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ESSES CONTOS

EU CONTO

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ESSES CONTOS
EU CONTO

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Diretor
Pedro Xisto de Souza Pinto

Revisão
Cedenir de Souza Piedade

Ilustradora
Patricia Xavier Viana

Diagramação
Pedro Xisto de Souza Pinto Junior

Impressão
Gráfica e Editora João XXIII
Rua Governador Leopoldo Neves, 582 – Centro
CEP: 69.152-065 - Parintins – Amazonas –Brasil
Telefones: (92)99115-1742
E-mail: graficajoao23@gmail.com

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SEU NONO E O CARIOCA

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SEU NONO E O CARIOCA
Amazônia, um poço de mistérios.
Que muitos tentam desvendar
Uns procuram meios sérios
Outros acham que o caboclo vai lhe contar.

Um desses casos aconteceu


Na comunidade do Marajó
Onde um carioca pensou
Que o caboclo da região fosse bocó.

Um carioca veio brincar o boi bumbá


Antes da festa
Alugou um barco
E resolveu passear.

Visitou praias
Várias localidades
Até chegar a Marajó.
Uma linda comunidade.

Encontrou seu Nono


Do lugar morador
Que na arte de contar história
Era chamado de doutor.

Sendo de outra região


O carioca convidou seu Nono
Para ser seu guia
Nesse passeio expedição.

Conhecedor das histórias


E dos mistérios do lugar
Seu Nono era perfeito
Para o carioca explorar.

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SEU NONO E O CARIOCA
Se achando esperto
E dono da razão
Tentou encabular seu Nono
Com perguntas sem noção.

Seu Nono da região morador


Baixinho, cabelos brancos
Alegre de sorriso fácil,
Sempre de bom humor.

Caboclo simples da região


Tem resposta pra tudo
Não importa quem pergunte
A resposta está na mão.

Por ser da cidade grande


Querendo mistérios desvendar
Com seu jeito malandro
O carioca começou a indagar.

Eu vim do Rio de Janeiro


Conhecer histórias do lugar
O senhor as conhece?
Ou é desses que inventa só pra se mostrar?

Seu Nono com sua experiência de vida


Nem pestanejou e começou a explicar
Eu conheço algumas, não todas
E mentir, nessa idade, já não dá.

Então se prepare que vou começar a perguntar


O senhor já viu a cobra grande?
Seu Nono puxou um suspiro
E respondeu, com sorriso irônico pra variar.

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SEU NONO E O CARIOCA
Ela toda não
Mas só o rabo que vi
E estava a boiar
Atravessava o lago do lugar.

O carioca: “esse velho quer me enganar


Mas agora eu vou lhe pegar
Vou fazer mais uma pergunta
E aposto que ele vai se ferrar”.

O senhor já viu a Yara mãe d’água?


O velho nem respirou e respondeu,
Não só a vi como tenho um filho por lá
Que nessa hora deve estar a mamar.

Já perdendo a razão
O carioca espertalhão
Faz mais uma pergunta
Ao caboclo da região.

Só para saber até onde ia à astúcia do velho


Que sem querer estava lhe dando uma lição
De como surgem os contos, lendas,
E os mistérios da nossa região.

O carioca pensou e resolveu perguntar


O senhor já viu o gigante juma?
Seu Nono olhou para o carioca
E começou a lhe explicar.

Há muitos anos atrás


Em uma noite sem luar sair pra caçar
Como de costume
Pedi pra mãe da mata me ajudar.

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SEU NONO E O CARIOCA
Escutei um barulho estranho
Parece que alguém estava à floresta desmatar,
Mas como estava sozinho
Parei e fiquei só escutando caladinho.

Querendo me safar
Esperei o barulho parar
E com medo no olhar
Procurei um lugar pra me entocar.

Sem muito pensar


Atrás de um monte de barro
“Que até hoje fede só de lembrar”
Eu fui ficar.

Pois não eram as fezes do bicho!


E o barulho, eram moitas que ele arrancava
Só não sei se era para ele espantar mosquito
Ou para se limpar.

O carioca nem deixou a resposta terminar


Vendo a esperteza do velho
Morador do lugar
Começou a gargalhar.

Seu Nono já entediado


Com as perguntas
Do carioca folgado
Falou com ar de bravo.

É um desaforado
Trato-te com todo respeito
Respondo-te até o que não tem direito
Tudo para não contrariar.

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SEU NONO E O CARIOCA
Tu vens na minha comunidade turistar
Começa fazer pergunta besta
Eu te respondo, e tu não acreditas,
Então para de perguntar.

O carioca admirado
Com a esperteza do cidadão
Deu li um abraço e agradeceu de coração
Pela aula gratuita sobre os contos da região.

E se você for passear nessa região


E não conheça os contos do lugar
Não seja arrogante nem vá querer se empavular
Se não, já sabe que vai escutar.

Fim!!!

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EU, O BOTO

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EU, O BOTO
Que a Amazônia
É um poço de mistérios
E que há histórias em todo lugar
O mundo está cansado de escutar.

Mas a mente dos seus habitantes


É um terreno tão fértil
Algo diferente
Que a NASA tem que estudar.

Meu nome é Lourenço


E me orgulho em falar
Que sou um jovem caboclo
E cria desse imaginário popular.

Essa é parte da minha estória


Que trago vivo na memoria
E com muito orgulho
Com vocês vou compartilhar.

Fui criado sem pai


Minha mãe batalhou muito para me criar
Sempre falou do meu velho com carinho
E disse que um dia eu iria lhe encontrar.

O tempo foi passando


E esse dia nada de chegar
Até que um dia sem eu esperar
O destino resolveu aprontar.

Estava eu em uma fila de banco


Querendo minhas contas pagar
Quando um senhorzinho brincalhão

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Olhou-me e começou a indagar.

EU, O BOTO
Desculpe-me seu moço
E me perdoe pelo que vou lhe perguntar:
- Você é aqui de Parintins?
- Ou veio só passar o “festivar”?

Um jovem vindo do interior


Mas vestido para passear
Não querendo parecer matuto
Eu tentei disfarçar.

Nos primeiros momentos


Relutei em conversar
Mas logo lhe respondi
E o papo começou a rolar.

Dei-lhe atenção
E como bom caboclo da região
Estendi-lhe a mão
E respondi o que ele estava a perguntar.

Eu sou parintinense festeiro


Criado nas redondezas do lugar
Gosto de comer peixe
E tomar uma pinga pra completar.

E o senhor:
- Como posso lhe chamar?
Já sei que é muito simpático
E que adora conversar.

Meu nome de batismo é Allan Souza


Mas pode me chamar de Alanzinho
É assim que sou conhecido

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E é mais fácil de lembrar.

EU, O BOTO
O senhorzinho simpático
Que irradiava alegria no olhar
Apertou minha mão
E começou a falar.

Você é dos meus


Isso dá pra notar
Vou lhe contar uma história
E você pode acreditar.

Eu já tenho uma boa idade


E lhe digo com toda sinceridade
Não posso morrer
E comigo esse fardo levar.

Por isso hoje sai decidido


E o primeiro que achasse ser amigo
Iria relatar a ele, esse ocorrido.
Que na juventude aconteceu comigo.

Fiquei intrigado com o rumo


Que o papo estava a tomar
Então convidei o amável senhor
Para em um lugar tranquilo conversar.

Ele aceitou
Saímos do banco a gargalhar
Paramos em uma pracinha
E aí o bicho começou a pegar.

Perguntei a ele o que era tão importante


Aponto de a um estranho
Que nunca tinha visto antes

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Ele ter que contar.

EU, O BOTO
Ele pediu para eu não duvidar
Que tudo era verdade
Aconteceu com ele na sua mocidade
E ele ainda sonhava seu filho encontrar.

Fiquei ainda mais curioso


Mas ele não me deixou mais falar
Pediu desculpas
E disse que a sua história iria começar.

Há uns vinte cinco anos para não errar


Resolvi sair da cidade
E no beiradão do rio Amazonas
Encontrei meu paraíso particular.

Fiz a minha casinha


E do lado direito da minha a do seu Antônio
Viúvo e que vivia com duas filhas
Já maduras prontas pra casar.

Eu tinha um chamego com a mais velha


E seu Antônio aprovava o nosso namorar
Mais aí aconteceu esse fato
E eles se mudaram para nunca mais voltar.

Seu Antônio todo dia saia pra pescar


E um dia sem ele esperar
No rio em frente à sua casa
Um cardume começou a boiar.

Preparou sua malhadeira


Pegou sua canoa
Colocou um peso na popa

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E começou a bobuiar.

EU, O BOTO
Contente sentindo os peixes pegar
De repente ficou muito bravo
Um boto bandou sua malhadeira
Fazendo todo cardume escapar.

Ele remou para a beirada


E de tanta raiva ficou mudo
As filhas tentaram lhe acalmar
Enfurecido mandou as duas se afastar.

Correu até sua casa


Pegou um arpão
Do rio tomou direção
E ficou esperando o boto boiar.

Quando o boto boiou


Nem esperou ele assobiar
Acertou o boto no lombo
Que sumiu para nunca mais voltar.

Desse dia em diante


As marmotas começaram a se manifestar
Seu Antônio se sentia doentio
Vivia assustado com medo até de falar.

As filhas o levaram para a cidade


Para com o médico se consultar
Lhes disseram que era um mal estar momentâneo
Mas logo iria passar.

Voltaram para o interior e seu Antônio a piorar


As filhas querendo de qualquer forma ajudar
Apelaram para uma benzedeira

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Que as aconselhou se mudarem de lá.

EU, O BOTO
Pois o que ele tinha era encosto
Algo de mau ele tinha feito
Para os habitantes do rio mar
E eles estavam a se vingar.

As filhas sem muito pensar


Para cidade grande se mudaram
E nunca mais voltaram
Para aquele lugar.

Isso foi apenas o começo


Do que eu tenho pra lhe contar
Quem passou a ser perseguido fui eu
Que até me arrepio só de lembrar.

Sozinho naquele paraíso particular


Comecei a ser em sonhos visitado
Por duas moças lindas
Que ficavam na beira da rede a me olhar

Elas saíam sem me perturbar


Para mim eu estava acordado
Mas sempre acordava cansado e suado
Parecia que eu estava a lutar.

Sem ter para quem apelar


E nem para onde me mudar
Passei a fechar toda a casa
Antes de me deitar.

Comecei a fazer oração


Pedindo a Deus proteção
Mas foi tudo em vão

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Era só fechar os olhos elas estavam lá.

EU, O BOTO
Até que uma noite eu resolvi encarar
Mesmo em sonho eu perguntei
Quem eram elas
E o que queriam naquele lugar.

Uma se retirou
E a que ficou
Agarrou minha mão
E começou a falar.

Nós somos irmãs


E estamos aqui para nos vingar
Do assassino que matou nosso pai
Quando ele defendia os habitantes do rio mar

Foi só tristeza no nosso habitar


O pai foi encontrado com um arpão
Feito de amago e aço
No seu dorso cravado.

Isso enfureceu o conselho


Que nos obrigou uma atitude tomar
Como não temos irmãos
Coube a nós essa vingança executar.

Só o que malfeitor fugiu


E não temos como o encontrar
Tentamos nos vingar nas filhas dele
Mas elas também se foram desse lugar.

O conselho é muito severo


E age com determinação
Por isso pensamos em nos vingar em você

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Já que mora no mesmo torrão.

EU, O BOTO
Fiquei agoniado
E comecei a questionar
Se eu não tinha feito nada
Porque eu tinha que pagar?

Ela ficou sem resposta para me dar


Foi quando criou coragem
Agarrou minhas mãos
E me beijou sem eu esperar.

Desculpe-me a franqueza
E minha forma de expressar
Mas foi uma sensação que jamais senti
E dificilmente alguém nesse mundo sentirá.

Com esse beijo eu fui ao céu


Sem vontade de voltar
Foi à coisa mais prazerosa
Que um ser pode suportar.

Foi paixão na hora


Que fiz questão de não acordar
Mas ela pediu desculpas
E disse que tinha que voltar.

Mais intrigado eu fiquei


Porque nunca na minha vida imaginei
Que apenas um beijo
Pudesse me fazer apaixonar.

Ainda mais vindo de um ser


Que só em sonho eu podia encontrar
Pois, segundo ela, vivia nas profundezas

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E fora da água não podia respirar.

EU, O BOTO
Em êxtase me acordei
Sem saber nada explicar
Mas sentindo aquele sabor gostoso
Daquela boca que acabara de me beijar.

O tempo foi passando


E aquela linda moça
Cheia de carinhos e encantos
Já sozinha voltava para me visitar.

E eu já o aguardava
Fechar as portas nem pensar
Eu só queria que ela chegasse
Alegrasse aquele casebre que eu chamava de lar.

Por muito tempo isso perdurou


Não precisava mais esperar a noite chegar
Toda hora eu caía no sono
Só para ela me visitar.

Perguntei pela outra


Ela disse para eu deixar pra lá
Que sua irmã quando soube da nossa paixão
Se afastou para não se prejudicar.

E assim
Dentro do meu lar
Não perdíamos tempo
Sempre estávamos a nos amar.

De tanto nos afagarmos em afetos


Sem com o mundo se importar
Um dia ela se queixou está grávida

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E de alegria pulei sem parar.

EU, O BOTO
Acordei sorrindo a gritar
E um monte de gente a meu redor
Pareciam preocupados
Todos a me olhar.

Não sei quem contou na comunidade


Ou veio a inventar
Que eu estava ficando louco
E todos seguiram pra lá.

E eu gritando com toda alegria do mundo


“Vou ser pai o mundo já pode acabar”
Todos ficaram tristes e um deles disse:
- Lamento, mas temos que internar!

No momento não me preocupei com a citação


A certeza de ser pai
Não dava espaço para a tristeza
Era só alegria no meu coração.

As horas foram passando


Senti meu corpo preso
Todo amarrado
Em voltas com tiras de pano.

Tentei me soltar
Gritei pulei
Me debati
Mas ninguém nem tentou me ajudar.

Pareciam tristes
Uns queriam chorar
Mas eu não entendia

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Porque estavam a me machucar.

EU, O BOTO
Fui levado para a cidade
Colocaram me em um lugar sem privacidade
Que só tinha gente estranha
Era um poço de maldade.

Mas deixe isso pra lá


Foram momentos
Que doem muito
Só de recordar.

Vamos deixar isso pra depois


Vamos falar da parte boa
Da minha amada, e do meu filho
Que ainda sonho encontrar.

Nesse momento
Eu resolvi lhe questionar
Disse que ele estava sendo incoerente
Com o que estava a me relatar.

Já que ele tinha para a cidade se mudado


Em um manicômio internado
Não tinha visto mais a sua amada
Só era dor pra todo lado.

Foi quando ele me interrompeu


Pediu para eu me acalmar
Que o melhor da história
Agora ele iria me contar.

Com seu jeito de falar


Que cativa só com o olhar
Disse: - meu amigo

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Eu me arrepio só de lembrar.

EU, O BOTO
Fui atestado como insano
Sem nada que eu pudesse contestar
Mas fui por uma junta médica liberado
Encontraram erros que ninguém sabia explicar.

Fui liberado
Fiquei livre para o mundo conquistar
Mas meu pensamento era só nela
A mulher que sempre me fez sonhar.

Me recuperei
E um dia resolvi para meu paraíso voltar
Fiquei na beira do barranco imaginando
Se ela ainda iria me visitar.

Por vários dias dormi esperando


Que ela viesse para a gente se amar
Tudo em vão
Triste, resolvi para cidade retornar.

Mas antes desse ato eu tomar


Resolvido nunca mais pisar naquele lugar
Comprei uma garrafa de pinga
Para minha partida comemorar.

Na comunidade de onde o barco iria zarpar


Eu com receio da embarcação me deixar
Resolvi tomar minha pinga no barco
Comemorar solitário e me deitar.

E foi o que eu fiz


E me alegro até hoje ao me recordar
Foi só fechar meus olhos

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E lá estava ela a me abraçar.

EU, O BOTO
Voltamos ao que éramos antes
Sem com o mundo nos importar
Não falamos uma só palavra
Mas foi profundo você pode imaginar.

Eu estava de volta ao paraíso


E ela a me acompanhar
Era tanta felicidade
Que nem parecia que eu estava a sonhar.

Foi ai que ela pediu perdão


E que era para eu a desculpar
Aquele era nosso último encontro
Mas nada iria nos separar.

Pois o nosso filho já era um homem feito


Era igualzinho ao pai
Era sorridente e sagais
E tinha todos os meus trejeitos.

Então resolvi perguntar


Por onde ele andava
Se era da terra ou da água
E como eu podia lhe encontrar.

Ela me disse
E não era para eu me preocupar
Que eu iria ouvir falar muito dele
De uma forma toda particular.

Era só eu ficar atento


Nas histórias do lugar
E prestar atenção

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Quando estivessem a comentar.

EU, O BOTO
Que um boto dançou na festa
E emprenhou as moças do lugar
Era para eu não duvidar
Que meu filho tinha passado por lá.

E já que um humano emprenhou a mãe dele


E a sua lei obriga ele se vingar
Ele faz isso com prazer
Na certeza de um dia seu pai o encontrar.

Fiquei pensando em novamente questionar


Mas fiquei esperando
Só na minha macuricando
E vendo onde a estória iria chegar.

Foi quando ele observou


Que eu estava a pensar
Já sem aquele sorriso de arrasar
Indagou se eu acreditava no que ele acabara de contar.

Fitei meus olhos nele


Que começavam a lacrimejar
Dei-lhe um abraço
E perguntei se ele podia me abençoar.

Pois eu era seu filho


Que ele sempre sonhou encontrar
E que não duvidasse
Pois eu tinha como provar.

Ele estranhou minha afirmação


Abençoou-me com muita convicção
Me abraçou bem forte

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E juntos choramos de emoção.

EU, O BOTO
Ele agradeceu a Deus
Do fundo do seu coração
Por ter encontrado seu filho
Fruto da sua paixão.

E para não haver duvidas


Que eu era seu filho
E vivia tanto em terra firme
Como no rio mar.

Agarrei sua mão


E pedi para ele me acompanhar
Pois tinha chegado a hora
De qualquer dúvida tirar.

Chegando à beira do rio


Pedi para ele me observar
Pois tinha chegado o momento
De eu lhe provar.

Que Eu, Sou o Boto


Fruto do seu amor
Com uma senhora bota
Que vivi nesse imenso rio mar.

E tenha certeza
Que de agora em diante vou mudar
Vou só defender meus irmãos
E as moças não vou mais engravidar, será? Kkk...

Nas águas do rio mar mergulhei


E logo em seguida boiei
Vi meu velho dar pulos de alegria e lacrimejar

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Foi à imagem mais linda pro meu dia coroar.

EU, O BOTO
Seu Allanzinho
Que deus colocou na terra para me gerar
É meu pai
E nem pensem em duvidar.

Pois enquanto o Rio Amazonas


Correr para o encontro com o mar
Em suas águas estarei
Habitando o imaginário popular.

E toda vez que você escutar


Alguém estórias de boto contar
Tenha a certeza
Que eu passei por lá.

Fim.

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HISTÓRIA DE PESCADOR

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HISTÓRIA DE PESCADOR
A Amazônia é um poço de mistérios
Que muitos já tentaram desvendar
A maioria desses é o caboclo que inventa
Para parceiros conterrâneos enganar.

Alguns são tão convincentes


Que aos escutar narrar
Fica a certeza de ser mais um mistério
Pronto para se desvendar.

Era feriado prolongado


Fui para interior do Amazonas pescar
Como gosto de uma pinga
Parei em uma comunidade e logo achei um bar.

Pedi uma dose quando já ia tomar


Um parente começou contar uma história
Não acreditei dei um sorriso irônico
E logo comecei a gargalhar.

Achei tudo engraçado


Fiquei desconfiado
Mais logo fui desafiado
Pelo morador do lugar.

Era seu Pedro morador da comunidade do São Tomé


Que jurou ser tudo verdade
Que todos sabem na localidade
E desafia quem duvidar da sua veracidade.

Quem lhe contou


Foram dois pescadores
Que chegaram de madrugada a sua casa
Desesperados chorando e gritando horrores.

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HISTÓRIA DE PESCADOR
Mas logo após uma xícara de chá
Muito tremer e soluçar
Os dois ficaram calmos
E passaram a história relatar.

Estavam eles à beira da praia


Perto da fogueira a conversar
Quando sem esperar a mãe do lago apareceu
Querendo os dois devorar.

A noite estava escura não tinha luar


As estrelas se esconderam
O lago estava calmo
E um vento leve começou a soprar.

Quando sem esperar ela atacou


Com uma velocidade que não dá pra comparar
Seus olhos incandescentes
Ainda arrepia só de lembrar.

Parecia que o mundo ia acabar


Se não fosse um deles
O bicho enxergar
Não ia sobrar ninguém pra contar.

Seu Pedro, contou a narrativa


Sem pestanejar
Fazendo gestos imitava o bicho
Se fazendo acreditar.

Como duvidei
Fui desafiado a provar
Que a história era mentira
Ou então eu era obrigado a acreditar.

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HISTÓRIA DE PESCADOR
Desafiado comecei a pensar
Por sorte conheci Antônio
Um morador do lago do macaco
Que também estava no bar.

Antônio observando a situação


Viu que eu não era do lugar
Pediu uma dose se assentou
E outro lado da história passou a me contar.

Que no lago do macaco


Perto da boca do lago do jacaré
Ele vivia com dois filhos
Mais Maria Eugenia sua mulher.

Era verão o lago começava a secar


Peixe tinha pra todos
Bastava não ter preguiça
De pegar os arreios e ir pescar.

Antônio vivia feliz


Com a fartura do lugar
Orgulhava-se de ser pescador
E na beira do lago do macaco morar.

Um dia Antônio saiu pra pescar


Ia feliz na sua canoa a remar
Quando avistou dois outros pescadores
Que já estavam no lugar.

Como o lago era farto


Não se importou com quem estava lá
Armou sua malhadeira em um lugar conhecido

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E foi pra beira do lago fazer um cigarro e fumar.

HISTÓRIA DE PESCADOR
Mas um estrondo lhe chamou a atenção
Fazendo Antônio ficar furioso
E de tão nervoso
Esbravejar que nem um cão.

Como se não tivessem noção


Estavam pescando com bombas
Matando todos os seres do lago,
Uma forma cruel de depredação.

Como eles eram maioria


Antônio ficou com medo de enfrentar.
Ficou pensando o que faria
Para que eles parassem de o lago depredar.

Já era tardinha
O dia não ia demorar a findar
Antônio tinha ido preparado
Para também a noite pescar.

Malhadeira, zagaia, arpão


Caniço, poronga, fósforo
Tempero e um pouco de farinha
Pra fazer pirão.

De suprimento
Ele estava preparado,
Mas para aquela situação
Nem lhe passava pela imaginação.

À noite se aproximando
E Antônio bravo, mas matutando
Em como enfrentar os pescadores

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Que o lago estavam arruinando.

HISTÓRIA DE PESCADOR
Depois de muito pensar
Pegou sua camisa
Que tinha as cores de um boi bumbá
Em dois pedaços começou a rasgar.

Em seguida pegou dois caniços


Popular vara de pescar
Amarrou os panos nas pontas
Fazendo duas tochas, prontas pra queimar.

A noite chegou e a lua não apareceu


Nuvens esconderam as estrelas
Ficou tão escuro
Que o lago mais parecia um breu.

De longe Antônio estava a observar


Viu que eles tinham feito uma fogueira
Estavam assando peixe
E perto dela, estavam a conversar.

Achando aquilo um desaforo


Antônio criou coragem
Empurrou a canoa da margem
E disse “agora vai ter couro”...!

Ajeitou seu porrete de matar peixe


O cutelo perto da latinha de anzol
Pegou a poronga feita de lata de leite
E embebedou as tochas com combustou.

Tocou fogo nas duas


Para a escuridão não atrapalhar
Amarrou as varas uma em cada lado da canoa

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E com vontade pôs se a remar.
HISTÓRIA DE PESCADOR
O vento de leve começou a soprar
Fazendo o fogo das tochas
Com o balanço da canoa
Subir, clarear, baixar e querer apagar.
Um dos pescadores que estava a conversar

Viu aquele par de fogos


Mas nem se importou
Pensou que era alguém que estava a pescar.

Antônio que tinha tomado à decisão


Dos pescadores enfrentar
Remava com força e raiva
Queria logo ver no que ia dar.

O pescador que já tinha visto os fogos


Olhou de novo sem intenção
Viu que os fogos se aproximavam
E que vinham na sua direção.

Como histórias da cobra grande


É comum no lugar
O pescador ficou transtornado
E começou a tremer e a gaguejar.

O outro que ainda não tinha visto os fogos


Que estavam a se aproximar
Pensou que o parceiro
Queria alguma entidade incorporar.

O pescador transtornado queria se comunicar


Mas o medo era tão grande
Que ele só conseguia com a mão tremendo
O dedo na direção dos fogos a indicar.

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HISTÓRIA DE PESCADOR
Como o parceiro não entendia
O que o outro queria falar
Resolveu então se virar
Pra ver o que o outro estava a apontar.

Quando viu os fogos vindo na sua direção


Lembrou-se das histórias da região
Que quando a cobra atacava
Não sobrava nada do cidadão.

Desesperado agarrou na mão do parceiro


Pediu ajuda a tudo quanto era padroeiro
Para que eles os protegessem
E os livrassem daquele pesadelo.

Saíram correndo desesperado


Embrenharam-se no mato
Depois de muito correr,
Uma casa avistaram.

Ao chegarem à casa um deles gritou


Ajudem-nos, por favor!
A mãe do lago nos colocou pra correr
E por um triz não nos devorou.

Antônio que só queria resolver a questão


Viu que eles tinham corrido para o mato
Então ficou do meio do lago
Observando a situação.

O fogo das tochas apagou


A raiva do Antônio passou
Como não viu mais nem uma movimentação
Pensando que eles estavam de armação.

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HISTÓRIA DE PESCADOR
Voltou para onde estava a pescar
Recolheu sua malhadeira
Amarrou os peixes com uma tira de Envira
Resolveu ir pra casa descansar.

Chegando a sua casa, o dia estava a raiar.


Antônio cuidou dos peixes pra variar
Entregou à sua esposa
E deitou na rede pra descansar.

Não deu nem tempo de começar a roncar


Pois uma amiga da família
Dessas que gosta de fofocar
Na sua casa tinha acabado de chegar.

Foi logo comentando


Amiga escuta essa que vou te contar
Estou vindo da casa do seu Pedro
Aquele barulhento lá do São Tomé.

La tinha dois parentes desesperados


Contando que estavam na beira do lago
Ao redor da fogueira sentados
Quando pela mãe do lago quase foram devorados.

O bicho partiu para cima deles querendo devorar


Dos olhos saiam fogo
Parece que andava em cima d’água
De tão rápido parece que ia voar.

Antônio que estava na rede ficou a escutar


Lembrou-se da pescaria
Deu um sorriso de ironia
Mas nem se mexeu para olhar.

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HISTÓRIA DE PESCADOR
Ficou pensando
Eu vou ficar calado
Não sou nem um abestado
Só assim eu pesco no lago sossegado.

Escutei Antônio
E comecei a gargalhar
Que por causa de um desafio
Desses de mesa de bar.

Decifrei um desses mistérios sem muito pesquisar


Bastou ter um pouco de sorte
Gostar de uma pinga forte
E conversar em uma mesa de bar.

Falam que a cobra nunca saiu do lago


Mas se não acreditas e gosta de pescar
Passe uma noite no logo do macaco
Só assim pode suas dúvidas tirar.

Fim.

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PREMATURO
HERANÇA DO BOTO

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PREMATURO, HERANÇA DO BOTO
O rio Amazonas não descansa
Está sempre a se movimentar
Vive correndo apressado
Em seu leito desgastado
Como se estivesse atrasado
Para seu encontro com o mar.

Deixando em suas beiradas


Histórias por caboclos vivenciadas
Com ar de mistérios contados
Como se fossem inventados.
Mas são verdadeiras
Como essa que vou relatar.

Há margem direita do gigante


Na entrada do lago do jacaré
Habitava em uma casa com varandas
Uma família como tantas
Formada por uma jovem e seus pais
Dona Maria e o seu José.

Seu José homem sério


Agricultor e pescador
Respeitado no lugar
Casado com Dona Maria
Mãe da filha Angélica
Moça linda de educação exemplar.

Jovem cabocla do lugar


Filha única prendada
Por muitos jovens desejada
Mas seu coração
Já tinha sido fisgado.
Por um moço de outro lugar.

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PREMATURO, HERANÇA DO BOTO
Era Joaquim
Morador do Zé Açu
Conhecido por Quim-quim
Natural do Rio Grande do Sul
Vermelho que nem malagueta
Louro dos olhos azuis.

O casal namorava as escondidas


E era raro se encontrar
Ele trabalhava embarcado
Estava sempre a viajar
Ela de olho no rio ficava na varanda
Na esperança de ver o amado passar.

Os pais não sabiam


Do namoro da filha
Que vivia a se enfeitar
Estava sempre bem arrumada
Maquiada e perfumada
Como se estivesse algo a festejar.

Seu José desconfiado


Vendo a filha a se enfeitar
Ficou matutando o que fazer
Para a verdade saber
A questão resolver
Sem ter que a pressionar

Preocupado com a situação


Chamou Dona Maria para conversar
Depois de muito diálogo
Chegaram à conclusão
Que Angélica já era moça feita
E o problema era do coração.

40
PREMATURO, HERANÇA DO BOTO
José voltou a matutar
Sendo devoto de Santo Antônio
E querendo ver sua filha casada
Fez ao protetor uma promessa
Se ela achasse um bom partido
No dia do santo iriam festejar.

Angélica cabocla linda


Muitos a queriam desposar
Mas seu José era exigente
Quem quisesse com sua filha casar
Tinha que rezar na sua cartilha
E seus termos aceitar.

Tinha que ser homem sério


Morasse no lugar
De preferência tivesse gado
Jovem e desimpedido
Se não fosse rico!
Mas tivesse uma casa pra morar.

De posse da decisão
Seu José Começou anunciar
Que sua querida filha
Não iria ser uma perdida
E seria o homem mais feliz da vida
Quem viesse com ela se casar.

A comunidade ficou alvoroçada.


Com a anunciação
Todos os rapazes da redondeza
Queriam com toda certeza
Se apropriar daquela beleza
E ser dono do seu coração.

41
PREMATURO, HERANÇA DO BOTO
Angélica sabendo da decisão
Ficou a imaginar
Que jeito daria
Para seu amado avisar
Ele se apresentaria
E os dois poderiam se casar.

Com medo de o pai descobrir


E não tendo em quem confiar
Angélica ficou triste
E estava sempre a chorar
Já não se arrumava
Para na varanda ficar

O tempo foi passando


Os pretendentes começaram a chegar
Simpáticos, tinham casa, gado
Preenchiam os requisitos exigidos
Todos querendo casar
Mas ela não queria ninguém aceitar.

Então ela ficou a pensar


Que todos a queriam desposar
E quem ela amava
Por quem tanto esperava
Chorava e se enfeitava
Parecia não se importar.

Não aparecia
Não passou mais por lá
Não mandou recado
Desapareceu no ar
Deixando em seu lugar só pranto
E alguém a lhe esperar.

42
PREMATURO, HERANÇA DO BOTO
Mesmo com o sumiço do amado
Ela mantinha aquela ilusão
Que ele iria aparecer e pedir sua mão
Mas o tempo passou
Seu amado não voltou
Era só dor no coração.

Desiludida ela tomou uma decisão


O primeiro que viesse aparecer
Com boa intenção
Fosse bonito tivesse um gadinho
Seria seu marido
Mas não dono do seu coração.

Era verão na região


O sol demorava a sentar
Na varanda estavam a conversar
Quando sem ninguém esperar
Montado em um negro alazão
Com trajes de vaqueiro chegou João.

Filho de um fazendeiro da região


Se alto intitulava de garanhão
Sabendo do anunciado
Querendo impressionar
Já desmontou do alazão
Com um buquê de rosas na mão.

De boa aparência e falastrão


Com o buquê de rosas na mão
Curvou-se em frente à moça
Como um bom galanteador
Disse: “receba essas rosas”
Como prova do meu amor.

43
PREMATURO, HERANÇA DO BOTO
Seu José ficou espantado
Com a firme declaração
Olhou para filha e disse
“Antônio, Santo da minha devoção
Mandou um rapaz decente
Pra ganhar seu coração”.

João aproveitando a situação


Foi logo mostrando
Seus dotes de garanhão
Pediu permissão à moça
Ajoelhou-se agarrou em sua mão
E falou cheio de emoção:

- “Desculpe pela falta de educação


Sou caboclo
Aqui da região
Livre e desimpedido
Tenho gado no campo
E pra morar um casarão”.

Com todo respeito e admiração


Estou de corpo inteiro a sua disposição
Entrego em suas mãos
Tudo que tenho
E com todo carinho se aceitar
É seu meu coração.

Basta do seu pai a permissão


Os anjos dizerem amém
Dona Maria abençoar nossa união
E você Angélica aceitar
Ser esposa e companheira
Desse humilde peão”

44
PREMATURO, HERANÇA DO BOTO
Angélica que estava só a observar
Toda aquela encenação
Recebeu as flores
Agradeceu a João
Olhou para os pais e disse:
- “Vocês aprovam nossa união”?

Foi geral a comoção


Dona Maria
Agarrou-se com Angélica
Seu José abraçou João
E chorando de alegria disse
“Nós os abençoamos de todo coração”.

Seu José contente com a situação


Agradeceu a João pela decisão
Virou-se para sua filha
Lacrimejando de emoção
Falou com a voz tremula
“Filha seja feliz com esse cidadão”.

João empolgado
Com sua atitude de galanteador
Falou pedindo de todos atenção:
“Entendam minha aflição
Não vamos esperar muito
Marco pra já nossa união”.

Seu José ouviu com atenção


O que falou João
Achou tudo certinho
Mas lembrou a todos com carinho
Da promessa que tinha feito
Ao santo de sua devoção.

45
PREMATURO, HERANÇA DO BOTO
Já era madrugada
E a conversa nada de parar
Seu José pediu para que fossem deitar
E pela manhã
Antes do desjejum
A data do noivado ele iria a marcar.

Como já era altas horas


Ninguém questionou a decisão
Até João dono da situação
Pediu de seu José permissão
Para atar sua rede na varanda
E esperar sua declaração.

Seu José como bom anfitrião


Com um sorriso de satisfação
Deu permissão a João
E que ele se sentisse em casa
Atasse sua rede na varanda
E deixasse no campo o alazão.

Todos a dormir e descansar


Só Angélica não conseguia no sono pegar
Ficou acordada a pensar
O que seu grande amor iria fazer
Quando a história
Alguém fosse lhe contar.

A noite passou, o sol raiou


O povo despertou
Dona Maria fez o café
Todos se reuniram para o desjejum
Mas antes do café tomar
Seu José resolveu a data anunciar.

46
PREMATURO, HERANÇA DO BOTO
Com um gesto de agradecimento
Pediu a todos permissão
Estendeu a mão a João
O mesmo correspondeu
Então José marcou a data
Com muita empolgação.

“Já é fim de maio


Mês propicio pra casar
Mas minha filha é obediente
Sabe da devoção da gente
E na festa de Santo Antônio
Essa união irá se consolidar”.

Satisfeito ficou João


Com aquela decisão
Deu pulos de alegria
Chamou José de sogrão
E garantiu que a festa seria
A maior já vista na região.

Que nem cachorro abandonado


Quando encontra o dono
E abana o rabo
Montou no seu cavalo
Partiu em direção a sua casa
Se sentindo um homem realizado.

Angélica de corpo presente


Pensativa parecia viajar
Seu olhar varria os cantos da casa
Em um desespero angustiante
Na esperança, mesmo que de relance
O seu Joaquim avistar.

47
PREMATURO, HERANÇA DO BOTO
Todos saíram alegres a comemorar
Pensado nos preparativos para festa
Mas Angélica entediada
Com sorriso de acanhada
Pediu desculpas
E desceu ao rio para se banhar.

Sozinha com uma cuia na mão


De cócoras na beira do rio a choramingar
Angélica não percebeu
Que tinha alguém a lhe observar
Era Firmino português comerciante do lugar
Como de costume estava a pescar.

Já sabendo que ela estava prestes a casar


Não entendia o porquê
De ela estar a chorar
Até que por um instante
Ela começou a se maldizer
Falando até em se matar.

Conhecido como a serpente do lugar


Firmino que também a queria
Percebeu a oportunidade
Aproximou-se de mansinho
No seu bote, chamado bonitinho
Chegou como um anjo para lhe salvar.

Ela ficou sem ação


Quando o viu chegar
Não sabia se chorava
Fugia ou gritava
Mas Firmino foi hábil
A segurou pelo braço e começou a falar.

48
PREMATURO, HERANÇA DO BOTO
“Observei seu sofrimento
E não tive como não querer ajudar
Você é jovem bonita
Não precisa por isso passar
Tem que ser feliz
É o mínimo que posso lhe desejar”.

Se você fosse minha


Nunca a deixaria sozinha
Seria uma rainha
E o que dinheiro poder comprar
Tudo lhe daria
Só para não ver você chorar”.

Angélica confusa diante da inusitada situação


Não entendeu sua verdadeira intenção
Deixou-se levar pela emoção
Firmino desceu do bote
Convidou Angélica para banhar
Ela ingênua aceitou sem nada maldar.

Os dois dentro da água a conversar


Ela se maldizendo
Ele a consolar
Até que ele a envolveu
Com seu papo de serpente
E começou a lhe acariciar.

Ela frágil e carente


Diante do senhor serpente
Deixou-se envolver
Pela sensação nova e diferente
E ele a possuiu
Sem pensar no que vinha pela frente.

49
PREMATURO, HERANÇA DO BOTO
Depois do ato consumado
Os dois saíram cada um para seu lado
Firmino saiu sorrindo
Angélica voltou a se acanhar
A vida continuou
E ela sempre no amado a pensar.

Era começo de junho


No casamento todos estavam a trabalhar
Firmino querendo seu erro consertar
Implorou para o casal apadrinhar
Conversou com João e ofereceu dinheiro
Para o vestido da noiva comprar.

No primeiro instante
João quis recusar
Mas logo aceitou
Para não o contrariar
Pois seria uma despesa
Que ele iria economizar.

Sempre querendo aparecer e agradar


João foi até a casa da amada
Abraçou-a ao chegar
Chamou dona Maria para conversar
Pediu que ela fosse até a cidade
E junto com a noiva o vestido comprar.

Dona Maria eufórica


Com a notícia de João
Pediu para a filha se arrumar
E que ela não demorasse
Pois o barco que ia pra cidade
Estava para passar.

50
PREMATURO, HERANÇA DO BOTO
Angélica indiferente e pensativa
Não manifestou reação
Aceitou a proposta de João
Mas ficou matutando a planejar
Em aproveitar a oportunidade
E por seu amado procurar.

Como o destino gosta de aprontar


E parece se divertir
Com a desgraça particular
Fez com que Joaquim
Fosse o comandante do barco
No qual ela iria embarcar.

Todos na beirada do rio


A espera do barco para viajar
Ficaram eufóricos ao ver
Na curva do rio ele apontar
Menos Angélica
Que o reconheceu e quis desmaiar.

Não entendendo da filha o mal estar


Dona Maria só dizia pra ela se acalmar
Que era nervosismo da felicidade
Mas assim que ela casasse
Acabaria aquele impasse
E a alegria ocuparia seu lugar.

O barco atracou
Quem ia viajar embarcou
Só Dona Maria não observou
Que sua filha mudou de cor
Quando dentro do barco
Ela avistou seu grande amor.

51
PREMATURO, HERANÇA DO BOTO
Avistando seu amado
Ela olhou para outro lado
Tentou disfarçar
Mas o nervosismo era tanto
Que a o invés de sorrir
Ela começou a chorar.

O barco já estava a navegar


Angélica a chorar
Dona Maria agoniada
Ofereceu-lhe um copo com água
Uma tentativa sem sucesso
De a filha consolar.

Joaquim que estava a observar


Ofereceu-se para ajudar
Falou para Dona Maria
Que no estado de saúde da sua filha
Na rede ela não podia ficar
Mas no seu camarote ela podia descansar.

Dona Maria ainda quis recusar


Mas como não passava o mal estar
De muito grado aceitou
Para sua filha poder descansar
Mal ela sabia que sua “ingênua” filha
Nos braços do amado queria ficar.

Já no camarote a descansar
Angélica pediu para mãe
Não se preocupar
E que ela atasse sua rede no corredor
Que logo que parasse o mal estar
Iria a ela se juntar.

52
PREMATURO, HERANÇA DO BOTO
Dona Maria preocupada
Mas um pouco cansada
Escutou-a sem questionar
Deu um beijo em sua filha
Pediu que ela descansasse
Que logo tudo isso iria passar.

Parece que Maria estava a adivinhar


Pois logo que ela saiu do camarote
Joaquim entrou sem ela notar
Deitou se com sua amada
Que tentou argumentar
Mas logo um beijo a fez calar.

Os dois loucos de saudade


Esqueceram-se da realidade
Fizeram amor com veracidade
Dentro do camarote
Não existia mais nervosismo
Entre os dois, só felicidades.

Depois de ao amor se entregar


Angélica quis sua história contar
Mas Joaquim a interrompeu
Não a deixando falar
Pois ele já sabia de tudo
Não precisava ela contar.

Ela ficou inquieta


Com tal declaração
Se ele já sabia de João
Porque se aproveitou da situação
Pois o amor que ala sentia por ele
Ainda fazia morada no seu coração.

53
PREMATURO, HERANÇA DO BOTO
Joaquim pediu desculpa
Pelo momento de prazer
Pois o que ele mais queria
Era com ela um dia viver
Mas quando soube do noivado
Arrumou outra para lhe esquecer.

Angélica confusa e desorientada


Ficou mais desesperada
Com a certeza que ela
Era a única errada
E se alguém soubesse da história
Iriam afirmar que ela não valia nada.

Já era sete de junho


E dia treze ela iria se casar
Como os seus sonhos tinham acabado
Era desilusão para todo lado
Ela resolveu consertar
O que tinha feito de errado.

Saiu do camarote
E a sua mãe foi se juntar
Sentou-se na beira da rede
Na qual ela estava a deitar
Deu-lhe um beijo carinhoso
E começou a desabafar.

“Não vou mais ser fraca


Nunca mais ao amor vou me entregar
Cansei de ser bobinha
Não sou mais uma menininha
Pra viver sonhando
E em fantasias acreditar.

54
PREMATURO, HERANÇA DO BOTO
Chega de sofrer
Não quero mais chorar
Prefiro morrer
A ter que novamente me humilhar
Vou dar a volta por cima
E tratar de me casar.”

Chegando à cidade
Saíram para o vestido procurar
Visitaram várias lojas
Até que em frente de uma delas
Angélica ficou parada a admirar
O vestido com o qual sonhou para casar.

Dona Maria á lhe acompanhar


Convidou-a para na loja entrar
Chamou a vendedora
Pediu o vestido para experimentar
Que serviu como uma luva
Naquele corpo espetacular.

Com o vestido comprado


E outros preparativos
Para o casório realizado
Voltaram para a comunidade
Dona Maria alegre da vida
E Angélica era só felicidade.

Faltando três dias para casar


Angélica estava preocupada
Em como fazer para sair da enrascada
Pois quando João descobrisse
Que de virgem não tinha nada
Nas núpcias ela seria desgraçada.

55
PREMATURO, HERANÇA DO BOTO
Maria prestando atenção na filha
Chamou-a para conversar
E lhe perguntou
O que estava a lhe atormentar?
Já que em poucos dias
Ela iria se casar.

Sem ter como fugir


E o que inventar
Angélica resolveu a história contar
Pediu perdão a mãe
E com muita precisão
Os fatos, começou a relatar.

Dona Maria não querendo


Ver sua única filha
Ser chamada de perdida
Falou par ela não se preocupar
Pois ela tinha passado por isso
Sem seu pai nunca desconfiar.

Acariciando a filha começou a aconselhar


“Preste bem atenção no que eu vou te falar
Homem é tudo igual, só muda de lugar
Prometem tudo, até seu desejo saciar
Também amei um rapaz
Que só quis me engravidar”.

Sumiu no mundo
Foi pra nunca mais voltar
E José, seu pai, que queria comigo casar
Acreditou na minha estória me desposou
No mesmo dia fizemos amor
E aqui estamos a conversar.

56
PREMATURO, HERANÇA DO BOTO
Na vida nada vem de mão beijada
Temos é que ser valorizadas
E aprender com nossos erros
E nunca mais fraquejar
Mas não se avexe
E faça direitinho o que vou lhe falar.

Então ela começou a filha ensinar


“Filha, preste atenção pra não errar
Logo pela manhã quando acordar
Pegue duas lascas da casca de uixi
Duas lascas da casca árvore do caju açu
E três da árvore do taperebá.

E em cinco litros de água


Leve ao fogo até borbulhar
Depois passe em um pano fino
Desse de cueiro de menino
Coloque em uma cuia-péua
E deixe no sereno descansar.

No dia do casamento
Quando for se banhar
Derrame a mistura em uma bacia
Com pedra ume e um pouco de água fria
E por uns quinze minutos
Deixe de molho suas partes ficar.

A virgindade não vai voltar


Mas quando João for tê-la como esposa
Vai ter que fazer força
Para seu desejo realizar
Você vai ficar como veio ao mundo
E ele nem vai desconfiar.

57
PREMATURO, HERANÇA DO BOTO
Atenta a que Maria ensinava
Angélica começou a gargalhar
Sua mãe ficou espantada
Mas ela disse não ser nada
É que ela achava ser a única errada
E descobriu de quem a safadeza ela herdava.

O dia tão esperado chegou


Na comunidade era só animação
Uns tratavam do casório
Outros da festa do santo de devoção
Só Angélica que além do casamento
Pensava em como ludibriar João.

O noivo nervoso
Com Angélica começou a conversar
Pediu permissão a ela
Para uma pinga tomar
Ela disse que ele podia tudo
E que era dia de festejar.

Com a festa correndo solta


Chegou a hora de casar
Todos estavam felizes
Era o que dava pra notar
Os noivos vestidos a caráter
Disseram sim em frente ao altar.

Querendo sozinho com a noiva ficar


João pediu para se retirar
Mas foi impedido por José
Que querendo comemorar
Abraçou João dizendo
“Agora é que a festa vai começar”.

58
PREMATURO, HERANÇA DO BOTO
João nem tentou recusar
Como já tinha tomado umas
Pediu para Angélica lhe perdoar
E que ela fosse se preparando
Que por tudo que era santo
Naquela noite mulher ela iria se tornar.

Colocando o plano em ação


Angélica foi pro quarto se arrumar
Seguindo os ensinamentos da mãe
Com a mistura as partes tratou de lavar
Como mulher engana até o cão
Deitou-se na cama para o esperar.

Ela apreensiva
E ele nada de chegar
Foi quando pensou
“Como vou fazer pra sangrar?
Tem que ser verdadeiro
Para ele não desconfiar”.

Sem tempo para planejar


Ela resolveu improvisar
Foi às pressas até a cozinha
Encontrou resto de sangue de galinha
Colocou entre suas partes e a calcinha
E voltou para se deitar.

Embriagado chegou João


Foi logo deitando
Cheio da boa intenção
E no corpo da amada
Que estava toda perfumada
Passando a mão.

59
PREMATURO, HERANÇA DO BOTO
Ela com o plano a executar
Pediu pra lamparina apagar
E que fosse gentil com ela
Pois ela era uma pura donzela
E para não a traumatizar
Que ele a possuísse devagar.

Sem muito pensar


Querendo de macho pousar
Como um desesperado
Ele a possuiu como um desvairado
Dando veracidade
Ao que ela tinha planejado.

Depois de se realizar
João nem procurou se lavar
Exalando um bafo de cana desgraçado
Cumpriu seu papel de macho
Virou-se para o lado
E roncou até o dia clarear.

De manhã ao acordar
Ai que João foi observar
Manchas de sangue em suas partes
E no lençol que estava a li embrulhar
Envergonhado pelo seu ato impensado
Pegou o pano e foi lavar.

No seu primeiro dia como marido


João se sentia arrasado
Pois sua atitude tinha sido
Não de um homem casado
Mas de um cafajeste
Que a esposa tinha maltratado.

60
PREMATURO, HERANÇA DO BOTO
Foi quando escutou
Angélica seu nome chamar
O desjejum estava pronto
E ela estava a li esperar
Pois era a primeira de muitos
Que juntos iriam desfrutar.

Depois do café da manhã tomar


João tentou se desculpar
Mas Angélica deu-lhe um beijo
E o convidou para cama voltar
Querendo a amada agradar
Ele aceitou e voltaram a se amar.

A vida era só felicidade


Não tinha hora pra sacanagem
Era só dar vontade
Lá estavam os dois na vadiagem
Dez dias se passaram do sim no altar
E a lua de mel nada de passar.

Até que Angélica depois de muito amar


Reclamou que suas partes doíam
E que já tinha passado do dia
De ela menstruar
Ele a abraçou e no seu ouvido
Começou a sussurrar.

“Obrigado por ser minha esposa


Obrigado por me amar
Obrigado por ser sincera
E tudo a mim confiar
Esse sangue que não veio
A nosso filho deu lugar”.

61
PREMATURO, HERANÇA DO BOTO
Depois de sussurrar
De alegria pôs-se a gargalhar
Ela fingindo inocência
Começou a questionar
“Eu lhe conto meus problemas
E você não quer me ajudar”.

Ele pediu para ela se acalmar


Que era da natureza da mulher
Ela podia fazer o que quisesse
Mas só com nove meses iria passar
Ela seria uma linda mãe
E ele o homem mais feliz do lugar.

Alegre por seu plano dar certo


E João não desconfiar
Ela continuou com a farsa
Sendo uma esposa exemplar
A vida era só felicidade
Até o ciclo de gestação completar.

O tempo que é senhor da razão


E não costuma ninguém enganar
Ao completar nove meses da gestação
Ela sentiu contração
Deu à luz a um varão
Branquinho como luar.

João não conseguiu disfarçar


Sua cabeça parecia pesar
Além de ser branquinho
Seu filho nasceu adiantado
Pelo menos dez dias
Do tempo que ele tinha marcado.

62
PREMATURO, HERANÇA DO BOTO
Nas contas de João
Que contava o início da gestação
Com a data de sua união
Seu filho poderia não se criar
Pois criança de oito meses,
A idade adulta pode não chegar.

João que se dizia garanhão


Mas era panêma por convicção
Com medo de ficar solteiro
Aceitou a situação
Mas o povo que adora fofocar
De prematuro a cria de João passaram chamar.

E a cor dele também passou a incomodar


Angélica morena clara
E João, moreno escuro, típico do lugar
O curumim branquinho
Nascido antes do tempo
Não era pra desconfiar?

De tanto o povo comentar


Com o padrinho de casamento
João foi se aconselhar
Ele estava desconfiado
Pois além de branquinho
Seu filho nasceu antecipado.

Firmino, o padrinho, escutou a tudo


E começou o aconselhar
“Afilhado, pare de se preocupar
É inveja de quem não tem com o que se ocupar
Só porque você casou
Com a mais gostosa do lugar.”

63
PREMATURO, HERANÇA DO BOTO
João ficou espantado com tal afirmação
E exigiu do padrinho explicação
Firmino que já tinha apadrinhado
Vários casais na região
Pediu para ele relevar
Pois era força de expressão.

Sacana como ele só


Firmino continuou a aconselhar
“Acalme-se afilhado
Não vá se exaltar
Pense na sua família
Não se importe com o que estão a falar.

Se perguntarem pelo Joãozinho


Por que ele é branquinho?
Diga que ele nasceu na lua cheia
Sua mãe desejou leite à gestação inteira
E os avós de Angélica
Eram de descendência estrangeira.

E por lá, criança já nasce querendo pular


E Joãozinho que não nega a raça
Já nasceu fazendo graça
Veio antecipado
Mostrando o quanto é danado
Sendo por outros invejado no lugar.

Sei que vão querer questionar


Mas pelo menos vai ter o que falar
Não vai ficar envergonhado e calado
Choramingando feito curumim rejeitado
Mostre o quanto é macho
Afinal, o seu padrinho está sempre a seu lado”.

64
PREMATURO, HERANÇA DO BOTO
Sem ter a quem recorrer
Para sua angústia curar
João que já estava desnorteado
Resolveu para sua casa voltar
Onde seu José e Dona Maria, arquiteta do plano,
Estavam a lhe esperar.

Duvidando da própria sombra


E não querendo com ninguém conversar
João pediu para que os dois se retirassem
Que ele precisava ficar a sós com a esposa
E saber da sua própria boca
Se ela não tinha nada a lhe contar.

Querendo o casamento de sua filha salvar


Dona Maria danou-se a chorar
Implorando por tudo quanto era santidade
Que João não pensasse maldade
E para a família não cair em desgraça
O que ela tinha para falar ele escutasse.

Mesmo desconfiado
João se fez de brabo
Com uma cara de quem quer brigar
Sentou-se ao lado da sogra
E falou com tom de enraivada:
“Conte o que tem pra contar”.

Com astúcia de quem sabe inventar


Dona Maria deu uma olhada para José e começou a falar
“De mim, você pode até duvidar
Mas juro que é verdade
Pela minha felicidade
Tudo isso que vou lhe contar.

65
PREMATURO, HERANÇA DO BOTO
Angélica dês de pequena foi linda
E se banhou na beira do rio mar
Eu sempre a aconselhei
Filha quando o boto boiar e assoviar
Não brinque não responda
Que ele vai querer te encantar.

Parece que eu estava a adivinhar


Era fim de maio estavas prestes a casar
Foi marcada a data do casamento
Você saiu pra comemorar
Angélica pegou a cuia
E foi a o rio se banhar.

Nesse dia o boto assoviou


Ela inocente respondeu
Nem ela mesma sabe o que aconteceu
Mas com certeza Deus a protegeu
Ela voltou triste pra casa
E o desgraçado boiava no rio fazendo graça.

À noite com muita febre


Ela começou delirar
Falava que o boto queria lhe levar
Desesperada mandei José se apressar
E chamar Raimunda minha amiga
Benzedeira e mãe de santo do lugar.

José não soube explicar


Mas ela já estava a esperar
Disse ela que sentia
E chegava a se arrepiar
Que um boto vermelho
Queria minha filha encantar.

66
PREMATURO, HERANÇA DO BOTO
Ela chegou, pegou tição no fogão
Uma porção de malagueta
Folhas de sacaca e pião
Uma mecha do cabelo de Angélica
Colocou tudo em uma panela
E fez defumação.

Não demorou a febre baixou


Ela parou de delirar
O boto se acalmou
Parou de boiar e assoviar
Tudo voltou a o normal
E minha filha pôde enfim descansar.

Raimunda terminou seu trabalho


Benzeu minha filha
Com um dente de alho
Arrumou seus utensílios
E antes de ir
Encheu-me de ralho.

Desculpe-me de antes não lhe contar


É que eu tinha medo
De você não acreditar
E como lhe conheço
Brabo do jeito que é
Você não iria mais querer casar.

João abraçou sua sogra


Pedia para ela lhe perdoar
Pois ele estava desesperado
E não sabia em quem confiar
Se não fosse ela a verdade lhe contar
Dificilmente em outro ele iria acreditar.

67
PREMATURO, HERANÇA DO BOTO
A vida voltou ao normal
Mas o povo sempre a comentar
Dona Maria nunca negou
E de tanto afirmar
A mentira virou verdade
E é contada até hoje no lugar.

Enquanto houver mente fértil


E o Amazonas correr para o mar
Sempre haverá histórias
E alguém para relatar
Só não conte a sua a ninguém
Que em livro pode se tornar.

Esse erro eu cometi


E não vou negar
Arrependo-me até hoje
Só de lembrar
E o meu amigo ainda falou
Que era pra me homenagear.

Um amigo como esse


E bom nem lembrar
Minha vida virou piada
Motivo para gargalhar
Sou Prematuro, “herança do boto”
E essa é minha história particular.

Fim.
68

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