Arte Sacra em Alcacer Sal

arte sacra
no concelho
de Alcácer
do Sal
Inventário Artístico da Arquidiocese de Évora
Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL . 01

02 . Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL
Transcendência e Imanência
Teria razão S. João da Cruz, ao dizer que nenhuma representação ou imaginação serve de meio próximo para a união com
Deus; portanto, deve a alma despojar-se de todas elas?
Tal como ele, todos os grandes místicos puderam aproximar-se do mistério insondável de Deus - a cognitio Dei ex-
perimentalis de S. Tomás de Aquino -, através de um absoluto despojamento dos sentidos e, até, do próprio intelecto. A
sua experiência do conhecimento de Deus, mediada pela renúncia ascética a qualquer vontade própria, é uma vertigem de
radicalidade na vivenciação da Fé que impressiona e inspira.
Poucos de nós conseguem empreender uma jornada espiritual tão singular, mas há muitos outros caminhos que
apontam nessa mesma direcção. Como aquele que escolheu Santo Inácio de Loyola, o celestial Patrono de todos os Exercí-
cios Espirituais aclamado por Pio XI. O seu código de ascese cristã atravessou já cinco séculos e continua a ser seguido
em todo o mundo. Guiada por este paradigma maravilhoso e magistral - como lhe chamou Paulo VI –, a alma torna-se um
instrumento holístico na busca de Deus e da Sua Vontade em todas as coisas, desperta por aquilo que os sentidos podem
apreender, aberta às construções da imaginação e da memória, sustentada pelo entendimento e pela vontade.
Poderia muito bem ser esta a reflexão de alguém que entrasse pela primeira vez na Igreja de Santiago, em Alcácer
do Sal. É uma imensa nave azul e branca, as cores escolhidas pelos artistas do século XVIII para retratar, nos azulejos
que cobrem as paredes, episódios da vida do Apóstolo Tiago e da Virgem Maria. O visitante identifica-os, sem esforço,
e senta-se. Cativado pela expressividade do traço que compõe as figuras, o seu olhar demora-se a observar dois pere-
grinos ajoelhados aos pés de Nossa Senhora do Pilar. Invade-o a súbita lembrança dos peregrinos de Emaús e do seu
encontro com Jesus Ressuscitado. Deixa-se transportar ao momento em que abriram os olhos e Ele desapareceu, depois
de ter tomado e abençoado o pão partilhado à mesa (Lc 24,31): haviam sido iluminados com o dom da Visão, podiam
contemplar a Presença Divina sem qualquer mediação sensível.
“Teria razão, S. João da Cruz? Mas como se abrem os olhos do coração e da Fé?” Numa prece tão silenciosa quanto
profunda, o visitante pede a São Tiago que o ajude a ser, também ele, um caminheiro ao encontro da Luz.
Quando se ergue, é para admirar a exuberância barroca que toma conta do interior do templo e que a sobriedade
arquitectónica não deixa adivinhar. Já nada lembra a sua origem medieva, já nada resta da ermida que foi outrora. A
escala da construção, a riqueza das talhas, a intensidade dramática das pinturas e o esplendor decorativo da arte azule-

jar fazem eco da grandiosidade que D. João V imprimiu ao seu reinado; são o resultado de uma política que, inspirada
nos valores do Iluminismo e financiada pelo ouro do Brasil, haveria de transformar e marcar para sempre a identidade
cultural portuguesa.
Num gesto distraído, o visitante pega num livro que alguma mão oportuna por ali deixou. Lê o título: O Inventário
Artístico da Arquidiocese de Évora no Concelho de Alcácer do Sal. Folheia-o, agora interessado. Fica a saber que pertence a
uma colecção editada pela Fundação Eugénio de Almeida no âmbito de um projecto que a Instituição iniciou em 2002.
Para quê? Para fazer o levantamento, o estudo e a catalogação dos espólios das igrejas, capelas, seminários e institutos
religiosos dispersos por todo o território diocesano: são dezenas de milhar as peças com filiação na Pintura, na Escul-
tura, na Joalharia, na Numismática, na Cerâmica…, que a Igreja reuniu ao longo dos tempos para servirem de esteio de
evangelização, de suporte aos rituais litúrgicos, de mediador da devoção dos fieis. Como o livro faz notar, a importância
deste acervo não se afere tanto pela sua utilidade funcional ou pelo seu valor patrimonial intrínseco, mas sobretudo pelo
vigor com que testemunha a História, a Arte, a Cultura e a Fé de um povo, esse mesmo povo que, como disse Eduardo
Lourenço, “deu a volta ao mundo para tomar a medida da sua maravilhosa imperfeição.”
O visitante fecha o livro e sai, a caminho da Igreja do Senhor dos Mártires. Quer admirar de perto a graciosidade
sinuosa de uma imagem de Nossa Senhora da Cinta que, sorridente e embevecida, olha o Seu Menino a brincar com
um pássaro. “Que mãos teriam esculpido o calcário para revelar a beleza sublime desta cena? Que sopro de inspiração
as guiou através da pedra em busca do inefável, do que não pode ser dito?” Ocorre-lhe um pensamento de Tolentino de
Mendonça: A beleza é uma experiência que os sentidos não circunscrevem completamente, mesmo quando palpam, pois ela permanece
inexprimível.
Teria razão S. João da Cruz?
Eduardo Pereira da Silva

Presidente do Conselho de Administração da Fundação Eugénio de Almeida

Marcas da Fé de um Povo
Este volume dedicado ao concelho de Alcácer do Sal é já o nono da colecção do inventário artístico da Arquidiocese
de Évora. Compulsando o conjunto dos volumes publicados, facilmente nos damos conta da íntima relação que existe
entre as obras de arte sacra e o percurso histórico do povo português. Nelas encontramos marcas das gestas, das
aventuras, das glórias, dos infortúnios e da fé de um povo que nasceu cristão, se consolidou como nação cristã, ao longo
das vicissitudes da história, e permanece imbuído numa cultura sedimentada nos valores cristãos. O melhor do que há
em Portugal de arte nasceu iluminado pela luz da fé cristã.
A partir das obras de arte sacra podemos refazer toda a história pátria. Cada peça de arte evoca uma época e narra
uma parcela da história do país, das instituições e das pessoas que estiveram na sua origem. É pena que muitas dessas
obras de arte sacra tenham desaparecido por incúria, por vandalismo, por preconceito ideológico ou por outras causas.
Apesar de tudo, o acervo existente ainda é numeroso e de boa qualidade. Pela nossa parte, não queremos sentir-nos
cúmplices do seu desaparecimento por inércia. Ao contrário, tomando uma atitude proactiva, temos vindo a promover,
segundo as nossas possibilidades, a protecção, a conservação, o conhecimento e a fruição do imenso património
artístico, uma das maiores riquezas do nosso país, para que não se interrompa a cadeia geracional de transmissão da fé
às novas gerações do presente e do futuro.
Animada do nobre ideal de protecção e promoção da cultura e da arte sacra, a nossa equipa de inventariação
tem vindo a desenvolver, há mais de dez anos, um trabalho notável, que nunca será demais salientar, percorrendo
sistematicamente todas as paróquias da Arquidiocese, sob a competente orientação do Dr. Artur Goulart, há muitos
anos radicado na cidade de Évora, onde foi dinâmico director do Museu e, a partir de agora, ligado a toda a vasta
Arquidiocese, como chefe dedicadíssimo e generoso da equipa de inventariação. Dotado de profundos conhecimentos
em Teologia e História da Arte, é, sem dúvida, a pessoa ideal para levar a cabo com sucesso o árduo e meritório trabalho
de inventariação do rico acervo artístico da vasta Arquidiocese de Évora. A ele e à sua prestigiosa equipa presto justa
homenagem e expresso sincero agradecimento, convicto de que os leitores deste e dos outros volumes gostosamente
comungarão dos mesmos sentimentos.
†José Francisco Sanches Alves

Arcebispo de Évora

Um olhar sobre
o património religioso
no Concelho
de Alcácer do Sal
A cidade de Alcácer do Sal foi Salacia nos tempos Outubro de 1544. E o concelho do Torrão, que se eman-
Romanos, sendo mesmo designada durante algum tem- cipara do de Alcácer em meados do século XIII (c.1249),
po como Salacia Urbs Imperatoria. Os Muçulmanos de- volta a ser nele reintegrado em 1872, como freguesia,
nominaram-na Alcácer – Qasr, que quer dizer palácio depois de uma breve passagem pelo concelho de Alvito.
ou castelo. Foi esta palavra que lhe perdurou no nome, A Ordem militar de Santiago da Espada, fundada
acrescentando-se-lhe do Sal, em finais do século XV, para em 1170 em Castela, entrou em Portugal em 1172. É
a distinguir de Alcácer Ceguer, conquistada pelos por- no contexto da reconquista cristã que se pode perceber a
tugueses em 1458. sua importância e o elevado número de senhorios que os
O Padre Henrique Louro afirma que Alcácer é a pa- Espatários receberam como recompensa, entre os quais
róquia mais antiga da arquidiocese de Évora. Alcácer, se destacou Alcácer, que lhes foi doada por Afonso Hen-
na realidade, nunca foi sede de nenhum bispado (sendo riques (c.1175). Sancho I fez-lhes uma nova doação da
de há muito manifesta a clara insustentabilidade da tese vila em 1186. Chefiada pelo Bispo de Lisboa D. Soeiro
que fazia da urbe uma antiga sede episcopal, em tempos Viegas e ajudada por cavaleiros da 5ª cruzada e pelos
visigóticos, ligada à figura de S. Januário). Desde a Idade principais membros das Ordens Militares sedeadas no
Média fez parte integrante da diocese de Évora. Mesmo Reino, a conquista definitiva de Alcácer (fora perdida em
com a vitória portuguesa de 1217 chefiada pelo bispo de 1191) consumou-se em Outubro de 1217, acontecimento
Lisboa D. Soeiro Viegas, este não conseguiu pôr a vila que, pela sua importância, foi narrado em várias crónicas
sadina sob o poder da diocese de Lisboa, sendo Alcácer europeias e em cartas ao Papa.
reintegrada na diocese eborense. Em 1218, Alcácer recebe carta de foral de D. Afonso
As actuais freguesias são seis: Santa Maria do Castelo II e é entregue por este rei ao senhorio santiaguista. Por
e Santiago (dividem entre si a cidade e algumas zonas este meio, o monarca assegurava o povoamento de uma
rurais), Comporta (em termos eclesiais pertence à dio- importante praça militar, estratégica, quer para a defesa
cese de Setúbal), Torrão, Santa Susana e S. Martinho de Lisboa e da linha do Tejo, quer como ponto de apoio
(sobretudo rurais). para o prosseguimento da reconquista para sul – não sem
Se ainda hoje Alcácer é um concelho territorialmente razão ela será chamada “Porta do Sul”. Ao mesmo tempo,
muito vasto, após a conquista cristã definitiva da vila em garantia o efectivo aproveitamento dos recursos e poten-
1217, foi um dos maiores de Portugal. Chegou a incluir cialidades de Alcácer, com a proximidade do Sado e as
Cabrela, Canha, Torrão, Santiago do Cacém, Alvalade, ligações que este permitia com outras cidades do reino
Odemira e Sines, que foram elevados a concelhos, no na canalização dos produtos oriundos da exploração do
século XIII, com termo próprio subtraído aos territórios vasto alfoz alcacerense e do interior do Alentejo. Por
do alfoz alcacerense. Grândola só foi elevada a concelho último, a vila seria ainda dignificada com a presença da
independente do de Alcácer por documento de 12 de própria sede do ramo português da Ordem de Santiago.

O espaço religioso deste concelho ficará assim pro- Correia, um interessante exemplo desse estilo, bastante
fundamente ligado à Ordem de Santiago da Espada, raro no sul de Portugal. A testemunhá-lo sobreviveram
quer pelo senhorio da vila e inúmeros bens e direitos que dois portais. A Igreja de Santa Maria tem três naves re-
aí possuía, como pelo facto de esta deter o padroado de partidas por cinco tramos com colunas cujos capitéis e
muitas igrejas, capelas e ermidas localizadas em Alcácer arcos devem ser ainda os primitivos. O templo foi objec-
e no seu vasto termo. to de descrição detalhada na Visitação de 1512, que men-
Em acordo celebrado entre o prelado eborense e o ciona os espaços e as dimensões, os sistemas construtivos
Mestre D. Paio Peres Correia em Outubro de 1249, as e os materiais utilizados, os altares e capelas com as ima-
igrejas de Alcácer e do seu termo viam-se obrigadas ao gens devocionais em pedra e em madeira e os diversos
pagamento da terça parte dos dízimos, as mortuárias retábulos que os enriqueciam, a par de uma abundância
e o direito episcopal de procuração, cabendo à Ordem de pintura a fresco que pontuava as paredes e os tectos,
a apresentação dos respectivos clérigos, confirmados ornando também a capelinha de planta centrada e co-
depois pelo bispo de Évora. Mas a ligação à diocese bertura em abóbada, onde estava a pia baptismal. Neste
deixava também a sua marca na paisagem de Alcácer: mesmo lado existem três capelas que abrem para a nave,
no castelo, perto da Igreja de Santa Maria, na Rua dos das quais destacamos a capela do Santíssimo. É de abó-
Mercadores, possuía o bispo de Évora três casas e, junto bada de cruzamento de ogivas e tem as paredes cobertas
a uma delas, também o cabido eborense encontrava al- de azulejos polícromos e de grotesco. O altar é de talha
bergue em casa da sua propriedade; o bispo e o cabido dourada profusamente decorada e, neste, um sacrário,
partilhavam ainda um casal no território alcacerense, onde surge representada a ressurreição de Cristo, que se
sem localização mais precisa. ergue do túmulo perante dois guardas romanos ingénuos
Senhores da vila, os Espatários aproveitaram e trans- e ensonados.
formaram a anterior alcáçova muçulmana num conjunto Encostado à segunda coluna do corpo da igreja, sur-
de edifícios necessários ao funcionamento e prestígio da ge o púlpito de talha setecentista que repousa sobre uma
sede da Ordem: o Convento, destinado aos freires profes- figura angélica. Ao fundo da nave, um arco triunfal de
sos e aos cavaleiros, os Paços para morada do Mestre e do volta perfeita separa-a da capela-mor que está coberta
seu séquito e a Capela de Santiago, edificada em honra do por uma abóbada rebaixada.
santo patrono da Ordem e também da vila nesta época. As visitações não deixam também de enumerar o ri-
Como ainda hoje se pode observar, no interior da quíssimo património móvel associado à matriz. Apesar
cerca do castelo ergue-se a Igreja de Santa Maria, do muito que desapareceu no passar do tempo, o inven-
provavelmente edificada sobre a antiga mesquita muçul- tário agora disponibilizado revela um espólio muito sig-
mana após a reconquista cristã. Construída de acordo com nificativo, incluindo ricos tecidos e algumas das alfaias
o denominado românico tardio, é, na opinião de Vergílio ligadas ao serviço do templo.

Por cima da porta principal do templo existe uma reunião, ao longo da história de Alcácer.
pedra lavrada com os símbolos de Santiago: a espada À semelhança do que acontecia com as paróquias
rodeada de vieiras, a cabaça e o bordão, lembrando, no medievais do sul, em regra de sede urbana mas com uma
presente, a memória da pertença de Alcácer à Ordem jurisdição que se estendia por um amplo alfoz rural, esta
Militar de Santiago. freguesia compreendia também numerosas capelas ou
À frente da igreja, estende-se um vasto adro pelo ermidas. Algumas erguiam-se na vila alta e para além
sítio do antigo forum, como comprovaram as escavações das muralhas, outras na rica zona ribeirinha sempre em
realizadas no local. É provável que a própria mesquita crescimento, ligada ao comércio, ao artesanato e à faina
muçulmana tenha aproveitado um edifício religioso pré- marítima. Naquelas incluíam-se as ermidas de Santiago
existente. Na verdade, existem fustes de colunas romanas (dentro do Castelo), Nossa Senhora da Porta de Ferro
visíveis nos cunhais das paredes exteriores de duas cons- junto da abertura que lhe deu o nome, adossada à mu-
truções anexas, prova da reutilização na Idade Média de ralha do castelo – D. Beatriz de Vilhena, mulher de D.
materiais da antiga Salacia. Subsistiram também alguns Jorge, mandou derrubá-la por ser pequena e reconstruiu
materiais visigóticos que poderão ter pertencido a um outra maior (mais tarde, foi mudada de lugar, mais longe
templo cristão. da porta, mas também junto à muralha); a ermida de S.
Santa Maria do Castelo era a igreja matriz de Alcácer, João à entrada da vila, construída pelo povo no início do
tendo um prior e oito beneficiados. No século XVI tinha século XVI; a Ermida de S. Vicente no cabo do Rossio
quatro confrarias: Santíssimo Sacramento, Nossa Senho- Alto e que existia desde os tempos da reconquista; tam-
ra do Castelo, Nossa Senhora do Rosário dos Homens bém em cima, a olhar o rio, erguia-se a ermida de S.
Pretos e Santo Estêvão dos Mareantes. A abundância e Miguel, referida pela primeira vez na visitação de 1534.
diversidade destes grémios não deixa de atestar a impor- Em baixo à beira-rio, erguia-se o Hospital e Ermida
tância da vila e a sua estreita ligação ao Sado e ao mar. do Espírito Santo (na praça da vila) e as ermidas de S.
Chamada precisamente “a Princesa do Sado”, Alcácer Lázaro (aproximadamente, onde hoje fica a igreja de
revela, também aqui, a sua vocação comercial e maríti- Santiago), S. Sebastião (no cabo da Vila, do lado de
ma, com confrarias – quer as acima referidas quer outras Évora), S. Roque (no lado contrário), S. Pedro - que até
sedeadas em outros templos da vila e do seu termo – de- finais do século XVI se localizou no adro dos Mártires
dicadas especificamente aos mareantes, aos pescadores (foi substituída por outra junto dos estaleiros navais,
e aos “homens pretos”, referência certa à presença de no lado de Setúbal, que ainda hoje se chama “cabo de
escravos ao serviço da população alcacerense. S. Pedro” e que se ergueu a expensas da confraria dos
O adro e a porta principal de Santa Maria eram es- pescadores) e Santa Ana, já além do rio.
paços fundamentais de sociabilização na urbe. São refe- No seu termo, outras ermidas pontuavam o espaço
ridos muitas vezes, como pontos de encontro e locais de rural: S. Brás, Santa Catarina de Sítimos, Santa Susana,

a Capela de S. Martinho do forno do vidro, a dos Reis tarde viria a assentar a torre sineira, foi construída por
(era curada em 1552), a de Nossa Senhora do Monte e Martins Gomes Leitão [da Parada], em 1402, como uma
a de Montevil. inscrição testemunha.
Um lugar de destaque cabia ao Santuário de Santa Nos anos trinta do século XV, Maria Resende, viúva
Maria dos Mártires, hoje conhecido como santuário do Comendador Diogo Pereira, aio do Infante D. João,
do Senhor dos Mártires, situado fora da vila, ao Poente e Mestre Espatário, mandou edificar nos Mártires outra
edificado num espaço que desde a Idade do Ferro servira capela, destinada a albergar o túmulo do seu marido. São
de local de enterramento ou cidade dos mortos. O nome sugestivos os paralelismos entre esta capela e a lápide
aparece ligado à memória do enterramento dos cruzados nela colocada e, da mesma época, a lápide e arca tumular
que tombaram em combate durante o cerco e conquista erigidas no convento de Avis em memória do mestre
de Alcácer. Uma memória martirológica que a Ordem Fernão Rodrigues de Sequeira.
faria questão de perpetuar, como sinal da aliança entre a Nas paredes laterais do corpo da igreja são descri-
vida religiosa e o combate pela fé. tas em 1513 algumas pinturas a fresco de que Vergílio
O templo é a resultante de um conjunto de constru- Correia refere ter descoberto alguns restos, aquando dos
ções cristãs isoladas que se foram agregando, sendo a seus trabalhos nos Mártires. Ainda hoje se vêem na pa-
capela do Tesouro a mais antiga, talvez ainda do século rede superior, do lado esquerdo, alguns vestígios ténues
XII ou de inícios da centúria seguinte. Destaca-se a Ca- de uma pintura mural alusiva à imagem de Santiago a
pela dos Mestres, que foi mandada edificar pelo Mestre cavalo.
Garcia Peres, em 1333, em louvor de Deus, da Virgem O alpendre renascentista, a poente, possui arcos as-
Maria e de S. Bartolomeu. Este foi o local escolhido para sentes em sóbrios e robustos pilares. Era aqui, num nicho
a sepultura deste mestre, bem como do seu antecessor e sobre um pedestal que, no início do século XVI, se ofe-
Pedro Escacho, conforme se lê numa inscrição em pedra. recia à devoção dos fiéis a imagem de Nossa Senhora da
As visitações, no entanto, referem estarem nela sepulta- Cinta. Hoje no interior do templo, continua a ser motivo
dos os quatro primeiros mestres portugueses da Ordem de uma especial veneração por parte de alcacerenses e
de Santiago. forasteiros.
Trata-se de um edifício gótico, de planta centrada, Em finais do século XV, o contador Estêvão Rodri-
octogonal, coberto por uma abóbada estrelada e com gues e sua mulher Inês Eanes doaram um crucifixo a
altas janelas maineladas de arco quebrado, de onde de- Santa Maria dos Mártires e deixaram bens para que uma
sapareceram os vitrais. Uma escada em caracol dá acesso candeia de azeite estivesse sempre acesa frente à imagem
ao terraço oitavado que a encima e de onde se desfruta de Cristo crucificado. Esta passou a atrair cada vez mais
um vasto panorama da envolvente do templo. romeiros, que a ela vinham rezar e pagar promessas.
Uma outra capela, também gótica, sobre a qual mais Tal devoção justificaria, aliás, a posterior entrega a esta

igreja de um crucifixo indo-português em marfim, que João Antunes. Numa placa surge o ano de 1746, certa-
chegou aos nossos dias. Embora se não tenha perdido mente o ano da sagração do actual edifício.
até ao presente a antiga veneração mariana à Senhora Ao entrar no templo, o olhar perde-se nas cores e nos
da Cinta, pouco a pouco, e contrariando a tendência ha- muitos dourados da talha dos altares, com colunas salo-
bitual da evolução dos nomes religiosos, que costumam mónicas, anjos atlantes e cachos de uvas e o imenso azul
perdurar mais que os próprios edifícios, caiu em desuso e branco dos azulejos que revestem as paredes. Tudo
a invocação de Santa Maria dos Mártires e a igreja passou isto é realçado pela luz intensa que jorra pelas janelas.
a chamar-se Senhor dos Mártires, pelo menos depois do José Meco atribui estes azulejos a Teotónio dos Santos.
século XVII. No presente inventário, destacam-se, deste Obra rica e criativa, desenvolve-se em duas faixas de
templo: a imagem de Nossa Senhora da Cinta e Nossa azulejos historiados. Na inferior, os painéis contam a
Senhora da Piedade. vida do Apóstolo Santiago. Na de cima, desenrolam-se
A actual Igreja de Santiago sucede à primitiva ca- as cenas em torno dos mistérios da vida da Virgem. Nos
pela dedicada ao patrono da Ordem, originalmente edi- lados da capela-mor, evidenciam-se painéis de azulejos,
ficada dentro do castelo, paredes-meias com os Paços e únicos no género, mostrando um freire de Santiago a ser
Convento e muito próximo da matriz. Após a mudança ordenado cavaleiro por Cristo e, em frente, a Aparição
do convento espatário para Palmela, em 1482, e com a da Santíssima Trindade aos espatários vestidos para o
ruína progressiva dos paços e a construção no mesmo combate pela fé.
local, em finais do século XVI, do mosteiro de clarissas Dominando completamente o nosso olhar, o fundo
de Aracoeli, a antiga capela de Santiago acabaria por do altar-mor é todo ele ocupado pela pintura de Santia-
transitar para outro local, embora, por determinação do go a cavalo, com os mouros vencidos a seus pés, atribu-
rei D. Sebastião, as freiras fossem obrigadas a manter, na ída a Pedro Alexandrino (1730-1812). A ladeá-la, duas
igreja conventual, um altar dedicado a Santiago e a rezar esculturas, uma de S. Francisco de Assis, à direita e
pelos mestres da Ordem Espatária. outra do Apóstolo Santiago à esquerda, mostrando-o na
Por isso, a actual igreja de Santiago, sede da paróquia sua faceta de peregrino.
com o mesmo nome, ergue-se hoje mais abaixo, numa Nos diversos altares do corpo da igreja, com diferen-
plataforma imponente servida por uma grande escada- tes tipos de acabamento, há várias pinturas e imagens,
ria. O exterior é sóbrio, as linhas arquitectónicas bem algumas claramente anteriores ao templo. Salienta-se,
definidas e de grande simplicidade decorativa. A fachada no altar lateral, à esquerda, Nossa Senhora do Carmo e,
principal, com um pórtico de mármore de frontão curvo no lado direito, a antiga Capela do Santíssimo com uma
e interrompido, é marcada sobretudo pelas duas grandes pintura a fresco representando a aparição da Virgem a
torres de onde abençoa a cidade e toda a beira-rio. Edi- Santiago. E, mais abaixo, ergue-se um outro altar com o
fício barroco, joanino, deve-se a sua traça ao arquitecto calvário, onde, a rodear o crucifixo de madeira, surgem

Nossa Senhora, S. João e Maria Madalena, pintados na sobre uma coluna também de jaspe. Num arquibanco na
parede, num esquema iconográfico repetido, segundo as capela principal guardava-se uma caixinha de pau-brasil
visitações do século XVI, noutros templos de Alcácer. com os santos óleos. Não tinha sacristia, mas constatou-
A paroquial de Santiago veio substituir, nestas fun- -se haver espaço para a fazer. São recomendadas algumas
ções, a antiga Igreja de Nossa Senhora da Consola- transformações em ordem a aumentar o espaço da igreja,
ção, localizada na parte alta da vila, em lugar designado bem como do adro, cláusulas aliás cumpridas aquando
por Covas. Embora lhe seja anterior, as primeiras refe- da visitação realizada cinco anos depois.
rências que lhe encontramos reportam-se à visitação de O campanário era de madeira, mas com dois sinos
1552. Tinha então o altar-mor todo forrado de azulejos, novos que D. João III lhe oferecera quando elevou a
encimado por um retábulo de dois panos da Flandres, Igreja da Consolação a sede de uma nova freguesia. A
um da invocação de Nossa Senhora da Consolação e o mesma visitação atesta que o edifício desta igreja pa-
outro do Apóstolo Santiago, ao qual se juntava uma ima- roquial fora emprestado à Ordem por D. Álvaro, pois
gem em pedra de Nossa Senhora com o Menino Jesus ao neste templo estava a sepultura de seu pai, D. Rodrigo
colo. Em 1560, diz-se que restava apenas a imagem de de Castro.
Nossa Senhora com o Menino (dita pequena). A capela- Esta Igreja é referida a propósito da Inquirição aos
mor era quadrada e recebia a luz através de uma fresta de Milagres de S. Sebastião, ocorridos em Alcácer, na altura
pedraria (a sul) com sua vidraça e rede. Tinha abóbada da peste de 1569, nos começos de Agosto do referido
de alvenaria com as chaves e represas feitas com pedra de ano, feita pelo prior António Caldeira e redigida pelo
Lisboa, sendo referido que a chave do meio era decorada beneficiado António de Matos. Embora não seja ainda
com as armas de D. Álvaro de Castro. O arco do cruzei- claro todo o percurso desta igreja e as circunstâncias
ro, de volta perfeita, era também de pedra. Tanto a cape- em que foi extinta como paroquial, certamente para isso
la-mor como o corpo da igreja estavam mal ladrilhados. contribuiu a transferência da Igreja de Santiago para o
Este possuía duas frestas grandes com vidraças, redes e seu local actual e a sua elevação a paroquial, substituin-
grades de ferro. O tecto da Igreja era forrado de bordo do a da Consolação nestas funções. Hoje o templo da
oitavado. Havia uma grande janela de pedra, virada ao Consolação foi absorvido por uma residência particular.
poente, com uma grade de ferro à maneira de mosteiro Nesta paróquia se inseriam diversas capelas cura-
de freiras. O portal principal era de pedra, “redondo” das – Nossa Senhora do Monte (em Vale de Guizo,
(ainda existente) e as portas de castanho, acrescentando- já existente em 1571), S. Romão do Sado e S. Mamede
se na visitação de 1560 que as portas eram de bordo com (extinta na segunda metade do século XVI), bem como,
dois postigos bem fechados. para além do rio, a ermida de Santa Ana. Sabemos,
A pia baptismal estava no corpo da Igreja, a um canto desta última, que se encontrava muito danificada em
da banda do norte; era de jaspe, lisa, redonda, assente 1528. Fora construída por Isabel de Ataíde Mascarenhas,

que tinha a obrigação de a reparar. A embelezá-la, um no lugar de Palma. A Ordem detinha aí diversos bens
portal de pedra, referido como “muito bem lavrado”, já no século XIII, estando então as respectivas rendas
oriundo de Safim e oferecido por Manuel do Rego em consignadas à enfermaria do convento de Alcácer. Em
data anterior a 1528 mas que só seria efectivamente co- 1426, a quintã de Palma é referida como estando coutada
locado já depois de 1534, estando no seu lugar aquando e honrada a Teresa Martins, viúva de Diogo Barreto.
da visitação efectuada em 1552. Em finais do século XVI e inícios do XVII, a herdade da
Quanto à já referida ermida de S. Romão do Sado, Enfermaria e a quintã do Pinheiro com mais três casais da
hoje na freguesia do Torrão, mas que, de um modo geral, Ordem estavam aforados ao Duque de Aveiro, continu-
fez sempre parte integrante do termo de Alcácer, apare- ando como coutada espatária. Em 1758, Palma aparece
ce descrita como um templo de uma só nave, com um referida como freguesia, com 202 fogos, atestando-se,
altar pequeno, munido de uma imagem de S. Romão de pela mesma data, a ruína do templo em virtude do terra-
madeira, dentro de uma charola forrada de madeira de moto de 1755. Reconstruído o templo, hoje conserva al-
freixo. Possuía um cálice de prata, oferta de João Carras- gum do seu espólio anterior. Na base do cruzeiro figura
queiro e um missal oferecido por D. Álvaro de Castro. ainda a data de 1702.
A ermida estava em tão mau estado de conservação que De entre as muitas outras ermidas dispersas pelo ter-
os visitadores de 1512-13 acharam que não se devia nela mo alcacerense pertencentes a esta paróquia, realçaria
dizer missa até ser reparada. Tal obrigação cabia a D. ainda a ermida de Santa Catarina, localizada em Síti-
Álvaro de Castro, filho do fundador da ermida, o que de mos, já documentada em 1249. Na visitação de 1512/13,
facto viria a acontecer, conforme o atesta a visitação de a capela é descrita como sendo construída de pedra e
1534, que afirma estar a capela-mor abobadada e feita barro e com um altar de madeira assente em dois esteios
de novo e o corpo da ermida todo recentemente madei- de pedra e barro. Em cima do altar estava a imagem de
rado. Assim, em 1565, a capela já era curada e pertencia Santa Catarina num retábulo de portas, que tinha por
à paróquia de Nossa Senhora da Consolação em Alcácer. detrás outro retábulo do tamanho do altar. Dando acesso
Os visitadores de então acharam muito velha a imagem à capela-mor, destacava-se ainda um arco de pedra. O
do orago, ordenando, por isso, aos moradores que man- corpo da igreja e a capela-mor tinham as paredes com
dassem fazer um retábulo ou um outro santo de vulto poiais ao redor, onde se sentavam os fiéis. As portas eram
pintado. Em 1872, a igreja de S. Romão estava, de novo, de madeira, novas e pintadas.
muito arruinada. Uma outra surgiu já em 1967, mas num À entrada da porta, à esquerda, existia uma casa em
lugar mais central, dentro da povoação, sendo benzida que se recolhia o ermitão e ainda uma outra casinha.
pelo arcebispo de Évora D. David de Sousa. Da parte do Sul ficavam uns pardieiros. Dando acesso à
Também pertencente à freguesia da Consolação e porta principal estava um alpendre. Cabia à Ordem de
mais tarde a Santiago era a capela de S. João Baptista, Santiago a obrigação de a reparar. Na visitação de 1534,

está referida a existência de uma bula papal que concedia galilé, em frente da qual, no adro, se ergue um cruzeiro.
mil e duzentos dias de perdão aos fiéis que acorressem Destaca-se ainda a torre sineira com um relógio, mas de
ao templo nas festas de Santa Catarina, Natal, Pascoela e construção muito mais recente. O interior é de uma só
Corpus Christi e para ele contribuíssem com as suas esmo- nave, com uma abóbada de berço. Possui azulejos, ves-
las. Tinha um capelão pago pelos moradores. tígios de pintura a fresco e no retábulo do altar-mor tem
Saindo da vila, deparamo-nos com a actual paroquial duas tábuas de pinturas, atribuídas à escola do Mestre
de Santa Susana, em 1512/13 ainda uma simples ermida Lourinhã, que ladeiam a imagem de Santa Susana,
da, que a visitação refere ter sido “feita de novo”. O Mestre representando a Anunciação e o Nascimento de Jesus.
D. Jorge soubera por homens antigos que a ermida fora Vítor Serrão considerou-as “duas peças excepcionais de
edificada pelos moradores das zonas em redor. Era uma pintura primitiva portuguesa, sem par no sul do país”.
capela com um altar-mor onde existia um retábulo peque- O arco que dá acesso à capela-mor é, significativamente,
no de portas e, no meio dele, a imagem de Santa Susana, encimado pela cruz de Santiago.
sua padroeira. Na parede desta capela havia então outro Também no termo, a outra paroquial, S. Martinho,
retábulo pequeno e velho com a imagem de S. Roque. situava-se numa zona distinta da actual. Com efeito,
Pouco tempo depois do terminus da visitação, em Ju- encontramos referências a uma zona dita de S. Martinho
lho de 1513, apresentou-se na Câmara de Alcácer Fer- já desde o século XIII, onde a Ordem detinha vários
não Rodrigues, capelão de Santa Susana, com um alvará bens, identificável com o local chamado «O Cabeço da
passado pelo Mestre, no início do mesmo mês, onde se Freguesia», hoje pertença do concelho de Montemor.
dizia que os moradores do limite desta ermida do termo Exposto na Junta de Freguesia, existe ainda um sino da
de Alcácer se haviam queixado da obrigação de assistir à antiga igreja que data do século XVII.
missa na igreja matriz de Santa Maria do Castelo, o que As referências à existência de uma ermida neste lo-
lhes causava muito transtorno e fadiga, quer no Verão cal, dita de S. Martinho do Forno do Vidro, surgem-
por causa do calor, quer no Inverno pela muita chuva e nos, pela primeira vez, na visitação que lhe é feita em
cheias. D. Jorge compreendeu a dificuldade e autorizou- 1512/13. As suas actas atestam a existência, na capela-
-os a ter capelão próprio, desde que o pagassem, passan- -mor, por cima do altar, de um retábulo novo, pequeno
do a ermida a ser curada. Só nas festas religiosas princi- e de portas, que os visitadores classificaram como muito
pais, os moradores de Santa Susana deveriam continuar bom, com três imagens, duas de S. Martinho e uma de S.
a deslocar-se à igreja matriz de Alcácer. Sebastião. O corpo da capela era forrado de madeira de
A actual igreja tem desafiado os tempos e é uma ver- pinho e ladrilhada de tijolo e possuía umas portas novas.
dadeira revelação para quem a visita. Edifício de influên- Segundo informação de anciãos, fora fundada pelos mo-
cia maneirista, possui um exterior despojado e de linhas radores dos arredores, cabendo-lhes a obrigação da sua
simples. O acesso ao templo faz-se por uma pequena manutenção.

Activa já no século XVI, a freguesia seria posterior- Santiago com um retábulo; à esquerda, outro altar com
mente extinta e restaurada já em 1966, data em que a uma escultura de Santiago de pedra, que os visitadores
sua sede transitou para Casebres, sendo aí construída de classificaram de muito boa, descrevendo ainda um retá-
raiz uma igrejinha dedicada a S. Martinho, concluída em bulo com a imagem de S. Francisco e de Santo António,
1974, sendo então pároco Luís do Nascimento Silveira. encimado pelos Reis Magos. Junto a este altar, pegado
É mais um exemplo a comprovar que a invocação a um ao arco que ligava o corpo do templo à capela-mor, es-
santo, neste caso S. Martinho, perdurou no tempo, muito tava um púlpito de pedra fundado sobre um esteio, bem
para além da ruína do edifício primitivo, que até mudou cavado e muito bom.
de lugar. A encimar o arco do cruzeiro estava um Crucifixo
Quanto à vila e ao concelho do Torrão, o Padre ladeado por Nossa Senhora e S. João. E a pia baptismal
Louro refere que a sua entrega à Ordem data de 1224, era descrita como feita em mármore, de uma só pedra,
sendo seguro que já em 1249 integrava o património nova e muito boa, a que se acrescentou, na visitação de
da milícia, dado referir-se a respectiva igreja, entre ou- 1534, que a capela estava coberta com uma abóbada,
tras, na composição então estabelecida entre o Mestre de tendo na chave esculpida a cruz-espada de Santiago e
Santiago e o Bispo e Cabido de Évora sobre as dízimas sobre ela uma vieira.
de várias terras do Mestrado. Como atrás vimos, a vila Salientava-se à esquerda da pia baptismal um outro
e o concelho do Torrão, depois de várias vicissitudes altar, da invocação de S. Sebastião, que incluía pinturas
passaram, em 1872, a integrar definitivamente, como deste santo na respectiva parede. D. Jorge achou que
freguesia, o termo de Alcácer. este altar se deveria derrubar por não estar em lugar
No relatório da visita feita ao concelho do Torrão conveniente.
pelos oficiais da Ordem sob a chefia do Mestre D. Jorge, Foram visitadas também as capelas (entendidas aqui
em Novembro de 1510, refere-se que a igreja, dedicada enquanto instituições pias) fundadas por Madalena Fer-
a Santa Maria (hoje Nossa Senhora da Assunção), nandes, viúva de Pero Vivas Gramaxo, a de João Pi-
tinha no altar-mor um retábulo, descrito como bom, nheiro e a de João Falcão, tendo sido feita a averiguação
tendo ao centro a imagem da Virgem com o Menino ao da gestão dos respectivos bens e do cumprimento das
colo, ladeada por outras de Santiago e de S. João. Por cláusulas definidas pelos instituidores.
detrás deste retábulo existia um outro, grande e alto, Como o Mestre achasse a igreja muito pequena “para
com algumas imagens cuja pintura começava a sumir-se. tanto povo”, ordenara que fosse reformada de novo, pa-
Chovia na capela-mor, por estar mal telhada. Era ladri- gando a Ordem o custo, orçado em 44 mil reais. Em
lhada e o arco dela fundado sobre dois esteios de már- 1534, em nova visita levada a efeito pela Ordem, o tem-
more com seus capitéis bem lavrados. No corpo da igreja plo já é descrito como um sólido edifício com três naves,
são descritos vários altares: à direita, um da invocação de armado sobre cinco arcos de cada parte, com oito esteios

de pedra com fustes e capitéis também de pedraria, assim na parede, a descida do Espírito Santo sobre os Após-
como os arcos e respectivas represas. A igreja encon- tolos. A ermida ocupava só o sobrado, sendo a casa de
trava-se ladrilhada, madeirada de castanho e coberta baixo reservada ao concelho que aí fazia as audiências.
de telha vã. Do recheio então descrito, permaneciam Fora edificada pelos oficiais e pelo povo da Vila, que
os mesmos retábulos e imagens descritos por altura da estavam obrigados a repará-la. Contudo, atraíra também
visitação de D. Jorge. a generosidade de importantes benfeitores, dado que,
O portal da matriz, como ainda hoje se pode verifi- entre o seu espólio, se referem uma coroa de prata dou-
car, é claramente manuelino, com uma decoração exótica rada com esmaltados azuis e verdes e três bandeiras de
expressa na representação de ananases. Os visitadores, linho pintadas, fruto do patrocínio respectivamente, de
em 1534, tendo encontrado sobre o portal só o escu- Duarte Furtado e Afonso Furtado e uma vestimenta, es-
do do Mestre, determinaram que no prazo de um ano tola e alva oferecidas por D. Margarida Furtado, viúva de
fossem postas “duas pedras com dois hábitos da ordem Jorge da Silveira. Tudo para engrandecer as festividades
[…] que fiquem as armas do dito senhor no meio”. Ainda anuais promovidas pela confraria do Espírito Santo, que
hoje, este brasão de armas continua a encimar a porta incluíam missa, procissão e o bodo aos pobres.
principal, mas a cruz-espada, ou nunca foi posta, ou Em 1510, os visitadores detiveram-se na ermida de
desapareceu na voragem do tempo. Todavia, uma vieira Nossa Senhora e hospital de pobres, a ela anexo,
isolada marca aí, tal como as ditas armas, a presença da ambos fruto da instituição de Margarida de Areda. Pro-
Ordem de Santiago. vavelmente remontavam à centúria anterior, tendo a fun-
No Torrão, já em 1510 e depois em 1534, são vi- dadora deixado muitos bens para a sua manutenção. A
sitados outros edifícios religiosos ou de assistência: a ermida ocupava só o sobrado, tendo à direita uma sacris-
Ermida e Hospital de Nossa Senhora; a Ermida de S. tia. Possuía um só altar de madeira, sobre o qual estava
Sebastião; a Ermida de Santo Estêvão, que, em 1534, uma imagem de Nossa Senhora com o Menino Jesus ao
estava reparada de novo e tinha um arco de pedra muito colo, a qual consideraram “muito boa e muito devota”. As
bem trabalhada; a Ermida de Santiago, na Ribeira de paredes do templo estavam muito bem pintadas “de obra
Odivelas; a Ermida de S. Roque, que fora fundada por romana”. Esta ermida é hoje conhecida por capela de
D. Álvaro de Castro e a quem cabia repará-la por esta Nossa Senhora da Albergaria.
se encontrar derrubada; a Ermida de S. João; a Ermida Quanto ao hospital, os oficiais da Ordem acharam
de Santa Margarida do Sado, que na altura pertencia tudo nas devidas condições. Havia quatro leitos prepa-
ao concelho do Torrão; a de S. Fraústo e a capela do rados para os pobres dormirem e um leito sem roupa.
Espírito Santo. Numa arca grande guardavam-se almadraques limpos,
Desta última se afirma que era uma só casa pequena, travesseiros, mantas e cobertas novas, lençóis com os
com um altar de madeira, atrás do qual estava pintada, quais faziam as camas de lavado. O hospital ocupava a

parte de baixo da ermida e tinha mais uma câmara onde como um templo de uma só nave, tendo, na capela-mor,
estavam três leitos de madeira e um corredor com duas um altar de pedra com uma imagem de S. Fraústo a cava-
casas com mais leitos para os pobres, o qual dava acesso lo e um retábulo pequeno com a Saudação. As paredes da
a um quintal. capela-mor eram de pedra, o tecto forrado de canas e o
Visitaram a ermida de S. Sebastião e verificaram chão ladrilhado de tijolo. O corpo da igreja era coberto
que a capela-mor era de taipa de formigão, bem madei- com telha vã e as suas paredes eram de taipa. A descrição
rada, com um único altar. Sobre ele existia um retábulo do templo faz denotar a sua antiguidade, pela deterio-
grande com a imagem do mártir, tendo como fundo uma ração que o afectava e que se reflectia também no mau
parede pintada. Diante da porta principal estava um al- estado dos paramentos e das alfaias. Inclusive, chovia no
pendre, com um circuito em volta. Como a ermida fora corpo da igreja e esta já não tinha quaisquer portas. Em
fundada pelo concelho, cabia a este a sua manutenção. 1534, já havia sido reparada, estando “bem guarnecida
No século seguinte, vai erguer-se no sítio desta ermida o de dentro e de fora”; exibia portas novas assim como
Convento franciscano de Santo António. paramentos e toalhas de altar, vindos da Índia. Embora
Na ermida de S. João [dos Azinhais] encontraram tenha possivelmente sido objecto de posteriores melho-
os visitadores a capela-mor feita de pedra e cal e forrada ramentos, o tempo acabaria por a condenar a um estado
de pinho novo e bom. No altar, de alvenaria, sob uma de ruína que se prolonga até aos nossos dias.
cortina de pano pintado, estavam duas imagens, uma de Há ainda a considerar outras capelas e ermidas, como
S. João Baptista, considerada muito devota e outra, já a de Nossa Senhora do Bom Sucesso e a ermida de
velha, de S. Vicente. Era ladrilhada de tijolo e dos lados S. João Nepomuceno, esta última localizada perto da
tinha poiais. Pegada à capela-mor, da parte sul, estava ponte romana do Torrão. Ausentes das visitações qui-
uma sacristia. nhentistas da Ordem, não se conseguiram apurar quais-
O corpo da ermida era coberto de telha vã e também quer notícias relativas às mesmas, anteriores ao século
madeirado de novo. O portal era de pedraria e as portas XVIII.
eram novas. Na parede da porta principal, da parte de É interessante verificar que, quer no Torrão, quer em
fora, estava um altar de uma só laje de pedra assente so- Alcácer, os conventos de outras ordens, nomeadamen-
bre dois esteios de mármore, “muito bons”, onde se dizia te da franciscana, só surgem muito tardiamente e, em
missa na festa de S. João, indiciando a insuficiência do todo o caso, em data posterior à mudança do convento
templo para acolher os que a ele afluíam por essa altura. espatário para Palmela. Assim, o convento de Santo
A ermida tinha um adro e circuito ao redor, onde cres- António de Alcácer, franciscano, foi fundado em 1524
ciam dez oliveiras e um zambujeiro. por D. Violante Henriques, viúva de Fernão Martins
A ermida de S. Fraústo (tal é a designação expres- de Mascarenhas, alcaide-mor de Alcácer e de Mértola e
samente dada pelas visitações), surge descrita, em 1510, capitão dos ginetes de D. João II. Construído fora das

muralhas, junto ao rossio alto, a igreja conventual é de na parede sul da capela, sendo aí revestidos de azulejos
uma só nave, com capela-mor e sacristia. O acesso ao verdes e brancos, de composição enxaquetada.
templo faz-se por uma larga galilé, em que se destacam A capela das Onze Mil Virgens é considerada, jus-
duas elegantes colunas, suportando um tecto de madeira, tamente, uma das jóias do Renascimento em Portugal,
com arcadas de volta perfeita que dão para o exterior. O pelas linhas arquitectónicas, pelo vocabulário da trata-
portal principal fica, assim protegido. Ostenta pilastras dística serliana, pelo rigor da geometria tanto decorativa
decoradas com baixos-relevos de delicados grotescos como estrutural, pela riqueza dos mármores, o despo-
talhados em mármore. No interior dois painéis de azu- jamento do portal e sobretudo pela cúpula. Em tudo se
lejos, o da esquerda sobre S. Francisco e o da direita evidencia a aplicação cuidada da “arte ao romano”.
relativo a um milagre de Santo António. A segunda casa conventual ligada aos franciscanos
D. Pedro de Mascarenhas, 3º filho da fundadora, em Alcácer será implantada no local da antiga sede es-
embaixador em Itália e vice-rei da Índia, onde morreu patária. Com efeito, e como já antes referimos, o rei D.
em 1556, escolheu esta igreja, ligada à sua família, para Sebastião, salvaguardando algumas condições, outorgou
aí edificar o seu panteão, adossando-lhe por isso uma a doação dos velhos edifícios espatários do castelo de
nova capela, conhecida como a capela das Onze Mil Alcácer a Rui Salema, fidalgo da sua casa e a sua mulher
Virgens. A obra é atribuída, por confronto estilístico, a D. Catarina, para a construção de um mosteiro de Cla-
António Rodrigues (c.1520-1590). Para junto do túmulo rissas. A sua inauguração ocorreu durante a primeira me-
de D. Pedro seriam trasladados os restos mortais da sua tade de 1573, como se pode deduzir do testamento do
primeira esposa, bem como os de D. Helena de Masca- casal Salema, datado de 3 de Junho desse ano e já então
renhas, sua segunda mulher, responsável pela conclusão redigido “onde ora novamente está situado o Mosteiro
do edifício. para Freiras da Ordem de Santa Clara da invocação de
Destaca-se nesta capela um altar, onde estão guar- Nossa Senhora de Aracoeli”. A comunidade manteve-
dadas importantes relíquias trazidas pelo embaixador. -se nesse espaço até à extinção das ordens em Portugal e
Mas o seu centro é o espaço funerário, de planta qua- à definitiva supressão do convento, ocorrida após a mor-
drangular, encimado por uma cúpula semi-esférica em te da última religiosa, Maria da Conceição de S. José, a 2
mármore, com módulos de uma estereotomia em redu- de Fevereiro de 1874. Todo este espaço foi reconvertido
ção geométrica, mostrando uma decoração alternada de em Pousada, em finais do século XX.
círculos e quadrados. A pedra é muito fina, translúcida, No Torrão surgiu a terceira fundação mendicante do
parecendo, na hora do poente, coberta de fogo. A nave, concelho, o Mosteiro de Nossa Senhora da Graça.
prolongando este espaço, é constituída por quadrado du- Tendo sido, no início, um Recolhimento de Terceiras
plo e coberta com abóbada de berço, ligando-se à igreja Mantelatas, sob a invocação de Santa Marta, já existen-
conventual por arcos de volta perfeita, que se repetem te em 1560, converter-se-ia, em finais do século XVI

(1599), numa comunidade de clarissas, sob a jurisdição paramentos e outras alfaias vindas por vezes de bem lon-
do Arcebispo de Évora. Tal como aconteceu a muitos ge, do norte da Europa às terras longínquas do Oriente
outros conventos e mosteiros, também este foi extinto ou às mais próximas do Magrebe ou da costa africana.
aquando da morte da última religiosa. Para o Torrão O património que aqui se apresenta devolve ao nosso
regressariam as monjas, desta vez beneditinas, em 1976. conhecimento uma história rica, uma memória material
Por último, o convento de Santo António do e espiritual que nos permite assumir uma herança legada
Torrão, também ele franciscano, foi fundado em 1604. por todos os homens e mulheres que nos antecederam.
Construído no sítio da antiga capela de S. Sebastião, E desafia-nos a ir mais longe, continuando a recuperar e
sob o patrocínio de Mécia Lopes e Vasco Borralho de a valorizar, de forma segura e rigorosa, as marcas de um
Vila Lobos, seria extinto em 1834. A igreja conventual passado que funda a nossa própria identidade.
mantém-se ainda hoje como espaço activo de culto.
Apesar das perdas inf ligidas pelas vicissitudes do Maria Teresa Lopes Pereira
tempo e pela incúria ou malícia dos homens, chegou Historiadora
aos nossos dias um espólio religioso importante, que
nos dá uma ideia, ainda que pálida, do que terá sido a
arte sacra no espaço do actual Concelho de Alcácer do
Sal. Com uma multiplicidade de templos e mosteiros,
uns com sede na urbe alcacerense ou na vila do Torrão,
outros pontuando as aldeias ou dispersos pelo seu vasto
termo, atestam uma história onde se cruzam múltiplos
poderes e influências. A da Ordem de Santiago, durante
séculos senhora de Alcácer e padroeira de muitos dos
seus templos, a da diocese de Évora, cuja jurisdição a ela
se estendia, ou a dos franciscanos, numa presença que se
revelaria mais tardia mas não menos marcante.
Podemos, sobretudo com base nos dados das visita-
ções santiaguistas a este território, atestar como as igre-
jas e as muitas ermidas e capelas aí descritas concitavam,
não só a devoção das populações, como a generosidade
de muitos benfeitores. Ligados alguns à Corte régia ou
ao trato comercial e marítimo, fariam afluir a estes tem-
plos um rico património, onde não faltavam imagens,

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CRISTO CRUCIFICADO
Ceilão (?) – Século XVII
Escultura de vulto pleno em marfim parcialmente policromado
A. 46 cm x L. 33 cm x Pr. 16 cm (imagem)
AS.ST.1.012 esc
É representado morto com a cabeça tombada à direita,

Igreja de Santiago acompanhada por duas madeixas de cabelo que repousam
Alcácer do Sal sobre o peito, em contraposto com a orientação das pernas
flectidas, aqui num registo mais vigoroso reflectindo a
expressiva inclinação do tronco, bastante afastado da cruz,
e correspondente posição dos braços esticados. O rosto
denuncia uma serenidade absoluta nos olhos fechados, de
globos evidenciados, nariz afilado e lábios quase ocultos
pelo bigode relevado que une à barba compacta e hirta,
bifendida no queixo pelo encontro de caracóis afrentados.
Este tipo de tratamento repete-se no modelado do cabelo
e é distinto do que geralmente é apontado como específi-
co das oficinas cingalesas1. Uniformemente destacado do
rosto, e sulcado por estriado fino em madeixas levemente
onduladas rematadas por caracol, deixa visualizar a orelha
esquerda e cai em bico pelas costas. Braços e pernas com
indicação de veias salientes em plena articulação com a
representação da massa muscular, ligeiramente mais estili-
zada nos membros inferiores mas não tanto como é usual
nestas imagens. O tronco foi tratado com grande rigor e
intensidade, sendo igualmente notável a plasticização das
costas tanto na marcação da coluna vertebral e costelas,
como na definição das nádegas e pernas sob cendal, certa-
mente pela referida inclinação que possibilita a visualiza-
ção desta zona na observação lateral. Panejamento muito
aderente atado em laçada sobre a anca direita, de formato
rectangular ainda que simultaneamente acompanhe a cur-
vatura da barriga e interprete a volumetria das pernas em
finas pregas curvas e justapostas.
Como já referi esta imagem encontra grandes afinida-
des com outras peças (Morna 2000; Dias 2009), desig-
Partilhando uma base comum derivada de modelos nadamente com um Cristo Crucificado (inv 141) da igreja
europeus, as peças genericamente classificadas de indo- de São Roque, “que se integra na evolução de uma série
portuguesas são no entanto reveladoras de especificidades oficinal inspirada em modelos de características arcaicas,
próprias, reflexo das diversidades culturais e técnicas, que ainda do século XVI e muito frequentes no século XVII,
permitem agrupá-las por centros de produção em quatro cujas imagens beneficiavam de uma configuração anató-
grupos: Índia Portuguesa, Ceilão, China e Japão. mica exageradamente estreita e longilínea, com músculos
A imagem venerada no altar-mor da igreja da Santia- retesados e ossos salientes”. Este protótipo pertence a uma
go, apesar de enunciar um trabalho mais meticuloso e colecção particular e é estudado por Bernardo Ferrão de
pormenorizado, parece indiciar características próximas Tavares e Távora (Távora 1983). SN
das congéneres cíngalo-portuguesas distinguidas, em li- 1
“é normalmente apontada como referência para o caso cingalês, o formato dos cabelos,
nhas gerais, pela modelação mais delicada e naturalista. trabalhado em sulcos lisos e finos (…)” (Morna 1993)

JULGAMENTO E MARTÍRIO
DE SÃO SEBASTIÃO
Portugal - último quartel do século XVII - inicíos do século XVIII
Óleo sobre tela
A. 270 cm x L. 320 cm (com moldura)
AS.ST.1.001 pin
Igreja de Santiago Pintura a óleo, de dimensões consideráveis, hoje con-

Alcácer do Sal finada à sacristia da igreja, que deverá ter ornado ou a
capela-mor ou uma série hagiográfica na nave desta igreja
da Ordem de Santiago, antes da colocação da cobertura
azulejar setecentista que hoje preenche boa parte da su-
perfície parietal daquele templo.
De autoria desconhecida poderá ter sido criação de
pincel tenebrista lisboeta, da família dos Silva Paz, ou de
António Machado Sapeiro, ou talvez mesmo de algum ig-
noto mestre regional, do aro de Évora. Seja qual for o autor
segue as tendências artísticas do reinado de D. Pedro II.
Está dividida em dois planos, o maior, à direita do ob-
servador, decorre num espaço com arquitecturas em fun-
do, onde São Sebastião é apresentado perante o impera-
dor Diocleciano que o condena à morte, depois do santo,
capitão da guarda pretoriana, o ter enfrentado em defesa
do Cristianismo. O jovem Sebastião, assim como todos
os soldados que o rodeiam, envergam couraças e elmos,
estando alguns armados com lanças. O imperador, que
gesticula com o preso, está sentado num trono elevado,
sob um dossel, empunhando um ceptro na mão esquerda.
Num plano intermédio e no lado esquerdo é visível um
grupo de soldados a levar o santo para o martírio, pois
“Diocleciano mandou que o amarrassem no meio de um
campo e o crivassem de setas” (Voragine 2004). É preci-
samente isso que acontece no plano do canto superior es-
querdo, onde São Sebastião surge amarrado a uma árvore,
semi-desnudo, com braço esquerdo levantado, cravado de
setas. À sua frente três arqueiros, de arcos retesados contra
o mártir, cumprem a sentença. Esta cena do martírio co-
pia fielmente gravura mais antiga de Johannes Sadeler ou
de J. Mathan, gravadores do Norte da Europa, utilizada
também pelo pintor Pedro Peixoto, em 1715, no tecto da
igreja da Conceição de Peniche1.
O pintor seguiu a narração (julgamento e sagitação) da
Legenda Áurea, de Jacopo de Voragine, que é pouco comum
na arte portuguesa (Serrão 2005), o que torna a pintura
ainda mais relevante. JM
1
Segundo informação avançada pelo historiador de arte Vítor Serrão, a quem agradecemos.

RETÁBULO DE NOSSA
SENHORA DO CARMO
Portugal – segundo quartel do século XVIII
Talha dourada e policromada
AS.ST.1.001 tal
Igreja de Santiago do banco, centrado no registo inferior pelas armas car-

Alcácer do Sal
melitas, apresenta duas consolas, suportadas por atlantes,
e sacrário ornamentado por cruz e ramos de videira, no
eixo, flanqueado por meninos cobertos de motivos fito-
mórficos. No corpo, as colunas de espiras revestem-se de
cachos de uvas, e ao centro eleva-se nicho, fechado na
base por grade curva, vazada, e ladeada por pilastras de
volumosos enrolamentos vegetalistas e aletas, encimado
por dossel de cortinas franjadas, a que corresponde quebra
no entablamento. O ático, semicircular, é preenchido pelo
registo superior do dossel, entalhado com enrolamentos
de acanto, e arquivolta do mesmo motivo, acompanhada
por meninos, de vestes estofadas, e querubins. Destaque-
se ainda a decoração pictórica do arco de pedraria, em que
o retábulo se insere, numa composição de reservas com
grinaldas de flores, com o fecho ornamentado pelo brasão
carmelita coroado.
As Memórias Paroquiais, de 1758, referem já este altar
da Senhora do Monte de Carmo, a que correspondia o do
Menino Jesus, na banda da Epístola. Retábulo devocional
mariano, numa das suas principais invocações, expressa
de forma clara a linguagem estética do barroco pleno,
que corresponde, sensivelmente, ao reinado de D. João
V (1707-1750). Notem-se os motivos figurados, de vulto
pleno, que povoam toda a obra, e em maior escala as pi-
lastras compósitas, ou o dossel com cortinas de requintado
estofo, nota de cor que quebra a mole dourada, comple-
mentada ainda pela carnação das figuras, a acentuar uma
plasticidade que subalterniza a estrutura.
Note-se ainda a presença da heráldica carmelita com-
posta pelo Monte Carmelo estilizado, de castanho, lu-
gar de origem da Ordem onde viveu o profeta Elias, com
uma estrela ao centro, e outras duas num céu de branco.
A estrela inferior é geralmente interpretada como a repre-
sentação dos carmelitas no caminho do Monte Carmelo,
enquanto as duas laterais simbolizam os que já terminaram
a sua peregrinação e atingiram a santa montanha. Estas
Retábulo de planta plana composto de sotobanco, três estrelas têm sido frequentemente interpretadas como
banco, corpo de tramo único e ático. No embasamento a representação da Virgem, de Santa Teresa de Ávila e de
possui maquineta com imagem de Cristo Morto; ao nível São João da Cruz. PV

SANTO AMARO
Portugal (?) – Século XVI
Escultura de vulto 3/4, costas planas, em madeira policromada
A. 129 x L. 43 x Pr. 24 cm
AS.ST.1.005 esc
um livro, aludindo à Regra de São Bento, e um báculo
Igreja de Santiago que lembra a sua condição de abade, por vezes substi-
Alcácer do Sal
tuído ou coexistindo com um rosário. Na maioria das
peças identificadas na Arquidiocese de Évora é caracte-
rizado por figurações em idade avançada, se bem que tal
não seja imperativo como confirma a imagem de rosto
jovial e imberbe, tonsurado, da igreja de Santa Sofia, em
Montemor-o-Novo, com inscrição na base. A escultura
de Santo Amaro, actualmente colocada na capela Bap-
tismal da igreja de Santiago, para além da atitude geral,
foi identificada com base no item 188 do “Arrolamento dos
bens móveis e imóveis existentes na freguesia de S. Tiago”1, que
se refere a “Uma imagem de Santo Amaro, em madeira e
tamanho natural”. É dotada de um invulgar sentido de
proporção e qualidade plástica, tanto no tratamento dos
panejamentos como pelo rigor e expressividade anató-
micas, que parecem reflectir a familiaridade do escultor
com os modelos renascentistas do Norte da Europa. O
elegante contraposto da pose, sugerido em cada detalhe,
é iniciado na inclinação da cabeça para a direita, contrária
ao olhar, e pelo braço que acompanha o corpo, fixando
o manto após cruzar a cintura. Na mão levemente pro-
jectada certamente exibia atributo omisso entre os dedos
dobrados. Este movimento é compensado pela orientação
oposta da barba comprida, parcialmente oculta debaixo
do livro unido ao peito, flexão da perna e recuo do pé.
Descendente de uma família nobre, Santo Amaro vi-
A cadência suave da pose tira o melhor partido do perfil
veu no século VI e cedo foi confiado a São Bento, distin-
ligeiramente elíptico da figura equilibrando-se com os pés
guindo-se não só como modelo de virtudes e obediência
descalços na base boleada. Beneficia da notável plasticiza-
como pela fama de santo milagreiro, invocado sobretudo
ção das vestes, alternando a superfície lisa da romeira, rit-
em problemas relacionados com reumatismo ou consti-
mos verticais lado direito do manto e do hábito, a registar
pações. É um dos mais representativos monges benedi-
certo arqueamento das costas e consequente sugestão da
tinos e considerado o fundador do primeiro mosteiro da
barriga, mas sobretudo pela aderência às pernas perfei-
Ordem em França, celebrizado em termos artísticos pela
tamente desenhadas. A perícia do escultor é ultimada no
representação do episódio em que terá andado sobre as
semblante interiorizado e modelado forte do rosto, tocado
águas de um lago para salvar o seu companheiro Plácido
por alguma melancolia expressa nos olhos rasgados e so-
de morrer afogado, um dos primeiros milagres que lhe é
brancelhas elevadas, assim como na gestualidade contida
imputado.
e caracterização pormenorizada e naturalista das mãos e
Em escultura, o reconhecimento pleno de Santo Ama-
pés. SN
ro é dificultado pela ausência de atributos específicos em
representações sujeitas a poucas variações e comuns a ou- 1
Paróquia de São Tiago. Arrolamento dos bens móveis e imóveis, 1933, mç.53, AS.ST/
tros santos beneditinos, como sejam o hábito da ordem, ST/08/Mç.53.

VIDA DE SANTIAGO
Portugal – c. 1720 - 1730
Faiança
A. 145 cm x L. 500 cm
AS.ST.1.001 azu
acompanhada por um coro de anjos, que ergueram uma
Igreja de Santiago coluna sobre a qual a Virgem desejaria ver uma imagem
Alcácer do Sal sua. Nesta composição, a Virgem é representada com o
Menino nos braços, o que iconograficamente a afasta de
algumas matrizes gráficas mais antigas, como a de Diego
de Astor (c. 1585/90 a c. 1650)1, em que figura isolada, e
os anjos, que costumam ladear a imagem, a tocar harpa e
outro instrumento de cordas, deram aqui lugar a discretos
serafins sobre a auréola de nuvens. Aos pés de Nossa Se-
nhora, que o olha, está Santiago ajoelhado, frente a dois
peregrinos na mesma atitude. A guarnição do painel, uma
barra comum a todo o conjunto, é decorada por enrola-
mentos acantiformes, interrompidos no eixo vertical por
pares de anjos que sustentam cartelas simétricas.
Virgílio Ferreira, que primeiro se debruçou sobre estes
azulejos, atribui-os a António de Oliveira Bernardes, por
comparação com os de São Domingos de Benfica (Correia
1917, p. 202). Posteriormente compara-os aos “dos Loios
de Evora e Arraiolos e o dos dominicanos de Bemfica”,
datando a obra dos fins do primeiro terço do século XVIII,
sem no entanto lhe atribuir autoria (Correia 1972, pp.
148-149). Refira-se que os azulejos da igreja de São Do-
mingos de Benfica, de 1710, são da autoria de António de
Oliveira Bernardes, tal como os do convento dos Lóios,
de Évora, datados de 1711. Já os azulejos do convento dos
Lóios, de Arraiolos, datam de 1700, e devem-se a Gabriel
del Barco.
Santos Simões considera o ciclo dedicado a Santia-
Na igreja de Santiago, que devia estar já concluída go o mais antigo, de c. 1720, e julga os azulejos que se
em 1724 (Santa Maria 1724, p. 316), encontra-se um dos lhe sobrepõem, de temática mariana, de c. 1730 (Simões
mais representativos conjuntos da azulejaria barroca de 1979, p. 34). José Meco atribui o revestimento integral da
Alcácer do Sal, que reveste as paredes da larguíssima nave, nave da igreja matriz de Alcácer “cujos painéis apresen-
em três registos sobrepostos. No primeiro, sobre soco ar- tam alguma contenção decorativa e um belo e expressivo
quitectónico, cenas da vida de Santiago em composições desenho, usado com intenções líricas” ao pintor Teotónio
rectangulares, que alcançam as impostas dos arcos das dos Santos, remetendo-os para o final da década de 1710
capelas laterais. No segundo, acompanhando o recorte (Meco 1989, p. 442). PV
destes, dispõem-se painéis, novamente dedicados ao santo.
Por último, nova série de grandes painéis rectangulares, 1
Ferrer, Mauro Castellá, Historia del Apostol de Iesuvs Christo Sanctiago Zebedeo Pa-
tron y Capitan General de las Españas (Madrid, 1610), Santiago de Compostela, Xunta
da vida da Virgem. de Galicia, 2000. A mesma iconografia, da Virgem com o Menino nos braços, se observa
Da segunda série destacamos esta cena de Nossa Se- numa pintura de Nossa Senhora do Pilar de Saragoça, datável dos séculos XVII/XVIII,
e proveniente de Cuzco, Perú (Stratton-Pruitt, Suzanne, The Virgin, Saints, and Angels:
nhora do Pilar, que de acordo com a tradição, apareceu South American Paintings 1600-1825 from the Thoma Collection, Stanford University,
a Santiago na cidade de Saragoça, nas margens do Ebro, 2006, pp. 150-151).

CASULA
Península Ibérica (?) – Segunda metade do século XVI
Corpo: cetim de seda marfim, lavrado a fio metálico dourado
Sebastos e orlas: bordado directo, em fios de seda policromos,
contornado por cordãozinho
Galão tecido
A. 125 cm x L. 106 cm (costas) tecido, estreito, define o decote, contorna os sebastos e
A. 125 cm x L. 92 cm (frente) debrua por inteiro a peça.
AS.ST.1.007/1 par O tecido base poderá ter origem peninsular, conhecen-
do grande aceitação na centúria de Quinhentos, o que di-
Igreja de Santiago ficulta uma segura atribuição a um centro de fabrico espe-
Alcácer do Sal cífico. O corpo, que vive de densa composição vegetalista,
é completamente preenchido por raminhos compostos por
uma flor e três folhinhas, lavrados a fio metálico dourado,
e que se repetem sucessivamente.
Os sebastos são decorados por vistoso bordado com
motivo padronizado, formado por cartela octogonal de
enrolamentos estilizados e rematada nas intersecções por
flor-de-lis, símbolo de pureza; a que se encontra no topo
é maior e está ladeada por folhas e arranjos florais. A car-
tela, acolhe ao centro duas hastes folheadas e simétricas,
apanhadas nos caules por braçadeira e finalizadas por flor
azul e amarela de seis pétalas. As orlas são percorridas por
motivo idêntico, em desenvolvimento ondulatório.
Tanto a forma ampla e arredondada como o tipo de
decoração da veste, permite-nos situá-la no século XVI;
época, em que para além de reproduzirem temas bíblicos,
ainda conserva o gosto por motivos ornamentais padro-
nizados e de grandes dimensões, herança da decoração
vegetalista do século anterior. Na segunda metade deste
século, surge uma atitude estética e cultural que procura
uma nova identidade – o maneirismo. Embora empregue
uma linguagem renascentista, transgride-a consagrando-
se na procura de efeitos ambíguos. Esta dupla gramática,
no caso dos têxteis, traduz-se pela adopção de motivos
variados, como cartelas simétricas, ânforas, cestos de fru-
tas e grinaldas floridas, arabescos, animais exóticos ou
grotescos e cercaduras compostas por ramagens de pe-
quenas flores ou frutos. Conservando a sua estrutura base,
os paramentos surgem enriquecidos ou simplificados, de
acordo com o estatuto e a capacidade económica de quem
os encomenda.
Casula, de frente recortada e decote pronunciado, cos- O paramento, a par desta casula, é formado por duas
tas extraordinariamente amplas e bastante arredondadas dalmáticas, duas estolas, um manípulo, um pluvial e um
na base. Exibe o corpo em cetim de seda marfim e sebastos frontal de altar. Relativamente bem conservadas, estas pe-
e orlas bordados a fios de seda policromos, com enchi- ças são o que de mais opulento, em termos têxteis, se pode
mento de algodão, contornados por cordãozinho. Galão encontrar no acervo da igreja de Santiago. ISP

Simão Rodrigues (c.1560 - 1629)
Portugal - último quartel do século XVI
Óleo sobre madeira a administração da capela e suas obrigações, uma missa
A. 156 cm x L. 170 cm
quotidiana, ficaram a cargo da Misericórdia de Alcácer.
AS.MR.1.001 pin
Com a extinção das ordens religiosas (1834) e a
Igreja de Santa Maria utilização do convento para outros fins a igreja foi
Alcácer do Sal progressivamente despojada de algum do seu recheio,
havendo informação que terão desaparecido tábuas
quinhentistas, talha e relíquias, trazidas de Itália por D.
Pedro de Mascarenhas, entre outros objectos. Em data
incerta foi a pintura trasladada para o local onde hoje se
encontra.
Neste painel está representada uma temática
complementar da Natividade, a adoração dos reis magos,
mencionada pelo evangelho de São Lucas (MT, 2,1-12)
que figura amplamente na arte cristã, o que atesta a sua
popularidade ao longo dos séculos. Neste caso, está Nossa
Senhora, com o Menino ao colo e São José imediatamente
atrás deles do lado esquerdo, abrigados por uma estrutura
arquitectónica. O Menino, olha e aponta directamente
para os reis magos que estão a ofertar os seus presentes.
Estes ocupam o lado direito da composição, estando o
mais velho, Melchior, ajoelhado perante o Menino, de
mãos postas. Atrás deste está Baltasar, o rei mago negro,
semi-ajoelhado, e de pé está Gaspar, cada um deles com um
Guarda a igreja de Santa Maria de Alcácer um cofre nas mãos. Todos envergam roupas ricas, requintadas
belíssimo quadro – Adoração dos Reis Magos – de finais e coloridas, Baltasar e Gaspar ostentam coroas na cabeça.
do século XVI, que pertenceu à igreja do Convento de Melchior por respeito e já estar a adorar a Jesus tem a
Santo António, da mesma localidade, e que hoje é um dos dele no chão, acompanhado de um curioso vaso de ouro,
resquícios do rico espólio artístico que a igreja conventual encimado por o que parece ser uma figura alegórica. As
em tempos teve. oferendas dos três são peças de ourivesaria fantasiosa,
Foi este convento franciscano fundado em 1524, pela em ouro, minuciosamente lavradas, que se destacam. Ao
viúva de D. Fernão Martins Mascarenhas, capitão-mor centro, a encimar a composição, a estrela que guiou os reis
de ginetes de D. João II e alcaide-mor de Alcácer do Sal, até Jesus.
pais de D. Pedro de Mascarenhas, insigne fidalgo, que Esta notável Adoração deve, sem dúvida, ser da
mais tarde fundou a capela das Onze Mil Virgens, na autoria de Simão Rodrigues1, aliás nascido em Alcácer,
mesma igreja. Estava esta tábua numa capela lateral, do um dos mais importantes representantes do maneirismo
lado do Evangelho, mandada fazer por Diogo Lameira, contra-reformado em Portugal, influenciado por círculos
segundo inscrição situada no cruzeiro da igreja: “Esta artísticos da cidade de Roma, que visitou no tempo do
Capella dos Santos reys Magos he do Doutor Diogo papa Sisto V (1585-90). Parece ser obra exclusiva, sem
Lameira do Conselho de El Rey nosso Senhor, e seu colaboração, onde a partir de uma fonte gravada, o artista
Desembargador do Paço, a qual mandou fazer no anno de explorou receitas pessoais. JM
1597” (Frei Jerónimo de Belém 1758, p. 395). Para além
destas informações é ainda afirmado na dita lápide que 1

Painel de azulejos
Portugal – primeiro terço do século XVII
Faiança policroma (azul, verde, ocre, amarelo e manganês)
A. 248 cm x L. 246,5 cm
AS.MR.1.001/1-2 azu
Nas primeiras décadas do século XVII afirma-se uma
Igreja de Santa Maria nova tendência na azulejaria portuguesa, a dos painéis
Alcácer do Sal ornamentais, ditos azulejos de brutesco. Deste período, que
teve o seu momento alto por volta de 1630, datam alguns
dos mais significativos conjuntos do género, como os pai-
néis da escadaria nobre do antigo convento da Saúde, de
Lisboa – actualmente no Museu do Azulejo, da mesma
cidade -, ou os que revestem a capela-mor da igreja do
Espírito Santo, de Évora, datados de 1631, e ainda os da
capela-mor da igreja de São Francisco, de Estremoz, de
c.1630 (Valente 2008, pp. 66-67).
Na capela do Santíssimo Sacramento, da igreja de
Santa Maria, destacam-se os dois painéis estudados, que
formam silhares, com composição decorativa simétrica,
desenvolvida num eixo vertical de enrolamentos e motivos
fitomórficos, perlados e grinaldas, pontuados por anjos e
putti. Os primeiros, no registo superior, suspendem grinal-
das de frutos e ramos de videira, presos ao bico de aves.
Na guarnição, um friso de óvulos e cercadura própria, de
acantos e motivos vegetalistas trilobados.
Segundo J.M. dos Santos Simões (1997, t. II, p. 193),
que considera notabilíssimas estas composições cerâmi-
cas de Alcácer do Sal, “do mais puro gosto dos rótulos e
pendurados”, datam do primeiro terço do século XVII, tal
como os já referidos azulejos de São Francisco de Estre-
moz, ou os da matriz de Bucelas, que este autor atribui a
uma mesma oficina (ob. cit., t. I, p. 194). Estes últimos, po-
rém, parecem-nos muito inferiores aos exemplares que se
conservam nesta igreja, ou na de Estremoz, quer pela fraca
qualidade do desenho e técnica de pintura, quer pela po-
breza dos esmaltes que apresentam. Para Virgílio Correia,
que considera estes azulejos “muito puros de estilo e poli-
cromia”, datam do mesmo período (Correia 1972, p. 188).
Testemunho da influência que as gravuras flamengas
tiveram na nossa azulejaria, difundidas desde a segunda
metade de Quinhentos e durante o primeiro quartel do
século XVII, este tipo de azulejos de brutesco teve pouca
duração, declinando a partir de 1650, embora um dos
motivos do seu repertório, o dos vasos floridos, se tenha
tornado independente, e passado a constituir o motivo
central de painéis individualizados, as célebres albarradas,
com larga aceitação ao longo do século seguinte. PV

PÚLPITO
Portugal – meados do século XVIII
Talha dourada e policromada
A. 290 cm x L. 144 cm x Pr. 101 cm
AS.MR.1.002 tal
Igreja de Santa Maria

Alcácer do Sal
Púlpito adossado a coluna e suportado por atlante
policromo, vestido à guerreiro, sobre base rectangular
moldurada. A caixa, de formato paralelepipédico, fechada
por pilastras, com pintura marmoreada azul, tem base
em secção de pirâmide truncada, invertida, decorada por
renque de acantos; na moldura inferior, é ornamentada
por panejamentos apanhados por laços e botões. Face
frontal, em talha vazada de composição simétrica, que
inscreve menino encimado por feixes de plumas, numa
reserva quadrilobada de saliências canopiais, a partir da
qual se desenvolvem enrolamentos acantiformes e aletas.
Nas ilhargas desenvolvem-se composições idênticas, com
talha menos volumosa, a partir de florão central. A mol-
dura do parapeito, saliente, compreende meias-canas e
frisos denticulado e encordoado. O guarda-voz, assente
no capitel da coluna, e a acompanhar o arranque do arco
da nave, é ornamentado por aletas fitomórficas e rocalhas,
e no céu, pela pomba do Espírito Santo em sol radiado.
No remate, triangular, repete-se a talha vazada, de ornatos
fitomórficos, centrado por cartela com o motivo “casca de
amendoim”, igualmente presente nas ilhargas.
Estamos perante um belíssimo exemplar da talha jo-
anina, com alguns elementos dissonantes, como é o caso
do guarda-voz, de feição rococó, ou as alterações da poli-
cromia, fruto de intervenção relativamente recente. Ainda
quanto à ornamentação, questionamos a originalidade da
moldura inferior da caixa - de panejamentos apanhados
por botões e fitas onduladas -, que aparenta datar de finais
do século XVIII – inícios do século XIX.
E se consideramos esta peça um dos mais expressivos
exemplares do púlpito barroco no aro da arquidiocese de
Évora, destaque-se ainda a peculiaridade da iconografia
representada nas cartelas do guarda-voz. Na inferior, um
losango de contas, que passam por quatro argolas nos
pontos cardeais, pode ser interpretado como o Logos En-
carnado, o Verbo feito carne, ou seja, a segunda pessoa da
Trindade, que é o próprio Cristo (Richardson 1984, 45;
1989, 376). Na superior, um coração ferido por setas (?),
provável alusão ao divino amor. PV

CÁLICE
Portugal - último quartel do século XVI
Prata fundida, gravada, relevada, repuxada, dourada (interior da copa)
A. 22 cm x D. 12 cm; P. 409,90 gr
AS.MR.1.014 our

Alcácer do Sal
Este cálice de prata branca de finais de Quinhentos é
uma das mais interessantes e antigas alfaias de ourivesaria
sacra do concelho de Alcácer do Sal. A base é circular,
alteada, de orla lisa, decorada com diversos elementos
associados à Paixão de Cristo. Ligação com a haste lisa,
sulcada por renque de ovalados. Nó em forma de urna,
decorada por grinaldas de flores unidas por fitas e laços
a cartelas, emoldurado por dois discos salientes com ele-
mentos vegetalistas, no disco inferior, e folhas alternando
com setas, no superior. A ligação entre a haste e a copa é
feita por anel denticulado. Copa cupuliforme, com vestí-
gios de douramento.
A decoração da base tem os tradicionais símbolos liga-
dos à morte de Cristo – cartela com as cinco chagas, bolsa
dos trinta dinheiros, pelicano (?), cruz trespassada por três
cravos, escada conjuntamente com lança e esponja, tudo
interligado por laço, flor estilizada e, por último, o caracol
que aparece duas vezes, “símbolo crístico de Ressurreição
e de Vida Eterna” (Feuillet 2005, p. 31). Este tipo de de-
coração ao “estilo antigo” ou “romano” vai, lentamente,
afirmar-se na ourivesaria nacional da segunda metade do
século XVI (Vassalo e Silva 2009, p. 69), muitas vezes
baseada em gravuras de ornamentos, avulsas, por exemplo
de Cornelis Bos (1510-1566). Mas a inspiração pode tam-
bém ter emanado da decoração de frontispícios de livros
impressos da época (Gusmão 1964, pp. 167 e 245), onde
são habituais as cercaduras profusamente decoradas, com
elementos fitomórficos, ou cristãos por vezes misturados
com outros nitidamente pagãos.
São conhecidos alguns cálices, com similitudes na
forma e/ou na decoração, na região de Évora (Comissão
Municipal de Turismo, 1957), em Tavira (Franco, Penalva
2006, p. 172), ou na decoração da base de uma custódia
de Mértola (Lopes 2001, p. 102), assim como em colec-
ções de museus nacionais.
Na base, tem esgrafitado: “S. Tiago”, o que indicia ter
este cálice pertencido à antiga capela de Santiago, que
ficava dentro do primitivo perímetro amuralhado de Alcá-
cer (Correia 1917, p. 142). JM

NAVETA
Portugal – último quartel do século XVII
Prata fundida, repuxada, cinzelada, vazada, gravada e relevada
A. 17,50 cm x L. 9 cm x C. 21 cm; P. 628, 3 gr
AS.MR.1.006 our

Alcácer do Sal
Naveta em prata de base circular, decorada por renque
de folhagem estilizada. Tem haste tronco-cónica, no ar-
ranque decorada por folhas de acanto e no registo superior
moldurada por anéis salientes e filetes incisos.
O recipiente, em forma de nau, tem os flancos do casco
decorados por faixas de enrolamentos fitomórficos, su-
gerindo de certo modo ondulação ao mesmo tempo que
imprime à peça uma decoração aprimorada. Nas ilhargas
observam-se, como é habitual, os pontos de apoio das
enxárcias e os óculos para as amarras da âncora. É na
proa que reside a maior originalidade desta peça, pois é
ornada por esporão com figura zoomórfica “enfeitada de
plumas” e com aspecto de “monstro de bico pontiagudo
e recurvo” (Falcão 2000, p. 113). Várias peças, com este
mesmo elemento decorativo, podem ser encontradas tanto
na arquidiocese de Évora (VV.BA.2.055 our), na diocese
de Beja (Falcão 2000, pp. 113-115), no Museu Nacional
de Arte Antiga (Orey 1998, p. 88) ou em outros locais de
Portugal continental e do espaço atlântico.
A parte superior da naveta – todo o convés, alteado
pelos castelos de proa e de popa – é decorada por en-
rolamentos de volutas com folhagem incisa. Os castelos
da nave são percorridos por arcaria vazada, sendo o da
popa rematado por graciosa voluta enrolada, com deco-
ração vazada, o mesmo acontecendo com o da proa, mas
aí o enrolamento é de menor dimensão se bem que mais
pronunciado. No registo intermédio destaca-se o alçapão
de acesso ao porão, com duas argolas. Virados para este
registo central, de cada lado dos castelos, carrancas antro-
pomórficas, que emprestam mais um pormenor decorativo
à naveta. O castelo da popa, articulado por meio de char-
neira, forma a tampa da naveta.
Infelizmente este belo exemplar de ourivesaria sacra
não é acompanhado pela habitual colher, desconhecendo-
se o seu paradeiro.
Este tipo de receptáculo, em forma de navícula é reci-
piente de uso litúrgico, cuja forma foi inspirada nas em-
barcações dos séculos XV e XVI, e utilizado para acon-
dicionar o incenso antes de ser queimado no turíbulo. JM

CADEIRAL
Portugal – segunda metade do século XVIII
Madeira ensamblada, policromada; talha dourada
A. 296 cm x L. 177 cm x Pr. 38 cm
AS.MR.1.001 mob

Alcácer do Sal
Cadeiral de três assentos, com prumadas em curva e

contracurva, que se prolongam em pernas de igual recorte.
Assentos basculantes, com frente curva, e apoios de braços
moldurados, que rematam em volutas. Os encostos, de-
corados por almofadas de pintura de fingimento, prolon-
gam-se em espaldar de formato tronco-cónico, marcado
por estípides que suportam a cornija de moldura ondulada.
O remate, obra de talha dourada e policromada, consiste
numa cartela periforme invertida, que inscreve custódia,
ornamentada por volutas e folhagem de acanto, sob três
cabeças de anjos.
Peça curiosa, que pertenceu à confraria do Santíssi-
mo Sacramento, há muito sedeada nesta igreja, expressa
uma combinação entre o típico cadeiral monástico – com
características bem definidas desde o século XVI -, e a
linguagem do rococó, quando é evidente a diminuição dos
ornatos em talha, e os elementos figurados se restringem
a figuras de anjos, virtudes e serafins. Ao esbatimento das
formas, juntou-se neste móvel uma pintura que elegeu
como tom de fundo o vermelho, tonalidade preferida en-
tre nós na pintura de mobiliário, a par das tonalidades de
verde, que contrasta com a pintura de fingimento, de fraca
execução, confinada às almofadas. Os ornatos em talha
dourada manifestam-se apenas nos remates dos pilares-
estípides ou, com maior expressão, na cartela que envolve
o Santíssimo Sacramento.
A esta opção não seriam alheias as Pragmáticas, pro-
mulgadas por D. João V em 1749, em que se proibia “fazer
de novo moveis alguns de casa, em que entre prata, nem
oiro fino ou falso, ou bordadura de qualquer sorte ou ma-
téria que seja” (Pinto 1952, p. 88)1 justificadas pelos gastos
supérfluos efectuados ao longo de mais de meio século, a
carestia de ouro brasileiro e os excessos na aplicação de
metais preciosos em peças de mobiliário. PV
Cf. Fr. Cláudio da Conceição, Gabinete Histórico, tomo X, cap. 10.
1

PANO DE PORTA
Portugal (?) – Século XVIII
Corpo e orlas: burel carmim, com aplicação de bordado
em fios de lã policromos, estampas e cordãozinho
Forro: tafetá de linho carmim
bretudo a veneração do respectivo patrono, bem como a
A. 229 cm x L. 119 cm
AS.MR.1.003 par assistência material e espiritual, principalmente entre os
confrades.
Igreja de Santa Maria No caso português, o movimento confraternal teve o
Alcácer do Sal seu auge entre os séculos XVII e XVIII e “pode ser com-
provado pelo grande número de associações que o com-
punham e à volta do qual se congregavam milhares de
fieis” (Nunes 2010, p. 88). Por todo o país, “surgiram
confrarias tipicamente ligadas à paróquia com uma base
social a ela circunscrita” (Sá 1996, p. 55) e na sua maioria
centradas nas devoções do Santíssimo Sacramento, das
Almas do Purgatório e de Nossa Senhora do Rosário. “O
aparecimento de muitas destas associações deveu-se à ini-
ciativa do clero, interessado em contrariar os argumentos
protestantes, baseados na justificação pela fé, na recusa
da indispensabilidade dos sacramentos e da veneração da
Virgem” (Penteado 2000 p. 463).
Sediada na igreja de Santa Maria do Castelo, em Alcá-
cer do Sal, a Confraria do Santíssimo Sacramento deixou
alguns testemunhos da sua existência, tanto a nível de do-
cumentação, como no mobiliário e ainda em paramentaria,
de que é exemplo a presente peça.
Pano de porta, ao alto, de formato rectangular e cor-
po em burel carmim. No centro, salienta-se a decoração
mais significativa: inserida em moldura sinuosa, sobressai
custódia (símbolo do Santíssimo Sacramento) ladeada por
nuvens, de base triangular, assente sobre três pés em volu-
tas, com hostiário em forma de sol radiado, e duas cruzes
latinas, uma na câmara e outra no topo; cada canto é rema-
tado por ramo florido, composto por elementos eucarísti-
cos: espigas, folhas de parra e cachos de uvas, representam
o pão e o vinho da Eucaristia. As orlas apresentam moti-
vos fitomórficos bordados, destacando-se os imponentes
jarrões acantonados, que parecem ficar completos com os
ramos floridos, inseridos no corpo da peça.
Tanto a nível técnico, estético e devocional, o Inven-
tário da Arquidiocese de Évora regista alguns paramentos
semelhantes a este. É o caso de um pano de porta perten-
cente à igreja de Nossa senhora das Dores, em Borba (BO.
Ao longo dos séculos XI a XII surgem por toda a Eu- BA.2.002 par) e de um outro existente na igreja de Santa
ropa, associações de leigos no catolicismo tradicional. Maria de Evoramonte (ES.SM.1.002 par); todos eles con-
Aliavam-se com a finalidade de promover o culto, so- sagrados à confraria do Santíssimo. ISP

NOSSA SENHORA
DA PIEDADE
Portugal – Século XV
Escultura de vulto a 3/4 em calcário policromado,
parte posterior escavada ções mais humanizadas e de proximidade aos fiéis, aliado
A. 74 cm x L. 61 cm x Pr. 29 cm a um ambiente de profunda exaltação mística e crescente
AS.MR.2.004 esc religiosidade, alimentado por diversos textos piedosos
que de certa maneira colmatam a brevidade com que cer-
Igreja do Senhor dos Mártires
tas passagens são relatadas nos Evangelhos Canónicos. A
Alcácer do Sal
imagem que se venera em altar próprio do Santuário do
Senhor dos Mártires, ilustrativa do modelo devocional
típico de finais do século XIV/XV1, alicerça-se no acentua-
do contraste formal entre as figuras e é revelador de um
elevado sentido de simetria e contenção dramática. Numa
composição perfeitamente idealizada do momento que se
segue ao Descimento da Cruz, a estrutura piramidal da
Virgem, sentada num banco corrido, é cortada pela linha
quase horizontal descrita pelo corpo hirto de Jesus e con-
tinuada na correspondência das mãos, respectivamente a
amparar-lhe o pescoço e sobre o cendal. Todo o sofrimen-
to de uma mãe ante o corpo inanimado do filho, enfati-
zado pela inclinação da cabeça, está condensado no rosto
bordejado por véu. A beleza de Nossa Senhora potencia o
sentimento interiorizado e a dilacerante tristeza do olhar,
concretizada em finas lágrimas escorrentes. Ainda com
os olhos entreabertos, o Redentor encontra-se deitado
sobre o manto cadenciado, em guisa de leito confortável
que lhe serve igualmente de base aos pés, contrastando
com a rigidez do corpo em pose assumidamente perfila-
da, designadamente no desenho do rosto culminando em
barba pontuda. Num breve toque de intimidade, as mãos
estão meticulosamente dispostas sobre o braço materno,
sem no entanto interromperem a colocação paralela. A
maior simplificação no tratamento dos panejamentos na
zona do tronco, em que apenas se destaca a ponta do véu
atravessando o peito, é compensada pela definição das
pernas ocultas sob o manto, numa combinação de curvas e
refegos que demonstram a enorme leveza do tecido. Total-
Os grupos escultóricos venerados sob a invocação da mente repolicromadas são decoradas com motivos doura-
Piedade derivam de uma autonomização das representa- dos e policromados: estrelas no véu, fiada de pequenas flo-
ções da Virgem do contexto narrativo da Lamentação em res estilizadas no vestido, e pés florais pontuando o manto,
finais do século XIII e XIV, por via germano-francesa, so- cuja cercadura se desenvolve em banda mais elaborada. SN
bretudo decorrente da necessidade de traduzir em imagens
os novos paradigmas religiosos. Entre outros, destaca-se 1
Veja-se a título de exemplo a imagem do Museu Nacional de Arte Antiga (inv 1046 Esc),
a do Museu Nacional Colégio de São Gregório (CE0001), em Valladolid, ou ainda do
um enaltecimento do papel privilegiado e central da Vir- Museu Nacional da Idade Média de Paris, consultar em: http://www.musee-moyenage.
gem Mãe em toda a doutrina católica, gerando representa- fr/esp/pages/page_id18139_u1l2.htm

NOSSA SENHORA
DA CINTA
Portugal – Século XIV/XV

Escultura de vulto a 3/4 em calcário policromado
A. 168 cm x L. 63 cm x Pr. 37 cm flores estilizadas. Do lado esquerdo uma figura masculina
AS.MR.2.006 esc ajoelhada, “como um doador um freire de Santiago oran-
do, de mãos-postas, com a cruz-espada visível num braço
Igreja do Senhor dos Mártires e a cabeça tonsurada” (Pereira 2009), identificado por Frei
Alcácer do Sal Agostinho como sendo o apóstolo Santiago. O escudo tem
cruz de Santiago, ou espatária, e quatro peças acantona-
das: no chefe duas vieiras estilizadas, no contra-chefe um
Agnus Dei e um brasão de armas com escudete de faixas3.
Em representação muito graciosa, a figura de Nossa
Senhora é estruturada segundo eixo diagonal que realça
a sinuosidade da pose, sobressaindo a expressiva inclina-
ção da cabeça velada, prolongada no movimento do braço
direito e compensada pela flexão desta perna, com o pé
ligeiramente avançado. O manto, colocado sobre os om-
bros e fechado no peito por botão losangular, circunda os
braços e tem as pontas fixas na mão de Nossa Senhora,
mais elevada, que simultaneamente ampara o Menino Je-
sus sentado sobre o braço. Em posição perfilada, o Menino
acaricia a cabeça da mãe enquanto brinca com uma ave
que conserva no regaço. Apenas uma parte do vestido é
visível no lado direito do tronco, destacado pela amplitude
do braço dobrado rodando ligeiramente em direcção ao
observador, parecendo realçar a presença do cinto que lhe
precisa a invocação e cuja ponta segura juntamente com
o manto. Num registo naturalista e casual os dedos estão
parcialmente ocultos, à excepção do anelar e polegar. O
rosto jovial e sorridente de Nossa Senhora é emoldurado
A presença de um cinto em diversas representações me- por faixa ondulada de cabelo pontuada por pequenos ca-
dievais de Nossa Senhora, acessório comum e frequente- racóis. Inferiormente a composição é dominada pelo mo-
mente associado à pureza, adquiriu uma importância reli- delado do manto, concretamente numa faixa alinhada com
giosa e iconográfica mais complexa. Para além de ser uma o pé e convergindo para o Menino Jesus, pelo encontro
peça indispensável ao hábito dos agostinhos, entregue das pontas desenhando um harmonioso jogo de pregas tu-
directamente das mãos da Virgem a Santa Mónica, pode bulares, afrontadas e ascendentes. Frei Agostinho de Santa
sugerir representações de temática Assuncionista relacio- Maria, para além do milagroso aparecimento da imagem
nadas com a incredulidade de São Tomé1 ante o túmulo da nas redes de pescadores, atribui-lhe uma especial devoção
Virgem. Presentemente, no interior da igreja, a imagem por parte das mulheres grávidas. SN
de Nossa Senhora da Cinta2 é citada na visitação de 1512
(Pereira 2000), em nicho grande e fundo situado no lado 1
Aludindo concretamente para o episódio em que “subitamente caiu-lhe [a São Tomé]
do ar nas mãos, (…), o cinto que usara Maria para que, deste modo, se entendesse que
esquerdo do alpendre junto à porta principal (Santa Ma- também o seu corpo fora levado ao céu” (Voragine 2004).
ria 1716). Está colocada sobre uma coluna facetada donde 2
Que actualmente se confunde com a medieval, e desaparecida, imagem de Nossa Senho-
ra dos Mártires, patrono desta Igreja pelo menos até ao século XVII.
pende um escudo em ponta com o chefe de linha côncava, 3
Põe-se a hipótese de se tratar do brasão de armas dos Mascarenhas, pela presença co-
assente em pequena proeminência que faz lembrar duas nhecida em Alcácer do Sal e ligação à Ordem de Santiago.

Vida de Santo
António
Portugal – c. 1720-1730
A obra divide-se em dois registos, e apresenta, na
Faiança
A. 248 cm x L. 246,5 cm base, um soco arquitectónico desenvolvido em articulação
AS.MR.3.001/1-2 azu com as lápides tumulares e os nichos das consolas pré-
existentes, com molduras compósitas, anjos, grinaldas e
Igreja de Santo António mascarões, pilastras de atlantes e entablamento, igual-
Alcácer do Sal mente perspectivado. Na banda do Evangelho, as lápides
tumulares, deixam menos superfície à obra de azulejaria,
que se resume a um painel figurado, cenário ribeirinho
com fortaleza, barcos, e uma figura a pescar. A obra de
cantaria prolonga-se ao segundo registo, com o armorial
dos Mascarenhas, finamente esculpido, numa moldura
ovalada, preenchido por painel com 30 azulejos de altura,
moldurado por barra de enrolamentos acantiformes e an-
jos. A cena de interior retrata São Franscisco dando as regras
da Ordem, acompanhado por Santo António, a que assis-
tem vários religiosos; à direita é representada uma janela,
em trompe l´oeil, que corresponde à que se abre defronte.
Do lado da Epístola, o lambril repete a estrutura descrita,
com dois pequenos painéis que representam eremitas. No
registo superior, o Milagre da Ressurreição, ocorrida no
adro da Sé de Lisboa, em que o santo ressuscita um morto
para provar que o seu pai estava a ser condenado injusta-
mente por assassínio. A decoração da capela estende-se
à face interior do arco triunfal, centrada por uma cartela
suportada por anjos, com mantos esvoaçantes, que inscre-
ve alguns dos atributos do santo: o livro e a cruz. Desta
caem grandes grinaldas de flores e frutos, que alcançam o
lambril, solução decorativa que se observa igualmente na
igreja de Nossa Senhora da Consolação, de Estremoz, em
cuja capela-mor e arco triunfal apreciamos um monumen-
tal conjunto de azulejos figurativos, de c. 1718-1719, atri-
buídos a António de Oliveira Bernardes (Valente 2008,
pp. 72-73).
No que respeita à iconografia antoniana, a associação
mais frequente, nos revestimentos cerâmicos, é a de Santo
António com São Francisco, por vezes no mesmo painel,
ou formando par, ou ainda associados em cenas mais com-
Na capela-mor da igreja do convento de Santo Antó- plexas, como é o caso destes painéis joaninos, datáveis de
nio, fundada no século XVI por Fernão Martins Masca- c. 1720-1730 (Meco 1995, pp. 49-50). Enquadram-se as-
renhas, alcaide de Alcácer e capitão da escola de ginetes sim na fase da grande produção joanina, a partir da segun-
de D. João II, e reconstruída após o terramoto de 1755, da década do século XVIII, quando a temática antoniana
conservam-se estes painéis de azulejos azuis e brancos, ganhou grande incremento, em conjuntos integrados ou
com temas da vida de Santo António. em registos de fachada. PV

PÍXIDE
Portugal – segunda metade século XVII
Prata fundida, gravada, dourada
A. 19 cm x D. 10,5 cm ; P. 400 g
AS.PA.1.001 our
Igreja de São João Baptista

Palma
Inscrição: + F + ANTº DA + SCENSÃO
Píxide seiscentista, de prata, em trabalho liso, de gran-

de simplicidade e que pela inscrição que corre na orla da
base deverá ter sido ofertada por um membro da Ordem
de Santiago, o que permite vislumbrar um pouco do le-
gado das ordens religiosas militares, que em parte ainda
hoje se encontra in situ.
A peça em questão tem a base circular, decorada por
filete, e, na sua orla, corre em maiúsculas, a inscrição: +
F + ANT[ONI]O DA + [A]SCENSÃO, de um ignoto frei
da ordem espatária. A haste balaustriforme alongada é
moldurada no registo inferior por anéis, e vai enroscar na
copa. Esta última é de secção circular, ligeiramente mais
larga em cima, com tampa de encaixe, de forma cupulifor-
me, alteada e perfil convexo. É rematada por cruz latina,
com braços em forma de balaústre. O interior, como é ha-
bitual e padronizado após Trento (1545-1563), é dourado.
Serve a píxide para guardar condignamente a reserva
eucarística para a comunhão dos fiéis.
São diversas as píxides que seguem esta linha austera,
de grande sobriedade e despojamento que podemos rela-
cionar com a arquitectura da época, de estilo chão, e que
surgem em vários pontos da arquidiocese: Estremoz (ES.
SA.1.080 our) Vila Viçosa (VV.SC.1.075 our) ou Assumar
(MF.AS.1.008 our) entre outras. Como contraponto po-
demos apresentar uma outra píxide, da matriz de Sousel,
esta sobre o padroado da Ordem de São Bento de Avis, e
que ostenta uma certa exuberância decorativa ( ferronerrie,
motivos fitomórficos, ovalados).
O espatário doador da peça, teria possivelmente li-
gação a Palma, pois aquele território pertenceu à Ordem
desde o século XIII (Louro 1974, p. 60). No entanto a
peça não é referida directamente na documentação paro-
quial e, somente em inventários do século XIX-XX, surge
“um vaso para partículas”1, que talvez seja esta peça de
ourivesaria sacra. JM
1
Inventário dos Bens Móveis da Igreja Paroquial de São João Baptista, 1905, mç. 1905

VIDA DA VIRGEM
Painel de azulejos
Portugal – Meados do séc. XVIII

Faiança
A. 185 cm Na igreja de Nossa Senhora do Monte, obra rococó
AS.SM.1.001 /1-20 azu de certa monumentalidade, conserva-se um conjunto de
painéis de azulejos figurativos alusivos à vida da Virgem,
Igreja de Nossa Senhora do Monte de inegável interesse artístico, datável do período de
Vale de Guizo construção do templo, o primeiro mandado construir por
D. José I, entre 1752 e 1754 (Louro 1974, p. 89).
Dispõem-se por toda a nave e capela-mor, a formar
lambril com doze azulejos de altura, com molduras
perspectivadas, de pilastras compósitas, decoradas por
anjos, rocalhas conquiformes, palmas e folhagem de
acanto, e remates centrados por cartelas que inscrevem
atributos marianos.
São estas molduras que fazem a ligação entre as cenas,
articulando-as com o espaço arquitectónico, embora
com uma certa contenção, acentuada pelo remate recto
dos painéis, preterindo as molduras de topo recortado,
usualmente encimadas por urnas, divulgadas neste
período. É esse o caso de outras produções do ciclo
mariano, como os painéis da capela dos Terceiros da igreja
de São Francisco, de Estremoz, de Nossa Senhora da
Visitação, de Montemor-o-Novo, ou os da capela-mor de
Nossa Senhora da Conceição, de Vila Viçosa, estes já do
último quartel do século XVIII.
Curiosamente, as cartelas com atributos da Virgem
remetem para os painéis do santuário montemorense, um
pouco posteriores, onde figuram igualmente as filacteras,
aquelas com citações latinas das Escrituras, e estas com
a identificação das cenas, a saber: Nascimento, Santana
ensinando a Virgem a ler, Apresentação no templo,
Casamento, Anunciação, Visitação a Santa Isabel, Presépio,
Fuga do Egipto, Assunção, Coroação e Nossa Senhora da
Conceição.
Podemos afirmar estar perante um belíssimo trabalho
subordinado à iconografia da Virgem, produção de boa
oficina da capital, marcada pela qualidade do desenho e
da pintura a azul e branco, para o que terá concorrido o
régio patrocínio.
Neste sentido, note-se ainda a presença de um painel
dedicado a Nossa Senhora da Conceição, sagrada padroeira
do reino por provisão de 25 de Março de 1646, de D. João
IV, devoção fervorosamente mantida pelos herdeiros da
Casa de Bragança. PV

EX-VOTO
Portugal – 1788
Pintura a óleo sobre madeira
A. 30 cm x L. 38 cm Quanto à herdade de Vale de Lobos, exploração agrí-
AS.SM.1.002 odv
cola à beira do Sado, navegável até ao vizinho Porto Rei, a
Igreja de Nossa Senhora do Monte
primeira referência que conhecemos data de 13 de Março
Vale de Guizo de 1440, e cita um pergaminho pelo qual “Vasco Correia,
escudeiro, em consequência de uma doação que lhe fizera
Inscrição: M.[er]ce q[ue] fes N[oss]a S[e]n[ho]ra do monte de Val[e] D. Maria Correia, abadessa do Mosteiro de Santa Clara
de guizo a / Jozé Joaquim feg[uei]r.a filho do Lavrador de Val[e] de Lisboa, tomou posse dos bens seguintes: Herdade do
de Lobos em / o livrar do grande perigo de vida em q[ue] esteve Canavez (actual Valle de Lobos), termo de Alcacer e uma
dezemganado / dos medicos elle e Ceus Pais emplorarão à d[it]a vinha, no mesmo termo” (Valente 1931, p. 173).
S[e]n[ho]ra foi livre / ano de 1788
Mais tarde, num contrato de dote, em 1482, para o
casamento de Inês Correia, filha de Isabel Paes e de seu
primeiro marido Vasco Correia, com Mem Gonçalves Sa-
lema1, escudeiro, quando seu padrasto e mãe lhe deram em
dote “uma herdade de pão encabeçada em Canavez (actual
herdade de Valle de Lobos, junto a Porto Rei) termo de
Alcácer, e bens móveis de ornato de casa (ob.cit., pp. 172-
173).
Em 1712 a mesma herdade é referida numa escritura,
pela qual Sebastião Salema Correia e sua mulher D. Luísa
Barradas “dotaram seu filho, Cristovão Salema2, para to-
mar ordens sacras, com os bens seguintes que eram livres,
sem sugeição a capella ou morgado: Tercenas do Porto
Novo situadas na Herdade de Valle de Lobos” (ibidem, pp.
198-199).
Em 1824, época em que provavelmente José Joaquim
Figueira seria rendeiro daquela herdade, “Fernando da
O ex-voto, agradecimento pelas graças alcançadas, re- Mesquita Pimentel e Pavia Barreto, morador em Évora,
trata o vovente no típico cenário de um quarto de dormir, [toma posse] dos bens que tinham pertencido a José Xa-
acompanhado por familiares, e médicos (?) frente à ima- vier da Cunha de Eça Telles de Meneses Carvalho e Silva,
gem de Nossa Senhora do Monte, numa auréola de nuvens entretanto falecido, um conjunto de 124 propriedades,
que habitualmente delimita os planos do sagrado e do entre elas a de Vale de Lobos. Cumpria deste modo a lei de
profano, neste tipo de tábuas votivas. O ambiente requin- 9 de Novembro de 1754” (ibidem, pp. 210-211)3. PV
tado, marcado pelo mobiliário da época de D. José – onde 1
A família Salema, de Gonçalo Esteves Salema está documentada em Alcácer do Sal
não faltam os espelhos de talha dourada - testemunha, de desde o século XIV, com propriedades no termo e em Santiago do Cacém, e proprietário
do Casal do Sadão, depois chamada herdade do Porto da Areia e por fim herdade da
certa forma, o estatuto do ofertante. José Joaquim Figuei- Salema, designação que mantém (Valente 1931, pp. 165-166).
ra, jovem à época, como o próprio retrato denota, deve ter 2
Este Cristovão Salema, filho de Sebastião Salema Correia de Abreu e de Luísa Barradas
Reboredo é referido em 1744 como tesoureiro-mor da sé de Évora e inquisidor geral (V.
continuado a lavoura de seus pais, lavradores-rendeiros, Túlio Espanca, Cidade de Évora, n.º3, 1943).
pois em 1822 encontramo-lo como contribuinte para as 3
Eram ambos trinetos de Cristovão Salema e de sua mulher D. Luísa Barradas, tendo o
obras de construção das estradas que ligariam Alcácer do segundo falecido sem herdeiros. Fernando da Mesquita Pimentel, F.C.R., n. 25.01.1782;
m. 10.01.1836. José Xavier Telles de Meneses foi o último tenente-general de artilharia
Sal a Évora, e a Beja, entrando com 4800 réis (Diário do do reino, de 1788 a 1792, quando o cargo foi extinto. O Alvará de 9 de Novembro de
Governo 1822, p. 1184). Dez anos mais tarde, era o 1.º 1754 determinava que “por morte do fallecido a posse de seus bens passe logo a quem
lhe pertencer […] querendo evitar os inconvenientes, que resultão de se tomarem posses
vereador da vila de Alcácer do Sal (Gazeta de Lisboa 1832, dos bens das pessoas que fallecem, por outras ordinariamente estranhas, e a que não
p. 883). pertence a propriedade delles”.

RETÁBULO
DE SANTA SUSANA
Portugal – primeira metade do século XVI

tação oficial do Instituto de José de Figueiredo e foram em
Óleo sobre madeira de carvalho
A. 157 cm x L. 90 cm (Natividade) 1988 classificados como património de interesse conce-
A. 159 cm x L. 92 cm (Anunciação) lhio. O historiador Vítor Serrão foi o primeiro a escrever
AS.SU.1.002/1-2 pin um artigo sobre as duas tábuas, em 1983 e a atribui-los à
esfera de influência do Mestre da Lourinhã. Mais recente-
Igreja de Santa Susana mente, em tese de mestrado do dr. Manuel Batoréo, foram
Santa Susana estudadas e observadas à radiação de infravermelhos.
Encontram-se em estado de conservação sofrível, mui-
to escurecidas por acção de vernizes e sofreram vários
repintes, mas “o que se vislumbra, porém, é mais do que
suficiente para atestar a finura excepcional do painel e a
elegante composição dos sfumatos, o que, aliado à correcta
modelação e desenho, define a mão de um notável artista”
(Serrão 1983).
Na tábua da esquerda, uma Natividade, entrevêem-se
Nossa Senhora e São José em adoração ao Menino Jesus
que está deitado ao centro. Nesta cena também aparecem,
como habitual, o boi e o burro em postura decorosa. Vá-
rios pequenos anjos surgem na composição, junto de Jesus
a reverenciá-lo, ou nos céus. Do lado esquerdo, desenrola-
se uma cena secundária, onde um anjo avisa um pastor,
com traje rústico, da boa nova. O fundo da cena, que tem
os tradicionais elementos iconográficos da época, é consti-
tuído por um edifício em ruínas.
Do lado oposto, no painel da Anunciação é a Virgem
que surge em destaque em primeiro plano, envergando
uma túnica azul, ajoelhada num genuflexório, a ler a Sa-
grada Escritura, segundo a tradição. A seus pés um jarro
com lírios, símbolo da sua pureza, que tem inscrito al-
guns caracteres de difícil compreensão. Do lado esquer-
do, o anjo Gabriel, que segura uma filactera com a frase
AVE GRATIA PLENA DOMINUS TECUM, e que através
do movimento das suas vestes imprime uma forte carga
A igreja de Santa Susana, contém no retábulo do altar- dinâmica à composição. No alto da composição paira a
mor dois importantes painéis de pintura renascentista – pomba do Espírito Santo, nimbada. O fundo, de difícil
Natividade e Anunciação, que apesar da sua qualidade, compreensão, deverá ser o interior do quarto da Virgem,
têm passado quase despercebidos à historiografia de arte. conseguindo-se divisar um leito com dossel.
É o retábulo, onde se inserem, composto por corpo É convicção do historiador Manuel Batoréo que estes
único e três tramos, com o tramo central preenchido por dois painéis são obra de um seguidor ou discípulo do Mes-
imagem de roca da padroeira, e coroado por cruz espatá- tre da Lourinhã, pois “as características do desenho fazem
ria, muito simplificada, a lembrar a ligação daquela paró- pensar noutro modo de fazer, mas mantendo algumas for-
quia à Ordem de Santiago. mas” da matriz flamenguizante que caracteriza a pintura
Os dois painéis são referidos, em 1969, em documen- do Mestre da Lourinhã (Batoréo 1995). JM

NOSSA SENHORA
DA BOA VIAGEM
Portugal – Século XVIII
Escultura de vulto pleno em madeira dourada,
policromada, estofada no lado esquerdo o Menino Jesus desnudo, a abençoar,
A. 160 cm x L. 70 cm x Pr. 60 cm enquanto na direita, projectada, exibe o atributo que ge-
AS.SA.1.017 esc ralmente lhe determina a invocação, no caso uma nau.
Imagem imponente de nítida morfologia barroca que
Igreja de São Francisco apesar de não ser particularmente dinâmica na expressão
Torrão
corporal, designadamente pela rigidez dos gestos, benefi-
cia da articulação entre pregueado vigoroso e decoração
abundante das vestes. Estruturada segundo eixo vertical é
dominada pela atitude hierática e de frontalidade, ainda
que a flexão da perna e amplo movimento de volteio do
manto, fixo sobre o braço esquerdo, encetem um elegante
jogo de linhas diagonais com ponta esquerda do véu es-
voaçando sobre o peito. Esta tendência, repete-se na figu-
ra do Menino em pose majestática e frontal com os braços
projectados, ainda que registe uma expressiva inclinação
das pernas cruzadas. O volume maciço do corpo, bem
torneado em formas roliças claramente infantis, e a colo-
cação elevada quase sentado no ombro, não invalidam a
facilidade com que a mãe o ampara.
A devoção a Nossa Senhora da Boa Viagem, dos Na-
vegantes, dos Mareantes, da Guia, entre outras, certamen-
te desenvolvida em finais do século XV e sobretudo XVI
decorrente da abertura de novas rotas marítimas e intensi-
dade das viagens, é partilhada por todos quantos estejam
sujeitos às tempestades e inúmeros perigos que o mar e os
rios oferecem, invocando a Virgem como protectora. O
que surpreende imediatamente nesta imagem é o aparen-
te antagonismo entre a localização da peça, numa igreja
franciscana de uma vila do interior, com a presença do
barco que a remete para uma devoção mais restrita e pró-
pria de zonas costeiras ou de intenso tráfego fluvial. Fi-
cando por esclarecer a sua proveniência, importa ressaltar
a importância das linhas fluviais que circundam o Torrão,
sede de concelho até ao século XIX, condicionando in-
clusivamente a toponímia envolvente, a titulo de exemplo
refira-se São Romão do Sado, Rio de Moinhos ou Porto
Rei, ainda distinguido com as armas reais. Documenta-
da desde os tempos romanos como via concorrente das
estradas, “em termos de custos por carga transportada,
continuava a ser a navegação fluvial ao longo do Sado e
Num tipo de figuração comum a outras representado Baixo Xarrama, num raio de acção, que terá atingido a
ções marianas, Nossa Senhora, elevada por anjos, segura actual vila do Torrão” (Carvalho 2009). SN

Cálice
Portugal – século XVI-XVII
Prata fundida, cinzelada, repuxada e dourada
A. 23 cm x D. 12 cm ; P. 441,4 gr
AS.SA.1.004 our
Igreja de São Francisco

Torrão
Cálice de prata dourada com base circular, decorada

com ferroneries e elementos vegetalistas estilizados (flor de
lis), sobre fundo puncionado. A haste, com nó em forma de
urna, tem decoração similar à da base e é emoldurada por
sequência de anéis e faixas de ovalados na zona inferior e
superior. Copa campaniforme lisa, abrindo ligeiramente
na extremidade superior, o que passou a ser comum no
século XVII.
A decoração abarca praticamente toda a superfície do
cálice, o que faz com que esta peça seja um bom exemplo
da aceitação de elementos decorativos geométricos de
ferroneries e cartelas divulgados em Portugal nos finais
do século XVI mas sistematicamente empregues nas
decorações no século seguinte (Franco, Penalva; 2006,
p. 172).
Dos exemplares já inventariados na Arquidiocese de
Évora, encontram-se similares, se bem que a maioria tenha
haste cilíndrica e copa sustentada por costelas, o que
não acontece neste caso. No que toca à datação da peça
refira-se um exemplar, com decoração muito semelhante,
proveniente do convento de São Paulo da Serra da Ossa
(RE.SA.1.099 our), com data gravada na base – 1615, o
que nos leva a datar este cálice nos derradeiros anos do
século XVI ou do primeiro quartel do século seguinte. JM

Portugal – segunda metade do século XVI
Prata fundida, repuxada, cinzelada, gravada e dourada
A. 20 cm x L. 12,8 cm; P. 476,9g
AS.SA.1.052 our
trelaçados vegetalistas, a formar reservas rectangulares e
Igreja de São Francisco ovaladas, que inscrevem quadrifólios. Trabalho brunido,
Torrão sobre fundo puncionado, que se repete no primeiro regis-
to da tampa, seguido de renque de godrões a anteceder
Inscrição: SOROR. [h]ELENA tambor liso, onde corre a inscrição, acompanhada da re-
presentação heráldica. O remate apresenta cruz latina lisa,
Heráldica: escudo português esquartelado: o I e o IV de Almeida; sobre plinto cinzelado, com crânio e motivos fitomórficos.
o II e o III de Figueiredo. Elmo de perfil e timbre de Almeida,
No aspecto formal e tal como preconizado pela Instruc-
envolto em paquife.
tionum Fabricae et Supellectilis Ecclesiasticae, de 1577, esta al-
faia apresenta uma copa de secção circular, com o rebordo
alteado, encimada por uma cruz, onde poderia igualmente
figurar uma pequena imagem de Cristo. A sua gramática
ornamental é consentânea com os preceitos da sobriedade
clássica, manifesta na escassa turgidez do cinzelado, que
dá lugar a motivos gravados em contraste com superfícies
brunidas. Esta contenção decorativa tem sido associada a
diversos factores económicos, ou a condicionantes da pró-
pria oferta local, embora a austeridade estética dos mode-
los da arquitectura chã não tenha sido alheia a esta cor-
rente. Neste sentido refira-se um cálice da igreja de Santo
Antão, de Évora, datado do século XVI, que patenteia a
mesma decoração típica da segunda metade de Quinhen-
tos (Borges 2003, pp. 52-53).
Quanto à inscrição e representação heráldica, que
poderão contribuir para o apuramento da sua proveniên-
cia, estas suscitam-nos algumas dúvidas. Pela leitura do
brasão de armas, e ressalvando os erros de representação
evidentes, assumimos tratarem-se das armas de Almeida
e de Figueiredo, que podem ser atribuídas a Helena de
Almeida, freira em São Bento de Cástris (Évora), filha
de Manuel de Almeida, armado cavaleiro na Tomada de
Azamor (1513), e de Maria Rodrigues Cardoso. Um ir-
mão desta religiosa, Francisco de Almeida Cardoso, se-
nhor da casa de Teronho, casou com uma 2.ª prima, Joana
de Figueiredo Loureiro, parentesco que indicia o uso das
armas de Figueiredo neste ramo de Almeida (Felgueiras
Gaio, tomo I, p. 106).
Todavia, o arrolamento dos bens do extinto convento
Píxide de base circular, alteada e decorada por renque de São Bento de Cástris, destinados à igreja da Ordem 3.ª
de acantos seguido de friso perlado, na transição para a de São Francisco do Torrão, em 1891, apenas refere pa-
haste, de perfil tronco-cónico, moldurada por anel. Copa ramentos e uma lâmpada de latão, o que não nos permite
em forma de calote esférica ornamentada por fitas, e en- confirmar esta hipótese. PV

PRATO COM GALHETAS
António Firmo da Costa (1767-1824)
Portugal – c. 1810 – c. 1822
Prata fundida, gravada, cinzelada, repuxada
A. 3,5 cm x C. 21,2 cm x L. 10,6 cm; P. 193,4 gr (prato)
1793 a 1824, num período de transição tanto temporal
A. 12 cm x L. 5.7 cm x Pr. 7,6 cm; P. 114,8 gr (galheta da água)
A. 12 cm x L. 5.7 cm x Pr. 7,6 cm; P. 121,9 gr (galheta do vinho) como de estilo artístico e gosto, foi artífice de sucesso,
AS.SA.1.035/1-3 our com várias lojas abertas na capital, vários aprendizes na
sua oficina e uma clientela diversificada (Orey 2000, pp.
Igreja de São Francisco 9-15).
Torrão Deste conjunto, o prato tem forma elíptica, fundo li-
geiramente rebaixado e o rebordo emoldurado com de-
Marcas: FMA-L-36, de ensaiador não identificado de Lisboa, coração floral. Assenta em quatro pés em forma de esfera.
datável de c. 1810 - c. 1822; FMA - L-78 - marca do ourives
Possui dois suportes circulares lisos aplicados, para encai-
de Lisboa António Firmo da Costa. Com actividade registada
de 1793 a 1824 (Almeida 1995, pp. 81, 91) (Orey 2000, p. 180). xe das galhetas. As galhetas são de planta circular, corpo
ligeiramente mais largo na parte superior, com decoração
de cariz vegetalista. O colo tem tampa articulada por do-
bradiça dispondo de pega - letra “V” e “A”, respectivamen-
te. Asa em forma de “S” com decoração relevada também
de cariz vegetalista.
De notar que o prato assenta sobre quatro pés esféri-
cos, solução de suporte que este ourives utilizou em várias
peças de prataria civil (açucareiros, castiçais, escrivani-
nha), assim como a decoração floral das galhetas é similar
a um par de castiçais que integraram a exposição – António
Firmo da Costa. Um ourives de Lisboa através da sua obra (Orey
2000, p. 92).
Na posse da Arquidiocese de Évora existem algumas
peças deste ourives, dispersas por várias paróquias, a sa-
ber: faqueiro (incompleto), píxide, purificador, cálice e a
peça de maior relevo, o relicário - custódia de São Gonçalo
de Lagos (Valente 2004, p. 298). Nestas alfaias sacras é
especialmente interessante observar o uso de uma gra-
mática decorativa rocaille, talvez por imposição de uma
clientela mais “conservadora”, ao contrário das peças de
prataria civil, que se conhecem da oficina deste ourives,
que seguem modelos neoclássicos então muito em voga,
de origem inglesa.
As galhetas servem para guardar a água e o vinho ne-
cessários para a celebração eucarística, sempre acompa-
nhadas por um suporte, o prato. Se bem que ao longo dos
tempos os materiais e as formas fossem variando é comum
Este conjunto de galhetas e prato, em prata branca, é o uso do estanho e da prata, como é este caso. Sempre
um interessante exemplar de ourivesaria sacra do primeiro com a marcação das respectivas letras A e V para mais fácil
quartel do século XIX, obra de um dos mais reputados ou- reconhecimento do conteúdo pelo celebrante e acólitos.
rives lisboetas da época – António Firmo da Costa, como Usualmente o conjunto é colocado sobre a credência, per-
o demonstram as marcas. Este ourives, que trabalhou de to do altar. JM

BOLSA DE CORPORAIS
Portugal (?) – Século XVII
Corpo: tafetá de seda marfim, bordado directo em fios de seda
policromos, fio metálico dourado e prateado, canotilho
Galão tecido e galão franjado
A. 23 cm x L. 23,50 cm
AS.SA.1.003 par a pedra de ara e em cima da toalha; não obedecia a uma
cor específica, apenas à da liturgia do dia.
Igreja de São Francisco Bolsa de corporais quadrangular, composta por duas
Torrão partes distintas, em tafetá de seda marfim. Exibe denso e
vistoso padrão vegetalista, executado por bordado directo
em fios de seda policromos e fio metálico dourado e prate-
ado, provavelmente de fabricação conventual.
Decoração similar de ambos os lados, o que não nos
permite definir qual a face ou as costas. De um dos lados
apresenta, ao meio, flor de oito pétalas, de onde brotam
ramos de hastes sinuosas, compostos por pequenas flori-
nhas e por cravos, “na folha e no fruto do cravo se viam
os pregos da crucificação de Jesus, de sorte que por isso se
tornou símbolo da Paixão. Com frequência se encontram
cravos em figuras, na Madonna.” (Lochner 1997). Na parte
oposta, ostenta a cada canto um bolbo, acompanhado por
pequenos motivos vegetalistas e florais, com destaque para
as túlipas; flor central, com a corola em forma de estrela de
oito pontas e pétalas formadas por duas folhas de acanto.
Todo o tecido é pontuado por pequenas estrelas e por flo-
rinhas. A peça é debruada por galão tecido e franjado, em
fios de seda carmim e creme.
De maior repercussão na azulejaria portuguesa do que
propriamente em paramentos, este tipo de decoração pa-
dronizada, é muito frequente sobretudo na primeira meta-
de do século XVII. Aliás, em termos decorativos, podemos
assemelhar a bolsa a um painel de azulejos pertencentes
à Capela de Santo António, em Vila Viçosa e já estudado
pelo Inventario da Arquidiocese de Évora (VV.BA.3.001
azu). Insere-se nas composições designadas por “caixilhos
compósitos”, “são padrões de 2x2 com um único centro
de rotação e os ornamentos, não tocando os bordos, não
permitem ligações de continuidade” (Simões 1997, p.31).
Neste caso, adopta como tema central uma flor radiando
do centro principal da rotação, com linhas oblíquas e rit-
mo decorativo confuso, só definido através da policromia.
Este exemplar é considerado como um caso isolado na
linha de fabricação portuguesa, e “interpretado como uma
Ao serviço do altar e actualmente em desuso, a presen- tentativa de criação ornamental “modernista” para a época,
te peça tinha como função primordial guardar o corporal a qual, aliás, não deve ter vigorado” (Simões 1997, p. 29).
que o sacerdote havia de estender no inicio da missa, sobre ISP

VÉU DE OMBROS
Índia – século XVII
Fio de seda marfim, fio e fita metálicos
dourados, fio crespo dourado
Pano de ló ou gaze; galão rendado
Forro: sarja sintética
A.90 cm x L. 230 cm
AS.ST.1.006 par
Igreja de Santiago
Alcácer do Sal
O véu de ombros, não sendo considerado como uma

veste ou como um ornamento é definido como um pano,
com o qual os subdiáconos e acólitos envolviam os vasos
sagrados: patenas, cálices e oferendas dos fiéis, para as
levar ao altar, distribuir ou transportar em procissões. Não
deve ser benzido, podendo ser posto e tirado do altar, só
se coloca no momento em que é preciso e não deve ser
necessariamente da cor dos ornamentos, devendo ser até
em certos casos diferente (Coelho 1927, p. 240).
Hoje, serve sobretudo para o sacerdote transportar o
Santíssimo Sacramento e com ele dar a bênção.
Véu de ombros, de forma rectangular, em tecido seis-
centista, leve e transparente, designado de ló ou gaze.
Decoração repetitiva, articulada em rede de malhas losan-
gulares, composta pela articulação de folhas estilizadas e
estrelas de oito pontas, que tradicionalmente é o número
da regeneração. Ao centro, inscrito em filete ovalado, exi-
be o sol da justiça, muitas vezes utilizado como símbolo
de Cristo, de esperança e sobretudo como atributo pro-
fético; no seu interior e não facilmente perceptível está a
letra grega þ em referência ao monograma do nome de
Cristo: XP. A faixa que remata a peça é ornamentada por
quadrifólios, separados por pequenos losangos formados
por elementos fitomórficos, cujo remate é feito através de
estreita renda dourada.
O Inventário da Arquidiocese de Évora conta com mais
seis peças idênticas à que aqui apresentamos, tanto a nível
técnico como decorativo; dividem-se em panos de estante
e de púlpito, bem como, véus de cálice e de ombros. ISP

Retábulo
de Santo Amaro
Oficina de Francisco João (act. 1563-1595)
Portugal – segunda metade do século XVI
Óleo sobre madeira
A. 150 cm x L. 69 cm (São Bento de Núrsia) Com o braço direito ampara ainda um báculo abacial.
A. 150 cm x L. 69 cm (Santo Antão) Refere-se esta iconografia ao “milagre do veneno” onde
AS.SA.2.002/1-2 pin São Bento escapa a uma tentativa de envenenamento (Réau
2000, p. 201). O fundo é composto por paisagem, em
Igreja de Nossa Senhora da Assunção
tons de verde e castanho. Avista-se do lado esquerdo os
Torrão
contornos de uma cidade. No outro painel é Santo Antão o
representado, também no primeiro plano da composição,
e de pé, virado para a esquerda do observador. Aparece
como um ancião, com barba, envergando cogula. Nas
mãos segura um crucifixo, no qual o seu olhar repousa de
forma atenta e meditativa. Segura também, na esquerda,
um bordão e um rosário de contas grandes. A seus pés,
do lado esquerdo, surge um animal (porco?) de cor negra
(Réau 2000, pp. 112-113). O fundo é composto por
paisagem, em tons de verde e castanho. Do lado direito
vislumbra-se um rio sinuoso, atravessado por uma ponte.
Estas duas tábuas, apesar dos repintes e algum desgaste
da camada cromática, têm várias características estilísticas,
que as ligam ao pintor eborense Francisco João, ou a
alguém do seu círculo2. Tem este pintor maneirista, do
aro de Évora, um corpus volumoso de pintura sacra na
arquidiocese, destacando-se de entre outros exemplos,
o retábulo proveniente da capela-mor da igreja do
extinto Convento da Graça (EV.PE.1.013 pin), o tríptico
do Calvário da igreja de São Miguel de Machede (EV.
Nas Memórias Paroquiais de 1758, ao serem elencadas MM.1.001 pin) ou o retábulo da capela do Espírito Santo
as capelas da igreja de Santa Maria da Assunção, é feita de Sousel (SO.SG.3.001 pin). Foi pintor de “um gosto fácil,
uma breve descrição da “(…) Terçeira (sic) Capela do de forte carácter moralesco”, reconhecido socialmente e
Senhor Santo Amaro com graves quadros, pintura antiga. que ocupou cargos de relevo na Misericórdia de Évora e
(…)”1, que é a única referência documental, conhecida dos na Inquisição, nesta última como pintor (Serrão 2008, p.
dois painéis em questão. 155).
As pinturas, inseridas em sóbrio retábulo marmoreado, Se bem que o encomendante seja desconhecido é pa-
coetâneo, ocupam os tramos laterais, já que o central é tente que a Ordem de Santiago, através de um comendador
preenchido por nicho com a imagem de vulto perfeito de ou frade cavaleiro, terá sido a responsável por esta enco-
Santo Amaro (AS.SA.2.007 esc), do século XVII. menda tanto mais que a Ordem deixou “um rico conjunto
No painel da esquerda está representado São Bento de de exemplares artísticos das artes figurativas e aplicadas”
Núrsia que ocupa o primeiro plano da composição e está (Caetano 1990, pp. 81-83) pelas localidades e comendas
de pé, virado para a direita do observador. Apresenta- de sua jurisdição. JM
se com barba, mitra e hábito negro sobre túnica branca.
1
Memórias Paroquiais do Torrão, 1758. Disponível em http://digitarq.dgarq.gov.pt/
Abençoa com a mão direita, que dirige em direcção ao default.aspx?page=regShow&ID=4241888&searchMode=#a2.
cálice, que segura na outra mão, donde sai uma serpente. 2

SANTA CATARINA
DE SENA
Portugal – Século XVIII
Escultura de vulto pleno em madeira dourada,
policromada, estofada
A. 54,5 cm x L. 20 cm x Pr. 16,5 cm tico “Diálogo sobre a Divina Providência”, que terá ditado aos
AS.SA.2.001 esc discípulos, considerados “entre as mais altas manifestações
Igreja de Nossa Senhora da Assunção
literárias do italiano quatrocentista” (Berbara 2010).
Torrão A sua impressionante biografia é pontuada por inúme-
ras visões místicas, testemunho de uma relação especial e
de intimidade com Cristo que lhe terá aparecido logo aos
sete anos. Para o caso, interessa-nos especificamente um
episódio citado no Verão de 1370, a “Permuta dos Corações”.
Na imagem em apreço este passo é interpretado de modo
singular e distinto da figuração convencional, em que a
Santa segura o coração numa das mãos. Assim, e especifi-
camente no lado esquerdo do peito, abre-se um pequeno
nicho circular a emoldurar uma imagem do Menino Jesus,
sentado desnudo, que toca com a mão esquerda no peito
enquanto abraça à direita um coração vermelho. Apesar da
ausência de qualquer outro atributo próprio1, e designada-
mente pelo hábito negro incompatível com o dos domini-
canos, a identificação assentou efectivamente na presença
deste elemento, cuja função parece ser a de evidenciar que
o coração que Jesus segura é o seu, colocado em substitui-
ção do de Santa Catarina.
O arqueamento do corpo, condicionado pela inclina-
ção da cabeça e flexão da perna direita, com o pé recuado,
é ampliado no contorno do braço esquerdo a envolver
Catarina Benincasa (1347-1380) nasceu em Siena no um livro fechado, apoiado sobre a mão e colocado, late-
seio de uma numerosa família cristã, revelando desde cedo ralmente, de encontro ao corpo. Braço direito projectado
uma espantosa vocação para o misticismo e fervor religio- conservando os dedos levemente dobrados, memória de
so. Obrigou-se a um ambiente de extrema austeridade e atributo perdido.
abnegação em nome da perfeição e da fé. Uma das mais A figura é dominada por alguma contenção formal,
importantes santas dominicana, Santa Catarina de Sena, apesar da gestualidade encenada em perfeita articulação
iniciou o seu percurso na Ordem Terceira de São Do- com o pregueado aderente da veste, especialmente por de-
mingos, que mais tarde lhe terá aparecido e averbado o finir a volumetria das pernas ou no movimento ondulante
lugar de destaque na Ordem que fundou. Canonizada em das mangas compridas. Hábito negro imitando bordado a
1461 e distinguida como Doutora da Igreja em 1970, João ouro, completado por véu e coifa branca, a cingir o ros-
Paulo II (Motu Próprio 1999) proclamou-a co-padroeira to sereno de olhos azuis, vítreos. Os ritmos verticais do
da Europa, juntamente com Santa Brígida e Santa Teresa panejamento em modelado rigoroso, insinuam-se pela au-
Benedita da Cruz, não só porque “se destacaram no amor sência de cíngulo e são potenciados pelas fiadas ondulan-
efectivo pela Igreja de Cristo e pelo testemunho prestado à tes de flores douradas, com tamanhos desiguais e pétalas
sua Cruz”, como pela intervenção na resolução do Grande redondas, que correm toda a imagem. SN
Cisma do Ocidente. Apesar de não saber escrever deixou
um importante legado de cartas, orações, ou do emblemá- 1
Refira-se igualmente a omissão nos arrolamentos existentes no cartório paroquial.

REGRA DE SANTA CLARA
MOSTEIRO DE ARACOELI
Papel, cartão, couro
A. 25 cm x 17,5 cm x 2cm
PT/AS.ST-CAST/01/Liv.288 ciana; alguns, a Regra de Sta. Clara; outros houve, até,
que elaboraram a sua própria Regra” (Senra 2010). Para
Igreja de Santiago cessar com esta desordem e dotar os mosteiros de con-
Alcácer do Sal dições para a organização da vida comunitária, o Papa
Urbano IV promulga, a 18 de Outubro de 1263, a cha-
mada Regra urbaniana ou Regra Segunda de Santa Clara
que os unifica sob o nome genérico de Ordem de Santa
Clara e dá força de voto à clausura. Esta Regra passou a
coexistir com a Primeira Regra, a de Santa Clara, a que
aderiram os mosteiros, sobretudo de Itália e Espanha, e
representou um recuo em relação ao espírito de Santa Cla-
ra porque determinava que os mosteiros pudessem “re-
ceber, possuir e reter em comum rendas e possessões”,
para sua própria subsistência; e subtraía-os da jurisdi-
ção dos Frades Menores, pondo-os sob a obediência de
um Cardeal Protector. (Fontoura 2008 pp. 37-39; 59)
Entre os acervos documentais das paróquias de Alcácer
No final do século XIII a Ordem de Santa Clara im- do Sal existe uma cópia da Regra urbaniana, do mosteiro
planta-se em Portugal com a fundação de quatro mos- de Aracoeli, do ano de 1618, sendo abadessa soror Bau-
teiros nas regiões de Lamego, Torrão (Porto), Coimbra e tista de Assunção e mestra da Ordem soror Catarina dos
Lisboa. A sua expansão atingirá o auge no século XVI, pe- Reis, que merece realce pela rareza do género de fonte
ríodo de maior desenvolvimento da Ordem, com a criação documental descoberta e por demonstrar uma meticulosa
de quarenta e dois mosteiros (Fontoura 2008 pp. 44-46). concepção e organização visual do códice manuscrito. Os
Nesta conjuntura foi fundado, no ano de 1573, sobre parte mosteiros – centros promotores de educação, de cultura e
das instalações do antigo palácio da Ordem de Santiago de espiritualidade – revelam-nos assim um legado riquís-
da Espada, o mosteiro de Aracoeli de Alcácer do Sal por simo deixado pelas suas religiosas em diversas formas de
iniciativa de Rui Salema, fidalgo da casa de D. Luís, duque expressão que vão desde às artes decorativas, à música e à
de Beja e filho do rei D. Manuel I. À semelhança de um caligrafia (Fontoura 2008 pp. 82-85). Podemos, nesta úl-
dos templos mais célebres do mundo católico, a igreja de tima, observá-la, com alguma mestria, na forma simétrica
Aracoeli, em Roma, recebera a invocação de “Altar do Ceú” como a escrivã organiza a mancha gráfica dos 26 capítulos
para cristianizar um “local que fora, reconhecidamente, da Regra que discorre, em letra redonda e elegante, sobre
outrora, um lugar pagão ou, pelo menos, “infiel”, tendo um regramento feito à plumbagina com margens deline-
em conta os antecedentes islâmicos.” Para iniciá-lo foram adas por tarjas triplas simples traçadas a tinta vermelha e
enviadas freiras do Convento de Santa Clara de Évora castanha. O título, os capítulos e as letras iniciais a tinta
(Ferreira; Gomes 2008 pp. 8-13). vermelha são ornamentadas por uma mescla de motivos
“Santa Clara foi a primeira mulher a elaborar uma Re- fitomórficos e abstractos. Este processo de empaginação
gra monástica, onde imperava a clausura aliada à pobreza conjuga-se, ainda, com a disposição de tiras de papel pin-
evangélica, apesar de o Papa Inocêncio IV e de o Cardeal tadas com motivos vegetalistas a enfeitarem a colagem de
Hugolino lhe quererem mitigar a Regra. Com o tempo, gravuras de Nicolas de Mathonieres e outros gravadores
a questão da pobreza levou a que cada mosteiro de Cla- do norte de Europa, de representações bíblicas, cenas da
rissas adoptasse a Regra que melhor lhe convinha. Uns vida de Cristo e da Virgem e de Santos de Ordens religio-
adoptaram a Regra Hugoliniana; outros a Regra Inocen- sas, destacando-se Santa Clara. DN

LIVRO DE RECEITA
E DESPESA DA IRMANDADE
DO SANTÍSSIMO
SACRAMENTO
Papel, cartão, damasco de seda e tafetá de linho
A.30,5 cm x 21 cm x 4,5 cm
lúdio das primeiras manifestações derivadas de um novo
PT/AS.MR-ISSMR/05/Liv.199
estilo decorativo emergente, a partir dos anos trinta do
Igreja de Santa Maria século XVIII, em Paris, designado por “genre pittoresque”
Alcácer do Sal ou rococó, que rapidamente contribuiu para a divulgação
e circulação de estampas decorativas de “artistas ornamen-
tistas” (Oliveira, 2003, pp. 23-34; França, 1974 pp. 4-9),
como Juste-Aurèle Meissonnier, considerado o verdadeiro
criador do rococó ornamental, Nicolas Pineau, Jacques
de Lajoue, Jean Mondom e Pierre-Edme Babel, que se
patentearam nas diferentes expressões artísticas e se disse-
minaram por vários edifícios religiosos, palácios, museus
e casas senhoriais.
É deste período histórico-artístico o presente desenho,
de motivo eucarístico, feito à pena num livro de receita e
despesas da Irmandade do Santíssimo Sacramento, erecta
na paróquia de Santa Maria de Alcácer do Sal, com data
de 1786, que reproduz uma cartela rococó assimétrica, de-
corada por ramos de flores, motivos vegetalistas, cornucó-
De entre o espólio documental inventariado na Ar- pias, rocalhas e aurículas. Na reserva superior inscreve um
quidiocese de Évora descobre-se um conjunto valioso de cálice com a sagrada hóstia assente em nuvens e envolto
desenhos de grande beleza. Esta forma de expressão cons- por resplendor. O registo inferior apresenta uma reserva
titui um dos modos mais antigos e constante da história de menores dimensões com ramos de espigas. A composi-
de cada sociedade e cultura e apresenta-se como um forte ção é moldurada por uma tarja rectangular, com os cantos
auxiliar na criação de outras manifestações artísticas. Uma cortados e preenchidos por motivos fitomórficos que se
delas demonstra que a relação estabelecida entre os manu- exibem igualmente nas ilhargas, em articulação com a
ais de caligrafia e a ornamentação de documentos eviden- ornamentação das cartelas.1
cia um conhecimento técnico de utilização de materiais, Os desenhos encontrados, nos arquivos da Arquidio-
manuseio de instrumentos e o desenvolvimento de habi- cese de Évora, fazem parte de várias tipologias documen-
lidade manual. Estes manuais de caligrafia que tinham o tais como sejam Compromissos de Irmandades religiosas,
objectivo claro de ensinar a escrever, ler e contar acabaram Livros de eleições, Livros de irmãos, Livros de receitas e
por ensinar a desenhar, na medida em que os seus autores despesas, Tombo de bens, Livros de capelas e outros. E re-
transmitiram conhecimentos do desenho geométrico para velam, ainda, a íntima ligação com as formas e iconografia
o traçado das letras e feitura dos ornatos. Tornaram-se, das outras manifestações artísticas vinculadas a uma men-
desta forma, “o testemunho de uma inter-relação e interac- talidade marcada pelo espírito religioso contra-reformista,
ção entre a escrita e o desenho” (Sousa 2007). expressos numa vasta quantidade de elementos típicos da
A par disto é de notar o progresso reprodutivo da ima- manifestação da fé cristã que serviram para emoldurar os
gem iniciado com a xilogravura, na segunda metade do frontispícios dos códices manuscritos, num cunho decora-
séc. XIV, e a sua repercussão na proliferação de edições tivo, e ornamentar as capitais iniciais dos textos. DN
de obras literárias, religiosas, artísticas e científicas, dos
séculos XVII e XVIII, complementado, também, pelo pre- Um especial agradecimento ao Dr. Paulo Valente pelas informações prestadas.
1

ENGlish
Transcendence and Immanence
Was John of the Cross right in saying that “no representation nor imagination can serve as a proximate means to
union with God, and for this reason the soul must renounce them”?
Like him, all great mystics have able come closer to the unfathomable mystery of God – the cognitio Dei experimentalis
of St Thomas Aquinas –, through an absolute baring of the senses and even of intellect itself. His experience of knowledge
of God, mediated by ascetic denial of any own will, is a vertigo of radicality in the experience of Faith that impresses
and inspires.
Few of us can undertake such a singular spiritual journey, but there are many other paths that point in this same
direction. Such as that chosen by St Ignatius of Loyola, the Heavenly Patron of all Spiritual Exercises acclaimed by Pius XI.
His code of Christian ascetics has already lasted five centuries and continues to be followed all over the world. Guided
by this marvellous and perfect paradigm – as Paul VI called it –, the soul becomes a holistic instrument in the search for
God and for His Will in all things, awakened by what the senses may learn, open to constructions of the imagination
and of memory, sustained by understanding and by resolve.
This could well be the reflection of anyone entering the church of Santiago, in Alcácer do Sal, for the first time.
It is a huge nave in blue and white, the colours chosen by 18th-century artists to depict, on the tiles that cover the
walls, episodes from the life of the Apostle James and the Virgin Mary. The visitor identifies them easily and sits
down. Captivated by the expressiveness of the figures, the visitor’s gaze moves on to two pilgrims kneeling at the feet
of Our Lady of the Pillar. He is invaded by the sudden memory of the pilgrims of Emmaus and meeting with Jesus
Resuscitated. He lets himself be transported to the moment when they opened their eyes and He vanished, after taking
and blessing the bread shared at the table (Luke 24.31): they had been illuminated with the gift of Vision, they could
contemplate the Divine Presence without any sensitive mediation.
“Was St John of the Cross right? But how can the eyes of the heart and of Faith be opened?” In a silent but profound
prayer, the visitor asks St James for help to also be a traveller towards the Light.

When he stands up, it is to admire the Baroque exuberance that takes over the interior of the church, contrasting
with its architectural simplicity. There is nothing left to recall its medieval origins, nothing left of the chapel that it
was in the past. The scale of its construction, the richness of its carvings, the dramatic intensity of the paintings and
the decorative splendour of tiles echo the grandeur of the reign of João V; they are the result of a policy that, inspired
by values of the Enlightenment and financed by gold from Brazil, was to transform and mark forever the Portuguese
cultural identity.
In a distracted gesture, the visitor picks up a book opportunely left lying. He reads the title: The Artistic Inventory
of the Archdiocese of Évora in the Municipality of Alcácer do Sal. He leaves through it, now interested. He learns that it
belongs to a collection published by the Eugénio de Almeida Foundation in the context of a project that the Institution
embarked upon in 2002. Why? To conduct a survey, study and cataloguing of the collections of churches, chapels,
seminaries and religious institutes throughout the diocese: there are tens of thousands of artefacts in the categories of
Painting, Sculpture, Jewellery, Numismatics and Ceramics that the Church has collected throughout its history as the
mainstay of evangelisation, as support for liturgical rituals, as mediators of the devotion of the faithful. As the book
notes, the importance of this collection is not so much in its functional use or its intrinsic heritage value, but above all
in the vigour with which it bears witness to the History, Art, Culture and Faith of a nation, that same nation that, as
Eduardo Lourenço wrote, “sailed round the world to take measure of its marvellous imperfection.”
The visitor closes the book and leaves, on his way to the church of Senhor dos Mártires. He wants admire closely
the sinuous grace of a statue of Our Lady of the Cincture who, smiling and enraptured, gazes at her Child playing
with a bird. “What hands sculpted the limestone to reveal the sublime beauty of this scene? What breath of inspiration
guided them over the stone in search of the ineffable, of what cannot be said?” Words of Tolentino de Mendonça
come to his mind: “Beauty is an experience that the senses cannot fully circumscribe, even when they touch it, since it
remains indescribable.” Was St John of the Cross right?
Eduardo Pereira da Silva

Chairman of the Board of Directors of the Eugénio de Almeida Foundation

MARKS OF FAITH
This volume devoted to the municipality of Alcácer do Sal is already the ninth in the collection on the Artistic
Inventory of the Archdiocese of Évora. Studying the set of books published, we soon understand the close relationship
between works of sacred art and the history of the Portuguese. In them we can find marks of the gestures, adventures,
glories, sorrows and faith of people who were born Christian, were consolidated as a Christian nation, despite the
setbacks of history, and remain imbued with a culture firmly based on Christian values. The best there is in Portuguese
art was born illuminated by the light of Christian faith.
Based on sacred art, we can rewrite the whole history of our country. Each piece of art suggests an era and narrates
an excerpt of the country’s history, of its institutions and of the people who created them. It is a pity that many of
these works of sacred art have disappeared through negligence, vandalism, ideological prejudice or for other reasons.
Nevertheless, the existing collection is still large and of the highest quality. On our part, we do not want to feel that we
are accomplices in its disappearance through inertia. On the contrary, by taking a proactive attitude, we have promoted,
within the limits of our possibilities, the protection, conservation, knowledge and use of a vast artistic heritage, one
of the greatest riches of our country, to prevent breaking the chain of transmission of faith to new generations of the
present and of the future.
Inspired by the noble ideal of protecting and promoting culture and sacred art, our inventory team has spent more
than ten years working on this notable task, the value of which can never be overestimated, systematically visiting every
parish in the Archdiocese under the capable guidance of Dr. Artur Goulart, who has lived for many years in Évora,
where he was the dynamic director of the Museum and, from now on, will be working for the whole vast Archdiocese
as the dedicated and generous head of the inventory team. With his profound knowledge of Theology and Art History,
he is, without a doubt, the ideal person to successfully carry out the difficult and commendable task of inventorying
the rich artistic collections of the vast Archdiocese of Évora. I would like to pay tribute to him and to his fine team and
express my sincerest thanks, in the conviction that the readers of this and other volumes will gladly share my feelings.
†José Francisco Sanches Alves

Archbishop of Évora

A VIEW OF THE RELIGIOUS
HERITAGE OF THE MUNICIPALITY
OF ALCÁCER DO SAL
The town of Alcácer do Sal was Salacia during the 13th century (c.1249), was reintegrated into it in 1872
Roman period and was even known for some time as as a parish, after briefly being part of the municipality
Salacia Urbs Imperatoria. The Muslims called it Alcácer – of Alvito.
Qasr, which means palace or castle. This word lives on The Military Order of Santiago da Espada (Saint
in its name, with do Sal added in the late 15th century, James of the Sword), founded in 1170 in Castile, arrived
to distinguish it from Alcácer Ceguer in North Africa, in Portugal in 1172. It is in the context of the Christian
captured by the Portuguese in 1458. reconquest that we can understand its importance and
Priest Henrique Louro claims that Alcácer is the old- the large number of lordships that the Santiago knights
est parish in the Archdiocese of Évora. Alcácer, in fact, received as a reward, including Alcácer, donated by
was never the seat of a bishopric (the theory that the Afonso Henriques (c.1175). A further donation by San-
town was an Episcopal seat in Visigothic times, con- cho I was of the town itself in 1186. Under the leader-
nected with the figure of St Januarius, having long been ship of the Bishop of Lisbon, Dom Soeiro Viegas, and
considered clearly improbable). It has been part of the with assistance from knights of the 5th crusade and the
diocese of Évora since the Middle Ages. Even after the main members of the Military Orders based in the King-
Portuguese victory of 1217 under the Bishop of Lisbon, dom, Alcácer was finally reconquered (it had been lost
Soeiro Viegas, he was unable to place the town under in 1191) in October 1217, an event that was of sufficient
the authority of the diocese of Lisbon, and Alcácer was importance to be narrated in various European chroni-
reintegrated into the Évora diocese. cles and in letters to the Pope.
There are currently six parishes: Santa Maria do Cas- In 1218, Alcácer received a town charter from Afonso
telo and Santiago (which divide between themselves the II and it was presented by the king to the lordship of
town and certain rural areas), Comporta (which belongs Santiago. This way, the monarch ensured the settlement
to the diocese of Setúbal), Torrão, Santa Susana and São of an important, military fort, strategic for both the de-
Martinho (mainly rural). fence of Lisbon and the line of the Tagus, and as a point
While Alcácer today is a municipality that still covers of support to continue the reconquest towards the south –
a vast area of land, after the final Christian conquest of it was not called the “Gateway to the South” for nothing.
the town in 1217, it was one of the largest in Portugal. At the same time, this guaranteed the effective develop-
In its time it included Cabrela, Canha, Torrão, Santiago ment of the resources and potentials of Alcácer, with its
do Cacém, Alvalade, Odemira and Sines, which became proximity to the river Sado and the links this gave it
municipalities in the 13th century, with their own lands to other cities in the kingdom to channel the products
taken from the territory of Alcácer. Grândola only be- of its vast lands and of the inland areas of the Alentejo.
came a municipality independent from Alcácer by a Finally, the town was also dignified by the presence of
charter dated 12 October 1544. And the municipality the headquarters of the Portuguese branch of the Order
of Torrão, which had separated from Alcácer in the mid of Santiago.

The religious space in this municipality was to thus ample, quite rare in southern Portugal, and this style can
be very closely linked with the Order of Santiago da Es- still be seen in two doors. The church of Santa Maria has
pada, both through its lordship of the town and count- aisled nave with five bays with columns whose capitals
less properties and rights it held there, and also due to its and arches are probably original. The first detailed de-
patronage of numerous churches and chapels in Alcácer scription of the church can be found in the 1512 Visita-
and in its vast lands. tion, which mentions the spaces and dimensions, build-
In an agreement between the Évora prelate and the ing systems and materials used, altars and chapels with
Master of the Order, Paio Peres Correia, in October devotional figures in stone and wood and the various
1249, the churches of Alcácer and its land were required retables that enriched them, as well as an abundance of
to pay a third of tithes, funeral payments and Episcopal fresco paintings on the walls and ceilings, also adorn-
proxy rights, the Order being responsible for presenting ing the small chapel with a ground central plan and a
clergy, to be later confirmed by the bishop of Évora. vaulted roof, where the baptismal font was found. On
But the connection with the diocese also left its mark that same side there are three chapels that open onto
on the landscape of Alcácer: on Rua dos Mercadores, in the nave, including the chapel of the Eucharist. It has a
the castle, close to the church of Santa Maria, the bishop cross-vault ceiling and its walls are covered with poly-
of Évora had three houses and, next to one of them, chrome and grotesque tiles. The altar is profusely deco-
the Évora chapter could also be housed in a building it rated with gilt carving and contains a tabernacle that
owned; the bishop and the chapter also shared a farm depicts the Resurrection of Christ, who rises from the
in the land of Alcácer, although its precise whereabouts tomb towards two naive and sleepy Roman guards.
are unknown. Set against the second column of the church body is
Lords of the town, the Espatários took advantage of an 18th-century wood-carved pulpit that is supported
this situation and transformed the former Muslim alcázar on an angel figure. A round chancel arch separates the
into a complex of buildings necessary for the operations end of the nave from the chancel which is covered by a
and prestige of the Order’s headquarters: the Convento, surbased vault.
intended for professed monks and knights, the Paço to The visitations also listed the fabulous movable her-
house the Master and his followers and the chapel of San- itage associated with the parish church. Although much
tiago, built in honour of the patron of the Order and also has disappeared over the years, the inventory now car-
of the town at that time. ried out has revealed a highly significant collection of
As can still be observed today, within the castle walls objects, including rich fabrics and liturgical objects.
stood the church of Santa Maria, probably built over Above the main door of the church is a stone carved
the former mosque after the Christian reconquest. It was with symbols of St James: the sword surrounded by scal-
built in the so-called late Romanesque style, of which it lop shells, and the gourd and staff, which remind us of
is, in the opinion of Vergílio Correia, an interesting ex- how Alcácer belonged to the Military Order of Santiago.

In front of the church is a large churchyard on the site chapels of Santiago (within the Castle), Nossa Senhora
of the former Forum, as revealed by excavations on the da Porta de Ferro next to the gate that gave it its name,
site. It is likely that the mosque itself made use of an ex- in the castle walls – Beatriz de Vilhena, the wife of Dom
isting religious building. In fact, there are Roman column Jorge, ordered it to be pulled down as it was small and
shafts visible in the quoins of the two adjacent buildings, built another larger chapel (later, moved further from
examples of the reuse in the Middle Ages of materials the door, but against the walls); the chapel of São João
from ancient Salacia. There are also some Visigothic ma- at the entrance to the town, built by the local people in
terials that may have come from a Christian church. the early 16th century; the chapel of São Vicente at the
Santa Maria do Castelo was the parish church of end of the Rossio Alto and which had existed since the
Alcácer and had a prior and eight beneficiaries. In the times of the reconquest; also on the hill, overlooking the
16th century it had four confraternities: Santíssimo river, was the chapel of São Miguel, referred to for the
Sacramento, Nossa Senhora do Castelo, Nossa Senhora first time in the visitation of 1534.
do Rosário dos Homens Pretos and Santo Estêvão dos Below, on the river bank, were the hospital and chap-
Mareantes. The abundance and diversity of these guilds el of Espírito Santo (on the town square) and the chapels
confirms the importance of the town and its close links of São Lázaro (approximately on the current site of the
with the river Sado and the sea. Known as “the Princess church of Santiago), São Sebastião (at the end of the
of the Sado”, here Alcácer also revealed its trading and town, on the Évora side), São Roque (on the opposite
maritime vocation, with confraternities – both those reside), São Pedro – which until the late 16th century was
ferred to above and others based in other churches in the located in the churchyard of Mártires (it was replaced
town and its lands – devoted specifically to sailors, fish- by another chapel next to the shipyards, on the Setúbal
ermen and “black men” (Homens Pretos), an undoubted side, still known as “St Peter’s end”, and was paid for by
reference to the presence of slaves owned by the resi- the confraternity of fishermen) and Santa Ana, the other
dents of Alcácer. side of the river.
The churchyard and main door of Santa Maria were Other chapels could be found scattered around the
the focus of socialisation in the town. There are many lands of Alcácer: São Brás, Santa Catarina de Sítimos,
references to them as meeting places throughout the his- Santa Susana, São Martinho do Forno do Vidro, Reis
tory of Alcácer. (given a curate in 1552), Nossa Senhora do Monte and
As with many other medieval parishes in the south, Montevil.
urban seats with jurisdiction that extended into a large Particularly notable is the Shrine of Santa Maria
rural area, this parish also included numerous chapels. dos Mártires, today known as the shrine of Senhor dos
Some built in the upper town and beyond the walls, oth- Mártires, situated outside the town to the west and built
ers in the rich ever expanding riverside area, connected in an area that had been used as a place of burial or city
with trade, crafts and sea fishing. These included the of the dead since the Iron Age. Its name appears associ-

ated with the memory of the burial of crusaders who fell Descriptions from 1513 refer to frescos on the side
in combat during the siege and conquest of Alcácer. A walls of the main church and Vergílio Correia men-
martyrological memory that the Order made a question tioned that he had uncovered some remains during his
of perpetuating, as a sign of the alliance between reli- work at Mártires. Some faint marks of an image of St
gious life and the faith in combat. James on horseback can still be seen on the upper wall,
The church is the result of a combination of separate on the left.
Christian buildings that have been joined together, the The Renaissance porch on the west side has arches
chapel of Tesouro being the oldest, possibly from as early set on plain and solid pillars. It was here that a statue of
as the 12th century or beginning of the 13th century. Our Lady of the Cincture on a pedestal in a niche was
Notable is the chapel of the Mestres, which was built by venerated by the faithful in the early 16th century. Now
the Mestre Garcia Peres, in 1333, to glorify God, the Vir- to be found in the interior of the church, the statue con-
gin Mary and St Bartholomew. This was the site chosen tinues to be specially venerated by residents of Alcácer
for this master’s tomb, as well as that of his predecessor, do Sal and visitors.
Pedro Escacho, as can be read on a stone inscription. How- In the late 15th century, the contador Estêvão Ro-
ever, the Visitations mention that the first four masters drigues and his wife Inês Eanes donated a crucifix to
of the Order of Santiago in Portugal were buried there. Santa Maria dos Mártires and left a bequest for an oil
It is a Gothic building, on a central, octagonal floor lamp to be always lit before the figure of Christ Cru-
plan, covered by a star vault and with high pointed-arch cified. This began to attract an increasing number of
mullioned windows, from which the stained glass has pilgrims, who came to pray and make vows. This ven-
disappeared. A spiral staircase leads to the eight-sided eration would indeed later justify the donation to this
terraced roof from where there is a panoramic view of church of an Indo-Portuguese crucifix in ivory, which
the landscape surrounding the church. has survived to the present day. Although the old Mar-
Another chapel, also Gothic, later used as the base ian veneration of Our Lady of the Cincture has not been
for the bell tower, was built by Martins Gomes Leitão lost, countering the usual tendency to change religious
[da Parada], in 1402, as evidenced by an inscription. names, which normally last longer than buildings them-
In the 1430s, Maria Resende, the widow of Com- selves, the invocation of St Mary of the Martyrs gradually
mander Diogo Pereira, tutor of Prince João, Master of dropped out of use and the church became known as
the Order, had another chapel built at the Mártires, to Senhor dos Mártires, at least after the 17th century. In this
house her husband’s tomb. There are intriguing parallel- inventory, notable artefacts from this temple include: the
isms between this chapel and its plaque and the plaque figures of Our Lady of the Cincture and Our Lady of
and tomb chest from the same period in the monastery Pity.
of Avis dedicated to the memory of Mestre Fernão Rod- The current church of Santiago is the successor
rigues de Sequeira. of the original chapel dedicated to the patron of the Or-

der, originally built within the castle, next door to the Virgin. On the sides of the chancel, are unique panels of
Paço and Convent and very close to the parish church. tiles where a St James´s friar is being knighted by Christ
After the headquarters of the Order moved to Palmela, and, on the other side, the Apparition of the Holy Trin-
in 1482, with the progressive deterioration of the palace ity to knights dressed to fight for their faith.
and the construction of the Aracoeli convent of the Poor Our gaze is inevitably arrested by the back of the
Clares on the same site, in the late 16th century, the high altar which entirely filled with a painting of St
former chapel of Santiago was moved to another site, James on horseback, with the vanquished Moors at
although, by order of King Sebastião, the nuns were re- his feet, attributed to Pedro Alexandrino (1730-1812).
quired to maintain an altar dedicated to Santiago in the Flanking it are two sculptures, St Francis of Assisi on
convent church and to pray for the masters of the Order the right and another St James on the left, in his facet
of Santiago. as a pilgrim.
For this reason, the current church of Santiago, On the various altars of the main body of the church,
seat of the parish of the same name, now stands fur- which have different types of finish, there are vari-
ther down the hill, on an imposing platform served by a ous paintings and figures, some clearly older than the
grand staircase. The exterior is plain with well-defined church. On the side altar on the left is Our Lady of Car-
architectural lines of great decorative simplicity. The mel and, on the right, the former chapel of Santíssimo
main façade, with a marble portico with a broken curved with a fresco painting depicting the apparition of the
pediment, is marked particularly by the two large tow- Virgin to St James. Further along, is another altar with
ers from which it blesses the town and the whole river- the calvary, where, surrounding the wooden crucifix,
side area. This Baroque church dating from the reign of appear Our Lady, St John and Mary Magdalen, painted
João V was designed by the architect João Antunes. On a on the wall, in an iconographic arrangement repeated,
plaque appears the year 1746, undoubtedly the year the according to the visitations of the 16th century, in other
current building was consecrated. churches in Alcácer.
On entering the church, we are amazed by the col- The parish church of Santiago replaced, in these du-
ours and the gilded carvings of the altars, with twisted ties, the former church of Nossa Senhora da Con-
columns, angel-atlantes and bunches of grapes, and solação, situated in the upper part of the town, in the
the immense blue and white of the tiles that cover the neighbourhood known as Covas. Although it was older,
walls. All this enhanced by the intense light that pours the first references we have found to it date from the
through the windows. José Meco attributed these tiles to visitation of 1552. The high altar then was entirely cov-
Teotónio dos Santos. Rich and creative, they are devel- ered in tiles, surmounted by a retable with two canvases
oped in two bands of narrative tiles. On the lower band, from Flanders, one invoking Our Lady of Consolation
the panels tell the life of the Apostle St James. The upper and the other the Apostle St James, in addition to a
band shows scenes from the mysteries of the Life of the stone figure of Our Lady with the Child Jesus in her

arms. In 1560, it appears that only the figure of Our The church is mentioned with reference to the Exami-
Lady with the Child (the so-called small figure) was nation of the Miracles of St Sebastian, held in Alcácer, at
there. The chancel was square and lit by a stone win- the time of plague of 1569, at the start of August of that
dow (to the south) with its glass and wire mesh. It had year, by Prior António Caldeira and written up by the
a masonry vault with keystones and brackets in Lisbon beneficiary António de Matos. Although the full history
stone and it was mentioned that the central keystone of this church is not yet clear, nor the circumstances in
was decorated with the arms of Álvaro de Castro. The which it ceased to be the parish seat, an undoubted con-
round crossing arch was also in stone. Both the chancel tribution to this situation was the transfer of the church
and the main body of the church were in poor bricks. It of Santiago to its current location and its elevation to
had two large windows with glass, wire mesh and iron parish church, replacing the church of Consolação. To-
bars. The ceiling of the church was lined with bevelled day the church of Nossa Senhora da Consolação has
maple boards. There was a large stone window, on the been absorbed into a private residence.
west wall, with iron bars like a convent window. The In this parish there were several chapels with curates
main door was stone, “round arched” (still existing) and - Nossa Senhora do Monte (in Vale de Guizo, already
the doors were made from chestnut, the 1560 visita- existing in 1571), São Romão do Sado and São Mamede
tion adding that the doors were in maple with two well (closed in the second half of the 16th century), as well as
closed posterns. beyond the river, the chapel of Santa Ana. We know
The baptismal font was in the main body of the that this last chapel was found severely damage in 1528.
church, in a corner on the north side; it was plain and It had been built by Isabel de Ataíde Mascarenhas, who
round and made from jasper, set on a column also made was under the obligation to repair it. It was adorned by
from jasper. On a chest bench in the main chapel there a stone doorway, referred to as “very well carved”, which
was a small Brazilwood box that held the holy oils. It had come from Safim and had been offered by Manuel
did not have a sacristy, but there was space to build one. do Rego on a date prior to 1528 but was only actually
Certain transformations were recommended in order to installed after 1534, being found in its place during the
enlarge the church, as well as the churchyard, demands visitation carried out in 1552.
that had indeed been met at the time of the next visita- The aforementioned chapel of São Romão do
tion five years later. Sado, today in the parish of Torrão, but which was
The bell tower was built in wood, but had two new generally an integral part of the lands of Alcácer, ap-
bells that João III had offered when he made the church peared described as an aisleless church, with a small
of Consolação the seat of a new parish. The same visita- altar, with a sculpted wooden figure of St Romanus
tion showed that this parish church building was lent to within a niche lined with ash wood. It had a silver cha-
the Order by Dom Álvaro, since it houses the tomb of lice donated by João Carrasqueiro and a missal donated
his father, Dom Rodrigo de Castro. by Dom Álvaro de Castro. The chapel was in such a

bad state of repair that the visitors in 1512-13 believed The many other chapels scattered over this parish
that mass should not be held there until it was repaired. also include the chapel of Santa Catarina, in Síti-
This obligation fell to Dom Álvaro de Castro, the son mos, already documented in 1249. In the visitation of
of its founder, and the repairs were indeed carried out, 1512/13, the chapel was described as built of stone and
as certified by the visitation of 1534, which confirmed clay and with a wooden altar set on two stone and clay
that the chancel was vaulted and rebuilt and the main uprights. Above the altar was a statue of St Catherine in
body of the chapel had a recent timber roof. Thus, in a door retable, behind which as another retable of the
1565, the chapel already had a curate and belonged to same size as the altar. A stone arch led to the chancel.
the parish of Nossa Senhora da Consolação in Alcácer. There were benches around the walls of main body of
The visitors then thought the figure of the tutelary saint the church and the chancel, on which the faithful would
was very old and for this reason ordered the residents be seated. The doors were wooden, new and painted.
to have a retable made or another painted sculpture of a To the left of the entrance was a house where the
saint. In 1872, the church of St Romanus was again in a anchorite who looked after the chapel live, as well as an-
ruinous condition. Another chapel appeared in 1967, but other small house. To the south were some huts. There
in a more central neighbourhood, within the town, and was a small projecting roof over the main door. The Or-
was blessed by the Archbishop of Évora, Dom David de der of Santiago was responsible for repairs to the chapel.
Sousa. The 1534 visitation refers to the existence of a papal bull
Also belonging to the parish of Consolação and later that granted one thousand two hundred days of pardon
to Santiago was the chapel of São João Baptista, in to the faithful who visited the chapel during the festi-
Palma. The Order owned several properties there in the val of St Catherine, Christmas, Low Sunday and Corpus
13th century, and their rents were allocated to the infir- Christi and contributed alms. It had a chaplain paid by
mary of the monastery of Alcácer. In 1426, the quintã of the local residents.
Palma was referred to as enclosed and held as an honra Leaving the town, we find the current parish of San-
by Teresa Martins, the widow of Diogo Barreto. In the ta Susana, in 1512/13 still a simple chapel, which the
late 16th century and early 17th century, the herdade da visitation mentioned needed to be “redone”. Mestre Dom
Enfermaria and the quintã do Pinheiro with three more of Jorge was told by old men that the chapel had been built
the Order’s farms were leased to the Duke of Aveiro, by residents from the area around it. It was a chapel with
remaining as a coutada of the Order. In 1758, Palma ap- a high altar on which there was a small door retable and,
peared referred to as a parish, with 202 homes, and at in the middle of it, a figure of St Susanna, its patroness.
the same date the church was reported as ruined after In the wall of this chapel there was another small old
the 1755 earthquake. The church was then rebuilt and retable with a figure of St Roch.
today still preserves some of its earlier heritage. On the Shortly after the terminus of the visitation, in July
base of the crossing is the date 1702. 1513, Fernão Rodrigues, chaplain of St Susanna, pre-

sented himself at the câmara (town council) of Alcácer, with the site called “O Cabeço da Freguesia”, today be-
with a licence issued by the Mestre, at the start of the longing to the municipality of Montemor. On display
same month, which said that the residents of the area in the Parish Council is a bell from the former church,
of this chapel on the lands of Alcácer had complained which dated from the 17th century.
of the obligation to attend mass at the parish church of References to the existence of a chapel here, known
Santa Maria do Castelo, which caused them great nui- as São Martinho do Forno do Vidro, appeared for the
sance and fatigue, both in summer because of the heat first time in the visitation carried out in 1512/13. The
and in winter because of the rain and flooding. Dom documents confirm the existence, in the chancel, above
Jorge understood their difficulties and authorised them the altar, of a new retable, small and with doors, which
to have their own chaplain, provided they paid him, and the visitors classified as very good, with three figures,
from then on the chapel had a curate. It was only dur- two of St Martin and one of St Sebastian. The main
ing the main religious festivals that the residents of St body of the chapel was lined in pine and built from
Susanna had to go to the parish church of Alcácer. bricks and had new doors. According to information
The current church has defied the ravages of time gathered from older people, it had been founded by lo-
and is a true revelation for visitors. A building of Man- cal residents, who were responsible for its maintenance.
nerist influence, its exterior is plain with simple lines. Already active in the 16th century, the parish was
There is a small galilee at the entrance to the church, in later abolished and only restored in 1966, when its seat
front of which, in the churchyard, stands a stone cross. was moved to Casebres, where a small new church was
It also has a bell tower with a clock, but of much more built dedicated to St Martin and completed in 1974,
recent construction. The interior is aisleless, with a bar- its parish priest at the time being Luís do Nascimento
rel vault. It has tiles, traces of frescos and on the high Silveira. This is another example of the invocation of a
altar retable are two paintings, attributed to Mestre da saint, in this case St Martin, that has survived over the
Lourinhã, flanking a figure of St Susanna, representing years, long after the ruin of the original building, which
the Annunciation and the Birth of Jesus. Vítor Serrão has even changed location.
considered them “two exceptional examples of primitive With regard to the town and municipality of Tor-
Portuguese painting, without precedent in the south of rão, priest Louro wrote that it was donated to the Order
the country”. The arch that leads to the chancel is nota- in 1224, and by 1249 it was undoubtedly part of the
bly surmounted by the cross of St James. Order’s assets, since its church was referred to, among
In the same area, the other parish church, São Mar- others, in the agreement reached at the time between the
tinho, was situated in a location of different to where it Mestre de Santiago and the Bishop and Chapter of Évo-
can currently be found. Indeed, we can find references ra on tithes from the Order’s various lands. As we saw
to a zone known as São Martinho in the 13th century, above, the town and municipality of Torrão, after various
where the Order owned several properties, identifiable setbacks, finally became a parish of Alcácer in 1872.

In the report on the visit to the municipality of Tor- by João Falcão, and the management of their properties
rão by officers from the Order under the leadership of and compliance with the requirement defined by their
Mestre Dom Jorge, in November 1510, it is noted that founders were verified.
the church, dedicated to Santa Maria (now Our Lady As the Mestre found the church very small “for so
of the Assumption), had on its high altar a retable, many people”, he ordered it to be totally redesigned, the
described as good, with a figure of the Virgin with the Order paying the costs, estimated at 44 thousand reais.
Child in her arms in the centre, flanked others of St By 1534, during a new visit by the Order, the church
James and St John. Behind this retable was another one, was described as a sound building with an aisled nave,
large and tall, with statues the painting on which was set on five arches either side, with eight stone columns
starting to fade. It rained in the chancel, due to a leak- with stone shafts and capitals, as were the arches and
ing roof. It was built from bricks and the chancel arch their brackets. The church was built from brick and
was set on two marble posts with well carved capitals. chestnut wood and covered by an unlined tiled roof. Of
Several altars were described in the main body of the the contents described, the retables and statues were the
church: on the right, one dedicated to Santiago with a same as those described at the time of visitation by Dom
retable; on the left, another altar with a stone sculpture Jorge.
of Santiago, which the visitors classified as very good, The portal of the parish church, as we can still see
also describing a retable with figures of St Francis and today, is clearly Manueline, with exotic decoration ex-
St Anthony, surmounted by the Magi. Next to this altar, pressed in the depiction of pineapples. The 1534 visi-
against the chancel arch, was a stone pulpit set on a well tors, having found over the portal only the arms of the
carved and very good post. Mestre, determined which within a year be placed “two
Over the crossing arch was a crucifix flanked by stones com two habits of the Order […] so that the arms
Our Lady and St John. And the baptismal font was des- of said lord are in the middle”. Today, this coat of arms
cribed as marble, carved from a single stone, new and still surmounts the main door, but the sword-cross was
very good, the 1534 visitation adding that the chapel either never applied or has been lost to the ravages of
was covered by a vault, with the cross-sword of St James time. However, a single scallop shell marks, like those
sculpted on the keystone and over it a scallop shell. arms, the presence of the Order of Santiago.
On the left of the baptismal font was another altar, In Torrão, firstly in 1510 and then in 1534, other
dedicated to St Sebastian, which had paintings of that religious or charitable buildings were visited: the chapel
saint in its walls. Dom Jorge believed that this altar should and Hospital of Nossa Senhora; the chapel of São Se-
be pulled down as it was not in a convenient place. bastião; the chapel of Santo Estêvão, which, in 1534,
Also visited were the chapels (understood here as pi- was newly repaired and had a very well carved stone
ous institutions) founded by Madalena Fernandes, the arch; the chapel of Santiago, in Ribeira de Odivelas; the
widow of Pero Vivas Gramaxo, by João Pinheiro and chapel of São Roque, which had been founded by Dom

Álvaro de Castro, who was responsible for repairing it The officials found everything in the hospital to
as it had collapsed; the chapel of São João; the chapel of meet the required conditions. There were four beds pre-
Santa Margarida do Sado, which at the time belonged pared for the poor to sleep and one bed without linen.
to the municipality of Torrão; the chapel of São Fraústo In a large chest there were clean pallets, bolsters, new
and the chapel of Espírito Santo. blankets and bedspreads, sheets with which the beds
This last chapel was described as just a small house, were made. The hospital occupied the lower part of the
with a wooden altar, behind which the Descent of the chapel and there was another chamber in which there
Holy Spirit upon the Apostles was painted on the wall. were three beds wooden and a corridor with two houses
The chapel occupied only the upper floor, the lower with more beds for the poor, which led to a garden.
floor being used by the council that held audiences They visited the chapel of São Sebastião and not-
there. It had been built by the officials and people of the ed that the chancel was in lime stabilised rammed earth,
Town, who were required to repair it. However, it had with a good timber roof and a single altar. Over the altar
also attracted the generosity of important benefactors, was a large retable with a statue of the martyr, against
since its possession including a silver gilt crown with a painted wall. Over the main door was a porch, with a
blue and green enamels and three painted linen flags, circuit around it. Like the chapel it had been founded by
from the patronage of Duarte Furtado and Afonso Fur- the municipality, which was responsible for its mainte-
tado respectively and a vestment, stole and alb offered nance. In the following century, the Franciscan Monas-
by Dona Margarida Furtado, the widow of Jorge da Sil- tery of Santo António was built on the site of this chapel.
veira. All to exalt the annual festivities organised by the At the chapel of São João [dos Azinhais] the
confraternity of Espírito Santo, which included a mass, a visitors found the chancel built from stone and lime and
procession and a distribution to the poor. lined with good new pine. On the masonry altar, un-
In 1510, the visitors stopped at the chapel of Nossa der a painted cloth curtain, were two images, one of St
Senhora and the poor hospital attached to it, both John the Baptist, considered very devout, and another,
founded by Margarida de Areda. They probably dated already old, of St Vincent. It was built from bricks and
from the previous century, as the founder had left many there were benches along the sides. Next to the chancel,
properties for their maintenance. The chapel occupied on the south side, was a sacristy.
just the upper floor and on the right was a sacristy. It The main body of the chapel was covered in unlined
had a simple wooden altar, in which was set a figure of tiles and it also had new roof timbers. The main door-
Our Lady with the Child Jesus in her arms, which was way was in stone and the doors were new. On the wall
considered “very good and very devout”. The walls of of the main door, on the outside, was an altar consisting
the church were very well painted “with Roman work”. of a single slab of stone set on two “very good” marble
This chapel is known today as the chapel of Nossa uprights, where mass was celebrated on the feast of St
Senhora da Albergaria. John, a sign that the chapel was not large enough for all

those who visited it. It had a churchyard and a circuit Dona Violante Henriques, the widow of Fernão Martins
around it, where ten olive trees and a wild olive were de Mascarenhas, alcaide-mor of Alcácer and Mértola and
growing. capitão dos ginetes to João II. Built outside the walls, close
The chapel of São Fraústo (the name expressly to the upper rossio, the Convent Church is aisleless, with
given in the visitations) appears described in 1510 as a chancel and a sacristy. Access to the church was from
an aisleless chapel with a stone altar in the chancel with a wide galilee, which has two elegant columns, support-
a figure of St Fraústo on horseback and a small retable ing a wooden ceiling, and entered under round-arch ar-
with the Salutation. The walls of the chancel were in cades. The main doorway was thus protected. It has pi-
stone, the ceiling lined with canes and the floor was lasters decorated with low-reliefs of delicate grotesques
brick. The main body of the church was covered with carved in marble. In the interior there are two panels of
an unlined tile roof and its walls were rammed earth. tiles, the one on the left on St Francis and the one of the
The description of the church’s deterioration gives an right on a miracle of St Anthony.
idea of its age, also reflected in the bad state of the vest- Pedro de Mascarenhas, the 3rd son of the founder, an
ments and liturgical articles. It even rained inside the ambassador in Italy and viceroy of India, where he died
church and it no longer had any doors. By 1534, it had in 1556, chose this church connected with his family, to
been repaired and was “well provided for within and build his pantheon, for which reason he added a new
without”; it had new doors as well as vestments and altar chapel, known as the chapel of Onze Mil Virgens.
cloths, from India. Although it was possibly repaired on The work has been attributed, on the basis of stylistic
subsequent occasions, the ravages of time were to finally comparison, to António Rodrigues (c.1520-1590). The
condemn it to the state of ruin in which it can still be remains of his first wife, as well as the remains of Dona
found in the present day. Helena de Mascarenhas, his second wife, responsible for
Also to be considered are other chapels, such as the completing the building, were reburied next to the tomb
chapel of Nossa Senhora do Bom Sucesso and the of Dom Pedro.
chapel of São João Nepomuceno, the latter situated close Notable in this chapel is an altar, with important rel-
to the Roman bridge of Torrão. Absent from the 16th- ics brought by the ambassador. But its focus is the tomb
century visitations by the Order, no news of them can be area, with a square plan, surmounted by a hemispheri-
found prior to the 18th century. cal marble coffered dome, with alternating decoration of
It is interesting to note that, both in Torrão and in circles and squares. The stone is very fine and translu-
Alcácer, the religious houses of other orders, namely the cent, lit up as if by flames during the sunset. The nave,
Franciscans, only appeared very late and, in any event, extending this space, consists of a double square and is
after the move of the monastery of the Order of San- covered with a barrel vault, connected to the Convent
tiago to Palmela. Thus, the Franciscan Convent of church by round arches that are repeated on the south
Santo António de Alcácer was founded in 1524 by wall of the chapel, where they are covered in green and

white tiles, in a chequered composition. other convents and monasteries, it was also closed after
The Chapel of the Eleven Thousand Virgins is right- the death of the last nun. Nuns, this time Benedictine,
ly considered one of the jewels of the Renaissance in returned to Torrão in 1976.
Portugal, for its architectural lines, its vocabulary from Finally, the Convent of Santo António do Tor-
Serlio’s Treatise, its strict decorative and structural ge- rão, also Franciscan, was founded in 1604. Built on the
ometry, the wealth of its marbles, the simplicity of the site of the former chapel of São Sebastião, under the
portal and above all its dome. Every detail shows the patronage of Mécia Lopes and Vasco Borralho de Vila
careful application of “Roman art”. Lobos, it was closed in 1834. The convent church is still
The second religious house connected with the Fran- a place of active worship.
ciscans in Alcácer was set up on the site of the former Despite losses inflicted by the ravages of time and
headquarters of the Order of Santiago. Indeed, as we human negligence or malice, a significant religious her-
have noted above, King Sebastião, safeguarding certain itage has survived to the present day, giving us an idea,
conditions, donated the old buildings of the Order in however vague, of the sacred art of the past in what is
the castle of Alcácer to Rui Salema, fidalgo of his house- now the Municipality of Alcácer do Sal. Its numerous
hold and his wife Dona Catarina, to build a convent of churches and monasteries, some in the towns of Alcácer
the Poor Clares. It was opened in the first half of 1573, and Torrão, others scattered between villages or across
as can be deduced from the will of the Salema couple, its vast lands, bear witness to a history in which powers
dating from 3 June of that year and which already wrote and influences meet and combine. The Order of Santia-
“where is newly situated the Monastery for the Nuns of go, for centuries the lord of Alcácer and patron of many
the Order of St Clare dedicated to Our Lady of Ara- of its temples, the diocese of Évora, whose jurisdiction
coeli”. The community remained there until the disso- extended over it, and the Franciscans, who arrived late
lution of the religious orders in Portugal and the final but were no less decisive.
suppression of the convent, which took place after the Based above on information from the visitations of
death of the last nun, Maria da Conceição de São José, the lands by the Order of Santiago, we can see how
on 2 February 1874. All this area was converted into a the churches and numerous chapels described in them
Pousada in the late 20th century. aroused not only the devotion of local populations but
In Torrão appears the third mendicant foundation in also the generosity of many benefactors. Some con-
the municipality, the Monastery of Nossa Senhora da nected with the Royal Court, others with trade and the
Graça. Having been, initially, a Retreat of the Mantellate sea, they brought to these churches a rich heritage, in-
Third Order, dedicated to St Martha, already existing in cluding sculptures, vestments and other articles coming
1560, it was converted in the late 16th century (1599) sometimes from far, from northern Europe or the distant
into a community of the Order of St Clare, under the lands of the Orient or from closer lands of the Maghreb
jurisdiction of the Archbishop of Évora. As with many or the African coast.

The objects presented here remind us of a rich his- Studies
tory, a material and spiritual memory that enables us to Arte Sacra no Norte Alentejano. Inventário artístico da Arquidiocese de Évora, coord.
de Artur Goulart de Melo Borges, Évora, Fundação Eugénio de Almeida,
assume a heritage bequeathed by all the men and women 2008.
who came before us. And challenges us to go further, CARVALHO, António Rafael, Torrão do Alentejo: Arqueologia, História e Patri-
continuing to recover and enhance, safely and carefully, mónio, vol. II, s.l., Junta de Freguesia do Torrão – Câmara Municipal de Alcá-
the marks of a past that founded our own identity. cer do Sal, 2009 [on-line edition available at: http://www.cm-alcacerdosal/
pt/PT/Actualidade/Publicacoes/Paginas/EstudosdoGabinetedeArquelo-
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Maria Teresa Lopes Pereira CORREIA, Vergílio, Monumentos e Esculturas (séculos III-XVI), 2.ª ed., Lisbon,
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285, 356. http://cvc.instituto-camoes.pt/ciencia/e57.html; consulted on 10.04.2011]

CHRIST CRUCIFIED JUDGEMENT AND MARTYRDOM
(Page 22)
OF ST SEBASTIAN
Ceylon (?) – 17th century
(Page 24)
Sculpture in partially polychrome ivory
Portugal - last quarter of the 17th century - early 18th century
H. 46 cm x W. 33 cm x D. 16 cm (figure)
Oil on canvas
AS.ST.1.012 esc
H. 270 x W. 320 cm (with frame)
Church of Santiago
AS.ST.1.001 pin
Alcácer do Sal
Church of Santiago
Alcácer do Sal
Sharing a common origin in European models, the artefacts gener-
ally classified as Indo-Portuguese nevertheless reveal specific charac-
An oil painting of considerable dimensions, today kept in the sac-
teristics that reflect a cultural and technical diversity that enables them
risty of the church and which probably would have decorated either
to be divided between main four production centres: Portuguese India,
the chancel or a hagiographic series in the nave of this church of the
Ceylon, China and Japan.
Order of Santiago, before the installation in the 18th century of the
The figure venerated on the high altar of the church of Santiago, des-
tiles that today cover most of the walls of that church.
pite showing signs of meticulous and detailed work, shares characteri-
By an unknown artist, who may have been a Tenebrist from Lis-
stics with similar Sinhalese-Portuguese pieces, generally distinguished
bon, from the Silva Paz family, or António Machado Sapeiro, or maybe
by their more delicate and naturalistic modelling. He is represented dead
even some unknown regional master from Évora area. Whoever he may
with his head fallen to the right, with two locks of hair resting on his
have been, the artist followed the artistic trends of the reign of Pedro
chest, in contrast with the direction of his bent legs which vigorously
II.
reflect the expressive inclination of the torso, separated from the cross,
The painting is divided into two planes, the largest, on the viewer’s
and the corresponding position of the outstretched arms. The face re-
right, takes place within a space with an architectural background, in
veals absolute serenity in the slightly protruding closed eyes, the nose is
which St Sebastian is presented to the Emperor Diocletian who con-
pointed and the lips are almost concealed by the moustache that is con-
demns him to death, after the saint, a captain in the Praetorian Guard,
nected to a stiff compact beard, divided at the chin into to facing curls.
confronted him in defence of Christianity. The young Sebastian and all
This type of treatment is repeated in the modelling of the hair and is
the soldiers who surround him are wearing breastplates and helms and
different from that generally indicated as specific to Ceylon workshops1.
some are armed with spears. The emperor, who gesticulates in the di-
Evenly arranged around the face, and marked by fine ridges represent-
rection of the prisoner, is seated on a raised throne, under a canopy, and
ing slightly wavy locks ending in curls, the hair reveals his left ear and
holds a sceptre in his left hand. On the left on an intermediate plane is
falls to a point down his back. The projecting veins on his arms and legs
a group of soldiers leading the saint to his martyrdom, since Diocletian
match the muscles, which are slightly more stylised on the lower limbs
“commanded him to be led to the field and there to be bounden to a
but not as much as is usual in these figures. The torso has been sculpted
stake for to be shot at” (Voragine 2004). It is precisely this that is hap-
with great accuracy and intensity and equally notable is the modelling
pening in the top left corner, where St Sebastian appears bound to a
of the back in both the marking of the spine and ribs and the definition
tree, half-naked, with his left arm raised, full of arrows. In front of him
of the buttocks and legs under the loincloth, undoubtedly due to the
three archers, with their bows drawn against the martyr, carry out the
twist of the body that reveals this area from the side. The closely ad-
sentence. This scene of the martyrdom is an exact copy of the older
hering loincloth is knotted on his right hip and is rectangular in shape
engraving by Johannes Sadeler or J. Mathan, engravers from Northern
although it accompanies the curvature of the belly and interprets the
Europe, also used by the painter Pedro Peixoto in 1715 on the ceiling
volume of the legs in fine curved and juxtaposed folds.
of the church of Conceição in Peniche1.
As I have already noted, this figure is very similar to various other
The painter followed the narration (judgement and shooting with
figures (Morna 2000; Dias 2009), particularly with a Christ Crucified
arrows) of the Legenda Aurea, by Jacobus de Voragine, which is un-
(inv. 141) from the church of São Roque, “that is an example of the
common in Portuguese art (Serrão 2005), making this painting even
development of a workshop series inspired by models with archaic fea-
more significant. JM
tures, from the 16th century and still very common in the 17th century,
with figures presenting an exaggeratedly long and narrow anatomical
1
According to information advanced by the art historian Vítor Serrão, to whom we are most grateful.
configuration, with tense muscles and projecting bones”. This prototype

is part of a private collection and has been studied by Bernardo Ferrão
de Tavares e Távora (Távora 1983). SN
1
“... normally indicated as a reference for Sinhalese work is the format of the hair, worked in narrow and
plain lines (…)” (Morna 1993)

RETABLE OF OUR LADY OF CARMEL SAINT MAURUS
(Page 26) (Page 28)
Portugal – second quarter of the 18th century Portugal (?) – 16th century
Gilded and polychrome carved wood ¾-length, flat-backed sculpture in polychrome wood
AS.ST.1.001 tal H. 129 cm x W. 43 cm x D. 24 cm
Church of Santiago AS.ST.1.005 esc
Alcácer do Sal Church of Santiago
Alcácer do Sal
Retable on a straight-sided plan comprising a lower gradine, gra-
dine, body with a single bay and attic. At the base there is a small Descendant of a noble family, St Maurus lived in the 6th century
shrine with an image of Dead Christ; at the level of the gradine, cen- and was soon entrusted to St Benedict, distinguishing himself as a
tred on the lower level by the Carmelite crest, are two consoles, sup- model of virtues and obedience. He is venerated as a miracle-working
ported by atlantes, and a tabernacle ornamented by a cross and grape- saint, invoked above all against rheumatism and colds. He is one of
vines, in the centre, flanked by putti covered in naturalistic motifs. On the most representative Benedictine monks and considered the found-
the main body, the twisted columns are covered with grape clusters, er of the first monastery of the Order in France. In art he is celebrated
and in the centre is the niche, closed at its base by a curved, pierced through representations of the episode in which he walked on the
grille, and flanked by pilasters of full scrolling foliage and scrolls, waters of a lake to save his companion Placid from drowning, one of
surmounted by a canopy with fringed curtains, corresponding to a the first miracles attributed to him.
break in the entablature. The semicircular attic is filled by the upper In sculpture, recognition of St Maurus is hindered by the absence
level of the canopy, carved with acanthus scrolls, and an archivolt with of specific attributes in depictions subject to few variations and com-
the same motif, accompanied by putti, drapery with estofado decora- mon to other Benedictine saints, such as the habit of the Order, a
tion, and cherubim. Particularly notable is the pictorial decoration on book, alluding to the Rule of St Benedict, and an abbot’s crosier,
the stone arch into which the retable is set, with its composition of sometimes replaced by or alongside a rosary. Most of the figures iden-
reserves with swags of flowers, with the keystone ornamented with a tified in the Archdiocese of Évora are characterised by an advanced
crowned Carmelite crest. age, although this is not imperative, the figure in the church of Santa
The parish records of 1758 already refer to this altar dedicated Sofia in Montemor-o-Novo, with an inscription on its base, having a
to Our Lady of Mount Carmel, corresponding to the altar dedicated young and clean-shaven face and a tonsure.
to the Christ Child on the Epistle side. This retable dedicated to the The sculpture of St Maurus, now placed in the baptistery of the
Virgin Mary, in one of her main invocations, clearly expresses the aes- church of Santiago, in addition to its general attitude, was identified
thetic language of the full Baroque, corresponding, approximately, to based on Section 188 of the “Inventory of the movable or immovable prop-
the reign of João V (1707-1750). Also notable are the sculpted figured erty existing in the parish of São Tiago”1, which refers to “A figure of St
motifs that cover the whole work, and on a larger scale the composite Maurus, in wood and natural size”. It has an unusual sense of propor-
pilasters, or canopy with refined estofado curtains, a touch of colour tion and sculptural quality, both in the treatment of the draperies and
that breaks the volume of gilding, complemented also by the red of in the anatomical precision and expressivity, which appear to reflect
the figures, accentuating a plasticity that subordinates the structure. the sculptor’s familiarity with Renaissance models from northern Eu-
Also to be noted is the presence of the Carmelite crest compris- rope. The elegant contrapposto of the pose, suggested in each detail,
ing a brown stylised Mount Carmel, the place of origin of the Order starts in the inclination of the head to the right, in the opposite direc-
where the prophet Elias lived, with a star in the centre, and two other tion to his gaze, and in the arm that accompanies the body, holding
stars on a white sky. The lower star is generally interpreted as the the mantle that has crossed his waist. The curved fingers of the hand
representation of the Carmelites on the path to Mount Carmel, while held slightly out would have undoubtedly displayed an attribute now
the two side stars symbolise those who have already finished their missing. This movement is balanced by the opposite direction of the
pilgrimage and reached the holy mount. These three stars have been long beard, the tip of which is concealed under the book held to his
frequently interpreted as a representation of the Virgin, St Teresa of chest, the flexion of the leg and the foot drawn back. The smooth
Ávila and Saint John of the Cross. PV rhythm of the pose takes full advantage of the slightly elliptical profile
of the figure, balancing with both feet bare on the rounded base. The
modelling of the clothes is notable, with the plain surface of the cape
alternating with vertical rhythms on the right side of the mantle and

the habit, the slightly arched back suggesting a belly, and above all of Lóios in Arraiolos, which date from 1700, are by Gabriel del Barco.
the folds that expertly outline the legs. The sculptor’s skill culminates Santos Simões considers the cycle dedicated to St James to be the
in the inward-looking expression and strong modelling of the face, oldest, from c. 1720, and believes the tiles above them, on Marian
touched by melancholy expressed by the almond-shaped eyes and themes, to be from c. 1730 (Simões 1979, p. 34). José Meco has at-
high eyebrows, as well as in the contained gesture and detailed and tributed coverings on all the nave walls in the parish church of Alcácer
naturalistic characterisation of the hands and feet. SN “whose panels present a certain decorative restraint and fine and ex-
1
Parish of São Tiago. Arrolamento dos bens móveis e imóveis, 1933, mç.53, AS.ST/ST/08/Mç.53.
pressive drawing, used with lyrical intentions” to the painter Teotónio
dos Santos, dating them to the late 1710s (Meco 1989, p. 442). PV
1
See Ferrer, Mauro Castellá, Historia del Apostol de Iesuvs Christo Sanctiago Zebedeo Patron y Capitan General
LIFE OF ST JAMES de las Españas (Madrid, 1610), Santiago de Compostela, Xunta de Galicia, 2000. The same iconogra-
phy of the Virgin with the Child in her arms can be found in a painting of Our Lady of the Pillar of
Zaragoza, dating from the 17th/18th century, from Cuzco, Peru (See Stratton-Pruitt, Suzanne, The
Virgin, Saints, and Angels: South American Paintings 1600-1825 from the Thoma Collection, Stanford Univer-
(Page 30) sity, 2006, p. 150-151).
Portugal – c. 1720-1730
Earthenware
H. 145 cm x W. 500 cm
AS.ST.1.001 azu CHASUBLE
Church of Santiago
Alcácer do Sal (Page 32)
Iberian Peninsula (?) – second half of the 16th century
In the church of Santiago, which was probably completed in 1724 Body: ivory silk satin, figured in gilt thread
Orphreys and edging: direct embroidery, in coloured silk thread, outlined by braid
(Santa Maria 1724, p. 316), we can find one of the most representa-
Woven braid
tive sets of the Baroque tiles in Alcácer do Sal, covering the walls of H. 125 cm x W. 106 cm (back)
the very wide nave, in three superimposed registers. The first register, H. 125 cm x W. 92 cm (front)
above an architectural socle, presents scenes from the life of St James AS.ST.1.007/1 par
in rectangular compositions that reach the imposts of the side chapel Church of Santiago
arches. The second register, following the outline of the arches, is di- Alcácer do Sal
vided into panels also dedicated to the saint. Finally, there is a series of
large rectangular panels on the life of the Virgin. Chasuble, with shaped front and pronounced neckline, extraor-
Notable in the second series is this scene of Our Lady of the Pillar, dinarily wide back and quite rounded base. The body in ivory silk
who, according to tradition, appeared to St James in the city of Zarago- satin, with orphreys and edging embroidered in coloured silk thread,
za, on the banks of the Ebro, accompanied by a choir of angels car- with cotton filling, outlined in braid. Narrow woven braid defines the
rying a column on which the Virgin wished to see a statue of herself. neckline, outlines the orphreys and edges the whole piece.
In this composition, the Virgin is depicted with the Child in her arms, The basic fabric may be of Iberian origin, since it is of a type
which differs iconographically from other older graphic representa- that was very popular in the 16th century, which prevents any safe
tions, such as that of Diego de Astor (c. 1585/90 to c. 1650)1, in which attribution of its specific place of manufacture. The body has a dense
the Virgin appears on her own. The angels that normally flank the naturalistic composition entirely filled with small sprays comprising a
image, playing harps and other string instruments, are here replaced flower and three small leaves, worked in gilt thread, and successively
by discreet seraphim over the halo of clouds. At the feet of Our Lady, repeated.
who looks down at him, is St James kneeling, facing two pilgrims also The orphreys are decorated with ornate embroidery with a reg-
kneeling. The edging of the panel, a band common to the whole series, ular motif standard, formed by an octagonal cartouche of stylised
is decorated with acanthus-leaf scrolls, interrupted in the centre by scrolls with corners ending in fleur-de-lis, a symbol of purity; the
pairs of angels holding symmetrical cartouches. fleur-de-lis at the top of each cartouche is larger and flanked by leaves
Virgílio Ferreira, the first writer to study these tiles, attributed and flowers. In the centre of the cartouche are two symmetrical leaf
them to António de Oliveira Bernardes, from a comparison with the stems, the stalks caught by a loop and finished with a six-petalled blue
tiles in São Domingos de Benfica (Correia 1917, p. 202). Later he com- and yellow flower. The side bands are worked in a similar motif, in an
pared them with the tiles “from Loios in Evora and Arraiolos and the undulating style.
Dominicans of Bemfica”, dating the work to the end of the first third Both the wide and rounded shape and the type of decoration of
of the 18th century, without attributing it to any artist (Correia 1972, the chasuble enable us to date it from the 16th century; at the time,
p. 148-149). However the tiles in the church of São Domingos de Ben- in addition to the reproduction of biblical themes, there was still a
fica, from 1710, are by António de Oliveira Bernardes, as are the tiles in fashion for large-scale patterned ornamental motifs, inherited from
the convent of Lóios, in Évora, from 1711, while the tiles in the convent the naturalistic decoration of the preceding century. In the second half

of this century, an aesthetic and cultural attitude appeared seeking a The panel depicts a theme associated with the Nativity, the Ado-
new identity – Mannerism. Although it used a Renaissance language, ration of the Magi, described in the gospel of St Matthew (MV, 2.1-
it transgressed this language in its search for ambiguous effects. This 12) and widely depicted in Christian art, demonstrating its popularity
double language, in the case of textiles, was reflected in the adoption over the centuries. In this case, Our Lady is seated with the Child
of varied motifs, such as symmetrical cartouches, amphorae, baskets on her lap and St Joseph immediately behind her to the left, both
of fruit and swags of flowers, arabesques, exotic or grotesque animals sheltered by an architectural structure. The Child looks and points
and borders of stems of small flowers or fruit. Maintaining their basic directly at the Magi who are offering him gifts. They occupy the
structure, the vestments appeared enriched or simplified, in accord- right side of the composition, Melchior, the oldest, kneeling before
ance with the status and economic capacity of those who commis- the Child, his hands clasped in prayer. Behind him and both holding
sioned them. boxes in their hands are Balthazar, the black king, who is half-kneel-
The vestment set, in addition to this chasuble, comprise two dal- ing, and Gaspar, who is standing. They are all wearing rich, refined
matics, two stoles, a maniple, a cope and an altar frontal. Relatively and brightly coloured clothes, and Balthazar and Gaspar are wearing
well preserved, these vestments are the most opulent textiles to be crowns on their heads. As a sign of respect and as he is already ador-
found in the collection of the church of Santiago. ISP ing Jesus, Melchior has placed his crown on the ground, next to a
curious golden vase, surmounted by what appears to be an allegorical
figure. The gifts of the three kings are outstanding pieces of fantastic
ADOR ATION OF THE MAGI goldwork, meticulously worked. In the centre, at the top of the com-
position, is the star that guided the kings to Jesus.
(Page 34) This remarkable Adoration is undoubtedly by Simão Rodrigues1,
Simão Rodrigues (c. 1560 - 1629) born in Alcácer, who was one of the most important representatives of
Portugal – last quarter of the 16th century Counter-Reformation Mannerism in Portugal and was influenced by
Oil on wood artistic circles in the city of Rome, which he visited during the time
H. 156 cm x W. 170 cm of Pope Sixtus V (1585-90). This appears to be exclusively his own
AS.MR.1.001 pin
work without any contribution by his assistants, in which he explored
Church of Santa Maria
Alcácer do Sal
personal formulas based on an engraved source. JM
1
The church of Santa Maria de Alcácer has a very fine painting –

Adoration of the Magi – from the late 16th century, that belonged to
the church of the Convent of Santo António in the same town and is PANELS OF TILES
today one of the last remaining pieces of the rich artistic collection of
that Convent church. (Page 36)
This Franciscan convent was founded in 1524 by the widow of Portugal – first third of the 17th century
Fernão Martins Mascarenhas, captain of cavalry of João II and alcaide- Polychrome earthenware (blue, green, ochre, yellow and manganese)
mor of Alcácer do Sal. Their son, Pedro de Mascarenhas, insigne fidalgo, H. 248 cm x W. 246.5 cm
AS.MR.1.001/1-2 azu
later founded the chapel of the Eleven Thousand Virgins in the same
church. This painting was in a side chapel on the Gospel side, built Alcácer do Sal
by Diogo Lameira, according to an inscription at the crossing of the
church: “This Chapel of the Holy Magi is of Doctor Diogo Lameira of In the early decades of the 17th century, a new trend of ornamen-
the Council of The King Our Lord, and His Judge of the Palace, who tal panels appeared in Portuguese tiles, the so-called grotesque tiles.
ordered it to be made in the year of 1597” (Frei Jerónimo de Belém, This trend reached its zenith around 1630 and some of the most sig-
1758, p. 395). In addition to this information the plaque also states nificant sets of tiles from that period are the panels on the grand stair-
that the administration of the chapel and its obligations, a daily mass, case of the former convent of Saúde, in Lisbon – now in the Museu do
were the responsibility of the Misericórdia of Alcácer. Azulejo in the same city –, or the tiles that cover the chancel of the
Following the dissolution of the religious orders (1834) and with church of Espírito Santo, in Évora, which date from 1631, and also the
the use of the convent for other purposes, the church was progres- tiles in the chancel of the church of São Francisco, in Estremoz, from
sively stripped of some of its contents, information suggesting that c. 1630 (Valente 2008, p. 66-67).
among the objects that disappeared were 16th-century paintings, as These two panels studied can be found in the chapel of the Bless-
well as wood carvings and relics, brought from Italy by Pedro de ed Sacrament, in the church of Santa Maria. They form a dado, with
Mascarenhas. It is not known when the painting was brought to its a symmetrical decorative composition, developed on a vertical axis of
current location.

scrolls and naturalistic motifs, beading and swags, with scattered an- motif, also present on the sides.
gels and putti. The angels, in the upper level, hold swags of fruit and This is a fine example of the Joanine wood carving, with some
grapevines, caught in the beaks of birds. Round the edge is a frieze of dissonant elements, such as the case of the sounding board, in the
ovals and a band of acanthus and naturalistic trefoil motifs. Rococo style, or colours changed as a result of relatively recent inter-
According to J.M. dos Santos Simões (1997, t. II, p. 193), who vention. However, with regard to the ornamentation, we also question
considers these ceramic compositions from Alcácer do Sal “of the pur- the originality of the lower moulding of the box – of drapery caught
est rótulos e pendurados style” extremely notable, they date from the by bosses and undulating ribbons –, which appears to date from the
first third of the 17th century, as do the aforementioned tiles from São late 18th century-early 19th century.
Francisco in Estremoz, or those from the parish church in Bucelas, And while we consider this to be one of the most significant exam-
which he attributes to the same workshop (op. cit., t. I, p. 194). How- ples of the Baroque pulpits in the area of the Archdiocese of Évora, the
ever, we believe that the Bucelas tiles are quite inferior to the examples iconography represented on the sounding board cartouches are worth
to be found in this church, or in Estremoz, due to the inferior quality particular attention. On the lower cartouche, a lozenge of beads, that
of their drawing and painting technique, and the poor quality of the passes through four rings at the cardinal points, can be interpreted as
glazes. For Virgílio Correia, who considers these tiles to be “very pure the Logos Incarnate, the Word Made Flesh, in other words, the second
in style and polychromy”, they date from the same period (Correia person of the Trinity, which is Christ himself (Richardson 1984, p.
1972, p. 188). 45; 1989, p. 376). On the upper cartouche, a heart wounded by ar-
Evidence of the influence on Portuguese tiles of Flemish engrav- rows (?) is a probable reference to divine love. PV
ings, disseminated in the second half of the 16th century and during
the first quarter of the 17th century, this style of grotesque tiles was to
be short-lived, declining from 1650 onwards, although one of the mo- CHALICE
tifs from its repertoire, the vase of flowers was to became independent
and the central motif for individualised panels, the celebrated albar- (Page 40)
radas, which were very popular in the following century. PV Portugal – last quarter of the 16th century
Cast, carved, raised, repoussé silver, gilt (interior of cup)
H. 22 cm x Diam. 12 cm; P. 409.90 g
AS.MR.1.014 our
PULPIT Church of Santa Maria
Alcácer do Sal
(Page 38)
Portugal – mid-18th century
Gilded and polychrome carved wood This late 16th-century chalice in white silver is one of the oldest
H. 290 cm x W. 144 cm x D. 101 cm and most interesting articles of sacred silver in the municipality of
AS.MR.1.002 tal Alcácer do Sal. The base is round, raised, with a plain edge, decorated
Church of Santa Maria with various elements associated with the Passion of Christ. Plain
Alcácer do Sal connection with the stem, with a row of indented ovals. Urn-shaped
knop, decorated with swags of flowers linked by ribbons and bows to
Pulpit attached to a column and supported by a coloured atlas, cartouches, framed by two projecting disks, with naturalistic elements
dressed as a warrior, on a moulded rectangular base. The straight- on the lower disk and leaves alternating with arrows on the upper
sided box has pilaster corners and blue marbled painting; its base is disk. The stem and cup are joined by a denticulated ring. Tulip-shaped
an inverted truncated pyramid, decorated with a row of acanthus; the cup, with signs of gilding.
lower moulding is decorated with drapery caught by bows and but- The decoration on the base shows the traditional symbols associ-
tons. The front, in pierced wood carving with a symmetrical composi- ated with the death of Christ – cartouche with the five wounds, bag
tion, contains a child surmounted by plumes of feathers, in a quatrefoil for the thirty pieces of silver, pelican (?), cross pierced by three nails,
panel with ogee shaping, surrounded by acanthus leaves and scrolls. ladder together with a spear and sponge, all interconnected by bows,
On the sides are identical compositions, with less voluminous wood stylised flowers, and finally the snail, which appears twice, a “Chris-
carving, around a central fleuron. The projecting moulding on the tian symbol of the Resurrection and Eternal Life” (Feuillet 2005, p.
parapet includes half rounds and dentillated and cable mouldings. The 31). This type of decoration in the “old” or “Roman” style was steadily
sounding board, set on the capital of the column and which follows established in silver working in Portugal in the second half of the
the arch of the nave, is ornamented with naturalistic scrolls and ro- 16th century (Vassalo e Silva 2009, p. 69), often based on engravings
cailles, and in heaven, with the Dove of the Holy Spirit in a radiating of ornaments, for example by Cornelis Bos (1510-1566). But inspira-
sun. The triangular top repeats the pierced wood carving, with natu- tion may have also come from the decorative frontispieces of books
ralistic ornamentation, centred by a cartouche with a “peanut shell” printed in the period (Gusmão 1964, p. 167 and 245), on which it

was common to find profusely decorated borders with naturalistic ele- This type of receptacle, in the form of a small boat, is a container
ments, or Christian elements sometimes combined with other clearly for use in liturgical worship, its form inspired by 15th and 16th-cen-
pagan elements. tury craft, and used to contain the incense before it is burned in the
Chalices with similar forms and/or decoration are known in the thurible. JM
region of Évora (Comissão Municipal de Turismo 1957), in Tavira
(Franco; Penalva 2006, p. 172), and in the decoration on the base of a
monstrance in Mértola (Lopes 2001, p. 102), as well as in the collec- CHOIR STALL
tions of national museums.
Scratched on the base are the letters: “S. Tiago”, suggesting that (Page 44)
this chalice belonged at the former chapel of Santiago, which stood Portugal – second half of the 18th century
within the original walls of the Alcácer (Correia 1917, p. 142). JM Joined wood, coloured paint; gilded carving wood
H. 296 cm x W. 177 cm x D. 38 cm
AS.MR.1.001 mob
INCENSE BOAT Alcácer do Sal
(Page 42) Choir stall with three seats, with curved and scrolled uprights,
Portugal – last quarter of the 17th century
continuing in legs of a similar design. Hinged seats, with curved front,
Cast, repoussé, chased, raised, engraved and raised silver
H. 17.50 cm x W. 9 cm x C. 21 cm; Weight 628.3 g and moulded armrests ending with volutes. Seat backs decorated with
AS.MR.1.006 our panels of faux painting that continuing as a frusto-conical stall back,
Church of Santa Maria marked by estipites that support the undulating moulded cornice. The
Alcácer do Sal top, in gilded and coloured carved wood, consists of an inverted pyri-
form cartouche containing a monstrance, decorated with volutes and
Silver incense boat on a round base decorated with row of styl- acanthus leaves, under three angel heads.
ised foliage. It has a frustoconical stem, the base decorated with acan- It is a curious piece that belonged to the confraternity of the
thus leaves and in the upper register framed by projecting rings and Blessed Sacrament, based for many years in this church, and it is a
incised fillets. combination of the traditional monastery choir stall – with charac-
The receptacle is in the form of a ship and the hull is decorated teristics clearly defined since the 16th century –, and the language
with bands of naturalistic scrolling foliage, suggesting an undulat- of the Rococo, with the evident reduction in carved ornamentation
ing movement while creating refined decorative effect. On the sides and figured elements restricted to the figures of angels, virtues and
we can also see, as is usual, the points for attaching the shrouds and seraphim. The lightening of lines is joined in this piece furniture by a
portholes for the anchor cables. The most original aspect of the piece painting that uses a red background, the favourite colour for painting
is the prow which is adorned with a figurehead of a zoomorphic furniture in Portugal, as well as tones of green that contrast with the
figure “adorned with plumes” and with the appearance of a “monster poorly executed faux painting, confined to the panels. Carved gilt or-
with a pointed and curved beak” (Falcão 2000, p. 113). Various ar- namentation appears only at the ends of the pillar estipites and, more
tefacts with this same decorative element can be found in the Arch- importantly, on the cartouche that surrounds the Blessed Sacrament.
diocese of Évora (VV.BA.2.055 our), as well as in the diocese of Beja This design would have been influenced by the Pragmatics en-
(Falcão 2000, p. 113-115), in the Museu Nacional de Arte Antiga acted by João V in 1749, which prohibited “making new furniture for
(Orey 1998, p. 88) and in other locations in mainland Portugal and the house, that include silver, nor fine or false gold, or border of any
the Atlantic area. type or material whatsoever” (Pinto 1952, p. 88)1 justified by superflu-
The upper part of the incense boat – the whole deck, raised by ous expenditure over half a century, the scarcity of Brazilian gold and
prow and stern castles – is decorated with scrolls of volutes with excesses in the application of precious metals to furniture. PV
incised foliage. The incense boat castles are pierced by a series of 1
See Fr. Cláudio da Conceição, Gabinete Histórico, vol X, chap. 10.
arches, and the stern is surmounted by a graceful scroll, with pierced
decoration, as is the prow, but there the scroll is smaller although
more pronounced. Between them is a hatch to access the hold, with
two rings. Facing this central area, on each side of the castles, are
anthropomorphic grotesque, that are yet another decorative detail
on this incense boat. The hinged stern castle acts as the lid of the
incense boat.
Unfortunately this fine example of sacred silver is not accompa-
nied by its usual spoon, the whereabouts of which are unknown.

DOOR CURTAIN OUR LADY OF PITY
(Page 46) (Page 48)
Portugal (?) – 18th century Portugal – 15th century
Body and edges: crimson burel, with application of embroidery in coloured wool 3/4 length sculpture in polychrome limestone, back hollowed out
threads, print and braid H. 74 cm x W. 61 cm x D. 29 cm
Lining: crimson linen taffeta AS.MR.2.004 esc
H. 229 cm x W. 119 cm Church of Senhor dos Mártires
AS.MR.1.003 par Alcácer do Sal
Alcácer do Sal Sculptural groups venerated under the invocation of Our Lady of
Pity derive from representations of the Virgin taken from the narra-
In the 11th and 12th centuries, lay organisations appeared within tive context of the Lamentation in the late 13th century and the 14th
traditional Catholicism across Europe. They combined the aim of pro- century, through Germanic and French influences, emerging above all
moting worship, particularly the veneration of their patron, with ma- from the need for sculpture to reflect new religious paradigms. One of
terial and spiritual assistance, mainly among their members. these paradigms was the extolling of the central and privileged role
In the Portuguese case, the confraternity movement reached its of the Virgin Mother throughout Catholic doctrine, generating more
peak in the centuries 17th and 18th centuries and “can be demon- humanised depictions that were closer to the faithful, together with
strated by the large number of organisation that formed it, around an atmosphere of profound mystic exaltation and growing religious
which were congregated thousands of faithful” (Nunes 2010, p. 88). belief, fed by various pious texts that to a certain extent made up for
Throughout the country, “confraternities emerged typically associated the brevity with which certain passages are treated in the canonical
with the parish with a social foundation restricted to it” (Guimarães Sá gospels.
1996, p. 55) and a majority of them were devoted to veneration of the This statue venerated on its own altar in the shrine of Senhor dos
Blessed Sacrament, the Souls in Purgatory and Our Lady of the Ro- Mártires illustrates the devotional model typical of the late 14th/15th
sary. “The appearance of many of these associations owes much to the century1, based on the accentuated formal contrast between the figures
initiative of the clergy, interested in countering Protestant arguments, and reveals a strong sense of symmetry and dramatic restraint. In a
based on justification through faith, on rejection of the indispensabil- perfectly idealised composition of the moment following the Descent
ity of the sacraments and of the veneration of the Virgin” (Penteado from the Cross, the pyramidal structure of the Virgin, seated on bench
2000 p. 463). seat, is cut by the almost horizontal line described by the rigid body
Based at the church of Santa Maria do Castelo, in Alcácer do Sal, of Jesus and continued in the correspondence of the hands, one sup-
the Confraria do Santíssimo Sacramento (Confraternity of the Blessed porting his neck and the other resting on his loincloth. The suffering
Sacrament) left various testimonies of its existence, in documents and of a mother over the inanimate body of her son is emphasised by
furniture, as well as paraments, including this cloth. the inclination of her head and materialised in her face framed by a
Vertical door curtain in a rectangular format and with a main veil. The beauty of Our Lady enhances the internalised feeling and
body of crimson burel. The most significant decoration can be found heartrending sadness of her gaze, reflected in thin lines of tears. With
in the centre: within a shaped border, is a monstrance (a symbol of the his eyes still half-open, the Redeemer is lying on the mantle, as if it
Blessed Sacrament) flanked by clouds, with a triangular base set on were a comfortable bed on which he also rests his feet, the mantle
three scroll feet, with a luna in the shape of a radiating sun, and two contrasting with the rigidity of the body with its pose in profile, ac-
Latin crosses, one within the border and another at the top; in each centuated by the face with its pointed beard. In a brief intimate touch,
corner there is a bouquet of Eucharistic elements: wheat ears, vine his hands lie meticulously on his mother’s arm, although without in-
leaves and bunches of grapes, representing the bread and wine of the terrupting the parallel placement. The greater simplicity in the treat-
Eucharist. The wide border contains embroidered naturalistic motifs, ment of the draperies in the torso area, where only the veil crosses
including imposing vases in the corners that appear to be completed her chest, is balanced by the definition of the legs concealed under
by the bouquets in the central body. the mantle, in a combination of curves and folds that demonstrate the
The Inventory of the Archdiocese of Évora has recorded various lightness of the cloth. Totally repainted, the statue is decorated with
paraments similar to this in technical, aesthetic and devotional terms. gilt and polychrome motifs of stars on the veil, a row of small stylised
These include a door curtain from the church of Nossa Senhora das flowers on the gown, and scattered flower stalks on the mantle, which
Dores, in Borba (BO.BA2.002 par) and another curtain in the church is edged with a more elaborate border. SN
of Santa Maria de Evoramonte (ES.SM.1.002 par); all devoted to a 1
See for example the figures from the Museu Nacional de Arte Antiga (inv. 1046 Esc), from the Museo
confraternity of the Blessed Sacrament. ISP Nacional Colegio de San Gregorio (CE0001) in Valladolid, or from the Musée national du Moyen Age
in Paris, see: http://www.musee-moyenage.fr/esp/pages/page_id18139_u1l2.htm

NOSSA SENHOR A DA CINTA and also mentioned that she was especially venerated by pregnant
women. SN
(Page 50) 1
Alluding specifically to the episode in which: “suddenly the girdle wherewith her body had been
Portugal – 14th/15th century begirt fell unopened into [St. Thomas’] hands, that so he might understand she had been assumed
entire” (Voragine 2004).
3/4 length sculpture in polychrome limestone 2
Currently confused with the lost medieval image of Nossa Senhora dos Mártires, patron of this
H. 168 cm x W. 63 cm x D. 37 cm church until at least the 17th century.
AS.MR.2.006 esc
3
It has been suggested that it is the arms of the Mascarenhas family, given their known presence in
Alcácer do Sal and connections with the Order of St James.
Church of Senhor dos Mártires
Alcácer do Sal
The presence of a cincture in various medieval depictions of LIFE OF SAINT ANTHONY

Our Lady, a common accessory frequently associated with purity,
(Page 52)
later gained a more complex religious and iconographic significance.
Portugal – c. 1720-1730
Besides being an essential part of the Augustinian habit, handed di- Earthenware
rectly to St Monica by the Virgin herself, the cincture may suggest H. 248 cm x W. 246.5 cm
depictions of Assumption themes related to the incredulity of St Tho- AS.MR.3.001/1-2 azu
mas1 before the tomb of the Virgin. Currently to be found within the Church of Santo António
church, the figure of Nossa Senhora da Cinta (Our Lady of the Cinc- Alcácer do Sal
ture)2 is mentioned in the visitation of 1512 (Pereira 2000) as being
in a large deep niche situated on the left side of the porch next to the In the chancel of the church of the convent of Santo António,
main door (Santa Maria, 1716). It is placed on a faceted column from founded in the 16th century by Fernão Martins Mascarenhas, alcaide
which hangs a pointed shield with a concave top, resting on a small of Alcácer and captain of cavalry of João II, and rebuilt after the 1755
protuberance that resembles two stylised flowers. On the left side of earthquake, we can still find these panels of blue and white tiles, with
the base a male figure kneeling, “like a donator a friar of St James in scenes from the life of Saint Anthony.
prayer, hands clasped, with the warrior’s cross visible on one arm and This work is divided between two registers and presents, on the
tonsured head” (Pereira 2009), identified by Friar Agostinho as the base, an architectural socle developed in articulation with existing
Apostle St James. The shield has a cross of St James cantoned with four tombstones and console niches, with composite mouldings, angels,
charges: two stylised scallop shells above and an Agnus Dei and a coat swags and masks, atlantes and entablature, also in perspective. On
of arms with a striped escutcheon3. the Gospel side, the tombstones leave less area for the tiles, which are
In this highly graceful representation, the figure of Our Lady is limited to a figurative panel, a riverside scene with a fortress, boats,
structured on a diagonal axis that emphasises the sinuosity of the and a figure fishing. The second register, where we can also find stone
pose, notable for the expressive inclination of the veiled head, ex- carving in the form of the finely sculpted arms of the Mascarenhas in
tended in the movement of the right arm and balanced by the flexion an oval border, is filled by a panel 30 tiles high, framed by a border of
the left leg, with the foot slightly advanced. The mantle, placed over acanthus-leaf scrolls and angels. The scene within the frame depicts
her shoulders and closed at her breast with a lozenge-shaped button, St Francis consigning the Rule of the Order, accompanied by St Anthony,
envelopes her arms and its tips are held in the higher hand of Our witnessed by various clergymen. On the right is a trompe l’oeil window,
Lady which also supports the Christ Child seated on her arm. In pro- corresponding to the real window opposite it. On the Epistle side, the
file, the Child caresses his mother’s head while playing with a bird in dado repeats the structure described above, with two small panels that
his lap. Only part of the gown is visible on the right side of her body, depict hermits. In the upper register is the Miracle of the Resurrection, in
highlighted by the width of her bent arm slightly rotated in the direc- which the saint resuscitated a dead man in front of Lisbon cathedral
tion of the observer, as if to emphasise the presence of the cincture to prove that his father was unfairly convicted of murder. The chapel
that confirms the invocation and the tip of which is held together with decoration extends to the inside of the chancel arch, centred by a car-
the mantle. In a naturalistic and casual fashion, the fingers are partly touche supported by angels, with floating mantles, inscribed with two
concealed, with the exception of the ring finger and thumb. The jovial of the saint’s attributes: the book and the cross. Great swags of flowers
and smiling face of Our Lady is framed by a wavy band of hair with and fruit hang from the cross down to the dado, a decorative solution
small curls. that can also be found in the church of Nossa Senhora da Consolação,
The lower part of the composition is dominated by the modelling in Estremoz, the chancel and chancel arch of which have a monumen-
of the mantle, particularly a strip aligned with the foot and converg- tal set of figurative tiles, from c. 1718-1719, attributed to António de
ing on the Christ Child, with the edges creating a harmonious set of Oliveira Bernardes (Valente 2008, p. 72-73).
alternating and rising tubular folds. Friar Agostinho de Santa Maria In the iconography of St Anthony, the most frequent association
described how the statue miraculously appeared in fishermen’s nets on ceramic tiles is that of Saint Anthony with St Francis, sometimes

on the same panel, or forming a par, or also associated in more com- LIFE OF THE VIRGIN
plex scenes, such as the case of these Joanine panels, dating from c.
1720-1730 (Meco 1995, p. 49-50). They are thus from the period of (Page 56)
major Joanine production, starting in the second decade of the 18th Portugal – mid-18th century
century, when the theme of St Anthony gained increasing popularity, Earthenware
in integrated sets or on façades. PV H. 185 cm
AL.SM.1.001/1-20 azu
Church of Nossa Senhora do Monte
Vale de Guizo
PYX
In the church of Nossa Senhora do Monte, a Rococo building of
(Page 54)
a certain monumentality, there is still a set of panels of figurative tiles
Portugal – second half of the 17th century
Cast, engraved and gilded silver
alluding to the Life of the Virgin, of undeniable artistic interest, dating
H. 19 cm x Diam. 10.5 cm; Weight 400 g from the time of construction of the church, the first built by José I,
AS.PA.1.001 our between 1752 and 1754 (Louro 1974, p. 89).
Church of São João Baptista They can be found throughout the nave and chancel, forming a
Palma dado twelve tiles high, framed in perspective with composite pilasters
decorated with angels, rocailles, palm leaves and acanthus leaves and
Inscription: + F + ANTº DA + SCENSÃO centred across the top by cartouches containing Marian attributes.
These frames link the scenes, coordinating them within the archi-
17th-century plain silver pyx of great simplicity and which, ac- tectural space, although with a certain restraint, accentuated by the
cording to the inscription that runs round the edge of the base, must straight tops of the panels, without an ornate top border surmount-
have been donated by a member of the Order of Santiago, which ed by urns, as was common in that period. This is the case of other
shows us something of the legacy of military religious orders, partly productions of the Marian cycle, such as the panels in the Terceiros
still in situ today. chapel in the church of São Francisco in Estremoz, of Nossa Senhora
The pyx has a round base, decorated with a fillet, and round its da Visitação in Montemor-o-Novo, and the chancel of Nossa Senhora
edge, in capitals letters, is the inscription: + F + ANT[ONI]O DA + da Conceição in Vila Viçosa, the latter from the last quarter of the
[A]SCENSÃO, of an unknown friar of the Order of Saint James of the 18th century.
Sword. The elongated baluster stem is moulded by rings at its base Curiously, cartouches with attributes of the Virgin recall the pan-
and screws into the cup. The cup is of circular cross section, slightly els of the Montemor shrine, from a slightly later date, which also de-
wider at the mouth, with a tulip-shaped removable lid, raised and pict scrolls, the former with Latin quotations from the Scriptures, and
with a convex profile. It is surmounted by a Latin cross, with balus- the latter with the identification of the scenes, namely: the Birth, Saint
ter arms. The inside is gilded, as was usual and standard after Trent Anne teaching the Virgin to read, the Presentation at the Temple, the
(1545-1563). Wedding, the Annunciation, the Visitation to St Elizabeth, the Nativ-
The pyx was used as a container for the consecrated host for the ity Scene, the Flight from Egypt, the Assumption, the Coronation and
communion of the faithful. Our Lady of the Conception.
There are various pyxes that follow this austere line, with great This is a very fine work on Marian iconography, produced by
simplicity and severity that can be related to the architecture of the a good workshop in the capital, and marked by the quality of the
period in the plain style, and these appear in several places in the arch- design and of the blue and white painting, probably created under
diocese: Estremoz (ES.SA1.080 our), Vila Viçosa (VV.SC.1.075 our) royal patronage.
and Assumar (MF.AS.1.008 our) among others. As a contrast we can In this respect, it is to be noted that there is also a panel dedicated
present another pyx, of the Sousel model, under the patronage of the to Our Lady of the Conception, the sacred patron of the Kingdom as
Order of São Bento de Avis, and which displays a certain decorative decreed by João IV on 25 March 1646, a devotion maintained fer-
exuberance ( ferronnerie, naturalistic motifs, ovals). vently by the heirs of the House of Bragança. PV
The member of the Order of Santiago who donated the piece
would possibly have been linked to Palma, since that land belonged
to the Order from the 13th century (Louro 1974, p. 60). However, it
is not referred to directly in parish documentation and only in inven-
tories from the 19th and 20th centuries does “a vase for particles”1
appear, which may be this piece of sacred silver. JM
1
Inventário dos Bens Móveis da Igreja Paroquial de São João Baptista, 1905, folder 1905

EX-VOTO José Xavier da Cunha de Eça Telles de Meneses Carvalho e Silva,
deceased, of 124 properties, including Vale de Lobos. The law of 9
(Page 58) November 1754 was thus complied with” (Ibid, p. 210-211)3. PV
Portugal – 1788 1
The Salema family, of Gonçalo Esteves Salema, has been documented in Alcácer do Sal since the 14th
Oil painting on wood century, with properties in the land of Alcácer and in Santiago do Cacém, and owner of Casal do Sadão,
H. 30 cm x W. 38 cm later known as the estate of Porto da Areia, and finally Herdade da Salema, the name by which it is still
known (Valente 1931, p. 165-166).
AS.SM.1.002 odv 2
This Cristovão Salema, son of Sebastião Salema Correia de Abreu and Luísa Barradas Reboredo, was
Church of Nossa Senhora do Monte referred to in 1744 as high treasurer of Évora Cathedral and general inquisitor (see Túlio Espanca,
Cidade de Évora, n.º 3, 1943).
Vale de Guizo 3
Both were great-great-grandsons of Cristovão Salema and his wife Dona Luísa Barradas, and the
second died without heirs. Fernando da Mesquita Pimentel, FCR, b. 25.01.1782; d. 10.01.1836. José
Xavier Telles de Meneses was the last lieutenant-general of artillery of the kingdom, from 1788 to
Inscription: M.[er]ce q[ue] fes N[oss]a S[e]n[ho]ra do monte de Val[e] de guizo a / 1792, when the office was abolished. The Alvará of 9 November 1754 determined that “by death of the
Jozé Joaquim feg[uei]r.a filho do Lavrador de Val[e] de Lobos em / o livrar do grande deceased the ownership of his property should pass to those to which it belongs […] should it wish
perigo de vida em q[ue] esteve dezemganado / dos medicos elle e Ceus Pais emplorarão à to do avoid drawbacks, resulting from possession being taken of property of those who have died, by
other ordinarily strange persons, and to whom their property did not belong”.
d[it]a S[e]n[ho]ra foi livre / ano de 1788
The ex-voto, giving thanks for the grace received, depicted the
vower in the typical setting of a bedroom, accompanied by relatives RETABLE OF SAINT SUSANNA
and doctors (?) before an image of Our Lady of the Mount, in the
(Page 60)
halo of clouds that normally delimits the planes of the sacred and
Portugal – first half of the 16th century
the profane, in this type of votive painting. The refined atmosphere, Oil on oak
marked by furniture from the time of king José – including carved H. 157 cm x W. 90 cm (Nativity)
gilt mirrors – reflects, to a certain extent, the status of the offeror. José H. 159 cm x W. 92 cm (Annunciation)
Joaquim Figueira, a young man at the time, as shown in the portrait AS.SU.1.002/1-2 pin
itself, would have continued to farm as his parents, tenant farmers, had Church of Santa Susana
done before him, since in 1822 we can find him as a contributor to the Santa Susana
construction of roads connecting Alcácer do Sal with Évora and Beja,
providing 4800 réis (Diário do Governo 1822, p. 1184). Ten years On the high altar retable of the church of Santa Susana are two
later, he was the 1st councillor of the town of Alcácer do Sal (Gazeta important Renaissance paintings – the Nativity and the Annuncia-
de Lisboa 1832, p. 883). tion – which, despite their quality, have gone almost unnoticed by
The first reference we know of to the estate of Vale de Lobos, art historians.
a farm on the banks of the Sado, which was navigable as far as the The retable on which they can be found comprises a single body
neighbouring Porto Rei, dates from 13 March 1440, and cites a docu- with three bays, the central bay filled with roca figures of the patron-
ment by which “Vasco Correia, squire, as a consequence of a donation ess, and crowned by a highly simplified cross of St James, recalling the
made to him by Dona Maria Correia, abbess of the Monastery of Santa connection between the parish and the Order of Santiago.
Clara in Lisbon, took possession of the following properties: Herdade The two paintings are mentioned in 1969 in official documents
do Canavez (currently Valle de Lobos), in the land of Alcacer and a from the Institute de José de Figueiredo and were classified as heritage
vineyard, in the same land” (Valente 1931, p. 173). of municipal interest in 1988. The historian Vítor Serrão was the first
Subsequently, in a dowry agreement, in 1482, for the marriage to write an article on the two paintings, in 1983, and to attribute them
between Inês Correia, daughter of Isabel Paes and her first husband to the sphere of influence of the Master of Lourinhã. More recently,
Vasco Correia, and Mem Gonçalves Salema1, squire, her stepfather and they have been studied and observed with infrared light for an MA
mother gave her “a bread estate located in Canavez (current estate of thesis by Manuel Batoréo.
Valle de Lobos, near Porto Rei) in the land of Alcácer, and to movables They are in an acceptable state of repair, although considerably
adorn the house” (op. cit., p. 172-173). darkened by varnish, and they have been repainted on occasions, but
In 1712 the same estate is mentioned in a deed by which Sebastião “what can be discerned, however, is more than enough to confirm the
Salema Correia and his wife Dona Luísa Barradas “endowed their son, exceptional fine quality of the panel and the elegant composition of
Cristovão Salema2, to take holy orders, with the following properties the sfumato, which, combined with the correct modelling and draw-
that were free, without subjection to a chapel or morgado: Tercenas ing, suggests the hand of a notable artist” (Serrão 1983).
do Porto Novo situated in the Estate of Valle de Lobos” (ibidem, p. In the left-hand painting, a Nativity Scene, we can see Our Lady
198-199). and St Joseph in adoration of the Christ Child who is lying in the
In 1824, when José Joaquim Figueira was probably a tenant of centre. The scene also contains, as is usual, the ox and the donkey
that estate, “Fernando da Mesquita Pimentel e Pavia Barreto, resident in a decorous attitude. Various small angels appear in the composi-
in Évora, [took possession] from the property that had belonged to tion, next to Jesus venerating him, or in the heavens. On the left, is a

secondary scene, in which an angel tells a shepherd in a rustic gar- reantes, da Guia, and many others) were developed in the late 15th
ment of the good news. The background to the scene, which has the century and above all in the 16th century, following the opening up of
traditional iconographic elements of the period, comprises a building new sea routes and the sharp increase in the number of voyages, and
in ruins. were shared by all those subject to the storms and dangers of seas and
On the opposite side, on the Annunciation painting, it is the Vir- rivers, invoking the Virgin as a protector.
gin who appears in the foreground, wearing a blue tunic, kneeling A surprising aspect of this image is the apparent conflict between
at a prayer kneeler, reading the Holy Scriptures in accordance with the location of this statue, in a Franciscan church in an inland town,
tradition. At her feet is a vase with lilies, a symbol of her purity, on with the presence of the boat, a reference to a more restricted devo-
which are inscribed characters that are difficult to read. On the left is tion typical of coastal areas or area with intense river traffic. Although
the angel Gabriel, who holds a scroll with the phrase AVE GRATIA provenance of this statue is unknown, it should be noted that the
PLENA DOMINUS TECUM, and whose draperies have a movement navigable rivers around Torrão, the municipal seat until the 19th cen-
that imparts a strong dynamic effect on the composition. At the top tury, were of sufficient importance to influence the surrounding place
of the composition hovers the Dove of the Holy Spirit, haloed. The names, such as São Romão do Sado, Rio de Moinhos or Porto Rei,
background, difficult to discern, is probably the interior of the Vir- which was even granted the royal arms. Documented since Roman
gin’s room, and a bed with a canopy can be picked out. times as providing a means of transport to rival roads, “in terms of
The historian Manuel Batoréo is convinced that these two panels costs per cargo transported, [the great rival of road transport] con-
are the work of a follower or disciple of the Master of Lourinhã, since tinued to be river navigation on Sado and the Baixo Xarrama, within
“the characteristics of the drawing suggest another way of working, a range that reached as far as the current town of Torrão.” (Carvalho
but maintaining certain forms” of the Flemish model that character- 2009). SN
ised the paintings of the Master of Lourinhã (Batoréo 1995). JM
CHALICE
NOSSA SENHOR A DA BOA VIAGEM
(Page 64)
(Page 62) Portugal – 16th/17th century
Portugal – 18th century Cast, chased, repoussé, and gilded silver
Sculpture in gilded polychrome wood, with estofado decoration H. 23 cm x Diam. 12 cm; Weight 441.4 g
H. 160 cm x W. 70 cm x D. 60 cm AS.SA.1.004 our
AS.SA1.017 esc Church of São Francisco
Church of São Francisco Torrão
Torrão
Silver gilt chalice with a circular base, decorated with ferronner-
In a type of figuration common to other Marian representations, ies and stylised naturalistic elements (fleur-de-lis), against a punched
Our Lady, raised by angels, holds to her left side the naked Christ ground. The stem, with an urn-shaped knop, has decoration similar to
Child, who raises his hand in benediction, while her right hand is that of the base and is moulded by a sequence of loops and bands of
held out to display the attribute that generally determines this invoca- ovals in the lower and upper sections. Plain bell-shaped cup, opening
tion, a ship. slightly at the rim, a style that became common in the 17th century.
This impressive figure in a clearly Baroque style is not particularly The decoration covers practically the whole surface of the chalice,
dynamic in its expressive in its movement, with rather rigid gestures, which makes this piece a good example of acceptance of the geo-
but is enhanced by the vigorous folds and abundant decoration of the metric decorative elements of ferronneries and cartouches that spread
draperies. Structured on a vertical axis, it is dominated by its hieratic in Portugal in the late 16th century and was systematically used in
and frontal pose, although the flexion of the leg and flowing move- decoration in the following century (Franco; Penalva 2006, p. 172).
ment of the mantle, caught under over the left arm, create an elegant Similar examples have already been inventoried in the Archdiocese of
interplay of diagonal lines with the left tip of the veil floating across Évora, although most have a cylindrical stem and a cup supported by
her chest. This trend is repeated in the figure of the Child in a majestic ribs, unlike this case. To help date this piece, another chalice with very
and frontal pose with his arms outstretched, despite the expressive similar decoration from the convent of São Paulo da Serra da Ossa
sideways movement of his crossed legs. Despite the solid volume of (RE.SA.1.099 our) has the year 1615 carved on the base, which leads
his body, with its well-shaped clearly childlike plumpness, and his us to date this chalice to the last years of the 16th century or the first
high position almost on his mother’s shoulder, her hand appears to quarter of the following century. JM
support up with utmost ease. Devotional titles of Our Lady related
to the sea (Nossa Senhora da Boa Viagem, dos Navegantes, dos Ma-

PYX PLATE WITH CRUETS
(Page 66) (Page 68)
Portugal – second half of the 16th century António Firmo da Costa (1767-1824)
Cast, repoussé, chased, engraved and gilded silver Portugal – c. 1810 – c. 1822
H. 20 cm x W. 12.8 cm; Weight 476.9 g Cast silver, carved, chased, repoussé
AS.SA.1.052 our H. 3.5 cm x C. 21.2 cm x W. 10.6 cm; Weight 193.4 g (plate)
Church of São Francisco H. 12 cm x W. 5.7 cm x D. 7.6 cm; Weight 114.8 g (water cruet)
Torrão H. 12 cm x W. 5.7 cm x D. 7.6 cm; Weight 121.9 g (wine cruet)
AS.SA.1.035/1-3 our
Inscription: SOROR. [h]ELENA Church of São Francisco
Torrão
Heraldry: curved shield quartered: I and IV Almeida; II and III Figueiredo. Helm in
profile and Almeida crest, enveloped in plume. Marks: FMA-L-36, of unidentified Lisbon assayer, dating from c. 1810 - c.
1822; FMA - L-78 - mark of the Lisbon goldsmith António Firmo da Costa.
Pyx with a circular base, raised and decorated with a row of acan- With activity recorded from 1793 to 1824 (Almeida 1995, p. 81, 91) (Orey
thus followed by a frieze of beading at the transition to the frustoconi- 2000, p. 180).
cal stem, framed by a ring. Calotte-shaped cup decorated with ribbons
and naturalistic arabesques, forming rectangular and oval reserves This set of cruets and plate, in white silver, is an interesting ex-
containing quatrefoils. Burnishing against a punched ground that is ample of religious silver work from the first quarter of the 19th cen-
repeated on the first level of the lid, followed by a row of gadroons tury, the work of one of the most prestigious silversmiths in Lisbon
and a plain drum, on which there is an inscription as well as the heral- in the period – António Firmo da Costa, as indicated by the marks.
dic shield. The finial has a plain Latin cross, on a chased plinth, with This silversmith, who worked from 1793 to 1824, in a period of great
a skull and naturalistic motifs. transition in many aspects, including art and fashion, was a success-
In formal terms and as advocated by the Instructionum Fabricae et ful craftsman, with several shops throughout the capital, various ap-
Supellectilis Ecclesiasticae, of 1577, this religious artefact has a circular prentices in his workshop and a varied clientele (Orey 2000, p. 9-15).
cup, with a raised rim, surmounted by a cross, on which there could The plate from this set is elliptical, with a slightly lower centre
also be a small figure of Christ. Its ornamental language is in line and floral decoration around the rim. It is set on four spherical feet. It
with the precepts of classic simplicity, apparent in the light chasing of has two plain circular holders for the cruets. The cruets have round
engraved motifs in contrast with burnished surfaces. This decorative feet, their bodies slightly broader in the upper part, with naturalistic
restraint has been associated the various economic factors, or with lo- decoration. The necks have hinged lids with knobs – the letters “V”
cal restrictions, although the aesthetic austerity of “plain architecture and “A”, respectively. S-shaped handles with raised decoration that is
models” is not unrelated to this movement. This is the case of a chalice also naturalistic.
from the church of Santo Antão, Évora, dating from the 16th century, It is to be noted that four spherical feet supporting the plate are
which shows the same decoration typical of the second half of the a solution that this silversmith used on various pieces of secular silver
16th century (Borges 2003, p. 52-53). (sugar bowls, candlesticks, writing desk), and the floral decoration on
The inscription and heraldic representation, which might have the cruets is similar to that on a pair of candlesticks included in the
helped establish its provenance, raise various questions. The coat of exhibition – António Firmo da Costa. Um ourives de Lisboa através da sua
arms, notwithstanding its evident errors, is assumed to represent the obra (Orey 2000, p. 92).
arms of Almeida and Figueiredo, which could be attributed to Helena There are various other pieces by this silversmith in various differ-
de Almeida, a nun at São Bento de Cástris (Évora), daughter of Manuel ent parishes throughout the Archdiocese of Évora, namely: Cutlery set
de Almeida, knighted at the Taking of Azamor (1513), and of Maria (incomplete), pyx, purificator, chalice and the most important piece,
Rodrigues Cardoso. A brother of this nun, Francisco de Almeida Car- the monstrance-reliquary of São Gonçalo de Lagos (Valente 2004, p.
doso, lord of the house of Teronho, married a 2nd cousin, Joana de 298). On these religious articles it is especially interesting to observe
Figueiredo Loureiro, a relationship that indicates the use of the arms of the use of a rocaille decorative language, perhaps by imposition of a
Figueiredo in this branch of the Almeida family (Felgueiras Gaio, vol more “conservative” client, unlike the secular silver known to be from
I, p. 106). the workshop of this silversmith, which follows neoclassical models of
However, the inventory of the assets of the former convent of São English origin that were highly fashionable at the time.
Bento de Cástris, intended for the church of the Third Order of St The cruets were for the water and wine used at the Eucharist, al-
Francis in Torrão, in 1891, only mentions vestments and a brass lamp, ways accompanied by a holder, the plate. Although their materials and
preventing us from confirming this possibility. PV

forms have varied over the years, they have commonly be made from attempt at “modernist” ornamental creation for the period which, in-
tin and silver, as in this case. They are always marked with the letters deed, appears not to have been long-lasting” (Simões 1997, p. 29). ISP
A (water) and V (wine) for their contents to be easily distinguished by
the celebrant and acolytes. The set is usually placed on the credence
table, close to the altar. JM HUMER AL VEIL
(Page 72)
BURSE India – 17th century
Ivory silk thread, gilt thread and ribbon, twisted gilt thread
(Page 70) Ló cloth or gauze; lace-edged braid
Portugal (?) – 17th century Lining: synthetic serge
Body: ivory silk taffeta, coloured silk embroidery, gilt and silver thread, purl H. 90 cm x W. 230 cm
Woven braid and long fringed braid AS.ST.1.006 par
H. 23 cm x W. 23.50 cm Church of Santiago
AS.SA.1.003 par Alcácer do Sal
Church of São Francisco
Torrão The humeral veil, while not considered a vestment or an orna-
ment, is the cloth in which subdeacons and acolytes wrap the con-
Formerly used at the altar, the burse was mainly intended as a secrated vessels (patens, chalices and offerings from the faithful), to
receptacle for the corporal, a cloth that the priest had to extend on the take them to the altar, distribute them or carry them in processions.
altar stone over the altar-cloth at the start of the mass; it would not It should not be blessed and, while it may be placed on the altar or
have a specific colour, merely that of the liturgy of the day. removed from it, it should only be placed there when it is needed; it
Quadrangular burse, comprising two distinct parts, in ivory silk should not necessarily be the same colour at the ornaments and in
taffeta. It has a dense and ornate naturalistic pattern, directly em- certain cases it should be different (Coelho 1927, p. 240). Today, it
broidered in coloured silk thread and gilt and silver thread, and was is mainly used by the priest to carry the Blessed Sacrament and while
probably made in a convent. giving the Benediction.
The decoration is similar on each side, which prevents us from Rectangular humeral veil, in the light and transparent 17th-cen-
defining the front and the back. In the centre, on one of the sides, is tury cloth known as ló or gauze. Repetitive decoration, in a lattice of
an eight-petalled flower, from which spring sinuous stems, with small lozenge shapes formed by a combination of stylised leaves and eight-
flowers and carnations: “on the leaf and fruit of the carnation could be pointed stars, eight being a number that traditionally symbolises re-
seen the nails of the crucifixion of Jesus, for which reason it became generation. In the centre, surrounded by an oval fillet, is the sun of
a symbol of the Passion. Carnations are frequently found on figures, justice, often used as a symbol of Christ, of hope and above all as a
on the Madonna.” (Lochner 1997). On the other side, there is a bulb prophetic attribute; within the sun can be discerned the Greek letter
in each corner, accompanied by small naturalistic and floral motifs, p referring to the monogram of the name of Christ: XP. The band
including tulips; a central flower, with a corolla in the form of an that around the veil is decorated with quatrefoils, separated by small
eight-pointed star and petals formed by two acanthus leaves. Small lozenges formed by naturalistic elements, and edged with a narrow
stars and flowers are scattered over all the cloth. It is trimmed with a band of gilt lace.
fringed woven braid, in crimson and cream silk. The Inventory of the Archdiocese of Évora has six other items
Of greater impact on Portuguese tiles than in fact on vestments, identical to this one in both technique and decoration; they are lectern
this type of pattern decoration was very common particularly in the and pulpit cloths, as well as chalice and humeral veils. ISP
first half of the 17th century. In fact, in decorative terms, the burse
recalls a panel of tiles in the chapel of Santo António, in Vila Viçosa,
already studied for the Inventory of the Archdiocese of Évora (VV.
BA.3.001 azu). It is included among the compositions known as cai-
xilho compósito (composite frame), which “are 2x2 patterns with a sin-
gle centre of rotation and ornaments, not touching the edge, that do
not permit continuous connections” (Simões 1997, p.31). In this case,
the central theme adopted is a flower radiating from the main centre
of rotation, with oblique rows and a confusing decorative rhythm,
defined only by colours. This example is considered an isolated case
in the history of tiles manufactured in Portugal, and “interpreted as an

RETABLE OF ST MAURUS Although it is not known who commissioned the altar, it is clear
that the Order of Santiago, through a commander or brother knight,
(Page 74) was responsible particularly as the order left “a rich legacy of artistic
Workshop of Francisco João (active 1563-1595) treasures in the figurative and applied arts” (Caetano 1990, p. 81-83)
Portugal – second half of the 16th century throughout the towns and benefits over which it held jurisdiction. JM
Oil on wood 1
Memórias Paroquiais do Torrão, 1758. Available at http://digitarq.dgarq.gov.pt/default.aspx?page=
H. 150 cm x W. 69 cm (St Benedict of Nursia) regShow&ID=4241888&searchMode=#a2.
H. 150 cm x W. 69 cm (St Anthony the Great) 2
AS.SA.2.002/1-2 pin
Church of Nossa Senhora da Assunção
Torrão
SAINT CATHERINE OF SIENA
Where the parish records of 1758 list the chapels of the church (Page 76)
of Santa Maria da Assunção, there is a brief description of the “(…) Portugal – 18th century
Third Chapel of St Maurus with serious pictures, old paintings. (…)”1, Sculpture in gilded polychrome wood, with estofado decoration
which is the only known documentary reference to the two panels in H. 54.5 cm x W. 20 cm x D. 16.5 cm
question. AS.SA.2.001 esc
The paintings, set in a simple marbled retable from the same pe- Church of Nossa Senhora da Assunção
riod, occupy the side bays, since the central bay is filled by a niche Torrão
with a sculpted figure of St Maurus (AS.SA.2.007 esc), from the 17th
century. Caterina Benincasa (1347-1380) was born in Siena into a large
The panel on the left depicts St Benedict of Nursia who occu- Christian family, and from an early age revealed an astonishing voca-
pies the foreground of the composition and is standing, turned to the tion for mysticism and religious fervour. She made herself to a life of
viewer’s right. He has a beard, mitre and a black habit over a white extreme austerity and abnegation in the name of perfection and faith.
tunic. He is shown blessing with his right hand, which points towards One of the most important Dominican saints, St Catherine of Siena
a chalice held in his other hand from which a serpent emerges. Held began her religious life in the Third Order of St Dominic, who later
on his right arm is also an abbot’s crosier. This iconography refers to appeared to her and promised her an important position in the Order
the “miracle of the poison” in which St Benedict escaped from an at- that he had founded. She was canonised in 1461 and given the title
tempted poisoning (Réau 2000, p. 201). The background consists of of Doctor of the Church in 1970. John Paul II (Motu proprio 1999)
a landscape in shades of green and brown. On the left are the outlines proclaimed her the co-patroness of Europe, together with St Bridget
of a city. The other panel depicts St Anthony the Great, also in the of Sweden and St Teresa Benedicta of the Cross, not only because
foreground of the composition and standing, turned to the viewer’s they “were outstanding for their fruitful love of Christ’s Church and
left. He is shown as an old man, with a beard, wearing a hooded cloak. their witness to his Cross”, but also for their intervention to resolve
In his hands he holds a crucifix, on which his gaze rests attentively the Western Schism. Although she could neither read nor write, she
and meditatively. He also holds in his left hand a staff and a rosary left a substantial legacy of letters, prayers, and the emblematic “Dia-
of large beads. At his feet, on the left, appears a black animal (a pig?) logue of Divine Providence”, which she dictated to disciples, regarded
(Réau 2000, p. 112-113). The background consists of a landscape in as “amongst the most important literary manifestations of the Italian
shades of green and brown. On the right one can see a winding river, 15th century” (Berbara 2010).
crossed by a bridge. Her astonishing life was marked by numerous mystic visions,
These two pictures, despite having been repainted and there be- signs of her special and intimate relationship with Christ who first ap-
ing some damage to the paint layers, have various stylistic character- peared to her when she was seven years old. For this case, an episode
istics that link them to the Évora painter Francisco João, or somebody referred to in the summer of 1370 is of particular interest to us: the
from his circle2. This Mannerist painter from the Évora region left an “Exchange of Hearts”. In the figure in question, this episode is inter-
extensive oeuvre of sacred paintings in the archdiocese, including the preted in a unique way that differs from conventional iconography, in
retable in the chancel of the church of the former Convent of Graça which the Saint holds her heart in one of her hands. On the left side of
(EV.PE.1.013 pin), the triptych of the Calvary in the church of São her chest is a small round niche framing an image of the naked seated
Miguel de Machede (EV.MM.1.001 pin) and the retable in the chapel Christ Child, whose left hand touches his chest while his right hand
of Espírito Santo in Sousel (SO.SG.3.001 pin). He was a painter of embraces a red heart. Despite the absence of any other attribute1, and
“easy taste, strong moralising character”, renowned socially and who namely the black habit incompatible with that of the Dominicans, the
held important offices in the Misericórdia in Évora and in the Inquisi- identification was based effectively on the presence of this element,
tion, in the latter as a painter (Serrão 2008, p. 155). the function of which appears to be to show that the heart Jesus holds
is his own, in replacement of St Catherine’s.

The slight sway of her body, conditioned by her inclined head under the general name of the Order of Saint Clare and strengthened
and flexed right leg, with the foot set back, is highlighted by the their seclusion. This Rule coexisted with the First Rule, the original
outline of the left arm securing against the side of her body a closed Rule of Saint Clare, followed above all by convents in Italy and Spain,
book that rests on her hand. Her right arm is held out, with its fingers and represented a step back in relation to the spirit of Saint Clare since
slightly bent, suggesting a lost attribute. it determined that convents could “receive, possess and hold in com-
The figure is dominated by a certain formal restraint, despite the mon rents and possessions”, for their own livelihood, and withdrew
staged gesture perfect coordinated with the folds of her dress, espe- them from the jurisdiction of the Friars Minor, placing them under
cially defining the volume of the legs or in the sweeping movement of the authority of a Cardinal Protector (Fontoura 2008 p. 37-39; 59).
the long sleeves. Black habit with a gold embroidery effect, comple- Among the collections of documents from the parishes of Alcácer
mented by a veil and white coif, surrounding a serene face with glassy do Sal is a copy of the Urbanist rule, from the monastery of Aracoeli,
blue eyes. The vertical rhythms of the carefully modelled draperies are dating from 1618, at which time the abbess was Sister Bautista de As-
enhanced by the absence of a cincture and by the undulating lines of sunção and the preceptress of the Order was Sister Catarina dos Reis.
gilded round-petalled flowers of varying sizes that decorate the whole This document is notable for its rarity and for the meticulous con-
gown and veil. SN ception and visual organisation of the handwritten codex. Convents
1
It is also omitted from the inventories at the parish records – centres of education, culture and spirituality – have bequeathed a
fabulous legacy left by their nuns in various forms of expression rang-
ing from decorative arts, to music and calligraphy (Fontoura 2008
p. 82-85). This calligraphy can be seen, with some skill, in the sym-
RULE OF SAINT CLARE metrical way the scribe has organised the written area of the 26 sec-
MONASTERY OF AR ACOELI tions of the Rule, the elegant rounded hand following ruled graphite
lines with margins marked by simple triple friezes outlined in red
(Page 78)
and brown ink. The title, chapters and initial letters, in red ink, are
Paper, cardboard, leather
decorated with a mixture of naturalistic and abstract motifs. This lay-
H. 25 cm x 17.5 cm x 2 cm
PT/AS.ST-CAST/01/Liv.288 out was also combined with strips of paper painted with naturalistic
Church of Santiago motifs decorating glued engravings by Nicolas de Mathonieres and
Alcácer do Sal other northern European engravers of biblical scenes, scenes from the
life of Christ and the Virgin and Saints from Religious orders, notably
The Order of Saint Clare was established in Portugal in the late St Clare. DN
13th century with the foundation of four convents in the regions of
Lamego, Torrão (Porto), Coimbra and Lisbon. The Order’s expansion
reached a peak in the 16th century, with the creation of forty-two BOOK OF REVENUE AND EXPENSES
religious houses (Fontoura 2008 p. 44-46). This was the background OF THE BROTHERHOOD
for the foundation, in 1573, in part of the former palace of the Order
of St James of the Sword, of the monastery of Aracoeli of Alcácer do OF SANTÍSSIMO SACR AMENTO
Sal by Rui Salema, a fidalgo of the house of Dom Luís, Duke of Beja
(Page 80)
and son of the Manuel I. Like one of the most celebrated churches in Paper, card, silk damask and linen taffeta
the Catholic world, the church of Santa Maria in Aracoeli, in Rome, it H. 30.5 cm x 21 cm x 4.5 cm
received the invocation of “Altar of Heaven” to Christianise a “site that PT/AS.MR-ISSMR/05/Liv.199
had recognisably been a pagan or at least “infidel” place, bearing in Church of Santa Maria
mind its Islamic background”. To start, nuns were brought from the Alcácer do Sal
convent of Santa Clara in Évora (Ferreira; Gomes 2008 p. 8-13).
“St Clare was the first woman to draw up a monastic Rule, which The collection of documents inventoried in the Archdiocese of
was subject to claustral seclusion and evangelical poverty, although Évora includes a large number of drawings of great beauty. This is one
Pope Innocent IV and Cardinal Ugolino wanted to the Rule to be less of the oldest and most constant forms of expression in every society
strict. Over the years, the question of poverty led each convent of the and culture and is a significant help in the creation of other artistic ex-
Order of Saint Clare to adopt the Rule it preferred. Some adopted the pressions. One of these demonstrates that the relationship established
Ugolino Rule; others Innocent’s Rule; some, the Rule of St. Clare; between manuals of calligraphy and the ornamentation of documents
and others even drew up their own Rule” (Senra 2010). To put an end shows technical knowledge of the use of materials, handling of instru-
to this disorder and to provide convents with conditions to organise ments and development of manual skills. These manuals of calligra-
community life, Pope Urban IV issued, on 18 October 1263, the so- phy, intended to teach writing, reading and arithmetic, would end up
called Urbanist Rule or Second Rule of Saint Clare which unified them by teaching drawing, insofar as their authors transmitted knowledge

of geometric drawing for laying out letters and creating ornamenta-
tion. They thus became “testimony of an inter-relationship and inter-
action between writing and drawing” (Sousa 2007).
At the same time, progress in the reproductive of images, starting
with woodcuts in the second half of the 14th century, and the impact
of this on the proliferation of editions of literary, religious, artistic
and scientific works in the 17th and 18th centuries, complemented,
also, by the prelude to the first signs of a new emerging decorative
style, in the 1730s in Paris, known as “genre pittoresque” or Rococo, that
rapidly contributed to the dissemination and circulation of decorative
prints by “ornamental artists” (Oliveira, 2003, p. 23-34; França, 1974
p. 4-9), such as Juste-Aurèle Meissonnier, considered the true creator
of Rococo ornamental, Nicolas Pineau, Jacques de Lajoue, Jean Mon-
dom and Pierre-Edme Babel, apparent in numerous different forms of
artistic expression and found in religious buildings, palaces, museums
and in the homes of the nobility.
This drawing with its Eucharistic motif is from this historical and
artistic period. It is a pen and ink from a book of revenue and expenses
of the Brotherhood of Santíssimo Sacramento, founded in the parish
of Santa Maria de Alcácer do Sal, dating from 1786. It reproduces
an asymmetrical Rococo cartouche, decorated with bunches of flow-
ers, naturalistic motifs, cornucopias, rocailles and lobate scrolls. The
upper reserve contains a chalice with the holy wafer set on clouds
and surrounded by a halo. The lower level presents a smaller reserve
with bunches of wheat ears. The composition is framed by a rectan-
gular frieze with cut corners, filled with naturalistic motifs that also
appear on the sides, in coordination with the ornamentation of the
cartouches.1
The drawings found in the archives of the Archdiocese of Évora
are from various different types of document, including the Covenants
of religious brotherhoods, Books of elections, Books of brothers,
Books of revenue and expenses, Lists of properties, Books of chapels
and others. And they also reveal the close link with the forms and
iconography of other forms of artistic expression related to a mentality
marked by the spirit of the religious counterreformation, expressed in
a large number of elements typical of the demonstration of Christian
faith that were used as a decorative framework for the frontispieces
of handwritten codices and as ornamentation for initial capitals of
texts. DN
1
Special thanks to Paulo Valente for the information provided.

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AGR ADECIMENTOS | ACKNOWLEDGEMENTS
D. Carla Isabel Visinho de Almeida
Padre Fernando Ricardo Brito Lopes
Engº Fernando Saldanha
Padre Jerónimo Pereira Fernandes
Joaquim Conceição Moura Carvalho da Conceição
Padre José António Gonçalves
D. Maria Ângela Craveiro da Gama
Padre Ricardo Nuno Carolino Lameira
D. Rosinda Maria Paulo

Publicação | Publication
Fundação Eugénio de Almeida
Coordenação Geral | General Coordination
Maria do Céu Ramos
Direcção de Projecto | Project Management
Ana Cristina Baptista
Coordenação Científica | Scientific Coordination
Artur Goulart de Melo Borges
Texto | Text
Maria Teresa Lopes Pereira
Entradas | Entries
David Nunes | Inês Palma | Jorge Moleirinho | Paulo Valente | Susana Nogueira
Revisão de Bibliografia e Textos | Proof Reading
David Nunes | Maria José Barril
Fotografia | Photography
Carlos Pombo Monteiro
Tradução | Translation
Sintraweb
Design Gráfico | Graphic Design
Albuquerque
Selecção de cor e impressão | Lithos and Printing
Mais Verniz
© De esta edição: Fundação Eugénio de Almeida
© For this edition: Eugénio de Almeida Foundation
Fundação Eugénio de Almeida, Évora, Setembro 2011 | September 2011
ISBN
978-972-8854-44-7
Depósito Legal | Legal Deposit
XXXXXXXXX
Tiragem | Print run
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Arte Sacra em Alcacer Sal

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Arte Sacra em Alcacer Sal

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arte sacra

Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL . 01

Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL . 03

Eduardo Pereira da Silva

04 . Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL

†José Francisco Sanches Alves

Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL . 05

06 . Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL

Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL . 07

08 . Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL

Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL . 09

10 . Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL

Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL . 11

12 . Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL

Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL . 13

14 . Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL

Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL . 15

16 . Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL

Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL . 17

18 . Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL

Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL . 19

22 . Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL

Igreja de Santiago Pintura a óleo, de dimensões consideráveis, hoje con-

24 . Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL

Igreja de Santiago do banco, centrado no registo inferior pelas armas car-

26 . Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL

28 . Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL

30 . Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL

32 . Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL

34 . Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL

36 . Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL

Igreja de Santa Maria

38 . Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL

Igreja de Santa Maria

40 . Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL

Igreja de Santa Maria

42 . Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL

Igreja de Santa Maria

Cadeiral de três assentos, com prumadas em curva e

44 . Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL

46 . Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL

48 . Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL

Portugal – Século XIV/XV

50 . Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL

52 . Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL

Igreja de São João Baptista

Inscrição: + F + ANTº DA + SCENSÃO

Píxide seiscentista, de prata, em trabalho liso, de gran-

54 . Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL

Portugal – Meados do séc. XVIII

56 . Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL

58 . Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL

Portugal – primeira metade do século XVI

60 . Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL

62 . Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL

Igreja de São Francisco

Cálice de prata dourada com base circular, decorada

64 . Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL

66 . Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL

68 . Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL

70 . Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL

O véu de ombros, não sendo considerado como uma

72 . Arte Sacra no Concelho de ALCÁCER DO SAL