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Disciplina: Introdução a administração

Discentes: Bárbara Goulart, Isadora Mendonça


Docente: Frederico Lustosa

NITERÓI
2020
A metáfora das organizações como “prisões psíquicas”

Gareth Morgan, em seu livro ​Imagens das Organizações​, para tecer a metáfora da
prisão psíquica, começa invocando o filósofo Platão e o "Mito da caverna", contido na obra
"A República". Nesta parábola, Platão, fala de uma caverna subterrânea onde pessoas
vivem acorrentadas, assistindo apenas à sombras distorcidas projetadas em um tapume,
pela luz de uma fogueira. Ao sair da caverna, um indivíduo perceberia que as sombras
projetadas na caverna, ideia de realidade compartilhada com os seus, seria imperfeita. Ao
retornar, e tentar compartilhar essa nova realidade, ele seria incompreendido e suas ideias
não seriam aceitas pelo grupo, que não conhece a realidade fora daquele distorcido mundo
subterrâneo.
Esta parábola, dá forma ao conceito de aprisionamento pelas organizações,
desenvolvida por Gareth Morgan, junto a um conjunto de casos expostos para ilustrar as
ideias de aprisionamento pelo sucesso, pela acomodação organizacional e pelos processos
coletivos. Essa explanação serve de introdução para uma análise sobre as organizações e
o inconsciente, onde o autor passa e evocar os pensamentos freudianos como
embasamento teórico para sua ​metáfora das prisões psíquicas​.
A imagem da caverna de Platão descreve algumas das maneiras como
organizações e seus membros são aprisionados por construções da realidade, não
enxergando para fora da caverna, sendo resistentes a mudanças e se aprisionando em
modelos datados. De certa forma, Freud também passou por uma empreitada semelhante
à alegoria da caverna: ele tentava apresentar uma nova visão sobre a mente humana a
comunidade médica, que já tinha conceitos estabelecidos, muitas vezes distorcidos, e
rejeitava suas novas teorias.
No filme ​Freud, Além da Alma​, de John Huston, que trata da vida de Freud e do
surgimento da psicanálise, podemos ver o protagonista encarnando a experiência de
aprisionamento pelas organizações, quando tenta defender métodos não convencionais até
então, e passa a ser duramente criticado. A ideia da existência de um inconsciente, nunca
antes explorada, era vista pela comunidade médica e científica como não convencional,
assim como a prática de hipnose por ele utilizada para fundamentar suas teses. Freud,
assim como no mito da caverna, tentava trazer um novo olhar para projeções muitas vezes
distorcidas pela medicina e também foi incompreendido pelos seus, que não conheciam
seus métodos e sua visão, apenas as já exploradas até então.
Segundo Morgan, Freud descreve o inconsciente como o resultado de desejos
reprimidos e desejos secretos. Para Freud, cultura e inconsciente fazem parte do mesmo
conjunto e considera a “essência da sociedade a repressão ao indivíduo e a essência do
indivíduo a repressão a si mesmo” (MORGAN, 1996, p.209). Morgan analisa esta visão para
buscar sentidos ocultos na cultura organizacional e propõe algumas abordagens partindo do
embate entre teorias a respeito da origem do inconsciente.
Em seu texto “Esboço da Psicanálise”, Freud explica o princípio da formação da
mente humana com base em três pilares principais, que direcionaram e fundamentaram o
nosso ser psique. Ele os cataloga em: “ID”, “EGO” e “SUPEREGO”. Cada um com sua
determinada função na formação da mente e do indivíduo.
Entende-se por “ID”, a área de ação psíquica inerente à mente. A parte que
comanda e é responsável pelos impulsos e ações comandadas por instinto, de natureza de
sobrevivência ou satisfação pessoal. Freud diz:
​“ele contém tudo que é herdado, que se acha presente no
nascimento, que está assente na constituição - acima de tudo,
portanto, os instintos, que se originam da organização somática é
que aqui [no ID] encontram uma primeira expressão psíquica, sob
formas que nos são desconhecidas.” (FREUD, 1939)

À partir da interação do indivíduo com o externo, uma porção do “ID” sofre


alterações para que haja controle sobre as exigências do extinto.

“Do que era originalmente uma camada cortical, equipada


com órgãos para receber estímulos e com disposições para agir
como um escudo protetor contra estímulos, surgiu uma organização
especial que, desde então, atua como intermediária entre o id e o
mundo externo. A esta região de nossa mente demos o nome de
ego... Ele tem a tarefa de autopreservação. Com referência aos
acontecimentos externos...” (FREUD, 1939)

Às alterações sofridas pelo EGO ao longo de nossas interações com os agentes de


referência em nossa formação (país, pessoas do nosso núcleo familiar, professores e etc),
identificados como influências que se prolongam, Freud chamou de “Superego”. Ou seja, o
Superego consiste na influência de fatores externos que podem ser representados por
atores sociais que a partir deste momento substituem a figura da família, influenciando na
construção do pensamento do indivíduo, “ditando” ações e regras a serem acatadas.

“O longo período da infância, durante o qual o ser humano


em crescimento vive na dependência dos pais, deixa atrás de si,
como um precipitado, a formação, no ego, de um agente especial no
qual se prolonga a influência parental. Ele recebeu o nome de
superego. Na medida em que este superego se diferencia do ego ou
se lhe opõe, constitui uma terceira força que o ego tem de levar em
conta.” (FREUD, 1939)

Freud reforça também que “ID” e “Superego” têm em comum o fato de


representarem influências do passado, o segundo, por essência, é retirado da interação e
influência de outras pessoas. Enquanto o Ego é determinado estritamente à própria
experiência de vivência do indivíduo.
A primeira abordagem freudiana trazida por Morgan trata da relação entre
organização e sexualidade reprimida e disserta sobre Frederick Taylor, conhecido como o
pai da Administração Científica. Para Morgan, Taylor “era possuidor de um caráter
obsessivo e compulsivo, movido por insaciável necessidade de domar e dominar todos os
aspectos da sua vida” (MORGAN, 1996, p.210). Essas necessidades, segundo o autor, se
expressavam desde a infância, quando Taylor já mostrava personalidade calculista e
presciente. Esse comportamento, segundo Morgan, foi cultivado, desde cedo, por uma forte
repressão familiar.

“É evidente que toda sua teoria da Administração Científica


foi produto de lutas interiores e de uma personalidade perturbada e
neurótica” (MORGAN, 1996, p.211).

A vida de Taylor fornece uma excelente ilustração de como preocupações


inconscientes podem ter um efeito sobre a organização. Em termos psicanalíticos, sua
teoria da administração científica era um produto de lutas internas de uma personalidade
perturbada e neurótica. [...] Taylor tinha uma personalidade anal-compulsiva, pois, de
acordo com Freud, a personalidade adulta deriva das experiências da vida infantil e da
forma com a criança consegue lidar com sua sexualidade (a visão de Freud sobre
sexualidade inclui desejos e gratificações libidinais sejam elas genitais, fálicas, anais ou
orais). A excessiva preocupação de Taylor com controle, métricas, ordem e regularidade
remete, em uma visão freudiana, àquilo que é reprimido à medida que a criança lida com
suas primeiras experiências de ordem anal (MORGAN, 1996, p. 216).
Relacionando com o capítulo “As Organizações vistas como prisões psíquicas” da obra
“Imagens da Organização” de Gareth Morgan, podemos equiparar à idéia de Freud de que
a mente humana é formada à partir desses pilares que “conversam”, convergem e divergem
entre sí, resultando na expressão pessoal de cada indivíduo, com a de Morgan, que nos
aponta como as organizações são criadas e sustentadas por processos conscientes e
inconscientes, formando realidades socialmente construídas, tomando força e poder através
das gerações, lhes permitindo um certo grau de controle sobre seus próprios criadores.

“Como é bem sabido, a base para este tipo de pensamento foi


lançada por Sigmund Freud, que argumentou que o inconsciente é
criado quando os seres humanos reprimem seus desejos interiores e
seus pensamentos secretos. Ele acreditava que, a fim de viver em
harmonia com seus semelhantes, os seres humanos precisavam
moderar e controlar seus impulsos e que o inconsciente e a cultura
são realmente dois lados da mesma moeda. Ele via a cultura como a
superfície visível da repressão que acompanhava o desenvolvimento
da sociabilidade humana. Foi neste sentido que ele falou que a
essência da sociedade é a repressão do indivíduo e que a essência
do indivíduo é a repressão de si mesmo.”
Com base no que foi dito até aqui, podemos concluir que para Freud assim como para
Morgan, o desenvolvimento do aparelho psíquico do indivíduo se dá a baseada não
somente no que é intrínseco ao seu nascimento. A construção do indivíduo em Sociedade
impõe uma série de conceitos pré estabelecidos que influenciam não só no comportamento
social como também na sua forma de pensar e controlar seus instintos de acordo com uma
série de conceitos que juntos formam um contrato social.

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