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PERIGOSAS NACIONAIS

GLACIAL
Mundo Árabe

VITÓRIA MARINHO
& RUMMER

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

FICHA TÉCNICA – 1 EDIÇÃO- BRASIL-


2017

Todos os direitos reservados à autora


Vitória Marinho & Rummer
Copyright © 2018
Registro de marca e propriedade intelectual
(AVCTORIS)
Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da
Língua Portuguesa de 1990, em vigor no Brasil em 2009.
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução
em todo ou parte em quaisquer meios sem autorização prévia.
A reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou
em parte.
Título: GLACIAL
MUNDO ÁRABE
Autores:
Rummer
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

&
Vitória Marinho

CAPA
Photo by Pexels:
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690768/

Todos os personagens desta obra são fictícios.


Registro de marca e propriedade intelectual
Plágio é crime! Lei 9.610 Pena de três anos a um ano
ou multa.
Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é
mera coincidência.

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Sumário

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
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Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Epílogo

Resumo

Zair é um príncipe do seu Clã, em Catar.


Homem prático, frio, tão frio que chega a
ser glacial. Desde muito novo assumiu os negócios
da família.
Viúvo, pai de uma garotinha, é pressionado
pela família que se case. Ela aceita, como se
cumprisse uma tarefa.
Aysha fora preparada desde o nascimento
para sua união com Zair. Ela não espera ser feliz
nessa união, mas entende que precisa se adaptar a
essa situação.
O casamento acontece e Aysha aos poucos
se vê apaixonada pelo seu esposo e de repente

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conquistar o coração do frio e autoritário príncipe


passa a ser seu objetivo.
Seria ela capaz de fazer arder aquele
coração, trazendo-o a luz e o tirando da escuridão
que o rodeia?
Um livro que foge dos clichês, só lendo
para entender.
Não perca essa linda história sobre a
descoberta do amor.

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Capítulo 1

Aysha Bar Jair

Em dezembro de 1990, Anne, minha mãe,


viajou para o Catar com a ideia de viver e trabalhar
durante algum tempo. Ela trabalhava no Hospital
Rei Mustafá na área de pesquisas. Mas durante esse
período que esteve no país, ela acabou conhecendo
um homem, meu pai, Muhamed Bar Jair. Ele
trabalhava para a monarquia saudita no ramo
petrolífero. Com a idade de vinte cinco anos, ela se
apaixonou perdidamente pelo homem moreno de
olhos cor de mel.
Fortemente atraídos um pelo outro, em
pouco tempo, se casaram e logo foram abençoados
com meu nascimento. Os primeiros anos de
casamento, lhe trouxeram a felicidade que ela tanto
desejava. Além de meu pai, ser um homem
amoroso e dedicado a família, a família real cedeu
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um palácio para que eles morassem.


Como engenheiro petrolífero, sempre fora
dedicado ao seu trabalho. Praticamente viveu em
função dele. A família real sempre gostou muito
dele. Quando eles davam festas, éramos sempre
convidados para participar. Eu não me lembro
disso, pois eu era muito pequena na época.
Meu pai sempre teve muita facilidade com o
inglês, e com o casamento, o inglês dele melhorou
muito. O sheik estava com problemas de
negociação de máquinas para a captação do
petróleo que ele comprava dos EUA, meu pai então
foi enviado para cá. Papai se mostrou muito
competente e obteve sucesso na viagem. Isso foi
como se ele assinasse o passaporte de permanência
nos EUA. O que era para ser uma viagem de
poucos dias, se tornou algo definitivo. Eu tinha
cinco anos quando isso aconteceu.
Ouço uma batida na porta interrompendo
meus pensamentos.
—Aysha, está pronta? —É meu pai
novamente me chamando.
—Já vou. —Digo, mas não me movo do
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meu lugar.
Desde que me conheço por gente meu pai
me fala desse dia, uma data especial para eles, mas
para mim o medo do desconhecido.
Logo que viemos para cá, fui preparada
para esse dia, o dia que eu conheceria o homem ao
qual fui prometida, o príncipe Zair Salim El
Mustafá, o filho mais velho da família real.
Para os padrões nortes americanos um
absurdo tal coisa, mas isso é muito comum no rico
país chamado Catar.
Isso é muito comum na lá fora. Mas aqui?
Não sei por que meu pai concordou em
manter esse acordo mesmo sabendo que irei morar
tão longe deles.
Bem, na verdade sei. Meu pai é muito
amado pela família real, e acho que foi uma
maneira de recompensa-los por todos os benefícios
que ele teve desde que eles investiram nele. Meu
pai foi apadrinhado por essa família. Estudou com
os recursos da família real e tão logo conquistou
seu diploma, começou a trabalhar para eles.

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Minha mãe tem mais sangue árabe do que


Norte-Americano. Então a promessa que meu pai
fez a eles, não lhe causou impacto. Ao contrário,
ela ficou deslumbrada por eu me casar com o
príncipe de Doha, um homem de sangue azul.
Já faz quinze minutos que estou ouvindo
meu pai chamar meu nome e não consigo me
mover. Passo a mão nos olhos e aliso meus cabelos
castanho com reflexos dourados, nervosamente. Eu
sei que estou encrencada. Não há nada que eu possa
fazer a não ser ir até a sala.
Minha irmãzinha entra saltitante.
—Aysha! Aysha! O que há com você? O
príncipe está aí. Baba está te chamando! Vamos!
Sinto novamente aquele aperto no coração e
uno minhas mãos, aperto uma na outra na tentativa
de fazê-las parar de tremer.
Minha irmã é muito nova para entender o
que a presença dele significa realmente. Ela vê tudo
como num conto de fadas. Como eu, quando era
pequena. Quando meu pai me falava sobre esse dia
o impacto não era tão grande.

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Como minha mãe pode concordar com meu


pai quando aceitou que eu fosse prometida em
casamento? Pergunto-me, mal-humorada.
—Vamos Aysha!
—Diga que já vou! —Eu digo, quase à beira
das lágrimas.
Layla cala-se imediatamente quando vê as
lágrimas descerem dos meus olhos.
— Você está chorando?
Tadinha...Eu não quero assustá-la.
—Não, caiu um cisco. Vai lá e diz para o
papai que eu estou indo.
— Papai está nervoso com sua demora.
—Eu já vou. Só preciso de um minuto para
tirar esse cisco dos olhos, entende?
— Zair é lindo...—Ela diz sonhadora.
Eu respiro fundo. Meu baba(pai) entra.
—Aysha, habibi(querida). Estamos te
esperando. Seu noivo está aí.
Meu pai se senta na minha cama ao meu
lado.
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—Baba... —Eu começo.


Layla me interrompe.
—Baba, quando eu crescer vou me casar
com um príncipe também?
—Sim. Ficou combinado que se sua irmã
for uma boa esposa, você será prometida também.
—Papai fala com ela e me encara sério.
—Subahanallah. (Deus seja louvado!) —Ela
diz com olhos sonhadores.
—Agora seja uma mocinha e se comporte
lá. Assim eles verão que você será uma boa esposa.
—Aywa.(sim) —Ela diz obediente, com
uma leve mesura.
Quando ela sai, eu aperto meus lábios e
começo a chorar.
—Pai, eu não quero esse casamento.
Meu pai fica pálido. Respira fundo, é nítido
seu nervosismo.
—Habibi, sempre conversamos sobre isso.
Seu baba explicou a chegada desse dia. Não era
para você estar assim. Ele é uma ótima pessoa.

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—Como sabe? Eu era um bebê quando o


senhor me prometeu?
—Ebna(filha). Pare com isso!
— Baba, eu ainda não consigo acreditar no
que está acontecendo. Quando o senhor falava,
achei que ele se esqueceria da promessa, que ele
não viesse.
—É, mas o destino planejou que ficassem
juntos e a palavra de um árabe é como por escrito.
Nem eu e nem ele, podemos voltar atrás. Maktub,
estava escrito!
—Destino? O senhor ditou meu destino!
— Não é bem assim, mas falaremos disso
mais tarde.
Eu pego as mãos do meu pai.
—Pai, o senhor poderia pedir um tempo.
Dizer que não estou preparada para o casamento.
Allah! Ahsaor bel taab! (Deus! Estou me sentindo
doente)
Meu pai vociferou:
—Pare com isso! Para sala, já! Trata-se de
uma questão de honra. Não me envergonhe, Aysha.
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O sheik desejar você como esposa para o seu filho


é a máxima honraria que um rei pode oferecer. —
Ele se levanta. — E olhe ao seu redor. Tudo que
você tem. Essa mansão linda e confortável, suas
joias, seus vestidos. Tudo isso é fruto dessa família
que me deu a mão e que você está menosprezando
agora. Se não fosse por eles, eu estaria ainda
perambulando na Medina passando fome ou
fazendo sei lá o quê para sobreviver! — Eu ouvi o
relato como se aquilo não fosse comigo, enquanto o
meu pai dramatizava, entrando lentamente ao
clímax, mas quando meu pai termina suas falas
com lágrimas nos olhos, eu fico tocada, embora eu
tenha ouvido essa história diversas vezes.
Sim, meu pai está movido por um real
sentimento de pura gratidão e estima pelo Sheik Ali
Salim El Mustafá. Envergonhada por meu
comportamento, eu tento me recompor.
Afasto meus cabelos do rosto e os coloco
atrás da orelha. Respiro fundo e enxugo meus
olhos.
— Assef. (Perdoe-me) —Digo, abaixando
minha cabeça num tom serviçal, mas meu interior
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agitado em revolta.
—Agora lave esse rosto e encare sua
realidade de frente, com cabeça erguida. Por Allah!
Você não está indo para um matadouro. Você irá se
casar com um príncipe do nosso povo.
—Aywa! (Tudo bem!) E se eu não for uma
boa esposa? —Pergunto, ousadamente.
—Claro que será uma boa esposa. Você terá
servas, será servida, não servirá. A única coisa que
precisa fazer é procriar. —Eu fecho os punhos com
as palavras dele. A minha tristeza deu lugar à
resignação e a rebeldia. —Espero você na sala.
Assinto com um leve aceno de cabeça. Ele
me olha por um tempo e sai do meu quarto.
A verdade é que meus pais apreciam demais
as coisas boas da vida, então para eles, eu me
casando com um homem arquimilionário, amando
ou não meu marido, estou indo para o paraíso.
Eu me levanto. Vou até o banheiro. Olho
meu vestido negro de enterro, pronta para o
sacrifício. Caminho em direção a sala de cabeça
baixa, pensativa.

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Papai nunca me falou direito sobre suas


atribuições físicas, se era alto, baixo, magro, gordo.
O homem árabe não valoriza a beleza masculina, só
a mulher é valorizada nesse aspecto. Ele precisa só
ser bem-sucedido no trabalho ou em seus negócios.
Eu sei que ele tem 28 anos, portanto dez
anos mais velho que eu e que moraremos em Doha,
um estado riquíssimo de Catar.
Sei também que Zair comanda o império da
família. São riquíssimos, graças ao fraturamento
hidráulico, que é um método que possibilita a
extração de combustíveis líquidos e gasosos do
subsolo.
Allah! Se eu estivesse sacrificando um
futuro casamento por amor, seria diferente! Mas
não estou. Tenho medo de não gostar dele.
E ele? Como encara esse casamento?
Um prazer sexual fixo e seguro?
Apenas uma progenitora?
Allah! Farei de tudo para ele se decepcionar
comigo. Preciso livrar minha irmã dessa situação.
O futuro dela depende de mim!
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Amanhã mesmo comprarei


anticoncepcional, se eles estão pensando que eu
vou engravidar fácil, estão muito enganados. E se
eu engravidar, ficarei na mão dele. Se eu for fria,
uma múmia, ele irá reclamar de mim para a família
e minha irmã terá a chance de amar e ser amada.
Entro na enorme sala, arejada, cheia de
antiguidades, quadros, revestido de tapetes persas.
Sim, o luxo que me cerca e explica o porquê estou
sendo vendida.
Mamãe se levanta do sofá sorrindo quando
me vê. Ela sempre deu claros sinais que é a favor
dessa união.
—Aysha.
— Não acredito que colocou esse vestido!
—Ela lamenta. — Seu noivo não é tradicionalista.
Não precisava se vestir desse jeito. Zair não pode
vê-la desse jeito...
— E por que não? — Eu retruco, seca. —
Vou me casar com ele independente de ser bonita
ou não.
—Por que está dificultando as coisas? —

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Mamãe pergunta, alisando nervosamente seu


elegante vestido azul marinho e branco. Ela se
parece com Jacqueline Onassis. Sempre linda,
impecável.
— Onde está meu noivo, afinal?
— Na biblioteca, com seu pai. Ele está
discutindo os preparativos para o seu casamento.
—Não sei como ele pôde aceitar uma coisa
dessas? Se casar sem ao menos me conhecer.
—Ele segue o costume de seu país. Isso é
natural.
Eu estremeço. Eu nem conheço direito Zair
e os detalhes do nosso casamento já estão sendo
acertados.
— Um costume horrível! — Eu protesto. —
E se eu não gostar dele?
Ela sorri.
—É mais fácil ele não gostar de você do
que ao contrário. E você verá que eu tenho razão.
Eu estremeço com as palavras dela.
—E se acontecer? E se ele não gostar de
mim?
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—Se ele não... gostar de você? —Ela se


atrapalha. —Você acha que se divorciar é fácil
assim? Que ele não te escute dizer uma coisa
dessas. Ele é um homem íntegro. Se ele te assumir,
ele apostará nessa relação. A estatística de
divórcios em casamentos arranjados é
extremamente baixa.
—Claro, as mulheres são submissas ao
ponto de não expor suas opiniões.
—O que está tentando dizer? Que irá remar
contra nesse casamento?
Eu meneio a cabeça.
—Não. Claro que não.
Ela segura as minhas mãos.
— Ebna(filha). Você está nervosa, isso é
perfeitamente natural.
—Sim, ainda bem que reconhece. Uma
situação assim, quem não ficaria?
—Saiba que está cheio de garotas que
gostaria de estar no seu lugar. Está cheio de
histórias de garotas que procuram árabes na
internet. E sabe por quê? Porque eles valorizam a
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família, o amor e são extremamente românticos.


Veja seu pai, por exemplo.
—O amor?
—Filha, isso surgirá com o tempo. Amor é
diferente de paixão. Ele é um sentimento que cresce
aos poucos no coração. E quando você tiver um
bebê, verá que ser mãe é algo divino.
A perspectiva do futuro longe de todos,
num país que eu só ouvia falar fez meu sangue
esvair de minhas faces. A ideia de ser usada para
gerar um sucessor ao reino é odiosa.
Eu a encaro por um momento.
—Tão divino que está louca para se livrar
de mim.
Minha mãe me olha sem ação, mas antes
que ela fale algo a porta da biblioteca se abre e um
homem usando um Kandoora branco sai por ela.
Allah! Imediatamente eu me sinto abalada por sua
figura majestosa.
Ou nocauteada?
Ele é lindo. Tão lindo, que eu me começo a
me sentir horrorosa com esse vestido que eu escolhi
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e por isso, insegura.


Droga!
Sinto um arrepio na espinha quando seus
olhos negros passam por minha figura parada ali.
Ele tem os cabelos bem negros, penteados para trás,
sem um fio fora do lugar. Maravilhosamente
charmoso.
Sim, ele é um dos homens mais bonitos que
eu já vi.
Zair caminha com a graça de uma pantera
negra na minha direção. Ele parece ser muito
seguro de si. Eu me senti quente por dentro.
Impressionada.
A cada passo que ele dá, ele parece mais
alto.
Meu pai me disse que ele domina bem o
inglês, que eu praticaria meu árabe apenas quando
morasse em Catar.
—Salaam Aleikum. (A paz) —Ele diz
cordato, seus olhos frios como gelo e penetrantes
como um raio x.
—As-Salamu Alaikum (A paz) —Respondo
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ao seu cumprimento.
Meu pai surge ao lado dele.
—Não é linda minha Aysha?
Ele passa os olhos pelo meu rosto como se
tivesse comprando algo.
—Muito.
Meu pai, tosse, constrangido.
—Bem, eu minha esposa deixaremos vocês
um pouco à sós.
Eu vejo meu pai se afastar arrastando minha
mãe em direção à cozinha.
Os olhos penetrantes de Zair passam
ligeiramente por mim e a impressão que tenho é
que minhas pernas estão presas a duas bolas de
chumbo.
—Então, você é Aysha Bar Jair...
—Sim.
— Vamos nos sentar? — Eu o convido,
ousadamente, mostrando o sofá de três lugares.
Zair não diz nada, age. Caminha até lá e se
senta majestoso e espera eu me sentar. Arrogância
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típica do homem árabe. Movo meus cabelos para


trás antes de, relutantemente, me sentar ao seu lado.
Com a proximidade sinto seu perfume caro,
maravilhoso. Com certeza exclusivo, de algum
perfumista do oriente.
Uma parte traiçoeira de mim, está encantada
com ele. Zair é bonito demais. Assim, de perto, ele
é de tirar o fôlego. Seus traços são aristocráticos.
As sobrancelhas perfeitas. Tão perfeitas que
começo a me perguntar se ele retira os pelinhos
indesejados delas. A barba bem aparada sob a pele
dourada.
Um charme.
Os olhos negros são sombreados por
longos cílios. Mas são tão frios para mim que o
sentimento que tenho que estamos prestes a fazer
uma proposta comercial e não um pedido de
casamento.
É como se, quando tudo estivesse acertado,
apertaríamos as mãos um do outro, ao invés de
trocarmos beijos.
Não haverá cenários românticos, jantar à luz
de velas, nem amor. Eu nem mesmo o conheço
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direito. Isso é contra tudo que um dia sonhei para


mim em termos de romance. Muito frustrante.
—Seu pai conversou com você? —Ele diz
com um sotaque carregado. Até isso era bonito
nele. —Ele explicou que viverá comigo em Doha?
—Sim.
Ele assente.
—Foi explicado a você a vida que terá
como minha esposa?
—Sim.
Ele então abre um sorriso, e novamente me
sinto nocauteada. Isso me deixa com uma certa
raiva. Tenho medo de ser a cordeirinha dele.
—Isso tudo é timidez?
—Não acha que sou muito nova para a
posição de sua esposa?
Ele respira fundo.
—A sua idade permite que seja facilmente
moldada do que uma mulher mais velha cheia de
ideias e vícios. Para ocupar a posição como a
minha esposa, terá que ser extremamente
obediente.
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Allah! Fiquei a olhar para ele com o queixo


caído.
—Você quer uma múmia.
Zair não entende e fica olhando para mim.
—Múmia?
Mamãe entra na sala. Com certeza estava
ouvindo atrás da porta.
—O café está servido. Majestade, sente-se
aqui, por favor. —Minha mãe afasta a cadeira da
cabeceira para ele. —Mohameeeeeed. —Ela chama
meu pai com voz rouca, esganiçada. Ela parece
nervosa. — Aysha, você pode me ajudar aqui na
cozinha?
Hum, isso não é bom...
—Claro. —Eu digo e me levanto do sofá.
O príncipe se levanta também e caminhando
com a graça de um felino se senta aonde minha
mãe indicou. Meu pai surge na sala de jantar e
ocupa seu lugar ao lado do príncipe.
Temerosa e relutante, eu sigo minha mãe.
Na cozinha ela se vira para mim com
sangue nos olhos.
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—Múmia? Você é louca de perguntar um


negócio desse para o príncipe? Ainda bem que ele
não entendeu.
—Bem, se não entendeu, com certeza irá
perguntar para o meu pai ou procurar no dicionário.
—Aysha. O que há com você? —Mamãe
chora. —Allah! Eu te criei tão bem. Conversei
tanto com você. Seu pai também. Sempre te
preparamos para esse dia.
Eu baixo o rosto por um momento e o ergo
novamente.
—Noun(mãe). Eu não gostei do jeito dele.
Ele é arrogante. Meia dúzia de palavras e ele já
disse que eu...
—Eu ouvi! —Ela me interrompe e pega a
minha mão. — Filha. Ele é um príncipe. Está
acostumado a ser servido, a ter tudo que deseja. É
natural que ele queira uma esposa obediente. Ele
quer uma mulher dócil ao lado dele.
—Como uma cadeli...
—Não! Chega! Vá até a sala e leve esses
biscoitos que fiz especialmente para ele. Fiquei
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sabendo que são os seus preferidos.


—Você colocou canela. A lista que li de
suas preferências diz que ele odeia.
—Allah! É verdade! Ajude-me a tirar.
Eu sorri ao ver como ele ficou abalada. Eu
bati os biscoitos e tiramos o máximo que pudemos.
Ela prova.
—Estão arruinados!
—Estão nada! —Eu digo e pego a bandeja
de Mankouche .
Minha mãe diz um sonoro nãoooooooo,
mas eu não a levo mesmo assim.

—Mamãe fez. Sabemos que são os seus


preferidos.
Zair pega um. Eu me sento no meu lugar e o
observo comer. Ele o deixa de lado e toma um gole
de café.
—Gostou? —Pergunto com um sorriso.
—Eles ficaram ótimos, mas eu não gosto de
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canela.
Bem, ao menos ele é sincero.
—Não posso esquecer de colocar isso na
minha lista de boa esposa. —Digo debochada.
Meu pai tenta me dar um chute, mas erra e
acerta o príncipe que olha debaixo da mesa.
—Desculpe-me. —Meu pai diz sem graça.
Eu baixo o rosto para não rir e bebo meu
café. Quando ergo o rosto observo Zair com os
olhos fixos de mim. Mantenho meus olhos nos
dele, observo enquanto sua expressão endurece,
seus olhos se tornam tão frios que eu não consigo
mais mantê-los nos dele e abaixo meus olhos.
Mas que droga! Já me sinto dominada por
esse homem.
Aproveito para reparar na extravagante
mesa que mamãe juntamente com a orientação da
nossa expert cozinheira, arrumou. Ela caprichou
realmente. Está impecável em decoração como nos
quitutes distribuídos, mas sei que isso não deve
impressionar o príncipe. Ele deve estar acostumado
a mesas melhores, maiores, e com tudo que há de
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bom.
Mamãe se junta a nós e logo em seguida
surge minha irmã com carinha de sonhadora,
olhando o príncipe, demonstrando seu
encantamento. Ela se senta obediente ao meu lado.
Comemos em silêncio.
O ambiente na mesa aos poucos vai ficando
pesado. O silêncio faz isso quando não se tem
intimidade com uma pessoa. Ele se torna até
opressivo. Intranquila eu olho de soslaio para meu
futuro esposo. Ele é tão arrogante, penso enquanto
o observo erguer a xícara e tomar o café árabe. Mas
ao mesmo tempo, Zair é instigante, charmoso e
exala sensualidade e testosterona por todos os
poros.
Meu pai parece desconfortável também.
Mas nossos costumes não permitem conversas
quando estamos ao redor da mesa. Comer é um ato
sagrado.
Mamãe finalmente o quebra, oferecendo um
quitute a ele. Zair educadamente sorri para ela, mas
vejo ali um sorriso enfadado, ele o pega como se
estivesse cumprindo um protocolo.
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—Está uma delícia. —Com voz controlada


ele elogia, carregado de sotaque. O mesmo sotaque
que meu pai carrega. Já minha mãe, eu e minha
irmã falamos o inglês perfeitamente bem.
Quando finalizamos o café fomos todos
para a sala, minha mãe se juntou a nós, Layla se
sentou calada ao lado dela. Papai e Zair começam a
conversar a respeito do casamento. Fica acertado
então que o casamento será daqui a quinze dias em
Doha e que todos nós iremos para lá uma semana
antes. Eu não quero surtar na frente desse homem,
mas está cada vez mais difícil me manter
equilibrada.
Tudo acertado os homens apertam as mãos
e o príncipe se levanta.
E eu que pensei que o príncipe não ia me
querer. Passei esses anos todos despreocupada,
achando que meu pai era um sonhador. Culpa da
minha mãe. Ela sempre nos contava histórias de
príncipes na hora de dormir. Acho que por isso
achei que aquilo tudo estava só nos livros. Jamais
pude imaginar que isso realmente iria acontecer.
Tudo que eles fizeram para o meu pai será
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pago em troca de sua primogênita, além de meu


casamento garantir o futuro da família.
Zair então olha para mim com a expressão
séria.
—E você, Aysha, na semana que antecede o
casamento ficará com minha mãe. Ela te orientará
como ser uma boa esposa, como você deve se
portar ao meu lado. As roupas que usará, etc. Ela te
dará todas as orientações necessárias.
Eu assinto sem nada dizer.
Adianta?
Ele então se levanta.
— Bem, preciso ir.
—Claro, majestade. Eu o acompanho até a
porta.
Zair me lança um último olhar e, se virando,
segue com meu pai até a saída. A expressão de
minha mãe dá nos nervos, ela os acompanha, com
os olhos, com aquela cara sonhadora.
—Filha! Que sorte grande você tem. Que
belo homem Zair se tornou. Quando o conheci, ele
era apenas um garoto introspectivo, muito
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quietinho. Tinha uns nove anos de idade, eu estava


grávida de você. —Ela disse tudo naquele estado de
êxtase.
Papai entra com um sorriso no rosto.
—Tudo certo. Daqui a quinze dias
partiremos para Doha.
—Minha Aysha, uma princesa! —Mamãe
diz, emotiva.
Laya puxa o vestido de mamãe.
—Mãe, eu quero ser uma princesa como
Aysha!
— Um dia você será, meu amor.
Isso tudo está me dando nos nervos!
Um arrepio atravessa meu corpo. Allah! Por
que não consigo me alegrar com isso? Sei que
parece uma loucura para os de fora pensar que acho
essa realidade desagradável, afinal o homem é
bonito.
Não! Bonito é pouco para ele. O homem é
lindo de morrer, mas eu sinto que de uma maneira
ou outra ele não me fará feliz.
Ele parece tão frio, tão arrogante, tão....
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tão...
Allah! Mas minha negativa seria uma
sentença de desgraça para a minha família. Como
negar a eles todo esse luxo que os cerca, do qual
eles estão acostumados?
Meu destino: Aceitar Zair para a felicidade
da família.
—Bem, como agora está tudo acertado, vou
para o meu quarto. —Falo amarga, segurando meu
choro por causa de minha irmã. Não quero assustá-
la, tirar o encanto dessa carinha, mesmo porque,
não nos veremos com frequência e não quero que
ela tenha a imagem que estou infeliz. Eu me
levanto do sofá.
— Não tem curiosidade de saber mais de
seu noivo?
—O que o senhor pode me dizer que eu não
saiba? Ele é rico, futuro sheik de Doha. Único filho
homem do soberano sheik Omar e tem uma irmã.
Tem mais alguma coisa?
—Sim.
Eu engulo em seco.
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—Sim? —Pergunto com medo da resposta,


pois pela cara de meu pai, não parece nada bom o
que ele me dirá.
Ele olha para Layla.
—Vai para o seu quarto!
—Por quê?
—Não questione. Depois o baba vai
conversar com você.
Ela respira fundo e se levanta com cara de
choro. Sei que ela daria de tudo para estar no meu
lugar.
Quando ela some no corredor, papai me
encara e fala baixo:
—O dia que combinei tudo com o pai de
Zair, o Sheik supremo; ficou acordado que você
seria a segunda opção caso ele se casasse e sua
esposa não engravidasse ou não lhe desse um filho
"homem". Mas caso ela gerasse um menino, o
acordo estaria desfeito.
Eu empalideço. Meus lábios tremem.
—Como? Baba! Então eu serei então a
segunda opção?
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Meu pai sorri.


—Não, habibi. O destino trabalhou ao seu
favor.
—Trabalhou ao meu favor? Não acredito
que o senhor concordou com uma coisa dessas!
Meu baba me olha com aquele orgulho
árabe.
—E eu não admito que fale assim comigo!
Eu sei o que é melhor para você. E agora, você
deveria beijar meus pés. Está se casando com um
homem excelente. Nunca te faltará nada, além disso
o destino colaborou com você, Amina morreu e
você será a primeira esposa.
—Allah! Que tragédia! E... o senhor nunca
me falou isso!
Meu solta o ar, com certeza exercitando sua
paciência comigo.
—Verdade, eu te preparei independente do
que o destino iria traçar para a sua vida. Acho que,
no fundo sempre achei que você seria a futura
esposa de Zair, de uma maneira ou outra. É a
realização de um sonho, meu e de sua mãe.
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—Quanto tempo ela morreu? —Pergunto


tentando entender tudo isso.
—Há seis meses.
Eu fico com raiva.
—Rahmatullah! (miserircórdia) Só isso?
Esse homem não deve ter sentimentos, morreu a
esposa e já quer colocar outra no lugar. Ela só
estava ao lado dele para conceber?
Meu pai me dá um olhar cuidadoso:
— Na verdade quem quer esse casamento é
o Sheik Omar Salim El Mustafá. Ele não vê a hora
que esse casamento aconteça. Quer que a alegria
volte ao rosto do príncipe Zair. E que isso fique
entre nós: As pessoas estão comentando pois ele
tem cultuado a morte da esposa por muito tempo e
como sabe é haran(pecado).
Um nó se forma na minha garganta com
essa revelação.
—Allah Ele, então, sofre por ela? Quanto
tempo eles estavam casados? Ela morreu de quê?
— Pergunto elevando minha voz, impaciente.
—Calma Aysha. Eles estavam casados há
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um ano e alguns meses. Ela morreu no parto.


—Parto?
Meu pai funga.
—Sim.
—Então ele é pai de um bebê de seis
meses?
—Sim, uma menina, ela recebeu o nome de
Samira.
Afasto os olhos do meu pai e encaro minha
mamãe por um tempo. Ela ouve tudo calada. Sua
expressão não é de espanto.
Sim, ela já sabia de tudo.
Na verdade, eles estão felizes por eu me
casar com o príncipe e também pelo destino me
tornar a primeira esposa.
Dúvidas se levantam e apertam o meu
coração:
—E o casamento com a falecida Amina?
Como foi? Arranjado como o meu?
Meu pai acena um não com a cabeça.
—Não.
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—Não? — Isso é ruim, muito ruim...—Pelo


jeito ele amava a esposa.
—Filha, isso não importa!
—Não? Pai, ele ainda chora pela mulher
morta. E a filha deve fazê-lo lembrar mais e mais
dela.
—Não pense assim. Você tem tudo para
conquistar o coração do príncipe.
—E o meu coração? Você pensou nisso?
Meu pai fica sem falas e eu me levanto do
sofá.
—Baba, tudo bem. Farei meu papel de
noiva obediente para o bem de todos, farei o que
esperam de mim. É só isso que tem a me dizer?
Meu pai funga alto.
—Só.
—Então, vou para o meu quarto. Vou gozar
meus últimos dias sendo eu mesma e não a sombra
de meu marido.

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Capítulo 2

Quinze dias depois... Palácio Califa


Bastou uma das empregadas anunciar que
Zair estaria aqui daqui há alguns minutos para
conversar comigo para que meu coração se agitasse
no peito.
Desde que cheguei, há uma semana atrás,
temos nos falado esse horário. Poucas coisas para a
minha frustração.
Zair tem sido introspectivo. Às vezes acho
que ele vem aqui só para deixar seus familiares
felizes. Cumprindo um protocolo. Ou apenas para
nos acostumarmos um com o outro.
A mãe dele está animada com o casamento.
Ela gostou de mim logo de cara. Todos os dias eu
fui até os aposentos de Zafira para conversarmos.
Ela é uma senhora muito educada, sagaz. Falamos
de tudo um pouco, e claro, que não faltou conselhos
de como me portar como esposa do príncipe. Mas
que não vem ao caso pensar sobre isso agora.
Foi difícil no começo entender algumas
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palavras, embora eu tenha frequentado uma escola


árabe e praticado muito a língua em casa. Aos
poucos, meu vocabulário está enriquecendo e a
língua está fluindo mais.
Pensando no que conversarmos, o que mais
me encuca é que, numa dessas conversas, ela
afirmou que sou a mulher certa para Zair. Que ele
precisa de uma mulher forte como eu. E me
confidenciou que Amina era um doce de pessoa,
mas muito frágil com sua saúde. Zair sempre
viajava sozinho pois ela passava mal nas viagens.
Então eu comentei com ela que ele parece muito
ligado a falecida. Ela apenas sorriu e me disse que
eu precisava dar tempo ao tempo, ter paciência com
ele e me garantiu que tudo se resolverá.
Eu saí de lá mais confusa do que eu estava e
ainda não tenho uma opinião formada a respeito,
não sei se ela está certa ou não.
Mas também, como? Se Zair se mantém
frio, distante?
Estou tão desanimada! Não sei o que me
espera nesse casamento. E entendo que por mais
que eu esforce e me porte como a esposa ideal, sei
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que estou lidando com um homem que tem um


passado. E não é qualquer passado, ele carrega a
tristeza pela morte da mulher amada.
O que serei para meu futuro noivo?
Apenas a mulher que ele se casou para tocar
a vida para frente, para mostrar a todos que está
bem, que seu luto passou. Em que serei apenas a
mãe substituta de sua filha e, pelo pouco que
observei, ele quase não a vê.
Talvez por ela se parecer muito com a
esposa. Deve ser difícil ver a figura da esposa
amada na filha.
—O príncipe Zair Salim El Mustafá.
As minhas mãos tremem quando ele é
anunciado. Sei que minha atitude é ridícula. Ele
não demonstra nenhuma empolgação quando me
vê.
Então por que as batidas do meu coração
dispararam quando o vejo? Por que me sinto aflita
quando ele não vem me visitar?
Eu assinto para a empregada e me preparo
psicologicamente para recebe-lo. Coloco uma
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expressão serena no meu rosto.


Zair surge no quarto e me procura com os
olhos. Eu nunca fico em um lugar evidente no
quarto, gosto de surgir das sombras, gosto de
avalia-lo primeiro, me preparar.
Ele está lindo, vestido como o príncipe que
ele é. Um kandoora preto com dourado, sandália
nos pés e usa um turbante na cabeça.
Não consigo controlar meu coração, que
bate mais forte, nem a minha respiração instável.
Atração. Sim, nada além disso. Allah! Essa
montanha de gelo consegue me derreter. Isso me
confunde um bocado.
Saio de trás de uma pilastra. Os olhos do
príncipe encontram os meus. Negros como uma
noite sem estrelas, espelhos de sua alma gelada.
— Masa'u Al-Khair. (boa tarde)
—Al-Khair An-Nur". —Respondo seu
cumprimento.
—Vamos nos sentar? —Zair me convida no
seu inglês carregado.
Ficou acordado entre nós que ele o
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praticaria comigo. Embora eu ache que isso não nos


aproxima. Sinto sempre em suas visitas que
estamos envoltos em uma atmosfera de civilidade,
nada mais que isso.
—Claro.
Zair aponta para duas poltronas próximas a
ampla janela, onde a luminosidade penetra no
quarto decorado com quadros famosos, mobília e
tapetes orientais.
Nos sentamos.
Nos encaramos.
— Como tem passado, como foi seu dia
hoje?
É sempre a mesma pergunta e então eu
sempre lhe dava um relatório, que ele ouvia, mas eu
via que ele sempre fica incomodado, louco para sair
do meu quarto. Então ele acrescentava algo sobre o
tempo, ou um comentário sobre a cultura dos EUA,
onde sempre fazia um comparativo e então saia.
Tudo isso já está me dando nos nervos.
—Passei o dia caminhando pelo palácio,
tomei sol, depois almocei com meus pais sua mãe e
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sua irmã. À tarde conversei com sua mãe e aqui


estou. — Digo, demonstrando a minha irritação.
—Já está enfadada? —Ele diz e sorri aberto,
expondo uma fileira de dentes alvos como leite de
cabras e que se destacam contra a pele bronzeada.
Eu pisco, aturdida mais com seu sorriso do
que com a pergunta. É a primeira vez que ele sorri
dessa maneira, geralmente ele dá um sorriso frio.
Coloco meu cérebro para funcionar, ele está todo
embolado, e eu preciso lhe dar uma resposta à
altura:
—Não. Não é com o lugar que estou
enfadada. Mas com a frieza que me pergunta as
coisas e fala comigo. É irritante.

Ele fica sério e me olha depois de uma


longa pausa, imperturbável:
— Não sou do tipo romântico. E vou ser
claro com você. Não pretendo enganá-la, nem a
iludir, estou me casando por conveniência. Para
acabar com a imagem do príncipe em luto, que
sofre pela esposa amada. Além disso, tenho uma

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filha para criar, e ela precisa de uma mãe.


—Então nossa relação será baseada na
conveniência, sem sentimentos envolvido?
Zair enrijece mais sua cerviz.
—Sim. —Ele diz seco. —Casando-se
comigo, você terá tudo que o dinheiro pode
comprar. Tudo o que quero de uma esposa é
lealdade, competência e seriedade.
Sim, ele fala comigo como se tratasse de
negócios. Talvez seja melhor assim. Se ele quer
essa distância de sentimento entre nós, então
teremos.
Dou de ombros. Não coloquei expectativas
nesse casamento mesmo.
—Entendo.
—Que bom que entende. Então, para o seu
próprio bem, não alimente sonhos românticos
comigo. Mas prometo ser um bom marido.
Vejo um lampejo de algum sentimento
enrustindo em seus olhos e o silêncio que se segue
se torna um tanto constrangedor e ele estuda meu
rosto antes de dizer:
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—Daqui a três dias é nosso casamento.


—Sim, eu sei.
—Depois do casamento, não moraremos
aqui.
—Não? —Pergunto confusa.
—Não. Moraremos no Bahrein, por causa
dos negócios. Deixe suas malas prontas.
—Entendo. Iremos logo depois do
casamento?
Zair, passa a mão nos cabelos como se
quisesse colocar os pensamentos em ordem.
—Não, dormiremos aqui, iremos no dia
seguinte.
Aperto minhas mãos no colo. Zair é um
estranho, embora todos os dias ele venha aqui, ele
continua um estranho.
—Tudo bem. —Digo, não muito animada.
Zair continua, como se falasse com sua
gerente de banco:
—Embora, Bahrein seja um dos países mais
liberais do Golfo Pérsico não deixa de ser um país

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muito conservador e com uma cultura islâmica


muito enraizada, por isso, leve lenços para cobrir os
cabelos. —Então ele para de falar e diz. —Ah, a
propósito, entendi o que quis dizer com uma
múmia.
Eu respiro fundo.
Duvido!
—É? O que você entendeu?
—Corrija-me se eu estiver errado. Você
acha que ser submissa e atender todas as
necessidades do marido é como ser uma pessoa
mumificada.
— Vossa excelência não está errado.
—Então seja uma múmia que ficará tudo
bem. Acho que minha mãe já tem te orientado
como deve se portar ao meu lado.
Eu solto o ar com sua arrogância. Então me
lembro de sua posição. Príncipe de seu clã,
costumado a ser obedecido. Mas eu me pergunto,
por que ele acha que me encaixo como sua esposa.
Ou será que ele está preso a promessa que foi feita?
—Eu nasci aqui, mas passei minha vida
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toda nos Estados Unidos. Já se perguntou mesmo se


sou a pessoa certa para você se casar?
Zair me olha sério.
—Sim. Eu gosto dessa frieza de sentimentos
que tem as americanas.
Frieza de sentimentos?
Sim, sou uma bela atriz, controlando minha
respiração quando falo com ele, e mantendo meu
rosto impassível, mesmo quando ele me afeta tanto.
—Entendo.
Antes que eu diga qualquer coisa Zair se
levanta.
—Bem, é isso.
Eu me levanto também.
—E se estiver enganado comigo?
—Enganado como?
—E se eu querer amar, ser amada? —
Pergunto, com o coração agitado.
Ele sorri friamente e seus olhos passam pelo
meu corpo, como se eu fosse uma mercadoria cara.
—Desculpe-me por acabar com seus sonhos
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românticos, mas como eu disse, amor não se


encaixa nesse casamento.
Agora foi minha vez de rir.
—Eu? Alimentar algo romântico com você?
Não, perdoe-me. Mas sempre fui muito pés no
chão. Nunca acreditei em príncipes encantados,
acho que me preparei mais para os sapos. Eu falo
de acabar com esse noivado e segui minha vida.
Ele olha para mim como se tudo que eu
disse não fizesse sentido.
—Sapos?
—Aldafadie. —Traduzo para o árabe.
Zair olha para mim tentando entender o
porquê do "sapo". Acho que ele nunca ouviu a
história da do sapo que se transforma em príncipe
encantado.
Ele dá de ombros e entendo com seu gesto
que ele nem faz questão de entender.
—Bem, mas se casará. Está tudo resolvido.
—Não, não está.
Zair que já estava de saída se volta para
mim.
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—O que não está resolvido?


—Eu não sei se quero me casar com você.
—Como? —Ele pergunta no árabe.
—Eu não sei se quero isso para a minha
vida. Acho que sou do tipo romântica, quero um
homem com coração de carne e não um de gelo
como o seu.
Os olhos dele chispam.
—Tarde demais para isso. Você será minha
esposa, está decidido.
—Você só pode estar brincando!
—Você não tem escolha. É uma questão de
honra. Meu pai se sentirá insultado se recusarmos.
E não é nada sábio insultar o El Mustafá.
—Você é um príncipe, pode muito bem
dizer ao seu pai e ao meu que não sou a mulher
ideal.
Ele sorri, friamente.
—Mas você é a mulher ideal.
—Eu posso te envergonhar. —Digo com
um sorriso, cheio de ameaças.

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—Você não faria isso, pois não gostará nem


um pouco das consequências.
Eu engulo em seco.
—Que consequências?
—Tenho meus meios para te amansar.
Então, nem pense em me prejudicar.
Eu cruzo meus braços.
—Sinto muito, vossa excelência, não é por
nada não, mas eu não vou me casar com você.
Zair me olha com o rosto fechado.
—Tudo bem. Mas seu pai estará na rua
amanhã mesmo.
Eu pisco aturdida.
—Vossa excelência não faria isso. Meu pai
se mata de trabalhar. Ele é um funcionário
exemplar.
—Ele faz aquilo que o cargo dele exige.
Nada mais que isso e sempre foi muito bem
recompensado por ser amigo de meu pai, mas se
me fizer essa desfeita, não pense que seu baba será
poupado.

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—Você...você é odi...oso! —Eu gaguejo.


—Você não viu nada. —Ele diz e sai do
quarto.

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Capítulo 3

Meu casamento foi um grande


acontecimento. Durou três dias, com todo o seu
ritual, cheio de dança e animação dentro dos
costumes muçulmanos.
Um casamento onde pouparei lágrimas e
distribuirei sorrisos, segurarei minhas verdadeiras
emoções, não me permitindo sentir.
No primeiro dia tivemos as trocas de
alianças e eu recebi pela primeira vez o beijo casto
de meu noivo, um singelo beijo na testa. Eu me
senti carimbada do tipo "é minha"
No dia seguinte me produziram: hena,
limpeza de pele e cuidado com meus cabelos. Eu
me senti como um carneiro, sendo bem tratado para
ir ao matadouro.
Hoje, no terceiro dia me maquiaram
e dentro de um lindo e rico vestido, composto de
renda com pedraria bordadas. Com gola canoa,
manga ¾ e modelagem sereia, com uma linda
cauda arredondada, eu me transformei numa linda
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princesa. Mas o dia para eu brilhar, estou triste.


O palácio, cheio de convidados ilustres. Um
casamento sem uma grande história de amor, sem
afinidades e nada para ser um marco em nossas
vidas.
Quando entro no salão, homens tocam
bumbo e flauta doce, dançam com suas espadas e
seus passos específicos enquanto eu entro na festa.
As mulheres fazendo o zaghareet, um som típico
que se fazem com a língua, enchem o lugar com o
som do festejo.
A decoração, nem preciso dizer que está
linda, moderna! Cheia de brilhos, chão espelhados
e lustres, véus, almofadas coloridas, flores.
Nossa cerimônia tão peculiar, foi ao som da
linda voz da cantora árabe ao som de Amr Diab ~
Habibi Ya Nour El Ain que toca os corações com
sua música de amor, e que para mim um esfregão
na cara, me mostrando o que eu não terei ao lado
do meu marido.
Minha querida, você é o brilho dos meus
olhos

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Minha querida, você é o brilho dos meus


olhos
Você está no meu pensamento
Eu a adoro há anos, não penso em mais
ninguém
Minha querida, minha querida, minha
querida brilho nos meus olhos
Minha querida, minha querida, minha
querida brilho nos meus olhos
Você habita minha imaginação
Os mais belos olhos que eu já vi neste
universo
O príncipe está lá, parecendo mais poderoso
do que nunca. Vestido com roupas típicas. Um
kandoora branco cheios de pedras encrustadas nele,
turbante negro na cabeça, sentado em seu trono
fixo, esperando que eu me una a ele.
Logo sou erguida por um trono móvel
enquanto convidados dançam e festejam com muita
alegria abaixo de mim. Atravessamos o salão até
onde meu noivo está. Quando eles me descem e eu
ocupo meu lugar ao lado de Zair.
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Pela primeira vez, desde que entrei na festa,


meus olhos procuram os dele. Sinto meu coração
dar uma pirueta dentro do meu peito quando
encontro os seus negros voltados para mim. Meus
lábios tremem quando Zair sorri. Incomodada,
desvio meus olhos dos dele. Sinto sua mão quente
na minha e olho para ele novamente.
Provocativamente, ele a pega e a leva aos
lábios e a beija. Um beijo demorado. Sim, ele sabe
representar.
Deveria existir príncipes de contos de fadas,
como minha mãe contava quando íamos dormir.
Puxo minha mão sem usar força e ele a
solta, passo os olhos por todos os convidados, que
felizes comemoram dançando, comendo e bebendo.
O cardápio, divino. Comida farta, animação
e bebidas sem álcool.
A comida: Penache de legumes regado com
azeite de ervas e muçarela de búfala ao molho
artesanal de tomates frescos ao pesto. Risoto de
alho poro. Gratinado de batata e queijo gruyere.
Filé Mignon em croute de parmesão sob veloute de
cenouras e amêndoas laminadas. Arroz com pinólis
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(uma semente nativa do Mediterrâneo)


As raízes muçulmanas de Zair falaram mais
alto na hora de eles escolherem as bebidas e apenas
águas aromatizadas, refrigerantes, água tônica,
sucos e espumantes não alcoólicos foram servidos.

Zair
Sim, eu estou me casando para a alegria de
todos.
Estou sentado no trono ao lado de minha
noiva. Estou no meio do salão cerimonial que já
testemunhara uma vez meu casamento com Amina.
Vestido nos trajes cerimoniais que nunca pensei
que eu fosse usar novamente. Todos os membros da
família real, os Anciãos, todos os emissários estão
com seus olhos focados em nós.
Só que esse casamento é diferente para
mim. Ele tem um sentido diferente. Eu bloqueei
todo o meu sentimento com ele. Hoje impera a
frieza e não o calor, a razão ao invés da ilusão do
amor.

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Aysha
Relanceio os olhos para Zair. Ele está com o
semblante pensativo e pela expressão de seu rosto,
seus pensamentos não parecem nada bons. Deve
estar pensando nela, deve estar sofrendo por ela...
isso me incomoda, a ponto de apertar meu coração.
Não tenho tempo de pensar sobre isso, pois de
repente o clima da festa muda e os bumbos tocam
animadamente.
Zair se levanta e estende a mão para mim,
eu a pego com relutância sem olhar nos olhos dele.
E ele então me ajuda a me levantar, e me conduz
até o meio do salão. Caminhamos devagar,
passando pelos convidados movimentando seus
lenços em círculos, logo estamos dentro dessa roda
e Zair começa a dançar para mim. Seu sorriso é
frio, não toca seus olhos. Com toda a espécie de
emoções conflitantes, eu fico parada ali, sem
dançar, o encarando enquanto ele dança de um jeito
envolvente. Sua expressão muda e ele sorri de um
jeito diabólico que engulo em seco. Ele parece estar
se divertindo em me ver sem ação ali, estática.

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Zair então envolve a minha cintura e me faz


me movimentar com ele para frente e para trás.
—Não pense que me afeta você estar dura
como uma vara. Ao contrário, seu jeito recatado,
sua timidez, será muito elogiada pelos convidados,
minha gazela do campo. — Ele diz num tom
sardônico no meu ouvido.
Playboy arrogante!
Eu paro de dançar. A expressão zombeteira
está lá, bem evidenciada em seus olhos escuros e
brilhantes. Quando ele me pega pela cintura
novamente e me força a dançar com ele eu digo:
—Eu não consigo mostrar algo que não
sinto.
Eu o encaro para ver sua expressão. Zair me
dá um outro sorriso.
—Eu sei o que você precisa, gazela. Logo
estará ardendo tanto por mim que não estará
representando.
Para meu terror, eu começo a sentir meu
rosto arder enquanto ele me olha. Mas não me dou
por vencida e lhe dou um sorriso debochado. Ele
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me olha sem entender meu sorriso.


Se ele pensa que faremos algo, ele pode
tirar seu cavalinho da chuva, pois o coitadinho vai
morrer ensopado. Antes que eu fale qualquer
coisa, o ritmo da música muda quando duas
mulheres com um candelabro na cabeça entram,
homens se juntam a elas fazendo um show de
danças com espadas. Eles vêm ao nosso encontro e
depois fazem um túnel com suas espadas erguidas,
passamos por baixo delas e no final desse corredor,
apagamos as velas dos candelabros. Todo um ritual
para recebermos sorte.
Allah! E eu vou precisar!
—Chegou o momento de deixarmos a festa.
—Zair sussurra no meu ouvido.
Meu coração bate forte enquanto minha
cabeça gira com as palavras dele. Tento me
concentrar no perigo de estar sozinha com esse
homem, não importa o quanto meu coração se agite
no peito, afetada por sua beleza, por sua
masculinidade, mas não quero me entregar a ele
sem sentimentos envolvidos. Ainda mais agora,
depois de ouvir suas falas arrogantes.
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Os convidados abrem espaço com muita


dança, palmas e alegria quando eu e Zair
começamos a caminhar para fora da festa. As duas
grandes portas se abrem, quando passamos por ela,
alcançamos uma grande sala e depois o corredor.
Minhas mãos tremem na de Zair enquanto
ele me conduz. Eu pareço aqueles fantasmas de
lençol, branca e sem vida.
Depois de muito andar calados, entramos na
grande ala separada para nós e que fica o nosso
quarto. O palácio é cheio delas, como se fossem
vários casarões conjugados.
Ao chegarmos em frente a porta do nosso
quarto, Zair abre para mim e espera eu entrar.
O quarto está divinamente preparado.
Backur está aceso perfumando o ar, exalando a
essência. Pétalas de rosas vermelhas foram
espalhadas na cama. Candelabros acesos deixam o
quarto iluminado, dando a ele uma aparência
aconchegante e romântica.
Quando ouço Zair fechar a porta, eu
estremeço. Sem olhá-lo, eu caminho para o meio do
quarto e então, me viro para ele.
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Zair ainda está parado perto da porta. Ele


me olha agora sem aquela arrogância de antes. Na
verdade, ele parece inseguro, sem saber muito o
que fazer comigo.
Ele desvia seus olhos dos meus e vai até
uma penteadeira que está ao meu lado direito e
pega a cadeira e a puxa, então ele faz um gesto para
eu me sentar.
Sério isso? Ele irá lavar meus pés?
Isso representa estar juntos na hora da
dificuldade, suportar o outro em sua fraqueza,
criar um lar que glorifique a Allah, caminhar
juntos em todas as situações da vida.
—Aysha, sente-se aqui. —Ele diz quando
percebe minha relutância.
Nego e contesto:
—Esse ato tem um grande significado e...
—Nosso casamento é de conveniência, mas
isso não significa que eu não irei cumprir meu
papel de marido. Vou cuidar de seu bem-estar,
então, pare de besteira e se sente aqui.
—Como você consegue? Fica apegado a
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rituais que expressam sentimentos, mas ao mesmo


tempo os deixa de fora?
Ele parece irritado:
—Não questione e se sente aqui! Estamos
casamos, então cumpriremos todo o ritual.
Eu aperto meus lábios e faço uma mesura
para ele, ironizando seu jeito mandão e caminho até
o local indicado. Respirando fundo, eu me sento.
Zair pega a bacia e a jarra de água e as
coloca no chão.
—Erga o vestido. —Ele pede impaciente.
Eu faço como ele me pediu. Ele então pega
o meu pé direito e retira o meu sapato e lava o meu
pé. Faz o mesmo gesto com o outro. Coloca então
uma toalha no colo e enquanto os seca, ergue o
rosto e procura meus olhos.
—Pronto, não doeu. Doeu? —Ele me
pergunta com um sorrisinho de canto. Eu respiro
fundo novamente, prefiro não responder. Do jeito
que estou ácida, vou dar alguma resposta malcriada
e o que menos quero agora é me indispor, quero
apenas dormir, esquecer esse dia.
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Ele se levanta, e eu também. Ele é tão alto


que eu mal bato na altura dos ombros dele.
—Bem, então boa noite. —Eu digo para a
vossa majestade, me desviando dele.
Ele me segura pelo braço.
—O que você quer dizer com "boa noite"?
—Tesbah ala kheir! —Eu falo no árabe.
Ele me solta.
—Bismillah! (Em nome de Deus!) Eu
entendi a palavra!
Eu elevo meu rosto e digo:
—Não teremos nada. Você mesmo disse
que é um casamento de conveniência.
Zair está ofegante. Ele tira seu turbante,
como se aquilo já o incomodasse. Seus cabelos
estão engenhosamente bagunçados, ele fica mais
lindo. Engulo em seco.
Zair trava sua mandíbula e endurece mais
seu rosto.
—Sim, eu disse. Mas isso não quer dizer
que você não será minha.

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Minha respiração se torna agitada também.


—O quê? Você está achando que faremos
sexo?
Zair dá um passo na minha direção, eu dou
dois para trás, até eu encostar na parede. Ele ergue
a mão e me encurrala, segura meu rosto, seus olhos
são tão febris e isso me confunde um bocado.
—Você é tem um jeitinho tão emancipado.
Cadê a americana que me casei? Qual o problema
de satisfazer o desejo de nossos corpos? Eu sou seu
marido.
—Eu...
Zair sorri.
—Eu disse que não te tratarei bem?
Eu nego com a cabeça.
— Serei gentil, paciente, tudo que um
homem precisa ser. Não temas.
—Não temo, mas sexo por sexo...
—Não tem nada de errado nisso. Além
disso, você terá que provar sua virgindade.
— Mas eu sou virgem!

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Zair dá um sorriso.
Seus dentes são lindos! Allah!
—Eu penso que sim, se eu achasse que não,
não teria me casado com você.

—Acho que não preciso provar nada.


Ele ri, uma risada gostosa.
Allah! Acho que estou enfeitiçada...
—Mas não é só a mim que você tem que
provar.
Como?
O quê?
Onde?
—Eu vou ter que provar? Como assim?
Zair alarga mais o sorriso.
—Está vendo aquele lenço nupcial em cima
do criado mudo? Ali estará a marca de sua
inocência.
Eu estremeço.
—Que coisa mais retrógada!

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Zair passa a mão nos meus cabelos e seus


lábios mordiscam minha orelha, e diz as palavras
sussurradas no meu ouvido: —Você não está
casando com qualquer um? Esqueceu das minhas
origens? Sua inocência terá que ser provada.
Eu estremeço mais com as falas dele, com
seu toque, com o calor do seu rosto no meu. Mas eu
o afasto, o encarando séria.
—Mas não teremos nada para apresentar.
Zair respira fundo, como se estivesse
exercitando a paciência comigo:
—Relaxe, você está muito nervosa.
As palavras dele me irritam. Eu tento sair
dos seus braços, mas ele não deixa, seus são como
grades e me prendem.
— Gazela, seja boazinha.
—Eu estou falando sério! E pare de me
chamar desse jeito! O que foi agora? Ligou o botão
"afeto" com prazo de expiração? E quando acabar o
sexo? Acionará o botão razão?
Zair respira fundo. Acho que ele não
esperava isso de mim. Claro que ele esperava que
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eu fosse diferente. Que por ter passado a maior


parte da minha vida nos EUA eu aceitaria o que ele
oferece. Ele pode até ter me obrigado a casar, mas
eu dificultarei bem a sua vida.
—E se eu disser que desde a primeira vez
que te vi, eu te desejo?
—Verdade? Então não obteve sucesso em
sua demonstração.
A cada palavra minha Zair vai ficando mais
ofegante. Ele me solta.
— Estou cansado desse seu jeito. Já chega!
Você não passa de uma menina mimada que se
julga no direito de fazer tudo que quer. Mas eu não
tolerarei isso.
—Vai me tomar a força?
Zair perde a paciência.
—Por Allah! Tomar a força? Sou tão feio
assim para não querer dormir comigo? "Sapo", não
é mesmo?
Allah! Ele entendeu tudo errado. Realmente
ele não conhece a história do príncipe encantado.
Eu aperto meus lábios para não rir. Ele é lindo,
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super gato.
—Zair, podemos dar um jeito.
Ele cruza os braços no peito e abre as
pernas.
—Que jeito?
Eu e lambo meus lábios.
—Apresentar algo a eles.
—Você está sugerindo que eu retire meu
sangue e burle sua inocência?
Eu dou um leve aceno, concordando com a
cabeça, quase imperceptível. Os olhos de Zair vão
ficando mais duros.
—Estou achando que você não é virgem.
Eu estremeço.
Eu sei muito bem o que representa isso
para essa corja machista.
—Claro que sou!
—Então prove!
— Eu...
—Temos a noite inteira. — Ele diz
ofegante. — Vá até o banheiro, tome um banho,
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relaxe. Eu te espero deitadinho naquela cama.


Meus lábios tremem e tudo que estava
represado dentro de mim sai dos meus olhos como
cascata e cai gota pós gota. Zair fica sem ação
quando me vê emotiva. Consigo enxergar o outro
lado do altivo príncipe, o coração humano, que
pulsa sob a fachada gelada e rígida. Mas quando
penso que ele vai mudar de ideia, seu rosto vai se
transformando novamente.
—Vai, eu te espero.

Zair
Allah! Eu me senti um crápula quando ela
chorou e ela tem sido mestre em me fazer sentir
assim ultimamente. O sentimentalismo é uma
fraqueza que há muito eu deixei para trás. Agora há
em mim a determinação, a coragem, a firmeza.
Qualidades que um homem de negócios precisa ter.
Hoje me fortaleci com esses sentimentos. A
realidade precisa ser enfrentada, por isso hoje sou
comedido, pois conheço as consequências da

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entrega.
—Mas que Diabos! Eu não deveria ter me
casado com essa mulher!
Allah! Forçar uma situação não faz parte do
meu carácter.
Vou até a escrivaninha que está num canto
do quarto e abro a gaveta. Pego uma adaga e
erguendo meu kandoora, corto o interior da minha
coxa direita, a ardência só aumenta minha
frustração por não fazer imperar minha vontade.
Tampo o corte com o lenço nupcial.
Aonde eu estava com a cabeça quando a
escolhi para esposa. Nunca imaginei que ela fosse
tão rebelde. E ao mesmo tempo isso me fascina, de
um jeito estranho, que eu nem sei explicar.
E o pior, isso realmente eu não esperava.
Essa mulher não se sente atraída por mim.
Sapo?
Ou ela me disse isso para me atingir, me
afastar dela?

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Aysha

Ando de um lado para o outro, descalça, no


magnífico banheiro, sentindo o piso frio debaixo
dos meus pés.
Eu me olho no espelho e consigo enxergar o
quanto estou bonita. Meu rosto está corado, meus
olhos estão brilhantes. Solto meus cabelos que
caem graciosamente sobre meus ombros.
Lembro-me então da expressão do rosto de
Zair quando ele tocou no assunto do sapo. Dou uma
risada nervosa.
Tadinho. — Penso com ironia. — Ele pensa
que não me atrai. Deve ter sido um golpe duro para
o seu ego estratosférico e para sua arrogância.
Imagine! Feio?
Sua aparência é magnífica! O que não me
atrai nele é seu jeito petulante.
Respirando fundo, lanço um olhar para a
minha camisola de seda branca curtinha,
previamente dobrada em cima do gabinete do
banheiro.
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Allah! Ficarei praticamente seminua.


Mas o pior não é isso, estou com um
problema. Meu vestido é todo abotoado nas costas.
Acho que ele é feito para o marido ter o prazer de
despi-lo. Só pode ser! Nem pensei nisso quando a
costureira tirou a medida. Eu deveria ter pedido um
zíper lateral, algo assim.
Estico meu braço, mas só consigo abrir três
botões, o restante por mais que eu me esforce, não
dá.
Desisto!
—Calma, respira fundo. —Digo para mim
mesma.
Allah! Que situação constrangedora!
Claro, o que eu esperava?
Estou casada com um estranho e que não
fez questão nenhuma de me conhecer direito e
deixou bem claro que não tem intenção de
aprofundar seus sentimentos.
Encosto-me no balcão de mármore rosa do
banheiro e começo a pensar na atitude de Zair.
É muito claro que ele sente raiva.
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Raiva pela perda da mulher amada?


Raiva por ter sido obrigado a mascarar sua
dor se casando comigo?
Ou será por outra coisa que ninguém
imagina, algo que aconteceu e ele sofre
silenciosamente com isso?
Respiro fundo e me preparo
psicologicamente para falar com ele.
Khara!( Merda!)
Khara!
Khara!
Ter que pedir para ele abrir meus botões é a
coisa mais difícil que terei de fazer.
Mas vestir essa camisola e me deitar com
ele, ceder não é a mesma coisa?
Pensando bem, não sei. Esse homem
consegue me incendiar e não precisa de muito, e
agora que ele apertou o botão sensualidade, não
vou me enganar dizendo que ele forçará algo.
Não! Minha mente pode estar na razão, me
mostrando o quanto ele é arrogante, mas sei que no
momento que aqueles braços fortes me envolverem,
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Allah! vou derreter, deu para ver que ele é bem


ardente quando quer...
Mashaallah (Que Deus me ajude!)
Meus pés estão gelados quando entro no
quarto. Zair está lá, aonde ele disse que me
esperaria, deitado na cama, de barriga para cima, o
peito nu, coberto com o lençol. A única luz no
quarto é seu abajur. Ele apagou todas as velas, tirou
todas as pétalas de rosas. Elas estão todas no chão.
Sim, romantismo entre nós é muito
hipocrisia.
Observo seu rosto. Seu semblante não é
bom, sua expressão é severa.
Ele então me encara.
—Pensei que dormiria na banheira.
Eu estremeço com sua voz gelada.
—Eu estou com problemas com o vestido.
Não consigo abrir os botões.
Zair funga e se senta.
—Venha até aqui, eu abro para você. —Um
sorriso malévolo estica os lábios dele.

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Arrogante!
Eu caminho com passos relutantes até ele.
Meu coração está agitado, minhas mãos estão
geladas. Eu me sento na cama e lhe dou as costas.
Sinto seus dedos desbotoando meu vestido,
o mais leve toque deles é o suficiente para me
provocar arrepios, mas fico firme, aparentando uma
calma que não sinto. Quando o vestido começa a
deslizar, eu o seguro com as mãos.
Eu me levanto, seu rosto é impassível.
—Obrigada.
Ele afasta o lençol, eu pisco quando o vejo
só de cueca.
Lindo! Digo no meu interior quando me
deparo com seu corpo exposto, os pelos cheios no
peito que vão se estreitando até sumir na cueca.
Quando percebo que estou comendo-o com os
olhos, assustada, desvio meus olhos do corpo
moreno e procuro seu rosto. Ele dobra o joelho e
abre a perna, eu fecho os olhos, estranhando seu
gesto.
—O..que...você está fazendo?
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—Abra os olhos.
Ofegante, eu os abro com relutância. Zair às
vezes parece louco e com louco não se discute.
—Está vendo isso aqui. —Ele diz, seco. E
aponta a perna. Só então vejo o corte. Meu coração
salta no peito. —Isso aqui é a marca da sua forjada
inocência.
Perplexa, eu engulo em seco.
Então ele se cortou!
Zair se levanta da cama e vai se
agigantando conforme ele vai se aproximando de
mim. Quando bem próximo, ele para. Eu ergo meus
olhos e dou com os profundos olhos negros sobre
meu rosto.
—Não quero que jamais mencione essa
noite. —Ele diz com a respiração entrecortada.
Ofego.
—Tudo bem. —Digo, quase engasgada.
—Agora some da minha frente. —Ele diz
de um jeito irado.
Sumir?

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—Onde eu vou dormir?


— Bismillah! (Em nome de Deus!) Do meu
lado, claro!
—Está certo, é que...
—Vá.
Eu aceno com a cabeça e praticamente fujo
de sua presença.

Zair

Eu reparei nela com uma considerável


malevolência.
Ela é muito magra para o meu gosto. Desço
os olhos e foco no seu bumbum. Meu sexo se
avoluma.
Khara! Tenho que admitir que o efeito de
suas costas magras e o volume de suas nádegas e
quadris é provocante e sensual.
Com raiva marcho até a cama e me deito
nela, apago a luz e me viro oposto ao lado que ela
irá se deitar.

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Aysha

Entro no quarto, ele está todo escuro. Só a


luz do luar entra pela janela. Fico na soleira da
porta até eu me acostumar com a escuridão.
Aos poucos vou reconhecendo as formas
das coisas na penumbra. Consigo ver Zair também.
Allah! A cama é king size, enorme, e
mesmo assim ele consegue se espalhar nela de
modo que fica só um pequeno espaço para eu me
deitar. Eu já vi que vou ter uma péssima noite de
sono.
Caminho lentamente e me deito ao lado dele
tentando não movimentar muito o colchão. Mas o
colchão é dos bons, conforme me ajeito ele nem se
move, ele é firme e ao mesmo tempo macio.
Bocejando, me cubro, tomando cuidado para não
me encostar nele.
Sempre dormi abraçada a um travesseiro.
Então pego um, dos dois que ficam na cama e o
envolvo com meus braços. Fecho os olhos. Estou
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tão cansada que, aos poucos, minha respiração vai


se acalmando e apago.

Zair

A luz do dia entra pela janela, pela posição


dela sei que deve ser umas nove horas da manhã.
Eu viro a cabeça e dou com o rosto tranquilo de
Aysha.
Essa gazela diabinha tem um rosto bonito,
tenho que admitir. Impossibilitado de parar meu
gesto, eu estendo a mão e pego uma mecha de seus
cabelos, a cor é linda, eles são castanhos-dourados,
grossos, cheios e brilhantes, e somados aos seus
olhos verdes, dá a ela uma aparência selvagem.
Gazela?
Gazela é um animal assustado, e Aysha está
mais para um gato do mato.
Dormindo, seu rosto fica angelical, tão
pacifica. Dou um sorriso diabólico, mas eu não me
engano com essa gata.
Prendo a respiração quando ela molha seus
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lábios. Sinto meu corpo imediatamente endurecer.


Sinto-me inchando poderosamente com uma
necessidade animal, quase me subjugando. Com
relutância puxo a minha mão. Ofegante sinto o
desejo queimando em minhas veias, correndo como
larva líquida. Lembro-me então que ela me acha
repugnante como um sapo.
Allah! Preciso tirar isso a limpo. Sentir
como reage seu corpo ao meu toque. Essa dúvida
está me matando.
Meus olhos se iluminam sutilmente, com o
pensamento de lhe roubar um beijo, tocá-la, pegar
os seus mamilos e apertá-los suavemente.
Aysha se mexe, dando uma respiração
profunda. Eu cerro as minhas mãos. Lutando com a
luxúria quase irrefreável de tocá-la novamente.
O anseio bate em mim com muita força,
exigindo que eu a envolva em meus braços, que eu
coloque minhas coxas entre as suas, e estoque todo
sêmen, que estão deixando meus sacos pesados e
duros.
Com certeza ela gritaria horrorizada. Fico
me lembrando de suas falas: "Eu? Alimentar algo
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romântico com você? Não, perdoe-me. Mas sempre


fui muito pés no chão. Nunca acreditei em
príncipes encantados, acho que me preparei mais
para os sapos. Eu falo de acabar com esse noivado
e segui minha vida. "
Respiro fundo, e me afasto dela, antes que
eu faça alguma tolice. Eu me levanto com raiva,
pego o lenço nupcial, o coloco em cima de uma
pequena bandeja de prata, própria para isso. Vou
até a portinhola e a giro, deposito a suposta
inocência de Aysha e a giro novamente.
Não estou gostando da maneira como as
coisas estão se iniciando no meu casamento. Um
sentimento de impotência e arrependimento me
assaltam.
Allah! Passo a mão nos olhos e expandindo
os pulmões, inalo uma respiração funda. Vou até o
banheiro e escovo meus dentes com força
desnecessária, tirando sangue das minhas gengivas.
No quarto evito olhar para Aysha, tentando
controlar minha ira. Preciso melhorar minha cara.
Minha mãe, meu pai, todos precisam achar que
estou bem, que estou feliz.
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Estou para vestir minhas roupas quando


escuto o zaghareet. É o festejo das mulheres pela
forjada virgindade de Aysha.
Allah! Se ela não for virgem eu a mato com
minhas próprias mãos! E sei que não vou sossegar
enquanto eu não tirar isso a limpo. E já sei como
farei isso.
Aysha se senta na cama.
—Allah! O que foi isso?

Aysha

Assustada com o som estridente, eu me


sento. Meu coração agitado no peito.
— Allah! O que foi isso?
Aos poucos vou entrando na realidade,
quando passo os olhos no quarto vejo Zair em pé só
de cueca segurando uma calça preta na mão.
Imediatamente puxo o lençol na altura do queixo e
desvio meus olhos de seu corpo moreno e procuro
seus olhos.
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Não sei o que é pior, pois sua expressão é


glacial. Só então me lembro do lenço nupcial.
—Preciso mesmo explicar o que é isso? —
Ele pergunta, seco.
Ofegante digo:
—Não.
Ele enfia a perna na calça e me diz mandão:
—Se troque.
Eu respiro fundo tentando me acalmar. E
com raiva daquilo que irei enfrentar, digo a ele:
—Você terá que melhorar sua... —Quase
digo " sua cara", mas o homem tem sangue azul, é
um príncipe. Allah! Preciso me lembrar disso. Não
quero cutucar a pantera. Então corrijo. —Seu jeito
se quer mesmo que eles acreditem que tudo está
bem entre nós.
Zair sorri de um jeito diabólico.
Allah! Não gostei desse sorriso.
E então, puro terror.
Oh, khara.
Khara!
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Khara! Que foi que eu fiz?


Ele avança perigosamente, e eu me
arrependo imediatamente do que eu disse. Ele então
se ajoelha e vem na minha direção como uma
pantera negra ameaçadora. Eu vou me deitando e
me encolhendo na cama, apertando mais o lençol
contra o queixo.
Ele paira sobre mim, seus olhos negros
passam pelo meu rosto, eles são quentes e ao
mesmo tempo sádicos.
—Eu sei um jeito de acabar com esse gelo
entre nós. Pobrezinha terá que beijar o sapo.
Antes que eu raciocine com suas falas, Zair
toma a minha boca e me beija com súbita paixão.
Hum, ele tem gosto de menta... eu fico dura
enquanto sinto seus lábios se movendo sobre os
meus. Eu congelo com a sensação de seus lábios
macios forçando os meus a se separar. Sua língua
visitando a minha. Meu coração bate
descontroladamente quando sinto sua ereção na
minha perna.
Ofego quando seus lábios descem no meu

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pescoço. Apertos os olhos tentando resistir,


reavivando o motivo de eu resisti-lo.
Ele está acostumado a ter tudo que
deseja. Tem me tratado o tempo todo com frieza e
distância. E de repente consegue o que quer? Digo
para mim mesma.
De repente ele se afasta. Permaneço de
olhos fechados, com medo abri-los. Como ele não
se mexe, sou obrigada a a encará-lo. Zair está lá
observando minha reação. Embora minha
respiração esteja ofegante, e meu coração batendo
acelerado, controlo minhas emoções. Sinto sua
respiração agitada soprando o meu rosto.
Zair ri com escárnio, com certeza notando
minha perturbação.
—Que foi? Tudo isso é medo de mim, gata
selvagem? —Ele então passa a mão nos meus
cabelos com delicadeza, seus olhos ardem nos
meus. — Ou está lutando para não ceder ao desejo
que provoco em seu corpo?
Eu tento sair da cama, mas ele me segura.
—Não, nada disso. Olhe para mim e me

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responda.
Num ímpeto de coragem, eu o encaro.
—Isso é uma coisa que você não irá saber.
Zair não se perturba com as minhas
palavras. Sua expressão permanece a mesma, então,
sem aviso, ele estende sua mão e pega meu queixo
possessivamente, forçando-me a olhar para ele
enquanto ele fita meus olhos. Eu engulo em seco,
chocada com o calor de suas mãos.
—A minha experiência no departamento
"mulheres" me diz que esse controle todo é
fachada, escondendo a mulher ardente que é.
Arrogante, não?
—Então, você acha que estou louquinha por
você?
Ele sorri e solta meu queixo.
—Isso, o tempo irá dizer. —Ele então se
levanta da cama. —Bem, troque-se. Nós
tomaremos café e partiremos.
—E Samira? Irá conosco?
Ele me olha por um tempo calado.

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—Não. Somos recém-casados, é natural que


fiquemos sozinhos por um tempo. Ela ficará com
meus pais. Depois que passar o tempo da nossa lua
de mel, a babá a levará.
—Entendo.
Zair me dá as costas e pega a camisa. De
costas ele parece o Zorro. Os cabelos negros, fartos
e está todo de preto, calça e camisa. Ele começa a
enfiar dentro da calça. É a primeira vez que o vejo
com roupas ocidentais. Eu fico ainda na cama com
o lençol até o pescoço. Ele então se vira para mim e
sorri friamente.
Nesse sorriso está o Zair que eu conheço.
—Não vai se levantar? Se está achando que
ver você seminua irá me tocar, pode ficar tranquila.
Já voltei a minha normalidade.
Glacial, ele quer dizer!
Os lençóis voam para longe.
—Está certo. —Digo com um sorriso, frio
igual ao dele.
Levanto-me da cama, exibindo minha curta
camisola de seda negra. Posso sentir os olhos de
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Zair em mim enquanto caminho descalça pelo


quarto numa naturalidade que não estou sentindo.
Me inclino, mostrando parte do meu traseiro e pego
a abaya que está em uma cadeira, e que eu tinha
separado previamente por causa da viagem e entro
no banheiro.
Allah! Essa sou eu mesma? Eu me pergunto
pensando no que fiz. A razão agora me condena,
me dizendo para não provocar o homem.
Retiro minha camisola e fico só de calcinha.
—Não esquece que terá de vestir roupas
sóbrias. —Ouço sua voz nas minhas costas.
Pulo sobressaltada e puxando minha roupa,
eu me cubro como dá, e então me viro para ele.
—Eu já separei uma abaya. Agora vossa
excelência pode sair para eu me trocar?
Ele não se move, e fica lá, plantado com um
sorrisinho jocoso no rosto. Seu jeito é irritante.
—Veremos quanto tempo durará isso,
minha querida esposa. Ando muito paciente. Mas
tudo tem um limite. E lembre-se que preciso de um
filho para levar meu sobrenome, meu título. —Ele
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diz tudo de modo gélido.


Sufoco as palavras ácidas que estou pronta a
dizer a respeito de ser parideira que ele espera de
mim.
—Saia por favor.
Ele dá um daqueles sorrisos que não gosto,
bem diabólico.
—Lembre-se que posso fazer um pouco
mais do que apenas intimidar. Eu posso fazer valer
minhas palavras, então não me provoque como fez
lá no quarto.
Sim, agi imprudentemente. Respiro fundo,
tentando acalmar meus batimentos cardíacos.
Sinto raiva por sua arrogância, pela maneira
que ele demonstra ter poder sobre mim. Mas irei
dar um desconto pelo que aconteceu ontem à noite.
Deve ser difícil para um homem como ele ter que
ceder e ainda deixar uma marca no seu corpo o
lembrando disso. Por isso, mais uma vez não digo
nada.
—Vossa excelência pode sair para eu me
trocar?
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Ele solta o ar.


—Não esqueça de levar um lenço para
cobrir seus cabelos.
Um arrepio atravessa meu corpo, com a
dura realidade que vou enfrentar daqui por diante.
—Devidamente anotado.
Quando ele sai, eu bufo alto em alívio e
corro para trancar a porta do banheiro.
Com as mãos trêmulas visto a abaya preta,
escovo os dentes, penteio os cabelos e faço um rabo
de cavalo baixo e depois uma maquiagem leve. Não
para agradá-lo, mas para eu me sentir segura,
poderosa.
O lenço coloco no pescoço para dar um
charme, quando chegar em Bahrein eu cubro os
meus cabelos.

Zair

Olho para os jardins do palácio e vejo o


espetáculo de flores de todas as cores. Flores que a
víbora da Amina adorava.
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A lembrança de como fui enganado por sua


fragilidade, docilidade e beleza, de como entrei no
conto mais velho do mundo, ainda me transtorna.
Quem é Aysha para que eu confie nela?
Amina me enganou da pior forma que se
pode imaginar. Ela me envolveu em suas teias de
inocência e sedução. Aquela garota que convivi
minha adolescência inteira, na verdade queria o
titulo de princesa.
Uma vida perdida.
Sonhos desfeitos.
Ela mentiu com suas palavras, com seu jogo
de sedução, ela mentiu com seu corpo, com seus
gemidos, com seus sussurros de amor.
Nem sei se a menina que ela pariu é minha
filha.
Samira pode ser fruto de seu adultério. Até
hoje não peguei a criança nos braços, até hoje não
consigo olhar para ela e a reconhece-la como minha
filha.
Faz tempo que minha vida virou um palco,
onde represento.
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Onde represento um luto que não sinto, um


pai que não sou, um marido desconsolado pelo
infortúnio de ter perdido a mulher amada. Cerro
meus dentes ao pensar nisso. Mas como diz um
filósofo e escritor da Antiga China Lao Tze: “O rio
atinge seus objetivos porque aprendeu a contornar
obstáculos. ”
É isso que tenho feito, e amar não está nos
meus planos.
Escuto a porta do banheiro sendo aberta.
Volto meu corpo e observo Ayasha entrando no
quarto.

Aysha

Zair está estranho, como se uma nuvem


negra pairasse sobre ele e o envolvesse. Sua energia
não é boa.
Ele me avalia por um tempo.
Silêncio.
Seus olhos correm meu rosto.
Com passos decididos caminha em minha
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direção. E antes que eu reaja ele ergue a mão e


passa o dedo nos meus lábios. Tirando o meu
batom.
—Sem batons.
Eu engulo em seco, pois seus olhos são
duros como aço.
Meu coração se agita.
Ele sofre por ela. Está na cara dele. Deve ter
raiva do mundo por perde-la. Antes que eu pense
nas consequências, as palavras irromperam na
minha boca, sem que eu possa controlá-las:
—Seja lá qual seja sua dor, você não pode
viver enclausurado nesse sentimento. — Conforme
vou falando seu rosto vai ficando pálido. —Sei que
deve ser difícil a perda da mulher que ama....
Zair dá um passo ameaçador na minha
direção, eu quase dou um para trás. Ele para perto
de mim, vejo seu esforço para se controlar.
Ele fala entredentes:
— Pare! Não venha conjecturar minha vida.
Eu sou o que sou, sou, sou aquilo que me proponho
ser. Agora coloque um sorriso nesse rosto e vamos.
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Fico com raiva de mim mesma por me


importar. Quando lágrimas ameaçam descer do
meu rosto eu desvio meus olhos dos dele.
Francamente, me sinto vivendo uma espécie de
pesadelo. Percebo que não tenho outra alternativa a
não ser representar ao lado dele.
Pois bem, vou representar. Ele não verá o
quanto me abala essa impotência que sinto.

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Capítulo 4

Depois do café eu me despeço de meus pais


que também estão de partida. A diferença é que
eles partirão para os EUA de avião e eu de jato
particular até Bahrein, uma parte do aeroporto
destinado aos executivos como meu marido.
—Minha princesa, boa viagem. —Minha
mãe diz quando se afasta.
Eu forço um sorriso.
—Obrigada.
Papai também me abraça.
— Seja uma boa esposa. A melhor. —Meu
baba quando se afasta, faz uma cerimônia para
Zair. — Espero que minha Aysha esteja à altura de
ser sua esposa. Que cada dia ela te surpreenda com
docilidade, submissão, que seja fértil e lhe dê um
filho.
Isso pai, se encurva para o príncipe, vai
levar um belo pé na bunda.
Num gesto inesperado, Zair me envolve

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pela cintura e diz sorrindo.


— Sua filha é tudo o que me disseram...
uma joia preciosa, uma pérola de grande valor. —
Ele diz. — Sinto-me abençoado por ter me casado
com uma mulher tão perfeita!
Eu quase solto uma gargalhada ácida, mas
me controlo. Zair procura meus olhos e os fixa nos
meus, ele então expande seu sorriso, de um jeito
bem infernal.
O sheik surge na sala. Todos se inclinam. A
babá está com criança no colo. Zafira, minha sogra,
vem atrás.
—Baba, estamos indo. —Zair diz para o
pai.
O velho Sheik se aproxima e coloca a mão
no ombro de Zair:
— Você deixou a tristeza se apoderar de
você, como um felino se apodera de sua presa. Que
Aysha possa te dar alegria e te encher de filhos.
Allah! Quase me benzi como os católicos.
Zafira se aproxima do filho e o abraça.
—Espero que tudo se resolva logo. Que
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você volte em breve. Não se esqueça de suas raízes.


—Tão logo concluir os negócios,
voltaremos para cá.
Zafira abraça Zair, dizendo:
—Final do mês Samira irá com a babá.
Zair assente com a cabeça.
Zafira então se virar para mim e me abraça.
Sussurra no meu ouvido:
—Tenha paciência com Zair, você verá
como tudo se ajeitará.
Quando ela se afasta eu aceno um sim para
ela, descrente. De repente me senti impotente
como uma bélica sem sua espada, ou uma presa
encurralada.
—Vamos? —Zair fala para mim.
—Você não vai se despedir de Samira? —
Pergunto, observando sua reação.
Ele além de não responder, se afasta em
direção à saída. Eu não tinha escolha a não ser
segui-lo.
O que eu poderia fazer, presa naquela

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gaiola dourada? Chorar?


Senti um nó no peito. Um sentimento
desconfortável. Não queria me sentir assim com
meu marido. Abaixo e dou um beijo em Layla,
minha irmãzinha que ainda vê tudo deslumbrada.
—Fica boazinha para a mamãe. Nos
falamos pelo messenger, eu te ligo também.
Ela não diz nada, está amuada. Não sei se
por sentir a minha falta ou por não ser ela a esposa
de um príncipe.
—Aysha, vamos! —Zair me chama.
Eu ignoro e me levantando vou até a babá.
Vejo a pequena Samira. Ela é um bebê lindo. Olhos
cor de mel, cabelos castanhos claros. Falo com ela
em árabe:
—'Arak qaribana., Samira. (Até breve.) —
Eu dou um beijo em sua cabecinha antes de seguir
Zair.
Encarei meu marido, ele está arfando, os
olhos negros naquele estreitamento impaciente. Eu
aperto meu passo e vou até ele.
Andamos juntos em silêncio até o carro que
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nos espera na porta do palácio de portas abertas, o


motorista uniformizado está ao lado dele.
Dentro do carro em movimento o silêncio
impera. Zair vira a cabeça para a janela, me
ignorando completamente.
Isso me irrita!
— Bem, a encenação acabou. —Digo para
provoca-lo.
Ele olha para mim, as sobrancelhas dele se
erguem levemente, como se respondesse ao meu
desafio.
—Sim, facilitará muito seu aperfeiçoamento
como esposa. Como uma cera macia, você precisa
ser moldada. Não tenho gostado de sua atitude.
—É, eu sei. Você esperava uma múmia ao
seu lado.
Ele aperta os lábios me corrige:
—Uma esposa que faz tudo para agradar
seu marido, pois "este marido" trabalha como um
burro de carga e ela terá de tudo que o dinheiro
pode comprar.
—Você não quer uma esposa e sim uma
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escrava.
Por um momento o silêncio fica entre nós e
ele sorri diabólico.
— Não seria má ideia.
— Pare com isso! Sou apenas uma esposa
de opinião.
—E sem juízo. Lembre-se que agora somos
eu e você.
—Lembre-se também, que seu pai deve ter
algum informante em Bahrein, que deve reportar
tudo a respeito de nós.
Zair se vira para mim.
—Você está me ameaçando?
Eu respiro fundo.
—Não, mas ambos conseguimos nossos
objetivos, de vermos nossas famílias felizes. Meu
pai empregado e seu velho pai despreocupado.
Ele passa os olhos pelo meu rosto.
—Falta um objetivo ainda. Você me dar um
filho.
Isso me irrita e eu me lembro da cena dele
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com a filha.
—E correr o risco de ter uma menina e você
trata-la como trata Samira?
Zair me olha com sangue nos olhos.
—O que você quer dizer com isso?
Ofego, sentindo aquele frio na barriga e
meu estômago se contorce. Solto o ar dos pulmões.
Então ergo o meu queixo. Não serei uma covarde.
—Você pensa que eu não reparei como
você trata sua própria filha? Por quê? Porque ela é
uma menina?
Ele se inclina em minha direção, mas eu não
recuo. Embora sou tomada pelo nervosismo, o
encaro sem tirar meus olhos dos dele.
Poderoso, ameaçador, envolto em uma
nuvem de perigo e masculinidade. Minha mente
fica confusa pela tensão. Percebo que sinto cada
vez mais aquela atração animal por ele.
—Não quero que fale comigo nesse tom.
Você está sendo insolente, falando de coisas que
não sabe. —Ele diz ofegante. — Você está
parecendo uma criança mimada, birrenta e que fala
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tudo que pensa.


Sentei-me melhor e o encarei, não querendo
parecer um bicho assustado.
—Criança mimada? Eu sei o que esperava
de mim. Que eu estivesse encantada com sua
posição, que bastaria você estalar seus dedos eu
viria correndo, aceitaria tudo. Comprada e usada
como os objetos que possui, que você usa e depois
deixa de lado.
Ele parece uma estátua entalhada, frio,
enquanto eu perco meu autocontrole.
Zair me olha ofegante:
—Eu deveria ter te ouvido. Não deveríamos
ter nos casado, qualquer mulher em sua posição
estaria beijando meus pés. —Ele me diz
desgostoso.
Eu encaro Zair, quero tanto entender a
frieza desse homem. Ele me olha sem expressão,
muito calado.
Essa tortura psicológica me deixa tensa.
Essa situação misturada as falas dele não me fazem
bem e de repente, a minhas emoções parece um fio
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tênue, prestes a se romper. Mas eu não posso


chorar. Isso é humilhante demais.
Respiro fundo e olho para frente.

Zair
Allah!
Trinco meus dentes quando vejo a
expressão de tristeza no rosto de Aysha. Ela olha
para mim sem se mover. Quieta, olhando para os
meus olhos, querendo ler minha alma e tudo que se
passa em minha mente. Luto para manter meu rosto
frio, extirpando de dentro de mim toda a bondade,
toda compaixão que eu possa ter.
Foco! Não perca seu foco! Não foi fácil
chegar até aonde chegou!
Eu fiz uma viagem até o inferno que me
permitiu voltar com esse escudo de frieza
sentimental. Ressurgi das cinzas, mais fortalecido,
mais embrutecido. Mulher nenhuma vai tirar esse
escudo que ergui com tanto sofrimento. Por isso,
não posso vacilar com meus sentimentos.
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Viro meu rosto para a janela, aniquilando


todo e qualquer pensamento que me deixe triste.
A razão é uma arma que me deixa no
poder.

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Capítulo 5

Aysha

Meia hora depois fizemos uma aterrissagem


tranquila na rica cidade de Muharraq. Catar e
Bahrein são países quase vizinhos, é só atravessar
alguns quilômetros do Golfo Pérsico que fica entre
eles.
Momentos depois estamos dentro de um
carro de luxo sendo levados para, sei lá onde.
Desde que saímos, Zair está quieto em seu canto.
Não chega a ser um silêncio opressor. A verdade
que estou meio cansada, então estou um pouco
anestesiada com tudo que estou vivendo. Agora,
nesse momento, me sinto como uma marionete,
levada pelo seu dono.
Observo tudo pela janela do carro também
quieta, com certeza onde ficaremos deve ser um
lugar espetacular.
Allah! Tudo é muito lindo, e luxuoso. O
país é riquíssimo.
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Minutos depois passamos por grandes


portões e percorremos a propriedade arborizada até
o palácio. Quando o carro estaciona em frente a ele,
o motorista desce e abre a porta do lado de Zair,
que desce em seguida. Ajeito o lenço empurrando
algumas mechas rebeldes para trás.
Zair se inclina e estende a mão para mim.
Relutante, eu pego a mão dele. Deslizando no
banco e saio do carro.
Allah! É bom esticar as pernas.
Nossos olhos se encontram, ele me pega
pelo braço.
—Vem, vem conhecer nosso adorável lar.
—Diz com um sorriso frio, com sua piada
particular, que só ele ri. Eu não acho graça
nenhuma.
Logo que entramos no grande e magnífico
hall, uma espécie de mordomo veio recebe-lo.
Muito cerimonioso, ele se inclina num
cumprimento formal quando vê Zair. Eu retiro o
lenço dos cabelos.
Mulheres e homens uniformizados estão

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alinhados um ao lado do outro para cumprimentá-


lo.
Zair recebe as felicitações do servo. E com
um ligeiro toque nas minhas costas, me apresenta a
todos os outros como sua esposa. Com um sorriso
no rosto, eles se inclinam e me bem-aventuram pelo
casamento.
Sim, vou precisar de muitas bênçãos
mesmo.
Não me lembrarei de todos os nomes, mas o
que mais me marcou foi da senhora de rosto
bondoso, Zenaide, a cozinheira. E Kamal, o
senhorzinho que recebeu Zair com sua cortesia
calorosa.
Quando todos se afastam, fico às sós com
Zair. Sinto-me novamente tensa, como se eu
estivesse desprotegida ante uma fera. E eu sei
porque, meu marido é perturbadoramente atraente e
eu não sou imune a ele. Sou mulher o suficiente
para sentir isso e sei que qualquer passo que eu der
em falso será fatal e ele não vai descansar até
conseguir o que quer.
Servos passam com nossa bagagem.
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—Esse palácio é da sua família?


Zair me encara.
—Não, esse palácio pertence ao Sheik Jair
Al koul. Amigo de meu pai. Como sabe, estou aqui
à negócios. Mas me sinto em casa. Vem, vamos até
o nosso quarto que foi separado para nós.
"Esse nosso" me faz tremer na base.
O palácio é magnífico, branco com tons
dourados. Posso apostar que os vasos dourados são
de ouro puro. Depois de passarmos por salas, áreas
de descanso, entramos em um extenso e largo
corredor. Os servos saem de uma porta e é para lá
que vamos.
Dentro do quarto luxuoso, ele se aproxima
de mim, seus olhos nos meus, consigo ver um
pequeno calor dentro deles. Ele para bem próximo
de mim.
—Não quero brigar com você. Quero que
vivamos bem, mas você me provoca. —Zair fala
tudo de um jeito apaziguador, como se quisesse paz
entre nós.
Eu abro minha boca, mas antes que eu fale,
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Zair coloca seu dedo nos meus lábios:


—Não haja como de hábito. Aprenda a
conservar sua linda boquinha fechada, mesmo que
não concorde com as coisas.
A voz dele, baixa e intensa, e suas palavras,
me fazem estremecer. Quando ele tira o dedo dos
meus lábios eu digo, quase ofegante:
—Você poderia se colocar no meu lugar.
Talvez se nos conhecêssemos melhor, não
brigaríamos tanto. Você me entenderia, e eu
também te entenderia.
O olhar dele se torna mais pesado,
penetrante.
—Impossível. Essa profundidade que você
espera de mim, não terá.
Allah! Que homem difícil!
—Por quê?
—Porque eu não quero. Está bom do jeito
que está.
—Sabe como eu me sinto? Como uma
mulher paga para fazer seu papel, uma mulher da
vida. É isso que você quer de mim?
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Ele suspira e me envolve com seus braços,


isso me faz estremecer. Sou embriagada com seu
perfume maravilhoso. Relutantemente ergo meu
rosto e vislumbro seu lindo rosto, seus olhos negros
procurando os meus. E eles são quentes, quentes
como o inferno. Parece um gênio do mal, um diabo
sedutor.
—Não se veja assim. Acho que por isso está
tão arredia. Encare por outro prisma. Que nosso
casamento é diferente.
Eu controlo minha respiração, não quero
que ele perceba o quanto estou perturbada. Se ele
perceber isso, estou perdida.
—Como não encarar assim? Você não
percebe que está me tratando como uma mulher da
vida?
Zair aperta os lábios contrariado com
minhas palavras.
—Não vou procurar nada fora. É isso que
está preocupada? Que por faltar essa profundidade
entre nós, eu vou te trair?
— Eu nem pensei nisso. Zair, casamento

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não se faz com regras, mas com confiança, com


sentimentos.
As costas de Zair retesam claramente. Ele
está tenso. Ele olha para mim como se eu tivesse o
esbofeteado. Seus olhos estão mudados, perdem
aquele calor e ele me olha com raiva. Ele está para
dizer algo, as palavras presas na sua garganta. Mas
ele desiste, respira fundo, passa a mão nos cabelos
com raiva. Solta o ar e me encara.
—Bravas palavras, se a prática funcionasse.
Fique com o quarto, vou para o quarto ao lado. Mas
não pense que desisti daquilo que planejei para nós.
Descanse agora.
—Está certo. —Digo num sussurro.
Ele vai até as malas e as leva até a porta de
comunicação, abre a porta e some por ela.
Eu solto um longo suspiro.
Ele não consegue confiar?
Ou ele agiu assim por causa que eu disse
sentimento, pois ele ainda está preso à falecida?
Zair
Mais tarde de banho tomado, usando um
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tobe branco caminho até a sala principal. O sheik


supremo Jair Al koul, dono desse palácio e
governante de um dos pontos de captação de
petróleo em Bahrein, me espera na sala.
—Zair, a paz esteja convosco.
Quando o vejo, lhe dou meu sorriso
caloroso. Eu o abraço e encostamos nossas faces
com um beijo.
—A paz esteja com você também.
—Felicitações pelo seu casamento.
—Obrigada.
—E sua linda esposa?
—Descansando por causa da viagem.
—A pequena Samira veio com vocês?
Meu coração se agita de uma maneira
estranha.
—Não, ela ficou.
Ele me olha com as feições com um ar
consternado.
—Desculpe-me atrapalhar sua estadia, mas
estamos com um problema. Creio que isso merece
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sua atenção.
—Tudo bem, estou aqui para isso.
Eu pego a pasta que ele me estende.
Trata-se de um relatório das falhas na
captação do fraturamento hidráulico. Abro e leio:
Ele diz que o processo se iniciou com uma
perfuração de 3 km de profundidade, onde a
tubulação foi numa trajetória horizontal. Ao se
deparar com as formações rochosas, é iniciado o
fracking, através da tubulação e foi despejado uma
mistura de grandes quantidades de água e solventes
químicos comprimidos. Só que isso não está
fragmentando a rocha como deveria.
—Você falou com o geólogo?
—Ele disse que o problema não é o solo.
Respiro fundo, enquanto ouço a explanação
do Sheik supremo.
Allah! Eu estou hospedado aqui não para
divertimento, mas por causa do meu trabalho e sei
que isso tem urgência!
Respiro fundo, não quero deixar Aysha
sozinha. Já estamos numa situação complicada, por
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minha causa, eu me forço a lembrar. Imagine eu


distante dela. As coisas podem piorar.
— Como quer que eu lide com esse
assunto?
O olhar do Sheik se torna firme.
— Não tem como adiar. Você precisa estar
no local.
Eu aceno com a cabeça respeitosamente.
Ideias fluem na minha cabeça. Não com relação ao
trabalho, mas com Aysha.
—Dê-me um dia e eu estarei pessoalmente
nas instalações.
—Perdoe-me por interromper os dias que
você poderia passar sossegado com sua esposa.
Mas estamos perdendo tempo e tempo é dinheiro.
Eu aceno com a cabeça, num gesto de
aceitação.
—De maneira nenhuma interrompe. Ela irá
comigo.
O sheik tosse, como que engasgado.
—Ela irá? Mas lá as acomodações são
simples. No meio do nada. Você está acostumado
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ao rigor do deserto, mas ela?


—Tendo um bom ar-condicionado no nosso
ninho de amor está ótimo e acredito que em dois
dias tudo será resolvido.
—Dois dias e mesmo assim quer levá-la?
— Sim, eu sei o que estou fazendo. Faço
questão. Será uma grande experiência para ela.
—Está certo. E vocês aqui? Tudo certo?
—Sem dúvida. Obrigada por ter cedido o
palácio.
Nos despedimos com um abraço e um
encostar de faces.
Estou acostumado com lugares inóspitos. Já
fui militar, acampei no deserto, e aprendi todas as
formas de combate. Somente com vinte e cinco
anos assumi os negócios de meu pai, que foi o
tempo que conclui meus estudos na academia.
Entre treinamentos, e combates, fiz engenharia de
produção.
Aperto meus lábios quando o passado me
assombra novamente. Reminiscências poderosas
vêm à tona, orgulho ferido, a fúria que senti ao ser
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enganado... memórias perturbadoras que levei


longos meses para esquecer.
Tanto preparo para batalhas, para guerras
não me prepararam para reconhecer as pessoas.
Sinto a mandíbula tremer de raiva e respiro pesado.
Que homem gosta de lembrar-se do otário que um
dia foi? Por isso afasto meus pensamentos e volto
ao presente.
Resolvo ir até o quarto de Aysha,
comunicar minha decisão dela ir comigo e chama-
la para o jantar. Duvido que dentro das instalações
simples que ficaremos, só eu e ela, Aysha não se
dobre às minhas vontades.
Caminho pela casa, tentando manter minha
compostura. Só de pensar nisso meu coração se
agita no peito.
Sem bater abro a porta do quarto dela.
Allah! Clamo no coração.
Aysha está com uma combinação de mini
blusa e short rosa. Os cabelos presos num rabo de
cavalo e um iPod na mão ela se exercita. Está no
chão fazendo abdominais.

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Passo os olhos por suas pernas e seus seios


preponderantes naquela camiseta apertada. Por
causa do som no ouvido, ela não me ouviu entrar.
Sim, ela tem trabalho para manter o corpo
em forma. Fascinado fico ali, na soleira da porta,
assistindo sua performance no exercício. Meu
corpo arde em desejo quando vejo o quanto suas
pernas são bem torneadas.
Preciso tê-la!
Sinto aquele sentimento de arrependimento
por ter me aberto com ela desde o início. Eu
deveria ter conversado com ela depois da noite de
núpcias.
Idiota! Eu a afastei de mim. E começo a me
xingar mentalmente.
Seu grande Otário!
Quando ela se levanta, fica de costas para
porta, abre as pernas e em seguida toca o chão com
os dedos. Seu lindo traseiro está voltado na minha
direção. Sua cabeça enfiada no meio das pernas,
então seus olhos encontram os meus.
Ela se ergue rápido e se vira.
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—Deveria ter batido. —Diz, seca, tirando


os fones dos ouvidos.
Senti uma vontade quase irrefreável de
perguntar que tipo de música ela está ouvindo, mas
me contive e respondo num tom autoritário:
—Você é minha esposa, não preciso bater
na porta para vê-la. Lide com isso!
—Algum problema? —Ela diz e cruza os
braços.
—Precisamos conversar.
Ela respira fundo, ajeita uma mecha rebelde
de seu cabelo atrás da orelha. Percebo que ela está
perturbada com a minha presença. Isso é um bom
sinal.
—Pode ser outra hora? Preciso me trocar.
Eu passo os olhos pelo seu corpo gostoso,
respiro fundo.
—Tudo bem. Você tem meia hora. Te
espero na sala.

Aysha

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Quando Zair sai do quarto, eu desmorono


na cama, minhas pernas bambas, parecem geleias
Recomposta, vou até o banheiro e me tranco
nele. Tenho que ficar esperta. Eu deveria ter
tomado essa atitude com a porta do quarto.
Tomo um banho rápido e coloco um caftan
verde-escuro. Faço uma maquiagem leve e tento
me lembrar do caminho até a sala.
A encontro logo.
Zair está no sofá, seu semblante pensativo.
Quando ele me vê, aponta com o dedo um lugar ao
seu lado.
Relutantemente eu me sento.
—O Sheik Koul veio aqui. Vou precisar
trabalhar em campo. Acho que dois dias resolvo
tudo.
—Bem, é isso? Irá amanhã? —Eu digo,
com um sorriso doce.
—Sim. —Zair diz com aquele sorriso que
não gosto.
—Bom trabalho. Pode deixar que fico
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quietinha no palácio, bancando a boa esposa.


—Quem disse que ficará? Você irá comigo.
Há um baque no meu coração, quando me
dou conta de suas palavras.
—Eu...irei?—Gaguejo.
— Lamento desapontá-la, sim, você irá.
—Ficarei em um hotel enquanto trabalha?
—Pergunto preocupada, já imaginando nós dois em
um quarto.
Zair gargalha. Até sua risada é gostosa!
Allah! Mas eu não gosto disso!
—Quando disse que irei a campo, quis dizer
no meio do deserto. Mas não se preocupe, que não
ficaremos em cabanas como antigamente. Hoje
tudo é mais moderno. Ficaremos em um
alojamento.
O quê? Alojamento?
—Eu não quero ir. —Vou logo dizendo.
Seus olhos negros brilham em desafio. E, o
que é mais intrigante, parecem cheios de mistérios.
—Isso não é algo a ser discutido. Você é
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minha esposa, então irá. Você nunca teve


curiosidade de conhecer o deserto?
—Puxa! Não acredito nisso! Os meus
sonhos se tornaram realidade! Tenho um marido
perfeito e agora vou conhecer o deserto. —Digo
jocosa.
Zair me olha imperturbável.
—Bem, é isso. Já desfez as malas?
—Sim.
Ele dá um sorrisinho e então se levanta:
—Então arrume. Vou falar com Zenaide
para pôr a mesa.
Arrogante! Digo mentalmente vendo ele
sair com raiva dessa situação.
Pouco depois ocupamos nossos lugares à
mesa. Eu me sirvo de tabule e kafta, ambos estão
com uma cara ótima. Zenaide se aproxima da mesa.
—Está tudo ao seu gosto, excelência?
—Está ótimo.
—E você, princesa Aysha? Precisa de mais
alguma coisa.

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—Não, obrigada Zenaide.


Ela se inclina e se afasta. Eu evito os olhos
do meu carrasco e volto minha atenção ao meu
prato. Comemos em silêncio, cada um preso aos
seus próprios pensamentos.
Quando finalizo minha refeição, me
levanto.
— Lailah sa ʿ īdah. (Boa noite)
—Sente-se. Precisamos acertar alguns
detalhes. —Ele diz passando o guardanapo na boca.
Seu sorriso é de superioridade. Eu respiro fundo e
me sento me perguntando que assunto é esse agora.
—Como sabe, nosso casamento teve um
motivo. E o maior deles é mostrar a todos que eu
segui minha vida. Já que o luto por muito tempo é
haraam.
Eu suspiro.
— E?
Zair sorri friamente.
—Com certeza você conhecerá o Sheik
supremo, e algumas autoridades.
Estou tão cansada.
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—Por favor, vá direto ao ponto.


—Tudo bem. Direto ao ponto. Nós
bancaremos um casal de apaixonados.
Eu acho graça.
—Em Bahrein? Com a mentalidade daqui?
Zair ri.
— Vejo que não compreendeu o que quero
dizer. Sua linguagem corporal pode ser sutil, desde
que seja eficiente. Não trocaremos beijos ardentes
em público, mas andaremos de mãos dadas,
trocaremos olhares, mostrando o quanto nos
amamos.
Sim, ele é descarado o suficiente para
sustentar esse tipo de encenação!
— Eu sou péssima atriz. —Digo, estudando
a expressão dele. E bebo um gole de água.
—Se precisar, podemos praticar, pois a
situação pode exigir medidas extremas.
Eu engasgo, tusso bastante.
Allah! Pisco. Meus olhos se voltam aos seus
olhos fixos em mim, ele não está brincando com as
palavras, ele está falando muito sério.
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—Zair, me joga ao vento, por favor. Juro


que não conto o que aconteceu no quarto. Diga que
eu não sirvo como esposa. Que somos
incompatíveis. Eu juro que sobrevivo.
Zair sorri, sei que algo permeia seu cérebro
maquiavélico.
—Eu adoro desafios, Aysha. E você se
tornou um. Estou adorando nosso casamento.
Esse homem é um bárbaro.
—Você é sádico.
Zair rir.
—Não duvide. Você ficaria admirada com o
que eu poderia obrigá-la a fazer, se quisesse.
Isso foi uma ameaça velada.
Eu pisco, aturdida com suas palavras.
Reconheço cada estado de espírito de Zair:
Arrogante. Debochado. Bravo.
Mas esse tom é diferente: Perigoso. Muito
seguro de si. Estou dando bandeira ou ele está
jogando comigo. Contudo, não estou em condições
de tentar entender e digo:
—Olha, estou cansada. Vou me deitar. Que
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horas sairemos?
—Depois do almoço.
Aceno com a cabeça e me levanto. Saio da
sala me sentindo esvaída de minhas forças. Brigar é
como dar murro em ponta de faca. É uma luta
desleal.

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Capítulo 6

Apesar dos pesares, eu durmo bem. Basta


colocar minha cabeça no travesseiro e apago com o
sono dos justos. Mas essa noite demorei para
dormir. Fiquei rolando na cama.
Quando durmo, fujo da realidade. Vou para
uma outra dimensão. Esqueço-me da minha prisão,
do meu isolamento. Da minha sina. Mas essa noite
fiquei pensando em que lugar ficaremos, se teremos
que dividir a mesma cama e isso me tirou o sono.
A dura realidade me assola.
Desde que me conheço por gente, meu pai
me preparou para esse casamento, mas não me
preparou para o homem frio e arrogante que eu iria
enfrentar. Eu me sinto desarmada com essa
situação.
De manhã espreguiço-me na cama e abro os
olhos lentamente. Quando rolo meu corpo para ver
às horas, meus olhos focam Zair sentado em uma
cadeira com um sorrisinho cínico no rosto. Ele me
observa daquele jeito que me constrange, é como se
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estivesse me admirando, ou não sei, vai ver é isso


que quero acreditar.
—Até que enfim acordou.
Meu coração está disparado com a presença
perturbadora dele.
—Allah! Você parece uma assombração.
—Assombração? —Ele pergunta tentando
entender.
Eu seguro um riso.
—Taradud. —Traduzo no árabe.
Ele ri. Parece de bom humor. Claro, está
arquitetando algo.
—Não, habibi, estou bem vivo.
—Isso eu estou vendo. Posso saber o que
está fazendo no meu quarto?
—Habibi, os empregados podem comentar
ao me ver longe da minha esposa amada. Pode
circular boatos sobre nosso casamento, comentários
que não aprovo e que quero evitar. É natural que eu
passe o dia com a minha linda esposa.
Eu bocejo, passando uma tranquilidade que

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não sinto.
—Tudo bem, Zair. —Digo com um suspiro.
—Agora, me dê licença que vou me trocar.
Podemos nos encontrar na sala?
—Sua bagagem é esse aí? —Ele aponta a
mala que fiz ontem.
—É.
—Ótimo. Vamos tomar café juntos, depois
quero dar uma circulada na casa em companhia de
minha linda esposa.
—Faz parte da encenação? —Questiono.
Ele ri, mas seu sorriso não toca seus olhos,
sempre frio.
—Quero que se acostume comigo. Estive
pensando e acho que você tem razão. Devemos
passar o tempo mais juntos.
—Eu ouvi bem? Você disse que eu tenho
razão?
Zair não responde e se levanta.
—Te espero na sala.
Quando ele sai, eu passo a mão na testa em

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alívio. Ainda sinto o cheiro dele no meu quarto.


Esse homem é imprevisível, e cada vez mais me
sinto emaranhada em suas teias de sedução.
Preciso ficar esperta!
Tomamos café juntos. Zenaide, muito
prestativa, não sabia o que fazer para agradar o
príncipe. Engraçado que com os funcionários, Zair
se mostra autêntico. Seu sorriso é genuíno,
caloroso, ele os trata bem. A frieza é só comigo
mesmo.
Será que ele se culpa por me colocar no
lugar da falecida?
Ergo meu rosto e o avalio com os olhos.
Seu semblante é pensativo.
—Terminou de comer? —Ele me questiona.
Aceno com a cabeça um sim.
Zair se levanta e me ajuda com a cadeira.
Ele está muito estranho, deve está armando
algo.
—Obrigada. —Digo com sorriso nervoso, o
estudando com os olhos.
—O que foi? —Ele questiona sorrindo
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também.
—Nada. —Digo, meu nervosismo
aumentando mais um ponto. —O que pretende
fazer agora?
—Eu não. Nós. Pensei em andarmos pelo
palácio. Zenaide me disse que tem um lindo
orquidário seguindo pelo corredor externo.
Ele está tão gentil que meu coração se agita,
e isso me deixa mais alerta. Se ele pensa que irá me
conquistar por estar mais receptivo comigo, ele
pode esquecer!
Eu quero esse homem por inteiro. Preciso
sentir sua entrega. Só então vou abrir meu coração,
e me lançar nessa relação, entregando meu coração,
meus sentimentos e meu corpo.
Zair pega meu braço e me conduz por um
instante até a parte externa. Eu estremeço com seu
gesto. Ao mesmo tempo, não me sinto à vontade
com ele e meu nervosismo aumenta.
—Gostou do palácio? —Ele me pergunta.
—Muito lindo.
—Gosta de flores?
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Eu fungo.
—Gosto.
—Esse orquidário tem todas as espécies. O
Sheik é um colecionador. Tem orquídeas de todo o
mundo.
—Incrível! —Digo com um ânimo que não
tenho.
Sinto os olhos de Zair em mim enquanto
caminhamos.
—Você sabia que novas integrantes, podem
levar doenças ou fungos para todo o orquidário?
—Não!
— Aysha, assim fica difícil. Estou aqui,
tentando me aproximar de você, mas você só me
vem com monossílabos.
Eu paro no meio do caminho e encaro Zair.
Sim, um lindo palácio. Ambientes
maravilhosos se revelam ao meu redor, uma
conversa interessante, mas isso se o nosso
casamento fosse normal.
— Difícil? Eu não quero saber sobre
botânica. Você poderia começar me contando o que
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o aflige. Por que tanta raiva? Tanta frieza?


Zair ofega.
— Sinto informá-la, mas minha vida não é
um livro aberto. Olhe tudo ao nosso redor. A beleza
do ambiente, estou sendo educado, tentado ser
agradável e mesmo assim seu foco permanece em
querer saber da minha vida.
—Isso chama-se casamento! —Contesto,
respirando fundo.
Zair me abraça como se eu fosse sua mulher
amada.
— Aysha, Aysha...facilita as coisas. —Ele
se afasta e procura meus olhos. —Sei que fui muito
duro com você, mas o que vejo como felicidade é
isso. Gozar vida e tudo que ela possa oferecer. Por
que complicar as coisas? Serei um marido fiel.
Nada te faltará.
Vejo que realmente ele acredita em suas
falas. Ele realmente acredita que isso lhe trará
felicidade. Eu respiro fundo, tentando me acalmar.
Quem ouve ele falando assim parece que está com
a razão e eu sou a chata. Mas me incomoda muito

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essa superficialidade na relação.


Meu coração se agita mais do que eu
gostaria quando seus olhos passam pelo meu rosto,
estudando minha reação.
—Adianta contestar? Você já tem uma
opinião formada a respeito de nossa relação. Então
você insiste na superficialidade?
Zair sorri, de maneira tão fria, mas eu
consigo ver calor nos olhos dele. Ele nem sabe que
transparece isso. Tenho certeza que ele pagaria até
essa chama se soubesse.
—Sim, e então, vai colaborar comigo?
Sei muito bem que colaboração ele se
refere. Eu mudo de assunto.
—Vamos ver as orquídeas? Eu prefiro essa
conversa.
Zair funga alto quando entende que não
concordo com a vida que ele vê como um paraíso.
—Vem, é por aqui.
Caminhamos em silêncio, logo que
chegamos meu queixo cai. O orquidário é
simplesmente maravilhoso. Ele é todo de vidro e
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abriga milhares de espécie de orquídeas


exuberantes. A beleza do lugar é muito além do que
eu esperava. São tantas cores, tantos formatos e
tamanhos que me sinto dentro de um santuário.
Duas mulheres vestidas de túnicas brancas
estão nos corredores, podando, regando, colocando
adubo.
—Que lindo! —Digo, sem conter um
suspiro alto.
Sinto a mão quente de Zair na minha, pois
eu estaquei em frente à porta de vidro sem
conseguir me mexer.
—Vem habibi. Vamos ver tudo de perto.
Eu sorrio de leve e me deixo ser conduzida
por ele. São tantas espécies que eu levaria um dia
inteiro para ver todas com detalhes.
Encantada, ao lado de Zair, observo cada
flor, cada formato e suas mais variadas cores. Tiro
meu celular do bolso e me posiciono ao lado de
uma flor maravilhosa, ela é azul e branco.
—Você pode tirar uma foto para mim?
Quero mandar para meus pais e para Layla.
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Zair pega meu Iphone. Mas ele se demora, e


fica fuçando no meu celular. Sua expressão é
pesada.
—Não achou a função, câmera? —
Questiono.
Zair não responde. Eu vou até ele e retiro
meu celular de suas mãos.
—Você estava lendo minhas mensagens?
Ele aperta os lábios.
—Estava, e daí? E quem é esse Adam? —
Ele então entorta a boca e faz trejeitos dizendo: “Oi
Aysha, espero que esteja bem. Saudades!”
Não sei se rio ou se choro. Trágico para ser
cômico.
Sério isso?
Ele é meu primo, mas não quero que ele
saiba.
—Por que você quer saber? —Questiono,
ainda admirada com a atitude dele.
Ele olha para as servas do orquidário e fala
em árabe com tom autoritário: yughadirun! (saiam)

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Elas fazem uma mesura e somem. Ele olha


para mim com sangue nos olhos.
—Por que eu quero saber? — Ele urra. —
Você é minha esposa!
Eu dou risada.
—Ah, sua esposa? Superficialidade lembra?
Eu não sei da sua vida, então não saberá da minha.
E não tem o que se preocupar. Eu estou há milhões
de distância dele.
—Aysha! Quem é esse homem? —Ele pega
meu braço e aperta como um alicate. —Você é
mesmo virgem? É por isso que não transamos?
—Você está me machucando.
Zair aperta mais meu braço.
—Aysha, quem é esse homem?
Allah! Aperto os lábios e cuspo as palavras:
—Meu primo!
Ele olha no meu rosto buscando a verdade.
—Não sei. Você pode estar mentindo.
—Se não acreditar, ligue para o meu pai!
Ele ofega.
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Espero que ele não faça isso! Estou


esperando-o se negar e dizer que acredita em mim.
—Ligue agora e pergunta de seu primo na
minha frente. —Ele diz autoritário.
Allah!Mas que raiva me dá por ele não
acreditar na minha palavras. Eu o fuzilo com os
olhos. Pego o celular e clico o número de meu pai.
—Alô, pai, é Aysha.
Silêncio do outro lado da linha.
—Por que está me ligando na sua lua de
mel? Aconteceu alguma coisa?
—Sim, aconteceu. Explique quem é Adam
para Zair. Ele me mandou uma mensagem agora.
Jogo meu iphone em Zair, que pega no ar.
Eu me afasto com raiva. Aperto meus passos em
direção a saída.
Momentos depois, já no corredor, sinto os
dedos dele no meu braço.
—Espere Aysha.
—Solte-me. —Digo irada e me desvencilho
dele.

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E aperto meus passos, depois corro para


qualquer lugar, mas bem longe dele.
No momento não quero ver a cara desse
infeliz.
O que é isso?
O senhor superficial quer a profundidade de
um relacionamento quando lhe é conveniente?
Encontro o caminho do meu quarto, entro
nele, quando estou para fechar a porta, Zair coloca
o pé e entra. Eu me afasto, ofegante.
Seu rosto é duro.
Ele ainda acha que tem razão?
—Que atitude foi essa de me deixar falando
sozinho?
—A atitude de uma mulher ultrajada, por
você pensar mal dela.
Zair fecha as mãos, parece um touro
enfurecido.
—Pensar mal? Eu sei muito bem que não
teria se casado comigo se não tivesse sido obrigada.
Percebi seu jeito quando fui à sua casa! Então nos
casamos e você vem cheia de não me toques, forjei
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sua inocência e agora vejo essa mensagem, o que


você quer que eu pense?
Seus olhos intensos viajam todo o meu
rosto, me confundindo por um momento quando ele
passa a língua ao longo de seus lábios carnudos.
Finalmente eu respondo:
—Isso é culpa da superficialidade de nossa
relação! Você não me conhece direito. Então, não
transfira a culpa para mim.
Ele se aproxima mais.
—Eu não concordo. Podemos viver uma
vida com uma pessoa e mesmo assim não conhecê-
la direito.
Ah! Essa é boa!
—Tem como discutir com você, hein, dono
da razão?
—Allah! —Ela passa a mão nos cabelos
num gesto irado. —Aysha, é natural que eu esteja
assim. —Ele diz ofegante, e baixa o tom de voz e
olha para os lados: —Você sabe muito bem o que
aconteceu na noite de núpcias. Quem me garante
que é virgem?
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Mundo machista!
Será que seu eu não fosse ele me jogaria ao
vento?
Um arrepio corre a minha espinha.
Não, nem pensar. Eu seria humilhada e
meus pais me trancariam em casa. Eu acabaria uma
velha solitária.
Ele olha para mim mais duro a cada
segundo.
— Eu te falei que era meu primo e mesmo
assim você quis falar com meu pai. —Digo irada.
Seus olhos observam minhas mãos
trêmulas. Imediatamente eu as coloco atrás do meu
corpo. Eu não quero que ele veja o quanto estou
abalada.
—Baixe seu tom de voz. Acalme-se. —Ele
me diz passando os olhos pelo meu rosto vermelho.
—Vou me acalmar, se você sair do meu
quarto.
—Tudo bem. Hoje almoçaremos mais cedo,
depois partiremos. — Ele diz com o queixo
erguido.
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Esse ar superior...
Quero dar na cara dele. Experimento uma
raiva tão grande que cruzo os braços para me
controlar e não esganar esse pescoço arrogante.
—Está certo.

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Capítulo 7

Estou no meio do nada, no deserto. O


alojamento tem um tamanho razoável, ele é
simples, todo aberto, sem separação por paredes, ou
seja, da porta temos uma visão de tudo, cozinha,
sala, quarto, banheira e apenas aonde fica o vaso
sanitário é fechado. Ele é bem limpo e quente.
Puxo o lenço que cobre meus cabelos e
começo a me abanar com ele, já me sentindo
irritada com o calor.
—O ar condicionado já deveria estar ligado.
Vou ligar e você verá que dissipará o calor.
Allah! Como se isso melhorasse alguma
coisa.
Estou surpresa por Zair, príncipe do clã
dele, riquíssimo, se sujeitar a isso. Eu nunca morei
assim, sempre vivi muito bem, e devo admitir que
graça à família dele. O que me preocupa agora é
essa banheira sem uma cortina, exposta. A sala não
tem sofás, apenas almofadas e um aparelho de som.
Teremos que dividir a mesma cama.
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Claro que ele sabia! Armou tudo!


Olho para Zair, mas ele está com o controle
remoto, regulando a temperatura do ar
condicionado.
—Pronto, habibi.
—Não me chame de habibi. Não sou sua
habibi.
Zair sorri.
—Não se irrite por isso, e você não sabe
que é costume chamarmos assim os mais
próximos?
Como é cínico!
— Não sou nenhum idiota, sei exatamente o
que pretende me trazendo para cá. — Digo,
observando ele, meu semblante é fechado.
—Você reclama que sou distante, quer estar
mais próximo que isso? —Ele pergunta, cínico
abrindo os braços e apontando o lugar.
Eu providencio uma risadinha.
—Peroba!
—Peroba? —Ele questiona sem entender.

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Contive a risada.
—É seu cara de pau.
Ele cruza os braços.
—É assim agora? Falará comigo em
códigos?
Eu não consegui deixar de rir.
—Estou cansada Zair.
—Deve ter me chamado de algo bem rude e
grotesco.
— Eu diria que é ser honesta.
Ele respira fundo.
—Honesta? Seja clara, aí sim verei
honestidade.
Eu fungo.
—Significa sakhir. Ou seja, cínico.
—Está certo. —Ele começa rir e abrir os
botões da camisa. Então puxa o zíper da calça.
—Allah! O que está fazendo? —Pergunto,
dando as costas para ele.
—Vim aqui para trabalhar, estou vestindo
as roupas de trabalho. À propósito, você terá que
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cozinhar.
Eu esqueço que ele está se vestindo e me
viro.
—O quê?
Ele está só de cueca, e eu assustada lhe dou
as costas novamente. Mas antes disso vislumbro o
sorriso de Zair achando graça da minha atitude.
—Latahi altaeam. (Cozinhar)
—Eu entendi a palavra. —Digo com raiva.
—Não sei se vou me dar bem nessa cozinha.
—Pronto, habibi, pode se virar.

Eu me viro e dou com Zair com um thobe


branco. Agora ele está sentado numa poltrona
tirando os sapatos e colocando sandálias nos pés.
—Pensei que fosse criada para ser uma boa
esposa.
Eu não me acostumo com isso!
Machista!
—Eu tive outros ensinamentos. Estudei até
o ensino médio, como viu, falo bem o árabe. —
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Digo orgulhosa. —Mas cozinhar, não aprendi


direito. Você é um príncipe, nunca pensamos que
fosse precisar de uma mulher com esses atributos,
mas sim inteligente ao seu lado.
Zair, sorri.
—Sei, sei, sei. Fico me perguntando o que
você aprendeu no quesito boa "esposa"?
Aperto minhas mãos uma na outra e entorto
meus lábios.
—Tive que decorar uma lista com seus
gostos, sei tudo o que gosta e o que não gosta, mas
isso tudo foi para governar uma casa, e não ser
governada.
Ele busca meus olhos e ri.
—Está certo, mas não se preocupe. Pedi
para encher a geladeira com alimentos de fácil
preparação, é só esquentar. Você poderá fazer
saladas também, tem muita verdura, frutas e
legumes. Abuse de sua imaginação. Você já tem a
listinha na cabeça o que gosto e o que não gosto.
—E o que eu gosto? Você um dia se
interessou em saber?
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O sorriso de Zair não morre, ele continua


cínico.
—No jantar você me conta. Está bom
assim? — Ele então se levanta. E enrola um
turbante dourado na cabeça. — Bem, o trabalho me
chama. Boa tarde para você.
Ele caminha tranquilamente para fora do
alojamento. Eu respiro fundo e vou até a janela.
Homens de thobe branco e turbante negro, logo que
o avistam, o cercam e lhe dão um capacete de
segurança amarelo. Zair sobe então dentro de um
jipe e eles partem.
Primeira coisa que verifico é se a porta tem
tranca. E com alívio a tranco.
Aproveito que ele saiu para tomar banho.
Abro a torneira da banheira e a coloco para encher.
Tiro minha roupa e fico de molho, aproveitando a
paz momentânea.
Depois do banho, coloco roupas mais leves,
um caftan branco e me deito na cama, como não
dormi bem à noite, logo pego no sono.
Acordo estranhado o lugar, o cheiro de

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comida gostosa envolvendo o ambiente me deixa


mais confusa ainda. Meu estômago ronca. De
repente, me dou conta de onde estou. Assustada me
sento. Lanço um olhar para a cozinha. Zair está lá,
se movimentando nela com um pano de prato
jogado no ombro.
Fico espantada com isso. Nunca imaginei
que Zair cozinhasse.
Ele relanceia os olhos na minha direção e
nossos olhos se encontram. Ele fixa o olhar na
minha figura sentada na cama olhando para ele com
espanto.
Claro que ele tem uma chave extra!
—Dormiu bem? Você roncava tanto, que
resolvi fazer o jantar.
Fico vermelha com as falas dele, então ele
completa com um sorriso:
—Estou brincando.
—Palhacinho...
—Como?
Eu respiro fundo.
—Mahraj.
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—Sabe que com você estou enriquecendo


meu vocabulário? —Ele diz debochado.
Eu aperto meus lábios para não rir, mas não
tem jeito lhe dou um sorriso. A comida que ele está
fazendo borbulha e isso tira sua atenção de mim.
Ele desliga o fogo e pega a panela com um pano e a
leva até a mesa.
—Vem, vamos jantar. Fiz uma comida leve.
—Então ele ri e confessa. —Na verdade, é minha
especialidade.
Esse homem não existe!
—Vou usar a toalete primeiro. —Digo séria
novamente e me levantando, caminho até aquele
espaço minúsculo que é o banheiro. Fecho a porta.
Depois de usá-lo lavo as mãos na pequena
pia e respirando fundo abro a porta. Zair está
sentado me esperando, seu semblante é pensativo.
Quando ele me vê, se levanta e puxa a minha
cadeira.
Tudo isso não me deixa tranquila, ao
contrário, eu fico mais tensa com o jeito tão
conquistador dele, pois sei que isso é um castelo de

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areia. É só ele conseguir o que quer, vai


desmoronar.
—A comida parece saborosa.
—Esse é um prato milenar. Cozido de carne
de carneiro e lentilhas. Prove!
Eu pego a concha e coloco uma porção no
meu prato. Fecho os olhos sentindo o aroma
gostoso. Pego a colher e provo.
—Hum, está muito bom.
—Que bom que gostou.
—Onde você aprendeu a fazer?
Sua expressão é impassível, ele mastiga
calado por um momento antes de responder:
—No exército.
—Entendo. —Digo desviando os meus
olhos dos dele.
Sim, a mãe dele relatou mesmo que ele
tinha se alistado. Ela fez um breve relato de sua
vida, inclusive me contou a história dele com
Amina.
Ele devia gostar muito dela...

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—E então, me diz. O que gosta de comer e


o que não gosta? —Zair me pergunta depois de
colocar outra colherada do ensopado na boca.
—Pensei que seguisse às tradições.
Ele olha de um lado para o outro.
—Está vendo alguém aqui? É bom quebrar
as regras de vez em quando. E as coisas andam tão
difíceis entre nós que não sei se teremos uma boa
conversa depois.
Esse homem! Não se impressione com ele,
você sabe muito bem o que ele quer. Depois que
tudo acabar, ele volta ao seu estado normal.
Glacial.
Com o coração agitado digo.
—Eu não sou chata para comer. Mas claro
que tenho predileção.
—E qual é a sua comida predileta?
—Por incrível que pareça gosto de todo tipo
de ensopados.
Os olhos de Zair ficam intensos sobre os
meus.
—Pontos para mim, então.
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Eu engulo em seco e aceno um sim. Por um


momento fico presa nos olhos dele, fascinada com
as linhas fortes de seu rosto e seu sorriso, quando
me dou conta que o olha como boba, volto a
atenção para o meu prato.
Depois que jantamos, eu me levanto e
começo a tirar tudo da mesa. Zair se afasta, mas
evito olhá-lo.
Depois que tiro os pratos, os lavo na
pequena pia. Guardo as sobras na geladeira. Ergo
meu olhar e vislumbro o corpo nu de Zair entrando
na banheira. Engulo em seco e desvio meus olhos
rapidamente de sua figura tão máscula.
—Pode olhar, habibi. Sou todo seu. Hum,
que delícia. —Escuto a água espalhando para todos
os lados.
Olho novamente para ele, Zair está dentro
da banheira que fica em frente a cama, então, claro
que não vou para lá. Constrangida, tento ignorá-lo.
Caminho até a sala em direção ao som. Procuro cds
de música, não há nenhum.
Para que um aparelho de som, se não há
nada para ouvir?
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—O pen drive, coloquei ao lado do som. —


Ouço ele dizer.
Eu ergo meu rosto vejo Zair de um jeito
muito sexy, esparramado na banheira, um sorriso
lindo enfeita seu rosto.
—É seu? —Questiono.
—Sim. Quem sabe gostamos das mesmas
músicas?
Estremeço com isso, duvido!
Coloco o pen drive no encaixe e seleciono
USB. A música se inicia.
Amr Diab - Sadakiny khalas
Sadaani khalas, Men bein el nas, Habeitak
wekhtartak leya.
(Acredite em mim e basta entre todas as
pessoas, eu tenho te amado e escolhido você para
mim.)
Allah! O quê?
Música romântica?
Tá de brincadeira!
Avanço.
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Tamally Maak
Tamally maak We law hata ba eed any, Fe
alby hawak.
Tamally maak tamally fe baly we fe alby
Wala bansak Tamally waheshny, Low hata akoon
waiak.
(Eu sempre estou com você. E até mesmo
quando você está longe de mim. Seu amor está em
meu coração. Eu sempre estou com você. Você
sempre está em minha mente e em meu coração. Eu
nunca a esqueço. Eu sempre sinto falta de você. Até
mesmo se eu estou com você.)
Avanço.
Dayman Maak (sempre com voce) - Tamer
Hosny

Dayma maeak law Fa alkhayal Habibi


wa'aqrab hadin
Mahma alwaqt tal Waka'ana hasis Min
zman Fa yawm hunbqaa libaed Zaa maqilbaa qal
Sempre com você mesmo. Se estivesse na
minha imaginação. Querido, e o mais próximo. Não
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importa que o tempo seja longo. ...


Desligo o som.
—Não gostou das músicas, meu anjo?
Lanço um olhar para Zair, e quase caio de
costas. Ele está em pé na banheira, o corpo moreno
exposto, as gotículas de água correm, enquanto ele
passa a toalha no rosto.
Eu do-lhe às costas, ofegante:
—Zair, eu nem vou me dar o trabalho de
responder. Mas já entendi tudo. Esse jantar feito
por você, essa música, essa casa sem paredes, essa
única cama e sem sofás.
Escuto ele sair da banheira e permaneço ali,
estacada, sem me mover. Ofegante.
Seus braços me envolvem, prendo a
respiração quando seu cheiro limpo invade minhas
narinas.
—Nunca dê as costas para o inimigo.
Ele me faz virar para ele. Ele está só de
cueca. O peito nu, cheiroso. Seus olhos negros
passam pelo meu rosto assustado.
—Inimigo?
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Meu coração parece um pombo batendo


asas, ele quer sair do meu peito.
—Não é assim que me vê? —Ele pergunta
sedutor, me trazendo mais para ele. Eu me sinto tão
fraca, tão sem forças...
Allah! Clamo quando ele desce sua boca
tentadora e toma a minha. O termo beijo se torna
uma nova definição para mim, pois ele me devora
com seus lábios. O meu corpo todo treme
involuntariamente encostado ao seu.
A sensação é maravilhosa, mas a dor se
torna esmagadora demais, pois sei que terei só isso
desse homem e eu estou me apegando demais a ele.
Uma mão se move para o meu cabelo e
agarra um pedaço dele de modo que meu rosto se
incline mais para trás. Sua boca escorrega pelo meu
queixo e desce pelo meu pescoço. E eu fico numa
luta dentro de mim dizendo para eu o brecar,
enquanto eu gemo de prazer.
Então ouço o som do celular, e pela
musiquinha tocada, não é meu, mas dele. Isso me
faz voltar para a realidade eu o afasto de mim com
força, ofegante. Saio de perto dele e me refugio no
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banheiro. Não consigo parar de tremer, de onde


estou ouço Zair blasfemar antes de atender, começa
a falar em árabe.

Zair

Blasfemo.
Justo agora essa merda toca!
No visor, minha mãe.
—Oi, mamãe. Algum problema? —
Questiono, ofegante.
—Algum problema? Eu que te pergunto?
Liguei para o palácio e me disseram que você
viajou com Aysha a trabalho.
Mas que merda!
—Sim.
—Não tinha como adiar isso?
—Não, eu precisei estar no local, e ainda
não resolvi o problema.
—Não me diga que você a levou para esse
lugar horroroso em sua lua de mel?
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—Hum hum.
—Zair! Fi sabil Allah! (Pelo amor de Deus).
Você nunca levou Amina para um lugar desses! O
que deu em você para levar Aysha até aí?
Talvez esse tenha sido meu erro, enquanto
eu viajava e me matava de trabalhar, ela se
encontrava com seu amante.
—Achei errado deixa-la sozinha.
—Mas tem hotéis, sei que não muito
próximos, mas não custaria nada você se deslocar,
perder um tempo a mais.
—Ela queria conhecer o deserto.
Minha mãe funga do outro lado.
—Conhecer o deserto? Aí nem tem dunas,
só um monte de areia junta!
—Mãe!
— Tudo bem, se ela quis, está bem.
—Mãe preciso desligar.
Allah! Mas que droga! Penso em frustração.
Desligo o ar condicionado. No deserto de dia é 40
graus para mais e a noite a temperatura inverte,

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pode ficar abaixo de zero.


Tento aplacar minha raiva olhando a
tempestade de areia que se formou lá fora. Daqui
consigo ver o ponto de captação de petróleo, o local
é todo iluminado. Guardas ficam em guaritas
fazendo a vigília da noite.
Espero que Aysha esteja menos arredia.

Aysha

Saio do banheiro. Zair ainda está lá, de


cueca olhando para a janela. Lá fora o barulho do
vento é muito forte, as janelas tremem.
Ele não está pensando em continuar onde
paramos está?
Ele se vira para mim.
—Era a minha mãe. Ela estranhou o fato de
eu trazê-la para cá.
Eu estou ofegante, tento controlar minha
respiração.
—Não me admiro com isso.

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Zair vem na minha direção. Eu ergo minhas


mãos.
—Não, fica parado onde está.
Ele para e me encara com os lábios
apertados, seu rosto é pura contrariedade.
—Aysha, Allah! Não te entendo. Você
estava agora mesmo, bem receptiva nos meus
braços.
Ele assim, só de cueca é tão sexy...
Não tenho forças para esse embate
emocional, por isso não respondo. Respiro fundo e
retiro meus olhos de sua tentadora figura e vou até
a sala pegar almofadas para colocar no meio da
cama.
—O que está fazendo, posso saber?
—Estou arrumando a cama para dormir. —
Digo afastando as cobertas e colocando as
almofadas no meio.
Zair, ofega e tira todas as almofadas que eu
coloquei e elas voam longe.
—Eu sou seu marido. Não sou um estranho!
Nada de almofadas entre nós.
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Eu o encaro. Cruzo os braços no peito,


parando o que eu estou fazendo.
—Muito bem. Então pare de agir como um
estranho. Não adianta jantares, arrastar a cadeira
para eu me levantar, armar tudo isso para ficarmos
juntos se você não se abre comigo, se você é um
homem frio e distante.
Zair ergue suas sobrancelhas, como se eu o
tivesse insultado.
— Autopreservação. Sabe o significado
dessa palavra? Quero o melhor da vida, tudo que
ela tenha a oferecer. Comer, beber, sexo com a
mulher linda com que me casei, lazer, viver bem.
Eu estremeço com a palavra "sexo".
—Você era assim com Amina? Ela aceitava
isso?
Ele ofega. Suas narinas se expandem em
desgosto.
—Ela tinha meu coração e fez isso. —Ele
ergue a mão como se tivesse o coração dentro dela
e fecha a mão com força, como se seu coração
tivesse sido esmagado. Ele caminha em minha
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direção como se fosse me bater, seus olhos soltam


chispas. —Então, minha querida Aysha, a mulher
que convivi a minha vida inteira, não me amava. A
mulher que me doei, que me entreguei, que dei todo
o meu tempo, só queria o meu título. Minhas ações
são reflexos daquilo que vivi. Não me julgue! —
Ele diz todas as palavras cheias de ira, mas consigo
ver a emoção em seus olhos. Pela primeira vez
consigo ler a alma de Zair.
Amina o traiu?
Claro!
Como um quebra-cabeça as coisas vão se
encaixando. Por isso ele não pega a filha no colo,
ele acha que é de outro homem.
Quando Zair se dá conta que ele se abriu,
ele engole em seco e não consegue mais me olhar.
Bufa alto, em rendição. Meu coração se aperta em
tristeza por ele, misturado a este, tantos outros
sentimentos, que eu me sinto confusa.
Allah! Não luto com o amor de um homem
por uma mulher, mas com um homem traumatizado
por ter sido traído. Isso para um ocidental, um
americano é horrível, mas para um árabe é pior
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coisa que poderia lhe acontecer e ele realmente


parece ter gostado de Amina.
E claro! A família dele não sabe, ninguém
sabe...
Eu fico sem falas. Zair passa a mão nos
cabelos, impaciente.
—Droga! Por que estamos tendo essa
conversa? Eu prometi a mim mesmo que jamais
falaria sobre esse assunto.
—Nem todas as mulheres são iguais. —
Digo suavemente, observando a expressão de seu
rosto.
Ele ergue a cabeça e me olha desacreditado.
—Aqui entende isso. —Ele mostra sua
cabeça. —Mas aqui não. —Então mostra seu
coração.
Ele então vai até sua mala e pega uma calça
jeans e a veste com raiva.
—Vai sair?
— Vou.
—Zair, há uma tempestade lá fora. —Eu me
aproximo e seguro o braço dele.
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Ele olha minha mão em seu braço. Eu o


solto.
—Não vou longe. Há um galpão, ao lado
desse, onde os trabalhadores se reúnem.
Eu assinto e o vejo pegar uma camiseta de
manga-cumprida, uma blusa de lã e por um casaco.
—Você vai demorar? —Questiono.
—Você agora está falando como uma
esposa, que não é, pois não cumpre seu papel.
Como se você se preocupasse!
Eu aperto meus lábios, contrariada.
—Vai, melhor você ir mesmo. Seu humor
está insuportável.
— É? Por que será? —Ele pergunta,
amargo.
Eu puxo meu vestido e o retiro o jogo em
cima da cama, fico só de calcinha e sutiã.
—É isso, Zair. É isso que você quer? —
Pergunto com certa raiva na voz.
Zair fica estático olhando para mim com
cara de espanto, parece sem ar. Seus olhos correm
meu corpo. Ele então, avança em minha direção, e
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me torno muito consciente disso e fico


completamente congelada no lugar, vendo-o cortar
a distância entre nós. Sinto seu corpo pressionando
contra o meu, tento não reagir à sensação de sua
dureza contra minha barriga quando ele me envolve
mais.
Mordisca meu rosto, meu pescoço, sua
respiração quente contra a minha pele me deixa
louca, suas mãos percorrem minha cintura, meu
bumbum, enquanto sua boca me devora. Sua língua
visita a minha, tremulando sobre ela. Eu tremo,
respirando com dificuldade.
Ele tem um gosto tão bom. Muito bom, seu
beijo é tão quente, diferente do que eu imaginava
do homem frio que ele se tornou.
Ele me deixa delirante, excitada.
Ofegante, sua testa pousa na minha e ele
fala contra a minha boca.
—Se eu quisesse, eu já te teria, mas nunca
quis algo roubado, eu queria algo me dado de bom
grado. Sempre esperei pacientemente sua entrega.
Você me surpreendeu agora. —Ele murmura, sua
respiração quente na minha boca.
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Ele então me afasta e me olha. Eu estou


corada, meu coração agitado no peito, meu corpo
clamando pelo dele. Eu o encaro de volta, sem
entender o que virá a seguir. Zair então se vira e vai
em direção à porta, quando ele a abre, um vento
forte quase a lança para longe, mas ele a segura,
como se já fizesse isso outras vezes e sai para fora,
e a porta é fechada.
Eu me sento na cama com os lábios
separados, ofegante sem entender direito sua
atitude. Eu posso sentir a minha pele queimando
onde ele tocou, o cheiro dele no meu corpo. Seu
gosto na minha boca.
E agora minha respiração forte, o barulho
do vento lá fora são os únicos sons presentes no
alojamento.

Zair
Allah! Tive que deixá-la. Tive que provar
para mim mesmo que eu posso, que eu a tenho e a
liberto quando quiser. Que ela não será para mim

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um vício. Sou dono de mim mesmo. Ajo com a


razão e, não mais, dita às regras, o meu coração.
Quando os homens me veem se levantam de
suas almofadas e me fazem uma reverência. Eles
estão fumando narguilé, eles me oferecem, eu
rejeito e vou até uma mesa e me sirvo de chá de
hortelã.
Sento-me na roda deles, Hakim está com
um alaúde, Karin repercussão e Muhafa o
kamancheh. Fecho os meus olhos quando a música
árabe instrumental invade o ambiente somando-se
ao barulho do vento lá fora.
Como tenho feito, busco a paz dentro de
mim, afastando pensamentos que me afligem. Mas
a imagem sedutora de Aysha surge, por mais que
eu tente manter minha mente vazia. Abro os olhos e
os mantenho abertos, prestando atenção nos
instrumentos, reparando nos dedos que o tocam.
Mas quando me vejo Aysha surge na minha mente.
Allah! Clamo.
Estou pensando muito nessa mulher. Eu
tenho que está no poder dessa vez.

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Aysha

Rolo na cama ainda me sentindo


insanamente quente. As palavras de Zair não me
saem da cabeça.
Quem diria, esse homem lindo, rico,
cheiroso, charmoso, foi traído.
Segundo a conversa que tive com Zafira,
Amina sempre esteve na vida de Zair. Os pais dela
também trabalhavam para o Sheik, e Amina teve a
oportunidade de estudar no mesmo colégio
particular que Zair, no mesmo horário, embora a
escola fosse dividida em Alas, feminina e
masculina.afira me disse que Zair um dia
comentou sobre Amina. Ele lhe confidenciou que
eles trocavam olhares na entrada e na saída do
colégio. A mãe dele se agradou muito disso e teve
a ideia de aproximá-los, depois de pedir permissão
para o Sheik, a família de Amina passou a se
frequentar constantemente a casa, convidada para
jantares com o intuito de Zair estreitar laços com a
garota que o encantou.
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Com muito respeito, se iniciou o namoro.


Um ano se passou e Zair se alistou no
exército e começou a estudar na academia. Eles
então passaram a se ver com menos frequência.
Pode ter sido aí que Amina conheceu
alguém!
Deve ter se apaixonado, mas como eu,
seguiu os planos de sua família para ela.
Encantados, como meus pais, por todos os
benefícios que Amina teria, devem tê-la forçado a
se casar com Zair. Ou, ela mesma almejava o título
de princesa e uma vida sem preocupações, estável.
Vai saber....
E agora essa revelação!
Allah! Ela cometeu um erro gravíssimo em
manter sua vida amorosa, claro que Zair descobriria
tudo!
Aos poucos meus olhos vão pesando e
apago.

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Capítulo 8

Aysha

Abro os olhos devagar. O alojamento está


sendo tocado pela luz do sol que está despontando
lá fora.
Sinto braços musculosos ao meu redor. Meu
rosto está enfiado num peito cheiroso, o queixo
dele na minha cabeça. Ele respira pesadamente.
Ofego, meu coração dispara.
Allah!
Aperto os olhos tentando pensar como sairei
dos braços de Zair sem que ele perceba. Respiro de
forma lenta e premeditada.
O que aconteceu está confuso na minha
cabeça. Eu o abracei por causa da ausência do meu
segundo travesseiro? Ou ele me abraçou?
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Não sei. Apenas sei que estou aninhada em


seus braços.
Allah! E agora?
Devagar tento me afastar de seu corpo. Aos
poucos vou conseguido. Quando saio debaixo do
seu queixo ergo meu rosto confuso procurando o
rosto dele. Zair abre os olhos e eles caem sobre os
meus. Fico paralisada quando eles vão se
intensificando.
Eu engulo em seco.
Agora ele me olha com tanto desejo que eu
prendo a respiração.
Zair se ergue lentamente, como uma fera
pronta a dar o bote, seus olhos, nem por um
momento, perdem contato com os meus. Ele paira
sobre mim.
Vagarosamente ele desce seu olhar e foca
meus lábios que se abrem inconscientemente com a
minha respiração entrecortada. Ele lê isso como um
convite e logo sua boca soma-se a minha.
Um gemido, muito sentido escapa de sua
garganta e eu sou devorada com um beijo de perder
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o fôlego.
Estremeço quando mãos viajam pelo meu
corpo, me percorrendo, me apertando, me
apalpando. Tudo isso, me faz arder em desejo.
Agora sou eu que gemo de prazer.
Ergo minhas mãos e o puxo mais para mim,
correspondendo seu beijo com ânsia e paixão. Zair
geme na minha boca quando sente a minha entrega.
Em seguida ele a mordisca como se fosse a coisa
mais gostosa do mundo. Ele então aprofunda o
beijo, sua língua visita a minha tremulando sobre
ela.
Quando ele se afasta, eu o olho como se
tivesse fora de mim. Tentando entender por que ele
parou de me beijar.
—Tire suas roupas, Aysha. —Zair me fala
no árabe.
Tremendo me livro da minha camisola.
Meus seios ficam expostos. Estremeço com o olhar
que Zair se dirige a eles.
Fascinado.
Ele então busca meus olhos e, com
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suavidade sorri de um jeito tão maravilhoso, que


começo a acreditar que ele é capaz de refazer sua
vida, de me amar.
Ele fica de joelhos na cama e puxa a minha
calcinha. Perna por perna e a joga num canto.
Quando fico nua, ele abaixa a sua cabeça e lambe a
minha virilha, escorregando seus lábios pela minha
barriga até chegar aos meus seios. Gemo de prazer
sentindo sua língua mágica.
Então escorrega sua boca pelo meu corpo,
até abocanhar meus seios, sua língua neles me faz
gemer alto, Zair então trabalha ali, lambendo,
mordiscando um por um, arrancando mais e mais
gemidos dos meus lábios.
De repente ele se deita e me vira em seus
braços, de modo que fico em cima dele. Então ele
segura meu cabelo e suga a minha garganta, me
fazendo suspirar, gemer novamente. Ele me abraça
e me vira novamente e desliza seu corpo no meu,
sua espessura na minha entrada, me provocando.
Com a descoberta do prazer, que ele provoca em
meu corpo, eu gemo de um jeito que nunca
imaginei que tivesse coragem em resposta. Isso
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parece excitá-lo mais, pois ele fica louco. E me


beija em todos os lugares, suas mãos viajando meu
corpo, me tocando nas zonas erógenas.
Ele rosna, e seus olhos negros, lindos e
sensuais procuram os meus, eles são tão intensos,
muito mais do que antes.
Sua boca captura a minha e ele me beija
novamente. Allah! Zair é tão quente na cama. Nem
parece o mesmo homem. Como se um vulcão
outrora contido se libertasse.
Sinto sua perna se enfiando dentro da minha
e a abrindo, ele se ergue e me olha. Eu me preparo
para ser preenchida por ele. Só sei que quero muito
isso, estou encharcada, necessitada.
Zair então me penetra. À princípio
desconforto, conforme minhas paredes vão se
alongando sinto dor e o breco.
—Shiiii. Relaxe.
Ofegante faço como ele me disse e respiro
fundo enquanto Zair continua a me penetrar. Logo
ele está dentro de mim. Aos poucos ele se
movimenta, seus olhos nos meus.

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Como um passe de mágica, todo o meu


desconforto some e seus movimentos começam a
enviar ondas que correm todo o meu corpo,
principalmente na minha entrada.
Gemo alto quando sinto um prazer
inimaginável.
É tanto prazer que fecho os olhos. Esse
prazer aos poucos vai crescendo, latejando,
enviando sinais para todo meu corpo. Meu coração
dispara, meu corpo esquenta, minhas pupilas se
dilatam e eu solto um gemido alto quando alcanço a
perfeição e gozo ao redor dele.
Aperto os lençóis e procuro seus olhos,
achando incrível o que ele me provocou.
Zair olha para mim, vejo a vulnerabilidade
em seus olhos quando ele está para gozar. O prazer
transparece em seu rosto, e vejo claramente o
quanto é intenso. Seus olhos se fecham, quando ele
chega lá e ele explode em satisfação que vem junto
com um urro gutural, tão sentido, que parece que é
a primeira vez que ele goza.
Ele é o homem mais lindo que eu já vi.
Penso, quando vejo aquele peito enorme em cima
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de mim.
Quando tudo finaliza. Zair joga seu corpo
ao meu lado na cama. De barriga para cima, seu
peito sobe e desce com a respiração entrecortada,
os batimentos cardíacos agitados, tanto que dá até
para ver pela sua jugular.
Ele fecha os olhos com força e fica assim
até se acalmar, então olha para o teto.
Agora ele parece pensativo, consigo ver seu
rosto transtornado antes de ele se levantar e abrir o
criado mudo e pegar uma caixa de lenço umedecido
e se limpar.
Fecho os olhos esperando o que vem a
seguir. Eu o sinto se agitar ao meu lado. Ele então
sai da cama. Ofego e viro meu rosto para o outro
lado, enterrando no travesseiro e escuto o som dele
se vestindo.
Seus passos pesados desaparecem para fora
do alojamento, e um momento depois, ouço a porta
se fechar.
Quando ele sai, eu me sento na cama. Há
uma mancha de sangue no lençol.

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Eu me sinto como uma mulher estúpida que


acha que um orgasmo vale mais do que sua
dignidade.
Allah!
Você merece isso, sua idiota!
Estúpida!
Estúpida!
Agora olhe para você. Ele te tratou como
uma mulher fácil que encontrou em qualquer
esquina.
Meu corpo sacode em dor, choro, colocando
a mão no rosto me lembrando da minha entrega
como tudo foi lindo e mágico entre nós e a frieza
com que ele me deixou. Sem uma palavra!

Zair

É cedo ainda, o dia amanhece. Os homens


chegarão daqui a meia hora. Vou até o galpão ao
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lado.
Allah!
No velho fogão, coloco a água para
esquentar, abro os armários procurando os
utensílios para fazer um café forte. Minhas mãos
ainda tremem. Eu praticamente fugi da presença de
Aysha, minha cabeça está tão desarrumada, meus
pensamentos tão caóticos.
O que eu vivi com ela momentos atrás foi
muito além que sexo, foi tão intenso, que aquele
sentimento doloroso de tudo que vivi com Amina,
brotou de dentro de mim no segundo que tudo
terminou, minha razão me cobrando que estou me
doando demais, que estou incorrendo no mesmo
erro.
Nem com Amina eu senti o que senti com
Aysha.
Foi tudo tão intenso que eu não consegui
encará-la.
Allah! Eu a tratei como uma qualquer a
deixando lá.
Mas se eu ficasse, ela me leria minhas
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emoções, veria o quanto esta proximidade me


abalou. Francamente, eu não esperava sentir essa
intensidade. Eu perdi totalmente o controle de
minhas emoções, eu não fiz apenas sexo, eu...
Allah! Não pode ser!
Eu fiz de tudo para manter meus
sentimentos fora dessa relação e agora vejo que
estou por um triz em cruzar a linha limite que eu
coloquei com Aysha. Uma mulher que me odeia,
que não queria esse casamento.
E o meu erro? Irá se repetir?
Desde que fui em sua casa pela primeira vez
vi em seus olhos o quanto ela me queria fora de sua
vida. Allah! Ver isso nos olhos dela foi como viver
uma repetição da vida que tive com Amina.
Mas por que a imagem dela me persegue
agora, me culpando por ter saído de lá sem lhe
dirigir uma palavra?
Passo as mãos nos meus olhos, tentando
tirar a culpa que assola meu coração.
Ela deve ter odiado minha atitude.
Penso no meu casamento. A palavra de meu
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pai vale por um escrito, ter recusado o casamento


com ela teria sido inadmissível e para mim não me
importava mais com quem eu me casaria, com o
túmulo de sentimentos que eu estava vivendo.
Aysha me foi prometida desde seu
nascimento. Devolvê-la para a família seria
humilhante demais para ela também.
Allah!
Ficar preso a uma mulher é me sentir numa
gaiola novamente, um sentimento doloroso e
solitário.
Quando os homens chegam, eu estou
tomando café e ainda pensando no que fiz, estou
remoendo também meu passado com Amina, mas o
que mais me atormenta é o que me espera para o
futuro ao lado de Aysha.
Depois de todos tomarem o café, pegamos
os jipes, com a exceção de Amon, o mecânico, que
irá trocar a bateria de um deles.
Uma hora mais tarde, estou no meio do
deserto ao lado dos homens, tentando resolver
ainda o problema do faturamento das rochas. Mas

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minha cabeça não está no trabalho.


Blasfemo!
—Hakim, vou precisar do jipe. Vou me
ausentar por alguns minutos, talvez algumas horas,
não sei.
—Algum problema? —Ele me pergunta,
preocupado.
Mas eu estreito as sobrancelhas.
Hakim faz uma reverência e imediatamente
me dá a chaves quando entende que não vou dar
explicações.
Eu pego o jipe e, de forma até imprudente,
arranco com ele, dirijo pelas areias
ziguezagueando, saindo dos obstáculos que
encontro pela frente, minutos depois eu estaciono
em frente ao alojamento. Desço do jipe e com
passadas largas vou até a porta, paro em frente a
ela.
Um tsunami de emoções se apodera de
mim
Uma coisa eu sei, preciso consertar essa
merda toda. Não sei como, pois não pretendo me
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abrir.
Com o coração agitado, abro a porta, varro
o alojamento à procura de Aysha e a encontro, ela
está fazendo as suas malas. Ela ergue seus olhos
verdes, eles são tão frios que meu coração baqueia.
—Esqueceu alguma coisa? —Ela pergunta
de um jeito seco.
—O que está fazendo? —Eu a questiono.
Ela sorri.
—Missão cumprida! Você conseguiu o que
queria. Estava esperando você chegar e me levar ao
palácio. Ou pedir para algum servo fazer isso.
Allah! Vou baixar seu topete já.

—Você não vai a lugar nenhum.


Ela respira fundo.
—Qual é o propósito de me manter aqui?
Você já conseguiu o que queria.
Eu ofego.
—Quando tudo for resolvido, o Sheik com
certeza vai querer comemorar, eu preciso de você

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aqui.
Ela funga e joga a mala em um canto com
força.
—O que você veio fazer aqui?
Meu corpo inteiro fica tenso. De repente
sinto como se todo brilho que vivemos aqui mesmo
tivesse ido, e uma nuvem negra invadisse tudo.
Sinta-se orgulhoso, você provocou tudo
isso.
Consolo-me dizendo para mim mesmo que
é melhor assim.
Allah! Ela não pode saber do meu
sentimento de culpa.
—Tive que passar para pegar uma
ferramenta no galpão.
—Ótimo, foi bom você estar aqui. Eu fique
aqui pensando, acho que você tem razão. Nós não
deveríamos nos envolver sentimentalmente.
As palavras dela falham meu coração numa
batida. Sei que forcei isso, mas por que eu não
consigo reagir como o esperado? Acho que lá no
fundinho eu esperava que um milagre acontecesse,
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que ela agitasse tudo dentro de mim, me arrancando


do homem duro que me tornei.
—Então, você chegou a essa conclusão?
—Sim, Zair. Allah! Você estava
absolutamente certo, podemos gozar da vida, aliás,
o sexo foi ótimo, nunca pensei que fosse assim.
—Você está falando sério? —Questiono,
ainda não acreditando na sua mudança tão
repentina.
Ela sorri de um jeito tão lindo e ao mesmo
tempo tão frio que meu coração falha novamente.
—Sim. Depois que você saiu, eu comecei a
pensar em tudo que você tem me dito, coloquei na
balança os prós e contras e cheguei à conclusão que
você está com a razão. Agora mesmo posso estar
gerando nosso filho. Isso será o auge dessa relação,
um lindo fechamento com chave de ouro.

Ela está facilitando tudo para você.


Não é isso que você quer?
Agarre-se a isso!
— Ótimo, Aysha. Que bom que pensa
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assim. Bem, vou voltar ao trabalho.


Eu me viro, pois estou me sentindo estranho
com as palavras dela e não quero que ela note o
quanto estou abalado.
—Só que tem mais uma coisa.
Eu que estava saindo, me volto, relutante.
—Quando eu ficar grávida, você não me
tocará mais. Viveremos vidas separadas.
Ofego.
—Como?
— É isso que ouviu.
Allah! Ela ardeu em meus braços e agora
vem com essas palavras. Vou provar a ela que é
mais fácil falar do que agir. Eu lhe dou um sorriso
lascivo e caminho até ela. Percebo seus lábios
trêmulos, o quanto ela fica abalada e eu sou
tomado por uma prazerosa satisfação.
— Somos casados, você é minha esposa e
sexo faz parte do pacote.

Aysha

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Zair avança em minha direção, eu ando para


trás, tento não demonstrar minha fragilidade
endurecendo meus olhos. Mas isso não surte efeito.
Minhas costas batem na parede do alojamento.
Claro! Só o fato de eu ter que fugir dele
prova o quanto ele me deixa a flor da pele com sua
presença.
Alto, ameaçador.
Zair sorri vitorioso.

Ele ergue o braço e me encurrala na parede,


a outra ergue meu queixo e meus olhos se
encontram com os dele.
—Não se engane, Aysha. Você me deseja,
está em seus olhos isso. —A voz dele é baixa e
profunda.
Gostaria de dizer que ele está enganado, que
não sinto nada por ele quando ele me toca, que eu
sinto repudio, ojeriza, mas não consigo. Não depois
de provar de seus lábios, o sabor de seu corpo sob o
meu. E a presença dele é muito real para que eu me
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engane.
— E então? Ainda quer que eu prove o
quanto está errada? E demonstre o quanto somos
compatíveis na cama?
Fiquei sem ação, imóvel. Eu posso ver nos
olhos dele que ele está louco para eu provar o
quanto estou enganada. Como eu não respondo,
Zair amplia seu sorriso.
—Foi o que pensei. Bem, até à noite,
habibi.
Desvio meu olhar, em silêncio.
Sim, é mais fácil falar do que provar com
minhas ações.
Allah!
Quando ele sai, me sento na cama e tento
não dar valor ao fato de meu corpo clamar tanto
pelo dele.
O que me preocupa não é isso. Somos
casados, claro que ele não iria aceitar minha
condição, não depois de termos provado um ao
outro. Fora que na nossa cultura a um peso muito
grande nesse aspecto no casamento. Inclusive é
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haraan(pecado) negar-lhe qualquer coisa. Eu o


forçaria a procurar lá fora.
E eu não quero isso, quero?
Allah! Mais que ceder as vontades do meu
corpo, o que me incomoda é essa gaiola que entrei,
eu já me sinto presa a ele.
Fui burra de provoca-lo, o fato de saber
mais de sua vida realmente agiu dentro de mim de
forma atrativa, não ao contrário. Agora sei que lido
com um homem traumatizado, que virou uma
máquina de razão, subtraindo todo sentimento de
seu coração.
Eu menti quando disse que não me
importava mais, que podíamos ser frios, deixar
nossa natureza humana de lado.
Eu me importo sim!
Tem crescido dentro de mim essa vontade
de conquistar Zair, de ele confiar em mim, mas ao
mesmo tempo não quero me humilhar.
Vou tocar esse barco do jeito que der e ver
o que vai dar. Vou me apegar a fé, acreditar que
com o tempo, ele relaxe, comece a entender que o
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que ele viveu não irá se repetir.


Acredito que ele até sabe disso, mas seu
coração virou uma pedra de gelo e eu quero
derreter, pois ele já me derreteu.
Zair me lembra tanto a música Frozen da
Madona, combina tanto com ele...
Congelado
Você só vê o que seus olhos querem ver
Como pode a vida ser aquilo que você quer
que ela seja?
Você fica congelado
Quando seu coração não está aberto

Você está tão consumido com quanto você


consegue,
Você desperdiça seu tempo com ódio e
arrependimento,
Você fica arrasado
Quando seu coração não está aberto

Mmm... Se eu pudesse derreter seu coração


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Mmm... Nós nunca ficaríamos separados


Mmm... Entregue-se para mim
Mmm... Você possui a chave

Agora não há por que atribuir a culpa,


E você devia saber que eu sofro o mesmo
Se eu perder você
Meu coração ficará partido

O amor é uma ave, ela precisa voar


Deixe toda a dor dentro de você morrer
Você fica congelado
Quando seu coração não está aberto

Mmm... Se eu pudesse derreter seu coração


Mmm... Nós nunca ficaríamos separados
Mmm... Entregue-se para mim
Mmm... Você possui a chave

Você só vê o que seus olhos querem ver


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Como pode a vida ser aquilo que você quer


que ela seja?
Você fica congelado
Quando seu coração não está aberto

Se eu pudesse derreter seu coração...

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Capítulo 9

Zair chega suado, todo sujo, o rosto


manchado de graxa. Eu estou tranquila na cama
segurando um livro que eu trouxe comigo. Embora
eu não consiga ler uma linha, só pensando nele e na
minha condição, mas ele não precisa saber disso.
—Allah! Que inferno! Estou louco por um
banho.
Eu passo os olhos no thobe dele que era
branco.
—Eh, estou vendo.
Ele caminha tirando a roupa do corpo e joga
no chão. Eu imediatamente saio da cama, a
banheira fica em frente a ela e eu não vou ficar de
camarote assistindo-o tomar banho.
Quando estou para passar por ele, Zair
segura meu braço. Meu coração dá um salto mortal
no peito. As gotículas de suor escorrem pelo seu
corpo.
Ele fecha os olhos e aspira o ar.

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—Você está perfumada.


Eu entorto o nariz.
—Você, fedendo.
Ele abre os olhos e sorri, sem se abalar com
isso.
—Vou tratar disso rapidinho. Enquanto
isso, sirva o jantar meu anjo. —Ele diz e me solta.
Eu me afasto e fico de costas para ele.
Eu poderia até ter me esforçado e
aprontado o jantar, mas não depois do que ele
aprontou hoje?
—Eu não fiz nada.
Escuto ele encher a banheira.
—Como, não fez nada? Então, inventa algo,
eu não almocei hoje. Estou com um grande
problema nas mãos. As máquinas não estão
funcionando como o esperado.
—Farei uma salada. —Digo e me dirijo a
cozinha sem olhar para ele.
—Salada? Sou coelho por acaso?
Eu rio, ainda bem que estou de costas, não
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quero cutucar a onça com a vara curta.


—Eu pensei que fosse comer com os
homens. —Digo inocentemente.
Zair funga do outro lado e diz irritado.
—Allah! Que bela esposa você está me
saindo.
Ele entra no banheiro, momentos depois
escuto a água esparramar na banheira e me viro.
Zair está dentro dela. Ele começa a lavar o rosto
com o sabonete. Eu relaxo e me sento em uma das
almofadas da sala. Se é que se pode chamar de sala.
Zair mergulha na banheira e depois olha
para mim com os cabelos molhados o rosto
pingando.
—Aysha! Allah! Faça a salada então, faça
algo. Eu estou morrendo de fome! Sobrou o
ensopado que eu fiz ontem?
—Não, eu comi no almoço.
Zair aperta os lábios em resignação e
esfrega o corpo com força desnecessária. Eu tiro os
olhos da figura linda e tentadora dele e vou até a
cozinha, abro a geladeira e começo a preparar a
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salada.
Resolvo ralar a cenoura, a beterraba, depois
ajeitar tudo com alface e tomate. Escuto ele sair da
banheira. Morro de vontade de dar uma olhadinha,
mas fico firme ali, preparando tudo.
Quando estou terminando de ajeitar tudo no
prato, ele surge ao meu lado. Olho de relance para
ele, mas trato de tirar os olhos quando percebo que
ele está só de calção.
Hum, está tão perfumado.
Ele abre a geladeira.
—Está tudo congelado. Você não tirou
nenhuma carne para descongelar?

Eu o olho impassível, estou aprendendo


com ele.
—Não. Eu já disse que meus dotes
culinários são limitados. Eu fui educada para
comandar e não para ser comandada.
Zair funga.
—Larga tudo isso aí, vamos jantar fora!

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Eu arregalo meus olhos.


—Jantar fora? Mas é uma hora até a cidade.
Por que você não descongela a carne no micro-
ondas?
—Você diz isso pois nunca descongelou
uma, ela fica meio cozida e meio congelada, fora
que fica dura.
—Não sei se quero ir.
Ele ri jocoso.
— Vai querer ficar aqui sozinha, a mercê de
mercenários que andam por essas bandas. Ou foras
da lei que não me conhecem? Lembre-se que aqui
não é a minha terra.
Eu estremeço só de pensar, passo a mão nos
meus cabelos os trazendo todo para o lado direito
num gesto nervoso.
Pense! É uma oportunidade para ele relaxar
com você! Mas de repente nossa segurança me
preocupa.
—Então é um risco ficarmos aqui?
Zair suspira e abre a mala. Tira uma arma e
me mostra.
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—Isso responde sua pergunta?


Eu engulo em seco.
—Eu vou. Mas não é perigoso sair por aí?
Zair solta o ar com, parece exercitar a
paciência comigo.
—Vou chamar um dos homens para ir
conosco. Eles costumam se reunir para cantar aí no
galpão.
—Tudo bem.
—Então se apronte. —Ele diz caminhando
em direção as araras onde tira uma calça social
preta. —Ficou bom as roupas aqui.
Eu lhe dou um sorriso nervoso.
—Não vamos naquele jipe que você
costuma trabalhar, não é?
Ele tira o calção, eu desvio os olhos dele
por um momento.
—O jipe é muito mais preparado para andar
em terrenos irregulares, mas como a temperatura
cai muito à noite, iremos com meu carro. —Ele diz
e se levantando e vestindo uma camiseta branca, e
por cima dela uma jaqueta grossa. — Leve
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agasalho.
—Está certo!
—Boa menina.
—Falando assim, me sinto uma criança tola.
Zair fixa seus olhos no meu rosto e vai
passando pelo meu corpo.
—Você não me lembra em nada uma
criança, Aysha.
Meu coração se agita e eu fico sem graça,
Zair desvia seus olhos dos meus e se senta na
poltrona coloca a meia e os sapatos, com muita
agilidade. Deve estar morto de fome.
Eu até teria peninha dele se ele não tivesse
sido tão insensível de sair daquele jeito depois do
momento mágico que tivemos.
Pelo jeito a magia foi só eu que vi.
—Se troque, já volto.
Quando ele sai eu me troco rapidinho,
coloco uma abaya preta e um lenço preto cobrindo
meus cabelos, por cima um casaco preto.
Me olho no pequeno espelho do banheiro.

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Allah! Pareço uma velha!


Saudades da América!
Saio do banheiro. Zair enfia a cabeça na
porta de entrada do alojamento.
—Está pronta?
Assinto.
—Sim.
—Então vamos!
Quando saio lá fora sinto a diferença de
temperatura. Está frio. O sedã preto está na entrada.
Um homem com o semblante bem fechado está ao
volante, e tem outro ao lado dele que carrega uma
arma grande, fuzil?
Allah! O negócio é sério.
Zair abre a porta do carro para eu me sentar,
ele se senta ao meu lado. O carro imediatamente
arranca.
Pezinho de chumbo esse motorista.
Não há estrada onde estamos, então o carro
sacoleja muito.
—Os homens me disseram que tem um
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restaurante à beira da estrada, quarenta minutos


daqui. Fica ao lado de um hotel. Eles disseram que
a comida é muito boa.
Apenas assinto e não falo nada. O motorista
desviou de algum obstáculo tão rápido que me
jogou no corpo de Zair, minha cabeça entre suas
pernas. Eu me levanto com dificuldade.
Allah!
Posso sentir o sorrisinho cínico de Zair. Ele
me puxa, para mais perto dele.
—Vem, se acomode em mim.
Ainda vermelha pelo ocorrido me deixo ser
abraçada por ele. Depois de vinte minutos, o carro
andando sinuosamente pelo terreno irregular,
pegamos uma estrada de chão batido. Eu me
endireito melhor e quando vou me afastar dele, ele
me segura.
—Pode ficar. —Ele diz.
Eu respiro fundo e permaneço no meio de
seus braços e me lembro a nossa saída até o palácio
para ir ao alojamento. Foi tão diferente a viagem,
Zair estava mais sério, introspectivo, muito
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pensativo, e não se importou nem um pouco de eu


jogar para lá e para cá dentro do carro até
chegarmos ao alojamento.
Vinte minutos depois paramos em frente ao
restaurante. Zair desce e me ajuda a descer. Eu
ajeito melhor o lenço nos meus cabelos e pego a
mão que Zair me estende.
Pouco tempo depois, nos sentamos à mesa,
e minutos depois, fizemos nossos pedidos. Que não
demoram para chegar. Acredito que isso se deu ao
fato do restaurante estar quase vazio.
Eu pedi uma comida bem leve. Coalhada
com pão pita. Zair, embora esteja com fome, não
exagerou na comida. Kafta regado com limão e
uma porção de arroz Sírio. Como
acompanhamento, suco de uva.
Seus homens ocuparam outra mesa e
jantaram também, claro que tudo foi pago por Zair.
Quando terminamos, Zair me ajuda com a
cadeira. Só de pensar em voltar por aquela
estradinha desanima. Ele me olha sem falas por um
momento, reparo que ele tem uma aparência de
cansado.
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—Pensei em dormirmos nesse hotel ao lado,


podemos voltar amanhã bem cedo.
Eu aperto os lábios pensativa.
—Dormir assim? —Mostro minha roupa.
— Nem peguei camisola.
Zair me olha com aquele ar de
superioridade enervante e dá um sorriso torto
excitante, mas não diz nada. Meu coração se agita,
pois, adivinho seus pensamentos. Ele então se
afasta em direção a mesa de seus homens e depois
de conversar com eles, entrega um maço de notas e
depois vem na minha direção:
—Vem, vamos.
Saímos do restaurante e caminhamos lado a
lado até o hotel. Não era um lugar luxuoso, mas
com certeza melhor que o alojamento.
Zair acerta tudo e pega a chave. As
acomodações ficam do lado de fora, em pequenos
chalés.
Caminhamos devagar em direção ao nosso
quarto. Penso em todas as coisas importantes para
mim que poderia dizer a ele, mas não digo, fico
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calada. Não adiantaria e eu me exporia, tem coisas


que só o tempo ensina.
Achamos o nosso número e Zair abre a
porta. Ele acende a luz que revela um lindo quarto.
Estremeço. Zair me toca nas costas e quase
me empurra para dentro. Fecha a porta. Antes que
eu fale algo, sua boca toma a minha. Mãos me
puxam para o seu corpo. O calor que emana do
corpo dele me incendeia. Ele arranca o lenço dos
meus cabelos e seus lábios correm meu pescoço.
Minha pele se arrepia toda. Meu coração bate
desgovernado em meu peito. Fecho os olhos me
entregando a luxúria do momento.
—Não via a hora de tê-la novamente. —Ele
diz rouco na minha orelha. Estremeço, imóvel, mal
ousando respirar.
Zair então puxa o meu vestido e me ajuda a
livrar-me das roupas. Com uma rapidez
surpreendente, logo as suas estão no chão.
Medo de eu mudar de ideia e rejeitá-lo?
Ou tudo isso é paixão?
Nossos corpos nus se unem novamente e ele
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me conduz até a cama, me faz deitar nela. Como


um felino ele se ajoelha e toma a minha boca, mãos
começam a explorar meu corpo, que está
insanamente quente, clamando por ele.
Ele sabe exatamente o que me dá prazer.
Calmo, suas mãos viajam para os lugares certos.
Não consigo evitar de gemer e gemer de prazer.
Meu corpo arde por ele, minha intimidade
se prepara para recebe-lo. Molhada. Arfo, arfo com
sua boca e estremeço sem controle quando ela
explora meus seios, um por um. Ele se ergue para
me contemplar. Eu também aproveito para olhá-lo.
Alto e esguio, ombros largos, peito encoberto por
sedosos pelos negros e braços musculosos. Sua
barriga é dura, definida.
Seus olhos viajam pelas minhas curvas e ele
sorri, mas não há amor em seus olhos, sou muito
consciente disso, consigo ver desejo, apenas desejo
naquele rosto exibindo agora um sorriso sardônico.
—Linda. — Ele diz e se aproxima do meu
rosto. Lambe suavemente os meus lábios, antes de
toma-los com um gemido.
Depois de um beijo longo, sua boca solta a
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minha e escorrega até o meu ventre, perto do


umbigo, mordiscando-o. Eu me sinto arrepiada,
reagindo imediatamente à sua boca. Ele desce seus
lábios até a parte mais sensível entre meus pelos
pubianos e eu me mexo quente, não conseguindo
ficar parada. Sem aguentar mais, agarro seus
cabelos.
—Toma-me. —Digo, impaciente,
alucinada, tremendo.
Ele ergue a cabeça e me olha diretamente
nos olhos.
—Repete! —Ele diz rouco em árabe.
—Quero você dentro de mim. —Digo,
arfante.
Ele paira sobre mim, me olha por um
tempo.
—Toque-me também. Sei que quer isso.
Eu pisco e o encaro com olhos arregalados.
Perco o ar e a voz.
—Aysha. —Ele diz rouco. —Mostre-me o
quanto você me quer.
Ofegante eu me ergo e me ajoelhando na
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cama, pairo sobre ele. Tomo sua boca, lhe dando


um beijo cheio de significado. Um beijo além da
paixão, há muito amor no meu beijo. Zair
corresponde, nossas línguas se dançam, se
procurando.
Ele me afasta e se senta na cama, as pupilas
dilatadas de desejo.
—Continue. —Ele me incentiva.
Vou até ele e aspirando o almiscarado
perfume de sua pele, começo a beijá-lo, mordiscá-
lo em todos os lugares do seu pescoço, escorrego
meus lábios pelo seu peito, mordisco seus mamilos,
um por um e desço meus lábios até sua barriga,
lambo seu umbigo cheiroso e mordico sua virilha.
Zair geme alucinado e se erguendo me pega pelos
braços, e de maneira ágil me move, pois quando me
vejo estou deitada de costas na cama.
Zair coloca seu joelho no meio de minhas
pernas, tremores de luxúria correm pelo meu corpo
e eu mordo os meus lábios para não gritar quando
ele me penetra e começa a se mover dentro de mim.
Eu inclino minha cabeça para trás, fora de mim,
enquanto ele se mexe de um jeito tão maravilhoso e
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intenso.
Alucinada, não consigo tirar meus olhos
dele. E todo tipo de sentimento como luxúria,
paixão, admiração e amor me arremessam nesse
momento, me fazendo reconhecer que meus
sentimentos se tornaram profundos e com certeza
não é só sexo que me liga a esse homem.
Minutos depois eu rendo ao tão esperado
prazer, apertando os lençóis, fechando os olhos,
gemendo e virando minha cabeça para o lado. Zair
vem logo depois, com um gemido rouco se rende
também. Deita sobre mim um pouco, respirando
pesado no meu ouvido. Ele então se afasta e se
deita ao meu lado, ofegante.
Eu puxo as cobertas e fico imóvel ao lado
dele. Zair se vira para mim e me observa.
—Sinto dizer que está em apuros, quero
isso toda noite.
Quase me sinto lisonjeada com o
comentário.
—Verdade? —Digo, voltando ao meu
estado normal. A da mulher que quer muito mais

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que sexo.
Zair respira fundo e fica sério.
— Meu comportamento foi repreensível,
quando sai hoje de manhã sem me despedir.
Eu fungo. Aquele sentimento de raiva volta
novamente. Hoje de manhã me deu vontade de
pisoteá-lo com saltos agulhas.
— Sem comentários.
— Quero lhe pedir desculpas.
Ele pedindo desculpas? Talvez já seja um
progresso.
— Não sei o que deu em mim.
—Tudo bem.
—Bem, então vamos dormir, estou morto
de cansado. E amanhã teremos que enfrentar essa
estradinha.
Zair se vira para o outro lado. Típico de um
homem que liberou toda a testosterona armazenada
dentro daquele saco.
Ele dorme logo, ouço sua respiração pesada.
Aos poucos vou relaxando e apago também.

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Capítulo 10

Estou com a cabeça enfiada num peito cheio


de pelos negros e cheiroso. Braços me circundam.
Allah!
Fico imóvel no primeiro momento.
Isso que dá dormir agarrada a um
travesseiro. Preciso providenciar um, se quiser
evitar esse tipo de situação. Devagar vou saindo
dos braços dele.
Zair abre os olhos, que encontram os meus.
—Sabāha l- ḫ air. (Bom dia) —Ele diz
suavemente.
— Sabāha l- ḫ air. (Bom dia). —Digo com
uma leve rouquidão, ainda constrangida por estar
nos braços dele.
Zair me solta completamente e se
espreguiça calmamente, como se fosse normal essa
intimidade entre nós. Ele vira a cabeça e foca no
rádio relógio.
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—Precisamos levantar antes que o sol fique


forte.
Eu assinto, mas não me movo, fico presa
aos lençóis. Zair se senta e começa a se trocar de
costas para mim. Eu aproveito sua distração e saio
da cama. Pego meu vestido do chão e enfio na
cabeça.
Ao surgir nele, Zair está lá, sorrindo para
mim, a sensualidade em potência máxima.
—Você ainda fica constrangida comigo.
Nem parece aquela mulher quente na cama.
Eu desvio meus olhos dos dele, e sem
responder a isso, começo a procurar meus sapatos.
—Oi? Falei com você.
De joelhos procurando meus sapatos, digo
num tom debochado:
—Por que será, não é?
Digo ajoelhada a cabeça enfiada embaixo
da cama.
—O que está procurando?
—Meus sapatos.

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—Seriam aqueles perto da porta?


Que engraçadinho!
Eu me ergo e os vejo aonde ele disse, Zair
sai com uma risadinha e entra no banheiro.
—Palhacinho! —Digo em voz alta.
Zair surge na porta do banheiro.
—Eu ouvi, e sei agora o que significa. —
Ele diz apontando o a escova de dentes para mim,
sua boca com espuma branca.
—Ótimo! —Mostro os dentes.
Ele sorri e entra no banheiro. Respiro fundo,
eu me levanto, vou até meus sapatos e erguendo
meu vestido, os calço.
Minutos depois estou no carro pronta,
dentes escovados, lenço nos cabelos com a cara
lavada, sem um pingo de maquiagem. Fico com a
cabeça virada para o vidro, pensativa. Minha vida
na América não era fácil também. Meu pai me
podava o tempo todo, quanto as roupas, amizades,
saídas de casa. Então, me adaptar aos costumes não
é uma tarefa difícil, o que me incomoda é essa
superficialidade que Zair quer.
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Allah! Como estou sendo repetitiva!

Zair

Observo a paisagem desértica lá fora por


pouco tempo, pois meus pensamentos me levam na
conversa que tive com meu pai, alguns meses atrás.
—Allah! Zair. Isso precisa parar. Você já
se olhou no espelho?
—Baba, pare de se preocupar comigo. Logo
o senhor não verá mais a minha cara. Como sabe,
estou de viagem para o Bahrein.
—Zair! Sei que amava Amina, sei também a
força dos seus sentimentos.
—Eu não quero ouvir. —Tentei sair da
biblioteca, mas meu pai me pega pelo braço.
—Você nem pega sua filha no colo. Todos
os empregados ficam cochichando pelos cantos,
comentando sobre seu sofrimento.
Allah! Se ele soubesse como está a minha

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cabeça?
Sim, eu a amava e ela me traiu!
Eu a confrontei e ela confessou com muito
choro e arrependimento. Eu não quis ouvir, e
cheio de ira disse que iria chamar o conselho e
repudiá-la na frente de todos. Amina então revela
que está grávida.
Allah! Aquilo foi como uma facada no meu
peito. Eu, que queria me livrar do problema, estava
com outro nas mãos. Eu tinha duas opções, me
separar dela e humilhá-la ante a todos, ou
aguardar o término de sua gestação e só então nos
separarmos.
Resolvi então esperar ela ter a criança e
depois fazer um exame de DNA. Não foi fácil
conviver com ela todo aquele tempo vendo sua
barriga crescer, e eu naquela mistura de dor e
raiva, sabendo que o filho poderia ser de outro.
Então ela morre no parto e eu resolvo me
calar, não difamar a imagem dela, porque resultou
num final triste.
—Pai, logo estarei longe daqui.

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—Mas isso é um mal exemplo que você está


dando. Você sabe disso, já se passaram cinco
meses, e você cada dia está pior. Todos estão
comentando do seu mal humor e de suas
bebedeiras.
Eu o olho surpreso e ele continua: —Pensa
que não sei que anda bebendo?
—Bebi sim, eu estava com a cabeça quente.
—Pois eu tenho uma solução para o seu
problema.
Um longo suspiro escapa dos meus lábios.
—Você precisa de alguém ao seu lado, um
novo amor.
Eu não posso nem ouvir essa palavra
"amor"
—Allah! Eu preciso nesse momento de paz,
isso sim!
Meu pai avança na minha direção
—Tenho um funcionário, um amigo. Sua
filha Aysha foi prometida a você desde o
nascimento. Caso Amina não engravidasse, ela
seria a sua segunda esposa.
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Sim, eu seu disso. Na época fiquei


admirado que Amina concordasse com essa
cláusula no casamento, agora eu sei porque ela
aceitou bem, ela não me amava como eu achava.
—Pai, eu não estou num bom momento
para entrar em outra relação. Minha resposta é
não.
—Quem disse que terá escolha? Se você se
negar, seu primo Jabor assumirá os negócios.
—Como? Pai! Você quebrará minhas
pernas se fizer isso.
—Então se case com ela, mostre ao povo
que você superou.
—O senhor não está pensando em mim, só
na minha imagem!
—Estou pensando em você. Aysha é uma
menina de ouro, tão maravilhosa quanto Amina. E
melhor, mais bonita. Da outra vez que os visitei os
EUA eu a vi. A garota é uma joia.
—Pai, pare com essa loucura!
—E mais! Nem adianta espantar a garota,
se ela desistir de você, por algum motivo, eu não
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verei isso com bons olhos e você perderá todo o


domínio sobre os negócios.
Quando o carro entra no deserto e começa a
dar solavancos, eu saio dos meus pensamentos e
encaro a realidade. Aysha está lá, se segurando
como pode. O nosso casamento tem a mesma
clausula, ela se tornou esposa de um homem
responsável por levar seu nome adiante e manter
seu clã.
Será que ela sabe disso?
Depois de atravessarmos o deserto
chegamos ao alojamento. Aysha não está com uma
cara boa.
Eu a entendo. Não deve estar sendo fácil
ficar confinada nesse lugar, sem nada para fazer.
Deixar todo o luxo para trás.
Antes dos homens abrirem a porta ela sai do
carro, eu saio em seguida. Abro a porta do
alojamento.
Entramos.
Ela retira o lenço com força.
—Está irritada?
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—E não é para estar? Estou cansada de ficar


presa aqui. —Ela diz tirando sua roupa,
incomodada.
Allah! Vejo seu lindo corpo exposto, só de
calcinha. Ela anda até a poltrona e se veste rápido,
coloca um caftan mais leve, branco. Tento me
recompor diante da visão, percebo que nunca senti
uma atração tão forte por uma mulher como por
Aysha.
Limpo minha garganta.
—Hoje mesmo vou resolver esse problema.
Ontem fiz testes com minhas máquinas, e não
encontrei problema na instalação. Acredito que os
produtos químicos usados foram adulterados. —Eu
dou um sorriso ainda abismado com essa ideia. —
Allah! Enganaram o sheik!
—Pensei que você fornecesse tudo.
—Não, só as máquinas, os produtos foi o
engenheiro do sheik que comprou. Mas estou
pensando seriamente em mudar isso. Começar a
revender os produtos. Teria evitado toda essa dor
de cabeça.

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Ela deita na cama, com as pernas para fora.


—Está certo. Que bom que isso se resolverá
rápido.
—Antes de eu ir. —Digo, tirando minhas
roupas para vestir as de trabalho. — Quero te fazer
uma pergunta. —Pego um thobe limpo da arara, o
outro está imprestável.
Olho para ela, mas ela não olha para mim.
Já percebi que toda vez que exponho meu corpo ela
evita de me olhar, eu ao contrário, adoro ver aquele
corpo lindo.
—Pergunte. —Ela diz olhando as unhas.
—Você entendeu a clausula do nosso
casamento? O que acontece caso você não gere
filhos?
Eu tiro minha calça, atento a ela. Aysha
agora não parece constrangida com minha nudez,
pois seus olhos se fixam em mim.
— Que clausula?
—Você precisa me dar um menino, tem um
ano e meio para isso, caso contrário, terei uma
segunda esposa.
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Seus olhos me fuzilam.


—Isso foi uma indireta?
Coloco o cinto.
—Não, curiosidade em saber se você tem
conhecimento disso?
Ela se senta na cama.
—Não! Eu não prestei atenção. Mas isso
não me admira, tendo visto a sociedade machista
que vivemos. Vocês têm seu próprio mundo.
—E você ficaria bem se eu arrumasse uma
outra mulher?
Eu notei o rosto pálido de Aysha, ela desvia
os olhos dos meus e se deita na cama.
—Eu te darei um filho.
Suas palavras agitam meu coração e quem
fica sem falas sou eu. Não esperava essa resposta
dela.
—Insha'Allah! (Deus te ouça)
Trêmulo, coloco as sandálias e saio do
alojamento.

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Quatro horas depois...

Eu estou debaixo de uma tenda comendo


um kafta que compramos no restaurante ao lado do
hotel antes de sairmos.
Hoje eu não passo fome nesse inferno!
—O resultado das amostras chegou. — O
engenheiro de confiança do sheik me diz.
Eu como o último pedaço e depois de
limpar as mãos, pego o relatório.
—E então? —Pergunto e ao mesmo tempo
leio o relatório.
—O composto foi adulterado, por isso não
estamos tendo resultados.
Allah! Acabou esse inferno!
—Bem, então vocês entendem que se
findou meu trabalho aqui, o problema não é meu.
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—Sim, e estamos muito constrangidos por


termos duvidado do desempenho de suas máquinas.
O Sheik quer recompensá-lo por tamanho
transtorno, tanto financeiramente e com uma festa
em sua homenagem.
—Ah, então ele já sabe?
—Certamente, logo que saiu o resultado eu
passei para ele.
—Ótimo. Vou para o alojamento fazer as
malas e voltar para o palácio. A bola está com
vocês agora.
—Esse fornecedor terá sua licença caçada,
ele mexeu com a pessoa errada. —O engenheiro
disse com raiva.
—Por caso, eles sabiam que estavam
fornecendo os produtos para o Sheik Al Koul?
—Não. E agora eles se ferraram. O sheik
não deixará barato.
—Ah, está explicado. Eu não queria estar na
pele deles. Vou voltar para o alojamento. Pretendo
partir ainda hoje para o palácio. Avise o sheik que
estarei lá.
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—Está certo, eu aviso. A festa está


programada para amanhã às oito horas da noite no
palácio Real.
—Avise o Sheik que irei com prazer.
Pego um dos jipes disponíveis e me dirijo
ao alojamento. São agora onze e meia da manhã.
Aysha terá uma grande surpresa ao me ver.
Logo que deixo o jipe no galpão, sinto o
cheiro de comida vindo do alojamento. Viro a
chave e abro a porta. Aysha está cantarolando a
música do pen drive, em frente ao fogão. Ela usa
um shorts jeans curto e uma camiseta branca,
meche a panela com uma colher de cabo longo.
Eu sorrio ao ver a cena daquele bumbum
empinado.
—Hum, o cheiro está bom.
Ela dá um pulo e se vira para mim.
—Pensei que fosse chegar mais tarde.
Eu dou um sorriso, acho engraçado como
ela fica desestabilizada com a minha presença.
Allah! Eu adoro isso!

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—Não, vim mais cedo. Por quê? Antes de


eu chegar você ia se cobrir com aquelas roupas
largas? Percebi que quando não estou perto você
fica bem à vontade. —Digo com um sorrisinho
malicioso, de canto de lábios.
Ela fica vermelha. Se vira e volta sua
atenção para a panela. Eu me aproximo para ver o
que ela está fazendo. Vejo carne moída com
pimentões, ao lado arroz fresco.
—Você me disse que não sabia cozinhar.
—Não sei muito. Como você, conheço um
número limitado de receitas.
Ergo as sobrancelhas com suas palavras.
Hoje minha fome é outra. Estou louco de vontade
para beijar seus lábios rosas.
—Está certo. Vou tomar um banho,
almoçamos e depois descansamos. Bem à noitinha
podemos ir embora.
Observo então um prato de salada, pequeno.
Alface, tomate cereja e maças.
—Ah, aumente a salada. Também gosto das
frutas misturadas aos vegetais.
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—Eu sei, está na lista.


Eu ri.
—É verdade, eu me esqueci de como você
se esforça para ser boa esposa.

—Dayma maeak law Fa alkhayal Habibi


wa'aqrab hadin Mahma alwaqt tal Waka'ana hasis
Min zman Fa yawm hunbqaa libaed Zaa maqilbaa
qal. —Vou cantarolando a música romântica que
soa no ambiente até a banheira.
Coloco para encher devagar e no banheiro
faço minha barba. Allah! Estou me sentindo leve.
Sexo com Aysha tem me feito muito bem. Estou
me divertindo muito nessa relação. Bem que meu
pai me disse que eu iria gostar.
Aysha
Zair está diferente, mais leve, mas continua
cínico como sempre. Sinto esse vazio no meu
coração sinalizando que isso está errado. Algumas
mulheres talvez levariam um casamento assim
numa boa, mas eu quero mais do que ele me
oferece. Eu quero o seu coração. Hoje eu tenho a
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matéria, mas quero sua alma, seus sentimentos.


Allah! Nunca imaginei que ele fosse me
afetar dessa forma.
Começo a colocar as coisas na mesa. Ouço
um barulho de algo caindo no chão e dou com Zair
saindo nu do banheiro e pegando um frasco de
shampoo do chão. Quase dou um pulo ao vê-lo, ele
me lança um sorrisinho predador na minha direção,
imediatamente sinto um frio na barriga e fico
clamando para que o meu nervosismo diminua, mas
com ele ao meu lado é quase impossível.
Tenho certeza se eu tivesse por inteiro, se
ele se doasse mais, me demonstrasse mais afeição,
eu não me sentiria tão deslocada na frente dele.
Eu lhe dou as costas e mexo a panela. A
carne está bem cozida, desligo o fogo.
—Aysha. —Zair diz suavemente no meu
ouvido, mas eu pulo. Ele me envolve nos braços
com um sorriso nos lábios. —Vem, vamos tomar
banho juntos. Está calor.
Allah E que calor!
Tento controlar o nervosismo que ameaça
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me dominar com esse homem nu me abraçando.


Crio coragem para virar-me de frente para ele. Dou
com seus olhos negros nos meus que estão mais
escuros que o normal. Os lábios sexys curvados em
um lindo sorriso.
Como que hipnotizada aceno um sim. Zair
alarga mais seu sorriso. Seus lábios cobrem os
meus e ele me puxa para si. O beijo é tão intenso
que meus joelhos bambeiam e sinto arrepios por
todo o corpo. Ele me puxa pelas costas, unindo
nossos peitos. A emoção é sempre grande. Como se
ele me beijasse pela primeira vez. Estou ligada a
esse homem problemático. Tanto, que me dá medo.
Beijá-lo é sempre algo novo, me sinto uma
drogada ante a droga. Enfio os dedos nos seus
cabelos e ele geme enquanto aprofunda o beijo,
seus lábios escorregam pelo meu pescoço.
Ele me afasta e quando me vejo estou em
seu colo e ele está me levando para perto da
banheira. Então ele me coloca em pé próxima a ela.
Depois de me dar beijos no rosto, ele puxa minha
blusinha e eu ergo meus braços de bom grado
facilitando a saída dela. Momentos depois tudo está
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no chão.
Allah! Quem diria que esse homem fosse
quente desse jeito!
Não. Eu não estou me sentindo orgulhosa
por ele me desejar, quero muito mais que seu
corpo, meu alvo é seu coração.
Zair sobe na banheira e me faz entrar nela.
Ele se acomoda e me faz deitar com ele. Fico no
meio de suas pernas, minhas costas apoiadas em
seu peito. Um gemido involuntário escapa de meus
lábios quando ele começa a me tocar. Mãos
mágicas viajam meu corpo, visitando todos os
lugares que ele alcança. Seus lábios mordiscam a
minha orelha, meu pescoço. Eu respiro
irregularmente. Ele está ofegante também, deve
estar sentindo prazer em me dar prazer.
Minutos passaram e suas mãos já me
alisaram em todos os lugares, sua boca beijou,
sugou, mordicou sem parar. Isso só me deixa mais
excitada, tanto que já está começando a me
incomodar. Preciso dele dentro de mim e é
impossível extravasar nosso desejo na banheira. Ela
é muito estreita.
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Como se ele adivinhasse meus


pensamentos, ele me diz na orelha: —Vamos sair.
Eu me levanto primeiro com cuidado e saio
dela. Zair sai em seguida e me pega a toalha e
começa a me enxugar. Depois se enxuga com
agilidade, um sorriso faceiro em seus lábios.
Com o coração agitado vou até a cama e me
deito. Ele vem logo em seguida, se ajoelha na cama
e seu rosto paira sobre o meu. Vejo nos olhos de
Zair um desejo cru. Mesmo ele não tendo seu
coração para dar, o desejo está lá, nada disso parece
afetá-lo. Ao contrário de mim, que estou entregue,
ligada a ele. Embora eu ainda não entenda que tipo
de ligação é essa.
Amor?
Paixão fugaz?
Seus lábios novamente procuram os meus,
seu corpo ainda úmido, desliza sobre o meu
também molhado. Eu gemo alto quando ele toma
meus seios com a boca, ele os suga, lambe. Um de
cada vez.
Seus dedos me testam, acho que para saber

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se estou pronta para recebe-lo.


—Toda molhada. —Ele diz rouco, um
sorriso triunfal em seu rosto.
—Sim, por você. Só você....
Minhas palavras o fazem parar de me beijar.
Ele respira forte contra meu pescoço. Como se eu
tivesse apertado o botão errado. Então ele toma a
minha boca de um jeito rude, sem aquele carinho
de antes. Suas mãos são possessivas e pesadas no
meu corpo como se ele quisesse me provar algo.
Agora ao invés de prazer, eu sinto medo, sei
que ele vai acabar me machucando, então eu o
empurro, pois eu começo a me afogar dentro dos
seus lábios.
—Zair, para. Assim não.
Como se ele se desse conta de sua
brutalidade, ele para e enfia a cabeça sobre meus
ombros, o nariz enterrado no travesseiro. Respira
fundo...
Ele então se ergue e sem me olhar, abre
minhas pernas com seu joelho. Seus olhos não
procuram mais os meus, e percebo um rosto
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torturado na sua expressão.


Mas eu não consigo mais pensar nisso no
momento que ele me penetra e gemo de prazer. Ele
então começa a se movimentar, seus olhos estão
fechados, seus movimentos ritmados. Sinto que ele
bloqueou todo e qualquer sentimento, ele parece
uma máquina de dar prazer.
Meu corpo traidor geme e chega ao clímax.
Gemo alto quando isso acontece. Zair vem em
seguida, seu corpo estremece fortemente quando
ele se rende. Ofegante, ele então sai de mim e se
deita ao meu lado.
O tempo passa e eu, mais uma vez, não sei
o que fazer. Se eu o abraço, se eu me levanto da
cama, ou fico estática ali?
Depois de um tempo ele olha para mim, seu
rosto está impassível, ele não demonstra nada.
Sentimento algum. Sua frieza está em nível
máximo agora, tanto que quase não me sinto
preparada, mas como sou forte, o encaro sem
demonstrar o quanto isso me afeta.
—Vamos combinar uma coisa? Não vamos
arruinar o momento com palavras quando estamos
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transando.
Sabia! O ser problemático tem dificuldade
com as palavras.
Antes que ele fale mais alguma coisa que
me fira, eu digo:
—Tudo bem. —Ergo-me na cama. —
Vamos almoçar? Estou morrendo de fome.
Ele assente.
— Eu também.
Saio da cama e entro no banheiro. Enxugo
algumas lágrimas que agora insistem em cair com
essa situação. Depois de me recompor, eu me troco
e abro a porta. Zair está trocado colocando a mesa.
Eu vou até a cozinha e aumento a quantidade de
salada.
Minutos depois estamos almoçando em um
silêncio desconfortável. Zair não chega a estar com
o semblante carregado, mas não está mais amistoso
como antes.
Quando vejo que ele finalizou a refeição, eu
pergunto:
—E agora que acabou seu trabalho?
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Permaneceremos em Bahrein?
Ele que estava brincando com o garfo,
procura meus olhos.Zair está com o semblante
carregado.
—Sim, ficaremos no palácio do Sheik.
Estamos em lua de mel. Terei quinze dias de
descanso, depois vou a campo ver a instalação das
máquinas em novos pontos de captação de petróleo.
— Ele fala como se não fosse algo bom isso.
Estremeço com as falas dele. Quinze dias
sozinhos...
—Entendo. Então depois de quinze dias,
Samira virá para cá?
Ele assente:
—Sim, a babá a trará. —Se levanta. —Bem,
vamos arrumar nossas coisas. Só as malas. O
alojamento eles cuidarão com a nossa saída.
—Mas iremos agora?
—Não, como eu disse, vamos descansar e
sair depois que baixar o sol. E falando em sol, está
calor, vou regular esse ar condicionado.
Pouco tempo depois eu arrumo a cozinha.
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Zair está na cama mexendo no celular, mandando


mensagem para alguém. Relutantemente, eu me
deito na cama e pego meu livro. Tento ler. Zair
deita mais na cama e coloca o braço nos olhos.

Allah! Somos melhores transando.


O tempo passa, Zair ressona ao meu lado.
Deixo o livro de lado e só agora consigo relaxar,
me deito também. Aos poucos acabo cochilando.
Acordo sentindo cheiro de café.
Zair está lá na cozinha, bem à vontade,
passando o café. Seus olhos encontram os meus.
—Café?
Assinto.
—Sim, estou louca por uma xícara.

Zair

Aysha sai da cama e começa a arrumar a


mesa. Ela está linda, mesmo com a carinha de sono
e os cabelos desarrumados. Se move de um jeitinho
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tão sexy que tenho vontade de segurar meu...


queixo e ficar olhando para ela. Mas aquela voz
surge dentro de mim e ela me diz para eu lutar
contra o meu "intenso eu".
Não quero mais transbordar. Se eu não
tiver o mesmo sentimento que insanamente vou
sentir por Aysha vou me tornar possessivo.
Ciumento. Não vou conseguir confiar e ela irá
conhecer o meu pior, então vai me odiar e isso vai
acabar comigo.
Não! Melhor a amenidade de sentimentos....
Desvio meus olhos daquela figurinha e
volto minha atenção para o que eu estou fazendo
ainda pensativo. Eu não estou me sentindo nada
orgulhoso pelo que sou, pelo que me tornei. Mas
não consigo ser diferente.
Volto meus olhos para Aysha novamente.
Ela se sentou à mesa.
Sinto habibi, não serei manipulado
novamente. A razão estará à frente do meu
coração. Sim, é verdade que deixei meu passado
me embrutecer. Sim, deixei meu passado se
intrincar no meu ser e por mais que um lado dentro
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de mim queira melhorar as coisas entre nós, eu não


o ouço.
Esse mesmo passado me lembra a luta que
foi para eu me reerguer depois de todo sofrimento
que passei. Desde então, prometi a mim mesmo que
jamais entregaria todo o meu coração. Hoje, eu dito
as regras do jogo, e me sinto muito bem com isso.
Levo o bule para a mesa. Aysha está
comendo uma torrada com geleia. Pego sua xícara e
a sirvo. Ela ergue a xícara e me faz um brinde
silencioso. Eu me sento e tomo um gole do café que
fiz. Está um pouco fraco para o meu gosto.
Com o olhar vazio começo a lembrar de
tudo que vivi. Quanto tempo perdido! Quantas
vezes, antes de nos casarmos, tive oportunidades de
sair com outras mulheres, mas sempre fui fiel a
Amina.
O idiota aqui era virgem quando se casou.
Que piada!
Olho para Aysha que brinca com a colher
distraída, ela parece que finalmente entendeu a
natureza do nosso casamento.

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Que bom!

Aysha

A volta para o palácio foi longa e quase


silenciosa se não fosse pela estrada ruim que
deixava tudo muito barulhento dentro do carro. O
clima mudou novamente. Zair é outro. Ele só é
mais humano quando ele me leva para a cama, aí
ele é bem receptivo comigo.
Logo que chegamos, os empregados se
encarregaram de nossas malas.
O jantar foi divinamente preparado por

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ordem do Sheik Al Koul que ligou para Zenaide


quando soube que Zair voltaria para o palácio.
Comemos com fome as iguarias da mesa.
Ao término do jantar, Zair me encara. Nossos olhos
se encontram.
—Eu ligarei para a Tifany, precisamos dar
uma melhorada no seu guarda-roupa.
—Tifany?
—Uma loja de roupas muito conhecida.
Nunca ouviu falar dela?
Eu suspiro.
—Não, nunca me prendi muito a marca...
—Você escolherá vestidos dignos de sua
posição. —Zair diz me interrompendo.
—Iremos até a loja?
Zair sorri.
—Não, ela virá até você. Vou marcar com
elas amanhã à tarde. O que acha?
—Deixa-me olhar na minha agenda.... —
Digo pegando o celular, debochada. —Sim, meu
marido. Tenho um tempo para elas.

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Zair não ri da minha piada.


—Bem, vou me deitar. Nos vemos amanhã.
Pelo jeito ele vai dormir no quarto de
hóspedes. Isso não é surpresa para mim.
—Está certo, boa noite.
—Boa noite.

O sol brilha forte do lado de fora, eu estou


em uma sala que parece um auditório. Ao meu lado
Zair. Lindo, usando um terno cinza, risca de giz,
está sentado com as pernas cruzadas. Eu e ele
estamos escolhendo vestidos, roupas e acessórios
para o meu novo guarda-roupa.
Sim, roupas dignas de uma princesa.
As vendedoras, toda hora, surgem vestidas
com uma peça para a minha aprovação. Zair espera
o meu julgamento para depois acenar com a cabeça
se ele aprova ou não.
E palavras como: "Essa cor não ficará bem
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em você, sua tez é muito branca. Esse vestido é


muito pesado e você sentirá calor, pense acima de
tudo no seu conforto e não somente na beleza do
vestido." Acabam me convencendo. Não por eu ser
uma pessoa influenciável, mas por meu esposo ter
um feeling surpreendente, me fazendo enxergar
coisas que não enxerguei.
Reconheço, ele é muito bom com as
palavras.
Um cheque gordo é dado à gerente que o
olha com dois corações nos olhos.
Servas do palácio se movimentam o tempo
todo levando tudo para o meu quarto, para ser
devidamente guardado no meu closet.
As vendedoras e a gerente se despedem de
nós se encurvando, cerimoniosamente e depois são
levadas por Kamal até a saída. Zair se vira para
mim.
—Dentre essas roupas, escolha uma para
hoje à noite. Lembrando que cores claras são para o
dia e cores escuras à noite.
Bem entendido ele... Será que ele aprendeu

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com a ex ou com sua mãe?


—Está certo.
Zair acena um sim e se afasta. Sai como se
tivesse cumprido uma missão ao me orientar em me
vestir, para ser digna de estar com ele e não como
um marido amoroso que quis agradar a esposa para
ela se sentir bem ao lado dele.
Desde que chegamos de viagem, Zair está
distante. Há um falso clima de tranquilidade e
harmonia. Como dois estranhos temos nos falando.
Claro, que será assim até ele ser tomado por um
grande apetite sexual, então ele me procurará e
então vai tirar aquela capa de frieza. Então duas
brasas acesas se consumirão na cama até extinguir
seu fogo, e então, ele voltará a ser a brasa fria de
antes e me tratará de maneira civilizada.
Allah! Por que me importo?
Enxugo minhas lágrimas e me levanto do
sofá a caminho do meu quarto. Passo em frente a
porta de Zair. Sentindo uma força irresistível eu a
abro lentamente. O avisto deitado na cama, o braço
em cima dos olhos. Uma avalanche de emoções
novamente me sufoca e uma dor que jamais pensei
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que pudesse existir, me invade, aperta meu peito


quando novamente constato que ele prefere ficar só
ao invés da minha companhia.
No meu quarto, me sentindo solitária, me
deito na cama. E pensar que posso estar gerando
um filho dele. Então resolvo espantar pensamentos
tristes e tomar um banho relaxante e depois dar
uma cochilada.
Foi o que fiz tomei um banho demorado de
imersão. A banheira enorme só para mim, depois
me deitei toda esparramada naquela cama enorme,
tentando fazer disso minha alegria momentânea.
Quando acordo procuro com os olhos o
rádio relógio. São quatro horas da tarde.
Faço uso do banheiro, penteio os cabelos os
deixando soltos e depois faço uma maquiagem
leve. Saio do quarto e passo em frente a porta
fechada do quarto de Zair. Solto o ar com angústia
e tento não pensar na minha situação. Percebo que
ando muito agitada, meus sentimentos estão à flor
da pele. Preciso ter a cabeça fria, ter paciência com
ele. O tempo cura tudo. Se ele não estragar tudo, eu
estarei aqui, firme esperando sua redenção.
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Enquanto ando pelo palácio faço uma


varredura para ver se vejo Zair, mas nem sinal dele.
Da cozinha vem um cheirinho de café e é para lá
que eu vou.
Ah, estou louca por uma xícara!
Mas, antes de eu pôr o meu pé dentro da
cozinha, avisto Zair sentado em um banquinho em
frente ao balcão. Ele está de costas para a entrada.
Enquanto beberica o café conversa com Zenaide a
respeito do Sheik.
Ela lhe fala algo do sheik em seu ouvido e
ele dá uma gargalhada gostosa. Zenaide o
acompanha rindo muito também.
Eu estaco ali, me sentindo deslocada, uma
intrusa. Como se de repente minha presença fosse
indesejada e quebrasse o clima entre eles. Estou
para me virar e voltar outro momento quando
Zenaide me avista.
—Princesa Aysha.
Zair para de rir e vira a cabeça na minha
direção.
—Boa tarde, Zenaide. —Falo no árabe. O
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inglês só falo com Zair que quer praticá-lo.


—Fiz café.
—Hum, eu senti o cheirinho.
—Posso te servir uma xícara?
Zair se levanta e puxa o banquinho para
mim ao lado dele. Relutantemente eu me sento.
—Claro, e tem algo para acompanhar?
Estou morrendo de fome.
—Sim, vou pegar.
Viro meu rosto para Zair, nossos olhos se
encontram. A feição descontraída dele dá lugar a
seriedade.
Allah! Por que ao lado dele sempre me sinto
nervosa?
—A festa está marcada as oito e meia. Mas
não quero chegar exatamente nesse horário. Mas
um pouco mais tarde. Sairemos daqui umas nove.
Dou de ombros, mexendo distraidamente no
meu cabelo.
—Tudo bem.
Os olhos de Zair descem para os meus
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lábios, mas não ficam ali, ele os retira rapidamente


e toma um gole grande de café.
—Estava ótimo Zenaide.
Se levanta.
—Já vai? —Pergunto mostrando minha
decepção na voz.
Zair busca meus olhos e fica calado por um
tempo.
—Eu preciso dar uns telefonemas.
Respiro.
—Tudo bem.
Ele dá uma batidinha no balcão com a mão
e se afasta. Zenaide coloca tudo no balcão para
mim.
—Zair já foi?
—Ele tinha que fazer uma ligação.
—Homens!
Eu fixo meus olhos nos dela.
—Zenaide, Zair trouxe Amina para cá?
—A falecida?
—Sim.
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—Ela veio uma vez. Mas logo retornou. Ela


não gostava muito de acompanha-lo. O príncipe
Zair nos disse que ela preferia ficar em Catar. Mas
ele mesmo veio poucas vezes aqui. Parece que
agora que os negócios cresceram.
Eu bebo um gole do café. Pego um pedaço
de pão, disfarçando meu nervosismo.
—O pouco que você os avistou juntos.
Como ele era com ela?
Zenaide me olha sem falas por um tempo.
—Por que pergunta? Ela está morta. Não é
bom ficar alimentando dúvidas ou comparando seu
casamento com o que ele tinha com ela.
—Zenaide! Diga-me, como ele era com
ela?!
Ela solta o ar.
—Ele parecia gostar muito dela. —Ela diz
cautelosa.
—Como?
Ela funga.
—Ele estava sempre sorrindo, eu também
percebia pelo olhar apaixonado que ele dava para
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ela quando eles estavam à mesa. Ele estava sempre


preocupado com seu bem-estar.
Meu coração se aperta em sofrimento.
—E o que mais?
Zenaide limpa a mão no avental.
—Mais nada! Não vamos falar do passado.
—Zenaide, você não estranhou o jeito que
Zair me olha e me trata?
As mãos dela tremem.
—Vocês são recém-casados. Estão se
conhecendo ainda, é normal ele agir assim, tão
distante.
—Então você reparou?
—Sim, mas não acho nada demais. Zair me
disse que você foi prometida a ele desde pequena,
então é normal isso. E ele conhecia Amina desde
garoto.
Eu fungo e não digo nada. Passo geleia na
torrada e a como com o café, pensativa.
—Obrigada, Zenaide.
—Você quase não comeu nada.
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—Perdi a fome.
Caminho me sentindo infeliz para o meu
quarto.
Ando pelo palácio silencioso. No caminho
vejo empregados trabalhando, uns limpando, outros
molhando as plantas, mas nada de Zair.
No meu quarto eu me deito na cama e pego
meu celular. Há vários emojis de Layla no
messenger. ??????????❤?? ​♂
Respondo para ela:
"Oi, como estão as coisas? Tudo bem?
" ??
Minutos depois ela escreve:
Oi, Aysha.
Está tudo bem aqui. E você? Como está
se sentindo como uma princesa?
Aperto meus lábios e me seguro para não
responder que é um lugar solitário.
Escrevo:
"Tudo bem, mas não se iluda, ser
princesa não é como você imagina. "

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Ela responde:
"Você fala assim para eu não ficar triste.
"
Eu fungo. Que me dera fosse isso.
"Quando você crescer mais, eu comprovo
minhas palavras. "
Ela escreve:
"Não acredito em você!
Seja uma boa esposa para eu me casar
com um príncipe também, papai me disse que o
Sheik prometeu que se você for eu terei o mesmo
destino".
Meu peito se aperta e o peso que eu sinto
por dentro aumenta. Dou um suspiro.
"Pode deixar. "
Ela coloca um emoji sorrindo. ?? Eu
escrevo:
"Bem, vou desligar. " ????
Ela questiona:
"O que você fará agora? "
Não respondo e desligo o celular, limpando
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minhas lágrimas que caem abundantemente. Não


quero contribuir para que ela ache meu mundo
maravilhoso. Eu me sentirei culpada por colaborar
com isso.

Quatro horas e meia depois estou parada em


frente ao closet, ele cheira a essência personalizada
da loja. É o perfume das roupas novas. Todas são
lindas e ao mesmo tempo tradicionais. Não marcam
o corpo. Esquece os formatos sereia. Decotes ou
saias curtas.
Escolho um vestido negro, todo bordado. O
decote canoa, sem mangas.
Observo os meus cabelos compridos de um
lindo castanho-dourado. Essa é a pior parte: ter que
cobri-los. Coloco um lenço negro com dó.
Faço uma maquiagem leve, capricho nos
olhos, marcando o olhar com rímel, lápis e sombra.
Nos lábios passo um batom cor terracota, muito
parecido com o dos lábios. Apenas para dar vida a
eles.
—Aysha! —Ouço Zair chamando meu

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nome no quarto.
Saio do banheiro.
Allah! Ele está um arraso. Usa um terno
negro, bem ocidental, camisa branca e gravata
preta. Ele segura uma caixa preta de veludo.
—Está pronta?
Aceno um sim com a cabeça. Ele passa os
olhos com um sorriso de apreciação.
—Isso para você. Quero que você brilhe ao
meu lado e ofusque o brilho de todas as outras
mulheres. —Diz e abre a a caixa na minha direção;
um lindo colar de esmeraldas e brincos combinando
são revelados.
Forço um sorriso:
—Lindo.
—Sabe quantas mulheres dariam tudo para
ter esse colar? E eu recebo um "lindo" tão
desanimado?
Eu o encaro.
—Meus valores são outros.
Zair, o abominável senhor das neves, funga.

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—Por quê? Achou esse simples? Queria


um, mais extravagante?
Allah! Ele não me conhece mesmo.
E toda insatisfação dá lugar a raiva.
—Eu quero que se dane seu colar. Se me
conhecesse de verdade, saberia que eu não me
refiro a joia nenhuma.
Sinto então minha garganta fechada e
respiro com dificuldade, mas me controlo para não
chorar. Zair fica vermelho e fecha a tampa com
força. Se aproxima de mim com as pupilas dilatada.
—Por Allah! Aysha! Hoje é um dia
importante para mim. Eu não te falei, mas essa
festa é uma forma do Sheik Al koul me honrar, me
agradecer por tudo. Deixe seus chiliques para
depois.
Abro minha boca, mas minha resposta jaz
um amargo ressentimento e dor e que eu estou
resolvida a ocultar. Então a fecho novamente.
Nunca soquei alguém na vida e estou me segurando
para não lhe dar um soco nessa cara linda, tirando
esse sorrisinho sexy que ele está me dando agora.

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Esse homem é ciclo tímico.


Só pode ser!
Ele se aproxima mais. Meus olhos se
prendem aos dele.
—Aysha, vire-se.
Eu ainda o encaro, sem me virar. Ele respira
fundo:
—Por favor!
Bem, com por favor eu me viro.
Logo sinto o colar gelado no meu colo e
depois os dedos de Zair na minha nuca e então o
peso do colar no meu pescoço.
Ele segura meus ombros e me vira para ele.
—Ficou linda. —Ele diz suavemente,
parece uma cobra sinuosa. —Tome a caixa.
Coloque os brincos, eu te espero na sala.
Pouco tempo depois estamos prontos para
sair, caminhamos até a porta, ele se vira e me olha
nos olhos, com aquela expressão que parece meu
chefe estampado no rosto.
—Pronta para bancar a esposa apaixonada?

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Essa é boa! Paciência é uma virtude que eu


estou a cada dia aprendendo a cultivar...

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Capítulo 11

Vinte minutos depois, palácio Real...

Examino o mar de mulheres bem vestidas


acompanhadas com seus maridos. Percebo um
misto de culturas. Não há só árabes na festa. Vejo
mulheres sem lenço nos cabelos.
Sinto os braços de Zair nas minhas costas,
ele me conduz ao salão. Caminho ao lado dele
consciente do olhar das pessoas que começam a
cair sobre nós.
Incomodada com meu lenço, o puxo e solto
meus cabelos que caem como cascatas nos meus
ombros.
Zair para de andar.
—Aysha! Coloque o lenço! —Ele diz,
baixo, no meu ouvido.
—Tem mulheres que não estão usando o
lenço.
Ele aperta meu braço.
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—Elas são de outra nacionalidade, pessoas


da embaixada.
Eu sorrio para meu marido.
—E eu sou americana. Esqueceu? Quando
você queria me seduzir fazia questão de me lembrar
disso!
Quando Zair está prestes a me contrariar, o
Sheik o avista e faz um gesto para as mulheres.
Elas fazem o Zaghareet, que é um barulho
tribal com a língua, elas funcionam como nossas
palmas ocidentais. Os convidados se voltam para
nós. Zair sorri para todos, mas vejo ali uma risada
forçada. Acho que ele quer me matar.
Um servo o anuncia:
—Sua Alteza Real, o Príncipe de Catar, Zair
Salim El Mustafá.
O Sheik caminha imediatamente em nossa
direção.
—Zair, Salaam Aleikum.
—Alaikum As-Salaam. —Ele responde.
—Essa deve ser sua esposa...

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Zair assente.
—Sim, Aysha.
—Prazer, vossa majestade. —Digo me
inclinando.
O Sheik passa os olhos pelos meus cabelos.
—Linda sua esposa.
—Sim, ela é linda. —Zair diz quase
contrariado.
—Zair disse que você não é Catariana, que
apenas seu pai é, que você nasceu no Estados
Unidos e sua mãe é americana.
Puxa, falaram de mim?
—Sim, vossa excelência. —Eu me inclino.
—Isso explica a cor de seus cabelos, são
lindos, e com o preto fica muito bem.
Sinto as mãos quentes de Zair nas minhas
costas.
— Acho melhor ela cobri-los. Ela trouxe o
lenço.
Eu dou um sorriso inocente para o velhinho.
—Preciso cobri-los?
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Ele pisca.
—Não, claro que não. Como viu, há um
misto de culturas aqui. Ninguém irá reparar. —Ele
olha para Zair. — Leve Aysha até as minhas
esposas e depois me faça companhia, vamos nos
socializar.
Zair assente. Ele praticamente me empurra,
me conduzindo até um grupinho de mulheres. Eu
relanceio um olhar para seu rosto. Ele está com os
lábios apertados ao meu lado, o rosto contorcido,
muito contrariado.
—Salaam Aleikum.
—Alaikum As-Salaam. —Elas respondem
em coro.
—Zeina, Selima, essa é Aysha, minha
esposa. Ela ficará aqui com vocês.
Allah! As mulheres do Sheik têm a minha
idade.
Puxa! O vovô não é fraco não.
Elas se inclinam.
—Claro, vossa alteza, fique tranquilo.
Olho as duas mulheres muito bem trajadas
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com abayas negras bordadas, e lenço nos cabelos.


Zair me pega pelos ombros e me vira para ele.
—Fique com elas e não faça nenhuma
besteira. Acho melhor você cobrir os cabelos, ou
teremos uma conversa séria em casa.
—Zair, relaxa. Até o Sheik não viu nada de
mal nisso.
Ele solta o ar e me olha resignado e se
afasta pisando duro. Eu meneio a cabeça e me viro
com um sorriso para elas.
As mulheres do sheik, como boas anfitriãs,
me pegam pelo braço e circulam comigo no salão,
me perguntando se eu gostaria de comer ou beber
algo.
Como estou sem fome e meio nervosa,
nego. Então me sento com elas num grande sofá.
Conversamos sobre filhos, descobri Selima não
pode ter filhos e por isso ele teve uma segunda
esposa.
Allah! Não gostei desse assunto! Eu não
admitiria uma segunda esposa. Jamais!
O clima da festa muda com a entrada de
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alguns músicos. Todos param de conversar e


observam eles entrarem. São três, carregando seus
instrumentos: flauta, bumbu e alaúde.
Imediatamente volto meus olhos para Zair. Vejo o
Sheik falar algo em seu ouvido, ele assente para ele
com um sorriso e em seguida vem em minha
direção. Eu estremeço, pois eu entendo o que está
prestes a acontecer.

Zair me estende a mão. Eu fico a olhar para


ele sem me mover, meu rosto impassível, mas por
dentro fervendo de nervoso. Ele ergue as
sobrancelhas quando vê a minha demora em aceitar
seu convite para dançar. Relutantemente pego sua
mão e me levanto do sofá. Vamos de mãos dadas
até o meio do salão. Todos os olhos estão voltados
em nossa direção. Os instrumentos começam e Zair
abre os braços. Ele então começa a dançar para
mim. Meu coração se agita no peito e eu entro na
dança também. Dançamos afastados, os passos
sincronizados: é a dança árabe.
O tempo todo aquele queixo arrogante está
erguido, e ao mesmo tempo ele dança lindamente.
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Nossos olhos não se perdem um do outro na dança.


Zair se movimenta com uma destreza nos passos,
que me impressiona e ao mesmo tempo me
envolve. Esqueço até que há muitas pessoas nos
observando. O tempo parece passar devagar entre
nós conforme dançamos. Há um grande
magnetismo entre eu e ele e isso é uma mistura
atordoante.
Quando a música finaliza todos aplaudem e
eu caio na realidade. Zair se aproxima de mim e
fala no meu ouvido.
—Você dançou muito bem.
Estremeço... assinto para ele. Zair pega a
minha mão e todos batem palmas. Agradecemos.
Ele então se afasta e eu volto para o meu lugar.
Mas antes de me sentar, sinto uma sede danada. O
nervoso de dançar com ele me deixou com a boca
seca, vou até a mesa de bebidas.
As mulheres me cercam e me elogiam,
dizem que eu e Zair fazemos um lindo casal. Sorrio
timidamente para elas. Mal sabem elas como
Zair parece uma máquina, aperta um botão, ele é
gentil, então aperta outro, ele é frio.
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Zair
O Sheik elogia, diz que danço muito bem.
Eu sorrio e procuro com os olhos Aysha, mas ela
não está mais ali. Quando o Sheik é chamado por
alguém, ele me pede licença e se afasta. Eu,
imediatamente, varro o salão à procura dela. A
encontro e a observo atravessando o salão ao lado
das duas mulheres de Al Koul. É nítido que ela está
atraindo todos os olhares sobre si, mas ela parece
alheia a isso.
Claro! Nenhuma mulher chega perto
daquela cor de cabelos lindos e naturais, de um
castanho-dourado. Seu rosto, com as maçãs
salientes, é expressivo.
E seus olhos? Mesmo de longe, eles
parecem duas esmeraldas, grandes e brilhantes.
Não foi por acaso que escolhi esse colar para ela.
Exalo forte.
De repente me dou conta que Aysha,
comparada a Amina, sobrepuja em beleza. Essa
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comparação que faço me deixa perturbado, pois


vem todos aqueles sentimentos ruins dentro de
mim.
O Sheik surge.
—Vem Zair, vamos comer algo. As
mulheres trabalharam o dia inteiro fazendo a mesa
de quitutes.
Eu pisco, como se saísse de um transe e o
acompanho.

Aysha

As mulheres foram chamadas por uma


serva, e eu fiquei só. Sentindo-me deslocada,
caminho para a mesa de bebidas. Vejo lindos copos
com um líquido leitoso e decorados com frutas.
Pego um que tem maracujá e beberico.
Hum, que delícia.

Sorrio.

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Fico em um cantinho observando as


pessoas. Os homens de um lado, mulheres de outro.
Zair parece incomodado, ele toda hora me procura
com os olhos. Num desses momentos, nossos olhos
se encontram. Eu ergo meu copo numa saudação e
tomo o resto da bebida.
Quando termino de tomar o suco, começo a
me sentir estranha.
Allah! Olho para a mesa muito bem
dividida e então vejo a plaquinha bebidas com
álcool.
Rio. Está explicado por que estou me
sentindo tão leve. E Allah! me sinto muito bem.
Ante a tudo que tenho passado, que mal há
em extravasar um pouco?
Pego outro copo, esse tem um guarda-
chuvinha ele é roxo. Hum, uva! Beberico a bebida
com uma prazerosa satisfação. As esposas do sheik
se aproximam de mim.
—Você está bebendo álcool?
Eu rio já fora do meu estado normal.
—Sem querer peguei. Isso é muito bom! —
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Faço barulho com o canudo sugando tudo, já me


sentindo meio fora de mim.
Elas riem uma com a outra. Uma delas, a
mais alta que eu já nem me lembro o nome, pega o
meu braço e me diz:
—Vem, você precisa comer algo.
—Sabe que essa bebida é mágica? Eu vejo
tudo diferente.
Elas riem de mim novamente e de repente
eu me sinto muito engraçada. Quase tropeço, uma
delas me segura.
—Upa lá lá! —Digo rindo muito.
Elas riem novamente e me colocam sentada
numa poltrona superelegante.
—Sente-se aqui, vou pegar algo para você
comer.
Fecho meus olhos. Agora tudo roda.
Elas me trazem uns pasteis de forno com
carne de carneiro. Eu como um, até com prazer,
mas quando elas me oferecem outro, eu nego, me
sentindo um pouco enjoada.
Fecho os olhos e tudo gira novamente.
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—Allah! —Digo, me sentindo péssima


agora.
—O que houve? —Ouço a voz de Zair
parece muito longe.
Tento abrir meus olhos, mas eles estão tão
pesados e eu apago.
De repente, algo me atinge na cabeça,
fazendo com que meu corpo se retraia. Frio, muito
frio.
Abro os olhos assustada, vejo Zair ao meu
lado com a expressão preocupada. Olho a água fria
caindo. Olho ao redor, estou embaixo do nosso
chuveiro. Olho para mim mesma. Só de calcinha e
sutiã. O encaro novamente:
— O que está fazendo? Allah! Eu estou
com frio! —Protesto, tremendo.
Ele suspira.
—Dando um basta na sua bebedeira.
Agora ele me olha tão severo que me
intimida e essa água gelada está me incomodando.
Eu dou uma risadinha débil, o mundo agora não me
parece tão cor-de-rosa.
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Ele me ergue e fecha o box. Eu tremo nos


braços dele, ele me envolve com uma toalha
branca, felpuda e me pega no colo. Hum, ele é tão
quentinho. Eu me agarro ao seu corpo e o encaro
enquanto ele me carrega como se eu fosse uma
pluma.
Allah! Ele é tão forte. Parece um herói. Um
Superman.
—Não fica bravo. —Digo passando a mão
no rosto dele como isso tirasse sua carranca.
Ele aperta os lábios antes de dizer:
—Você me envergonhou, Aysha! Allah!
—Perdoe-me.
—É só isso que as mulheres sabem fazer,
pedir perdão quando já é tarde demais para se
arrepender.
Passo o dedo nos lábios dele.
—Zair, por que você é tão mau?
Ele me diz rude:
—Já fui bom. Hoje não ajo como meu
coração manda, sou pura razão e ela me diz que
você exagerou na dose "Aysha de ser."
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Eu fico sem falas diante de sua raiva, e


estou lenta, não consigo raciocinar direito. E pior,
ainda vejo tudo rodando.
Zair me coloca na cama, eu estremeço. Ele,
então, começa a passar a toalha vigorosamente no
meu corpo dizendo:
—Você me assustou, Aysha. Você parecia
estar num coma alcoólico. Mas um médico na festa
me disse que estava tudo bem. Não via a hora de
chegar em casa para ver se você reagia com o
banho.
Eu rio, coloco a mão nos lábios.
— Hum, então você se preocupou comigo?
Ele me segura nos ombros.
— Não estou brincando, Aysha!
Eu paro suas mãos e o encaro agora, as
lágrimas querendo sair.
—Não fiz por mal. —Estremeço e começo a
tremer. —Está tão frio.
—Deite-se, eu te cubro!
Eu o fico dura e não me deito.

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—Não sou uma criança, então não me trate


como uma. Sou sua esposa!
—Pois, hoje agiu como uma criança
mimada!
—Eu já disse que não sabia que era bebida!
Zair aperta os lábios e franze as
sobrancelhas.
—Você tomou dois copos grandes. As
mulheres do Sheik me contaram. No primeiro tudo
bem. Mas e o segundo? Por que repetiu a dose
quando viu que era álcool?
Eu o abraço. Estremeço quando sinto seu
cheiro maravilhosamente bom, e o calor de seus
braços é tudo que preciso agora. Eu digo apertada a
ele:
—Eu estava tão infeliz, você tem me tratado
tão frio, quando vi que aquela bebida deixava tudo
melhor, bebi novamente. Mas não pensei que fosse
passar mal. Perdoe-me.
Zair ofega nos meus ombros. Eu o aperto
mais. Ele me afasta duramente, eu não gosto disso,
pois eu me sinto mais solta. Estou cheia de amor
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para dar.
Passo a mão nos lábios dele e confesso:
—Eu te amo, sabia?
Seu rosto muda, para torturado.
—Você não sabe o que está dizendo.
— Sei sim.
Ele desvia os olhos dos meus, eu puxo seu
rosto com as mãos e o faço olhar para mim.
—Já ouviu a música da Madona? Frozen?
—Digo meio grogue, com um meio sorriso.
Zair respira fundo, seus olhos estão atentos
aos meus, mas ele diz mal-humorado.
—Não!
Eu ergo meu braço que parece ter uma
tonelada e passo a mão nos cabelos dele:
—Ela diz que o amor é uma ave, ela precisa
voar. Deixe toda a dor dentro de você morrer. Você
fica congelado, quando seu coração não está aberto.
—Aysha, deite-se.
Ele força meu corpo para eu me deitar no
travesseiro.
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— Não! — Digo me desvencilhando dele e


subo na cama, quase caio. Rindo me seguro na
parede. Parece tudo tão engraçado.
Zair se levanta e tenta me pegar, mas eu me
desvencilho e começo a cantar, mexendo as mãos,
me insinuando para ele:

Você só vê o que seus olhos querem ver


Como pode a vida ser aquilo que você quer
que ela seja?
Você fica congelado
Quando seu coração não está aberto

Você está tão consumido com quanto você


consegue,
Você desperdiça seu tempo com ódio e
arrependimento,
Você fica arrasado
Quando seu coração não está aberto

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Mmm... Se eu pudesse derreter seu coração


Mmm... Nós nunca ficaríamos separados
Mmm... Entregue-se para mim
Mmm... Você possui a chave

Zair me puxa para a cama. Eu caio sentada.


Seus olhos se avivam nos meus. Leio o dono desses
lindos olhos negros. Há uma dureza, poder, além de
uma virilidade pura e absoluta.
—Você fala assim pois não sabe o que
passei, minimiza a minha dor quando acha que é
fácil ter o coração livre como pede.
Nunca vi uma confissão tão evidente de dor
nos olhos de um homem. Meus músculos se
contraem e sinto meu corpo quente. O coração
trovejando dentro do meu peito. De repente quero
muito beijá-lo. Eu fico de joelhos na cama e seguro
seu rosto entre minhas mãos:
—Nunca irei te magoar. Acredite! Abra o
seu coração. —Digo e repito o verso da música: "Se
eu pudesse derreter seu coração, nunca ficaríamos
separados..."
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Eu lhe dou um beijo suavemente na boca.


Ele retira a minhas mãos com força excessiva e
abaixando a cabeça funga alto. Fica ali, com a
respiração pesada, como se estivesse pensando no
que eu acabei de dizer.
Ele olha para mim e sorri, meio diabólico
para o meu gosto.
—Então eu sou congelado?
Eu assinto com a cabeça, cuidadosamente,
pois eu não sei o que ele vai fazer.
—Vou te mostrar agora quem é o
congelado.
Seus lábios tomam os meus com fogo puro.
Sua atitude demonstrando que ele está bem seguro
agora do que quer. Satisfeita, eu o puxo mais para
mim, o envolvendo com meus braços. Sua língua se
choca com a minha, acariciando, experimentando
meu sabor.
Fico arrepiada sentindo a maneira
possessiva com que ele me segura. Seus dentes
mordiscaram meu lábio inferior. Respiro
erraticamente abrindo mais minha boca quando ele

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me toca em vários lugares. Sorrio quando ele pega


meu bumbum firmemente.
Estou tão quente. Loucamente quente. Meu
corpo está superaquecido, meu cabelo bagunçado,
minha boca seca, e os meus sentidos a flor da pele.
Ele se afasta ligeiramente para me olhar. Então
puxa minha calcinha molhada, e eu me sento rindo
e com as mãos trêmulas tiro o sutiã.
—Allah! Perco minha razão quando estou
com você. Aysha. —Ele diz com os olhos
encapuzados, olhando meu rosto vermelho.
Quando eu o olho assim, tão cheio de amor
para dar, meu coração sussurra que tudo faz
sentido. Eu enganaria a mim mesma se eu dissesse
que eu não ficaria vazia sem ele. Movida por esse
sentimento, eu o puxo pra mim. Zair ri quando me
vê ansiosa. E se afasta, eu pisco aturdida. Então ele
retira rapidamente sua roupa expondo seu lindo
corpo. Sinto-me aliviada. E vou em cima dele.
Com os olhos cheios de luxúria, ele se apoia
nos travesseiros. Joga a cabeça para trás quando
cubro seu tórax e abdome com beijos quentes,
provando sua pele. Ele geme quando passo minha
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língua e meus lábios nas curvas deliciosas de seu


tórax. Seus músculos se contraem e sua respiração
se agita.
Provo cada centímetro de sua pele e arranco
sua cueca. A visão de sua masculinidade enorme e
ereta, me faz estremecer e buscar sua boca, me
esfregando nele, o estimulando ainda mais.
Zair geme.
Tudo agora se torna urgente entre nós. As
mãos procurando o corpo um pelo outro, elas se
movem, apertam. As respirações são pesadas e
nossos gemidos se misturam: Intensos, alucinados
um pelo outro. Tanto, que ficamos mais rudes, mais
ferozes.
Quando tomo sua boca, ele geme contra a
minha e percorre meu corpo com as mãos, até a
minha bunda. Sim, ele é quente. Um predador que
gritava força e poder e de bom grado me rendo à
sensação dele nessa nuvem de luxúria.
Zair me vira e me beija. Agora me
dominando, me possuindo, capturando a minha
língua até que nossos lábios estejam moldados em
conjunto, me mostrando como ele é quente.
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Cada centímetro da minha pele formiga


enquanto ele traça a curva dos meus seios e quadris
com os dedos. Ele me beija novamente, e sua
língua doce me deixa tonta, enquanto suas mãos
tocam cada terminação nervosa do meu corpo.
Não posso mais esperar. A sensação é tão
intensa, é quase insuportável. Eu envolvo minhas
pernas ao torno de seus quadris, meu corpo
explodindo com choques elétricos de prazer. Somos
uma bola de suor quando ele finalmente me
penetra. Seu abdome magnífico treme com cada
investida mais profunda. Seu rosto está contorcido
de prazer. Agora eu quero dar um beliscão nele por
ele ser tão lindo.
Ele penetra cada vez mais fundo, e eu me
agarro a ele, que treme com a força de seu prazer.
Cada vez que ofego, o som é mais alto e mais
desesperado. Cada movimento parece ser demais
para ele, e sei disso, pois sinto o mesmo. Agarro o
cabelo dele quando seus movimentos se tornam
mais rápidos e intensos e eu chego lá. O prazer
intenso me retira o fôlego. Zair vem logo em
seguida, estremece quando isso acontece, e geme
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como se o orgasmo lhe fosse extremamente


doloroso. Ele então se joga do meu lado na cama
com a respiração agitada. Aos poucos seus olhos
vão se fechando, ele parece sonolento.
Mansamente eu me acomodo em seus
braços. Zair não reage, e eu fecho os olhos, me
sentindo ainda tonta, mas quentinha e feliz.

Zair

Zair
De madrugada deixo Aysha dormindo e vou
para o meu quarto. Dormir ao lado dela é ter uma
intimidade que ainda não estou preparado.Eu
preciso amortecer meus sentimentos para ter essa
intimidade. Mas trago comigo a lembrança da
textura suave da sua pele sob a minha, suas mãos
macias, seus lábios rosas no meu corpo e da
sensação quente de estar dentro dela.
Mas meu eu racional me acusa.
Sabe como eu me sinto?
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Quem já não ouviu falar de internautas que


iludidos por algo abriram mensagens e
contaminaram seus equipamentos com algum
vírus? Os famosos cavalos de Troia? Os troianos
acharam que o cavalo representava um sinal de
rendição dos inimigos, e para o seu azar, levaram o
cavalo para dentro e suas muralhas, comemorando
a suposta vitória. Se enfraqueceram regados a
muito vinho. Mas à noite, soldados saíram armados
do cavalo e mataram todos.
É exatamente assim que me sinto. Abrir
meu coração é como deixar esse presente de grego
entrar. Parece um jeito covarde de encarar a vida,
mas eu não vejo assim.
Por que não tirar o melhor dela?
Allah! Por que preciso estar preso em uma
gaiola?
Não!
Não preciso!
Não caio mais nessa!
Antes eu era assim, extremista. Sentimental.
Se eu não estivesse tão envolvido com Amina, eu
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não teria sofrido tanto. E o pior! Sozinho, sem


nenhum ombro amigo para contar. A vergonha de
ser traído é muito grande, não dá para sair por aí
contando isso.
Eu podia ter contado para a minha família,
mas quando ela se descobriu grávida, achei melhor
esperar, faria o exame de DNA e baniria de vez
Amina da minha vida.
Cego! Um escravo dos meus fortes
sentimentos por uma mulher que me traía, que
infiltrou seu amante na nossa casa como seu
motorista e mesmo assim me vi sofrendo por ela,
dentro da maldita gaiola do amor.
Se eu não a amasse tanto, eu não sofreria
como sofri...
Se...
Se...
Chega de "Se"

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Capítulo 12
Aysha
Aysha
Minha cabeça dói muito. Sinto o gosto
amargo na boca. Abro meus olhos e imediatamente
sinto o incômodo da luz do quarto.
"Onde estou, o que aconteceu? "
Eu me ergo e me vejo no meu quarto, me
olho embaixo do edredom.
Estou nua.
Olho do lado e vejo o lugar vazio na cama.
Fecho os olhos tentando me lembrar do que
aconteceu ontem. Eu me lembro da festa até a parte
das meninas me colocarem no sofá. Depois flashes
de Zair no chuveiro e eu cantando algo, dançando
para ele. Depois lembro-me do rosto dele próximo
ao meu, de seus beijos. Sim, nós fizemos amor.
Não me admiro em nada que ele não esteja
ao meu lado.
Eu me sento e puxo o edredom no pescoço,
a dor de cabeça aumenta e junto com ela sinto
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vontade de vomitar.
Allah! Não deveria ter bebido!
Ouço a porta se abrir e Zair entra no quarto.
Lindo, uma visão e tanto. Ele está de jeans, e
camiseta branca. Ele parece estranho.
—Oi. —Digo sem graça.
— Sabāha l- ḫ air. (Bom dia) —Ele diz me
avaliando.
—O que aconteceu ontem?
—Não se lembra de nada? —Zair me
questiona.
—Algumas coisas.
Lanço um olhar apreensivo quando ele se
aproxima, com as mãos nos bolsos, sua expressão é
de quem tem algo sério a me dizer. Ele se senta na
cama. Isso me preocupa, ele parece mais taciturno.
Algo aconteceu.
Eu me adianto:
—Antes...que fale alguma coisa, quero que
me desculpe. Eu não me lembro muita coisa. Eu
não dei nenhum vexame, dei?

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Ele sorri friamente.


—Só tive que te carregar desmaiada sobre
os ombros. Fora isso, tudo normal. — Suas
palavras tingem meu rosto de vermelho. — Mas
não é por isso que eu estou aqui. Estive pensando.
Tenho coisas para resolver ainda no trabalho, não é
justo te manter nesse palácio enorme sozinha.
—Sozinha?
—Sim, eu pretendo pegar firme no trabalho.
Ficarei distante.
Suspiro.
—Entendo.
—Então, pensei em você voltar para Catar.
Fará companhia a minha mãe, ficaria com a minha
irmã e se ocuparia com Samira.
Suas palavras me incomodam muito.
Mantendo minha calma simulada, eu pergunto:
—Estamos em lua de mel, esqueceu?

—Não, não me esqueci. —Ele diz, seus

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olhos fixos nos meus.


—Sua família vai comentar. —Insisto.
—Vou ligar para o meu pai e explicar a
situação.
—Como assim? Que situação é essa?
—Os negócios estão todos em andamento,
penso em agilizar tudo para finalmente poder voltar
para o nosso país. Então eu estou sacrificando
nossa lua de mel por um bem comum.
—Então é essa será sua desculpa?
—Sim. —Ele diz, seco.
Eu passo a não nos meus cabelos
desalinhados.
—Você quer agilizar os negócios, ou uma
forma educada de se livrar de mim?
Zair aperta os lábios.
—Por que vocês mulheres complicam as
coisas? Você não me disse lá no alojamento que
iria levar essa relação como eu?
Sim, eu tinha dito isso.
Ele me olha nos olhos observando minha
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reação. Toda vez que ele me olha assim, surge uma


pontada de esperança. É como se houvesse dentro
dele uma luta muito grande, entre o bem o mal, mas
o mal sempre vence.
—Sim, eu disse. — Digo em rendição. Eu
me deito sobre os travesseiros. —Quando parto?
—Amanhã. Quando se sentir bem, arrume
suas malas. Peça para as servas te ajudarem, elas
são pagas para isso.
—Sim, senhor glacial.
Ele ergue a sobrancelhas.
—Glacial?
Eu olho para ele.
—Antártida? Alasca? Gelo? Frio? É mais
ou menos isso.
Ele se controla para não rir, não sei porque
tá rindo. Seus olhos se intensificam nos meus por
um momento, como se ele se lembrasse de algo,
mas ele não permite que eu leia sua expressão por
muito tempo e se levanta.
—Bem, tudo resolvido, então.
Ele sai do quarto.
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Quando penso que ele estar baixando a


guarda, ele me mostra que não mudou nada,
continua o homem frio de sempre.
Cheguei até a pensar nas minhas opções:
Ir para a casa de minha tia, irmã de papai
que mora em Catar? Ela me manda de volta para o
meu esposo rapidinho.
Voltar para os Estados Unidos e morar com
a minha tia, irmã de minha mãe? Ela pode até ficar
um tempo comigo, mas com certeza irá se
incomodar com minha presença. Eleonora é do tipo
que gosta da sua vida solitária. Viúva, sem filhos,
sempre disse que adora sua liberdade.
O que me sobra?
Meus pais?
Além de me derem uma lição de moral, me
mandariam de volta e eu ficaria em maus lençóis
com a família de Zair também.
Quais as minhas opções, então?
Guardar dinheiro, joias, e munida disso,
voltar para os Estados Unidos e viver por minha
conta. Tentar conseguir emprego como professora
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de línguas, ser interprete, sei lá...


Passo a mão nos olhos.
Julguem-me, mas eu quero isso para mim?
Não!
No fundo quero que meu casamento dê
certo.
Zair é frio, mas não posso dizer que ele me
maltrate e nunca me faltará nada, com ele eu terei
tudo. Fungo, desanimada com esses pensamentos,
pois eu trocaria tudo isso pelo seu coração.
Passo o dia no meu quarto, evitando Zair.
Não quero que ele perceba o quanto estou triste
com a minha partida. É melhor mesmo eu ir me
acostumando com a ausência dele.
Essa distância pode até me fazer bem.
Vou pensar assim!
Não espero dele carinho.
Não espero dele um ombro amigo.
Toda a afinidade, ele quer que eu tenha com
outras pessoas. Claro que do sexo feminino como:
sua mãe, sua irmã e Samira.

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Agora à noite estou ouvindo música,


tentando me distrair, mas está difícil, a todo
momento penso nele. Um sexto sentido me diz que
tem alguém no quarto, viro minha cabeça e dou
com Zair me observando. Meu coração se agita,
tento controlar minha respiração.
Ele está de pijama. Calça comprida branca,
listrada de azul. Camiseta branca. Os cabelos estão
molhados pelo banho. Eu tiro meus fones de
ouvido, e aperto minhas mãos para não tremer.
Ele me olha sem jeito, então fita minhas
malas prontas aos pés da cama.
—Precisamos conversar. —Ele diz
suavemente.
Eu ainda não coloquei minha camisola,
achei mesmo que ele fosse dizer algo antes de
dormir. Eu tiro minhas pernas para fora da cama e
me sento melhor. Zair avança, meu coração se
agita.
—Você está melhor da ressaca?
É estranho ouvir isso, pois é a primeira vez
que isso me aconteceu, nunca tomei nada na vida,

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talvez por isso a bebida me derrubou, por falta de


costume.
—Sim, obrigada.
Ele se senta ao meu lado e me encara
firmemente.
—Meu pai irá perguntar como está nossa
relação. Quero que mostre um mundo cor-de-rosa
para ele. Vocês mulheres são boas nisso.
Seu sorriso parece o de um predador agora.
—Esse mundo cor de rosa seria dizer que
estamos apaixonados?
—Exatamente. Não quero que ele se
preocupe à toa?
Allah! À toa?
—Mais alguma coisa?
Zair se vira mais para mim.
—Ele vai te perguntar sobre essa minha
decisão de adiantar os negócios aqui. Fale o que eu
te disse. Que acho melhor, pois assim posso voltar
para a nossa pátria, ficar junto com a minha família.
Estou sacrificando nossa lua de mel para isso.

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—Sim, depois viveremos nosso felizes para


sempre. —Digo debochada.
—Por que duvida que seremos felizes?
Claro que seremos. —Ele diz e passa a mão no meu
rosto. —Aysha, entenda. Eu quero o melhor para
você. Apenas teremos o nosso espaço. Eu não
quero te sufocar e não quero me sentir sufocado.
Entende?
Eu respiro fundo. Eu estou nervosa ao lado
dele, pois esse homem lindo está me encarando
intensamente agora. Enrolo as pontas dos cabelos
com o dedo, num gesto nervoso.
—Eu tento.
Ele parece nervoso.
—Você me disse que entendia no
alojamento.
De novo aquele assunto.
—Eu menti. Estava triste pela forma que
você me deixou depois que transamos.

Seus olhos suavizam, ele está ofegante. Ele


me inclina na cama e paira sobre mim. Parece um
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gênio do mal, sedutor.


—Você verá que nos divertiremos bastante
juntos. Que uma relação assim nos deixará leves.
—Ele me beija no pescoço. Quando ele está para
tomar minha boca eu o breco.
—Não!
Ele pisca, aturdido.
—O beijo na boca exige algo mais íntimo e
não falo de sexo, falo de afinidade. Então
transaremos, mas sem beijo.
Ele parece baquear com as minhas palavras,
não gosta muito da minha resolução. Zair tenta me
beijar novamente.
—Não! —Eu viro minha cabeça e não
permito.
Ele segura meu queixo e me faz olhar para
ele.
—Beijo faz parte do sexo. —Diz alterado,
ofegante.
Eu o encaro com o rosto duro.
Não vou ceder!

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—Na sua cabeça. Para você pode até


representar isso, mas para mim não. Para mim
beijo, significa entrega do coração, da alma.
Zair passa a mão nos meus cabelos que
estão espalhados na cama e depois olha para mim.
Respira fundo.
—Tudo bem. É justo o que me pede. Então
agora fecha essa boquinha linda e tira essa roupa.
—Ele diz rouco, se afastando.
—Também não. Eu estou com dor de
cabeça.
Zair me olha quase fora de si.
—Você me disse que tinha acabado seu
mal-estar.
—Naquela hora sim. —Digo com um
sorriso doce, o mais doce do mundo.
Ele ofega, passa os olhos pelo meu corpo e
se levanta. Solta um suspiro.
—Amanhã te deixarei cedo no aeroporto.
Mamãe combinou de te pegar quando você chegar
em Catar.
Isso que é vontade urgente de se livrar de
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mim.
—Está certo. —Digo como se tivesse
falando com meu chefe.
—Boa noite, então. —Ele diz me dando
uma última olhada.
—Boa noite. —Digo vendo-o sair do meu
quarto e passar em direção a porta de comunicação.

Zair

Entro no meu quarto me sentindo


desanimado, não me sinto vitorioso com essa briga
constante dos meus sentimentos. Por isso será
fundamental manda-la para longe, eu estou cada
vez mais envolvido, me emaranhando demais nessa
relação.
Era uma vez o menino que sonhava com o
amor verdadeiro, que adorava filmes e músicas
românticas, que acreditava no ser humano. Que não
sabia subtrair, mas somar, multiplicar ao invés de
dividir.
Então esse menino conheceu uma linda
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garota, ela era filha de um dos empregados de seu


pai. Tímida, mas que insistia em lhe dar sorrisos
quando eles conversavam. Esse garoto ficou
encantado com ela, mas guardou isso para si, pois
esse garoto era tímido também. Ele não sabia
chegar junto e tinha mais um “porém”, ele fora
prometido a uma mulher em casamento.
Então ela começou a estudar na sua escola,
todos os dias ele topava com ela na entrada e na
saída. Olhares e sorrisos prazerosos eram trocados
e ela passou a ser o centro de sua atenção, de sua
vida, todos seus objetivos voltavam-se para ela.
O garoto tímido confidenciou a sua mãe que
estava gostando da filha do funcionário de seu pai.
Sua mãe vendo a intensidade dos sentimentos de
seu filho, não achou ruim isso e falou com o pai
dele, pois uma garota, Aysha, tinha sido prometida
a ele antes mesmo de Amina.
Seu pai, então, conversou com a família da
moça prometida e lhe deu uma grande quantia em
dinheiro como uma espécie de compensação por ter
quebrado o acordo. Essa família acabou aceitando,
pois, o pai desse garoto foi bem generoso. Ficou
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acordado então, que se Amina não tivesse filhos, a


menina Aysha seria sua segunda esposa.
Anos se passaram e o garoto ficou mais
alto, pegou corpo e começou a chamar atenção na
escola, nas festas, mas ele não olha para nenhuma
outra, pois seu sentimento em relação a Amina se
tornou mais profundo. Ele se alista no exército, e se
dedica aos estudos. Entre treinos e combates,
estudos, ele sempre dá um jeito de, em suas folgas,
ver a mulher de sua vida.
Seus amigos são negligenciados, diversão,
tudo deixado de lado. Inclusive ele, bobo que só,
vive uma vida de castidade, tudo por essa mulher.
Quando ele finaliza seus estudos, ele assume os
negócios da família e se casa com a mulher que
ama. Estava tudo dando tão certo que ele se achava
dentro de um sonho.
Ele vive com um sorriso no rosto, parece
um bobo. Enche a mulher amada de presentes, faz
juras de amor, e planeja o futuro com uma casa
cheia de filhos. Inclusive, pensa até em ter um
cachorro, tudo para fazer de seu palácio um lindo
ninho de amor. Os dias passam e ele a ama mais,
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como nunca imaginou amar. Como se cada batida


de seu coração ele confessasse "eu te amo".
Allah! Ela parece tão na dele... Mas não se
engane, ela quer que ele acredite nisso. Mas ele não
sabe.
Então, ele começa, aos poucos, cair na
realidade. Uma coisa aqui, outra ali. Sua esposa
está mais fria, está mais cheia de não me toques e
ele começa a perceber que há algo de errado no seu
casamento. Quando ele a questiona, ela lhe vem
com desculpas e como prêmio de consolação se
entrega a ele na cama com gemidos de amor. Esse
homem então começa a achar que é coisa de sua
mente podre.
Allah! Ele não sabe, mas se casou com uma
mulher que sabe esconder seus sentimentos,
manipuladora...
Então aquele homem sensível, um dia se
depara com a verdade quando esquece um
documento em casa e vê o motorista de sua esposa
pulando a janela do seu quarto. E mais, ele constata
nesse dia que ela dispensou todos os empregados
para ficar à vontade com seu amante. Tudo
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premeditado.
Enquanto o asno ia trabalhar, ela gostava de
foder com outro cara.
Ele confronta sua esposa. Ela nega no
princípio, mas ele pega o celular dela e vê
mensagens da verdade. O castelo que ele formou do
seu lado era de pedras, mas o dela era de areia e
desmoronou.
Dor dilacerante.
Humilhação.
Todo tipo de sentimento ruim o toma depois
disso.
Inclusive tirar sua própria vida.
Não, ela não merece que você sofra por ela,
ela não merece seu tormento, suas lágrimas. Essa é
sua razão dizendo, mas seu coração está preso em
uma gaiola e mesmo que ele queira se ver liberto,
sofre horrivelmente.
Concluindo a história: Esse homem se torna
mais frio, mas ao mesmo tempo não consegue
amenizar sua dor. Ele a ama, sua mente é viciada
em pensar nela, seu coração bate por ela. Como
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parar isso de uma hora pra outra?


Então quando ele pensa que está prestes a se
livrar dela, vem a revelação, ela está grávida. Essa
mulher então passa aterrorizá-lo. Surge de camisola
em seu quarto dizendo que esqueceu algo, tenta
beijá-lo, tenta de todo jeito enfeitiçá-lo novamente.
Brigas e mais brigas acontecem, pois ele quer se
ver livre dela. Ele não é mais trouxa, ele sabe que
ela não quer perder seu posto, sua vida financeira
estável.
Vivem então separados dentro da mesma
casa é o acordo, mas quando ele topa com ela e se
depara com sua barriga cada vez maior, ele cria
aquele sentimento violento de ódio pela criança.
Quando ela morre no parto, este homem foi
tão massacrado com as mais diversas situações que
ele está vazio de todo sentimento. Isso quando ele
não é o fel em pessoa, demonstrando toda a sua
amargura com os empregados, que passam a teme-
lo.
Seu comportamento depois da morte dela se
torna destrutivo. Ele começa a beber, ficar largado,
tudo para tirar o vazio de seu coração. Seu
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comportamento chama a atenção de sua família.


Até que seu pai, dá um basta nessa situação e a
força se casar novamente.
Casar? Ele o questiona.
Mas o Sheik acha que uma mulher em sua
vida trará luz para os seus dias negros e de solidão.
Mas ele sabe que não está preparado, seu coração
ainda só tem amargura. O pai dele não tem ideia do
que ele viveu, e ele é muito orgulhoso para contar
que foi traído. Isso nunca ocorreu nas gerações
posteriores a dele. Nunca teve um caso assim em
sua família.
Por que ele? Se questiona.
Ele então se vê sem alternativas quando seu
pai faz fortes ameaças e ele se casa, totalmente
despreparado para levar um casamento outra vez.
Num ímpeto de fúria e raiva, resolve fazer
tudo diferente. E coloca no coração que há nada
que o faça abrir seu coração. Ele não irá mais
sofrer, nunca mais ficaria a mercê de uma mulher.
Ele quer se sentir no controle de suas emoções.
Ele a conhece, Aysha, uma garota linda que

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o encanta logo que ele a avista, foi difícil manter


seu rosto impassível ao vê-la, na sala o aguardando,
quando ele sai da biblioteca com pai dela. Mas ela
demonstra com suas palavras e ações que não está
feliz em se unir a ele. Isso o deixa alerta e endurece
mais seu coração.
Ele não quer repetir os erros do passado.
Desde então, ele tem lutado para levar essa relação
com amenidade de sentimentos.
Não é fácil, pois Aysha é sedutora demais.
Ele então não vê alternativa de manda-la para
longe, para manter o controle da situação. A
distância será boa para eles.
Esse homem precisa de um tempo, precisa
pensar, ponderar tudo.
Allah! Solto um suspiro derrotado. Por que
então não me sinto em vantagem com isso?
As horas passam e eu não consigo dormir.
Rolo na cama, me sentindo angustiado. Meu corpo
clama por uma derradeira noite com ela, antes que
se vá.
Eu respiro fundo, e olho para a porta de

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comunicação. Mas que diabos! Marcho até ela, e a


abro. Aysha está lá abraçada a um travesseiro. Eu
dou um sorriso lascivo e o puxo de seus braços, ela
reclama, tomo o lugar dele nos braços dela. Ela
geme e enfia seu nariz no meu peito. Geme de novo
se aconchegando mais em mim.
Minha respiração começa a ficar agitada, e
a beijo ne pescoço. Ela estremece e me abraça. Eu a
beijo nos ombros. Ela abre os olhos e me vê
pairado sobre ela na penumbra do quarto.
Allah! Ofego com medo de ela me mandar
embora.
—Aysha...preciso de você. Lembre-se que
você é a minha esposa. Nosso relacionamento só
será mais leve. Entende? Mas isso não pode mudar
entre nós. Eu só tenho você, e não pretendo ter
ninguém, nem conseguiria, então, tira essa
camisola, pois eu to louco, sou um drogado e quero
minha droga...

Aysha

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Eu fico a olhar para ele.


Este homem está mais ligado a você do que
ele quer admitir. Ele desce o rosto e começa a me
beijar. Acho que está louco de medo de eu manda-
lo embora.
Eu sou melhor que ele.
Não jogo.
Sou o que sou. Por isso eu o afasto. Ele me
olha quase assustado, pensando que vou manda-lo
para o quarto, mas eu faço como ele disse. Eu me
sento e sob os olhos atentos de Zair, retiro minha
camisola e fico só de calcinha.
Ele me dá um sorriso lindo, tão aberto que
eu ofego. Ele retira sua calça e sua cueca. Puxa a
minha calcinha.
Olha para a minha boca como se tivesse
com fome de alguma coisa, mas se contenta em
mordiscar ao redor dela. Escorrega então seus
lábios pelo meu pescoço, e vai mordiscando cada
parte de meu corpo.
Suas mãos são leves, e ávidas, elas visitam
todos os lugares erógenos. Eu gemo de prazer
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quando ela toca cada parte sensível dele.


Allah é constrangedor de ver aonde sua
boca está agora.
Eu gemo penso que é loucura ele poder me
lamber aí e não poder me beijar. Mas quando eu o
beijo, sinto como se minha alma saísse do meu
corpo querendo encontrar-se com a dele, fico
totalmente arrebatada. Ele não pode ter isso de
mim. Só quando entregar seu coração.
Zair toma meus seios com sua boca e eu
gemo, com meus olhos fechados, sentindo o prazer
intenso que ele me provoca. Sua boca sobe até meu
pescoço, mordiscando minha jugular que pulsa no
ritmo do meu coração agitado, que reflete o quanto
ele me excita, o quanto eu o quero dentro de mim.
Ele então pega meus quadris e me centraliza
embaixo dele, e eu o enlaço como minhas pernas.
Mas ele não me penetra ainda, mas deita levemente
sobre mim, apoiado sobre seu antebraço e mordisca
minha orelha, meu pescoço.
—Aysha, eu vou sentir muita falta disso.
A vontade que me dá é bater nele e de

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perguntar, se ele se sente assim, por que me manda


para a longe?
Mas me calo, seria ser sincera demais, e
meu orgulho não permite.
Também não quero isso agora. Só quero
sentir sensação de relativa felicidade nos braços
dele. Não quero me afogar em emoções
indesejadas.
Zair se ergue e me penetra devagar,
movimentos lentos e ritmados começam atingindo
lugares erógenos dentro de mim que me fazem
fechar os olhos e quase alucinar.
Gemo.
Suplico.
Chamo seu nome. Completamente
descontrolada.
Aos poucos ele vai aumentando o ritmo, e
eu me rendo ao ápice do prazer tão desejado,
latejando sobre ele, meu coração se agita, minhas
pupilas se dilatam e eu aperto os lençóis gemendo
alto.
Zair vem logo depois com suas estocadas
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fortes e profundas, ele geme alto também. Eu abro


os olhos e vejo em seu rosto a intensidade do seu
prazer. Isso me dá uma sensação poderosa, saber
que posso provocar isso nele, mas não se engane,
esse é o limite que ele impôs.
Quando tudo se acaba, Zair sai de cima de
mim e se deita ao meu lado ofegante. Fica com os
olhos fechados por um momento. Eu volto ao meu
estado normal, tudo vem à tona novamente.
Somos bons juntos, compatíveis, mas não ir
além disso é de cortar o coração; não poder entrar
em seu coração, passar essa muralha que ele ergueu
me dá raiva.
Toda vez que termina a nossa transa, não sei
o que fazer. Sinto vontade de chorar, ou rir da
ironia de me encontrar nessa situação. Algo que
não desejei nem nos piores pesadelos para mim.
Zair vira sua cabeça na minha direção,
ilegível. Então se senta na cama. Eu me sento
puxando o edredom, cubro meus seios e ergo minha
cabeça. Não quero parecer diminuta quando ele fala
comigo.
Ele me olha fixamente, vejo agora uma
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dureza no seu olhar, que antes não estava ali.


—Lembre-se que você é minha. Só eu
domino seu corpo. Você me esperará boazinha
enquanto eu estiver trabalhando. Eu prometo, que
serei fiel. Sou homem de uma só mulher e espero
isso de você.
Eu fungo.
— Isso é o que se espera de um casamento.
Não precisava me falar isso. Mas como sei que
espera que eu fale a respeito disso, saiba que serei
fiel.
Há uma energia permissiva nele agora. Ele
estuda meu rosto por um tempo e se levanta da
cama.
—Ótimo. —Diz pegando sua roupa do
chão. Senta na cama e abrindo o criado-mudo pega
o lenço umedecido e se limpa. Então se troca.
Então ele se vira para mim.
—Então, dorme agora meu anjo. Amanhã
depois do café te levarei ao aeroporto.
Assinto e o vejo sair do meu quarto.
Você está ligado a mim muito mais do que
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pensa!
O tempo funcionará para nos afastar ou nos
unir. Zair é tão imprevisível que não sei como isso
será trabalhado em seu coração.
Limpo algumas lágrimas quando me vem a
esperança que ele sinta a minha falta, pois com
certeza eu sentirei falta dele....

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Capítulo 13

Aysha

Fui recebida com muita alegria por todos.


Minha sogra se sentiu feliz com minha
companhia. A irmã de Zair, Isa, é uma garota
incrível. Tem apenas quatorze anos, logo que
chegou da escola veio falar comigo.
Já com o Sheik foi mais tenso, ele me fez
entrar na biblioteca para questionar a atitude de
Zair. Eu falei tudo que Zair me disse, escondi toda
a minha amargura e tristeza e o convenci que
estávamos bem. Saí sentindo um peso na
consciência e no coração. Vivo uma farsa.
Tudo isso tem me feito muito mal. Zair está
conseguindo seus objetivos em esfriar as coisas.
E pensar que quando eu pensei que eu
estava ruindo o muro de frieza que ele ergueu, ele
me manda mais para longe dele. O que era uma

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vírgula está virando um ponto final. O rumo que


isto está tomando não é algo que eu goste, o da
frieza dos meus sentimentos.

Quinze dias sem Zair

Nos dias que se passaram, na parte da


manhã eu passava meu tempo com Samira. Um
bebe fofo, incrível.
Tão linda, meiga, inocente... Ela não tem
culpa das escolhas que sua mãe fez. Se ela é filha
de Zair ou não, ela não pode pagar por isso.
Zair tem me ligado todos os dias.
Perguntando como estão as coisas, numa conversa
fria, aquele tipo de assunto que não evolui para
mais nada do que ele falar do seu trabalho, de sua
rotina e eu da minha. Quando toco no assunto
“Samira”, ele apenas ouve, não fala nada.
Allah! Isso não pode continuar assim!
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Penso, toda vez que nos despedimos. Ele precisa


tirar esse ranço que ele tem pela menina e que pode
ser sua filha, por que não?

Um mês sem Aysha...

Zair

—Aysha? —Digo seu nome, meu coração


se agita mais.
—Oi. —Ela diz seca.
Aysha está diferente, mais fria, mais
comedida nas palavras.
—Por que não atendeu quando eu liguei? —
Pergunto.
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—Eu estava ocupada. Então sua mãe


atendeu, e te deu todo o relatório.
—Quando eu ligar, atenda! —Resmungo.
—Você estava ocupada com o quê?
—Um lindo anjo, chamado Samira.
—Entendo. —Digo, sentindo uma pontada
no peito. Algo tão doloroso que sempre mudo de
assunto.
—Você está bem?
—Não fiquei grávida? É isso sua
preocupação? —Ela pergunta, seca.
As palavras ácidas agem como uma facada
no meu peito.
—Estou preocupado com você, não pensei
nisso.
—Sei, Zair preciso desligar. Vou dar a
papinha para uma linda garotinha que está me
olhando com carinha de fome. Bye.
Jogo meu celular com força na cama, ele
quica e cai no chão. Aysha está me tratando
friamente. Isso tem acabado comigo e pior que eu
ergui essa montanha entre nós, eu que forcei essa
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situação.
Agora me pergunto se errei ao manda-la
para longe. E pensar que tenho ainda um mês e
meio pela frente até tudo se resolva aqui. Eu
construí uma teia e fiquei preso nela.
Enchi-me de trabalho, armei tudo para me
prender aqui, com medo de sucumbir à força
atrativa que Aysha tem sobre mim. Com medo de
ser fraco, de lagar tudo e ir atrás dela.
Prometi ao Sheik Al Koul que adiantaria as
instalações das máquinas em todos os poços de
captação. Até os produtos químicos que usamos, eu
me responsabilizei em procurar um fornecedor
melhor. Ele agora está contando com isso. Os
cifrões brilharam em seus olhos.
O ser humano é insaciável quando se pensa
em dinheiro, quanto mais tem, mais quer.
Conclusão: Estou preso ao trabalho e não
posso voltar atrás.
Allah! Sabe como eu me sinto, agora?
Preso na minha própria armadilha.
Subestimei meus sentimentos, achando que
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a distância me faria bem, que eu me sentira livre,


leve. Mas ao contrário disso, estou me sentindo
inquieto. Não tem um santo dia que eu não
rebobine a minha memória e me lembre dela. Passo
a mão no rosto.
Mas que merda!
Allah! Eu posso ir nesse final de semana!
Penso como um drogado. O novo maquinário só
chega na segunda-feira. Se eu não ir agora, depois
eu não conseguirei sair mais daqui.
Sim, farei isso.
Aviso?
Não, melhor pegá-la desprevenida. Ela
estará desarmada.

Aysha

Desligo o telefone, meu coração


descompassado.

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Droga! Ele sempre me deixa assim!


Tenho notado que ele está estranho, menos
frio e mais impaciente.
Impaciente por quê? Ele que quis nosso
distanciamento!
No início, os dias que se passaram, foram
muito difíceis. Chorei todas as noites me sentindo
frustrada. Mas aos poucos, para a minha surpresa,
fui superando esse trauma da separação e descobri
que isso tornou minha vida menos dolorosa.
Eu não tenho o amor do meu marido, então
por que ficar com lutas interna? Por que sofrer por
uma união que é uma desunião?
E foi essa conclusão que eu cheguei. Com
esses pensamentos, a vírgula, se tornou um ponto
final e resolvi erguer minha cabeça, conservar
minha dignidade; descobri que o tempo é meu
aliado, tenho sobrevivido sem ele. A minha única
preocupação é com a sua volta. Zair tem o poder de
me abalar profundamente, mas até lá, eu estarei
bem preparada para encontra-lo, muito mais
fortalecida.

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Sinto-me orgulhosa comigo mesma. Nem


pareço a mesma pessoa que chegou há um mês
atrás. Por fim, encarei meu destino e estou vivendo
o melhor que posso.
Claro que sinto falta de Zair e eu me odeio
por isso, gostaria de ser indiferente, mas não
consigo. Agora tenho preenchido meu tempo com
outro amor, Samira.
É maravilhoso ser a mãe postiça da menina.
Laços eternos se criaram entre nós. O instinto
materno aflorou dentro de mim de tal maneira que
eu a amo como se ela fosse minha.
Dou um beijo no seu rostinho molhado.
—Você queria vir com a mamãe, é? —
Pergunto a linda garotinha de agora oito meses.
A babá sorri.
—Vossa alteza está mimando muito essa
criança. Ela só quer seu colo agora.
Allah! Ainda não me acostumei com esse
tratamento que os empregados se referem a mim.
—Eu estou amando mimar essa criança. —
Digo beijando Samira e fazendo cócegas em sua
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barrinha, fazendo-a rir.


—Quando o príncipe chegar, não irá gostar
nada. A princesa deveria deixa-la comigo, senão ela
ficará mal-acostumada. Na verdade, acho que ela já
está.
—Obrigada por sua preocupação, Nazira,
mas Samira tem sido minha alegria.
Ela me olha cuidadosa.
—Pense no futuro. Imagine o príncipe cheio
de saudades, e a menina chorando, querendo a
senhora?
Eu fico pensativa.
Saudades?
Sei! Sei o tipo de saudades que Zair tem por
mim.
—E tem mais, vossa majestade, pediu para
eu conversar com a senhora?
—Zafira?
Ela acena um sim.
—Ela pensa como eu.
Para isso não argumento.
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Se a rainha é contra melhor não questionar.


E não quero chamar atenção para mim. O que
menos quero é falar da minha relação com Zair.
Mesmo porque todos pensam que ele é um viúvo,
agora consolado por uma nova esposa. E talvez elas
estejam até certas. Tenho ficado muito com Samira.
Isso tem a deixado antissocial. Acho que será até
bom para ela ficar mais sociável.
—Tudo bem, quando ela ficar na piscina,
você fica com ela. Lá ela esquece que existo. Adora
água. Não, é, bebê?
A minha sogra entra na sala.
—Sabia que estava com Samira.
Eu sorrio e a coloco no carrinho, lhe dou
um brinquedinho para ela segurar.
—Vossa majestade gostaria de falar
comigo?
—Sim.
Nazira se levanta para nos deixar às sós.
—Não fique. Essa conversa se refere a você
também.
Ela se senta novamente ao meu lado. Zafira
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ocupa uma poltrona confortável a nossa frente.


—O que acha de visitarmos seus pais nesse
final de semana?
Meus olhos brilham.
—Allah! Seria maravilhoso!
Nazira sorri.
—Eu sabia que você iria gostar!
—Samira vai?
—Não, a viagem é muito longa como sabe e
você está mimando muita minha neta. Não faz bem
para a criança ficar tão apegada a você.
—A senhora acha errado eu assumir meu
papel de mãe postiça?
Ela meneia um não.
—De maneira nenhuma, mas acho que você
está exagerando na dose. Você a está usando como
uma tábua de salvação. Sei que sente falta de Zair.
Allah! Não quero isso.
Eu me defendo:
—Samira me conquistou, e a ociosidade me
levou a me dedicar muito a ela.
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—Está errada. Você percebe que ela só fica


bem com você? Que ela já sabe que você a mima?
Suspiro.
—É, Nazira me disse.
—Então, essa é a oportunidade de você
passear um pouco e Samira se socializar com todos.
Sem preferências. E quando você ficar grávida?
Você não pode ficar carregando Samira o dia
inteiro no colo.
—Eu entendo.
—Sei que é muito jovem, aos dezoito anos
os sentimentos são muito extremados e a ausência
de Zair colaborou para ao seu apego com Samira.
Outro dia a babá me disse que ela acordou de
madrugada e ela teve que levar a menina na sua
cama.
Eu respiro fundo.
—Sim, é verdade.
—Isso não faz bem para ela, nem para você.
Inclusive eu pedi para que Nazira conversasse com
você.
Eu assinto.
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—Ela conversou, inclusive, eu estava até


combinando de quando Samira ficar na piscina, eu
não ficar com ela.
—Ótimo. Já é um começo. Bem, vamos
voltar o assunto viagem, pensei de irmos no Sábado
e voltar na terça ou quarta-feira. Já conversei com
Ali, e ele concordou. O que acha?
—Maravilhoso.
Ela sorri.
—Ótimo, faça as malas então.

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Capítulo 14

Dois dias depois, Sábado...


Zair
Entro no palácio, Rayla a serva de minha
mãe quando me vê leva um susto.
—Vossa Alteza!
—Olá Rayla. Bom dia. Onde estão todos?
—Vossa majestade viajou, o Sheik está na
biblioteca.
—Aysha continua no quarto da ala norte?
—Sim, vossa alteza.
Meu coração se agita.
—Ótimo, estou louco para falar com ela!
—Ela não está!
Eu me volto para ela, sinto aquele
sentimento ruim tomando conta de mim. Meu
cérebro engrenhando por pensamentos permissivos.
É aquele medo novamente de algo de ruim estar em
andamento.

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Controlo minha voz para não esbravejar:


—Mas não são nem nove horas? Aonde ela
foi?
—Ela viajou.
Eu sinto meu coração falhar uma batida e
me sento no sofá.
—Viajou? —Urro. — Para onde?
—Vossa majestade e a princesa foram
visitar os pais dela. —Ela diz cuidadosa.
—Filho. —Meu pai diz, entrando na sala. A
serva faz uma reverência e sai.
Eu encaro meu pai.
—Oi pai, Allah! Ninguém me disse nada
que elas viajariam!
—Você não avisou que viria também.
—É, eu sei. —Digo mal-humorado.
Meu pai se senta e me observa com um
sorriso.
—Está com saudades de Aysha?
Eu o encaro sem graça, respiro fundo.
—Eh.
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Allah distante dela fiquei o tempo todo me


perguntando quando o tormento das lembranças de
nós dois desapareceria? Sinto claustrofobia ao
pensar nisso. Eu estou me sentindo um drogado
sem a droga.
—E as coisas lá em Bahrein?
Allah! Passo a mão nos olhos. Nem dormi a
noite passada direito, tão ansioso, o que menos
quero é falar de negócios. Eu me levanto.
—Pai, o senhor se importa se eu me deitar
um pouco? Depois conversamos sobre esse assunto.
—Claro, filho. Você está com uma
fisionomia bem cansada.
A babá entra com Samira chorando sentada
no carrinho. Fico duro, como uma estátua olhando
para ela, como se ela fosse um monstrinho ou
extraterrestre.
Nazira quando me vê faz uma reverência.
—Príncipe.
Ela coloca a o carrinho na minha frente.
Samira para de chorar e olha para mim com
interesse. Não tenho nenhuma intimidade com a
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criança. Olho seu cabelo castanho-claro igual do


pai. Meu coração se aperta, não consigo deixar de
ter aquele sentimento ruim quando a vejo.
—Ela cresceu. —Digo e me levanto.
Encaro meu pai que me olha estranhamente.
—Bem, vou descansar.
Caminho em direção a ala norte. Sinto-me
puxado pelo braço.
—O que foi isso, lá na sala? —Meu pai me
pergunta furioso.
—O quê?
—Zair! Ela cresceu? Depois de tanto tempo
é isso que você tem a dizer? Você nem pegou sua
filha!
—Não tenho jeito com crianças.
—Allah! Você superou mesmo a morte de
Amina?
Eu aperto as mãos.
—Claro que superei! Tenho Aysha agora.
Meu pai me olha fixamente, analisando meu
rosto.
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—Há algo de errado, e eu quero saber o que


é!
—Não tem nada de errado. Pai, ela é apenas
um bebê, nem sabe a diferença de mão e pé.
—Você sabia que ela está muito apegada a
Aysha?
Só de ouvir o nome de Aysha eu me sinto
eufórico.
—Que bom! Pai, vou descansar.
Com essas falas eu o deixo e vou em
direção ao meu quarto, meu mau-humor do
tamanho de um elefante. Não consigo mais mentir
para mim mesmo, eu sinto falta dela e isso está me
maltratando.
Há um monólogo na minha cabeça que me
acusa Dizendo:
Saia dessa!
Você está se perdendo novamente.
Não fique na mão dessa mulher!

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Aysha

Estar com minha família é muito bom.


Rever meu antigo quarto, que agora ficou com
Layla. Lógico que ela ia querer ficar com ele.
Quando cheguei, todos vieram afoitos para
saber como estava a minha vida, como andavam as
coisas. E lá fui eu encenar um casamento
caminhando para a perfeição, se não fosse o grande
detalhe de, na minha lua de mel, meu esposo
preferir o trabalho. Os árabes são muito
gananciosos, mas sempre colocam a família em
primeiro lugar. Então quando minha sogra foi se
deitar para descansar, meus pais me questionaram
sua ausência. A complexidade do meu casamento
exige que eu me cale para a verdade, então contei
aquela história, que meu marido se sacrificou para
vivermos no nosso país os “felizes para sempre”
juntamente com a família dele.
—Oh! Como Zair é esforçado! — Falas da
minha mãe.

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—Mas por que você não pode ficar ao lado


dele? —Papai pergunta, e mamãe olha para mim,
de repente achando estranho também.
Eu respiro fundo.
—Ele trabalha muito. Visitando os lugares
onde serão instaladas as máquinas.
—Allah! —Papai me fala. —Se esqueceu
que eu trabalho para essa empresa também? No
máximo que ele fará são visitas nos locais que leva
um dia. Então eu te pergunto por que você não
pode ficar ao lado do seu esposo?
Allah! Eu mato Zair!
—Por...que...Ah, pai. Eu que sei? Por que o
senhor não pergunta para ele? O Sheik não
questionou.
—O Sheik Ali não é engenheiro como eu,
ele é um administrador, não entende nada de
máquinas. Isso está muito estranho.
—Ele disse algo de produto químico
adulterado.
—Adulteraram os produtos químicos?
—Sim.
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—Impossível. Quem comprou foi um Sheik


A Koul, ele não seria enganado!
—Mas ele foi, vai ver que por isso o Sheik
fez questão que Zair estivesse nas instalações.
Meu pai amenizou a cara feia.
—Eh, pode ser. —Ele então olha para mim.
—Espero que você esteja sendo uma boa esposa,
Aysha. Espero que não envergonhe sua família.
Lembre-se que ainda temos o futuro de Layla. Se
manchar o nome da nossa família, dificilmente ela
se casa com um bom partido.
Os olhos de Layla se enchem de lágrimas e
ela ergue as mãos para o céu numa atitude bem
árabe.
—la samah Allah!(Deus me livre)
—Podem ficar tranquilos, eu estou sendo
uma boa esposa. —Digo para tranquiliza-los e me
dá mais raiva ainda a atitude de Zair.
Mais tarde eu estou na sala com todos, o
telefone toca, a empregada atende.
—Princesa Aysha, é seu esposo.
Allah! Assenti, dando uma risada nervosa.
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Até aqui os empregados me tratam como uma


princesa, mas não ri por isso, mas por se tratar de
Zair do outro lado da linha.
—Alô? —Digo, rouca pela emoção. É
sempre assim quando ele liga. Não posso evitar.
—Salaam Aleikum. —Ele diz.
—Alaikum As-Salaam. —Eu respondo.
—Adivinha aonde estou?
—No alojamento?
—Em Catar.
Meu coração se agita.
—Em Catar? —Pergunto baixo. —O que
está fazendo aí?
—O que eu estou fazendo aqui? O que
acha? —Graças a Allah, ele ouve e eu não preciso
falar alto.
Allah!
—O seu trabalho terminou? —Pergunto
com o coração na mão.
—Não, Aysha. Vim para ver minha esposa.
E aonde ela está? Viajou sem me dizer nada.
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—Você não me disse também que viria! —


Eu o acuso.
Ele funga do outro lado.
—Eu quis...fazer uma surpresa.
Sei o tipo de surpresa, talvez achasse que
eu tivesse o enga.... Isso me irrita. Ah! Deixa para
lá.
—Bem, mas eu viajei com sua mãe. Ficarei
até quarta. Sinto, mas nos desencontramos.
—Sabe quando eu poderei fazer isso
novamente?
Meu coração se agita, quase sai pelo peito.
—Não. Quando?
—Só quando terminar o trabalho. Ou seja,
daqui há um mês.
Eu me sinto um pouco decepcionada.
Allah! Ele é culpado de tudo isso!
Não se torture!
—Você que quis assim, Zair. —Eu acuso.
—Eu... não precisa me dizer isso.
Procuro papai com os olhos.
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—Papai me perguntou por que eu não fiquei


com você em Bahrein. Por ele ser engenheiro como
você, ele não entendeu sua atitude. —Meu pai me
fuzila com os olhos. —Você pode dizer por favor a
joia preciosa que sou como sua esposa?
—Me passe para ele.
—Beijinhos.
Saio da sala antes que ele me chame
novamente, com a desculpa que irei ao banheiro.

Os dias que fiquei com minha família


correram bem. Tentei tirar um pouco do brilho de
ser princesa dos olhos da minha irmã, mas não
consegui. Ela ainda vê isso como um sonho para a
vida dela.
Bem, eu tentei.
Minha família relaxou mais comigo depois
que Zair convenceu meu pai da necessidade de eu
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ficar em Catar.
Ele é muito bom nisso! Ótimo com as
palavras, conta uma mentira como se fosse
verdade! E eu estou ficando mestre em distorcer as
verdades também. Estou aprendendo muito com
ele. Penso entortando meus lábios e meu nariz.

Quarta-feira, como combinado, voltamos


para Catar. Eu voltei a minha rotina, de banhos de
sol e ficar com Samira, pois o palácio funciona
como um regime militar. Todos os empregados são
bem orientados e eles sabem direitinho o que fazer.
E qualquer coisa, quem dá ordens é minha sogra, e
às vezes o Sheik.
Ele fica mais enfiado no escritório ou ao
telefone, usando o computador. Administrando os
negócios burocráticos da família, aplicando o
dinheiro, investindo etc.

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Samira, meu anjinho, me recebe com um


sorriso lindo. logo que me vê, quer meu colo. Só
que agora estou tendo o cuidado de ficar com ela de
uma maneira saudável. Realmente eu estava
exagerando na dose de mãe. E por falar em mãe,
não engravidei de Zair. Estremeço ao pensar nisso.
Não sei se estou feliz ou triste. Meu
casamento é tão complicado que deixo nas mãos de
Allah, é Ele que sabe o melhor para a minha vida.
Tenho clamado a Ele nas minhas orações. Espero
confiantemente que Ele prepare o melhor momento.

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Capítulo 15

Dois meses sem Aysha...

Zair

Sim, Aysha é linda, suas palavras oscilam


entre suaves, inteligentes e muitas vezes ácidas.
Uma mistura contagiante. Ela provoca em mim
aquele turbilhão emocional que eu tanto fujo.
Aquela vulnerabilidade que eu odeio. Mas o tempo
foi meu aliado. Depois que voltei para Bahrein, aos
poucos, meu coração foi se acalmando.
E pensar que quase fui vencido por meus
sentimentos.
Sim, houvera um tempo que eu era assim,
mas isso quase me destruiu.
Essa distância foi boa, descobri que com ela
que quando eu me sentir muito intenso, preciso
apenas sumir por um tempo e tudo dentro de mim
volta ao seu estado normal.

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É um exercício de poder.
Quero Aysha.
Deixo Aysha.
Estou agora na sala com meu pai, acabei de
chegar. Estou agitado, e não gosto disso. Ver Aysha
sempre me deixa assim. Não estou me sentindo o
cara controlado agora.
Escuto o choro de Samira, me volto devagar
e meus olhos dão na figura de Aysha parada na
entrada da sala. Meu coração dispara de um jeito
que eu não gosto. Encantado passo os olhos por sua
figurinha sedutora com aquele vestido de algodão
branco, molhado em alguns pontos. Isso indica que
ela estava na piscina.
Aperto minhas mãos no corpo quando uma
onda de puro desejo me percorre por inteiro.
Congelo meu semblante, quando constato o quanto
ela ainda me afeta.
Allah! Eu estava tão bem. Mas que merda!
Não gosto dessa intensidade de sentimentos. Allah!
E eu que pensei que isso tivesse melhorado dentro
de mim!

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Aysha

O sol está bem quente quando saio da


piscina com Samira. Ela como sempre não gosta e
chora.
—Ah, que menina birrenta.
—Aua! —Diz, apontando a piscina.
—Eu sei, mas você vai ficar queimada e vai
chorar.
Ela chora no meu ombro coçando os
olhinhos a cabeça tombada no meu ombro direito.
—Hum, está com sono. Vamos! Mamãe vai
te levar para o quarto e você vai tirar uma soneca.
A babá caminha ao meu lado com a bolsa,
toalhas, e uma mala térmica nas mãos. Quando
entro na sala estaco.
Zair está lá, em pé conversando com o
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Sheik. Nessa hora, homens passam com as malas


dele e se dirigem para o quarto. Meu coração bate
tão agitado, que preciso de vários segundos para
voltar a respirar.
Foram dois meses e meio longes um do
outro, de repente penso.
Ele ainda não me viu entrar na sala, só que
Samira começa a chorar no meu colo e isso faz ele
girar seu corpo em minha direção.
Seus olhos negros fixam-se nos meus. Meu
coração se agita mais, se isso é possível. Reparo
que ele está bem mais magro e bem bronzeado.
Samira continua chorando nos meus ombros, mas
tudo congela ao meu redor, e eu só vejo Zair.
— Aysha. —Ele diz.
Odeio sentir saudade ao ouvi-lo dizer meu
nome.
Sem fraquezas.
—Oi. —Eu digo seca, ajeito melhor Samira
no meu colo, ela esfrega os olhos nos meus ombros.
—Olha quem chegou, o papai.
Samira se ergue para ver Zafir, mas logo
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depois enfia seu rosto novamente no meu ombro.


Carrego a menina até Zair. Ele desvia os olhos dos
meus e relanceia seu olhar para Samira que
continua chorando. Seus olhos logo fixam nos
meus. Não vejo nenhuma emoção importante ali ao
me ver e muito menos ao ver Samira.
Ele não mudou nada!
—Ela deve estar com sono. —Ele diz, como
se entendesse do assunto. Ou querendo se ver livre
do choro.
O Sheik pede:
—Nazira, leve Samira para dormir.
Ela faz uma reverência e retira menina do
meu colo.
—Vem, com a Nazira.
Samira chora mais alto e me agarra.
—Vai com a babá, depois a mamãe vai te
ver.
Encaro Zair, ele sorri.
—Mamãe? —Ele questiona, jocoso. Dá
vontade de tirar esse sorrisinho a tapa. Ele então se
aproxima de mim e me abraça. O cheiro dele não
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mudou, e eu não consigo raciocinar direito quando


ele penetra o meu cérebro trazendo com ele
lembranças de nós dois. Ele se inclina e fala num
tom baixo no meu ouvido. — Melhora essa carinha
de malvada, meu pai ainda está na sala, aja como a
esposa apaixonada que sentiu saudades de seu
marido.
Eu estremeço quando sinto seu corpo no
meu, suas mãos quentes nas minhas costas. Quando
ele se afasta para me olhar dou com seu rosto. Sua
fisionomia está mudada, ele não me olha mais com
divertimento, ele me olha com desejo. Allah! É
tanto, que me sinto como se estivéssemos nus,
sozinhos no quarto. Meu coração dispara ainda
mais com seus olhos presos aos seus. O silêncio
começa a ficar constrangedor entre nós.
Mesmo depois dessa distância, a atração
que sentimos um pelo outro é uma tortura.
Isa entra na sala, quando vê Zair corre para
ele. Ele é obrigado a me soltar e rindo a abraça com
entusiasmo.
—Isa! E aí? Sentiu saudades do seu irmão?
Isa lhe dá um abraço forte dizendo:
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—Allah! Sim, mas já estamos acostumados.


Você sempre trabalhou muito. Temos que lidar
com essa saudade.
—Sim, mas isso garante a vida financeira
saudável dessa família.
—É, você sempre fala isso. Não sei como
Amina aguentava suas viagens....
Zair a olha impassível, apenas acena um
sim. O sheik pigarreia e se manifesta:
—Isa, depois você fala com seu irmão. Vem
comigo.
—Tudo bem. —Ela diz compreensiva. —
Sei que deve estar com saudade de Aysha.
—Vem Isa. —O sheik diz severo. —Filho,
depois nos falamos e você me conta como anda os
negócios e dá atenção à sua irmã.
Zair assente para o pai e acena para a irmã.
Ele então procura meus olhos.
—Vem, vamos para o quarto. Eu te trouxe
um presente.
Presente? Bem típico do homem árabe que
compensa sua esposa por sua falta de tempo ou por
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sua omissão de algo.


Zair está diferente. Há uma aura de poder
sobre ele, como se ele estivesse em pleno controle
de seus atos. Esse tempo afastados contribuiu para
que sua mente doentia ficasse revivendo o que ele
passou.
Só pode ser!
Ele parece pior de quando nos afastamos.
Caminhamos em silêncio. No quarto, duas
servas acabaram de entrar e quando estão para
pegar as malas dele, Zair se manifesta.
—Deixe tudo como está. Se eu precisar de
vocês, eu chamo. Obrigada.
Elas se inclinam e saem apressadas. Ele
então vai até a mala e a abre. Tira uma caixa de
veludo. Então vem na minha direção.
—Pra você.
Eu estico minhas mãos e pego a caixa. A
abro.
Um lindo colar de rubis se revela. Frios
como seu coração, as pedras de um vermelho vivo,
e quente como seus olhos. Combina com o
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momento.
—Lindo, obrigada. Muito atenciosos de sua
parte. —Digo, usando de educada ironia.
Ele retira a caixa das minhas mãos e as
coloca sobre o criado mudo. Vem na minha
direção.
—Bem, acho melhor você descansar da
viagem. —Digo, tentando sair do quarto.
Ele me intercepta e me envolve em seus
braços.
—Não estou cansado.
Sinto um ligeiro rubor espalhando nas
minhas faces, e entreabro os lábios com a
respiração agitada. Num gesto involuntário,
umedeço meus lábios, e toda a minha lógica vai
para o espaço sideral quando esses olhos negros
estão sobre eles.
Ofego.
Zair abaixa a cabeça subitamente e tenta
apossar-se dos meus lábios. Eu instantaneamente
viro meu rosto e lhe dou minha face. Ele para
ofegante.
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Sinto suas costas retesarem, e eu fico tensa


também, mas estou firme no meu propósito,
embora os lábios dele sejam quentes e tentadores e
me provocam arrepios eletrizantes, estou
determinada a manter minha palavra.
Daqui por diante darei meu corpo, não
mais minha alma.
Segura o meu queixo e me faz olhar para
ele, então passa o polegar pelos meus lábios.
Depois fixa seus olhos no meus e o canalha sorri.
Sim, ele se lembrou da nossa conversa a respeito
disso.
—Tudo bem.
Zair então, desce seu rosto e aspira meu
pescoço, mordisca minha orelha. Quando ele me
aperta mais em seus braços, sinto sua ereção na
minha barriga.
Fecho meus olhos para ele não ver a luxúria
intensa que está transparecendo dentro deles e o
quanto eu me sinto fraca quando estou assim com
ele.
Eh, tem coisas que nunca mudam... É quase

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impossível resistir a Zair. Isso não mudou dentro de


mim, mas a insatisfação com relação ao que ele me
oferece está cada vez maior no meu peito. Ela
cresce na medida que eu me apego mais a ele.
Queria poder relaxar, ficar contente com que ele me
oferece. Afinal, ele chega a me tratar mal. Sei
disso.
Vou suportar toda sua frieza de
sentimentos?
Mas o que eu posso fazer?
E Samira?
Allah! Eu me apeguei tanto a ela...
Ele puxa o meu vestido, o retirando. Sorri
quando vê meu maiô. Ele me abraça.
—Aysha... —Ele diz rouco no meu ouvido,
me lambendo, sugando meu pescoço. Minha
respiração se agita ainda mais.
Ofegante, ele procura meus olhos. Os seus
estão cheios de luxúria. Zair pega a minha mão e
me faz deitar na cama. Sem tirar os olhos da minha
figura, tira sua roupa tão rápido como o Superman.
Ele então me puxa para os seus braços. Sua boca
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desce meu pescoço, mordisca cada pedacinho dele.


Eu reprimo meus gemidos de prazer.
Lutando com o prazer que ele me dá. Mas não
adianta, apesar de tudo, meu corpo está muito
consciente dele, e sensível as suas mãos que
deslizam sobre meu corpo, com uma suavidade
maravilhosa. Logo me vejo sem o maiô, nua,
entregue a ele.
Ele agarra meu bumbum, mantendo-me
numa posição erguida para sua penetração. Sua
boca alcança meus mamilos, um de cada vez,
lambendo, sugando-os. Meu corpo reage
imediatamente a isso, minha vontade se torna
ardente. Meu corpo escaldante.
Ele me penetra e começa a se mexer.
Ah, isso é a minha perdição, logo me vejo
inevitavelmente entregue a sensação. A satisfação
se espalha dentro de mim, tão densa, tão quente...é
tanta que meu ventre se contrai em prazer.
Contudo, aperto meus lábios para não chamar o
nome dele, nem gemer alto. Seria muito humilhante
ele ver toda a minha intensidade.
Quando seus movimentos ficam mais
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intensos, chego ao gozo. Ele se espalha por todas as


minhas terminações nervosas. Eu fecho os olhos
com a sensação de plenitude, ao mesmo tempo que
reprimo meus gemidos.
Sinto ele alcançar o clímax, ele geme alto
quando isso acontece. Abro meus olhos e me
arrisco a olhar para ele. Seu rosto está contorcido
de prazer.
Quando tudo finaliza, ele me abraça por um
momento e se erguendo, me encara, ofegante. Passa
a mão nos meus cabelos e depois dá um sorriso.
—Allah! Aysha. Como eu precisava disso!
—Ele diz e me dá um beijo na testa e se deita ao
meu lado.
Suas mãos me puxam para os seus braços,
eu me afasto dele.
—Aonde você vai? —Ele questiona.
—Vou tomar um banho e ver Samira. —
Digo sem olhá-lo, me sentando na cama.
Caminho mostrando uma tranquilidade que
não sinto e me tranco no banheiro. Sentindo-me
infeliz, choro um pouco, em conflito comigo
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mesma agora que tudo acabou.


Fico um tempo lá, lavo os meus cabelos, e
coloco as roupas que eu já tinha previamente
separado antes de ir para a piscina.
Quando saio do banheiro Zair está
dormindo. Sem fazer barulho saio do quarto, com
aquela sensação de impotência pesando sobre meus
ombros.

Zair

Eu me espreguiço na cama, e procuro


Aysha ao meu lado. Mas ela não está ali. Confuso,
estico o pescoço e olho o rádio relógio. Quatro
horas da tarde.
Allah! Como eu dormi!
Saio da cama e tomo um banho demorado,
cantarolando no chuveiro. Um sorriso brota no meu
rosto com a lembrança de nós dois juntos. Fogo e
gasolina. Uma explosão de sensações quando
estamos juntos.
Coloco meu kandoora branco e penteio
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meus cabelos. Saio do quarto e caminho


tranquilamente no palácio, mas meus momentos de
equilíbrio e paz acabam quando vejo Nádia
conversando no sofá da sala principal com Aysha.
No outro lado da sala os pais dela.
Estremeço.
Nádia é uma amiga de Amina que vivia se
esfregando em mim. Quando ela morreu, depois de
dois meses, ela nos visitou e eu sai com ela, dando
a ela o que tanto ela desejava.
Paro no corredor e tento ouvir a conversa
das duas. Quero entender o que vou enfrentar.
— Querida, sei que Zair se casou forçado.
Ele amava muito a falecida. Ele não se casaria em
tão pouco tempo.
—Bem, então somos dois. Eu não queria
esse casamento.
—Verdade? Então não estou lidando com
uma mulher encantada, apaixonada?
—Sou realista, não iludida. —Aysha diz
com o queixo erguido.
—Muito bem! —Ela bate palmas. —Pensei
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que fosse do tipo que se achava diferente, especial,


que ele cairia de amores por você.
Aysha sorri.
—Não. Eu sou bem pés no chão.
—Que bom, sugiro que vá devagar com
seus sentimentos. Zair pode partir seu coração.
Allah! Vou acabar logo com isso.
Nádia quando me vê se levanta
imediatamente e se inclina.
—Príncipe Zair.
Eu a encaro sério.
—Olá, Nádia.
Ela sorri.
—A vida é um quebra-cabeça e até agora
estou tentando montar essa peça de você ter se
casado novamente. Cheguei de viagem a pouco
tempo e fiquei estarrecida quando soube pelo seu
pai.
Eu bem sei o porquê de seu estarrecimento.
E meu pai ligou?
Isso não me cheira bem.
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—Sim, me casei. Já vi que conheceu minha


esposa, Aysha.
Aysha me olha com o narizinho em pé.
Nádia aperta os lábios.
—Sim, conheci. —Fala, demonstrando na
voz seu desagrado.
Ela se senta novamente ao lado de Aysha,
meu pai surge na sala e sorri para os pais dela e os
cumprimenta. Nádia quando vê o sheik se levanta e
faz uma reverência.
—Nádia, como está? —O Sheik diz.
—Bem, obrigada, vossa majestade. —Ela se
inclina para o meu pai.
—Que bom que está aqui, vou chamar
Zafira. Quero ter uma conversa em particular com
você e seus pais.
—Pai.
—Agora não, Zair! —Ele me diz
rudemente.
Allah! É essa mulher que ele quer me
arrumar como segunda esposa? Eu não sou uma
marionete nas mãos dele!
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Aperto meus passos e seguro o braço de


meu pai com força o pego quase entrando na
biblioteca.
—Pai. Eu preciso falar com o senhor, agora!
—Falo com tanta raiva que a família de Nádia se
assusta e a pegando pelo braço nos deixa.
Meu pai me encara com raiva.
—Tudo bem.
Minha mãe surge no corredor.
—Zafira, faça companhia para Nádia e sua
família, só vou ter uma pequena conversa com Zair.
Entramos na biblioteca.
—E então? O que você tem a me falar de
tão importante?
—O que eu tenho a te dizer? Pai, eu sei o
que pretende trazendo Nádia.
—Sabe? Que bom. Ela será sua segunda
esposa caso Aysha não consiga gerar um herdeiro.
Eu fecho as mãos.
—Pai, é cedo ainda para esse tipo de
acordo. E essa mulher não é o que você está

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pensando.
Meu pai estreita os olhos.
—O que você quer dizer com isso?
—Ela vivia se insinuando para mim quando
Amina estava viva. E depois que ela morreu nós
transamos. É esse tipo de mulher que quer como
minha esposa? E mais, ela não era virgem.
—Você nunca me disse isso! —Ele me olha
furioso. —Como você transou com ela se estava em
luto? Não caio nessa! Você está falando isso só
porque não quer esse acordo!
—Não, pai. Eu estava revoltado com a vida
e dei a ela o que tanto ela pedia. —Digo o
encarando nos olhos, sem piscar. Revelando toda a
minha verdade.
—Allah! —Ele me olha abismado. —Isso
muda as coisas, então.
Eu me aproximo dele.
—Pai, tenha paciência. Eu e Aysha temos
muito tempo pela frente agora. Logo ela estará
grávida, o senhor vai ver. Se nos pressionar com
essa atitude, pode afetar Aysha psicologicamente. E
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aí sim haverá um bloqueio.


Meu pai respira fundo.
—Tudo bem.
Eu ergo minhas mãos para o céu.
—Obrigado Allah!
—Providencie um herdeiro. Essa demora
está me dando nos nervos. Allah! Com vinte anos
eu já tinha você.
—Pode deixar, estamos trabalhando nisso!
—Ótimo! —Ele diz e deixa a biblioteca.
Trêmulo, respiro fundo.
Vou até a sala. Meu pai tinha chamado
minha mãe para conversar. Nádia sentada com sua
família no sofá não está com uma cara boa e Aysha
parece que quer me comer vivo com seus olhos.
Nesse momento, uma criada surge na porta
e anuncia a chegada do café. Autorizo a entrada. O
carrinho repleto de biscoitos e bolos são colocados
na frente da família. Eu me sento ao lado de Aysha,
que retesa as costas quando a envolvo com meus
braços. Ela parece tensa. Com certeza ela se ligou
na natureza do convite de meu pai quando ele
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chamou amiga da minha ex.


A criada serviu o líquido quente nas finas
xícaras de porcelana orientais. Meus pais entram e
se juntam a nós. Eu aproveito a entrada deles:
—Aysha, venha, precisamos conversar.
Ela olha para mim por um tempo e se
levanta.

Aysha

Zair me conduz até o corredor que nos


levará m direção a ala sul, creio que ele está me
levando para a biblioteca.
Minha cabeça está a milhão.
Allah! Eu me recuso a aceitar essa mulher
como a segunda esposa de Zair. Logo que fiquei
sabendo do acordo parei de tomar anticoncepcional
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e ele me manteve longe porque quis.


As palavras daquela mulher me cheiram
mulher despeitada.
Pode até ser que ele tenha se casado
obrigado, mas quem é ela para inferiorizar a
natureza do meu casamento?
Entramos na biblioteca, respiro fundo
tentando acalmar minha respiração de tão irritada
que eu estou. Ele fecha a porta e me encara. Um
sorrisinho torto surge em seus lábios.
—Não precisa ficar assim, Nádia não será
minha segunda esposa.
Percebo que minhas unhas estão enterradas
em minha palma, eu aos poucos as abro. Minhas
emoções estão em um estado de tal fragilidade que
me fogem do con​trole por completo.
Ele é culpado por eu me sentir assim!
Isso tem muito a ver com minhas próprias
inseguranças e eu fiquei suscetível às maldades
daquela idiota.
—Eh, quem me garante?
—Você não acredita na minha resposta? —
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Indaga ele, num tom cínico.


— Não sei. Não te conheço direito ainda. —
Digo com meu humor negro de volta.
Ele ri com a minha resposta.
— Esqueça ela. Tenho alguns assuntos para
tratar com você.
Ele me observa por longos momentos, o
brilho em seu olhar indecifrável.
—Que assuntos?
Tenho medo de suas ideias. Zair fica sério.
—Vamos nos mudar. Será só eu, você e
Samira.
—Mudar? Para onde?
—Palácio Albor. Ele não fica muito distante
daqui.
Eu o estudo, intrigada, minha mente
concentrada totalmente no assunto em questão
agora.
— Tem certeza? Não é ali onde você viveu
com Amina?
—Sim. Resolvi enfrentar meus fantasmas.
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Quero construir novas lembranças naquela casa.


Ardentes, de preferência. —Ele sorri, cínico.
—Eu não sei se gosto do seu plano. —Digo,
ofegante, de repente. — Por que você quer se
mudar para lá? —Pergunto, tentando entende-lo. Se
isso é possível.
—Minha família infere muito na minha
vida. E tenho meus motivos pessoais também.
Eu estremeço. Não sei se gosto.
Eu.
Ele.
Samira.
Não se engane, você vai brincar de casinha.
Isso não será uma família tradicional
Batidas na porta.
—Entre. —Zair diz.
Zafira entra.
—Estava preocupada com vocês.
—Está tudo bem, mamãe. —Ele diz, e corre
os dedos pelos cabelos. —Ela já foi embora?
—Sim, já foi. —Ela olha para mim,
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cuidadosa.
—Não precisa fazer essa cara mãe, está
tudo bem.
—Que bom. Seu pai está muito ansioso.
Saiba que eu desaprovo essa atitude dele. Aysha.
Não se preocupe, tenho certeza que logo teremos
um garotão, um herdeiro na família.
Se eu estivesse bem com Zair as falas dela
não me incomodariam tanto.
—Foi o que eu disse a ela. —Zair diz com
um sorriso olhando para mim. Ele então fita Zafira.
— E mamãe, diga ao baba que preciso falar com
ele. Quero que a senhora participe da conversa
Ela olha para nós dois, desconfiada.
—Tudo bem, eu digo. Algo importante?
—Sim, mas eu explico depois.
Ela observa Zair, tentando adivinhar o que
é, então sorri.
—Tudo bem, vou deixá-los às sós.
Eu encaro esse homem que está acostumado
a ser o centro das atenções, tudo sai sempre de
acordo com sua vontade. Bonito, riquíssimo,
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inteligente e muito bem-sucedido. Epítome do


homem desejado pelas mulheres. Ele não teria
porque mentir sobre a segunda esposa. Talvez essa
mudança seja para evitar interferência de seu pai na
nossa vida, por isso não vejo como algo ruim essa
mudança. Uma nova onda de culpa me assalta ao
me sentir de repente otimista com isso.
Não posso gerar expectativas, o sofrimento
será maior com a decepção se ele continuar frio e
distante.
—Chame as servas e peça para fazer suas
malas. Partiremos amanhã.

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Capítulo 16

Acordo sem acreditar muito que estou nos


braços de Zair. Mas estou, suas pernas estão sobre
as minhas, e seus braços me circundam a cintura.
Estamos de conchinha. Já tinha até me esquecido o
quanto é bom dormir abraçada a ele, essa sensação
de acolhimento é maravilhosa.
Epa! Aliás, ele está abraçado a mim.
Zair me confunde às vezes, não sei o que
ele colocou como limite entre nós. Só sei que ele
não quer sentir intenso. Quer anestesiar seus
sentimentos para não sofrer.
Não consigo entender isso!
Eu me movo nos braços dele, girando meu
corpo. Ele resmunga, mas não acorda. Fico
admirando as linhas fortes de seu rosto sereno.
Quando ele está assim, nem parece o homem tão
sem sentimentos que ele se esforça em
transparecer.
Como eu fui me apaixonar por ele dessa
forma? Tão perdidamente…
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Parece irracional da minha parte já que ele


insiste em me deixar bem longe de seu coração.
Afastando-me um pouco e lentamente, tento sair da
cama. Mas antes que eu o faça, Zair abre os olhos.
— S abāha l- ḫ air (Bom dia) —Ele
murmura me soltando e se despreguiçando como
um gato, que ele é.
— Sabāha l- ḫ air. — Respondo com a
expressão serena. —Por que está abraçado a mim
quando insiste em me tratar formalmente?
Zair ri alto, então gargalha. Allah! Ele é
lindo gargalhando.
— Para sua informação, você me abraçou
primeiro.
—Eu estava de costas para você. —O fuzilo
com os olhos.
Ele me olha com cara de cínico.
—Antes disso. Você me abraçou e fungou
no meu pescoço, como fui ao banheiro, achei
natural voltar para a cama e te abraçar depois.
—Vou providenciar um travesseiro.
Costumo dormir agarrada a um grande e bem fofo.
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—Tudo bem. Então me confundiu com um?


—Sim.
—Esse travesseiro deve ser bom, para você
me abraçar tão forte e fungar no meu pescoço. —
Ele diz com um sorri maroto.
—Olha, desde pequena sou acostumada a
dormir abraçada a um, então não fica se achando.
Zair ri.
—Bem, bem. A conversa está interessante,
mas precisamos levantar. Quero estar antes do
almoço na nossa casa.
Assinto e me levanto. Enquanto caminho
para o banheiro posso sentir os olhos de Zair no
meu corpo nu, revelado pela noite quente que
tivemos ontem.
Ai, que constrangedor...
Por que eu não me acostumei com isso
ainda?
Tomo um banho rápido e coloco minhas
roupas que eu separei previamente ontem. Visto o
caftan. Ele é todo preto com pequenos desenhos
geométricos brancos.
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Escovo meus dentes, lavo meu rosto e


prendo meus cabelos. Quando saio do banheiro dou
com Zair já trocado, olhando para a janela.
Ele está lindíssimo. Todo de preto, calça e
camisa. Seus braços fortes e bronzeados revelados
pela manga curta. Como se ele pressentisse minha
entrada no quarto, ele se vira. Sua expressão é
sombria, tanto que sei que ele está envolto agora
em suas profundas mágoas passadas.
Não espere que ele compartilhe sua dor
com você, muito menos seus pensamentos.
—Espere-me na sala. E peça a babá para
aprontar Samira. —Ele diz, seco, seu humor agora
está péssimo, como se uma nuvem negra o
perseguisse.
Allah! Ele é um poço de amargura
ambulante e eu começo a me perguntar se voltar
àquela casa lhe fará bem?
—Aysha. Vai! O que está esperando?
Desperto dos meus pensamentos e faço uma
reverência exagerada.
—Sim, meu amo.
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Ele entorta a boca e eu saio do quarto.


Depois de tomarmos café, nos preparamos
para as despedidas. Zafira me abraça, seu
semblante não é feliz. Sei que ela gostaria que
ficássemos morando ali. Isa chora, o Sheik está
com a cara amarrada, mas Zair está irredutível em
sua decisão, mesmo com a insistência deles de nós
ficarmos.
Quando saímos do Palácio já eram umas
dez horas da manhã. Samira foi no meu colo. Zair
ficou o tempo todo calado ao meu lado com o rosto
virado para o vidro. A babá foi com os seguranças,
em um sedã preto, igual ao nosso, atrás de nós.
Depois de um percurso curto, chegamos ao
palácio Albor. Meu queixo cai quando o carro entra
na propriedade arborizada, vejo então a linda
construção. Alta, branca de formas arredondadas.
Ao lado dele um lindo jardim muito bem cuidado.
O motorista abre para porta Zair, ele desce e
se inclina para pegar Samira. Antes de sair do carro
reparo nele com ela. Ele mal olha a menina. Tão
logo a babá chega, ele a entrega para ela.
Isso precisa mudar! Penso incomodada.
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Aliás, isso está virando uma constância. “Meu


incômodo”. Que ele seja assim comigo, mas com a
criança é de cortar o coração.
Zair me conduz para dentro do palácio.
Subimos os degraus da entrada e emergirmos num
hall enorme e avançamos até a sala. Ao
adentrarmos, percebo a beleza estonteante dela.
Toda revestida com piso de mármore claro, coberta
por tapetes orientais que dão vida ao ambiente.
Sofás com design moderno, quadros de artistas
famosos espalhados pelas paredes.
Logo chega uma senhora de uns cinquenta e
cinco anos de turbante nos cabelos e se inclina para
Zair.
—Vossa alteza! Que bom revê-lo.
Zair força seu melhor sorriso e depois olha
para mim, me traz para junto dele. Estica seu braço
e envolve minha cintura.
—Zeina, essa é Aysha, minha esposa.
—Aysha, Zeina é a governanta do palácio.
Tudo que precisar, você fale com ela.
Eu lhe dou um sorriso simpático.
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—Princesa. —Ela se inclina.


Zair olha para mim.
—Vem, habibi. Vamos conhecer a casa. —
Ele então olha para senhorinha. —Zeina, mostre o
quartinho de brinquedos para elas.
—Sim, vossa alteza. Como você cresceu!
—Ela diz para Samira que está no carrinho.
—Vamos! —Zair pega a minha mão e me
conduz em direção ao corredor. Conforme vamos
andando, ele abre as portas sem olhar para o seu
interior, só para me mostrar.
Ele parece robotizado quando diz:
—Lavabo. Biblioteca. Escritório. Sala de
jogos. Sala de ginástica, aqui tem também uma
sauna e piscina de água quente. Banheiro. Sala de
música, auditório. Teatro particular. Sala de
televisão. De instrumentos musicais. Sala de artes,
lavabo.
Quando os ambientes super bem decorados
vão sendo revelados, não consigo de exclamar
comigo mesma “Que lindo!”
O palácio é perfeito, tanto, que eu estou sem
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ar. A decoração é de extremo bom gosto. Mas


mesmo ante tanta beleza, acredito que não que seja
por isso que estamos aqui.
Viramos em um corredor.
—Aqui ficam todos os quartos.
Encaro um Zair pensativo enquanto
andamos no corredor espaçoso. Passamos pelas
portas sem abrir e ele abre uma que fica no final do
corredor.
—Por que vamos morar aqui?
Zair pisca, como se despertasse de um
transe.
—Eu te disse o porquê.
—Não! Tem algo a mais que você não me
disse.
—Nosso quarto. — Ele diz e entra no
quarto.
—Mandei redecorar todo ele, então não se
preocupe em achar que dormiremos na mesma
cama que dormi com Amina e partilhar da mesma
decoração. Tudo aqui é novo. Papéis de paredes,
cortinas, cama, etc. —Ele diz, seco.
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—Por que quis tanto vir para cá? —Insisto.


Ele me encara.
—Meu pai não sabe que Samira não é
minha filha. E eu não consigo agir como se ela
fosse. Não consigo mascarar um sentimento que
não sinto. Então, tivemos que nos mudar.
Isso aperta meu coração.
—Allah! Eu imaginei isso, mas o que você
teme?
Zair funga.
—Não seja obtusa, Aysha. Nenhum homem
que é homem gosta de revelar que foi traído. E
além disso, se meu pai descobrisse, Samira não
seria poupada.
—Como assim? —Eu perguntei num fio de
voz.
—Ela não seria mais vista como uma neta
querida, mas sim como uma bastarda. Talvez até
rejeitada. E também fiz isso por você. Eu sei o
quanto você se apegou a ela.
Meu coração se aperta em temor.
—Você a trata assim. —Eu o acuso.
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Ele respira fundo e solta o ar.


—Eu tenho minhas razões. Mas estou
tentando mudar isso. Sei que ela não tem culpa de
nada, mas preciso de tempo. —Ele diz com o
semblante triste. —Os americanos lidam com esse
tipo de situação mais fácil que os orientais. Eu sou
árabe.
—Zair, quanto mais você deixar o tempo
passar entre vocês, menos pronto estará. Não
percebe? Ela não tem culpa por tudo que aconteceu.
Ele parece confuso
—Eu sei, eu me cobro isso, mas quando eu
me aproximo dela...eu vivencio tudo que passei...
—Ele diz com um rosto torturado, como se ele
entrasse naquele mundo de dor.
—Ela é tão parecida com...?
Seus olhos então ficam vivos nos meus.
—Sim. Ela tem tudo daquele maldito.
Agora vamos mudar de assunto.
—Você já pensou em fazer um exame de
DNA? Ela pode ser sua filha.
—Chega! —Ele diz num tom cortante. Eu
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me assusto e me sinto intimidada. Zair ofega como


se desse conta de sua grosseria. Ele então se
aproxima de mim. Segura meus ombros. — Aysha.
Perdoe-me. Mas não toque mais nesse assunto, por
favor. Me faz um mal danado. Como eu te disse,
quero construir novas lembranças aqui. Vida nova.
Eu conto com sua ajuda. Sei que podemos ser
felizes. Acredito que me curando de tudo isso, as
coisas entre nós melhorem também.
Julguem-me! Mas um fio de esperança
cresce no meu coração, que chamo de fé.
Respiro fundo.
—Tudo bem, Zair. —Eu digo suavemente.
—Vamos mudar de assunto.
Vou até a cama e dou um pulo nela.
Hum, bem macia.
Deito-me com as pernas para fora. Zair se
senta ao meu lado e me dá um sorriso torto.
—Gostou? Já está testando nossa cama? —
Ele diz com um inesperado bom humor. Cheio de
segundas intenções.
Eu o olho como se não tivesse entendido.
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—Muito boa, macia, firme...


Ele paira sobre mim.
—Tem outras coisas que são macias ao
toque e bem firmes...
Ofego quando entendo o que ele quis dizer,
perco o ar quando vejo seu rosto tentador descendo
sobre o meu. Ele então sorri quando percebe como
estou ofegante.
O celular toca. Ele não atende e fica
olhando minha boca. Então, xinga quando a
musiquinha chata insiste. Ele o olha o visor e
atende.
Começa a falar em árabe, muito rápido e
pela conversa parece alguém bem conhecido. Eu
me sento, tentando entender a conversa. Poucas
palavras consigo caçar:
Festa.
Esposa.
Nós vamos.
Quando ele desliga, me encara.
—Você ouviu?

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—Ouvi, mas não entendi muito bem.


Vamos a uma festa? É isso?
—Precisamos parar de falar o inglês, habibi.
Eu estou ficando afiado e você enferrujada com o
nosso árabe.
Eu lhe dou um sorriso jocoso.
—Hum...conhece a palavra...
—Veja lá o que você irá me chamar! —Ele
diz rápido antes que eu fale.
—Eu ia dizer espertinho.
Ele sorri.
—Ah, essa eu sei. Até que fim me elogiou.
Eu rio. Ele então se senta ao meu lado.
—Quem me ligou foi um amigo meu,
estudamos juntos engenharia.
—Ele também serviu o exército?
—Ele ainda serve. Hoje ele é Tenente.
—E?
—Ele tinha me ligado quando eu estava em
Bahrein. Eu disse que estaria hoje estaria em Catar,
então marcamos de irmos a uma festa. Ele ligou
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para confirmar. Será amanhã. Ele quer te conhecer.


Quer conhecer a mulher que me reergueu. —Ele
diz sério, de repente.
Meu coração se agita com as palavras dele.
Não vou mentir que o tempo que passo com ele,
toda raiva se esvanece, pois eu começo entender
que ele precisa de ajuda, não julgamento pelo que
se tornou.
—Está certo, então. —Digo, serenamente,
embora meu coração bata rápido. Sei que meus
olhos transmitem a ele todos os meus sentimentos.
Meu olhar é quente, febril na direção dele. Ele olha
para mim calado por um tempo e se levanta.
—Ele não segue as tradições, então terá
bebidas, mas sugiro que não tome nada para não
acontecer o que aconteceu da outra vez. —Ele diz
mandão.
—Tudo bem. Nada de bebidas. —Respiro
fundo. —Então não vou precisar usar o lenço?
—Não!
—Menos mal.
—Vem, vamos conhecer a parte externa da
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casa. —Ele diz se levantando e me espera eu me


levantar para segui-lo.
Eu faço isso com aquele sentimento de
frustração me envolvendo novamente. É só o clima
mudar entre nós, ficar mais íntimo, ou seja,
envolver sentimentos, o senhor escorregadio se
fecha.
Caminhamos em silêncio, Zair está preso
em seus pensamentos. Atravessamos a sala e sou
guiada até uma porta de vidro. Ele a desliza para o
lado e seguimos até a varanda. Ela dá para um
magnífico jardim. Mais à frente uma cascata
formada com grandes pedras onde águas cristalinas
correm por ela.
—A piscina fica no outro extremo da casa,
num local reservado. —Ele diz e olha para o
horizonte, calado, amuado.
—Muito lindo. —Digo para quebrar o
silêncio. —Esse palácio parece ser mais novo do
que o do seu pai.
Ele olha para mim.
—E é. O palácio do meu pai é do século

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XIV, esse eu construí para mim. Por isso a


arquitetura é mais moderna. —Ele diz, amargo.
—Você construiu para ter uma vida mais
reclusa com ela? —Questiono.
Ele fixa os olhos em mim. Seu rosto se
contrai.
—Por que não diz logo que sente pena de
mim? Vamos lá. Diga. “Eu sinto pena de você”.
Mas não sinta. Tenho tudo que preciso. Sou rico,
bonito, inteligente, sou dono de mim mesmo, não
sou mais o coitado de antes. Se eu estalasse os
dedos teria uma fila de admiradoras esperando à
porta de minha casa.
—Eu? Pena de você? Você já sente pena de
sim mesmo! Se não sentisse, você não me afastaria
de você. Sua vida sentimental seria bem resolvida.
Mas você fica aí, remoendo tudo que passou.
Então, me poupe dessa conversinha mole que
“tenho tudo que preciso” —Eu o imito. —Sua vida
é oca. Você deixou que Amina te transformar numa
casca. Isso não é vida, não é viver. A
superficialidade que tanto você defende faz você
assistir tudo sem poder ser o protagonista da sua
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história. Viver é aprofundar nos sentimentos,


entregar-se de cabeça nas paixões. Abra seu
coração, só assim a vida voltará a brilhar para você.
E se você insistir nisso, você viverá congelado.
Digo tudo irada, então me viro e saio da
presença dele. Aperto meus passos e entro na sala.
De repente paro.
Droga, eu me esqueci que não sei para onde
vou.
Zair surge ao meu lado.
—Se perdeu?
—Onde é o quartinho de brinquedo? —
Pergunto com raiva.
Zair me encara impassível.
—Fica naquele outro corredor a segunda
porta à direita. Mas, não vá agora. Quero te levar
para conhecer todo o palácio. —Ele pede de um
jeito estranho.
Vejo a intensidade dos olhos dele e entendo
que ele quer, de certa forma, enfrentar seu passado
ao meu lado, por isso não recuso.
—Tudo bem.
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Ele sorri de um jeito triste, de cortar o


coração, seu braço se ergue e ele procura a minha
mão.
Caminhamos em direção aquele corredor
que ele tinha me dito. Me mostra a porta da sala de
brinquedos, mas não abre. Eu entendo o porquê.
Ele sabe que se Samira me ver, vai querer que eu
fique com ela.
Seguimos o corredor, surge várias áreas de
descanso. Lugares com bancos rodeados de
vegetação, vasos, outros com fontes, outros
decorados com mosaicos.
Sim, todo árabe tem muitos lugares como
esses em suas casas.
Conforme andamos, vamos encontrando
servas no caminho que se inclinam quando o
avistam. Zair me apresenta a todas elas. Da mesma
forma respeitosa, elas se inclinam para mim. Para
uma delas ele pede para desfazer as nossas malas e
guardar tudo no closet. Ela se inclina e segue suas
ordens.
Caminhamos mais alguns metros e
entramos numa lindíssima e espaçosa sala de jantar,
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depois dela a cozinha. Também muito espaçosa.


Superequipada.
Fogões elétricos, a gás e até a lenha. Fornos
redondos para assar pizza ou outra coisa. Armários
de última geração da cor cinza, um lindo balcão de
mármore branco e preto. Linda!
—Gostou?
—Sim, muito.
A cozinheira surge de uma porta com
alguns ingredientes nas mãos. Ela sorri e os coloca
no balcão da cozinha, se inclina.
—Essa é Zilá, a cozinheira do palácio. Zilá,
essa é Ayhsa, minha esposa.
Ela se inclina para mim também.
—Muito prazer, senhora. Tem alguma
preferência de cardápio? Posso fazer à parte para a
senhora.
—Ela gosta de caldos, Zilá.
Ela sorri.
—Sim, todos os tipos. —Eu digo com um
sorriso.

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—Pode deixar. Acrescentarei no cardápio


para a senhora.
—Obrigada.
—Vem, Aysha. Vamos conhecer a parte
externa.
Zair pega a minha mão. Seu polegar a
acaricia conforme caminhamos. Olho para ele, seu
semblante é pesado, pensativo, como se ele fizesse
o carinho inconscientemente.
Passamos por duas áreas de descanso, e
seguimos por um pequeno corredor. Zair desliza a
porta de vidro.
Prendo o ar quando vejo a magnitude do
lugar. A piscina olímpica é linda, maravilhosa.
Toda cercada por pedras cinzas. Ao redor dela,
mesas e cadeiras brancas, espreguiçadeiras da
mesma cor, guarda-sóis brancos e muitas
palmeiras.
Zair deve ter pensado em todos os detalhes
para agradar sua amada, penso de repente.
Ele segura a minha mão com força, eu olho
para ele quando começa a doer. Está doendo tanto
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que a puxo. Ele então olha para mim, como se


tivesse acordado de um transe.
—Perdoe-me. —Ele diz sem graça, seu
rosto uma máscara de dor.
Lembro-me das falas dele quando ele disse
que queria fazer novas lembranças, então eu seguro
a mão dele novamente e a levo aos meus lábios.
Passo a língua em sua palma e a beijo com carinho.
Zair solta um gemido e me puxa para seus
braços. Eu o envolvo com os meus e lhe dou um
abraço apertado; ergo meu rosto, meus olhos
encontram com os dele. Eles são tão intensos que e
eu ofego e passo a língua na minha boca.
Zair continua me olhar. Sei o que ele quer,
ele quer beijar a minha boca.
Ainda não! Esse homem precisa se libertar,
se entregar...
Eu ergo meus braços e puxo sua cabeça que
vem ao meu encontro. E alcanço seu pescoço e o
beijo, mordisco, lambo. Minhas mãos encontram
caminho no seu peito forte e cheiroso.
Ele ofega.
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—Aysha...Allah! Como você me deixa


louco! —Meu coração explode. Meu ego vai lá em
cima.
Ele esfrega seus lábios no meu pescoço,
mordisca cada pedacinho dele, suas mãos são
ousadas. Elas escorregam por toda parte do meu
corpo. Ofegante ele me abraça.
Ficamos assim um tempo. Então, eu ergo
meu rosto e olho para ele. Louca de desejo,
morrendo de vontade de beijá-lo. Seus olhos
também suplicam nos meus com o desejo de beijar
minha boca.
“Sexo! Só isso eu tenho dele, eu quero
muito mais...” Esses pensamentos me fazem
abaixar minha cabeça e eu a pouso em seu peito,
ofegante.
Aos poucos nos afastamos.
—Vem, vamos estrear aquela cama. — Zair
diz, pegando a minha mão.
Eu puxo minha mão.
—Hoje eu não acordei bem.
Zair me olha sem falas e bem na hora Zilá, a
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governanta, nos avista no corredor.


—Posso pedir para servir o almoço?
Zair olha o relógio. Seu rosto é de surpresa
com o horário. Ele olha para mim.
—Tudo bem?
Eu aceno um sim.
—Então vamos lavar as mãos.
A caminho, ele se inclina e solta no meu
ouvido:
—Está se sentindo mal mesmo ou está me
evitando?
Não respondo.
Sim, eu estou o evitando. A insatisfação
está em potência máxima.
Almoçamos todos, Samira lindinha,
sentadinha no cadeirão. A babá dando comida na
boca dela. Zair está com cara amarrada. Não deve
ser fácil um homem saudável como ele ter o sexo
negado.
Depois que almoçamos, Zair se enfiou na
biblioteca e eu fiquei com Samira até a hora dela

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dormir. Mas, como previ, ela ficou muito agitada e


não dormiu rápido, olhava tudo. Embora chatinha
de sono, não queria ficar de jeito nenhum no berço.
Queria tocar tudo. Então fiquei com ela. Mostrando
tudo, conversando meio árabe, meio inglês. Não sei
se ela entende o que eu digo, só sei que faço uma
mistura danada.
Quando ela finalmente dormiu, já eram
quatro horas da tarde. Eu fui para o quarto, Zair não
estava lá. Acalorada resolvo tomar um banho.
Coloco um vestido leve, branco, e me deito na
cama. Tão logo fecho os olhos durmo
automaticamente.
Um pequeno barulho e o cheiro de Zair
entra nos meus sonhos. Aos poucos vou abrindo os
olhos e dou com ele ao meu lado.
—Oi.
—Oi. Eu vim te chamar para tomarmos o
café, mas você estava dormindo tão gostoso, que
acabei deitando aqui também.
Eu lhe dou um sorriso.
—Não estou com fome, mas sou viciada

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num café a essa hora.


Ele sorri.
—Eu também. Vamos?
—Sim, só vou no banheiro rapidinho.
—Vai, eu te espero.
Zair está diferente. Parece mais leve. Não
sei se isso me deixa bem ou com raiva. Sinto como
se ele estivesse acomodado nessa relação.
Na ida até a sala de jantar, Zeina, a
governanta, nos avista e antes de sumir por uma
porta, sorri de satisfação. Na hora me vem um
estalo de sondá-la. Perguntar sutilmente da relação
de Zair com Amina.
Mas não farei mais isso. Chega! Ele precisa
se abrir!
O café foi um momento silencioso. Zair
quieto, os olhos como lagos negros profundos,
estáticos, pensativos, voltados para um canto da
sala. Eu queria poder abraça-lo, confortá-lo, dizer
que depende muito mais dele se ele quer construir
mesmo novas lembranças. Aí sim poderemos ser
felizes. Mas, ele se isola e isso me machuca....
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Zair

Allah! Eu nem em meus sonhos mais


insanos imaginaria que sofreria tanto. Dor da
traição, da rejeição, da impotência, a raiva por
sentir dor, a dor por ter dor... eu era louco por ela.
Essa casa não me traz boas recordações.
Não foi fácil rever cada lugar que eu e Amina
compartilhamos.
Allah! Mas por incrível que pareça, agora
eu estou me sentindo leve. Quando me vi, percebi
que aquele mal-estar que senti ao me deparar
depois de tanto tempo com os ambientes se foi. Eu
me sinto bem. Eu nem acredito que me vejo
finalmente fora daquela história dramática e isso
para mim é uma real vitória.
Allah! Eu me sinto tão diferente.
Procuro Aysha com os olhos. Nossos olhos
se encontram. Ela desvia seus olhos dos meus.
É minha natureza me entregar de corpo e
alma. Não sei ser diferente, ou eu amo
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intensamente, ou não amo. Por isso essa aquela


paranoia de manter Aysha distante.
Tudo isso para ver se eu conseguia manter
um relacionamento saudável. Mas eu estou
falhando miseravelmente. Os velhos sentimentos de
posse, fascinação estão querendo ressurgir e eu
tenho lutado em vão para mantê-los de fora.
Tenho percebido que essa árdua batalha é
uma causa perdida. Cada vez mais essa garota de
olhos verdes está entrando no meu sangue e eu
estou me rendendo a isso. Mas o incrível que
pareça, é que nem isso me amedronta mais. Eu
relaxei. Baixei a guarda.
Acho que com o meu passado resolvido
dentro de mim, contribuiu para isso. Eu me sinto
bem melhor, mais leve. Algo aconteceu, pois eu
perdi o interesse de olhar para trás. O passado de
repente está onde ele sempre deveria ter estado: no
passado.
Isso é novidade pra mim. Tanto que eu
ainda estou pensativo, até confuso, por isso peço
licença a Aysha e me levanto da cadeira vou em
direção a sala de ginástica me exercitar um pouco.
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Aysha

Depois do café, Zair me pede licença e


retirar-se.
Lá vai o homem conservador.
Não se arrisca.
Usa de exemplo situações que acredita que
falhou e tem medo de repetir os mesmos erros.
Como se fossem dele e assim evitando riscos e
derrota.
Baaaah!
Vou até a sala e vejo Samira com a babá.
Logo que ela me vê, sorri e aponta o dedinho para
mim. Eu estico meus lábios num sorriso e com
satisfação a pego no colo. Nazira então me fala do
quarto de brinquedos. Vamos todas para lá ficamos
até a hora do banho de Samira.
Ela é tão esperta que já está ficando em pé

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para pegar os brinquedos nas prateleiras baixas.


Pega uma boneca e depois senta no chão e a olha
com interesse.
Eu tento levar minha vida adiante, mas a
verdade que estou insatisfeita. É horrível num
casamento quando os pensamentos são diferentes.
Então vivo esse vazio, essa insatisfação.
Nazira pega Samira no colo pois ela se
afastou muito de nós. Engatinhou até o outro
extremo da sala.
— Essa menina está cada vez mais esperta.
—Sim, e logo teremos mais um para olhar.
Todos dizem que vocês terão lindos filhos juntos.
Atualmente o que menos penso é sobre isso,
atualmente me sinto confinada e impaciente.
—Nazira, eu vou sair, distraia ela pra mim.
—Falo baixo para Samira não prestar atenção em
mim.
Saio da sala e caminho sentindo ao meu
quarto. Quando entro nele, escuto Zair cantando
debaixo do chuveiro. Pisco surpresa com isso. Ao
mesmo tempo me dá uma raiva de ver que para ele
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está tudo bem o jeito que vivemos. Saio do quarto e


quase bato a porta.
Desisto do banho.
Vou até o jardim a procura de paz. Respiro
o ar puro que vem com o perfume das rosas
vermelhas. Sento-me numa espreguiçadeira e fico
lá até dar o horário do jantar. Quando escurece
resolvo entrar.
Logo que surjo na sala avisto Zair. Ele está
lendo um jornal sentado no sofá. Ele sorri quando
me vê.
—Eu estava esperando você para jantar.
—Que amor! —Digo, irônica. — Só vou
lavar a mão.
O sorriso dele morre e ele assente sério para
mim, mas não fala nada.
Conforme caminho reparo que à noite o
palácio é magnífico. Só agora deu para ver a
magnitude dos lustres de cristais que pendem em
cada ambiente. Eles não são parecidos um com o
outro, cada um tem uma beleza diferente, deixando
o ambiente muito mais luxuoso. Um verdadeiro
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castelo de príncipes encantados...


Depois de usar o lavabo me encontro com
Zair na sala. E percebo novamente que ele está com
a expressão mais serena. Não sei o que pensar
disso, mas ele está diferente.
—Vamos? —Ele me pergunta, e me dá um
sorriso.
Assinto séria para ele e caminho ao seu lado
até a sala de jantar. Zeina quando nos vê abre um
sorriso. Como um cavalheiro, ele puxa a cadeira
pra mim. Então ele ocupa seu lugar à cabeceira.
—Pode mandar servir, Zeina.
A governanta se inclina e faz um gesto para
as servas que estão todas alinhadas esperando a
ordem. Logo chega dois caldeirões de barro com
dois tipos de caldos. Um prato de salsinhas à parte,
dois tipos de sucos gelados e variadas saladas.
Hum, o cheiro que vem dos caldos está
maravilhoso.
Ele dispensa as servas, inclusive a
governanta. Um leve sorriso surge no rosto do meu
marido.
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—Harira e sopa de trigo. Pedi para fazer os


dois para você. Pode fazer uma mistura, os dois
combinam. Ou escolher um dos dois pratos.
—Que encanto, chega a ser poético! —Digo
com uma expressão jocosa.
Ele me lança um olhar cortante.
—Você está ácida hoje.
Sinto uma pontada de culpa, mas então
lembro-me do motivo do meu mau humor. Nosso
casamento do jeito que está e ele cantando no
chuveiro!
Eu então me defendo, dizendo alto:
—Culpa sua, pois nunca sei como agir
quando não estamos transando.
Os lábios dele se abrem e fecham e ele solta
o ar pelas narinas. A tensão fica entre nós.
—Fala baixo. —Ele ruge. —Você me deve
respeito.
Bato com a mão na testa.
—Ah, me esqueci, estamos encenando.
Zair desvia os olhos dos meus e olha para o

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prato com cara de quem comeu e não gostou.


—Aysha! O que foi? Acordou com a
calcinha do avesso?
Essa boa! Calcinha do avesso?
—A sua cueca deve estar na posição
normal, então.
Zair sorri friamente e a olha.
—Sim, está normal. Aysha, por favor,
vamos comer. Não percebe que eu estou tentando
agradar você? Escolher o jantar nem é meu papel,
mas sim seu e você nem se deu o trabalho de se
preocupar com isso.
Eu fungo sem palavras para isso. Volto
meus olhos para o meu prato enquanto Zair se
serve.
Começo a comer. Os ensopados realmente
são muito bons, e isso até melhora um pouco meu
mau humor.
Quando estamos perto de finalizar o jantar,
Zilá surge.
—Estava bom o jantar, vossa excelência?
Fiz tudo como me pediu.
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—Sim, estava ótimo. —Zair diz com um


sorriso amistoso nos lábios.
—Muito bom. —Eu completo.
Ela sorri.
—Vão querer a sobremesa? Café?
—Não, obrigada. —Eu digo. Allah!
Realmente estou satisfeita.
—Também não quero nada. —Zair diz se
levantando me ajudando com a cadeira.
Estremeço ao sentir suas mãos nas minhas
costas para me conduzir ao nosso quarto. Ao mais
leve toque dele eu vibro.
Mas está certo isso? Toda vez que ele
quiser, vou abrir minhas pernas? De repente me
questiono com o coração agitado. Por isso ele está
cantando no chuveiro. Tão logo entramos no
quarto, Zair fecha a porta e me abraça. Seu rosto
desce e seus lábios correm pelo meu pescoço.
—Aysha... —Ele diz rouco na minha
orelha. A voz dele é um misto de convite e suplica.
Antes que ele começasse da sedução às
preliminares, eu me desvencilho dele. Ele me olha
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ofegante.
—Desculpe-me, Zair, mas estou com dor de
cabeça.
Ele para e me olha, então ri amargo.
—Essa é uma desculpa clássica que as
mulheres inventam para não transar.
—Pelo jeito você é bem entendido nesse
assunto... —Mal acabei de dizer as palavras eu me
arrependo. Seu rosto se torna duro como uma
pedra. Eu desvio meus olhos dos dele e começo a ir
em direção ao banheiro. De repente, ele me segura
e isso me força a olhar para ele. Encaro seus olhos
tempestuosos sobre os meus.
—Eu não vivi isso, ela não me negava sexo.
Até nisso ela foi perfeita em sua encenação de
mulher apaixonada. Não fale o que você não sabe.
—Meu estômago revira com suas falas. No seu tom
de voz ele tem muitas palavras encobertas, e isso
deixa em mim uma ponta de curiosidade, descobrir
como foi essa relação entre eles. Mas
imediatamente tiro isso da cabeça.
Ele não irá me dizer. E a revolta nos olhos

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dele me deixa muda. E somando-se a tudo isso,


negar sexo a um homem como ele, já viu....
Ele me solta, e vai até o closet. Minutos
depois ele volta com um travesseiro grande e joga
na cama.
—Para você não correr o risco de me
abraçar à noite.
—Ótimo!
Sem dizer nada, pego minha camisola e
entro no banheiro. Me troco, escovo os dentes.
Quando saio encontro o quarto com as luzes
apagadas, somente o abajur do eu lado está aceso.
Zair já está de olhos fechados deitado na cama de
lado, voltado na minha direção. Coberto pelo lençol
até a cintura, seu peito nu.
Caminho silenciosamente e dou a volta na
cama, devagar me deito. Estico o braço e apago o
abajur. De costas para ele, abraço meu travesseiro.
Fico pensativa, pensando em suas ações:
Ele me esperou para jantar, escolheu dois pratos
para me agradar...
São sutis mudanças e eu estou estragando
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tudo?
Não!
Não se iluda!

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Capítulo 17

Dou-me conta da luminosidade do dia no


quarto. Tomo consciência que não abraço meu
travesseiro, mas estou dentro dos braços fortes de
Zair. Ele está com o braço na minha cintura e eu
estou com a cabeça enfiada em seu peito.
Droga!
E o travesseiro?
Meu coração acelera e eu tento me afastar
antes que ele acorde. Movo a minha perna sobre a
dele com cuidado e tiro seu braço da minha cintura.
Quando consigo me afastar encontro seus olhos
bem vivos nos meus, há um sorriso debochado em
seus lábios.
Estremeço.
—Estava gostoso em meus braços? —Ele
pergunta num tom sarcástico.
—Não sei como isso foi acontecer. —
Procuro meu travesseiro na cama. — O que
aconteceu com meu travesseiro?

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—Se você o procurar no chão, acredito que


você o ache. —Ele diz sorrindo.
Eu respiro fundo.
—Naturalmente.
Antes que eu me levante Zair se ergue e
segura meus braços presos a cama. Ele está duro,
posso ver pelo volume na sua cueca.
Ofego.
—Aysha...
Ele me beija no pescoço.
Ai...Allah!
Fecho os olhos com força quando sinto a
suavidade com que ele corre seus lábios no meu
pescoço. Depois no vão dos meus seios. Seus
dentes puxam o lacinho da minha camisola que se
abre um pouco e ele enfia seu nariz lá, seus lábios
procuram meus mamilos túrgidos de desejo. Logo
sou arrebatada pelas sensações.
Ele me solta quando vê que eu estou na
dele. Zair puxa a minha camisola e me livra dela.
Suas mãos seguram a minha calcinha e as deslizam
sobre minhas pernas. Ele então me mordisca minha
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virilha e isso me deixa louca. Tento conter um


gemido, mas ele escapa dos meus lábios quando ele
mordica o meio das minhas pernas de forma quente
e envolvente. Ele desliza seus lábios e sua boca vai
para os meus pelos pubianos e ele encontra o lugar
mais sensível do meu corpo. Ele então me tortura
lentamente. Eu pego sua cabeça, louca. Alucinada,
querendo ele dentro de mim.
Zair sorri e abre minhas pernas. Então ele
me penetra. Eu o envolvo com as minhas pernas e
começamos a nos mover numa sincronia perfeita.
Fecho os olhos quando estou para gozar.
— Olhe para mim. —Ele diz, ofegante.
Eu os abro com dificuldade e o encaro. Zair
mexe intensamente, seus olhos não saem dos meus,
então tudo explode dentro de mim, como fogos de
artifícios. E eu fecho os olhos com a força dessa
sensação.
Zair se inclina em minha direção e estimula
meus seios e eu começo a latejar novamente.
Controlado, ele se mexe devagar, me estimulando.
Ondas poderosas começam a crescer dentro de mim
e quando me vejo gozo novamente.
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O olho surpresa por isso. Zair sorri e fecha


os seus olhos e começa a se movimentar num ritmo
mais intenso e quando acontece ele aperta seus
olhos curtindo sua onda.
Quando tudo finaliza, ele se deita ao meu
lado, ofegante.
Eu não espero o que vem a seguir e me
levanto da cama. Vejo meu travesseiro no chão. O
pego e o coloco na cama. Sigo até o closet sentindo
o olhar de Zair em mim. Encontro um robe branco
e me visto. Começo a escolher uma roupa para o
dia. De preferência, uma que eu fique à vontade,
pois ficarei um pouco com Samira.
—O que acha de passar a manhã na piscina?
—Zair me pergunta com aquela voz profunda. —
Está cedo ainda e você pode estrear com Samira a
piscina infantil.
Estou surpresa com sua sugestão. Meu
coração está mais agitado agora do que quando eu
estava na cama com ele.
—Ah...eu acho ótimo. Você irá conosco?
—Por quê? Você deseja que eu fique com

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vocês?
—Sim, claro.
Ele sorri.
—Eu vou.
Estremeço com suas falas.
—Que bom! —Digo séria, contendo minha
animação.
Ele me olha por um tempo.
—Bem, vou procurar um short de banho,
então.
—Ótimo. —Digo, contendo minha risada.
Quando ele sai começa a dançar como uma
louca. Ele vai na piscina! Ele vai na piscina!
Passos.
Eu paro de dançar. Zair surge bem na hora.
Olho para ele com cara de paisagem.
—Pensei de tomarmos café lá também.
—Um piquenique!
Ele sorri.
—Piquenique?

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—É uma palavra que significa uma


atividade de entretenimento que consiste na
realização de uma refeição ao ar livre.
—Hum. —Ele diz e sai sorrindo. —
Faremos um piquenique então!
Quando ele sai começa a dançar de novo.
Um piquenique!
Um piquenique!
Pego meu maiô, meu vestido branco
comprido que uso como saída, óculos escuros,
chapéu e um chinelo de palha. Munida de tudo isso
sigo até o banheiro.
Quando saio do closet dou com Zair já está
vestido com o calção de banho. Esse homem é de
tirar o fôlego com seus músculos firmes e bem
definidos. Ele pega então o thobe e o veste por
cima e eu trato de limpar a minha baba e entro no
banheiro.
Meia hora depois eu estou ao lado de Zair
na mesa externa. Dois tipos de sucos gelados numa
jarra: uva e laranja.
Um carrinho com tudo de bom ao lado da
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nossa mesa.
O dia está lindo, está calor. O céu sem
nuvens. A piscina brilha convidativa me chamando
para entrar. Dou um sorriso quando vejo Samira
batendo as perninhas na água, com seu maio retrô
dos anos 60, preto com bolinhas brancas e um
babadinho nas pernas. Chapeuzinho branco. Um
charme.
—Você gosta muito dela, mesmo. —Ouço
Zair me dizer.
Eu procuro seus olhos.
—Sim, como se fosse minha. Ela é um
encanto de menina. Muito sorridente.
Ele assente e fica olhando Samira por um
tempo. Então procura meus olhos.
—Sabe nadar?
—Não.
Ele estende a mão.
—Vem, eu te ensino!
Como?
Sério isso? Pergunto-me, ainda não

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acreditando em seu gesto. A vontade de me beliscar


para ver se eu não estou sonhando é muito grande.
Sem questionar, eu me levanto antes que ele
desista e pego a mão dele. Zair me leva até a
piscina. Nos sentamos na borda na parte rasa, os
pés enfiados na água. Zair cai primeiro na água e
afunda, depois emerge sorrindo para mim. Os
cabelos negros molhados, lindo.
Eu pulo na água me segurando, com
cuidado e me assusto quando afundo um pouco.
Zair me segura.
Estremeço.
—Já é fundo aqui.
—Sim, mas não se preocupe que dará pé
daqui até o meio da piscina.
Eu assinto para ele. Zair pega a minha
cintura.
—Bem, primeira coisa que você deve
aprender é boiar.
—Boiar. Já tentei, mas eu afundo. —Digo,
tensa.
—Você terá que confiar em mim. Confia
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em mim?
Eu sorrio para ele.
—Sim, acho que confio em você. —Digo
com um meio sorriso.
—Confia ou não confia? Não existe meio
termo.
Oh! Isso se aplica a você, pois você não
confia em mim. Mas em calo e não digo o que
pensei, não quero estragar o momento, então
apenas digo:
—Confio.
—Ótimo, então largue o corpo como se
tivesse desmaiado. Não se preocupe que eu vou te
segurar.
Estremeço com medo de afundar. Aos
poucos tento me deitar, mas o temor de engolir
água é grande e falho.
—Vamos fazer o seguinte. Vem aqui.
Ele me puxa ao seu encontro, eu me arrepio
com o calor de suas mãos no meu braço. Ele então,
me faz ficar de costas para ele.
—Agora tente novamente, eu vou te
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segurar, e você apoiará a cabeça no meu peito.


Fecha os olhos e relaxa o corpo.
Eu faço como ele mandou. Com ele me
segurando apoio minha cabeça em seu peito e aos
poucos vou soltando meus pés do chão. Como ele
me agarra firme, me sinto segura e vou relaxando
cada vez mais.
—Muito bem.
Sorrio quando vejo a pontinha dos meus pés
quase fora da água.
—Fique assim que eu vou movimentar
você. Confia em mim!
Assinto e Zair vai se movendo na água e eu
vou me movendo junto com ele.
Fico sorrindo com a sensação maravilhosa
de estar em segurança, sentindo o calor dos seus
braços no meu corpo. Seu cheiro gostoso também
ajuda.
—Gosta da sensação?
—Sim, relaxante. —Digo isso para não
dizer excitante.
—Vou te afastar de mim, continue relaxada,
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deixa seus ouvidos tocarem na água.


Meu coração se agita quando ele fala de se
afastar.
—Não, melhor não.
Ele sorri e fala no meu ouvido.
—Não vou te largar, habibi. Minhas mãos
estarão na sua cabeça e nas suas costas. Você só
tem que relaxar as pernas.
Mexo a cabeça num positivo. E assim ele o
faz. Vai me afastando de seu corpo.
—Deixa os ouvidos entrarem na água.
Faço como ele mandou. Sinto então sua
mão na minha cabeça e nas minhas costas. Como
sei que ele me segura, eu relaxo cada vez mais.
Ele então tira as mãos.
—Você está boiando sozinha agora.
—Estou?
Meu coração se agita e eu fico com medo de
me mexer e afundar.
—Zair! Vem aqui já! —O chamo,
angustiada.
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Ele vem e me pega no colo. Eu o abraço me


sentindo aliviada, rindo coloco meu rosto em seu
peito. Ele então solta minhas pernas e meus pés
alcançam o fundo da piscina. Ergo meu rosto ainda
sorrindo e dou com a intensidade dos olhos dele
nos meus lábios, e antes que eu pense no que ele irá
fazer, ele me beija. Toma minha boca com paixão.
Allah! Sou envolvida pela paixão do
momento.
Que saudade da boca dele... de sentir sua
língua na minha, seu gosto...
Eu esqueço. Tudo ao meu redor: o onde, o
quando, e o porquê, já se foram... e eu me agarro
ainda mais a ele retribuindo o seu beijo.
—Aysha... —Ele diz rouco no meu ouvido.
Estremeço nos braços dele e aos poucos e
caio na realidade. Desperto desse transe. Procuro
imediatamente Nazira com os olhos. Mas ela não
está lá. Acredito que ela tenha ido trocar a fralda de
Samira.
—Ela saiu. —Zair diz passando a mão com
muito amor no meu rosto.

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É amor mesmo que vejo em seus olhos?


Fico tão confusa que me sinto irada.
—Você não pode brincar com meu coração
desse jeito. —Digo com raiva e o soco duramente
no peito com força, várias vezes. —Você aperta um
botão, então me quer. Depois aperta outro e não me
quer. O que está pensando que eu sou? Glacial,
igual você?
Então me viro e com um impulso saio da
piscina. Não quero que ele veja as minhas lágrimas.
Ouço o barulho da água e vejo a sombra de Zair
projetada ao meu lado, ele me segura pelo braço.
—Espere, Aysha.
Sua respiração está agitada igual a minha,
seu corpo tenso igual ao meu.
—Eu admito que não tenho sido o marido
ideal. Mas quero mudar isso.
O quê? Ele falou mudar?
—Mudar como? —Questiono ainda irritada.
—Quero ser um marido melhor.
Eu estaco com as palavras dele. Será
possível isso?
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—Marido melhor? Você está falando isso


para não melar o sexo entre nós.
—Não, Aysha. Eu estou usando de
sinceridade. Por favor, escute o que eu tenho a
dizer, então depois você me julga. Vem, vamos nos
sentar à sombra.
Ele pega a minha mão e me conduz até uma
cadeira. Depois ocupa a cadeira próxima a minha.
Ele segura a minha mão. Sua atitude é tão
inesperada que parece que ele está armando
comigo.
Será que tudo isso é para me amolecer e as
coisas melhorarem entre nós?
Talvez com medo de eu começar a lhe
negar sexo e com isso não engravidar. Ele está
preocupado em ter o herdeiro que ele tanto sonha.
— Aysha, olhe para mim.
Eu o encaro séria.
—Quando eu me casei, não estava
preparado para um novo relacionamento. Eu estava
com raiva do mundo e tinha colocado um propósito
no meu coração de não me aprofundar na relação.
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Quando eu te conheci, então eu vi o potencial que


você tinha de me envolver fortemente novamente e
uma voz dentro de mim me dizia que você iria me
destruir.
—Eu? Te destruir?
— Aysha, você sabe tudo que sofri.
Cruzo os braços.
—Não, não sei. Eu deduzi, pelo pouco que
você me contou. —digo secamente.
Ele funga.
—Ela me enganava enquanto parecia me
amar. Entende? Ela me fazia juras de amor,
dissimulando uma paixão que ela não sentia.
Acredito que fazia isso para eu não desconfiar de
nada. Eu sempre fui muito ciumento. Ele me traiu
com o motorista que contratamos para leva-la a
shoppings para ela gastar meu dinheiro. Então
quando eu descobri sua traição foi como se uma
faca se fincasse em meu coração e permanecesse lá.
Quando nos casamos, eu ainda não havia me
curado. Você ressuscitava em mim sentimentos
confusos, pois eu meu objetivo era fechar

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completamente meu coração. Juro que desejei


nunca ter te conhecido quando comecei a me sentir
preso a você. Só Allah sabe o que sofri com Amina
e tudo porque eu a amava muito. Ver a barriga dela
crescer sabendo que a criança que ela esperava era
de outro...Allah! Eu não desejo isso para ninguém,
nem para o meu pior inimigo. E acredite! Mesmo
depois de tudo que ela me fez, eu ainda sofria. Não
conseguia me reerguer. Quando ela morreu, ela já
tinha matado todo sentimento de amor dentro de
mim, mas eu me enchi de ódio.
Eu o encaro com os olhos tristes. Retiro
meus olhos dos dele quando percebo que vou
chorar.
—Aysha... —Ele ergue meu queixo. —
Desde que voltei, tenho pensado em nossa relação.
Sinto que minhas cicatrizes estão sendo curadas,
tanto que consigo enxergar que você é diferente. Só
o fato de você amar Samira como sua, já prova
isso. Você é autêntica. Hoje consigo ver a
diferença. Desculpe-me se pensei mal de você. Eu
me armei para o pior, para não me decepcionar
depois. Por isso resolvi nessa relação fazer tudo
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diferente. Queria viver uma amenidade de


sentimentos. Não me sentir preso a você nem a
ninguém. Mas como está vendo, não consegui. Eu
sou assim. Quando amo, amo pra valer, amo
intensamente. Tudo que fiz foi em vão. Só serviu
para me ferir, para me angustiar. Desde que nos
encontramos vi que minha tarefa em afastar você
do meu coração é impossível e percebi se
continuasse do jeito que eu estava, eu ia acabar te
perdendo de vez...
Zair fala tudo com os olhos cheios de
lagrimas.
Ah! Eu não aguento e começo a chorar
também. Com as lágrimas descendo, me levanto.
Ele também se coloca em pé e vem imediatamente
até mim. Nos abraçamos apertado.
—Perdoe-me Aysha. Quero seu perdão,
nem que eu tenha que dizer isso pelo resto de
minha vida.
Eu o me afasto e procuro seus olhos com os
meus cheios de lágrimas. Tento manter o clima
leve.
—Você merecia um castigo. —Digo com
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os lábios apertados. —Mas, graças a Allah, você


acordou a tempo.
Ele passa o dedo nas minhas lágrimas.
—Eu sei. Não chore, Aysha...eu me sinto
horrível em ver você chorar. Saiba que você é
responsável pela remoção de todo o mal que
habitava no meu coração. Desde que te conheci,
comecei a ver o mundo com mais cores. Nem essa
casa com todas as lembranças que ela traz me
assombra mais. Espero que perdoe minha
estupidez. Eu só soube que tinha encontrado meu
caminho realmente quando perdi o interesse de
olhar para trás. Agora vou olhar só para frente.
Estou deixando fora tudo o que não me leva a uma
entrega de lado, quero ser o marido que merece.
Allah! Fico emocionada com as palavras
dele. Eu o abraço apertado.
—Eu te amo, Zair. Por isso eu te perdoo.
Zair me afasta e me olha como se não
acreditasse.
—Você me ama mesmo? Repete!
—Sim, por incrível que possa parecer, eu te
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amo. Percebi isso quando você me mandou embora.


Eu pensei em você esses dois meses que ficamos
distantes um do outro. Nem por um momento você
deixou meus pensamentos.
—Allah! Você parecia tão fria. —Ele me dá
um abraço de urso.
Sorri entre lágrimas.
—Aprendi esconder o que eu sentia com
você.
Ele sorri, seus olhos úmidos. Ele me abraça
novamente e depois de me beijar na testa, cheirar
meus cabelos me afasta levemente.
—Como é bom eu ouvir isso, pois eu te
amo demais, Aysha. Eu também sofri com nossa
separação. Eu sei que eu provoquei isso. Mas saiba
que não foi fácil ficar longe de você, por isso
naquele dia voltei para Catar, louco para te ver. Eu
me sentia um drogado querendo a sua droga. Você
não sabe a angústia que senti quando não te
encontrei. Quando voltei para Barein, voltei
determinado a me fortalecer, mas foi em vão,
continuei a pensar em você todos os dias. Mesmo
assim, eu tentei me convencer que as coisas
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amenizaram dentro de mim, que as batidas do meu


coração, por você, enfraqueceram com a distância;
mas ledo engano, foi só te rever que eu percebi que
eu me enganava.
—Como é bom ouvir isso. —Digo e o
abraço.
A babá surge do outro lado da piscina com
Samira no colo. Eu me afasto dele e Zair também
as avista.
—E Samira? Vai continuar sendo esse pai
horrível e se arrepender quando for tarde demais?
Ele nega.
—Não, traga-a aqui.
—Está falando sério?
Zair move as sobrancelhas com meu
questionamento. Eu entendo que ele está afim
mesmo de mudar.
Sentindo-me nas nuvens vou até Samira,
que imediatamente abre um sorriso quando me vê e
balança as perninhas impacientes que quer meu
colo.
Eu a pego no colo e a levo até Zair.
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—Zair, eu te apresento sua filha. —Digo e


estendo Samira, que está pesadinha para ele. Ainda
bem que ele a retira dos meus braços. Ufa! Ela
então ergue a cabeça e o vê, faz biquinho para
chorar.
—Não, não, não.... Olha a mamãe aqui. —
Digo para ela fazendo estalos com os dedos.
Samira olha para mim e se acalmando, não
chora.
Zair sorri.
—Você realmente leva jeito com as
crianças.
—Ela irá se acostumar com você. É só no
início.
Zair a posiciona melhor na perna. E
apertando os lábios passa os olhos por seu rostinho.
Dá um suspiro, e olhando para ela diz:
—Ainda bem que você é pequena para
entender o quanto eu te evitei...
Meu coração se aperta.
—O que você sente agora, a pegando no
colo?
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Zair sorrir levemente e olha para mim e diz


num tom de voz baixo para Nazira não ouvir.
—Diferente. Não sei como explicar. Mas
uma coisa eu sei, posso amá-la como se fosse
minha. E acredito que isso se deu por meu passado
estar aos poucos sendo resolvido na minha cabeça.
Chega de olhar para trás. Tenho sede de uma nova
vida.
Eu sorrio entre lágrimas e me levanto da
cadeira e o abraço. O beijo por todo o rosto.
—Que bom, habibi. Você fugiu dos clichês.
Ele ergue as sobrancelhas.
—Por que diz isso?
Eu passo as mãos nos cabelos negros dele.
—Quantas pessoas precisam vivenciar
tragédias para abrir os olhos.
Zair me envolve com seu braço e me
abraça, então me olha:
—Allah! Eu já me sinto mal pelo que te
afligi. Já acho que perdi muito tempo. Mas, graças
a Allah, o nosso reencontro e ter vindo até essa casa
foi fundamental para eu enxergar que o passado
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está cada vez mais se apagando em meu coração e


ficando aonde ele já deveria estar, no passado.
Samira puxa meu maiô nessa hora. Ela não
é nada boba, quando me viu perto já quis ir para o
meu colo. Eu sorrio e a pego.
A babá se aproxima de mim e pergunta para
ela:
—Está na hora da fruta. Vamos comer uma
maçã raspadinha?
—Vai meu amor com a Nazira.
Então eu vejo que enquanto nós estávamos
conversando, ela já tinha providenciado o cadeirão
para dar a papinha de frutas para a minha garotinha.
Quando ela se afasta com Samira eu encaro meu
novo marido. Parece um sonho quando dou com
seus olhos negros e agora quentes sobre os meus.
Ele segura minhas mãos. Seu olhar é de
homem apaixonado, eu me sinto flutuando, tanto
que é como seu eu estivesse com ele nas nuvens.
—Vamos para o quarto, não estou me
aguentando aqui, com vontade de ter você...Quero
que sinta o quanto te amo.
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Allah! Não consigo nem pensar,


hipnotizada com seu olhar, eu assinto com um
aceno de cabeça e visto meu vestido como que
encantada com suas palavras. Zair se troca também
e depois me estende a mão.
No quarto, sorrindo, tiramos nossas roupas,
um olhando para o outro e pela primeira vez não há
só desejo, o clima é leve entre nós.
Nu ele se aproxima de mim e então pega a
minha mão e me conduz até a cama. Eu me deito,
louca para ter esse novo homem. Ele vem na minha
direção e se ajoelhando nela, paira sobre mim.
—Você é a mulher da minha vida, Aysha.
Meu coração soube disso no momento que te
conheci melhor, embora a minha mente me
acusasse por eu sentir isso.
Eu sorrio para ele.
—Você tem uma vida para provar que sou
essa mulher.
Ele passa a mão no meu rosto.
—Eu vou provar meu amor, você verá.
—Promessa é dívida. —Digo passando
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meus lábios na palma dele.


—Sim e vale por um escrito. —Ele diz
rouco.
Zair

Allah! Farei amor com Aysha hoje,


diferente.
Não na forma de fazer amor, pois sei que
sempre fiz amor com ela, não era apenas sexo. Mas
quando digo diferente, digo com o coração leve,
entregue, apaixonado. E mais, demonstrando meus
sentimentos.
A olho deitada na cama, observando sua
respiração. Seu corpo lindo, voluptuoso chamando
minhas mãos para tocá-lo. Seus lábios entreabertos
clamando por um beijo. Cada detalhe reparo, como
se ela fosse um quadro perfeito do mais expert
artista.
Vou até ela, meus olhos procuram seus
olhos, sem esconder de mim mesmo o quanto a
amo.
Minha boca procura dela e extravasa tanto
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sentimento que no beijo começo a sentir minhas


lágrimas salgadas, pois eu correria o risco de perde-
la com a minha paranoia. E não digo ela, pois sei
que ela se sujeitaria estar ao meu lado por causa
dos costumes, talvez não, não sei. Mas o que falo é
de perder sua alma, seus bons sentimentos para
comigo.
Procuro seus olhos novamente, antes de
beijar seu pescoço, seu rosto, seus olhos com
infinito amor. Aysha suspira, geme e eu sorrio, feliz
dela ser minha, só minha.
Ficamos assim, unidos um ao outro, nos
abraçando, nos beijando, nos tocando. Nossos
corpos são uma sintonia de entrega, de amor.
Chega a ser poético.
O tempo todo que o meu corpo se move
com o dela e eu procuro seus olhos, quero que ela
veja, sinta como eu a amo. O meu peito sobe e
desce com a força da minha respiração, até as
batidas do meu coração estão diferentes hoje. Ele
parece que quer sair do meu peito.
Ela se levanta e me faz deitar, seus lábios
me provocam, me sentem, me molham. Eu sorrio
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antes de sua boca tomar a minha. Como senti falta


da boca dela na minha. Retribuo seu beijo, virando
meu corpo e a colocando entre os travesseiros, sem
interromper o beijo. Meus lábios se movem, minha
língua visita a dela, brinca. A beijo até perdermos o
fôlego.
Sim, ela não sabe o potencial que tem.
Aysha me deixava louco apenas com um de seus
irônicos sorrisos.
Ela me olha claramente emocionada,
apaixonada, mas não diz nada. Nem precisa, vejo
tudo agora em seu olhar. Antes eu enxergava mas
não queria acreditar, tinha medo de me iludir, de
sofrer. Eu beijo seus lábios mais uma vez e o olho
nos olhos e outra vez e outra.
Estou acreditando novamente.
Nem acredito que voltei a ser eu
novamente.
Estava tão cansado de lutar...
Deixei de ser aquele rato medroso, temendo
essa entrega. Que otário! É tão bom essa liberdade
de sentimentos que sinto. Se meu coração pudesse

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falar, cada batida diria eu te amo. Ele bate forte por


ela demonstrando a força dos meus sentimentos.
Não preciso mais fingir, enganar a mim mesmo me
dizendo que isso é apenas desejo.
Allah! Aconteceu...
Eu a amo.
—Uhibbuki (Eu te amo) —Confesso na
minha língua olhando seus olhos. —Sou viciado
em você...
Em resposta ela prende a respiração
emocionada e me agarrando. Digo novamente “eu
te amo” e a beijo. Beijos com língua lenta,
saboreando seus lábios.
É intensidade que ela queria?
Ela está perdida, pois vou demonstrar meu
amor por essa garota... ela vai conhecer o meu eu
verdadeiro, aquele que eu tanto sufoquei.
Mordisco seu pescoço enquanto suas mãos
acariciam minhas costas, fazendo-me sentir amado,
especial.
— Allah! Zair, eu te amo tanto...
Eu sorrio feliz. Como é bom ouvir isso, ver
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sua entrega, sua cabeça jogada para trás enquanto a


beijo.
Nossos beijos se intensificam, e a calma vai
embora e aquele desejo selvagem começa a nos
dominar, querendo um ser parte do outro. A espera
disso nos faz nos encher de ansiedade selvagem.
Chega um momento em que não conseguimos
esperar mais.
Logo eu estou dentro procurando meu
caminho num lugar quente e latejante.
Ah! Como é bom estar aqui.
Começo a me mexer, devagar no início.
Nos encaixamos tão perfeitamente...
Conforme vou intensificando, mais e mais
fundo, sua respiração se intensifica como a minha e
começamos a nos perder no prazer juntos. Como
fui capaz de pensar que poderia viver na amenidade
de sentimentos com essa mulher?
Continuo me movendo e me controlando,
pois, a visão dela em êxtase me excita demais. Não
demora muito ela me agarra e geme alto quando
chega lá, como sempre estou no meu limite e não
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consigo mais me segurar e libero as ondas de prazer


que fazem meu coração bater mais rápido, minhas
pupilas dilatarem e eu apertar minhas mãos nas
suas, até que alcanço o clímax tão buscado, tão
desejado.
Eu lhe dou um sorriso e a abraço. Aysha se
aconchega mais nos meus braços. Toda dor que
vivi ficou para trás contra este momento, contra a
mulher que me fez querer acreditar novamente. Os
momentos que tive de depressão parece que nunca
existiu.
O ódio pela vida, tudo de ruim que ainda
restava em mim sumiu... estou vivendo um novo
momento.
Agora estou me sentindo pacífico, por estar
ao lado de Aysha, a mulher que parece com o que a
garota dos meus sonhos seria.
Seria não! Ela é...

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Aysha

Depois que fizemos amor, saímos do quarto


e almoçamos todos juntos.
Depois eu fiquei um pouco com Samira, e
pasmem! Zair ficou o tempo todo do meu lado.
Sorrindo, falando com ela. Nem parece o homem
de antes.
Quando Samira foi tirar seu cochilo,
também fomos descansar. Dormirmos um nos
braços do outro, com uma leveza de alma, daquelas
que se encaixam, uma ligação maravilhosa.
À tardezinha tomamos o nosso café e
tiramos a tarde para andar na parte externa do
palácio, nessa caminhada conversamos. Ficamos
relembrando o que vivemos, rindo disso agora.
Aquele lugar escuro aos poucos, vai ficando
colorido conforme Zair vai rindo de suas próprias

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limitações, inseguranças e ignorância. Depois dessa


parte, ele quis saber tudo sobre a minha vida. Todos
os detalhes que eu pudesse dizer para ele me
conhecer melhor. Eu fiz isso, contei-lhe da minha
vida, da minha infância até o meu casamento.
Quando chegou na parte dele falar de si, ele
não falou do seu fracassado casamento.
Está certo, lembrar disso é como estragar
nosso radiante momento.
Zair me contou de sua vida quando criança,
jovem. Seus sonhos, esperanças. Que ele não queria
ter uma vida de prazeres vazios como carros
velozes, amantes passageiras que satisfariam seus
desejos, seus caprichos.
Homem de uma mulher só, ele sempre
sonhou com uma família, filhos, cachorros
correndo pela propriedade. Um verdadeiro ninho de
amor. Descubro nele, então, um homem muito
romântico, sentimental, foi aí que entendi como o
que Amina fez foi traumático para ele, agressivo
para uma alma que se doou tanto para que tudo
desse certo. Uma alma intensa, autêntica e
generosa.
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Resumindo, entendi sua revolta.


Os níveis de intimidade que alcançamos
juntos depois que Zair abriu seu coração mexeu
profundamente conosco: risos, troca de carinhos,
andar de mãos dada, tudo isso agora está presente
como parte dessa mudança.
Mais tarde nos arrumamos para a festa na
casa do amigo dele. Eu me olho novamente no
espelho. O vestido longo, verde escuro é realmente
um arraso.
—Está linda, habibi. Definitivamente
tentadora.
Sorrio, feliz.
—Você está lindo também. Parece um árabe
do deserto com esse dishdasha negro e dourado.
Ele me dá um sorriso lindo. Vejo agora seus
sorrisos largos, autênticos. Zair se aproxima de
mim e coloca o colar de esmeraldas, quando ele
prende o fecho, eu me viro para ele.
—Te amo...
—Como pode me amar quando eu merecia
perdê-la?
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Eu o abraço e depois o encaro.


—Você se casou num mal momento, você
ainda vivia em trevas. Você estava vivendo uma
confusão de sentimentos e por isso dava cartas de
negação. O importante é o agora, você finalmente
ter deixado o passado lá atrás. Ele só deve ser
lembrado para não o repetir. E agora sinto sua
entrega, seu amor, você me surpreendeu com seu
grande potencial para recomeçar, para amar.
—Allah! Eu me sinto abençoado.
—Que bom! Agora você pode me mostrar
quanto sou abençoada também. —Digo sorrindo.
Zair começou a se declarar em árabe,
repetidas vezes, e depois num beijo quente, ele me
mostrou toda a sua veneração.

A festa foi um evento interessante. O amigo


de Zair, Tarif, não é um homem rico, mas sim de
classe média. Logo que a limusine estacionou em
frente à casa modesta, meu marido olha para mim.
—Lembre-se que aqui não é a América.
Nada de muito sorrisos para os homens.
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—Estou começando a achar que usar esse


colar é exagerado. É claro que seu amigo é uma
pessoa simples, então deve ter amigos simples.
—Aqui não é a América, habibi. Você verá
que as mulheres estarão exibindo suas joias.
—Mas devem ser mais modestas que as
minhas.
—Se esqueceu minha posição? —Zair me
pergunta. —Você deve estar vestida de acordo com
ela, e não se rebaixar.
—Tudo bem. —Digo. —Seu amigo se
inclina quando te vê?
—Sim. Ele me honra. E não acho ruim isso.
Ao adentrarmos a casa vejo muitos grupos
de pessoas, homens de um lado e mulheres de
outro. Quando eles percebem nossa presença, para
todos de falar e inclinam a cabeça para Zair.
Sim, às vezes me esqueço quem é Zair.
Logo surge Tarif, ele se encurva e depois
eles tocam as faces.
—Salaam Aleikum
—Alaikum As-Salaam
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Quando se afastam os olhos de seu amigo


caem em mim.
—Minha esposa, Aysha. —Zair diz com
um sorriso orgulhoso.
—Salaam Aleikum—Ele se inclina.
—Alaikum As-Salaam.
—Que Allah possa vos agraciar com um
filho. O futuro membro real de Catar.
—Assim seja. —Digo com um sorriso.
—Meu pai já está impaciente. Você acredita
que ele quase acertou com a família de Nádia para
ela ser minha segunda esposa, caso Aysha não
engravide no tempo determinado?
—Nádia? —Ele diz sorrindo.
—Sim. Graças a Allah ele os chamou
quando eu voltei de viagem. Então contei para meu
pai que tipo de mulher que Nádia é.
—Que bom! E eu me pergunto como Amina
podia ser amiga de Nádia? Elas eram tão diferentes.
Diferentes?
Hum, é por que ele não conhece o ditado:

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Diga me com quem tu andas e eu te direi quem tu


és.
Zair não diz nada, apenas assente.
—Vem, vamos beber ou comer algo. O que
menos quero é fazer você lembrar de coisas tristes.
Caminhamos pela sala, e conforme
passávamos as pessoas se inclinavam. As mulheres
exibindo suas joias. Sim, elas usam joias, mas não
como as minhas.
Eh, aqui se dar muito valor a isso.
—Zipa. —Ele chama uma mulher baixa, o
rosto bonito, cabelos bem negros. —Princesa, essa
é minha esposa.
—Salaam Aleikum—Ela diz.
—Alaikum As-Salaam—Respondo.
— Faça companhia para a princesa.
Zair me olha sorrindo e fala no meu ouvido.
“Nada de bebidas”.
Eu assinto. Preciso perguntar a ele o que
aconteceu aquela noite. Só me lembro de flashes.
Fico com as mulheres, o assunto: filhos. Ah,

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até que esse assunto eu entendo e começo a falar


orgulhosa de Samira. Ficamos um bom tempo rindo
das gracinhas das crianças.
De repente, sinto minha boca seca. Peço
licença a elas e vou até a mesa de sucos, olho bem
para não me confundir o alcóolico do não alcóolico.
Pego um de abacaxi e quando me viro
esbarro em um homem. Ergo meus olhos e dou
com uns olhos negros fixos em mim. Ele é bem
alto.
—Perdoe-me, princesa.
—Não foi nada. —Tento manter o clima
leve, limpando meu vestido do suco que ele
respingou.
—Nem sei o que dizer. Espero não ter
arruinado seu vestido.
—Se arruinou, não tem problema.
Zair me enlaça pela cintura.
—Aconteceu alguma coisa?
—Nada.
—Sem querer esbarrei na sua esposa e
derramei suco.
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—Fique longe dela. —Zair diz, como um


cão raivoso para ele. —Aysha, me acompanhe, por
favor.
Ele segura meu braço garras.
—Zair, você está me machucando.
Ele tira meu copo de suco das minhas mãos
e coloca na mesa.
—Eu estou com sede. —Protesto.
—Depois você bebe. —Ele diz entredentes.
Ele segura meus ombros e me faz olhar para ele.
Meu coração está disparado no peito quando dou
com seus olhos frios como antes. —Fique longe
daquele homem. Se ele vier falar com você, se
desvencilha dele. Depois eu explico o porquê disso.
Ele se afasta.
Allah! Onde está o meu marido
compreensivo, carinhoso de horas atrás?
Com as mãos trêmulas eu pego o meu suco
novamente e levo o canudinho aos lábios. Zipa,
surge ao meu lado.
—Tudo bem?
—Mais ou menos.
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—Eh, o príncipe parecia nervoso.


—Sim, mas estou sem entender até agora,
por quê? O que foi que eu fiz?
—Ciúmes. Você já viu os homens brigarem
por causa de outra coisa? Vem, vamos comer
alguma coisa. E não se preocupa com isso. Não
temos as iguarias que vocês têm, mas é tudo bem-
feitinho.
—Imagina, claro que deve estar tudo uma
delícia. —Digo enquanto a acompanho.
Vou com ela até a mesa de salgados e
experimento alguns.
—Gostou?
—Muito bom.
Aquele homem surge novamente. Eu o
encaro com o rosto sério.
—O príncipe parece o tipo bem
esquentadinho. Nos olha de um jeito esnobe, só
porque somos o lado mais pobre da sociedade.
Não gosto da maneira que ele ser refere ao
meu esposo. Mesmo que ele seja, não vou me unir
a ele e falar mal de Zair.
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—Você está muito enganado. Com licença.


Zair está conversando com seu amigo, mas
percebo seus olhos fixos em mim. Ele está olhando
o homem com fúria nos olhos. A festa perdeu a
graça agora. Do jeito que Zair olha, não sei o que
pode acontecer. Por isso caminho até ele.
—Que bom que está aqui. Nós já vamos. —
Ele me diz, seco.
—Tudo bem.
—Despede-se de Zipa, que eu vou falar
com Tarif.
No carro fizemos o trajeto até o palácio em
silêncio. Eu presa nos meus pensamentos e ele nos
dele. Quando entramos no nosso quarto, começo a
tirar meus brincos.
—Está tudo bem?
Eu o olho séria.
—Sim.
Vou até o closet.
—Pois não é o que parece. Você não disse
nada no caminho até aqui.

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—Por que me tratou daquele jeito na festa?


Zair se aproxima de mim, sua cara não é
nada boa.
—Por que disse que não era nada quando te
perguntei o que houve? Por que não me falou que
ele esbarrou em você e derramou a bebida?
Pisco aturdida com a sua pergunta:
—Por que ....Ah, não sei. Só achei mais
fácil amenizar as coisas.
—Não faça isso. —Ele diz, seco.
Eu me defendo:—Esse é um jeito
americano de dizer que está tudo bem.
Ele aperta os lábios.
—Sinceridade sempre.
—Mas eu fui sincera quando disse que não
foi nada. O que é o vestido respingado de suco?
—Aquele homem estava de olho em você
desde a hora que você chegou. Então, não me
admiro em nada se ele provocou esse esbarrão para
falar com você.
—Não acha que está exagerando?

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—Era isso que ela falava quando eu


desconfiava dela.
Eu empalideço.
—Ah não! Você não vai ficar me
comparando aquela víbora que te traiu.
Zair ofega.
—Vamos dormir. Estou morrendo de sono.
Eu aperto meus lábios e vou no banheiro e
me troco. Na hora de deitar não abraço Zair, pego o
meu travesseiro e dou as costas para ele e o
travesseiro.
Meu travesseiro é arrancado e voa longe. Eu
me viro.
—Nada de travesseiros. Nada entre nós. —
Ele respira fundo. —Perdoe-me. Sei que é uma
mulher maravilhosa. Só não esconda nada de mim.
—Eu não escondi! Como eu disse, é um
jeito americano de não aumentar o problema.
Ele respira fundo.
—Tudo bem. Vem, habibi. Sei que gosta de
dormir abraçada a mim. —Ele diz rouco e me beija
na boca. Ele me dá um beijo de roubar o fôlego.
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Quando ele se afasta eu digo ofegante:


—Dormir? Você não está com cara de quem
quer dormir.
Zair sorri com malícia e eu me perco nos
olhos negros dele. Allah! Terei festa no parquinho.

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Capítulo 18

Dois meses depois...

Os dias que se seguiram foram


maravilhosos. Zair tirou esses dias para ficar com
sua família. Sua relação com Samira mudou muito.
Ele tem lhe dado grande atenção e carinho.
Cada dia que passa Zair está mais leve. O
passado tem ficado cada vez mais para trás. Suas
ações demonstram também que ele tem confiado
mais em mim.
Outro dia fomos a uma festa. Um homem
estranho olhava muito para mim. Zair também
reparou. Eu sei pela expressão que ele olhou o
homem, o intimidando. Em nenhum momento ele
me acusou de algo, ou disse alguma coisa. Nem
quando chegamos em casa. Não fez qualquer
comentário sobre o assunto. E eu vi isso como um
voto de confiança.
Ele resolveu fazer um exame de DNA em
Samira, e realmente constatou que ela não é sua
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filha. Ele já sabia disso, mas ficou triste, pois ele


gostaria muito que ela fosse. E segundo Zair, não
por ele, mas por ela mesma, pois um dia talvez ele
tivesse que contar tudo para ela.
Pensando nisso, me veio o nome:
“Gravidez. ”
Não estou grávida. Essa é a minha única
preocupação nesse momento. Em todo lugar que
vou, as pessoas perguntam, cobram. Esses dias
fomos assistir um concerto. Tinha muitas pessoas
da alta sociedade. Logo que elas conversaram com
o príncipe deram um jeito de perguntar quando
viria o herdeiro. Mesmo me sentindo segura ao lado
de Zair e sabendo sua opinião sobre uma segunda
esposa, não consegui controlar a pulsação acelerada
e meu mau estar.
Fito Samira, deitada de costas no berço, os
braços abandonados acima da cabeça e o rosto
voltado para o lado direito dormindo. Toda vez que
a olho sinto meu coração transbordando. Eu a amo
demais.
Zair me abraça por trás. Eu sorrio.
—Ela assim parece um anjinho, não a
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garotinha levada que conhecemos. —Ele fala baixo


no meu ouvido.
Eu rio.
—Ela é pura vida. Vem, vamos sair do
quarto.
—Que tal tentarmos providenciar outra vida
agora? —Ele diz no meu ouvido.
Meu coração se aperta, mas o afasto eu
sorrio.
—Acho uma ótima ideia...

Um ano de casados...

Allah! Nada de gravidez.


O Sheik, pai de Zair, já não me olha com
bons olhos. Passou o tempo do acordo de eu
engravidar ele já fala direto da segunda esposa.
Minha família também tem me cobrado.
Todos me cobram!
Como se eu quisesse essa situação. Como se
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o fato de eu não engravidar fosse minha culpa!


Empalideço quando penso que Samira não é
filha de Zair.
Ele pode ser estéril e isso pode complicar
muito as coisas. Ele terá que dar muitas
explicações. Eu e ele conversamos sobre isso. Ele
fez exames antes de me submeter a eles. Estamos
esperando o resultado que sairá amanhã.
Agora estamos na sala do palácio de seu pai
e eu já sinto um clima entre pai e filho.
—Zair, precisamos conversar. —O sheik
diz com severidade.
—Já sei o que irá dizer. A resposta é não.
—Ele diz e não sai do meu lado.
—Não? Filho ingrato, como pode falar
comigo nesse tom!
Zair ofega, mas diz com voz controlada.
—Daremos um jeito. A medicina é muito
avançada hoje e eu não arrumarei outro casamento.
—Aysha assinou, ela casou sob as
condições estipuladas.
—Pai, estamos numa fase de fazer exames.
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—Ela, você quer dizer.


Zair aperta os lábios e ofega. Ele então se
levanta irado, olha para todos os empregados, tanto
os que servem, como para a babá.
—Saiam todos.
Todos se inclinam e deixam a sala. Samira é
colocada no colo da avó pela babá que sai rápido.
Zair encara o pai.
—Eu também farei exame. Samira não é
minha filha.
O Sheik fica branco como um papel. Como
um cego tateia até encontrar a poltrona e se sentar.
—O quê? —Ele pergunta, abismado.
—Sim, pai. É isso que você ouviu. Estou
cansado de vocês cobrarem Aysha, e o problema
pode ser comigo.
—Amina te traiu?
—O que acha?
—Allah! Não pode ser.
—Sim, foi difícil acreditar. Ela era
dissimulada. Uma psicopata, fria. Sua capacidade

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de seduzir no início estava a todo vapor. Hoje vejo


que a incapacidade de sentir emoções também,
sempre controlada. Se fazia de boazinha, de coitada
para enganar a todos. Depois a psicopata descobriu
meus pontos fracos. Seu objetivo era ficar cada vez
mais íntima e eu me sentir mais seguro com ela e
assim me influenciando a tomar decisões que a
beneficiassem. E uma delas foi a contratação do
motorista, seu amante. Só que sua máscara um dia
caiu. Eu descobri tudo e me senti como uma peça
de um xadrez perverso, pois vi que fui manipulado
o tempo todo. Ela enganou a todos nós. Seu legado
foi um rastro de destruição.
O Sheik me olha admirado. E olha Samira,
que tem agora dois anos e está no colo da avó.
Zafira chora abraçada a menina.
Sim, tarde demais, eles a amam como uma
neta. Estão muito apegados a menina. Acho que
por isso Zair resolveu contar tudo só agora.
Zair continua:
—Resumindo, eu não admito mais que
vocês acusem Aysha. Eu posso ser o culpado por
ela não engravidar.
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O Sheik meneia a cabeça e olha Zair como


se estivesse em transe.
—Então...você não sofria por Amina ter
morrido, mas sim por ela ter te traído?
Zair mostra os dentes.
—Exatamente. Por isso eu não me achava
pronto para me casar novamente.
O Sheik cobre o rosto com as mãos.
—Allah! Que desgraça na nossa família.
Zair funga:
—Baba, ninguém precisa saber. Por mim,
Samira nunca saberá. Hoje, eu a amo como minha
filha. Aysha teve muita paciência comigo. Ela me
fez voltar a vida, a confiar novamente nas pessoas.
Eu tinha me tornado uma máquina depois que tudo
aconteceu.
—Zair, você tem certeza que ela não é sua
filha? —O Sheik pergunta.
—Primeiro: Eu peguei Amina com o
amante saindo do nosso quarto, e não era a primeira
vez que ele a tocava.
Segundo: Ela não confirmou que estava
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grávida dele, mas na época eu estava viajando,


fiquei dois meses fora. Lembra quando estávamos
entrando para o negócio de fraturação? Então, era
impossível ela ter engravidado.
Terceiro: Fiz exame de DNA e comprovou.
Samira não é minha filha.
—Allah! Allah! —O sheik o olha como se o
visse pela primeira vez. — Por isso você no
começo não a pegava no colo, a tratava como uma
estranha.
Zair acena com a cabeça, já cansado do
assunto. O Sheik pergunta:
—Quando sairá seu exame?
Zair passa a mão nos cabelos.
—Amanhã.
O Sheik o olha como se ainda não
acreditasse em tudo isso, como se estivesse dentro
de um pesadelo. Ele se levanta e caminha
cambaleando e some no corredor. Zafira me dá
Samira e corre para socorrer o esposo.
Zair me olha triste.
—Vamos embora?
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Eu assinto, admirada com Zair. Ele na ânsia


de me defender se expôs. Allah! Zair tem se
mostrado um homem admirável.
No palácio no nosso quarto eu o abraço.
—Obrigada por ter me defendido.
—Eu só não fiz antes por causa de Samira.
Queria eles bem ligados a ela para contar. Não
aguentava mais eles te acusarem. O problema pode
ser eu.
Eu o abraço e choro em seus ombros.
—Shiii. Não chore, Aysha. Se for, tem
muitos recursos. Podemos correr atrás disso. Existe
a fecundação in vitro, e outros métodos.
—Não estou chorando por isso, estou
porque você tem se revelado um marido
maravilhoso.
Ele sorri.
—Porque eu tenho uma esposa maravilhosa.
Eu o abraço e o olho.
—Vou te mostra agora, o quanto eu sou
maravilhosa...

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Ele sorri de canto de lábios.


—Hum, isso quer ver...

Dia seguinte...

Eu e Zair na sala do médico que está com o


exame dele nas mãos. Um espermograma, que
avalia a quantidade e a qualidade dos
espermatozoides.
Ele olha para Zair, cuidadoso.
—O exame deu uma oligospermia, ou seja,
seu testículo produz um baixo número de
espermatozoides.
Zair respira fundo. Eu aperto as mãos dele.
O médico continua:
—Mas não se preocupe. Homens que antes
eram considerados estéreis, agora podem ter filhos,
graças as novas técnicas.
Zair o encara com renovado interesse e eu
também.
—O procedimento se dá por meio de uma

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incisão dividindo o testículo ao meio e, com o


auxílio de um microscópio, retirando pequenas
amostras para a busca dos espermatozóides. Essa
cirurgia é muito mais eficaz que a biópsia de
testículos, além de ser menos agressiva.
Colheremos também os óvulos de sua esposa que
será fecundados por eles e depois plantaremos no
útero dela.
Zair respira fundo e olha para mim.
—É a nossa chance, Aysha.
—Só que tem um problema.
Zair olha o médico.
—Bem, não sei se vossa alteza acha
problema. A maioria quando engravida, se torna
mãe de gêmeos, pois fazemos várias fecundações
para ver qual dos óvulos irá vingar.
Zair passa as mãos nos cabelos. Ele não
parece feliz com isso.
—Gêmeos?
—Por que está tão nervoso, habibi? Já
pensou? Termos dois filhos.
Ele me olha.
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—Essa gravidez não se tornará um risco de


vida para Aysha, doutor?
Ah, entendi. Tadinho. Ele está preocupado
comigo, pois Amina morreu no parto.
—A gravidez é uma dádiva. A princesa terá
apenas ter um cuidado redobrado. Se alimentar
direito, tomar vitaminas que vou receitar, e
repousar mais. Fora isso, toda mulher tem a
capacidade de gerar mais que um.
—Não sei...
Eu pego as mãos de Zair.
—Como não sabe? Claro que faremos isso.
—Aysha...
—Não temo alternativa. Ou isso, ou a
segunda esposa. Eu prometo me cuidar. Prometo
que tudo dará certo. “O poder do amor pode
conquistar qualquer coisa, desde que a fé de uma
pessoa seja forte o bastante.” Palavras de uma
autora que gosto muito, Alicia Scott.
Zair solta o ar angustiado e me olha por um
tempo, depois para o médico.
—Tudo bem.
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Eu sorrio e o abraço....

À noite o Sheik e Zafira vieram ao palácio.


Sua aparência não é nada boa. Ele parece nervoso,
ansioso. Zafir não quis dar a notícia por telefone.
—E então? —O Sheik pergunta.
—O problema é comigo. —Zair então
explica tudo.
Foi bom ver o Inquisidor, sua Alteza Real o
Sheik Ali olhar Zair com cara de surpresa. Até que
fim ele vai deixar de me ver como a causadora da
demora em termos filhos. A segunda esposa nem
adianta mais nesse caso. Isso é um alívio, mas ao
mesmo tempo eu estou triste por Zair.
—Allah! E agora?
—Eu e Aysha faremos uma inseminação
artificial.
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O Sheik o olha apreensivo para Zair e


nenhum momento olha para mim.
—O médico deu garantias de um bom
resultado?
—Sim, temos grandes chances.
—Graças a Allah!
A empregada surge na sala avisando que o
jantar fora servido. Todos então se dirigem à mesa.
O jantar, pela primeira vez depois de muito
tempo foi leve e agradável. Sem cobranças do
Sheik. Sem olhar feio para mim.
Quando o jantar terminou nos despedimos
como se nada tivesse acontecido. O Sheik, claro,
todo orgulhoso, nem por um momento me pediu
desculpas.
Zair se vira para mim.
—Acabou a pressão. Agora eles terão que
ter paciência.
Eu sorrio para Zair.
—Graças a Allah!
—Te amo, Aysha. Você se manteve firme,

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o tempo todo ao meu lado, aguentando toda


acusação, mesmo sabendo que o problema poderia
ser eu. Espero que tenha entendido a minha demora
em fazer o exame. Fiz pensando em Samira. Eu
queria que eles estivessem ligados a ela como
estão. Por isso não te falei nada, não queria gerar
em você expectativas.
—Habibi, eu sei disso e vindo de você essa
proteção com Samira é algo maravilhoso.
—Eu a considero minha.
—Eu sei. Sei que ama muito.
Zair sorri e pega a minha mão.
—Vem, vamos para o quarto. Não vou
acertar o alvo, mas quem se importa.
Eu rio com suas palavras.
— Palhacinho...E quem disse que não
acertou o alvo? E meu coração, não é válido?
—Allah! Esse é o maior de todos os
prêmios!
—Ah, bom.
Rindo vamos para o quarto.

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Um mês e meio depois...

—Mas que droga!


—O que foi? —Pergunto, vendo a raiva no
rosto de Zair.
—Não poderei te acompanhar ao médico.
Você terá que ir com minha mãe. As máquinas
ficaram presas no aeroporto, preciso pessoalmente
liberá-las. E temos pressa com isso. E o horário
para liberação é justamente essa hora...
Eu vou até Zair e o envolvo pela cintura.
—Shiii. Tudo bem.
—Você liga para mim, me dando a notícia.
—Não!
Zair estremece.
—Não? Como não?
—Você acha que vou te dar essa notícia por
telefone?
Ele passa as mãos nos cabelos.
—Vou tentar ir até o consultório. Vou ver
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se resolvo tudo rápido a tempo de correr para lá.


—Nada disso! Fica tranquilo e se não for
dessa vez, tentaremos novamente. E assim por
diante, até conseguirmos.
Ele respira fundo e me abraça, então se
afasta e me olha:
—Te amo.
—É bom sempre ouvir isso, eu não me
canso. Eu também, habibi. Te amo muito.

No dia seguinte estou na sala, nervosa,


esperando meu habibi chegar. Só espero que Zafira
não tenha ligado para ele, pois eu quero dar a
notícia. Isso foi o acertado. Mas mãe ansiosa, já
viu.
Quando ele entra na sala, seus olhos voam
para mim. E pelo seu semblante apreensivo sei que
ele não sabe de nada.
—Aysha. E então?
Eu estendo a minha mão com o semblante
sério. Zair murcha ao me ver tão séria.
Emocionada, começo a chorar. Ele respira fundo e
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me abraça. Segura meu rosto em suas mãos.


—Tudo bem. O importante é nós dois, para
mim, nada mais importa.
Eu olho para Zair.
Tão lindo. Seus olhos negros tão quentes
nos meus.
Como eu o amo...
Eu então pego a mão dele e me afasto, a
coloco no meu ventre e o encaro
significativamente, sorrio.
Zair fica trêmulo. Então dá um sorriso
nervoso.
—Meu filho? Nosso filho?
—Sim amor, estou grávida de gêmeos. Dois
lindos bebês.
Os olhos dele se enchem de lágrimas. E ele
me pega no colo, me gira na sala. Rimos juntos.
—Allah!
Ele me coloca no chão. Se ajoelha e beija
minha barriga com muito amor. Então ele se
levanta e me olha com um sorriso.

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—Agora torcer para um deles ser um


menino. —Digo.
—Vamos comemorar!
—Claro! O que pretende?
—Quero uma segunda lua de mel. Eu te
devo isso.
Meus olhos brilham.
—Sério?
Eu o abraço apertado.
—Sim, hoje conversei a respeito com meu
pai ao telefone. Meu primo irá assumir tudo
enquanto viajamos.
—Viajamos? Para onde?
—Onde você quiser. Desde que não seja
nesses lugares onde as mulheres andam
escandalosas. Mas eu tenho uma sugestão, se você
aceitar é para lá que vamos.
Eu sorrio ansiosa.
—Diga-me!
—Pensei numa casa à beira mar de um
amigo meu. Fica no Brasil em Ubauba, ela é
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deserta. Ficaremos tranquilos lá.


Eu o abraço apertado e quando me afasto
digo:
—Seria ótimo amor.
—Vamos ver no mapa?
—Vamos!
Eu e ele nos sentamos no sofá. Zair pega
seu Iphone e joga no mapa São Paulo Ubauba.
—Amor, Ubauba não existe e sim Ubatuba.
—É, então é isso mesmo. Vê se a cidade é
litorânea.
—Sim.
—Então é essa!
—Pensei que soubesse só o nosso Abjad.
Não sabia que sabia escrever letras ocidentais.
—Foi difícil aprender, mas eu sei. Mas se
não soubesse, você saberia.
Eu rio.
—Sim, é verdade.

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Nossa lua de mel...

—Isso que é vida meu anjo. —Zair diz


sentado na espreguiçadeira da casa em frente ao
mar. — Estou pensando em comprar essa casa.
—Casa? Essa mansão, você quer dizer.
Zair olha o céu pensativo.
—Vou dar uma oferta irrecusável.
Poderemos vir para cá quando quisermos.
—Melhor não amor. Teremos dois bebês,
fora nossa Samirinha. —Digo rindo, olhando ela
andando pra cima e pra baixo, a babá atrás dela.
—E daí que teremos mais filhos? Mais um
motivo para comprar. Eles não serão bebes a vida
toda. Você vai ver que eles cresceram rápido. Já
pensou os três aqui, correndo, brincando nesse
paraíso?
—Bem...pensando assim, acho que tem
razão.
—Hoje você acordou melhor.

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Eu sorrio para ele.


—Sim, hoje não vomitei. Estou usando a
técnica da bolacha água e sal. E realmente resolve.
Como antes de me levantar com um copo de água.
—Sim, eu vi. Funciona mesmo.
Eu sorrio para Zair e pego sua mão. Levo
aos lábios.
—Obrigada. Sei que não gosta muito de
deixar o seu trabalho na mão de alguém.
Zair me olha fixo.
—Isso é passado. Não gostava. Hoje
valorizo minha família. E nós merecíamos tudo
isso. Na nossa lua de mel eu fui muito...
Estico meu braço e toco seus lábios.
—Passado.
Ele ri e beija minha mão.
—Meu amor. Realmente tu és uma pérola
de grande valor.
—Hum e você é a minha concha, que me
envolve, que me protege de tudo.
Zair ri com gosto, passando seus olhos
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negros no meu rosto diz:


—Allah, gostei! Realmente me sinto assim.
Quero te proteger sempre....

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Epílogo

Um ano e meio depois...

Estou com Said no colo e Rashid está no


carrinho. A fralda de pano de Said cai no chão.
Samira corre para pegá-la.
—Obrigada meu amor.
—Olha quem chegou....
—Papai! —Samira corre em disparada para
Zair que a pega e a joga no ar. Ela ri muito. Eu
fecho os olhos para não ver. Dá uma má impressão.
Zair a coloca no chão e me beija.
—E como está a mamãe?
—Estou bem, habibi. Deu tudo certo em sua
viagem?
—Sim. Agora férias.
Said para de mamar. Eu o pego no colo e o
faço arrotar. Ele já está com quatro meses. Está
pesado. Rashid já mamou, por isso está dormindo
tranquilo.
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Zair o pega do meu colo.


—E esse garotão?
Ele se senta ao meu lado. Samira enciumada
se aproxima do pai. E fica sentadinha ao lado dele.
Zair se vira para ela.
—Quer pegar seu irmãozinho um
pouquinho?
—Quero! —Ela diz animada.
Allah! Zair não tem juízo.
—Mas lembre-se de que só pode quando eu
estiver presente e eu coloco em seu colo. Tudo
bem?
—Tudo!
Bem, melhorou...
Ela fica com as perninhas esticadinhas no
sofá e Zair segurando o filho o coloca nos
bracinhos dela. Mas continua segurando.
Ah, assim tá bom.
Ela sorri com ele.
—Pronto.
Zair o pega novamente e o coloca no
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carrinho. Os gêmeos são idênticos, a única


diferença é que Said é maiorzinho.
Ele se senta ao meu lado e me beija na mão.
—Sentiu minha falta?
Allah! Isso por que ele saiu de manhã. Mas
não vou negar pois senti. Ele me ajuda com as
crianças e nos divertimos muito juntos.
—Sim.
—Mesmo?
—Você sabe que sim.
Nazira diz para Samira.
—Samira, vamos levar seus irmãozinhos
para o quartinho deles, e lá brincamos um pouco. O
que acha?
—Eu quero.
Todos saem, me deixando sozinha com
Zair. Ele ri torto.
Hum, sei, sei...sei o que ele quer.
—Allah! Eu amo essa babá.
Eu rio disso.
—Vamos amor, eu darei o que você quer.
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—Só eu? —Ele pergunta sorrindo.

Zair

Eu observo seu rosto tingir de vermelho e


seu sorriso baixo por alguns segundos antes de
tomar sua boca.
Eu a amo mais a cada dia. Como isso é
possível?
Mas eu sou louco por essa mulher. Nosso
amor hoje é muito mais forte e potente que antes.
Allah! Eu ansiei por ela o dia inteiro. Louco
para chegar em casa e tê-la novamente nos braços.
Ontem não fizemos amor. Rashid estava com cólica
e ela fez questão de ficar com ele até passar.
Quando veio para a cama já era tarde. Parecia
cansada.
Acordei duro, mas tive que sair cedo para
resolver alguns assuntos de trabalhos pendentes
com meu pai. E ela dormia tão bem, tão gostoso
que eu não quis acordá-la. Mas agora ninguém me
segura.
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—Vamos amor, vamos para o quarto. —Ela


diz quando finalmente me afasto. —Vou te mostra
o quanto eu te quero também.
Eu sorrio satisfeito e pego a sua mão.
Lábios macios, doces se abrem novamente
para receber os meus. Então nossos corpos nus
giram na cama e Aysha fica por cima de mim.
Allah! Eu não consigo imaginar meu mundo
sem Aysha. Os meses finais de sua gravidez foram
um inferno de preocupação pra mim. Dei graças a
Allah quando os gêmeos nasceram.
Meus pais ficaram no céu quando
anunciamos que eram dois meninos. Por falta de
sucessor teremos dois homens para administrar
tudo.
Ela geme quando lambo seus seios.
Há tanto sentimento quando estamos assim,
nos amando...
—Allah! Eu senti falta disso. —Ela diz
quando entro nela.
—Sentiu? Mostra-me como sentiu... —Digo
e ela geme alto em resposta, seus gemidos se
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tornam ruidosos no quarto silencioso que agradeço


por nossas paredes serem grossas. Allah! Eu adoro
isso.
Sorrio em satisfação quando ela fecha os
olhos se contorcendo de prazer, chegando ao
climax. Eu que estou na borda me rendo também. É
sempre assim, estou sempre no meu limite.
Allah! Maktub, estava escrito essa união e
essa grande felicidade de nós dois...

Lembrando que o livro “O Egípcio”


estará em breve nas livrarias. O livro campeão
de vendas se tornará físico. Ele será publicado
pela Editora Clube das Mulheres em novembro.
Abaixo a sinopse do livro:
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O EGÍPCIO
MUNDO ÁRABE

O Egípcio sedutor...

Hassan é um homem de negócios e muito


assediado pelas mulheres. Ele tem no coração uma
vingança que o impede se relacionar
profundamente com elas. Isso dá a ele a fama de
mulherengo.

A linda inglesa...

Karina é uma designer de moda, já sofreu


na mão de um cafajeste e por isso quer distância
deles.
Karina é amiga da irmã de Hassan e é
convidada para ir a uma festa dele. Entretanto, o
que era para ser uma noite de diversão e
relaxamento, acaba por dar início a uma paixão

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avassaladora.
Hassan tem uma vingança a cumprir.
Karina sua honra a defender. Ela não quer
ser mais uma na cama dele.
Hassan, com quarenta anos, nunca se ligou
a ninguém. Fora isso, a diferença cultural é muito
grande e tem mais um agravante, ele é quinze anos
mais velho que ela.
Muitas coisas os separam, mas Hassan não
pensa assim, ele a quer em sua cama.
E ele faz isso, com muito charme e sedução
a conquista, só que ele não imaginava ser
conquistado também.
E agora, ainda que seu racional diga para se
manterem afastados, ele está preso a Karina com
algemas do amor.
Com o passar do tempo Karina descobre
que Hassan na verdade é um homem marcado pela
dor, e por isso sempre se esquivou do amor.

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