Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
NITERÓI
2020
A metáfora das organizações como “prisões psíquicas”
Gareth Morgan, em seu livro Imagens das Organizações, para tecer a metáfora da
prisão psíquica, começa invocando o filósofo Platão e o "Mito da caverna", contido na obra
"A República". Nesta parábola, Platão, fala de uma caverna subterrânea onde pessoas
vivem acorrentadas, assistindo apenas à sombras distorcidas projetadas em um tapume,
pela luz de uma fogueira. Ao sair da caverna, um indivíduo perceberia que as sombras
projetadas na caverna, ideia de realidade compartilhada com os seus, seria imperfeita. Ao
retornar, e tentar compartilhar essa nova realidade, ele seria incompreendido e suas ideias
não seriam aceitas pelo grupo, que não conhece a realidade fora daquele distorcido mundo
subterrâneo.
Esta parábola, dá forma ao conceito de aprisionamento pelas organizações,
desenvolvida por Gareth Morgan, junto a um conjunto de casos expostos para ilustrar as
ideias de aprisionamento pelo sucesso, pela acomodação organizacional e pelos processos
coletivos. Essa explanação serve de introdução para uma análise sobre as organizações e
o inconsciente, onde o autor passa e evocar os pensamentos freudianos como
embasamento teórico para sua metáfora das prisões psíquicas.
A imagem da caverna de Platão descreve algumas das maneiras como
organizações e seus membros são aprisionados por construções da realidade, não
enxergando para fora da caverna, sendo resistentes a mudanças e se aprisionando em
modelos datados. De certa forma, Freud também passou por uma empreitada semelhante
à alegoria da caverna: ele tentava apresentar uma nova visão sobre a mente humana a
comunidade médica, que já tinha conceitos estabelecidos, muitas vezes distorcidos, e
rejeitava suas novas teorias.
No filme Freud, Além da Alma, de John Huston, que trata da vida de Freud e do
surgimento da psicanálise, podemos ver o protagonista encarnando a experiência de
aprisionamento pelas organizações, quando tenta defender métodos não convencionais até
então, e passa a ser duramente criticado. A ideia da existência de um inconsciente, nunca
antes explorada, era vista pela comunidade médica e científica como não convencional,
assim como a prática de hipnose por ele utilizada para fundamentar suas teses. Freud,
assim como no mito da caverna, tentava trazer um novo olhar para projeções muitas vezes
distorcidas pela medicina e também foi incompreendido pelos seus, que não conheciam
seus métodos e sua visão, apenas as já exploradas até então.
Segundo Morgan, Freud descreve o inconsciente como o resultado de desejos
reprimidos e desejos secretos. Para Freud, cultura e inconsciente fazem parte do mesmo
conjunto e considera a “essência da sociedade a repressão ao indivíduo e a essência do
indivíduo a repressão a si mesmo” (MORGAN, 1996, p.209). Morgan analisa esta visão para
buscar sentidos ocultos na cultura organizacional e propõe algumas abordagens partindo do
embate entre teorias a respeito da origem do inconsciente.
Em seu texto “Esboço da Psicanálise”, Freud explica o princípio da formação da
mente humana com base em três pilares principais, que direcionaram e fundamentaram o
nosso ser psique. Ele os cataloga em: “ID”, “EGO” e “SUPEREGO”. Cada um com sua
determinada função na formação da mente e do indivíduo.
Entende-se por “ID”, a área de ação psíquica inerente à mente. A parte que
comanda e é responsável pelos impulsos e ações comandadas por instinto, de natureza de
sobrevivência ou satisfação pessoal. Freud diz:
“ele contém tudo que é herdado, que se acha presente no
nascimento, que está assente na constituição - acima de tudo,
portanto, os instintos, que se originam da organização somática é
que aqui [no ID] encontram uma primeira expressão psíquica, sob
formas que nos são desconhecidas.” (FREUD, 1939)