenas.
A TRANSA, NÉ!?
Bufo e suspiro. Vou para casa, tentando não surtar, mais do que já
estou. Subo com as compras, com dificuldade, e já guardo tudo. Está
perto da hora do almoço, então tiro uma lasanha congelada do freezer.
Tomo um banho rápido e lavo os cabelos. Me enrolo no meu roupão
e vou para o quarto, a procura de uma toalha. Paro no meio do quarto,
olhando para a tolha atrás da porta. A mesma que ele se enxugou.
Seguro a mesma e o cheiro do perfume amadeirado me invade.
Me jogo na cama, depois de colocar uma camiseta larga, e fico
encarando o teto, suspirando pesadamente.
O que estou fazendo?

— Posso saber, por que a senhorita desligou seu celular o dia


inteiro? — Liana disparada e me sento, segurando a taça de vinho nas
mãos.
Passei o dia inteiro vendo filme e comendo como se não houvesse
amanhã, nem liguei o celular. Mas sei como Lia é, e que passaria aqui
depois do trabalho. E assim ela fez.
— Estava descansando. — Cruzo as pernas, a olhando por cima da
borda da taça.
— Descansando? Posso saber do que?
Ela franze o cenho e a encaro.
— Para de me olhar assim! — Digo alto e Lia sorri, balançando a
cabeça.
— Que lindo, Mikaella. — Ela aponta, me olhando e rindo. —
Ontem eu estava pronta para ir pra balada com a senhorita, mas quando
chego em sua porta, só ouço gemidos fortes e selvagens! — Arregalo os
olhos e ela coloca as mãos na cintura. — Me deu o bolo por uma transa,
Mia! Sua suja!
— Ah, Lia! — Coloco a mão no rosto, balançando a cabeça.
Liana é a única pessoa em quem confiaria minha vida e meus
segredos. E sei que preciso colocar esse para fora, ou vou morrer
sufocada.
— Que foi, Mia? O que você tem?
— Me sinto uma vadia.
Realmente me sinto, não quero acabar com uma família. Nunca.
— Mia? O que aconteceu? Transar não é pecado, amiga.
Se o cara for casado, é sim!
— Lia, não me julga, por favor. Você é minha amiga. — Digo a
olhando. — Eu...
— Você tá apaixonada? — Ela pergunta sorrindo, com os olhos
brilhando.
— Credo. Bate na madeira. — Digo, dando três batidas na mesinha.
— Você está estranha, Mia... O que houve? — Lia franze o cenho e
sopro o ar devagar.
— Eu.transei.com.meu.chefe! — Digo disparada.
Lia abre a boca, me olhando espantada.
— O... O gato? O casado?
Sem falar que é gostoso, tem um pau enorme e beija bem.
— Sim.
— Que vadia. — Olho pra Lia, que ainda mantém os olhos
arregalados.
— Lia! — A repreendo.
— Desculpa, foi o hábito. — Ela me encara e toma a taça da minha
mão, virando o líquido de uma única vez.
Coloca a mão no peito e pisca diversas vezes.
— Mia, eu não vou te julgar, sou sua melhor amiga! Mas você sabe
que isso é errado... E....
— Eu sei, Lia. Eu falei isso pra ele. Me sinto uma vaca. — Passo as
mãos pelos cabelos.
— Vaca sortuda. Porque pelos gemidos que vocês davam, o babado
é dos bons. — Jogo uma almofada nela, que gargalha me olhando.
— Estou falando sério, Lia. — Mordo o lábio.
Começo a explicar do início, mesmo não tendo muito o que contar.
Sentimos a atração de imediato. Assim, do nada. Foi inevitável. Incrível.
— Mia... Aconteceu. Quem tem que se sentir culpado é ele! Não
você. — Lia dá de ombros. — Acontece. Ponto.
— O que eu faço, Lia?
— Quer dá pra ele de novo?
Sim.
— Não...
— Não me convenceu, Mikaella.
— Lia, eu só não quero destruir uma família. — Digo, caminhando
para a cozinha, Lia me acompanha e senta. — Você sabe que isso pra
mim, é terrível.
— Eu sei, Mia. Mas você não pode carregar essa culpa sozinha.
— Eu sei. — Mordo o lábio. — Eu sei...
— Você gostou? — Ela pergunta, com um sorriso.
Quero possuir aquele corpo de todas as maneiras.
— Foi bom. — Digo apenas.
Mente mal...
— Mia...
— Foi ótimo, amiga. O corpo é lindo, a boca é gostosa, o cheiro...
— E o pau?
— Lia!
— Fala.
O coração começa a bater descontrolado e a encaro.
— É enorme, grande e grosso. Parece que foi criado em cativeiro.
— Me abano com as mãos
— Para! Inveja de você! — Lia me olha e explodimos em uma
gargalhada sonora. — Vocês vão ser amantes?
— Claro que não. Ficou maluca? Nunca faria isso, Liana.
— Nunca diga nunca. — Ela me encara e balanço a cabeça.
Jamais. Foi uma vez, para nunca mais.
Nunca mais.
Sinto que ainda vou me acabar naquele pau monstruoso.
(Liah Soares - Nós Dois)
Fiquei assim sem saber direito o que fazer
Perdi a noção do tempo e espaço ao te olhar...
Só sei que meu corpo pediu e eu tive que obedecer
Naquele instante, eu nem conseguia pensar...
Fecho os olhos e deixo a água molhar meu corpo. Solto a respiração
lentamente, sentindo a água escorrer por meus braços.
Palavras se perderam, somente os olhos leram...
O que a gente desejava...
Era só você e eu
Passo os dedos pelos lábios, como se sentisse a boca, ainda sobre a
minha. Os beijos em meu pescoço... Minha pele se arrepia, apenas em
pensar.
Nós dois nos entregando aos poucos
Nós dois vivendo um para outro
E eu só quis ouvir sua respiração
Eu vi o quanto você me queria
E mais e mais eu me envolvia
Demais... Poder sentir aquela sensação
Engulo em seco e arqueio o pescoço, molhando meus cabelo.
E agora está tão difícil ficar aqui sem ter você
Vou enlouquecer se não conseguir te encontrar
Meu coração disparou, seu jeito me conquistou e não dá pra
esquecer...
O gosto da pele, de como foi bom te amar...
Deixo a música me guiar. Espalho o sabonete nas mãos e passo por
todo meu corpo, por um segundo, desejo as mãos grandes e fortes dele.
Não tem como não desejar. Como não pensar.
O dia passou na velocidade da luz e, vou estar mentindo se disser
que não pensei um minuto sequer
Sabemos amiga.
Ao mesmo tempo em que penso, me xingo. Mordo o lábio,
balançando a cabeça.
Tenho que tirar esse homem da mente. E vou.
Escovo os dentes, me enrolo na toalha e saio do banheiro, secando o
cabelo com outra toalha.
Não vou ficar em casa em um domingo a noite. Então juntei a
vontade de sair de casa, com a vontade de Lia, em ir na festa de um
amigo nosso, e voilà.
Precisamos nos divertir. Vai ser uma festa estilo anos 60.
Então, adaptamos as nossas roupas e compramos apenas alguns
acessórios.
Optei por uma saia de cintura alta, preta com bolinhas brancas, a
blusa branca, mas justa e deixa apenas alguns centímetros da minha
barriga a amostra, ajeito o lenço preto no pescoço e amarro os cabelos
em um rabo de cavalo. Calço um Peep Toe preto de camurça e pronto.
Arrasou!
— Está pronta, Mia? — Lia grita e entra no quarto.
Estou acabando a maquiagem, que não exagerei muito. Apenas
rímel, lápis e um batom vermelho, ótimo.
— Está tesuda, gata! — Lia me elogia.
—Uau em, Lia! — Faço sinal com o dedo e ela dá um giro,
mostrando o vestido amarelo, com um cinto da mesma cor. Os cabelos
presos em um coque, deixando a franja solta.
— Hoje é dia de rock, bebê! - Digo rindo.
— Vou me acabar de dançar nessa festa. — Pisca um olho. —
Merecemos.
Ela pega a pequena bolsa e a encaro.
— Está parecendo o pintinho amarelinho. — Ela fecha o semblante
e jogo um beijo para ela.
— Vamos. Já estamos atrasadas.
— É bom que causa impacto quando a gente chegar.
Descemos para pegar seu carro, já que o meu, infelizmente está na
oficina e só vai ficar pronto no meio da semana.
— Dean pediu para encontrar com ele lá, disse que ia pra casa do
Matt e nem sabe se vai mesmo.
— Dean nos trocou... — Desabafo e Lia me encara escondendo um
sorriso.
— Ao menos ele tem um homem. — Diz chorosa. — Um pau amigo.
- Deus está vendo você e sua inveja.
Ela gargalha, balançando a cabeça, e acabo rindo também. Encaro a
paisagem noturna de New York, às luzes brilhantes, a cidade
movimentada e linda.
Porém, sabe quando você tenta mirar em algo, mas só uma coisa
vem no pensamento?
Hummmmm... sei.
Estou assim.
Fecho os olhos, tentando apagar tal pensamento de cabeça, mas só
lembro dos malditos olhos. Inferno, Mia.
O que ele deve está fazendo agora?
Se divertindo?
Não. Otávio parece tão...
Isso não é da sua conta, Mikaella. NÃO É.
— Está me ouvindo? — Lia estala os dedos e a encaro, piscando
algumas vezes.
Não.
— Sim.
— O que eu estava falando? — Ela arqueia a sobrancelha e estalo a
língua.
— Estava só pensando em algo.
— Hum. Em algo, ou em alguém?
Na verdade, em um tatuado gostoso, com um par de
músculos, boca carnuda...
— Dirige aí, Liana. Só dirige.
Ela sorri e bato em seu braço. Não demora muito para ela estacionar
o carro em frente a casa de três andares, luzes piscantes e muita, mas
muita gente.
É uma mansão em um super condomínio.
— Uau! Lembra que não vou ficar até tarde, amanhã trabalho. —
Lembro, segurando em sua mão, enquanto entramos no meio da multidão.
— Relaxa, baby. Vamos curtir.
Entramos na sala e a decoração está incrível, branco e preto
tomando conta da decoração. As
bexigas, balões em forma de notas musicais, os discos de vinil
espalhados.
Globos de espelho e luzes coloridas dão todo um efeito bacana na
pista de dança, o som de Jaihouse rock de Elvis Presley embala a dança
da vez.
Lia me solta e sorrio, segurando na saia do vestido, balançando-a
enquanto mexo as mãos
Let's rock, everybody, let's rock
Everybody in the whole cell block
Was dancin' to the Jailhouse Rock
Seguro em sua mão e balançamos animadamente, é no improviso,
mas é incrível. Estamos realmente, nos sentindo nos anos 60.
Bato em seu quadril e a música aumenta, fazendo com que a
empolgação apenas cresça também.
Spider Murphy played the tenor saxophone
Little Joe was blowin' on the slide trombone
The drummer boy from Illinois went crash, boom, bang
The whole rhythm section was the Purple Gang
Lia me solta e me faz girar, gargalho e sou pega rapidamente por um
par de braços fortes.
— Uau. — O rapaz sorri, me encarando.
— Eita. — Sussurro, olhando os lábios rosados.
É um moreno alto, olhos dá cor de mel, fixos nos meus. Ele sorri e
engulo em seco, o encarando.
É um gato.
É um gostoso, isso sim!
— Me desculpe. — Fala em meu ouvido.
— Acontece. — Continuo o encarando, quando Lia se aproxima.
— Vamos beber algo?
Ele sorri, ajeita a jaqueta de couro e arruma os cabelos bem
penteados para o lado, está bem no estilo da festa.
— Caralho em, Mia, o que foi aquilo?
— Gato, né?! - Exclamo. — Cortou o clima, Liana!
Bato em seu braço, sorrindo.
— Desculpa, senhorita tarada Gonçalves! — Ela debocha
ironicamente.
Vamos até a mesa, que está repleta de comida e bebida. Pego um
ponche de frutas vermelhas, sem álcool. Vou trabalhar amanhã cedo e
não quero acordar de ressaca. Lia segura a sua taça e coloca vodka.
— Você que vai dirigir hoje...
— Se você ficar louca, eu finjo que nem te conheço, em Liana! —
Ela sorri e vira o líquido de uma vez.
Mexe os braços para lá e para cá, e apenas sorrio com os gestos.
— Você me ama, Mikaella! Agora, vamos dançar, gatinha... Ah meu
Deus! EU CHEGUEI, ZAYAN!
Ela corre para o aniversariante e vamos cumprimentá-lo. Encaro o
rapaz ao lado de Zayan, que sorri assim que me aproximo.
— Essa é minha amiga... Mikaella.
Ele segura minha mão, beijando-a delicadamente.
— Sabia que o nome era tão lindo, quando a dona. — A voz grossa
me faz sorrir.
— Acho que sobramos, em Zayan...
— Quer dançar, Li?
Balanço a cabeça e eles saem, dançando animadamente.
Olho para o lado e vejo o par de olhos me encarando. Ele é alto,
forte e aparenta ter a mesma idade que a minha.
— Obrigada pelo elogio do nome, uma pena não poder dizer o
mesmo, você não me disse o seu. — Digo e ele morde o lábio, sorrindo.
— Gabriel Romano. Ao seu dispor.
— Mikaella Gonçalves. — Junto minha mão sobre a dele.
— Realmente, um belo nome. — Ele diz sorrindo.
— O seu também.
— Mas cá entre nós, prefiro que me chamem de Gael. — Ele
sussurra perto do meu ouvido.
Me arrepio ao sentir a voz rouca perto, e o fito sorrir, não
desgrudando os olhos de mim.
— Gael. Gostei. Pode me chamar de Mia.
Sorrimos juntos, quando Twist and shout dos Beatles, começa a
tocar.
— Quer dançar, Mia? - Arqueio as sobrancelha, bebo o líquido de
uma só vez e coloco o copo sobre o balcão.
— Agora.
Well, shake it up, baby, now (shake it up, baby)
Twist and shout (twist and shout)
Come on, come on, come on, come on, baby, now (come on, baby)
Come on and work it on out (work it on out)
Vou para a pista de dança com Gael e a música alta nos faz dançar
animados. Ele deposita as mãos em minha cintura, nos fazendo mexer
juntos.
Minha cintura ganha vida própria, ele sorri e começa a cantar
baixinho em meu ouvido:
- Well, work it on out (work it on out)
You know you look so good (look so good)
You know you got me goin' now (got me goin')
Just like I knew you would (like I knew you would)...
Ele segura em minha mão, me roda e me ergue rapidamente. Me joga
para baixo e me segura, colando o corpo ao meu.
— Você é realmente um pecado. — Sussurra contra meus lábios.
Vai dar merda.
E se não der?
E se der?
Está pensando nele, né?
Não tenho nem motivos para isso. Não quero e nem estou pensando
nele.
Então beija. Já que não tem o gato, caça com o cachorro.
Não é ao contrário, não?
Claro que não, Otávio é o gato, mas já que ele não está aqui, se
diverte com o Gael, que tem cara de cachorro.
Euem, Mia. Você é solteira. Livre.
Otávio deve estar se divertindo com a esposa...
Gael sorri e cola os lábios aos meus, em um beijo casto e
avassalador, tirando de mim todos os pensamentos.

—- Seus pais falaram o porquê de um jantar hoje?


Paro o carro no sinal e viro o rosto, encarando-a.
— Não. Mamãe apenas me ligou, falando para vir. — Coloco a mão
na testa e olho pela janela, a noite está tranquila, com uma brisa fria.
A casa dos meus pais não fica tão longe, mas por incrível que
pareça, não vou visitá-los com tanta frequência, como antes. E não é por
falta de vontade.
— Engraçado... — Anna sorri, balançando a cabeça e a encaro de
relance.
— O que? — Franzo o cenho a, olhando. O sinal abre e seguro firme
o volante, indo devagar pela pista.
— Para o jantar de casamento dos meus pais, você nem pensou em
ir, mas para um jantar que a sua mãe está dando, por zero motivos, você
vem disparado.
Ah, não fode!
— Eu tive o livre arbítrio para não ir com você, do mesmo modo
que você também o tem, para não me acompanhar Annabell. Simples. —
Disparo, com uma falsa calma, olhando para a frente.
Ela se cala e balanço a cabeça lentamente, de um lado para o outro.
Até que ela está calma o dia inteiro. Fiquei no escritório, trabalhando
em uma planta que está me dando um pouco de dor de cabeça.
Se fosse só a planta...
Mas o motivo da minha dor de cabeça, também é um par de pernas,
que não sai da minha mente. Não sai por nada.
É como se estivesse impregnada em mim.
— Como vão as coisas na Perrot? Estou te achando um pouco
estressado, quando vem de lá.
— Estão normais. Muito trabalho. — Respondo e ela morde o lábio.
Exclusivamente com a secretária, gostosa e fogosa.
— Hum... - Faz um bico. — Você está meio estranho, calado. O que
houve?
Estou pensando na ruiva. Deliciosa... Gostosa... Incrivelmente...
— Dá pra calar a boca! — Esbravejo alto.
Anna me olha incrédula.
Merda! Não era para sair alto...
— Você me mandou calar a boca? — Ela coloca a mão no peito,
espantada.
NÃO. MAS DEVERIA.
— Eu não quis falar isso. — Pego em sua mão e a olho lentamente. -
Podemos ao menos hoje, tentar não brigar. Só hoje, por favor...
— Amor, você que está nervoso por nada, Otávio. — Ela se
aproxima, me dando um beijo no rosto. — Não vamos brigar. Prometo.
Te amo.
Dou um sorriso forçado.
Ficamos em silêncio total e agradeço muito por isso. Chegamos no
condomínio e nossa entrada é liberada rapidamente. A primeira coisa
que ouvimos, é uma música um pouco alta.
— Nossa... Esse condomínio já foi mais bem frequentado. — Anna
franze o nariz.
É uma festa e tem várias pessoas bebendo e dançando, com roupas
estilo anos 60.
— Olha essas mulheres dançando... Meu Deus! Isso deveria ser um
crime. Vulgares.
Balanço a cabeça, seguindo para a rua dos meus pais e aperto o
volante firmemente. Por um instante, meu pensamento se fixa em
Mikaella. Na forma que ela dançava, na primeira vez que nos vimos, ou
quando a vi dançando no escritório.
É incrível ver como o corpo dela se move ao som de uma música.
Vai ficar excitado...
Só tenho que respirar fundo e não pensar nela, só isso.
Difícil.
E você, ver se não me amola. Para. Agora.
Eu sou fruto da sua imaginação. Só falo o que você não
tem CORAGEM de falar.
Calado!
Estaciono o carro em frente a enorme casa branca, com jardim
florido e algumas luzes iluminando o mesmo. Lembro de momentos da
minha infância, com meus irmãos.
Meus pais fizeram questão de morar na mesma casa, mas com o
passar dos anos, fomos melhorando-a. Desço do carro e dou a volta,
abrindo a porta para Anna, que desce sorrindo.
Aperta minha mão fortemente sobre a sua..
Transa com a secretaria e depois fica de lenga lenga com a
Anna.
Já disse que odeio minha mente?
— Boa noite, família. — Entro sorrindo na sala e mamãe me encara.
— Meu filho... - Ela vem ao meu encontro e me abraça apertado. —
Que saudades do meu amor.
Dona Felícia Perrot, no auge dos 60 anos, é incrivelmente linda, os
olhos de um azul intenso e os cabelos cortados na altura dos ombros.
— Também senti sua falta, mãe. — Digo, retribuindo o abraço e
beijando sua testa. - Está linda.
— Isso sempre fui. - Ela sorri. — Anna, como está linda! Como
vai?
— Estava com saudades, sogrinha.
As duas sempre se deram muito bem, mas já foram mais próximas.
— Papai. - Aperto sua mão e o abraço sorrindo. — Está mais
bonito, ou é impressão minha?
Olho para meu pai sorrindo. Sempre me falaram que sou um espelho
do meu pai quando mais jovem. Os cabelos estão brancos, com o passar
dos anos... Mas já foram do mesmo tom dos meus. Temos a mesma
altura, e até um pouco mais da personalidade
— Leon não veio? — Pergunto para mamãe, que me encara.
— Nunca que eu ia faltar um jantar com meus irmãos. — Leon
aparece, descendo as escadas. — Oi, família linda.
Ele nos encara e fita Anna.
— Oi, Anna.
— Irmão. Lúcia ainda está na França. — Digo, o olhando. — Não
esqueça.
— Estou, é? — Ela desce as escadas e pula em meus braços. —
Que saudades!
— Meu amor... — Aperto-a enquanto ela gargalha, fazendo meu
coração aquecer. — Senti saudades!
— Você está lindo. Lindo! — Ela sorri, fixando os olhos azuis aos
meus. Os cabelos negros como a noite, caem sobre o rosto delicado.
— Por que não me disse que estava chegando, Lúcia?
Ela revira os olhos.
—Só você para de me chamar de Lúcia. Não muda nunca? Assuma
que estava com saudades da sua irmã caçula... Sua mascotinha.
— Somos os mascotes. — Leon emenda, parando ao seu lado.
— Gêmeazinha linda.
Ele pisca os olhos e cruza os braços. Os dois são idênticos, mas as
personalidades são bem diferentes. Sempre nos demos bem, e muito
unidos.
Lúcia sempre foi o nosso bebê, a princesinha da família.
— Anna. — Lúcia sorri, encarando minha esposa. — Como está
linda.
—Linda é você. Paris te fez bem. —Anna a abraça
—Trouxe vestidos lindos para você, a coleção está incrível. Você
vai adorar.
— Quero muito ir com Otávio, mas a empresa está tomando muito
seu tempo, dessa semana pra cá. — Anna me olha e sorrio.
— Essa semana pra cá está mesmo corrida, né!? — Leon sussurra, a
encarando e me olha de soslaio.
— Muito. — Digo sério.
— E o Roger? Veio com você? — Anna indaga, enquanto as duas se
sentam.
— Sim. Está com os pais dele.
— E vocês? Como estão? — Lúcia pergunta com tristeza, então
seguro em sua mão, apertando-a.
Anna está conversando com meus pais. Vejo minha irmã balançar a
cabeça.
— Estamos indo. - Me remexo no sofá e ela sorri. — E tentando nos
recuperar.
Ela beija meu rosto e deita a cabeça em meu peito.
— Vão conseguir. Você é o melhor irmão do mundo.
— Nossa... Assim você me ofende, irmãzinha. — Leon se senta,
deixando-a no meio.
— Você sempre soube que Otávio é meu preferido.
— Mas eu sou seu gêmeo! É sua obrigação, me amar mais que ele!
Gargalho, pendendo a cabeça para trás. Amo estar com eles. É um
dos momentos mais prazerosos e felizes para mim.
Lúcia é uma exímia arquiteta, assim como nossa mãe. Fez uma
viajem há uns meses para a França, apenas para fazer uma
especialização. Mas trabalha junto com a gente, na empresa.
Leon dá um toque em meu ombro, apontando com o queixo para a
sacada. Já acabamos de jantar, Lúcia subiu para o quarto com Anna e
fiquei conversando com meus pais.
Vamos para a sacada, as luzes reluzem e o barulho da música ainda
ecoa pelo ambiente.
O que será que minha diaba está aprontando?
Será que está em casa?
Em alguma festa?
— Vai me dizer logo o que está acontecendo? — Leon interrompe
meus pensamentos, me fazendo o encara-lo.
Pego o copo de Whisky que ele me oferece e tomo um gole.
— Nada. Não aconteceu nada. — Digo, mantendo o olhar longe.
Mente melhor.
— E essa cara de quem comeu e não gostou? — Leon dispara e
suspiro.
Esse é o problema. Eu comi e gostei. Gostei muito.
— Ai, Leon! Eu... Estou...
Eu nem sei dizer ao certo, o que estou sentindo.
— Eu...
— Fala, inferno! O que aconteceu? Tem algo a ver com a ruiva?
— Tem. — Ele franze o cenho.
— Não... — Ele sorri e escancara a boca, em uma expressão de
choque.
— Leon...
— Mentira!
— Eu e ela... Nós... Nós transamos. — Disparo, por fim.
— Senhor! Eu sabia, Deus. Eu sabia, que existia milagre! — Leon
exclama, jogando as mãos para o alto. — Eu sabia! Eu sabia! Jesus seja
louvado!
— Você quer falar baixo!?
Leon sorri e balança a cabeça.
— Você acordou! Acordou desse casamento de merda, dessa doida!
— Ele balança os braços e estala os dedos. — Vou pegar o melhor
vinho... Não! Vou pegar o champanhe!
— Leon! - Repreendo-o e ele me encara.
— Cara, eu sei que você é fiel... Mas por que essa cara? Foi ruim?
Olho para ele e nego com a cabeça.
Foi ótimo. Perfeito. Incrível. Sensacional.
— Esse é o problema, foi ótimo.
— Então por que essa cara de bundão, Otávio?
— Você ainda pergunta? - Estendo minha mão, mostrando a aliança.
— Esse é o problema! Eu não posso, Leon...
— Pergunto, sim. Porque se Anna fosse uma mulher boa e legal, eu
mesmo te mandaria para o inferno. Mas vocês nem transam. Ela te
prende, ela te culpa... Ela é uma bruxa!
— Mas ainda é minha esposa, Leon. E não é só por causa do sexo!
— Abro os braços e sussurro.
— É por causa de que, então?
Rodo a aliança em meu dedo e suspiro.
— São vinte anos de casado, uma história... Tivemos um filho
juntos, e o perdemos, Leon. Você sabe o que Anna sofreu com a morte
dele.
Meu irmão revira os olhos e segura em meu ombro.
— E sua dor? Também não conta? O que você sofreu? O que Anna
faz por você? Você vive por ela, e está deixando sua vida passar! Pare e
pense em você, Otávio.
Engulo em seco, o olhando.
— Eu quero me divorciar...
— Então o faça. Anna é psicopata, ardilosa e falsa. Ela te mantém
preso nessa teia de emoções. — Leon aponta o dedo em minha direção. -
Abra os olhos com ela.
Balanço o líquido no copo, mordendo o lábio.
— Quanto a ruiva... Acho ela incrível. E não estou falando para ter
um caso com ela...
—Mikaella, não vai aceitar isso. — Nego veemente.
E eu teria coragem de propôr?
Se não tiver, eu tenho.
— E você quer? — Leon indaga, me fazendo franzir o cenho.
— Não sei. — Deposito o copo no aparador e penso.
Sabe, sim.
Passo as mãos pelo rosto e coloco-as nos bolsos em seguida. Leon
saiu, me deixando sozinho e com a mente a mil por hora.
Às vezes, as pessoas não sabem que quanto mais proibido, maior o
desejo.
E talvez meu desejo esteja sendo maior que tudo que está na minha
mente.
O que eu faço? Não posso simplesmente olhar para Mikaella e falar:
Quer ser minha amante?
Pode sim.
— Esta pensando em quê? — Me viro e vejo Anna ao meu lado.
Na minha futura amante.
Fecho os olhos e ignoro meus pensamentos.
—Em nada. Só aproveitei pra tomar um ar fresco. — Ela passa a
cabeça por baixo dos meus braços.
Afaga meu peito e sorri.
—Pode me apertar um pouco. — Diz, colocando minhas mãos em
sua cintura.
Anna aproxima os lábios dos meus, em um beijo lento. Retribuo,
mas não tem o mesmo efeito, não é o fogo carnal que Mikaella tem sobre
mim.
—Eu te amo. - Anna sussurra contra minha boca. — Muito. Muito.
Muito.
A encaro e um silêncio ensurdecedor se forma.
— Agora é a parte que você diz que também me ama.
Mentir é feio.
Seguro em seu queixo e sorrio.
— Eu também...
— Promete que nunca vai me deixar? Que sempre vai ser meu?
— Que pergunta é essa, Annabell? — Ela me olha fixamente,
apertando minha mão e entrelaçando os nossos dedos.
— Você sempre me disse que vai ser meu para sempre. — Anna
acaricia meu lábio com o polegar. - Assim como eu vou ser sua para
sempre.
Ela fica séria, sorri e me beija novamente.
— Te amo mais que a mim mesma, sabia?
Anna deita a cabeça em meu peito, suspirando, e coloco o queixo no
topo de sua cabeça.
— Alguns para sempre, acabam, Anna...
Ela ergue o rosto, negando com a cabeça.
— Não o nosso, amor.
Abro os olhos devagar e vejo os raios de sol pela fresta da cortina.
Anna dorme tranquilamente ao meu lado. Os cabelos dourados
espalhados pelo travesseiro. Chegamos cansados e fomos direto para
cama, não brigamos. Nem conservamos direito no trajeto.
Vou direto para o banheiro, me jogo embaixo do chuveiro, fechando
os olhos e deixando a água cair em meu rosto e corpo.
Estou ansioso para... Para vê-la.
O que vamos falar um para o outro?
Como vamos agir?
Entro no closet, pego o terno de três peças, preto, visto-o
rapidamente e dobro o blazer, colocando no ante braço. Pego a pasta e
algumas plantas no escritório, e desço as escadas rapidamente.
Luíza ainda está na casa da minha sogra, deve voltar hoje. Estou
com saudades.
— Bom dia, Tina.
— Bom dia, fiz panquecas fresquinhas para o senhor. — Ela sorri,
me servindo o café. — E bolo de frutas vermelhas, também.
Hummm. Tudo vermelho.
— Obrigado. — Agradeço e levo a xícara aos lábios, tentando me
acalmar.
— O senhor vem almoçar hoje? Posso preparar algo...
— Claro que ele vem. — Anna coloca a mão em meu ombro e beija
minha bochecha. — Pode fazer um risoto de cogumelos, Tina...
Chegou a metida.
— Não sei se venho para o almoço, Anna. Tenho muito trabalho
hoje.
Ela senta rapidamente e se serve de suco.
— Você passou o fim de semana dentro do escritório... Não resolveu
tudo que tinha para resolver?
Deposito a xícara devagar, a olhando.
— Não vai começar de novo, não é? — A fito fechar os olhos e
suspirar.
— Vou buscar Luíza na casa de mamãe, ela tem aula agora de
manhã. Só queria almoçar em família. Apenas.
Chata para um caralho!
Continuo tomando meu café e percebo o olhar de Anna sobre mim,
mas continuo em silêncio. Mexo o garfo na panqueca, comendo devagar.
Olho para Anna, que segura a xícara com as duas mãos.
— O que foi, Annabell?
— O que você tem? — Ela deposita a xícara na mesa, fazendo um
pouco mais de barulho, do que o normal.
Essa mulher é doida!
— Às vezes penso que você faz de propósito... Agindo desse modo.
— Antes você conversava comigo, você me dava atenção... Agora
só vive para o seu trabalho! Ontem era apenas sorrisos, mas claro... A
sua irmã chega e me deixa de escanteio!
Jogo o guardanapo na mesa.
— Está com ciúmes da minha irmã!? Anna, por Deus! — Passo as
mãos pelos cabelos, a olhando.
— É só chegar em casa, que você muda de comportamento... Vive
cercado em pensamentos...
— Será que posso pelo menos pensar? Ou até meus pensamentos,
você quer saber? — Grito, nervoso, e ela se retrai.
— Eu não falei isso! E abaixe a voz pra falar comigo! — Aponta o
dedo em minha direção.
— Caralho! Uma hora dessas da manhã, você querendo saber o que
cacete eu tô pensando! — Me levanto, passando as mãos pelos cabelos.
— Você está muito estranho, Otávio! Ontem era os cochichos com
seu irmão, acha que sou idiota? Leon me odeia e quer fazer sua cabeça
para me deixar!
— A única pessoa que me faz querer fazer isso, é você! Você me
sufoca, Anna! Você não me deixa pensar!
— Sufocar? Se querer o bem pra pessoa que se ama, é sufocar... Eu
não te reconheço mais. — Ela esbraveja ofegante.
— Acho que nós dois, não nos reconhecemos mais, Anna. Isso já
deu!
Ela rapidamente joga um prato, que cai sobre meu pés, e derruba
toda a louça posta no café da manhã, em gritos histéricos de raiva.
— É isso que faz eu me afastar de você a cada dia. — Digo,
olhando-a e balançando a cabeça.
— É isso que quer? Uma desculpa para se ver livre de mim? Mas
não vai! Está ouvindo? Não vai!
— Oh, meu Deus! — Tina vem da cozinha, colocando a mão sobre a
boca. — Anna...
— Isso foi mais um ataque de fúria sem necessidade. — Fito Tina e
sorrio sem humor. — Tenham um bom dia. Não volto para o almoço.
Saio, ouvindo os berros de Anna e bato a porta com força. Entro no
carro e praguejo alto, socando a porra do volante. É incrivel o quanto
Anna muda, o quanto se torna uma pessoa terrível.
Piso no acelerador, dirigindo feito um louco. Desligo o celular,
sabendo que ela vai ligar o dia inteiro. Estou prestes a explodir, de tanta
raiva.
Estaciono o carro na entrada da Perrot, bato a porta do mesmo com
força, e por um momento acho que a amassei.
Vixi... Virou o Hulk?
Subo com tanta raiva, que mal respondo aos bom dias direcionados
a mim. A raiva me cega, a frustração... Mas é de mim, principalmente. É
tudo direcionado a mim. Por viver nessa bolha, por ter medo e me sentir
culpado.
Ela entra na tua mente...
Desço do elevador assim que as portas se abrem. Katy me encara e
sorri, enquanto fala com Mikaella.
— Bom dia... — Katy me olha e apenas faço um pequeno gesto com
a cabeça.
Mikaella apenas me olha de relance.
— Bom dia. — Passo direto.
Entro na sala e jogo a pasta no sofá, passo as mãos pelos cabelos,
indo até a janela de vidro. Apoio os braços e abaixo a cabeça.
Estou com vontade de quebrar tudo.
Essa vida de merda, que não serve pra nada. Um inferno de
casamento. Um inferno. Fecho os olhos e solto o ar pesado, com o
coração acelerado e a mente bombardeando.
Ouço a porta abrir devagar, depois de longos minutos. Continuo no
mesmo lugar e não me dou ao trabalho de me virar.
— Katy precisou ir para a filial hoje. — Mikaella sussurra e apenas
assinto. — Mas deixou todos os projetos organizados...
— Obrigado. — Dobro as mangas da camisa até os cotovelos e
fecho os olhos. — Não quero receber nenhuma ligação de casa hoje,
bloqueia o número.
Abro os olhos devagar, olhando o céu, que parece estar ganhando a
mesma emoção, que está dentro de mim. Um dia cinza.
— Certo. — Ela sussurra e ouço os passos ecoarem pela sala. —
Você precisa de algo?
— Preciso. — Digo ríspido e me viro para encara-la.
Os olhos cravam aos meus, e parece que toda raiva se vai, em
questão de segundos. Ela é como a porra de um calmante.
Meu calmante.
Os cabelos estão presos em um coque frouxo, os lábios vermelhos
pelo batom. O uniforme justo no corpo curvilíneo.
— Venha até aqui, Mikaella. — Peço baixo.
Vejo-a engolir em seco e andar em passos lentos. Quando para na
minha frente, ponho a mão nos cabelos e tiro caneta, que os prendiam e
as mechas ruivas tombam lindamente.
— Prefiro eles soltos...
Ela está séria, me olhando, os olhos azuis belíssimos, me encaram.
Franzo o cenho, sentindo as batidas frenéticas do meu coração batendo
descompassado.
Nunca achei que a essa altura da minha vida, encontraria alguém que
ia me fazer sentir coisas, que nem eu entendo ao certo.
E ela me faz sentir tudo isso, e mais um pouco.
É como se Mikaella fizesse viver em mim, uma parte que eu achei
que estivesse morta.
— Nunca pergunte o que eu quero, quando você estiver por perto.
Por que a resposta, sempre será você.
Seguro em seu rosto, tomando os lábios aos meus, em um beijo
casto, furioso e ao mesmo tempo lento. Meu coração bate disparado,
enquanto sinto as mãos afagar meu peito e meu rosto.
A língua entra em minha boca, me tomando por inteiro, gemo contra
seus lábios e sinto as mãos se enfiarem em meus cabelos e puxa-lo.
Aperto sua cintura e colo o corpo ao meu, a língua entrando e saindo
de minha boca, com uma fome absurda e intensa.
Encosto a testa na sua, respirando pesadamente, enquanto roço o
polegar na bochecha rosada. Passo os mesmos pelos lábios, abrindo-os.
Adoro o cheiro do perfume que exala dela, adoro a calmaria e, ao
mesmo tempo, a tempestade que ela parece ser.
— Otávio... — A voz sai baixa e a fito. — A porta está... Aberta...
Sorrio e balanço a cabeça.
— Você se importa? — Indago.
— Quem tem que se importar, é você. — Dar de ombros, enquanto
minhas mãos passeiam pelos cabelos e depois por seus braços e sinto a
pele se arrepiar, enquanto ela me olha lindamente.
— Mikaella...
— Acho que te falta café. — Ela diz rapidamente, ajeitando minha
camisa com as mãos.
— Acho que precisamos conversar. — Digo, olhando-a se afastar
enquanto arruma a saia.
Ela olha de um lado para o outro e sorri, assentindo.
Me sento no sofá e ela vai até a cafeteira, que está em cima do
balcão, as pernas torneadas e lindas equilibradas nos saltos altos pretos.
Ela coloca a cápsula e se vira, para e me encarar por cima do
ombro.
— Café expresso. Cura o mau humor. — Sorri.
Você é a cura para tudo.
Mordo o lábio, olhando-a enquanto presta a atenção para cafeteira.
Segura a pequena bandeja alguns minutos depois, com duas xicaras e se
senta ao meu lado.
Seguro a xícara que ela me oferece e beberico o líquido devagar, a
olhando. Deposito a mesma na mesinha e a fito morder o lábio, me
olhando.
— Eu não consigo tirar você dos meus pensamentos. — Disparo. —
Aquele dia na sua casa... Foi a maior loucura que já fiz, e a mais
incrível.
Mikaella me olha, depositando a xícara devagar.
— E eu não me arrependo... De nada. — Engulo em seco, a
encarando.
Falando nisso, quando vai ter mais!?
Ela morde o lábio e me encara com o cenho franzido.
Os lábios vermelhos, aqueles cabelos cor de fogo, caídos em
mechas sedosas.
— Eu também não. Mas sabemos que isso foi...
— Errado? Eu sei. — Solto o ar devagar, balançando a cabeça e ela
me encara, com aqueles enormes olhos azuis, como o mar.
Relaxo no sofá, com as mãos no rosto.
— Mas você me fez... Sentir algo, que eu nunca achei que fosse
capaz de sentir novamente. — Engulo em seco, deitando o pescoço e a
olhando. — Desde quando te vi naquela boate, dançando, livre... O
oposto de mim. Eu gosto desse seu jeito...
— Você está entediado?
Estou é fodido.
Sorrio, a encarando e balanço a cabeça.
— Você acha isso?
Ela dá de ombros, me encarando.
— Por que chegou tão bravo? — Ela pergunta, me olhando
fixamente.
Sorrio tristemente e solto o ar preso.
— Por que estou exausto, Mikaella. Estou exausto de brigar, exausto
de tentar fazer as coisas darem certo. — Desabafo e ela continua me
olhando, sem falar nada. — Cansado de viver isso.
— Deve ser muito ruim... — Ela sussurra e me mexo, engolindo em
seco. — Não sei muito sobre relacionamentos, até porque eu nunca tive
um.
— Nunca? — Pergunto, incrédulo e ela balança a cabeça.
— E de verdade? Eu nem quero. Nada contra quem tem. Mas acho
que devemos aproveitar o máximo a vida, ela passa tão depressa. — Diz
com um sorriso de canto.
— Eu gosto desse seu modo de ver as coisas. Aliás, eu gosto de
tudo em você.
O silêncio se instala.
— O que você quer, Otávio? — Ela pergunta séria e seguro em sua
mão, a puxando para cima de mim rapidamente.
— Eu quero você.
Uiii... Nem precisou da minha ajuda.
— Não vou ser a válvula de escape dessa sua vida tediosa.
Isso de certa forma, me doeu.
Doeu em mim, também.
— Você é mais que isso. — Seguro em seu rosto, olhando-a. —
Mikaella...
Ela nega, calando minha boca com seus dedos.
Ela sabe o que eu ia falar.
Ela sabe.
Sabe, olhando em meus olhos, o quanto ela me atraí.
Montada em meu colo, desço as mãos por sua cintura, apertando-a.
Desejando-a.
Fito os seios descerem e subir, por causa da respiração acelerada.
A boca a centímetros da minha, me faz ficar duro em questão de
segundos, Mikaella é o fogo que arde em mim.
— Seja minha... — Peço, contra seus lábios.
Eita.
— Já sou sua... Funcionária. — Ela sorri, se erguendo. — E nada
mais.
Ajeita a blusa, ainda me olhando.
— Você só está bravo. Apenas. O que aconteceu em minha casa...
Não pode mais se repetir. Eu sei o que é ter um lar destruído...
— Não dá pra se destruir... Por que não existe mais. — Me ergo,
jogando os braços ao redor do seu corpo. — Não existe mais um lar,
Mikaella. Não temos mais um lar, há muito tempo...
Me aproximo e ela nega veemente.
— E acha que me tendo, vai mudar isso? Você ainda vai continuar
casado, isso não vai mudar. E eu nem quero que mude.
A fito suspirar.
— Mas eu quero.
— Então só você pode mudar isso, Otávio.
— E eu quero. — Passo o polegar nas suas bochechas e volto para
os seus lábios. — Quero você, também...
Ela sorri e balança a cabeça, enquanto me aproximo.
— Temos muito trabalho hoje. — Mikaella sussurra e fecho os
olhos, sentindo os lábios nos meus, minha mão emaranhado-se em seus
cabelos.
A outra mão, rodeia a cintura e a puxo para mim.
— Seja minha... — A porra da palavra está alí. Mas não sai de
forma alguma.
Ela coloca os dedos sobre meus lábios, negando rapidamente.
— Vamos trabalhar. — Diz, passando aos mãos pelos cabelos e
saindo da sala.
Me deixa com o coração e mente, com um turbilhão de emoções.

Fecho a porta, me encostando na mesma e fecho os olhos.


Ele quer me deixar maluca. É isso.
Já estamos, né amiga!?
Eu sou mais forte que isso. Muito mais.
Me sento, pego a garrafinha e dou uns goles generosos da água. O
andar inteiro está em silêncio, e não sei se isso me assusta, ou me deixa
animada.
Assume logo que tu gosta...
Gosto, e me odeio ainda mais por gostar.
Mordo o lábio, me encostando na cadeira, girando-a de um lado
para o outro.
Acordei cedo hoje, mesmo depois da noitada, que foi incrível, sem
contar que o Gael é uma delícia.
Trocamos nossos números, além de beijos, e ele ficou de me levar
para tomar um sorvete.
É livre. Lindo. Gostoso.
Mas foi apenas bater os olhos no monumento de 1,90 de altura,
tatuado e com uma cara de bravo saindo do elevador, para sentir meu
interior se convulsionar.
— Hummm... Hoje ele é todo seu. — Katy sorri, assim que Otávio
passa por nós, fechando a porta em seguida.
— Como? — Engulo em seco, a olhando.
— Ele está de mau humor. Avise-o que estarei com Leon hoje. —
Ela organiza a pasta e pisca um olho. — Tente amansar esse tigre bravo.
Não dê asas a cobra, amiga.
Calada.
— Muito obrigada, Katy. — Solto uma risada nervosa, enquanto ela
se afasta acenando.
Quero ficar onde estou e só entrar na sala depois.
Fiz isso?
Não.
Vi em seus olhos, o quanto parece exausto e cansado mentalmente, e
isso me deixou inquieta. Muito.
"Seja minha..."
As palavras rodeiam em minha mente. Passo as mãos pelos cabelos,
ajeitando-os. Eu não posso fazer isso. Jamais.
Mas é tentador...
Não. Não. Não.
Sei que somos responsáveis por nossos atos, mas como vou me
tornar algo que sempre repudiei?
O casamento dos meus pais era o que eu chamava de conto de fadas.
Eles eram felizes. Ou era isso que eu achava
Pela profissão que tinha, ele sempre viajava muito, aliás, os dois
viajavam. Mas aí quando ela engravidou, acabou se dedicando a mim e a
minha irmã. Ela adoeceu, e com isso foi deixando de ser aquela mulher
cheia de vida, que sempre foi.
Meu pai nos deixou quando mais precisávamos.
Nos deixou por uma gringa viúva e que provavelmente tinha muito
dinheiro.
Pois o homem que voltou, alguns meses depois da morte da minha
mãe, não era o mesmo. Com roupas caras, e uma grossa aliança, que
provavelmente era cravejada de diamantes. Queria levar a mim e a
minha irmã para sua nova casa, em outro país, que eu não faço idéia de
qual era. E nunca quis saber do seu paradeiro, depois disso.
Nos mudados da antiga casa e logo depois eu viajei, cortamos todos
os tipos de contato com ele. Foi melhor assim.
Ele não tinha obrigação nenhuma de se manter em um casamento,
que estivesse infeliz, mas tinha o dever de ser sincero, e ele não foi.
Falar de Michael, ainda me dá náuseas.
Organizo os papéis na mesa e grampeando os mesmos. Estamos em
reunião há quase três horas. Otávio está concentrado no computador,
analisando dados de um novo projeto.
Mal almoçou, e parece tão elétrico, quanto mais cedo. Evitei entrar
em sua sala para não ser traída pelo meu próprio corpo, novamente.
Mas você queria, né!?
Balanço a cabeça, me mexendo na cadeira e observo seu olhar
cravar nos meus de imediato.
Aqueles olhos lindos, como pedras preciosas.
A tatuagem aparecendo pela gola da camisa fica exposta assim que
ele mexe a cabeça de um lado para o outro.
Não faz isso. A carne é fraca e o coração é vagabundo.
Engulo em seco, o olhando de cima à baixo.
Fodidamente gostoso.
Volto a atenção para os papéis espalhados na mesa e balanço a
cabeça, mordendo o lábio.
— Pode voltar a atenção para o seu projeto... Não faço parte dele.
— Digo, tentando ficar séria, o olhando.
Otávio me fita, relaxando na cadeira.
— Mas é muito mais interessante. Estou cansado. — Sopra o ar e
estala os dedos, colocando-os atrás da cabeça.
— Já está quase na hora de ir embora. — Olho a hora no notebook e
ele morde o lábio.
— Vamos terminar isso amanhã. — Ele solta um pigarro e assinto.
— Pode organizar a mesa?
— É o meu trabalho. — Sorrio, me erguendo.
Junto os papéis espalhados na mesa e em um salto, ele se ergue,
ficando na minha frente. Todo aquele porte, incrivelmente delicioso, me
prendendo entre a mesa e o corpo.
Posso sair? Posso.
Eu saio? Não.
O cheiro de perfume intenso me invade, os dedos passeando pelo
meu rosto, me fazendo encara-lo.
— Otávio...
— Você me atrai como uma imã... Sabia? — Sussurra contra meus
lábios, afastando meus cabelos do rosto.
— Não jogue sujo... — Engulo em seco, sentindo as batidas do
coração desenfreadas.
— Não estou jogando. — A mão grande espalma em minha coxa,
erguendo-a e envolvendo em seu quadril.
Aí é golpe baixo.
— Otávio... — Gemo contra seus lábios assim que sinto a rigidez do
pau entre minhas pernas.
Ele está sério. O cenho franzido, os olhos presos aos meus e boca
incrivelmente linda, em uma linha reta.
— Seja minha... Aceite. — Suplica, segurando em meu queixo. —
Aceite ser...
Fecho os olhos ao sentir a boca percorrer a pele do meu pescoço.
Um arrepio intenso se forma em minha espinha, se espalhando para o
resto do corpo. Principalmente em um lugar específico.
Uma das mãos apertam minha cintura, acariciando-a, e a outra se
emaranha em meus cabelos.
— Aceite ser minha... — A voz soa como um sussurro baixo e
rouco.
Ele vou falar.
Nego com a cabeça, o olhando sorrir.
— Mikaella...
— Vai cair um temporal, temos que ir. — Digo, me afastando e ele
suspira, passando a língua pelos lábios.
— Ok... Ruiva.
Fecho a sala de reunião alguns minutos depois. Pego minha bolsa e
Otávio sai da sala, carregando o blazer no antebraço.
— Até amanhã. — Se despede.
— Até amanhã... — Sorrio e o encaro morder o lábio levemente.
Observo-o enquanto caminha com toda sua elegância, para o
elevador e entrar assim que as portas do mesmo se abrem. Apago as
luzes e guardo as chaves, saindo logo após.
Meu carro ainda está na oficina, então vou ter que pegar um táxi, já
que a chuva está ficando forte e a estação de metrô fica bem distante.
— Merda. — Praguejo, colocando a bolsa sobre cabeça e saio
correndo pela calçada.
Quando precisamos, não aparece um táxi sequer. A chuva aumenta e
me molha por inteira. Ouço a buzina e me viro, vendo uma Ferrari, que
daria para alimentar meio mundo, parar ao meu lado.
Corre, amiga.
O vidro desce e Otávio me fita.
— Onde está seu carro? — Grita e o encaro.
— Oficina. — Respondo, limpando meu rosto da água da chuva.
— Entra.
Nego, o olhando.
— Entra, Mikaella. Olha essa chuva. Entra.
Ele abre a porta e olho de um lado para o outro.
Sem esperar mais, entro rapidamente. Estou ensopada.
— Estou toda molhada...
O carro está quentinho e meu queixo bate descontrolado.
— Pode pegar uma pneumonia. Por que não me avisou que estava
sem carro? — Otávio dispara, enquanto me entrega o blazer.
Ele é tão lindo
Pego o blazer, vestindo-o rapidamente, meus cabelos colados no rosto.
— Vou de táxi. — Dou de ombros. — Estou molhando todo seu
carro...
— Isso é o de menos. — Diz, me olhando de relance.
Ele digita meu endereço rapidamente no GPS e o silêncio se instala
durante quase todo o percurso até minha casa. A chuva não cessa de
forma alguma. Otávio para o carro em frente ao meu prédio alguns
minutos depois.
— Está entregue. — Anuncia, me olhando de lado.
Ainda estou tremendo de frio e sorrio.
— Obrigada. — Digo baixo, com o queixo ainda trêmulo. — Estava
me seguindo?
Disparo e ele sorri, balançando a cabeça, nega veemente e suspira
pesadamente.
— Sim e não. Estava me certificando que você ia chegar bem até o
seu carro... — Arqueio a sobrancelha. — Ia para a casa dos meus pais.
Passar um tempo...
Semicerro os olhos, mordo o lábio e assinto.
— Obrigada pela carona, então... — Tento tirar o blazer e o fito. —
Vou precisar lavar. Está ensopado.
— Não se preocupe. — Diz, então pego minha bolsa, fecho os
olhos, mas sinto que ele me encara intensamente.
— Quer subir? — Indago rápido, antes que minha mente processe
algo.
— Quero. — Assente, como se estivesse apenas esperando meu
convite.
Na verdade, estava mesmo.
Mesmo minha mente desejando acabar com seja lá o que isso for, eu
não consigo.
Suspiro pesadamente, abro a porta do carro e ele faz o mesmo.
Já estamos na chuva mesmo... Vamos nos molhar por inteiro.
Giro a maçaneta, abrindo a porta rapidamente. Tiro os sapatos e
jogo as chaves no aparador.
— Vou pegar uma toalha para você se secar. — Ele assente,
passando as mãos pelos cabelos, que estão úmidos, assim como o resto
da roupa.
Vou para o banheiro e pego uma toalha no armário, volto para a sala,
entregando-a.
A sala parece ficar pequena para o seu tamanho, aliás, todo o
apartamento fica minúsculo perto dele. Eu, inclusive. Sem contar que
minha casa não é uma cobertura luxuosa.
— Pode tirar a camisa. Eu coloco pra secar. — Digo, olhando ele
enxugar os cabelos. — Se quiser tomar um banho, também...
— Nem me molhei muito. — Diz, abrindo os botões da camisa.
Desço o olhar pelo peito másculo e delicioso.
Assim meu coração não aguenta.
— Pode secar a camisa. — Fala e me entrega a mesma, sorrindo. —
Acho melhor trocar essa roupa, ou pode ficar doente.
Solto um suspiro e balanço a cabeça.
Entro no banheiro, tiro a roupa molhada e me jogo embaixo do
chuveiro, deixando a água morna descer pelo meu corpo, me relaxando.
Lavo os cabelos rapidamente, me enrolo em um roupão confortável e
vou direto para o meu quarto.
Coloco a calcinha e escolho um vestidinho solto e confortável. Seco
os cabelos com a toalha e calço meus chinelos de pelúcia. Pego as
roupas molhadas no banheiro e assim que chego no sala, Otávio me
encara, com os olhos azuis, de cima à baixo, mordendo o lábio
rapidamente.
— Em alguns minutos, teremos roupas secas. — Vou para a
lavanderia e coloco as roupas na secadora.
— Não precisa se preocupar. — Ele diz baixo, assim que volto para
a sala, onde ele está em pé e parece inquieto.
Por incrível que pareça, é estranho ter um homem em meu
apartamento, coisa que raramente eu deixo acontecer. Quase nunca.
Sinto como se minha privacidade estivesse sendo invadida. Tinha
que me sentir assim como ele também... Seria o certo.
Mas por que não sinto?
Quer que eu diga?
Não. Calada.
— Quer um sanduíche? — Pergunto, quebrando o silêncio que se
instalou no cômodo. — Sei fazer um incrível...
— Não quero te dar trabalho. — Otávio dispara e mordo o lábio. —
Posso pedir algo e...
Nego rapidamente.
— Está tentando fugir da minha comida? Não é nenhum banquete,
com ingredientes de alta qualidade... Mas garanto que matará a sua fome.
— Cruzo os braços, fingindo seriedade e ele balança a cabeça.
— Acha que me importo com isso, Mikaella?
— Não. Mas eu queria te irritar. — Assumo, sem conseguir
esconder o sorriso que se apossa de mim. — Preciso de um assistente...
O senhor consegue me ajudar?
Otávio sorri abertamente e confirma com a cabeça.
Sim. Coloquei meu chefe para me ajudar a fazer um sanduíche de
mortadela.
Arrumei os pães, passei requeijão e coloquei fatias de queijo, que
vai derreter e formar uma casquinha crocante por fora. Coloquei a
mortadela e fechei o sanduíche.
— Então você cozinha... — Otávio indaga, limpando os lábios com
um guardanapo.
Estamos sentados no tapete da sala, balanço a taça com suco de uva
e sorrio. Já acabamos de comer e estamos relaxados no sofá, com as
pernas esticadas.
Optamos por suco, já que ele vai dirigir e não ia beber vinho
sozinha.
— Isso é um aperitivo, mas não se acostuma. — Beberico o líquido
devagar e o encaro. — Mas sim, consigo me alimentar bem, cozinhando.
E você? Sabe?
Ele nega, sorvendo o último gole do suco.
— Não. Nem me arrisco. — Diz ainda sorrindo.
— Deve ter uma equipe em casa para isso... — Falo sem pensar e
me amaldiçoou no mesmo instante.
Mas não por ele, por mim. Não quero saber de sua vida, nem da sua
casa.
Isso é do menos, amor...
Não quero saber.
— Tenho uma governanta que trabalha há anos comigo. Tina é meu
braço direito e faz as melhores comidas. — Ele sorri, olhando para a
taça.
O encaro morder o lábio, ainda sorrindo.
— Ela e o marido trabalham há muito anos com a gent... Comigo. —
Ele corrige rapidamente. — É como uma segunda mãe.
Dobro as pernas e suspiro, Otávio vira a cabeça para mim e sorrio
de leve.
Fito a aliança em seu dedo anelar brilhar e mordo o lábio quando
ele percebe meu olhar.
— Por que se casou tão jovem? — Indago e vejo a surpresa
estampada em seus olhos. — Tinha uma vida inteira pela frente... Por
que se prender?
Otávio balança a cabeça.
— Sempre tive o sonho de casar e formar uma família. — Ele
umedece os lábios e sorri sem humor algum. — E na época não achei
que era tão louco.
Ele me fita e franzo o cenho.
— Me apaixonei por Anna de imediato, quando nos conhecemos.
Namoramos, noivamos e casamos em questão de três meses.
Minha boca se abre. Não, ela despenca.
Ele sorri, olhando minha expressão.
— Estávamos apaixonados.
— Imagino que sim. — Constato. — Nunca tive essa vontade de
casar.
— Você é jovem ainda, Mikaella.
— Eu não quero casar. Você fantasia algo e se frustra depois. Estou
muito bem solteira. — Me adianto rápido.
E é verdade. Eu nunca tive esse sonho. Acho algo idiota. Lembro da
adolescência, em que as meninas falavam de casamento, com os olhos
brilhando e eu saía da conversa.
— Quando se apaixonar, pode ser que mude de idéia. — Otávio diz
e nego com a cabeça.
— Nunca me apaixonei, e nem vou... Eu não acredito em amor.
Ele para, arregalando os olhos.
— Como não?
— Amor fraternal existe. Amamos nossos pais e irmãos. Mas não
acredito em amor... — Dou de ombros. — As pessoas dizem que amam,
mas traem, mentem e enganam...
Cri...cri...cri...
Otávio sorri e abaixa a cabeça.
— Talvez não tenha sido amor, o que viu. — Ele sussurra, erguendo
os olhos e fixando-os nos meus.
Assinto levemente, o olhando e dou de ombros.
— Não sei... E nem quero saber. Amor nos torna frágeis. E eu não
quero ser frágil...
— Você está longe de ser uma menina frágil, Mikaella. — A voz soa
rouca, me invadindo de uma maneira intensa e insana.
— E o que eu sou?
Otávio me fita e arqueio a sobrancelha.
— Uma mulher incrível, linda e muito sexy.
Engulo em seco e me aproximo. Em um puxão forte, Otávio me
segura e me encaixa em seu quadril, como se eu fosse uma pena. A mão
espalma em minha coxa, e a outra aperta minha cintura.
— Você parece um anjo... — A boca percorre meu pescoço. A
barba roçando levemente em minha pele. — Mas aí eu lembro... Que
Lúcifer também era um.
Sorrio, passando a língua pelos lábios. Ele segura em meu queixo e
me faz encara-lo.
Os olhos azuis percorrem meu corpo, a boca captura meus lábios,
mordiscando-os e enfia a língua. Nervosa... e quente. Seguro em sua
nuca, aprofundando o beijo, uma de suas mãos erguem o vestido. Otávio
aperta a pele exposta e arranha levemente.
Apoio as mãos em seu peito. Mesmo beirando os quarenta, ele
possuí um corpo de dar inveja em muitos novinhos. Meu interior se
contorce, ao sentir a ereção sob a calça.
Sorrio, erguendo os braços e ele me encara, segurando no vestido.
Com toda calma, ele o tira devagar e joga no tapete, meus seios saltam
livres, com os bicos enrijecidos. Tenho uma sensibilidade incrível
neles.
Os olhos azuis brilham e percebo-o engolir em seco.
— Eu adoro esses peitos. — Roça o polegar em um dos bicos. —
Adoro essas sardas aqui...
O dedo passeia pelas sardas em meu colo e sorrio.
— Vai ficar só olhando? — Desafio, passando a língua pelos lábios.
Otávio me desperta um desejo insano. Apenas com o olhar, me faz
arder de tesão.
Ele sorri de lado e sem pestanejar prende um dos bicos nos lábios,
abocanhando-o em seguida, com uma fome absurda. O gemido escapa da
minha boca sem ao menos eu perceber, ele mordisca, prende nos dentes,
volta a passar a língua e chupa. Tudo em um ciclo vicioso.
Ele ergue os olhos, me encarando e sorri quando a língua faz um
estalo de sucção.
Gemo sorrindo, quando ele me deita sobre o tapete e volta a chupar
meus seios, ao mesmo tempo tirando a calça, com uma rapidez
invejável.
A cueca box, preta e justa, faz o pau parecer ainda maior, e de
verdade... Ele é enorme. Não apenas grande, mas grosso. E potente...
Se não fosse uma exímia amazonas de pau, eu não aguentaria o
tranco.
Mas eu sou Mikaella, não sou bagunça.
— Não sabe quantas vezes tirei sua roupa mentalmente hoje... —
Ele sorri, tirando minha calcinha lentamente. Passa a língua pelos lábios,
e fica alí, me olhando completamente aberta para ele. — O quanto eu
desejei estar aqui...
O dedo desliza por minha boceta, de cima à baixo. Está deslizando.
Latejando de desejo.
— Vai continuar só olhando? — O provoco e ele nega com a
cabeça.
Se abaixa, beija meu ventre calmamente e vai descendo... Beija a
virilha e abre mais as minhas pernas, passando o nariz delicadamente,
sem desviar os olhos dos meus.
Que filho da mãe.
Arqueio as costas quando sinto a língua brincar com meu clitóris,
passando de cima à baixo e sugando. Otávio afasta os lábios com os
dedos, enquanto me chupa com desejo, insano e forte.
Agarro em seus cabelos, sentindo-o sugar toda minha carne para
dentro de sua boca. Ele chupa, lambe, volta a chupar, como se sua vida
dependesse daquilo. Gemo descontrolada, alucinada. Minha boceta está
completamente molhada e meu interior se contorce.
— Otávio.... Inferno. — Digo entre os dentes, sentindo-o me chupar
com mais força. Suga meu clitóris e passa apenas a ponta da língua e
volta a suga-lo.
Sinto os espasmos se aproximarem e um grito fino escapa da minha
garganta, mas ele não para... Continua passando a língua de cima à
baixo.
— Ah... — Engulo em seco, levanto e me apoio nos cotovelos, o
observando tirar a cueca.
O pau salta feliz e duro. Ele o segura, passando o polegar pela
glande, que brilha com o pré sêmen. Está vermelha e...
Inferno. O homem é realmente uma máquina, que não sabe da
potência que tem.
— Eu preciso... Estar dentro de você... Agora... — Observo a mão
descer e subir pelo pau ereto, parecendo ficar maior a cada vai e vem
que ele faz.
Me ergo sob seu olhar e pego a camisinha na gaveta do aparador,
rasgo o papel laminado e me sento em suas pernas, que estão esticadas e
desenrolo o látex pela extensão, que pulsa na minha mão.
Otávio segura em minhas pernas, ajeitando-as, a mão aperta minha
cintura e sem esperar, sou rapidamente preenchida.
Um soluço escapa da minha garganta, quando sinto-o completamente
dentro de mim.
Minha carne se acomoda, enquanto lascivamente nossos movimentos
se tornan sincronizados. A boca grudada na minha, as mãos percorrendo
meu corpo, nos deixando completamente unidos.
Gemo contra seus lábios e ele sorri, quando minha boceta o prende.
Otávio abre a boca, ofegante e cola a testa a minha.
— Porra, Mikaella! — Grunhi, mordendo e chupando meus lábios
de forma absurda.
Rodeio seu pescoço, me dando um apoio e rebolo alucinadamente,
as mãos apertam mais minha cintura e quico, gemendo feito uma louca.
Por que é loucura.
Mas é uma loucura deliciosa.
Otávio segura em meu pescoço arqueando-o e chupa meu queixo,
apalpa meus seios e aperta minha bunda, abrindo as bochechas.
— Bate... — Sussurro em seu ouvido.
Percebo sua pupila dilatar.
Estamos ofegantes e suados, nossos corpos deslizando.
— Você vai me matar. — Murmura contra meus lábios, me fazendo
pular, quando um tapa estala forte na carne macia.
Meus cabelos caem no meu rosto e ele os afasta, me beijando.
Segura minhas pernas, enquanto me preenche por inteira. Com o pau
lambuzado deslizando, ele suga meus seios e alterno as investidas junto
com ele.
Sinto os músculos enrijencerem e sua mandíbula cerrar, mostrando
que ele está tão perto, quanto eu...
Sorrio, tiro as pernas e ele me olha curioso. Me viro e monto de
costas, apoiando-as em seu peito, com as mãos apoiadas em suas pernas.
O olho por cima do ombro, lanço um sorriso e ele fica sério.
— Mikaella... — Geme rouco, dando um meio sorriso.
As mãos apertam minha bunda e começo, sentando lentamente. Paro.
Volto a descer. Paro. Rebolo. Paro.
Sinto a pele arder com outro tapa e sorrio, girando os quadris. Ele
fica muito maior nessa posição, e bem mais grosso.
— Você é um inferno de quente. Caralho. — Ele pega um punhado
dos meus cabelos em sua mão e agarra meu seio com a outra, apertando
o bico entre os dedos.
Gemo alto e sento bruscamente, deixando o meu interior pegar fogo.
Nossos corpos juntos, minhas costas em seu peito, suas mãos em meus
cabelos e a boca em meu ombro.
— Eu vou... — Ele sussurra gemendo.
— Eu também. — Respondo, balançando a cabeça.
Tremo, quando ele me aperta e geme em meu ouvido. Sorrio quando
os músculos enrijecem e pendo a cabeça para trás, sentindo os espasmos
do gozo se intensificar.
Otávio geme e solta o ar preso, colando a testa em minhas costas.
O único barulho que quebra o silêncio, é o de nossas respirações
ofegantes.
Meu coração bate descontrolado, o suor escorrendo por nossos
corpos.
Otávio me aperta e sorrio, virando o rosto para olha-lo. Está sério,
com o cenho franzido e a expressão fechada.
Em um sussurro baixo e intenso, a voz ecoa, fazendo meu corpo se
arrepiar por inteiro.
— Seja minha amante...
Fecho os olhos, engolindo em seco e sentindo as mãos em meus
cabelos, puxando-os levemente.
— Não precisa responder agora. Não consigo nomear isso que
fazemos... Que sentimos. Eu sei que é errado, muito. Mas eu quero você,
do jeito que quiser...
Ele mordisca minha orelha e acaricia meu seio.
Mordo o lábio e abro os olhos lentamente. Quero gritar
um não firme em sua cara, mas não sai.
Fale por si só...
Estava demorando a aparecer.
Alguém tem que ser sensata.
Não consigo falar, nem pensar direito em nada, com ele ainda dentro
de mim, em cima desse corpo, com esses braços fortes e tatuados.
Estou perdidamente fora de controle.
Estendo sua camisa e fico vendo ele se vestir, os dedos ágeis
fechando os botões, enquanto me fita em silêncio. Não tocamos mais no
assunto. Já é bem tarde, não para mim, mas para ele, com certeza. Parece
mais relaxado e bem mais leve do que estava.
Ele dobra as mangas da camisa e eu mordo o lábio, olhando aquele
antebraço forte, os desenhos da tatuagem bem visíveis.
Entrego o blazer assim que abro a porta e ele sorri, o pegando.
— Boa noite, Mikaella. — Sussurra, segurando em meu queixo,
arqueando-o para fita-lo.
Seguro em sua mão, sorrindo.
— Sonhe comigo.
Ele me encara de cima à baixo e balança a cabeça.
— Mikaella... — Beija meus lábios demoradamente. — Não me
provoque assim.
Espalmo a mão em seu peito, o afastando delicadamente.
— Boa noite.
Ele segura em minha mão, beijando-a e se vira, sumindo pelo
corredor.
Fecho a porta e me encosto nela, passando as mãos pela testa.
Estou perdida...
Mas já vou para o inferno mesmo, então vou me queimar por inteira.

00:30
Olho para o relógio no painel do carro e giro a chave, desligando-o.
Passo as mãos pelos cabelos e saio do mesmo, coloco a digital no painel
e abro a porta, vendo a sala completamente escura, assim como a casa
toda.
Sinto o cansaço me tomar ao entrar em casa. Não o cansaço físico...
Mas o mental.
Subo as escadas e passo no quarto de Luíza, que está vazio, já que
ela está com os avós paternos, a passeio. Ela não é muito ligada a eles,
mas sempre vai.
A porta do quarto está entreaberta, a empurro devagar e entro. Anna
está deitada, dormindo. Os cabelos espalhados pelo lençol de linho,
parece ter adormecido enquanto me esperava.
Balanço a cabeça, entrando no closet tirando a roupa e vou para o
banheiro, tomar um banho quente e relaxante.
Fecho os olhos, deixando a água cair e suspiro. Ainda posso ver o
corpo de Mikaella sobre o meu... Quente. Deliciosa. Apertada. Os
cabelos ruivos, a bunda avantajada. Os gemidos esganiçados são como
músicas para os meus ouvidos.
Ela vai aceitar?
Será que vai aceitar ser tornar minha...
Não sei o que vai ser dali para frente, mas quero dar um sentindo em
minha vida. Dar um rumo.
O que já devia ter feito há muito tempo.
Acha que não sei? Estava empurrando com a barriga. Tentando
fingir e acreditar que tudo ia mudar. Mas não vai.
Coloco a calça de flanela e uma camisa quando saio do banheiro.
Anna está dormindo do mesmo jeito. Não teve gritos, nem brigas. Estou
aliviado.
Não consigo olhar para ela e ver a mesma mulher com quem me
casei, é como se a Anna de vinte anos atrás, fosse fruto da minha
imaginação, e que foi embora.
Não dá mais. Não dá para fingir que estou feliz, que está tudo bem.
Não dá.
Me deito e viro de costas, suspirando.
Amanhã vai ser um longo dia.
Pego o celular, que vibra insistentemente, seguro o aparelho,
franzido o cenho ao ver o nome do meu irmão na tela. Acabei de
estacionar o carro em frente a empresa, quis sair mais cedo, antes que
Anna acordasse.
Tomei apenas uma xícara de café, por insistência de Tina, que odeia
quando eu saio sem me alimentar.
— Leon?
— Onde está? — A voz do meu irmão soa diferente e franzo o
cenho.
— Acabei de chegar na Perrot. Por que?
Ouço um suspiro pesado e depois fica tudo em silêncio do outro
lado da linha.
— Leonel...
— Sobe. E vêm direto para a minha sala.
Ele desliga rapidamente e engulo em seco. Os funcionários ainda
estão chegando, cumprimento-os e entro no elevador, vendo a hora
no rolex em meu pulso.
As portas se abrem e percebo que nem Mikaella chegou ainda.
Sorrio, olhando a mesa, que aos poucos já está ficando a cara dela.
Canecas com canetas, flores delicadas e potes de doce. Ela está sempre
comendo alguma coisa.
Viro o corredor, indo direto para a sala do meu irmão. Leon mal fica
na matriz, mas sempre teve uma sala disponível, assim como Lúcia.
Abro a porta e ele me encara.
— Caiu da cama? — Indago, enquanto ele se ergue e dá a volta na
mesa, se sentando ao meu lado.
— Não. Fui na casa de mamãe ontem, e ela ficou muito nervosa
depois que recebeu a ligação da bruxa.
Me sento ao seu lado, franzindo o cenho.
— Anna?
— Conhece outra bruxa que inferniza a sua vida? — Meu irmão
dispara e passo as mãos pelo rosto.
— O que ela fez?
— Ela estava aos prantos, no telefone, falando que ia se matar, que
você estava negligenciando-a, tratando-a mal e que está agressivo.
— O que!? — Disparo e me ergo.
— Mamãe ficou nervosa, papai também. Eu sei que isso é armação
da Anna, ela está fazendo chantagem emocional com todos nós... Mas eu
não caio nessa. — Leon suspira. — Otávio, ela não é louca, Anna é
esperta... Muito.
— Ela está descontrolada. Ela teve um surto de ciúmes ontem, pela
amanhã, quebrou louças e... — Nego com a cabeça. — Eu bloqueei a
chamadas de casa, não atendi durante todo o dia.
— Foi por isso que ela surtou. — Leon morde o lábio.
— Estava na casa da Mikaella, ontem a noite.
Leon arregala os olhos e me ergo, passando as mãos pelos cabelos,
solto o ar preso e sorrio sem humor.
— Ela me faz me sentir vivo, entende? — Me viro, o olhando. —
Ela me faz querer...
— Ser livre?
Franzo o cenho quando ele completa.
— É... — Respondo, com a voz arrastada. — Mikaella é tudo que
eu prometi não fazer... Não ter, Leon.
É a minha loucura. Minha insanidade. Meu prazer. Meu desejo.
— Eu perguntei se ela aceitava... Ser a minha amante.
— E ela?
— Não respondeu. — Ele volta a se sentar e cruza as pernas na
altura do tornozelo. — Eu não consigo entender o que é, Leon, mas sei
que é muito mais que sexo.
— Você está caidinho por ela.
— Leon...
— Está sim. — Ele sorri, balançando a cabeça. — Você nunca,
sequer olhou, para outra mulher com desejo, era cego por aquela naja...
E agora? Está prestes a ter uma amante.
— Ela ainda não aceitou.
— Mas, e se ela aceitar? — Leon se remexe e me sento ao seu lado.
— Vão ter um caso? E aí? Mikaella não é do tipo que vai aceitar essa
situação por muito tempo.
Encaro a aliança em meu dedo anelar, o aro grosso e dourado com
diamantes cravejados, foi escolhida por mim, há alguns anos, em nosso
aniversário de casamento. Anna ficou radiante e prometemos que jamais
iríamos tirar. É como um símbolo do nosso amor.
Mas como usar algo que simboliza um sentimento, que você não
sente mais?
Estou confuso, tentando entender e assimilar tudo. Leon se ergue,
segurando as pastas com alguns projetos e plantas, enquanto vamos para
a minha sala.
— Já estou fazendo o levantamento topográfico dos Davis. —
Coloco as mãos nos bolsos, andando pelo corredor.
— Vou mandar os relatórios para você depois. — Leon para e
coloca a mão em meu peito, me fazendo parar imediato.
Mikaella está de costas e parece bem distraída falando ao celular,
mas a gargalhada gostosa que ela deu, não foi o que nos fez parar para
admira-la.
As belas pernas, apoiadas em saltos altos, o vestido do uniforme
colado ao corpo, como se tivesse sido feito sob medida. As curvas
acentuadas e... Aquela bunda incrível, empinada.
— Agora entendo o porque ela te deixa vivo... — Leon sorri e bato
em sua mão. — Ai, Otávio. Agressivo.
Isso é suficiente para ela se virar e nos fitar.
— Claro... Marcamos sim. — Diz baixo, colocando uma mexa de
cabelo atrás da orelha. — Outro. Até mais.
Desliga o aparelho e nos olha.
— Bom dia.
— Excelente dia. — Meu irmão sorri para ela.
— Bom dia, Mikaella. — Cumprimento e ela me encara.
Os cabelos soltos e incrivelmente lindos, aliás, ela é toda linda.
— Katy chegou?
Mikaella abre a boca para responder meu irmão, mas as portas do
elevador se abrem.
— Acabei de chegar e não estou atrasada. — Katy sorri nos
olhando. — Bom dia, senhores e senhorita.
A cumprimento e Leon a encara de cima à baixo.
— Quer me matar do coração, vestida assim uma hora dessas?
— Como se você fosse morrer tão cedo, Leon. — Katy dispara. —
Olhe Mikaella aí, toda linda e maravilhosa também.
Ela sorri, balançando a cabeça.
— Vocês enchem meus olhos, com essa beleza contemporânea de
deusas do Egito.
— Me sinto lisonjeada. — Mikaella sorri, enquanto Leon segura em
sua mão, beijando-a.
Franzo o cenho, engolindo em seco.
Hummmm... Ciúmes?
Nem estou sentindo sua falta. Sai.
— Vou para a minha sala. — Falo e Mikaella me encara. — Pode
me passar a agenda depois?
— Vamos Katyzinha, preciso dos seus serviços. — Leon dá uma
piscadela, passando o braço ao redor do pescoço de Katy.
— Otávio, eu exijo hora extra. — Ela diz, enquanto sai aos risos.
Os dois são bons amigos. Agora.
Mas já tiveram seus momentos há uns tempos, e acho que ainda têm.
Mas sem envolvimentos profundos. Entro na sala, afrouxando os botões
do colarinho e dobro as mangas da camisa até os cotovelos. Me sento na
cadeira, relaxando e começo a girar de um lado, para o outro.
Ligo o computador e um e-mail aparece de imediato, com um
documento anexo.

Sua agenda do dia.

Mikaella.
Estalo os dedos e sorrio, digitando rapidamente.

Achei que ia vim aqui. Está com medo?

Otávio.
Aperto em enviar e estalo os dedos sorrindo.
Olho para a tela, esperando a resposta do e-mail, quando a porta se
abre e ela entra, segurando o Ipad. Arqueia a sobrancelha, ajeitando os
cabelos e descendo o vestido rapidamente.
— Pode se sentar, Mikaella. — Tento esconder o sorriso e ela anda
calmamente, sentando-se na minha frente.
Ela morde o lábio, sorrindo de leve e cruza as pernas lentamente.
— Você tem duas reuniões agora, pela manhã. Um vídeo conferência
com o senhor Clark... — Ela leva a caneta touch aos lábios e minha
atenção vai totalmente para esse pequeno movimento.
Engulo em seco, cerrando o maxilar.
Os cílios baixam e ela ergue os olhos, me olhando.
É proposital.
Ela sabe do controle que tem sobre mim.
Sinto meu pau rapidamente dar sinal de vida, apenas por imagina-la
sentada em mim, cavalgando enlouquecida. O quadril rebolando, os
cabelos caído nas costas, enquanto ela me encara sobre os ombros.
Aquelas sardinhas lindas fazendo um caminho lindo e delicado.
A bunda...
— Otávio?
Ergo os olhos, a fitando e balanço a cabeça.
— Ouviu o que eu disse?
Nego devagar com a cabeça, pego a caneta na mesa, apertando-a em
meus dedos.
— Você tem uma reunião mais tarde, com o senhor Rodrigues. —
Diz me encarando com aqueles olhos perfeitos. — E depois um vídeo
conferência senhor Clark.
Me remexo, sentindo ela me encarar.
— Dormiu bem? — Indago, vendo-a franzir o cenho.
— Sim. E você?
Me ergo sob seu olhar e me aproximo, apoiando as mãos em cada
lado da cadeira em que ela está.
— Estava me evitando? — Sussurro baixo, aproximando meu rosto
do seu.
— Estava. — Rebate no mesmo tom.
— Por que, Mikaella? — Encaro seus lábios entreaberto e ergo os
olhos, que se fixam aos meus de imediato.
— Por que é inevitável te olhar, e não sentir vontade de te beijar...
É o suficiente para eu selar meus lábios nos seus, e como um imã,
nossas bocas se grudam de imediato. A língua entra na minha boca e a
sugo, enfiando os dedos em seus cabelos, puxando-a para mim.
É loucura, insano. É gostoso...
Suas mãos seguram em minha nuca e descem para os meus braços, a
ergo facilmente, colocando-a sobre minha mesa.
Passo o polegar pelos lábios, colando a testa na sua.
— Diga que aceitou... — Seguro em seu rosto, esfregando o nariz ao
seu. — Diga que aceitou...
A mão espalma em meu peito e meu coração dispara.
— Me deixe pensar.
— Pensar em que, Mikaella? — Vejo ela engolir em seco e desço as
mãos pelos ombros, apertando-os.
Sua mão segura a minha rapidamente e ela me encara, dizendo o
óbvio, apenas com o olhar.
A aliança.
— Eu quem deveria...
— E você acha que me importo? — Diz sorrindo. — Eu não dou a
mínima para o seu casamento, ou para sua esposa... Mas eu sei o que é
ter um lar destruído por uma traição.
— Não se destrói, o que não tem mais, Mikaella...
— Talvez. Mas mesmo assim, ainda é um. — Diz rápido e me
afasto. — Eu... Só me deixe pensar.
Assinto, olhando-a se erguer e segurar o Ipad nas mãos.
— Vou preparar a sala de reunião.
Ouço os passos ecoando pela sala, até ela se retirar.
Fecho os olhos e balanço a cabeça assim que meu celular vibra, me
aproximo para pegar o aparelho e vejo quem liga:
Anna.
Desligo a chamada, jogando o aparelho sobre a mesa novamente.
Estalo o pescoço de um lado, para o outro lado. Os cálculos
espalhados por cima da planta, que está estendida sobre a mesa, para ter
uma visão melhor.
É um projeto delicado, de uma ferrovia expressa, que precisa de
toda paciência e dedicação, mais do que sempre tive. A paixão por
cálculos, veio antes do que eu pudesse me dar conta.
A manhã se arrastou em reuniões e projetos. Leon está na empresa e
acabamos trabalhando juntos, o que adiantou muito para mim.
— Vamos almoçar? — Chama, me olhando..
— Quer pedir algo?
— Não. Vamos comer lá embaixo, quero beber uma cerveja, para
dar coragem. — Meu irmão se ergue e o fito. — Vamos, só hoje. Há
muito tempo não almoça comigo.
Reviro os olhos.
— Vamos. Também estou com fome. — Pego a carteira e os óculos
de sol, enquanto Leon sorri, abrindo a porta e falando animado:
— Vamos meninas?
Paro e olho para Katy, que sorri, e Mikaella, que continua sentada.
— Eu vou comer qualquer coisa.
— Ah não, Mika. Vamos. Sempre almoçamos juntas. — Katy sorri,
segurando em sua mão e me encara. — Otávio não morde...
Ela me encara e arqueio a sobrancelha.
Eu mordo, sim.
— É, ruiva. Ele não morde. — Meu irmão completa, sorrindo.
— Vamos? — Ela se dá por vencida e assente.
Pega a bolsa e Katy entrelaça o braço ao seu. As duas vão na nossa
frente e chamam o elevador, que se abre rapidamente. Entramos,
enquanto Mikaella e Katy conversavam animadamente.
O restaurante está bem movimentado, escolhemos a melhor mesa e
bem mais reservada.
Katy se senta e Leon faz o mesmo, puxando a cadeira para o seu
lado, encaro Mikaella e arrasto uma cadeira, apontando para ela sentar.
— Que cavalheiro. — Katy elogia.
— Tinha que ser meu irmão.
Me sento, balançando a cabeça enquanto ela fica me olhando.
Fazemos os pedidos e um vinho para acompanhar. Acabou que
escolhemos o mesmo prato: uma massa com molho de ervas finas e filé
de peixe grelhado.
Katy e Leon estão conversando aos sussurros e risos, olho Mikaella,
que retribui o olhar, mordiscando o lábio devagar. Estamos lado a lado,
e falta pouco para minha perna tocar a sua.
Engulo em seco quando sinto a perna encostar a minha, é um toque
simples, mas o suficiente para uma corrente elétrica passar pelo meu
corpo.
Sorrio e aperto a coxa levemente.
Saliente...
Quebro o contato assim que nosso prato chega, e começamos a
comer tranquilamente, está delicioso.
— Acho que vou para a matriz, pegar o projeto para avaliar em
casa. — Leon sussurra, bebericando o vinho. — Vou mais cedo para
casa também. Vamos comigo, Katy?
Sorrio quando ela o encara.
— Para a empresa pegar os projetos... Achou que era pra minha
casa, né!?
Ele sorri, descarado.
— Se Otávio me liberar, eu vou.
— Pode ir. Mikaella fica comigo... — Falo olhando para ela pela
borda da taça.
Leon solta um pigarro sorrindo e eu reviro os olhos.
Entramos no elevador e Katy a frente com Leon, pedimos sobremesa
e subimos rapidamente. Encaro Mikaella que me olha de relance ao meu
lado, estava em silêncio durante todo o almoço.
Encaro o painel enquanto os números passam. Me espreguiço
rapidamente e coloco o braço em suas costas ela me fita e acaricio
descendo-a lentamente e aperto a cintura roçando o polegar devagar.
O elevador se abre a ela é a primeira contato saindo a frente, me
despeço de Leon e de Katy e sigo para minha sala. Mikaella ja estava
em frente ao computador e se quer voltou a me encarar.
E passei o restante da tarde na sala, revendo projetos e plantas.
Aperto o lápis nas mãos e o celular vibra pela milésima vez naquele
dia.
20 ligações perdidas. 34 mensagens não lidas.
Desbloqueio a tela e o nome de Anna aparece em todas as
chamadas.
Volto a bloqueio o celular e viro a tela para baixo, tento focar ao
máximo nos cálculos a minha frente. E assim que continuo durante o
restante da tarde sem ao menos perceber que as horas se passem.

O telefone toca e atendo, ouvindo a voz de Mikaella ecoar.


— O senhor tem uma ligação importante na linha 2. Eu transfiro?
Suspiro pesadamente, massageando as têmporas.
— Quem é?
Ouço a respiração baixa do outro lado e Mikaella diz baixo:
— É a sua... Sogra.
Passo as mãos pelos cabelos e pendo a cabeça para trás.
Pego a caneta, apertando-a e fecho os olhos, suspirando
pesadamente.
— Pode transferir. Obrigado.
Aperto o botão e me ergo, segurando o telefone.
— Pronto.
— Otávio, o que está acontecendo!? — A voz de Letícia soa
agressiva e coloco uma mão no bolso. — Anna passou o dia inteiro sem
comer! Está aos prantos! O que está acontecendo?
— Pergunte a sua filha, o que ela está fazendo, Letícia. — Minha
voz sai mais baixa do que achei que sairia. — Os ataques de ciúmes de
Anna estão passando dos limites...
— Você não era assim, Otávio!
Ouço o burburinho do outro lado da linha e aperto o telefone nas
mãos.
— Otávio... Você não me atendeu... Eu... Eu... — Ela funga e fecho
os olhos. — Você vem para casa? Você não vai me deixar, não é? Não
vai...
— Pare com isso, Annabell! Por Deus... — Bufo irritado. — Pare!
Apenas pare!
— Parar de te amar? É isso que quer? Porque eu não vou deixar,
nunca!
— Anna, pare! — Ouço Letícia sussurrar.
— Você é meu marido! Meu! Ouviu? Isso não vai acabar!
Sorrio sem humor, balançando a cabeça.
Já acabou, maluca!
Fecho os olhos, desligo a chamado e jogo o telefone na mesa. Passo
as mãos pelos cabelos e pelo rosto. Anna está fora de controle,
completamente.
O telefone volta a tocar insistentemente e o pego, atendendo
rapidamente.
— Chega, Anna! Para de ser assim! Chega das suas desconfianças e
ciúmes sem sentido! Chega! Não se acaba o que não existe mais! Não
tem como acabar... Porque não existe mais nada!
A minha voz sai entrecortada e ríspida.
— Me desculpe, senhor... — A voz de Mikaella ecoa do outro lado.
Fecho os olhos, soltando um longo suspiro e cerro a mandíbula.
— Não passe mais nenhuma ligação para mim, Mikaella. Por favor.
— Sim, senhor.
Arfo, afrouxando a gravata que parece me sufocar. Desabotoo o
colarinho e os pulsos da camisa.
Pareço estar preso em meu próprio corpo, como se esse não fosse
eu.
É uma sensação infernal.
A sensação de não se reconhecer mais.
De me sentir morto.
Eu tentei, eu juro que tentei de tudo para não chegar a esse ponto
com Anna. Tentei a todo custo, não deixar meu casamento acabar.
Mas Anna foi me perdendo nos detalhes.
Nos detalhes, as pessoas te ganham, mas também é nos detalhes, que
elas te perdem.
Eu amei Anna.
Amei com uma força absurda, mas ela não parece mais a mesma
mulher com a qual me casei e jurei que ia passar o resto da minha vida.
O ciúmes de Anna foi se tornando possessivo. Doentio.
E tudo piorou depois da morte de Ben.
Ela parece mais dependente e controladora. Eu entendo que o luto é
uma fase difícil. Esperamos tanto por Ben. O desejamos tanto.
Demorei meses, para me desfazer do quarto que já estava pronto
para recebe-lo. Não conseguia entrar lá e ver que meu filho não ia estar
no bercinho.
É era doloroso.
Anna chorava descontrolada e a culpa me corrói de uma forma
absurda, mordo o lábio, virando a cadeira e sentindo o ar pesado de
esvair dos pulmões.
◆◆◆

— Me perdoe meu amor... Me perdoe... — Anna soluça, enterrando


o rosto em meu peito, enquanto soluça agarrada em mim.
Afago seus cabelos, a abraçando enquanto o choro corta as suas
palavras.
— Anna... — Seguro em seu rosto e ela nega veemente.
— Nosso filho... Nosso bebezinho, meu amor... Nosso bebê se foi...
Ele se foi...
Colo a testa a sua, fechando os olhos.
A sala do hospital parece ter ficado pequena para nós dois, meu
coração carregado de angústia e uma dor absurda.
Uma dor tão grande, como se uma mão gigante invadisse meu
peito e apertasse meu coração com garras afiadas, arrancando-o.
A dor da perda de um filho é uma dor diária, e fica maior em cada
amanhecer.
Que dor é essa que nada faz passar?
Letícia resolveu toda a papelada do hospital, junto de Michael.
Anna e eu estamos tão fragilizados e desestruturados, que eu não
ouço, nem vejo mais nada.
— Jura que nunca vai me deixar? Jura? — Anna me segura,
franzindo o cenho enquanto soluça baixo.
Acaricio seu rosto, suspirando.
— Anna...
— Jura, por favor... Sem você eu morro, Otávio! Eu não tenho
mais o Ben... Eu só tenho você! Só você meu amor...
Seguro em sua mão, balançando a cabeça.
— Estou aqui.
— Me prometa que não vai me deixar nunca. Por favor.
Fecho os olhos, quando as lágrimas caem do meu rosto e assinto.
— Eu prometo, Anna.
◆◆◆

Parei minha vida depois que ela saiu do hospital, fizemos uma
viagem curta para a França alguns meses depois, para tentar nos erguer
emocionalmente.
Mais uma vez deixei o assunto do divórcio de lado, e tentei reerguer
meu casamento.
E falhou, mais uma vez.
— Otávio?
Viro a cadeira e vejo Mikaella parada na porta da sala de reunião.
Acabei de sair de um vídeo conferência e estou exausto. Ela aperta a
bolsa no antebraço e os cabelos soltos caem sobre os ombros. Morde o
canto do lábio e a boca desenhada é como uma chama do pecado.
Linda. Sexy. Quente.
— Todo mundo já foi embora... — Diz baixo. — Quer que eu
arrume a sala?
Nego, juntando os papéis.
— Não. Eu vou trabalhar mais um pouco.
É só uma desculpa para não ir para casa, por que eu sei exatamente
o que está por vir, assim que chegar lá.
Mordo o lábio devagar, me ajeitando na cadeira e relaxando os
ombros, que parecem pesar uma tonelada, assim como todo o resto do
corpo.
— Eu posso ficar...
— Já passou do seu horário, Mikaella. — Sussurro, enquanto ela
fecha a porta e entra.
— É o meu trabalho. — Fala, mordendo o lábio e ajeita os cabelos
ruivos.
Balanço a cabeça, negando.
— Sabemos bem que eu só estou enrolando aqui. — Confesso o
óbvio e ela sorri.
É o sorriso mais lindo.
As sardas no nariz parecem ficar mais aparentes ainda quando ela
sorrir, me deixando louco.
Pisco devagar, olhando-a de cima à baixo.
Mikaella me encara, suspira e morde o lábio lentamente. Ficamos
nos encarando por segundos, sem falar absolutamente nada.
Mas em um piscar de olhos, afasto a cadeira e venço o espaço que
nos separa, o coração a galope, enquanto me aproximo e seguro em sua
cintura.
Os olhos azuis presos aos meus.
— O que é isso que nos atraí assim? O que você faz comigo,
Mikaella?
Ela me encara, negando com a cabeça.
— Não sou apenas eu, não é? Você sente esse desejo...
— Acha que eu estaria aqui, se não sentisse o mesmo? — A voz sai
baixa e arrastada.
Sorrio, apertando-a em meus braços e a beijo.
A beijo, tomando os lábios em uma necessidade absurda, os lábios
grudados aos meus, enquanto a língua entra e sai da boca quente e
molhada.
Agarro os cabelos, a puxando e colando a testa na sua.
— Eu aceito.
Franzo o cenho, olhando-a.
— O-que?
— Eu aceito ser a sua amante.

Ele segura em meu rosto, me fazendo encara-lo.


Os olhos brilham. O maxilar cerrado e o cenho franzido o deixam
ainda mais lindo do que já é. Sinto apenas o contato dos lábios ferozes
contra os meus. Otávio morde meu lábio inferior, enquanto gemo
extasiada.
— Repete. — Ele pede, enquanto beija meu pescoço e sobe para
meu queixo.
— E-eu aceito ser... Ser sua amante.
Posso me arrepender? Sim.
Eu vou voltar atrás? Não.
Ele não fala mais nada, só me puxa de encontro ao seu corpo. Os
braços fortes, o peitoral firme, me deixam menor do que o normal.
Sinto a ereção firme contra meu ventre, assim que ele me ergue do
chão, com uma facilidade absurda. Ouço o barulho dos objetos, que
estavam em cima da mesa, caindo no chão.
Uma mão na minha cintura, me puxando, enquanto a outra brinca
com minhas coxas. Ele beija meu ombro, dá pequenas mordidas, fazendo
minha pele se arrepiar por inteira.
— Otávio... — Sussurro baixo, querendo manter a voz firme.
Passo uma perna por seu quadril e o puxo, ele sorri quando
seguro em sua nuca e o trago para mais perto de mim, a língua logo entra
na minha boca, explorando-a. Chupo seus lábios com volúpia, enquanto
suas mãos apertam meus seios.
— Você virou uma droga pra mim, Mikaella. Uma droga que não
consigo me livrar. — Ele segura em meu queixo e arqueio o pescoço, o
olhando. — Você é deliciosa. — A língua passa pelo meu pescoço,
fazendo todos os meus pelos se eriçar.
É um tesão desenfreado.
A calça já não é mais capaz de esconder a rigidez do pau, que marca
o tecido. Acaricio devagar e ele fecha os olhos e geme sorrindo.
Sua mão deliberadamente vai pra baixo do meu vestido e seus dedos
acariciam a minha boceta por cima do tecido de renda. Gemo baixinho,
quando a fricção dos dedos aumentam.
— Você é um tesão, Mikaella. Por inteira.
Agarro sua camisa, sentindo-o afastar o tecido para o lado e os
dedos habilidosos entram em contato com minha boceta molhada.
— Toda melada... — Diz e solta a respiração.
— Vai ficar só olhando? — Acabo de falar e me calo bruscamente,
porquê ele me puxa pela cintura, me deixando na beira da mesa.
Ergue minha perna, colocando-a sobre a cadeira.
— Deixa assim, toda aberta pra mim. — Pede rouco e dou um grito
fino, quando sinto o tecido frágil da calcinha ser rasgada.
— Eu adorava essa calcinha. — Arfo e ele sorri.
— Que pena.
Sinto todo o meu corpo tremer quando suas mãos descem o zíper do
meu vestido, que fica enrolado em minha cintura. Sinto os dedos
passando por minhas costas, e assim que encontra o fecho, o sutiã cai,
fazendo meus seios se libertarem.
— São as coisas mais lindas que eu já vi. — Ele enche toda a mão
sobre um dos peitos e sinto o seus lábios prenderem o bico enrijecido.
Apoia as mãos na mesa e pendo a cabeça para trás, gemendo baixo,
enquanto a boca o mordisca de leve. Seguro em seus cabelos, o trazendo
mais pra mim.
— Otávio... — As palavras viram gemidos esganiçados enquanto
ele chupa um... Depois o outro.
E vai descendo... Mordendo toda minha barriga, rodeando meu
umbigo com a língua.
E cacete, que coisa boa!
Me deito sobre a mesa, erguendo só o pescoço, assim que sinto a
língua ir direto para o ponto onde estou completamente molhada. Otávio
abre bem as minhas coxas e fixa os olhos bem o meio das minhas pernas.
Sorri, me encarando.
— Você tem uma bela boceta, Mikaella.
Arfo ao sentir a boca tomar minha boceta rapidamente, afastando os
lábios e enfiando a língua em um beijo alucinado.
Arqueio as costas, quando sinto sua língua passear de cima para
baixo, de um lado para o outro.
Ele suga e mordisca meu clitóris de leve, me fazendo gemer. Gemo
feito louca, sentindo os espasmos do gozo se aproximar, tento fechar as
pernas e ele abre novamente, dando um tapa em minha coxa.
— Quieta. — Ele repreende, me olhando. — E goza.
Eitaaaaaaa diabos.
Tremi só de ouvir suas palavras.
Me corpo entra em combustão e praguejo enquanto ele afunda a
boca, me chupando deliciosamente. Meu interior se convulsiona e gozo.
Gozo como uma louca, em sua boca.
Observo-o se erguer e lamber toda a extensão de sua boca com a
língua.
Filho de uma mãe!
— Gostosa.
— Ai... — Digo baixinho e passo o braço por seu pescoço, me
levantando.
Acaricio o peito e desabotoo a camisa, com uma agilidade, movida
pelo tesão e pelo desejo, que parece sair por todos os poros do meu
corpo. A camisa vai ao chão e sinto a pele sob meus dedos.
Contorno a tatuagem e beijo-a.
Otávio me encara e sorrio.
Ele desde a braguilha da calça e vejo o mastro enorme saltar para
fora. Duro. Reto. A cabeça avermelhada, babando de tanto tesão, assim
como o meio das minhas pernas.
Ele me encara e tira a camisinha da carteira, fazendo o látex
deslocar pela extensão rapidamente, toma minha boca e geme junto
comigo, quando começa a se enterrar dentro de mim.
Fundo. Rápido.
— Deliciosa. Você é deliciosa... — Diz baixo, movendo o quadril
junto do meu.
Começo a quicar na mesa, quando me sinto
preenchida inteiramente por ele.
E não é pouco.
Otávio é enorme. Grosso. Parece que vai me rasgar ao meio, quando
investe fundo, nas metidas bruscas.
— Não aperta. — Grunhi enquanto faço a pressão da carne,
prendendo-o. — Mikaella.
Meu nome sai esganiçado. Rouco e Baixo.
Ele aperta minha bunda e continua me penetrando fundo. Minha boca
se gruda na sua, aperto seus ombros, beijo seu pescoço, enquanto ele
toma um dos meus seios na boca, chupando um... Depois o outro...
Ele aumenta ainda mais o ritmo das investidas, nossos quadris em
uma dança sensual, buscando o ápice do prazer em cada estocada forte,
que me faz soluçar de prazer.
— Otávio... — Digo, quase miando quando ele encontra meu
clitóris, apertando firme. — Caralho...
— Porra, Mikaella!
Mordo a curva do seu ombro quando ele aumenta as investidas, os
dedos ágeis me fazem gozar desesperada e os gritos ecoam pela sala.
O silêncio é quebrado apenas pelo barulho dos nossos corpos se
chocando um contra o outro, e pelos gemidos e palavrões que saem de
nossas bocas.
Ele investe tão fundo em cada arremetida, que me faz ir ao céu, e
revirar os olhos.
Sinto todo os seus músculos se contrair, o suor descendo pelo corpo,
que até parece que vai se desmanchar em minha frente. Seus olhos se
tornam mais escuros e cubro sua boca com um beijo faminto, ao sentir o
gemido que vem do fundo da sua garganta.
Saciados. Suados... E bem gozados.
Ele acaricia meus cabelos, os tirando-os do meu rosto, e me dá um
beijo rápido nos lábios.
As respirações ofegante, se acalmando aos poucos.
— Qual o nosso problema com camas? — Indaga sorrindo.
Solto o ar, arrumando meus cabelos.
— Vamos resolver isso.
Balança a cabeça, estende a mão e me ajuda a descer da mesa,
minhas pernas fraquejam e sorrio quando ele me segura.
— Precisamos esclarecer algumas coisas. — Digo e ele assente.
Vou até o banheiro, me limpo com o lenço umedecido e desço o
vestido, ajeitando-o rapidamente. Passo as mãos pelos meus cabelos
desgrenhados, pós foda rápida e saio, vendo ele já vestido.
Obviamente, vai tomar banho no banheiro da sala, antes de ir para
casa.
Ainda dá para sentir o cheiro de sexo no cômodo.
— Otávio? — Engulo em seco e ele me encara.
— Hum. — Responde, voltando o olhar para mim.
Parece mais calmo, do que mais cedo.
Também... Depois desse chá.
Eu e talvez o andar inteiro, conseguiu ouvir os berros dele ao
telefone. Era nítido a sua raiva e mágoa.
O quanto ele parece querer fugir de ir para casa, o quanto parece se
culpar por algo.
Foi repentina, a idéia de aceitar o seu pedido. Mas foi mais forte
que eu. Apenas aceitei.
E vou lidar com as consequências.
— Não vamos dormir juntos. Não vamos levar isso a sério demais.
— Engulo em seco, o encarando. — Não quero que isso que está
acontecendo, influencie em algo que você deva tomar.
Tipo seu divórcio.
Também.
Eu não quero um casamento, não quero namorar, ou sequer perder
minha liberdade.
— Jamais. — Concorda com um aceno de cabeça. — Eu... Aceito.
— Isso é apenas sexo. Dos bons, mas não quero que passe disso. —
Confesso, mordendo o lábio e vendo-o sorrir de lado. — Tudo bem?
— Tudo, Mikaella. — Responde, assentindo.
Pego a bolsa de cima da mesa e ele me puxa, me beijando
demoradamente.
— Não quero que perca sua vida. Jamais. — Acaricia meu rosto e
sorrio.
— Até amanhã, Otávio. — Dou um selinho rápido.
— Até amanhã, Ruiva.
Giro nos calcanhares, mas ele me chama, então olho por cima do
ombro.
— A sua calcinha... — Mostra a peça nas mãos.
Sorrio, balançando a cabeça.
— Fica com ela.
Fecho a porta devagar e ouço sua risada abafada.
Passo a mão no pescoço, assim que estaciono o carro em frente ao
jardim de casa. As ligações perdidas em meu celular, anunciam que vai
ser uma noite incrivelmente fodida.
Minha cabeça está com mil e um pensamentos.
Ou apenas em um.
Mikaella.
Ainda posso sentir a boca sobre a minha, o gosto em meus lábios e
as mãos me apertando, enquanto nossos quadris se chocam um contra o
outro.
É surreal o desejo que logo aflora.
Ela é minha amante.
Meu Deus.
Uma amante.
Sorrio, balaço a cabeça, aperto
o volante entre as mãos e saio, assim que que Dom se aproxima.
— Boa noite, senhor Otávio.
Fito o carro parado e suspiro.
— Boa noite, Dom. Minha sogra está aí?
Ele assente levemente e passo as mãos pelos cabelos.
Ótimo.
— O senhor vai precisar do carro ainda?
— Não. Obrigado, Dom. — Entrego as chaves e subo os degraus.
Tomei um banho rápido em meu escritório, só não deu para trocar
de camisa. Coloco a digital na porta e a empurro devagar.
Que circo de horrores.
Os olhares viram em minha direção.
Estão todos sentados na sala de estar. Nathan me encara de
imediato, mas é minha sogra que se ergue.
Letícia Bonarez é aquela típica mulher, que o tempo parece nunca
passar. Temos uma convivência boa, desde que eu faça tudo que ela acha
correto.
— Como vai, meu genro? — Me cumprimenta rapidamente, me
abraçando.
— Bem. — Digo apenas e sorrio quando Luíza se aproxima e me
abraça. — Oi, minha boneca.
— Sentiu saudades? — Ela sorri, enquanto a beijo e afago seus
cabelos.
— Muita.
Luíza me fita e vejo Anna sentada no sofá, com olhos baixos e as
mãos pousadas sobre as pernas.
— Acho que já podemos ir, mamãe. — Nathan me fita.
— Nathan, fique. — Anna pede baixo, o olhando. — Tina fez o
jantar para todos nós.
— Anna... — Ele a encara.
— Eu vou ver se o jantar está pronto. — Anna diz rápido, saindo
sem me encarar.
— Já estamos indo. — Letícia sorri e me fita. — Como está a
empresa, Otávio? Seus pais?
— Estão bem. — Digo apenas. — Michael não veio?
— Viajando a trabalho. Sabe como ele é...
Assinto rapidamente.
— Eu vou tomar um banho.
— Podemos dar uma palavrinha antes, meu genro? Coisa rápida. —
Letícia pede e dou um leve aceno de cabeça.
Era só o que faltava.
Passo as mãos pelos cabelos e subo as escadas, ouvindo os passos
logo atrás de mim. Fecho a porta do escritório e Letícia junta as mãos,
me olhando.
— Quando Rose se foi, eu senti uma dor absurda em meu peito, algo
tomando meu interior de uma forma que doía até para respirar. — Ela
começa e engulo em seco, me sentando. — Só uma mãe sabe a dor de
perder um filho, Otávio.
Letícia balança a cabeça, me olhando fixamente.
— Sei que sentiu muito a morte de Ben. Mas Anna está destruída.
Ela perdeu a irmã e pouco tempo depois o filho... — Franze o cenho, me
encarando. — Ela está muito sensível, Otávio. Me ligou aos prantos,
estava desesperada. Ela perdeu um filho!
— Nós o perdemos. — Engulo em seco e ela assente. — Eu sempre
estive do lado da sua filha, Letícia! Sempre! Mas as atitudes de Anna,
estão ficando piores...
— Ela ama você! Anna te ama, Otávio!
Sorrio, balançando a cabeça devagar.
As pessoas falam tanto de amor...
Mas que amor é esse, que te aprisiona? Que amor é esse, que te
manipula? Que amor é esse, que acha que você é uma propriedade? Que
amor é esse, que controla seus passos, sua agenda, suas mensagens?
Isso não é amor.
— Vocês precisam viajar, precisam tentar reconstruir o casamento
de vocês... — Leticia suspira. — Eu temo que Anna faça alguma besteira
com ela mesma, Otávio.
Aperto o braço da cadeira, suspirando pesadamente.
— Façam uma viagem, tentem fazer dar certo.
Nego devagar, vendo seus olhos se arregalarem minuciosamente.
Leticia me encara e engulo em seco.
— Meu casamento com Anna não existe mais, Letícia. — Digo
baixo, vendo seus olhos fixarem aos meus. — Há muito tempo.
Ela fica em silêncio, mexendo nas mãos devagar.
— Anna não vive sem você Otávio. Você é tudo que restou pra
minha filha...
— Ela mesmo acabou com isso, Letícia, ela me sufoca. —
Desabafo, balançando a cabeça. — O ciúmes é... Doentio!
Letícia se ergue, estendendo a mão.
— Ela vai mudar! Vocês não podem desistir de uma união de vinte
anos, como se não fosse nada...
Mas se tornou um nada.
Suspiro e não me dou mais o trabalho de conversar. Letícia vai fazer
de tudo para apaziguar a situação.
Mas não tem mais nada para ser feito.
Estou exausto de tentar...
Dizem que o diálogo é a melhor maneira de se resolver, mas para
mim, é a compressão também. Você pode conversar sobre tudo, se a
outra pessoa não estiver disposta a te compreender, nada adianta.
Entro no quarto, retirando a camisa devagar, sinto o cheiro
impregnado do perfume doce. Sorrio, levando-a ao nariz. É como se ela
estivesse aqui perto. Com os cabelos ruivos caindo sobre os ombros.
Ah, Mikaella...
Retiro os sapatos, jogando-os no canto. Faço o mesmo com a calça e
fico apenas com a cueca box. Entro no banheiro e me jogo embaixo do
chuveiro, a água morna me faz relaxar.
Enrolo uma toalha na cintura e seco os cabelos com outra, saindo do
banheiro direto para o closet. Escolho uma calça de moletom e abro a
gaveta, pegando uma camisa de algodão. Olho pelo espelho e vejo Anna
parada, encostada na soleira da porta.
Os braços cruzados, os cabelos presos em um rabo de cavalo. Está
sem nenhuma maquiagem, e aparenta estar mais pálida que o normal.
Desvio o olhar, pego a peça e a coloco. Anna se aproxima,
ajeitando-a sobre meu peito, engole em seco e acaricia o tecido.
— Você demorou. — Diz baixo, me olhando. — Onde estava?
A voz soa perigosamente carinhosa.
Quer mesmo saber? Conta para ela!
— Onde eu estou todos os dias, Anna? — Digo a olhando.
Conta para ela!
— Até uma hora dessas? — Volta a cruzar os braços. — Tinha
reunião?
Assinto devagar.
E que reunião...
Anna me fita com o cenho franzido e segura em meu rosto,
acariciando-o devagar.
— Me perdoe, Otávio. Por ser assim... Eu te amo tanto que o medo
de te perder me faz... Me faz sair de mim e perder o controle.
Como sempre.
— Eu coloco coisas na cabeça e isso me deixa desnorteada. Eu amo
tanto você. Tanto. — Diz se aproximando e esfrega o nariz ao meu. —
Eu te amo tanto, que eu fico louca só de pensar que pode me deixar.
— Olha as coisas que você mesma coloca na sua cabeça, Annabell.
Você também está colocando. Um par de chifres!
— Eu tenho tanto medo de perder você, Otávio. Tanto. — Ela diz e
me pega de surpresa ao me abraça.
Enterra o rosto em meu peito, e eu demoro para retribuir o aperto.
— Eu te amo demais, Otávio, não suportaria se me deixasse... Eu
preciso de você, tanto quanto o ar que eu respiro.
Fecho os olhos, suspirando. Essas mudanças de humor acabam
comigo.
Como uma pessoa pode mudar tanto, de uma hora, para a outra?
— Não vai me dizer nada? — Ergue os olhos, fixando aos meus. —
Por favor, diga alguma coisa, meu amor. Diga...
Fito os olhos lacrimejantes.
— Não seja assim, Anna.
A minha voz mal sai, de tão esganiçada.
— Meu amor por você não é suficiente? — Diz rápido. — Eu não
sou suficiente para você?
Chega até me sufocar.
— Acho que estamos exaustos, Anna. De tudo.
Ela nega e volta a me abraçar apertado.
— Você me ama, Otávio. — Fico em silêncio e respiro
pesadamente.
Ouço o choro baixo e ergo a mão, afagando seus cabelos devagar, é
inútil falar algo.
— Vamos descer, as visitas estão lá em baixo ainda. — Falo, depois
de alguns minutos em silêncio, afastando-a.
Anna nega veemente.
— Não quero... — Diz, erguendo os olhos.
O rosto todo molhado por lágrimas que descem sem parar.
— Anna... — Falo, olhando-a limpar o rosto.
— Não vou comer. — Engole em seco, me olhando. — Se você me
deixar, eu morro. Eu juro que me mato... E você vai se sentir culpado
pelo resto da sua vida!
Franzo o cenho, balançando a cabeça.
— Pare com isso, Annabell.
— Eu juro, Otávio.
— Anna? — Letícia bate na porta do quarto e entra devagar, já que
a mesma estava aberta. — O jantar está esfriando...
— Não quero comer. Não vou.
Passo a mão pelo rosto, suspirando.
— Meu amor, você precisa se alimentar. Diga para ela, Otávio.
Encaro-a morder os lábios e passo as mãos pelo rosto.
— Vamos jantar em paz. Ao menos por essa a noite. Será que pode
parar de agir assim?
A voz sai mais alterada do que o normal e a encaro arregalar os
olhos levemente. Letícia nos fita e me viro.
— Vamos deixar pra falar sobre isso mais tarde, vamos jantar. Tina
fez uma comida deliciosa. — Letícia sussurra e continuo no mesmo
lugar.
Fecho os olhos, arfando.
— Por você, eu vou jantar. — Sinto as mãos segurarem em meu
braço, apertando-o.
Os dedos finos e frios, a grossa aliança no dedo anelar me fazem
encara-la com um aperto no peito e uma confusão na mente.
Quando isso, se tornou esse tormento?
Descemos juntos e sorrio, olhando Luíza se sentar a mesa. Nathan e
Gaia estão do lado esquerdo, enquanto Letícia e Anna do lado direito.
— Michael é apaixonado por sua comida, Tina. — Minha sogra
sorri. — Quem não ama, né mesmo?
— Vovô Michael volta quando, vovó? — Luíza indaga, cortando o
pedaço de carne.
— Depois de amanhã. Foi resolver uns assuntos, amor...
Mexo na comida para lá e para cá, sentindo um bolo na garganta e
nenhuma vontade de comer.
— Não está com fome, meu bem? — Anna olha para mim e leva o
garfo a boca.
— Não.
— Como estão as coisas na empresa? — Ela sorri levemente,
voltando a agir como se fôssemos o casal mais feliz do mundo. —
Saudades de sentar em minha cadeira e trabalhar.
— Não pensa em voltar para a Perrot, Anna? — Nathan sorri e me
fita. — Acho que seria bom para ela voltar a trabalhar, não acha Otávio?
Afasto o prato devagar.
— A escolha de se afastar da Perrot, foi da Anna. Não acho que
seria bom para ela voltar agora.
Logo agora que encontrei uma amante lá?!
Seguro a taça nas mãos, bebericando devagar.
E realmente foi escolha dela.
Trabalhamos juntos por alguns anos, mas depois dos últimos
acontecimentos, Anna se afastou de tudo, e do trabalho não foi diferente.
— Otávio tem razão... Sinto saudades de trabalhar, mas acho que
não é o momento. — Anna coloca a mão sobre a minha, sorrindo.
— Vocês formam um casal tão lindo. — Letícia diz, nos olhando. —
Capa de revista.
— Os mais lindos. — Luíza completa sorrindo.
Gaia suspira e Nathan a encara, arqueando a sobrancelha.
Volto a espetar o garfo na carne, mas minha mente está longe.
Especificamente em alguém que não está aqui.
Mikaella
Meus pensamentos estão sendo apenas para ela, todos dela. No
sorriso largo, nos cabelos cor de fogo, na boca contornada, nas curvas
que eu adoro me perder.
É surreal o quanto ela desperta em mim, meus desejos mais insanos.
— Juízo, vocês dois. — Letícia sorri segurando a bolsa. — Vamos
marcar um jantar lá em casa.
— E iremos, né amor? — Anna me abraça, olhando-a.
Assinto levemente, sem falar nada.
— Se cuidem.
Nathan se despede de Anna e apenas aperta minha mão com frieza.
Suspiro, vendo-os entrar no carro e sair.
Me desvencilho de Anna, que me encara e entro, colocando as mãos
nos bolsos da calça.
— O que houve? — Indaga, fechando a porta.
— Vou dar boa noite a Luíza. — Respondo baixo, subindo os
degraus.
Entro no quarto, vendo-a dormir tranquilamente. Acaricio os longos
cabelos espalhados no travesseiro e beijo sua testa devagar.
Saio, fechando a porta atrás de mim e suspiro.
Luíza é meu ponto de paz nessa casa, a amo incondicionalmente, e
penso como vai ser o dia, em que terei que deixa-la.
Sinto que esse dia está mais perto do que pensei.

— Como estão as coisas, minha filha? Está se alimentando bem?


— Está tudo bem. — Sorrio, me sentando na cama. — Sempre comi
muito bem. A senhora sabe. E a Gabi? Como está?
— Gabriella está ótima. Estudando. Está tirando boas notas...
Sorrio, sentindo um aperto em meu coração de uma forma absurda,
saudades de ver o sorriso largo dela, que lembra tanto a nossa a mãe.
Diferente de mim, ela se parece muito com nossa mãe, desde os
cabelos loiros, ao modo doce e gentil. Gabi vai fazer aniversário em
breve. Sinto tanta saudade.
— Estou com saudade, tia. Muita.
— Nós também, amor.
— Mande um beijo pra Gabi. Tentarei ligar mais cedo... — Olho
para o relógio, me deitando a cama. — Já são quase dez da noite aí.
— Mikaella?
— Oi, tia Vera...
— Ele contratou um detetive para nos achar.
Meu coração dispara de imediato e me sento, segurando o aparelho
fortemente nas mãos.
— O quê?
— Betânia, aquela nossa antiga vizinha, me ligou. Ele esteve lá
hoje de manhã, está a nossa procura. — Sua voz sai arrastada e um
pouco preocupada. — Ele disse que quer ver vocês duas, e ela acabou
contando que você saiu do país e eu fiquei com a Gabriella.
Engulo em seco, balançando a cabeça.
— E se ele conseguir a guarda dela, Mia? Se ele nos encontrar?
— Nunca. Ouvia, tia? Ele não vai nos tirar ela. Eu vou trazer vocês
duas para cá e vamos ficar longe, de uma vez por todas, desse homem!
Passo a língua pelos lábios e as mãos pelos cabelos ainda úmidos.
— Não quero que fique nervosa, estamos bem.
— Ele nunca irá nos encontrar, tia. Eu juro.
— Eu sei, meu amor. Te amamos muito. Fique com Deus.
Fecho os olhos, suspiro e sorrio.
— Eu também amo vocês. Mais que tudo.
Finalizo a ligação e coloco o celular no colchão.
Sinto minhas mãos tremerem de uma raiva, que jamais achei que
pudesse sentir por um ser humano, e não é pelo fim do casamento dos
dois. Foi pelo modo que tudo aconteceu.
Do homem mesquinho e cruel que ele se tornou, do quanto o
dinheiro passou a ser o centro do seu mundo. O quanto ele se tornou
ganancioso e manipulador.
Ele poderia ter ido embora e não voltar nunca mais.
Mas parece uma assombração, pronto para me atormentar.
Quero distância do Michael.
Saio da cozinha segurando um prato com sanduíches e um copo de
coca-cola bem gelada. Me sento, pego o controle e aperto o play. O
sono foi embora, e com ele toda minha noção de que vou precisar
acordar cedo para ir trabalhar. Mordo o pão, com queijo derretido e
salame.
Está delicioso para caralho.
Igual o Otávio.
Abano a cabeça, beberico a coca-cola gelada e mordo o lábio,
suspirando.
Ele é uma delícia mesmo.
Sei que estamos indo para um caminho perigoso demais. Voltei para
casa sem calcinha e sem vergonha alguma na cara.
É tarde demais para voltar atrás?
Bastante.
Sobressalto, ouvindo a campainha soar e franzo o cenho.
Me ergo e pego o roupão, já que estou apenas de pijama. Abro a
porta devagar e suspiro ao ver Liana me abraçar de imediato.
— Lia... — Me assusto, ouvindo-a chorar copiosamente. — O que
houve?
Seguro em seu rosto, vendo o lábio cortado, os cabelos
desgrenhados e completamente suja.
— Liana... O que houve? — Disparo, vendo-a limpar o rosto. — O
que aconteceu?
— Eu... Caí. — Diz baixo, sem me olhar. — Eu posso... Ficar aqui?
— Caiu? Onde? Cadê suas chaves? — Disparo, olhando-a se virar e
abraçar o próprio corpo.
— Eu esqueci a bolsa... — Diz, arrumando os cabelos, me aproximo
e seguro em seu braço, obrigando-a me encarar.
— Foi o Dylan que fez isso com você!
— Não... — Ela nega, engolindo em seco.
— Não foi uma pergunta, Liana! Ele te bateu! Olhe seu rosto... —
Seguro em seu queixo e ela arregala os olhos, me encarando.
— Não! Eu caí, Mikaella! — Tira a jaqueta, mostrando os arranhões
nos braços, os cotovelos ralados e machucados.
Arfo, balançando a cabeça.
— Senta aí. Eu vou cuidar disso... — Corro no banheiro e pego a
malinha de primeiros socorros.
Eu sei que essa história está mal contada, muito por sinal. Sei que
Dylan é capaz de fazer certas coisas, que me enoja só de pensar. Me
sento a sua frente e ela me encara, enquanto limpo os arranhões com
soro fisiológico e passo um antisséptico.
— Desculpa estar perturbando você. — Me encara envergonhada.
Estamos deitadas na minha cama. Lia tomou um banho e vestiu um
pijama meu. Puxo o cobertor e sorrio, olhando-a. Não falei mais nada
sobre a tal queda, eu também não a forcei a falar.
— Você é minha melhor amiga, Li. E amigas cuidam uma da outra,
sempre...
— E para sempre. — Completa, apertando a minha mão. — Como
está seu emprego? E o seu chefe gostoso?
Escondo o rosto no travesseiro.
— O emprego está ótimo... E o chefe está a cada dia mais gostoso.
— Ela sorri e balanço a cabeça.
Mordo o lábio, suspirando.
Ainda sinto o gosto do beijo em minha boca, as mãos urgentes
passeando pelo meu corpo. Incrível, o quanto sinto meu corpo se
eletrizar, pelo simples fato de lembrar dos olhos fixos aos meus.
— Eu aceitei ser a amante dele... — Digo baixo e olho para o lado,
vendo Lia ressonar baixo.
Dou de ombros, enrolando as mechas escuras em meus dedos.
— E não sei o que será daqui para a frente. Eu sei que é errado, que
é horrível. — Fecho os olhos, suspirando. — Mas o perigo me atraiu.
Paro o carro bruscamente e abro a porta em um solavanco, os
motoqueiros carrancudos me encaram assim que piso firme no chão.
Conheço esse local muito bem.
Acordei mais cedo, apenas para ir para outro bairro. Liana ainda
estava dormindo quando sai, e foi melhor assim.
— Mikaella. — Fito o homem loiro, de cara fechada, se aproximar.
— Que honra ver você por aqui...
— Pena que eu não posso dizer mesmo, Gabe. Onde está o marginal
do seu amigo? — Ergo o queixo, enquanto ele sorri.
— Língua afiada, ruiva... Perigosa. — Diz, passando o língua pelo
lábios, me fitando de cima à baixo. — Posso me apaixonar, assim...
Passo por ele, batendo em seu ombro.
Foda-se que ele tem o triplo do meu tamanho.
— Ei! — Berro, olhando Dylan se virar para me encarar.
Os braços tatuados e os piercings no rosto são as únicas coisas que
o diferencia de Dean. É surreal o quanto duas pessoas idênticas, podem
ser tão diferentes.
— Quem é viva, sempre aparece...
— Escuta aqui seu marginal, seboso do caralho! — Bato com a mão
na moto estacionada e ele me encara. — Foi a última vez que você
encostou um dedo na minha amiga, você ouviu? Eu te mando para a
cadeia e mando jogar a chave fora! Seu delinquente!
Dylan sorri, erguendo os braços.
— Pirou? Ficou doida?
— Não. Ainda não. Mas eu vou ficar! — Disparo, com o dedo em
riste. — Eu sei que foi você... Eu sei... Eu vou estar na sua cola, Dylan!
Eu juro que te mando para o inferno, se tocar na Liana de novo!
— Jura, ruiva? — Sorri e se aproxima. — E se eu te falar que ela
gosta?
O empurro forte, vendo-o cambalear rapidamente e segurar em meus
braços, me olhando.
— Presta atenção com quem você está falando, sua...
— Hey, Dylan! Pega leve! — Gabe dispara, se aproximando.
— Você só cresce para cima de mulher, né seu... Seu pau no cu! —
Grito, enquanto Gabe me segura. — Me solta, caralho!
— Isso não te diz respeito, Mikaella! Eu me resolvo com a Liana!
— Vai tomar no seu cu! — Disparo ofegante. — Toca nela de novo,
e eu te meto na cadeia!
Me solto bruscamente, arrumo os cabelos e vejo-o sorrir de lado.
O ódio sobe de uma forma, que minha vontade é de mandar mata-lo.
Desgraçado.
— O recado está dado. — Aponto, o olhando.
Passo por Gabe e por ele, empurrando os dois. Me aproximo da
moto parada e a empurro.
— Sua...
Ouço os estilhaços da mesma e ele praguejar, enquanto Gabe o
segura.
Estico o dedo do meio e entro no carro, arrancando com força.
O ódio que tenho de Dylan é sem igual. O relacionamento dos dois é
cheio de altos e baixos. E mesmo sendo terrível, parece que Liana não
consegue se livrar.
Vou chegar atrasada no trabalho por causa desse filho de uma puta
do cão. Soco o volante, acelerando o máximo que eu consigo.
Observo meu reflexo no elevador, olho o relógio em meu pulso e
vejo que estou mais que uma hora atrasada.
Inferno.
Meus braços estão avermelhados e meus cabelos meio
desgrenhados. Arrumo-os rapidamente e procuro o casaco na bolsa, para
vestir até as marcas sumirem.
— Droga. — Disparo assim que as portas se abrem.
Leon, Otávio e Katy me encaram e sorrio.
— Bom dia. Desculpem o atraso.
— Nossa, Mia. O que foi isso nos seus braços? — Katy dispara e
balanço a cabeça.
— Estava brigando? — Leon franze o cenho.
Otávio me encara e sorrio, vestindo o casaco.
— Nada... Não foi nada.
— Foi sim. São marcas de dedos. — Otávio segura meu braço e
olho para as marcas dos dedos em minha pele.
Filho de chocadeira.
— O que foi isso? — Os olhos azuis fixam aos meus e engulo em
seco.
— Mikaella... Você está bem?
— Estou. Juro. Não foi nada demais. De verdade. — Disparo
rápido.
Leon arqueia a sombrancelha e cruza os braços.
— Vamos trabalhar? — Indago, olhando-os.
— Vamos. Tenho uns projetos para entregar ainda hoje. Vou para a
minha sala. — Leon sorri, me encara e sai.
— Qualquer coisa me chama, tá? — Katy sorri, me abraçando.
Otávio me fita assim que me aproximo da minha mesa, só agora
presto atenção em seu terno, que o deixa ainda mais...
GOSTOSO!
Não sou hipócrita em negar.
Está incrivelmente gostoso.
Todo de preto, usa uma camisa de algodão, de mangas cumpridas,
que ele dobrou até os cotovelos, sem gravata, nem colete. A tatuagem
toda a amostra, para o meu delírio.
A barba está por fazer, o perfume forte me deixa embriagada, me
fazendo encara-lo de imediato.
— Vem aqui. — Diz e entra em sua sala.
Observo os ombros largos e me ergo, andando em passos largos.
— Fecha a porta.
Me viro devagar, o olhando encostado na mesa, os braços cruzados
e me encarando fixamente.
Aí é covardia comigo. Olha os braços. Eu já disse que amo
braços?
Sim. Amamos.
— Vai me contar o que houve? — Franze o cenho.
— Nada de mais. — Torno a repetir e ele arquea a sombrancelha.
O fito de cima à baixo e sorrio.
— Precisa ficar tão sério?
Ele me encara, se aproximando e o fito.
— Fiquei preocupado. — A voz sai baixa e rouca, a centímetros do
meu rosto. Franzo o cenho assim que ele segura meu braço, os dedos
longos acariciando minha pele. — Não vai me contar?
Pisco algumas vezes e me afasto rapidamente.
— Doeu? — Pergunta, visivelmente preocupado.
Nego devagar.
Que isso, minha filha!?
O quê?
Esse pulo. Surtou?
— Estou bem. — Otávio se aproxima, afasta meus cabelos e sinto
meu estômago roncar. — Ai Deus... Eu não tomei café.
Ele me encara, balançando a cabeça.
— Também não tomei. — Diz, segurando em meu queixo levemente.
— Eu vou pegar algo... Você quer?
Ele espalma a mão, pedindo para esperar e dá a volta na mesa,
pegando o telefone.
— Ellie? Pode trazer um café da manhã reforçado para cá?
Nego rapidamente.
— Eu vou descer. — Digo, sem emitir som algum, vendo-o negar.
— Para duas pessoas. Isso. Ok. Estou aguardando. — Desliga o
telefone, me olhando.
— Eu ia descer. — O fito se sentar na cadeira e me chamar.
— Para que descer, se pode vir até aqui? — Diz sério, me puxando
para seu colo assim que me aproximo.
— Não dá tanto trabalho descer...
Os olhos me fitam e engulo em seco, sentindo a mão espalmar em
minha coxa. Arfo devagar e afago seu rosto com meus dedos. A barba
arranha um pouco os mesmos e subo devagar, contornando os lábios.
Otávio segura minha mão e a leva até os lábios, a beijando
levemente.
— É impossível me controlar perto de você.
Afasta meus cabelos e beija meu pescoço.
As mãos apertam minhas coxas, me fazendo arrepiar por inteira.
— Não se controle. — Sorrio levemente.
Otávio segura em meu queixo, erguendo-o e olhando intensamente
dentro dos meus olhos.
Minha capacidade de provocá-lo, é maior que a dele em se
controlar.
Mordo o lábio, enquanto digito alguns relatórios no computador,
organizo planilhas e a agenda do resto do dia, que por sinal, foi bem
cheia, assim como a semana inteira que passou. Reuniões, vídeos
conferências e visitas em obras quase todos os dias.
Otávio está trabalhando em um projeto de um aeroporto, que está
ficando incrivelmente lindo, porém demanda mais tempo e foco... Que
ele perde facilmente, quando eu estou por perto.
As idas ao meu apartamento são mais sigilosas, mesmo que
demoradas. Mas temos a empresa, que é nosso ponto de encontro maior.
Mesmo sendo perigoso.
Observo o e-mail que chega, aparecer na tela do computador e
sorrio.
Pode vir até aqui?
Preciso dos seus serviços de secretária.
Otávio.
Mordo o lábio, balançado a cabeça e digito rapidamente.
Que educado. Estou indo levar as planilhas.
Organizo a papelada que está em cima da mesa. O andar inteiro está
silencioso, já que Leon passa mais tempo na filial, junto com Katy.
Todos os dias eles vem aqui, mas só passam rapidamente.
A semana é corrida para ambos e nos finais de semana, eu ainda
saio com Lia para curtir as noites badaladas. Não tenho motivo algum
para parar a minha vida.
Mesmo gostando da companhia de Otávio, mais do que deveria.
Meu celular vibra e o pego, vendo o nome de Gael piscar na tela.
Saudades. Queria te ver esse fim de semana, topa?
Nos encontramos em uma balada rapidamente. Ele é fofo, lindo e
muito gostoso. Muito mesmo. Mas eu deixei claro que não vamos ter
nada demais. Só trocamos alguns beijos.
Abro a porta e entro na enorme sala, que está em silêncio. O cheiro
do perfume impregnado por todo local.
Jogo as planilhas em cima da mesa e o vento derruba algumas. Me
debruço sobre a mesa para pegar uma, que cai exatamente em sua
cadeira.
Sinto de imediato as mãos em minha cintura, o corpo colado em
minhas costas e a respiração em meu pescoço. Me viro, vendo-o sorrir
daquela forma que me dá calafrios.
— Quer me matar de susto? — Digo baixinho.
— Susto, não. Mas de prazer, é tentador.
Gozei.
— Senti sua falta hoje. — Ele sussurra baixinho. — Não diga que
não sentiu a minha?
— Não senti. — Digo, fingindo indiferença e me viro.
Mentira, senti sim. Muita.
Otávio balança a cabeça, mordendo o lábio e me olhando fixamente.
O cheiro desse homem impregnado em mim, é minha falência. As
mãos fortes nos meus cabelos me levam a loucura.
— Nunca te ensinaram a falar a verdade?
— Como pode ver, não aprendi.
Em um instante, ele me coloca sentada sobre a mesa, minhas pernas
enroscadas em seus quadris, enquanto sua boca toma a minha. A língua
passea por toda a minha boca. Um típico beijo foda, quando ela entra e
sai da boca, a fodendo literalmente. Me deixa completamente acesa.
Ele beija meu pescoço e aperta minha bunda por cima da saia.
— Deliciosa. — Ele diz sorrindo.
Ajeito a camisa e mordo o lábio.
— Eu sei.
— Diaba... Só não vou te... Foder agora, por que precisamos
resolver algo. — Diz, beijando a ponta do meu nariz.
— O que seria? — Pergunto.
— Preciso que ligue para minha imobiliária e peça para
conseguirem um apartamento, para ontem. — Desço da mesa ajeitando a
saia, vendo-o se sentar na cadeira. — Quero uma cobertura confortável,
e mais reservada. Não precisa de contrato de aluguel. Vou comprar.
Assinto rápido.
— Ok. Vou ligar. — Vejo seu sorriso se alargar.
Ele me lança um olhar pervertido e gira a cadeira, de um lado para
o outro.
— Temos um jantar de negócios hoje a noite, e você precisa ir
comigo. — Diz baixo e arqueio a sobrancelha. — Como minha...
Gostoso.
— Secretária...
Assinto, o olhando.
— O que devo usar em um jantar de negócios? O uniforme?
Ele me analisa por um tempo e nega.
— Não. É mais informal. Leon e Katy vão estar também e...
Arregalo os olhos.
A esposa também?
— Não. Ela nunca me acompanha em jantares de negócios. — Como
se lesse meus pensamentos, diz devagar.
— Graças a Deus. — Disparo e sorrio. — Digo... Que bom.
Balanço a cabeça e ele sorri.
— Ligar para a imobiliária, vestido para jantar de negócios. Ok. —
Anoto tudo mentalmente. — Só isso, senhor Perrot?
Vejo-o apertar o braço da cadeira, me olhando de cima à baixo,
como sempre faz, daquela forma que parece estar me despedindo
mentalmente.
— Pode sair mais cedo hoje. Eu mando o meu motorista te buscar.
— Eu vou de carro. Só falar o restaurante. — Nego a oferta. —
Dirijo muito bem.
— Vá de táxi, então. Dirigir a noite é um pouco perigoso.
— Mas algumas coisa, senhor? — Finjo seriedade
— Me surpreenda. — Otávio sorri, mexendo a caneta nas mãos.
— Pode deixar. — Pisco e me viro, pronta para sair.
— Mikaella?
Me viro de volta para ele e vejo-o me olhar com a sombrancelha
erguida.
— Nada.
Fecho a porta devagar e recolho minhas coisas em cima da mesa.
Pego meu celular e minha bolsa, colocando-a no ombro. Saio
rapidamente, pego meu carro e penso se tenho um vestido a altura de um
jantar de negócios.
Jogo as chaves no aparador assim que entro no meu apartamento.
Tenho que decidir o que vou vestir.
Vai nua!
Tentador. Mas é a trabalho.
Me jogo na cama sorrindo alguns segundos depois, e fecho os olhos,
suspirando. Tenho algumas horas para me arrumar ainda.
Abro o chuveiro, deixando a água lavar todo o meu corpo, lavo os
cabelos, já sabendo o penteado que vou fazer. Me enrolo no roupão e
tiro o excesso de água dos cabelos com uma toalha.
Abro o armário, olho alguns vestidos e puxo um cabide devagar.
É um modelo que eu amo, nem curto e nem longo. O decote é
aparente e justo. A saia desce justa e se abre nas na barra. Tem um belo
corte, que valoriza meu bumbum e minhas pernas.
É esse.
Ligo o secador e faço uma escova rápida, deixando as mexas ruivas
onduladas. Coloco-o de lado, prendendo com uma presilha prata de
borboleta, que foi presente de Liana.
Ela foi passar alguns dias na casa da mãe, mas nos falamos todos os
dias. Estou com tanta saudades.
Faço a maquiagem mais escura, capricho no batom vermelho e
termino de espalhar o blush, quando ouço o celular apitar.
Te encontro no restaurante, pedi para meu motorista te pegar. Às
vinte horas esteja pronta.
Otávio.
Deixo o celular sobre a cama, mordendo o lábio.
Não é estranho andar com o motorista que leva a esposa dele para
os lugares?
Mais estranho, é andar com o marido. O motorista é o de menos,
amiga.
Nossa. Valeu.
Ué.
Não falamos nada sobre nossas vidas particulares, o que eu sei da
vida de casado dele, é o que Katy conta, mesmo sem eu perguntar. Mas é
até melhor não sabermos muito sobre o outro.
Porém, percebo que Otávio tem um brilho apagado no olhar, como
se uma tristeza profunda o invadisse de uma forma absurda. Mesmo
quando sorri, ele tem aquele olhar.
Engulo em seco e calço as sandálias de salto alto preta e pego
a clutch da mesma cor. Coloco as chaves, meu celular, dinheiro e saio
rapidamente.
Vejo um senhor de meia idade parado, que acena assim que me ver.
Ele é meio calvo, baixinho e sorridente.
E eu que pensei que Otávio seria assim.
— Boa noite, senhorita Gonçalves. — Me cumprimenta.
O Audi preto estacionando, me faz engolir em seco de imediato.
— Boa noite, senhor..?
— Domenico, mas pode me chamar de Dom. — Ele fala, abrindo a
porta.
— Então me chame de Mikaella. — Digo sorrindo.
Entro rápido e observo ele dar a volta e ocupar o lugar do
motorista. Vamos conversando sobre vários assuntos, e minha surpresa
só aumenta, quando descubro que ele é casado com a governanta de
Otávio e tem um filho.
O carro para e observo o enorme restaurante, com portas e janelas
de vidro, é um dos mais caros da cidade. Dom abre a porta do carro e
saio, deixando a brisa bagunçar um pouco os meus cabelos.
— Tenha um ótimo jantar, senhorita Mikaella. — Diz gentilmente.
— Obrigada. Tenha uma boa noite. — Me despeço e passo pela
enorme porta de vidro. Sinto os olhares sobre mim e aperto a bolsa nas
mãos.
Que poder...
Temos.
O par de olhos atrai os meus de imediato. Otávio caminha devagar e
sorrio, o olhando. Meu corpo inteiro se convulsiona com uma
intensidade, que chega a me assustar.
Está de terno escuro e incrivelmente lindo.
Otávio tem o cenho franzido, enquanto me olha.
— Está linda. — Suspira.
— Digo o mesmo. — Mordo o lábio, enquanto me viro. — Estou
atrasada?
— Não. Eles que estão adiantados. — Caminha lado a lado comigo.
A mesa enorme e sofisticada onde estão quatro senhores e três
mulheres, junto de Katy, que dá uma piscadela singela, me olhando.
— Peço perdão pelo atraso.
— Digamos que valeu a pena. — O senhor sorri.
Sinto o olhar de Otávio queimar sobre mim.
— Essa é minha... — Ele dá um pigarro.
Amante.
— Secretária. Mikaella Gonçalves.
— Boa noite.
Ele puxa a cadeira e me sento, sentindo os olhares sobre mim.
Leon sorri, bebericando a taça de vinho e me olhando.
— Muito linda sua secretária, Otávio. Não sei se minha Valerie me
deixaria ter um secretária tão linda, assim. — O outro senhor fala, me
olhando.
— Denis, creio que Anna ainda não saiba. — Um outro homem mais
novo fala, me encarando fixamente.
— Philippe, pode deixar, que da minha vida, cuido eu. — Otávio
rebate sério.
Toma, distraído!
— Sua esposa deve ser muito insegura, Denis. — Leon sorri.
Meu rosto queima e Katy nega veemente. Sinto o olhar que o tal
Philippe me lança, e ele não me é estranho.
O encaro de volta, assim que ele ergue a taça.
Apenas observo Leon e Otávio falarem sobre os projetos que têm
em mente. Os dois completamente sérios e envolvidos na conversa.
Sinto um aperto em minha coxa e o polegar roçar de leve na parte
interna, engulo em seco, fitando Otávio conversar, como se não estivesse
fazendo absolutamente nada.
Aperto o guardanapo nas mãos.
— Está bem, querida? — A senhora sorridente me encara.
— Hã... Claro. — Digo baixo.
— Vamos começar a elaboração do projeto. Começar a criar os
relatórios, mapas e outros dados referentes ao planejamento, para
começarmos a execução do aeroporto.
— Igual a Construl Perrot, não encontram profissionais mais
adequados e capacitados para isso. — Leon assente, olhando o irmão.
— Eles ficam tão sexys quando estão nesse modo sério. — Katy
sussurra em meu ouvido.
Nem me fala.
Os canapés são servidos de entrada, junto de um vinho branco.
Ainda sinto a mão apertar minha coxa. Me mexo devagar, tentando não
fazer transparecer que o estou prestes a pegar fogo embaixo dessa mesa.
Você vai me pagar, Otávio.
— Os contratos vão ser enviados até quando?
— No máximo, amanhã. — Otávio se remexe.
— Então vamos logo dar início ao projeto. — O senhor Denis sorri.
— O mais rápido possível.
— Um brinde. — A senhora sorri, erguendo a taça.
— Estamos muito satisfeitos em ter a Construl Perrot na frente dos
nossos projetos, não é papai? — Uma loira sorridente ergue a taça. —
Ainda mais os renomados engenheiros, Leon e Otávio.
Diz, o olhando de cima à baixo.
Quem é essa galinha?
— Que seja um projeto incrível. — Leon se ergue.
Fazemos um brinde rápido, em comemoração ao fechamento do
contrato para a empresa. O jantar logo é servido, teppan de salmão,
muito bem acompanhados por shitake, legumes deliciosamente
temperados e vinho seco para acompanhar. A sobremesa é servida em
seguida, um Créme brûlée que é delicioso.
Me ergo e peço licença para ir ao banheiro. Entro no toalete e
encaro meu reflexo no espelho. As bochechas rosadas e a respiração
acelerada.
Abro a bolsa, pego um lenço, passando devagar pelo meu rosto e
meu colo.
Vejo a porta se abrir e Otávio entra, me olhando.
Os olhos estão vivos, a íris dilatada e parece tão ofegante, quanto
eu.
— O que está fazendo? — Indago assim que ele se aproxima.
O nariz quase colado, as respirações desreguladas e o juízo some de
repente.
— Enlouqueceu? — Digo baixo e ele enlaça minha cintura.
Sinto a ereção dura, junta do meu corpo e arfo.
— Desde a primeira vez que te vi. Você me deixou louco... —
Engole em seco, espalmando a mão em minha bunda.
Seguro na lapela do blazer, vendo-o me encarar.
— Está usando uma calcinha tão pequena, que mal consigo senti-la...
Encaro os lábios e acaricio a barba cerrada.
— Quem disse que estou usando uma?

— Mikaella... — Seguro o rosto nas mãos, vendo o sorriso largo


nos lábios avermelhados.
O vestido parece ter sido moldado para o corpo escultural, de tão
lindo e cheio de curvas que é. Estava ansioso e nervoso, para vê-la
nesse jantar.
Mas o nervosismo, foi substituído pelo tesão desenfreado, quando a
olhei descer do carro. Pedi a Dom para busca-la e ele saiu antes de mim,
já que vim em meu carro e não queria gerar perguntas desnecessárias.
— Você me mandou te surpreender...
— E desde quando você faz o que te mandam, Mia?
Sinto o cheiro delicioso que o corpo dela exala, espalmo a mão nas
suas costas, descendo pela bunda e apertando-a sem pudor algum.
É loucura. A mais insana loucura.
— Quando eu quero. — Ela sorri e sinto a fúria dos lábios contra os
meus, a língua brincando com a minha, com a mesma urgência que eu
estava sentindo.
As mãos se enfiam em meus cabelos, a língua enfiando em minha
boca, sugando meus lábios. Sinto o corpo junto ao meu, me fazendo
perder a noção de tempo e espaço.
— Oh, meu Deus! — Ouço a porta se abrir e uma senhora de meia
idade nos fitar. — Imorais!
— M-me desculpe. — Peço, enquanto Mikaella me puxa.
Prendo a risada, que teima em escapar a qualquer momento e
saimos, parando no corredor.
— Nunca fui flagrado em um banheiro feminino. — Solto uma
risada baixa, a olhando.
Arruma minha gravata e passa a mão em minha camisa.
— Tudo tem uma primeira vez. — Limpa o canto do meu lábio com
o polegar.
Sorrio, balançando a cabeça e segurando as mãos entre as minhas.
— Estamos parecendo dois adolescentes apaixonados.
Ela para, franzindo o cenho e engulo em seco.
— Digo... No auge do tesão. — Corrijo e ela assente, arrumando o
vestido.
— Vão sentir a nossa falta.
— Eu disse que ia fazer uma ligação, e fugi.
— Que feio, senhor Perrot. — Acaricia meu peito e suspiro. —
Vamos, antes que dêem a nossa falta.
Concordo, mas sinto o celular vibrar em meu bolso e Mikaella me
encarar.
— Eu vou na frente. — Sorri e sai em passos firmes.
As pernas torneadas equilibradas em saltos altíssimos, a deixam
ainda mais linda.
Seguro o aparelho e vejo o nome de Anna na tela.
— Oi, Anna.
— Oi... Atrapalhei o jantar?
— Não. Estou no banheiro. O que houve? — Passo as mãos pelos
cabelos devagar.
Ouço o suspiro cansado do outro lado e fecho os olhos.
Foi uma semana infernal, brigamos praticamente todos os dias, na
verdade ela brigou sozinha, porque eu já não me dou mais o trabalho
disso.
Já está passando de todos os limites.
Por isso estou realmente decidido a sair de casa e pedir o divórcio
o mais rápido possível. Não tem mais como adiar isso. Estamos sendo
tudo, menos um casal.
Não estou fazendo isso apenas por ter Mikaella em minha vida, mas
por mim e por Anna.
Não estamos vivendo, não somos mais sendo nós mesmos.
— Nada. Eu estou com saudades de você. — Sorrio, balançando a
cabeça ao ouvi-la falar. — Você vêm daqui a pouco?
— Não sei, Anna. Ainda estou em reunião.
Ouço o silêncio do outro lado e até penso que ela desligou.
— Volte logo. Estou te esperando. Eu te amo.
Franzo o cenho ao desligar a chamada.
Nem parece que brigamos pela manhã, nem parece que deu mais um
de seus surtos de ciúmes.
Me encaminho para a mesa, onde todos conversam. Leon me encara
de relance e volta ao assunto, que sequer presto a atenção.
Ainda sinto o tesão, com um misto de raiva apossar de mim. Nunca
perdi o controle dessa forma, em um restaurante ou em qualquer outro
lugar. Nunca nos agarramos em banheiros públicos, e nunca... Nunca
fiquei louco de ciúmes por um vestido que ela usou.
Sim. Eu fiquei.
Fiquei com ciúmes quando vi os olhares a cobiçando, assim que
desceu do carro. Senti ciúmes de imagina-la em outros braços.
É a coisa mais egoísta que já senti na vida.
"...Estamos parecendo dois adolescentes apaixonados..."
Acho que nem quando eu era adolescente, foi assim.
Rebecca Conrad sorri, me encarando descaradamente assim que
aperto sua mão, em um comprimento formal. Ela nunca disfarçou em dar
em cima de mim.
Nos despedimos de todos, comemorando mais um projeto incrível
para a Perrot. Meu irmão me encara e aperto sua mão, sorrindo.
— Que orgulho. — Leon bate em meu ombro. — Você é foda.
— Somos. — Ele sorri, piscando os olhos de uma forma exagerada.
— Obrigado, meninas. — Meu irmão encara Mikaella e Katy, que
sorriem nos olhando. — A presença de vocês alegraram a noite dos
nossos convidados.
— Que honra. — Katy fala.
— O mérito é de vocês. Parabéns. — Mikaella olha do meu irmão,
para mim.
Sorrio, olhando-a
— Eu vou beber algo com Katy ainda.- Leon diz, se aproximando de
mim e apontando para a mesa onde Katy voltou a se sentar.
Nos despedimos dela, que parece estar alegre por causa dos
coquetéis que tomou.
— Eu vou levar Mikaella em casa. — Digo sério e Leon nos encara.
Ela abaixa os olhos, sorrindo.
— Juízo, crianças. Não façam nada que eu faria. — Leon dá uma
piscadela e vejo meu carro se aproximar.
Aceno com a cabeça, abro a porta do carro e ela entra rapidamente.
Dou partida e um silêncio miserável se instala no carro. Afrouxo a
gravata, que parece me sufocar.
Fica nú!
Sinto ela me olhar, com a cabeça encostada no banco.
— Está sério. — Constata e sorrio de lado.
— Você que está calada. — Paro no sinal e sinto suas mãos afagar
meus cabelos levemente.
— Não sei o que falar... — Volta a falar.
— Não precisa falar nada.
Paro num estacionamento um pouco mais afastado, nem sei ao certo
por que parei. Se foi a necessidade do meu corpo de estar junto ao seu,
ou a mente que está tensa.
Ou tudo ao mesmo tempo.
— O que quer? — Ela pergunta passando, a língua pelos lábios.
Tiro o cinto bruscamente e ela faz o mesmo.
— Arrancar esse seu maldito vestido e foder você, até que sua
boceta fique dormente! — Disparo as palavras.
Mikaella sorri e monta em mim, espalmo as mãos nas coxas grossas,
apertando-as enquanto tomo a boca em um beijo alucinado.
Desço a alça do vestido e chupo o ombro desnudo. O
estacionamento é meio escuro, mas com a pouca luz que tem, me deixa
ver as sardas da pele alva. Volto a beijar sua boca e ouço os gemidos
entre meus lábios. Mikaella se afasta, me encara e tira minha gravata,
abrindo minha camisa em seguida e arranhando meu peito com as unhas.
— Desejei você a noite inteira. — Sussurro baixo, descendo o
tecido do vestido, vendo os seios saltarem livres.
Passo o polegar no bico enrijecido e ela geme baixo.
— Não mais, do que eu desejei você. — Ela suspira e minha boca
captura um seio rapidamente, enquanto aperto o outro em minhas mãos.
É um tesão insano, que me deixa fora de controle. Mikaella geme,
puxando meus cabelos e arranhando levemente minha pele. Aperto mais
suas coxas, enquanto ela se esfrega em meu pau, que literalmente baba
por ela.
— Otávio... — Murmura enquanto ergo o vestido, acariciando a
pele da boceta exposta.
— Por que você faz isso, Mia? — Meu dedo desliza, espalhando
sua lubrificação e o penetro.
Ela geme, sorri e suga meus lábios novamente.
A carne quente prende meu dedo, afasto seus cabelos, beijo seu
pescoço e enfio outro dedo, que ela rapidamente suga para dentro dela
com volúpia.
Gemo junto com ela quando sinto as mãos ágeis, abrirem meu cinto
e ajudo apenas a tirar o pau extremamente duro, que clama por ela.
Mia está quase que completamente nua, a não ser pelo amontoado de
pano que se tornou o vestido que ela usava, enrolado na cintura. Solto
um gemido rouco, olhando-a segurar o membro rígido nas mãos e descer
a carne macia para baixo.
Por trás do homem educado e paciente que eu sou, existe um tigre
faminto, que apenas ela é capaz de conter.
Chupo os seios e a encaro.
— Eu não trouxe... Camisinha... — A encaro me fitar.
— Eu tomo... Anticoncepcional. — Diz ofegante e encaro a boca
entreaberta.
Ela mesma toma as rédeas da situação e senta no meu pau, meus
olhos reviram automaticamente e gemo, olhando-a deslizar para baixo e
me apertar.
— Porra, Mikaella! — Digo entre dentes, beijando a boca com
fome.
As estocadas intensas são meu delírio, os corpos colados como se
fossem um só. A boca junto da minha, beijando, tocando e sentindo cada
sensação que ela me causa.
O carro parece ter se tornado pequeno para nós dois, o suor desce,
fazendo nossos corpos escorregarem, o que torna ainda mais delicioso.
Seguro cada lado da sua bunda e estoco firme na boceta, que se abre
a cada investida bruta, minha boca prende o seio na boca, sugando-o.
— Mia... — Seu nome sai em forma de súplica e ela sorri.
Continua rebolando alucinadamente e meu interior se convulsiona de
prazer. Senti-la assim, sem barreira, é surreal. Sinto a carne me prender,
os músculos me apertar em cada investida.
As coxas me apertam, sorrio e seguro em seu pescoço, uma estocada
forte a faz gemer... Outra, e eu vou me desfazer dentro dela.
Mas Mikaella é ágil e o quadril parece ganhar vida própria, ela
desce rebolando e esfregando o corpo ao meu, dou uma última estocada
firme e sinto meu pau esticar, e ela sorri, gemendo e gozando
loucamente.
Gemo baixo também, tomando a boca em um beijo violento,
enquanto meus jatos a preenchem.
— Otávio...
— Mia... — Rosno e continuo bombeando os últimos resquícios do
gozo.
Encosto a testa a sua, tomando o fôlego que perdi.
Os corpos suados, o cheiro de sexo espalhado no carro me faz
sorrir, olhando-a me encarar lindamente.
— Meu Deus... Você é uma delícia. — Digo, segurando em seu
queixo.
Encosto a testa a sua, vendo-a engolir em seco.
— Eu nunca fiz... Sem camisinha... Com ninguém. — Diz com o
cenho franzido.
Beijo seus lábios rapidamente, abraçando-a.
— Minha ruiva. — Fito os lindos olhos azuis.
Engulo em seco, sentindo o coração disparar, quando um sorriso
preguiçoso e relaxado toma conta do seu rosto.
— Fizemos uma bagunça aqui... — Olha envolta do carro. —
Enorme.
Mal sabe ela, que a bagunça maior, está no meu coração.
— Ele não chegou. Ele não chegou. — Fico repetindo e andando
de um lado para o outro, com as mãos tremendo de um ódio.
— Annabell... Ficar assim não vai adiantar de nada! — A voz de
mamãe soa baixa, tentando me acalmar. — Você precisa se controlar,
minha filha...
— Eu não quero me controlar! Eu quero o meu marido! — Grito
fechando os olhos. — Ele nunca demorou tanto... Eu sinto que tem algo
errado mamãe...
E tem, eu sinto.
— Ele está com alguém... — Sussurro mais para mim mesma, do
que para ela.
Afago meu peito, engolindo em seco enquanto sinto minhas mãos
tremerem, em um misto de raiva, ódio e ciúmes.
— Não fale besteiras, Annabell! — Mamãe rebate e fecho os olhos.
— Eu sinto. Otávio anda aéreo e está chegando tarde... — Ando de
um lado para o outro. — Mamãe, eu não posso perde-lo! Não posso
perder o meu marido...
— Você não vai! Otávio te ama... — Fecho os olhos e suspiro
devagar. — Você precisa reerguer seu casamento, conquistar seu
marido de novo.
— Eu o perdi, mamãe.
— Não repita isso, Anna! Não repita, ouviu?
Circulo a aliança em meu dedo e mordo os lábios devagar. Me sento
no sofá perto das enormes janelas de vidro do quarto.
— O que faço, mamãe? O que faço?
— Mostre para ele a mulher que é. Imponha seu lugar de esposa.
Preste atenção, Annabell...
Fecho os olhos, ouvindo-a falar com exatidão tudo que eu devo
fazer.
Passo as mãos pelos cabelos, desesperada.
Eu não posso perde-lo.
Nunca. Nunca.
São vinte anos de casados... Uma vida inteira. E eu o amo... Amo
aquele homem mais que a mim mesma.
Otávio sempre fez todos os meus caprichos, minhas vontades...
Sempre me dando os melhores presentes e viagens... Me fez sua rainha,
em nosso castelo de conto de fadas.
Mas eu o quero para mim. Apenas para mim.
Sem família. Sem irmãos. Sem ninguém.
Só para mim.
— Ouviu, Anna? — A voz de mamãe me tira dos devaneios e
suspiro. — Imponha seu lugar de esposa, não entregue seu casamento
de bandeja!
Fecho os olhos, suspirando.
— A senhora acho que depois de tudo que aconteceu... Se ele
descobrir, mamãe...
— Ele não vai! Nunca! Ouviu? Tire isso da sua cabeça, Anna!
Pare de falar besteiras!
— Ele nunca vai me perdoar.
— Filha... Tome um banho, um remédio e descanse! Amanhã
estarei aí... Pare de colocar coisas em sua cabeça!
— Eu vou tentar. Beijos, mamãe.
— Beijos, docinho. Fique bem, meu amor.
Encerro a chamada e coloco o aparelho no sofá, sentindo meu
coração disparar.
O medo às vezes paralisa mais do que qualquer coisa.
Ainda lembro de cada detalhe do dia em que coloquei meus olhos
nele...
Tinha apenas dezesseis anos quando o vi pela primeira vez. Senti o
coração disparar, e foi amor a primeira vista. Vi aqueles olhos azuis nos
meus, um rapaz de corpo forte e sorriso largo.
Decidi ignora-lo, pois achei que se tratava apenas de mais um pé
rapado que ficava me cercando. Mas logo mamãe me contou que se
tratava de
Otávio Miller Perrot, um dos herdeiros do império Construl Perrot.
Fomos os primeiros, um do outro, com mistos de sensações que não
podíamos esquecer jamais. Nossos corpos se pertenceram e alguns
meses depois nos casamos. Perfeito. Digno de um conto de fadas. Toda
Nova York cobriu o evento, a aliança de duas grandes famílias.
Aí engravidei a primeira vez...
Ficamos eufóricos com a gravidez, nosso primeiro filho. Nosso
herdeiro. Mas infelizmente não durou muito, perdemos o bebê em um
aborto espontâneo.
Perdi o nosso elo. O elo que iria me prender a ele para sempre.
Tentei por várias e várias vezes engravidar, e demorei mais tempo
do que imaginei. E eu queria tanto. Queria tanto dar o filho que ele tanto
sonha, o bebê perfeito, a criança que ia carregar nosso sobrenome, e
teria que ser perfeita.
Assim como nós dois.
Estávamos em uma crise horrenda em nosso casamento. Otávio
parecia mais distante e ia me deixar...
Mas ele não poderia me deixar se eu tivesse um filho. Um filho
perfeito, que ele sempre sonhou e quis.
Tomei vitaminas, injeções e consegui o que tanto queria.
Engravidei.
Ia ser tudo perfeito.
Mas não foi nada como pensei. Nada.
Senti ódio. Senti raiva. Senti tudo de ruim que poderia sentir por...
Por aquilo.
Odiei aquela criatura que crescia em meu ventre.
◆◆◆

— Eu não o quero, mamãe... Eu não quero! Eu não O QUERO! —


Grito desesperadamente e deixando o choro me dominar.
— Anna!
— Não... Mamãe... Não quero essa coisa! Eu não quero! — Arfo
desesperada, vendo-a se aproximar.
Os exames em minhas mãos, o exame detectando que nosso filho
teria uma... Uma má formação.
Eu não o queria. Não o queria. Eu não posso ter essa coisa.
— Anna...
Limpo as lágrimas que descem molhando meu rosto, e sinto o
movimento intenso em meu ventre.
— Resolva isso, mamãe. Eu não posso ter essa... Essa coisa.
Ela me encara e engulo em seco, enfiando as unhas na palma da
minha mão.
— Annabell...
— Se não fizer, eu faço.
◆◆◆

Pego o celular, discando o número rapidamente e colocando no


ouvido.
Caixa postal.
Jogo o celular na parede, fazendo o aparelho se espatifar ao chão.
— Ele não pode me deixar! — Passo as mãos nos cabelos, fechando
os olhos. — Não pode...
Otávio é tudo para mim. É exatamente tudo. Nunca tive olhos para
outro homem, além dele mesmo.
E sei o quão fiel ele era a mim. Ao nosso casamento.
Mesmo sabendo que ele não é mais o mesmo depois da morte de
Benjamin.
Abro a porta do quarto, saindo pelo corredor descalça, empurro a
porta do quarto de Luíza devagar e sorrio, me ajoelhando ao lado da
cama e vendo-a dormir tranquila.
Acaricio seu rosto, e os olhos se abrem devagar.
— Oi minha pequena...
— Está tudo bem tia Anna? — Pergunta esfregando os olhos e se
sentando na cama.
Nego devagar, limpando meu rosto.
— O que houve? Está doente?
— Não, amor. Seu tio ainda não chegou.
Luíza franze o cenho e seguro em suas mãos, apertando-as.
— Ele foi para um jantar de trabalho...
— Eu acho que ele quer ir embora para sempre. Nos deixar, Luíza.
E eu estou com medo. — Engulo em seco, vendo-a arregalar os olhos.
— Ele não vai, tia... Eu perguntei a ele, como a senhora mandou. Ele
disse que não vai sair daqui.
— Mas ele vai, Lu. Eu sinto. — Sinto as lágrimas descerem e as
limpo rapidamente. — Otávio vai nos deixar, vai embora e vamos ficar
sozinhas aqui.
Abraço-a e sinto ela me apertar forte.
— Eu não quero que o tio Otávio vá embora! Eu não quero... —
Luíza me encara e afago seu rosto. — O que eu faço? O que...
— Você tem que falar isso para ele amor... Que ele não pode ir
embora. Que ele não pode nos deixar.
— Eu vou falar. Eu prometo. — Diz e sorri, me fazendo lembrar de
imediato de Rose.
A mesma pureza que minha irmã tinha, ela herdou. O jeito meigo e
amável.
Otávio ama muito a Luíza, e é isso que ainda o mantém aqui. Eu
sinto.
Mas eu sou capaz de tudo para mante-lo aqui. Sou capaz de fazer
qualquer coisa, para continuar com o meu casamento.
E uma mulher que ama, é capaz de fazer de tudo por amor.
— Agora durma. Amanhã conversaremos com ele. — Beijo sua
testa e ela deita novamente. — Te amo muito, tá?
Luíza assente sorrindo e segura em minha mão.
— Eu também.
Sorrio e fecho a porta do quarto devagar. Desço as escadas e encaro
o lugar vazio e silencioso.
— Anna? A senhora precisa de algo? — A voz de Tina soa e me
viro, negando com a cabeça.
— Não. Otávio saiu com Dom?
Ela nega devagar.
— Ele está demorando. Ele nunca demorou tanto assim. — Digo,
esfregando uma mão na outra.
— Reuniões de trabalho menina. Sempre demoram. — Tina suspira.
— Quer um leite com canela? Um suco?
— Não, pode dormir. Obrigada. — Ela assente e se retira.
Pego um copo com água e subo as escadas. Ando de um lado para o
outro bebericando devagar.
Estou sufocada.
Solto a respiração, estalando os dedos.
Seja fria. Seja imparcial.
Vejo os faróis do carro e o barulho do mesmo se aproximando. Sinto
as lágrimas caírem e as limpo rapidamente.
Vejo-o descer segurando o blazer no antebraço, está sério e lindo...
Tão lindo que dói só de olhar.
Me deito na cama e puxo os lençóis, me aconchegando nos mesmos,
alguns segundos depois a porta se abre e o fito.
— Oi... Demorou. — Sussurro, olhando ele entrar no quarto.
Me sento bocejando e ele me encara.
— Ainda acordada?
— Acordei ainda agora para tomar um remédio e vi que ainda não
tinha chegado. Foi tudo bem?
Otávio assente tirando a gravata e sorrio.
— Está lindo. — Sussurro engolindo em seco.
Amo aquela barba cerrada, os braços fortes. O amo por inteiro.
— Vou tomar um banho. — Ele sai, me deixando sozinha.
Ouço a porta do banheiro se fechar e apenas quando ouço o
chuveiro se abrir, eu me ergo, pego o celular e colocando a senha. Mas
dá senha inválida.
Fecho os olhos, suspirando.
Otávio não é assim.
É óbvio que tem a mão daquele demônio do Leonel.
Calma, Anna. Calma.
— Você não vai se ver livre de mim tão facilmente, Otávio.
E eu passo por cima de qualquer um, se for preciso.
Arfo em baixo do chuveiro, deixando a água morna escorrer pelo
meu corpo, passo as mãos pelos cabelos, abrindo os olhos devagar,
vendo Anna parada de braços cruzados na soleira da porta.
Está em silêncio, me olhando atenta, como se uma atitude em falso,
fosse faze-la perceber o que eu tinha feito a pouco tempo atrás.
Transou feito louco com a secretária?
E foi uma loucura deliciosa.
Uma sensação indescritível de prazer, pecado e desejo se apossam
do meu corpo ao sentir o dela. Mikaella rouba o meu juízo.
Eu adorava o jeito que ela faz isso.
— Posso fazer companhia para você?
Franzo o cenho, vendo-a descer as alças da camisola e entrar no
box, antes que eu pudesse falar qualquer coisa.
O silêncio se torna constrangedor quando ela se aproxima, pegando
o frasco de sabonete e colocando o líquido em suas mãos.
— Anna... — A fito espalmar a mão em meu peito, espalhando
devagar.
— Você está ficando mais forte. — Sorri, descendo a mão pelo meu
abdômen. — Mais do que já era...
As mãos descem e a seguro, olhando-a.
Os olhos claros me encaram e nego veemente.
— Não.
Anna me fita, enquanto desligo o chuveiro e pego o roupão,
vestindo-o rapidamente. Ela continua me olhando, sem falar
absolutamente nada.
Passo as mãos pelos cabelos, vendo-a sair do box, pegar a toalha e
se enrolar.
— Otávio... O que foi? Não me quer mais?
Não ficou claro, minha filha?
— Estou cansado, Anna. Eu quero dormir. — Entro no closet, pego
uma boxer, vestindo-a rapidamente.
— Está cansado de mim? É isso? — Ela sussurra, me abraçando por
trás. — Meu amor...
Eu quero acabar com essa situação. Encerrar de vez tudo.
Encerra logo. Tudo.
— Otávio... Meu amor... — Suspira, me virando e segura em meu
rosto. —Vamos tentar de novo... Por favor...
— Tentar o que, Anna? — Pergunto baixo. — Não vê que não tem
mais nada? Que não somos mais nada?
Ela nega veemente.
— Não...
— Não tem mais nada, Anna! Nada...
— Não acabou! Não...
A gente sente quando tudo acaba. E meu Deus, eu estou exausto com
tudo isso.
— Vamos ter outro bebê... Eu te dou o filho que você sempre quis.
Eu faço... Eu juro... Eu...
Fico uns segundos observando-a.
— Um bebê não vai concertar isso aqui, Anna! — Grito.
E não vai mesmo.
Não dá para concertar, o que não tem mais concerto.
— Eu sei que ainda estamos abalados com a morte de Ben. Mas
nada melhor que salvar nosso casamento com um filho, um fruto do
nosso amor. — Ela diz me olhando e percebo a voz embargar.
— Deixe nosso filho descansar em paz, Annabell!
— Otávio...
Arfo, balançando a cabeça, enquanto seguro em seus braços
levemente.
— Deixe Benjamim descansar! Por Deus! — Ela me encara,
arregalando os olhos. — Uma criança não é um objeto para prender ou
segurar um casamento! Duas pessoas têm que ficar juntas, porque
querem! Porque se amam!
— Mas eu te amo! Eu te amo, por mim e por você!
Diz aos prantos, dobrando os joelhos e abraçando os mesmos
enquanto soluça desesperada.
— Anna... — Me aproximo enquanto ela continua chorando.
— E-eu s-só queria te dar um filho, só isso. — Ela diz entre
soluços. — Eu só quero te fazer feliz... Eu... Eu sinto muito... Por tudo...
Eu também sinto.
Sinto muito por ele não ter sobrevivido.
Isso não é culpa sua!
Eu sei. Mas eu sinto como se fosse...
Ela usa isso contra você!
— Não me deixe, Otávio. Não me deixe, por favor. — Ela implora,
segurando em meu rosto e me puxando. — Por favor. Por favor.
Fecho os olhos, sentindo suas lágrimas molharem meu peito e ela
fica assim por incontáveis minutos, me ergo devagar, pegando o
calmante e um copo com água, entregando-a.
Onde será que nos perdemos?
A culpa é minha por estarmos infelizes?
Fomos felizes, tivemos momentos que ficarão para sempre
guardados.
Mas é apenas isso...
Ficarão as lembranças.
A ergo no colo, tirando-a do closet e a colocando devagar sobre a
cama. Abro a gaveta, pego uma camisola e ela se senta, erguendo os
braços enquanto passo o tecido por eles.
— Fica aqui comigo. — Ela puxa a minha mão, me olhando. — Por
favor...
Está deitada e sonolenta pelo remédio.
— Eu não consigo viver sem você. Eu não sei viver sem você.
Ela se aninha em meu peito e suspiro, ouvindo-a, sem conseguir
falar nada.
— Você prometeu que seria para sempre... Você prometeu, Otávio.
Ouço-a ressonar baixo e suspiro quando vejo que dorme
tranquilamente.
— Só você não percebeu que a gente não existe mais, Anna. Só
você.
Saio do banho pouco mas de seis da manhã, visto o terno cinza,
calço os sapatos e pego a pasta com os projetos e plantas.
Mal consegui pregar os olhos essa noite. Anna ainda está dormindo
e pelo efeito do remédio, vai dormir por mais algumas horas.
Foram prescritos pelo médico, logo após a perda de Rose e de Ben,
são apenas para acalmá-la.
Saio do quarto e paro na cozinha, onde Tina está preparando o café.
— Bom dia, Otávio, não sabia que ia sair tão cedo. — Tina sorri e
balanço a cabeça.
— Bom dia. Nem eu sabia que ia sair tão cedo assim. Faça-me um
favor, acorde Luíza e peça para Don levá-la na escola. Tenho que sair
um pouco mais cedo hoje. — Digo, pegando uma fatia de pão e comendo
com pressa.
— Não vai esperar pelo café? — Ouço Tina perguntar quando viro
de costas.
— Não. Como qualquer coisa no trabalho. — Digo, saindo. — Não
venho almoçar. Bom dia, Tina.
Pego as chaves e entro no carro, conecto o bluetooth do carro no
meu celular e disco o número de Leon.
— Hum.. - A voz de sono ecoa do outro lado. — Quem morreu?
— Onde você está, Leon?
— Na minha casa, ué!
— Você tem duas casas, a da mamãe e a sua. Em qual está?
— Na dá mamãe! - Ele resmunga do outro lado. — Óbvio.
— Estou chegando.
Desligo sem esperar pela resposta.
Era para estar nos braços da ruiva, agora.
Vou ver ela daqui a pouco...
Eu falei nos braços... Vê-la é outra coisa.
Reviro os olhos para os meus próprios pensamentos e volto a andar
rápido. Mikaella está cravada em meus pensamentos, de todas as formas
possíveis. É quase impossível não pensar no par de olhos magníficos, o
toque dos lábios dela são como uma droga. É como se meu corpo só
ligasse, quando ela está por perto.
Sem falar nos peitos, na bunda...
É um tipo de paz, quando lembro do sorriso, do nariz empinado e da
língua afiada.
Me dou conta do sorriso aberto que carrego nos lábios e fito a
estrada movimentada.
Ihhhhh fodeu. FODEU.
Que?
Sorriso bobo. Fodeu.
É raro eu vir na casa dos meus pais sozinho e no meio da semana,
digamos que do nada. Estaciono o carro em frente ao enorme jardim,
enquanto os seguranças se aproximam.
— Quando Leon disse que viria para cá, não acreditei. — Mamãe
me abraça assim que entro no hall de entrada.
Beijo seus cabelos, sorrindo.
— Não queria te acordar, mamãe.
— Não acordou, sabe que Oliver acorda cedo e o humor dele é
péssimo se não tomar um café da manhã reforçado, antes de ler o jornal.
- Ela sorri e me encara.
A semelhança dela com Leon e Lúcia são gritantes, os cabelos
negros e os olhos azuis.
— Tem bolo de laranja com mel, que você adora.
— Impossível resistir. - A beijo sorrindo.
— Meu Deus! Achei que ia ter que marcar horário, para ver meu
irmão mais velho e preferido. — Lúcia desce as escadas e me abraça.
— Todo mundo acordado para me receber?
— Isso é um evento. — Ela pisca.
— E o Roger? — Pergunto, vendo seu sorriso se expandir e os
olhos brilharem. — Estão bem?
— Ótimos. — Lúcia sorri e aperto sua mão entre as minhas.
Lucy e Roger namoram há um tempo. Ele é sócio e melhor amigo de
Leon, o que acabou desencadeando um relacionamento entre os dois.
E a felicidade dela, é a nossa.
— Que milagre te ver por aqui... — Leon leva a xícara aos lábios,
sorrindo.
— Não posso tomar café com meus pais? — Afasto a cadeira e meu
pai sorri, sentado na ponta da mesa.
— Não se Anna souber. — Leon alfineta.
— Leon. — Mamãe o repreende.
Reviro os olhos, enquanto me sirvo de café e meu pai começa a
perguntar coisas da empresa.
Meus irmãos tem seus respectivos apartamentos, mas ainda dormem
na casa dos nossos pais, e entendo o lado deles.
Nada como colo de pai e mãe para acalmar, né mesmo!?
— Estou te achando tão triste, maninho. — Olho para Lúcia, que
leva uma garfada de torta a boca.
— Isso é a bruxAnna, sugando a felicidade dele. — Leon arfa.
— Leonel, respeite a sua cunhada. — Mamãe o fita e ele revira os
olhos.
— Vamos lá em cima? Quero te mostrar um projeto... — Leon
indaga e assinto.
— Claro, volto logo.
Lúcia arqueia a sobrancelha, nos olhando.
— Projeto é? Hum... Dizem que mulher é fofoqueira, mas homens
são três vezes pior. — Minha irmã sorri.
— Quando você volta pra França, Lucy? — Leon dispara.
— Nunca vi irmãos tão chatos. — Mamãe diz sorrindo.
Subo as escadas devagar, com Leon logo a frente. Fomos felizes
aqui, em nossa infância. Muito.
A casa foi reformada, mas sem perder os detalhes que nossos pais
gostam tanto. Ele entra em seu quarto e fecho a porta rapidamente.
Leon senta na poltrona e cruza as pernas na altura do tornozelo.
— Anda logo, você não veio aqui só pra olhar pra minha cara. —
Meu irmão dispara, me olhando. — O que a bruxa da cinderela fez
agora?
Me sento e solto o ar.
— Ela está pior. A cada dia que se passa, Leon. — Desabafo, me
sentando e o encaro. — Estamos definhando... Ela foge do assunto, ela
se esquiva, porque sabe que estou a um passo de pedir...
— Ela é manipuladora, Otávio! Ela se esquiva e dá uma de pobre
coitada... Anna nunca foi boba! Eu não aguento passar vinte minutos no
mesmo ambiente que ela, você merece o Oscar, por aguentar aquela
peste!
Leon se levanta, suspirando.
— Mas você precisa se erguer e resolver essa situação, porque
você sabe que tem outra pessoa nessa história.
Passo as mãos pelo rosto, engolindo em seco.
Mikaella é livre demais para se prender a mim.
Ela tem aquela liberdade, aquele ar de dona de si, que eu adoro.
Desmedida e envolvente...
— Mesmo sabendo que se a bruxa descobrir, ela vai querer se
internar... —Ele sorri. — Então conta logo pra ela.
Ele fala e fica sério.
— Brincadeira.
Passo as mãos pelos cabelos, suspirando.
— Meu relacionamento com Anna acabou antes de Mikaella entrar
nisso. —Encaro meu irmão e sorrio. — Mas com ela é tudo mais... Mais
forte, Leon.
Meu irmão franze o cenho.
— Mesmo sabendo que ela é muito dela, para ser minha.
— Você está de quatro pela ruiva! — Leon estala os dedos, me
encarando. — Está doido por ela!
Você só percebeu isso agora!?
Cala a boca!
— Leon...
—Está doidinho por ela, sim! — Ele sorri, balançando a cabeça. —
Meu Deus!
— Eu preciso resolver essa maldita situação. O mais rápido
possível. Não por Mikaella... Mas por mim! E por Anna também!
— Vai pedir o divórcio?
— Não tem outra alternativa. São vinte anos juntos, preciso deixá-la
amparada...
— Manda ela ir para o inferno, se deitar com o Satanás! Vinte anos
de uma vida perdida. Anna nunca te fez bem. Nunca! Só um cego não ver
isso, e o pior cego, é aquele que não quer ver. Para de se sentir o pai da
Anna, você é apenas o marido!
Ele aponta o dedo em minha direção.
— Marido esse, que ela sempre fez de gato e sapato! Você precisa
viver Otávio... Já passou da hora!
Coloco a pasta na mesa assim que Mikaella entra, segurando o iPad
nas mãos.
— Se tiver alguma reunião hoje, pode cancelar. — Digo, dobrando
as mangas da camisa até os cotovelos.
As palavras de Leon rodearam a minha mente durante todo o
percurso até a empresa, pelo olhar que minha mãe lançou, teremos uma
conversa em breve.
Eles sempre respeitaram as minhas escolhas e decisões. Mesmo
assustados por eu ter decidido casar aos dezoito anos, fizeram tudo que
podiam e me apoiaram. Sempre estiveram alí, em todos os momentos.
Fito os olhos azuis da cor do céu, que me encaram.
Está mais linda ainda, que os outros dias.
Como se fosse possível.
Os cabelos caem sobre os ombros, aquelas mechas avermelhadas...
As sardas no rosto, a boca desenhada e perfeita, que parece me convidar
a cada segundo.
— Aliás, cancele todos os compromissos. — Digo, olhando-a
assentir.
— Cancelar tudo?
Assinto levemente.
— Tudo. — Engulo em seco e a encaro morder os lábios. —
Desmarque tudo.
— Tudo bem. — Diz rápido e sorri. — Vou fazer isso...
Me ergo e dou a volta na mesa, a puxo rapidamente e ouço sua
risada baixa.
— Ficou louco? — Diz contra meus lábios, ainda rindo.
— Acho que sim. — Seguro em seu queixo. — Quer vir comigo?
Mikaella franze o cenho, arqueando a sobrancelha.
— O quê? Para onde?
Engulo em seco, dando de ombros.
— Não faço ideia. Só quero sair. Para qualquer lugar. — Dou de
ombros. —Vem comigo?
Ela me fita e nega com a cabeça.
— Otávio... Eu estou em horário...
— Eu sou seu chefe e estou te dando folga.
Mikaella suspira e morde os lábios, me olhando.
A fito ainda sorrindo e é adorável o quanto os olhos ficam apertados
quando ela sorri. Fica ainda mais linda, do que já é.
— Vamos. Por favor...
— Tudo bem. Eu vou. - Dá de ombros e sorrio, enlaço sua cintura e
cheiro seu pescoço, sentindo o perfume que me inebria. — Mas com uma
condição...
— O quê?
— Eu sou a guia turística.
— Está nos país errado... — Brinco e ela me dá uma piscadela.
— Topa?
Assinto levemente.
— E para onde vai me levar, senhorita Gonçalves?
— Surpresa, senhor Perrot.

Fito a paisagem aconchegante da cidade e o quanto nunca vou me


cansar de dizer que é linda. Mesmo sabendo que o Brasil está no topo,
de tão bela.

A cidade, os pontos turísticos que enchem os olhos de quem vê.


Sinto falta das praias, do sol escaldante e do calor da cidade.
Passeamos pelo Battery Park, é uma visão incrível, o píer de onde
partem alguns cruzeiros oficiais. O rio tem uma vista espetacular para
New Jersey.
É loucura sair em meio ao horário de trabalho, mas Otávio parecia
tão sufocado. Tão desesperado. Que nem hesitei em aceitar seu convite
inesperado.
Saímos em carros separados. Deixei o meu estacionado alí próximo
e saímos no seu carro. Para não levantar tantas suspeitas.
Passeamos, rimos e observamos as pessoas andarem pelos enormes
e belos parques.
Mas agora estamos indo ao nosso último ponto "turístico".
Otávio sorri assim que estaciona o carro.
— Eu não acredito que...
— Bem vindo ao mercadão. — Bato palmas, o olhando.
Estamos em frente ao Chelsea Market, um mercado que tem uma
variedade de restaurantes e quiosques diferentes.
— Você nunca entrou? — Indago, enquanto descemos do carro.
Ele nega rapidamente.
— Não. Não é o lugar que eu costumo fre... Vir.
Balanço a cabeça.
Eu estou levando meu chefe/amante milionário para um mercadão.
Só você mesmo, Mikaella.
— Aqui tem as melhores comidas. Bolos, doces e chocolates. —
Digo empolgada e ele sorri me olhando.
— Pelo seu sorriso, tinha que ter boas comidas mesmo.
Sorrio e o empurro levemente.
— Você não vai se arrepender. Pronto, senhor?
— Vamos lá. - Otávio balança a cabeça e entramos, olhando o
enorme corredor com quiosques e pessoas por todos os lados.
O cheiro de comida logo invade nosso olfato, mesmo sendo um dia
de semana, está bem movimentado. O que não é nada comparado ao fim
de semana, que é o dobro de pessoas.
Otávio usa um casaco grande e as mãos estão enfiadas nos bolsos,
enquanto passamos perto dos quiosques. Paramos em frente
ao Berlin Currywust e o cheiro de comida alemã nos invade. Tem as
melhores salsichas apimentadas.
Mas foi no Los Mariscos que almoçamos e não foi nenhuma
surpresa, já que Otávio é apaixonado por frutos do mar.
O fito segurar o cardápio, olhando atentamente para o mesmo, está
sério e engulo em seco, o olhando.
Ele sorrindo é uma perdição. Mas sério... É algo surreal de lindo.
Fito a tatuagem e mordo os lábios.
A barba cerrada e por fazer o deixava ainda mais lindo, eu adoro a
fricção que ela faz em minha pele, arranhando-a.
Transamos loucamente no carro, e capotei em um sono delicioso
depois que ele me deixou em casa.
O fato de Otávio ter sido o primeiro homem que transei sem
preservativo, me deixou... Incomodada, eu diria. Nunca tinha feito isso.
Mesmo tomando anticoncepcional, eu me prevenia, sempre.
Entrego o cardápio e ele faz o mesmo, me olhando.
— Pedi um ceviche. - Passa a língua pelos lábios e o encaro.
— Pedi um polvo grelhado com batatas. — Tamborilo os dedos,
vendo-o olhar ao redor.
Turistas passeiam pelo local, algumas pessoas sentadas nos bancos,
comendo também.
Nossos pratos chegam alguns minutos depois e o cheiro exala.
Sorrio, batendo palmas e a primeira garfada veio acompanhado de
um: Hummm.
Perfeito.
Comemos conversando sobre coisas banais. Otávio parece querer
arrancar de mim, mais do que eu estou disposta a contar. Mas também
não insistiu.
Queria pagar o almoço, mas saiu quase como um insulto a sua
pessoa. Ele mesmo tirou o cartão e, antes que eu pudesse falar algo,
pagou. Revirei os olhos por tal ato.
Nos levantamos e vamos dar uma outra volta pelo local, um pequeno
jardim ao redor fez Otávio parar e observar algumas crianças, que
brincavam com seus pais.
Eu não pergunto muito sobre a sua vida.
Nem é o certo, né amor?!
Ao menos sei que ele não tem filhos, por que obviamente, Katy teria
me contado.
O fito sorrir enquanto me encara e andamos calados, lado a lado
pelo corredor. Paro em frente ao quiosque de chocolate, sabendo que é o
preferido de Liana.
Escolho uma caixa de bombons e uns chocolates avulsos.
— Prova. — Seguro o bombom de nozes e Otávio me fita. — É uma
delícia.
Ele abre a boca e morde o bombom, me encarando. Levo o pedaço a
boca e limpo meu polegar.
— Não é uma delícia?
— É. Igual a você. — Diz baixo, com aqueles olhos intensos
cravados aos meus.
— Eu sei. — Rio, o fitando. — Eu vou levar duas caixas.
— Quatro. — Ele diz, fitando o vendedor que assente, pegando as
embalagens e me olha. — Minha irmã ama chocolates.
Hummmm... Ele tem irmã.
— Achei que tinha só o Leon de irmão.
Ele nega sorrindo.
— Ele é gêmeo. - Diz e encaro. — Mas acredite, ele odeia. Diz que
não aceita duas cópias dele no mundo.
Sorrio. Típico de Leon.
Abro a carteira e ele nega veemente.
— Guarda isso. — Diz rápido, pegando algumas notas e entregando
ao vendedor. — Obrigado.
— Eiii! Eu ia pagar pelos meus chocolates. — Ele me olha
sorrindo. — Estou falando sério. Você pagou o almoço, que eu ia pagar.
E agora paga meus chocolates.
— Eu desconto do seu salário. — Diz, mordendo o lábio devagar.
Arqueio a sobrancelha, cruzando os braços e o encarando.
— Não sou acostumada a ser bancada por...
— Eu não estou te bancando, Mikaella. Estamos dando um passeio.
Apenas.
Ele me puxa e franzo o cenho.
— Não seja boba. — Diz baixo, afastando meus cabelos do rosto.
— Você fica linda brava, sabia?
Nego devagar, sentindo a mão enlaçar minha cintura.
— Aliás, você é linda de todos os jeitos.
Sinto o aro do anel em seu dedo em meu rosto e semicerro os olhos.
Estar com ele, faz meu corpo inteiro queimar, de uma forma absurda,
intensa e louca.
E eu gosto de me sentir assim.
Estou com o queixo em seu peito nu contorno o desenho da tatuagem
em seu braço lentamente, é uma espécie de tribal, linhas se encontrando
por toda a pele, vai do pulso, pega todo o braço e finaliza no pescoço.
Ainda estamos ofegantes, nus e suados em minha cama.
Chegamos do mercado e não demorou muito para ficarmos pelados
e com a boca grudada uma na outra.
Nossos corpos unidos, enquanto estava em seu colo, as pernas
rodeando seu quadril, enquanto ele me penetrava fundo e segurava em
minha bunda, apertando-a.
Ele fica louco.
— Doeu muito? — Pergunto e ele sorrir preguiçosamente.
— Um pouco. Foram longas horas. — Diz e segura em minha mão,
levando-a aos lábios. — Nunca quis fazer uma?
Nego com a cabeça.
— Não. Mas acho lindo quem tem... — Ele suspira e solto um
pequeno grito, quando ele rola, ficando em cima de mim.
Aperta minha coxa e beija meu ombro.
— Ficaria linda com uma... — Morde o lábio e eu arqueio a
sobrancelha.
— Aonde?
Ele franze o cenho e suspira.
A mão grande acaricia meu pescoço e olho para ele sorrindo,
sentindo a mão descer para o meu quadril... Bem próximo da virilha.
— Aqui... A chama de um fogo bem acesa. Assim como você.
A voz rouca perto do meu rosto.
— Um fogo? — Pergunto rindo e ele assente.
— Você conseguiu fazer a planta da plataforma? — Leon
pergunta e aperto a lápis entre os dedos.
— Consegui. — Junto os papéis, fecho a pasta e o entrego. —
Depois você vê direito esses relatórios e manda para Katy, para enviar
para o departamento.
— Fechado. — Leon segura a pasta. — Vai na obra ver como está?
— Vou. Vou com a Mikaella. — Fecho o notebook e fito meu irmão
sorrir de lado.
— Hummmm...
— Nem vem. — Balanço a cabeça. — Não esquece de mandar os
relatórios para a Katy.
Leon assente, piscando.
— Ok, irmãozinho. E a Lu? Melhorou da febre?
Passo a mão na testa e assinto.
— Está. Levamos ao médico, mas não foi nada grave.
Foi uma semana bem corrida. Luíza ficou doente do nada. Uma febre
que surgiu em um piscar de olhos, sem uma causa específica.
A preocupação foi constante e sequer consegui vir trabalhar. Passei
aqui apenas duas vezes, para pegar uns projetos, mas trabalhei em casa
durante esses dias em que ela não estava bem.
Mikaella ficou sempre me mandando os contratos e cuidando de
tudo, junto com Leon e Katy. Mal nos vimos.
Conversamos apenas por e-mail, e tentei ao máximo não demonstrar
o quanto senti falta dela.
Do sorriso. Do cheiro. Do corpo...
Ela me viciou.
De um jeito que não sei explicar, a forma de pensar em seu sorriso
largo, me deixa inquieto. Ansioso.
Foi uma semana estranha, sem vê-la.
Fiquei quase o tempo inteiro no escritório de casa. Anna não teve
crise de ciúmes e nem nenhum surto, por incrível que pareça. Eu estava
sob sua vigilância.
Pego o blazer, as chaves e a carteira e saio da sala. Tenho que ver
como está a obra de um aeroporto e não tem como adiar mais. Abro a
porta e vejo-a bebericar o copo do café enquanto organiza a agenda.
— Vamos? — Chamo e ela assente.
— Claro. Estava te esperando. — Diz, se erguendo.
Encaro-a de cima à baixo e vejo a saia na altura dos joelhos,
completamente justa, deixando sua bunda em um tamanho excepcional;
blusa em um decote quadrado, que deixa o busto alto.
Ela fica linda até quando não faz questão.
— Leve o Ipad, vamos ver algumas coisas. — Aperto o botão do
elevador.
Ela levanta a bolsa sorrindo.
— Está tudo aqui.
As portas se abrem e entramos calados, encaro-a enquanto mantém
os olhos fixos nos números, então começamos a descer.
— Senti sua falta essa semana. — Sussurro e ela me encara
mordendo o lábio inferior devagar. — Senti muita...
Seguro em sua mão, apertando-a devagar entre as minhas.
Sorri de leve balançando a cabeça e me afasto quando as portas se
abrem. Descemos juntos e vamos em meu carro para a construção, que
fica há alguns minutos de distância da empresa.
Leon está me ajudando com o projeto, mas gosto de ver o andamento
com meus próprios olhos. Ficamos em silêncio durante todo o percurso.
Tiro o cinto assim que estaciono o carro, perto de onde acontece a
obra.
— Está tudo bem? — Indago, franzindo o cenho.
— Está. — Diz baixo e seguro em sua mão, beijando o dorso. — E
você? Como está?
Dou de ombros, olhando-a.
— Estou bem, agora. — Seguro em seu queixo, acariciando-o
devagar.
Afasto os cabelos que caem sobre seu rosto, afagando-o e a beijo.
Sinto sua mão na minha nuca quando aprofundo o beijo, minha
língua em uma luta frenética com a sua, num desespero louco.
É como um vício.
Eu sou completamente viciado nessa mulher.
Sorrio quando ela mordisca meus lábios.
— Bobo.
— Só quando estou com você.
— Vai se atrasar...
Nego, enfiando os dedos entre seus cabelos avermelhados e
sedosos, que caem sobre os ombros com sardas, que eu adoro beijar.
— Vamos. Temos algumas coisas para resolver. — A
beijo rapidamente e saio do carro.
Dou a volta e abro a porta do carona para ela, que ajeita a saia ao
descer, então entramos. Os olhares voam diretamente para ela.
— Otávio. — Sorrio quando vejo Dante se aproximar com um
sorriso largo. Seus olhos cravam nos de Mikaella sem ao menos
disfarçar. — Como vai?
Estende a mão à sua frente.
— Dante Mesquita.
— Mikaella Gonçalves. — Ela sorri, apertando sua mão.
— Que prazer... — Dante a encara e eu fico olhando-o. — Como
vai, Otávio?
— Bem. — Solto um pigarro, enfiando as mãos nos bolsos da calça.
— Vim dar uma olhada em como andam as coisas.
— Estão ótimas. A obra está a todo vapor. — Ele suspira, morde o
lábio e sorri para Mikaella. — Sua secretária é linda demais, Otávio...
Devo agradecer?
Vou quebrar a mão dele.
Para com isso.
Ele está dando em cima dela!
Ela é livre.
Um caralho que é!
— Obrigada. — Ela responde, assentindo.
— Vamos? — Digo rápido. — Temos muitas coisas para olhar.
Sinto um incômodo e engulo seco.
Entrego um capacete para ela e coloco o meu. Pego as plantas,
analisando todos os cálculos e linhas. Sorrio quando vejo Violet se
aproximar, é uma das poucas amigas da faculdade que ainda tenho
contato.
Seu sorriso largo, os longos cabelos negros e cacheados são sua
marca registrada.
— Olha quem resolveu aparecer. — Me abraça.
— Como está, Violet?
— Linda e maravilhosa. — Dá uma volta, mostrando os saltos altos
e o vestido esvoaçante. — Como sempre.
— Essa é minha secretária. Mikaella, essa é a Violet.
— Muito prazer.
— O prazer é meu. — Mia responde sorridente.
Violet a encara e volta a me fitar, suspirando.
— Vamos lá ver? Está perfeito. Surreal de lindo. — Chama e logo a
sigo.
— Aposto que sim, dei meu melhor. — Olho para Mikaella, que
morde os lábios. — Vamos?
Assente e vem para o meu lado.
Observo a construção, que está ficando incrivelmente linda. Cada
detalhe pensado e calculado. Mas ainda vai demorar uns meses para
ficar pronto.
Cada construção é como se fosse um pedaço de mim. Analiso as
plantas, abrindo-a sobre a mesa, fazendo apenas uns pequenos ajustes
para a entrada do aeroporto.
Ouço a risada baixa de Dante e ergo os olhos, vendo Mikaella na
sua frente. Os dois parecem conversar sobre algo. O capacete a deixou
ainda mais sexy.
— Ouviu o que eu disse? — Volto meu olhar para Violet, que sorri.
— S-sim... Não. O que disse?
— Que deveríamos colocar mais uma coluna no centro.
Assinto levemente, analisando.
— Perfeito. Acho que vai ficar ótimo. — Aperto o lápis nas mãos,
suspirando e fito os dois novamente, se aproximando.
— Estava aqui falando para Mikaella, o quanto sua beleza deixou
nossos funcionários impressionados. — Dante olha de relance. — Até
eu mesmo.
— Novidade, né Dante?! — Violet sorri. — Mas tenho que
concordar que a sua beleza é cativante.
— Obrigada. — Percebo suas bochechas corarem e sinto um
incômodo em meu âmago.
Aperto o objeto de madeira em meus dedos.
Ciúmes...
Calado.
Eu sou fruto da sua imaginação.
Foda-se.
— Podemos ir? — Violet pergunta, me olhando.
— Claro.
Passamos a manhã toda e um pedaço da tarde, na construção.
Almoçamos por aqui mesmo, até resolver as pendências que tinha.
A arquiteta vai vim para planejar logo após. E talvez vai ter que ser
outra, já que minha irmã fez uma pequena viagem com o namorado.
— Foi um prazer, Mikaella. Até outro dia. — Violet aperta sua mão,
sorrindo.
— Digo o mesmo. O prazer é todo meu. Até mais.
Abro a porta do carro e Mikaella entra.
— Gostei muito dela. — Violet diz, me olhando. — E pelo visto,
você também...
— Violet... — Ela pisca e dá um sorriso.
— Não dá para disfarçar, Otávio. Até mais.
Ela entra em seu conversível sorrindo e engulo em seco. Entro no
carro, e olho pra Mikaella, sentada e rindo.
— O que foi? — Pergunta me olhando.
— Nada. — Digo e dou um beijo rápido em seus lábios.
Manobro o carro e saio, pisando firme no acelerador. Sinto o
incômodo me tomar de uma forma que não imaginei de forma alguma.
Engulo em seco e entro na rua ao lado da empresa e Mikaella me encara
com olhar interrogativo.
— Pra onde estamos indo? — Franze o cenho.
Sorrio, apertado o volante.
— Surpresa. — Digo e me viro para encara-lá.
Não é tanto uma surpresa.
Paro em frente ao enorme prédio branco, estacionando. Ela continua
me olhando e sorrio.
— Outra construção? — Indaga e nego devagar.
— Não. Vem? — Estendo a mão, que ela segura, me olhando ainda
curiosa.
O prédio é enorme e sofisticado. Subimos pelo elevador e vamos
direto para a cobertura, o olhar atento dela a todo instante.
As portas se abrem e entramos na cobertura.
— Você mora aqui? — Pergunta arregalando os olhos, mas logo
depois balança a cabeça. — Claro que não...
Sorrio fraco, por sua própria resposta.
É uma cobertura de 228m². Dois quartos com suítes, sala ampla,
cozinha e uma enorme piscina no terraço.
Está todo mobiliado e já fechei com a imobiliária.
— Gostou? — Indago, enquanto ela encara todo o ambiente.
— É lindo. — Suspira, então pego as chaves.
Ela volta a me olhar e o sorriso se desfaz.
Me aproximo segurando as chaves e seguro em sua mão, colocando-
as nela.
— É nosso. — Digo naturalmente.
— Você enlouqueceu, Otávio!? — Dispara e nego devagar.
— Talvez. — Sorrio, olhando-a.
— Como você... Compra uma cobertura e... Como? O que...
A puxo para mim e aperto em meus braços.
— Seu apartamento não tem segurança nenhuma e esse é mais
confortável. Digo, beijando seu pescoço.
Ela me encara, balançando a cabeça.
— Eu não vou me mudar. — Diz séria. — Eu não...
— Não precisa se mudar, Mikaella. Pode ser nosso... Lugar. Só
nosso.
Ela suspira, olha para baixo e depois para mim de novo.
— Um pouco exagerado, não acha? — Diz baixo.
Nego veemente, a erguendo no colo e colocando-a sobre o sofá.
— Você é doido.
Doido por essa bocetinha maravilhosa.
Passo o polegar pelos lábios rosados, beijo as pálpebras, a ponta do
nariz, as bochechas, até que paro nos lábios, afundando em um beijo
devastador.
Afundo minha língua em sua boca quente e é como provar o paraíso,
é estar no paraíso.
Sabe os sete pecados capitais?
Ela é o oitavo.
Mostro todo o ambiente para Mikaella, que me encara incrédula. Um
dos banheiros é enorme e tem uma grande hidromassagem.
Ela ainda está relutante, mas é mais confortável. Seu apartamento é
minúsculo, o box pequeno me deixa desconfortável.
Quero que ela se sinta bem em um lugar maior, com mais conforto.
Sinto o celular vibrar insistentemente no bolso da calça, pego o
aparelho, fitando o nome de Anna piscar na tela.
— Vou ver o terraço. — Mikaella diz se afastando.
— Oi. — Atendo e passo os dedos nos lábios.
— Oi... Onde você está, meu bem? — Ela pergunta do outro lado.
— Liguei para a empresa e avisaram que tinha saído.
— Estou saindo da construção. — Respondo. — Aconteceu algo?
Como está Luíza?
— Está bem. Foi para a casa de mamãe.
— Ok. — Me viro, passando as mãos pelos cabelos.
— Por que está falando comigo assim? Estou te atrapalhando?
— Estou ocupado, Anna. — Fecho os olhos, ouvindo a respiração
pesar.
— Você sempre está. — Diz em um sussurro e percebo
nitidamente a raiva em seu tom.
— Te ligo mais tarde.
— Certo. Um beijo. Te amo.
Deslizo o dedo e desligo o celular, guardando no bolso de novo. Me
viro, vendo Mikaella suspirar.
— Temos que ir.
Não temos, não.
Franzo o cenho e ela sorri levemente.
— Tudo bem. Vamos.

Aperto os dedos das mãos e mordo os lábios. Me sento na cadeira e


ligo o computador. Otávio entrou para sua sala assim que chegamos, em
um silêncio ensurdecedor.
Tamborilo os dedos na mesa, sentindo uma inquietação terrível. Não
sei distinguir bem o que é, mas é frustrante. Muito.
Ainda estou processado o fato de Otávio ter comprado uma
cobertura enorme e de luxo, para nossos... Encontros.
Eu me senti incomodada por ter sentindo falta dele nessa semana
corrida, me senti incomodada por não ter recebido uma mensagem
sequer.
Isso já passou da linha imaginária que eu adicionei.
Não se apegue, Mikaella.
Mas por um momento, pensei nas palavras de Liana no meio da
semana.
— Ele não mandou mensagem? Não disse o porque não está indo
para a empresa? — Lia pergunta, mastigando algumas castanhas.
— Não. Nem quero saber. — Dou de ombros. — Não quero entrar
demais na vida dele, Lia!
— Mas no corpo, ele entra que é uma maravilha... — Ela ri e franzo
o cenho.
— Idiota.
— Sério, Mia. Você mesmo diz que ele tem uma expressão de
tristeza no olhar. Que gosta da companhia dele.
— E gosto... Mas enquanto ele só é meu chefe gostoso, eu consigo
me livrar. — Paro olhando-a. — Eu sei que é errado, eu nem conheço
ela, mas me sinto culpada...
Cruzo as pernas e Liana me encara.
— Mas... Eu não quero ser o pivô de uma separação. — Dou de
ombros. — Não quero entrar nessa história, mais do que já entrei...
— Então cai fora desse barco, antes que você se envolva mais do
que deve. — Lia me fita e franzo o cenho.
Mais do que devo...
Transar feito uma louca, já deve ser um envolvimento master.
E você gosta.
Gosto. Seria hipócrita se falasse ao contrário.
Otávio é intenso. Toca meu corpo, não só com as mãos, mas com os
olhos, me despindo a alma. A boca é urgente.
É aí que mora o perigo.
— Mia? — Olho para Katy, que se aproxima, me tirando dos
devaneios. — Uns papéis para Otávio verificar.
Pego as pastas, colocando-as sobre a mesa.
— Ele está na sala?
— Está. — Assinto, enquanto ela se senta na minha frente.
Katy me fita e sorri, cruzando as pernas.
— Vocês se deram muito bem. — Ela diz de repente e a fito.
— É... — Junto os papéis e mordo os lábios. — Muito.
— Isso é muito bom. Temos que marcar de sair juntas. — Ela diz me
olhando. — Sinto falta de pegar uma balada com as amigas.
— Podemos marcar... Hoje! Conheço uma boate maravilhosa!
— Ai, perfeito, Mia! Moro pertinho daqui. — Ela bate palmas
eufórica.
Katy é muito extrovertida, além de ser linda. Eu sinto que ela estava
prestes a me perguntar algo sobre Otávio.
— Olá meninas. — Leon se aproxima sorrindo e passa rapidamente
o braço pelo pescoço de Katy, que sorri.
— Olá. — Cumprimento de volta.
— Meu irmão está?
— Sim.
— Onde ele estaria, Leon? — Katy retira seu braço e ele balança a
cabeça.
— Fugindo... — Ele sorri de lado e me encara. — Daquele ser
humano que nem deve ser mencionada aqui.
Fito Leon, que não faz questão nenhuma de disfarçar sua antipatia
pela esposa do irmão. Não é a primeira vez que o vejo fazendo piadas
ela.
— Pobre Otávio. — Katy completa. — Luíza está melhor da febre?
Franzo o cenho, olhando-a.
Quem deve ser Luíza?
— Está sim. Deve ter sido emocional.
Ele me encara e sorri, apontando para os papéis na minha mesa.
— É para entregar ruiva?
— Sim. Katy acabou de me entregar.
— Vou lá. Tchau, meninas. — Dá uma piscadela rápida e entra
sorrindo.
— Gostoso. — Katy sussurra, suspirando.
Leon é muito bonito, tanto quanto o irmão.
Mas parece ser do estilo "lobo mau".
Katy se despede e sai. E mesmo sendo no meio da semana, optamos
por ir a um barzinho depois do expediente, apenas para relaxar.
Pego o celular, mandando uma mensagem para Liana, que não perde
um saideira por nada. Sei que ela vai adorar Katy e vice versa.
Organizo a agenda para o restante da semana, já que Otávio tinha
cancelado alguns compromissos. Digito alguns relatórios e pequenas
planilhas, que ele vai precisar para as reuniões.
O celular vibra e um número privado aparece, deslizo o dedo,
atendendo e colocando-o no ouvido.
— Alô?
O silêncio do outro lado da linha me deixa incomodada.
— Alô? — Torno a repetir, ouvindo apenas a respiração. — Alô?
Franzo o cenho e a chamada cai.
Só o que me faltava.

Tamborilo os dedos na mesa e fecho o Ipad. O resto da tarde foi


tranquilo e Leon ainda continua com Otávio em sua sala.
Já está próximo do meu horário de saída, então guardo as canetas e
beberico o café com creme que Katy trouxe para mim, antes de sair.
O telefone toca e atendo rapidamente.
— Venha até aqui por favor, Mikaella. — A voz grossa de Otávio
soa do outro lado.
— Estou indo.
Pego o Ipad, me ergo, bato na porta e entro quando manda. Ele e
Leon estão sentados e a mesa de vidro está repleta de papéis
espalhados.
— Pois não?
— Mikaella, meu doce. Queremos pedir sua opinião sobre um
jantar. — Leon sorri sem mostrar os dentes.
Otávio balança a cabeça e me encara.
— Pode se sentar. — Diz, apontando para a cadeira ao lado do seu
irmão.
Me sento devagar, enquanto o fito sentado em sua cadeira,
balançando-a de um lado para o outro.
Fito as mãos apertarem o braço da cadeira, as mangas da camisa
dobradas até os cotovelos e os botões do peito aberto.
Gostosooo...
— Eu não mordo, ruiva. — Leon sorri de lado.
Balanço a cabeça, sorrindo.
— O que precisam?
— Temos um jantar com um cliente muito importante.
— E eles preferem jantar em família, nada de restaurantes. — Leon
explica revirando os olhos e assinto. — Então, pensei em alugar um
lugar mais confortável...
— Seria bom. — Concordo.
— Só que são clientes antigos. — Otávio me encara.
— E os jantares eram sempre na casa do Otávio.
O encaro, engolindo em seco e fito Otávio passar as mãos pelos
cabelos.
— Se eles preferem... Algo casual... Acho que na casa, seria mais
confortável. — Digo baixo, os olhando.
Imagina o clima, amiga. Péssimo.
Otávio me encara e Leon suspira.
— Claro. — Ele sorri. — Mas o "problema", é aquele, sabe...
Otávio balança a cabeça enquanto Leon diz, fazendo aspas com as
mãos.
— Ele vai começar. — Otávio sorri e para, de repente.
Ouço a porta se abrir e me viro, sentindo o sorriso morrer ao ver
uma loira parada na porta, nos olhando.
— Pode dizer que o problema, sou eu, Leonel.
Engulo seco e olho pra Otávio, que olha para mim.
O macacão solto e branco esvoaçante, os cabelos curtos e a
maquiagem leve no rosto magro. Nem precisa falar quem é.
Anna Perrot, bem aqui na minha frente!
O silêncio se instala na sala e engulo em seco, enquanto Otávio se
ergue e arregala levemente os olhos.
— Ficaram calados por que? — A voz fina sussurra e cruza os
braços na altura do peito.
Leon arqueia a sobrancelha, olhando-a.
— Deve ter sido por que você chegou, cunhada. — Dispara
sorrindo.
Seus olhos de imediato voam para mim, me encarando de cima à
baixo, com um olhar que exala nojo e antipatia.
Ela realmente parece ter saído de uma revista de moda. É magra e
alta; e mesmo sabendo a sua idade, não aparenta tê-la. Está bem
maquiada e ela é bonita. Muito, por sinal.
— E você, é? — Arqueia a sobrancelha me olhando.
Amante do seu marido!
— Essa é minha secretária. — Otávio dá a volta na mesa, se
aproximando dela. — Está tudo bem?
Ela sorri e dá um rápido beijo em seus lábios. Encaro Leon, que
revira os olhos.
— Claro, só vim visitar meu marido. Não posso? — Diz baixo e ele
assente, franzindo o cenho.
Ela caminha devagar e coloca a bolsa no sofá, volta a me encarar e
me ergo, sorrindo
Tá explicado por que ele te quer, ela nem tem carne para apertar.
Para com isso.
Ela está de olhando com cara de nojo.
Ela me fita, erguendo a sobrancelha.
Vara pau!
— Mikaella Gonçalves. — Me apresento quando seus olhos cravam
nos meus.
Os olhos tão verdes, como a pedra de esmeralda em seu colar, me
encaram fixamente. Como se ela estivesse lendo a minha mente.
Que foi, meu amor?
— Não preciso me apresentar, porque já sabe quem sou... —
Estende a mão com a grossa aliança dourada em seu dedo anelar,
sorrindo. — Annabell Perrot.
Aperto a mão levemente e ela franze o nariz, se voltando para
Otávio, que a encara.
— Não me disse que viria aqui. — A encara, levemente
desconfortável com a situação.
E quem não está?
Ela sorri, o encarando e espalma a mão em seu peito.
— Vim pra ir jantar com você, amor. Nunca mais saímos como
antes. — Ela diz baixo, segurando em seu rosto. — Fiz uma reserva no
nosso restaurante preferido.
Volto a me sentar e Leon se remexe, desconfortável, me encara,
umedecendo os lábios.
Eu sabia que isso ia acontecer, mais cedo, ou mais tarde.
Mas porque diabos, estou tão incomodada?
Que inferno!
— Estou muito ocupado, Anna.
— Eu vim para te esperar. — Ela sorri. — Lembra quando íamos
daqui, direto para o Four Seasons?
— Já terminou o lenga lenga? Temos assuntos sérios a tratar. —
Leon dispara. — Que saco.
Anna se vira, o fuzilando.
— Por favor, Anna...
— Vamos lá. Vou me sentar e ver meu marido trabalhando. — Ela
sorri e se senta do meu lado.
Cruza as pernas e me encara de relance. Otávio da a volta e se senta
em sua cadeira, enquanto Leon suspira.
— Eu acho que te conheço de algum lugar, querida. Dispara com o
cenho franzido, enquanto balança os dedos minuciosamente.
Sorrio de lado. Odeio acabar de conhecer alguém, e a pessoa vem
me chamando de querida!
Isso soa falso, ao extremo.
— Não creio que já tenhamos nos visto, eu me lembraria. — Digo
baixo.
Talvez tenha sentido meu gosto na boca do seu marido.
— Daniela, não é? — Ela só pode estar brincando.
— Mikaella. — Corrijo, a olhando.
— Mesma coisa.
— Vamos voltar ao assunto? — Otávio pigarreia e o encaro.
Começamos a entrar novamente no assunto do jantar. Aperto a
caneta nos dedos e tento me concentrar na conversa enquanto Leon e
Otávio explicam os projetos e os detalhes. Mesmo anotando tudo, eu
sinto o olhar de Anna sobre mim, desconfiada e atenta a cada movimento
que eu faço.
Me remexo e cruzo as pernas devagar, deixando a cinta liga da meia
calça a mostra propositalmente. Otávio me olha por um segundo, e
desvia os olhos rapidamente.
O clima está mais pesado que um elefante.
— Para que alugar um salão, se temos a nossa casa? — Ela
pergunta.
— Quer que eu diga? — Leon fala, sem mostrar os dentes.
— É mais confortável. — Ela ignora Leon, fitando Otávio
Cala a boca
— Se você quer levar os convidados para a sua casa, com essa
criatura lá. — Leon aponta Anna. — Problema é seu. O último jantar foi
um desastre, preciso lembrar?
Anna o encara, então percebo a cor avermelhada tomar o seu rosto e
trincar o maxilar, fulminando Leon.
— Assuntos de família, não devem ser discutidos na frente dos
empregados, Leonel. — Ela fala e me olha. — Você pode nos dar
licença?
— Não. Ela não pode. Mikaella é minha secretaria particular. —
Otávio diz rude. — Ela precisa estar por dentro de todas as reuniões,
Anna.
Chupa essa, vara de pescar!
— Não se preocupe, eu estarei na minha mesa e qualquer coisa
podem me chamar. Com licença. — Me ergo, vendo seu olhar
intimidador e Leon me olha quando saio rapidamente.
Solto a respiração, que só então percebo que estava presa, assim
que fecho a porta, me encostando na mesma. Sinto as mãos tremerem e
coloco a mão no peito, suspirando pesadamente.
Isso é loucura. Das piores.
Passo as mãos pelos cabelos e fecho os olhos, me sentando na
cadeira arfando. Eu não vou ficar passando por essa situação. É loucura.
É extremamente fodido.
Abro a garrafinha e tomo um gole generoso de água, para descer o
bolo que se formou na minha garganta, com tal situação. Meu celular
toca insistentemente e o número restrito pisca na tela novamente. Pego o
aparelho, deslizando o dedo pela tela e o coloco sobre o ouvido em
total silêncio.
Apenas ouço a respiração do outro lado e franzo o cenho.
— Se for algum tipo de trote, isso não tem graça alguma. — Disparo
e desligo o celular, colocando-o sobre a mesa.
Apenas ouço as vozes um pouco alteradas do outro lado da porta e
continuo sentada, arrumando os papéis espalhados e finjo nem ouvir os
burburinhos. Tamborilo as unhas na mesa, quando a porta se abre e vejo
Leon sair, depois de longos minutos, ele me encara e balança a cabeça.
— Avise os clientes que o jantar será na casa do meu irmão,
Mikaella. — Leon torce o nariz, me olhando e em um sussurro, diz
baixo:
— Ela é um ser humano terrível. Acredite, eu sei.
— Leon... — Balanço a cabeça.
— Ela é pior do que está vendo, Mikaella. Muito pior. — Engole
em seco e o fito. — Agora eu já vou. Boa noite, Ruiva.
— Boa noite. — Respondo, vendo-o ir para o corredor onde é sua
sala.
Annabell parece ter feito algo muito terrível a Leon. Ele realmente
não disfarça a raiva que tem dela. E parecia ser mútuo.
— Você não precisava ter tocado no nome da Cíntia. — Ouço a
voz de Otávio soar um pouco mais alta que o normal.
— Não foi por querer! — Ela ralha de volta.
Quem deve ser essa Cíntia?
Me ajeito para ouvir os sussurros, mas ouço apenas os passos se
aproximarem da porta. Olho os dois parados e me ergo, sorrindo
levemente.
— Estamos de saída. — Ele me encara e Anna rapidamente
entrelaça o braço ao seu.
— Aproveitar a noite. — Ela fala sorrindo.
— Tenham uma boa noite. — Digo baixo.
— Boa noite, Mikaella. — Otávio franze o cenho e percebo-o
engolir em seco.
— Vamos amor?
Corna!
Meu interior grita.
Eles apertam o botão do elevador, que se abre rapidamente, o vejo
me olhar de relance enquanto entra na caixa de metal.
Suspiro, balançando a cabeça.
Aperto a alça da bolsa em minhas mãos, esperando um tempo até ter
certeza que não vou ver os dois novamente. Pego o elevador e saio,
arrumando os cabelos.
Entro no carro e giro a chave na ignição, saindo rapidamente. A
cabeça está explodindo, por causa do turbilhão de emoções que foi hoje.
Aperto o botão do rádio e deixo a música rolar.
(...) Não tem por que procurar um culpado
Vamos com cuidado
Se descobrirem ta tudo acabado
Mas pensando bem...
Deixa ela saber
Que eu tô é com você...
— Meu Deus. — Balanço a cabeça e mudo a música rapidamente.
Mente e vai dar uma volta e vem me ver
Entre uma briga e outra de vocês
Eu nem conheço ela, mas me sinto culpada
...
Primeiro que eu nem devia tá aqui
Segundo, cê não tinha que ligar pra mim (...)
— Ah não. Não. — Aperto o botão, desligando o aparelho e soco o
volante, indignada que a minha própria playlist, está tentando me tombar.
Só preciso chegar em casa, tomar um banho e sair para relaxar.
Apenas.
— Você a conheceu? — O grito fino de Lia, me faz virar de
imediato para encara-la. — A primeira dama?
Assinto, fechando o batom e tirando as falhas com o cotonete. Estou
acabando de finalizar a maquiagem e Lia está parada no meio do quarto,
me encarando.
— A própria. — Digo baixo e ajeitando os cabelos.
Vamos sair, apenas para aliviar a tensão. Mandei o endereço para
Katy nos encontrar lá.
— E como ela é?
Dou de ombros, me olhando no espelho.
— Loira, magra, alta... Uma... — Solto os braços. — Uma socialite,
daquelas que parecem ter saído de um tabloide...
Sorrio sem humor.
Qual é, Mikaella?
— Tem nariz empinado, e não anda, voa sobre os saltos altos, que
daria para alimentar meio mundo, com o valor.
— Annabell... — Liana franze o cenho.
Arrumo o body preto, com detalhes. A calça pantalona, com uma
fenda na perna, dá a impressão que sou mais alta do que realmente sou.
Coloco os saltos, evitando o contato visual com Liana, que não para
de me encarar. Arrumo os cabelos e ouço o pigarro baixo, então volto
meu olhar para ela.
— Mia?
— Hum? — Vejo-a morder os lábios devagar.
— Você pode mentir para quem quiser, menos para mim, Ruiva. —
Diz séria, balançando a cabeça e me olhando da forma que ela sempre
faz, quando quer arrancar algo de mim. — Como você se sentiu em ver
os dois juntos?
Sinto um incômodo no peito, que parece tomar conta de todo meu
coração, é sufocante.
Isso ia acontecer, mais cedo ou mais tarde...
Mas é estranho.
É estranho sentir algo que você nunca imaginou que sentiria.
É estranho, quando você sente que estão quebrando suas regras...
Nego, devagar.
Não há motivos. Nunca fui assim.
— Não sei, Lia.
— Não sabe o que sentiu?
— Isso, não sei o que senti. — Engulo em seco e ela franze o cenho.
— Não, ou não quer admitir?
— Não sei, Liana! — Jogo os braços e dou de ombros. — Não sei o
que senti. Ou não, talvez, eu só não queira admitir mesmo! Mas eu não
quero mais sentir isso!
Ela me encara e balanço a cabeça, olhando para o chão.
— Você sabe que estou aqui, não sabe?
Assinto levemente e sorrio.
— Sei. — Digo baixo e olho para cima, tomando o ar. — Vamos?
Katy deve estar nos esperando... Dean não vêm?
— Disse que vai ficar devendo essa. Está cheio de trabalho na
lanchonete. — Lia me entrega a bolsa e encaro o celular na cama.
Pego as chaves, deixo o aparelho no mesmo lugar e saio do quarto.
Seguro a pequena bolsa nas mãos, apertando-a enquanto descemos.
O vento, que está um pouco frio – mas nada para nos fazer congelar – faz
meus cabelos voarem. Sorrio quando Liana o braço no meu e abre porta
do seu carro.
O medo nunca fez parte do meu vocabulário.
Mas estou sentindo medo, pela primeira vez em muito tempo.
Medo? Medo de se apaixonar!?
Sinto as lágrimas querendo aflorar e suspiro pesadamente.
Medo, de já está apaixonada.

— Há quanto tempo a gente não vinha aqui, né? — Anna pousa a


mão dela sobre a minha.
— Muito tempo. — Respondo e vejo-a encarar o ambiente
sofisticado.
É um dos nossos restaurantes preferidos. Não só pela gastronomia,
mas pelo amor a arte que o lugar exala. Obras de Andy Warhol, Pablo
Picasso e Roy Lichtenstein estão penduradas nas paredes do ambiente.
Beberico o vinho branco e Anna toma apenas água com gás.
Observo o ambiente e apenas leves burburinhos são ouvidos. Já
fizemos o pedido do jantar, estamos esperando a entrada, que vai ser
uma salada de shimeji ao molho oriental.
Tudo que antes parecia tão agradável, agora é um incômodo. O
restaurante parece chato.
Não têm uma multidão de pessoas, andando e conversando, nem uma
comida feita de forma duvidosa...
Não tem um par de olhos claros e uma cabeleireira ruiva, ao meu
lado.
Assinto quando o garçom trás os pratos e Anna sorri levemente. Me
remexo desconfortável, encarando a aliança em meu dedo anelar.
Não esperava a visita de Anna na empresa, há tempos ela não ia lá.
Senti o olhar de Mikaella sobre mim, como se lesse no fundo dos
olhos que...
Você se fodeu.
— Não está com fome, meu amor? — A voz de Anna interrompe
meus pensamentos e só então percebo que mal toquei na comida.
— Não muito. — Digo, mordendo o lábio, vendo-a levar o garfo a
boca.
— Eu amo essa salada. Sempre foi uma de suas preferidas. Coma.
— Não estou com muita fome. — Olho o celular em cima da mesa,
completamente apagado.
— Esperando alguma mensagem? — Ela diz baixo e fita o aparelho.
— Leon ficou de me me mandar uma mensagem.
— Trabalho? — Anna pergunta.
— E sobre o que mais seria?
Sua amante.
Mexo com o garfo para lá e para cá e levo uma garfada de shimeji à
boca, e mastigo devagar.
Seguro o aparelho, desbloqueando-o e vendo a mesma coisa de
alguns minutos atrás:
Nada.
— Veio aqui para ficar trocando mensagens com seu irmão? Ou
jantar comigo?
Qual foi a primeira pergunta?!
— É um assunto de trabalho, Annabell.
Mentira!
— E por que Leon não falou com você quando estava lá?
— Deve ser porque você tocou no nome da Cíntia. Você sabe o
quanto meu irmão odeia...
— Ele que supere. — Ela rebate, bebericando a água e põe a taça na
mesa de novo. — Eu quero só um pouco da sua atenção. Apenas. Será
que pode fazer isso?
— Como está Luíza?
— Bem. Sabe como ela é sentimental. — Diz baixo e sorri para o
garçom, que leva nossos pratos.
Ela tamborila os dedos na mesa, me olhando, e solta a respiração,
passando a língua pelos lábios.
— A Perrot está muito bonita. Parece que faz anos que não ia lá. —
Ela começa a falar, ajeitando o guardanapo no colo.
— Alguns meses...
— Acho que a última vez que eu fui, Vanessa ainda trabalhava com
você. — Observo-a falar baixo. — Aliás, foi indicação da Vanessa sua
nova secretária?
— Foi.
— Hum.... Não me lembro de ter dito que ela é tão jovem.
Falei que é gostosa também?
— Não achei necessário comentar. — Levo a taça de vinho a boca e
o garçom se aproxima, com os pratos principais.
— Porque não? Sempre ajudei a contratar as suas secretárias.
— Por que Katy resolveu tudo, Anna. Por isso.
Espeto o garfo no pedaço de salmão grelhado e Anna faz o mesmo.
— Muito bonita, ela. — Anna leva o garfo a boca. — Mas
estranha... Parece que a conheço de algum lugar.
Eu estou ocupado demais, me perdendo nas curvas deliciosas
dela.
— Não achou?
— Achei o que?
— Ela bonita?
Aperto o garfo nas mãos, a olhando.
— Anna...
— Eu só estou falando que ela é bonita, e é estranho você não ter
comentado sobre ela. — Limpa o canto da boca com o guardanapo, sem
parar de me encarar.
— Vá direto ao assunto, Anna.
— Achei ela bem vulgar. — Dispara. — Muito. Com uma carinha
de ninfetinha barata.
Por que não viu o que ela faz entre quatro paredes.
Para.
— Muito vulgar para trabalhar na Perrot.
— Mikaella é uma ótima profissional, Anna.
— Não me importo. — Diz séria. — Aquele tipinho de sonsa, não
me engana, Otávio.
— Você nunca se engana, Annabell. Em nada.
— Pelo visto, me enganei quando achei que poderíamos ter um
jantar descente, ao menos uma vez.
— Anna, pare! Para de ser assim, de agir assim! — Engulo em seco
e ela sorri, soltando os talheres. — Você procura motivos para brigar,
como se isso de uma certa forma, fosse te fazer se sentir melhor!
— Talvez eu me sinta! Porque parece que apenas assim você
enxerga que tem um casamento e uma esposa.
— Você ainda acha isso? — Rebato, vendo-a afastar a cadeira,
causando um barulho e se levanta, fazendo alguns olhares se voltarem
em nossa direção.
— Perdi a fome. Com licença. Pega a bolsa e sai.
Abro a carteira, deixo algumas notas sobre a mesa e me ergo, ainda
sob os olhares e burburinhos.
Me afasto pisando firme e vou direto para o estacionamento, onde
ela já está esperando dentro do carro. Os braços cruzados e a expressão
fechada me dizem que isso não acabou. Entro e puxo o cinto, e em um
silêncio perturbador arranco com o carro, saindo em disparada. O
trânsito congestionado para um dia estressante como esse, é tudo o que
me faltava.
Assim que paramos em frente de casa, Anna desce e fico alguns
minutos parado, olhando o enorme jardim, com algumas luzes piscantes.
Passo as mãos nos cabelos e saio quando Dom aparece para pegar as
chaves. Subo as escadas e vou direto para o quarto, onde ouço o barulho
do chuveiro ligado. Desabotoo a camisa, arranco a gravata e jogo sobre
a poltrona.
Pego o celular e disco o número rapidamente, colocando no ouvido
e escutando o mesmo chamar até cair na caixa postal.
— Atende, Mia. — Sussurro baixo.
E se não ela atender?
Eu vou onde ela estiver.
Desço as escadas devagar, com uma mão na testa e a maleta na
outra. Foi uma noite infernal, mal consegui pregar o olho. A inquietação
e raiva me deixou revirando na cama por horas.
Ela não atendeu!
Não atendeu as mais de dez ligações que fiz! Todas caíram na
maldita caixa postal. Anna ainda está dormindo e, diferente do que
pensei, não houve discussões ou brigas, ela apenas deitou, virou as
costas e dormiu. O que deve ser considerado estranho.
— O senhor não vai tomar café? — Tina indaga e nego devagar.
— Não. Tenha um bom dia, Tina. — Saio disparado.
Preciso vê-la.
É quase como uma urgência, que está em meu interior, me
agoniando. Por conta do horário mais cedo, o trânsito está tranquilo e
não demoro muito para chegar na empresa. Seguro o casaco, saindo do
elevador assim que as portas se abrem e de imediato, já vejo sua mesa
vazia.
Abro a porta da minha sala, deixo a pasta em cima do sofá e passo
as mãos pelos cabelos. Ando de um lado, para o outro, sentindo o aperto
em meu âmago, no fundo sabendo o que Mikaella vai fazer.
Devia ter insistido nisso?
O que ela deve está pensando?
Encaro a porta se abrir e Leon entrar, me olhando.
— Bom dia, irmão mais velho. — Sorri, segurando umas pastas nas
mãos. — Nossa... Que cara de maníaco é essa? Teve pesadelos? Ah...
Ele abana as mãos.
— Você já vive em um.
— Não estou para gracinhas, Leonel.
— Ui. Ele está bravinho. — Ergue os braços ainda rindo e me sento
na cadeira. — Me deixe adivinhar o motivo desse seu mau humor, tem a
ver com a visita da bruxAnna?
— O que você acha? — Ele assente.
— Não te digo o que tem que ser feito, pois você já sabe. — Dá de
ombros. — Está esperando o quê, para tomar uma decisão?
Coragem.
É isso que estou esperando.
— A ruiva não tem cara de quem vai ficar muito tempo nessa
situação.
— E nem eu não quero deixa-la nessa situação por muito tempo... —
Engulo em seco. — Mikaella não queria entrar nisso, Leon. E sei que ela
não vai permanecer...
— Pelo que tempo que quiser?
Franzo o cenho, vendo-o passar os dedos pelas sobrancelhas e negar
com cabeça.
— Ela chama atenção por onde passa, você sabe disso. Tem uma
fila de homens atrás dela, livres e desimpedidos para...
— Leon. — O corto, sentindo o coração disparar. — Cale a sua
boca.
— Bom dia. Bom dia. Bom dia. — Katy aparece sorrindo e Leon se
vira, a olhando.
— Katyzinha.
— Sua agenda do dia, toda pronta e separada para você. — Katy me
entrega o iPad e a fito.
— Cadê a Mikaella?
— Ela pediu mil desculpas, mas não está se sentindo muito bem,
mas mandou toda a agenda por e-mail e pediu para te avisar.
Leon tenta esconder um sorriso, enquanto seguro o aparelho nas
mãos.
— Ela disse o que tem? — Pergunto, vendo-a se sentar ao lado do
meu irmão, que segura sua mão e dá um beijo.
— Deve ser um mal estar. — Sorri. — Saímos ontem a noite e ela já
não estava tão bem, deve ter piorado.
— Saindo em dia de semana, Katy...
— Fomos nos animar. Ver uns gatinhos...
Então foi por isso que não atendeu as minhas ligações.
— Mas vou te ajudar no que precisar.- Katy sorri, piscando um
olho. — Lucy chegou de viagem?
— Chega no fim de semana. Foi participar de um congresso e Roger
foi a tira colo.
— Ainda vêm casamento desses dois por aí. — Katy se ergue
sorrindo.
Aperto a caneta nas mãos e Leon me encara assim que ela sai,
fechando a porta em seguida.
Me ergo devagar e ele fica girando na cadeira.
— Se você sair agora, vai dar muito na cara.
— Preciso saber como ela está.
— Ainda existe celular. — Diz o óbvio.
— Ela não me atende. — Volto a me sentar.
— Então espera, ela deve estar realmente com um mal estar. —
Passa a língua pelos lábios e dá um sorriso de lado. — Ou deve estar
realmente fugindo de você e do seu pesadelo.
— Leon, sai daqui! — Aponto para a porta e ele sai gargalhando.
Ligo o computador e digito rapidamente um e-mail para sua conta
pessoal. Estou me sentindo patético e desesperado.
Já liguei várias vezes e deixei inúmeras mensagens na caixa
postal, que você sequer retorna. Pode me falar como está?
Otávio M. Perrot.
Aperto em enviar e tamborilo os dedos na mesa.
Assim como as respostas das ligações não vêm, a do e-mail também
não. Arrastei a manhã inteira e consegui focar em alguns projetos.
Não consegui almoçar, de tão aflito que estou, giro o lápis, olhando
os traços da planta, que já fiz diversas vezes, mas está saindo uma...
Fecho os olhos e ouço batidas na porta.
— Pode entrar.
Sorrio ao ver Luíza entrar devagar na sala, me olhando.
— Oi, minha princesa. — Me ergo quando ela me abraça. Beijo o
topo de sua cabeça. — Como você está?
Olho para a porta e vejo Letícia entrar devagar.
— Estou bem. Estava com saudades. — Diz, me encarando com os
olhos baixos, que brilham.
Nunca vi criança mais linda e doce do que Luíza. Meu amor por ela
é algo surreal, é mais do que minha sobrinha. É a filha do meu coração.
Tem todo o amor do mundo, o mesmo que daria a Ben, se estivesse aqui.
— Eu também estava, minha boneca.
Letícia sorri, segurando a bolsa e olhando ao redor.
— Ela estava com saudades e resolvi traze-la para dar um passeio,
fazia tanto tempo que a gente não vinha qui. — Diz me encarando. —
Está sozinho?
A fito e Luíza me encara sorrindo.
— E eu deveria estar com quem? — Ela nega veemente.
— Em alguma reunião. Não queremos atrapalhar.
— Luíza jamais me atrapalha. Como foi a escola hoje?
— Bem. Não tive mais febre.
— Isso é apenas o emocional. — Minha sogra e se senta. — Luíza é
um poço de sentimentalismo, não é amor?
Ela assente e seguro em sua mão, a beijando.
— Alguém me disse que uma princesa está por aqui!
— Tio Leon! — Luíza fala e o abraça.
— Como vai, meu amor? Como está linda! Daqui a pouco vai estar
do meu tamanho! — Leon a fita.
— Vai demorar, ainda.
— Como vai, Leonel?
Meu irmão a encara.
— Melhor que nunca. — Diz sério e olha Luíza. — Que tal irmos
ver um projeto lá na sala da Katy?
— Nós já estamos de saída. Só vim para Luíza dar um beijo no tio,
Anna está nos esperando. — Letícia levanta. — Vamos, Maria Luiza.
— Ah vovó. Mas acabamos de chegar.
— Seu tio estará em casa mais tarde e você pode vê-lo quando
quiser. — Ela sorri e Luíza me olha.
— Vai para casa mais cedo, tio Otávio?
— Vou tentar. Eu estou com muito trabalho, meu anjo.
Ela torce o nariz e beijo sua testa.
— Peça para Tina preparar aquele bolo de chocolate, que vamos
comer juntos na sobremesa. Fechado?
Ela assente e o sorriso brota em seu rosto.
— Até mais. — Letícia assente e sai junto de Luíza.
— Até mais. — Aceno.
— Vai, velha do diabo. — Leon franze o nariz. — Ranço dessa
velha!
É óbvio que Leticia veio apenas para ver...
Mikaella.
— Ela usa a Lu para te atingir! Essa raça é tudo... Tudo obra do
coisa ruim! — Meu irmão ralha, balançando a cabeça.
Pego o blazer e Leon fica me encarando.
— Onde você vai?
— Ver a Mikaella. — Digo o óbvio. — Não vou ficar esperando ela
dar notícias, vou até lá.
Pego as chaves do carro e ele me encara quando passo por ele
rapidamente.
Toco a campainha e mordo o lábio, fechando os olhos. Confesso que
senti alívio, ao ver que aquele pedaço de lata, que ela chama de carro,
está estacionado na garagem.
Ouço os passos do outro lado e engulo em seco ao ver a maçaneta
girar e a porta se abrir alguns segundos depois.
Pela expressão em seu rosto, ela não parecia nenhum pouco surpresa
ao me ver, está séria e com o cenho franzido.
Usa uma camisa larga e com toda certeza, está apenas com uma
calcinha por baixo, já que as pernas grossas estão tão amostras.
— Como você está? — Pergunto quando ela me dá passagem na
porta.
— Bem. — Responde, virando as costas e parando no meio da sala.
Fecho a porta e olho para ela, engolindo em seco e sentindo o ar
faltar. Os cabelos estão presos em um coque frouxo, deixando-a com um
ar mais rebelde do que ela já tem.
— Você não foi hoje. Você não me ligou. Não respondeu aos meus e-
mails e nem às mensagens.
Ela morde o lábio e cruza os braços, me olhando.
— E não vou.
— O quê?
— Não posso mais continuar trabalhando na Perrot. — Diz,
soltando os braços e passando as mãos pelos cabelos. — Eu estou...
Estou me demitindo.
— Mikaella, você sabe que...
— Não. Eu não sei de nada. — Me interrompe. — E nem quero
saber. A sua esposa...
— Me ouça. — A encaro, sentindo uma sensação estranha em meu
peito. — Eu e Anna...
— Eu não quero saber! Eu não quero mais fazer parte disso, Otávio!
Foi imprudente, impensável e uma loucura, achar que... Que poderia
fazer o que estávamos fazendo! Eu não vou carregar essa culpa, de
acabar um...
— Não existe mais casamento! — Nego a olhando. — Eu e a Anna
somos tudo, menos um casal...
Ela ri, balançando a cabeça.
— Eu não tenho nada a ver com sua vida! Eu só não quero mais...
Fazer parte disso! — Diz, dando de ombros e me olhando.
Meu coração bate descompassado e a fito.
— Sei que pensa, e imagina que está destruindo meu casamento, mas
ele não existe há muito... Muito tempo. Antes de você chegar. — Explico
devagar. — E quando eu te vi na boate aquele dia, eu... Eu vi em você,
algo que há muito tempo eu não via.
Engulo em seco.
— Uma jovem cheia de vida, alegre, e viva... Representando um
mundo completamente diferente do que eu... Estava acostumado.
— Seu escape do tédio. — Diz rindo e nego rapidamente.
— Não. Eu confesso que com você é tudo diferente, você me faz rir,
me faz querer conhecer seu mundo. — Dou de ombros, vendo-a andar
me olhando.
— Eu só chamei sua atenção, porque você está cansando dessa vida
fadiga.
— Não. Eu gostei de você de imediato, você é linda, Mikaella.
Jovem, interessante, audaciosa e destemida. Você é tudo que... Que eu
jamais pensei que...
Me calo, olhando-a passar as mãos pelo rosto.
— Eu e Anna não vivemos mais como marido e mulher há muitos
anos, nem transamos mais. — Desabafo com a voz arrastada. — Só
brigamos o tempo inteiro, só discutimos e sempre que peço o divórcio é
uma briga de meio mundo...
Me encara com os olhos atentos e continuo.
— Isso nunca teve nada haver com você, Mikaella. Anna acha que
pode resgatar... Mas eu não quero mais. Eu não quero mais viver assim.
— E o que quer, Otávio?
— Eu quero você. — Respondo baixo.
— E isso muda em quê? Você me tendo, vai continuar casado, vai
continuar nessa mesma vida, mesmo infeliz. Isso não muda em nada,
Otávio.
— Muda, Mikaella. Muda muita coisa.
Ela nega devagar e a encaro.
— Você sabe que isso não vai nos levar a lugar algum...
— Só se você não quiser. — Digo, vendo seus olhos focarem aos
meus. — Se eu fosse livre...
— Você não é.
— Mas se eu fosse, Mia... Você...
— Eu não sou adepta a relacionamentos, eu não sonho em casar e
construir uma bela família! Mas também não vou brincar de faz de conta
em sua vida... — Dispara e sorrio. — Você precisa tomar decisões, mas
por você.
— É o que estou fazendo. Estou aqui por mim. Para você não se
demitir. E se quiser realmente... Não continuar, eu saberei respeitar sua
vontade.
Os olhos azuis me encaram e franzo o cenho.
— Eu... Não quero. — Diz baixo, dando de ombros.
— Você não pode se demitir.
Ela vira o rosto e engulo seco.
— É isso que você quer?
— Eu quero que vá embora. — Diz, passando por mim e segurando
a maçaneta, pronta para abri-la.
Avanço e em dois passos, venço nossa distância, encostando o
corpo ao seu, segurando na mão fria, ouvindo a respiração falhar.
— Otávio...
A viro, encostando-a na parede e seguro seu rosto entre minhas
mãos, os olhos azuis como o céu me fitando. As pupilas dilatadas e a
boca entreaberta, tomando minha atenção de imediato.
— Diga e eu vou embora, diga que não... Quer mais...
Me encara e sinto a respiração a poucos centímetros do meu rosto.
— Você bagunçou o que tinha de mais organizado em mim. Eu quero
você, Mikaella.
— Nós dois sabemos como isso vai terminar... — Ergue o queixo.
— Foda-se o depois! — Puxo seu queixo levemente e enfio os
dedos em seus cabelos, fazendo o pescoço arquear. — Você é a porra de
uma droga, você me faz querer viver uma liberdade insana... Me faz
desejar você, como nunca pensei que fosse capaz.
Passo o polegar pelos lábios abrindo-os.
Aquelas sardas no nariz, no colo... São perfeitas, assim como ela.
Ela é toda perfeita.
— Eu desejo tanto você, que chega a faltar o ar, Mikaella.
Cerro o maxilar, enquanto ela me encara fixamente.
As bochechas vermelhas e a respiração arfando.

Sinto o corpo grande encostando ao meu, fito os braços fortes e a


veia saltando do seu pescoço, enquanto ele me encara.
Estou quase na ponta dos pés, olhando em seus olhos.
O maxilar cerrado e aquela barba por fazer são meu maior delírio,
sinto meu interior convulsionar, sentindo a ereção contra meu ventre. É
realmente o melhor a se fazer, deixar tudo isso. Sair da empresa, sair de
sua vida, enquanto ainda tem tempo.
— Eu aceitei suas regras, Mikaella...
— Não tem regras, Otávio. Seja lá o que for isso que temos... Seu
casamento...
— Não existe casamento! Não existe mais eu e ela, há muito tempo!
Não é só falta de sexo, Mikaella. É tudo! Não tem compreensão, não tem
conversa, não tem tesão, não tem amor...
Fecho os olhos, engolindo em seco.
— Minha relação com ela é complicada.
— Eu não quero saber. — Franzo o cenho, vendo os olhos cravados
aos meus.
Meu coração bate descontrolado, uma de suas mãos descem para
minha cintura, apertando-a e grudando meu corpo ao seu.
— Otávio...
A boca a centímetros da minha, me fazem arfar. A mão subindo
minha camisa e afagando minha cintura.
— Você é o desejo que arde... O meu Proibido Desejo.
Sinto um arrepio percorrer meu corpo e o encaro.
Que se foda!
Que se foda a porra do sentimento, que está aflorando em meu
corpo, de dentro para fora.
Desço as mãos, afagando o rosto. Otávio me encara, enquanto
espalmo a mão em seu peito. Sentindo os músculos se enrijecer sob meu
toque.
— Eu liberto você. Eu te faço sentir coisas, que nunca pensou,
imaginou... Não é?
Sussurro baixo, vendo-o passar a língua pelos lábios.
— Todas as palavras e juramentos não passam de nada agora.
Ele segura em meus cabelos, me beijando feito louco. A língua se
afunda em minha boca, com voracidade e volúpia.
— Você é tudo que ela mais teme, é tudo o que prometemos não
fazer, não ter, Mikaella!
Sorrio com os lábios grudados aos meus, o olhando.
— Porque ela, não é eu!
Sinto apenas as mãos pousando em minha cintura e me erguer,
enlaço seus quadris com as pernas e gememos juntos, com a língua
afundada em minha boca. A sugo, enquanto ele anda comigo agarrada a
ele.
Anda pelo apartamento e entramos no quarto, as mãos grandes
apertando minha bunda com força, enquanto me coloca de joelhos na
cama.
— Eu quero você... Eu preciso de você, Mikaella.
Sorrio, o olhando.
— Não é que eu queira, eu não posso deixar você ir!
Fodeu!
Fico ali parada, absorvendo as palavras dele. Meu coração deu uma
pequena palpitação e logo depois começou a acelerar fortemente, senti
até o sangue fugir nessa hora.
— Você não sabe o que diz... — Digo incerta, o olhando.
— Eu sei... Eu sei muito bem. — Ele diz, beijando a ponta do meu
nariz, a testa e desce pelo pescoço.
Agarra um punhado de cabelo e beija a carne macia.
— Você é a porra da minha insanidade. — Diz entre os beijos e
lambidas, em meu pescoço.
Meu corpo convulsiona por ele.
Desabotoo a camisa com rapidez, tiro a gravata com agilidade,
jogando-a em um lugar qualquer. Espalmo as mãos pelo peito musculoso
e contorno a tatuagem devagar.
Arranho seu peito de leve, sentindo os gominhos do abdômen
trincado. Mordo o lábio, o olhando enquanto desço o zíper da sua calça.
O pau contorna a cueca branca e está incrivelmente duro. Desço o
tecido devagar, vendo-o saltar para fora. A cabeça rosada, toda babada
pelo pré sêmen, as veias saltando, fazendo-o parecer maior do que já é.
Começo a movimentar para cima e pra baixo, devagar. Otávio fecha
os olhos, pendendo a cabeça para trás, enfiando os dedos em meus
cabelos, desatando o coque frouxo.
Com a ponta da língua, rodeio a glande e ouço seu gemido rouco.
— Mia... — Desço a língua por toda extensão, sentindo-o se retezar.
Subo novamente, sugando com força a cabeça do pau.
Mal cabe todo em minha boca, mas sento as mãos firmes segurando
meus cabelos e ergo os olhos, o encarando fixamente, levando-o até o
fundo da garganta.
Dou uma leve engasgada, mas me recomponho rapidamente,
sentindo-o crescer ainda mais.
Me encara como um animal.
Ele segura o pau nas mãos, tira da minha boca e dá umas batidinhas
em meu rosto.
Retiro minha blusa sob seu olhar, me ajoelhando no chão. Ele me
olha atento, sem entender ao certo e volto a massagear o pau, que baba
de tanto tesão.
Levo-o até o meio dos meus seios, segurando ambos, enquanto
massageio sem parar, passo a língua na glande, que fica perto da minha
boca.
Otávio fala algumas coisas desconexas que mal entendo pelos
gemidos, palavrões insanos e indecentes escapam de sua boca.
— Mikaella... Caralho.
Sinto os músculos se enrijecer, quando ele pende a cabeça para trás
gemendo, e urra alto, me fazendo sentir os jatos do gozo me preencher
por inteira.
Bela gozada!
É nítido, o sorriso de satisfação estampado em seu rosto.
— Você ainda vai me matar! — Dispara, enquanto me limpo.
Vejo-o se livrar da calça e sou erguida por ele, como se não pesasse
nada. Morde meus lábios e enfia a língua na minha boca, a rodeando.
— Você é minha, Mikaella. — Diz, apertando meus seios e monto
sobre suas pernas.
As mãos apertam minhas coxas, minha cintura, minha barriga...
Beijo seu pescoço, sentindo o pau enrijecer. Ele mordisca de leve o
bico do meu seio, enquanto acaricia o outro. Gemo em sua boca e sinto-
o afastar a calcinha e enfiar um dedo em mim.
— Essa boceta nunca me decepciona. — Ele sussurra, enquanto
chupa o lóbulo da minha orelha.
— Eu nunca, te decepciono. — Sorrio, mordo seu ombro e aperto o
dedo, que começa um entra e sai desesperado.
— Você é uma delícia... — Grunhi e abro a boca, quando o outro
dedo se enfia em mim.
Desesperado. Agoniado.
— Preciso de você... Agora. — Diz entre dentes.
Sorrio e seguro o pau latejante, encaixando-o devagar na minha
boceta, que desliza. Grito, sorrindo ao sentir ele entrar em mim, a carne
macia se contrai pela invasão.
— Caralho... de boceta apertada.
— Ou você... Que é muito grande? — Digo entre dentes.
Otávio geme, enquanto cavalgo, segurando firme em seus cabelos.
Estala um tapa firme em minha bunda, me fazendo sorrir, sentindo-o
por inteiro dentro de mim.
Cada centimentro.
Indo fundo. Tomando meu corpo para ele, de uma forma absurda.
A boca captura um dos meus seios, sugando-o forte, a mão
apertando minha cintura e colando o corpo ao meu. Gememos juntos.
Suados. Ofegantes.
Espalmo a mão sobre seu peito, fazendo-o se deitar e tomo as
rédeas da transa insana.
Movo meu quadril, e paro. Continuo em movimentos em círculos.
Paro. Esfrego. Paro. Subo e desço, devagar. Paro.
Otávio geme, revirando os olhos e nossos movimentos estão
sincronizados. Ele me encara e gira nossos corpos, me deixando por
baixo. Uma das coxas sobre seu quadril, que ele aperta, enquanto as
investidas se tornam bruscas. Minha boceta se contrai e sinto os
espasmos do gozo se aproximar.
A boca se gruda na minha e sugo seus lábios, segurando em seu
rosto, bebendo nossos gemidos.
O único barulho que se escuta, é o dos nossos corpos, se chocando
um contra o outro.
— Otávio... Porra! — Gemo, segurando no lençol em uma tentativa
falha, de não me desmanchar.
— Eu sei... — Diz, me olhando fixamente e enfio as unhas em seus
ombros, sentindo meu corpo convulsionar.
E não foi sido a única a me desmanchar de prazer.
Sinto seus dedos enrolarem uma mecha do meu cabelo. Contorno os
desenhos do seu peito, e um sorriso preguiçoso cresce nos seus lábios.
Sorrio devagar, o encarando.
Tomos banho juntos e acabamos transando novamente no banheiro,
como se tivéssemos passado dias sem nos ver.
E é isso que parece.
Estava realmente indisposta, com um dor de cabeça terrível e não
fui trabalhar. Estava decidida a nunca mais botar os pés na Perrot.
Passei o dia inteiro praticamente, deitada e mal me alimentei.
— Estou com fome. — Digo baixo.
— Vou pedir alguma coisa...
Bato em seu peito, negando devagar.
— Vou fazer algo... Me acompanha? — Me ergo, ainda nua e ele
sorri, assentindo.
Otávio usa apenas a cueca e me olha sorrindo, quando ando em
direção a cozinha.
— Vai cozinhar pelada? — Pergunta e o encaro por cima do ombro,
e vejo-o me olhando de cima à baixo.
Pego o roupão, vestindo-o rapidamente.
A presença dele na minha pequena cozinha parece preencher todo o
ambiente. Otávio é enorme, de todas as formas.
— Vai fazer o quê?
Sorrio devagar.
— A melhor comida que você já provou. — Abro a geladeira,
sentindo seu olhar em mim.
Retiro os bifes e as batatas congeladas.
É uma das minhas comidas preferidas, daquelas com gostinho de
infância. Minha mãe adorava fazer. Bife, arroz e batata frita.
Tempero a carne rapidamente, enquanto faço o arroz e as batatas
estão na air fryer. Otávio está sentado, me observando enquanto toma um
copo de suco de uva.
Estou precisando ir ao supermercado e reabastecer minha despensa.
Mandei dinheiro para minha tia e as despesas da minha irmã estão mais
sufocantes para ela.
Sei que saindo da Perrot, tudo vai ficar mais difícil, do que já está.
Mas sei que essa loucura está longe de acabar.
— O cheiro está... Maravilhoso. — Elogia, enquanto nos sentamos a
mesa.
— Um dos meus dotes. Eu gosto de cozinhar. — Digo, o olhando
segurar os talheres. — Prove.
— Sim, senhora. — Responde sério e corta o bife.
Sorrio ao ouvi-lo falar um "Hummm" baixo.
— Está muito bom.
— Minha mãe amava cozinhar. E esse é um dos meus pratos
preferidos, só faltou o feijão. Fica uma delícia.
Ele me encara.
— Aposto que sim. Era muito ligada a sua mãe, não era?
— Muito. — Engulo em seco, segurando o copo de suco e sorvendo
um gole generoso.
Sorrio devagar e ele aperta minha mão na sua.
— Foi muito difícil perde-la. — Ele franze o cenho, me olhando
docemente. — Eu e a Gaby ficamos praticamente sozinhas...
— Sua irmã?
— É. Mais nova. Ela mora com nossa tia. Nossa única tia...
— E o seu pai?
O encaro me fitar sério e sinto um incômodo me invadir, me remexo
devagar.
— Está tudo bem? Eu...
— Ele foi embora. Ele deixou minha mãe por... Outra mulher. —
Otávio me encara e sorrio sem humor. — Ele simplesmente nos deixou
sem nada e sumiu.
Não quero entrar em detalhes. Não com ele.
E não é pelo fato do meu pai ter nos deixado, mas pela forma que
levou o pouco que tínhamos e em um momento em que minha mãe estava
tão debilitada.
— E-eu sinto muito. — Diz baixo.
— Eu não. Ele perdeu muito mais. — Dou de ombros, vendo-o
sorrir enquanto afaga minha mão.
— Perdeu você.
Ele prende minhas mãos e o encaro séria.
O cenho franzido e o maxilar cerrado.
— Não gostou da comida, não é? Parou de comer! — Brinco, para
quebrar o silêncio que se instalou.
Ele sorri e balança a cabeça.
— Tudo que você faz é maravilhoso, diaba ruiva
— Filha, ficar assim vai te deixar mais nervosa ainda! — Mamãe
me fita enquanto ando de um lado para o outro, passando as mãos nos
cabelos.
Olho para o relógio impaciente.
— Ele não chegou! — Limpo o rosto e suspiro.
— Docinho, você precisa ficar tranquila! — Michael sorri e segura
em minhas mãos. — Estou aqui...
Engulo em seco, sentindo as mãos em meu rosto.
Michael sempre conseguiu me entender, às vezes mais do que eu
mesma.
— Meu anjo...
— Ele vai me deixar. E ele não pode... Ele não pode me deixar!
— Annabell. — Diz em um sussurro, se sentando e me fazendo
sentar na sua frente. — Otávio jamais vai deixar você.
Nego devagar.
— Ele vai. Ele vai, sim.
Torno a repetir, sentindo a dor em meu âmago me invadir, meu
queixo treme descontrolado enquanto suspiro pesadamente.
Mamãe me encara de perto da porta e Michael afaga minhas mãos,
apertando-a entre as suas.
Ele sempre faz isso quando quer me acalmar.
Se tornou meu segundo pai, assim como me tornei a sua filha. E eu o
amo. Amo por cuidar tão bem da minha mãe, por ter se tornado parte da
nossa família.
— Anna... Você precisa se controlar e não deixar esse sentimento te
dominar. — Ele diz baixo e fito os olhos azuis, que me encaram. —
Otávio é louco por você. Ele nunca vai te deixar. Nunca.
Mamãe se aproxima e aperta seu ombro levemente.
— Está ouvindo, Anna? Otávio jamais vai te deixar, meu amor. —
Completa, sorrindo levemente.
Olho para ela e sinto as lágrimas caírem.
— Por que todo esse medo, Anna?
Me ergo e viro de costas, mordo o lábio devagar, sinto o coração
falhar uma batida e engulo em seco.
Se ele souber de tudo, ele vai me deixar.
É óbvio.
Passo as mãos pelos cabelos, e as lágrimas continuam descendo
copiosamente.
— Michel, meu amor, você pode pedir para Cristina preparar um
suco para Anna?
— Claro, amor. — Ele se aproxima e beija meu ombro suavemente.
— Fique tranquila minha filha, não precisa ficar nervosa. Otávio a ama,
assim como eu amo a sua mãe.
Ouço os passos se afastarem e a porta se fechar.
Mamãe segura em meus braços, me virando para encara-la.
— Pare com isso agora, Annabell! — Dispara arfando. — Você está
quase se entregando por si só...
— Ele vai descobrir, mamãe! Otávio vai descobrir e vai me
deixar... — Digo soluçando e me sento na cama.
— Se continuar agindo assim, é óbvio que ele vai descobrir,
Annabell!
Nego devagar, franzindo o cenho.
— Ele nunca vai me perdoar... Ele nunca vai me perdoar por isso!
— Anna...
Balanço a cabeça de um lado para o outro, sentindo o ar faltar.
Ando devagar pelo quarto, enquanto mamãe me encara. As mãos
trêmulas e o entalo na garganta, me sufocando de dentro para fora. Passo
as mãos pelo rosto e fecho os olhos.
— Meu casamento acabou por culpa dele, mamãe... Daquela
aberração! — Digo alto, sentindo a garganta rasgar de ódio. — Daquela
gravidez maldita! Daquele...
— Fale baixo, Annabell! Você quer que te ouçam?
— Eu quero o meu marido! É a única coisa que me interessa! Ele!
— Brando com o dedo em riste. — É a única coisa que me interessa!
— Então pare de agir como uma descontrolada! — Mamãe engole
em seco e a encaro passar as mãos no rosto. — Agindo assim, você só
vai fazer ele desconfiar. Pagamos muito bem para manter tudo em sigilo,
Anna!
Fecho os olhos devagar, me sentando.
— Se eu soubesse que aquela criança o deixaria preso a mim... Eu
teria deixado ele vir ao mundo! — Digo entre dentes. — Mas Otávio se
afundou!
Vejo minha mãe me encarar.
— Ele parece ter morrido junto com aquela... Aberração!
— Anna... — Ela se aproxima e segura meus braços, mas me solto
bruscamente. — Pare de falar besteiras!
— É verdade, mamãe! Otávio morreu junto com ele!
E ele nunca vai me perdoar.
Ter feito aquela escolha foi imprudente e irracional, mas decisiva
para a minha vida, e não posso voltar no tempo.
Tirar aquilo de dentro de mim, era o que mais importava.
Esperei por incontáveis horas, até os remédios fazerem efeito, e ao
sentir as dores mais absurdas que jamais pensei sentir... Estava feito.
Mamãe me ajudou em tudo que precisei, e é o nosso segredo.
Pagamos uma grande quantia para uma enfermeira manter o sigilo e
falsificar o atestado de óbito, declarando apenas morte fetal. Sem
suspeitas. Sem nada.
Não dá para voltar atrás.
Nunca vi Otávio tão devastado, como ficou. Achei que seria questão
de dias para se recuperar.
Poderíamos tentar novamente, mas ele parecia se afundar mais e
mais, naquela dor.
E agora eu estou perdendo-o...
Perdendo meu amor, meu marido.
— Eu preciso engravidar, mamãe! Eu preciso... Preciso que ele
fique preso a mim... — Disparo olhando-a.
— Anna... Você sabe que é perigoso nesse momento. Faz poucos
meses... Seu útero e seu corpo...
— Que se dane, mamãe! Eu preciso mante-lo aqui comigo! A única
coisa que o fez desistir do divórcio foi aquela gravidez! — Brando
irritada, sorrindo sem humor. — Ele está me deixando aos poucos... Ele
não pode me deixar.
Ele não pode.
— Ele não vai!
— Quem garante? Hum? Leon vive o infernizando para me deixar!
Os pais dele! A sonsa da Lucy só finge que me atura! Eu preciso...
Preciso que ele fique preso a mim!
— Você está ficando fora de controle, Annabell! E isso é perigoso
demais!
— Perigoso é perder tudo que eu conquistei! Perigoso é dar meu
marido de bandeija para qualquer uma... Perigoso é viver na miséria! E
eu não nasci para perder, mamãe!
Mordo os lábios, negando veemente.
Eu não vou perder tudo. Mas não vou mesmo.
As batidas leves na porta me faz olhar, e Luíza entra devagar.
Sorrio, estendendo a mão à sua frente.
— Oi, meu amor. — Digo baixo e mamãe me encara. — Ligou para
o seu tio? Disse que eu estava me sentindo mal?
— Ele não atendeu, tia. — Ela diz baixo e trinco os dentes de ódio.
— A senhora está bem?
— Não. Eu não estou! — Digo ríspida e ela arregala os olhos. —
Desculpa, anjinho. Desculpa.
Arrumo seus cabelos, a beijando.
— Desculpa. Eu só estou nervosa... Apenas isso.
— Por que o tio Otávio não vem para casa?
— Maria Luiza, desça. Isso não é assunto para crianças.
— É sim. — Digo rápido. — Luíza precisa saber de tudo, mamãe.
— Tia Anna...
— Seu tio quer nos deixar. Ele que ir embora. Você tem que falar
com ele, amor. Tem que falar que ele não pode ir embora. — Luíza
franze o cenho quando vê as lágrimas descerem pelo meu rosto. — Ele
quer ir embora, Lu, quer sair daqui...
— Ele não vai, tia.
— Anna, pare com isso! Maria Luíza, desça agora!
— Vai sim. Você precisa falar com ele! Por que se ele me deixar, eu
vou morrer... Eu vou morrer e você vai ficar sozinha!
— Não, tia Anna! Não vai...
— Anna!
— Ele vai sim, Luíza! Ele vai nos deixar, e eu vou morrer...
Vejo-a soluçar enquanto mamãe a tira do quarto rapidamente.
Me ergo, andando de um lado para o outro.
Se não houver mais cartas na manga, jogue com as que tiver.
E eu não vou pegar leve com ele.
Luíza é o ponto fraco do Otávio, e eu vou usa-la, se for para mante-
lo ao meu lado.
— Você ficou louca?
— Fiquei. — Digo baixo, olhando-a.
Me aproximo da janela e vejo o carro estacionar.
— Se ele não ficar comigo, ele não fica com mais ninguém, mamãe!
Subo os degraus devagar, segurando as chaves do carro e vejo
Michael se erguer assim que entro. Passo as mãos no rosto, o olhando.
Estou cansado demais, para ouvir o que quer que ele esteja
disposto a falar. Já que assim como Letícia, sempre mimou Anna.
— Olá, Otávio...
— Oi. Onde Anna está? — Pergunto, olhando para a sala vazia.
— Ela está lá em cima, com Letícia.
Deixo as chaves no aparador e assinto, franzindo o cenho. Vejo
Luíza descer as escadas rapidamente, com o rosto banhado por lágrimas.
— Luíza?
— Quero ir para a casa da vovó! — Diz, indo para perto de
Michael, o abraçando.
— O que houve, amor?
Me aproximo, vendo-a virar o rosto para não me encarar, enquanto
chora baixo e descontrolado.
— Eu não quero ficar aqui, vovô! Eu quero ir para a casa da minha
vó!
— Tudo bem, amor. Você vai. Agora me conte o que houve...
— Luíza? — Chamo e me aproximo, vendo-a se afastar
bruscamente.
— Vai embora logo de vez! Não é isso que está fazendo? Vai logo!
Vai! — Grita me olhando. — Se acontecer algo com minha tia, eu nunca
vou perdoar você! Nunca! Tia Anna não merece o que estamos fazendo!
Paro estático, quando ela sai praticamente correndo da sala.
— Ela está nervosa, Otávio. — Michael dispara, balançando a
cabeça. — Eu vou atrás dela...
Engulo em seco, franzindo o cenho e Letícia desce os degraus
devagar. Passo as mãos no rosto, mordendo o lábio.
Fico parado no mesmo lugar, vendo-a se aproximar.
— Preciso falar com você, Otávio.
— Diga, Letícia. — Falo baixo, soltando o ar.
Ela aperta as mãos, uma na outra e balança a cabeça.
— Anna está voltando com a depressão. E eu não quero ver a minha
filha doente novamente. — Ela diz suspirando. — E Luíza está sendo o
retrato desse lar conturbado.
Fecho os olhos e respiro fundo, olhando-a.
— Vocês são jovens. Anna precisa de você. Façam uma viagem, ela
vive dentro dessa casa! — Diz baixo, me olhando. — Anna te ama,
Otávio! E ela está desesperada para reconstruir o casamento de vocês...
Continuo a encarando e passo os dedos na ponte do nariz.
— Não dá para reconstruir mais nada, Letícia. Eu e Anna somos
tudo, menos um casal.
Ela arregala os olhos e dou de ombros levemente.
— Eu... Eu vou pedir o divórcio.
— Você não pode fazer isso! Anna está frágil, ela perdeu um filho,
Otávio...
Passo a mão pela testa. Outra vez, não.
— Eu também o perdi, Letícia! E sofro a cada dia por isso. Era meu
filho também. — Digo, sentindo a mágoa tomar conta de mim novamente.
— Mas eu estou cansado! Cansado de tentar concertar algo, que não tem
mais concerto!
Abro os braços, olhando-a.
— Eu e Anna não existimos há muito tempo! E é melhor dar um fim
nisso, antes que isso...
— Otávio... Ela não vai aguentar!
Me viro, rindo.
Eu que não aguento mais.
Não aguento mais, não me sentir feliz em minha própria casa, não
aguento mais, esse desespero agoniado no peito, me invadir de forma
absurda.
— Tentem outra vez, Otávio, por Luíza! Pelo amor que tem por
minha neta!
— Não a coloque nisso, Letícia! Você sabe que meu amor por Luíza
é imensurável e eu a amo como se fosse minha!
— Ela já perdeu pessoas demais, Otávio, não vai aguentar perder
você também.
Fecho os olhos devagar, sentindo um turbilhão de emoções dentro de
mim. Saí da casa de Mikaella com o coração disparado, a boca seca e
saudade.
Uma saudade, que nem pensei que fosse capaz de sentir.
Eu não quero mais viver assim, com essa merda de vida infeliz e
esse sentimento de incapacidade ao meu redor.
Uma revolta abre em meu peito. Me sinto um covarde.
Vai ver, por que você é...
Não sou. Ou sou, sim.
Eu quero me sentir livre, vivo. E apenas ao lado daquela ruiva, que
me tira do sério, eu me sinto assim. Franzo o cenho ao imagina-la nua,
em minha frente, os cabelos soltos como uma cortina, aquela pele alva,
cheia de sardas, me convidando para amar aquele corpo de forma
selvagem.
— Pense, antes de fazer algo do qual se arrependa, Otávio. —
Leticia diz em alto e bom som, antes de sair.
Luíza sequer veio falar comigo e foi para a casa da avó. Michael se
despede com um aceno de cabeça e observo Tina vir da cozinha, me
olhando.
— Quer que eu sirva o jantar?
— Só se Anna quiser comer. Eu estou sem fome.
Subo as escadas de dois em dois degraus, indo direto para o quarto.
Anna está sentada no sofá, com as pernas dobradas em silêncio.
Retiro os sapatos e a camisa e vou para o banheiro, onde tomo uma
longa ducha morna. Visto um pijama e seco os cabelos com uma toalha.
— Onde você estava?
Interessa?
Me viro e ela continua no mesmo lugar.
— Onde estou todos os dias? — Pergunto, calmamente.
Mentira.
— Insulte qualquer coisa, menos a minha inteligência! Gaia ligou
para seu irmão e você não estava com ele! Liguei para a casa dos seus
pais e você também não esteve lá. — Diz se erguendo. — Você saiu da
empresa mais cedo...
A voz soa baixa, ameaçadora.
— Já que controla todos os meus passos, descubra por si só. — Dou
de ombros, a fitando.
O riso frio que sai da sua garganta, é terrivelmente assustador.
Ela não estava morrendo?
Me viro devagar, balançando a cabeça e puxando os lençóis da
cama.
— Você some a tarde inteira, não atende meus telefonemas... — Diz
firme e ao mesmo tempo, com a voz esganiçada. — Você... Você está...
Você está me traindo?
Estou, sim!
Me viro para encara-la.
O rosto vermelho, como se estivesse sendo tomada por uma fúria
descomunal. Os olhos cravados aos meus e as unhas enfiadas na palma
da sua mão.
Anna me encara e em um piscar de olhos, já está sobre mim, com
tapas sendo deferidos em meu peito. Tento segura-la, mas ela
literalmente, entra em um ataque de surto.
Sinto a ardência em meus braços e tento segurar seus pulsos, para
fazer-la parar, sinto as unhas rasgarem minha pele, enquanto sua fúria é
jogada sobre mim.
— Pare! — Berro, segurando-a prontamente. — Já chega!
— Seu miserável! Você acha... Acha... Que vai... — Ofega me
olhando.
Os cabelos caem sobre o rosto e a respiração ofegante.
— JÁ CHEGA, INFERNO!
— Você acha que vai ser livre de mim? Você acha? Acha mesmo?
— Tenta se desvencilhar e a seguro novamente.
— É isso que faz eu me afastar de você, mais e mais, Anna! É por
isso! — Grito a olhando. — Eu não aguento mais! Eu não aguento mais...
Eu estou cansado!
A solto, olhando-a cair sentada sobre a cama, o choro compulsivo a
faz tremer.
— Isso não é vida, Anna! Nem para mim e nem para você!
Ergue os olhos marejados, negando veemente.
— Você não vai me deixar nunca! Ouviu? Nunca!
— Só você não percebeu que isso já acabou há muito tempo...
— ISSO NÃO ACABOU! Porque você não vai me deixar! Você é
meu, Otávio. Ouviu? Meu!
— Eu não sou sua propriedade, Annabell! —Abro os braços,
balançando a cabeça. — EU QUERO A MINHA PAZ...
Ela se ergue rapidamente, me olhando.
— Você não vai me deixar... — Diz aos prantos, se erguendo
enquanto tenta me abraçar. — Otávio... Amor... Perdoe... Me perdoe...
Me desvencilho, olhando-a limpar o rosto.
— É um ciclo vicioso, não é? — Anna limpa o rosto, me olhando.
— Me deixe sozinho! Me deixe em paz!
Pego o celular e abro a porta em um solavanco, saindo em passos
largos para o escritório.
— Otávio... Você não vai me deixar dormir sozinha! — Ouço-a atrás
de mim.
Fecho a porta em um estrondo, trancando-a em seguida. Encosto a
testa na mesma, ouvindo as batidas frenéticas do outro lado.
— Otávio! Abra essa porta! ABRA ESSE INFERNO, AGORA!
OTÁVIO!
Passo as mãos pelos cabelos, me afastando. Praguejo, fechando os
olhos e soltando o ar preso.
— Você não vai me deixar! Não vai! Nunca! Nunca! Nunca!
Sinto o ódio em cada palavra deferida e pouco me importa. Vou até
o bar, enchendo um copo de vodka e virando-o de uma única vez.
Arremesso o copo na parede, vendo o mesmo se estilhaçar, caindo
em pedaços no chão.
O que me impede de ir lá e acabar com isso?
Nada.
Eu não aguento mais.
Beber não adianta nada!
Os gritos cessam e me sento na poltrona, com as mãos nos cabelos,
os braços arranhados e o corpo pesado. Fico por alguns minutos alí,
parado.
Balanço o copo, vendo o líquido dançar de um lado para o outro.
Sorvo um gole, sentindo a garganta queimar ao engolir. Me ergo e abro a
porta devagar, vendo o silêncio por todo o corredor.
Vou para o quarto de hóspedes, fecho a porta e me deito na cama.
Pego meu celular e vejo o relógio marcar mais de uma da manhã.
Digito rápido, mesmo sabendo que não haverá resposta por causa do
horário.
Oi... Dormindo?
Bloqueio a tela, colocando-o ao meu lado. Não demora muito para o
celular vibrar e o pego quase que no mesmo instante.
Oi. Não. Vendo um filme.
Franzo o cenho, mordendo o lábio, vendo-a digitar e a mensagem
aparecer em seguida:
Aconteceu algo?
Engulo em seco, respondendo rápido:
Aconteceu.
A resposta aparece logo em seguida.
O que houve?
Passo a língua pelos lábios, suspirando pesadamente.
Não consigo tirar você dá cabeça, Mikaella.
Aperto o celular nas e fico relendo a mensagem.

Não consigo tirar você dá cabeça.

Não consigo tirar você dá cabeça.

Engulo em seco, me erguendo do sofá, sentindo meu coração


disparar de uma maneira terrivelmente assustadora. Fecho os olhos e
pressiono o aparelho na testa.
O que eu digo?
Que também não consegue tira-lo da cabeça!
Não.
Mas é verdade!
Sim, é. Mas o que vai adiantar?
Seguro o celular, vendo-o ainda online.
Digito rápido, ainda em pé no meio da sala, andando de um lado
para o outro, inquieta.

O que aconteceu?

Volto a me sentar no sofá, puxo as pernas para cima e olho a TV, que
passa Querido John. Depois que ele saiu, tentei descansar, mas parecia
estar mais elétrica que antes.
O celular vibra e encaro a mensagem piscar na tela.

Você aconteceu, Mia. Você.


Meu coração falha uma batida, mas volta a bater frenético e
acelerado. Mordo os lábios e fecho os olhos, sem saber ao certo o que
responder.
Onde ele deve está?
O que está fazendo?
Sobressalto quando seu número aparece na tela de bloqueio e
deslizo o dedo, atendendo a chamada.
— Oi... — Sussurro baixo, colocando o aparelho no ouvido. — Está
tudo bem?
— Oi. Não... Só queria ouvir sua voz.
Fecho os olhos e solto um pigarro.
A voz está arrastada e parece cansada. Diferente de como saiu
daqui.
Ficamos em silêncio, apenas ouvindo a respiração acelerada um do
outro. Deito no sofá e fico balançando as pernas em movimentos
desconexos.
— Otávio...
— Mikaella...
Falamos juntos, como se um lesse e mente do outro.
— O que está fazendo?
— To deitado... Pensando em você. E você?
— Se eu também estou deitada? — Sorrio.
— Pensando em mim?
Engulo em seco, mordendo o lábio.
— Estou. — Respondo em um suspiro.
— Mentirosa. — Ouço a risada baixa do outro lado.
Foi impossível não rir junto com ele.
— Você é um bobo, Senhor Perrot. — Fito o teto e fecho os olhos.
— Só com você, Ruiva... Só com você.
O silêncio volta a reinar em ambos os lados e sopro o ar.
Ele está em casa?
— Vou te deixar descansar, agora. — A voz soa rouca e escuto um
barulho como se soltasse todo o ar preso.
— Vá também. Já está meio tarde. — Me ergo, segurando o celular
entre o ouvido e o ombro.
Ando até a pequena janela da sala, abrindo-a.
A noite e a brisa fria invadem e sorrio.
— Te vejo amanhã?
— Estarei lá.
— Até amanhã, Ruiva. Boa noite.
— Boa noite, Otávio.
Desligo a chamada e fico com o celular sobre o peito, fitando as
luzes da cidade brilharem. Fecho as janelas e as cortinas, olhando ao
redor do apartamento vazio.
Eu nunca me importei em ficar sozinha.
Mas é como se uma saudade de algo... Algo que nunca senti,
estivesse fazendo morada em mim...
Vou para o quarto e tiro a roupa, ligo o aparelho de som minúsculo e
deixo a música soar por todo o ambiente.
Tô com saudade de você
Debaixo do meu cobertor
E te arrancar suspiros
Fazer amor
Ligo o chuveiro e me jogo embaixo do chuveiro, deixando a água
morna, molhar todo meu corpo.
Tô com saudade de você
Na varanda em noite quente
E o arrepio frio
Que dá na gente
Passo as mãos pelos cabelos e o vapor da água sobe, embaçando o
box.
Espalho o sabonete nas mãos e passo pelo meu corpo, imaginando
que aquelas mãos enormes que estão passeando por minha pele, naquele
exato momento.
Truque do desejo
Guardo na boca
O gosto do beijo
Sinto o arrepio se aflorar e mordo os lábios.
É apenas fechar os olhos e imaginar a boca sobre a minha, as mãos
grandes me puxando.
Eu sinto a falta de você
Me sinto só
E aí! Será que você volta?
Tudo à minha volta é triste
E aí! O amor pode acontecer
De novo pra você
Palpite!
Esfrego o rosto, respiro fundo e encosto a testa no vidro do box,
franzo o cenho balançado a cabeça.
Tô com saudade de você
Do nosso banho de chuva
Do calor na minha pele
Da língua tua
— O que você fez comigo, Otávio Perrot?
— Você entrega essa papelada para o Otávio? — Katy pede e pego
pastas e algumas plantas de sua mão.
— Claro.
— Tenho uma reunião com o Leon... — Ela encara o relógio no
pulso. — Já estou atrasada.
— Vai lá, eu entrego.
— Tudo certo para nossa noitada hoje, né? — Pergunta piscando e
assinto. — Preciso relaxar, depois desses dias infernais.
— Mais que fechado. — Me ergo. — A gente se encontra lá?
— Com certeza. Beijo, ruiva. — Aceno.
Arrumo os papéis e solto o ar devagar.
Realmente foi uma semana intensa e bem corrida. Entre reuniões e
idas às obras, que Otávio precisa supervisionar de perto.
Mal ficamos juntos essa semana. Depois da noite em que me ligou,
parece mais distante do que nunca. Também parece estar mais cansado
do que antes, não só fisicamente.
Está mais calado do que normalmente é, e as vezes fica por horas
conversando com Leon, trancado na sala.
Ajeito a saia no corpo e bato na porta, logo a voz rouca soa rouca,
me mandando entrar. Está sentado, com um lápis numa mão e uma régua
pequena na outra.
Ergue os olhos, cravando o mesmo nos meus.
— Katy mandou entregar. — Estendo as pastas. — Ela foi para uma
reunião com Leon.
— Tudo bem. — Diz, solta o lápis e estala os dedos.
Fica me encarando, como se quisesse me falar algo, mas desvia o
olhar rapidamente.
Ele está me evitando?
Franzo o cenho e engulo em seco.
Ok.
— Com licença. — Me viro e saio da sala.
Fecho a porta antes que ele possa falar alguma coisa e sento em
minha cadeira.
Não vou ficar questionando a sua drástica mudança. Mas não vou
mesmo.
Hoje é sexta feira, então vou sair e ser o que sempre fui:
Livre e desimpedida.
Volto a atenção para o computador, para organizar algumas
planilhas, tentando ao máximo, focar em meu trabalho. O resto do dia
passa em um piscar de olhos, almocei no restaurante e Otávio sequer
saiu de sua sala.
Também não voltei lá, então ficamos o dia sem trocar mais palavras.
Encaro o relógio, pego minha bolsa e entro em sua sala devagar.
Ele está de pé, em frente as enormes janelas e de costas para mim.
— Eu já estou indo. — Digo baixo e ele se vira devagar.
Os braços fortes, expostos por causa das mangas dobradas.
Me encara e ergo o queixo levemente.
— Precisa de algo mais, ou já posso ir?
— A gente pode conversar?
— Não. Eu tenho que ir. — Digo rápido e ele franze o cenho.
— Mikaella... — Dá um passo a frente, me olhando.
Nego devagar.
— O que tínhamos para falar, devia ter sido dito, há uns dias atrás,
não?
— Mia... — Diz baixo, passando as mãos pelo rosto. — Por favor!
— Por favor, peço eu, Otávio! — Seguro a bolsa firmemente.
— Me deixe explicar...
— Você não me deve explicações. — Dou de ombros. — Tenha uma
boa noite.
Saio pisando firme, antes que ele me alcance e, como o elevador
pode demorar alguns minutos, eu simplesmente vou pela escada de
emergência. Desço apenas um andar e pego o elevador de serviço.
Ele realmente não me deve nenhuma explicação, mas passar a
semana inteira sem falar comigo, foi como um... Um...
— Argh, que ódio! — Soco o volante diversas vezes. — Que ódio!
E nem sei ao certo, o motivo de está sentindo essa inquietação
irritante, dentro de mim. Mas odeio o fato dela estar me incomodando.
Já tinha marcado com Katy, Liana e Dean, para irmos para a balada
e nos acabar de dançar. Saio do carro estacionando e entro em casa, já
tirando os sapatos e pegando o celular.
Aproveito o horário mais cedo, ligo para minha tia e converso com
minha irmã, que está empolgada e feliz com o presente que enviei para
ela.
Um Ipad, para ajudar nos estudos.
— Eu amei, Mia. Posso fazer os trabalhos da escola, sem precisar
sair de casa. — Comemora, animada.
— Tudo para te ver feliz, minha princesa.
— Quando vou ficar com você? Eu estou com saudades! — A voz
soa baixa e sinto uma pontada no peito.
— Gabriella! — Ouço minha tia.
— Em breve, meu amor! Eu prometo, que em breve você estará aqui
comigo. — Sorrio, mordendo os lábios.
— Não vai me abandonar igual o papai... Não é?
Engulo em seco e suspiro.
— Não, amor. Não vou....
Não vou fazer a mesma coisa que aquele monstro fez.
— Eu te amo, tá?
— Eu te amo mais.
Me despeço com o coração apertado e a sensação de incapacidade,
me invade. Queria poder trazê-la para cá, para perto de mim.
Ter assumido a responsabilidade dela foi muito difícil, mas ela é a
única coisa que eu tenho. Gabi não lembra tanto dele, quanto eu, mas
também não faço questão de contar.
Estou com saudades de casa...
O celular vibra e vejo o nome de Otávio piscar na tela.
Seguro o aparelho, viro a tela para baixo e estalo a língua, indo em
direção ao banheiro.
Olho rindo para a pista de dança, onde Lia e Katy estão dançando
animadamente. A música alta e a fumaça por todo o ambiente, deixa tudo
ainda mais envolvente.
A Kiss é perfeita, em todos os aspectos.
Meu celular não para de vibrar e eu não o pego para saber de quem
se trata.
Têm mais de dez ligações perdidas e vinte mensagens, que eu fiz
questão de visualizar e não responder. Quero apenas me divertir.
Estamos na área VIP da boate, porque Katy conseguiu as entradas.
— Esse coquetel é divino! — Dean exclama, me entregando o copo.
— Frutas cítricas e vodka.
Sugo o canudo e sorrio.
— Que delícia!
— Esse foi por conta da casa... — Dean solta uma piscadela,
acenando para o barman, que retribui o cumprimento.
— Você é bem perverso, né? — Disparo e ele gargalha.
— Coisa pouca.
Mexo o canudo no coquetel, feliz por ver as meninas se
aproximarem.
— Preciso beber! Meu Deus! — Katy se abana.
— Gente, hoje está daquele jeito, em... — Lia olha ao redor. —
Muita gente, cada gato...
— Em falar em gato, tem um ali te paquerando desde a hora que
você chegou, Mia. — Katy diz, bebericando a bebida, que balança
levemente.
Olho para onde ela aponta e sorrio, vendo um grupo de rapazes
olharem em minha direção.
— Já pegou? — Lia pergunta, o olhando.
— Não. — Respondo. — Não estou conhecendo...
Franzo o cenho.
— Preciso apagar esse fogo que me consome. — Katy diz, se
abanando com um papel.
— Eu vivo incendiado. — Dean gargalha. — Em falar nisso... Com
licença, senhoritas! Vou alí...
Lia abre a boca e me olha.
— Dean, seu cretino!
— Vocês que lutem, meus amores... — Ele se afasta gargalhando.
— Meu Deus! — Katy dispara. — Eu amei ele!
— Você ainda não viu nada. — Lia balança a cabeça.
— Aquele alí não é o... — semicerro os olhos, vendo Leon subir as
escadas e vir em nossa direção.
Está ao telefone e para a poucos centímetros.
— Leon? O que ele está fazendo aqui? — Pergunto e olho pra Katy.
— Ele é o dono. — Ela revela, me olhando. — Não sabia?
— Não. — Nego devagar. — Eu realmente não fazia idéia.
— Ele é mais envolvido na Perrot. O sócio e cunhado, é que cuida
das boates para ele.
Lia está boquiaberta, o encarando.
— Uau, o que é que isso, em! Deu até um calor! Que gostoso!
Katy sorri.
— Já me perdi muito nessa boca e nesse corpo sarado.
— Você já pegou Leon!? — Pergunto, impressionada. — Achei que
era só...
— Em todos os lugares daquele prédio. — Ela diz, suspirando. —
Mas agora isso é passado.
— Não deu certo? — Lia pergunta.
— Galinha demais. Mas é lindo, né?
— É de família...
— O quê? — Katy me olha.
— A beleza é de família. — Sorrio, desconversando
Lia mexe o drink, mordendo o lábio.
— Otávio é um gato, aqueles braços fortes e tatuado. — Ela fala
sorrindo.
— Eu pegaria o irmão, Leon o nome dele, né? — Lia pergunta,
apontando o dedo, ainda com o copo na mão.
— Você pegaria quem, Mia? & Katy pergunta, me olhando.
— É, Mia. Você pegaria quem? — Lia sorri debochada.
Pegaria, não. Já peguei! Ou melhor, ele me pegou.
— Leon não faz meu tipo. — Bebo meu coquetel.
— O quê!? Esse deus grego faz o tipo de qualquer mulher! — Lia
exclama e chuto sua perna, sorrindo.
Voltamos a conversar e Leon apenas fez um sinal para esperarmos.
Então continuamos conversando e bebendo animadamente.
— Boa noite. — Olho para o lado, quando a voz rouca soa perto de
mim.
— Boa noite. — Lia e Katy respondem sorrindo.
— Desculpa interromper vocês. — Estreito os olhos, o encarando.
O sorriso largo e devasso me olhando.
— Gabriel? — Me ergo e ele me abraça.
— Não estava me reconhecendo? — Ele pergunta em meu ouvido.
— Claro que não. Já teria ido te cumprimentar. — Digo sorrindo,
enquanto ele beija minha bochecha.
Ainda temos o contato um do outro e às vezes conversamos. Gael é
engraçado, além de ser um fofo. Trocamos uns beijos, ele é
incrivelmente lindo.
Mas não é ele...
Balanço a cabeça, enquanto ele insiste para dançarmos uma música,
apenas, e não consigo negar o pedido. Descemos juntos e vamos para a
pista. As mãos pousam em minha cintura e rebolo levemente, no embalo
da música.
Foi leve e divertido.
Ri e esqueci, tudo e qualquer coisa que estava em minha mente.
— Quero saber quando vai aceitar meu pedido para jantarmos
juntos... — Diz baixo, subindo as escadas comigo.
— Eu vou aceitar.
— Está me enrolando... — Constata, mordendo os lábios.
— Não estou. — Nego.
— Vou pegar uma bebida. Quer?
— Qualquer coisa. — Falo e ele se aproxima, me dando um beijo
no canto dos lábios.
— Eitaaaaaa, Mikaella! — Lia dispara e Katy gargalha.
— Anwww, que fofo! Deu até vontade de criar ele! — Katy junta as
mãos no queixo e bate os olhos, sorrindo.
Me sento no sofá rindo das duas e viro o shot de tequila
rapidamente.
— Gente... — Lia para, olhando para a frente. — O chefe de vocês
é alto e tem o braço tatuado?
A encaro.
— Sim.
Lia me encara, dando umas tossidas de leve e a fito.
— Pois ele está vindo para cá, junto com o gostoso do irmão.
Viro o pescoço de imediato e vejo-o caminhar em nossa direção,
os olhos presos aos meus e, mesmo com a luzes brilhantes, posso ver o
misto de raiva e desejo estampados na expressão dele.
— Misericórdia! — Lia diz, os olhando de cima à baixo. — Que
irmãos...
A camisa preta social colada ao corpo, dobrada daquele jeito, que
ele sempre usa, parece realçar ainda mais os músculos.
Gostoso!
— Boa noite. — Ele nos cumprimenta.
— Meninas... — Leon sorri de lado.
— Boa noite. — Lia e Katy respondem.
— Boa. — Digo firme, segurando o coquetel.
— Que surpresa, Otávio. Você, realmente era a última pessoa que eu
esperava aqui. — Katy fala. — Anna não veio?
— Não. — Vejo-o engolir em seco e voltar a me encarar. —
Mikaella.
— Senhor Perrot. — Levo o canudo a boca e seus olhos se prendem
nos meus de imediato.
— Você, eu não conheço... — Leon e Lia se encaram.
— Essa é minha amiga, Liana.
— Liana Corrêa. — Ela estende a mão.
— Leon Perrot.
— Prazer. — Lia sorri e a encaro.
— Muito prazer. — Otávio a cumprimenta e Liana engole em seco.
— Otávio Perrot.
— O prazer é meu, senhor...
— Só Otávio.
— Sentem-se... Não fiquem aí de pé. — Katy fala.
Abrimos espaço e eles sentam. Otávio fica ao meu lado e o perfume
inebriante me invade de maneira profunda.
— Não sabia que é o dono. — Digo e Leon sorrir de lado.
— Meu sócio toma a frente das boates. — Dobra a perna e encosta
no acento. — Eu intercalo os dias junto com ele.
Liana o encara e sorri.
— Deve ser trabalhoso.
— É. Mas vale a pena.
— Trabalhe com o que ama e nunca mais precisará trabalhar na
vida. — Otávio completa sério.
— É isso. Sábio, irmão mais velho. — Leon pisca devagar.
— Você fugiu de casa, Otávio? Anna jamais deixaria você sair
sozinho. — Katy sorri e ele suspira.
O encaro de relance, vendo-o se mexer.
Liana me fita sobre a borda do copo e tamborilo os dedos na mesa.
— Ela pegou a vassoura dela e fugiu. — Leon dispara.
— Leon! — Katy não consegue segurar a gargalhada.
— Ela está em casa. — Ele diz, apenas.
Passo a língua pelos lábios, não querendo encara-lo fixamente.
Começamos a conversar sobre um assunto banal. Leon consegue
arrancar risadas de Katy e Lia, sobre suas viagens emocionantes.
Sinto os olhos de Otávio queimar em minha direção e sequer viro
em sua direção.
Passou uma semana inteira sem ao menos dirigir a palavra a mim e
agora está agindo como se eu que tivesse feito algo de errado.
Ah, vá lá lavar a casa do cachorro!
— Nossa... Eu vou pegar uma bebida. — Katy estala os dedos, se
erguendo quando Just a dance de Lady Gaga começa a soar. — Eu amo
essa música! Vamos dançar!
— Vamos! — Lia aceita, sorrindo.
— Vamos, Ruiva?
Sinto a mão apertar minha coxa por baixo da mesa.
— Vou daqui a pouco. — Sorrio levemente.
— Eu vou na minha sala. Fiquem a vontade. — Leon diz nos
olhando.
Posso jurar que vi um sorriso escondido em seu rosto.
— Cadê o gato que estava com você, Mia?
— Deve ter ido embora. — Sorrio e Katy faz um beicinho, enquanto
Liana a puxa, já dançando.
— Não sabia que está criando gatos agora.
Viro o rosto assim que a voz rouca soa e o encaro fixamente.
Arqueio a sobrancelha.
— Prefiro os tigres.
Permanecemos nesse olhar ameaçador. Um encarando o outro com
voracidade, como se fôssemos capaz de nos devorar ali mesmo.
E talvez fôssemos.
— Saiu para tomar um ar, ou coragem? — Balanço o drink devagar.
Ele balança a cabeça de um lado, para o outro.
— Sua língua está ferina, hoje.
— Ela sempre foi.
Olho para a frente e a área V.I.P. está cheia de pessoas dançando. O
som alto e a fumaça nubla a visão. Sinto um arrepio na coxa, quando seu
polegar roça de leve em minha pele.
É como uma corrente de choque que irradia por todo meu interior.
Um aperto firme, me faz o encarar na mesma hora.
— O que está fazendo aqui, Otávio? — Pergunto firme.
— Vim atrás de você.
Sorrio, mordendo o lábio e balaço a cabeça.
— Passou uma semana inteira me evitando e mal me encarava... E
agora está me dizendo que veio atrás de mim?
— Vim. Quero conversar com você.
— Mas eu não quero conversar com você.
— Mia... — Fecho os olhos e sorrio sem humor.
— O que você quer, Otávio? Me deixe em paz! — Retiro a mão
grande da minha perna. — Me deixe em paz!
Me ergo, saio da mesa e desço as escadas devagar, me equilibrando
nos sapatos de salto fino.
É incrível o quanto ele consegue me deixar... Fora de mim!
Olho para os lados, mas não vejo Katy ou Liana, me aproximo do
bar e o barman me olha.
— Tequila. Da mais forte que tiver. — Peço rápido e ele assente, já
se virando.
Volta, enche o shot e me entrega. Viro de uma única vez, sentindo o
líquido rasgar em minha garganta.
Sinto a mão segurar minha cintura firmemente e me viro, o
encarando.
— Me solte.
Os olhos fixos em mim, como uma águia, pronta para atacar a presa.
— Vamos sair daqui! — Diz me olhando.
Nego devagar.
— Eu vou dançar.
— Mikaella.
— Vai fazer o quê?
Ele olha de um lado para o outro e engulo em seco.
— Volte para sua casa, Otávio! Aqui não tem nada que te pertença...
Antes de terminar a frase, sinto a mão enlaçar minha cintura
firmemente, colando o meu corpo ao seu, com força. Sinto sua ereção,
que não faz a menor questão de se esconder na calça.
— Tem certeza? — Os olhos cravados em meus lábios.
— Me deixe. — Junto forças de onde não tenho e me afasto, virando
e saindo rapidamente.
O ambiente parece ter ficado menor, e sinto o suor descer pelo meu
pescoço.
Solto o ar preso, segurando a bolsa nas mãos. Sequer consegui ver
Liana, para dizer que estou indo embora. Mas como viemos de táxi, ela
provavelmente vai embora assim que não me encontrar.
Encaro a fila de pessoas parada e caminho para mais longe, pronta
para pegar o táxi.
Observo a Mercedes prata, parar a minha frente e Otávio descer, me
olhando.
— Entra no carro. — Ele fala baixo, mas firme.
— Não. — Ergo o queixo, o fitando.
— Mia... Entra no carro.
Giro nos calcanhares, seguindo em frente, sem o encarar.
— Mikaella, entra na PORRA DESSE CARRO!
Uiii... Ele está bravinho.
Paro estática, o olhando incrédula. Alguns casais passam no exato
momento, nos encarando.
Otávio passa as mãos nos cabelos e cruzo os braços na altura do
peito.
— Está ficando louco?
— Estou. — Responde, ofegante. — Ruiva dos infernos! Entre no
carro...
— Não, e não! — Ralho e ele assente.
Mas em questão de segundos, ele se aproxima, me pega no colo e
abre a porta com uma agilidade invejável.
— Seu... Seu..! — Me coloca sobre o banco e fecha a porta.
Vejo-o dar a volta e entrar, assumindo o volante.
— Fica quieta, agora.
— Minha vontade é de partir a sua cabeça ao meio! — Coloco o
cinto e ele pisa no acelerador.
As mãos grandes segurando o volante.
Viro o rosto, olhando as ruas movimentadas, os prédios e as luzes
brilhantes das boates, bares e restaurantes.
— Minha casa não é por aqui...
— Não estamos indo para sua casa.
— Onde está me levando?
Ele continua olhando para a frente.
— Onde estamos indo, Otávio? — Falo entre dentes.
Me encara rapidamente e vejo o maxilar rígido, a barba baixa e o
perfume forte amadeirado, exalando do corpo másculo.
Foco, Mikaella. Foco.
Alguns minutos depois, entramos na garagem de um prédio, ele
estaciona devagar, desce e vejo-o dar a volta e abrir a minha porta.
Encaro a mão estendida e desço, sem pega-la.
Subimos no elevador em total silêncio, me encosto no espelho,
cruzo os braços e o olho de relance.
Está sério, com os olhos fixos nos números que passam no painel.
As portas se abrem diretamente na sala de estar de um apartamento
incrível e magnífico. A sala de estar enorme, com uma varanda e uma
vista espetacular.
Otávio me encara e continuo em pé, o fitando.
— Você pode se sentar.
— Não. Não posso.
— Mia...
— Você passa uma semana inteira sem falar comigo direito, mal
olhando na minha cara! E se acha no direito de vir na boate, como se
fosse o dono do mundo e me fazer te escutar? — Abro os braços, o
olhando.
— Me desculpe. — Diz baixo.
— Não. — Balanço a cabeça. — Está querendo fugir da sua casa,
da sua vida e vem para descontar a sua raiva em horas de prazer!
— Acha que estou aqui para isso? Para transar? Acha que eu quero
você apenas para isso?
— Tudo começou por sexo, não foi? — Dou de ombros.
— Você é mais que uma transa de momento! Você sabe disso,
Mikaella!
— Sua amante! Seu desejo insano, não é?
Merda.
O que está acontecendo comigo?
— Você sabe que se tornou mais que isso, Mikaella.
— Pode falar o nome, Otávio... Amante! Eu entrei nessa merda,
sabendo o que ia vir pela frente! — Ralho, o encarando, sentindo a
garganta arder. — Uma semana... Uma semana, sem me olhar, cara a
cara!
— Eu estou enlouquecendo, inferno! — Passa as mãos pelos
cabelos, me olhando. — Estou enlouquecendo... Por que não sei o que
está acontecendo comigo! Eu nunca agi assim!
Franzo o cenho, o encarando, parado no meio da sala.
Ofegante. Sério. Os olhos cravados aos meus.
— Nunca agi feito a porra de um adolescente tomado por
hormônios, eu nunca... Nunca desejei tanto alguém, ao ponto de não...
Não raciocinar!
Engulo em seco e balanço a cabeça.
— Você acha que é só sexo? Que é apenas isso? Mas não é... Acha
que eu viria atrás de você, se fosse apenas sexo?
— Eu não sei. — Digo baixo, mas continuo firme.
— Sabe, sim! — Solta a respiração pesada. — Você sabe...
Ficamos parados, nos olhando fixamente, frente a frente e o silêncio
ensurdecedor toma conta de todo o ambiente. Meu coração bate
descompassado no peito e minhas mãos suam.
Sinto seu olhar queimar por todo meu corpo.
— Você fodeu comigo, Mikaella! Eu só pareço raciocinar quando
está perto, chame isso do que quiser... Mas eu...
Franzo o cenho, vendo-o negar devagar e passar as mãos pelos
cabelos, desesperado.
— Eu estou louco por você, Ruiva!
Sinto o impacto das palavras sobre mim e o olho.
Memórias passando por minha cabeça em um turbilhão de
sensações.
◆◆◆

— Nunca acreditei no amor, Mikaella, ele apenas.... Machuca as


pessoas..., Destrói.
Nego devagar, limpando suas lágrimas que caem.
— Mamãe...
— Foi isso que o amor... Do... Seu pai... Fez comigo. — A voz sai
baixa e esganiçada.
Ouço o barulho dos aparelhos ligados em seu corpo. Está tão
debilitada. Fraca.
Mesmo sabendo que ela tem razão.
O amor é isso?
Destruir?
Mentir?
Enganar?
É tudo culpa dele.
Tudo culpa dele, que nos deixou sem nada, a própria sorte.
Miserável.
— Pare de falar... Pare... Vai ficar tudo bem.
Ela nega devagar, apertando minha mão.
— Não existe amor, Mia. O único amor real... É o nosso... De mãe
para filhos... O meu por você... Pela sua irmã...
— Mamãe...
— Eu sinto muito ter que... Te deixar amor.
Nego veemente, enquanto as lágrimas descem e o soluço me
impede de falar.
Ela sorri me olhando.
O barulho dos aparelhos se tornam altos.
— Mãeeeeeeeee. — Grito alto vendo, o sorriso se desfazer.
◆◆◆

Abro os olhos e viro de costas, sentindo as lágrimas descerem


rolando pelo meu rosto, fungo baixo e sinto as mãos me tocarem.
— Mikaella?
Me desvencilho e balanço a cabeça de um lado, para o outro.
O coração em frangalhos.
— O que você quer de mim, Otávio? — Disparo e quase me
arrependo de encara-lo.
O corpo grande próximo a mim, o rosto a centímetros do meu.
— Eu quero você... Quero você de um jeito forte, que chega a me
enfraquecer.
Engulo em seco, sinto-o se aproximar e segurar minha cintura.
Mesmo de salto alto, continuo baixa perto dele.
Ele segura meu queixo, erguendo-o, me fazendo fitar os olhos azuis.
— Pare, Otávio. Pare com isso.
Passa o polegar pelos meus lábios, entreabrindo-os.
— Você é mais que uma amante. Mais que sexo... Você me
enlouquece, me tira de órbita, Mia.
— Pare... — Fecho os olhos, sentindo a respiração junto da minha.
O nariz esfregando ao meu. As mãos grandes, apertando firmemente
minha cintura, grudando o corpo grande ao meu.
Como se eu fosse escapar.
— Você provoca em mim, meus desejos mais secretos. Faz com que
eu te deseje por inteira, com força e carinho. Com uma vontade
insaciável, de sentir você junto a mim.
— Otávio... — Sinto os lábios tocarem os meus levemente e
espalmo a mão em seu peito.
— Você tem o poder de me abalar, de querer tanto, que dói...
Coloco os dedos em seus lábios e ele segura minha mão, beijando-a.
— Pare, Otávio.
— Eu quero largar...
O beijo, calando as palavras que teimavam em escapar de sua boca.
Por medo. Por culpa. Por todas as sensações que estão dentro do meu
corpo nesse momento.

Sinto a língua afundar em minha boca e bebo os gemidos doces. As


mãos em meu rosto e o corpo colado ao meu... Ah, é minha loucura mais
insana!
Enfio os dedos entre seus cabelos, sugando os lábios, enquanto a
língua entra em uma luta frenética com a minha.
O arrepio na pele, pelo toque das unhas. Ela mordisca meus lábios e
desço para o pequeno queixo, chupando-o.
Está linda, exalando um tesão e um desejo que só ela faz. Estou com
o coração disparado, desde que recebi a mensagem de Leon, falando que
ela estava na boate com as amigas.
Tentei ao máximo entender o que estava acontecendo comigo essa
semana, o turbilhão de sensações e emoções passando pela minha
cabeça e pelo meu coração.
Mas todos me levavam a apenas uma coisa:
Mikaella.
Queria deitar seu corpo naquela mesa e me perder nas curvas
deliciosas, queria ouvir sua risada gostosa. Queria olhar para aqueles
olhos azuis e me perder no brilho deles.
Estou confuso. Angustiado. Louco.
"Eu quero largar..."
Eu quero largar tudo.
Ela sabe.
Fito-a suspirar pesadamente, me olhando. Acaricio o rosto
levemente, vendo as sardinhas pintadas nas bochechas e beijo-as
levemente.
As mãos pousadas no meu peito em um carícia lenta, e travo o
maxilar, sentido-a descer e engulo em seco quando ela para, acariciando
a ereção, que pulsa na calça.
Sem pudor, contorna o membro longo e esticado de tanto tesão, que
chega doer para estar dentro dela.
— Mia... — Seguro em sua mão, vendo o sorriso lento se curvar.
E antes que possa falar algo, sinto o impacto dos lábios sobre os
meus. A ergo, segurando em seus quadris, enquanto as pernas se fecham
nos meus.
Subo as escadas, beijando sua boca com voracidade e desespero;
gemendo e arfando.
Entramos no quarto espaçoso e a coloco no chão, vendo que encara
a suíte com espelhos nas paredes.
Nos olhamos e vou descendo, observando as pernas torneadas, as
meias pretas e a saia curta, que a deixam ainda mais...
Perfeita!
— Vire de costas, Mia... — Peço.
Ela se vira, ficando de frente para o enorme espelho, que fica em
frente a cama. Me aproximo lentamente e tiro sua blusa, sem deixar de
fita-la pelo reflexo.
Vejo os seios saltarem, assim que a peça sai. Beijo o ombro nu e o
pescoço, enquanto seguro os seios nas minhas mãos. Ouço o gemido
baixo e o sorriso afetado aparecer.
— Dance para mim. — Peço rouco.
— O quê?
— Dance assim. Para mim. — Torno a repetir. — Tira a saia, fique
só com as meias e os saltos...
Mikaella se vira, erguendo o queixo.
— Porque?
— Porque eu quero te ver dançar.
Abro os botões da camisa, enquanto me sento na poltrona de canto e
apoio a perna na outra. O coração palpitando, desesperado e ansioso
para matar toda e qualquer saudade que tem aqui dentro.
— Eu sei o quanto você adora. Faça isso para mim.
Aperto o controle do aparelho de som embutido e a música começa
a soar em batidas fortes.
River
...Como um rio, como um rio
Cale a boca e me percorra como um rio...
Mikaella sorri, me encarando e mordendo os lábios devagar.
Os cabelos ruivos caindo sobre o colo.
Como nos apaixonamos
Mais intensamente do que uma bala poderia te atingir?
Como desmoronamos
Mais rápido do que um grampo cai?
Desce o zíper da saia lentamente, tirando os pés do amontoado que
fica no chão. A calcinha preta de renda, completamente enfiada na bunda
perfeita, é minha morte.
Puta que pariu!
Observo o corpo esguio se balançar, começando lento, enquanto
suas mãos vão para os cabelos, afastando do rosto... Os quadris se
movendo a cada batida da música.
Não ouse dizer, não ouse dizer
Não diga, não ouse dizer
Uma simples respiração vai quebrá-lo
Então cale a boca e me percorra como um rio
A bunda empinada e alva é um convite ao pecado. Mikaella se vira,
me olhando através do espelho sensualmente.
Sorrio, a olhando.
Cale a boca, querido, e mostre a que veio
Mãos santas, elas me tornarão uma pecadora?
Como um rio, como um rio
Cale a boca e me percorra como um rio
Sufoque esse amor até as veias começarem a estremecer...
Me remexo, sentindo meu pau pulsar, com a visão penetrante dos
olhos nos meus. Ela dança lindamente, tomando toda minha atenção e
desejo para si.
Ela se aproxima, sem quebrar o contato dos nossos olhos.
A calcinha é retirada, descendo pelas pernas torneadas, e sorrio,
quando a peça é jogada para mim.
Contos de um coração eterno
Amaldiçoado é o tolo que se dispõe
Não podemos mudar nosso jeito
Estamos a um beijo de distância de nos matarmos
— Você é um tesão. — Seguro a peça, sentindo o cheiro da
excitação me dominar.
— Eu sei. — Diz baixo e é o suficiente para puxa-la para o meu
colo.
O contato do corpo quase nu sobre o meu, me faz perder a cabeça. A
beijo firme, chupando seu pescoço, enquanto Mia se gruda em mim.
— Você me deixa maluco, minha Ruiva. — Tomo o bico rosado e
enrijecido, prendendo-o nos lábios.
O sugo e ouço seu gemido baixo ecoar.
— Meu tesão descontrolado. Minha diaba ruiva.
Apalpo a bunda, fazendo-a gemer. Acerto um tapa e ela sobressalta,
rindo e gemendo contra minha boca grudada a sua.
A deito sobre a cama, tiro os saltos e abrindo as pernas grossas,
vendo a bocetinha exposta e molhada. Passo a língua, dando uma
lambida devagar.
O gosto da excitação me dopa. Sugo o clitóris inchado para dentro
da minha boca.
— Otávio...
É deliciosa. Quente. Molhada. Única.
Sinto minha respiração travar, ao sentir os dedos se enfiarem em
meus cabelos, então continuo a suga-la, prendendo os pequenos lábios,
passando a língua. O barulho da sucção preenchendo o quarto, assim
como nossos gemidos.
Meu pau lateja e preciso me livrar da calça, que o apertava. Seguro-
o, descendo a mão, a glande baba e por mais que eu queira sua boca, eu
preciso estar dentro dela.
— Preciso estar dentro de você...
Mikaella arqueia as costas, agarrando-se ao lençol, enquanto passo
os dedos pela boceta, espalhando sua excitação.
— Vem... — Pede, me encarando.
Entrei dentro dela com urgência. A carne me prendendo, enquanto
me afundo no interior, a boca toma a minha, e arfo ao sentir as pernas me
prenderem.
Meu quadril batendo contra o seu. Fundo e com uma urgência
desesperada, de tê-la mais e mais...
Mikaella geme, se agarrando em mim, chupo os seios, que sobem e
descem pela respiração acelerada. Ela se abre, me recebendo em cada
estocada. Me prende, enquanto a fodo, arfando. Somos dois animais
selvagens e dopados de desejos insanos.
— Minha... — Gemo contra seus lábios, vendo-a negar devagar.
O sorriso lânguido e as pupilas dilatadas.
Está corada, ofegante. As mãos em meu peito, apertando e
arranhando.
Os quadris se chocando, meu pau some, entrando fundo nela, e tiro,
enfiando novamente. Ela rebola, me aperta e geme descontrolada em
minha boca.
Seguro em seus cabelos, sentindo o suor descer pelo vale dos seios
e amparo com a língua, chupando-o.
— Ahh... — Abre a boca e sorrio.
Volto a estocar fundo, sentindo meu pau esticar e o músculo
enrijecer a cada investida brusca.
— Eu vou... — Diz baixo e mexo os quadris, no mesmo ritmo que o
seu.
Indo para o caminho pecaminoso e ensandecido do mais puro
orgasmo. Chegamos juntos, suados, arfantes, enquanto os jatos quentes
do gozo a inundam.
Colo a testa na sua e fecho os olhos, vendo-a me encarar. Ainda
pulsando dentro dela.
A puxo para meu peito e sinto sua cabeça pousar devagar, encosto o
queixo no topo dos cabelos, ainda molhados, e o cheiro de cabelo recém
lavado me invade.
O lençol branco de linho, é a única coisa que cobre nossos corpos,
tomamos um banho demorado, onde transamos mais uma vez, encostados
na parede fria do banheiro.
Traço uma linha imaginária em suas costas e ela continua em
silêncio, desde o momento que se deitou.
Tê-la nua, deitada em meu peito, depois de um dia de cão, é
reconfortante. Foram dias difíceis, confusos e irritantes.
Acaricio suas costas e sinto a pele arrepiar sobre meus dedos.
— Otávio? — Chama baixinho.
— Hum. — Digo, olhando para sua mão em meu rosto.
— Por que você estava na boate?
Por você.
Fecho os olhos, que começam a pesar.
— Por você.
Ela ergue o rosto, me encarando e eu sei exatamente o que vai
perguntar.
— E sua esposa?
— Estamos dormindo em quartos separados, Mikaella... Não somos
mais um casal.
Vejo-a engolir em seco e deitar a cabeça novamente. Ficamos assim,
com o silêncio ecoando pelo ambiente e eu acariciando a mão pousada
em meu peito. Beijo o topo de sua cabeça, sinto o cansaço e a sensação
de relaxamento me tomar.
Suspiro, e depois de longos minutos, a encaro se mexer, sair de cima
de mim e se virar, ficando espalhada na cama. Mikaella dorme
tranquilamente e completamente nua ao meu lado.
Apoio minha cabeça nos mãos e fico observando o sono tranquilo
da minha ruiva.
Hum... Já é sua Ruiva.
Meu coração bate forte no peito e suspiro, vendo-a ressonar baixo.
Tiro uma mexa de cabelo, que cai sobre a testa.
Beijo seu ombro e ela sequer se mexe.
— Mikaella Gonçalves. — Digo baixo.
Os olhos baixos e a respiração tranquila, denunciam o sono pesado
em que está.
— Eu sei que não deveria... — Me aproximo do rosto e mordo os
lábios.
Engulo em seco.
— Mas estou completamente apaixonado por você...
Saio do carro olhando o enorme jardim da casa dos meus pais, a
mesa de almoço posta ao redor da piscina, como fazem todos os fins de
semana. Sorrio, acenando e mamãe me encara, com uma expressão de
surpresa. Talvez realmente seja.
Foi um esforço tremendo sair da cama essa manhã. Acordar e ver
Mikaella ao meu lado. Linda, nua... Os cabelos ruivos, espalhados pelo
lençol branco faziam contraste, deixando-os ainda mais perfeitos.
As sardas no ombro, nas costas e espalhadas por todo corpo, eram o
motivo para eu não querer sair dali nunca mais.
Estou completamente apaixonado por você.
Estou mesmo, com tudo de mim.
Acho que demorei dias para entender o que estava martelando na
minha mente.
Me apaixonei perdidamente por essa ruiva.
Mas sei que estamos distantes de assumir algo. Mikaella parece ter
uma barreira enorme naquele coração. Eu sei o que é...
Pelo que me contou, sua relação com o pai foi extremamente
conturbada. O mesmo traiu sua mãe e a deixou em uma situação grave de
doença.
E tem a sua esposa também...
Mal nos falamos durante a semana. Ir dormir no quarto de hóspedes,
foi como declarar mais uma guerra contra Anna.
Faço as refeições no escritório e me tranco no quarto, onde demoro
mais do que o normal para dormir.
Sorrio devagar, balançado a cabeça. Coloco as mãos nos bolsos e
ando até a mesa posta. Leon está ao lado do nosso pai, que conversa
rindo.
— Achei que estivesse vendo uma miragem. — Mamãe diz, me
abraçando. — Às vezes esquece que tem mãe...
— Eu te vi há dois dias, mamãe. — Beijo sua testa e seguro em suas
mãos. — Está linda.
— E você parece cansado. — Arruma minha camisa e vou dá um
abraço no meu pai.
— Como vai, papai?
Ele me encara e suspiro.
— Bem. — Diz baixo.
Evito olhar para ele, sabendo que os olhos azuis estão me encaram.
— Cadê meu beijo? — Leon fala quando me sento na sua frente.
— Lúcia não chegou de viagem ainda?
— Chegou ontem, deve estar chegando para almoçarmos todos
juntos. — Mamãe se senta ao lado do meu pai e ambos me encaram.
É óbvio que sabem que eu não dormi em casa. Anna deve ter ligado
para cá.
Viro o rosto e vejo o carro de Roger estacionar, Lúcia desce ao seu
lado, aos risos, abraçada a ele.
— Não te falaram que é um almoço de família, Roger? — Leon
brinca sorrindo, enquanto os dois se aproximam.
— Eu já sou da família. — Roger franze o cenho e ri. — Como vão?
Ele acena me encarando e sorrio levemente.
Me dou bem com Roger. Não tanto quanto Leon já que são amigos
há muito tempo.
Lúcia se aproxima, me dá um beijo no rosto e sorrio, apertando suas
mãos.
— Como está meu maninho?
— Melhor agora, que você chegou. — Sinto o afago em meus
cabelos. — Como foi de viagem?
— Bem. — Lúcia sorri. — Está meio triste, ou é impressão minha?
— Impressão sua. — Aperto as mãos nas minhas.
Ela olha de um lado para o outro e me fita.
— Anna não veio?
Nego devagar e ela me encara.
— Roger, eu fiz aquele peixe regado a ervas que você ama. —
Mamãe o encara.
— A senhora é um anjo.
— Ele rouba a nossa irmã e ainda quer roubar a nossa mãe. — Leon
joga o guardanapo em sua direção. — Quando pretende oficializar a
relação, Roger?
Lúcia franze o cenho.
— Leonel!
— Leon tem razão... — O fito sorrir enquanto segura a mão dela, a
olhando.
— Temos nosso tempo, não é, meu amor?
Ela assente levemente e os olhos brilham, o encarando.
— Temos sim. Estamos bem desse modo.
— Não vamos demorar muito. — Papai os fita e Roger nos encara.
— Irei fazê-la muito feliz.
— Pode levar. — Leon sorri.
— Eu tenho certeza que vai. — O encaro, arqueando a sobrancelha.
— Que irmãos mais ciumentos. — Lúcia franze o nariz e balança a
cabeça.
— Vamos almoçar... Gilian pode nos servir.
Pego o celular e digito rapidamente.

Espero que esteja tendo um dia incrível.


Bloqueio a tela e vejo que Leon me encara com um sorriso de canto,
reviro os olhos e Gilian se aproxima com os pratos, e o aroma delicioso
nos invade.
— Espetacular. — Roger diz, levando uma garfada a boca. — Isso é
um manjar dos deuses, minha sogra.
— Tudo que Mamãe faz, é bom... Olhe eu, por exemplo. — Leon
gargalha.
— Convencido esse meu filho.
Lúcia franze o cenho, nos olhando.
— Anna chegou.
O carro para e Dom sai, dando a volta para abrir a porta. Anna
desce, o olhando, fala algo e ele apenas assente.
— Já prestou. — Leon revira os olhos.
Ela tira os óculos de sol, nos olhando.
— Anna... — Mamãe se ergue e a abraça. — Como está?
— Já estive melhor. — Sorri devagar. — Oliver.
— Anna. — Papai a cumprimenta rapidamente.
— Lucy... Roger... Que casal mais lindo. — Anna sorri os olhando.
Roger a encara e Lúcia fica olhando nós dois.
Ela para o olhar em mim, mas volta a encarar o prato.
— Sente-se, Anna.
— Claro, que saudades do almoço em família. — Diz baixo, se
sentando ao meu lado. — Mas acho que talvez, não faça mais parte...
O silêncio se instala. Leon a olha e sussurra:
— Seria um sonho.
— Leonel. — Mamãe o repreende.
— Tudo bem, Felícia. — Anna diz baixo. — Já me acostumei com o
humor ácido de Leon.
— Prove o peixe, minha querida, está uma delícia.
Levo o garfo a boca, enquanto começam a conversar. Continuo
calado e meu celular vibra no bolso.
— Seu celular está tocando, não vai atender, meu bem? — Anna diz
baixo e a fito.
— Não.
Ela se remexe devagar.
— Pode ser importante... Ou do seu trabalho, já que está vivendo
apenas para ele. — Continua. A sobrancelha arqueada me olhando
fixamente e sorri, encarando todos a mesa. — Ele sequer dormiu em
casa ontem a noite, Onde esteve, Otávio? No seu trabalho?
— Não comece, Annabell. — Digo entre dentes.
— Você não dorme em casa, não me atende... E eu que estou
começando algo?
— Anna... — Mamãe segura em sua mão.
— Ele não disse a vocês onde estava? Por que é óbvio que sozinho,
ele não passou a noite! — Ralha e joga o guardanapo a mesa. — Diga,
Otávio... Diga na frente da sua família onde estava! Diga que deixou a
sua esposa sozinha, para se divertir! Diga que deixou a mãe do seu
filho... A mercê da própria sorte!
— Chega, Anna! — Vocifero, batendo com as mãos na mesa. —
Chega!
— Hollywood está perdendo essa atriz! — Leon dispara, batendo
palmas. — Você está de parabéns, Annabell!
— Leon, não piore a situação. — Ouço a voz de Lúcia.
— Era uma plateia que você queria? — Me ergo e ela faz o mesmo,
me olhando. — Era atenção que você estava querendo? Pois agora você
tem!
— Você acha que vai me deixar assim? Acha? Está completamente
equivocado, Otávio!
— Meu Deus! — Nego devagar.
— Parem os dois, agora! — Papai grita, nos encarando. — Acham
que é assim que as coisas vão se resolver? Na base do grito? Por Deus!
— O seu filho... Está... Me deixando sem estruturas nenhuma! —
Anna põe as mãos no rosto, entrando em um choro compulsivo.
Passo as mãos pelos cabelos, nervoso.
— Eu perdi o apetite. Com licença. — Afasto a cadeira e subo os
degraus rapidamente.
Balanço a cabeça, andando de um lado para o outro no escritório do
meu pai, alguns segundos depois vejo a porta se abrir e Leon entra.
— Onde ela está?
— Fazendo o teatro dela, de pobre coitada! — Ele abre os braços e
o fito. — Ela está fora de controle, Otávio!
Viro de costas, suspirando.
— Estava com ela ontem? — Leon indaga e engulo em seco.
Assinto rápido, ainda de costas.
— Dormimos juntos. — Confesso baixo e o encaro.
Meu irmão morde o lábio, assentindo.
— Está gostando mesmo dela?
Nos calamos de imediato quando a porta se abre e Lúcia entra, nos
encarando.
— Eu nunca vi a Anna desse jeito! Meu Deus! O que está havendo?
— Diz séria.
— Ela precisa de um tratamento psicológico urgente! — Leon berra.
— Essa mulher é caso de hospício!
— Leon... — Lúcia me encara. — Anna está na sala de estar, está
mais calma. Mamãe disse para descer.
Passo a língua pelos lábios, as mãos pelos cabelos, e saio depois de
alguns minutos, tentando recuperar o fôlego, que parece ter sumido.
Entro na sala de estar, vendo-a sentada no sofá de canto.
Mamãe e papai me encaram.
— Acho que precisam conversar com calma e tranquilidade. — Diz
séria.
— Depois conversamos com você. — Papai me fita e os dois saem,
nos deixando sozinhos.
Anna ergue os olhos, me encarando e limpa o rosto e se levanta
devagar. Não vou mais bater na mesma tecla, que na verdade já está até
quebrada.
— Acho que você sabe o que devemos fazer... — Digo e ela só
continua me encarando. — Isso está indo longe demais. Não estamos
felizes, não estamos vivendo...
Anna se mexe.
— Estamos acabando, um com o outro! Não dá mais... Não dá para
continuarmos com isso! Empurrando com a barriga, algo que não tem
mais... Concerto!
Engulo em seco e ela se ergue rapidamente.
As lágrimas descendo copiosamente.
— Sei que nosso casamento está passando por atribulações...
Depois que Ben morreu...
— Não tem nada a ver com o Ben, Anna! Deixe-o descansar em paz!
Por Deus! Já não estávamos bem antes...
— Estávamos, sim! — Se aproxima, segurando em minha camisa. —
Estávamos! Você só... Quer me deixar por isso! Porque ele não
sobreviveu!
— Pare, Anna! Não é pelo Ben! É por nós dois... Não estamos mais
dando certo! Não estamos... E é inútil querer concertar algo que não tem
mais concerto, Annabell!
— Eu não vou deixar você acabar com o que construímos! Ouviu?
Valha.
— Anna...
Ela nega rapidamente, segurando em meu rosto.
— Eu sei, eu sei... Eu errei com você, meu amor. Mas eu te amo
tanto, Otávio, tanto. Por favor... Por favor, não me deixe... Não me
deixe...
Continuo estático, parado no mesmo lugar e nego.
— Não dá mais. Não dá mais para continuar com você...
— Por favor... Por favor... Não me deixe! Não me deixe! — Soluça
descontrolada, segurando em minha camisa, sufocando os gemidos em
meu peito. — Eu só tenho você... Eu só tenho você... Por favor... Por
favor, não me deixe!
Tenta a todo custo me beijar e fecho os olhos, a afastando.
— Não dá, Annabell.
— Você me ama... Você... Você me ama! Não pode me deixar! Não
vai me deixar... Não vai...
Seguro em suas mãos, olhando-a fixamente. O queixo tremendo
enquanto as lágrimas descem.
— Você me ama... Eu sei que ama...
— Eu não amo mais você. — Digo baixo.
Anna franze o cenho e arfa, me encarando.
— Acabou, Anna. Acabou.
— Não acabou... Não... Não... Não...
Ela repete agoniada e apenas sinto-a cair em meus braços,
completamente apagada.
— Anna! Anna! — Seguro em seu rosto, batendo levemente. —
Annabell, fala comigo!
— Como ela está? — Pergunto ao ver o médico descer as escadas.
— Foi um desmaio por queda de pressão, nada grave. Só vou pedir
uns exames de rotina. — Ele nos encara. — Apenas repouso hoje,
descansar o máximo que puder e muito líquido.
Passo as mãos no rosto e Leon me encara.
— Obrigado, Hudson. — Aperto sua mão e ele sorrir.
— Fique tranquilo. Espero ela no consultório para fazer os exames.
— Ela estará lá.
Me sento assim que ele sai e fito meu irmão sentado na poltrona. Se
mexe, ajeitando a camisa e coloca a mão no queixo, com os olhos
cravados aos meus.
Ele está prestes a falar alguma coisa, quando nosso pai desce as
escadas. Está sério, me encarando em silêncio.
— O que esta está acontecendo entre vocês dois? — Pergunta e se
senta no sofá. — Sei que sempre tiveram essas brigas, mas nada que
chegasse a esse ponto! Ontem ela nos avisou que não dormiu em casa,
que está... Está diferente.
— Ele está acordando, papai.
— Leon, não se meta! — Pede gentilmente.
— Vocês parecem não enxergar a bruxa que ela é... O quão sonsa e
dissimulada! Meu Deus!
— Leon... — O encaro abrir os braços.
Papai está o fitando e apenas para não causar outra discussão, o
parei. Ele me fita e assente.
— Eu não vou ficar aqui vendo o teatro dessa mulher!
— Leon! — Lúcia desce as escadas rapidamente. — Dá para ouvir
sua voz lá de cima...
— Que ouçam! Essa mulher vem sugando a vida do meu irmão há
anos. Há anos, Otávio é manipulado por essa cobra e vocês fingem que
não estão vendo! — Coloca o dedo em riste e me encara. — Largue-a
enquanto é tempo, ou ela vai destruir você!
Se vira e sai batendo a porta com força.
Lúcia arregala os olhos, me encara e balanço a cabeça devagar.
— Mas o que diabos está acontecendo com vocês hoje? Meu Deus!
Fecho os olhos, suspirando pesadamente.
— Vou pedir para Gilian preparar um chá para Anna. — Papai se
levanta e sai.
Lúcia me encara e passo as mãos pelos cabelos, olhando-a se
aproximar. Mesmo sendo idêntica a Leon, os dois são completamente
diferentes. Ela é a calmaria, a doçura e a fragilidade.
Sempre foi carinhosa, e por ser a nossa caçula, mesmo sendo só por
dez minutos de diferença, é a nossa princesinha.
— Por que não me conta o que está acontecendo? — Diz docemente,
parando na minha frente. — Sempre conversamos sobre tudo, Otávio.
Sempre.
Fixo os olhos aos seus e engulo em seco.
— Sei que você e a Anna não estão bem há muito tempo. E que
depois da morte de Ben, piorou. Mamãe me contou. — Diz baixo,
mordendo o lábio. — Mas eu sou sua irmã, mesmo com dez anos de
diferença entre nós dois... Você sempre conversou comigo! Sempre...
Franzo o cenho, olhando-a.
— Eu sei que essa implicância de Leon com a Anna, é desde muito
antes do fim do noivado dele com a Cíntia. — Lúcia dá de ombros. —
Depois piorou, mas enfim... Depois eu converso com ele e tento colocar
na cabeça dele, que a Anna jamais ia compactuar com aquilo!
— Você sabe que não adianta, Lúcia.
— O fato delas serem primas, não quer dizer que a Anna a tenha
ajudado a trair o nosso irmão. — Ela engole em seco. — Espero que
esse homem, com quem Cíntia escolheu ficar, esteja muito feliz com ela,
no quinto dos infernos!
— Lúcia...
— Mas agora eu quero que você converse comigo, Otávio. Me diga
o que está realmente acontecendo entre você e a Anna!
Sinto as mãos pequenas apertaram minhas mãos e a fito.
— Eu sou sua irmã...
— Vou me divorciar da Anna.

— Quando eu te vi
Na minha frente
Vi que o amor
É tão diferente
Eu inocente caí sem querer
Foi de repente
Nem deu pra perceber
Canto, enquanto afasto os móveis, acabando de limpar toda a casa.
Mudei alguns de lugar e tirei o pó de tudo. Minha casa estava
precisando.
Danço e seguro o espanador, fazendo uma espécie de microfone, me
preparando para o refrão.
— Eu acho que pirei
Meus pés saíram do chão
Eu posso até voar
Segura o meu coração
Até me belisquei
Será que é ilusão
O que eu senti não dá pra explicar ou cantar numa canção
Nada como música, para animar um domingo de faxina.
Quando eu te vi logo pensei
É o amor que eu sempre sonhei
Meu coração então disparou
Quando você sorrindo me olhou...
Me deito no tapete, vendo tudo completamente organizado e limpo,
do jeito que eu gosto. Acabei tudo justamente da hora do almoço.
Esquento o strogonoff, que fiz na noite anterior e comi junto com
Dean e Lia, que passaram a noite comigo, como nos velhos tempos.
Assistimos filme e conversamos por horas, até pegarmos no sono, no
colchão que estava chão.
Almoçamos comida japonesa e depois que eles foram embora,
resolvi fazer uma faxina na casa toda, por que estava inquieta demais
para ficar sentada.
Coloquei uma roupa confortável e fui de carro até o supermercado
mais próximo fazer umas compras básicas de itens de sobrevivência.
Alguns chocolates, salgadinhos, refrigerantes e bastante comida
congelada.
Tomei um banho morno e demorado, onde lavei os cabelos e fiz
um spa day em mim. Enrolo uma toalha na cabeça e saio apenas de
calcinha do banheiro, passando um creme esfoliante na pele.
Olho o celular, que está com a luz acesa e o pego, vendo a
mensagem na tela de bloqueio. É dele.
Me mandou uma mensagem no dia anterior e depois disso não nos
falamos mais.
Mordo o lábio, desbloqueando o aparelho e lendo a mensagem.

Espero que esteja bem, estou com saudades.


Otávio.
Sorrio e reviro os olhos.

Espero que também esteja bem.

Beijos.

Ele visualiza no mesmo instante e espero a resposta, que sei


exatamente qual vai ser.

Não está com saudades?

Balanço a cabeça devagar.

É sempre bobo assim, senhor Perrot?

Mordo os lábios, vendo-o digitar a resposta.

Só com você.

Me deito na cama, balançando os pés de um lado para o outro, sinto


o aparelho vibrar e vejo que é ligação.
Será que não está em casa?
Deslizo o dedo e atendo.
— Não vai me dizer que está com saudades? — A voz rouca me
invade e solto um riso baixo.
Quando ri assim, é porque fodeu, né!?
— Você é muito insistente.
O silêncio do outro lado é ensurdecedor, ouço apenas sua
respiração.
— O que está fazendo?
— Acabei de sair do banho. Estava procurando uma roupa quando
vi sua mensagem. — Me deito na cama e fico olhando para o teto. — E
você?
— Hummm... Nada. Estou descansando. — Diz baixo e soltando um
pigarro. — Vai sair?
— Vou. — Respondo vagamente, sorrindo.
— Tudo bem. Não vou atrapalhar. Até amanhã.
— Até amanhã, Otávio.
Ele fica em silêncio e continuo ouvindo apenas a respiração lenta.
— Eu também estou... — Completo e ouço a risada baixa do outro
lado. — Com saudades.
— Beijo, Atrevida.
Desliga a chamada, jogo o celular de lado e fecho os olhos, com a
mão sobre o rosto.
Passar a noite com Otávio foi... Foi uma das regras que quebrei.
Menos importante, comparada a maior delas. Mas mesmo assim,
quebrei.
Acordei durante a madrugada e vê-lo dormir ao meu lado, com a
mão em minha cintura, me trazendo para o aconhego dos seus braços.
Foi um tipo de sensação que nunca tinha experimentado.
Isso de uma certa forma me deixou assustada.
Abro o armário, pego um vestido justo e calço os sapatos de salto.
Pego uma bolsa, coloco meu uniforme e uma nécessaire com produtos de
higiene.
Vou passar a noite na casa de Lia, fica mais perto da empresa e eu
não vou voltar tarde para cá.
Estou inquieta e incomodada pelo fato de ter gostado de estarmos
juntos, mesmo sabendo que nunca mais vai se repetir.
— Quer pêssego? — Lia indaga e nego, franzindo o cenho.
— Você sabe que odeio pêssego. — Sorvo um gole da cerveja e ela
sorri, espetando o garfo no mesmo.
Estamos na sua varanda, sentadas nas espreguiçadeiras, olhando
para o céu estrelado e escuro. Jantamos hambúrguer com fritas e
resolvemos beber um pouco.
Ela mexe os cabelos longos e castanhos, me olhando.
— Dean vai trabalhar hoje a noite, podemos conversar sobre o seu
segredo sujo. — Sorri, erguendo a long neck.
— Ai, Liana!
— Ué, segredo sujo, mas gostoso! — Sorve um gole da bebida. — E
põe gostoso nisso, ele é conservado no formol, amiga.
— Eu disse...
— A Katy estava bem alegrinha, nem percebeu que você saiu com o
chefão gostoso.
Balanço a garrafa, vendo o líquido dançar de um lado para o outro.
Lia me encara, se ajeitando na espreguiçadeira e ficando de frente para
mim.
— Acha que ela vai mesmo se divorciar da Bruxa?
— Não sei. E também não me interessa, se vai ou não. — Dou de
ombros.
— Como não?
A encaro.
— O que você acha, Liana? Que ele está se divorciando para ficar
comigo? — Desdenho. — Entrei nisso, sabendo que não vai dar em
nada. Isso é algo irrelevante e passageiro.
— Você acha isso?
Assinto.
— Ele já ia se divorciar, de qualquer jeito.
Liana assente e volta a se sentar com as pernas esticadas, comendo
o pêssego e bebendo.
— E você? Como está? — Pergunto e vejo-a sorrir.
— Eu estou bem gostosa. — Diz, piscando devagar.
— Isso você sempre foi...
— Maravilhosa. — Ergue a garrafa, fazendo um brinde junto
comigo.
— E o Dylan? Te deixou em paz?
— Sim. É passado, Ruiva. — Assente, dando um suspiro demorado.
— Lia...
— Ah, Mia. Não vou dizer que deixei de gostar dele, mas juro que
não dá mais... Juro... — Diz baixo e assinto.
Aperto a garrafa nas mãos e ela suspira, olhando para a frente e
sussurrando:
— Existem pessoas que nos fazem desacreditar do amor... E
também existem pessoas que são capazes de nos provar, que nunca
havíamos amado antes.
Saio do elevador segurando o copo de café. Deixo a bolsa e o
restante das coisas na mesa quando Katy se aproxima, segurando
algumas pastas.
— Bom dia, Ruiva.
— Bom dia, Katy. — Sorrio enquanto ela me entrega as coisas.
— Do jeito que ele pediu. — Assinto, segurando nas mãos. —
Tenho uma reunião hoje, por isso ficarei o dia fora. Leon vem para cá
hoje.
— Pode deixar que tomarei conta.
— Você é um amor. — Me beija rápido. — Beijos, Mia. Até mais
tarde.
— Até, Katy. — Me ergo segurando as plantas e pastas.
Entro na sala e rapidamente o cheiro do perfume me invade. Dou a
volta e arrumo a enorme mesa de vidro. Giro a cadeira devagar e passo
as mãos pela mesma.
Cada móvel dessa sala parece ter um pedaço dele.
A porta se abre e o olho entrar devagar. Encaro-o de cima a baixo, e
sorrio de lado. O terno escuro e a camisa branca sem gravata, dão um
enorme contraste nos braços e nos olhos.
— Bom dia. — Diz baixo, me olhando.
— Bom dia. — Respondo no mesmo tom.
Ele entra e deixa a maleta na mesa.
— Deixei sua mesa arrumada e vou mandar a agenda do dia, mas sei
que tem reuniões importantes. — Mexo as mãos, o olhando se
aproximar.
Espalmo a mão em seu peito e ele me encara sério. O cheiro de
banho recém tomado e da loção de barba exalam.
Sem falar nada, sinto os lábios colarem nos meus, mas não com a
urgência que costuma ser. Foi lento, casto e forte. Afago seu rosto,
enquanto a mão emaranham-se em meus cabelos, me puxando.
Sorrio o olhando.
— Isso tudo é saudade?
— Isso é urgência, de você. — Diz baixo, com a respiração
entrecortada.
Sinto todo meu corpo se arrepiar e volto a encara-lo enquanto me
afasto.
— Já tomou café? Quer que eu peça algo?
— Não. Estou sem fome. — Fala, olhando para os papéis na mesa.
— Katy foi para a reunião?
— Sim.
Ele assente, se senta na cadeira e começa a gira-la.
— Vou ajeitar a sala de reuniões e deixar tudo preparado.
— Obrigado, Ruiva. — Agradece sorrindo e beija minha mão.
— É o meu trabalho, senhor Perrot. — Brinco, me virando e saindo
da sala.
Beberico o café enquanto arrumo toda a sala de reunião. Leon
chegou um pouco mais tarde, me cumprimentou e entrou na sala de
Otávio, onde passaram quase toda a manhã em reunião, sobre um novo
projeto. Almoçaram juntos e sequer saíram da sala.
Estou organizando a agenda do dia anterior, é pouco mais de duas da
tarde, já deixei um café na sala para os dois, que estão cheios de
estresse.
Ouço o eco dos saltos e ergo a cabeça, fitando a mulher se
aproximar. O vestido justo vermelho e o Scarpin preto são magníficos.
— Boa tarde. — Sorri gentilmente quando me ergo. — Você deve
ser a nova secretária do Otávio.
Assinto levemente.
— Mikaella Gonçalves.
— Muito prazer. Lucy Perrot. — Estende a mão e aperto sorrindo.
— Ele está.
— Sim. Eu vou avisá-lo.
— Claro.
Franzo cenho, enquanto ela me encara curiosa.
Engulo em seco e me aproximo da porta, batendo levemente.
Ele e Leon me encaram e solto um pigarro.
— Lucy Perrot está aqui.
— Mande-a entrar, Mikaella. — Diz, abrindo um sorriso de canto.
Assinto e ela me encara docemente.
— Obrigada. Oi, meus amores! — Entra segurando a pasta nas
mãos, se aproximando dos meninos.
Otávio a abraça enquanto Leon franze o cenho, a olhando.
— Mikaella, essa é minha irmã... A gêmea de Leon.
— Oh... Muito prazer. — Sorrio.
— Mas pode dizer que eu sou o gêmeo mais bonito. — Leon pisca,
me olhando.
— Convencido. — Lúcia volta a me fitar. — Pode me chamar
apenas de Lucy... Otávio que nunca aprende!
Os três são realmente muito bonitos, os olhos marcantes e de uma
beleza magnífica.
— Precisam de alguma coisa? Um café? Água?
— Se puder trazer um capuccino para mim, eu juro que beijo seus
pés. — Leon sorri, piscando os olhos.
Otávio solta um pigarro, o fitando.
— Leon, mais respeito com a minha... Secretária.
Balanço a cabeça, os olhando.
— Dois capuccinos, então... — Lucy se senta suspirando.
— O senhor vai querer algo?
— Café.
— Com creme e um pouco de chantilly? — Indago e ele assente.
— Isso. Obrigado.
— Trago em um minuto. — Me viro, saio da sala e vou para a copa.
Pego as cápsulas e coloco na cafeteira, preparando as bebidas.
Organizo na bandeija e depois de alguns minutos levo para a sala.
Vejo meu celular vibrando, coloco a bandeja na mesa e pego o
aparelho.
Número restrito.
— Alô? — Atendo e ouço uma respiração do outro lado.
Franzo o cenho, mordendo o lábio.
— Alô? — Repito.
— Mikaella, minha filha. Sentiu saudades do seu pai?
— Eu sei que é você, meu anjo. Sei que está em Nova York, e foi
um presente ter conseguido seu número.
Sinto as mãos tremerem e me encosto na mesa devagar.
— Mika, já se passaram muitos anos, minha filha, eu quero
reencontrar você e sua irmã. Eu quero recompensar vocês duas.
Continuo parada, sentindo o ar faltar dos meus pulmões e o bolo se
formar em minha garganta.
— Eu quero e posso te dar a vida que vocês merecem. Sei que sua
irmã está com sua tia no Brasil! Podemos trazê-la para cá e ser uma
família novamente. Meu amor, me diga onde trabalha... Onde mora e
estarei indo aí te buscar.
— Fique. Longe. De. Mim. Michael. — Digo entre dentes, com a
voz arrastada.
Fecho os olhos, sentindo as lágrimas nublar minha visão.
— Quero distância de você!
— Mikaella, minha filha...
— Eu não sou sua filha, seu verme! — Ralho, com a voz trêmula. —
Não me liga nunca mais!
Disparo e desligo a chamada, sentindo um bolo na garganta, de uma
forma que nunca imaginei sentir.
Limpo as lágrimas com as costas da mão e sinto o celular vibrar
insistentemente.
Fecho os olhos.
Como ele me encontrou? Como conseguiu meu número?
Monstro.
Um homem, que enganou minha mãe friamente, a fez definhar e
morrer em cima de um cama, em um estado de pena. E ainda levou o
pouco que tínhamos.
◆◆◆

— Como pôde? Como? Seu miserável! — Grito, estapeando seu


peito, o olhando.
A raiva me cegando. O ódio.
— Você já é bem grandinha para entender. Estou farto dessa
merdinha de vida miserável! Da sua mãe! Estou farto!
Cerro o punho, o olhando balançar a cabeça.
— Você está deixando minha mãe por outra mulher! — Grito alto.
— Uma sangue suga, igual a você!
Ele agarra em meus braços, me fazendo o encarar.
— Eu nunca amei a Viviam. Nunca. Eu arrumei sim, uma pessoa
melhor. Melhor que sua mãe. Que pode me dar a vida que sempre quis,
e mereço ter!
Me solto bruscamente e caio no sofá.
— Ela está doente! Vai deixa-la morrer a míngua? — Pergunto,
soltando um soluço esganiçado.
— Eu não tenho nada a ver com sua mãe! Estou indo mudar de
vida... E nada vai me impedir, Mikaella! Nada!
Meu queixo treme descontrolado e aperto a mão, me erguendo.
— Você esqueça que tem filhas. Esqueça que um dia sequer nos
conheceu... Você morreu para mim, Michael! Morreu! Desgraçado!
Maldito! Que queime no inferno!
◆◆◆

Me sento na cadeira, soltando o ar pesado que me sufoca e um


soluço escapa violentamente, enquanto passo as mãos pelos cabelos.
— Maldito. — Praguejo baixo, engolindo o choro e fechando os
olhos com força.
"Você é forte, Mikaella. Você é forte, meu amor..."
Nego devagar, lembrando da voz da minha mãe.
Sobressalto quando a porta se abre e viro o rosto.
— Mikaella? — Otávio chama e limpo o rosto rapidamente, me
erguendo.
— O café... Esfriou. Eu vou preparar outro.
— O que aconteceu? — Pergunta e sequer consigo me virar para
encara-lo.
— Eu vou fazer outro café. — Seguro a bandeja, indo até a cozinha.
Me aproximo da bancada, tomando o ar e ouço os passos se
aproximarem.
— Eii... — Segura minha mão. — O que houve?
Nego com a cabeça, sem conseguir falar.
— Mikaella, olhe para mim... — Pega em meu queixo, erguendo-o
lentamente.
E foi o suficiente para me fazer desabar em um choro horrendo,
enfiando meu rosto em seu peito. O choro faz meus ombros sacolejar e
ele me afaga gentilmente.
— Eu estou aqui. — Me aperta em um abraço. — Estou aqui...
Fico por incontáveis segundos em seu peito e quando me recupero,
limpo o rosto e vejo-o me encarar com o cenho franzido.
— O que houve?
Nego devagar, mordendo o lábio.
— Então por que esses olhos tão tristes? — Segura em meu queixo.
— Preciso levar o capuccino. — Me afasto devagar.
— Eu levo. Fique aqui. — Diz me olhando. — Precisa ir para casa?
Precisa de algo?
Nego veemente, sem saber ao certo o que eu quero e o que preciso.
Não quero ficar sozinha, mas também não quero conversar. Estou
sentindo um aperto no peito; raiva e uma angustia tremenda.
— Eu estou bem. — Minto, mordendo o lábio, vendo-o me encarar
intensamente.
— Mia...
— Por favor. Seus irmãos estão esperando, depois conversamos. —
Limpo o rosto e me viro para pegar as xícaras.
Vejo-o assentir e sair devagar, então me encosto na bancada.
Michael vai conseguir me encontrar?
E se quiser tomar a guarda da minha irmã?
Arfo devagar, engolindo em seco. Seguro a bandeja e volto para a
sala, entro sem falar muito e percebo os olhares voltados para mim.
Mas agradeço profundamente por não perguntarem nada. Deixo a
bandeja no mesa e saio da sala, desabando sobre a cadeira.
Pego o celular e solto, virando a tela para baixo de novo e passo as
mãos pelos cabelos, nervosa.
— Até mais, Mikaella. Foi um prazer. — Lucy se despede e me ergo
sorrindo.
— O prazer foi meu.
Estão os três parados, me olhando.
— Vamos magrela? — Leon a chama. — Tenho que entregar uns
documentos para o Roger.
— Vamos. Até mais, Mikaella.
— Até mais.
— Tchau, ruiva.
— Até mais Leon. — Sorrio, acenando para os dois, que saem
juntos.
— Podemos conversar agora? — Otávio suspira, batendo os dedos
em minha mesa.
Entro na sala quando ele se senta e fica me encarando. Ele me
chama, então me aproximo e sento em seu colo. Afasta meus cabelos
gentilmente, fixando os olhos quentes nos meus.
Meu coração dá uma leve parada e volta a bater descontrolado.
— O que houve?
Nego com a cabeça.
— Mia...
— Não quero trazer meus problemas para você, Otávio.
Ele franze o cenho e sorri.
— Eu te trouxe para um problema maior e mesmo assim você
sempre está disposta a me ouvir. Me conte... O que houve?
— Recebi uma ligação, não muito agradável. — Umedeço os lábios
e sorrio sem humor. Sinto o polegar roçar em minha pele.
— Seu pai? — Me olha quando assinto. — O que ele queria?
— Não sei... Não quis ouvi-lo. Eu não quero falar com ele.
Ele entrelaça seus dedos aos meus e assente.
— Tem muita mágoa dele, não é?
— Mais do que achei que seria capaz. — Solto a respiração e dou
de ombros. — Eu não quero vê-lo nunca mais. Nunca mais.
Otávio me olha e engulo em seco, sentindo as lágrimas teimando em
descer.
— Nos mudamos da antiga casa onde morávamos, e eu não sei como
ele conseguiu meu número... Mas ele sabe que estou na cidade. — Sinto
o aperto da mão na minha e arfo.
Eu não sei qual seria minha reação em vê-lo depois de tantos anos.
— Não quero vê-lo nunca mais, Otávio. Nunca mais.
— E não vai. — Ergue meu queixo. — Você tem a mim, agora.
Nego devagar, franzindo o cenho.
— Sabe que pode contar comigo para qualquer coisa, não é? —
Afaga meu rosto com o polegar e fecho os olhos, sentindo a respiração
acelerar.
Coloco a mão em seu rosto e ele sorri, beijando-a.
— Obrigado. — Agradeço e me levanto, com seu olhar preso em
mim por longos e intensos segundos.
Aperto os dedos entre os meus e saio da sala em silêncio. Me
despedi rápido e saí um pouco mais cedo. Minha cabeça está doendo, e
todo meu corpo parece perceber o quão o dia foi cansativo e tenebroso.
Jogo as chaves no aparador, tirando os sapatos rapidamente e me
jogo no sofá. Estou com medo de ligar para minha tia e deixa-la
preocupada, o que é óbvio que ela vai ficar.
Se Michael realmente ainda estiver com a tal mulher, que pelo que
ouvi tem um certo poder, ele realmente pode tomar a Gaby.
Passo as mãos pelo rosto, arfando.
Calma, Mia. Calma.
Fito o apartamento vazio e o meu coração se aperta de uma forma
absurda. É patético o que vou falar agora...
Mas queria que ele estivesse aqui.
É assustador admitir isso, por que nunca gostei muito de grude e
carinhos... Mas depois dele, eu... Ah, Deus!
Eu estou realmente o querendo mais do que gostaria de admitir.
O que pretende fazer?
Terminar tudo com Otávio...
Não...
Isso já deveria ter tido um fim há um tempo, e é isso que vai
acontecer. Só estamos adiando o inevitável. É isso...
Sinto um aperto no peito ao pensar que não vou ter mais os abraços
dele, nem os beijos.
Vou para o banheiro, tomo um banho e saio alguns minutos depois,
com um roupão confortável e chinelos de pelúcia.
Abro a geladeira e franzo o cenho, olhando as comidas congeladas.
O toque do celular me tira dos meus devaneios.
— Topa jantar comigo hoje? Preciso da minha melhor amiga... —
Ela fala assim que atendo a chamada.
— Acho que leu meus pensamentos, estava agora mesmo olhando
para a geladeira e pensando em algo para comer.
— Algo calórico e gostoso?
— Por favor. — Sorrio.
— Te pego daqui vinte minutos. Beijos.
— Beijo, amor.
Coloco uma calça jeans clara, uma blusa branca com uma jaqueta
por cima e botas de salto. Amarro os cabelos em um rabo de cavalo,
pego a pequena bolsa e saio.
Alguns minutos depois, ela acena encostada no carro. O vestido rosa
curto e os cabelos soltos como uma cortina, realçam ainda mais a sua
beleza.
— Que carinha trista, Mi...
Seguro em sua mão e a puxo para um abraço apertado.
— Quando chama pra gente jantar juntas, são por dois motivos: ou o
dia foi ruim, ou você está ruim. — Digo, olhando-a. — Qual das duas?
— Na verdade, as duas. — Diz estalando a língua. — E você?
— As duas. — Sorrio, ainda abraçada a ela.
— Vamos comer naquele restaurante chique que a gente ama e que
custa um rim?
— Por favor... — Digo chorosa e rimos juntas ao entrar no carro.
É um restaurante japonês, que fica em outro bairro, mas que amamos
ir de vez em quando. Muito de vez em quando, já que os pratos são
caríssimos.
Entramos no restaurante e escolhemos uma mesa ao ar livre, me
sento a sua frente e começamos a conversar enquanto esperamos nossos
pedidos.
— Pode me contar o que houve. — Ela revira os olhos.
— Meu pai vai casar com a Bárbara. — Torce o nariz.
— Nossa, Lia...
— Sabia isso que isso ia acontecer, mas ela é... Eu sinto que é uma
oportunista, Mia! — Ralha, balançando a cabeça. — Vão se casar no fim
do ano.
— Já?
Ela assente e bufa.
— Discutimos, e ele me disse que ou eu aceito a esposa dele, ou
esqueço que tenho um pai.
Engulo em seco, me encostando na cadeira.
— Como se o grande Caetano Corrêa, fosse um exemplo de pai...
Ele sequer lembra da data do meu aniversário! — Lia ralha.
Mexo nos meus dedos e ela me fita.
— Acho que não foi só você que teve problemas com seu pai. —
Sorrio sem humor.
Liana arregala os olhos.
— O canalha do seu pai? Ele deu as caras?
Nego devagar.
Explico a ela sobre as ligações com números restritos, e a
confirmação que das outras vezes, veio daquele mesmo número. Ela
sabe de tudo, foi meu maior apoio quando cheguei aqui. Suspiro
pesadamente, sem saber ao certo explicar a situação e o que está
passando em minha cabeça.
Lia agarra o temaki assim que a barca de comida chega, pedimos
uma variedade de comida.
— Ele não pode fazer nada, Mia. Nada! Por que diabos esse velho
miserável, veio do inferno para encher teu saco!?
— Ele contratou um detetive, Liana! A família dele tem dinheiro...
— Será que sabem sobre você?
Dou de ombros.
— Eu não quero saber deles, e espero do fundo do meu coração, que
eles não queiram saber de mim também.
Mastigo o gohan e provo do sashimi, que realmente é um dos
melhores que já provei.
Nada da vida Michael me interessa. Só quero distância. Apenas.
Terminamos o jantar e tentamos ao máximo não falar mais sobre
aqueles assuntos terríveis. Pagamos a conta e estávamos saindo do
restaurante. Não é tão tarde, mas já está uma grande movimentação de
carros em frente.
— E você e o Otávio? — Liana me encara.
Queria dizer o quanto estou confusa, mas só balanço a cabeça
devagar.
— Complicado, Lia.
— Isso é. Mas, e aí?
— E aí, nada. Depois da ligação de Michael... Eu andei pensando...
— Digo baixo e ela me encara. — Acho que já levamos isso longe
demais.
É a verdade, mais que verdade.
Paro estática quando Lia arregala os olhos e sigo seu olhar. Otávio
descia do carro e sua esposa vinha logo atrás.
Cacete! Cadê um buraco, quando eu preciso dele!
— Caralho... — Liana engole em seco.
Estou quase me virando quando sinto os olhos me encararem de
imediato. Anna está ao seu lado e suspira pesadamente.
— Boa noite, senhorita Gonçalves. — A voz rouca dele me invade.
— Boa noite, senhor Perrot. — Dou um aceno de cabeça, sorrindo.
— Senhora Perrot.
Ela me fita de cima a baixo, e sinto meu interior tremer.
— Daniella, não é?
— É Mikaella. — Otávio responde e olha para Liana. — Como vai?
— Bem. — Lia responde, o olhando.
— Tanto faz. — A esposa dele fala e arqueia a sobrancelha,
entrelaçando os dedos aos seus. — Vamos, meu amor?
— Tenham uma boa noite. — Sussurro, engolindo em seco e vendo
seu olhar encontrar o meu.
— Para vocês também. — Ele me encara e Liana dar espaço para os
dois passarem. — Até amanhã.
— Até, senhor Perrot.
Fito a frente, sem conseguir olhar para trás e vê-los.
Sinto o ar faltar dos meus pulmões e uma lágrima escapa pelo meu
rosto, sem eu perceber.
Mas por que diabos, eu estou chorando!?

— Não sabia que sua funcionária tinha dinheiro para comer em um


restaurante desse nível. — Anna franze o cenho, enquanto se aproxima
do balcão para fazer o pedido.
— E o que é que tem? — A encaro engolido em seco.
— Nada. Só estou falando. — Diz baixo, me olhando. — Não
posso? Por que está com essa cara?
Suspiro devagar.
— Annabell, por Deus. Eu só quero ir para casa.
Por insistência de Anna, acabamos vindo ao restaurante apenas para
pegar o prato prefeito de Luíza. Busquei ela na casa da mãe, que a tinha
levou ao médico para fazer os exames.
Eis a surpresa ao dar de cara com Mikaella.
Meu coração se aperta e a vontade de sair e ir até ela, é maior que
qualquer coisa. Fico olhando para as portas de vidro, mas não vejo mais
o carro.
Não paro de pensar nela um segundo sequer. O quanto a ligação do
pai a deixou triste e ao mesmo tempo com uma fragilidade, que não
imaginei que existia dentro dela.
Anna me encara assim que recebe o pedido e voltamos para o carro.
— Como foi seu dia hoje? — Pergunta assim que dou partida.
Continuamos na mesma situação. Mesmo ela insistindo que está tudo
bem e que em breve vamos voltar a ser o que era antes. Depois da casa
dos meus pais, tive uma pequena discussão com Nathan.
Que jogou em meu rosto que o estado de Anna é minha culpa. Que se
acontecesse algo com ela, tudo vai cair sobre mim. Não foi surpresa, sua
reação.
— Cansativo. — Aperto o volante nas mãos e suspiro.
— Estava pensando em viajarmos para a casa de Aspen. Tirar uns
dias de folga.
— Pode ir. — Aperto o volante e vejo-a me encarar de relance.
— Irmos juntos. Preciso de repouso e seria bom... Ficarmos uns
dias juntos.
Nos olhamos por uma momento e passo a língua pelos lábios.
— Eu estou doente, Otávio. Você ouviu o médico e...
— Você tem total acesso a casa de Aspen, Anna. Pode passar
quantos dias forem necessários, para se sentir melhor.
— Eu quero ir com você! — Suspiro pesadamente.
Me calo e volto a prestar atenção no trânsito. Logo estaciono em
frente de casa, jogo as chaves para Dom e entramos. Mas meus
pensamentos estão mais distantes do que qualquer coisa. Naquela ruiva,
que toma conta de minha cabeça ultimamente.
Luíza nos olha assim entramos na sala, está sentada com o fone de
ouvido conectado no iPad.
— Trouxemos sua comida favorita meu, Docinho. — Anna sorri e
ela apenas assente.
— Vou comer.
Ela me encara rapidamente e volta a atenção para o aparelho.
— Vou tomar um banho. — Subo para o andar de cima e vou direto
para o quarto de hóspedes, onde todas as minhas roupas e pertences já
estão.
Luíza está completamente distante de mim, e isso de uma certa forma
foi uma surpresa. Mesmo sabendo que ela consegue sentir toda a tensão
que exala, tento ao máximo não deixa-la ser afetada por isso.
Mas é em vão.
Saio do banho e olho o celular na bancada. Deslizo o dedo,
desbloqueando o mesmo e encaro o número de Mikaella na tela.
Está ai?
Digito rápido, mas a mensagem nem chega.
Bloqueio a tela e suspiro, colocando-o em cima da cama. Saio pelo
corredor e desço as escadas, Luíza continua no mesmo lugar.
— Onde está sua tia?
Dar de ombros, sem me encarar.
Me sento no sofá, a olhando. Os cabelos dourados presos e os olhos
fixos na tela. Me remexo desconfortável e tiro os fones dela gentilmente.
— Podemos conversar, Maria Luíza?
— Sobre o que? — Diz com desdém e me ergo, estendendo a mão a
sua frente.
— Vamos lá fora. — Ela pega na minha mão e me acompanha até a
varanda.
Nos sentamos no enorme sofá, obsevo-a dobrar os joelhos e olhar
para a frente, as luzes iluminando os arbustos do jardim.
— Luíza, você sabe que eu...
— Que vai nos deixar? Que vai embora daqui? — Me interrompe,
com a voz chorosa.
— Que eu te amo. — Completo, e ela se cala de imediato.
— Se você me amasse, não ia embora! Não ia me deixar. Mas é isso
que vai fazer, vai me deixar, como todo mundo me deixou!
Nego devagar, vendo as lágrimas descendo pelo seu rosto.
— Eu não vou te deixar nunca, Luíza. Eu indo embora, ou não, meu
amor por você não muda nada! — Seguro em sua mão, apertando-a entre
as minhas.
Ela nega rapidamente.
— Eu e sua tia não... Funcionamos mais como um casal. Mas ainda
temos uma coisa em comum, Luíza, e é você, meu amor.
— Se você me amar como diz... Não vai embora! Não me deixe, tio
Otávio. Por favor...
— Eu não vou te deixar, amor, eu estarei sempre ao seu lado. Mas
não aqui nessa casa...
As lágrimas descem e fito o queixo tremer descontrolado.
— Meu amor por você vai muito além de qualquer coisa, Luíza.
Independente se eu estiver, ou não com a sua tia...
— Você vai deixar de me amar, igual deixou de amar tia Anna!
— Não, meu amor... — Nego e balanço a cabeça devagar, segurando
em suas mãos. — Você sabe que é um pedaço de mim, e vai ser para
sempre minha pequena...
Passo o polegar pelas bochechas, vendo as lágrimas rolarem e o
soluço escapar do fundo da sua garganta, e meu coração se aperta de
uma forma absurda.
Mesmo sabendo que vai ser difícil, eu preciso fazer. Não posso
deixa-la viver em um lar, em que não tem felicidade. Só brigas e
discussões.
— Eu te amo, Luíza. Eu te amo tanto... — Passo o braço por seus
ombros e ela deita a cabeça em meu peito.
Ficamos em silêncio por um bom tempo, ouvindo o barulho do
choro cessar, enquanto a mão aperta a minha e afago-a devagar.
Deixo Luíza no quarto e vou para o meu, tentando controlar as
lágrimas que teimam em descer assim que fecho a porta.
O entalo na garganta faz o ar faltar e engulo em seco, passando as
mãos pelo rosto e pelos cabelos, nervoso.
Está um inferno.
O dia está cinza, chuvoso e frio; saí para correr essa manhã. Virei
de um lado para o outro durante a noite e só consegui dormir por poucas
horas.
Tomei um banho e coloquei um casaco. Peguei as pastas e tomei um
café rapidamente. A casa está em silêncio, já que ainda é cedo. Me
despedi de Tina e peguei o carro, dirigindo com calma.
Meu celular não teve uma mensagem, ou ligação dela. Nada.
Entro no prédio, cumprimentando os funcionários e subo. Katy é a
primeira pessoa que encontro no andar e sorri me olhando.
— Bom dia!
— Bom dia, Katy! — Entro na sala e jogo as pastas em cima da
mesa.
— Só para confirmar o jantar em sua casa essa sexta. Mikaella vai
organizar o restante.
A fito, colocando a mão sobre a testa.
— Tinha me esquecido completamente.
— Já deixei o número do buffet para ela ligar e fechar o jantar.
— Obrigado, Katy.
— Não por isso. Vou separar as plantas que Lucy pediu.
— Tudo bem. — Fecho os olhos e começo a girar a cadeira.
O clima pesado em casa, para receber clientes importantes. Ótimo.
Tudo perfeito.
Ligo o computador e ouço os passos do outro lado, fito a porta se
abrir e Mikaella me encara.
— Bom dia.
Sorrio levemente, vendo-a entrar devagar.
— Bom Dia.
Os olhos estão cabisbaixos e ela mexe nas mãos, me olhando.
— Aconteceu alguma coisa? — Pergunto e ela assente.
Morde os lábios devagar e fixa os olhos aos meus, o azul intenso me
encarando.
— Não dá mais.
A observo calado, meu coração parece que vai sair a galope a
qualquer momento.
— Do que você está falando? — Pergunto, sabendo exatamente qual
vai ser a resposta.
— Pensei muito. Muito mesmo, e decidi que não dá mais para
continuarmos. Isso foi já longe demais. — Continua me encarando, sem
desviar os olhos dos meus. — Nem deveria ter começado e... Chega.
Me ergo, soltando o ar.
— Não vou negar que foi bom, foi ótimo. — Sorri, dando de
ombros. — Mas isso acaba aqui e agora, Otávio. Não vou ficar no meio
disso. Eu não vou...
Continuo parado, olhando-a.
— Essa relação... Ou seja lá o que temos, foi um erro. Um erro
tremendo. — Continua, com a voz arrastada. — Não quero e nem vou
estragar mais nada...
— Você não estragou nada, Mikaella.
Fito-a e engulo em seco.
— Eu não quero mais ficar nesse meio, Otávio. Eu não vou mais.
Isso não deveria ter acontecido...
— Mas aconteceu. Aconteceu que você entrou em mim como uma
bala... Que eu não sei de onde surgiu, só fui atingindo, sem perceber.
Digo e sorrio, sem humor.
— Você entrou em mim de um modo que me fez desejar... O
impossível! — Arfo e puxo o ar. — E você sabe que isso está em sua
mãos. Que eu, estou em suas mãos! Você é jovem, tem uma vida inteira
pela frente... Acha que isso não me enlouquece!? Eu desejei você desde
a primeira vez que te vi!
— Isso que sentimos um pelo outro, é apenas desejo carnal. Isso
passa.
Sorrio, balançando a cabeça.
— O que você sente é desejo carnal! O que eu sinto, é muito além
disso!
— Você não sabe o que diz! — Responde, me fazendo encara-la.
— Acha que eu já senti isso por outra mulher? Não venha me dizer
que eu não sei o que sinto, Mikaella! — Aponto para o peito, onde meu
coração bate descontrolado.
Ela me olha, fecha os olhos e torna a abri-los devagar, joga as
chaves sobre a mesa de centro.
— As chaves do apartamento. — Diz baixo. — Não vou mais.
Assinto, colocando as mãos nos bolsos.
— Já foi longe demais.
— Me deixe sozinho, Mikaella. Por favor. — Peço em um
murmúrio, fechando os olhos.
E ao abri-los, ainda a vejo parada no mesmo lugar.
— Eu já entendi.
Percebo que morde os lábios avermelhados e mexe nas mãos
nervosamente.
Mas se vira e sai, deixando a sala. Do mesmo modo que chegou em
minha vida, ela se vai: do nada.
Vai atrás dela.
E insistir, se ela não quer? Não.
Idiota.
Sou. Mas se é isso que ela quer... Eu não posso fazer nada.
Fito a aliança em meu dedo, retiro-a e fico segurando enquanto olho
a marca estampada em meu dedo.
É minha Ruiva... Acho que acabamos por aqui.
Olho pra todos os papéis espalhados na mesa, enquanto aperto a
caneta firmemente entre os dedos. Estou com um projeto para fechar os
últimos detalhes e sequer consigo racionar direito.
Minha mente vaga para longe.
Já passa das duas da tarde e não consegui me concentrar em nada.
Nem almocei, ou sai da sala. Ela também não veio aqui. Apenas mandou
e-mails sobre os relatórios que vai precisar.
Giro a cadeira, pego meu blazer, a pasta e abro a porta da sala. Katy
e Mikaella encaram. Ambas estão de pé e conversavam animadamente.
— Estava falando com Mia, para marcamos de sair novamente. —
Katy começa e me encara. — Tudo bem, Otávio?
— Sim. — Assinto e fito Mikaella. — Cancele o que tiver para
hoje, eu estou indo embora.
Ela me olha.
Katy arregala os olhos, olhando de um para o outro.
— Está tudo bem?
— Está. Só estou com dor de cabeça. Até amanhã.
— Até amanhã.
Aperto o botão do elevador, que abre rapidamente e entro. Desço na
garagem e entro no carro, encostando a cabeça no encosto do banco.
Tomo o ar, que parece me sufocar, e fecho os olhos.
Dou partida no carro, segurando o volante firmemente nas mãos. Cai
uma chuva fina e ligo o som, deixando a música soar.
Ed Sheeran/ Tenerife Sea
We are surrounded by all of these lies
And people who talk too much
You've got that kind of look in your eyes
As if no one knows anything but us
A água da chuva, escorre pelos vidros do carro. Franzo o cenho,
sentindo o coração bater descontrolado e agoniado.
Should this be the last thing I see
I want you to know it's enough for me
'Cause all that you are is all that I'll ever need
Aperto o volante nas mãos e os dedos chegam a ficar brancos, de
tanta força que faço.
I'm so in love, so in love
So in love, so in love
Deslizo os pneus pela pista.
Não vou pedir para continuar. Mesmo que minha vontade seja dá
meia volta, ir até ela, e implorar.
Implorar, para não me deixar. Para não ir...
You look so beautiful in this light
Your silhouette over me
The way it brings out the blue in your eyes
Is the Tenerife Sea
É uma decisão dela, e eu respeitar. Até resolver tudo. Até ser livre...
— Boa tarde, senhor Otávio.
— Boa tarde, Gilian. Minha mãe está? — Indago assim que entro na
sala de estar.
— Está no quarto, senhor.
Assinto, me encaminhando para as escadas. O corredor largo e
vários quadros de obras de artes visíveis. Fotos minhas e dos meus
irmãos juntos.
Subo para o terceiro andar, onde fica o quarto e vejo a porta
entreaberta, empurro-a devagar e vejo o silêncio por todo ambiente.
Todo o quarto tem uma visão perfeita para o jardim, a varanda é um
dos espaços preferido dela. Algumas flores enfeitam o local.
Ela se vira, sentada em uma poltrona com uma xícara nas mãos e
sorri, então aproximo.
— Estava sentindo uma inquietação hoje. — Diz baixo e beijo sua
testa. — Era você.
— É incrível como a senhora sempre sabe que sou eu. — Me sento
a sua frente.
— Sempre vou saber quando meus filhos não estão bem. — Ela
aperta minhas mãos e as beijo devagar.
Fito-a suspirar e olho ao redor.
— Papai está onde?
— Estava lá embaixo ainda pouco. — Me olha devagar e baixo os
olhos. — E você e Anna? Como estão?
Sorrio, dando de ombros.
— Brigaram de novo?
— Não. — Olho para a frente, engolindo em seco.
As nuvens cinzas nublando o céu, assim como meu interior está.
— Olhe pra mim, Otávio. — Pede baixo, mas firme.
Viro o meu rosto e encaro os olhos brilhantes, me olhando como se
estivesse vendo meu interior. Franze o cenho e engole em seco.
— Você está apaixonado por outra pessoa...
— Mamãe... — A encaro sorrir levemente.
— Não foi uma pergunta, Otávio. Você está apaixonado por outra
mulher, está estampado em seus olhos. Em seu rosto... — Engulo em
seco, olhando-a.
Não dá para mentir, nem se quisesse, eu o faria. Ela continua me
encarando e sorrio, apertando meus dedos.
— Eu não sei o que fazer! Eu não sei mais o que fazer. — Solto o ar
pesado, sem encara-la.
— No fundo, você sabe. — Ouça-a e nego devagar, passando as
mãos pelos cabelos, solto o ar e me ergo, como se uma mão sufocasse
minha garganta.
— Meu casamento com Anna acabou, mãe. Não estamos mais
juntos... A Luíza é a única coisa que me mantém ali, naquela casa... — A
voz começa a embargar. — E a culpa também...
— Não existe culpa, Otávio. Você sabe disso, meu filho.
— É uma dor diária, mãe. Daquelas que matam e parece que nunca
vai embora. — Sinto a lágrima rolar e forço um sorriso. — Não somos
mais os mesmos depois da morte dele.
— Você não teve culpa nenhuma! — Sinto as mãos me puxarem e me
sento ao seu lado. — Eu imagino a dor que esteja aí dentro. Mas você
não teve culpa, meu amor.
É nisso que eu queria acreditar, mas não consigo. É uma culpa
dentro do peito, uma sensação de perda terrível.
— Otávio, olhe para mim... — Pede, fechando os olhos e
suspirando. — Você e Anna casaram jovens. São vinte anos de
casados... Nós casamos para construir um para sempre, mas isso não
significa que será...
A fito balançar a cabeça.
— Eu jamais ficaria a favor de algo, que fosse contra sua felicidade.
Mas seja qual for a sua decisão, fale a verdade. — Me encara, afagando
meu rosto. — Não se prenda pelo passado. Essa mulher, ela... Ela sabe
que é casado?
Assinto levemente.
— O erro foi meu, mamãe.
— Não vou julgar a situação. Mas seja sincero com o que está
sentindo em relação a ambas. Antes uma verdade doída, que uma mentira
bonita.
Engulo o bolo formado na garganta e suspiro, limpando o rosto
rapidamente.
— Eu amei a Anna. Amei de uma forma, que não sei explicar. —
Fecho os olhos. — Mas foram pequenas coisas, atitudes... Que nos
afastaram. O ciúmes sem sentindo, sem motivo.
Mamãe assente, me escutando.
— Eu estou cansado, cansado...
Sinto-a me puxar e deito a cabeça em seu colo, sentindo a mão
afagar meus cabelos devagar. Fico em silêncio por incontáveis minutos,
algumas lágrimas descendo e não sei ao certo o motivo do choro.
Parecem ser tantos.
— Eu te amo, meu amor. Meu primeiro amor... — Sorri, limpando
meu rosto. — Só quero te ver feliz. Não está fazendo a coisa certa e não
irei passar a mão em sua cabeça por isso.
Assinto e ela sorri.
— Resolva o que tiver para resolver e se sua felicidade estiver ao
lado dessa pessoa... Eu saberei respeitar a sua decisão.
— Eu te amo. — Aperto suas mãos entre as minhas e o abraço de
conforto que ela me dá. — Te amo tanto, mamãe.
— Posso saber Porque não estou nesse abraço?
Fito Leon de braços cruzados, nos olhando.
— Oh, bebê da mamãe... Venha aqui! — Mamãe o chama sorrindo.
— Se meus sócios te ouvirem me chamar de bebê, nunca mais eu
teria respeito. — Ele franze o cenho, mas logo se senta em nosso meio.
— Maaaas, eles não estão aqui.
— Amo tanto esses meus meninos. — Diz nos apertando.
Eu nasci em uma família maravilhosa, muito maravilhosa. Nossos
pais são nossos abrigos e nunca faltou colo para nenhum de nós três.
— Felicia? — A voz de papai ecoa pelo quarto
— Estou aqui, meu bem! — Mamãe grita e ele se aproxima da porta.
— O que meus filhos e minha adorada esposa fazem aqui? —
Pergunta e dá um beijo rápido em nossa mãe.
Leon me encara e sorrio.
— Pai, não quero imaginar cenas calientes com minha mãe, por
favor.
— E acha que vocês foram feitos como? — Ela dispara sorrindo.
— Ah mamãe, por favor! — Leon se ergue.
Os dois gargalham sonoramente e os acompanho na risada.
É incrível o quanto minutos de conversa com os dois, são suficientes
para me fazer sentir mais leve, mesmo ainda tendo aquele peso no
coração. Ficamos na varanda conversando por longas horas. Sobre a
empresa, trabalho e lembrando de momentos da infância.
Lucy chegou algum tempo depois e por insistência dos meus pais,
ficamos para o jantar. Mamãe pediu para fazer um dos nossos pratos
preferidos.
— Já estão organizando o jantar com os Archibald?
— Sim, papai. Será esse final semana. Vocês vão estar lá?
— Claro.
— Anna está preparando o buffet?
Limpo o canto dos lábios devagar.
— Minha secretária. — Digo baixo.
— Não perco esse jantar por nada. — Leon sorri, erguendo a taça.
— Vamos estar lá, amor. É um projeto importante para a empresa.
— Mamãe sorri, apertando minha mão.
— É.
Vai ser um jantar extremamente profissional, mas com um toque de
simplicidade. Mikaella já está falando com uma equipe
especializada. Buffet e coquetéis.
Me despedi dos meus pais e já é um pouco tarde. Dei um beijo
rápido em minha irmã, que também está de saída.
— Preciso de um banho de banheira e uma massagem nos pés. —
Lúcia fala quando nos aproximamos do carro.
— Cadê o Roger?
— Deve estar me esperando. Beijos para vocês, irmãos, nos vemos
amanhã. — Joga um beijo e aceno, vendo-a entrar no carro e dar partida.
Leon cruza os braços, para na minha frente com uma expressão
séria.
— Não vai embora? — Indago, o olhando.
— Vou. E você? Vai voltar para o covil?
— Por enquanto. — Passo a mão na fonte do nariz, suspirando.
— Aconteceu alguma coisa com você e a Ruiva?
Arqueio a sobrancelha, o olhando.
— Por que?
— Estava calada quando passei mais cedo por lá, e te ver aqui
hoje... — Dar de ombros. — Juntei A com B.
— Ela terminou. Tudo. — Vejo Leon piscar os olhos diversos vezes
e sorrio, sem humor.
— E o que você fez?
— Não tenho muito o que fazer enquanto estiver nessa situação,
Leon. Não posso pedir para ela esperar. — Balanço a cabeça. — Eu vou
respeitar, se essa for a decisão dela.
Mesmo desejando-a com tudo de mim.
— E a bruxa?
— Na mesma. — Abro a porta do carro. — Vou colocar a cabeça no
lugar.
— Já imaginou como vai ser as duas sob o mesmo teto? — Diz me
olhando.
— Não. — O fito sorrir.
— Se prepara, irmão. — Pisca e nego com a cabeça.
Eu não quero pensar nisso, não agora. Não nesse momento.
Tudo que eu quero, é apenas me afundar em seu corpo e toma-lo
para mim. De uma vez por todas.

Seguro o copo de whisky, balançando o líquido de um lado para o


outro, fazendo o gelo tilintar no vidro. Sorvo um gole, olhando os carros
estacionarem no jardim.
A equipe de garçons, ajustando os últimos detalhes do jantar, a casa
aberta e decorada para recepcionar os sócios.
— Meu filho... — Mamãe me cumprimenta e a beijo.
— Eles chegaram? — Papai indaga e aperto sua mão, negando.
— Estão vindo.
— Meus sogros. — Anna se aproxima e os abraça.
— Está linda, minha querida. — Mamãe elogia.
— Não mais que a senhora. — Responde sorrindo.
Leon desce do carro nos olhando e o vejo sorrir de lado.
— Não atrasei dessa vez. — Dá uma leve piscadela.
— Vamos entrar, meus sogros. Mamãe está lá dentro.
— Michael não veio?
— Está viajando, acredita? Como sempre. — Anna balança a
cabeça. & Não vai entrar, meu bem?
— Não. Vou ficar tomando um ar. — Digo, sorvendo um gole do
líquido.
Ela assente, entra junto com os meus pais e Leon suspira
pesadamente ao meu lado.
— E aí? Como está?
O encaro de relance, balançando a cabeça.
— Como acha? — Olho para trás, encarando nossos pais e Anna na
sala de estar.
A conheço muito bem, para saber que vai provocar Mikaella, mas
não diretamente.
— Ela não chegou?
Nego devagar.
— Não.
— Ainda não conversaram?
Volto a negar e mordo o lábio.
Eu senti que ela ficou mais distante a cada dia dessa semana que
passou. Não conversamos... Mas não foi por falta de insistência da
minha parte.
Falamos apenas sobre o trabalho, e só.
Vê-la tão perto, e tão distante ao mesmo tempo, é como um castigo.
Fico o máximo que posso na empresa e volto para casa, apenas para
ver Luíza. Continuo dormindo no quarto de hóspedes.
Lúcia e Roger se aproximam e a beijo levemente. Vai ser um jantar
mediano, mas por se tratar de um enorme projeto, não medimos esforços
para deixar tudo perfeito.
Continuei com Leon e Lúcia na varanda, conversando sobre as
melhores formas, matérias e plantas vamos usar.
Fito o carro pequeno estacionar e sinto a pancada no peito.
— Otávio? — Lúcia me encara e engulo em seco.
Ouço os passos atrás de mim e a mão se fecha a minha.
— Sua secretária chegou. — Anna sorri me olhando.
Mikaella desce, segurando a pequena bolsa nas mãos.
O vestido tubinho preto social, assim como os saltos e a bolsa,
apenas destacaram a cor alva da pele e os cabelos, que estão presos de
lado, com um broche dourado.
— Boa noite. — Cumprimenta ao se aproximar.
— Boa noite.

Engulo seco, erguendo o rosto sorrindo levemente. Minhas pernas


fraquejam e as batidas do meu coração estão aceleradas.
Quero sair correndo? Sim
Vou fazer isso? Jamais.
— Ruiva. — Leon sorri, me olhando.
— Como vai, Mikaella? — Fito Lucy, que sorri ao me
cumprimentar.
— Ótima, e a senhorita?
— Pode me chamar de Lucy. Estou ótima. Você está linda.
— Não tanto, quanto você. — Sorrio.
Anna me encara de cima a baixo, com a sobrancelha levemente
arqueada, o nariz franzido sutilmente.
— Senhora Perrot. — Dou um leve aceno de cabeça. O vestido cor
champanhe, justo no busto e caindo solto no comprimento, que vai até o
joelho. Os cabelos curtos arrumados e o braço entrelaçado ao de Otávio.
Sinto os olhos sobre os meus, a mão grande segurando o copo de
whisky. O colete preto, junto da camisa branca e da calça social, é um
pecado. Modelam o corpo grande e másculo.
— Senhor Perrot.
— Mikaella. — Diz baixo e firme.
— Vamos entrar? — Leon se aproxima de mim e assinto. —
Conhecer nossos pais e esperar nossos sócios...
Assinto e engulo em seco. O coração palpitando no peito, agoniado
e com uma saudade imensa me invadido.
Que idiota.
— Vamos... — Otávio anda na frente em passos largos.
Estou trêmula, me equilibrando nos saltos, temendo cair de cara no
chão. Trocamos poucas palavras nessa semana efanhadona, mesmo
nossos olhares se prendendo de uma forma inexplicável.
Mas não fiquei remoendo. Saí para jantar com Gael, que me ligou e
depois de muita insistência, acabei aceitando o seu pedido. Fomos a um
restaurante de comida brasileira, que ele pesquisou e amou ir até lá.
Trocamos um beijo rápido, e sei que se fosse por um ele, teríamos
ido muito além. Mas não quis e, com respeito, ele apenas me deixou em
casa e se foi.
Estamos conversando por mensagens, quem sabe o que vai dá. Ele é
livre, solteiro e muito bonito.
Mas não tem olhos azuis, braços fortes e tatuados; nem te faz
tremer apenas com um olhar...
Leon me guia pela entrada e observo a enorme mansão, bem
decorada e exalando um luxo, digno de cinema. Algumas pessoas
conversam na sala de estar. As cores brancas e douradas predominam o
ambiente sofisticado.
Quadros, jarros enormes... Um grande lustre de cristais, cai como
uma cascata perto da escada.
Otávio se aproxima dos senhores e olho para Leon.
— São nossos pais. — Sussurra baixo e olho os senhores perto de
Lucy. — Aquela loira é a cobra da Anna, já conhece não é?
Anna me lança um olhar mortal.
— Estou aqui do seu lado, Ruiva. — Pisca e sorrio levemente.
Otávio nos encara quando nos aproximamos.
— Boa noite. — Cumprimento com um sorriso.
— Boa noite. — Respondem em uníssono.
— Esses são nossos pais. — Otávio apresenta. — Oliver e Felícia
Perrot.
— Muito prazer. — O senhor me estende a mão, e é incrível sua
semelhança com Otávio. Desde a altura, aos olhos marcantes.
— Prazer, Mikaella Gonçalves. — Respondo, apertando sua mão.
A senhora semicerra os olhos e me encara fixamente.
— Muito prazer, Mikaella. — Mesmo estando um pouco séria, dá
para ver o olhar meigo que me lança.
— O prazer é todo meu.
— Esse é meu sócio e cunhado. Roger Schneider. — Leon aponta o
rapaz loiro e alto ao seu lado.
Lucy sorri, o olhando e ele aperta minha mão.
— Muito prazer.
— Você é muito bonita. — A senhora Felícia me elogia.
— Até estou pensando em me casar com ela, o que acha, mamãe? —
Encaro Leon, que sorri e volto a olhar seus pais, que balançam a cabeça
sorrindo.
— Uma ótima escolha, formam um casal... Chamativo. — Anna fala
sorrindo de lado e volta a encarar Otávio. — Não acha, meu amor?
Ele assente e Leon sorri de lado.
— Mikaella é um anjo. — Diz suspirando.
Contenho um sorriso e por sorte, os pais deles começam a conversar
sobre a empresa. Os clientes ainda não chegaram. Uns canapés e uns
drinks são servidos. Otávio, Leon e Lucy falam sobre os projetos e
planos.
Beberico o coquetel de frutas vermelhas.
Leon segura em minha mão, me levando para a sala de jantar, apenas
para tentar não me deixar mais nervosa e aflita, do que já estou.
Ele se tornou um amigo também, a antipatia dele por Anna, é
visível.
— Volto já, Ruiva. — Pisca e sai, quando seu pai acena o
chamando.
— Não se preocupe. É meu trabalho. — Aperto a taça nas mãos e
suspiro.
É o meu trabalho...
Fito a mesa de jantar enorme, posta com louças finas. A casa é
impecável em todos os aspectos. É a casa deles. O lar deles.
Katy está viajando, por isso não compareceu. Aliás, ela está
viajando cada vez mais.
Um enorme aparador com vidros está ao lado, observo os quadros
nas paredes, diplomas, troféus e fotos. Muitas fotos.
Fotos de Otávio e Anna mais jovens, fotos dos seus irmãos. Fotos
dela sozinha, deles dois com uma bebê no colo. Passo os olhos pelo
aparador, vendo os portas retratos de vidro, mais entre tantos, um
conseguiu chamar toda a minha atenção.
Anna está em um jardim florido, deitada nos braços de Otávio, que
mantinha as mãos em sua barriga.
Àquele que não carregamos em nossos braços, levamos para
sempre em nossos corações.
Benjamim.
Franzo o cenho, sentindo o peito apertar.
Eles tiveram um filho?
— Ele virou um anjo. Tia Anna diz que ele foi pro céu. —
Sobressalto, vendo a menina loira parar ao meu lado. — Meu nome é
Maria Luíza, e o seu?
Fito-a sorrindo e ela continua séria, me olhando fixamente.
— Mikaella.
— Você é amiga da minha tia?
Credo.
— Não. — Digo levemente. — Eu trabalho para o senhor Perrot. E
quem é você?
— Essa é minha sobrinha. — Me viro quando Otávio nos fita e
engulo em seco.
— Esse é meu tio Otávio. — Diz o olhando.
Ele sorri, a beijando na testa e ela volta a me fitar.
— Mikaella essa é a Maria Luíza... Maria Luíza, essa é a Mikaella.
— Como vai, Maria Luíza?
— Me chama de Luíza. — Diz baixo, suspirando e volta a olhar
para ele. — Cadê tia Anna?
Otávio morde o lábio.
— Deve estar com sua vó Letícia. Que tal dar um beijo no vovô
Oliver e na vovó Felícia, agora?
Ela assente e me encara.
— Não vem também? — Indaga nos olhando.
— Vou sim. — Digo, dando um passo a frente e ele me encara.
— Vá na frente, Luíza. — Diz rouco e engulo em seco.
Ela nos fita, se vira e sai.
O encaro e volto o olhar para o porta retrato. Otávio franze o cenho
e segura o objeto, sorrindo tristemente.
— Ele se foi a alguns meses atrás, eu nem sequer o peguei no colo.
— Diz baixo e franzo o cenho.
— Eu sinto muito. — A voz sai baixa e ele coloca o porta retrato no
lugar.
Percebo os olhos azuis brilharem, a tristeza profunda estampada em
sua face.
— Ele continua vivo, aí dentro... — Pouso a mão em seu peito,
sentindo as batidas descompassadas.
Ele coloca a mão grande por cima da minha e a aperta firme.
— Nenhum filho suprirá a falta dele... Mas ainda pode ter outros...
E...
— Não sei se isso é possível. — Balança a cabeça, me olhando.
Fico parada, sentindo a mão apertar a minha, os olhos cravados aos
meus e a respiração acelerada.
Uma vontade louca de abraça-lo surge em mim. Sinto vontade de
aperta-lo em meus braços, de tirar essa dor, que insiste em rodear seus
olhos tão perfeitos.
Queria saber o que aconteceu, mas não me sinto digna de faze-lo.
— Mikaella...
Nego com a cabeça, sabendo o que viria em seguida.
— Aqui não. — Suplico. — Não...
Segura minha mão e leva aos lábios, dando um beijo suave.
Nego, balançando a cabeça e me olha ao tocar no enorme espelho,
que se abre, revelando uma porta. Otávio me puxa e arfo, vendo a
mesma se fechar devagar.
— Você está louco! — O encaro de cima a baixo, olhando o espaço
pequeno.
Antes que eu fale alguma coisa,
sinto os lábios macios cobrirem os meus, a língua ávida dentro da minha
boca, me rodeando por inteira. A boca esmaga a minha, enquanto a
língua entra e sai com agilidade.
Desejo. Luxúria. Paixão.
As mãos seguram em meu rosto e arfo, o olhando.
— Otávio... Aqui não... — Tento o afastar.
— Eu não tenho forças pra ficar longe de você. Eu não quero ficar
longe de você. — Passa as mãos pelo meu rosto. — Mikaella... Por
favor...
Sinto a ereção encostando em mim e meu interior convulsiona de
prazer. Gemo, quando puxa meu lábio inferior e crava os olhos famintos
em mim.
— Você não sai mais de mim, Mikaella.
— Pare! — Junto o resto de forças que nem imaginei que tinha. —
Estamos na sua casa... Sua família está toda aí...
— E acha que eu me importo? Acha que quero estar nessa merda?
— Mas está! Querendo ou não, está...
Encosta a testa na minha e fecho os olhos, segurando sua camisa. O
perfume me invade.
— Eu quero você, Mia! Eu quero você...
— Pare com isso, Otávio! Por favor... Pare! — Peço em súplica,
negando devagar.
— Mikaella!
— Acabou, chega! Eu não quero mais... — Franzo o cenho,
engolindo em seco e me afasto.
Vou para o lado oposto ao que entramos e saio diretamente na
cozinha. Fecho os olhos, tomando o ar que parece ter sumido e vai me
sufocar a qualquer instante.
Eu não quero mais.
Quer sim.
Não. Não. Não.
— Mikaella? — Me viro, olhando Gael entrar na cozinha.
— O-oi... Gael... O que...
Ele sorri e vem até mim, me abraçando fortemente, a senhora de
uniforme preto nos fita sorrindo.
— O que faz aqui? — Ele pergunta mas minha voz mal sai. — Você
está linda!
— Eu trabalho na Perrot... E você? O que faz aqui?
Ele me fita, balançando a cabeça e encara a senhora que nos olha
curiosa.
— Essa é minha mãe, Cristina.
— Muito prazer. — A comprimento rapidamente.
— Eu moro na casa dos fundos. — Diz e sinto o sorriso morrer em
meu rosto. — Meu Deus...o destino quer mesmo nos ver juntos, não é
Ruiva?
Segura em minha mão, beijando-a.
Abro a boca e me arrepio quando ouço os passos atrás de mim.
— Vocês já se conhecem?
O olhar de Otávio está fixo nas minhas mãos, que estão presas a de
Gael.
— Gabriel. — Cumprimenta.
Gael sorri me olhando e volta a fita-lo.
— Como vai, padrinho?
AH, MEU DEUS!
Otávio olha sério para nós dois e franzo o cenho ao perceber seu
maxilar cerrar. Gael se aproxima, aperta sua mão e ele o encara,
abraçando-o.
Cadê o buraco para eu entrar?
FODEU, AMIGA. FODEU.
— Não sabia que vocês se conhecem. — Otávio diz sério, nos
olhando.
— Nos conhecemos em uma festa. — Gael fala. — Saímos algumas
vezes.
Mordo o lábio, apertando as mãos uma na outra.
— Que coincidência. — Diz baixo, fingindo um sorriso, mas sem
parar de me olhar.
— Andei bem sumido, estou com muito trabalho na faculdade. —
Gael explica. — Mia é a única pessoa que consegue me tirar do foco.
Sinto o rosto queimar e balanço a cabeça.
— Gael...
Otávio solta um pigarro.
— Que bom. — Franze o cenho e passa a mão pelo queixo. — Tina,
pode preparar uma bebida para mim, por favor?
Quando olha para ele, vejo os olhos saírem faíscas.
Você é o comprometido aqui, meu bem.
— Até mais, padrinho. — Gael sorri.
— Até. Se divirtam. — Diz e se vira.
As costas largas indo em direção a sala de estar. Solto um suspiro,
incrédula.
Ótimo. Otávio está com ciúmes!
Ciúmes de mim! Meu Deus!
Isso é patético. Patético, quando ele está casado.
— Eu não sabia que você morava aqui... — Mordo o lábio e Gael
coloca as mãos no bolso da frente da calça.
— Minha mãe trabalha há muito tempo para o Otávio e para a Anna.
— Ele ri de lado. — Moramos na casa dos fundos. Ele ajuda a pagar
meus estudos.
Assinto, sorrindo.
— Ele é muito bom para os meus pais e para mim. Sempre fez de
tudo por nós. — Balança a cabeça e continuo a fita-lo.
— Sempre o chamou de padrinho? — Indago e ele assente.
— Sempre. Praticamente me viu nascer, e me ajuda muito. Se não
fosse ele, eu... Não teria uma profissão e...
— Você é muito esforçado, Gael. — Sorrio e ele me encara.
— Quero dar uma vida melhor aos meus pais.
— Isso é incrível. Parabéns. — Aperto seu braço. — Agora preciso
ir, estou a trabalho.
— Nos vemos por aí... — Sorri de lado.
— Nos vemos por aí. — Completo e sinto o beijo no canto da boca
que ele me dá rapidamente.
Saio da cozinha, suspirando pesadamente. Meu Deus!
Você só se mete em confusão, Mikaella!
Ah, muito obrigado!
A campainha soa assim que me aproximo da sala de estar. Tina abre
a porta e os Archibald chegam e se apresentam a todos. É um casal de
idade, mas muito elegantes e simpáticos; e estão acompanhados do único
filho e herdeiro.
É um projeto de construção de uma rede de hotelaria e a Construll
Perrot vai ficar a frente dos projetos. Otávio, Leon e Lucy estão
trabalhando muito para isso, é um conquista imensa para eles.
Trouxe as plantas e planilhas e nos reunimos no escritório. Eu nem
queria estar presente na reunião, mas por insistência deles, fiquei.
Anotei tudo que precisava, pontos importantes da breve conversa.
O segundo andar da casa é tão sofisticado, quanto a parte de baixo.
As portas fechadas e os enormes detalhes dourados tomando conta.
— É um projeto moderno no mercado, inovador. — Otávio aperta a
caneta nas mãos e sorri.
— Tecnologia e uma infraestrutura completa. — Leon completa.
— Passei uma temporada na França, estudando os melhores e
maiores projetos de arquitetura. — Lucy fala, os olhando. — Faremos
um design moderno e impecável.
Sorrio, olho os três juntos e encaro o senhor Carllo, a esposa e o
filho, que se olhavam entre si.
— Será um imenso prazer, ter a Construll Perrot nesse projeto.
— Não tinha como não ser vocês. — A senhora Mary sorri.
— Fechamos o contrato com vocês. — O filho deles fala enquanto
se levanta.
O sorriso se abre no rosto dos três de imediato e foi impossível não
sorrir junto.
— Vamos elaborar o contrato e nosso advogado entrará em contato.
— Senhor Carllo aperta a mão de todos.
— É um prazer para a Construll Perrot fechar esse contrato.
— O prazer é meu, de ter os melhores engenheiros e a melhor
arquiteta dos Estados Unidos, em meu projeto.
— Vamos brindar? — Leon esfrega uma mão na outra.
— Com certeza. Vamos descer. — Lucy finaliza a conversa.
Sorrio, os parabenizo pela conquista e descemos para o primeiro
andar de novo. Apenas os pais de Otávio, Anna e Roger estão sentados
no sofá, e pelos sorrisos, eles já sabem que o contrato foi fechado.
— Parabéns, meus amores. — A senhora Felícia diz sorridente.
— Meu amor, você merece tudo de mais maravilhoso. — Anna se
aproxima de Otávio e o abraça.
Ele me encara e engulo em seco.
— Te amo. Te amo. Te amo. — Diz, segurando seu rosto e dando um
beijo, mas ele nem se mexe.
Espera aí, o quê!?
Eles são casados, ué.
— Vamos brindar. — Leon segura a garrafa de champanhe.
Ouvimos apenas o estouro da rolha e Leon nos serve rapidamente.
— Que seja um projeto incrível. — Diz sorrindo.
— Com toda certeza. — Carllo assente.
— Não conseguiríamos sem os ótimos funcionários que temos, com
agilidade e competência. — Otávio sorri e me encara fixamente.
Engulo em seco ao sentir os olhares na minha direção.
— À melhor secretária do mundo. — Leon sorri de lado e nego
devagar.
— Quanta melosidade e elogios para uma funcionária. — Anna me
encara e todos olham para ela.
— Mas eles tem razão. Todos os funcionários são importantes, para
todo projeto. — Mary segura a taça e me olha carinhosamente.
— Obrigada. Eu faço apenas meu trabalho. — Engulo em seco e dou
um gole no champanhe.
A senhora Felícia diz algo para a nora e ela apenas dá de ombros,
torcendo o nariz.
Cacatua.
A conversa começa a fluir e Lucy se aproxima, junto com o
namorado e começamos a conversar. O olhar que ele lança a ela, é uma
coisa linda. Namoram a quase três anos, e parecem ser completamente
apaixonados um pelo outro.
Dividem um apartamento, mas por enquanto não vão casar.
Sinto o olhar de Otávio atravessar a sala e fixar ao meu, desvio
rapidamente, voltando a atenção para Lucy e Roger.
Vejo-o franzir o cenho e sinto seus olhares queimarem a minha pele.
O jantar está perto de ser servido e eu torço apenas para a hora
passar mais depressa, para poder sair daqui o mais rápido possível. Vou
até a cozinha e Tina confirma que o jantar já vai ser servido.
— Vou levar as taças para a mesa e começarei a servir o jantar.
— Eu ajudo.
— Ah não, a senhorita é convidada. — Nega com a cabeça.
Sorrio.
— Eu sou uma funcionária, ajudar é meu dever. — Pego a bandeja e
ela sorri.
— Coloque-as em ordem na mesa, já estou indo.
Saio com a bandeja repleta de taças, e mesmo de salto alto, consigo
me equilibrar, por já ter trabalhado em uma lanchonete.
Organizo a enorme mesa, colocando as taças ao lado do jogo de
jantar.
— Organize-as direito. São taças de cristais baccarat. — Anna diz,
me olhando. — Custam mais que um ano do seu salário.
Jura? Nem perguntei!
Ela anda em passos lentos, segurando a taça na mão.
— São peças exclusivas, eu gosto de exclusividade... — Me encara
fixamente.
Os olhos cravados em mim, me olhando de cima a baixo, com uma
expressão de nojo no olhar.
Mas não me intimido.
Arqueio a sobrancelha e sorrio.
— Imagino. — Digo firme e ela tamborila os dedos pela mesa. —
São peças muito bonitas.
— Claro que são, olhe ao redor. — Gira o dedo para o ambiente. —
Tudo com exímio bom gosto.
A encaro sorrir de lado e suspirar.
— Você tem quantos anos?
— Vinte e quatro. — A encaro franzir o cenho e balançar a cabeça.
— Tão jovem, aposto que tem muitos pretendes.
Seu marido, inclusive.
— Não estamos aqui para falar da minha vida pessoal, senhora
Perrot.
— Fui tão indiscreta, me desculpe. — Dá de ombros. — Mas
pessoas como você, sempre tem uma lista de pretendentes. Ia apenas
falar para tomar cuidado.
— Pessoas como eu?
— Muito grande... — Responde, me dando mais uma olhada de cima
a baixo.
Sorrio levemente.
— Não a chamei de gorda, jamais. Mas sabe como homens são, né?
Usam, se divertem e jogam fora. Não são para casar.
A fito suspirar e colocar a mão no peito.
— Ah... Eu te ofendi? Não foi minha intenção, minha querida. É
apenas um conselho...
— Eu agradeço pelo conselho, de todo meu coração. — Ensaio meu
melhor sorriso. — Não são apenas os homens que saem apenas para se
divertir. Nós mulheres, também gostamos, e muito.
Ela para, me olhando, então volto a sorrir.
— Não somos para casar, por que não queremos... — Anna escuta
calada. — A escolha é nossa... Não somos frustradas, para se
desesperar por um casamento.
Sinto que se ela tivesse visão a laser, eu seria churrasquinho nesse
exato momento, só pelo olhar que me lança.
— Se me der licença, senhora Perrot... — Estava prestes sair,
quando sinto a mão em meu braço.
Fito a mão e a encaro fixamente.
Eu nunca nem pensei que isso fosse acontecer, mas não vou deixa-la
me ofender a esse ponto.
— Eu conheço esse seu tipi...
— Mikaella? — Leon aparece e Anna rapidamente solta meu braço.
Otávio surge logo atrás e continuo a encara-la.
— Está tudo bem? — Indaga sério e ela sorri, assentindo.
— Claro, meu amor. — Suspira, ainda me olhando. — Vamos
chamar todos para jantarmos?
Leon volta a me encarar e Otávio olha de uma para a outra.
— Vou pôr a mesa.
Sinto o bolo formado em minha garganta e peço licença, ainda
sorrindo e saio em passos largos apressadamente.
Não vou chorar.
Não vou...
Disse, já chorando.
Me aproximo da varanda na frente da casa, suspirando pesadamente.
Limpo o rosto com cuidado, sentindo a lágrima rolar.
Eu nem consigo entender o sentimento que está me rodeando nesse
momento.
Sinto um mal estar terrível, enquanto sopro o ar.
— Está se sentindo bem? — Me viro quando a senhora Felícia se
aproxima. — Está pálida...
Nego devagar, balançando a cabeça.
— Só um mal estar passageiro. — Fito-a assentir levemente. —
Uma dor de cabeça.
— Quer tomar algum remédio?
— Sim. Por favor. — Ela me encara docemente e sorrio.
— Vamos entrar, e depois jantar.
— Ficaria muito deselegante se eu saísse, não é? — Pergunto baixo.
— Não. Mas seria muito desconfortável. — A voz soa baixa. — Só
coma um pouco e depois vai para casa.
Assinto e entramos novamente na sala.
— Vamos subir. — Diz, já subindo as escadas, mas paraliso, a
olhando. — Os remédios ficam no banheiro.
A cada passo que damos juntas, meu coração dispara. Não quero
estar aqui.
— Otávio sempre tem remédios no banheiro. — Diz e para em
frente a uma porta.
Ah, não. Não.
— Não precisa. Já estou bem melhor. — Digo rápido e ela nega, já
entrando.
Continuo parada, vendo o enorme quarto a frente. Meu apartamento
caberia fácil dentro dele. A cama king toma um grande espaço, janelas
enormes e um closet.
Felícia volta com um frasco de remédio e um copo com água, tomo
rapidamente e sorrio.
— Obrigada.
— Você está bem? — Otávio indaga e para, me olhando no meio do
corredor.
— Estou. Foi um mal estar. — Assinto e sua mãe nos encara.
— Vamos descer?
Ele continua me olhando e nego devagar.
— Vamos... — Sussurro, baixando os olhos.
Estou com o estômago embrulhado. Ocupamos os lugares na mesa,
me sento perto de Leon e de frente para Anna e Otávio. Ela está séria,
com o rosto fechado e tento ao máximo não encara-la.
Tomo um gole de água e Leon sorri, pousando a mão sobre a minha,
balanço a cabeça e ele pisca, ainda rindo.
Eu só quero que essa noite acabe o mais rápido possível.
Nos sentamos no sofá logo após o jantar. Mikaella está conversando
com Lúcia e ri quando minha irmã fala algo.
Carllo está ao lado do meu pai, tomando licor. Mamãe, junto de
Mary e Anna, falam sobre alguma coisa, que eu não consigo prestar
atenção.
Vejo que ela ainda está pálida quando Roger se aproxima com um
copo de água, que ela agradece sorrindo.
Vejo o filho dos Archibald a encarando, assim como fez a noite
toda, sei bem que é difícil não reparar nela.
Mas porque diabos, isso me deixa sem controle?
Com uma raiva que parece me tomar de uma forma absurda.
Ainda tem o Gabriel.
O que eles estão tendo?
Que merda é aquela?
Ahh, não vêm dá um de desentendido.
Terminamos de acertar a reunião para assinar o contrato e
começamos a nos despedir de todos. Mikaella sempre com um sorriso
no rosto.
— Nos veremos em breve. — Carllo aperta minha mão.
— Com toda certeza.
Eles se despedem e saem alguns minutos depois, deixando apenas
meus pais, irmãos, Anna e... Mikaella, que pega a bolsa.
— Espero que esteja bem. — Lúcia segura em sua mão.
— Estou bem melhor, obrigada. — Ela sorri. — Foi um prazer.
Mamãe sorri, a abraçando e ela dá um sorriso de lado.
É impressionante como até o sorriso dela é perfeito.
— Quanta preocupação. — Anna cruza as pernas, nos olhando. —
Ela já disse que foi um mal estar, para que tanto alvoroço.
— Para que tanta amargura, cunhada? — Leon pergunta com a
sobrancelha arqueada.
Mikaella nega, levanta e se despede dos meus pais. A sigo com
olhar e
é como um elo... Um imã, capaz de atrair em questão de segundos. É
como se existisse apenas nós dois, nossos olhares implorando um pelo
outro. Assim como nossos corpos.
— Otávio? — Olho de relance e Anna está ao meu lado.
— Diga, Annabell.
— Pode ficar aqui. Você não perdeu nada para sair.
— Eu tenho que ir. — Mikaella avisa. — Boa noite.
— Boa noite, minha querida. Nós também vamos, meu filho. Seu pai
já está resmungando. — Mamãe me beija.
— Eu ouvi isso, Felícia! — Papai diz sorrindo.
— Nós também já vamos. — Lúcia se aproxima com Roger. — Boa
noite.
A beijo rapidamente.
— Eu já vou, estou cheio por hoje. — Leon me fita e faço um sinal
singelo e ele franze o cenho. — Pode vir aqui, Otávio?
Anna segura em meu braço e me desvencilho.
— Otávio... — Ouça-a chamar e saio para a varanda.
Leon se despede dos nossos pais e cruza os braços assim que me
aproximo dele.
— O quê? — Pergunta.
Olho para o lado e vejo Mikaella mexer na pequena bolsa, ao lado
do carro. Enfio as mãos no bolso, pegando a chave e entregando a Leon,
que a segura, me encarando.
— Avise pra ela ir para o apartamento. — Peço. — Me esperar lá.
Leon abre a boca e engulo em seco.
— Otávio...
— Diga para me esperar, eu estou saindo. Eu preciso conversar com
ela, se ela não for, eu vou entender que acabou... Se assim ela quiser.
Ele assente.
— Ela está saindo, Leon, vai!
— Juízo. — Fala ao virar de costas e me viro também, entrando na
sala.
Anna continua parada, de braços cruzados, queixo para cima e a
sobrancelha levemente erguida.
— Queria ser uma mosquinha, para ouvir que tanto segredo é esse
que tem com seu irmão. — Se senta e cruza as pernas, ainda me olhando.
— Vou dar um beijo em Luíza. — Subo um degrau e sobressalto,
ouvindo um estrondo.
Me viro, encarando o vaso estilhaçado no chão da sala Anna de pé,
me encarando ofegante.
— Você acha que eu tenho cara de idiota? Acha? — A voz sai
esganiçada, o punho cerrado e o rosto vermelho, transtornado de raiva.
— VOCÊ ACHA, OTÁVIO?
Franzo o cenho, olhando-a.
— Você está fora de controle, Annabell, é isso que eu acho!
— Se você acha... Se você pensa, que vai se livrar de mim tão
facilmente, você está muito enganado! — Fala com os olhos cravados
aos meus. — Não vai mesmo! Ouviu?
— Quer mesmo se prestar a isso, Anna? A esse papel? — Indago
com a voz arrastada, vendo-a negar veemente. — Tentar me prender?
— Você está preso a mim, desde que colocou isso aqui em meu
dedo... — Ergue a mão esquerda e a aliança brilha em seu dedo.
— Eu não sou sua propriedade, Annabell! Eu não sou! Nem isso,
nem nada mais nos prende. Nada!
Ela nega veemente, me olhando.
— Nos prende sim! Você não vai jogar tudo que tivemos...
— Não tem mais nada, Anna! Não tem... Não existe nós dois, há
muito tempo! Você não percebe? Não percebe que a única coisa que me
prende aqui, é a Luíza!?
Ela para me encarando e fecha os punhos, arfando.
— Não percebe que isso aqui... Já deu o que tinha que dar! Já deu!
— Ela nega veemente. — Ela é o único motivo de eu ainda estar aqui...
É por ela, que ainda aguento os seus ataques! Por ela!
Vejo-a avançar sobre mim em questão de segundos e começar a
estapear meu peito, desferindo palavras desconexas em um ataque de
fúria.
— Seu infeliz! Miserável! É isso que você é...
Seguro seus braços.
— Chega! Pare! Isso não é vida, Anna. Isso é um martírio! Um
inferno! Chega...
A solto e ela nega veemente quando afasto.
— Já deu! Eu estou cansado... Eu não aguento mais esse inferno!
NÃO AGUENTO MAIS ESSE INFERNO!
A voz estronda e ela arregala os olhos.
Tiro a aliança e jogo no chão.
— CHEGA! CHEGA! MEU DEUS... CHEGA!
Passo as mãos pelos cabelos e vejo-a desabar no sofá.
— Chega! Eu não aguento mais... Eu não aguento mais! — Sopro o
ar, sentindo a garganta se fechar e a respiração ficar presa. — Eu quero
viver... Eu quero viver em paz!
Ela soluça, balançando a cabeça e fixa os olhos nos meus.
— Chega... — Me viro, passando as mãos pelos cabelos.
— Onde você vai? — Ouça-a falar entre dentes assim que me
aproximo da porta.
Nem me viro.
— Se você der um passo... Nunca mais vai vê-la! Ouviu? Eu mando
a Luíza para fora do país! — Berra com a voz trêmula. — Eu sumo com
ela! Você nunca mais vai... Vai vê-la!
Continuo parado, ainda de costas.
— Não vai vê-la nunca mais... Nunca mais!
Fecho os olhos, seguro a maçaneta, abro a porta e saio rapidamente,
ouvindo os gritos histéricos. Não vou ceder a chantagem dela. Não tem
como levar Luiza a lugar algum.
Vou direto para a garagem, abrindo a porta do carro, entro
rapidamente e arranco, pisando firme no acelerador. Seguro firme no
volante, sentindo os pneus deslizarem pela pista. Meu sangue fervendo.
Não sei se Mikaella está, ou não a minha espera. A incerteza e a
raiva maltratando o peito, tudo ao mesmo tempo.
Em pouco tempo, chego no prédio. Entro no elevador, com o
coração palpitando, parecendo que vai sair pela boca a qualquer
momento.
Abro a porta e vejo a sala vazia, assim como todos os cômodos do
apartamento. Puxo o ar, saindo da cozinha e engulindo em seco.
Me viro e vejo a porta da varanda aberta, de onde ela vem andando
devagar.
— Eu não deveria estar aqui. — Dá de ombros, se aproximando. —
Você não deveria, também.
— Mikaella...
— Eu penso que não. Eu queria dizer não... Mas estou aqui! — A
voz está arrastada e baixa.
Fito o vestido colado ao corpo, os saltos altos e os cabelos soltos,
voando com a brisa que entra pela varanda.
— Eu achei que não viria.
— Eu venho, por que não tenho nada a perder... — Dá de ombros,
me olhando.
A encaro e me aproximo, segurando seu rosto, sentindo o cheiro
doce do perfume inebriante na pele macia.
— Eu quero você só pra mim, Mikaella. Quero você. Só você.
Fixo meus olhos nos seus, e sinto que é isso que eu quero: ela para
mim.
Vejo-a sorrir de lado.
— Você que é o preso aqui, Otávio. Eu sou...
— Livre? Eu sei... Eu sei, Mia. — Cola a testa na sua, suspirando
pesadamente. — Mas eu sou seu...
— Não. Você não é.
— Só se você não quiser... — Digo baixo, enquanto ela me encara.
Seguro seu queixo, contorno seus lábios com o polegar, vendo-os se
abrir.
— Eu quero sentir seu corpo sobre o meu. Quero sentir o suor do seu
corpo e saber que sou eu a te proporcionar isso. — A voz sai arrastada e
esganiçada. — Quero beber teus gemidos, sentir o cheiro da tua pele na
minha... Eu quero você, Mikaella.
Ela nega, me olhando e sinto o impacto dos lábios sobre os meus.
Sinto a mão em meu rosto e afundo minha boca na sua. A beijo forte,
com fome, a língua entrando e saindo da boca, faminta.
A ergo no colo, espalmando a mão em sua bunda e as pernas se
fecham nos meus quadris. Chupo os lábios, mordo, ouvindo-a gemer.
Ando pelo apartamento com ela agarrada a mim. Minha camisa é
tirada rapidamente e sinto suas unhas arranhando meu peito.
A coloco sobre a cama, ficando de joelhos e Mikaella arfa, me
olhando.
— Eu não sei mais ficar sem você. — Digo olhando dentro dos seus
olhos.
Segura em meu rosto.
— Não fique.
— Volte para mim. Por favor... — Suplico, tateando suas costas, a
procura do ziper e desço-o assim que encontro.
Passo as mãos pelas costas lisas, aperto a bunda empinada,
enchendo a mão da carne macia. A calcinha vermelha enterrada no meio.
Ela se deita devagar, se espalhando na cama, como uma miragem.
Os seios fartos, livres. Os cabelos espalhados sobre o lençol
branco. Fico em pé e puxo as meias devagar. Começo a beijar cada parte
do seu corpo, beijo a ponta dos dedos, tão delicados, passo o nariz de
leve pelas pernas, tão macias, deixando beijos molhados entre elas.
Acaricio a parte das coxas e sinto ela arfar sob o toque suave dos
meus dedos.
— Otávio... — Ela geme baixo.
Meu pau nesse momento quer rasgar o tecido da calça e se enterrar
nela.
— Você é linda, minha Diaba. Linda. — Beijo a barriga, roçando a
barba na pele delicada e alva. Subo devagar, cheirando o vale dos seios,
que são como um convite em silêncio para mim, que obedeço
rapidamente.
Sugo um seio para dentro da minha boca, passando a língua devagar.
Mikaella geme, segurando firme em meus cabelos.
O bico entumecido, sendo sugado e mordido, faz toda sua pele se
arrepiar. Passo a língua lentamente, segurando o outro seio.
Ela geme, rindo, me olhando.
— Eu soube, desde o dia que coloquei meus olhos em você... que
você me foderia, e você realmente me fodeu! — Digo a olhando. — Me
fodeu, por que eu... Não sei mais ficar longe de você!
Seguro em seu queixo e ela sorri.
Sorri daquele modo, que me tira do eixo, me deixa louco. O tesão
bombando em cada partícula do meu corpo.
É por ela. Para ela.
— Você é minha. Você é toda minha.
Ele beija meu queixo, minhas bochechas, voltando para minha boca
e capturando meus lábios em um beijo furioso e avassalador, me
deixando tonta de desejo.
A língua entra e sai da minha boca, chupando meus lábios, me
fazendo gemer ensandecida.
O maxilar firme, a barba cerrada e os olhos brilham, enquanto me
olha intensamente. Afago seu rosto com a ponta dos dedos e desço para
o pescoço, enfiando as mãos nos cabelos baixos.
Queria ter dito não para Leon, quando me deu o recado para esperar
Otávio. Queria falar que isso acabou. Que não temos mais nada.
Mas vim...
Vim, sabendo que não deveria.
Que bem pior que eu, é ele.
Engulo em seco, o olhando. Meu coração lateja e sinto o corpo
colado ao meu, as mãos grandes me segurando, como se eu fosse fugir.
Como se eu pudesse sair daqui.
— Eu senti sua falta...
Nego devagar, vendo-o engolir seco.
— Não sentiu. — Digo sorrindo.
— Você não tem idéia do que faz comigo, não é? — Sopra o ar, com
o rosto a centímetros do meu. — Você sabe que estou em sua mãos,
Mikaella.
— Não está. — Devolvo no mesmo tom.
— Por que me provoca desse jeito, Mikaella? Por quê?
Sinto os dedos em meu rosto e fecho os olhos.
— Eu sou a sua dose de coragem. Eu te faço sentir coisas, que você
jamais pensou e imaginou... Você sabe que estou aqui, por que eu quero.
Otávio me encara e balanço a cabeça lentamente.
— Mas não exija nada de mim. — Ele franze o cenho.
— É isso que me faz...
Calo sua voz, beijando-o lascivamente. Não quero ouvir. Não quero.
Por que não vai ter como voltar atrás depois.
O beijo intensamente, com um misto de sensações pecaminosas e
sedentas nos rodeando. A boca desce pelo meu pescoço, traçando uma
linha de beijos e lambidas.
Espalmo as mãos nas costas largas, nos braços fortes e fecho os
olhos, sentindo a boca escorregar pelos meus seios e barriga. Me puxa
com facilidade, me colocando de joelhos, o colchão sede e o vejo ficar
de pé.
Desço os olhos pelo abdômen definido, o volume da ereção
marcando o tecido. Enfia os dedos em meus cabelos e suga meus lábios,
as mãos descem, apertando minha bunda firmemente.
Segura o elástico da calcinha, descendo-a, o olhar me devora,
quando a peça é jogada e me sento na cama, completamente nua.
Sorrio, o puxo pelo cós da calça e tiro seu cinto.
— Você é um dos pecados capitais, sabia?
Se livra da calça com agilidade, ainda me olhando. A boxer preta,
justa ao corpo, faz meu coração e meu interior pulsar. Descontrolado.
Ansioso.
Abro a boca quando as mãos afastam minhas pernas e os dedos se
fartam na minha boceta melada, quando coloca dois dedos, arrancando
um gemido ensandecido do fundo da minha garganta.
Agarro seus ombros com as unhas e ele suga meu queixo, tirando os
dedos e colocando novamente, me fazendo gemer e rebolar em seus
dedos. Nós dois juntos, tornamos tudo único, só nosso.
Em momento nenhum, nossos olhares se perdem. Fixos um ao outro,
eu me desmancho quando o polegar roça no clitóris, que clamava sua
atenção.
Com movimentos ágeis, o entra e sai me faz desmanchar em seus
dedos em questão de segundos.
Sorrio enquanto ele tira os dedos, ainda melados, e me encara,
soltando uma espécie de grunhido rouco e esganiçado.
— Fica de quatro, deixa eu ver o quanto você fica perfeita assim...
Ainda sentindo as pernas trêmulas, me viro de bruços, dobro os
joelhos e sinto a mão segurar minha cintura. Sinto os lábios depositarem
um beijo na minha bunda e sorrio, quando todo meu corpo reage ao
toque de sua boca.
Sei exatamente o que ele vai fazer.
Seguro no lençol, quando sinto a língua escorregar pela boceta ainda
sensível, mas ele não se contém ali. Desce... Rodeando o ponto sensível
e tenciono o corpo.
O dedo úmido pelo meu próprio prazer, o rodeia, um medo e um
prazer me alucina.
— Oh... Otávio.... — Mordo o lábio devagar, sentindo o dedo
querendo me penetrar, me invadir.
— O que foi, minha Ruiva... — Com a mão livre, ele massageia meu
clitóris.
— E-eu nunca... Fiz isso... — Digo entre dentes, tentando conter o
gemido e o desejo que me toma.
O olho por cima do ombro e ele me encara, entre sério e com um
sorriso de lado. Me segura, espalmando a mão em meu ventre, me
puxando. Sinto o pau em minha bunda e mesmo com o tecido da cueca,
eu sinto a rígidez.
Ele vai acabar comigo.
Eu nunca tive coragem de fazer sexo anal.
Mesmo sabendo dos relatos, que é um prazer absurdo...
Um buraquinho pequeno desses, sendo invadido, é assustador.
Horripilante.
Mas por que agora não parece tanto?
— Alguma coisa tinha que ser nossa primeira vez. — Ele mordisca
meu ombro, segura meus cabelos e passa a língua por meu pescoço.
Arfo baixo, sentindo as mãos apertarem minha cintura, o pau
roçando em minhas costas. Minha bunda empina e ele morde meu ombro.
Nossa primeira vez...
Não precisei perguntar, para saber.
— Não vamos fazer nada que você não queira. — Diz baixo,
sussurrando em meu ouvido. — Isso só acontece, se você quiser.
As mãos em meus seios, apertando os bicos entre os dedos grossos.
— E-eu quero. — Digo contra seus lábios, gemendo.
Sinto o arrepio me tomar e não sei dizer se foi pela sensação de
sentir o pau esticar, ou se foi por sua boca, que morde meu ombro.
— Eu não vou te machucar... — Sussurra, chupando meu pescoço.
— Eu sei que não.
A boca começa a deixar um trilho de beijos por minha coluna. Deito
devagar, colando o rosto no colchão e arqueio as costas, ficando de
quatro.
Sinto um tapa forte na nádega e logo uma leve mordida,
acompanhada de um afago, a barba roçando na pele, me fazendo fechar
os olhos e gemer.
— Essa boceta é a coisa mais linda do mundo. — A voz de Otávio
soa rouca.
Um grito abafado sai da minha garganta, quando sinto-o esfregar o
nariz de cima a baixo, sugando e serpenteando a língua bem no meio.
Sinto o dedo forçando a barreira do buraco apertado e abafo o
gemido quando a ardência e o desejo me invadem, assim que seu dedo
me penetra.
— Ah...
Ouço a respiração ofegante.
Estou toda exposta, invadida e ensandecida de tesão.
O dedo gira, ainda enterrado. Tira e mete de novo. Mais uma vez,
em um circuito vicioso de tesão. Meu corpo em êxtase, clamando por um
desejo desconhecido, que eu nem sabia que existia.
Desejo. É tudo que sinto nesse mometo.
O desejo que rouba a paciência, o controle, a sanidade.
Que dói o corpo, em um descontrole fatal, puro e dolorido.
— Segura na cabeceira. — Pede com a voz mansa.
Em questão de segundos, ele está trás de mim, então apoio as mãos
na cabeceira. O fito por cima do ombro, segurar o pau, que parece estar
maior, as veias saltadas e a glande brilhando, me assustando e ao mesmo
tempo, não.
Segura em meus seios, colando nossos corpos e toma a minha boca
com delicadeza e paixão, afundando a língua sem pressa.
— Minha Ruiva. — Geme rouco, enfiando os dedos em meus
cabelos.
— Otávio... — Digo entre os lábios, o olhando. — Eu...
— Eu não vou te machucar. — Repete. — Mas se quiser parar...
— Não. — Fecho os olhos, sentindo a mão acariciar meu clitóris,
fazendo minha cabeça tombar em seu peito.
Ele se mexe e logo o sinto passar o gel lubrificante.
Ele sorri, e quando sinto a glande pincelar meu ânus, gemo. Fecho
os olhos, sentindo-o vencer a barreira, a dor lenta e agoniada me
invadindo.
— Tão minha...
— Oh... — Abro a boca, soltando um gemido desconexo.
Ele está contido, a respiração acelerada em meu pescoço.
— Otávio...
Sinto-o por inteiro, latejando, vencendo as barreiras e entrar todo.
Fundo. Tirando meu juízo e meu ar. Os dedos mexendo no clitóris,
desviando a dor, que ainda está presente, mas nem tanto.
— Porra, Mia! Minha falta de juízo... — Diz rouco e fecho os olhos.
Sorrio levemente, sentindo a pélvis em minha bunda. Abro a boca,
sem conseguir pronunciar mais nada, quando sinto-o sair aos poucos.
— Ah, inferno... — Atropelo as palavras, me apoiando na
cabeceira.
As mãos seguram meus quadris e ele sai devagar, só para entrar
novamente.
— Oh... Eu...
— Estou te machucando? — Indaga e nego, franzindo o cenho sem
entender ao certo.
Suas pupilas estão dilatadas de desejo, sua boca entreaberta e os
gemidos roucos enlouquecidos.
— Mikaella... Eu... — Diz rápido, quando me jogo para trás,
querendo-o todo. Inteiro.
Começamos uma dança sensual e perigosa em cada estocada. Otávio
sai quase todo e entra fundo novamente.
— Não... Pare... — Peço gemendo.
— Nem se eu quisesse. — Diz baixo e chupa meu pescoço, mexendo
nos meus cabelos.
Um sorriso de canto brota em meus lábios e ele continua entrando
fundo, quando meu interior convulsiona e sinto seus músculos se
enrijecer.
— Você. É . Minha. — Diz pausadamente, a cada estocada.
— Me foda, Otávio. — Peço sorrindo e recebo um tapa forte na
bunda.
Uma estocada forte, me faz gemer alucinadamente.
— Diaba... — Diz baixo e arqueio o corpo.
O quarto é preenchido por gritos e gemidos loucos. Eu virei um
nada, me desmanchando em prazer absoluto.
A sincronia dos quadris, as investidas fortes e ao mesmo tempo
deliciosas.
Sinto os espasmos do gozo e colo o corpo ao seu, Otávio treme e
geme alucinado, me beijando, me apertando.
Meu orgasmo veio junto com o seu, simultâneo. Nossos corpos se
tornando um só, juntos em puro deleite. Tombo para trás e ele me agarra
forte, me amparando em seus braços.
Deitamos colados, os corpos suados, completamente entregues um
ao outro.
Sinto os dedos me
endo em meus cabelos, prendendo entre os dedos grossos. Ainda
estou tentando entender tudo que aconteceu dentro desse quarto.
Meu corpo reclama do cansaço, minhas pernas ainda estão bambas
de desejo.
— Te machuquei? — Indaga e balanço minha cabeça, em negativa.
— Você ainda não me respondeu...
— O que? — Sorrio manhosa.
Ele passa o polegar pelos meus lábios.
— Vai voltar para mim?
Como posso resistir a isso!?
Como posso resistir a ele!?
Não resista, simples assim!
— Se eu não quisesse continuar, pode ter certeza que eu não estaria
aqui.
Ele agarra meus ombros, me fazendo ficar colada em seu corpo, e
isso me faz sorrir internamente. Ainda estou dolorida, com as pernas
bambas e dopada de desejo.
Acaricio os braços fortes, contorno a tatuagem delicadamente com a
ponta dos meus dedos, um único desenho marcando toda a pele.
— Com quantos anos você fez? — Rodeio um traço escuro da
tatuagem.
— Estava acabando de me formar. — Diz com a voz preguiçosa. —
Fiz ela em apenas dois dias, foram horas e horas de tortura...
— Corajoso!
O encaro fixar os olhos azuis nos meus, e ergo uma sombrancelha,
enquanto ele explode em uma gargalhada.
— Do que está rindo? — Bato em seu peito.
— Você fez esse mesmo olhar quando me viu na boate. Abusada. —
semicerro os olhos.
— Você que não tirava os olhos de mim. Que culpa eu tenho?
— Uma ruiva dessas... É impossível não olhar.
Continua me olhando sério, intimidador. Essa relação indecente,
esse tesão que nunca acaba... Isso me assusta tanto.
Nego devagar, balançando a cabeça.
— Preciso tomar um banho. — Me ergo e ele me puxa.
— Se isso for um convite, eu aceito.
— Está muito assanhado, senhor Perrot.
— Só com você. — Beija minha mão e me levanto, ainda nua.
— Sua bunda é uma delícia. — Morde o lábio. — Vou te dar um
banho. Vem...
Seguro em sua mão e o deixo me levar para o banheiro, aos risos.
Fito-a sentada na enorme banheira cheia de espuma, os cabelos
presos em um coque frouxo, com alguns fios caindo sobre o rosto.
Observo as sardas nos seus ombros e costas. Linda. Ela se vira e
sorrio, erguendo a garrafa de vinho e duas taças.
Mikaella sorri e me aproximo, só de toalha. Coloco a garrafa na
borda da banheira e ela continua me encarando.
Tiro a toalha sob seu olhar e entro, a água morna e deliciosa é o
suficiente para me relaxar. Mesmo a banheira tendo espaço suficiente
para nós dois, puxo ela para perto de mim, enroscando nossas pernas e
Mikaella deita em meu peito.
Faço uma concha com as mãos, pegando água e espuma, molho os
braços e os seios alvos, descendo pela barriga lisa.
O cômodo em silêncio, apenas o barulho da água se movendo. Beijo
as sardas que salpicam seu ombro.
Ela é linda. Quente. Macia.
Mikaella pega o vinho, enche as taças, me entrega uma e segura
outra, dá um gole e faço o mesmo.
— Está ficando tarde. — Diz baixo, olhando o líquido dançar na
taça.
— O que tem? — Indago, sorvendo mais um gole da bebida.
Ela me olha por cima do ombro e mordo o lábio.
— Você se importa? — Pergunto e ela nega.
— Quem tem que se importar, é você.
Volta a beber devagar e balanço a cabeça, vendo-a beber o vinho de
uma única vez. Deposito a taça e passo as mãos pelos cabelos.
Desliguei o celular, e não vou liga-lo essa noite.
Mikaella me viu sem aliança, apenas olhou por alguns segundos e
depois desviou o olhar. Não sei se temeu perguntar o motivo, mas no
fundo ela sabe.
Sabe que vou me separar.
Vou pedir o divórcio.
Vou ser livre.
— Para quais lugares já viajou? — Pergunto, passeando os dedos
por seu braço.
Ela encosta a cabeça em meu peito e abraço suas pernas com as
minhas.
— A primeira vez que viajei foi para cá. Não era muito de
viagens... E você?
— Conheço alguns países. — Sussurro. — Eu gosto de viajar. Às
vezes.
— Viajado. — Ri baixo e a aperto em meus braços. — Quando eu
era pequena, também queria conhecer alguns países...
Ela para, engolindo em seco.
— Meu... Meu pai trabalhava viajando. — Diz baixo e balança a
cabeça lentamente. — Sempre viajou o mundo.
— Foi difícil para você, quando ele saiu de casa?
Molho seus ombros e fico olhando as gotículas de água descer por
sua pele.
— Mesmo viajando muito, ele tentava ser presente, e conseguia. Eu
senti muito, mas a doença da minha mãe veio com tudo e eu tinha uma
irmã pequena para cuidar. — Se deita em meu peito e continuo
molhando-a.
— Você odeia muito seu pai, não é? — Indago depois de um longo
tempo em silêncio.
Ela se mexe e coloco o queixo no topo de sua cabeça.
— Eu sinto mágoa dele, uma angústia... — A voz fica sôfrega e
aperto suas mãos firmemente. — Ele nem olhou para trás quando se foi...
Então não quero vê-lo nunca mais. Não quero...
— Não vai. — Digo baixo em seu ouvido e ela sorri, assentindo.
O silêncio volta a reinar, apenas o barulho da água é ouvida,
enquanto molho seus braços, seios...
— Minha sobrinha desenvolveu um medo absurdo do abandono,
quando perdeu os pais. — Falo depois de um longo tempo em silêncio.
Mikaella ergue o rosto, me encarando. — Ela era muito pequena quando
meus cunhados sofreram um acidente de carro e morreram na hora.
Franzo o cenho, sentindo os olhos lacrimejar.
— Eles estavam chegando de viagem. Luíza estava na nossa casa...
Eles tinham a deixado com a gente. Porque ela só ficava lá... — Mordo
o lábio, negando com a cabeça. — Quando ela soube, ficou em choque,
ela era tão pequena...
Mikaella me fita, afagando meu rosto.
— Não queria falar com ninguém, chorava e tinha pesadelos todas
as noites. — Solto o ar. — Só conseguia dormir comigo, e foi muito
difícil... Mas sempre fomos muito ligados, um ao outro.
— Dá para ver o quanto a ama, quando fala dela.
— Hoje ela está bem, vai a psicóloga... Mas ainda tem medo de ser
abandonada. Mas aguentei tudo por ela. Luíza é muito apegada a mim...
E eu, a ela.
Mikaella assente e fecho os olhos.
— Ela ameniza um pouco da dor... Da morte do meu filho.
Eu não sei porque estou falando isso, mas eu precisava. Ela se vira,
ficando frente a frente comigo. Sinto as lágrimas queimarem os olhos e
engulo seco, sentindo o bolo formado na garganta.
Mikaella me encara e afasto os cabelos grudados em seu rosto,
acaricio o nariz, as bochechas e ela faz o mesmo com a ponta dos dedos.
— Sinto muito por seu filho... — Diz baixo, afagando minha barba.
— Sinto muito.
Sorrio de lado, segurando as mãos frias.
— Deve ser uma dor terrível...
— É uma das piores dores. — Franzo o cenho, vendo-a negar
devagar e soltar o ar pesado. — E eu... Eu não sei lidar com...
Ela me encara e baixo os olhos.
Com essa culpa.
A culpa que corrói meu interior, de dentro para fora. Que fica
rondando minha mente e meu coração.
Porque isso nunca vai passar. Nunca.
Mikaella continua calada e ergo meus olhos, encontrando os seus.
— O que aconteceu... Com ele?
— Benjamin foi diagnosticado com uma malformação genética, uma
ultra morfológica mostrou que... O cérebro não estava se desenvolvendo.
— Falo baixo e suspiro. — Não sabíamos ao certo qual seria sua
condição, quando ele nascesse. Mas íamos fazer de tudo para ele, os
melhores tratamentos... Por que não teria cura.
Sinto a dor em meu âmago me dilacerar.
— Mas para mim, ele seria perfeito, do jeito que viesse. — A voz
embarga e Mia assente devagar. — Mas não aconteceu. Anna... teve um
sangramento e dores fortes, quando chegamos ao hospital... Ele já estava
sem vida.
Sinto uma lágrima rolar grossa e pesada, fecho os olhos, balançando
a cabeça e ela me olha. As mãos em meu rosto e o polegar roçando
levemente.
— Eu mal o vi, Mikaella. Não pude pega-lo no colo. Eu nem me
despedi do meu filho... Tudo virou um inferno depois disso. Nosso
casamento já não estava bem , mas depois disso, piorou. Por que essa
culpa... Ela não passa.
— Não foi sua culpa, Otávio. — Nega devagar, me olhando e
pousando a mão em meu peito, sentindo meu coração bater
descontrolado.
Dor. Culpa. Mágoa.
— Aqui dentro, ele está vivo. E você sabe o pai maravilhoso e
incrível que seria. Tenha certeza que ele também sabe.
Volto a balançar a cabeça, a voz embargada e o peito trancado.
— Ele era meu... sonho. Meu...
— Você ainda é jovem, Otávio. Você ainda pode ter...
Balanço a cabeça em negativa.
— Acho que não. — Sorrio sem humor, entrelaçando os dedos aos
meus e fico olhando suas unhas pintadas de um vermelho intenso.
— Você já tem uma filha de coração... — Sorri de lado. — Luíza
ganhou um pai... E você uma filha.
Enlaça meu pescoço e me abraça. Sorrio, sentindo os dedos se
afagar meus cabelos.
— Obrigado. — Agradeço ao olhar para ela.
— Pelo que?
— Por estar aqui.
— Por nada. — Diz baixo e beijo os lábios, desmanchando aquele
sorriso preguiçoso.
Encaro o relógio no pulso enquanto descemos do elevador. É pouco
mais de nove horas da manhã, acordei com Mikaella deitada em meu
peito, dormindo tranquilamente. Os cabelos espalhados e completamente
nua.
Ficamos juntos por horas essa noite, conversando, nos beijando e
transando.
Fiquei por alguns minutos olhando-a, a respiração tranquila e o
rosto sereno. A beijei devagar, enquanto se mexia, despertando,
tomamos banho juntos e um café rápido.
Descemos para a garagem do prédio e
franzo o cenho, enquanto ela se aproxima do pequeno carro.
— Qual conforto você tem com ele? — Indago, apontando para o
automóvel.
Mesmo sendo o modelo novo de fusca, está bem... ruim.
Para não dizer péssimo.
— Não andar a pé. — Dar de ombros rindo e abre a porta. Fito o
carro e ela me encara. — O que foi?
— Nada. — Nego devagar, pegando as chaves. — Vai fazer o que
hoje? Alguma balada?
— Nada marcado.
Assinto levemente.
— Vou resolver umas coisas, e se sua agenda estiver livre, eu posso
te ver? — Peço, me aproximando e ela sorri.
— Se minha agenda estiver disponível... Sim. — Continua sorrindo
e a beijo.
— Até mais tarde.
— Até... — Se despede e entra no carro.
Aceno, vendo-a sair e balanço a cabeça sorrindo.
Mikaella... Mikaella...
Arranco com o carro, saindo em seguida. O celular ainda está
desligado, e na verdade nem quero ligar. Vou para casa, resolver toda a
situação com Anna, de uma vez por todas.
Chega. Chega disso.
Engulo em seco, parando o carro no jardim, descendo logo em
seguida. Coloco a digital e a porta se abre, deixo as chaves no aparador
e franzo o cenho, por causa do silêncio que está.
— Tina? — A chamo.
— Tio Otávio! — Olho para as escadas quando Luíza desce aos
prantos, junto de Tina. — Tio...
Desce os últimos degraus e se joga em meus braços.
— Ei, meu amor...
— Tio Otávio! — Soluça, me agarrando. — Não me deixe, por
favor... Por favor...
— Luíza! O que houve, minha pequena?
— Tia Anna vai me deixar! Ela vai me deixar... Vai me deixar igual
a minha mãe! Eu não quero ficar sozinha...
— Meu amor... Olhe para mim... — Peço, segurando em seu rosto.
As lágrimas descem copiosamente e os soluços altos de um choro
descontrolado.
Vejo que Tina está me olhando.
— O que houve, Cristina?
— Anna foi para o hospital.
Luíza me abraça aos prantos e a encaro.
— Ela não pode morrer, tio Otávio! Não pode! Eu não quero ficar
sozinha... Eu não... Quero...
— Meu amor, olhe para mim. — Peço devagar, tentando acalma-la.
— Ela vai me deixar...
— Eu vou agora para lá e vou ver o que aconteceu, tá bom?
— Tio...
— Não deve ser nada grave. — Tina me olha junto com Luíza. —
Você vai ficar aqui e eu volto para te buscar para vermos sua tia...
— Promete? Promete, tio? Por favor...
— Prometo, meu amor. Eu prometo. — Digo baixo, beijando sua
testa demoradamente.
Tina me olhar e pego as chaves, olhando-a vir atrás de mim assim
que saio pela porta.
— O que houve?
— Ela tomou remédios, ligou para a senhora Letícia e... Quando ela
chegou com o Nathan... Anna já estava desmaiada.
Passo as mãos pelos cabelos, nervoso.
— Para onde ela foi? Para o médico da família?
— A senhora Letícia falou que ia para o hospital do centro. Seus
pais estavam indo para lá...
Fecho os olhos e suspiro.
— Cuide de Luíza. Eu aviso assim que tiver notícias.
Entro no carro novamente e saio em disparada.
Soco o volante, praguejando e pego o celular, ligando-o e as
mensagens chegam em disparada. O hospital não fica tão distante, o
trajeto que é vinte e cinco minutos, acabei fazendo em quinze.
Salto do carro, entrando e indo direto para a recepção.
— A paciente Annabell Bonarez Perrot... Onde...
— Otávio? — Me viro e vejo Lúcia vir em minha direção. — Por
Deus! Onde estava?
— Cadê a Anna?
— Está se recuperando.
— O que aconteceu?
Lúcia balança a cabeça, me encarando, abre a boca para responder
mas em questão de segundos, Nathan aparece, vindo como um louco para
cima de mim.
— Se acontecer alguma coisa com a minha irmã, eu acabo com
você! Está ouvindo? Eu acabo com você!
— Ela tentou se matar por sua causa! — Grita, com o dedo em
riste. — Enquanto deve ter passado a noite com alguma vagabunda...
— Otávio, não revide! — Lúcia se põe a minha frente. — Nathan,
estamos no hospital... Por Deus! Pare!
— Reze para não acontecer nada com a Anna! Por que você vai se
ver comigo! — Os olhos cravados aos meus como faíscas. — Anna é
frágil, ela perdeu um filho e o que você faz...
— Se eu fosse você, eu calava a merda da sua boca! — O corto e
Lúcia me puxa pela camisa.
— Otávio, é isso que ele quer... Pare! — Pede, me olhando.
— Nathan! — Leticia se aproxima, nos olhando. — O que está
acontecendo?
— O todo poderoso, resolveu dar o ar graça. — Ri, apontando em
minha direção. — Eu não vou deixar acabar com a vida da minha irmã!
— A louca da sua irmã que está acabando com a vida do meu irmão!
— Leon dispara, se aproximando.
— Não venha você também, Leonel!
— Acha que sua irmã é uma santa? Acorde para Jesus, meu filho!
Acorde!
— Leon! — Lúcia berra.
— Chega! Anna precisa descansar! — Letícia fecha os olhos. — Eu
não quero confusão, ela precisa de sossego!
— Ela precisa é de uma clínica psiquiatra! Sua filha é doida! —
Leon fala balançando a cabeça. — Chama um padre para exorcizar
também...
— Seu despeito por Anna, é por causa da Cíntia... — Nathan fala.
— Sua irmã e aquela outra, são farinha do mesmo saco. Nenhuma
das duas prestam!
Mamãe se aproxima nos olhando e a encaro.
— Leon...
— Eu disse a verdade!
Me desvencilho de Lúcia e passo as mãos pelo rosto, enquanto me
afasto de todos, fechando os olhos, com pensamentos invadindo minha
mente, me deixando agitado.
Merda.
— Por que não a levaram para o médico da família? — Indago para
mamãe, que se senta ao meu lado.
Estamos na sala de espera
— É o médico da Letícia. Ela disse que seria melhor... — Diz baixo
e a fito. — Não vou perguntar onde estava, porque é nítido...
Meu pai está em pé, falando com Letícia, que balança a cabeça em
negativa. Leon está de braços cruzados ao nosso lado, enquanto Lúcia
está falando ao telefone um pouco afastada.
Solto o ar devagar e olho para minha mãe.
— Vocês brigaram? — Me encara e assinto.
— Como sempre. — Solto as mãos, relaxando os ombros.
Ela não devia ter feito isso.
Não devia.
Estou me sentindo um... Estou com um peso terrível de culpa,
pairando sobre mim. Mesmo sabendo que não tenho controle sobre isso.
— Busque Luíza e leva ela lá para casa... Ela vai ficar lá agora. —
Nathan se aproxima, falando ao telefone.
Me ergo, o olhando.
— Luíza não vai sair de onde está, Nathan. — Disparo, com o punho
fechado.
— Faça o que eu disse, Gaia! — Desliga a chamada, segurando o
aparelho nas mãos.
— Você não vai levá-la a lugar algum! Luíza não sai de lá. — Digo
com o maxilar travado, o fulminando.
— Você nunca mais vai vê-la, ou chegar perto dela... Não vou
deixar você ferrar a vida da minha sobrinha!
— Ah, cala a boca, Nathan! — Leon levanta.
Aponto o dedo em sua direção arfando.
Ele me encara e engulo em seco.
— Luíza sempre teve o melhor, e vai continuar tendo, eu estando ou
não, casado com a Anna! — Aviso, com a voz trêmula. — Você pode
falar o que quiser de mim, Nathan, menos que nunca pensei na sua irmã!
— Ela está nesse hospital por sua culpa!
— Nathan, meu filho... Pare! — Letícia pede.
— Você fala muita bosta! — Leon o encara.
— Eu não vou deixar ninguém afastar a Luíza de mim! Eu juro, que
faço o impossível para isso. — Dou as costas, com a respiração
acelerada.
A raiva de Nathan só não está maior que a culpa, que minha mente e
coração estão sentindo. Estou confuso exausto e sobrecarregado.
Anna tomou vários remédios, mas por sorte, não foi o fraco todo.
O atendimento foi rápido, com isso as medidas necessárias foram
feitas rapidamente. Agora ela está dormindo no quarto e Letícia está com
ela.
Mamãe e papai foram para casa, disseram que vão voltar mais
tarde. Lucy também foi descansar, já que estava aqui desde madrugada.
— A briga foi feia, em. Está até sem aliança. — Leon encara minha
mão.
— Você tem idéia do que ela fez? Tentar contra a própria vida? —
Passo a língua pelos lábios.
— Ela não é normal, Otávio. Não sei qual a surpresa. — Diz baixo
e balanço a cabeça.
— Se tivesse acontecido alguma coisa...
— Vaso ruim não quebra, a bruxa está inteira.
— Leon. — O repreendo.
— Isso é um teatro, Otávio. — Balança a cabeça. — Dos piores.
Ela fez isso para chamar atenção, apenas.
O encaro dobrar as mangas da camisa e suspirar.
— Eu só estou aqui para te dar apoio, só isso. Não acredito nessa
mulher, e espero do fundo do meu coração, que você não volte atrás do
que quer, apenas por pena... Por que antes de pensar nela, tem que
pensar em você! Sua vida está passando! — Bate em meu ombro e sai.
Volto a encarar o chão, apoiando os braços nos joelhos. Minha
cabeça está pesada com os mil pensamentos que invadem minha mente,
sem saber qual a sensação que me domina nesse momento.
A tarde se estendeu e não consegui sair da sala de espera, mesmo
sabendo que Anna está apenas em observação.
Letícia se aproxima e levanto.
— Ela acordou. — Avisa e assinto.
— Como ela está?
Minha sogra nega com a cabeça.
— Eu já perdi Rose, não posso perder a Anna, também. — Diz
baixo e fecha os olhos. — Está mal. Está inconsolável.
Engulo em seco, enquanto Letícia me encara.
— Não a deixe, Otávio. Não a deixe... Porque Anna não vai
aguentar te perder. Não vai aguentar.
— Letícia...
— Ela já perdeu o Ben, perdeu Rose... Ela não vai aguentar te
perder. — Segura em minha mão, apertando-a. — Eu tenho você como
um filho, e como uma mãe desesperada, estou pedindo... Não a deixe!
A fito balançar a cabeça e suspiro pesadamente.
— Eu vou lá ver ela.
Letícia assente e vou em direção ao corredor. É um bom hospital,
mas não tanto, quanto o que ela deveria ter sido levada. Giro a maçaneta
devagar e abro a porta, vendo o quarto espaçoso em silêncio.
Anna esta deitada com a cabeça virada para o lado oposto, nem se
mexe quando entro. Quando escuta meus passos lentos, ela se vira
devagar, os olhos meios perdidos encontram os meus e me aproximo,
sentando na cama.
Ficamos apenas nos olhando por incontáveis segundos, sem falar
absolutamente nada. Uma sensação de culpa e de incapacidade está
dentro de mim.
Anna foi minha primeira mulher, minha primeira namorada, a mãe
do meu filho e por anos, foi minha única razão. Vivemos belos e intensos
momentos.
Mas é só... São apenas lembranças, de momentos bons, que não vão
voltar mais.
— Por que fez isso, Annabell? — Pergunto baixo enquanto ela fecha
os olhos, e percebo o quanto está pálida.
— Porquê?
— Eu não quero viver... Sem você. — Abre os olhos, deixando as
lágrimas rolarem pelo rosto.
Engulo em seco, balançando a cabeça.
— Anna...
— Eu não quero mais estar viva, se você não estiver ao meu lado...
— A voz soa trêmula e ela aperta minha mão. — Não quero...
— Não fale isso. Não pensa na Luíza? Não pensa? — Então começa
a chorar descontroladamente.
— Ela entenderia... Eu não quero viver sem você. Eu não posso...
Eu não posso viver sem você...
Anna fecha os olhos e as lágrimas grossas descem pesadas, rolando
pelo rosto abatido, então me aproximo, a puxo e ela enterra o rosto em
meu peito.
— Eu quero morrer... Não quero viver sem você... Eu não quero...
— Soluça descontrolada.
— Eu estou aqui, Annabell. — Afago seus cabelos, apertando-a em
um abraço.
— Você vai me deixar... Vai me deixar...
Fecho os olhos, pousando o queixo no topo de sua cabeça.
— Descanse. Eu estou aqui.
— Não quero descansar. Não quero... — Afasto os cabelos do seu
rosto, nos olhamos fixamente e acaricio seu rosto.
— Eu não vou sair daqui, Annabell. — Engulo em seco.
— E da nossa casa? Vai me deixar?
Nego devagar.
— Estou aqui... — Torno a repetir, me encostando e a puxando para
meu peito.
Afago os cabelos e a mão aperta a minha devagar. Fiquei a noite
inteira com ela, mesmo a cama sendo pequena e totalmente
desconfortável, mas era só eu me mexer, que ela despertava.
Ainda sonolenta, por conta dos remédios, e inquieta, as visitas
foram liberadas apenas para os familiares. Lúcia se encarregou de falar
com a mídia, que queria saber o que aconteceu, então alegamos apenas
um mal estar.
Anna não me deixou sair do quarto por nada, ficava o tempo inteiro
agarrada na minha mão. Os banhos foram dados por mim, pois Anna não
aceitava nenhuma enfermeira, ou qualquer outra pessoa. Igualmente
como as refeições também.
Pedi para Leon trazer algumas peças de roupa, e mesmo contra a
vontade, ele trouxe. Provavelmente, Anna vai ter alta na segunda, mas
vai precisar passar por consultas com outros especialistas.
— Não estou com fome. — Afasta a bandeja.
— Você não comeu nada, Anna. — Falo, mas ela continua negando.
— Quero ir para a nossa casa, para o nosso quarto e ficar na nossa
cama. — Faz um bico.
— Para podermos ir, você tem que se alimentar, nem que seja um
pouco.
— Não... Não quero...
— Vamos. — Me ajeito e sopro a sopa, chegando a bandeja para
perto. — Só um pouquinho.
— Isso é horrível, amor.
Levo a colher até sua boca e ela abre; faz um cara terrível, mas
come assim mesmo. Continuo tentando a fazer comer, ao menos a
metade, mas sorve um gole de suco e não quer mais.
— Pronto. Chega. Isso está terrível.
— Se não estivesse feito o que fez, estaria em casa. — Me ergo,
afastando o carrinho com a comida.
— Está me culpando? — Suspiro e viro para olha-la.
— Não, Annabell, estou apenas...
Me calo quando a porta se abre e Michael e Letícia entram, ele trás
um enorme buquê de flores em uma das mãos.
— Meu docinho. — Vai até Anna, que sorri ao vê-lo.
— Ah, Michael. — O abraça apertado. — Você estava viajando...
— Liguei para ele e avisei o que tinha acontecido, então voltou
correndo. — Letícia explica.
— Não precisava ter voltado por mim. — Diz baixo e ele afaga seu
rosto.
— E deixar você? Jamais.
— Ela vai ter alta. O médico daqui a pouco vem conversar com a
gente. — Minha sogra me olha. — Ela comeu?
— Pouco. — Passo as mãos pelo rosto.
— Como está se sentindo? Que susto nos deu, Annabell! Quase
morri quando recebi a ligação da sua mãe. — Michael nega veemente,
olhando-a.
Segura sua mão e com a outra, afaga seu rosto.
Ele e Anna tiveram uma conexão imediata. É nítido o amor que um
sente pelo o outro. O quanto Michael se rende a tudo que ela pede. Um
amor de pai, para filha.
Ele não é muito de conversar, ou falar sobre sua vida.
Franzo o cenho, o encarando.
— Otávio? — Letícia me tira dos meus devaneios. — Está tudo
bem?
— S-sim. — Assinto. — Eu vou deixar vocês sozinhos.
— Onde vai? — Anna indaga.
— Vou tomar um ar. Michael e Letícia estão aqui com você.
— Não... Não saia... Por favor...
— Eu estou aqui no corredor, Anna. Só vou tomar um ar aqui ao
lado. — Digo com a voz arrastada.
— Meu amor, Otávio não vai embora. Ele jamais deixaria você
nessa situação, não é? — Letícia fala, me olhando.
— Não vai, né? — Anna pergunta novamente.
— É claro que não, meu anjo. — Michael diz.
— Eu estou aqui do lado, Anna. — Suspiro pesadamente.
— Me dá um beijo. — Paro por um momento, olhando para ela, mas
então me aproximo da cama, dou um beijo rápido e saio em seguida.
Passo as mãos pelo rosto assim que saio do quarto, puxando o ar
que parece me sufocar. Mordo o lábio devagar, andando de um lado para
o outro. Estou exausto.
Um misto de sensações me invandido ao mesmo tempo.
Me aproximo das enormes janelas de vidro, vendo o sol quase se
pondo. Foi um fim de semana difícil.
Pego o celular, deslizo o dedo pela tela e fico olhando o aplicativo
de mensagens. Encaro o contato de Mikaella por alguns segundos, vendo
que tinha ficado on-line há alguns minutos.
Não trocamos uma mensagem sequer. Ela deve ter ficado sabendo
do que aconteceu. Estou tão envergonhado para ligar, para dizer que
estou com saudades e que...
Vou sair daqui o mais rápido possível.
Seguro o aparelho nas mãos, fitando a tela por incontáveis segundos,
guardo o mesmo no bolso, virando de costas enquanto Michael se
aproxima.
— O médico quer falar com você. — Diz baixo e assinto. — Acho
que vão dar alta a Anna.
— É. — Michael cruza os braços e fica me olhando.
— Tenha paciência com a Anna, Otávio. Ela está em um momento
delicado...
Semicerro os olhos e ele engole em seco.
— Sei que é difícil de entender, mas a tenho como uma filha. Quero
ver ela feliz. — Esfrega uma mão na outra e a aliança reluz em seu dedo.
— E tem como fazer alguém feliz, quando não se está feliz,
Michael?
Ele para e percebo-o engolir em seco, me olhando. Sorrio devagar e
ele suspira pesadamente, seus olhos encontram os meus e bato em seu
ombro.
— Vou vê-la.
Saio, o deixando ali, parado.
Entro no quarto, onde o médico já está e o cumprimento
rapidamente. É o mesmo médico que acompanhou Anna na morte de Ben,
o pós operatório. Tudo.
— Evitar estresse, e cuidados em todos os aspectos.
— Otávio vai cuidar bem de mim, não é, amor? — Anna sorri,
estendendo a mão a minha frente.
— Isso é importante. — O médico continua. — Anna vai precisar de
todo cuidado. Terapia vai ser muito útil.
— Ela vai voltar com os remédios. — Assinto rápido.
— Vamos cuidar bem dessa menina. — Letícia sorri.
— Então... Nos vemos depois. — Ele me encara, assentindo. —
Teremos consultas, Anna.
— Tudo bem. Vamos? Estou louca para descansar na nossa cama. —
Ela enlaça minha cintura com os braços e afunda o rosto em meu peito.
— Te amo tanto, meu amor. Tanto.
Letícia sorri me olhando e permaneço em silêncio.
— Vamos para casa, Anna.
A pior coisa, é quando o amor acaba. Por que mesmo tentando com
todas as forças, eu não consigo mais.
Não dá mais.

Coloco o blazer sobre o antebraço assim que as portas do elevador


se abrem, e o barulho dos saltos ecoam pelo ambiente enquanto caminho
pelo corredor.
Tive um final de semana diferente dos outros, parecia que as horas
nunca iam passar. Saí para jantar com Liana e Dean no sábado a noite,
fomos para um bar no domingo e bebemos um pouco, apenas nos três,
como nos velhos tempos.
Mas fiquei com uma inquietação dentro de mim, algo que me tirava
de órbita.
Não falei com Otávio durante todo o fim de semana, não trocamos
mensagens, ou coisa do tipo.
Tínhamos passado mais uma noite juntos.
E vê-lo na manhã seguinte, com os cabelos molhados e os respingos
da água caindo no peito, fez meu interior revirar de uma forma absurda.
Coloco a bolsa na mesa e vejo a porta de sua sala entreaberta. Sinto
o coração disparar e caminho devagar, entrando.
— Bom dia... — Digo baixo e paro quando é Leon se vira. — Oi,
Leon.
— Oi, Ruiva. Bom Dia.
Sorrio sem jeito, enquanto ele me olha.
Mesmo tendo olhos tão azuis, quanto o irmão, os dele são mais
claros. É parecido com o de Otávio, mas não tanto. Eles têm quase a
mesma altura, e mesmo Otávio sendo mais forte, Leon não fica muito
atrás.
— Otávio não vêm hoje. Acho que não sabe ainda. — Leon dá a
volta, se senta na cadeira e aponta com o queixo para que eu me sente a
sua frente.
Franzo o cenho, o olhando.
— Ele está bem? — Me aproximo, engolindo em seco.
Leon suspira, estala a língua e continuo o encarando quando me
sento devagar.
— Minha querida cunhada, "tentou se matar". — Faz aspas com os
dedos.
— Oh Deus. — Coloco a mão no peito e me levanto. — Leon, eu...
Meu Deus! Como ela está? O quê...
Leon balança a cabeça.
— Mikaella, calma.
— Como ter calma? Meu Deus. Isso é...
— Isso é fingimento, Mikaella. Puro fingimento. Não acredito em
nada que aquela criatura faça. — Ele diz, batendo as mãos no braço da
cadeira, fazendo-a girar de um lado para o outro.
— Leon... — Balanço a cabeça, tentando assimilar tudo que estou
ouvindo. — Ela descobriu? O quê...
— Acredite, ela sempre dá um jeito de virar o jogo quando Otávio
está prestes a deixa-la. — Leon dá de ombros e me sento, o olhando. —
Isso é mais um dos truques dela. Apenas.
Ele suspira e levanta.
— Eu nunca me dei bem com a Anna, parece que sou o único a ver a
cobra que ela é. Parecem todos cegos, não vêem a manipulação que ela
faz com o meu irmão.
— Mas atentar contra a própria vida? Leon, isso é...
— Doentio? — Ele ri de lado. — Ela é. Aquela mulher é
complemente fora de si, Mikaella.
Me ergo, passando as mãos pelos cabelos.
Leon volta a se sentar e me conta o que aconteceu. Annabell tomou
remédios, foi parar no hospital e ficou internada durante todo o final de
semana e com ela, Otávio também ficou.
É impossível acreditar em tudo que Leon está me contando sobre
esses anos. Ele parece carregar algo dentro do peito em relação a
família da cunhada.
— Otávio passou a viver apenas para ela, logo depois que se
casaram. Anna sente ciúmes de tudo e todos... Ela o fazia cancelar
reuniões de trabalho, viagens importantes e eu acabava indo no lugar
dele, porque ela surtava sempre que Otávio precisava sair.
Ele balança a cabeça, rindo sem humor.
— Ele sempre quis ser pai, acho que é o maior sonho da vida dele...
E Anna usou esse sonho para fazer ele desistir de pedir o divórcio. —
Diz engolindo em seco e continuo o encarando. — Depois que Ben
morreu...
Leon morde o lábio e percebo os olhos brilharem rapidamente.
— O irmão dela o culpa. Até a própria Anna.
— O culpa? Porquê? — Indago.
— Eles discutiram no dia em que Anna foi para o hospital. Otávio
se culpa muito por isso... Mas ele não teve culpa, Mikaella. Nenhuma.
Nego com a cabeça, sem acreditar.
— Aquela mulher é capaz de coisas, que até o diabo duvida.
O bolo se forma em minha garganta e continuo o encarando. Pisco
algumas vezes, mordendo o lábio devagar, meu coração se aperta e
baixo os olhos.
— Acho que ele não vêm essa semana... Anna está fazendo de tudo
para deixa-lo em casa. — Revira os olhos e suspira. _ Katy precisou
fazer uma viagem de última hora, daqui a pouco ela estará de volta.
— Ela avisou. — Me ergo e sorrio levemente. — O que precisar...
— Obrigado, Ruiva. — Suspira e pega algumas pastas. — Tenho um
projeto para olhar, e vou tentar deixa-lo a par de tudo.
— Tudo bem. Eu passo as ligações para você?
— Pode sim, eu vou estar na minha sala.
— Eu vou... Para a minha mesa.
— Mikaella? — Leon me chama assim que seguro na maçaneta.
— Oi... — Viro e vejo-o sorrir de lado.
— Eu sei que traição é algo abominável, mas eu também sei que
você de uma certa forma, faz bem a ele.
— Leon...
— Espero que um dia ele se livre... E que vocês possam... Viver
isso tudo.
Sorrio, sem saber ao certo o que responder. Ele se vira, então saio
da sala em passos apressados e me sento, soprando o ar.
Ele deve está passando por um inferno. É óbvio.
Que sua esposa não é a miss simpatia, isso é nítido, dá para ver a
cara de megera.
Mas fingir que tentou suicídio para tentar prende-lo?
Culpa-lo pela morte do filho?
— Não. Você não tem nada a ver com isso. — Repito para mim
mesma. — Nada, Mikaella.
Trabalhei o dia inteiro e Leon me liberou mais cedo. Lucy também
apareceu na empresa, já que tinham um projeto para planejar. Deixei
toda a agenda organizada para o dia seguinte e arrumei a sala de
reuniões, para uma que teria pela manhã.
Passei no supermercado para comprar algumas coisas que estava
precisando assim que sai da empresa. Vou fazer um jantar rápido.
Senti falta dele durante o dia todo.
É estranho admitir isso.
Mas não vou negar.
Falei com minha tia e com minha Irmã por alguns minutos, e não
recebemos mais notícias de Michael. Nem por terceiros, nem por
ligação, como ele já tinha feito.
Assim foi minha rotina, durante os quinze dias que se passaram.
Leon e Lucy cuidavam dos projetos na empresa, e Otávio trabalhava
em casa. Ouvia sua voz por chamadas de vídeo, quando ele precisava
falar com os irmãos.
Não que deixamos de nos falar, ele continua mandando mensagens,
chegou até a ligar duas vezes. O tom baixo, a voz arrastada e
extremamente cansada, eram a única coisa que eu conseguia reparar.
Trocamos e-mails, alguns rápidos, sobre trabalho. Katy e eu
ajudavamos a organizar tudo para Leon e Lucy, que entre risos e
estresse, são os melhores no que fazem.
Almoçamos juntas várias vezes, e algumas delas com Roger, que
sempre vai vê-la. Os dois são um casal romântico, daqueles de
comercial de margarina.
Fui para casa e só precisava de um banho quente e de uma comida
bastante calórica, para compensar o dia cansativo. No banho, lavei meus
cabelos demoradamente, coloquei o roupão e enrolei uma toalha nos
cabelos.
— Cheguei! — Ouço a voz de Lia pelo apartamento. — E trouxe o
rango!
— Já disse que te amo? — Grito do quarto. — Estou trocando de
roupa!
Coloco um vestido solto de malha e vou descalça para a cozinha,
quase choro ao ver as embalagens de hambúrguer e batata frita.
— Trouxe milkshake, também. — Lia diz orgulhosa.
— Aiiiii... — A abraço rapidamente. — Te amo.
— Eu sei. — Abre a embalagem de batata sorrindo. — Também
estou morrendo de fome.
Nos sentamos no tapete da sala para comer. Lia comendo o
hambúrguer e eu as batatas fritas com queijo.
— Notícias do Senhor Perrot? — Olho Lia mexer no canudo e
suspiro.
— A mesma coisa. — Dou de ombros.
Ela me encara e em suas pernas, então deito a cabeça alí, Liana
começa a mexer nos meus cabelos devagar e ficamos em silêncio.
— Estou perdida, Lia... — Digo baixo.
— Não está, Mia. Acho que você sabe exatamente o que está
sentindo. — Fecho os olhos e suspiro.
Nego devagar.
— Se ela for mesmo uma bruxa como Leon diz? — Ergo os olhos, a
encarando.
— A verdade sempre aparece. Mais cedo, ou mais tarde.
— Ai, Lia... — Balanço a cabeça.
— Eu sou uma péssima conselheira amorosa, mas sabe que estou
aqui para o que precisar, né?
Seguro sua mão e a beijo, sorrindo.
— O que seria de mim sem você, Liana.
— Seríamos duas doidas perdidas.
Fecho os olhos, mordendo o lábio.
— Está triste hoje? — Olho de relance e sorrio de lado.
Luíza se senta devagar, me encarando com os olhos baixos.
Estamos na casa da minha sogra, hoje é aniversário de Nathan e
fizeram um jantar para comemorar. Preferia estar em qualquer outro
lugar da face da terra.
Sei bem onde queria estar. Especificamente em um lugar.
Naquele lugar.
— Não queria vir, não é? — Luíza pergunta.
— Não. — Confirmo em um sussurro.
— Eu também não queria. — Admite. — Tio Nathan é bem chato as
vezes, ele nem gosta de sobremesa.
Sorrio, olhando-a.
— Ele não é chato só as vezes... Ele é chato sempre. — Digo e
Luíza ri um pouco alto, chamando atenção para onde estamos.
— Estão rindo do quê? — Anna pergunta de onde está, sentada no
outro sofá, ao lado da cunhada.
— Segredo meu e do tio Otávio. — Luíza diz me olhando e sorrio,
segurando em seu queixo. — Né, tio?
— E desde quando você tem segredos com seu tio e não tem
comigo? — Diz séria.
O sorriso de Luíza se desfaz aos poucos e ela baixa os olhos.
— Eu estava apenas brincando tia Anna, me desculpe.
— Você não fez nada para se desculpar, Luíza. — A abraço de lado
levemente e Anna se ergue, olhando-a.
— Ah, meu amor, titia estava apenas... Brincando. Desculpe. —
Fala e dá um beijo em sua cabeça. — Eu não queria... Desculpe, tá?
Luíza assente devagar.
Encaro Anna e balanço a cabeça devagar. São três semanas, que me
empenhei ao máximo para fazê-la ficar bem.
A levo no terapeuta, nas consultas médicas e tudo que posso, para
deixa-la tranquila. Fico vinte e quatro horas a vigiando, para não
acontecer nada. Para ela não tentar nada.
Nem vou ao trabalho, deixei absolutamente tudo, para Anna ficar
bem. Mas nada parece ser o suficiente.
Meus pais vão todos os dias visita-la, mas a única casa que vamos,
é a da sua mãe. E hoje, especialmente, é um dia em que estou com o bolo
formado na garganta.
Letícia e Michael sentam no sofá ao lado de Nathan e Gaia, e
conversam sobre algo que eu não ouço, mas nem tento prestar atenção.
— Me desculpa? — Anna segura em minha mão, apertando-a.
— Pelo que especificamente está pedindo desculpas? — Arqueio as
sobrancelhas.
— Você não queria estar aqui.
— Isso você sabe desde cedo, Annabell. — Fecho os olhos e aperto
a ponte do nariz com os dedos.
— Poderia ao menos fingir que não está tão entediado, só riu com a
Luíza.
— Porque ela é a única que me faz ficar feliz aqui. — Disparo de
imediato, olhando-a.
Anna arregala os olhos e pisca várias vezes seguidas.
— Vou tomar um ar. Com licença. — Falo, já me levantando do sofá
e indo para a varanda.
Passo os dedos entre os cabelos e solto um suspiro pesado.
Por alguns dias, ela voltou a ser a Anna compreensiva e carinhosa,
mas por mais que eu me esforçasse, que eu tentasse ser o marido que ela
precisa e quer, eu não consigo.
Eu não consigo. E isso a faz ficar com mais raiva e frustrada.
Pego o celular e ligo para Leon, que atende no segundo toque.
— Centro de resgate de bruxas, boa noite. Em que posso ajudar?
— Engraçadinho. — Disparo e ouço sua gargalhada do outro lado.
— Para resgate de bruxa, disque o numero 1 e a mandaremos
direto para marte, com uma passagem só de ida.
— Leonel. — Fecho os olhos e ele continua rindo.
— Dá vontade, né? Como vai, irmão mais velho? Como está a
convenção de bruxas aí?
— Adivinha?
— Deus me livre. Sinto coceira só de pensar.
Balanço a cabeça, suspirando.
— Como estão os projetos da empresa?
— De vento, em poupa. Eu e a magrela estamos dando conta. Katy
e Mikaella são nosso porto seguro. Sério.
— Elas são excelentes. — Digo baixo, sorrindo de lado.
Só em ouvir o nome dela, meu interior se revira, de uma saudade
absurda.
Ver o sorriso largo, ver os cabelos cor de fogo caírem como uma
cortina nas suas costas. Ver seu corpo lindo, a boca desenhada e os
olhos, capazes de prender minha atenção em um único piscar.
Parece impossível deseja-la, mais do que já desejava. Parece
loucura querer, mais do que já queria.
Eu a via em todos os lugares, a imaginava ao meu lado em cada
segundo, e lembrar que não estou lá, perto dela, me deixa mais irritado.
Mikaella é minha calmaria, e ao mesmo tempo, meu furacão interior.
— Como ela está? — Leon suspira do outro lado.
— Bem. Foi para casa mais cedo.
Sorrio de lado e coloco a mão livre no bolso.
— Estou com saudade dela. — Assumo, mais para mim, do que para
ele.
— Eu sei. Ela também está...
Encaro o céu estrelado e fecho os olhos.
Que vontade de abraça-la.
— Amor... Vão servir o jantar. — Me viro e vejo Anna, parada na
soleira da porta.
Com os braços cruzados e me olhando fixamente.
— Qualquer coisa, me liga. Tchau. — Digo baixo e ele fala algo que
não escuto, quando se despede.
Coloco o celular no bolso e ela sorri. Não sei a quanto tempo está
parada alí, nem o que ouviu.
Anna se aproxima devagar e dá um beijo suave no canto dos meus
lábios. Os olhos fixos nos meus, e afaga meu rosto levemente.
— Vamos? — Segura em minha mão, apertando-a entre as suas. —
Gaia quer fazer uma surpresa para Nathan.
— Esse é o nosso presente. — Letícia e Michael entregam o pacote
para Nathan, que sorri os olhando.
— Não precisava, mamãe.
— Meu primogênito mais lindo. — Ela o abraça e dá um beijo.
— Meu enteado merece o melhor.
— Assim fico com ciúmes. — Anna se aproxima de Michael e o
abraça.
— Você é minha predileta, minha menina...
Luíza está ao meu lado e sorrio, a abraçando. Nathan abre o
envelope e sorri quando vê o que tem dentro.
— Duas passagens para Dubai, com hospedagem.
— Primeira classe. — Michael ergue a taça, sorrindo.
— Obrigado. — Agradece enquanto abraça ele.
— Esse é o meu, tio Nathan... — Luíza se ergue e entrega a caixa ao
tio. — Espero que goste.
— Sendo seu, eu aposto que vou amar. — Beija sua testa.
Abre a tampa da caixa e tira o porta retrato. É uma foto dos três
irmãos, em pé, no jardim da casa. Foi a última foto que eles tiraram.
Anna no meio dos dois, enquanto Rosalind sorria para Nathan, que
as olhava.
— Eu amei, meu amor. Obrigado. — Ele solta um pigarro e a abraça
apertado.
— Sabia que ia gostar.
— Esse é meu e do Otávio. — Anna se ergue, o olhando. —
Escolhemos com todo amor.
Não escolhemos, não.
— De você, eu sei que sim. — Nathan a encara.
— Abra. Vai adorar.
Ele abre a caixa e arqueio a sobrancelha, vendo
o Rolex Submariner Date que ele tira da caixa. Um modelo raro, que
custa mais que um carro popular.
— Anna... — Nathan a fita e ela sorri, o abraçando.
— Você merece. Otávio que deu a idéia.
— Eu te amo. — Ele diz baixo para ela.
— Eu também.
— Obrigado. — Olha para mim e apenas dou leve aceno de cabeça.
Gaia se ergue sorrindo, segurando uma pequena caixa nas mãos.
Nathan a fita e ela suspira pesadamente.
— Sua vez, Gaia...
Ela o fita e sorri, dando de ombros.
— Há mais de dez anos, compartilho minha vida ao seu lado, e hoje,
nessa data especial, eu quero te dizer que vamos deixar de ser apenas
nós dois...
Letícia para e abre a boca, acompanhada de Michael.
Nathan arregala os olhos, enquanto ela limpa o rosto.
— Vamos ser nós três... Eu estou grávida!
— Ah Deus!
— Gaia... — Nathan suspira e a abraça fortemente, enquanto a beija.
Anna está de pé, me encarando, o sorriso se desfazendo no rosto.
— Mais um neto! — Michael comemora. — Precisamos brindar a
isso...
— Oh meu Deus... — Letícia junta as mãos ao rosto.
— Eu vou ser pai! Meu Deus! Eu vou ser pai... — Nathan fala
eufórico, sorrindo, enquanto Gaia chora o abraçando.
— Parabéns... Estou... Ah... Eu vou ser tia! — Anna balança a
cabeça. — Vou ser tia novamente...
Suspiro e parabenizo os dois pelo filho, que venha para deixa-los
ainda mais felizes. Mesmo que nunca tenha me dado tão bem com
Nathan, ele sempre foi um bom marido e um bom filho. Então, com
certeza vai ser um bom pai.
Não vou dizer que não lembrei do meu filho...
Anna parece ter percebido e se aproximou de mim, entrelaçando os
dedos aos meus.
O jantar foi servido logo após, em um pequeno buffet e coquetéis.
Passamos mais algum tempo, mas logo depois nos despedimos deles.
Luíza acabou dormindo no carro, no caminho de casa.
A levei para o quarto e a coloquei na cama devagar. Sorri, beijando
sua testa e saindo devagar.
Tiro a camisa, vendo Anna sair do banheiro apenas com o roupão de
cetim cobrindo o corpo. Esfrega uma mão na outra e passa o creme
hidratante nos braços.
Voltei para o quarto, mas apenas por voltar. As roupas ainda
continuam no quarto de hóspedes.
Vou para o banheiro, fecho a porta e tiro a calça, jogando no canto.
Ligo o chuveiro, deixando a água cair em meu rosto. Apoio as mãos
na parede fria, tombando a cabeça para a frente.
Fecho os olhos, suspirando pesadamente. Meu coração disparado,
de uma saudade absurda e um aperto intenso, que faz a respiração faltar.
Ouço o box se abrir e viro a cabeça, olhando Anna entrar
completamente nua, se aproxima devagar e pegar o frasco de sabonete.
— O que está fazendo?
— Tomando banho com meu marido. — Espalha o líquido nas mãos
e passa em meu peito.
Cerro o maxilar, sentindo as mãos deslizarem pela pele molhada,
pelos braços e descerem pelo abdômen.
Anna já provocou sensações indescritíveis em meu corpo, mesmo
não gostando de tantas posições e coisas na hora do sexo.
Parece que tudo que fiz era remoto... Automático. Como se eu nunca
tivesse descobrido o prazer, mas agora eu sei o que é.
Senti o corpo reagir ao toque da mão e a encaro fixamente. Segura
firme, descendo pela extensão grossa, a água nos molhando, enquanto ela
continua me encarando.
A respiração ofegante e baixa junto da minha.
— Eu sinto saudades da época em que a gente transava aqui, nesse
box. Da forma que me pegava de costas... De como meu rosto ficava na
parede fria. Quando eu sentia você se enterrando em mim.
Os movimentos ágeis, descendo e subindo, apertando-o firmemente.
Inferno.
Fecho os olhos, mas a única visão que toma a minha mente, é a de
Mikaella.
— O quanto você amava me foder por trás, enquanto beijava meu
pescoço e ia fundo... Não sente saudades?
— Deixei de sentir... — Digo baixo, sentindo o rosto colar ao meu.
— E porque está assim... —Continua me masturbando firme.
Arfo e cerro o maxilar.
— Eu sou homem, Anna. É natural reagir a um toque.
Ela sorri de lado.
O sangue circulando pelo meu corpo e em um ponto específico. Meu
pau parece crescer a cada movimento que ela faz.
— É assim que se convence? Você ainda anseia por mim... Você é
meu marido, você me deseja. Você...
Seguro em seu rosto e ela suspira.
— Otávio...
— Acha que sexo resolve todos os nossos problemas? É mais do
que isso, Anna.
— É o quê, então? Me diga...
— É mais que sexo. É mais que estar dentro de você! É prazer, é
desejo... É o desespero de querer.
E eu não te quero.
A respiração ofegante, próxima ao meu rosto, enquanto a água cai,
molhando nossos corpos. A mão espalma em meu peito e nossos olhos
se fixam, um ao outro.
— Você me quer... — Fecho os olhos ao sentir sua boca colar na
minha.
As mãos em meu rosto me puxam e sua língua se enfia em minha
boca. Demoro alguns segundos para retribuir e quando o faço,
praticamente esmago seus lábios. De raiva.
Mesmo o corpo exalando o tesão, eu não consigo sentir nada além.
Nada.
Não tem o toque desesperado. Não tem o beijo quente.
Anna, não é ela.
Afasto as mãos do meu rosto, minha cabeça dá um giro de trezentos
e sessenta graus, então a encaro.
Viro-a rapidamente de costas, sem falar absolutamente nada. O
barulho da água caindo é a única coisa que quebra o silêncio na porra do
banheiro.
Com seu rosto colado na parede fria e o corpo arqueado para trás,
afasto suas pernas, vendo-a arfar enquanto enfio os dedos em seus
cabelos.
— Devagar... — Diz baixo, virando o rosto e os olhos encontram os
meus.
Anna abre a boca quando entro nela. Foi tão automático... Tão
remoto.
Eu não senti o coração disparar. Não senti a boca seca, a procura
dos beijos molhados.
Eu só sentia ela se abrir, enquanto metia forte, duro. Estocando
firme.
Fecho os olhos e a imagem de Mikaella aparece na minha mente,
como em um passe de mágica. O corpo curvilíneo, que é capaz de me
arrancar da realidade perturbadora em que estou.
Foi apenas por pensar nela, por pensar estar dentro
de Mikaella, que senti o tesão desenfreado em meu peito, me fazendo
estocar meu pau fundo. Rápido.
Meu interior convulsionou, ela gemeu esganiçada e arfei, sentindo
meus músculos se enrijecer e os jatos escaparem, quando tirei
rapidamente do interior aveludado.
Abro os olhos lentamente.
A porra desce por entre as pernas, caindo no chão e sendo levado
pela água, que ainda desce.
Engulo em seco e Anna se vira, com o cenho franzido.
— Você tirou... — Acusa. — Porquê?
— Por quê não deveríamos ter feito isso! — Digo entre dentes, me
jogando embaixo do chuveiro.
— Somos casados!
— No papel, Annabell. Apenas! Não existe mais casamento, e você
sabe...
Pago a toalha, me enrolo e saio do box, passando as mãos nos
cabelos ainda molhados.
— Nós acabamos de transar... E você acha... Acha que vai me
descartar assim?
Me viro, olhando-a parada no meio do quarto, os cabelos molhados
e a respiração acelerada.
— Descartar você? Anna, preste atenção na situação em que
estamos, há meses...
— Não me importo! O que tivemos agora, foi a prova que não
acabou... Não acabou!
Nego devagar, olhando-a.
— Para mim, foi exatamente o contrário. Foi a prova de que não dá
mais...
Abre os braços, rindo sonoramente.
— Você não vai me deixar, Otávio. E nunca duvide do amor que eu
sinto por você, e do que eu faço para te segurar aqui do meu lado...
O sorriso vai morrendo no rosto e balanço a cabeça.
— Eu não sou sua propriedade, Annabell!
Me viro, puxando os lençóis enquanto ela me fita incrédula.
— Vai voltar para o quarto de hóspedes? Depois do que tivemos?
— Não tivemos nada! Aquilo foi um erro! Foi isso...
— Você pareceu muito satisfeito em errar!
A encaro balançando a cabeça.
— Aquilo foi apenas sexo. E foi a comprovação de que entre nós
dois, não existe mais nada! Sexo por fazer, sem tesão... Não é nada,
Anna! Nada!
— Você está querendo...
— Não é nada. — Ela paralisa, me olhando, e antes que possa falar
algo, saio do quarto.
Fecho a porta devagar, encostando a testa na mesma. Acerto um
soco, praguejando alto.
Não quero jogar a culpa disso apenas para ela. Eu fiz, eu me deixei
levar. Mas a confirmação veio naquele momento... Não existe mais nada
entre nós dois.
Fecho os olhos, suspiro e passo ambas as mãos pelos cabelos,
enquanto o coração bate desenfreado no peito.

Eu preciso ser feliz.

— Você pode organizar a sala de reuniões, Mikaella?


— Claro. Peguei o fax, e aqui estão os relatórios. — Entrego os
papéis a Leon, que assente em agradecimento.
— Você é maravilhosa. — Folheia as páginas. — Aquela planta do
hotel está na sala do Otávio, você pode pegar?
Assinto lentamente.
— Quer mais alguma coisa?
— Pode trazer um capuccino, por favor?
— Pode deixar. — Sorrio e saio da sala apressadamente.
Mais uma semana se passou com Leon no controle da empresa. Tem
tanto trabalho, já que Otávio faz apenas as vídeos conferências e envia
as plantas dos projetos por fax.
Sinto falta de sua presença em cada lugar desse prédio.
Leon e Lucy ficam em suas salas, e eu os ajudo, já que sei e entendo
como são as reuniões que Otávio faz.
Pelos comentários dos dois, Annabell parece estar melhor, se
recuperando do acontecido. Leon falando sempre com antipatia,
enquanto Lucy torce para que a cunhada esteja cem por cento.
Eu também desejo que ela tenha uma boa recuperação. Otávio
manda alguma mensagem, aqui e alí, rápidas e às vezes, eu nem
respondo para não prolongar a conversa.
A semana foi mais tranquila. Lia precisou viajar para ver sua mãe,
que mora em outra cidade, e Dean está ocupado com a avó.
Mas isso não me impede de sair. Fui ao shopping e até saí para
jantar sozinha, uma experiência e tanto. Mas não posso negar a saudade
que eu estou sentindo, especialmente dele.
Entro na sala, que continua do mesmo jeito. Sinto falta do perfume
inebriante, que toma conta do ambiente quando ele está presente. Sinto
falta do seu tamanho, preenchendo o espaço.
Me aproximo da cadeira enorme, passando as mãos pelo couro.
Balanço a cabeça, mordo o lábio devagar e suspiro pesadamente.
Abro o armário em que ficam os papéis, olhando a pasta que está na
parte de cima. Inferno. Mesmo com os sapatos de salto, eu não consigo
pega-los, então fico descalça, pego uma pequena escada e subo. Pego a
pasta com o nome do hotel e desço devagar.
Já estava no último degrau, segurando os papéis, mas tropeço em
meus próprios pés, e sinto apenas mãos me segurarem firmemente pela
cintura.
— Oh Deus... — Digo baixo, sentindo a corrente elétrica passar
pelo meu corpo.
— Peguei você. — Otávio me encara fixamente.
A loção pós barba invade meus sentidos de imediato, misturada ao
cheiro amadeirado do perfume. Sua camisa preta de botões, está aberta
no peito e dobrada até o antebraço.
Franzo o cenho, sentindo a mão ainda me segurar, o corpo grande
junto ao meu, me faz suspirar.
— Você voltou... — Engulo em seco, ainda o encarando.
— Voltei. — Ainda me encara fixamente.
Mesmo estando impecável como sempre, parece ter um peso terrível
sobre seu corpo. Os olhos brilham e engulo em seco, sentindo as batidas
frenéticas do seu coração sobre minha mão, que está apoiada em seu
peito.
— Mika... Você conseguiu encontrar a pasta? Leon está pre... — A
voz de Lucy ecoa e nos afastamos rapidamente.
Fito-a ainda parada na porta, nos olhando.
— Oh, Otávio...
— Eu quase cai da escada... — Sorrio de nervoso.
Otávio continua no mesmo lugar e a fita.
— Não sabia que ia vim hoje. — Ela entra, o abraça e ele sorri,
dando um beijo em sua testa.
— Quis pegar vocês de surpresa.
— A pasta está aqui. — Entrego a Lucy, que a segura sorrindo.
— Leon está um poço de estresse. — Balança a cabeça.
Calço os sapatos rapidamente e ajeito a saia.
— E como está... A Anna? — Pergunta ao irmão.
— Eu vou pegar o café para Leon. — Digo rápido. — Com licença.
O fito de relance, ainda me encarando com as mãos nos bolsos,
encostado na mesa e saio devagar.
— Está meio abatido. Como você está? E a Anna?
— Ela está bem. Eu...
Fecho a porta devagar, ouvindo apenas os burburinhos deles
conversando.
Pare com isso, Mikaella.
— Otávio...
Saio pisando firme, deixando os dois conversarem, seja lá sobre o
que for. Pego as cápsulas de café e coloco na cafeteira, enquanto arrumo
as xícaras na bandeja.
Levo-a para a sala de reunião alguns minutos depois, onde Lucy e
Otávio já estão, então não demora muito para a reunião começar. É uma
vídeo conferência, e mesmo tendo se afastado, ele ainda está por dentro
de tudo.
Segura a caneta nas mãos, apertando-a, e vejo que a aliança voltou
para o dedo anelar. Ele me encara, enquanto Leon explica algo que nem
ouço direito.
Ele está calado, como se estivesse sufocado, entalado....
Passamos praticamente a manhã inteira na sala. Fiz o pedido de
comida japonesa para o almoço, onde comeram sem deixar a sala de
reuniões. Fiz todas as anotações e digitei todos os relatórios que
pediram.
— Vocês sabem que daqui há um mês, é a festa de aniversário da
Perrot, não é? — Lucy lembra, balançando a cadeira de um lado, para o
outro.
Já está tarde, e estamos exaustos.
— Como esquecer esse evento? — Leon pisca, me olhando. — É
uma grande festa, Mikaella. Vai adorar.
— Deve ser muito bonito. — Digo baixo, sorrindo de lado.
— Cinquenta anos da empresa da nossa família. Que orgulho. —
Lucy sorri, se erguendo e pegando o celular. — Meu príncipe chegou,
preciso de um banho, de vinho e de uma bela...
Otávio e Leon a encaram de imediato.
— Massagem. — Completa sorrindo. — Irmãos, são sempre
ciumentos...
— Juízo, magrela. — Leon dispara.
— Tchau, amor. — Otávio sorri.
— Amo vocês.
Beija os dois e se despede de mim, saindo rapidamente em seguida.
O silêncio se instala na sala e Leon nos olha, entrelaçando os dedos
em cima da mesa.
Otávio o encara sério e ele sorri.
— Acho que alguém vai me expulsar daqui a pouco. — Se ergue,
sorrindo. — Beijos, Ruiva.
— Até amanhã, Leon. — Cumprimento, e vejo seu sorriso de lado.
— Tchau, irmãozinho. Juízo. — Fita Otávio, que balança a cabeça
rindo.
A porta se fecha e ficamos apenas nós dois, um encarando o outro
fixamente. O silêncio instalado no ambiente. Mordo o lábio devagar, ao
vê-lo afastar a cadeira, levantar e se aproximar de mim.
— Como você está? — Indago baixo.
— Com saudades.
Balanço a cabeça.
— Estou falando sério...
— Eu também. Estava com saudades. Você não me respondia
direito...
— Estava te dando um tempo, você não aparecia e não... Bom, eu...
Eu te deixei a vontade. — Digo firme e ele assente. — Sua esposa está
bem?
— Está. — Responde apenas isso, então volto a assentir.
Solta a respiração e fecha os olhos; quando os abre, fixa as meus e
me puxa em um solavanco para seus braços, cola a boca a minha,
sugando meus lábios com volúpia e uma vontade insaciável.
Meu interior enlouquece. De saudade, desejo... Uma vontade dele,
que parece nunca sair de mim.
Segura em meu rosto, me fazendo encara-lo.
— Senti tanto a sua falta, tanto... — Passa o polegar pelos meus
lábios, indo para as bochechas devagar, e solto o ar.
— Também senti a sua falta.
Otávio franze o cenho, segurando em meu queixo.
Me encara por incontáveis segundos, acariciando meu rosto com as
pontas dos dedos. Seguro a mão grande, apertando-a entre as minhas, e
ele as beija demoradamente.
Continuo o encarando, enquanto desce os olhos para minha boca e
fica alí, fazendo meu coração disparar.
— Não quero que você me dê tempo, Mia... Não quero sua
ausência... — A voz soa rouca e baixa.
— E o que quer, Otávio? O que realmente quer?
— Eu quero você. É isso que eu quero. Você.
Sorrio de lado, passando a língua pelos lábios.
Me ergo, virando de costas e franzindo o cenho, sentindo o ar faltar
dos pulmões. Ouço os passos atrás de mim, quando sua mão afasta meus
cabelos e a outra enlaça minha cintura, colando o corpo grande nas
minhas costas.
— Eu estou com medo... — Assumo, sentindo a respiração quente
em meu ouvido. — E eu nunca fui de ter medo.
Sorrio sem humor e fecho os olhos, quando ele me vira devagar,
erguendo meu queixo para me fazer encara-lo.
— Isso começou errado, Otávio. E sabe lá como vai terminar...
— Não precisa terminar, Mikaella.
— E vai ser assim para sempre?
— Você não entendeu. — Tira umas mechas do meu cabelo, que
caem sobre meu rosto. — Eu quero você. Quero você, de todas as
formas que um homem pode querer uma mulher, de todos os jeitos que eu
nem imaginei existir. Eu quero você, Mikaella.
Engulo em seco, vendo-o me encarar intensamente.
— Eu não sei... — Começo a falar baixo, negando. — Eu estou...
Confusa. Passamos dias distantes e...
Dou de ombros.
— Talvez você só queira fugir do tédio da sua vida, da sua casa...
— Você acha que é apenas isso, para mim? Meu refúgio do tédio?
— Talvez. Seu plano B.
Ele nega devagar e volto a morder o lábio inferior.
— Você não é meu plano B. Muito menos meu refúgio de tédio,
Mikaella.
Me afasto em passos lentos, o olhando.
— Você acabou de passar por um problema tenso, acabou de voltar
para a empresa. Acho que deve descansar e depois... Depois resolvemos
isso.
Ele me encara enquanto pego a bolsa.
— Até amanhã, Otávio.
Ele não responde, apenas continua me olhando, até eu me virar e
sair.
Acho que estamos realmente uma confusão, e odeio o fato de me
sentir assim.
— Você está apaixonada por ele! Isso está escrito no seu rosto!
— Cala a boca, Liana! — Ando de um lado para o outro, com uma
garrafa de cerveja na mão.
Sorvo um gole e ela me olha, sentada no sofá, com uma embalagem
de batatinhas na mão e uma cerveja na outra. Estamos em meu
apartamento.
Não queria ficar sozinha, lidando com meus pensamentos idiotas.
Estou apenas com uma camiseta larga e de calcinha, andando de um
lado, para o outro na pequena sala.
— Mia, eu sei que... Que é tudo difícil, essa situação de vocês dois.
— Difícil? É muito mais que difícil, Liana! E agora eu estou... Estou
confusa... Estou...
— Está apaixonada, Mikaella!
A encaro séria.
— Tá tudo bem, em admitir.
Eu quero negar, quero falar que ela está errada e que tudo que está
falando é uma bobeira. Mas no fundo, eu sei que Liana tem razão.
— Ele ainda é casado.
— O casamento do cara acabou faz tempo! E se o que o irmão
gostoso dele disse, for verdade, ela é uma megera muito da
manipuladora. — Lia estala os dedos e bebe um gole da cerveja.
Nego devagar.
— Mesmo que tudo dê certo... Ele nunca vai poder ser livre, Lia. Eu
não posso me prender a alguém, que já está preso.
— Você já está presa a ele, Ruiva. Só você não percebeu. Ainda tem
uma armadura aí dentro desse coração...
Engulo em seco e ela sorri.
— Mas o amor não se vê com os olhos, e sim com o coração.
— Shakespeare, Liana? Jura?
— Eu sou uma romântica incurável, à procura do príncipe
encantando. — Minha amiga ergue a garrafa. — Mas às vezes, eu só
encontro o cavalo do príncipe.
Sorrio e a abraço apertado.
Lia é minha fortaleza. Minha pessoa.
— Eu te amo, ruiva dos infernos, e só quero te ver bem.
— Eu também te amo. Muito.
Liana sorri e levamos um susto, quando a campainha soa.
— Deve ser a gazela do Dean... Ele disse que ia fugir da casa
daquela bruxa velha...
— Vou pegar outra garrafa. Abre a porta. — Vou para a cozinha,
indo em direção a geladeira. Pego uma long neck, mas estranho o
silêncio na sala.
Saio devagar e paro estática, quando vejo Otávio parado no meio da
sala, e Liana me olhando.
Ela solta um pigarro baixo e pisco algumas vezes.
— Otávio...
— Eu preciso falar com você. — Diz, me olhando de cima à baixo.
— Então... Acabei de lembrar que eu tenho que ir. Meu gato está
sozinho e ele é claustrofóbico. — Lia sorri e nos encara. — Com
licença. Até mais, senhor...
— Pode me chamar de Otávio.
— Seu Ot... Otávio. — Ela me encara e manda um beijo rápido. —
Tchau, amor.
— Tchau, Li. — Aceno levemente e ela sai, batendo a porta
devagar.
Viro para Otávio, ele ainda está de pé e os olhos descem pelas
minhas pernas expostas.
— O que veio fazer aqui um hora dessas, Otávio? Temos que estar
cedo na empresa amanhã e...
Com uma rapidez invejável, ele se aproxima de mim e me segura,
pegando em minha cintura e me erguendo. Minhas pernas envolvem sua
cintura e arfo, grudando a boca a sua.
— Eu quero você. — Sussurra entre meus lábios.
Gemo alucinada, sentindo as mãos firmes me segurar.
— Otávio...
— Eu sei que você também me quer... Eu vou ficar louco sem você,
Ruiva. Louco...
Toma minha boca, enfiando a língua, então a sugo, sentindo-o me
apertar em seus braços.
— Eu estou aqui... — Digo baixo, vendo-o sorrir, antes de tirar
minha blusa em um puxão violento. — Inferno... Eu estou aqui...
Vejo Otávio sorrir de lado, enquanto coloco a bandeja com café na
mesa de centro. Está com um lápis na mão, desenhando a planta de um
novo edifício. As mãos ágeis em cada traço que ele impõe nos rabiscos,
são invejáveis. Sorrio, me aproximo balançado a cabeça e ele me
encara.
Está perto do fim do expediente, de mais uma semana corrida, mas
diferente das outras, ele tomou a frente dos projetos que estão
acontecendo. Está mais presente e... Depois da noite em minha casa,
onde transamos por horas, até nossos corpos caírem tombados de
exaustão, de saudade e de desejo, que nem conseguimos nos levantar.
Sei que a situação entre ele e Anna não estava bem há muito tempo,
e conversamos por horas. Ele vai me ver toda noite, e às vezes, só
ficamos sentados no tapete da sala, comendo ou vendo algum filme bobo
que eu amo.
Eu abaixei a armadura.
Não sei o que está por vir.
Na noite anterior, ele conversou sobre a sobrinha, o quanto ela sente
que ele e a tia não estão bem, então ele chorou. Chorou em meu peito,
enquanto eu mexia em seus cabelos.
— Você faz isso tão bem! — Analiso a planta, olhando-a de perto.
— É um projeto magnífico. — Ele levanta e joga a caneta sobre a
mesa. — Eu amo o que faço, Mia...
Sorri e o encaro, descendo os olhos por seu corpo. A camisa azul
faz contraste com os olhos, que brilham me olhando.
— É muito perfeito.
— Eu sei. — Diz rindo.
Ele abre os braços e dá um sorriso de canto de boca.
— Eu estava falando do projeto. — Digo sorrindo e sinto seu puxão,
colando meu corpo ao seu. — Convencido.
Ele sorri me olhando e sinto a respiração contra meu nariz.
Meus pelos se arrepiam e meu coração bate desenfreado.
— Eu já disse o quanto você é perfeita? — Pergunta, pegando uma
mexa do meu cabelo e colocando atrás da orelha.
— Talvez, não. — Digo sorrindo. — Talvez, sim.
— Convencida. — Sussurra. — Gostosa. Linda...
Fecho os olhos, deixando aquela sensação me levar. Sinto o leve
passear dos dedos sobre meu lábio inferior e mordo a ponta dele de
leve.
— Você é quente como o inferno. — O contato dos lábios sobre os
meus me deixa desarmada. — Eu...
Fixo os olhos aos seus.
— Eu...
— Otávio... — Seguro em seu rosto com ambas as mãos, o beijando.
Ele geme, arfando e mordo os lábios.
— Mia... — Diz, me olhando com o lábio entreaberto. — Eu...
— Atrapalho alguma coisa?
Me viro assustada, olhando para o homem em pé, que nos encara.
Os olhos feito fogo, nos fuzilando.
— Nathan.
Natan nos encara furiosamente. Vejo seu olhar fulminar Mikaella e
me ponho a sua frente rapidamente. Travo o maxilar e cerro o punho, o
olhando.
— Então é isso que o grande engenheiro, Otávio Perrot, faz nas
horas vagas? — Ri, ajeitando o paletó. — Você é pior do que eu pensei!
— Saia da minha sala! Agora!
— Otávio... — Mikaella sussurra atrás de mim e Natan a encara.
— Que linda. Você sabe que ele é casado com a minha irmã? Que
fez votos no altar? Que ela tentou se matar por culpa dele! Você sabe?
Sonsa!
— Dirija sua raiva a mim, Natan! — Aponto para o meu peito. —
Deixa-a fora disso!
— Você pensou em deixar Anna, fora dessa palhaçada? Está
defendendo sua amante?
— Mikaella... — Viro o pescoço, olhando-a.
Os olhos fixam aos meus e ela parece ler meus pensamentos. Quero
deixa-la longe dessa sala e dos olhos de Natan.
Estou com mil e um pensamentos rondando minha cabeça.
— Devo me retirar, para terminarem o que começaram?
O fuzilo com o olhar, enquanto ela sai em passos largos da sala.
Percebo o olhar de Natan fixo nela e sinto vontade de partir a cara
dele ao meio.
— Você não tem o direito de vir na minha empresa, entrar sem ser
anunciado...
— E você ainda age como o certo? Minha irmã está depressiva,
atentou contra a própria vida, e você transando com a sua secretária? —
Abre os braços rindo. — Você é pior do que eu pensei! Pior!
— Meu casamento com a sua irmã acabou há muito tempo e você
sabe
disso, Natan!
— A aliança em seu dedo prova ao contrário! Você está deixando
Anna no momento em que ela está mais fragilizada! — Aponta o dedo
para mim. — Você acabou com a vida da minha irmã!
— Você acha que sabe de alguma coisa? Você não sabe de porra
nenhuma, Natan! De porra nenhuma! Não venha colocar o dedo na minha
cara, como se fosse o dono da razão!
— Anna desabando, e você transando com essa mulherzinha... E
ainda quer vir falar que a culpa é dela? — Cospe as palavras com fúria.
— A quanto tempo está enganando a minha irmã?
— Saia da minha frente, Natan! Agora!
— Você é pior do que eu pensei que fosse! Seu merda! Anna o ama!
Sempre o amou e você...
— Eu sempre estive ao lado dela! Em todos os momentos, Natan.
Em todos!
Cerro o punho, trincando meu maxilar com fúria.
Estamos cara a cara, as vozes alteradas e a garganta rasgando, pela
voz alterada, que ecoa por todo o ambiente.
— Desde quando está com essa mulher? A quanto tempo está
enganando a minha irmã?
— Não meta ela nessa história! Direcione a sua raiva...
— Eu direciono, para onde eu quiser! Essa vagabunda, que fez a sua
cabeça...
— Cale a merda da sua boca! —O seguro pelo colarinho. — Cale a
boca, Natan!
— Seu verme! É isso que você é... Um traidor! — Se solta. — Anna
sofre até hoje pela perda do filho... E você traindo ela! Seu miserável!
— Não meta o meu filho nesse meio! Deixe ele descansar em paz...
— Tudo culpa sua! Desgraçou a vida da minha irmã! Você acabou
com a vida da Anna! — Cerro o punho, o olhando arfar. — Ela perdeu o
filho e você...
— Nós perdemos! Não esqueça que ele era tão meu, quanto dela!
Tivemos uma vida juntos, mas acabou! Acabou! Há muito tempo...
— Seja homem, inferno! Seja homem, para bater de frente e falar a
verdade!
— Quem é você para falar o que é ser homem? Hum? Ter Gaia
fazendo as suas vontades? Sempre aos seus pés? — A voz sai
esganiçada e solto o ar.
— Vá se foder, seu desgraçado! Estamos falando da minha Irmã e
dessa vadiazinha, que não chega aos pés dela!
Em questão de segundos, sinto o impacto do meu punho em seu
queixo. Natan cambaleia, até tombar na mesa de centro com a mão no
rosto.
O ódio me cegou de uma forma descomunal. A raiva.
— Lave sua boca para falar dela! — Aponto o dedo em sua cara. —
LAVE A MERDA DA SUA BOCA!
— Olha ele, já defende a putinha dele. — Seguro-o pelo colarinho e
sinto meu rosto arder, com o soco que ele me dá.
Passo a mão no canto da boca, sentindo o gosto de sangue.
— Seu merda! Seu desgraçado! Anna não te merece, Otávio! —
Dispara e o acerto novamente, vendo-o tombar.
— Vá se foder, seu imbecil! É isso que você é, Natan Bonarez! Um
imbecil!
— Eu vou acabar com você e com essa...
— Chegue perto dela, e eu acabo com a sua raça miserável!
Vejo os seguranças entrarem na sala correndo e encaro Natan, o
fulminando.
O canto dos lábios sangrando e os olhos fixados aos meus.
— Levem esse verme daqui. — Digo, o olhando se levantar.
— Não encostem em mim! — Ele grita, levantando as mãos, e
coloca o dedo em riste, me olhando. — Vou fazer da sua vida e dessa
mulherzinha, um inferno, Otávio! Eu juro por Deus... Eu vou fazer!
Avanço para cima dele e o seguro pela camisa.
— Pegue suas ameaças e direcione para alguém que tenha medo. Por
que eu acabo com essa sua vida miserável, em um piscar de olhos,
Natan! Eu e sua irmã não somos um casal há muito tempo, então não
venha achar que é dono da razão aqui!
Encaro os seguranças, que me olham.
— Seu...
— Tire-o daqui.
Passo as mãos na boca e sinto gosto de sangue.
Filho da puta!
Sua sogra!
Meu punho está dolorido e meu queixo doendo, mas garanto que a
cara dele está pior. Passo as mãos pelos cabelos e olho de relance,
pegando um copo e jogando contra parede, o vidro se espatifa em vários
pedaços e cai no chão.
É um inferno. Um inferno.
Tem sido a porra de um inferno.
Tudo.
Essa semana maldita, onde estou saindo de casa, onde tive que lidar
com Luíza, que parece sofrer mais, a cada dia. Tive que lidar com Anna
e com tudo que está desabando ao meu redor.
— Otávio? — Olho para o lado e vejo Mikaella entrar na sala.
Passo as mãos pelos cabelos e sinto meu coração apertar, até
sufocar o peito.
A fito morder os lábios, enquanto olha a sala revirada, os estilhaços
do copo e do jarro, que estão no chão.
Ouço os saltos ecoando e ela me encara, segurando um pano nas
mãos.
— Isso vai inflamar... — Diz séria, colocando o pano molhado
sobre meu lábio.
— Mikaella. — Seguro em sua mão, mas ela nem me olha.
Um medo absurdo toma conta de mim e volto a fita-la.
— Olhe para mim. — Peço, mas ela não o faz.
Fica encarando o chão, e me sinto um fodido do inferno.
Acho que nunca nem pensei que sentiria um medo tão forte assim, de
uma forma desesperadora.
As palavras de Natan rodam minha mente, ecoando e maltratando
com uma força absurda meu peito.
E seus olhos também, por que assim que eles se fixam aos meus, eu vejo
a dor estampada.
Uma lágrima desce rolando por nossos rostos, quase que no mesmo
momento.
— Você não vai fazer isso... Não é? — Indago baixo e ela fecha os
olhos devagar. — Mikaella...
E quando torna a abri-los, nega com a cabeça devagar e levanta,
virando de costas.
— Mia... Ele é o irmão dela... O ódio dele é por mim... Eu sei que...
— Você não entende? Não entende que isso já foi longe demais? —
Se vira, disparando enquanto me encara com o queixo tremendo e a voz
baixa. — Meu Deus! Olhe as coisas terríveis que ele disse...
— Ele está com raiva de mim! Mikaella, é de mim...
— Não importa para quem é direcionada a raiva, Otávio! Ele tem
razão! Olha onde essa merda já deu! Olha até onde já fomos! E tudo isso
para quê? Para nada?
Doeu.
De uma certa forma, isso doeu mais que um soco.
— Isso só não vai levar a nada, se você não quiser...
Nega, me olhando.
— Otávio...
— Apenas se você não quiser! Por que eu quero! Eu quero que isso
vá mais além...
Ela me fita.
— Eu tomei as rédeas da minha vida, mas a verdade é que eu estou
em suas mãos, Mikaella.
Engulo em seco, enquanto ela me encara fixamente.
— Eu estou em suas mãos... Desde que te vi pela primeira vez. E eu
sei que você é muito sua, para ser de minha. Mas se quiser... Se me
quiser...
Paro e engulo em seco. O coração disparado, apertado e agoniado.
— Você não...
— Estou. Estou falando que se me disser um sim... Apenas um sim...
— Por favor, pare. Pare.
Ela vira de costas, se preparando para sair e as palavras ficam
presas.
— Mia... — Chamo e vejo-a parar estática.
Ouço o fungado do choro e cerro o punho, engolindo em seco.
— Porra! Eu te amo, Mikaella!
A voz sai esganiçada.
Ela continua de costas, não move um músculo, e isso realmente me
assusta muito. Como nunca pensei que sentiria.
— Você é linda, cheia de vida e jovem... E eu... Mesmo sendo
quatorze anos mais velho, sinto que só comecei a viver, quando você
entrou na minha vida!
Engulo em seco, com o coração disparado e punho cerrado,
olhando-a ainda de costas.
— Eu tenho uma carga pesada junto de mim, eu tenho um casamento,
que é quase da sua idade... — Sorrio sem humor, passando a língua
pelos lábios. — Mas só você me faz querer viver, Mikaella.
Solto o ar, balançando a cabeça.
— Toda vez que eu olhava nos olhos dela, eu procurava encontrar o
seu olhar. Era você que eu buscava. — Sussurro baixo, sentindo as mãos
tremerem. — Foi só você chegar, para eu me convencer, que eu não vivi
tudo que eu tenho que viver... Por que tenho, só precisava ser você.
Encaro a aliança dourada, que voltou para o meu dedo alguns dias
atrás. Como se isso impedisse alguma coisa de acontecer.
— Eu sei desse seu medo de amar. Eu sei que nesse momento, você
pode nem acreditar em mim! Mas eu tô ficando louco, Mikaella! Essas
palavras estão presas aqui dentro, e eu me vi apaixonado por você,
desde o dia que você chorou em meu peito pela primeira vez. — Suspiro
cansado. Ela ainda continua lá, do mesmo modo. — Eu só quero que
você acabe com essa tortura, que sinto em meu peito, sempre que você
diz que vai embora.
Passo as mãos pelos cabelos e um desespero louco começa a tomar
conta de mim.
— Eu posso te fazer feliz, Mikaella. — Sussurro. — Eu quero te
fazer feliz...
Me sinto encurralado.
Louco para a pegar no colo e falar o que quero.
E eu quero ela.
Faz isso.
Ela vai dizer não.
Faça ela falar um sim.
Dou um passo a frente e ela finalmente se vira, me encarando. As
lágrimas descem pelo rosto pálido, os lábios avermelhados, por ela
prender entre os dentes perfeitos.
Tudo nela tem contraste, dos dedos do pés, até os fios do cabelo
avermelhado. Os olhos azuis perfeitos, parecem duas piscinas, uma
chave para o paraíso. Meu paraíso.
— Você é a pessoa certa, mas na hora errada... — Diz baixo e nego.
— Você não... Não entende! Eu me tornei algo, que sempre repudiei!
Meu Deus...
— Nosso caso é bem mais que isso!
Ela limpa o rosto com as costas da mão e continua me encarando.
— Olha para isso... — Aponta com o queixo para a minha mão.
— Isso aqui, não é nada! Isso aqui não é nada... — Tiro a aliança com
rispidez e jogo no chão. — Eu estou pedindo uma única chance. —
Observo-a morder os lábios. — Só um sim, Mikaella. É só você dizer
que não é apenas eu, a nutrir esse sentimento, se você disser que também
sente isso por mim...
Seus olhos se arregalam e o queixo treme.
— Eu peço esse maldito divórcio hoje!
O silêncio se instala por todo o ambiente e ela dá um passo para
trás. Meu coração quase pula para fora do peito, minhas mãos suam
como nunca e sinto a respiração faltar por uns segundos.
— Eu não aguento mais ficar assim, Mikaella. Não saber qual o
momento que vai voltar, ou ir embora! Eu realmente amo..
— Pare, por favor... Eu preciso pensar. Em tudo que aconteceu
hoje... Eu...
Se cala, enquanto as lágrimas descem rolando pelo rosto. Engulo o
bolo formado na garganta.
— Não vou para casa... Estarei no apartamento. Se não aparecer, eu
vou entender que acabou.
Ela apenas me encara, com o queixo erguido e o rosto banhado por
lágrimas, que descem copiosamente.
Sem dizer mais nada, ela sai. Sai pisando firme, caminhando para a
porta e me deixando aqui.
Seguro o vaso nas mãos, miro na parede e vejo os estilhaços do
mesmo cair no chão assim que o jogo, uma raiva tremenda passando
pelo meu corpo e minha mente.
— Ah Deus! O que aconteceu? Está um burburinho enorme lá... —
Olho para Lúcia, que está boquiaberta, olhando para a bagunça em minha
sala.
A fito balançado a cabeça, vendo-a se aproximar.
— Otávio! Seu rosto! — Dispara, deixando a bolsa de lado. — O
que aconteceu? Meu Deus!
— Briguei com Natan! — Limpo rapidamente, a dor dilacerante me
invade e fecho os olhos.
— Sente-se aqui! — Afasta a cadeira e me sento.
Ela vai até o frigobar, pega gelo, enrola em um pano e coloca sobre
o meu rosto. Gemo, fechando os olhos.
Sento na minha cadeira e coloco a mão no queixo.
— Jesus! Sua cara está inchada... — Ela olha para o canto da minha
boca, que ainda sangra. — Tudo bem que você e Natan nunca foram,
tipo... Melhores amigos, mas sair no braço!? Nunca esperei.
Lúcia senta na minha frente e fica me olhando.
— Isso precisa de um curativo, Otávio!
Nenhum estrago é pior do que estou sentindo internamente.
— O que aconteceu? — Indaga.
— Lúcia... — Digo baixo, enquanto me encara, esperando uma
resposta.
E mesmo não querendo mais esconder nada, eu não vou meter minha
irmã nesse meio.
— Lucy, deixa de ser fofoqueira e saia daí, preciso falar com
Otávio. — Leon dispara, entrando na sala.
Ela nos encara e se levanta.
— Ah, mas eu não saio mesmo! Os dois vivem de segredos, e agora
Otávio e Natan saem no tapa, como se tivessem quinze anos! — Cruza os
braços, nos olhando.
— Isso não é assunto para você, Magrela! Sai!
— Nunca escondemos nada, um do outro. Mas agora estão agindo
assim?
Me ergo, fitando-a.
— Lu, eu prometo que eu te explico tudo que quiser. Mas hoje não...
Por favor...
— Isso aí.
Ela nos fita, mordendo o lábio e suspira.
— Eu sei muito mais do que vocês pensam. Mas tudo bem. Fiquem
aí. — Sai marchando firme e bate a porta com força.
— Inimigo abatido. Que merda aconteceu? Eu estava visitando a
obra e quando chego, ouço o burburinho de que você e o almofadinha do
Natan saíram no soco.
Viro de costas, sentindo meu peito explodir por dentro. Fúria, ódio e
raiva, se apossam de mim.
— Ele descobriu. Descobriu sobre a Mikaella. Estávamos juntos e
ele entrou... — Volto a me virar e olho para meu irmão. — Ele falou
coisas horríveis. Sobre Anna ser assim... Que ela vai...
— Mas isso é ótimo!
Olho para Leon incrédulo, mas ele sorri.
— Ele conta pra Anna, ela fica com ódio e te pede o divórcio!
Simples assim. — Estala os dedos.
— E você acha que vai ser simples assim, Leon? Acha?
— Conhecendo aquele demônio, sei que não... Mas ainda vai ter a
Ruiva! Cadê ela?
— Natan falou coisas terríveis, ela ouviu tudo... E foi embora... Foi
embora, logo depois que eu falei que...
Meu irmão me encara e passo as mãos pelos cabelos.
— Que eu a amo, Leon! Eu disse...
— E ela? O que ela disse?
Sorrio triste e dou de ombros.
— Ela saiu por aquela porta.
Ele vai até o bar, enche um copo com Whisky, me entrega e segura o
outro em suas mãos.
Nem consegui engolir o líquido, pela dor que causa em meu lábio.
— Só bastava um sim, Leon. Um sim, dela... E eu jogava tudo para
o alto.
— Você disse isso? Disse? — Pergunta incrédulo.
Assinto, vendo-o tomar o líquido de uma única vez.
Leon abre a boca e se levanta.
— Santa Mikaella, dos maridos casados enfeitiçados! — Ele dá um
grito alto, me fazendo soltar uma risada baixa, mas logo fica sério, me
olhando. — Brincadeirinha.
Balanço o líquido no copo, fechando os olhos.
— Ela me deixou... — Digo baixo.
— Eu não sou o melhor conselheiro do mundo, sou bem ruim e tenho
maior dedo podre para relacionamentos. — Leon diz, depois de um
tempo em silêncio.
Vejo-o suspirar.
— Mas quando sofremos para tomar uma decisão, é porque na
verdade, já tomamos. E você já tinha tomado a decisão de deixar a
bruxa, há muito tempo, irmão.
Limpo o rosto, e sopro o ar.
— Eu sei que tem a Luíza... Mas como ela pode ser feliz, em um lar
que não se tem felicidade? Que só tem brigas? Intrigas? Isso não é vida,
Otávio.
Me ergo, afrouxando a gravata.
— Eu não quero mais voltar, Leon. Não quero.
— Não vai. Fica no apartamento. Tem o meu, também...
Meu celular toca insistentemente e me aproximo, com o coração
disparado, seguro o aparelho e o nome de Anna toca insistentemente.
— É a bruxa? — Leon indaga.
Afirmo com a cabeça e torno a ignorar a ligação, mas mais uma vez,
ela liga.
— Ela vai voltar, Otávio.
— E se ela não quiser?
— Deu pra ver nos olhos dela, que ela sente algo por você. Ela só
está confusa, e sem entender...
Passo as mãos pelo rosto, suspirando pesadamente.
— Será que sente, Leon?
— O que houve, Mikaella?
A abraço, sem conseguir falar, enquanto as lágrimas descem
copiosamente.
— Mia... — Lia me abraça e os soluços me impedem de falar. — O
que houve?
Limpo o rosto rápido e nos olhamos. Vim direto para a casa dela,
depois de ter passado horas andando por aí de carro. As palavras
ecoando na cabeça, os olhos do homem me fulminando. A raiva
destilada em cada frase que saía de sua boca.
Era de se esperar... Não era?
Mas porque está doendo?
Um soluço escapa do fundo da minha garganta e Liana volta a me
abraçar.
◆◆◆

— A aliança em seu dedo, prova o contrário! Você está deixando


Anna no momento em que ela está mais fragilizada! Você acabou com
a vida da minha irmã!
— Você acha que sabe de alguma coisa? Você não sabe de porra
nenhuma, Natan! De porra nenhuma! Não venha colocar o dedo na
minha cara, como se fosse o dono da razão!
◆◆◆

— O que foi? Mia, por Deus...


Fecho os olhos, sentindo o peito apertar. As lágrimas descem
rolando grossas e feroz, e Lia me encara, limpando meu rosto devagar.
— O irmão da Anna foi na empresa hoje... — Digo baixo, com o
que queixo ainda trêmulo. — Ele me viu junto com Otávio.
— Ele fez alguma coisa com você? Ele tocou em você, Mikaella?
— Arregala os olhos me encarando e nego devagar.
— Não... — Limpo o rosto, olhando-a.
— Então me fale, por Deus, o quê aconteceu? Otávio não te
defendeu? Eu vou socar aquele...
— Ele deu um soco no cunhado! Eles brigaram feio, Liana... —
Balanço a cabeça, mordendo os lábios.
— Brigaram? Meu Deus, Mia!
— Eles brigaram, com os gritos ecoando pelo andar. Tive que
chamar os seguranças... — Fecho os olhos, soltando o ar pesado.
Parece que estou ouvindo os berros.
— Eu sabia que isso ia acontecer! Eu sabia que me meter nessa
história ia...
— O que Otávio falou? — Indaga séria.
— Isso aqui não é nada! Isso aqui não é nada... — Escuto o
tintilhar da aliança sendo jogada ao chão e meu coração dispara. —
Eu estou pedindo uma única chance. (...) Só um sim, Mikaella, é só
você dizer que não é apenas eu, a nutrir esse sentimento, se você
disser que também sente isso por mim...
Passo as mãos pelos cabelos, fechando os olhos.
Eu não tenho idéia do que fazer, não sei o que seguir: meu coração,
ou minha razão.
Mesmo sabendo que ambas, vão apenas para uma direção.
Para ele.
— Ele disse que me ama, Lia. Disse que está louco e apaixonado
por mim. — Arfo baixo. — E eu não sei o que fazer, Liana. Por que eu
estou com medo... Meu Deus, como estou com medo!
O soluço escapa e ela me abraça, afagando meus cabelos.
— Eu estou com medo, Lia... Eu estou com medo... — Sussurro
baixo e ela me aparta nos braços. — Ele disse que vai pedir o
divórcio...
Me ergo, olhando-a e engulo em seco, com o coração aos pulos.
— O que eu faço, Lia? O que eu faço?
Vejo-a morder o lábio devagar e limpar meu rosto levemente.
— Eu não sou a melhor pessoa para te dar conselhos amorosos, mas
como irmã e como amiga, eu posso te dizer...
Segura minhas mãos entre as suas e a fito entrelaçar os nossos
dedos.
— Você jovem, linda e merece o mundo, Mikaella Gonçalves. Você
exala uma força, uma poder... Que nem em mil anos, eu conseguiria ter.
— Lia... — Balanço a cabeça.
— Sei que esse medo todo aí dentro, é por tudo o que aconteceu
com seu pai e sua mãe. Que por trás dessa mulher forte, existe uma
menina que amadureceu a força, e que essa armadura aí dentro, foi
colocada por danos...
A olho sob a névoa de lágrimas que se formam.
— Que sua história com Otávio, começou de um jeito torto. Mas
ninguém é perfeito, somos falhos, humanos... E estamos prontos para
aprender como nossos erros. — Sorri, me encarando. — Então... Me
diga do fundo do seu coração, o que sente por ele? O que sente pelo
Otávio?
Eu poderia mentir e negar a todo momento, para mim mesma.
Mas não consigo mais.
— Esquece seu pai. Esquece a Anna. Esquece tudo...
Fecho os olhos, sentindo as lágrimas descerem e minha voz nem sai.
É difícil falar isso em voz alta.
Lia continua me olhando e nego devagar.
— Está tudo bem, amor? Estou te achando tão tristinha...
Me sento, segurando o celular. Dobro os joelhos, o abraçando e
sorrio.
— Estou bem. Eu só queria ouvir a voz de alguém... — Engulo em
seco, fechando os olhos. — E a Gaby?
— Está assistindo. Tem certeza que está tudo bem, Mikaella?
— Está. Mande um beijo para minha irmã, tia. Eu... Eu vou dormir.
Digo rápido e encerro a ligação assim que nos despedimos.
Saí da casa de Liana depois de uma longa conversa, e tudo ainda
roda aqui dentro de mim, com uma força descomunal.
Tomei um banho demorado, mas não consegui comer nada.
Olho o relógio e são mais de dez da noite, desse dia enfadonho.
— Se dê uma chance, Mikaella. Tente. Estou aqui se tudo dá certo,
mas estarei aqui também, se tudo der errado. — Lia segura minha
mão, apertando-a firmemente. — Eu te amo, Ruiva. Amo muito.
— Eu te amo mais...
Balanço a cabeça, me aproximando da janela. A noite fria faz um
arrepio passar pelo meu corpo, então me abraço.
O coração bate disparado. Minha boca está seca.
Olho para o céu e suspiro.
— Sei que deve estar decepcionada comigo, mamãe. Me perdoe,
mas eu...
Uma lágrima rola e a limpo rapidamente.
— Me perdoe, mamãe... Mas... Eu o amo.
Nego devagar, sorrindo.
— Meu Deus... Eu o amo! — Arfo, engolindo em seco.
O alívio toma conta e uma corrente de adrenalina se apossa do meu
corpo.
Calço os sapatos, pego a bolsa, junto do celular e desço as escadas
com pressa. Meu coração parece que vai sair galopando como um
cavalo alado.
Entro no carro e o ligo, arrancando rapidamente. O trânsito
movimentado não me impede de sair deslizando pela pista.
Estaciono poucos minutos depois em frente ao prédio. Entro no
elevador, ainda ofegante, e coloco a senha, vendo os números do painel
subirem.
Aperto uma mão na outra.
E se ele não estiver?
Se fosse uma...
As portas de metal se abrem e salto para a fora.
Observo a sala completamente vazia e olho para todos os lados.
Paro estática, o encarando sair da varanda descalço e sem camisa,
apenas com a calça social.
O copo na mão, do que parece ser alguma bebida, está quase vazio.
Os cabelos estão bagunçados, e o fito franzir o cenho.
— Mikaella...
O amor sempre esteve alí, eu que nunca quis enxerga-lo.
— Otávio... — Sussurro baixo. — Eu te desejei desde que te vi
naquela boate. Te desejei quando te vi na empresa, naquela manhã... Eu
te desejei como nunca havia desejado ninguém nessa vida.
Continuo rápido, atropelando as palavras enquanto o encaro.
— É errado, eu sei, mas ninguém nunca vai entender... E nem devem,
porque amor não se explica. Ele se sente...
— Mia... — A voz rouca soa grave e me aproximo. — Você tem
idéia do que faz comigo?
— Tenho. Por que é a mesma coisa que você faz comigo. Você me
tira o chão... Você me fez conhecer algo... Eu não conhecia o amor,
Otávio.
Seguro em seu rosto, vendo-o me encarar com o cenho franzido.
Fico na ponta dos pés e sinto suas mãos em minha cintura, me
apertando firmemente.
— Eu sou apaixonado por você. — Diz, colocando a testa a minha.
— Eu também estou completamente apaixonada por você, Otávio
Perrot.
Sinto os braços fortes me cercarem em um abraço forte e apertado,
em apenas um movimento, ele cobre meu corpo inteiro com o seu. Ergue
meu queixo, me fazendo encara-lo, os olhos azuis fixam nos meus.
— Eu amo você. — Sussurra tão baixo, que mal dá para ouvi-lo.
Roça os lábios devagar aos meus e enlaço as pernas em seus
quadris, assim que ele me ergue. Enfio as mãos em seus cabelos e colo
os lábios nossos lábios.
O beijo começou lento e casto, com ele sugando minha língua para
dentro da boca lentamente, mas logo se tornou faminto e voraz, nossas
línguas frenéticas tomando conta de tudo.
Apalpo seus braços fortes e ele me aperta mais ainda.
O beijo de volta, gemendo contra seus lábios, arfando em cada
movimento. Delirando com seu cheiro e com o seu gosto. É tudo quente,
intenso, delicioso e perigoso; e eu amo.
Sai andando comigo, ainda grudada em seu corpo, entramos no
quarto aos tropeços, entorpecidos de tesão e fogo puro.
Me coloca sobre a cama, olhando para o vestido justo, que já está
embolado na minha cintura. Seu olhar vai descendo, e a forma que ele
me despe com os olhos, é de me incendiar de dentro, para fora.
— Minha Ruiva. — Diz contra meus lábios e o puxo, fazendo-o
deitar sobre meu corpo, enquanto o abraço com as pernas.
Vejo-o tatear a cama, aperta algo e em questão de segundos, uma
música começa a soar baixo por todo o quarto. Na mesma intensidade,
nossos corpos se juntam.
Ed Sheeran
Give me love like her
'Cause lately I've been waking up alone
Pain splattered teardrops on my shirt
Told you I'd let them go
Meus lábios abertos, soltam o ar contra os seus, sorrimos, e a mão
segura firme em minha cintura, como se sua vida dependesse disso.
Ele para e volta a me encarar, seus olhos não piscam enquanto me
olha.
— Eu também... — Sussurro. — Amo você...
And that I'll fight my corner
Maybe tonight I'll call ya
After my blood turns into alcohol
No, I just wanna hold ya
— Que Deus te ajude, por que se isso for mentira, nunca mais sairá
de perto de mim. — Diz com um sorriso e tira o resto do vestido.
Beija o topo do meu ombro e fecho os olhos. Me arrepio rápido, ao
seu toque.
Give a little time to me
Or burn this out
We'll play hide and seek
To turn this around
All I want is the taste that your lips allow
My, my, my, my, oh give me love
Abro a boca ao sentir o polegar roçar no bico duro do meu seio. Ele
circula devagar, em uma carícia quente e lenta.
— Otávio... — Minhas unhas arranham sua pele e ele sorri.
— Você vai saber o que é ser realmente amada, Mikaella. Eu vou
amar cada parte do seu corpo, minha Ruiva.
Perco o juízo, quando ele abocanha um dos meus seios, a língua
prendendo o bico entorpecido, rodeando-o...
My, my, my, my, oh give me love
My, my, my, my, oh give me love
My, my, my, my, oh give me love
My, my, my, my, give me love
— Tão minha... — Desce a boca pelo vale dos meus seios, pela
barriga, onde lambe o umbigo e me agarro nos lençóis.
Sinto-o arreganhar minhas pernas e me olhar, o tesão estampado em
seu rosto, em ver minha boceta melada e exposta.
Arqueio as costas quando sinto a boca me chupar, sem pudor algum.
A língua passando de cima para baixo, e eu me desmancho em gemidos
roucos e enlouquecidos.
Give me love like never before
'Cause lately I've been craving more
And it's been a while, but I still feel the same
Maybe I should let you go
Gemo enlouquecida, agarrando o lençol, meu corpo espalhando
ondas de prazer. Ele suga meu clitóris, mordisca, chupa...
Ergo a cabeça, apenas para ver os olhos azuis fixos aos meus. Um
olhar repleto de amor e desejo, estampado no seu rosto.
Foi a minha entrega.
Rebolo em sua boca, sentindo a sucção se intensificar. Gemo
loucamente, e puxo seus cabelos, sentindo o desejo a cada segundo.
You know I'll fight my corner
And that tonight I'll call ya
After my blood is drowning in alcohol
No, I just wanna hold ya
Suga com força, entre os lábios, o botão inchado, enquanto suas
mãos apertam minha Bunda.
Meus olhos continuam presos aos deles, é algo íntimo demais.
Cativante, alucinante.
Seguro nos lençóis, com medo de me desmanchar em sua boca. Ele
mordisca o clitóris e não consigo me segurar, gozo como uma louca em
sua boca.
Give a little time to me
Or burn this out
We'll play hide and seek
To turn this around
All I want is the taste that your lips allow
My, my, my, my, oh, give me love
Ele ergue o rosto, mordendo os lábios, ainda me olhando.
— Você é tão gostosa, Mikaella... — Elogia.
Dobro os joelhos, agarro as mãos no cinto, que já está aberto.
— Teu gosto... Teu corpo... Você me incendeia, Ruiva... Eu amo seu
cheiro, eu amo como você deixa... Assim. — Segura minha mão e coloca
sobre o volume do pau, que marca a calça.
O abdômen definido. A tatuagem, que é como meu martírio de
prazer, beijo a mesma devagar, indo lentamente cada vez mais para
baixo, então desço a braguilha da calça, puxo o cós da boxer preta, junto
com calça, e seu pau pula livra para fora, seguro o mastro enorme, que
baba e parece pronto para acabar comigo.
Sorrio e o vejo fechar os olhos, enquanto passo o polegar
lentamente, o pré sémen faz a glande brilhar, passo a ponta da língua e
ouço seu gemido esganiçado.
— Mia... — Diz rouco, quando desço a boca pela extensão grossa e
pesada.
Quando chega no fundo da minha garganta, ele geme, e meus olhos
lacrimejam.
Segura em meus cabelos e arfo, descendo a boca, o segurando e
voltando a suga-lo.
— Mikaella... Porra! — Grunhi alto e sorrio, o olhando.
Sugo até o fundo da garganta, voltando novamente. O chupo como se
estivesse derretendo e ele segura meus cabelos, me obrigando a encara-
lo.
— Eu preciso estar dentro de você, agora. — Diz ríspido e ao
mesmo tempo, com a voz macia.
E como se o tempo estivesse se esgotando, ele se deita, afasta
minhas pernas, que eu rapidamente o abraço com elas.
— Meu Deus... Como eu te amo, inferno! Como eu te quero! Como
eu ardo por você, Mikaella...
Abro a boca assim que uma mão vai para minha nuca, e a outra junta
meus pulso e segura acima da cabeça.
Meus seios são esmagados pelo peito musculoso. Estou entregue.
Um golpe intenso e lascivo se espalha pelo meu corpo, o sangue
bombeado forte. A porra da adrenalina, tesão, luxúria e desejo se
espalham, enquanto ele entra fundo em mim.
Meu quadril se ergue, encontrando o seu para pegar o ritmo. Ele
entra forte e rápido, o pau escorrega fácil para dentro. Sai quase todo e
volta fundo, de novo.
Soluço de desejo. Gemo ensandecida e pisco violentamente contra a
carne dura.
— Ah... — Arfo contra seus lábios, meio sorrindo, meio gemendo.
— Gostosa. Você é toda... Toda...
Beija meus lábios e com um movimento lento e firme ao mesmo
tempo, ele começa novamente.
Estocadas fortes, o colchão cede e ele continua. Eu adoro tê-lo
latejando dentro de mim dessa forma.
Rebolo, indo de encontro das suas investidas. Somos fogo, loucura e
desejo, em dois corpos desperados por prazer. Otávio entra fundo,
rápido e o aperto sem pensar.
Mordo seu ombro, ele suga meus lábios gemendo e sorrio.
— Sou louco por você. Por essa boceta... Eu...
Afrouxa meu pulso e me solto; seguro os seus, ele parece entender e
se deixa cair para o lado, e o monto rapidamente. Completamente aberta
a sua frente.
Seus olhos descem para o meio das minhas pernas, apoio as mãos
em seu peito e começo lento...
— Ah, porra! — Aperta minha bunda, me dando controle total da
situação.
Tombo a cabeça para trás, me sufocando em meus próprios gemidos.
Desço e subo, apertando-o, e sinto meu interior convulsionar de tesão.
Ele abocanha meu seio e continuo esfregando, sentando e rebolando
ensandecida.
— Otávio... — Gemo, sinto-o me puxar e sentados, sem conseguir
nos afastar, ele continua as investidas e eu o ajudo.
É uma troca de prazer.
— Eu... Oh...
— Deixa vir... — Suga meu queixo, metendo firme em cada
estocada violenta.
Levanto meus quadris quando ele segura meu rosto. Ficamos nesse
contato visual, até que vejo sua cabeça pender para trás, com um gemido
rouco e sinto os jatos quentes me invadirem, o orgasmo chega tão forte,
que um grito ecoa pelo quarto.
Palavras desconexas são ditas entre gemidos. Ele tomba para o
lado, me levando junto. Nossas respirações ofegantes e descontroladas,
vão aos poucos se acalmando. Nossas pernas entrelaçadas e coloco a
mão em seu peito.
Um sorriso tímido toma conta de mim. Sinto o beijo em minha testa
e fecho os olhos, quando torno a abri-los, sinto-o me olhando.
— Achei que não ia vir. — Passa o polegar por meus lábios.
O cenho franzido.
— Eu estou... Confusa. — Assumo baixo e sinto as mãos em minhas
costas, acariciando-a.
— Eu imaginei. — Diz baixo, com a voz ainda arrastada. — Já
disse que você fica linda assim... Nua e esparramada na minha cama?
— Já. — Passo a língua pelos lábios, saio do seu peito e coloco o
rosto sobre o colchão.
Os olhos descem pelo meu corpo e sorrio.
— Você é linda de todas as formas. — Vira e se encaixa dentro de
mim novamente.
— Oh... — Digo surpresa, e ele começa a mover os quadris
devagar.
— Ainda está tão quentinha...
— E você ainda... Está... — Gemo sorrindo. — Oh meu.. Ah...
— Estou. Duro por você...
— Não perca tempo, então. — Sorrio e abro as pernas, vendo-o
revirar os olhos enquanto o aperto firme.
Ele se enterra novamente e gemo baixinho, beijando seu queixo.
— Meu desejo insano...
Esfrego os olhos e me espreguiço.
A cama quente e gostosa, me faz gemer, e um calor me invade.
Abro os olhos devagar, vejo a cama enorme, ainda bagunçada, e o
outro lado vazio. Puxo o lençol sobre os seios, olhando todo o ambiente.
Estou acabada.
Passo as mãos pelos cabelos assim que me sento, esfregando os
olhos, pisco diversas vezes e bocejo.
Transamos mais uma vez de noite, ou foram duas... Não lembro ao
certo. Mas sinto o cheiro de sexo espalhado pelo quarto.
Conversamos por algumas horas e depois só lembro que a gente
apagou, abraçados na cama, com minhas pernas sobre seu corpo e sua
mão me apertando, como se eu quisesse, ou pudesse fugir.
— Achei que ia demorar mais para acordar. — Olho para a porta e
ele entra devagar.
A bandeja nas mãos, me faz arregalar os olhos.
— O que... — Abro a boca, tornando a fecha-la, quando ele coloca
a mesma sobre a cama.
Está apenas com uma calça de moletom, os cabelos ainda úmidos,
revela que saiu do banho a pouco tempo.
— Trouxe um café reforçado, sei que ama doces... Então pedi umas
coisas. — Aponta e encaro os pães doce, salada de frutas, café, suco e
leite.
— Não vou comer tudo isso sozinha... — Nego, o olhando. — Meu
Deus... Por que não me acordou?
— E deixar de apreciar a visão que é você nua, deitada e relaxada?
— Nega devagar. — Não. Preferi observar você.
Arregalo os olhos e ele me fita.
— Que horas são? Vamos nos atrasar e...
— Leon está tomando conta de tudo, eu sou seu chefe... Esqueceu?
Sorrio, balançando a cabeça.
— Meu chefe está me dando folga? É isso?
— Estou. — Diz somente, servindo o suco e me entrega. — Come.
Tudo.
— Você está aí, todo lindo e perfumado, e eu nem me levantei da
cama ainda... — Reclamo, segurando o copo.
— Você é linda de todos os jeitos, Mia.
Beberico o suco sorrindo e ele continua me olhando, da forma que
só ele sabe fazer e me deixar alucinada.
— Eu te dou um banho depois. — Sua voz soa rouca. — E vamos
conversar...
Assinto, sorvendo mais um gole do suco.
— Coma comigo... — Peço, enquanto pego a salada de frutas com
iogurte.
Seguro a colher e ele abre a boca.
— Isso é bom. — Diz rindo.
Comemos devagar e estou mais do que satisfeita. Os pães são
deliciosos, assim como todo o resto.
Vou para o banheiro e me jogo embaixo do chuveiro, a água em uma
temperatura confortável, para me despertar.
Saio do banho com uma toalha nos cabelos e visto sua camisa, já
que não encontro meu vestido. Saio do quarto ainda descalça e o fito
com o celular na mão, em pé no meio da sala.
— Peguei sua camisa. — Ele se vira.
Mesmo a blusa um pouco grande em mim, sinto seu olhar de cobiça
para minhas pernas, que estão bem à mostra.
— Garanto que está melhor em você. — Se aproxima e suspiro
pesadamente.
Segura em minha mão, beijando-a devagar.
— O que vamos fazer, agora?
— Posso ficar o dia inteiro aqui, só olhando você...
— A empresa...
- Hoje, não. Hoje, não... Quero ficar com você aqui, ou onde quiser.
Mordo o lábio devagar, ele me ergue e coloca sobre o balcão.
Fica entre minhas pernas, beijando meus braços e o encaro
fixamente.
— Só hoje... Por favor...
— Me convença. — Mordo o lábio e sorrio.
Otávio me encara, erguendo meu queixo, e a mão livre, pousa em
minha coxa, o que me faz semicerrar os olhos.
— Vamos tomar banho naquela piscina, vamos almoçar... E depois,
eu prometo... — Beija meu pescoço, para em meu ouvido e sussurra. —
Eu vou te foder nesse balcão, forte... Bater nessa bunda até ficar tão
vermelha, quanto sua boceta.
Engulo em seco, o olhando.
— Me convenceu. — Digo baixo e abraço seu pescoço sorrindo.
Ele me encara, segurando em meu queixo.
— Eu amo você... Ruiva dos infernos!
— Bobo... — Meu coração dispara. — Eu também... Amo você.
A encaro tirar a camisa devagar, desabotoando botão por botão,
então peça cai, revelando sua nudez e sorrio, balançando a cabeça.
O corpo parece ter sido esculpido pelas mãos de uma artista.
A barriga lisa, os seios fartos e os quadris...
São perfeitos.
Tira a calcinha rapidamente, passando a peça pelas pernas
torneadas. Continuo descendo o olhar pelas curvas e ela sorri,
amarrando os cabelos em um coque frouxo, deixando alguns fios caindo
sobre o pescoço.
Os bicos rosados dos seios, junto das sardas que o contornam,
fazem meu interior convulsionar.
Almoçamos na sala e pedi strogonoff, que ela me falou que é uma
delícia, junto de arroz, batata palha e coca cola.
Ela podia ter escolhido o melhor menu, dos melhores restaurantes,
mas é isso que eu amo em Mikaella. A simplicidade.
Ela anda descalça, lambe os dedos quando estão sujos de alguma
sobremesa que ela ama e tantas outras coisas.
Comemos rindo e conversando sobre assuntos banais.
Entra na piscina aquecida e sorri, se aproximando de mim, a abraço
devagar, sentindo as pernas me abraçarem e a fito sorrir me olhando.
A água morna em uma temperatura gostosa, que não dá vontade
alguma de sair, mas também não é a única coisa...
Vejo o sorriso de lado, que enche meu coração de felicidade,
fazendo-o bater descontrolado no peito.
— Como consegue ser tão linda? — Sussurro baixo.
— Olhe quem fala... — A beijo devagar, sorrindo. — Quando me
disseram que ia ser secretária do senhor Perrot... Eu jurava que era um
senhor barrigudo, careca e mau humorado.
Pendo a cabeça para trás em uma gargalhada sonora e ela me
acompanha.
— E superei as expectativas? — Pergunto ainda rindo.
Ela morde o lábio devagar, arqueando a sobrancelha.
— Muito. — Responde baixo. — Eu gosto de um quase quarentão...
Franze o cenho, olhando-a.
— Gosta, é?
— Aham... — Assente, mordendo o lábio. — Eu sempre me atraí
por homens mais velhos, acho sexy.
Ela ri, me encarando.
Por que de uma certa forma, eu me senti incomodado. Na verdade,
com ciúmes.
Porra. Que fodido.
— Me senti um objeto de fetiche sexual. — Digo, tentado disfarçar.
— Seu bobo. — Balança a cabeça.
Aperto sua cintura firmemente, olhando-a.
Tomo a boca em um beijo apaixonado e faminto. Mesmo depois de
termos transado algumas vezes durante o dia, nunca estou saciado. Não
com ela nua, não com ela me olhando dessa forma.
Ela geme contra meus lábios e o mordo de leve.
— Eu amo você. — A voz rouca sai baixa.
Vejo as unhas pintadas de um vermelho vivo e engulo em seco,
sentindo ela passar por minha pele.
— Eu também amo você. — Sussurra baixo.
Posso passar a noite inteira, só ouvindo ela falar isso.
Aliás, acho que passaria uma vida.
Também, mas infelizmente, temos que resolver aquele
problema...
Sinto o corpo colar ao meu quando a puxo, e ela completamente nua,
facilita o trabalho, de apenas me enterrar dentro dela.
A boca se abre devagar.
— Você é quente como o inferno. — Digo e a beijo forte.
— Queime junto comigo, então... — Morde o lábio.
— Eu já estou queimando, meu amor.
Termino de vestir a calça e pego a camisa, abotoando-a. Observo
ela entrar no quarto já arrumada, com os cabelos soltos e o vestido justo.
Sorrio, enquanto ela ajeita minha camisa me olhando.
— Vou resolver essa situação hoje. — Franzo o cenho. — Acho que
vou ficar por aqui, ou em outro apartamento.
Ela está em silêncio, me encarando.
Seguro em suas mãos e a beijo. Odeio o fato de ter que ir...
— Eu não estou... Te cobrando nada.
— Eu sei. Mas eu preciso, Mia. — Beijo sua testa e seguro seu
rosto. — Eu preciso...
Ela assente levemente.
Está linda, ela é linda todos os jeitos e em todas as circunstâncias.
Depois que saímos da piscina, passamos o resto do dia abraçados
na cama, assistindo um filme. Ficou por horas deitada em meu peito,
comigo mexendo em seus cabelos, até vê-la dormir tranquilamente.
Saímos juntos de mãos dadas até a garagem. Quando se aproxima do
carro pequeno, dou um beijo demorado e ela sorrir.
— Nos vemos...
— Amanhã.
Nego devagar.
— Se quiser, ainda hoje. — Digo rápido.
— Resolva o que tem para resolver e depois a gente ver... —
Assente me olhando e suspiro. — Até amanhã.
— Até... — Seguro em seu queixo, dou um último beijo rápido e ela
entra em seu carro.
Fecho a porta e fico olhando-a se acomodar. O carro, mesmo não
sendo muito novo, é bem cuidado. Mas não confortável para ela.
Balanço a cabeça e enfio as mãos nos bolsos da calça, enquanto ela
da partida e sai.
Suspiro, fechando os olhos e entro no carro, aperto o volante nas
mãos e arranco rapidamente. Meia hora depois, estaciono e Dom se
aproxima.
— Boa noite, senhor.
— Boa noite. — Observo os carros parados e o fito. — Quem está
aí?
— Senhora Letícia, com o senhor Michael e o senhor Natan, junto
de sua esposa, senhor.
Ótimo. Perfeito.
— Obrigada, Dom. — Agradeço e subo os degraus da entrada.
Coloco a digital na porta e a mesma destrava, abrindo em seguida.
O burburinho da conversa é silenciado de imediato assim que eles me
veem.
Letícia está sentada no sofá de frente para mim, enquanto Anna está
ao lado de Michael, com as mãos entre as suas, em outro sofá. Gaia
baixa os olhos e Natan me fita.
— Boa noite. — Cumprimento.
— Boa noite. — Letícia se ergue.
Olho ao redor e os olhos de Natan me fuzilam.
Ah, vai tomar no teu cu.
— Boa noite, Otávio. — Michael fala e dou um leve aceno de
cabeça.
— Onde está Luíza? — Indago e puxo o ar.
Anna nem se move, continua de cabeça baixa, mexendo no anel em
seu dedo.
— Lá em cima, fazendo a lição de casa. — Gaia responde.
O silêncio se instala e todos me encaram.
Natan não disse nada, por que se não, eu estaria sendo massacrado
nesse momento.
Mas é óbvio que sabem.
Dá para ver nos olhos deles, que sabem.
— Vou subir. Continuem a vontade. — Me viro e seguro o corrimão
da escada.
— Onde você estava? — Paro ao escutar a voz de Natan, assim que
subo alguns degraus.
— Natan!
— Anna estava quase tendo uma crise nervosa e você estava sabe
Deus onde.
Sorrio e me viro devagar.
— Natan, não comece...
— Pare com isso!
— Escute bem o que vou dizer a você, por que será a última vez. —
Desço os degraus, o olhando.
Sinto o coração disparar e a raiva me dominar de forma absurda.
Anna está de pé, assim como todo mundo. Michael o segura, junto
de Gaia.
— Você é um irresponsável! Um imbecil, que não tem um pingo de
responsabilidade afetiva com a minha irmã!
— Natan... — Anna pede, o olhando. — Pare!
— Ninguém cuidou da sua irmã, como eu, Natan! Ninguém amou a
sua irmã, tanto quanto eu a amei... — Grito, apontando com o dedo em
riste. — Eu segurei a barra em todas as crises dela. Eu a fiz feliz, até
quando nem eu mesmo estava!
Ela me encara e assinto rapidamente.
— Você sabe que foi, Annabell...
— E agora que ela está precisando de você, o que você faz? Em? A
abandona!
— Natan, pare com isso, agora!
— Pare... — Anna pede o segurando e me olha.
— Não vou aturar seus desaforos na minha casa, Natan! Nem em
qualquer outro lugar! Quero que saia da minha frente, que saia da minha
casa, agora!
— Otávio... — Letícia me fita e nego. — O que está acontecendo
com você?
— A máscara dele está caindo! — Natan sorri.
— Eu cansei, Letícia! Estou literalmente cansado das acusações.
Cansado!
Fuzilo Natan, que balança a cabeça sorrindo.
— Eu estou saindo da sua casa. Por que olhar para você, me enoja,
Otávio!
— Somos dois.
— Vamos embora, Gaia!
— Natan... — Ela começa, mas ele sai, batendo a porta em seguida.
Me olha rapidamente. — Me desculpe.
— Mas o que diabos é isso? Será que a união da nossa família não
existe mais? — Michael abre os braços.
Anna continua me olhando fixamente e sobe os degraus como um
furacão.
— Annabell! — Letícia chama e sobe logo atrás.
Passo as mãos pelos cabelos, suspirando e nego veemente.
— Anna precisa de você, Otávio. — Michael fala baixo, engolindo
em seco. — Ela precisa muito de você, Otávio...
O encaro ir até o bar, encher o copo de Whisky e me oferecer.
Recuso apenas com um gesto.
— Você sabe que me sinto como o pai dela. E não é querendo tomar
o Lugar que foi de Natanael, mas eu sinto um amor por Annabell... —
Me encara sério, bebericando o líquido. — E eu a quero ver feliz.
— Mas eu não estou feliz, Michael. Eu não posso fazê-la feliz, se eu
não estiver. Eu estou cansado.
Engulo em seco e ele balança a cabeça devagar.
— Eu sei como é estar cansado da vida. Acredite, eu sei.
Se senta e apoia uma perna na outra, me olhando.
— Eu tive que fazer uma escolha uma vez, e sofro muito com ela, até
hoje.
Semicerro os olhos e ele sorri sem humor.
— Você? Uma escolha?
— Dolorosa, mas necessária. Estava fadado ao fracasso e tive que
escolher.
— E é feliz com sua escolha, Michael?
— Sou. Foi o certo a se fazer. — Toma todo o líquido de uma vez,
me olhando. — Perdemos algumas pessoas, mas ganhamos outras.
Passa por mim e bate em meu ombro.
— Acho que precisa conversar com Annabell.
Letícia e Michael foram embora algumas horas depois. Subo para
ver Luíza, que já está dormindo, dou um beijo rápido e saio do quarto.
Nem comi nada, apenas tomei um banho e fiquei no escritório,
tentando colocar os pensamentos em ordem. Ando devagar pelo corredor
e entro no quarto, a luz está acesa e Anna sentada na cama, com
ultrassons espalhados e uma roupinha azul, que eu conheço muito bem.
A caixinha com a pulseira escrita Benjamin, foi um presente dos
meus pais, quando escolhemos o nome.
Ela me encara ainda de pé.
— Daqui há poucos meses, vai fazer um ano que ele se foi. — Diz
baixo, sorrindo e me olhando. — Meu Deus... Nosso bebê ia fazer um
ano.
Engulo em seco.
— O que está fazendo, Annabell? — Indago, olhando-a.
— Acho que foi um castigo... Ben morreu e... Eu fiquei...
— Pare, Anna. Para. Deixe ele descansar em paz.
— Não quer falar sobre seu filho?
— Não. Não quero. Por que isso é como arrancar meu coração. Vai
fazer um ano, que parte de mim se foi, Anna. Eu sonhei tanto, quanto
você por ele! Eu já o amava com todas as forças...
— Então vamos continuar... Por ele... Pelo amor que você diz ter
por ele! Vamos continuar... Por favor... — Levanta e segura em meus
braços. — Por favor.
Nego devagar e a afasto.
— Eu fui fazer exames... Eu posso engravidar... Vamos reconstruir
nossa família e...
— Não vamos, por que não existe mais nada aqui, Anna. Nada. —
Digo baixo.
Ela me encara com os olhos brilhando e nega.
— Otávio...
— Não dá, Anna. Não dá para continuarmos com isso, está
acabando com a gente.
— Não... Não... Por favor... — Fecha os olhos e as lágrimas
grossas descem rolando. — Você não pode me deixar! Eu não vou
aceitar... Eu não vou...
— Eu vou ficar em um apartamento, e você vai ficar aqui, com a
Luíza. Vou arcar com todas as despesas, até... Resolvermos o divórcio.
— EU NÃO VOU ME DIVORCIAR DE VOCÊ! EU NÃO VOU... —
Grita, me olhando. — Eu não vou... Ouviu? Eu não vou!
— Estou sem honesto com você, Annabell. Não dá mais, já nos
magoamos muito...
— Não...
— Vai ser o melhor, Anna. O melhor para nós dois.
— Para você, talvez! Quer se ver livre de mim, não é? Mas não vai!
Ouviu? Você não vai! Não vai sair daqui! Não vai me deixar!
Nego, olhando-a. As lágrimas nublam a visão e ela me olha de
volta.
— Você me ama... Você ainda me ama... Eu sei... Eu sinto...
— Não, Annabell. Eu não te amo mais. Mas eu amei... Amei você,
com todas as forças. Amei tanto você, que não via que estava mudando
aos poucos. — Falo e vejo-a arregalar os olhos. — Eu amei você...
Mas...
Seus olhos fixos aos meus.
— Otávio... Eu não admito que você me deixe! Ouviu? Isso aqui só
acaba, quando eu falar que acabou!
— Eu estou falando... Que acabou! Acabou, Anna!
— Não acabou, não.
— Acabou, sim. — Limpo o rosto rapidamente. — Não torne isso
pior, Annabell...
— Você acha que é assim? Que vai acabar com tudo? Desse jeito?
Que vai me deixar, como se eu...
Me viro e vou para o closet, ouvindo seus passos atrás de mim.
— Você não vai sair daqui! Não vai... Não vai...
Abro as portas, pego as malas e ela segura em meu braço, me
fazendo encara-la.
— Olhe para mim! Olhe, inferno! Olhe dentro dos meus olhos e me
diga... Me diga que não me quer mais! Que não me ama mais... DIGA!
DIGA!
A encaro fixamente e ergo o queixo.
— Eu não quero mais, Anna. Eu quero o divórcio.
Sinto apenas o estalo do tapa em meu rosto, me fazendo virar,
fechando os olhos em seguida.
— Nunca! Ouviu? Nunca te darei o divórcio! Nunca!
A encaro arfar, com os punhos cerrados. Os olhos fixos aos meus
destilam uma fúria imensa.
— Nunca... Eu nunca te darei...
— Entenda de uma vez por todas, que acabou, Anna! Acabou! —
Ofego, negando com a cabeça.
— Seu desgraçado! Miserável! — Vem em minha direção,
desferindo tapas em meu peito, as unhas arranhando minha pele.
— Pare, Anna! Chega! Pare! — Seguro em seus braços, na tentativa
falha de faze-la parar.
— Eu não vou te dar essa merda de divórcio, NUNCA! NUNCA!
NUNCA! NUNCA!
— Você me dando, ou não o divórcio, eu estou saindo daqui hoje...
— Digo baixo, a segurando enquanto se debate furiosamente. — Chega!
Ouviu? Chega!
A solto, vendo-a negar quando cai sentada na poltrona.
Passo as mãos pelos cabelos, soltando a respiração pesada.
— Você não pode me deixar. Você não pode...
Fecho os olhos, balançando a cabeça e me viro de costas, passo as
mãos pelo rosto, solto o ar, sentindo o peito rasgar.
Algumas lágrimas descem, mas limpo rapidamente.
Eu tentei de tudo. Tudo. Para não ir embora.
— Ouviu? Você não pode me deixar, meu amor. Por favor. Por
favor... Por favor...
Ouço os soluços agoniados, enquanto ela me abraça por trás,
encostando o rosto em minhas costas. Chora desesperada, enquanto me
aperta.
— Por favor... Eu mudo... Eu mudo... Eu juro... Eu juro... Eu mudo!
Eu faço o que quiser...
A afasto devagar, negando com a cabeça.
— Eu tentei, Anna. Eu tentei por anos... Eu tentei manter nosso
casamento, a cima de qualquer coisa! Eu tentei! Meu Deus, como eu
tentei!
— Tente mais uma vez... Por nós dois... Por Luíza... Pelo nosso
filho... Otávio, não me deixe!
Limpo meu rosto com as costas das mãos.
Foram tantas brigas. Tantos ataques de ciúmes, sem necessidade.
Foram planos, jogados ao vento.
— Eu já tentei, mas do que podia... — Digo baixo e umedeço os
lábios, voltando a limpar o rosto, engolindo em seco o bolo formado na
garganta. — Eu vou pedir para Tina arrumar minhas malas...
— Você não leva nada! Nada! — Se ergue balançando a cabeça. —
Não vai levar nada daqui!
— Anna...
— Quer sair? Saia com a roupa do corpo! Mas daqui você não leva
nada! — Passa as mãos pelos cabelos, arrumando. — Eu não vou
facilitar para você!
_ Só vai piorar a situação e você sabe disso. Analise nosso estado,
Annabell!
— Eu quero que a situação e o estado, se fodam! — Abre os braços,
gritando. — SE FODAM!
— Vou pegar meus documentos...
— Não vai. — Nega, se pondo a minha frente.
— Saia da minha frente, Anna.
— NÃO. NÃO SAIO! — Ergue o queixo e a seguro devagar, mas o
suficiente para fazê-la sair.
— Não piore as coisas! — Disparo, entrando no closet.
Ouço os passos atrás de mim e abro a porta, pegando algumas pastas
com documentos e plantas importantes, que são da época da faculdade,
que eu guardo.
Abro o cofre, pego alguns papéis, passaporte e contratos.
Observo todas as jóias que são presentes meus, para ela. Alianças,
brincos, pulseiras e anéis valiosos. Deixo tudo no mesmo local e
fechando o cofre.
— Você não vai... — Segura em meus braços e me desvencilho.
— Pare, Anna. Agora. — Peço enquanto abro mais portas.
— Você não vai! — Dispara entre dentes.
Pego alguns cabides com camisas e coloco sobre a cadeira; abro
gavetas, pegando mais peças, enquanto ela segurava em meu braço, na
tentativa de me parar.
— Me ouça... Por favor... Me ouça... — Pede, me puxando pela
camisa.
— Chega! Por favor... Eu estou pedindo... Chega! — Tiro suas mãos
e abro uma porta para pegar uma mala de mão, mas assim que a puxo,
uma pasta azul cai em meus pés. Encaro as folhas se espalharem e Anna
para.
(...) Morte suspeita do feto...
Se abaixa rapidamente, os pegando e a olho.
Morte suspeita?
— O que é isso? — Estendo a mão, a olhando. — Que papéis são
esses, Anna?
— São meus... — Diz, balançando a cabeça veemente.
— Me dê esses papéis, Annabell! Agora! — Peço, sentindo o
coração disparar em tropeços.
Meu sangue foge do corpo, enquanto ela continua negando com a
cabeça.
— É do... Ben? Morte... Suspeita? É do meu filho? — A voz se
arrasta e ela nega, se afastando.
— Não, isso é...
— ME DÊ ESSA MERDA, AGORA!
— NÃO!
— Anna.... Me dê... Eles... AGORA!
Dou um passo a frente, mas ela rasga as folhas em pedaços, me
aproximo, olhando-a ir direto para o banheiro e em um gesto rápido,
joga todos na privada.
— Não quer ir embora? Vá! Vá! Saia! Me deixe... ME DEIXE!
Morte suspeita.
Morte suspeita.
Franzo o cenho, olhando-a.
— Anna... Que papéis eram aqueles?
Me encara, erguendo o queixo.
Sinto minha garganta fechar e cerro o punho, o coração batendo
descontrolado, como se fosse rasgar a pele e pular para fora.
— Eram meus! Meus!
— Eram de Ben...
— Eram meus! Meus! Isso não diz mais respeito a você... Não diz!
— Se aproxima e me empurra.
— É sobre o Ben...
Bate a porta do banheiro assim que saio do mesmo e franzo o cenho,
fechando os olhos.
O ar parece faltar nos pulmões.
Morte suspeita?
Nego devagar.
Não. Não.
Passo as mãos pelos cabelos.
— Você sabe que vai me falar o que diabos era aquilo, Annabell.
O silêncio do outro lado continua e coloco a mão na madeira fria.
— Inferno! — Ralho e bato na mesma.
Ando de um lado para o outro por incontáveis minutos, e quando a
exaustão do corpo me vence, saio do quarto e vou para o de hóspedes.
Não consegui pregar os olhos, com tantos pensamentos me
invadindo.
Ben morreu por complicações, isso nos foi dito no hospital.
Então porque morte suspeita?
O que levaria a isso?
Pego o celular, deslizando a tela e mando uma mensagem rápida
para Mikaella.

Amanhã nos vemos na empresa, te conto tudo que aconteceu.


Boa noite, minha ruiva. Um beijo.
Coloco o aparelho na cama e fecho os olhos.
Não vou mais discutir com Anna, vou ficar apenas por essa noite
para arrumar as coisas e falar com Luíza pela manhã.
O resto eu resolvo depois.
A noite parecia não acabar nunca, me remexo por horas e a cama
parece ter espinhos. Os olhos secam, mas o sono não vem de jeito
nenhum.
Desci cedo e pedi a Tina para arrumar todas as minhas coisas, e
assim ela fez.
Demorou poucas horas para ela e Dom
descerem, deixando as malas na sala. Tomo um banho, coloco um dos
ternos e desço, os encarando sorrindo.
— Desejo que você seja muito feliz, Otávio.
— Sabe que sempre tivemos um carinho muito grande por sua
família.
— Eu sei, e agradeço muito. A vocês dois. — Engulo em seco,
assentindo. — Eu vou continuar arcando com os custos e salário de
vocês, até resolvermos tudo... Quero que cuidem de Luíza para mim.
— Sempre, você sabe o amor que temos por ela. — Tina sorri.
— Eu vou sempre entrar em contato, eu... — Engulo em seco,
balançando a cabeça.
Olho para as escadas e vejo Luíza descer devagar.
Está com o uniforme da escola, e me encara, depois vê as malas e
volta a me olhar.
— Bom dia. — Diz baixo e me aproximo, a abraçando. — Vai
viajar, tio Otávio?
Beijo sua testa e a abraço apertado.
— Com licença. — Tina e Don pedem, saindo rapidamente.
— Vamos conversar, meu amor? — Ela assente devagar.
Vamos para a varanda e meu coração está tão apertado, que chega a
doer, mas uma dor descomunal. Me sento e ela faz o mesmo, os olhos
claros me encaram e sorrio.
Seguro em sua mão, beijando-a e não consigo controlar o choro que
me toma.
As lágrimas descem, sufocantes e agoniadas.
— Tio... — Diz enquanto me abraça e afago seus cabelos.
Eu não consigo falar nem uma frase, por que o choro que era baixo,
fica mais forte. Tão forte, que dói.
Sinto-a limpar meu rosto levemente.
— O senhor... Vai embora? — Indaga baixo e seguro em suas mãos.
Assinto devagar, vendo seus olhos fixarem aos meus.
— E-eu vou. — Ofego, batendo no sofá devagar e ela se senta,
ainda me olhando. — Eu vou para outra casa...
Luíza continua me olhando com os olhos baixos e engulo em seco,
apertando suas mãos entre as minhas.
— Eu sabia que ia embora, tia Anna está chorando no quarto... —
Baixa os olhos, balançando as pernas.
— Lembra que eu te falei, que eu e ela não estávamos mais felizes?
— Indago olhando-a. — Eu e sua tia nos casamos muito jovens, e fomos
felizes até um certo momento, Luíza.
— E não podem ser novamente? Tentar?
Nego devagar.
— Não, meu amor. Porque já tentamos muitas vezes... E não dá
mais, entende? Ainda existe um carinho, mas apenas isso. Não tem mais
o amor, entre um homem e uma mulher.
Ela morde o lábio sem desviar os olhos dos meus.
— Não estamos mais bem, e isso nos faz mal, Lu. Faz muito mal. —
Sussurro e sorrio tristemente. — Mas eu preciso ir para outro lugar.
— Vai para a casa do vovô Oliver?
— Talvez eu fique lá. Não sei ainda.
Ela assente e fixa o olhar no jardim na nossa frente. Fica por alguns
segundos e vira o rosto, voltando a me encarar.
— E eu?
Sinto uma pontada no peito e as lágrimas descem mais fortes em seu
rosto.
— Meu amor... — Afago seu rosto, limpando-o. — Eu nunca vou te
deixar, Luíza. Nunca. Ouviu? Nunca...
— Vai sim... Vai me deixar... — Soluça, colocando as mãos no
rosto. — Vai me deixar...
— Me ouça... Minha pequena, me ouça... — Peço devagar e seguro
em suas mãos. — Me ouça...
Ela volta a me encarar, com o queixo ainda trêmulo e as bochechas
rosadas, o que faz meu peito se apertar ainda mais.
— Você é minha filha, meu primeiro amor... Você sabe disso. —
Digo, pegando em sua mão e colocando-a sobre meu peito. — Você
sempre vai ser minha pequenininha. Para sempre, meu amor.
— Tio... — Chora baixo e fecha os olhos.
— Eu te amo muito, muito... muito... — Sussurro e sorrio. — Eu
estou rompendo meu laço com Anna, não com você, Luíza. Você sempre
vai ser minha filha, vai ser sempre a minha menina... Sempre.
Ela nega devagar.
— E se você me esquecer?
— Não se esquece um filho, Luíza. Nunca. — Limpo seu rosto e
beijo sua testa. — Eu vou me organizar, e você vai poder vir para minha
nova casa... Quando quiser.
A dor em meu âmago é sufocante, e ela pisca os olhos, afastando as
lágrimas que caem.
— Promete? Promete que não vai me deixar? Que vai lembrar de
mim?
— Prometo, meu amor. Eu prometo que estarei presente em sua
vida, como sempre estive... A diferença, é que não estarei mais aqui...
Nessa casa.
Ela assente.
— Eu te amo muito. Muito. Muito. Muito. — Sussurro.
— Eu também te amo muito. Muito. Muito. — Diz baixo e sorrio,
apertando sua mão.
Ela se ergue devagar, me dá um rápido abraço e limpa o rosto.
— Eu vou para a escola, tenho aula...
— Não vai tomar café?
— Não. Eu vou comer lá...
— Boa aula. — Dou mais um beijo e abraço apertado nela.
Me ergo, colocando as mãos nos bolsos, a olhando sair caminhando
devagar, Dom está esperando próximo ao carro.
Ela anda em passos lentos e nem se vira.
A vi chegar ao mundo e estava presente em seus primeiros passos.
Vejo-a parar e vejo quando ela vira o rosto banhado por lágrimas e
balanço a cabeça. Rapidamente ela volta correndo e me aproximo, a
abraçando.
— Eu amo você... Obrigada por ser meu pai... Obrigada por cuidar
de mim esse tempo todo... Eu amo você.
Sorrio, apertando-a.
— Meu amor...
— Eu amo você. Eu amo muito.
— Eu amo mais, Luíza... Você não sabe o quanto eu te amo.
Limpo seu rosto e ela sorri, com os olhos brilhando.
— Minha princesinha.
Beijo sua testa demoradamente e ela sai, voltando para o carro. Me
ergo limpando o rosto e balançando a cabeça.
— Ela o ama muito. — Tina diz assim que entro em casa.
Os olhos brilhando, não negam que ela com certeza ouviu e viu toda
cena.
— E dá para sentir o seu amor por ela também, Otávio.
Sorrio assentindo, sem conseguir falar muito.
Mordo o lábio, pego as malas grandes, que não coube tudo, mas
apenas o suficiente. Vou ficar no apartamento, e talvez passe uns dias na
casa dos meus pais.
Mesmo sabendo que precisamos conversar, eles vão entender e
respeitar minha decisão.
Fito Anna descer as escadas me encarando, o queixo erguido e o
semblante fechado.
— Você acha mesmo que vai vê-la quando quiser? Está tão
enganado...
Fecho os olhos, suspirando pesadamente.
— Eu vou manter o contato. — Pego as malas, me virando para a
saída.
— Você sabe que eu vou fazer da sua vida um inferno, não sabe,
Otávio?
Sorrio, sem me virar.
— Isso você já estava fazendo, Annabell.
— Esqueça a Luíza. Pode esquecer da minha sobrinha...
Não vou questionar. Nada.
— Meu advogado vai entrar em contato para resolvermos isso.
Saio levando a bagagem para fora, e assim que a porta se fecha, eu
respiro fundo.
Sei que não vai ser tão fácil, mas estou livre.
Finalmente estou livre.

Tiro o sobretudo, coloco sobre a minha mesa, aperto o copo de café


e sorrio quando vejo Katy se aproximar junto de Leon, que carrega
algumas pastas.
Ele sorri assim que me encara.
— Bom dia, Ruiva.
— Bom dia, Leon... Katy.
— Bom dia! — Ela me abraça sorrindo. — Estava com saudades,
mas volto mais tarde para a gente conversar...
— Também estava com saudades.
— Esses irmãos ainda vão me enlouquecer. — Joga um beijo
enquanto sai, rumo ao elevador.
Sorrio, balançando a cabeça.
Katy está resolvendo os ajustes de uns projetos e cuidando do RH
na filial, por isso passa pouco tempo por aqui. Leon me encara e aponta
para a sala de Otávio, entro e o vejo observar o local.
Ele não é tão adepto de terno completo, como o irmão, a camisa
social e o colete são o mais provável de o ver usar.
Com cabelos pretos e os olhos azuis marcantes, Leon tem um sorriso
largo e um jeito debochado, que parece ser apenas dele.
— Pela primeira vez em muito tempo, eu sinto que Otávio está feliz.
— Diz baixo e continuo o encarando. — Pode parecer que sou um
péssimo cunhado para ela...
— Leon...
Ele estende a mão, pedindo para eu esperar.
— E que tenho birra por ela ser prima da minha ex noiva, mas meu...
Ranço por Anna, vêm muito antes disso, Mikaella.
Franzo o cenho, vendo-o sorrir e baixar os olhos.
— Eu sei que você não é um péssimo cunhado... — Ele sorri e
mordo o lábio, vendo-o virar de costas, cruzando os braços.
Ele, Otávio e Lucy parecem ter uma ótima relação de irmãos. Um,
sempre defendendo o outro.
— Nada justifica uma traição, Mikaella. Nada. Eu sei disso. —
Leon se vira devagar, mordendo o lábio inferior e batendo com os nós
dos dedos na mesa. — Mas acredite, Anna já fez coisas piores com ele.
Franzo o cenho, engolindo em seco.
— Ele parecia nunca enxergar. Meus pais tentaram alertar algumas
vezes mais... Mas ela tem um poder de manipulação invejável. — O fito
suspirar pesadamente, me olhando. — Ele nunca vai contar, mas Anna
sente ciúmes até da nossa relação de irmãos. Ela sente ciúmes de Lucy...
Quem sente ciúmes da própria cunhada?
Pisco algumas vezes e ele nega, sorrindo sem humor.
— Anna não o deixava participar das viagens de negócios. Uma vez
ela rasgou a camisa dele em um dos eventos que estávamos... E ele disse
que tinha sido um acidente. — Balança a cabeça e percebo não um tom
de raiva, mas mágoa em relação a cunhada. — Eu sei disso, porque na
época ainda estava noivo e a própria prima tentou controla-la, ela estava
com ciúmes de uma cliente.
Leon nega rindo.
— O pior foi quando ela perdeu o Ben...
— Ele sofre muito, não é? — Indago e percebo os olhos de Leon
marejar e ele disfarça, piscando algumas vezes.
— Ela o culpou, Mikaella. Culpou pela morte do filho deles... E eu
sei o quanto Otávio quis aquele filho, o quanto ele esperava por
Benjamin.
Baixa os olhos e mordo o lábio.
— Eu sei que ele não teve culpa. Otávio sofreu e sofre até hoje pela
perda... Todos nós sofremos juntos com ele. E agora, vê-lo sorrir
novamente é bom, muito bom.
Sorrio, limpando o rosto.
— Eu sei que isso tudo é uma loucura, o que fizemos e tudo mais...
— Sussurro. — Mas eu amo o seu irmão.
Leon me encara sorrindo e assente levemente.
— E ele te ama. Eu senti esse amor, Ruiva. Desde que o vi entrando
em uma boate, por vontade própria, apenas para te ver...
Balanço a cabeça e Leon me fita por alguns segundos.
— Não vai ser fácil, mas saiba que podem contar comigo... E sei
que com a magrela também. Se nosso irmão está feliz, nós também
estamos.
— Obrigada. Ele disse que... Vai conversar com Lucy e...
— Ela vai compreender. Eu sei, por causa da coisa de gêmeo.
— Obrigada, Leon...
— Faça ele feliz, Ruiva. Apenas.
— Bom dia... — Me viro quando Otávio entra na enorme sala.
— Bom dia, irmão mais velho. — Leon pisca sorrindo e o encaro.
— Bom dia. — Digo baixo e vejo-o me fitar com o cenho franzido.
— Estava batendo um papo com a Ruiva. Bom, vou organizar umas
coisas. — Leon suspira e sorrio quando ele dá uma piscadela rápida.
Bate no ombro do irmão e ouço a porta se fechar.
Otávio me olha, segura em minha mão e me puxa, espalmo a mão em
seu peito e ele sorri.
— Dormiu bem? — Indaga e assinto.
— Sim. E você?
— Durmo melhor com você. — Balanço a cabeça e ele me fita
sério.
O maxilar cerrado, os olhos fixados aos meus.
— Eu saí de casa. Pedi o divórcio.
Pisco algumas vezes e sinto ele pegar em meu queixo, me fazendo
encara-lo.
Meu coração bate desenfreado e sinto uma corrente elétrica passar
por todo meu corpo.
— Estou livre, Mikaella. Livre para você.
Sinto o polegar roçar em minha bochecha, seguro na lapela da sua
camisa e o puxo para um beijo.
O beijo, porque não sei ao certo o que falar. Estou aliviada,
assustada e completamente apaixonada por ele. E é confuso esse
turbilhão de sensações dentro de mim.
— Eu quero você. Meu Deus, como eu te quero, Ruiva. — Diz entre
meus lábios. — Que chega a doer.
Arqueio o pescoço, sentindo as mãos em meus cabelos, os olhos
passeando pelo meu corpo, parando em meus lábios. Sorrio devagar,
engolindo em seco.
— Otávio, a gente tem que trabalhar...
— E vamos. — Arfa me olhando.
Me afasto, vendo-o encostado na mesa e me olhando com aquela
cara de quem quer me devorar, mas eu também quero ser devorada por
ele.
Fecho a porta e tranco, é o suficiente para avançar ele sobre mim, a
boca capturando a minha com voracidade, a língua em uma luta frenética
com a minha.
Gemo, agarrando-o e desabotoando a camisa, em um desespero
gigante, como se estivéssemos dias sem nos ver. Minha saia é erguida
assim que me coloca sobre sua mesa, desabotoa o cinto e desce a
braguilha da calça.
O tórax está à mostra e babo quando o pau salta para fora, grosso e
esticado, como se fosse me partir ao meio.
Eu adoro ser partida ao meio.
Enquanto ele beija minha boca, eu arranho seus braços e sinto seus
dedos afastando minha calcinha para o lado e esfregar lentamente, de
cima para baixo.
— Tão molhada, amor... —Diz em um sussurro e enfia o dedo
médio.
Agarro em sua camisa e sorrimos juntos, dopados de desejo.
Mete o dedo e tira rapidamente, e fico olhando quando ele leva o
dedo completamente melado até a boca e o suga de olhos fechados, o
sorriso devasso saindo do canto dos lábios.
Os olhos fixos aos meus, assim que retira o dedo da boca.
— Você tem gosto de pecado.
Sorrio de lado, arqueando a sombrancelha.
— Talvez eu seja um.
E tudo em nós dois explode.
Beija minha boca, apalpa minhas coxas e arfo, sentindo-o pincelar o
pau em minha entrada, que pisca alucinadamente.
Em um movimento, entra fundo, me arrancando gemidos altos, chupa
minha língua, enquanto os quadris batem frenéticos um ao outro.
Sorrio. Gemo. Arranho seus braços.
Me segura pela cintura e os estocadas bruscas me fazem quicar na
mesa. Sorri, me puxando e chupo seu pescoço, sentindo a mão forte me
apertar.
Os papéis caem no chão, enquanto fodemos ensandecidos, nossos
corpos se chocam um com o outro. Deliro de prazer, a cada arremetida
brusca que ele lança, minhas pernas o abraçam e olho para baixo, quase
me arrependo de fazer isso.
A extensão grossa toda enterrada dentro de mim, e parecia ficar
maior quando sai. Entra novamente. Sai.
— Ah, porra... — Gemo esganiçada.
— Você é toda perfeita... — Morde meus lábios e volta a bater o
quadril firmemente.
Soluço de prazer, agarrada a ele, sabendo que em breve vou virar
nada em seus braços.
Os dedos se emaranham em meus cabelos e arqueio o pescoço. Ele
chupa meu queixo e gemo baixinho, quando sinto seus músculos se
enrijecer e ele grunhir, em um gemido louco de prazer e saciedade.
Encosto a testa em seu peito, tentando recuperar as batidas
frenéticas do meu coração.
Otávio beija minha testa, me apertando e sorri.
— Isso é loucura. — Ofego o encarando.
— Eu amo essa loucura. — Diz entre meus lábios.
Sai de dentro de mim ainda rindo e me ajuda a descer da mesa. As
pernas ainda bambas e completamente suada.
— Agora podemos trabalhar.
— Ah, agora...
Nos limpamos no banheiro, arrumo minha roupa e meus cabelos, que
estão desgrenhados, o fito arrumar a camisa e me olhar assim que entro
na sala.
Não falamos sobre a saída de casa, e obviamente, eu não vou
perguntar. Mas sei que foi difícil, dá para ver nos olhos dele.
Talvez não seja sobre Anna, mas eu sei do amor que ele tem pela
sobrinha.
Sempre que fala de Maria Luíza, seus olhos brilham.
— Ainda vou conversar com meus pais sobre o divórcio. Vou ficar
lá e no apartamento. — Diz me olhando e assinto. — Sobre Anna...
O fito fechar os olhos e suspirar.
— Ela não vai aceitar facilmente o divórcio, mas se você tiver
paciência...
— Otávio, eu sei.
Se aproxima, segura minha mão e a beija.
— Obrigado.
— Pelo quê? — Indago.
— Por estar aqui.
Sorrio, acariciando seu rosto e o beijando.
— Prometo que ficaremos juntos. — Diz baixo.
— Eu sei. Agora vamos trabalhar. — Bato em seu peito. — Chefe.
Ele ri balançando a cabeça e me viro, pronta para sair.
Sobressalto ao sentir um tapa em meu bumbum.
O encaro por cima do ombro, fingindo seriedade.
— Comporte-se, senhor Perrot.
Ergue as mãos, fingindo estar rendido e fica sério.
— Me desculpe, senhorita Gonçalves.
Balanço a cabeça sorrindo e saio de sua sala rapidamente.
— Credo, Mia. Que nojo. — Dean franze o nariz, enquanto como o
canudo de biscoito do meu sorvete.
Estamos em uma sorveteria do bairro, que por insistência e
saudades de Dean e Lia, resolvemos vir. Faz alguns dias que a gente não
conseguia ficar juntos, pelo trabalho dos dois e minha vida corrida.
— Me dá um pouco do seu sorvete. — Encho a minha colher da sua
taça e ele abre a boca.
— Esfomeada!
— Hummm... — Fecho os olhos sorrindo. — Esse é gostoso.
— Olha mistureba que ela fez... — Lia aponta para a minha taça.
Misturei vários sabores: morango, chocolate, flocos, baunilha, ninho
e pistache. Fora as coberturas e acompanhamentos.
Só estava com muita vontade de provar tudo ao mesmo tempo.
— Pra que tudo isso? Que gula!
— Olha quem fala... Estava quase comendo minha taça, ainda a
pouco! — Lia ri e Dean faz um bico.
— Gosto é como cu, cada um tem o seu. — Sorrio, os olhando.
É tão bom tê-los perto de mim. Pego o celular que vibra e fito a
mensagem de Otávio.

Estou jantado com meus pais. Depois passo para te ver.

Respondo rápido e Lia me fita, sorrindo de lado.


Estamos bem. Na verdade, muito bem.
Faz um mês que ele se separou de Annabell Perrot e a notícia do fim
do casamento deles está começando a se espalhar, o que ela obviamente,
nega a todo custo.
Liga todos os dias e chegou a ir na empresa, mas não a vimos por
que estávamos em uma obra. Mas sei que é questão de dias, até ficarmos
frente a frente novamente.
Otávio fica na casa dos pais dele, que entenderam e aceitaram o
divórcio, já que é a felicidade do filho deles. Só vamos esperar mais um
pouco para contar sobre mim.
Foi um pedido meu.
Dormimos juntos e é estranhamente bom acordar ao seu lado. É
gostoso estar com ele. Fazemos amor até de madrugada, até sentir a
exaustão nos tomar e cair tombados na cama.
Existem dois tipos de Mikaella. Aquela antes de Otávio, e essa
depois dele.
— Vamos pagar a conta? — Dean se ergue.
— Paga você, ué. Os cavaleiros que devem pagar. — Lia diz com
um sorriso diabólico no rosto.
— Eu sou uma dama, como vocês. — Revira os olhos.
— Ai como vocês são idiotas. — Reviro os olhos também, rindo.
— Volto já. — Dean sai e Lia me encara sorrindo.
— E como vocês estão? Esse sorrisinho lindo, que eu amo ver nesse
rosto.
— Estamos bem. Meu Deus, muito bem. — Pego a colher, tomo o
resto de sorvete e coloco mais cobertura.
— Por Que tá comendo como uma jamanta? — Olho horrorizada
para Lia.
— Liana, eu estou faminta!
— Você sempre amou comer, isso é fato. Mas caramba em,
Mikaella! Três rodadas de sorvete, um milkshake e batata frita. Você está
com fome de cem mendigos?
Abro a boca.
Realmente estou com mais fome do que o normal, isso deve ser o
estresse do trabalho e da festa da Perrot, que vai acontecer no próximo
final de semana.
Estou nervosa. Muito.
É um coquetel com muita gente, e toda a família da Anna vai estar
presente, mesmo eles estando separados, pois a mesma também vai
receber um prêmio de arquitetura.
Mordo o lábio e não quero preocupar Liana com isso. Sei que ela
não está muito bem com o casamento do seu pai, que vai ser em breve.
— Você não estava a pouco tempo naquela fila, tipo, super gigante!?
— Lia indaga quando Dean se aproxima.
— O que esse lindo rosto não faz, né!? — Dean jogo um beijinho.
— Vamos embora, delícias? Tenho que acordar cedo.
— Dean Gotshalg, dormindo cedo em pleno domingo a noite, para
acordar cedo segunda? Milagres acontecem, senhoritas!
— Amém. — Digo e nos levantamos.
Chego em casa alguns minutos depois e vou direto para o banheiro,
tomar um banho quente e relaxante, estou me sentindo tão cansada, como
nunca me senti.
Mandei uma mensagem para Otávio, que vai dormir nos pais e
vamos nos ver no dia seguinte. Não esperei a resposta e simplesmente
capotei na cama.
Acordo sentindo um mal estar terrível, uma tontura, com um misto
de amargo na boca. Minha cabeça parece pesar uma tonelada.
Tomo um banho e me visto, colocando um salto mais baixo. Compro
um café puro e preto na padaria e entro no prédio.
Massageio as têmporas assim que saio do elevador e paro, assim
que Otávio, Leon, Lucy e Katy me encaram de imediato.
— Bom dia. — Os cumprimento sorrindo.
— Bom dia... Está tudo bem, Mia? — Katy indaga e assinto.
— Dor de cabeça. — Sussurro e Otávio me encara.
— Por que não ficou em casa descansando? — Indaga me olhando.
Lucy o encara e percebo-a esconder um sorriso.
Katy nos fita.
— É, Mikaella... Deveria ter ficado em casa. — Diz e nego devagar.
— Eu vou tomar um analgésico. Eu estou bem. — Sorrio.
— Temos uma reunião agora. A festa de cinquenta anos da Perrot
será um marco.
— Com certeza, vai.
— Vou arrumar a sala de reuniões. Com licença.
Vou para o outro corredor, e sinto o suor frio descer.
É um terrível mal estar.
Sopro o ar devagar, entro na sala e ouço os passos atrás de mim.
— Ei... Está pálida, o que houve? — Otávio indaga me encarando e
nego devagar.
— Não estou muito bem.
Segura em meu rosto e engulo em seco.
— É ressaca? — Pergunta sorrindo.
— Não bebi. Fui para uma sorveteria com Dean e Lia. — Solto o ar
pesado.
— Fique na minha sala descansando. Não devia ter vindo hoje, meu
amor.
— É o meu trabalho, Otávio.
— E eu sou seu chefe. — Segura em meu queixo e me dá um beijo
rápido.
— Vou melhorar. Agora me deixe arrumar a sala.
— Não. Vou pedir a Ellie. Vai ficar sentada e tentar descansar, aqui.
E sem fazer bico.
Sorrio ao sentir o beijo na minha testa.
Lucy, Leon e Katy começam a discutir os preparativos e alguns
ajustes da festa. Estamos todos sentados na sala de reuniões.
Beberico o copo com água devagar enquanto Otávio está de pé,
mostrando algo para a irmã.
Começamos a rir, quando Leon revira os olhos, lembrando dos
convidados que vão estar presentes.
— Já escolheu seu vestido, Mikaella? — Lucy sorri me olhando.
— Ainda não.
— Podemos ver depois.
Assinto sorrindo, para não falar que os vestidos que ela usa, não
cabem em meu orçamento. Lucy é um ícone da moda. Seus sapatos e
roupas de altas grifes.
Se eu comprasse um de seus vestidos, ia ficar mais pobre, do que já
sou.
— Claro.
— Mia rouba a cena onde chega. — Leon bate a caneta na mesa e
Otávio o encara.
— Linda desse jeito. — Katy sorri. — Deixa os homens babando...
A porta se abre e nos viramos rapidamente.
Anna nos encara, sorrindo de lado.
— Bom dia.
— Anna... Como vai? — Katy pergunta, olhando-a.
Ela passa os olhos por todos nós e arqueia a sombrancelha
levemente.
— Bem. - Fita Otávio, que está de pé. — Pedi para me avisar sobre
os detalhes da festa mas, até o momento, eu não estou sabendo de nada.
— Anna, estamos... — Lucy levanta também.
— Não estou falando com você, Lúcia. Deixe seu irmão responder. -
A corta de imediato e volta a falar com Otávio. — Eu ainda sou casada
com você, estarei presente na festa da Perrot, e tenho que saber de cada
detalhe.
— Você estará lá como convidada, Anna.
— Como a senhora Perrot. Não esqueça que ainda carrego o seu
sobrenome.
Leon me olha, mas só balanço a cabeça devagar.
Ela está com os cabelos loiros soltos e um vestido solto, cor creme.
Dá para ver a raiva destilada em cada palavra que sai de sua boca.
— Eu participo dessa festa há anos, meu nome estará lá, quer você
queira, ou não, Otávio.
Ele enfia as mãos nos bolsos, a olhando.
— Eu mandei o relatório, Annabell.
— Estamos fechando com fornecedores e buffet, Anna. — Lucy diz.
— Está fazendo tempestade em com d'água.
— É claro que vai defender seu irmão, não é, Lucy!? — Ela sorri,
voltando a nos olhar. — Mas é óbvio. Quero ver os detalhes da festa...
Leon franze o cenho.
— É um alívio saber que vai ser o último ano que vai fazer parte
disso.
Anna o fuzila e revira os olhos para ele.
— Hoje estou sem saco para aturar suas piadinhas de péssimo
gosto, Leonel.
— Se retire daqui, então. — Ele rebate, sorrindo debochado.
Ela deixa a bolsa na mesa e senta ao meu lado, arqueia a
sobrancelha me olhando fixamente e a olho de volta. Ela desce os olhos
lentamente, franzindo o nariz. Uma expressão de nojo e raiva.
Continuo olhando para ela, sem desviar os olhos.
Ela desvia e vira para Otávio, que nos observa.
Leon parado.
Lucy de pé ao lado do irmão.
Katy séria.
— Pode passar o relatório do fornecedor? — Pede, estendendo a
mão para ele.
Ela inda usa a aliança, e fez questão de praticamente esfregar em
meu rosto.
Otávio entrega e ela passa os olhos pelo papel, a cara de desdém é
nítida.
— Noite de gala. Tema perfeito. — Diz sorrindo.
— Como tudo que fazemos. — Leon solta.
Mordo o lábio, passando a mão na testa, sentindo o suor frio descer.
Pisco algumas vezes, sentindo a vertigem me tomar.
As vozes parecem estar mais distantes e a visão borra, de uma
forma que faz meu cenho franzir.
— Mikaella? — Ouço me chamarem.
— Mia? — Katy segura em minha mão.
Levanto os olhos, e solto a respiração devagar.
— Você está pálida... — Lucy me olha com preocupação.
— Eu estou bem... Só... — Solto o ar devagar, mais uma vez. —
Estou bem. Obrigada.
— Acho que é o clima pesado dessa sala. — Leon se ergue, me
olhando. —Vamos tomar uma água?
Otávio continua me olhando quando me levando.
Anna sorri.
— Vamos, Mia. — Katy diz baixo.
— Preciso conversar com você, Otávio. — A voz de gralha ecoa.
— Diga, Annabell.
— Mia... Você está pálida demais. — Katy fala, assim que saímos
da sala.
— Ei, Ruiva. — Leon se põe a minha frente e Lucy fecha a porta e
me olha preocupada.
Uma leve tontura me invade e sem perceber, cambaleio para trás,
sendo amparada por Leon, que me segura.
Consigo ouvir as vozes, mas estão tão distantes, não consigo me
manter lúcida.
— Mikaella... — A voz de Leon está distante. — Meu Deus! Abre a
porta da sala, Katy!
—Traga uma água.
— Beba isso. — Seguro o copo de água, sentindo minhas mãos
trêmulas.
— Eu estou melhor... — Suspiro, enquanto os três me encaram. —
Foi só...
— Melhor? Está pálida como um papel...
— Quer ir ao hospital? — Lucy pergunta, mas nego.
— O que aconteceu? — Otávio entra em sua sala, me olhando.
Anna vem logo atrás.
— Ela passou mal.. — Leon responde.
— Foi apenas um mal estar. Estou bem.
— Seu irmão cuida dela. Podemos continuar a conversa, Otávio?
— Anna, não temos mais o que conversar. Por favor.
— Temos sim. Você nem me deixou falar...
— Anna!
— Tem certeza que está bem, né? — Lucy indaga e assinto.
— Estou sim. Obrigada.
Me ergo devagar e Leon me ajuda.
— Podem nos deixar sozinhos, agora. — Anna sorri.
Saímos juntos da sala e suspiro pesadamente, ainda sentindo uma
agonia estranha. Tomo o resto da água que Leon me oferece.
Lucy foi embora e vai ver os preparativos depois, junto dos irmãos.
Leon, depois de muita insistência minha, foi para sua sala.
Fui na lanchonete e tomei um suco de laranja, porque mais nada
desce, e ao voltar para o corredor, apenas ouço os gritos da conversa
que os dois ainda estão tendo.
— Eu não vou assinar nada! Nada! Avise os seus advogados que
não tem acordo...
— Pense em Luíza. Você vai ter um bela pensão, Anna...
— Eu não quero pensão! Eu quero você! Apenas!
Abaixo a cabeça suspirando e nego com a cabeça.
— Não dificulte as coisas, Annabell.
— Eu te dei um tempo... Eu te dei um mês!
— Não é temporário, Anna! É o fim... Acabou! - Sua voz sai mais
alta que o normal, seguida de uma batida na mesa. - CHEGA!
— Você não sabe o que está fazendo... Não sabe!
— Por Deus... Vamos fazer isso da melhor maneira possível!
— Não tem melhor maneira! Você ainda é meu marido. — Ela grita
histérica.
— Ex...
— Na festa... É ao meu lado que você vai estar. Pense nisso,
antes...
A porta se abre e ela me encara de cima a baixo.
— Saia da minha frente! — Berra e me afasto, vendo-a passar como
um furacão pelo corredor.
Voa, bruxa!
Entra no elevador e fito Otávio, que está na porta, me olhando.
O encaro passar as mãos pelos cabelos.
— Como você está?
— Estou bem.
— Mesmo?
Assinto, engolindo em seco.
— Vem aqui. — Me chama, estendendo a mão. — Desculpa, eu não
sabia que Anna ia vir aqui.
— Ela ainda está casada com você. — Digo baixo.
— Apenas no papel.
Tira os cabelos do meu rosto, afagando-o devagar.
— Tire o restante do dia para descansar. Está pálida ainda.
— Não, eu...
— Vá. Fique no apartamento. Por favor. — Pede, segurando em meu
queixo. — Descanse.
— Não... — Nego.
— Mia...
— Eu estou bem.
— Não está, seu rosto não mente. — Diz sério.
Realmente não estou tão bem, quanto falo. Mas o que vou fazer lá
sozinha.
— Eu vou depois do almoço, que tal?
— Promete?
Assinto e ele me dá um beijo na testa.
— Então fique aqui comigo. Para eu te ver.
Sorrio, o olhando.
— Tudo bem, senhor.
Trouxe o notebook e o tablet. Otávio está em sua cadeira e fico
organizando sua agenda para as próximas semanas. Almoçamos juntos
no restaurante em frente. Pedi uma comida leve, já que meu estômago
ainda está sensível. Leon e Katy estão com a gente, conseguimos ajeitar
os últimos ajustes da festa, que vai ser incrivelmente cara e luxuosa.
Ainda preciso ver o que vou vestir. Mas ainda tenho essa semana
para resolver.
Estou um pouco melhor e tenho que ficar na empresa, já que Otávio
ainda tem uma reunião. Digito o relatório de um projeto, girando a
cadeira de um lado, para o outro, em minha mesa. Sinto o celular vibrar
e pego o aparelho, vendo o numero piscar na tela. Deslizo o dedo,
rapidamente atendendo a chamada.
— Alô?
— Não desligue, Mikaella. —Paraliso no mesmo instante, ao ouvir
a voz do outro lado. — Me ouça. Eu sei onde sua tia está morando, a
casa nova... Eu descobri.
Me ergo, sentindo a batida do meu coração falhar.
— O... que você quer? — Indago entre dentes. Fecho os olhos,
sentindo as mãos tremerem descontroladas.
— Quero ver você. Quero conversar com você...
— Não tenho nada para falar com você, Michael! Me deixe em paz!
Deixe minha irmã em paz! Você não tem o direito de nos ver, nem de
falar que somos sua filha!
— Eu sou seu pai... Você vai falar comigo, sim!
— Não! Ouviu? — Digo entre dentes.
— Eu vou entrar com o pedido da guarda da Gabriella!
Sinto meu corpo paralisar e o ar faltar, de uma forma que não
consigo respirar.
Cambaleio e me encosto na mesa.
— Você não vai...
— Eu quero ver vocês. Eu sou o pai dela e o seu!
— Por que não pensou nisso, antes dos deixar? Me deixe em paz!
Não queremos te ver, estamos tão bem sem você... — Tropeço nas
palavras, junto das lágrimas que descem copiosamente.
E soluço, fechando os olhos.
— É muito fácil conseguir a guarda dela, você sabe. — A voz soa
alta.
— Vá para o inferno! — Ralho, mais alto do que eu queria. — Vá
para o inferno e nos deixe em paz!
Desligo a chamada e vejo Otávio me encarar. Franzo o cenho,
negando com a cabeça e o abraço fortemente.
— Mia... Calma, por favor...
— Ele... Meu Deus! Eu odeio esse homem... Eu o odeio, Otávio! Eu
o odeio... Odeio... — Digo repetidamente, com o coração batendo
descontrolado.
— Eu estou aqui. Ouviu? Estou aqui... - Segura em meu rosto, me
fazendo encara-lo. — Era o seu pai?
Assinto, sentindo as lágrimas descerem rolando pelo meu rosto.
— Ele quer minha... Irmã... Ele quer...
— Mia... Me ouça, eu estou aqui. — Diz, fixando os olhos aos meus.
— Você está segura comigo.
— Eu não quero vê-lo, Otávio. Eu não quero...
— E não vai. Ele não vai ficar com a sua irmã. Eu prometo, tá? Fica
calma...
Estou exausta desse dia. Meu corpo exausto e meu estômago se
revira de uma forma inexplicável.
Otávio sai junto comigo e vamos direto para seu apartamento. Tiro
os sapatos e me jogo embaixo do chuveiro, deixando a água me molhar
inteira.
Consegui ligar para minha tia e, mesmo não querendo preocupa-la,
precisei falar sobre as ligações de Michael. Nos desesperamos, porque
sabemos que tem como ele conseguir a guarda dela.
Fecho os olhos e lavo o rosto devagar.
Me enrolo no roupão, saio do banheiro e Otávio fica me observa,
com os olhos azuis brilhando e engulo em seco assim que ele me abraça.
— Está um pouco melhor? — Nego, fechando os olhos.
Sinto tanto ódio de Michael, que apenas mencionar o nome dele em
pensamento, me dá náusea.
— Eu estou aqui com você. Nada vai acontecer a você e a sua
irmã...
— Eu estou aqui! E ela está lá... Como vou...
Sinto as mãos segurarem as minhas fortemente.
— Se for preciso, mando as buscar. Sua irmã e sua tia. — O encaro
e nego devagar. — Vamos mudar elas de casa, de bairro, se assim te
deixar tranquila.
— Otávio...
— Entenda que você tem a mim agora. Que suas dores e
preocupações, são minhas agora, Mikaella. — Balanço a cabeça, ao
sentir as lágrimas aflorarem.
— Não, você não tem nenhuma obrigação...
— Me escute. — Pede baixo, me fazendo sentar a cama. — Eu amo
você. E estou disposto a fazer o que estiver ao meu alcance, para te ver
bem. Vamos deixar sua tia e sua irmã seguras... E elas vão vir para cá.
O fito sorrir, segurando em meu queixo.
— Quando chegar aqui, elas vão ficar bem instaladas, e depois nós
resolvemos o caso do seu pai. Ele não vai tomar sua irmã. Eu prometo.
O abraço apertado.
Em toda minha vida, eu nunca me senti tão segura e protegida, como
estou me sentindo agora. Tão amada...
— Eu te amo. — Colo a testa na dele, vendo-o passar os dedos por
meus lábios, entreabrindo-os.
— Eu te amo muito mais, minha ruiva... Odeio ver você assim.
Semicerro os olhos, afagando seu peito nu, sentindo o cheiro do
corpo e da loção pós barba, que eu amo.
Os braços fortes me apertam e pouso a cabeça em seu peito. Eu amo
a sensação de tê-lo aqui.

Acaricio as costas devagar, circulando as sardas com as pontas dos


dedos. Está coberta com um lençol de linho branco, completamente nua,
deitada em meu peito.
Depois da ligação do pai, ela parece ter ficado mais assustada, e foi
assim nos dias que se passaram. É apenas o celular ligar, para faze-la
tremer.
No dia seguinte, falei com alguns corretores, para ver algumas casas
no Brasil. Para deixar a tia e a irmã dela bem instaladas, até
resolvermos a situação toda.
No mês anterior, aconteceu tantas coisas, desde que sai de casa.
Anna não aceita de modo algum a separação. Vai na casa dos meus pais,
onde chora horrores, e quer a todo custo me fazer voltar.
Sei que meus pais, assim como a minha irmã, aceitam minha decisão
de separação, mesmo gostando muito dela.
Mas é a minha vida.
Conversei com os dois e disse que realmente, entre mim e Anna, não
vai ter mais nada, nosso casamento está acabado e eu não vou voltar.
Ela não está me deixando ver Luíza, e eu tinha que vê-la, por isso
fui até lá. O sorriso se expandiu ao meu ver, e a abracei fortemente,
estava com tanta saudade, que doía.
Ela parece está se acostumando com a idéia, vou pega-la aos fim de
semana, assim que sair todo o processo do divórcio, que vou dá entrada
em breve.
Mikaella se remexe e afasto seus cabelos e beijo sua testa
demoradamente. Fazer amor com ela, sobre o olhar de mil estrelas, não
tem comparação alguma. Ver os olhos azuis me fitando com desejo,
enquanto me afundava nela.
— As estrelas ficaram com vergonha. — Digo, acariciando os seios
por baixo do lençol, enquanto ela me olha
— Vergonha de quê?
— Do brilho dos seus olhos.
Ela sorri e beija a ponta dos meus dedos.
— Comprei uma coisa pra você. — Digo a olhando.
Ela arregala os olhos, puxando o lençol para cobrir os seios.
— Otávio... — Ela me olha. — O que...
— Posso pegar, ao menos? — Ela revira os olhos.
Me ergo e pego a caixa dourada, de dentro do armário, ela continua
me olhando, sem acreditar. Ponho a caixa em seu colo e fico vendo sua
reação.
— O que é isso!?
— Abre.
Ela desfaz o laço vermelho da caixa e abre a tampa devagar, tira o
papel seda e abre a boca de imediato.
— Otávio... — Toca na peça e sorrio.
Um vestido vermelho, longo, estilo sereia. Os detalhes em renda e
pedras cobrem o pano, e o deixa ainda mais bonito.
Ela olha o vestido e volta a me olhar.
Sabia que ela ainda não tinha escolhido nada para usar, e parecia
não muito animada para fazer.
— Otávio, isso é lindo... Meu Deus...
— Lúcia me ajudou. — Digo rindo e vejo ela arregalar os olhos.
Eu não precisei contar muitos detalhes para a minha irmã, mas é
óbvio que Lúcia sabe.
— Meu Deus...
— Veja se gosta. — Tiro a peça, para ela ver melhor.
Ela se ergue de imediato, colocando o vestido sobre o corpo ainda
nu, e é o suficiente para despertar meu desejo insano por ela.
— Ainda não acabou. — Pego a caixa menor e ela me fita.
Sei o quanto ama sapatos.
Lucy com certeza escolheu o que combinaria com o vestido, um par
de saltos altos.
— Isso... Deve ter custado uma fortuna! Otávio!
— Vai valer a pena, ver você com ele. — Digo a olhando. — Quero
você perfeita. Mais ainda, do que já é...
— Eu não posso aceitar... Isso...
— Mia... Eu não posso presentar você?
— Presentes normais, Otávio. Chocolate e flores... — Me fita e
sorrio. — Não um Valentino e um Louboutin! Isso custa uma fortuna...
Balanço a cabeça, sorrindo.
— Já comprei. Prometo que darei presentes normais, mas gostou?
— Claro que sim. Amei. — Diz baixo e me aproximo, vendo-a
colocar o vestido em cima da cama.
Aperto firme a cintura, inalando o cheiro de seu cabelo. O contato
do corpo sobre o meu, me deixa em puro êxtase.
— Vai ser a coisa mais linda da festa. Vai ofuscar a beleza de todas
as mulheres...
— Não seja idiota. — Bate em meu peito.
— Estou falando sério. — Beijo-a devagar. — Amanhã você vai ser
a mulher mais bela de toda a festa. O aniversário da Perrot será
ofuscado por sua beleza.
— Que galanteador. — Abraça meu pescoço e me ergo, sentindo as
pernas contornar meu quadril.
— Coisa linda.
Sorri e me beija, e é o suficiente para me perder.
— Está tão pálido. Sei que está nervoso, meu bem... Mas essa é a
noite de vocês. — Mamãe ajeita minha camisa e suspiro, sorrindo.
— Meu Deus... Que orgulho dos meus filhos. — Papai diz
sorridente.
— Somos lindos, a gente sabe. — Leon se aproxima, segurando o
copo de Whisky nas mãos e bebericando. — Vamos?
— Vocês três são meu orgulho. Saibam disso. — Papai nos fita e
sorrimos. — Os meus três tesouros.
— Graças a você, papai. — Dou um abraço e um beijo nele.
— Aos melhores pais do mundo. — Leon abraça nossa mãe, que
sorri limpando o rosto.
— Eu amo vocês. Muito.
Vamos em carro separados. Meus pais vão atrás, já que são os
convidados de honra da festa. Lúcia vai com Roger, e Leon junto
comigo.
Pego o celular e digito rápido uma mensagem.
Está pronta?
Mordo os lábios, nervoso, quando vejo que está digitando.

Estou quase pronta...

Sorrio, leio a mensagem umas duas vezes e balanço a cabeça.

Estou ansioso para te ver.

Ponho o celular no bolso quando Leon se senta ao meu lado no carro


espaçoso e arqueia a sobrancelha sorrindo.
— Qual o nome do chá que ela te deu?
— Você é tão idiota. — Rio baixo enquanto ele gargalha.
— Eu não fico rindo para o celular, igual um bobão.
— Mas um dia vai. — Ele franze o cenho e ajeita o smoking.
— Está para nascer, a mulher que vai fisgar esse coração aqui.
— Hum... Sei. Seeei...
— Está ficando debochado, né Otávio? Esse papel é meu! — Fecha
o semblante e sorrio. — Eu sou um cachorrão... Não... Sou um lobo mau.
Gargalho sonoramente de sua expressão séria, ao falar isso.
— Sexy para um caralho. Aceite.
O salão de festas fica a alguns minutos de distância e é nítido o
movimento por toda a rua. É um salão de vidro, de dois andares, que faz
parte do patrimônio de nossa família.
A limousine para e desço junto com Leon, flash disparando de todos
os lugares, na nossa direção.
Um carro para logo atrás e Anna desce, quase que no mesmo
instante.
Sorri, me olhando e Leon a fita.
— Sério isso?
— Ela tinha que vir. — Vejo-a se aproximar, como se estivesse
desfilando.
Sorri e segura em meu braço.
— Poupe a cara de surpresa. Ainda sou sua esposa e hoje, vamos
agir como tal.
A fito sorrir para alguns repórteres.
Está bonita, o longo vestido azul e os cabelos presos em um coque
delicado.
Mas não ofusca os olhares e nem tomava toda atenção para si, nem a
minha.
Ela coloca o braço em volta da minha cintura, em um meio abraço.
— Está bonito. Essa noite é muito importante para você...
— Onde está Luíza?
— Vai vê-la quando a gente conversar. Agora sorria, estão olhando
para nós.
Continuo com o semblante fechado e os fotógrafos disparam flash de
todos os lados. Leon revira os olhos, se aproxima e sussurra em meu
ouvido:
— Estou com ânsia.
Anna que sorri o olhando e ele faz o mesmo em sua direção, arqueio
a sobrancelha.
— Senhor e senhora Perrot?
Nos viramos para um jornalista, que mantém um microfone apontado
para mim.
— Quero parabenizar você e aos seus irmãos, pelos cinquenta anos
de Construl Perrot, qual o sentimento de vocês?
— Realmente, a cada ano é uma emoção diferente. Sinto orgulho por
fazer parte disso. — Digo, sorrindo orgulhoso.
— Indescritível. Que venham muitos e muitos anos dessa empresa e
de nossa família. — Leon me encara e sorrio. — Aos meus irmãos, que
sempre estão ao meu lado, e trabalhando muito para construir nosso
império.
Sorrio, enquanto ele bate em meu peito.
— Lúcia Perrot já chegou?
— Nossa irmã está vindo.
— Notícias sobre o noivado? A princesa do império, enfim vai se
casar? — Uma jornalista pergunta.
— Não posso afirmar, mas acho que em breve. — Leon sorri.
— Otávio e Annabell Perrot... Alguns boatos estão se espalhando, é
verdade que estão passando por uma crise no casamento?
Me calo e a sinto apertar minha mão com a sua.
Ela sorri abertamente para a jornalista.
— Boatos existem sempre, querida. Eu e Otávio estamos melhores
do que nunca.
Continuo calado e a mulher olha para mim.
Não desminto, mas também não confirmo.
Não quero causar um tumulto aqui.
— E o próximo herdeiro, quando virá?
Olho incrédulo.
Anna sorri, me encarando.
— Já estamos planejando. — Segura em meu braço e me solto,
andando na sua frente, sem responder mais nenhuma pergunta.
— Eu só fiquei calado, para evitar um tumulto na festa da empresa.
Mas nós dois sabemos muito bem...
— Amanhã estaria em todos os jornais, que estamos nos separando.
— Estamos nos separando, Annabell. Estamos. — Me afasto, entro
no hall e as luzes focam rapidamente em nós dois.
O salão está impecável, com uma decoração sofisticada e flores
vermelhas espalhadas pelo local. Pessoas circulam e nos cumprimentam
rapidamente.
Leon está com alguns clientes e amigos. Letícia e Michael se
levantam sorrindo, assim que nos veem. Nathan e Gaia fazem o mesmo e
reviro os olhos, enquanto ele me fita.
— Esta tudo lindo. Parabéns, Otávio. — Letícia me abraça.
— Obrigado. Michael, como vai?
Ele sorri, apertando minha mão firmemente.
— Melhor impossível, rodeado pelas mulheres da minha vida.
Parabéns mais uma vez. —Diz me olhando.
— Gaia, como vai? — A encaro sorrir levemente.
A barriga já aparente no vestido rodado.
— Muito bem. E você?
— Estou bem.
— Sua secretária ainda não chegou? — Natan indaga.
Cerro o maxilar.
— Secretária? — Michael pergunta.
— É. A assistente dele.
— Quando ela chegar, você vai ver, Natan. Agora, se me dão
licença.
— Onde vai? — Anna indaga, segurando em meu braço.
Tiro sua mão do meu braço.
— Minha querida, não precisa fazer assim... — Michael a abraça e
ela o encara.
— Onde está Felícia e Oliver? — Letícia pergunta, me olhando.
— Estão vindo. — Respondo apenas.
Olho para a porta, sabendo que em breve Mikaella vai aparecer.
Michael pede licença, segurando o celular, e se retira da mesa.
— Os jornalistas estão fazendo perguntas horrendas. Você quer dar
mais palco para essa plateia?
— Eu não estou me importando, Annabell.
— Esses jornalistas de hoje... — Letícia fala, olhando em volta do
salão. - Mas tentem, ao menos hoje, não demonstrar a separação de
vocês, ou poderá ofuscar a comemoração da empresa.
— Vocês amam fazer um teatro, impressionante. — Natan bufa.
— Onde Michael foi?
— Ao banheiro. — Gaia responde.
— Preciso verificar se meu marido não está em mãos inimigas. —
Letícia diz e se levanta, sorrindo abertamente. — Sabem como é, né... —
Ela me encara sorrindo. — Sempre tem mulheres que não respeitam um
homem casado.
— É o que mais tem por aí. — Natan completa.
Me viro quando Lucy chega ao lado de Roger e sorrio, olhando-a.
Os cabelos negros soltos em ondas e os olhos azuis realçados pela
maquiagem. Está linda.
— Está linda. — Elogio e a abraço apertado.
— E você está impecável.
— Eu disse que ela é a mais linda, de toda a festa. — Roger a
abraça.
— Temos que concordar.
— Ainda bem que ela é a minha cara. — Leon se aproxima,
segurando o copo. — Está linda, Magrela.
— Convencido. — Lúcia o beija. — Está tudo lindo...
— Amor, vou buscar uma bebida. — Roger a beija rapidamente e
ela assente.
— Quero uma taça.
— Os repórteres estavam perguntando quando será o tão esperado
pedido de noivado da nossa irmã... — Leon a encara. — Espero que
Roger não esteja te enrolando.
— Temos muito tempo, ainda. Roger e eu, estamos apaixonados e
felizes. Vamos nos casar, quando chegar o momento... Tá bom?
Ciumentos.
— Acho bom. — Digo e ele vem ficar no meio de nós dois.
— Ou eu e o Otávio vamos faze-lo conhecer Jesus mais cedo.
— Quanto ciúmes, meu Deus. — Entrelaçamos nossos braços e
saímos, lado a lado.
Estou muito ansioso. Meus pais acabaram chegando e foram motivos
de aplausos. Katy já circula, organizando toda a equipe de segurança e
do buffet.
Seguro uma taça de champanhe e encaro o relógio no pulso.
— Daqui a pouco ela chega. — Leon Sussurra.
— Dom foi busca-la. Pedi antes de entrarmos. — Ele assente. —
Faz um favor para mim?
— Claro. Manda.
— Não a deixe sozinha, quando chegar. Natan e Letícia estão com
indiretas... — Digo baixo. — E Michael já deve saber.
— O raça miserável. — Revira os olhos. — Não se preocupa. Vou
ficar de olho.
— Obrigado.
Volto a bebericar o líquido e suspiro.
Onde está você, minha ruiva?
Ando de um lado para o outro, esfregando uma mão na outra e
soltando o ar pesado. Me encaro em frente ao espelho, colocando o par
de brincos. São duas pedras pequenas, que fazem par com o colar
delicado e a pulseira.
— Me ajuda, Lia... — Peço, vendo-a me encarar.
— Você está uma delícia. — Diz sorrindo, me olhando pelo reflexo
do espelho.
O vestido realmente caiu como uma luva em meu corpo. O caimento
em estilo sereia, com uma pequena fenda na perna direita. O decote
singelo e sexy ao mesmo tempo, as pedras fazendo contraste com o
vermelho.
— Os milkshake estão fazendo efeito, né amor...
— Vai se lascar, em Liana! — Digo, prendo a respiração e sorrio,
assim que ela sobe o zíper.
— Dá para respirar de boa? — Indaga, me olhando.
Assinto devagar, sorrindo.
Meus cabelos estão soltos, a maquiagem perfeita destaca meus
olhos, finalizando com o vermelho do baton em minha boca. Lia segura
minhas mãos trêmulas.
— Tem certeza que não quer vir comigo?
— E perder minha balada e meus gatos morenos, para ir em uma
festa de granfinos? Não, obrigada. — Pega a pequena bolsa e me
entrega. — Divirta-se, minha ruiva.
— Amo você.
— Eu amo mais.
— Preciso ir, estou atrasada. — Digo e jogo um beijo rápido.
— Não vou te desejar boa sorte, por que só em estar na companhia
do Otávio delicia, é uma ótima sorte!
Gargalho e saio devagar do prédio, vejo o carro parado a minha
espera. Dom, me lembro. É motorista de Otávio.
— Eu vou pegar... Um táxi! — Digo baixo.
Ele abre a porta traseira sorrindo.
— Ordens do meu patrão. Boa noite, senhorita.
— Boa noite, Dom. — Entro no carro sorrindo.
Estou um pouco atrasada, por ter demorado para me arrumar, mais
do que deveria. Mordo o lábio, sentindo o suor frio descer pelo meu
corpo.
O trânsito está um pouco caótico, e quando o carro entra na rua
larga, posso perceber o motivo. O enorme prédio está repleto de
repórteres. Leon não brincou, quando disse que vai ser um evento de
gala.
Dom abre a porta para mim, e os flashes miram para mim. Me sinto
quase como a poderosa Emma Stone, desfilando sobre o tapete
vermelho.
Sorrio timidamente, passando pelas perguntas que nem consigo
assimilar.
— Como vai? — Encaro o rapaz, que me fita de cima a baixo, assim
que entro no corredor. — Philipe, não lembra de mim?
— Muito pouco. Como vai? Você está deslumbrante. — Elogia com
um sorriso.
— Obrigada. Se me der licença.
— Posso acompanha-la?
— Não. Não pode. — Leon aparece e para ao meu lado. — Ela está
comigo, Philipe, com licença. Vamos ruiva?
— Obrigada por me salvar. — Sorrio levemente. — Está muito
bonito.
Ele arqueia a sobrancelha, me encarando de lado.
— Eu sei. Mas você... Está belíssima.
Paramos em frente as portas de vidros e paraliso, ao sentir os
olhares de todos em nossa direção. Praticamente todos nos encaram.
— Estão todos olhando, Leon. — Sussurro nervosa e ele assente.
— Que olhem. — Dá uma piscadela singela e caminhamos devagar
para a mesa dos seus pais.
— Mamãe... Papai... Não preciso apresenta-la de novo, né?
— Como vai, minha querida? — Dona Felícia se ergue, me
cumprimentando.
— Muito bem, e senhora?
— Muito bem. Oliver...
O senhor se ergue, sorrindo também.
— Como vai?
— Bem. Parabéns pelo aniversário da empresa, fico feliz em estar
comemorando e fazendo uma pequena parte disso.
— Obrigado. Fico muito feliz. — Ele me encara, suspirando.
— Ainda vai comemorar vários. — Leon diz em alto e bom som e
seus pais me encaram.
Sinto meu rosto queimar e baixo os olhos.
— Mikaella... — Lucy se aproxima e me abraça. — Meu Deus!
Você está linda!
— Não mais que você. Está deslumbrante. — Ela sorri e dá um giro,
fazendo o vestido rodar.
Seu namorado a olha e o cumprimento rapidamente. Katy vem em
minha direção e trocamos um abraço. O vestido preto caído, a deixa
incrivelmente linda, mais do que já é.
Mas de todos os olhares que estão em minha direção, apenas um faz
todo meu corpo se arrepiar.
Otávio caminha em nossa direção com passos largos, o smoking
desenhando os músculos de seu corpo. Os olhos fixos aos meus, está
lindo.
Incrivelmente lindo.
— Mikaella. _ Diz me olhando e dou um leve aceno.
— Senhor Perrot. — Escondo um sorriso, ao ver seus olhos em meu
corpo, olhando de cima a baixo.
Ele continua me olhando e Leon solta um pigarro baixo.
— Já tomou algo?
— Não. Eu vou pegar algo daqui a pouco. — Digo sorrindo.
— Mirella. Como vai? — Me viro, quando Annabell para na nossa
frente.
— É Mikaella. — Leon dispara.
— Muito bem, e a senhora?
Ela enlaça o braço ao de Otávio, que me fita.
— Maravilhosamente, bem. — Diz sorrindo.
Bruxa.
— Sente-se, querida. — Dona Felícia fala e Leon afasta a cadeira,
me fazendo sentar.
Lucy faz o mesmo com Roger, que começa a conversa com seu
Oliver e Leon. Otávio e Anna se sentam a nossa frente.
— Mamãe foi atrás do meu pai. Meu Deus, os dois não se
desgrudam um minuto sequer. — Ela franze o nariz, falando com dona
Felicia e me olha. — Coisas de família.
— Nosso maior laço. — A senhora sorri e me encara. — E seus
pais, minha querida?
Os olhares se voltam para mim e suspiro.
— Mamãe...
— Minha mãe faleceu, e eu não tenho pai. — Digo rápido.
— Imagino que deve ser terrível. — Anna bebe o champanhe. —
Viver sem pai e mãe, solta no mundo.
— Annabell. — Otávio a fita e ela dá de ombros.
— Não deve ser fácil. — Dona Felícia segura em minha mão e
sorrio. — E tem irmãos?
— Tenho uma irmã mais nova, ela mora com minha tia.
— Nathan? Mamãe ainda não voltou? — Anna se ergue assim que
seu irmão se aproxima.
O olhar dele rapidamente se encontra com o meu.
— Não. Eles foram pegar um papel, voltam já.
— Não conhece a secretária do Otávio, ainda... Essa é a Mikaella.
O fito franzir o cenho, me olhando.
— Como vai, senhorita?
— Bem. — Digo baixo. — E o senhor?
Ele sorri e olha para Otávio.
— Enjoado. Pode vir até aqui, Annabell?
— Com licença. — Pede, enquanto se aproxima do irmão.
Sinto uma rápida vertigem me invadir e engulo em seco.
— Está bem?
— Estou. — Sorrio e me ergo devagar. — Eu vou ao toalete. Com
licença.
Me afasto da mesa, vou para um dos corredores, paro perto das
cortinas e suspiro, entrando em um banheiro.
Olho no reflexo do espelho e limpo o rosto com o papel, por ter
suado um pouco. Estou tentando não me desmanchar aqui mesmo.
Eu não sou assim.
O que diabos está acontecendo?
Retoco o batom, arrumando meus cabelos e saio devagar. Falei com
minha tia mais cedo, ela e minha irmã estão em outra casa, em outro
bairro, graças a Otávio.
Sei que ela vai perguntar de onde eu consegui dinheiro, e vou
conversar sobre tudo... Sobre Otávio.
Arrumo o vestido e sinto a mão em meu braço, ele me encara e me
puxa rapidamente para trás das cortinas.
Sorrio, o olhando.
— Aonde estamos indo? — Pergunto, quando paramos em um
enorme jardim.
Já não ouvimos mais as vozes, nem a música que toca lá dentro.
Ele se vira sorrindo e me abraça, beija meus lábios e me aperta,
como se eu fosse fugir.
— Você está linda. Linda demais.
Sorrio, mordendo o lábio.
— Você também... — Espalmo a mão em seu peito.
— Senti sua falta.
— Nos vimos hoje de manhã, Otávio. — Balanço a cabeça.
— Qualquer hora longe de você, é uma eternidade. — Volta a me
abraçar e puxo o ar, sentindo seu cheiro me invadir. — Me perdoe...
— Pelo quê?
— Por essa situação. Leon não vai te deixar sozinha, sei que Nathan
pode querer te intimidar e eu não vou responder por mim...
— Não vai estragar a noite da sua família. Deixa ela.
— Se ele tocar em você, eu o mato.
— Otávio... Ele não vai fazer nada. — Afago seu rosto e o beijo
levemente.
— Eu quero mostrar ao mundo que estamos juntos. Que eu amo e
quero você, mais que tudo.
— E vamos... Na hora certa. — Sorrio devagar. — Agora vamos
voltar, antes que sintam nossa falta.
— Eu te amo. — Diz e beija a ponta do meu nariz.
— Eu também.
Entramos por lugares diferentes dessa vez. Os últimos convidados
chegam, as conversas e uma música ambiente toca de fundo, fazendo
alguns casais dançarem.
Katy e Lucy estão ao meu
do e sorrimos, conversando animadamente. Ainda sinto o olhar do
irmão de Anna sobre mim, mas virei as costas para não ficar o olhando.
Sua mãe precisou sair com o marido, para resolver um assunto, mas
em breve vão estar de volta. A mãe de Anna é muito ciumenta com o
marido.
Estamos tomando champanhe, quando Roger se aproxima.
— Vamos dançar, amor?
Lucy sorri.
— Que romântico, esse meu príncipe. — Diz, o beijando. — Vamos.
Volto já meninas...
Acenamos enquanto ela vai para o meio do salão, os dois se olham,
quando a música baixa começa a soar.
Me sento novamente a mesa, os olhando. Parecem tão apaixonados.
Otávio está falando com o pai, um pouco distante de nós, o fito,
sorrindo de relance.
— Meu marido é incrivelmente lindo, não é? — Anna indaga,
segurando uma taça nas mãos.
Vejo que me olha fixamente.
— Sim, é. — Confirmo, vendo o sorriso desfalecer em seu rosto.
— Você tem quantos anos, mesmo?
— Vinte e quatro.
— A idade que se torna um parque de diversão para homens mais
velhos. — Diz baixo, sorvendo um gole do líquido.
— Como? — Indago e ela sorri.
— Nada, meu bem. Garotas jovens, como você, costumam ser...
Como objetos de desejos, para homens mais velhos com tédio.
Assinto, sorrindo.
— Com tédio da vida sem graça e sem emoção que eles vivem, não
é? — Disparo, sem me conter.
Anna semicerra os olhos e balança a cabeça.
— Isso. Isso mesmo. — Me fita e sorrio.
— Imaginei.
— Mia... Vamos dançar? — Leon estende a mão e a seguro
rapidamente.
— Vamos. Com licença, senhora.
— Toda. — Franze o nariz, nos olhando.
Vamos para o meio do salão e Leon balança a cabeça.
Sinto minhas mãos tremerem nervosamente, enquanto começamos a
dançar no ritmo da música baixa e calma.
— Ela está te provocando, isso é o que ela faz de melhor. —
Sussurra em meu ouvido.
— Insuportável. — Reviro os olhos e Leon sorri.
— Ela está se roendo.
Me gira, me fazendo olhar. Ela está próxima a Otávio e fala algo em
seu ouvido, o fazendo negar devagar.
— Essa bruxa... — Leon dispara e sorrio.
Dançamos rindo, enquanto ele me conta algumas situações que são
impossíveis não gargalhar, e assim foi por mais duas músicas.
Lucy e Roger conversam quando nos aproximamos. Otávio junto de
Anna. O irmão dela, com uma mulher, que deve ser sua esposa, estão
próximos também.
— Formam um casal muito bonito. — Natan nos fita. — Não
acham?
— Muito. — Anna sorri. — Só falta Leon superar a nossa prima...
Sinto Leon semicerrar os olhos, a olhando.
— Não seja maldosa, Anna. — Lucy a interrompe.
— Deixa o veneno dessa cobra esguichar.
Otávio passa as mãos pelos olhos e o encaro.
— Falei alguma mentira? — Ela sorri.
— Você é a criatura mais sonsa e fingida, que vi em minha vida. —
Leon dispara, franzindo o nariz.
Ela continua sorrindo, o olhando.
Natan me encara com desdém e viro o rosto, irritada.
Idiota.
Nos sentamos a mesa novamente e Dona Felícia conversava baixo
comigo. Anna está na mesa ao lado, com a cunhada.
Otávio está dançando com Lucy e Leon com Katy.
Dona Felícia pede licença e assinto, segurando a taça, bebendo
devagar, e os vejo se reunir em um pequeno palco improvisado. Vão
receber um prêmio juntos e estão todos lado a lado.
— É com muito orgulho, que estamos aqui hoje, representando a
empresa de nossa família e os seus cinquenta anos no mercado. É uma
honra fazer parte disso. — Otávio diz sorrindo.
— Orgulho, é o meu, em ter filhos tão dedicados e perfeitos,
seguindo meus passos. — O senhor Oliver fala e os abraça. — Que
venham mais e mais anos...
A salva de palmas ecoa por todo o salão e sorrio.
Anna está ao lado, mais afastada.
Otávio crava os olhos em mim, na hora que sorri, e retribuo,
balançado a cabeça.
Um homem toma a frente, entregando um pequeno prêmio para cada
um deles, e quando o nome de Anna é chamado, ela ocupa o lugar ao
lado da família.
Leon revira os olhos.
— É um orgulho para mim, estar na Perrot como arquiteta e como
nora desse casal, que fundou essa empresa... É muito gratificante.
As palmas ecoam novamente e ela os abraça, sorrindo.
Meu coração dá um batida falha.
— Esse é o lugar dela. Você é só mais uma. — Me viro, quando
Natan sussurra e me encara. — Você é a outra, Mikaella. Deixe-os em
paz.
O fito sorrir para a frente.
Otávio está nos encarando e fecho os olhos devagar.
— Eles nunca vão se deixar...
— Por que não vai para o inferno? — Disparo.
Ele me olha e me afasto, saindo devagar. As palmas cessam e eles
descem, sendo parabenizados por várias pessoas.
Katy está tão ocupada, que nem nos falamos direito.
A música baixa volta a soar, e mordo o lábio devagar, franzido o
cenho para uma senhora que entra e um homem com um par de ombros
largos.
Pisco algumas vezes.
— Dance comigo. — Me viro, olhando Otávio me encarar com a
mão estendida.
— O quê? — Indago, olhando sua mão.
— Dance comigo. Por favor...
Seus pais param. Leon arregala os olhos e vejo-o esconder um
sorriso.
— Estão nos olhando...
— Que olhem, estão falando do mesmo jeito, Mikaella. — Fixa os
olhos aos meus. — Vamos...
Fito a mão estendida e seguro, sendo guiada para o centro.
— Desculpe. — Sussurra, próximo ao meu ouvido.
— Pelo que está me pedindo desculpas?
— Por te colocar nisso...
Os acordes da música começam a soar e ele me guia, a mão pousada
em minha cintura, enquanto a outra afaga minha mão.
Calun Scott - You Are the Reason
There goes my heart beating
Cause you are the reason
I'm losing my sleep
Please come back now
Os olhos presos aos meus e sorrio, balançando a cabeça.
— Isso é loucura... Você sabe, né?
— Eu não me importo, Mikaella.
There goes my mind racing
And you are the reason
That I'm still breathing
I'm hopeless now
Posso sentir todos os olhares em nossa direção.
O corpo colado ao meu, me faz girar devagar e me segura
novamente.
— Eu amo você. — Diz, sem emitir som algum.
I'd climb every mountain
And swim every ocean
Just to be with you
And fix what I've broken...
Fecho os olhos, sentindo os dedos se entrelaçar aos meus.
— É você, Mia...
— Otávio... — Digo baixo negando.
— Você é o motivo.
(...) Oh, cause I need you to see
That you are the reason
Engulo em seco, com o coração batendo descompassado no peito,
seus olhos a todo momento fixados aos meus.
Sorrio levemente, negando devagar.
There goes my hands shaking
And you are the reason
My heart keeps bleeding
I need you now
Engulo em seco, o olhando me encarar fixamente.
— É você que eu quero. Apenas. — Me olha, enquanto sussurra.
If I could turn back the clock
I'd make sure the light defeated the dark
I'd spend every hour, of every day oh
Keeping you safe oh...
A música acaba e continuo o fitando, com os dedos ainda
entrelaçados aos seus, os olhares em nossas direções são intensos.
Anna nos fita de queixo erguido, enquanto andamos para o outro
lado onde seus pais e irmãos estão ainda.
— Meu Deus... — Digo, sem fôlego.
Eu mal consigo sustentar minhas pernas.
Lucy e Leon sorriem e Otávio me fita, encarando seus pais, que nos
olham.
— Não se vira agora, lá vem Letícia... — Leon diz.
— Deixem vir. — Otávio rebate.
— Boa noite, tive que sair por um instante. — Ouço a voz da
senhora e não me viro. — Mal tive tempo de comprimenta-los.
Ouço os beijos e me viro para encara-la.
Letícia Bonarez me olha de cima a baixo e a fito.
— Essa é a secretária do Otávio. Mikaella.
— Letícia Bonarez. — Diz baixo, juntado uma mão a outra.
— Muito prazer.
— Já não nos vimos antes?
— Não, certeza que não. — Engulo em seco.
— Eu tive essa mesma impressão quando a vi. — Anna diz, me
olhando.
Ela olha entre mim e Otávio, e ele a fita do mesmo modo.
Seguro a taça de champanhe, que Lucy me oferece. Elas começam a
conversar, mas sem tirar os olhos de mim.
Sinto uma leve tontura e suspiro devagar.
— Oh... Michael, amor. Venha conhecer a secretária de Otávio.
A taça de repente se espatifa no chão, quando o homem se vira, me
olhando. Sinto meu coração bater desenfreado no peito, e ele me encara
rapidamente.
◆◆◆

— Não nos deixe, papai... Por favor... Por favor... — Peço,


sentindo o choro descontrolado me tomar.
Os soluços escapam e o encaro.
— Eu não posso ficar! Eu estou farto de vivermos na miséria, com
trocados! Isso não é vida, Mikaella!
Nego devagar e ele arruma os cabelos.
— Venha comigo, eu tenho uma casa enorme... E posso te dar tudo
que quiser... Uma vida de rainha!
— Acha que eu deixaria minha mãe, por dinheiro? Você acha!? —
Berro, limpando o rosto, o olhando.
— Não sabe o que está perdendo, Mia. Temos um mundo
esperando por nós... Por nós dois, Mia...
◆◆◆

— Esse é meu segundo pai. — Anna diz, o abraçando e me tirando


dos devaneios.
Dou um passo para trás e ele dá um passo para frente.
— Mikaella? — Meu nome escapa de sua boca e minhas pernas
fraquejam.
Não.
Não.
Não.
Meu Deus.
Não.
Saio aos tropeços, sentindo meu estômago revirar, a visão nublada
pelas lágrimas e seguro um soluço, que teima em escapar.
— Mikaella? Mikaella?
Saio rumo ao jardim, sem conseguir respirar.
Meu Deus. Meu Deus.
— Mikaella... — Segura em meu braço, me virando para olha-lo. —
O que aconteceu, amor? Olha pra mim!
— É e-ele... Ele, Otávio! — Digo, não controlando mais as
lágrimas.
As pernas dobram e ele me abraça.
— Ele, quem? — Otávio segura em meu rosto, e um soluço escapa
da minha garganta.
— O padrasto da A-anna é... É o meu pai.
— Mia...
Sinto apenas a escuridão me tomar.
Apoio o corpo, que cai em meus braços. A encaro completamente
desacordada e a ergo no colo.
— Mia... — A chamo devagar.
Está pálida.
O padrasto de Anna, é seu pai!
E ele estava o tempo inteiro aqui...
O tempo inteiro, ao meu lado.
— Mia... — Volto a chamar, mas ela nem se mexe.
— Otávio! — Me viro, olhando Leon vir em minha direção. — O
que houve?
Caminho rapidamente, entrando com ela ainda em meus braços, sua
respiração está lenta e a sinto fria.
— Chame um médico! — Disparo, vendo todos pararem para nos
encarar.
Anna dá um passo a minha frente, com uma expressão fechada.
— O que aconteceu, Otávio!? — Mamãe vem em minha direção.
Lucy e papai a acompanham.
— Ela desmaiou!
— Vamos chamar o médico! Leva ela lá para cima! — Leon dispara
e assinto.
Os burburinhos começam, mas pouco me importo com o que estão
falando, os olhos de Michael encontram os meus e vão para ela de
imediato.
Dá um passo e o fito.
— Nem ouse encostar um dedo nela! — Minha voz sai mais alta que
o previsto.
— O que está acontecendo? — Letícia dispara.
— Pergunte ao seu marido!
— Venha... — Lucy segura o vestido, subindo as escadas.
— Leve ela para cima, Daniel está aqui e está indo! — Mamãe diz e
assinto.
Meu coração parece que vai parar a qualquer momento, disparado,
agoniado e apertado. Lucy abre a porta de uma das salas da parte de
cima e a coloco devagar sobre o sofá, sentindo as mãos frias.
Como eu não percebi?
Como eu não vi que eles...
Meu Deus!
Fecho os olhos, suspirando.
— Vai ficar tudo bem, meu amor. Eu estou aqui. — Sussurro,
olhando-a.
Ele não vai encostar em você.
Lúcia me encara e sinto a pontada no peito, quando mamãe entra e
Leon aparece logo atrás. Sinto minhas mãos trêmulas e o suor desce por
todo meu corpo.
— Onde está o médico? — Pergunto.
— Daniel está vindo, foi pegar a maleta no carro!
— Mas que porra!
— Meu filho, calma! — Mamãe pede, me olhando. — O que
aconteceu?
— Alguém, por favor, me explique também. Adoraria descobrir. —
Anna rebate, entrando na sala.
— Ela desmaiou, Anna. — Mamãe responde.
— Vamos lá fora... — Lúcia a fita e ela não encara mais ninguém,
apenas a mim.
Passo as mãos pelos cabelos e viro de costas, fitando Mikaella, que
ainda está desacordada.
Quero socar Michael. Com todas as forças.
Ele estava lá, quando Ben morreu, dando apoio a família. Sempre ao
lado de Anna, sempre. Sendo o padrasto maravilhoso.
— Eu não vou a lugar nenhum, Lucy.
— Amor, os convidados estão... — Roger aparece na porta.
— Vamos tentar acalma-los. — Lúcia me encara e assinto.
O médico, que é amigo da nossa família, entra segurando a maleta
nas mãos, rapidamente a abre e se aproxima de Mikaella.
Sinto a mão se fechar em meu braço e encaro Anna.
— Temos uma festa nos esperando. Os convidados... É a festa da
empresa, Otávio! E você...
— Me deixe! — Peço baixo, mas firme.
Ela fixa os olhos aos meus, enquanto me puxa para fora. Passo as
mãos pelos cabelos, olhando-a.
Minha cabeça a mil e o coração disparado.
— Pode me dizer, o que diabos está acontecendo aqui?
— Anna...
— Toda a impressa está aqui, nossos familiares...
Ela se cala e paro, olhando Michael se aproximar.
— Saia daqui! — Disparo, o olhando.
— Não fale assim com ele! Ficou louco? — Anna o defende.
— Otávio... Me ouça...
— Saia daqui agora, Michael!
— O que estão fazendo? — Letícia vem em passos largos.
Ele continua me olhando e sinto a respiração acelerar, enquanto
cerro o punho.
— Você vai voltar lá para baixo comigo e pedir desculpas pelo
acontecido. E falar para mim, porque diabos socorreu a sua secretária
com tanta preocupação...
— Acho que talvez não precise de uma resposta para essa pergunta,
minha filha. — Letícia dispara, erguendo o queixo. — Estou certa,
Otávio?
Anna a encara e volta a me olhar.
— Você vai descer comigo... AGORA!
A encaro de cima a baixo, negando veemente.
Letícia me olha, com os olhos semicerrados. Encaro Michael e me
viro, entrando na sala. Daniel está de pé e fala algo com ela, que apenas
assente rápido.
— Foi uma queda de pressão. Podemos passar no médico, apenas
por precaução. Foi um mal estar.
— Obrigada. — Mamãe agradece.
Vejo Mia passar as mãos pelo rosto banhado por lágrimas, os olhos
azuis baixos, se erguem, encontrando os meus, esqueço como se respira
e pensa nesse momento.
Só enxergo ela em minha frente. Apenas ela.
Me sento no sofá, puxando o corpo junto ao meu. Ela agarra a lapela
do blazer, me puxando e enterra o rosto em meu peito, ouço os soluços
baixos aumentarem e mamãe me encara.
Ponho o queixo no topo de sua cabeça, abraçando-a.
— Eu estou aqui... — Digo baixo.
— E-ele... Está lá... — Um soluço escapa de sua garganta, e ela
entra em um choro compulsivo.
Me parte o coração vê-la assim.
Ela sempre mostrou ser forte, mas agora parece ser a menina de
dezesseis anos, que foi obrigada a assumir as responsabilidades quando
o pai foi embora.
É. Ninguém consegue ser forte o tempo todo.
— Meu amor... Eu estou aqui. — Afago seus cabelos, enquanto ela
continua chorando.
— N-nao d-deixa ele... Ele c-chegar perto...
Nego devagar, erguendo seu queixo e a fazendo me encarar, limpo as
lágrimas que descem.
— Ele não vai encostar um dedo em você. Confia em mim?
Ela balança a cabeça em afirmativa e volta a pousa a cabeça sobre a
curva do meu pescoço. Ouço os burburinhos atrás da porta, mas só nos
dois no estamos cômodo.
Uma batida na porta me faz olhar em direção a saída, e minha irmã
entra, sorrindo levemente.
— Ela está bem?
— Está. — Olho para ela e a puxo de encontro a mim novamente.
Lúcia entra e se ajoelha ao lado de Mikaella, que ainda chora baixo,
segura sua mão e ela a encara.
— Quer ir ao hospital? — Minha irmã pergunta.
Mikaella balança a cabeça em negativa.
— Obrigada... Desculpa estragar a...
— Ei... Vai ficar tudo bem. Não sei o que houve, mas estamos aqui,
tá? — Lúcia nos encara e sorri. — Com vocês dois.
Afaga minha perna e me encara.
— Os convidados estão indo embora. Roger e papai estão lá
embaixo. — Assinto em resposta.
— Vamos sair daqui. Tem certeza que não que ir ao médico? —
Indago, olhando-a.
— Eu só quero ir pra casa. — Fala em um fio de voz.
— Vamos no medico, só para garantir que você está bem mesmo.
— Não, Otávio, eu estou bem. Eu juro.
— Tudo bem, eu vou mandar prepararem o carro. — Beijo sua testa
rapidamente e fito Lúcia, que nos encaram. — Você fica aqui?
— Eu estou bem.
— Fico. — Minha irmã se senta ao lado de Mikaella.
— Volto já. — Abro a porta rapidamente e Leon me encara. — Não
deixe ninguém entrar aqui. — Digo o olhando.
— Nem precisa me pedir. — Engole em seco. — Como está a
ruiva?
— Vai ficar bem. — Mordo o lábio e ele me fita.
Falei sobre o pai dela, para ele. Da situação da irmã e da tia, e do
quanto ela ajuda as duas.
— Você não vai acreditar... — Digo baixo e Leon me encara. — O
pai da Mikaella, é o Michael...
Leon abre a boca e arregala os olhos.
— O quê? O Michael?
Assinto devagar.
— Ela está mal, Leon. Ele quer a guarda da irmã dela... Eu... —
Passo as mãos pelo rosto.
— A gente não deixa. — Aperta meu ombro e arfo devagar.
— Eu vou lá em baixo, vou tira-la daqui.
— Vai. Eu vou ficar aqui.
Desço as escadas e o salão está quase vazio, mais da metade dos
convidados já foram embora.
O olhar de Anna voa em minha direção, está perto dos meus pais e
conversam sobre algo.
— Acham certo? Acham o que filho de vocês está fazendo?
— Vamos conversar, Anna... — Papai a fita e ela passa por ele
como um furacão, vindo em minha direção.
— Ela já se recuperou? Sua... Amante! — A voz ecoa pelo ambiente
disparada e esganiçada.
— Annabell, aqui não... — Letícia a segura. — Vamos resolver
isso...
— Eu quero ouvir da boca dele! Por que o papel de trouxa, eu já
paguei. Não é, Otávio? Já deixou escrito aos quatro cantos do mundo!
Fale, seu miserável! Fale...
— Otávio. — Papai me encara.
— Diga... Há quanto tempo está com essa... Com essa vagabunda?
Diga! Diga desde quando está me traindo com essa mulherzinha!
— Annabell! — Michael a segura. — Calma...
— Otávio...
— Eu converso com você depois.- Digo, olhando para os meus pais.
Não vou negar o óbvio. Mas também não vou falar nada nesse
momento.
Michael nem me encara fixamente, e eu estou com tanta raiva.
Anna se solta bruscamente.
— Vai conversar comigo agora! Ouviu? AGORA! — Berra, me
olhando. — Não dê um passo, Otávio... Não dê um passo... Ouviu?
Me viro e saio pisando firme.
Sinto sua mão agarrar meu antebraço e a olho de relance.
— Se subir essas escadas, eu não vou te perdoar NUNCA.
Entendeu? Nunca!
Fecho os olhos e me solto.
— OTÁVIO! Se der mais um passo... Eu não vou te aceitar de volta!
Eu... Não... Te aceito de volta...
— Essa é minha intenção.
Subo as escadas, ouvindo os gritos estéricos de Anna.
— Vamos, amor...
Sinto os braços me rodearem e o blazer é colocado em meu ombros.
Minha cabeça roda, meu coração está apertado e a sensação é de que
vou desfalecer.
Era ele.
Bem na minha frente.
Com uma família nova, como se sempre tivesse sido parte daquilo.
Ou fez. Meu Deus.
Fecho os olhos quando entramos no carro de Leon. Saímos pelos
fundos, mas não consigo saber onde estamos ao certo. Demoramos um
pouco para sair, até quase todos os convidados irem embora.
Estou envergonhada, pelos pais de Otávio.
Leon dirige em total silêncio e Otávio me aninha em seus braços, me
fazendo deitar a cabeça em seu peito. Meu rosto está inchado. Mas ao
mesmo tempo, parece que não sinto nada e tudo, ao mesmo tempo.
É como se tivesse tomado uma grande quantidade de anestesia. Uma
dor enorme me sufoca a cada instante por dentro, como se uma mão
gigante apertasse meu coração, o fazendo sangrar.
Ele estava lá... Ele estava lá...
Me olhando...
E não tive reação. Queria gritar. Queria ir para longe, mas eu não
consegui.
Uma lágrima desce pelo meu rosto e sem esperar, um soluço vem
acompanhado de um choro compulsivo. Eu odeio chorar. Odeio me
sentir fraca.
Otávio me aperta forte em seus braços, mas a dor me dilacera por
dentro.
— Eu estou aqui...
Ouço ele sussurrar baixinho, mas as lágrimas não cessam, e a dor
parece me destruir, enquanto as lembranças dele me invade.
O carro para em frente ao prédio e ele me ajuda a descer do carro.
Leon me fita e o encaro sorrir levemente.
— Fica bem, tá?
Segura em minha mão, apertando-a.
— Obri...gada. — Agradeço.
Entro para o prédio junto de Otávio, que abraça meus ombros. Em
silêncio, seguimos para o apartamento. Assim que as portas se abrem,
sinto o entalo na garganta voltar e me sufocar.
— Mia...
É aquela dor. Aquela maldita dor, que não para de crescer, me
fazendo virar aquela menina de dezesseis anos novamente.
Eu odeio sentir isso. Odeio
Meu Deus, como eu odeio.
Sinto os braços me confortar e ergo a cabeça, deixando as lágrimas
rolarem.
— Eu daria tudo de mim, para não ver você assim, meu amor. —
Um soluço me escapa.
Quero gritar de ódio, raiva e medo....
Ódio, por ele ter uma nova família. Raiva, pelo seu abandono. Medo
pela minha irmã, por mim.
— Olha para mim, amor. — Otávio pede e segura em meu queixo,
me fazendo encara-lo.
As lágrimas descem grossas, enquanto soluço.
— Bota essa dor para fora, ponha tudo para fora... Eu estou aqui.
Me sento e sopro o ar.
— Eu o odeio! Eu o odeio... Eu odeio! Eu odeio! Odeio! Odeio...
Desfaço o penteado com raiva, puxando os fios, que se desgrenham.
As lágrimas vão descendo, grossas e pesadas, em um choro
incontrolável. E dói, como isso dói.
— Eu odeio... Odeio... — Torno a repetir, limpando meu rosto e
soluçando inconsolável.
Otávio me fita e balanço a cabeça.
— Ele... Ele... Nos deixou sem nada... Nada... Nos tirou tudo...
Tudo... Ele... Foi tudo...
Me ergo com a mão na boca, soluçando alto.
— Ele tirou tudo... Tudo... Ele... — A dor em meu âmago maltrata e
arfo. — Ele tirou tudo... E ela morreu... Minha mãe morreu...
Abro a boca e sinto seu abraço me envolver. Enterro o rosto em seu
peito e minhas pernas fraquejam, mas ele me segura, e senta comigo no
chão.
— Eu odeio você, Michael! Eu odeio você!
Continuo abraçada com Otávio e a névoa de lágrimas cobre minha
visão. A raiva me toma novamente, junto de uma tristeza profunda.
Fiquei assim por incontáveis minutos, até sentir as lágrimas
secarem, ainda agarrada em sua camisa. De repente, sinto um enjôo
forte, me levanto e corro para o banheiro. Me debruço sobre a privada,
sentindo a barriga se contorcer.
Otávio se aproxima e segura meus cabelos, a ânsia vem mais forte
dessa vez.
— Saia...
— Não... Eu vou ficar aqui. — Fala, passando a mão em minhas
costas com a mão livre. Me debruço, aliviando o estômago da pressão
que sinto.
Limpo o rosto e me sento no chão frio. Vejo-o tirar o blazer e a
camisa, colocando na bancada, ficando apenas com a calça social. Se
ajoelha na minha frente e segura em meu rosto.
— Estou... Terrível...
— Eu amo você. — Acaricia meu rosto com o polegar e uma
lágrima solitário cai, que ele limpa rapidamente. — Por você, eu sou
capaz de tudo.
— Eu também... Te amo.
Se levanta devagar, estendendo a mão, que seguro e levanto também.
Me vira e desce o zíper do vestido. O amontoado de panos cai no chão
assim que ele termina de abrir. Beija meu ombro e o encaro pelo reflexo
do espelho.
— Vamos tomar um banho...
Meu rosto está vermelho e ainda com as marcas das lágrimas. Ele
enche a banheira, coloca alguns sais de banho, me pega no colo e me
coloca dentro da água morna.
Estou cansada. Exausta. Pensando em mil e uma coisas, e situações
diferentes.
Deito em seu peito assim que ele entra. Ele começa a molhar meu
corpo lentamente, meu pescoço, meus braços, meus seios...
Para em minha barriga, demorando um pouco mais, o carinho quase
me fazendo cochilar em seu peito.
— O que eu faço? Eu estou... Com medo...
— Eu estarei aqui... — Diz baixo em meu ouvido.
Os dedos acariciam minha barriga, sinto meus pelos se arrepiar e
fecho os olhos. É uma sensação estranha. Muito estranha.
— Desculpa... — Peço, encostando minha cabeça em seu peito
molhado.
— Você não precisa pedir desculpas por nada, Mikaella. Por nada.
— Estou com...
— Shiii... — Sussurra e fecho os olhos, sentindo o beijo em minha
bochecha. — Eu te amo
As mãos ainda pousadas sobre minha barriga, acariciando a pele
arrepiada pelo seu toque. As mãos enormes espalmadas e o movimento
da água batendo levemente.
Olho para suas mãos e volto a olha-lo.
— Sensação boa...
— O quê...
O fito me encarar e sorrio, afagando em seu rosto.
— Você fica linda sorrindo.
O beijo devagar, fecho os olhos e deixo sua calma me invadir.
Uma sensação boa de estar aqui. Apenas nós dois.

Abro os olhos devagar, sentindo o corpo reclamar de cansaço e a


cabeça pesada. Ressaca de bebida é ruim, mas a ressaca de choro, é
terrível.
Sinto o peso na cabeça e nos meus olhos. O amargo na minha boca,
por ter passado a noite com o estômago embrulhando. Me sento, puxando
o lençol, e olho para o espelho perto da cama. Estou com os olhos
inchados e os cabelos desgrenhados.
— Acordou, meu amor? — Olho para a porta, e vejo Otávio entrar,
segurando uma bandeja de café da manhã nas mãos. — Como está?
Franzo o nariz, negando com a cabeça.
— Estou horrível!
— Você não comeu nada ontem. Precisa comer alguma coisa.
Engulo em seco, suspirando pesadamente. Ele está lindo, os olhos
parecendo mais azuis, do que os maiores dos oceanos. Está sem camisa,
apenas de calça de moleton, e os cabelos bagunçados.
Franzo o nariz para a bandeja e ele me olha sorrindo.
— Coma. Pelo menos um pouco.
Pego o copo com suco de maracujá, bebericando devagar e como
uma fatia de torrado, sentindo-me terrível.
Otávio me fita e sei que não vai adiantar fugir do problema, muito
menos tentar esquecer o que é óbvio, por que vai ser impossível.
— Como ele chegou lá? Como foi? — Indago o olhando.
Morde o lábio devagar.
— Eu não sei ao certo. Letícia apenas nos apresentou como seu
futuro marido... Foi muito rápido.
Sorrio sem humor, passando a mão pelo rosto.
— Eu nunca imaginei que o Michael fosse...
— Eu sei que não. — Falo depressa. — Foi como se eu tivesse
vivendo tudo aquilo de novo. Ele foi embora... Do nada... E eu nunca
aceitei aquilo muito bem. Mas aceitar que ele foi embora, doeu muito,
muito mesmo. E ver a morte da minha mãe, doeu mais ainda. — Digo,
controlando as lágrimas, que mais uma vez, teimam em descer. — E hoje
eu sei. Ele abandonou a mim, a Gabi e a minha mãe... Tudo isso, por uma
família que nem o pertence.
Ele me olha sem falar uma palavra, apenas aperta firme minha mão.
— Ele não é meu pai.
— Mia...
Ponho o copo sobre a mesa de cabeceira e me aninho em seus
braços fortes. O cheiro de banho recém tomado invade meu nariz e fecho
os olhos.
— Eu amo você. — Digo, sentindo ele afastar meus cabelos e beijar
o topo da minha cabeça.
— Eu entrei em desespero quando vi você alí, desmaiada em meus
braços. — Diz baixo, me apertando em seus braços. — Eu amo você,
Ruiva.
O encaro franzir o cenho e me olhar.
— Eu vou precisar ir resolver uma coisa, é rápido. Você vai ficar
aqui, é mais seguro.
Assinto devagar e o engulo em seco.
— Você acha que ele... Ele vai me procurar? — Pergunto e Otávio
me olha.
— Você não vai falar com ele, se não quiser.
— Não quero. — Digo baixo, assim que ele se ergue.
Me puxa, fico de joelhos e ele me abraça, em pé ao lado da cama.
— Eu volto rápido. Prometo. — Sorri e assinto.
Entra no banheiro e volta alguns minutos depois, já vestido.
— Chamei uma pessoa para ficar aqui com você. — Tira os cabelos
do meu rosto e me beija. — Prometo que volto logo.
— Tudo bem. — Espalmo a mão em sua camisa, sorrindo.
Fecho a porta assim que ele sai e me encosto na mesma, suspirando.
Estou com medo de falar com minha tia. Com medo de falar que o
homem que estamos tentando fugir e fingir que nunca existiu, é o
padrasto, da ex esposa do meu chefe, do qual eu sou amante.
Meu Deus. Meu Deus.
Sinto o chão frio sobre meus pés e vou para a cozinha, abro a
geladeira e fico olhando os enlatados. Pego uma lata de pêssegos e abro,
colocando em um prato e jogando leite condensado em cima.
Enfio o garfo e como os pêssegos. Já estou na segunda lata, quando
a campainha soa.
Me aproximo e abro-a devagar.
— Oh, meu amor. — Lia sorri levemente e abre os braços, então a
abraço rapidamente. — Como você está?
— Ai, Lia... —
— Otávio me ligou e contou por cima, o que aconteceu.. Meu Deus,
Mia! Eu não sei o que falar. Sabe que estou aqui, né? Para tudo... Tudo...
Tudo...
— Eu amo você. — Ela volta a me apertar e sorrio, enquanto ela
limpa meu rosto.
— Que apartamento... — Diz, olhando ao redor quando nos
sentamos no sofá. — Ele estava preocupado, muito preocupado.
— Eu desmaiei. Foi... Horrível. — Ela segura em minha mão,
apertando-a.
Respiro fundo, a olhando e começo a contar os detalhes de tudo. De
como ter visto ele, se sentindo parte daquela família, como se o dinheiro
o fizessem ficar mais poderosos.
Não parecia nem de longe, o homem de roupas baratas.
— Meu Deus! Que filho da puta.
— Anna é como uma filha para ele... Assim como o Natan... Ele...
— Que crápula, cretino, filho da mãe! Meu Deus, Mia. Que ódio!
Que ódio! — Lia grunhi, batendo as mãos no sofá e me olha. — Não fica
assim, Mia. Eu sei que é difícil... E que dói muito. — Ela diz, segurando
em minhas mãos. — Mas você é forte. Você sempre foi e sempre vai ser,
amor...
Sorrio, voltando a abraça-la e ela me aperta firme.
Às vezes, uma boa amiga, é a melhor coisa que temos.
— Você está com cheiro de pêssego. — Lia fala e sorrio.
— Estava comendo.
Ela me encara franzindo o cenho e me levanto.
— Quer comer alguma coisa?
— Eu tomei um café antes de vir para cá.
— Vêm... — Seguro sua mão e vamos para a cozinha.
Conto a Lia que uma hora dessas, todo mundo já deveria está
sabendo que eu estou com Otávio. Vejo-a segurar a taça e franzir o
cenho.
— Você odeia pêssegos. — Ela me olha.
— Eu sei. — Digo.
— Aí do nada, você como pêssego com leite condensado, como se
fosse a coisa mais normal do mundo?
— É. — Abro a geladeira e pego a garrafa de água. — Meu
estômago ficou um pouco sensível, não aceita nada. — Me sento na
cadeira, olhando-a.
— Como assim?
— Ah, sei lá. Não estou bem. — Digo, sentindo meu corpo voltar a
se arrepiar.
Ela me olha e põe a mão no queixo, batendo as unhas pintadas de
azul turquesa.
— Senta amiga. — Digo.
— Você não seria tão... Ou seria?
A olho enquanto sorvo um gole da água. Lia permanece me olhando
com uma expressão chocada.
— Mikaella, você está tomando as pílulas? — Ela pergunta, com os
olhos cerrados.
Sorrio.
— Claro que sim. — Digo, segurando o copo.
— Quando foi que tomou a última vez?
Olho para ela, que ergue as sobrancelhas, em seguida só escuto o
copo se estilhaçar no chão.
Lia abre um um sorriso, que faz minha espinha se retorcer.
Não pode ser.

Paro o carro no jardim e saio alguns minutos depois. Caminho


devagar e toco a campainha, da casa que por anos, foi meu lar. Tina abre
porta, me olhando quando passo devagar.
— Bom dia, Otávio.
— Bom dia, Tina. — Engulo em seco, entrando na sala, que continua
do mesmo jeito. — Diga a Anna...
— Eu sabia que viria. _ Olho para as escadas e ela desce devagar.
— Estava apenas em dúvida, se seria agora de manhã, ou mais tarde.
— Com licença. — Tina sai e Anna me fita.
O queixo erguido e os olhos avermelhados, de quem chorou por
longas horas.
— Eu vim entrar em um acordo com você, sobre nossa separa...
Sinto o tapa estalar em meu rosto e o viro devagar, vejo-a arfar,
vindo para cima de mim, desferindo tapas em meu peito com uma fúria
descomunal.
— Como pôde? Seu desgraçado! Como pôde fazer isso comigo?
Como pôde... Eu odeio você! EU ODEIO VOCÊ!
Seguro em seus braços, olhando-a se debater furiosamente.
— Eu não vou entrar em acordo NENHUM! POR QUE NÃO TEM
ACORDO! — Me empurra, arfante. — NÃO TEM ACORDO!
— Pare! — A afasto, vendo as lágrimas descendo pelo seu rosto.
— VOCÊ ME TRAIU! Você... Me traiu... — Grita, com os olhos
saltados, segurando os cabelos. — VOCÊ ME TRAIU!
A encaro balançar a cabeça, os olhos fulminantes em minha direção.
— Você estava com ela... Embaixo do meu nariz todo esse tempo!
Meu Deus... TODO ESSE TEMPO, COM AQUELA VAGABUNDA!
— Nosso casamento acabou muito antes dela chegar, e você sabe
disso, Annabell! — Sussurro, balançando a cabeça. — Não tínhamos
mais nada...
— Você estava com ela! Estava com ela... — Repete aos berros,
enquanto o choro se torna descontrolado. — SEU FALSO!
MENTIROSO!
— Eu queria ir embora, muito antes dela chegar. Nosso casamento
estava acabado, Anna. E você sabe que a única coisa que ainda me
mantinha aqui, era a Luíza.
Ela para e me olha.
Os olhos cravados aos meus e a raiva visível em seus olhos.
— Você sabe, Anna. Sabe, que tudo acabou há muito tempo. Que já
não éramos mais um casal...
— SÃO VINTE ANOS! NÃO SÃO VINTE DIAS... SÃO VINTE
ANOS! — Grita histérica, me olhando.
— Eu não vou justificar, por que não tem justificativa. Temos
lembranças da fase boa... Mas acabou, Anna! Acabou tem muito tempo...
— HÁ QUANTO TEMPO ESTAVA COM ELA? QUANTO
TEMPO!?
Nego e fecho os olhos.
— Diga... Quanto tempo está me traindo? QUANTO TEMPO, SEU
CRETINO? HÁ QUANTO TEMPO ESTÁ COM AQUELA VADIA DE
QUINTA!
Seguro em seus pulsos e ela se debate.
— AQUELA CADELA! DESTRUIDORA DE LARES!
— A culpa é minha, Anna! Minha! Eu não te amava mais, eu não te
queria mais! Eu, Annabell! Eu... Eu que não te queria...
Ela para, com a respiração acelerada e os cabelos caindo sobre o
rosto.
— Eu tentei fugir do que comecei a sentir por ela, eu tentei... Mas eu
não consegui! Viver aqui era um inferno, era um inferno voltar para
casa... Era um inferno, tudo que estava vivendo!
Anna semicerra os olhos e a fito.
_ Me chame do que quiser, e você tem razão... Eu te traí! — Solto a
respiração acelerada. — Mas isso não existia mais... Nós dois não
tínhamos mais nada, desde...
— Desde que seu filho morreu! Não foi? Era o bebê que você tanto
sonhou! MAS A CULPA É SUA! SUA! VOCÊ SABE QUE O MATOU, E
COMEÇOU A SE CULPAR, DE DENTRO PARA FORA!
Sinto o impacto das palavras e fecho os olhos.
— VOCÊ NUNCA VAI SER FELIZ! NUNCA! VOCÊ E AQUELA
MULHERZINHA ORDINÁRIA!
— Eu a amo...
Ela para, me encara e cerra o maxilar, como se não tivesse ouvido o
que acabei de falar. Se senta no sofá, com a mão no peito e fecha os
olhos.
— Vo...cê... Você...
— Eu a amo. — Torno a repetir e ela dá um sorriso.
Não. Ela gargalha.
Gargalha sonoramente, fazendo os ombros sacolejar, e continuo
parado, a olhando balançar a cabeça.
Vejo a porta se abrir e Letícia e Michael entram, os dois me fitam e
voltam a encarar Anna, que limpa o rosto me olhando.
— Annabell...
— Ele a ama. — Volta a rir, enquanto sua mãe a olha. — Ele disse
que ama a amante... Ele ama, a amante...
— Anna...
— Ele a ama... — Ainda ri, balançando a cabeça. — Meu Deus...
Ele ama aquela mulher... Ouviu, mamãe? Ele a ama...
— O que você fez com a minha filha? — Letícia dispara e nego
devagar.
— Eu vou entrar com o pedido de divórcio.
— Otávio...
— Ele a ama... — Anna repete e as lágrimas voltam a descer pelo
rosto. — Ele a ama... Ele a ama... Ele a ama...
Michael me fita e desvio o olhar do seu.
— Sobre Luíza...
— Você não vai mais chegar perto dela! — Anna me encara,
limpando o rosto. — Nunca mais vai vê-la! Ouviu? Nunca mais!
— Você sabe que não pode me proibir disso.
— Mas vou! Acha que vai ficar com aquela mulher, SOB O
MESMO TETO DA MINHA SOBRINHA?
— A guarda da Luíza é tão minha, quanto sua...
— Ela é minha sobrinha! Meu sangue! ELA NÃO TEM NADA
SEU! NADA!
— Calma, meu amor! — Letícia pede, a segurando.
— Vamos resolver isso na justiça, se for preciso.
— Otávio, não acha que já fez demais? Olhe o estado em que minha
filha está! Chega! Já chega! — Letícia me olha e Anna arfa, se soltando
da mãe.
Ergue o queixo, me olhando.
— Está pronto para fazer uma escolha? Ou Luíza, ou a sua amante!
Nego devagar, trincando o maxilar.
— Aquela ordinária vai me pagar caro por tudo... Não é Michael?
— Anna o chama e ele a encara.
— Ela quer dinheiro! Ela quer se vingar... É isso que ela quer... —
Letícia sorri. — Não percebeu? Essa mulher entrou em nossas vidas,
para se vingar...
— Vocês se merecem. — Os encaro e viro de costas para sair desse
ambiente, que me sufoca por inteiro.
Paro, me virando novamente, os olhando.
— Eu não vou abrir mão de Luíza. Dela não.
— Você vai me pagar, Otávio! Eu juro que vai... Você vai me pagar
caro por essa traição! Por isso... Eu vou destruir vocês dois!
— Você já fez isso comigo. — Digo em um sussurro.
— Eu vou te causar uma dor, que você não faz idéia do que...
— Anna! — Letícia a chama e ela para, me olhando. — Pare!
— Você me causou a pior delas, a culpa pela morte do meu filho.
— Eu vou destruir ela... Eu vou ACABAR com ela... Eu juro...
Saio, batendo a porta com um estrondo alto.
Engulo em seco e fecho os olhos. Ouço os passos atrás de mim e me
viro, encarando Michael parado.
— Eu preciso ver a minha filha, Otávio. Eu preciso falar com ela.
O encaro fixamente.
Como eu nunca percebi a semelhança?
Os olhos são os mesmos. O rosto lembra muito o dele.
Cerro os punhos e fico o observando.
Ele trava a respiração e permanece me encarando. Sinto tanta
vontade de socar a cara dele.
— Eu quero vê-la. — Torna a repetir. — Sei que ela não quer me
ver... Mas eu preciso. Ela era muito jovem para entender o que
aconteceu na época...
— Você não vai ver ela, se depender de mim! Não vai na empresa
vê-la, muito menos chegar perto de onde ela mora! Eu espero
seriamente, Michael, que a deixe em paz.
— Ela é minha filha! Eu preciso vê-la... Você não vai me julgar,
porque está fazendo o mesmo...
— Não me compare a você. Nunca mais na vida. — Cerro os
punhos e ele me fita. — Você tirou tudo que elas tinham, você as deixou
a própria sorte... Uma criança e uma adolescente!
— Letícia precisava de mim! Mais do que... Do que Vivian.
— Você tem idéia do que a Mikaella passou? Você deixou duas
crianças a própria sorte, Michael! Você não sabe a marca que deixou em
Mikaella. O peso de uma casa nas costas! Tudo isso por uma família que
não é sua! Que não faz parte de você!
Ele chega perto de mim, me encarando e sinto meus batimentos
acelerarem no peito, a veia do meu pescoço pula e ele passa a mão
pelos poucos cabelos.
— Você tirou tudo delas, Michael, tudo... Então não, você não vai
chegar perto dela!
Abro a porta do carro, enquanto ele continua me encarando. Entro e
aperto o volante nas mãos, saindo com arranque.
Sei que as coisas vão ficar mais difíceis e que Anna vai me atingir
onde mais doía. E como dói dentro de mim.
Ouvi-la me culpar pela morte de Ben, é como um soco no estômago.
Fecho os olhos, suspiro e balaço a cabeça devagar.
◆◆◆

— O que está te deixando assim? — Me viro, olhando-a entrar no


quarto.
— Assim como, Anna? — Indago e ela engole em seco.
— Nós éramos tão felizes...
— Anna... — Sussurro, enquanto ela se aproxima e espalma a mão
em meu peito.
— Onde erramos, em? Eu imaginei um futuro lindo para nós dois.
Uma casa cheia de crianças lindas. Uma família perfeita, mas hoje
não temos mais isso. Acabou tudo, Otávio, todos os sonhos se foram
junto com nosso bebê.
Ela chora baixo e um nó se forma em minha garganta.
Faz poucas semanas da morte de Ben, e eu não sei como fazer essa
dor amenizar.
Nada faz parar. Nada.
— Lembra que você tinha o sonho de morar na praia, e eu falava
que era uma loucura... Que a cidade é muito melhor. Hoje, Otávio, eu
daria tudo de mim, para morar onde você quisesse, Marte, praia, neve,
qualquer lugar, Sendo que esteja comigo.
Segura em minha camisa, enterrando o rosto em meu peito.
— Eu não consigo mais, Anna... eu não consigo...
Suas íris brilham e ela me fita, balançando a cabeça.
— Me perdoa, Otávio. Me perdoa...
— Pelo que, Anna? Não tem um culpado por essa fatalidade! Ben
se foi... — Me afasto, sentindo o aperto no peito e a garganta
sufocada. — Ben se foi!
— Me perdoe... Eu... Eu não podia... Eu...
◆◆◆
Abro a porta da casa dos meus pais e os dois me encaram, assim
que entro. Leon e Lucy estão sentados de frente para mim, engulo em
seco e vou até minha mãe, e dou um beijo.
— Oi, meu amor.
— Papai...
Ele assente devagar, se ajeitando na poltrona. Me sento, os olhando
e franzo o cenho.
— Acho que não preciso falar o que está óbvio. — Os fito
suspirando. — Sei que não foi o certo. Vocês sabem que meu casamento
com Anna há muitos anos não estava mais dando certo.
— E você prolongou o divórcio. — Papai fala.
— Quando falava em divórcio, a Anna caia no chão igual criança
birrenta. — Leon dispara.
— Leonel. — Mamãe o repreende.
— Leon tem razão, mamãe. — Lúcia me olha.
— Você está gostando dessa moça, meu filho? — Meu pai me encara
e assinto.
— Estou. — Assinto. — Estou disposto a pagar o preço que for,
mas eu vou ficar com ela.
— Sabe que esse preço incluí a Maria Luíza...
— Luíza é minha filha, e eu não vou abandona-la, papai. Nunca. —
Digo, o olhando. — Anna me proibiu de vê-la...
— Óbvio que ela ia fazer isso. — Leon revira os olhos.
— Vou entrar com o pedido de guarda compartilhada. Mas jamais
vou deixar Luíza. Jamais. — Vejo-o assentir devagar e mamãe sorri de
lado.
Não vou abandona-la nunca.
— É isso que você quer, Otávio? — Mamãe indaga.
— É. É ela que eu quero.
Leon sorri, me olhando.
— Vamos respeitar sua decisão, mesmo não concordando com a
forma que tudo isso começou. — Meu pai se ergue devagar. — Só peço
que tenha cuidado, e cautela...
— Eu terei, papai.
— Está livre daquele encosto. — Leon abre os braços.
— Ela estava fora de si. — Lúcia nega, se levanta e franze o cenho.
— Isso é um tapa em seu rosto?
Passo a mão e assinto.
— Meu Deus... — Mamãe me olha.
— Está tudo bem. — Solto um pigarro.
A abraço levemente e dou um beijo em sua testa.
& Eu só quero a felicidade de vocês três. Quero ver todos os meus
filhos bem. Apenas. — Papai sorri e suspira.
— Ah, papai... — Lúcia o abraça. — Nós amamos vocês.
Conversamos por alguns minutos, mas não consigo tirar Luíza da
cabeça. Ela provavelmente deve estar na casa de Natan.
Mas eu não vou desistir de vê-la, de ter ela comigo. Isso, jamais.
Subo as escadas e vou para o quarto de Leon. Ele me encara e
engulo em seco, passando as mãos pelos cabelos.
— Como está a ruiva?
— Ela está bem, ficou com a amiga dela no apartamento.
— A gostosa? — Indaga sorrindo.
— Eu vou entrar em contato com um advogado. Dar entrada nos
papéis do divórcio e na guarda de Luíza.
— Justo. Posso falar com um advogado...
— Faz isso.
Me sento devagar e ele me encara.
— O que foi? — Leon me fita e nego com a cabeça, passando as
mãos pelos cabelos.
— Anna mais uma vez me culpou pela morte do Ben... Ela sabe o
quanto isso é...
— Ela fiz isso para te quebrar! Demoníaca! — Esbraveja,
balançando a cabeça.
— Você lembra da noite em que... Em que o médico falou a causa da
morte fetal? Ele falou algo... De morte suspeita? Você lembra?
Aquilo ainda está em minha cabeça.
Leon franze o cenho.
— Não. Morte suspeita? De onde tirou isso?
— Eu vi uns papéis, laudos médicos... Estava escrito morte
suspeita. — Suspiro e arfo. — Deve ter sido outra coisa, não sei.
Ele continua me encarando.
— Eu vou viajar com a Mikaella. Mas preciso ver a Luíza antes.
— Vai viajar? — Lúcia aparece na porta, nos olhando.
— Quem te chamou, em Magrela?
Lúcia revira os olhos e entra.
— Vai viajar? Volta a me encarar, ignorando Leon.
— Vou.
— Preciso dar um tempo para Mikaella. Michael vai colocar
pressão, e sei que Anna também. — Digo, a olhando.
— Vão para onde?
— Não sei. Acho que vamos para Miami. Ainda temos uma casa
lá...
— Praia, sol e mar... Perfeito para uma lua de mel. — Lúcia sorri.
— Amém, né.
Suspiro alto.
— Eu vou precisar ver Luíza.
— Vamos dar um jeito. — Leon bate em meu ombro. — Agora está
livre daquele entojo.
Balanço a cabeça devagar e sorrio.
— Eu vou mata-la! Eu vou matar aquela mulher...
Ando de um lado para o outro, com as mãos nos cabelos.
Eu a amo.
Eu a amo.
Sorrio, balançando a cabeça.
— Annabell, nesse momento você tem que agir com frieza!
— Dane-se a frieza! Dane-se, ELE A AMA! ELE A AMA,
MAMÃE... ELE DISSE QUE A AMA... ELE DISSE... — Berro, pego
um vaso e atiro na parede.
Mamãe sobressalta quando os estilhaços caem no chão.
— Calma! — Segura em meus braços. — Calma...
— EU QUERO ELE! EU QUERO ELE AQUI... AQUI... — Me
desvencilho, arfando, sentindo o peito apertado.
Eu a amo.
O ódio me golpeia de dentro, para fora.
As palavras rodeiam em minha mente, e a raiva... A raiva vem pura,
fazendo meu sangue ferver.
Eu esperei. Esperei ele vir. Esperei ele voltar.
E ele estava com ela.
Vagabunda.
— Anna...
Me viro e vejo mamãe me encarar.
— Ele estava com ela, todo esse tempo... Embaixo do meu nariz!
Aqui, embaixo do meu nariz, mamãe... Ele estava com ela! — Engulo em
seco e me sento.
— Minha filha, não vai adiantar ficar nesse estado. Vamos pensar
com calma.
Levanto rindo e balançado a cabeça.
— Ele não vai ficar com ela. — Repito.
— Claro que não, amor. Acha que aquela mulher chega ao seus pés?
Você é linda, Anna. Linda.
— Eu sou linda. — Pisco, enquanto ela afaga meu rosto.
A porta do quarto se abre e Nathan entra, junto de Gaia.
— Como você está? — Meu irmão beija minha testa e o encaro.
— Otávio esteve aqui e confirmou o que já sabíamos. Ele está com
aquela mulher.
— Ele não vai ficar com ela. Ele vai voltar para mim... Ele me ama.
— Sorrio, olhando meu irmão.
— Será que pode ao menos uma vez, entender que ele não ama você,
Anna? Minha irmã, isso já deu! Chega!
— Você quer que eu dê meu marido, de bandeja para aquela mulher?
EU NÃO VOU! ELA ROUBOU ELE DE MIM! ELA ROUBOU MEU
MARIDO!
— Ele foi porque quis, Annabell! Pelo amor de Deus, coloque isso
em sua cabeça! — Nathan fala, mas nego.
— Não... Não e NÃO! ELE ME AMA... DIGA, MAMÃE... DIGA
QUE ELE ME AMA E VAI VOLTAR...
— Mamãe, não compactue mais com essas loucuras. Deixe esse
verme ir embora!
— Ele é meu marido! Meu! _ Bato no peito e Gaia me fita. — Não
é, Gaia? Ele não vai me deixar... Você sabe que ele me ama...
— Anna... — Segura minhas mãos e aperta.
Olho para a barriga arredondada e sorrio. Espalmo a mão e ela me
olha.
— Você vai ter um bebê. — Sussurro baixo. — Eu tinha um bebê...
Mas eu...
— Annabell! — Sinto mamãe colocar as mãos em meus ombros. —
Minha filha...
— O que é o bebê? — Pergunto a Gaia, que olha para Natan.
— Um menino, Anna. Nós te falamos.
— Um menino... — Sorrio devagar, os olhando. — Qual o nome?
— Noah, Anna.
— Noah... — Repito baixo.
— Amor... Acho que precisa descansar...
Franzo o cenho, com a mão no peito.
— Se tivéssemos um bebê, ele nunca ia me deixar. Ele ia ficar
comigo para sempre. Era isso que ele queria... Um filho.
— Ele não quer você nem com filho e nem sem, Anna! Otávio não
ama você! Coloque isso de uma vez por todas em sua cabeça! — Natan
berra.
Não temos um filho. Não temos...
— Onde está Luíza? — Indago.
— Está lá no quarto, a trouxemos para pegar algumas roupas.
Abro a porta do quarto e saio pelo corredor. Vejo a porta aberta e
entro, olhando-a sentada na cama com a mochila nas mãos.
— Eu vou morar com tio Nathan agora? — Diz baixo e ajoelho a
sua frente. — Não vou mais ficar aqui?
Sorrio tristemente, olhando-a.
— Você não me quer mais, tia? Vai me deixar?
Limpo as lágrimas, que começam a descer pelo seu rosto.
— Eu nunca vou deixar você. Nunca. Eu te amo, minha princesa...
Muito.
— Então, por que tenho que ficar com o tio Nathan? — Funga baixo
e seguro em suas mãos. — Tio Otávio disse que vinha me ver...
_ Ele me disse que não quer mais te ver.
Ela arregala os olhos.
— Ele não vai me deixar não, tia Anna. Ele disse que ia embora,
mas ia vir me ver...
— Ele mentiu, Luíza. Ele veio aqui hoje e disse... Que não quer
mais ver você. Ele me deixou e está te deixando também.
— Tia Anna...
— Ele está com outra mulher, Luíza. Está com outra mulher.
Ela me encara e engulo em seco, segurando em suas mãos.
— Tio Otávio disse que não ia me deixar. Ele não vai, tia... Ele vai
vir me ver...
— ELE TE DEIXOU! — Berro e vejo-a da um sobressalto. — ELE
TE ABANDONOU, COMO FEZ COMIGO! OUVIU?
Luíza me encara, balançando a cabeça.
— Anna, pelo amor de Deus! — Mamãe entra correndo, junto de
Nathan e Gaia.
— ELE DEIXOU VOCÊ! ELE NÃO QUER VOCÊ!
Luíza se agarra a Gaia, chorando sonoramente.
— Anna, pare! Meu Deus! Pare...
— Chega! Olha o que está fazendo!? — Nathan me fita.
— Eu menti? Otávio nos deixou! Ele te deixou, igual fez comigo...
Ele... — Sussurro e o empurro, me desvencilhando.
— Vovó! — Luíza a chama.
— Meu amor, vamos conversar depois.
— O que está acontecendo? — Michael aparece e o encaro.
— Michael... Michael... — O abraço, sentindo-o me segurar. — Ela
o levou de mim... Ela o levou...
— Calma, minha filha. Calma, amor. Eu estou aqui. — Diz afagando
meu rosto.
O abraço, sentindo o aperto forte. Vou para o meu quarto e fico
andando de um lado, para o outro, com as mãos enfiadas nos cabelos.
Eu a amo.
Eu a amo.
— Ele ama a mim... A mim... Ele ama a mim... — Repito rindo. —
Ele não vai me deixar... Ele não...
— Anna. — Mamãe abre a porta do quarto. — Minha Filha.
— Eu não me livrei daquela criança demente, por nada, mamãe.
Eu... Não nadei até aqui, para morrer na praia.
— Você assinou sua sentença, minha filha... Quando tomou aquela
decisão! Poderia ser tudo diferente! — Esbraveja. — Você afastou seu
marido...
— Cale a boca, mamãe! — Berro, olhando-a.
Mas ela tem razão. Tudo poderia ter sido diferente.
Meu casamento. Minha vida. Meu Otávio!
Ando de um lado para o outro, tentando pensar em um forma de
acabar com isso. Acabar com tudo.
— O que pretende fazer? — Michael abre a porta e o encaro.
— Você vai me ajudar, não vai? Vai me ajudar, a ter ele para mim,
não vai? — Pergunto, segurando em sua camisa.
— Anninha...
— Por favor, Michael. Por tudo que é mais sagrado, me ajude a me
livrar dela. Por favor...
— O que quer eu faça, Anna? — Michael pergunta, me fitando.
— Quero que mande sua filha para o quinto dos infernos! Quero que
se livre dela! Que a leve para longe... Por favor!
Minhas mãos tremem sem parar e sinto um nó na garganta, capaz de
me sufocar a qualquer momento.
Eu não vou perde-lo.
Não depois de tudo.
Otávio é meu. E vai continuar sendo, ou não me chamo Annabell
Perrot.
— Se você não sair daí em um minuto, eu vou entrar, Mikaella!
Liana berra do outro lado da porta, mas continuo me olhando no
espelho, mordendo o lábio. Estou segurando o palitinho, nas mãos
trêmulas. Estou nervosa e com medo. Muito medo.
A probabilidade de estar grávida, me paralisa de uma forma
absurda. Mas os sinais estão aqui. Os desmaios, as tonturas, a fome sem
tamanho...
— Estou indo, Lia! — Falo, tentando manter a calma, e olho o
frasco com xixi.
Só colocar o palitinho, apenas.
Apenas.
Coloco devagar dentro, abro a porta e saio rapidamente. Lia está
andando de um lado, para o outro, mas para assim que me ver.
Eu ainda estava tremendo, quando ela voltou da rua, segurando o teste,
então simplesmente travei, em seguida.
— O que vou fazer, Lia? — Pergunto, a abraçando.
— Calma, Mia. Vai dar tudo certo. Eu estou aqui. Eu sempre vou
estar aqui.
— Estou com medo. — Admito em um sussurro.
É realmente estou. Com muito medo.
Tudo parece está acontecendo ao mesmo tempo. O mundo prestes a
desabar em minha cabeça. Engulo em seco e me sento na cama, Liana
continua por perto.
— O que vou falar para ele, Lia? — Mordo os lábios e ela me
encara.
— Já está feito. Não tem o que fazer...
— E se ele achar que engravidei de propo...
— Mikaella, presta atenção. Ele não vai achar isso.
— Ele perdeu um filho, Liana! Ele...
Passo as mãos pelos cabelos, balançando a cabeça.
— Esses minutos que não passam. — Lia diz batendo o pé no chão.
Sinto o celular vibrar e o pego. É uma mensagem dele.
Está tudo bem?
Mordo os lábios.
Vendo se estou esperando um filho seu.
Digito rápido, com os dedos ainda trêmulos.
Sim. Estou.
Desligo a tela, mordo os lábios e volto a encarar Lia. Me levanto,
sentindo o estômago revirar, o coração acelerar e as mãos suarem, mais
que tampa de chaleira.
— Vai... Já deu os minutos. — Lia avisa.
Entro no banheiro de olhos fechados e sem olhar, pego o palitinho e
ergo devagar. Consigo sentir as batidas frenéticas do coração.

Grávida 3
— E aí, Mikaella? — A voz de Lia vai ficando longe e apenas sinto
as
lágrimas queimarem meus olhos.
— E-eu... E-estou... Estou...
— Grávida. — Lia sorri, me olhando — Você está grávida. Ah, meu
Deus!
Meu Deus.
Saio do banheiro com as mãos nos cabelos, balançando a cabeça.
Meu coração palpita forte, fazendo minha garganta se fechar.
— Eu vou pegar uma água...
Um bebê. Eu vou ter um bebê.
O que eu vou falar?
Meu Deus. O que eu vou fazer?
Seguro o copo com água, bebericando devagar. Sinto o medo se
apossar de mim e as lágrimas queimarem, enquanto Lia me abraça e
choro.
— Liana...
— Mia... — Ela sussurra, afagando meus cabelos. — Amor, eu
estou aqui. Vai ficar tudo bem...
— Se ele não quiser, Lia... Eu... Não sei o que fazer.
— Você tem a mim. Você sempre vai ter a mim, Ruiva. Eu estou
aqui. — Segura meu rosto e limpa as lágrimas, que descem
copiosamente.
— Você vai ser mãe... — Espalma a mão em minha barriga rindo e a
abraço.
— O que seria de mim, sem você, Li?
Fecho os olhos e suspiro.
Almoçamos juntas, algo rápido que Lia preparou. Otávio está
resolvendo algo com Leon e vai vim mais tarde. Passei o resto do dia
tentando colocar a cabeça no lugar.
Mas ela parecia estar em qualquer lugar, menos comigo.
Penso em Michael. Na minha irmã, e agora no meu...
— Quer um sanduíche? — Lia diz, me olhando.
— Quero, vou tomar um banho. — Assinto e ela sorri devagar.
Entro no banheiro e fico me olhando no espelho. Balanço a cabeça e
tiro a roupa, me jogando embaixo do chuveiro.
Fico por longos minutos só deixando a água rolar pelo meu corpo,
então desço a mão para a barriga imperceptível.
— Eu não sei quem está aí dentro, e nem sei como vai ser. Mas...
Estou com medo.
Mordo o lábio.
— Fica quietinho, até eu ver como vamos contar.

— Eu sou muito boa no inglês Mia, a melhor de toda minha


turma. — Sorrio ao ouvir a empolgação de Gaby do outro lado da linha.
— Eu sei que sim... Você sempre foi boa em tudo. — Beberico o
suco e Lia sorri. — Estou com saudades.
— Eu também. Com muita saudades. Você está bem?
— E-estou. — Sinto a voz embargar e fecho os olhos. — Vou
precisar desligar. Boa noite...
— Boa noite, Mia. Amo você. Muito. Muito.
Sorrio devagar.
— A mana também te ama. Diga a tia, que amanhã ligarei de novo.
Um beijo.
Ela se despede e desligo a chamada, me sentando no sofá.
— Não tive coragem de falar para minha tia sobre... Tudo. — Dou
de ombros e Liana me encara.
— Vai com calma, tá?
— Muita calma. — Suspiro e termino de tomar o suco de maracujá.
Estamos na sala, vendo uma série de médicos, com mais de quinze
temporadas, que Liana ama assistir, e mesmo tendo assistido alguns
episódios, eu não consigo me concentrar.
Otávio deve estar vindo e eu tenho que juntar o resto de coragem,
para contar.
Me remexo no sofá e Lia sorri.
Olho para a porta, que se abre devagar e ele entra, carregando
algumas sacolas nas mãos. Me sento, o olhando e Liana faz o mesmo.
— Meninas. — Diz baixo.
— Oi... — Respondo.
— Liana.
— Otávio. — Ela solta um pigarro e se ergue. — Eu... Vou para
casa.
Ela sorrir enquanto pega a bolsa.
— Obrigado por ter cuidado dela. — Ele beija minha testa, a
olhando.
— Amigas são para essas coisas. — Lia sorri de lado, me aproximo
e a abraço, quando ela sussurra. — Amo vocês.
— Eu também amo você.
— Até mais, Liana.
— Até. Boa noite. — Acena e a deixo na porta. — Qualquer coisa
me liga.
— Prometo. Boa noite. — Jogo um beijo e ela repete o gesto, saindo
em seguida.
Olho para Otávio assim que fecho a porta, ele abre os braços e me
aproximo, sentido o aperto forte.
O cheiro do perfume me invade e ergo o rosto, o olhando. Dá
sorriso de lado e os olhos brilham, me encarando enquanto balanço a
cabeça.
Impressionante, como minha vida mudou depois de conhecê-lo.
— Como está?
— Bem. — Espalmo minha mão sobre o corpo musculoso e ele a
segura, beijando-a.
— Estava resolvendo uns assuntos com Leon e Lúcia. Da empresa.
Assinto.
— Vamos viajar amanhã.
Arregalo os olhos e ele segura em meu queixo.
— O quê?
— Tenho umas coisas da Perrot, para resolver em Miami, então
pensei que fosse uma boa ideia irmos, ficar um pouco longe de... Tudo.
— Diz baixo e franzo o cenho. — Vão ser só três dias. Leon vai cuidar
de tudo.
Mordo o lábio, vendo os olhos azuis me encarar.
— Ele falou com você? — Pergunto.
Vejo o maxilar cerrar e engulo em seco quando ele assente devagar.
Sinto um arrepio passar por todo meu corpo.
— Ele quer falar com você.
— Eu não quero falar com ele. — Digo rapidamente. — Não quero.
— Amor, olha para mim. — Otávio segura em meu rosto, me
fazendo olha-lo. — Eu sei o quanto é difícil. Mas não vai falar com ele,
se não quiser.
— Não quero. — Repito, sentindo meus olhos encherem de
lágrimas.
Ele me encara com o maxilar rígido e mordo o lábio.
— Ele não vai encostar um dedo em você. Eu te prometo, amor. —
Beija minha testa devagar e fecho os olhos, segurando em sua camisa.
Vejo-o sair do banheiro com a toalha enrolada na cintura, o
abdômen trincado, com algumas gotículas de água escorrendo pela pele.
Desço os olhos devagar e ele me encara.
— Está calada, ou é impressão minha? — Indaga com o cenho
franzido.
Vamos ter um bebê!
— Cabeça cheia. — Falo e ele deita ao meu lado. — E você? Está
calado, ou é impressão minha?
Viro o rosto de lado e os olhos azuis me fitam, vejo-o engolir em
seco e negar devagar.
— Preciso ver Luíza antes de viajar. Preciso explicar para ela...
Assinto devagar e ele suspira, fechando os olhos.
— Está com medo dela não entender?
— Estou com medo do que Anna pode falar para ela. — Sua voz sai
rouca. — Não quero que ela pense que estou a abandonando.
— Você não fez isso. — Seguro em sua mão.
Dá para ver o quanto ele a ama, e é tão raro ver um amor tão puro,
sem ser por um laço sanguíneo. Acho que nem Michael me amou dessa
forma.
— Vou entrar com um pedido de guarda compartilhada. Não posso
deixa-la... Entende? — Indaga e percebo seus olhos marejados e a voz
embargada.
O fito e me sento em seu colo rapidamente. Acho que ele discutiu
com Anna.
Acaricio seu rosto, vendo-o me olhar.
— Luíza deve ter muito orgulho de você... — Sorrio, passando os
dedos por sua barba.
— Não posso falhar com ela.
— E você não vai. — Falo com firmeza.
— Vai fazer um ano que meu filho morreu... E ela foi a pessoa que
me tirou do poço em que me afundei, Mikaella. — Fixa os olhos aos
meus. — Ela é a filha que eu não tive... Ela é parte da minha vida.
— Você é um ótimo pai, sabia? Good Sorrio, passando o polegar
por uma lágrima, que desce rolando.
Nega devagar.
— Seria para o seu filho, assim como é para Luíza...
Os olhos azuis vão ficando escuros e a pupila dilata, as mãos
grandes em minha cintura, apertando-a e seguro em seu rosto.
— Eu amo você, Ruiva. — Sinto o roçar dos lábios contra os meus
e sorrio, esfregando o nariz ao seu.
Meu corpo reage instantaneamente, com uma corrente elétrica se
apossando dele. Um arrepio intenso me toma.
Espalmo a mão em seu peito e sinto o coração bater descontrolado.
— Eu também te amo.
As mãos apertam minha cintura e arfo contra os lábios, sentindo a
língua pedir espaço. Enfio os dedos nos seus cabelos, os puxando e
colando nossas bocas.
Os gemidos soam baixos, quando ele passa a dar beijos demorados
em meu pescoço, passando a língua e mordendo de leve.
Com a ponta dos dedos, brinco com sua pele. Seguro em seu queixo,
sentindo as mãos deslizarem até tirar a sua blusa, que está em meu
corpo. O olhar faminto, vai diretamente para os meus seios, que se
revelam. A língua afunda em minha boca, me fazendo soltar um gemido
rouco e abafado.
Os dedos passeiam pelo meu corpo, sinto afundarem no tecido da
calcinha e afastar gentilmente, sorrio ao sentir os dedos deslizarem.
— Eu amo esse jeito que você está sempre pronta... — Me encara e
mordo o lábio, quando ele penetra fundo o dedo em meu interior.
— Otávio.... — Gemo devagar, sentindo a invasão excitante.
Me segura, me deitando sobre a cama, o encaro e ele toma meus
lábios com voracidade. A boca descendo pelo meu pescoço, beijando e
fazendo a língua serpentear pela pele.
Arqueio as costas, sentindo os lábios envolta do bico enrijecido e
passar a língua lentamente em volta dele. Meu corpo inteiro se arrepia e
pendo a cabeça para trás, soltando um gemido rouco.
E cá estamos nós, a toalha foi arrancada e minha calcinha tirada com
uma urgência, assim como o tesão que está em nossos corpos.
Sinto a ereção, que baba, esfregando na entrada pulsante e cravo as
unhas em seu ombro quando ele penetra fundo, me fazendo gemer contra
os lábios, que se apossam dos meus em uma rápida estocada.
Forte. Rápido. Duro.
O corpo se choca contra o meu, minhas pernas entrelaçadas em seu
quadril, abraçando-o, e o sinto ir fundo, me abrindo em cada arremetida
brusca.
Os olhos presos aos meus, a boca entreaberta junto da minha.
Nossas respirações ofegantes, misturadas uma na outra. Otávio me
aperta e ofego baixo, gemendo.
Agarro em seus cabelos, aprofundando o beijo, sua língua passeia
novamente por toda minha boca e os movimentos se tornam rígidos. Ele
aumenta a velocidade, soltando um gemido rouco e nos agarramos mais
forte, quando os espasmos do gozo se aproximam, o ápice atinge nós
dois com a mesma intensidade.
O encaro franzir o cenho, me olhando.
— Eu amo você. — Cola a testa na minha.
— Também amo você. — Repito.
Fico o olhando passar o polegar pelos lábios e engulo em seco.
Otávio franze o cenho.
Conta logo para ele.
— O que foi? — Indaga baixo.
Nego devagar.
Quero esperar o momento certo para contar.
Fecho os olhos, sentindo-o me beijar, o corpo ainda quente, junto do
meu.

Abro os olhos, me viro e fico olhando Mia, que ainda dorme


tranquilamente ao meu lado. Os raios de sol batem nos cabelos
avermelhados, que estão espalhados pelo lençol.
Beijo seu ombro e ela sorri preguiçosamente, abrindo os olhos.
— Bom dia. — Sussurro, olhando-a.
— Bom dia... — Fala e se espreguiça, revelando a nudez.
Ela ama dormir completamente nua, espalhada na cama e as pernas
em cima de mim. Eu adoro.
O jeito que ressona baixo, dormindo em meu peito, os cabelos
desgrenhados e aquela carinha de menina travessa, até mesmo quando
está em sono profundo.
É linda. Incrivelmente linda.
Vamos viajar depois do almoço, tenho que pegar uns papéis com
Leon, e sairemos juntos. Vamos ficar na casa de praia e vou levar alguns
relatórios para ler.
Tomamos banho juntos e separo algumas coisas para levar. Estamos
na mesa, tomando café da manhã, e Mikaella mal toca na comida. O que
é estranho, já que tem um apetite voraz pela manhã.
— Está sem fome?
Ela me olha pela borda do copo de suco e nega.
— Um pouco. — Diz baixo.- Vou
precisar pegar umas roupas em casa...
— Quer que eu vá com você?
— Não. Eu pego um táxi, vai ser rápido.
Meu celular vibra e o nome de Leon aparece na tela, atendo
rapidamente.
— Pode vir aqui na casa da mamãe rapidinho? Tem alguém
querendo falar com você.
— Está tudo bem? — Pergunto e mordo o lábio.
— Mais ou menos. Vai ser rápido.
Me ergo, desligo o celular e encaro Mikaella
— Está tudo bem? — Pergunta.
— Leon pediu para eu ir até a casa dos meus pais. Deve ser alguma
coisa importante...
Ela me encara, mordendo o lábio.
— Se Leon ligou, deve ser importante mesmo.
— Quer que eu te deixe em casa?
— Não. Eu chamo um táxi, vai ser rápido.
— Mia...
— Vai ficar tudo bem. Eu ligo para a Lia e ela vem. Ta? Vá.
— Vou estar com o celular ligado, promete que liga?
— Prometo. Agora vai.
Dou um beijo rápido e saio em disparado.
Para Leon ligar assim, deve ser algo muito grave. Arranco com o
carro e em minutos, estou estacionando em frente a casa dos meus pais.
Salto do carro e subo os degraus de dois em dois, abro a porta e
rapidamente todos me olham.
Engulo em seco quando vejo Gaia se levantar, mas Luíza continua
sentada.
— Desculpe vir até aqui, mas eu... Precisava falar com você. —
Gaia se explica.
Luíza me encara e sinto uma pontada no peito. Mamãe e papai me
fitam e Leon nega devagar.
— Oi, meu amor. — Sussurro, me aproximando.
Ela se ergue em um salto, assim que me sento ao seu lado e se
aproxima de Leon, que a fita.
— Eu quero ir embora.
— Luíza... — Mamãe a olha e ela a encara.
Os olhos marejados, enquanto nega veemente.
— Que tal eu te levar para comer um pedaço de bolo de chocolate?
— Leon sorri.
— Eu quero ir embora.
— Luíza? — A chamo, mas ele finge que não escuta.
Continua de costas e meu pai pega em sua mão.
— Vamos dar um passeio no jardim com o vovô Oliver? Que tal? —
Ele indaga a fitando.
Ela para e ele sorri, me olhando.
— Vamos, amor.
Sinto um nó na garganta, enquanto ela sai com meu pai, sem nem me
olhar. Levanto com o cenho franzido.
— O que...
Gaia me encara e fecho os olhos, suspirando.
— Anna está fora de controle, Otávio. Eu nunca a vi assim. Você a
conhece há muito mais tempo do que eu... Mas ela está fora de si. —
Gaia morde o lábio, negando veemente. — Parece que ela não domina
mais seus atos...
— Ela fez alguma coisa com a Luíza?
— O óbvio. Deve ter enchido a cabeça da menina com mentiras e
manipulações. — Leon dispara. — Olhe o estado em que Luíza está.
— Gaia, o que ela fez com a Luíza? — Pergunto novamente e ela
baixa os olhos, enquanto a mão acaricia a barriga já aparente.
— Eu amo a minha cunhada, e sei que o término de vocês não está
sendo fácil para ela. Mas eu estou... Estou com medo do que ela pode
fazer para chamar sua atenção, Otávio. Ela anda agressiva com todos,
aos berros e...
— O que ela fez, Gaia?
— Otávio, meu filho, você ficar nervoso não vai adiantar muita
coisa. — Mamãe se aproxima me olhando. — Calma.
— Anna falou coisas horríveis a ela. Mas eu sei do seu amor por
Luíza. Sei o quanto ela o ama e você a ela...
Fecho os olhos demoradamente e puxo o ar.
Óbvio que Gaia veio sem o conhecimento deles. Ela mesma me
confirmou que falou que ia fazer um passeio com Luíza para comprar
umas coisas para o bebê que espera.
Claro que Anna vai fazer de tudo para me separar dela.
É óbvio.
Eu estava acabado por dentro, com tudo isso. Em ver a raiva e o
medo do abandono no olhar de Luíza.
— Temos que decidir o que é melhor para ela, nesse momento. Vou
falar com Nathan.
— Vocês precisam é internar essa maluca, psicótica! Essa mulher é
louca, pirada. — Leon rebate. — Hospício para ela.
— Eu vou entrar com o pedido de guarda compartilhada. Mas se for
preciso, eu peço a guarda unilateral. — Disparo, sentindo a veia da
garganta saltar. — Ela não vai tirar Luíza de mim!
— Otávio... — Mamãe começa, mas nego.
Gaia assente, me olhando.
— Faça o que for melhor para ela. Eu preciso ir agora...
Fito-a morder o lábio devagar.
— Me deixe ter um minutos com ela, por favor. — Peço baixo e ela
me encara.
— Claro.
— Vamos nos sentar, Gaia. Tome um café comigo. — Mamãe chama
tranquilamente.
Leon me olha e bate em meu ombro devagar. Suspiro e vou para o
jardim, olho meu pai sentado em um dos sofás da varanda, próximo ao
jardim. É um dos seus lugares preferidos da casa.
Está sentado ao lado de Luíza, enquanto conversam algo.
Ele se vira devagar me encarando e ela faz o mesmo, fechando o
semblante de imediato.
Meu pai diz algo e se ergue, franzo o cenho e engulo em seco, me
sentando assim que ele sai. Luíza nem se mexe. Continua balançando as
pernas.
— Luíza... — A chamo, mas ela vira o rosto para o outro lado. —
Você pode olhar para mim...
Continua com o rosto virado.
Percebo o queixo tremer devagar e suspiro, segurando em sua mão.
— Maria Luíza, olhe para mim.
Seguro em seu queixo, viro seu rosto devagar, fazendo ela me olhar.
As lágrimas descem por seu rosto e sinto a pontada no peito.
— Meu amor...
— Você mentiu para mim. Você mentiu... Mentiu, quando disse que
não ia me deixar! — Começa a falar, tropeçando nas palavras, entre os
soluços que escapam. — Mentiu para mim.
— Eu não menti para você, Luíza. Eu nunca vou deixar você.
— Vai sim. Já está me deixando! Está com outra mulher. Vai ter
outra casa e vai me deixar! Você prometeu... Você jurou... Jurou, tio
Otávio, que não ia me deixar!
— Eu não te deixei, meu amor. Eu não te deixaria nunca. Por nada.
— Seguro em suas mãos e ela nega veemente.
Puxa suas mãos das minhas e se afasta.
— Você deixou a tia Anna, por outra mulher?
A encaro fixamente.
— Luíza... Você é muito jovem para entender...
— Ela vai tirar você de mim, também. — Balança a cabeça
veemente. — Vai tirar você de mim, igual fez com a tia Anna... E você
vai me deixar...
Chora, negando veemente, enquanto a abraço devagar. Ela demora
alguns segundos para retribuir, mas quando o faz, se agarra em mim e me
aperta. Afago seus cabelos e beijo o topo de sua cabeça.
— Meu amor, eu amo você. Eu amo você, mais do qualquer coisa
nessa vida, Luíza. — Sussurro depois de alguns minutos em silêncio.
O choro diminui e ela funga, ainda agarrada em mim.
— Eu nunca vou te deixar, eu juro pelo que quiser... Por tudo que
quiser... Eu amo você, meu amor. E nunca vou abandonar você. Nunca.
Acaricio seu rosto e ela ergue os olhos marejados.
— Tio Otávio...
— O divórcio é entre Anna e eu. Não com você... Você sempre será
nossa filha. Sempre. E não se divorcia de filhos... — Digo e dou um
sorriso.
Ela fica me olhando por um tempo, em silêncio.
— Eu conheci uma pessoa, sim. E ela me faz muito feliz, Luíza. Eu
sei que não vai entender, e não foi certo o que fiz. Mas isso não tem nada
haver com você, minha pequena, ninguém vai me separar de você.
Nunca.
— Eu estou com medo de ficar sozinha.
— Você não está, não está sozinha... Eu estou aqui e sempre vou
estar para você. Por você.
A abraço novamente, acariciando os cabelos levemente.
Ficamos por alguns minutos conversando e a sinto mais tranquila.
Falei para ela que vou fazer uma pequena viagem a trabalho, mas vou
pega-la quando chegar.
Mas antes, vou entrar em contato com os advogados, para resolver
toda a situação, do divórcio e da guarda.
Me despeço de Gaia, que sorri a abraçando e beija sua testa. Luíza
abraça meus pais e Leon que dá um beijo e conversa um pouco com ela.
— Obrigado, por me falar e por ter trago ela. — Agradeço e Gaia
me olha.
— Você é o pai dela, Otávio. Eu precisava avisar. — Diz baixo e
sorrio.
— Obrigado. Pode me ligar, Gaia. A qualquer hora, seja o que for,
em relação a Luíza.
— Eu sei. — Ela assente, olhando para Luíza. — Vamos...
A fito sorrir e seguro em sua mão, apertando-a.
— Assim que voltar de viagem, vou pegar você e te levar para onde
quiser. Vou te ligar... Tá bom?
Assente e a abraço e dou um beijo em sua testa.
— Eu te amo muito. Muito. Muito.
— Eu também...
— Vamos. — Gaia abre a porta do carro e ela entra rapidamente.
A encaro sobre os vidros do carro e seus olhos marejados se fixam
aos meus.
Conforme com o carro se afasta, meu coração vai se apertando e o
sufoco me invade.
— O que vai fazer em relação a isso? — Meu pai me encara assim
que entramos na sala de estar.
— Eu vou ligar para os advogados e vou pedir a guarda dela! Anna
está fora de controle, não vou deixa-la acabar com Luíza!
— Essa mulher é o demônio! — Leon dispara.
Passo as mãos pelos cabelos, arfando.
— Anna realmente está fora de controle. Meu Deus. — Mamãe
abana a cabeça. — Temo por Luíza, e pelo que ela pode fazer...
Passo as mãos pelos cabelos, exasperado.
A cabeça dando voltas, o aperto sufocado no peito e o nó na
garganta.
— Vamos conseguir. Fica calmo. — Leon me encara e suspiro, o
olhando.
Eu estou temendo, nesse momento, apenas pelas duas pessoas que
me importam mais que tudo e sei que ela pode atingir.
Luíza e Mikaella.
Às quase três horas de vôo, foram tranquilas. Viemos no jatinho
particular da Perrot, saímos logo depois do almoço. Vamos passar três
dias em Miami, em uma das casas que minha família tem em uma ilha.
É a calmaria que a gente precisava.
Mikaella está mais calada que o normal. Como se estivesse inquieta
com alguma coisa e sei que os últimos dias estão uma loucura, por que
eu também me sinto assim.
A inquietação e a preocupação com Luíza.
Descemos do carro e ela sorri, tira os óculos de sol, olha ao redor e
suspira. Está linda, com os cabelos soltos e o vestido leve, que mesmo
assim consegue ficar justo ao corpo.
Ela chama atenção, até quando não quer. Seja pelo sorriso largo de
menina, ou pelas curvas do corpo de mulher.
A mansão fica bem afastada, a praia em frente, deixa mais tranquilo,
do que já é. Ficamos aqui nas festas de família e nas férias. Meus pais
adoram.
Mikaella encara ao redor e me olha, suspirando.
— É enorme. — Olha em volta, admirando. — E linda.
Olha a piscina, que rodeia toda a casa. me aproximo e dou um beijo
nela, enquanto sinto as mãos espalmadas em meu peito, acariciando
devagar.
— Não tanto, quanto você. — Digo contra seus lábios.
— Bobo. — Fala, enquanto afago o rosto com a ponta dos dedos.
Fico olhando-a por alguns segundos. Os olhos brilhando, as sardas
no rosto alvo, os lábios avermelhados... Ela é tão linda, que chega a
doer os olhos. E ela me tem. Me tem de um jeito, que nunca pensei que
seria de alguém.
Mikaella sorri, coloca a cabeça em meu peito e afago os cabelos,
beijando sua testa.
— Cansada da viagem? — Indago e ela levanta o rosto.
— Não. Por quê?
— Vamos dar um passeio...
— E se alguém nos ver e... — Para, me olhando.
— Meu amor, eu não me importo com isso. Não entendeu que eu
estou com você, Mia? Que eu quero, e amo estar com você...
— Eu sei. — Acaricia meu peito por cima da camisa. — Eu também
amo estar com você.
— Então que falem, que digam o que quiserem... O que temos, é
nosso. Entendeu?
Assente devagar e beijo os lábios entreabertos.
Entrelaço os dedos aos seus e os beijo.
— Vamos dar um passeio.
— Vamos. — Sorrir abertamente.
Caminhamos pelo local, e ainda me surpreendo com a beleza da
ilha. A água cristalina e tranquila, mexia devagar.
Nossos pés afundam na areia e o vento bate em nossos rostos
enquanto andamos lado a lado, falando sobre assuntos leves e algumas
de suas aventuras.
E ela tem várias.
Parece ter vivido tanto, para alguém de sua idade. Até mais do que
eu, com certeza
Nos sentamos na areia, para ver o pôr do sol, depois de ter andado
por algumas horas. Seus cabelos estão presos em um coque e alguns fios
caem sobre o rosto, que está avermelhado.
— Você conseguiu conversar com Luíza? — Ela pergunta, depois de
alguns minutos em silêncio.
— Consegui. — Me olha, esperando que eu continue. — Ela acha
que a abandonei. Mas eu jamais faria isso com ela.
Volto a fitar o mar a frente e engulo em seco, sentindo os olhos
marejarem e o bolo na garganta me sufocar.
— Eu sei que não... — Sussurra baixo.
Fecho os olhos devagar, sentindo o aperto no peito.
— Daqui a pouco vai fazer um ano que meu filho morreu e isso é
sufocante... Achei que com o tempo, ia amenizar. Mas não ameniza,
Mikaella. — Torno a abrir os olhos e vejo ela me olhar fixamente. —
Você conhece a dor da perda... Ela é terrível. Ela maltrata, de uma forma
que é sufocante.
— Eu sei. — Sua voz embarga e sorrio tristemente.
— Parece que isso nunca vai passar. Eu perdi o Ben, não posso
perder Luíza também.
— Você não vai perde-la. — Limpa o rosto e me olha, enquanto
nego com a cabeça. — Nunca.
Sorrio de lado, olhando-a.
— Acho que não aguento perder mais ninguém, Mia.
Ela balança a cabeça e abre a boca, como se fosse falar algo, mas
para, franze o cenho e sorri levemente, me olhando daquela forma que
faz meu corpo se contorcer, de um jeito que só ela consegue.
— Você não vai perder mais ninguém.
Voltamos para casa logo após escurecer. Ficamos um tempo
sentados, olhando o céu escuro e estrelado. Voltamos com os dedos
entrelaçados e cheios de areia.
Subimos as escadas, indo para a suíte principal, que fica no terceiro
andar. A cama king, toma um grande espaço e tem uma enorme varanda,
que fica de frente para o mar.
Ouço o barulho do chuveiro, me aproximo da porta e me encosto na
mesma, dando um sorriso.
Mikaella está de costas, com a água caindo sobre seu corpo, junto
com a espuma do sabonete, a olho de cima a baixo, sentindo o solavanco
no peito.
A bunda empinada, as pernas torneadas e a barriga lisa, são um
caminho de pecado, que me fazem salivar.
Mas é muito mais, que apenas desejo.
Muito mais, que apenas tesão.
Ela é o conjuto de tudo.
Se vira e me encara por cima do ombro, as gotículas de água caem
sobre seu rosto e a encaro fixamente.
Engulo em seco, sem desgrudar os olhos dos seus um segundo
sequer.
Me aproximo, entro no box e ela se vira devagar. Desço os olhos
pelos bicos dos seios enrijecidos, são tão pequenos e rosados, que
convidam em silêncio. A água desce, os molhando.
A água morna, preenche o ambiente vapor, assim como nós dois em
esquentamos apenas com um olhar.
Me aproximo, rodeio o bico rígido com o polegar e ela morde o
lábio.
Ainda estou de bermuda e pouco me importa mesmo me ensopando,
e não apenas de água.
Estou duro, o pau lateja violentamente, pedindo em súplica por ela.
Em um momento, estou observando-a, no outro, estou embolado em
seu corpo, enfiando a língua em sua boca, enquanto ouço os gemidos
esganiçados que ela dá.
Espalmo a mão na carne macia da bunda e a aperto. Ergo a perna e
coloco em meu quadril, beijando seu pescoço, mordendo a carne do
ombro, enquanto a barba a arranha.
— Minha Ruiva... — Ofego, segurando em seu queixo. — Tem
noção do quanto eu ardo de desejo por você? O quanto eu quero você?
Passo o polegar pelos lábios, entreabrindo-os.
— Você é minha loucura. Minha insanidade, Mikaella.
— Você também é a minha... A minha falta de juízo... — Sussurra
contra meus lábios, arranhando meus braços, enquanto esfrega o nariz ao
meu.
Tomo a boca, arfando e grunhido de desejo. Desço a mão, estalo um
tapa em sua bunda e ela geme, sorrindo e me apertando. Meus dedos
descem e chegam a deslizar pela boceta melada.
Ela se abre e afundo um dedo, que se aconchega no interior. Ela me
aperta e afundo outro, sem tirar a boca da sua, afundando a minha língua.
Esfrego o clitóris e volto a meter os dedos, desço a boca pelo seu
pescoço, a fricção da barba na pele, fazendo-a ficar vermelha.
— Ah, inferno... — Diz, pendendo a cabeça para trás, quando desço
a boca para um dos seios, prendendo-o em meus lábios. — Otávio...
Meus dedos afundam, saindo e entrando em movimentos fortes e
lentos.
A encaro fixamente e os tiro de seu interior, os dedos melados de
seu prazer são a porra da minha loucura.
— Preciso te sentir na minha boca, amor...
— Não perca tempo. — Sussurra ofegante.
Encosta o corpo no azulejo, enquanto tiro a bermuda e a boxer,
jogando de lado. Meu pau salta livre, duro e latejando.
Me ajoelho, erguendo a perna, colocando-a em meu ombro, sem
quebrar o contato dos nossos olhos, que estão fixos, um no outro.
O dedo ainda mela, enquanto esfrego devagar, afastado os lábios
rosados, e afundo minha boca na boceta macia, sentindo o gosto
maravilhoso e me perco nela.
Mikaella geme, a cabeça pende para trás, e envolvo o clitóris, quase
mordendo, mas volto a chupa-la, brincado com a língua.
Uma sugada forte, seguida de outra, foi o suficiente para ela se
desmanchar em minha boca, e eu não recuo. Limpo os resquícios do
orgasmo, de cima a baixo, sentindo os espasmos alucinados.
Ela me encara e arfo, enquanto me ergo, limpando o canto dos
lábios com seu gosto e cheiro estampado, e ela me segura, colando a
boca a minha.
Seguro nos cabelos molhados, sentindo a mão descer em meu peito,
e a encaro, quando sinto os dedos leves acariciando meu pau, que baba.
A mão desce lentamente e volta a subir, é a porra da sensação mais
gostosa.
— Porra, Mia! — Gemo, colando a testa a sua. — Preciso me
enterrar em você, amor...
— Não perca tempo... — Diz entre gemidos.
A viro devagar e ao mesmo tempo, com urgência. Mikaella soluça e
apoia as mãos no azulejo, empinando a bunda para trás. Seguro em sua
cintura, enquanto ela me encara sobre o ombro.
O sorriso leve e os olhos fixos aos meus.
Pincelo devagar na entrada, que desliza, e sem querer judiar mais
ainda do tesão, entro fundo. Rápido.
Ela gemia, quando meu quadril estoca contra a bunda, a boceta me
envolve, apertando cada centímetro do pau, que lateja, entrando e saindo
de dentro dela.
Tomo sua boca, enquanto a mão segura em seu quadril, a trazendo
para mim.
— Otávio... Isso... É...
— Eu amo você. Amo essa boceta... Eu... — As palavras saem
desconexas, enquanto as metidas bruscas se tornam rígidas e fortes.
Praticamente viramos um só, de tão grudados que estamos. Ela
pende a cabeça, encostando em meu peito e aperto a cintura, afundando
onde já não tem espaço.
— Ah, porra, Mia! — Exclamo, tomando sua boca em um beijo
quente, enquanto ela geme descontrolada e me desmancho dentro dela.
Enchendo ela inteira de todo prazer que existe dentro de mim.
Sorrio, olhando-a fechar os olhos devagar.
— Você ainda vai me matar, Ruiva.
— Jura? — Sussurra me olhando.
A viro, fitando-a ofegar e ligo o chuveiro, que nem vi quando foi
desligado.
— Deixa eu dar um banho em você. — Seguro o frasco do sabonete,
espalhando em minhas mãos.
Começo pelo meio das pernas, passando devagar por entre lábios
ainda sensíveis, enxáguo e volto a ensaboar os seios e a barriga.
A seco, passando a toalha no corpo e ela sorri preguiçosamente.
Enrolo o roupão assim que saímos do banheiro.
— Otávio? — Chama e fica me olhando.
— Oi... — Respondo, tirando os cabelos do seu rosto.
Engole em seco e a fito suspirar, enquanto a abraço devagar, ela
suspira e beijo sua testa, seu queixo e sua boca.
— Nada, não. — Balança a cabeça.
— Certeza?
Assente, engolindo em seco.
— Vamos comer.
— Vamos.
Peço um jantar rápido para nós dois, uma massa fina, a bolonhesa.
Comemos no terraço, que tem uma vista linda.
Abri um garrafa de vinho, mas Mikaella preferiu um suco de uva. A
brisa fria da noite e da praia, nos fez entrar para a sala de estar, nos
deitamos no tapete da sala, ouvindo o soar da música baixa que toca. Ela
está com a cabeça encostada em meu peito.
Ainda bem
Que você vive comigo
Porque senão
Como seria esta vida?
Sei lá, sei lá
Sorrio, entendendo a letra e ela fica me olhando.
Nos dias frios em que nós estamos juntos
Nos abraçamos sob o nosso conforto
De amar, de amar
Afago seu rosto devagar.
— Ainda bem que você vive comigo... — Repito o trecho e nos
olhamos fixamente.
Se há dores, tudo fica mais fácil
Seu rosto silencia e faz parar (...)
— Está tão quietinha... — Digo, olhando-a manear a cabeça, ainda
me encarando. — O que está te deixando assim?
Mia nega e volta a se aninhar em meu peito. Ela está vestida com
uma camisa minha, que revela as pernas torneadas.
— Mia...
Meu corpo sem o seu, uma parte
Seria o acaso e não sorte (...)
— Estou com... — A voz soa baixa e os olhos encontram os meus.
— Não sei dizer... Estou com medo...
— Ninguém vai te fazer mal algum, eu prometo. — Seguro em sua
mão e aperto.
Sorri devagar e acaricio seu rosto.
— Quer vinho? — Ela nega. — Não?
— Não... — Franzo o cenho e ela volta a se aninhar em meu peito.
Está calada, pensativa... E mesmo quando sorri, parece estar aérea.
Eu entendo que tudo ao mesmo tempo, é demais para ela.
Ficamos em silêncio novamente, ouvindo as músicas que passam no
aleatório. Fico mexendo em seus cabelos, até que a ouço ressonar.
Dormiu em meu peito.
Me levanto devagar, segurando-a no colo e ela abre os olhos
devagar, ainda sonolenta.
— Otávio...
— Shii... Volte a dormir. — Digo baixo e ela pisca.
Subo com cuidado e entro no quarto, colocando-a na cama. Abre os
olhos azuis quando me deito ao seu lado, a puxando novamente para
perto de mim. Sorri devagar e volta a se aninhar.
Não sei explicar ao certo, como posso pertencer a alguém, da forma
que eu pertenço a ela.
Mas eu senti... Senti que sou dela, desde o primeiro momento que a
vi.
E eu tenho medo... Medo de perde-la.
O dia amanheceu tranquilo, em um dia ensolarado. Acordamos
tarde, tomamos café e tive que resolver uns assuntos da empresa. Passei
uns e-mails para Leon e alguns relatórios para Lucy.
Perguntei de Luíza, e ambos falaram que ela está bem, mas o
coração ainda está apertado, com uma sensação estranha.
Leon está com a voz meia distante e me jurou que não é nada com
Luíza, então consegui ficar tranquilo, por hora.
Mikaella falou com sua tia e vamos conversar com ela juntos, sobre
tudo. Ela não quer preocupa-la falando sobre Michael e por enquanto é
melhor poupa-la.
Almoçamos juntos, mas ela quase não toca na comida. Fomos dar
outra volta pela ilha e ela conseguiu ao menos se distrai
E se ela quiser me deixar?
Se estiver pensando nisso?
Varias cosias passam em minha mente. Vários sentimentos ao mesmo
tempo, golpeando o meu coração.
Tive que buscar uma planta no escritório, que fica próximo a casa.
Mas aquele aperto no peito, continua me torturando de forma absurda.
Antes de voltar para casa, fiquei alguns minutos olhando a praia,
enfiei as mãos nos bolsos e fechei os olhos, respirando o ar puro.
Já está noite quando volto, as luzes da casa estão acessas e entro
devagar, franzido o cenho.
— Mia? — Chamo e vou em direção a sala de jantar.
Paro estático e ela levanta, me olhando.
Vejo as luzes baixa e a mesa posta, e ela sorri devagar, enquanto nos
olhamos.
O vestido vermelho solto, junto dos cabelos, a deixam tão linda, que
dói só de olhar.
— Estava esperando você.
A encaro e suspiro pesadamente.
— Otávio, eu...
— Você quer me deixar, não é? — Interrompo o que ela ia dizer. —
Eu sei que...
A olho parada e sinto um nó na garganta.
— Sei que está tudo uma loucura, que você é joven e tem uma vida
inteira pela frente... E eu te trouxe para essa confusão que é a minha
vida. — Fecho os olhos apertado e torno a abri-los. — Toda essa carga
pesada que vem comigo.
— Otávio... — Mia sussurra, se aproximando.
— Eu sei que não é fácil, mas vamos resolver. Eu amo você,
Mikaella. E eu falei a verdade, quando disse que não aguentaria mais
perder... Ninguém...
— E você não vai perder.
— Eu não posso perder você. Eu não posso...
Sinto suas mãos afagar meu rosto levemente.
— Não vai. — Diz me olhando. — Não vai...
Ela se afastar e pega algo, franzo o cenho, sentindo o coração
disparar.
— Eu quero saiba, que antes... Antes de tudo... Eu fiquei sem saber
como agir... Um medo absurdo. Meu Deus, eu acho que nunca senti tanto
medo na minha vida.
Franzo o cenho, olhando-a.
— Eu... Estou com medo. E eu sei que... Otávio, eu...
Ela engole em seco.
— Do que está com medo, Mia? O...
Me entrega a pequena caixa e suas mãos tremem.
Fito-a devagar, abro a tampa e o que leio, faz meu coração quase
parar de bater.
Volto meu olhar para ela e a encaro fixamente.
— Mia...
— Eu estou grávida.

Ele está petrificado na minha frente.


Engulo em seco, balanço a cabeça e sinto as mãos trêmulas. Passei o
dia inteiro com um aperto no peito, e um bolo formado na garganta.
Dá para ver que ele está completamente perdido, com toda a
situações, e eu me sinto tão frágil, odeio me sentir assim.
Otávio desce os olhos e nego devagar, franzindo o cenho.
— Eu sempre tomei pílulas e... Eu não faria isso... Eu juro, que...
Ele abre a boca, como se quisesse falar algo, mas não fala.
Não fala nada.
— Aconteceu... Eu sei que pode achar que fiz... — Me calo ao sentir
seu abraço apertado.
As mãos seguram em meu rosto e o encaro.
— Você...
Assinto devagar, vendo-o sorrir levemente. Os olhos marejados me
olham fixamente, e eu só choro, o olhando.
— Você está grávida... Mia...
— Eu estava com medo. Eu ainda estou, Otávio... Eu... — Sinto os
lábios encostarem nos meus.
— Meu amor... — Sussurra, colando a testa a minha. — Meu amor...
Nego devagar, sentindo as mãos me apertarem. Ele beija minha
testa, minhas bochechas e meus lábios, com um ardor que chega a
queimar meu interior.
— Você está grávida?
— Me perdoe... Me perdoe por...
— Perdoar, Mikaella?
Limpa meu rosto e assinto.
— Eu estava com medo de você não aceitar e... — Tropeço nas
palavras e as lágrimas continuam caindo.
Em um piscar de olhos, ele se ajoelha em minha frente, coloca as
mãos em meus quadris e sorri, encarando a barriga ainda imperceptível.
— Vamos ter um bebê?
Assinto várias vezes.
— Vamos... — Sorrio, o olhando encostar o rosto e afago seus
cabelos.
Eu não sei ao certo o que estou sentindo. É um misto de sensações
em meu peito, que nem consigo descrever, vendo-o aqui, assim.
— Vamos ter um bebê... — Repete incrédulo, com a voz embargada.
— Meu filho...
Franzo o cenho, colocando as mãos sobre as suas, que ainda estão
em minha barriga.
— Nosso filho... — Repete e eu limpo seu rosto. — Nosso...
— Eu estou com medo. — Digo o olhando. — Estou com tanto
medo...
Ele se ergue e volta a segurar em meu rosto, enquanto me beija
demoradamente, afasta meus cabelos e fixa os olhos aos meus.
— Medo de não conseguir, de não...
— Vamos fazer isso juntos, meu amor! Juntos. — Diz eufórico. —
Eu vou estar aqui. Meu Deus... Vamos... Vamos ter um filho. Você tem
idéia, Mia? Tem idéia do que... Do que isso significa?
Fecho os olhos devagar, e com a respiração descompassada, o
abraço. Abraço tão forte, colocando o rosto em seu peito e ele afaga
meus cabelos e beija minha testa.
— Eu te amo. Meu Deus, como eu amo você. Eu amo você por
inteira. — Diz sem desviar os olhos dos meus, com a mão na minha
barriga. — Eu amo esse pedacinho de nós dois, que está aqui dentro...
Sorrio devagar.
— O que vamos fazer? — Sussurro o olhando. — Essa confusão
acontecendo... Eles vão...
— Dane-se todos, Mikaella! Dane-se essa confusão. Eu vou tomar
todas as providências, para te deixar fora disso.
— Não tem como, Otávio. Eu estou nisso... — O encaro, engolindo
em seco e encostando o rosto no seu.
— Eu vou resolver, eu prometo, amor. Prometo. — Afaga meu rosto.
— Você... Vocês, são tudo que eu tenho.
O abraço e enterro o rosto em seu peito.
Nem jantamos direito. Otávio está extasiado, e confesso que depois
de todo susto e medo, eu consegui ficar também.
É estranho e surreal, a idéia de que estou grávida. Ele me abraça e
me beija ardentemente, do modo que só ele consegue fazer. Os olhos
brilhantes sempre fixos aos meus.
— Temos que ir ao médico, tem que começar...
— Devo estar com pouco mais de quatro semanas. — Ele fica
quieto, me escutando. Estamos deitados no sofá, vejo-o franzir o cenho e
engolir em seco. — Ainda é um pontinho...
Sorrio, lembrando da forma que Lia se referiu, logo quando fizemos
as contas.
É um pontinho.
— Tem que começar a tomar vitaminas e ver como está... Ultras,
exames e tudo...
— Otávio. — O chamo e ele se cala, voltando a me encarar. —
Calma.
Seguro em sua mão e a aperto entre meus dedos, ele fica me
olhando. Sei exatamente qual é o seu medo. Seria estranho, se ele não
sentisse. Já perdeu um filho.
— Vamos fazer tudo quando a gente voltar para casa. — Asseguro.
— Tudo...
Ele assente devagar e sorri, beijando a ponta dos meus dedos. Sei
um pouco do que está por vir pela frente, não apenas em relação a
gravidez, como todo o restante.
Otávio parece ler meus pensamentos, pois me olha e dá um sorriso.
— Você tem noção, que coloriu minha vida cinza? Que está me
fazendo viver em meses, o que não tive em anos, Mikaella?
Engulo em seco e mordo o lábio.
— Sou muito sortudo de te ter, você é a minha sorte... — Diz baixo
e sorrio. Sento em seu colo e o beijo. Seguro em seu rosto, o encarando.
— Eu achava que já tinha visto de tudo, vivido de tudo... E aí, você
chegou para me mostrar, que eu não conhecia nada... Nada...
Segura em meu queixo, apertando-o. As mãos grandes me segurando
firmemente.
— Você é o encaixe, Mia.
Mordo o lábio sorrindo, sentindo o coração disparar e a pele se
arrepiar por inteira. Afago a barba cerrada, fixando os olhos aos seus.
— Você que é o meu encaixe. — Esfrego o nariz ao seu e o beijo.
Os nossos corpos se grudam como um imã. Assim como todas as
vezes que ficamos juntos.
Desafiamos a lei da física.
Viramos nada, um nos braços do outro. Somos desejo e fogo. Amor
e paixão. São tantos sentimentos juntos, que não sabemos distinguir qual
deles toma a frente.
E eu amo essas sensações.
Amo por inteiro.
Fizemos um passeio pela manhã, e não sei porque, mas fiquei
chocada ao ver a lancha que nos esperava no píer. Otávio que comandou
a direção.
A camisa de algodão aberta, enquanto comandava a direção, chega a
faltar o ar, de tão lindo que é.
Observei a paisagem paradisíaca e um pensamento fixo, de como
minha vida deu um salto. Ainda vou conversar com minha tia, sobre o
quão perto de mim, Michael está, e na reviravolta que aconteceu. Falar
de Otávio, e agora da gravidez.
Mas conseguimos tirar o foco dos problemas e das situações, pelo
menos nos dias que ficamos na ilha, que foram incríveis. Na última
noite, jantamos em um restaurante famoso que Otávio adora.
Mal conseguimos chegar em casa, já fomos tirando a roupa, com
nossas bocas coladas e as línguas emboladas, nos fazendo arder.
Nos amamos com a mesma intensidade e fome de sempre, soluçava
de prazer e agonia a cada arremetida forte que ele dava. O quadril se
chocando com o meu, minhas pernas agarradas a sua, prendendo-o.
A boca buscando a minha, as nossas peles escorregadias de suor.
Ele lambia meu suor a cada beijo voraz. Trememos ensandecidos
por longos minutos, em que nossos corpos ainda estavam presos um no
outro.
Pegamos o jatinho assim que acordamos. Acordei enjoada e com um
mal estar terrível, obviamente sintomas da gravidez. Leon ligou para
Otávio e parecia bem urgente em falar algo.
— Vou na Perrot e volto logo, tá? Katy e Leon estão sufocados por
lá.
Assinto devagar, enquanto ele me beija rapidamente.
— Eu vou precisar pegar umas coisas em casa.
— Eu te deixo lá e você volta com meu carro.
— Não. Eu pego um táxi. — Ele me encara e depois de relutar,
aceito só a carona.
Vou pegar umas roupas e uns documentos, já estamos morando
praticamente juntos e não fico mais em meu apartamento.
Pego a bolsa e saímos. Otávio me encara assim que desço e dou um
beijo rápido.
— Vamos marcar tudo que... Vocês precisam... Tá? — Sorrio para
ele.
— Tá. Eu te ligo.
Assente, me deixando na entrada do prédio.
Pego algumas correspondências com o porteiro, que me olha e
abano a cabeça, subindo os degraus. Abro a porta devagar, colocando as
chaves e o celular no aparador.
Olho as fotos polaroides que Liana e eu tiramos no dia do teste, suas
mãos em minha barriga e a frase que escreveu com caneta.
Amor da dinda.
Sorrio, abanando a cabeça.
Vou para o quarto pegar algumas roupas e encho a pequena bolsa de
mão, com produtos de pele e cabelo, e poucas roupas que ainda estão
aqui.
Pego o celular e mando uma mensagem para Lia, avisando que vou
passar em sua casa, para contar tudo, já que mal nos falamos durante a
viagem.
Seguro as chaves e a bolsa e giro a maçaneta, abrindo a porta.
Meu sorriso rapidamente se desfaz.
— Ainda deu tempo.
Dou um passo para trás, quando vejo quem é.
— Não vai abraçar seu pai, Mikaella?
Estou paralisada, o olhando. Seus olhos fixos aos meus, enquanto
entra devagar. Dou mais um passo para trás, sentindo as mãos tremerem
nervosamente.
— Como você cresceu. Não parece mais a menina que deixei para
trás. — Diz baixo e continuo parada, o olhando. — Meu amor, como
você mudou.
Sinto as pernas fraquejarem, de tanto ódio que eu sinto. Uma raiva,
com um misto de nojo, apenas por encara-lo. Michael sorri, olhando ao
redor e desabotoando o blazer do terno, que deve ter custado uma
fortuna.
— Confesso que fiquei surpreso quando soube que tinha vindo para
cá, e mais surpreso ainda, quando descobri que está trabalhando para o
Otávio. — Ele caminha devagar, passando o dedo pelo aparador.
Esfrega um dedo ao outro e os resquícios de pó caem.
— Eu tentei entrar em contato com você, depois de um tempo. Mas
vocês venderam a casa, e sumiram. — Diz baixo e me olha. — Eu
procurei, Mikaella. Procurei por vocês...
Travo o maxilar e ele se aproxima.
Os olhos cravados aos meus, cara a cara com ele.
— Eis a minha surpresa, quando descubro que você está tendo um
caso, com o marido da minha enteada! O que diabos você se tornou?
Tento digerir as palavras que acabaram de sair de sua boca e
sobressalto ao sentir o tapa estalar em meu rosto.
Coloco a mão sobre o mesmo e o encaro.
As lágrimas descem enquanto as mãos tremem, descontroladas.
— Eu, que achei que minha filha tinha se tornado uma pessoa digna!
Uma mulher... O que sua mãe colocou em sua cabeça? Sua
inconsequente!
— Lave a sua boca para falar da minha mãe, seu MISERÁVEL! —
Avanço sobre ele, tirando forças de onde nem sabia que tinha.
Ele me segura, enquanto me debato furiosamente.
— Quem é você para falar de dignidade!? SEU MONSTRO! SEU
MONSTRO! VOCÊ NOS TIROU TUDO! VOCÊ TIROU TUDO! VOCÊ
TIROU TUDO DA GENTE!
Um soluço sai da minha garganta, e ele segura em meu pulsos. O
ódio cresce e arfo, o empurrando.
— Eu odeio você! EU ODEIO VOCÊ, MICHAEL! EU SINTO
NOJO DE VOCÊ!
— O que você está fazendo da sua vida? Com a vida da Anna? O
que ESTÁ FAZENDO DA SUA VIDA, MIKAELLA? O QUÊ?
Grita em meu rosto, ainda me segurando.
— Você não... Não... Tem moral para falar de ninguém! — Ergo o
queixo, mas as lágrimas continuam caindo.
Estou furiosa.
— Era desespero por dinheiro? Foi por isso que se envolveu com o
Otávio?
— Acha que sou como você? Acha? Acha que sou você?
Meu peito sufoca e sinto o ar faltar, o choro preso na garganta.
Choro de ódio e raiva. Muita raiva.
— Eu pensei tanto em você... Tudo poderia ter ter sido diferente.
Por que está fazendo isso, Mikaella?
— Saia. De. Perto. De. Mim. — Digo entre dentes, com a voz
esganiçada.
Ele dá um passo a frente e me afasto.
— SAIA DE PERTO DE MIM!
— Você vai acabar, seja lá o que você tem com o Otávio. Vai deixar
a família da Anna em paz e eu te darei tudo, minha filha. Tudo. Eu tenho
dinheiro...
— Tudo... Tudo... Para você... Sempre foi dinheiro, não é? —
Sussurro, o encarando.
— Dinheiro move o mundo, Mikaella! Acha que alguém consegue
ser feliz sem ele? Aquela vidinha miserável que tínhamos, você acha que
aquilo era felicidade? Pagando dívidas e vivendo com aquela miséria,
era felicidade?
Limpo o rosto, mas não consigo controlar minhas mãos, que tremem.
Minhas pernas fraquejando e o aperto no peito.
— Eu vou te dar tudo, Mikaella. Você vai acabar com esse casinho,
e vai deixar a Anna em paz... Ela não merece...
— Vá para o inferno! — Disparo, o cortando.
— Eu ainda sou seu pai...
— Você era. ERA! — Grito, com o dedo em riste. — Mas quando
decidiu sair, e fechar aquela porta, deixou de ser! Deixou de ser, por que
nos tirou o pouco que tínhamos. Você desgraçou a nossa vida!
O choro se torna incontrolável.
— Você tirou minha vida! Você nos abandonou por nada... Nada...
Você nos trocou pelo dinheiro delas! — A garganta rasga e soluço,
quando o choro se torna alto.
Passo as mãos pelos cabelos, negando.
— A gente ia ficar na rua... Na rua! E o que você fez? VOCÊ FOI
EMBORA! FOI EMBORA...
— Eu fiz o que era melhor. — Diz, me olhando fixamente.
— O melhor para você! Seu egoísta, miserável! Asqueroso! Ela
estava doente! Ela estava doente, e você sequer pensou na minha irmã!
— A voz sai rasgando e perco o equilíbrio, com a mão sobre a boca. —
Ela perdeu... Perdeu tudo... Eu...
Michael continua me encarando sem esboçar reação alguma.
— Ela morreu... Morreu... E nos deixou! Ela nos deixou...
Meu peito arde, de tanta dor que sinto. Acho que parei de raciocinar
por um momento. Mas sinto o mundo girar por uns segundos.
— Eu nunca amei sua mãe. — Confessa baixo, me olhando. — Eu
odiava aquela vida, odiava aquela casa...
— Odiava a gente... — Sorrio sem humor, entre as lágrimas que
descem copiosamente.
— Eu amo você, Mikaella.
— Eu dispenso seu amor. Dispenso essa merda, que você chama de
amor! — Em passos largos, me aproximo da porta e abro. — Vai embora
da minha casa! Vai embora, e suma!
Michael anda e bate o porta, causando um estrondo e fica me
encarando.
— Vá embora, Michael! Saia daqui!
Sinto minha respiração faltar e puxo o ar.
— Vai deixar o Otávio. Vai acabar com essa palhaçada...
— Eu o amo. — Ergo o queixo.
— Você não sabe o que é amor... Você não sabe!
— Vá para o inferno, Michael!
Ele paralisa ao olhar para o aparador e sinto o coração disparar,
quando segura a fotografia entre os dedos, volta a me encarar e engulo
em seco.
— V-você está... Grávida?
O encaro berrar a centímetros do meu rosto.
— VOCÊ ENGRAVIDOU DELE? — Ele segura em meu rosto,
apertando minhas bochechas, enquanto minhas lágrimas descem sem
parar. — Meu Deus! O que você fez?
Tiro as mãos dele, o empurrando tão forte, que nem pensei que teria
tal força.
— O que eu faço... Ou deixo de fazer, não é da sua conta! VÁ PARA
O INFERNO! SAIA DAQUI!
— Você não pode ter esse filho...
— SAI DAQUI! — Minha garganta arde, por causa do grito
estrondoso. — SAI DAQUI!
— Anna não merece isso, Mikaella. Ela sonhou tanto com esse
bebê...
— Vá você, Anna... E quem mais quiser... Para o quinto dos
infernos! — Meus gritos ecoam, e tremo.
— Você não pode...
_ Pelo amor de Deus! Me diz o que fiz para você? O QUE EU FIZ
PARA VOCÊ?
— Eu quero o seu bem! Um futuro! Você não vai ser feliz assim...
Uma risada amarga sai de mim.
— Você me dá nojo. — Me debato quando ele tenta me segurar de
novo. — Eu tenho nojo de você!
— Você não pode ter esse bebê!
— Vai embora, Michael! Vai embora, PELO AMOR DE DEUS!
Caio sentada no sofá, perdendo completamente as forças. Tudo dói
de uma forma absurda. Estou sufocada, agoniada. Ele continua me
olhando e o fito sobre a névoa de lágrimas, limpo a testa e arfo devagar.
— Eu vou voltar... Não vou deixar você acabar com sua vida dessa
forma!
— Suma da minha frente, seu doente!
Vejo-o me encarar, antes de bater a porta com força, me deixando
aqui. As lágrimas descem rasgando e o mundo começa a girar, quando
uma dor forte me invade, uma pontada tão aguda, que mal consigo falar.
Mas um gemido de dor sai e puxo o ar, que não vêm.
— Ah Deus... — Sussurro baixo, sentindo as mãos tremendo. — Ah
Deus...
Tudo gira e eu apenas ouço o celular tocar longe, seguro-o,
controlando o soluço e deslizo o dedo pela tela.
— Ruiva?
— Lia... Socorro... Eu tô...
— Mikaella? Mikaella?
A escuridão me toma por completo e já não sinto mais nada.
Franzo o cenho ao entrar em minha sala. Leon anda de um lado para
o outro e me encara, passando as mãos pelo rosto.
— Você não vai acreditar. — Começo a falar sorrindo e ele se vira
para me olhar.
— Oi... — Diz baixo e me aproximo.
— Como estão as coisas? Eu vim pegar umas coisas e ver como está
a obra do centro. — Vou até a minha mesa e começo a juntar alguns
papéis.
— Está tudo em ordem, levei a planta e já passei tudo. — Passa as
mãos pelos cabelos e sorrio, o olhando.
Ainda estou em êxtase, com tudo que está acontecendo, mas não sei
ao certo o sentimento que está em meu coração. Uma felicidade que é de
dentro, para fora, e parece sair por todos os meus poros.
Eu vou ser pai.
É inacreditável a sensação.
— Otávio, a gente precisa conversar. — Meu irmão me encara e
assinto.
— Leon... — Ele me olha, esperando eu continuar. — Você vai ser
tio.
Ele para, arregala os olhos e fica me encarando fixamente.
— Mikaella está grávida.
Ele olha para mim e abre boca. Parece querer falar algo, mas nada
sai.
E em um salto, se ergue sorrindo.
— Meu Deus! Meu Deus...- —
Se aproxima e nos abraçamos apertado. — Meu irmão! Eu vou ser tio...
Ah, porra! Ah, porra!
Sorrio, enquanto ele balança a cabeça.
— Ela me contou na viagem. Ela está grávida!
Leon sorri, voltando a me abraçar.
— Eu preciso contar para mamãe e papai. Para Luíza e... — Vou
falando mas vejo ele ficar sério, de repente. — O que foi?
— Calma, tá? — Franze o cenho, engolindo em seco.
— Leon...
— Luíza está um pouco fraca e teve um desmaio...
— O quê? — Disparo. — Como ela está?
— Está no hospital. Ela está com anemia e precisa fazer uns exames,
para...
— Por que não me falou antes, Leon? Meu Deus! Eu preciso vê-la!
— Eles estão com ela e... A bruxa não quer que você saiba, e nem
que vá lá.
O encaro e cerro o punho, balançando a cabeça.
— Eu estou indo para lá, agora! Você devia ter me avisado, Leon!
Por Deus...
O coração dá uma apertada, pego as chaves e saio, ouvindo seus
passos atrás de mim. Luíza está no hospital e eu nem sabia de nada. A
preocupação bombardeando meu peito.
Em minutos, estamos entrando pela porta da ala pediátrica. Leon me
acompanha e seguimos para a recepção.
— A paciente, Maria Luíza Dawson Bonarez...
— O que está fazendo aqui? — Me viro ao ouvir a voz de Natan
atrás de mim.
Letícia se aproxima, nos olhando e minha mãe também.
— Meu filho...
— Onde ela está, mamãe? — Indago, com o coração aos pulos. —
Como ela está?
— Como se você se importasse com ela. — Natan fala.
— Se eu fosse você, eu saia da merda da minha frente! — Coloco o
dedo em riste e sinto os olhos me fulminar.
— Ela vai ficar bem. Está fazendo exames e tomando umas
vitaminas. Está um pouco fraca. — Mamãe me olha e sorri tristemente.
— Oliver está falando com o médico, calma...
— Não estavam cuidando dela? Como podem deixa-la chegar nesse
estado? — Disparo, olhando Letícia se erguer.
— Você sabe que ela está assim desde que você foi embora. Ela não
come e nem conversa!
— Devia estar muito ocupado, para se lembrar de Luíza. — Natan
fala, balançando a cabeça.
Estou prestes a pular no pescoço dele, mas olho para o corredor e
vejo Anna se aproximar e parar, me encarando fixamente.
— Onde ela está? — Pergunto entre dentes.
— Não vai vê-la. — Nega rapidamente. — Eu te disse que não vai
mais chegar perto da minha sobrinha...
— Não estou para brincadeira, Annabell! — A corto rapidamente e
mamãe segura em meu braço. — Você está colocando coisas na cabeça
dela. Você está adoecendo a Luíza!
— Está me acusando? Vocês viram isso? Meu Deus! — Coloca a
mão no peito. — Você sai de casa, você nos abandona e ainda me culpa?
— Não se faça de desentendida, Anna!
— Otávio, meu filho...
— Volte para sua amante, saia daqui! Você não vai vê-la!
— Eu viro esse hospital de cabeça para baixo, e passo por cima de
qualquer um, para vê-la. Você entendeu? — Digo baixo e fito Natan. —
Eu vou vê-la!
Ela me encara e engole em seco.
— Você está me acusando de fazer mal para a minha própria
sobrinha. Eu tenho Luíza como minha filha! Eu jamais faria mal...
— A um filho? — Leon, que até então não tinha dito uma palavra, dá
um passo a frente, a olhando.
Anna o encara com o cenho franzido.
— Será, Anna?
Fito meu irmão, que está sério como nunca, a mandíbula cerrada e o
cenho franzido.
— Eu vou vê-la, agora! — Passo por eles como um furacão louco.
Entro no corredor com o coração palpitando e a preocupação
batendo forte, uma sensação terrível se apossando de mim.
Paro em frente a porta e vejo seu nome na ficha médica ao lado.
Giro a maçaneta devagar e abro, engulo em seco quando Gaia me olha.
Luíza está deitada na cama, com um acesso do soro em seu braço e
está tão pálida.
— Olhe quem chegou, Lu... — Gaia sorri e ela vira o rosto, e me
olha tristemente.
— Oi, meu amor. — Me aproximo da cama. — Ei...
Percebo os olhos encherem de lágrimas e sorrio, segurando em sua
mão.
— Quer matar seu tio do coração? — Indago baixo.
— Achei que não viria... — Sussurra, fechando os olhos. — Nunca
mais...
Nego com a cabeça.
— Eu nunca vou te deixar, minha pequena. Eu prometi, lembra? Eu
prometi...
Vejo as lágrimas descendo e ela nega veemente.
— Eu nunca vou te deixar. Nunca.
Me encara e a abraço, afagando seus cabelos. Ouço o choro baixo e
suspiro, a apertando.
— Estou aqui. Estou aqui, meu amor.
Luíza vai passar por mais alguns exames e ser medicada, por isso
vai ficar alguns dias no hospital. Conversei com o médico e consegui
ficar mais aliviado, quando ele me falou que não é nada grave.
Mas vai precisar de cuidados, que eu mesmo vou me encarregar que
ela tenha.
— Deixei meu celular na empresa. — Falo com Leon quando ele se
aproxima. — Preciso falar com Mikaella.
Estamos no corredor do hospital e passo as mãos pelos cabelos,
nervoso.
Ele me encara e o fito.
— Você está bem, Leon? Está estranho...
E realmente está.
— Precisamos conversar, depois. — Assinto. — Os advogados já
vão entrar com o divórcio e o pedido da guarda compartilhada de Luíza.
— Eu vou levá-la para a casa dos nossos pais.
— O quê? — Anna indaga, se aproximando. — Você não vai levar a
minha sobrinha para lugar algum!
Me viro, olhando-a.
— Eu vou, sim! Quem vai cuidar da recuperação dela, sou eu!
— Não vai! Você não tem direito algum sobre minha sobrinha!
Nenhum! Não vai ficar com ela, no mesmo ambiente que a sua
vagabunda...
— Você está ferrando a cabeça da Luíza. Por que é isso que você faz
com a cabeça de todo mundo, Anna! — Digo entre dentes e ela arregala
os olhos.
— Vocês estão em um hospital, deixem para resolver essa situação
em outro local. — Papai segura em meu braço e o encaro. — Vamos
para a recepção, por favor...
— Não tem o que resolver. Luíza não sai daqui, para lugar nenhum.
— Isso é que nós vamos ver.
Estou sentindo uma raiva, que cresce dentro de mim a cada segundo.
Peguei o celular de Leon para ligar para Mikaella, mas ela não atendeu
nenhuma das ligações.
Estamos na recepção do hospital e só vou embora quando souber os
resultados dos exames mais profundos que pediram. Estou inquieto e
agoniado.
Michael entra, me encara rapidamente e me viro, sem conseguir fita-
lo por muito tempo. Leon está parado, olhando Anna de cima a baixo.
Minha cabeça dói.
— Calma, meu amor. — Michael abraça Anna, que está de pé, com
os braços cruzados.
— Aquela alí, não é... — Leon franze o cenho e olho para onde ele
aponta. — A amiga da ruiva?
Olho rapidamente e vejo Liana.
— Liana? — A chamo e ela se vira.
— Estava tentando te ligar, mas só chamava... — Está pálida e me
aproximo, olhando-a.
— O que aconteceu?
Todos de imediato nos encaram e Lia balança a cabeça, franzindo o
cenho de imediato. Leon a olha e ela engole em seco.
— É o pai... Dela? — Pergunta, olhando para Michael.
— O que aconteceu, Liana?
— Otávio, o que houve? — Mamãe indaga e em um piscar de olhos,
Liana passa por nós como um furacão.
— Velho miserável! Eu vou matar você!
— Ah, meu Deus, quem é essa selvagem? — Anna se espanta.
Lia avança sobre Michael e é segurada por Leon. Ela se debate
furiosamente, falando palavras desconexas.
— Chega perto dela, de novo, e eu vou matar você! Eu vou matar...
Não chegue perto dela! Não ouse tocar em um fio do cabelo dela!
— Garota, pelo amor de Deus! — Leon a segura pela cintura,
enquanto ela se debate.
— Isso é um hospital...
— Otávio!
— Ele foi atrás da Mia... E ela passou mal! — Liana grita, se
desvencilhando do meu irmão.
Letícia nos encara e Michael a olha, de cima a baixo.
— Olhe aqui, sua cacatua do inferno... Se acontecer alguma coisa
com a minha amiga, ou com o bebê... Eu vou acabar com essa sua cara
de maracujá de gaveta!
Sinto o chão sumir dos meus pés, enquanto me viro devagar, a
olhando.
— O quê? — Anna arregala os olhos e me encara.
— Velho desgraçado! — Liana berra.
— Eu não fiz nada... — Ele fala me olhando, mas avanço para cima
dele e acerto um soco certeiro em seu queixo.
Nem consigo descrever a raiva que estou sentido. As mãos de Leon
me seguram e a raiva só cresce dentro de mim, com mais raiva do que o
normal.
— Se acontecer alguma coisa com meu filho, eu mato você!
— Pare! Isso é um hospital! Chega! — Mamãe segura em minha
camisa, me olhando. — Pare!
— Vou ter que pedir que vocês se retirem, isso aqui é um hospital!
— Uma enfermeira nos repreende e a raiva só me toma.
— O que você disse, Otávio? Seu filho? — Anna indaga, me
encarando.
— Vem. Vamos ver a, Ruiva. — Leon segura em meu braço.
— Repete o que disse, Otávio! REPETE! — Anna grita. — Aquela
vagabunda está grávida? E o filho é seu!?
Sinto seu ódio, em cada palavra dita.
— O QUE FEZ, OTÁVIO?
— Calma, Anna... Minha filha, calma... — Michael a encara.
— Velho idiota! — Liana dispara.
— Eu quero que ele me diga... Que saia da boca dele! Diga... Diga
que engravidou aquelazinha... Diga!
— Vamos, Otávio.
Anna olha para Leon, o fulminando com o olhar.
— Você não vai a lugar algum, Otávio. Não vai.
Me solto de Leon, mas tento me manter calmo. Vejo Letícia descer
as escadas, me encarando.
— O que está acontecendo aqui? — Indaga com a voz rouca. —
Podem ao menos pensar na Luíza?
— Ele engravidou ela, mamãe.
Letícia mantém os olhos em mim e Leon bufa olhando de mim para
Anna.
— Você vai... Eu quero que me diga! Olhando na minha cara!
Engulo em seco, enquanto ela vem em minha direção. Olho para
Liana, que assente e treme, olhando Michael. O fito com o punho cerrado
e a garganta rasgando de ódio.
— Se você encostar um dedo nela, de novo, eu te mando para o
inferno! — Disparo.
Enquanto entramos em outra recepção, Anna me encara erguendo o
queixo e engulo em seco.
— Eu não devo mais satisfações da minha vida a você, Annabell.
Não estamos mais juntos. Se eu vim até aqui, foi apenas para te falar que
a única coisa que ainda temos em comum, é a Luíza.
Nega devagar e sorrir debochada.
— Ela não é nada sua! Nada!
— Não vou entrar nessa discussão com você, por que você sabe que
é muito além, do que questão de sangue.
Anna ri, passando as mãos pelos cabelos e andando de um lado para
o outro.
Para e me olha fixamente.
— É mentira, não é? Ela não está grávida... Não é? Você não fez
isso comigo. — A voz embarga e engulo em seco. — Você não fez isso.
Não fez.
— Ela está grávida.
— Não... Não... — Nega veemente. — Eu não admito! Ouviu? Eu
não admito que diga isso... Eu não admito!
Letícia entra nos olhando e balança a cabeça.
— Essa menina veio para desgraçar as nossas vidas. Não é óbvio
que ela veio atrás de vingança?
Sorrio a olhando e me viro. Fecho os olhos e suspiro fundo.
— Ela fez sua cabeça. Se vingar de Anna, é o mesmo que se vingar
de mim! Não está vendo o quanto essa menina está te manipulando? Ela
seduziu você, Otávio... Como não enxerga?
— Quem foi atrás dela, foi eu, Letícia. Mikaella nem sabia que
Michael é seu marido.
Anna me fita e as encaro.
— Eu que a quis, eu que a procurava. Eu que fui atrás da Mikaella.
Eu...
Engulo em seco e Leon se aproxima.
— Eu nunca vou te dar o divórcio! Nunca.
— Entramos no litigioso. Não vai mudar nada, Anna. Nada.
Anna fita Leon, que cerra o maxilar ao olhar pra ela.
— É tudo que sempre quis, não é, Leonel?
Ele a fita de cima a baixo.
— Cíntia teve sorte, em não se prender a você. Em ter te traído
antes do casamento.
— Ela me fez foi um favor. Em não ter meu sobrenome sujo, com o
de vocês. — Leon rebate.
Anna nos encara furiosamente.
— Você não sabe o que espera. Ainda vai doer em vocês...
— Vindo de você eu não duvido de nada, Annabell. Nada. — Leon
dispara. — Mas tudo vem a tona um dia.
— Eu odeio você, Leonel.
— É recíproco.
A encaro fixamente e ela limpa o rosto. A mãe segura em sua mão,
apertando-a.
— Não se rebaixe assim, Annabell.
— Espero que o filho dela morra, que esse bebê vá para o inferno!
Que ela sofra tanto... Que vocês sofram!
Nego, olhando-a.
— Que esse bebê morra! Ouviu? Que MORRA!
— Você é digna de pena. — Leon balança a cabeça.
A fito arfar e sinto o coração disparar, com um aperto intenso.
— Você vai se arrepender, Otávio. Eu juro por Deus. Juro...
— Eu já me arrependi, Anna. De ter te amado um dia.
Como alguém pode desejar mal a um bebê?
Como?
Você ainda fica surpreso?
— Que Bruxa! Capeta! Eu odeio essa mulher! — Leon diz entre
dentes.
Passo as mãos pelos cabelos e pelo rosto, e ando pelo corredor,
com a mente a mil por hora.
Mamãe e papai se aproximam, nos olhando e suspiro pesadamente.
— Quando ia nos contar, Otávio?
— Oliver. — Mamãe fala.
— Eu preciso vê-la, agora. Eu converso com vocês dois depois. Eu
só preciso saber como ela está.
— Nós também queremos. É o nosso neto. Achou que íamos virar as
costas? — Meu pai indaga, me olhando.
Sorrio devagar e ele assente.
— Independente de qualquer coisa.
— Obrigado. Vou vê-la.
Entro no elevador junto com Leon e seguimos em total silêncio. Me
aproximo do corredor e logo vejo Liana parada na porta.
A encaro e sinto um desespero em meu peito. Um medo, tentando se
apossar de mim.
— E se ela tiver perdido o beb..
— Ei, Otávio! Calma! Foi só um susto. aquela Pimenta é fogo!
— Como ela está? — Pergunto a Lia e ela morde o lábio.
— Bem, não está. Mas vai se recuperar. — Assente e os olhos
castanhos me encaram. — Não deixe aquele velho encostar nela. Por que
eu juro, que se fizer, quem vai para a cadeia sou eu. Por que eu o mato.
— Não vai. — Asseguro.
Leon a encara e ela franze o cenho, o fitando.
— O que foi? — Liana indaga e ele sorri.
— Nada. Só acho bonito, o jeito que defende sua amiga.
— Ela é minha irmã. E sempre se defende um irmão, não é?
Sorrio devagar.
Meu coração está palpitando forte. Pela preocupação com Luíza, e
agora com Mikaella. São as três pessoas mais importantes da minha vida
aqui. No mesmo local.
Ficamos um tempo, até o médico surgir com alguns exames nas
mãos. Quase chorei de alívio, quando soube está tudo bem. Foi um
aumento na pressão.
— Eu vou vê-la, daqui a pouco. Vá. — Liana assente.
— Vou...
Abro a porta devagar, com o coração aos pulos. Ela vira o rosto e
fixa seu olhar em mim assim que me vê. Seu rosto está avermelhado, por
causa lágrimas, imagino.
Percebo o olhos azuis brilharem e me sento, segurando em sua mão.
— Quer me matar do coração? — Fala e ela sorrir de lado.
Sinto o aperto da mão dela sobre a minha e franzo o cenho,
balançando a cabeça.
— Eu tive tanto... Tanto medo. — Admiti, baixo. — Mas tanto...
A abraço e ela enterra o rosto em meu peito.
— Eu estou aqui... Estou aqui. — Fico repetindo, ouvindo seus
soluços baixos. — Eu te amo tanto, tanto.
Mikaella volta a me encarar e ela limpa as lágrimas, me olhando
fixamente.
— Ele não encostou em você, não é? — Engulo em seco, segurando
em seu rosto. — O que ele fez, Mia?
Ela desvia o olhar, negando e ergo seu queixo, fazendo-a me encarar
de volta.
— Nada.
— Mia... Não minta para mim. Amor, você não ia estar em um
hospital, por nada.
Ela volta a me olhar, quando um soluço escapa de sua garganta e
volta a chorar copiosamente na minha frente. Apenas a abraço firme.
Não precisou falar nada, para eu sentir o que tinha aconteceu e isso
só aumentou meu ódio por ele. Quero socar Michael.
— Com licença. — Olhamos para a porta quando o doutor entra. —
Senhorita Gonçalves, vamos fazer uma ultra, por precaução. Receitar
vitaminas e bastante repouso nessas semanas, nada de emoções fortes.
— Ela vai ficar quietinha.
— Se depois da ultra, estiver tudo bem, você já pode ter alta.
— Não é melhor ficar em observação, ao menos por hoje? —
Pergunto rápido.
— Se assim preferir, tudo bem. Vou preparar os equipamentos e
volto em um segundo.
— Quero ir para casa. — Diz baixo, limpando o rosto.
— Cuidado demais, nunca faz mal, amor. — Tiro os cabelos do seu
rosto e o acaricio. — Acho que tem alguém querendo te ver...
Sorrio e ela olha para a porta, que se abre quando Liana e Leon
entram. Ela rapidamente abre os braços e a amiga a aperta fortemente.
— Que susto você me deu, em Ruiva. Não faz mais isso.
— Eu amo você. Amo muito.
— E aí? Tá tudo bem, né? — Leon indaga e assinto.
— Vamos bater uma ultra, só para confirmar, e ela vai passar a noite
aqui, em observação.
— Eu fico, também. — Leon me olha.
— Eu também.
— Eu estou bem. Mas Otávio quer que eu fique, apenas por
precaução. Quero ir para casa.
— Melhor ficar mesmo, e se esse bebê resolve nos dar outro susto?
— Liana a beija.
— Não vai...
Leon a encara e ela o fita.
— Parabéns, Ruiva. Vou ser o tio mais babão do mundo. — Ele a
encara e ela sorri, apertando a mão da amiga. — Mamãe e papai estão
loucos para falar com você...
Mikaella nos olha e sorrio.
— Isso, porque Lucy ainda não sabe, mas está chegando. Ninguém
segura a magrela. Vai pirar.
Sorrio, olhando-o.
Eu e Leon saímos do quarto. Também pedi para botarem ela em um
maior e mais confortável, já que vamos passar a noite aqui. O médico
está preparando Mia para fazer a ultrassonografia.
Olho Leon desligar o celular e me encarar.
— Você sabe, Anna vai ser uma pedra, ou melhor, um iceberg na
vida de vocês. — Suspiro, passando as mãos pelos cabelos.
— Eu sei. E Luíza agora nesse estado... Falou com os advogados?
— Claro. Falei com um dos nossos, e um que é conhecido como
advogado do diabo, consegue tudo que quer.
Sorrio, já sabendo bem de quem ele fala.
— Arthur Gonzáles?
— O próprio. Vamos ter uma reunião com ele, depois. — Leon
morde o lábio e suspira.
— O que foi?
— Não confia na Anna. Ela é mesquinha, cruel e amarga... Ela pode
tentar fazer algo com a Ruiva.
— Não vou deixar. Nunca.
Ele assente e o encaro.
— Otávio? — Leon me encara e franzo o cenho, o olhando.
Está sério, e posso jurar que vi seus olhos lacrimejar por um
momento.
— Eu estou esperando chegar um documento importante. Mas saiba
que estou aqui com você e por você, seja lá se o que estou pensando, for
realmente verdade.
— Do que está falando, Leon?
Ele nega devagar e sorri de lado.
— Lá vem o médico. Vai lá... Vou avisar a mamãe e ver se a magrela
chegou.
Ele sai, pegando o celular e sinto o coração disparar.
Entro novamente no quarto e os equipamentos para a
ultrassonografia já estão aqui. Sento ao lado de Mia e seguro sua mão,
beijando-a e ela sorri levemente.
— Eu te amo. — Digo.
— Jura?
— Como o ar que preciso para respirar. Meu corpo, meu coração...
Tudo é seu. Tudo.
— Eu também amo você. — Fala e sua voz embarga.
— Você vai sentir um leve incômodo, mais vamos conseguir ver
melhor o embrião, pela transvaginal.
Mia assente e o doutor se senta. Olho para ela e depois fixamos o
olhar na tela a frente, observando com atenção e meus olhos se voltam
para os dela de novo.
— Aqui... Está tudo ótimo. — O doutor sorri e olhamos de imediato.
A imagem borrada, de repente foca no pequeno pontinho.
— Você está de 6 semanas e 4 dias.
Sorrio, sem nem perceber e o entalo na garganta me impede de falar
qualquer coisa nesse momento.
— Vamos ouvir o coração...
Encaro Mikaella, que parece tão surpresa, quanto eu, sorrio e aperto
sua mão. Tudo parece parar, quando ouvimos os batimentos acelerados.
São ruídos. Mas os ruídos mais lindos que já ouvi na vida.
— Como eu falei... Está tudo ótimo.
Sorrio e limpo o rosto, quando uma lágrima teima em descer.
Eu e Mikaella nos olhamos. Meu coração, que já é inteiramente
dela, passou a bater na mesma frequência da vida que cresce em seu
ventre.
Beijo sua testa, sorrindo.
— Obrigado, amor. Obrigado...
Eu nunca vou me cansar dizer essas palavras. Nunca.
Mia só precisa descansar, por causa do dia turbulento que teve. Mas
eu não consigo desacelerar. Acabei falando que Luíza está aqui no
hospital também e vou precisar sair para vê-la.
Foi assim durante toda a noite. Anna tinha ido para casa e apenas
Letícia e Nathan ficaram. Tive livre acesso ao quarto, e ela dormiu
tranquila. Vai passar mais uns dois dias e logo teria alta.
Mikaella está bem e Liana não sai da sala. Leon a todo tempo na
porta. Meus pais foram para casa e vão voltar pela manhã. Lúcia passou
a noite, tanto para ver Luíza, quanto Mia. Mas ambas estavam dormindo,
então ela e Roger ficaram a noite juntos com a gente.
Lúcia me abraçou radiante, assim que chegou. Beijei sua testa,
vendo o sorriso largo em seu rosto.
— Eu vou ser tia! — Balança a cabeça, me olhando. — A tia mais
babona do mundo todo...
— Vai lutar muito para tirar esse posto de mim. — Leon implica.
— Como ela está? E Luíza?
— Vamos vê-la, agora. Mia vai acordar e você entra para vê-la.
— Mamãe ainda não chegou?
— Deve estar vindo. — Leon assente e encara Roger, que se ergue.
— Amor, vou precisar ir. Tenho umas coisas da boate para resolver.
— Ele dá um beijo rápido em Lucy. — Alguém tem que trabalhar alí, né
Leon? — Brinca.
— É meu braço direito para isso. — Meu irmão rebate.
— Pego você mais tarde?
Lúcia assente, o olhando.
— Te amo.
— Também te amo. — Roger me encara. — Parabéns mais uma vez,
Otávio. Imagino sua felicidade. Um filho é uma benção... Esperando o
dia que serei contemplado com um...
— Obrigado, Roger.
— Só depois de casar, em Roger. Vai meter filho na minha irmã sem
casar, não. — Leon cruza os braços.
Roger sorri e Lúcia o beija rapidamente.
— Te espero mais tarde.
Vejo quando ela sorri de lado, os olhos azuis brilhando de paixão. A
felicidade dela, realmente é a minha. Roger e Leon sempre foram muito
amigos, e perder o melhor amigo para cunhado, foi algo que o fez ficar
em marcação cerrada.
Respeitamos a escolha dela, que praticamente mora com Roger. Mas
gostaríamos de vê-la oficializar a relação deles.
Mas, desde que fizesse minha irmã feliz, estaremos sempre ao seu
lado.
Ao contrário de Leon, eu nunca fui tão próximo de Roger, acho que
nunca nos demos tanta abertura assim, para tal coisa.
Desço para ala a pediátrica e passo pela recepção sem
cumprimentar Nathan e Letícia, que estão lá sentados. Vou direto para o
quarto ver Luíza e paraliso, ouvindo os murmúrios atrás da porta.
— Ele está mentindo, Luíza. Seu tio não quer mais você. Ele não
vai vir mais te ver. Nunca mais. — A voz de Anna soa rude.
Irreconhecível.
— Ele não vai, tia...
— Vai sim. Ela está grávida, sabia? A mulher que roubou seu tio
de mim, está grávida. Ele vai trocar você, igual fez comigo.
Giro a maçaneta e abro a porta rapidamente.
Anna sobressalta, me olhando e Luíza limpa o rosto.
— Posso falar com você, Annabell? — Digo, com a garganta
rasgando de uma raiva descomunal.
Ela ergue o rosto.
— Não. Fale aqui.
Luíza me olha e vira o rosto para o outro lado.
— Por favor, Anna... — Peço baixo e ela sorri de lado.
Como podemos nos enganar tanto com uma pessoa, ao ponto de não
reconhece-las mais?
Será que realmente eu era o cego?
Ela sempre foi assim?
— Se você acha que vou... — Começa, quando fecha a porta atrás
de si, assim que saímos do quarto.
A seguro, afastando-a da porta e parando próximos a janela.
— Como pode ser tão cruel, ao ponto de colocar essas inverdades
na cabeça dela? Como pode, Anna?
— Eu disse alguma mentira? Vai enganar ela, como fez comigo?
— Não seja tão baixa, Annabell. Você sabe que eu jamais deixaria
Luíza.
— Mas vai. Óbvio que vai. — Me encara, balançando a cabeça. —
Se não for por bem, vai ser por mal. Por que eu serei o seu maior
pesadelo. Vai preferir a morte, do que estar com ela... Ouviu?
Nego devagar.
— Acha que isso vai mudar algo? Acha? Você e eu sabemos que já
não éramos mais um casal...
— Que se dane! Que se dane... Vai fingir que ela é a primeira dama,
agora? Eu vou ser seu pior pesadelo, Otávio! Eu vou destruir vocês
dois... E passo por cima de qualquer um.
— Até da sua sobrinha?
— Eu estou falando a verdade para ela, coisa que você não tem
coragem. Vou fazê-la te odiar, de uma forma absurda.
— Eu estou entrando com o pedido de divórcio, e junto, com a
guarda compartilhada. Não me faça entrar com o pedido total.
— Vamos ver, Otávio. — Me encara de cima a baixo, com o maxilar
cerrado. — Vamos ver quem vai perder nessa história.
Fecho os olhos, passando os dedos pela ponte do nariz. Me viro e
saio praguejando baixo.
Ando em passos largos e entro no quarto. Luíza fica me olhando
enquanto me aproximo e me sento ao lado da cama, segurando em suas
mãos. Sorrio, brincando com os dedos e levo aos lábios, beijando-os.
— Você vai... Vai ter um bebê com ela?
Engulo em seco e ergo os olhos, que encontram os seus.
— Lembra quando descobrimos que o Ben estava a caminho? —
Indago e ela assente — E eu conversei com você... Disse que você seria
uma irmã mais velha para ele... Lembra?
Balança a cabeça.
— Então... Você vai continuar sendo a irmã mais velha.
— Mas não vai ser da tia Anna... — Diz baixo.
— Não. — Mantenho o mesmo tom e ela morde o lábio.
— Não vai me esquecer, não é?
— Não se esquece um filho, minha pequena. Nunca. Esteja ele aqui,
ou...
— Ou como o Ben, que se foi?
Assinto devagar, sentindo a voz embargar.
— Assim como o Ben se foi, e mora aqui dentro. — Boto a mão em
cima do coração.
Ela sorri e a abraço apertado, afagando os cabelos devagar.
Fico um tempo conversando com ela, e até a faço comer um pouco.
Logo ela vai ter alta, e mesmo odiando ter que falar com Letícia, engoli
meu orgulho e pedi que Luíza fique na casa dos meus pais, apenas para
se recuperar.
Com relutância, ela aceitou, mas apenas quando mamãe conversou
com ela também. Nathan não disfarçou o descontentamento, mas eu
pouco me importei.
— Mikaella, como está? — Mamãe me pergunta, enquanto andamos
lado a lado, pelo corredor.
— Está bem. — Sorrio e ela suspira.
— Seu pai está com Leon e Lucy. Devem estar lá dentro. O que
pretende fazer?
— Eu já entrei com o pedido de divórcio. Mas, sei que não vai ser
fácil. — Balanço a cabeça.
— Nunca é, Otávio. Você sabe que tem duas crianças nesse meio...
— Ela me olha e assinto. — E quero o melhor para as duas.
— E eu vou ser, mãe. Eu vou ser...
— Eu sei que sim. — Suspira e me abraça, enquanto beijo sua testa.
— Eu amo você.
— Eu também te amo, muito.
— Vamos? Quero vê-la.
— Vamos...
Sinto Otávio pegar em minha mão e sorrio para ele. Estou me
sentindo bem melhor, e louca para ir para casa.
Os pais de Otávio conversam e riem, enquanto Leon fala sobre uma
viagem. Foi uma surpresa vê-los entrar, e o modo que me receberam
tão... Bem.
Felicia e Oliver têm um amor enorme pelos filhos, isso é nítido pela
forma que eles sorriem ao olhar para eles.
Liana está sentada e olha Leon, que está de braços cruzados e
continua falando. Lucy sorri, balançando a cabeça.
Otávio está ao meu lado, com os dedos entrelaçados aos meus.
Parece estar menos assustado com o que aconteceu. Ainda dói, só em
falar e pensar em Michael, mas não vou dar vazão ao sentimento terrível
que se apossa de mim.
— Tem certeza que está tudo bem? — Olho para o pai de Otávio,
que me encara.
—Estou sim. Obrigada. — Asseguro e vejo-o assentir.
Otávio me encara.
— Saiba que estamos aqui para o que precisar. — Senhora Felícia
fala. — Já até imagino o rostinho...
— Vamos ficar no apartamento.
— Venha almoçar conosco quando estiver melhor. — Os olhos
doces me encaram e assinto. Ela olha para Liana, que está de braços
cruzados, nos olhando. — E você também. Será muito bem vinda.
— Ah, obrigada.
Lucy sorri e bate em Leon, que olha para Lia
— Vamos sim. Muito obrigada. — Ela segura em minha mão e a
aperta.
— Não estamos te tratando bem, apenas por conta do bebê,
Mikaella. Sempre foi o sonho do meu filho ser pai... Mas a felicidade
dele, é a nossa. E se ela for você, nós também vamos ser.
Assinto e ela me abraça levemente.
— Obrigada, Dona Felícia.
— Só Felícia. — Segura em minhas mãos. — Espero você...
Sinto a mão espalmar em minha barriga e ela sorri.
— Vocês. E venham logo, em.
— Pode deixar.
Me despeço de seu Oliver, que me olha com um sorriso de canto.
Lucy chegou, radiante de felicidade, eu já a adoro tanto.
Assim que recebi alta, só queria ir para casa logo. Liana me abraçou
e disse que ia me ver mais tarde, porque tinha que ir para o trabalho.
Perguntei de Luíza para Otávio, que me falou que ela ainda está no
hospital, se recuperando. Fiquei preocupada de início, mas ele me falou
que ela está bem.
Também fiquei sabendo da pequena confusão que aconteceu na
recepção, e que Anna já está sabendo da minha gravidez. Óbvio que
faria um escândalo.
Otávio estacionou o carro e subimos juntos, com os dedos
entrelaçados, direto para o apartamento.
Me deitei no sofá, tirei os sapatos, o olhando se sentar ao meu lado
e puxar minhas pernas para o seu colo.
— Que tal um banho de banheira? Para tentar relaxar.
— Vai ficar comigo? — Arqueio a sombrancelha.
— Quer que eu vá?
— Sempre.
Estende a mão e a seguro apertado.
Entro na banheira, sentindo a água morna. Otávio se ajeita atrás de
mim, entrelaçando as pernas nas minhas.
Relaxo os ombros, sentindo suas mãos apertarem os mesmos, e ele
dá um beijo molhado. O encaro de relance, sorrindo.
— Eu te amo, muito. — Ele fala perto do meu ouvido.
Pisco devagar, vendo-o engolir em seco.
— Muito?
— Muito. — Umedece os lábios. — Eu não vou sair do seu lado,
em momento nenhum. Nunca mais.
Sorrio, balançando a cabeça e sentindo as mãos deslizarem,
espalmando em minha barriga.
Meu coração dá um salto e o encaro fixar os olhos aos meus.
— É o ciclo mais lindo da vida, Mia. Eu estou...
Me viro devagar e sento em seu colo, seguro em seu rosto e o beijo
apaixonadamente.
— Eu amo você. Meu Deus... Como eu amo você. — Diz e encosta a
testa na minha.
— Eu amo você. — Repito, com a boca a centímetros da sua.
Não falo mais nada. Ficamos calados e agarrados por um longo
tempo, somente com carícias e beijos.
Passamos o dia inteiro juntos. Otávio pediu comida e almoçamos
sem nem sair da cama.
Ele vai dormir com Luíza e garanti que vou ficar bem, já que Liana
vai dormir comigo. Dean está viajando com a avó, por isso não veio,
mas contamos a novidade por telefone e ele gritou, do jeito Dean de ser.
Conseguimos controlar o furacão que está nossas vidas, pelo menos
nessas quatro semanas que se passaram.
Todas minhas coisas estão no apartamento de Otávio. É tão estranho
e surreal dividir a casa com alguém, mas a verdade é que eu amo.
Amo acordar ao seu lado. Amo vê-lo andar pelos cômodos descalço
e sem camisa. Amo poder tê-lo em qualquer lugar da casa.
É incrível o quanto o desejo só aumentou, ainda mais.
Ele está em processo de divórcio e a situação não parece tão fácil,
óbvio. Mas não é algo que eu me meto. Luíza sempre passa um tempo
com os pais de Otávio e ele sempre vai vê-la e ficar com ela. Não nos
vimos, por que eu respeito a sua opinião sobre mim. Vejo os pais de
Otávio com frequência, assim como Leon e Lucy, que adoram trazer
presentes para o sobrinho, que nem sabemos o sexo ainda.
Vamos descobrir daqui há alguns dias, e mesmo com quase 15
semanas, eu nem pareço estar grávida. É apenas uma leve ondulação no
ventre.
Katy sempre nos visita, já que eu estou trabalhando em casa. Estava
eufórica e morrendo de saudades de nossas loucuras na empresa.
— Você está linda. — Otávio me observa pelo reflexo do espelho.
Sorrio e me viro.
— Está bom? Mesmo? — Indago e ele assente, com as mãos
enfiadas nos bolsos da calça jeans.
— Linda. Vamos?
Estou usando um vestido vermelho solto, de alcinhas, por conta do
dia ensolarado. Passo a língua pelos lábios e pego a bolsa. Coloquei
uma sandália de salto baixo e a saia do vestido marca um pouco a
barriga.
Descemos e vamos direto para o carro. Adiei o almoço na casa dos
pais dele, até me sentir um pouco melhor.
Tive uma longa conversa com minha tia, não não dava para esconder.
Contei do meu envolvimento com Otávio, sobre Anna, e o quanto
Michael está próximo de mim. Ela se desesperou de início, ficou
magoada... E eu entendi.
Contei da gravidez, que assim como o restante, foi um susto de
início, mas ela me apoiou, mesmo me dando uns esporros.
Estamos esperando apenas Gaby acabar o ano letivo, para trazer
elas para cá. Pelas minhas contas, vão chegar algumas semanas antes do
bebê nascer.
Fito Otávio tirar os óculos de sol e me encarar assim que descemos
do carro. Fico deslumbrada com a enorme mansão a nossa frente, com
um enorme e incrível jardim, que é digno dos Perrot.
— Vamos... — Chama, segura em minha mão e entrelaça nossos
dedos.
— Vamos.
Caminhamos lado a lado, e sorrio assim que Felícia se aproxima,
abrindo os braços.
— Como vai, Mikaella? Está linda.
— Eu vou bem... E a senhora?
— Estou ótima. Que coisa mais linda. — Fala, me olhando e volta a
olhar Otávio. — Oi, meu amor.
— Mamãe. Leon não chegou?
— Eu sou a atração da festa. É claro que estou aqui. — Ele surge,
sorrindo. — Como vai ruiva?
— Leon.
— Entrem... Mandei fazer um almoço incrível.
— Roger e Lucy vão chegar atrasados, como sempre. Passaram na
casa dos pais dele, mas já vão vir. — Leon revira os olhos.
Passamos pelo jardim, indo direto para a mesa perto da piscina. Se
a casa de frente parecia ser grande... Olhando agora, de onde estamos,
dá para ver que é muito mais.
Me sento devagar e Otávio sorri, beijando minha mão.
— Mikaella... — Oliver se aproxima e me cumprimenta. — Como
vai?
— Muito bem e o senhor?
— Também, estou bem. — Ele assente com a cabeça e sinto meu
rosto queimar, enquanto Leon balança a cabeça sorrindo.
— Hoje não era o dia de Luíza vim?
— Letícia falou que ela vai sair com Gaia. Ela vem amanhã.
— E você, Mia? Tem se alimentado bem?
— Sim. Muito. Tomando todas as precauções. — Assinto para
Felícia, que tira o chapéu e o coloca sobre a mesa.
Olho ao redor sorrindo.
— Vamos conhecer a casa... — Ela chama, e Otávio assente, me
olhando.
— Claro. Vamos sim. — Levanto rapidamente.
Ele me encara sorrindo e saímos juntas, lado a lado.
— Como está a gravidez? Melhorou dos enjôos?
— Sim, já melhorou bastante. — Esfrego uma mão na outra e dona
Felícia para na minha frente.
Estamos no enorme jardim, que tem alguns arbustos cheio de flores,
ao redor de toda a piscina. Ela sorri de lado e fixa os olhos aos meus.
— Acho que a senhora pensa que eu sou uma aproveitadora, ou
alguma coisa do tipo...
— Mikaella... — Começa, mas eu contínuo falando.
— Eu me apaixonei por seu filho. Entrei nisso, sabendo onde estava
me metendo, não vou ser hipócrita e falar que não. Não somos crianças,
dona Felícia, erramos e muito...
— Eu sei. — Ela assente devagar e encara Otávio, que está sentado
com Leon e o pai.
Eles riem, pendendo a cabeça para trás em uma gargalhada sonora.
— Fazia tempo que eu não o ouvia sorrir desse modo. Era como se
meu filho não estivesse... Como se não fosse ele. — Ela volta a me
encarar e aponta para o banco, onde nos sentamos. — Ele estava infeliz,
muito infeliz.
Assinto devagar.
Ela suspira e passa a língua pelos lábios.
— Otávio se culpa muito pela morte de Benjamin. A própria família
da Anna, também o culpa. Isso estava fazendo ele definhar.
Engulo em seco, vendo-a sorrir e baixar a cabeça.
— A felicidade dos meus filhos, é a minha. Eu os respeito acima de
tudo, Mikaella. — Segura em minha mão e aperta. — Quero vê-los
felizes.
— E eu o farei.
Felícia sorri e me encara assentindo.
— Obrigada. Eu amo esse jardim, lembro deles correndo por aqui.
Leon e Lucy sempre foram os espevitados, enquanto Otávio era o que
acalmava os irmãos.
O encaro onde ainda está sentado e ele me olha rapidamente.
— Vamos? Quero te mostrar toda a casa...
Me ergo, olhando-a sorrir.
Voltamos a andar pelo jardim e entramos na mansão. Tudo me
encantou. É enorme. Maior do que poderia imaginei que seria. Três
andares luxuosos.
Desço as escadas devagar, depois dela ter me mostrado o quarto de
Otávio, onde ainda mantém algumas coisas de sua adolescência. Sorrio
quando ele se aproxima e segura em minha mão.
— Mamãe está te mostrando lembranças? Acertei?
Beija minha testa e sorrio, espalmando a mão em seu peito.
— Acertou.
Aperta minha mão e dá um beijo.
— Foi no meu quarto?
Assinto.
— Vi suas fotos pelado, quando era criança. — Digo séria e ele
gargalha.
— Não tenho fotos pelado. — Fala, ainda rindo e me encarando. —
Mentirosa.
— Posso tirar algumas, se quiser... — Ajeito os botões de sua
camisa, olhando em seus olhos.
— Você pode ver quando quiser, para que fotos? — Sussurra,
esfregando o nariz ao meu.
— Hummm...
— Quando a gente chegar em casa...
— Vai fazer o quê? — Ele segura em meu queixo e o ergue.
— Imorais. — Nos viramos quando Leon aparece na porta.
Otávio sorri, balançando a cabeça.
— Deus está vendo o que iam fazer.
— Idiota.
— A magrela chegou, vamos almoçar? — Chama.
— Vamos... — Otávio me encara, segurando em minha mão.
— Mia? — Fito Leon de lado, enquanto andamos lado a lado em
direção a mesa posta. — E sua amiga? Não quis vir?
Franzo o cenho e Otávio me olha.
— Não... Disse que vem outro dia. — Assinto e ele me encara.
— Leon... — Otávio olha e ele estala a língua.
— Fala para ela, que se quiser ir para a Kiss, eu deixo o nome dela
na lista. Cortesia da casa.
O encaro sorrir e dar uma piscadela.
— Cortesia? — Otávio repete, me olhando, enquanto ele se afasta.
Liana não teria coração para lidar com Leonel Perrot e sua fama de
mulherengo.
Lia sempre foi romântica, mesmo tendo a alma livre.
Os dois juntos, seria como jogar a chapeuzinho, na toca do lobo
mau.
Lucy me abraça quando nos aproximamos. Está linda, em um vestido
preto e solto, está sorridente e radiante. Nos sentamos e continuamos
conversando.
Estou com saudades da empresa e das conversas animadoras que
tínhamos por lá.
O namorado de Lucy sorri, olhando-a gargalhar com Leon, estão
contando das viagens que fizeram juntos, como presente de aniversário.
Percebo seus olhos brilharem, enquanto a olha.
Mas sentia algo estranho também. Como se sentisse...
Culpa?
Balanço a cabeça e olho para Otávio, quando segura em minha mão.
— O que foi?
Nego devagar.
— Nada. Viajando.
— Como estão seus pais, Roger? Nunca mais os vi...
— Estão ótimos. Vamos marcar um jantar, depois. — Ele nos
encara.
— Claro. Diga a André e Soraya, que mandei um beijo.
— Eu era o preferido deles, até Lucy chegar. — Leon revira os
olhos. — Nunca mais quiseram saber de mim.
— Larga de ser dramático. — Roger fala, rindo.
Otávio beija meu ombro devagar e o encaro.
Paro, olhando para o lado e vendo a menina parar a nossa frente, o
sorriso rapidamente se desfaz em seu rosto.
— Luíza? — Ele se ergue, olhando-a. — Meu amor...
Ela me encara de cima, a baixo.
— Achei que estivesse viajado... Ia te buscar depois.
— Eu não fui. Tia Anna que me trouxe. — Ela aponta para o carro
estacionado.
Anna desce lentamente, sorrindo, com um vestido branco e saltos.
— Era só o que faltava. — Leon sussurra.
Otávio beija sua testa, enquanto ela continua me encarando, de olhos
cerrados e a expressão fechada.
Anna se aproxima, tirando os óculos devagar.
— Luíza insistiu para vir, mas se ela não for bem vinda, podemos ir
embora. Não sabia que estavam com... — Ela me encara. — Visitas.
— Luíza é sempre muito bem vinda aqui. — Leon dispara.
— Não vai cumprimentar a mulher do seu tio, Maria Luíza? — Anna
indaga.
— Anna. — Otávio a encara de cara feia.
— Falei alguma mentira? Como vai Lucy?
— Bem. E você?
— Muito bem. _ Ela se senta ao meu lado, me olhando inteira. —
Como vai, Mikaella?
Arqueio a sobrancelha.
— Está tão pálida, querida. Tem passado bem? Gestação é uma
coisa bem delicada, não é?
— Luíza, amor, adivinha o que temos de sobremesa? Bolo com
sorvete. Daqueles que você ama. — Felícia sorri. — Gilian... Leve
Maria Luíza para dentro, dê o maior pedaço de bolo e o sorvete junto.
Ela ama.
A menina nos encara e Otávio a fita sorrindo.
— Vá, amor. — Anna fala e lhe dá um beijo.
Luíza sai rapidamente, olhando para trás a cada segundo, até entrar
em casa.
Sinto as mãos tremerem, enquanto fito Anna.
— O que está fazendo aqui, Annabell?
Ela encara Otávio, balançando a cabeça.
— Almoço de família, é um marco dos Perrot. Não? — Coloca a
mão no peito.
— Se não percebeu, você não é bem vinda aqui. — Leon diz entre
dentes.
Ela volta a me fitar.
— Quase me importo com a sua opinião, Leonel. Eu apenas vim ver
com meus próprios olhos, o quanto vocês aceitaram essa mulher na vida
de vocês.
— Saia daqui, Anna. Por favor. — Otávio pede, com a respiração
ofegante.
— Annabell... — Oliver suspira.
— Claro que vão ficar do lado da amante. Essa mulher, que está
aqui sentada com essa pose... Foi a mulher que acabou com meu
casamento e com minha família! E vocês acham que eu estou errada?
Que eu sou a errada? Por Deus...
Engulo em seco, afasto a cadeira e me levanto.
— Oh... Lá vai ela se levantar e dar uma de ofendida. — Ela ri
debochada, me olhando.
Fica me olhando, sorrindo diabólica e sinto o sangue ferver por
dentro.
Ela permanece me olhando fixamente, sem mover nenhum músculo.
— Você é o plano B, garota. O estepe, que ele procurou... Você
nunca vai ser uma Perrot. Nunca.
— Annabell, por favor. — Felícia levanta.
— Você sempre será a outra. Sempre. A amantezinha de quinta. Você
é a segunda opção, garota.
— Você me dá pena. — Sussurro, olhando-a. — Uma pena
tremenda, Anna.
— Anna, eu disse chega! Chega, inferno! — Otávio ralha, enquanto
ela se ergue sorrindo.
— A verdade dói, não é? Dói muito!
— Vai se internar, maluca! — Leon a encara. — Você precisa se
tratar!
— Você não passa de uma aproveitadora, que viu nele, a
oportunidade de subir na vida, era o que você queria... Não? Dinheiro e
poder.
Balanço a cabeça.
— Mia... — Otávio segura em meu braço.
Já estão todos de pé, enquanto ela continua sorrindo.
— Você nunca vai conseguir se tornar a esposa, porque eu vou ser o
inferno na sua vida. Eu vou ser seu pesadelo, garota. Você não sabe com
quem está lindando.
— Com uma mulher, que se acha dona do mundo e que nem conhece
a vida, da forma que ela é. A grande megera, Annabell Perrot. — Sorrio,
olhando-a. — Eu errei... errei quando me envolvi com ele, mas você
deveria ter muito mais medo da nossa conexão, do que pelo fazemos.
Meu coração bate descontrolado no peito.
Oliver a segura, enquanto Otávio segura em minha mão.
— Eu nunca quis ter a sua vida, nem tomar nada do que você diz ser
seu, Annabell.
— Falsa!
— Eu nunca fui sua amiga, não me meti no meio do seu lar para
tomar o seu marido. Mas eu tentei ficar longe dele...
— Mikaella, não vale a pena. — Otávio sussurra, mas nego.
Ela arfa me olhando, os olhos cravados aos meus com fúria.
— Vamos sair daqui. — Otávio segura em meu braço e a encaro. —
Vamos... Deixa ela falar o que quiser.
— Annabell, você está passando dos limites!
— Ela é a vagabunda, aqui. Ela nem deveria estar aqui! Ela tomou
ele de mim... Ela entrou na minha casa! Ela...
— Será que você não entende, que eu que fui atrás dela? Eu, Anna...
Eu! Eu a amo...
Ela para quando ele diz isso e sorri.
— Se amam? Amam!? Eu passei vinte anos com você. Isso é amor!
— Bufa, passando a mão no rosto. — Eu te dei dias da minha vida. Eu te
amei, Otávio! Eu amei você! Como ninguém nunca vai amar...
Leon a fita, balançando a cabeça.
Eu quero ficar calada, mas estou engasgada.
— Você acabou com meu casamento...
— Não é culpa minha, se ele não te quis mais, Anna! — Engulo em
seco, a olhando. — Mas foi, e é, maior do que eu...
Ela me encara e percebo seu queixo tremer descontrolado.
— Foi além do que qualquer outra coisa. Foi além de tudo que
poderíamos imaginar. Você odeia mais a si mesma, do que eu, Anna.
Você se odeia muito mais... Por que de uma certa forma, eu sou seu
pesadelo. Eu sou o que vocês nunca juraram fazer, ou ter.
— Ordinária barata!
— E esse seu ódio de mim... Eu te garanto, Anna, que fiz em poucos
meses, o que você não fez em vinte anos!
Engulo em seco e ela arfa de ódio.
Leon sorri e me encara.
Não é um disputa aqui, não tem não como.
— Essa barriga não vai o prender... Nunca. Ouviu? Nunca.
— Mia... — Ele me encara e nego.
— Querem saber por que? — Diz arfando e pega a bolsa.
Tira um envelope de dentro, ainda me olhando.
— Eu estou grávida.
O silêncio se torna absurdo.
— Enlouqueceu? — Ouço ele falar.
O encaro e ela sorrir de lado.
Leon franze o cenho, enquanto Lucy arregala os olhos.
— Anna, você...
— Acham que eu estou mentindo? Abram o papel. Vejam com os
próprios olhos.
— Annabell...
Anna sorri e pego o papel, passando os olhos rapidamente pelo
mesmo.
Vejo os números e paro quando vejo o nome destacado.
Positivo.
Nego, olhando-a.
— Isso é impossível. Você sabe...
— Eu sei? Você quer que eu refresque a sua memória, meu amor?
— Otávio, ela está louca! — Leon rebate.
— Isso é impossível, Annabell! Você sabe disso... Você sabe... —
Assinto, sabendo que realmente é impossível.
— Está vendo, Mikaella... Eu sou a esposa... Sempre serei.
— Anna, estou pedindo... — Peço arfando enquanto a raiva se
apossa de mim.
Mikaella me encara e nego, olhando-a.
— Você é digna de pena, Anna. Você é mais sã, do que todos nós
juntos. A única coisa que sinto por você, é pena. Você é mesquinha. —
Leon a encara de cima a baixo.
— Seu bastardo que fique bem longe da minha família.
— Já chega! Chega! — Me aproximo e a seguro pelo braço, apenas
para me acompanhar.
— Cuidado... Eu estou grávida!
— Cale a boca, Annabell! — Grito, fazendo-a entrar na sala. —
Você não está! Nós dois sabemos bem disso.
— Você sabe que o que fizemos é mais do que suficiente para gerar
uma gravidez, refrescou sua memória?
Nego, passando as mãos pelo rosto.
— Descobri anteontem e vim te fazer essa surpresa. Você deveria
estar feliz, deveria estar muito feliz! É nosso filho, meu e seu! Você
deveria estar muito feliz... Você não está?
— Você está louca...
— Eu perdôo você, por ter tido outra mulher. Vamos recomeçar do
zero, criar nosso filho e ser feliz.
Nego devagar.
— Eu não quero você, Annabell, por Deus! Eu não quero mais você!
— Vamos ter um filho, o bebê que você sempre quis. Vamos
cicatrizar essa dor que a morte de Ben nos causou. — Ela diz me
olhando e sorri.
— Não tem bebê nenhum, Annabell! Pare!
— Foi feito com todo amor do mundo, você sabe disso. Você me
amou. Eu sinto que é um menino, outro menino...
Coloca as mãos na barriga, sorrindo.
— Nosso menino.
Nego devagar. Ela começa a chorar, me olhando.
— Você está fora de si, Annabell.
— Nós nos amamos.
— Não existe mais nós, Anna! Não existe mais.
Ela ergue os olhos e me encara.
— Estamos ligados para sempre, amor. Para todo o sempre, agora.
E você não vai se separar de mim... Não mais.
Franzo o cenho quando minha mãe abre a porta e nos olha.
— Eu te amo, mais que a mim mesma. Sou capaz de tudo para te ver
feliz. E eu vou fazer. Diga a ele, Felícia. Diga que vamos ter um filho...
Nosso. Meu e dele.
— Anna, você não está bem. — Mamãe fala, mas é só ri.
— Estou. Claro que estou. Mas ela está roubando ele de mim... Eu
vou mata-la. Vou matar ela...
— Você não vai encostar um dedo na Mikaella! — Disparo com a
voz rouca.
Meu pai entra rapidamente.
— Eu vou mata-la! Eu juro que acabo com a vida dela... Eu juro...
— Você me dá pena, Annabell. — Me viro devagar.
— Ligue para Letícia vir busca-la, Felícia. Anna não está sã. —
Meu pai fala.
É impossível ela estar grávida. Impossível.
Encaro Leon, que vem subindo os degraus de dois em dois e me
encara quando para.
— Cadê a Mikaella?
— Lucy e Roger levaram ela. Foi melhor, ela estava nervosa e pediu
para ir para casa.
— Porra, Leon! — Praguejo.
— Se ela ficasse aqui, ia ser pior! Você conversa com ela depois.
— Meu irmão me encara. — Otávio...
— Anna está louca. Completamente fora de si.
— Percebeu isso só agora?
— Leon... É impossível ela estar grávida. Eu e ela...
Ele me encara e nego devagar.
— Aconteceu algo?
— Não vou mentir, falando que não. Nós transamos, mas foi algo tão
sem importância e nem cheguei...
— Ah, porra, Otávio! — Ele joga as mãos para o alto.
— Eu sei que é impossível. Anna não está grávida.
— Ela não está... — Leon me fita e o encaro. — Sei que não...
— Leon... Faz dias que está querendo me falar algo, ou é impressão
minha?
Ele fecha os olhos e balança a cabeça.
— Eu tenho. Cadê o teste? Onde está?
— Não faço idéia. Leon, o quê...
— Eu preciso ir fazer uma coisa, fica aí com essa louca e depois vai
ver a Mikaella. Eu te ligo.
— Leon! — O chamo, mas já saiu disparado.
Balanço a cabeça, passando as mãos pelos cabelos, raiva e angústia
apertam o meu peito de uma forma, que me impede até de respirar.
Entro devagar e vejo-a sentada perto dos meus pais, mas assim que
me vê, se levanta.
— Já a mandou ir embora? Ela vai aceitar, esse seu caso foi um
erro.
Engulo em seco, franzindo o cenho.
— Você me ama demais. E vamos ter um bebê.
— Você está louca. — Digo baixo e vejo Luíza se aproximar.
— Eu contei para ele. Mas acho que seu tio não ficou feliz com a
novidade.
Luíza para, nos olhando.
— Não ficou feliz? Tia Anna está grávida... Ela vai ter um bebê. —
Ela sorri, se aproximando.
Meus pais me encaram e engulo em seco.
— Tio Otávio...
— Ele não está feliz.
— Luíza...
— Não está feliz, tio Otávio?
Engulo em seco, suspiro e a encaro fixamente. Meus pais me olham
e balanço a cabeça.
Alguns minutos depois, Letícia entra, junto de Nathan. Continuo sem
me mover, a olhando.
Ela está fora de si.
Completamente.
— Anna... Minha filha.
— Ele não quer meu bebê. Ele não quer nosso filho. — Ela diz
baixo.
— Ela não está grávida. — Digo baixo, os encarando.
— Vamos embora. Chega, Annabell! Não ver que o que está
fazendo? Se pondo ao ridículo! — Nathan berra.
— Vocês precisam resolver essa situação.
— Ela está frágil. — Letícia nos encara. — Anna...
— Meu filho não vai ter pai. — Ela repete, balançando a cabeça. —
Meu Deus.
— Ela está realmente grávida.
Me encaram e nego veemente.
— Isso é impossível, Letícia.
— O teste está aí, ela o fez.
— Deixe, mamãe. Não temos que provar nada a ninguém. Vamos
levá-la embora. Cadê Maria Luíza?
— Estou aqui. — Ela desce as escadas com Lúcia, que chegou de
novo há pouco tempo.
— Vamos.
— Ela vai, se ela quiser. — Digo, encarando Nathan, que suspira.
— Eu volto. Tia Anna precisa de mim. Eu prometo que amanhã eu
volto... — Sussurra.
Lúcia deve ter conversado algo com ela, pois está diferente de
quando chegou.
Beijo sua testa demoradamente e Anna me encara, enquanto Letícia
e Nathan a seguram.
— Vamos ter nosso filho, agora.
Chega a dar pena, se eu não sentisse tanta raiva. Vê-la no estado em
que está, é deprimente.
Passo as mãos pelos rosto quando a porta se fecha, e me sento,
soltando o ar pesado.
— Meu Deus... — Lúcia suspira. — Ela está louca.
— Como Mikaella está? — Pergunto ao me levantar.
— Ela quis ficar sozinha.
— Inferno! — Praguejo com as mãos nos cabelos.
Meu pai cruza os braços e me fita.
— Se Anna estiver realmente grávida, meu filho...
— Papai, ela não está.
— Como ela diria uma coisa dessas, Otávio?
— Eu saberia. — Digo com a voz arrastada. — Preciso ver a Mia...
— Deixem ele ir. Depois a gente vê isso direito. — Lúcia me encara
e assinto.
Me despeço e saio rapidamente, com o coração apertado. Entro no
carro, arrancando e saindo em disparada.
Não é possível. Não é.
Aperto o volante, o socando com força e passo as mãos no rosto. É
claro que algo de errado está acontecendo.
Mas ao mesmo tempo que sinto que é mentira, penso se Anna teria
coragem de falsificar um teste assim.
Inferno.
Desço do carro assim que estaciono, e entro no prédio, entro no
elevador e aperto os números, alguns andares depois, o mesmo se abre
novamente.
Vejo a sala vazia e sigo para o quarto, que também está vazio. Paro
ao ver a porta se abrir e Mikaella sair do banheiro enrolada no roupão,
com uma toalha nos cabelos, e o rosto vermelho.
— Mikaella. — Digo baixo, vendo-a soltar a toalha e os cabelos
caírem, ainda úmidos.
Ela se vira me olhando e passa as mãos pelo rosto.
— Mia...
— Ela está grávida mesmo? — Sua voz sai embargada.
— Eu tenho certeza que não. Eu sei que não.
— Vocês transaram? Você tem dúvidas?
— Sim. Transamos. — Admito. — Mas eu sei que ela não está. Foi
algo realmente carnal, não teve amor, carinho... Não teve nada.
Ela me encara, engole em seco e passa as mãos pelos cabelos.
— Foi logo depois dela ter ido para o hospital. Aconteceu, mas nem
cheguei a...
Mikaella ri, fechando os olhos.
— Você tem dúvidas? Tem dúvidas que ela está grávida?
— Eu sei que não. Eu sei... Por que, não...
— E se estiver? Hein? Se ela realmente estiver?
Nego devagar, sentindo o peito apertar.
Mikaella me fita e me aproximo, vendo seus olhos marejados.
— Não muda nada. Nada.
— Nada? Para você não muda nada! Mas muda tudo, Otávio! Tudo!
— Mia... Não vai mudar! Eu não vou ficar preso a Anna, por causa
de uma gravidez. Gravidez essa, que nem existe. Me ouça.
— Estou te ouvindo. Vamos... Diga. — Me encara, balançando a
cabeça.
— Amanhã ela vai fazer um novo exame, em um consultório de
confiança. Mas eu sei... Eu sei que ela não está grávida, Mia.
Eu sinto.
Ela assente, tira o roupão, pega a roupa que nem tinha visto em cima
da cama. A barriga já aparente, a deixa tão linda.
— Onde vai? — Pergunto enquanto ela coloca o vestido
rapidamente.
— Vou para a casa da Lia... — Diz me olhando. — Resolva tudo
que tem para resolver, e decida...
— Decidir, Mikaella? Decidir? Eu quero você. Eu estou com você.
E nada vai mudar... Nada.
Ela para, fecha os olhos e torna a abrir, me encarando fixamente.
— Acha que se eu a quisesse, eu estaria aqui? Eu estaria pedindo
para que você acredite em mim? Eu quero você!
Ralho, jogando os braços.
— Eu transei com ela, sim. Estávamos distantes, e foi algo tão... Tão
banal, que nem lembrava. Eu estava são, e estou aqui falando para você,
que ela não está grávida.
Ela fica em silêncio e a encaro limpar o rosto.
— Eu não quero a Anna. Não quero voltar para aquela casa. Eu não
quero mais me sentir sufocado, me sentir preso no meu próprio corpo...
Eu quero você, o que preciso para que entenda, que é você... É só você.
Estou praticamente me ajoelhando aos seus pés.
E o farei se for preciso.
Engulo em seco, sentindo-a me olhar.
— Eu vou resolver, Mia. Mas por favor, não...
Sinto os braços rodear meu pescoço e ela me beija. Seguro em seu
rosto e colo a testa na sua.
— Eu vou resolver tudo, meu amor. Tudo.
Tiro os cabelos molhados da frente e acaricio seu rosto, enquanto
ela me olha.
Seguro em seu queixo, erguendo-o.
— Eu consigo enfrentar tudo, se estiver comigo, Mia. Tudo. —
Passo o polegar na sua boca e a abro.
Mikaella franze o cenho.
— Não me deixe...
— Eu não vou. — Fala baixo e a encaro.
Sorrio aliviado, apertando-a em meus braços e beijo a boca com
voracidade.
— Seja o que for, vamos enfrentar juntos. — Sussurro e volto a
beija-la.
E realmente, seja qual for a tempestade, vou enfrentar de frente, se
ela estiver comigo.
Bebo o suco devagar, mas nada parecia descer. Estou enjoada e
com uma forte dor de cabeça. No café da manhã comi apenas uma salada
de frutas com mel e mais nada.
Acordei com Otávio me olhando, o cenho franzido e a expressão
preocupado. Me beijou devagar, como se para ter certeza que eu
realmente estava presente.
Meu coração está apertado e o entalo na garganta aqui, preso. Ele se
deitou em meu peito, enterrando o rosto na curva do meu pescoço e ficou
por uns minutos assim.
Ficamos calados, apenas ouvindo a respiração, um do outro, na
calmaria que do quarto.
Ainda absorvendo tudo que aconteceu na casa dos pais dele. As
palavras de Anna. É visível o quanto ela está desequilibrada, fora de si.
Otávio toma um banho, come algo rápido e liga para Lucy, já que
têm coisas para resolver e que precisam fazer.
Agora Lia está aqui, andando de um lado, para o outro, xingando
Anna de todos os nomes possíveis.
— Ela é sonsa. Cobra. Naja. Cacatua. — Minha amiga se vira e
para, colocando a mão na cintura. — Ela ainda é desse tempo, que acha
que filho prende marido?
Dou de ombros e coloco o copo na mesa de centro.
— Otávio não quer ela, nem sob tortura. Meu Deus. Agora interna
ela.
Contei cada palavra que ela falou. E até entendo a sua revolta e
raiva em minha direção. Só não me importei.
Mas saber que possivelmente, ela pode está grávida, me deixou
inquieta. Impossível não ficar.
Não digo que estou me sentindo traída. Séria cômico, se não fosse
trágico. Mas estou inquieta.
Se ela usa a ligação de Luíza e Otávio, o que não vai fazer se tiver
um filho com ele. Meu Deus.
Lia chegou, assim que Otávio saiu. Pedimos comida, e com todo o
esforço do mundo, eu engoli. Passo a língua pelos lábios, me mexendo
no sofá e ela me encara.
— Sabe que estou aqui, sempre. — Diz me olhando. — O amor é
uma droga, né?!
Nego, olhando-a.
— Não, Li, as pessoas que são uma droga.
— É. Espero que ela não ouse tocar em você, ou juro que esfrego a
cara daquela vara de cutucar estrelas no chão.
Gargalho e a puxo para um abraço.
— Eu amo você.
— Eu também. Muito. — Lia suspira e a fito. — Você, que não
acreditava no amor, está aí, toda apaixonada...
— E ferrada. — Balanço a cabeça. — Mas estou...
— Otávio já deixou claro que te dá o mundo, se quiser. Queria um
príncipe, para chamar de meu, também.
— Que ele não venha com uma bruxa Bonarez do lado. — Rio e ela
franze o cenho.
— Cruzes. Eu só me apaixono pelos cavalos do príncipe, ou os
vilões.
— Lia...
— Eu tenho o dedo tão podre para namorados. — Nos encostamos
no assento do sofá rindo. — Às vezes tentamos ouvir a cabeça, que diz:
não vai. Mas o coração fica: vai lá, boba. E sabe quem escolhemos!? O
maldito do coração.
Sorrio, assentindo.
— Amar dói, às vezes. — Digo e encosto a cabeça em seu ombro.
Ela passa aos mãos pelos meus cabelos e ri baixinho.
— Às vezes... Mas olha quem está aí dentro por causa de um amor.
— Lia põe a mão na minha barriga. — Titia está ansiosa para conhecer
você.
Sorrio e coloco minhas mãos por cima das suas.
Voltamos a conversar e estou aliviada por ela finalmente ter se
livrado do Dylan. Fizemos pipoca e vamos assistir um filme, mesmo eu
não tendo cabeça para prestar atenção em nada.
A campainha toca e Liana se ergue para atender, abre a porta e
encaro Leon, que entra rapidamente.
Os olhos arregalados e pálido.
— O que houve? — Sinto uma batida falhar no coração.
Liana nos encara e me ergo, sentindo a respiração falhar.
O encaro segurar uns papéis nas mãos e sem ao menos esperar, um
soluço escapa da sua garganta e ele desaba em um choro agoniado.
— Leon! — Coloco as mãos em seu rosto. — Leon... O quê
aconteceu?
Ele nega, tomando o ar, que parece não vir de jeito algum.
Liana o encara e eu seguro em suas mãos. Ele nega veemente, com
lágrimas descendo pelo rosto.
As mãos trêmulas, enquanto limpa o rosto devagar.
— Beba... — Lia estende o copo com água, que ele segura
rapidamente.
— Leon, está me deixando preocupada. — Engulo em seco.
Os olhos azuis marejados me fitam.
— Precisamos conversar, Mikaella.
— O que houve?
— Eu vou deixar vocês... Sozinhos. — Lia sussurra.
— Pode ficar, Liana. — Leon a encara e volta a me fitar. — Me
desculpe ter vindo aqui, no estado em que você está.
Franzo o cenho e o coração palpita, apertando no peito.
— Mas eu sei que você é a única que vai impedi-lo de fazer uma
desgraça...
— Leon, o que aconteceu? — Pergunto novamente, vendo-o assentir
enquanto abre a pasta.
— Eu esperava tudo dela, tudo... Menos isso. — Fala com o olhar
perdido.
Franzo o cenho e ele me entrega a pasta.
Sinto meus dedos trêmulos quando a seguro. Meus olhos passeiam
por cada página e meu coração palpita desgovernado no peito.
Leio devagar e paro estática.
Fito Leon, que baixa os olhos e Liana me encara.
— Leon... — Sussurro, vendo-o colocar as mãos no rosto e voltar a
chorar copiosamente.
— Mia... — Liana me encara.
As lágrimas descem sem eu nem perceber.
— Meu Deus. — A voz mal sai. — Meu Deus!
Sinto as folhas cair da minha mão, então pego e entrego a Liana, que
segura rapidamente.
— Meu Deus... — Repito, arfando e balançando a cabeça. — Meu
Deus...
Coloco a mão sobre a boca e Leon me fita.
— Leon...
Ele se ergue e Liana arregala os olhos.
— Ela matou meu sobrinho! Ela provocou... Ela... Ela matou o Ben!
Me sento, tomando o ar que não vêm de forma alguma. Leon limpa o
rosto e me encara, ainda atordoado.
— Ele... O Otávio...
— Ele a levou em uma clínica, para fazer o exame. Ele não sabe de
nada... Nada. E eu preciso... Contar. — Leon fecha os olhos e torna a
abri-los, me olhando.
— Como? Como foi isso, Leon? — Passo as mãos pelos cabelos.
— Calma, Mia. — Lia pede.
Leon começa me explicar tudo. Desde as desconfianças, até as
provas que ele estava atrás a semanas.
Minha cabeça só roda, em pensar como Otávio vai reagir. Toda a
culpa que ele sente, que eles jogaram para cima dele. Meu Deus.
— Ele vai enlouquecer... Leon, ele vai enlouquecer.
Lia nos encara e percebo-a limpar o canto dos olhos.
É inacreditável.
De todos os seres desprezíveis e traiçoeiros.
— Eu preciso levá-lo até o médico, ele precisa saber de tudo... Mas
eu sei que ele pode fazer uma besteira, e só você vai para-lo, Mia.
Passo a língua pelos lábios, arfando.
— Leon...
— Ele não vai suportar.
Meu coração bate descontrolado no peito. A mente a mil por hora,
me fazendo enjoar. Balanço a cabeça, ouvindo tudo que ele conta, a
forma sórdida que Anna arquitetou tudo.
Estou enojada.
Liana não saiu do meu lado e Leon parece anestesiado.
Se nossas cabeças estão perturbadas, assim, me assusta pensar na
forma que Otávio vai ficar.
— Leon...
Ele se ergue e passa os dedos entre os fios negros dos cabelos.
Liana olha entre nós dois.
— O quê vamos fazer?
— Vou conversar com ele. Mas eu temo pelo que ele pode fazer,
Mia.
Otávio:
Anna sorri, me olhando.
— Eu fiquei tão feliz, em saber que vamos ter o nosso filho. Nosso
bebê. Prefere um menino, ou uma menina?
Continuo calado.
Fomos em uma clínica de minha confiança, onde ela fez o exame e
fiquei o tempo inteiro ao seu lado. Eu estou exausto.
— Podemos colocar o nome do seu pai, ser um for menino. Ou
Aurora, se for uma menina. — Ela sorri, ainda me olhando.
Passo as mãos pelos cabelos e solto um suspiro pesado.
— Você pode ao menos fingir que está feliz com o nosso bebê? Ele
sente, sabia?
Olho ao redor, encarando a casa onde passamos tanto tempo juntos,
mas não consigo me sentir a vontade. Me sinto sufocado, agoniado.
— Você vai estar ao meu lado, não é? Quando nascer?
Engulo em seco, fecho os olhos e me viro, olhando-a.
— Você acha que eu vou cair nesse teatro, Anna? Por Deus. Você
fala coisa com coisa.
— É nosso filho. Meu e seu. — Ela sorri e me ergo, soltando o ar.
— Não tem bebê algum, Annabell! Eu sei que não.
Estou cansado de bater na mesma tecla. Nego e saio o mais rápido
que posso. Ela nem se mexeu, ficou com as mãos na barriga, sorrindo.
Me despeço de Luíza, que está no quarto, e parece animada com a
suposta gravidez da tia. Com um fio de esperança no olhar, de que eu
voltaria a morar aqui.
Mas não consigo passar um minuto mais.
O celular toca insistente e conecto no bluetooth do carro.
— Ei... Aonde você está? — A voz de Leon soa e aperto o volante.
— Indo para casa. Estou cansado.
Ouço a respiração e franzo o cenho.
— Está tudo bem?
— S-sim. Você pode me encontrar em um lugar? Te mando o
endereço.
— Claro.
— Estou te esperando.
Desliga a chamada e estalo o pescoço, de um lado para o outro.
Vou mandar uma mensagem rápida para Mikaella. Estou preocupado
com seu estado e, com medo.
Com medo que ela me deixe. Com medo de...
Fecho os olhos, vendo a mensagem com o endereço piscar no
painel.
Hospital Sant Anne.
Franzo o cenho e sigo para o endereço.
Perdi o dia inteiro. Letícia enchendo minha cabeça, falando o quanto
Anna está frágil e debilitada.
Foi um tremendo inferno.
Alguns minutos depois, paro o carro e vejo Leon parado, com os
braços cruzados. Ele me olha e sorri levemente de lado.
— Oi...
— Dá para me contar o que está acontecendo? — Indago e ele me
encara.
Percebo uma pasta em suas mãos e sinto a cambalhota em meu
coração.
— Foi algo com a Mikae...
— Não. Ela está bem. A gente precisa conversar, Otávio.
— Aqui? Nesse hospital?
Ele assente e franzo o cenho.
— Você precisa me ouvir com calma, agora, por favor.
Ando de um lado para o outro na sala do hospital, o mesmo em que
vivi o pior dia da minha vida. Eu odeio estar aqui.
Mesmo que tenha ficado por uns dias, desde que Anna se internou.
Leon está sentado cabisbaixo e volto a encara-lo. A recepcionista
nos pediu aguardar uns minutos, mas que parecem horas.
— O que estamos fazendo aqui, Leonel? — Indago e ele ergue o
olhar, encontrando os meus.
— Com licença. — Olhamos para a porta de imediato, quando o
senhor de idade entra. — Boa tarde.
— Boa tarde.
— Esse é o meu irmão, Otávio Perrot. — Leon assente e ele me
encara, dando um leve aceno.
Ele coloca a pasta sobre a mesa e só fico olhando.
Uma batida falha no meu coração quando ele se senta e suspira.
— Sou Pedro, diretor do hospital. Sente-se.
Me sento, ele se levanta, vai até uma gaveta e pega uma pasta
lacrada.
Volto a encarar Leon, que me olha.
— Um de nossos enfermeiros, foi afastado de sua função, por erro
em sua conduta. — Ele me encara e franzo o cenho. — Ele forjou um
laudo e descobrimos apenas há alguns meses.
— Foram coniventes. — Leon dispara e o médico nos encara.
— Seja direto, doutor. — O encaro.
— O laudo da morte do seu filho foi alterado.
— O que... Do que está falando!? — Sinto um tremor passar pelo
meu corpo.
Leon segura em meu ombro e volto a encara-lo.
— Leon...
- Não foi uma morte fetal, Senhor.
— O quê? — Sinto meu rosto queimar e os olhos arderem sem
parar. — Leonel.
— Otávio. — Meu irmão me encara e nego.
Minha cabeça dá um giro e sinto o ar faltar.
Fito o médico, que me olha, mas nego.
— Seu filho tinha uma síndrome, mas não foi isso que causou sua
morte.
Olho para ele, sentindo o ar faltar e meu coração bater
descontrolado.
— A senhora Annabell, chegou aqui com um quantidade alta no
sangue, de uma droga injetável, que provoca o aborto.
Nego devagar, o olhando.
Fito Leon, que baixa a cabeça.
— Não... Não... Não! — Repito arfando. — Não!
Me ergo e sinto o mundo girar, a cabeça pesar e as pernas fraquejar.
Nego, balançando a cabeça e o entalo no peito me faz sufocar.
— É Men...tira! — Digo. — Eu vi... Eu vi ela sangrar... Eu vi... Eu
vi...
Sinto meu corpo tremer e por um momento, é como se minha alma
tivesse saído.
— Otávio... — Leon me segura, mas me solto.
— Mentira! Ela... Não faria isso. Ela não fez, Leon...
Meu coração dá uma palpitada tão forte, que parece que vou morrer.
— Ela fez, meu irmão. Ela fez.
Volto a negar, fechando os olhos.
— Todos os papéis estão aqui. Annabell provocou o aborto e a
hemorragia causou uma obstrução em suas trompas. Ela ficou estéril.
Sinto a pontada no peito e desabo na cadeira. Absorvendo tudo que
está vindo a tona na mente.
— Otávio... — Leon me chama e o encaro.
Cerro o punho e me levanto.
— QUE INFERNO DE HOSPITAL É ESSE? QUE PORRA DE
MÉDICO É VOCÊ, QUE NÃO VIU ESSA MERDA!?
Avanço sobre ele e o seguro pelo colarinho da camisa.
— Eu vou acabar com essa merda! EU VOU ACABAR COM ESSA
MERDA!
— Otávio! — Leon me segura quando o jogo sobre a cadeira.
— Que tipo de hospital é esse? VOCÊS NÃO VIRAM ISSO? NÃO
VIRAM ?
A garganta rasga, enquanto as lágrimas descem rolando, o choro que
estava preso, se torna descontrolado.
— Eles omitiram. — Leon me encara. — Meu irmão...
Balanço a cabeça, sentindo a dor tomar meu peito.
— Meu filho... Meu filho... — Fico repetindo.
Meu Deus!
Meu sangue borbulha de ódio.
De culpa.
De raiva.
— Eu vou... Acabar com esse hospital! — Leon me segura pelos
braços e o doutor me olha. — Eu vou...
— Me ouça!
Estou cego de ódio.
Meu filho... Meu filho!
Limpo o rosto com as costas das mãos e Leon me olha.
— Ela... Ela matou meu filho! Ela... — As palavras saem
atropeladas.
— Foi uma dose alta. Ela quis provocar a morte do feto.
—Era um bebê! — Sinto o ódio me tomar enquanto viro a mesa.
Os objetos caem no chão, causando um estrondo gigante. Em questão
de segundos, os seguranças entram e Leon me encara.
— Otávio...
— Eu vou acabar com isso aqui! Eu vou acabar com essa merda de
hospital! Eu vou... — Coloco o dedo em riste e o médico me olha. — Eu
vou acabar...
O choro preso na garganta me faz desabar, agoniado, e saio dessa
merda de sala, batendo a porta, causando um estrondo.
Todos os olhares está em minha direção e eu estou me sentindo
sufocado.
— Otávio. Otávio... — Leon vem logo atrás. — Me ouça!
— Como? Como!? Leon, como foi...
— Vamos conversar. Vamos conversar e eu vou...
— EU NÃO QUERO CONVERSAR! EU NÃO VOU
CONVERSAR...
— Otávio, eu sei como...
— Ela matou meu filho!
Fecho os olhos, sentindo as lágrimas rolarem e sinto o abraço
apertado que Leon me dá. Minhas mãos tremerem e meu coração está
estilhaçado.
◆◆◆

— Ele morreu! Nosso filho morreu... — Anna chora copiosamente,


com as mãos no rosto.
Me arrasto até a cama e a abraço apertado. Nosso choro se torna
um só. Agoniado e desesperado.
É a pior dor que eu já senti.
É a pior dor que alguém pode sentir.
Fecho os olhos, deixando as lágrimas caírem e o soluço de seu
choro se torna intenso. A dor é tanta, que mal conseguimos raciocinar.
— Eu estou aqui, Anna.
— Ele se foi... Nosso bebêzinho se foi. — Diz baixo, segurando na
lapela da minha camisa.
Beijo sua testa e o rosto banhado por lágrimas, as limpo
rapidamente e a encaro.
— Me perdoe. Me perdoe, Anna...
◆◆◆

Abro os olhos e Leon me olhar fixamente.


Estamos no carro, eu nem consigo falar. Estou com um entalo na
garganta.
Ele estaciona em frente a casa dos nossos pais. O encaro de relance,
e o vejo passar as mãos pelos cabelos.
— Eu senti que tinha algo de errado quando você me falou dos
papéis que tinha encontrado. Eu fui atrás das pistas e... — Para,
balançando a cabeça. — Eu esperava tudo dela, menos isso.
Limpo uma lágrima que cai.
Tantos planos... Tantos sonhos.
Como uma mãe pode fazer isso?
Como?
— Você precisa se acalmar um pouco...
Leon limpa o rosto e Gilian se aproxima, nos olhando.
— A senhora Felícia foi até a casa da senhora Anna. Ela resolveu
fazer um jantar para anunciar...
Leon abre a porta do carro, desce e se aproxima de Gilian.
Engulo em seco, passo para o banco do motorista e arranco com o
carro, sem ao menos ele esperar.
— Otávio!
Os pneus cantam, enquanto saio em disparada. Soco o volante com
tanta força, que sinto minha mão doer. Mas nada se compara com a dor
em meu peito.
Um soluço escapa de minha garganta e um choro descontrolado me
domina.
O ódio me domina.
Eu não o peguei no colo! Não pude ser um pai para ele!
Freio o carro bruscamente, observando o movimento em frente a
casa. Salto, batendo a porta ao descer, com uma fúria imensa que parece
crescer ainda mais, a cada passo que eu dou.
Olho para alguns fotógrafos parados e o diabo a quatro. Passo,
ignorando todos os que tentam falar comigo. Subo os degraus e entro
como um foguete descontrolado na sala.
— Senhor Perrot...
— Olha, o papai chegou... — Anna acaricia a barriga, sorrindo.
— Otávio? Meu filho... — Olho para minha mãe.
Sinto meu peito subir e descer descontroladamente.
— Otávio... — Lúcia chama, mas apenas fixo o olhar em Anna, que
está parada entre Michael e Letícia.
Gaia me encara.
— Você vêm comigo. — Seguro Anna pelo braço.
— O quê?
— O que está fazendo, Otávio? Solte-a! — Letícia altera a voz, nos
olhando.
Meu pai está parado, me olhando, mas não dá um passo sequer.
— Eu vou subir com ela e ninguém... Ninguém, entendeu!? Vai
impedir.
— Ficou louco? — Nathan rebate.
— Não pague para me ver.
— Deixe-o, Nathan.
Subo, sem me importar com os olhares lançados em nossa direção.
Minha garganta forma um nó, que me impede até de respirar.
— Otávio...
Bato a porta e ela engole em seco, assutada.
— Amor...
— Cala a porra da sua boca! — Altero a voz.
Ela coloca a mão sobre a barriga.
— Eu estou grávida, Otávio. A casa está cheia de fotógrafos. Não
está feliz?
Essas poucas palavras tem o poder de me fazer odiar ela mais
ainda. É apenas isso que sinto por essa mulher: ódio, nojo e raiva.
— Grávida? Grávida!? Só se for das suas mentiras sórdidas e
imundas! — Me aproximo dela. — Como pôde?
Ela me encara e percebo o queixo tremer.
— Vinte anos da minha vida, sendo enganado! Vinte anos da minha
vida, ao lado de um monstro!
— Do quê... Está falando? — Se aproxima e me segura. — Amor...
Do quê está falando?
— DO MEU FILHO, QUE VOCÊ MATOU, SUA HIPÓCRITA! —
O grito sai mais alto do que pensei.
A garganta rasga e ela arregala os olhos, chocada. Seguro suas mãos
e a afasto de perto de mim.
— E-eu... — Gagueja, negando com a cabeça. — Do quê está
falando? Você...
— Cala a boca! Cala a boca, Anna! — Aponto o dedo no seu rosto,
que está mais pálido que o normal. — Monstro! MONTRO!
— NÃO GRITE COMIGO! — Berra, me empurrando. — Não grite
comigo!
— Você achava o quê? Que isso ia ficar em segredo para sempre?
— É MENTIRA! MENTIRA!
— Diga o que ele fez para você, Anna! O que meu filho fez para
você!?
Já não seguro mais as lágrimas, que descem copiosamente pelo meu
rosto.
— E-eu...
— Fala, porra! PERDEU A FALA? PERDEU A VONTADE DE
FALAR, INFERNO!? FALE!
Ela arfa e com os olhos arregalados, me encara.
— Eu o queria perfeito... Eu queria ele perfeito, para nós dois...
Franzo o cenho, vendo-a sorrir.
— Eu não o queria! EU ODIEI AQUELA CRIANÇA... Odiei! Odiei
aquele ser, que crescia aqui! Eu odiei... Odiei.
— Sua... Você... — Não consigo formar uma frase, perplexo.
— EU NÃO QUERIA UM FILHO DOENTE! NÃO QUERIA! —
Grita, batendo no peito. — EU NÃO... QUERIA! ELE TINHA QUE VIR
PERFEITO! PERFEITO, PARA SER NOSSO...
— Você não é Deus!
Ela limpa o rosto com as costas das mãos.
— Você é doente! — A olho incrédulo e ela vem até mim e segura
em meus braços. — Você é um monstro.
— Foi por amor... Por amor a você! Só você! — Tento me
desvencilhar, com um nojo tomando conta de mim. — Eu faria tudo...
Para ter você, eu...
— Cala a boca! — Disparo, não querendo mais ouvir sua voz. —
Eu te odeio. Odeio o monstro que você é. Que sempre foi, mas eu nunca
enxerguei. — Cuspo as palavras com rancor.
— EU O MATARIA DE NOVO! PARA NÃO TER UM
DEFICIENTE MENTAL NA MINHA VIDA!
Sinto a raiva me tomar e a seguro na parede.
— Você me da nojo! Nojo!
As batidas na porta estão mais altas e com um único estrondo, a
porta se abre.
— Oh meu Deus! — A voz da minha mãe ecoa pelo quarto inteiro.
— Solte ela, Otávio! — Letícia grita e puxa meu braço.
Meus olhos estão fixos no rosto, que está vermelho.
— Solte-a!
— Era meu filho, Anna! — Altero a voz e sinto dois braços me
segurarem com força.
Letícia corre e segura Anna, que se debruça chorando.
— Meu filho! — Minha mãe se aproxima junto com meu pai, que
olha de mim para Anna. — Otávio...O que está acontecendo?
Lúcia entra correndo com Natan, que me fuzila com o olhar e sem
esperar, parte para cima de mim.
— O que fez com minha irmã?
Leon aparece e o pega pelo colarinho
— O que fez com ela?
— Olhe para mim, Otávio! — Minha mãe segura em meu rosto e
vejo seus olhos azuis lacrimejando. — Você nunca foi disso, meu filho...
— Fale comigo, Anna! — Letícia grita, enquanto Natan tenta de
todas as formas partir pra cima de mim.
Eu nem consigo falar.
Anna me encarar, enquanto as lágrimas descem.
Fecho os olhos, negando com a cabeça.
— Eu odeio você. Eu nunca... Nunca vou te perdoar. — Minha voz
quase não sai.
— Do que está falando?
— Fala, bruxa! Fala alto! — Leon dispara.
— O que está acontecendo, pelo amor de Deus!?
— Anna provocou a morte do Ben! — Leon a encara e solta Nathan.
Todos me olham perplexos, menos Letícia, que segura Anna, que
está com os olhos cravados em mim.
Mamãe me solta e olha para ela. Lúcia coloca a mão sobre a boca e
meu pai a encara e volta a me olhar.
Estou em pé, parado, com os punhos cerrados.
Michael me fita e nega devagar.
— Você está louco! — Natan diz. — Anna não faria isso!
— Fiz sim, e faria de novo. — Anna assume. — Você acha que eu
queria uma criança demente, perto de mim? Um ser insignificante.
— Minha filha...
— Imagina, Annabell Perrot, com uma criança demente? — Ela abre
os braços, mas no mesmo instante vira o rosto, quando minha mãe acerta
um tapa na face.
— Sua desgraçada! Imunda!
— Cadela miserável! — Lúcia berra e é segurada por Roger. —
Assassina desgraçada!
— Parem! Ninguém vai bater nela! — Michael entra no frente e
segura Anna. — Ninguém vai encostar nela!
— Sai do meio! — Leon a encara e Anna está chorando
descontrolada.
— Vai me bater também, Leonel?
— Eu nunca gostei de você, isso sempre foi nítido. Eu libertei meu
irmão das suas garras. Você enganou todo mundo, menos a mim! Você é
desprezível, um monstro, o ser mais inútil que já tive o desprazer de
conhecer.
— Morra! Morram todos vocês! — Ela se ergue, arfando. — A
família Perrot perfeita, os filhos perfeitos! Morram!
— Você é desprezível!
— Cale sua boca. — Digo entre dentes. — Você é um monstro...
— Eu espero que aquela ordinária morra, junto com o bastardo que
ela espera! — Ela balança a cabeça, me olhando.
— Que tipo de pessoa é você? Que monstro é você, Annabell? —
Mamãe pergunta.
— Que ela morra! Que todos vocês morram!
— Vamos sair daqui... Por favor. — Lúcia chama. — Ela não
merece que você estrague sua vida, mas do que ela mesma já estragou.
Olho para minha irmã completamente absorto, sentindo um buraco
enorme no meu peito.
— Otávio. Saia. — Papai fala, mas continuo onde estou.
— Vamos... — Leon segura em meu braço. — Vamos embora daqui.
Agora.
O entalo no peito me faz sufocar de uma forma absurda.
— Você não vai ser feliz. Nunca. Nunca! — Ela grita enquanto estou
a um passo de sair na porta.
Me viro devagar, enquanto uma lágrima rola e a encaro.
— Você é digna de pena.
— VOCÊ NUNCA VAI SER FELIZ! NUNCA! NUNCA!
Bato a porta e saio rapidamente.
"— Senhor Perrot, o que está acontecendo?"
"— É verdade, que vão ser pais?"
"— O senhor está com uma amante? É verdade?"
As perguntas disparam, assim que saímos.
Leon me encara e limpo o rosto.
"— Como está, após saber da gravidez de sua esposa?"
— Não tem gravidez alguma. Annabell é estéril. A causa foi a morte
do nosso primeiro filho.
Todos juntos fazem um único som de boca aberta.
Passo e desço os degraus, ouvindo Letícia falar atrás de mim.
— Você está acabando com a vida dela, Otávio!
Me viro, encarando-a.
— Ela acabou com a vida do meu filho! E você ajudou! Você me
causa tanto nojo, quanto ela, Letícia!
Leon me encara, abre a porta do carro e não consigo mais conter as
lágrimas, que caem sem dó. Sinto um aperto em meu ombro e meu irmão
me abraça.
Meu coração está despedaçado, de uma forma, que eu não sei se ele
vai se curar.
— Orenomado engenheiro, Otávio Miller Perrot. Acusou hoje, sua
esposa, Annabell Bonarez Perrot, pela morte de seu filho, Benjamin
Perrot. Segundo fontes, a socialite interrompeu a gravidez, por causa
da síndrome que o filho ia ter...
— Meu Deus! — Coloco a mão na boca. — Vai, Liana!
Estamos no carro, indo para casa dos pais dele, mas o trânsito
caótico nos prende.
Estou sentindo as mãos tremerem.
Leon me pediu para esperar, até contar tudo para ele. Mas como o
esperado, ele ficou fora de si. Não vou entrar na casa daquela mulher, ou
sou capaz de esgana-la, com minhas próprias mãos.
— Aquela vagabunda. — Lia bate no volante e fecho os olhos.
Pela voz arrastada de Leon no telefone, dá para perceber que ambos
estão destruídos.
Otávio, que sempre falou do filho de um jeito tão lindo, tão puro...
Liana para, estacionando o carro na frente da mansão, os seguranças
nos deixam passar assim que digo meu nome e paramos no jardim.
Sinto minhas mãos trêmulas e entro junto com Liana. A porta se abre
e Leon suspira.
— Graças a Deus que você chegou. — Diz me abraçando. — Ele
está lá em cima, mas não quer falar com ninguém.
O encaro, balançando a cabeça.
Felícia está sentada, com as mãos no rosto e Lucy ao seu lado,
afagando seu braço.
— Eu sinto muito... — Falo para elas. — Eu sinto muito, de todo
meu coração.
Ela se ergue e me abraça forte.
— Eu sinto muito. — Repito.
— Obrigada.
Senhor Oliver se ergue e nos olhamos. Sempre tão sério, está me
encarando fixamente.
— Ele precisa de vocês, nesse momento. — Diz, apontando para
minha barriga. — Ele está no terceiro quarto, a esquerda.
Assinto e limpo o rosto, encarando Liana que abraça Lucy e subo as
escadas devagar. O coração aos pulos, tento me controlar a cada passo
que dou.
Ouço um barulho dentro do quarto e seguro na maçaneta.
Abro a porta e suspiro.
— Não quero falar com ninguém. — Sussurra.
Está de costas, com as mãos na cabeça, enfiadas nos cabelos.
— Eu falei que não quero ver nin... — Ele se vira e para ao me ver.
— Não quer ver... Mas pode sentir. — Me sento ao seu lado, o
olhando.
É difícil mantém o olhar firme, para alguém que sempre esteve tão
forte. Vê-lo assim, com os olhos vermelhos e o rosto banhado por
lágrimas, fez meu coração apertar.
Fecha os olhos, pendendo a cabeça para trás.
— Eu quero ficar sozinho... — Diz baixo e um soluço o toma.
Chora inconsolável.
— Não vou deixar você. Bote essa dor para fora, Otávio! Grite,
faça o que quiser, mas não me peça para sair... Por que não vou. —
Seguro em suas mãos, o olhando.
Ele me encara e volta a ficar sério, me fazendo encarar os olhos
azuis marejados.
— Não vamos sair daqui. — Repito em um sussurro. — Estamos
aqui.
Otávio me fita e seguro em seu rosto.
— Tá doendo... Tanto. — Ele fala, olhando em meus olhos. —
Tanto, Mia... Tanto...
— Eu sei, meu amor. Eu sei. — O encaro arfar.
— E está sufocando aqui dentro. — Aponta para o peito. — Está
doendo tanto, Mia.
— Ele sempre vai estar vivo, aqui dentro de você. — Digo,
sentindo um nó na garganta e ele me olha, negando.
Ele se levanta, passando as mãos pelos cabelos nervosamente, vejo
ele andar de um lado, para o outro.
Agoniado, o choro o domina de uma forma incontrolável.
— Ele não tinha... Culpa, nenhuma! Por que ela não fez em mim?
Por que? Por que com ele?
— Otávio...
— Eu falhei. Falhei por não ter controlado todos os passos dela! —
Ele tropeça nas palavras e vejo as lágrimas rolarem sem parar.
Os soluços fortes e a voz presa.
— Eu falhei, e meu filho pagou! Meu filho pagou... E ele não teve
defesa alguma! Nenhuma... Meu Deus, que tipo... Que tipo de pessoa é
ela? Que tipo de mãe? Que tipo...
Me levanto, percebendo seu descontrole e paro a sua frente,
segurando em seu rosto.
— A culpa não foi sua! Olhe para mim! — Peço, segurando seu
rosto. — Ben foi tão inocente, como você nessa história! Pare! Ouviu?
Segura em minhas mãos e aperta.
— Faça isso parar de doer, Mikaella. Faça essa dor sair daqui... —
Aponta para o peito com desespero.
O encaro fechar os olhos e não contenho as lágrimas, que caem sem
parar.
— Estamos aqui. Estamos aqui, meu amor. — Me encara negando e
arfa quando um soluço escapa da sua garganta.
— Prometa para mim, Mikaella, que independente de qualquer
coisa... Nunca faça nada...
Espalma as mãos em minha barriga, e calo as palavras, o beijando
devagar. Encostando a testa na sua, e ficamos nos olhando.
Eu sei que a dor está sufocando ele.
— Eu jamais faria mal, a uma parte de sua, Otávio. Jamais.
Beijo seu rosto e seguro em suas mãos. Beijo as bochechas, limpado
as lágrimas que caem sem parar, e ele me olha, sem falar nada. Não
consigo me segurar e choro junto com ele.
Seus lábios encostam nos meus, tão leve, que mal dá para sentir.
— Nossa Vida. — Sussurra, espalmando a mão devagar em minha
barriga.
— Nossa... — O encaro e sorrio devagar.
Deita a cabeça em meu colo depois de uns minutos, fica sem falar
absolutamente nada, e só chorou. Deixei extravasar a dor dele com
lágrimas, mesmo sabendo que ela não vai sair tão cedo.
Afago seus cabelos, enquanto ele coloca o ouvido em minha barriga
e fica assim, apenas sentido aquela sensação, que parece acalmar o
coração ferido dele.
— Eu tenho medo... — Ele fala tão baixo, que mal o ouço. — De
não ser um bom pai...
Sorrio quando ele ergue a cabeça, me olhando.
— Você vai ser um ótimo pai, até porque, já é... — Afago o rosto.
— Já pensou em algum nome?
— Ainda não, e você? — O fito negar devagar.
— Eu não sei. — Ele diz, me olhando. — Não sei...
— Escolhemos juntos. — Sorrio.
Ele se ergue, fica sentado ao meu lado e segura em minhas mãos.
— Obrigado. Por estar aqui... Por estar... — Arfa e franzo o cenho.
Passa a mão em meu queixo, me dando um beijo forte e ao mesmo
tempo lento.
Sinto as mãos passearem pela minha cintura e me puxar para perto, a
respiração ofegante dele, próximo a minha.
— Eu te amo tanto... tanto... — Os olhos marejados me fitam e
acaricio seu rosto.
— Eu também amo você. — Esfrego o nariz ao seu devagar.
Me ergo, o encarando e estendo a mão.
— Vamos tomar um banho, você precisa descansar.
Sem pestanejar, pega a mão a minha e vamos para o banheiro do
quarto. Observo ele tirar a camisa devagar e faço o mesmo com a minha
roupa. Tomamos um banho demorado, leve e morno.
Ele se deita na cama logo após e me puxa de encontro ao seu peito.
Afaga meus cabelos enquanto eu faço círculos imaginários em seu peito,
sentindo as batidas frenéticas.
Depois de um tempo, ouço sua respiração ficar mais leve. Não teve
mais choro, nem parece ter mais dor ao dormir. Mas essa noite jamais
vai sair de nossas mentes.
Abro os olhos devagar e me remexo na cama, percebendo o outro
lado vazio, passo a mão, sentindo-o ainda quente e suspiro.
— Otávio? — Me sento ao não obter resposta alguma. — Otávio?
Levanto e vou até o banheiro, que assim como a cama, está sem
ninguém. Suspiro pesadamente.
Desço as escadas devagar e Leon me encara, segurando uma xícara
de café nas mãos.
— Bom dia, Ruiva.
— Bom dia... Onde ele está? — Indago e ele aponta com o queixo
para a janela.
Através da mesma, vejo-o com seu pai, sentados no banco do
jardim. Está com as mãos sobre o rosto e a cabeça baixa.
— Faz meia hora que estão lá. — Lucy se aproxima, me olhando.
— A Liana...
— Leon a levou em casa. Roger foi dormir com os pais, então eu
fiquei por aqui. — Ela me encara e assinto.
Lucy limpa o rosto, mordendo o lábio devagar.
— Mikaella? — Me viro ao ouvir dona Felícia. — Bom dia...
— Bom dia... — Sem ao menos esperar, ela me puxa sorridente para
um abraço esmagador.
— Obrigada por isso, minha filha. Por ter amenizado um pouco a
dor dele. -— Ela crava os olhos nos meus e sorrio. — Sabemos que
seria pior, se não estivesse aqui.
— Eu o amo. — Sorrio e ela assente.
— Eu sei, e me sinto feliz que ele a tenha.
— Já sabe o sexo do bebê, Mia?
— Ainda vamos descobrir, daqui há alguns dias. — Sorrio e me
sento. Olho Leon, que continua de pé, encarando o irmão e o pai.
Engulo em seco e ele se vira, quando os dois entram devagar.
Otávio sorri de lado, me encarando e Oliver faz o mesmo.
— Bom dia. — Diz baixo.
Fecho os olhos ao sentir o beijo leve em minha testa
— Quando vai descobrir o sexo do bebê? — Oliver me olha,
esperando uma resposta.
— Daqui há alguns dias.
— Estamos ansiosos. — Diz baixo.
— Temos que pensar no quarto, os detalhes... — Lucy começa a
falar rindo.
Otávio me encara, colocando a mão sobre a minha e apertando-a.
Tomamos café, mesmo com todo o clima pesado. Mas ao mesmo
tempo, tentamos conversar e não deixar aquela tristeza dominar.
O encaro sorrir tristemente, e sinto o coração apertar, enquanto
engulo em seco.
Descemos do carro e entramos no apartamento. Nos despedimos dos
seus pais e viemos ficar em casa. Estamos exaustos.
O encaro parar com as mãos nos bolsos e me olhar de cima a baixo.
Me aproximo, o fitando.
Seguro em seu rosto, vendo-o engolir em seco e encosto a testa na
sua.
— Meu rumo é você. — Diz baixo e afaga meu rosto. — Você é o
motivo, Mia.
Levanto a cabeça e encaro os olhos azuis, que me olhando de volta
intensamente.
— Você que é o meu... O nosso. — Digo, passando as mãos na
barriga, e ele me puxa para si.
Sinto os lábios de leve contra os meus e me deixo afundar no beijo.
O cheiro do perfume me invade e ficamos nos olhando
— Eu quero muito te fazer minha, Mikaella. — Fala, de um jeito
sério.
Tão sério, que chega a doer.
— Eu já sou sua. Desde a primeira vez que te vi...
Ele nega devagar, fechando os olhos e quando torna a abri-los, fixa
nos meus novamente.
— Quero você pra mim, Mikaella. Quero... Que se case comigo...
Eu quero acordar ao seu lado todos os dias, eu quero... Que nosso filho
tenha um lar. Case comigo? Por Deus, case comigo!?

Ela me fita calada e entrelaço meus dedos aos dela, que mantém uma
expressão indecifrável.
Eu a quero... A quero com tudo de mim.
— Case comigo? Case comigo, por favor.
— Otávio... Eu...
Abaixo meu olhar e ela põe a mão em meu queixo, o erguendo
novamente.
O vazio que eu sinto é imenso. Um grande peso em cima do meu
corpo e vários sentimentos ao mesmo tempo, me invadido.
Ela é tudo que eu quero. Tudo que preciso
— Otávio... — A encaro fixamente e colo nossos rostos.
— Eu te dou o mundo, se quiser. Eu te dou...
— Eu não quero nada. Você me basta. — Diz baixo e a encaro. —
Eu... Eu caso. Eu caso.
Sorrio e a puxo, dando um beijo em seu rosto.
— Eu te amo tanto... — Sussurro em seu ouvido e seguro em seu
rosto.
— Eu também te amo. Meu Deus, como eu te amo.
Passo o polegar pelos lábios, a olhando de cima a baixo. O coração
palpitando, dói, só em pensar que dentro dela, tem um serzinho
crescendo a cada minuto.
Deixo um suspiro alto escapar. Não sei se foi de alívio, por que por
um momento, eu senti que aquele vazio que tanto me atormenta, está se
esvaindo.
A dor ainda me toma.
Sinto a língua ávida percorrer minha boca com pressa, e nossos
corpos falando por si só. Retiro o vestido com uma rapidez invejável, os
seios firmes, altos e... Grandes! Me fazem perder o foco ao olhar.
Tem tudo de antes. Desejo e tesão. Mas não foi como das outras
vezes... Admirei cada mudança que em seu corpo.
Ela arfa e os olhos dopados de desejo, me deixam em êxtase. Chupo
seu pescoço, provando a carne macia, sinto a camisa ser arrancada de
meu corpo, enquanto ela passa a espalhar beijos por todo meu peito,
descendo.
Engulo em seco, encarando-a.
Tiro a calça com uma rapidez invejável e em questão de segundos,
estamos pelados e as bocas coladas, assim como nossos corpos vão
estar em poucos minutos.
— Otávio... — Diz entre gemidos. E ouvir meu nome saindo assim
de sua boca, tão manhosa, me faz quase gozar, sem nem encostar nela.
Beijo cada centímetro de seu corpo. Beijo sua barriga perfeita e
redonda, a coisa mais linda. Afasto sua pernas, parando meus olhos na
boceta linda, que baba de tesão.
Minha língua parece ter vida própria, pois vai diretamente para a
entrada molhada. O gosto dela me invade, me dopando de desejo. Ela
geme alto quando mordo o clitóris.
Sinto os espasmos em minha boca e aumento o ritmo, quando sinto o
gozo preencher minha boca, me afasto e vejo ela apoiada em seus
cotovelos. Percorro meus dedos pela boceta molhada, passo o polegar
pelos lábios, vendo-a tremer e me aproximo, abrindo as pernas devagar.
— Eu amo essa boceta, Mikaella. — Mordo os lábios e chupo.
Fecho os olhos e gemo. Gemo quando ela me aperta firme, meu pau
deslizando e começo a movimentar rápido. Mikaella morde forte meus
lábios e me afundo mais, fazendo-a arquear as costas e colar a testa na
minha, olhando hipnotizada para sua boceta, que engole meu pau.
É como uma anestesia, que faz tudo passar.
Meus músculos se erijecem sobre ela, os barulhos ecoando pela
sala. Os cabelos espalhados como uma cortina, os seios balançando a
cada estocada rígida.
Procuro sua boca, tomando-a e mordendo os lábios entreabertos.
Ela geme e eu bebo seus gemidos com beijos.
Em cada movimento, cada estocada funda, eu me entrego mais e
mais.
O sorriso estampado, enquanto me sento, vendo-a montar em mim.
Seguro em sua cintura e ela senta devagar, fazendo meus olhos se
revirar.
Eu viro um nada, com ela em mim.
Entrelaço os dedos aos seus, chupo seus lábios, enquanto ela desce
devagar e aperto sua cintura. Ela arqueia o pescoço e sinto os espasmos
da gozo a preencherem inteira.
A visão daria uma obra de arte magnífica. Passaria o dia inteiro
olhando-a assim, por que eu sei que se tenho uma certeza nessa vida, é o
quanto nós fazemos parte, um do outro.
— Casa comigo? — Repito, com um sorriso.
Ela me fita, negando devagar e sorri.
Sorri, virando meu coração e meu corpo ao avesso.
— Caso. — Repete, mordendo o lábio.
Fito o monitor e meus olhos estão paralisados, encarando a imagen
turva, que de repente se torna nítida. Mikaella sorri, me olhando e
seguro em sua mão, apertando-a.
— Está tudo ótimo, olhe os dedinhos... — A médica sorri,
apontando.
Meu coração dispara e engulo em seco, olhando admirado.
— Já dá para ver o que é? — Mikaella indaga.
— Sim. — A médica sorri. — Já está na 16⁰ semana de gestação.
Está perfeita.
Fito a doutora, que sorri levemente.
— É uma mocinha.
Sinto o coração parar por um instante e ele volta a bater
desenfreado.
— Uma menina? — Sussurro.
— Muito sapeca e agitada. — Ela sorri.
— Puxou a mãe. — Fito Mikaella, que limpa o rosto e sorri.
A doutora continua a fazer a ultrassonografia, e eu não consigo tirar
os olhos daquela coisinha perfeita e magnífica diante dos meus olhos.
As semanas passaram lentas, e mesmo que eu quisesse continuar
com a minha vida normal, eu sei que ela nunca mais vai ser a mesma. A
mídia e todo resto, ainda falam sobre o assunto.
Todas as noites, eu ainda sinto o vazio e o tormento daquela dor, que
me tortura. E seria mentira se eu falasse que não choro.
De culpa, arrependimento e raiva.
Luíza é a única que foi poupada dessa história. Foi passar uns dias
na casa dos avós paternos, na fazenda. Nos falamos todos os dias e estou
com muita saudade.
Meus pais e meus irmãos são minha fortaleza, onde não me deixam
ser derrubado. Mikaella é meu ponto de apoio, ela é o motivo pelo qual
eu não desisto.
Elas.
Sorrio com o pensamento e a beijo.
— Uma menininha... — Me encara e espalmo a mão na barriga,
ainda exposta.
— Nossa ruivinha. — A voz embarga e engulo em seco. — Nossa,
Alice.
Ela assente, me beijando.
— Nossa, Alice. — Repete e encosta a testa na minha.
Pensamos em tantos nomes, mas esse tomou nosso coração.
— Alice Gonçalves Perrot... — Encaro Mikaella, que balança a
cabeça. — Tem noção do quanto me faz feliz?
— O mesmo tanto que você me faz. — Diz baixo e a beijo.
A acompanho em todos os exames e ultras. Me sinto tão realizado.
Mikaella está saudável e faz de tudo para manter a gravidez bem.
É surreal sentir cada chute, que começou imperceptível, mas é como
se meu coração pulsasse junto.
Tenho uma audiência em breve, para resolver o divórcio e o
processo do hospital. Não vou desistir.
Há algumas semanas, fiquei frente a frente com Anna, e meu Deus,
eu mal consigo encara-la sem sentir a raiva me dominar de uma forma
absurda.
◆◆◆

— Senhor Perrot, eu... Eu tentei impedir... Mas ela... — Ellie me


encara e me ergo, olhando-a entrar na minha sala.
A expressão relaxada dela, me faz apenas odia-la mais ainda.
— Esperei esses dias, para conversarmos, Otávio. — Ela mexe nos
cabelos e pisca os olhos sem parar.
— Saia daqui. Agora. — Aponto para a porta e Ellie me encara. &
Chama os seguranças. Tire essa mulher da minha frente.
— Me ouça... Você...
— O que eu tinha para conversar com você, foi falado, Anna. A
única coisa que quero de você agora, e sempre, é distância! Então, se
ainda resta um pouco de vergonha na cara, saia daqui! — Minha voz
sai trêmula, mas carregada de ódio.
Cerro o punho e tento respirar fundo.
— Foi tudo um mal entendido, Otávio... Tudo o que aconteceu!
Olhe para mim! Acha mesmo que eu seria capaz de fazer algo?
— Acho! Você é doente!
— Eu não sou louca! — Ela altera a voz, colocando as mãos sobre
a cabeça.
— Sua farsa acabou, Annabell. O seu fantoche acordou! Chega!
Chega!
Ela se aproxima de mim e me afasto bruscamente.
— Não acabou, Otávio. Me ouça...
— Tire suas mãos de cima de mim! — Piso firme e abro a porta em
um solavanco.
— Me perdoa! Me perdoa, por favor! Eu sei que foi errado...
— Errado?! — Exclamo. — Foi monstruoso, Anna! Doentio! —
Aponto o dedo para ela. — Saia da minha frente!
Ela chora compulsivamente, mas isso não me abala em nada,
permaneço imóvel, a olhando.
— Você acha que vai ser assim? Acha mesmo? Essa história não
acabou, Otávio! — Ela ergue seus olhos para os meus. — Tudo por
culpa dela... Não é? Tudo por culpa dela!
— Se acontecer alguma coisa com Mikaella, ou com o meu filho...
Eu juro...
— Luíza... Ela...
— Eu a tiro de você, se possível. Não brinque comigo, Anna! —
Digo, a olhando.
— Luíza vai te odiar! Eu faço ela te odiar... Eu juro... Eu...
— Nada que venha de você, me surpreende. Deixe ela fora disso.
◆◆◆

Balanço a cabeça e solto o ar.


Sei que quando chegar a idade certa, Luíza vai saber de tudo. Mas
por agora, vamos poupa-la. Ela já passou por muita coisa.
Está melhorando na escola, mas ainda é a minha menina tímida.
Saímos da médica e dirijo com calma, sabendo que não tem mais
como adiar ir em um lugar, que eu preciso. Mia me encara e coloca o
sobretudo, o vento frio bate em nossos rostos e ela sorri, me olhando.
— Estou aqui. — Diz baixo e assinto.
A beijo, engulo em seco e passo pelos portões, suspirando
pesadamente.
Paro em frente ao túmulo, e leio o nome a minha frente.
Benjamim Bonarez Perrot.
Meu coração bate descontroladamente no peito, ao me ver parado
aqui.
O choro que tentei segurar, me faz desabar. Tombo de joelhos, com
as mãos no rosto, derramando todas as lágrimas que estão presas.
— Me perdoe por te falhado, Ben. Me perdoe, meu filho... Me
perdoe, por que essa dor tá me enlouquecendo, aqui dentro. — Digo
entre soluços sonoros, que saem fortes. — Me perdoa, por não ter
protegido você dela...
Fecho os olhos quando todas as perguntas rodeiam minha mente sem
parar.
E nego. Nego, sentindo-me sufocar.
É uma dor insuportável.
— Me perdoe, meu filho. Eu prometo que vou ser para a sua irmã...
O que seria para você. — Limpo as lágrimas que descem. — Eu sei que
sempre vai estar comigo, meu filho... Sempre. Ela deveria ter te
protegido Ben.
Soluço baixo, balançando a cabeça.
— Me perdoe, meu amor. — Deixo as flores, sentindo o vento forte
e o arrepio passar por meu corpo.
Me viro e vejo Mikaella parada, os cabelos ruivos bagunçados, e
estende a mão, que seguro.
— Será que ele me perdoa, Mia?
— Você não tem culpa de nada, amor... — Ela me abraça e dou
sorriso. — Ele já te perdoou, meu amor.
Fecho os olhos para impedir que mais lágrimas rolem. Eu não sei se
um dia isso vai parar de doer.
Fito Mikaella, que sorri.
— Sua irmã te ama, Ben. — Diz baixo.
Me espreguiço e me levanto devagar da cama, que está vazia. O
quarto em total silêncio, denuncia que ele já foi trabalhar.
Fito o bilhete e o abro com um sorriso.
Não quis te acordar... Por mais que seja tentador, te ver acordada e
pelada. Volto mais tarde, te amo.
Cuide da nossa princesa.

Sorrio e suspiro alto quando leio a última frase.


Nossa princesa.
Eu estou enorme e me sentindo a mulher mais linda do mundo. Estou
com 35 semanas de gestação, a reta final da gravidez é algo tão
exaustivo, me sinto cansada e com uma falta de ar tremenda.
Mas sentir minha filha chutar e crescer a cada dia, é indescritível, a
coisa mais linda do mundo.
Saímos para jantar juntos, eu e Otávio estamos vivendo um dia de
cada vez. Mesmo com as complicações, que já eram de se esperar.
Tomo um banho e lavo os cabelos. Coloco um vestido solto, porque
é a única coisa que cabe em mim. Liana vem todos os dias, depois do
trabalho, junto com Dean, que fica boquiaberto sempre que vê Otávio e
Leon.
Os dois estão a todo vapor na Perrot, para terminar os projetos e
obras, com Katy e Lucy dando todo apoio.
E ainda tem o processo de Anna, que está bem complicado, ela não
aceita o divórcio, o que já era de se esperar, e o caso de Benjamim, que
é bem mais delicado.
Estou tomando um suco de laranja e comendo algumas torradas,
quando a campainha toca, assim que abro a porta, sorrio ao ver Lucy e
Dona Felícia me olhando.
— Bom dia, Mia! Viemos te pegar pra dar uma saidinha. — Lucy
fala ao entrar.
— Bom dia, minha querida! — Dona Felícia beija meu rosto e a
abraço.
— É uma surpresa ver vocês aqui.
— Espero não estar atrapalhando você, mas Lucy estava me
enchendo, desde ontem.
— Precisamos comprar o que falta para o quartinho, mamãe. Já
montei todo o projeto, dos três quartos.
A encaro.
— Três? Não são apenas dois? — Pergunto e Dona Felícia a encara.
— É, dois. — Ela sorri. — Um aqui e outro na casa de mamãe, que
cabeça a minha. Vá se vestir.
— Vou trocar de roupa.
Visto um macacão leve e sandálias confortáveis, passo apenas um
pouco de maquiagem e saímos. Os pais de Otávio fazem questão de ter
um quarto para a Alice na casa deles também.
Entreguei meu apartamento e consegui vender todos os móveis,
então fiz questão de mandar tudo para minha tia, para pagar a viagem
para cá, e falta tão pouco.
Consigo falar com elas todos os dias, o que para mim, é como matar
um pouco da saudade que maltrata.
— Aiiii, vamos levar tudo... Essas roupinhas. — Lucy diz eufórica
ao erguer um body.
— Lucy, deixe Mikaella escolher.
— Ela me ajuda. — Digo sorrindo.
— Não vejo a hora de você e seu irmão me darem netos também.
— Fala isso com Leon, que ele morre do coração. — Ela pega um m
par de sapatinhos e me mostra. — Não é lindo?
— E você, quer ter filhos? — Pergunto e ela me encara.
Me fita, mordendo o lábio.
— Quero, mas acho que mais para frente. Roger ama crianças...
Imagino um mini Roger por aí...
Sorri e balança a cabeça.
É nítido o quanto ela é apaixonada por ele, os olhos chega brilham.
Ela pega outro body, só que vermelho com laços, e junto as mãos.
— Otávio vai pirar. — Fala, olhando para o body.
Olho para o que está escrito e sorrio, sem nem perceber.
Princesa Do Papai.
— Vamos levar essa. — Digo rapidamente.
— E essa também. — Dona Felícia pega vários vestidos.
— Já estou imaginando o rostinho da Ali...
Olho para Lucy, que suspira e sorrio quando ela me abraça. Por
horas me pego imaginando o rostinho dela também. Se vai ser minha
cópia ou a do Otávio.
Por horas, ele fica conversando com minha barriga, que mexe,
fazendo ondulações incríveis, meu coração bate descontrolado de tanto
amor.
Um amor, que nunca imaginei sentir em toda minha vida.
Vamos em mais algumas lojas e acabamos almoçando no shopping.
Compramos tantas coisas que ela precisava, e até o que não precisava
também.

Atendo a ligação sorrindo, assim que vejo o nome piscando na tela.


Otávio está em uma construção com Leon e chegar um pouco mais tarde.
— Assim que sair daqui, eu vou para casa. Se quiser, passo para
te buscar.
— Não precisa, eu só vim para deixar algumas coisas da Ali e já
vou para casa descansar. — Suspiro pesadamente.
Viemos direto para a casa de seus pais.
— Descanse. Beijo, amo vocês.
— Também amamos você. — Me despeço e desligo o celular.
Me viro e encaro Luíza entrar na sala, e me olhar de cima a baixo.
— Oi, meu amor. — Dona Felícia sorrir, a abraçando. — Que
saudade.
A guarda dela ainda está em processo, mas pelo breve acordo, ela
já ve. passar o final de semana com Otávio.
Mas ela nunca vai para o apartamento, sempre fica aqui. Luíza
obviamente me odeia e eu entendo. Não quero ser o motivo de
desentendimento entre ela e o tio.
— Tio Otávio não chegou? — Pergunta para dona Felícia.
— Não. Mas ele vem mais tarde. Quer comer algo? Vovó prepara...
— Não. Estou sem fome. — Suspira e segura a mochila. — Posso
subir?
— Claro, amor. Pode.
Se vira para mim, olha fixamente para minha barriga e sobe as
escadas.
— Ela é uma menina doce. Só está confusa e sendo má influenciada.
— Dona Felícia fala.
— Eu sei... — Balanço a cabeça. — Eu vou para casa, não quero
que ela se sinta mal por eu estar aqui.
— Ela não vai, Mia.
— Deixar Otávio curtir a filha mais velha dele um pouco. — Me
aproximo dela e a beijo.
Faço isso com todo meu coração.
Pego o carro e saio devagar. Otávio fez questão que eu mudasse, e
depois de tanta insistência de sua parte, comecei a sair com o Audi Q3,
um modelo confortável e lindo. Mas ainda me sinto estranha, de ter
mudado o padrão de vida assim.
Deixo as sacolas no pequeno quarto, que já ganha cores e ursos, e
vou para o banheiro, estou me sentindo exausta.
Liguei para Liana, que está no trabalho e vai passar aqui assim que
se for liberada. Falei um pouco com minha tia, para saber como estão os
preparativos para a vinda delas para cá.
Falo com a minha irmã e ela está muito empolgada. Sua felicidade,
de fato é a minha também.
— Como está a nossa menina? — Tia Vera quer saber e me ajeito
no sofá.
— Crescendo a cada dia... — Mordo o lábio. — Estou com tanta
saudades.
— Vamos mata-la, logo logo. — Ela suspira e dá uma pausa.
Eu conto os dias para isso.
Voltamos a conversar animadas, sobre a viagem e o quanto ela está
nervosa, me despeço depois de alguns minutos. Sinto um chute forte na
barriga e a acaricio.
— Fome, filha? Também estou. — Levanto e vou até a cozinha.
Preparo um lanche rápido e estava voltando para a sala, quando
ouço a campainha soar, franzo o cenho, me aproximo da mesma e abro.
Michael entrar, me olhando.
— Oi, minha filha.
Tento fechar a porta, mas ele a segura e empurra.
— Mikaella!
— Sai daqui, Michael... — Peço entre dentes. — Saia daqui!
— Precisamos conversar. — Dou um passo para trás.
— Saia daqui... Ou vou gritar.
— Sem escândalos, por favor. Eu...
Fecha a porta e seguro no interfone, o olhando.
— Vou chamar a polícia, se não sair daqui agora. — Sinto as mãos
tremerem enquanto o encaro.
Meus pés formigam e solto o ar devagar, que parece não querer sair.
Ele vence o espaço que nos separa e toma o interfone de minha mão
rapidamente.
— Eu estou perdido. — Diz me olhando. — Eu estou perdido,
minha filha.
Engulo em seco e ele arfa, balançando a cabeça.
— Estou sendo investigado, Mikaella. Eu posso ser preso e...
Ele para e suspira alto.
— Tudo que eu construí, está por um triz. Eu preciso que me ajude.
— Enlouqueceu? — Dou um passo para a trás, balançando a cabeça,
mas ele se aproxima mais e segura em meu braço, apertando-o e olho de
um lado para o outro, as marcas de seus dedos aparecendo em meu
braço.
Meu coração está disparado.
— Está me machucando. — Falo, mas ele não afrouxa o aperto.
— Eu preciso de dinheiro para me livrar, Mikaella. — Seus olhos
estão arregalados.
O suor desce por seu rosto e engulo em seco.
— Eu preciso que...
— Saia daqui, Michael! Por Deus, saia daqui...
Ele me encara e desce o olhar devagar, sinto um tremor passar pelo
meu corpo.
— É uma menina, não é?
Balanço a cabeça, levemente.
— Estou desesperado, Mikaella. Eu preciso...
— Não encoste em mim.
— Você está com o Otávio, ele fará tudo para te manter bem.
Arregalo os olhos e arfo, negando.
— Mikaella, eu vou ser preso e...
— Você não... Não vai fazer nada contra minha filha, não é?! —
Pergunto, me atropelando nas palavras.
Ele me encara e fecha o semblante.
O pânico me toma.
— Não faça nada, Michael. Por favor... Por favor... Por favor. —
Peço entre lágrimas.
— Acho que eu te machucaria, meu amor? — Sussurra, me olhando.
— Acha que eu faria algo contra você?
Me afasto dele, vendo-o se aproximar novamente.
— Fale com Otávio, Mikaella. Eu preciso de um bom advogado, ou
irei para a cadeia e eu juro, filha, não vai acontecer nada com você.
Diz de uma forma fria, repugnante.
— Está me ameaçando?
— Não... Eu estou querendo uma troca.
Franzo o cenho. Ele me causa nojo. Uma raiva, com um misto de
ânsia, se apossa.
— Saia daqui, Michael. Saia! — Grito e minha voz embarga.
— Mikaella... — Pega em meu braço de novo, enquanto me debato,
afastando suas mãos nojentas de cima de mim...
— Mikaella!? — A voz de Otávio me faz o olhar.
Suspiro aliviada, quando Michael se afasta em um salto.
— O que diabos está fazendo aqui? — Encara meu braço e Leon
entra rapidamente.
— Otávio... — Falo.
— Seu desgraçado! Não encoste nela... — Avança sobre Michael,
acertando um soco, o fazendo cair para trás.
Leon tenta segura-lo, mas eu não consigo nem me mexer.
Em questão de segundos, estou com o rosto colado na camisa de
Otávio, segurando na lapela de sua camisa. Estou trêmula, sem conseguir
falar absolutamente nada.
— Mia, fale comigo. Mikaella! — Ouço a voz distante e o olho.
Tudo parece girar, mas me mantenho firme. A dor no peito me faz o
encarar e o aperto, saindo o mais rápido possível. As mãos firmes me
seguram e é como se minha mente tivesse desligado por uns segundos.
Não quero ir para o hospital. Eu só quero sair daqui. Só quero sair
de perto desse homem monstruoso.
— O que aconteceu? — Ouço a voz de Felícia e Oliver ao mesmo
tempo e me sento. — Sente-se aqui. Gillian, traga um copo com água!
Seguro o copo e sinto as mãos ainda trêmulas.
— Mia, fale comigo. — Otávio pede e engulo em seco. — Vamos te
levar ao...
— Não. Eu estou bem. — Fecho os olhos. — Eu...
— Se estiver sentindo algo, por favor, fale. — Felícia pede.
— Mikaella.
Balanço a cabeça e o abraço, chorando silenciosamente. É mais uma
mágoa no peito e um arrepio passando por todo meu corpo.
Por fora, eu estou ótima. Só as marcas evidentes de suas mãos em
meus braços. Mas por dentro... Estou uma confusão de sentimentos.
Medo e nojo.
Ódio e raiva.
A porta abre alguns minutos depois, Lia entra quase correndo e me
abraça forte, afagando meus cabelos.
— Ele encostou em você? O que ele fez?
Olha para ela, que ainda segura em meu rosto.
— Eu vou matar aquele monstro! Filho de chocadeira! Filho de
uma rameira!
Estamos na sala de estar e eu ainda nem consegui processar tudo que
aconteceu. Sinto as mãos de Liana sobre a minha e nos olhamos.
— Leon...
Olho para Leon, que entra suspirando e nega devagar.
— O que houve?
Ele nos fita e morde o lábio.
— Michael foi preso.
Engulo em seco e Otávio me encara.
— O quê?
— Ele estava sendo investigado há umas semanas e hoje foi a
oportunidade que queriam. — Ele me olha. — Estava desesperado atrás
de dinheiro e confessou que ia pedir uma quantia a gente, para...
Encaro-o, negando com a cabeça.
— Velho imundo! — Liana berra, passando as mãos pelo rosto.
Otávio me olha e engulo em seco.
— Meu Deus. — Seu Oliver se ergue, passando as mãos pelos
cabelos. — Esse homem...
— É um monstro. — Dona Felícia completa.
— Michael está há muito tempo fazendo sonegação fiscal e
desviando dinheiro para a Suíça e também, tráfico de influência.
Pisco devagar, com a mão sobre o peito.
— Ele realmente queria uma troca.
Me sinto enojada. Otávio me encara e engulo em seco.
— Mia.
— Que tipo de... De monstro é esse homem? — Minha voz sai
arrastada. — Que tipo?
Otávio se aproxima, me abraça e enterro o rosto em seu peito.
Queria que tudo fosse um terrível pesadelo. Apenas.
— Eu não sei o que eu teria feito com ele, se tivesse acontecido
alguma coisa com vocês. — Afaga meus cabelos ao falar.
— Quando isso vai acabar? Quando vou poder ter a sensação de
paz?
Ele me puxa e me abraça forte.
— Michael vai ter o que merece, amor. Ele não vai chegar perto de
você novamente. Nem da nossa filha.
Um medo absurdo toma conta de mim e um arrepio sobe por todo
minha espinha.
Não é por mim... Mas por minha filha.
— A audiência do divórcio vai ser amanhã, e com isso, a partilha
de bens... Haverá divisão entre os cônjuges, já que tais bens, fazem parte
do patrimônio de vocês dois.
Assinto enquanto Arthur Gonzáles explica.
É um dos amigos da nossa família, assim como os primos, que
também estão presente. Temos o mesmo círculos de amigos e nossos
pais são muito próximos.
Christopher, Lorenzo, Patrick e Arthur Gonzáles, são os herdeiros
do petróleo, e a Perrot fica à frente da construção de algumas
plataformas.
— Minha área é empresarial, mas me garanto em um divórcio. —
Ele aperta a caneta nas mãos, com um sorriso no rosto.
— Ele é conhecido como advogado do diabo.- Lorenzo sorri.
— O próprio. — Arthur pisca.
— Ela vai levar uma pensão gorda, e pronto. — Leon franze o
cenho.
— Essa coisa de casamento, é do demônio, né? Misericórdia. Fico
arrepiado só de falar. — Lorenzo mostra o braço. — Oh...
Sorrio, o encarando.
— Imagino que não deve estar sendo fácil, Otávio. — Patrick fala.
— Nunca é.
— Mas vai dar tudo certo, você vai ver. — Christopher bate em meu
ombro.
— Eu espero. Estou cansado disso tudo. — Passo as mãos pelos
cabelos e encaro Arthur. — E sobre a guarda da Luíza?
Ele começa a me explicar tudo que vai propôr, e já era de se
esperar.
Já faz uma semana, desde que Michael foi preso e aquela noite
horrível passou.
Todos os bens da família de Anna, estão confiscados. Michael
estava envolvido em coisa pesada, foi um choque saber o que aprontava
com todo dinheiro.
Os Bonarez estão praticamente falidos.
Os meninos começam a falar e rir ao mesmo tempo. Leon e
Lorenzo são o terror nas baladas. Não que Chris, Patrick e Arthur sejam
santos.
Não.
Ambos tem suas personalidades.
— E Lucy? Como vai? Continua uma gata, né?
— Tira o olho da minha irmã, em. — Leon dispara.
— O fura pegador aqui, foi o Chris. Não eu. — Ele rebate.
Christopher sorri.
Ele e Lucy tiveram um namoro rápido. Tão rápido, que nem
lembramos direito.
— Temos que ir, agora. Resolver as coisas na Gonzáles... Mas
vamos marcar de sair um dia desses. — Ele aperta minha mão.
— Otávio sai de uma forca e vai para outra, já está amarrado pelo
pau. — Lorenzo dispara.
— Lorenzo. — Patrick repreende.
— Mas é verdade.... Só que agora é diferente, a Ruiva é um
escândalo.
Cruzo os braços, olhando meu irmão.
— Idiota.
— Vamos marcar algo juntos.
— Fechado.
— A gente se ver na boate?
— E eu perco? — Lorenzo ri.
Nos despedimos dos meninos e me sento, girando na cadeira
devagar, de um lado para o outro. Já é fim de expediente, e só quero ir
para minha casa descansar.
— Vai descansar, curtir um pouco a ruiva... Amanhã precisa estar
renovado, porque a sanguessuga vai atacar.
Passo as mãos pelos cabelos e levanto.
— Vou mesmo. Avisa a mamãe que amanhã nos falamos. Vou
descansar. — Digo e ele bate em meu ombro.
Contratei mais seguranças, para ficar mais tranquilo quando sair do
apartamento. Mas vamos ficar por pouco tempo lá.
Lucy está preparando o projeto da nossa casa. Vamos nos mudar
logo após Alice nascer.
Eu estou um misto de ansiedade e agonia. Quando parece impossível
Mikaella ficar ainda mais linda, ela me prova ao contrário.
Está linda, e mesmo com a barriga enorme, é a coisa mais sexy de se
ver no mundo. Amo senti-la sem roupa. Amo cada chute que faz a
barriga se mover.
Amo saber que ali dentro, está sendo gerada a nossa preciosidade.
Chego em casa e sorrio de imediato, a olhando apenas de roupão,
saindo do banho. Me aproximo e a beijo, por que apenas aqui, eu sinto
as minhas energias serem recarregadas.
A audiência é às dez da manhã. Anna ainda negou um pouco, mas
aceitou um acordo, já que viu que não tinha outra opção. Influência da
mãe, com certeza.
Acordei mais cedo e fiquei por alguns minutos olhando Mikaella
dormir, tranquila. Se meche e me aproximo, me sentando ao seu lado.
Afasto os cabelos que caem sobre o rosto e suspiro pesadamente.
Vou ficar livre de toda e qualquer coisa que me impede de ser feliz.
— Não vejo a hora daquela bruxa parar de usar nosso sobrenome.
— Leon me encara e assinto, ajeitando as mangas da camisa.
— Também não vejo a hora. — Afrouxo o nó da gravata.
Entramos pelos fundos, já que na frente está repleto de fotógrafos e
tudo mais.
Conseguimos entrar com um processo contra o hospital, e eu com
certeza vou até o fim, para que todos os envolvidos na atrocidade contra
o meu filho, paguem caro.
Mikaella me deu um beijo rápido nos lábios, antes de eu sair, me
desejando boa sorte.
Mal sabe ela, que é a minha própria sorte.
— Preparado? Preciso que falem o necessário, e vamos falar tudo.
— Arthur assente, junto com outro advogado.
Me sento na cadeira e Leon ao meu lado direito. Anna entra e nem
consigo olha-la. Letícia a acompanha e junto dela, seus advogados.
— Vamos começar agora, a audiência de Annabell Bonarez e Otávio
Perrot. — Olho para frente pela primeira vez, encarando seus olhos.
Ela me olha com o cenho franzido e ao mesmo tempo, os olhos frios
como duas pedras de gelo.
— O divórcio será amigável e sendo assim, os bens serão divididos
de acordo com tudo que foi construído ao longo dos anos de
convivência. A senhora Annabell, terá uma pensão e manterá o padrão
de vida.
— De acordo com meu cliente, a senhora Bonarez não tem condição
psicológica alguma, de cuidar de um patrimônio desse porte.
— Como? — Anna indaga, me olhando.
— Senhora...
— Otávio. — Letícia me olha, mas continuo calado.
— Ela não tem. — Digo firme.
— Meu cliente exige que a senhora seja acompanhada por um
especialista.
— Quer me internar? É isso? Viver em paz com sua amante?
— Quero que você pague pelo que fez.
— Ela aceita. — Letícia concorda.
— Mamãe...
— Annabell, não estamos em posição de escolher muita coisa.
— Tudo será acompanhado judicialmente. Sobre a guarda da menor
Maria Luíza Bonarez Feggali, passará para a avó materna, e por escolha
da mesma, será dividida com o senhor Otávio.
Assinto devagar.
Pela força do ódio, conversei com Letícia. Eu jamais vou deixar
Luíza desamparada. Vou manter o padrão de vida e tudo que ela precisar.
— Os bens da senhora Annabell, serão divididos entre ela e Maria
Luíza, e como tutor dos bens, o senhor Otávio.
Anna me encara, franzindo o cenho.
Estipulamos o valor de cada bem e da pensão, e eu nunca me senti
tão livre, em toda minha vida, como estou agora. Mesmo sentindo ódio
ao encara-la. O inquérito da morte de Ben, vai ser daqui alguns meses, e
eu não vou recuar de forma alguma.
Toda papelada do divórcio é entregue, e mais uma vez, é
questionada a decisão.
— Os dois tem a certeza que é definitivo?
— Sim. — Digo rápido.
Anna continua me olhando, apertando a caneta com força nas mãos.
Leon a olha e ela engole em seco.
— S-sim.
Assino toda a papelada rapidamente, sentindo a liberdade em cada
linha assinada. Ela faz o mesmo e entregamos juntos, os papéis aos
abordados.
O juíz analisa os papéis e assente rapidamente.
— Estão legalmente divorciados.
— Obrigada, senhor! — Leon exclama alto, fazendo o juiz o olhar
em reprovação. — Desculpe.
Solto o ar, como se um peso saísse dos meus ombros.
Saimos da sala depois de alguns minutos, porque resolvemos
algumas pendências. Arthur solta o ar e abre o terno.
— Foi mais proveitoso, ao menos se livrou. — Fala saindo do
modo advogado.
— Obrigado, Arthur.
— Tudo para salvar os amigos da forca... Não é, Leon?
— Nunca vai precisar me salvar, meu filho. Aqui é duro na queda.
Arthur se afasta para atender o telefone e me aproximo dos meus
pais, que rapidamente me abraçam. Lúcia sorri e a beijo.
— Graças a Deus, foi tudo bem. — Mamãe segura em minhas mãos.
— Espero que esteja feliz. — Me viro, olhando-a parada logo atrás
de mim.
— Ele está livre de você, é óbvio que está feliz. — Lúcia a encara
de cima a baixo.
Anna sorri, olhando-a.
— Pobre Lúcia... Desça desse pedestal e acorde também. — Arquea
a sobrancelha e volta a me olhar.
— Eu quero distância de você, Annabell.
Assente e ri de lado.
— Eu amei você. Eu amei mais do qualquer coisa na vida.
— Amor? Que tipo de amor você acha que tivemos? Que amor é
esse, que prende? Que manipula? Que te culpa?
Disparo, vendo-a engolir em seco e erguer o queixo.
— Você me culpou por meses, Annabell, pela morte do nosso filho,
que você mesma provocou. — Falo com rancor. — Ben foi uma vítima
nas suas mãos e eu nunca vou te perdoar por isso. Nunca.
Ela assente e limpa o rosto.
— Vamos... Chega. — Papai segura em meu braço e a olho.
— Você é pior dos monstros. De todos eles.
— Vamos, Otávio.
— Acha que vai ser feliz, não é? Não vai. Nunca. Por que eu sempre
vou ser a sombra na vida de vocês.
Sorrio sem humor.
— Você já não faz mais parte de nada.
Saio pisando firme me afastando.
Finalmente estou livre de tudo isso, e acho que de uma certa forma,
onde quer que meu filho esteja, ele está bem, em paz.
E ele vai viver para sempre em meu coração.
Uma vida que se foi, mas logo outra vai chegar.
E claro que nada vai substituir Ben, mas vai diminuir a agonia que
me assombra.
— Vamos viajar para a França, e depois vamos conhecer
Veneza, ver o quanto é lindo. E depois para o Brasil.
— Vai provar caipirinha? — Ele assente.
— Claro. Vou provar tudo que eu tenho direito. — Ergo o pescoço,
o olhando.
— Comer tudo?
Otávio franze o cenho e fica sério, então sorrio.
— Mikaella, como você é maliciosa.
— Eu? Você que está sendo malicioso. Eu aqui na inocência...
— Inocência e você, não combinam na mesma palavra, minha ruiva.
— Morde o lábio e me dá um beijo rápido.
Estamos na grande banheira, a água morna cheia de espumas.
Passamos o fim de semana na casa de campo dos pais de Otávio, apenas
para ficar longe dos holofotes da separação.
A casa é linda e tem a calmaria que ele precisava depois de tudo.
Mas por estar na reta final da gravidez, não ficamos por mais tempo.
Eu estou enorme e cansada.
— Isso é um elogio? — Sorrio, enquanto ele beija meu ombro
demoradamente.
A barba cerrada, os cabelos cortados e os olhos azuis fixos em mim.
Ele parece está mais leve, e eu sinto tanto desejo por ele, que sou
incapaz de conter. Transamos com a mesma ardência, agora com menos
movimentos bruscos, mas sem perder a nossa conexão.
É quente e intenso do mesmo modo.
Mas nossas almas se conectam, muito mais que nossos corpos.
É mais do que pele, mais que suor, mais que tesão. Somos um só,
envolvidos em beijos e carícias.
As mãos estão segurando firmemente em minha cintura, subindo
levemente em uma carícia quente. Aperta meus seios em movimento
lentos e gostosos.
— Nossa casa está pronta. — Fala perto da minha orelha e eu me
viro rapidamente, para olha-lo.
— O quê?
Continua beijando meu pescoço e sussurrando próximo ao meu
ouvido.
— Vamos nos mudar daqui.
— Otávio...
— As novas inquilinas vão chegar e temos que sair. — A
naturalidade com que sai de sua boca, me faz rir.
— O apartamento é seu... Como?
— O apartamento é seu. Está em seu nome desde que comprei.
Arregalo os olhos e nego devagar.
— Como? Você...
— Sua tia e sua irmã podem ficar aqui, por enquanto. Vou
providenciar uma casa próxima a nossa.
Me viro devagar, engulo em seco e o olho.
— Otávio, eu não quero que... Que ache que... Você não tem
obrigação alguma de nos sustentar, eu sempre corri atrás.
— Mikaella... — Segura meu rosto. — Você é a mãe da minha filha,
minha mulher...
Aí, perdi a pose de menina má, agora.
Ah, resolveu aparecer agora?
Só apareço quando sua mente se torna pecaminosa.
— Eu amo você, e estou disposto a arcar com tudo que envolve
você e a sua família, porque agora somos um só.
— Otávio...
Coloca os dedos em meus lábios, me impedindo de continuar.
— Você é tudo que eu tenho, vocês são. Então, eu quero e posso
fazer tudo por vocês. E vou vou fazer.
Enlaço seu pescoço e o beijo. Sintindo meu coração
descompassado, de tanto amor.
— Ela resolveu fazer minha bexiga de pula pula... — Falo ao entrar
na sala da empresa.
Faz uns dias que venho aqui, apenas para ver uns documentos e
organizar.
— Agitada igual a mãe, né filha? — Beija minha barriga e afago
seus cabelos, o olhando. Estou sentado na cadeira. — Katy está louca
para te ver. Acho que chega depois de amanhã da Espanha.
— Estou morrendo de saudades dela, também.
Sinto um leve incômodo nas costas e sorrio, mordendo o lábio.
— Vai para casa agora?
— Vou passar na casa da Lia, depois vou para casa.
— Irmão mais velho... Oh quem está aqui. — Leon me dá um beijo.
— Como vai, Ruiva?
— Enorme e cansada.
— E linda. — Otávio completa.
— Ah, o amor. — Leon nos encara.
— Eu já vou. — Pego a bolsa e ele se aproxima. — Eu ligo quando
chegar.
— Vou ficar esperando. Volto assim que possível.
Assinto, o beijando e me despeço de Leon, que faz um bico e recebe
um tapa de Otávio de imediato.
— Era um beijo na bochecha. — Diz rindo.
Almoçamos juntos, e agora vou ver Lia, que está de folga do
trabalho. O segurança abre a porta e entro no carro rapidamente.
— Tenha um bom dia, senhora.
— Obrigada. — Agradeço e ele se afasta.
Giro a chave para dar partida e só ouço a porta do carro abrir e
fechar em seguida. M Anna me encara e sorrir de lado.
— Como vai, Mikaella? — Dispara.
A expressão em seu rosto faz minha espinha se contorcer.
— Agora vamos resolver nossas pendências. — Seu tom de voz é
ameaçador. — Dirija com calma e não de tire as mãos do volante. Por
que um movimento seu, e eu juro que te mato.
Engulo em seco.
— Você não vai fazer nada.
Ela ri, balançando a cabeça.
— Você acha que eu estou brincando? Eu não tenho mais nada a
perder, Mikaella. Porque você me tirou tudo! Você tirou tudo... Tudo.
— Anna... — Digo baixo.
— Você está com medo? — Abre a bolsa e tira uma pequena arma.
Paraliso e ela rir alto, me olhando.
— Deveria estar.
— Anna...
— Dirija, vamos. — Diz baixo e dou partida lentamente.
Sinto as mãos tremerem, enquanto seguro o volante firmemente. Sei
que ela está fazendo acompanhamento psiquiátrico e que não está em seu
juízo perfeito. Faz dias, após o divórcio. A encaro balançar a cabeça
diversas vezes, arfando.
— Para onde estamos indo? — Minha voz falha e ela continua a rir.
— Eu vou para a minha casa, com o meu marido. Já você, eu não
sei...
— Anna...
— Eu mandei você dirigir, sua cadela! — Dispara e bate no painel
do carro. — Eu não estou brincando, Mikaella!
Sobressalto e mordo o lábio.
— Você está doente, Anna...
— Você achou mesmo que ia ter um final feliz, às minhas custas? —
Grita. — Você quer minha vida. Você quer tudo que meu. Você...
Sinto uma pontada forte e suspiro pesadamente.
— Anna...
— Otávio é meu! Meu! Ele é meu marido e vai continuar sendo! —
Sua voz é ameaçadora.
Nem sei para onde estamos indo. Eu só consigo dirigir e prestar
atenção na pista.
O celular toca insistentemente, então ela o pega e atende.
— Oi, amor. — Sorri e eu a encaro.- É ele... Meu amor, que
saudades.
Ouço a voz nervosa de Otávio do outro lado.
— Meu amor, eu só a trouxe para dar uma voltinha, ela está tão
pálida. Sabe como grávidas ficam sensíveis. — Diz baixo. — Mas não
se preocupe, amor. Logo volto para casa.
Meu coração bate descontrolado e ela ri.
Ri como uma louca e minha espinha congela.
Joga meu celular pela janela e volta a apontar a arma para mim.
— Vai, sua cadela! Vamos para o inferno...
Engulo em seco, sentindo as mãos tremerem e depois de longos
minutos, sem saber ao certo onde estamos, ela grita para eu estacionar. É
uma casa praticamente no meio do nada.
— Desça, querida. — Abre a porta, mas nego. — Desça!
Segura em meu braço e praticamente me joga do carro. Eu nem
consigo respirar, ao sentir uma dor forte. Me ergo e dou dois passos
desajeitados para trás.
— Não se sentiu mal quando transou com meu marido, não é? Você
acabou com a minha vida! — Aponta a arma. — Você é uma vadiazinha
de quinta.
— Você e ele já tinha acabado há tempos, Anna.
— Acabou, por que você se meteu! Você acabou com meu pai,
acabou com tudo! Depois que você chegou, acabou com a minha vida! E
depois... Depois dessa bastarda...
— Sua louca!
— Sua vadia! — Ela acerta um tapa em meu rosto, que me faz a
encarar com mais ódio. — Toque em mim mais uma vez, e sua morte
será mais rápida do que se imagina. Quando eu me livrar dessa fedelha,
ele vai voltar para mim.
Travo os dentes quando a dor se intensifica dentro de mim, minha
respiração sai ofegante e pesada.
— Entra... Quero que entre.
— Anna...
— EU MANDEI ENTRAR! — Grita histérica.
Sou praticamente arrastada para dentro da casa, ela ao meu lado.
Minhas pernas tremem sem parar e tudo parecia doer fortemente.
— Por favor, Anna.
— Agora você quer suplicar, amor?
— Minha Filha... — Digo baixo.
— Eu não ligo, eu não me importo. — Gargalha. — Vocês vão
morrer. Morrer... Não é legal? Elas morrem. — Fala sozinha.
— O que vai ganhar com isso? Ele não vai voltar para você.
Ela apenas mantém os olhos em mim, e mordo os lábios, prendendo
um gemido que teima em sair agoniado.
— Mas também não vai ficar com você. Quer gritar, não é mesmo?!
Mas adivinha? Você não vai sair daqui. Até eu me livrar de você e da
sua rebenta!
A arma em minha direção e ela me olha sorrindo.
— Michael me deixou. Otávio me deixou. Tudo por sua culpa! Tudo.
Ele vai enjoar de você, Mikaella, ele vai te trocar por uma secretária
vadia, do mesmo modo que fez comigo!
Grita e sobressalto quando ela bate na mesa ao seu lado.
— Aquela família desgraçada... Vão sofrer tanto! Mas tanto... — Me
olha fixamente. — Você vai pagar por tudo... Todos eles, também...
— Ele amou você, Anna.
— Ele ama. Ama. Me ama. — Aponta para o peito.
— Isso... Ama. — Me aproximo devagar.
— Ele vai voltar para mim. Por que ele é meu... Sempre foi meu...
— Ele é seu. — Dou mais um passo para a frente.
Ela para por um momento, me encarando e seus olhos ficam
perdidos.
— Eu disse... Disse para ela... — Ela começa a falar coisas
desconexas e me deixa mais assustada.
Sem pensar, avanço sobre ela e seguro a arma de suas mãos, ela se
debate furiosamente.
O revólver cai no chão girando e ela me encara.
— Louca! Psicopata! — Acerto um tapa em seu rosto. — Louca!
Acerto outro tapa, arfando com ódio, quando ela me empurra
furiosamente.
Cambaleio, mas chuto a arma para longe.
— EU VOU MATAR VOCÊ! — Grasna.
— Sua louca! Você é doente! Doente! — Me afasto, olhando a porta
fechada enquanto ela procura a arma.
A dor me paralisa e corro para os fundos. Tento abrir a porta, mas
está fechada.
Ouço carros chegando e paraliso, quando ela surge com uma faca
em punho.
— Eu vou matar você.
Jogo as cadeiras na frente, para impedi-la de passar.
Saio cambaleando, com a dor mais forte que já senti na vida, subo
as escadas e tropeço, quando ela segura na minha perna.
— Vá para o inferno! — Acerto um chute forte e ela cambaleia.
Um grito estridente sai da minha garganta quando ela corta minha
perna.
— Eu vou... Mas eu levo vocês comigo! — Me encara.
Tudo acontece tão rápido, a porta se abre em um estrondo e em um
momento as pernas fraquejam e sinto-a avançar sobre mim.
— Morra, desgraçada!
Sinto meu corpo tombar escada abaixo.
— Meu amor, olhe para mim. Olhe pra mim...
Ouço a voz de Otávio distante, mas tudo não passa de um borrão
— Mikaella, fale comigo... Olhe pra mim, meu amor! — Eu quero
falar, mas as palavras estão presas.
— Mikaella...
Tudo vai ficando silencioso, sem nitidez...
Até que não ouço mais nada.

— Calma, Otávio! Calma!


Seguro o rosto pálido entre minhas mãos, trêmulo, com o coração
batendo descompensado no peito.
Está desacordada.
— Por favor... Por favor. — Imploro, como se de alguma forma, ela
fosse me ouvir.
— Chame uma ambulância! Façam alguma coisa!
Meu coração se aperta, enquanto Leon se aproxima e segura em meu
braço.
Foi tudo tão rápido, que eu nem consegui racionar. Ao ouvir a voz
de Anna no telefone, foi o suficiente para me fazer tremer da cabeça aos
pés.
O GPS do carro foi um alívio e ao mesmo tempo, um tormento,
quando vi que estava indo para um caminho que nem sabia onde era, mas
um flash de memória foi ativado quando cheguei.
Uma das casa de Michael.
Me ergo e vejo Anna sendo segurada por um médico.
— Eu disse... Que você não ia ser feliz. — Dispara ofegante.
— Não vai valer a pena. Mia precisa de você, agora. — Leon fala
quando ameaço ir na direção dela.
Vejo-a sendo colocada sobre a maca com rapidez. O sangue
espalhado faz meu coração disparar e nego veemente.
— Você vai ter o que merece, Anna. Pode demorar, mas vai. —
Disparo e saio feito um louco.
Começam rapidamente a medir os batimentos do bebê e parece um
pesadelo se repetindo. Mikaella desacordada e o sangue espalhado.
Seguro em suas mãos frias e as aperto entre as minhas.
Por favor, minha pequena. Fique bem. Por favor.
As lágrimas descem copiosamente e continuo apertando sua mão.
— Vai ficar tudo bem, amor... — Sussurro em seu ouvido, entre as
lágrimas. — Eu juro que vai ficar tudo bem.
O barulho da sirene, os médicos sobre ela, é o dejavu mais terrível
de se passar.
Assim que ambulância estaciona, a tiram de imediato. Estou em
pânico, com um medo, que me deixa atordoado.
— Ela vai para uma cesariana de emergência. Os batimentos
cardíacos do bebê estão fraco.
Passo as mãos pelos cabelos, vendo a levarem.
— Elas vão ficar bem. — Leon assegura. — Elas vão.
Ele repete e suspiro, vendo meus pais e Lúcia chegarem. Liana se
aproxima e me olha.
— Onde ela está? Por Deus, onde ela está?
— Lia, ela...
Ela põe as mãos nos cabelos, balançando a cabeça.
— Eu vou matar aquela desgraçada! Eu vou surrar aquela filha da
puta!
Leon a encara.
— Calma.
— Eu vou bater nela! — Liana pega a bolsa. — Eu vou surrar
aquela ordinária!
— Liana...
— Ela vai bater na Anna? — Meu irmão indaga, enquanto ela sai
pisando firme.
— Ah, Deus!
— Vai atrás dela, Leon!
— Eu não vou segurar ela, não. Vou deixar bater! Espera aí, Liana!
— Ei... Vai ficar tudo bem. Ouviu? Eu estou aqui. — Lúcia me
abraça.
— Meu amor, estamos aqui. — Mamãe fala.
Alguns minutos se passam e é mais desesperador ficar sem nenhuma
notícia. Ando de um lado, para o outro. É um martírio e eu conheço
muito bem esse aperto.
Respiro fundo.
— Quer beber algo?
— Não, pai. Não quero.
Leon volta, junto com Liana, que está ofegante.
— Liana...
— Alguma notícia dela?
Nego e ela me abraça devagar.
— Elas são fortes, vão ficar bem.
— Parentes de Mikaella Gonçalves?
— Somos nós. — Falo e viro, com o coração acelerado.
— Ela está perdendo muito sangue, precisamos de uma transfusão
de sangue, com urgência. Por ser raro, não temos bolsas suficientes.
— Qual o tipo sanguíneo?
— O negativo. — Liana dispara.
Meu pai me encara e os fito rapidamente. Franzo o cenho e engulo
em seco.
— Otávio?
Me chama, mas já disparei rumo a saída, com o coração aos pulos.
Sei quem é a única pessoa que pode ajuda-la nesse momento.
Pego o carro e saio em toda velocidade, sentindo o desespero em
cada acelerada que eu dou. Em questão de poucos minutos, estaciono o
carro e desço as pressas.
Converso com o delegado rapidamente e o encaro engolindo em
seco.
— Senhor Perrot, temos que aguardar um pouco...
— Aguardar? É a vida da minha mulher e da minha filha em jogo!
— Tragam ele para cá, é caso de vida ou morte.
Minutos depois, Michael entra de cabeça baixa, os cabelos
cortados. As mãos para trás pelas algemas e me encara rapidamente.
— O senhor vai ser acompanhado até o hospital.
— Para quê?
— Mikaella está no hospital. Para você não faz diferença, eu sei.
Mas se tiver pelo menos um pingo de amor, ou até mesma compaixão
pela sua filha... Porque por sua neta, eu já vi que não tem. Mas eu tenho
pelas duas.
Ele me olha e ergo o queixo.
— Estou pedindo de pai, para pai, Michael. Se tiver algo aí dentro...
Você vai doar esse sangue de bico fechado.
Ele continua me olhando por um longo tempo, mas assente.
Cada minuto é questão de vida ou morte. Eu temo, mais que tudo, a
segunda opção.

Michael passou por testes rápidos e foi levado para uma sala. Os
minutos parecem não passar de forma alguma. Estou desesperado,
agoniado.
Me ergo, olhando o policial passar e Michael parar a minha frente.
— Eu quero dizer que sinto muito por tudo.
— Sente? Sente, mesmo? — O olho de cima a baixo. — Você é
falso demais.
Ele assente, nos olhando.
— Eu só fui atrás de você, por que querendo ou não, Mikaella ainda
é sua filha.
— Diga a ela que seja feliz.
— Ela vai ser mesmo. Bem longe de você. — Liana dispara.
— Senta. — Roger me olha. — Quer tomar alguma coisa?
Nego veemente.
Eu não consigo engolir absolutamente nada. Nada.
Olho para o relógio a cada segundo, mas parece que a hora não
passa. Ou eu não consigo raciocinar para vê-las passando.
— Otávio... — Leon começa, mas vejo o médico se aproximar.
— Doutor...
— Como elas estão? — Meu pai pergunta na frente.
Mamãe se levanta, vem em minha direção e já sinto minha garganta
fechar.
Lúcia entrelaça os dedos aos meus e meu coração começar bater
descontrolado.
— Ocorreu tudo bem. Mikaella e a bebê estão bem.
Solto a respiração, que nem percebi que está segurando. Sorrio de
alívio, entre as lágrimas e Leon bate em meu ombro, me abraçando.
— Graças a Deus. — Um misto de emoções transborda de mim.
— A cirugia foi delicada, mas conseguimos reverter a hemorragia.
As duas estão bem, Mikaella ainda está desacordada e a bebê está
fazendo os procedimentos necessários.
—Ah Deus! — Mamãe comemora, com a mão no peito.
— Alice nasceu... — Leon me encara.
— Nossa princesinha. — Lúcia me beija sorrindo, enquanto limpa o
rosto.
— P-posso vê-la?
— Claro, mas com calma.
Encaro Lia, que segura em minha mão e sorri.
— Vai. Vai vê-la. — Funga.
A cada passo que dou, é como se meu coração disparasse mais
ainda. Entro pelas portas duplas de vidro e suspiro pesadamente, ao
ouvir o choro baixinho.
Meus olhos fixam na bebê e eu paraliso.
— É ela? — Leon pergunta.
Os bracinhos balançam de um lado para o outro, me deixando
hipnotizado.
Ela é perfeita.
— Olha só, Otávio... O tamanhozinho.
Sorrio, percebendo meus olhos marejarem. Ela está sendo embalada
por uma enfermeira. Os olhos abertos e os poucos fios na cabeça,
revelam que vai ser a cópia da mãe.
— Meu Deus! — É a única coisa que consigo pronunciar.
— Entra, papai. — Meu irmão sorri e o fito.
Entro na sala, coloco as roupas descartáveis e me aproximo,
enquanto a enfermeira a segura.
— Já fez isso antes?
— N-não. — Digo visivelmente nervoso e sorrio.
— Mantenha os braços firmes e apoie a cabeça dela em seus
braços...
Quando finalmente a seguro em meus braços, as lágrimas vão
descendo sem eu ao menos perceber. Leon me encara pelo vidro e sorri.
— Oi, minha filha... — Ela me encara e engulo em seco. — Então
era você esse tempo todo...
Pisca devagar, abrindo a pequena boca e sorrio.
Sorrio como um louco.
Escuto as batidas no vidro e vejo todos alí. Mamãe sorri abraçada
ao meu pai. Lúcia limpa o rosto e Roger a fita. Lia está com as mãos no
vidro, enquanto Leon a encara.
— São seus avós alí, amor. Seus tios e sua tia postiça. Eles estão
aqui, por que sua mãe nos deu um baita susto...
Minha voz sai embargada.
Encosto os lábios de leve na cabecinha com a touca cor de rosa e a
lágrima desce.
— Seja bem vinda ao mundo, minha Ally...
— Ela é linda, meu filho. Linda! — Mamãe fala encantada.
Olhamos Alice, que coloca as mãozinhas na boca. Está deitada no
berço e eu poderia passar uma vida inteira olhando-a, que não me
cansaria nunca.
— Ela é a coisa mais fofa que eu já vi. — Lúcia completa com as
mãos juntas.
— É a cara da Mikaella. — Roger sorri.
— Preciso ver, Mikaella.
— O médico disse que ela vai acordar daqui a pouco. Pode ir.
Vamos ficar aqui, babando nessa princesa. — Leon diz.
— Eu vou vê-la daqui a pouco, também. — Liana fala.
Meu sorriso é gigante, só não é maior que meu coração. Meus olhos
se fixam novamente em Alice.
É um amor surreal de lindo. Meu coração batendo fora do peito.
Abro a porta do quarto devagar e vejo que Mikaella dorme
tranquila. Suspiro pesadamente ao me sentar ao seu lado e seguro em
suas mãos.
Ela se mexe devagar.
— Obrigado, amor. Obrigado pelo presente mais lindo... — Beijo a
mão devagar. — Ela é linda. Linda como você.
Ela abre os olhos devagar, piscando algumas vezes.
Ela me encara com os olhos perdidos e sorrio, segurando sua mão
perto do meu rosto e dou um beijo em sua testa.
— Deu tudo certo, amor. Tudo certo. — Aviso e ela suspira
aliviada.
— Eu tive tanto medo, amor.
— Eu sei.
— C-como ela está?
— Está bem. Ela é linda. Linda...
— Quero vê-la. — Pede sorrindo. — Quero vê-la.
— Já vão trazer ela. — Acaricio seu rosto e ela fecha os olhos.
Vou contar sobre Michael depois, ela precisa saber. Depois de
algum tempo, a porta se abre e a enfermeira entra, trazendo o pacotinho
embalado nos braços.
Alice resmunga e Mikaella olha rindo e limpa uma lágrima que cai
de seu rosto.
— Alguém está com fome.
A enfermeira ajuda Mikaella a botar Alice para mamar.
— Oi, meu amor. — Diz baixou. — Ela é tão linda... Tão pequena...
Mia segura na mãozinha, que aperta seu dedo em um reflexo. Rimos
e choramos ao mesmo tempo em que ela dá um resmungo alto.
As duas mulheres da minha vida.
— Olhe os dedinhos. — Me mostra. — O nariz...
— Tão linda, quanto você. — Acaricio a cabecinha, enquanto Alice
abocanha o seio, mamando desesperada.
— Você é esfomeada, também.
— Uma mini versão sua. — Fixo os olhos aos seus e ela ri, me
olhando.
Os olhos azuis brilham e a beijo devagar, com todo amor e carinho
do mundo.
O coração dói, de tanto amor.
Mia segura Alice no colo conversando baixinho, quando a porta se
abre devagar e todos entram sorrindo. Lia abre a boca ao ver Mikaella.
— Ah, Mia. — Diz chorosa e vai para perto. — Quer fazer um teste
no meu coração? É isso?
— Eu te amo.
— Eu amo mais. — Lia sorri
— Não canso de falar o quanto ela é linda. — Lúcia fala, olhando-a.
— Realmente, ela é sua cara, Mikaella. — Mamãe a segura nos
braços. — Oh, vovó...
— Graças a Deus, é a cara da mãe! — Leon exclama e rir.
— Está muito feliz, meu filho. — Meu pai assente e suspiro.
— É um sonho que foi realizado, pai. Um sonho. — Olho para ele.
— Quero ser para ela, o que o senhor sempre foi para mim.
Ele bate de leve em minhas costas e me abraça.
Não nego que chorei.
Chorei de alívio, de felicidade e de um amor inexplicável, que me
toma. Alice é nosso mundo. O centro do nosso mundo, agora.
— Ela dorme tão tranquila. — Mikaella diz. — Como ela é linda,
não é?
Acaricio os cabelos dela, que dorme nos braços de Mia.
Estamos apenas nós três no quarto. Todos estão na recepção e
vamos passar o resto da madrugada, que já está acabando.
— Não vou me cansar de olha-la, nunca.
Acaricio devagar e ela me encara, suspirando.
— O primeiro passo dela, vai ser para l meu abraço. Eu nunca vou
deixa-la cair. Nunca vou falhar com ela, Mikaella. Você e ela, são o
motivo de tudo... O furacão mais lindo que já passou em minha vida.
— Eu te amo. — Me dá um beijo.
Mia conseguiu descansar e por mais que o cansaço me domine, eu
não consegui pregar o olho. É uma inquietação, e olho a cada segundo
para Alice no bercinho.
A pego no colo, embalando o corpinho mole em meus braços e me
sento na cadeira.
Essa coisinha minúscula, é uma das coisas que eu tenho de mais
precioso na vida.
— Sempre sonhei com você. Eu te amo tanto. Você é a prova mais
linda do perdão do seu irmão, que está lá no céu, minha pequena. E vai
te proteger lá de cima.
Sorrio, a olhando.
— Otávio? Otávio?
Abro os olhos e vejo Leon me olhando.
Mikaella sorri, segurando Alice, que parece faminta, nos braços.
— Apaguei depois de colocar ela no bercinho. — Me ergo e
segurando no pescoço.
— Cara, você pegou no sono aí. Sua idade não permite mais isso.
— Leon debocha.
— Engraçadinho. — Olho para Mia, que está sentada e beijo sua
testa. — Descansou?
Ela assente devagar.
— Alice estava chorando e Leon chamou a enfermeira. Ele ficou
com medo de pegar ela.
Mikaella diz com um tom divertido.
Olho para Leon, incrédulo.
— Não! Você não está com medo de segurar um bebê nos braços. —
Começo a rir.
— Claro que não... Ela só é muito pequena e...
Sorrimos, olhando Leon.
— Trouxe umas roupas para vocês. Lia separou a roupa da ruiva e
eu a sua. Lucy está trazendo as da pequena.
— Vou tomar um banho.
Tomo um banho rápido e visto a roupa rapidamente. Saio,
olhando Mikaella ri de algo que Leon fala.
Lúcia e Liana já estão no quarto, babando em Alice, que está usando
um macacão cor de rosa, assim como o laço minúsculo em sua cabeça.
— Cadê a boneca da titia?
— Vamos dar uma volta? — Leon chama e assinto.
— Volto já.
— Elas estão bem cuidadas. — Liana sorri.
Meus pais foram descansar. Vamos para a lanchonete, Leon se senta
a minha frente, estendendo o copo de café em minha direção. Ele bebe o
seu devagar e o fito.
— O que aconteceu?
Me olha por cima da borda do copo e o deposita sobre a mesa.
— É algo delicado. — Suspira e franzo o cenho.
— Leon...
— Anna deu entrada na clínica, mas tomou uma quantidade absurda
de remédios e...
O encaro suspirar.
— Causou um AVC isquêmico. Ela está em coma.
Continuo calado, o olhando.
Eu não consigo sentir nada. Nada.
— Natan me avisou, está todo mundo muito abalado.
— Luíza? Ela já sabe?
— Ela foi lá para casa com mamãe e papai. — Ele assente e nego
devagar. — Ela está...
Me ergo em um salto rápido.
— Eu preciso vê-la.
Salto do carro assim que Leon estaciona, mil e uma coisa passando
pela minha mente. Subo os degraus da entrada, abro a porta da sala e
meu pai me encara.
— Onde ela está?
— Está no quarto, com Felícia.
Pulo os degraus de dois em dois, passo pelo corredor e abro a porta
do quarto, ouvindo o choro estrondoso e paro.
— Ela me deixou... Ela me deixou, igual minha mãe! Eu não tenho
ninguém... Eu não...
Mamãe me encara enquanto a abraça e abro a porta.
— Ela me deixou! Ela me deixou!
Me sento devagar, olhando-a soluçar alto.
Só então percebe que estou ao seu lado, ela se vira e se joga em
meus braços. A aperto, ouvindo o choro esganiçado que sai do fundo da
sua garganta.
— Estou aqui.
— Ela me deixou! Me deixou...
Afago seus cabelos e beijo sua testa.
— Ela não pensou em mim... Por que tudo que eu amo se vai? Por
que, tio Otávio... Por que!?
Seguro em seu queixo e limpo as lágrimas que caem.
— Eu estou aqui, meu amor.
Luíza nega veemente e levanta.
— Você tem sua família! Eu? Eu não tenho ninguém! Eu sou sozinha.
Não tenho mais pai, não tenho mais mãe. Eu não tenho ninguém!
— Luíza...
Arfa e solta um soluço esganiçado.
— Tudo que eu amo, se vai.
A encaro fixamente, seguro em sua mão e a aperto entre a minha.
— Eu sempre vou estar aqui, Luíza. Sempre. — Ela nega com a
cabeça. — Eu nunca vou te deixar, minha pequena, nunca.
— Vai sim, vai me deixar.
Sorrio devagar e afago seu rosto.
— Você tem sua família, agora. Tem sua filha e tem...
— Tenho duas filhas. — Corrijo e ela fecha os olhos. — Esqueceu?
A puxo para um abraço, coloco o queixo no topo de sua cabeça,
ouvindo o choro baixo e as batidas frenéticas do coração disparado.
— Eu nunca vou te deixar. Nunca. — Repito.
Ela deita na cama e pousa a cabeça em meu peito.
— Alice me lembra você, quando nasceu. Quando segurei aquele
pacotinho loirinho nos braços, pela primeira vez...
Luíza está em silêncio.
— Só que ela vai ser ruivinha.
Ela ergue os olhos e me encara.
— Como sabe? Ela é pequena ainda.
— Mas dá para ver que vai... Eu não sei segura-la direito, vou
precisar de ajuda... — Digo baixo, vendo-a piscar devagar.
— Eu sei segurar o Noah. Tia Gaia me deixa segurar ele.
— Você pode segurar a Alice, também.
Luíza me olha e sorrio.
— Posso?
— Claro. Você é a irmã mais velha... Pode ensinar ela a fazer tudo.
— Tia Anna vai morrer? — Pergunta, depois de alguns segundos em
um longo silêncio.
— Eu não sei, meu amor. Eu não sei.
— Não quero que ela me deixe, não quero perde-la.
Volta a deitar em meu ombro e fecho os olhos, suspirando. Luíza a
amava com todas as forças. Ela pega no sono e a ajeito na cama, beijo
sua testa e saio do quarto devagar.
— Ela dormiu um pouco.
— Coitadinha. — Mamãe coloca a mão no peito, com tristeza.
— Eu volto para vê-la. Cuidem dela.
— Sempre. — Papai assegura.
Pego o carro e paro em frente ao hospital, desço devagar, tiro os
óculos e entro na recepção. Leon saiu na frente e já me espera.
Paro ao ver Letícia e Gaia, que se levantam assim que nos vêem.
— O que está fazendo aqui? — Letícia me encarando com o rosto
banhado por lágrimas.
— Você sempre passou as mãos na cabeça dela. Para tudo. Você é
tão responsável pelo que aconteceu, quanto ela, Letícia. — Digo firme e
engulo em seco. — Queria dizer que sinto muito, mas seria hipocrisia da
minha parte.
Gaia baixa os olhos e Letícia continua me olhando.
— Ela vai se recuperar, minha filha é forte.
— Que ela pague por tudo que fez. E pode demorar, Letícia, mas sua
conta chega. — Vejo-a me olhar fixamente. — Só queria dizer que o
único motivo de eu não levar você para a cadeia, é a Luíza. Ela já
perdeu pessoas demais e eu a amo muito, para vê-la sofrer, mais do que
já está sofrendo.
Letícia ergue o queixo trêmulo.
— Minha relação com Luíza, vai ser a mesma. De pai, para filha.
Sempre. Mas meu contato será apenas com ela. Eu não quero saber, ou
ouvir falar de vocês.
— Digo o mesmo.
— Luíza é minha prioridade. Vou priorizar o bem estar e a saúde
mental dela, acima de qualquer coisa. — Torno a falar firme. — Espero
que para você, seja igual, Letícia. Por que eu movo o céu e o inferno
para proteger ela... Até de vocês, se for o caso.
— Luíza é minha neta. Acha que eu faria...
— Ben também era, Letícia. — A corto de imediato. — O recado
foi dado.
Saio e ouço os passos apressados logo atrás.
— Otávio? — Olho para Gaia, que se aproxima. — Parabéns pela
sua filha.
Sorrio, a encarando.
— Obrigado. Parabéns pelo seu filho, também.
— Eu não vou deixa-la também. Amo muito Luíza. — Diz baixo. —
Sinto muito por tudo que Anna fez. Eu sinto muito, de todo meu coração.
— Eu sei, Gaia.
Ela sorri levemente e assente suspirando.
— Você merece ser feliz.
Engulo em seco e Leon me encara de relance.
Nathan nos olha parados.
— Posso falar com você?
— Não estou para brigas, Nathan. — Digo de imediato.
— Não vou. — Diz com as mãos enfiadas nos bolsos da calça.
Ele se aproxima de Gaia, que o olha.
— Eu sinto muito por tudo que aconteceu, e ouvi sua conversa com
mamãe. Sobre Luíza, sobre tudo. — Ele assente e continuo calado, o
olhando. — Eu agora consigo imaginar a dor que você sempre sentiu, a
perda de um filho.
— Sua irmã causou uma dor, que nem em mil anos conseguirei
suavizar. — Mordo o lábio. — Realmente, a única coisa que eu quero, é
viver em paz.
— Todos nós. — Ele diz.
Assinto e me viro, saindo rapidamente. Sigo com Leon em silêncio.
— Como está se sentindo? — O olho de relance.
— Livre. — Dou de ombros.
Ele bate em meu ombro e sorri.
— Agora acabou.
Nego devagar.
— Apenas começou, Leon. A minha vida começou.

Acaricio o rostinho pequeno com a ponta dos dedos e sorrio. Alice


dorme em meu colo e eu não canso de admira-la.
Recebemos alta e eu só consigo me sentir aliviada por estar indo
para casa. Passei três dias em observação, mas estou bem.
Recebemos visitas, e eu adoro ver o quanto Alice é amada. Otávio
não desgruda um minuto sequer de nós duas. É lindo ver a forma que ele
a olha, o quanto acalma meu coração vê-lo com ela no colo.
Não achei que era capaz de sentir esse amor dentro de mim.
O quartinho que Lucy planejou, é um jardim encantado, com flores e
ursinhos cor de rosa e lilás espalhados.
Ela e Leon são os tios mais babões do mundo, só perdem para
Liana.
A encaro segurar Alice nos braços sorrindo.
— Dá até vontade de ter um... Ela é tão fofinha, tão miudinha.
— Você, Lia?
— Ué, quem não queria era você! E agora está noiva, com um
monumento em forma de homem e uma filha linda.
Sorrio e balanço a cabeça.
Realmente, se me dissessem algum tempo atrás, eu ia rir horrores
dessa pessoa.
Ela balança Alice e a fito suspirar.
— Você é muita linda, sabia? Muito, muito!
— Como você está? — Pergunto assim que ela coloca Ally no
bercinho.
— Estou bem.
— Jura?
— Claro, não escondo nada de você. — Morde o lábio.- Dean disse
que vai vim visitar vocês, está empolgado demais.
Estreito os olhos quando percebo que ela muda de assunto
rapidamente.
Depois de alguns dias, Otávio me contou sobre Michael ter doado o
sangue que me salvou, e isso me surpreendeu.
O que esperar de uma pessoa como ele?
Falei com minha tia por vídeo chamada e ela o chorou de emoção
quando viu Alice. Minha irmã sorria, olhando-a e a ansiedade, junto da
saudade, machucou demais.
Mas vamos nos ver em breve, foi o que acalmou um pouco o
coração.
Otávio abre a porta devagar e o encaro sorrir.
— Tem alguém aqui, que quer conhecer essa princesa... — Otávio
diz baixo.
Sei de quem se trata e sorrio assim que Leon aparece com Luíza,
que entra devagar e um pouco séria.
Seus olhos se prendem no berço e volta para Otávio, que sorri.
É a primeira vez que ela vem aqui.
— Oi, Luíza.
— Oi... — Responde vagamente.
— Venha conhece-la. — Otávio a chama e ela sorri ao ver Alice. —
Não é linda?
Leon me encara e sorrio.
— Quer segura-la?
— Eu posso? — Me olha com receio.
Assinto devagar.
Otávio pega Alice, que se mexe e a coloca em seu colo. Luíza sorrir,
a segurando.
— É linda. — Diz baixo. — Oi, Ally... Ela sorriu, tio Otávio.
— Porque ela gosta de você. — Ele franze o nariz.
— O Noah sorri para mim também. — Começa a conversar com
Otávio e sorrio, saindo do quarto junto com Leon.
— Dá esse momento para eles. —Cruzo os braços.
É nítido o amor de Otávio por ela, e isso me deixa feliz. Ele
continua sendo o pai dela.
Passam um tempo juntos no quarto, mas logo depois Alice chorou e
fui para dar de mama. Luíza observava cada cantinho do quarto.
Não me olha muito e percebo que apenas me encara de relance. Está
de pé, segurando o ursinho nas mãos e se vira encontrando meu olhar.
Mas sem dizer nada, ela sai do quarto.

— Se um pinguinho de tinta
Cai num pedacinho azul do papel
Num instante imagino
Uma linda gaivota a voar no céu
Canto baixinho, enquanto Alice mama, me olhando.
É a conexão mais linda do universo.
— Vai voando
Contornando a imensa curva, norte, sul
Vou com ela viajando
Havaí, Pequim ou Istambul
Pinto um barco à vela branco, navegando
É tanto céu e mar num beijo azul (...)
Minha mãe cantava essa música sempre que íamos dormir. Me deu
saudades.
Alice faz um barulhinho lindo e sorrio.
Mesmo com todo o cansaço, tudo se vale a pena quando a olho.
— (...) E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença, muda a nossa vida
E depois convida a rir ou chorar
Sussurro baixo, vendo os olhinhos se fecharem e uma mão
espalmada em meu peito.
— Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar...
Otávio entra, para a nossa frente e cruza os braços, nos encarando.
— Vamos todos numa linda passarela
De uma aquarela
Que um dia enfim descolorirá
Ele sorri e se ajoelha em frente a poltrona.
— Dormiu? — Assinto. — Luiza já foi?
— Leon a levou. — Acaricia os cabelinhos de Alice.
Sei o estado de Anna, que agora é bem delicado. Está com metade
do corpo paralisado e havia perdeu os movimentos. Não me abalou
quando soube.
Eu não sinto nada com aquilo, a não ser um certo tipo de pena.
Otávio se aproxima e beija minha testa.
Meu coração bate desenfreado e suspiro quando ele a pega no colo
e sorrir de lado
Eu amo observar ele, com ela no colo.
Capaz de me deixar trêmula. Um homem alto, forte, com uma bebê
dormindo tranquilamente em seu peito, é uma cena de filme.
Mas não qualquer filme, O filme da minha vida.
Depois de algum tempo, ele a coloca no berço, sinto os braços me
rodeando e apoio a cabeça em seu peito.
— Nem acredito que estamos aqui... Assim, com ela.
— Talvez acredite, quando ela te chamar de pai pela primeira vez.
— Digo sorrindo.
— Aí eu posso ter um infarto. Minha idade já não permite mais isso.
— Dramático. — Brinco e ele me beija, esfregando o nariz ao meu.
— Você aguenta muita coisa ainda...
— Mikaella... — Diz sério e rio baixo.
Amo vê-lo sorrir.
— Será que sempre vamos ser assim?
— Assim, como? — Indaga.
— Assim... Como somos.
Ele põe os dedos nos meus lábios.
— Somos imperfeitos, Mikaella. Somos falhos... Mas eu prometo
que vamos viver cada dia de nossas vidas, como se fosse o primeiro. —
Acaricia meu rosto. — Por que eu te amo, com tudo de mim. Por que eu
descobri o que é realmente o amor, ao seu lado.
O abraço quando ele me beija devagar
— A nossa vida está apenas começando. — Entrelaço os dedos aos
seus.
Alice chora, nos fazendo sorrir e Otávio a segura, me olhando.
— O papai e a mamãe estavam falando de como nos amamos, e a
você também. — Otávio fala com ela.
— De como você veio ao mundo, trazendo tudo de bom, Alice. Que
é a nossa vida.
— O começo dela.
Sorrio ao me aproximar do jardim e ver Otávio erguer Alice para
cima, a risada contagiante ecoa e é impossível não sorrir junto com ela.
Os poucos cabelos ruivos de Ally e
os olhos, que são de um azul, igual os do pai. Ela coloca as mãos no
rosto de Otávio, que sorri a beijando.
Esses 4 meses, foram as maiores emoções das nossas vida. Os
primeiros meses da vida de Alice contagiaram a todos nós. Tudo que ela
faz e cada descoberta, por menor que seja, é motivo de alegria.
Nos mudamos há dois meses, e que surpresa foi a minha ao ver a
casa de dois andares, com mais cômodos do que eu poderia imaginar.
Casa é modéstia ao falar, é literalmente uma mansão, com seis quartos,
duas salas de estar e uma de TV. Fora uma brinquedoteca, cinema,
academia e uma área gourmet.
— Vai bagunçar todo o vestido dela. — Digo, o olhando e ele sorri.
— Ela que quis ser jogada para cima. — Otávio a encara. — Não
foi, filha?
Nego e suspiro.
— Vamos?
— Vamos. — Entrelaçamos nossos dedos.
Hoje é um dos aquelas dias, em que a emoção toma conta. Minha
irmã e minha tia estão chegando, finalmente. Eu não sei explicar a
sensação que estou sentindo em meu corpo e no meu coração nesse
momento.
Alice fala algumas coisas desconexas e logo sorri, assim que a
coloco no bebê conforto. Seguro em suas mãos e ela aperta, me olhando.
— Vai conhecer sua titia. — Digo rindo. — Está ansiosa, Ally?
É um amor inexplicável, que não tem medidas. Apenas dá para
sentir de uma forma única.
Nossas vidas deram um salto tremendo. Vivemos um dia de cada vez
e eu nunca, em toda minha vida, achei que viveria tudo isso.
A Perrot está crescendo mais a cada dia, graças aos três, que dão o
sangue pela empresa. A união de Otávio, Leon e Lucy é uma das coisas
mais lindas que já vi.
— Está nervosa? — Ele pergunta, assim que chegamos no aeroporto
e assinto.
— Estou. — Sorrio, mordendo o lábio e olho para Alice, que dorme
deitada em seu ombro.
— Estou aqui. — Segura em minha mão.
A ansiedade está a flor da pele.
Enquanto caminho, equilibrada nos saltos, cada passo, é uma batida
frenética no peito. Passamos pelos portões, e esfrego a mão de Otávio,
que segurava a minha.
Ando de um lado, para o outro por alguns minutos, sabendo que o
avião já pousou.
Solto o ar, olhando para as escadas quando elas aparecem com as
malas.
O encaro e ele aponta rindo.
— Vai... Esperaram demais por esse abraço.
As lágrimas nublam a visão, enquanto ando depressa e Gaby desce
os escadas rapidamente.
Me aproximo e ela se joga em meus braços, nós duas chorando de
emoção e saudade.
— Mia... — Seguro em seu rosto, olhando-a de cima a baixo.
— Como você está linda, meu amor. Meu Deus. — Sorrio e choro
ao mesmo tempo. — Cadê minha irmã caçula, de quando vim para cá?
— Você está tão linda.
Limpo o rosto, enquanto minha tia me encara e a aperto.
— Eu senti tanto a sua falta, meu amor. Você está tão linda, tão
linda...
— Ah, tia. — A abraço e o cheiro do perfume que eu amo me
invade.
— Está uma mulher, maravilhosa. Anwwww...
Ela para, sorrindo e olhando por cima do meu ombro, quando
Otávio se aproxima com Alice, que ainda dorme.
— Tia, quero conheça as duas pessoas que me mostraram o que é
amor.
— Ela é sua cara, Mikaella... — Tia Vera fala, com Alice já em seu
colo.
Estamos em casa e minha irmã está encantada com toda a cidade.
Elas vão ficar aqui até o batizado de Alice, que é em dois dias, mas
depois vão para o apartamento.
Preparamos tudo para as duas.
— Eu estou tão feliz por você, minha filha. Tão feliz. — Me sento
ao seu lado e ela segura em minhas mãos.
— Agora eu posso dizer que minha felicidade está completa, com
vocês aqui... — Digo, vendo minha irmã rir com Alice em seu colo.
— Se Vivian estivesse aqui para ver tudo isso... Sua filha.
— Acho que ela não ia me perdoar — Mordo o lábio, mas ela nega.
Algumas lágrimas caem e ela as limpa.
— Não diga isso, Mikaella. — Diz séria. — Ela ia vê-la feliz. E
você está feliz...
Assinto e a abraço, deitando a cabeça em seu colo, enquanto ela
afaga meus cabelos.
— Eu senti muito a falta de vocês.
Minha tia, depois de alguns minutos, sai com Alice para conversar
com Otávio. Minha irmã me olha fixamente e volto a abraça-la.
— Achei que nunca mais íamos ficar assim de novo. — Afago seus
cabelos, que são um pouco mais escuros que os meus.
Limpo seu rosto e aperto suas mãos.
— Sinto saudades da mamãe. — Ela fecha os olhos e assinto.
— Eu também sinto. — A puxo para os meus braços. — Ela está
olhando pela gente, de onde estiver.
Gabriella assente e ergue o rosto, limpando-o.
— Lembra daquele filme que a gente assistia? — Indaga e franzo o
cenho.
Ela sorri e pega na mochila o pequeno Stich.
— Ohana, quer dizer família. E família, quer dizer nunca abandonar,
ou esquecer.
Falamos em uníssono e rimos.
Foi um presente que dei a ela antes de viajar. Costumávamos assistir
ao filme, que de uma certa forma, nos lembrava.
Uma irmã mais velha, que fica responsável pela guarda da irmã
menor quando os pais morrem. Lillo e Stich, fez parte de nossa infância.
Realmente, família quer dizer nunca abandonar, ou esquecer.
Conversamos por longos horas, mas pela exaustão da viagem, minha
irmã foi dormir e Otávio foi colocar Alice em seu quarto.
Minha tia me encara e se aproxima, sentando ao meu lado.
— Quis te dar isso quando a Gaby não estivesse perto.
Franzo o cenho assim que ela me entrega o envelope branco.
— Leia com calma. Boa noite, meu amor. Até amanhã.
Me beija devagar e sai.
Abro o envelope rapidamente e as letras, de quem eu conheço muito
bem, me deixam com as mãos trêmulas.
◆◆◆
Oi, Mia. Provavelmente, quando estiver lendo essa carta, eu já não
estarei mais aqui. Mas calma... Vai ficar tudo bem. Vai ser difícil no
começo, mas sei que sua tia vai cuidar de vocês, com todo o amor do
mundo.

Sei que é forte, minha filha. Que a saudade será dolorida e irá
sufocar às vezes. Mas não podemos adiar a partida. Eu peço perdão,
por não estar presente quando você for mãe e construir sua família.
Peço perdão, por não ver o crescimento de sua irmã, por não abraça-
las quando o medo pairar.
Falei coisas, da qual eu sei que causaram um peso enorme em seu
coração e na sua mente de menina. Mas não é porque o amor não deu
certo para mim, que não dará para você, filha. Eu fui feliz com seu
pai, pelo menos, achei que fosse.
Mas não se pode amar por um.
Não se pode lutar sozinho, por alguma coisa que não existe mais. O
casamento é uma via de mão dupla e só funciona se ambos quiserem.
Eu estou bem, mas com o coração em pedaços, por estar deixando
vocês duas... Eu sinto muito. Saiba que de onde estiver, estarei
olhando por vocês.
Aproveite cada segundo de sua vida, ame o tanto que puder.
O amor, é um dos sentimentos mais belos e puros de uma vida
toda.
Seja forte e corajosa, Mikaella.
Com todo amor do mundo.
Mamãe.
◆◆◆

Coloco a mão sobre a boca, reprimindo um soluço baixo, e ao


mesmo tempo, um alívio me invade. Releio a carta, com as mãos ainda
trêmulas e o coração batendo agoniado, de uma saudade sem fim.
Ouço os passos e me viro quando Otávio senta ao meu lado, me
puxando para seu peito.
— Está feliz, meu amor? — Pergunta, me fazendo encara-lo.
Franzo o cenho, o fitando sorrir e passar o polegar pela minha
bochecha.
Engulo em seco e balanço a cabeça sorrindo.
— Estou. Muito.
— Sabe o que está faltando pra ficar tudo completo?
Nego e ele passa a língua pelos lábios.
— Você ser minha de papel passado.

Abro os olhos devagar, me acostumando a claridade no quarto.


Meus cabelos são puxados e ouço algumas palavras desconexas que me
fazem rir.
— Ally... — Ela sorrir.
— Eu não tive culpa! — Otávio levanta as mãos e Alice balbucia
algo na língua de bebês.
— Culpa do papai, né amor? — Sorrio e dou vários beijos nela.
Ela sorri e vira o rosto para o lado ao contrário de que estamos e
continua sorrindo, enquanto segura em seus pézinhos.
— O que será que ela está vendo?
— Bebês sempre fazem isso, amor. — Otávio a pega no colo. —
Temos que levantar. O batizado é daqui há algumas horas. Já está tudo
pronto lá embaixo...
Me espreguiço, levanto da cama e vou tomar um banho demorado.
Vou usar um vestido champanhe, que chega na altura dos joelhos.
Escolho os saltos altos da mesma cor e deixo os cabelos soltos, caindo
em cascata sobre minhas costas.
Seguro Alice no colo e desço as escadas, ela em seu vestido branco,
com flores cor de rosas. Todo o jardim está decorado com balões
brancos e a enorme mesa com bolo e docinhos.
Liana está sentada, falando algo com Lúcia, que sorri. Leon está
parado próximo, junto com Oliver e Felícia.
— Vem aqui, coisa linda da vovó. — Felícia brinca com Alice, que
tenta segurar em seu colar de pérolas. — Como está linda...
Roger se aproxima de Lúcia e me cumprimenta rapidamente. Dean
veio com Lia, e assim que me viu, veio me abraçar.
Os padrinhos de Ally são Liana e Leon, que aceitaram o convite,
antes mesmo de ser feito. Não tinha como fazer escolhas diferentes.
Apresento minha tia e minha irmã para todos e seguimos direto para
a igreja, onde vai ser o batizado. É a coisa mais linda do mundo, ela
chorou um pouco, mas foi logo contagiando a todos com o sorriso mais
lindo.
Alice é o centro das atenções, tem praticamente uma fila, apenas
para pega-la nos braços.
Sorrio enquanto Oliver brinca e ela o encara.
Sinto minha cintura ser puxada e os braços fortes me envolvem no
calor do seu corpo. Me viro e passo meus braços por seu pescoço,
dando um beijo.
— Você mudou minha vida e me deu o maior presente de todos.
— Eu que te agradeço, por ela... Por tudo.
Espalmo a mão em seu peito e os olhos estão fixados aos meus.
— Ei, Ei... Isso é um batizado infantil, nada de saliências.
— Idiota. — Otávio ri e volta me encarar mordendo o lábio.
— Se rolar beijo na minha frente, eu vomito.
— Sai daqui. Sai. — Ele gargalha.
— Ai ai, o amor está no ar. — Lúcia fala.
Leon franze o cenho e tapa o nariz.
— Nem quero respirar, mesmo.
Rimos de sua palhaçada e Otávio me beija devagar.

Entro no quarto devagar e abro a porta. A manhã está linda hoje.


Fomos dormir tarde, por causa da festa do batizado, que foi até mais
tarde do que o programado. Me encosto na soleira, vendo Mikaella
dormir, junto com Alice tranquilamente.
As duas mulheres da minha vida.
Sorrio e o coração dá uma palpitada gostosa quando as duas se
mexem, mas continuam dormindo. Os fios ruivos de Alice, no mesmo
tom dos de Mia. É uma mini ruiva, como Leon fala.
Beijo cada uma e saio do quarto suspirando. Desço as escadas e
vejo Vera em frente às enormes janelas.
Lembra muito Mikaella, alguns traços e jeitos.
— Bom dia. — Cumprimento.
— Ainda estão dormindo?
— Alice acordou mais cedo e a levamos para a cama. Agora as
duas estão dormindo lá.
— Ela me disse o que Michael fez, e a sua ex esposa...
— Não foi fácil.
— Obrigada, por cuidar bem delas.
— São tudo o que eu tenho, Vera. Agora preciso ir encontrar uma
pessoa.
Ela assente, sorrindo levemente. Pego o carro e dirijo com calma,
aproveitando um pouco que o trânsito está calmo.
Luíza chegou da casa dos avós e eu vou busca-la. Evito ao máximo
ir até a casa de Letícia, que se mudou para a minha antiga casa. Ela,
Luíza, Nathan, Gaia e Anna moram juntos agora. Pelo conforto da
mansão.
Luíza é minha responsabilidade total. Passa alguns dias comigo, mas
eu respeito quando ela prefere ficar com a tia.
Desço do carro ao parar no jardim, é estranho observar a casa onde
passei anos da minha vida. Anos, que doem lembrar. Toco a companhia
e a porta se abre quando Tina atende.
— Estava com saudades.
A abraço forte e a beijo. Tina e Dom continuam a trabalhar aqui, e
de uma certa forma, fiquei tranquilo. Pois sei que Luíza está sendo bem
cuidada por eles também.
— Entre.
— Não precisa, Tina...
— Pode entrar, Otávio. — Letícia surge e a encaro. — Veio ver
Luíza?
— Quem mais me importaria além dela? — Digo baixo e ela
assente.
Entro e olho ao redor, tudo está absolutamente no mesmo lugar.
A diferença é alguns brinquedos espalhados pelo tapete da sala, do
filho de Nathan e Gaia.
Letícia mexe nas mãos e se senta, entrando em um choro
compulsivo.
— Não aguento mais vê-la dessa forma, Otávio. Ver minha filha
nesse estado... Anna não fala, não anda.
Fico estático.
Mas não sinto absolutamente nada.
— Onde Luíza está?
— Está lá no jardim.
Assinto, passando direto para fora da casa. Vejo Luíza sentada,
enquanto um menininho bate palmas a sua frente. Os cabelos dourados
caindo em seu rosto e ela sorri, o olhando.
Mas apenas encaro a cadeira de rodas, e vejo os cabelos presos em
uma trança longa.
Luíza se ergue assim que me vê e vem andando em minha direção.
— Tio Otávio! Eu estava com saudades. Estava morrendo de
saudades! — Ela pula em meus braços e a aperto em um abraço.
— Também estava com muitas saudades. Não queria mais voltar da
fazenda? Que me matar do coração?
— Eu amei ficar lá, mas também estava com saudades daqui. — Ela
aponta, enquanto o menino a chama com as mãozinhas.
— É esse é o Noah. Estamos fazendo companhia para a tia Anna.
Ela entende quando a gente fala... Quer ver?
Fico estático e a olho.
Engulo em seco quando Luíza a vira de frente.
Anna, que até então estava com os olhos hipnotizados no nada, me
encara. As mãos jogadas no colo, de qualquer modo.
— Olha, tia Anna. Olha quem veio aqui. — Luíza sorri.
Estou petrificado.
Anna continua do mesmo modo e só vejo mover uma mão.
— O senhor está bem, tio Otávio? E Alice?
Me sento ao banco e abraço Luíza forte em meus braços.
— Estamos bem. Vim te buscar.
Ela suspira e franze o nariz, enquanto olho o menino que sorrir e
brinca com os carrinhos.
— Vai ficar bravo se eu não for hoje?
— Não. Jamais.
— Eu vou ficar com a tia Anna, hoje. Ela fica tão sozinha.
Luíza para, olha de mim para Anna e engole em seco.
— Quando meu pai e minha mãe morreram, ela me acolheu como
filha. Hoje ela perdeu todo mundo... Mas eu estou aqui.
Ela sorri, a encaro e beijo sua testa demoradamente.
Luíza levanta e pega o menino no colo.
— Me espera? Vou levar o Noah para tia Gaia trocar ele. Eu volto...
Queria te mostrar uma coisa.
— Eu espero você.
— Dá tchau para o tio Otávio, Noah.
O menino sorri e acena várias vezes.
Tem quase um ano de idade e é bem parecido com Nathan.
Luíza sai correndo com Noah, que gargalha em seu colo, seus
cabelos voando enquanto vão em direção a casa.
Olho para Anna, que mexe os olhos e encontra os meus.
— Hoje seguimos caminhos diferentes, Anna. Consegui conquistar
tudo de que me privou. Me privou de ver meu filho... De termos uma
vida sossegada. — Digo e ela continua me olhando. — Você se tornou
tudo aquilo, que mais odiou em um inocente.
Ela me encara e assinto.
— Mas você tem alguém que realmente te ama. Luíza. Espero do
fundo do meu coração, que você não a magoe, que não destrua esse amor
por nada.
Encaro os olhos que estão vagos e percebo uma lágrima cair de seus
olhos, molhando o rosto o pálido.
— Podia ter sido diferente, Annabell. Mas não foi. É a última vez
que boto meus pés nessa casa. Deixei tudo para trás, e você é uma
dessas coisas.
Me levanto e percebo várias lágrimas caírem de seu rosto.
— Eu sei que está arrependida, ou não. Eu errei e não tiro minha
culpa pelo que aconteceu, mas nós dois sabemos que nosso fim era
questão de tempo.
Adeus, Annabell.
Saio e vou para a frente de casa, esperar Luíza, me sento na varanda
com as mãos nas pernas, quando a porta abre e Luíza aparece, segurando
um papel nas mãos.
Sorrio quando ela senta ao meu lado.
— Queria te fazer um pedido, mas não sei se vai aceitar.
Franzo o cenho, vendo-a limpar o rosto quando uma lágrima cai.
— O que houve, amor?
— Aqui, nesse mesmo lugar, você me disse que eu sempre seria sua
filha, que nosso amor é maior que qualquer coisa. Que independente do
fim do seu casamento...
— Você sempre será minha filha. — Completo.
Ela assente.
— O senhor aceita ser meu pai?
Sorrio.
— Eu já sou, Luíza. — Ela nega.
— Oficialmente. Eu vi que quando há um vínculo de amor, assim
como o nosso, podemos oficializar. Vovó disse que assina pela tia Anna,
como minha mãe. E eu quero... Quero que o senhor seja meu pai,
também.
As lágrimas descem e a olho.
— Ah, Luíza. — A abraço, chorando junto com ela. — Meu amor...
— O senhor aceita?
— Nada me faria mais feliz nessa vida, do que te dar meu
sobrenome, minha pequena.
Ela ri, limpando o rosto.
É como receber o mais lindo dos presentes.
— Vai ser tornar Maria Luíza Bonarez Feggali...
— Perrot. — Completa com um sorriso.
— Eu te amo muito. — Afago seu rosto e ela assente.
— Eu te amo muito mais.
Ligo para o advogado, para mandar preparar tudo para
oficializarmos e eu não poderia me sentir mais feliz.
Falta apenas uma coisa.
Pego o celular e mando uma mensagem para Mikaella, falando que
estou chegando e que vim ver Luíza. Em seguida disco o número de
Leon, que atende no primeiro toque.
— Está tudo pronto?
— Claro. Só esteja no altar e o resto é comigo. Não vai ser um
casamento. Vai ser O casamento!
— Salão de beleza? Uma hora dessas? — Cruzo os braços e
Liana sorri.
— Porque não?
— Alice vai ficar com quem?
Liana sorri, batendo palmas enquanto Ally a olha atenta.
— Ué, sua tia, Mia!
— Exatamente. — Tia Vera aparece e pega Alice. — Pode ir, amor.
Eu cuido da pequena.
Olho para elas e franzo o cenho. Faz
mais ou menos, meia hora que Liana insiste em me levar para um dos
salões mais chiques de Nova York. Chegou assim que eu acordei e está
sorridente, me olhando.
Otávio mandou uma mensagem e simplesmente sumiu, não atende
mais o celular de modo algum.
— Qual o propósito disso, Liana? — Entro no carro e ela senta ao
meu lado, coloca o cinto e mexe nas unhas,
despreocupada.
— Nenhum, Ruiva. Apenas preciso de uma banho de luxo. Minha
melhor amiga é noiva de um engenheiro
gostosão. Temos que estar apresentáveis.
Bato em seu braço, rindo e balanço a cabeça.
— Sua aproveitadora.
— Brincadeira. Estou mesmo precisando conversar com você. —
Lia mexe nos cabelos e dou partida.
Ela se remexe e franzo o cenho.
— É o Dylan? Ele fez alguma coisa? — Ergo as sobrancelhas.
— Não. Não fez nada. — Morde o lábio.
— Tem falado com ele?
Ela nega rapidamente.
— Tem certeza, Liana?
— Claro. Eu só estava pensando... Você não acha o namorado da
Lucy, como eu posso dizer...
Franzo o cenho.
— Às vezes ele atende o celular e sai de perto, e eu ouvi ele
gritando no telefone.
— Roger? — Indago. — Falando o quê?
— Que a pessoa pare de ligar. Que o deixe em paz. — Liana morde
o lábio. — Ele ficou todo estranho quando me viu...
— Estranho. — Confirmo e ela assente. — Ele e Leon são muito
amigos. Ele ia ser padrinho de casamento de Leon e da prima da Anna.
Liana arregala os olhos.
— Sério?
— Otávio me contou, e pelo que Lucy falou, a tal da Cíntia é o
demônio. Prima de quem também, né?
— Oh raça ruim, meu Deus. — Ela franze o cenho e morde a unha
do polegar. — Trair um homem daquele, que parece uma máquina sexy e
ambulante! Que olhos são aqueles, Meu Deus!
Ela se abana com as mãos nervosamente.
A fito de cima a baixo e ela para.
Franzo o cenho e abro a boca.
— Você pegou o Leon!?
— Olha o salão! Vamos... Temos hora marcada!
A encaro perplexa e acabamos entrando em outro assunto.
Descemos e entramos direto para o salão. O lugar realmente é luxuoso e
incrivelmente lindo.
Lia conversa com uma das cabeleireira e me sento em uma das
cadeiras.
Praticamente toda uma equipe está em cima de mim. Não sei quantas
horas se passam assim. Mas hidrataram, cortaram e fizeram um penteado
no meu cabelo, que ficou incrivelmente lindo.
Metade dos cabelos preso em uma trança em forma de tiara, junto
com os cachos que caem em meus ombros. Alguns acessórios
complementam.
— Você está linda. — Lia balança seus cabelos, que estão de uma
cor de mel espetacular.
Sorrio.
— Eu posso saber o porque dessa produção toda? —Pergunto e me
levanto, vendo a maquiagem delicada em meu rosto.
— Vamos para uma festa. — Anuncia.
— Ficou louca, Lia? — Indago.
— Vamos... — Estende a mão e a seguro, sem entender
absolutamente nada.
Chegamos em casa e Lia vem logo atrás. Entro e percebo tudo em
silêncio.
— Olha lá em cima... — Ela aponta e franzo o cenho.
Subo as escadas e percebo todos os cômodos vazios, volto a descer
sem entender nada.
— Lia, onde está todo mundo?
Ela está sentada no sofá, de pernas cruzadas e me encarando. Então
vejo duas capas pretas em cima do sofá. Liana sorri, quando Felícia,
junto com Lucy entram com seus vestidos espetaculares de lindos.
Assim como tia Vera, junto de Alice
— O que é isso? — Pergunto, olhando de uma para a outra.
— Uma surpresa, Mia... — Lia explica.
— Uma surpresa que vai mudar sua vida. — Lucy anda até a duas
capas pretas e me entrega.
Aperto uma mão na outra e engulo seco.
Não pode ser o que estou pensando.
— Ele está te esperando, Mikaella...
Engulo seco.
O coração bate descompassado no peito.
Felícia sorrir e um pânico absurdo toma conta de mim, não sei como
agir.
— Ele ficou louco? — Falo com as mãos no rosto.
— Ficou. — Lucy diz. — Preparou tudo, agora está apenas te
esperando.
— Escolhemos dois vestidos, aí a escolha vai ser sua, entre eles...
Encaro minha tia.
— Você já tem uma família, Mikaella. Uma família linda. Só precisa
concretizar isso, filha. Se Vivian estivesse aqui, ela ia chorar de
felicidade!
A abraço enquanto Alice me encara.
Beijo-a forte, fechando os olhos.
— Ele está te esperando. — Felícia segura em minhas mãos.
Subo para o quarto e abro as capas. Dois vestidos lindos, que vai
ser bem difícil escolher de imediato. Passo a mão pelo tecido e ergo um,
que tem detalhes rendados nas costas, estilo sereia e repleto de pedras
brilhantes.
— Precisa de ajuda?
Olho para porta e Lia entra junto com Lucy, que segura um buquê de
rosas vermelhas em umas das mãos.
— Toda a ajuda do mundo.
Me olho no espelho e sorrio ao ver resultado. Viro de costas e
percebo a calda do vestido descer perfeitamente. Ficou ótimo.
Termino de passar o batom vermelho, as mãos começam a suar e o
desespero bate com força no peito.
Não sei se vou feliz para todo o sempre, ou apenas por uma parte da
vida. Mas o amanhã sempre foi incerto demais, vamos viver como se
não houvesse um.
Tem alguns boatos, mas tentamos não ligar. O grande engenheiro,
que trocou sua esposa, pela secretária jovem. A destruidora de lares.
Que ele está comigo pelo sexo e eu pelo seu dinheiro.
Sempre vão existir esses boatos, é impossível não ter.
Quem garante que não vai fazer o mesmo comigo?
Quem garante que ele não me trocaria?
Ninguém.
Porque não temos garantia alguma. É tudo incerto e um tiro no
escuro.
Otávio tem esse receio por causa da nossa diferença de idade,
especificamente quatorze anos de diferença. Eu sou o furacão na sua
vida calma, como ele fala.
Temos tanto para viver, conhecer e aprender.
Eu não vou me preocupar com o futuro. Sofrer por antecipação? Não
Só vou sofrer, se acontecer.
Respiro fundo quando o carro para em frente a um hotel luxuoso. Lia
sorri, se abanando nervosamente com as mãos. Seu vestido lilás é
colado ao corpo, igual o de Lúcia.
— Não posso borrar a maquiagem. — Lia fala com a voz
embargada.
Eu observo com atende cada detalhe, o quanto tudo está lindo.
Vejo Dona Felícia vir andando sorrindo, junto com Gaby, que brinca
com Alice em seu colo. Percebo os fotógrafos parados, apenas
esperando o momento certo para eu entrar.
— Vai dar tudo certo, Ruiva... Nós temos que ir agora. — Liana
beija minha testa e a abraço forte.
— Eu amo você. — Sorrio. — Quem vai me levar?
— É alguém irresistível, gostoso para cacete e com um corpo
maravilhoso...
— Leon! — Exclamo sorrindo, enquanto ele se aproxima.
Ele desfila perfeitamente em seu terno e estende a mão a minha
frente.
— Acho melhor entrar lá, Ruiva. Otávio está quase parindo. — Ele
sorri e segura em meu braço, me fazendo girar. — Uau! Está uma gata,
com respeito, mas uma gata!
O encaro e depois o abraço forte. Leon sempre nos apoiou, nada
mais justo ele me levar até a até o altar, nesse momento tão especial.
— Obrigada. — Olho para ele. — Por tudo.
Ele me encara.
— Eu soube desde o momento em que te vi entrando naquela
empresa, que tudo ia mudar. — Ele fala e apoia meu braço no seu. — Eu
estou muito feliz. Agora, vamos entrar lá e ver o que o garotão fez para
você.
Sorrio o olhando e entrelaço o braço ao seu. Sigo junto com ele, até
pararmos em frente a uma porta de vidro dupla, com aros dourados.
Aperto o buquê nas mãos e as portas se abrem, fazendo meu coração
bater descontrolado no peito.
A primeira coisa que enxergo, é Otávio parado, como se não
acreditasse que estou mesmo aqui, na sua frente.
Está lindo. O terno sob medida perfeito nele.
Meu amor.
Nosso.
Estamos só alguns passos de distância. Tão perto, mas ao mesmo
tempo longe.
Quem diria que aquele homem com uma tatuagem enorme e a grossa
aliança dourada, que me assustou de todas as formas naquela boate, ia
viver um romance louco e proibido comigo.
Sorrio assim que a marcha nupcial começa a soar e sinto um arrepio
passar por meu corpo. Vou andando devagar e sorrio quando todos os
olhares pousam sobre mim, é como andar sobre as nuvens.
Meus olhos nublam com lágrimas, quando vejo Alice sorrir, como
se de uma forma, entendesse o que está acontecendo.
Otávio mantém os olhos fixos aos meus assim que me aproximo e
seguro em sua mão estendida.
— Olá, meu amor. — Sussurra, quando Leon me entrega para ele.
— Olá. — Cravo meus olhos nos seus, perdidamente apaixonada.
— Sem sexo com olhares. Vocês estão casando. — Leon diz baixo,
acompanhando de uma piscadela discreta.
É impossível não sorrir.
Mal consigo prestar atenção nas palavras que o juíz de paz fala.
Estou voando nos pensamentos, várias emoções passeando pelo meu
corpo e pelo meu peito.
Os votos são simples e rápidos. Sem delongas e enrolação.
— Mikaella Gonçalves, você aceita Otávio Perrot, como seu
legítimo esposo?
Encaro o juíz e volto meu olhar para Otávio, que ergue as
sobrancelhas sorrindo.
Fito Alice, que nos assiste rindo dos braços de Lia.
— Sim. — Sussurro.
— Otávio Miller Perrot, aceita Mikaella Gonçalves, como sua
legítima espo...
— Sim. — Otávio fala antes do juíz terminar a frase, fazendo todos
nós sorrir.
— Eu vos declaro, marido e mulher.
Otávio sorri, antes de encostar os lábios de leve nos meus. Ouço os
assobios e as palmas ecoando pelo salão.
Minhas mãos tremem, enquanto sinto a aliança passar em meu dedo
anelar e ele deposita um beijo leve quando acaba. É um aro fino,
delicado e com pedras azuis pequenas ao redor.
Eu estou casada.
Seguro em sua mão, deslizando a aliança dele e ele me encara sério.
— Te amo. — Move os lábios sem emitir som.
— Eu te amo mais.
As palmas voltam a ecoar e sorrio, enquanto saímos do altar.
— Desculpe tramar tudo.
O abraço e encosto a cabeça em seu peito.
— Eu passaria tudo de novo, para viver esse dia novamente.
O salão do hotel está cheio de pessoas. A decoração impecável e
com flores espalhadas em todos os cantos. Os espelhos, casando com
toda decoração.
Abraço minha tia e minha irmã, assim como os pais de Otávio. Lucy
vem com Alice no colo, ao lado de Roger, já me cumprimentando com
abraços.
Sorrio para Otávio, que segura minha mão.
— A minha esposa me concederia a honra dessa dança?
Alguém avisa que eu já dei tudo para esse homem, o que é uma
dança?
Enxerida.
— Posso abrir uma exceção para meu esposo. — Digo sorrindo e
ele me guia para a pista de dança.
Nickelback - Never Gonna Be Alone
Time is going by
So much faster than I
And I'm starting to regret
Not spending all of it with you
Os acordes da música soa pelo salão, enquanto dançamos juntos.
Realmente, é inacreditável.
Que toda essa história, que julgamos ser apenas um caso, ia acabar
assim.
— Tinha que ser você. Já estava escrito, Mikaella.
Engulo em seco e sorrio.
Ele me roda e volta a ficar os olhos nos meus.

— Foi só você chegar, Mia...


Now I'm wondering why
I've kept this bottled inside
So I'm starting to regret
Not telling all of this to you
So if I haven't yet
I've gotta let you know
Hoje é um dos dias mais felizes de toda minha vida.
Estou me casando pela segunda vez, e as incertezas são as mais
difíceis de lidar.
Encosto a testa na sua e aperto sua mão.
— Que bom que você chegou, meu amor.
You're never gonna be alone
From this moment on
If you ever feel like letting go
I won't let you fall
You're never gonna be alone
I'll hold you 'til the hurt is gone
Sinto o toque dos lábios sobre os meus e sorrio. Ela nunca mais vai
está sozinha.
Planejei tudo com meus irmãos e Liana. Não foi um casamento
planejado por meses. Foi tudo rápido, mas foi do nosso jeito.
Tem as pessoas que gostamos e a nossa família.
Mikaella dança com Leon e com meu pai, enquanto eu intercalo a
dança com minha mãe, Lúcia e Liana.
Katy sorri, me olhando e bate em meu ombro.
— Quem diria... — Assente e olha para Mikaella, que se aproxima.
— Vocês achando que me enganavam e eu vendo tudo.
Bebe o whisky e sorrio.
— Fico feliz que estejam bem. Vocês merecem. Agora vou pegar
aquela coisinha ruiva no colo, um pouco.
Estava vendo os sorrisos e encaro Mia sorrindo conversando com
Liana.
Leon se aproxima rindo olhando as duas.
— Ai ai... Qual a sensação de ir para a forca, duas vezes seguidas?
— Você e suas piadinhas. — Balanço a cabeça. — Estou feliz,
Leon.
— Eu sei. — Ele me encara. — E eu estou feliz por você.
Bato em seu ombro e Mikaella se aproxima, a encaro de cima a
baixo.
— Com licença.
Está linda. Mais do que eu podia imaginar que ficaria.
Essa mulher me enlouquece de uma forma absurda. Me faz deseja-la
com uma força que me assusta.
Seguro em seu rosto e a beijo, sentindo as mãos espalmadas em meu
peito.
— Fui promovida de amante, a esposa. — Ela rir ao falar.
— Vai continuar sendo minha amante, minha esposa... — Sussurro
em seu ouvido. — Vai continuar sendo a mulher que me doma na cama e
fora dela.
— Eu domei você? — Ri baixo.
Assinto devagar.
— Com essa língua afiada, esse corpo projetado pelo pecado... Meu
desejo insano, o furacão no meio da minha calmaria.
Passo o polegar por seus lábios.
— Estou louco para ver o que tem por baixo desse vestido....
Ela umedece os lábios e se aproxima do meu ouvido.
— E quem te disse que tem algo?
— Mikaella. — Minha voz sai rouca.
— Desculpe atrapalhar o momento do casal, mas tem alguém
querendo vocês. — Leon aparece com Alice nos braços.
A pego, beijando-a e Mia acaricia o rostinho lindo.
Voltamos a cumprimentar todos os amigos e alguns parentes. Gabriel
está conversando com Mikaella.
Ai meu coração.
Por que? Estou bem.
Está com ciúmes.
Não.
Está sim.
Nego devagar.
Maldita mente.
— Está feliz? — Pergunto a ela.
Estamos no jardim do hotel e algumas luzes decoram o ambiente.
Mikaella me olha sorrindo, com Alice no colo.
— Descobri a felicidade, desde o dia que coloquei meus olhos em
você. Como nunca me senti... Não é, Ally? Fale para o papai.
Seguro nas mãozinhas pequenas, vendo-a sorrir olhando para o
nada.
O vento frio da noite, faz seus cabelos balançarem e ela dá uma
risada baixa.
— O que você tanto ver, em Ally?
— Ben. — Sussurro baixo.
Mikaella me encara e volta a me abraçar.
Beijo sua testa e pouso o queixo em sua cabeça.
— Estamos indo ser felizes. — Seguro em sua mão, entrelaçando os
dedos aos seus.
Encaro-as sorrindo.
Eu me sinto vivo de novo, sinto meu coração bater frenético e
descontrolado.
Nossa história não começou com um Era uma vez... Não começou
do jeito certo e está longe de ser perfeita.
Mas foi o jeito errado, mais certo de acontecer.
O Proibido Desejo, mais insano que poderia me fazer sentir.
Mikaella me mostrou o prazer, a loucura. Me fez fazer coisas, da
qual eu nem imaginaria.
Eu a fiz conhecer o amor, o querer lutar por alguém. O querer estar
perto e fazer de tudo para dar certo.
Eu a escolhi e ela me aceitou.
Dou um beijo casto nela e sorrio.
Se o para sempre não existir, que dure o mais próximo disso.
— Já está pronta, Mia? — Olho o relógio no pulso. — Vamos
nos atrasar.
— Estou... — Sai do closet. — A ideia de sair de última hora, foi
toda sua. Por que não me avisou antes?
Desço os olhos pelas pernas torneadas e as costas nua pelo vestido
preto, os cabelos soltos e as sandálias de salto alto.
Meu Deus.
Me aproximo e aperto sua cintura, dando um beijo sua nuca.
— Assim vou desistir de sair. — Olho-a pelo espelho.
— Estamos atrasados. — Se vira e enlaça meu pescoço.
Passo a mão pelo tecido e aperto sua coxa, a seguro e coloco
envolta do meu quadril.
— Eu consigo sentir sua calcinha minúscula. — Ela morde os
lábios.
— É a intenção. — Me beija devagar. — Estamos atrasados. Vamos.
— Você me paga. — Suspiro e saímos de mãos dadas.
É sexta feira a noite e vamos na boate do meu irmão. Sempre
tiramos um dia para sairmos, seja para uma boate, restaurante, ou
qualquer outro lugar.
Alice vai ficar com a babá e Vera, que ajuda mais do que
imaginamos. Entro no carro e Mikaella senta rapidamente no banco
carona.
Leon, Lucy e Roger estão nos esperando juntos, Liana e Dean
chegam ao mesmo tempo que a gente.
Observo as luzes ofuscantes e a fumaça da boate por todos os
lugares. A música alta e todas as pessoas dançando juntas da outra.
— Eu amo essa música! Vamos dançar! — Liana grita para Mia, que
levanta.
Ela continua a mesma Mikaella.
Linda e livre.
Mesmo sentido o ciúmes me tomar às vezes, a mulher é um
escândalo de linda.
— E o aniversário da Ally? — Roger indaga.
— Amanhã. Nem acredito que vai fazer seu primeiro ano de vida.
— Está linda, né? — Leon sorri.
— Sou suspeito a falar, mas está. Linda demais.
É a verdade.
Alice é independente. Aprendeu a andar com 11 meses e não para
quieta de forma alguma. É o motivo da nossa felicidade.
— Vou tomar um drink. — Levanto e caminho até o bar.
Pego o copo de whisky, olhando o corpo escultural se mover no
ritmo da música, a fito segurar os cabelos e rebolar, sorrindo.
Mordo os lábios, olhando-a.
Ela me encara e fixa os olhos em mim, não desvia e engulo em seco.
Levanto, me aproximo seguro em sua cintura.
— Você é muito pervertido, senhor. Com uma aliança no dedo,
cobiçando a mulher alheia. — Se vira, mordendo o lábio.
— Talvez, por que a mulher seja minha.
Mikaella gargalha, enlaça meu pescoço e me encosto, vendo-a
dançar lentamente junto ao meu corpo.
É meu incêndio interior.
— Parabéns pra você, nessa data querida.... É big, é big... É hora,
é hora Ratimbum, Alice... Alice
As palmas ecoam, os balões cor de rosa por todo o jardim da casa
dos meus pais.
Alice bate palmas a todos instante, sorrindo enquanto Luíza a segura
no colo, gargalhando.
Ela assopra a vela, mostrando os dentinhos.
Um ano...
Um ano que ela chegou, fazendo meu coração bater fora do peito.
— Tio Otávio, olha... — Luíza me chama e coloca Alice no chão. —
Vai, Ally...
Vem correndo, segurando o balão que é maior ela.
— Papai! — Ela exclama, me fazendo aumentar ainda mais meu
sorriso.
Pego Alice no colo e a beijo.
— Eu vou conversar com a Gaby. — Luíza sorri e assinto.
— Juízo. — Digo baixo, vendo-a balançar a cabeça.
Ser pai de um bebê de um ano, é difícil. Mas ser pai de uma
adolescente, é mais complicado ainda. Luíza está linda, aliás, sempre
foi.
Mas agora não é mais a minha menininha.
— Ei, será que posso segurar a aniversariante? — Olho para trás e
vejo Leon sorrir de lado.
Alice se joga em seus braços e ele a segura, jogando-a para cima, a
fazendo soltar gargalhadas.
Ela é apaixonada por ele.
— Vou abrir outra boate, a inauguração será daqui há uns dias. —
Ele franze o cenho. — Roger está cuidando dos detalhes.
— Onde ele está?
— Estava falando ao telefone agora pouco.
O fito beijar Alice, que bate em seu rosto brincando.
— Como estão as coisas? Fiquei sabendo por alto que você está
meio que a fim da Lia.
— Quando você diz : soube por alto. Quer dizer que soube pela sua
Ruiva, né? Ruiva dos Infernos.
Gargalho.
— Ela é complicada cara. Tem uma relação complicada com o ex,
estou fora. Mas é uma gostosa. — Ele a encara enquanto ela conversava
com Lúcia e com nossa mãe
— Dá uma chance a vida, Leon. Você merece ser feliz.
— Odeio melancolia e você sabe disso. — O encaro. — Estou fora,
irmão. Estou fora.
— Sei... Sei... — Digo alto enquanto ele se afasta.
Alice está lambuzada de bolo, aos sorrisos e Mikaella se aproxima,
me encarando.
— Eu acho que alguém aqui se sujou demais de bolo.
— Digamos que foi um acidente, né filhota? — Franzo o cenho.
Alice bate palmas, como se concordasse.
— Alguém vai tomar banho e tirar essa roupa suja. — Mia a pega
no colo e ela me encara.
— Mamã...
— Eu acho que a mamãe quer brincar de se lambuzar, o que acha,
filha? — Passo o dedo no nariz de Alice, que está coberto de glacê, e
passo na bochecha de Mikaella, que me olha perplexa.
— Otávio, você não fez isso! — Ela grita, limpando o rosto e
passando na minha camisa.
— Oh — Exclamo. — Eu gostava dessa camisa.
— Você fica melhor sem.
— Fico, é?
Eu me dedico a ela de todas as formas. Somos namorados, amigos,
amantes... Hoje me sinto mais completo, que antes.
Observo-a sorrir, enquanto Alice a lambuza entre gargalhadas.
Meus pais conversam com alguns convidados.
Leon está falando com Liana, que de braços cruzados, fala algo que
o fez rir.
Lúcia se aproxima, suspirando.
— O que acha?
— Que isso vai dar romance. — Minha irmã sorri.
— Acho que está na hora dele se dar uma chance, não é?
— Já passou da hora. — Ela afirma e morde o lábio. — Cíntia deu
uma entrevista, falando que vai voltar para Nova York.
— O quê? — Ela assente.
— Cíntia Bonarez de volta, nada confirmado, ainda. Mas não falei
nada para ele.
Balanço a cabeça e suspiro.
— Fez certo.
Me aproximo de Mikaella e a beijo assim que Lúcia se afasta.
Ela sorri, franzindo o nariz.
— O que foi?
— Nada. Só admirando as duas mulheres da minha vida.
Quero tirar o foco, por que não gosto de imaginar qual vai ser a
reação de Leon, ao ficar cara a cara com Cíntia Bonarez, outra vez.
Perigosa Sedução
Ágata Mendes uma Dançarina de um das maiores boates de Nova
York arrancava suspiros e deixava uma longa lista de pretendentes aos
seus pés! Mas ela tinha uma regra : Jamais misturar prazer e negócios!
Christopher é CEO da empresa da família, um empresário renomado
e conhecido pelo temperamento forte.
Não é adepto a relacionamentos, e nunca teve o desejo de se casar e
constituir uma família, diferente do seu irmão do meio.
Em uma noite 2 caminhos se cruzam e a atração entre ambos é
mutua.
Ela carrega segredos que a mantém presa ao passado.
Ele está determinado a conquista-la e irá passar por cima de
qualquer um... Incluindo seu irmão!
Será que nesse Jogo de sedução, haverá ganhador?
◆◆◆
Perigosa Redenção Livro II Parte I

Ele é conhecido com o rei da libertinagem


No auge dos seus trinta anos, bem vividos, o caçula de três irmãos,
Lorenzo Gonzáles ,Sua vida é regada a belas mulheres, baladas, viagens,
luxo e ostentação. Tem verdadeira aversão a relacionamento, a palavra
CASAMENTO o faz ter um verdadeiro ataque de pânico junto com
algumas reações alérgicas, isso é um prato cheio para que seus irmãos é
primos o atormente.
Mas o que Lorenzo não esperava é que o seu pai fosse transformar o
seu grande pesadelo em realidade.
Ela exala pureza e inocência
Diana Martín foi criada em uma família tradicional e conservadora,
sua mãe desde muito cedo alimentou em Diana o sonho de um casamento
de contos de fadas, mas para que pudesse ter o seu tão sonhado felizes
para sempre, ela teria que anular todos os seus desejos.

Uma trama de ambição e poder faz com que os dois caminhos se


entrelace.
Um contrato, um casamento forçado.
Duas pessoas que não se suportam, como podem conviver sob o
mesmo teto por um ano?
Deixarão o desejo falar mais alto? Se Renderão a paixão?
Seria ela a doce redenção do nosso cafajeste?
◆◆◆
Perigosa Redenção Livro II Parte II
Ele não é mas o mesmo cafajeste insano.
Novamente Lorenzo vai passar por cima de seus medos e
principalmente de sua arrogância para lutar por sua felicidade, e pelo
amor de sua vida.
Ela não é mais a frágil e inocente.
Depois de alguns meses Diana está de volta. Madura e disposta a
enfrentar tudo por sua família.
Eles terão um longo caminho para o Perdão...
Por que os elos que os prendem dessa vez serão para sempre!
Juliana Souza nasceu em 1997, é natural de Natal, capital do Rio
Grande do Norte. Sempre foi apaixonada por histórias de enredos
envolventes. Aos seus 17 anos, sentiu um forte desejo de ingressar no
mundo da escrita, o seu primeiro livro foi Proibido desejo, que deu
origem a trilogia “ Os irmãos Perrot” , em 2016 querendo alçar novos
voos, escreveu naquele ano o livro Perigosa Sedução que mais tarde se
tornou o primeiro livro da série “ Os cafajestes” que conta com 8
livros.
Nossos sonhos nunca são pequenos, quando há uma força maior do
que pensamos. Hoje, meu sentimento é apenas gratidão por ter pessoas
ao meu lado, tornando esse sonho cada vez mais real.

Obrigado, Thamires, Isa e Claudyanne, por sonharem junto comigo


mais uma vez. Sem vocês isso não seria possível.

A Skarlat, Lorena, Isis e Daiany, todo meu carinho, amor e gratidão.


Obrigada por serem meu apoio e meu alicerce nesses momentos.

''Um sonho sonhado sozinho, é apenas um sonho. Um sonho


sonhado juntos, é realidade.
Yoko Ono."
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