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UM AMOR DE CRETINO

UM ROMANCE DE GREENELLY
Sumário
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Agradecimento
Capítulo 1

Lia Harper

O universo não gosta muito de mim, aliás eu quase diria que


ele me odeia. Essa é a minha teoria pessoal, eu tenho muito azar e
um talento extra para atrair o caos. Como um imã.
Assim como para-raios atraem raios, eu atraio copos
quebrados e desastres incomuns.
Talvez devesse ter colocado isso no currículo.
Interrompendo minha linha de pensamento, o barulho
estridente do telefone ecoa por toda sala silenciosa.
Ah sim, eu odeio esse som.
— Secretária da presidência, como posso ajudá-lo? — atendo
com o bordão estalando em minha mente.
Não demoro a perceber que o número no visor trata-se do meu
vizinho da sala ao lado, que mais parece um incapaz de levantar sua
bunda para resolver seu próprios problemas simples.
Não peça nada. Não peça nada.
— Quero-a em minha sala agora — diz e desliga não dando
tempo para resposta.
Cretino.
O xingo de todos os nomes feios que me lembro.
Enfrentar meu chefe a essa hora da manhã requer muito da
minha paciência, que por sinal não está das melhores. Seria tão mais
fácil se ele fosse agradável.
Levanto-me com todo equilíbrio possível em meus saltos nada
confortáveis e dirijo-me para porta ao lado. Como secretária de um
empresário importante, é meu trabalho cuidar e organizar a vida de
meu chefe.
Seria suficientemente simples se na metade do tempo não
desejasse matá-lo de maneira lenta e dolorosa.
Ódio em doses saudáveis eu diria.
Bato à porta e não espero pela confirmação de que posso
entrar.
Atrás da mesa de mogno lustroso, Damon Carter, vestido
impecavelmente em seu terno de três peças, me espera.
Tão lindo quanto um anjo.
Mas as comparações angelicais terminam por aí, o rostinho
bonito esconde o prazer de tornar minha vida um inferno.
Tenho quase certeza de que ele dorme à noite com sons de
estagiários chorando.
— Cancele todos os meus compromissos para hoje, não quero
ser incomodado por nada, não me importo se o prédio está pegando
fogo, fui claro?
O rei do trabalho exagerado cancelando compromissos?
Ele é o chefe no fim das contas.
Significa um dia todo longe de sua presença e grosseria.
Sorte, finalmente.
Quase deixo o sorriso escapar.
— Certo, algo mais? —pergunto, já preparando-me para sair.
Carter mantém o olhar em mim por mais tempo que o
necessário. O brilho diferente em seus olhos castanhos não passa
despercebido.
— Não, pode ir.
Aceno dando meia-volta o mais rápido que posso.
Volto para minha sala estrategicamente ao lado de onde saí,
tenho certeza de que ele pode ouvir cada passo dado por mim por
aqui, as horas se passam e cumpro sua ordem com a pontada de
dúvida dançando em minha mente.
O que de astronômico ocorreu para o workaholic Damon
Carter fugir da empresa antes de todos?
Seria algum encontro? Uma seita? Dor de cabeça?
Não, ele não consegue manter um relacionamento duradouro
com nada além do trabalho. Duvido muito que alguém o suporte
para agregá-lo a uma seita e por último ele estaria me gritando se
estivesse com dor.
Talvez ele esteja apenas sendo um ser humano normal com
cansaço.
Deixo uma risada escapar ao imaginar Damon agindo como
qualquer outro chefe decente, ele precisaria possuir uma alma antes.
Sorrio mais.
— Conte-me a razão de sua risada Harper, pois não lembro de
pagar o seu salário para ficar rindo.
Quase enfarto com a voz grossa de meu chefe vinda da porta.
Puta merda.
Ali parado com toda sua elegância está Damon e seu humor de
aço.
Como ele surgiu sem que eu percebesse?
— Oh, nada importante, Sr. Carter. Em que posso ajudá-lo?
Espero por algum comentário sarcástico ou exibido, mas
definitivamente não estava preparada emocionalmente para vê-lo
sorrir de canto, e muito menos capacitada para lidar com as covinhas
maravilhosas que ele exibiu.
Por um momento quase esqueci que somente a fachada é
agradável.
— Sim, você pode ajudar — responde, caminhando até a
frente da minha mesa. —Bela decoração.
O primeiro sinal que tive de que algo estava errado foi o
elogio, Damon nunca — frisem o nunca mesmo — elogiou minha
sala, e ele já esteve aqui tantas vezes que seria impossível contar.
— O que quer?— estalo deixando-o surpreso.
— Por que acha que desejo algo? Fiz um simples elogio.
Tive vontade de rir, interesseiro.
— Não veio aqui para elogiar minha decoração ou assistir meu
trabalho.
Acomodando-se na cadeira à minha frente ele ajeita a gravata.
— O que te faz pensar isso? É meu trabalho monitorar meus
funcionários.
— Quer me convencer de que você está em minha sala,
elogiando minha decoração, tudo porque faz parte da sua função
como chefe? — pergunto irônica. —É difícil de crer senhor.
Damon faz uma careta de quem é pego em flagrante e suspira.
— Certo, preciso de algo — começa nervosamente. — Sem
ligação com seu trabalho.
O que Carter poderia ter fora do profissional comigo?
— Como eu posso te ajudar fora da empresa? — questiono
sem entender.
Damon respira fundo e começo a pensar o pior.
— Eu preciso que finja temporariamente que…
Ele tosse.
— Que…?
Ele passa os dedos pelos cabelos castanhos nervosamente.
— Preciso que finja estar em um relacionamento comigo.
Deixo uma risada escapar.
— Acho que escutei errado… — comento rindo, mas uma
expressão séria diz o contrário.
— Pareço estar brincando, Harper?
Deus.
—Sim, isso parece uma piada de muito mau gosto, Carter.
Damon bufa e bagunça os cabelos novamente.
— É sério, preciso de uma noiva ou meus pais irão surtar —
ele diz desesperado. —É uma ideia idiota, mas definitivamente eu
não quero uma noiva de verdade… Ou entrar em sites de namoro,
sabe o que acontece com bilionários nesses sites?
Nego com a cabeça.
— Tenho certeza de que vai me contar…
— Garimpeiras, eu não quero estar noivo de alguém com
interesse na minha fortuna ou sabe-se Deus o que mais, por isso
preciso de uma mulher que eu conheça e que não nutra qualquer
sentimento adicional por mim.
Ele insinuou que eu não tenho sentimentos? Ou foi um elogio?
— E desde quando um noivado falso é a solução pra isso?
Seus pais são adoráveis e nunca irão acreditar que está noivo! —
falo o óbvio.
Robert e Marta Carter são as melhores pessoas do mundo,
desde que comecei a trabalhar para Damon eles sempre me trataram
bem, são ricos não só de dinheiro como também de carisma.
— Bem, de acordo com eles eu não sou responsável o
suficiente para comandar uma empresa ou tenho o perfil de um CEO
e mais alguns adjetivos não muito legais —Damon diz fazendo
careta. — Eu não posso perder a Imperion, e preciso provar que
estou mais responsável. Por isso o plano.
Olho para meu chefe desesperado, certo, ele realmente não
merece perder a presidência, apesar de ser um mala, é bom no que
faz e não conheço motivos para acharem ele um irresponsável.
— Você não é um irresponsável, seus pais sabem que se
dedica a empresa.
Damon me encara por um momento desacreditado.
— Aparentemente você não lê muitas revistas… —resmunga e
não respondo. — Nunca viu nenhuma notícia sobre mim?
Odeio tabloides.
— Deveria? — questiono, recebendo um sorriso irônico. —
Ok, isso não é o suficiente para seus pais tirarem de você a
presidência.
— Lembra-se do meu amado primo Dominic? — Sinto o
sarcasmo vivo em sua voz.
Só o pronunciar do nome já causa-me náuseas, Dominic Carter
é o próprio demônio, um playboy metido que não consegue conviver
com mulheres sem tratá-las como meras vadias. Na semana que ele
esteve aqui, quase saltei do último andar.
Ele fez questão de deixar claro seu mau humor.
Talvez seja hereditário.
— Lembro-me — respondo com uma careta de desgosto.
— Se eu for afastado ele será seu chefe.
Puta merda.
—O QUÊ?! NÃO!
— Aceite minha proposta e ajude-me a provar para meus pais
que estou diferente — ele diz, pondo-se de pé.
— Ninguém em sã consciência irá acreditar! — falo nervosa.
Não posso aceitar essa proposta, no entanto, não posso perder
meu emprego e com Dominic como chefe tenho certeza que isso
acontecerá.
Situações desesperadas pedem ações idiotas, fadadas ao
fracasso, não é esse o ditado?
— E é aí que você se engana! —fala atraindo minha atenção.
— Meus pais a amam, nós passamos a maior parte do tempo
próximos e para nossa total sorte, você me odeia.
Arqueio uma sobrancelha com sua última declaração e ele dá
de ombros.
— E sua ideia básica é chegar para seus pais com uma mão
nos meus ombros e me apresentar como sua noiva?
— Minha mão não estaria exatamente no seu ombro… —
Olho para ele séria. —Basicamente isso.
— Mas é um tolo!
— Ainda sou seu chefe, Harper!
— Um com poucos neurônios pelo visto.
— Eu não pensei nos detalhes… Mas para esse plano
funcionar você precisa colaborar.
— Existem mulheres além de mim dispostas a isso com todo
adicional de não ser sua empregada e é a mim que propõe isso?
Ele bufa e volta a mexer nos fios.
Um tic nervoso, já percebi.
— Eu não quero uma mulher que me ame, você não vai se
iludir com isso — explica como se fosse óbvio.
Ele tem razão. Nesse momento eu o quero caindo do prédio.
Mas ainda assim… Dominic?
Não mesmo.
— Supondo que eu aceite, não consigo nem fingir um sorriso
falso, como farei com um noivado?
Carter sorri abertamente e lá estão as malditas covinhas.
— Tudo se aprende na prática, eu não sou o exemplo de
homem carinhoso e comprometido.
— Oh, mesmo?
Meu sarcasmo é ignorado.
— Medidas desesperadas, Harper, eu não estaria aqui se não
amasse tanto essa empresa.
— Mas que merda, Carter, chantagem…
— Diz logo que aceita! — pede impaciente.
Eu vou me arrepender, sei disso. Tem muitos motivos para dar
errado.
Entretanto, o risco é maior se não aceitar.
— Eu aceito, Carter — digo por fim.
— Achei que teria que ameaçar demiti-la — ele responde
sorrindo, mas para quando vê minha expressão. — Brincadeira… ou
não.
— Tenho uma condição — aviso e vejo seu rosto murchar.
— Qual?
— Se continuar me chamando pelo sobrenome eu serei
obrigada a reagir com coisas especialmente ruins no seu café.
Ele sorri daquele jeito que me faz o odiar por ser tão lindo.
— Tudo bem, Lia.
É isso.
Tudo já está fadado ao fracasso.
— Eu realmente odeio esse plano.
Capítulo 2

Lia Harper

Azar no jogo e sorte no amor, não é esse o ditado?


Não para mim, minha vida amorosa está sendo resumida em
fingir amar incondicionalmente meu chefe, que além de ser irritante
e difícil de lidar, também é um egocêntrico pomposo com um ego do
tamanho do Texas.
Faz uma semana desde que aceitei ajudar Carter com seu
plano idiota. Sete dias de convívio irrestrito e isso resultou que meu
nível de estresse elevasse ao extremo.
Como alguém pode ser tão babaca e insuportável?
Olho para o teto do meu quarto e me pergunto o porquê de ter
aceitado essa proposta idiota.
Ah sim, a outra opção era pior. O mal menor.
Sou tirada dos meus pensamentos quando algum idiota
esmurra a porta do meu apartamento. Sinto o cheiro de perfume
caro, posso afirmar que tal idiota tem nome e sobrenome.
Por Deus! Não terei paz nem mesmo pela manhã de um final
de semana?
— Já vou!
Grito e abro a porta com raiva.
Damon está parado, me olhando com seu sorriso que tanto
odeio. É a primeira vez que o vejo sem um terno e me odeio
internamente por estar babando com a visão de Carter usando regata
e uma jaqueta jeans.
Dane-se ele e seu corpo bonito.
— Gosta do que vê? — provoca e reviro os olhos.
Para minha infelicidade, nessa última semana ele resolveu
testar minha paciência, não conseguimos ficar no mesmo ambiente
sem nos provocar. Está na cara que essa farsa irá dar errado.
— Você não é interessante.
Minto e viro as costas, e claro, sem ser convidado como
sempre, ele invade meu apartamento e se joga no sofá.
— Vim te convidar para sairmos, mas estou gostando da vista
aqui.
Seu olhar está direto em minhas pernas.
Franzo o testa e olho para minha roupa. Tenho certeza de que
fiquei vermelha, minha blusa dois números maiores caem até o topo
das minhas coxas e não esconde o fato de que não estou com nada
por baixo.
— Porra, vou me trocar… sinta-se em casa.
Como se ele já não estivesse.
Corro para o quarto e reviro meu guarda-roupa, ele disse que
íamos sair?
Não sei o que Damon planeja, mas opto por uma saia e uma
regata. Amarro meu cabelo em um rabo e nem tento lutar contra
minhas olheiras.
Saio do quarto e sinto o cheiro de algo maravilhoso vindo da
cozinha.
Mas, com toda certeza, perdi o ar quando me deparei com um
Damon sem camisa cozinhando sem dificuldade alguma. Ele levou o
que eu disse ao pé da letra, está se sentindo em casa.
— O cheiro até que está bom! — digo.
— Eu sou um ótimo cozinhe… — Ele se vira e para de falar
por segundos.
Será que isso é bom?
— Algum problema? — pergunto e ele pisca algumas vezes.
— Não — responde e se volta para o fogão. —Você não
tomou café, então fiz panquecas, vamos, sente.
— Obrigada, não sabia que cozinhava — digo e ele me serve.
Dizer que estava bom seria eufemismo, Damon é ótimo na
cozinha. O bastardo.
— Moro sozinho… é sobrevivência — fala sorrindo e se senta
ao meu lado.
— Fique à vontade para invadir minha cozinha — comento
sorrindo. — Sou péssima em cozinhar qualquer coisa, terrível
mesmo.
Ele revira os olhos, mas continua sorrindo de lado.
— Se contar a alguém que cozinhei pra você eu vou negar.
— Como se acreditassem, aliás, para onde vamos?
— Pode escolher, eu nunca tive um encontro, então, não tenho
ideia de onde ir — diz, dando de ombros.
A palavra encontro fez meu coração saltar no peito. Mas
incrédula por Damon nunca ter tido um encontro.
— Nunca teve um encontro? — pergunto desacreditada e ele
acena. — Estou surpresa.
— Nunca precisei fazer esse tipo de coisa para conseguir
mulheres.
Me esqueci que as mulheres caem aos pés dele.
Típico.
— Claro que não precisou — resmungo. — Quando foi a
última vez que foi ao cinema?
Ele franze a testa e me seguro para não o apertar quando ele
faz esse ato.
Há momentos de fofura em que me permito admirar a cena.
— Acho que estava na faculdade.
— Então nós vamos ao cinema! — digo, empolgada e ele
suspira. — Você vai gostar, não pode ser ruim.
— Lembre-se de nunca mais te pedir em noivado! —
responde, fazendo careta.
Ignoro seu comentário e começo a programar o primeiro
encontro do meu chefe.
(…)
Se algum dia me dissessem que eu estaria andando abraçada
com meu chefe no shopping eu iria rir até perder o ar. Mas essa é a
irônica realidade, fomos ao cinema e por ironia do destino temos os
mesmos gostos para filmes, o que resultou em várias vezes alguém
gritando para que falássemos baixo. Foi divertido.
Muito aliás.
Damon foi engraçado, agiu como se estivéssemos em um
encontro e talvez até um pouco de flerte. Fica difícil lembrar que
estamos fingindo quando ele me segura assim.
— Que tipo de pessoa paga milhares de dólares em um
vestido? — Mudo de assunto olhando um vestido na vitrine. É lindo,
em um vinho quase roxo, mas teria que trabalhar um ano para pagar.
— É um vestido lindo — Damon confessa e me olha. —
Gostou?
Dou de ombros e continuo andando com ele envolvendo meu
pescoço. Eu queria me sentir desconfortável, mas não consigo. O
cheiro dele está causando algum tipo de reação alucinógena em
mim.
Maldito perfume caro.
— É lindo, mas você teria que triplicar meu salário para
comprar um daquele! — digo e ele ri.
— Está com fome?
Foi só ele dizer que meu estômago deu sinal de vida.
— Morrendo! — confesso, e ele me direciona para a praça de
alimentação.
— Me diz o que quer e vou comprar — ele diz, puxando uma
cadeira e me sento.
Desde quando Carter é cavalheiro?
— Quanta gentileza… O que está aprontando, Damon? —
falo, desconfiada.
Ele se abaixa e fica muito próximo do meu ouvido.
— Paparazzis! — diz em um sussurro. — Sorria!
Quase fico magoada.
Não estou preparada para enfrentar câmeras e flashes. Não
hoje que está dando tudo certo. Faz horas que não brigamos e isso é
um recorde comparada a nossa rotina.
— Não demore! — digo entredentes. — Quero hambúrguer e
fritas!
Ele parece surpreso, mas logo rir.
— Achei que preferisse saladas e todas essas coisas com gosto
de mato.
— Gosto de comida de verdade, noivo — informo e ele
levanta os braços em rendição.
— É pra já, noivinha!— provoca e sai.
Fico incontáveis minutos esperando Damon voltar, mas nada.
— Lia? — Ouço meu nome e paraliso.
Aqui vai mais uma prova da minha teoria.
Eu não posso ser tão azarada ao ponto do meu único ex-
namorado surgir do além para conversar comigo.
Me viro e encontro os lindos olhos verdes de Henry me
encarando. Ele realmente foi um bom namorado. Pena que as outras
mulheres também achassem isso.
— Henry! — cumprimento e rezo para Damon não demorar.
Meu ex se aproxima e sem ser convidado se senta na cadeira à
frente. Qual o problema dos homens com o fato de serem folgados?
— Que coincidência te encontrar! — diz sorrindo, e há um
tempo eu me derreteria por esse ato. — Está ainda mais linda!
Sorrio sem graça.
— OI, AMOR, VOLTEI!
Perco o pouco de oxigênio que me restava quando ouço a voz
de Carter bem atrás de mim. Damon põe nossos pedidos na mesa e
olha friamente para Henry.
— Oi… — digo, tentando não transparecer meu nervosismo.
— Amor, esse é o Henry… Um amigo!
Henry sorri falsamente e estende a mão para meu chefe.
— Prazer, Henry Collins, ex-namorado dela.
Damon aperta a mão dele e sorri tão falso quanto meu ex.
— Damon Carter, noivo dela — diz firme.
Muita testosterona.
— Noivo? — Henry pergunta surpreso e me olha. — Vejo que
seguiu em frente!
Filho da puta! Além de me trair com a garçonete ainda espera
que fique lamentando?
— Consegui um relacionamento sério, um onde não existe
garçonetes — ironizo.
Corna sim, por baixo nunca!
— Fico feliz por você — diz falso e se levanta. — Esse vai te
sustentar melhor do que seu salário de secretária.
Tentei não me abalar mas senti uma pontada no peito por ele
pensar tão pouco de mim.
— Limpe sua boca pra falar da minha mulher! — Damon
rosna, mas Henry apenas sorri.
— Espero ser convidado para o casamento! — diz com
deboche. — Que tenham muitos filhos!
Ele sai e eu abaixo a cabeça. Como pude gostar daquilo?
— Eu saio e o merda do seu ex aparece com sorrisos! Por que
convidou aquele imbecil para se sentar?
Levanto meu rosto e sinto as lágrimas presas. Não tenho
disposição para surtos de Damon agora. Ele pode entrar no time de
Henry sobre como me ofender.
— Vou para casa.
— Lia? Oh merda, Harper me perdoe, eu sou um idiota, certo
eu sou um imbecil enorme. Você quer me xingar? Eu deixo.
Ele desmancha sua postura séria e se aproxima de mim.
— Quero ir.
— Coma, não deixa aquele idiota estragar nosso dia! — diz
calmo. — Não chore por favor, quer sorvete?
— Eu tenho um péssimo gosto pra homens! — reclamo.
Damon sorri e limpa minhas lágrimas.
— Eu sou um ótimo partido — brinca e não falo nada. —
Talvez não um príncipe mas ainda sim muito bom, eu sei cozinhar.
Sorrio fraco e ele me surpreende quando me puxa para seu
colo. Seu cheiro, seus braços ao meu redor. Sinto algumas coisas
derreterem.
— Obrigada! — agradeço e ele sorri.
— Eu sou muito melhor que aquele babaca! — diz firme e
acaricia meu rosto. — Disso eu posso lhe garantir!
Ele olha para minha boca e não consigo pensar em nada mais
que não seja Damon Carter e seus lábios. Como se lesse minha
mente ele me beija.
Lento e apenas um encostar de bocas, seus dentes puxam meu
lábio me forçando a abrir mais espaço.
Eu não sei o que o faz se afastar, mas ele continua me
segurando em seu colo.
— Vamos.
Algo está acontecendo e não sei se devo ficar alarmada.
Capítulo 3

Lia Harper

— Vocês formam um casal tão lindo! — Emma exclama com


entusiasmo.
A mulher de cabelos rosa bebê sentada em minha frente
tornou-se minha melhor amiga no instante em que a vi. Nunca fui
boa em fazer amizades, mas no momento em que uma pessoa de
cabelos coloridos me parou no corredor pedindo informações sobre a
entrevista de emprego eu soube que íamos nos dar bem.
Ela tem uma aura que a deixa angelical e ao mesmo tempo
parece capaz de derrubar um brutamontes com um soco.
Ela parece uma fada.
—Você já disse isso, e ouvi nas últimas cem vezes —
resmungo.
— É que toda vez que vejo o rei da grosseria sendo simpático
com você não me controlo — diz sorrindo feito o gato da Alice.
Reviro os olhos, faz duas semanas que Emma trabalha como
recepcionista do andar da presidência e assim como todo mundo,
acha que meu “relacionamento” com Carter é um conto de fadas.
Sendo que ficar cinco minutos no mesmo ambiente com ele equivale
a uma hora de tortura.
Talvez eu esteja exagerando para me poupar de suspirar cada
vez que ele sorri para mim.
Nas últimas semanas, Damon tem se tornando uma companhia
frequente, sempre no meu apartamento sendo folgado ou arrastando-
me para sua cobertura para brigar pelo controle da tv.
Diria que nos tornamos amigos.
— Ele não é simpático, é um bastardo que usa gentileza para
conseguir o que deseja.
Ela me olha e ri.
— Vocês estão apaixonados e essa troca de farpas está
relacionada.
Apaixonada? Por Damon?
Deus queria que não.
Queria dizer que tudo que sinto por ele é vontade de cometer
um homicídio, mas mentir dessa forma nem eu consigo.
— Algo assim… — minto.
Almoçamos normalmente e voltamos para empresa. Emma
fica em sua mesa posta na entrada do andar enquanto sigo para
minha sala.
Sou surpreendida com a visão de Carter encostado em minha
mesa.
Tenho que ressaltar que desde que ele deixou a barba crescer
ficou mil vezes mais lindo do que já era.
Sorte ou azar da minha parte?
— Demorou — resmunga e reviro os olhos. — Por que não
atendeu o telefone?
Como um clique, lembro-me que não retirei o celular do
carregador pela manhã.
— Acabei esquecendo-o carregando em seu apartamento —
informo e ele respira fundo. —O que aconteceu de tão grave?
— Meus pais irão fazer um jantar hoje à noite… — diz a
contragosto. — Pra nós.
Sempre soube que esse dia chegaria, mas não estou mais
preparada que antes. Uma coisa é fingir estar em um relacionamento
para empresa, outra é fingir estar apaixonada por Damon perante
seus pais.
— Oh meu Deus! — digo me jogando na cadeira. —Hoje? Eu
não estou preparada pra enfrentar seus pais…
— Não temos opção — diz se virando para mim. —Estamos
nisso há semanas, não será o fim do mundo.
— Isso não torna as coisas mais fáceis, precisamos ensaiar
nossa história.
Damon acena, sentando-se na minha frente. Decidimos criar
uma história convincente para os pais dele, mas agora não parece tão
convincente assim.
— Certo, quando tudo começou? — ele pergunta fingindo ser
o seu pai.
— Há mais ou menos três meses, quando fomos juntos para
conferência nas filiais de Londres — respondo mantendo o tom
neutro.
Qualquer pessoa que estava em Londres na época saberia que
é mentira, pois não saí do quarto enquanto Damon aparentemente
curtiu as mulheres britânicas.
— E esse relacionamento é sério? — pergunta.
Nem de longe.
— Sim, ele é o amor da minha vida — digo sem entusiasmo e
vejo o sorriso de Carter. — Eu odeio esse seu sorriso babaca.
O bastardo amplia o sorriso e eu faço careta.
— É sempre bom ouvir que você me ama… repete? —
provoca.
—Tchau, Carter. — Aponto a saída.
— O jantar será às 20h! Pode se arrumar no meu apartamento.
Como vou arrumar o que vestir assim?
— Eu tenho que sair mais cedo para comprar um vestido —
aviso e ele sorri de canto.
— Já cuidei disso, não se preocupe, tudo que precisa fazer é ir
direto para minha casa, vou pedir alguém para providenciar tudo que
precisa.
Com dinheiro é tão fácil.
— Certo.
Damon sai da sala e eu fico em desespero. E se Marta não me
achar boa o suficiente para o filho?
Oh merda!
(…)
Chego no apartamento de Damon deixando minha bolsa no
sofá, já estive tantas vezes aqui nas últimas semanas que sei de cor
onde fica cada móvel.
— Pedi para deixarem no meu quarto — ele avisa e o sigo até
a suíte principal.
Observo as dezenas de sacolas espalhadas pelo quarto, verifico
com empolgação cada uma, maquiagens, produtos de higiene,
aparelhos de beleza… Ele comprou uma loja completa. Exagero.
— Você comprou o shopping? — protesto.
Damon sabe que odeio quando ele gasta comigo.
— Pedi a Emma para providenciar tudo hoje pela manhã, dei
passe livre para ela comprar tudo que precisa — diz casualmente. —
Sua amiga fez um ótimo trabalho.
Ah… agora entendi o porquê de tantos elogios a Damon.
— Isso explica o porquê de sua euforia no almoço! — digo,
revirando os olhos. — Eu perdi a conta de quantas vezes “vocês
formam um casal tão lindo” foi citado!
Ele ri e se acomoda na cama.
— Não é você que tem que ouvir — ele faz aspas com os
dedos —“sua secretária é gostosa”, “eu também me casaria”, “sua
secretária é uma tentação”!
Rio da sua cara de ódio.
—Ah… Não seja exagerado! — reclamo e ele bufa. —Onde
está o vestido?
Com um pulo, Damon se levanta e vai até o closet voltando
em seguida com uma caixa enorme.
— Não consigo imaginar outra pessoa melhor que você para
ele… — diz sorrindo.
É um pecado assistir Damon sendo fofo.
Pego o presente e abro com o coração acelerado.
— Não acredito! — digo espantada. — Damon!
Ali está o vestido que vi na vitrine quando fomos ao shopping
pela primeira vez. Perfeito.
— Eu sei… Eu sou o melhor noivo do mundo! — se gaba.
Rio, sim ele é.
— Não gosto quando me dá presentes! — brigo, ele caminha
até mim. — Mas eu amei!
— Mereço um beijo, não acha? — ele insinua e reviro os
olhos.
Fico tensa quando ele se aproxima, desde o shopping não
tocamos no assunto, mas admito que pensei nisso centenas de vezes
antes de dormir.
Não protestei quando ele me puxou pela cintura e colou nossos
lábios.
Ter sua boca em mim traz sensações do mais puro prazer.
Agarro seus ombros em busca de mais contato.
Sem fôlego, ele desliza beijos por toda extensão do meu
pescoço.
O calor em meu coração é puramente atração.
É óbvio que não estou me apaixonando.
— Preciso me arrumar, saia!
— Gostosa! —responde, dando um tapa em minha bunda.
— Carter! — brado e ele sai do quarto rindo. — Babaca!
Amigos se beijam, certo?
Não gosto dele.
Atração e nada mais.
Toco meus lábios sorrindo.
Merda.
Estou muito ferrada.
Capítulo 4

Lia Harper

O carro estaciona em frente à mansão Carter. Eu nunca fui


uma boa mentirosa, e estou a ponto de pegar o táxi e voltar para o
meu apartamento dando a melhor desculpa que conseguir.
— Nem pense em ir embora! — Damon me tira dos meus
pensamentos e me viro para olhá-lo.
Dizer que ele está lindo já não é o suficiente, não consigo
encontrar um adjetivo que determine como ele está perfeito no seu
terno de três peças. Aparentemente Marta está promovendo uma
“pequena” celebração essa noite, o que significa que terei mais
pessoas para convencer.
— Agora sabe ler mentes também? — respondo irônica.
É um fato que quando fico nervosa qualquer traço de simpatia
some do meu ser.
— Só nas horas vagas — responde no mesmo tom e se livra do
cinto de segurança. —Vai dar tudo certo, eles não vão te jogar na
fogueira.
Não respondo, espero ele solicitamente abrir a porta do carro
para mim e segurar minha mão. Admiro sua tentativa de me passar
confiança, quando seus olhos demonstram puro pânico.
— No máximo eu irei perder o emprego — brinco
nervosamente.
Com um sorriso de canto, Damon enlaça minha cintura e me
puxa até a entrada da casa. A decoração mesclada em dourado e
branco indicam que “pequena celebração” é a maior festa que eu irei
na vida.
— Minha mãe exagerou como sempre… — Damon comenta
baixo e afirmo com a cabeça. — Prepare-se…
— EU ESTOU SONHANDO! — Marta Carter para diante de
nós e sorri alegremente.
Uma parte de mim ficou aliviada ao ver que fui bem recebida,
mas a consciência de estar mentindo é como uma adaga fria à
espreita.
— Mãe, eu pedi um jantar simples, não uma celebração digna
do Oscar! — Carter reclama.
Mal sabe ela que eu estou me preparando para ganhar o
prêmio por cara de pau.
— Não seja estraga prazeres, Damon Jasper Carter! Meu único
filho está noivo da nora dos meus sonhos! — ela diz firme e me
olha. — Oh querida! Graças a Deus você colocou juízo nesse
menino!
— Eu faço um esforço — respondo tímida e ela me abraça.
— Sempre soube que você era diferente, querida — ela
comenta ao meu ouvido.
— Querida, deixa a Lia respirar! Assim ela desiste do nosso
filho. — Robert surge ao nosso lado.
Sem dúvidas, a genética foi maravilhosa na família Carter,
meu “sogro” é uma cópia mais velha do filho e me preparo
emocionalmente para um Damon com seu charme de meia-idade.
— Ela não perderia o melhor partido do mundo assim! —
Damon debocha.
Com um sorriso cínico ele me olha. Babaca convencido.
— Achei que estivéssemos falando de você, amor! — provoco
e seu sorriso se fecha.
Quase dei pulinhos de alegria quando ele me lançou um olhar
mortal.
Robert ri e abraça o filho.
— Igualzinha à sua mãe.
— Vamos aproveitar a festa! — Marta diz, empolgada e
Damon toma minha mão.
Tinha dezenas de convidados vagando pela sala bem decorada
e a cada passo algum casal nos dava os parabéns, Damon
permaneceu ao meu lado o tempo inteiro e variava entre segurar
minha mão e minha cintura. Eu deveria investir na carreira de atriz
posteriormente.
Com muito custo, conseguimos sair da atenção de todos e
fugir para o jardim iluminado. O ar livre fez meus cabelos antes
presos em um coque se agitarem.
— Você está linda esta noite, Harper! — Damon diz ao meu
lado enquanto caminhamos sem rumo entre a grama.
Fico corada inevitavelmente e olho para ele.
— Obrigada — respondo desviando o olhar para qualquer
ponto que não fosse a boca incrivelmente beijável de Damon.
— Eu é que tenho que agradecer… — confessa e o encaro. —
Por estar comigo aqui, sabe que você é fundamental, não teria sido
tão perfeito com outra.
Céus, eu não consigo lidar com essa versão gentil do meu
chefe, ele sendo um ogro é mais fácil controlar os sentimentos.
— Não estou fazendo um sacrifício… Eu amo seus pais e…
Não é impossível estar ao seu lado — confesso e ele sorri de canto.
Ele se põe à minha frente e pela primeira vez reparo que
estamos em um pequeno playground atrás da casa, tudo é em
madeira maciça e com a luz proveniente dos cômodos da mansão,
tudo ganha um ar de encanto.
— Este é meu lugar preferido no mundo — diz e olha ao
redor. — Meu pai mandou que fizessem este parque para que eu não
me sentisse sozinho e pudesse trazer meus amigos.
A imagem de um Damon muito mais novo brincando no
escorrega me faz sorrir.
— É lindo! O lugar perfeito para uma criança — admito ainda
encantada. — Me lembra o parque no qual eu ia depois da aula…
Claro que esse era bem menos conservado, mas passava horas no
balanço só sentindo a brisa.
As lembranças me invadem, antes da minha vida desmoronar
eu fui feliz. Muitos anos depois e eu sinto falta da época em que
meus pais eram vivos e me levavam para passear no parque.
— Eu me sinto bem aqui, sem o Damon Carter empresário que
todos conhecem, sou apenas eu — ele fala com um sorriso sincero.
— Gosto quando é apenas você — digo e os olhos iluminados
dele me fitam.
— Eu nunca trouxe mulher nenhuma aqui… — diz passeando
os olhos pelo local. —Você é quase uma exceção na minha vida,
Harper.
Por mais errado que seja, eu irei dormir feliz sabendo que sou
diferente para Damon. Ele faz meu coração se agitar.
Sorrio tentando expressar o que não consigo dizer, o olhar dele
sobre mim é tão quente e carinhoso que me pergunto se estou vendo
coisas.
— Sua mãe deve ter reparado nossa fuga — digo desviando o
olhar, completamente envergonhada.
— Vamos… ou ela trará a festa até nós — diz rindo e o
acompanho.
Voltamos para sala em um silêncio confortável e com a
sensação de que algo mudou naquele parque.
— Ah filho, vocês estão aí! — Como previsto, Marta
apareceu. — Seus tios chegaram!
Como em um passe de mágica, o corpo de Damon ficou tenso
e o motivo possui nome e sobrenome.
Loiro e malvado.
— Primo! Quase não acreditei que estava mesmo noivo.
Dominic Carter apareceu vestindo seu terno preto e olhar
cínico em nossa direção. Como um homem desse pode compartilhar
o mesmo sangue que meu Damon?
— Dominic! — Damon cumprimenta formalmente. — Essa é
minha noiva, Lia Harper.
O olhar que recebi foi irônico e me causou náuseas.
Lembranças de como ele me tratou feito uma vadia que era paga
para tratá-lo como rei me invade.
— A secretária! — diz com sarcasmo. — Então eu estava
mesmo certo… E aí, quantas vezes precisou ir pra cama com ele pra
ganhar esse título?
Nojo.
— Eu acho melhor você calar a boca pra falar dela, Dom! —
Damon rosna entredentes. — Se não quiser ter os dentes jogados
nesta sala.
Sem se abalar, o cretino sorri e faz uma reverência fajuta e se
afasta.
— Babaca! — digo irritada.
— Eu vou cometer um assassinato se aquele idiota disser mais
uma palavra!
Seguro o braço de Damon e o puxo para um canto reservado.
— Ele quer te tirar do sério! Nada que ele disser vai mudar
nada entre nós, OK? — digo calmamente e ele suspira. — Você é o
CEO da Imperion, o melhor empresário que conheço e todos sabem
que é melhor que as manchetes.
Damon me olha por um instante e me abraça pela cintura,
deposita sua cabeça na curva do meu pescoço e respira fundo. Não
deve ser fácil para ele ter aquele projeto de Neandertal como
parente.
— Você me faz bem, Lia… — ele sussurra, e meu coração
perde algumas batidas.
Acaricio seu cabelo e ele me aperta mais contra seu corpo.
— Você também, Carter… — admito e ficamos assim por um
tempo.
O cheiro, o contato com ele me faz ter arrepios e uma
necessidade absurda de proteger me assustam. Eu peço mentalmente
para não estar me apaixonando por ele.
Mas com determinação, Damon Carter está chegando no meu
coração, e no final, eu não sei como vou permanecer de pé se ele o
destruir.
Capítulo 5

Lia Harper

O resto da cerimônia se passou lentamente, como uma tortura


sem fim, Dominic, mesmo de longe, conseguia transformar nossas
vidas em um inferno. Estava contando os segundos para estar
acomodada na minha cama onde noivos não existam e babacas
perversos seja só um pesadelo distante.
Mas a sorte nunca está ao meu favor.
— Gostaria da atenção de todos vocês! — Damon se levanta
da cadeira onde estava ao meu lado na enorme mesa de jantar. —
Agradeço por estarem aqui esta noite, como sabem, eu noivei, o que
é um acontecimento chocante, admito.
Todos dão uma risadinha e olho para Carter com uma cara
óbvia de confusão. O que ele está aprontando?
— Mas estou imensamente feliz por exibir a mulher mais linda
que já tive a honra de conhecer — ele continua e me olha
intensamente. — E que me faz o homem mais feliz do mundo toda
vez que sorri ou me provoca, me irrita, mas acima de tudo faz meu
coração disparar com apenas um olhar…
Eu não consigo lidar com as palavras surpreendentes de
Damon, parte de mim sabe que é atuação. Mas meu lado irracional
está soltando fogos de artifícios com cada sílaba dita.
— Damon… — Tento formular uma frase, mas falho
miseravelmente.
Ele se afasta um pouco e para minha completa surpresa se
ajoelha diante de mim e retira uma caixinha aveludada do smoking.
Meu coração já ultrapassou qualquer medida segura divulgada pela
medicina e aposto que após essa festa terei problemas cardíacos. —
seguindo meu nível de sorte.
—Lia… — ele ri nervoso e acabo sorrindo involuntariamente.
— Eu não sou bom nisso…
Rio da confissão e ele me olha com tanta intensidade que já
não sei onde é farsa e onde é realidade.
— Lia Christine Harper, quer se casar comigo?
Fungo e enxugo as lágrimas que insistem em cair pela minha
face. Oh Deus, me ensine a resistir a esse homem.
— Sim! — digo rindo e ele solta o ar que prendia. — Claro
que sim!
Com delicadeza, ele desliza o anel envolto de ouro e uma
pedra azul cobalto muito parecido com a cor dos meus olhos.
Damon dessa vez se superou.
Com um sorriso enorme, ele me puxa para perto e sela nossos
lábios em um beijo quente. Os aplausos nos trazem a realidade e de
perto vejo o sorriso provocante de Damon.
— Terminamos isso mais tarde… — ele sussurra e uma
corrente elétrica invisível toma conta do meu corpo.
— Parabéns, meu filho! — Robert vem até nós e abraça
Damon apertado. — Estou tão orgulhoso de você, Lia é uma
raridade, não a perca.
Ele sorri para o pai e depois me lança um sorriso sincero, igual
ao do parque no fundo da mansão.
Cada convidado teve sua vez de desejar felicidades e elogiar
meu anel. Afinal de contas, é tão lindo que chega a doer.
Será que Damon sabe que não estou acostumada a usar joias
que vale pelo menos minha vida e alma 36x?
— Não vejo a hora de ir embora! — ele diz ao meu lado
enquanto bebe seu uísque. — Gostou do anel?
Sorrio feito idiota e olho para minha mão.
— É lindo! É maravilhoso, Damon. Nossa, tenho vontade de
estampar um poster só pra admirar! — comento e ele solta um
risinho.
— Pedi para fazerem especialmente pra você, essa pedra me
lembra seus olhos.
Sorrio tímida e ele segura minha mão onde está o anel.
— Foi o pedido de casamento mais lindo que já recebi —
brinco e Damon revira os olhos, mas estampa um sorriso orgulhoso.
— Eu nunca fiquei com tanto medo de levar um não na vida
— confessa e me abraça afundando a cabeça na curva do meu
pescoço. — Como eu amo seu cheiro…
Perco a linha da lógica no momento em que Damon mordisca
meu ombro nu pelo decote do vestido e traça uma linha de beijos até
o lóbulo da minha orelha. Eu queria parar, céus estávamos em
público.
— Os convidados, Carter! — resmungo e ele parece voltar a
si.
— Vamos embora! — diz, firme, e me olha maliciosamente.
— Eu não consigo mais esperar pra arrancar esse vestido
provocante!
Ponho meu lado racional de lado e me concentro no desejo
palpável entre nós. O que tem de errado? Tecnicamente somos
noivos, certo?
— Vamos nos despedir dos seus pais… Antes que meu lado
racional vença.
Ele ri e me puxa de volta aos convidados.
Deveria estar escrito em néon na minha testa “ESTOU INDO
EMBORA PARA IR DIRETO PARA CAMA DO MEU NOIVO”,
porque graças aos céus ninguém persistiu em conversas e com uma
velocidade digna de filme, Damon já me arrastava para o carro.
— Espero que não esteja aguardando romantismo — ele diz
assim que a porta do motorista se fecha. — Eu vou te foder até se
esquecer do próprio nome, e quando isso acontecer, você só
lembrará de mim.
Merda! Eu me senti mil vezes mais excitada do que já estava.
— Sim, Sr. Carter! — provoco e vejo o sorriso cretino que no
momento me agradou imensamente.

Não sei em que cômodo do apartamento meu vestido e o terno


de Damon foi deixado, o calor entre nós suga qualquer linha de
raciocínio existente. Ter Damon ao meu lado na cama é muito mais
do que uma experiência prazerosa.
— Como vou trabalhar agora sabendo que esse corpo está do
outro lado da sala? — ele diz e me joga na cama.
— Vai conseguir, chefe.
Carter corre suas mãos pelo meu corpo e sorri quando o puxo
para mim.
— Eu te quero tanto, sempre te quis, Lia, você é a única que
sempre teve esse efeito hipnótico sobre mim.
Grito quando ele me invade. Agarro suas costas.
— Eu acho que fui para o céu.
Ele ri e beija meu pescoço.
— Nem perto, querida, grita mais. Eu amo isso.

Horas depois eu tento reorganizar meus pensamentos.
— Você fica muito mais linda vestindo só esse anel.
Rio da sua idiotice e ele fica por cima de mim beijando minha
pele à mostra.
— Você fica muito bem sem nada! — comento e ele sorri de
canto.
— Posso dizer o mesmo de você, minha noiva — provoca
esfregando sua ereção em mim. —Eu não me canso de você, mulher,
o que fez comigo?
Como negar? Meu corpo parece ter vida própria ao lado dessa
beldade sobre mim.
— Eu ainda me lembro do meu nome, Sr. Carter — provoco e
vejo a íris de Damon escurecer.
Sem tempo para aviso, ele me vira e segura meu cabelo.
— Você quer isso?
Sua ereção me provoca.
— SIM!
— Diga que é minha.
— Ah. Sim, Damon, sua! Sua! Por favor!
Ouço o bastardo xingar e me dar o que precisamos.
— Você é meu tudo, porra.

Acordo sozinha na enorme cama e a dorzinha ao me levantar


me faz rir e corar ao mesmo tempo. Vou para o banheiro e tomo um
banho, pego uma das dezenas de sacolas que Emma comprou e me
visto com um vestido floral amarelo.
Saio do quarto e rumo até a cozinha onde escuto vozes.
Damon tem visitas?
— Você me trocou por uma empregadinha?
Uma voz feminina ecoa indignada. E não gostei nem um
pouco do tom, mas por pura curiosidade fico no corredor ouvindo a
conversa.
— Eu nem sequer me lembro de ter dormido com você,
Carmen! — Damon diz, grosso.
— Foi um final de semana inteiro, Dammy! Não pode estar
mesmo disposto a se casar com aquela…
— Ora, cale sua boca! Você vem até meu lugar para ditar o
que devo ou não fazer? Suma daqui e não ofenda minha noiva,
porra! Você foi a que deu coletiva para mídia sobre uma festa há
meses, como se tivéssemos sido mais do que um momento.
Então a tal Carmen é a mulher das fotos vulgares no iate. Eu
fiquei tão surpresa na primeira vez que vi Damon sendo um perfeito
cretino rodeado de mulheres seminuas — e muitas nuas —
desfilando no iate de algum amigo. O que essa vadia está fazendo
aqui?
— Sua mulher? Não acredito que está mesmo com aquilo…
Engulo a raiva e saio do meu esconderijo e entro na cozinha
fingindo minha melhor cara de paisagem. A ruiva me mede da
cabeça aos pés e me pergunto para onde foi a porra da noção dessa
cadela.
— Oi, amor, bom dia! — digo, me aproximando de Damon e
selando nossos lábios demoradamente, e de propósito puxo seu lábio
inferior. — Não te encontrei na cama como sempre acontece.
Tragam o Oscar.
— Desculpa se te acordei, querida.— Ele sorri e leio em seu
olhar que ele está mais que disposto a encarar o “casal apaixonado”.
—Ah… essa aqui é a Carmen… Como é mesmo seu sobrenome?
Tive vontade de rir da cara de ódio da vadia, mas me contive.
— Miller! — responde e me olha. —Sou a ex dele e
estávamos discutindo nossa relação inacabada.
Falsa. Sorrio cínica, se ela quer brincar de quem brilha mais eu
não posso evitar esfregar meu anel único de noivado, não é?
— Ah, eu sou a noiva dele! — Mostro minha mão direita e seu
olhar recai sobre o anel. —Futura Senhora Carter, e estávamos
discutindo sobre nosso casamento e relação real.
Eu sei que exagerei, mas ela não precisa saber disso.
— Como já conheceu minha mulher, já pode se retirar, ou vou
chamar a segurança — Damon fala seco e Carmen empina o nariz e
sai estalando os saltos para fora do apartamento.
Depois de ter certeza que o ambiente está livre de vadia
invejosa, olho séria para Damon.
— O que aquele projeto de farmácia estava fazendo na sua
cozinha as 8h da manhã? Eu vou acordar com uma mulher diferente
na sua cozinha cada vez que vir aqui?
No fundo eu sei que estou agindo como uma colegial.
— Ela simplesmente apareceu, e que merda você também de
querer ditar minha vida! Estamos fingindo e não esqueça o seu
papel, a noite passada não mudou nada!
Doeu ouvir, mesmo que ele tenha dito a verdade.
— Está certo, não mudou — respondo tentando não
transparecer magoada. — Você tem reunião na segunda e pode
descontar do meu salário, não irei aparecer.
Damon suspira.
— Lia… — ele diz, mas não dou tempo para ele falar.
Quando estou me aproximando da porta, retiro o anel de
noivado e ponho na mesa de centro.
— Eu acreditei por um momento que tudo fosse real, que
fôssemos mais do que fingimento — digo e me viro para encará-lo.
— Erro meu.
Dito isso, saio do apartamento limpando as lágrimas por ter
sido tão idiota a ponto de realmente gostar do cara que me pediu
para fingir ser sua noiva. Deve existir uma cola que conserte
corações partidos, eu só preciso achá-la.
Ou talvez vodca.
Capítulo 6

Lia Harper

Eu não apareci na Imperion na segunda-feira. O meu final de


semana passou como um raio, mas o sentimento de ter o coração
quebrado em milhões de pedacinhos continua. Não fiz nada além de
lamentar e devorar cada alimento com um teor de açúcar alto que
encontrei na geladeira.
O que eu poderia esperar? Damon não fez nada do que não
tenha avisado, ele foi sincero desde a primeira vez que contou seu
plano. Uma noiva de mentira, sem amor e sem cobranças. Eu já
deveria ter imaginado que era somente isso. Faço parte de um plano.
Mas por um momento, ou melhor… Por uma noite eu me esqueci de
que ele estava fingindo. Eu me entreguei e consequentemente meu
coração foi junto. Mas a ficha caiu tão rápido quanto a verdade. Em
que universo um homem que pode ter todas ficaria com a secretária
boba?
A resposta é óbvia: Damon Carter é apenas uma fantasia
inalcançável.
— Moça, chegamos! — O grito do taxista me tira do transe.
Agradeço e pago a corrida. Chegou a vez de sair dos contos de
fadas e voltar para realidade que nunca deveria ter saído. Ser
secretária do homem que quebrou meu coração.
Eu vou sobreviver.
Fingindo estar completamente normal, caminho igual a todos
os dias para minha sala. Ninguém precisa saber que fui idiota a
ponto de me apaixonar por Carter. Vejo Emma na recepção do andar
e seus cabelos antes rosa-chá, agora estão azul-celeste, assim que me
vê sorrir e faz uma mesura levantando as mãos para cima.
— Graças ao bom Deus você está de volta! — ela diz quando
me aproximo. — Só você pra acalmar aquele Neandertal do seu
chefe, um chá de boceta deve resolver.
Se ela soubesse…
Não estou disposta a vê-lo tão cedo.
— Não sou um calmante.
— Vocês brigaram? — Não respondo e Emma ri. — Aquele
homem está insuportável, mais do que o normal, está reclamando até
do ar que respira e ninguém desse prédio quer estar no mesmo
ambiente que ele.
Eu faço parte desse time.
— Atitudes sábias! — digo baixinho.
— Carson! — uma voz que tanto evitei grita. — Eu te pago
para trabalhar, não para bater papo!
Vejo Emma fechar a cara e lentamente se virar para encarar
Damon irritado.
— Perdão, Sr. Carter! — responde num resmungo.
Sem alternativa, me viro para olhá-lo e meu coração se aperta.
Damon está com olheiras visíveis a distância e com a barba bem
maior do que antes. Deve haver uma explicação para isso, e me
odeio por estar infinitamente preocupada. Quando nossos olhares se
encontram eu sinto vontade de quebrar toda essa distância e abraçar
aquele corpo que não saiu um segundo da minha memória.
— Lia… — ele sibila e caminha na minha direção, cada passo
meu nervosismo aumenta. — Você voltou…
Respira, Harper! Não pode ceder, não destrói o resto de
sentimentos que sobraram em você.
— Já, irei providenciar sua agenda, Sr. Carter — respondo,
fingindo indiferença.
— Precisamos conversar! — diz, parando na minha frente.
Quis gritar que ele teve um fim de semana para me procurar.
Mas me controlo.
— Se não for relacionado a assuntos profissionais, não poderei
ouvi-lo — digo o mais firme que consigo. — Se me der licença, irei
para minha sala.
O deixei para trás e sorri de mim mesma por ter sido forte.
— Lia, não dificulta as coisas — ele grita e vem atrás de mim.
— Meu bem…
Viro no mesmo instante e o olho com fúria.
— Não me chame assim, Carter! Você não tem esse direito!
Ele parece surpreso, mas se recompõe.
— Tenho sim! Você é minha noiva e não vai ser sua birra que
irá mudar isso! — rosna.
Ele não disse isso. O bastardo.
— Birra? — pergunto, incrédula. — Eu não sou a merda da
sua noiva!
— Sim, você é!
Ignoro seu comentário e entro na minha sala, mas para meu
desprazer, Carter também faz o mesmo.
— Peça pra Carmen ser sua noiva! Vocês formam um lindo
casal! — Não evito o sarcasmo na voz.
Só o pensamento daquela ruiva com ele me enoja. Esse
imbecil, estúpido que eu me apaixonei. Coração burro.
— Você está com ciúmes? — Damon pergunta e o olho, séria.
Com o sorriso de canto que tanto odeio, Carter está
visivelmente feliz com minhas palavras.
— Óbvio que não! Você é um babaca, e eu te odeio! —
respondo, mentindo em cada palavra.
— Eu não quero a Carmen, quero você! — diz, se
aproximando.
Não! De novo, não.
— Assim como quis ir pra cama comigo? Ou quando teve a
cara de pau de dizer que eu era diferente? — grito, e é tarde demais
para engolir o choro. — Ou quando jogou na minha cara que eu sou
apenas um fingimento? Você deixou claro o que pensa, Damon, não
vou mais participar dessa farsa.
Seu rosto muda para triste e isso não me comove nem um
pouco.
— Eu fui um idiota, eu sei! Tem todo direito de estar brava
comigo… Mas não te usei!
— Parece que eu vejo de outro modo.
— Eu gosto de você, não percebe? — ele grita e bagunça os
cabelos. — Eu não durmo há dias, nem lembro a última vez que
comi algo e não consigo pensar em nada que não seja você… Estou
um merda e tudo que você faz é me culpar!
Perco o ar por segundos e ele bufa.
— Você acha que estou bem?
— Me parece ótima! — resmunga.
Tive vontade de rir com essa afirmação. Estou destruída e
minha maquiagem não esconde minhas olheiras.
— Eu chorei até perder as forças e na pior das hipóteses me
culpei por ser tão idiota a ponto de gostar de você! — confesso e ele
me olha. — É isso que quer ouvir, Damon? Que eu me apaixonei por
você? Deveria ter ido para um site de namoro, o resultado não foi o
que planejava. Eu me demito. Siga com sua vida como era antes de
mim.
Mesmo que doa como o inferno o ter longe. Já deveria estar
acostumada a ter esse tipo de coisa, nunca nada deu certo. Por que
nós iríamos ser a exceção?
— Seguir minha vida? O que te faz pensar que eu vou me
afastar de você?
O olho confusa e vejo o sorriso de canto que tanto conheço.
— Por favor, Carter, eu estou cansada de discutir…
— Eu também! E já disse que você é minha noiva e nada vai
mudar! — responde, calmo.
Ele só pode ser idiota.
— Damon, eu não irei continuar com isso!
Para minha surpresa ele começa a rir.
— Você não percebe, não é? Coisinha boba.
Nada melhor do que ser motivo de piada para o homem que
ama.
— Fico feliz que te divirto, vou embora.
Seus olhos se focam em mim e ele sorri, tão lentamente toca
meu rosto e suspiro. Eu não ficarei nessa empresa, não posso
suportar ficar no mesmo prédio com ele.
— Eu te acho a mulher mais complicada da Terra — diz e
desvio o olhar. — Por isso te amo tanto, minha loira.
— Não precisa dizer que… — Paro de falar e arregalo os
olhos. — Como é?
O idiota abre um largo sorriso e envolve minha cintura.
— Estou apaixonado por você, Harper, é a única que não
percebeu! Não vê que eu sou louco por você, secretária? Que você é
meu tudo.
Deus, eu não posso estar ouvindo certo… Damon Carter disse
que me ama.
— Para de fingir, Damon! — reclamo e ele revira os olhos.
— Larga de ser irritante, Lia! Quer que eu desenhe pra você
acreditar? Deveria ter trazido flores… bem que White disse —
resmunga.
— Meu Deus, você me ama! — grito e ele abre os braços em
deboche.
— Eu disse isso — provoca e sorri. — Agora você vem e me
beija apaixonadamente, eu preciso de você.
Como gosto desse babaca?
— Vem você, eu não sou sua empregada! — falo indignada.
— Na verdade, você é…
— Você é um babaca!
— Mas eu te amo — completa e me puxa contra si.
Sem perder tempo ele me beija. Não como antes, esse é
sincero e urgente, como se fosse o suprimento para viver. Mas como
sempre, um beijo não basta para saciar minha necessidade absurda
em ter Damon ao meu lado.
— Estamos no trabalho! — resmungo, o empurrando.
— Minha empresa, minhas regras! — Ignora meus braços e
volta a me beijar. — Você não tem ideia do quanto desejo tê-la nessa
mesa!
— Isso é um fetiche muito interessante! — provoco e ele sorri.
— Não tanto quanto te foder no elevador — diz, me
empurrando sem delicadeza alguma contra minha mesa. — Ainda
realizo esse!
Rio e ele começa a tirar seu terno.
— Sabe que podem chegar a qualquer momento, não é?
— Ouvi dizer que ninguém quer estar no mesmo cômodo que
eu! — responde, irônico.
Dou uma risada e ele me olha ternamente. Se dessa vez ele
partir meu coração, nenhuma cola irá recuperar.
— Você é a cola — sussurro.
Foi tudo que conseguir dizer antes de perder a lei da razão.
Esse bastardo.
Capítulo 7

Lia Harper

— Pelo menos disfarça, Damon! — o repreendo, mas não


adianta.
Eu estou até agora tentando assimilar que o homem que eu
amo também me ama. E para completar minha incredulidade, nós
ficamos a manhã inteira trancados na minha sala e tenho certeza de
que até o térreo ouviu nossa pequena “reconciliação”.
— Você está vermelha e eu é que chamo atenção? — debocha
e me empurra para dentro do elevador.
Defina-se EMPURRAR. Do verbo Damon não foi nem um
segundo delicado. Aliás, ser delicado não é algo que ele é bom, e eu
não ligo para isso.
— Não precisa empurrar, seu idiota — reclamo retomando o
equilíbrio.
Pelo espelho, consigo ver a situação precária do meu cabelo, o
que antes era um coque firme se transformou em uma trança cheia
de nós. E para meu total desgosto, uma marca bem visível no meu
pescoço só prova o quanto Damon está pedindo para morrer.
— Você adora quando eu empurro — responde, sorrindo
maliciosamente.
— Damon, você me deixou com marcas! — rosno ainda
encarando o espelho. — Isso vai demorar a sair!
O bastardo sorri orgulhoso e ajeita a gravata.
— Essa é a intenção, meu bem! — diz convencido. — E só pra
constar… Suas unhas deixaram bastante marcas.
Sorrio satisfeita e olho para ele.
— Essa é a intenção, meu bem! — repito suas palavras e o
elevador se abre. — E tira esse sorrisinho do rosto!
Ele me ignorou e se pôs ao meu lado com seu melhor sorriso
cretino, o que me fez revirar os olhos. Como eu pude me apaixonar
por esse babaca?
— Sorria, amor, quais as chances do saguão inteiro ter ouvido
seus gritos? — provoca e isso me deixa completamente vermelha. —
Adoro te deixar corada.
— Cala a boca, Carter! — retruco e ele só ri da minha
vergonha.
Eu absolutamente nunca fiz algo como sexo no escritório, mas
pelo ar de naturalidade, Damon parece um expert na situação. Esse
pensamento com toda certeza me fez perder o bom humor.
O saguão, lotado de pessoas se fez em silêncio assim que
Damon surgiu no campo de visão, todo mundo que trabalha na
empresa se arrumou um pouco disfarçadamente. A passos lentos e
determinados fomos de mãos dadas sendo seguidos
milimetricamente por todos. Deus, isso é constrangedor.
Quando finalmente saímos do prédio, pude respirar
normalmente.
— Onde quer almoçar? — pergunta e pega a chave com o
manobrista.
— No restaurante onde sempre almoço com Emma — informo
e entro no carro. — Lá faz o melhor frango grelhado do mundo.
— Porque ainda não comeu o meu frango grelhado.
Realmente não posso por defeito na comida de Carter.
— É tão injusto você ser tão bom na cozinha — resmungo e
ele ri alto.
— Na cozinha, no quarto, na sala… — diz maliciosamente e
reviro os olhos. — Sou um homem de muitas qualidades!
— Sorte minha! — provoco e ele me olha de relance.
— Eu desejei tanto ver seu sorriso novamente, que parece
mentira tê-la comigo — confessa.

Meu coração acelera e tudo que consigo fazer é sorrir e olhar


para o homem da minha vida. O carro para e saímos de mãos dadas
como dois adolescentes apaixonados.
— Isso é tão estranho… Sabe, eu e você — digo no momento
que ele me puxa para o restaurante.
— Eu sempre tive todas e nunca repeti mulher alguma, mas
você é como um imã — diz me olhando fixamente. — Eu não
consigo estar com outra, Lia, você me estragou pra qualquer mulher.
— Eu te amo, Damon — digo contra seu peito.
— Eu te amo, noivinha.
Rimos e adentramos no pequeno restaurante com cheiro de
comida caseira. Qual minha surpresa ao ver Emma acenando — de
pé na cadeira — para nós.
— Tenho medo de quando ela conhecer o Ethan.
Não digo nada, Damon está certo.
— Ela me mata de vergonha — digo, rindo e puxo Damon na
direção da garota de cabelos azuis.
Emma olha para Damon com uma careta e rio.
— Ele precisa mesmo ficar? — pergunta, indiscreta.
Carter arqueia uma sobrancelha e se senta sem desviar o olhar
ameaçador da minha melhor amiga.
— Ele está mais sociável agora — informo e me sento.
— Eu sempre sou sociável! — resmunga Damon.
— Um amor de pessoa! — Emma ironiza.
— Emy, pode tentar ser gentil só um pouco? — imploro.
— Tá… Não é culpa minha se vai se casar com o rei dos
idiotas! — responde, bufando.
— Eu sou seu chefe, mini arco-íris! — Damon revida.
— Emma, por favor!
— Fico feliz em ver que fizeram as pazes! — responde,
sincera.
O garçom chega e pedimos meu adorado frango grelhado.
— Como sabe que estávamos brigados? — Damon questiona.
Emma o olha sarcástica.
— Deixa-me ver… Deve ser pelo fato de ter sido um porre
durante a segunda-feira toda e pelos gemidos da sala dela — diz e
fico completamente vermelha com a última parte.
O babaca sorri e lhe dou um tapa.
— Ai… Não tem que se preocupar, eu amo seus gemidos! —
diz alto e as pessoas ao redor nos olham torto.
— Cala a boca, Carter! — digo entredentes e ele me rouba um
selinho.
— É, amiga, pelo menos as mulheres do prédio sabem que ele
tem dona! — Emma fala como se fosse a melhor notícia do mundo.
De fato é… Eu não gosto da secretaria do Ethan, que por sinal
é melhor amigo de Damon e está viajando a negócios. Um cretino na
mesma escala. Talvez pior.
— Já sei de onde vem seu ciúme… — Damon debocha e
reviro os olhos.
— Se eu fosse você também ficaria! — Emma comenta e o
sorriso de Carter some.
— Como assim? — pergunta e me olha sério.
— Acha mesmo que aqueles homens lindos e simpáticos não
deseja uma mulher linda e inteligente como Lia? — provoca e me
seguro para não rir.
O rosto de Damon é uma carranca fofa.
— Mas que porra! — reclama e não seguro a risada. — Não
estou vendo graça alguma, Harper!
— Fica lindo com ciúmes — digo o beijando levemente. —
Ela está brincando.
— Não mesmo! O Edward do terceiro andar te chamou pra
jantar aquele dia, lembra-se? — Emma comenta e Damon fecha a
cara.
— Foi bem antes.
Nossa comida chega e Damon melhora um pouco, até seu
celular começar a tocar incansavelmente. Ele nos olha e pede
desculpas.
— Carter! — atende, sério e logo faz uma careta. — Eu estou
bem, mãe…
Sorrio já imaginando o sermão da parte dela, Marta odeia
quando ele atende o celular pessoal dessa forma.
— Diz que mandei um oi! — sibilo e ele acena.
— Lia te mandou um oi! — diz e escuta sua mãe. — Mãe, o
Ethan está em Roma!
Emma me olha confusa.
— Quem é Ethan? — pergunta e me esqueci que ela não
chegou a conhecer o sócio da Imperion.
— O melhor amigo do Damon e vice-presidente, você vai
conhecer a peça em breve.
Enquanto Damon é sério e irritante, Ethan é humorado e testa
sua paciência em outros níveis.
Ela assente e continua sua refeição.
— Mãe, pelo amor de Deus, você não quer que eu vá a Roma
só porque o Ethan não atende o telefone, não é? — Damon pergunta,
indignado.
Seguro o riso.
— Certo, eu tentarei ligar pra ele, eu juro! — ele continua e
revira os olhos. — No dia que ele se amarrar a uma garota só será
um milagre.
— Já vi que deve ser um babaca igual ao amigo! - —Emma
resmunga e acabo rindo.
— Você está certíssima! — respondo e ela bufa.
Um pouco depois, Damon desliga o celular e nos encara.
— Estavam falando sobre o quê?
— De como seu amigo é um babaca igual a você — Emma diz
despreocupada.
Rio e Damon revira os olhos.
— Amor, quero que ligue para o hotel do Ethan e consiga
localizá-lo! — Damon pede e suspira. — Ou terei que ir a Roma
matar aquele bastardo!
— Já tentou ligar para o número descartável dele? — pergunto
e Damon fica surpreso. — Você acha que não sei que possuem um
número para contato com mulheres?
Rio de sua cara de desespero.
— Eu não tenho mais! — diz rápido e arqueio uma
sobrancelha. — Talvez eu tenha… Mas irei descartar!
Sorrio satisfeita.
— Ligue pra ele antes de pegar um voo pra Roma.
— Como sabe sobre os celulares? — questiona e solto uma
risada.
Ele deve se esquecer que sou sua secretária.
— Damon, sou eu que atendo suas ligações, caso não saiba!
Seu rosto se contorce em uma careta.
—Bom, ao menos você poderá recusar as ligações.
Como caí de amores por ele?
Capítulo 8

Lia Harper

— Por favor! Quando foi a última vez que foi a uma boate? —
Emma implora.
Se eu achava Damon a pessoa mais insistente do mundo, com
toda certeza não tinha visto Emma Carson decidida. E nesse
momento minha cara amiga de cabelos azuis está obstinada a me
arrastar para a inauguração de uma boate. Não seria nada de mais se
hoje não fosse uma segunda-feira e se meu chefe não fosse meu
noivo, sem contar o fato de que eu odeio lugares lotados e me sentir
sufocada no mar de pessoas cheirando a álcool e testosterona.
— O que te faz pensar que eu iria a uma boate em plena
segunda-feira?
Aliás, que tipo de pessoas vão à festas em plena semana útil?
— Pessoas como Emma — no mínimo alguém com empregos
iniciados após o meio-dia ou chefes que não precisam acordar cedo.
— Vai ser a melhor festa do ano! Lia, você tem 23 anos! —
diz, dramaticamente e para na minha frente. — Pode levar o babaca
do seu noivo!
Olho em volta à procura de alguém que tenha ouvido a ofensa
em alto e bom som de Emma no meio dos corredores da Imperion.
— Não pira, Emma! Eu não gosto de baladas e tenho trabalho
amanhã, caso não se lembre! — rejeito seu pedido e continuo meu
caminho até o elevador.
— Se você pedir com jeitinho o babaca te deixa livre na parte
da manhã… E como é meu dia de folga, não teremos problemas! —
conta seu plano mirabolante.
— Eu não vou pedir privilégios só porque estou com o dono
da empresa! — digo, ofendida.
Se me recuso a vir para o trabalho juntos, pedir uma “folga” é
a última coisa que faria. Mesmo que no último mês eu esteja
praticamente morando no apartamento de Damon, já disse que não
quero ser tratada com mais privilégios que os outros funcionários.
— Eu sei que não! Mas não estará pedindo pra acrescentar seu
nome na logotipo da empresa, é só uma folga! — diz mais
calmamente.
— Damon não me dará folga, eu sou sua secretária!
— Noiva!
— Não inventa, Emma…
— O Carter não vai te negar uma folguinha… Qual é?! Está
estampado na cara de idiota dele que não consegue te dizer não!
— Você diz isso como se Damon fosse um namorado bobo e
iludido! — digo, sarcástica.
Mal sabe ela que eu e Damon vivemos em pé de guerra, e
mesmo amando aquele babaca, ele está longe de ser um homem que
se deixa ser comandado. Principalmente por mim.
— Mas ele é um babaca apaixonado! — diz como se fosse um
fato óbvio.
Iria responder que Damon não é o tipo de cara que abaixa a
cabeça, mas sou interrompida por uma tosse forçada bem atrás de
mim. Conhecendo meu nível de má sorte, posso imaginar de quem
seja.
— Quem é babaca apaixonado? — Sua voz rouca só
concretiza o que eu já sabia.
Emma abre a boca para responder, mas não deixo.
— Ninguém! — digo primeiro e lanço um olhar mortal para
ela. —Boa noite, Emma!
Como eu achei que a Smurf personificada fosse me dar
ouvidos?
—Carter eu e Lia estávamos discutindo sobre a vontade de ir a
uma inauguração de uma boate hoje, mas ela precisaria de uma
folga… — diz com sua melhor cara de fingimento.
— Quer que eu dê folga para Lia? — Damon pergunta, calmo
demais para minha surpresa.
— Exatamente! — Emma sorri como se estivesse ganhando
um enorme pedaço de chocolate.

Eu tenho a impressão de que Damon calmo é muito pior do


que um nervoso.
— Quer ir a essa boate, meu amor? — ele pergunta e me
encara.
Definitivamente abduziram meu noivo e colocaram um clone
no lugar! Meu amor? Somos o casal mais estranho que já vi, nossa
maneira de demonstrar sentimentos sempre envolvem uma cama ou
um de nós dois ameaçando o outro.
— Não mesmo! — digo antes que Emma responda por mim.
— Odeio boates!
Se olhar matasse, eu morreria agora apenas pelo encarar irado
de Carson.
— Mas não gostaria de uma folga? — ele pergunta e sorri.
Eu posso não ser uma profissional formada em ler o
comportamento das pessoas, mas eu conheço Damon como ninguém
e apenas pelo sorriso falso que ele deu tenho certeza de que ele
superou o limite de estar puto. Provavelmente esse é o estado de um
serial killer antes de matar suas vítimas, e nesse caso… Emma está
muito ferrada!
— Claro que ela está! — Emy responde e olho com
reprovação para ela. — Essa será a melhor festa do ano!
OK!, eu serei testemunha de um homicídio. Quanto tempo eu
ficarei na cadeia até provavelmente morrer de alguma doença ou por
não ser sociável com outras detentas?
— Me deixa ver se entendi, Carson…Você quer levar minha
noiva para a inauguração da boate do meu primo hoje à noite? —
Damon pergunta já perdendo toda a calma acumulada.
PRIMO? Céus, é agora que o sangue vai sujar o mármore
lustroso do piso da presidência. Desde quando Dominic é dono de
boates?
— Dom é seu primo? — ela pergunta surpresa.
Dom? Como ela conhece Dominic?
— Como o conheceu, Emma? — pergunto antes que Damon
cometa um homicídio.
Para meu total desgosto, minha amiga sorri abertamente e rezo
para que ela diga que o conheceu no mercado ou ele esbarrou nela
na calçada.
— Ele é… Meu quase namorado! Ou algo assim — diz com
empolgação.
Acho que perdi a habilidade de respirar. Emma com Dominic?
— NÃO PRECISO DE MAIS DETALHES! — Carter diz,
grosso e seguro seu braço.
O rosto de Emma é uma confusão, o que me leva a dúvida. Ou
ela realmente não sabe sobre o babaca que Dominic é ou é uma
excelente atriz. Prefiro acreditar que ela não sabe que está quase
namorando um imbecil.
— Eu perdi algo? Eu não sabia que Dom era primo de Damon!
— Ela me olha séria.
A risada sarcástica de Carter só mostra que ele não se
convenceu com isso.
— Meu primo usa o sobrenome como passaporte pra tudo que
faz! Quer que eu acredite que não sabia que ele fazia parte da minha
família? — diz irritado.
Isso é verdade.
— Como? Dominic Smith não se parece muito com Carter no
meu vocabulário. — Emma responde no mesmo tom.
— SMITH? — dizemos juntos e ela continua com cara de
quem está vendo duendes.
Olho para Damon que está olhando sério para Emma.
— Aqui não é lugar para conversarmos — digo pedindo
discretamente para Damon oferecer sua sala.
— Eu não entendi o que está acontecendo! — Emma fala
olhando para nós, confusa.
Damon ignora a minha amiga e refaz seu caminho até sua sala
comigo e Emma ao seu encalço. OK, eu teria forças para parar
Damon homicida? Ou o amaria mesmo e le matando minha amiga?
— Eu não acredito um segundo sequer que você não está na
MINHA empresa me espionando! — Damon diz, direto.
No isolamento da sua sala eu percebo o quão grande é a
desconfiança de Carter no primo e consequentemente em Emma.
Um espião é bem a cara de Dom.
— Como? Espionando? Que merda é essa, Lia? — ela diz e
me olha com nervosismo.
Por que eu sou o veredicto?
— Disse que está namorando um Dominic Smith? —
questiono e ela acena. — Como é esse homem?
— Quer que eu o defina? — pergunta ainda não acreditando.
Péssimo momento para ser lerda, Emma!
— É! Por acaso ele é alto e tem um sorriso cretino junto com
um corpo digno de capa de revista e é uma versão do Damon loiro?!
— falo com expectativa.
—Realmente ele é muito gostoso! — ela diz como se estivesse
se recordando do corpo do idiota. —Se bem que ele é meio babaca
igual ao seu homem.
— Damon é muito melhor — digo automaticamente. —E mais
bonito.
— Ele tem covinhas.
— O quê? Damon também tem covinhas! E o cabelo do meu
noivo é natural! — digo vitoriosa.
Emma me olha como uma criança que acaba de descobrir que
papai Noel não existe.
—Santa genética! Mas aposto que o PA… — ela é
interrompida por Damon que grita.
Nos viramos para ele e tenho quase certeza que é agora que ele
surta.
—Porra! O assunto é sobre Emma estar tendo um caso com
meu inimigo, não qual de nós é melhor! — ele diz irritado.
Foco!
— Dominic é primo de Damon e faz o possível pra destruí-lo e
ficar no lugar de CEO.
— Está dizendo que eu fui enganada e o cara que eu achei ter
saído dos meus sonhos só está me usando para ter acesso ao primo?
— conta os fatos e ninguém responde. — Que filho da puta!
Aceno e Emma entra em um monólogo para possíveis motivos
que a fizeram cair na lábia do Carter errado. Como posso julgá-la?
Resistir a Dominic é tão difícil quanto resistir aos encantos de
Damon. Maldita genética.
— Eu acredito nela — digo somente para Damon ouvir.
— Eu estou tentando! — admite e me olha.
— COMO EU NÃO REPAREI NAQUELE SORRISO
BABACA? — Emma continua no seu momento recriminação. —
Mas ele é tão gostoso…
— A culpa não foi sua, Emy! — Tento ajudar mas ela me olha
com o semblante arrependido. — Dominic não presta, homens como
ele não sabem dar valor a mulheres como você.
Ela sorri fraco e sei que no fundo ela está se sentindo mal por
ter sido enganada. Emma parece forte, mas é só um escudo para
mulher frágil e indefesa que eu sei da existência.
— Eu acreditei que ele gostava mesmo de mim… Ficamos
horas conversando sobre qualquer coisa na madrugada — diz
sorrindo, triste. — Ele dizia que azul combinaria comigo.
Agora sei de onde veio a ideia das madeixas azuis.
— Eu odeio Dominic, mas ele pode realmente gostar de você
— digo com uma pequena esperança.
Pessoas mudam, certo?
— Não se iluda com isso! Ele não é nem de longe o tipo de
cara que se apaixona! — Damon diz irônico.
Olho feio para ele e depois abraço Emma.
— Ignora o Damon, ele é sensível como uma pedra! — digo e
Emma ri.
— Eu disse a verdade! Ele só ama o próprio ego!
— Você era exatamente como ele e disse que me amava! Devo
acreditar nisso ou você só ama o próprio ego? — pergunto.
Carter bufa e bagunça os cabelos.
— Eu te amo mais que tudo! — diz sério e sinto meu coração
se desesperar.
— Gente, é um péssimo momento pra melação! — Emma diz,
chorosa. — Soldado ferido aqui!
— Desculpa, amiga — peço e volto a abraçá-la.
— AGORA MAIS DO QUE NUNCA EU QUERO IR
NAQUELA BOATE! — diz, convicta e já começo a imaginar o
estrago. — Vou mostrar para aquele filho da puta que eu estou por
cima!
— Está falando da minha tia, sabia? — Damon diz com mau
humor.
— É uma péssima ideia, Emy!
— E você vem comigo!
— Está louca? — pergunto chocada.
Ela me ignora e olha maldosamente para Carter.
— Tá a fim de acabar com a noite de festa do teu primo?
Merda! Damon sorri abertamente.
— Vou adorar! — diz animado.
— Eu não vou! — já aviso.
Emma me olha maliciosamente.
— E deixar ele no meio de todas aquelas mulheres loucas por
um pedaço do bilionário mais cobiçado? — provoca bem onde eu
sou mais afetada.
Ciúmes.
— Vamos a essa boate! E Damon — olho na direção do
homem com sorriso de canto —, sem brigas.
— Eu não posso prometer.
Capítulo 9

Lia Harper

Encaro meu reflexo no espelho e realmente gosto do que vejo.


Meu vestido preto é justo e me deixa muito mais sexy do que
realmente sou. Tenho que lembrar de agradecer a Emma por sua
ótima escolha.
— Onde está o resto do pano dessa droga que você chama de
vestido? — Damon resmunga. — Eu te acho tão linda, e não vou ser
o único.
Me viro e encontro meu noivo vestido casualmente, como um
homem pode ficar tão magnífico vestindo jeans? Fico segundos
admirando o corpo esculpido que está escondido por uma camisa
polo preta que só serve para o deixar ainda mais lindo.
— Azar seu que deixou Emma encarregada de comprar
minhas roupas! — respondo e sorrio ao ver a cara de desgosto de
Carter.
— Aquele projeto de Smurf! — resmunga e não evito rir. —
Ethan se autoconvidou para ir com a gente.
Não estou surpresa, aposto meu salário que Ethan está indo
apenas para testemunhar Dominic irritado, ele é tão perverso quanto
Emma ou até pior.
— Ele e Emma juntos são uma dupla criminosa que representa
perigo.
— Formam até um casal bonito — diz rindo. — Eu não vejo a
hora de Ethan ficar apaixonado!
Encaro Damon com confusão.
— Desde quando você virou cupido?
— Desde que todas as piadas sobre casamento estão
direcionadas a mim! — diz fazendo uma careta. — Preciso me
vingar.
Homens! Reviro os olhos e termino de pentear meus cabelos
que precisam urgentemente de um corte.
— E acha que Ethan apaixonado vai mudar algo? No mínimo
ele vai competir sobre quem é o namorado mais legal.
— Eu sou o namorado mais legal! — diz, orgulhoso e me
olha. — Não sou?
— Nem de longe! — provoco e ele me encara indignado.
— O quê? Eu te dei metade do meu closet!
— Você dominou meu apartamento! — revido.
— Nós vamos nos casar! — diz e me viro para olhá-lo. — E
será obrigada a me chamar de melhor marido do mundo!
Ele vai de fofo a idiota em segundos.
— Nem morta!
— Melhor chefe do mundo! — continua e ignoro porque é
muito mais produtivo.
Completamente pronta, só estou à espera do idiota número
dois, mais conhecido como Ethan White. E como mágica a
campainha toca.
— Até que enfim! — agradeço e Damon corre para atender.
— MAS É UMA DONA DE CASA MUITO EFICIENTE
ESSE MEU AMIGO! — Escuto o grito assim que Carter abre a
porta.
O homem vestido de preto poderia ser um ótimo modelo em
qualquer revista teen, quem vê Ethan de longe nunca imaginaria um
empresário bem-sucedido. Fora dos negócios, a mentalidade é de
uma criança de 10 anos — me perdoe crianças — e juntamente de
Damon é como deixar duas pestinhas na loja de doces.
— Cala a boca seu bastardo! — Damon diz, fechando a porta.
— Isso são flores?
Agora percebo o buquê de rosas que Ethan segura. Minha
confusão é nítida.
— Não precisa ficar com inveja, meu amorzinho, eu te compro
flores sempre! — debocha e Damon bufa. — Essas flores são pra
mulher mais gata que eu conheço!
Ele estende o buquê para mim e eu não seguro a risada.
— Desse jeito eu me apaixono! — brinco, pegando as flores.
— Que porra é essa de dar flores pra minha mulher? —
Damon soca o ombro do amigo. — Perdeu a vontade de viver?
— Ai, seu bruto! — Ethan esfrega o braço atingido e faz
careta. — Lia, vai deixar esse insensível me agredir?
Reviro os olhos e vou guardar as flores, Damon continua
encarando o amigo de cara fechada.
— Obrigada pelas flores, Ethan! — agradeço e o idiota sorri.
— Sabe que se quiser casar comigo estarei aqui, não é, gata?
— provoca e reviro os olhos.
— Vamos logo antes que eu tenha que tirar meu noivo da
delegacia — falo passando por eles.
Damon vem ao meu lado e abraça meu ombro e olha feio para
Ethan. Homens.
— Será um homem morto se der uma pétala para ela! — rosna
e me aperta.
Como eu já disse, White é um idiota.
— Lia, me diz a macumba que você usou pra segurar o
Damon! — provoca e passa por nós. — Quero me prevenir!
O caminho até o carro é feito pelos dois idiotas se provocando
e eu sendo o veredicto a cada discussão.
— Eu não vou vestir um terno branco! — Damon diz firme.
— Lia, diz pra ele que terno branco dá sorte!
— O casamento é meu e me recuso a usar terno branco!
— Como seus filhos vão te reconhecer? Todo mundo está
cansado de te ver vestido de preto! — Ethan diz sua lógica idiota.
— Eu acho que o fato de estar em uma igreja com a noiva vai
ajudar muito na diferenciação! — ironiza.
— Não ia querer seu genro vestido de branco?
Seguro a risada e continuo no meio da briga pela cor do terno.
— Eu nem me casei… Por que está pensando no casamento
dos meus filhos?
— Não me diga que não querer várias crianças catarrentas
correndo pelo seu apartamento e destruindo tudo? — Ethan provoca.
— Cala a boca, White! — grito quando paramos próximo ao
carro. — Não ofenda meus filhos!
Damon sorri orgulhoso e me olha.
— Viu por que ele precisa de uma mulher?
Aceno e entramos no carro.
— Eu estou ótimo nessa vida de solteiro sem meu melhor
amigo traíra! — Ethan diz e me olha. — Nada contra, gata!
— Para de chamar minha mulher de gata!
— Viu…Eu saio do país e você vira dona de casa!
Rio e Damon bufa.
— Você vai se apaixonar e eu vou fazer questão de deixar
Damon no seu pé!
— Credo! Carter, sua mulher está rogando pragas!
— Serei seu padrinho e vou adorar te ver de branco! —
Damon debocha.
— Nunca!
— Eu cuido da decoração! — provoco e Carter ri alto.
— Porra, vocês se merecem!
— Sabemos! — dizemos juntos e Ethan revira os olhos.
— Vou procurar outro parceiro de festas…
Capítulo 10

Lia Harper

Assim que o carro de Damon estaciona, todo plano maléfico


que fiz sobre esta noite começa a perder o sentido. Estamos indo
para a cova dos leões! Onde eu estava com a cabeça para aceitar esse
tipo de coisa?
— Isso não irá dar certo! — digo alto chamando a atenção dos
dois homens ao meu lado.
— Você está subestimando a minha capacidade de estragar
uma festa, gata! — Ethan põe a mão no peito fingindo estar
ofendido.
Olho em volta e percebo que de fato a noite promete! Parece
que a cidade inteira veio para inauguração e olha que é segunda-
feira! Queria eu ter a tranquilidade dessas pessoas para vir à boates
no início da semana.
— Relaxa, meu amor, não é como se fosse a primeira vez que
detonamos uma festa — Damon diz segurando minha cintura. —
Aprecie o show!
Onde eu me meti?
— Se eu for presa… Você vai arcar com o advogado!
Ele ri e caminhamos na direção da movimentada entrada, e de
longe posso avistar uma cabeleira azul gritando com um segurança
três vezes maior que ela. Emma.
— Mas que porra de vestido é aquele? — Ethan brada e
percebo que ele olha direto para Emma. — Eu vou matar aquele
projeto de arco-íris!
Antes que eu possa responder ele já tinha saído a passadas
duras até minha amiga.
— O que eu perdi? — digo encarando Carter.
— Eu disse que eles formavam um casal bonito… E que Ethan
está morrendo de ciúmes do Dominic! — responde rindo. —Ele
começou Emma hoje, ela recusou sair com ele, parece que há mais
história aí.
— Ethan com ciúmes? — Desvio o olhar para o casal à frente
gritando um com outro. — Eu preciso da fórmula da Emma pra
conseguir homens bonitos.
Damon para abruptamente e me olha sério.
— Como é que é?
Rio da sua reação e selo nossos lábios demoradamente.
— Eu te amo, Damon, e você é o homem mais bonito que já
vi, satisfeito?
— Nem um pouco! — responde olhando com desejo para
minha boca. — Eu sou o homem mais lindo que você verá na vida!
Acho que vou ter que casar com o ego enorme do meu noivo.
— Metido! — Reviro os olhos e ele me rouba um beijo. —
Mas está completamente certo!
— LIA, TIRA ESSA PRAGA DE PERTO DE MIM! — Ouço
Emma gritar e me lembro que estamos no meio da calçada, alheios
ao mundo.
— CALA A BOCA, ALGODÃO-DOCE! — Ethan grita no
mesmo tom e começo a rir.
— Vamos, Emma! — Seguro o braço da minha amiga e olho
para Ethan. —Você vai ficar lindo de branco! — provoco e Ethan
bufa irritado enquanto Damon ri alto.
— Calem a boca! — diz, passando por mim e entra na boate
resmungando algo sobre smurfs .
Bem-vindos à toca dos leões.
(…)
A música alta inunda meus sentidos e se não fosse o braço de
Damon em torno de mim eu sairia correndo. Emma sumiu em meio
à multidão e o único lugar menos barulhento é o bar. Com
dificuldade, chegamos até o balcão e pude respirar aliviada, não
gosto de bebidas e um de nós precisa estar sóbrio para dirigir.
— Eu fico responsável pela direção! — digo no ouvido de
Carter.
— Não irei beber! Quero estar muito sóbrio para tirar esse seu
vestido provocante quando chegarmos em casa — responde e sinto
meu corpo se aquecer com suas palavras.
Sorrio para ele e ganho um sorriso cretino. Babaca.
— FICO FELIZ EM VER MINHA FAMÍLIA ME
PRESTIGIANDO! — A voz vinda de tão perto nos assusta.
Dominic sorri ironicamente para o primo e me sinto no fogo
cruzado, já que Damon sustenta o sorriso cínico.
— Não poderia perder! Adoro festas!
— Te ver acompanhado é que me surpreende — diz
redirecionando o olhar para mim. — Olá, secretária.
— Olá, Idiota! — respondo no mesmo tom.
Vejo curiosidade estampada no olhar de Dominic, mas tudo
que ele faz é sorri e se afastar de nós. Qual o problema desses dois?
Sinceramente eu nunca entendi o porquê de tanto ódio.
— Merda! — Damon rosna e se afasta de mim. — Ethan está
brigando!
Olho assustada para a multidão se formando em torno de dois
caras e me apavoro.
— Vamos!
— Não! Fica aqui e eu vou lá resolver! — diz me olhando
sério. — Por favor, não saia daqui!
Contra vontade, obedeço. Em que eu seria útil? Quando estiver
a sós com White vou socar aquele idiota. Damon some no mar de
pessoas e fico parada no bar olhando sem interesse para as bebidas
coloridas. Sinto que não estou sozinha, mas não ouso olhar para o
lado para verificar o intruso, sei que Damon não lida muito bem com
o ciúmes.
— O que uma mulher tão linda faz aqui sem uma bebida? — o
intruso diz e tomo coragem para virar o rosto.
Um belo homem de sorriso perfeito e olhos tão verdes que
lembram um gramado diz, mas não é o meu sorriso cretino ou o
olhar irônico que tanto amo.
— Esperando meu noivo para me acompanhar — digo, direta.
O homem nem ao menos se move.
— Seu noivo deve ser um homem de sorte! — diz sorrindo na
tentativa de parecer sexy.
Juro que quis jogar o copo de bebida que ele segura em seu
cabelo lustroso.
— Ele é! — Ignoro sua presença e volto meu olhar para o
barman que faz suas manobras com todas as bebidas chamativas.
— Não quer dançar? — Sinto o braço do estranho no meu
ombro e tento sair, o que resulta em uma tentativa falha. — Só uma
dança, gostosinha!
Ia gritar, mas o homem é arrancado de perto de mim por um
soco. Damon.
— ELA DISSE QUE NÃO! — Ouço a voz grossa, mas não é
de Damon. — SAIA DA MINHA BOATE E REZE PRA QUE EU
NUNCA MAIS VEJA ESSA SUA CARA DE COVARDE!
Com o nariz sangrando, o homem nos olha cheio de raiva.
— Esse aí é seu noivinho? — debocha.
— Não, eu sou o primo do noivo! — Dominic rosna e o outro
homem fica tenso. — Some!
Já vi que temperamento forte é de família.
— Obrigada! — digo e o loiro me olha.
Eles podiam se passar por irmãos se não fosse Dominic em ter
os cabelos tingidos, com o olhar irritado do Carter errado eu me
pergunto se eles por acaso não são gêmeos.
— Qual a parte de se defender de tarados que você não
entende? — diz irritado e cruza os braços.
— Eu tentei, mas ele era muito mais forte que eu! — me
defendo.
O rosto de Dom se suaviza e ele agora procura sinais de algum
machucado. Dominic preocupado?
— Damon me mata e enterra se acontece algo com você,
garota! — resmunga e vê minha cara de confusão. — O que é?
— Eu não gosto de você, Dominic, e não consigo achar um
motivo para estar me ajudando agora!
Ele franze o cenho e depois me encara.
— O fato de não me dar muito bem com meu primo não
significa que vou deixar a mulher dele ser assediada! — diz, sério e
me sinto uma idiota por isso.
— Eu não entendo por que se odeiam tanto! Tudo bem que
você é um babaca ofensivo na maior parte do tempo… Mas
precisavam estar em pé de guerra o tempo todo? — digo
confessando o que penso.
— Babaca ofensivo? — pergunta, incrédulo e afirmo com a
cabeça. — Você fere meu ego dessa maneira, Harper!
— Não se compara ao que você já fez com Damon! — rebato.
— Eu nunca fiz absolutamente nada contra Damon! O fato de
ter sido indicado para ser o novo dono da Imperion foi por causa do
comportamento infantil do meu primo! — se defende e arqueio uma
sobrancelha. — Eu realmente te tratei com falta de educação… Não
me julgue, eu achei que fosse uma vadia interesseira.
Que papo é esse?
— Então por que vocês dois vivem brigando? Até iludir minha
melhor amiga você teve a coragem! — digo me lembrando do
motivo de estar aqui.
— Emma? Eu até menti meu sobrenome pra que não achasse
que estou usando-a como espiã! — diz rápido e como não respondo
ele bufa. — Estão achando que eu me aproximei de alguém da
Imperion pra espionar?
— Você não é o rei da credibilidade — ironizo.
— E o meu primo é o rei das teorias conspiratórias! Eu queria,
sim, ser o CEO da Imperion! Eu também faço parte da família, mas
Damon não é o homem mais compreensível do mundo! — diz com
deboche.
— Seja mais específico! — peço e vejo Dominic ficar
desconfortável.
— Eu dei motivo para ele me odiar… Mas não achei que esse
ódio fosse chegar a esse patamar — confessa e esfrega os cabelos.
Outra mania de família?
— Eu não sei se acredito em você, Dominic — aviso e ele dá
de ombros.
— Não espero compreensão da sua parte, mas quero que
acredite que não me aproximei da sua amiga pra espionar a Imperion
— pede e vejo sinceridade nos olhos castanhos de Carter.
— Acredito nisso.
— Apesar de que assistir Ethan com ciúmes é um ótimo show!
— diz sorrindo e o acompanho. — E aí vem seu noivo…
— MAS QUE PORRA É ESSA?
Me viro e encontro Damon e Ethan fuzilando Dom com o
olhar.
— Você deixou sua mulher sozinha e um bêbado babaca
tentou agarrá-la a força! — Dom diz com irritação na voz.
O rosto de Damon se transforma em preocupação e logo seus
dedos estão passando por todo meu corpo à procura de alguma
indicação de que realmente é verdade.
— Filho da puta! — xinga e me olha com carinho. — Você
está bem? Quer ir embora?
— Estou bem, Dom o expulsou.
O olhar de Damon vai para o primo e penso que irá vir briga
mas me surpreendo quando ele sorri.
— Pelo menos socou o cara? — Ethan entra no assunto,
encarando Dom com suspeita.
— Com vontade! Ele quase desmaiou quando descobriu que
mexeu com a noiva do Damon! — Dom conta e os três riem.
— Eu disse que deveriam estampar camisetas
personalizadas… — Ethan implica e ganha um soco de Damon.
— E você deveria pintar seu cabelo de azul, White! Pra
combinar! — Dom provoca e Ethan para de sorrir na hora.
— Cala a boca, Dominic! — responde, grosso, o que faz nós
três rirmos mais.
— Azul combina com seus olhos, Ethan! — Damon provoca.
— Acho que seu terno branco será substituído por um arco-
íris! — Dom diz rindo e bate na mão de Damon.
O que pode ter acontecido pra eles preferirem brigar ao invés
de serem felizes?
— Que lindo, se juntaram pra me irritar? Viva a família
Carter! — debocha.
— Somos os melhores mesmo! — Damon se gaba.
— Lógico que como sou mais velho, sou o mais bonito! —
Dominic diz sorrindo.
Agora tenho certeza de que ser convencido é uma marca no
DNA.
— Só nos seus sonhos, não é? — Damon responde, irônico.
— Com você se casando eu sou o último Carter solteiro,
priminho! — se gaba e me olha. — Obrigado, Lia!
— Desde quando vocês viraram amigos? — Damon olha feio
para mim.
— Não viramos amigos! Só que podem parar com essa coisa
chata de fingirem que não se gostam! — digo firme e os três ficaram
em silêncio. -Vocês se dão bem quando não estão vestindo um terno!
— O que disse pra ela, Dominic? — Damon rosna e o loiro
suspira.
— Que você tem motivos pra me odiar.
Damon olha para ele irônico e com um olhar sombrio.
— Eu nunca vou perdoar o que você fez! — diz firme e me
sinto um peixe fora d’água. — Não tente se aproximar da minha
mulher.
Dominic suspira e olha para o primo com pesar.
— Eu não vou voltar no passado, mas não tenho interesse em
destruir seu casamento — diz e depois me olha. — Eu não sou um
monstro.
Sem que eu entenda nada, ele sai e o clima fica pesado.
— Você vai me contar tudo o que aconteceu, Damon Carter!
— Olho sério para meu noivo. — Vamos embora!
— Ethan… — Damon começa, mas o amigo afirma em
positivo.
Ele cuidará de Emma, hoje eu vou descobrir o segredo da
família Carter. Mas sei que no fundo Dominic não é o bicho papão.
Vamos ouvir os dois lados.
Capítulo 11

Lia Harper

A corrida até o apartamento de Damon se passou em um


borrão, meus pensamentos estavam focados de mais em teorias para
me dar ao luxo de reparar na paisagem. Agora estou aqui há dez
minutos encarando Carter sem nenhuma explicação e perdendo o
pouco de paciência que tenho.
—Já pode começar a falar — quebro o silêncio e ele suspira.
Damon está sentado no sofá apoiando o rosto nas mãos, sei
que esse é um assunto que ele não gosta, mas eu preciso saber.
— Dominic era meu melhor amigo… Na verdade ele era meu
irmão! — começa e como não digo nada, ele suspira. — Eu confiava
minha vida a ele, Ethan também, e juntos éramos os tão clichês três
mosqueteiros.
É difícil imaginar um passado assim vindo de Dominic e
Damon.
— O que te fez odiar seu melhor amigo? — questiono e me
aproximo.
— Quando estava no último ano da faculdade, conheci uma
garota… — diz com um sorriso triste. —Anabela, ela era a garota
mais popular da faculdade e eu me apaixonei no primeiro instante
que a tive nos meus braços.
Apesar de saber que Damon nunca foi um santo e já teve o
prazer de ter as melhores mulheres em sua cama, dói como brasa
ouvir da boca do homem da sua vida que já amou outra.
— Onde ela está agora? — questiono e torço para ser um local
bem longe.
— Morta — diz, seco, e meu sangue se agita com o
pensamento de Dominic ter matado alguém. —Ela se suicidou.
Respiro aliviada e um pouco culpada por ter desejado mal a
uma alma.
— Onde Dominic entra nessa história?
Carter levanta o olhar e vejo que ele não olha diretamente para
mim, está preso no seu passado.
— Como disse, eu me apaixonei pela aspirante de modelo da
faculdade, namoramos por quase um ano… Mas Bela nunca
correspondia ao meu amor! — ele diz debochando de si mesmo. —
Eu era jovem e rico, futuro dono de uma multinacional, ela teria
tudo se estivesse ao meu lado!
Um temor passa por mim com a hipótese dessa revelação.
— Ela o traiu com seu melhor amigo! — afirmo e Damon me
olha sem expressão.
— Viajei para Roma junto de Ethan para algumas reuniões e
Dominic iria cuidar das coisas por aqui… Foi uma viajem de dois
meses, quando retornei sentindo saudades da minha namorada,
Anabela estava diferente!
Não consigo dizer uma palavra, então me ajoelho à sua frente.
— Eu, como um idiota, acreditei que fosse pressão por estar
namorando um empresário famoso… Mas ela continuava diferente
até que um dia desmaiou em meio a uma de nossas discussões! —
Ele passa as mãos no cabelo nervoso. — A levei ao hospital e
descobri que ela estava grávida!
— Damon… — Já sei onde essa história termina.
— Não, Lia, me deixa terminar! — Ele pede e vejo mágoa no
seu olhar. — Ela estava grávida de duas semanas… A forcei a me
contar com quem ela tinha me traído… E adivinhe a minha surpresa
quando o nome do meu amado primo foi citado?!
— Isso não é motivo para um suicídio! — comento minha
lógica.
— Eu terminei com ela e mandei que fosse pedir auxílio ao pai
do filho dela! — diz sarcástico. — Ao contrário de mim, Dominic
não era tão amoroso… Lógico que ele iria assumir um filho que por
ironia da vida, seria meu parente! Mas era só isso, sem um
relacionamento e sem carreira, Bela decidiu dar um fim com todos
os comprimidos para dormir que tinha…
Abraço meu noivo com força.
— Desculpe exigir que você me conte, Damon! — peço e ele
me aperta.
— Eu te amo e por você eu sinto o que nem Anabela me fez
sentir — diz e me solta. — Você entende o motivo de odiar
Dominic?
Sim. Mas essa história está muito mal contada.
— Damon, você sabe o que aconteceu para seu melhor amigo
te trair assim?
— Não me interessa o que levou Dominic a me trair! Ele me
traiu! — diz rude.
Não insisto, posso estar cometendo um grande erro, mas sinto
que afinal de contas, Dominic não é o vilão.
— Eu sei que você o odeia… Mas já parou pra pensar que ele
perdeu um filho? — questiono e Damon fica tenso.
O olhar abalado responde minhas dúvidas.
— Ele me traiu, Harper… Eu confiava minha vida a ele! —
diz baixinho.
— Amor… Olha pra mim! — peço e ele me encara. — E se
tudo não passou de um mal-entendido?
—Não se engravida de um mal-entendido!
— Dom confirmou que era o pai? — pergunto e Damon desvia
o olhar. — Damon!
— Nunca… Mas Anabela me disse que ele a engravidou e
Dominic nunca desmentiu!
Será que soa tão óbvio para eles também?
— Damon sua ex não era a pessoa mais verdadeira do mundo!
— digo, impaciente e ele me encara confuso. — Você não pode
declarar guerra sem ouvir os fatos! Céus, você é um empresário!
— O fato é que fui traído pelo meu primo, não basta?
— Nunca passou pela sua cabeça que tudo pode ter sido um
plano pra estragar sua amizade? — falo, impaciente.
— Isso não é um filme de ação, Harper! Se quer ficar do lado
de Dominic, fique à vontade! Quero que suma do meu apartamento!
— diz, irritado.
Nocaute. Pude ouvir meu coração ser esmagado assim que as
palavras foram ditas. Damon nervoso nunca é uma pessoa lógica.
— Eu vou, mas estarei te esperando quando estiver calmo! —
digo, lutando contra a vontade de chorar. — Quando voltar a agir
como um adulto, me procure.
Ele nem ao menos me deu ouvidos, subiu para o quarto e tudo
que me restou foi um coração dolorido.
Essa foi a pior parte da noite.
(…)
Abro a porta do meu apartamento e sinto falta da sensação de
lar, Damon dominou minha vida por completo e por mais que eu
tenha uma pequena esperança de que ele me procure, a ideia de uma
vida sem Carter me destrói.
Acordo com batidas na porta e aos poucos meu cérebro se
lembra dos acontecimentos passados. Boate. Emma. Dominic e
Damon e meu coração ruído. Me levanto sem vontade nenhuma e
faço careta por lembrar que ainda é terça-feira e estou
provavelmente atrasada.
Eu não ligo. Não posso ir trabalhar quando meu próprio chefe
deixou claro que não quer me ver. Abro a porta e a figura loira e
imponente entra na minha sala.
— Dominic? — digo, incrédula pela presença do homem a
essa hora em meu apartamento.
— Oi, Lia — cumprimenta, sério. — Eu sei que brigou com
Damon em minha defesa ontem.
Sabe?
— Já está tão popular assim minha separação? — ironizo,
sentindo o peso das palavras.
— Damon me contou… Ele me ligou bêbado e chorando e me
xingando por ter roubado a mulher dele de novo…. — diz fazendo
uma careta. —Ele te ama, se quer saber.
— O que está fazendo aqui, Dom? Seja direto, eu quero passar
meu término sozinha e com sorvete!
Dominic suspira e faz o maldito gesto Carter de esfregar os
cabelos.
— Ele me disse que Anabela estava grávida! — conta e me
olha com desespero. — Eu não sabia que Bela estava grávida!
Hã?
— Como assim? Você pega a mulher do seu melhor amigo e
diz que o filho não é seu?
— Sim, eu e Bela bebemos muito em um coquetel… Eu não
me lembro de nada que aconteceu naquela noite, exceto que acordei
nu com aquela vadia ao meu lado! — diz com repulsa.
— Isso faz de você o pai não acha? — ironizo.
— Lia… Isso foi seis meses antes de Damon ir a Roma! — diz
o fato importante. — Até ontem à noite eu acreditava que Damon
me odiava por isso… Mas eu não sabia e nem era pai do filho de
Anabela!
O mundo ficou em câmera lenta com as palavras finais de
Dom.
— Contou isso para ele? — pergunto preocupada.
— Ele proibiu minha entrada no prédio e do jeito que ele
estava bêbado pelo telefone temo que tenha feito alguma burrice!
Meu coração retrocede a circulação e o possível pensamento
do meu amado cretino sem vida me faz perder o equilíbrio.
— Vamos pra lá agora! — digo firme e sinto minhas pernas
falharem. — Eu não posso perder aquele babaca!
Capítulo 12

Lia Harper

Nunca precisei usar do artifício de ser noiva…Ou ex-noiva de


alguém importante. Mas eu tive que ameaçar até a família do
porteiro que não quis liberar minha entrada, lógico que ter Dominic
Carter reforçou mil vezes meus gritos e ameaças histéricas. Graças a
péssima mania de perder as chaves de Damon, eu tinha minha
própria cópia e é essa que estou usando para abrir a porta do
apartamento de Damon.
— DAMON! — grito escada acima sem me importar com
nada e quase choro de alívio quando o encontro deitado no tapete ao
lado de duas garrafas de bebidas. — Ah meu amor!
Beijo desesperadamente o homem que ainda dorme no tapete
fofo do quarto, inconscientemente ele corresponde e vejo os olhos
castanho-escuros que tanto amo me encararem em surpresa.
— A-amor? — diz, grogue e aliso seu rosto. — Lia, você é
real? Porra, minha cabeça dói..
Beijo seus lábios levemente e sorrio.
— Sou, meu amor, estou aqui.
Eu senti o alívio vindo do homem à minha frente.
— Eu nunca, nunca, nunca mais vou pedir pra se afastar,
minha loirinha — diz me abraçando forte. — Eu preciso de você,
desculpa agir como um pirralho.
— Eu fiquei com tanto medo de ter acontecido algo com você,
Damon… Dominic me disse que estava bêbado!
Seu rosto é uma mistura de confusão e irritação.
— Você estava com Dominic? — pergunta terrivelmente
calmo.
Damon calmo é muito perigoso.
— Ela estava dormindo quando apareci em seu apartamento! -
Dom entra no quarto. —Você me ligou bêbado ontem à noite!
— E por que isso o levou até a minha mulher? — rosna.
Damon precisa ouvir a verdade.
— Damon vamos pro banho e depois teremos uma conversa
séria! — digo e ele não protesta.
Ajudo Damon a se banhar e no final, tudo termina em nós dois
nos amando no box do banheiro, sem pressa e com todo um
sentimento que sentimos um pelo outro. Descemos para sala onde
Dominic está esperando com um olhar perdido. Damon precisa do
amigo de volta, assim como toda casca de mau de Dom precisa ser
trocada.
— Você pode nos deixar a sós, Lia? — Dom diz ainda sem me
olhar.
Damon me encara em protesto, mas beijo seus lábios e volto
para o quarto. Agora eles decidem o que acharem certo.
Fico duas horas deitada que acabo pegando no sono, acordo
sobressaltada e me preocupo se eles se mataram. Corro escada
abaixo e encontro meu noivo jogando vídeo game com Dominic.
Jura? Eu entrei em pânico à toa?
— O que eu perdi? — chamo a atenção dos dois.
— PERDEU A NOVELA MEXICANA DO SÉCULO! —
Ethan sai da cozinha segurando uma bacia de pipoca. — Quase
chorei!
— Dominic me contou tudo! — Damon conta e vem até mim.
— Foi tudo culpa de Anabela!
— Eu nunca gostei daquela vadia! — Ethan resmunga e se
joga no sofá. —Lia é cem vezes melhor!
— Então vocês estão de bem? — pergunto em dúvida e
Dominic sorri.
— Eu não quero mais matar meu primo — Damon comenta e
me abraça por trás. —Você nos trouxe a paz, meu amor.
— Fiz o que achei certo, e faria tudo de novo.
— Cara, vocês parecem aquelas famílias de comercial da
Coca-Cola! — Ethan comenta e joga um pouco de pipoca na boca.
—Vou me sentir excluído por não ter Carter no sobrenome!
— Fico tão feliz por vocês estarem bem! — Olho para Dom.
— Desculpe por ter te tratado mal.
— Eu peço desculpas por ter sido um babaca com você no
escritório e no seu noivado — diz sem graça. —Amigos?
— Claro! Você será minha família um dia.
— Sério, vocês deveriam receber patrocínio da Coca-Cola!
Dom joga uma almofada no amigo e acabo rindo.
— Como vai aí nos arco-íris? — provoca e Ethan lhe olha
feio.
— Cala a boca que você estava pegando ela, não eu! —
responde e vejo decepção na voz de Ethan.
— Foi só duas vezes e eu não sabia que gostava dela!
— Eu não gosto dela!
— Então posso ligar pra Emma e marcar um jantar? — Dom
provoca.
O rosto de Ethan fica vermelho de raiva e só consigo rir.
— Será um homem morto se fizer isso, Dominic Williams
Carter!
— Vai ficar lindo de branco! — Dizemos juntos e Ethan bufa.
— Carters…
Capítulo 13

Lia Harper

O tempo passou rápido após a reconciliação com Dominic,


uma semana em que meus níveis de paciência foram testados ao
extremo. Se caso Damon e CIA estivessem me testando para alguma
prova de TV, eu sinto que passei. Meu relacionamento com Carter
fica cada segundo mais sério, aliás, como resistir aquele olhar pidão
e sorriso safado cada vez que ele pede para que fique mais uma noite
em seu apartamento?
Meu trabalho continua o mesmo, Damon, um chefe pé no
saco, e com todo seu exagero e ordens, Dominic, enfim entrou como
sócio, assim como Ethan na Imperion e descobriram o motivo da
minha paciência ser testada, não é? O três patetas juntos no mesmo
prédio é demais para qualquer ser humano!
— Você me ouviu nos últimos dez minutos, Lia? — Emma
estala os dedos na frente do meu rosto.
Pisco para afastar os pensamentos e foco na minha melhor
amiga com o cabelo em um tom normal — castanho-escuro —
sentada na cadeira em frente à minha mesa.
— Desculpa, Emy! O que disse?
— Eu estava contando o que o imbecil do Ethan me fez
passar! Ele bateu no meu irmão! NO MEU IRMÃO! — diz
gesticulando eufórica.
Eu quase não acredito que vivi para presenciar Ethan Galinha
agindo como um namorado ciumento, com direito a todo barraco
possível. Emma tem o gênio forte e nosso caro White é tão cabeça
dura quanto ela.
— Por que ele bateria no seu irmão?
A cara dela de indignação era hilária.
— Eu estava no shopping com o Arthur procurando uma roupa
para nosso aniversário no sábado, e aquele babaca estava com uma
oxigenada na loja! Do nada Arthur estava no chão e Ethan se acha
no direito de se meter na minha vida!
Comecei a rir ao imaginar a cara de incrédulo de White ao
descobri que Arthur é irmão gêmeo de Emma e ainda por cima GAY.
— Vocês se gostam! Precisam parar de agir feito idiotas —
digo recuperando o ar.
— Como ele quer que eu acredite que eu sou importante,
quanto ele sai por aí com siliconadas? — diz e vejo a pitada de
decepção em sua voz.
— Ethan nunca levou ninguém a sério, é complicado pra ele.
— E pra mim não? Ele age feito uma imbecil a cada segundo!
— Mas ele gosta de você, precisam sair dessa de cão e gato.
Ela bufa e se levanta.
— Você vive em pé de guerra com o Damon e mesmo assim
vivem um conto de fadas!
Respiro fundo, ela não sabe o tamanho da insegurança que eu
sinto quando estou com Damon. Eu o amo muito e acredito que ele
também sente o mesmo, mas até quando?
— As coisas não são tão fáceis… Também sinto medo —
admito e ela sorri.
— Medo bobo! Por favor, o homem baba por você!
— Não exagera.
— Não estou, ele fica parecendo um panaca quando te vê, com
aquela cara de babão.
— Ethan também — alfineto e ela revira os olhos. — Só você
não vê.
Sem me responder, Emma me mostra a língua e sai da minha
sala revirando os olhos. Ela ainda vai perceber o quanto está
apaixonada pelo White.
Continuo meu trabalho até conseguir arrumar todos os
relatórios que precisam da assinatura do meu querido chefe. Como
boa preguiçosa que sou, uso o telefone ao invés de ir pessoalmente à
sala ao lado.
— Carter! — atende formal e já basta para o meu coração
virar do avesso.
— Oi, Damon
— respondo depois de suspirar. — Preciso de sua assinatura
para alguns relatórios.
Silêncio.
Será que ele me ouviu?
— Certo — ele diz e é impressão minha ou sua voz ficou mais
rouca? — Venha até minha sala.
E simplesmente desliga. Na minha cara! Ignoro a vontade de
bater em meu noivo — talvez beijar — e me direciono para sala do
cretino.
Bato na porta com toda formalidade guardada em mim, mas eu
não estava preparada emocionalmente para lidar com a visão a
seguir:
Damon. Sem camisa. Com o peitoral exposto. Sorrindo. SEM
A MALDITA PARTE DE CIMA DO TERNO. ME ESPERANDO.
— Uau! — foi o que eu consegui dizer depois de processar o
monumento que é meu noivo.
— Vai entrar ou ficar nadando na sua baba?
Quando foi que eu perdi os movimentos do meu corpo?
— Meu coração é fraco! — digo e entro na sala. — Deus…
A risada de Carter atrás de mim só piora meu estado. Eu não
posso ficar como ele no escritório em pleno horário de trabalho!
— Algum problema, Harper? — o bastardo pergunta me
abraçando por trás. — Está tensa…
— Sem. Contato. Físico.
— Que contato? — diz, passando a barba rala pelo meu
pescoço. — Amor…
Cretino, sabe que meu corpo me trai.
— Para de jogar baixo, assine logo os papéis… Damon…
— Depois você me beija?
— Não.
Ainda rindo, ele me vira de frente e faz todas minhas possíveis
objeções irem abaixo.
— Diz não agora — fala sorrindo de canto.
Quem liga pra porra do trabalho?
— Cretino, desgraçado. — Seguro seu pescoço e ele me
encosta na parede.
— Já disse que amo meu trabalho?
— Cala a boca, Carter, e me beija!

Chego em casa e me jogo com tudo no sofá.


— Eu me demito! — resmungo de olhos fechados.
Tirando meu querido momento na sala do meu chefe, o dia foi
uma merda, reuniões, pessoas irritadas. Meus pés doem.
— E quem eu vou irritar? — A voz de Damon soa ao meu
lado e abro um dos olhos. — Ou agarrar?
Bufo e ele sorri.
— Eu quero dormir até o Natal.
— Mas não vai.
— Deixe- me sonhar, homem!
Bem devagar, ele pega minhas pernas e põe sobre seu colo,
começa uma massagem relaxante nos meus pés e sinto vontade de
dormir.
— Vamos marcar a data do nosso casamento — diz enquanto
meu subconsciente só processa o toque. — Ouviu?
— Humm?
— Casar. Eu. Você.
— Também te amo — resmungo.
Não sei como, mas dormi sentindo Damon fazer a melhor
massagem do mundo. Ele não pode ser humano.
Capítulo 14

Damon Carter

Se eu me arrependo de ter pedido minha secretária para ser


minha noiva? Absolutamente não.
No início eu admito que só pensei em tirar meu primo da
jogada e como minha imagem não estava tão boa assim com meus
pais, o que poderia ser melhor do que estar noivo da nora dos
sonhos? Lia seria minha noiva e tinha plena convicção que esse
plano seria perfeito. Isso até passar o tempo com a mulher de sorriso
encantador e não com a “secretária” parte de um plano, eu gostava
de como ela ficava corada cada vez que segurava sua mão, gostava
de ouvir meu nome naqueles lábios que eu me peguei imaginando o
sabor e contava as horas para ficar perto dela. Eu nunca havia
sentido aquilo, nem mesmo com Anabela, e de certa forma eu gostei,
Lia é tão diferente das mulheres que eu conheci, enquanto algumas
querem joias ou sapatos, ela quer hambúrguer e sorvete de uva. Ri
com seus gostos bizarros, sua mania de pôr doce de leite em
praticamente tudo e amava ligar em plena madrugada só para ouvir
um “eu vou te matar” com voz de sono. Eu não menti em momento
algum quando me ajoelhei e a pedi em casamento, eu queria estar
com ela. E foi a melhor noite da minha vida.
Mas precisei ver Harper bater à porta para perceber o tamanho
dos meus sentimentos. Como uma maldita lâmina rasgando meu
coração, percebi que estava amando aquela loira irritante e só Deus
sabe o quanto eu preciso acordar com aquele sorriso.
Uma grande merda estar apaixonado, não é? Mesmo depois de
um dia cansativo, só o fato de ver a mulher da minha vida dormindo
ao meu lado já compensa tudo que passei, cada reunião cansativa,
tudo. A respiração leve me faz sorrir como um perfeito bobo
apaixonado que sou.
Depois de acomodar Lia na cama, começo a tarefa de livrá-la
de toda aquela roupa apertada — demais para meu ciúme — e a
visto com uma das minhas camisas, tão linda! Mas quando acordar
irá querer minha cabeça na bandeja de prata por não ter a acordado
para tomar banho.
Após tomar um banho quente, me deito ao lado da minha
loirinha e mesmo depois de um dia cansativo no escritório ela
permanece cheirando a frutas vermelhas e isso é um mistério, uma
tentação que estou amando.
— Boa noite, amor — sussurro e deixo o sono vir.

Acordo com o irritante despertador e jogo o aparelho longe.


Com esforço, abro os olhos e a primeira coisa que vejo faz meu
coração e pulsação acelerar — sem contar outras partes que se
agitaram — Lia de lingerie secando os cabelos.
O que fiz para merecer essa mulher maravilhosa?
— Ótima vista! — digo e ela se vira.
— Sabe que quero te matar, não é?
Sorrio. Já imaginava.
— Fiquei com dó de acordá-la — comento e passo por ela. —
Estava cansada, e linda dormindo.
Começo a me arrumar para o trabalho e sou acompanhado
milimetricamente pelos olhos de Harper, devo admitir que isso faz
meu ego inflar mais que o necessário. Que homem não gostaria de
acordar com uma mulher incrível e ser objeto de seu desejo?
— Ontem foi bem cansativo, espero que hoje seja menos
corrido, não acho que posso suportar outro cliente mimado.
— Sempre estou à disposição para liberar o estresse —
provoco, sorrindo de canto e ela rola os olhos.
— Onde está seu profissionalismo, Carter?
Uma pergunta sem resposta.
— Eu sou um excelente profissional! — informo, prendendo o
nó de minha gravata. — Mas o que eu posso fazer se não resisto à
minha secretária?
Como o esperado ela cora e meu sorriso se amplia. Onde foi
parar toda minha tese em que se apaixonar era um risco? Em menos
de seis meses eu perdi qualquer controle sobre minhas emoções!
Culpa exclusivamente de uma pessoa: Lia Harper.

Em toda minha vida, sempre soube o que fazer em horas de


desespero. Sou um líder nato e isso não pode ser negado, porém,
desde que comecei meu relacionamento perdi essas tão úteis
qualidades. Eu sinceramente não sei o que FAZER!
Lia me evitou a manhã inteira e de acordo com minhas
reavaliações do que poderia ter feito para deixá-la irritada, não
encontrei nada! E como última opção, fiz o que qualquer um faria no
meu lugar: Chamei meus melhores amigos.
O que não é lá uma ideia inteligente.
Por mais que Dominic tenha errado, eu também errei em
acreditar na vadia da Bela e não no meu melhor amigo. Passado.
Agora o bastardo tem até uma vaga no meu prédio!
Cinco minutos depois, a porta da minha sala é aberta e dois
homens engravatados entram e se acomodam com a maior cara de
pau no sofá no extremo da sala.
— Em que merda você se meteu? — Ethan pergunta e me
lança um olhar curioso.
— Lia… — resmungo e eles me olham debochados. — Ela
me evitou o dia todo!
Dom ri e sinto vontade de socar aquela cara oxigenada.
— E você não faz a mínima ideia do porquê, acertei? —
Minha careta responde sua pergunta. — Isso é mau!
— Deve ser esse lance de casamento… Ela deve estar
superagitada! — Ethan comenta, dando de ombros.
O problema é que não movemos um músculo para falar sobre
o casamento. Será que ela acha que estou a enrolando?
— Vocês não mencionaram nada sobre o casamento, né? —
Mais uma vez Dominic acerta.
— Qual é? Profeta Dominic? — ironizo e o bastardo ri. — Eu
mencionei ontem que podíamos marcar a data!
E ela dormiu, completo mentalmente.
— Já parou pra pensar que vocês pularam todo estágio de um
relacionamento?
Olho para Dom com a minha melhor cara de sonso. Quando
foi que ele virou vidente?
— Se explica, loira! — Ethan pede.
E toda aquela pose de homem de negócios invade meu primo.
Porra, ele poderia ser menos teatral?
— Você, Damon, já a pediu em casamento de primeira! — diz
calmo. — Foi falso no início e agora que é real, continuaram de
onde estavam! Ela pode não estar pronta pra subir em um altar
agora!
Já disse que odeio aquele oxigenado e suas verdades?
— Quer que eu cancele meu casamento?
— Não seu idiota! — foi a vez de Ethan se manifestar. —
Pede ela em namoro!
Como é?
— Faça direito… Namore… Depois pede ela em casamento…
De novo! — Dom completa.
Será que eu preciso disso? Eu não quero ser o namorado dela!
Quero deixar bem nítido que ela é minha! Meu lado racional sabe
que é burrice, mas meu lado ciumento/ homem das cavernas clama
por isso.
— Até porque, Dominic não prestou pra filmar seu pedido e
como eu estava em Roma… Quem vai mostrar pros seus filhos sua
vergonha? — Ethan diz como se esse fosse o motivo principal.
— Eu queria que Damon se engasgasse com o anel… — Dom
diz e arqueio uma sobrancelha. — Vai dizer que você estava
adorando minha presença?
Dou de ombros, é estranho que o cara que causou meu
término, foi o mesmo que me fez me aproximar da minha secretária
e que hoje amo.
— Chega de novela mexicana! — Ethan resmunga e me olha
em expectativa. — Vai pedir sua noiva em namoro?
Seria cômico se não fosse trágico.
— Vai ser o melhor pedido de namoro que esse mundo já viu!
Ela só precisa aceitar! É, bem… Na pior das hipóteses, ela vai
ser minha noiva de qualquer forma.
Capítulo 15

Lia Harper

— Você é burra! — Emma grita mais uma vez enquanto anda


pela sala do meu apartamento.
Eu simplesmente surtei, sei que Damon me ama e sou
completamente apaixonada por aquele babaca, mas marcar a data do
casamento? Eu não estou psicologicamente preparada para isso…
Não agora! Os motivos que levaram a esse noivado foi uma farsa e
uma parte dentro de mim insiste em me lembrar disso sempre que
possível.
E se ele se arrepender?
Afinal de contas, com a amizade de Dominic eu sou
totalmente descartável. Maldita insegurança.
— Ele pode estar confuso, Emma!
— Ou você pode estar arrumando desculpas! Lia, o Carter te
ama e você fica aí choramingando!
— Você pode ter razão — digo baixinho.
Preciso parar de pensar no pior e viver meu presente, não vou
saber se não tentar.
— É claro que eu tenho razão! Eu sempre tenho razão! —
Emma diz gesticulando com os braços. — Pega esse telefone e liga
para o gostoso do seu noivo!
— Hey!
— Ele é gostoso, não é? — ela diz, dando de ombros.
Pego o telefone com as mãos trêmulas e rezo para que Damon
não esteja me odiando, o humor dele é igual ao de uma mulher de
TPM. Disco seu número e espero chamar.
— Carter — atende formalmente.
— Oi, amor! - digo apelando para o sentimental.
Silêncio e logo depois um barulho de algo se quebrando.
— Você quebrou um vaso de cristal, seu idiota! — A voz de
Dominic ao fundo me assusta.
— Damon? — chamo.
—Oi, meu amor! Lia, será que posso te ligar mais tarde?
— Está tudo bem? Você está bravo comigo? — pergunto e
ouço um barulho de algo caindo. — O que foi isso?
— Lia, você é o amor da minha vida! Não estou bravo com
você… Ethan você vai quebrar isso, seu imbecil! — ele grita a
última parte.
O que esses três estão aprontando?
— Damon, o que está acontecendo?
— Estamos jogando vídeo game!
Sinto que é mentira, mas não insisto.
— Ok…Posso ir dormir aí hoje à noite?
— Claro… Eu te busco às 22h! — diz empolgado. —Te amo!
Tchau!
Ele desligou na minha cara! Eu conheço Carter, e sei que ele
está aprontando!
— E então? — Emma pergunta animada.
— Ele está aprontando alguma coisa! — conto.
— Não deve ser nada… Que tal a gente assistir a um filme?
Aceito, hoje eu descubro o que Carter está fazendo.
Capítulo 16

Damon Carter
— E se ela disser não? — pergunto apavorado.
Falta dez minutos para buscar Harper e simplesmente perdi a
capacidade de controlar minha respiração. Ela vai perceber de cara
que estou aprontando algo, isso se já não percebeu. Passei o resto do
dia organizando tudo no “nosso” apartamento, flores, velas e tudo
que Dominic achou de romântico.
Tudo que preciso fazer é criar coragem e fazer o pedido.
Talvez devesse ter tomado uma bebida. Ou duas.
— Se ela negar, eu posso ficar com as velas? — Ethan grita do
outro lado do telefone.
— Óbvio que não, eu comprei, portanto minhas velas — Dom
responde.
Meu nível de desespero é tanto que deixei esses dois idiotas
organizarem meu pedido de namoro.
— Ninguém toca nas velas!
Se ela negar, terei um instrumento para queimar aquele
apartamento.
Dramático?
Nunca disse que não era.
— Damon, você irá se atrasar! Quer morrer antes do sim? —
Dom debocha.
— Estou pronto! — minto.
— Está tremendo feito um marica, não está? Dominic eu disse
pra irmos com ele!
— Calem a boca!
Grito e desligo ao som da risada de Ethan.
Bastardo. Deveria ter ficado em Roma.
Não preciso de mais dois motivos para me estressar. É agora
ou nunca.

Respiro fundo e bato na porta, preciso agir naturalmente, Lia


me conhece bem.
A porta é aberta e abro um sorriso.
— Oi, babaca.
— Emma? — digo surpreso — Que cabelo é…
— Optei pela normalidade.
— Nascer de novo ajudaria — ironizo e ela me mostra seu
dedo médio. — Tanto pelas boas maneiras.
Carson sorri inocente e eu sinceramente me pergunto o quanto
ela está próxima de Ethan, os dois são do mesmo nível de
irritabilidade, e pelo que percebi do meu amigo, Ethan está ficando
apaixonado por ela.
Deus nos ajude.
A que ponto cheguei? Minha recepcionista é uma força da
natureza com meio metro, minha secretária é a mulher da minha
vida, estou com medo de descobrir que meu faxineiro na verdade é
meu irmão perdido.
Algo como uma novela mexicana.
— Entra. Lia está se arrumando. — Ela me dá passagem e juro
que olhou pra minha bunda. — LIA O SEU GOSTOSO CHEGOU!
Porra.
— Porra, Carson, se fosse para gritar eu mesmo faria — digo
com as mãos no ouvido. — O Ethan vai ficar surdo antes dos 30, é
desse jeito que vai gritar sempre?
Emma fecha a cara assim que menciono o nome do meu
amigo, ela pode negar, mas eu não sou idiota, vejo sua reação toda
vez que White está por perto, ou quando ele joga seu charme. Ela
pode fingir que não, mas eu sei que guarda cada bilhetinho que
Ethan joga em sua mesa na recepção.
Sim, o idiota apelou para bilhetinhos sujos.
— Não diga o nome daquele Neandertal perto de mim!
— Quando acabarem com esse jogo de resistência eu vou
fazer questão de promover o terno branco.
Ela resmunga.
—Vocês idiotas e essa ideia de terno, se preocupe em ensinar
seu amigo a manter o pau dentro das calças, eu não estou na fila para
ser mais uma do bilionário.
Ela tem um ponto.
— Não acredito que ele esteja com outra, Emma.
— E a siliconada no shopping certamente o estava agarrando
por frio… — ironiza —Esqueça esse assunto, Carter, nem todos nós
são como você e Lia.
White vai ter que lutar aqui.
— Oi.
Ouço a voz da minha mulher e automaticamente me viro.
Puta merda.
—Tudo isso para mim? Toda beleza do mundo?
Lia veste um vestido preto e seus cabelos caem em cascatas
douradas, como um anjo. Tenho certeza que seres celestiais se
parecem exatamente assim.
— É apenas um vestido, mas vejo que está de terno, iremos a
um lugar requintado? Devo me trocar?
Burro.
— Apenas hábito, querida, vamos?
— Está tudo bem? — questiona.
Será que ela suspeita?
— Perfeitamente.
Meu celular vibra e Ashley, a florista, diz que está tudo pronto
com as flores e que amou minha escolha.
Claro que amou, eu paguei muito bem para meu apartamento
ficar impecável e romântico.
Lia olha para meu telefone e por sorte parece que não leu a
mensagem.
Sorrio para disfarçar e rezo aos céus para tudo isso dar certo.
— Vão logo, sejam feliz e façam bebês.
Harper sorri e revira os olhos.
— Emma!
Pisco para Carson.
Foi inevitável sorrir maliciosamente enquanto Lia ficava
vermelha.
— Adeus, Emma.
Vamos calados até o carro e todo meu nervosismo me deixa
trêmulo.
— Me perdoa por te ignorar, eu estive muito ocupada com
meus próprios pensamentos e inseguranças. Não queria agir como
uma colegial.
— Eu te entendo, querida, vai precisar mais que isso para me
afastar, minha loira.
— Não quero te afastar.
Seguimos em direção ao meu apartamento com o silêncio e
meu nervosismo.
— Você está estranho, Carter, aconteceu algo?
Sim.
— Trabalho.
Digo a primeira coisa que penso.
— Sou sua secretária, Damon, sei com o que trabalha, isso tem
a ver com as flores e Ashley? Eu li a mensagem.
Olho chocado para ela.
— Está insinuando que te traí?
— Eu não sei, você é um traidor, Damon?
—Mas… De onde tirou isso, Harper? Eu não estou traindo
você!
Isso me irrita. Eu não sou a porra do seu ex.
— Você está agindo estranho, eu posso ver a mentira pairando
aqui, e sinto cheiro de perfume de lavanda em você. Um perfume
muito barato se quer saber.
Ela diz baixinho e vejo lágrimas contidas em seus olhos.
Ah porra. Malditas velas aromáticas!
Paro o carro e ela desce mesmo que perceba que gostaria de
não estar aqui.
— Eu não estou te traindo, vamos subir lá, você vai entender.
— Não, me explique aqui, Damon, por favor.
Não?
— Não? — digo desesperado. — Lia esse cheiro não é de
mulher nenhuma, porra.
Ela ri irônica e começo a temer. Mulheres não são legais
quando dão esse sorriso.
— Quer que eu acredite que trocou seu perfume caro por
lavanda barata? Eu não acredito.
Eu mato Dominic. Mato Ethan.
— Amor vamos para o apartamento — peço calmamente. —
Te provo que não te traí, por favor.
— Eu preciso que me explique, Damon, não vamos resolver
essa discussão com sexo, não vou subir ou isso irá acontecer.
Ah merda.
— Droga, Harper, você está estragando tudo.
— Eu? Escuta aqui seu…
Pego Lia e a jogo por cima do ombro. Medida de emergência.
— Pare de se mexer, eu vou te mostrar uma coisa.
— ME COLOQUE NO CHÃO! SOCORRO!
Aceno para o porteiro que nos olha espantando.
— Ela bebeu — falo para ele.
— EU NÃO BEBI! DAMON!
Faço o caminho até meu apartamento
Destravo a porta e entro, o local está aromatizado pelas
malditas velas, pétalas de flores e arranjos por toda parte.
Tiro ela do meu ombro e abro os braços no centro da sala.
— Era isso que eu estava fazendo, preparando uma surpresa
para mulher que eu amo! — falo e chuto uma vela apagada. — Você
tirou conclusões de mim e desconfiou do que sinto na primeira
oportunidade, como eu devo me sentir, Lia?
Ela olha para tudo com assombro.
— Você fez isso?
— Ethan e Dom ajudaram… Descobriu de onde vem o cheiro?
— ironizo.
— Velas…
— Exatamente! Sem nenhuma mulher, vai querer conferir no
resto da casa? Eu espero.
Seu olhar arrependido é nítido, mas ela me magoou.
— Estraguei tudo?
— Sim! Você estragou, pensou o pior de mim e deixou suas
inseguranças foder com tudo.
— O que pensaria se fosse eu ao estar com um perfume
masculino?
Dou risada.
— Te daria uma chance de se explicar.
Ela abaixa o olhar.
— Me perdoa, eu só… tenho medo que você me troque, eu
tenho medo que perceba que não sou tão boa, apenas a secretária
órfã, eu fui rejeitada tantas vezes que acreditar que finalmente
alguém realmente me quer vai contra todos meus medos.
Ouvir seus medos mais profundos me fazem pensar no que ela
sofreu ao longo da vida sem os pais.
— Eu te amo, Lia Harper, você precisar ter fé nisso. Em nós.
— Eu te amo, Damon.
Rio e retiro a caixinha com um fino anel de prata e me ajoelho.
Ela arregala os olhos.
— Eu sei que começamos na ordem errada e que pulamos toda
fase normal de um relacionamento, eu quero me casar com você,
Harper, quero ter você como minha esposa, mas antes, você aceita
ser minha namorada? Eu quero te provar que seremos o melhor e
que eu vou ser o melhor para você.
Capítulo 17

Lia Harper

Namorar.
Sorrio por pensar em como isso me surpreendeu.
— Lia, estou esperando sua resposta. Amor?
Ele de joelhos é tão lindo que quero beijar.
— Sim, claro que sim!
Ele suspira aliviado e com delicadeza põe o anel prateado em
meu dedo anelar junto com o meu anel de noivado. Rio com a
atitude. Terei uma coleção de anéis no meu relacionamento com
Carter.
— Ótimo! O próximo anel no seu dedo será nossa aliança —-
diz e dá aquele sorriso que tanto amo.
— Espero que não haja lavanda na próxima.
— Eu mato Dominic.
Olho ao redor e sorrio ao ver o quão magnífico ficou a
decoração.
— Ficou tudo lindo.
Ele me puxa para si e me envolve num abraço apertado. São
essas pequenas demonstrações de carinho que me fazem o amar
ainda mais.
— Eu te amo, Harper. — sussurra em meu ouvido e distribui
beijos em meu rosto. —-Namorada.
Me perco na sensação agradável de ter Carter tão próximo e
me deixo ser guiada escada acima em direção ao quarto.
— Me promete uma coisa?
Interrompo o beijo e o encaro.
— Tudo que quiser, amor.
— Sem mais desconfianças.
— Eu prometo, Damon.
Tinha que ser tão sexy?
— Acabou de me pedir em namoro e já quer me levar pra
cama?
— Exatamente.
Rio e dou um gritinho quando ele me joga na cama.
— Que romântico!
— Não sou bom em ser romântico — diz sorrindo,
maliciosamente. — Mas se isso melhora as coisas — ele se deita por
cima de mim e olha fixamente para meus olhos —, eu vou te foder
com todo amor do mundo.
Dou risada e ele rasga meu vestido.
— Eu espero que sim.
Seus beijos descem pelo meu corpo e chegam até minha
calcinha de renda. Ele sorri e a puxa.
— Não está rindo agora, secretária?
Quando estou totalmente nua e ele ainda em seu terno, seus
dedos traçam caminho pela curva do meu corpo. Em um único
puxão ele me vira de bruços e prende meus braços atrás das costas.
— Eu vou te lembrar por que sou o chefe.
Sinto minha nádega direita arder.
— Damon!
— Estou aqui namorada, estou aqui.
Capítulo 18

Lia Harper

Giro o anel prateado no meu dedo anelar e sorrio sozinha.


Como um simples objeto pode causar tanta felicidade a alguém?
Nunca fui materialista, muito menos tive muitos luxos durante a
vida. Meus pais foram pessoas simples e logo após a morte deles em
minha adolescência, viver com minha avó não foi uma época muito
farta.
É triste não ter uma família para onde possa correr. Invejo
Damon por isso, ver como seus pais me aceitaram é muito mais do
que uma simples felicidade, ele não me deu somente seu amor, me
proporcionou uma família. Eu o amo incondicionalmente por isso.
— No que está pensando?
Olho para o corpo deitado ao meu lado e sorrio. Tão lindo.
— Em como estou feliz ao seu lado.
Ele abre aquele sorriso que abala meu coração e me puxa para
mais perto.
— Nunca imaginei amar alguém assim.
— Ainda é difícil acreditar que você realmente me ama.
— Prometeu não ter mais dúvidas, Lia..
Suspiro.
— Certo, é difícil chutar minhas inseguranças assim, mas eu
vou tentar.
Ele se apoia sob um braço e me olha sério.
— Mas para que fique claro, não escolhi te amar, Harper, no
início só queria uma noiva ideal e que me odiasse —diz acariciando
meu rosto —, mas você dominou minha vida completamente. Não
consigo acordar sem você comigo, não sei viver sem suas brigas ou
sem encontrar seus saltos pela casa.
Luto contra a emoção.
— Damon…
— Eu preciso de você para ser quem eu sou, Harper —
continua e limpa minhas lágrimas. — Não sei em que momento me
apaixonei, mas você pegou meu coração.
O beijo lentamente e volto a deitar em seus braços.
— Você também pegou o meu.

Acordo na cama sozinha e penso seriamente em não levantar,


mas meu estômago não parece concordar com essa opção.
Visto uma blusa de Damon e saio pelo apartamento na
esperança de que ele esteja cozinhando algo, porque devido as
minhas habilidades culinárias, ficaríamos com fome.
A primeira coisa que percebo quando entro na sala é que não
há sinais das pétalas ou das velas. A segunda coisa que percebo é
que Ethan está de pé no balcão da cozinha dublando alguma música
invisível.
Acho que vi errado, esfrego os olhos e encaro incrédula a
performance de White e de quebra Damon está ajudando tocando
uma guitarra imaginária.
Ethan eu entendo.
Damon?
— Onde é o show?
Eles se assustam com minha voz e olham na minha direção
com a melhor cara de surpresa que já vi na vida.
— Oi, amor. — Damon vem até mim. — Dormiu bem?
— Dormi… Desculpa por atrapalhar o show.
Ethan desce do balcão e me joga um sorrisinho debochado.
— Ah… Isso? — Ele ri forçado e encara o amigo. — Ethan é
louco!
— Eu sou louco? Você estava imitando o Kurt Cobain e eu sou
o louco? Que belo amigo você é!
Rio e Damon revira os olhos.
— Obrigada por ter ajudado Carter na decoração — agradeço
e ele sorri.
— Viu só?! Ela reconhece meu esforço! Lia, a partir de agora
você é minha melhor amiga.
Damon arqueia uma sobrancelha e é notável o ciúme. Só não
sei definir se é de mim ou de Ethan.
— Desde quando você tem amigas, White? A Lia é no
máximo sua colega.
Exagero é explícito.
— Ela se tornou minha amiga no momento em que me dá mais
valor que você.
Opa.
— Para de ser exagerado, Ethan! Eu te dou valor!
Juro que White merece o Oscar.
— Quando foi a última vez que você me agradeceu por ter
rodado a cidade atrás de decoração romântica? Ou por ter gastado
meu tempo comprando flores?
— Quer que eu diga eu te amo? — Carter diz irônico e passa
por ele. — Para de drama, Ethan.
— Viu só, Lia! A gente cuida, dá carinho, cafuné, abraço e é
isso que recebe em troca! — provoca e seguro o riso. — EU
QUERO DIVÓRCIO!
Grita dramático e me abraça por trás.
— Lia, ainda há tempo de largar ele e ficar comigo, eu sou
mais bonito.
— Eu sou mais bonito! — Damon me puxa dos braços do
amigo.
Olho para o cara com o humor mais exagerado que já vi e rio.
Ethan é o tipo de amigo que sempre quis.
— Deixo essa parte para Emma — digo e ele faz careta.
Damon ri alto e começa a cozinhar.
— Amor, o que aconteceu com o cabelo colorido?
Vejo Ethan nos olhar interessado e resolvo fazer uma pequena
brincadeira.
— Ela pintou o cabelo porque o homem que ela conheceu é
muito sério — minto e Damon franze o cenho. — Lembra do Cara
que ela mencionou?
Carter saca minha jogada e sorri exageradamente.
— Ah, ela parece muito interessada nele! Viu como ela sorriu?
— Damon diz segurando o riso.
— Como assim a Emma pintou os cabelos por um cara? Se ele
gostasse dela não pediria que mudasse, que porra é essa? — Ethan
diz, sério.
Ciúmes!
— Ele parece gostar dela sabe? Vive demonstrando isso —
digo, dando de ombros. — Emma gosta de carinho, Ethan, não de
ceninha de ciúmes.
Vejo White fechar as mãos em punho e bufar. Touché.
— Foda-se o carinho dele! Ninguém vai mudar a porra da
minha fadinha! — rosna e anda feito um animal enjaulado pela sala.
— É aquele babaca que estava com ela no shopping?
Ele ainda não sabe que Arthur é o gêmeo dela?
— O próprio! — minto.
— Não é mais! — diz, sério e pega as chaves do carro na mesa
de centro. — Onde sua amiga está, Harper?
Isso não estava nos planos.
— Ethan, você não tem direito algum de brigar com minha
amiga.
Ele se aproxima de mim, sério, de um jeito que nunca vi. Acho
que essa é a cara que ele faz nos negócios.
— Diga onde ela está, Lia, ou eu vou descobrir sem você, está
na hora de eu provar para Emma que eu sou tudo que ela precisa.
Bem, bem.
— Meu apartamento — digo e ele sai apressado. — Ethan?
Ele se vira e suspiro.
— Se não for pra fazê-la feliz não vá até lá.
Ele me dá as costas e sai batendo a porta com força.
— Eles vão se matar — Damon diz rindo.
— Espero que se acertem — digo, sincera.
Me sento na bancada e Carter me rouba um beijo.
— Quem é o cara do shopping?
Solto uma risada ao lembrar.
— Arthur Carson, gêmeo dela — digo.
Ele ri alto e nega com a cabeça.
— Dominic precisa saber disso — diz recuperando o fôlego.
— Vou começar a me preparar para o casamento.
— Carter!
— O quê? Ethan está caído por uma mulher! Eu mereço no
mínimo estar presente pra registrar! — zomba.
Reviro os olhos e rio.
Tomara que Emma não mate Ethan no meu apartamento.
Ou pior…
Capítulo 19

Ethan White.

Não é ciúmes. Não é ciúmes. Não é ciúmes.


Puta que pariu é ciúmes.
Soco o volante com força e xingo mentalmente cada carro que
anda lentamente na minha frente. Maldita hora que fui me interessar
por aquela anã colorida. Quando cheguei de Roma foi a primeira
pessoa que vi ao chegar na Imperion, linda e toda pequenininha com
seu cabelo azul, uma fada. Devo admitir que usei meu charme, mas
para minha total surpresa ela me rejeitou.
Ela me rejeitou!
Me empenhei cada vez mais, bilhetes com palavras sujas, e-
mails com descrição do que eu pensava, o risco de um processo mas
foda-se eu só pensava nela.
E ela sempre dizia não, qual minha raiva ao descobrir que
Dominic estava com a MINHA arco-íris? Ele não a merecia, droga
ele nem mesmo se importava enquanto eu não conseguia existir sem
pensar na maldita.
O problema foi que na boate, eu consegui meu tão sonhado
beijo dos sonhos. E por mais que tentasse ignorar, era ela que eu
queria beijar, ela que eu queria levar para casa, talvez amarrar na
minha cama. Talvez amarrá-la a mim. Mas eu não poderia voltar a
fingir que não estava caindo por Emma. Droga, eu queria só segurar
minha fadinha nos braços.
Ah, ela me rejeitou, de novo.
Paciência. Ela ainda iria perceber que éramos um belo casal,
não é?
Errado, ela continuou me evitando, então resolvi fazer ciúmes.
Plano genial, minha fadinha iria perceber que me amava e
seríamos lindos e felizes.
Errado de novo. Ela ficou magoada e no dia seguinte estava no
shopping com um idiota. Eu bati no infeliz, mas ela só ficou mais
irritada comigo.
Essa praga colorida.
Então ouço que ela está indo sério sobre o babaca e até mudou
por ele.
Marcho com toda minha raiva contida até o apartamento de
Lia, eu estou pouco me fodendo se tenho ou não direitos sobre
Emma, a única coisa que sei é que irei cometer um homicídio se der
de cara com aquele frango que se intitula namorado da MINHA
arco-íris! Bato na porta sem um pingo de paciência.
— Já vai! — Ouço a voz dela e por um minuto perco
totalmente o foco da minha vinda. — Obrigada pela pizza… Ethan?
Ela está vestindo um mínimo pijama que marca
completamente aquele corpo que está fodendo com minha mente.
— Carson.
Ela continua me encarando sem dar nenhuma palavra. Tão
linda.
— Emy, a pizza é pra hoje?
Uma voz masculina ecoa e o mesmo cara que vi no shopping
surge atrás de Emma com um sorriso e olhar curioso.
— Não é o entregador — ela diz rápido e tenta fechar a porta,
mas não deixo. — Vai embora, White!
— Nem fodendo que vou te deixar aqui com esse babaca! —
Aponto para o homem e entro no apartamento.
— O quê?! — ela grita e segura meu braço. — Quem você
acha que é? Volte para sua loira do shopping.
— AMO BARRACO! — o homem diz e Emma o olha feio.
— Se você não pegar ele eu fico pra mim!
— Cala a boca, Arthur! — ela rosna e me puxa para porta. —
Quem você pensa que é pra vir aqui e ameaçar meu irmão?
IRMÃO?
— Irmão?
— Ele é meu irmão gêmeo, seu Neandertal! Agora vai
embora!
Espera… Sem babaca com a minha mulher?
— Não vou embora! Será que não vê que eu sou e reajo feito
um louco por você, sua smurf do demônio.
Tento me aproximar mais.
Meu erro foi achar que Emma seria fácil.
Só percebi que não foi inteligente quando minhas bolas
estavam doendo e eu de joelhos no chão.
Ela me chutou!
— Acha que pode me tratar como um objeto que usa quando
quer? Na hora que quer? — Tento responder, mas a dor é grande. —
Eu não quero nada com um homem que me trata como mais uma!
— S-se eu pudesse te esquecer não estaria aqui de joelhos
dizendo que você é especial, porra isso dói…
Outro erro meu foi fazer uma piada no pior momento.
— Se quiser algo comigo, terá que se esforçar, White.
— Mais?
— Tadinho, Emy… Não seja cruel!
Arthur diz e recebe um olhar mortal da irmã.
— Não tenho mais nada a dizer! — Ela entra no apartamento e
fecha a porta com força.
E aqui estou eu, no chão do corredor com dor nas regiões onde
o sol não bate, com risco de não poder produzir herdeiros e com
muito ódio da mulher do meu melhor amigo.
Se precisarem de mim, estarei aqui no chão procurando minha
dignidade. Porque o coração (e as minhas bolas) uma certa mulher
ex-colorida já domina.
Eu odeio com todas minhas forças, gostar tanto de Emma
Carson! Se ela pensa que vou correr atrás dela feito um cãozinho
abandonado…
Está completamente certa! Até porque eu já perdi meu orgulho
há muito tempo!
Capítulo 20

Lia Harper

Na vida de uma mulher só existe três coisas capazes de


transformar decepção em superação:
A primeira é Chocolate, porque não existe nada que uma boa
barra de chocolate não adoce.
A segunda coisa é ter longas horas de conversa e filmes tristes
com a melhor amiga e a terceira é nada mais nada menos que fazer
compras.
Eu vivenciei os dois primeiros estágios com Emma e Arthur
nas últimas seis horas. Admito que em parte a culpa é minha por ter
feito Ethan ir até lá, mas não posso me culpar se ele é um idiota e
não soube fazer as pazes com a mulher que ama. O que me resta ao
último estágio.
Ir às compras nunca foi um fascínio para mim, mas para os
gêmeos Carson é como algo sagrado.
—AQUELE É O VESTIDO IDÊNTICO AO DA KIM
KARDASHIAN? — Arthur grita apontando para um manequim de
vitrine.
Arthur é uma versão pior de Emma, todo aquele papo de
gêmeos serem opostos cai por terra com eles. Os dois juntos é como
uma bomba nuclear, causam um impacto impossível de ser revertido.
Ele me conquistou no primeiro minuto de conversa na sala de
desembarque.
—Não, o dela é mais decotado — Emma responde e continua
andando entre as lojas. — Você não acha, Lia?
— Acho o quê?
— Ouviu o que dissemos nas últimas horas?
Não.
— Claro que sim — minto e ela arqueia uma sobrancelha. —
Talvez não tudo…
Não me julguem, fazer compras não é minha atividade
favorita! E nem tenho dinheiro suficiente para sair gastando com
sapatos e bolsas da moda.
— Amada, você está no paraíso do consumo e está com uma
cara de quem perdeu o marido.
— Não gosto de compras — admito.
— Como assim a senhorita não gosta de compras? Emy onde
foi que você achou ela?
Quanto exagero.
— Lia, vamos lá, comprar algo pra você.
— Já tenho roupas novas.
Ela revira os olhos e começa a me arrastar para loja de roupas.
— Qual a graça de ter um cartão sem limites se não se gasta o
limite? — ela diz, irônica. —Tenho certeza de que Damon vai adorar
te ver gastando.
Claro que vai. Ele é um consumista compulsivo.
— Emma, eu já disse que não.
— Lia, caladinha e apenas deixe conosco.
Suspiro, concordar me pouparia de uma discussão.
— Eu odeio vocês — resmungo.
—VAMOS ÀS COMPRAS!

Vestidos, blusas, saias e trilhões de sapatos depois, sou


liberada pela equipe Carson para ir embora. Eu não sinto meus pés,
minha cabeça está explodindo e gastei metade da fortuna do meu
namorado em um dia.
Exagero? Talvez.
Me jogo na cama e respiro fundo. Nunca mais ir ao shopping.
— Como foi seu dia?
Carter entra no quarto, mas estou morta o suficiente para
responder com um gesto sonoro frustrante.
— Odeio shopping!
— Quantas sacolas… — diz e me viro para encará-lo. —
Aquilo é o vestido da Kim Kardashian?
Mais um não…
—Eu. Quero. Dormir. Até. O próximo. Século! — digo
pausadamente e ele ri.
— Como Emma está?
Suspiro. Ela é boa em mascarar as emoções.
— Ela ama o Ethan, isso em si já é mau.
— Ele também a ama, o problema é que os dois são idiotas.
Ethan mais.
Infelizmente.
— Como Ethan está?
— Me irritando! — diz, revirando os olhos e indo para o
banheiro. — Quis matá-lo muitas vezes hoje!
— Dom não estava com você?
— Não falei com ele nos últimos dois dias — diz, pensativo.
— Estranho…
O que será que ele está aprontando?
— Não é um bom sinal.
Damon aparece na porta sem seu terno impecável e perco o
foco por segundos. Merda de homem gostoso.
— Pode não ter acontecido nada, Dominic teria falado alguma
coisa.
— Se tem algo que aprendi trabalhando pra você, quando um
Carter fica calado nunca é um bom sinal.
Não estou com um bom pressentimento em relação a isso.

4:52 AM
— Quem pode ser? — Damon resmunga se levantando.
Raramente é um bom sinal quando alguém bate na sua porta
durante a madrugada. Acompanho Carter até o andar de baixo e
espero que ele abra a porta.
— Dominic? — ele diz espantado.
Dom entra na sala com o rosto cheio de hematomas e com um
corte no lábio inferior, mas junto a ele está um homem que está
igualmente ferido.
— Meu Deus! O que aconteceu? — grito preocupada e
Dominic só dá de ombros.
Dominic olha para o estranho e depois para o primo. E pelo
olhar mortal de Damon, chuto que já conhece essa pessoa.
— Esse é Allan Seller, PAI do filho da Anabela — Dom diz e
minha boca se abre em choque.
Mas que merda é essa?
— Oi, Dammy! — o tal Allan diz. — Sentiu saudades?
— Filho da puta! — Damon grita e é impedido por Dom de
socar o intruso.
Eu estou perdida… De onde esse cara surgiu?
— Eu já bati nele o suficiente.
— Eu vou matar esse filho da puta!
Allan parece estar gostando da cena e até ajeita o cabelo.
— Quanta violência, irmãozinho… Não vai me apresentar sua
noiva?
Irmão?
— Quem é ele, Damon? — pergunto e ele me encara. —Você
não tem irmãos.
Seller ri com gosto e começo a ficar perdida.
— Escondendo a família, que feio, Dammy, papai ficaria
chateado.
— CALA A SUA BOCA! VOCÊ NÃO É MEU IRMÃO! —
Carter grita, mas Allan não perde o sorriso.
— Damon! — chamo.
Meu namorado me olha e penso sobre se conheço mesmo meu
par.
Allan Seller é mesmo irmão de Carter.
— Parece que nosso pai não te deu educação! — zomba e olha
para mim. — Olá, Lia Harper, sou seu cunhado.
Quantas mentiras Damon ainda me esconde?
— Eu quero uma explicação para isso, Damon! — digo, séria
e ele desvia o olhar.
— Vou te explicar! Lia, por favor, não pense demais, é
complicado.
— Adoro reuniões de família! — Allan diz rindo e se
acomodando no sofá. — Tem uísque?
— Três pessoas nesta sala querem te matar, Seller! Cala a
merda da boca! — Dominic ruge.
Allan levanta os braços, mas o sorriso debochado permanece.
— O que é a família sem uma boa dose de intrigas, não é?
Priminho querido!
Tenho medo do que essa conversa vai revelar. Robert Carter
possui um filho bastardo?
— Comecem a contar! Se omitirem uma palavra eu nunca
mais olho pra nenhum de vocês!
— Gostei dela.
—CALA A BOCA, SELLER! — gritam os dois juntos.
Allan revira os olhos e dá de ombros.
— Bem-vinda ao lado sombrio da família, cunhadinha!
Respiro fundo e espero as respostas.
Chega de ser a última a saber de tudo.
— Quem é ele, e por que existe um irmão bastardo?
Capítulo 21

Lia Harper

Entrego uma xícara de café para Dominic e ele agradece com


um sorriso, depois de prestar os primeiros socorros para os dois,
finalmente nos sentamos para pôr as cartas na mesa. Sem todo
sangue, consegui reparar detalhadamente em Allan.
Ele sem dúvidas é irmão de Carter, com o mesmo sorriso
debochado e uma versão de olhos azuis-escuros. Tenho que admitir
que o DNA foi abençoado nessa família.
— Quero a verdade — digo me sentando no sofá oposto a
Seller.
Dominic olha para Allan que está com o olhar para sua xícara.
— Por que ele ganha café e eu não?
— Eu vou matar ele! — Damon rosna, mas Dom o repreende
com o olhar. — Começa logo a se explicar, Allan.
— Eu sou o filho mais velho do tão poderoso Robert Carter
com uma ex-atendente de bar — Seller começa e revira os olhos. —
Como podem ver, eu não sou muito amado pela família.
Robert nunca negaria paternidade. Ou estou errada?
— Por que não é um Carter? — questiono e Allan ri.
— Eu sou um Carter, cunhadinha, mas não gosto muito do
sobrenome, sabe como é, não me dou bem com meu pai.
Não faz sentido.
— Você não é um Carter! — Damon se altera. — É um
bastardo traidor!
Pela primeira vez vejo o sorriso de Allan sumir.
— Sou? Foi o seu querido papaizinho que traiu sua mãe! Você
não passa de um playboy que cresceu em berço de ouro!
— E você um invejoso que faz de tudo pra destruir minha
família! — Damon grita.
Dominic segura o primo e Allan volta a sua posição relaxada
no sofá.
—Que merda! — grito e eles me olham. — Vocês têm quantos
anos? Sentimos muito se você, Allan, não tem o pai que ama, mas
nada justifica ter engravidado a mulher do seu irmão.
— Sentem muito? — ele ironiza e ri. — Me deixa te explicar
melhor… O meu papai me deixou em um orfanato durante dezoito
anos! Ele deixou minha mãe morrer no meu parto porque seria ruim
demais para a imagem um filho fruto de traição!
O choque que as palavras me causam me faz cair sentada no
sofá. Robert… O meu sogro foi capaz disso?
— Meu pai não sabia da sua existência! — Damon diz com
raiva. — Ele não é esse tipo de homem!
Allan o olha e sorri irônico.
— Ouvir que o papai é um mostro te assusta? — zomba e
balança a cabeça. — Ele sempre soube sobre mim, Damon, sempre
soube que o filho estava em um orfanato sendo abusado e
maltratado… Isso é um bom pai na sua opinião?
Eu não sei quem é o vilão nessa história. Seller é a vítima e ao
mesmo tempo o vilão.
— Não acredito em você! — Damon diz por fim.
— Não espero que acredite, não sabe o que é ter dificuldades,
é um bilionário, certo? Um bom empresário, família unida,
desacreditar que o papai é o cara mau faz seu conto de fadas ruir,
não é mesmo?
— Chega, Allan! — Dom diz, sério.
— Sabe, Damon… — ele continua, e dessa vez se aproxima
do irmão. — Eu sempre quis um irmãozinho, e quando te vi pela
primeira vez, achei que seria pelo menos uma vez na vida amado,
mas você é igual ao seu pai.
— Não foi uma apresentação muito boa da sua parte, maninho
— Damon ironiza. — Tinha 14 anos!
Me aproximo de Damon e seguro seu braço com força.
— Parem…
— Quatorze anos, era um ou melhor é um playboy mimado
que nunca olhou pra nada além do próprio umbigo! — acusa e olha
para Dominic. —Você, eu odeio você muito mais do que a ele! —
Aponta para Damon. — Vive se metendo!
— E você nunca supera seu passado! — Dom acusa. —
Sempre o pobre e coitado Allan! Sozinho!
— Fiz um favor ao Damon te afastando!
Olho intrigada para eles e vejo que Damon faz o mesmo.
— Dominic?
— Fui eu que chamei os seguranças na sua festa de 15 anos…
—Dom conta e Allan revira os olhos. —E disse que ele era um
ladrão!
O que?!
— VOCÊ FEZ O QUÊ? — grito e Dom abaixa a cabeça. —
Será que vocês não percebem as merdas que fazem?
— Está dizendo que… — Damon começa a dizer, mas não
termina.
— Que EU fui expulso e preso na casa da minha própria
família por culpa do priminho oxigenado aqui —Allan conta e olha
para mim. —Surpresa, cunhada?
Com nojo é a palavra certa! Como puderam ser tão baixos. E
não aceito o que Allan fez com Damon, mas ele foi mil vezes mais
injustiçado.
— Por que fez isso, Dominic? — pergunto.
— Eu era jovem e não queria que Damon tivesse um irmão —
admite envergonhado. — Foi uma boa ideia no dia.
— Não pensou que EU QUERIA UM IRMÃO? — Damon
grita e Allan o olha surpreso. — Merda! Você o mandou pra cadeia,
porra!
— Eu estou sendo defendido? — Allan pergunta surpreso e
depois ri. — Cara, isso é legal…
Muita testosterona.
— Os três são idiotas! Dominic por ter humilhado Allan,
Damon por ter tratado o irmão com um preconceito que me enjoa e
Allan… Engravidou a própria cunhada! — digo irritada.
Os três homens à minha frente estão com o mesmo olhar
arrependido e bufo. Carters… Três é demais!
— Em Primeiro lugar, Anabela que me procurou e me seduziu
e juro que não transei com ela lúcido! — diz, sério. — E só fiquei
sabendo da gravidez quando ela me ligou dizendo que estava sem
dinheiro… Azar o dela, pegou o Carter pobre!
Espera…
— Dom, disse que Anabela te embebedou antes de transarem?
— questiono e ele acena. — Filha da puta!
— O quê?! Dominic também pegou a vadia? — Allan
pergunta rindo e olha para o irmão. — Chifre duplo?
— Três Carters… Ela queria engravidar! — digo, usando a
lógica. —Mas nenhum de vocês daria a ela a vida que ela almejou.
Eles parecem ter entendido minha lógica.
— Eu sou inocente novamente… Essa vida é injusta, não é?
— Allan diz se jogando no sofá. — Aceito um pedido de
desculpas… Principalmente de você, loira oxigenada!
— Não vou me desculpar! Ainda não acredito em você, Allan!
— Damon rosna. — Meu pai não é um monstro!
— Pergunte a ele se duvida, eu estarei no meu apartamento
classe média onde o playboy nunca pôs os pés! — zomba.
Eles nunca vão crescer?
— Damon! — chamo e meu namorado me olha. — Se Allan
estiver certo?
— Não está!
— Mas se estiver? — continuo e Damon nega com a cabeça.
— Amor…
— Se Allan estiver certo, meu pai irá perder dois filhos! —
diz, sério e encara o irmão. — Não gosto de você!
Robert certamente terá que se explicar.
— Sabe que sou seu irmão mais velho, não é?
— Quer um prêmio por isso? — Damon ironiza.
Allan sorri de canto e não precisa de DNA para provar seu
parentesco com Damon.
— Aceito dinheiro! — diz e Damon ia responder mas Seller é
mais rápido. —Você é bilionário! Essa xícara vale mais que meu
celular!
Realmente.
— E você adora o dinheiro, não é? — Dominic alfineta. —É
isso que quer, não é?
— Primeiro, eu sou tão herdeiro quanto Damon, segundo, eu
tenho caráter, algo que sua majestade oxigenada não conhece!
— Ele tem razão, Damon, não é justo só você ser rico! —
digo, séria.
Allan aplaude e Dom revira os olhos.
— Você é a melhor cunhada do mundo!
— Sou sua única cunhada!
Ele dá de ombros e ri.
— Vou tirar essa história a limpo! — Damon diz, sério e olha
para Allan. — Vamos conversar com meu… Nosso pai!
— Também vou! — Dom afirma.
— Vai porra nenhuma! O único irmão que tenho é o Damon!
Respiro fundo.
— Nunca vão fazer as pazes?
— NÃO! — dizem juntos.
— Essa loira invejosa me mandou pra prisão! Graças a você
eu não pude entrar na universidade que queria, seu filho da puta! —
Allan diz com ódio.
Franzo a testa e Dominic parece culpado.
— Trabalha em que, Allan?
Ele desvia o olhar para mim e sorri, um sorriso orgulhoso.
— Sou pediatra — diz e minha cara vai ao chão. — Eu sei, um
Carter médico é demais para o coração.
Ele realmente me surpreendeu!
— Jura? — Damon pergunta, realmente interessado. — Gosta
de crianças?
Allan sorri de canto e acena.
— Gosto! Aliás, quando terei sobrinhos?
Damon fica pálido e percebo que nunca conversamos sobre
filhos.
— Não agora — aviso e Allan murcha o sorriso — E você?
— A vadia da Anabela matou meu filho — diz, sério e me
arrependo da pergunta —, mas ela não seria uma boa mãe, eu sinto
isso.
Não mesmo! Tudo foi culpa daquela mulher ambiciosa.
Iria me desculpar, mas a porta é aberta e Ethan entra
cantarolando até perceber as pessoas na sala.
— Eu deixo vocês sozinhos um dia e mais um Carter se
multiplica?!
—Oi, Ethan! — Allan cumprimenta. — Estou aqui a força!
White caminha até nós e ri.
— Então, o que eu perdi?
Que dia longo.
Capítulo 22

Emma Carson

9:30 A.M de um sábado.


Olho mais uma vez pela janela e suspiro frustrada, não houve
nenhum pingo de chuva durante toda semana, mas só bastou que eu
decidisse ir correr no parque e o Armageddon se iniciou.
Nada na minha vida tem dado certo, ao começar por minha
mãe que se casou DE NOVO, com um velho com idade para ser
meu avô, e estar me apaixonando.
Sempre me orgulhei de ser livre e independente, sempre fomos
eu e Arthur para sobreviver com uma mãe ausente e carente, que
mais parecia uma adolescente do que uma mãe de fato. Aprendi
desde cedo que minha independência é algo que não quero perder.
É aí que Ethan White se encaixa.
Ele literalmente me olhou por cinco segundos naquela
recepção e sorriu. Eu deveria ter fugido, deveria ter pedido demissão
ali quando senti a atração. Mas o emprego era bom demais para um
engravatado foder com tudo.
Ethan é o perfil exato do tipo de homem que não quero.
Dominante.
Mas então ele estava sorrindo para mim, me chamando para
sair a cada intervalo, deixando bilhetes com frases sujas, me
enviando e-mails com fotos dele.
É difícil resistir quando ele tem charme e humor tão
irresistíveis. Quando ele inventa desculpas para passar pela minha
mesa ou quando ele se atrapalha e apenas assume que queria me ver.
Eu me apaixonei. Por Ethan White, o bilionário playboy.
— Mana, tira essa sua cara de morte!
Arthur entra na sala e sorrio ao ver seu pijama do Pluto.
Minha outra metade é tudo para mim, com uma mãe igual a
nossa e meu pai em algum canto desse mundo enorme, Arthur é
minha única família e o amo mais que tudo.
— Estou entediada.
Ele se senta no sofá e encara a janela.
— Liga para ele, o gatão vai tirar esse seu tédio, seu homem
viria correndo.
— Ele não é meu homem, Ethan é só um babaca com charme
e quer me usar.
— Que você ama…
Sim.
— Ele não é do tipo que se apaixona, logo ele se cansa de mim
e me deixa em paz.
Uma parte de mim deseja que White me esqueça, mas a maior
parte grita e torce pelo contrário. Eu quero que Ethan se esforce por
mim, quero que ele me ame.
— Esse é o seu problema, Emma! — meu irmão diz, irritado.
— Está sempre esperando o príncipe encantado, o cara dos sonhos,
um bom e recatado homem do lar… Mas deixa eu te contar um
coisa, ELE NÃO EXISTE!
Olho incrédula para Arthur, essa é a visão que as pessoas têm
de mim? Não podem me julgar se acredito no amor. Mesmo nunca
ter tido 1% desse sentimento.
— Eu quero ser amada, Arthur! Não descartada no fim das
contas!
— E quem é você para pôr prazo de validade nos sentimentos
das pessoas, Emma? Está julgando o cara sem dar uma chance, mas
só quer esconder que na verdade você está apavorada.
Era tudo que me faltava! Meu próprio irmão do lado de Ethan!
— Eu o conheço! Ele simplesmente nunca repete a mesma
mulher, está sempre em festas! Ele não é pra mim.
Arthur ri e me olha com deboche.
— E você por acaso é uma linda Barbie, não é? — ironiza. —
Maninha, jura que vai acreditar em tudo que leu em tabloides? E
você também gosta de festas e raramente está com o mesmo homem.
Vamos ser sinceros, ele é o ideal para você, se fosse outro homem
mais encantado e molenga não aguentaria um mês.
Eu não quero pensar por esse caminho.
— E quer que eu faça o quê? Deixe meu coração como alvo?
Porque Ethan vai quebrá-lo na primeira oportunidade! — digo sem
paciência.
Não quero chorar mais por ele.
— Exatamente! Se arrisca, Emma! Ele pode sim quebrar seu
coração, mas pode cuidar dele também… Para de pensar no futuro
uma vez na vida. — Ele se altera e se aproxima de mim. — Deixa
acontecer, corações quebrados também movem o mundo.
Não sei se posso.
— Tenho medo, Arthur.
— Eu vou estar aqui se tudo der errado, e juro que soco aquele
rosto maravilhoso. Talvez beije também…
Rio e o abraço. Meu irmão realmente é a metade sensata.

E se ele não atender? E se não me quiser mais? Se estiver com


outra?
— Anda logo, Emma! Liga pra ele, telepatia não funciona fora
do x-man!
Arthur reclama e tomo coragem. Disco tremendo o número do
cafajeste que insiste em bagunçar minha vida. Aguardo e quase
deixo o celular cair quando a voz de Ethan ressoa do outro lado do
telefone.
— Alô?
O lado bom de ser recepcionista da presidência é que sei de
cor os números dos meus chefes. Provavelmente Ethan não sabe
quem está ligando.
— Ethan? — digo num fio de voz.
Silêncio.
Ele deve me achar louca, eu sabia!
— Emma! — diz alto e escuto barulhos de vozes ao fundo. —
Aconteceu alguma coisa? Você está bem? Carson diz alguma coisa,
mulher, eu sou seu número de emergência? Está bêbada, porque se
estiver eu também posso ficar, você sabe, eu tenho muita resistência
ao álcool, mas posso dar um jeito nisso se…
Exagerado.
— Eu não estou bêbada e nem em uma emergência, eu só…
queria te ligar, estou atrapalhando?
— Claro que não atrapalha! Não estou fazendo nada, aliás! —
diz, rápido e escuto risadas ao fundo. — Cala a boca, Allan!
Allan?
— Ethan, eu só… — ele me interrompe.
— Chego aí em dez minutos!
— O quê?! Mas eu não disse nada! — reclamo.
— Para um bom entendedor, uma ligação às 10h da manhã
vale mil palavras! — brinca.
— O ditado não é esse.
— E quem liga pra ditado? — diz, sério.
Por que eu ainda tento argumentar com Ethan mesmo?
— Estou no meu apartamento — aviso.
— Ah, claro — afirma e ouço barulhos de passos. — Carter…
Não vocês dois, o Damon! Onde está a Lia?
— Ethan custa perguntar pra mim? — resmungo.
— Ah é, onde você mora?
Informo meu endereço e ele simplesmente desliga. Na minha
cara!
Não sei se foi uma boa ideia ter ligado para ele, Ethan é
imprevisível!
—E aí? — Thur pergunta com um sorriso. — O cafajeste
apaixonado virá?
— Não o chame assim.
— Já defendendo o bonitão, prevejo um casamento.
Idiota.
— Não pira, garoto, ele está a caminho.
Meu irmão bate palmas e sorri.
— Eu fico até que ele chegue, depois de bancar o irmão mais
velho eu vou dar uma volta.
— Arthur, você não é meu irmão mais velho.
— Querida, quem foi o primeiro a sair da barriga? — Bufo e
ele sorri vencedor. —Exato, eu sou dois minutos mais velho.
— Grande diferença.
O jeito é esperar Ethan com naturalidade.

— A porta! — sibilo em pânico para Arthur. — Abre você!


— Abra você! O macho é seu!
Grande irmão mais velho!
Respiro fundo e abro a porta tentando transparecer calma. Mas
falho assim que vejo aquele sorriso safado que não sai da minha
cabeça.
— O-oi… — tentei dizer algo mais. Ethan foi mais rápido.
Em uma fração de segundos já estava tendo o melhor beijo da
minha existência, e Ethan me prendia contra a parede enquanto
sentia minha alma flutuar. Um homem não pode ser tão bom assim,
Deus!
— Sem chutes, OK? — ele fala assim que para o beijo. — Oi,
fadinha.
Como se respira mesmo?
— Acho que estou sobrando! — meu irmão diz rindo e olha
para Ethan. — Eu volto em duas horas, estejam vestidos.
— Arthur! — grito, envergonhada.
Ethan ri e acena para meu irmão.
— Vou tentar.
— Ethan! — o repreendo.
Meu irmão pisca para mim e sai. O que ele disse sobre
ameaçar o cara ao meu lado?
— Então… O que estamos esperando?
Reviro os olhos e rio.
— Idiota.
— Mas sou o seu idiota — diz, passando os dedos pelo meu
rosto. — Minha smurfizinha, eu sinto muito ter agido como um
estúpido, meu pequeno arco-íris.
— Meu cabelo está castanho — informo.
— Mas continua sendo a minha arco-íris, me deixe tentar,
Emma, me dê a chance de te fazer feliz.
Eu vou me arriscar, mas ele só terá uma chance para provar
que mudou por mim.
— Sim, Ethan, eu deixo.
Ethan sorri e me beija.
— Nós seremos o casal mais lindo deste mundo.
Capítulo 23

Damon Carter.

Não pode ser verdade! Meu pai jamais iria ser tão cruel a
ponto de negar ajuda ao próprio filho! Não o homem que me criou,
que me deu amor e me ensinou a andar de bicicleta. Existe uma boa
explicação para tudo isso.
E ele se chama Allan.
Ter um irmão sempre foi um sonho, mas para minha total
surpresa, no meu aniversário de 15 anos, um cara humilde surgiu na
minha festa com um olhar admirado e dizia ser meu irmão mais
velho. Eu não acreditei, obviamente, era um moleque egoísta e
mimado que acabou por mandar o próprio sangue para prisão. Meu
pai admitiu ter conhecido a mãe de Allan e depois de muitos testes
foi provado a paternidade. Tarde demais!
Allan realmente criou um ódio mortal sobre minha família e
em parte o compreendo, foi humilhado e ignorado pela família. Mas
isso não prova seu lado da história, não acredito que meu pai era
ciente da sua existência antes dos 18 anos. Não é possível.
— Acho melhor eu dirigir… — Escuto Allan ao meu lado e
me viro. — Você não está prestando atenção na estrada.
Realmente. Preciso de foco para o que estou prestes a fazer!
— Eu sei dirigir! — resmungo.
— Eu percebi! — ironiza e olha pela janela. — A casa está
maior.
Entro na propriedade e Allan se remexe no banco.
Provavelmente sua primeira vinda aqui não lhe traz boas
lembranças.
— Ninguém vai te maltratar — informo.
Acima de tudo ele é meu irmão e mesmo se não fosse,
ninguém merece ser humilhado.
— Não tenho muita credulidade nisso… Sua mãe não é minha
fã.
— Aquele foi um dia de surpresa pra todo mundo, Allan, não é
sempre que se descobre que o marido tem outro filho! — defendo.
Saímos do carro e o nervosismo me invade. Deus queira que
Allan esteja errado. Sigo para casa com meu irmão bem atrás
admirando tudo. Não é justo ele não usufruir da fortuna que o
pertence.
Ando a passos rápidos até o escritório do meu pai, ele sempre
está por lá.
— Damon? — Minha mãe surge no corredor sorrindo. —
Filho que surpresa agradável!
Olho para trás e vejo Allan olhando para o teto. Superdiscreto.
— Mãe, viemos falar com o meu pai.
Ela percebe a presença do meu irmão e seu sorriso morre.
— Allan? — diz, surpresa e ele a encara. — Está tão
diferente…
E lá está o sorriso debochado que tenho a leve impressão de
ser idêntico ao meu, ele se aproxima e continua a olhar minha mãe.
— Não pareço o garoto humilde que você humilhou?
Merda!
— Eu não quis lhe ofender, querido…
— Querido? Guarde suas desculpas pra você, Marta, me poupe
das suas palavras.
Não posso o julgar, nada no mundo se compara com a dor que
o fizemos sentir. Se tudo fosse diferente, gostaria de ter um irmão
mais velho.
— Allan, vamos! — peço e ele obedece. — Mãe, depois falo
com você.
— Tudo bem, filho, ele tem todo direito de me odiar.
— Linda reunião de família, mas dá pra agilizar, Damon? —
ele reclama e reviro os olhos.
Ando até o fim do corredor e entro no escritório sem bater,
hoje é um péssimo dia para formalidades. Meu pai está lendo alguns
papéis e logo levanta o olhar para nós.
— Filho… — Ele para de falar assim que vê Allan. — Você!
Meu irmão sorri irônico e se acomoda sem ser convidado.
Folgado!
— Pai, temos que conversar! — digo, sério e me sento ao lado
de Allan. — Sobre ele.
Meu pai fica pálido e olha com ódio para Allan. Como é?
— Nada do que ele disse é verídico! — ele diz, grosso.
— Está com medo? Vai chamar seu advogado agora e pedir
para me esconder de novo, paizinho? — ironiza.
— O que você quer, Allan? Mais dinheiro?
Estou perdido. Dinheiro?
Meu irmão ri em deboche e nega com a cabeça.
— Eu nunca usei um centavo do seu dinheiro, Robert! O seu
tão precioso dinheiro! — zomba e me olha. — E não vou.
— Pai, me explica o que está acontecendo!
— Ele está te fazendo ficar contra mim, Damon! Ele não se
importa com você!
Será?
—NÃO OUSE DIZER QUE ESTOU USANDO MEU
IRMÃO! — Allan grita e se levanta irritado. — Foi por ele, durante
todos esses anos que eu nunca apareci! Foi pra não deixar meu
irmão perder um pai!
— Não minta, Allan!
Olho para meu irmão e vejo o ódio nítido em seu olhar. Allan
está certo!
Deus, meu pai é um monstro!
— Mentir? Quer mesmo dizer que estou mentindo? — Ri
irônico e me olha. — Seu pai me ofereceu milhões para deixar você
e sua família feliz pra trás! Conta pra ele, Robert! Conta que me
deixou em um orfanato para não sujar sua imagem!
Olho para meu pai que está chorando. Eu não conheço esse
homem na minha frente.
— Você é um monstro! — digo com raiva.
— Foi pela nossa família, Damon! Por nós…
— Família? Você deixou seu próprio filho sofrer pra manter
uma imagem idiota! — grito e ele chora com força. — Ele não tinha
culpa da sua traição!
— Filho…
— Não me chame assim! Sabe quantas vezes eu quis um
irmão? Quantas vezes eu brinquei sozinho? — grito e ele não
responde. — Você não sabe ser pai…
Olho para Allan e sinto sua dor mil vezes mais forte. Que
culpa ele tem?
— Ele engravidou sua mulher, Damon! É essa a família que
quer?
Olhamos sérios para meu pai e ele percebe a burrice que fez.
Esse tempo todo ele soube da traição de Anabela.
— COMO SABE SOBRE ISSO? — questiono e ele se cala.
— CONTA LOGO! COMO SABE?
— Aquela mulher queria fazer parte da família… Eu não iria
deixar! Te mandei para Roma! — diz e abaixa a cabeça.
— Então, eu fui o Carter perfeito para uma gravidez… —
Allan diz, sério e o seguro. —VOCÊ MATOU MEU FILHO, SEU
MONSTRO! SEU NETO!
— Ela se matou… Eu me arrependo de não ter ouvido as
ameaças… Não quis! — diz chorando.
— ISSO NÃO TRAZ MEU FILHO DE VOLTA, SEU
CRÁPULA! — Allan grita e chora. — Meu filho…
Isso não pode estar acontecendo! Meu pai é muito pior do que
pensei!
— ESQUEÇA QUE POSSUÍ FILHOS! — digo, ríspido e olho
para Allan. — Vamos…
— Só mais uma coisa! — Allan retira um papel do bolso e
joga sobre a mesa. — Aqui está todo o dinheiro que você me deu
durante toda minha vida!
— Como se manteve? — meu pai questiona, surpreso.
— Trabalhando! — diz, orgulhoso. — Meu diploma foi por
esforço!
— Allan… — meu pai chama, mas ele o corta.
— Pra você, é Doutor Allan! — diz e se vira para mim. —
Vamos, irmão, a única coisa boa que aquele crápula fez pra mim foi
você!
Sorrio de canto e dou as costas para o homem que perdeu
qualquer sentimento que um dia já nutri.
— Doutor Allan? — pergunto rindo.
— Sempre quis dizer isso a ele! — admite e ri. — Como está?
Péssimo.
— Vou ficar bem! E você?
— Com fome, o desgraçado do Dominic foi me tirar da cama
às 3h da manhã.
— Vamos comer alguma coisa, ainda tenho que preparar meu
psicológico para ouvir Ethan contar sobre Emma…
Mais problemas! Espero que pelo menos um de nós tenha tido
um dia bom.
— Aliás, Lia parece uma boa garota — diz, sincero e sorrio,
— Cuida dela.
Ela é o meu mundo.
— Eu amo aquela loira! — admito e ele sorri. — Sabia que ela
é minha secretária?
Allan solta uma gargalhada e me dá um tapa satisfeito.
— Sexo no escritório? Bom garoto!
— E você nunca aproveitou seu consultório? — implico e ele
sorri de canto.
— Me respeita, garoto! Sou mais velho! E cuido de crianças!
— diz, sério, mas logo sorri maliciosamente. — E algumas mães…
Dou risada e nego com a cabeça. Acho que tenho um irmão
para não ficar sozinho.
— Não conta isso pra Lia!
— Tenho amor a vida! — debocha e entra no carro. — Vamos!
Vamos!
Posso superar tudo isso! Tenho uma namorada que me ama,
dois amigos exagerados e um irmão que é mais leal do que meu
próprio pai. Vou sobreviver.
Capítulo 24

Lia Harper

Fecho a porta do quarto tomando cuidado para não acordar


Damon, o dia foi difícil. Descobrir que Robert Carter é um homem
egoísta e cínico foi realmente assustador, e não consigo imaginar o
quão difícil deve ser para meu namorado lidar com isso. Afinal de
contas, foi para agradar os pais que nossa história começou. Eu
ainda mantenho as esperanças de que Robert irá se arrepender e ver
os filhos maravilhosos que tem. Se é que já não se arrependeu!
Allan é de certa forma o novo membro da família, e por mais
que ainda não tenha total confiança nele, é visível o quanto ele gosta
de Damon. Todo o show de mais cedo não passou de raiva
acumulada, chega até ser fofo a forma como eles brigam. Irmãos
finalmente.
Começo a preparar um chá e tentar no mínimo acalmar meus
pensamentos.
— Perdeu o sono? — Me assusto e olho para porta.
Allan está encostado na entrada, vestindo uma roupa de
Damon que ficou extremamente justa, em sentidos de músculos,
Seller… Ou melhor, Carter 3 possui bastantes. A genética
certamente ama a família Carter.
— Me assustou, Allan! — digo com a mão no coração e ele
sorri. — Sim… Perdi completamente o sono.
Ele se senta próximo a bancada e me encara. Carters e suas
manias de encarar os outros.
— Como o Damon está? — pergunta, sério.
— Ele diz que está bem, mas eu sei que pra ele está sendo
difícil! — confesso, Allan suspira. — Robert era seu herói.
— Não queria que fosse assim… Robert pode ter sido um
péssimo pai para mim, mas Damon teve a sorte de tirar o melhor
daquele crápula.
— Ele não aceitaria conviver com o homem que maltratou seu
irmão, Damon não é esse tipo de cara.
— Estou me acostumando com essa fase de ter um irmão…
Em uma hora estou sozinho no mundo e agora tenho um irmão, uma
cunhada e um primo oxigenado… — diz e rio. — Quem precisa de
pai?
Um lado bom no meio de toda escuridão.
— Fico feliz que você e Damon estejam se entendendo!
Também ganhei uma família me apaixonando por ele.
A vida é mesmo irônica, não é? Se me dissessem há seis meses
que eu iria me apaixonar perdidamente pelo meu chefe babaca,
provavelmente chamaria essa pessoa de louca. E aqui estou eu,
namorando um homem incrível, com amigos verdadeiros, um
cunhado extremamente imprevisível. Posso desejar algo melhor?
— Tenho vontade de socar a cara dele, mas no fundo eu estou
feliz por ter meu irmãozinho de volta — diz com um sorriso de
canto. — Damon me contou como se envolveram… Tenho que
admitir que foi burrice.
Dou de ombros, foi uma ideia idiota que me deu o homem da
minha vida. Acho que Murphy não esperava por essa.
Quem é a azarada agora?!
— E você? Nenhuma mulher especial?
— Nada sério. — Sorri daquele jeito cretino que só um Carter
sabe fazer. — Quem sabe um dia?
Esses homens!
Ainda vou assistir cada um deles cair de amores por alguma
mulher. Ethan já superou o verbo “cair”, Emma literalmente o
deixou no chão com seu jeito. Só espero que dessa vez White não
faça burrice.

Domingo. Dia internacional do tédio!


Ou era, até algum idiota, imbecil, babaca, Ethan White, dar a
brilhante ideia de ir a um clube. UM MALDITO CLUBE COM
PISCINAS E MULHERES!
Não está compreendendo meu mau humor? Pois bem, eu vou
explicar resumidamente a situação.
Quatro homens, sarados, uma verdadeira imagem real do
Olimpo, desfilando sem camisa com mulheres fazendo fila para
cumprimentá-los. Deixa que eu conto a pior parte: Lembram da
ruiva magrela e com voz de pato gripado? A mesma que queria
MEU homem.
Exato. Ela está sentada a poucos metros de onde estamos
cercada pelo resto do cardume, olhando para nosso grupo com
TOTAL INTERESSE. E já deixando claro, eu vou matar essa
mulher no tapa.
— Eu vou cortar seu pau fora, Ethan! — Emma rosna e olho
para o moreno que engole em seco.
A propósito, fiquei muito feliz quando eles me disseram que
resolveram tentar algo sério. Ilusão minha ter achado que as brigas
iriam acabar?
— Primeiro, cortando meu pau você também será prejudicada,
querida, e segundo, eu não sabia que elas estariam aqui! — diz, se
explicando, mas Emma continua com raiva. — Dominic! Me ajuda!
— Se vira! — Dom responde com total desinteresse pelos
problemas do amigo.
— Não vamos brigar por conta de uma pessoa desinteressante!
— Damon diz tentando controlar a situação. — Viemos nos divertir!
Ele tem razão. Não será Carmen que irá estragar meu dia.
— Não vamos mais perder nosso tempo! — digo e olho para
Emma. — Piscina?
Ela respira fundo e se levanta, mas não sem olhar
ameaçadoramente para Ethan.
— White, não me obrigue a te afogar nessa piscina.
Os caras riem mas sei que ela está dizendo a verdade.
— Sua morte será pior Damon! — digo e ele para de rir na
hora. — Você vem com a gente Allan?
Meu cunhado está quieto demais desde que chegou e eu tenho
sérios receios sobre um Carter em silêncio.
— Hum? — Ele tira o olhar do celular e o leva até mim. —
Disse algo?
— Quer vir nadar conosco? — repito.
— Obrigado, mas agora não — diz, sério e volta o olhar para o
telefone.
Ele está parecendo ansioso.
— Larga desse treco, cara! — Ethan pede e tira o aparelho de
sua mão. — Se diverte! É sem trabalho.
— Acontece que meu trabalho não é assinar papéis! — Allan
diz, nervoso e pega o celular de volta. — Vidas dependem de mim!
— Está tudo bem, irmão? — Damon questiona e Allan
suspira.
Óbvio que não está tudo bem!
— Desculpa, Ethan, não quis brigar, mas eu preciso voltar pro
hospital que trabalho — diz e nos encara. — Um paciente que eu
estou acompanhando deu entrada no hospital e não consigo me
divertir sabendo disso.
Muito lindo o espírito de solidariedade de Allan.
— Claro! Quer que a gente leve você? — Damon pergunta já
se levantando.
— Podem se divertir, eu pego um táxi.
— Não foi uma pergunta! Afirmei que vou levar você.
— Eu dirijo! — Dominic diz e Allan bufa. — Conheço o
caminho.
— Não preciso de motorista, porra!
Carters…
— Eu também vou! Não confio em três Carters juntos! —
Ethan avisa e os demais reviram os olhos.
Parece que o domingo de diversão foi terminado.
— Então vamos! — Allan diz, impaciente e se despede de
mim e Emma com um aceno.
Damon me rouba um beijo e sorrio, bom… Ethan aperta
Emma e a beija com urgência. Homem besta!
— Pra não se esquecer de mim! — ele pisca e sai antes que
minha amiga pudesse o chutar.
E lá se vai o quarteto fantástico.
— Eu juro que capo aquele idiota! — Emma resmunga, mas
mantém um sorriso bobo. — Vamos embora?
— Claro! Perdi a vontade de nadar.
Guardo minhas coisas e me preparo para sair, mas um ser
bloqueia minha passagem. Oh mulher do demônio!
— Olha se não é a secretária! — zomba e as amigas cacarejam
em resposta. — E a amiga esquisita.
Deus me dê forças.
— Sai do meu caminho, tenho coisa melhor pra fazer do que
gastar saliva com seu galinheiro! — digo irritada.
— Esse seu romance com o MEU Damon está com os dias
contados! — diz, segura de si.
É muita ilusão em um coração oxigenado!
— Bom, o MEU Damon está comigo, morando e em breve
será MEU marido… Não vejo onde você se encaixa nessa equação,
fofa?
— Ele me ama! — diz, ignorando minha fala. — Eu sei que
me ama!
Não usem produtos químicos demais, pessoal! Vejam o
exemplo da vadia ruiva.
— Fica aí com as suas ilusões, Carmen, eu vou pra minha casa
esperar MEU Damon chegar.
Deixo-a para trás e sigo para o carro.
— Amiga, cuidado com essa louca.
Capítulo 25

Damon Carter.

Desespero. É a palavra apropriada para definir o estado do


meu irmão, eu nunca o vi assim antes. Certo que meu histórico em
relação as emoções de Allan são muito castas, mas isso não significa
que eu não reconheça uma pessoa desesperada. Estamos na metade
do caminho de acordo com Dominic, e posso jurar que Allan está
pensando seriamente em pular pela janela e ir correndo. O motivo?
Eu não faço ideia! Tudo que ele disse desde que saiu do clube
foi “Acelera essa merda de carro, Dominic”. E isso é extremamente
preocupante, porque Allan NUNCA chama nosso primo pelo nome,
sempre por apelidos ou ofensas. Seja lá o motivo, é sério.
— Podemos ligar o rádio? — Ethan questiona pondo o rosto
entre os dois bancos da frente.
— NÃO! — Dom responde, sério.
— Está com medo da gente ouvir sua playlist, loira? — Ethan
zomba.
— Cala a boca, Ethan! Me deixa dirigir!
Com a cara emburrada, White volta para o lugar e suspira.
Desde pequeno, Ethan sempre foi imperativo, nunca ficava quieto no
mesmo lugar. Ele é bom no que faz por isso, enquanto cuido da parte
gerencial da Imperion ele cuida das relações internacionais,
convence até o mais decido a fazer suas vontades. Quem vê suas
piadas não imagina o gênio que tem por trás.
— Allan, o que está realmente acontecendo? — pergunto, já
sem paciência.
Ele não responde de imediato, suspira e se vira para me olhar.
— Sou voluntário de um projeto do hospital para fornecer
ajuda a famílias sem condições financeiras adequadas, cuido na
maior parte de crianças fruto de mães viciadas ou de moradores de
abrigos — explica e não contenho meu sorriso orgulhoso. — Venho
tratando um garotinho de quatro anos com problemas respiratórios…
Gabriel, a mãe dele não dá a mínima para o garoto e fui avisado
mais cedo no clube que ele deu entrada no hospital com uma crise
forte de asma.
Isso explica o desespero. Allan se apegou ao garoto.
— Mas existe outros médicos lá, Allan, não precisa se
desesperar — Dominic diz tentando o acalmar.
Seria uma boa ideia se meu irmão fosse um por cento
compreensivo.
—EU CUIDO DAQUELE GAROTO DESDE OS DOIS
ANOS! É ÓBVIO QUE EU VOU ME DESESPERAR, PORRA —
grita.
Tenho a leve impressão de que tenho um sobrinho. Olho para
Ethan que compreende meus pensamentos. Essa é a vantagem dos
melhores amigos, um olhar basta.
— Que ótimo… Mais um Carter! — Ethan brinca e Allan
suspira. — Você parece aqueles pais de comercial de chocolate.
Allan ri, mas seu olhar permanece triste.
— Gostaria de adotá-lo…, mas tenho alguns problemas. —
Suspira e se foca na estrada. — A mãe dele não facilita, e preciso
estar casado para conseguir a guarda de uma criança.
Realmente problemas.
— Podemos mudar a questão do casamento, hoje em dia não é
obrigatório
— Ethan diz, pensativo. — Se provar a um juiz que a mãe do
garoto não é boa, suas chances sobem.
Eu disse que Ethan era um gênio.
— Sou médico, White, passo mais da metade do meu dia em
um hospital, nenhum juiz tiraria o filho de sua mãe para entregar a
um cara sem tempo.
— Nesse caso… Casar é uma ótima ideia! — digo e meu
irmão ri.
— Não vou me casar por conveniência, Damon, nem todo
mundo tem a sorte de se achar a mulher ideal por meios idiotas.
— Eu avisei que foi idiota! — Ethan concorda.
— Pelo menos a minha mulher não me chutou as bolas! —
provoco.
Todos riem, menos Ethan que fecha a cara.
— Vou contar pra Emma.
Quando o carro para na vaga de frente para um hospital
aparentemente humilde, Allan se apressa por entre as pessoas e foi
com dificuldade que nós três o acompanhamos rumo à recepção.
Uma mulher de óculos arredondados e sorriso simpático nos olha.
— Boa tarde, dr. Allan! Quarto 228 — diz e nos olha. — Em
que posso ajudar?
— Chloe, eles estão comigo! — meu irmão diz e ela franze a
testa. — Esse é meu irmão, meu primo e meu amigo.
Aponta correspondente a nossas posições.
— Peguem o crachá de visitantes! — diz e obedecemos.
Voltamos a seguir Allan pelos corredores e ninguém estranha
nossas vestimentas nada a ver com o ambiente. Paramos de frente a
uma porta idêntica as demais e meu irmão entra. Fazemos o mesmo
e percebo que é sua sala. Tudo aqui tem uma aura infantil e viva.
— É um lugar bonito! — elogio e ele se vira sorrindo
enquanto pega sua maleta e veste um jaleco.
— Obrigado, este lugar é tudo pra mim.
— Allan, posso mexer nos pirulitos? — Ethan brinca e rimos.
Meu irmão revira os olhos e volta a sua postura séria.
— Vou atender o Gabe e já volto! — avisa e me olha. — Pode
me acompanhar?
Já disse que me sinto um garoto babão toda vez que Allan age
como um irmão mais velho? Lógico que não vou dizer isso em voz
alta, o ego dele é enorme.
— Claro! Tenho um sobrinho pra conhecer.
Sei que de alguma forma Gabriel ainda será um Carter. Vejo
que Allan já é um pai independente de uma ordem judicial ou não.
Espero que ele seja um pai muito melhor do que o nosso.
— Isso mesmo! Vai lá com seu irmão de jaleco! Deixa o
melhor amigo aqui com essa loira irritante! — Ethan faz drama e o
ignoro começando a sair da sala. — Valeu, eu fico com os doces!
Sigo Allan até uma sala diferente das outras, ele entra sem
bater e faço o mesmo. Uma cama repleta de adesivos de carros e em
cima dela um garotinho de cabelos claros e olhos tão azuis quanto de
Allan encaram sem expressão o chão. Ao lado dele está uma
enfermeira que se levanta apressada assim que vê meu irmão.
— Dr. Allan, já dei os remédios e ele já usou a bombinha —
diz com indiferença.
— Pode se retirar, Lívia! — responde sem nem ao menos olhá-
la. — Gabe?
O garotinho vira o rosto e sorri fraco para Allan.
— Oi, Lan! — responde e seus olhinhos se vira para mim.
— Garotão, esse é o meu irmãozinho! O Tio Damon.
Tio Damon. Como faz para não sorrir feito um idiota com uma
simples frase? Se como tio eu estou pensando em mimar Gabe,
como pai, alguém terá que me impedir. Definitivamente eu quero
filhos, muitos, aliás… De preferência meninos porque não quero ir
preso por matar os namorados das minhas filhas.
— Seu irmãozinho? — Franze a testa de maneira fofa. — Lan,
ele é grande!
Ah… crianças.
— Oi, parceiro! Meu irmão está cuidando de você direitinho?
Gabe acena e sorri.
— Lan é meu melhor amigo! Você quer ver o carro que eu
ganhei de aniversário? — pergunta e retira uma miniatura de carro
de trás dos travesseiros. — É meu!
Já vi que meu sobrinho ama velocidade.
— Mas é um carro muito lindo! — elogio e ele se alegra.
— Vamos ver como esse pulmão está, garotão! — Allan diz e
começa a examinar Gabe. — Onde você passou o dia?
— Com minha mãe… — conta, baixinho e vejo a postura de
Allan ficar tensa. — Eu pedi pra ela não por aquilo na boca!
Não acredito que uma mãe teve a coragem de fumar com um
filho com asma ao lado. Desgraçada!
— Quem trouxe você aqui, querido?
— Tio John! — conta, casualmente. — Ele me viu e me
trouxe!
Pelo que percebo, não é a primeira vez que Gabe é trazido por
esse John. E a julgar a expressão assassina de Allan, ele quer muito
tirar satisfação com a tal mãe de Gabriel.
— Está tudo bem agora, OK? Está se sentindo melhor?
— Estou com sono! — diz e boceja, Allan beija sua testa e o
cobre com a manta posta ali. — Dorme comigo, Lan?
Foi a cena mais linda que já vi, e se depender de mim, meu
irmão e meu sobrinho ficarão juntos.
— Durmo, logo mais te levo pra minha casa, tá bom? — diz
calmamente e aos poucos Gabe vai pegando no sono.
Deixo os dois sozinhos no quarto e volto para a sala de Allan,
deixar Ethan e Dominic juntos não é uma boa ideia. Entro na sala e
me deparo com os dois sentados e comportados lendo revistas.
Seria um fato normal, SE não estivéssemos falando de Ethan e
Dominic.
— Vocês estavam atrás da porta, não é?
Touché.
— Eu já estou amando aquele pirralho fofo! — Ethan se
entrega.
— Mini Carter! — Dom diz sorrindo. — Como ajudaremos?
Esse é o problema.
— Vamos pensar em alguma coisa! Gabe precisa de Allan! —
digo suspirando.
— O que fazemos quando estamos com problemas? — Ethan
pensa alto.
Mas é claro…
— LIA! — Dissemos juntos.
Minha mulher sempre tem uma solução! Se Lia não souber
como resolver, terei que apelar.
Gabe já é um Carter!
Capítulo 26

Lia Harper

OK, Lia, respira. Nada é impossível de ser resolvido.


— E, aí?
Olho para Damon que está de joelhos na minha frente
esperando uma resposta para seu problema. Resolver problemas no
escritório é uma coisa, agora fazer uma criança fofa ser adotada por
Allan é totalmente acima dos meus poderes de solução. Quando
Carter me ligou pedindo para que viesse até o apartamento do irmão,
eu já sabia que era problema.
Eu só não imaginei que um garotinho de olhos azuis e sorriso
tímido fosse o X da questão. Olhem só como a vida dá um jeito de
driblar a genética, Gabe não possui laços de sangue com os Carters,
mas a beleza é idêntica. Fora que ele até se parece com o Allan. Será
que isso é uma jogada do destino?
— É óbvio que o Gabe nasceu para o Allan, mas não há nada
que podemos fazer para conseguir a guarda! — digo e todos da sala
suspiram.
O único que mantém o sorriso é o garotinho no colo de
Dominic brincando com os botões de sua camisa. Essa é uma cena
surpreendente!
— Eu já sabia disso! Não preciso de um pedaço de papel pra
continuar cuidando dele! — Allan diz casualmente.
— E agora eu tenho um sobrinho pra mimar! — Damon diz
exageradamente empolgado. — Vou encher ele de presentes e
carrinhos… Será que ele vai gostar do meu carro?
O que uma criança não faz…. Até ontem, Damon ficava
pálido com a simples menção de filhos, e agora está querendo levar
o sobrinho pra Disney!
— Sem exagero, Damon! Gabe não precisa de um milhão de
brinquedos!
— Allan, eu só tenho um sobrinho! Me deixa mimar o garoto!
— resmunga.
Deus queira que meus filhos não sejam tão dramáticos.
— Vá ter seus próprios filhos! — Allan diz e me olha. —
Ouviu, Lia?
Não! Sem filhos por enquanto.
— Nem começa!
Damon me olha e sorri daquele jeito safado que acaba com
meu emocional. Droga de homem lindo!
— Que tal começar a praticar, amor? — provoca e meu rosto
queima de vergonha.
Eles riem pela minha reação e olho com raiva para Damon.
Odeio quando ele me deixa sem graça.
— Imagina se for menina, cara! — Ethan provoca e Damon
perde o sorriso. — Se puxar a Lia… Terá sérios problemas!
— Minha filha só vai namorar com 30 anos!
— Acho que vou ter um filho só pra te deixar puto. — Ethan
diz rindo, mas Damon mantém o rosto sério. — Qual é?! Meu filho
seria um ótimo pretendente, vou ligar para Emma.
Tenho certeza de que com pais como Emma e Ethan, no
mínimo será louco.
— Eu achei que nunca fosse viver pra ver Ethan falando em
filhos! — Dom diz.
Nem eu.
— Me poupe Loira do banheiro! O único encalhado é você! —
Ethan revida.
— Eu estou bem assim! Essa doença ainda não me pegou!
— Tá dodói, tio Dom? — Gabe pergunta inocente e Ethan ri
descontroladamente.
Idiota.
— Está sim, pirralho! Nunca passe água oxigenada, OK? —
White zomba e pega Gabe no colo. — Quem é o melhor tio do
mundo?
— VOCÊ!!!! — Ele grita animado e Ethan sorri orgulhoso.
Gabe está com uma má influência. Tadinho do Allan.
— Eu sou o tio preferido! — Damon diz indignado. — Gabe,
eu sou o melhor tio!
— O quê?! Eu sou muito melhor! Gabe, quem vai te levar pra
passear de barco? — Dominic entra na disputa.
— Comprou uma criança com um barco? — Ethan questiona
irônico.
— É um iate!
— Gabe, eu te levo pra passear de helicóptero! O tio Ethan é o
melhor!
— Eu te levo pra Disney pra conhecer o relâmpago McQueen!
— Damon grita e Gabe sorri. — Eu sou o melhor!
Reviro os olhos e deixo a disputa continuar. Desde que Gabe
seja feliz, não importa se eles vão levá-lo para Nárnia.
— Fico feliz que eles tenham gostado do Gabe — Allan
comenta ao meu lado.
— Ethan possui a mesma idade mental, Damon e Dominic são
crianças de terno e gravata.
— Será que um dia vou conseguir adotá-lo?
Olho para ele e sorrio.
— Ele já é seu. Logo as coisas se acertam e terá sua família
completa — digo me referindo a Gabe e Robert. — Quem sabe com
uma mãe?
— Eu espero que esteja com razão, cunhada.
— ETHAN! — Ouvimos eles gritarem e começo a rir com a
cena.
Gabe está nas costas de Ethan enquanto o mesmo corre pela
sala com Damon e Dom desesperados.
— Até lá… Amor não vai faltar!
Allan sorri pra cena e torço para que a mulher certa apareça na
vida desses dois. Tudo que eles precisam é de carinho.
Capítulo 27

Lia Harper

O homem já foi à lua, a eletricidade já foi inventada e existem


até robôs com tecnologia avançada. Tudo é possível. Então por que
EU não conseguiria preparar um jantar?
— Eu vou deixar o telefone dos bombeiros discado, OK?
Tenta pelo amor de Deus não atear fogo no AP! — Damon pede pela
centésima vez.
Eu não sou tão ruim na cozinha!
— Você está me subestimando, Carter! Agora vai logo ou vai
se atrasar!
— Certeza que vai ficar bem sozinha? Eu posso dizer ao Allan
que estou ocupado…
Se tem algo que me tira do sério, esse é me subestimar. Tudo
bem que eu sou uma tragédia na cozinha, mas Damon é
extremamente exagerado. Eu consigo preparar um jantar!
Fim.
— Vai logo, Damon, não quero ninguém me incomodando na
cozinha! — brigo e ele sorri, irônico. — Vai!
Faz meses que Allan e Damon se tornaram nas palavras de
Ethan “Comercial de Coca-Cola”. Hoje, como é sábado, ele vai para
o apartamento do irmão na tentativa de conquistar o sobrinho. Diga-
se de passagem Gabe se apegou bastante a Dominic. Chega até ser
engraçado a maneira como um homem que era fechado e mal-
humorado, fica babando em uma criança de 5 anos.
Os poderes de Gabriel.
— Qualquer coisa me ligue!
— Ainda está aqui por quê, Damon?
Com um olhar desconfiado, ele sai do apartamento me
deixando com a tarde inteira livre para preparar um jantar. OK, não
deve ser tão difícil preparar uma comida, basta seguir a receita e
pronto.
Eu consigo.
— Eu sou uma cozinheira nata!

Perdida, confusa, irritada e muito, muito, muito ofendida.


Como é que um frango conseguiu estragar meu jantar perfeito! Eu
fiz tudo, exatamente tudo igual à receita!
E no final, meu prato principal se transformou em
churrasquinho carbonizado. E agora? Faltam duas horas para Damon
chegar e não consegui nem fritar um ovo.
— Eu não nasci pra cozinha! Como Carter consegue?
Eu definitivamente preciso de ajuda. Mas a única pessoa que
está perto o suficiente pode tornar essa cozinha muito pior do que já
está. Mas é o jeito.
Pego o telefone e disco o número, rezando mentalmente para
que nada dê errado de novo.
— Seja lá do que precisa a resposta é não! — Ethan atende
com a simples resposta que eu menos preciso.
— É urgente!
— Estou ocupado! — mente e aposto minha vida que ele está
sentando no sofá jogando vídeo game.
Para meu azar, Emma e Arthur foram visitar a mãe. White é
minha melhor opção.
— Ethan, eu preciso fazer um jantar supergostoso em menos
de duas horas e você é minha única ajuda! Por favor!
— Comida? Por que não disse antes! — diz animado e começo
a me arrepender. — Chego em dez minutos!
OK. Agora é rezar para White ser melhor do que eu.
Jogo fora todo meu tempo desperdiçado (frango) e começo a
procurar receitas simples e rápidas. Será que se eu disser que fiz um
macarrão de primeira Damon acredita?
— Lia, cheguei! — Ouço a voz de Ethan e logo o vejo entrar
na cozinha com seu habitual sorriso idiota. — Por que aqui está
cheirando a queimado?
Não irei admitir.
— Impressão sua! Sabe cozinhar?
Ele semicerra os olhos e olha em direção ao forno. Merda.
— Você queimou o jantar, não é?
— Sim, vai me ajudar?
— Pedimos comida e você finge que fez tudo aqui! — diz
sorrindo e me sinto uma idiota por não ter pensado nisso.
— Não pode ser nada muito elaborado… Ele vai suspeitar!
White ri e começa a mexer no celular para resolver meus
problemas. Não é que ele foi útil!
— Agora é só esperar e torcer pra dar certo — fala guardando
o aparelho. — Eu adoro comida caseira!
— E quem te convidou pra ficar?
— Não precisa, eu já sou de casa.
Reviro os olhos e começo a preparar meu jantar perfeito, não
como o planejado, mas mesmo assim perfeito.
O que pode dar errado?
Capítulo 28

Lia Harper

Os mentirosos, estrelando Lia Harper e Ethan White.


Em breve nos cinemas.
Ri sozinha com meu pensamento idiota e Ethan me encara sem
entender. Se ele soubesse que faz parte do meu filme imaginário,
diria que usei drogas. Ou pior, daria continuidade a minha loucura.
— Amor, você realmente se superou! — Damon elogia a
comida e eu, claro, dou o meu melhor sorriso falso.
Eu descobri que levo jeito pra atuação.
— Não é para tanto, é só um jantar!
Sabe aquela voz na consciência que diz que mentir é errado?
Pois é, eu não tenho.
— Está realmente magnífico! Lia, você é uma excelente
cozinheira! — Ethan diz, calmo, mas seu olhar é um mar de
sarcasmo.
Idiota, ele ainda está comendo e quer reclamar.
— Como foi lá com Allan? — Mudo de assunto.
Damon dá de ombros e sorri de canto. Ah se ele soubesse o
efeito que esse ato me causa…
— Ele está bem, faz semanas que Gabe não tem uma crise e
ele está superfeliz!
— Ainda não perdoei aquele pirralho por preferir o oxigenado!
— Ethan resmunga e rio.
Ciúmes são constantes. Damon e Ethan estão tratando a
preferência de Gabe como uma coisa absurda.
— Dominic jogou sujo! Eu sou o tio de verdade.
— Allan precisa examinar aquele garoto de novo! Ninguém
gosta do Dominic! — Ethan exclama e adivinhem… Damon
concorda.
É um grande preconceito com o Dom, ele realmente é centrado
e na dele, mas uma criança pode mudar pessoas. Damon é um
exemplo disso, para um chefe insuportável e mal-humorado que põe
medo em muitos homens poderosos, fica completamente bobo com
uma criança.
Uma parte de mim fica feliz, porque é meio óbvio que Carter
será um bom pai. Mas a parte racional me diz que esse não é o
melhor momento para filhos.
— O jantar foi bom… Mas eu tenho uma miniatura agressiva e
consumista para buscar no aeroporto! — White diz se levantando.
Santo cartão de crédito! Emma simplesmente vai falir Ethan
um dia, e não por querer claro! Ela sofre da síndrome “compra tudo
que vê pela frente”. Infelizmente Damon também é um portador da
mesma.
— Como vai o plano de convencer aquele demônio em
miniatura a morar com você?
Ethan bufa frustrado e Damon ri.
— Ela sempre diz não! Qual foi a tática que usou com a Lia?
E eu achando que ele não poderia ser mais idiota.
— Pedi ela em casamento no primeiro dia.
— Eu acho que vou comprar chocolates e ursos, acredita que
ela não me deixa ter um gato? Smurf pura maldade.
Olho para ele e reviro os olhos.
— Você a ama?
— Eu deixei meu cartão de crédito nas mãos dela! Se isso não
for amor é doença! — responde, irônico.
E burrice.
— Já tentou flores? — Damon questiona.
— Emma é alérgica…
— Chantagem emocional? Funcionou com a Harper!
Arqueio uma sobrancelha para Carter e ele sorri daquele jeito
que faz meus pensamentos correrem para algo muito além de um
sorriso. Isso tem que ser doença. Não é possível um homem me
desestabilizar assim.
— Vocês estão flertando na minha frente, porra! — Ethan
grita.
— Você não tinha que ir buscar minha amiga no aeroporto?
Ele acena e começa a se afastar. Mas é claro que Ethan nunca
deixaria de soltar uma de suas pérolas.
— Usem camisinha crianças!
Reviro os olhos e Carter ri.
— Foi um belo jantar, amor! — diz se aproximando e
segurando minha cintura. — O restaurante está de parabéns!
Oi?!
— Mas… Como? — pergunto em um misto de dúvida e
vergonha.
Definitivamente eu não nasci para cozinhar.
— Lia, você não consegue passar manteiga no pão sem fazer
bagunça.
Agora eu me senti ofendida.
— Não exagera…
— E além do mais… Eu conheço a comida do restaurante aqui
perto.
Maldito seja Ethan White e sua burrice.
— White é um lerdo!
— Eu concordo!
— Que bom que pelo menos você sabe cozinhar, não é? —
brinco e ele sorri.
— Eu já te disse, sou bom na cozinha, no quarto, na sala…
— Babaca!
— Eu te amo, Harper.
Um dia desses ele vai me matar com essas palavras.
— Eu te amo.
Acho que a louça vai ficar pra amanhã!
— No quarto, na sala ou na cozinha? — ele provoca e reviro
os olhos.
— Cala a boca, Carter.
Os três, por favor!
— Nunca vou me cansar de te irritar, minha loira.
— Para o meu azar…
Mas eu não vou reclamar, desde que ele esteja comigo para ser
eternamente meu cretino preferido.
Capítulo 29

Lia Harper

— Olá, boa tarde aos senhores, o Sr. Carter já está chegando!


— digo dando meu melhor sorriso para os quatro futuros
investidores da Imperion.
Eu vou matar o Damon. Matar e servir em uma bandeja de
prata. O imbecil se atrasou para a reunião mais importante do
semestre. E muito pior… Não me disse pra onde foi.
Vou socar aquele rostinho bonito até cansar.
— Ele está muito atrasado! — um dos velhos diz e suponho
ser um daqueles japoneses viciados em horários.
Esse japa está terminando de acabar com a minha paciência.
— Com licença, irei me comunicar com o Sr. Carter — digo e
pego o telefone.
Se ele não atender, pode anotar que será um homem morto.
Disco o número dele e aguardo.
— Oi, meu amor!
O cretino atende com a maior naturalidade.
— Sr. Carter, sua reunião com os investidores já começou. —
Seguro minha vontade de gritar.
— COMO ASSIM, REUNIÃO? — ele grita e rezo a Deus por
mais paciência.
1,2,3…
— EU TE INFORMEI DESSA REUNIÃO A SEMANA
TODA, DAMON! VOCÊ TEM DEZ MINUTOS PARA ESTAR
NESTA SALA!
Eu disse que teria calma? Menti.
— Lia… Estou meio ocupado!
— Não foi um pedido, Damon.
Ouço ele suspirar e sorrio satisfeita.
— Inicie essa reunião para mim! Chego o mais rápido que
puder.
Como assim realizar uma reunião?
— Eu sou sua secretária, não a presidente.
— Que será minha mulher e dona da empresa… Viu a ligação?
— ironiza.
Odeio quando ele é fofo e irritante.
— Anda logo! Vou fazer o possível!
— Eu te amo por isso.
Não respondo, apenas desligo o telefone e olho para os quatro
homens que me encaram com confusão.
— Ele já está chegando — minto.
Lembra o japonês irritante?
— Esses jovens CEO’s, não podem ver nenhuma secretária
bonita que logo se interessam.
Ele o quê?
— Desculpe, senhor, mas sou a noiva dele.
OK… Ex-noiva! Mas pensar no futuro faz bem, certo?
O japa com um sorriso debochado me olha da cabeça aos pés e
diga-se de passagem demora demais nos meus seios. Que idiota!
— Não fui informado sobre nenhum noivado, garota! Ele sabe
disso? — zomba e os outros três riem.
Quem esse pokémon da terceira idade está ofendendo?! Que
Damon me perdoe, mas eu vou socar esse cara.
— Sabe sim, sinto muito não ter lhe enviado um convite, é que
só pessoas importantes foram convidadas — digo dando um sorriso
inocente.
Toma essa Jackie Chan falsificado.
Ignoro os homens mesmo eles sendo importantes para
Imperion, não quero ser acusada por assassinar velhos irritantes.
Organizo alguns papéis para Damon e a porta é aberta atrás de mim.
— Boa tarde, senhores!
Confusa, me viro para encarar Ethan de postura séria. Eu já
disse que ele fica totalmente diferente sem seus sorrisos sarcásticos?
— Esta empresa não segue horários nem a hierarquia! Nossos
assuntos são somente com o dono! — O Sr. de cabelos 100%
brancos (ele parece uma múmia) diz com arrogância.
O que aconteceu com a ideologia de que velhinhos são legais e
fofos?
Ethan sorri em desafio e encara o homem.
— Eu sou o segundo sócio majoritário, Sr. Hudson, e de
acordo com a hierarquia, posso estar aqui e resolver o que eu quiser.
Palmas para Ethan White.
— Me recuso a dar início a essa reunião com um
empregadinho.
Eu já disse que vou fazer sushi daquele japonês babaca?
Ethan sorri, irônico.
MEU DEUS, ELE SORRIU IRÔNICO!!!!
— O empregadinho, Sr. Nakamura, consegue te mandar à
merda em doze idiomas diferentes e tem um diploma em Harvard,
sem contar que sou um dos negociadores mais populares da Terra.
Olha só! Espera… Harvard?
White é um gênio no corpo de um idiota. Quem diria.
— Podemos começar a reunião? — questiono.
Com muita cara feia eles concordaram.
Quarenta minutos depois, eu já não sabia se estava em uma
reunião com velhos ou em uma explicação explícita de como o
universo é formado. Chato é a palavra certa.
— Desculpe o atraso, senhores!
Damon entra na sala com todo aquele charme que eu já
conheço. Até me esqueci que quero o matar cruelmente.
— Não gosto de atrasos, Sr. Carter! — o Sr. Nakamura diz.
Japonês dos infernos!
— Não devo satisfação sobre meus horários, Nakamura,
aconteceu um imprevisto.
Damon conduz o resto da reunião com seriedade. E lá estou eu
no maior tédio existente. Quando finalmente acaba, meu corpo pede
por uma cama.
— Fizeram um bom negócio, senhores! — Ethan diz e eles
acenam.
O japonês que eu já peguei ódio fica me encarando. Velho do
capeta!
— Gostaria de jantar, senhorita?
Eu não acredito. Esse karatê kid está dando em cima de mim?
— Vou jantar com meu noivo — respondo e olho para Damon.
— Não precisa mentir, garota! Posso pagar bem.
Deus.
— Oi, amor, algum problema? — Carter surge e me abraça por
trás. — O que quer com minha noiva, Nakamura?
N.O.I.V.A.
— Sua noiva?
Além de lerdo é surdo.
— Sim, minha noiva! Agora se me der licença, temos que ir
jantar.
Sorrio satisfeita e sigo Carter para fora da sala.
— Velho chato! — resmungo.
— Que não parou de te olhar a reunião toda.
— Onde você esteve durante a tarde, Damon? — pergunto e
ele fica tenso. — Damon, essa reunião foi marcada há meses.
Ele desvia o olhar e se antes eu estava com raiva, agora estou
com dúvida.
— Vamos conversar na minha sala.
O caminho até a presidência nunca foi tão longo.
— Me diz onde estava, Carter — peço assim que entro na sala.
Algo me diz que não vou gostar de ouvir a resposta.
— Primeiro, eu preciso que saiba que eu não te traí e nunca
irei! — diz com calma e isso só me deixou com mais raiva. —
Estava com Carmen…
Fim. Ele estava com ela.
— Não preciso dizer mais nada.
Tento sair da sala, mas Damon me segura.
— Lia, eu não te traí! Me deixa explicar! Eu te amo!
— Ama? Passou a tarde com aquela vadia e diz que me ama?
— grito e ele suspira. — Você passou a tarde com a mulher que
deixou claro que te quer, como eu devo me sentir?
Burra! Como eu sou burra!
— Eu não estou brincando com seus sentimentos, Lia! Me
deixe explicar! Você tem a péssima mania de nunca me ouvir!
— Quer que eu ouça os detalhes? Vai se foder, Carter!
Tento sair novamente.
— Carmen está com câncer! — ele diz, sério e meu corpo se
congela. — Os médicos deram três ou dois meses.
Por Deus! Eu não gosto dela, mas morte é cruel.
— O que você estava fazendo? — pergunto em um fio de
esperança.
— Ela está fazendo quimioterapia e ela se recusa a ir sem a
minha presença… Eu sei que ela está tentando acabar com nosso
relacionamento, mas eu não posso deixar que ela morra antes…. —
diz, baixinho.
Que universo irônico.
— Por que mentiu para mim, Damon? Eu nunca te impediria
de salvar alguém… Mesmo sendo ela!
— Eu sou um idiota, Lia! Eu fiquei com tanto medo de te
perder, que foi se tornando uma bola de neve e no fim acabei
estando nessa mentira.
— Eu preciso de um tempo, Carter.
Não consigo discutir racionalmente estando tão irritada.
Irritada com Damon por mais uma vez ter omitido coisas de mim.
— Lia, eu te amo, não pode terminar… Não pode me deixar,
Harper! — ele pede, desesperado.
— Não estou terminando, só preciso de um tempo para pensar,
vou para o meu apartamento essa noite.
— O quê? Não! Pode pensar no NOSSO apartamento! Lia eu
não vou te deixar sozinha.
— Carter, você mentiu e me magoou, para o bem do nosso
namoro é melhor que eu fique longe por um tempo.
— Namoro? Lia, você é minha noiva!
Olho para ele e antes que pudesse pensar, já estava contra a
parede sendo beijada pelo homem que pisou forte no meu coração.
— Damon…
— Nós vamos nos casar, Lia! O mais rápido possível!
— Seu pedido vai ser esse?
— Não foi um pedido, meu bem… Eu afirmei que irá ser
minha mulher, e não existe nada neste mundo que vai me impedir!
— Talvez suas mentiras…
— Lia, eu sinto muito.
Me afasto dele.
— Eu sei que sente, mas não muda o fato que me magoou. Me
dê espaço, Carter.
Passo por ele e suspiro.
Preciso de ar.
Capítulo 30

Lia Harper

Se a vida lhe dar limões, faça uma limonada. Mas nem todos
gostam de limonada.
Eu mesmo prefiro torta.
Essa metáfora não fez tanto sentido assim, mas em um resumo
do que eu quis dizer, meus problemas só se multiplicam. Primeiro
meus pais sofrem um acidente me deixando sozinha, segundo eu
consigo um emprego como secretária de um empresário importante,
e nos próximos dois anos meu chefe me tornou uma pessoa
estressada graças ao seu incrível mau humor e sorriso irritante, e
agora, depois de todas as coisas inimagináveis, cá estou eu, noiva
novamente do homem da minha vida que por sinal ainda é meu
chefe irritante.
Destino? Ironia?
— Lia, eu não gosto quando fica em silêncio!
Olho para meu lado e encontro Damon sério.
— Tenho o direito de ficar calada.
Não me julguem, eu amo Carter com todas as minhas forças e
no entanto ele mente para mim durante semanas, mente para mim
que estava se encontrando com sua ex maluca. Sinto muito por
Carmen, ninguém merece ter sua vida arrancada, mas ela está
obviamente usando o bom samaritano de Damon ao seu favor e ele
ainda não se tocou disso.
Não irei impedi-lo de ajudar alguém, mas dói como um
inferno saber que não confiaram em mim.
— Você ainda está brava? — pergunta e o ignoro. — Amor, eu
sinto muito ter mentido pra você!
Sente muito? Como eu queria socar aquela cara de cachorro
pidão, mas se tem uma coisa na qual eu sou ótima, é saber fingir
indiferença. E Damon Carter está sendo tratado com meu melhor
lado frio.
— Vai me ignorar até quando? — Ele se aproxima de mim. —
Lia…
Tinha que ser tão lindo? Como vou concluir meu plano de
ignorá-lo se meu corpo deseja o dele?
— Até o senhor perceber que uma relação precisa de
confiança! — digo e me afasto antes que me sucumba ao desejo.
— Harper… Eu errei em ter mentido, eu sei! Mas o que faria
no meu lugar?
— Eu contaria a verdade! Porque ao contrário de você, eu
confio… Ou confiava plenamente em você! — grito.
Ele abaixa o olhar e volta a se deitar.
— Se te faz bem me ignorar… Fique à vontade para fingir que
não existo! — diz e me olha sério. — Eu só não vou te esperar para
sempre!
— Está dizendo que quer terminar?
Não preciso dizer que meu coração se apertou.
— Eu já disse que te amo e isso nunca irá mudar, mas se toda
briga que tivermos você agir dessa forma… Não teremos futuro.
Respiro fundo. Ele pode ter um pouco de razão.
— Você mentiu, Damon, me enganou por semanas e isso é
algo que não se apaga apenas com desculpas -— digo e me acomodo
na cama. -— Fingir que está tudo bem é a única coisa que aprendi na
vida.
Ele me puxa para perto e deixo todas as lágrimas que se
acumulam saírem.
— Eu te amo, nunca se esqueça disso.
— Promete que nunca mais irá me esconder nada? — Levanto
meu olhar.
Ele sorri e beija minha testa.
— Eu prometo.
— Eu não vou te perdoar novamente, Carter, por mais que te
ame — aviso.
— Eu nunca irei deixar você, Lia, isso é a única certeza que
tenho na vida.
Sorrio e me deixo relaxar no peito de Damon.
Só espero que Carter consiga cumprir sua promessa.
Capítulo 31

Damon

Eu sou um idiota, babaca, burro e todos os adjetivos que sei


que mereço. Menti pra ela e estou pagando o preço. Eu fiquei sem
saber o que fazer quando a mãe de Carmen veio ao meu encontro
chorando e pedindo para não deixar sua única filha morrer.
Eu tenho um coração, e por mais que a ruiva tenha sido um pé
no saco, deixá-la morrer não é o que desejo e fiquei com medo de
perder Lia por isso.
Mas meu erro foi comparar minha loira com as outras
mulheres, Lia nunca me impediria e só me dei conta da burrice que
fiz no momento em que ela começou a me ignorar. E não posso
julgá-la, eu quebrei a confiança que ela mantinha em mim e irei
fazer de tudo para reconquistar a mesma.
Acabo de preparar nosso café da manhã e até agora nenhum
sinal de Harper. Faz quase uma semana que ela anda passando mal e
já estou ficando preocupado.
Pessoas saudáveis não vomitam à toa. Deve ser alguma virose.
Nunca vi Lia passando mal.
— Lia, desça para comer! — grito.
Nenhum sinal dela, Lia absolutamente nunca recusa comida.
Subo até o quarto e a encontro no chão chorando.
Ela levanta o olhar até mim e chora ainda mais. Mas que porra
é essa?
— Amor… O que aconteceu? Lia, você está bem? — Me
ajoelho perto dela procurando algum sinal que indique sua crise.
— NÃOOOO! — choraminga e a abraço. — Minhas roupas
não me servem… Eu estou tão gorda, nada que eu tenho fica bom
em mim! E não importa o que faço eu não me sinto bonita.
Mulheres.
— Você não está gorda, meu amor! Está cada dia mais linda, a
mais perfeita.
Regra número um para um relacionamento dar certo: Elogie
sempre, e se não funcionar, apenas negue com a cabeça.
Ela me encara com raiva. Jesus, o que eu fiz?
— Linda? Damon, eu estou gorda, meus seios estão enormes e
nenhuma roupa me serve! — Abaixo o olhar até os seios para
conferir. — Para de olhar meu decote, seu idiota!
OK, não olhar o decote avantajado que ela está usando.
— Amor, nós vamos comprar mais roupas e você continua
linda — digo calmamente. — Está melhor?
Ela acena e a ajudo se levantar. OK, os seios dela estão
maiores, mas onde isso é um problema?
— Estou com fome! E estou morrendo de vontade de comer
sorvete de creme com maçã! — diz sorrindo.
Hã? Ela odeia sorvete de creme.
— Mas você odeia sorvete de creme.
— Não odeio mais! E se eu acrescentar uvas?
Isso está estranho. Mas o que eu posso fazer se não arranjar
tudo isso?
— Eu compro seu sorvete, mas será que pode por algo menos
decotado? — pergunto e ela me olha séria. — Ou não… Está linda
assim, viva aos seios.

Olho para Allan e Ethan sentados bem na minha frente


esperando uma explicação para ter convocado essa reunião de
emergência. Dominic ficou com a parte de manter Lia longe da
minha sala.
— Damon, eu tenho que voltar para o hospital, então, se puder
dizer o motivo de ter me obrigado e vir aqui seria ótimo.
Tinha me esquecido que paciência não é uma qualidade de
Allan.
— Ele só nos chama quando faz alguma merda! Da última vez
tivemos que passar horas decorando um apartamento com flores!
Bufo e bagunço os cabelos, faço isso sempre que estou
nervoso.
— Acho que Lia está doente — digo e eles ficam confusos. —
Ela está estranha, mais que o normal. Ela se recusa a ir a um médico
e diz que sou exagerado.
— Por que acha isso? — Allan questiona com aquele jeito de
médico metido. — Está com febres ou algo parecido?
Como é bom ter um médico na família.
— Ela está vomitando com o cheiro de tudo, chora assistindo
filme de ação e hoje pela manhã a encontrei aos prantos porque se
achava gorda, e como se não bastasse, comeu quase um pote de
sorvete de creme com uva e todas as frutas da geladeira! — digo
suspirando.
— CREME? — perguntam juntos e aceno.
— Eu disse que ela está estranha, fora que ela cismou que está
gorda, mesmo que realmente tenha engordado, eu adorei na verdade.
Penso em como amo seus seios.
Allan e Ethan estão sorrindo e quase caí para trás com o pulo
animado do meu irmão. E para melhorar, White começa a rir.
Que merda é essa?
— OBRIGADO, DEUS! — Allan grita e simplesmente me
abraça. — Cara, meus parabéns!
Oi?
— Alguém me explica o motivo de tanta euforia? — pergunto
irritado.
— Puta merda, Damon! Você é lerdo! Allan soca ele, por
favor!
Confuso, olho para meu irmão e recebo um sorriso cheio de
orgulho.
— Parabéns, papai!
Papai. Papai. Pai. Filhos. Lia.
Ai meu Deus.
— Acho que vou… desmai… — A última coisa que vi foi
Ethan correndo na minha direção e tudo ficou escuro.
Capítulo 32

Damon Father, ops… Carter.

No momento em que abri os olhos, tive duas certezas na vida:


a primeira que o céu não se parece com Dominic e segunda que
definitivamente eu não tenho nenhum problema cardíaco.
— ELE ACORDOU! — meu primo grita e consigo focar com
nitidez nos presentes em minha sala.
A primeira pessoa que vejo é Lia com um olhar preocupado e
instantaneamente olho para sua barriga. Meu filho nem nasceu e já
me fez desmaiar.
Meu Deus! Eu vou ser pai! PAI! Vou criar um serzinho que
precisará de mim. Levar para passear, ensinar andar de bicicleta,
conquistar garotas… até porque eu morreria se fosse uma menina.
— Damon! — Ela vem até mim e me encara com
preocupação. — Como está se sentindo?
Eu é que deveria perguntar!
— Estou bem! Como você está? — questiono e a olho da
cabeça aos pés. — Quer se sentar? Esses saltos são muito altos! Está
com fome? Quer comer algo diferente?
Ela me olha confusa.
— Estou normal, Carter, foi você que desmaiou — diz e olha
para os três na sala. —Por que está todo mundo me olhando
estranho?
Espera. Ela não sabe que está grávida?
— Vamos conversar, amor - digo e olho sério para os três. —
A sós.
— O quê? Eu tenho todo o direito de ficar! — Ethan diz e
Allan o puxa para fora. — Eu sou o tio preferido!
Meu filho nem nasceu e já começaram a disputa.
— Tio? — ela diz sem entender.
Como contar para mãe do seu filho que ela está grávida?
— Lia… — começo e respiro fundo. — Eu reparei que está
diferente, e sei que você também…
— Está me chamando de gorda, Damon? — pergunta, irritada.
Oh, meu Deus.
— Amor, não está gorda.
— Eu odeio quando me enrola, Carter! Diz logo! — brada.
Lá vai!
Seguro sua mão e a ponho sob sua barriga. Se ela não entender
isso, eu juro que desmaio de novo.
— Não sei como te contar, mas… Você vai ser mamãe! —
informo com um sorriso.
Ela arregala os olhos e fica muda, olhando para nossas mãos
em sua barriga. Bom, se ela fosse desmaiar já teria o feito, não é?
— Isso é estranho! — diz por fim.
— Estar grávida?
Ela me olha e ri.
— Eu é que deveria te dizer isso, não acha? — diz e respira
fundo. — Foi por isso que desmaiou?
— Foi, não estava preparado para notícia — admito.
Será que é normal planejar uma viagem para Disney agora?
Melhor esperar ele nascer…
— Vou entender se não gostar da notícia, não era planejado, é
uma responsabilidade… — diz e tudo que consigo fazer é rir.
Gargalho com vontade.
— Gostar? Lia, em que universo você vive? Achou por um
segundo que não fosse gostar do meu próprio filho?
Ela desvia o olhar e me aproximo.
— Desculpa.
— Tecnicamente, fui eu que o coloquei aí, então… — Ela ri e
me bate com força.
— Cale a boca.
Rio e olho para barriga dela.
— Filho, não aprenda palavras feias, OK? Sua mãe tem a boca
muito suja!
E a mão pesada. Ela me soca e resmungo. Gravidez gera
superforça?
— Eu te amo, seu idiota! E como sabe que será menino?
Se Deus quiser.
— Acho que morro se for uma garotinha linda como você! —
admito e ela sorri. —Vou preso por matar os namorados dela!
Lia ri e revira os olhos.
— Então é isso… Estou grávida!
— Vamos precisar de uma casa maior… — digo e ela arqueia
uma sobrancelha. — O quê? Você não acha que vamos ter apenas
um filho, não é?
Que ingênua! Eu não vou deixar meu filho brincar sozinho!
— Conversamos mais tarde sobre isso, agora eu estou com
fome…
— Sorvete de creme?
— Odeio creme! Vomitei todo aquele que comi hoje.
— O que você quer, então?
Não pode ser nada demais. Lia nunca foi exigente.
— Melancia com queijo! — diz e arregalo os olhos.
Meu filho vai morrer intoxicado.
— Queijo?
— Acho que é algum desejo.
Quis responder ironicamente, mas preciso sobreviver para
criar meu filho.
Onde vou conseguir uma melancia?

Se existisse um prêmio que elegesse o ser humano mais idiota,


Ethan seria o maior vencedor.
— Pensem comigo, se a uva-passa for menina e se apaixonar
pelo Gabe, ela vai chamar o Allan de tio ou de sogro?
White está com a péssima mania de chamar meu filho de uva-
passa. Como lidar?
— Não a chame de uva-passa! — Lia resmunga.
— O Gabe não iria pegar a prima! — Allan intervém.
Meu filho nem nasceu e já virei sogro do meu próprio
sobrinho. Dá pra acreditar?
— Não vai ser menina! — aviso.
— E se Emma e Ethan tiverem uma filha e ela se apaixonar
pelo Gabe? — Dom questiona.
Gabriel está com tudo.
— Eu não vou ter filhos com esse idiota! — Emma grita e
White revira os olhos.
Pobres filhos.
— Eu não vou ter filhos com esse projeto de arco-íris! — ele
provoca e rouba-lhe um beijo.
Um casal estranho.
— O mundo agradece! — Dom ironiza.
— Pelo menos eu tenho uma namorada para ter filhos, e você
Dominic?
Seguro o riso, mas Allan não.
— Não usar uma aliança não significa que eu não tenha
mulheres, White! — diz e pisca para nós.
— Aquelas putas que você come também as considera? —
Emma provoca e para variar Ethan ri.
Esse casal precisa ser estudado.
Olho para Lia e me questiono em que universo eu me
imaginaria sentado com meus amigos e família junto de minha
mulher grávida. Para finalizar, só preciso levar aquela loira para o
altar.
— Damon, sua baba está escorrendo — Allan implica e reviro
os olhos.
Ignoro suas implicações e ponho minha mão sobre a barriga de
Lia. Meu filho.
Isso é tão surreal.
— Eu amo vocês — digo, baixinho e ela sorri.
Devo sofrer de alguma doença cronológica grave, porque a
cada segundo eu me apaixono mais. E isso foi brega até para mim.
— Emma, se um dia eu ficar desse jeito, promete que me bate?
— Ethan, se um dia eu ficar grávida eu te mato — responde,
calmamente e acabo rindo.
— Bom, eu preciso voltar para casa e não se preocupem…
Amanhã estou de volta! — Allan diz se levantando.
Abraço meu irmão e ele se despede de Lia.
— Também estamos indo! — Emma comunica e Ethan franze
o cenho.
— Estamos?
— Sim, nós estamos! — Ela se aproxima de Lia e sorri. —
Tchau, amiga! Cuida bem do meu afilhado.
E como não poderia terminar a noite sem uma idiotice, Ethan
abre a boca.
— Tchau, uva-passa! Não se esqueça que eu sou o tio
preferido! — diz para barriga de Lia.
— Não chama meu filho de uva-passa! — reclamo.
— Eu gosto de uva-passa.
— O filho é meu!
— Fui eu que contratei a Lia, então me agradeça por te dar
uma noiva!
— Some, White.
— Viu só, uva-passa! Vou ter um filho só para te namorar! —
provoca e juro que quis socar meu melhor amigo.
Emma começa a puxar Ethan para longe e ele ri.
— Não é uma menina! — resmungo.
Me aproximo de Harper e a beijo com toda vontade que senti
durante o dia.
— Preciso marcar uma consulta, me acompanha?
— Acha que vou perder a primeira foto da minha uva-passa?
— brinco e ela ri.
— Viva as uvas-passas.
— Viva! — grito.
Hoje, eu, Damon Carter, descobri que não importa o quão rico
ou tão poderoso seja, ser amado é o que importa.
Sou o homem mais feliz do mundo.
Capítulo 33

Lia Harper

Acho tão bonito aquelas grávidas de catálogos e revistas,


sorrindo e comendo salada. No entanto, faz três dias que descobri
minha gravidez e estou começando a achar que no lugar de um feto,
estou gerando um dragão faminto. Já comi três vezes mais que o
normal, e sinto até um pouco de pena de Damon, ele sai sempre no
meio da madrugada para conseguir um de meus desejos.
Confesso que estou apavorada com um ser crescendo dentro
de mim, mas meus medos caem por terra cada vez que o sorriso que
tanto amo é dirigido a minha barriga. Carter começou o hábito de
sempre conversar com o bebê, ou melhor dizendo… Com a nossa
uva-passa, e mesmo sentindo um medo absurdo, eu continuo
vivendo para as duas pessoas mais importantes da minha vida.
— Oi cunhada! Oi bebê! — Allan grita passando por mim no
corredor da Imperion. — Damon está?
E quando ele não está? Viciado em trabalho do jeito que é, se
não fosse por mim nem comeria.
— Está. Aconteceu algo?
Allan nunca vem por vontade própria até a empresa.
— Nada que precise se preocupar — diz e sorri.
Mesmo com os olhos azuis e fisicamente diferentes, Allan e
Damon são péssimos mentirosos, isso inclui também o mesmo
sorriso nervoso.
É óbvio que está acontecendo algo.
— Mentir para uma grávida é feio.
— Vai usar minha sobrinha como chantagem? — Confirmo e
ele bufa. —Meu pai me procurou.
Aí está um assunto no qual eu não gosto de falar, Robert nunca
mais apareceu na minha rotina nos últimos meses e de acordo com
Damon, Marta está magoada.
— Brigaram?
Ele sorri debochado e dá de ombros.
— Ele falou sozinho, na verdade, e teve a audácia de se
apresentar ao Gabe! — diz com ódio.
Não sei como será a relação do meu filho com o avô, mas
espero que Damon não crie problemas.
— Allan? — Ethan diz se aproximando com o cenho franzido.
— Aconteceu algo com o pirralho?
— Não, vim conversar com o Damon. Já estou indo — diz e se
despede com um aceno.
— Como está nossa uva-passa?
Olho para Ethan e sorrio.
— Com fome.
Ele nega com a cabeça e sorri.
— Desse jeito vamos ter que chamá-la de melancia.
— Qual seu problema com frutas?
Ele ri e ajeita a gravata.
— É que é muito clichê chamar um bebê de azeitona. E eu
odeio azeitona.
Desisto de tentar entender o Ethan.
— Por que eu ainda falo com você, White? — digo o deixando
para trás.
— Vamos trabalhar, Lia! Tenho muito trabalho pela frente!

— Eu odeio você!
Reviro os olhos e como meu sorvete de morango com batata
frita.
— Para de reclamar, Dominic… Você é um chato! — digo me
deliciando com meu sorvete.
— Chato? Eu tenho dezenas de coisas para fazer, duas
reuniões e estou em uma lanchonete com uma grávida consumista!
Que culpa eu tenho se trabalhar me deu fome.
— Deveria ter chamado o Ethan, ele é mais legal que você.
— White caiu do berço!
— Damon disse que ele é um gênio.
Dom revira os olhos e acena.
— Ele é um gênio, um nerd de grau maior, mas ele usa o
cérebro para torrar minha paciência! Pobre Emma…
— Eles se merecem! Dois loucos. Pega mais batata pra mim?
Dom me encara incrédulo, mas concorda. Carters são tão
prestativos.
Brinco com os fios do meu cabelo que precisam urgentemente
de uma hidratação até que sinto uma presença. Levanto o olhar e
paraliso com a imagem que vejo. Carmen, muito mais magra, e
dessa vez não é por culpa das dietas, seus cabelos que antes eram
brilhantes e sedosos, só restaram um por cento do que um dia já foi.
Ela está horrível.
— Olha se não é a vadia que eu subestimei! — ela grita e ri.
Ela não está bem, parece descontrolada. Meu corpo se arrepia
com a péssima sensação que senti.
— Carmen, eu sei que não está bem.
— CALA A BOCA! CALA SUA BOCA, VADIA! — ela grita
e no ato seguinte todo meu sangue congela. — É TUDO SUA
CULPA! OLHA O QUE FEZ COMIGO!
Carmen segura uma arma apontada diretamente para mim.
Deus, não permita que nada aconteça ao meu filho.
Olho desesperada para as pessoas que correm ao meu redor e
vejo Dominic ao telefone desesperado. DAMON.
— Abaixa a arma, Carmen… Você não quer me matar.
— Ahhh, eu quero sim! — diz, sorrindo abertamente. — E
depois eu vou ficar com o meu Damon!
Ela está fora de si.
— Por favor, abaixa a arma! Vamos conversar… — Tento
enrolar, mas ela não atende meus pedidos.
— Eu tinha tudo até você surgir! Eu ficaria com ele e seríamos
felizes… Mas ele preferiu a secretária sem sal.
— Miller, abaixa a arma! — Dom grita e ela ri ainda mais.
— Calado, Dominic! Ou eu mato você também! Aposto que
meu amor vai me agradecer por isso.
Mesmo tentando parecer forte, as lágrimas inundam meus
olhos e rezo para que nada aconteça ao meu filho.
Poxa Murphy! Precisava exagerar?
— Carmen, não precisa fazer isso! Se é o Damon que você
quer… Pode ficar! — minto e ela segura a arma mais forte. — Mas
me deixa ir!
— NÃOOOO! QUERO SEU SANGUE, LIA! MORTA
NESTE CHÃO!
E tudo ficou em câmera lenta. Carmen apertando o gatilho,
homens a imobilizando e Damon gritando algo incompreensível para
mim. Senti algo quente escorrendo no meu peito e logo o chão é
meu sustento.
O que dizem sobre a morte é verdade, em uma hora você só
deseja batata frita e outrora deseja cinco minutos com o homem da
sua vida. Nos segundos que tive antes da escuridão chegar, minha
vida passou em um flash.
“Uma Lia mais jovem se olha no vidro espelhado do grande
prédio imponente que se destaca em meio a tantos outros em NY.
Uma entrevista de emprego para secretária é mais que um sonho.
Um homem de olhar penetrante que absolutamente nunca sorri me
encara e junto está outro homem com o olhar divertido. Meus
futuros chefes?
— Meu nome é Damon Carter e este é meu sócio Ethan White
— diz, seco e lê meu currículo. — Seu currículo diz que nunca
trabalhou em uma empresa.
Boa, Lia! Para de babar no Deus Grego a sua frente e se foca
no emprego, um homem como Damon Carter jamais irá olhar para
você!
— Sou competente, senhor Carter. Irei realizar meu trabalho
com maestria.
Ele não esboça emoção alguma. Frio. Cretino!
— Senhorita Harper, sou eu quem decide se seu trabalho é
bom ou não.
Grosso.
— Sim, senhor Gross… Quer dizer, Carter. — Gafe.
Jesus.
O tal Ethan ri e estende o braço até mim.
— Está contratada, Lia, gostei de você.
Sorrio tímida e olho receosa para Carter.
— Esteja aqui às 7h de amanhã, atrase um segundo e se
arrependerá de levantar da cama — diz, rude.
Que Deus tenha misericórdia! EU CONSEGUI UM
EMPREGO.
E apago.
Capítulo 34

Damon Carter

Eu sempre tive tudo na vida, dinheiro, carinho, família. Era o


cara mais pegador da faculdade, o homem que comanda os negócios
da família, era a pessoa mais sortuda do mundo.
Ou me achava sortudo.
Nunca quis me envolver em um relacionamento novamente
após Anabela, todo e qualquer sentimento presente em mim era
direcionado ao meu trabalho. Eu passei anos motivado em não
sentir, que quando finalmente descobri o amor… Assisto a mulher
da minha vida levar um tiro.
Foi a dor mais profunda que já senti na vida, Lia caída e
Carmen sendo algemada por atirar na minha mulher. E eu não estou
apenas com medo de perder Harper, meu filho ou filha também está
no jogo.
— LIA! — grito e a seguro com força. — Por favor, amor…
Não me deixa!
— Precisa se afastar, senhor! — um dos paramédicos grita,
mas estou imóvel.
Eu não vou resistir se perder minha família.
— Damon! — Dominic me tira do chão e me abraça. — Me
perdoa… Se eu não tivesse trazido…
Ele não é o culpado. Carmen é.
Corro até o carro de polícia e encontro a vadia sorrindo
satisfeita.
— EU VOU MATAR VOCÊ! — grito e Dom me segura. —
SE ALGO ACONTECER COM ELA OU COM MEU FILHO, VAI
DESEJAR ESTAR MORTA!
Ela arregala os olhos.
— Fi-filho? — pergunta receosa.
— Minha mulher está grávida! Sua louca! O que te fez atirar
em alguém?
— Eu te amo, Dammy! Vamos ficar juntos agora…
Ela é obcecada, nunca pensei que fosse tão grande.
Erro meu. Culpa minha.
Não posso perder tempo aqui, minha mulher depende de mim.
— Morra em uma cela de prisão — digo com ódio.
Olho para o corpo frágil de Harper sendo colocado na
ambulância e rezo para que nada de ruim aconteça.
Se algo acontecer com a minha uva-passa não vou resistir.
Quatro horas. Quatro malditas horas em um corredor de
hospital sentindo que o motivo da sua existência está sendo operada
na sala ao lado. Horas sem notícias, sem vida própria. Estou há horas
em silêncio, chorando como um garotinho abandonado e não ligo se
toda minha família está me vendo fraco.
Aliás, como ser forte? Meu mundo é Lia Harper, sem ela eu
sou apenas uma casca do homem feliz que um dia já fui. Daria
minha vida para tê-la comigo com seu péssimo talento para cozinha,
seus dramas e desejos estranhos. E só o pensamento que posso
perder as duas pessoas mais importantes da minha vida, meu mundo
cai.
— Cara, a Lia é a pessoa mais azarada do mundo! Não vai ser
um tiro que irá derrubar aquela louca — Ethan diz, sentando-se ao
meu lado.
— Eu não posso perdê-las — sussurro.
— Filho, elas vão ficar bem! — Minha mãe tenta me consolar,
mas todo esse positivismo está me irritando.
Eu não sei em que momento todos decidiram acreditar que é
uma menina, mas no fundo eu sinto que estão certos.
— Parentes de Lia Harper? — o médico chama e meu coração
se desespera.
— Eu sou o noivo dela! Como está minha mulher, doutor? E
minha filha?
Por favor, Deus, não permita que elas me deixem.
— Conseguimos retirar a bala e ela não corre riscos,
felizmente estava alojada longe de qualquer órgão vital. — Um peso
sai de meus ombros. — Seu bebê continua bem, mas o
acompanhamento com um obstetra é recomendável.
Vivas. ELAS ESTÃO VIVAS.
— Posso vê-la? — questiono sorrindo e chorando de alívio.
— Ela está sendo enviada para o quarto, mas continua sedada.
A partir do momento que ouvi que elas estão bem, foi como se
o ar tivesse voltado aos meus pulmões.
— Eu disse que a uva-passa era forte! — Ethan brinca e sorrio.
— Nem nasceu e já te fez desmaiar e parar no hospital na mesma
semana. Cara, você está perdido!
— Eu nunca fiquei tão feliz por estar ferrado, Ethan! —
admito.
Não importa quantos homens eu terei que ameaçar ou quantas
fraldas trocar, desde que tenha minha família comigo.
Eu não vivo sem Lia e a minha uva-passa.
Capítulo 35

Lia Harper

Branco.
É a primeira coisa que vejo no instante em que abro meus
olhos, um imenso teto branco. Será que eu morri?
Tento movimentar meu corpo, mas uma dor aguda no meu
peito me faz arfar. Merda! Será que nem no céu meu azar me larga?
Olho para o lado e encontro os quatro homens da minha vida
dividindo um único sofá. Seria engraçado se não fosse pelo fato de
que rir me causa dor.
Damon está sentado na beira próxima à minha cama, enquanto
Ethan está dormindo com a cabeça no ombro de Dominic. Allan…
Bom, ele está no chão que por incrível que pareça parece bem mais
confortável que o sofá. Como não amar essa família?
Meu bebê. MEU BEBÊ! AI MEU DEUS!
— Damon… — digo com a voz rouca e nenhum deles se
move. — Damon!
Ele abre os olhos rapidamente e me olha. Seja lá o que tenha
acontecido após meu desmaio, Carter não ficou nada bem.
— LIA! — grita e se levanta rápido. — Amor! Graças a Deus!
Como está se sentindo? Vou chamar o médico!
E como mágica, o caos na sala se fez presente.
— PARA DE BABAR EM MIM, PORRA!
— O QUÊ? CALA A BOCA, OXIGENADA, FOI SEU
OMBRO QUE SE ENFIOU DEBAIXO DA MINHA CABEÇA!
Dominic se levanta e sem querer pisa em Allan. Será que o
quarto tem câmeras? Eu quero guardar esse momento para sempre.
— AI, CARALHO! — Allan grita e olha com ódio para Dom.
— Porra, eu estou aqui!
Tentei não ri, mas fracassei.
— Ai… — resmungo e ponho a mão sobre o peito.
Todos da sala me olham preocupados.
— Allan, chama o doutor! — Damon pede e o irmão obedece.
— Meu amor, como está?
— Meu bebê… Damon o que aconteceu com nosso bebê? —
pergunto aflita.
E lá surgiu o sorriso que fez todo meu corpo se aliviar, cada
um da sala sorriu em resposta.
— Nosso bebê está bem! Meu amor, eu senti tanto medo!
— Gente, a uva-passa leva um tiro na primeira semana de
existência… Imaginem com 18 anos?
— Cala a boca, Ethan! — Dom o soca e se aproxima de mim.
— Ainda quer batata frita?
Sorrio e aceno.
— Com muito sorvete.
— Tomara que ela nasça com o dom do pai para cozinhar —
Ethan diz e reviro os olhos.
Que preconceito. Eu sei cozinhar!
— Quando você for pai eu vou foder com a sua vida! —
Damon avisa e Ethan faz careta.
— Deus me livre! Emma versão fraldas não! Acho que me
mato!
— Qual é, White?! Não vai querer suas azeitonas? — Dom
provoca.
— Odeio azeitonas!
— E quem disse que gosto de uva-passa? — Damon retruca.
— Viu só, uvinha! Seu pai é um idiota — ele diz olhando para
minha barriga.
Da próxima vez que eu levar um tiro, vou me certificar que
deixem Ethan no corredor.

— Estive pensando no nosso casamento… — Carter comenta


enquanto massageia meus pés.
Ame alguém que saiba fazer massagem. Dica.
— Depois de quase morrer, engravidar, estar engordando a
cada segundo… Eu também ando pensando
Por que esperar? Não sei se vou estar viva amanhã! Tenho que
realizar meu sonho de me casar com meu lindo e gostoso chefe.
— Lembra da primeira vez que te vi? — pergunta sorrindo.
Como esquecer, ele foi um mala.
— Sr. Carter, o todo poderoso — zombo.
— Eu gostei de você aquele dia… E não foi só para seu decote
que olhei.
— Cretino!
— Seu sorriso, Lia, seu jeito de morder os lábios quando está
nervosa, seu mau humor quando está de TPM… Sempre reparei isso
em você desde a primeira vez.
Damon olhava para mim?
— Jura? Carter, você é o chefe mais mandão e grosso que eu
já vi, me tirava a paciência todo dia.
— Eu amo te irritar, Lia, amo inventar desculpas para ir até
sua sala, amo estragar as chances de todo homem naquela empresa
que olha pra você.
Meu coração não está preparado para isso, gente.
— Como você é real?
Não é possível! O desgraçado não tem nem chulé e posso
garantir que defeito ele não possui. OK, tirando o ego dele, diria que
veio da Disney.
— Lia, eu não sou nada sem você, meu amor, nada sem vocês.
— Acaricia minha barriga. — Como sobrevivi 27 anos sem você?
— Foi difícil — brinco e ele me puxa para seu colo.
Meu lugar preferido no mundo.
— Quero me casar com você e ter muitas uvas-passas.
— Muitas?
— Muitas!
Se alguém encontrar meu coração derretido, por favor, guarde
para mim, vou fazê-lo de calda para meu sorvete de manga que irei
obrigar Carter a buscar.
Capítulo 36

Três anos antes.

Damon Carter.
A pior coisa que fiz na minha vida foi contratar aquela
secretária, não que o trabalho dela é ruim, o que não é o caso,
definitivamente, já que ela resolve minha vida o tempo todo, mas eu
não consigo estar no mesmo andar que a mulher mais fodidamente
gostosa que já vi, e sendo minha secretária. Já perdi quantas vezes
desejei entrar naquela sala e fazer Lia Harper ter o melhor sexo de
sua vida, mas toda vez que penso isso me dou conta de que terei que
demiti-la e só Deus sabe quanto eu preciso de uma secretária
competente.
A mulher nunca, absolutamente nunca, deu em cima de mim,
ela não usa roupas curtas (para meu azar) ou faz comentários
maliciosos, sempre profissional e mesmo sendo desastrada, continua
competente. Agora eu só preciso de uma maneira para esquecer a
minha secretária gostosa, a mulher nunca me deu um sorriso
malicioso e já me causa tanto nervosismo, nem me reconheço.
— Damon! — Ouço meu nome ser chamado e me lembro que
estou acompanhando. — Está muito tenso, querido… Vamos
relaxar!
A loira diz na tentativa de ser sexy, mas soou como uma
matraca, me recuso a admitir que tentei usá-la para esquecer Harper.
Mas não estou tendo resultados, já que nem uma loira oxigenada
gostosa nua ao meu lado conseguiu tirar meu foco dos olhos azuis
que me rondam a mente há meses.
— Deixo pra outra hora — digo, seco e me levanto.
Eu não durmo com as mulheres que pego, já fui idiota uma vez
e não será outra mulher que se aproveitará de mim.
— Mas, Damon! E nossa noite? — Faz biquinho.
Reviro os olhos e me visto. Odeio mulheres grudentas, se em
um futuro distante eu me envolver com alguém, nunca serei como
aqueles homens idiotas que fazem de tudo por elas. Saio do
apartamento da loira que nem me dei o trabalho de decorar o nome e
entro no meu carro.
Comprei uma cobertura há alguns dias e estou me
acostumando a morar sozinho, meus pais são muito exagerados e ser
filho único não ajuda. No momento em que viro a esquina do meu
quarteirão meu celular toca. Lia.
Essa mulher vai me matar um dia.
— Carter, o que você quer, Harper?
Eu não sou rude com meus outros funcionários, mas com ela é
a única opção que tenho, ou não respondo pelos meus atos.
— A- Ah, senhor Carter, desculpe incomodar, mas o senhor
disse que seu número pessoal era pra emergências! — diz
gaguejando.
Será que ela não percebeu que eu dei MEU TELEFONE
PARA ELA?!!!!
— Diz o que aconteceu, Harper, não tenho a noite inteira.
— O Sr. White viajou para Tóquio e pediu para que avisasse
ao senhor.
Filho da puta! Como Ethan vai para o outro lado do mundo
sem me avisar? Eu mato aquele bastardo.
— Algo mais?
— Sim, ele deixou uma pasta para você… Quer dizer, senhor,
e me pediu para entregá-la hoje.
Uma chance de ir vê-la fora do escritório. Não farei isso.
— Chego aí em dez minutos. — Ou cinco.
— Mas sabe meu endereço?
— Sou seu chefe, Harper! Sei tudo sobre você!
Meu Deus! Será que eu terei que pedir ela em casamento para
ficha cair? Preciso dessa mulher na minha cama.

Chego de frente para o apartamento dela e sinto cada músculo


do meu corpo tenso. Hoje ela será minha. Bato e ela abre
rapidamente.
— Oi, chefe, boa noite! — me cumprimenta e sorri.
Tudo que consegui fazer foi segurar meu queixo, porra! Lia
Harper de short curto é muito para mim.
— Olá, Harper! — digo, minha voz denuncia o desejo que
sinto.
— Entre, senhor, irei pegar a pasta! — ela diz e corre para o
que acho ser o quarto.
Será que vou parecer desesperado se for atrás dela? Dessa
forma eu economizo tempo, certo?
Certo! No momento que dou o primeiro passo ouço uma voz
masculina.
— Quem é? — o homem grita.
MAS QUE PORRA É ESSA? QUEM É ELE?
— É meu chefe, Henry! E já está na hora de você ir!
Quem diabos é Henry?
Lia volta com a pasta na mão e meu rosto deve estar horrível
já que ela para de sorrir.
— Aqui está, senhor!
Porra! Ela tem um namorado! Claro, Damon, uma mulher
como Lia não foi feita para ser usada e jogada fora.
— Não se atrase amanhã, Harper! — digo, seco, e me viro
dando as costas a ela.
Ela está ótima como minha secretária, não preciso dela, posso
ter a mulher que quiser.
Mas por que estou sentindo meu coração doendo? Essa mulher
é um perigo que não vou correr. Lia Harper não é para mim. Ela
merece um homem que a ame e que construa uma família com ela.
Definitivamente eu não sou esse homem.
Capítulo 37

Lia Harper

As desvantagens de estar grávida.


Deveria ser um filme, estrelado por mim e por Damon no
papel de namorado babão, desde que levei um tiro, Carter que já era
exagerado com minha proteção, se tornou um perfeito exemplo de
homem preocupado. Não que eu não goste de ter toda essa
preocupação da parte dele, mas ninguém, ABSOLUTAMENTE
NINGUÉM, me deixa fazer nada sozinha.
Não posso usar saltos, não posso subir escadas, não posso
pegar peso. OK. Mas eles não me deixam segurar um lápis. Até o
Ethan que achei que seria meu aliado deu ouvido as regras de
Damon. Traduzindo: Estou com tédio.
— Minha vida é um tédio! — resmungo, jogando uma bolinha
de papel no lixo ao longe — e errando.
— Está deixando minha sala repleta de papéis, Lia — Damon
diz sem ao menos olhar para mim.
Eu disse que ele era um chefe mala. A diferença é que ele é
meu mala.
— Estou em cárcere privado! Não posso ir ao banheiro
sozinha!
— Estou fazendo isso para sua segurança e a da nossa filha, e
nada que me disser mudará isso.
Infelizmente.
— Você é um babaca, sabia?
Ele tira o olhar do documento e olha para mim e ainda por
cima sorri debochado, o mesmo sorriso que me faz desejar matá-lo e
beijá-lo ao mesmo tempo.
— Mas sou um babaca que te ama e só está preocupado com
você. Agora pare de sujar minha sala e me deixa trabalhar.
Damon e sua incrível habilidade de ser amável e detestável na
mesma frase.
— Vou buscar um café! — digo me levantando.
— Traga um bem forte para mim.
Sorrio internamente e me viro para ele.
— Busque você, não posso fazer esforço! — digo e saio da
sala com toda minha glória.
Vou para cozinha do andar e adivinhem minha cara ao ver
Emma e Ethan praticamente se comendo na bancada.
— Vocês não têm cama? — grito.
Eles se assustam e rapidamente estão me olhando com a cara
mais lavada possível. Ninguém me respeita nesta empresa.
— Oi, Liazinha estraga clima!
— Oh não… Podem se agarrar à vontade! Só vim buscar um
café e ficar longe do Carter mesmo.
— Eu… tenho que voltar para recepção… Ethan eu ainda
quero te matar! — ela diz e sai da cozinha me jogando um beijo.
White fica de cara feia e bufa.
— Mulher louca! Essa demônia ainda me mata!
Rio e começo a preparar meu café.
— Vocês são loucos, o que você fez?
— Ela disse que eu não penso no futuro! — diz com deboche.
— E pensa? — pergunto e ele suspira. — Ethan, Emma não
quer namorar pra sempre.
— Eu sei, Harper! — diz, sério, ele nunca me chama pelo
sobrenome. — Eu amo Emma e não nego, mas não estou pronto
para casar agora.
Nem todos são loucos como Damon.
— Eu também não estou — digo, e ele arqueia uma
sobrancelha. — Ninguém está realmente pronto, assim como não
estava pronta pra ser mãe!
— Mas a uva-passa te deixou feliz!
— Sim, são as surpresas que movem o mundo, Ethan, não
precisa ter medo do futuro.
Ele sorri e aperta meu ombro em agradecimento, espero ter
ajudado.
— PORRA, HARPER, VEIO FABRICAR O CAFÉ?
Me viro e lá está Damon, entrando na cozinha com o olhar
preocupado. Eu disse que ele está exagerando.
— Estava te deixando trabalhar! — digo com ironia.
— Eu fiquei preocupado! — diz, analisando meu corpo. —
Está se sentindo bem?
— Estou ótima, não precisa exagerar!
— Está com fome?
Sempre estou com fome.
— Quando ela não está com fome? Mil lobos não se
comparam a Lia! — Ethan provoca.
Pior que é verdade.
Damon sorri de canto e me puxa para seu peito. É normal
sorrir feito idiota com essa demonstração?
Devem ser os hormônios.
— Ignora o Ethan, vamos almoçar?
— Sim, estou faminta!
— Eu disse!

Abençoado seja quem inventou macarrão com queijo, é de


longe a melhor comida do mundo.
— Sabe que minha mãe irá querer uma festa de repercussão
mundial, não é?
Olho para Damon que está calmamente esperando que eu
termine meu terceiro prato de macarronada.
— Por mim, só assinava os papéis! Não quero centenas de
pessoas olhando meu casamento!
Estamos juntos há quase um ano e nesse tempo tive que me
esconder de paparazzis poucas vezes, não quero essa rotina agora.
— Vamos esperar nossa uva-passa nascer primeiro? —
questiona.
Nove meses está muito longe.
— Não sei se consigo deixar meu bebê longe enquanto me
caso.
Carter ri e acena.
— Não estou pronto pra levar minha filha para o altar no
primeiro mês de vida!
— E se for menino?
— Aí Ethan me paga mil dólares.
— Apostou o sexo do nosso filho? — reclamo.
— Bem…Sim! — responde, dando de ombros.
Homens…
— Acho que será menina — digo com firmeza.
Não sei explicar, mas sinto que é uma princesinha.
— Que vai ser freira.
— Damon! Nossa filha não vai ser freira — brigo rindo.
Ciumento é pouco para definir.
— Claro que vai! Vou treinar Gabriel pra bater em cada garoto
que se aproxime dela.
Será que ele se ouve dizendo essas merdas?
— Você não seria tão louco.
— Quer apostar?
Não duvide de Damon, essa foi uma coisa que aprendi há
anos.
— Carters…
Capítulo 38

Damon

— Então, vamos ver como esse bebê está? — a médica diz e


encaminha Lia para uma cama próxima a um televisor.
O consultório ficou relativamente menor com 4 homens de
ternos parados ao lado da cama. Ethan e Dominic se autoconvidaram
enquanto Allan simplesmente se juntou aos dois. Traduzindo, a
doutora deve estar assustada.
— Fico feliz que estejam aqui — Lia diz e sorri para os três.
Bem no fundo também estou, sei que Harper não possui
família e ter pessoas que se importam por perto é importante para
ela.
— E perder a primeira foto da minha sobrinha? — Allan
brinca.
A doutora começa a deslizar um aparelho sobre a barriga de
Lia e no momento que imagens começam a surgir na tela meu
coração dispara. Meu filho, minha família.
— Estão vendo esse pontinho? É o filho de vocês.
Lágrimas escapam dos meus olhos e aperto firme a mão de
Lia.
— Nosso bebê! Damon, nosso bebê!
— Parabéns, cara! — Allan bate de leve nas minhas costas.
Me viro e encontro Allan sorrindo, sei que ele está imaginando
como teria sido se Anabela não tivesse feito o que fez. Ainda tenho
esperanças que ele vai encontrar uma mulher que o faça feliz.
— Aquele borrão é a uva-passa? — Ethan encara a tela e sorri.
— Isso é estranho!
— É assim que Emma vai ficar — Dom provoca.
Para minha surpresa, Ethan não responde com suas ironias ou
qualquer uma de suas respostas idiotas.
Ele sorri. E não um sorriso debochado que sempre vi, um
sorriso orgulhoso.
— Serei o homem mais feliz do mundo se isso acontecer,
Dom.
Eu vivi para presenciar meu melhor amigo dizendo que quer
ser pai. Já posso morrer feliz.
— Eu acho que escutei errado… Ethan, você está se sentindo
bem? — Dominic pergunta, sério.
— Estou ótimo! — responde e olha para Lia. — Estou
disposto a surpresas!
Por que não estou surpresa com o envolvimento de Harper
nisso? Ela sempre está envolvida.
— Serão os pais mais loucos do mundo, mas… Isso não faz
diferença! — digo e ele sorri.
— Meus melhores amigos adotando a paternidade! Que ótimo!
Preciso de novas amizades! — Dom resmunga.
— Cala a boca, oxigenada! Emma me mata e desova meu
corpo se ouvir isso!
— Ela não quer filhos? — Allan franze o cenho.
— Quem dera que esse fosse o problema…
— Ela quer se casar, mas o Ethan está com medo! — Lia diz
sorrindo.
— Obrigado, sua traidora!
Rio e ajudo minha mulher a se limpar.
— Medo? Você fica babando na Carson e quer uma família…
Achei que fosse inteligente — Dom diz rindo.
— Isso aqui é uma consulta ou vieram discutir minha vida
pessoal?
— Os dois! — dizemos juntos.
— Carters…
Capítulo 39

Lia Harper

Eu nunca fui consumista ao ponto de ser como Emma ou


Damon, comprava sempre o necessário e por natureza sempre soube
economizar. Mas tudo mudou.
— Olha esses como são lindos! — Mostro um par de
sapatinhos brancos para Carter e ele sorri feito bobo.
Não poderia ser mais cômico, a loja de roupas para bebês é
toda em uma decoração clean e pastel, e Damon em seu terno preto
se destaca deixando as pequenas peças ainda mais delicadas. Será a
primeira vez que vamos comprar algo para nosso bebê. Mesmo que
Ethan tenha simplesmente exagerado nos presentes… Ele já está na
disputa de tio preferido.
— São lindos! Tudo é lindo! — diz sorrindo. — Não aguento
mais esperar por nossa uva-passa.
— Precisamos parar de chamá-la assim, amanhã será a
ultrassonografia e com sorte vamos ver o sexo.
É difícil perceber em como as semanas estão passando
depressa.
Mal vejo a hora de comprar milhões de coisas fofas para ela…
Ou ele. Mesmo sentindo que será uma menina, não tenho ideia de
que nomes possíveis posso usar.
— Ainda tenho esperança de que será um menino!
Minha filha terá um pai muito ciumento e possessivo. Tenho
dó dos namorados dela.
— Não seja ciumento, Damon, agora me ajude a escolher um
desses sapatinhos fofos?
— Por que apenas um? Vamos comprar todos!
Consumista.
— Exagerado! Não vamos levar a loja inteira — aviso e ele
me encara com aqueles olhos pedintes.
— Qual a graça de ter dinheiro e não gastar com o próprio
filho? Olha só, Lia… São tão pequeninos! — implora com os
sapatinhos nos dedos.
Essa será a criança mais mimada do mundo se ele não se
conter.
— Sabe que está exagerando.
— Sabe que vou comprar mesmo se você não gostar — diz
sorrindo de canto e reviro os olhos. — Como anda os preparativos
do nosso casamento?
Nunca pensei que casamentos fossem tão cheios de detalhes,
quem liga se a cor da toalha dos noivos deve combinar com a dos
padrinhos?
Isso mesmo, ninguém! Pessoas vão a casamentos ou para
prestigiar um amigo OU para comer. Regra simples da
sobrevivência. E eu não nasci para promover festas nem mesmo o
meu casamento, ainda mais quando meu noivo é podre de rico e eu
no máximo sei fazer uma festa do pijama.
— Sua mãe está cuidando dos detalhes, eu não sei dar festas!
— digo, dando de ombros.
Ele para o que está fazendo e me encara com pavor.
— Minha mãe irá promover a festa do ano… Lia, ela é
exagerada!
Ele tem a quem puxar, Marta é consumista compulsiva.
— Pedi que fosse simples, era isso ou serviria bolo e
refrigerante para os convidados!
Não estou exagerando. Eu nunca fui boa em promover festas,
primeiro porque detesto festas e segundo porque não sei ferver água.
Festa sem comida não é festa.
— Não importa, desde que no fim do mês eu possa chamá-la
de Senhora Carter! — diz se aproximando perigosamente da minha
boca. — E aproveitar nossa lua de mel…
Às vezes me surpreendo com as oscilações de Damon, em um
momento está fofo e encantado e em outro safado e cretino. Não sei
qual amo mais.
— Estamos em público, Damon! — o recrimino e ele sorri
maliciosamente.
Será que ele não percebe que estamos em uma loja lotada de
peças infantis e mães fazendo compras. É quase um pecado pensar
em sexo nesse ambiente.
—Por que tanto drama? O motivo de estarmos aqui nesta loja
foi porque fizemos um filho e caso não saiba… — passa a barba no
meu ombro me provocando —, um filho não é feito com
pensamentos puros.
Maldita analogia sexual de Damon.
— Para de me seduzir e me ajude a fazer compras! — O
empurro para longe e o desgraçado sorri. — Anda Carter!
— Te seduzir é minha melhor diversão!
— Achei que fosse me irritar.
Ele dá de ombros e me olha daquele jeito que abala meu pobre
emocional de grávida.
— Isso era antes de me apaixonar por você.
— Está me seduzindo ou fazendo um elogio?
— Nunca saberá, loira.

Jogo as sacolas no sofá e mal tive tempo de tirar os sapatos


quando o corpo de Damon já estava sobre o meu, mostrando o
quanto me desejava. Ficar grávida mexe com meus hormônios, e
minha libido é quase impossível controlar.
Como vou ficar normal quando moro com a porra de um
homem gostoso e sexy? Damon não facilita, e sinceramente não
tenho do que reclamar.
— Te desejo tanto, Harper… Desde a primeira vez que te vi!
— diz em meio aos beijos e meu cérebro está longe demais. — Tê-la
aqui é irreal!
— Sempre me tratou mal como secretária…
— Tesão reprimido! — admite e não seguro o riso. — Eu te
amo de uma forma tão intensa que tudo antes de você foi apenas um
borrão, você é minha vida!
Isso sim é uma declaração.
— Eu te amo tanto, meu cretino!
— Eu sei… Sou mesmo um amor! — se gaba.
Nem assim o ego diminui.
— É… Um amor de cretino! — ironizo e ele ri.
— É um bom título! — diz e volta a sua tarefa de beijar meu
pescoço exposto. — Agora eu quero você na minha cama!
— Está perdendo tempo aqui por quê?
— Hormônios.
— Será que nunca esse amor doentio irá passar?
— Espero que não.
— Viu, filha, sua mãe é uma tarada!
— Cala a boca Damon.
Capítulo 40

Lia Harper

Eu vou, eu vou, comer bolo agora eu vou!


Não me contenho de tanta empolgação, degustação de bolos é
tudo que eu poderia desejar! Nas últimas semanas, Marta me fez
decidir tanta coisa que já estava cogitando me casar escondida em
alguma capela de Las Vegas, sem dúvidas, Damon adoraria a ideia,
até porque ele também está sofrendo com o exagero da mãe.
— Mal posso esperar para comer aqueles doces! — digo,
eufórica.
Carter, pela primeira vez na história não está parecendo um
modelo de ternos, sua calça jeans surrada e regata o fazem parecer
uma pessoa diferente, ou melhor, o deixa mais lindo.
— Vou precisar voltar a malhar se continuar te acompanhando.
— Eu como por duas, OK? Que culpa eu tenho se sua filha
gosta de açúcar?
Alguns dias atrás descobrimos o sexo do bebê, achei que
Damon ficaria decepcionado mas para minha surpresa ele ficou
feliz/ciumento.
— Eu não vou aguentar duas mulheres que amam chocolate!
— brinca e envolve meu ombro com um de seus braços.
Assim que entramos no prédio onde se localizava a empresa
do nosso buffet, juro que vi toda alma feminina babar sobre Damon.
Realmente ele é tão lindo que chega a doer.
— Toma cuidado pra não pisar na baba delas — ironizo e
Damon ri.
— Eu sou lindo e tenho ciência disso.
— Metido!
— Realista é a palavra exata — se gaba e reviro os olhos. —
Consigo a mulher que quiser.
Arqueio uma sobrancelha e lhe dou o meu melhor olhar
assassino.
— Consegue?
— Conseguia! Porque agora tudo que me importa são vocês
duas, gostosa.
Cara de pau.
— Não jogue esse charme, Carter.
Ele ri e seguimos até o andar que será a degustação, já falei
que amo bolo?
— Vou sair daqui com diabetes! — resmunga.
Quem liga? Açúcar é vida.
— Ninguém te obrigou a vir.
— Jura? Porque seu discurso antes de virmos foi quase uma
ameaça — diz, sarcástico.
Onde já se viu! Eu ameaçando alguém? Sou totalmente da paz.
— Vai ser legal! — digo com confiança.
Um lugar repleto de doces é o paraíso! Como pode ser ruim?
— Boa tarde, podem se acomodar que logo iremos
providenciar ótimas opções para sua escolha! — Uma mulher
morena e sorriso forçado nos recebe.
Ok, todo mundo têm dias ruins, certo?
— Obrigada! — agradeço e olho para Damon que está pálido.
O que está acontecendo?
— Nunca pensei que fosse reencontrar você aqui, Carter! — a
morena diz me ignorando completamente.
Ah não. Acho que encontrei com o passado de Damon.
— Mas encontrou, vamos amor? — Ele me olha suplicante e
sorrio falsamente.
Primeiro eu vou comer meus bolos, depois questionar Damon.
— Já vou avisando que não levo outro tiro por você — digo,
séria.
Damon esboça um sorriso e puxa a cadeira para que eu me
sente. Cavalheirismo?
— Não brinca com isso, dessa vez eu morro se tiver que passar
por aquilo novamente!
Não tive nem tempo de responder e a oferecida da ex-peguete
já surge na nossa mesa com a maior cara de desprezo. Eu vou socar
ela.
— Aqui está nossas opções! — diz e quase enfia o decote no
rosto de Carter. — Se precisar de mim, só chamar.
Vadi..
— Não vamos precisar — respondo grossa.
Ela se afasta e olho com ódio para Damon.
— Eu não fiz nada! Foi você que me obrigou a vir, lembra?
Maldita hora que o fiz.
— O que você teve com ela?
— Só uma noite! — diz direto e faço careta. — Nem me
lembro do nome dela! Não precisa de ciúmes.
— Se fosse meu ex-namorado no lugar dela, qual seria sua
reação?
O rosto de Damon se contorce em uma careta.
— Cometeria um homicídio.
— Então você me entende!
Durante todo tempo, a mulher não nos incomodou e pude
aproveitar meus bolos, mas graças a minha gravidez minha bexiga
não é a mesma. Me levanto e deixo Carter sozinho com as trufas
para ir ao banheiro.
Com quatro meses de gestação, minha silhueta já demonstra
um formato arredondado e mal consigo me olhar no espelho sem
sorrir feito uma idiota.
— Então você é a noivinha do Damon?
Me assusto e me viro dando de cara com a morena.
— A própria! — Decido não discutir, minha saliva é preciosa
para ser gasta com ela.
— Acha mesmo que ele se interessa por alguém como você,
garota? Gorda ainda por cima!
Ah não. Não. Não.
Por que esse clichê? Encurralar no banheiro é baixo.
Sem tempo para mais uma surtada.
— Escuta aqui, vadia, ele nem sabe seu nome! Não me
interessa o que você acha ou não, é comigo que ele irá se casar e
ah… — seguro minha barriga com orgulho e sorrio — o nome disso
é gravidez! Agora me dá licença, que tenho um bolo de casamento
para escolher e um noivo para cuidar!
Saio do banheiro satisfeita e encontro Damon com o olhar
confuso.
— Tudo bem?
— Melhor impossível! Escolheu as trufas?
Ele suspira e olha para os chocolates.
— Isso é uma decisão difícil! Vamos levar todas!
— Para de ser exagerado, homem! Por que comprar todas?
Ele me olha presunçoso e sorri debochado.
— Porque eu sou bilionário! — responde casualmente. —
Todas as trufas!
Às vezes me esqueço que Damon não sabe o que é ser pobre e
pôr água no shampoo.
— Aumentar meu salário que é bom nada! — resmungo.
Ele ri e fico séria. Eu não estava brincando.
Ser secretária de Damon Carter é para poucos!
— Aumentar por quê, se você será a mulher do dono?
— Não venha com essa, volta para suas trufas, Carter!
O bastardo ri.
— Amo te irritar!
— Babaca!
Capítulo 41

Damon

Eu vou morrer.
Essa foi a primeira coisa que pensei no momento em que abri
os olhos. E Deus me ajude, Lia irá servir meu fígado em uma
bandeja de prata se me visse agora. Foi uma péssima ideia ter
aceitado ir a uma despedida de solteiro promovida por Ethan.
Me ponho de pé sentindo náuseas e uma ressaca insuportável.
Como é que vou me casar assim? Foi uma péssima ideia. Meu
celular começa a tocar e sinto meu cérebro se contrair.
— Carter… — atendo resmungando sem olhar o visor.
— Sabe a pior parte de confiar cegamente em alguém? —
Ouço a voz de Lia e meus sentidos despertam.
Olho rapidamente para o visor e vejo que são quase duas da
tarde. Eu estou muito ferrado.
— Amor… Droga, eu perdi a hora! — digo, verificando se
minhas chaves estão no bolso e corro para porta. — Sabia que não
deveria ter bebido tanto!
— Você foi a uma festa na véspera do nosso casamento,
Carter! Acordei no que era pra ser o dia mais feliz da minha vida
sozinha! — diz neutra.
Puta merda! Eu estou muito ferrado! Lia nunca é calma.
— Eu sou um idiota! Não quis te deixar sozinha, estou indo aí
pra gente conversar!
— Fique onde está, Carter, estou com muita raiva de você
agora! — avisa, e por um segundo meu mundo cai.
— Lia, eu te amo! Amo nossa filha e vamos no casar em
algumas horas! — digo, desesperado. — Não está pensando em
desistir, não é?
— Tenho que desligar, Damon.
— Estarei no altar te esperando! — digo, firme. — Não ligo se
está com raiva de mim, terei a vida inteira para te compensar!
Nada nem ninguém pode me impedir de tê-la como minha
mulher.
— Odeio quando diz essas frases bonitas e derrete meu
coração! Eu te amo, mas quero socar sua cara!
Rio aliviado.
— Não vou aguentar até a noite sem te ver…
— Problema seu! Conseguiu ficar a noite sem mim, então
consegue esperar! Agora tchau que tenho um dia de noiva à minha
espera! — diz e desliga na minha cara.
Essa mulher é louca.
Nunca imaginei que um dia estaria com meus melhores
amigos me arrumando para meu próprio casamento. Só não choro de
emoção porque Ethan usaria isso como arma durante a vida inteira.
— Cara, eu estou muito gostoso neste terno! — Ethan quebra
o silêncio.
O meu terno é cinza, o que o diferencia dos outros três. Ethan
faz meu ego parecer inseguro.
— Ninguém concorda! — Dominic retruca. — Allan, onde
está o Gabe?
— Com Robert… Na sala! — diz com desdém.
Desde que briguei com meu pai, nosso contato é baseado em
comprimentos cordiais e acenos, isso porque Lia me obriga. Mesmo
que tenha minhas diferenças, quero minha filha com o avô. Pena que
Allan não pense da mesma forma, o ódio por nosso pai é algo vivo.
— O Gabe logo, logo terá a uva-passa para brincar.
— Precisam escolher um nome logo, não suporto mais Ethan
com os apelidos! — Dom resmunga.
— Cala a boca, Loira do banheiro!
— Estive pensando em alguns nomes… Amélia… — digo
com expectativa.
— Parece nome de uma senhora idosa — Ethan diz, dando de
ombros.
— Alice! — digo outro e Dominic nega com a cabeça. — Por
que não?
— Minha ex-amante.
Ethan ri alto e Dom fecha a cara.
— Eu me lembro! Alice Vera, a santinha da escola, que você
levou pra cama… Cara, eu nunca te vi correr tanto no dia que o
irmão dela veio atrás de você!
— Ok… Charlotte?
Eles me olham e avaliam o nome.
— É bonito! — Allan diz por fim.
— Perfeito!
— Lottie… Mas vou continuar chamando-a de uva-passa.
Claro que vai.
— Bom… Agora só falta ir para o altar! — digo, nervoso.
— Ainda tem chances de fugir! — Ethan brinca.
— E a Lia nos mata e desova os corpos! — Dominic completa
e ri. — Se meteu em uma furada.
— E não me arrependo nem um pouco.
E nunca irei.
— Chega desse sentimentalismo! Vamos logo que ainda tenho
que buscar aquele anão diabólico.
— O próximo casamento será o seu! — digo e Ethan nega.
— Está amarrado! Não roga pragas! Britney, seu primo tá me
rogando pragas!
— Foda-se.
— Duvido que diz isso perto da Emma! — provoco.
— Aquela mulher é agressiva! Deus me livre!
Sorrio para meus amigos e respiro fundo. Hora de colocar o
plano mais idiota em prática.
Ela só precisa dizer sim.
Capítulo 42

Lia Harper

— Você está tão linda, querida! — Marta elogia.


O reflexo no espelho é totalmente diferente da garotinha órfã e
indefesa que um dia já fui. Depois de anos vivendo apenas por
necessidade, estou aqui, pronta para subir no altar com o homem que
amo e grávida. O destino realmente gosta de me pregar peças, um
dia era apenas uma garota procurando emprego, hoje sou uma
mulher construindo uma família.
— Me sinto diferente! — digo alto e os olhares no quarto se
voltam para mim —Ansiosa…
— É normal, no meu casamento fiquei desesperada! — Minha
sogra diz sorrindo.
Aliso a saia do meu vestido mais uma vez e suspiro. É agora.
— Eu nem acredito que minha melhor amiga irá se casar!
— Ahh, Emma! Tenho certeza de que logo o Ethan se toca e te
pede em casamento! — digo firme.
White é um idiota, mas ama minha amiga.
— Vou deixar acontecer, Ethan não lida sob pressão. Ele é
como uma criança de terno, faz três dias que ele decidiu que precisa
de um gato, para ir treinando para nossos filhos.
— Lia, Damon deve estar desesperado lhe esperando! —
Marta diz e respiro fundo.
— Então vamos! Quero socar aquele idiota!
Ainda estou irritada com a ida dele para uma festa ontem à
noite. Babaca.
— As madames já estão prontas? O pinguim da minha irmã já
chegou! — Arthur grita de fora do quarto.
Deus me ajude.

Damon

Ela não vem. E se ela não aparecer? E se ela desistiu no último


minuto? Como vou sobreviver sem ela?
— Eu estou ficando tonto, Damon! Para de andar de um lado
para o outro! — Meu irmão briga.
— Ela está demorando! E se ela não vier? — digo,
exasperado. — Onde está o Ethan?
— Ela vem! Agora fica parado, porra! — Dominic resmunga.
Aliás, quando ele não resmunga? Nunca vi um homem tão
chato.
— O Ethan chegou… E a Emma! — Allan informa e suspiro
aliviado.
Vejo meu amigo se aproximar junto da namorada.
— Guarda o fôlego porque a mãe uva-passa está vindo!
— Lia está linda! — Carson diz sorrindo.
— Você também está, amor! — Ethan a elogia e nós quatro o
olhamos surpresos. — Eu sei ser fofo, OK?
— Disse que estou parecendo um embrulho de natal!
Seguro o riso, o vestido rosa com rendas é até bonito.
— Mas é o embrulho mais lindo do mundo! Quem liga pra
embalagem? Vai ficar sem ela mesmo…
— Cala a boca! Estamos em uma igreja!
— Eu quero tirar seu vestido em nome de Jesus! — ele
completa.
Por que eu ainda perco meu tempo ouvindo Ethan?
A marcha nupcial começa e no mesmo ritmo meu coração vai
saltitando. Uma ansiedade cruel, um desespero sobre-humano, até
que ela entra.
Ela. Apenas ela, meu mundo, a mulher que fez minhas crenças
subirem, a mulher mais linda do mundo e que Deus me perdoe mas
ela é fodidamente perfeita. O vestido longo e rendado, só realça a
gravidez evidente e sinto meu sorriso se ampliar a cada passo que
ela dá em minha direção. Mesmo quando meu pai a entrega a mim,
não consigo assimilar se meu coração está batendo.
— Maravilhosa! — é tudo que consigo dizer.
— Obrigada, também está lindo! — diz sorrindo.
Maldição! Eu amo tanto essa mulher que perco os sentidos.
Ficamos diante do padre no qual eu não reparei em nada, não
sei que é pecado ignorar um padre, mas minha atenção é totalmente
para minha mulher usando um batom rosa totalmente beijável.
Oh Deus, pensamentos impuros em uma igreja é demais até
para mim.
— Os noivos escreveram seus votos? — o padre pergunta.
Escrever? Eu ficaria horas aqui citando motivos para amar
tanto Lia Harper.
Seguro a mão dela e sorrio nervoso.
— Harper, eu te amei antes mesmo de te pedir em casamento,
eu te amei no instante em que te vi, eu te amo por aceitar minha
proposta idiota, te amo por me fazer enxergar o quanto eu era cinza
sem você! Com você minha vida é um sonho, preciso de você para
dormir, acordar… E agora, preciso de vocês! — Ponho minha mão
em seu ventre. — Vocês duas me fazem o homem mais feliz do
mundo! Quer casar comigo?
Ela se emociona e sinto que também estou chorando.
— Damon, você é o chefe mais irritante, grosso, egocêntrico e
metido do mundo! Que nunca saiu dos meus pensamentos, foi uma
loucura aceitar me casar, mas vejo que foi a melhor ideia do mundo,
com você eu sou completa e graças a você nossa filha está aqui! —
Ela olha para sua barriga. — É óbvio que eu aceito me casar com
você… Pela terceira vez!
— Com os poderes concedidos a mim em nome da igreja, vós
declaro marido e mulher, pode beijar a noiva!
Puxo Lia para mim e colo nossos lábios em um beijo cheio de
amor e desejo.
— Estão na igreja! — Dominic diz e me afasto de Lia
sorrindo.
Agora sim, sou o homem mais feliz do mundo.
— Oi, senhora Carter! — digo para ela e recebo um sorriso de
volta. — Minha mulher.
— Olá. senhor Carter, meu marido!
— Ethan você está chorando? — Allan diz, e olho para meu
melhor amigo que fuzila meu irmão com o olhar.
— Óbvio que não! Foi um cisco que entrou aqui… Não choro!
— mente.
— Eu vi você chorando, seu mentiroso! Quer um lencinho? —
Dom provoca.
— Vai se foder, Dominic!
— Vamos nessa? Estou morrendo de vontade de comer os
bolos da festa! — Emma se intromete e arrasta Ethan com ela.
Abraço Lia e beijo seu ombro descoberto.
— Eu te amo!
— Também amo você, babaca! Vamos para festa, estou louca
para comer aqueles doces!
Algumas coisas nunca mudam.
— Amor, estive pensando em um nome para nossa uva-passa.
Lia me encara.
— Diga..
— Charlotte! — digo com expectativa.
Ela pensa um instante e sorri.
— Charlotte Carter… Gostei! Chega de uva-passa.
Chega de uva-passa.
— VOCÊS TERÃO A LUA DE MEL INTEIRA PARA
NAMORAR, SERÁ QUE PODEM AGILIZAR? — White grita e
nós nos viramos rindo.
— Ele sempre vai usar o apelido — aviso.
— Não seria o Ethan se fizesse o contrário.
Ela tem razão, não seria.
Capítulo 43

Lia Harper

Amo quando ele sorri, amo como o seu corpo me causa


arrepios, adoro ouvir sua voz ao acordar, amo seu jeito irritante, suas
ideias idiotas, seu ciúme, seu perfume. Simplesmente amo.
Eu amo Damon Carter! E sinto que posso estampar milhões de
outdoors com o tamanho do meu amor. Isso é brega e sem nexo, mas
como evitar? Como não amar o homem da sua vida? Como não se
apaixonar por cada detalhe? Como resistir a um homem que te
desarma com um único sorriso? Eu não sei se existe uma fórmula
para isso, ou uma cura, não sei se é possível em um universo
paralelo o odiar, e nunca saberei. A única coisa que tenho absoluta
certeza é que irei amá-lo para sempre. Amar aos dois, porque não se
trata apenas de mim ou Damon, agora nossa vida gira em torno da
nossa princesinha, Charlotte. E não poderia estar mais feliz.
— No que tanto pensa, senhora Carter?
Sou trazida de volta para realidade com a voz de Damon em
meu ouvido, me perdi em pensamentos que nem reparei que já fazia
minutos que fugi do excesso de fotos e abraços dos convidados.
Realmente Marta não brincou quando disse que queria uma festa de
parar a cidade! Quase tive um AVC no momento que vi o mar de
pessoas no enorme salão escolhido por ela.
— No quanto eu amo você — assumo e ele me segura pela
cintura. — Eu estou absurdamente feliz!
— Eu não entendo como sobrevivi tanto tempo sem você, Lia!
— diz e me viro sorrindo.
Ele ficou tão magnífico no seu terno cinza que no instante que
pisei na igreja achei que fosse desmaiar. Lindo.
— Você é meu mundo, Damon, minha família! — Toco minha
barriga já saliente — Amamos você!
Ele sempre fica bobo quando me refiro no plural, será um pai
perfeito.
Carter se agacha e fica na altura da minha barriga.
— Filha… O papai te ama muito, ouviu? Mal posso esperar
para senti-la em meus braços, te beijar… Você e sua mãe são as
melhores coisas da minha existência! — diz com um sorriso
apaixonado e tudo que consigo fazer é chorar.
Essa cena vale muito mais do que uma festa bem decorada.
— Eu te amo tanto, Sr. Carter!
Ele se levanta e fica a centímetros do meu rosto.
— Não mais do que eu a você, meu amor! — sussurra e cola
nossos lábios.
Esqueço de onde estou, de quem sou e a única certeza gritante
em mim é que estou no lugar certo — nos braços dele. O beijo com
todo amor e desejo que sinto. Isso nunca vai mudar.
— Desculpa atrapalhar a pré-lua de mel, mas está na hora de
jogar o buquê! — Emma grita ao nosso lado.
Me afasto de Damon sorrindo enquanto ele fuzila minha amiga
com o olhar.
— Não posso curtir minha mulher em paz! — resmunga.
Sua cara irritada me faz lembrar de quando o detestava. Como
era tola.
— Terá a vida inteira pra isso, meu amor! — digo beijando seu
rosto. — Vou jogar o buquê!
Sigo para o alto do palco e simplesmente do nada uma
multidão de mulheres se forma próximo a mim. Isso que chamo de
força do casamento.
— Um… Dois… Três… E já! — Arremesso o arranjo de
flores sobre minhas costas e me viro para encarar a sortuda.
Se o destino gosta de brincar, ele realmente está organizando
seu mais novo playground, porque Emma está segurando as flores
com o olhar espantado. Procuro com o olhar Ethan e o encontro no
canto do salão com o rosto incrédulo enquanto Damon e Dominic se
acabam de tanto rir. Típico.
— Amiga, por que jogou pra mim? — Emma diz gesticulando,
irritada.
— Não joguei! — afirmo e ela fica em silêncio.
Como mágica, Ethan aparece do nosso lado e ao contrário do
que pensei, ele não faz piadas ou diz que foi armação.
— Eu te amo, Emma Carson! — diz e a abraça. — Que bom
que pegou o buquê!
Ela o encara surpresa e acho que todos fazemos o mesmo.
Damon e Dom já estão ao nosso lado. E pensando bem, faz tempo
que não vejo Allan.
— Ainda bem? — questiona.
— Isso me poupa de fazer uma declaração e ir direto ao
assunto! — ele diz e se ajoelha. — Ignora o fato de não estar com
um anel agora, mas resolvemos isso mais tarde…
Eu vivi para ver esse dia.
— Ethan…
— Não me interrompe! — brinca e rimos. — Eu admito que
nunca me imaginei pedindo alguém em casamento, mas quando vi
meu melhor amigo no altar com a mulher da vida dele… Eu quis que
fôssemos nós dois! Eu quero te irritar pelo resto da minha vida, sua
demônia colorida! Quer se casar comigo?
Emma parece não acreditar e começa a rir.
— É sério? Ethan está me pedindo em casamento?
— Oh não… estou de joelhos me declarando porque faz bem
pra saúde! — ironiza e ela sorri abertamente. — Responde sim logo,
Emma!
— Óbvio que sim, seu idiota! — grita e se joga nos braços
dele.
Aí está um final que nunca imaginei.
— O que aconteceu aqui? — Allan se infiltra entre nós com
Gabe no colo.
É muita fofura uma criança vestindo terno.
— Ethan está noivo! — Damon conta a novidade e Allan ri.
— Meus parabéns, cara! E boa sorte!
White sorri agradecido e abraça Emma.
— Acho que perdi o juízo… Mas estou feliz! — diz e leva
uma cotovelada de Emy. — Ai, amor! É brincadeira, mulher
agressiva!
Rimos dos dois, eles se merecem mesmo.
— Tio, Dom, quelo bolo! — Gabe grita e estende os bracinhos
na direção de Dominic.
— Gabriel, você quase destruiu a mesa de doces! — Allan
repreende.
— Deixa de ser chato, Allan! — Dom pega o menino e sorri.
— Quem quer bolo de chocolate?
— EUUU! — digo junto com Gabe e eles riem.
Qual é? O casamento é meu! Tenho mais que direito de comer
bolo!
— Tenho a Lottie pra alimentar! — digo, séria.
— Essa uva-passa vai te falir com comida, cara! — Ethan
brinca e Damon sorri.
Deixo-os para trás e caminho até a mesa de doce.
Se não for para me acabar em caramelo e muito chocolate nem
vale a pena se casar.
— Aqui está seu bolo, amor! — Damon me estende uma fatia,
mas levando em consideração minha sorte, deixo cair no chão.
Pela primeira vez sorrio para meu azar.
— Murphy nunca me abandona! — brinco e Carter ri.
— Não se preocupa, eu sempre vou estar ao seu lado para te
proteger — diz, dessa vez me entregando o bolo sem cair.
— Te amo, meu cretino!
E ele me dá o sorriso que começou toda essa bagunça.
— Eu te amo, minha secretária gostosa!
Não se pode ter de fato um final feliz. Porque enquanto houver
amor, nada terá um final. Damon sempre será meu início e meu todo.
Um grande ciclo vicioso que nunca irei me cansar.
Meu Nome é Lia Carter e eu sou a mulher do meu chefe
cretino. E dizer sim para proposta mais estúpida do mundo me
trouxe até aqui, se tivesse o poder de voltar no tempo, eu faria tudo
de novo.
— No fim das contas, sua ideia idiota funcionou! — digo
sorrindo para o meu marido.
— Foi a melhor ideia que já tive na vida! — Ele se aproxima e
sorri. — Ela me trouxe vocês!
Ele tem razão.
— Eu seria sua mesmo que fosse eu a te pedir em casamento!
— É mesmo? — brinca.
Afirmo com a cabeça e envolvo meus braços em torno de seu
pescoço.
— Damon Carter… Quer se casar comigo?
Vejo o brilho de paixão em seus olhos e sorrio.
— Eu já sou seu para todo sempre, meu amor.
Colo nossos lábios e me deixo ser guiada pela sensação de
amor que me domina cada vez mais.
Sem dúvidas… EU DIRIA SIM INFINITAS VEZES.
FIM.
Agradecimento
Só tenho a agradecer por todo carinho que recebi até
aqui! Sem vocês esta história seria para sempre um rascunho
ou uma ideia.

Escrever Um Amor De Cretino foi importante para mim,


foi e será para sempre um marco. Agradeço do fundo do meu
coração por terem lido até aqui. Amo vocês demais minhas
uvas-passas!

Para não ficarem com saudades de mim ou do nosso


Damon, Por Você é o próximo livro com a história de Allan
Carter.

Disponível no Wattpad.

Conta: Greenelly
/THEBOOKSEDITORA
/ETHANWHITEOFC
/GREENELLY

LOJA: WWW.THEBOOKSEDITORA.COM

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