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URCA

Nome: Ariel Santos

Disciplina: Psicologia da Educação

Professor: Henrique Guimarães

Semestre: 3°

Curso: Teatro

A popularização leva à aceitação superficial sem estudo sério. As pessoas


apenas repetem as frases que aprendem no teatro ou na imprensa. Pensam
compreender algo da psicanálise porque brincam com seu jargão...
– Sigmund Freud.

Desde pequena, eu sempre tive um desejo de conhecer os outros, de buscar não só


a compreensão daquele ser humano, mas também como deveria agir com ele.
Encaixo-me na zona de conforto onde necessito de um termo que me ajude a
decifrar qualquer coisa por menor que seja. Logo, isso me levou a me aprofundar
nos estudos da Tipologia de Myers-Briggs1. Ao longo dos anos, e obviamente, em
fase de amadurecimento e vivenciando uma adolescência conturbada, alternei em,
no mínimo, três personalidades diferentes de acordo com o MBTI. Aos dezenove
anos, tomei meu primeiro choque de realidade por finalmente ser alguém que no
fundo sempre quis alcançar. Sou ENFJ2, o protagonista da minha própria história.

Este breve preâmbulo acabou por ser necessário. Durante o tal teste de
personalidade, há uma pergunta em específico que me leva a ponderar sobre a
trajetória do ser humano, e por mais que eu goste de respostas concretas, certezas
e pensamentos alinhados, ainda encontro-me vivendo uma incógnita.
Ocasionalmente afirmo que me encontro perdida em pensamentos sobre a
existência humana e a sua racionalidade, mas não sei se é algo que de fato deveria
apreciar. Nossa história mostra o quanto que somos adaptáveis e por mais que

1
A tipologia de Myers-Briggs, indicador tipológico ou ainda classificação tipológica de Myers-Briggs é
um instrumento utilizado para identificar características e preferências pessoais.
2
ENFJ: The Giver (Extraverted, Intuitive, Feeling, Judging). Protagonistas são líderes naturais, cheios
de paixão e carisma. Formando cerca de dois por cento da população, essas personalidades são
muitas vezes nossos políticos, nossos treinadores e nossos professores, estendendo a mão e
inspirando outros para conseguir e fazer o bem no mundo.
nossa busca por conhecimento seja continua, nunca alcançaremos o nível de
perfeição e total sabedoria. Nossa mente consegue ser tão vasta como o próprio
universo, e tão confusa quanto à origem da vida. Contudo, essa inconsistência e
sentimento de inferioridade abordados no Simbolismo (XIX), acabam nos instigando
mais à busca daquilo que não podemos ter. O conhecimento, muitas vezes, nasce
da dúvida, do incômodo e da incerteza, e foi graças a esses questionamentos que
temos a capacidade, por mínima que seja de compreensão daquilo que nos cerca, –
ou melhor, de nós mesmos.

Sigmund Freud (1856 – 1939) foi um desses curiosos que buscou investigar o
universo dentro de nós, seres humanos. O porquê das nossas decisões, dos nossos
sonhos, dos nossos pensamentos, o nosso porquê. Conhecido como o pai da
psicanálise e inovador da dos conceitos do inconsciente humano, Freud estuda e
aplica suas teorias e suas concepções sobre a mente humana. A busca de tentar
entender o ser humano por meio da associação livre, interpretação dos sonhos,
pensamentos reprimidos, imagens e a articulação do inconsciente por meio da fala
foram seus principais mecanismos.

Freud enxergava a mente humana como um iceberg, onde em sua ponta está o
consciente, a divisão entre a parte aquática e subaquática encontra-se o pré-
consciente, e a vastidão de si mesmo é o que está debaixo d’água, no caso, o
inconsciente. Dentre tais separações podemos investigar mais três segmentos, cujos
são: id, ego e superego. O id é a parte mais profunda, primitiva e impulsiva que nós
possuímos. Ele não aceita ser inibido ou reconhece os valores morais, éticos
essenciais para uma boa convivência na sociedade. Vive imerso naquilo que não é
palpável, ou seja, o mundo da ilusão e da fantasia. O tempo todo está ali movido
pelos desejos prazerosos, primitivos e egoístas, sendo, praticamente, irracional e
não moralista. Muitos acabam associando o id como o lado psicopata adormecido do
ser humano, pois não há a algo forte o suficiente que os impeça de querer realizar
seus desejos profanos, bárbaros e ilógicos. Por isso que muitas vezes os vilões dos
universos, majoritariamente literários, são considerados com, no mínimo, algum grau
de psicopatia. Desbloqueando memórias da infância, é o nosso “diabinho” em nosso
ombro, desenterrando nosso inconsciente. Já o ego é desenvolvido através do id,
quando nós buscamos agir de maneira lógica, evitando consequências
desagradáveis e buscando pelo prazer da conquista e da recompensa. Seria, em
outras palavras, um simples mediador de nossas ações e reações. Muitas vezes o
ego, por partir do id – acaba por ser o seu maior controlador, – onde supondo que
numa situação o id proponha algo, o ego irá analisar e por sua vez elaborar
possíveis situações ruins que aquela ideia poderia levar a acontecer. E mesmo
sendo muitas vezes confundido com a própria consciência, Freud afirma que o ego
ainda pode ser influenciado pelo inconsciente perverso do id. Portanto, é nossa
“parte neutra”, onde não é tão radical quanto o id, ou restrita como o próximo termo
a ser comentado. O superego define-se como a parte majoritariamente moral de
nossa mente, contrariando os princípios do id, buscando inibir, forçar e conduzir o
ego aos ideais necessários para a convivência em sociedade. Diferente dos outros,
ele irá mediar sem se importar com a possibilidade da gratificação, sua censura
acaba sendo mais radical e sempre com o intuito de buscar a perfeição. Seria no
caso, nosso “anjinho” no outro ombro que de vez em quando acaba por entrar em
desavenças com o id.

Acaba por tornar evidente que as pulsões, – vindas do inconsciente, – acabam


por dar origem à sede do conhecimento. Nós buscamos aprender para satisfazer
desejos inconscientes, é, literalmente, um prazer poder ter clareza sobre a
diversidade dos estudos humanos independente da sua área. É quando entramos na
seguinte dúvida: “por que aprendemos com algumas pessoas e não com outras?”
Para esclarecer tal questionamento, Freud aponta que o carisma, a aproximação e o
uso de gratificações acabam sendo métodos mais efetivos para a facilitação da
aprendizagem de algo, do que quando se utilizam da rigorosidade, punição e
repressão de sentimentos. Em outras palavras, – e também trago aqui um pouco de
experiência própria para comprovar tal pensamento, – a criança, o adolescente e até
mesmo o adulto, estando diante de uma educação formal ou não, irá aprender e
consequentemente nutrir carinho e atenção por alguém mais carismático, simpático
e que constantemente está reconhecendo seus pontos positivos e ações
adequadas, do que por alguém que não demonstra interesse no assunto ou na
pessoa, restringe seus sentimentos e mais aponta os defeitos do que as qualidades.

Em suma, o ser humano age de acordo com suas pulsões tanto consciente
quanto inconscientemente. Ao longo dos anos de crescimento e amadurecimento
passamos por diversas fases que acabam por estruturar nossa personalidade que
resumem nosso comportamento perante a si e à sociedade. Profundamente temos o
incessante desejo de aprendizagem e busca pelas gratificações para que possamos
nos sentir importantes e, dependendo do trauma, eliminar o sentimento de
impotência à vida. E como explica Freud: “Em última análise, precisamos amar para
não adoecer.”.

Os principais problemas enfrentados hoje pelo mundo só poderão ser


resolvidos se melhorarmos nossa compreensão do comportamento humano.
– B. F. Skinner.

Newton estava certo ao determinar que para toda ação exista uma reação. Tal lei
aplica-se não só aos corpos físicos, como também psíquicos. Assumindo uma
situação hipotética e seguindo um pensamento lógico, é evidente afirmar quando
nós fazemos algo que nos traz certo benefício, a possibilidade de repetirmos tal
comportamento é maior. Assim como ao fazer algo que resulta numa consequência
negativa, provavelmente não voltaremos a reprisar a ação.

Com isso, Skinner (1904 – 1990), psicólogo e filósofo norte-americano, nos


ensina sobre o princípio do reforçamento, expandindo seus conhecimentos e ideias
num behaviorismo radical. Diferente de Freud, ele não se prende ao inconsciente e
sim no comportamento grosso modo do ser humano. Tudo acontece por um motivo,
além da forte presença do determinismo atrelado ao comportamento operante.
Skinner aponta que não possuímos o tão conhecido “livre arbítrio”, não agimos por
livre e espontânea vontade. Das mais simples às mais complexas ações são
capazes de influenciar em nossos pensamentos, visão de mundo e comportamento
consigo e com os outros. Seus estudos aprofundados no behaviorismo encaram o
ser humano como um elemento completo, sem a diferenciação do corpo e da mente,
além de desprender-se dela como fator chave para a explicação do ser humano.

Ele também realizou experiências com animais, – pombos, ratos, etc, – e com
seres humanos, o conhecido “Pequeno Albert”. Com esses experimentos, é apenas
reforçado o conceito do condicionamento, da gratificação, e dos traumas que
também podem ser aprendidos com o tempo, principalmente na infância, sendo
indiretamente relacionado ao objeto em si, mas sim o sentimento aversivo, de medo,
que ele traz. Além disso, ele assemelha-se a Freud em relação à educação, pois é
mais tranquilo, prazeroso e estimulante o trabalho e desenvolvimento das
recompensas por meio de palavras e ações do que pelas punições. Skinner diz que
o ato de punir tem o mesmo objetivo: tentar erradicar o comportamento precedente,
entretanto, é dividido em: punição positiva (comportamento aversivo) e punição
negativa (subtrai um estímulo gratificante). Seus efeitos costumam, em sua maioria,
serem negativos, com a inibição da atitude, não há o ensinamento da ação
desejada, além dos sentimentos desfavoráveis, acontece a generalização das
aversões. Portanto, o ideal a se fazer é reforçar a aprendizagem sempre que
necessário, tanto na teoria quanto na prática. Enquanto isso, o reforço positivo
aumenta à possibilidade de repetição, já citado anteriormente, a aprovação social
garantindo maior sentimento de capacidade de realizar algo, em outras palavras, eu
encaro como o desenvolvimento da autoestima e autoconfiança.

Logo, temos dois materiais diversificados e ao mesmo tempo em que unidos


nos dão grande poder de entendimento da mente e do comportamento humano. A
função de educando ainda é desvalorizada e tida como segundo plano, como se não
necessitasse de profundo estudo, aptidão e interesse por tal. Nós como educandos
e futuros educandos precisamos estar atentos à diversidade humana e,
consequentemente, procurar entender aqueles que estão ali para aprender conosco,
– e mesmo estando na função de docente, estamos o tempo inteiro aprendendo com
os discentes. A busca constante do entendimento do outro, da empatia e diversidade
de metodologias é necessária para uma boa convivência na sociedade dentro de
uma sala de aula.

...ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para


sua própria produção ou a sua construção. (FREIRE, 2003, p. 47)3

3
FREIRE, P. PEDAGOGIA DA AUTONOMIA - saberes necessários à prática educativa. São Paulo:
Paz e Terra, 2003.

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